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NA ROTA DA TRIP 00 setembro de 2010 00 setembro de 2010 imensa planície alagada no coração da Améri- ca do Sul, inicialmente casa de diversas tribos indígenas, já atraiu inúmeras expedições de explorado- res, jesuítas e garimpeiros e sofreu com a devastação. Hoje, o Pantanal vive um novo momento em sua história. Mais preocupada com o futuro e com a biodiversidade da região, a população pantaneira tem mudado sua relação com o entorno que habita e deixado a natureza do local florescer novamente. A preservação do meio ambiente agora é prioridade. Hoje, muitos daqueles que desafiavam a natureza passaram a colaborar com ela e provam que a agricultura e agropecuária orgânica, assim como o turis- mo ecológico e sustentável é, sem dúvida, o melhor negócio. A Acima, arara-azul e capivara, animais presentes no Pantanal. À esquerda, por do sol na maior planície alagada do mundo Paraíso natural O Pantanal vive um novo momento: cada vez mais protegido e preservado, deixa a vida brotar de suas planícies alagadas e atrai de todo o mundo para conhecer esse espetáculo natural Texto e Fotos ARTHUR SIMÕES

Na Rota da Trip

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NA ROTA DA TRIP

00 setembro de 2010 00setembro de 2010

imensa planície alagada no coração da Amé ri -

ca do Sul, inicialmente casa de diversas tribos indígenas, já atraiu inúmeras expedições de explorado-

res, jesuítas e garimpeiros e sofreu com a devastação. Hoje, o Pantanal vive um novo momento em sua

his tória. Mais preocupada com o futuro e com a biodiversidade da região, a população pantaneira tem

mu dado sua relação com o entorno que habita e deixado a natureza do local florescer novamente. A

pre ser vação do meio ambiente agora é prioridade. Hoje, muitos daqueles que desafiavam a natureza

pas sa ram a colaborar com ela e provam que a agricultura e agropecuária orgânica, assim como o turis-

mo ecológico e sustentável é, sem dúvida, o melhor negócio.

AAcima, arara-azul

e capivara, animais

presentes no Pantanal.

À esquerda, por do sol

na maior planície

alagada do mundo

Paraíso naturalO Pantanal vive um novo momento: cada vez mais protegido e

preservado, deixa a vida brotar de suas planícies alagadas e atrai

de todo o mundo para conhecer esse espetáculo natural

Texto e Fotos ARTHUR SIMÕES

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Muitos pantanais

O Pantanal é único, e cada visita à região é especial. Isso porque o

lugar toma uma forma diferente de acordo com algumas épocas do ano. O

período de cheia, que tem início em outubro, deixa a maior parte da planí-

cie parecendo um imenso e calmo lago durante meses. Quando o mundo

das águas começa a baixar – somente em março do ano seguinte –, a paisa-

gem já não é a mesma, rios mudaram de percurso, alguns nasceram, outros

secaram; lagos trocaram de lugar e aí a vegetação renasce nos lugares mais

inusitados, reordenando e recriando a vida da planície. Essa impermanência

conseguiu afetar mais que a geografia; ela altera também a forma com que

as pessoas lidam com o Pantanal.

Nos últimos anos, a postura do governo e da população local em rela-

ção à natureza mudou. No passado, alguns equivocadamente pensavam

que não importava o que fosse feito com o meio ambiente, pois ele se reno-

varia e reapareceria novo no ano seguinte. Mas a realidade se mostrou dife-

rente. Com a devastação e a caça, algumas espécies sumiram e outras quase

foram extintas. As chuvas ficaram descontroladas, intensificando tanto o

período de cheia quanto o de estiagem, e isso foi a prova de que, se cuida-

dos não fossem tomados, o Pantanal correria um grande risco de transfor-

mar-se em um deserto.

A criação de reservas ambientais, tanto públicas quanto privadas,

assim como a educação ambiental para a população, conseguiu ajudar a

reestabelecer o equililbrio na região, que em pouco mais de uma década já

reflete em sua paisagem a mudança de postura por parte do governo e dos

habitantes. O Pantanal continua a se alterar a cada temporada, mas agora

respira mais aliviado e volta a dominar a paisagem com uma profusão de

plantas e animais das mais diferentes espécies.

No período de cheia do Pantanal, a maior parte do território fica alaga-

do, não deixando ninguém pisar no chão. Já no período de seca, a água

some, dando espaço à terra firme e a alguns lagos, mas dificilmente se vê

lama e lodo suficientes para classificar a imensa planície, de cerca de 210 mil

quilômetros quadrados, como um verdadeiro pântano ou “pantanal”. A

melhor designação para essa região é planície inundável – nesta categoria

é a maior do mundo.

Em sentido horário, o voo dos tuiuiú e a ave,

símbolo da região; e príncipe negro. Na página ao

lado, vista da vegetação local, gavião fumaça e ema

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Todos os anos, o volume de água que chega até o Pantanal deixa boa

parte da região submersa. Tanta água assim seria suficiente para causar

uma catástrofe em qualquer parte do planeta, mas lá, curiosamente, acon-

tece o contrário. No Pantanal, é a salvação. São as chuvas e as inundações

que dão à região uma das maiores concentrações de vida selvagem do pla-

neta, transformando-a em um paraíso natural.

