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Nacionalismo cultural e político* O nacionalismo, enquanto ideologia paira entre nós desde há dois séculos. Estados na Europa, na Ásia e em África estão a testemunhar convulsões nacionalistas sob a forma de reivindicações de autonomia ou de independência total, apresentadas por (etno)nações submetidas que existem dentro das suas fronteiras. Do colapso da U.R.S.S. e da Jugoslávia emergiram dúzias de novos estados. * Llobera, Josep – O Deus da Modernidade: o Desenvolvimento do Nacionalismo na Europa Ocidental, Oeiras: Celta, 2000. 03-07-22 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA 1

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Nacionalismo cultural e político*• O nacionalismo, enquanto ideologia paira entre nós desde há

dois séculos.

• Estados na Europa, na Ásia e em África estão a testemunhar convulsões nacionalistas sob a forma de reivindicações de autonomia ou de independência total, apresentadas por (etno)nações submetidas que existem dentro das suas fronteiras.

• Do colapso da U.R.S.S. e da Jugoslávia emergiram dúzias de novos estados.

* Llobera, Josep – O Deus da Modernidade: o Desenvolvimento do Nacionalismo na Europa Ocidental, Oeiras: Celta, 2000.

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• Inversamente, mas igualmente em tempos recentes, assistimos a tentativas de criar novas identidades, como seja a ideia de “Comunidade Europeia”.

• Outra pergunta formula Llobera: «será que o fundamentalismo islâmico é um tipo de nacionalismo?»

• Só depois de termos esclarecido como se formou o nacionalismo na Europa Ocidental poderemos compreender a sua difusão noutras partes do mundo.

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• A nação, como comunidade cultural definida, é o valor simbólico mais importante da era moderna, dotada como está de um carácter quase sagrado, comparável somente à religião.

• A nação tornou-se o substituto laico ou então o mais poderoso aliado da religião.

• Os sentimentos de comunidade suscitados pela nação são tidos em elevada conta e muito buscados como fundamento da fidelidade no grupo.

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• Simbolicamente, a nação configura combates ideológicos complexos, nos quais participam vários grupos e dos quais o estado moderno é frequentemente o beneficiário.

• As ideologias nacionais, ainda que projectem uma imagem de continuidade, são atravessadas por descontinuidades.

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• Esta “continuidade” é patente no terror irracional dos povos pelo vazio da história, i.e.: nas suas origens e bases, a identidade nacional é uma tentativa para preservar a “senda dos antepassados”.

• A “descontinuidade” é razão do facto de a realidade estar em constante mudança. As ideologias nacionalistas tendem a dar a perceber uma mesma imagem quando, na verdade, estão em causa realidades distintas.

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• O nacionalismo salienta a necessidade de tradição na vida de qualquer comunidade e evoca a posse comum de uma herança de memórias.

• Quando as ideologias (etno)nacionalistas contemporâneas logram estabelecer uma sólida base, política e culturalmente, então tornam-se extremamente resistentes e conseguem suportar toda a sorte de políticas repressivas.

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• A maior parte dos Estados da Europa Ocidental são multi-nação. As velhas entidades nacionais têm raízes na Idade Média.

• Se o nacionalismo moderno surgiu somente com a Revolução Francesa, a identidade nacional é um fenómeno de longa duração. No final da Idade Média os dados estavam lançados para a questão (etno)nacional.

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• O nacionalismo na Europa Ocidental é uma entidade “sui generis”, sem paralelo noutras partes do mundo, a despeito das semelhanças superficiais que sugerem o contrário.

• O nacionalismo enquanto ideia de força mudou a realidade social existente e modelou à sua imagem o mundo da Europa Ocidental moderna.

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• A Revolução Francesa e outros acontecimentos históricos deram ímpeto ao nacionalismo, depois ele seguiu o seu caminho inchando ou esvaziando de acordo com a conjuntura internacional e a resistência encontrada.

