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Abril 2009 Revista Mensal 3 Euros Cooperativismo: Fusão de Cooperativas cada vez mais uma solução para o pequeno agricultor Apresentação da resolução do Parlamento Europeu abre espaço ao tratamento da Economia Social das Instituições Comunitárias Escola Superior Agrária de Coimbra: “Um dos grandes Agricultores da Região Centro” Especial Caixas de Crédito Agrícola Mútuo

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Abril 2009Revista Mensal3 Euros

Cooperativismo:Fusão de Cooperativas cada vez mais uma solução para o pequeno agricultor

Apresentação da resolução do Parlamento Europeu abre espaço ao tratamento da Economia Social das Instituições Comunitárias

Escola Superior Agrária de Coimbra:“Um dos grandes Agricultores da Região Centro”

EspecialCaixas de CréditoAgrícola Mútuo

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3Sessão oficial de inauguração contou com presenças do Presidente do INSCOOP, da Anafre e Delegado Regional do IDT

Eduardo Graça preside cerimónia de inauguração das instalações da NewsCoop

A NewsCoop inaugurou oficialmente, no passado dia 20 de Abril, as suas ins-talações. A redacção desta Cooperativa de informação e comunicação, sedea-da na freguesia de Senhora da Hora, em Matosinhos, foi visitada durante este acto simbólico por Eduardo Graça, Presidente do INSCOOP, que presidiu ao acto oficial, Armando Vieira, Presidente da Associação Nacional de Fre-guesias e Adelino Vale Ferreira, Delegado Regional do Norte do Instituto da Droga e da Toxicodependência. Durante a sessão, os convidados assistiram a uma produção vídeo made in NewsCoop, em que os profissionais da casa apresentam as edições realizadas mensalmente - as revistas Dependências, Fórum & Cidadania, NewsCoop Fórum Cooperativo e Medicina e Farmácia - e ficaram a conhecer de perto todo o processo de edição de uma publicação jornalística.De registar as palavras de apreço e encorajamento por parte dos convidados, representantes de vários sectores preponderantes no domínio das áreas de cobertura das publicações NewsCoop, a quem agradecemos a visita e votos de (continuado) sucesso. A laborar desde Janeiro de 2008, a NewsCoop resulta de uma candidatura ao programa Prodescoop, a partir da qual foi possível criar sete postos de traba-lho, ocupados por profissionais então em situação de desemprego, parte deles oriundos do extinto jornal O Comércio do Porto. Os mesmos profissionais que, de uma situação de não produtividade e de dependência de um subsídio social de desemprego, produziram no primeiro ano de actividade duas deze-nas de revistas e um volume de facturação na ordem dos 125 mil euros.Do apoio recebido, 50.000€ a fundo perdido, já retribuímos em salários 55.600€, e de uma situação de não produtividade por parte dos nossos profis-sionais que, como referido, foram recrutados no Centro de Emprego, recebeu

mais de 125.000€ em facturação e mais de 14.000€ de IVA. Ora, se consi-derássemos que na situação de desempregados pelo período de 36 meses, o estado teria de pagar cerca de 200.000€ à totalidade dos seis trabalhadores em subsídios sociais, isto significa que o apoio recebido está justificado e parece deitar por terra o argumento de todos aqueles que maliciosamente tei-mam em julgar que os apoios concedidos pelo Governo à criação de postos de trabalho e a pequenos projectos empresariais se resumem a dinheiro es-banjado em vão.De referir ainda que a inauguração oficial das instalações da Newscoop coin-cidiu com o primeiro acto oficial do género presidido pelo actual Presidente do Inscoop, Eduardo Graça.

Adelino Vale Ferreira Armando Vieira

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“Ainda há muito a fazeraté ao final do mandato”

Marca presença na Feira AGROTEC 2009, uma feira onde o coope-rativismo está bem patente, quais as suas expectativas e perspectivas, após visita aos vários pavilhões do certame?Depois de ter passado pelos vários pavilhões desta Agrotec 2009, verifiquei que a maior parte das empresas que estão aqui representadas, indicaram-me que o ano passado lhes correu bem e que sentiram algum abrandamento das encomendas no final do ano, mas neste momento já notam uma certa dinâmica e procura de investimento por parte dos agricultores e das suas associações. Isto confirma-nos aquilo que nós pensávamos, que a agricul-tura é o último sector onde a crise chegará. E há neste momento, na agri-cultura a esperança de que virão dias melhores e que vale a pena investir na agricultura. Pensamos que isto poderá estar ligado à entrada em regime de cruzeiro do próprio Plano de Desenvolvimento Rural que os apoia financei-ramente neste investimento. Em contrapartida, constatei algo que me dei-xou preocupado, a maior parte das organizações aqui presentes, empresas e alguns agricultores que encontrei, desconhecem as novas medidas que já se encontram em aplicação, e que não têm nada a ver com o PRODER. Por exemplo, ao nível da eficiência energética, nós financiamos 50 por cento do projecto a fundo perdido. As candidaturas abriram no início de mês de Março para a compra de painéis solares, para a compra de motobombas, tudo o que seja equipamento que utilize energia eléctrica ou diesel, que seja mais eficiente, relativamente ao equipamento existente. E, de facto vi que a maior parte das pessoas não tinham essa informação. Logo, temos que fazer um esforço na divulgação dessas medidas.

Preocupa-o o facto de o cooperativismo estar a passar para o sector privado?Não. O que me preocupa não é o facto de estar a passar para o domínio do sector privado, o que me preocupa é que o cooperativismo em muitos sectores da actividade agrícola é importantíssimo, pois é a única forma de protecção de milhares de pequenos agricultores que nós temos. No sector do vinho, por exemplo, as nossas adegas; no sector das hortofruti-culturas, entre outros. Os agrupamentos de produtores ou as cooperativas poderiam ajudar a criar fileiras com dimensão, no sentido de ajudar a valorizar a produção dos seus associados. Mas neste campo considero que ainda estamos muito atrasados. Portanto, nós neste Quadro Comunitário de Apoio, temos que o aproveitar para criarmos dimensão, e a dimensão, quando se tem pequenas explorações, é criada através do cooperativis-mo.

Até ao final do mandato o que resta fazer, que medidas vão ser to-madas?Até ao final do mandato e consequentemente do ano faltam alguns meses. Nós temos as medidas que anunciamos: uma linha de crédito, que foi con-cebida como primeira preocupação, ajudar as adegas a concentrarem-se, a fazerem parcerias para comercializarem conjuntamente, para poderem pagar melhor o preço das uvas aos seus associados, isto é, pagar mais rapidamente e não em dois ou três anos. Essa linha de crédito está opera-cional desde o mês de Abril; temos a linha de eficiência energética; temos uma medida nova para os jovens agricultores, em que lhes vamos dar uma ajuda anual, designadamente em ajudas ligadas à produção, o RPU - Regime de Pagamento Único, já existente, mas que se destina apenas para quem tem histórico, aos jovens agricultores que não têm histórico, nós vamos dar-lhes essa ajuda. Estamos a decidir com o sector do leite, nomeadamente com o sector cooperativo do leite, a necessidade de ter-mos uma medida de competitividade. Há uma decisão de 2003, que diz que as cotas leiteiras vão acabar em 2015 e nós temos que olhar para isso como um desafio. Não obstante, há um pacote financeiro importante com majoração das ajudas, apoio aos agricultores com um licenciamento das suas explorações e isto, nós queremos aprovar até à Páscoa. Depois temos dois sectores que requerem esforços: o sector da produção dos ovinos e das nossas raças autóctones. Temos ainda a Lei do Arrendamento, que vai flexibilizar o arrendamento ao proprietário que tem as suas terras sem uso e sem produção. Ou seja, se não quer vender, poderá arrendar, porque a nova Lei do Arrendamento dá-lhe uma maior flexibilidade, há uma maior liberdade na elaboração dos contratos. Por isso, como se pode constatar, ainda há muito a fazer até ao final do mandato.

Jaime Silva

Agrotec’09

Ministro da Agricultura – Jaime Silva

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Relatório do Parlamento Europeu reconhece e promove a economia social

Resolução do Parlamento Europeu, de 19 de Fevereiro de 2009, sobre a eco-nomia social (2008/2250(INI))

O Parlamento Europeu ,

A. Considerando que o modelo social europeu foi construído sobretudo graças a um elevado nível de serviços, bens e empregos gerados pela economia social, bem como com o apoio das capacidades de antecipação e de inovação desenvolvidas pelos seus promotores,B. Considerando que a economia social tem por base um paradigma social que está em consonância com os princípios fundamentais do modelo social e de bem-estar europeu, e que a economia social desempenha ainda hoje um papel funda-mental na manutenção e no reforço deste modelo, regulando a produção e a oferta de muitos serviços sociais e de interesse geral,C. Considerando, consequentemente, que há que valorizar os modelos da econo-mia social para atingir os objectivos de crescimento económico, empregabilidade, formação e serviços pessoais que caracterizam todas as políticas europeias,D. Considerando que a riqueza e o equilíbrio de uma sociedade provêm da sua diversidade, e que a economia social contribui activamente para essa diversidade, ao melhorar e reforçar o modelo social europeu e ao introduzir um modelo de em-presa específico que lhe permite contribuir também para um crescimento estável e duradouro,E. Considerando que os valores sociais da economia são altamente coerentes com os objectivos comuns da UE de inclusão social, e que o trabalho decente, a forma-ção e a inclusão lhe deveriam estar associados; considerando que a economia so-cial demonstrou que pode melhorar significativamente o estatuto social de pessoas desfavorecidas (como foi demonstrado, por exemplo, pelo vencedor do Prémio

O Parlamento Europeu, em sessão plenária, realizada no passado dia 19 de Fevereiro, aprovou com 580 votos a favor, 27 contra e 44 abstenções o relatório elaborado pela eurodeputada italiana Patrizia Toia, no qual se reco-nhece e promove, de forma clara e vincada, a Economia Social. Esta importante resolução abre caminho a uma nova era no tratamento do sector da Economia Social no seio das instituições comunitárias e, desejavelmente, também nos 27 Estados Membros. Newscoop reproduz nestas páginas o documento final, aprovado pelo P.E.

Nobel Professor Mohamud Yunus que, facilitando a inclusão financeira, aumentou a influência das mulheres) e que tem uma capacidade substancial de inovação so-cial, encorajando os que se deparam com dificuldades a encontrar soluções para os seus problemas sociais, por exemplo no que diz respeito à conciliação da vida pro-fissional e da vida privada, à igualdade dos géneros, à qualidade da vida familiar, à capacidade para cuidar dos filhos, dos idosos e das pessoas com deficiência,F. Considerando que a economia social representa 10% do conjunto das empre-sas europeias, ou seja, 2 milhões de empresas, ou 6% do emprego total, e dispõe de um elevado potencial para gerar e manter empregos estáveis, principalmente porque estas actividades, pela sua própria natureza, não são susceptíveis de serem deslocalizadas,G. Considerando que as empresas da economia social são geralmente pequenas e médias empresas (PME) que contribuem para um modelo económico sustentável em que as pessoas são mais importantes do que o capital e que essas empresas estão muitas vezes activas no mercado interno e, portanto, precisam de garantir que as suas actividades respeitem a legislação pertinente,H. Considerando que a economia social se desenvolveu através de tipos empre-sariais com características organizacionais ou jurídicas específicas, como por exemplo as cooperativas, as sociedades mútuas, as associações e as fundações, e outros tipos existentes nos Estados-Membros; considerando que a economia social abrange uma panóplia de conceitos utilizados nos diferentes Estados-Membros como, por exemplo, “economia solidária” e “terceiro sector”, e que, embora não sejam considerados como fazendo parte da “economia social” em todos os Esta-dos-Membros, existem em toda a União Europeia actividades comparáveis que partilham as mesmas características,I. Considerando que é necessário reconhecer o estatuto de alguns tipos de organi-zação que fazem parte da economia social a nível da UE, tendo em conta as regras

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do mercado interno, a fim de reduzir os obstáculos burocráticos à obtenção de fundos comunitários,J. Considerando que a economia social coloca em evidência um modelo de em-presa que não pode ser caracterizado nem pela dimensão, nem pelos sectores de actividade, mas sim pelo respeito de valores comuns, nomeadamente a primazia da democracia, a participação dos parceiros sociais, os objectivos sociais sobre o lucro pessoal; a defesa e implementação dos princípios da solidariedade e da responsabilidade; a conjugação dos interesses dos membros utilizadores com o interesse geral; o controlo democrático pelos membros; a adesão livre e voluntária; a autonomia de gestão e a independência relativamente aos poderes públicos; a mobilização do essencial dos excedentes à consecução de objectivos de desen-volvimento sustentável e o serviço prestado aos seus membros de acordo com o interesse geral,K. Considerando que a economia social, apesar da importância crescente e das or-ganizações que dela fazem parte, é ainda pouco conhecida, sendo frequentemente alvo de críticas resultantes de abordagens técnicas inadequadas; considerando que a falta de visibilidade institucional é um dos problemas mais importantes com que se depara a economia social na União Europeia e em alguns Estados-Membros, o que resulta, em parte, das peculiaridades dos sistemas de contabilidade nacional,L. Considerando o trabalho realizado no âmbito do Inter-grupo “Economia So-cial” do Parlamento Europeu;

Considerações gerais1. Sublinha que a economia social, ao aliar rentabilidade e solidariedade, desem-penha um papel essencial na economia europeia, criando empregos de elevada qualidade, reforçando a coesão social, económica e regional, gerando capital so-cial, promovendo a cidadania activa, a solidariedade e um tipo de economia com valores democráticos que põe as pessoas em primeiro lugar, para além de apoiar o desenvolvimento sustentável e a inovação social, ambiental e tecnológica;2. Considera que, tanto pelo que simboliza como pelos resultados obtidos, a eco-nomia social é importante para reforçar a democracia industrial e económica;3. Reconhece que a economia social só poderá prosperar e desenvolver todo o seu potencial se puder beneficiar de condições políticas, legislativas e operacionais adequadas, tendo em conta a riqueza da diversidade das instituições da economia social e as suas características específicas;4. Considera que as empresas da economia social não deveriam estar sujeitas à mesma aplicação das regras da concorrência a outras empresas e que precisam de um enquadramento jurídico seguro, baseado no reconhecimento dos seus valores específicos, a fim de não estarem em desvantagem em relação às outras empre-sas;5. Sublinha que um sistema económico no qual as empresas da economia social desempenhem um papel mais significativo reduziria a exposição à especulação nos mercados financeiros, em que algumas sociedades privadas não estão sujeitas à supervisão dos accionistas nem das entidades reguladoras;

