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nasce de muitas vozes - Amazon S3 · 2018. 11. 12. · nasce de muitas vozes A independência do Brasil pode ser medida e celebrada quando percebemos sua presença na vida cotidiana

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  • Independência – um gritonasce de muitas vozes

    A independência do Brasil pode ser medida e celebradaquando percebemos sua presença na vida cotidianade cada brasileiro.É quando independência se traduz na barriga cheia, noespírito pleno, no prazer de morar com dignidade, comsaúde, ambiente limpo e cidadania ativa.Um grau de independência que se mede no individuale no coletivo. No institucional e no pessoal.A independência viva das ruas com maior liberdadeeconômica, fraternidade social, responsabilidade nosdeveres e igualdade de direitos.Essa proclamação construída na luta de todo dia refazo compromisso da independência a cada 7 de setembro.Independência capaz de inventar um grito novo comoresposta, segundo o momento e as circunstâncias.Independência prática e praticada. Rede de alianças.

    Pacto de gente comum para garantir conquistase ampliar metas.Independência construída nas muitas vozes independentes.É quando a gente consegue alterar o que está ao nossoalcance; quando melhoramos nossas relações no trabalho;revitalizamos nosso lugar; ampliamos nosso acesso às artese cultura; encontramos ferramentas para expressaropiniões e modos de viver; mantemos, com dignidade,nossa família; avançamos na justiça, mesmo em pequenosgestos solidários.Dessas muitas vozes, compomos o novo grito.Proclamação de todo dia. Na eterna luta da vida contraa dependência, que é morte.

    MAR

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  • EDITORIAL

    Coordenadores gerais

    Ana Paula Cusinato (MPDFT)

    Roberto Policarpo Fagundes (TRT)

    Wilson Batista de Araújo (TRE)

    Coordenadores

    de Administração e Finanças

    Berilo José Leão Neto (STJ)

    Cledo de Oliveira Vieira (TRT)

    Edilson Franklin Medeiros (TST)

    Coordenadores de Assuntos

    Jurídicos e Trabalhistas

    Antônio Francisco Machado Costa (MPM)

    Jailton Mangueira Assis (TJDFT)

    Sheila Tinoco Oliveira Fonseca (TJDFT)

    Coordenadores de Formação

    e Relações Sindicais

    Ademário Oliveira Nogueira Filho (TJDFT)

    Nilton José Cordeiro Monteiro (TJDFT)

    Thayanne Fonseca Pirangi Soares (TSE)

    Coordenadores

    de Comunicação, Cultura e Lazer

    Eliane do Socorro Alves da Silva (TRF)

    Valdir Nunes Ferreira (MPF)

    Welton Ferreira Damasceno (TJDFT)

    Redator responsável

    TT Catalão

    Reg. Prof. 685-DF

    Assistente

    Cynthia de Lacerda Borges

    Revisora

    Ana Paula Cusinato

    Projeto Gráfico

    Extrema Comunicação - 3033-5255

    Tiragem

    10.000 exemplares

    Capa

    Montagem sobre foto de Valter Campanato - ABR

    EXPEDIENTE

    C

    SDS Ed. Venâncio V BI. RSalas 108 a 114CEP 70393-900 – Brasília – DFPABX (61) 3224 - 9392www.sindjusdf.org.br

    omo dizia Hannah Arent, dizer a verdade dos fatos abrange muito mais do que a

    informação diária suprida pelos jornalistas. A busca da verdade requer descom-

    promisso com governos ou oposições, com partidos ou classes, isenção no inte-

    resse pessoal no pensamento e no julgamento.

    Esse tema é de grande importância para os servidores do Poder Judiciário e do Ministério

    Público que, além de serem atingidos como leitores e formadores de opinião, ultimamente

    tem sido, também, vítimas da informação desvirtuada sobre a remuneração da categoria.

    Isso no momento em que foi enviado o PCS do Judiciário ao Congresso Nacional.

    Vender notícia é o que está em jogo. E para que os grandes investidores, nacionais e internacionais,

    continuem financiando os veículos de comunicação não pode existir o jornalismo romântico e utópico

    ensinado nas universidades de que o profissional deve lutar sempre para informar com isenção.

    Não é de agora que a imprensa resolve implicar com reivindicações de categorias ou

    movimentos sociais. Isso ocorreu na época da aprovação dos nossos PCS anteriores, durante

    a votação do reajuste da GAJ, reforma da previdência, na greve dos petroleiros, na tentativa

    de marginalizar o Movimento dos Sem-Terra.

    O professor Antônio da Silva Câmara, Departamento de Sociologia/Pós-Graduação em

    Ciências Sociais, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal

    da Bahia, percebeu a mudança pela imprensa da divulgação dos movimentos sociais.

    “Contrariando a sua definição ideológica de relatar a realidade imediata, a imprensa

    divulga, recria e reinventa os fatos relativos aos movimentos sociais, adquirindo o cará-

    ter de um falso sujeito social. Isto ocorre, pois ao revelar certos aspectos das lutas

    sociais, outros são ocultados; ao acentuar determinados ângulos da informação outros são

    suprimidos em função tanto de interesses mercadológicos quanto de compromissos políticos

    dos proprietários dos meios midiáticos”, destacou.

    Antônio da Silva, em artigo no site ComCiência, diz que não leva em consideração os

    comportamentos anti-éticos de jornalistas que interferem no curso dos próprios movimentos

    objetivando sucesso pessoal. “No entanto, é disseminada a prática de construírem-se ima-

    gens de movimentos sociais que não correspondam à imagem que eles fazem de si mesmos

    e que podem contribuir, inclusive, na mudança de rumos”, comentou.

    O professor cita que a necessidade de financiamento de parte dos patrocinadores impe-

    de as empresas de praticarem um jornalismo independente e autônomo. “Mesmo em países

    desenvolvidos como a França, apenas um jornal de tiragem mensal - Le Monde Diplomatique

    - têm mantido uma postura crítica e independente, isso porque sobrevive enquanto uma

    associação de jornalistas financiada quase que inteiramente pelos seus assinantes”, citou.

    A verdade permanece exposta a todos os perigos provenientes do poderio político e

    econômico. As probabilidades de que a verdade prevaleça em público dependem do fortale-

    cimento das instituições democráticas, da criação de uma rede de proteção da imprensa

    contra o poder governamental e financista e a ampliação do número de formadores de

    opinião que sejam capazes de promover uma análise crítica do que é publicado.

    Sensacionalismo da imprensa

  • ARTIGO

    José Geraldo de Souza JuniorProfessor e ex-diretor da Faculdade de Direito da UnB,coordena o Projeto “O Direito Achado na Rua”

    Ao final de um dos en-saios que compõemo livro “Crises da Re-pública”, HannahArendt se refere à

    reserva de confiança que gran-des nações acumulam, para po-derem, em momentos de tumul-to, procederem a processos demudança, sem sucumbirem aosdesatinos e ao fracasso institu-cional, em seu presente políti-co. Ela alude à emergência, ca-racterística dessas conjunturas,salientando que é a energia gal-vanizada pela idoneidade dehomens e de suas associações,que vai fazer aflorar o legítimo

    Constituinte, revisãoou participação popular?exercício do poder e da autorida-de, para o uso de instrumentostradicionais que permitam a recu-peração das instituições e a pos-sibilidade de encarar o futuro.

    A lição da grande pensadoraparece ser dirigida à realidadeatual do Brasil, engolfado numacrise cujos contornos são aindaimprecisos, mas que nem delonge alcançam a dimensão decrise republicana, uma vez queas instituições continuam fun-cionando regularmente, a eco-nomia se mantêm estável e opresente político não apresen-ta sinais de ruptura que afronteo quadro jurídico do País.

    Com efeito, toda a reservautópica levada ao debate cons-tituinte de 1988 dá substância auma Constituição que foi a garan-ta de uma transição política pac-tuada, na passagem do regime deexceção, materializado numa di-tadura militar, para o regime de-mocrático, tornando-se, assim, aexpressão de sua legitimidade emodo de institucionalização.

    Por isso soa estranho, nestemomento, a investida ruidosa depropostas lançadas pela inter-pretação apressada, ainda quecom boa intenção, de que aemergência é institucional,quando na verdade, o que elarevela, como diz Hannah Aren-dt, é “a inidoneidade dos ho-mens, propensos a aquiescer, senão a sucumbir à iniqüidade”.

    Entre tais propostas, ressal-ta-se a convocação de uma novaConstituinte, autônoma e exclu-siva (sugestão inicial, felizmen-

    te abandonada, feita pelo Presi-dente do Conselho federal daOAB); a iniciativa, no âmbito doParlamento, de atualizar antigaproposta, apresentada em 1997,de convocação de AssembléiaNacional Constituinte, com po-deres limitados, para operaruma revisão política (contra aqual, naquela ocasião, me ma-nifestei em depoimento na au-diência pública convocada pelaComissão Mista para exame daproposta); e Emenda à Consti-tuição (PEC nº 157/2003), convo-cando Assembléia de RevisãoConstitucional, a ser instaladaem 1º de janeiro de 2007, parafuncionar pelo prazo máximo de12 meses, discutir unicameral-mente a matéria objeto de revi-são, aprovar o texto de revisãopor maioria absoluta de votosde cada uma das Casas, promul-gar o texto após aprovação po-pular por meio de referendo ecom a salvaguarda das cláusu-las pétreas (art. 60, 4º), dos Di-reitos e Garantias Fundamen-tais e dos Direitos Sociais.

    Contra todas essas propos-tas a tomada de posição de im-portantes juristas se fez demodo firme e procedente. Portodas as objeções, vale por emrelevo o posicionamento de Pau-lo Bonavides em entrevista degrande repercussão, na Folha deSão Paulo, de 15/8/05 (A 14). Parao notável jurista, que trouxepara o Direito Constitucional aperspectiva da democracia par-ticipativa, essas iniciativas to-mam a expressão de golpe con-

    tra a Constituição, provocandoinstabilidade institucional,abrindo a possibilidade de des-constitucionalização do País, porcausa da vulnerabilização de seupotencial democrático. Para ele,a mudança possível, na transiçãoconstitucional, é “no sentido detransformar a democracia diretaem democracia mais participati-va, dando mais poder ao povo,mais presença deste na legitima-ção das tarefas de governo”.

    É nessa mesma linha de en-tendimento que se coloca FábioKonder Comparato, presidenteda Comissão de Defesa da De-mocracia e da República, doConselho Federal da OAB, a qualtenho o privilégio de integrar .Para Comparato, é o controlesocial, por meio da participaçãopopular, com o uso dos meiosprevistos na própria Constitui-ção – o referendo, o plebiscito ea iniciativa popular – o melhorinstrumento para construir umaopção republicana de enfrenta-mento da crise. Daí a propostadesenvolvida no seio da Comis-são da OAB de “reforçar poremenda constitucional o poderdo povo de decidir por plebiscitotodas as políticas sociais e eco-nômicas, questões acerca da ali-enação do patrimônio nacionale tratados internacionais, revo-gar mandatos eletivos e incenti-var as leis de iniciativa popular”,atribuindo mais responsabilida-de à participação popular nagestão e na decisão dos rumosdo País e realizando uma demo-cracia mais autêntica.

