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TRIBUNAL POPULAR: O ESTADO BRASILEIRO NO BANCO DOS RÉUS IV Sessão de Instrução Violência estatal contra movimentos sociais e a criminalização da luta sindical, pela terra e pelo meio-ambiente 05 DE DEZEMBRO DE 2008 – 14:00hs ÍNDICE 1. CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS: DEMOCRACIA E REPRESSÃO DOS DIREITOS HUMANOS (o caso do MST no Rio Grande do Sul – 1º semestre de 2008) ......................................... pág. 1 2. CRIMINALIZAÇÃO ESPECÍFICA DA LUTA SINDICAL ........................................................................ pág. 25 3. MANIFESTO DO MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO EM DEFESA DA LUTA QUILOMBOLA ........... pág. 29 4. ANÁLISE: ESTRATÉGIAS GLOBALIZADAS PARA A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA E DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ......................................................................................................................... pág. 30

ÍNDICE 1. CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS:ESSÃO … · Quanto aos movimentos sociais rurais, livres inicialmente desse temor do capital, viveram um crescimento de sua importância

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TRIBUNAL POPULAR: O ESTADO BRASILEIRO NO BANCO DOS RÉUS

IV Sessão de Instrução

Violência estatal contra movimentos sociais e a criminalização da luta

sindical, pela terra e pelo meio-ambiente

05 DE DEZEMBRO DE 2008 – 14:00hs

ÍNDICE

1. CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS: DEMOCRACIA E REPRESSÃO DOS DIREITOS

HUMANOS (o caso do MST no Rio Grande do Sul – 1º semestre de 2008) ......................................... pág. 1

2. CRIMINALIZAÇÃO ESPECÍFICA DA LUTA SINDICAL ........................................................................ pág. 25

3. MANIFESTO DO MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO EM DEFESA DA LUTA QUILOMBOLA ........... pág. 29

4. ANÁLISE: ESTRATÉGIAS GLOBALIZADAS PARA A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA E DOS

MOVIMENTOS SOCIAIS ......................................................................................................................... pág. 30

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1- CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS: DEMOCRACIA E REPRESSÃO DOS DIREITOS HUMANOS (o caso do MST no Rio Grande do Sul – 1º semestre de 2008)

(peça escrita por Aton Fon Filho, advogado do MST e membro da Rede Social de Direitos Humanos)

INTRODUÇÃO

Já desde os gregos se louvava a participação dos cidadãos na política, na demanda e na formulação e

implementação de seus direitos sociais.

Na sociedade contemporânea brasileira, a irrupção da cidadania em diferentes espaços de articulação e

participação – conselhos, fórums, conferência - não tirou importância dos movimentos sociais, mas, ao

contrário, acresceu-a.

Ainda que formalmente enunciados como “direitos e garantias fundamentais”, os direitos sociais inscritos nos

artigos 6º a 9º da Constituição Federal, quer para sua implementação, quer para sua observância, demandam

a participação massiva da população.

Em contrapartida, o interesse na manutenção do status quo vê-se ante a necessidade de impor freios a essa

participação.

A entrada do Brasil no processo de globalização e as políticas estatais desenvolvidas ao longo de meio lustro,

redundaram em forte frenagem do processo econômico e expropriação de riquezas nacionais e sociais. Em

paralelo com as ações de privatização de bens e serviços públicos, a redução de garantias e suportes sociais,

com a seguridade e previdência sociais em destaque, aprofundaram o abismo social e a marginalização.

A queda vertiginosa da indústria de transformação durante a década de 901 implicou forte elevação das taxas

de desemprego e semelhante piora da qualidade dos empregos ainda disponíveis. Como efeito mais imediata,

a amplitude e profundidade das lutas sindicais do final da década de 70 até meados de 80, transformaram-se

num temor dos trabalhadores urbanos pela perda das ocupações, repercutindo fortemente em redução da

atividade reivindicativa.

Os atuais movimentos sociais urbanos, não vinculados diretamente ao mundo do trabalho, mas estruturados a

partir de organizações territoriais e demandas que não os colocam diretamente em oposição ao capital, mas

1 De acordo com as Contas Nacionais do IBGE a participação indústria de transformação cai de 23% em 1990 para 18% em 1998.

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em confronto com o Estado e seus imperativos de definir e implementar políticas públicas, movimentam-se

numa faixa cidadã que, se não lhes rouba participação no espectro da luta de classes, permite a busca de

atendimento de necessidades que redundam, por fim, em incrementar por via indireta, os salários rebaixados

mercê da explosão da mão de obra disponível em decorrência de seguidos downsizing, fechamento de

fábricas e reduzido crescimento industrial.

Quanto aos movimentos sociais rurais, livres inicialmente desse temor do capital, viveram um crescimento de

sua importância e mobilizações que veio paralelo e foi, de certa forma, incrementado pela expulsão de

trabalhadores urbanos desempregados, num movimento de retorno.

Quer por seus métodos e especificidades organizativas, quer pelas demandas que vocalizam, os movimentos

sociais, em particular aqueles do mundo rural, de algum modo lograram manter e exercer ao longo de quase

um quarto de século um potencial de mobilizações que têm servido para sinalizar as possibilidades

combativas e de vitórias na luta de classes, mesmo num cenário de forte crise de emprego, desarticulação

dos trabalhadores e confusão de lideranças sindicais.

Nesse particular, sua ação tem adquirido importância destacada, em virtude desse prolongado período de

descenso das lutas sindicais e em virtude dos sinais que apontam uma retomada da atividade industrial e do

emprego de mão-de-obra operária, a partir de 20032. Essa redução das alentadas taxas de desemprego

anteriores permitiu um crescimento do grau de formalização no mercado de trabalho que atingiu um patamar

recorde de 49%, enquanto os informais alcançam 19 e os empregadores 5 por cento.

Não dispomos para este estudo, é verdade, de indicadores que permitam avaliar a incidência dessa

transformação sobre a disposição de luta dos trabalhadores. Mas, assim como a restrição da disponibilidade

de emprego constrange a mão-de-obra à submissão às exigências do capital, os momentos de forte

crescimento da necessidade de força de trabalho aumentam a capacidade de negociação dos trabalhadores e

sua confiança nos movimentos reivindicatórios.

De outra parte, uma como outra repercussões sobre a consciência e disposição de luta não decorrem

automaticamente das inflexões da curva de emprego, o que, se não permite ainda afirmar se e quando as

manifestações podem se tornar perceptíveis, não exclui, porém, a possibilidade de se afirmar a tendência.

Luzes de crise brilham no horizonte internacional e seus raios ainda bruxuleantes já anunciam a possibilidade

de iluminar decisivamente o cenário econômico brasileiro. Não podemos dizer se esses impactos serão

sentidos antes que se firme na consciência dos trabalhadores as possibilidades e os desejos de luta, ou antes

que comecem eles a se manifestar e acumular em ações concretas.

Mas não cabe dúvida de que também as preocupações dos capitalistas se devem voltar para essas hipóteses

e, por isso, às necessidades de reprimir as atividades do movimento sindical se vão somando, imperativas e

urgentes, as de confrontar ações dos movimentos sociais rurais e urbanos, já que são elas, afinal, não apenas

perigoso exemplo a atuar nas franjas da ação consciente, como a influir nesse espírito social disseminado que

2 Dados do IPEA mostram uma redução da taxa de desemprego, de 11,7 em dezembro de 2002, para 8,5 em abril e 7,8 em junho de 2008.

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faz tantas vezes com que situações aparentemente calmas se vejam de súbito transtornadas por processos

subjacentes em tempestades e tornados.

Posto o foco da repressão nos movimentos sociais, vem a lume a exigência de conhecê-la.

Não se conhece discrepância quanto ao caráter repressivo de ações empregadas para estabelecer limites à

ação dos movimentos sociais, pondo-se a divergência quando se refere suas legalidade e legitimidade.

São esses movimentos expressão de demandas legítimas da sociedade brasileira? São os métodos e as

ações utilizadas para manifestar tais demandas adequadas? Legítimas? Legais?

Fincam, os agentes estatais mais diretamente ligados às lides repressivas – policiais, promotores de justiça e

magistrados, atenção e relevo à necessidade de estabelecer e limites às ações desses grupos sociais, sob o

entendimento de que põem elas em risco o estado de direito ao confrontarem o direito positivado.

De outra parte, põe-se a questão de que, alegadamente, trata-se de repressão a organizações, ações e

demandas econômicas, culturais e sociais, pelo que seria de tê-las como representativas e expressivas de

pleitos na esfera dos direitos humanos. E, ainda, de que os pleitos de direitos humanos em geral constituem

não apenas uma subsunção da realidade à legalidade vigorante, mas esforço de construção de uma nova

legalidade, adequada à defesa e concretização desses direitos que se vão gerando no dia-a-dia e que

buscam um respeito ainda inexistente. Por isso, a legalidade vigente é em si, muitas vezes, contraditória com

aqueles direitos que, por merecerem prevalecer sobre elas, não na admitem.

A dissonância entre legitimidade e legalidade ganha importância quando se encara a questão da ação dos

movimentos sociais e sua repressão, dando vezo a um novo confronto, o do estabelecimento de limites à

ação reivindicativa ou o de peias melhor estabelecidas frente às próprias ações repressivas.

A Constituição Federal estabeleceu compromissos com a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa

humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político.

Traçou, ainda, objetivos fundamentais a serem atingidos, enumerados estes no Art. 3o – construir uma

sociedade livre, justa e solidária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização

e reduzir as desigualdades sociais e regionais, e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,

raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Compromissos e objetivos apontam igualmente para a necessidade de ouvir a voz da sociedade e os modos

dela se expressar são tornados ilimitados quando se garante, no art. 5º, a liberdade de expressão do

pensamento.

Tornam-se cada vez mais freqüentes as invocações de ação repressiva e de restrições à atuação dos

movimentos sociais, na mídia e no aparelho de estado.

Ressuscitam-se mecanismos que o passado esquecera nas gavetas – como a Lei de Segurança

Nacional – e o exercício da tortura é considerado justificado por serem os vitimizados integrantes de

movimentos reivindicatórios tidos por exacerbados.

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Cresce o inconformismo ante a ausência de meios eficazes para direcionar e dar tratamento às demandas,

ante o ressurgimento da tese de que “a questão social é um caso de polícia.”

Os níveis de radicalização em ascensão impõem uma visão sobre essas demandas e seus meios de

demandar, bem como suas limitações e seus meios de limitar.

A postergação do atendimento das demandas econômicas sociais e culturais dos diferentes grupos

marginalizados da sociedade brasileira gera situações limítrofes e exacerba os ânimos.

O processo de globalização e existência de um estado de direito põe na ordem do dia para os movimentos

sociais no Brasil demandas que vão além daquelas que imediatamente lhes dão origem.

Comandado pela mídia, assumindo esta o papel de mecanismo de expressão das vontades das classes

dominantes, em oposição à dos demais setores da sociedade, o Estado Brasileiro vem assumindo cada vez

mais às claras o múnus de gendarme em oposição ao de árbitro.

Somam-se e se articulam diversas atividades estigmatizadoras do ideário das organizações e das lutas dos

movimentos sociais; restritivas da veiculação de suas demandas e de sua existência organizada e repressiva

de suas ações.

Essas atividades, articuladas, apontam para negar a possibilidade de exercício da democracia, tisnando de

descabidas e ilegais as demandas e terroristas as ações para sua consecução.

Essa articulação se faz em desfavor da sociedade e da realização dos direitos humanos, e põe o Estado a

serviço de interesses privados, chegando ao ponto mesmo de privatizar o monopólio da violência.

Dizer dessa forma não implica desconhecer que cambiável será, também, o Estado as formas jurídicas,

políticas, religiosas, artísticas etc...

A própria consciência dos direitos humanos foi concorde com o desenvolvimento da sociedade humana,

resultando de condições que permitiram a compreensão de que todos os homens são dotados de inerente

dignidade.

Por isso, a expansão e a concretização dos direitos humanos pressupõem sempre a existência desses

conflitos que opõem a sociedade a seus dominadores, que opõe sempre a ação desses dominadores para

conter as demandas sociais, e supõe alguma ação articulada do Estado com os dominadores para garantir a

estabilidade das relações de produção.

