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NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS EM ANGOLA Editado por Boubacar CAMARA UNESCO - BREDA

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NECESSIDADES EDUCATIVASESPECIAIS EM ANGOLA

Editado por Boubacar CAMARA

UNESCO - BREDA

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NKessidades Educativas EspKiaisem Angola

Editado por Boubacar CAMARA

UNESCo-BREDA

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As ideias e opiniões desta obra são aquelas dos autore!;. Elasnão exprimiram necessariamente as vistas da UNESCO.

Publicado pelo Bureau Régional de Dakar12 Av. Léopold Sedar Senghorc.P. 3311, Dakar-Sénégal

Maquete de cobertura: Ibrahima NDIAYEISBN 92.9091.067.4

© UNESCO, 1998

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PRÓLOGO

Esta obra sobre as necessidades educativas especiais em

Angola é uma das produções do projecto 53.J/ANG/1O relativo à

"promoção de oportunidades educativas para a reabilitação das

crianças vulneráveis" em Angola. O projecto constitui uma parte do

programa de emergência em matéria de educação elaborado em

Março de 1992, com o apoio técnico da UNESCO.

A orientação do projecto inscreve-se nas Perspectivas

definidas Pela Conferência de Salamanca de 1994 sobre as

necessidades educativas especiais e particularmente sobre a

estratégia de integração.

O projecto, financiado pelo Governo da /tália e

implementado pelo Ministério da Educação, com a UNESCO como

agência de execução, contribuiu ao acesso à educação de base

assim como à melhoria das condições de aprendizagem para mais

de 2000 crianças angolanas. Além disso, a confecção do guia do

professor para a educação integrada, isto é para a tomada em

consideração das necessidades educativas especiais, representa um

instrumento precioso que este livro vem reforçar.

As contribuições de vários especialistas nacionais e

internacionais permitiram a afinação do conteúdo da obra.

Graças a esta publicação, indicações e dados úteis são

fornecidos a todos aqueles que interessam Pela educação numa

Angola em reconstrução.

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SUMÁRIO

Introduçio : Aprender de mãos dadas .5

Parte I: CONTEXTO 13

A educação especial em Angola 15Programa do ensino de base regular 41

Parte II: PARTICULARIDADES E NECESSIDADES 59

Deficiências mentais: noções gerais e definições 61Atendimento oftalmológico da criança comdeficiênça visual 73Aspectos auditivos e de fala 79Escola de deficientes auditivos e da fala -Luanda 91

Parte III : MEIOS 95

Salas especiais nas escolas normais 97A formação de professores em Angola 107Reabilitação com base na comunidade, uma viacomunitária para a integração social do « deficiente » 117Reabilitação com base comunitária eestratégia de integração: principios 125As técnicas de comunicação social e o papel dosProfessores - animadores 135A contribuição da Rádio nacional na integração ereabilitação das crianças com necessidadeseducativas especiais 147Problemas específicos: higiene geral e escolar.. 155

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Parte IV : COOPERAÇÃO:EXPERIÊNCIA INTERNACiONAL 173

Necessidades educativas especiais: evolução, marcos dapolitica educativa actual e componentes básicas dumplano educativo 175ANGOLA E A UNESCO 201

ANEXOS 211

Anexo 1 : O programa de formação dos professores-animadores 213

Anexo 2: O programa de intervenção dos professores-animadores , 215

Anexo J : O caso Benguela 219

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Introdução

APRENDER DE MÃOS DADASOU

Construir a paz e a solidariedadeno espírito dos jovens angolanos.

B. Camara*

A educação em Angola deve expnmlr, num contexto dereconciliação e de reconstrução nacional, as aspirações profundasdas populações que sofreram vinte longos anos de conflito e deprivação, aspirações para a paz, aspirações para a necessáriasolidariedade. O programa de emergência em matéria de educaçãoEDEPA elaborado em Março de 1992 constitui uma primeiraresposta aos imperativos de reabilitação e de satisfação dasnecessidades educativas mais imediatas. Neste sentido, o aspecto dedo apoio às crianças que têm necessidades educativas especiais foiobjecto dum projecto designado por 534/ANG/1 O : Promoção deoportunidades educativas para a reabilitação das criançasvulneráveis, financiado pelo Governo da Itália e cuja realização foiconfiada à UNESCO.

As razões duma opção

O conflito bi-decenal fez muitas vítimas, em particular entre ascrianças de que mais de 550.000 pereceram. Entre as quesobreviveram, cerca de meio-milhão sofre de enfermidades edeficiências diversas. Hoje, as crianças não acompanhadas, osórfãos, as crianças deficientes fisicas, os deficientes sensoriais, ascrianças que sofrem de traumatismos diversos têm necessidades

*Responsável pela execução do projecto

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Necessidades educativas especiais em Angola 6

urgentes de assistência multiforme e especialmente em matéria dereabilitação e de integração.

Nas 18 províncias de Angola, as crianças em situação dificiloferecem o espectáculo desolador duma geração qua!;e sacrificada.A situação está agravada pela existência das minas anti-pessoaisavaliadas em 10 milhões repartidas num país de 12 milhões dehabitantes. Até depois do fim das hostilidades, os destroços humanose materiais são consideráveis. É evidente que as crianças, menosprecavidas, são as principais vítimas. Angola ocupalia o segundolugar mundial em matéria de vítimas de minas. Uma dasconsequências directas da existência das minas é o impossívelregresso das populações deslocadas aos seus domicílios de origemenquanto as minas permaneceram.

Além das consequências directas da guerra, o conflito criouuma situação de insalubridade que favoreceu o desenvolvimento dediversas doenças tais como a meningite que é uma das principaiscausas de surdez das crianças em Angola, o marasmo, a morbidez evárias afecções de origem nutricional.

. Ainda por cima, pode-se dizer que a maior parte das criançasangolanas sofrem, de maneira diversa, dos traumatismos provocadospela guerra que viveram. As consciências foram duravelmenteatingidas, daí a necessidade duma nova abordagem pedagógica noperíodo de construção da paz.

A educação integrada e a reabilitação comunitária

o projecto 534/ANG/l O que VIsa a promoção deoportunidades educativas para a reabilitação das criançasvulneráveis de Angola adoptou uma estratégia de integração emcurso de experimentação nas três províncias seguintes: Huíla,Benguela e Luanda. A integração das crianças com necessidadeseducativas especiais no sistema regular do ensino d,e base é umaorientação que se inscreve, também, nas recomendações daConferência de Salamanca sobre as necessidad€:s educativasespeciais realizada em 1994. A educação integrada a1irma-se comouma exigência histórica que implica não só na integração dascrianças marginalizadas no sistema regular, mas, aJ ém disso, osconteúdos da educação integrada devem reflectir na integração na

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Aprender de mãos dadas 7

cultura nacional e a integração no processo de reconstrução nacionale de desenvolvimento humano durável.

A mudança de orientação necessita uma abordagemprogressiva e global. A estratégia implementada comporta, de facto,oito aspectos:

- a formação dos formadores

Baseando-se na colaboração efectiva entre o Ensino geral, oEnsino especial e a formação dos quadros assim como no apoio deoutros departamentos ministeriais tais como os da saúde, dareinserção social, o projecto garantiu a formação de 35 formadoresde formadores, dos quais 17 mulheres em matéria de educaçãointegrada. Entre esses formadores há: os responsáveis das cincoescolas especiais ensino geral que existem no país, das quais trêsestão em Luanda, uma em Huíla e uma em Benguela; osresponsáveis e quadros do ensino especial e da formação dosquadros; os professores animadores itinerantes encarregados doapoio no plano local às actividades de integração e de reabilitaçãocom base comunitária.

O conteúdo dessa formação abrange aspectos teóricos esobretudo práticos. Os formadores realizaram a desmultiplicação daformação em beneficio dos docentes das três províncias visadas.Assim, cada província pode organizar um seminário de formaçãodos docentes em matéria de educação integrada. A mensagem-chavena implementação da educação integrada é Aprender de MãosDadas.

- a elaboração do guia do professor

Para fornecer os instrumentos necessários de integração, oprojecto permitiu elaborar um guia do docente em matéria deeducação integrada que foi objecto de amplas consultas na base e dediscussões durante as actividades de formação. Durante o segundoseminário-atelier de formação dos formadores em matéria deeducação integrada, o projecto de guia foi finalizado. Esteinstrumento de trabalho vai orientar a actividade pedagógica dosdocentes angolanos, preparando-os melhor para a responsabilização

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Necessidades educatlvas especiOls em Angola 8

pelas necessidades educativas especiais das crianças vulneráveis.Tanto ao nível do ensino geral como ao do ensino especial, o guia éutilizado e será melhorado com a prática. Além disso, a publicaçãodo livro sobre as necessidades educativas especiais aparece como ocomplemento do guia do professor.

- facilitação do acesso à educação de base e melhoriadas condições de aprendizagem

Para realizar o objectivo prioritário de garantir o acesso àeducação de base a 2000 crianças angolanas, o projecto forneceu1000 carteiras de um só lugar cada :300 para a província de Huíla,300 para a província de Benguela e 400 para a província de Luanda.Com o sistema de duplo turno, ou até de triplo turno, são mais de2000 crianças que beneficiam actualmente dos meios materiaisfornecidos pelo projecto. Entre esses meios, além do mobiliário, oprojecto distribuiu cerca de cinco mil livros do primeiro nível ecadernos, canetas. Os diferentes meios combinados com a formaçãodos docentes e a elaboração do guia pedagógico contribuem tantopara a extensão do acesso à educação de base como para a melhoriadas condições de aprendizagem.

Convém salientar que os equipamentos foram dist ribuidos nasescolas do ensino geral sobretudo nas zonas mais deserdadás etambém nas escolas especiais que necessitavam urgentemente decarteiras e de materiais escolares. A comunidade educativa e os p~s

das localidades exprimiram o seu alívio com esta contribuição noambiente geral de escassez de mobiliário e materiais escolares.

- a criaçio dos centros de recursos para a educaçeiointegrada (CREl)

Para apoiar de maneira durável o processo de integração e dereabilitação comunitária, foram criados quatro centros de recursospara servirem de pontos de convergências e centros deaperfeiçoamento pedagógico em matéria de educação integrada, deexperimentação e de informação do público. Dois centros estão emLuanda, um abrigado na escola especial dos cegos e ambíopesOSC'AR RiRAS e o outro no complexo de Rangel que reúne a escola

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especial das crianças com deficiências auditivas e a escola especialdas crianças com deficiências mentais; há um centro provincial emBenguela e um em Lubango (Huíla).

Os directores de escolas especiais responsáveis dos centros derecursos encarregam-se de coordenar as actividades de animaçãopedagógica, de informação do público e de formação continuada emmatéria de educação integrada. Cada centro foi provido em materiale suportes para a aprendizagem segundo diversos tipos denecessidades especiais. A colaboração entre o ensino especial e oensino geral, pela intervenção dos professores animadores e dosdocentes que intervêm no processo de integração, encontram-seassim um quadro adequado que favorece uma interacção fecundapara a promoção da pedagogia da integração.

- a intervenção dos professores-animadores

Em número de quinze seleccionados num primeiro tempo, osprofessores-animadores itinerantes estão a realizar um trabalhonotável graças à sua intervenção na relação entre os professores dasaulas pilotos de integração, os alunos com as necessidades especiaise os pais. Participam também na animação pedagógica ao nível dosmunicípios nas três províncias alvos. Os professores-animadorestiveram também um estágio nas escolas especiais e prosseguem asua formação prática com o enquadramento do centro de recursosdas suas províncias. As actividades no terreno permitiram-lhesrecolher uma quantidade de informações sobre os problemas dereabilitação com base comunitária e resolver muitos casos dereticência e de incompreensão. O seu papel é essencial nos trâmitesde integração e, em particular, para os pais como os alunos de teremuma confiança.

Esses primeiros docentes-animadores itinerantes participam naformação de outros professores em cada localidade.

- as aulas pilotos integradas

A experimentação nas aulas pilotos é uma etapa necessáriapara preparar e testar os instrumentos e métodos de ensino e deaprendizagem no contexto da integração. As aulas pilotos, de cerca

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de quinze, repartidas nas três províncias, são, na maioria, dirigidaspor docentes do ensino geral auxiliados por docentes do ensinoespecial. Em cada aula, há uma média de 5 alunos com necessidadeseducativas especiais num efectivo total médio de 30 alunos. Aexperimentação durante o ano lectivo de 1995/96 revelou que osalunos com necessidades educativas especiais não só tiveramgeralmente um bom comportamento, mas que em alguns casos,nomeadamente nos casos de cegos, uns deles têm melhor êxito doque todos os seus outros colegas de turma.

As aulas integradas mostraram, entre outro, que Aprender demãos dadas é realizável, e que é possível conseguir a integraçãonuma Angola em reconstrução.

- a formação inicial dos docentes

Formar os docentes na base em matéria de educação integradaconstitui um elemento importante da estratégia implementada. Emrelação com os estabelecimentos de formação inicial dos docentes,um programa de sensibilização e de iniciação à didáctica daeducação integrada está em curso de elaboração. O curso deiniciação incluirá módulos tais como: a problemática da integração,a reabilitação com base comunitária, a aprendizagem da linguagemBraille, a aprendizagem da linguagem dos signos, o funcionamentodas aulas integradas. Os vários instrumentos de formação elaboradosno quadro do projecto serão postos à disposição dos alunos-mestres.A direcção da formação dos quadros do ensino, em colaboração comos centros de recursos, os formadores de formadores e as escolas deprofessores primários, é o responsável deste programa.

- a informação e a sensibilização

A mudança de atitudes é um dado essencial na realização dosobjectivos de integração e de reabilitação comunitária. Asautoridades educativas, os decididores locais, os pais, os alunos, aopinião pública constituem os alvos na sensibilização e namobilização com vista a apoiar o processo de implantação da~ducé!.ção integrada. A tomada de consciência do papel da educaçãona construção duma nova Angola começou com todas as iniciativas

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de promoção da educação integrada e especialmente da duplamensagem: Aprender de mãos dadas e Reconstruir de mãos dadas.

Nas três províncias e ao nível nacional, os meios deinformação mobilizaram-se para apoiar o processo de integração.

Conclusio

o projecto 534/ANG/lO contribuiu para a escolarizaçãoefectiva de milhares de crianças assim como para a melhoria dascondições pedagógicas tanto no sistema regular como nas escolasespeciais. O projecto permitiu também realizar de maneira efectiva aestratégia de integração. A confecção dos instrumentos de integraçãoconstitui uma experiência importante a consolidar. A fase de doisanos é seguida por uma segunda fase para abranger mais províncias.Deve-se preservar e alargar os resultados alcançados num contextoparticularmente difícil.

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PARTE 1

o CONTEXTO

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A educação especial em Angola

A educação especial em Angola

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Olinda Josefa De Matos·

Introdução

Para conceber a Educação Especial funcional e eficiente, épreciso passar em revista a situação do Ensino Geral 1Nível.Pois é este Nível que mais preocupações oferece em todas as suasvertentes.

Tendo em conta a situação crítica que se vive em Angola, doponto de vista socio-económico e político, como acompanhar osgrandes desafios que se impõem a nível mundial, em termos de umaeducação mais abrangente e integrada?

É neste contexto que o presente documento se vai debruçar,apresentando algumas situações reais que se vive em termos deeducação, mormente no I Nível.

Necessária se torna a análise de aspectos intrínsecos eextrínsecos a todo o processo imanente à educação em Angola porforma a permitir um direccionamento e equacionamento de possíveisprojectos ligados a este mesmo processo ou parte dele.

Caracterização do sistema educativo em Angola

A relação entre a educação e o desenvolvimento é tãosignificativa e tão estreita que é impossível conceber uma sociedadedesenvolvida possuindo um sistema educativo débil e ineficiente.

É assim que, logo após a Independência Nacional, em 1975foi imperiosa a necessidade de se construir o País no contexto dasdemais Nações, em termos de FORMAÇÃO DO HOMEM, capaz detransformar, produzindo e reproduzindo, através de novas

• Coordenadora nacional do Projecto

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Necessidades educativas especiais em Angola 16

tecnologias ou seja, permIssIvo ao desenvolvimento científico­técnico.

Neste contexto foi concebido um modelo de SistemaEducativo cuja estrutura s~ faz constar.

Estrutura do sistema

o sistema de Educação contempla cinco subsistemas a saber:- Subsistema de Educação pré-escolar.- Subsistema do Ensino Geral- Subsistema do Ensino técnico Profissional- Subsistema da Formação de Professores- Subsistema do Ensino Superior

Subsistema de educação pré-escolarO Subsistema de Educação Pré-escolar estrutura-se em:

- Creche- Jardim Infantil

Subsistema do ensino geralO subsistema do Ensino Geral, estrutura-se em:

- Ensino Primário (Básico, Geral, Obrigatório)- Ensino Secundário

O Ensino Especial é uma modalidade de ensino doSubsistema do Ensino Geral destinado aos alunos portadores dedeficiências, e trata da prevenção, da recuperação e da integraçãosocio-educativa dos indivíduos com necessidades educativasespecíficas devido a deficiências fisicas, mentais ou transtornos deconduta.

Subsistema do ensino tecnico-profissionalA estrutura do Subsistema de Ensino Técnico,- Profissional

compreende dois tipos de acções:- Formação Profissional- Ensino Médio Técnico

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Subsistema deformação de pnifessoresO subsistema de Formação de Professores estrutura-se nos

seguintes níveis:- Médio Pedagógico, realizado nos Institutos Normais- Superior Pedagógico, realizado nos Institutos e Escolas Superioresde Ciências da Educação

O subsistema de Formação de Professores compreende aindaas seguintes acções, que se enquadram na óptica da formaçãopermanente:

- Agregação PedagógicaAperfeiçoamento

Subsistema do Ensino superiorO Subsistema do Ensino Superior estrutura-se, para os cursos

de natureza académica, nos seguintes níveis:- Graduação- Pós-graduação

De acordo com a especificidade de cada formação cria-se doisgraus a nível da graduação: O Bacharelato e a licenciatura, doisníveis de pós-graduação, o Mestrado e o Doutoramento.

Administração e gestão do sistema de educação

A competência nos diversos escalões que integram o Sistemade Educação bem como a posição e a organização das escolas e deoutras instituições para a Educação estão devidamente delimitadas.

As normas gerais, para uma vida interna estãoregulamentadas pelos respectivos ESTATUTO DE ENSINO eREGULAMENTOS GERAIS internos.

Cabe ao Ministério da Educação e ao Reitor, no caso daUniversidade, a competência de aprovar e fazer cumprir comcarácter obrigatório, os planos, programas de Estudos, Matérias,Guias escolares, entre outros.

Isto constitui o carácter Nacional atribuido a cada uma dasEstruturas Centrais do Ministério da Educação.

Cabe designadamente à Administração Central:- Conceber, definir, dirigir, coordenar, controlar e avaliar o

Sistema de Educação~

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Necessidades educativas especiais em Angola 18

- Planificar e dirigir normativa e metodologicamente aactividade da investigação pedagógica.

Posição e organização das escolas e outras instituições para aeducação

As escolas e demais instituições de educação são núcleos debase do sistema de educação.

A escola e demais instituições de educação organizam-se deacordo com o Subsistema de Ensino em que estão inseridas.Independentemente da sua especialidade e deveres particulares, asescolas e demais instituições de educação, organizam-se de molde aque, com a vida interna, as relações, o conteúdo, a forma e osmétodos de trabalho, contribuam para a realização dos objectivos daEducação.

As escolas e demais instituições de educação devem:- aplicar e desenvolver formas e métodos de trabalho educativo e

produtivo, que se fundamentam na ligação do Ensino com aaplicação prática dos conhecimentos adquiridos;

- realizar a difusão e o enriquecimento do trabalho educativoutilizando várias formas de actividades livres dos alunos eestudantes.

A escola e demais instituições devem prestar uma atençãoespecial às condições e organização, tanto da formação geral, comoda formação profissional ou profissionalizante, nas oficinas doscentros ou estabelecimentos escolares.

As norlIlas gerais para a vida interna e o trabalho dasescolas e demais instituições são regulamentados pelos respectivosestatutos de Ensino e Regulamentos Gerais Internos.

A actual estrutura do sistema de ensino tem como base asdisposições regulamentadas no Decreto 40/80 que define a Educação,de Base Regular com a seguinte consignação:

-INICIAÇÃO , ( 1 ano)-I NÍVEL : (4 anos)- II NÍVEL ( 2 anos)- III NÍVEL ( 2 anos)

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No âmbito das mais diversas preocupações sobre aineficiência do actual Sistema de Educação, o Ministério daEducação propôs-se e realizou em 1986 um diagnóstico que apontoude forma urgente a necessidade de uma avaliação da antigalegislação sobre a estrutura do sistema de ensino de base regular.

A partir do já referido Diagnóstico desenhou-se uma novaEstrutura do Novo Sistema Educativo em Angola, conforme ofluxograma que se segue:

Fluxograma do novo sistema

Anos /Idade DOUTORAMENTO POS-GRA-DUAÇÃO

MESTRADOUniversidadesInstitutos Clclo longo SuperiorAcadémias

18 I3 Escolas17 12 316 11 2 II Ciclo15 10 1 Secundário14 9 3I3 8 2 I Ciclo12 7 I11 610 59 48 3 Pnmário7 26 15 Iniciacao3/4 Jardlm Infantll Pré-escolar

A ansiada reforma ora proposta não conheceu a suaimplementação, por motivo de várias ordens:

A situação então existente agravou-se devido à intensificaçãodas acções militares no país.

Para além de uma gradual diminuição dos efectivosescolares, aumentou a ineficácia do sistema devido entre outrosfactores: à impreparação ou mesmo à fraca preparação dos

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Necessidades educativas especiais em Angola 20

professores; à falta de meios didácticos adequados, à insuficiência edegradação das instalações, à falta de condições e apoios sociaispara os alunos.

Não dispondo de dados precisos quanto ao aproveitamentodos alunos, no final da década de 80, podemos no entanto referir quea situação não é melhor do que a existente em 1985 onde, para cada1000 alunos que ingressavam na la classe, apenas 142 concluiam o10 Nível. Destes, 34 transitavam sem repetências, 43 com umarepetência e 65 com duas ou três repetências.

Ao nível dos planos de estudo e dos programas de ensino, aactual estrutura não promove o desenvolvimento multifacetado dosalunos, o nível de conhecimentos a atingir em cada ciclo de estudosnão é definido e os programas existentes não são cumpridos nem tãopouco conhecidos pela maioria dos docentes.

A dificultar esta situação, as deficientes ligações entre asescolas , as Delegações Municipais, as Delegações Provinciais e asestruturas centrais do Ministério da Educação, impedem uma gestãoatempada e eficiente do sector educativo. Também a não existênciade uma planificação sistematizada e periódica inviabiliza a eficáciadas orientações normativas e o controlo, avaliação e formulação dasactividades lectivas.

Apreciação da situação existente no 10 nível do ensino debase

Iniciação

A classe de Iniciação ocupa em 1990/1991, cerca de 12,5 %dos inscritos no Ensino de Base Regular. Contudo, apenas 40 %destes alunos possui a idade de 5 anos, recomendada para afrequência deste nível pré-escolar. A maioria (60%) possui idadessuperiores a 6 anos, registando-se nalgumas províncias, a inscrição,nesta classe de alunos com 10, 12 e mesmo 14 anos.

Em muitas escolas o número de repetentes inscritos naIniciação é significativo, o que demonstra a inadequação dosmétodos e a falta de esclarecimento sobre os objectivos desta fase depreparação e de motivação para a escolaridade regular.

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A educação especial em Angola 21

.A agravar esta situação, regista-se o facto das classes de

iniciação utilizarem as instalações e os professores destinados ao 1°Nível do Ensino de Base.

Se por um lado, a presença destes alunos contribui para asaturação das instalações e para o funcionamento de muitas escolasem regime triplo, por outro, a maioria dos professores utiliza comeles métodos e práticas pedagógicas semelhantes às utilizadas noensino primário.

Se tivermos em conta as estimativas da população para osníveis etários correspondentes à escolaridade básica, verificava-seem 1990, para o grupo de crianças com 5 anos de idade, que a nívelnacional apenas 21,2 % frequentava a classe de Iniciação; destascrianças a maioria (54%) pertencia ao sexo masculino.

Das províncias com maiores taxas de escolarização na classede Iniciação salientam-se:

- Benguela, Cabinda, Cuanza-Sul e Bengo.

Pelo contrário, das que apresentam valores muito inferiores àmédia nacional sobressaem:

- Huambo, Luanda, Bié e NamibeEm Luanda as inscrições na classe de Iniciação foram

expressamente limitadas a um reduzido número de crianças com 5anos. A explicação para esta situação foi atribuida à superlotação dasescolas do l° Nível que nesta província recebem cerca de 24% dototal nacional de inscritos para este ciclo de estudos.

Não coincidindo com as taxas de escolarização, a proporçãodos inscritos nesta classe é significativa sobretudo nas províncias de:

Lunda-Sul, Bié, Cunene, Lunda-Norte, Cuando Cubango,Moxico, Huíla, Cabinda e Benguela.

Nestas províncias o número de inscritos na classe deIniciação, com idades superiores a 5 anos é geralmente superior a2/3 do total.

O reajustamento da actual situação que passa pela:- redefinição dos objectivos e das actividades desta classe;- enquadramento pré-escolar de um maior número de crianças com

5 anos de idade e integração das restantes no ensino regular do 1°Nível;

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Necessidades educativas especiais em Angola 22

- possibilidade de criação, para este tipo de educação de novas eadequadas instalações e consequente formação e recrutamento deeducadoras especialistas no pré-escolar;

- merece particular atenção exigindo as medidas que se vieram adefinir, plena integração na estratégia global para odesenvolvimento da educação fundamental.

I. Nível do ensino de base

o 1° Nível de escolaridade ocupava em 1990/1991, cerca de76% dos inscritos no Ensino de Base Regular (EBR).

Constituido pelas primeiras 4a classes de ensino primárioverificou-se, a nível nacional, que a taxa de escolarização real era51% da população estimada para a faixa etária 6-9 anos.

A situação da guerra, originando movimentos migratóriosimportantes e condicionando o funcionamento normal dasinstituições, tem dificultado a elaboração regular das estatísticaseducacionais e não tem permitido a realização de um recenseamentogeral da população. Apesar de tudo, as projecções demográficas e osdados estatísticos, conseguidos nas diversas províncias, permitemuma análise razoável da situação que é caracterizada por fortesassimetrias regionais.

No que diz respeito à taxa de escolarização, no l° Nível doEnsino de Base, registam-se situações diferenciadas, variando estastaxas com valores superiores a 80% nas províncias de:

Benguela, Namibe, Cabinda, Bengo e Huíla;

Relação existente entre o número de alunos pertencentes a umadeterminada faixa etária, inscritos no sistema educativo em análisee a população escolarizável para a mesmafaixa etária.

Para valores rondando os 65% nas províncias de:- Luanda e Cuanza-Norte;

e valores inferiores a 35% nas de:Huíla, Uige, Bié e Cuando Cubango.

Para as restantes províncias, os valores obtidos aproximam­-se com alguma oscilação, da média nacional de 51%.

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A educação especial em Angola 23

Em relação à globalidade das inscrições no Ensino de Base(Iniciação. l° Nivel. UO Nível e mo Nível) verifica-se para a maioriadas provincias uma proporção de inscritos. no 1° Nível. situada entreos 45% e 50% dos totais regionais. com excepção para as provínciasde Malange e Cuanza-Norte, com valores superiores (cerca de 60%dos totais regionais). bem como. para as províncias do Cunene.Cuanza-Sul. Uige e Huambo que apresentam. para este 1° Nível.valores percentuais inferiores à média nacional (entre os 28 e 38%dos totais regionais).

Esta situação deverá contribuir. a curto prazo, para um maiorcrescimento das frequências do 11° e mo Nível nas províncias deMalange e Cuanza-Norte enquanto que no Cunene. Cuanza-Sul,Uige e mesmo Huambo o crescimento destes dois últimos níveis deensino será moderado e inferior ao seu crescimento médio a nívelnacional se entretanto não se verificarem retornos importantes paraestas provincias.

Da análise efectuada constata-se que a posição relativa dasprovíncias, em termos populacionais. nem sempre corresponde à suaimportância ao nível de ensino primário.

No quadro seguinte verifica-se que apenas Luanda ocupa oI° lugar. tanto em número de habitantes (5-14 anos) como emnúmero de inscritos no l° Nível do Ensino de Base Regular.

Províncias População N° de Alunos Inscritos Noc/ (5-14 anos) Nível EBR

Posição População % sobre o Posição Alunos % Sobre ototal total

Luanda 1° 46 1AOO 17,3 l° 237.287 24Huambo 2° 385.700 14,5 4° 74.107 7,5Bié 3° 284.300 10,7 7° ·HA12 ..UMalange 4° 226AOO 8,5 6° 44.830 4,5Huíla 5° 220.600 8.3 3° 125.029 12.6... ... ... ... ... ... ., .Benguela 8° l63AOO 6,1 2° 130.409 13,2TOTAIS 2.662.500 100% 989.682 100%

Benguela que ocupa o 8° lugar em número de habitantes.possui elevadas taxas de escolarização e é a segunda província commaior número de inscritos no 1° Nível de EBR.

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",,,'eces.wdades educativas espeCIOlS em Angola 24

A distribuição por sexos evidencia um certo equilíbrio nasprovíncias de Luanda, Huambo, Cuando Cubango, Bié, Cunene eZaire predominando o sexo masculino nas restantes, com especialrelevância para as províncias do Namibe, Cuanza-Sul, Lunda Nortee Malange onde o número de inscritos deste sexo atingepercentagens rondando os 60%.

Para o enquadramento dos alunos das classes de iniciação edo [O Nível registavam-se, no final da década de 80, cerca de 31.900docentes.

Se a nível nacional, a relação média professor/aluno era 1/36,os dados estatísticos, relacionados com o número de professores,mostram uma certa diversidade com posições extremas para asprovíncias do Huambo (1/21) e de Lunda Norte (1/65).

Estes indicadores poderão no entanto ser fictícios devido àinsuficiência dos dados apresentados e ao fraco rigor com que porvezes são preenchidos alguns quadros estatísticos.

No que diz respeito à caracterização dos docentes existentesnão foi possível conhecer com precisão a sua distribuição pelasdiferentes classes nem tão pouco as suas habilitações académicas eexperiência profissional.

No entanto, os dados fornecidos pela maioria das provínciassobre o ano lectivo de 90/91 são esclarecedores quanto ao tipo deprofessores engajados no la Nível do Ensino de Base Regular.

Em Luanda, dos 6092 docentes cerca de 90% não possui ashabilitações mais adequadas. Contudo regista-se que 30 % destesdocentes possui apenas a 63 classe, 50% possui a 83 classe e 10%,com o PUNIV incompleto.

Em Benguela (segunda província com maior número dedocentes: 4558) a percentagem de professores sem habilitaçõesacadémicas convenientes totaliza 97%. Aqui, predominam osprofessores possuindo apenas a 63 classe (74% do total).

Enquanto no Huambo a percentagem de professores no laNível ( 3708 ) com apenas a 40 classe atinge 17% do total, na LundaNorte a situação é de longe mais preocupante; pois dos cerca de 490professores, 82% possui apenas a 43 classe, 15% a 63 classe e osrestantes 3% a 83 classe.

Esta situação aliada à superlotação da maioria das escolas eàs insuficiências existentes, o nível da distribuição e conservação da

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A educação especial em Angola 25

rede de estabelecimento de ensino, é certamente a causafundamental de baixo rendimento escolar do 1° Nível do EBR.

Em 1989/90 as taxas de repetência e de abandonoultrapassavam em média os 50%. A eficácia do sistema é reduzida ea proporção de repetentes inscritos no 1° Nível rondava, em 90/91,os 35%.

Em cada três alunos inscritos 1 era repetente. Não possuindodados actualizados sobre a pluri-repetência é natural que muitosdestes alunos antes de abandonarem as escolas tenham efectuadovárias repetências, tornando o sistema ineficiente.

A comprovar o fraco rendimento existente poderemossalientar o facto de existirem em média, cerca de 250.000 alunos porano de escolaridade no 1° Nível, enquanto que no 11° Nível essamédia não chega aos 60.000 alunos por ano de escolaridade.

Realçando as assimetrias regionais, verificava-se em 1990/91 que a proporção de repetentes inscritos no 1° Nível vária, para osvalores mais significativos, entre os 50% no Uige, 45% no Huambo,38% em Luanda e 17% no Cunene.

Apesar da insuficiência de dados devido às dificuldades decomunicação e às rápidas mutações no funcionamento das escolas,causadas pela situação politico-militar, poderão estimar-se em14.665 os espaços lectivos funcionando em salas de aulas ou locaisadaptados (alguns de baixo das árvores).

Na maioria das províncias estes espaços são utilizados demaneira intensiva (caso de Namibe, Luanda, Cunene e Lunda-Suletc) , atingindo-se valores rondando os 150 alunos por espaçolectivo.

Noutras províncias como Malange, Cunene, Cuanza-Sul, Bié,etc, esta relação não ultrapassa os 50 alunos, situando-se a médianacional nos 79 alunos por sala.

O número de carteiras existente é insuficiente e a degradaçãode grande parte dos edificios escolares é preocupante.

Dezenas de municípios viram paralisar, nos últimos anos, atotalidade ou grande parte das suas escolas de 1° Nível. Por falta de.condições de segurança, muitos professores foram obrigados ainterromper as suas actividades e inúmeras escolas foram destruidaspela guerra:· Como exemplo desta situação refira-se que, naprovíncia do Uige paralisaram mais de 600 escolas, no Cunene

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Necessidades educativas especiais em rlngola 26

encerraram cerca de 180 e na maioria dos municípios do Moxico eCuando Cubango as actividades escolares foram suspensas.

A definição de uma estratégia para a reformação, expansão econsolidação de um ensino de base mais adequado aos interesses dodesenvolvimento cultural e socio-económico do país, terá de contar,para os primeiros anos de escolaridade, com a indispensávelmelhoria dos conteúdos de ensino, com a elevação das qualificaçõesdos docentes e com a reabilitação e expansão da actual rede deestabelecimentos de ensino.

Para este l° Nível educativo, o ensino particular poderá, nofuturo, vir a desempenhar papel de grande importância. Assim, nasestratégias a definir, terão de empenhar-se os diversos parceirossociais para que assimetrias possam ser atenuadas e para que osprimeiros anos de escolaridade possam constituir os alicercesfecundos e indestrutíveis de todo o edificio educativo.

Educação de base, população alvo

A educação de base ou Educação Fundamental para todos,que constitui a primeira etapa de sistematização das necessidadeseducativas, deve ser encarada numa perspectiva universalista comoum direito dos cidadãos e um dever da colectividade em que semserem.

A Educação de Base poderá ser considerada como umconjunto de meios educativos funcionando em estruturas oficiais eprivadas, susceptíveis de possibilitar ao indivíduo a aquisição deaptidões e atitudes que lhe permitam integrar-se correctamente nasociedade em que vive, participar plenamente nas actividades eadaptar-se às diversas situações com que deverá confrontar-se aolongo da sua vida.

Se esta definição foi considerada satisfatória, a Educação deBase deverá iniciar-se desde o nascimento da criança. Assim, afamília deverá ser considerada a primeira célula educativa.

Para ela, e em particular para as mães, deverá ser orientadotodo o esforço de sensibilização e de formação.

As organizações sociais ligadas à famílias e às mulheres, osmeios de comunicação social e as organizações internacionais desolidariedade deverão desempenhar, a este nível, um papel

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.1 educação especial em Angola 27

importante no sentido de possibilitarem o desenvolvimentoharmonioso e saudável da criança, nos seus primeiros anos deexistência.

Imediatamente a seguir a esta primeira etapa, será necessáriopassar à análise e à organização das estruturas especialistas quedeverão enquadrar e apoiar o desenvolvimento da criança antes deiniciar a sua escolaridade.

Trata-se da fase preparatória ao sistema formal de ensino,onde creches, os jardins de infância e as classes de iniciação terãoum papel decisivo.

Nesta fase, as organizações sociais de carácter privado nãogovernamentais e as estruturas de apoio social, terão um papel deprimordial importância.

Na continuidade desta etapa, uma nova fase de particulartranscendência para as comunidades e para as crianças eadolescentes, deverá desenvolver-se ao Nivel do ensino formal,através da escola primária de frequência obrigatória e universal.

As estruturas do Ministério da Educação deverão agoracoordenar toda uma actividade da organização e desenvolvimento daEducação de Base para todas as crianças dos 6 aos 14 anos.

Pela importância e pelo papel que o Ensino de Base poderávir a desempenhar no futuro desenvolvimento da sociedade, dosprocessos económicos, tecnológicos e científicos, o sistema que viera ser definido, com novos conteúdos, novos métodos, novas escolas,apoios diversos à gestão e ao funcionamento das instituições, terá decontar com a participação e auxílio de todos os parceiros sociaisempenhados no desenvolvimento socio-económico do país.

Para além das crianças e adolescentes em idade escolar, háque não esquecer os que abandonaram ou que não chegaram afrequentar a escola. São os adolescentes e jovens com problemas, osque foram vítimas da guerra, os deficientes, os que não têm famílianem tecto, alguns marginais que deverão ser recuperados.

Para eles, sistemas de orientação, de acompanhamento, deintegração e de formação, deverão ser desenvolvidos, tendo ematenção as suas necessidades educativas e os níveis que a EducaçãoFundamental para todos deverá atingir.

As estruturas de apoio social, as -organizações nãogovernamentais, a cooperação bilateral, terão aqui um vasto campo

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Secessldades educativas especiais em Angola 28

de actuação com o desenvolvimento de programas de emergênciaconducentes à resolução de muitos dos problemas que hoje secolocam à sociedade angolana.

Considerações sobre as escolas do ensino de base

Para que a colectividade possa orgulhar-se das suas escolas epara que estas possam contribuir, de maneira eficaz, para odesenvolvimento do meio ambiente e social em que se inserem, seránecessário centrar todo o processo educativo no indivíduo, tendo emconta o seu desenvolvimento psíquico, intelectual e mental, assimcomo as suas capacidades de compreensão e de assimilação.

Assim, parece conveniente;-organizar campanhas de sensibilização das famílias sobre a

necessidade de enviarem os seus filhos à escola;- melhorar as condições de acolhimento (renovando as estruturas e

reforçando as infra-estruturas);- aumentar o nível de qualificação dos docentes através de uma

formação inicial e contínua;- racionalizar a gestão escolar e a organização pedagógica dos

programas, tornando a escola mais aberta à comunidade e maisligada aos problemas locais;

- apoiar a produção de manuais e materiais escolares, dinamizando.a iniciativa privada e liberalizando os preços;

- conceber programas de educação para a saúde, de conservação doambiente, de educação cívica, de educação sexual, etc.

A escola terá de se transformar em escola de sucesso,reduzindo drasticamente as causas que provocam a repetência e oabandono.

Ela não deverá ser armazém de alunos insatisfeitos com osprogramas, os métodos e os espaços acanhados e insalubres.A escola necessita de espaços amplos e bem organizados, necessitade ser um pólo educativo dinâmico que disponha de meios materiaise financeiros à altura da nobre missão que lhe é confiada.

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A educação especial em Angola 29

Necessidades educativas fundamentais para os vários gruposescolares

As necessidades fundamentais do homem estão relacionadascom:

- a sobrevivência (sade)- a nutrição;- o vestuário;- o alojamento;- a sua protecção, etc.

No entanto, sobre o plano educativo, as necessidadesfundamentais são, para além das referidas, constituidas por aptidõese atitudes que deverão desenvolver nas crianças, adolescentes,jovens e outros adultos:

- o saber; o saber fazer; o saber estar.

Para além destas aptidões e atitudes fundamentais sãoparticularmente importantes, para a população angolana, asnecessidades relacionadas com a saúde, a alimentação, o ambiente ea sociedade.

Assim, para todos os grupos anteriormente referidos, seráconveniente dedicar especial atenção aos conhecimentos sobre oambiente, sobre os métodos e as técnicas de prevenir contra asdoenças, sobre higiene e nutrição, planeamento familiar, educaçãocívica e democrática, etc.

Necessidades educativas fundamentais para a infância

Para as crianças de 0-5 anos poderão considerar-se comofundamentais as seguintes necessidades educativas:

- afecto e segurança;- higiene corporal e meio ambiente;- sociabilização, expressão e comunicação;- educação sensorial e motriz;- actividades lúdicas e de descoberta.

