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Informativo 752-STF (05/08/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE 459510/MT; ACO 1394/RN; MS 32726/DF; RE 592152 AgR/SE; RMS 29087/DF. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: MS 28127/DF; RMS 30550/DF; Rcl 5847/PR. Leia-os ao final. ÍNDICE Direito Constitucional As restrições impostas à liberdade de expressão na Lei Geral da Copa são constitucionais. Poder Judiciário pode obrigar a Administração Pública a manter quantidade mínima de determinado medicamento em estoque. Procurador-Geral do Estado e foro por prerrogativa de função. Elevação de entrância da comarca e situação do juiz que lá era titular. Ato do CNJ e matéria sujeita à apreciação judicial. Direito Processual Penal Trabalho externo. Direito Penal e Processual Penal Militar Interrogatório no CPPM continua sendo feito antes da oitiva das testemunhas DIREITO CONSTITUCIONAL As restrições impostas à liberdade de expressão na Lei Geral da Copa são constitucionais É CONSTITUCIONAL o § 1º do art. 28 da Lei Geral da Copa (Lei n. 12.663/2012) que impunha restrições à liberdade de expressão nos Locais Oficiais de Competição. STF. Plenário. ADI 5136/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 01/07/2014 (Info 752). Lei 12.663/2012 Com o objetivo de preparar o Brasil para receber a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de Futebol, foi editada a Lei n. 12.663, de 5 de junho de 2012, que ficou conhecida como “Lei Geral da Copa”. Sobre o que o trata a Lei? A Lei n. 12.663/2012 versa sobre os seguintes assuntos: Dispõe sobre a Copa das Confederações FIFA 2013; Dispõe sobre a Copa do Mundo FIFA 2014; Dispõe sobre a Jornada Mundial da Juventude 2013;

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Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE 459510/MT; ACO 1394/RN; MS 32726/DF; RE 592152 AgR/SE; RMS 29087/DF. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: MS 28127/DF; RMS 30550/DF; Rcl 5847/PR. Leia-os ao final.

ÍNDICE Direito Constitucional As restrições impostas à liberdade de expressão na Lei Geral da Copa são constitucionais. Poder Judiciário pode obrigar a Administração Pública a manter quantidade mínima de determinado

medicamento em estoque. Procurador-Geral do Estado e foro por prerrogativa de função. Elevação de entrância da comarca e situação do juiz que lá era titular. Ato do CNJ e matéria sujeita à apreciação judicial.

Direito Processual Penal Trabalho externo.

Direito Penal e Processual Penal Militar Interrogatório no CPPM continua sendo feito antes da oitiva das testemunhas

DIREITO CONSTITUCIONAL

As restrições impostas à liberdade de expressão na Lei Geral da Copa são constitucionais

É CONSTITUCIONAL o § 1º do art. 28 da Lei Geral da Copa (Lei n. 12.663/2012) que impunha restrições à liberdade de expressão nos Locais Oficiais de Competição.

STF. Plenário. ADI 5136/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 01/07/2014 (Info 752).

Lei 12.663/2012 Com o objetivo de preparar o Brasil para receber a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de Futebol,

foi editada a Lei n. 12.663, de 5 de junho de 2012, que ficou conhecida como “Lei Geral da Copa”. Sobre o que o trata a Lei?

A Lei n. 12.663/2012 versa sobre os seguintes assuntos:

Dispõe sobre a Copa das Confederações FIFA 2013;

Dispõe sobre a Copa do Mundo FIFA 2014;

Dispõe sobre a Jornada Mundial da Juventude 2013;

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Altera o Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/80);

Altera o Estatuto do Torcedor (Lei n. 10.671/2003);

Concede prêmio e auxílio especial mensal aos jogadores das seleções campeãs do mundo em 1958, 1962 e 1970.

Veja o que diz o caput do art. 28 e o seu § 1º:

Art. 28. São condições para o acesso e permanência de qualquer pessoa nos Locais Oficiais de Competição, entre outras: I - estar na posse de Ingresso ou documento de credenciamento, devidamente emitido pela FIFA ou pessoa ou entidade por ela indicada; II - não portar objeto que possibilite a prática de atos de violência; III - consentir na revista pessoal de prevenção e segurança; IV - não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, de caráter racista, xenófobo ou que estimulem outras formas de discriminação; V - não entoar xingamentos ou cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos; VI - não arremessar objetos, de qualquer natureza, no interior do recinto esportivo; VII - não portar ou utilizar fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos pirotécnicos ou produtores de efeitos análogos, inclusive instrumentos dotados de raios laser ou semelhantes, ou que os possam emitir, exceto equipe autorizada pela FIFA, pessoa ou entidade por ela indicada para fins artísticos; VIII - não incitar e não praticar atos de violência, qualquer que seja a sua natureza; IX - não invadir e não incitar a invasão, de qualquer forma, da área restrita aos competidores, Representantes de Imprensa, autoridades ou equipes técnicas; e X - não utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou similares, para outros fins que não o da manifestação festiva e amigável. § 1º É ressalvado o direito constitucional ao livre exercício de manifestação e à plena liberdade de expressão em defesa da dignidade da pessoa humana.

Apesar da redação um pouco confusa, o que o § 1º afirma é que nos Locais Oficiais de Competição dos jogos da Copa a organização do evento poderia impor restrições à liberdade de expressão. Somente não seriam aceitas restrições a manifestações feitas em prol da defesa da dignidade da pessoa humana. ADI 5136 Determinado partido político ajuizou ADI contra esse § 1º. Segundo o autor, esse dispositivo seria inconstitucional por violar a liberdade de expressão, prevista no art. 5º, IX, da CF/88. O principal argumento da ADI era o de que a lei não poderia ter imposto restrições à liberdade de expressão, além daquelas que já são previstas na CF/88. O que decidiu o STF?

O Plenário, por maioria, julgou IMPROCEDENTE o pedido e declarou que esse § 1º do art. 28 da Lei n. 12.663/2012 (Lei Geral da Copa) é constitucional. Para o STF, o constituinte não concebeu a liberdade de expressão como sendo um direito absoluto. Assim, ele pode sofrer restrições, tanto pelo Judiciário como pelo Legislativo. Há hipóteses em que a liberdade de expressão acaba colidindo com outros direitos e valores também constitucionalmente protegidos. Essas tensões dialéticas precisam ser sopesadas a partir da aplicação do princípio da proporcionalidade.

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A incidência do princípio da proporcionalidade se dá quando for verificada a restrição a determinado direito fundamental ou quando configurado conflito entre distintos princípios constitucionais, o que exige a ponderação do peso relativo de cada um dos direitos por meio da aplicação das máximas que integram o mencionado princípio da proporcionalidade. É preciso se perquirir se, em face do conflito entre dois bens constitucionais contrapostos, o ato impugnado se mostra adequado, ou seja, apto para produzir o resultado desejado. Além disso, deve ser verificado se esse ato é necessário e insubstituível por outro meio menos gravoso e igualmente eficaz, e proporcional em sentido estrito, de modo que se estabelecesse uma relação ponderada entre o grau de restrição de um princípio e o grau de realização do princípio contraposto. O art. 28 trouxe limitações específicas aos torcedores que iriam comparecer aos estádios no evento e tais restrições tinham como finalidade ajudar a prevenir confrontos em potencial. Assim, o legislador, a partir de um juízo de ponderação, teve como objetivo limitar manifestações que poderiam gerar maiores conflitos e, com isso, poderiam colocar em risco não apenas o evento em si, mas, principalmente, a segurança dos demais participantes. ADI 4976 Vale ressaltar que o STF já havia julgado improcedente a ADI 4976 proposta pelo PGR contra outros dispositivos da Lei Geral da Copa, declarando-a constitucional. STF. Plenário. ADI 4976/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 7/5/2014 (Info 745).

Poder Judiciário pode obrigar a Administração Pública a manter quantidade mínima de determinado medicamento em estoque

Importante!!!

A Administração Pública pode ser obrigada, por decisão do Poder Judiciário, a manter estoque mínimo de determinado medicamento utilizado no combate a certa doença grave, de modo a evitar novas interrupções no tratamento.

Não há violação ao princípio da separação dos poderes no caso. Isso porque com essa decisão o Poder Judiciário não está determinando metas nem prioridades do Estado, nem tampouco interferindo na gestão de suas verbas. O que se está fazendo é controlar os atos e serviços da Administração Pública que, neste caso, se mostraram ilegais ou abusivos já que, mesmo o Poder Público se comprometendo a adquirir os medicamentos, há falta em seu estoque, ocasionando graves prejuízos aos pacientes.

Assim, não tendo a Administração adquirido o medicamento em tempo hábil a dar continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à saúde daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência do Poder Judiciário.

STJ. 1ª Turma. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25/6/2014 (Info 752).

Imagine a seguinte situação adaptada: O Ministério Público estadual ajuizou ação civil pública requerendo que o Estado do Rio de Janeiro mantivesse em estoque determinado medicamento importado dos EUA e utilizado para o tratamento do mal de Gaucher, uma grave doença genética. Segundo o Parquet, esse é o único remédio eficaz para a doença e frequentemente ele faltado no estoque da Secretaria de Saúde, o que tem prejudicado o tratamento dos pacientes. O juiz e o TJRJ acolheram o pedido do MP, tendo o Estado do RJ interposto recurso extraordinário. Vale ressaltar que o Estado do RJ não se recusa a adquirir o referido medicamento, no entanto, o que ele

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questiona é a determinação judicial de que exista sempre uma quantidade mínima em estoque, afirmando que isso contraria o princípio da separação dos poderes. Para a Fazenda Pública, o Estado tem o direito de ir comprando o medicamento conforme as suas disponibilidades financeiras. O STF entendeu que o pedido do MP é legítimo? É possível que o Poder Judiciário obrigue que a Administração Pública mantenha uma quantidade mínima de determinado medicamento em estoque? SIM. A 1ª Turma do STF decidiu que a Administração Pública pode ser obrigada, por decisão do Poder Judiciário, a manter estoque mínimo de medicamento, de modo a evitar novas interrupções no tratamento. Não há violação ao princípio da separação dos poderes. Isso porque com essa decisão o Poder Judiciário não está determinando metas nem prioridades do Estado, nem tampouco interferindo na gestão de suas verbas. O que se está fazendo é controlar os atos e serviços da Administração Pública que, neste caso, se mostraram ilegais ou abusivos já que, mesmo o Poder Público se comprometendo a adquirir os medicamentos, há falta em seu estoque, ocasionando graves prejuízos aos pacientes. Assim, não tendo a Administração adquirido o medicamento em tempo hábil a dar continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à saúde daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência do Poder Judiciário. O Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no plano da organização federativa brasileira, não pode se mostrar indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional.