Com Gramsci, entendemos que a preservação da dominação não-na buscam os dominantes consagrar

apenas pelo exercício direto da violência, sendo esta, ao revés, secundarizada e invocada apenas em

derradeira instância, válidos primordialmente os recursos ideológicos e culturais, no estabelecimento da

hegemonia que torne aceitável a dominação exercida.

E é nesse sentido que o enfrentamento à demanda por direitos humanos deve-se fazer no sentido de negar

tais direitos, como de reprimir sua invocação.

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OS MOVIMENTOS SOCIAIS

De que movimentos sociais falamos?

Inexiste todavia acordo sobre uma definição universalizante do que sejam movimentos sociais.

Já se tem englobado sob o termo acepções mais amplas e abstratas, que incluem todas as manifestações

sociais populares, como os levantes e insurreições anteriores e da primeira metade do Império, ainda que

desprovidos muitas vezes de plataformas político-ideológicas claras3. Nesse sentido, o termo faz referência a

processos e grupos não-institucionalizados e suas lutas dadas com o objetivo de realizar transformações

sociais, em particular no que tange à produção e apropriação das riquezas.

Mas, como diz o Movimento Nacional de Direitos Humanos (ele próprio um movimento social resultado da

articulação de outros),

“Os Movimentos Sociais Brasileiros se apresentam em diferentes configurações,

um setor está articulado através de grupos organizados de base, em redes em

nível regional e nacional, outros organizam pessoas e segmentos os mais

diferenciados e sejam aqueles que se estruturam como redes ou juntando

pessoas organizam os setores mais frágeis e explorados da sociedade brasileira,

como: sem terra, assentados, pequenos agricultores, mulheres, quilombolas,

indígenas, pessoas sem casa em áreas urbanas, favelados, pessoas

presidiárias, adolescentes e jovens pobres e negros, homossexuais, travestis,

entre outros. Todos estes grupos representam não apenas os Movimentos

sociais organizados, mas também sua própria existência revela o teor dos

principais problemas sociais presentes no Brasil quando se realiza uma análise

da conjuntura sociopolítica do país.”4

Isso permite ter por adequadas e cumulativas visões de que movimento social é, (SCHERER–WARREN 1987,

p.12) “um grupo mais ou menos organizado, sob uma liderança determinada ou não, possuindo um programa,

objetivo ou plano comum, visando a um fim ou mudança social” como de que (EVERS, 1989, p.10) “Os

movimentos sociais apresentam perfis organizativos próprios, uma inserção específica na tessitura social e

articulações particulares com o arcabouço político-institucional.”

Não se pode descartar, porém, que são aqueles movimentos sociais que alcançam maior grau de

organização, às vezes expandindo-se nacionalmente e desenvolvendo e institucionalização, plataformas

programáticas, métodos e formas de consciência particulares que têm logrado mais efetividade em sua ação,

assim como a atenção e a repressão. É o que se dá, particularmente, com os movimentos sociais rurais,

organizados na esteira da experiência do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o

Movimento dos Atingidos por Barragens, o Movimento das Mulheres Camponesas, o Movimento dos

3 GOHN, MARIA DA GLÓRIA, História dos movimentos e lutas sociais: a construção da cidadania dos brasileiros, São Paulo: Loyola, 19954 MOVIMENTO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS, A Criminalização dos Movimentos Sociais no Brasil: Relatório de Casos Exemplares, Brasília, 2006,

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Pequenos Agricultores e outros, mas também com articulações do Movimento de Moradia e a Central de

Movimentos Populares.

Esses movimentos têm origem recente no Brasil, datando os primeiros do período liberal-desenvolvimentista,

quando o Partido Comunista Brasileiro faz um esforço para articular movimentos localizados nas 1ª e 2ª

Conferência Nacional dos Trabalhadores Agrícolas realizadas em 1953 e 54 e no I Congresso Nacional dos

Lavradores e Trabalhadores Rurais, que teve lugar em Belo Horizonte, em 1961.

Embora sem vencer a característica de movimento local, ganham força as Ligas Camponesas, que

apresentavam uma proposta de reforma agrária radical e lograram organizar, com certa rapidez, camponeses

de Pernambuco e Paraíba; e o pequeno, mas significativo, MASTER-Movimento dos Agricultores Sem Terra,

do Rio Grande do Sul, que impulsionado pelo apoio do governo de Leonel Brizola, ganhou alguma

notoriedade e a repressão promovida por Ildo Meneghetti.

O golpe militar de 1964 esmagou os movimentos existentes, em especial as Ligas Camponesas, que tiveram

vários de seus dirigentes presos, assassinados e pelo menos um deles desaparecido.

Movimentos sociais de destaque somente voltaram a aparecer já no período de ocaso do regime ditatorial,

valendo mencionar o Movimento Contra a Carestia, que contava com o apoio da igreja católica e cresceu

graças à adesão das comunidades eclesiais de base.

Dos movimentos sociais atualmente em atividade no Brasil, o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais

sem Terra é, de longe, o mais organizado e o que mais impacto tem na cena política.

Como já foi apontado anteriormente, a condição de movimento social o põe diretamente em oposição ao

Estado, de quem busca arrancar o atendimento de sua demanda constitutiva – a reforma agrária – e em face

de quem se politizou, no sentido de que sua luta, reivindicativa na origem, por sua própria dinâmica se vê em

seguida posta diante da necessidade de transformações sociais mais radicais, dado que seu interlocutor é

exatamente aquele que, em nome dos dominantes, exerce a dominação.

É essa característica, aliás, a que faz com que qualquer novo movimento social se veja, logo em seu

nascimento, às portas das prefeituras, dos palácios dos governos ou tentado a marchar a Brasília, já que não

buscam eles estabelecer pressão sobre agentes privados, o que possibilitaria o recurso ao Estado como

negociador e conciliador, sendo a pressão exercida diretamente sobre as autoridades estatais, ainda que

intermediadas, algumas vezes, por ações em face de particulares.

Com efeito, não desnatura o fato de que a pressão dos movimentos sociais é exercida diretamente em face

do Estado, realizarem eles ocupações de imóveis que descumprem a função social. É que aí a ação realizada

não visa a arrancar concessões do capitalista, mas, ainda uma vez, obrigar a administração pública ao

cumprimento de sua função de garantir a observância da função social da propriedade ou de sancionar seu

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desatendimento.5 Já daí se vê quanto há de farisaísmo na acusação de que os movimentos sociais estariam

deixando de ser reivindicativos para se tornar movimentos políticos.

No que respeita ao MST, uma outra peculiaridade está a nos parecer merecedora de atenção. Sendo,

embora, um movimento de camponeses, o Movimento dos Sem Terra está longe de conformar um movimento

camponês.

Ressoam as palavras candentes de Marx no Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte para desenhar a imagem do

conservadorismo camponês:

“Os pequenos camponeses constituem uma imensa massa, cujos membros

vivem em condições semelhantes mas sem estabelecerem relações multiformes

entre si. Seu modo de produção os isola uns dos outros, em vez de criar entre

eles um intercâmbio mútuo. Esse isolamento é agravado pelo mau sistema de

comunicações existente na França e pela pobreza dos camponeses. Seu campo

de produção, a pequena propriedade, não permite qualquer divisão do trabalho

para o cultivo, nenhuma aplicação de métodos científicos e, portanto, nenhuma

diversidade de desenvolvimento, nenhuma variedade de talento, nenhuma

riqueza de relações sociais. Cada família camponesa é quase auto-suficiente; ela

própria produz inteiramente a maior parte do que consome, adquirindo assim os

meios de subsistência mais através de trocas com a natureza do que do

intercâmbio com a sociedade. Uma pequena propriedade, um camponês e sua

família; ao lado deles outra pequena propriedade, outro camponês e outra

família. Alguma dezenas delas constituem uma aldeia, e algumas dezenas de

aldeias constituem um Departamento. A grande massa da nação francesa é,

assim, formada pela simples adição de grandezas homólogas, da mesma

maneira que batatas em um saco constituem um saco de batatas.”6

Do MST, porém, é preciso que se tenha atenção para o fato de que a integração, diferentemente de outros

movimentos sociais, demanda uma incorporação permanente que se aprofunda ou exclui nos duros tempos

da vida em acampamento, à beira de uma estrada interiorana, sem água nas cercanias, muitas vezes; sem

comida suficiente, quase sempre.

5 Vale aqui menção ao acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do habeas corpus n. 4399/96, em que se decidiu pela concessão da ordem, constando do voto do min. Luiz Vicente Cernicchiaro: “Invoque-se a Constituição da República, notadamente o Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira – cujo Capítulo II registra como programa a ser cumprido a – Reforma Agrária (art. 184 usque 191). Evidentemente esta norma tem destinatário. E como destinatário, titular do direito (pelo menos - interesse) à concretização da mencionada reforma. A demora (justificada ou injustificada) da implantação gera reações, nem sempre cativas à extensão da norma jurídica. A conduta do agente do esbulho possessório é substancialmente distinta da conduta da pessoa interessada na reforma agrária. Atualmente, a culpabilidade é cada vez mais invocada na Teoria Geral do Delito. A sua intensidade pode, inclusive, impedir a caracterização da ação penal. No esbulho possessório, o agente dolosamente investe contra a propriedade alheia, a fim de usufruir um de seus atributos (uso). Ou alterar os limites do domínio para enriquecimento sem justa causa. No caso dos autos, ao contrário, diviso pressão social para concretização de um direito (pelo menos – interesse). No primeiro caso, contraste de legalidade compreende aspectos material e formal. No segundo, substancialmente, não há ilícito algum.” Em outra decisão, o mesmo STJ, no julgamento do Habeas Corpus 5574 fez constar: “Movimento popular visando a implantar a reforma agrária não caracteriza crime contra o patrimônio. Configura direito coletivo, expressão da cidadania, visando a implantar programa constante da Constituição da República. A pressão popular é própria do Estado de Direito Democrático.” 6 MARX, KARL, O Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte, in Karl Marx e Friedrich Engels - Textos, São Paulo, Edições Sociais, 1982, p. 277.

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Sob o constante acicate de pistoleiros, provocações da polícia, e a suspeita e o medo dos moradores das

vizinhanças para quem tanta gente despossuída é sempre um perigo de apossamento indevido, o

acampamento diferencia-se da “simples adição de grandezas homólogas” pela via do estabelecimento de uma

ordem de vida, primeiro, que já é em si o brote de uma estrutura complexa, em que se vão relacionando

inicialmente comissões diferenciadas de negociação, organização, alimentação e segurança e às quais vão

sendo acrescentadas outras paulatinamente destinadas a cuidar e resolver os problemas de educação,

saúde, transporte, comunicação e quantos outros assuntos demandarem uma resposta coletiva.

Ao surgimento dessa estrutura se soma o estabelecer de regras de moradia e participação destinadas a

reduzir os conflitos e regular a produtividade da vida em comum. E assim, pouco a pouco, o que estaria

destinado a não ser mais que “um saco de batatas” se vê uma organização com relações complexas de

componentes igualados, mais próxima, no viver, da solidariedade do trabalho proletário, mas com um

ingrediente a mais resultante da adesão consciente, que compreende o papel que joga a atividade realizada,

seu objetivo e seu conteúdo de construção do esforço e resultado comuns.

Já se apontou que os proletários, por si sós alcançam apenas o estágio da consciência reivindicatória, sendo

necessário o aporte externo para que dêem o salto para a consciência política. Pois a esses camponeses o

aporte externo cria uma relação solidária essencial para a vida e para os objetivos que estão propostos, de

sorte que não é de estranhar se disponham às manifestações, às marchas e à solidariedade. Uma relação e

uma consciência que carregam muito de proletárias.