Reconhecimento do conceito de economia social6. Recorda que a pluralidade das formas empresariais é reconhecida no Tratado CE, assim como pela aprovação do Estatuto da Sociedade Cooperativa Europeia;7. Recorda que a Comissão já reconheceu diversas vezes o conceito de economia social;

8. Convida a Comissão a implementar a promoção da economia social nas suas novas políticas e a defender o conceito de “abordagem empresarial diferente” da economia social, cujo motor principal não é a rentabilidade financeira, mas sim a rentabilidade social, de modo a que as especificidades da economia social sejam tomadas realmente em conta na elaboração de enquadramentos jurídicos;

9. Considera que a UE e os Estados-Membros devem reconhecer a economia social e os seus interessados (cooperativas, sociedades mútuas, associações e fundações) na sua legislação e políticas; sugere que essas medidas incluam o acesso fácil ao crédito e benefícios fiscais, o desenvolvimento de micro créditos, a elaboração de estatutos europeus para as associações, as fundações e as sociedades mútuas, bem como financiamentos comunitários adaptados às necessidades e incentivos para prestar um maior apoio às organizações da economia social que operam em secto-res comerciais e não comerciais, que são criados para fins de utilidade social;

Reconhecimento jurídico: estatutos europeus para as associações, as funda-ções e as sociedades mútuas10. Constata que é necessário reconhecer os estatutos europeus relativos às as-sociações, às sociedades mútuas e às fundações, a fim de garantir um tratamento igual para as empresas da economia social de acordo com as regras do mercado interno; considera que a retirada das propostas da Comissão para um regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho sobre o estatuto da associação europeia e um regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho sobre o estatuto da mutu-alidade europeia (COM(1991)0273) constitui um recuo significativo para o desen-volvimento destas formas de economia social na União Europeia; insta, portanto, a Comissão a rever o seu programa de trabalho em conformidade;11. Convida a Comissão a dar seguimento ao relatório de exequibilidade sobre o estatuto da fundação europeia, que deveria ter sido publicado antes do final de 2008, e a lançar um estudo de impacto relativo aos estatutos da associação europeia e da sociedade mútua europeia;12. Convida a Comissão e os Estados-Membros a desenvolverem um quadro jurí-dico que reconheça as componentes da economia social;13. Convida a Comissão a assegurar que a sociedade privada europeia seja uma forma de sociedade que possa ser adoptada por todos os tipos de empresas;14. Convida a Comissão a estabelecer regras claras para determinar quais as en-tidades que podem legalmente funcionar como empresas da economia social e a instaurar barreiras jurídicas à entrada eficazes, de modo a que nenhuma organiza-ção estranha à economia social possa beneficiar de financiamentos destinados a empresas da economia social ou de políticas públicas concebidas para incentivar as empresas da economia social;

Há que valorizar os modelos da economia social para atingir os

objectivos de crescimento económico, empregabilidade, formação e serviços pessoais que caracterizam todas as políticas europeias.

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Reconhecimento estatístico15. Convida a Comissão e os Estados-Membros a apoiarem a criação de regis-tos estatísticos nacionais das empresas da economia social, a estabelecer contas satélite nacionais por sector institucional e por ramo de actividade, e a permitir a utilização desses dados pelo Eurostat, recorrendo também às competências dispo-níveis nas universidades;16. Salienta que a medição da economia social é complementar à medição das organizações sem fins lucrativos (OSFL), convida a Comissão e os Estados-Mem-bros a promoverem a utilização do Manual da ONU sobre as organizações sem fins lucrativos e a prepararem contas satélite que permitam melhorar a visibilidade das OSFL e das organizações da economia social;

Reconhecimento como parceiro social17. Considera que as componentes da economia social deveriam ser reconhe-cidas no diálogo social intersectorial da UE e sugere que tanto a Comissão como os Estados-Membros apoiem energicamente o processo de inclusão dos actores da economia social na concertação social e no diálogo civil;

A economia social como actor chave para a concretização dos objectivos da Estratégia de Lisboa18. Salienta que as empresas da economia social contribuem para o reforço do espírito empresarial, facilitam um melhor funcionamento democrático do mundo empresarial, integram a responsabilidade social e promovem a integração social activa dos grupos vulneráveis;19. Salienta que os empregadores da economia social são actores decisivos para a reinclusão e congratula-se com os esforços por estes envidados para criar e man-ter postos de trabalho dignos, estáveis e de elevada qualidade e para investir nos trabalhadores; insta a Comissão e os Estados-Membros a apoiarem e reforçarem a economia social na sua qualidade de bom empregador e a respeitarem o seu estatuto especial;20. Salienta que a economia social contribui para corrigir três grandes desequi-líbrios no mercado de trabalho: o desemprego, a instabilidade de emprego e a exclusão social e laboral dos desempregados; observa ainda que a economia social melhora a empregabilidade e cria empregos que, normalmente, não são deslocali-zados, o que contribui para a realização dos objectivos da Estratégia de Lisboa; 21. Considera que o apoio dos Estados-Membros às empresas de economia social deve ser interpretado como um verdadeiro investimento na criação de redes de so-lidariedade que possam reforçar o papel das comunidades e das autoridades locais no desenvolvimento das políticas sociais;22. Considera que os problemas sociais exigem reflexão, mas nas actuais circuns-tâncias é necessário sobretudo acção; considera que a maior parte dos problemas sociais deve ser abordada através de soluções locais, de forma a ir ao encontro das situações e dos problemas concretos; considera que essa acção, para ser eficaz, re-quer regras estritas de coordenação, o que significa uma elevada cooperação entre as autoridades públicas e as empresas de economia social;23. Constata que, graças ao seu forte enraizamento a nível local, as empresas da

economia social permitem a criação de laços entre os cidadãos e os seus órgãos representativos regionais, nacionais e europeus, estando assim aptas a contribuir para uma governação da UE eficaz e para a coesão social; avalia muito favora-velmente os esforços desenvolvidos pelas empresas e organizações da economia social no sentido de se juntarem no seio de plataformas de coordenação a nível da UE;24. Frisa o papel fundamental que assume a economia social na realização dos objectivos da Estratégia de Lisboa de crescimento sustentável e pleno emprego, já que a economia social combate os múltiplos desequilíbrios do mercado de traba-lho, sobretudo através do apoio ao emprego feminino, institui e presta serviços de assistência e de proximidade (de que são exemplo os serviços sociais, de saúde e de previdência social), para além de formar e manter o tecido social e económico, contribuindo para o desenvolvimento local e a coesão social;25. Considera que a UE deve tomar medidas para criar um enquadramento para a agenda da economia social, já que isso reforçará a competitividade local e da UE e a capacidade de inovação, dada a aptidão da economia social para gerar estabilidade num contexto de economias eminentemente cíclicas, redistribuindo e reinvestindo os lucros localmente, quando for adequado, promovendo uma cultura empresarial, vinculando as actividades económicas às necessidades locais, susten-tando as actividades em risco (por exemplo, os ofícios) e gerando capital social;26. Convida as autoridades competentes e os operadores do sector a avaliarem e valorizarem o papel das mulheres na economia social, tanto em termos quantitati-vos, dado o índice elevado de ocupação feminina no sector em todos os domínios, incluindo o trabalho associativo voluntário, como no que respeita às modalidades qualitativas e de organização do trabalho e à prestação de serviços; manifesta a sua preocupação com a persistência, inclusivamente na economia social, de integração vertical, que restringe a participação das mulheres nos processos de tomada de decisão;27. Pede aos governos e às autoridades locais dos Estados-Membros, bem como aos operadores do sector, que promovam e apoiem as possíveis sinergias no sec-tor dos serviços, que possam ser realizadas entre os agentes e os utilizadores da economia social, alargando o âmbito da participação, da consulta e da co-respon-sabilização;28. Solicita à Comissão que tenha em conta a realidade da economia social na revisão da política dos auxílios estatais, porque as pequenas empresas e as organi-zações que operam ao nível local enfrentam grandes dificuldades para acederem aos financiamentos, em particular durante a actual crise económica e financeira; exorta ainda a Comissão a não obstar às disposições nacionais em matéria fiscal e de direito das sociedades, como, por exemplo, as destinadas às cooperativas no sector bancário e no da grande distribuição, que operam com base nos princípios da mutualidade, da democracia empresarial, da transmissão inter-geracional do património, da indivisibilidade das reservas, da solidariedade, da ética laboral e empresarial;29. Realça que algumas empresas da economia social são microempresas ou pe-quenas e médias empresas (PME) que podem não dispor dos meios necessários para operar no mercado interno e para participar nos programas nacionais e da UE, pelo que propõe a disponibilização de meios que lhes permitam contribuir melhor para o crescimento económico sustentável da União Europeia, bem como facilitar, em caso de crise, a transformação de empresas em entidades da propriedade dos trabalhadores;30. Convida a Comissão e os Estados-Membros a desenvolverem programas diri-gidos às empresas sociais potenciais e existentes, oferecendo-lhes apoio financei-ro, informação, assessoria e formação, bem como a simplificarem o processo de criação (nomeadamente a redução do capital inicial exigido às sociedades), a fim de ajudarem estas empresas a enfrentar as dificuldades de uma economia que é cada vez mais global e que é actualmente afectada por uma crise financeira;31. Salienta que as empresas da economia social enfrentam mais dificuldades do que as grandes empresas, por exemplo, para cumprirem as exigências regu-lamentares, para obterem financiamento e para acederem à nova tecnologia e à informação; 32. Frisa a importância da economia social no quadro dos serviços de interesse geral e sublinha o valor acrescentado que advém da criação de redes integradas

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público/privadas, mas também o risco de exploração, de que são exemplo as ex-ternalizações, baseadas na redução dos custos a cargo das administrações públicas, inclusive através do trabalho prestado em regime de voluntariado;33. Insta a Comissão a prosseguir os seus trabalhos de diálogo e clarificação com as partes interessadas e a apoiar os Estados-Membros no que respeita aos serviços de interesse geral e os serviços sociais de interesse geral e a utilizar o método do feixe de índices;Os meios necessários para atingir os objectivos34. Insta a Comissão a zelar para que as características da economia social (ob-jectivos, valores e métodos de trabalho) sejam tidas em conta na elaboração das políticas da EU e, em particular a integrar a economia social nas suas outras po-líticas e estratégias de desenvolvimento social, económico e empresarial, sobre-tudo no contexto do regime europeu das pequenas empresas (“Lei das Pequenas Empresas”) (COM(2008)0394); solicita que, nos casos em que a economia social é afectada, se proceda a avaliações de impacto e se respeite e dê prioridade aos interesses da economia social; insta ainda a Comissão a reavaliar a possibilidade de criar uma Unidade Inter-serviços consagrada à economia social interligando as direcções-gerais relevantes;35. Solicita à Comissão que o Observatório Europeu para as pequenas e mé-dias empresas inclua também sistematicamente nos seus estudos as empresas de economia social e que, com as suas recomendações, apoie a sua actividade e evolução; convida a Comissão a tomar as medidas apropriadas para permitir que as empresas de economia social estejam ligadas à Rede Europeia de Apoio e-Business e sejam por ela promovidas;36. Convida os Estados-Membros a incentivar o desenvolvimento de organiza-ções de apoio às pequenas e médias organizações da economia social, tendo em vista reduzir a dependência de subvenções e aumentar a sustentabilidade;37. Solicita à Comissão que convide os participantes na economia social a ade-rirem a instâncias permanentes de diálogo e a participarem e colaborarem com os grupos de peritos de alto nível que possam ocupar-se de questões relativas à economia social; convida a Comissão a participar no reforço das estruturas de representação da economia social a nível regional, nacional e comunitário, bem como a criar um quadro jurídico concebido para promover uma parceria activa entre autarquias e empresas da economia social;38. Convida a Comissão a promover o diálogo entre os organismos públicos e os representantes da economia social a nível nacional e comunitário, promovendo assim a compreensão mútua e as boas práticas;39. Convida a Comissão a apoiar uma célula de reflexão da UE sobre os ban-cos cooperativos criada pela associação do sector ou outros serviços financeiros

que possam ser do interesse das organizações da economia social, que estudaria o desempenho destas entidades específicas da economia social até agora na UE, especialmente durante as actuais crises mundiais do crédito e financeira, e de que forma as mesmas evitarão futuros riscos desta natureza;40. Solicita à Comissão que analise a reactivação da rubrica orçamental específica para a economia social;41. Convida à criação de programas que promovam a experimentação de novos modelos económicos e sociais, ao lançamento de programas-quadro de investiga-ção e à integração das temáticas associadas à economia social nos convites à apre-sentação de propostas no âmbito do Sétimo Programa-Quadro, a uma análise da eventual utilização de um “multiplicador” aplicado aos dados estatísticos oficiais, e à instituição de instrumentos para medir o crescimento económico de um ponto de vista qualitativo e quantitativo;42. Solicita à Comissão e aos Estados-Membros que integrem uma dimensão “economia social” na implementação das políticas comunitárias e nacionais e nos programas da UE destinados às empresas no domínio da investigação, da ino-vação, do financiamento, do desenvolvimento regional e da cooperação para o desenvolvimento, e que apoiem a criação de programas de formação em econo-mia social destinados aos administradores da UE, nacionais e locais, bem como assegurem o acesso das empresas da economia social aos programas e acções no domínio do desenvolvimento e das relações externas;43. Solicita aos Estados-Membros que prevejam projectos de formação no ensino superior e universitário, bem como na formação profissional, destinados a trans-mitir o conhecimento da economia social e as iniciativas empresariais fundadas nos seus valores;44. Convida a Comissão e os Estados-Membros a apoiarem o desenvolvimento de competências e o profissionalismo neste sector, a fim de se reforçar o papel da economia social na integração no mercado de trabalho;45. Requer à Comissão que defina um enquadramento jurídico na UE favorável à constituição e manutenção de parcerias territoriais entre o sector da economia social e as autoridades locais, definindo critérios para o reconhecimento e a va-lorização da economia social, para o desenvolvimento local sustentável e para o fomento do interesse geral;46. Convida a Comissão a estudar condições que facilitem os investimentos na economia social, designadamente através de fundos de investimento, de emprésti-mos garantidos e de subvenções;47. Insta a Comissão a proceder a uma reavaliação: - da sua Comunicação relativa à promoção das cooperativas na Europa e do Re-gulamento (CE) n.º 1435/2003 relativo ao Estatuto da Sociedade Cooperativa Europeia, tal como está previsto nestes textos;- da sua Comunicação sobre a promoção do papel das associações e das Funda-ções na Europa. 48. Encarrega o seu Presidente de transmitir a presente resolução ao Conselho, à Comissão, aos governos e aos parlamentos dos Estados-Membros, ao Comité Económico e Social Europeu, ao Comité das Regiões e ao Comité da Protecção Social.