• Com os filósofos Jean-Jacques Rousseau (francês) e Johann Gottfried von Herder (alemão) houve uma mudança qualitativa na ideia de nação. Estes autores definiram a nação como:

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i. Uma forma de incorporar o indivíduo (o cidadão) numa unidade política mais ampla. Incluindo a ideia de liberdade do indivíduo que, em conjunto, com outros, constitui por consentimento mútuo a entidade política;

ii. Comunidade (cultural, linguística), uma projecção do indivíduo na sociedade tradicional;

iii. Como sendo caracterizada pela sacralidade, idiossincrasia emprestada à religião.

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• O termo “patrie” (pátria), em meados do séc. XVIII, era comummente designado como o lugar de nascimento, o qual podia ser uma localidade, uma província ou uma região.

• Até 1750, o termo “nation” designava um grupo de pessoas que viviam sob as mesmas leis e usavam a mesma língua.

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• Rousseau era um adepto fervoroso de conservar aquilo que é típico de cada nação: as suas paixões, os seus costumes, os seus gostos.

• Com Rousseau (na sua obra O Contrato Social – 1762) o termo nação atingiu um sentido mais preciso: nação e pátria convergem e nação torna-se também Estado.

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• Com Montesquieu (na sua obra O Espírito das Leis – 1748) o conceito de espírito geral da nação é composto por uma variedade de factores: clima, religião, leis, máximas de governo, precedentes, hábitos e costumes.

• Segundo este filósofo francês, a interacção de causas físicas e morais (i.e. sociais) produzia o espírito da nação. Este autor tem sido acusado de ser um determinista climático ao sustentar que, entre os povos primitivos, a natureza e o clima tudo ditavam.

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• Tendo em conta os factores que formam o espírito geral da nação, na eventualidade de um deles ser alterado, os outros todos podem ser afectados. O espírito da nação seria uma combinação de todos estes elementos.

• Montesquieu chegou mesmo a afirmar, no seu Essaie sur les causes, que na formação do espírito da nação, as causas morais são mais importantes do que as físicas.

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• Com o desenvolvimento da civilização, as influências climáticas são temperadas pelo despontar da religião, da moral, da lei, etc.

• Também o filósofo britânico David Hume (na sua obra Of National Characters – 1748) defendia que cada nação tinha um conjunto de maneiras de ser peculiares, que podiam ser explicadas relativamente a causas físicas (clima) e morais (governo, riqueza, etc.).

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• Hume, porém, preferia apresentar causas morais para a formação do carácter nacional.

• Este filósofo apresentou uma lista de exemplos que percorrem o tempo e o espaço para demonstrar o efeito das causas morais:

i. Os governos que existem há muito num vasto território provocam a difusão de um carácter social por toda a área (e. g. China);

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ii. As pequenas nações contíguas apresentam caracteres distintos ainda que os climas sejam os mesmos (e.g. Atenas e Tebas, na Grécia Antiga);

iii. Os caracteres nacionais configuram-se em fronteiras políticas e não geográficas (e.g. França e Espanha);

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iv. O povo de uma nação em diáspora, desde que mantenha o seu carácter original através de um contacto estreito e da conservação dos seus hábitos será diferente de outros povos no meio dos quais vive (e,g, os Judeus);

v. Se duas nações convivem no mesmo território e não se cruzam devido a diferenças linguísticas, religiosas ou outras, manterão durante séculos os seus caracteres nacionais distintos (e.g. Turcos e Gregos);

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vi. O carácter nacional acompanhará uma nação na sua expansão pelo mundo (colónias espanholas, inglesas e francesas na América);

vii. Os caracteres nacionais poderão alterar-se substancialmente de um período histórico para outro, devido a diversas razões – mudanças de governo, misturas étnicas, etc. – e.g. os Gregos na Grécia Antiga e o mesmo povo na Grécia Moderna.

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viii. As nações adjacentes que têm mútuos contactos políticos, comerciais ou quaisquer outros irão desenvolver algumas características nacionais comuns.

ix. Certas nações apresentam uma combinação perfeita de hábitos e caracteres, daí resultando que o seu carácter nacional não seja bem vincado como é o caso da Inglaterra, mas não da Escócia, apesar do clima ser semelhante.