    “Toda a reservautópica levada aodebate constituintede 1988 dásubstância a umaConstituição quefoi a garantia deuma transiçãopolítica pactuada,na passagem doregime de exceção,materializado numaditadura militar,para o regimedemocrático,tornando-se, assim,a expressão de sualegitimidade”

    Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 274

  • CAPA

    H

    Outubro será o mês dejornada de lutas pelos PCS

    istoricamente outu-bro é um mês de lu-tas. Para nossa cate-goria esse ano tam-bém será. Manifesta-

    ções, paralisações e até mesmouma greve está sendo preparadapara garantir a aprovação dosPCS do Judiciário e do MPU.

    Um cenário negativo assolao Brasil de maneira gigantescae dá a impressão de, assim comouma bola de neve, crescer a cadadia com novos acontecimentos.São CPIs investigando desvios

    de verbas, cassação de parla-mentares, pagamentos demensalão, cobranças de pro-pinas, renúncia do presiden-te da Câmara em meio a de-núncias de corrupção e vári-as apurações de nomeaçõesem cargos públicos como mo-eda de troca para favores po-líticos. Situações que levamo trabalhador brasileiro a umdesconsolo e, ao mesmo tem-po, à esperança de que asapurações cheguem ao final omais rapidamente possível.

    É nesta conjuntura, bastanteadversa para o conjunto dos tra-balhadores, que o Sindjus está lu-tando pela revisão dos atuais PCSdo Judiciário e do Ministério Pú-blico. Será preciso mostrar aos par-lamentares que essa luta é pararecompor o nosso poder aquisiti-vo, corroído por uma política eco-nômica recessiva, que sacrifica sa-lários para pagar a dívida exter-na, tenta manter a qualquer cus-to os percentuais de superávit pri-mário e emperra a capacidade deinvestimento do Estado.

    Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 27 5

  • CAPA

    Vamos demonstrar aos con-gressistas, por exemplo, que amaioria das carreiras de nívelsuperior dos outros poderestem salários superiores aosque são pagos às carreiras se-melhantes no Poder Judiciário,algumas delas mais do que odobro. Um analista do Senado,por exemplo, ganha, no inícioda carreira, R$ 9.203,68. Já umanalista judiciário receberá emnovembro, R$ 4.034,63.

    Salários superiores

    Analista Judiciário*

    Delegado/perito/censor- PF

    Inspetor/Analista-Imprensa Nacional

    Auditor Fiscal/Trabalho/Previdencia

    Analista Banco Central

    Analista - TCU

    Analista - Senado Federal

    4.034,63

    8.355,42

    5.930,08

    7.531,15

    6.926,49

    8.024,62

    9.203,63

    0,00

    (4.320,79)

    (1.895,45)

    (3.496,52)

    (2.891,86)

    (3.989,99)

    (5.169,00)

    6.512,07

    11.083,19

    8.391,44

    9.928,31

    9.333,13

    11.149,70

    12.542,22

    0,00

    (4.571,12)

    (1.879,37)

    (3.416,24)

    (2.821,06)

    (4.637,63)

    (6.030,15)

    *Salário de Novembro/05

    Carreira Vencimento Diferença R$ Com Vencimento Diferença R$ ComAnalista JudiciárioFinalInicial

    O Projeto de Lei (PL) 5845/05que trata do PCS do Judiciário,encaminhado ao Congresso Na-cional em 31 de agosto, tramitana comissão de Trabalho, Admi-nistração e Serviço Público. Aatuação diária do Sindjus juntoà comissão tem permitido cons-tatar que, embora haja dificul-dades, a mobilização da cate-goria, a pressão junto aos par-lamentares e o empenho dospresidentes dos tribunais são

    “Um dos desafios

    enfrentados pelo

    presidente da

    comissão,

    Henrique Eduardo

    Alves (PMDB-RN),

    foi a missão de

    designar o relator

    para a proposta,

    uma vez que

    vários

    parlamentares

    solicitaram esta

    função”

    fundamentais para a aprova-ção da proposta.

    Um dos desafios enfrentadospelo presidente da comissão, Hen-rique Eduardo Alves (PMDB-RN),foi a missão de designar o relatorpara a proposta, uma vez que vá-rios parlamentares solicitaramesta função. Entre eles, MarceloBarbieri (PMDB-SP), Arnaldo Fariade Sá (PTB-SP), Jovair Arantes (PTB-GO) - relator do PCS anterior - eClair da Flora Martins (PT-PR).

    Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 276

    Analista Judiciário

    Fonte: MPOG - Boletim Estatístico de Pessoal.

  • CAPA

    O presidente da comissãodisse que a partir da designa-ção do relator serão programa-das reuniões com os ministrosNelson Jobim (presidente doSTF), Vantuil Abdala (presidentedo TST) e Edson Vidigal (do STJ).Com essa afirmação, ele demons-tra a importância do envolvimen-to dos presidentes para acelerara discussão sobre o tema e suaconseqüente tramitação.

    "O PL será estudado ampla-mente pelos membros da comis-são, mas a preocupação maiorse dá com o ajuste orçamentá-rio que possa permitir o au-mento dos servidores", enfa-tizou ele. O deputado HenriqueEduardo Alves alega que quer fa-zer com que o texto seja aprova-do de forma a não enfrentar en-

    Reuniões e estudo do PLtraves posteriores.

    "Um problema que já foimencionado em algumas conver-sas é a questão orçamentária. Opróprio governo tem relutânciaem relação à proposta, então énecessário fazer um levantamen-to de custos e um planejamentoreal. O relatório a ser aprovadopor essa comissão precisa serexeqüível, pois nem nós esta-mos interessados em aprovarum PL que posteriormente teráproblemas nas demais comis-sões, sobretudo a de Finanças,nem os servidores pretendemver sua proposta de PCS setransformar numa matéria cujatramitação na Câmara seja tãodemorada", afirmou ele.

    Apesar da posição do presi-dente, cabe à comissão de Tra-

    balho analisar o mérito da pro-posta e não o impacto finan-ceiro que terá sobre o orça-mento da União - o que é fun-ção da comissão de Finanças eTributação da Câmara, paraonde o texto será remetidoapós ser apreciado pela comis-são de Trabalho. O que não jus-tifica a demora da tramitação doprojeto na comissão.

    A aprovação da nova lei nãoserá uma tarefa fácil e requer,dos servidores, a intensifica-ção de um árduo caminho deluta e mobilizações. Afinal, ahistória do Sindjus mostra quenenhuma de nossas vitórias foiobtida sem que houvesse fortemobilização da categoria. Daía responsabilidade de cada umnessa tarefa.

    A polêmica já dura algunsanos. Como é do conhecimentogeral, o MPDFT integra o Minis-tério Público da União, nos exa-tos termos das disposições doartigo 128 da Constituição Fede-ral. Ocorre que, no artigo 21 daConstituição, consta que compe-te à União organizar e manter o

    Apesar da promessa de serenviado ao Congresso Nacionalno mesmo período que o PCS doJudiciário, o PCS do MinistérioPúblico da União continua pa-rado na Procuradoria-Geral daRepública, o que atrasa a pers-pectiva de melhoras para dosservidores e faz com que o pro-jeto, ao chegar ao Congresso,caminhe em ritmo desproporci-onal ao do Judiciário - na Câ-

    PCS do MPU ainda não foi encaminhado

    Caso antigoMPDFT, além de outras institui-ções com atuação no DF.

    O Sindjus, ciente das dificul-dades existentes, fará todos osesforços necessários na defe-sa dos interesses dos seus as-sociados, para que o MPDFTseja destinatário de uma dota-ção orçamentária digna do seu

    mara desde 31 de agosto.O motivo da demora é a re-

    sistência do Procurador-Geralda República em dar continui-dade às negociações sobre onovo PCS enquanto não é solu-cionado o impasse referente aolimite de gastos com pessoal doMPDFT. O que pode gerar con-seqüências tidas como desas-trosas para a categoria.

    O problema passa pela po-

    lêmica que envolve a delimita-ção do percentual de limite or-çamentário conforme a Lei deResponsabilidade Fiscal (LRF), nodecreto 3.917 de 2002. O de-creto regulamenta - den-tro dos 40,9% de li-mite orçamentáriopara o Executivona LRF, 3% paradespesas compessoal do TJDFT,

    papel constitucional.No entanto, temos a

    convicção de que a polê-mica não é impedimento para oencaminhamento do novo PCS doMPU ao Congresso Nacional, poisa forma correta é fazer o calculocom base no percentual geral des-tinado ao MPU.

    "A aprovação da

    nova lei não será

    uma tarefa fácil

    e requer, dos

    servidores, a

    intensificação de

    um árduo

    caminho de luta

    e mobilizações”

    Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 27 7

    MPDFT, e com os servidores doDistrito Federal e dos ex-territó-rios de Roraima e Amapá.

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 278

    C

    ENTREVISTA

    Por uma Justiça maiseficiente e participativa

    riado há três meses, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contabiliza mais de 200 processos, com pedido de avaliação detemas que abordam desde o nepotismo no Judiciário a apelos para que os conselheiros intercedam junto aos Estado namelhoria de condições de sistemas carcerários. Na coordenação desse trabalho, o secretário-geral do CNJ, Flávio Dino,alerta para o fato de que o conselho planeja políticas voltadas para os usuários, mas os usuários somente sentirão oimpacto dessas políticas na medida em que as instâncias de execução da atividade fim, que são os tribunais, se apropri-

    arem disso. O esforço, na ótica de Flávio Dino, tem o sentido de levar a um maior poder participativo.Também coordenador do levantamento intitulado Justiça em Números, prestes a ser realizado em sua segunda edição, Dino falou

    sobre como o Judiciário é revelado a partir dessas estatísticas, que mostram a necessidade de uma reforma processual e de seremadotados menos formalismos. Também falou sobre a forma como ele vê o trabalho dos servidores, sobretudo na participação dassentenças dadas pelos juízes, em todas as instâncias.

    REVISTA DO SINDJUS: Olevantamento Justiça em Nú-meros foi coordenado pelosenhor.Quais foram, em suaopinião, os pontos mais re-veladores da pesquisa?

    FLÁVIO DINO: A direta relaçãoentre a eficiência do sistema ju-dicial e as regras do jogo judici-ário. Chegamos à constataçãoque a Justiça do Trabalho eraque tinha, em 2003 (época dosdados avaliados pela pesquisa),taxa de congestionamento maisbaixa e mais alto grau de reso-lução das demandas. O que estádiretamente relacionado a doisaspectos. Primeiro, uma estru-tura que cresceu fantastica-mente no período pós-consti-tuição de 1988, em razão daexigência constitucional de umTRT por estado - o que elevoude 15 para 24 os tribunais re-gionais do Trabalho no País.Depois, pelas regras processu-

    ais, extremamente simplificadas.A soma destes dois aspectos levaa índices muito mais favoráveisdo que nos demais órgãos doJudiciário.

    RS: Como ficam os demaisíndices?