Procurador-Geral do Estado e foro por prerrogativa de função

Constituição Estadual pode prever que o Procurador-Geral do Estado seja julgado pelo TJ.

A lei estadual não pode prever que o Procurador-Geral do Estado tenha foro por prerrogativa de função no TJ.

A Constituição Estadual, ao prever as competências do TJ, não pode trazer um dispositivo aberto, delegando ao legislador infraconstitucional a tarefa de definir as autoridades com foro privativo.

STF. Plenário. HC 103803/RR, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/07/2014 (Info 752).

A Constituição do Estado de Roraima prevê o seguinte:

Art. 77. Compete ao Tribunal de Justiça do Estado: (...) X - processar e julgar originariamente; a) nos crimes comuns o Vice-Governador do Estado, os Secretários de Estado e os Agentes públicos a eles equiparados, os Juízes Estaduais, os membros do Ministério Público e os Prefeitos Municipais, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

A Lei Complementar n. 71/2003-RR (Lei Orgânica da PGE/RR) traz como regra:

Art. 4º A Procuradoria-Geral do Estado de Roraima tem por titular o Procurador-Geral do Estado, de livre nomeação pelo Governador, dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e ilibada reputação, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional. Parágrafo único. O Procurador-Geral do Estado terá, além do contido nesta Lei Complementar, as mesmas prerrogativas, subsídio e obrigações de Secretário de Estado.

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Caso concreto julgado pelo STF: O Procurador do Estado de Roraima foi investigado e preso preventivamente acusado da prática de um crime, sendo a segregação cautelar determinada por um juiz de 1ª instância. O investigado impetrou habeas corpus alegando que o parágrafo único do art. 4º da LC 71/2003-RR equiparou o cargo de Procurador-Geral ao de Secretário de Estado. Logo, ele teria foro privativo no Tribunal de Justiça, nos termos do art. 77, X, “a”, da CE e as decisões do magistrado seriam nulas. O STF acolheu a tese? NÃO. Primeira pergunta: a Constituição Estadual pode prever que o Procurador-Geral do Estado tenha foro por prerrogativa de função no Tribunal de Justiça? SIM. A CF/88 determinou, em seu art. 125, § 1º, que a competência dos Tribunais de Justiça deve ser definida na Constituição do Estado. Dessa forma, não há qualquer problema de a CE fixar foro privativo no TJ para o Procurador Geral do Estado. Segunda pergunta: a lei estadual pode prever que o Procurador-Geral do Estado tenha foro por prerrogativa de função no Tribunal de Justiça? NÃO. Como já dito acima, a competência dos Tribunais de Justiça deve ser definida na Constituição do Estado (e não na lei). Terceira pergunta: a Constituição Estadual de Roraima poderia prever que o Tribunal de Justiça teria competência para julgar os agentes públicos equiparados a Secretário de Estado? NÃO. A Constituição do Estado de Roraima violou o comando do art. 125, § 1º da CF/88 ao prever uma norma aberta de definição de competência do TJ, delegando ao legislador infraconstitucional o poder de dispor sobre a matéria e de ampliar seus limites. Ora, a CF/88 determinou que a Constituição Estadual definisse a competência do TJ e não que o legislador infraconstitucional o fizesse. Além disso, no caso concreto, o STF entendeu que a LC 71/2003-RR não estabeleceu que o Procurador-Geral do Estado seria considerado Secretário de Estado. O parágrafo único do art. 4º da LC estadual roraimense apenas dispensou ao PGE o mesmo tratamento dado aos Secretários, equiparação que não garante foro por prerrogativa de função no TJ/RR.

Elevação de entrância da comarca e situação do juiz que lá era titular

Somente para concursos de Juiz de Direito

Se a lei eleva a comarca para outra instância superior (ex: de entrância intermediária para final), o juiz que lá é titular não pode ser removido compulsoriamente em virtude dessa transformação.

Aplica-se, no caso, a Súmula 40 do STF: A elevação da entrância da comarca não promove automaticamente o Juiz, mas não interrompe o exercício de suas funções na mesma comarca.

Logo, mesmo tendo havido essa transformação, o TJ não pode abrir edital para remoção ou promoção dessa comarca. Deve-se aguardar o magistrado decidir deixar a vaga.

STF. 1ª Turma. MS 26366/PI, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/6/2014 (Info 752).

Entrância Na Justiça Estadual, os Municípios onde os juízes exercem sua jurisdição são chamados de “comarcas”.

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Em regra, cada Município é também uma comarca. No entanto, é possível que uma só comarca abranja dois ou mais Municípios (se eles forem pequenos). As entrâncias é como se fossem “níveis” previstos para as comarcas. Assim, o magistrado é inicialmente nomeado para uma comarca de entrância (“nível”) inicial e, com o tempo, vai sendo promovido para comarcas de entrância intermediária e especial (a nomenclatura irá variar de acordo com o TJ). Essa divisão das cidades em comarcas de diferentes entrâncias é feita pela Lei de Organização Judiciária estadual, de iniciativa do Tribunal de Justiça. Em regra, as cidades menores e/ou mais distantes da capital são as comarcas de entrância inicial. Geralmente, a capital e as cidades maiores próximas são de entrância final. Caso concreto (com adaptações) No Tribunal de Justiça do Piauí, as comarcas são divididas em três entrâncias: inicial, intermediária e final. Determinado magistrado era juiz na comarca de entrância intermediária (2ª entrância). Essa comarca foi crescendo com o passar dos anos e, por meio de lei, foi elevada para entrância final (3ª entrância). Com a transformação para entrância final (3ª entrância), o TJ abriu edital de promoção para essa comarca alegando que o magistrado que era titular de lá não mais poderia ocupá-la já que ainda era juiz de entrância intermediária (2ª entrância). Agiu corretamente o TJ? NÃO. Segundo decidiu o STF, o princípio da inamovibilidade, assegurado aos magistrados, não admite a abertura de concurso - seja para promoção, seja para remoção - sem que o cargo a ser ocupado esteja vago. Como o juiz era titular daquela comarca transformada, ele não poderia ser de lá removido compulsoriamente, a não ser por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII, da CF (o que não era o caso). Ainda que a comarca tivesse sido elevada à 3ª entrância por lei estadual, mesmo assim o juiz deveria lá permanecer na condição de titular, com todas as prerrogativas do cargo, inclusive a inamovibilidade.

O STF entendeu que deveria ser aplicado o raciocínio presente na Súmula n. 40, que diz o seguinte:

Súmula 40-STF: A elevação da entrância da comarca não promove automaticamente o Juiz, mas não interrompe o exercício de suas funções na mesma comarca.

Ato do CNJ e matéria sujeita à apreciação judicial

O Conselho Nacional de Justiça não pode decidir, em procedimento administrativo, matéria que já foi judicializada, ou seja, que está sendo discutido em uma ação judicial.

O CNJ tem atribuições de natureza exclusivamente administrativas, razão pela qual não lhe é permitido decidir questões que estejam submetidas à análise judicial.

Se a questão já está sendo discutida em ação judicial, não cabe ao CNJ conhecer e apreciar a matéria, sob pena de ele estar assumindo funções jurisdicionais. Se a parte interessada não concorda com a decisão judicial ele dispõe de recursos para impugná-la, não podendo provocar o CNJ para interferir no assunto.

STF. 2ª Turma. MS 27650/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2014 (Info 752).

Imagine a seguinte situação adaptada em relação ao caso concreto: Determinada Lei do Mato Grosso previa que os juízes tinham direito a três dias de afastamento, por semestre, para tratar de assunto de interesse pessoal. O Corregedor do Tribunal de Justiça, por entender que essa previsão era inconstitucional, começou a

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indeferir os pedidos baseados nesse dispositivo. A associação dos magistrados estaduais impetrou mandado de segurança coletivo contra o ato do corregedor que negou validade à Lei. Foi concedida uma medida liminar no MS coletivo determinando que se respeitasse a licença prevista na lei estadual. O Corregedor do TJ provocou o CNJ requerendo a instauração de Procedimento de Controle Administrativo para que o Conselho declarasse a impossibilidade de ser conceder a referida licença. O CNJ julgou procedente o pedido feito pelo Corregedor no PCA e determinou ao Tribunal de Justiça do Mato Grosso que deixasse de conceder a aludida licença para qualquer magistrado. Agiu corretamente o CNJ? NÃO. O Conselho Nacional de Justiça não poderia ter se manifestado sobre a matéria considerando que esse assunto (constitucionalidade ou não da licença) encontrava-se judicializado, ou seja, estava sendo discutido em uma ação judicial. Segundo o STF, o CNJ tem atribuições de natureza exclusivamente administrativas, razão pela qual não lhe é permitido decidir questões que estejam submetidas à análise judicial. Se a questão já está sendo discutida em ação judicial, não cabe ao CNJ conhecer e apreciar a matéria, sob pena de ele estar assumindo funções jurisdicionais. Se a parte interessada não concorda com a decisão judicial ele dispõe de recursos para impugná-la, não podendo provocar o CNJ para interferir no assunto.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Trabalho externo

A exigência de que o condenado cumpra 1/6 da pena para ter direito ao trabalho externo aplica-se para os regimes fechado, semiaberto e aberto? Em outras palavras, o art. 37, caput, da LEP é regra válida para as três espécies de regime?

