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Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO ELEITORAL ELEIÇÃO SUPLEMENTAR Ausência de responsabilidade civil por gastos decorrentes de eleição suplementar. DIREITO ADMINISTRATIVO OAB Inscrição na OAB de graduado em curso de Direito não reconhecido pelo MEC. CÓDIGO DE TRÂNSITO Aplicação de multa por excesso de velocidade pelo DNIT. DIREITO CIVIL PRESCRIÇÃO Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO Ação de consignação em pagamento proposta por mutuário regido pelo Plano de Comprometimento da Renda e que não quer a renegociação da dívida. DIREITO DO CONSUMIDOR PLANO DE SAÚDE Validade da cláusula de coparticipação. DIREITO EMPRESARIAL CONTRATOS EMPRESARIAIS Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner. DIREITO PROCESSUAL CIVIL COMPETÊNCIA Dever de remessa dos autos ao juízo competente mesmo em caso de processo eletrônico. AÇÃO DEMARCATÓRIA Ação demarcatória parcial e inexistência de litisconsórcio necessário com os confinantes de imóveis cujos limites não estão sendo discutidos. DIREITO PENAL CONFISSÃO Emprego da confissão qualificada como atenuante.

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Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE DIREITO ELEITORAL

ELEIÇÃO SUPLEMENTAR Ausência de responsabilidade civil por gastos decorrentes de eleição suplementar.

DIREITO ADMINISTRATIVO

OAB Inscrição na OAB de graduado em curso de Direito não reconhecido pelo MEC. CÓDIGO DE TRÂNSITO Aplicação de multa por excesso de velocidade pelo DNIT.

DIREITO CIVIL

PRESCRIÇÃO Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO Ação de consignação em pagamento proposta por mutuário regido pelo Plano de Comprometimento da Renda e

que não quer a renegociação da dívida.

DIREITO DO CONSUMIDOR

PLANO DE SAÚDE Validade da cláusula de coparticipação.

DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATOS EMPRESARIAIS Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COMPETÊNCIA Dever de remessa dos autos ao juízo competente mesmo em caso de processo eletrônico. AÇÃO DEMARCATÓRIA Ação demarcatória parcial e inexistência de litisconsórcio necessário com os confinantes de imóveis cujos limites

não estão sendo discutidos.

DIREITO PENAL

CONFISSÃO Emprego da confissão qualificada como atenuante.

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DESOBEDIÊNCIA Não configuração do crime de desobediência na hipótese de não atendimento por Defensor Público-Geral de

requisição judicial de nomeação de defensor. LEI DE DROGAS Tráfico cometido nas dependências de estabelecimento prisional e bis in idem. Só poderá incidir a interestadualidade se ficar demonstrado que a intenção do agente era pulverizar a droga em

mais de um Estado-membro.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

AÇÃO PENAL PRIVADA Honorários advocatícios sucumbenciais em ação penal privada extinta sem julgamento de mérito. COMPETÊNCIA Crime praticado por militar da ativa e conduta prevista apenas na Lei de Licitações. REMIÇÃO Remição de pena por trabalho em domingos e feriados. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR

COMPETÊNCIA Crime previsto apenas na Lei de Licitações.

DIREITO INTERNACIONAL

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA Homologação de sentença estrangeira e confisco de imóvel situado no Brasil

DIREITO ELEITORAL

ELEIÇÃO SUPLEMENTAR Ausência de responsabilidade civil por gastos decorrentes de eleição suplementar

O candidato ao cargo de prefeito que obtém o deferimento do registro de sua candidatura no juízo eleitoral de primeiro grau, mas, depois de eleito, tem o registro indeferido pelo TSE, não deve indenização à União por gastos decorrentes de eleição suplementar.

Entende-se que, neste caso, o candidato, ao tentar concorrer mesmo tendo sido impugnado, age no exercício regular de um direito, conduta que não configura ato ilícito indenizável (art. 188, I, do CC).

STJ. 1ª Turma. REsp 1.596.589-AL, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/6/2016 (Info 586).

Imagine a seguinte situação hipotética: Em 2008, João foi candidato ao cargo de Prefeito. Vale ressaltar que a candidatura de João foi impugnada pelo Ministério Público sob o argumento de que ele estaria inelegível com base no art. 1º, I, "g", da LC 64/90, considerando que tinha uma condenação imposta pelo TCU em virtude de suas contas como ex-administrador terem sido desaprovadas. João conseguiu uma liminar autorizando que ele concorresse enquanto se discutia a punição imposta pelo TCU. O Ministério Público não se conformou e recorreu contra o deferimento do registro da candidatura. Antes que o recurso do MP fosse definitivamente julgado, João foi eleito Prefeito. No entanto, alguns meses depois, o TSE indeferiu o registro da candidatura de João, dando razão aos argumentos do MP. Diante disso, foi convocada a realização de nova eleição para o cargo de Prefeito sem a participação de João.

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Ação de indenização As eleições, no Brasil, são custeadas pelo orçamento da Justiça Eleitoral, que é um órgão da União. Depois de ter sido realizada esta eleição suplementar acima explicada, a União, por meio da AGU, propôs ação de indenização contra João, alegando que ele concorreu à eleição para Prefeito mesmo estando inelegível por força de lei. Desse modo, ele praticou um ato ilícito que gerou dano aos cofres públicos, considerando que foi necessária a realização de novo pleito após o julgamento em definitivo de sua inelegibilidade. Assim, a União pediu que João fosse condenado a pagar os custos desta nova eleição que foi realizada. Onde esta ação foi proposta? Na Justiça Federal comum (art. 109, I, da CF/88). Isso porque a ação proposta tem como causa de pedir o tema "responsabilidade civil", não se tratando de matéria eleitoral propriamente dita. Logo, a competência não é da Justiça Eleitoral. A competência será da Justiça Federal, por sua vez, porque tem a União como autora. O pedido da União foi acolhido pelo STJ? NÃO. O candidato ao cargo de prefeito que obtém o deferimento do registro de sua candidatura no juízo eleitoral de primeiro grau, mas, depois de eleito, tem o registro indeferido pelo TSE, não deve indenização à União por gastos decorrentes de eleição suplementar. STJ. 1ª Turma. REsp 1.596.589-AL, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/6/2016 (Info 586). A União sustenta que o réu teria violado dever jurídico ao registrar sua candidatura mesmo sabendo possuir prestação de contas rejeitada pelo TCU. Contudo, o art. 188 do Código Civil afirma que não se constitui ato ilícito quando o ato do agente foi praticado "no exercício regular de um direito reconhecido" (inciso I). O candidato conseguiu concorrer por força de decisão liminar. Somente após as eleições é que esta decisão foi revertida. Desse modo, ele conseguiu disputar e vencer a eleição em virtude, principalmente, do atraso do TSE na apreciação do recurso que, por força de Resolução do próprio Tribunal, deveria ter sido julgado até antes das eleições, o que acabou não acontecendo (art. 62 da Resolução TSE 22.717/2008). Dessa forma, percebe-se que a realização da eleição suplementar foi ocasionada pela morosidade na prestação jurisdicional. As novas eleições poderiam ter sido evitadas caso tivesse sido cumprido pelo TSE o prazo que o próprio tribunal estabeleceu na Resolução nº 22.717⁄2008, que editou para regulamentar a escolha e registro dos candidatos municipais na eleição de 2008.

DIREITO ADMINISTRATIVO

OAB Inscrição na OAB de graduado em curso de Direito não reconhecido pelo MEC

A inscrição como advogado, nos quadros da OAB, de quem apresente diploma ou certidão de graduação em Direito "obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada" (art. 8º, II, do Estatuto da Advocacia) não pode ser impedida pelo fato de o curso de Direito não ter sido reconhecido pelo MEC.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.288.991-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/6/2016 (Info 586).

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Imagine a seguinte situação hipotética: O MEC autorizou que a faculdade "XXX" abrisse o curso de Direito. Vale ressaltar que, apesar de o curso ter sido autorizado, o MEC ainda não terminou o processo de reconhecimento. Em outras palavras, o curso de Direito da faculdade "XXX", apesar de já autorizado, ainda não foi reconhecido pelo MEC. João matriculou-se e, após cinco anos, concluiu o curso de Direito na faculdade "XXX". Mesmo tendo se passado todo esse tempo, o MEC ainda não terminou o processo de reconhecimento do curso de Direito na faculdade "XXX". João fez o Exame da Ordem e foi aprovado. Diante disso, pediu a sua inscrição como advogado. Ocorre que o requerimento foi indeferido pela OAB sob o argumento de que o curso de Direito da faculdade "XXX" ainda não foi reconhecido pelo MEC. A OAB afirmou que este reconhecimento é uma exigência legal para a inscrição como advogado, nos termos do art. 8º, II, da Lei nº 8.906/94:

Art. 8º Para inscrição como advogado é necessário: II - diploma ou certidão de graduação em direito, obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada;

O argumento da OAB foi aceito pelo STJ? Para que o bacharel em Direito possa se inscrever como advogado é indispensável que o curso de Direito, além de autorizado, tenha sido reconhecido pelo MEC? NÃO. A inscrição como advogado, nos quadros da OAB, de quem apresente diploma ou certidão de graduação em Direito "obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada" (art. 8º, II, do Estatuto da Advocacia) não pode ser impedida pelo fato de o curso de Direito não ter sido reconhecido pelo MEC. STJ. 1ª Turma. REsp 1.288.991-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/6/2016 (Info 586). Segundo o art. 8º, II da Lei nº 8.906/94, para a inscrição no quadro da OAB, é necessária a apresentação de diploma ou certidão de graduação em Direito, "obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada". A OAB embaralhou os conceitos e fez exigência que não consta na lei. No processo de funcionamento da instituição privada de ensino superior existem três etapas que são diferentes e não podem ser confundidas: 1) credenciamento da IES: para iniciar suas atividades, as instituições de educação superior (IES) devem solicitar o credenciamento junto ao MEC. 2) autorização: para iniciar a oferta de um curso de graduação, a instituição depende de autorização do Ministério da Educação. Desse modo, autorização é o ato formal que permite a uma instituição de ensino superior criar e iniciar a implantação de um curso superior de graduação. 3) reconhecimento: o reconhecimento deve ser solicitado pela IES quando o curso de graduação tiver completado 50% de sua carga horária. O reconhecimento de curso é condição necessária para a validade nacional dos respectivos diplomas (art. 48 da Lei nº 9.394/96). O art. 8º, II, do Estatuto da OAB exige apenas que:

a pessoa tenha um diploma ou certidão de graduação em Direito; e

que a instituição de ensino que o forneceu tenha sido oficialmente autorizada e credenciada. Repare, portanto, que a Lei não exige que o curso de Direito já tenha sido reconhecido. Desse modo, a exigência de reconhecimento do curso não encontra amparo legal nem mesmo para a inscrição como advogado, tendo em vista que a Lei nº 8.906/94 apenas prevê a conclusão do curso em instituição oficialmente autorizada e credenciada. Portanto, a exigência feita pela OAB foi ilegal.