“Ainda na área rural, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), fundado

em 1984, com base na linha das mobilizações promovidas pela Comissão

Pastoral da Terra, desde o final dos anos 70, no Rio Grande do Sul, constitui-se

um dos grandes fenômenos políticos contemporâneos, com uma pauta

inicialmente centrada sobre a questão da terra, mobilizando hoje cerca de 300

mil famílias assentadas e 80 mil acampadas. Sem a quantidade de afiliações de

uma central sindical, o MST tem, nos dias atuais, uma presença política, uma

estrutura organizacional e operacional tão mobilizada quanto à da Contag, com

presença em todos os estados e uma rede de militância orientada e disciplinada

na lógica do centralismo democrático. Montado em bases filosóficas e

ideológicas com orientação explicitamente socialista, o MST potencializou as

suas vitórias nas lutas contra o latifúndio e no seu poder de pressionar o

governo, dando uma orientação mais política às suas mobilizações, que

extrapolam os limites estritos da pauta dos trabalhadores rurais em campanhas

contra a Alca, contra os alimentos transgênicos, pela libertação da Palestina,

participando publicamente em todas as mobilizações pelas liberdades

democráticas, por justiça social e pela cidadania.”7

7 GOMES DE MATOS, AÉCIO, Organização social de base: reflexões sobre significados e métodos. Brasília: Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural – NEAD / Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável / Ministério do Desenvolvimento Agrário, Editorial Abaré, 2003.

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A essa organização da atividade do movimento social têm promotores de justiça, delegados e agentes de

polícia, latifundiários e porta-vozes do agronegócio atribuído uma característica militar, de costas para a

realidade de que é o trabalho do operário que assume tantas vezes características militares, presentes numa

como noutra atividades a continuidade, subordinação, e uma contraprestação, características essenciais da

vida militar e que permitirão ter por configurada a relação de emprego nos termos de nossa legislação

trabalhista.

Diferentemente, porém, de uma ou de outra, a adesão ao movimento social não se faz à conta de

contraprestação, mas de esperança de direitos serem concretizados e de consciência da necessidade da

organização e de certeza da possibilidade de dela advirem os desejados frutos.

O MST não é, certamente, o único dos movimentos sociais a avançar na construção de uma

institucionalização e organicidade. Mas algumas de suas características estão por merecer ainda um

aprofundamento, motivo pelo qual nos permitimos aqui apenas um breve rascunho de algumas delas, na

medida do necessário e suficiente para nossas preocupações.

Observa com justeza Arim Soares do Bem no artigo A centralidade dos movimentos sociais na articulação

entre o estado e a sociedade brasileira nos séculos XIX e XX (Educação & Sociedade, Campinas, vol. 27, n.

97, p. 1137-1157, set./dez. 2006 ) que

“Se nas décadas anteriores, os movimentos sociais eram definidos por uma

enorme capacidade de pressão e reivindicação, a partir da década de 90 estes

passaram a institucionalizar-se por meio das organizações não-governamentais.

Tais organizações assumiram o papel não apenas de fazer oposição ao Estado,

mas de participar da elaboração de políticas públicas, contribuindo, assim, para

ampliar a esfera pública para além da esfera estatal.” (Op. cit. P. 1153)

O MST, porém, numa atitude que até hoje ainda lhe rende dificuldades de compreensão, recusou a sedução

da institucionalidade pela via da conversão em ONG. E marcou essa diferenciação com a recusa do registro

cartorial e da busca da afirmação como movimento de massas, no qual em lugar da atuação isolado dos

especialistas é o agir organizado do coletivo, orientado por uma elaboração teórica, que constitui o método e o

fundamento.

REPRESSÃO AOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Ainda que comumente seja mais utilizada a expressão criminalização dos movimentos sociais e sindical,

estamos em face de um processo de combate à demanda, organização e luta populares, que se manifesta

através de diferentes formas de enfrentamento: estigmatização, restrição, repressão e criminalização, um

conjunto que chamaremos de repressão – no sentido empregado tradicionalmente – dos atos dos agentes e

movimentos sociais.

Já o Presidente Washington Luiz dizia na década de 20 que a questão social era um caso de polícia,

expressando-se de modo rude, talvez, mas apenas explicitando o que a tradição marxista já apontara como o

papel do Estado – garantir, em última análise, a dominação de classe. Na seqüência da conhecida frase de

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Carl Von Clausewitz para quem “a guerra é a continuação da política por outros meios”, os militares que

regeram o Brasil durante 20 anos, a partir de 1964, fizeram da questão social um crime militar, dando-lhe o

enquadramento que julgaram devido nas leis de segurança nacional.8

A constitucionalização da sociedade brasileira, com o fim da ditadura militar, gerou, num primeiro momento,

inúmeros e extensos avanços na organização e manifestação sociais, repercutindo em conquistas jurídicas

como os princípios fundamentais estipulados no art. 1o da Constituição Federal (a soberania, a cidadania, a

dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político); os

objetivos fundamentais enumerados no Art. 3º (construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o

desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e

regionais, e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras

formas de discriminação, e os direitos e garantias fundamentais expressos no art. 5o e outras partes, e os

direitos sociais constantes do Capitulo II. Essas conquistas jurídicas, por sua vez, abriram espaço para novos

avanços organizacionais e de luta dos movimentos e agentes sociais.

Não estranha, por isso, que tivesse início, desde logo, um movimento em sentido contrário, visando a

restringir o espaço da luta social, com vistas a impedir a concretização dos direitos inscritos na Constituição

Federal, e possibilitar a construção do retorno ao exercício, pelo Estado, de seu papel de garantidor de

dominação.

Esse movimento retrógrado incorporou-se à tendência mundial decorrente da globalização econômica e

política e às modificações econômicas advindas da submissão às orientações do chamado Consenso de

Washington, logrado acasalar no mesmo leito corpos aparentemente tão díspares quanto a defesa do

chamado liberalismo e a repressão das demandas sociais.

A defesa da legalidade, mesmo quando essa legalidade mantinha incorporada a última lei de segurança

nacional, em vigor até os dias de hoje, pareceu uma proposta natural, diante da necessidade de reconstrução

de um arcabouço que guardasse um mínimo de semelhança com a democracia, depois de anos de exercício

ditatorial.

ESTIGMATIZAÇÃO Por seu papel na luta contra a ditadura e sua derrota, os movimentos sindical e popular, movimentos de

mulheres, homossexuais, indígenas, quilombolas, ambientalistas, negro, camponês e outros ganharam

destaque e acumularam respeitabilidade, fazendo com que suas demandas, plataformas de ação e métodos

se difundissem e obtivessem apoio.

Por isso, o esforço para limitar a ação desses movimentos e agentes, e reprimi-los, não se pode dissociar do

conteúdo mesmo de suas reivindicações, tendo seus adversários gerado um esforço em diversos âmbitos, em

8 Os militares editaram quatro leis de segurança nacional: os decretos-leis 314, de 13/3/67 e 898, de 29/9/69, e as leis 6.620, 17/2/78 e 7.170, de 14/12/83.

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particular acadêmico e de mídia, no sentido de descaracterizar, ridicularizar e estigmatizar suas teses,

demandas e práticas.9

Como regra geral, a estigmatização dos movimentos sociais e de suas ações se dá pela via da caracterização

de suas demandas como antipopulares e de suas ações como voltadas contra os grupos sociais que

defendem.

Exemplo desse esforço encontra-se, por exemplo, em documento entregue por 113 representantes da

posição contrária às ações afirmativas antidiscriminatórias aos negros, expressas na adoção de cotas para

ingresso nas universidades, em que, numa inversão de valores, aponta-se como racista a defesa que se faça

do emprego dessas ações afirmativas exatamente para superação do racismo.

No que respeita às violações dos direitos das comunidades indígenas, tem a imprensa se dedicado a

desmerecer e ridicularizar aqueles direitos, valendo-se, em geral de afirmações incabíveis, como a de que os

indígenas constituiriam empecilho ao progresso e ao desenvolvimento, e pretendessem tornar-se

latifundiários, ao passo que as organizações que lhes dão apoio pretendem se apossar do território

nacional.10

Joênia Wapichana (Joênia Batista de Carvalho) acusando-a de indígena falsa,

que recebe dinheiro utilizando os índios, questionam até como ela conseguiu se

formar advogada perguntando de onde veio dinheiro para esse feito e, além

disso, acusam-na de causar violência contra brancos.” (Queiroz, Rosiana

Pereira; Castilho, Juliana Abrão da Silva e Ecker, Diego (organizadores), A

CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL - Relatório de

Casos Exemplares, disponível em

http://www.dhnet.org.br/dados/relatorios/nacionais/index.html, acesso em 18 de

junho de 2008)

As denúncias de exploração de trabalho escravo, ou de trabalho indigno, em defesa dos trabalhadores

escravizados e submetidos são apresentadas, pela mídia defensora dos fazendeiros escravistas como

prejudiciais aos trabalhadores e seu direito a um emprego.

A exploração do trabalho infantil é justificada com o argumento de que as denúncias formuladas por seus

oponentes objetivam tornar crianças e adolescentes mão-de-obra do tráfico de drogas.

9 Tendo a luta dos trabalhadores rurais em favor da realização da reforma agrária se tornado uma das demanda mais visíveis e de maior aceitação na sociedade, diversas vozes que anteriormente sustentavam na academia a necessidade daquela política bandearam-se para o campo dos defensores das grandes propriedades latifundiárias e do agro-negócio, ao tempo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Entre as mais notáveis delas podemos citar o sociólogo José de Souza Martins, antes assessor da Comissão Pastoral da Terra e depois seu oponente acerbo, e o agrônomo Francisco Graziano. 10 Nos momentos finais da redação deste trabalho, vimos o general-de-brigada Luiz Eduardo Rocha Paiva, ex-comandante da Escola de Comando e Estado-maior do Exército referendar as palavras de seu colega Augusto Heleno, do Comando Militar da Amazônia, afirmando: "Se o brasileiro não-índio não pode entrar nessas reservas, daqui a algumas décadas a população vai ser de indígenas que, para mim, são brasileiros, mas para as ONGs não são. Eles podem pleitear inclusive a soberania".Paiva afirma que o Estado "não se faz presente". "A Amazônia não está ocupada. É um vazio. Alguém vai vir e vai ocupar. Se o governo não está junto com as populações indígenas, tem uma ONG que ocupa. As ONGs procuram levar as populações indígenas a negar a cidadania brasileira.” In Fronteira não pode ficar "a reboque" de índios, diz general”, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u417412.shtml, acesso em 30/6/2008.

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“Outro exemplo marcante da criminalização é a estigmatização promovida pela

grande imprensa das crianças e dos adolescentes em situação de rua,

freqüentemente tratados como "delinqüentes" e "marginais". A reportagem

"Meninos se drogam e roubam no centro"(7) mostra meninos de rua cometendo

delitos, enfocando o risco que estes representam para os pedestres. Na

reportagem não se abordam a situação de risco e os problemas para sobreviver

que as crianças e os adolescentes que vivem nas ruas da cidade enfrentam,

vítimas de múltiplos fatores entre os quais a falta de alternativas educacionais e

de assistência e promoção, a pobreza, miséria e exclusão das famílias, sem

atendimento prioritário do Estado.” (Fórum Centro Vivo, Violações dos direitos

humanos no centro de São Paulo, disponível em

http://dossie.centrovivo.org/Main/HomePage)

Talvez seja, porém, na atualidade, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, que mais seja

alvejado por essa campanha de negativização da imagem, apresentado diariamente na mídia como violento,

vinculado à corrupção e ao banditismo.11

“A criminalização maior do MST, porém, partiu novamente da mídia burguesa.

Jornais, revistas, rádios e telejornais destilaram veneno contra a “jornada de luta

pela reforma agrária”. O “abril vermelho” ocupou os principais noticiários sempre

com abordagens negativas. Os manifestantes foram execrados como

arruaceiros, violentos e inimigos da sagrada propriedade privada. Como registrou

Marcelo Salles, editor do Fazendo Média, o ataque mais virulento coube à TV

Globo.

Numa das várias “reportagens” do Jornal Nacional, “nos dois minutos e vinte

quatro segundos da matéria busca-se a criminalização do MST. Para tanto, as

imagens e palavras são articuladas para transmitir ao telespectador a idéia de

que seus militantes são responsáveis por todo o medo que ronda o Pará. Logo

na abertura, o fundo escurecido por trás do apresentador exibe a sombra de três

camponeses portando ferramentas de trabalho em posições ameaçadoras, como

a destruir a cerca cuidadosamente iluminada pelo departamento de arte da

emissora... Em nenhum momento os dirigentes do MST são ouvidos, o que

contraria o próprio manual de jornalismo da Globo”.