    FD: A Justiça Federal tem umcongestionamento mais alto,apresenta níveis de reversibili-dade mais baixos e eficiênciamais baixa. E aí encontramosduas características, opostas àsda Justiça do Trabalho, que são:uma estrutura extremamentepequena diante da carga de tra-balho e um sistema processualcomplexo.Com a criação dosTRFs se pulou de 27 julgadores(os ministros do Tribunal Federalde Recursos) para 139 julgado-res. Foi um salto grande, masinfelizmente muito inferior aocrescimento da demanda que aJustiça Federal teve nos anos 90.Sem falar que na Justiça Federal

    temos um sistema processualextremamente complexo, emrazão da aplicação universal docódigo de processo civil e tam-bém dos privilégios, das prerro-gativas da Fazenda pública. Nomeio do caminho fica a JustiçaEstadual, que faz um patamarintermediário entre as duas.

    RS: Que conclusão o senhorpode tirar dessa análise?

    FD: A de que se queremosatacar a morosidade processu-al, temos que enfrentar simulta-neamente os dois aspectos. Éfalso dizer que o mero incremen-to de estrutura resolva o proble-ma – mais juízes, mais funcio-nários e mais prédios. Mas tam-bém é igualmente falso dizerque não é necessário se ter maisjuízes, mais funcionários, maisprédios. Você não pode afirmarque isso precise ser visto am-plamente. Precisamos fazer essareestruturação tópica em alguns

    “Em 2003, asestatísticasregistraramque dei 4 milsentenças. Naverdade sóchancelei. Foi aminha equipequem deu asquatro milsentenças eisso éimportante serregistrado”.

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 27 9

    ENTREVISTA

    lugares e, por outro lado, mudaras regras do jogo. Se não ado-tarmos tais alternativas, nãovamos alcançar níveis bons deeficiência e desenvolveremosalternativas inviáveis do pontode vista político, porque se mos-trarão inviáveis do ponto de vis-ta econômico e financeiro.

    RS: O que o senhor quer di-zer com um sistema proces-sual mais leve?

    FD: Menos formalismos emenos recursos, sobretudo. Emdezembro passado foi divulgadoum pacto de Estado entre che-fes de poderes, quando foramapresentados 23 projetos de leialterando a legislação processu-al - o que seria um complemen-to da reforma constitucional doJudiciário. Com isso, a leveza dosistema processual estaria garan-tida, num modelo bastante pare-cido com o utilizado atualmentepela justiça do Trabalho.

    RS:Como seria esse modelo?FD: Os agravos, que são os

    recursos tratados por decisõesnão definitivas, ficariam retidosdentro dos autos e só seriamanalisados pelo Tribunal Regio-nal Federal ou pelo Tribunal deJustiça, quando do exame daapelação. Um processo, hoje,funciona como se fosse um ani-mal bastante fértil, porque geravários filhos e um deles é justa-mente o agravo. A proposta visa,então, restringir severamente osagravos e tornar a apelação – orecurso contra a sentença –como regra apenas com efeitodevolutivo - quer dizer, a exis-tência da apelação não susten-taria a possibilidade de, na primei-ra instância se iniciar a execução.

    Um terceiro plano seria aremoção dos privilégios da Fa-zenda Pública - apenas manterí-

    amos na nossa proposta o prazode dobro do período para se con-testar, mas não haveria nenhumprazo especial para se recorrer.Um quarto elemento seria a exis-tência ou uma generalização defiltros do processo, numa instân-cia superior. Hoje temos um tra-tamento de ações repetitivasque é irracional e pesa brutal-mente num tribunal como o STFou como o STJ. Seria criado, en-tão, um sistema segundo o qualo Supremo ou o STJ julgariamentre um ou dez exemplares deuma determinada controvérsiajurídica. E essa decisão seria deobservância obrigatória pelasinstâncias ordinárias.

    RS: Isso não seria o mesmoque a súmula vinculante?

    FD: Não. É mais ágil do quea súmula vinculante e tem umdetalhe: faz com que os pro-cessos sequer subam, quandoforem encaminhados com re-cursos repetitivos. Isso difereda súmula, porque esses pro-cessos não seriam admitidos,ficariam retidos na origem.

    RS: Como fazer para queessa reforma processual sejarapidamente aprovada, semdemorar tanto como demo-rou a reforma do Judiciário?

    FD: Quando montamos todoesse cenário, havia uma variá-vel no meio do caminho que nãoestava compatibilizada, que eraa crise política. Nossa expecta-tiva inicial era de que, sendo aemenda 45 (da Reforma do Judi-ciário) promulgada em dezem-bro de 2004, seria constituída emseguida uma comissão mista es-pecial de deputados e senadorespara fazer a reforma processualem 180 dias. Obviamente sabía-mos que o CNJ seria instalado.Então havia uma estratégia de

    começo, meio e fim. Nosso hori-zonte era de que até junho desteano tivéssemos a reforma proces-sual aprovada, em grande par-te. Infelizmente, a comissão mis-ta especial criada para isso nun-ca funcionou efetivamente. Es-tamos retomando isso tudo.

    RS: Essa tarefa que o senhormencionou, que levará a umareforma processual, é mais re-lacionada ao Legislativo. O Ju-diciário tem um plano própriopara que, no caso disso tudodemorar, existam alternativas

    para que se consiga uma ace-leração do processo?

    FD: Na verdade temos, fren-te ao universo, ações que sãosimultâneas. No terreno consti-tucional, representado pelaaprovação da emenda 45, há umpedaço da reforma que voltoupara a Câmara - mas que não é,na minha ótica, substantivo. Háa parte da reforma legal - que éa reforma processual. E o tercei-ro plano de ação é o que se con-vencionou chamar de reforma degestão, reforma administrativagerencial, cujo núcleo fundamen-

    Flávio Dino de Castro e Costa, secretário-geral do ConselhoNacional de Justiça (CNJ)

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 2710

    ENTREVISTA

    tal é exatamente o ConselhoNacional de Justiça (CNJ).

    RS: No Justiça em Números,além dos aspectos proces-suais também foram anali-sados os aspectos humanos.Ao seu ver, estes se saírammelhor que o aspecto pro-cessual?

    FD: Como o Justiça em Nú-meros não fez um exame maisdetalhado, não conseguimosaprofundar aspectos porque há

    muita dificuldade de obtenção denúmeros. O que eu posso dizer éque, primeiro, seja no que serefere a magistrados seja no to-cante a servidores, temos gentebastante qualificada, um ramoprofissionalizado, que tem esta-bilidade em relação ao que sepassa na arena política. Sendoassim, as alternâncias normaisdo modelo do regime democrá-tico não afetam o modelo orga-nizacional do Judiciário e isso ébom para o próprio funcionamen-

    to do regime democrático.No que se refere à quantida-

    de, não conseguimos ainda che-gar a uma idéia de onde serianecessário aumentar os recursoshumanos. Para estabelecer me-tas é necessário um trabalhomais analítico, precisamos cons-truir uma série histórica de es-tatísticas. É por isso que vai sair,até novembro, a segunda ediçãodo Justiça em Números, o quepermitirá a superação dessagrave deficiência.

    RS: Falou-se muito que oJustiça em Números seriauma revolução para o Judi-ciário. Na sua avaliação, otrabalho representa real-mente um marco?

    FD: O projeto todo tem, pri-meiramente, uma grande vanta-gem operacional. É que a partirda emenda 45 é obrigatória suarealização a cada semestre eisso, eu já considero uma revo-lução. Além disso, os dados le-varão a uma cultura de gestãocom base em prospecção e ce-nário de longo curso, partindoda realidade concreta e rompen-do com uma excessiva alternân-cia de política na gestão dos tribu-nais, onde os mandatos são muitocurtos. Na medida em que o Justi-ça em Números pereniza estes in-dicadores de desempenho por de-terminação constitucional, eu jáconsidero isso uma revolução.

    Agora essa revolução podeser maior na medida em que otrabalho analítico se aprofundee seja apropriado pelas instân-cias de gestão. Não pode ser umapropriedade do CNJ, pelo sim-ples fato de que o conselho nãoé uma atividade fim, é uma ati-vidade meio. O CNJ planeja po-líticas voltadas para os usuários,mas os usuários somente sentirão

    o impacto destas políticas na me-dida em que as instâncias de exe-cução da atividade fim do serviçojudiciário, que são os tribunais seapropriarem disso. O esforço, des-de o início, é de se criar um po-der participativo, a partir da de-finição do que é pesquisado. Eesse poder participativo não éuma concessão. As pessoasquando participam ficam com-prometidas com o dia seguinte.

    RS:O senhor está desenhan-do o modelo do Judiciáriobrasileiro, com autonomiade todos os tribunais. Aomesmo tempo, o senhor falada uniformização dos proce-dimentos gerenciais. Comose daria isso?

    FD: Vai-se dar como um pro-cesso, no sentido de progressão.Não vai funcionar do jeito queestá porque há, de fato, um cho-que bem administrado. Temosum governo organizacional insu-lar, no qual cada tribunal é umailha, com sua estrutura, suaspolíticas, suas experiências, suaspráticas e sua direção. O CNJentra de modo bem transversal nosentido de fazer cortes nesse mo-delo e introduzir outro, num nívelde articulação sistêmica no Judici-ário. O que se passa no mundo daatividade jurisdicional, no sentidodo andamento dos processos, nãose passa no mundo administrativo.Então o CNJ tem que enfrentaressa característica, com visão denegociação, de participação.

    RS: O que já começou a ser feito?FD: O CNJ já teve a oportu-

    nidade de emitir algumas deci-sões bastante emblemáticas,principalmente as referentes àauto-aplicabilidade das fériascoletivas e uma decisão referen-te ao critério de promoção por

    “As pessoas quando participam ficam comprometidascom o dia seguinte”

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    ENTREVISTA

    merecimento, porque se decidiuque a promoção por merecimen-to deve acontecer por meio devoto aberto e não mais por votosecreto. A relevância disso é quemuda o modo como a carreirada magistratura funciona, orga-niza-se. E isso, ao dar mais trans-parência ao processo, faz comque possamos acreditar num cri-tério novo de seleção que resul-te em promoções melhores.

    RS: Em relação aos proces-sos, como estão ocorrendoas apreciações?

    FD: Recebemos 118 deman-das de cunho disciplinar, em queentram casos de retardamentode julgamento, de publicação deacórdãos, pedidos de imputaçãode infração disciplinar a magistra-dos e servidores e diversos outros.São processos bastante varia-dos, por isso fogem do nosso pró-prio âmbito de competência.

    De outra parte, chegaram 83projetos que não são de nature-za disciplinar. Fazem parte des-sa lista processos em que cida-dãos, associações ou organismospedem a emissão de atos regula-mentares ou pessoas pedem pro-vidências para que o CNJ, de al-gum modo, interceda para quehaja uma alteração da legislação.

    RS: E quanto ao tema ne-potismo?