Última actualização: 23 de Fevereiro de 2009

Instituto António Sérgio do Sector CooperativoRua D. Carlos de Mascarenhas, n.º 46 - 1070 - 083 LISBOA – PORTUGAL

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É necessário reconhecer o estatu-to de alguns tipos de organização

que fazem parte da economia social a nível da UE, tendo em conta as regras do mercado interno, a fim de reduzir os obstáculos burocráticos à obtenção de fundos comunitários.

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10 Mútua dos Pescadores

No passado dia 13 de Abril, teve lugar na Sede Social da Mútua dos Pescadores a tomada de posse dos recém-eleitos Ór-gãos Sociais para o próximo quadriénio.Estiveram presentes, além dos eleitos, elementos do mandato anterior, colaboradores da Mútua dos Pescadores, Secretá-rio-Geral da Fenacoop, Sr. José Luís Cabrita e Presidente do INSCOOP, Dr. Eduardo Graça.Na circunstância, o Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Sr. Carlos Mota, desejou os maiores êxitos à nova equipa dirigente.O novo Presidente do INSCOOP, num breve improviso, realçou a importância da Mútua dos Pescadores no universo da economia social e sobretudo na vertente da sua especialidade marítima; ao mesmo tempo que referiu as grandes linhas orientadoras da instituição que dirige e que vai sofrer algumas alterações, sobretudo com o alargamento da sua represen-tatividade a outras áreas da economia social, para além das cooperativas.A cerimónia terminou com um pequeno beberete, que proporcionou mais um agradável convívio.

Tomada de Possedos Novos Dirigentes

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Ficha Técnica - Propriedade, Redacção e Direcção: NewsCoop - Informação e Comunicação CRL • Rua António Ramalho 600E - Apartado 6024 • 4461-801 Senhora da Hora Matosinhos • Publicação periódica mensal registada na E.R.C. com o número 125382 • Tiragem: 12 000 exemplares • Contactos: Tel./Fax: 22 9537144 • Tlm.: 915236663 • [email protected] • www.newscoop.pt• Director: Sérgio Oliveira •

Editor: António Sérgio • Coordenador Editorial: Ana Lima • Jornalistas: António Sérgio e Elda Ferreira • Produção Gráfica: Ana Oliveira • Impressão: Artes Gráficas Diumaró

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A Mútua dos Pescadoresno Sector Cooperativo

No fim-de-semana de 18 e 19 de Abril, a Fenacoop (Federa-ção Nacional das Cooperativas de Consumidores, FCRL) - de que a Mútua dos Pescadores é filiada - e a Cooplisboa, tendo por anfitriã a Coopcastrense, organizaram um debate e reu-nião do seu Conselho Nacional, nas instalações da Associação de Agricultores de Campo Branco, na esbelta Vila de Castro Verde. No primeiro dia – debate aberto aos membros do Conselho Na-cional e aos quadros das cooperativas -, foram apresentados excelentes trabalhos, seguidos de animada discussão, sobre a Cooplisboa, novas tecnologias, política comercial, financeira e social, bem como a situação de algumas cooperativas.A pasta distribuída aos participantes continha um valioso con-junto de documentos, desde a simpática revista “ECOOP” até um guião sobre o “Regime Legal e Estatutário das Cooperati-vas de Consumidores”, passando pelas propostas de medidas da Confecoop (Confederação das Cooperativas Portuguesas-representada pelo actual Presidente, Dr. Jerónimo Teixeira, Director-Geral da Mútua dos Pescadores) para as coopera-tivas, dirigidas ao INSCOOP, organismo estatal que regula e supervisiona o sector.A Mútua dos Pescadores, que se fez representar por três cola-boradores, teve uma intervenção, através do Director Coorde-nador, Joaquim Simplício, sobre a mais-valia que esta coope-rativa de seguros e a sua parceira Ponto Seguro, mediadora de seguros, podem proporcionar ao movimento cooperativo.Os acompanhantes tiveram um agradável programa turístico e cultural, patrocinado pela Câmara Municipal de Castro Ver-

Mútua dos Pescadores

de, que se associou ao evento, nomeadamente com a participa-ção do respectivo Presidente, Arq. Francisco Duarte.À noite, um óptimo jantar, acompanhado por sessão de fados, com intérpretes alentejanos de boa qualidade e que tiveram o mérito de mobilizar a participação da assistência.Na manhã seguinte, decorreu a programada reunião do Con-selho Nacional, reservada aos membros deste órgão. Igualmente viva e participada, a reunião do Conselho Nacio-nal contou com a participação de dirigentes de muitas coope-rativas, da Fenacoop, CoopLisboa e Confecoop, que partindo da informação e debate do dia anterior analisaram linhas de acção que melhor permitam resistir aos impactos da crise que atinge os membros das cooperativas e naturalmente se reflecte nestas organizações. Ficou claro que a intervenção das co-operativas, como actores de desenvolvimento regional, que pela seus princípios e práticas de solidariedade e actuação económica justa e humanizada, em contraponto aos princípios e práticas egoístas, liberais, de concentração e desregulação da actividade económica dos responsáveis da crise, tem, neste quadro, de ser ainda mais dinâmica, eficaz e diferenciadora. Foi finalmente aprovada uma Recomendação que publicamos nesta edição da Marés.Para além de uma importante jornada de trabalho, o encon-tro constituiu também uma forma de consolidar as relações de convívio, próprias dos que acreditam no cooperativismo e lhe reconhecem as potencialidades para colaborar activamente no combate estrutural à crise, para melhorar a vida e a so-ciedade.

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“Não nos esquecemosque somos uma cooperativa”

Após ter cumprido três mandatos ao serviço do município de Arouca, o Prof. Brandão Almeida aceitou um novo desafio, candidatar-se à direcção da CCAM de Arouca, que tem hoje 2800 associados. 18 anos mais tarde, em entrevista à Newscoop, o professor traça um retrato fiel da economia local, não descurando os destinos da agri-cultura no nosso país.

Arouca é uma cidade marcadamente agrícola, a própria CCAM tem aproximadamente 20 por cento de clientes deste sector, como explica esta ligação visto que a agricultura é um dos pilares de qualquer país. E terá que ser no futuro…Prof. Brandão Almeida (BA) – Creio que todos os associados da Coope-rativa Agrícola de Arouca são também nossos associados, para além desses temos muitos outros. Entendemos que devíamos ter um relacionamento espe-cial com a Cooperativa Agrícola, então criamos um protocolo com a qual nós subsidiaríamos a produção do leite com um determinado valor. Isso ainda se mantém. Todos os anos consideramos 50 000 euros aos associados da coope-rativa e alguns outros produtores de leite que não são da cooperativa, mas que são nossos associados. Para além disso, acompanhamos sempre as iniciativas que a cooperativa leva a cabo, quer sejam relacionadas com os agricultores, quer com o desenvolvimento económico da região. Esta é a nossa missão. Nós não nos esquecemos que somos uma cooperativa, embora isso fique muitas vezes diluído, porque o cooperativismo passa despercebido, dado a actividade bancária sobrepor-se. Esta é dirigida por um regime especial que nos obriga, para além do código cooperativo, a outras obrigações que temos de cumprir. Acho que o cooperativismo tem perdido força e creio mesmo que há no públi-co a ideia de que o cooperativismo é uma actividade pobre, que as cooperati-vas são mal geridas, quando não tem que ser assim. As cooperativas devem ser geridas como qualquer outra empresa. Há também a ideia na população que as cooperativas rejeitam a ideia de lucro, como se o lucro fosse um crime. Esse é um pensamento errado, porque embora as cooperativas não pretendam o lucro como finalidade última, tem de procurar o lucro para distribuir e para também exercerem melhor a sua função. No caso do CCAM, uma das preocupações é obter o lucro legítimo, adequado às nossas funções e também ao regime jurídi-co ao qual estamos ligados, porque é com o lucro que criamos o nosso capital. E enquanto banco temos que ter o capital mínimo exigido pelo Banco de Por-tugal e que todos os anos tem que aumentar, para corresponder a determinados rácios que nos são impostos e também porque tendo lucro transformado em capital, dá à cooperativa uma base sustentável que é muito importante actu-almente. Ou seja, a ideia de lucro não é errada, o que é errado é o lucro sem limites, que deu origem ao que estamos a assistir no nosso país e no mundo,

o que levou a uma certa descredibilização da actividade bancária. Quanto ao cooperativismo se se recomenda? Penso que tem resistido aos ataques que tem sido vítima, porque apesar dos governos afirmarem que o mundo cooperativo é uma ideia muito bonita que contribui para o desenvolvimento, não lhes dão depois todas as possibilidades de se desenvolverem. Tem que coincidir a ideia exposta com a prática, mas parece-me que ultimamente, a maior parte das co-operativas têm mostrado uma grande vitalidade, estão a transformar-se, estão a procurar viver e trabalhar com uma certa profissionalização, que era algo impensável. Para uma boa gestão duma cooperativa de grandes dimensões tem que ter gente especializada a geri-la.

Nota-se um claro afastamento das pessoas à agricultura. O que se pode fazer para inverter essa tendência?BA – Pode-se fazer muito pouco. É difícil fazer o que quer que seja numa zona como a nossa, a dimensão da propriedade leva a desistir. Só com uma grande capacidade de associação entre agricultores, e esse é o papel das cooperativas, é que é possível fazer alguma coisa, mas como esta agricultura não produz grande riqueza, os jovens afastam-se e portanto procuram outros meios. Além disso a alfabetização cada vez maior da sociedade faz com que haja afasta-mento duma agricultura que foi sinónimo de pobreza, pois durante muitos anos tivemos 60 por cento da população na agricultura. Hoje temos apenas 10 e mesmo estes parecem não ter grandes condições para continuar. Ficarão alguns que transformarão a agricultura, numa agricultura especializada, mas os outros não têm qualquer hipótese. A não ser no aspecto rural, a floresta, que ocupa quase 90 por cento do território. Essa floresta criou riqueza para a sobrevivência das pessoas, o pequeno proprietário rural todo ele tinha a sua “leira do monte”, pequenas e distribuídas pela população, que eram o seu me-alheiro e que os ajudava a sobreviver. O produto da terra e o produto florestal foi o que manteve durante muito tempo muitas pessoas numa terra como esta. Estou muito descrente com a nossa agricultura ao nível nacional. Dá-me a impressão que vamos sempre atrasados em relação à Europa e que os agri-cultores europeus são muito apoiados pela comunidade. Parece-me que o país não tem capacidade de reivindicação, vai sempre a reboque dos outros países e nós vamos ficando sempre para trás. Os nossos agricultores não têm grande capacidade de competição com os preços que os outros vão praticando. É a tal falta de competitividade. Depois o norte do país é todo ele constituído por minifúndios, o que comporta grandes dificuldades e só terá sucesso se alguns produtores se especializarem em determinada produção. Quando se julgava que os subsídios da EU iriam transformar a nossa agricultura, verifica-se que não houve transformação. Os subsídios foram recebidos e mal aplicados. Está à vista. A agricultura tem sido um sorvedouro de fundos que não resultaram em nada. Por isso não acredito que a agricultura tenha um futuro brilhante. Não acredito na capacidade do Ministro da Agricultura, ele fica muito submis-so perante a comunidade europeia.

Olhando a grande Cooperativa, que é a Caixa Agrícola a nível nacional, de que maneira a CCAM de Arouca se posiciona relativamente às outras do país?BA – Em termos de dimensão somos uma caixa média, mas já fomos uma caixa muito grande em relação a outras. Existiam mais de três centenas de CCAM, hoje há apenas 90. Portanto, houve muitas fusões de micro caixas que se transformaram em caixas grandes. E essas são muito maiores que a nossa. Nós posicionamo-nos naquele conjunto de caixas que se mantiveram desde a sua fundação com uma actividade bastante razoável e que ainda hoje se impõe também nas localidades e que têm uma actividade que pode equiparar-se à actividade de qualquer banco local. Em termos de dimensão é evidente que somos apenas uma caixa de um concelho, de um município, não podemos por isso competir com as caixas que são de vários municípios ou até mesmo com as regionais.

Prof. Brandão Almeida

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…e face à concorrência? Visto que estão muito próximos dos clientes e os vêem como amigos.BA – Sim. Os clientes reconhecem que nesta dependência bancária são tratados de uma forma diferente da concorrência. Primeiro porque os nossos recursos humanos são todos da terra, é conhecido e relaciona-se bem com as pessoas. Conhecem-se uns aos outros. Depois temos fama e proveito de sermos uma instituição em que o atendimento é afável. É tudo explicado devidamente. Não há intenção de vender produtos sob uma for-ma sendo depois comercializados doutra e isso distingue-nos. Creio que a nossa postura no relacionamento bate a concorrência. Não conseguimos batê-la em certos aspectos numéricos, existem por vezes ofertas que nós não queremos cobrir, porque não queremos ter capital estranho a preços elevadíssimos. Tem que haver bom senso na gestão.

Já contam com mais de 30 anos ao serviço da população. Acompanha desde do início esta história, será que nos pode apontar as dificuldades iniciais e o momento actual?

BA – A CCAM nasceu precisamente quando eu era presidente da câmara e, foi-me pedido apoio por parte dos agricultores, para iniciar o processo de criação da CCAM. Houve uma reunião nos paços do concelho onde me fize-ram sentir a necessidade da criação de um banco cooperativo. Como já exis-tiam várias CCAM no país, decidiu-se criar uma caixa de crédito, para ser um caminho mais fácil de percorrer. Foi criada a primeira comissão para tratar do assunto, e eu fui acompanhando. A princípio as dificuldades foram muito grandes. Arranjou-se um espaço onde os associados se inscreviam e onde eram esclarecidos das razões de formação da instituição. Entretanto começou a crescer, em 1980 começou a funcionar, já com um pequeno número de associados, adquiriu as actuais instalações, que já foram remodeladas, cerca de dez anos depois. Em 1990 saí da presidência da câmara e passado um ano vim para a CCAM. Não tenho encontrado grandes dificuldades, houve por vezes caixas que tiveram graves incumprimentos do crédito concedido e isso gerou situações críticas, que não eram sustentáveis e que foram obrigadas a fundir-se com outras. Nunca tivemos esse problema e todos os anos apresen-tamos um lucro razoável de maneira a criar capital, a poder fazer donativos a variadíssimas instituições para além dos agricultores, os bombeiros, as mise-ricórdias e outras instituições de solidariedade social. E múltiplas iniciativas locais de apoio ao desporto, à cultura e similares.