11 “Durante os meses de Junho e Julho do ano de 2006, multiplicaram-se no estado de Pernambuco outdoors, cartazes e notas públicas com os seguintes dizeres: “Sem-Terra: sem lei, sem respeito e sem qualquer limite. Como tudo isso vai parar?”. Assinava o material midiático a Associação de Oficiais Subtenentes e Sargentos da Polícia e Bombeiro Militares de Pernambuco (AOSS). A mensagem alusiva aos movimentos sociais de trabalhadores(as) rurais em luta pela terra, notadamente ao Movimento dos(as) Trabalhadores(as) Rurais Sem-Terra (MST), constituía apenas uma face da estratégia da associação. Alguns meses antes, ela havia publicado em jornais de grande circulação em Pernambuco notas de repúdio às entidades de defesa dos Direitos Humanos, acusando-as de “defensoras de bandidos” e propagando a tese segundo a qual os Direitos Humanos deveriam servir aos “humanos direitos”, LIMA FILHO, ROBERTO CORDOVILLE EFREM de, in Direito Humano À Comunicação: Uma Afirmação Contra A Criminalização Dos Movimentos Sociais, disponível em http://209.85.215.104/search?q=cache:Tn_lcTIud-MJ:www.direitoacomunicacao.org.br/novo/index.php%3Foption%3Dcom_docman%26task%3Ddoc_download%26gid%3D218+Roberto+Cordoville+Efrem+de+Lima+Filho&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=2&gl=br, acesso em 18/06/2008.

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Obsessão editorial da revista Veja

Quanto à asquerosa revista Veja, desta vez ela não deu capa para demonizar o

MST – como uma em que João Pedro Stedile aparece como o próprio molock.

Mas nem precisava. O seu ódio à luta pela reforma agrária já é notório. Um

excelente estudo de Cássio Guilherme, intitulado “Revista Veja e o MST durante

o governo Lula”, comprova que a publicação da famíglia Civita tem como

obsessão editorial atacar os sem-terra. Ele acompanhou a cobertura da revista

desde a criação do movimento, em janeiro de 1984. Num primeiro momento, ela

até tentou cooptar o MST, tratando seus militantes como “coitadinhos, pés-

descalços, analfabetos, que lutam por um simples pedaço de chão. Tal atitude

por parte da revista teve a deliberada intenção de neutralizar as suas forças”.

Como não conseguiu o seu intento, ela passou a atacar sistematicamente o

movimento. “Como o MST sobreviveu e continuou crescendo, a alternativa foi

satanizar o movimento. Passou-se a dar destaque para toda e qualquer

conseqüência negativas das suas ações. A revista usou de diversos clichês

preconceituosos, fazendo o julgamento social de seus integrantes. Termos como

invasão, baderna e arcaico passaram a ser correntes nas reportagens. Visavam

esteriotipar o movimento como atrasado e antidemocrático, inclusive associando-

a a figura de Lula, o principal adversário nas corridas presidenciais”. A detalhada

pesquisa, de quem teve estômago para acompanhar suas edições, confirma que

a criminalização do MST é um dos principais objetivos da direita fascista.

Conforme constatou Cássio Guilherme, para a revista Veja “o MST não quer

apenas terras, mas principalmente a tomada do poder; os sem-terra são massa

de manobra de seus líderes; as figuras de Che, Fidel e Mao Tse Tung sempre

são ligadas de forma pejorativa; confrontos com mortos são culpa única e

exclusiva do MST que promove invasões; a reforma agrária é uma utopia do

século passado; e não existem mais latifúndios improdutivos no Brasil. Enfim, o

MST invade, seqüestra, saqueia, vandaliza, tortura, mata”. Não há nada de

jornalismo imparcial, mas sim pura ideologização visando criminalizar um dos

principais movimentos sociais do país. (Borges, Altamiro, Nova onda de

criminalização do MST, in

http://www.correiocidadania.com.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&i

d=1800, acesso em 17 de junho de 2008.

Até mesmo a divulgação de pesquisas sobre o modo como a população vê o MST pode ser e é utilizada para

difundir mensagem de estigmatização da imagem do Movimento.

Ao noticiar a realização de pesquisa sobre o MST encomendada pela Companhia Vale do Rio Doce,

adversária do Movimento porque este encabeça campanha nacional pela anulação do momentoso leilão que

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a transformou de empresa pública em privada, as Organizações Globo anunciaram com estrépito: “MST É

VISTO COMO SINÔNIMO DE VIOLÊNCIA”.12

A manchete poderia ser vista, assim, como apenas um resultado de uma campanha anterior. Pior que isso,

porém, é que destoava do próprio conteúdo da divulgação. Com efeito, no corpo da matéria se noticiava que,

se

“para 45% dos entrevistados, a palavra que melhor descreve o MST é violência;

para 27%, é coragem; e, para 24%, é a expressão "reforma agrária".13

Vê-se, portanto, que a pesquisa relatava uma predominância de visões positivas quando se tratou de indicar

uma palavra que expressasse o MST. Pese a tanto, a manchete estigmatizadora ajudava a reproduzir e

fortalecer a imagem do Movimento como violento.

QUALIFICAÇÃO COMO TERRORISMO

Assim como, em especial após o ataque às torres gêmeas, em 2001, a política dos Estados Unidos voltou-se

para carimbar como terroristas todas as organizações, movimentos, atividades e pessoas que se oponham a

seus interesses, no Brasil uma corrente na mídia, na política e nos órgãos de Estado deu-se a qualificar de

terrorismo as ações do movimento social em favor de suas reivindicações.

Esse trabalho de acoimar de terroristas os movimentos e organizações sócias, bem como seus integrantes,

tem origem como resposta da extrema direita militar ao dispositivo que, na Constituição da República, excluiu

a prescrição do crime de tortura. Naquele então, sem condição de opor-se à proposta normativa, em

decorrência do repúdio social que se estabelecera face à tortura empregada como método pelo regime militar,

a extrema-direita buscou e obteve, face à correlação de forças do momento, que igual determinação se

aplicasse também ao “crime de terrorismo”.

Ainda que inexista tipificação legal dessa figura delitiva, as forças conservadoras desde logo passaram a

utilizar o substantivo terrorismo e o adjetivo dele derivado para referir-se às demandas e ações sociais.

As atividades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, mas não apenas elas, são freqüentemente

assim designadas, vindo a designação sempre vinculada à invocação de ação repressiva estatal.

“Em um editorial do jornal O Globo, no dia 21 de março, podemos ler o seguinte

sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra: “Faz tempo que o MST

se descolou da questão da reforma agrária e se converteu em uma organização

política radical, semiclandestina, (...) com uma face operacional, patrocinadora

de ações que começam a ganhar roupagem de terrorismo”. (Carrano, Pedro,

Brasil de Fato, 21 de maio de 2008)

12 AGGEGE, SORAYA, Ibope: MST é visto como sinônimo de violência, reportagem de O Globo de 15 de junho de 2008, sumariada em O Globo Online, in http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/06/14/ibope_mst_visto_como_sinonimo_de_violencia-546806512.asp, acesso em 18 de junho de 2008. 13 Idem.

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15

“Aparentemente o diálogo termina nessas duas cenas, mas eis que irrompe, na

mesma edição da revista,” (Veja) “uma terceira reportagem que prolonga os

sentidos até aqui expostos de terrorismo e medo, relacionando-os com o

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Curioso perceber que Beslan,

Laden e o MST aparecem como ícones interligados pelo ódio que lhes corre nas

veias emendadas.” (Romão, Lucília Maria Sousa, VEJA vs. MST Memória e

atualização de sentidos em três atos do discurso jornalístico, in

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=294IMQ007, acesso

em 17 de junho de 2008)

Ao trabalho dos grandes órgãos da mídia se soma a ação dos parlamentares hidrófobos da direita, no mesmo

sentido, demonstrando a clara orquestração de métodos e objetivos.

“Já em abril, a cada ocupação de terra ou protesto diante do Incra ou Banco do

Brasil, um senador se revezava no plenário para desferir ataques hidrófobos ao

MST. Artur Virgilio (PSDB-AM) e Gerson Camata (PMDB-ES) foram os mais

histéricos, acusando os manifestantes de “bandidos” e “terroristas”. Na

seqüência, o novo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes,

aproveitou a sua posse para, segundo leitura da mídia, atacar os sem-terra. O

ministro elogiou a democracia nativa, “ainda que alguns movimentos sociais de

caráter fortemente reivindicatório atuem, às vezes, na fronteira da legalidade...

Nesses casos, é preciso que haja firmeza por parte das autoridades”,

aconselhou, quase que num recado ao presidente Lula, presente na solenidade.”

(Borges, Altamiro, Nova onda de criminalização do MST, in

http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1800/47/, acesso em 17 de

junho de 2008)

Nessa mesma linha, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Congresso Nacional, conhecida como CPI

da Terra, aprov ou relatório do deputado Abelardo Lupion (PFL-PR) em que pede a tipificação do ato de

ocupação de terra como crime de terrorismo, qualificado como hediondo.

Também empresas privadas se têm somado a essa política de indicar como terrorismo a ação social:

No mesmo sentido, até pouco tempo, a página na internet da Vale exibia o vídeo

de uma coletiva de imprensa, com seu diretor-executivo, Tito Martins, à época

das manifestações da Via Campesina do dia 8 de março. O posicionamento dos

próprios jornalistas, ao longo da entrevista, era de condenação à postura dos

movimentos sociais. Uma jornalista presente na coletiva reforçava a questão do

terrorismo. A Vale, que até então havia se mantido em silêncio quanto à ação

dos movimentos, passou a pedir punição.” (Carrano, Pedro, Brasil de Fato, 21 de

maio de 2008)

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Mas, não só ao MST está reservado esse tratamento. Também outros movimentos sociais recebem esse

tratamento, dependendo sempre do interesse de seus adversários.

Mais recentemente, ao Movimento dos Atingidos por Barragens se dedicou a pecha:

“Para a relatoria da ONU, o MAB e outros movimentos sociais "desenvolveram

modos de ação social e participação e estão desenvolvendo regras de combate

que diminuem a possibilidade do uso de violência em ações sociais". E por isso

recomenda ao governo brasileiro que esse aspecto deve ser "projetado pelo

Estado, assim como pela mídia" - o que infelizmente, não vem acontecendo. A

maioria dos meios de comunicação projeta o MAB e seus militantes como uma

quadrilha, como um caso de polícia, destacando-se em 2006 a parcialidade da

cobertura do jornal "Estado de Minas". Em matérias publicadas no mês de julho o

movimento é chamado de "grupo radical", "suspeito de alojar os mentores de um

plano de sabotagem" e que "recebe treinamento no exterior". As fontes do jornal

não seriam ninguém menos que os serviços secretos brasileiros (ABIN, P2...).

Ora, quem recebe treinamento é militar; treinamento no exterior é tática

terrorista; sabotagem; investigação da ABIN; a caracterização dada pelo jornal

ao movimento transmite a idéia de que trata-se de uma organização "terrorista"

para o leitor.” (Scalabrin, Leandro Gaspar, ONU CONFIRMA DENÚNCIAS DO

MAB - Modelo energético continua sua sanha impune)

Invertido o sentido de sua ação em defesa dos interesses do povo e estabelecida contra eles a acusação de

práticas terroristas, os movimentos sociais devem se ver frustrados de possibilidades de defesa de seu

ideário, métodos e atividades. Faz-se necessário estabelecer uma limitação a seu direito de difundir idéias,

manifestar pensamentos e divulgar informações.

RESTRIÇÕES À LIBERDADE DE INFORMAÇÃO E OPINIÃO

Estando em mãos dos grandes grupos econômicos o poder de determinar a linha editorial dos grandes órgãos

de imprensa, não é de estranhar que se alinhem eles na oposição aos movimentos sociais, nem que neguem

a estes a possibilidade de divulgar seus pontos de vista.