NÃO. A exigência objetiva do art. 37 de que o condenado tenha cumprido no mínimo 1/6 da pena, para fins de trabalho externo, aplica-se apenas aos condenados que se encontrem em regime fechado.

Assim, o trabalho externo é admissível aos apenados que estejam no regime semiaberto ou aberto mesmo que ainda não tenham cumprido 1/6 da pena.

Em tese, o condenado ao regime semiaberto ou aberto poderia ter direito ao trabalho externo já no primeiro dia de cumprimento da pena.

O art. 37 da LEP (que exige o cumprimento mínimo de 1/6 da pena) somente se aplica aos condenados que se encontrem em regime inicial fechado.

STF. Plenário. EP 2 TrabExt-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 25/6/2014 (Info 752).

REGIMES DE CUMPRIMENTO DE PENA

Existem três regimes de cumprimento de pena:

FECHADO SEMIABERTO ABERTO

A pena é cumprida na Penitenciária. Obs: apesar de, na prática, isso ser

A pena é cumprida em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar.

A pena é cumprida na Casa do Albergado. A Casa do Albergado deverá

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desvirtuado, a chamada Cadeia Pública destina-se apenas ao recolhimento de presos provisórios (art. 102 da LEP), considerando que as pessoas presas provisoriamente devem ficar separadas das que já tiverem sido definitivamente condenadas (art. 300 do CPP).

Segundo a jurisprudência do STF e do STJ, faltando vagas em colônia penal agrícola, industrial ou estabelecimento similar por deficiência do Estado, o condenado deverá ficar cumprindo a pena em regime aberto até que surja vaga no semiaberto.

estar localizada em centro urbano, separado dos demais estabelecimentos prisionais, e caracteriza-se pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga. Isso porque o regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade. Se não existe Casa do Albergado ou não há mais vagas disponíveis, o condenado deverá cumprir a pena em prisão domiciliar.

O condenado fica sujeito a trabalho, dentro da própria Penitenciária, no período diurno, e a isolamento durante o repouso noturno.

O condenado fica sujeito a trabalho, dentro da colônia, durante o período diurno.

Durante o dia, o condenado trabalha, frequenta cursos ou realiza outras atividades autorizadas, fora do estabelecimento e sem vigilância. Durante o período noturno e nos dias de folga, permanece recolhido na Casa do Albergado.

TRABALHO EXTERNO

É possível que o preso trabalhe fora da unidade prisional? SIM. É possível. Isso é chamado pela LEP de “trabalho externo”. As regras sobre o trabalho externo variam de acordo com o regime prisional. Vejamos:

FECHADO SEMIABERTO ABERTO

O preso poderá realizar trabalho externo somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina (art. 36). O limite máximo do número de presos será de 10% do total de empregados na obra (§ 1º). Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a remuneração do trabalho (§ 2º). A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do preso (§ 3º).

É admitido o trabalho externo, bem como a frequência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de ensino médio ou superior. O trabalho externo também deve ser efetuado sob vigilância.

O trabalho é sempre externo. Durante o dia, o condenado trabalha, frequenta cursos ou realiza outras atividades autorizadas, fora do estabelecimento e sem vigilância. Durante o período noturno e nos dias de folga, permanece recolhido na Casa do Albergado.

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Veja agora o que prevê o caput do art. 37 da LEP:

Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena. Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a praticar fato definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento contrário aos requisitos estabelecidos neste artigo.

Diante disso, indaga-se: essa exigência de que o condenado cumpra 1/6 da pena para ter direito ao trabalho externo aplica-se para os regimes fechado, semiaberto e aberto? Em outras palavras, o art. 37, caput é regra válida para as três espécies de regime? NÃO. A exigência objetiva do art. 37 de que o condenado tenha cumprido no mínimo 1/6 da pena, para fins de trabalho externo, aplica-se apenas aos condenados que se encontrem em regime fechado. Assim, o trabalho externo é admissível aos apenados que estejam no regime semiaberto ou aberto mesmo que ainda não tenham cumprido 1/6 da pena. Em tese, o condenado ao regime semiaberto ou aberto poderia ter direito ao trabalho externo já no primeiro dia de cumprimento da pena. O art. 37 da LEP (que exige o cumprimento mínimo de 1/6 da pena) somente se aplica aos condenados que se encontrem em regime inicial fechado. Esse é o entendimento pacífico do STJ:

(...) É assente o entendimento desta Corte no sentido de ser desnecessário o cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena, no mínimo, para a concessão do benefício do trabalho externo ao condenado a cumprir a reprimenda no regime semiaberto, desde que satisfeitos os demais requisitos necessários, de natureza subjetiva. (...) (STJ. 5ª Turma. HC 282.192/RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 15/05/2014)

Caso concreto julgado pelo STF: O ex-Ministro José Dirceu, condenado ao regime semiaberto, no processo do Mensalão, requereu a realização de trabalho externo. A defesa apresentou uma proposta de emprego no qual Dirceu trabalharia na biblioteca de um grande escritório de advocacia. O Min. Joaquim Barbosa, então relator do caso, de forma monocrática, indeferiu o pedido com base em três argumentos: a) a realização de trabalho externo por condenado que cumprisse pena em regime semiaberto

dependeria do requisito temporal definido no art. 37 da LEP (cumprimento de 1/6 da pena); b) a proposta de trabalho externo oferecida por empregador privado seria inidônea e inviabilizaria a

fiscalização do cumprimento da pena; e c) a realização de trabalho interno pelo condenado já preencheria a finalidade educativa da pena,

desnecessária a realização dos serviços da mesma natureza fora da unidade prisional. Contra essa decisão monocrática, a defesa interpôs agravo regimental. O que decidiu o Plenário do STF? Foi concedida autorização para que o condenado realizasse trabalho externo. Argumentos mencionados pelo Plenário do STF para reformar a decisão monocrática: a) O requisito temporal definido no art. 37 da LEP (cumprimento de 1/6 da pena) somente se aplica ao

regime fechado, sendo desnecessário no caso de condenados que estejam no regime semiaberto; b) A proposta de trabalho realizada pelo escritório de advocacia foi idônea. Não havia elementos para se

concluir que existe uma relação pessoal entre o dono do escritório e o réu. Como a proposta de trabalho atendeu aos requisitos legais, não havia motivo para esta ser obstaculizada pelo Poder Judiciário;

c) O trabalho externo tem uma finalidade relevante de reinserção social a permitir ao apenado exercitar — e, sobretudo demonstrar à sociedade — o seu senso de responsabilidade e readequação. A legislação criou essa possibilidade a fim de promover a reintegração supervisionada dos condenados, em benefício deles mesmos e da sociedade que, mais cedo ou mais tarde, teria de recebê-los de volta em definitivo.

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DIREITO PENAL / PROCESSUAL PENAL MILITAR

Interrogatório no CPPM continua sendo feito antes da oitiva das testemunhas

Em razão do princípio da especialidade, prevalece, para os casos de jurisdição militar, a norma processual penal militar e, por consequência, incabível a aplicação do rito previsto no art. 400 do CPP, com a redação trazida pela Lei 11.719/2008. Logo, na hipótese de crimes militares, o interrogatório continua a ser realizado antes da oitiva das testemunhas.

STF. 2ª Turma. HC 122673/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2014 (Info 725).

O Código de Processo Penal Militar prevê o procedimento, ou seja, o rito que deverá ser observado no caso de crimes militares. O procedimento previsto no CPPM possui algumas diferenças em relação ao procedimento trazido pelo CPP. Uma das distinções reside no momento em que é realizado o interrogatório do réu. Vejamos:

CPP (art. 400) CPPM (art. 302)

O art. 400 do CPP foi alterado pela Lei n. 11.719/2008 e, atualmente, o interrogatório deve ser feito depois da inquirição das testemunhas e da realização das demais provas. Em suma, o interrogatório passou a ser o último ato da audiência de instrução (segundo a antiga previsão, o interrogatório era o primeiro ato).

O art. 302 do CPPM estabelece que o acusado será qualificado e interrogado antes de ouvidas as testemunhas. Em suma, o interrogatório é o primeiro ato da instrução.

O que é mais favorável ao réu: ser interrogado antes ou depois da oitiva das testemunhas? Depois. Isso porque após o acusado ouvir o relato trazido pelas testemunhas poderá decidir a versão dos fatos que irá apresentar. Se, por exemplo, avaliar que nenhuma testemunha o apontou como o autor do crime, poderá sustentar a negativa de autoria ou optar pelo direito ao silêncio. Ao contrário, se entender que as testemunhas foram sólidas em incriminá-lo, terá como opção viável confessar e obter a atenuação da pena. Dessa feita, a regra do art. 400 do CPP é mais favorável ao réu do que a previsão do art. 302 do CPPM. Diante dessa constatação, e pelo fato de a Lei n. 11.719/2008 ser posterior ao CPPM, surgiu uma corrente na doutrina defendendo que o art. 302 teria sido derrogado e que, também no procedimento do CPPM, o interrogatório deveria ser o último ato da instrução. Essa tese foi acolhida pela jurisprudência? NÃO. Segundo decidiu a 2ª Turma do STF, em razão do princípio da especialidade, prevalece, para os casos de jurisdição militar, a norma processual penal militar e, por consequência, incabível a aplicação do rito previsto no art. 400 do CPP, com a redação trazida pela Lei 11.719/2008. Logo, na hipótese de crimes militares, o interrogatório continua a ser realizado antes da oitiva das testemunhas.