Na estratégia que se vier a definir será necessário priorizar aeducação pré-escolar através da criação de creches e jardins deintancia e da reestruturação e expansão das classes de Iniciação.

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Necessidades educanvas especlGis em Angola

Necessidades educativas fundamentais para as crianças doensino primário

30

Segundo o novo projecto de organização estrutural dosistema educativo, o Ensino de Base deverá possuir 6 anos deescolaridade. Seguir-se-á o Ensino Secundário, cujo 10 ciclo deestudos poderá ser organizado numa estrutura unificada de 3 anos.

Tendo em conta a situação de guerra prolongada por que opaís acaba de passar, os atrasos escolares registados para numerosascrianças, o seu fraco aproveitamento escolar, a grande percentagemde analfabetos ainda existente e o número elevado de adolescentes ejovens com problemas de integração social, considera-serecomendável, para a década de 90, definir-se uma escolaridadebásica de 6 anos que possa dar resposta às seguintes necessidadeseducativas para as crianças e adolescentes da faixa etária dos 6-14anos ao nível:- dos conhecimentos;- das aptidões;- das atitudes;- dos valores;

Para este grande grupo social que constitui o cerne daEducação de Base e que deverá ocupar a primeira prioridade, tantopelos aspectos quantitativos como qualitativos, da estratégia dedesenvolvimento para a educação fundamental para todos, diversasopções poderão ser tomadas de seguinte maneira:

- a definição dos objectivos e organização dos programas doEnsino de Base Regular;

- a formação inicial e contínua dos docentes;- a reabilitação e expansão da rede escolar;- a atenuação das assimetrias regionais actualmente existentes;- a melhoria do rendimento escolar dos alunos;- aos incentivos para o alargamento do acesso à escola e para a

igualdade de oportunidades entre os sexos.

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.1 educação espectai em Angola

Necessidades educativas fundamentais para os adolescentescom problemas

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Um grande número de casos específicos poderá ser detectadoneste vasto sector das crianças e adolescentes com problemas deinserção social.

Ao nível dos deficientes, dois grandes grupos poderão serdefinidos consoante o seu grau de incapacidade;- para uns haverá que organizar processos educativos especificos em

Instituições Especializadas;- para outros haverá que possibilitar a aquisição de aptidões

especificas permitindo ultrapassar ou minorar a sua deficiência,afim de poderem seguir actividades lectivas com programasnormaIS.Ao nível das crianças órfãos, abandonadas, deslocadas,

traumatizadas pela guerra, as necessidades educativas serão própriasde cada grupo social, devendo obedecer o enquadramentosespecificos que permitam:- a estabilização do seu carácter;- o amparo social de que são carenciados;- a aprendizagem de uma profissão;- a inserção na vida activa.

Quanto aos adolescentes e jovens que pertencem as franjasmarginais da sociedade, uma atenção particular deverá ser-lhesdedicada afim de poderem ser recuperados e reintegrados numambiente normal.

Para eles, programas especiais deverão ser elaborados afimde lhes facultar os conhecimentos básicos que permitam:

- a mudança de atitudes e valores;- a aquisição de qualificações profissionais- a inserção na sociedade.

Caracterização da situação socio-económica e suarepercussão sobre a criança

Numa situação de conflito armado vários grupos da populaçãosão afectados e entre eles, as crianças, pois são as mais vulneráveis,

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Xecessulades educatIvas espeClOls em . II1~vla 32

necessitando por isso de cuidados especiais, já que são as menoscapazes de se cuidarem e de se protegerem a si próprias e commaiores possibilidades de sofrerem efeitos a longo prazo. Para ascrianças numa situação de conflito armado, a sensibilidade, odesenvolvimento emocional. as possibilidades de participar na vidanormal e a experiência social em geral são também limitadas,perdendo assim, momentos da sua infância.

Angola vive hoje a mais grave crise da sua história recente. Oreinício do conflito militar e a sua extensão, pela primeira vez, aoscentros urbanos acentuou dramaticamente a instabilidade social eos seus efeitos desestabilizadores e recessivos reflectem-se sobre ascrianças e esse cenário é caracterizado pelos seguintes indicadores:- destruição de estruturas económicas e sociais, particularmente,

hospitais, centros de saúde, creches, lares de infância, escolas,fábricas, etc.

- mortalidade infantil e de menores de cinco anos elevada,situando-se Angola segundo o relatório da UNICEF sobre a taxade 29211 000 e 170/1 000. Dados actuais revelam que cerca de500.000 crianças morrem todos os dias devido a doenças quepodem ser perfeitamente evitáveis.

O aumento do êxodo provocado pela guerra agravou aindamais o fenómeno" Criança de Rua" criança em situação dificil, nosprincipais centros urbanos.Estima-se que cerca de um milhão e meio de crianças enfrentamalgum estado de privação fisica, psíquica e emocional dos quais 540mil vivem em circunstâncias difíceis;

A mortalidade materna estimada entre 600 e 700 por cadacerca de 100.000 crianças nacionais vivas,

A baixa cobertura vacinaI, sobretudo em finais de 1993,devido à suspensão ou abandono total de programas de imunização,em zonas afectadas pela guerra.

Retracção acentuada da rede sanitária, baixa eficácia eadequação dos cuidados primários de saúde;

Abastecimento técnico-material sanitário extremamentelimitado, insuficiente abastecimento de água e débil saneamento domeio em 1990, estimava-se em 30% a cobertura da população comacesso à agua potável e 20% com instalações sanitárias adequadas.

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.4 educação especlQl em Angola 33

Com o desencadear da guerra após as eleições, estes índicesde cobertura baixaram drasticamente;

Má nutrição grave causada pela falta de proteínas erelacionada também com as deficiências em micro-nutrientes comoa vitamina A;

Estima-se que existem 3.000.000 de pessoas directamenteafectadas pela guerra e pela seca entre deslocados e repatriados;

Cerca de 57% de crianças em idade escolar encontram-sefora do sistema de educação;

Existência de um número considerável de crianças trauma­tizadas;

Devido à guerra as dificuldades de acesso a diversas áreas dopaís têm limitado a circulação de pessoas e bens;

Existem 100.000 crianças separadas dos seus familiares;Efeitos originados da guerra e calamidades naturais como a

seca que afectou algumas regiões do país, agravou a situação socialdas populações;

A produção de alimentos tomou-se extremamente baixa e opaís foi paulatinamente dependendo da ajuda externa;

Avaliações nutricionais à população infantil mostram umasubnutrição proteico-calórica;

Aumento crescente de crianças em situação dificil nosprincipais centros urbanos;

O processo de reajustamento económico tem tido fortesrepercussões negativas para os grupos mais vulneráveis;

O reinício da guerra provocou uma grande deslocaçãohumana e neste caso muitas crianças deslocadas vivendo em camposde refugiados ou fora deles, ainda não estão integrados no sistema deensino. E além disso as que já frequentam a escola carecem deatenção e cuidados especiais pois têm grandes necessidades visuais,auditivas, psicomotores e mentais.

Em suma, a fome, a falta de um lar , a mudez, epidemias, oanalfabetismo, a sub escolarização e desnutrição grave, a falta deacesso à água potável e saneamento adequado, atingem distintasparcelas do tecido social angolano em todo o espaço nacionalcomprometendo inexoravelmente o futuro das crianças.

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Necessidades educativas especiais em Angola

Educação especial

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Os serviços de Educação Especial em Angola tiveram inícioem 1979.

Consignado na circular nO 56/79, na sequência e pororientação do despacho do então Senhor Ministro da Educação,Ambrosio Lukoki, registado a 19 11 0/78, iniciaram os estudos sobrea problemática do atendimento a crianças com NecessidadesEspeciais em Angola.

Foi criado o Departamento Nacional do Ensino Especial,através da publicação do Estatuto Orgânico do Ministério daEducação, contido no Diário da Republica nO 113 - la Série.

Os serviços de educação especial são ainda limitados.Abrangem somente um total de cerca de 500 crianças.

Esta cifra será aumentada com o desenvolvimento do C.B.R(Comunity Base Rehabilitation) - Reabilitação com base nacomunidade.

Aplicando as estimativas universalmente aceites segundo asquais aproximadamente 10% da população escolar necessita deserviços de Educação Especial, o número total em Angola rondaestimativamente as 120.000 crianças nesta condição. Nesta ordem deideias, pode-se afirmar que os serviços existentes atingem menos de10% dessas crianças.

Um total aproximado de 5.000 crianças portadoras dedeficiências diversas foram identificadas e registadas em quase todasas províncias do País.

Devido à falta de professores especialmente capacitados, dematerial e de estruturas fisicas, não foi possível providenciarqualquer serviço para elas.

Como resultado desta situação, elas ou ficaram em casa semreceber qualquer atenção, ou frequentam as aulas normais dasescolas regulares onde, entretanto, são postas de parte, isto é votadasao abandono.

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A educação especlQl em Angola

Estrutura orgánica / parte técnica

35

Na república de Angola, o Ensino Especial é administrado econtrolado pelo Departamento Nacional de Ensino Especial quefunciona nas instalações da Estrutura Central do MED, compostopor sua vez, pelos seguintes Sectores Nacionais:

Sector Nacional para Atendimento a Deficientes VisuaisSector Nacional para Atendimento a Deficientes Auditivos e da FalaSector Nacional para Atendimento a Deficientes MentaisSector Nacional para Atendimento a Deficientes MotoresSector Nacional de Diagnóstico e Orientação Psico-PedagógicaSector Nacional para formação Pré-profissional dos DeficientesSector Nacional de Documentação

Distribuição geográfica dos serviços de educação especial

Na Provincia de Luanda- Uma escola para deficientes visuais - Município da Maianga- Uma escola para deficientes auditivos nas Instalações do Centro

Nacional de Reabilitação Física - Município da Maianga- 3 salas de aulas para deficientes mentais nas Instalações da escola

de Ensino de Base do JO Nível " José Marti" - Município daMaianga

- Uma escola para deficientes mentais e auditivos (N° 224)Município do Rangel

- 2 salas de aulas para deficientes mentais, nas Instalações da escolado Ensino de Base do mo nível" Angola e Cuba" - Município doKilamba Kiaxi.

Província da Huila- funciona o Sector Nacional do Ensino Especial nas instalações da

Direcção Provincial da Educação (DPE) ;- Uma escola para Deficientes Mentais, Visuais, Auditivos e da Fala

na cidade do Lubango (Escola polivalente).

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,\'ecessidades educatlvas especiais em Angola 36

Província de Benguela- Funciona o Sector Provincial do Ensino Especial nas Instalações daDPE~

Uma escola para Deficientes Visuais, Mentais~ Auditivos e da falana cidade de Benguela (escola polivalente)

Província do Kuanza-Sul- Funciona o Sector Provincial do Ensino Especial nas Instalações daDPE~

Estão criadas as condições para o arranque do Ensino Especial noAno lectivo 1994/1995

Província do Namibe- Funciona o Sector Provincial do Ensino Especial nas Instalações daDPE~

Estão criadas as condições para o arranque do Ensino Especial noAno lectivo 199411995

Província de CabindaFunciona o Sector Provincial do Ensino Especial nas

Instalações das respectivas DPE; estando em curso a criação decondições para o arranque do Ensino Especial no ano lectivo de1994/1995.

Quanto ao estado dos edificios e equipamentos, importareferir que incluindo a escola para deficientes visuais, a escola nO224 para deficientes mentais e auditivos ambas em Luanda e' aescola para deficientes visuais, mentais e auditivos em Benguela,não existem outras escolas. Tem-se usado como recursos, a aberturade salas especiais em escola do Ensino de Base Regular, por forma aresponder ao aumento constante da população escolarizável comnecessidades Educativas Especiais.

Sendo a Instrução um direito instituicionalmente tutelado, oEstado Angolano garante a igualdade de acesso e frequência dosdiversos níveis de ensino a todos os cidadãos sem discriminação,garantindo ainda deste modo a sua independência de qualquer crençafilosófica e religiosa (laicidade) na formação do indivíduo.

A democratização do ensino deve entender-se como oalargamento das possibilidades de cada cidadão ao acesso à

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· j educação espectaI em Angola 37

instrução, através da cnaçao progressiva de condições que opermitam, dependentes da situação objectiva e das possibilidadeseconómicas do Estado.

Os vários problemas provocados pela deficiência ouinadaptações psíquicas, intelectuais e sociais das crianças,adolescentes e jovens fundamentalmente, foram sempre e agora commaior acuidade, objecto de uma atenção particular por parte deorganismos, tanto nacionais como internacionais, que se interessampela construção de uma sociedade melhor.

Se por um lado, as condições objectivas de um país como onosso, tornam difiei I a prossecução das tarefas inerentes aoatendimento das pessoas portadoras de deficiências e dos queapresentam distúrbios comportamentais, pela subtileza ecomplexidade que o tipo do ensino encerra, por outro lado, asituação da guerra dificulta altamente a realização das tarefaspreliminares à implementação do ensino especial em vários locais donosso País onde várias crianças chamam por atenção especial.

A actual situação do Ensino Especial em Angola caracteriza­-se por uma grande expectativa.

Esta expectativa concretiza-se em termos de actuaçãoquotidiana bem delimitados, que oscilam desde as condições demotivação, segurança, estabilidade dos profissionais até aspreocupações técnicas de atendimento qualificado, passando pelaansiedade provocada por um largo número de casos a atender porfalta de condições de ordem estrutural, material e técnicas.

Perfeitamente diagnosticado e caracterizado o quadro actual,quanto aos grandes objectivos, urge preparar os recursos fisicos(estruturas), humanos e materiais para institucionalizar o que aprática já instituiu por si, eventualmente de forma mais organizada esistemática.

Posteriormente passar-se-ia à programação dos planos deexpansão progressiva e faseada, às províncias identificadas e outraspor identificar, de acordo com os vários aspectos organizativos,estruturais, materiais e metodológicos.

Tendo como propósito a necessidade e urgência de enfrentarnão só os múltiplos problemas relativos ao número excessivamentegrande de crianças portadoras de deficiências, mas também aelevada cifra de crianças vítimas de guerra que não seguem os

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NecessIdades educativas especiOls em Angola 38

rítmos normais de escolarização, urge actuar com rapidez e eficácia,recorrendo principalmente ao concurso de ONG e organismosInternacionais.

,Quadro geral das necessidades da educação especial

• Promoção do desenvolvimento dos recursos humanos- Capacitação dos quadros responsáveis em planificação e gestão

Capacitação dos quadros técnicos que ingressam para o EnsinoEspecial sem formação específica

- Capacitação de técnicos para a elaboração de programas manuais eguias metodológicos para o Ensino Especial

- Superação sistemática dos docentes e outros técnicos em exercício- Formação inicial de docentes e de outros técnicos para o Ensino

Especial

• Melhoria e reforço dos aspectos institucionais:

- Reabilitação de intra-estruturas escolares- Construção de novas estruturas fisicas

• Dotação e melhoria das condições técnicas e materiais:

- Aquisição de equipamento não específico- Aquisição de equipamento específico- Aquisição de acessórios para reposição- Aquisição de meios rolantes- Aquisição de meios bibliográficos- Aquisição de meios didácticos (lúdicos).

Sobre a formação de quadros:

No campo de Formação de Quadros a todos os níveis, deve-seiniciar nas seguintes vertentes (dentro e fora do país):

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•J educação especial em .1ngola

F'ormação inicial:

39

- Formação de quadros médios a Nivel dos Institutos Médios- Formação de quadros Superiores a nível do Instituto Superior das

Ciências da Educação

F'ormaçào em sen'iço:- Planificação e Gestão (Corpos Responsáveis)- Participação em Colóquios, Mesas Redondas-Superação permanente através da informação e de acções

formativas com consultoria- Visitas de estudo e trocas de experiências- Palestras- Workshop

Recursos de /ol11(a duração:-Promoção da Pesquisa e Investigação científica no ramo daEducação Especial- Cursos de Licenciatura- Mestrado- Pós-graduação (em Educação e Saúde)

Bibliografia

Reformulação do Sistema de Educação e Ensino, Ministério daEducação, 1990.

Relatório de balanço do diagnóstico, MED, Luanda, Junho, 1986.Estratégia do sector para o período de 1992-1996, Ministério da

Educação, Luanda, Maio 1991.Diagnóstico do Sistema Educativo a nível do Ensino Geral,

Ministério da Educação, projecto DNA /89/0 19 /Luanda /1991.Relatórios Provinciais, Ensino Especial, 92/93/94.Relatórios Conselhos Consultivos Provinciais.Brochura Mesa Redonda sobre Educação para todos, Luanda, Julho

1991.Relatório UNICEF , 1993.

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Xecessldade.\ eâu( al1l'Q.\ e.\pec 101.\ em.II1R!J/a .fU

Situação da Criança em Angola, Workshop, SAOC/UNICEFZimbabwe, por Matos, Olinda; Ngonda; Afonso; Martins;Judite: Harare, Outubro 1994.

Exame Sectorial, Ministério da Educação, Gabinete do Plano 1994

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Programa do ensino de base regular

Programa de ensino de base regular

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Zivendele Sebastião*

Introdução

o objectivo da educação para todos é de garantir a cadacriança e a cada adulto uma instrução elementar de qualidade;espera-se que os estabelecimentos do ensino primário sejam capazesde responder às necessidades educativas de todas as criançasincluindo as que têm necessidades especiais.

A educação fundamental para todos que constitui a primeiraetapa de sistematização das necessidades educativas, deve serencarada numa perspectiva universalista como um direito doscidadãos e um dever da colectividade em que se inserem. Elaabrange a família, considerada como a primeira célula educativa, aeducação pré-escolar e o ensino primário de frequência obrigatória euniversal.

Para além das crianças e adolescentes em idade escolar, háque não esquecer os que abandonaram ou que não chegaram afrequentar a escola. São os adolescentes e jovens com problemas, osque foram vítimas da guerra, os deficientes, os que não têm famílianem tecto, alguns marginais que deverão ser reintegrados.

Para eles, sistemas de orientação, de acompanhamento, deintegração e de formação, desenvolvidos tendo em conta as suasnecessidades educativas e os níveis que a educação fundamentalpara todos deverá atingir.

• Director Geral INIDE (Instituto Nacional de Investigação e desenvolvimento daEducação)

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Necessidades educativas especiais em Angola

Generalidades

Conceitos

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A Conferência Mundial sobre a educação para todosrealizada em ]omtien em Março de 1990 recomenda que cada paisconceba os meios eficazes e originais que lhe permitam satisfazer asnecessidades em educação da sua própria população.

Dentro desses meios, os programas ocupam um lugarprimordial porque são instrumentos que permitam realizarconcretamente os objectivos duma política educativa e as formaçõesescolares correspondentes.

Reconhece-se também na satisfação das necessidades emeducação, a necessidade de aplicar uma metodologia mais rigorosa,mais lógica e mais coerente à restruturação dos sistemas de ensino eao desenvolvimento do currículo de que faz parte a elaboração dosprogramas.

o que é um Currículo

Não é fácil definir currículo, não só por existir uma certaindefinição terminológica mas também porque na literaturadisponível, podemos encontrar uma larga profusão de definições, naforma e no conteúdo.

Contudo, no sentido lato possível, a caracterização danatureza e âmbito do currículo apontam para a sua concepção ­qualquer que seja o modelo adoptado - como um sistemaorganizativo de elementos que se influenciam mutuamente:a) finalidades e objectivos;b) matéria e conteúdos;c) estratégias e actividades;d) avaliação.

Por outras palavras, um currículo contém o enunciado nasfinalidades e objectivos visados, propõe ou indica uma selecção eorganização de conteúdos de ensino, implica ou sugere modelos,métodos e actividades de ensino-aprendizagem, em virtude dosobjectivos que prossegue e da organização de conteúdos que postula;

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Programa do ensino de base regular 43

inclui, por fim, um plano de avaliação dos resultados deaprendizagem.

Assim sendo, todo o mundo começa a compreender que aeficácia do proces~o ensino-aprendizagem deve muito à coerênciado currículo (objectivo - conteúdo - métodos de aprendizagem ­métodos de avaliação).

o que é um programa escolar?

Por programa escolar podemos entender o documento oficialde carácter nacional em que é indicado o conjunto de conteúdos,objectivos, etc... a considerar em um determinado nível ou classe.

Ele é necessário como estrutura central de referência, nosentido de estabelecer os mínimos comuns em todo o país. Ele é,pois, o marco geral comum a que deve adequar-se o ensino.

A adequação do ensino ao seu destinatário implica escolhadas matérias convenientes para cada programa, mas tem quecompreender também, a possibilidade de contabilizar conteúdosobjectivos e metodologias com os rítmos dos alunos. Isso exigecertas qualidades específicas dos programas, como a flexibilidadeintrínseca que permite a sua adaptação a cada caso e a articulaçãovertical e horizontal, com outros programas.

Assim sendo, é possível e deve ser procurada uma atmosferana escola na qual os alunos se desenvolvam progressivamente, emrítmo e direcções diferentes, segundo as suas necessidades, aptidões,capacidades e interesses.

Objectivos gerais da educação

Os objectivos gerais da educação como estão expostos noProjecto da Lei de Base do Sistema de Educação são os seguintes:

a) formar os cidadãos angolanos em geral, e a jovem geração emparticular, desenvolvendo a consciência sobre a força criadora dohomem e da actividade material com vista à edificação derelações sociais justas e democráticas;

b) desenvolver harmoniosamente as capacidades fisicas, intelectuais,laborais e morais da jovem geração de maneira contínua e

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Necessidades educativas especiais em Angola 44

sistemática, e elevar o nível científico, técnico e tecnológico paracontribuir para o desenvolvimento socio-económico do país.

c) promover o desenvolvimento da consciência social, o respeitopelos valores tradicionais e o respeito pela dignidade da pessoahumana, fortalecendo a unidade nacional, a fraternidade e aigualdade, a democracia, o amor à Pátria e os seus símbolos,defendendo intransigentemente a Independência Nacional;

d) fomentar ,estimular e desenvolver uma atitude de intransigênciapara com todas as condutas que atendem contra as normas deconvivência social;

e) desenvolver o espírito de solidariedade entre os povos.

São esses objectivos gerais de educação que serãoperseguidos pelos diversos níveis de ensino. Eles indicam o rumo eos pontos de chegada desejados em termos dos quais devemcongregar-se todos os esforços da escola. É o conhecimento dos seusobjectivos que vai dar significado ao ensino que nele se processa.

• Sobre o objectivo a

A educação constitui um direito universal do homem aoserviço do desenvolvimento do indivíduo. Ela se destina a todos osindivíduos, tendo em vista as possibilidades de cada um e asnecessidades sociais. Ela deve conduzir a um perfil de educandocapaz de exercer as suas capacidades de análise, raciocínio critico ede decisão ponderada.

Todo o ambiente escolar deve também participar naeducação democrática dos seus alunos tendo em mente que só aprática da democracia educa democraticamente.Deve-se assim, educar no sentido de formar personalidadesconscientes das realidades sociais de que participam.

• Sobre o objectivo b

A jovem geração em geral e os educandos em particularnecessitam de uma educação multifacética ou polivalente e integradaem todos os aspectos da sua personalidade. Trata-se do seudesenvolvimento global em que as capacidades devem ser

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Programa do ensino de base regular 45

desenvolvidas duma fonua harmoniosa. Favorecendo odesenvolvimento dos educandos, é possível facilitar a aquisição dosconhecimentos e competências que ajudam cada um a participarmelhor na vida política, económica e social.

O papel da escola consiste em preparar os educandos paraactuar numa sociedade moderna em mudança penuanente, onde acomplexidade de tarefas a desempenhar é cada vez maior. A escoladeve assim formar mentalidade investigadora, uma vez que estasexigências sociais vão aumentar cada vez mais.

• Sobre o objectivo c

A educação deve contribuir para a evolução social e política.Cabe à escola encaminhar os educandos a melhor compreender o seumeio social, para melhor integrá-lo.

O problema de consciência nacional, tendo em vista aunidade nacional, deve merecer atenções especiais de todas asinstituições nacionais. A educação deve promover os saber~s

nacionais e culturais próprios a assegurar essa unidade. Ela devetambém visar a transformação cultural e social mediante fonuas deeducação para a cidadania que valorizem processos e aptidões deintervenção e o envolvimento social na análise e solução deproblemas comuns.

Cabe à escola, contudo, maior papel, nesta urgentíssimatarefa, elevando os educandos a estudar mais a sério os problemas danossa terra. Ela poderia também desenvolver maior acção, para queas diversas zonas do país se sentissem mais unidas pela simpatia,pela solidariedade.

Deve-se educar para que as relações humanas se estabeleçamem clima de responsabilidade e de igualdade para todos poderemsentir a dignidade de ser homem, sem a condição humilhante dasubalternidade forçada, deve-se pois educar, respeitando aindividualidade. Não diluir o indivíduo no grupo, mas ressaltar o queele tem de próprio, para que melhor possa colaborar na obra comumda sociedade.

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Necessidades educativas especiais em Angola

• Sobre o objectivo d

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A missão da escola consiste em preparar os educandos para odesempenho adequado das suas funções na sociedade. Deve-seformar cidadãos honestos e responsáveis: não há dúvida quanto ànecessidade da escola desenvolver o sentido da responsabilidade,aos educandos, por ser atitude fundamental para a sobrevivência dasociedade. E o melhor caminho para o amadurecimento do sentidoda responsabilidade é o exercício de actividades responsáveis que aescola pode proporcionar.

A educação moral dos educandos é também duma grandeimportância. Ela deve ser fiuto principal do exemplo continuado eda coerência.

É fundamental desenvolver aqui também o espírito críticopois cada vez mais, a vida social é desenvolvida por movimentoscontraditórios, criados por interesses subalternos e egoísticos peloaventureirismo, pela ignorância e pela propaganda.

• Sobre o objectivo e

Deve a escol& possibilitar a formação de uma nova culturageral que dê à compreensão de outras culturas que não são nossas.Essa cultura geral fará com que o indivíduo se sinta, de certo modo," cidadão do mundo ", pela compreensão que alcança dasmanifestações culturais de outros povos, contribuindo para havermais tolerância para com os países e outros costumes e outrosvalores.

Deve-se educar no sentido de dar bem a cultura geral quetem a possibilidade de harmonizar o indivíduo, de dar-lhe umaperspectivá universal, fazê-lo sentir-se parte integrante não só desteou daquele grupo humano, desta ou daquela nacionalidade, mastambém de toda a humanidade.

Objectivos Gerais do Ensino de Base Regular

O ensino de base, estrutura fundaméntal do sistema, temcomo objectivo dar ao aluno os conhecimentos e o mecanismo de

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Programa do ensino de base regular 47

pensamento necessários para a compreensão dos fenómenos naturaise sociais que o rodeiam, adequada utilização dos instrumentos doconhecimento para que possa estar apto a adquirir uma profissãoquando o terminar, através dum estágio ou através do ingresso numInstituto Médio.

Por outras palavras, esse ensino deve dar ao aluno oselementos de base da instrução geral moderna; estes conhecimentos,capacidades, hábitos e habilidades que, como bases sólidas, sãoindispensáveis tanto para a escolaridade regular ou complementar,como para a formação individualizada, devem ajudar odesenvolvimento integral harmonioso do aluno, cultivar e estimularas suas capacidades e a vocação individual, ljudar a escolher afutura profissão.

O ensino de base também deve organizar e conduzir a suaacção pedagógica através de algumas formas estreitamente ligadas,respeitando os binómios teoria/prática, ensino/prática, ensino/trabalho, escola/ vida.

Objectivos específicos do ensino de base regular porníveis de formação

- O 10 NívelOs objectivos fundamentais do 10 nível do ensino de base são:

• Desenvolver e aperfeiçoar o domínio da língua portuguesa;• Assegurar a iniciação às ciências exactas e sociais, a educação

fisica, estética e politécnica;• Preparar o ingresso do n° Nível.

- O n° NívelOs objectivos fundamentais do n° Nível do ensino de base são:

• Iniciar o desenvolvimento sistemático dos conteúdos progra­máticos adquiridos no 10 nível

• Adquirir os conhecimentos de base necessários para o acesso aoIn° nível.

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Necessidades educativas especiais em Angola 48

- O IITo NivelOs objectivos fundamentais do IUO nível do ensino de base são:

• Prosseguir o estudo sistemático das disciplinas que continuam oplano de estudos;

• Adquirir os conhecimentos de base necessários para o acesso aonível seguinte.

Planos de estudos

Os objectivos acima referidos foram ou estão a ser realizadosatravés das várias disciplinas que constituem os planos de estudos doEnsino de Base Regular.

Plano de estudos em vigor de 1978/79 a 1993/94

Áreas de aprendizagem

Esse plano de estudos continha as seguintes disciplinas:• Língua portuguesa;• Língua estrangeira (Inglês ou francês)• Ciências Integradas;• Matemática;• Ciências da Natureza;• Física;• Química;• Biologia;• Ciências Sociais;• Geografia;• História;• Educação Visual e Plástica;• Canto, Teatro e Dança;• Formação Manual e Politécnica;• Produção Educativa;• Educação Física.

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Programa do em1l1o de hme regular 49

A 13, 23

, 33, 43 classes abrangiam 6 disciplinas; a 43

, 53, e 63 classes 8disciplinas, e a r e 83 classes 12

Não iremos fazer aqui uma apresentação dos conteúdos decada disciplina, mas sim alguns objectivos gerais mais salientes paraa sua melhor compreensão:

UIIK1W P()rtll~lIesa

- Fornecer um instrumento de comunicação e expressão oral eescrita, que permita uma integração social e uma participaçãoconsciente no processo político;

- permitir uma compreensão do conteúdo das outras disciplinas, queexigem do aluno um domínio cada vez mais alargado dovocabulário;

- criar o gosto pela leitura e permitir o acesso a obras literárias quepoderão desenvolver a sensibilidade e criatividade dos alunos.

UI1K1W Estran~eira (In~/ês 011 F"'al1cê~)

- Permitir aos alunos a aquisição de uma expressão correcta e livretanto escrita como orai;

- contribuir para o desenvolvimento dos conhecimentos técnicos ecientíficos dos alunos que lhes permita dar a sua parte activa nareconstrução do país~

- contribuir para a formação integral dos alunos no plano politico­ideológico e em cultura geral através dos textos estudados.

('iências Integradas

- Auxiliar os alunos a conhecer e a compreender o seu meio social efisico através da observação directa e indirecta e da reflexão tendocomo ponto de partida as suas vivências;

Matemútlca

- conseguir que os alunos compreendam a estrutura do sistemanumérico e desenvolvam habilidades de cálculo com as diferentes

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Yeces.wdades edUCallVas e.\peClar.\ em .1ngola 50

classes de números, de modo a serem capazes de aplicá-las, com osseus conhecimentos geométricos, à resolução de problemas;

- desenvolver a capacidade de raciocínio dos alunos através daaplicação da análise e sintese, da realização do processo indutivo ededutivo de pensamento, assim como de abstracções egeneral izações;

- desenvolver as formas de pensamento lógico e a capacidade deutilizar correctamente os métodos dedutivos da lógica;

- com isso contribui-se para o desenvolvimento de importantescapacidades mentais: argumentação concreta, inferência lógicaconcreta, valorização crítica de argumentos e deduções e refutaçãode proposições falsas.

( 'iências da Natureza

- contribuir para a formação científica-materialista dos alunosmediante a aquisição de conhecimentos que permitam interpretarcorrectamente os fenómenos que os rodeiam medianteaprendizagem das Ciências da Natureza;

- desenvolver o amor pela natureza e a compreensão da necessidadede a proteger.

Física

- contribuir para a formação e desenvolvimento nos alunos, de umaconcepção dialéctica materialista dos fenómenos fisicos,proporcionando um quadro mais moderno de um mundo elementar,que mostre a diversidade dos fenómenos naturais;

- proporcionar aos alunos um sistema de conhecimentos fisicos ecientíficos e de habilidade e capacidades politécnicas que ospreparem para a sua futura incorporação na actividade social eprodutiva.

{}llímica

- contribuir para alcançar uma educação de base que correspondeaos requisitos contemporâneos do progresso social e cienti-fico-

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técnico, ao transmitir aos alunos conhecimentos sólidos eprofundos sobre a Química.

- conhecer o desenvolvimento químico industrial e agrícola que têmlugar no nosso país e os demais;

- contribuir para o desenvolvimento politécnico dos alunos, com oconhecimento dos princípios científicos da química por meio deestudo de algumas produções industriais, assim como a aquisiçãode habilidades manipulativas e estimular as suas capacidadesintelectuais e criadoras durante a realização dos trabalhos práticos.

- formar nos aluno~ um sistema de conceitos acerca dos processos eprincípios da estrutura fisiológica dos sistemas viventes, para assimgarantirem o nível básico e sua articulação com o nível superior eformação profissional;

- desenvolver condições e habilidade que capacitem o aluno paratransferir conhecimentos e habilidades de maneira criadora novassituações, fundamentalmente aquelas relacionadas com a produçãoe com a vida;

- garantir que os alunos apreciem as riquezas naturais, o valor .daflora e da fauna, reconheçam o amor e protecção que elas exigem ea necessidade de as aumentar, fortalecendo o interesse pelo estudodesta disciplina.

(-'iêllcias ,Sociais

- iniciar-se ao estudo da sociedade angolana numa perspectivamarxista-Ieninista, através do estudo baseado no método dialéctico;

- amar e respeitar o património nacional, através do seu estudo evalorização;

- compreender o papel das massas e do indivíduo nodesenvolvimento social, através do estudo dos fenómenos sociaispassados.

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Sece.\sldade.\ educallvG.\ e.\peclaJS em .lngo/a 52

- contribuir para que os alunos compreendam o valor prático daGeografia, evidenciando qual utilidade dos conhecimentosgeográficos tanto gerais como acerca do país;

- desenvolver o amor pela natureza para compreender a importânciaque tem o ambiente, a conservação e aproveitamento racional dasriquezas que ela nos oferece

História

- estimula nos alunos um maior interesse pela história e pelosproblemas socio-económicos e políticos do nosso país e do restodo mundo;

- contribuir para o desenvolvimento da consciência nacional;- desenvolver sentimentos de solidariedade e admiração pelos

movimentos nacionais de libertação, pelo Movimento OperárioInternacional e por todos os povos do mundo que lutam contra ocapitalismo em todas as suas formas

EduClU,:ilo l 'isua/ e Plástica

- participar no fortalecimento da consciência nacional, não só pelosconhecimentos de todos os problemas colectivos quer políticosquer económicos ou sociais, quer pelo contacto com a culturanacional tradicional e contemporânea particularmente através dasartes visuais;

- facultar as condições para o desenvolvimento da criatividade dosalunos.

- contribuir para o desenvolvimento harmónico da personalidade dosalunos;

- desenvolver o sentido estético dos alunos.

Canto, Teatro e lJança

- participar no fortalecimento da consciência nacional, não só peloconhecimento de todos os problemas colectivos quer políticos quer

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Programa do ensino de base regular 53

económicos ou sociais, quer pelo contacto com a cultura nacionaltradicional e contemporânea, através de canto, teatro e dança;

- facultar as condições para o desenvolvimento da criatividade dosalunos;

- contribuir para o desenvolvimento harmónico da personalidade dosalunos;

- desenvolver o sentido estético dos alunos.

Formação Mamlal e Politécnica

- dotar os alunos de um sistema de conhecimentos sobre a naturezatécnica e tecnológica em ligação estreita com os trabalhos práticos;

- desenvolver nos alunos habilidades e hábitos de trabalho laboral nomanejo e utilização dos materiais e instrumentos de trabalho aoconstruirem objectos socialmente úteis;

- dotar os alunos de uma formação politécnica de base, de modo apermitir uma posterior definição vocacional de acordo com asexigências do desenvolvimento socio-económico do país.

Produção Educativa

- sensibilizar os alunos para o trabalho de produção; assim ela deveser de carácter politécnico e dirigida fundamentalmente à aquisiçãode conhecimentos práticos através das actividades agrícolas,artesanais ou industriais que permitam criar nos alunos aconsciência e/ou o hábito de ligação do trabalho intelectual!manual.

Educação Física

- elevar o nível da condição fisica;elevar os alunos a comprometerem-se numa actividade desportivapela compreensão da necessidade vital da prática do exercíciofisico e pela comprovação dos seus beneficios;

- desenvolver nos alunos qualidades volitivas inerentes à formaçãodo cidadão capaz de contribuir activamente para progresso eenriquecimento da sua pátria.

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Xecessldades educativas especiaIs em Angola

Análise Crítica

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Na concretização do actual sistema de educação e ensinoiniciado em 1978, foram constatados em 1980, alguns erros, devidosà dificuldades objectivas, fruto dos conhecimentos gerais da vidanacional, sobretudo a carência de estruturas fisicas e de meiostécnicos, materiais e humanos em quantidade e qualidade, errosesses que se reflectem no rendimento escolar.

Assim, foi feito um estudo crítico geral (diagnóstico) doconteúdo do ensino de base regular. Os resultados da análise teóricageral permitiram, entre outras, as seguintes considerações:• as deficiências do plano de estudo do ensino de base regular

revelam-se em primeiro lugar, pelo seu significado e estruturadas disciplinas. Por exemplo a inclusão no n° nível da disciplinade Ciências Sociais de forma integral (sobreposição deconteúdos geográficos e históricos) rompeu completamente naconsciência e no ritmo de estudo de disciplinas fundamentaisdepois de ter dado uma iniciação à Geografia e outra à Historiana 4a classe;

• o plano de estudo não se cumpriu ou ainda não se cumpre emvárias escolas, pois não são ministradas as disciplinas deFormação Manual e Politécnica, Educação Física, ProduçãoEducativa, Canto, Teatro e Dança e Educação Visual e Plástica;

• as definições de Produção Educativa e Canto, Teatro e Dançanão se materializaram nas escolas através de um programadeterminado, nem de uma forma sistemática;

• o programa de Formação Manual e politécnica não reflecte opapel tão importante que esta disciplina deve desempenhar naformação de habilidades politécnicas e não se reafirma, com aestrutura e o conteúdo que apresenta, o carácter criador daactividade laboral;

• o tempo disponível para o desenvolvimento dos conteúdosbásicos das disciplinas, sobretudo no lHO nível, não é suficiente jáque em 2 anos não se pode completar o desenvolvimento lineardas bases das ciências. De acordo com os resultados da análiseefectuada, concluiu-se que era imprescindível produzir mudançassubstanciais no sistema educativo, as quais não podem reduzir-sea uma forma simples, alteração de conteúdo, nem a modificações

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Programa do ensino de hase regular 55

parciais, mas sim transcenderem para transformações estruturaisfundamentais e novas concepções no enfoque da educação, para odesenvolvimento da nova geração.

Plano de estudos do Ensino de Base Regular (1978179 - 1993/ 94)

NÍVEIS r CLASSE DE 10 NI\'EL no 1110 NÍVELCLASSES 1:'IilCIAÇÃO l"Í\'EL

DISCIPLINAS

1" 2" 3" 4" 5" 6" 7" 8"Língua 8 8 7 7 6 6 4 4PortUlmesaLíngua 4 4EstranQeiraCiênclas 3 3 3IntegradasClênclas Naturais 3 5 5Matemática Ó 6 6 6 6 6 6 6Física 2 2Química 2 2B1OloQia 3 3Ciências Sociais 4 4Geogratia 2 2 3 3Históna 3 3 3 3E Vlsual e 3 3 3 3PlásticaCanto, Teatro e 1 I 2 2DancaFor Manual e 2 2 2 2 2 2 2 2PohtécnicaProdução 2 2 2 2EducativaEducacão Física 2 2 2 2 2 2 2 2TOTAL 22 22 27 27 30 30 36 36

Plano de Estudos melhorado desde o Ano Lectivo 1994 /95

o trabalho analítico efectuado levou-nos a criar na etapapresente do saneamento e estabilização do sistema de educação,condições óptimas que permitam efectuar mudanças fundamentaisna estrutura e no conteúdo.

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Necessidades educativas especiais em Angola 56

As mudanças que se requerem no conteúdo da educaçãodevem ser conseguidas tendo em conta o nível de desenvolvimentoda ciência, técnica e cultura e exigências do desenvolvimento dopaís.