Mesmo nos pontos mais remotos, os órgãos de difusão e de imprensa se alinham automaticamente aos

adversários das demandas populares:

“Pouco antes de conceder uma entrevista a uma rádio local, em Marabá (Pará),

para divulgar a situação dos conflitos no campo no Brasil, o coordenador da

Comissão Pastoral da Terra (CPT), José Batista Afonso, deparou-se com a

advertência do radialista: o entrevistado não podia mencionar o nome da Vale

(ex-Vale do Rio Doce), mineradora que opera na região.” (Carrano, Pedro, Brasil

de Fato, 21 de maio de 2008)

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Não dispondo de meios de informação de massas, ou os tendo apenas parcos, as manifestações de grupo

constituem o meio por excelência para divulgação do ideário e reivindicações dos movimentos sociais, que

por meio delas exercem pressão sobre as autoridades e realizam proselitismo.

Mesmo tais meios, porém, vêm cada vez mais sendo objeto de restrições, que se quer justificar atribuindo às

demonstrações massivas a condição de perturbadoras da ordem social e causadoras de prejuízo aos

cidadãos.

As manifestações públicas das diferentes categorias de trabalhadores urbanos têm encontrado, contra si, dois

tipos de argumentos reiteradamente utilizados. Por primeiro, visando a incompatibilizar a população com o

direito de manifestação, apontam-se as manifestações como constrangedoras do direito de ir-e-vir,

causadoras de empecilhos à vida social e mesmo como ameaçadoras à vida e à saúde, com o argumento de

que impediriam o deslocamento de ambulâncias e carros de socorro a enfermos:

De outra parte, tem se tornado freqüente uma contabilização de supostos prejuízos à economia, valendo-se

de cálculos que partem da responsabilização dos manifestantes pelas dificuldades do tráfego, passam por

estimativas de tempo parado e de número de veículos, para desembocar na afirmativa de que os

trabalhadores é que seriam as vítimas e alvo dos manifestantes.

O jornal Folha de S.Paulo de 26 de setembro de 2007 divulgou que a Companhia de Engenharia de Tráfego

de São Paulo estaria realizando cálculos desse teor para embasar ações do Ministério Público contra

manifestantes e suas entidades. Como alternativa, a Companhia sugeriria para as manifestações a fixação de

locais tão insólitos como distantes, como o sambódromo paulistano.14

“Segundo os relatórios da CET, nos últimos três anos, o prejuízo financeiro foi de

mais de R$ 3 milhões e o congestionamento somado é de mais de 227

quilômetros. Para chegar a estes números, foi levado em conta o custo das

horas paradas no trânsito.”15

Por causarem tais transtornos à vida social justificar-se-iam limitações administrativas e policiais, que se vão

tornando cada vez mais comuns, e que contam já, muitas vezes, com apoio do Ministério Público e do Poder

Judiciário.

“Depois de parar a Avenida Paulista, na região central de São Paulo, por três

sextas-feiras seguidas, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado

(Apeoesp) enfrentará um inquérito civil para apurar excesso em suas

manifestações. A promotora de Habitação e Urbanismo do Ministério Público de

São Paulo (MP-SP), Stela Tinone Kuba, abriu nesta-sexta (27) o processo de

investigação. O MP vai apurar se houve excessos e prejuízos à mobilidade dos

moradores da capital paulista nos protestos de hoje e dos dias 13 e 20 deste

mês.

14 CANDIDO, LUCIANA, Prefeitura de São Paulo quer restringir protestos em locais públicos, disponível em http://www.pstu.org.br/autor_materia.asp?id=7445&ida=40.15 Idem.

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O inquérito investigará ainda se o sindicato atendeu às exigências legais para

fazer manifestações. É preciso avisar previamente a Polícia Militar (PM) e a

Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), para que monitorem o protesto e

orientem as pessoas que estão no local. Nos dias das manifestações, bloqueios

na avenida - normalmente já congestionada - causaram até 2,2 quilômetros de

lentidão.

Um ofício do promotor de Justiça da Cidadania Luís Fernando Pinto Júnior

reforçou o pedido de apuração. Ele encaminhou a petição à Promotoria de

Habitação e Urbanismo e ela deve ser juntada ao inquérito de Stela Tinone.

Ontem, a PM entrou com representação com a mesma solicitação ao Ministério

Público.” (http://educacao.uol.com.br/ultnot/2008/06/27/ult4528u396.jhtm, acesso

em 30 de junho de 2008)

Na cidade de São Paulo, a administração municipal tem exigido comunicação com antecedência para a

realização de passeatas e manifestações.

No Ceará, o governo do Estado já proibiu em anos passados marchas de camponeses. No Rio Grande do Sul

foi o Poder Judiciário que já ordenou à força policial que impedisse marchas de trabalhadores, não sendo de

esquecer que no Paraná, ao tempo do governador Jaime Lerner, policiais militares assassinaram um

trabalhador sem-terra quando uma marcha de camponeses foi impedida de se dirigir a Curitiba.

E, no Pará, o célebre Massacre de Eldorado de Carajás decorreu exatamente de ação que visava a cercear

manifestação de camponeses em marcha rumo a Belém.

Com o mesmo sentido, e agindo como braço das forças do atraso, o Poder Judiciário já se lançou em outras

oportunidades contra o MST, valendo aqui referir decisões proferidas na comarca de Teodoro Sampaio que,

copiando institutos vigentes nos Estados Unidos, pretendeu proibir trabalhadores sem-terra de se

aproximarem a menos de 10 km. de determinada propriedade, o que, violando o direito de ir-e-vir,

transformava-os em prisioneiros de campos de concentração, dado que impedidos de usas as estradas da

região, que se encontravam dentro do perímetro proibido.

Também cabe referência a recente decisão de magistrada do Rio de Janeiro que pretendeu determinar a

dirigente do MST que se abstivesse de manifestar opinião a respeito da Companhia Vale do Rio Doce,

responsabilizando-o por qualquer manifestação de inconformismo com esta que ocorresse no território

nacional.

A violação do direito de manifestação se estende igualmente aos direitos de organização sindical e de greve,

invocadas cada vez mais limitações a eles.

Somado ao trabalho de incriminação realizado pela mídia, cada vez mais categorias de trabalhadores são

vitimadas por ações do Ministério Público e decisões do Poder Judiciário que, afrontando a Constituição e os

Direitos Humanos buscam, na prática, proibir o exercício do direito de greve.

A Constituição da República estabelece peremptoriamente que:

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Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de

exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

Apesar disso, cada vez mais categorias são impedidas de exercer esse direito em virtude de decisões

judiciais que estabelecem obrigatoriedade de garantirem os sindicatos a atividade de trabalhadores em

números tais que, na prática, inviabilizam o direito que a Constituição assegura.

Sob o argumento de que realizariam atividades essenciais, categorias de trabalhadores vinculados aos

transportes, serviço público, energia, etc. já foram obrigados a, por seus sindicatos, garantirem o

comparecimento de pessoal ao trabalho.

Tais decisões, contudo afrontam o texto constitucional, eis que somente se estabelece, ali, restrição nas

hipóteses em que a lei diga de uma atividade que ela tem esse caráter essencial, e que a mesma lei

estabeleça os limites mínimos de atividade.

Isso é o que decorre, sem dúvida do § 1º, do art. 9º da Constituição da República, onde se dispõe que:

A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento

das necessidades inadiáveis da comunidade.

Vítimas relevantes dessa política restritiva e repressiva foram, por exemplo, os

petroleiros – que quase tiveram sua Federação inviabilizada por multas impostas

pelo Judiciário – e metroviários, que a cada greve tornam-se alvo da fúria da

magistratura. Como o são, neste momento, os professores:

“O MP pediu hoje à Justiça ainda a execução de uma dívida de R$ 156,4 mil da

Apeoesp. A multa é resultado de uma ação civil pública contra o sindicato por

causa de uma manifestação ocorrida em 1999. Na ocasião, os docentes

interditaram a Avenida Paulista sem antes ter avisado as autoridades, o que

trouxe transtornos a quem estava na região. Com a intimação, a Apeoesp terá 15

dias para depositar o dinheiro no Fundo Estadual de Reparação dos Interesses

Difusos Lesados. O valor será reajustado até ser pago.”

(http://educacao.uol.com.br/ultnot/2008/06/27/ult4528u396.jhtm, acesso em 30

de junho de 2008)

“O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

(Apeoesp) é o mais visado. Não só a entidade responde a processos, mas

alguns de seus diretores, individualmente, também.

O presidente da Apeoesp, Carlos Ramiro, foi condenado a pagar R$ 3,350

milhões de reais por danos materiais e morais. Seus bens estão bloqueados pela

Justiça e, obviamente, não tem como pagar esse valor. Esta sentença, porém,

apesar de ter recaído sobre Ramiro, é um ataque à categoria. O Ministério

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Público, representando os interesses do governo, visa, com a medida,

desorganizar os professores.

Para Ramiro, trata-se de “um jogo político do Ministério Público, pois em vez de

acionar o governo para atender às reivindicações, é mais fácil impedir que os

sindicatos façam manifestações”. Ele disse, ainda, que o governo chegou a

propor que os professores fizessem manifestações no sambódromo de São

Paulo, que fica na marginal Tietê.

João Zafalão, membro da diretoria Executiva da Apeoesp e da Oposição

Alternativa, também responde a inquérito policial por conta da manifestação do

dia 23 de maio passado, em frente à Assembléia Legislativa. O ato terminou em

enfrentamento com a polícia. “Estas ações são parte da tentativa de criminalizar

a Apeoesp, todas as manifestações que a Apeoesp fez foram parar no Ministério

Público em ações indenizatórias, eles querem intimidar o movimento”, disse.

(Candido, Luciana, Prefeitura de São Paulo quer restringir protestos em locais

públicos, disponível em

http://www.pstu.org.br/autor_materia.asp?id=7445&ida=40.)

São, portanto, as restrições ao direito de manifestação e de divulgação do pensamento de responsabilidade

hoje, quer de agentes privados, quer de agentes estatais, agindo estes em função de poder administrativo,

policial ou judicial.

RESTRIÇÕES À LIBERDADE DE ORGANIZAÇÃO Ainda que a Constituição Federal não estabeleça limite à liberdade de associação para fins lícitos restringida

apenas aquela de caráter para-militar, vem se tornando cada vez mais freqüentes exigências que visam a

impedir, na prática, o direito associativo.

Nesse particular, no que respeita aos povos indígenas embora a Constituição Federal assegure, nos arts. 231

e 232 que são reconhecidas suas organizações sociais, sendo elas partes legítimas para ingressar em juízo

em defesa de seus direitos e interesses, tanto o Poder Judiciário como o Executivo tem se negado a validar o

dispositivo, estabelecendo exigências de que tais organizações sejam cartorialmente registradas.

Essas exigências de registro cartorial têm sido feitas também face às organizações quilombolas, ainda que a

Convenção 169 da OIT estabeleça, no art. 5º, b, que deverá ser respeitada a integridade das instituições

representativas desses povos;

REPRESSÃO AOS MOVIMENTOS SOCIAIS E SINDICAL Postos já não apenas em termos de criminalização, mas de repressão aos movimentos sociais, elementos

dão conta de que essa tarefa é cometida tanto a agentes privados como a agentes estatais, quer ajam estes

no exercício da função ou fora dele.

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21

Parece evidente que a ação de pistoleiros a serviço do latifúndio tem se reduzido em termos nacionais, ainda

que em regiões e Estados determinados – valendo mencionar o Pará, Paraná, Minas Gerais e Pernambuco –

se mantenha.

Essa situação, porém, não tem implicado, de modo algum, o fim ou mesmo a diminuição da repressão aos

movimentos, organizações e agentes sociais, em curso uma legalização da violência privada e uma

estatização dessas ações, incrementado ao extremo o crescimento das prisões, detenções e intimidações.16

A legalização da violência privada teve origem já há anos, evoluindo aos poucos no rumo do estabelecimento

de empresas de segurança diretamente vinculadas ao latifúndio e grande empresa. No Pontal do

Paranapanema-SP e no Mato Grosso do Sul, há anos, deram-se os primeiros intentos de legalização das

organizações da violência rural.

Tais tentativas deram, naqueles Estados, maus resultados, dado o exercício extemporâneo da violência, com

tiroteios em São Paulo e emboscadas, seqüestros e assassinatos no Mato Grosso do Sul.

No Paraná, a relação estreita com a Polícia Militar ao tempo do ex-governador Jaime Lerner garantiu à

pisolagem legalizada do latifúndio uma proteção que se firmou ainda mais com a omissão e mesmo, em

certas áreas, respaldo judicial.17

Uma etapa seguinte iniciou com a adoção do emprego das empresas de segurança pelas grandes empresas

do agronegócio e da produção de transgênicos.