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) (Juiz RN CESPE 2013) O trabalho externo somente é permitido a presos em regime aberto ou

semiaberto, cabendo ao preso em regime fechado a possibilidade exclusiva de trabalho interno. ( ) E

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2) (Juiz ES CESPE 2012) A jurisprudência do STJ consolidou o entendimento de que é necessário o cumprimento mínimo da pena, correspondente a um sexto, para a concessão do benefício do trabalho externo ao condenado a cumprir a reprimenda no regime semiaberto, devendo, ainda, ser verificada a presença dos demais requisitos legais necessários, de natureza subjetiva. ( ) E

3) (Juiz PB CESPE 2011) Não se admite a concessão do trabalho externo desde o início do cumprimento da pena a condenado em regime semiaberto, ainda que verificadas condições pessoais favoráveis, no caso concreto, pelo juízo das execuções penais, sendo necessário o cumprimento de percentual mínimo da pena antes da concessão da benesse ao sentenciado. ( ) E

Gabarito

1. E 2. E 3. E

JULGADOS NÃO COMENTADOS

CNJ: processo de revisão disciplinar e prazo de instauração O despacho do Corregedor Nacional de Justiça que instaura processo de revisão disciplinar com base no art. 86 do Regimento Interno do CNJ (“A instauração de ofício da Revisão de Processo Disciplinar poderá ser determinada pela maioria absoluta do Plenário do CNJ, mediante proposição de qualquer um dos Conselheiros, do Procurador-Geral da República ou do Presidente do Conselho Federal da OAB”) é mero ato de execução material da decisão do Plenário do CNJ e não deve ser considerado na contagem do prazo previsto no inciso V do § 4º do art. 103-B da CF (“§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: ... V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano”). Com base nessa orientação, a 1ª Turma denegou mandado de segurança impetrado em face de ato do CNJ, que, em processo de revisão disciplinar, aplicara a pena de aposentadoria compulsória a juiz de direito. Na espécie, alegava-se ofensa ao que disposto no referido preceito constitucional quanto ao prazo de instauração do processo de revisão disciplinar. A Turma aduziu que a determinação para instaurar o processo revisional teria ocorrido em 19.6.2006, quando o Plenário do CNJ, por unanimidade, determinara a instauração, de ofício, do referido processo. Consignou que o despacho do Corregedor Nacional de Justiça, datado de 29.8.2006, e protocolado em 15.9.2006, constituiria mera execução material do que antes já decidira o CNJ, pela sua maioria absoluta, na forma do art. 86 do seu regimento interno. Consignou, portanto, que, ocorrido o julgamento pelo tribunal de origem em 23.8.2005, e determinada, em 19.6.2006, a instauração do processo de revisão por deliberação do Plenário do CNJ, estaria devidamente respeitado o prazo do mencionado dispositivo constitucional. Quanto à arguição de desrespeito à garantia do devido processo legal, no ponto em que não teriam sido especificados os motivos fáticos ou jurídicos que deram ensejo à instauração do juízo revisional, a Turma destacou que o fato atribuído ao impetrante, e acerca do qual deveria exercer o contraditório e a ampla defesa, seria o mesmo tratado no processo disciplinar do juízo de origem, objeto da revisão no âmbito do CNJ. No ponto, consignou que o processo revisional estaria devidamente instruído e que, ademais, não haveria nulidade sem prejuízo. MS 28127/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 25.6.2014.

Tempestividade de REsp em litisconsórcio não unitário Ante a ilegalidade da decisão recorrida, o que autoriza o uso excepcional do mandado de segurança contra ato judicial, nos termos da jurisprudência da Corte, a 2ª Turma deu provimento a recurso ordinário em mandado de segurança para afastar a intempestividade de recurso especial. No caso, cuidava-se de ação de improbidade administrativa em que se formara litisconsórcio passivo não unitário. Os réus — Bacen e o ora

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impetrante — após condenados, interpuseram, respectivamente, embargos infringentes e recurso especial, o qual fora reputado intempestivo, pois teria sido manejado antes do julgamento dos embargos infringentes ajuizados pelo Bacen. A Turma ressaltou que a sentença condenatória possuiria dois dispositivos, e que os embargos infringentes, opostos pelo Bacen, não seriam capazes de integrar a decisão do tribunal de origem quanto à condenação do impetrante, uma vez que os réus teriam sido condenados sob diferentes fundamentos de fato e de direito. Assim, acrescentou que a ratificação do recurso especial — que objetivaria resguardar a unicidade do acórdão do tribunal de origem — não haveria de ser exigida no caso e que sequer seria cabível ao impetrante a interposição dos embargos infringentes, pois fora condenado por votação unânime. Dessa forma, aduziu que teriam sido aplicados paradigmas que não se identificariam com a situação dos autos. RMS 30550/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 24.6.2014.

Reclamação e competência legislativa A 2ª Turma julgou improcedente pedido formulado em reclamação ajuizada em face de decisão que denegara mandado de segurança preventivo. Na espécie, alegava-se ofensa ao que decidido na Representação 1.246/PR (DJU de 12.9.1986) na qual, sob a égide da CF/1967, se afirmara a competência exclusiva da União para legislar sobre normas gerais de produção, comércio e consumo de mercadorias que contivessem substâncias nocivas, e se declarara a inconstitucionalidade de determinados dispositivos de lei estadual e respectivo decreto regulamentador. A Turma afirmou que a CF/1988 mudou o modelo de repartição de competências legislativas no Brasil e que, em consequência, o Estado-membro seria competente para condicionar a prévio cadastramento o uso de agrotóxicos e biocidas em seu território. Asseverou, ademais, que a reclamação não seria meio apto a questionar eventual desrespeito a fundamentos determinantes de votos proferidos em decisão do STF ou para se afirmar, ou não, a recepção de dispositivos que tenham sido examinados sob a égide da CF/1967. Rcl 5847/PR, rel. Min. Cármen Lúcia, 25.6.2014.

OUTRAS INFORMAÇÕES

R E P E R C U S S Ã O G E R A L DJe de 23 de junho a 1º de julho de 2014

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 764.620-SC

RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVIDORES PÚBLICOS DA JUSTIÇA FEDERAL. AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO. ISONOMIA COM SERVIDORES DOS TRIBUNAIS SUPERIORES. EXISTÊNCIA DE QUESTÃO CONSTITUCIONAL. INEXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO

GERAL.

I – Não obstante a causa versar sobre questão constitucional, a limitação temporal e a restrição da causa a um grupo de servidores não atendem um dos requisitos da repercussão geral, qual seja, a produção dos efeitos do tema constitucional no tempo.

II – Declarada a inexistência da repercussão geral do tema versado nos autos.

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 796.939-RS

RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

EMENTA: CONSTITUCIONAL. PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO. INDEFERIMENTO DE PEDIDOS DE RESSARCIMENTO,

RESTITUIÇÃO OU COMPENSAÇÃO DE TRIBUTOS. MULTAS. INCIDÊNCIA EX LEGE. SUPOSTO CONFLITO COM O ART. 5º, XXXIV.

REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. I - A matéria constitucional versada neste recurso consiste na análise da constitucionalidade dos §§ 15 e 17 do art. 74 da Lei 9.430/1996, com redação

dada pelo art. 62 da Lei 12.249/2010.

II – Questão constitucional que ultrapassa os limites subjetivos ad causa, por possuir relevância econômica e jurídica. III – Repercussão geral reconhecida.

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 795.467-SP

RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INSCRIÇÃO NA ORDEM DOS MÚSICOS DO BRASIL (OMB). PAGAMENTO DE ANUIDADES. NÃO-OBRIGATORIEDADE. OFENSA À GARANTIA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO

(ART. 5º, IX, DA CF). REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA.

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1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 414.426, rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 10-10-2011, firmou o entendimento

de que a atividade de músico é manifestação artística protegida pela garantia da liberdade de expressão, sendo, por isso, incompatível com a

Constituição Federal de 1988 a exigência de inscrição na Ordem dos Músicos do Brasil, bem como de pagamento de anuidade, para o exercício de tal profissão.

2. Recurso extraordinário provido, com o reconhecimento da repercussão geral do tema e a reafirmação da jurisprudência sobre a matéria.

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 730.462-SP

RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NEGADOS COM FUNDAMENTO EM LEI

POSTERIORMENTE DECLARADA INCONSTITUCIONAL PELO STF. EFICÁCIA TEMPORAL DA SENTENÇA. REPERCUSSÃO GERAL

CONFIGURADA. 1. Possui repercussão geral a questão relativa à eficácia temporal de sentença transitada em julgado fundada em norma supervenientemente declarada

inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal em sede de controle concentrado.

2. Repercussão geral reconhecida.

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 806.190-GO

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Recurso extraordinário. Repercussão geral da questão constitucional reconhecida. Reafirmação de jurisprudência. 2. Artigo 31 da Lei 8.880/94.

Indenização adicional decorrente de demissão imotivada de empregado. Medida legislativa emergencial. Norma de ajustamento do sistema monetário. Implementação do Plano Real. Competência privativa da União. 3. Inexistência de inconstitucionalidade formal. 4. Recurso extraordinário provido.

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 799.718-SE

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Recurso extraordinário com agravo. Repercussão Geral. Administrativo. Reajuste de 15,8% concedido a servidores públicos federais pelas Leis 12.772/2012, 12.773/2012, 12.775/2012, 12.776/2012, 12.777/2012 e 12.778/2012. Natureza de revisão geral anual. Matéria infraconstitucional.

Repercussão Geral rejeitada.