Plano de estudos Melhorado de Ensino de Base Regular

NÍVEIS e CLASSE DE la NÍVEL lIa NíVEL mo NíVELCLASSES INICIAÇÃO

DISCIPLINASI" 2a 3a 4a 5a 6a 7" 8a

Língua 8 8 7 7 6 6 4 4PortuguesaLíngua 4 4EstranaeiraCiências 3 3 3IntegradasCiências Naturais 3 5 5Matemática 6 6 6 6 6 6 5 5Física 2 2Química 2 2Bioloaia 2 2Ciências SociaisGeografia 2 2 2 2 2 2História 2 2 3 3 3 3 3 3E. Visual e 2 2 2 2PlásticaCanto, Teatro e 2 2DançaEd. Manual e 1 1 2 2 2PlásticaProduçãoEducativaEducação Física 2 2 2 2 2 2 2 2TOTAL 22 22 25 25 28 28 30 30

Assim sendo, com base nas mudanças políticas e socio­económicas verificadas no nosso país surgiu a necessidade de retirara carga ideológica que caracterizou muitos dos nossos materiaispedagógicos nomeadamente os programas e manuais escolares.

As alterações introduzidas nas várias disciplinas levaram-nosa não reformular esses materiais mas sim modificá-los pontualmentecom vista à sua melhoria qualitativa.

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Programa do em.lnO de hase regular 57

Foi adaptado pois, desde o ano lectivo 1994/95 um plano deestudo melhorado (ver quadro seguinte.) com as seguintesalterações:

a) a retirada da disciplina de Ciências Sociais na 5a e 6a classes e asua substituição pelas disciplinas de Geografia, História eEducação Moral e Cívica;

b) a retirada da disciplina de Formação Manual e Politécnica no l°nível e a sua substituição pela disciplina da Educação Manual ePlástica;

c) a retirada total da disciplina de Produção Educativa.

No caso concreto da disciplina de Geografia e História osalunos ao terminarem a 6a classe - apesar de terem aprendidoalgumas noções destas disciplinas em Ciências Sociais e eminiciação à História de Angola e iniciação à Geografia - as mesmassão novas para eles na 7a classe, obrigando os professores a partir dezero, o que toma muitas vezes dificil a aprendizagem dedeterminados conceitos básicos destas disciplinas.

Quanto à Educação Moral e Cívica tomou-se a dar-lhe umoutro corpo. De algumas noções de civismo dadas em CiênciasSociais juntou-se a Moral que é algo imprescindível na formação dasjovens gerações.

No que respeita à educação Manual e Plástica, ela é no fundoa fusão das disciplinas de Formação Manual e Politécnica eEducação Visual e Plástica. Ela aparece com o objectivo de eliminara lacuna de conteúdo existente actualmente da 1a a 4a classe. Assima partir da 1a classe, além dos trabalhos com papel, tesoura, cola eoutros, o aluno começa também a ter noção das cores e aprender autilizá-las.

Todavia, e de acordo com a lei nO 12/94 de 2 de Setembro de1994, sobre a duração de trabalho na administração pública, os diasde aulas no ensino de base regular passaram a ser de Segunda aSexta feira.

Daí, o número total de horas semanais foi reduzido aomáximo de 30 horas nomeadamente no n° e mo Níveis do Ensinode Base Regular com 6 tempos lectivos por dia.

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Necessidades educativas especims em Angola 58

A melhoria do programa do ensino tendo em conta asnecessidades de desenvolvimento nacional e uma preocupaçãoimportante a nível das instituições educativas nacionais. Assim oprocesso de melhoria e continuado.

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PARTE II :

PARTICULARIDADES ENECESSIDADES

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Deficiências mentai.s : noções gerais e definições 61

Deficiências mentais : noções gerais e definições

Angelo Samuango*

o Ensino Especial faz parte do sistema de clenciaspedagógicas. É também a ciência que estuda as particularidadespsicológicas e fisiológicas do desenvolvimento da criança queapresenta insuficiências fisicas ou psíquicas, estuda também as leisgerais que regem o processo docente educativo nas escolasespecIais.

De forma sistemática, a defectologia ampliou a esfera dassuas investigações. No início o seu objecto de estudo era as criançascom problemas ou transtornos severos no desenvolvimento (surdos,cegos, hipoacústicos, transtornos de linguagem, deficiênciasmotoras, deficientes mentais).

Posteriormente esta ciência abarcou crianças que apresentamalterações menos marcadas.Esta ciência através das suas subdivisões faz um estudo detalhado eprofundo das particularidades de cada uma das categorias decrianças deficientes. E cria os planos de estudo, métodos eprocedimentos especiais para cada grupo de crianças.

Oligofrenopedagogia: (do grego oligos-pouco, phren-mente)cria o sistema instrutivo-educativo para crianças com insuficiênciasintelectuais.

A defectologia encarrega-se ainda da elaboração de sistemateórico para o Ensino e Educação de crianças com transtornos deconduta, atraso no desenvolvimento psíquico, distúrbios naaprendizagem, etc.

• Chefe de sector nacional de Deficientes mentais

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Necessidades educativas especiOls em Angola

Características Gerais da Criança Deficiente

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De forma geral, as crianças portadoras de deficiências fisicasou mentais não podem cumprir com as exigências do centro infantilou da escola. Apresentam características específicas no seudesenvolvimento e na formação das suas qualidades psíquicas e deforma geral da sua personalidade que requerem uma atençãoespecializada.

A presença duma deficiência fisica ou mental é consequênciaduma alteração orgânica ou funcional de algum analisador, doaparelho motor ou em geral do sistema nervoso.

A presença de uma lesão cerebral e de uma irregularidadefuncional do organismo ou de qualquer outro factor que produza asdeficiências mencionadas, traz como consequência que numacriança se altera o desenvolvimento normal do seu crescimento, dassuas funções psiquicas e em geral das suas qualidades fisicas. Porcausa destas alterações o desenvolvimento da criança define-secomo anormal ou deficiente.

Também existem crianças que apresentam desajustes edeficiências na sua formação devido a uma inadequada atenção eeducação na família e também por abandono pedagógico no períodopré-escolar ou escolar. Em ocasiões, o abandono pedagógico e ofamiliar estão relacionados, agravam o estado da criança que podeapresentar algum tipo de deficiência orgânica ou funcional.

Para se compreender as características gerais que apresentamas crianças com desenvolvimento anormal é necessário saber osconceitos de defeitos primários e secundários.

Defeito primário

o que se produz devido a uma alteração de carácter orgânicoe funcional no sistema nervoso.EXEMPLO: Como consequência de uma alteração no analisadorauditivo se produz uma deficiência na percepção auditiva que écatalogada de defeito primário, o mesmo pode acontecer noanalisador visual, que produz uma alteração na percepção visual.

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Deficiências mentais: noções gerais e definições

Defeito secundário

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É uma alteração na formação e desenvolvimento psíquico efisico do indivíduo na base do defeito primário.Exemplo: Uma criança surda: a deficiência na percepção auditiva dácomo consequência defeitos secundários tais como: deficiência nodesenvolvimento intelectual e alteração da personalidade.

Característica da deficiência mental

Deficiência Mental: (conceito médico actual) é um comportamentoque não tem uma etiologia única.Deficiência Mental: (conceito psico-pedagógico) refere-se a umfuncionamento intelectual geral significativamente a baixo da média,acompanhada por deficiências ou prejuízos significativos nofuncionamento adaptativo e aparecimento antes dos 18 anos.

Algumas características gerais

Pensamento : É uma forma de reflexo mediato, generaliza arealidade objectiva que conduz ao descobrimento de relações econexões entre os objectos e fenómenos. O que significa que emborao pensamento parta da informação obtida através de percepções,estas são um reflexo da realidade imediata quando percebemos umobjecto ou fenómeno.

o pensamento como processo

No processo que o pensamento percorre no cumprimento de umafinalidade, existem as seguintes operações:

Comparação É a forma mais elementar do conhecimento baseadoem qualidades e relações exteriores. Efectua-se confrontandosemelhanças e diferenças como forma simples de classificação.

Analise: É a operação pela qual se separa ou divide um objecto oufenómeno em partes ou/e nexos, eliminando os elementos casuais enão essenciais.

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Necessidades educativas especiais em Angola 64

Síntese: Não é mais que a reconstrução de um objecto ou fenómenoutilizando os elementos e relações essenciais do mesmo.

Ahstração : É a separação de um elemento ou qualidade de umobjecto ou fenómenos do resto de seus elementos constituintes.

Generalização : operação pela qual se estende uma qualidade ouunião abstraido a todos objectos de um género dado.

Alterações do pensamento

Classicamente têm sido divididas em- Alterações de origem- Alterações de percurso- Alterações de conteúdo

Transtornos de origem do pensamento

Pensamento místico: A sua característica fundamental é a deconstituir-se através de associações formais que não têm em conta aessência dos fenómenos.No sujeito normal , o pensamento místico é frequente durantesituações de crise como é o caso da solidão na guerra, e outrasocupações ou tarefas perigosas.

Pensamento autista: Nutre-se na forma predominante devivências alucinatórias e imaginativas que não correspondem àsituação real em que se encontra o sujeito e o separam desta. Estetipo de pensamento é próprio da esquizofrenia, embora também sepossa apresentar noutras psicoses com grande dimensão alucinatóriaprincipalmente quando existe a tomada de consciência.

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Deficiências mentais: noções gerais e definições

Transtornos de percurso do pensamento

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Aceleração: Aumento da velocidade com que fluem asideias, o ritmo do pensamento é mais rápido e o paciente tem asensação de ter grande facilidade para pensar.

Fuga de ideias: o pensamento flue com uma velocidade talque a linguagem não pode acompanhar pelo que tem que dar saltos equem estiver a escutar o paciente aprecia a sua linguagem inconexa.

Lentidão: O ritmo das ideias é lento e trabalhoso. Nopaciente o que admira é impressão que dá o simples esforço dopensar que aparenta ser um grande sofrimento.

Bloqueio : Interrupção brusca do percurso do pensamentocom ausências de ideias. O sujeito mostra-se surpreendido eangustiado pelo que lhe sucede. O bloqueio é considerado umtranstorno peculiar da esquizofrenia.

Transtornos de conteúdos do pensamento

Ideias deliroides: Ideias que não reunem todas as carac­terísticas provocadas geralmente por estados emocionais.

Ideia fixa: São ideias que aparecem de maneira repentina namente. Por estas ideias não determinarem a conduta nemperturbarem o juízo, vão perdendo intensidade a medida que passa otempo.

Ideia fóbica: São medos intensos e incontroláveis de carácterangustioso para com objectos ou situações concretas que não ojustificam, por não constituir perigo para o sujeito.

Roubo: Interpretação delirante do bloqueio do pensamentoatribuido a influências externas.

Digressão: A ideia reitora é incapaz de conduzir opensamento para uma finalidade proposta. Esta desvia-se

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Necessidades educativas especiais em Angola 66

continuamente para diferentes temas sem chegar a constituirnenhum.

Perseveração: Dificuldade para trocar de tema uma vez quese tenha esgotado. O paciente volta sempre ao mesmo tema, emboraa conversa geral trate de outros assuntos.

Prolixidade: O pensamento sem perder a sua finalidade dáuma serie de voltas, por não poder separar o essencial dos detalhessem importância.

Esterotipia: Repetição automática ou impulsiva de ideias oufrases no percurso do pensamento sem que tenha relação com omesmo.

Linguagem: É a capacidade exclusiva do homem de reflectirpor meio de sinais convencionais, os acontecimentos e fenómenosda realidade objectiva atraídos, generalizados pelo pensamento.

Principais funções da linguagem

Função comunicativa: A linguagem é o principal meio decomunicação entre as pessoas. A linguagem é um fenómeno social,surgiu e se desenvolveu devido à necessidade de comunicação entreos homens. Função nominativa dentro do próprio processo decomunicação, o homem por meio da palavra denomina os objectos efenómenos da realidade.

Função reguladora: A linguagem faz possível a planificaçãoda actividade, motiva a acção, desperta o interesse para realizar asacções. O indivíduo pergunta, pede, exige, etc; por meio dalinguagem o indivíduo conhece as normas sociais e subordina-se aelas.

Função nominativa: A linguagem tem uma participaçãodirecta na aquisição de conhecimentos pelo homem, ajuda-nos aconhecer o mundo real.

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Dejiclências mentais: noções gerais e dejimÇlJe~ 67

Memória: É a função psíquica através da qual fixamos osacontecimentos que tenham impressionado os nossos sentidos paradepois levá-los a consciência reconhecendo-os como ocorridos nopassado.

Alterações da memória

AMNES: ausência parcial ou total do ocorrido.HIPOMNESE: Diminuição da capacidade de recordar.HIPERMNESE: Aumento da capacidade de recordar.ILUSÃO DE MEMÓRIA: Deformação ilusória de umacontecimento.ALUCINAÇÃO DA MEMÓRIA: Se recorda o que não temsucedido.CRIPTO : O paciente não reconhece uma recordação como tal.

Sellsopercepção: É o reflexo imediato da realidade objectiva,na consciência do homem captada através dos órgãos dos sentidos.Sensação: unidade do processo sensível , é o reflexo de uma sóqualidade sensorial isolada.Percepção: Capacidade de representação do objecto ou sensívelcomo um todo com o significado próprio da história do homem.

Alteração da sensopercepção

Hiperestesia: Aumento da intensidade dos estímulospercebidos.

Paresesia: Sensações inadequadas produzidas para umestímulo que geralmente produz outra sensação.

Ilusão: Percepções deformadas de objectos.

Alucinações: Percepção sem um objectivo que o provoque,mas que o indivíduo reconhece como c'onsequência de sua alteração.

Pseudo Alucinações: São representações imaginárias queadquirem o carácter de percepções reais.

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A'ecessidades educativas especims em Angola 68

A Organização Mundial da Saúde (OMS) guia-se por umcritério etiológico para classificar todas as doenças, e quando se tratade fazer a classificação da deficiência mental não tem em conta assuas diferentes formas ou manifestações clínicas específicas.

Na ga revisão de classificação internacional de doenças,discutiu-se e definiu-se a deficiência mental na base dos seguintescritérios:

1. A deficiência mental é definida como estado de desenvolvimentoincompleto ou reduzido.

2. Caracteriza-se especialmente por sub-normalidade da inteligência.3. As suas causas frequentemente originam-se de traumatismo ou

doenças somáticas.4. Com frequência envolveram transtornos psiquiátricos ou doenças

psiquiátricas.5. Para se realizar o diagnóstico é necessário ter em consideração

toda a informação disponivel.6. Utilizar os termos de deficiente mental e sub normalidade mental

como sinónimos.Na actualidade as experiências no atendimento à criança,

adolescentes e jovens deficientes mentais aponta para a seguintedefinição conceptual da entidade como a mais completa:

Deficiência menta/: É o estado do indivíduo no qual se produzemalterações nos processos psíquicos de forma geral,fundamentalmente na esfera cognitiva estas alterações são estáveis edevem-se a uma lesão orgânica no sistema nervoso central decarácter difuso irreversível.A deficiência mental pode ser classificada respeitando fundamental­mente dois critérios:1. A profundeza do defeito, que determina a adaptação social doindivíduo.

a) Leveb) Moderadoc) Graved) Profundo

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Deficiências mentais: noções gerais e definições

2. A etiologia; momento em que ocorre a lesão:a) Pré-natalb) Peri-natalc) Pós-natal

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Também existe a forma, que se tem em conta de acordo comos síndromas acompanhantes.

a) Formas não graves do deficiente mentalb) Graves do deficiente mental (Associados ou transtor-nos

neurodinámicos dos analisadores, transtornos mais ou menosseveros da personalidade e as enfermidades neuro-psíquicas.mais ou menos graves.

Algumas características específicas das distintas categorias dedeficientes mentais

Deficiência menta/leve

As funções intelectuais destas crianças estão maisconservadas pelo que no processo do desenvolvimento têm maioresprogressos que os deficientes moderados.

Estão aptos para o ensino nas escolas especiais paradeficientes mentais.

No processo de ensino se enriquece a amplitude das suasrepresentações, conhecimentos e habilidades.

Notam-se particularidades individuais do temperamento, docarácter e reacção emocionais.

Possuem grandes possibilidades para a aprendizagem edomínio de alguns tipos de actividade laboral.

O vocabulário passivo predomina consideravelmente sobre oactivo.

Frequentemente têm afectada a pronunciação e submetem-sea acção comunicativa com grandes dificuldades.

- Mantêm o agramatismo por muito tempo.- Apresentam falta de interesse pelo que lhes rodeia.- Não se esforçam para actuar de forma independente- São negativistas.

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Necessidades educativas especiais em Angola 70

A actividade lúdica destas crianças distingue-se pela suauniformidade, monotonia, não manifesta interesse pela brincadeira,pelo que se distraem facilmente e a busca de novas variantes dejogos está ausente.- Podem ter manutenção mínima.- Podem desenvolver hábitos socialmente úteis.- Apresentam dificuldades na motricidade fina.

Deficiência mental moderada

- Podem encontrar algumas características diferenciadoras entre osobjectos.

- Fazem a síntese prática com certas limitações, por exemplo: Sãocapazes de compreender uma lámina seleccionada, mas na maioriados casos só se consegue depois do ensino.

- A atenção é instável: distraem-se e esgotam facilmente, sobretudodurante as aulàs de leitura e escrita

- A memória é fraca. Só alguns deles dominam a leitura, a escrita eo cálculo ordinal.

- Os fracassos lógicos estão a um nível muito baixo, na maioria dosdeficientes mentais moderados, podem reproduzir o lido com ajudade perguntas.

- Durante a aula desintegram-se e esquecem-se dos conhecimentosadquiridos, e o que arquivam, reproduzem-no de forma mecânica.

- É característico o estancamento, a pouca mobilidade dos processosmentais e a fraqueza da abstracção.

- As operações são realizadas de forma automatizada, sempre do, mesmo modo, e preferem fazer o 'que para eles resulta fácil e

rápido. '- O negativismo manifesta-se frequentemente durante as aulas.

I _ O surgimento da linguagem é tardio, as primeiras palavras surgementre os 3 e 4 anos.

- Vocabulário pobre.- Apresentam agramatismo: erros de concordância, na conjugação de

verbos, e omissões nas terminações das palavras.- 'A pronúncia encontra-se afectada.-" a esfera emotivo-volitiva é mais rica; as suas" relações com pessoas'variam com simpatia e outras negativamente.

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Deficiências mentais: noções gerais e definições 71

- Apresentam características egocêntricas.- Estas críanças são pouco capacitadas para o ensino e actividade

escolar em geral, mas chegam a dominar hábitos escolareselementares.

- Realizam tarefas da limpeza e embelezamento de locais.Trabalham com dedicação nas oficinas, podem realizar tarefasagrícolas tais como: cuidar dos animais, trabalhar na horta, nosjardins, etc.

Deficiência mental grave

Apresentam uma severa insuficiência no desenvolvimento docérebro, uma profunda afectação de toda a actividade psíquica.As suas reacções frente a diversos estímulos externos estãonotavelmente diminuidos (estímulos sonoros, luminosos, gustativose dolorosos, frequentemente põem na boca tudo o que lhes chega àmão).- A imobilidade é característica, permanecem sentados ou deitados.- Os seus movimentos e acções são automatizados, inúteis e

caóticos.- carecem de linguagem, só emitem sons isolados e espontâneos.- Nesta criança é característico o desenvolvimento do sentimento de

carinho à pessoa que os cuida ou atende.- A música na maioria destas crianças actua como sedente.- Estas crianças adquirem hábitos de autovalidismo e higiene.

Deficiência mentalprofunda

- Desenvolvimento motor deficiente.- Linguagem mínima- Mectada a motricidade fina e grossa.

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Atendimento oftalmológico da criança comdeficiênça visual

o atendimento oftalmológico da criança comdeficiência visual

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Dr. Kivitidi-Makani António Bento*

Introdução

Como é do conhecimento de todos, dos cinco sentidoshumanos, os dois mais preciosos são sem dúvida, a vista e o ouvido.Mas o aparelho auditivo, quase inteiramente endocraniâno, é omelhor protegido.

O olho, " Janela sobre o mundo", é muito mais vulnerável eos agressores são tão numerosos que não podemos ser surpreendidosque haja tantas lesões oculares. O olho externo possui poucasdefesas anatómicas ou fisico-químicas.

A cegueira pode ser definitiva quando já não exi~tepercepção luminosa com a abolição do reflexo fotomotor. tstasituação só se encontra em duas circunstâncias etiológicas:- interrupção da via óptica ou- quando a retina está atingida; uma alteração da transparência dos

meios oculares, quanto importante que seja, não suprimeexcepcionalmente a percepção luminosa, e nunca anula o reflexofotomotor.

Quando o início é brutal, isso orienta já a uma paragemcirculatória retiniana.Uma criança que já não pode ter uma percepção luminosa ou quetem pouca visão, (pouca acuidade visual), necessita duma formaçãoespecial que poderá ajudá-lo a ter uma vida mais ou menosautónoma, para que não fique sempre um peso para a família e asociedade, mas que possa também desenvolver uma actividade no

• Médico oftalmologista, Hospital Josina Machel

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Necessidades educativas especiais em Angola 74

sentido de contribuir para o bem estar da sua vida pessoal e dasociedade em geral.

Ajudas visuais clássicas e ópticas

Nos esforços de encontrar as vias mais adequadas derecuperação dos deficientes visuais, as ajudas visuais clássicas ouópticas datam já dum certo tempo nos países desenvolvidos: oalfabeto Braille clássico, a cana longa de Hoover, o cão guiadorconstituem um instrumento inseparável do cego, ou do deficientevisual.

Como é sabido, agora o Braille é um instrumento básico numprocesso de ensino e aprendizagem dos cegos na leitura e naescritura , que libertou o deficiente visual da total dependência nasociedade modema.

Hoje, a partir dessa técnica, o cego, para além dacomunicação verbal, pode relacionar-se com os outros por escrito àsemelhança das pessoas normais.

Deste modo toma-se capacitado a realizar alguns trabalhosintelectuais: engenheiros, professores, músicos, artistas e arquitectosetc...

A cana longa de Hoover tem contribuido profundamente paraa liberdade individual dos deficientes visuais, facilitando a sualocomoção sem recorrer a uma ajuda externa.

Nos paises desenvolvidos, os cegos, com esse instrumentocirculam de bairro a bairro e mesmo dum país a um outro com toda afacilidade.

Contudo, esse instrumento, se ajuda o deficiente visual,necessita também duma boa educação da população em geral e dosmotoristas e trânsitos que devem prestar uma atenção especial nelesquando os encontrarem nas vias públicas.

O cão guiador, como acima referido, facilita também adeslocação dos cegos que podem circular sem ser acompanhadospelos familiares.

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Atendimento oftalmológico da criança comdejiciênça visual

Ajudas visuais electrónicas

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De introdução recente, as ajudas visuais electrónicas sãomenos dos oftalmologistas que as ajudas visuais ópticas, sobretudoque algumas dentre elas estão ainda na fase experimental. Todavia,podem já em certas circunstâncias dar uma ajuda não negligenciávelna adaptação dos deficientes visuais, como complemento das ajudasópticas visuais.

Dois casos podem ser distinguidos:'Iii .

- O cego, já habituado com alfabeto Braille em que a electrónicaintervem:quer para ajudar na transformação de textos normalmenteimprimidos, alfabeto Braille;quer com o fim de transferir informações sensoriais.

- O ambíope e hemerálopo nos quais persistem uma pequena visão enos quais investigamos:um engrandecimento de imagem retiniana.uma amplificação fotónica

As ajudas electrónicas

O cego dispõe para a leitura e o cálculo do alfabeto Braille,para sua deslocação da cana guia e do cão. Os sistemas electrónicosintervêm para facilitar a decifragem, a compreensão e a redacção dostextos e aumentar as facilidades de deslocação.

O BRAILLE facilita a duplicação , o registo e a leitura dasinformações, assim permite evitar os problemas causados pelaescritura em Braille segundo o método clássico (que impõe umaescritura inversada), o controlo permanente do texto compossibilidade de correcção dos erros e armazenagem dasinformações nas cassetes.

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Necessidades educativas especiais em Angola

Existem outros sistemas:

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- Sistemas que permitem a transformação instantânea da escrituranormal em Braille (interpretação autónoma de Braille-loos;Braille convertissor)

- Conversão no sentido oposto ( Braillomat, Simulbraille)- Dispositivos que facilitam o cálculo electrónico em Braille

(engenheiro).Dispositivo electrónico útil aos diabéticos cegos: um

controlo sonoro adaptado na seringa que lhe evita os erros dedosagem das injecções de insulina.

- O melhoramento da acuidade visual de ambíope

o televisor em circuito fechado permite aos ambíopesaumentarem a sua capa~idade de leitura com engrandecimento daimagem retiniana e escritura-máquina.

Este modo é indicado para pacientes com alcance parcial damácula e com a acuidade visual entre um por vinte e um por dez.

Sistemas ópticos que engrandecem: Lupas, sistemasmicroscópicos, sistemas telescópicos e telescópios cujoengrandecimento é geralmente inferior.

- O melhoramento da hemeralopia com ajudas técnicas;.

Óculos com amplificação de Brilho, consiste em amplificarluminescência residual dos objectos.

- A transferência das iliformações visuais aos receptores tácteisa) O optacon: transforma a imagem electrónica duma letra em

sensação táctil. Os outros aparelhos visam melhorar alocomoção do cego.

b) A cana lazer: usado na Suécia. Transforma a reflexão dumaemissão lazer sobre um obstáculo numa vibração.

c) Aparelho de colbin: A transferência das informações visuaisaos receptores auditivos.

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Atendl1llento l?{talmológlco da criança comdeficiênça visual

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Para leitura dois aparelhos: stereotoner (USA) transforma aluz num som.

Conclusão

Nota-se que as perspectivas ofertas por essas ajudaselectrónicas só podem ser encaradas como complemento dosmétodos clássicos, porque são extremamente úteis para facilitar adecifragem e a escritura de Braille ( Digi- cassete) no ambíope epara permitir aos cegos: uma leitura directa dos textos, umadeslocação mais segura.

Contudo antes de encarar a utilização de tais sistemas,convem estudar os serviços reais que podem alcançar essas ajudas esobretudo as motivações do paciente, por que a aquisição do usodesses sistemas exige muitas vezes um período de adaptação nãonegligenciável. .

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Aspectos auditivos e de fala 79

Aspectos auditivos e de fala: Sobre a integraçãode deficientes auditivos em Angola

Mateus Cosme Cordeiro Alves I

Introdução

Diversas dimensões devem ser consideradas na problematica daintegração das crianças surdas e hipoacúsicas em Angola.

O diagnóstico dos Deficientes Auditivos em Angola érealizado de maneira multisectorial por vários especialistas,nomeadamente pelo médico especializado em otorrinolaringologiaque realiza os exames clínicos e os resultados audiométricos feitospelo técnico completam a avaliação clínica seguindo a classificaçãomédica internacionalmente utilizada. Logo a criança é enviada parao Departamento Nacional do Ensino Especial onde, através doSector de Diagnóstico, se realiza a avaliação psicopedagógica e odiagnóstico preliminar que é a conclusão do resumo da anamnese, ahistória médico-social, o desenvolvimento psico-motor e aaprendizagem da criança. Posteriormente, esta é encaminhada para aescola especial de Deficientes Auditivos, fazendo-se acompanhar deum relatório final redigido com todas as recomendações para osprofessores e a família.

1 Chef de sector nacional de Deficientes auditivos

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Xecessldades educativa.\ especiais em Angola

A edllração

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o progresso da educação das crianças surdas e hipoacúsicasem Angola fundamenta-se com a sincronização de um sistema defactores, nomeadamente o clínico, que certifica a existência de restosauditivos em muitas crianças, as potencialidades do sistema nervosocentral em geral e os sentidos em particular como elementoneurofisiológico básico e o êxito na aplicação de diferentes medidasde reabilitação como as intervenções cirúrgicas possíveis para atransmissão da informação acústica às distintas partes do sistemaauditivo e outras medidas não cirúrgicas, como o uso demedicamentos e o ajuste protésico.

O factor pedagógico garante o progresso da criançadeficiente auditiva por estabelecer a estratégia pedagógica a partir deindicadores auditivos básicos tais como as respostas da criança aoouvido nu e ultimamente com a ajuda de próteses perante osestímulos verbais.

A multi-dimensão do reflexo psíquico com a ajuda do temaescolhido, a análise simultânea das suas realidades, o estímulo fisicoe a representação psíquica desta influência; a integridade e aobjectividade das imagens auditivas com o uso de objectos reaissempre que possível no desenvolvimento do processo deaprendizagem e ensino, assim como o carácter multisensorial dapercepção que justifica a utilização dos sentidos conservados,durante o trabalho de correcção - compensação do defeito e porquetemos em consideração que o todo percebido é mais que a soma daspartes, já que nela participa a experiência que desenvolvehabilidades perceptuais.

O factor tecnológico só esteve presente num número muitoreduzido e neste momento graças ao Projecto 5341ANG/l O, aoapoio do Governo Provincial de Benguela, beneficiou 25 criançasem Luanda, 16 crianças em Benguela, 10 crianças na Huíla. Paraalém destas, ainda outras de Luanda tiveram próteses adquiridaspelos pais. Isto constitui um passo significativo na história daeducação dos Deficientes Auditivos em Angola porque pela primeiravez e de maneira gratuita as nossas crianças beneficiaram deaparelhos individuais de amplificação de sons regulados emcorrespondência com as suas necessidades auditivas. Ao

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Aspectos auditivos e de fala 81

coincidirmos os quatro factores principais , incluindo este último e;nais dificil de conseguir, devido ao seu alto custo, somos optimistasyue haverá um melhor resultado e por conseguinte um maiorprogresso no processo de aprendizagem das nossas crianças.

o trabalho individual e diferenciado para o desenvolvimento dapercepção auditiva das crianças surdas e hipoactísicas em Angola

o trabalho individual para o desenvolvimento da percepçãoauditiva assemelha-se ao tratamento Logopédico mas difere desteporque tem as suas especificidades por se tratar de crianças surdasda mesma maneira que os tratamentos Logopédicos diferem quandose trata de categorias ou alterações de linguagem distintas.

O tratamento individual para o desenvolvimento dapercepção auditiva constitui uma forma de organização do trabalhoque tem como objectivo fundamental sistematizar os conteúdosimportados nas aulas fazendo ênfase na eliminação das dificuldadesfundamentais do educando, corrigir e compensar o defeito primárioe os secundários assim como promover o desenvolvimento dosprocessos psíquicos e a personalidade dos deficientes auditivos.

Esta forma de organização do trabalho que permite atenderde maneira profunda e sistemática as diferenças individuais passou aser dominada pelos professores da escola de surdos depois de umperíodo de superação teórica e prática na escola. Acredito ainda queagora que um certo número de crianças possuem aparelhosamplificadores de sons individuais, conseguiremos melhoresresultados.

O mesmo respeita certa estrutura como as aulas, ou seja,conta com uma introdução que serve para situar o educando sobre osobjectivos, certificar-se do correcto funcionamento do aparelhoamplificador do som e rever as tarefas do tratamento anterior que,como é lógico, se deve relacionar com o novo conteúdo. Nodesenvolvimento trabalhamos, respeitando sempre as fases detransição do material verbal, o momento auditivo, odesenvolvimento dos processos e da personalidade em geral dodeficiente auditivo, entre outros aspectos. Na conclusão faz-se oresumo final, a auto-avaliação e dá-se a tarefa. Para odesenvolvimento deste exigimos e controlamos determinados

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Necessidades educativas especiais em Angola 82

aspectos considerados indispensáveis para o desenvolvimento, oêxito e consequentemente o progresso das nossas crianças.

o professor deve dominar o Diagnóstico do Educando eespec{ficamente as particularidades da sua audição. Isto implicaque ele faça uma avaliação integral, tanto do ponto de vistaquantitativo (o grau de afecção auditiva expressada em d/b emdistintas frequências), como qualitativa (o momento de surgimentoda perda, nível de desenvolvimento da linguagem, o tempo dedetecção da afecção, realização do ajuste protésico, início dautilização contínua do aparelho, as características individuais epotencialidades de desenvolvimento, entre outros pormenores).

A correcta dosificação da carga auditiva durante aplanificação significa termos em consideração as particularidades doDiagnóstico, a idade, as características da perda auditiva a classe quecursa, a composição acústica e fonética das palavras, etc. Porexemplo: Não podemos enfrentar uma criança do nível pré-escolarcom uma palavra que tenha seis sílabas, mas sim com quatro sílabasporque a memória auditiva não esta treinada para perceber todo essevolume verbal.

A devida utilização dos aparelhos ampliadores

É necessário que o professor esteja preparado para resolverqualquer dificuldade que tenha o aparelho e que obstaculize umóptimo resultado pedagógico, e que deva dominar as suas regras deutilização e cuidado (este aspecto foi devidamente trabalhado eexercitado a quando da 2a visita das Senhoras Sherman e Diana deÁfrica do Sul através do Projecto 534/ANG/l O- EDEPA):

A combinação da percepção Audiovisual e Auditiva permitea criança fazer uso de todos os sentidos de modo a apropriar-se deuma informação mais integral, o que ajuda a formar determinadarepresentação verbal. Isto fundamenta o ponto de vista de Vigostskisobre o sentido danificado, assim como também fundamenta a etapaassociativa do trabalho que parte precisamente da percepçãoAudiovisual, uma vez que a criança põe em função os dois sentidos.

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.I.\pectos aud,tIvoS e defala 83

Cumprindo com a devida selecção do material verbal, oprofessor escolhe o material tendo em consideração determinadasexigências tais como o nível de desenvolvimento da fala , acomposição das palavras, orações, os textos conhecidos pelosalunos, tanto o seu conteúdo como o modelo acústico, a relação comoutras disciplinas, as características dos restos de audição, etc.

A formação do autocontrole Auditivo tem como objectivofundamental dar ao aluno imagens acústicas na sua memória paraque controle a pronúncia, o que se consegue na medida em queaprende a escutar a sua voz.

O último aspecto em que insistimos e nem por isso é o menosimportante, se não, pelo contrario, é mesmo muito influente, é adiversificação das formas de trabalho. Neste referimo-nos aocarácter críativo que o professor deve possuir, pois ajudará a criançaa enfrentar diferentes actividades que influirão nela, tanto do pontode vista psicológico como pedagógico. Achamos que o professornão deve repetir constantemente as mesmas actividades para nãoformar esquemas rígidos e negativos no desenvolvimento verbal daCrIança.

Em conclusão, consideramos que com a correcta aplicaçãodestes postulados garantimos o desenvolvimento do educando.Tanto sob o ponto de vista psico-pedagógico como correctivo/­compensatório.

Os autistas: Uma questão preocupante

o DNEE através do seu sector de diagnóstico, já identificoue fez o seu Diagnóstico diferencial de vários casos de autismo comoutras alterações, já que, na primeira infância, a surdez e a cegueira,se não forem identificadas, podem causar sérios problemasemocionais caracterizando um quadro clínico que pode serconfundido com o autismo, uma vez que essas deficiências levam auma falta ou atraso de linguagem, nos primeiros tempos de vida.

A falta de interacção mãe-filho nos primeiros dias e a falta deestimulação adequada, podem levar a grandes atrasos e a distúrbiosno desenvolvimento da criança. Só que nessas crianças, privadas decontacto com o ambiente, o atraso de desenvolvimento é uniforme,ou seja, ele ocorre na aquisição da fala; em relação a capacidades

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motoras tem um desenvolvimento desigual. As dificuldadescognitivas são idênticas às duma crianças com atraso mental. Estaconstatação é confirmada por várias fontes, quando afirmam que75% das crianças autistas passam toda a vida apresentado um certonível de atraso mental.

A consistência de ambas as características levam-nos aafirmar que quase todo o autista tem atraso mental, porém, nem todoo deficiente mental tem autismo.

Outro problema que distingue o autismo consiste nasconvulsões que levam a estados alterados da consciência emcnanças pequenas.

Quanto ao tratamento desses casos, segundo as fontesconsultadas, não existe um tratamento específico. Existem muitasabordagens individualizadas do autismo, dependendo do autor,escola ou grupo teórico ao qual pertença. Cada um dos diversosmétodos conhecidos até hoje, consegue melhorar um sintomaespecífico mas não eliminá-lo completamente. Quanto ao tratamentomedicamentoso, várias têm sido as tentativas, utilizando-sesedativos, estimulantes, tranquilizantes e anti-depressivos, masnenhum deles, no entanto, conseguiu tomar as crianças menosautistas, tendo algumas drogas sido capazes, apenas, de diminuiralguns sintomas ou alterar comportamentos (ex: em algumascrianças hiperacutivas, excessivamente inquietas ou incapazes de seconcentrar em algo de definitivo). Por isso, dentro da intençãoformativa que se pretende dar, será importante referir que atitudetomar. As características principais das crianças autistas são: a falhade linguagem apropriada, a tendência para a solidão, a repetiçãomonótona de ruídos, a excelente memória para matérias decoradas, aperturbação extrema nas relações com as pessoas, os hábitosanormais ou peculiares de alimentação, a falta de receptividade einteresse para com as pessoas, a linguagem ausente ou imatura, aecolalia imediata ou retardada, a ausência de expressão facial e dogesto ou mímica, ou o seu uso inapropriado.

A investigação e o ensino especial em Angola

A investigação é um bem que ajuda todos os profissionais aactuarem com conhecimento de causa na solução de problemas,

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Aspectos auditivos e defala 85

sempre que as respostas e as explicações destes sejam refutadas oureafirmadas.

No momento actual, é inconcebível que um pedagogo nãoseja um investigador e se limite única e simplesmente a repetir deforma rotineira os mesmos conteúdos, sem procurar encontrar osmelhores métodos que um educador de ensino especial deveconhecer: distinguir o normal e as alterações e actuar emconformidade com o princípio das diferenças individuais; para taldeve realizar pequenas investigações na sua área de acção.

Com a transformação do DNEE em Direcção e com aexistência no seu organigrama de uma coordenação ou ConselhoCientífico (que deve reflectir os organigramas provinciais deeducação especial), com o funcionamento das nossas escolasespeciais e classes nas escolas regulares, com o Projecto534/ANG/l O -EDEPA, com a existência de professores com a l2a

classe e do ISCED, com o apoio financeiro que se pode conseguir ea força de vontade, pensamos que podemos iniciar a realização deSeminários e de Jornadas Científicas para a transmissão deconhecimentos básicos de investigação psicológica e pedagógica, demodo a criar-se um incentivo aos professores. Os resultados destasacções seriam divulgados internacionalmente para permitir que oconhecimento e a experiência se tomem públicos e de interesse paraoutros especialistas.

A nossa concepção de integração dos deficientes auditivos e dafala

Nós não pretendemos aqui fazer uma análise histórica daatenção dos deficientes auditivos no devir historico-social e muitomenos justificar o porquê da existência de escolas especiais.

Porque a história encarregar-se-à de contar as condiçõesobjectivas e subjectivas que possibilitaram o surgimento dessasescolas que muito nos orgulham. Mas sim, aproveitamos aoportunidade para propor aos participantes a estratégia educativamais aconselhável para os deficientes em geral e em particular paraos deficientes auditivos, dentro dos marcos da nossa realidade.

A integração é um valor constitucional que defende a políticade educação para todos sem excepção e reconhece a diferença, na

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Necessidades educativas espeC1GIS em Anf(ola 86

medida em que exige uma atenção individual diferenciada aoeducando. Naturalmente, deve basear-se em estudos e investigaçõesque permitam de maneira objectiva suportar e avaliar os esforçosque faremos, a validade das acções de integração e por isso é queestamos aqui. Mas este valor constitucional que tem a integraçãoterá de respeitar a nossa diversidade cultural e social, terá deadaptar-se à nossa realidade. Se tivermos em conta que umaconsiderável percentagem da nossa população é deficiente, aexistência de poucas escolas especiais, a necessidade dos deficientesconviverem com as crianças comuns, a necessidade da participaçãodas comunidades na prestação das suas ajudas, com a integração, ascrianças deficientes terão maiores oportunidades e, por conseguinte,haverá uma maior capacidade de crianças surdas nas escolas.

Uma vez identificadas as vantagens da integração por umlado, por outro lado estamos perante um grande desafio que secoloca ao sistema de ensino geral e ao sistema de formação deprofessores, em especial porque o nosso sistema de ensino, naprática continua a defender que tem de ser a criança a adaptar-se àsexigências escolares, utilizando métodos educativos baseados nasemelhança indiferenciada. Com esta atenção generalizada, o lema é" safa-se quem puder " o que significa que para integrar a nossarealidade tem de se investir na formação dos professores. Prepará­los , todos sem excepção, de forma intensiva, para aceitarem adiferença, compreenderem que a instrução individualizada é umacondição essencial ao processo de integração e exige mais esforçosdo sistema de ensino e dos professores, e para tal devem ser bemremunerados.