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• Entre muitas coisas que a literatura romântica veiculou encontram-se a consciência e o orgulho nacionais.

• O desenvolvimento prodigioso do nacionalismo moderno no séc. XIX resultou do efeito combinado da Revolução Francesa e do Romantismo.

• Uma série de ideias temáticas emergiram durante o último quartel do séc. XVIII, que constituíram o núcleo de Romantismo e directa ou indirectamente, contribuíram para difundir a visão nacionalista pelo mundo.

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PLURALISMO

• A crença não apenas na multiplicidade como ainda na incomensurabilidade dos valores das diferentes culturas e sociedades.

• Trata-se de uma concepção central tanto para o discurso de Rousseau como para o de Herder.

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• É uma afirmação do valor da diversidade, das opiniões, caracteres, gostos, artes e culturas humanas. A diversidade das nações era natural e necessária e também sumamente desejável e correcta.

• É uma reacção contra o uniformismo que o Iluminismo transmitia e conduziu à noção de que as nações devem preservar as suas características a todo o custo.

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• As características distintas do povo, expressas na sua Volksgeist (i.e. espírito nacional), são um ponto de convergência para a imaginação romântica, constituindo um dos elementos indispensáveis deste movimento.

• O impulso inicial de ressurgimento nacional de muitos povos deve muito a esta noção herderiana de singularidade.

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• Um autor, Lovejoy, estava convicto de que a ideia de superioridade nacional tinha raízes na intimação Romântica da manifestação e exaltação da diferença, que facilmente degenera no desenvolvimento de um preconceito contra outras nações.

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NOSTALGIA DO PASSADO

• O futuro pouco interessava aos românticos, a sua obsessão com o passado era uma forma de justificar e dar legitimidade a cada instituição ou crença.

• O elemento religioso era muitas vezes crucial na idealização do passado, para isso a Idade Média era um pólo de atracção para os Românticos devido à sua espiritualidade cristã.

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• Do ponto de vista do nacionalismo, a nostalgia do passado apresentou-se como um olhar retrospectivo sobre uma época de vida da nação em que se atingiu glória literária, êxito político ou quando se assistira ao seu desabrochar cultural.

• No campo do romance histórico, Sir Walter Scott, despertou o interesse patriótico pela causa das nacionalidades pequenas e oprimidas e o impacto dos seus romances na Europa foi espantoso, contribuindo para criar um interesse pela história esquecida de muitos países.

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• A escola histórica alemã, advogava que a história era a fonte da lei e sustentava que as leis, tal como a língua, a religião e os costumes eram um cúmulo histórico, pelo que a sua alteração não podia ser deixada ao arbítrio dos indivíduos.

• Savigny, representante daquela escola, defendia que a lei estava estritamente ligada ao Volksgeist e que as regras próprias de cada nação se achavam em consonância com o seu espírito.

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• A lei é o resultado de forças inconscientes e não o fruto de actividades humanas livres e conscientes.

• Nos tempos mais remotos a que se estende a “história autêntica”, já se encontra a lei com um carácter fixo peculiar a cada povo (Volk), como a sua língua, maneiras e constituição.

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Romantismo e nacionalismo

ORGANICISMO

• A concepção globalizante de nação já estava presente em Herder. A ideia de que um todo social era mais do que a soma das partes – os indivíduos.

• As metáforas da nação como um organismo (planta ou animal) são comuns nesta época. A ideia de crescimento, maturação e decadência da nação será replicada por muitos escritores românticos.

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Romantismo e nacionalismo

ANTI-RACIONALISMO

• Sentia-se que o Iluminismo com a sua objectividade científica distanciada, sufocava a emoção humana. Para os Românticos, as emoções e a imaginação estavam acima de tudo.

• O patriotismo como questão sentimental aparecia bem colocado na hierarquia dos valores do homem romântico.

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Romantismo e nacionalismo

• O mito é altamente valorizado pelos Românticos, porque enquanto o Iluminismo tinha remetido o mito para “o inferno das ideias supersticiosas”, os Românticos fizeram deles objectos de adoração e reverência, consideravam-nos fontes de cultura humana.