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É desarrazoado exigir do estudante que aguarde, por prazo indeterminado, estagnado no mercado de trabalho, o fim da demora da Administração Pública que ainda não terminou de fiscalizar o curso já autorizado a funcionar (STJ. 2ª Turma. REsp 1.277.643/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJ 27/2/2012).

CÓDIGO DE TRÂNSITO Aplicação de multa por excesso de velocidade pelo DNIT

Atenção! Concursos federais

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) tem competência para autuar e aplicar sanções por excesso de velocidade em rodovias e estradas federais.

A competência da Polícia Rodoviária Federal para aplicar multas de trânsito nas rodovias federais não é exclusiva.

Se analisarmos o art. 82, § 3º da Lei nº 10.233/2001 combinado com o art. 21, VI, da Lei nº 9.503/97, veremos que o DNIT detém competência para aplicar multa por excesso de velocidade.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.583.822-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/6/2016 (Info 586).

STJ. 2ª Turma. REsp 1592969/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/05/2016.

Imagine a seguinte situação hipotética: João estava dirigindo seu veículo a 150km/h em uma rodovia federal, quando, então, foi multado por excesso de velocidade. Ocorre que esta multa foi aplicada por um servidor do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte). Inconformado, João ingressou com ação na Justiça Federal pedindo a anulação da sanção sob o argumento de que a competência para aplicar multas de trânsito nas rodovias federais é exclusiva da Polícia Rodoviária Federal. Teria havido, assim, violação da competência para praticar o ato administrativo. A tese de João pode ser aceita? A competência para aplicar multas de trânsito nas rodovias federais é exclusiva da PRF? O DNIIT está impedido de aplicá-las? NÃO. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) tem competência para autuar e aplicar sanções por excesso de velocidade em rodovias e estradas federais. STJ. 1ª Turma. REsp 1.583.822-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/6/2016 (Info 586). Atribuições do DNIT As atribuições do DNIT estão previstas no art. 82 da Lei nº 10.233/2001 (Art. 82. São atribuições do DNIT, em sua esfera de atuação...). Se você ler os incisos do art. 82, não irá realmente encontrar a atribuição de aplicar multas. No entanto, veja o que diz o § 3º do art. 82:

§ 3º É, ainda, atribuição do DNIT, em sua esfera de atuação, exercer, diretamente ou mediante convênio, as competências expressas no art. 21 da Lei nº 9.503, de 1997, observado o disposto no inciso XVII do art. 24 desta Lei.

A Lei nº 9.503/97 é o Código de Trânsito brasileiro e o art. 24 elenca as competências dos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

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Dentre as competências previstas aos órgãos e entidades executivos rodoviários pelo art. 21 da Lei nº 9.503/97, seu inciso VI determina de forma clara:

Art. 21. Compete aos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição: (...) VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar, aplicar as penalidades de advertência, por escrito, e ainda as multas e medidas administrativas cabíveis, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar;

Portanto, se analisarmos o art. 82, § 3º da Lei nº 10.233/2001 combinado com o art. 21, VI, da Lei nº 9.503/97, veremos que o DNIT detém competência para aplicar multa por excesso de velocidade.

DIREITO CIVIL

PRESCRIÇÃO Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner

É de 1 ano o prazo de prescrição da pretensão do segurador, sub-rogado nos direitos do segurado, de indenização pela deterioração de carga em navio por falha em contêiner.

Aplica-se, neste caso, o art. 8º do Decreto-Lei 116/1967, que trata sobre o prazo prescricional envolvendo as ações por extravio, perdas e avarias de carga.

Não se aplica o art. 206, § 3º, V, do CC considerando que se trata de norma geral e, por isso, não revogou o art. 8º do DL nº 116/1967, que é considerado norma especial.

Aplica-se à presente situação a Súmula 151 do STF que, apesar de antiga, continua vigente:

Súmula 151-STF: Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.278.722-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/5/2016 (Info 586).

Vide comentários em Direito Empresarial.

SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO Ação de consignação em pagamento proposta por mutuário regido pelo Plano de

Comprometimento da Renda e que não quer a renegociação da dívida

No contrato de financiamento habitacional regido pelo Plano de Comprometimento da Renda – PCR (Lei nº 8.692/93) as parcelas que irão ser pagas pelo mutuário deverão ser fixadas em um valor que não ultrapasse 30% da sua renda bruta mensal.

Em caso de redução da renda, a Lei determina que o mutuário deverá procurar a instituição financeira e renegociar as condições de amortização. Assim, a parcela irá ser reduzida para ficar no máximo legal, mas haverá dilação do prazo de liquidação do financiamento.

Determinado mutuário adquiriu uma casa por meio de financiamento bancário regido pelo SFH em conformidade com o PCR. Houve uma redução de sua renda mensal e, em razão disso, ele ajuizou ação de consignação em pagamento pedindo a quitação e extinção de suas obrigações tão somente por meio da consignação dos valores que ele unilateralmente entende como devidos.

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Esta ação deverá ser julgada improcedente. A solução prevista pela Lei para esta situação é a renegociação da dívida, com a redução negociada das parcelas mediante prolongamento do prazo de pagamento.

STJ. 4ª Turma. REsp 886.846-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 7/6/2016 (Info 586).

Imagine a seguinte situação hipotética: João adquiriu uma casa por meio de financiamento bancário regido pelo Sistema Financeiro da Habitação. O SFH é um programa do Governo Federal, criado pela Lei nº 4.380/64, com o objetivo de facilitar que pessoas de baixa renda possam adquirir a sua casa própria. A legislação que rege o SFH prevê condições mais favoráveis às pessoas que adquirem os imóveis porque existe um incentivo (subsídio) estatal. Em compensação, o adquirente tem que cumprir certas obrigações e, em caso de inadimplemento, são estipuladas regras mais céleres para a cobrança do débito. Plano de Comprometimento da Renda (Lei nº 8.692/93) O contrato celebrado por João era regido pela Lei nº 8.692/93, que trata sobre o Plano de Comprometimento da Renda (PCR). O contrato de financiamento habitacional regido pelo PCR funciona da seguinte forma: as parcelas que irão ser pagas pelo mutuário (pessoa que tomou o empréstimo) deverão ser fixadas em um valor que não ultrapasse 30% da sua renda bruta mensal. Ex: se João possuía uma renda bruta de R$ 10 mil, a parcela do financiamento deveria ser fixada em, no máximo, R$ 3 mil. E se a renda bruta do mutuário diminuir? Ex: João mudou de emprego e passou a receber apenas R$ 5 mil. O que fazer com as parcelas do financiamento? Neste caso, a Lei determina que o mutuário deverá procurar a instituição financeira e renegociar as condições de amortização. Assim, a parcela irá ser reduzida para ficar no máximo legal (30%), mas haverá dilação do prazo de liquidação do financiamento (art. 4º, §§ 3º e 4º). Feitos estes esclarecimentos, voltemos ao nosso exemplo: João pagava parcelas de R$ 3 mil, o que correspondia a 30% de sua renda bruta. Ocorre que sua renda bruta diminuiu para R$ 5 mil. Diante disso, ele ajuizou ação de consignação em pagamento contra a instituição financeira dizendo que a partir daquele momento sua prestação seria de R$ 1.500. Vale ressaltar que o autor não quer que o prazo de pagamento seja ampliado, ou seja, não quer o aumento do número das prestações. Esta ação de consignação em pagamento deverá ser julgada procedente? NÃO. Deverá ser julgada improcedente a ação de consignação em pagamento no caso em que o autor - mutuário de contrato de financiamento habitacional celebrado no âmbito do SFH em conformidade com o Plano de Comprometimento da Renda (Lei nº 8.692/93) que, em razão da redução de sua renda, a viu comprometida em percentual superior ao máximo estabelecido no contrato - a tenha ajuizado buscando a quitação e extinção de suas obrigações tão somente por meio da consignação dos valores que ele unilateralmente entende como devidos. STJ. 4ª Turma. REsp 886.846-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 7/6/2016 (Info 586). A solução prevista pela Lei para esta situação é a renegociação da dívida, com a redução negociada das parcelas mediante prolongamento do prazo de pagamento. Caso a renegociação não se mostrasse possível na prática, o autor deveria ter proposto ação de consignação cumulada com ação de revisão do contrato, invocando o art. 4º, §§ 3º e 4º da Lei nº 8.692/93.

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No entanto, em vez de buscar a renegociação, o autor limitou-se a ajuizar ação de consignação em pagamento com a qual busca simplesmente a quitação e extinção de suas obrigações sem levar em conta a necessidade de prolongar o prazo de pagamento. Como o autor não pretende com a ação renegociar ou revisar as condições da amortização, com a dilação do prazo de financiamento, mas sim consignar o valor que unilateralmente entende devido, mostra-se improcedente sua pretensão.

DIREITO DO CONSUMIDOR

PLANO DE SAÚDE Validade da cláusula de coparticipação

Importante!!!

Não é abusiva cláusula contratual de plano privado de assistência à saúde que estabeleça a coparticipação do usuário nas despesas médico-hospitalares em percentual sobre o custo de tratamento médico realizado sem internação, desde que a coparticipação não caracterize financiamento integral do procedimento por parte do usuário, ou fator restritor severo ao acesso aos serviços.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.566.062-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/6/2016 (Info 586).

Imagine a seguinte situação hipotética: João é cliente de um plano de saúde. Segundo o contrato assinado, o plano de saúde arca com 80% dos tratamentos e o próprio consumidor tem que pagar os 20% restantes. Na linguagem dos planos, isso é chamado de coparticipação do usuário. João precisou realizar um tratamento de quimioterapia e ajuizou ação pedindo que não tivesse que cumprir a cláusula da coparticipação. Alegou que ela seria abusiva, considerando que acarreta desvantagem exagerada do consumidor frente à operadora de plano de saúde, devendo ser considerada nula de pleno direito, com base no art. 51, IV do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

A tese de João foi aceita pelo STJ? Esta previsão é abusiva? Em princípio, a cláusula que preveja a coparticipação do usuário nas despesas médico-hospitalares afronta direitos do consumidor e a legislação dos planos de saúde? NÃO. Regra: não é abusiva cláusula contratual de plano privado de assistência à saúde que estabeleça a coparticipação do usuário nas despesas médico-hospitalares em percentual sobre o custo de tratamento médico realizado sem internação. Exceção: esta cláusula será abusiva em dois casos: 1) Se a coparticipação do usuário financiar integralmente o procedimento médico-hospitalar; 2) Se o percentual exigido do usuário representar, no caso concreto, uma restrição severa aos serviços médico-hospitalares.