As instalações na sua maioria estão mal apetrechadas eequipadas, o que subentende que é necessário suficiente orçamentopara equipá-las com recursos educacionais inovadores e commodelos pedagógicos experimentais. Os professores necessitamdepois da sua formação de apoios materiais e logísticos se é quequeremos que o processo seja contínuo e sem interrupções.

Para integrar é necessário que os professores saibam ordenarprogressivamente por níveis de dificuldades as unidades esubunidades que compõem os vários programas; devem saber

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diagnosticar acertadamente e escolher o sistema de actividadespedagógicas convenientes para corrigir e compensar o defeito.

7 elementos de conclusão para integração são definidos:

1. A integração é uma alternativa ideal para os problemas escolaresque devem ser fundamentados com rigor científico e pedagógico.

2. O processo de integração requer mudar o sistema de ensino, osistema de avaliação, programas e actividades.

3. A inclusão deve ser progressiva à medida que vamos trabalhandode forma intensiva com os professores do ensino regular, mesmoque sejam necessários 10 ou 20 anos.

4. Respeita a diferença entre as crianças e exige novos processos decolaboração entre técnicos.

5. A integração requer especialmente investir na formação paramudar as atitudes e competências

6. Necessita de apoios materiais e logísticos

7. Os professores necessitam da constatação prática da experiênciaintegracionista de outros paises.

Depois de feita esta análise e identificadas as realidadessobre a questão pensamos que estaremos em condições de poderaplicar as estratégias educativas para o Ensino Especial e desenharas modalidades de formação com base na política de integração.

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Xecessidades educativas especims em Angola

Sobre os currículos na área dos deficientes auditivos

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Os currículos ainda não estão adaptados às necessidades dascrianças deficientes auditivos. Por isso consideramos que as escolasdeverão fornecer oportunidades curriculares que correspondam àscrianças com necessidades educativas especiais.Nem todos os conteúdos da educação permitem a plena participaçãodos educandos e o ensino muitas vezes não se relaciona com aexperiência dos próprios alunos e com as questões práticas, demaneira a motivá-los para aprenderem. Os resultados do processo deavaliação ainda não reflectem a atenção individualizada de que ascrianças com NEE necessitam.

Os recursos técnicos específicos de uso colectivo, tais comoos treinadores individuais de mesa, ou o FM que ajudam a promovero sucesso educativo apoiando a comunicação e a aprendizagemainda não fazem parte da nossa realidade. As nossas crianças aobeneficiarem de alguns aparelhos individuais, levou-nos a pensarcriar no Serviço Central do DNEE e nas escolas pessoal quedisponha de conhecimentos indispensáveis para ajudar asnecessidades individuais e para efectuar a respectiva manutenção.

Com a transformação do DNEE em Direcção Nacional estecontará com uma coordenação para a investigação científica queajudarão a promover os conhecimentos de metodologia deinvestigação, a nível escolar e nacional, para impulsar as iniciativasde investigação na área do Ensino Especial em geral e na área dosDeficientes Auditivos, em particular.

Esta coordenação científica terá o apoio dos Centros deDocumentação Nacionais e Provinciais e o acesso às fontes deinformação. Desta maneira poderemos lançar experiência piloto eestudos aprofundados, com vista apoiar a tomada de decisões e aorientar a nossa acção futura.

Recrutamento e formação de pessoal docente

A preparação de professores constitui um aspectofundamental na promoção das Escolas Inclusivas. Reconhecemos aimportância do recrutamento de professores deficientes auditivosmas a nossa realidade não possibilita isto porque ainda não há

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pessoas surdas que possam servir de modelos. Temos, simplesmente,alguns monitores mas sem a preparação necessária. No entantoacreditamos que esse momento surgirá.

Agora que contamos com este pouco mas importante recursofinanceiro, sugerimos em termos de formação, organizar cursos deiniciação, a nível primário para os professores das escolas-piloto deintegração, tendo em consideração fomentar uma atitude positivaface à deficiência, exigindo-lhes um ensino de qualidade, formasespeciais de avaliação, e os seguintes conteúdos curriculares:adaptação curricula, utilização de materiais específicos de apoio,métodos de ensino individualizado, capazes de atender as criançasdeficientes. Também deverão usufruir de estágios práticos paraexercerem a sua autonomia e competência.

- Devemos preparar documentação escrita e organizar Semináriospara as Autoridades Locais, Inspectores, Directores de escolas eprofessores que orientarão o processo porque eles deverãoidentificar-se com a inclusão para serem capazes de liderar oprocesso da integração;

- A formação-em-serviço deve ser realizada, sempre que possível,na escola através da interacção com os orientadores;

- Devemos realizar uma formação inicial não categorizada,abarcando todos os tipos de deficiência, antes de se enveredar poruma formação especializada, em áreas relativas a deficiênciasespecíficas;Os ISCEDS, INES, e o DNEE podem desempenhar um papelimportante, em particular na formação de formadores e naelaboração de programas de formação.

Áreas prioritárias:

Pensamos que a inclusão das crianças deficientes auditivasserá bem sucedida se dermos especial atenção à educação precocepara lhes dar acesso à educação e à Transição para a VidaProfissional. Por isso, a sensibilização sobre Inclusão deve chegaraté às creches e para a preparação .doo deficientes para a vidadeverão construir-se oficinas ou Ateliers nas escolas. Os currículosdos alunos deficientes auditivos que se encontram nas classes

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Necessidades educativas especiais em Angola 90

terminais devem incluir programas específicos de Transição eTreino Vocacional que os preparem para trabalharem, depois de sairda escola. Para este processo devemos apelar para a Associação deApoio aos Deficientes Auditivos.

Colaboração dos pais

o papel dos pais e da família deve ser valorizado setrabalharmos na experiência das especialistas Sul-africanas que nostransmitiram os esclarecimentos necessários duma maneira simples eclara. Pensamos que este trabalho é de extrema importância,principalmente junto dos pais que vivem em ambientes em que nãoexiste tradição escolar.

Recursos necessários- Consideramos que será eficaz começarmos por apoiar as escolas

que desejam promover a educação inclusiva e lançar projectosnas áreas de formação de maneira a facilitar a sua ampliação edifusão progressiva. Devem-se disponibilizar verba e recursospara garantir a formação dos professores de ensino regular dasescolas-piloto; para a formação de professores especialistas egeneralistas.Devem ser disponibilizados recursos para ajudas técnicasindispensáveis para garantir o sucesso do sistema de inclusão,nomeadamente, a criação de serviços de apoio Central eIntermédio com uma gestão eficaz que possibilite a cooperaçãoentre os serviços a nível local e nacional e que convença os outrosorganismos a juntar os respectivos esforços.

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Aspectos audItivos e de/ala

Escola de deficientes auditivos e da falaLuanda

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Jeany de Jesus Van-Deste Oliveira·

Após a implementação do Ensino Especial em Angola,criado por Decreto nO 56179 em 19 de Outubro de 1979, este começaa dinamizar e a criar condições para a abertura da Escola deDeficientes Auditivos e da fala, pois já existia uma Secção noInstituto de Línguas, onde funcionavam terapeutas e reabilitadorasda fala, que reabilitavam crianças surdas. (só fala)

Esta secção é entregue ao Departamento Nacional do EnsinoEspecial em Julho de 1980.Para se iniciar este tão delicado e complexo Ensino, fez-se umacampanha de sensibilização a nível das escolas de ensino geral eassim foram sensibilizados alguns professores que reuniam maioreshabilitações e anos de serviço, para iniciarem a sua capacitação, poisera um problema sério, visto que não existiam quadrosespecializados para se dar início a esta tão grande tarefa e havianecessidade de se começar a trabalhar com algumas crianças que jáse encontravam na reabilitação da fala.

Este seminário teve início em Dezembro de 1980.Foram seminariados 6 professores, tendo-se procurado dar

conhecimentos teóricos sobre a área e alguns aspectos metodoló­gicos, pois na altura encontrava-se ao serviço uma portuguesa,licenciada na área de Surdo-Pedagogia.

Estes professores, durante um ano, trabalharam sempreacompanhados por esta técnica.

Assim em Julho de 1981, foram matriculadas 60 criançasDeficientes Auditivas dos 6 aos 15 anos de idade.

Foram criadas 6 salas de aulas no Centro de reabilitaçãoFísica que gentilmente cedeu algumas instalações para o efeito.

• Directora do Complexo escolar e Coordenadora pro\incial de Luanda

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Xecessidades educativas espeCiaiS em Angola 92

Os programas utilizados eram os do Ensino Geral, com umapequena alteração no que respeita às classes.

A Ia classe foi divida em 2 (Primeira A - atrasada) e Ia Bnormal.

Estes alunos já tinham uma idade avançada e não estavamreabilitados na fala; não era possível cumprir com o Programa todoaté ao fim do ano lectivo.

A situação Social dos alunos não ajudava nada, pois os paisnão participavam nem colaboravam com a escola e poucasorientações podiam levar para ajudar os filhos em casa.

As condições de trabalho eram péssimas, pois não existiamaterial de apoio, nem material didáctico.

A escola funcionava em dois turnos, de segunda a sexta-feiradas 8 horas às 12 horas e das 14 às 18 horas, com um intervalo demeia hora em cada turno..

Utilizaram-se diferentes formas de comunicação: oral,escrita, e mímica. Cada uma tem as suas especificidades e ocupa umlugar especial no sistema de ensino de linguagem às criançasDeficientes auditivas.

Outro aspecto importante é a leitura labio-facial. Este é ométodo usado na nossa Escola.

A mímica utiliza-se como meio de apoio e nos primeiros diasde aulas com os alunos surdos, embora não se negue a sua utilizaçãoentre os alunos, já que se considera que esta é a linguagem naturalprópria das crianças surdas.

Para além das disciplinas do ensino geral também fazemparte do currículo escolar as seguintes disciplinas:- Ritmos Musicais- Ritmos Corporais- Reabilitação Individual

Todas elas concorrem para a reabilitação e estimulação daFala.Decorridos alguns anos de trabalho, verificamos que se deveriatrabalhar com as crianças mais pequenas, assim iniciamos o trabalhocom as de 4 anos.

Esta classe é a " SENSORIAL"

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Aspectos audItivos e de fala 93

Durante dois anos ela é reabilitada na fala, através de jogos ebrincadeiras.Depois entram normalmente para a Pré-escolar. É de salientar que osresultados obtidos são positivos.

A escola deixou de ter duas 1as classe. As provas de examesão as do Ensino Geral, pois anteriormente as provas eram feitas àparte.

Alguns alunos já se encontram a trabalhar em vários serviçospúblicos. A escola já tem alunos na 7a classe ou seja do III Nível.

O número de alunos aumenta assustadoramente de ano paraano, no ano lectivo de 1994/1995 frequentaram a escola 182 alunose os resultados podem ser considerados como positivos.

Os alunos participam em actividades escolares com os alunosde Ensino Geral, desta forma estamos a trabalhar para que aIntegração seja um facto pois as nossas crianças não se sentemmarginalizadas, elas são capazes de realizar todas as actividades emconjunto com as outras.

Foram vários os seminários de Capacitação e Formaçãodentro e fora do país. Continuam-se a realizar Seminários aosprofessores que ingressam pela la vez e aos que já se encontram atrabalhar, procurando sempre transmitir-lhes os métodos adequados.

Em Julho de 1994 inaugurou-se uma Escola Nova, onde ascondições de trabalho já são um pouco melhores.

Alguns alunos depois de terminarem a 8a classe irãoprosseguir os seus estudos nos Institutos Médios, outros irão para oEnsino Profissional, pois o nosso objectivo é a INTEGRAÇÃO DODEFICIENTE NA SOCIEDADE.

É um trabalho apaixonante, mas para tal tem de existir muitoamor, carinho e uma entrega total.

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PARTE III:

MEIOS

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Salas espeClals nas escolas nomlQls

Salas especiais nas escolas normais

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Luisa Alê Borges Fernandes ePaulina Da Silva Feijó*

Introdução

Existem por todo o mundo milhares de crianças portadorasde necessidades educativas especiais. Angola não é uma excepção.Tem procurado ao longo destes anos dar uma instrução e educação amuitas delas. Com este propósito criaram-se escolas e por falta deestruturas fisicas inclui-se alunos Deficientes Mentais em salasespeciais.

Actualmente, a aposta é conciliar necessidades especiais eescolas comuns, é adoptar novas atitudes e novas formas deintervenção em prol da criança deficiente~ com esta intenção, estão afechar instituições especiais e procura-se integrar precocemente odeficiente. As escolas especiais são tidas nos nossos dias comodesactualizadas em alguns países.

Estamos perante um grande desafio: a " integração ". Esteclima de mudanças suscita algumas interrogações:Que modelo educacional Angola pretende seguir?A existência das salas especiais pode-se considerar uma forma deintegração?

Tendo como base a análise do funcionamento das salas deaulas para alunos Deficientes Mentais, o trabalho pretende fazer umareflexão sobre o actual sistema educacional, procurando deste mododar a sua contribuição para a definição de um modelo educacional.Com este objectivo realizou-se um estudo sobre as diferentesmodalidades de integração em diversos países, bem como um

• Técnicas e formadoras do Ensino EspecialMs Feijó e chefa de Sector nacional de Deficientes visuais

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Necessidades educativas especiais em Angola 98

inquérito aos professores das salas nas escolas onde estãolocalizadas as salas especiais.

A integração de novo modelo educativo é uma alternativapara formar um meio onde as crianças poderão brincar juntos apesardas diferenças no desenvolvimento e nas capacidades psicomotoras.

A integração de uma nova oportunidade de educar as novasgerações num modelo onde o objectivo é a escola para todos, é umapreocupação humana, a necessitar antes de mais, de respostashumanizadas que obviamente se reflectem e reflectirão no presente eno futuro dos seres humanos. Seres humanos queindependentemente das suas condições e potenciais, têm direito àsmesmas oportunidades de inserção, inclusão e realizaçãopsicossocial. A integração compreende um valor constitucional queem si deve consubstanciar a aceitação da diferença humana.

A introdução de mudanças no sistema educativo, que temcomo finalidade integrar a criança com necessidade especial não éfácil, significa adaptação do meio escolar para satisfação dasnecessidades das crianças e organização das ajudas especiaisconsoante as suas características individuais.

A crise das escolas normais leva a reflectir nas mudançasnecessárias para criação de uma escola para todos.

Falar em integração significa mudanças nas escolas normaisem relação:- Á organização interna das escolas de forma a inserir o ensino

especial.- Á organização dos conteúdos em função do ensino da melhor

qualidade bem como a compreensão do fundamento do processode integração.

- Á reabilitação e apetrechamento das escolas normais.

Á formação polivalente dos professores. Isto demonstra quea integração não consiste apenas em encaminhar para as escolasnormais crianças portadoras de necessidades especiais, mas trata-sede um novo modelo de educação onde se elimina a segregação, aseparação e adapta-se o actual meio escolar para satisfazer asnecessidades das crianças consideradas "deficientes".

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Salas especiais nas escolas normais 99

Em alguns paises como por exemplo a Inglaterra, Austrália,Dinamarca, Holanda e Suécia aprova-se a integração nas seguintesformas:

Salas de aulas comuns

Encontram-se nas escolas normais e contam com um númerode 25 alunos sendo dois com necessidades educativas especiais;estes alunos estão sob orientação de um professor e beneficiam deum atendimento por parte de outros especialistas.

Para auxiliar a prática pedagógica nas salas de aulas comuns,devido à natureza do trabalho que requer a integração, criaram-seformas diferentes de ajuda aos professores e alunos. Segundo asnecessidades, oferecem-se serviços de consultoria aos professoresdas salas comuns através do professor especialmente treinado eexperiente designado pr~fessor consultor. Por outro lado, esteprofessor ou pessoal itinerante, os terapeutas da fala, assistentessociais, professores de recuperação de leitura e outros profissionais,que prestam auxilio às crianças em diversas escolas. A criança passaa maior parte do tempo na sala de aula comum e é retirada da salasomente por períodos para ajuda extra ou recuperação.Deste modo o professor itinerante pode visitar várias escolasirregularmente e consegue cobrir uma área geográfica considerável,diminuindo assim o número de professores especializados emeducação especial por escola.

A Sala de recurso é também uma forma de ajuda aos alunosque se encontram nas salas de aulas comuns onde as crianças vãopor períodos diários curtos para um trabalho especial. O professor dasala de recurso também aconselha o professor da sala comum ejuntos desenvolvem um programa que visa eliminar as necessidadesde ajuda na sala de recurso.

Salas especiais também encontram-se nas escolas normais eestão constituidas por um número que varia entre doze e quinzecrianças , todas com necessidades especiais. Estas salas estão naresponsabilidade de um professor especial.

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Xecessu/ades educativas especiais em Angola 100

A selecção das formas de integração não é um processoarbitrário nem é feito por imposição; muito pelo contrário obedecegeralmente a 2 factores:

O primeiro é a existência de um número considerável dealunos num mesmo município ou comuna.O segundo relaciona-se com o tipo de ajuda de que o alunonecessita, a necessidade de ajuda especial que a criança necessitapara melhorar o seu desenvolvimento e aprendizagem. Feita aabordagem das formas de integração, os aspectos inerentes aintegração, vamos analisar as vantagens deste sistema.

A primeira vantagem é o facto dos alunos assistirem às aulasnas escolas comuns, perto de casa, juntamente com outros irmãos.Não se separam dos pais, da família, o que aumenta a interacçãocom pais e irmãos. A esse respeito, refere-se que a esfera emocionalmuitas vezes encontra-se afectada devido à sua separação da família.

As salas especiais são menos dispendiosas que as escolasespectaIs.

As crianças têm oportunidade de brincar e aprenderjuntamente com outras crianças, esta interacção entre elas ajuda ascrianças com necessidades especiais a compreenderem melhor ascrianças consideradas " normais " e vice-versa. As criançasaprendem desde muito cedo a vencer as barreiras que poderãoencontrar na escola e na comunidade, o que lhes permitirá umamaior adaptação social.

As salas especiais nas escolas normais em Luanda

Angola iniciou com um sistema segregativo, escolasespeciais para crianças deficientes visuais e auditivas. No entantopara as crianças deficientes mentais, devido às condiçõeseconómicas e sociais, nomeadamente, a falta de recursos financeiroslevou à abertura das primeiras salas especiais nas escolas normaispara crianças deficientes mentais. Em Luanda criaram-se em trêsescolas normais, salas especiais com o objectivo de propiciar umatendimento educacional às crianças com deficiência mental.

Para as salas especiais eram encaminhadas crianças comatraso mental, também com problemas na aprendizagem. Destesalunos, de acordo com análises feitas, 15% foram matriculados

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directamente no ensino especial e 85% dos alunos, são casosprovenientes do ensino normaL vítimas de um insucesso escolar.Sendo a maioria dos alunos provenientes do ensino normal inicia-setardiamente a atenção especializada de que necessitam e porconseguinte observa-se um atraso na recuperação psicopedagógica.

Este atraso deve-se ao facto de que estas chegam às salasespeciais depois de várias reprovações ou então quando já não sãoaceites nas salas normais dado a desfasagem entre a idadecronológica e a classe que frequentam.

As salas especiais funcionavam de uma forma segredada eestavam na responsabilidade de um professor especial. As salasespeciais consideradas em certos países como uma forma deintegração, em Luanda, na sua própria organização interna, era umadirecção da escola normal que se ocupava do bom funcionamentodas salas. Os professores do ensino especial não faziam parte docorpo docente da escola, nem mesmo as actividades extra-escolareseram planificadas em conjunto, facto este que proporcionava aseparação dos professores na escola. As salas especiais nestascondições funcionaram como um mundo dentro do outro, o que nãovai de encontro com os objectivos da integração como filosofiaeducacional.

O funcionamento das salas especiais impressionou-nos serum preàmbulo para a integração das crianças.

Não é assim no nosso ver~ diante disso, podemos questionara finalidade e objectivo da criação dessas salas. pois não existenenhum documento relativo à criação dessas salas como um modelode educação.

Estas salas não devem constituir " um mundo diferente " doda escola normal. Num sistema como este estariam a aumentar abarreira de incompreensão aos seus problemas e dificuldades.Organizada desta forma a sala especial não proporciona qualquerintegração à criança.

Opinião dos professores em relação às salas especiais

A problemática das salas especiais foi analisada pelosprofessores que leccionaram nas salas normais e nas salas especiais.

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.\'ecessulades educam'as espeClG/.\ el1l.~l1gola 102

As opiniões foram diversas, o que levou então à análise dosresultados do inquérito. O inquérito foi anónimo e teve aparticipação de oitenta e dois professores, setenta que leccionam nassalas normais e doze nas salas especiais.

O objectivo deste inquérito foi saber que opinião tem osprofessores em relação às salas especiais e o processo de integraçãocomo filosofia educacional, depois da experiencia vivida por eles.Da pesquisa feita em relação às salas especiais obteve-se osseguintes dados:

Opinião Número de professores Percenta2emAprova 2~ 29.3%Não aprova 55 67.1%Aprova por imposição 2 2A%Neutro I 1.2%Total 82 100%

No quadro exposto, nota-se que cinquenta e CInCO

professores inquiridos não aprovam as salas especiais em escolasnormais argumentando que o sistema das escolas especiais seria amelhor forma para educação, justificando assim a necessidade deatenção especial que a criança especial necessita. Caracterizam oensino especial como um sistema separado. Vinte e quatroprofessores aprovam as salas especiais~ estes têm como argumento anecessidade da criança estar inserida na sociedade.

Entretanto, dois professores aceitam por imposição estassalas, justificando a necessidade da criação de escolas separadas.Alguns professores argumentam a existência das salas como soluçãodos problemas das crianças que se encontram nas salas normais eque apresentam problemas na aprendizagem. Em relação àintegração obteve-se os seguintes resultados:

Escolha Número de Percentagemprofessores

Integração Total I 1.2%Integração Parcial 2~ 29,3%Segregação 57 69.5%Total 82 100%

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,\'ala.\ e.\peClal.\ na.\ e.\cola.\ normal.\ 103

A maior parte dos professores, o que corresponde a cinquentae sete, escolheu a segregação, a separação como forma maisadequada para educação das crianças, seus argumentos basearam-sena necessidade da criança especial; necessidades em termos demeios e métodos especiais para o seu ensino, na incapacidade deeducar e na falta de professores especiais qualificados

A integração parcial como forma de educação foi escolhidapor vinte e quatro professores; são de opinião de que o contactoentre as crianças deficientes e " não deficientes" ajuda a integraçãoda criança na sociedade Os argumentos apresentados pelosprofessores que optam pela segregação seriam válidos se entre ascrianças, mesmo as chamadas" normais ". não existissem diferençasindividuais no desempenho académico. O resultado da pesquisademonstrou que a criação das salas especiais não proporcionoumudança na opinião dos professores em relação à integração dascrianças nem mesmo uma reformulação do sistema escolar Oinquérito permitiu também apurar que mudanças profundas terão deproceder, doravante, à abertura das salas especiais. pois, nos moldesem que funcionou não propiciou uma experiência positiva em ambosos grupos de professores que contribuisse realmente para omelhoramento do desenvolvimento e adaptação social da criançaespecial Foram pouco significativas as mudanças operadas naconsciência das crianças "normais" em termos de maior aceitação ede inter-ajuda. A integração deve servir de instrumento defacilitação para mudanças educacionais permitindo que a escolanormal seja o local legítimo para satisfazer as necessidadeseducacionais das crianças que são deficientes. Novas estratégias enovos modelos integrados de inovação, deverão compreender a novaalternativa.

Depois desta análise podemos concluir que as salas especiaisforam criadas como uma alternativa para a solução da falta deestruturas fisicas, e não como uma filosofia educacional. O objectivoprincipal foi criar um espaço onde a criança deficiente mentalpudesse ser educada. Em Angola actualmente, a forma de integraçãopossível de se implementar seria'

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.\'ece.\sldade.\ educatn'a.\ e.\peCJal.\ em. lngo/a 104

,,,'alas eVJecwis em escolas normais. Para o funcionamento adequadodas salas especiais em escolas normais é necessário proceder amudanças no sistema administrativo escolar.Estas mudanças compreenderiam o seguinte'

I. As salas especiais a serem criadas dependeriam administra­tivamente da direcção das escolas normais em que estãoinseridas, com uma direcção e o corpo docente único.

II. Deverão ser assessoradas metodologicamente pelos especialistasem educação especial. As salas especiais localizadas nummesmo município seriam controladas e coordenadaspedagogicamente por um técnico.

III. Em todas as escolas onde fossem criadas salas especIaIs osprofessores do ensino normal participariam num programa deformação básica por forma a adquirirem noções gerais sobre aeducação especial.

IV. Adaptação dos horários para melhor funcionamento da escola.Estas adaptações consistem em conciliar os horários de entrada,saída e recreio devido aos horários triplos.

v. Os alunos especiais devem fazer parte do corpo discente, bemcomo participar nas actividades da escola em conjunto comoutros alunos.

Apesar da crise que enfrenta o sistema de educação emAngola julgamos ser possível, a longo prazo, implementar umapolítica de integração. Para se tornar possível é necessário que sefaça mudanças profundas no sistema educacional, que compreende:

A obrigatoriedade do ensino às crianças especiaisDiagnóstico precoceA educação precoce às crianças deficientesFormação dos professoresFlexibilidade dos programas escolaresO problema dos horários triplos.

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,....'a!a,\ e,\peClaJ.\ /la,\ e,\co!as normal.' 105

A introdução do modelo de integração em Angola nãoserviria unicamente para adaptação e integração da criança nasociedade mas também como uma reformulação do ensino normalno seu todo.

Proposta de integração das crianças deficiente., mentais para Angola

Etapas de reabilita~ão

III

II

Oficinas de trabalho~Cursos profissionais

iEscola normal

Salas de alunos comuns .-Sala especial

iEscola especial .-Sala de reabilitação

iCreche

Atendimento familiar~com ajuda-especialidade

em educação especial

Crianças em idade escolar

Crianças de o aos5 anos de idade

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.1.formação de projessore.\ em .1ngola

"A formação Profissional e as necessidades EducativasEspeciais"

A formação de professores em Angola

107

Narciso dos Santos*

Introdução

Todos os regimes atribuem à educação uma importânciaparticular. Mesmo o regime mais retrogrado. Esta constatação revelapor si só que à educação deve ser reservado um lugar especial noquadro das preocupações dos estados. O nosso país não é umaexcepção.

Após a independência nacional, o sector educativoempenhou-se arduamente a responder ao desafio dos políticos. E sãoas palavras de ordem tais como " estudar é um deverrevolucionário"; "0 professor é um comhatente da Imha de frente ";" Angola é lima grande escola onde todos aprendem e ensinam", quese ouviu; houve uma grande explosão dos efectivos a que eranecessário assegurar o mínimo indispensável para a suaescolarização.

Porém esta forma de pensar educação, no nosso país, foievoluindo através de diferentes concepções que, na prática,condicionavam a atitude e o comportamento dos diferentes actoresface ao sector.

A educação começou por ser definida como um sectorimprodutivo. Esta definição, malgrado o contexto político em queevoluíamos e a crença que se depositava na educação como factor dedesenvolvimento, terá causado muitos prejuízos ao sector. Se por um

• Director da ISCED - Lubango (Instituto Superior das Ciênças da Educação)

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.\'ece.~.\'/(Iade.\ educa!I\'{1.\ e.\peClaJ.\ em .4ngola 108

lado o discurso político reconhecia importância à educação, poroutro a prática não reflectia exactamente as dimensões e oscontornos dessa importância, Como consequência das reivindicaçõesdos agentes mais directamente envolvidos na acção educativa osector passou a ser definido, a partir de 1981, como um sectorreprodutivo, Esta nova definição traduziu-se numa nova atitudeperante o sector e insuflou-lhe um novo alento, Porém, asnecessidades do sector eram inúmeras e não se compadeciam com oque resultava da sua definição como sector reprodutivo Foi entãoque a partir de 1985, a educação passou a ser definida como umsector estratégico.

É interessante observar que a cada nova definição políticaatribuida ao sector correspondeu, na prática uma atitude maisfavorável ou menos favorável ao seu desenvolvimento. Enquantosector estratégico, o sector foi ganhando em importância eprioridade.

Para concretizar a importância que o Estado conferiu aosector, foi feito um enorme esforço financeiro que, infelizmente,esbarrou com o recrudescimento das acções de guerra que seabatiam sobre o país com particular violência Apesar disso, acapacidade de resposta do sistema não podia deixar de passar pelaconsideração de todos os agentes/actores que intervêm nesteprocesso, particularmente os professores. É precisamente sobre esteaspecto particular que a presente comunicação irá incidir. Mas, antesde abordar a formação de professores passarei a apresentar,brevemente, o sistema educativo angolano.

Apresentação sumária do sistema educativo angolano

o sistema educativo angolano compreende três subsistemas:a) O subsistema do ensino de baseb) O subsistema do ensino médioc) O subsistema do ensino superior

O sistema educativo é precedido de uma classe de iniciaçãocom um nível de educação pré-escolar cujo objectivo específico eprincipal é estimular o desenvolvimento intelectual, físico, moral e

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Afórmação de prl?fessores em Angola 109

social da criança dos cinco anos com vista a facilitar a sua entrada na1a classe do ensino de base.

O subsistema do ensino de base (para alunos regulares eadultos) compreende oito anos de escolaridade estruturados em trêsníveis:

nível: 4 anos, considerado como o básico fundamental e édefinido como obrigatório e gratuito.

II nível: 2 anosIII nível: 2 anos

Este subsistema destina-se a atender os alunos com idadescompreendidas entre os 6 a 14 anos e tem por objectivo assegurar odesenvolvimento integral e harmonioso de capacidades e hábitosnecessários para a continuação de estudos ou para a entrada na vidalaboral.

Este subsistema atende igualmente todos os demais alunosque, por diversas circunstâncias, têm ultrapassado o limite de idadeoficial. Estes alunos são atendidos em cursos nocturnos para jovense adultos.

No subsistema de ensino de base destaca-se com particularimportância o ensino especial. Esta modalidade de ensino visafundamentalmente proporcionar aos alunos deficientes umaformação integral, permitindo-lhes adquirir conhecimentos, hábitose competências para uma integração laboral e social.

O subsistema do ensino médio está ramificado em trêstroncos:

- O ensino pré-universitário de três anos que visam proporcionaraos alunos uma formação académica geral, dando acessoimediato ao ensino superior;

- O ensino médio técnico;- O ensino médio normal.

O ensino médio técnico e médio normal têm uma duração de4 anos e um carácter terminal, podendo igualmente dar acesso aoensino superior.

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Necessidades educativas especims em Angola 110

Até 1992 era assegurado por cerca de 30 institutos comcursos nas áreas de economia, saúde, indústria, petróleo, agricultura,minas, pescas, trabalho e educação.

O subsistema do ensino superior é estruturado em 6faculdades e um instituto superior de ciências da educação e temuma duração que varia entre os 4 e 6 anos. O ensino superior éministrado pela Universidade Agostinho Neto e compreende cursosna especialidade de educação , medicina, economia, engenharia,agronomia, ciência e direito.

Os objectivos fundamentais deste subsistema são os deassegurar a investigação científica e a formação de quadrossuperiores capazes de participar activamente no desenvolvimentosocio-económico do país.

Em resumo pode dizer-se que o sistema educativo angolano écaracterizado pelos princípios de equidade e igualdade deoportunidades no acesso à escola e na continuação dos estudos.

Por motivos diversos uma parte significativa dos alunos quefrequentam os diferentes estabelecimentos de ensino sãotrabalhadores-estudantes ou estudantes-trabalhadores.

Ao longo dos anos, o sistema conheceu vários problemas eentraves que dificultaram e continuam a dificultar o alcance dos seusobjectivos. A falta de um corpo docente qualitativamente suficientepara atender as necessidades do sistema, a falta de meios de ensinoapropriados, a insuficiência de infra-estruturas em todos ossubsistemas foram drasticamente afectados pela guerra que assola opaís desde 1992. A estes problemas acrescentam-se as condiçõessalariais que são cada vez menos capazes de satisfazer asnecessidades primárias do corpo docente com os consequentesdefeitos que daí advêm: a corrupção sob as suas mais diferentesformas.

Sistema de formacão

Esta abordagem recusa-se deliberadamente a fazer referênciassobre a formação de professores na era colonial. Deste modo, apreocupação será centrada no periodo pós-colonial, para os aspectosreferentes aos objectivos da formação, ao currículo da formação e àsestrutras de formação de professores.

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.·1 formação de professores em Angola 111

Após a independência nacional, o Estado angolano tomou asoberana decisão de reformular o sistema educativo herdado da eracolonial, o que ocorreu em 1977, tendo iniciado a implementar umsistema educativo nacional em 1978. Neste sistema, o subsistema daformação de professores visa assegurar os professores para ocorrecto funcionamento das escolas a todos os níveis.

O currículo da formação de professores na base da definiçãodo subsistema, é construído para o atendimento das crianças e jovenssem necessidades educativas especiais (NEE), afim de dotá-las dosnecessários instrumentos que facilitem a sua insersão na vidalaboral, enfim para autonomizar a criança. Observo aqui, queembora ao nível legislativo (ver Lei de Bases do Sistema deEducação e Ensin02

) esteja consagrada a obrigatoriedade do ensinopara todas as crianças angolanas, sem excepção, os currículos deformação de professores ainda não refletem a mesma posição.Infere-se, pois, daqui, a necessidade de uma reforma no subsistemada formação de professores com vista a capacitá-lo para dar respostaao que a Lei estabelece.

Por outro lado, e ainda segundo o que está consignado na járeferida Lei de Bases o atendimento ás crianças com NEE deveráfazer-se em instituições de ensino geral, salvo quando o grau dedeficiência determina o contrário. Por outras palavras, isto quereráque as crianças deverão permanecer e ser educadas num ambiente omenos restrictivo possível devendo, para cada caso, desenvolver-seum programa que vá de encontro às suas áreas « fortes » e às suasáreas « fracas».

A legislação angolana sobre a escolarização das criançaspermite-nos facilmente depreender que o espírito da Declaração deSalamanca sobre a Escola Inclusiva está igualmente consagrado(artigo 42° da Lei de Bases do sistema educativo). A maiordificuldade colocar-se-á na sua implementação. É neste processo deimplementação que julgo dever assentar a emanicipação da escolaangolana.

Todavia, durante muitos anos se rotularam as crianças de« burras» ou de « espertas» em função de se estavam ou não em

2 Esta lei foi aprovada em Mesa Redonda realizada sobre a matéria em Setembrode 1993 e submetida ao Governo para sua adopção.

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Xecessldades educa!lva.~ espeC1GlS em An~ola 112

condições de assimilar o ensino que lhes era ministrado na escola.Tudo se passava como se as crianças tivessem a obrigação deadaptar-se à organização dos conhecimentos presidida pela escola.Mas, os conhecimentos no campo da psicologia já haviamdemonstrado claramente a incorrecção de tais teorias: cada criançaaprende de acordo com um rítmo que lhe é característico. Cabe,pois, à escola organizar as suas formas de ensino de maneiras afacilitar a sua assimilação por todas as crianças. Esta reflexão leva­nos, assim, a pensar que a criança não é defiente. Ela é simplesmentediferente' a escola tem a obrigação de adaptar parcial ouglobalmente o seu curriculo para atender as necessidades educativasde cada criança. Julgo que se este exercício não for capaz deefectuar-se estaremos perante uma escola incapaz, discriminatória,deficiente e não emancipada!

A formação de professores no sistema educativo angolanoocorre em estruturas prórias que vão desde o nível básico ao nívelsuperior. Esta formação é organizada de duas maneiras: formaçãoinicial e formação permanente.

A formação inicial de professores desenrola-se a três níveis.Os Centros de Formação Básica Docente (CFBD), são estruturasvocacionadas para a formação de professores para o I nível doensino de base. Este nível de formação é definido como provisório ecom tendência a desaparecer à medida que o sistema for exigindocada vez mais da formação dos seus quadros. Nas circunstânciasactuais, o perfil dos professores aqui formados não lhes permite lidarcom crianças que, eventualmente, apresentem, naquele nível deensino, NEE. Esta lacuna na formação reaparece em todos os níveisda formação de professores. Porém, ela assume que, proporçõesparticularmente preocupantes, em virtude de se entender que quantomais cedo as crianças com esse tipo de necessidades foramidentificadas e mais cedo se determinarem as suas áreas maiscarentes, mais facilmente será, por conseguinte, organizar-se umprograma de educação e/ou intervenção individualizado com vistaao seu melhor atendimento.

Os Institutos Médios Normais, com uma duração de quatroanos, constituem-se no nível intermédio da formação. Estas escolasdestinam-se à formar os professores para todo o ensino de base nasdiferentes áreas: infância, ciências e letras. Estes Institutos foram

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.lformação de professores em Angola 113

criados em 1978 e observa-se, curiosamente, que nos seus primeiroscurricula de formação constava a disciplina de pedagogia dereabilitação, exactamente com a finalidade de fornecer no futuroprofessor alguns elementos teóricos que facilitassem o seu trabalhode identificação de crianças com NEE e, eventualmente, deintervenção.. Porém, e inexplicavelmente, a reforma curricular de1985 amputou os curricula dessa tão importante disciplina.

Ao nível superior, o Instituto Superior de Ciências daEducação encarrega-se de formar os professores para o ensino médioe os técnicos da educação para o correcto funcionamento do sistemaeducativo.

Os Centros Provinciais e Municipais de Superação formam asestruturas das formação recorrente/permanente de professores. Estescentros, disseminados por todo o país e por alguns Municípios, têm aincumbência de levar a cabo a formação em exercício deprofessores, ao mesmo tempo que serviam de centros de recursospara professores já formados e em exercício de funções. A formaçãonestes Centros dispensa igualmente a capacitação dos professorespara o trabalho com crianças com NEE e é feita à base docurriculum das estruturas de formação inicial ao nívelcorrespondente.

Como se pode observar, em nenhum dos níveis se formamprofessores com perfil para o atendimento de crianças com NEE.Urge, pois, colmatar esta lacuna do nosso sistema educativo. Esteexercício não seria apenas uma pretensão, mas um desejo deresponder a uma preocupação legal (artigo 30° e 31 ° da Lei de Basesdo sistema de educação e ensino) e, antes de tudo, a umapreocupação constitucionalmente consagrada e um direito humano :o direito à educação.

Este direito, consagrado ao mais alto nível, não deverátraduzir-se apenas em oferecer a todas as crianças as mesmasoportunidades de acesso à escola, o que é muito importante; masmais importante ainda é que a escola deve garantir a todas ascrianças que a ela têm acesso, as mesmas possbilidades de sucesso.Por outras palavras, é necessário capacitar a escola para o sucesso.

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Secessidades educativas especiais em Angola

Conclusão

114

Gostaria de concluir esta abordagem sobre a formação deprofessores em Angola fazendo especial referência sobre uma obra aque atribuo particular interesse e importância, e que é uma iniciativada Associação dos Psicólogos Portugueses, APPORT: Capacitar aescola para o sucesso.

A criança e depois o adolescente passam grande parte do seutempo na escola, e é aqui que eles entram em contacto comexperiências fundamentais para o seu crescimento pessoal e social. "Numa idade em que se vive, por vezes sofridamente, um processo deautonomia em relação à família, a escola pode ser (e é muitas vezes)a alternativa necessária e reconfortante no processo de socialização"(Almeida, Langor, 1993 ). É pois, importante para a escola que paraalém de ensinar às crianças o que pensar (conteúdo) e como pensar(a forma de pensamento) se ensine a pensar dando oportunidade aoexercício dos processos cognitivos (Rath, 1997). Porém, se naformação dos professores, seja ela inicial ou permanente, tem sidonegligenciada a presença e importância desses processos cognitivos,facilmente se compreenderá a razão pela qual as operaçõescognitivas são esquecidas na vida dos alunos. Por isso, espaçoprivilegiado da formação de adolescentes que a escola deve ser "aformação inicial deverá enfatizar a intencionalidade dodesenvolvimento cognitivo dos alunos... Há pois a necessidade detrabalhar a conjugação entre os conteúdos e os processos cognitivos,entre o saber e o saber fazer ser, tanto no espaço da formação inicialde professores" (Almeida, Leandro, 1993)

Assim, o currículo " apresenta-se como um veículo essenciala aproveitar para trabalhar os objectivos desenvolvimentistas daescola. E, se falarmos da formação dos professores - contextoprivilegiadíssimo para a sensibilização sobre esta problemática, aarticulação entre os conteúdos e o desenvolvimento psicológico serádupla, quase em espelho : para promover o desenvolvimento dosalunos através do currículo escolar, o (futuro) professor promove oseu próprio desenvolvimento ao experimentar esta conjugação "(Almeida, Leandro, 1993).