• As nações, os mitos de origem e de desenvolvimento desempenharam um papel de importância crescente na historiografia Romântica por toda a Europa.

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A Revolução Francesa e as suas sequelas

• A Revolução foi um acontecimento crucial para o desenvolvimento do nacionalismo, tanto do francês como dos demais países.

• A Revolução Francesa foi desde o início uma manifestação continuada e sustentada da identidade nacional e patriotismo, a qual culminou com o nacionalismo chauvinista da França como grande nation.

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A Revolução Francesa e as suas sequelas

• A Revolução Francesa foi a primeira revolução nacionalista moderna, que mais tarde se tornou o modelo doutros países europeus.

• Há duas dimensões do nacionalismo: o nacionalismo como ideologia vinculada pelos desenvolvimentos internos da Revolução Francesa e passível de ser imitado por outros países e o que foi suscitado pela reacção contra as políticas imperalistas de Napoleão.

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A Revolução Francesa e as suas sequelas

• Antes de 1789, a última assembleia de Estados Gerais, havia-se reunido somente em 1614. Esta assembleia visava neutralizar a ameaça da Nobreza, utilizando o Terceiro Estado como tampão.

• Longe estava Luís XVI, que convocou a reunião, de suspeitar que, uma vez “à rédea solta”, o Terceiro Estado iria subverter radicalmente a ordem das coisas, pondo termo ao poder do rei e da monarquia.

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• Em 1789, o carácter nacional francês era encarado politicamente e não em termos culturais – a língua desempenhava um papel muito limitado.

• Existia o desejo de unidade e uniformidade, bem como de liberdade e equidade e a educação era vista como instrumento para a construção da nação.

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A Revolução Francesa e as suas sequelas

• A ideia de democracia era particularmente forte nos cadernos compilados pelo Terceiro Estado, pois a soberania popular surgia como palavra-chave – a convicção de que todo o poder radica na nação e que o Terceiro Estado a personifica.

• Tal desejo de democracia devia-se ao facto do Terceiro Estado pretender uma representação mais equitativa numa futura reunião dos Estados Gerais.

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• A atenuação da diferença de classes e o apelo ao fim das diferenças entre províncias, para o seu nivelamento e uniformização.

• O estatismo também estava presente nos cadernos gerais – o estado era visto como o único e absoluto soberano.

• O patriotismo dos cadernos gerais fazia da patrie um ideal em que combinava o conceito de um lugar chamado França, certas tradições, um estado, etc., e a prossecução do bem-estar da nação em geral.

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• Os cadernos exprimiam ainda a preocupação evidente com a propagação do patriotismo através da educação e viam nas identidades regionais um obstáculo a essa ideia.

• Para Josep Llobera, não se deve exagerar o “nacionalismo” que emana dos cadernos.

• De facto existiram fortes resistências à ideia de França como unidade por parte dos pays d’état (assembleias de províncias) que se consideravam a si mesmos como estados soberanos com uma identidade nacional definida.

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• Entre 1788 e 1792, o abade Sieyès publicou o livro “O que é o Terceiro Estado” no qual anunciava que havia chegado a hora de o povo de França – o Terceiro Estado – se tornar naquilo que era por direito – a nação francesa.

• Para ele a nação francesa era fundamentalmente um corpo de associados vivendo sob uma lei comum e representados na mesma assembleia legislativa.

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• Sieyès acreditava que as liberdades dos indivíduos tinham sido sonegadas pela aristocracia sendo necessário devolvê-las ao povo de França.

• Além disso pretendia pôr fim ao governo aristocrático, aos princípios regionais, às divisões e à miríade de instituições intermediárias e corporações que se interpunham entre o indivíduo e o Estado.

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• Sieyès apresentava um projecto de um Estado-nação que significava a subversão da antiga estrutura política e ia no sentido de um Estado mais democrático e de tipo mais unitário.

• Este abade propunha uma definição política de nação em que as facetas étnicas e políticas perdiam toda a importância e o mesmo pode ser dito da raça.