    FD: Já tivermos duas provo-cações, ambas com objetivosfundamentais. O primeiro é re-gulamentar o tema quando nãoestiver regulamentado. O segun-do é uma discussão extremamen-te difícil do ponto de vista jurídi-co que é a situação das pessoasinvestidas anteriormente às proi-bições. Há acordo em algunsentendimentos de que quem jáestava antes da lei poderia ficar,

    numa espécie de direito adqui-rido. Em outros requerimentos,a argumentação é de que nãohá o direito adquirido e essassituações deveriam cessar ime-diatamente. É um dos temasmais polêmicos do conselho, deimportância indiscutível.

    RS: O Sindjus e várias outrasinstituições estão promoven-do o concurso Novas Idéiaspara o Judiciário, que envol-ve a participação da socieda-de. Dentro de toda essa óticado CNJ de abrir a discussãosobre o Judiciário, como o se-nhor vê a iniciativa ?

    FD: Primeiro eu destaco essadimensão participativa, no sen-tido de procurar envolver outraspessoas que não os iniciados, nonovo debate da questão judiciá-ria no Brasil. A visão de que oJudiciário não é assunto exclu-sivo de juízes, servidores, ba-charéis em direito, advogadosetc, é bastante importante. Oprêmio tem, primeiro, essagrande virtude. Além disso,aponta uma idéia de continui-dade que se casa com a idéiade ruptura. Quando a gente as-sinala que o CNJ é um elemen-to de ruptura, de salto qualita-tivo, isso não significa negartodos os esforços anteriores.Temos uma cultura bastanteboa no Judiciário. Conseguimosfazer, nos anos 90, o que nenhumJudiciário do mundo conseguiu -sair da máquina manual para umuso praticamente universal dainformática, num período bas-tante curto. E foi esse salto tec-nológico que permitiu que o Judi-ciário conseguisse administrar aexplosão de litigiosos que os anos90 trouxeram - seja em razão daprevisão de novos direitos trazi-dos pela constituição de 88, seja

    pelos efeitos no sistema judici-al, das sete ou oito edições dosplanos econômicos implementa-dos entre 1986 e 1994. Um prê-mio como o Novas Idéias recu-pera essa tradição.

    RS: Em sua opinião, as idéiasapresentadas ao longo doconcurso poderão ser utili-zadas pelo Judiciário demodo fácil?

    FD: Com toda a certeza. Oprêmio Inovare, da FundaçãoGetúlio Vargas (FGV), já está emsua segunda edição e temos tra-balhado amplamente com assugestões apresentadas pelosparticipantes. O mesmo aconte-cerá com o Novas Idéias.

    RS: Dentro do quadro doJudiciário de um modo ge-ral, qual a sua visão sobreos servidores?

    FD: É impossível deixar dereconhecer que tudo o que foifeito é resultado do trabalho dosservidores. Quando olhamos ouniverso de repetição, sabemosque as estatísticas lançadas aosmagistrados são, na verdade, daequipe liderada por aqueles ma-gistrados. É rigorosamente im-possível que qualquer magistra-do – e eu digo isso para qual-quer deles, seja qual for a ins-tância judiciária – tenha condi-ções de fazer tudo sozinho. Bas-ta contabilizar o número de pro-cessos e sentenças pelo núme-ro de horas. Eu mesmo souexemplo disso. Em 2003, as es-tatísticas registraram que dei 4mil sentenças, mas na verdadechancelei 4 mil sentenças. Foi aminha equipe quem deu as qua-tro mil sentenças e isso é impor-tante ser registrado.

    "É falso dizer queo meroincremento deestrutura resolveo problema - maisjuízes, maisfuncionários emais prédios. Mastambém éigualmente falsodizer que não énecessário se termais juízes, maisfuncionários emais prédios"

    Fotos: GLAUBER FERNANDES - Planet Photo

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    Q

    Velhos problemas do Judiciárioexigem soluções novas

    ATENDIMENTO

    uais os principais pro-blemas do Judiciáriobrasileiro? Apesar demuitas conquistas, oscidadãos ainda recla-

    mam da falta de comunicaçãoentre uma comarca e outra, ademora para que os juízes dêemsuas sentenças e as filas grandi-osas observadas nos dias em quelocais como defensorias públicase juizados especiais encontram-se lotados, entre outras quei-xas. As dificuldades passam, até

    mesmo, pela falta de informa-ções nos próprios órgãos públi-cos sobre que tipos de procedi-mentos pessoas que pretendemmover uma ação devem tomar.

    Quando as indagações sãofeitas junto a um outro patamarda sociedade - o dos advogadosparticulares, defensores públicose, até mesmo, funcionários doJudiciário - as dificuldades cita-das passam a ser outras, masnão menos importantes: neces-sidade de mais recursos huma-nos, maior infra-estrutura (de ummodo geral) e opiniões pessoaissobre a cláusula constitucionalda razoabilidade de tempo en-tre o período em que se entracom um processo até o julga-mento da sentença. Há, até mes-mo, quem critique a existênciade tantos acordos em nome daceleridade do Judiciário - o quepode levar as partes a saíremdos tribunais insatisfeitas.

    A verdade é que, mesmocom os avanços obtidos ao lon-go da década de 90 até agora,quando tribunais foram informa-tizados e se ampliou a quanti-dade de servidores, juízes e de-fensores públicos, ainda sãograndes as demandas existentese, por conseqüência, os proble-mas. Na Defensoria Pública doDF, por exemplo, são atendidascerca de 249 mil pessoas porano, o que equivale a uma mé-dia de 800 atendimentos por dia.

    Segundo o sub-diretor daDefensoria Pública do DF, Fernan-do Calmon, a situação caminhabem no tocante ao acesso à Jus-

    tiça e a fase pré-processual -quando se procura a defensoriaou um advogado e se dá entradaem uma ação. Na opinião deCalmon, os problemas começam,mesmo, é na fase processual,quando são percorridos os demaistrâmites. “A tradução das preten-sões de cada pessoa é que é umgrande gargalo” enfatizou ele.

    Para o sub-diretor, o quadronão é o mesmo, por exemplo,quando os cidadãos precisam darentrada de tutelas de emergên-cia. Na defensoria pública do DF,por exemplo, os impetrantes des-tes casos já saem com uma tute-la distribuída imediatamente aoJudiciário (em geral, são casos emque se trata de questões de vidaou morte de terceiros).

    Acordos judiciais - Outrofator visto com cautela é a exis-tência de muitos acordos. O ad-

    vogado Fabiano Santos, porexemplo, acredita que hoje emdia, numa forma de acabar coma morosidade da Justiça, os pró-prios advogados das partes in-sistem em chegar a acordos quemuitas vezes não representamum resultado condizente com oque estas pessoas almejam.Santos acha que nesses casos,

    muitas vezes, as partes nãosaem satisfeitas.

    “Nem sempre julgar bem éjulgar rápido”, afirmou o defen-sor Fernando Calmon, de opiniãosemelhante, que alertou, comoconseqüência desse tipo de pro-cedimento, para o fato de o Es-tado considerar menores proble-mas que são tidos como de fun-damental importância para aspartes, como a disputa por umterreno ou brigas de vizinhos.

    “Tudo o que tem naturezaeconômica passou a ser uma

    A dona de casa Elvira Costa, do Riacho Fundo II, pede a guarda da irmã

    “A verdade é que,mesmo com osavanços obtidosao longo dadécada de 90 atéagora, quandotribunais foraminformatizados ese ampliou aquantidade deservidores, juízes edefensorespúblicos, ainda sãograndes asdemandasexistentes e, porconseqüência, osproblemas”

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    ATENDIMENTO

    coisa importante para a Justiçae o que não tem, a ser menosimportante. Nem sempre issocorresponde à realidade para oscidadãos que procuram os tribu-nais, da mesma forma que nãopodem existir problemas maio-res e menores”, destacou.

    Também se discute muito aquestão da “razoabilidade detempo” para que um processovenha a ser tramitado e julgado.“O que é ser razoável, afinal? E,por outro lado, o que não é?”,questionou o juiz Flávio Dino,secretário-geral do ConselhoNacional de Justiça e responsá-vel pela pesquisa Justiça emNúmeros - que tem justamentea proposta de fazer uma radio-grafia da situação do Judiciáriopara que se crie uma cultura deprospecção para o setor.”Paramim não é razoável o Estadoser omisso na prestação jurisdi-cional, nem julgar açodadamen-te ou fazer acordos descabidos.Às vezes o problema não estáno tempo em que se julga, masno fato de uma ação ser mal jul-gada”, destacou Fabiano Santos.

    Como proceder? - Muitasvezes, também, o processo setorna demorado por conta defalta de orientação aos cidadãos

    sobre como proceder em rela-ção ao conflito em que estão en-volvidos, quando não são repas-sadas informações corretas so-bre onde procurar a defensoriapública ou o foro específico paradeterminado problema. A donade casa Elvira Soares Costa,moradora do Riacho Fundo II, éum exemplo disso. Elvira pedena Justiça a guarda da irmã, queteve um derrame e mora, atu-almente, com a sobrinha. De acor-do com ela, que não trabalha (vivedo rendimento do marido, apo-sentado, e dos filhos) o problemadura três anos, mas só agora elaconseguiu ter informações cor-retas sobre como agir.

    Segundo contou, a tentativade dar entrada no processo co-meçou próximo à sua casa, ondefoi orientada a procurar outrajurisdição (sua família é do inte-rior da Bahia). Só recentemen-te, Elvira soube que bastava en-trar em contato com a defenso-

    ria pública do DF, após passar porlugares como delegacias, órgãospúblicos e escritórios de advoca-cia. “Minha irmã parece um boli-nho em cima de uma cama desde2002, simplesmente porque nãosabia como fazer para entrar comum processo”, contou.

    Também é comum, entre asdificuldades, a falta de conhe-cimento das pessoas de bai-xa renda sobre como abriruma causa relativa a outroestado, no local onde se en-contram. O aposentado No-rato Beníssimo Rosa moveação contra o filho que, semo seu consentimento, vendeua propriedade que estava emseu nome no interior de Goi-ás. “Estou morando em Brazlân-dia, dependendo de terceiros emesmo assim precisei viajar atéGoiás pensando que teria deabrir a ação lá. Chegando lá, medisseram para resolver tudo poraqui. Não precisava nem passarpor mais essa”, afirmou.

    A velha “morosidade” -Apesar desses casos, ainda

    são muitas as histórias de pes-soas que sofrem com o mais co-nhecido problema observado noJudiciário: a demora do períodoem que a ação é ajuizada à sen-tença dada pelo juiz, um dos prin-cipais temores da cabelereiraMarinalva Santana. Marinalvamove segunda ação na Justiçapela segunda vez na vida. Con-tou que nesta segunda vez queprocurou a Defensoria Pública,

    foi bem atendida e comunicada,em menos de um mês, da datada primeira audiência. Mas nãofoi esse o cenário da primeira vezem que procurou a Justiça.

    Segundo a cabelereira, aação, movida em 2001, tratoude um problema envolvendo afalsificação da sua assinaturana concessão de lotes pelo Ins-tituto de Desenvolvimento Ha-bitacional, o Idhab. Mas demo-rou mais de três anos até o juizdar a sentença favorável a ela.“O pior é que foi um caso bemmais importante que o da açãoatual e eu tive que esperar todoesse tempo”, reclamou.