Finalmente, gostaria de referir a necessidade de realização deuma MESA REDONDA NACIONAL sobre a capacitação da escola

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. I formação de proftssores em Angola 115

para o sucesso total que poderá tomar diferentes formas a seremidentificadas por equipas técnicas especializadas, e a implementaçãoda ESCOLA INCLUSIVA na senda da Declaração de Salamanca.

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ReabIlllação com base lla comul1ldade

Reabilitação com base na comunidade:uma via para a integração social do

« deficiente»

117

João Luís·

Introdução

A problemática das deficiências vem de longa data, e asatitudes das pessoas a esse .respeito foram sempre diferentes,variando de povo para povo e de época para época.

Nos tempos mais antigos, muitos povos associavam asdeficiências com a maldição e castigos dos deuses, chegandoinclusive a tomar atitude e medidas negativas contra as pessoasportadoras de deficiências, como por exemplo abandonando-as àsorte do alheio ou matando-as.

Com o passar do tempo, as sociedades foram atingido outrosníveis de desenvolvimento sacio-económico e cultural,amadurecendo níveis de consciência que permitiram mudançaspaulatinas de atitudes a favor das deficiências.

Hoje em dia, embora existam ainda alguns problemas deconsciência, já se notam atitudes completamente diferentes das dopassado. Há cada vez maior sensibilidade e preocupação sobre essasituação e cada vez mais iniciativas de ajuda no sentido de melhorara qualidade de vida das pessoas portadoras de deficiências. Nestaóptica, pretendemos abordar no presente trabalho, alguns aspectosrelacionados com a reabilitação, pois a consideramos um importantefactor para a integração dessas pessoas.

• Oligofrenopedagogo

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Xecessldades educativas especIaiS em Angola

Desenvolvimento

118

A "deficiência" é a perda ou anormalidade permanente outransitória de carácter fisico anatómico ou psicológico de certaestrutura ou função. Nesta condição encontramos milhares depessoas a nível mundial cujas etiologias podem ser congénitas ouadquiridas. Muitas dessas pessoas, são avós, mães, pais, maridos,mulheres, tios, tias, irmãos, filhos ou filhas e devido à incapacidadeprovocada pelas suas deficiências vêm-se fiustadas, inúteis e semcondições de desempenharem o seu papel na família e nacomunidade. Isso pode entender-se na base de que, de uma formageral, as incapacidades deprimem psicologicamente as própriaspessoas portadoras de deficiências assim como as suas famílias emembros da comunidade, originando até certo ponto, manifestaçõesque resultam de toda uma série de mitos, tabus e preconceitos quedevem ser ultrapassados e enveredar por práticas mais humanitáriase democraticamente abrangentes. Isso é possível mediante umtrabalho de sensibilização e intervenção na e da comunidade.

Todo o ser humano sente-se feliz e socialmente útil quandode alguma forma participa nas actividades da vida e pode usufruirdos beneficios que essa proporciona bem como de toda a culturahumana.

Para que tal seja comum a todos, é necessário proporcionaroportunidades, criando as condições que permitam corrigir e oucompensar as "deficiências" por forma que as pessoas consigam umóptimo desempenho em dependência do grau de profundidade deseus defeitos. Isso leva-nos a pensar na reabilitação que de formagenérica vem sendo um processo de duração limitada e com umobjectivo definido, encaminhado para permitir que uma pessoaportadora de deficiências alcance um nível fisico , mental e/ou socialfuncional óptimo, proporcionando-lhe assim os meios de modificar asua própria vida. Ela pode compreender medidas encaminhadas acompensar a perda de uma função ou limitação funcional (porexemplo mediante ajudas técnicas) e outras medidas tendentes afacilitar ajustes ou reajustes Socais]

3 Programa de Accion Moodial para los impedidos NacionesUu.idas Nueva York. 1983 - Pag 4

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Reahllitação com hase na comul1/dade 119

Contudo, Reabilitação pressupõe a criação de serviçossociais capazes de colocar a pessoa incapacitada em condições deatingir níveis de independência e auto-validismo aceitáveis quefavoreçam a sua integração socio-Iaboral. Em outras palavras,ir.1plica pensar necessariamente em todas as necessidades vitais deum ser humano socialmente activo, resumidas em Nutrição, Saúde,Educação, Formação Profissional, Emprego e Recreação.

Em geral a criação e prestação de serviços de reabilitação,constitui um grande desafio, para os estados e as sociedades queapostam na implementação de políticas de desenvolvimento socialque incluem programas de Reabilitação, principalmente nos paísesem via de desenvolvimento com um sistema de serviços sociaisinsignificante e pouco abrangente, onde os níveis de analfabetismo epobreza nas populações são elevados, a distribuição e situaçãogeográfica das populações é bastante irregular e agravada pelaprática de diversos idiomas. Tal desafio acarreta várias tarefas eacções cujos custos chegam a ser muito altos e quase insuportáveispara paises pobres ou com baixos níveis económicos.

Neste caso um apelo especial vai aos respectivos estados ecomunidades no sentido de desenvolverem e assegurarem ofornecimento desses serviços a todas as pessoas portadoras dedeficiências colocando à sua disposição a atenção médico­mendicamentosa e todos os serviços colaterais imprescindíveis paraa reabilitação.

A reabilitação em si, compreende serviços, tais como:

* Detecção precoce de casos, diagnóstico e intervenção~

* Atenção e tratamento médico~

* Assessoramento e assistência social, psicológica e de outro tipo.* Capacitação em actividade de auto-cuidado, incluindo aspectos

da modalidade comunicação e habilidades para a vida quotidianaespecialmente para os casos de deficiência mental, auditiva evisual~

* Fornecimento de técnicas e outros dispositivos~

* Serviços educacionais especializados;

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.\'ecessldades educal1l'as e!>peClalS em Angola 120

* Serviços de reabilitação profissional com garantias de empregonormal ou protegido;

* Acções de acompanhamento.

Na prática, a prestação destes serviços em princIpIo, jáexistentes na sociedade, não condiciona a alteração do esquema eestrutura do funcionalismo público e suas instituiçõessobrecarregando os funcionários e outras pessoas com tarefasadicionais. Requer tão simplesmente voltar a sua actividade tambémaos propósitos da reabilitação, assumindo uma responsabilidade que,ao fim de contas, é de toda a sociedade. Por isso é importante enecessário contar com o apoio e participação da comunidade e suasinstituições, podendo-se implicar nos programas de reabilitação asseguintes entidades:

- O pessoal radicado na comunidade (pessoas portadoras dedeficiências, suas famílias e os demais membros da comunidade);

- Os serviços sociais em geral, nomeadamente os de saúde, educaçãoe ensino, assistência social, formação profissional e emprego;

- Os serviços especializados para casos complexos que ascomunidades não podem atender.

Considerando os aspectos apresentados até aqui, conclui-seque um programa de reabilitação na base de instituições, fica muitocaro e fora do alcance de todas as pessoas com necessidadesespeciais. Assim é importante a selecção das 'vlas mais simples ebaratas que permitam uma aplicação fácil, tanto para os membrosdas famílias como para a própria pessoa com necessidades especiais,aproveitando e valorizando os recursos disponíveis nos distintosmeios locais, contando com o apoio e participação consciente daspessoas aí radicadas. É realmente possível a implementação deprogramas de reabilitação com base na comunidade e a aplicação detécnicas simples, com recursos às instituições especializadas apenaspara os casos que a comunidade não pode atender.

Portanto, num país como Angola, onde a situação socio­econámic'l é extremamente degradada, o nível de vida daspopulações completamente baixo, com um dos mais alto índices depessoas portadoras de deficiências a nível mundial, no presente

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ReabIlitação com base na comunidade 121

momento. ao qual corresponde uma insignificante ou mesmo quaseinexistente prestação de serviços e dado o alto valor socio­económico e humanitário que a tarefa de reabilitação representa paraa integração social da pessoa portadora de deficiências. permitindo­lhe o desempenho de actividades úteis e a prática de uma vidaautónoma na sociedade. justifica-se a implementação de programasde reabilitação com base na comunidade uma vez que essa tarefatorna-se mais eficiente em termos terapêuticos. quando se realiza nomeio ambiente do próprio sujeito, onde ele tem a possibilidade deinteractuar com todos os que o rodeiam. usufruindo e participandoda cultura local. Em Angola, até ao presente momento, a reabilitaçãocom base na comunidade ainda não é uma realidade generalizada.As iniciativas para a implementação de um programa de reabilitaçãocom base na comunidade. surgiram no início da presente década àluz do 17 o Congresso da Reabilitação Internacional realizado noKénia em 1992, com o lançamento de um programa a títuloexperimental no São Pedro da Barra. município do Sambizanga.província de Luanda. actuando num esquema multi sectorial com oenvolvimento de instituições governamentais, religiosas e nãogovernamentais nacionais e estrangeiras. cujos objectivos não secumpriram por dificuldades de vária ordem que vão desde a falta detransporte e materiais de apoio diversos. até à falta de recursosfinanceiros para suportar as despesas que as acções iniciais exigiam.

Embora tal iniciativa tenha fracassado, as intenções deimplementar programas de reabilitação com base na comunidademantêm-se e com base nelas, pode-se verificar hoje em dia, emcertos círculos da vida nacional. a realização de várias acçõesisoladas" procurando atingir o grande objectivo comum que é aintegração social do "deficiente". Esses objectivos só serãoatingidos, quando realmente existir esforços conjugados por parte detodas as estruturas directa ou indirectamente ligadas à problemáticadas deficiências, bem como um maior engajamento por parte daspróprias pessoas portadoras de deficiências e suas famílias e dacomunidade em geral. pois a tarefa de reabilitação, como já nosreferimos. deve encarar-se desde o ponto de vista comparticipativo enão restringido. circunscrevendo-se apenas no macro de instituiçõesespecializadas.

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Xecessidades educativas espeCiaiS em Angola 122

Deve envolver toda a sociedade uma vez que o indivíduoreabilitado, sente-se mais útil a si próprio e à sociedade, deixando deconstituir" fardo " para esta, dando a sua força de trabalho, criandobens que reportem vantagens à economia nacional, participando natomada das grandes decisões e usufruindo de todos os direitossociais do homem, sentindo-se desta forma realmente integrada.

Conclusões

A reabilitação com base na comunidade é um programa cujoobjectivo não é mais se não integrar as pessoas portadoras dedeficiências nas suas famílias e nas suas comunidades, ajudando eapoiando-as a autovalerem-se, desempenhando actividadessocialmente úteis.

A essência de um tal programa reside fundamentalmente noenvolvimento das pessoas portadoras de deficiências, as suasfamílias e das respectivas comunidades nas tarefas de reabilitação.

Um programa de reabilitação com base na comunidade,apoia-se no aproveitamento máximo dos recursos existentes nacomunidade e nas capacidades que as famílias possuem, aplicandotécnicas sofisticadas, aí onde seja culturalmente adequado e possíveltrabalhar.

A R.B.C., pelo facto de apoiar-se em técnicas de reabilitaçãosimples, fáceis de aplicar inclusive em zonas suburbanas e rurais,não significa atraso em termos de desenvolvimento. É tão adequadaa países ricos e desenvolvidos como a países pobres e menosdesenvolvidos.

Através da reabilitação com base na comunidade é possívelrealizar acções que permitem identificar desde cedo, as pessoas comimpedimentos, evitando as consequências que estes acarretam,proporcionando-lhes vida útil na sociedade.

A reabilitação com base na comunidade sensibiliza aspessoas na comunidade levando-as a tomar atitudes positivasfavoráveis às pessoas com impedimentos.

Os órgãos de informação e difusão massiva, jogam um papelimportante na transmissão da mensagem a favor das pessoasportadoras de deficiências.

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ReabIliTação com base na comul1Idade

Sugestões

123

Dada a facilidade e o baixo custo de implementação, sugere­se que se estudem as formas mais adequadas para a implementaçãode um programa de reabilitação com base na comunidade, emAngola.

Deve-se iniciar por um trabalho de sensibilização através deencontros com a comunidade, discutindo com ela a necessidade deum programa de reabilitação com base na comunidade. Nessesencontros, além das diferentes entidades da comunidade, tambémdevem fazer parte as próprias pessoas portadoras de deficiências.

Logo que a comunidade concordar sobre a implementação doprograma R.B.C., deve-se discutir o que se vai fazer e como se vaifazer, quem vai dirigir o programa assim como a maneira deproporcionar uma pequena formação ao indivíduo que vai dirigir oprograma.

Uma vez analisados esses aspectos, deve-se iniciar oprograma:- As crianças devem beneficiar de educação e ensino, por isso deve­se criar condições para que no local haja uma escola ou alguéminstruido para ensiná-las;- Os adultos que não sabem ler e escrever devem ser alfabetizados:- Deve-se desenvolver técnicas para facilitar a comunicação,

mobilidade e outras habilidades das pessoas com impedimentos;Tratar de conseguir um trabalho para os adultos, assim comocriar oportunidades para que eles participem nas actividades dacomunidade.

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Reahilltação com base na comul1ldade

A reabilitação com base comunitáriae estratégia de integração:

princípios.

125

Constance Facia·

Introdução

Parece-me necessano, para uma melhor compreensão doassunto, examinar com vocês todas as questões relativas a umprograma de reabilitação com base comunitária. Por isso, acomunicação vai articular-se em volta do plano seguinte:

Informações sobre a RBC

Historial da RBC

Readaptação das pessoas deficientes nos paises industrializados

Readaptação das pessoas deficientes nos paises em via dedesenvolvimento e o advento da RBC

Definição

Princípios da RBC

Objectivos da RBC

Como alcançar esses objectivos: estratégia

• Consultora da UNESCO

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Secessldades educaTIvas e.~peclGls em Angola

Informações sobre a readaptação com Base Comunitária

Historial da readaptação com base comunitária

A readaptação nos países industrializados.

126

A procura duma nova solução aos problemas das pessoasdeficientes começou nos anos 1970 com uma análise crítica datecnologia clássica de readaptação.

Com efeito, nos paises desenvolvidos, tudo o que diz respeitoàs pessoas deficientes tratava-se segundo um certo número detecnologias que datam dos séculos 19 e 20. Essa herançacompreende muitas terapias ligadas à tradição termal: massagens,tratamentos que utilizam a água, a electricidade, as ondasmagnéticas e outras. Essas tecnologias incluem também exercíciosrespiratórios.

No sector educativo, a elaboração da tecnologia dereadaptação conforme os métodos clássicos remonta a cerca de doisséculos. Trata-se da educação especial dada às pessoas deficientesem centros que lhes eram reservados. Só recentemente é que algunspaises industrializados começaram a experimentar as abordagensintegradas.

No sector profissional, a situação é bastante complexa. Aformação profissional e o trabalho protegido faziam parte dosesforços do início do século 19, por parte de instituiçõesespecializadas. Nos anos 1950 e 1960, um grande número de paísesindustrializados começaram a adoptar uma política mais estruturada.Os adolescentes e os adultos deficientes submetiam-se primeiro auma avaliação complexa seguida de projectos de formação formalrealizados em estabelecimentos reservados às pessoas deficientes.Em termos de emprego produtivo, os resultados foram mitigados. Oíndice do desemprego cada vez mais alto nos paises industrializadostornou quase irresolúveis as dificuldades ligadas à integração daspessoas deficientes no mercado do trabalho. O facto de recorrer aotrabalho protegido e às abordagens similares pode ser consideradocomo uma prova de insucesso. Perante todas essas dificuldadesrelativas ao emprego das pessoas deficientes, convem perguntar-sese o trabalho é um direito para todos (qual for a capacidade

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Reahilltaçào com hase na comllll/llade 127

produtiva) ou uma possibilidade reservada a alguns (que têm essacapacidade).

A situação acima descrita criou dúvidas no que diz respeito àpertinência e à eficácia do sistema actual de readaptação nos paisesindustrializados e levou a interrogar-se sobre a oportunidade de otransferir, na sua forma actual, para o mundo em desenvolvimento.Essa interrogação levou à procura de soluções de substituição.

A readaptação nos paises em desenvolvimento.

Nos paises em via de desenvolvimento, há deficientestotalmente improdutivos, dependentes dos outros tanto para a suasubsistência como para as suas actividades diárias e privadas decuidados. Mas, há também adultos deficientes que se exercitarem oucrianças deficientes treinadas pelos membros da sua família. Essesadultos e crianças deficientes, embora não tenham acesso aosprofissionais da readaptação depois do treino, conseguem adquirir asua autonomia e realizar actividades necessárias à sua subsistência.Isso significa que em países em via de desenvolvimento, muitasfamílias responsabilizam-se pelas pessoas deficientes e treinam--nassegundo os seus meios para o exercício de todas as actividades davida. Por isso alguns puderam frequentar a escola e encontraram umemprego ou criaram o seu próprio negócio. Contudo essas pessoasnão tinham nenhuma noção de anatomia ou da fisiologia, dastécnicas e outras matérias tidas por indispensáveis nos paisesindustrializados; não frequentaram escola especializada nemnenhum estabelecimento de formação profissional adaptado àsnecessidades específicas dos deficientes. Alguns exem.plos

Exemplos desses esforços espontâneos e conseguidos sãonumerosos entre as pessoas deficientes em todos os pai ses emdesenvolvimento. Foi assim que se fez a constatação que existenesses paises um tipo de auto-readaptação na comunidade que nãocarece de eficácia. E foi assim que começou a aparecer a ideia dainoportunidade de continuar a transpor, em matéria de readaptação,as tecnologias e os métodos dos países industrializados para ospaíses em via de desenvolvimento; daí a procura de abordagenscomo a Readaptação com Base Comunitária, "RBC"

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.\'ecessrdades educatrl'as e.\pecrars em .111Rola 128

Com efeito, no que acima foi dito, notou-se:a) que é inoportuno procurar transpor nos paises em via de

desenvolvimento as tecnologias, os métodos e as práticas dospaises industrializados em matéria de readaptação.

b) que na maior parte dos países em desenvolvimento, ascomunidades sempre tentaram, graças a tecnologia simples da suaprópria invenção, encontrar uma solução aos problemas dosdeficientes que pertencem ao seu grupo.

c) que, por isso, ao racionalizar esses métodos elementares eespontâneos de readaptação e ao garantir um enquadramentotécnico adequado ao nível de compreensão dos membros dacomunidade mas enriquecido por novos elementos do meIO,chegar-se-ia a um resultado mais apropriado.

Todas estas considerações encorajaram os iniciadores daRBC, nomeadamente a OMS, a começarem essa experiência emalguns paises em via de desenvolvimento.

I>efinição da RUe

Para definir a readaptação com base comunitária, convemexaminar dois conceitos essenciais, isto é readaptação e basecomunitária.

() que é a readaptaçtio ?

Readaptação significa nova adaptação duma pessoa que jánão está adaptada. Readaptação funcional, são todos osprocedimentos que contribuem para a redução das sequelas dumacidente, duma operação, duma doença que torna inválido. Entreesses procedimentos, podemos citar vários exercícios para readaptara uma vida normal, a uma actividade normal, o deficiente que, porsua deficiência , já não está adaptado. Por exemplo, o braço queoutrora permitia uma pessoa apanhar, pegar e actuar, uma vezparalisado, já não obedece às solicitações. Pode-se dizer desse braçoque já não está adaptado; e qualquer intervenção para voltar a dar­lhe tónus e assim permitir-lhe reencontrar todas as suas funções ouuma parte destas será a readaptação.

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ReahIlItação com base na comul1ldade 129

Uma pessoa que perdeu a vista ficará dependente do seumeio enquanto não se fizer algo para exercitá-lo a deslocar-se, aconhecer o seu meio ambiente, a poder fazer algo compatível com asua nova condição para satisfazer as suas necessidades. Em resumo,enquanto não estiver submetido à readaptação funcional e social.

Diremos portanto, falando da readaptação, que se trata detodos os meios implementados para reduzir ou atenuar a deficiênciada pessoa deficiente para lhe fazer adquirir uma autonomia parcialou total que permita a sua integração socio-económica.

O segundo conceito que deve merecer a nossa atenção é a "base comunitária".

A base é algo em que se pode assentar, algo sobre o qual sepode pôr, o que serve de suporte.

Comunitária quer dizer relativa à comunidade, isto é umgrupo de pessoas com interesses comuns como a família, oshabitantes dum mesmo bairro, duma mesma cidade, duma mesmacomuna, duma mesma aldeia e, no sentido lato, os habitantes dummesmo país.

Base comunitária significa portanto o de que a comunidade(família, habitantes do bairro ou do país) constitui o suporte, o deque todas as acções e os meios assentam nos membros dacomunidade.

A readaptação com base comunitária significa portanto, osmeios e os procedimentos implementados para reduzir ou atenuar adeficiência e permitir a pessoa deficiente adquirir uma autonomia naexecução das actividades diárias da vida com vista à sua integraçãosocial, tudo isso graças aos recursos humanos e financeiros dacomunidade, começando pelos membros da sua família. Convémnotar que na readaptação com base comunitária, o deficiente nãoestá colocado num centro especializado, nem numa instituição, maspermanece no seu meio de vida, sustentado pelos membros dacomunidade que contribuem para a melhoria das suas condições devida e de existência.

Esta definição é bastante esquemática e ajuda a fixar melhora noção, mas convém expor também a definição comum dada pelaOMS, a UNESCO e a OIT.

"A readaptação com base comunitária é uma estratégia quese inscreve no quadro do desenvolvimento comunitário pela

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"Vecessidades educattvas especiais em AnRola 130

readaptação, pela igualização das oportunidades e pela integraçãosocial de todos os deficientes.

A implementação da RBC exige os esforços combinados dospróprios deficientes, das suas famílias e comunidades e dos serviçossociais de saúde, da educação".

Uma vez a noção de readaptação com base comunitária bemassimilada, podemos expor os princípios em que se baseia.

Princípios da RBe

A RBC baseia-se nos princípios seguintes:

1. O deficiente permanece no seu quadro habitual de vida, no meiodos seus familiares. Não se coloca numa instituiçãoespecializada.

2. As tecnologias e os métodos utilizados para a readaptação e aintegração social são, na maior parte, concebidosespontaneamente pelos membros da comunidade. Só necessitamde pequenas melhorias para tomar os resultados maissatisfatórios.

3. Os materiais e as diferentes ajudas técnicas são feitos a partirdos elementos do meio e por procedimentos simples acessíveisaos membros da comunidade dos níveis mais elementares.

4. Os membros da comunidade sustentam material, fisica efinanceiramente a readaptação dos seus deficientes. Por isso,eles é que devem adquirir os complementos de conhecimentosrelativos aos cuidados e aos exercícios a praticar para reduzir adeficiência dos seus deficientes. Cabe-lhes também, numimpulso de solidariedade colectiva contribuir para ofinanciamento do programa RBC ao nivel das suas respectivascolectividades. A experiência revelou que com uma boavontade, até a mais modesta contribuição financeira, masprovindo sem exepção de todos, pode constituir um orçamentorazoável de funcionamento dum programa RBC.

5. A RBC é um programa cuja realização e prosseguimento só sepode basear no voluntariado. É um programa que requer e exigeum sentimento de amor e de fraternidade que devem ser, mais

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Reahlhtação com ha.w lia cOlllul1Idade 13 I

do que uma remuneração. o motivo de adesão dos animadoresdo Programa.

Em suma. com a RBC. o deficiente deixa de ser unicamenteobjecto da preocupação dos seus familiares mas toma-se objecto depreocupação de toda a colectividade que manifesta a suasolidariedade na procura de vias e meios para ele reencontrarmelhores condições de vida e de existência.

Objectivos da RBC

A readaptação com a base comunitária tem dois objectivosprInCipaiS1. o primeiro objectivo da RBC é criar uma situação que permita

cada pessoa ter uma existência tanto plena, satisfatória eautónoma quanto possível. em relação estreita com os outrosmembros da comunidade.

2. O segundo objectivo é ajudar os pais. as famílias. o meio. toda acomunidade a aceitar os deficientes. a dar-lhes oportunidadesiguais e a valorizar as suas capacidades e as suas potencialidades.

Estes dois objectivos implicam a sensibilização. a motivaçãoe a estimulação das famílias e das comunidades para. num impulsode solidariedade, aceitarem responder às necessidades essenciais dosdeficientes, no meio em que vivem (domicílios. bairros. aldeias.etc... ).

Essas necessidades essenciais devem ser compreendidas, porum lado, como todos os exercícios e os cuidados necessários para aredução da deficiência e, por outro lado, como todos os meiosadequados para a reinserção socio-económica do deficiente(formação profissional, escolarização, emprego, actividadesgeradoras de rendimentos, actividades da vida quotidiana).

Trata-se dum processo dinàmico que requer um trabalhopermanente de sensibilização das populações e dos poderes públicospara uma mudança positiva de mentalidade em relação a essacamada desfavorecida da sociedade.

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Xece.\.\/(Iade.\ educatll'm e.\peClm.\ em .1ngola

Como alcançar esses objectivos - estratégia

132

Para alcançar esses objectivos, um certo número de etapasdevem ser tidas em consideração.

Etapa 1: a informação e a sensibilização

Constituem as condições prévias de qualquer programa RBC.Quando as actividades devem começar numa cidade, a informaçãodirige-se a uma grande parte da população incluindo as própriaspessoas interessadas e as suas famílias assim como todas as camadassociais e profissionais. agentes de desenvolvimento, da saúde,associações, responsáveis religiosos, docentes responsáveis dasadministrações locais, organizações não governamentais.

As reuniões públicas constituem um quadro adequado parainformar sobre a readaptação com base comunitária. Além disso, háos suportes audiovisuais. A mensagem deve sempre dar umaimagem positiva do deficiente para criar uma tomada de consciênciadas populações sobre as deficiências, sobre os problemas vividospelos deficientes e sobre tudo o de que são capazes quando se lhesoferece as possibilidades.

Etapa 2: a animação

A animação é o processo pelo qual a comunidade decidepromover o programa. O seu objectivo consiste em motivar acomunidade para levá-Ia a apoiar a RBC.

Etapa 3: mobilização comunitária

Depois da adesão da comunidade ao programa RBC, énecessário definir os recursos que devem ser mobilizados.Esses recursos implicam o recrutamento, a formação dos agentes dereadaptação e as despesas aferentes a isso. Cada comunidade decideo que pode fazer para angariar os fundos. Convem salientar que amobilização dos recursos comunitários é muito lenta e faz-se demaneira progressiva. Mas nenhum programa RBC pode começar

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ReahJ1Jlação com ha.\e na comunidade 133

sem o Agente RBC. Pode-se promover um programa RBC antes dedispor de recursos importantes.

Etapa 4: organização comunitária

Nas localidades em que se realiza o Programa RBC, acomunidade escolhe no seu seio pessoas para criar a estrutura degestão do Programa. Essa estrutura, chamada Comité de gestão,desempenha o papel de planificar o programa, de supervisionar, demobilizar e de fornecer os recursos, de estabelecer relações com asautoridades e outras instituições.

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·1.\ lecnrcG.\ de comumcaçâo .\oUGI e o papeldos professores-anrmal/ore.\

As técnicas da comunicação sociale o papel dos professores-animadores

135

Constance Facia*

Introdução

Hoje em dia, a área da informação e das comunicaçõesalarga-se cada vez mais e um grande número de pessoas tomam maisconsciência da importância das tecnologias das comunicações e dainformação no seu dia a dia, seja por causa da sua função ouresponsabilidade ao organizarem reuniões-debates no seu serviço,seja para reflectir colectivamente sobre as repercussões da suaresponsabilidade em todo o grupo.

É por isso que hoje, mesmo se for urgente continuar a formarprofissionais de informação e das comunicações, esta actividade jánão poderá continuar a ser, e aliás já não o é, o apanágio só dosprofissionais; pois, estamos na véspera da sociedade global e como odiz Charles MACCIO, " não há dúvida que num futuro próximo, emqualquer formação profissional ou associativa, sentir-se-á anecessidade de adquirir uma competência para animar se quisermosser capazes de comunicar e fazer se exprimirem os membros dumgrupo sobre os problemas relativos à nossa própria responsabilidade

Isto quer dizer que qual for a sua formação, qualquer pessoadeve ser capaz de comunicar graças à sua capacidade de animar.

Vê-se portanto a importância do tema desta comunicação quetem por objecto " as técnicas da comunicação social - Papel dosdocentes-animadores" .

• Consultora da UNESCO

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Xece.uulades educatn'as espeClGlS em.lngola 136

Num primeiro capítulo, examinaremos o que é acomunicação, os seus princípios de base, as barreiras à comunicaçãoe como ultrapassar essas barreiras, e num segundo capítulo,debruçar-nos-emos sobre o papel dos docentes-animadores.

Comunicação

Tentativas de definição

o termo comunicação significa pôr em comum, partilhar,mas a palavra comunicação tem também o sentido de transmitir, istoé, o meio de fazer passar uma mensagem.Hoje, a sua significação alargou-se mais e diversificou-se. Por isso, acomunicação abrange:a) o acto de partilha: comungar, ellfrar em comunhão com os seus

vizinhos;b) o objecto posto em comum: comunicar iJ?!ormaçi}es;c) o meio de pôr em comum: a rede de comunicação rodoviáriod) os procedimellfos de difl/silo de iJ?formação no grande público

(rádio, imprensa, televisào, cinema, cartazes, etc...); são ascomunicaçi}es de massas ou mass-media;

e) qualquer relação dinâmica que intenem num funcionamento(teorias das comunh:açi}es);

f) fenómeno social: toda a nossa l'ida é um fenómeno de. . .comunicaçào. ('omunicamos em todos os instantes com todos ossellfidos, consciellfemellfe ou nào, com as nossas palavras comocom os nossos silencios, com os nossos gestos como com a nossari[?idez

Compreendemos portanto por que é que todos falam decomunicação, os linguistas, os semiólogos, os políticos, ospsicólogos, os publicitários e os homens de negócios, os médicos eos especialistas em informática.

No sentido mais lato, diremos que uma comunicação designaqualquer troca de mensagem. Dito com outras palavras, é o conjuntodos processos pelos quais se realiza a operação de pôr em relaçãoum ou muitos sujeitos (emissor) com uma ou muitas pessoas

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·b Tec/1leas de eomul11cação .meral e o papeldm projéssores-al11l11adores

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(receptor) com vista a alcançar certos objectivos ou satisfazer certasnecessidades.

Mais simplesmente, direi que a comunicação é a emlssaoduma ideia para uma troca. É uma transmissão de ideias ou deinformações duma pessoa a uma outra.

Não é possível compreender uma acção de formação sem ofenómeno da comunicação Daí a necessidade de procurarmoscompreender melhor o mecanismo da comunicação paraassegurarmo-nos que todas as nossas mensagens são compreendidaspor os a quem se dirigem. Pois, uma comunicação eficaz não é coisafácil.

Podemos decompor o mecanismo da comunicação em 5perguntas fundamentais: Quem? diz o quê? por que meio? a quem?com que efeito?

Retomemos uma por uma estas perguntas e tentemos ver oconteúdo a atribuir a cada uma.

Quem? É a fonte da comunicação: os emissores

Diz o quê? É a mensagem, refere-se ao conjunto do " conteúdo"difundido ou por difundir.

Por que meio? O canal da transmissão da mensagem.

A quem? É o público alvo ou os receptores.

Eis um esquema explicativo:Estudemos agora cada um destes elementos fundamentais dacomunicação.

Quem? ou fonte de informação: emissor.Antes de comunicar, é preciso reunir os materiais da mensagem.

Esses materiais devem ser organizados em função dos a quem sedirige a mensagem e da natureza da comunicação. A fonte podeestar em você, ou em documentos ou ainda em qualquer outracompetência.

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Secessldades educativas especlGl.\ em AnRvla 138

Quem ? É o emissor, a pessoa que anuncia a comunicação. Issosupõe que ela seja competente para transmitir claramente amensagem. A personalidade assim como a atitude do emissordesempenham um papel importante. Se tiver em conta o receptor ese aceitar ouvi-lo, alcançará o seu objectivo.

Diz o quê ? É a mensagem ou o conteúdo da comunicação.Corresponde ao conjunto dos signos perceptíveis que vão estimularo receptor e dar-lhe informações. Convém ter cuidado na concepçãoda mensagem. É preciso fazer o esforço de adaptar a mensagem.

Por que meio? Trata-se aqui dos meios (signos, códigos, canais)utilizados para a transmissão da mensagem. Um exemplo de signo éo alfabeto para escrever. Tanto os signos como qualquer códigoutilizados pelo emissor devem ser compreendidos pelos receptores.Os canais são meios que constituem a via de circulação dasmensagens: os nossos sentidos, os meios de informação.

A quem? designa aquele que recebe a mensagem, o receptor. É oelemento fundamental de qualquer comunicação. É preciso fazer oesforço de colocar-se no lugar daquele que escuta. Empregar umalinguagem adaptada a ele. É a regra de base para uma boacomunicação. para que serve uma boa mensagem, um emissor muitocompetente se o receptor não compreende?

Com que efeito ? levanta a questão do efeito ou da influência damensagem sobre o receptor.Isso nos leva à Retroacção ou feed-back: é a resposta do receptor aoemissor para informá-lo sobre a maneira de como foi compreendidaa mensagem ou sobre os resultados da sua acção. Esta informaçãoretroactiva permite uma melhor compreensão, favorece a análise dacomunicação e revela uma possibilidade de adaptação. Esta noçãode feed-back muda o estatuto do auditório no processo decomunicação. Já não é simplesmente o receptor da mensagem.Participa na elaboração da mensagem, fazendo perguntas, dandorespostas a perguntas, dando informações, etc...

Os princípios de base da comunicação: como é que se comunica?

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.-1.\ lecl1Ica.\ de comumcação .metal e o papeldos pn?fes.wres-ammadores

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A comunicação verbal: são as palavras, a inflexão da voz. Apalavra é o primeiro meio.A comunicação não verbal: é feita de signos, de gestos, demímicas, atitudes, silêncios, etc...

Os princípios de base da comunicação

Os princípios de base de qualquer comunicação são os seguintes'

a) Sair do seu isolamento. É o elemento inicial de qualquercomunicação. Guardar para si e só para si ou para um númeromuito reduzido de pessoas o resultado das suas reflexões écondenar-se a uma estagnação.

b)Ter algo a dizerPode parecer evidente, mas convem notar que muita gente fala enão diz nada ou emite lugares comuns conhecidos por todos. Essadiscussão não pode estabelecer uma comunicação profunda. Épreciso o que se diz ter um certo conteúdo, uma certa densidade.

c) Aceitar que o importante seja o receptor.O importante não é forçosamente a mensagem, não éforçosamente o emissor, mas sim, o receptor. Portanto, preparareste a receber e compreender e preparar o processo pelo qual sedá a informação.

d) Cada comunicação é únicaSabe-se que cada pessoa é diferente, que cada classe social tem asua linguagem, a sua cultura, que as situações socio-económicasmudam no tempo, que a sensibilidade colectiva evolui. Não terem conta todos esses aspectos seria condenar-se ao fracasso.

As barreiras à comunicação

a) As diferenças entre as pessoas.Cada pessoa é específica num grupo e intervem em função do seumeio familiar, da sua cultura ou da sua abertura de espírito.

b) Os juízos de valor sobre as pessoasMuitas vezes, armamo-nos em moralistas e temos tendência ajulgar os actos e as palavras dos outros em função de certospreconceitos.

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Sece,\Mdade,\ educafll'a.\ especUll,\ em .1I1go/a 140

c) O enroscamento em si mesmoTemos tendência, cada vez que temos uma ideia ou uma posiçãoa defender, a já não perceber o que dizem os outros porqueestamos preocupados com a maneira de como vamos fazer aceitaro que queremos defender.

d) Ser refractário à mudançaEstamos agarrados aos nossos pequenos hábitos, bons ou maus, eaceitamos dificilmente as mudanças, até se forem boas.

e) Não estar disponívelNem sempre estamos de acordo (carácter díferente, maneiradiferente de encarar certas questões, comportamentos etc... )

t) O problema da vozSincronizar o nosso ritmo de fala com a velocidade de escuta dosoutros participantes e não gritar nem falar baixo, nem muitodepressa nem muito lentamente. O ritmo da fala é um elementofundamental na comunicação.

g) Ter uma linguagem não adaptada aos outrosEvitar falar de maneira monótona, sem convicção, com palavrasmuito complicadas. A linguagem, sendo a maneira de apresentaras ideias, exige a clareza, a precisão. É preciso saber colocar-seno lugar daquele que escuta. É a regra de base para estabelecer acomunicação.

Como ultrapassar os obstáculos da comunicação

a) Saber que num grupo, serviço, meio, cada um depende dos outros.b) Saber que sobre cada problema não há só um ponto de vista

válido.c) Saber que o nosso ponto de vista não é forçosamente justo e que é

preciso ter em conta os dos outros.d) Ser capaz de tirar as nossas máscaras para vermos as nossas

próprias realidades, os nossos defeitos para melhor conhecer ooutro.

e) Agir para criar um ambiente de compreensão, sabendo ouvir osoutros, sabendo inspirar a confiança, sabendo pôr-se em causa,aprendendo a favorecer o diálogo na verdade. E JacquesDURAND tem razão quando escreve no fim do seu livro " Lesfármes de commul1icafiol1S ":

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.Ü tecl1lcas de comunicação social e o papeldos prc?{essores-anunadores

141

"Para compreender a comunicação, o que é preciso não sãoas pequenas receitas, mas um empenho profundo: saber falar, mastambém saber ouvir e saber calar-se, saber pensar e saber estar, saberquem se é e quando se é, saber existir e saber acabar."

Vimos portanto o que é a comunicação e os seus princípiosde base. Mas como dito acima, só se pode comunicar eficazmente sese for um bom animador. Então vejamos agora o que é umanimador.

o Animador

Definição

o animador é aquele que ajuda um grupo com vista à suaeducação ou a sua aprendizagem.Há animadores em todos os sectores de desenvolvimento.Ensino - Desenvolvimento rural - Saúde - Educação religiosa ­Partido político, etc.É importante fixarmos que alguém se torna animador pelaexperiência adquirida.

Qualidades do animador

A atitude do animador é essencial. Deve integrar o meIO,estar ao serviço da população.O animador deve procurar fazer evoluir sem brusquidão.Deve pedir conselhos no seu meio (aos chefes, aos notáveis, aosoutros animadores).Deve propor as acçoes e não as impor.O animador deve descobrir e avaliar o saber-fazer das comunidades.Deve poder pôr-se em causa, se for preciso.O animador deve ser um homem de diálogo, procurando oscontactos com a população e suscitando relações entre as pessoas eos grupos.Deve evitar o isolamento em relação aos outros serviços dedesenvolvimento, pois, a educação e a promoção para o bem-estar

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Necessidades educativas especiais em Angola 142

de todos não se pode realizar sem uma colaboração entre os váriosserviços que existem no meio.Conhecer as necessidades, as aspirações da população.O animador que chega ao lugar das suas actividades deve primeiroprocurar conhecer de maneira profunda a região onde vai trabalhar.Trataremos depois de algumas técnicas do estudo do meio.Deve saber definir as prioridades.Quando um animador chega a um lugar, parece que o seu programaestá bem definido; contudo, diremos que o animador não vemaplicar um programa previamente elaborado, mas ele vem estar aoserviço duma população.

Todas as abordagens do animador, todos os seus esforçosdevem situar-se na perspectiva da autopromoção comunitária.Para o caso que nos interessa, os docentes animadores devem levaras populações a reflectirem e a discutirem no seu seio sobre osproblemas ligados à educação escolar das crianças deficientes dalocalidade. Terão de se informar, de se organizar para uma acção. Epor isso que algumas noções tais como a deficiência, a criánçadeficiente devem ser analisadas de maneira breve nestacomunicação.

Algumas noções sobre a deficiência

Definição da deficiência e alguns exemplos

Há muitas definições da deficiência e cada uma apresentaaspectos interessantes. Para simplificar, digamos que a deficiência éuma desvantagem que resulta duma insuficiência ou dumaincapacidade que incomoda ou limita o sujeito ferido nodesempenho do seu papel normal em função da sua idade, do seusexo, do seu ambiente social e cultural.Podemos distinguir as deficiências motoras, mentais, sensoriais.