• Ele declarava que o Terceiro Estado era a nação sendo racialmente constituída por descendentes da população galo-romana.

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• Ele via na aristocracia um corpo estranho, inútil e dispendioso da nação francesa que era necessário extirpar.

• Dizer que o povo é soberano e que o Terceiro Estado era a nação era uma declaração revolucionária em 1789.

• Mas Sieyès foi mais longe, disse que a nação era anterior preexistia a qualquer fenómeno social ou às instituições. A nação era a fonte de toda a autoridade e de todos os direitos.

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A Revolução Francesa e as suas sequelas

• A influência de Sieyès sobre os jacobinos foi notória, embora se tivesse mantido imparcial durante o Terror Revolucionário.

• A nação também era uma união de trabalhos privados e necessidades públicas que estaria apta a oferecer maior bem-estar aos seres humanos do que qualquer instituição conhecida.

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Emmanuel Joseph Sieyès (1748-1836)

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A Revolução Francesa e as suas sequelas

• O processo de votação foi essencial na reunião dos Estados Gerais, enquanto que as duas primeiras classes e o rei eram a favor de que cada classe votasse em separado, o Terceiro Estado estava inteiramente contra tal sistema.

• Por fim, os seus chefes declararam constituir-se em assembleia nacional, convidando os representantes das restantes classes a juntarem-se-lhe enquanto indivíduos.

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A Revolução Francesa e as suas sequelas

• Em 17 de Junho de 1789 nascia a moderna nação francesa, o sentimento de unidade nacional desenvolveu-se em consequência de os representantes do Terceiro Estado se reunirem em Paris e descobrirem pela primeira vez que constituíam uma nação.

• Com a Tomada da Bastilha em 14 de Julho de 1789, a Assembleia Nacional tomou uma série de decisões no sentido de consolidar a nova ou redescoberta nação.

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A Revolução Francesa e as suas sequelas

• O povo francês estava crente de ser capaz de estabelecer uma nova comunidade nacional, assente na razão e na natureza, sem referência aos costumes do passado.

• Consumar este objectivo exigia novas práticas políticas: a técnica de propaganda de massas, a mobilização política das classes inferiores e a politização da vida de todos os dias, tudo isso foi inventado com o objectivo de regenerar a nação.

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• Em 4 de Agosto de 1789, a Assembleia Nacional abole os direitos feudais e privilégios – tal envolveu um nivelamento nacionalista, ou seja: a supressão dos direitos e fronteiras provinciais. As regiões já não tinham direito a ver-se como nações – a França era a única possível.

• Com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 27 de Agosto de 1789, a ideia de unidade nacional tornou-se mais evidente – no artigo 3º lê-se:

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«O princípio de toda a soberania reside fundamentalmente na nação e nenhum corpo ou indivíduo pode exercer qualquer autoridade que dela não decorra directamente.»

• Em breve havia uma língua nacional, uma educação nacional e um exército nacional, marinha nacional, política nacional, propriedade nacional. Tudo o que era “real” tornou-se “nacional”.

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• Com a Constituição Civil do Clero, em Julho de 1790, e a secularização da Igreja, em Novembro de 1789, padres e bispos eram eleitos pelo povo, remunerados pelo Estado e a ligação a Roma era apenas nominal.

• Tal constitui uma tentativa não apenas de submeter a Igreja Católica ao Estado, mas também de criar uma nova religião do nacionalismo francês.

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• Os franceses inventaram uma nova nação e consolidaram-na criando um conjunto de símbolos:

Desde a bandeira tricolor às imagens femininas da França, dos altares patrióticos aos rituais revolucionários das canções patrióticas como ‘A Marselhesa’, ao culto dos santos, dos clubes aos festivais.

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• Era a construção de uma nação e representava um corte radical com o passado, que apesar de empregar uma linguagem de tipo religioso não era necessariamente de inspiração judaico-cristã, antes se orientava para um culto da Antiguidade Clássica.

• A partir da Revolução Francesa emergiu uma nova fé, cujo objectivo era regenerar os cidadãos. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão era um novo credo, um catecismo nacional. Em 1791, a Constituinte torna-se uma profissão de fé no patriotismo francês.