Como caracteriza a população de Arouca?BA – É uma população débil economicamente. Não há grande desemprego, ainda não atinge os 5 por cento, ou seja o nosso tecido empresarial tem aguen-tado a crise, mas os salários não são altos. A média dos salários ronda o salário mínimo e conseguimos verificá-lo. É um tecido económico frágil, o que nos favorece e é característica da região, é que as pessoas quando pedem um cré-dito estão já preparadas para pagá-lo. Há uma ética no relacionamento entre essas pessoas e o banco e acredito que se vai manter.

Projectos“O grande projecto tem a ver com uma expansão. Temos apenas este balcão que serve uma área muito vasta e pretendemos pelo menos, mais dois balcões. Encontramo-nos neste momento a estudar os locais onde eles se possam instalar. Os nossos concorrentes ainda não demonstraram essa vontade. O nosso espaço rural é muito disperso e por isso não há nú-cleos fortes onde se possa implantar um balcão, por isso é uma escolha difícil. Continuar o trabalho feito até aqui será sempre a nossa principal determinação.”

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“A grande diferença da Caixa Agrícola e desta em particular é que não

vendemos produtos tóxicos”

Apesar de ter sido constituída apenas em 1984, a fundação da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Mogadouro (CCAM) deve ser enca-rada no contexto de um movimento com raízes seculares. Como des-creve este historial do crédito agrícola em Portugal, que dá origem à proliferação de várias CCAM’s pelo País em meados dos anos 80?A CCAM surgiu no contexto do desenvolvimento do crédito agrícola, que começou a evidenciar alguma expressão a partir dos anos 80, quan-do se liberta da tutela da Caixa Geral de Depósitos. Esse acontecimento começa a potenciar um desenvolvimento do crédito agrícola em termos de captação de depósitos e de concessão de crédito. O crédito agrícola já existia desde 1911, regulamentado desde 1919 e passou por um longo pe-ríodo muito extenso sem regulamentação que terminaria em 1982. Nesse contexto, existem CCAM’s muito antigas, centenárias, mas existe igual-mente um rol de CCAM’s bastante mais recente, do final dos anos 70 e princípio dos anos 80. A Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Mogadouro surge precisamente a partir desse incremento do crédito agrícola aquando da saída da tutela da CGD. E verifica-se um movimento em Mogadou-ro, semelhante ao ocorrido um pouco por todo o País, essencialmente na zona Centro e Sul – também um pouco no Norte, mas aí já existiam mais Caixas – e, em 1984, acaba por ser constituída a escritura da CCAM de Mogadouro, fundada por duas dezenas de sócios.

O que procuravam, concretamente, esses sócios fundadores e por que motivos não terão recorrido na altura à banca tradicional?Desde logo, porque a banca tradicional não tinha apetência para o crédito à agricultura…

Não havia uma especialização, que aqui oferecem…Não tinha apetência por várias razões. Primeiro, porque se trata de um sector de risco mais elevado. Segundo, porque naquele tempo, a forma de crédito que havia e que se praticava na banca era com juros à cabe-ça. O juro era elevado, situando-se acima dos 20 por cento e, se alguém pedia mil contos, apenas recebia 800. Ora, a agricultura não comportava esse esforço nem essa prática, pois se o agricultor pedia mil era porque precisava realmente de mil… Por outro lado, havia a barreira dos prazos.

Nesse tempo, a banca apenas fazia crédito de curto prazo, a três, seis ou nove meses que até podia ou não ser renovado ou reformado mas não fazia crédito superior a um ano. Ora, não há crédito na agricultura que se recupere em seis ou sete meses, a não ser alguma criação de vitelos ou porcos. Tudo o resto supera o ano. Sentia-se pois, essa necessidade de uma instituição que concedesse créditos a curto, médio e longo prazo. Que, inclusivamente, fossem capazes de oferecer produtos que ultrapas-sassem os dez anos, até porque existem determinados investimentos na agricultura que, para fomentarem retorno e se poderem pagar, são supe-riores a esse prazo. E existe ainda uma outra razão: a banca tradicional tinha como função, naquele tempo, tal como hoje ainda se vai consta-tando, captar poupança no interior e investir no litoral. Essa foi sempre a tradição da banca: sendo o interior tradicionalmente aforrador, a banca vem aqui buscar poupança, que aplica no litoral, na indústria ou no co-mércio ou na mediação accionista mobiliária. Daí também os problemas que ultimamente surgiram com esses gigantes… E daí também que a ban-ca tradicional seja altamente concorrencial face à nossa no que concerne ao pagamento de juro de depósitos e que pague mais que nós, uma vez que vai tentar rentabilizar no litoral. Foram, precisamente, essas as razões e as necessidades que justificaram, um pouco por todo o País, a abertura de novas CCAM’s. E em Mogadouro, tal como nos outros locais do País, essa necessidade evidenciava-se.

Que mais-valias concretas trouxe esta CCAM à região onde se en-contra inserida?A principal mais-valia foi a popularização do crédito.

Refere-se a uma democratização do acesso ao crédito?Chamar-lhe-ia popularização. Numa democratização é suposto todos le-varem igual, o que não é viável. Do acesso talvez… Aliás, eu recordo que, ainda nos tempos do meu pai, quando a maioria dos proprietários abas-tados entravam nos bancos da terra, tiravam o chapéu umas dez vezes, fazendo grandes vénias e pedindo licença vezes sem conta a gente que, pensavam, tão importante. Ora, a CCAM acabou por banalizar esta situa-ção. O cliente da CCAM entra aqui como em sua casa, sem acanhamento, sendo igual e não se sentindo inferior, enquanto na banca assim o fazia. Pedir dinheiro emprestado era algo impensável… Essa abertura das men-talidades traduziu-se numa grande mais-valia. Por outro lado, permitiu que, de uma vez por todas, se derrubassem as barreiras na banca tradicio-nal relativamente à concessão de crédito no interior. A banca tradicional e antiga, por princípio, não o concedia. Em casos muito especiais, daria um salpicão a quem lhe desse uma vara de porcos…

Direcção da

C.C.A.M. de Mogadouro

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Eram tradicionalmente agências de depósitos……E de captação de recursos para o Litoral… E surge uma instituição pe-quenina que lhes vai mordendo os calcanhares a pouco e pouco e ela tem que entrar também no jogo da concorrência local. E a banca tradicional começa também a abrir as suas regras, andando atrás do crédito agrícola no que concerne à concessão de crédito. Transformaram o juro antecipado em postecipado, tal como nós fazíamos, tendo sido os primeiros a fazê-lo e transformaram o curto em médio e longo prazo. Andaram a reboque porque foram obrigados, não porque gostassem.

Para além dessas mais-valias, que outras resultaram da presença da CCAM em Mogadouro ao nível do fomento da agricultura local?Essa é a terceira parte. As anteriores são, no nosso entender, as mais im-portantes. A terceira resulta de termos permitido um grande investimento na agricultura na região. É evidente que houve outra parte que comple-mentou esse investimento, os quadros comunitários de apoio. E dentro desses quadros comunitários, foi o crédito agrícola, as CCAM’s e, por exemplo, a de Mogadouro que deu a grande ajuda aos agricultores para receberem os subsídios ao rendimento – e também ao investimento – por-que foram canalizados através da CCAM, com informação da CCAM, com a elaboração das próprias candidaturas dentro da Caixa Agrícola – ainda hoje, temos aqui pessoal só para isso, que lhes dá apoio permanen-te, lhes elabora as candidaturas e presta esclarecimentos a uma grande maioria que apenas sabe “desenhar” o nome… E se não fossem as Caixas, nomeadamente a de Mogadouro, nunca teriam tido acesso a esses fundos. Hoje em dia, a CCAM recebe através do seu balcão, aqui em Vimioso, subsídios ao rendimento anuais na ordem dos dez milhões de euros, o que representa um valor muito significativo para estes dois concelhos, que são pequenos e pobres. Para grande parte dos nossos clientes é, talvez, o melhor serviço que se lhes pode prestar.

Os clientes da CCAM de Mogadouro são todos cooperantes?Não. Existem dois tipos de clientes: os sócios e os não sócios. Sócios da Caixa Agrícola são aqueles que estão ligados à agricultura de uma forma ou de outra, o que é hoje mais diluído, e que subscrevem um capital míni-mo, obrigatório por lei, de 500 euros. Além dos depósitos e outros produ-tos e serviços, pode ter acesso a acredito. Depois, há o cliente que decide abrir conta. Faz um contrato de abertura de conta de depósitos na CCAM como faria noutro banco qualquer e movimenta, tal como noutro banco

mas, como não subscreveu capital, não é sócio nem tem acesso a crédito. Poderá vir a ter mas neste momento ainda não tem. Também esse cliente não participa nos dividendos da CCAM quando forem distribuídos. Este ano, o dividendo por título situou-se nos 48,8 cêntimos.

Além daqueles serviços prestados por esta agência da CCAM de Mo-gadouro que já enumerou, que a banca tradicional não presta, que outros produtos e serviços destinados ao sector agrícola vos diferen-ciam da concorrência?Em primeiro lugar, uma correcção: não somos uma agência mas sim uma instituição de crédito. Agência chama-se à do banco que tem sede, por exemplo, em Lisboa e sucursais ou agências em Mogadouro, etc. Esta CCAM é uma instituição absolutamente autónoma, daí não ser agência, mas que está integrada num sistema financeiro, que se chama do crédito agrícola, em que existe uma relação de igualdade e não de dependência entre esta CCAM e as outras. São pares inter primus e primus inter pares. Outra diferença é que, aqui, a decisão está junto, ao lado, próxima do cliente. Já na banca, as pessoas são números analisados em função de uma folha de responsabilidades, cumprimentos e históricos que encaixam num determinado perfil que indica se o cliente tem direito a 10, a 5 ou a zero. E se este só ainda me deu a ganhar um porco, então ainda não terá direito ao salpicão… A grande diferença da Caixa Agrícola – e desta em particular – é que não vendemos produtos tóxicos.

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Em Portugal, projecta-se actualmente a constituição de uma régie cooperativa, que deverá incorporar as actuais competências do Inscoop, com esta entidade, confederações, federações cooperativas e instituições particulares de solidariedade social – a chamada economia

social – representados. Como descrevem a panorâmica actual da legislação que tutela o crédito agrícola, particularmente na vossa área, como cooperativa e que medidas gostariam de ver implementadas pelo Inscoop e pela tutela, que favorecessem o cooperativismo, particularmente nesta área do crédito agrícola?Foi aprovada muito recentemente em Conselho de Ministros mais uma alteração ao regime jurídico 24/91 e, como é natural, ainda nem sequer temos disponíveis os traços específicos dessa aprovação. Sabemos que haverá algumas reivindicações que foram contempladas e outras ainda não estarão. Uma que estará contemplada prende-se com a abertura a todas as operações até um limite de 35 por cento dos activos totais da instituição. Isto é, até 35 por cento podem-se fazer operações a sócios e não sócios e, acima disso, ainda tem que ser feito dentro da actividade. Digamos que se verifica uma abertura mas ainda não na globalidade. As Caixas Agrícolas estão, neste momento, a fugir às normas mais rígidas do cooperativismo. Por várias razões: primeiro, a fusão de um grande número, que abrange regiões inteiras do País – há a do Alto Minho, a do Minho, a de Trás-os-Montes… - e é evidente que isso dilui o chamado cooperativismo e deixa-o sem sentido. Passa a verificar-se uma distância significativa entre o dirigente e o cooperante em si. A sede pode ser em Bragança e o cooperante estar em Vila Flor ou até mais longe… Por outro lado, as regras que enumerei já não se enquadram no seio do quadro cooperativo, uma vez que posso conceder créditos a não sócios. O objecto da sociedade já vai para além do próprio conceito cooperativo. Portanto, o crédito agrícola já não encaixa perfeitamente no modelo cooperativo, isso por força de ser uma instituição financeira com especificidades próprias que obedece, além das normas do Código Cooperativo, à Lei Bancária. Existem duas grandes normas conflituantes às quais tem que obedecer. A Lei Bancária exige que os órgãos dirigentes das instituições de crédito sejam profissionalizados, que lhes seja reconhecida capacidade profissional, quer pela experiência, quer pela forma-ção, quer por muitos outros critérios. No Código Cooperativo isso já não se verifica. Pelo Código Cooperativo não se obriga que uma cooperativa tenha registo dos seus órgãos sociais em lado nenhum, a não ser na Conservatória. Os órgãos sociais de uma Caixa Agrícola são obrigados a estar registados na Conservatória e, necessariamente, no Banco de Portugal. E o registo no Banco de Portugal é de tal forma que pode levar a impedimentos… Que são vinculativos e não passíveis de recurso. Isto para dizer que as Caixas Agrícolas do crédito em geral já não se encaixam no modelo cooperativo, saltando fora em muitas situações. A ideia não é não nos sintamos como cooperativas… A nossa maior obrigação não é para o sector cooperativo mas antes para o sector financeiro, para o cumprimento das normas impostas pelo Banco de Portugal. Portanto, se o modelo cooperativo alterar aqui ou ali, para nós não terá grande influência, ao contrário das alterações produzidas na legislação bancária ou do regime jurídico por parte do Banco de Portugal. Quem tutela

mais fortemente a nossa actividade é o Banco de Portugal, sem margem para dúvidas.

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“Somos cooperativistasacima de tudo!”

Sabendo da importância da CCAM junto dos agricultores e sabendo tam-bém que se tem adaptado à captação de novos públicos. Qual é o perfil e que caracterização faz desta dependência bancária?António Abreu (AA) – A CCAM de Vila Nova de Famalicão nasceu no início do século XX. Partiu da iniciativa de um grupo de Agricultores do Concelho, de-senvolveu sempre a sua actividade no apoio ao Sector Agrícola, com as vantagens e limitações impostas pela legislação vigente em cada momento, a qual ao longo dos anos foi objecto de diversas e sucessivas actualizações, que agora permitem uma actuação alargada a todos os sectores de actividade, oferecendo produtos e serviços equiparados aos comercializados pela banca em geral. Hoje o grupo Crédito Agrícola em geral e em particular a CCAM de Vila Nova de Famalicão, ocupam uma posição relevante na economia Nacional. Já somos um parceiro importante a considerar no apoio a todos os sectores de actividade, comércio, industria, serviços, etc.