• Deficiências motoras puras ou cirúrgicas• Deformação congénita, deformação adquirida: pé aleijado,

escoliose, cifose, sequelas de acidentes, etc.• Deficiência motora de origem neurológica- Enfermidade motora cerebral

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As tecnicas de comunicação social e n papeldos professores-animadores

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- sequela de poliomielite- afecções neurológicas mais raras, às vezes familiares.• Doenças crónicas, tais como as artrites• Deficiências mentais- A deficiência mental- Doença mental crónica que invalida,- Perturbações psico-afectivos sérios.- Deficiências sensoriais

Perturbações da vista, da audição, da linguagem.(Esta enumeração não resume todas as deficiências de que podesofrer um indivíduo)

Há portanto deficiências motoras, mentais, sensonalS àsquais infelizmente, se junta frequentemente uma deficiência deambiente: familiar, social, escolar da criança. Trata-se de deficiênciade situação.Há crianças diversamente deficientes, muitas vezes multi-deficientescom necessidades especiais. A escolarização pode permitir adespistagem precoce de certas deficiências nas crianças.

Os docentes animadores devem conhecer as criançasdeficientes para se proceder a uma despistagem precoce, umaprevenção secundária para evitar uma evolução séria da deficiência etambém para uma prevenção terciária que tenta corrigir os efeitosnocivos duma doença decelada; assim, pode-se evitar a invalidez ereinserir a criança em condições compatíveis com a sua novasituação.

A integração das crianças deficientes numa aula regular

A integração em aulas regulares é um objectivoparticularmente presente na mente de muitos profissionais e pais decrianças deficientes.

Na pré-primária

O acolhimento das crianças deficientes é mais amplo e maisfácil. Apesar da falta de preparação dos docentes, a integração épossível para as deficiências mais diversas e mais graves: surdez,

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.\'ecessldades educatIvas espeCIaiS em Angola 144

cegueira, EMC, deficiência mental, etc. Graças ao empenho pessoaldos docentes, pode-se esperar muitas vantagens desta integração.

A presença da criança deficiente é útil para todos os seuspequenos colegas para a aprendizagem da solidariedade: essaintegração não impede a vida pedagógica da aula que é feita deespontaneidade e de liberdade; os docentes identificam umanecessidade de informação e de formação.

Na primária

Certas deficiências são mais toleradas do que outras nasaulas regulares do ciclo primário. Visto que nos nossos países háinexistência de texto, as admissões das crianças deficientes nasescolas primárias realizam-se dificilmente sobretudo quando adeficiência é grave.

As deficiências que cnam mais problemas são asperturbações psíquicas.

No secundário

Nos nossos países em via de desenvolvimento, só conseguemchegar ao secundário os deficientes de muito bom nível (motor ousensorial: cegueira).A todos os níveis, é preciso um apoio específico e técnico, erespeitar certas limitações (efectivos razoáveis).

Para certas crianças - caso de deficientes sensoriais. - aintegração só pode realizar-se depois da aquisição de pre-requisitosnum estabelecimento especializadoPara as crianças trissómicas, a integração pode ser uma primeiraetapa que deve ser temporária.

O certo é que a melhoria geral da vida escolar é que permitiráo desenvolvimento da integração.Para alcançar isso, preconizo, para os docentes animadores, alémdos trâmites já evocados na primeira comunicação sobre aexperiência do Benim, os seguintes.A readaptação com base comunitária baseada na escolarizaçãoimplica:

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As tecnicas de comunicação SOCIO! e o pape!dos profrssores-animadores

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- a criação duma organização comunitária pela escolha devoluntários membros da comunidade: o seu papel será oacompanhamento escolar nos domicílios, os conselhos aos país eo apoio necessário a estes;

- os professores-animadores ou docentes itinerantes deverão tomarparte activa nas actividades escolares; esta tarefa permitiráobservar as crianças deficientes nas escolas e nas aulas, conheceras suas dificuldades, propor medidas correctivas. Permitirátambém observar os professores para lhes propor métodosadaptados.Só os docentes-animadores estarão em contacto com a escola. Oseu papel consiste também em formar os voluntários para ajudá­los nas suas tarefas nos domicílios.

- os professores-animadores devem levar os outros alunos acompreenderem os seus colegas deficientes para uma integraçãofácil.

- devem dominar as dificuldades de ordem social e financeira(problemas sociais).devem permanentemente sensibilizar osmembros da comunidade e implicar os irmãos e as irmãsescolarizados da família.

A criação de associação de pais de alunos pode favorecer amobilização de recursos materiais, financeiros e humanos.No caso contrário, suscitar a criação, no seio dos pais, dumpequeno Comité de apoio às crianças deficientes.

- Os docentes-animadores devem ser capazes de conceber ajudastécnicas, tendo em conta as dificuldades encontradas pelos alunosdeficientes.

o conhecimento do meio

É indispensável qualquer docente-animador conhecer o meioonde trabalha. Este conhecimento deve ter por objecto as áreasseguintes:

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Xecessidades educativas especiais em rlngola

a) ao nível institucionalOs textos existentes relativos à escolarização.As instituições de apoio aos deficientes.O papel das instituições públicas na luta contra a deficiência

b) ao nível comunitário

- Quais são as organizações de apoio aos deficientes?- Quais são as outras organizações que existem e qual pode

ser a sua contribuição?- Quais são as concepções ligadas à deficiência?- Quais são as práticas ligadas à deficiência?

c) ao nível individual

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O docente-animador tem a obrigação de conhecer apsicologia dos pais de crianças deficientes, os seus receios, as suaspráticas, como analisam o futuro do seu filho deficiente.

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Informação e comul1lcaçãu em matéria deintegração escolar

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"Nada existe neste mundo que não tenha o seu momentodecisivo, e o supra-sumo do bom procedimentoé conhecer e aproveitar esse momento"

Jean François Paul de Gondiex - Cardeal de Retz

A contribuição da RNA na integração ereabilitação das crianças com necessidades

educativas especiais

Vouco Santana*

Introdução

Iniciamos a nossa comunicação, agradecendo o convite quenos foi formulado pela Direcção Nacional do Ensino Especial, OraOlinda Josefa de Matos, em particular num evento tão importante eactual, sobretudo se tivermos em conta a população a que se destina,Crianças Com Necessidades Educativas Especiais.

Sendo um dos objectivos do presente Seminário Atelier,abordar de forma profunda as experiências e conhecimentosadquiridos ao longo da implementação do Projecto sobre a Educaçãointegrada e propor soluções práticas que permitam de facto melhoraro atendimento às crianças com Necessidades Educativas Especiais,não poderia o mesmo prescindir de uma reflexão sobre a

• Jornalista. Rádio de Angola

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Xecessidades educativas especlals em Angola 148

importância da comunicação em todo este processo que pretendedinâmica abrangente e multi-sectorial.

"Reconstruir de mãos dadas", mais do que um "slogan", devepois, constituir a premissa fundamental para garantir a integraçãoplena das centenas de milhares de crianças Angolanas comNecessidades Educativas especiais.

Tentaremos assim estruturar a nossa comunicação daseguinte forma:

• Política de Informação: breves considerações

• A importância da Lei de Imprensa e da Lei da Rádio no contextoactual

· Contribuição da RNA para informação e sensibilização dasociedade para com as crianças com Necessidades EducativasEspeciais;

• Plano de Acção imediato;

• Conclusões

Política de informação: Breves considerações:

A expressão Política de Informação anda geralmente ligada àideia de influência que se exerce conscientemente sobre o públicopor meio da propagação de determinado grupo de notícias ou daretença de notícias do outro grupo.

A Política de Informação é preocupação essencialmenteassinada aos Governos. Na verdade são os Governos, quemhabitualmente definem as linhas que servem de limites à informaçãonos territórios de cada Estado.

Os Governos, certos organismos internacionais, as Igrejas eas pessoas adoptam face à informação, regras, sugerem oudeterminam princípios a observar em relação ao que se transmite, asinformações ou notícias que se difundem, enfim, possuem doutrinas,concepções próprias sobre a liberdade e o papel das informações.Tal comportamento deve-se precisamente porque as informações ounotícias podem determinar atitudes e decisões que lesem os seusinteresses ou briguem com os seus programas de Governo, afectemas habituais normas de vida e toquem aspectos essenciais das

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Informação e comunicação em matéria deintegração escolar

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políticas que prosseguem tais Governos, uma vez que a informaçãonão tem dificuldade em vencer fronteiras sociais, nacionais, etc.

Não é segredo que a informação constitui um verdadeiropoder, já que se traduz em transmitir, comunicar notícias, alimentaro mecanismo de formação da opinião, provocar decisões e atitudes,e inclusivamente educar.

Ao reconhecer o poder que a informação representa, osGovernos definem as linhas mestras das suas políticas informativasem face da natureza dos princípios políticos que servem desubstracto aos seus programas Governativos, prestando particularatenção a todas as decisões públicas e privadas sobre o uso dosmeios de informação e do que através deles se diz, por quanto éindispensável ao bom exercício das suas funções conhecer osprincípios a que se subordina a informação e qual o comportamentoque tem face à política Governativa. Daí que muitos especialistas aoanalisarem a problemática da Política Informativa, se preocupemcom os meios de informação e seu comportamento ante a atitudeadoptada pelos Governos face aos veículos de comunicação social.

Importância da lei de imprensa e da lei da rádio no contextoactual

o país vive uma fase de transição democrática. O queanteriormente se designou por sociedade totalitária deixou de existir.Surgem diversas correntes de opinião e com elas o surgimento dePartidos Políticos, agremiações, que reflectem em menor ou maiorescala, o grau de maturação da sociedade.

O direito de informar ou comunicar esta realidade radica nodireito à liberdade. O direito à liberdade em Angola está consignadona Lei Constitucional, no seu Capitulo II com a designação genéricade Direitos e Deveres Fundamentais. No Artigo 35° nO 1 pode-se ler" é garantida a liberdade de imprensa, não podendo esta estar sujeitoa qualquer censura, nomeadamente de natureza política, ideológica eartística" Os limites estão expressos no nO 2 do mesmo artigo, ondediz: " A lei regula as formas de exercício da liberdade de imprensa eas providências adequadas para reprimir os seus abusos".

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Xecessidades educativas especiais em Angola 150

A Lei de Imprensa Angolana, permite o livre exercício dojornalismo em todas as suas vertentes, porém reprime aqueles que sedemarcam dela.

Vejamos alguns artigos mais significativos da referida lei."A Lei 22/91 de 15 de Junho é a lei de Imprensa pela qual se

regem os jornalistas Angolanos".O Artigo 1° define o seu âmbito da seguinte forma: A

presente lei regula a liberdade de imprensa que se manifesta pelaliberdade de expressão, do pensamento através da imprensa escrita,radiodifusão e televisão consagrada na Lei Constitucional.

O artigo 3° define os fins gerais dos órgãos de comunicaçãosocial nos seguintes moldes:Os órgãos de informação têm os seguintes fins gerais:

a) contribuir para consolidar a Nação Angolana e reforçar a UnidadeNacional~

b) exercer em plena liberdade o direito de informar, sem limitações,excepto as que a lei define;

c) informar o público com verdade, independência e isenção sobreos acontecimentos nacionais e internacionais, assegurando odireito dos cidadãos à informação correcta e imparcial;

d) assegurar a livre expressão da opinião pública e da sociedadecivil;

e) dirigir a sua acção preferencialmente para actividadeseducativas, artísticas, culturais e ÍJ!formativas, assegurando li

Iiherdade de expressão das diversas corrente., de opinião e dosvalores que exprimem a identidade nacional.

Desta leitura podemos concluir que o Estado Angolanogarante o desenvolvimento de acções viradas para a divulgação epromoção da educação entre crianças.

Por outro lado, e de forma a garantir igualmente o exercíciodemocrático, considerando a liberdade de opiniões e o respeito peladiversidade, consagrados na Constituição, existe a Lei da Rádio, queregula o exercício da actividade da Rádio Difusão no territorionacional. O Artigo 2° da Lei da Rádio refere no seu ponto 1 que: " Oexercício público da radiodifusão é prestado pela Rádio Nacional deAngola, nos termos da presente Lei e dos respectivos estatutos".

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infiJrmaçãv e comu11lcaçãv em maTérIa deinteKraçãv escolar

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No seu Artigo 5°, sobre os fins específicos da Rádio, adianta:

1 Constitui fim específico do serviço público de radiodifusão,contribuir para a promoção do progresso social e cultural, deconsciencialização política, cívica e social dos angolanos e doreforço da unidade e da identidade nacional.

Para a prossecução destes fins, incumbe especificamente àradiodifusãoa) promover a criaçào de programas educativos, formattl'os ou

cient[ficos dirigidos e~]Jecialmente a crianças, jovens, adultos eidosos com d~ferentes níveis de habilitaçôes e grupos .\'Ocio­pro.fissiOlwis:

Esta lei, à semelhança da lei de Imprensa, privilegia a criaçãode programas educativos, estimula o interesse pelo conhecimentocientífico. Em síntese, podemos concluir que em Angola existem ospressupostos teóricos que permitem tomar a rádio num grandeauxiliar dentro do processo docente educativo, incluindo, como é dese supor, o processo de aprendizagem e de mudança de atitudes.

Contribução da RNA para informação e sensibilização dasociedade para com as crianças com necessidades educativasespeciais

A RNA, possui um conjunto de infra-estruturas, recursoshumanos e materiais que permitem desenvolver programas com umelevado nível de qualidade. Porém, reconhece-se que nem sempre osrecursos disponíveis têm sido suficientemente aproveitados. Detodas as formas, pela sua dimensão, é incomparável o volume deinformação e de notícias que a RNA transmite durante todo o dia.

A Rádio Nacional possui na sua estrutura orgànica oDepartamento de Realização, órgão intermédio responsável pelaprodução de mais de 18 horas de programaçào diária desta estaçãoemissora. É neste departamento que se situa a Redacção Social. Aredacção social é o órgão especializado que a nível da Direcção dosServiços de Programas, dá o tratamento necessário aos assuntosrelacionados com a infância, saúde, educação, mulher, justiça, etc

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:\'ecesszdades educativas e.\pecIGl.\ em .-I.ngola 152

Os trabalhos recolhidos ou elaborados pelos jornalistas destaredacção, são posteriormente distribuidos pelos diferentes blocosafim de serem incluidos nos respectivos programas. A elaboração deuma programação diversificada que atende todos os extractos dasociedade Angolana é um dos objectivos da RNA. No âmbito desteprojecto a redacção social vai elaborar trabalhos diversos, que serãoradiodifundidos nos seguintes programas.

- Programa "Ponto de Encontro ou Antes que seja tarde" no periodo9/12 horas~

- Programa "Clube de Amigos" no periodo 15/16.30 horas;- Programa "Rádio Movimento" no período 16.30/19 horas;- Programas "Boa-Noite Angola" no período 21 /24 horas.

Todavia, a RNA vai colocar à disposição, a sua programaçãoem línguas nacionais e permitir assim que um leque cada vez maiorde cidadãos possam conhecer o que está a fazer a favor das pessoascom necessidades educativas especiais.

O desenvolvimento de programas educativos, vai permitiraumentar o tempo de antena que a RNA dedica a este assunto.

Neste sentido, em colaboração com especialistas doMinistério da Educação, Ministério da Reinserção Social, InstitutoNacional da Criança, Saúde, Justiça e UNICEF, vamos realizar,entrevistas, reportagens, mesas redondas, etc., todas elas viradasprincipalmente para a vertente integração.

Por outro lado, existe já uma proposta de trabalho dentro doProjecto para o período Agosto / Setembro.

Plano de acção imediato

Pretende-se realizar no período Agosto/Setembro, váriasactividades no âmbito do Projecto.

As pnncipais actividades são:a) elaboração de spots publicitários e vinhetas sobre a importância e

os objectivos da educação integrada;b) produção e difusão de micro-programas, em português, umbundo

e kimbundo;

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Informação e comunicação em maténa deIntegração escolar

153

c) em colaboração com os emissores regionais de Benguela e Huíla,elaboração de programas locais, dando ênfase às actividadesregionais no âmbito do projecto.

No nosso plano de acção inc1uimos temas diversos, queincluem não apenas a participação de especialistas, mas sobretudodas crianças alvo das acções, os familiares e a comunidade.

Estes micro-espaços terão a duração de 15 minutos e serãoeditados a terça e a quinta-feira, com reposição a sexta-feira.Pretende-se emitir os referidos espaços, nos três períodos do dia.Desta forma pretende-se num período de 30 dir.s ocupar um tempode antena de mais de 300 minutos.

Estas acções não impedem que se desenvolvam as habituaisactividades de rotina na programação educativa da R.t\lA.

Apesar da disposição em colaborar e apoiar todas as acçõesque possam beneficiar a integração das crianças com necessidadeseducativas especiais, é importante que exista o ap010 indispensáveldo órgão coordenador do projecto.

A RNA, como a maioria das instituições do País, debate-secom sérias dificuldades, e em função desta realidade, torna-se cadavez mais dificil contarmos com os nossos recursos.

Conclusão

Considerando que a educação de crianças com necessidadeseducativas especiais implica a intervenção de diferentes serviços eexige um conjunto diversificado de recursos por vezes dificeis dealcançar, a RNA, enquanto órgão publico de difusão, coloca-se àdisposição de todos os organismos que estejam interessados emmelhorar a vida de milhares de cidadãos.

Assim propõe-se que o plano de acção imediato que a RNAapresentou a seu devido tempo seja dado o tratamento requerido." Reconstruir de Mãos Dadas " está ao nosso alcance, a RNA,através da sua Redacção Social estende as suas mãos e aceita odesafio.

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Prohlema.\ espec~ficos: /uglene geral e escolar

Problemas específicos: higiene gerale escolar

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Olinda Josefa De Matos·

Nota explicativa

Não pretendemos com estas pequenas noções de higiene,impor, propriamente como um manual de estudo perfeito e completoe, muito menos ainda, como um verdadeiro tratado de HIGIENEGERAL E ESCOLAR

o conteúdo consignado no presente tàscículo visa apenasservir de orientação e auxílio aos nossos professores animadores ede igual modo aos outros professores que com eles actuarão narotina da educação, ajudando-os a suprir, embora de forma modestae imperfeita, a falta de um proficiente compêndio de higieneelaborado com maior largueza e profundidade.

Foi reconhecendo essa falta e considerando as dificuldadescom que os nossos professores vêm lutando para razoavelmente seinformarem acerca desta matéria da sua preparação pedagógica, eainda acedendo às solicitações, muitas vezes renovadas, dos nossoscolegas sobre a necessidade de elementos ou normas de higiene quepudessem servir-lhes de guia de curso e de orientação prática na vidaescolar, nos trabalhos de apoio aos encarregados de Educação e daComunidade em geral.

• Coordenadora nacional do Projecto

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Secessldades educam'as espeCiaiS em Angola

Introdução

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Higiene. do grego Hvgeia, pelo seu derivado hygieiné.significando "são. coisa sadia. viver com saúde". pode definir-secomo sendo"a ciência que ensina a conservar e a melhorar a saúde,ou mais abreviadamente ainda. como "a ciência da saúde".

Encarando-a objectivamente no seu aspecto prático, podemosconsiderá-la e defini-la como "um conjunto de regras, normas oupreceitos tendentes a cuidar da saúde e prolongar a vida".

Visa ensinar ao HOMEM e à SOCIEDADE as normas davida sã concorrendo assim para a afirmação ou realização plena dapersonalidade humana e para o progresso e prosperidade dos povos.

Ela é. portanto, não apenas uma ciência, mas também esobretudo uma arte: a arte de viver de forma correcta e saudável, decada um se conduzir racional e convenientemente, de modo a poderfruir saúde mais perfeita e alcançar vida mais longa.

A definição dada, de higiene, como sendo a ciência da saúdeimplica necessariamente esta outra: a de saúde - que devemosentender como traduzindo não apenas a ausência de sofrimentonotório e actual, mas o " estado de equilíbrio e harmonia de todas asfunções do corpo e do espírito. de todas as actividades físicas,intelectuais e morais da pessoa humana".

Não podemos esquecer que o homem é um todo, físico,intelectual e moral. e que. portanto, a sua saúde ( como, aliás tudo oque lhe diz respeito) tem de se conceber forçosamente e sempre emordem a essa mesma totalidade. isto é, também como um todoabrangendo simultaneamente o físico, () intelectual e o moral.

A higiene é pois, em suma, a ciência da saúde, mas da saúdeintegral do homem. ou melhor dito, a arte de viver em plena saúdede corpo e de espírito, pois que, encarada sob o ângulo ~J -;:.1 t

utilidade e realização prática, ela é sobretudo uma questão deEDUCAÇÃO.

Para ter eficiência e interesse. para realizar o seu objectivo emissão, a higiene tem de ser uma prática e um hábito - e nãopropriamente uma teoria, uma doutrina ou um luxo do saber.

Os seus ensinamentos, o conhecimento das suas regras enoções serão destituidos de valor e de interesse prático, de virtude eeficiência construtiva. se não assumirem o significado de

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Problemas e~pec~ficos: higiene geral e escolar 157

imperativos sociais e morais, se, pela cooperação da vontade, nãocriarem em nos o hábito e o gosto duma vida limpa e sã, regrada edecente, de uma conduta racional e sensata, verdadeiramente digna ehumana.

Este é o verdadeiro e justo sentido da higiene. Sóentendendo-a e vivendo-a assim, o homem poderá realizar aquelaprofunda harmonia biológica e aquele perfeito equilíbriopsicossomático, que constituem a saúde.

Higiene corporal

Embora a higiene constitua, como sabemos, um todo uno einfraccionável, é habito considerá-la dividida, por comodidadedidáctica ou facilidade de estudo, em vários ramos ou apresentando­se sob diferentes modalidades.

Neste sentido e dentro deste critério podemos, efectivamente,dizer que há uma higiene fisica, uma higiene intelectual, e umahigiene moral, como poderemos considerar e estudar em separadouma higiene individual e uma higiene colectiva (ou pública ou social), ou ainda uma higiene urbana e uma higiene rural, uma higieneescolar e uma higiene fabril (ou industrial), uma higienehabitacional, alimentar, mental, do vestuário, da pele etc.

É evidente que devemos antes considerar cada uma destasmodalidades de higiene, não como entidades distintas e autónomas,mas apenas como aspectos ou capítulos restritos do grande todo queé a higiene do homem.

Seguindo esta orientação corrente, iremos ocupar-nos agorada higiene fisica, começando por tratar dos cuidados e da realizaçãoprática do asseio pessoal.

A limpeza ou asseio constitui simultaneamente umacaracterística e uma necessidade de todo o homem. Não podeefectivamente, conceber-se um homem que aspire a viver e a impor­se como membro duma sociedade, se não possuir hábitos delimpeza, de arranjo e apuro pessoal. Mais ainda: é pelo grau deasseio individual, pelo aprumo e compostura revelada que,geralmente, melhor podemos avaliar e aferir a medidas práticas ehábitos higiénicos de cada um, do seu interesse e apreço pelahigiene, pois dificilmente alguém pode pretender interessar-se por

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Xecessldades educativas especiais em Angola 158

ela, quando dá mostras de desconhecer as próprias bases em queassenta, começando por desprezar os elementares cuidados e regrasdo asseio e da limpeza corpóreos.

O apuro pessoal e a limpeza, o esmero e compostura,aparecem-nos assim como um índice, não só do asseio corporal emsi mesmo, mas também, em boa parte, do próprio asseio espiritual.

O desleixado do corpo, como o desleixado do espírito, torna­se antipático e repugnante ao convívio social.

O asseio está para o corpo, como a decência está para oscostumes escreveu Bacon, com ele damos testemunho do respeitoque temos pela sociedade e por nós mesmos.

Na escola a higiene da cabeça reveste-se de uma importânciaespecial porque, a par da sujidade propriamente dita, surge comextrema frequência o flagelo do inçamento parasitário e basta queuma ou duas cabecinhas se encontrem " habitadas " para que toda aclasse se torne inçada dentro de pouco tempo.

O índice de infestação pelos pediculi capitis é, no geralbastante elevado nas nossas escolas, e tem servido como elementode indicação para aferir da precária grande limpeza ou educaçãohigiénica das nossas populações escolares.

Vestuário e calçado

Para além dos cuidados da limpeza ou asseio de queacabamos de falar, a pele do homem, de acordo com as zonasclimáticas em que habita, carece de medidas protectoras.

Daqui a necessidade para todos nós de um suplemento dedefesa, de uma protecção adjuvante ou suplementar, que é realizadapelo vestuário. Este tem, antes de mais, uma função essencialmentedefensiva, um valor acentuadamente físico. Mas o vestuário temtambém como é obvio, um valor civico ou social e igualmente umvalor moral: a dignidade das situações, a hierarquia e a posiçãosocial de cada um implica uma distinção no trajar~ a moral e o pudorimpõem, por seu turno, a necessidade do recato e decência no vestir.

De um modo geral, deve buscar-se que o vestuário sejaracionalmente escolhido e adequado às circunstâncias e que,simultaneamente, permita o livre desempenho das funções da pele,não estorne a actividade e crescimento orgânico, nem prejudique os

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Prohlema.\ e.\pecíficos: higiene geral e escular 159

movimentos e o trabalho. Deverá, por isso, ser sempresuficientemente amplo (sem ser demasiadamente largo), maleável(não excessivamente rígido ou consistente) e cómodo (adaptado àsua função e não exageradamente pesado, anti-higiénico dificultandoa circulação sanguínea)

Na escola prímária há aínda que ter em atenção o graveinconveniente e o perigo que resulta, para a saúde das crianças,durante o tempo de chuva, da permanência nas aulas com o calçadomolhado. Este, retido nos pés durante todo o tempo lectivo, é a causafrequente de muitas doenças, em particular o aparelho respiratório.

Higiene do sono e do repouso

Não basta a manutenção da saúde do corpo e a pratica dahigiene cutânea e da sua defesa e protecção por meio do vestuário.Uma outra imperiosa necessidade orgânica, indispensável à saúde einerente à nossa natureza, é a do sono e do repouso.

Todos os organismos vivos têm necessidade, mais ou menosacentuada, de períodos regulares de descanso ou repouso relativopara poderem restaurar as energias despendidas - consequênciaobrigatória e fatal da própria circunstância do viver.

O sono representa, como sabemos, um factor absolutamenteindispensável ao equilíbrio orgânico e à saúde do homem.

De qualquer modo o sono é essencialmente, tal como asensação de fatiga, uma função de defesa' obrigando o organismo àinércia, impede que ele chegue à fase de esgotamento. Não seformam por assim dizer, toxinas ou produtos de desassimilação,porque cessou a actividade motriz voluntária e a mental (durante osono nocturno).

A insuficiência do sono é uma das causas mais frequentes emais espalhadas da fàdiga do homem contemporâneo.

Este problema do sono interessando sobremaneira ao homemem geral, assume uma grande dimensão durante as primeiras idadesda existência humana e é , podemos dizê-lo, um dos grandesproblemas da vida escolar.

Absolutamente necessário à saúde do adulto, o repouso pelosono é e muito mais ainda para o organismo da criança, o qual nãoestá ainda estabilizado, mas em plena actividade construtiva (para

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Secesslllades educaflvas espeCiais em .1ngola 160

não falarmos também da imensa actividade despendida nomovimento. no jogo, no trabalho), actividade que exige uma somade energia considerável para a ed{ficação dos tecidos novos emcrescimento activo e constante.

O organismo infantil é, na acertada definição do Dr.Nobécourt. "uma máquina que deve funcionar ao mesmo tempo quese constroi".

Na realidade, e. embora não se sinta, a criança fatiga-semuito mais do que o adulto, e daqui resulta uma maior necessidadede repouso ou de restauração da fadiga orgànica. Ora ela é incapazpelo seu próprio temperamento, de repousar fora do sono. Destefacto decorre a necessidade de a obrigar a dormir, de a fazer deitar ahoras convenientes, se não queremos que ela se esgote e depaupere.

Podemos dizer que a criança, verdadeiramente, só descansaquando dorme. O sono é a forma suprema do repouso. aparece-nos,assim, na infància, como o elemento separado por excelência,absolutamente insubstituível e indispensável a uma saúde edesenvolvimento perfeitos.

{}uantas horas se deve dormir?

Não se pode dar. como facilmente se compreende, umaresposta peremptória e unívoca a esta pergunta. O número de horasde repouso necessário a cada um é um tanto variável e depende devários factores, primordialmente a idade, diminuindo, de um modogeral. à medida que esta aumenta. As estações influem também: talcomo os adultos, as crianças necessitam de dormir mais tempo notempo de frio que no tempo de calor.

O meio exerce igualmente certa influência: as crianças dacidade (e um pouco também os adultos) carecem de mais tempo derepouso do que as do campo. porque vivem num ar menos puro,estão sujeitas a maior fadiga, excitação nervosa, ruídos, etc. Oregime de vida influi também (quanto mais agitada e fatigante maislongo repouso exige), bem como a saúde (certas doenças causadorasde depressão e cansaço orgànico impõem mais tempo a destinar aosono.

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Problemas espec(ficos: higiene geral e escolar

Trabalho escolar e férias

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o problema que se prende com o trabalho escolar e as fériasé o da higiene do trabalho escolar e das férias.

A higiene do trabalho escolar far-se-á, na escola primária,por uma distribuição sensata e inteligente das tarefas diárias. A artedidáctica e prática pedagógica conhecem essas regras e buscam po­las em prática para obterem um melhor rendimento do ensino, semfatigarem excessivamente a criança.

Não temos que nos ocupar aqui propriamente desteproblema, que transcende os nossos intuitos e competência.Acentuaremos apenas, em obediência aos interesses da saúde doescolar, que as tarefas impostas devem ser sempre proporcionadas àcapacidade de esforço e à saúde de cada aluno. Nunca se devesacrificar esta a qualquer rígido critério estritamente didáctico quevise cegamente a ir depressa e a tirar o máximo rendimento doescolar, sem cuidar de saber se ele está ou não em condições físicase psíquicas de o poder fornecer.

Por muito necessário e louvável que seja o saber, nunca deveantepor-se aos legítimos e superiores interesses da saúde Estesprimarão sempre os da sabedoria.

Em todos os casos em que o estado fisico e sanitário do alunose afigure débil e precário, ou em que ele não renda apesar do seubom aspecto, deverá o professor providenciar para que sejasubmetido à observação médica.

Também durante os períodos de convalescença das doenças(sobretudo quando graves e prolongadas ) se deve ter o cuidado denão exagerar o esforço pedido aos alunos. É uma fase melindrosaque requer moderação em todos os esforços, pois o organismoencontra-se em estado de menor resistência e facilmente sujeito arecaídas.

Um outro cuidado ou preocupação que deve ter o professor ­e esta de carácter simultaneamente pedagógico e higiénico - será ade uma boa distribuição e alteração das tarefas dentro do horário daescola, bem como ainda a de tomar a escola alegre e o ensinoatraente. A criança, pelo menos a das primeiras classes, não é aindacapaz de esforços longos e aturados: tem necessidade de períodosrelativamente curtos de aplicação e de variar frequentemente de

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.Vecessldades educativas especIGls em Angola 162

tarefas. Mas este problema é essencialmente da alçada da artedidáctica.

As férias têm um inegável valor higiénico e serãoaproveitadas sobretudo como correctivo dos inevitáveis maleficiosque o regime escolar (pela fadiga, pelo sedentarismo, pelo arconfinado , pela falta de repouso suficiente. etc.) traz' à saúde dacriança, como meio de retemperar as forças e consolidar a saúde, dereparar as fadigas e restaurar as energias esbanjadas no periodo deactividade intensa a que obriga a vida escolar.

Neste sentido, o que importa não é regulamentar o trabalho eas ocupações da criança para o tempo de férias, mas sim promover,na medida do possível, a boa restauração das suas forças, orevigoramento da sua saúde.

A organização de colónia de férias é, sob este ponto de vista,do mais alto interesse e conveniência, muito especialmente para aspopulações escolares.

O objectivo ou finalidade das colónias de férias visa, comefeito, não só restaurar as energias fisicas da criança e robustecer assaúdes precárias, mas ainda e sobretudo prepará-la para bemresistirem à doença no futuro.

Pela vida em colectividade a que obrigam, obedecendo a umplano de existência comum, elas actuam ainda sobre a infância comum apreciável elemento educativo - conviver na diferença, auxiliaros colegas mais necessitados, etc.

Um certo número de cuidados de ordem geral e práticadeverão ser previamente consideradas e assumidas para aorganização, por parte da escola, ao ter em vista a realização de umacolónia de férias.

Estes dizem respeito especialmente e em resumo:a) à selecção do pessoal dirigente e colaborador, que necessita ser

competente e estar perfeitamente orientado sobre as exigências eo sentido a que deve obedecer a colónia;

b) à selecção das crianças, que deve ter em vista não só a escolhabem acertada dos casos que poderão beneficiar de cada tipo decolónia, !TIas a organização de colónias tanto quanto possívelhomogénea;

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Prohlemas específicos: higiene geral e escolar 163

c) ao plano de vida na colónia (estabelecimento de horários pararefeições, repouso, divertimentos, banhos, excursões, etc.),obedecendo a uma conveniente divisão e aproveitamento dotempo;

d) à organização de lições e outras tarefas julgadas convenientes eque serão sobretudo estabelecidas em função do meio, da idade eadiantamento escolar dos alunos. Nas primeiras classes talvez nãosurta efeito, mas para os mais adiantados é aconselhável, porexemplo, a redacção de um diário, observação geográfica,costumes da região, etc.

Para a realização das colónias de férias não basta certamentea boa vontade e a acção do professor. Mas este empenhar-se-ásempre, na medida das possibilidades, pela sua organização,diligenciando por todos os meios ao seu alcance (junto dos alunos,das famílias, das autoridades locais, etc.), conseguir que os seuspupilos, ao menos os mais carecidos, possam beneficiar durante operíodo de férias duma estadia à beira-mar, beira-rio ou numacolónia de campo.

Higiene alimentar

A necessidade de se apropriar de matenalS estranhos, deabsorver substâncias do exterior, de ingerir alimentos, é umacaracterística dos seres vivos e exclusiva deles. Na intimidadeorgânica de todo o ser vivo, qualquer que seja a sua simplicidade oucomplexidade, passa-se um duplo e misterioso fenómeno que éprecisamente o que, do ponto de vista biológico, melhor caracterizae define a vida: a assimilação e a desassimilação.

As características da vida - escreveu um grande cientistacontemporâneo Ab. Moreaux - residem todas nesta funçãomisteriosa de assimilação e desassimilação. Só a célula viva possui,com efeito, esta prodigiosa propriedade, só ela é capaz de realizaresta função metabólica.

A alimentação aparece-nos assim, como exigência inerente ecaracterística de todos os seres vivos e portanto do homem.

A função dos alimentos na economia orgânica, podemosdizer que se resume a:

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Sece,\.\ldade,\ edu( atIl'a,\ e.\pel'/{u,\ em .lngo/a 164

a) prover a instituição dos tecidos, estrutura ou suporte material doser VIVO~

b) reparar os desgastes celulares que constantemente estão aproduzir-se (inerentes à vida da célula);

c) produzir a energia indispensável à manutenção da vida (térmicaou calórica e dinâmica ou muscular);

d) possibilitar o crescimento orgânico (necessidade transitória,durando apenas até se atingir a idade adulta).Daqui a distinção funcional dos alimentos em:

• -plásticos ou formativos, abrangendo as proteínas ouprótidos, ossais minerais e a água;

• -energéticos, agrupando os Iípidios ou gorduras e os glúcidos ouhidro-carbonados~

• -protectores ou equilibradores, compreendendo as vitaminas (eacessoriamente a celulose).

A água

A água facilita a digestão e a assimilação dos alimentos.Cerca de 2/3 do peso total do organismo humano é composto deágua. São 64 partes de água para 36 de matéria sólida.

Todas as células do organismo se banham, por assim dizer,em água ( na linfa, no soro e no sangue). Esta é assim indispensávelpara o equilíbrio hídrico do organismo.

Quando esta percentagem baixa muito, o organismo sofre.Uma queda da taxa até }OO/Ó (o normal é 64%) dá origem aperturbações graves, que levam facilmente à morte.

Calcula-se em cerca de 2 Y2 litros a quantidade média de águaeliminada pelo nosso organismo por cada 24 horas ( 2.600 gramasem média, dos quais 1.500 pela excreção renal e o restante pelo suor,fezes e respiração).

Ração alimentar

Dá-se o nome de ração alimentar à quantidade de alimentosou substâncias nutritivas de que o homem carece, por cada 24 horas

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Problemas específicos: higiene geral e escolar 165

para compensar os gastos de energIas e prover à sua própriaconservação.

Esta quantidade mede-se, habitualmente, não em peso, masem calorias, maneira de estabelecer os cálculos com mais exactidãoe ngor.

Uma alimentação que forneça ao homem menos de 1.600calorias (o estritamente necessário para o regime de repousoabsoluto estabelece em estado de carência ou de fome que, aprolongar-se, leva ao depauperamento orgânico, percursor dodefinhamento, da miséria fisiológica, da doença e da morte).

Os inconvenientes da alimentação exa~erada não podemdeixar de mencionar-se ao tratar da higiene alimentar. Comofacilmente se depreende, estes não são apenas de ordem fisica(ruina do estômago, aparelho digestivo no geral, coração, órgão deeliminação, intoxicações crónicas etc.), mas também de ordemintelectual (torpor mental após as refeições copiosas, incapacidadede esforço intelectual, embotamento da sensibilidade e agudezapsiquímicas etc).

Perigos de alguns alimentos

Alguns alimentos podem constituir um sério atentado à saúdequando consumidos em condições higiénicas indevidas. Leite - é umalimento que tem tanto de bom como pode ter de perigoso, quandonão é de confiança e se não se toma com as devidas cautelas.Constituindo um excelente meio de cultura para os micróbios, podetornar-se facilmente veículo de variadas doenças, em particular datuberculose que, como se sabe, afecta com relativa frequência osanimais produtores de leite.

O leite de cabra é em muitos casos responsável pelaaquisição da febre de malte, doença de gravidade muito menor doque a anterior e caracterizada essencialmente por febre intermitente,suores profusos, dores articulares, etc.

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Necessidades educativas especiais em Angola

Carne

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A carne é outro alimento de origem animal que podeigualmente apresentar-se contaminado (por micróbios ou parasitas)ou alterado (por doenças e toxinas). Das doenças microbianascontraidas pela ingestão da carne, a principal é também atubérculose (da carne de vaca, de galinha, em especial). Outras,como o carbúnculo, o mormo, a febre aftosa, o mal rubro, etc,podem ser igualmente contraídas, por via digestiva, através da carnede consumo.

Das doenças parasitárias (carnes infectadas) merecemespecial menção as provocadas pela triquina, pela ténia e distómiohepático.

A triquina afecta especialmente o porco, dando lugar àdoença chamada triquinose.

A ténia pode provir do corpo (ténia solium), onde se encontraalbergada no tecido muscular, sob a forma de pequenas granulaçõesesbranquiçadas.

O figado comido cru ou mal cozido (nas dietas, anemias, porexemplo) pode dar origem à infestação do homem, onde a doença sereproduziria também no figado, sobrevindo perturbações mais oumenos graves, daquele órgão.

A profilaxia destas doenças e acidentes originados pelascarnes de consumo far-se-á mediante uma cuidadosa fiscalização enão só por parte das autoridades sanitárias (abrangendo a inspecçãodos animais, dos matadouros, dos talhos, etc), mas deve-seigualmente orientar nas comunidades as formas mais elementarespara a selecção da carne a ser consumida.

São frequentes as intoxicações por ingestão de produtostóxicos ou venenoso~ estão neste caso por exemplo os cogumelos deque se faz largo consumo entre nós e constituem um alimentoperigoso para aqueles que não estão habituados a colhê-los e a bemdistinguir as espécies comestíveis das venenosas. É prudente não osconsumir levemente onde quer que no-los apresentam e sempre quese não esteja seguro da sua inocuidade.

A distinção entre as espécies comestíveis e venenosas nemsempre é fácil: exige conhecimentos seguros e larga experiência.

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Problemas específicos: higiene geral e escolar

Higiene da estrutura escolar

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Antes de tudo o local em que deve ser construido uma escolatem que ser criteriosamente escolhido, de modo a poder satisfazer omelhor possível ao fim a que se destina.