Naturalmente sustentável

A agropecuária e a agricultura orgânica, que parecem ser um desafio

para muitos fazendeiros do mundo todo, acontecem de forma natural no

Pantanal. Todo ano, quando a água começa a descer, resultado da evapora-

ção e da vazão pelo único escoadouro da planície, o rio Paraguai, o santuá-

rio natural renasce. O que resta é uma fina camada de matéria orgânica

sobre o solo, onde brota mato e capim suficiente para alimentar os milha-

res de cabeças de gado das fazendas e todos os herbívoros da região por

meses, até as próximas chuvas.

Mas nem toda a água vai embora durante a vazão. Nas concavidades

do terreno, formam-se lagos de todos os tamanhos, formatos e cores, onde

ficam aprisionados os peixes que não foram embora com a água, para a ale-

gria dos jacarés, ariranhas, pássaros e também dos habitantes da região.

Apesar de a água ser sinônimo de vida no Pantanal, é no período de

seca que a planície atinge seu esplendor. Há abundância de animais, espe-

cialmente ao redor dos lagos e das ilhas de mata virgem, conhecidos respec-

tivamente por baía e cordilheira pelo povo local. Nos meses de junho, julho

e agosto é possível ter uma ideia de toda a biodiversidade pantaneira. Só de

plantas, são 3.500 espécies. A fauna não fica atrás, com mais de mil espécies

entre mamíferos, aves, peixes, répteis e anfíbios. Esses números colocam o

Pantanal como uma das regiões com maior concentração de fauna e flora

do mundo, justificando a denominação de paraíso natural.

O motivo dessa grande concentração de espécies é a localização do

Pantanal. Situado entre a floresta amazônica, o cerrado e o chaco paraguaio,

a planície funciona como um refúgio natural para as espécies que se sen-

tem ameaçadas em suas regiões de origem.

Os cavalos (acima) estão muito presentes no cotidiano

dos pantaneiros. Abaixo, capivaras, comuns no Pantanal.

Na página ao lado, outros animais que integram a fauna

da região: quati, veado campeiro e jacaré

No período de seca, o Pantanal atinge seu esplendor e mostra sua rica biodiversidade,composta por cerca de 3.500 tipos de plantas e mais de mil espécies de animais

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Serviço:Refúgio Ecológico Caiman: Estância Caiman S/N, Pantanal, Zona Rural/MS. Reservas: 11 3706-1800. www.caiman.com.br.

Quem leva: A TRIP Linhas Aéreas oferece voos para Campo Grande (MS), ponto de partida para conhecer algumas regiões do

Pantanal, a partir de Alta Floresta (MT), Belo Horizonte (Aeroporto da Pampulha – MG), Bonito (MS), Cabo Frio (RJ), Campinas

(SP), Cascavel (PR), Corumbá (MS), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Criciúma (SC), Dourados (MS), Foz do Iguaçu (PR), Goiânia (GO),

Governador Valadares (MG), Humaitá (AM), Ipatinga (MG), Ji-Paraná (RO), Joinville (SC), Juiz de Fora (MG), Lábrea (AM),

Londrina (PR), Manaus (AM), Maringá (PR), Montes Claros (MG), Porto Alegre (RS), Porto Seguro (BA), Porto Velho (RO), Rio de

Janeiro (Aeroporto Santos Dumont – RJ), São João del-Rei (MG), São José do Rio Preto (SP), São José dos Campos (SP), Sinop (MT),

São Paulo, Vilhena (RO), Vitória (ES) e Vitória da Conquista (BA). Mais informações: www.voetrip.com.br

A dois passos do paraíso

O melhor de tudo é que o Pantanal está logo ali e não do outro lado

do mundo. E está de portas abertas para quem quiser conhecê-lo de perto.

Três quartos da imensa planície encontra-se em território brasileiro, divi-

dindo-se entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

A melhor forma de visitar o Pantanal é por meio do ecoturismo, ativi-

dade que reduz o impacto do turismo na natureza e ainda ajuda no comba-

te ao desmatamento e à caça. Com guias locais – atividade que traz renda

para diversas famílias e, indiretamente, resulta na preservação de toda a

região –, é possível conhecer um pouco dos costumes pantaneiros.

O pioneiro do turismo sustentável no Pantanal foi o Refúgio Ecológico

Caiman, que abriga uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural)

dentro de sua propriedade de 53 mil hectares e conseguiu unir a atividade

hoteleira a diversos programas de conservação da natureza. Com o concei-

to de private villas, os visitantes podem se hospedar em duas pousadas de

luxo, a Baiazinha e a Cordilheira, ideais para férias em famílias ou amigos.

Até dezembro, os grupos que alugarem as pousadas poderão escolher pas-

seios e atividades personalizados.

Entre as atrações do Refúgio Ecológico Caiman estão os projetos eco-

lógicos desenvolvidos pelo próprio hotel, como o Arara-Azul e o Papagaio-

Verdadeiro, que conseguiram multiplicar a população destes pássaros que

beiravam a extinção até pouco tempo. Localizado no Pantanal de Miranda

(uma das 11 sub-regiões da planície), no Mato Grosso do Sul, o hotel está

inserido em uma das mais belas paisagens pantaneiras. Durante um safári

fotográfico ou uma cavalgada, o visitante encontra tucanos, jacarés, capiva-

ras, queixadas, tamanduás e tuiuiús aos bandos e, o melhor, vai embora

sabendo que na próxima visita eles ainda estarão por lá.

Abaixo, piscina do Refúgio

Ecológico Caiman e pintado

na brasa, prato local servido

no hotel. Na página ao lado,

interior das pousadas do

sofisticado complexo