A agricultura é um pilar desde a fundação da CCAM, mas que o que é mais procurado?AA – Costumamos dizer que a Agricultura é a nossa raiz, é a nossa base, a partir da qual nascemos e crescemos. Tal como o sucedido por toda a Europa, desde o início do século houve um decréscimo significativo da actividade agrícola no nosso país, este mercado foi-se estreitando, não sendo suficiente para garantir o futuro da instituição. Para assegurar a nossa subsistência, ao longo da nossa existência, houve necessidade de avançar para os outros ni-chos do mercado, criando condições, investindo em novas ferramentas, em novas tecnologias, desenvolvendo produtos competitivos face à concorrência, para oferecer aos nossos clientes. O sector agrícola, actualmente tem um peso residual no volume de negócios da instituição, estando a nossa actividade totalmente diversificada. Hoje apoiamos todas as outras actividades, como disse, a indústria, comércio, serviços, os particulares, em todas as suas verten-tes, sendo no presente o apoio à Habitação, um dos ramos do negócio de maior relevância na actividade da nossa Caixa.

Face à concorrência, neste momento como se posiciona a CCAM?AA – Nós somos uma cooperativa com mais de mil associados que detém seis por cento de quota de mercado, desenvolvendo e tentando incutir nas pessoas o espírito que ela própria atravessa, que é o espírito de solidariedade. Trabalham connosco aquelas pessoas que se mantêm nesse espírito, gostam de participar na decisão, emitindo a sua opinião. As nossas assembleias-gerais têm sempre umas boas dezenas de associados que participam e que nos ajudam bastante.

O cooperativismo está em crise, apático ou o exemplo da CCAM acaba por ser um exemplo de sucesso ainda que não tão visível?AA – Eu acho que os valores do cooperativismo se mantêm. O cooperativismo desenvolve-se de forma diferente do que era antigamente, apesar do código coo-perativo e o próprio regime jurídico aplicado serem os mesmos. Nunca como hoje o Cooperativismo está actual. Os valores de solidariedade, de ajuda mútua, são aqueles que actualmente se apela, em alternativa aos valores puramente economi-cistas que prevalecem até aos nossos dias. O resultado está à vista.

Enquanto cooperativa, qual é a vossa acção principal?AA – Numa cooperativa o valor principal é as pessoas. Em termos de acção, a cooperativa é um banco como outro qualquer. Os nossos associados têm algu-mas reduções nos custos, tem a remuneração do capital subscrito, participam nas decisões e assembleia-geral, na discussão dos temas inerentes. Para além disso colaboramos com outras entidades do concelho através de protocolos, nomea-damente com escolas, Santas casas, câmaras municipais, a igreja, na ajuda aos mais necessitados, e outras entidades que tenham uma acção social forte. Estamos disponíveis, na medida das nossas possibilidades, para todos.

Têm agendados alguns projectos para o futuro, em Vila Nova de Famalicão?AA – Nós estamos a consolidar a nossa acção e actividade em Famalicão e a ten-tar expandir-nos para outros concelhos, o futuro dirá se vamos conseguir ou não.

Uma mensagem em nome do cooperativismoAA – O cooperativismo atravessa uma certa turbulência com criação de novas mentalidades e adaptação aos novos tempos. Não se pode estar agarrado ao pas-sado, mas os princípios do código do cooperativo têm que se manter: o espírito de solidariedade, a participação entre todos, a penetração no meio social há que segui-los. No Natal entre todas as cooperativas do concelho agrícolas e não agrí-colas partilhamos este momento. Acho que esse espírito criado devia estender-se a todo o ano e se assim for o cooperativismo manter-se-á por muitos e longos anos. Nenhuma cooperativa está em crise, porque são entidades transparentes, abertas à participação de todos. Portanto, desejo que se mantenha o espírito de solidarieda-de entre todos nós. E que os nossos princípios se mantenham por muitos e longos anos. Somos cooperativistas acima de tudo.

O sector da banca em Portugal“A banca tanto em Portugal como no mundo está a atravessar um grande problema. Apesar disso o Crédito Agrícola é uma das poucas entidades fi-nanceiras nacionais com liquidez e que está sólido, isso é a pura realidade, os números e o Banco de Portugal assim o dizem. O Crédito Agrícola está a começar a ter uma maior visibilidade no país, pois gere uma riqueza de 11 mil milhões de euros no país, o que está a ajudar no seu conjunto instituições financeiras nacionais.”

António Abreu

Balcão de Vila Nova de Famalicão • R. Adriano Pinto Basto, 220 • 4760-114 V.N.Famalicão

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18 Cooperativa Agrícola dos Olivicultores do Fundão

«Centenário»a caminho…

Quase meio século de história“A Cooperativa foi constituída em Janeiro de 1962, mas já funcionava desde 1960 com recurso a prensas tradicionais, nas actuais instalações. Temos feito algumas obras de remodelação da cooperativa, temo-nos adaptado às novas tecnologias, aos novos processos. Destaco as obras de recuperação das instalações em 2001, onde adquirimos novas linhas e tegões de recepção, que neste momento estão para ser trocados novamente. Em 2004, a actual direcção encetou um plano de investimentos que visava adequar a cooperativa às vigências legais, isto é ao nível de HCCP’s e demais organismos e decidiu-se voltar a cooperativa para a qualidade e para o embalamento. Aliás estamos em processo de implementação das ISO:9013 e ISO:9001. Este processo, dada a conjectura económica, encontra-se parado, mas está perspectivado, inclusive quando implementamos o HCCP, foi já a pensar em trabalhar com as ISO’s, pois é um HCCP mais desenvolvido. Nessa altura também passamos a ser uma cooperativa que embalava 20 por cento e que agora embala 100 por cento da sua produção. Contamos com 2128 associados inscritos, dos quais 1800/1900 trabalham regularmente com a cooperativa. O nosso número de associados felizmente está sempre a alterar, normalmente vai sempre crescendo. Embora haja uma direcção na cooperativa, quem manda aqui são os sócios. Tentamos sempre dar conhecimento real da cooperativa aos sócios, exemplo disso são as nossas assembleias gerais que são muito participadas, o que nos apraz. Tentamos sempre dar opção de escolha sobre o caminho a seguir, o futuro das cooperativas passa por aí. Não se pode impor, há que servi-los.”

Olivicultura de ‘microfúndio’ na Beira Interior“A nível nacional temos realidades bem distintas. No caso do Alentejo cada vez mais se avolumam as diferenças, porque existem grandes áreas de superfície, grandes olivais, grandes unidades de extracção. Aqui, falamos de culturas pequenas. Exemplificando, numa estatística que realizamos, 47 por cento tem uma área igual ou inferior a um hectare são ‘microfúndios’. Temos vários tipos de associados, desde do que mete 60 toneladas até o que nos dá 20 kg, mas asseguro que a maior parte deles não chega a uma tonelada. Na Beira Interior existe alguma tendência para a aglomeração de olivais, no caso de pessoas com alguma capacidade económica que investem em alguns olivais de dimensão considerável, mas esta realidade é diminuta. Neste momento prevalece o minifúndio, há alguma plantação nova, mas nunca à escala do Alentejo.”

Promoção de estratégias para captação de jovens agricultores“A tendência é termos agricultores duma faixa etária elevada. Para contrariar a fuga dos jovens à agricultura, a cooperativa tenta estabelecer protocolos com outras entidades, que procedem à certificação e acompanhamento dos olivais. Em conjunto com uma entidade estamos a tentar fazer um projecto de fileira que ainda não sabemos se irá ou não avançar. Com esta medida não quer dizer que vamos conseguir puxar os jovens para o olival, a nossa primeira meta é tornar o olival rentável. Se isso acontecer, as pessoas acabarão por se associar ao projecto.”

Clientes com importação e exportação internacional“Directamente, não importamos, nem exportamos, temos clientes que nos compram para exportar. Através deles trabalhamos com a Bélgica, França, Alemanha, Inglaterra, trabalhamos muito com Espanha. Já trabalhamos com os EUA, Canadá, Brasil, PALOP’s e recentemente com os mercados asiáticos.”

«Cooperativismo vivo»“Há cooperativas que atravessarão algumas dificuldades, devido à própria situação do país e outras que estarão de «boa saúde». Nós estamos bem, mas na região existirão outras que não estarão tão bem. No nosso caso, estamos escalonados para uma certa quantidade e se ela for atingida estamos bem, se não for, teremos também algumas dificuldades. De um modo geral, o cooperativismo na região é dinâmico, mas se está bem ou não, já é outra história. Mas posso adiantar que a Cooperativa dos Olivicultores do Fundão juntamente com outras cooperativas da Cova da Beira temos realizado alguns encontros para ver se conseguimos delinear uma estrutura que nos permita fazer ser ouvidos para expormos os problemas da nossa região. Isto é uma mostra de que o cooperativismo está vivo e que tem que tem vontade de fazer algo pela sua região. Penso que esse é um dos pilares do cooperativismo. Não é só alcançarmos os nossos resultados económicos, mas também contribuirmos para o desenvolvimento da região onde nos inserimos e, em última análise, do país. Esta sempre foi uma região voltada para a agricultura.”

O que faz falta…“Todos os investimentos que fazemos é com recurso a fundos próprios. No entanto, há ajudas à produção e subsídios. Contudo, no quadro do novo QREN, parece-me que coloca muitos entraves, o que excluirá à partida muitas entidades. Depois, os apoios sendo muito diferentes dos anteriores, também acabam por dissuadir algumas entidades a submeter os seus projectos. Portanto, quanto ao apoio governamental, neste momento, não se pode dizer que estamos realmente apoiados. Existem diversas iniciativas, umas melhores do que outras, mas há que esperar para ver. Ao nível da cooperativa precisamos sempre de mais dinheiro, mas há alguma legislação que se aplica não só ao cooperativismo, mas a toda a indústria alimentar que merecia ser revista, nomeadamente algumas condicionantes, que apesar de fazer sentido teórico, aplicadas na prática não farão tanto sentido e, falamos mesmo ao nível de regras de HCCP. No nosso caso concreto, à semelhança de qualquer cooperativa, precisamos de fazer alguns investimentos. Aí temos duas opções ou as próprias entidades têm fundos próprios para fazer esses investimentos e isso pode não acontecer ou, terão que recorrer à banca ou a projectos financiados. O olival era um dos pontos estratégicos na apresentação do QREN, mas talvez esteja contemplado de maneira diferente da esperada e desejável. A ideia geral vai de encontro às nossas expectativas, depois os pormenores têm que ser invariavelmente ajustados.”

«O Caminho só se faz Caminhando»“Quero acreditar que o futuro vai ser melhor, mas só trabalhando é que ele avançará. Relativamente aos subsídios e falo em nome pessoal, não pela cooperativa, sou pouco ‘antisubsídios’, não concordo muito com a atribuição de alguns subsídios. Acho sim, que quem é rentável deve ficar, quem não é, deve ser excluído do mercado, porque senão estão a ser utilizados dinheiros públicos para financiar más gestões ou más entidades, dependendo do caso em questão.”

Renato Amador

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19Cooperativa Agrícola dos Olivicultores do Fundão 19

«Centenário» junta-se a «Cova da Beira»“Devido à conjectura actual, o nosso investimento vai ser limitado, apenas vamos dar ênfase a algumas lacunas que tínhamos nos nossos meios de produção e também como forma de combater a situação, vamos lançar uma marca nova a «Centenário». A nossa marca é «Cova da Beira» que é dirigida a um público médio-alto. A «Centenário» posicionar-se-á para um público imediatamente abaixo desse, com um preço mais acessível.”

Estratégia na qualidade“Dispomos de um posicionamento de topo. A garantia da qualidade sempre foi a nossa estratégia chave e objectivo nosso. Na última década, o ano com pior qualidade de azeite, tivemos 80 por cento de produção com menos de seis décimas, nesta campanha tiramos 3 a 4 mil litros de azeite com mais de quatro décimas. Era todo azeite virgem extra, em que a maior parte dele variava entre 0,2 e 0,3 de acidez. Sempre trabalhamos orientados para a qualidade, sem ela não conseguimos atingir os nossos objectivos. É o que nos distingue da concorrência. O mercado do azeite é um pouco sui generis porque somos importadores e exportadores ao mesmo tempo. E, segundo os últimos dados estatísticos, o mercado do azeite é sempre deficitário, o que quer dizer que não existe concorrência desenfreada. Conseguimos ter todos mercados próprios. Tentamos equacionar os nossos azeites para um nicho. Anualmente produzimos em média entre 1500/1800 milhões de kgs. Portanto, 250/400 mil litros de azeite, na realidade, não é assim tanto azeite quanto isso, o que quer dizer que conseguimos colocar azeite no nicho criado. Enfim, a aposta tem que ser na qualidade só quem o fizer, vingará no mercado.”

Processo de Fabrico“Trabalhamos em laboração contínua e em duas fases. Recebemos a azeitona, é desfolhada, são-lhes retirados os inertes, é lavada, pesada, depois é armazenada em tegões e separada por qualidade. Depois confinando para a qualidade, temos um conjunto de regras internas, uma das quais que diz que toda a azeitona que entra tem que ser toda laborada num período de 24 horas. Ou seja, tem que haver extracção durante esse período. Passando a extracção, a azeitona é moída, depois entra para as batedeiras, onde é homogeneizada e aquecida a massa, através do banho-maria que ali circula. Passa-se à fase da centrifugação horizontal, onde é separada a fase líquida da fase sólida. De seguida procede-se à tamização, que é a primeira filtragem que é feita à fase líquida, passa-se à centrifugação vertical onde é feita a separação entre a água e o azeite. Entretanto, o produto fica em depósito, enquanto decanta naturalmente, é filtrado, entra nos depósitos filtrado, entra na linha nas máquinas de embalamento e fica pronto para o consumidor. A extracção faz-se durante 3 meses, mas vendemos durante todo o ano.”

Aproveitamento de matérias-primas“Das matérias-primas que são entregues pelos Associados na Cooperativa (ou em qualquer outro lagar) tenta-se obter o máximo aproveitamento possível, tendo as diferentes matérias e subprodutos as mais diversas aplicações.As folhas de oliveira que acompanham a azeitona são separadas antes da extracção e têm como destino ou a compostagem directa (fertilizante) ou processos industriais de separação química, obtendo-se anti-oxidantes naturais que podem ser utilizados nas indústrias farmacêuticas e cosméticas.Da azeitona é extraído o azeite, tendo como subproduto do processo de extracção o bagaço de azeitona. Este ainda contém uma percentagem variável de gordura que é extraída por processos industriais, dando origem aos denominados “azeites de repasso” e “óleos de bagaço de azeitona”. É também separado do bagaço de azeitona o caroço da azeitona que é utilizado como combustível (queima directa em caldeiras).Sobra a polpa da azeitona que após um processo de secagem, também pode ser utilizado como combustível ou como matéria-prima para o fabrico de rações compostas (como, por exemplo, as utilizadas em aquaculturas).