    Da mesma forma pensa o ar-tesão Matias Pereira dos Santos,que levou o filho para dar entra-da em processo envolvendo umaempresa governamental paraonde foi aprovado em concursopúblico. Ao mesmo tempo queencaminhou o filho ao primeiroimbróglio judicial, o artesãodemonstrou um pouco de des-confiança com o andamento daação. Ele foi réu em processode uma empresa de transpor-tes onde trabalhava, no interi-or de Minas Gerais, envolven-do um veículos danificado. Che-gou a ser demitido por justa cau-sa e passou anos participando deaudiências e vivendo a aflição dademora de um desfecho, até serdeclarado inocente. “Antes dechegar ao final, o processo medeu várias dores de cabeça echegou, inclusive, a prejudicarmeu trabalho”, contou.

    Norato Rosa move ação contra o filho que vendeu sua propriedade, sem autorização

    Marinalva SantanaCarlos Eduardo e seu pai mathias Pereira

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  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 2714

    A vida em colapso revida com mais caos. A vida agredidarevida com a violência das forças reprimidas. A vida obstru-ída, desviada do seu curso, usada para satisfazer poucos epunir muitos, revida com os elementos em desordem.

    Catástrofes naturais sempre acompanharam a civiliza-ção. A diferença é que hoje, se a ciência e as políticas debem-estar e justiça social estivessem harmonizadas, osdanos seriam menores e mais vidas seriam salvas. Foi as-sim no tsunami da Indonésia, detectado e não comunicadoaos miseráveis, pois eles nunca puderam pagar o serviçoque monitora tais ameaças no mar. Mesmo sem preverperfeitamente o grau ou a intensidade de um fenômenoclimático, tais aparelhos funcionam como redutores razoá-veis de riscos. Para os ricos.

    Porém, em New Orleans, a tragédia, mesmo anunciada eprevista, estarreceu o mundo quando a lentidão e a incompetên-cia no salvamento da população de maioria negra e pobre foramindicadoras de um descaso assombroso por parte do governo.

    A população civil fez o que pode e manteve a honra dafraternidade na dor. O bandido de antes, mais perigosoficou quando se aproveitou do caos para a sórdida chancedos saques. O governo só mostrou força quando a ameaçamaior era ao patrimônio: “atirem para matar”, ao enviartropas para coibir os assaltos.

    “Não queremos bala, queremos água, respeito e re-construir nossas vidas”, gritavam os que perderam maisque os bens materiais, perderam a ilusão de viverem sobum Estado que se mostra ao mundo como guardião dasliberdades. O abismo entre teoria e prática. Farsa e verda-de. Bilhões de recursos humanos e materiais investidos emguerras com fundo muito mais de proveito econômico e ne-gociata de grandes corporações, que “libertação para o rei-no liberal da democracia”, emergiram na face desacredita-da e terceiro-mundista do povo de New Orleans sem abrigo,sob doenças e despojado dos valores mínimos da cidadania.

    A região está sob a onda de choque. O que se vê,agora, é que a costa da cidade terá que ser redesenhada;as ilhas Chandeler (abrigavam o Refúgio Nacional da VidaSilvestre de Beeton) sumiram; 26 plataformas submarinasdesapareceram e 20 foram seriamente danificadas ( a re-gião processa 30% do petróleo dos EUA); 140 refinariasparcialmente destruídas (na região chamada “beco do cân-

    cer”); centenas de estações de tratamento de água e esgotoestão interrompidas e o pior: foram suspensas leis de prote-ção ambiental para o bombeamento de lixo e lodo para aságuas do lago Pontchartrain.

    Começa a percepção mundial de que há um troco doclima como conseqüência do brutal aquecimento da Terra.Enquanto isso, Bush não assina o Protocolo de Quioto paramanter sua idolatria do consumo e produção em alta. Espa-nha, Itália e Portugal sofrem severas secas. Portugal perdeu900 mil hectares de florestas com incêndios nos últimoscincos anos. Alemanha, Hungria, Romênia foram inundadas.

    Kerry Emanuel, do Departamento das Ciências Planetá-rias, Atmosféricas e Terrestres, publicou na revista Natureque a intensidade dos furacões aumentou em 50% nos últi-mos anos. E o jornal espanhol El Mundo, de segunda, veicu-lou declaração do cientista Christopher Landsea, da AgênciaNacional de Oceanografia e Atmosfera, que “a temperaturada água – seu vapor - é a gasolina dos furacões”. Ele assumea relação entre furacão e aquecimento do planeta. E temtanta gente acreditando que o dinheiro é capaz de comprarrotas de fugas e áreas de segurança blindadas. Contra o trocoda natureza aviltada não há escape: é a vida que revida! Até onosso país entra no circuito das tormentas com a tragédia deMuitos Capões, no Sul, na mesma semana do Katrina.

    Os EUA ainda relutam em assinar o Protocolo de Kyotopara manter aquecido a economia do “primeiro eu, e o restoque exploda”, ou o “bacanal do desperdício”, como diziaLutzenberg. Loucura traduzida em consumo obsessivo e per-dulário, exploração indiscriminada de matérias-primas, es-gotamento de recursos naturais e a vantagem particular ido-latrada e acima de tudo e de todos. Se alguém duvida que avida é capaz de revidar, basta ver os sinais do tempo. Bastachorar com os mortos, feridos e desabrigados dessa lamen-tável pedagogia da dor e do martírio.

    Os ricos sempre acham que podem escapar das tragédiaspor acreditarem no mito da “compra da segurança”. Talvez atéconsigam adiar uma tragédia com uma fuga temporária conse-guida pela mobilidade que o dinheiro permite. Mas quando é aprópria terra que se abre, a água que se fecha em ira incontro-lável, os alimentos que escasseiam ou perdem a qualidade nu-triz, o pânico que se instala, o ar que sufoca, aí não há salvaçãoindividual: perdemos a batalha da própria vida no planeta.

    A fúria do clima acentua o desequilíbrio no planeta e revela o quanto o aparato tecnoló-gico e o poder são avançados e eficientes apenas para manter um sistema de privilégios, masfalham quando as vítimas são os mais pobres. A ira do tempo mostra que a vida revidaquando a solidariedade é excluída. Seja no estado de miséria permanente do Brasil,ou nadesenvolvida Europa, ou até na superpotência norte-americana (abalada pelo furacão Katri-na que devastou New Orleans)

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 27 15

    TT Catalão

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 2716

    Nádia Faggiani

    o dia 23 de outubro,122 milhões de elei-tores brasileiros de-

    verão ir às urnas para responderà seguinte pergunta: “O comér-cio de armas de fogo e muniçãodeve ser proibido no Brasil?”Para especialistas e integrantesdas duas frentes parlamentares

    que se enfrentam na consultapopular – Frente ParlamentarBrasil sem Armas e Frente Parla-mentar pelo Direito à LegítimaDefesa -, há uma falha na campa-nha de esclarecimento à popula-ção sobre o que será votado.

    Segundo Bené Barbosa, pre-sidente do Movimento Viva Bra-sil contra o desarmamento, umaparcela significativa da popula-ção não tem consciência do queé o referendo e pensa que deve-rá escolher se quer ou não en-tregar as armas. Parte dos elei-tores também não sabe que ovoto será obrigatório.

    O governo federal irá gastarR$ 600 milhões na campanha.Na avaliação do coordenador doPrograma de Desarmamento doViva Rio, Antonio Rangel, a cam-panha deveria ocorrer pelo me-nos três meses antes do referen-do. Ele considera que o TribunalSuperior Eleitoral (TSE) foi infelizao não compreender que, ao con-trário de eleições partidárias, umreferendo popular precisa ser am-plo no sentido de permitir maiorparticipação da população.

    Em uma de suas viagens aoAcre, Rangel revela que mora-dores da zona rural chegaram aenterrar suas armas após a apro-vação do Estatuto do Desarma-mento por entender que seriampresos se fossem pegos portandoarmas de fogo. Rangel critica tam-bém a proibição de organismosinternacionais e igrejas estrangei-

    Comércio de armas:votar a favor ou contra?

    ras participarem da campanhadoando dinheiro para as duas Fren-tes, o que segundo ele, limita osrecursos e engessa o debate.

    O professor do Departamen-to de Sociologia da Usp, MarcosCésar Alvarez, é a favor do refe-rendo pela proibição do comér-cio de armas de fogo e acreditaque essa que é uma grande opor-tunidade de se abrir o tema daviolência para outras questõese não apenas criar dois pólos, afavor e contra a venda de armas.“É importante refletir se dá paragarantir segurança sem se pen-sar na redução das desigualda-des e na consolidação da demo-cracia no Brasil”, diz.

    Para o professor do Depar-tamento de Sociologia da Uni-versidade de Brasília, Lúcio Cas-telo Branco, pode-se prever o re-sultado antecipado do referendopela aprovação da proibição docomércio de armas. Segundo ele,no Brasil não há uma cultura deresistência, de forma que o civil sesente desprotegido e, com baseno senso comum, as pessoas sãocontrárias ao armamentismo nosentido de auto-preservação.

    O Brasil é pioneiro na reali-zação do referendo. A consultapopular está prevista no Estatu-to do Desarmamento (Lei 10.826/03) e foi aprovada pelo Congres-so Nacional no dia 6 de julho. Alei já proíbe a comercializaçãode armas e munições no país,mas para passar a valer a popu-

    lação precisa dizer se concordaou não com ela.

    Cultura de paz - O pontoprincipal que deve ser conside-rado em relação ao referendo,na opinião do professor MarcosCésar Alvarez, é o aspecto sim-bólico de se tentar promoveruma cultura de paz. Ele afirmaque não se pode pensar que aaprovação do referendo impliquena imediata redução da violên-cia, mas é um passo para a po-pulação civil, uma vez sem aces-so às armas de fogo, cobrar doEstado políticas públicas paragarantir a segurança da socie-dade. Segundo Marcos CésarAlvarez, pesquisas mostram quea violência atinge hoje em suamaioria jovens do sexo masculi-no, entre 10 e 29 anos, morado-res da periferia, muitas vezes jána marginalidade.

    Dados da Unesco - Organi-zação das Nações Unidas para aEducação, a Ciência e a Cultura -apontam que o Brasil é vice-cam-peão mundial em homicídios porarmas de fogo, perdendo para aVenezuela. Os números indicam104 assassinatos por dia no Brasil.

    Antônio Rangel, do Viva Rio,afirma que a proliferação de ar-mas, associada à desigualdadesocial e à falta de segurança nasautoridades, tem aumentado aviolência no país. Ele afirma queas armas compradas por homens debem no mercado legal são as quemais abastecem a clandestinidade.

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    REFERENDO

    “É importante

    refletir se dá

    para garantir

    segurança sem

    se pensar na

    redução das

    desigualdades e

    na consolidação

    da democracia

    no Brasil”

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 27 17

    De cada três armas apreendidas combandidos no Rio de Janeiro, uma foivendida em loja. “O que amea-ça a segurança do cidadão são apistola e o revólver”, diz.