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Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9

Não é abusiva cláusula contratual de plano privado de assistência à saúde que estabeleça a coparticipação do usuário nas despesas médico-hospitalares em percentual sobre o custo de tratamento médico realizado sem internação, desde que a coparticipação não caracterize financiamento integral do procedimento por parte do usuário, ou fator restritor severo ao acesso aos serviços. STJ. 3ª Turma. REsp 1.566.062-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/6/2016 (Info 586). Espécies de planos de saúde Os planos de saúde podem ser: a) integrais (completos): quando é apenas exigida uma mensalidade fixa do contratante, mas quando este necessita de algum atendimento médico ou hospitalar, não terá que pagar mais nada; b) coparticipativos: são aqueles em que o plano de saúde cobra uma mensalidade reduzida. No entanto, para o contratante utilizar algum serviço médico ou hospitalar, ele terá que pagar um percentual dos custos do procedimento e o plano arca com o restante. Lei nº 9.656/98 permite planos coparticipativos Os planos coparticipativos são permitidos pela Lei nº 9.656/98, que rege os planos de saúde. É o que se pode extrair da interpretação do art. 16, VIII da Lei:

Art. 16. Dos contratos, regulamentos ou condições gerais dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei devem constar dispositivos que indiquem com clareza: (...) VIII - a franquia, os limites financeiros ou o percentual de co-participação do consumidor, contratualmente previstos nas despesas com assistência médica, hospitalar e odontológica;

Assim, o art. 16, VIII, da Lei nº 9.656/1998 permitiu a inclusão de fatores moderadores, paralelos às mensalidades, no custeio dos planos de saúde, como a coparticipação, a franquia e os limites financeiros, que devem estar devidamente previstos no contrato, de forma clara e legível, desde que também não acarretem o desvirtuamento da livre escolha do consumidor. Segundo o art. 3º, da Resolução n. 8/1998 do Conselho de Saúde Suplementar (CONSU), franquia é o valor estabelecido no contrato de plano de saúde até o qual a operadora não tem responsabilidade de cobertura, e a coparticipação é a parte efetivamente paga pelo consumidor à operadora referente à realização de determinado procedimento, que se soma à mensalidade. Logo, para o STJ, não há ilegalidade na contratação de plano de saúde em regime de coparticipação. Ao contrário, existe até mesmo previsão expressa na Lei (art. 16, VIII, da Lei nº 9.656/98). Sistema de coparticipação reduz valor das mensalidades e estimula a prudência A adoção da coparticipação no plano de saúde implica diminuição do risco assumido pela operadora, o que provoca redução do valor da mensalidade a ser paga pelo usuário que, por sua vez, caso utilize determinada cobertura, arcará com valor adicional apenas quanto a tal evento. O sistema de coparticipação, além de proporcionar mensalidades mais módicas, é uma medida que inibe condutas descuidadas e pródigas do usuário, visto que o uso indiscriminado de procedimentos, consultas e exames afetará negativamente o seu patrimônio. Em outras palavras, tem por objetivo evitar a utilização "desnecessária" do plano. Limites aos planos coparticipativos É proibida a cláusula de coparticipação em dois casos: 1) quando preveja o financiamento integral do procedimento por parte do usuário; 2) quando representar fator restritor severo ao acesso aos serviços. Tais limitações estão previstas no art. 2º, VII da Resolução nº 8/1998 do CONSU:

Art. 2º Para adoção de práticas referentes à regulação de demanda da utilização dos serviços de saúde,

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estão vedados: (...) VII - estabelecer co-participação ou franquia que caracterize financiamento integral do procedimento por parte do usuário, ou fator restritor severo ao acesso aos serviços;

Não é possível atribuir ao usuário de plano de saúde, sob o disfarce da coparticipação, o custeio da maior parte das despesas médicas, impedindo-o de usufruir dos serviços de assistência à saúde contratados. Ex: seria abusiva a cláusula que previsse que o plano de saúde pagaria 20% do tratamento e o usuário os 80% restantes. Plano coparticipativo e internação No caso de internação, a Resolução do CONSU determina que é possível a cláusula de coparticipação, mas esta não poderá ser fixada em percentuais, devendo o contrato determinar valores prefixados a fim de não surpreender o contrante. Veja:

Art. 2º Para adoção de práticas referentes à regulação de demanda da utilização dos serviços de saúde, estão vedados: (...) VIII - estabelecer em casos de internação, fator moderador em forma de percentual por evento, com exceção das definições específicas em saúde mental.

Art. 4º As operadoras de planos ou seguros privados de assistência à saúde, quando da utilização de mecanismos de regulação, deverão atender às seguintes exigências: (...) VII - estabelecer, quando optar por fator moderador em casos de internação, valores prefixados que não poderão sofrer indexação por procedimentos e/ou patologias.

DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATOS EMPRESARIAIS Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em contêiner

É de 1 ano o prazo de prescrição da pretensão do segurador, sub-rogado nos direitos do segurado, de indenização pela deterioração de carga em navio por falha em contêiner.

Aplica-se, neste caso, o art. 8º do Decreto-Lei 116/1967, que trata sobre o prazo prescricional envolvendo as ações por extravio, perdas e avarias de carga.

Não se aplica o art. 206, § 3º, V, do CC considerando que se trata de norma geral e, por isso, não revogou o art. 8º do DL nº 116/1967, que é considerado norma especial.

Aplica-se à presente situação a Súmula 151 do STF que, apesar de antiga, continua vigente:

Súmula 151-STF: Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.278.722-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/5/2016 (Info 586).

Imagine a seguinte situação adaptada: A empresa Sadia S.A. celebrou contrato com uma transportadora referente a 3 mil caixas de frango congelado, que seriam transportadas em um contêiner localizado dentro de um navio. Ocorre que o sistema de refrigeração do contêiner em que a carga estava depositada apresentou vazamento de gás, o que ocasionou o descongelamento e deterioração dos produtos, sendo, por esse

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motivo, totalmente rejeitado para consumo humano pelos órgãos de fiscalização sanitária. Sorte da Sadia que havia feito um contrato de seguro da carga com a Bradesco Seguros S.A., que indenizou o prejuízo para a empresa segurada. Depois de pagar, a Bradesco Seguros S.A. (seguradora) sub-rogou-se nos direitos da segurada (Sadia). Em outras palavras, o direito que a Sadia possuía de ser indenizada pela transportadora passou para a seguradora, que poderá cobrar esta quantia. Diante disso, a Bradesco Seguros S.A. ajuizou ação de indenização contra a transportadora pedindo o recebimento do valor pago a título de indenização à sua segurada. Discussão quanto à prescrição A Bradesco Seguros ajuizou a ação depois de dois anos do ocorrido. Em razão disso, a transportadora alegou que a pretensão estaria prescrita, considerando que o prazo seria de 1 ano, nos termos do art. 8º do Decreto-Lei nº 116/1967:

Art. 8º Prescrevem ao fim de um ano, contado da data do término da descarga do navio transportador, as ações por extravio de carga, bem como as ações por falta de conteúdo, diminuição, perdas e avarias ou danos à carga.

A seguradora não concordou e contra-argumentou afirmando que o prazo prescricional seria de 3 anos, conforme previsto no art. 206, § 3º, V, do CC, que é norma posterior e, portanto, teria revogado a anterior:

Art. 206. Prescreve: § 3º Em três anos: V - a pretensão de reparação civil;

Quem teve a sua tese acolhida pelo STJ: a transportadora ou a seguradora? Qual é o prazo prescricional neste caso? A transportadora. É de 1 ano o prazo de prescrição da pretensão do segurador, sub-rogado nos direitos do segurado, de indenização pela deterioração de carga em navio por falha em contêiner. STJ. 4ª Turma. REsp 1.278.722-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/5/2016 (Info 586). A lei especial prevalece sobre a norma geral. Isso significa que o art. 206, § 3º, V, do CC não revogou o art. 8º do DL nº 116/1967, considerando que esta é norma especial que regula o prazo prescricional envolvendo as ações por extravio, perdas e avarias de carga. Desse modo, não se aplica ao caso o Código Civil, mas sim a legislação específica. Aplica-se à presente situação a Súmula 151 do STF que, apesar de antiga, continua vigente:

Súmula 151-STF: Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COMPETÊNCIA Dever de remessa dos autos ao juízo competente mesmo em caso de processo eletrônico

Se o juízo reconhece a sua incompetência absoluta para conhecer da causa, ele deverá determinar a remessa dos autos ao juízo competente e não extinguir o processo sem exame do mérito.

O argumento de impossibilidade técnica do Poder Judiciário em remeter os autos para o juízo competente, ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico, não pode ser utilizado para prejudicar o jurisdicionado, sob pena de configurar-se indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional.

Assim, implica indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional a decisão que, após o reconhecimento da incompetência absoluta do juízo, em vez de determinar a remessa dos autos ao juízo competente, extingue o feito sem exame do mérito, sob o argumento de impossibilidade técnica do Judiciário em remeter os autos para o órgão julgador competente, ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.526.914-PE, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3ª Região), julgado em 21/6/2016 (Info 586).

Imagine a seguinte situação hipotética: João ajuizou ação que foi distribuída para o juízo "X". O juízo "X" entendeu que era absolutamente incompetente para conhecer a demanda. Diante disso, de ofício, reconheceu sua incompetência para o julgamento da causa. O juiz poderia ter declarado a incompetência de ofício? Sim. A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício (art. 64, § 1º do CPC/2015). Quando o juiz reconhece a sua incompetência absoluta, qual a providência que ele deve adotar? O juiz, reconhecendo sua incompetência, deverá remeter os autos ao juízo competente (art. 64, § 3º do CPC/2015). Vale ressaltar que se o juízo incompetente já tiver praticado atos decisórios, em regra, eles continuarão produzindo efeitos até que o juízo competente os confirme ou revogue. Veja:

Art. 64 (...) § 4º Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente.

O juiz deverá remeter os autos ao juízo competente mesmo que a ação proposta tenha sido um mandado de segurança? O art. 64, § 3º do CPC é aplicado também para os processos de MS? SIM. Nesse sentido já decidiu o STJ na vigência do CPC passado: STJ. 1ª Seção. MS 21.744/DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/09/2015. O mesmo entendimento continua válido com o novo CPC. Vamos voltar ao nosso exemplo: O juízo "X" decidiu que era absolutamente incompetente para julgar a causa. No entanto, em vez de remeter os autos ao juízo competente, ele extinguiu o processo sem resolução do mérito. O magistrado argumentou que o processo é eletrônico e que, como são regiões diferentes (TRF5 e TRF1) existe uma impossibilidade técnica de enviar os autos para a Seção Judiciária do DF pelo sistema do PJE (Processo Judicial Eletrônico). O argumento invocado pelo magistrado foi aceito pelo STJ? NÃO.