No Estado do Espírito Santo, a empresa Aracruz Celulose adota a contratação de empresa de segurança para

o enfrentamento a indígenas e quilombolas que foram expulsos de suas terras para a expansão da produção

de eucalipto.18

No Paraná, a Syngenta organiza a violência também nesses moldes, produzindo pelo menos um homicídio

constatado.19

Em Pernambuco, empresas de segurança a serviço de usinas usurpam do Estado o monopólio da violência;

na Paraíba, policiais agindo como particulares privatizam a exclusividade.

16 Na Região Sul e Minas Gerais, entre agressões, ameaças de morte, detenções e prisões, intimidações e impedimentos de ir-e-vir, a Comissão Pastoral da Terra, em seu Relatório Anual sobre Violência no Campo aponta 2212 vítimas. 17 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, apreciando denúncia formulada pela Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares acolheu o pedido formulado, em face do Estado brasileiro, por ter a juíza de direito da comarca de Loanda, PR, Elizabeth Kather, violado o sigilo de comunicações de assentamento de trabalhadores rurais vinculados ao MST, divulgando seu conteúdo pela Rede Globo. (http://www.cidh.org/annualrep/2006sp/Brasil12353sp.htm acesso em 18 de junho de 2008). O Paraná do Governador Jaime Lerner levou o Brasil a ser denunciado perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos também como resultado da morte de Sétimo Garibaldi, em novembro de 1998, quando grupos armados despejaram famílias de sem-terra da fazenda São Francisco, e a mesma juíza , Elizabeth Kather arquivou o inquérito. A CIDH entendeu que o Estado não tinha envidado esforços para prender os criminosos e decidiu, neste como no primeiro caso, levar o Brasil à Corte. (http://www.anexo10.com.br/news_det.php?cod=1405 acesso em 18 de junho de 2008) 18 BERNARDES, FLÁVIA, Empresa que ameaça índios e negros vai vigiar escolas, Século Diario, disponível in http://www.seculodiario.com/arquivo/2005/novembro/16/noticiario/meio_ambiente/16_11_06.asp, acesso em 18 de junho de 2008.

19 Valmir Mota de Oliveira, o Keno, morto por pistoleiros contratados pela Syngenta como vigilantes privados. Keno tinha 34 anos, deixou a esposa Íris e 3 filhos, meninos com 13, 9 e 7. No episódio, os milicianos da Syngenta feriram gravemente Couto Viera, Jonas Gomes de Queiroz, Domingos Barretos, Hudson Cardin e Izabel Nascimento de Souza que perdeu a visão de um olho.

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No Brasil todo a privatização da força vai cada vez mais a passo com a autorização estatal para seu emprego

sob a máscara de empresas de vigilância, com a privatização da ação estatal e com a expansão da repressão

do Estado.

O Ministério Público e o Poder Judiciário afiam suas navalhas e cortam fundo na carne dos movimentos

sociais, naquilo que mais especificamente se tem chamado de criminalização.

É assim que dirigentes e dirigentes de movimentos sociais e sindicais, rurais e urbanos, vão conhecendo as

barras dos tribunais.

Nos mais recentes episódios, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul deixou vazar ata de

reunião do Conselho Superior em que diversos promotores se articulam para usar o poder estatal contra o

Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, acoimando este de violar a segurança naol. O MP-RS traçou

estratégia para enfrentar o movimento social camponês, em virtude de terem os promotores Luciano de Faria

Brasil e Fábio Roque Sbardelotto realizado um “notável trabalho de inteligência”:

“O relatório que segue faz jus a esse conceito, apresentando o MST como uma

ameaça à sociedade e à própria segurança nacional. O resultado do trabalho de

inteligência inspirado nos métodos da ABIN é composto, na sua maioria, por

inúmeras matérias de jornais, relatórios do serviço secreto da Brigada Militar e

materiais, incluindo livros e cartilhas, apreendidas em acampamentos do MST.

Textos de autores como Florestan Fernandes, Paulo Freire, Chico Mendes, José

Marti e Che Guevara são apresentados como exemplos da “estratégia

confrontacional” adotada pelo MST. Na mesma categoria, são incluídas

expressões como “construção de uma nova sociedade”, “poder popular” e

“sufocando com força nossos opressores”. Também é “denunciada” a presença

de um livro do pedagogo soviético Anton Makarenko no material encontrado nos

acampamentos.” (Agência Carta Maior, Ação do MP gaúcho contra MST repete

discurso anti-comunista pré-1964, disponível em

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15058)

Já o Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul resolveu ir mais longe e, sem pejos, invocou a Lei de

Segurança Nacional para denunciar oito militantes do MST por crimes contra a segurança nacional.

Dirigentes do Sindicato dos Metroviários foram, na última greve enquadrados por crime contra a organização

do trabalho.

Dirigentes do MAB, do MST e da CPT também o são continuamente.

Indígenas e quilombolas, e estudantes vão, também, encontrando enquadramento penal quando demandam

reconhecimento de direitos.

CONCLUSÃO

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O que se vê, por um lado, como criminalização dos movimentos é visto, por outro, como expansão da

democracia e da submissão à lei.

Não se discute, é evidente, que a redução da repressão a parâmetros legais constitua um avanço diante do

exercício da violência desmedida dos particulares.

O que se tem explicado, muitas vezes, como criminalização dos movimentos sociais, e que neste trabalho

enxergamos como uma combinação de diversos métodos repressivos, não se conforma à constituição de um

estado democrático de direito, dado que este não pode ser reduzido à mera enunciação de direitos formais.

De nada vale a afirmação da constância da legalidade, se esta é apenas, ao fim, uma formalidade a que se

ausenta qualquer resultado prático.

Não se pode pretender garantido o exercício do direito de manifestação e de expressão do pensamento, se

por medidas administrativas ou judiciais se pretende confinar o exercício desse direito a locais distantes e

inacessíveis; não se pode pretender ter por garantido o exercício do direito de greve, se se pretende

estabelecer que oitenta ou mais porcento dos trabalhadores devam estar aprisionados ao labor; não se pode

pretender ter por garantido o direito de acesso ao conhecimento, se a leitura de um educador ou um sociólogo

longe do agrado da Governadora que lhes paga o salário impele promotores a afirmar que são criminosos os

trabalhadores que os lêem.

Fazê-lo, seria negar valor ao direito e afirmá-lo às manobras dos leguleios.

Admitir que o Estado seja um instrumento a serviço da dominação de classe não implica admitir que assim

deva ser. O reconhecimento da dignidade humana como fonte de direitos, a constituição da doutrina e da

normativa dos direitos humanos não permite mais conformar-se com tal admissão, pondo no campo da

exigibilidade a possibilidade de um Estado materializador desses direitos.

A condição de vir-a-ser da sociedade não se ajusta à idéia de movimentos sociais criminalizados, porquanto a

expressão da vontade social se dá por sua expressão, antes de tudo.

BIBLIOGRAFIA

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24

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2 – CRIMINALIZAÇÃO ESPECÍFICA DA LUTA SINDICAL

Ataque à organização dos trabalhadores e cerceamento do direito de greve

2.1- Interdito Proibitório e multas Atualmente um dos principais instrumentos jurídicos utilizados para criminalizar o movimento sindical é o

Interdito Proibitório. Impondo multas pesadíssimas, os interditos visam atacar os trabalhadores e barrar suas

mobilizações. A alegação jurídica primordial dos interditos proibitórios é a proteção da propriedade. Os

interditos proibitórios significam que o direito privado se sobrepõe ao direito coletivo. Os empresários têm

sistematicamente recorrido a este recurso e a Justiça tem concedido generosamente interditos que proíbem a

realização de qualquer manifestação, assembléia, passeata ou greve, até mesmo antes que elas ocorram.

São Paulo

O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Bancários e os

Metroviários são exemplos de entidades que, seguidamente, vêm sendo punidas financeiramente por greves.

Apeoesp20

A Apeoesp pagou, em agosto, uma multa de R$ 156 mil relativa a uma greve de 1999. Há outra ação em

andamento contra o sindicato que exige o pagamento de R$ 350 mil em danos materiais e outros R$ 3,5

milhões em danos morais e prejuízos presumidos devido realização de manifestação e interdição na Av

Paulista.

Metroviários21

Sindicato dos Metroviários de SP responde a uma ação relativa a uma greve de agosto de 2007, na qual

exige-se o pagamento de R$ 2 milhões. Há diversas outras em valores menores também em andamento na

Justiça, todas relativas à paralisações ou greves.

20 Multas, armas para criminalizar movimentos sociais, por Michelle Amaral. Brasil de Fato 27/08/2008. 21 Idem.

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Cinco metroviários que participaram com destaque da paralisação contra a emenda 3 realizada no dia 23 de

abril passado foram perseguidos e demitidos. São lideranças que também têm cumprido um papel de

destaque na luta contra a privatização do Metrô. Todos conseguiram na justiça a reintegração: o vice-

presidente do Sindicato, Paulo Pasin, do diretor executivo, Alex Fernandes, que ficaram afastados sem

receber salários e quaisquer benefícios; Ciro Moraes, ficou impedido de voltar ao seu local de trabalho.

Bancários O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região já foi vítima de 124 ações de interdito proibitório

desde 1994. Atualmente há 68 processos em trâmite. As decisões, muitas delas ainda não-definitivas e

passíveis de cancelamento em novos julgamentos, remetem a condenações que envolvem um valor total de

multas de R$ 953 mil.

O Sindicato dos Bancários de São Paulo ficou impedido de abrir faixas na calçada ou se aproximar do Banco

Real, na Avenida Paulista, sob pena de amargar prisões e multa de R$ 1 milhão Metalúrgicos do Vale Paraíba Em São José dos Campos, o Sindicato dos Metalúrgicos local é alvo de um Interdito Proibitório obtido na

Justiça pela Embraer. A entidade foi multada em mais de R$ 5 milhões em razão de assembléias na porta da

empresa. Mensalmente 30% da receita da entidade está sendo confiscada em razão deste interdito.

Na região, outras empresas também já utilizaram esse mecanismo, como a Latecoere, Aernnova, LG.Philips e

NovaDutra. A Ambev, de Jacareí, também utiliza deste recurso judicial para enfraquecer a luta dos

trabalhadores.

MTST e a luta por moradia O MTST, que organiza a população na luta por moradia e outros direitos básicos, está proibido de fazer

manifestações em quatro cidades do estado de São Paulo (Taboão da Serra, Itapecerica da Serra, Embu e

Mauá). Os militantes do movimento também enfrentam perseguição. No Maranhão há um militante preso.

Além disso, a violência policial é uma constante nos acampamentos. Há relatos de até casos de tortura.

O que é Interdito Proibitório22

O interdito proibitório é um instrumento jurídico relacionado a proteção do direito de posse ou da propriedade

quando ameaçados previsto no artigo 1.210 do Código Civil. Deve ser concedido quando “o possuidor direto

ou indireto (...) tenha justo receio de ser molestado na posse” e quando houver ameaça de “turbação” (quando

a posse é relativamente tomada) ou “esbulho” (quando a posse é totalmente tomada). O interdito proibitório

existe desde o início do século 20, e já foi muito utilizado por latifundiários para evitar ocupação de terras e

por empresários para debelar greves de ocupação, quando os funcionários se mantinham dentro da empresa.

Dos anos 1990 para cá, tem sido usado de forma abusiva por empresas para inviabilizar os movimentos

grevistas e as próprias entidades sindicais.

22 Fonte: http://www.mgiora.com.br/interditoproibitorionao/

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— É um instrumento ágil e rápido;

— A Justiça Comum está acostumada a usá-lo contra

ocupações de imóveis ou propriedades rurais;

— Legitima a ação da PM, o que muitas vezes resulta no uso da violência contra os trabalhadores;

— Antecipa a punição antes mesmo de ocorrer o problema;

— Confunde e assusta o bancário das agências, que acaba tendo a impressão errada de estar proibido de

fazer greve.