Para se poder dizer bem situada, a escola deve ficar sempresuficientemente isolada das demais construções, afastada de todas asvizinhanças, incómodos e inconvenientes (oficinas, fábricas,quartéis, hospitais, tabernas, cinemas, estádios, dancings, etc.).

Alguns higienistas, aconselham como preferível o sistema dailuminação bilateral diferencial, em que a luz é recebidasimultaneamente dos dois lados, mas com maior intensidade àesquerda.

A atmosfera da sala de aula é naturalmente e sempre umaatmosfera viciada, reclamando por isso uma renovação frequente.Um ar viciado é, essencialmente, um ar com uma certa rarefacção dooxigénio e com excesso concomitante de anidrido carbónico, alémde contar também, em regra, mais micróbios e produtos voláteis deexalação orgânica.

Aqui está uma noção que o professor não deve ignorar, nemesquecer, pois é do mais alto interesse para a saúde da criança e parao próprio rendimento da escola. Se nos meios rurais a vida ao arlivre e o largo contacto com a natureza traz, felizmente, algumcorrectivo a estes inconvenientes e maléficos da permanência naatmosfera confinada de certas escolas, já assim não acontece, pelogeral, nos grandes centros urbanos, entre a população escolar dosbairros da cidade em que as crianças ao deixarem a escola ingressamem casas sem arejamento e sem luz, ruas estreitas onde não entra sole o ar é feito de emanações bafientas de sarjetas.

Mobiliário escolar

Não importa apenas considerar as condições higiénicas dasala de aula em si, mas também, como é obvio, as do mobiliário queela comporta.

Este deve não só adaptar-se à estrutura dos alunos, comoobedecer às boas normas da higiene escolar, permitindo uma posiçãocómoda e correcta, de modo que o trabalho da leitura, da escrita e do

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Necessidades educativas especiais em Angola 168

desenho se possam executar em boas condições de eficiência, defacilidade e de saúde.

Há na verdade um forte motim de ordem higiénica tambémde ordem pedagógica: a maior facilidade do trabalho escolar, aimpor que a carteira se adapte, tanto quanto possível, às relaçõesanatómicas dos segmentos do esqueleto da criança que a vai utilizar,e muito particularmente no que diz respeito à altura do tampocarteira relacionada com a do busto. Se fica muito baixo, obrigaforçosamente a uma incurvação exagerada da coluna vertebral paradiante (posição cifótica do ráquis), que predispõe ou favorece aaquisição permanente daquela atitude e traz como consequênciadirecta e imediata a compressão do tórax e abdómen, dificultando afunção ou o bom desempenho do acto respiratório; se pelo contrário,fica muito alto, torna-se mais incómodo e fatigante para o trabalho eimpõe uma aproximação exagerada dos olhos aos livros e cadernos,a qual parece favorecer a aquisição da miopia.

Principais doenças que interessam a escola

Vamos fazer referência a um assunto de extrema importânciae que o professor deve dominar, conhecendo as formas de contágio emeios gerais de defesa contra os agentes contagiosos; são as doençasque particularmente interessam à escola, porque elas apresentam-secomo mais peculiares, perigosas e frequentes na idade escolar. Sãofundamentalmente as doenças eruptivas e, para além destas, outrasinfecciosas ou parasitárias.

É evidente que não vamos aqui descrever clinicamente e demaneira completa cada uma delas.Assim são elas:

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Yroblemas específicos: higiene geral e escolar

o O sarampoO A escarlatinaO A varíolaO A varicelaO A difteriaO A papeiraO A tosse convulsaO A febre tifóideO A poliomieliteO A meningiteO A tracomaO A tinhaO A sarnaO A pediculose.

Males sociais com repercussão na escola

* Alcoolismo* Tabagismo* Sifilis* Tuberculose* Lepra* Doença de sono* Malária

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A escola não deve limitar-se apenas a promover odesbravamento intelectual da criança, mas há-de também sabereducá-la e integrar-se na vida social da Nação, de modo a contribuirpara a elevação espiritual do povo, para a defesa da saúde geral daspessoas mais desfavorecidas e não só, bem como a melhoria dascondições de vida. Só assim ela realizará uma obra grande e fecundae conseguirá atingir a plenitude da sua nobre tarefa e missão.

Dentro deste conceito, não lhe interessará apenas o que sepassa no círculo restrito da sala de aula, mas tudo o que ocorra forada escola e que de alguma sorte aí se venha reflectir influindo naeducação e na saúde das crianças, tanto no presente como no futuro.

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Necessidades educativas especiais em Angola

Afastamento escolar

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Referidas as principais doenças cujo conhecimento interessaao professor pela sua repercussão na vida escolar, vejamos agoraquais as medidas práticas a adoptar pela escola para evitar, a suadifusão entre as crianças que a frequentam.

Estas consistem essencialmente, exceptuando a vacinação, noafastamento dos alunos da escola durante todo o periodo docontágio. Retendo a criança fora dela (escola) e longe do convíviodas restantes, todos os alunos portadores de enfermidade contagiosa,evitar-se-á o seu alastramento no meio escolar e contribuir-se-átambém para limitar a tendência à extensão epidémica, tão peculiar aestas doenças da infância.

Deste modo o professor, em caso de doença declarada, nãotem mais do que impedir o ingresso, nas aulas , do aluno ou alunosatingidos, durante todo o tempo prescrito pela lei sanitária.Cumprindo rigorosamente este preceito legal, defenderá do contágioa popu.lação da escola confiada à sua guarda.

Para que estas acções possam conhecer uma maior cutilênciano seu cumprimento, necessário se torna a dinamização da saúdeescolar junto dos estabelecimentos de educação.

Disciplina escolar

Estímulos e castigos

Ao problema escolar das crianças dificeis, vem juntar-se umoutro não menos importante e complexo que é a velha e semprf>debatida questão das sanções ou castigos e dos estímulos.

Os estímulos e castigos são considerados pela pedagogiacomo métodos auxiliares da educação.

É preciso esclarecer que ao fazerem uso do estímulo e docastigo, os professores devem ser muito cuidadosos. Estes sãoinstrumentos valiosos, quando utilizados com frequência, ecorrectamente.

A' dificuldade do problema reside sobretudo em saber serrazoável e justo, em possuir o tacto e a serenidade necessários para

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Problemas específicos: higiene geral e escolar 171

fazer do estímulo e do castigo um factor de educação e não decomplexo de superioridade, elitista, de atrito ou de revolta.

Para bem educar, como para bem punir, o professor tem deconhecer bem a natureza da criança.

A falta de um conhecimento justo e real da índolepsicológica da criança leva facilmente a muitos conceitos erróneos eteorias nefastas sobre a educação.

As crianças da escola primária apresentam uma propensão aoelogio do professor. O elevado grau de excitação emocional, afantasia do seu pensamento, requerem uma grande difusão nautilização do estímulo público.

A pedagogia actual proibe e condena os castigos corporais. Alegislação escolar deveria prever a punição judicial de todo equalquer professor que a este hediondo método recorresse.

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PARTE IV:

COOPERAÇÃO"EXPERIENCIA INTERNACIONAL

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('omponente.\ háslca...; dU111 p/ano educativo

Necessidades educativas especiais:Evolução, marcos da política educativa

actual e componentes básicas dumplano educativo

175

Ana Maria Bénard da Costa*

Evolução histórica até aos meados do sec xx

Não é conhecida em profundidade a atitude dos povosantigos em relação aos indivíduos com deficiência mas há relatosdispersos que nos indicam que estas se pontuavam por trêscaracterísticas básicas: ou se consideravam como possuidores depoder demoníaco e como tal eram afastadas ou mesmo eliminadas;ou se achava que tinham ligação aos deuses e eram tidos comofeiticeiros ou adivinhos; ou eram simplesmente rejeitados porconstituirem um fardo demasiado pesado. Sabe-se que na Grécia, eem especial em Esparta, em que era dada fundamental importância àperfeição corporal e à força fisica, capaz de garantir a qualidadeguerreira, as crianças que nasciam com defeitos aparentes erammortas à nascença.

Na Idade Média, por influência do cristianismo, as pessoascom deficiência foram objecto de atitudes de compaixão e decaridade, recorrendo-se à sua escolha em Asilos ou ao seu amparoatravés de esmolas. No entanto, no que diz respeito à educação dascrianças deficientes, a primeira intervenção de que temos notícia, nomundo ocidental, remonta ao século XVI: Pedro Ponce de Leon,nascido em 1520, ensinou com sucesso crianças surdas a falar, ler eescrever e os seus métodos foram descritos, por um discípulo seu,num livro que pode ser considerado como a primeira obra de"educação especial". O passo seguinte, de importância significativa,

• Consultora da UNESCO

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Sece:-,suiades educaflvaj especIaiS em Angola 176

dá-se dois séculos mais tarde em França: O abade de L'Epée (1712 ­1789) inventa um primeiro código sistematizado de gestos para ossurdos, o qual dará origem à comunicação gestual e dactilologia,ainda hoje universalmente utilizadas. Um educador germânicocontemporâneo do Abade de L'Epée, Samuel Heinicke ( 1727-1790)e , mais tarde, Friedrich Moritz Hill (1805 -1874 ), desenvolveram ométodo oral e o método natural da educação de surdos, os quaisfizeram escola até aos nossos dias. Também no século XVIII, em1745, nasce aquele que foi chamado "pai e apostólo dos cegos"Valentin Hauy, que criou, em Paris, a primeira instituição deeducação de crianças cegas - O "institut National des JeunesAveugles", ainda existente - e que iniciou o primeiro método táctilde leitura e de escrita. Mas é a um aluno desse Instituto, Luís Braille(1809-1852) que o mundo ficou a dever a escrita em relevoverdadeiramente adaptada ao tacto - a escrita Braille - que até aosnossos dias se manteve como a simbologia utilizada pelos indivíduoscegos de todo o mundo. Abertas estas portas à aprendizagem doscegos e surdos, multiplicaram-se os institutos e escolas residenciaisa eles destinados em cidades como Londres, Berlim, Estocolmo,Amesterdão, Boston, Nova York e Lisboa.

Um outro marco decisivo na história da educação especial e,sem dúvida, obra de francês Itard (1775-1838) que se dedicou àrecuperação de uma criança abandonada na floresta de Aveyron eque descreveu a sua acção educativa no livro hoje considerado comouma obra chave na história da psico- pedagogia "o menino salvagemde Aveyron" . A metodologia utilizada por Itard para odesenvolvimento das funções intelectuais, baseada nas percepções enos movimentos corporais, veio a influenciar outros psico­pedagogos que se lhe seguiram, nomeadamente o francês Séguin. Amédica pediatra italiana Maria Montessori (1870-1952),conhecedora da obra de Séguin, desenvolveu uma acção pioneira nareeducação de crianças com atrasos de desenvolvimento ou comdeficiência mental. Os materiais didácticos por ela criados passaram,mais tarde, a ser também utilizados com crianças sem deficiência eexpandiram-se através de "Escolas Montessori" de inúmeros paises.

No século XIX a consolidação dos Estados nacionaisocidentais, o desenvolvimento da industrialização e da tecnologia e aresponsabilização progressiva dos Governos pelos destinos dos

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Componentes hásicas dum plano educativo 177

cidadãos, fazem emergir os diversos sistemas educativos nos seusníveis elementares, médios e superiores. Difunde-se a consciência daimportância da educação para o progresso individual e para oprogresso das nações e emerge a noção de que todas as crianças têmo direito a dela beneficiar. Estas concepções estendem-se,progressivamente, aos indivíduos que apresentam deficiências e alegislação dos diferentes paises começa a incluir medidas relativasàs escolas especiais. Pode dizer-se, de facto, que a educaçãoespecial, considerada como o resultado duma acção a nível nacional,baseada em legislação própria e orientada por uma políticaespecífica, nasce neste século, na maioria dos países ocidentais. Asorientações então generalizadas caracterizavam-se pelas seguintesideias fundamentais:- as crianças com deficiência podem ser educadas se forem objecto

duma didáctica a elas especialmente dirigida;- para que esta educação seja possível, é necessário agrupá-Ias por

categorias distintas, em instituições que funcionem como escolase que as possam manter em regime de internato;

- para que seja rentável o investimento exigido em pessoalpreparado e em equipamento próprio, estas Instituições são, namaior parte dos casos, de grandes dimensões podendo acolheruma centena ou mais de alunos.

Assiste-se, assim à criação dos grandes Institutos destinadosaos Cegos, aos Surdos ou aos Deficientes Mentais, tendo estesúltimos uma forte componente psiquiátrica e mesmo hospitalar. Aconcentração de pessoal especializado e de Know-how nestesInstitutos estiveram na base do enorme progresso pedagógico ecientífico realizado neste sector, a partir dos meados do sec. XIX.Com o apoio dos progressos científicos a que se assiste nesta época,especialmente no campo da medicina e da psicologia, muitos dospedagogos que tinham a seu cargo as crianças deficientesdesenvolvem novas técnicas de' avaliação, novos materiaiseducativos e novos métodos de ensino.

No sec.XX, com a expansão e consolidação do conceito dodireito à educação por parte de todas as crianças, verifica-se umamudança que tem consequências decisivas na evolução deste sector.Considerando a impossibilidade de atender todas as crianças com

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Xece.·js/(Iade~ educativas e.\pecrais em Angola 178

deficiência em escolas especIaIs e correspondendo à pressão demuitas famílias que desejavam manter os seus filhos no ambientefamiliar, abrem-se as primeiras classes especiais nas escolasregulares. Trata-se de uma primeira intrusão de alunos que exigiamcuidados especiais no meio educativo até ai reservado aosconsiderados dentro dos padrões de nonnalidade. Estas classesespeciais expandem-se rapidamente na generalidade dos paises e vãotrazer consequências de vária ordem:

- os educadores apercebem-se que é possível a comunicação entreas crianças das classes especiais e das classes regulares,verificando que aquilo que as aproxima é, muitas vezes, maisimportante do que aquilo que as distingue;

- a multiplicação das classes exige o estabelecimento de cursosregulares para professores em educação especial;

- os pais, ficando com os filhos em casa, tornam-se mais atentosaos programas que lhes são ministrados e mais exigentes emrelação ao papel das escolas;

- os Ministérios da Educação passam a englobar a "EducaçãoEspecial" no seu âmbito de actuação e, paralelamente, este sectordeixa de ser considerado como objecto exclusivo da "AcçãoSocial";

- os governos são confrontados com uma realidade educativa quepela sua dimensão e pelas verbas que progressivamente vaiexigindo passa a ser considerada com maior cuidado e a sermotivo de legislação aprofundada;

o desenvolvimento da psicologia infantil e a evolução dapedagogia, ao incidirem sobre a problemática das crianças comdeficiência vão acentuar factores que entram em contradição com asmedidas segregacionistas que caracterizavam, até aí, a educaçãoespecial, quer se tratasse de segregação em escolas especiais, querem classes especiais. Estes factores têm a ver com o reconhecimentoda enonne importância da permanência das crianças no meiofamiliar, do convívio com crianças sem deficiência e da participaçãona vida da comunidade. Por outro lado, as consequências negativasderivadas do confinamento destas crianças em ambientes fechados elimitados à convivência com outros casos de deficiência são

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Componentes háMcas dum plano educam'o 179

amplamente demonstrados por muitos dos alunos e antigos alunosdos referidos Institutos ou mesmo de certas classes especiais. Paraalém do direito à educação, começa a ser proclamado o direito a umavida integrada e, como forma mais directa de a preparar, a umaeducação integrada.

Para esta mudança de política educativa e para odesenvolvimento dos programas educativos inseridos nas escolasregulares contribuiram, iguálmente, de modo decisivo muitos pais:constituiram-se como força de pressão junto dos governos e dasautoridades educativas, exigindo para os seus filhos o direito ausufruirem dos recursos educativos destinados à população em geral.

Em meados do sec. XX estão lançadas as bases para osconceitos que ainda hoje suportam os programas educativosdestinados às crianças deficientes: integração, normalização,autonomia e participação na sociedade. Vejamos agora como sedesenvolveram estes conceitos desde os meados do século até aosnossos dias.

A Educação integrada

Em 1975 o governo federal dos EUA aprova uma lei que iráser decisiva não só para aquele país mas para os restantes paisesocidentais: a PL 94 - 142, intitulada "The Education for AliHandicapped Children Act". As medidas mais importantes contidasnesta lei consistem no seguinte:

- afirmação do direito de todos as cnanças com deficiência àeducação pública e gratuita;

- consagração do princípio da educação no meio menos resfrifil'Opossível, ou seja, a ideia de que se deve sempre procurar que ascrianças se eduquem nos ambientes mais normalizados,recorrendo aos mais especializados, unicamente quando tal forcompro-vadamente necessário;

- afirmação do direito das crianças serem avaliadas através decritérios diversificados (e não unicamente com base no resultadode testes de inteligência) e de usufruirem de programaseducativos individuais, dirigidos às características de cada uma.

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.Vecessidades educam'as especiais em Angola 180

- reconhecimento do direito dos pais de intervirem nas decisões queforem tomadas, relativas às medidas de educação especialpreconizadas para os seus filhos, tendo que a elas dar o seuconsentimento.

Estas concepções foram posteriormente adoptadas, nageneralidade dos paises europeus, embora a sua tradição práticafosse muito diversificada de país para país. Desenvolveram-seequipas multiprofissionais para observação e avaliação, criam-sesalas de apoio e classes especiais, organizaram-se serviçoseducativos e terapêuticos de tipo itinerante. Embora, durante todaesta segunda metade do sec XX, se mantivessem escolas especiais,nos paises em que a educação integrada tomou maior incremento,muitas destas ou passaram a dedicar-se em exclusivo às criançascom deficiências profundas ou passaram a ocupar-se de outrasfunções tais como: formação de carácter profissional para jovens ouadultos, desenvolvimento de apoio aos programas de integração,constituindo-se como "Centros de Recursos", centros de formaçãode professores, etc...

Os programas de educação integrada organizaram-se, nosdiferentes paises, de forma diversa, ficando uns dependentes deserviços autónomos - e ficando outros directamente inseridos nosistema educativo geral. Em todos eles encontramos, no entanto,características comuns:

- Serviços de intervenção precoce, destinados às cnanças dasprimeiras idades e suas famílias.

- Serviços de apoio pedagógico à integração escolar;- Serviços de transição que procuram estabelecer a ponte entre a

escola e os serviços de emprego ou de apoio social pós-escolar;- Serviços de produção e distribuição de material educativo e de

ajudas técnicas (estes serviços dependem, muitas vezes dosDepartamentos de Acção Social);

- Serviços de coordenação, de formação contínua, de investigaçãoe de avaliação.

No que diz respeito ao apoio pedagógico propriamente dito,desenvolveram-se inúmeras estratégias, de acordo com as políticas

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Componentes háslcas dum plano educativo 181

nacionais, com os recursos disponíveis e com o tipo de crianças emcausa. Os mais comuns são:

consultadoria prestada aos professores regulares, não havendointervenção directa junto das crianças;

- apoio prestado por um professor itinerante que se desloca comperiodicidade variável à escola onde se encontram os alunos comdeficiência e, se necessário, à sua casa para contactar com asrespectivas famílias;

- apoio prestado, durante um tempo lectivo variável, num espaçopróprio, fora da sala de aula - a sala de apoio - e com aintervenção dum professor especialista - professor de apoio;

- classe especial, utilizada, com os casos mais graves cujaintegração na classe regular a tempo pleno é consideradadesadequada. Estas classes são frequentadas, essencialmente, poralunos com surdez profunda, com deficiência mental acentuadaou com multideficiências graves. Por vezes, numa mesma escola,existem várias classes especiais funcionando como um "núcleo"ou uma "unidade" de educação especial.

No que respeita aos objectivos da integração, eles diferem,também de país para país e mesmo de escola para escola erelacionam-se directamente com o tipo de crianças a quem dizemrespeito. Nuns casos, o objectivo central consiste numa integraçãode tipo social, não se esperando que o aluno acompanhe o currículoeducativo comum. É o que se passa com muitos dos alunos comgraves problemas de aprendizagem, das classes especiais, cujacomunicação com os restantes colegas se processa, essencialmentenos tempos livres ou durante actividades circum escolares. Noutroscasos, visa-se uma integração curricular parcelar, em algumasdisciplinas e, finalmente, outros programas procuram que os alunos,qualquer que seja a sua deficiência, acompanhem, embora comadaptações de diverso grau, os currículos comuns nas classesregulares.

De facto, o conhecimento dos sistema de diversos paises emesmo de diversas escolas leva a concluir que, apesar de todosadoptarem princípios comuns, as respectivas práticas divergemconsideravelmente. Há, certamente, uma diversidade de causas que

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IVecessidades educativas especiais em Angola 182

explica esta diversidade de práticas, no entanto, um factordeterminante consiste na atitude dos educadores e na forma de comoencaram o "direito à participação" das crianças com deficiência.Assim se explica que diferentes escolas e diferentes professores,contanto que à partida com recursos idênticos, respondam de formatão distinta aos desafios que a integração de alunos com deficiêncialhes colocam.

Marcos da política na área das necessidades educativas especiais

Um marco de enorme consequência na evolução da educaçãointegrada consistiu na publicação, no Reino Unido, dum relatórioelaborado por uma equipa chefiada pela Mrs. Wamock. - OWamock Report (1978). Este relatório retrata a situação daEducação Especial, tal como ela existia, à data, neste país, e apontaas mudanças consideradas necessárias para fazer progredir estesector. Os aspectos do "Wamock Report" que tiveram maiorimpacto nos diferentes paises ocidentais foram os seguintes.

o conceito de ''Necessidade Educativa Especial"

Baseia-se este conceito na verificação de que os problemasque algumas crianças experimentam na escola não se relacionam deforma directa com as respectivas condições de ordem sensorial oufisica, nem mesmo com as que relevam das suas capacidadesintelectuais ou do seu equilíbrio emocional. Reconhece-se, nesterelatório, que, muitas vezes, não é possível estabelecer uma razão decausa a efeito entre uma dificuldade escolar e qualquer deficiência;ou seja, há crianças que funcionam mal na escola e em relação àsquais não foi diagnosticado nenhum problema e há crianças comgrandes capacidades de aprendizagem e com muito sucessoeducativo e que são portadoras de deficiências visuais, auditivas,motoras ou outras. Por outro lado, constata-se que, dentro da mesmacategoria de deficiências, se agrupam crianças com enormesdiferenças, no que diz respeito ao seu potencial de aprendizagem eàs características gerais da sua personalidade. Assim, conclui-se queé impossível - para além de não ser desejável - organizar os alunosem grupos homogéneos. Como consequência, propõe-se que as

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Componentes hásicas dum plano educativo 183

crianças, sob o ponto de vista educativo, nao sejam catalogadas deacordo com diferentes tipos de deficiência - deficientes visuais,auditivos, motores - mas antes, que sejam conhecidas, todas elas, nasua individualidade e que aquelas que têm problemas determinados ­necessidades educativas especiais - sejam educadas de forma a queessas necessidades sejam respondidas.

() papel dos educadores na avaliação e na orie11lação dosalunos com necessidades educativas especiais

As novas perspectivas em que se coloca a intervençãoeducativa conduziu a uma alteração das competências doseducadores. Enquanto uma classificação por categorias de ordemmédica conduzia, obviamente, a que a avaliação e a orientação doscasos fossem competência primordial do médico (psiquiatra,oftalmologista, audiologista etc.), uma perspectiva centrada nosproblemas educativos do aluno leva a que o principal agente destaactuação seja, agora, o educador. Como é evidente, os factores deordem fisica, sensorial, intelectual ou emocional não podem sermenosprezados e os diagnósticos dos diferentes especialistasconstituem dados importantes que os professores devem conhecer.No entanto, quando se trata de avaliar as competências oudificuldades escolares ou de propôr os programas educativos, aresponsabilidade destes não pode ser posta em causa. O WarnockReport preconiza, tal como a legislação norte americana a quefazemos referência, a existência de equipas de avaliaçãomultidisciplinares em que os professores, os terapeutas, os médicos,as assistentes sociais e os pais tenham a sua contribuição a dar. Noentanto, a diferença que aqui se estabelece consiste na importânciadada aos professores no que respeita às decisões do foro educativo.

A importância da actuação do professor regular em todo o processode integração

Embora este relatório refira a importância da intervenção deespecialistas (docentes e outros profissionais) no atendimentoeducativo dos alunos com necessidades educativas especiais,

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Xece.mdades educatlvas especiais em Angola 184

acentua o papel desempenhado pelo professor da classe de quemdepende, essencialmente, o sucesso educativo destes alunos.

Em 1990 a ('OI?ferência Mundial sobre a ~F,ducação paraTodos realizada em Jomtien, na Tailândia, veio acentuar anecessidade da escola se abrir a todas as crianças,independentemente do sexo, condição social ou da existência dedeficiência de qualquer tipo e, em 1993, a Assembleia Geral dasNações Unidas adopta uma Resolução sobre "Igualdade deOportunidades para Pessoas com Deficiência" que vem reforçareste mesmo princípio.

Finalmente, muito recentemente, em 1994, realiza-se emSalamanca a COliferência Mundial sobre "Necessidades EducativasE5peciais: Acesso e Qualidade" em que é aprovada uma Declaraçãoe um Enquadramento da Acção que constituem, um ponto dereferência fundamental para esta problemática nos nossos dias e nofuturo próximo. A importância das novas concepções sobrenecessidades educativas especiais apresentada neste Congressojustifica que a ele se faça uma referência especial.

Alguns dos aspectos fulcrais focados no "Enquadramento de Acção"são:

A concepção da escola inclusiva e de educação inclusiva

Refere o texto do congresso: " O princípio fundamental dasescolas inclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos,sempre que possível, independentemente das dificuldades e dasdiferenças que apresentem. Estas escolas devem reconhecer esatisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aosdiversos estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir umbom nível de educação para todos, através de curriculos adequados,de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, deutilização de recursos e de uma cooperação com as respectivascomunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoios e deserviços para satisfazer o conjunto de necessidades especiais dentroda escola".

Esta concepção representa, de facto, um passo em frente emrelação às concepções usualmente adoptadas até aqui, pois acentua a

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Componentes básicas dum plano educativo 185

ideia que os problemas educativos não são, unicamente, nem talvezespecialmente, derivados de problemas de que os alunos sejamportadores, mas sim da situação global da sala de aula em que opapel do professor é decisivo. Por outras palavras, muitas vezes ascrianças não aprendem porque os programas não correspondem aosseus interesses, porque as estratégias de ensino não são adequadas,porque não existe uma boa relação com o professor ou com oscolegas. Se não é posta em causa a necessidade de se prestar apoioindividual a certas crianças e a responder com meios especializadosàs problemáticas que algumas apresentam, verifica-se, no entanto,que o sucesso da aprendizagem depende essencialmente daformação dos professores, da flexibilidade do currículo e dascondições de funcionamento das escolas.

A adopção destas ideias terá que necessariamente acarretaralterações profundas em diversos aspectos relacionados com achamada Educação Especial. Por um lado é realçada a necessidadede abrir a escola regular a todas as crianças; por outro lado, torna-seindispensável priorizar a importância da informação do professorregular, uma vez que é da sua capacidade de diversificar o ensino ede o adaptar a cada criança que essencialmente dependerá o sucessoeducativo de todos os alunos, incluindo daqueles que têmproblemas; finalmente, torna-se evidente que, em vez de sedispensarem recursos materiais e humanos em estruturas separadas,é fundamental concentrar esses mesmos recursos na escola regular,colocando-os à disposição dum muito maior número eproporcionando a integração dos que têm deficiências.

Directrizes para a acção a nível nacional

Estas directrizes, divididas por diversos capítulos, constituemlinhas de actuação de ordem geral que cada país poderá adaptar deacordo com as suas características e as suas possibilidades e queapontam para "nova era" no campo educacional

Entre estas. realçamos as seguintes:

- recomer:dações de ordem educativa que apontam para aversatilidade do currículo, para uma gestão escolar participada

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"Vecessidades educatlvas especials em Angola 186

que dê margem à formação contínua dos professores e. àcolaboração entre todos os agentes educativos;recomendações relativas a áreas prioritárias que vão desde aeducação precoce das crianças das primeiras idades, à educaçãodas raparigas e à preparação para a vida adulta;recomendações de desenvolvimento de acções de nívelcomunitário, envolvendo os pais, as organizações voluntárias e opúblico em geral.

o desenvolvimento dos programas educativos depende denumerosos factores e, entre estes, contam-se, como importantes , osrecursos materiais. No entanto, uma das condições que actua maisdecisivamente neste desenvolvimento consiste nas concepções e nasatitudes das pessoas que de forma mais directa nele intervêm. Comidênticos recursos, diferentes paises ou diferentes escolas podemactuar de forma muito diferente e atingir resultados muito distintos.A importância da Declaração de Salamanca consiste em propôrlinhas de orientação que se podem aplicar nos mais diversos paises enas mais diversas condições. Há crianças com deficiênciaplenamente integradas na sua família, na sua comunidade e na escolaregular local, nos meios rurais e nos meios urbanos, nos paises maisricos e naqueles que estão em vias de desenvolvimento. O que emtodas essas situações teve de estar presente foi uma atitude deaceitação e foi uma vontade de participação.

Estratégias para o desenvolvimento da educação abrangendo ascrianças e jovens com necessidades especiais

Legislação

Todos os que estão envolvidos no sector educativo e,nomeadamente, no sector da educação especial, sabem que oprogresso das práticas se processa, na maior parte das vezes, semrelação directa com a legislação. Porquê, então colocar a legislaçãocomo uma estratégia de desenvolvimento?

As leis para serem eficazes têm de estar enraizadas narealidade a que dizem respeito. No entanto, por outro lado, asexperiências e as práticas, se não tiverem, pelo menos a partir de

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Componentes háslcas dum p/ano educativo 187

certa fase do seu processo, um apoio e um suporte legal, arriscam-sea perder a dinâmica inicial e a desaparecer. Segundo esta ordem deideias, considera-se que é importante que cada país publiquelegislação que permita o progresso das práticas educativas,assegurando uma orientação, entre outros, sobre os seguintesaspectos:- determinação das linhas orientadoras do sector;- Organização dos serviços, desde o nivel central aos recursos locais;- Definição das competências pelos vários departamentos e serviços,

aos vários níveis;- Formulação dos direitos e deveres dos utentes e dos profissionais;- Determinação dos recursos disponibilizados pelos serviçospúblicos;- Informações sobre matérias pedagógicas que devam ser estendidas

a todo o país, como por exemplo, normas sobre currículo,avaliação dos alunos e do sistema educativo, percurso escolar, etc..

Suporte administrativo e técnico

Responder às necessidades educativas de crianças comdeficiência implica a existência de recursos de ordem material ehumana e todos eles implicam a utilização de verbas e,consequentemente, a sua gestão e administração. Em muitos paises,estas funções estão a cargo de serviços próprios - o sector daeducação especial - noutros paises, são os serviços de educaçãoregular que abarcam este âmbito de actuação, noutros, ainda, estãodependentes dos Departamentos da Assistência social.

Para além de suporte administrativo, as escolas e osprofessores precisam de apoio técnico e de orientação pedagógica.Mais uma vez, para garantir estas funções pode recorrer-se em maiorou menor grau aos profissionais que se ocupam da educação regularNo entanto, quando se trata de alunos com problemas complexos ede pequena incidência (o caso dos alunos deficientes visuais,mentais, auditivos, multideficientes e outros) é sempre necessáriocontar com a intervenção de especialistas.

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Secessulades educativas especiais em Angola

Recursos educativos

/llfervellçào precoce

188

Quando se trata de crianças com deficiência, é hojeindiscutível a importància da intervenção educativa precoce, desdeos primeiros tempos de vida. Essa intervenção é necessária, aliás,tanto junto do bebé como junto dos pais ou dos familiares que maisdirectamente dele se ocupam. O nascimento dum filho comdeficiência representa uma situação altamente traumática para queninguém está preparado e que requer uma ajuda e uma orientação. Acapacidade de se ultrapassarem, na medida do possível, as limitaçõesprovocadas pela deficiência estão muito directamente dependentesda precocidade com que uma acção educativa foi iniciada e dacorrecta actuação dos pais.

Para se poder garantir uma intervenção precoce que, namaior parte dos casos se tem de processar a nível domiciliário, éimportante que, em cada país, se procurem os recursos mais viáveise adequados. Em certos casos, podem utilizar-se membros dacomunidade (voluntários ou profissionais) a quem se transmitemconhecimentos básicos para esta acção; noutros casos pode serutilizado pessoal encarregado de prestar cuidados primários de saúdeou de assistência social, a nível local, noutros ainda, se houver meiospara tal, podem montar-se equipas especializadas ou utilizar-se oensino à distància. O objectivo geral de qualquer destas estratégias éatender as crianças e as famílias nos locais em que estas seencontrem, através de contactos frequentes, de modo a procurar comque os pais possam ser aconselhados sobre a forma como lidar como seu filho com deficiência e de modo que se descobram meios deiniciar precocemente a estimulação da criança, a sua capacidade decomunicação e a sua compreensão do meio que a cerca,aproximando-se, tanto quanto for possível dos padrões normais dedesenvolvimento.

A experiência de muitos paises tem demonstrado que sepodem conseguir excelentes resultados com a participação deelementos da comunidade, nomeadamente de outras mães ou paisque tiverem tido experiências semelhantes.

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Componentes básicas dum plano educativo

A intervenção em idade escolar

Qual o objectivo a alcançar?

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Os objectivos a alcançar em relação às crianças, em idadeescolar, com necessidades educativas especiais não são diferentesdos que se referem à população em geral: proporcionar os meiospara o máximo desenvolvimento das suas potencialidades, favorecercondições que lhes permitam vir a ser um adulto capaz de viver umavida familiar, social e profissional tão realizada quanto possível.

O alcance destes objectivos está dependente dum imensoconjunto de factores que vão desde o número e a qualidade dosrecursos educativos existentes em cada país, à política educativadefendida por cada governo, ao nível e orientação da formação deprofessores, à existência ou não de flexibilidade curricular eliberdade da sua adaptação a cada aluno, e, finalmente, a problemasinerentes à própria criança: deficiências de qualquer tipo, problemasdecorrentes das suas condições gerais de vida, consequências deeventuais situações traumáticas de ordem familiar ou social.

Os desafios que se colocam aos responsáveis pelos destinosda educação de cada país consistem em actuar em todos estes níveis,pois de todos eles dependem a qualidade e o sucesso da acçãoeducativa. De entre estes responsáveis, existem, na generalidade dospaises, alguns que estão especialmente vocacionados para responderao ponto referido em último lugar, ou seja ao que diz respeito aosproblemas que são inerentes às próprias crianças. Quando se diz,"especialmente vocacionados", não se pretende afirmar que seja estaa sua única responsabilidade e que possam actuar desconhecendotodos os restantes aspectos. Por outro lado, tal não siw1ifica que osresponsáveis pelos restantes pontos citados - organização dasescolas, desenvolvimento curricular, formação de professores - sepossam alhear desta problemática que afecta uma percentagem dapopulação escolar. Ou seja, o processo educativo tem de serconsiderado na multiplicidade dos seus componentes e na sua mútuainterdependência, quer pelos agentes e responsáveis da educação emgeral, quer pelos que constituem os quadros da "Educação Especial".Nesta perspectiva, os responsáveis pela "Educação especial", devemactuar nesta múltipla vertente: contribuir, por todas as formas

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Necessidades educativas especiais em Angola 190

possíveis, para que o sistema educativo comum seja favorável aosucesso de todas as crianças, incluindo das que tenham deficiênciasou problemas fora do comum, e actuar de modo a que sejamminimizadas, na medida do possível, as consequências negativas queestas deficiências ou estes problemas acarretem. Assim, é missãodos serviços de educação Especial, colaborar na adaptação curricularou na formação dos professores regulares e é sua missão,desenvolverem, por exemplo, o ensino do Braille ou da modalidadeaos alunos cegos, ensinarem linguagem gestual aos surdos oucriarem currículos funcionais para os que tenham deficiência mental.

As crianças com deficiência nascem em determinada famíliae determinada comunidade, rodeadas de outras crianças nãodeficientes. A tarefa que surge diante os serviços de EducaçãoEspecial é fazer com que:

A família e a comunidade tenham, perante esta criança, umaatitude positiva de compreensão, aceitação e integração, de modo aque possam favorecer a sua participação de forma tão normalizadaquanto possível;

Os obstáculos à comunicação, à mobilidade e àaprendizagem que a deficiência acarrete sejam minimizados, tantoquanto possível, utilizando-se para isso os recursos educativosregulares e especiais que forem necessários e possíveis de obter;

O percurso escolar e os níveis alcançados por estas criançasse aproximem tanto quanto possível do das restantes crianças dacomunidade, contribuindo para que o déficit existente interfira omínimo possível no desenrolar da sua vida.

Para atingir estes objectivos é necessário que cada país possadispor de recursos educativos, regulares e especiais que se adequemquer às caracteristicas gerais das sociedades em causa, quer aosproblemas que as crianças apresentem.

o mais importante recurso consiste na escola regular. Amaior contribuição que pode ser dada à educação especial é amelhoria de condições das escolas regulares e do sistema regular deensino. No entanto, para que a escola constitua um recurso, énecessário que os professores aceitem as crianças com deficiência eque tenham, ou que estejam dispostos a ter, os conhecimentosgenéricos essenciais ao seu atendimento educativo.

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Componentes básicas dum plano educativo 191

No caso das crianças precisarem, no seu ensino, de técnicasdiferenciadas, é necessário que se disponha da colaboração deprofessores preparados nestas áreas e que possam atenderdirectamente as crianças e colaborar com os professores regulares ecom o restante pessoal das escolas.Assim:

- No caso de os alunos terem problemas motores que limitam a suamovimentação, a intervenção deverá incidir na facilitação do seuacesso à escola, utilizando-se para tal quer serviços médicos e dereabilitação quer a própria comunidade envolvente.

- Se as crianças apresentarem graves problemas de aprendizagem,pode ser necessário criar para elas currículos adaptados e pode sernecessário um apoio específico mais prolongado.

- Se as crianças tiverem graves déficits visuais necessitam dumprofessor de apoio que lhes ensine as técnicas específicas queprecisa de dominar - Braille, dactilografia, mobilidade, etc.- eprecisam que lhes sejam facultados os materiais educativosespecíficos para leitura, escrita, aritmética ou mobilidade~

- Se as crianças tiverem deficiência auditiva severa ou profundapodem necessitar de ser ensinadas em língua gestual e deconviver com outras pessoas que comuniquem através dessalíngua.

- Se, no país, existirem escolas especiais, estas podem prestar umacontribuição importante num programa educativo integrado nostermos já referidos acima.

Um factor muito importante na organização das respostaseducativas consiste na existência do equipamento educativo especiale de ajudas técnicas destinadas a minorar as limitações ouincapacidades. Para tal, em muitos paises é necessário que, paraalém da acção do sector educativo, se possa contar com acolaboração dos serviços de Saúde e de Assistência social e, muitasvezes, da contribuição de üNGs e da comunidade em geral. Naverdade, se muito material educativo pode ser de baixo custo e podeaté ser produzido pelos próprios professores, algumas ajudastécnicas são dispendiosas e requerem a concentração de todas ascontribuições que for possível disponibilizar. Neste capítulo, é

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Necessidades educatlvas especiais em Angola 192

igualmente. indispensável que toda a acção que se empreenda tenhauma profunda relação com as condições gerais do meio em que seinsere pois é importante evitar que se adquiram equipamentos que,posteriormente, não podem ser utilizados por não haver condiçõespara os manter.

Finalmente é importante fazer uma referência à adaptaçãocurricular pois este factor é um dos que mais contribui para osucesso educativo. Ou antes, uma das principais causas do elevadograu de insucesso escolar que se regista em tantos paises estárelacionado com a rigidez do currículo. Nem todas as criançasaprendem ao mesmo ritmo, nem todas conseguem atingir o mesmonível de conhecimento; no entanto todas conseguem aprenderalguma coisa, através de algum processo. A capacidade dosprofessores diversificarem as formas de ensinar na sua sala de aula ea sua capacidade em responder de forma positiva às diferentescapacidades de aprendizagem dos seus alunos, constitui, nos nossosdias, o maior desafio que se coloca aos sistemas educativos demuitos paises. Em certos casos, quando as necessidades educativasde alguns alunos são muito acentuadas, pode ser necessário que lhesejam ensinadas matérias substancialmente diferentes o que podeacarretar a necessidade da intervenção dum professor e dum espaçopróprios. Para eles será preciso organizar as já referidas "salas deapoio" ou mesmo "classes" ou "unidades" especiais.