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Se o juízo reconhece a sua incompetência absoluta para conhecer da causa, ele deverá determinar a remessa dos autos ao juízo competente e não extinguir o processo sem exame do mérito. O argumento de impossibilidade técnica do Poder Judiciário em remeter os autos para o juízo competente, ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico, não pode ser utilizado para prejudicar o jurisdicionado, sob pena de configurar-se indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional. Assim, implica indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional a decisão que, após o reconhecimento da incompetência absoluta do juízo, em vez de determinar a remessa dos autos ao juízo competente, extingue o feito sem exame do mérito, sob o argumento de impossibilidade técnica do Judiciário em remeter os autos para o órgão julgador competente, ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico. STJ. 2ª Turma. REsp 1.526.914-PE, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3ª Região), julgado em 21/6/2016 (Info 586).

AÇÃO DEMARCATÓRIA Ação demarcatória parcial e inexistência de litisconsórcio necessário

com os confinantes de imóveis cujos limites não estão sendo discutidos

Em ação demarcatória de parte de imóvel, é facultativo - e não necessário - o litisconsórcio passivo entre o réu e os confinantes da área do bem que não é objeto de demarcação.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.403-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 23/6/2016 (Info 586).

Ação demarcatória Ação demarcatória (ou ação de demarcação) é aquela proposta... - pelo proprietário - com o objetivo de obrigar o seu confinante ("vizinho que faz fronteira") - a colocar limites (fronteiras) entre os respectivos imóveis, - ou seja, definir onde termina um imóvel e começa o outro, - fixando novos limites entre eles (caso não haja ou estejam errados), - ou aviventando (realçando, reavivando) os limites que já existiram, mas estão apagados. Previsão O direito material à demarcação está previsto no art. 1.297 do CC:

Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas.

O CPC regulamenta a parte processual no art. 569, I e nos arts. 574 a 587. Veja os principais dispositivos sobre o tema:

Art. 569. Cabe: I - ao proprietário a ação de demarcação, para obrigar o seu confinante a estremar os respectivos prédios, fixando-se novos limites entre eles ou aviventando-se os já apagados;

Art. 574. Na petição inicial, instruída com os títulos da propriedade, designar-se-á o imóvel pela situação e pela denominação, descrever-se-ão os limites por constituir, aviventar ou renovar e nomear-se-ão todos os confinantes da linha demarcanda.

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Art. 580. Concluídos os estudos, os peritos apresentarão minucioso laudo sobre o traçado da linha demarcanda, considerando os títulos, os marcos, os rumos, a fama da vizinhança, as informações de antigos moradores do lugar e outros elementos que coligirem.

Art. 581. A sentença que julgar procedente o pedido determinará o traçado da linha demarcanda. Parágrafo único. A sentença proferida na ação demarcatória determinará a restituição da área invadida, se houver, declarando o domínio ou a posse do prejudicado, ou ambos.

Art. 582. Transitada em julgado a sentença, o perito efetuará a demarcação e colocará os marcos necessários. Parágrafo único. Todas as operações serão consignadas em planta e memorial descritivo com as referências convenientes para a identificação, em qualquer tempo, dos pontos assinalados, observada a legislação especial que dispõe sobre a identificação do imóvel rural.

Art. 587. Assinado o auto pelo juiz e pelos peritos, será proferida a sentença homologatória da demarcação.

Ponto de destaque: demarcação extrajudicial O CPC/2015 trouxe uma interessante novidade ao prever que a demarcação poderá ser feita extrajudicialmente. Confira:

Art. 571. A demarcação e a divisão poderão ser realizadas por escritura pública, desde que maiores, capazes e concordes todos os interessados, observando-se, no que couber, os dispositivos deste Capítulo.

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: João é proprietário de uma fazenda. Na sua esquerda, o imóvel faz fronteira com a chácara de Pedro; na direita, com o sítio de Antônio; na parte de trás, o imóvel confinante pertence a Carlos. Estes são os vizinhos imediatos do imóvel de João. Não existe cerca dividindo a fazenda com a chácara de Pedro. João percebeu que Pedro acabou avançando e ocupando boa parte de seu imóvel. Diante disso, ele ajuizou contra Pedro ação demarcatória pedindo que o juiz nomeie perito e que este defina a linha que divide os dois imóveis, após o que serão colocadas cercas separando as duas propriedades. O réu foi citado pelos correios (art. 576 do CPC/2015), com prazo de 15 dias para contestar (art. 577). Na contestação, Pedro alegou, dentre outras matérias, que o autor deveria ter ajuizado a ação contra todos os confinantes da área do bem que é objeto da demarcação. Em outras palavras, Antônio e Carlos também deveriam ter sido citados porque seriam litisconsortes necessários.

A tese de Pedro foi aceita pelo STJ? NÃO.

Em ação demarcatória de parte de imóvel, é facultativo - e não necessário - o litisconsórcio passivo entre o réu e os confinantes da área do bem que não é objeto de demarcação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.403-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 23/6/2016 (Info 586).

Demarcatória parcial No caso concreto, tem-se uma ação demarcatória parcial. Isso porque só se está pleiteando a demarcação de parte da propriedade do autor, que teria sido objeto de esbulho possessório pelo réu indicado na petição inicial. O confinante que foi regularmente citado não tem legitimidade para arguir a nulidade por ausência de participação dos proprietários das áreas contíguas. Para ele não há nenhum prejuízo no fato de os demais vizinhos não estarem participando da lide, já que estes não têm qualquer relação com a discussão entre o

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autor e o réu. A participação dos demais confinantes como réus não traria qualquer benefício ou utilidade para o processo. Assim, nas demarcatórias parciais, há o litisconsórcio passivo necessário apenas entre os vizinhos lindeiros da área específica cuja demarcação é pretendida. Quanto aos demais vizinhos, trata-se, no máximo, de litisconsórcio passivo facultativo.

DIREITO PENAL

CONFISSÃO Emprego da confissão qualificada como atenuante

A confissão, mesmo que qualificada, dá ensejo à incidência da atenuante prevista no art. 65, III, d, do CP, quando utilizada para corroborar o acervo probatório e fundamentar a condenação.

STJ. 3ª Seção. EREsp 1.416.247-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 22/6/2016 (Info 586).

Importante recordar o entendimento sumulado do STJ sobre o tema:

Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal.

CONFISSÃO ESPONTÂNEA: ATENUANTE

A confissão espontânea é atenuante genérica prevista no art. 65, III, “d”, do CP:

Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III — ter o agente: d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;

Como se trata de atenuante, a confissão serve para diminuir a pena do condenado, o que é feito na 2ª fase da dosimetria da pena. CONFISSÃO PARCIAL

A confissão parcial ocorre quando o réu confessa apenas parcialmente os fatos narrados na denúncia. Ex.: o réu foi denunciado por furto qualificado pelo rompimento de obstáculo (art. 155, § 4º, I, do CP). Ele confessa a subtração do bem, mas nega que tenha arrombado a casa. Se a confissão foi parcial e o juiz a considerou no momento da condenação, este magistrado deverá fazer incidir a atenuante na fase da dosimetria da pena? SIM. Se a confissão, ainda que parcial, serviu de suporte para a condenação, ela deverá ser utilizada como atenuante (art. 65, III, “d”, do CP) no momento de dosimetria da pena. STJ. 6ª Turma. HC 217.683/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 25/06/2013. STJ. 5ª Turma. HC 328.021-SC, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do TJ-PE), julgado em 3/9/2015 (Info 569). CONFISSÃO QUALIFICADA

A confissão qualificada ocorre quando o réu admite a prática do fato, no entanto, alega em sua defesa um motivo que excluiria o crime ou o isentaria de pena. Ex: eu matei sim, mas foi em legítima defesa. Obs: por serem muito próximos os conceitos, alguns autores apresentam a confissão parcial e a qualificada como sinônimas.

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Se a confissão foi qualificada e o juiz a considerou no momento da condenação, este magistrado deverá fazer incidir a atenuante na fase da dosimetria da pena? A confissão qualificada (aquela na qual o agente agrega teses defensivas discriminantes ou exculpantes), quando efetivamente utilizada como elemento de convicção, enseja a aplicação da atenuante prevista na alínea “d” do inciso III do art. 65 do CP (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.198.354-ES, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 16/10/2014). Obs: o STF possui precedentes em sentido contrário. Veja:

(...) A confissão qualificada não é suficiente para justificar a atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal (...) STF. 1ª Turma. HC 119671, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 05/11/2013.

Como o último julgado do STF sobre o tema é relativamente antigo (2013), em provas, é mais provável que seja cobrado o entendimento do STJ. CONFISSÃO RETRATADA

A chamada confissão retratada ocorre quando o agente confessa a prática do delito e, posteriormente, se retrata, negando a autoria. Ex: durante o inquérito policial, João confessa o crime, mas em juízo volta atrás e se retrata, negando a imputação e dizendo que foi torturado pelos policiais. O agente confessa na fase do inquérito policial e, em juízo, se retrata, negando a autoria. O juiz condena o réu fundamentando sua sentença, dentre outros argumentos e provas, na confissão extrajudicial. Deverá incidir a atenuante? SIM. Se a confissão do agente é utilizada pelo magistrado como fundamento para embasar a condenação, a atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea “d”, do CP deve ser aplicada em favor do réu, não importando que, em juízo, este tenha se retratado (voltado atrás) e negado o crime (STJ. 5ª Turma. HC 176.405/RO, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/04/2013). Em suma, na sentença, o juiz poderá utilizar a confissão parcial, a confissão qualificada ou a confissão com retratação posterior para, em conjunto com outras provas, condenar o réu? SIM. Neste caso, o juiz deverá aplicar a atenuante do art. 65, III, “d”, do CP? SIM.

(...) A orientação desta Corte é pela irrelevância de ser a confissão parcial ou total, condicionada ou irrestrita, com ou sem retratação posterior, devendo incidir a atenuante do art. 65, III, "d", do Código Penal, desde que utilizada como fundamento para a condenação. (...) STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1450875/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 04/08/2015.

Obs: o STF possui julgado em sentido contrário:

(...) 1. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: a retratação em juízo da anterior confissão policial obsta a invocação e a aplicação obrigatória da circunstância atenuante referida no art. 65, inc. III, alínea ‘d’, do Código Penal. Não é de se aplicar a atenuante da confissão espontânea para efeito de redução da pena se o réu, denunciado por tráfico de droga, confessa que a portava apenas para uso próprio. (...) STF. 2ª Turma. HC 118375, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 08/04/2014.