Revés23

Em setembro, por ocasião da greve nacional dos bancários, o juiz José Aparecido dos Santos, da 17ª Vara do

Trabalho de Curitiba, negou pedido de interdito proibitório formulado pela direção estadual dos Correios contra

o Sintcom-PR (Sindicato dos Trabalhadores nos Correios do Paraná). A intenção da empresa era evitar a

mobilização da categoria em frente às suas instalações.

Em seu despacho o magistrado afirma que o interdito proibitório (medida judicial destinada a proteger a

propriedade) tem sido utilizado de maneira "equivocada" e "abusiva" no âmbito trabalhista.

"O direito de greve é um direito coletivo. O direito de propriedade é um direito individual", diz trecho da

decisão. "Assim, não há o menor sentido em se pretender por meio de interdito proibitório prevalecer um

direito individual em face de um direito coletivo."

"A realização de atos de convencimento dos trabalhadores nas portas dos estabelecimentos, inclusive por

meio de carros de som, a permanência em local próximo, a circulação em derredor constituem elementos

típicos de uma greve e não podem ser impedidos pelo poder Judiciário porque isso representaria uma

limitação ao direito fundamental de greve", conclui o magistrado.

Durante o mesmo período, o Unibanco24 interpôs Agravo de Instrumento pedindo a concessão de liminar para

expedição de Interdito Proibitório. Destacou existir ameaça de turbação ou esbulho devido à iminência de

bloqueio de suas agências pelos piquetes de grevistas.

Na avaliação da Desembargadora Nara Leonor Castro Garcia, o simples advento do período de dissídio da

categoria não implica, por si só, a ameaça que o agravante afirma existir. Fotos apresentadas revelaram a

presença de duas pessoas, que se supunham grevistas, afirmou. "Fato comum, tendo em vista o período de

dissídio da categoria, em frente a uma agência do banco."

2.2- Perseguição à organização sindical: ANDES-SN

23 Fonte: Sintcom-PR 24 Fonte: JurisWay

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O ANDES-SN teve suspensa o registro sindical pelo Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, sem base legal

e sem direito de defesa. Para Ciro Correia, presidente da ANDES-SN trata-se de uma perseguição ao

Sindicato Nacional pela CUT e pelo governo.

O ANDES-SN é uma entidade com 27 anos de luta pela educação pública, sindicalismo independente e livre

de qualquer imposto ou taxa compulsória para os trabalhadores.

Ataque armado contra a sede do CONLUTAS No dia 1º de agosto de 2008, a sede da CONLUTAS, em São José, foi alvo de um atentado à mão armada,

quando ocorria uma assembléia de trabalhadores da Construção Civil, que fundavam uma associação.

Cubatão, Baixada Santista PMs e seguranças da empresa Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), em Cubatão, agridem

manifestantes em protestos contra a violência e a falta de segurança na empresa.

No dia 03 de agosto de 2008, quando ocorria uma manifestação em frente ao portão da empresa contra a

falta de segurança, a intervenção violenta da PM provocou ferimentos em 07 pessoas.

No dia 21 de agosto, em nova manifestação organizada pelo sindicato dos metalúrgicos de Santos, desta vez

contra as agressões da PM, seguranças particulares da empresa além de impedirem os funcionários de

descerem dos ônibus para aderirem aos protestos, agiram de forma violenta provocando ferimentos em 03

manifestantes. A PM não apareceu para impedir a ação ilegal de seguranças contra manifestação pacifica

fora da fábrica.

2.3- História A origem da recente onda de criminalização do movimento sindical

Sob o governo FHC, a greve dos petroleiros de 1995 foi duramente atacada: por meio de multas milionárias e

uma orquestração envolvendo governo —forjando a falta de botijões de gás nas disttribuidoras—, e a mídia na

manipulação da opinião pública exibindo insistentemente as filas para a compra de gás. A greve dos

petroleiros exigia o cumprimento de acordo de reajuste assumido pelo presidente Itamar Franco. A

Organização Internacional do Trabalho (OIT) condenou o Brasil por atentado às organizações sindicais.

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3- MANIFESTO DO MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO EM DEFESA DA LUTA QUILOMBOLA O MNU QUE NESSE ANO COMEMORA OS SEUS 30 ANOS DE FUNDAÇÃO VEM PERANTE A POPULAÇÃO E O POVO BRASILEIRO DENUNCIAR A GRAVE SITUAÇÃO DE ATAQUE AOS DIREITOS DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS. A LUTA QUILOMBOLA É SECULAR. NÓS E O CONJUNTO DAS ENTIDADES E ORGANIZAÇÕES DO MOVIMENTO NEGRO SOMOS HERDEIROS E FAZEMOS PARTE DESSA FRENTE. HOJE, INFORMALMENTE, SÃO MAIS DE CINCO MIL COMUNIDADES NOS MAIS VARIADOS GRAUS DE ORGANIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO PELA DEFESA DE SEUS DIREITOS E EM TODOS ESTADOS DA FEDERAÇÃO. AS REAÇÕES CONTRA ESSE PROCESSO DE LUTA E ORGANIZAÇÃO DO NOSSO POVO VEM MOSTRANDO A SUA FACE. A OPÇÃO DE “DESENVOLVIMENTO” OFICIAL EXCLUI A MAIOR PARTE DO POVO BRASILEIRO E ESPECIFICAMENTE POVO NEGRO E OS POVOS INDÍGENAS. AS COMUNIDADES QUILOMBOLAS VÊM SOFRENDO FORTE ATAQUE AOS SEUS DIREITOS NAS VÁRIAS ESFERAS DE ESTADO, COMO A AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (ADIN...) AJUIZADA PELO DEM (DEMOCRATAS EX-PFL); O PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO DE AUTORIA DO DEPUTADO DO PMDB DE SANTA CATARINA ( Deputado Valdir Colatto (PMDB - SC) Projeto de Lei 3654). TODOS ESTES ATAQUES VISAM RETIRAR A EFETIVIDADE ARTIGO 68 DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 (QUE GARANTE A TITULAÇÃO DAS TERRAS DE QUILOMBO),BEM COMO, ATACAM CONQUISTAS EXPRESSAS NO DECRETO 4887/2003 (QUE REGULAMENTA PROCEDIMENTOS PARA DEMARCAÇÃO E TITULAÇÃO). TAIS ATAQUES REFLETEM OS INTERESSES DOS GRANDES LATIFUNDIÁRIOS RURAIS E URBANOS, GRANDES EMPREITEIRAS, EMPRESAS DE PAPEL E CELULOSE E MULTINACIONAIS CONTANDO COM CUMPLICIDADE DAS GRANDES EMPRESAS DE COMUNICAÇÃO (ESCRITA E FALADA). SÃO ESSAS PRESSÕES QUE EXPLICAM A IMINENTE ALTERAÇÃO NA INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 20 DO INCRA, PELO GOVERNO FEDERAL, BUROCRATIZANDO E RETARDANDO O PROCESSO DE DEMARCAÇÃO E TITULAÇÃO DAS TERRAS QUILOMBOLAS (QUE JÁ É LENTO POIS NOS ÚLTIMOS 8 ANOS SOMENTE 7 COMUNIDADES FORAM TITULADAS) A REVELIA DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS O QUE GEROU A CORRETA DENÚNCIA DO ESTADO BRASILEIRO PERANTE OIT (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO) ,POR DESCUMPRIMENTO DA CONVENÇÃO 169 DA OIT, POR PARTE DE VARIAS ENTIDADES E ORGANIZAÇÕES DO MOVIMENTO NEGRO E QUILOMBOLA. ALERTAMOS QUE O MOMENTO É DE UNIDADE E VIMOS A PÚBLICO DENUNCIAR TODOS AQUELES QUE PROCURAM ISOLAR O MOVIMENTO QUILOMBOLA DO CONJUNTO DO MOVIMENTO NEGRO. A DERROTA DOS QUILOMBOLAS SIGNIFICARÁ UM RETROCESSO DE CONJUNTO NAS LUTAS E CONQUISTAS DO POVO NEGRO.

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NESSE SENTIDO CONVOCAMOS A TODOS(AS) PARA: REFERENDAR A DENÚNCIA FEITA POR ENTIDADES E COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO ESTADO BRASILEIRO À OIT POR DESCUMPRIMENTO DA CONVENÇÃO 169 DA OIT! CONCLAMAR A TODOS(AS) A LUTA CONTRA RETIRADA DE DIREITOS E CONTRA O PL 3654 ( Deputado Valdir Colatto (PMDB - SC) Projeto de Lei 3654VALDIR COLATO)! PELA TITULAÇÃO IMEDIATA E SUSTENTABILIDADE DAS TERRAS QUILOMBOLAS! PELA CONSTRUÇÃO DE UM VINTE DE NOVEMBRO DE APOIO A LUTA QUILOMBOLA! MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO

4- ESTRATÉGIAS GLOBALIZADAS PARA A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA E DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

(texto escrito por Danilo Dara, para o jornal Brasil de Fato – julho/2008)

Há um padrão comum de criminalização da pobreza e dos movimentos sociais construído e vigorando em

todo o mundo.

Este foi o ponto de partida dos relatos durante o seminário internacional sobre “Criminalização da pobreza e

dos movimentos sociais na América Latina” – iniciativa do Instituto Rosa Luxemburg e da Rede Social dos

Direitos Humanos, entre 18 e 20 de junho na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema-SP. O

encontro reuniu mais de 70 participantes de vários países, entre eles Argentina, Chile, México, Paraguai e

Alemanha, além do Brasil.

Durante as discussões pôde-se observar uma série de estratégias comuns de criminalização e repressão ao

conjunto mais pobre das sociedades, organizados ou não. Criminalização e repressão dirigidas especialmente

contra grupos étnicos específicos (povos originários e afro-descendentes), sem-terra, sem-teto, trabalhadores

informais ou desempregados, mulheres e migrantes. Além, obviamente, do alvo prioritário: movimentos

populares – visando seu enfraquecimento e, se possível, sua dissolução.

México

Segundo Pablo Romo, do Observatório da Conflitividade Social no México, a criminalização é marcada “pelo

desenvolvimento das reformas estruturais que os governos neoliberais iniciaram no final dos anos 1980 e que

se implementam agora em sua segunda fase”. Para ele, na relação entre movimentos e Estado “estão se

reduzindo as possibilidades de saídas negociadas, pois por um lado o Estado está cada vez menos disposto a

fazer concessões substantivas, e justificam esse endurecimento qualificando os movimentos de extra-legais e

ilegítimos; de não serem interlocutores válidos que mereçam ser incorporados por meio da pressão a nenhum

tipo de negociação-acordo. Por outro lado – acrescenta – um número significativo de movimentos está cada

vez menos disposto a ceder frente à decisão vertical ou frente aos danos e destruição a que são submetidos”.

Pablo destaca ainda o papel crucial desempenhado pelos meios de comunicação na legitimação da repressão

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estatal, citando como exemplo os casos de Oaxaca e Atenco no México em 2007, quando as redes de TV

trataram de repetir inúmeras vezes imagens pinçadas de militantes reagindo a provocações policiais, visando

com isto legitimar o uso de forças repressivas desproporcionais, tendo como conseqüência centenas de

feridos e detidos, e dezenas de mortos.

Chile

E por falar na atuação da grande imprensa corporativa, a situação chilena pós-ditadura é marcada por uma

forte influência destes meios. Se por um lado o caráter repressivo do Estado chileno tem raízes de longa data

– atingindo seu auge a partir de 1973 e durante os dezessete anos seguintes de ditadura militar liderada por

Augusto Pinochet -, por outro lado o cenário “redemocratizado” não parece nada alentador. Segundo o

sociólogo Raùl Zarzuri Cortès, professor da Universidade Academia de Humanismo Cristão (UAHC) e

pesquisador do Centro de Estudos Sócio-culturais (CESC), atualmente “a criminalização não se reveste

necessariamente de tintas tão repressivas tintes, com as características que se manifestaram durante a

ditadura, mas o que vemos é que enfrentamos um novo tipo de repressão que denominamos ‘repressão

simbólica’ levada a cabo pelos meios de comunicação, principalmente a televisão e a imprensa escrita, que

têm contribuído para construir uma visão mirada de certos sujeitos e ações reivindicativas como novos

‘bárbaros’ ou monstros sociais”.