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• A tricolor que combinava o vermelho e o azul da cidade de Paris com o branco dos reis Bourbons, adquiriu carácter oficial em 1792.

• Festividades cívicas, onde medrou a ideia de uma fraternidade real e duradoura, a preocupação com o bem público, a crença de valer a pena o sacrifício de interesses privados aos públicos e um sentido de unidade da França foram ideias que predominaram neste período.

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A bandeira tricolor

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• Estas festas celebraram os acontecimentos revolucionários do passado (e. g. Tomada da Bastilha) e festejavam acontecimentos políticos correntes (alterações constitucionais importantes).

• Existiam ainda cultos aos mártires da liberdade, aqueles que contribuíram para a causa revolucionária, e festividades morais em que a virtude era recompensada através da outorga de condecorações ou coroas cívicas aos cidadãos de mérito.

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• Os cultos cívicos eram a expressão de uma verdadeira religião, constituída com base na filosofia do séc. XVIII.

• Os revolucionários preocupavam-se sobretudo com a unidade nacional e viam a religião como complemento subordinado ao Estado e este como guardião da virtude e instrumento da felicidade.

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• Igualmente se fez uma tentativa de introduzir um regulamento civil para os passos tradicionais da vida de um indivíduo (baptismo, casamento, funeral, etc.) e até mesmo o calendário (com semanas de 10 dias) foi alterado.

• «O fosso aberto entre o republicanismo e catolicismo nunca foi colmatado.» [Llobera]

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• Se na altura da Revolução Francesa se julgava que o francês era a língua falada no país, o facto é que existiam vários outros idiomas em diversas partes: o bretão, basco, catalão, alemão e ocitânio.

• A revolução, por meio de clubes, festivais, jornais e, mais tarde, exército, era indirectamente responsável pela divulgação da língua nacional.

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• Os revolucionários julgavam que ao obrigar à utilização do francês estavam a democratizar o país. Para eles a disparidade linguística constituía um obstáculo fundamental ao exercício da democracia burguesa, ao domínio público pela burguesia.

• A Revolução Francesa veiculou no mínimo três conceitos de nação:

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i. Concepção jacobina (grupo identificado com o povo; trabalhadores da classe mais baixa e integrantes da baixa burguesia): da qual Robespierre, que seguia as doutrinas de Rousseau, era o mais destacado representante.

Segundo esta ideia, o patriotismo é concebido como uma luta pela liberdade e aproximação humana e a pátria não existe idealmente independente do comportamento do povo. É através dos actos patriotas que ele se cria.

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ii. Concepção dos sans-culottes (trabalhadores e até pequenos proprietários participantes da Revolução Francesa, principalmente em Paris):

Viam a nação como uma exteriorização do sentimento patriótico, cujo fundamento era a afirmação da unidade, abolindo tudo o que separava o corpo social. O seu lema era a soberania popular, não a representação nacional.

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iii. Concepção centrista da Nação: característica de Danton e dos Girondinos (facção política maioritariamente burguesa, que se posicionou contra a monarquia absoluta e o Antigo Regime em geral), a qual colocava a tónica na união territorial da nação.

Neste último conceito assiste-se à transição política de pátria para o conceito de nação. A pátria era um conglomerado de afectos que unia os cidadãos, mas agora através da mediação de um território exclusivo.

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• Há um desejo de obter unidade e comunidade que, de acordo com Llobera, é um sentimento que o patriotismo e o nacionalismo herdaram da religião.

• A Revolução Francesa, em apenas alguns anos, determinou mudanças radicais no conceito de nação francesa. De uma situação em que o monarca era visto como símbolo da nação até uma nação concebida como vontade geral do povo.

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• As vozes federalistas durante a Revolução foram silenciadas, a unidade do povo não era negociável independentemente da vontade do povo. O resultado final foi um regime altamente centralizado, sem paralelo na História da Europa Ocidental.