Vale de Canas6230-441 Fundão

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20 UDACA assume desafios do presente com projecto cooperativo ímpar:

De regresso às raízesse construirá o futuro

O sector cooperativo representativo da região do Dão encontra a sua génese sensivelmente a meio do século passado. Como tal, pratica-mente todas as cooperativas do Dão comemorarão 50 anos de exis-tência este ano ou no próximo. Durante este largo período, assistimos a épocas de grande progresso mas também a um acentuado retroces-so, verificado no final do século passado e no início do actual. Hoje, a situação do sector cooperativo, no que respeita aos vinhos, não é concomitante com a excelência e distinção do produto que emana das terras do Dão e, exceptuando casos pontuais de êxito, a maioria das adegas cooperativas vive graves problemas económicos e finan-ceiros. Baluarte do terceiro sector na região do Dão e paradigma de visão futurista e pragmática aquando da sua constituição, a UDACA – União das Adegas Cooperativas do Dão – foi criada com o intuito de cobrir insuficiências e satisfazer necessidades manifestadas pelas adegas e viticultores, prestando serviços como o engarrafamento, enologia e comercialização. Com o advento deste tipo de recursos nalgumas das adegas mais representativas da região, este nobre pro-pósito foi-se diluindo, até que surge um novo motivo de interesse e, provavelmente, a grande chave para salvar e conferir notoriedade a uma região onde… as pessoas se estimam pelo que Dão… Newscoop desvenda o resto em entrevista com Fernando Figueiredo, presidente da UDACA

Que factores contribuíram para que se chegasse à situação que descreve?Tudo isto tem a ver com a degradação e a degeneração dos objectivos e das metas esta-belecidas, daquilo que se pretendia cobrir através do sector cooperativo na agricultura e, mais concretamente, na vinha.

Refere-se a deficiências ao nível da gestão?Exactamente. Toca no ponto: na maior parte dos agentes do sector cooperativo, os di-rigentes são eleitos em assembleia-geral, em que cada sócio tem direito a um voto, in-dependentemente de representar 2 ou 50 por cento da produção da adega. E isto levou a que, em determinadas alturas, tivessem surgido alguns movimentos que resultaram na colocação de pessoas em direcções, cujos objectivos se resumiam a servirem-se a si próprios, ignorando a gestão cuidada das adegas. Verificaram-se casos concretos, que são do conhecimento geral, e que resultaram em que o sector cooperativo, no que aos vinhos respeita, registasse alguns colapsos. Denominador comum? Falta de qualidade e de profissionalização da gestão. A este respeito, diria que, para termos a aconselhá-vel profissionalização da gestão, é necessário pagar. E o que acontecia, e continua a acontecer na maioria dos casos, é que os dirigentes eram remunerados apenas pelas

presenças e visitas que faziam às cooperativas. Eu próprio sou director-geral de uma fábrica e, é nos tempos que tenho disponíveis que ajudo quer a Adega Cooperativa de Silgueiros, quer a UDACA. Não sou profissional nem me pagam para o efeito nem numa nem noutra. Estes são, do meu ponto de vista, os grandes constrangimentos do sector cooperativo. É necessário que as cooperativas tenham alguma dimensão e que sejam geridas profissionalmente, que sejam empresas em toda a acepção da palavra, que usufruam das vantagens que o Código Cooperativo lhes confere, que haja respon-sabilização dos gestores face aos erros que cometem mas que estes sejam igualmente remunerados para assumirem riscos e outras responsabilidades. Outra questão de grande importância teve a ver com a abertura das ajudas comunitá-rias, no caso concreto do sector cooperativo da região do Dão. Vejamos como: - O líder que tornou possível tudo isto que aqui se vê hoje, a UDACA e as suas ins-talações, assumiu como objectivo da empresa, criar no âmbito do terceiro sector toda a comercialização dos vinhos das cooperativas da região. Esse objectivo foi-se dege-nerando! Através das ajudas comunitárias as adegas foram criando os seus próprios canais de distribuição, linhas de engarrafamento e outras ferramentas que a UDACA, quando foi criada, cobriria para o sector cooperativo. A ideia consistia em que, através da pres-tação de serviços como o engarrafamento, enologia e distribuição, a UDACA servisse as adegas cooperativas, que actuariam como meras empresas de produção.

Mas essa tendência e proposta preconizada pela UDACA há algumas décadas parece obedecer ao modelo que está a ser actualmente seguido nalgumas zonas do País, em que as adegas cooperativas se estão a fundir em uniões… Será este o caminho para o cooperativismo no nosso País, particularmente no sector agrí-cola?Creio que é o único caminho. É fundamental criar dimensão para que se tenha capaci-dade económica e financeira capaz de negociar ao mesmo nível com os grandes ope-radores da distribuição. Actualmente, a UDACA é mais um concorrente, até porque apenas os Vinhos DOC, os Regionais Beiras e uma parte dos Vinhos de Mesa que a UDACA comercializa é oriunda do sector cooperativo. O restante é adquirido no mer-cado geral porque, como digo, algumas cooperativas, pelo menos as que ainda gozam de “alguma saúde”, dispõem das suas próprias organizações de vendas e dos demais meios para se posicionarem no mercado. E as que não criaram esses meios continuam a viver com dificuldades, vendendo o vinho a granel e sem as mais-valias resultantes da comercialização através de garrafa, bag in box ou outro packaging. E mais uma vez afirmo que se não se tivessem registado alterações aos objectivos iniciais que levaram à criação da UDACA, seríamos hoje uma empresa muito importante do sector dos Vinhos a nível nacional e do Sector Cooperativo concerteza. Quem conhece o sector vitivinícola português sabe que o Dão prima pela oferta de um produto ímpar, reco-nhecido pela sua excelência mas que não usufrui da visibilidade que deveria ter quer no resto do País, quer na Europa.

Como avalia o trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos pela Comissão Vitivinícola da Região do Dão?Confesso que sou um pouco crítico relativamente à Comissão Vitivinícola do Dão. Sei que existe um movimento no sentido de se proceder à concentração de CVR e fala-se numa possível união entre o Dão, a Bairrada e a Beira Interior, numa estrutura que visa, mais uma vez, criar dimensão. Mas na verdade, enquanto vemos o Alentejo representado de forma bem visível em importantes certames, com as adegas coopera-tivas, os operadores privados e demais agentes a promoverem os seus vinhos, do Dão vemos alguns operadores privados e uma ou outra cooperativa… De resto, a CVR do Dão tem vindo a desenvolver algumas iniciativas mas, como não se medem nem avaliam os resultados, nem se chega sequer a saber se ganhamos ou perdemos. No meu ponto de vista, não se tem atingido a notoriedade aos vinhos do Dão, produtos que, como diz, são dotados de uma qualidade extrema e que se distinguem claramente pelas suas características ímpares. Infelizmente, na prática, não existem as desejadas campanhas e acções de marketing que poderiam conferir aos nossos vinhos a tal noto-riedade que gostaríamos que tivessem. E isso, obviamente, sente-se!

Falou na possível fusão de CVR e, salvas as devidas diferenças, encontramos um certo paralelismo com um movimento em curso no sector cooperativo, que se tra-

Fernando Figueiredo

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duz na iminente criação de uma régie cooperativa que confira representatividade às cooperativas e IPSS e seja capaz de gerir linhas estratégicas determinantes para o desenvolvimento do sector. O que lhe parece a ideia de devolver a tutela deste sector ao movimento cooperativo e seus principais agentes?Confesso que ainda não possuo informação suficiente acerca desse movimento e or-ganização que se pretende constituir mas, dependendo acima de tudo das pessoas e da forma como se apresentam nesse tipo de projectos, parece-me positivo. Desde que existam ideias claras e objectivos concretos que passem por se fazer algo pelo sector, terão todo o meu apoio. Relativamente à questão das uniões, gostaria de realçar que aquilo que a UDACA está actualmente a fazer consiste num regresso às suas origens, “arrepiando caminho”. Estamos a desenvolver um projecto que visa, fundamental-mente, procedermos à fusão/união das adegas cooperativas, a exemplo do que fez a Lactogal há uns anos, ou seja, as cooperativas continuarão a ser unidades de produ-

ção mas todas as políticas de qualidade e demais especificações acerca dos vinhos a produzir emanam da União, bem como todas as questões económicas e financeiras. E os próprios viticultores seriam os futuros sócios da UDACA e não as adegas coo-perativas, que passariam a ser, no fundo, unidades produtivas da UDACA. Algumas unidades serão desactivadas face à degradação das instalações e à fraca dimensão que representam; os viticultores associados serão remunerados de acordo com critérios muito claros que privilegiam fundamentalmente a qualidade das uvas que entregam, das castas e das suas características no momento da entrega. E será basicamente a UDACA quem comercializará os produtos. Existe hoje uma proliferação enorme de marcas, com cada cooperativa a possuir as suas próprias; algumas manter-se-ão e se-rão marcas da UDACA e outras desaparecerão uma vez que não possuem qualquer notoriedade no mercado.

Como agiram as direcções das adegas cooperativas face a essa proposta?Como deve saber, para muita gente, o poder é muito lindo… Existem pessoas que nunca lideraram organizações e que pensarão que este movimento terá por objectivo retirar-lhes poder. Como afirmei há pouco, se as pessoas não pensarem em termos estratégicos e societários e apenas elegerem como objectivo servirem-se, este tipo de projectos, tal como o da régie cooperativa, nunca vai a lado nenhum. E aqui, no sector cooperativo do Dão, e creio que no sector em geral, existem dois problemas de parti-cular relevância: primeiro, a tal questão prevista no Código Cooperativo “um sócio, um voto”. Recorrendo ao caso concreto da Adega Cooperativa de Silgueiros, 20 por cento dos associados representem 80 por cento das entregas e têm consequentemente um voto.Uma outra questão prende-se com a continuidade e o nível etário dos associados: diria que talvez 80 por cento estejam acima dos 55 anos de idade, o que é preocupante e problemático em termos estratégicos. E mesmo em termos sociais, porque quando alguns associados deixam de trabalhar não se vê continuidade. Acredito que se este projecto for para a frente, se remunerarmos os viticultores de forma mais justa e atem-pada, muita gente voltará ao sector cooperativo. Não há qualquer dúvida de que se a gestão for correcta quem poderá pagar melhor aos viticultores é precisamente aquele que não visa o lucro, ou seja, a cooperativa.

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Líderes emInovação Tecnológica

Actualmente, líder de mercado em Portugal, com uma quota de cerca de 20%, «um em cada cinco tractores vendidos em Portugal são da New Holland», segundo Fernando Garcia, Director-Comercial da New Holland Portugal. A empresa assume uma posição confortável, havendo uma diferença abismal entre a sua concorrente mais directa, que, de acordo com Fernando Garcia, «nós vendemos quase o dobro».Apesar da boa situação de que a New Holland goza, a concorrência é encara-da como sendo «saudável. É a concorrência que nos leva a procurar ser sem-pre melhores e a esforçar-nos e a garantirmos ao nosso cliente as melhores soluções» ao alcance da empresa, diz o director comercial.A maioria das pessoas desconhece a quantidade de empresas que actuam no ramo de maquinaria agrícola. «As pessoas não têm noção que existe uma quantidade de marcas muito numerosa», diz Fernando Garcia, que afiança existirem mais marcas de tractores que automóveis.Devido às características do mercado português, onde existe pouca gente que se dedica à agricultura a nível profissional, existe na oferta da empresa, mui-tos pequenos tractores, ideais para pequenas propriedades. «Temos tractores de baixa potência e que são bastante adequados a este mercado e onde, como eu digo, as empresas de origem japonesa têm bastante peso» devido ao facto de serem mais baratos, explica o director comercial. Fernando Garcia garan-te que na New Holland existe «um conjunto de inovações tecnológicas que consideramos ser um passo a frente».A New Holland tem a preocupação de apostar na formação dos seus con-cessionários. Para além de um centro de treino em Almeirim, para o teste no terreno dos produtos, há uma pessoa encarregue, única e exclusivamente da formação técnica do pessoal, que desenvolve dois tipos de acções de for-mação: uma em novos produtos, para compreender as novas tecnologias e informar acerca das intervenções técnicas, e uma formação de manutenção, de modo a refrescar os conhecimentos prévios.No entanto, este cuidado na formação não se aplica apenas aos concessioná-rios, como também aos clientes.É feito um acompanhamento por um técnico da New Holland que, no caso das máquinas com uma maior inovação tecnológica, explica o correcto uso e aproveitamento do equipamento.Nos dias de hoje, «a New Holland tem uma assinatura que é moderna, inova-dora e dinâmica», diz Fernando Garcia, que sublinha que não se trata apenas de um porta-estandarte, mas sim de características que a empresa coloca em prática. A New Holland afirma-se como sendo a marca que mais patentes e mais inovações tem vindo a trazer ao nível das máquinas agrícolas e «temos muito orgulho nisso. São factores distintivos leva a sermos também merece-dores da confiança dos consumidores», afirma o director comercial da em-presa.

Produtos e serviços dignos de orgulhoRelativamente aos produtos e serviços da New Holland, o director comercial da empresa, mostra-se feliz com o leque oferecido. «Orgulhosamente temos na área agrícola, várias patentes que tornam os nossos produtos únicos» diz Fernando Garcia.A New Holland procura dar aos clientes agrícolas soluções para as necessi-dades de mecanização da sua actividade. «Obviamente que os tractores são o grupo mais importante» constituindo o grosso do negócio da empresa, se-gundo o director comercial.Um dos exemplos prende-se com as máquinas de vindimar da New Holland.Tendo a cabeça da vindima pendular, significa que a máquina de vindimar vai permitir ajustes automáticos aos possíveis erros de quem manuseia o equipa-mento. Fernando Garcia explica que «a máquina de vindimar funciona ali-nhando um túnel através da videira» enquanto que, eventualmente, «máquina se entrar ligeiramente torta na videira, automaticamente se ajusta».Foi também criada uma solução para clientes com explorações agrícolas de maior dimensão, em que, no caso de haver várias máquinas, a New Holland

se encarrega de ministrar um curso de formação dos vários operadores das várias máquinas agrícolas fornecidas. «Temos realizado vários porque per-mitem que rentabilizem melhor a máquina, evitando problemas porque a má utilização da máquina causa avarias. Simplifica a vida ao cliente». Um outro serviço disponibilizado pela New Holland, só possível devido ao facto de estar inserida no grupo Fiat, é o Top Service, Trata-se de um serviço gratuito, fornecido aos clientes que compram deter-minado tipo de máquinas, como tractores com potência superior a 100 cava-los, «em que durante o ano de garantia, esses clientes podem ligar para um helpdesk, sempre que tiverem um problema, vai fazer com que a empresa procure dar resposta no mínimo espaço de tempo», ou seja, através de um departamento que funciona durante 24 horas, se faz os possíveis para resolver a questão, de modo a não causar transtorno no cliente.