Decisões Publicadas: 6

C L I P P I N G D O D JE 23 de junho a 1º de julho de 2014

RE N. 587.371-DF

RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. INCORPORAÇÃO DE “QUINTOS”. PRETENSÃO DE CONTINUAR PERCEBENDO A

VANTAGEM REMUNERATÓRIA NO EXERCÍCIO DE CARGO DE CARREIRA DIVERSA. INVIABILIDADE. 1. A garantia de preservação do direito adquirido, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, assegura ao seu titular também a faculdade de

exercê-lo. Mas de exercê-lo sob a configuração com que o direito foi formado e adquirido e no regime jurídico no âmbito do qual se desenvolveu a

relação jurídica correspondente, com seus sujeitos ativo e passivo, com as mútuas obrigações e prestações devidas. 2. As vantagens remuneratórias adquiridas no exercício de determinado cargo público não autoriza o seu titular, quando extinta a correspondente

relação funcional, a transportá-las para o âmbito de outro cargo, pertencente a carreira e regime jurídico distintos, criando, assim, um direito de

tertium genus, composto das vantagens de dois regimes diferentes. 3. Por outro lado, considerando a vedação constitucional de acumulação remunerada de cargos públicos, não será legítimo transferir, para um deles,

vantagem somente devida pelo exercício do outro. A vedação de acumular certamente se estende tanto aos deveres do cargo (= de prestar seus

serviços) como aos direitos (de obter as vantagens remuneratórias). 4. Assim, não encontra amparo constitucional a pretensão de acumular, no cargo de magistrado ou em qualquer outro, a vantagem correspondente a

“quintos”, a que o titular fazia jus quando no exercício de cargo diverso.

5. Recurso extraordinário a que se dá parcial provimento. *noticiado no Informativo 728

RE N. 355.856-SC

RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. ROBERTO BARROSO

Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ATO DE PRESIDENTE DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AFASTAMENTO DE SERVENTIA

EXTRAJUDICIAL. INGRESSO APÓS A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. NECESSIDADE DE APROVAÇÃO EM CONCURSO

PÚBLICO. AFASTAMENTO QUE PRESCINDE DE PRÉVIO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. PRECEDENTES. 1. A discussão acerca da legitimidade ou não do Presidente de Tribunal de Justiça para afastar serventuário cartorário se insere no âmbito

infraconstitucional.

2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal se firmou no sentido de que é imprescindível prévia aprovação em concurso público para o ingresso

na atividade notarial e de registro após a promulgação da Constituição Federal de 1988.

3. Dispositivos da Constituição do Estado de Santa Catarina que mantinham serventuários no cargo sem aprovação em concurso público foram

declarados inconstitucionais por esta Corte (ADIs 363 e 1.573), de modo que o afastamento do cargo prescinde da instauração de prévio procedimento administrativo.

4. Recurso extraordinário a que se nega provimento.

*noticiado no Informativo 745

ADI N. 800-RS

RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: TRIBUTÁRIO E CONSTITUCIONAL. PEDÁGIO. NATUREZA JURÍDICA DE PREÇO PÚBLICO. DECRETO 34.417/92, DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. CONSTITUCIONALIDADE.

1. O pedágio cobrado pela efetiva utilização de rodovias conservadas pelo Poder Público, cuja cobrança está autorizada pelo inciso V, parte final, do

art. 150 da Constituição de 1988, não tem natureza jurídica de taxa, mas sim de preço público, não estando a sua instituição, consequentemente, sujeita ao princípio da legalidade estrita.

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2. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.

*noticiado no Informativo 750

ADI N. 3.341-DF

RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEIS DO DISTRITO FEDERAL QUE DISPÕEM SOBRE CARREIRAS E

CARGOS PÚBLICOS. COMPETÊNCIA DO STF PARA JULGAMENTO. REVOGAÇÃO SUPERVENIENTE DE DISPOSITIVOS

IMPUGNADOS. EXISTÊNCIA DE JULGAMENTO ANTERIOR SOBRE DISPOSITIVO LEGAL IMPUGNADO. PREJUDICIALIDADE RECONHECIDA. PROVIMENTO DERIVADO DE CARGOS POR MEIO DE ASCENSÃO E TRANSPOSIÇÃO. INCONSTITUCIONALIDADE.

VIOLAÇÃO AO ART. 37, II, DA CF. SÚMULA 685 DO STF. OFENSA INDIRETA. AÇÃO JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE.

I – A natureza híbrida do Distrito Federal não afasta a competência desta Corte para exercer o controle concentrado de normas que tratam sobre a organização de pessoal, pois nesta seara é impossível distinguir se sua natureza é municipal ou estadual.

II – A ação está prejudicada no que diz respeito ao pleito de reconhecimento da inconstitucionalidade dos arts. 3º da Lei distrital 66/1989 e 6º da Lei

distrital 83/1989, em razão da superveniente perda de objeto, tendo em vista a suas revogações expressas, respectivamente, pelas Leis distritais, 3.318/2004 e 3.319/2004. Precedentes.

III – Resta, também, prejudicado o feito no tocante à impugnação ao art. 1º da Lei 96/1990 do Distrito Federal, uma vez que já houve pronunciamento

desta Corte acerca da constitucionalidade deste dispositivo no julgamento da ADI 402/DF, Rel. Min. Moreira Alves. IV – São inconstitucionais os arts. 8º e 17 da Lei 68/1989 e o art. 6º da Lei 82/1989 por violarem o art. 37, II, da Constituição Federal.

V – A jurisprudência pacífica desta Corte é no sentido de que a ascensão e a transposição, conforme se verifica nos dispositivos ora atacados,

constituem formas de provimento derivado inconstitucionais, por violarem o princípio do concurso público. Súmula 685 do STF. VI – Quanto à impugnação aos arts. 1º e 2º da Lei distrital 282/1992, eventual afronta ao texto constitucional seria indireta, uma vez que se mostra

indispensável, para a resolução da questão, o exame do conteúdo de outras normas infraconstitucionais. Precedentes.

VII – Ação julgada parcialmente procedente para declarar inconstitucionais os arts. 8º e 17 da Lei 68/1989 e o art. 6º da Lei 82/1989, prejudicado o exame dos arts. 3º da Lei distrital 66/1989, 6º da Lei distrital 83/1989 e 1º da Lei distrital 96/1990.

VIII – Ação não conhecida no tocante a impugnação aos arts. 1º e 2º da Lei distrital 282/1992.

*noticiado no Informativo 748

ADI N. 4.876-DF

RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI

EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Artigo 7º da Lei Complementar nº 100/2007 do Estado de Minas Gerais. Norma que tornou

titulares de cargos efetivos servidores que ingressaram na administração pública sem concurso público, englobando servidores admitidos

antes e depois da Constituição de 1988. Ofensa ao art. 37, inciso II, da Constituição Federal, e ao art. 19 do Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias. Modulação dos efeitos. Procedência parcial. 1. Desde a Constituição de 1988, por força do seu art. 37, inciso II, a investidura em cargo ou emprego público depende da prévia aprovação em concurso público. As exceções a essa regra estão taxativamente previstas na Constituição. Tratando-se, no entanto, de cargo efetivo, a aprovação em

concurso público se impõe.

2. O art. 19 do Atos das Disposições Constitucionais Transitórias tornou estáveis os servidores que estavam em exercício há pelo menos cinco anos na data da promulgação da Constituição de 1988. A estabilidade conferida por essa norma não implica a chamada efetividade, que depende de concurso público,

nem com ela se confunde. Tal dispositivo é de observância obrigatória pelos estados. Precedentes: ADI nº 289/CE, Relator o Ministro Sepúlveda

Pertence, Tribunal Pleno, DJ de 16/3/07; RE nº 199.293/SP, Relator o Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJ de 6/8/04; ADI nº 243/RN-MC, Relator

o Ministro Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ de 24/8/01; RE nº 167635/PA, Relator o Ministro Maurício Corrêa, Segunda Turma, DJ de 7/2/97.

3. Com exceção do inciso III (que faz referência a servidores submetidos a concurso público), os demais incisos do art. 7º da Lei Complementar nº

100, de 2007, do Estado de Minas Gerais tornaram titulares de cargo efetivo servidores que ingressaram na Administração Pública com evidente burla

ao princípio do concurso público (art. 37, II, CF/88).

4. Modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade, nos termos do art. 27 da Lei nº 9.868/99, para, i) em relação aos cargos para os quais não haja concurso público em andamento ou com prazo de validade em curso, dar efeitos prospectivos à decisão, de modo a somente produzir efeitos

a partir de doze meses, contados da data da publicação da ata de julgamento, tempo hábil para a realização de concurso público, a nomeação e a posse

de novos servidores, evitando-se, assim, prejuízo à prestação de serviços públicos essenciais à população; ii) quanto aos cargos para os quais exista concurso em andamento ou dentro do prazo de validade, a decisão deve surtir efeitos imediatamente. Ficam, ainda, ressalvados dos efeitos da decisão

(a) aqueles que já estejam aposentados e aqueles servidores que, até a data de publicação da ata deste julgamento, tenham preenchido os requisitos

para a aposentadoria, exclusivamente para efeitos de aposentadoria, o que não implica efetivação nos cargos ou convalidação da lei inconstitucional para esses servidores, uma vez que a sua permanência no cargo deve, necessariamente, observar os prazos de modulação acima; (b) os que

foram nomeados em virtude de aprovação em concurso público, imprescindivelmente, no cargo para o qual foram aprovados; e (c) a estabilidade

adquirida pelos servidores que cumpriram os requisitos previstos no art. 19 do ADCT da Constituição Federal. 5. Ação direta julgada parcialmente procedente.

*noticiado no Informativo 740

HC N 104.603-SP

RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

TÍTULO JUDICIAL CONDENATÓRIO – PRECLUSÃO – PROCESSO – NULIDADE. Uma vez anulado o processo no qual formalizado o título

condenatório, impõe-se ter presente o retorno da custódia à situação pretérita, ou seja, provisória, analisando-se o excesso de prazo.