Como o último julgado do STF sobre o tema é relativamente antigo (2014), em provas, é mais provável que

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seja cobrado o entendimento do STJ. SÚMULA 545-STJ

O STJ resumiu seus entendimentos sobre a confissão em um enunciado que diz o seguinte: Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 14/10/2015, DJe 19/10/2015. Desse modo, a Súmula 545 do STJ vale tanto para casos de confissão parcial, de confissão qualificada e confissão com retratação posterior. Em suma, se o juiz utilizou a confissão como fundamento (elemento de argumentação) para embasar a condenação, ele, obrigatoriamente, deverá aplicar a atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea “d”, do CP. Ora, a confissão é um fato processual que gera um ônus e um bônus para o réu. O ônus está no fato de que isso será utilizado contra ele como elemento de prova no momento da sentença. O bônus foi concedido pela lei e consiste na atenuação de sua pena. Não seria justo que o magistrado utilizasse a confissão apenas para condenar o réu, sem lhe conferir o bônus, qual seja, o reconhecimento da confissão. Obs: em provas de concurso, penso que irão cobrar, durante um bom tempo, a mera redação da Súmula 545 do STJ. Algo como: “segundo o entendimento sumulado do STJ...”.

DESOBEDIÊNCIA Não configuração do crime de desobediência na hipótese de não atendimento por Defensor

Público-Geral de requisição judicial de nomeação de defensor

Importante!!!

Não configura o crime de desobediência (art. 330 do CP) a conduta de Defensor Público Geral que deixa de atender à requisição judicial de nomeação de defensor público para atuar em determinada ação penal.

STJ. 6ª Turma. HC 310.901-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 16/6/2016 (Info 586).

Imagine a seguinte situação hipotética: O advogado do réu renunciou ao patrocínio da causa. O acusado foi intimado para constituir novo advogado, mas quedou-se inerte. Diante disso, o juiz do feito oficiou ao Defensor Público-Geral requerendo a indicação de um Defensor Público para atuar no processo. O Defensor Público-Geral respondeu ao juízo comunicando que o órgão não efetuaria a designação de Defensor Público para atuar no referido processo, considerando que aquela comarca não estava abrangida pelos serviços atualmente prestados pelos Defensores Públicos que, em razão do número reduzido de membros não têm condições de atuar em todos os Municípios do Estado. Diante da resposta, o magistrado requisitou a instauração de inquérito policial contra o Defensor Público-Geral para apurar a eventual prática do crime de desobediência:

Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

A questão chegou até o STJ? A conduta do Defensor Público-Geral, no caso concreto, configura o crime de desobediência?

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NÃO. Não configura o crime de desobediência (art. 330 do CP) a conduta de Defensor Público Geral que deixa de atender à requisição judicial de nomeação de defensor público para atuar em determinada ação penal. STJ. 6ª Turma. HC 310.901-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 16/6/2016 (Info 586). A Constituição Federal assegura às Defensorias Públicas autonomia funcional e administrativa (art. 134, § 2º). A autonomia administrativa e a independência funcional asseguradas constitucionalmente às Defensorias Públicas não permitem que o Poder Judiciário interfira nas escolhas e nos critérios de atuação dos Defensores Públicos que foram definidos pelo Defensor Público-Geral. O destinatário da ordem não tinha obrigação jurídica de cumpri-la. A Defensoria Pública é instituição dotada de autonomia funcional e administrativa, de modo que um magistrado não tem o poder de entrar na discricionariedade do chefe de uma instituição e dizer onde esse deve ou não alocar os Defensores Públicos da instituição a qual chefia. Logo, como a ordem dada foi ilegal e inconstitucional, não é apta a tipificar o crime de desobediência.

LEI DE DROGAS Tráfico cometido nas dependências de estabelecimento prisional e bis in idem

A circunstância de o crime ter sido cometido nas dependências de estabelecimento prisional não pode ser utilizada como fator negativo para fundamentar uma pequena redução da pena na aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 e, ao mesmo tempo, ser empregada para aumentar a pena como majorante do inciso III do art. 40. Utilizar duas vezes essa circunstância configura indevido bis in idem.

Desse modo, neste caso, esta circunstância deverá ser utilizada apenas como causa de aumento do art. 40, III, não sendo valorada negativamente na análise do § 4º do art. 33.

STJ. 5ª Turma. HC 313.677-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/6/2016 (Info 586).

Imagine a seguinte situação hipotética: Maria foi visitar seu marido, que cumpre pena em um presídio, e, na oportunidade, levou uma pequena quantidade de droga para entregar a ele. A conduta de Maria foi descoberta, tendo ela sido julgada e condenada por tráfico de drogas privilegiado (art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006). O § 4º do art. 33 permite que o magistrado reduza a pena em um percentual que varia de 1/6 até 2/3. O juiz afirmou, na sentença, que iria reduzir no menor percentual (1/6), considerando que Maria praticou o crime nas dependências de um presídio, situação que era extremamente grave. Ocorre que o magistrado também utilizou esta mesma circunstância (o fato de o crime ter sido cometido dentro do presídio) para aplicar uma causa de aumento prevista no art. 40, III, da Lei de Drogas. Veja:

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;

Agiu corretamente o magistrado? NÃO. Ao utilizar a mesma circunstância duas vezes no momento de aplicação da pena, o magistrado puniu

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a ré duas vezes pelo mesmo fato, o que configura o chamado bis in idem. Veja o que decidiu o STJ: A circunstância de o crime ter sido cometido nas dependências de estabelecimento prisional não pode ser utilizada como fator negativo para fundamentar uma pequena redução da pena na aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 e, ao mesmo tempo, ser empregada para aumentar a pena como majorante do inciso III do art. 40. Utilizar duas vezes essa circunstância configura indevido bis in idem. Desse modo, neste caso, esta circunstância deverá ser utilizada apenas como causa de aumento do art. 40, III, não sendo valorada negativamente na análise do § 4º do art. 33. STJ. 5ª Turma. HC 313.677-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/6/2016 (Info 586).

LEI DE DROGAS Só poderá incidir a interestadualidade se ficar demonstrado que a intenção do agente era

pulverizar a droga em mais de um Estado-membro

Se o agente importa a droga com objetivo de vendê-la em determinado Estado da Federação, mas, para chegar até o seu destino, ele tem que passar por outros Estados, incidirá, neste caso, apenas a causa de aumento da transnacionalidade (art. 40, I), não devendo ser aplicada a majorante da interestadualidade (art. 40, V) se a intenção do agente não era a de comercializar o entorpecente em mais de um Estado da Federação.

As causas especiais de aumento da pena relativas à transnacionalidade e à interestadualidade do delito, previstas, respectivamente, nos incisos I e V do art. 40 da Lei de Drogas, até podem ser aplicadas simultaneamente, desde que demonstrada que a intenção do acusado que importou a substância era a de pulverizar a droga em mais de um Estado do território nacional. Se isso não ficar provado, incide apenas a transnacionalidade.

Assim, é inadmissível a aplicação simultânea das causas de aumento da transnacionalidade (art. 40, I) e da interestadualidade (art. 40, V) quando não ficar comprovada a intenção do importador da droga de difundi-la em mais de um Estado-membro. O fato de o agente, por motivos de ordem geográfica, ter que passar por mais de um Estado para chegar ao seu destino final não é suficiente para caracterizar a interestadualidade.

STJ. 6ª Turma. HC 214.942-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/6/2016 (Info 586).

Imagine a seguinte situação hipotética: Pablo comprou cocaína na Bolívia e a trouxe para o Brasil, entrando em nosso país por meio do Município de Corumbá, em Mato Grosso do Sul. De Corumbá , Pablo pegou um ônibus com destino a Brasília, onde iria comercializar a droga. O ônibus passou pelo Estado de Goiás e, quando chegou no Distrito Federal, Pablo foi preso em uma fiscalização de rotina da Polícia Rodoviária Federal. Pablo confessou a prática do crime relatando que adquiriu o entorpecente na Bolívia e que pretendia vendê-lo para um cliente em Brasília. De quem é a competência para julgar este delito? Justiça Federal, considerando que ficou provado o caráter transnacional do delito, nos termos do art. 109, V, da CF/88 e art. 70 da Lei nº 11.343/2006:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

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Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal.

Voltando ao exemplo Pablo foi denunciado e condenado pela prática de tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006) com as causas de aumento da transnacionalidade (art. 40, I) e da interestadualidade (art. 40, V):

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito; (...) V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;

A defesa recorreu alegando que não restou provada a interestadualidade prevista no art. 40, V. O STJ concordou com a tese da defesa? SIM. O magistrado fez incidir a causa de aumento do art. 40, V, sob o argumento de que a droga atravessou mais de um Estado da Federação, considerando que entrou no Brasil no Estado do Mato Grosso do Sul, passou pelo Estado de Goiás e chegou até o Distrito Federal. Ocorre que não existe nenhum indício de que a intenção do agente fosse difundir o entorpecente em mais de um Estado da Federação. A droga, adquirida na Bolívia, atravessou a fronteira com o MS e perpassou outro Estado rumo ao DF (destino final), por imperativos de ordem geográfica e pela própria lógica da importação, de modo que, sem a existência de elementos concretos acerca da intenção do paciente de pulverizar a droga em outros Estados do território nacional, não há como condenar o réu pela majorante do inciso V do art. 40 da Lei nº 11.343/2006 em concomitância com a causa especial de aumento relativa à transnacionalidade do delito, sob pena de bis in idem. Veja precedente do STJ neste mesmo sentido:

Embora possível a cumulação das causas de aumento referente a internacionalidade e interestadualidade do tráfico ilícito de entorpecentes, esta última poderá incidir somente quando houver, pelo menos, a comprovação do interesse em difusão da droga em mais de um Estado da Federação. Assim, não se revela admissível sua incidência em hipóteses de mero transporte terrestre da mercadoria proveniente do exterior com destino final certo em localidade estranha ao Estado fronteiriço pelo qual ingressou. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1273754/MS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 23/10/2014.

Resumindo: As causas especiais de aumento da pena relativas à transnacionalidade e à interestadualidade do delito, previstas, respectivamente, nos incisos I e V do art. 40 da Lei de Drogas, até podem ser aplicadas simultaneamente, desde que demonstrada que a intenção do acusado que importou a substância era a de pulverizar a droga em mais de um Estado do território nacional. Se isso não ficar provado, incide apenas a transnacionalidade. Assim, é inadmissível a aplicação simultânea das causas de aumento da transnacionalidade (art. 40, I) e da interestadualidade (art. 40, V) quando não ficar comprovada a intenção do importador da droga de difundi-la em mais de um Estado-membro. O fato de o agente, por motivos de ordem geográfica, ter que passar por mais de um Estado para chegar ao seu destino final não é suficiente para caracterizar a interestadualidade. STJ. 6ª Turma. HC 214.942-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/6/2016 (Info 586).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

AÇÃO PENAL PRIVADA Honorários advocatícios sucumbenciais em ação penal privada

extinta sem julgamento de mérito

É possível condenar o querelante em honorários advocatícios sucumbenciais na hipótese de rejeição de queixa-crime por ausência de justa causa.