• Os enclaves vizinhos (Avinhão, Comtat, etc.) exprimiam a sua vontade de serem franceses, mas também numa gama de territórios de expressão francesa (Sabóia, Suíça, Bélgica, Nice, etc.) havia patriotas que desejavam ser anexados à França revolucionária.

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A Revolução Francesa e as suas sequelas

• Noutras áreas onde as novas ideias penetraram profundamente (Holanda) havia a esperança de ver o seu direito a auto-governo apoiado pela França.

• Os revolucionários hesitavam entre apoiar aqueles que se queriam libertar a si mesmos e o risco de alterarem o equilíbrio de poder existente na Europa. A primeira via foi a escolhida.

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A Revolução Francesa e as suas sequelas

• A ideia de “república irmã” foi buscada para designar aqueles países em que os patriotas estavam a tentar rebelar-se contra o Antigo Regime e pretendiam aplicar os princípios da Revolução Francesa.

• Com a vitória do Directório em 1795, as fronteiras naturais da Gália e a anexação das repúblicas irmãs para as proteger e fornecer recursos à Grande Nação foi adoptada.

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A Revolução Francesa e as suas sequelas

• Ao pretender reviver o Sacro Império Romano, Napoleão foi quem mais contribuiu para fazer despontar os nacionalismos na Europa.

• Enquanto o Grande-Armée consegui vitórias, a população francesa apoiou-o. Napoleão nunca gerou nacionalismo de Estado, apenas se preocupava com a lealdade à sua pessoa e à monarquia imperial.

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A Revolução Francesa e as suas sequelas

• Os seus apelos não foram feitos em nome do amor à nação francesa, mas sim à glória do Estado Francês.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914*

• A história da ideia nacional no séc. XIX cabe quase inteiramente nas oscilações entre nacionalismo de esquerda e o de direita, entre democracia e tradição.

• No Congresso de Viena de 1815, soberanos e diplomatas, ocupados em destruir a obra da Revolução, não levaram em conta a reconstrução da Europa, a aspiração à independência e à unidade que tinha sublevado os povos contra Napoleão e os tinha situado ao lado dos soberanos.

*RÉMOND, René – Introdução à História do Nosso Tempo, Lisboa: Editora Gradiva, 1994.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• Os alemães ficaram desiludidos com o regresso à divisão da confederação germânica; os italianos ainda mais com a dominação estrangeira (Piemonte, Sardenha, Estados da Igreja, Reino das Duas Sicílias).

• A aliança, entre 1815 e 1830-40, do movimento das nacionalidades e da ideia liberal provém do desconhecimento pelos diplomatas das aspirações nacionalistas. Os dois movimentos confundem-se a partir de então.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• As revoluções de 1830 apresentam este duplo carácter de revoluções liberais e revoluções nacionais.

• Onde triunfam instituem a independência e a liberdade. É assim que a Bélgica se subtrai à dominação de Haia e se dota em 1831 de uma constituição liberal.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• Entre 1830 e 1850, o nacionalismo evolui de liberal para democrático. Em Itália, “a jovem Itália” criada por Mazzini, combina as aspirações a uma república democrática e à independência e unidade da Itália.

• Esta ligação entre democracia e o fenómeno nacional expande-se com as revoluções de 1848, quando se fala nesta época de uma primavera de povos, tal significa simultaneamente a emancipação nacional e a afirmação da soberania do povo.

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A revolução de 1848 na Alemanha

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• Na Hungria, Kossuth, que encarna a vontade de independência frente à dominação de Viena, proclama a república.

• O nacionalismo é ora unitário, ora separatista, conforme as situações geográficas. Em 1848, os nacionalistas estão quase todos ligados à tradição democrática.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• Estes movimentos fracassam e em 1850 (aproximadamente) é restaurada a Europa do Congresso de Viena, a Europa dos soberanos.

• Uma terceira vaga do movimento das nacionalidades de 1850 a 1870 é mais decisiva. O princípio das nacionalidades é então admitido como um princípio do direito internacional.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• Deste princípio resulta que os principados danubianos subtraídos ao Império Otomano se possam fundir.