    Segundo o Viva Rio, no anopassado foram roubadas no país 30mil armas de civis e, em 90% doscasos em que o bandido encontrauma arma carregada dentro de umlar, ele atira no proprietário.

    “A proibição da venda é umadas medidas essenciais. Só elanão leva a nada, mas vai ajudara revelar setores da sociedadeem que há corrupção e forçarreformas como a da polícia”,observa Rangel. Ainda segun-do o Viva Rio, mais de 30% demulheres mortas por armas defogo são assassinadas por seucompanheiro e a maior partedas mortes por armas de fogono país são cometidas por pes-soas que se conhecem, moti-vadas por vingança, ciúmes,falta de lazer e outros moti-vos interpessoais.

    Os defensores da proibiçãodo comércio legal de armas afir-mam que a sociedade vive hojea falsa impressão de que a mai-oria dos crimes por armas de fogosão cometidos pelo crime orga-nizado. Segundo o Viva Rio, emSão Paulo, 10% das mortes sãopelo crime organizado.

    Legítima defesa - De acor-do com pesquisa sobre o índicenacional de mortes por armas defogo, divulgada no dia 2 peloMinistério da Saúde, o númerode mortes por armas de fogo em2004, comparado ao ano anteri-or, teve redução de 8,2%, o querepresenta 3.234 vidas poupadas.A pesquisa mostra que essa foi aprimeira redução em 13 anos,motivada pela Campanha do De-sarmamento, que teve início em15 de julho do ano passado.

    A pesquisa mostra ainda queas armas de fogo vêm matandomais do que doenças respirató-

    rias, cardiovasculares, câncer,Aids e acidentes de trânsito.Contrário ao desarmamento, opresidente da Viva Brasil, BenéBarbosa, avalia que a pesquisadivulgada pelo Ministério daSaúde não indica a realidadesobre a violência. Segundo ele,o MS não tem dados de mortespor outros tipos de armas.

    Também este mês, no dia 9,a Unesco publicou uma nova pes-quisa “Vidas Poupadas – o Im-pacto do Desarmamento no País”– indicando que o número demortes evitadas em 2004 foram5.563 e que no primeiro semes-

    tre do ano, com a vigência doEstatuto do Desarmamento,houve uma queda de 15,4% demortes por armas de fogo.

    Um dos pontos defendidospelos que são contra a proibiçãoda venda de armas é o direitogarantido pelo Código PenalBrasileiro, que garante a legíti-ma defesa, e pela Lei 9.437/97,que permite a posse e o portede armas de fogo.

    O professor da UnB, LúcioCastelo Branco, contrário aodesarmamento, afirma que o ci-dadão, enquanto Estado indivi-dualizado, tem poder de polícia

    REFERENDO

    A presença da arma muda a natureza da violência, tornando-a letal. A opinião é dodeputado federal licenciado do PSDB-PB, Ronaldo Cunha Lima. A favor do referendo pelaproibição do comércio de armas, ele viu-se envolvido em um incidente em 1994, por usarrevólver de bolso, aconselhado pela Segurança do Palácio do Governo. Então governador daParaíba, Ronaldo Cunha Lima disparou contra um de seus adversários políticos, Tarcísio Buriti,agindo em defesa de sua dignidade e de sua família, após sofrer ameaças pessoais.

    “Já dizia o jurista Nelson Hungria que a coragem é a dignidade sob pressão. Com adignidade pressionada, pode-se involuntariamente usar a arma como reação inesperada edesesperada e esse impulso pode provocar um desastre. O porte de armas transforma conflitosbanais em tragédias”, relata Cunha Lima.

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 2718

    de sua família dentro de casa, jáque não será permitido o portede armas na rua. “É um direitoque depois de perdido não dápara se obter de volta”, analisa.

    Bené defende o combate efe-tivo do Estado à impunidade eobserva que há diversos casosem que criminosos não são pre-sos por falta de vagas nas pri-sões e por falta de controle domercado ilegal. Em São Paulo,83 armas recolhidas pela cam-panha do desarmamento foramdesviadas por um funcionário dadelegacia da Polícia Federal paravender aos bandidos. “O proble-ma não é o mercado legal, maso ilegal. Enquanto o Estado forausente, o crime organizado vaicontinuar ocorrendo”, diz.

    O delegado da Polícia Fede-ral, Fernando Sagóvia, explicaque as armas não são destruí-das no momento da entrega por-que têm que ser cadastradas. Eleafirma que o cadastramento per-mite um controle das armas des-viadas. De acordo com a PF, atéagora foram entregues 440 milarmas de fogo e o cadastramen-to será feito até o dia do refe-rendo, 23 de outubro. Cerca de

    30% delas são revólveres.O delegado afirma que mes-

    mo com a aprovação do refe-rendo pela proibição do comér-cio, as pessoas que hoje pos-suem registro de armas no paíspoderão continuar a ter as ar-mas em casa, porém não po-derão comprar munição. Hoje200 mil pessoas, entre poli-ciais e civis possuem registrode arma de fogo no país.

    A controvérsia dos núme-ros – Segundo o Viva Rio, a cam-panha australiana foi a maisbem sucedida até hoje, sejapelo número de armas reco-lhidas – 700 mil -, seja pelosresultados. Para a entidade, aaprovação da lei de controlede armas na Austrália reduziuo número de mortes por armasde fogo drasticamente. Já parao Viva Brasil, o desarmamen-to realizado na Austrália du-rante um ano, de 1996 a 1997,não tornou as ruas mais seguras,mas motivou o crescimento dataxa de suicídios e de homicídi-os por outras armas.

    Dados do Viva Brasil indicamque no Canadá, onde as leis de

    e direito de voz de prisão emrelação ao bandido e, legalmen-te, tem direito a ter acesso àsarmas. Para ele, só a proibição docomércio não vai garantir a segu-rança do cidadão comum.

    Castelo Branco acredita queo banditismo não existe por con-ta do comércio legal de armas,mas pelo acesso ao contraban-do financiado por firmas ameri-canas. Segundo ele, os EstadosUnidos são os maiores exporta-dores de armas do mundo e con-trolam 1% dos contêineres quechegam ao Brasil. Castelo Bran-co afirma que a aprovação do re-ferendo contra o comércio vaineutralizar as Forças ArmadasBrasileiras, a soberania nacionale a cidadania hoje fragilizada.

    “São medidas antidemocrá-ticas adotadas por regimes to-talitários. É uma forma de desvi-ar a população dos problemasde saúde, educação, segurançapública e corrupção. A medidamais eficaz seria fazer cumprir alegislação em vigor”, diz.

    Bené Barbosa defende queo cidadão comum tenha a opçãode comprar uma arma que podeser usada para defesa pessoal

    proibição de comércio de armassão mais severas que nos Esta-dos Unidos, a taxa de homicídiosestá caindo mais lentamente quenos EUA. No Canadá o índice dehomicídios caiu de 2,7 para 1,8por 100 mil habitantes, em 1991,enquanto nos EUA a queda foi de10,5 para 6,1 por 100 mil habi-tantes, no mesmo ano.

    A explicação do Viva Brasilpara a queda da criminalidadenos EUA está associada à redu-ção da população entre 18 e 24anos, à melhoria do mercado detrabalho, ao aumento dos presídi-os, ao combate às armas ilegais,mudanças na polícia e combate àgangues ligadas às drogas.

    Para o Viva Rio, a explicaçãoestá no fato do número de ar-mas por habitantes nos EUAser 3,5 vezes maior do que noCanadá e o número total dearmas ser 31,9 vezes maiorem números absolutos. As es-tatísticas apontadas pelo VivaRio é de que as medidas le-gais de controle de armas fi-zeram com que os rouboscom armas caíssem no Cana-dá em 50%, entre 1991 e 2001,índice mais baixo em 50 anos.

    REFERENDO

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 27 19

    Evelyne Nunes

    ores nas costas, ten-dinite, câimbras, dis-tensões musculares,

    lesões nos joelhos, nos tornoze-los e até uma parada cardíacafulminante são alguns dos sin-tomas que podem ser provoca-dos pelas atividades físicas in-tensas praticadas somente nosfinais de semana. Os adeptosdesse tipo de atividade, conhe-cidos como atletas de fim de se-mana, devem redobrar os cuida-dos na hora de realizar as ativi-dades físicas esporádicas, pois,segundo especialistas, a má re-alização dos exercícios pode, aocontrário do que se pensa, tra-zer prejuízos à saúde.

    A famosa “pelada” no finalde semana ou aquela corriquei-ra caminhada no parque da ci-dade são algumas das ativida-des visadas pelos profissionaisde educação física e pelos mé-dicos desportistas. Alguns es-

    D

    Atletas de fim de semana -riscos para a saúdepecialistas mais radicais acre-ditam que se não houver bomsenso e uma orientação ade-quada, é preferível ficar no gru-po dos sedentários a se exerci-tar de maneira arriscada.

    Essa foi a recomendação queo empregado público do Bancodo Brasil, Lívio Andaló Mendesde Carvalho, 25 anos, ouviu doseu médico após desmaiar de-pois de uma partida intensa defutebol. Lívio estava há muitotempo parado e resolveu jogarcom os amigos no sábado. De-pois de mais de uma hora de jogocomeçou a passar mal. “Sentifortes dores no abdômem e logodepois desmaiei. O meu médicodisse que se eu não fizesse ati-vidades regulares era melhor fi-car parado a arriscar a vida”,relata. Depois do episódio oempregado público entrou naacademia e se exercita pelomenos três vezes por semana.“Antes não tinha tempo, poistrabalhava e estudava e só so-

    brava o final de semana para fa-zer atividades físicas”, justifica.

    O também servidor público,Carlos Alberto de Aquino, 39,teve problemas musculares de-pois de participar de uma parti-da de futebol. “Senti dor no joe-lho e na panturrilha”, afirma. As-sim como no caso anterior, Car-los Alberto não estava fazendonenhuma atividade física e resol-veu usar o tempo livre do final desemana para se exercitar.

    De acordo com a especialis-ta em medicina esportiva e pro-fessora da Universidade de Bra-sília, Eney Fernades, o grandeproblema dessa atividade so-mente nos finais de semana nãoestá na sua prática e sim na in-tensidade dos exercícios. “Se aatividade esporádica for realiza-da com bom senso ela será be-néfica. O que não pode aconte-cer é sobrecarregar o sábado eo domingo com atividades queseriam feitas durante toda a se-mana”, adverte.

    COMPORTAMENTO

    “Senti fortesdores noabdômem elogo depoisdesmaiei. Omeu médicodisse que se eunão fizesseatividadesregulares eramelhor ficarparado aarriscar a vida”

    Foto: GLAUBER FERNANDES - Planet Photo

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 2720

    ARTE

    A médica explica que a mai-or preocupação desses atletasde final de semana deve estarfocada na prevenção dos proble-mas. Para que isso ocorra elesprecisam tomar alguns cuidadoscomo: fazer alongamento antese depois das práticas despor-tivas e medir sempre a freqüên-cia cardíaca. Além disso, quemestá inserido em um dos gru-pos de riscos, como diabéticos,hipertensos e obesos, antes deiniciar qualquer atividade,deve procurar a orientação deum profissional da área.