STJ. 3ª Seção. EREsp 1.218.726-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586).

Ação penal privada No processo penal, a ação penal é classificada segundo a legitimação ativa, ou seja, de acordo com a pessoa que pode propô-la. Assim, nós temos:

AÇÃO PENAL PÚBLICA AÇÃO PENAL PRIVADA

Divide-se em: a) ação penal pública incondicionada; b) ação penal pública condicionada; c) ação penal pública subsidiária da pública.

Divide-se em: a) ação penal privada personalíssima; b) ação penal privada propriamente dita; c) ação penal privada subsidiária da pública.

A peça acusatória é a denúncia. A peça acusatória é a queixa-crime.

Queixa-crime é... a petição inicial da ação penal privada, ajuizada pelo querelante (ofendido ou seus sucessores* do art. 31, CPP), devendo ser subscrita por advogado dotado de procuração com poderes especiais, por meio da qual se pede, ao juízo competente, a instauração de processo penal e a condenação do suposto autor do delito (querelado) a uma sanção penal.

* no caso da ação penal privada personalíssima, somente o ofendido pode ajuizar a ação penal e, se ele morrer, os seus sucessores não poderão dar continuidade à ação, ocorrendo a extinção da punibilidade. Queixa-crime e honorários advocatícios João, no exercício de suas funções, fez diversas críticas à conduta de Pedro em um relatório que emitiu. Pedro contratou um advogado e ajuizou queixa-crime (ação penal privada) contra João alegando que ele praticou os delitos de calúnia (art. 138 do CP), difamação (art. 139) e injúria (art. 140). O juiz rejeitou a queixa-crime sob a o argumento de que faltava justa causa para a ação penal proposta:

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

Pedro (querelado) opôs embargos de declaração pedindo que o juiz condenasse João (querelante) ao pagamento de honorários advocatícios de sucumbência. João apresentou contrarrazões aos embargos alegando que não seriam devidos honorários, advocatícios já que o CPP não os prevê e, além disso, não chegou a haver sentença de mérito, tendo ocorrido a rejeição da própria queixa-crime com base na ausência de justa causa.

Cabem honorários ou não? É possível a fixação de honorários advocatícios em caso de rejeição de queixa-crime por ausência de justa causa? SIM.

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É possível condenar o querelante em honorários advocatícios sucumbenciais na hipótese de rejeição de queixa-crime por ausência de justa causa. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.218.726-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586).

Aplicação supletiva do CPC O STJ possui jurisprudência pacífica no sentido de que cabe condenação em honorários advocatícios em caso de ação penal privada com base no princípio geral de sucumbência e aplicação supletiva do CPC.

Não importa que não tenha havido sentença de mérito O regime de fixação de honorários advocatícios em sede de ação penal privada deve seguir a mesma lógica do processo civil. Assim, mesmo que a queixa-crime tenha sido rejeitada, são cabíveis os honorários. Isso porque no processo civil, ainda que o processo seja extinto sem resolução do mérito, haverá condenação em honorários advocatícios da parte que deu causa à instauração do processo ante o princípio da causalidade.

COMPETÊNCIA Crime praticado por militar da ativa e conduta prevista apenas na Lei de Licitações

Importante!!!

Compete à Justiça Comum Federal - e não à Justiça Militar - processar e julgar a suposta prática, por militar da ativa, de crime previsto apenas na Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações), ainda que praticado contra a administração militar.

STJ. 3ª Seção. CC 146.388-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586).

Vide comentários em Direito Penal e Processual Penal Militar.

REMIÇÃO Remição de pena por trabalho em domingos e feriados

Se o preso, ainda que sem autorização do juízo ou da direção do estabelecimento prisional, efetivamente trabalhar nos domingos e feriados, esses dias deverão ser considerados no cálculo da remição da pena.

STJ. 5ª Turma. HC 346.948-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/6/2016 (Info 586).

O art. 126 da Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/84) estabelece:

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.

O art. 126 da LEP trata, portanto, da remição (ato de remir). O que é a remição? Remição é...

o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente

de reduzir o tempo de cumprimento da pena

mediante o abatimento

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Informativo 586-STJ (01 a 31/07/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23

de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou

de 1 dia de pena a cada 3 dias de trabalho. É uma forma de estimular e premiar o condenado para que ocupe seu tempo com uma atividade produtiva (trabalho ou estudo), servindo, ainda, como forma de ressocialização e de preparação do apenado para que, quando termine de cumprir sua pena, possa ter menos dificuldades de ingressar no mercado de trabalho. O tempo remido será considerado como pena cumprida, para todos os efeitos (art. 128). Obs: a remição de que trata a LEP é com “ç” (remição). Remissão (com “ss”) significa outra coisa, qual seja, perdão, renúncia etc., sendo muito utilizada no direito civil (direito das obrigações) para indicar o perdão do débito.

Remição pelo TRABALHO Remição pelo ESTUDO

A cada 3 dias de trabalho, diminui 1 dia de pena.

Obs.: somente poderão ser considerados, para fins de remição, os dias em que o condenado cumprir a

jornada normal de trabalho, que não pode ser inferior a 6h nem superior a 8h (art. 33).

A cada 12 horas de estudo, diminui 1 dia de pena.

Obs.: as 12 horas de estudo deverão ser divididas

em, no mínimo, 3 dias.

Somente é aplicada se o condenado cumpre pena em regime fechado ou semiaberto.

Obs.: não se aplica se o condenado estiver

cumprindo pena no regime aberto ou se estiver em livramento condicional.

Pode ser aplicada ao condenado que cumpra pena em regime fechado, semiaberto, aberto ou, ainda,

que esteja em livramento condicional.

Atenção: perceba a diferença em relação à remição pelo trabalho.

É possível a remição para condenados que cumprem pena em regime aberto? Remição pelo trabalho: NÃO. Remição pelo estudo: SIM. Outras regras importantes sobre a remição:

As atividades de estudo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino à distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos cursos frequentados (§ 2º do art. 126).

É possível que o condenado cumule a remição pelo trabalho e pelo estudo, desde que as horas diárias de trabalho e de estudo sejam compatíveis (§ 3º do art. 126).

O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos, continuará a beneficiar-se com a remição (§ 4º do art. 126).

O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) caso o condenado consiga concluir o ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena (§ 5º do art. 126).

A remição pode ser aplicada para a pessoa presa cautelarmente (§ 7º do art. 126). Assim, se o indivíduo está preso preventivamente e decide trabalhar, esse tempo será abatido de sua pena caso venha a ser condenado no futuro.

A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa (§ 8º do art. 126).

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Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: João cumpria pena em regime fechado. Foi autorizado que ele trabalhasse na cozinha do presídio, fazendo jus à remição. A autorização foi para que ele trabalhasse de segunda a sábado, em uma jornada de 6 horas diárias. Ocorre que, na prática, João trabalhava também aos domingos e feriados, considerando que não havia outro cozinheiro disponível. Depois de alguns meses, João pediu a remição dos dias trabalhados. O juiz das execuções penais deferiu, em parte, o pedido, uma vez que não aceitou fazer a remição dos dias trabalhados aos domingos e feriados, sob o argumento de que não havia autorização para o labor neste período. O apenado, por meio da Defensoria Pública, recorreu contra esta decisão. O que decidiu o STJ? O condenado possui direito à remição pelos dias trabalhados aos domingos e feriados mesmo sem autorização? SIM. Se o preso, ainda que sem autorização do juízo ou da direção do estabelecimento prisional, efetivamente trabalhar nos domingos e feriados, esses dias deverão ser considerados no cálculo da remição da pena. STJ. 5ª Turma. HC 346.948-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/6/2016 (Info 586).

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR

COMPETÊNCIA Crime previsto apenas na Lei de Licitações

Importante!!!

Compete à Justiça Comum Federal - e não à Justiça Militar - processar e julgar a suposta prática, por militar da ativa, de crime previsto apenas na Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações), ainda que praticado contra a administração militar.

STJ. 3ª Seção. CC 146.388-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586).

Imagine a seguinte situação hipotética: João, sargento do Exército, contratou, sem licitação, empresa ligada à sua mulher para prestar manutenção na ambulância utilizada no Hospital militar. Qual foi o crime praticado, em tese, por João? O delito do art. 89 da Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações):

Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.

De quem é a competência para julgar esta conduta? Justiça FEDERAL comum (não se trata de competência da Justiça Militar).

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Compete à Justiça Comum Federal - e não à Justiça Militar - processar e julgar a suposta prática, por militar da ativa, de crime previsto apenas na Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações), ainda que praticado contra a administração militar. STJ. 3ª Seção. CC 146.388-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586). Competências da Justiça Militar Compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes militares, assim definidos em lei (art. 124 da CF/88). A lei que prevê os crimes militares é o Código Penal Militar (Decreto-Lei 1.001/1969).

No art. 9º do CPM são conceituados os crimes militares, em tempo de paz.

No art. 10 do CPM são definidos os crimes militares em tempo de guerra. Assim, para verificar se o fato pode ser considerado crime militar, sendo, portanto, de competência da Justiça Militar, é preciso que ele se amolde em uma das hipóteses previstas nos arts. 9º e 10 do CPM. Crimes militares em tempo de paz (art. 9º) Não estamos (felizmente) em "tempo de guerra". Portanto, a conduta de João não poderia ser enquadrada no art. 10. Vejamos agora se ela poderia se amoldar ao art. 9º:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

I - os crimes de que trata êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;

II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar;

III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior.

Resumindo as hipóteses do art. 9º:

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Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

Inciso I Inciso II Inciso III

Para se enquadrar no inciso I: 1) a conduta deve ser prevista como crime no CPM; e 2) não seja punida como crime na legislação penal comum ou, se for, que a redação dada ao delito na legislação penal comum seja diversa daquele conferida no CPM. Ex: deserção (art. 187 do CPM) é punida apenas no CPM. Ex2: uniforme privativo (art. 172) é punido com redação diversa na legislação penal comum.

Para se enquadrar no inciso II: 1) a conduta deve ser prevista como crime no CPM; e 2) deve ter sido praticada por um MILITAR em alguma das situações descritas nas letras "a" a "e" do inciso II.

Para se enquadrar no inciso III: 1) a conduta deve ser prevista como crime no CPM; 2) deve ter sido praticada em alguma das situações descritas nas letras "a" a "d" do inciso III; 3) a conduta praticada deve ter ofendido diretamente bens jurídicos tipicamente associados à função castrense, tais como a defesa da Pátria e a garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem (este terceiro requisito é construído pelo STF).