Raùl sustenta que, embora não haja violações flagrantes dos direitos humanos no Chile - “com exceção no

caso dos povos mapuche, que sistematicamente têm sido perseguidos mediante leis repressivas herdadas da

ditadura” – ainda falta muito o quê se resguardar em relação à liberdade de expressão, em particular pelo alto

número de detenções em manifestações de rua "as quais afetam principalmente sujeitos jovens, ainda que

não imobilizem novas ações coletivas”.

Argentina

No caso argentino, analisando os desdobramentos desde a crise de 2001 até a relativamente esperançosa

ascensão dos Kirchner, Maristella Svampa observou um duplo movimento: durante a crise, “o governo

nacional não titubeou em alimentar a estigmatização do protesto – contrapondo a mobilização de rua à

exigência de ‘normalidade institucional’”, difundindo uma imagem da “democracia sendo acossada por

movimentos sociais”, sobretudo os piqueteiros. Para Svampa, “como resultado, houve o avanço da

‘judicialização’ e da criminalização no tratamento dos conflitos sociais, e a instalação de um forte consenso

antipiqueteiro, sustentado e apoiado por amplos setores da opinião pública”.

Um cenário cuja promessa de reversão – apontada pelo governo Kirchner aos setores populares – não só não

foi cumprida (salvo uma ou outra sinalização, como no julgamento de alguns militares) como, em muitos

casos, intensificado.. Ao mesmo tempo, como aponta Roberto Gargarella, “as políticas penais parecem

desenhadas ao calor das demandas conjunturais dos grupos melhor situados. Os quais têm mostrado

reiteradamente, nestes últimos anos, sua capacidade para influir no redesenho do Código Penal argentino,

bloqueando reformas mais racionais”.

Outro aspecto do que se passa na Argentina diz respeito à mudança histórica de amplitude política na

atuação das organizações sociais em defesa dos Direitos Humanos, que durante a ditadura militar no país

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tiveram papel fundamental para sua superação. No entanto, segundo Claudia Korol (Pañuelos en Rebeldia),

teriam limitado seu alcance após a chamada redemocratização, o que coloca a necessidade de re-politizar o

tema.

Alemanha

O cenário alarmante, no entanto, não se restringe à periferia do mundo. Os testemunhos sobre as estratégias

de criminalização colocadas em prática atualmente na Alemanha, ecoando rumos europeus, são bastante

preocupantes.

Conforme apontaram Corinna Genschel, do Comitê para os Direitos Civis e a Democracia, e Peer Stolle, da

Associação de Advogados e Advogadas Republicanas da Alemanha, após a queda do muro e a unificação

dos aparatos estatais (e policiais) de Leste a Oeste, o grau de controle em relação a qualquer tipo de

mobilização social se intensificou muito. Desenvolveu-se um arcabouço jurídico-criminal chamado de “Estado

de Segurança Preventiva”, que prevê, entre outros pontos, ampla capacidade de registro de dados dos

cidadãos para uso da polícia; intervenções militares rígidas contra reuniões e manifestações políticas;

proibição de algumas associações (sobretudo islâmicas - prejulgadas -, e de extrema direita, mas também

organizações de esquerda); além de normas penais especiais para a criminalização de movimentos,

vinculando-os a associações criminais e terroristas. Uma estratégia geral que, ademais, estaria relacionada à

cooperação institucional e policial crescente entre os estados europeus, cujos novos interesses político-

comerciais requerem crescente controle das fronteiras externas, e inimigos internos. Não por acaso, foram

criadas a Polícia Européia – Europol, e a Procuradoria Geral do Continente – Eurojust.

Padrões comuns

Dentre os padrões de criminalização levantados durante o Seminário, é possível formular uma gradação de

estratégias coordenadas para conter e neutralizar as insatisfações crescentes da população pobre em relação

às chamadas “sociedades democráticas”. Estratégias civis-militares levadas a cabo em cada país geralmente

por grandes proprietários, agentes estatais e grupos monopólicos de comunicação, articulados entre si:

• SILENCIAMENTO e INVISIBILIDADE das demandas populares, buscando-se consumar a sensação

generalizada de impotência entre os mais pobres;

• quando não é possível silenciar as reivindicações, passa-se à ESTIGMATIZAÇÃO dos seus sujeitos sociais,

através da manipulação da notícia, no sentido de legitimar os setores e classes dominantes e seus padrões

de “boa-conduta”, servindo ao controle do comportamento social.

• MONITORAMENTO é outra estratégia fundamental, cada vez mais avançada tecnológica e juridicamente –

implicando quebra de direitos civis, invasão de privacidade, incremento de bancos de dados, buscas e

apreensões noturnas etc. Como parte do monitoramento tenta-se também dividir as organizações populares

para enfraquecê-las, via COOPTAÇÃO de militantes, INFILTRAÇÃO de disputas internas e, se possível, a

DISPERSÃO territorial dos organizados (demissões em massa, despejos, etc.).

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• CRIMINALIZAÇÃO – em geral, forjada por falsas notícias e informações. Trata-se do passo seguinte,

quando as demandas resistem aos primeiros obstáculos e passam a ser exigidas mais incisivamente,

sobretudo se manifestam por meio da mobilização social e se afetam grandes interesses do capital.

• Criminalização que visa justificar e legitimar a próxima etapa, a REPRESSÃO FÍSICA, seja contra protestos

sociais, seja aleatoriamente de modo a intimidar (ou prevenir) qualquer reação popular – de preferência uma

combinação das duas formas, a repressão concentrada e a difusa.

• caso todas as estratégias anteriores não dêem conta do inimigo, desemboca-se em um patamar repressivo

superior da criminalização, também respaldado por novas REFORMULAÇÕES JURÍDICAS emergenciais que

fundamentam a suspensão de todo e qualquer direito inconveniente aos fins repressivos: a JUDICIALIZAÇÃO

dos supostos criminosos, DETENÇÕES em série, banalização da TORTURA, e ENCARCERAMENTO

sistemático, chegando, em muitos casos, ao EXTERMÍNIO pontual e/ou massivo dos “suspeitos”.

Como resultado dessa permanente e meticulosa agressão contra direitos básicos, desencadeia-se uma

ilimitada espiral repressiva. A escalada repressiva gera mais revolta, novamente tornada invisível e silenciada

pelos meios de comunicação, realimentando assim o ciclo de violência. Geralmente, quando casos

escandalosos escapam do controle dos agentes de contenção social e da informação, e se tornam

conhecidos da opinião pública, o discurso dos agentes do Estado – corroborados pela grande mídia comercial

– assenta-se nos chavões do senso comum, tipo “não há outra alternativa” ou “fomos obrigados a agir desta

maneira”, sendo impossível evitar os “acidentes” e “excessos” cada vez mais recorrentes. Sempre “males

menores” em relação ao objetivo supostamente inconteste das operações. Tampouco possível responsabilizar

os verdadeiros culpados por esta escalada repressiva.

Brasil Graças à escalada compulsiva desencadeada por tais operações, continuarão a proliferar em muitos países

“dossiês confidenciais”, elaborados exatamente para vazar no “momento oportuno”, como o do Ministério

Público gaúcho contra o MST.

Nos diversos países presentes ao Seminário, como aqui, tais dossiês são elaborados em nome da defesa dos

“estados democráticos de direito” e da “segurança nacional e internacional”. Se há quarenta anos, civis-

militares suspendiam formalmente uma série de direitos para efetivamente intensificar a repressão,

atualmente, agentes do Estado intensificam a repressão em defesa dos direitos formais democráticos, na

prática suspensos – embora não se dêem sequer ao trabalho de alterar os argumentos reacionários que já

moviam os formuladores, no Brasil, dos Atos Institucionais. Isso tudo, como sempre, numa orquestração

promíscua envolvendo grandes proprietários, representantes do Estado e grandes grupos de comunicação,

além de quase sempre (acrescentaríamos) envolvendo sociedades criminosas como os esquadrões da morte

dos anos 1960-1970, e até mesmo gangues do tráfico de drogas, armas e grupos de extermínio, como

aconteceu recentemente no caso do Morro da Providência, no Rio de Janeiro. É nesse universo que se

enquadram as recentes operações civis-militares-midiáticas do Rio Grande do Sul; a chacina dos três jovens

do morro da Providência; a operação desencadeada pelos arrozeiros de Roraima, em parceria com o

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comandante militar da Região, general Augusto Heleno Pereira contra os índios da Reserva Raposa Serra do

Sol, e até mesmo a invasão do território equatoriano pelas forças militares do regime narco-paramilitar da

Colômbia, com apoio dos EUA.

Resumindo, mais do mesmo modelo comum à maioria dos países afetados pela longa maré neoliberal, na

repressão contra suas diversas lutas recentes. Ou ainda, como preferiria dizer o francês Guy Debord, a

passagem ao capitalismo "espetacular integrado".

Enfim, é bom nos prepararmos para o que vem por aí ou, pelo menos, para o que tentarão fazer daqui por

diante. Por mais absurdo que pareça, tudo isto ainda é o começo.

Elementos do (anti)terrorismo

Um sistema social e um Estado que produzem o terror por meio de suas próprias leis e seus próprios agentes,

necessitam sempre forjar um “inimigo público comum” para expiar a crescente insatisfação social, e para

prevenir o aumento da revolta da sociedade contra sua própria forma catastrófica de funcionamento.

Como na obra “1984”, de George Orwell, é sempre preciso forjar um “Outro”, abominável... Não por acaso, o

qualificativo encontrado por esse sistema para colar à imagem do seu “inimigo público número um” seja

justamente o de “terrorista”, cuja construção, em regra – seja aqui ou em escala global – fundamenta-se na

mentira. É exatamente a mesma inversão feita no Iraque, por exemplo, quando cidadãos daquele país, que

resistem a décadas de invasão militar e genocídio, são chamados de “insurgentes” ou “rebeldes”, e sobre-

criminalizados por tentarem precariamente resistir ao terror promovido pelos chamados “exércitos

libertadores” do Ocidente.

É exatamente esse processo o que estão tentando desenvolver neste momento, de maneira desabusada,

com relação ao MST, ao exigirem judicial e policialmente sua aniquilação. Não duvidemos que, daqui a pouco,

os sem-terra serão também responsabilizados por crimes ambientais contra a humanidade, por serem dos

principais protagonistas na defesa da Amazônia e de um modelo de desenvolvimento ecológico-social nas

terras brasileiras. Terras pelas quais lutam, combatendo o agronegócio, que as monopoliza e devasta.

Mais que a propriedade das terras essas empresas contam ainda com agentes incrustados nas várias

instâncias do aparelho de Estado (legislativos, judiciários e executivos – nas esferas municipais, estaduais e

nacional –, forças armadas, polícias, etc) que o manipulam e tentam formatá-lo cada vez mais como uma

ferramenta exclusivamente adequada à realização dos seus interesses. Ao lado disto, os grandes meios de

comunicação comercial, mais que objetivos estratégicos comuns que comungam com o agronegócio (e por

isto mesmo) são também financiados por essas empresas.

No caso do Rio Grande do Sul, neste momento, a orquestração contra o MST é exemplar: em nome da

defesa da “ordem democrática”, do “Estado democrático de direito”, o Ministério Público local investe-se de

poderes que a Constituição em vigor não lhe garante, organizando um plano secreto numa conspiração no

interior do próprio aparelho do Estado, pela qual estigmatiza os sem-terra enquanto terroristas; a governadora

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(tucana) Yeda Crusius, nomeia comandante da sua Brigada Militar o coronel Paulo Roberto Mendes que

dissemina a repressão e o terror contra o MST (e outros movimentos), como se as medidas ordenadas pelo

Ministério Público local pudessem ter inconteste valor legal; por fim, no momento em que interessa a essa

“santa aliança” – principalmente, em termos imediatos, de modo a criar uma cortina de fumaça para esconder

a corrupção liderada pela chefa do Executivo local –, socorre-lhes a grande mídia comercial local (e nacional),

através da qual fazem vazar e ecoar as decisões e orientações contidas no documento secreto – em vigor e

prática já ao menos há sete meses – elaborado por unanimidade por membros do Conselho Superior do

Ministério Público gaúcho. Quanto à contumaz promiscuidade desses encaminhamentos com organizações

criminosas ilegais, basta lembrarmos as regulares investidas de capangas e milícias paramilitares contra os

acampamentos naquele Estado.