*noticiado no Informativo 723

HC N. 121.953-MG

RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. PACIENTE CONDENADO PELO DELITO DE TRÁFICO DE DROGAS SOB A ÉGIDE

DA LEI 11.343/2006. PEDIDO DE NOVO INTERROGATÓRIO AO FINAL DA INSTRUÇÃO PROCESSUAL. ART. 400 DO CPP. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO. ORDEM DENEGADA.

I – Se o paciente foi processado pela prática do delito de tráfico ilícito de drogas, sob a égide da Lei 11.343/2006, o procedimento a ser adotado é o

especial, estabelecido nos arts. 54 a 59 do referido diploma legal. II – O art. 57 da Lei de Drogas dispõe que o interrogatório ocorrerá em momento anterior à oitiva das testemunhas, diferentemente do que prevê o art.

400 do Código de Processo Penal.

III – Este Tribunal assentou o entendimento de que a demonstração de prejuízo, “a teor do art. 563 do CPP, é essencial à alegação de nulidade, seja ela relativa ou absoluta, eis que (…) o âmbito normativo do dogma fundamental da disciplina das nulidades pas de nullité sans grief compreende as nulidades

absolutas” (HC 85.155/SP, Rel. Min. Ellen Gracie).

IV – Ordem denegada. *noticiado no Informativo 750

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Informativo 752-STF (05/08/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15

TRANSCRIÇÕES

Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais

aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham

despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Justiça Militar - Devido Processo Legal - Réu Militar - Direito de Comparecimento e de Presença (Transcrições)

HC 111.567/AM*

RELATOR: Ministro Celso de Mello

EMENTA: “HABEAS CORPUS” – RÉU MILITAR – INSTRUÇÃO PROCESSUAL – PRETENDIDO COMPARECIMENTO À AUDIÊNCIA PENAL EM QUE INQUIRIDO O CORRÉU – AUSÊNCIA DE OFERECIMENTO DE TRANSPORTE PARA O LOCAL DE

REALIZAÇÃO DO ATO PROCESSUAL – CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO – A GARANTIA CONSTITUCIONAL

DA PLENITUDE DE DEFESA: UMA DAS PROJEÇÕES CONCRETIZADORAS DA CLÁUSULA DO “DUE PROCESS OF LAW” – CARÁTER GLOBAL E ABRANGENTE DA FUNÇÃO DEFENSIVA: DEFESA TÉCNICA E AUTODEFESA (DIREITO DE AUDIÊNCIA

E DIREITO DE PRESENÇA) – PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS/ONU (ARTIGO 14, N. 3, “D”) E

CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS/OEA (ARTIGO 8º, § 2º, “D” E “F”) – DEVER DO ESTADO DE ASSEGURAR, AO RÉU MILITAR, O EXERCÍCIO DESSA PRERROGATIVA ESSENCIAL, ESPECIALMENTE A DE PROPICIAR

TRANSPORTE (DECRETO Nº 4.307/2002, ART. 28, INCISO I) PARA COMPARECER À AUDIÊNCIA DE INQUIRIÇÃO DAS

TESTEMUNHAS, AINDA MAIS QUANDO ARROLADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO – RAZÕES DE CONVENIÊNCIA ADMINISTRATIVA OU GOVERNAMENTAL NÃO PODEM LEGITIMAR O DESRESPEITO NEM COMPROMETER A EFICÁCIA

E A OBSERVÂNCIA DESSA FRANQUIA CONSTITUCIONAL – NULIDADE PROCESSUAL ABSOLUTA – PEDIDO DEFERIDO.

- O acusado tem o direito de comparecer, de assistir e de presenciar, sob pena de nulidade absoluta, os atos processuais, notadamente aqueles que se produzem na fase de instrução do processo penal, que se realiza, sempre, sob a égide do contraditório. São irrelevantes, para

esse efeito, as alegações do Poder Público concernentes à dificuldade ou inconveniência de proceder ao custeio de deslocamento do réu, no

interesse da Justiça, para fora da sede de sua Organização Militar, eis que razões de mera conveniência administrativa não têm – nem podem ter – precedência sobre as inafastáveis exigências de cumprimento e de respeito ao que determina a Constituição. Doutrina.

Jurisprudência.

- O direito de audiência, de um lado, e o direito de presença do réu, de outro, esteja ele preso ou não, traduzem prerrogativas jurídicas essenciais que derivam da garantia constitucional do “due process of law” e que asseguram, por isso mesmo, ao acusado, o direito de

comparecer aos atos processuais a serem realizados perante o juízo processante, ainda que situado este em local diverso daquele da sede da

Organização Militar a que o réu esteja vinculado. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos/ONU (Artigo 14, n. 3, “d”). Convenção

Americana de Direitos Humanos/OEA (Artigo 8º, § 2º, “d” e “f”) e Decreto nº 4.307/2002 (art. 28, inciso I).

- Essa prerrogativa processual reveste-se de caráter fundamental, pois compõe o próprio estatuto constitucional do direito de defesa,

enquanto complexo de princípios e de normas que amparam qualquer acusado em sede de persecução criminal, seja perante a Justiça Comum, seja perante a Justiça Militar. Precedentes.

DECISÃO: Registro, preliminarmente, por necessário, que o Supremo Tribunal Federal, mediante edição da Emenda Regimental nº 30, de 29 de

maio de 2009, delegou expressa competência ao Relator da causa, para, em sede de julgamento monocrático, denegar ou conceder a ordem de

“habeas corpus”, “ainda que de ofício”, desde que a matéria versada no “writ” em questão constitua “objeto de jurisprudência consolidada do Tribunal” (RISTF, art. 192, “caput”, na redação dada pela ER nº 30/2009).

Ao assim proceder, fazendo-o mediante interna delegação de atribuições jurisdicionais, esta Suprema Corte, atenta às exigências de

celeridade e de racionalização do processo decisório, limitou-se a reafirmar princípio consagrado em nosso ordenamento positivo (RISTF, art. 21, § 1º; Lei nº 8.038/90, art. 38; CPC, art. 557) que autoriza o Relator da causa a decidir, monocraticamente, o litígio, sempre que este referir-se a

tema já definido em “jurisprudência dominante” no Supremo Tribunal Federal.

Nem se alegue que essa orientação implicaria transgressão ao princípio da colegialidade, eis que o postulado em questão sempre restará preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular ao controle recursal dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo Tribunal

Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).

A legitimidade jurídica desse entendimento decorre da circunstância de o Relator da causa, no desempenho de seus poderes processuais,

dispor de plena competência para exercer, monocraticamente, o controle das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal, justificando-se, em consequência, os atos decisórios que, nessa condição, venha a praticar (RTJ 139/53 – RTJ 168/174-175 – RTJ 173/948),

valendo assinalar, quanto ao aspecto ora ressaltado, que este Tribunal, em decisões colegiadas (HC 96.821/SP, Rel. Min. RICARDO

LEWANDOWSKI – HC 104.241-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO), reafirmou a possibilidade processual do julgamento monocrático do próprio mérito da ação de “habeas corpus”, desde que observados os requisitos estabelecidos no art. 192 do RISTF, na redação dada pela Emenda

Regimental nº 30/2009.

Tendo em vista essa delegação regimental de competência ao Relator da causa, impõe-se reconhecer que a controvérsia ora em exame ajusta-se à jurisprudência que o Supremo Tribunal Federal firmou na matéria em análise, o que possibilita seja proferida decisão monocrática

sobre o litígio em questão.

Passo, desse modo, a examinar a pretensão ora deduzida na presente sede processual. Trata-se de “habeas corpus”, com pedido de medida liminar, impetrado contra decisão que, emanada do E. Superior Tribunal Militar, acha-

se consubstanciada em decisão assim ementada:

“‘HABEAS CORPUS’. CONHECIMENTO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PRESENÇA DOS DEMAIS ACUSADOS NO

INTERROGATÓRIO DE CORRÉU. REQUISIÇÃO. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA. 1. No caso de pluralidade de réus, cada um é interrogado separadamente, sem a presença dos demais, nos termos dos artigos 304 e

405 do CPPM.

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Informativo 752-STF (05/08/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16

2. Durante o interrogatório não é permitida a intervenção de qualquer pessoa, em especial dos corréus, não havendo, portanto, que

se falar em cerceamento de defesa, no caso de pluralidade de réus, quando estes não comparecem à audiência de interrogatório de um dos

corréus. 3. É no curso da ação penal, no momento das alegações escritas ou orais, que os corréus poderão contraditar a versão dos fatos dada

pelo interrogado.

Ordem conhecida e denegada, decisão unânime.”

A parte ora paciente busca, na presente sede processual, “(…) seja ao final deferido o presente ‘writ’ para confirmar a liminar e tornar

efetivas as garantias processuais constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, garantindo a requisição e

apresentação dos pacientes ao longo de todos os atos de instrução e julgamento do feito” (grifei).

O Ministério Público Federal, em pronunciamento da lavra da ilustre Subprocuradora-Geral da República Dra. CLÁUDIA SAMPAIO MARQUES, opinou pela denegação deste “habeas corpus”, em parecer assim ementado:

“PROCESSO PENAL. ‘HABEAS CORPUS’. MILITAR. IMPUGNAÇÃO AOS TERMOS DA INTIMAÇÃO PARA

INTERROGATÓRIO DE CORRÉU. NÃO CONHECIMENTO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. AUSÊNCIA DE PREVISÃO

CONSTITUCIONAL PARA CABIMENTO DE ‘HABEAS CORPUS’ SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. NO MÉRITO, PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. INOCORRÊNCIA. ASSEGURADO O

COMPARECIMENTO DOS PACIENTES AO INTERROGATÓRIO DO CORRÉU, POR MEIOS PRÓPRIOS, SEM IMPOSIÇÃO DE ÓBICES.