Receita para o sucessoO sucesso da empresa pode ser explicado através de três pontos fundamen-tais. A gama de produtos mais alargada e mais adequada às necessidades dos clientes, seja na Europa, seja em outros países como o Brasil, onde estão disponíveis máquinas com características próprias para a cana-de-açúcar, por exemplo, pois, tal como o director geral diz, «onde houver uma necessidade na agricultura para mecanização, nós estamos lá».O serviço de pós-venda, assume, de igual modo um papel preponderante para a qualidade dos serviços da empresa, só possível através de «uma rede de concessionários altamente profissional, em permanente formação técni-ca para fazer o acompanhamento dos nossos produtos», afirma Fernando Garcia. O Director Comercial da empresa, diz que o terceiro ponto base que explica o sucesso se prende com o facto de «implementar os produtos com um conjunto de serviços que não tem paralelo no mercado», desde soluções de financiamento, tendo a empresa «soluções próprias de financiamento ao cliente final» que possibilitam criar um esquema de financiamento persona-lizado, passando pela logística de distribuição, apoio de peças aos conces-sionários da empresa «que permite, de facto uma rapidez fenomenal e uma partilha de disponibilidade de peças entre todos os armazéns da empresa em qualquer ponto do mundo».

A New Holland: historial, core business, missão, segmentação, targetting e posicionamentoUma história de inovação, melhoramento constante e excelência a todos os níveis. Esta é a história da New Holland Agriculture, a marca do Grupo Fiat que tem como objectivo tornar a tecnologia ainda mais simples, mais acessível e mais eficiente, e que se tornou uma referência a nível europeu e internacionalA New Holland é definida pela sua herança multicultural: uma extraordinária riqueza de experiência e aptidão que a torna única no sector de equipamentos agrícolas. É o resultado do talento e engenho de 4 grandes pioneiros e da contínua procura de inovação e excelência que têm inspirado os seus empre-gados no passado e presente. O 1º pioneiro é Abe Zimmerman, que em 1895, com 26 anos de idade, abriu um pequeno estabelecimento de reparações de equipamentos em New Holland, nos EUA, provido de um único mecânico (ele próprio). Desenvol-veu a máquina móvel de trituração e um dos primeiros trituradores de pedra automáticos, invenções que impulsionaram o crescimento do seu negócio.O 2º é Leon Claeys, um operário belga qualificado, que em 1906 fundou uma empresa especializada no fabrico de equipamentos de ceifa. O negócio cresceu e prosperou, revelando em 1952, a primeira ceifeira-debulhadora au-tomotriz europeia. Subsequentemente, após uma série de aquisições, as em-presas de fabrico de Zimmerman e Claeys passaram a fazer parte do Grupo Ford.E é a vez do 3º pioneiro, Henry Ford, que com 20 anos já reflectia sobre como o trabalho de campo poderia ser mais bem realizado por máquinas. Os seus primeiros tractores saíram das linhas de montagem no final de 1917 e, em

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1920, 75% dos tractores americanos eram construídos pela Ford. Em 1991, a divisão de equipamentos agrícolas da empresa foi adquirida pelo Grupo Fiat e esta fusão deu origem à New Holland Agriculture. Chegamos assim ao 4º pioneiro, Giovanni Agnelli, que em 1899 fundou a Fiat em Itália. A primeira experiência no sector agrícola data de 1918, quando os jornais relataram os ensaios públicos do tractor Fiat 702. O modelo come-çou a ser produzido em série em 1919 e teve impacto imediato no mercado. A Fiat celebra este ano 90 anos de produção de tractores. Foi só na década de 80 que os tractores Fiat passaram a apresentar o logótipo que ainda hoje identifica a New Holland (pois desde então apenas foi alterada a cor, de terracota para azul) e que combina dois símbolos num só: a folha, simbolizando a agricultura, e o perfil de roda de tractor, representando a tec-nologia e progresso agrícolas. A New Holland Agriculture conta pois com mais de um século de experiên-cia de produção de equipamentos agrícolas e empenha-se continuamente na descoberta de novas soluções capazes de melhorarem a qualidade de trabalho de milhões de agricultores em todo o mundo.

Projectos em carteira ou em desenvolvimentoCom a New Holland, o futuro já chegouPropulsionado a hidrogénio, o tractor NH2 é um elemento chave no conceito de exploração energeticamente independente que a New Holland propõe para a exploração agrícola moderna. É uma realidade, capaz de criar, armazenar e utilizar energia de uma forma prática e sensata. Um projecto absolutamente revolucionário e inovadorA marca tem-se empenhado desde sempre numa procura contínua de solu-ções inovadoras, produtivas e que respeitem o meio ambiente. Conquistou a sua posição de Líder em Energia Limpa ao ser a primeira marca a apoiar in-tegralmente os potenciais dos bio-combustíveis na agricultura e ao apresentar agora o primeiro tractor do mundo a hidrogénio. É um projecto único na indústria, que representa um enorme impacto quer económico quer ambiental, baseado na capacidade de gerar o seu próprio combustível através de energias renováveis e de reutilizá-lo sob a forma de hidrogénio. O ponto forte deste conceito revolucionário é uma abordagem holística que conduz a exploração agrícola à obtenção de total independência energética. O hidrogénio é um factor crucial neste processo. Pense no vento, no sol, nos resíduos agrícolas ou no estrume produzido na criação de gado. Estas são fontes de energia que a natureza disponibiliza ao agricultor, sem qualquer encargo. Utilizando sistemas eólicos, painéis solares ou processos de biomassa e biogás localizados no próprio local da exploração agrícola, o agricultor poderá obter electricidade de forma autónoma e utilizar a mesma para gerar ele próprio hidrogénio comprimido. De que forma? Gra-ças a um processo designado electrólise, que consiste na decomposição da água em oxigénio e hidrogénio através de electricidade.O hidrogénio pode ser obtido a partir daquilo que o agricultor tem em seu redor, e no próprio local de exploração. Desta forma ultrapassa-se o maior obstáculo existente actualmente, relacionado com a disponibilidade e distri-buição de hidrogénio. O hidrogénio produzido é armazenado em depósitos perto do local de exploração, sob a forma de hidrogénio comprimido. Uma vez armazenado, nenhuma porção do mesmo é perdida e poderá ser utilizado de várias formas: para maquinaria agrícola e também para fornecer electrici-dade e aquecimento a edifícios e várias aplicações agrícolas. Oferece ainda uma vantagem adicional. Comparativamente a carros e camiões, os tractores

trabalham normalmente a uma curta distância dos edifícios da exploração agrícola, podendo assim ser rápida e facilmente reabastecidos. É uma oportunidade fantástica para os agricultores, pois encontram-se numa posição de vantagem absoluta relativamente à utilização de hidrogénio. Têm suficiente espaço disponível para a instalação de sistemas alternativos gerado-res de electricidade como sistemas solares e eólicos, e estações de tratamento de biomassa, e para armazenar a energia gerada sob a forma de hidrogénio. Tudo isto oferece vantagens ambientais, e não só! Um sistema deste tipo per-mite às explorações agrícolas tornarem-se independentes do ponto de vista energético e melhorarem a sua estabilidade financeira. O combustível é uma parte substancial dos custos que uma exploração agrícola tem que suportar diariamente. Com o projecto da New Holland poderá esquecer esta questão.Apenas um suave zumbido no arO tractor NH2 desloca-se e trabalha praticamente sem ruído. Gera apenas ca-lor, vapor, água e não emite poluentes como óxidos de nitrogénio, partículas ou dióxido de carbono. Vencedor da Medalha de Ouro nos Prémios à Inovação no SIMA 2009, o tractor NH2 é o primeiro tractor a hidrogénio no mundo.Extremamente silencioso, com linhas modernas e um discernível “respeito pelo ambiente”: é a prova prática do conceito de Exploração Energeticamen-te Independente.

T7000 Auto CommandA nova transmissão Auto Command™ é o elemento chave desta gama de tractores que, combinada com a nova alavanca multifunções, proporciona uma aplicação suave e contínua da potência com extrema facilidade de controlo e eficiência para manter o consumo mínimo de combustível. Os tractores da Série T7000 Auto Command™ concentram-se no con-forto e simplicidade de utilização, com o intuito de assegurar que os agri-cultores possam retirar o máximo rendimento do seu investimento. Foi este o motivo que levou ao melhoramento da nova transmissão variável contínua (CVT) – uma tecnologia de 2ª geração – de forma a explorar ao máximo os novos e mais potentes motores, sendo disponibilizada em duas transmissões Económicas que podem atingir velocidades de 40 km/h e 50 km/h a regimes de motor reduzidos (1450 e 1550 rpm). Graças à exce-lente eficiência de consumo de combustível, a gama T7000 Auto Com-mand™ oferece um excelente rendimento em aplicações de transporte. A transmissão CVT associa componentes mecânicos e hidrostáticos, e foi optimizada para maximizar a eficiência mecânica de acordo com a carga do motor, regime do motor e velocidade do veículo, de forma a assegu-rar a utilização da quantidade mínima de combustível durante qualquer tarefa. O operador selecciona a velocidade de trabalho desejada e o Auto Command™ ajustará automaticamente o regime do motor e a relação de transmissão, de forma a obter o desempenho mais eficiente. A Auto Command™ dispõe de três modos de funcionamento diferentes: automático, cruzeiro e manual. No modo automático predefinido, o opera-dor controla a velocidade do tractor de forma lógica utilizando a alavanca multifunções ou o pedal de avanço, regulando o regime de motor mais eficientemente em termos de consumo de combustível. O modo cruzei-ro complementa esta função, acelerando até uma velocidade definida e mantendo-a. No modo manual, o pedal ou o acelerador manual controlam a velocidade do motor e a alavanca multifunções é utilizada para alterar a relação de transmissão. Desenhada pelos utilizadores, construída pela New Holland, a cabina Ho-rizon™ satisfaz os padrões máximos de qualidade. Oferece um ponto de vista excelente acerca da simplicidade de utilização e foi projectada à me-dida das necessidades do operador. O operador selecciona simplesmente a velocidade de trabalho desejada e o tractor T7000 Auto Command™ ajustará automaticamente o regime do motor e a relação de transmissão, de forma a obter o desempenho mais eficiente.

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Multidisciplinaridade em formação altamente qualificada

Os últimos anos para a ESAC representaram diversas transformações, que exigiram um acompanhamento forte por parte da direcção, docentes e na-turalmente alunos. As transformações prenderam-se com a adequação de todos os cursos ao modelo de Bolonha e com a implementação dos cursos de especialização tecnológica e dos mestrados.A ESAC poderá ser também considerada como um dos grandes agricultores da região centro, uma vez que dispõe de 140 hectares nas melhores zonas do vale do Mondego. Recentemente, o grande desafio foi o início do proces-so de reconversão de cerca de 20 hectares da exploração agropecuária, ao modo de produção biológica, um desafio bastante exigente que acompanha mais uma fase de transição. Aproveitar ao máximo o respectivo potencial agrário, com a premissa de que este seja um modelo para os alunos é a grande preocupação desta instituição que ano a ano tem crescido exponen-cialmente.

Com um afastamento cada vez maior da agricultura, como é que o en-sino agrário sobrevive e consegue manter um número ascendente de entradas de alunos? A oferta formativa apresentada é o suficiente? Carlos Pereira (CA) – O início desta década foi um período em que exis-tiram algumas dificuldades de captação de alunos, no ensino agrário em geral mas, partir de 2004/05 esta tendência inverteu-se. A possibilidade de captarmos outros públicos através de novas ofertas formativas, com os cur-sos de Mestrado (6) e os cursos de Especialização Tecnológica (3), bem como a integração de alunos por outras formas de acesso têm permitido um incremento muito significativo do número de alunos. Por ano tem existido um incremento de alunos na ordem dos 20% frequentando a escola neste momento cerca de 1450 alunos. Gostaríamos de conseguir estabilizar nos 1500/1600 alunos, de forma a ajustar todas as nossas capacidades e infra-estruturas, para uma situação estável e de oferta formativa diversificada nos diversos ciclos de estudos.É claro que o número de alunos que tivermos reflectir-se-á no nosso orça-mento. O maior problema é que o modelo de ensino que praticamos, e as áreas de formação que desenvolvermos, implicam normalmente custos ele-vados. Com a implementação do modelo de Bolonha, em que existe muito maior ligação entre os docentes e os alunos e, com o incremento do número de alunos no modelo de ensino que utilizamos e que se baseia no “saber fa-zer” os custos são mais elevados. Isto é, a componente prática é muitíssimo forte e isso obviamente tem custos.Tendo em conta que os alunos saem daqui preparados para o terreno.

Têm respostas para os alunos que terminam os seus cursos? Que saídas profissionais lhes apresentam?CA –. A nossa maior preocupação é garantir que a formação que damos seja adequada às necessidades do mercado. É uma preocupação constante, e as fortes ligações que a ESAC possui com o meio empresarial ajudam a que, ao nível das diversas áreas de formação, a sua empregabilidade seja muito elevada, bem como o tempo que medeia entre a finalização dos cursos e a integração num primeiro emprego, seja bastante reduzido. Apostamos no estrangeiro, porque é um mercado de empregabilidade po-tencial. A nível da Europa, o mercado é aberto e aí teremos que garantir uma qualificação ao nível europeu e fazemos um esforço muito grande nesse sentido, através de programas LLP/Erasmus. Recebemos cerca de 25/26 alunos por ano e no ano passado tivemos uma mobilidade de 30 alunos que participaram no programa Erasmus, para universidades europeias. Depois há outros destinos onde os alunos procuram formação como no Brasil e África. Temos apostado nestes destinos, porque temos fortes interesses e ligações a instituições do Brasil e de Angola. Há a preocupação de pre-pararmos pessoas para esses destinos. Este ano estamos a trabalhar com uma empresa angolana, a SINFIC e em parceria ganhámos o concurso para instalação de dois Centros de Formação Profissional Rural Básica nas pro-víncias do Kuanza Sul e do Bié. Havendo potencial, juntamente com a SIN-FIC, procuraremos estender este projecto a mais províncias. É importante que a entrada em actividade destes dois centros corra bem para garantir que a ideia seja bem aceite pelo Governo Angolano e o possa alargar a todas as províncias.