O tipo de crime militar descrito no inciso I pode ser praticado: a) por militar ou b) por civil.

O tipo de crime militar descrito no inciso II somente pode ser praticado por militar. Por isso, é chamado de crime militar próprio puro (autenticamente militar).

O tipo de crime militar descrito no inciso III pode ser praticado por militar da reserva, reformado ou por civil.

Voltando ao exemplo dado: João, militar da ativa, praticou uma conduta que não é prevista como crime no CPM A conduta de dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, prevista no art. 89 da Lei n.º 8.666/93, não encontra figura correlata no Código Penal Militar. Assim, apesar de o crime ter sido praticado por militar (sargento do Exército), o caso não se enquadra em nenhuma das hipóteses previstas no art. 9º do CPM. A competência da Justiça Militar não é firmada pela condição pessoal do infrator, mas decorre da natureza militar da infração. Logo, não se verificando crime militar por ausência de enquadramento nas hipóteses do art. 9º do CPM, não há que se falar em competência da Justiça Militar. Não é possível enquadrar o caso no art. 9º, II, "e", do CPM? Não. O crime licitatório não está previsto no Código Penal Militar, e, embora supostamente praticado por militar da ativa contra a administração militar, não encontra respaldo para se atribuir a competência para a Justiça Castrense, uma vez que o art. 9º, inciso II, alínea "e", exige que o crime esteja expressamente previsto no Código Penal Militar. Também não se poderia aplicar o disposto no inciso III do art. 9º considerando que, no exemplo dado, o agente não é militar da reserva, reformado nem civil. E por que a competência é da Justiça Federal comum? Porque o crime foi cometido contra bem e serviço do Exército, que é um órgão da União. Logo, amolda-se na hipótese prevista no art. 109, IV, da CF/88:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: IV — os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

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DIREITO TRIBUTÁRIO

PIS/COFINS Não creditamento de PIS/PASEP e COFINS em caso de ICMS-ST

(Julgado que só interessa para quem estuda Direito Tributário de forma muito profunda)

O contribuinte não tem direito a creditamento, no âmbito do regime não cumulativo das contribuições ao PIS/PASEP e da COFINS, dos valores que, na condição de substituído tributário, paga ao substituto a título de reembolso pelo recolhimento do ICMS-ST.

Quando ocorre a retenção e recolhimento do ICMS pela empresa a título de substituição tributária (ICMS-ST), a empresa substituta não é a contribuinte. O contribuinte é o próximo na cadeia (o substituído). Nessa situação, a própria legislação tributária prevê que tais valores são meros ingressos na contabilidade da empresa substituta, que se torna apenas depositária de tributo (responsável tributário por substituição ou agente arrecadador) que será entregue ao Fisco estadual. Logo, não ocorre a incidência das contribuições ao PIS/PASEP, COFINS, já que não há receita da empresa substituta.

Desse modo, não sendo receita bruta, o ICMS-ST não está na base de cálculo das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS não cumulativas devidas pelo substituto.

Sendo assim, o valor do ICMS-ST não pode compor o conceito de valor de bens e serviços adquiridos para efeito de creditamento das referidas contribuições para o substituído, exigido pelos arts. 3, §1º, das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, já que o princípio da não cumulatividade pressupõe o pagamento do tributo na etapa econômica anterior, ou seja, pressupõe a cumulatividade (ou a incidência em "cascata") das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.456.648-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/6/2016 (Info 586).

Imagine a seguinte situação hipotética: A legislação autoriza que, ao pagar o PIS e a COFINS, a pessoa jurídica possa “descontar” alguns créditos que ela vai adquirindo nas hipóteses previstas no art. 3º da Lei nº 10.637/2002 e art. 3º da Lei nº 10.833/2003. Veja: Lei nº 10.637/2002 (PIS/PASEP)

Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º (valor da contribuição para o PIS/PASEP) a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: I - bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos referidos: a) no inciso III do § 3º do art. 1º desta Lei; e b) nos §§ 1º e 1º-A do art. 2º desta Lei; II - bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2º da Lei nº 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da TIPI; (...)

Lei nº 10.833/2003 (COFINS)

Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º (valor da COFINS) a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: I - bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos referidos: a) no inciso III do § 3º do art. 1º desta Lei; e b) nos §§ 1º e 1º-A do art. 2º desta Lei;

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II - bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2º da Lei nº 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da Tipi; (...)

Desse modo, a legislação autoriza que a pessoa jurídica abata do valor que irá pagar de PIS e COFINS algumas despesas que ela realizou com determinadas atividades consideradas essenciais para a sua atividade empresarial. Isso é chamado de “direito de creditamento de PIS e COFINS”. Substituição tributária progressiva A substituição tributária progressiva, também chamada de substituição tributária “para frente” ou subsequente, é uma técnica de arrecadação de alguns impostos, em especial o ICMS. Na substituição tributária progressiva, a lei prevê que o tributo deverá ser recolhido antes mesmo que ocorra o fato gerador. Desse modo, primeiro há um recolhimento do imposto e o fato gerador se dará em um momento posterior. Diz-se, então, que o fato gerador é presumido porque haverá o pagamento do tributo sem ter certeza que ele irá acontecer. Contribuinte substituto é aquele que faz a retenção do imposto na fonte (retenção do ICMS, por ex.) relativo às saídas subsequentes com a mercadoria sujeita ao regime de substituição tributária e o recolhe aos cofres públicos. Contribuinte substituído é o que recebe a mercadoria com o ICMS retido na fonte pelo contribuinte substituto. Ex: uma indústria, ao vender seus produtos para um supermercado, já faz a retenção do ICMS que o supermercado iria pagar quando vendesse as mercadorias para o consumidor final. A indústria desempenha o papel de contribuinte substituto e o supermercado de contribuinte substituído. Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação: A pessoa jurídica “XXX” irá pagar o PIS e a COFINS. No entanto, antes de fazer isso, ela afirmou que possui direito de abater os valores que foram recolhidos a título de ICMS pela indústria (contribuinte substituto) quando esta lhe vendeu determinados produtos, sendo que nesta operação a pessoa jurídica “XXX” figurou como contribuinte substituído. A pessoa jurídica argumentou que, apesar de tais valores serem pagos (recolhidos) pelo contribuinte substituto (ex: indústria), na prática, eles são repassados para ela (contribuinte substituído). Desse modo, esse ICMS recolhido pelo substituto acaba sendo mais um custo no momento em que o substituído adquire as mercadorias. A tese da pessoa jurídica “XXX” foi aceita pelo STJ? Ela terá direito a este creditamento? O contribuinte substituído do ICMS tem direito de creditamento de PIS e COFINS, na forma do art. 3º das Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003, sobre os valores recolhidos pelo contribuinte substituto no regime de substituição tributária "para frente"? NÃO. O contribuinte não tem direito a creditamento, no âmbito do regime não cumulativo das contribuições ao PIS/PASEP e da COFINS, dos valores que, na condição de substituído tributário, paga ao substituto a título de reembolso pelo recolhimento do ICMS-ST. STJ. 2ª Turma. REsp 1.456.648-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/6/2016 (Info 586). Quando ocorre a retenção e recolhimento do ICMS pela empresa a título de substituição tributária (ICMS-ST), a empresa substituta não é a contribuinte. O contribuinte é o próximo na cadeia, o substituído. Nessa situação, a própria legislação tributária prevê que tais valores são meros ingressos na contabilidade da

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empresa substituta, que se torna apenas depositária de tributo (responsável tributário por substituição ou agente arrecadador) que será entregue ao Fisco. Então, não ocorre a incidência das contribuições ao PIS/PASEP, COFINS, já que não há receita da empresa prestadora substituta. É o que estabelece o art. 279 do RIR/99 e o art. 3º, §2º, da Lei nº 9.718/98, que trata das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS cumulativas. Desse modo, não sendo receita bruta, o ICMS-ST não está na base de cálculo das contribuições ao PIS/PASEP e COFINS não cumulativas devidas pelo substituto e definida nos arts. 1º e §2º, da Lei nº 10.637/2002 e 10.833/2003. Sendo assim, o valor do ICMS-ST não pode compor o conceito de valor de bens e serviços adquiridos para efeito de creditamento das referidas contribuições para o substituído, exigido pelos arts. 3º, §1º, das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003. O ICMS cobrado pelo vendedor das mercadorias, na condição de substituto tributário, é excluído da sua receita bruta para efeito de determinação da base de cálculo das contribuições em comento. Embora componha o preço de aquisição para o adquirente, o ICMS – Substituição Tributária não sofreu incidência da contribuição para PIS e da COFINS na venda (por parte do fornecedor) e, portanto, não pode compor a base de cálculo dos créditos de tais contribuições na aquisição (pela empresa adquirente). Apenas o ICMS pago pelo adquirente das mercadorias destinadas à revenda dá direito aos créditos da contribuição para o PIS e da COFINS. Já o ICMS – Substituição Tributária não gera tais créditos. Ainda que o valor devido a título de reembolso pelo ICMS-substituição (ICMS-ST) tenha de ser pago pelo contribuinte substituído ao contribuinte substituto no momento em que aquele adquire desse a mercadoria, certo é que não se trata de custo sobre a aquisição da mercadoria. Isso porque o fato gerador do ICMS recolhido em regime de substituição tributária 'para frente', conforme já referido, é aquele a ser praticado pelo contribuinte substituído, ou seja, a revenda da mercadoria ao consumidor final. Desse modo, os valores despendidos pelo contribuinte substituído, a título de reembolso ao contribuinte substituto pelo recolhimento do ICMS- substituição (ICMS-ST), não representam custo de aquisição, mas sim encargo incidente na revenda da mercadoria ao consumidor final. Em suma: se o ICMS está na base de cálculo das contribuições ao PIS e COFINS devidas pelo substituto, o valor correspondente a essas contribuições é pago nas diversas etapas da cadeia econômica e gera o creditamento das contribuições respectivas do substituído, pois o ICMS integra o valor dos produtos adquiridos pelo substituído; mas o ICMS-ST está fora da base de cálculo das contribuições ao PIS e COFINS do substituto, portanto, não é pago nas diversas etapas da cadeia econômica, sendo, então, incapaz de gerar o creditamento das contribuições respectivas para o substituído.

DIREITO INTERNACIONAL

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HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA Homologação de sentença estrangeira e confisco de imóvel situado no Brasil

É possível a homologação de sentença penal estrangeira que determine o perdimento de imóvel situado no Brasil em razão de o bem ser produto do crime de lavagem de dinheiro.