PEDIDO DE REQUISIÇÃO QUE NÃO SE ENQUADRA NAS HIPÓTESES DOS ARTS. 280, 289 E 349 DO CPPM. AUSÊNCIA DE

RESPALDO LEGAL PARA A PRETENSÃO DE CUSTEIO DO DESLOCAMENTO DE RÉUS SOLTOS PELO ERÁRIO PÚBLICO.”

(grifei)

Sendo esse o contexto, passo a examinar a causa ora em julgamento. E, ao fazê-lo, entendo assistir razão à impetrante.

O caso ora em exame põe em evidência uma controvérsia impregnada da mais alta relevância constitucional – consistente na observância do postulado do “due process of law” –, que, na espécie, se refere ao pretendido reconhecimento de que assiste ao réu militar, sob pena de nulidade

absoluta, o direito ao transporte pessoal, quando tiver de efetuar deslocamento, para fora da sede de sua Organização Militar, no interesse da

Justiça, para participar de audiência de instrução criminal em que serão ouvidas testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nos termos do Decreto nº 4.307/2002, art. 28, I.

Tenho sustentado, nesta Suprema Corte, com apoio em autorizado magistério doutrinário (FERNANDO DA COSTA TOURINHO

FILHO, “Processo Penal”, vol. 3/136, 10ª ed., 1987, Saraiva; FERNANDO DE ALMEIDA PEDROSO, “Processo Penal – O Direito de Defesa”, p. 240, 1986, Forense; JAQUES DE CAMARGO PENTEADO, “Acusação, Defesa e Julgamento”, p. 261/262, item n. 17, e p. 276, item n. 18.3, 2001,

Millennium; ADA PELLEGRINI GRINOVER, “Novas Tendências do Direito Processual”, p. 10, item n. 7, 1990, Forense Universitária;

ANTONIO SCARANCE FERNANDES, “Processo Penal Constitucional”, p. 280/281, item n. 26.10, 3ª ed., 2003, RT; ROGÉRIO LAURIA TUCCI, “Direitos e Garantias Individuais no Processo Penal Brasileiro”, p. 189, item n. 7.2, 2ª ed., 2004, RT; ANTONIO MAGALHÃES

GOMES FILHO, “Direito à Prova no Processo Penal”, p. 154/155, item n. 9, 1997, RT; VICENTE GRECO FILHO, “Tutela Constitucional das

Liberdades”, p. 110, item n. 5, 1989, Saraiva; JORGE DE FIGUEIREDO DIAS, “Direito Processual Penal”, vol. 1/431-432, item n. 3, 1974, Coimbra Editora, v.g.), que o acusado tem o direito de comparecer, de assistir e de presenciar, sob pena de nulidade absoluta, os atos processuais,

notadamente aqueles que se produzem na fase de instrução do processo penal, que se realiza, sempre, sob a égide do contraditório, sendo

irrelevantes, para esse efeito, as alegações, tais como feitas no caso ora em exame, de problemas na aeronave, eis que as “(...) alegações de mera conveniência administrativa não têm – e nem podem ter – precedência sobre as inafastáveis exigências de cumprimento e respeito ao que determina

a Constituição” (RTJ 142/477-478, Rel. Min. CELSO DE MELLO) e, notadamente, porque, nos termos do artigo 28, inciso I, do Decreto nº 4.307/2002 é conferido “(...) ao militar direito ao transporte, quando necessário o deslocamento, no interesse da justiça, para fora da sede de sua

Organização Militar (...)”.

Esse entendimento, hoje prevalecente em ambas as Turmas deste Tribunal (HC 85.200/RJ, Rel. Min. EROS GRAU – HC 86.634/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO), tem por suporte o reconhecimento – fundado na natureza dialógica do processo penal acusatório, impregnado, em sua

estrutura formal, de caráter essencialmente democrático (JOSÉ FREDERICO MARQUES, “O Processo Penal na Atualidade”, “in” “Processo Penal e

Constituição Federal”, p. 13/20, 1993, APAMAGIS/Ed. Acadêmica) – de que o direito de audiência, de um lado, e o direito de presença do réu, de outro, esteja ele preso ou não, traduzem prerrogativas jurídicas que derivam da garantia constitucional do “due process of law” e que asseguram,

por isso mesmo, ao acusado, o direito de comparecer aos atos processuais a serem realizados perante o juízo processante, ainda que situado este em

local diverso daquele da sede da Organização Militar a que o réu esteja vinculado. Vale referir, neste ponto, ante a extrema pertinência de suas observações, o douto magistério de ROGÉRIO SCHIETTI MACHADO CRUZ

(“Garantias Processuais nos Recursos Criminais”, p. 126/127, item n. 5.1, 2ª ed., 2013, Atlas):

“A possibilidade de que o próprio acusado intervenha, direta e pessoalmente, na realização dos atos processuais, constitui, assim, a

autodefesa (...). Saliente-se que a autodefesa não se resume à participação do acusado no interrogatório judicial, mas há de estender-se a todos os

atos de que o imputado participe. (...).

Na verdade, desdobra-se a autodefesa em ‘direito de audiência’ e em ‘direito de presença’, é dizer, tem o acusado o direito de ser ouvido e falar durante os atos processuais (...), bem assim o direito de assistir à realização dos atos processuais, sendo dever do Estado

facilitar seu exercício, máxime quando o imputado se encontre preso, impossibilitado de livremente deslocar-se ao fórum.” (grifei)

Incensurável, por isso mesmo, sob tal perspectiva, a decisão desta Suprema Corte, de que foi Relator o eminente Ministro LEITÃO DE

ABREU, em acórdão assim ementado (RTJ 79/110):

“‘Habeas Corpus’. Nulidade processual. O direito de estar presente à instrução criminal, conferido ao réu, assenta na cláusula

constitucional que garante ao acusado ampla defesa. A violação desse direito importa nulidade absoluta, e não simplesmente relativa, do

processo.

....................................................................................................... Nulidade do processo a partir dessa audiência.

Pedido deferido.” (grifei)

Cumpre destacar, nesse mesmo sentido, inúmeras outras decisões emanadas deste Supremo Tribunal Federal (RTJ 64/332 – RTJ 66/72 –

RTJ 70/69 – RTJ 80/37 – RTJ 80/703), cabendo registrar, por relevante, julgamento no qual esta Suprema Corte reconheceu essencial a

presença do réu na audiência de inquirição de testemunhas arroladas pelo órgão da acusação estatal, sob pena de ofensa à garantia constitucional

da plenitude de defesa:

“‘Habeas corpus’. Nulidade processual. O direito de estar presente à instrução criminal, conferido ao réu e seu defensor, assenta no

princípio do contraditório. Ao lado da defesa técnica, confiada a profissional habilitado, existe a denominada autodefesa, através da

presença do acusado aos atos processuais. (...).”

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(RTJ 46/653, Rel. Min. DJACI FALCÃO – grifei)

Essa orientação , por sua vez, reflete-se no magistério jurisprudencial de outros Tribunais (RT 522/369 – RT 537/337 –

RT 562/346 – RT 568/287 – RT 569/309 – RT 718/415):

“O direito conferido ao réu de estar presente à instrução criminal assenta-se na cláusula constitucional que garante ao acusado

ampla defesa. A violação desse direito importa nulidade absoluta, e não apenas relativa, do processo.” (RT 607/306, Rel. Des. BAPTISTA GARCIA – grifei)

Não constitui demasia assinalar, neste ponto, analisada a função defensiva sob uma perspectiva global, que o direito de presença do réu

na audiência de instrução penal, além de traduzir expressão concreta do direito de defesa (mais especificamente da prerrogativa da autodefesa),

também encontra suporte legitimador em convenções internacionais que proclamam a essencialidade dessa franquia processual, que compõe o próprio estatuto constitucional do direito de defesa, enquanto complexo de princípios e de normas que amparam qualquer acusado em sede de

persecução criminal, seja perante a Justiça Comum, seja perante a Justiça Militar.

A justa preocupação da comunidade internacional com a preservação da integridade das garantias processuais básicas reconhecidas às pessoas meramente acusadas de práticas delituosas tem representado, em tema de proteção aos direitos humanos, um dos tópicos mais sensíveis e

delicados da agenda dos organismos internacionais, seja em âmbito regional, como o Pacto de São José da Costa Rica (Artigo 8º, § 2º, “d” e “f”),

aplicável ao sistema interamericano, seja em âmbito global, como o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Artigo 14, n. 3, “d”), celebrado sob a égide da Organização das Nações Unidas, e que representam instrumentos que reconhecem, a qualquer réu, dentre outras

prerrogativas eminentes, o direito de comparecer e de estar presente à instrução processual, independentemente de achar-se sujeito, ou não, à

custódia do Estado. Impende reconhecer, por extremamente relevante, que o entendimento que ora exponho na presente sede processual tem, hoje, o

beneplácito da jurisprudência que ambas as Turmas do Supremo Tribunal Federal firmaram na matéria em causa:

“‘HABEAS CORPUS’. EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO. PACIENTE PRESA EM SÃO PAULO, RESPONDENDO À

AÇÃO PENAL NO RIO DE JANEIRO. CONDENAÇÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA: AUSÊNCIA DA RÉ NOS ATOS

PROCESSUAIS. IMPOSSIBILIDADE DE ENTREVISTAR-SE COM A DEFENSORA NOMEADA EM OUTRA UNIDADE DA

FEDERAÇÃO.

1. Paciente condenada por crime de extorsão mediante seqüestro. Ação penal em curso no Rio de Janeiro. Paciente presa em São

Paulo. Ausência de contato com o processo em que figurou como ré. Impossibilidade de indicar testemunhas e de entrevistar-se com a

Defensora Pública designada no Rio de Janeiro. Cerceamento de defesa.