    Essa recomendação foi segui-da à risca pelo representantecomercial Eduardo Gusmão, 47anos. Diabético e freqüentadordo parque da cidade apenas nodomingo, antes de iniciar a ca-minhada ele procurou orienta-

    ção médica e nutricional. “Seique é importante fazer alonga-mento e cuidar da alimentação.Como sou diabético não possocolocar minha saúde nem a daminha família em risco. Acho quetodos deveriam procurar umaorientação adequada”, afirma.

    Infelizmente o representan-te comercial faz parte de umaminoria, pois grande parte dosbrasileiros desconhece os riscosque o esporte nos finais de se-mana pode causar. A professoraAntônia Leonice Ribeiro, 37, éuma dessas pessoas. “Faço cami-nhada somente aos domingos e nãosei que tipos de problemas possoter”, diz. A professora afirma nãoter tempo para praticar exercíciosregulamente. “Trabalho o dia in-teiro e a noite cuido dos meus fi-lhos. Só resta mesmo o domingopara me exercitar”, explica.

    Assim como Antônia, grandeparte dos atletas de fim de se-mana coloca a falta de tempocomo obstáculo para a realiza-ção de esportes regularmente.No entanto, na opinião da maio-ria dos especialistas, essa é umadesculpa ultrapassada. “30 mi-nutos por dia são necessáriospara a realização de uma ativi-dade regular. Essa atividade nãonecessariamente deve ser prati-cada em academia. As ações dodia-a-dia, como por exemplo su-bir escadas, lavar louças e lavaro carro, também são eficazes nocombate ao sedentarismo”, de-fende o personal trainner e dire-tor da Associação dos Servidoresdo Superior Tribunal de Justiça(ASSTJ), Edmilson Lima Filho.

    A professora Eney Fernandese o personal trainner acreditamque os atletas de final de sema-na podem se beneficiar dessaprática se tomarem os devidoscuidados. “Não é o método maisrecomendável. Mas serve comouma semente para que eles se

    tornem atletas regulares”, dizEdmilson. Entre as recomenda-ções, o personal destaca a preo-cupação de começar lentamente,a escolha de uma atividade com-patível com a idade e o peso e aimportância dos alongamentos.

    Segundo a médica Eney Fer-nades, se o esportista não se-guir essas recomendações osmalefícios podem ser fatais.“Uma pessoa não pode fazeruma atividade física sem seguiressas orientações. Uma sobre-carga de treinamento, combina-da com uma atividade muito in-tensa, pode provocar até umaparada cardíaca”, argumenta.

    Para ela, os exercícios de fi-nal de semana servem como es-tímulo para a regularidade dasatividades. Porém, não são sufi-cientes para prevenção de do-enças. “O ideal é praticar algu-

    ma atividade pelo menos trêsvezes por semana, mas, se issonão for possível, adotar hábitosmais saudáveis como utilizar esca-das, andar até a padaria, estacio-nar uma quadra antes do serviço efazer alongamentos diariamenteajudam a diminuir os riscos da prá-tica esporádica”, explica.

    Essa é também a opinião doprofessor de educação física epresidente da Associação do Ser-vidores do TJDF, Jailton Manguei-ra Assis. “Não sou a favor da cor-rente dos radicais que recomen-dam não fazer exercícios apenasuma vez por semana. O maiorperigo não está na periodicida-de, mas sim na sobrecarga daatividade”, defende. Segundo oprofessor, no próprio TJDF é mui-to comum alguns servidores apa-recerem com lesões musculares.“Com certeza essas lesões são

    COMPORTAMENTO

    “O ideal é praticaralguma atividadepelo menos trêsvezes por semana,mas se isso não forpossível adotarhábitos maissaudáveis comoutilizar escadas,andar até apadaria, estacionaruma quadra antesdo serviço e fazeralongamentosdiariamente,ajudam a diminuiros riscos da práticaesporádica”

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 27 21

    (*) Calculo feito para uma pessoa com peso de 65kg. É importante lembrarque quanto maior for o peso, maior será o gasto calórico. Quem deseja calculara quantidade específica de calorias de acordo com sua massa corporal deve fazero calculo eletrônico no site: www.asbran.org.br

    Exercícios

    Hidroginástica intensaAeróbica – baixo impactoCorrida – 8 km/hMusculaçãoDança de salãoYoga/alongamentosGinástica localizada – leveGinástica localizada – pesadaNadar

    Tempo

    40 min45 min40 min1h45 min50 min1h1h40 min

    Quantidadede kcal (*)

    429253346227268216260520429

    Atividades do dia-a-dia

    Subir escadasMolhar plantasBeijar e abraçarTomar banhoPescarJardinagemDescer escadasDirigir carroLavar pratosFaxina pesadaEncerar carroPassar roupa

    Tempo

    20 min30 min20 min30 min1h40 min20 min1h30 min40 min30 min40 min

    Quantidadede kcal (*)

    19548,7521,66

    6526019565

    13081

    195130104

    COMPORTAMENTO

    fruto de atividades pesadas e ir-regulares”, afirma.

    As doenças mais comuns re-lacionadas à falta de atividadesregulares são as cardiovascula-res, o diabetes e o câncer. Esta-tísticas da Organização Mundi-al de Saúde mostram que essasenfermidades são responsáveispela morte de 2 milhões de pes-soas em todo o mundo. Dadosdo Ministério da Saúde, compro-vam que a prática regular deexercícios físicos diminuem astaxas de mortalidade e comba-tem essas doenças. Pesquisasna área revelam que os hábitossedentários são responsáveispor 54% de risco de morte porinfarto e 37% por câncer. Alémdisso, quem realiza pelo menos

    meia hora diária de exercíciosreduz o risco de morte por do-enças do coração em até 40%.

    A recomendação dos espe-cialistas é de que cada pessoadeva gastar pelo menos 2000kcal por semana, realizando al-guma atividade física. No siteda Associação Brasileira deNutrologia (Asbran) é possí-vel se calcular quantas calo-rias gastamos em rotinas dodia-a-dia ou em exercícios fí-sicos específicos. Para se teruma idéia, uma at iv idadecomo fazer compras no super-mercado durante 1 hora equi-vale a um gasto calórico de227 kcal. (Veja no box a quanti-dade de calorias gastas em ati-vidades do nosso dia-a-dia).

    Benefícios dos exercícios regulares

    Os exercícios regulares evitam os problemas relacionados àpratica de esportes esporádicos e ainda trazem muitos benefícios àsaúde. Veja abaixo o que se pode ganhar ou evitar e os cuidadosnecessários na hora de praticar atividades físicas.

    O que você ganha:

    · Fortalece os músculos e ossos;· Melhora a qualidade do sono;· Melhora a freqüência dos batimentos do coração e a circulação do sangue.

    O que você evita, controla ou diminui:

    · Riscos de doenças cardiovasculares (hipertensão, infarto);· Ansiedade e depressão;· Obesidade e diabetes (açúcar no sangue);· Osteoporose;· Alguns tipos de câncer.

    O que você deve lembrar:

    · Nunca caminhe ou pratique esportes em jejum e procure manter-se bem hidratado;· A companhia de alguém de que você gosta torna seus exercícios mais agradáveis;· Dê preferência a lugares apropriados como parques, praças, e centros de esporte e lazer, com boa iluminação e segurança;· Na prática de exercícios, procure orientação profissional e respeite seus limites.

    Busque as horas mais frescas do dia e evite a exposiçãoexagerada ao sol.

    O que pode mudar agora mesmo:

    · Evite usar elevadores; se possível, use escadas ou rampas;· Junte a turma do prédio, da rua, do bairro ou da escola para jogar vôlei, peteca, ou uma boa pelada;· Leve o cachorro para passear;· Saia para dançar;· Procure estacionar o carro um pouco mais longe do destino, ou desça da condução um ou dois pontos antes.

    E não se esqueça: antes de praticar exercícios,consulte seu médico

    Fonte: Ministério da Saúde

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 2722

    arro e casa própria,as velhas dificulda-des de consumo doPaís, continuam as-solando os bolsos etirando o sono dos

    cidadãos. O antigo sonho dosbrasileiros muitas vezes acarretaem noites de preocupação com dí-vidas, cobrança de juros altos (es-tipulados pelas empresas sem quetenham sido estabelecidos noscontratos), cobranças indevidas nodecorrer dos financiamentos euma série de outros problemas.

    A situação exige que quempasse por este tipo de dramafique atento, tanto às cláu-sulas estabelecidas nas en-trelinhas dos contratos – para que

    não seja pego de surpresa com im-previstos – como também em rela-ção aos seus direitos, mantendo-seem contato direto com advogados eentidades de defesa do consumidorsempre que se sentir lesado.

    Sem fugir à regra, o quadrotambém é observado entre osservidores do Judiciário e do Mi-nistério Público da União. Tantoque no último balanço do servi-ço de atendimento jurídico doSindjus, o tema constou dentreas causas particulares mais apre-sentadas pelos associados nosúltimos 30 dias.

    Juros sobre JurosSegundo o advogado Rena-

    to Borges Barros, os problemassão relacionados, no caso dosimóveis, com a cumulação dejuros sobre juros, quando o fi-nanciamento é remuneradocom base em percentuais bemmaiores que o valor com queos agentes financeiros (ban-cos, Caixa Econômica, coope-rativas imobiliárias etc) cap-tam recursos. Outra situaçãobastante observada é a incor-reta aplicação do plano de equi-valência salarial do mutuário.

    Além disso, de acordo comele, “muitas vezes o banco apli-ca, primeiro, a taxa de juros esomente depois, debita a pres-tação da casa financiada, quan-do o correto seria acontecer ocontrário”, explica ele. Barrosnão quis citar exemplos de pes-soas prejudicadas, no intuito depreservar os clientes que deramentrada de causas na Justiça so-

    bre assuntos similares, masdestacou que muitos sequersabem que estão pagando amais indevidamente. Motivopelo qual, aconselhou os cida-dãos que possuem esse tipo definanciamento a acompanha-rem de perto os valores estipu-lados nos boletos.

    Na opinião de economistase especialistas em contratosimobiliários, como as situaçõessão analisadas caso a caso, omais importante para as pes-soas que possuem imóveis fi-nanciados ou pretendem partirpara um empreendimento comoesse é fazer, antes, um planeja-mento e muita pesquisa. Asprincipais dicas repassados são:primeiro, avaliar se não é horade usar o Fundo de Garantia doTempo de Serviço (FGTS), vistoque quanto maior for seu valorde entrada, menor serão os ju-ros das prestações do imóvel.

    Em segundo lugar, ter cons-ciência de que menor prazo éamigo de todos, uma vez queos juros embutidos serão me-nores. “Antes de escolher seuimóvel procure se informar quaissão as linhas de crédito ofere-cidas pelas instituições e qualse adapta melhor às suas con-dições financeiras. É imprescin-dível ler atentamente todas ascláusulas do contrato e se in-formar sobre quais são os direi-tos e deveres estabelecidos”,informou o economista EvaldoSoterro, da empresa de consul-toria SST de Campinas (SP).