• Se estes movimentos se apoiam nos povos, fazem-nos por vezes a expensas da liberdade individual. Na Alemanha, para realizar autoritariamente a unidade, Bismarck, apoia-se no povo contra os particularismos regionais.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• Sacrifica-se a liberdade pela realização da unidade nacional, a maior parte dos liberais optam pela nação contra a liberdade.

• Acredita-se menos na sublevação espontânea do povo, conta-se mais com os meios clássicos da guerra estrangeira, a diplomacia tradicional, as alianças externas.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• Bismarck atinge os seus objectivos à custa de três guerras e graças a alianças externas contra a Áustria e a França.

• A unidade italiana, que fracassou ao ser ensaiada através da sublevação do povo italiano é atingida quando o Piemonte se alia à França ou à Alemanha de Bismarck.

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Otto von Bismarck (1815-1898)

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• Em 1870, o mapa da Europa está profundamente modificado, surgem novas potências no coração da Europa, nascidas da aspiração à independência e à unidade nacional.

• Na Áustria, o dualismo adoptado em 1867, é uma tentativa dos austríacos associarem a nacionalidade magiar à direcção do império.

• Contudo, nem os checos, nem os croatas, nem os transilvanos, concebem porque razão se lhes recusa o que os austríacos concedem aos húngaros.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• A Rússia depara-se com o mesmo problema com a Polónia, cujo sentimento nacional não está extinto, apesar do insucesso das duas revoluções de 1830 e 1863.

• A existência de nacionalidades balcânicas é um quebra-cabeças para o Império Otomano.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• A constituição da Bulgária numa nacionalidade autónoma, em 1878, as guerras balcânicas de 1912 e 1913, consumam a ruína do Império Otomano, reduzido na Europa à cidade de Constantinopla e arredores.

• A questão irlandesa reacende com o terrorismo.

• As guerras de reunificação da Alemanha e Itália criam novos pomos de discórdia, com a anexação da Alsácia e da Lorena pelo Império Alemão.

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• O irredentismo (i.e. doutrina política dos que entendem que devem pertencer à Itália certas regiões dela separadas, que pertencem à França, Áustria, etc., mas que continuam ligadas a ela pela língua, pelos costumes) reivindica ainda o Trentino, Trieste, a Ístria e a costa Dálmata.

• Existe igualmente uma coligação dentro do império Austro-Húngaro entre povos eslavos e o grande irmão Russo. Contra o pan-eslavismo desenha-se o bloco austro-alemão, que sonha realizar o programa do pangermanismo.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• O conflito entre o pan-eslavismo e o pangermanismo é uma das componentes do conflito mundial e traz consigo o germe da ruína das construções históricas do edifício dinástico do império dos Habsburgos.

• Desde antes de 1914 que o movimento das nacionalidades ultrapassa o quadro da Europa: no Império Otomano, um movimento de renovação nacionalista, animado pelos ‘Jovens Turcos’, apodera-se do poder em 1908.

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• Se o nacionalismo decorrente da revolução de 1848, proclamou a paz no mundo, o nacionalismo francês posterior a 1870 é facilmente xenófobo e exclusivo.

• Esta mutação prepara o deslizar do nacionalismo europeu para as teorias autoritárias e para o fascismo pós-1918.

• No fim do séc. XIX com o nascimento de uma consciência de classe operária e a crescente difusão das ideias socialistas, o nacionalismo achou-se mais remetido para a direita.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• Para combater o socialismo internacionalista, o nacionalismo desliga-se da democracia e combate todas as forças que pareçam extra-nacionais ou supranacionais.

• Assim desenvolve-se o anti-semitismo e a xenofobia. O nacionalismo volta-se para as doutrinas reaccionárias e contra-revolucionárias. Aparece ligado ao conservadorismo político e social.

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A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914

• Se o sentimento e a ideia nacionais foram, no séc. XIX, uma força decisiva em princípio de acção essencial contra os Estados Opressores, ele esteve também na origem da maior parte dos conflitos internacionais.

• O movimento nacional foi um agente fulcral de transformação na Europa.

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