Qual o contributo da ESAC para a Agricultura neste momento? For-mam agricultores para as ‘nossas’ terras e/ou empresas agrícolas?CA – Obrigatoriamente o nosso papel principal é formar profissionais al-tamente qualificados para as diversas áreas. E temos um variado leque de áreas que podem ser integradas nas actividades agrícolas e afins. Cada vez mais temos a preocupação de entender estas áreas como multidisciplinares. Não se pode falar hoje numa pessoa que esteja intimamente ligada apenas à agricultura, pois existe o potencial do ambiente e da sustentabilidade, a questão do ecoturismo e da transformação de produtos pelo próprio agricul-tor, a questão da segurança alimentar, a questão da gestão e da conservação dos recursos naturais… Cada vez mais queremos que os nossos licenciados tenham uma visão abrangente ou que tenham a possibilidade de, estando a trabalhar numa determinada área, possam ir buscar formação noutras áreas. Para isso, permitimos aos alunos frequentar disciplinas isoladas em função das suas necessidades de formação. Por outro lado, temos a parte da inves-tigação, cujo orçamento se cifra em cerca de 10 por cento do Orçamento da escola, isto é, fazemos um enorme esforço no sentido de termos projectos de I&D submetidos e aprovados. Por outro lado, o Centro de Estudos de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade (CERNAS), que é uma unidade de I&D financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia sedeada na ESAC, mas que engloba vários docentes doutras instituições de ensino, é uma mais-valia em termos de procura de parcerias e de definição de estraté-gias de trabalho. Este centro recebe financiamento para a sua manutenção, mas grande parte do nosso financiamento alocado a actividades de I&D

Passeie a natureza“A zona central da ESAC tem 83 hectares de parque metidos dentro de uma cidade. Há o Jardim Botânico, há o choupal quase ligado à ESAC. Este é pois um imenso espaço aberto à população que re-gularmente aos fins-de-semana é visitado. As portas estão sempre abertas. É um parque preservado com um potencial tremendo de pos-

sibilidades.”

Carlos Pereira

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à biomassa como fonte de energia renovável é para consolidar e aumentar. O aumento da actividade de ecoturismo cria excelentes expectativas. A op-timização de muitos processos da agricultura (biológica) e afins exige mais biotecnologia, a par de uma grande preocupação ambiental. É neste contex-to que deveremos preparar-nos para os novos desafiosQuanto ao aspecto da, desertificação rural que se verifica no nosso país essa inverte-se criando condições às pessoas não necessariamente apenas na agricultura, mas sobretudo na multidisciplinaridade subjacente às acti-vidades rurais. A agricultura, a agro-indústria, a floresta, o turismo, o am-biente, cada vez mais têm potencial e devem ser encarados em conjunto. Essas oportunidades têm que ser aproveitadas com produtos de qualidade. Há que reequacionar muita coisa e a crise veio prová-lo. Por outro lado, a sociedade sente cada vez mais dificuldades no seu auto-abastecimento. Começa-se a fazer uma hortinha em casa e isso para nós é importante em termos de escola pois já percebemos que temos um papel muito importante a desempenhar. Colaboramos com a Câmara Municipal de Coimbra na implantação das hortas urbanas do Ingote que foram um sucesso. Como prova deste sucesso é o incremento da parceria que estabelecemos com a autarquia de Coimbra, no sentido de alargar as hortas pela cidade. A própria ESAC sentiu essa obrigação e por isso implantamos este ano, hortas urba-nas no perímetro da escola. A Junta de Freguesia seleccionou um conjunto de pessoas, participou e colaborou, elas estão a funcionar e, neste momento há um terreno da câmara junto de nós, onde a CM de Coimbra pretende instalar hortas urbanas e que ficarão ao lado das nossas. Estamos a falar em grupos de pequenos agricultores urbanos que usam um talhão de 200 metros quadrados e aos quais são transmitidos conhecimentos em termos de produção biológica e educação ambiental. É um modelo que interessa aos nossos alunos enquanto experiência de contacto com estes agricultores. Portanto, esta é uma área de intervenção muito importante no aspecto so-cial e no aspecto do interesse e da multidisciplinaridade da agricultura. Há contacto social entre as pessoas, educação social o que resulta em bem-estar psicológico e até em qualidade de vida.

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advém de projectos que derivam de candidaturas submetidas e projectos aprovados. Já estamos com um orçamento de projectos na ordem de 600 mil euros por ano, o que é muito bom para uma instituição como a ESAC. Portanto, um dos grandes objectivos que temos é colocarmo-nos como uma instituição que faz um elo de ligação entre a investigação que se faz e as próprias empresas. Queremos reforçar ao máximo essas parcerias. A aber-tura entre escolas e empresas adquire-se com base na confiança mútua, que por sua vez se adquire através dos resultados obtidos em projectos. É um pouco difícil garantir esta confiança porque as empresas querem resultados rápidos e isso nem sempre é possível. De qualquer modo, compete-nos a nós encontrar estratégias para incrementar a ligação com o tecido empre-sarial.

Além da formação providenciada, prestam alguns serviços à comuni-dade, a que níveis?CA – Os mais solicitados são a prestação de serviços de análises e de con-sultoria. Na área da floresta temos neste momento um grande projecto em parceria com a Câmara Municipal de Cantanhede, a fazer consultoria em termos do Plano Municipal de Ordenamento Florestal. Temos ainda uni-dades fabris instaladas na área da escola, de lacticínios, de hortofrutícolas, uma adega, e uma unidade piloto de biodiesel que são muitas vezes utiliza-das por parte das empresas para ensaios e para desenvolvimento de novos produtos.

Voltando à agricultura nacional, há alguma coisa a fazer para minorar os efeitos destrutivos de políticas mal sustentadas?CA – Há muito a fazer, sobretudo não repetir os erros que foram cometidos no passado, isto é, pensarmos que fazemos agricultura com base apenas em subsídios ou competindo com potências que em algumas áreas de mercado têm potencialidades e uma capacidade de produção muito superior à nossa. Temos claramente potencial para a agricultura biológica no mercado interno e externo, seguramente. No vinho sem dúvidas que há potencial e existe um vasto conjunto de oportunidades associadas à gestão dos recursos florestais. Há áreas da agricultura e da produção agrária que são muito importantes para o país e que me parece que deviam ser tidas em especial atenção. A agricultura jamais cessará em Portugal. Compete-nos a nós auxiliar na pro-cura daquilo que é bom. Temos é que apostar nos produtos de qualidade. Acrescentaria que a Agricultura e as áreas afins verão a sua importância reforçada no futuro. Não serão empreendidas por pessoas sem formação, a pensarem na sua sobrevivência imediata; mas sim por técnicos possuidores de elevada formação associados a fortes recursos técnicos. Prevê-se que a necessidade de produtos alimentares deva duplicar em 15 anos. O recurso

Projectos Futuros“Pretendemos manter os 1500 alunos e garantir que os mestrados

são um sucesso. Outra grande preocupação é que desses mestrados resultem maiores potencialidades de investigação para a escola, atra-vés do esforço de investigação associado às teses de mestrado. São estes os principais objectivos pois é a forma de garantir o financia-mento, para conseguirmos melhores equipamentos e melhoria de tecnologias de ponta com o objectivo de permitirmos aos nossos alu-nos a produção de investigação. O outro grande objectivo é garantir uma maior internacionalização dos nossos projectos e, consequente-mente, maior capacidade de ligação a outras instituições internacio-nais. Queremos aumentar a nossa intervenção em termos de mercado científico que existe e da nossa ligação às empresas, aumentando o financiamento. Não menos importante, é garantir a sustentabilidade financeira desta instituição. A actual situação é angustiante isto por-que temos que ter mais alunos, mais investigação e menos custos e como é óbvio isso é muito complicado. Existem projectos, capacida-de de execução, pessoal docente dotado, isto é, há potencial, mas não temos meios para o optimizar. Estamos constrangidos por situações

financeiras e a resposta para esse problema não é imediata.”

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26 Manuel Maricato, presidente da Cooperativa Agrícola de Cantanhede:

“Há anos que não se fala em associativismo ou cooperativismo na Assembleia da República”

Resenha histórica“A Cooperativa Agrícola de Cantanhede (C.A.C.) surgiu, não propriamente a partir de uma necessidade de os seus agricultores se unirem, como é o mais comum, mas mais fruto da vontade de substituir um organismo corporativo (grémio) por um cooperativo, logo a seguir ao 25 de Abril. A C.A.C. trata-se de uma cooperativa que já foi das maiores produtoras de leite da Beira Litoral na área da Lacticoop. Hoje, vive ainda de algum leite e dos factores de produção. A C.A.C. já produziu 18 milhões de litros de leite por ano e hoje não ultrapassa os quatro milhões, o que diz tudo sobre a situação da produção de leite, não só ao nível do concelho de Cantanhede mas em toda esta região. O problema da produção de leite nesta região reside nos seus custos elevados, resultantes da situação fundiária em que nos encontramos, onde predomina o minifúndio, o que cria um panorama muito difícil para a sobrevivência de quem se dedica a esta actividade. Daí que estejamos a tentar que os produtores de leite que vão desistindo possam enveredar por outras actividades, mais de acordo com o minifúndio, nomeadamente a horticultura. No concelho de Cantanhede existem outras produções, nomeadamente de vinho, do kiwi – com um significativo potencial de interesse -, a produção do grelo de nabo, de batata e de hortícolas para a indústria. Hoje, já existe para a produção de kiwi, que se iniciou na Bairrada nos meados dos anos 80, uma marca tipificada associada a esta região. Durante muitos anos, a produção de tabaco também produziu bons resultados económicos nesta região de Cantanhede/Bairrada, alimentando a actividade de muitos agricultores. Com a redução dos subsídios a esta cultura, praticamente está em vias de extinção. Hoje, para além de algumas indústrias ligadas à transformação hortícola, temos também uma empresa ligada ao movimento cooperativo, resultante de uma parceria da Agros, Proleite, Lacticoop e Ucanorte, que se instalou nesta região e que está a trabalhar a horticultura em fresco, o que poderá servir para mantermos activa a agricultura nesta região. A não se aproveitar e potenciar estas estruturas teremos no futuro estes concelhos, que no passado foram marcadamente agrícolas, concelhos florestais, tais como os do interior”.

Quantos associados tem a Cooperativa Agrícola de Cantanhede e que volume de facturação anual produzem?MM – Somos cerca de 8.600 e factura-se cerca de um milhão de euros por ano. Quando assumimos a direcção da Cooperativa, encontrámo-la económica e financeiramente numa situação de extrema dificuldade. Com a actual recessão, ainda pior para as cooperativas. Os produtores de leite são cada vez menos, os agricultores vão desaparecendo, o que

provocará o colapso desta e doutras organizações congéneres dentro de um curto/médio prazo.

Assiste-se actualmente a um movimento transversal a todo o sector cooperativo no País, que aponta para a fusão de cooperativas MM -…Sim, desde que tomámos posse na Cooperativa - meados de 2006 - que andamos a defender uma política de fusão de cooperativas. Já sensibilizámos os nossos colegas de outras cooperativas do concelho e o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, no sentido deste liderar o próprio processo de reestruturação do movimento cooperativo concelhio e até regional. Existem no concelho de Cantanhede, para além da C.A.C., a Cooperativa da Tocha e a Adega Cooperativa de Cantanhede. Ambas têm a mesma base associativa. Depois desta sensibilização - e já lá vão três anos - ainda não conseguimos ter qualquer resposta à proposta, parecendo que as nossas congéneres estão bem assim e que a situação lhes há-de ser sempre favorável

Em termos genéricos, como avalia o estado actual do sector cooperativo em Portugal, particularmente na área da agricultura?MM – Desde logo, creio que existem demasiadas cooperativas. Parece lógico e racional que, face à diminuição do número de agricultores e da actividade agrícola, terá que haver uma reestruturação de todo o movimento cooperativo agrícola. Só que, o grande obstáculo a esta reconversão encontra-se no seio dos próprios dirigentes cooperativos que, tal qual “lapas” se agarraram às instituições e não pretendem abrir mão dos cargos/”tachos” que ocupam. A maioria dos nossos dirigentes faz do movimento associativo/cooperativo um emprego e não uma missão social que deveria ser realizada por um período de tempo limitado.

A profissionalização do dirigismo cooperativo poderia resolver alguns problemas?MM – Penso que o cooperativismo e o associativismo já estão mais que profissionalizados Conheço dirigentes, tanto de cooperativas como de associações que estão à frente dessas organizações desde o 25 de Abril de 1974. Isso não é profissionalização dos dirigentes? Parece-me que um dos grandes problemas do associativismo e do cooperativismo que temos é exactamente a falta de renovação dos quadros dirigentes. Os dirigentes devem ter formação cooperativa; os quadros devem ter grande formação profissional, para assim se conseguir equilibrar as funções económicas e sociais destas organizações. Penso que as cooperativas e o movimento associativo em geral só teriam a ganhar se a lei geral e o Código Cooperativo estabelecessem um limite de mandatos seguidos no mesmo órgão para os seus dirigentes, porque são esses dirigentes que se eternizam à frente das organizações que não querem mudanças, não querem fusões, integrações ou reestruturações preferindo, muitas das vezes, assistir ao afundar das suas cooperativas do que abdicarem dos seus poleiros.

Quanto ao código cooperativo parece-lhe actualizado?MM – Não! Também é urgente introduzir alterações. Esta medida da limitação dos mandatos dos dirigentes é altamente urgente. Traria ao movimento associativo/cooperativo gente nova, sangue novo, e novas mentalidades. Não entendo por que o Presidente da República só pode exercer dois mandatos seguidos e o poder associativo/cooperativo e autárquico se podem eternizar Não vemos os partidos políticos muito preocupados com esta situação. É só ver há quantos anos não se fala de associativismo ou de cooperativismo na Assembleia da República! Não se limitam mandatos para não se meter com os interesses instalados dos seus correligionários nas cooperativas, federações e confederações e nas autarquias locais. Nem dos partidos de esquerda, que tanto apregoam a moral se ouvem propostas para alterar todo este estado de coisas. Assim vai o nosso associativismo/cooperativismo.

Manuel Maricato

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