2. A falta de recursos materiais a inviabilizar as garantias constitucionais dos acusados em processo penal é inadmissível, na medida em que implica disparidade dos meios de manifestação entre a acusação e a defesa, com graves reflexos em um dos bens mais valiosos da

vida, a liberdade.

3. A circunstância de que a paciente poderia contatar a Defensora Pública por telefone e cartas, aventada no ato impugnado, não tem a virtude de sanar a nulidade alegada, senão o intuito de contorná-la, resultando franco prejuízo à defesa, sabido que a comunicação entre

presos e pessoas alheias ao sistema prisional é restrita ou proibida.

Ordem concedida.” (HC 85.200/RJ, Rel. Min. EROS GRAU, Primeira Turma – grifei)

“’HABEAS CORPUS’ – RÉU MILITAR – INSTRUÇÃO PROCESSUAL – PRETENDIDO COMPARECIMENTO À AUDIÊNCIA

PENAL EM QUE INQUIRIDAS TESTEMUNHAS DA ACUSAÇÃO E DA DEFESA – AUSÊNCIA DE OFERECIMENTO DE TRANSPORTE PARA O LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ATO PROCESSUAL – CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO – A GARANTIA

CONSTITUCIONAL DA PLENITUDE DE DEFESA: UMA DAS PROJEÇÕES CONCRETIZADORAS DA CLÁUSULA DO ‘DUE

PROCESS OF LAW’ – CARÁTER GLOBAL E ABRANGENTE DA FUNÇÃO DEFENSIVA: DEFESA TÉCNICA E AUTODEFESA (DIREITO DE AUDIÊNCIA E DIREITO DE PRESENÇA) - PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS/ONU (ARTIGO 14, N. 3,

‘D’) E CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS/OEA (ARTIGO 8º, § 2º, ‘D’ E ‘F’) – DEVER DO ESTADO DE ASSEGURAR,

AO RÉU MILITAR, O EXERCÍCIO DESSA PRERROGATIVA ESSENCIAL, ESPECIALMENTE A DE PROPICIAR TRANSPORTE

(DECRETO Nº 4.307/2002, ART. 28, INCISO I) PARA COMPARECER À AUDIÊNCIA DE INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS, AINDA

MAIS QUANDO ARROLADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO – RAZÕES DE CONVENIÊNCIA ADMINISTRATIVA OU

GOVERNAMENTAL NÃO PODEM LEGITIMAR O DESRESPEITO NEM COMPROMETER A EFICÁCIA E A OBSERVÂNCIA DESSA FRANQUIA CONSTITUCIONAL – NULIDADE PROCESSUAL ABSOLUTA – PEDIDO DEFERIDO.

- O acusado tem o direito de comparecer, de assistir e de presenciar, sob pena de nulidade absoluta, os atos processuais, notadamente

aqueles que se produzem na fase de instrução do processo penal, que se realiza, sempre, sob a égide do contraditório. São irrelevantes, para esse efeito, as alegações do Poder Público concernentes à dificuldade ou inconveniência de proceder ao custeio de deslocamento do réu, no

interesse da Justiça, para fora da sede de sua Organização Militar, eis que razões de mera conveniência administrativa não têm – nem

podem ter – precedência sobre as inafastáveis exigências de cumprimento e de respeito ao que determina a Constituição. Doutrina. Jurisprudência.

- O direito de audiência, de um lado, e o direito de presença do réu, de outro, esteja ele preso ou não, traduzem prerrogativas jurídicas

essenciais que derivam da garantia constitucional do ‘due process of law’ e que asseguram, por isso mesmo, ao acusado, o direito de comparecer aos atos processuais a serem realizados perante o juízo processante, ainda que situado este em local diverso daquele da sede da Organização

Militar a que o réu esteja vinculado. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos/ONU (Artigo 14, n. 3, ‘d’). Convenção Americana de

Direitos Humanos/OEA (Artigo 8º, § 2º, ‘d’ e ‘f’) e Decreto nº 4.307/2002 (art. 28, inciso I). - Essa prerrogativa processual reveste-se de caráter fundamental, pois compõe o próprio estatuto constitucional do direito de defesa,

enquanto complexo de princípios e de normas que amparam qualquer acusado em sede de persecução criminal, seja perante a Justiça

Comum, seja perante a Justiça Militar. Precedentes.” (HC 98.676/PA, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma)

Registro, ainda, por relevante, que, na espécie – insista-se –, há disposição normativa assegurando ao militar da ativa o direito ao custeio

do seu transporte (Decreto nº 4.307/2002, art. 28, inciso I). Negar-lhe esse direito é o mesmo que inibir, sem justo motivo, a participação do

acusado militar nos atos processuais, especialmente em situações, como sucede no caso ora em exame, em que os réus estão servindo em Vilhena/RO e o ato processual é realizado em uma Auditoria Militar em Manaus/AM.

Nesse contexto, a garantia de transporte pessoal do militar da ativa, quando tiver de efetuar deslocamento, fora da sede de sua Organização

Militar, no interesse da Justiça, nos termos estabelecidos no art. 28, inciso I, do Decreto nº 4.307 de 18 de julho de 2002, constitui aspecto relevante, pois destinado a assegurar o próprio direito de defesa, eis que o não oferecimento de meios financeiros para viabilizar a locomoção do militar

frustra a sua participação na audiência, elemento indispensável para que o acusado possa exercer, em plenitude, o direito de defesa.

Em suma: a análise dos fundamentos em que se apoia a presente impetração leva-me a concluir que a decisão emanada do E. Superior Tribunal Militar, não pode prevalecer, eis que frontalmente contrária à Constituição da República, considerada, no ponto, a jurisprudência que o

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Supremo Tribunal Federal firmou na matéria em causa, no sentido de que o direito de presença do réu traduz prerrogativa jurídica essencial que

deriva da garantia constitucional do “due process of law” e que assegura, ao acusado, o direito de comparecer aos atos processuais a serem

realizados perante o juízo processante. Sendo assim, pelas razões expostas, defiro o pedido de “habeas corpus”, tornando definitiva a medida liminar anteriormente concedida, para assegurar,

aos ora pacientes, a efetivação do custeio a que alude o Decreto nº 4.307/2002 (art. 28, I), garantindo a requisição e apresentação dos pacientes ao longo de

todos os atos de instrução e julgamento no Processo-crime nº 0000159-32-2010.7.12.0012, em tramitação, perante a Auditoria da 12ª CJM. Comunique-se, com urgência, encaminhando-se cópia da presente decisão ao E. Superior Tribunal Militar (HC 144-

98.2011.7.00.0000/AM), ao Senhor Juiz Auditor da 12ª CJM (Processo nº 0000159-32.2010.7.12.0012) e ao Senhor Comandante do

Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Vilhena/RO – DTCEA-VH.

Arquivem-se os presentes autos.

Publique-se. Brasília, 06 de março de 2014.

Ministro CELSO DE MELLO

Relator

*decisão publicada no DJe de 11.3.2014

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS 23 de junho a 1º de julho de 2014

Lei nº 13.004, de 24.6.2014 - Altera os arts. 1o, 4o e 5o da Lei no 7.347, de 24.7.1985, para incluir, entre as

finalidades da ação civil pública, a proteção do patrimônio público e social. Publicada no DOU em 25.6.2014, Seção 1,

p. 2.

Lei nº 13.006, de 26.6.2014 - Acrescenta § 8o ao art. 26 da Lei no 9.394, de 20.12.996, que estabelece as diretrizes

e bases da educação nacional, para obrigar a exibição de filmes de produção nacional nas escolas de educação básica.

Publicada no DOU em 27.6.2014, Seção 1, p. 1.

Lei nº 13.008, de 26.6.2014 - Dá nova redação ao art. 334 do Decreto-Lei no 2.848, de 7.12.1940 - Código Penal e

acrescenta-lhe o art. 334-A. Publicada no DOU em 27.6.2014, Seção 1, p. 1.

Lei nº 13.010, de 26.6.2014 - Altera a Lei no 8.069, de 13.7.1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), para

estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de

tratamento cruel ou degradante, e altera a Lei no 9.394, de 20.12.1996. Publicada no DOU em 27.6.2014, Seção 1, p. 2.

OUTRAS INFORMAÇÕES

Lei nº 13.015, de 21.7.2014 - Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no

5.452, de 1o de maio de 1943, para dispor sobre o processamento de recursos no âmbito da Justiça do Trabalho.

Publicada no DOU em 22.7.2014, Seção 1, p. 1.

Lei nº 13.018, de 22.7.2014 - Institui a Política Nacional de Cultura Viva e dá outras providências. Publicada no

DOU em 23.7.2014, Seção 1, p. 1.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

Prazo processual – Suspensão – Secretaria – Horário de funcionamento – Expediente forense Portaria nº 107/STF, de 24.6.2014 – Comunica que, durante o período de 2 a 31.7 de 2014, os prazos processuais

ficarão suspensos e o expediente, na Secretaria do Tribunal, será das 13 às 18 horas. Publicada no DJE/STF, n. 124,

p.128, em 27.6.2014.

Secretaria – Expediente forense Portaria nº 111/STF, de 1º de julho de 2014 – Comunica que no dia 4.7.2014 não haverá expediente na

Secretaria do Tribunal em virtude do jogo do Brasil na Copa do Mundo. Publicada no DJE/STF, n. 128, p.12, em

7.7.2014.

Secretaria – Expediente forense Portaria nº 114/STF, de 7.7.2014 – Comunica que no dia 8.7.2014 não haverá expediente na Secretaria do

Tribunal em virtude do jogo do Brasil na Copa do Mundo. Publicada no DJE/STF, n. 130, p.1, em 9.7.2014.

Secretaria de Documentação – SDO

Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD

[email protected]