Ex: cidadão finlandês foi condenado em seu país pela prática de lavagem de dinheiro. Na sentença, determinou-se o perdimento de imóvel situado no Brasil. Esta sentença estrangeira pode ser homologada pelo STJ.

Não há ofensa ao art. 23, I, do CPC/2015, pois a sentença estrangeira não tratou especificamente sobre a situação dos bens imóveis, sobre a sua titularidade, mas sim sobre os efeitos civis de uma condenação penal, determinando o perdimento de bens que foram objeto de crime de lavagem de capitais.

STJ. Corte Especial. SEC 10.612-FI, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 18/5/2016 (Info 586).

NOÇÕES GERAIS

A decisão proferida pelo Poder Judiciário de um país produz efeitos em outro Estado soberano? A princípio não, porque uma das manifestações da soberania é o fato de o Poder Judiciário do próprio país ser o responsável pela resolução dos seus conflitos de interesses. Assim, a princípio, uma decisão proferida pela Justiça dos EUA ou de Portugal, por exemplo, não tem força obrigatória no Brasil, considerando que, por sermos um país soberano, a função de dizer o direito é atribuída ao Poder Judiciário brasileiro. Pode ser necessário, no entanto, que uma decisão no exterior tenha que ter eficácia no Brasil. Como proceder para que isso ocorra? Em regra, para que uma decisão proferida pelo Poder Judiciário de outro país possa ser executada no Brasil, é necessário que passe por um processo de “reconhecimento” ou “ratificação” feito pela Justiça brasileira. A isso chamamos de homologação de sentença estrangeira. Veja o que diz o CPC 2015 sobre o tema:

Art. 961. A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a homologação de sentença estrangeira ou a concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo disposição em sentido contrário de lei ou tratado.

Assim, a lei ou tratado internacional poderá facilitar ou dispensar a homologação de sentença estrangeira ou a concessão do exequatur. Ex: a sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo STJ (§ 5º do art. 961 do CPC 2015). Segundo a doutrina: “O processo de homologação de sentença estrangeira visa aferir a possibilidade de decisões estrangeiras produzirem efeitos dentro da ordem jurídica nacional” (MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil comentado artigo por artigo. São Paulo: RT, 2008, p. 489). “Uma vez homologada, a sentença poderá produzir os mesmos efeitos de uma sentença nacional” (PORTELA, Paulo. Direito internacional público e privado. Salvador: Juspodivm, 2010, p. 562). Como é feita a homologação de sentença estrangeira? Em regra, a homologação de decisão estrangeira será requerida pela parte interessada por meio de ação de homologação de decisão estrangeira. Exceção: o Brasil poderá firmar tratado internacional dispensando a propositura desta ação.

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CPC 2015. Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será requerida por ação de homologação de decisão estrangeira, salvo disposição especial em sentido contrário prevista em tratado.

No Brasil, quem é o órgão competente para análise e homologação de sentenças estrangeiras? O Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, “i”, da CF/88). Onde estão previstas as regras para a homologação de sentenças estrangeiras?

em tratados internacionais firmados pelo Brasil;

nos arts. 960 a 965 do CPC 2015; e

nos arts. 216-A a 216-X do Regimento Interno do STJ. Algumas observações sobre o tema:

Para que a decisão estrangeira seja homologada no Brasil, é preciso que ela seja definitiva (não pode estar pendente de recurso) (§ 1º do art. 961 do CPC 2015);

Uma decisão que no estrangeiro não é considerada judicial, ou seja, uma decisão que no estrangeiro não foi proferida pelo Poder Judiciário no exercício de sua função típica, pode, mesmo assim, ser homologada no Brasil se aqui, em nosso país, ela for considerada decisão judicial. É o que prevê o § 1º do art. 961 do CPC 2015: "É passível de homologação (...) a decisão não judicial que, pela lei brasileira, teria natureza jurisdicional.";

A decisão estrangeira poderá ser homologada parcialmente (§ 2º do art. 961);

A autoridade judiciária brasileira poderá deferir pedidos de urgência e realizar atos de execução provisória no processo de homologação de decisão estrangeira (§ 3º do art. 961).

Haverá homologação de decisão estrangeira para fins de execução fiscal quando prevista em tratado ou em promessa de reciprocidade apresentada à autoridade brasileira (§ 4º do art. 961).

A sentença estrangeira de divórcio consensual, para produzir efeitos no Brasil, precisa de homologação pelo STJ? NÃO. A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo STJ (§ 5º do art. 961 do CPC 2015). No caso de sentença estrangeira de divórcio consensual, o próprio juiz possui competência para examinar a validade da decisão, em caráter principal ou incidental, quando essa questão for suscitada em processo de sua competência (§ 6º do art. 961). Peculiaridades envolvendo decisão estrangeira concessiva de medida de urgência

É passível de execução a decisão estrangeira concessiva de medida de urgência (art. 962).

A execução no Brasil de decisão interlocutória estrangeira concessiva de medida de urgência é feita por meio de carta rogatória.

A medida de urgência concedida sem audiência do réu poderá ser executada, desde que garantido o contraditório em momento posterior.

O juízo sobre a urgência da medida compete exclusivamente à autoridade jurisdicional prolatora da decisão estrangeira. Em outras palavras, não cabe à autoridade jurisdicional brasileira reavaliar a presença ou não da urgência.

Vimos acima que, em alguns casos, pode ser dispensada a homologação para que a sentença estrangeira produza efeitos no Brasil. Nesta situação, a decisão concessiva de medida de urgência dependerá, para produzir efeitos, de ter sua validade expressamente reconhecida pelo juiz competente para dar-lhe cumprimento, dispensada a homologação pelo STJ.

Quais são os requisitos indispensáveis à homologação da decisão estrangeira?

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Segundo o art. 963 do CPC 2015, para que a decisão estrangeira seja homologada, é necessário que: I - tenha sido proferida no exterior por autoridade competente; II - as partes tenham sido citadas ou que tenha havido legalmente a revelia; III - seja eficaz no país em que foi proferida; IV - não ofenda a coisa julgada brasileira; V - esteja acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado; VI - não contenha manifesta ofensa à ordem pública. Além disso, para ser homologada, a sentença estrangeira deverá ter transitado em julgado no país de origem (art. 216-D do RISTJ e art. 961, § 1º do CPC 2015). Este sempre foi o entendimento consolidado da jurisprudência:

Súmula 420-STF: Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito em julgado.

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA E CONFISCO DE IMÓVEL SITUADO NO BRASIL

Imagine a seguinte situação hipotética: Markus é político na Finlândia e lá recebeu vantagem indevida ("propina") de um empresário. A fim de ocultar o recebimento da propina, o dinheiro foi utilizado para comprar um apartamento de luxo em Fortaleza (CE), onde Markus gosta de passar as férias com sua namorada brasileira. As autoridades descobriram o esquema e Markus respondeu a processo criminal na Finlândia, tendo sido condenado a 5 anos de prisão por lavagem de dinheiro, dentre outros crimes. Além disso, também foi condenado à perda dos bens adquiridos ilicitamente, dentre os quais o apartamento de luxo situado no Brasil. A sentença condenatória foi confirmada em definitivo pelo Supremo Tribunal da Finlândia. O que fazer agora? Como essa sentença condenatória estrangeira será cumprida no Brasil? A sentença estrangeira que determinou o perdimento dos bens terá que ser homologada para produzir efeitos no Brasil. Neste caso, quem irá pedir a homologação da sentença estrangeira no Brasil? O Ministério Público Federal brasileiro tem legitimidade neste caso. No âmbito penal, o Ministério Público Federal é o responsável pela propositura dos pedidos necessários à cooperação internacional em medidas processuais penais perante a Justiça Federal. Assim, o Procurador-Geral da República (ou um dos Subprocuradores) irá pedir ao STJ a homologação desta sentença estrangeira. Esta é uma importantíssima atribuição do MPF, que atua na cooperação jurídica internacional. Voltando ao nosso exemplo: o Procurador-Geral da República pediu ao STJ a homologação da sentença estrangeira. O interessado (Markus) foi citado para, no prazo de 15 dias, contestar o pedido de homologação. Apesar de devidamente citado, o requerido permaneceu inerte. O que o STJ faz nesta hipótese? Notifica a Defensoria Pública da União para que esta indique um Defensor Público Federal para atuar na qualidade de curador especial. Isso porque o interessado não pode ficar sem defesa técnica. Contestação O Defensor Público Federal apresentou contestação requerendo o indeferimento da homologação da sentença estrangeira sob o argumento de que o conteúdo da sentença ofende a soberania nacional. Segundo o Defensor, o CPC prevê que a competência para executar bens imóveis situados no nosso território é exclusiva do Poder Judiciário brasileiro. Assim, uma sentença estrangeira não poderia tratar sobre bens imóveis localizados no Brasil. Veja a redação do dispositivo invocado como argumento:

Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:

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I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;

A tese invocada pela defesa foi aceita pelo STJ? NÃO. É possível a homologação de sentença penal estrangeira que determine o perdimento de imóvel situado no Brasil em razão de o bem ser produto do crime de lavagem de dinheiro. STJ. Corte Especial. SEC 10.612-FI, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 18/5/2016 (Info 586). Situação não se enquadra no art. 23, I, do CPC/2015 Não há ofensa à soberania nacional, pois a sentença estrangeira não tratou especificamente sobre a situação dos bens imóveis, sobre a sua titularidade, mas sim sobre os efeitos civis de uma condenação penal, determinando o perdimento de bens que foram objeto de crime de lavagem de capitais. No caso concreto, não se cuida de ação relativa a imóvel. As ações relativas a imóveis situados no Brasil a que se refere o mencionado artigo são aquelas que alcançam os direitos reais e pessoais em relação a esses bens, no âmbito do direito civil (extrapenal). Previsão legal e convencional O confisco dos bens no caso de sentença penal condenatória é medida prevista na legislação interna brasileira (Código Penal) e também em tratados internacionais, como a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção de Palermo), promulgada pelo Decreto n.º 5.015/2004.

Código Penal Art. 9º A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; (...) Art. 91 - São efeitos da condenação: II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.

Convenção de Palermo Artigo 12 Confisco e apreensão 1. Os Estados Partes adotarão, na medida em que o seu ordenamento jurídico interno o permita, as medidas necessárias para permitir o confisco: a) Do produto das infrações previstas na presente Convenção ou de bens cujo valor corresponda ao desse produto;

A titularidade do apartamento será transferida para o governo da Finlândia? O imóvel ficará em nome do Estado finlandês? NÃO. O imóvel em questão não será transferido para a titularidade do país interessado. Ele será levado a leilão judicial (antigamente chamado de "hasta pública"), nos termos do art. 133 do CPP:

Art. 133. Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz, de ofício ou a requerimento do interessado, determinará a avaliação e a venda dos bens em leilão público.