    O economista lembrou que

    é comum incorporadores recor-rerem ao financiamento bancá-rio para custeio de parte do va-lor da construção. Quando issoacontece, para a obtenção do fi-nanciamento, estes incorporado-res oferecem o terreno e todo oempreendimento em garantia doempréstimo. No final da cons-trução, vão assumindo, cadaum, a sua parcela do emprésti-mo, mediante assinatura decontrato de repasse de financi-amento, até que o montanteseja liquidado e a hipoteca, to-talmente cancelada.

    Multa de 2%Já no caso de veículos, a prin-

    cipal dificuldade se dá quando ocontrato cita uma profusão detaxas de juros efetiva e estipulaoutra, no decorrer do financia-mento. Os direitos do consumi-dor são claros em relação a isso:segundo o Procon, as pessoasque vivem tal situação têm di-reito a obter dados precisos so-bre as condições em que se dá acontratação e precisam ficar cien-tes de que a multa por atraso (con-traprestações) não pode exceder2%, conforme prevê a Lei 8.078.

    Além disso, de acordo comFlora Guimarães, advogada doProcon, uma vez notificado deseu atraso ou havendo uma açãode busca e apreensão do veícu-lo, o consumidor pode purgar amora. Ou seja: pagar o que deve,acrescido dos juros moratórios,independentemente de percen-tual que pagou da dívida. FloraGuimarães enfatizou, ainda, que

    C

    Financiamentos para carro e casa própria:Novas queixas para uma dificuldade antiga dos brasileiros

    “Muitas vezes obanco aplica,primeiro, a taxa dejuros e somentedepois, debita aprestação da casafinanciada, quandoo correto seriaacontecer ocontrário. Muitosclientes sequersabem que estãopagando a maisindevidamente”.

    SERVIÇO

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 27 23

    é abusiva qualquer cláusula quepreveja o vencimento antecipa-do das parcelas vincendas, emcaso de atraso de pagamento.

    Embora aparentemente fá-ceis de ser resolvidos assim queos cidadãos dão entrada de suasqueixas na Justiça, estas situa-ções demonstram ser um tantomais preocupantes, uma vez quea quantidade de pessoas queadere ao financiamento de car-ros continua grande.

    Pesquisa divulgada recen-temente pela Associação dosRevendedores de Veículos Au-tomotores no Estado de SãoPaulo · Assovesp e o Sindicatodo Comércio Varejista de Veí-culos Usados no Estado de SãoPaulo – Sindiauto (cujos levan-tamentos correspondem a es-pécie de termômetro do mer-cado em todo o País) mostrouque o financiamento continuasendo o principal mecanismode venda dos carros usados esomente juros mais amenos po-dem garantir o incentivo do con-sumidor às compras.

    Nessa última pesquisa, foiconstatado que em agosto,69% dos negócios contaramcom algum financiamento eem julho, 73% dos carros usa-dos negociados foram financi-ados. O prazo para pagamen-to do financiamento tambémrecuou um pouco: em julho, asconcessionárias davam 36 me-ses de prestação, em média,para saldar a dívida, em agos-to, o prazo passou a ser de 36meses em média.

    SERVIÇO

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 2724

    “Atualmente, o que mais aflige a população é a questão da corrupção. Nós vemos, no cenário nacional, membros dedois poderes da República aparecendo no noticiário com atos que comprometem a moral e deixam a sociedade estarreci-da. O País estava recuperando não só o desenvolvimento econômico como um sentimento de cidadania e nós somossurpreendidos com essas denúncias. As denúncias envolvendo um presidente vindo da classe operária frustram o povobrasileiro. Os fatos, ainda sujeitos a investigação, caminham para apontar uma rede de corrupção no governo”.

    Vanderley Ramos dos Santos, analista processual do MPDFT de Taguatinga

    I

    Qual é o seu gritode independência?

    “Nós precisamos de independência política e financeira. O Brasil ainda está muito preso aos Estados Unidos. Eu sei queé muito difícil se livrar desses grilhões, porque eles tentam ditar as regras para outros países. Não é tarefa fácil porque elessão uma potência política e econômica”.

    José de Anchieta Oliveira Santos, encarregado substituto do Posto de Serviço Predial do Fórum de Taguatinga

    ndependência ou Morte – qual seria o grito do Ipiranga, hoje?”. Esse foi o tema da nossa enquete este mês. Os servidoresouvidos aproveitaram o assunto para desabafar. Eles pedem independência da opressão econômica ditada pelos EstadosUnidos e clamaram por liberdade diante da escravidão imposta pela corrupção que se instala no Legislativo e no Executivo.A indignação toma conta dos servidores, que querem mais ética.

    Segundo os nossos servidores, se o dinheiro desviado dos cofres públicos tivesse como destino, por exemplo, as obrassociais, a melhoria da Educação e de Infra-estrutura, o País poderia se desenvolver muito mais, com menos desigualdade na distribui-ção de renda, com uma sociedade mais justa. Diante de tantas denúncias de corrupção e da constatação da desigualdade, muita gentesoltou o verbo e mostrou sua opinião. Confira o que disseram os nossos entrevistados:

    “Neste momento, a libertação do povo brasileiro deve ser desses políticos corruptos. O povo precisa mesmo se libertardessas amarras da corrupção. Não sobra nada para o povo, porque o dinheiro arrecadado por impostos pagos pelasociedade é todo desviado. O povo paga e vai tudo para o bolso, ou melhor, para as “malas” desses corruptos”.

    Elizabeth Braga, Primeiro Juizado do Fórum de Taguatinga

    “Em primeiro lugar, para ser considerado independente mesmo é preciso ser independente financeiramente. Só osbanqueiros ficando milionários e a gente se arrebentando. O governo faz projeto para atender aos mais pobres e onde ficaa classe média? O grito de independência seria a independência do Brasil junto aos bancos internacionais”.

    Antônio Ideomar Matias, técnico judiciário na área de segurança e transporte do Fórum da Ceilândia

    “Independência para mim seria colocar esses políticos todos para fora e começar tudo de novo. Do jeito que oCongresso (Nacional) está aí, está praticamente sem solução. A gente só vê roubo sendo denunciado pela imprensa. É noExecutivo, é no Legislativo... A saída seria uma reestruturação geral. A gente só vê o nosso dinheiro sendo levado para forae ninguém sabe onde vai parar, e não volta. Tantos passando fome no Nordeste ou mesmo aqui perto da gente. Aqui (no DF)se vê tanta gente embaixo da ponte. Esse dinheiro desviado poderia ir para eles”.

    Círio Alberto Teixeira, oficial de Justiça

    ENQUETE

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 27 25

    ENQUETE

    “Devemos nos libertar da falta de investimento na Educação, conforme fizeram as grandes potências. É preciso investirem reforma agrária e Educação. Países hoje desenvolvidos evoluíram porque investiram em Educação. A Coréia do Sul é umexemplo de que essa ação dá resultado. É uma utopia querer a independência econômica para o País, pois numa economiaglobalizada isso não é possível”.

    Jair Barbosa da Silva, técnico administrativo do MPDFT

    “Acho que a principal independência é a política. Uma liberdade também no sentido cultural. Um país que tem umaconsciência política pode ser libertar de outras amarras. Acredito que a independência política promoveria a independênciaem outras áreas. Claro que houve uma evolução em relação a 20 ou 30 anos atrás. As pessoas estão mais preocupadas como destino político da Nação, mas falta um pouco de atitude. Os cidadãos já conhecem mais o assunto, mas falta um poucomais de ação. Nenhum país nasceu sendo Primeiro Mundo”.

    Ricardo Luiz Pereira Noronha, chefe do cartório da 3ª Zona Eleitoral.

    “Não penso em pedir independência. Acho que a mudança deve começar em cada pessoa. Tudo começa dentro do serhumano e depois passa para o grupo do qual ele faz parte. Esse vício, essa corrupção, a falta de opinião própria de cada um...Por isso, as coisas ruins proliferam. Nós vemos poucos se rebelando contra esses casos denunciados aí e outros tantos quepermanecem inócuos e se calam. Se calar de certa forma é ser conivente com a situação. O ser humano está muitoinfluenciável. Ninguém luta pelo ideal, porque é mais fácil driblar o próximo”.

    João Henrique Miranda Vieira, técnico judiciário da Vara de Execuções Criminais

    “Independência seria, hoje, da corrupção. Mas não dá para esperar muita coisa do Brasil. A falta de credibilidade do Paísé tanta que é difícil se libertar dessa corrupção. Acho que nem mesmo o voto é a solução como dizem por aí, porque osenvolvidos nesse escândalo que está sendo noticiado vão se candidatar novamente e vão se eleger. Independência é muitodifícil, porque a moeda americana é quem manda. A independência fica só na utopia”.

    Rivan Braz dos Santos, técnico do Judiciário da Coordenação Geral dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais

    “Tem que ser a independência política. Talvez tenha que ser a independência da corrupção. O País não está indo bem,se parassem de roubar seria bem melhor. Se nós pegássemos os valores roubados pelas pessoas processadas aqui não dariao valor que esses figurões roubam. Então, qual a moral que o Estado tem para falar ‘você vai preso porque roubou umabicicleta?’. Nós precisamos é dessa independência: da corrupção na política”.

    Daniel Roriz dos Santos, técnico judiciário da Central de Coordenação da Execução das Penas e Medidas Alternativas doDistrito Federal (Cepema)

    “Nós precisamos acabar com a corrupção. Somos dependentes e precisamos acabar com a corrupção. Seria necessárioter um sistema político mais eficiente, uma reforma política consistente, meios de fiscalização mais rigorosos. É preciso queo Ministério Público e a Polícia Federal façam uma maior fiscalização”.

    Gilson Martins de Melo, técnico judiciário do TRF

    O Brasil nunca deixou de ser dependente. Somos praticamente uma colônia americana, dependemos da economiaamericana para sobreviver. Seria bom nos livrarmos dessa dependência comercial, mas para isso são necessárias mudançasna estrutura econômica, política, social e cultural. Nós somos muito novos, não temos uma cultura nossa, própria".

    Maria Aparecida Lima da Silva, técnica judiciária do TRF

    Fotos: GLAUBER FERNANDES - Planet Photo

  • Jornal do Sindjus Setembro de 2005 • Nº 2726

    COLUNA

    ANTÔNIO CARLOS QUEIROZ - ACQ

    A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) está promovendo uma campanha para con-vencer juízes, procuradores e advogados a trocar os termos obscuros do juridiquês por lingua-gem de gente. Segundo o presidente da entidade, juiz Rodrigo Collaço, “a simplificação dalinguagem jurídica é fundamental para a aproximação dos agentes do Direito com a popula-ção. Essa campanha não pretende vulgarizar a linguagem, mas evitar os exageros que afas-tam a Justiça da sociedade”. A juíza Andréa Pachá cita exemplos: “Homicídio sempre seráhomicídio, peculato é peculato. No entanto, cadeia não é ergástulo público nem cártula chéquicapode ser usada para substituir chequ