Transição para vida adulta

Um dos mais importantes objectivos da educação consiste napreparação das crianças para a sua vida futura, como adultos.Tratando-se de crianças com deficiência, muitas vezes este objectivoé esquecido e os programas educativos são organizados sem quenada se preveja sobre o que acontecerá aos alunos depois de sairemda escola. No entanto, o investimento que se faça nos programasescolares só adquire o seu pleno sentido se favorece esta transiçãopara a fase que se lhe sucede.

Se a integração escolar das crianças coloca problemascomplexos, a sua futura integração social e profissional, levantaoutros de muito mais dificil solução e que hoje constituem o fulcrodas atenções de especialistas em todos os paises do mundo. Com o

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Componentes básicas dum plano educativo 193

crescente desemprego ameaçando a generalidade dos jovens e comas carências financeiras dos serviços de Assistência Social que sefazem sentir um pouco por toda a parte, o atendimento dos jovens eadultos com deficiência constitui um problema de enormesdimensões.

A escola não se pode, assim, alhear desta questão e educar ascrianças sem ter em vista o futuro que as espera. No entanto,verifica-se que esta educação sem perspectivas futuras caracterizamuitas escolas especiais em todo o mundo e os problemas que talatitude tem acarretado constitui uma das críticas mais utilizadas emrelação ao sistema de ensino segregado.

Para que se desenvolvam programas de transição éindispensável, antes do mais, que não se quebrem, mas antes sereforcem, os laços entre a criança e o meio em que vive e onde,muitas vezes, poderá mais facilmente encontrar respostas à suainserção social e profissional. Por exemplo, um jovem cego dummeio rural, se devidamente preparado, pode contribuir com o seutrabalho para a economia familiar ou comunitária; uma empresaexistente em determinada localidade pode mais facilmente vir aempregar um indivíduo com deficiência se com ele tiverestabelecido contacto, ao longo dos anos, se o reconhecer como um"vizinho" a quem é importante ajudar.

Outra condição de grande importância neste processo detransição consiste na colaboração de todos os serviços dacomunidade, a nível local e a nível central. É importante aqui referiros exemplos de sucesso conseguidos por programas de "Reabilitação de Base Comunitária" (RBC), uma vez que estacolaboração interpessoal e interdepartamental faz parte da suafilosofia e da sua prática.

Como é que esta preparação para a vida adulta pode serdesenvolvida ao nível da escola ? Os caminhos são múltiplos e, maisuma vez, têm de ser programados no contexto geral de cada país etendo em conta as deficiências em causa. A existência de um ensinoprático e baseado na acção é, talvez, a primeira medida aempreender. A organização de programas de carácter pre­profissional - oficinal, agrícola, de serviços - é outra soluçãoamplamente utilizada. A colaboração entre a escola e locais nacomunidade em que se podem organizar estágios de carácter laboral,

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Necessidades educal1vas especiais em Angola 194

em cooperação com programas académicos, é hoje uma dasestratégias que maiores resultados está a conseguir.

As soluções podem ser diversas, os caminhos a experimentarvariados mas o que é indispensável é que cada escola, seja elaregular ou especial, se coloque esta interrogação básica: o que vãoestes alunos fazer após a sua saída da escola? Como se podemmelhor preparar para enfrentar a vida adulta? Com quem precisamosde colaborar para o conseguir?

Envolvimento dos pais

Um dos erros que, muitas vezes, se tem imputado aprogramas de Educação Especial consiste na pouca importância queconferem aos pais na orientação educativa dos seus filhos, na faltade utilização do conhecimento que têm sobre eles e no nãoconhecimento da contribuição que podem fazer individualmente, eem grupo, para o progresso da escola. Pretende-se, hoje, inverteresta atitude e desenvolver entre os pais e a escola, uma estreitacolaboração que se pode processar através de várias formas. Estaconcepção dos pais como "parceiros" dos professores na acçãoeducativa pode, de facto, incidir directamente na intervenção juntodas crianças ou traduzir-se em acções que tenham por objectivo omelhoramento das condições de funcionamento da escola e do seuprojecto educativo. Em muitos casos, os pais organizam-se emAssociações, reunindo esforços nesta procura comum de melhorescondições educativas para os seus filhos. Por outro lado, alguns paispodem, eventualmente prestar colaboração voluntária e participar, dediversos modos, nas actividades educativas e no apoio a outros pais.Esta entre-ajuda entre famílias com crianças com deficiência poderevestir-se de grande importância, ajudando-se a fazer face àsimensas dificuldades que muitas vezes experimentam.

Envolvimento da comunidade

Considerando que a educação de crianças com necessidadeseducativas especiais implica a intervenção de diferentes serviços eexige um conjunto diversificado de recursos por vezes dificeis dealcançar, verifica-se que é necessário que a escola não trabalhe

Unesdoc
Note
página 195 e 196 faltando no documento original
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Componentes básicas dum plano educativo

Intercâmbio de ideias e experiências a nível nacional einternacional

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No sector da educação de crianças e jovens com necessidadeseducativas especiais, como na generalidade dos sectores, um dosprincipais motores do progresso consiste no intercâmbio e na trocade ideias e de experiências. Quando um professor ou um conjunto deprofessores conseguiu ter sucesso com determinada forma de actuarou utilizando determinada estratégia educativa é importante que estefacto possa ser do conhecimento de outros professores. Quandoinvestigadores, nas universidades ou em Centros de investigaçãochegarem a determinadas conclusões no domínio da educação, éigualmente importante que este conhecimento seja divulgado nasescolas e que a ele tenham acesso os elementos do corpo docente.Considera-se pois, que, como complemento das acções de formação,é importante que os serviços de educação especial possibilitem estatroca de conhecimentos e esta partilha de práticas, sendo esta medidatanto mais importante, quanto se trata do atendimento de criançascom problemas de grande complexidade.

Todos sabemos que o acesso a bibliotecas actualizadas ou aoutras fontes de informação está muito desigualmente distribuidonas várias regiões do mundo e que em muitos paises este acesso estádificultado por inúmeros obstáculos. No entanto, se houver um realempenhamento por parte das Universidades, dos serviços deCoordenação Educativa e das próprias escolas, podem serencontradas formas diversificadas de responder, de alguma forma aesta necessidade. Um passo essencial será dado se se esbaterem asfronteiras entre estas Instituições e se for facilitada a comunicaçãoentre elas.

Articulação entre os departamentos de Saúde, Educação,Assistência Social e Trabalho

o atendimento das crianças e jovens com deficiência exige acolaboração estreita entre os diferentes departamentos que serelacionam com a Saúde, a Educação, a Assistência Social e oTrabalho. Para que esta colaboração se processe de forma eficaz, énecessário que se estabeleçam fáceis vias de comunicação entre os

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Necessidades educativas especiais em Angola 198

serviços, quer a nível central e regional, quer a nível local. Não setrata de criar novos serviços que sirvam de cúpula ou que actuemcomo superestruturas. Trata-se, simplesmente de estabelecer odiálogo entre os profissionais, de colaborarem em conjunto para asdiferentes facetas da realidade - neste caso as crianças e jovens comdeficiências - e de ajustarem as suas respectivas intervenções, demodo a que dessa acção conjunta resulte uma acção mais eficaz.

A experiência de muitos paises demonstra que nem sempre éfácil estabelecer estes laços entre os serviços centrais que dependemde diferentes Ministérios, mas que eles já são muito mais viáveis aonível local. Se, em determinada localidade, se estabelecer umacolaboração entre o médico que presta serviço à respectivapopulação, o professor da escola e outros profissionais ligados aserviços públicos, municipais ou privados e, eventualmente, algunsvoluntários que queiram colaborar nesta área, nomeadamente pais,será possível estabelecer uma importante base de trabalho conjunto.A cada serviço não é pedido que faça mais do que aquilo queconstitui a sua própria função, mas é solitado que o faça emcolaboração com os restantes serviços que actuam junto das mesmascrianças ou jovens. Nesta "rede" de intervenções desenvolvida porprofissionais pode, porventura, inserir-se a colaboração devoluntários, se a sua acção for estimulada e se sentirem que podemparticipar numa obra comum que se insere na sua comunidade. Estaforma de actuar tem-se revelado extremamente eficaz em muitasregiões e localidades do mundo, podendo contar com o apoio dumaestrutura que foi montada para esse efeito: o Serviço de Reabilitaçãode Base Comunitária.

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Componentes básicas dum plano educativo

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Angola e a L?\E'SCO

ANGOLA E A UNESCO

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Valeriano Valodia Mbemba*

A República de Angola foi admitida de facto como Estadomembro da UNESCO em 01 de Novembro de 1976, aquando daXIXa sessão da Conferência Geral realizada em Nairobi-Kénia.Tomou-se membro de pleno direito apôs ter depositado osinstrumentos apropriados em 11 de Março de 1977.

O Artigo VII do Acto constitutivo preconiza a constituiçãonos Estados membros da Comissão' Nacional para a UNESCO,órgão de natureza inter-sectorial com a missão de assistir o Governoem matéria da UNESCO. Dela fazem parte representantes dosorganismos governamentais e diferentes grupos nacionais que seinteressam pelos problemas da Educação, Ciências, Cultura einformação nas suas variadas manifestações.

A Comissão Nacional da República de Angola foi criada em1980 pelo Decreto N° 96/80 de 01 de Setembro.

A Comissão Nacional é presidida pelo Ministério daEducação e assistido pelo Ministério das Relações Exteriores,compreende treze membro" representantes dos Ministérios daEducação, Relações Exteriores, Ministério da Cultura, Ministério daJuventude e Desportes, Secretaria de estado da Cooperação,Ministério da Comunicação Social, Reitoria da UniversidadeAgostinho Neto.

A Comissão Nacional tem as seguintes subcomissões:- Educação, Juventude e Desportos- Cultura- Ciências- Comunicação Social.

• Coordenador adjunto do Projecto

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Necessidades educativas especiais em Angola 202

A comissão nacional tem um Secretariado Permanente, sitana rua la Congresso N° 11,20 Andar, - Telefono: 337010 - 337013.

Desde Maio de 1982, a República de Angola dispõe de umaDelegação Permanente junto da UNESCO em Paris, órgão deligação entre a Comissão Nacional e o Secretariado da UNESCO.

A cooperação da UNESCO com Angola não começou com aadmissão da República de Angola naquela organização, nem com aconstituição da Comissão Nacional. Já em 1971, a UNESCO foiseleccionada para executar o projecto do Instituto Angolano deEducação na cidade Congolesa de Loubomo, actual Dolisie,financiado pela Agência Sueca do desenvolvimento.

Também em 1976, a UNESCO foi seleccionada paraexecutar respectivamente os projectos ANG176/006 sobre a"formação de formadores do ensino de base" e sobre odesenvolvimento das línguas nacionais. Ambos os projectos eramfinanciados pelo Programa das Nações Unidas para odesenvolvimento (PNUD).

Cooperação de Angola com a UNESCO

A cooperação da República de Angola com a UNESCOdesenvolve-se em duas áreas distintas:

• Fundos extra-orçamentais

No âmbito dos projectos operacionais financiados pelosfundos Extra-orçamentais da UNESCO. Fazem parte desta rubricaos projectos financiados pelo programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento (PNUD)~ Fundo das Nações Unidas para aPopulação (FNUAP), o Banco Mundial, o Banco Africano deDesenvolvimento (BAD) , a Agência Sueca para o desenvolvimento.

• Programa de Participação

O programa de participação envolve projectos de pequenadimensão, financiados pelo orçamento da UNESCO aprovado naConferência Geral. Ultrapassa raramente os cem mil dólares para umEstado membro beneficiário num total dos pedidos submetidos por

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Angola e a WVE5'CO 203

este, num determinado bienum desde a constituição da ComissãoNacional até aos finais de 1994.

E neste quadro podemos prever a eventualidade de qualquerapoio da UNESCO, e, desde 1980, a República de Angola participaem todas as Sessões da Conferência Geral e em algumas reuniõesregionais, sub-regionais, inter-regionais ou inter-governamentais, decarácter representativo ou não representativo.

O programa Educacional de Emergência (EDEPA) éconcebido como um programa policêntrico. Embora flexível emtermos operacionais e baseado numa abordagem que privilegia "ainiciativa pessoal e comunitária", as linhas de acção sugeridasapontam para quatro grandes grupos-alvo com necessidades socio­educativas diversificadas: crianças órfãs e abandonadas (Acção 1),crianças com necessidades educativos especiais (Acção 2 ). criançasde famílias deslocadas e retornadas (Acção 3) e as crianças da rua(acção 4).

A Acção 2 que diz respeito às cnanças portadoras dedeficiências visa:- Sensibilizar a opinião pública para a situação das crianças com

necessidades educativas especiais.Desenvolver e implementar programas educativos de âmbitonacional eficazes, exequíveis e multiplicativos para as criançascom necessidades educativas especiais no espírito da DeclaraçãoMundial sobre Educação para Todos.O projecto visa beneficiar 2000 a 2500 crianças comnecessidades especiais, famílias com crianças deficientes.

o projecto espera os seguintes resultados:

- Acesso anual à educação de cerca de mais 2000 crianças comnecessidades educativas especiais.

- Formação anual de 35 professores de Apoio itinerantes de quatroprovíncias.

- Cursos de orientação em educação especial abrangendo anual­mente 1000 professores do ensino primário.

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.\'ecessldadcs educativas especiais em Angola

A estratégia a adoptar é a seguinte:

- Sensibilizar e mobilizar as escolas do ensino regular e ascomunidades para um programa de educação integrada.

- Criar a nível provincial capacidades na área da Educação especialmediante a formação de grupos itinerantes que possam realizarcursos de orientação à nível comunal.

- Estimular a produção de materiais auxiliares de ensino de custoreduzido.

- Reforçar a Direcção Nacional do Ensino Especial do Ministério daEducação.

Contributo da UNESCO nos programas do ensino especial

Na Declaração sobre Educação para Todos aprovada na mesaredonda Nacional sobre Educação para Todos, realizada em Luandaem Julho de 1991, foi atribuida prioridade à promoção da~ "medidase políticas necessárias para a educação das crianças der1cientes,umos, crianças de rua e outros jovens marginalizados de modo afavorecer o desenvolvimento de atitudes e capacidades que possamfacilitar a sua integração social". Reconhece-se que enquanto muitascrianças poderão reingressar ou prosseguir a sua escolarizaçãoregular, muitas outras terão extremas dificuldades em reiniciar e/ouaceitar esta modalidade de escolarização ou sequer dela poderbeneficiar face às limitações de ofertas.

Em resposta ao Convite do Governo de Angola, Portugal e aUNESCO iniciaram a preparação de um programa educacional deemergência, cujas linhas básicas de orientnção sublinham anecessidade quer de uma acção imediata e temporalmente limitadaem algumas áreas prioritárias, quer do desen',olvimento das basespara uma educação eficaz como factol essencial para umdesenvolvimento humano sustentado.

Neste sentido, o programa de emergêncIa inclui não apenasacções e estratégias imediatas centradas na reabilitação social eeducacional, mas também acções visando apoiar a elaboração dodesenho e formulação da indispensável mudança educativa, comênfase nas infra-estruturas pedagógicas, desenvolvimento curriculare formação de pessoal qualificado e inovador.

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Angola e a l 'XESCO 205

As propostas de acção de Portugal-UNESCO permitiram ofinanciamento pelo governo de Itália do actual projecto 534/ANG1l0que visa:

Promover e oferecer oportunidades de reabilitação de baseeducacional, através de processos, espaços e meios combinando aeducação formal e não formal e a formação centradas noempenhamento activa dos beneficiários da comunidade.

Na sua implementação o projecto tem a duração de 17 meses eestá sendo executado em Luanda, Benguela e Lubango com asprimeiras visitas de sensibilização das autoridades e da comunidade,da selecção, diagnóstico e colocação de próteses às criançasportadoras de deficiências auditivas, acção esta que se prosseguirábrevemente com as crianças deficientes visuais e, na confeição decarteiras, compra de livros, lapiseira, lápis etc.

O actual Seminário Nacional faz parte das estratégiaseducativas e necessidades de formação em Educação especial, cujafinalidade é de delinear planos, acções formativas a curto e médioprazo, no quadro do projecto e durante a sua vigência.

O projecto 534/ANG/l O, primeiro do género, desde que oensino especial foi instituido em Angola, pode desde já pensar nacontinuidade das acções do projecto dentro das actividades nodomínio da competência da UNESCO nas seguintes áreas:

Formação de quadro

a) Formação de pessoal de saúde em número suficiente para astarefas de prevenção e de acompanhamento.

b) Alargamento dos programas de formação pedagógica nosInstitutos Normais de Educação para permitir que os futurosprofessores estejam suficientemente informados e preparados aresponder às necessidades das crianças portadoras dedeficiências, tomem consciência de todas as possibilidadesdisponíveis de ajuda e sejam iniciados aos métodos pedagógicosde educação especial.

c) Desenvolvimento de estratégias adaptadas aos recursos enecessidades do país em matéria de planificação escolar eformação de planificadores de educação de forma a evitar:

- a marginalização das crianças deficientes

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.Yecessldades educativas especiais em Angola 206

- a imitação dos modelos elaborados nos países desenvolvidos.A formação de docente deve ser indispensável e ter uma

prioridade absoluta pois é a condição sine-qua-non do sucesso desteempreendimento, é por isso que esta formação deve ser suficiente ecompleta na vertente científica e metodológica para permitir aodocente compreender as bases sobre as quais se fundamentam aspráticas correntes da Educação especial, os processos dedesenvolvimento da criança e as causas de todas as deficiências.

A formação dos educadores deverá sempre ser concebida emfunção das necessidades e das estruturas educativas próprias do país,considerado como processo dinâmico e ser submetida à avaliaçõespermanentes.

Os professores devem desempenhar um papel essencial naexecução das inovações pedagógicas~ para o efeito, os educadoresespecializados devem ser bem informados e formados para estaremprontos a aplicar os métodos nas salas de aulas com vista a umamelhor eficiência. Os mesmos devem ter uma experiência concretado trabalho no domínio da respectiva actividade, mas osconhecimentos teóricos e práticos adquiridos devem ser completadose actualizados pelos programas de formação em curso , Semináriosnacionais ou regionais (por exemplo, com os países africanos delíngua oficial portuguesa), podem ser organizados:

- Sessões de curta duração de superação dos professores efectivos,no domínio dos vários aspectos do Ensino especial, iniciando poraqueles que ainda não leccionaram e que não tiveram ainda umaformação pedagógica especial.

- A formação inicial e contínua dos professores especializados deveser confiada à Direcção Nacional de formação de quadros atravésdos Institutos Normais e criar condições pedagógicas e materiaispara o atendimento a essa Faixa etária de crianças.

O governo de Angola tem possibilidades de solicitar, casonecessitar, uma assistência técnica assim como, os materiaisdidácticos apropriados à UNESCO ou a outros organismos dasNações Unidas e instituições especializadas com fins de empreenderuma acção sistemática e eficaz no domínio da Educação especial.

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Angola e a UXE.:....'('O

A UNESCO e as crianças com dificuldades

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Desde que a educação especial se tomou um elementosignificativo do programa da UNESCO em 1996 e sobretudo desde1981, Ano Internacional dos Deficientes, a organização soube, commuito poucos recursos, tirar partido das ligações com as outrasorganizações do sistema das Nações Unidas, as agências nacionaisde desenvolvimento e as organizações não governamentais.

Reúne e divulga informações, elabora material de formação eassegura uma cooperação técnica, sobretudo nos paises em vias dedesenvolvimento. Em 1992 - 1993 realizaram-se cinco semináriosno Botsuana, na Venezuela, na Austria, na Jordania e na China. Ostemas foram: a criação de escolas que acolham todas as crianças,uma administração comum à educação especial e tradicional, ofornecimento de apoio às escolas para a educação especial, aadaptação dos programas e métodos, a formação geral dosprofessores e a sua colaboração com educadores especializados, efinalmente, o lançamento de projectos-pilotos de escolas"inclusivas", seguido de uma avaliação detalhada dos resultados.

A "Conferência Mundial sobre as Necessidades EducativasEspeciais: Acesso e Qualidade" organizada pelo governo espanholem cooperação com a UNESCO, realizada de 7 a IOde junho de1994, em Salamanca (Espanha), foi um fórum internacionalimportante que reuniu mais de 300 participantes e teve comoprincipal objectivo de cumprir com o tema da Educação para todos,examinando as mudanças fundamentais de política necessárias paradesenvolver a abordagem da educação inclusiva, nomeadamente,capacitando as escolas para atender todas as crianças ,sobretudo asque têm necessidades educativas especiais.

Um dos princípios, política e práticas da Declaração deSalamanca acredita e proclama entre outro que :

"As crianças e jovens com necessidades educativas especiaisdevem ter acesso às escolas regulares, que a elas se devem adequaratravés duma pedagogia centrada na criança, capaz de ir ao encontrodestas necessidades".

As escolas regulares,' seguindo esta onentação inclusiva,constituem os meios mais capazes para combater as atitudes

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Xecess/(Iade.\ educanva.\ espeCiais em" lngola 208

discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias,construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação paratodos; além disso, proporcionam uma educação adequada à maioriadas crianças e provem a eficiência, numa óptima relação custo­qualidade, de todo o sistema educativo.

A intewação

Podemos enumerar muitos exemplos e paises onde aEducação especial teve sucesso quanto ao problema da colocação decrianças com deficiências nas classes regulares, o que deveconstituir parte integrante dos planos nacionais que visam aEducação para Todos. Mesmo nos casos excepcionais, em que ascrianças são postas em escolas especiais, a sua educação não deveser inteiramente segregada, encorajando-se a frequência de escolasregulares a meio tempo, de igual modo, promove-se a inclusão dejovem) e adultos com necessidades especiais em programas de nívelsuperior ou em cursos de formação profissional e assegurar-se aigualdade de acesso e de oportunidades às raparigas e às mulherescom deficiência.

Pensamos que uma integração bem sucedida não seimprovisa, prepara-se. Trata-se de uma preparação da fàmilia e daescola, ou seja dos professores, das crianças, dos pais dos alunos,dos programas que devem ser libertos de toda a rigidez tradicional,do inventário das necessidades e das adaptações dos locais, assimcomo dos eventuais transportes a organizar. É necessário tambémuma boa colaboração com o corpo médico ou centros de saúdeprimária. Por seu lado, a família ou descuida da criança "diferente"ou tem tendência para superprotegê-Ia. Pode temer que o pessoal daescola não cuide suficientemente dela ou que os colegas de turma afaçam passar vexames. Os outros pais de alunos sentem-se emostram-se, por vezes reticentes: e se as anormalidades fossemcontagiosas descurados em favor dos mais fracos? Muitas vezes ospais de crianças não deficientes aceitam mal a integração, temendoque ela prejudique a qualidade do ensino. As deslocações feitasrecentemente às províncias de Luanda, Benguela e Huíla pela equipatécnica do projecto 534/ANG/l O mostra precisamente o contrário;ao ter em conta a diversidade, os professores e os estabelecimentos

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Angola e a L:VE,"SCO 209

tomam-se tão flexíveis e criativos na sua abordagem pedagógica queenriquecem de facto a qualidade da Educação para Todos.

A implementação deste processo de integração ao meu vernão trará dificuldade se não apenas beneficio a esta camada, umavez que existe a colaboração estreita entre a Direcção do Ensinogeral, do Ensino Especial e da Saúde e uma vez que a comunidadecivil estiver bem preparada e os professores bem informados eformados, o sucesso deste processo será à vista. Temos a vantagemde que no Ensino Especial e Ensino Geral utiliza-se os mesmosmanuais escolares. O Seminário Nacional poderá debruçar-se sobreo assunto, propondo ideias e planos concretos para a materializaçãodesta actividade no próximo ano lectivo em classe piloto deexperimentação nas províncias onde existem estruturas do EnsinoEspecial.

Conclusão

Os contactos provinCiaiS da equipa técnica do projectopermitiram que se conhecesse in loco a situação das criançasportadoras de deficiências e dos meios materiais disponíveis eindispensáveis para o desempenho da sua actividade docente.

Não há dúvida de que a formação dos professores constitui ofactor imprescindível para o sucesso desta acção. A preparaçãoadequada de todo o pessoal educativo constitui o factor-chave napromoção das escolas integradas. Para além disso , reconhece-secada vez mais, que a importância de investimentos no sector deformação de docentes é tão importante que dos seus efeitos dependea boa qualidade dos alunos a formar. Um professor eficiente sabecomo ir procurar recursos, sabe como produzir material e sabe comotirar partindo de todos os meios para ensinar de forma motivante osseus educandos.

O exemplo de parceria entre a Igreja Católica e a escola doEnsino Especial de Lubango é um dos exemplos a seguir pois acolaboração entre esses dois organismos tem dado resultadospositivos no sentido da sensibilização dos encarregados deEducação; pois a convivência entre os dois tipos de alunos é muitoimportante. Urge a necessidade de se contactar com outros parceirosinteressados no trabalho com a criança deficiente.

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Xecessulades educativas e.~peClQIS em Angola 210

o Reforço das capacidades ao nível da Direcção Nacional edas escolas de Luanda é importante e necessário pois que, todo otrabalho de concepção, orientação, planificação e gestão deve partirda Capital da província para as províncias do interior do país. Todoo material didáctico de apoio aos professores e alunos poderá serelaborado a partir de centros de escolas de Luanda de acordo com aárea de atendimento de cada escola. (VisuallAuditiva, etc.)

No domínio da cooperação inter-africana e internacionalpodemos destacar:

a) Cooperação regional africana- Promoção de núcleos dinâmicos de criação intelectual, científica e

técnica.- Promoção de documentos pedagógicos e de equipamento- Formação dos docentes- Harmonização e racionalização ao nível dos programas- Investigação comum entre muitos países

b) Cooperação InternacionalEla devera desenvolver-se de forma horizontal (Sul-Sul)

assim como vertical, preservando a autonomia de decisão dos paises.Reconhecendo as dificuldades financeiras actuais, a procura

de fundos em cooperação com Estados membros da UNESCO seráum meio possível de cativar fundos para os projectos. A cooperaçãocom as outras instituições das Nações Unidas tal como o BancoMundial e UNICEF , o BAD (Banco Africano de Desenvolvimento)deverá ser a preocupação prioritária da nossas actividades a fim decativar os meios indispensáveis para a materialização das decisõessadias deste nosso Seminário Nacional.

Bibliografia utilizada

• Relatório de reunião de Consultoria do Sr. Dr. Horn. M. AHY• Brochura Fontes UNESCO N° 59 Junho 1994• Declaração de Salamanca• Brochura "A UNESCO"• Documento de Projecto"Angola Programa Educacional de

emergência para as crianças vítimas da guerra (EDEPA) »

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ANEXOS

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Programa de formação dos proftssores­animadores

Anexo 1 : Programa de formação dosprofessores-animadores

213

o programa de formação dos professores-animadores deeducação integrada visa a criação de uma base de recursos humanospara apoiar o processo de integração e de reabilitação com basecomunitária.

A actividade de formação vai facilitar a iniciação dosprofessores em psico-pedagogia relativamente aos tipos dedeficiências auditivas, visuais, mentais e traumatismos.A formação compreende também a determinação do papel dosanimadores. Os seguintes elementos devem-se ter em conta.

A segunda fase de formação seria executada nas escolasespeciais: Luanda (Oscar Ribas, Rangel) - Benguela - Huíla.

Durante o período, a direcção de escola vai supervisionar aformação dos professores-animadores, concretamente os professoresseriam enquadrados nas salas de Ensino Especial com os professoresespecializados para supervisionarem.

A formação inclui cada tipo de ensino especial, assim como apedagogia de Educaçao Integrada.

A interacção com os professores especializados e alunos comdeficiência vai reforçar as capacidades psico-pedagógicas dosprofessores animadores.

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Necessidades educativas especiais em Angola 214

Os centros de recursos de educação integrada serão uma basede formação intensiva dos professores-animadores.

Os professores serão formados em três (3) etapas:

ETAPA 1

- sensibilização de algWlSprofessores, pais ecomWlÍdades;

- formação de algWlsprotessores no domínioda educação integrada;

- actividade de apoio àsaulas pilotas deintegração;comWlÍcação com os paise crianças comdificuldade;

- actividade de apoio aosprofessores de ensinoregular de base nodomínio de educaçãointegrada.

ETAPA 2

- animação pedagógica- alfabetização em braille

utilizando as línguasnacionais ( pais,professores etc... )

- iniciação à língua designos para os deficientesauditivos, para osprofessores em formaçãoe pais;

- apresentação e utilizaçãode meios para ajudar aeducação integrada(termoform, audiosistema, materiaisdidácticos vários)

- vídeo apresentação dosexperimentos sobreeducação integrada ereabilitação à basecomWlÍtária;

- instalação de uma basedocumentária sobreeducação especial eeducação integrada;

- informação esensibilização para opúblico.

ETAPA 3

Temas de iniciação serãodesenvolvidos.A especial atenção deve sertido em conta para aelaboração e produção demateriais didácticos e acomWlÍcação social.Alguns experimentos sobrereabilitação a basecomWlÍtária serãoapresentados.As três etapas constituem umfundamento de formação deprofessores-animadores.Assim, a formação seriacontinuada durante asintervenções nos mWlÍcípios.Os professores-animadoresformados, organizarãoactividades com algunsprofessores. A coordenaçãoprovincial de educação e ogrupo técnico nacionalsupervisionarão asactividades de formação e deinteracção social.

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Programa de intervenção dos professores­animadores

Anexo 2 : Programa de intervenção dosprofessores-animadores

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No processo de experimentação de educação integrada, osprofessores seriam supervisionados pelos coordenadores provinciaisde ensino especial e os directores provinciais de ensino geral.O papel dos professores visa nomeadamente o reforço dascapacidades pedagógicas de todos os professores no domínio daeducação integrada e a melhoria de comunicação educativa com paise crianças com dificuldades.

Assim, várias actividades devem ser executadas pelosprofessores-animadores.As actividades são precisamente as seguintes:

1. Animação Pedagógica

No quadro de cada município os professores-animadores emconjunto com os responsáveis provinciais e locais organizarãoseminários e grupos pedagógicos para os professores de ensino geralparticularmente os professores de ensino primário.

Os temas a serem apresentados seriam sobre a educaçãointegrada em cada três meses, um tema seria considerado entre osseguintes:

a) particularidades psico-pedagógicas das crianças em situaçãomuito dificil no período de construção da paz;

b) processo de integração e de reabilitação na basecomunitária no contexto de Angola;

c) elaboração e produção de materiais didácticos para aeducação integrada em Angola.

2. Apoio ás aulas pilotas de integração

Os professores-animadores devem ajudar os professores quedirigem as aulas pilotas de integração. O seguimento de ensinointegrado constitui uma parte importante da formação dosanimadores-facilitadores.

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Xecessldades educativas especiais em Angola 216

A interacção com os professores especializados vai facilitaro enquadramento dos alunos com deficiências cada três dias dasemana, os professores-animadores devem apoiar as aulas pilotas deintegração (segunda, terça e quarta feiras)

3. Apoio a algumas aulas de ensino geral

Considerando as necessidades de apoio dos professores deensino geral que aceitem alunos com deficiências e alunos emsituação dificil, os professores devem apoiar as aulas.Um dia por semana, professores animadores deverão visitar as aulasindicadas.

4. Interacção com os pais e os técnicos de saúde e reinserçãosocial

o trabalho de seguimento implica uma colaboração eficientee durável com os pais de alunos e com os técnicos do Ministério daSaúde.

Em geral, os professores-animadores deverão visitar os paisidentificados no quadro do seguimento dos alunos matriculados nasaulas pilotas de integração.

5. Participação na campanha de informação e sensibilização

Em ligação com as direcções de saúde, da rádio e televisão, eONOs, associações locais, os professores animadores devempromover actividades de informação e de sensibilização nascomunidades.

Vários meios devem ser utilizados para atingir os objectivosde participação na educação integrada.

6. Elaboração de materiais didácticos

Utilizando as possibilidades de centros de recursos daeducação integrada e de escolas especiais, os professores animadoresem conjunto com os professores especializados deverão elaborarmateriais didácticos para ajudar o processo de integração.

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Programa de Intervenção dos professores­animadores

7. Aprendizagem continuada nas escolas especiais

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A formação dos professores-animadores deve continuarnomeadamente no quadro de escolas especiais.A interacção com os professores especializados constitui um meioimportante de reforço da capacidade didáctica.

Os 7 elementos apresentados constituem uma base deintervenção dos professores-animadores.

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o Caso Benguela

Anexo 3

o caso Benguela

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Em 1989, a Direcção Provincial de Ensino de Adultos foiencarregue das actividades do Ensino Especial na província deBenguela.Neste quadro, 59 crianças de diversas escolas e bairros constituiram8 turmas:

2 deficientes visuais com 4 alunos3 deficientes auditivos com 14 alunos4 deficientes mentais com 41 alunos1 aluno externo que recebia apenas tratamentos logopédicos.

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Necessidades educativas especiais em Angola

MAPA EVOLUTIVO DO APROVEITAMENTO DOS ALUNOS1990-1996

ÁREAS AL AL AL AL. SUB-MATRIC APROV REPROV DESIST TOTAL

1990/91 D.MENT. 41 - - 2 59D. VIS 4 - - 1D. AUDIF 14 - - 4

1991/92 D.MENT 59 17 32 10 91D. VIS 6 3 1 2 Obs: 2D. AUDIF 26 7 19 - ext. (só

recebiamtratamen-to.logopé-dico)

1992/93 D.MENT 67 27 3 37 105D. VIS 4 3 - 1 Obs.lD. AUDIF 34 15 19 - ext.( só

recebiaTratamen-to 10gopé-dico)

1993/94 D.MENT 76 33 38 5 112D. VIS 9 5 1 3D.AUDIF 27 18 5 4

1994/95 D.MENT 83 24 34 25 130D. VIS. 8 7 - 1D. AUDI 39 19 9 11

1995/96 D.MENT 58 - - -D. VIS. 12 - - - 106D.AUDIF 36 - - -

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o Caso Benguela 221

MAPA ESTÁTICO DOS ALUNOS DAS CLASSES PILOTOS DE INTEGRAÇÃO

ZONA ESCOLAS N° DE N° DE 08SALUNOS ALUNOS DODer. POR ENS.GERALÁREAS

W 5 -Missão Def. Ment 5 25« A» Def. Aud. e f 25

tàla 4W 252 - A. Def. Aud. e 26

«A» Lara tàla 5

W30 Def Vlsuais 25«8» 2

.W 382 Def mentais 25«8» 5 24

Der Visuais2

W31Am Der. Mentais 26«C» Cabral 4 25

Def. Aud. etàla 4

Nova da - - Todos alunos«E» Massangarala mobilizados P

/ Escoladesistiramficou P / 2"fase

Total de - 31 201 -Alunos

Participação da comunidade

Os órgãos de comunicação social - Rádio, Televisão - epalestras nas escolas de ensino geral desempenharam um papelimportante na mobilização e no envolvimento da comunidade nestaárea.Pode-se citar o exemplo da Casa Branca Comercial quedisponibilizou os primeiros meios técnicos e didácticos.Ao longo dos anos, o Ensino Especial teve uma evolução crescenteno domínio das matrículas como no da reabilitação.

Todavia, o corpo docente continua a apresentar umaformação aquém das necessidades de atendimento.

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Xecessidades educativas especIais em Angola

Integração

222

Classes "Pilotos" de Integração (CPI) foram constituidas.Com o surgimento do Projecto 534/ANG/1 0, apareceram novasperspectivas. Assim foram feitos alguns levantamentos nas escolaspara a integração das crianças. Contudo, obstáculos de naturezamaterial permanecem: máquinas Braille, material didáctico... Aadaptação do professor às novas exigências metodológicas constituiuma outra dificuldade.

Capacitação dos técnicos

Com vista a adequar a materialização dos objectivospreconizados neste novo subsistema, grande atenção foi dispensadaà formação de quadros. Para o efeito, vários semináriosmetodológicos foram realizados, com a finalidade de capacitar ostécnicos a seleccionar, para leccionar na escola de Ensino Especial.O 1° Seminário decorreu de 9 à 18/ 04 /90, com uma participação dequarenta e quatro (44) candidatos, dos quais, quatro (4) Directoresde Escola. O 2° Seminário, foi de 4 à 6/6/90, orientado por cincoespecialistas do Departamento Nacional de Ensino Especial. Nesteseminário, os participantes foram distribuidos segundo opções.

Daí que foi possível constituir-se um grupo de trinta e cinco(35) docentes, assim distribuidos:

- 8 professores p/a Área de Titlopedagogia.- 8" "" " Surdopedagogia- 8" "" " Oligofrenopedagogia- 5" "" " Logopedia- 6 "" Centro do Diagnóstico

e Orientação Pedagógica-CDO.

Nesta época, existia um nO de 5 (cinco) técnicos médios comAgregação Pedagógica, e os restantes eram técnicos médiosequiparados e básicos com Agregação Pedagógica.A escola hoje conta com 28 (vinte e oito) docentes sendo:

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() Caso Benguela 223

- 2 (dois) Técnicos Superiores especialistas em Defetologia,licenciados na República de Cuba e enviados pelo DepartamentoNacional para a área de Logopedia.

- 17 (dezassete) Técnicos Médios formados no IMNE de Benguelae Lobito.

- 4 (quatro) Técnicos Médios Equiparados.- 5 (cinco) Técnicos Básicos com Agregação Pedagógica.

Material didáctico

Apesar do apoio fornecido pela comunidade - Casa BrancaComercial, Associação Acácias Rubras, C. C. do MPLA, la Damade Angola, DNES, Embaixada do Vietname em Angola e algumasONG - regista-se uma grande carência em termos de manuais emquase todas as áreas.

Apoio social

A libertação dos compromissos do Ministério do Comérciocom as cantinas escolares levou à paralização do apoio social aosalunos.

A DPES tem procurado apoios junto das ONG para ascrianças mais vulneráveis. Algumas já se fizeram sentir, comoOXFAM e UNAVEM.

Projecto 534/ANG/IO

Permitiu um salto qualitativo no desenvolvimento do Ensinointegrado para proporcionar a incorporação, nas Escolas do EnsinoRegular, de crianças que até então vinham sendo educadas numsistema de tipo segregacionista.

Integração em Benguela

o Projecto de Integração em Benguela, deu os seus primeirospassos, a partir do dia 20 de Novembro de 1994.

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Xecessidades educativas e!>peciais em Angola 224

e conforme as orientações baixadasseriam abrangidas crianças deficientes

Em princípio,superiormente, apenasAuditivas e Visuais.

Com efeito, foram projectadas acções tendentes à execuçãodas diferentes etapas definidas no Cronograma de implementação,nomeadamente:

1. - Selecção das Escolas "Piloto" de Integração (6 classes) a razãode 3 salas para deficientes auditivos, para cobertura total de 15alunos; 3 salas para deficientes Visuais também para a coberturatotal geral de 30 alunos.

2 - Identificação e pré-Selecção dos deficientes beneficiários, assimcomo zonas residenciais (Fichas Individuais dos alunos).

3 - Selecção dos Professores especializados para as escolas "piloto"de Integração (listas dos professores e escolas indicadas).

4 - Selecção dos professores supervisores móveis a razão de 2 porMunicípio (Relação Nominal, Função).

5 - Apetrechamento, equipamento e reabilitação das classes"Piloto".

6 - Preparação de um Guia do Professor do Ensino Especial para oEnsino Geral.

7 - Encontro com os encarregados de Educação, sua mobilização esensibilização para a atenção a prestar às crianças.

8 - Encontro com a imprensa local (sensibilização da sociedade ePovo em geral, sobre a experiência do Projecto).

9 - Recepção da missão HASS (África do Sul) para diagnosticarcrianças alvas e posterior colocação de próteses, 1a e 2a

Quinzena de Janeiro /95.

Perspectivas

No quadro do desenvolvimento de acções, quer a nível doensino Especial, como do integrado, a Escola prevê, para uma futuraoportunidade o seguinte:

I. Estender o Ensino Especial e integrado a todas as zonas doMunicípio e Província.

2. Conduzir a integração a todas as classes

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o Caso Benguela 225

3. Fazer esforços no sentido de firmar contactos com algumasempresas e instituições, onde existem oficinas laborais esistemas de aprendizagem de oficios, com intuito de inserir osalunos mais crescidos e prepará-los para inserção na vida social.

4. Realizar acções que levem os encarregados de Educação a criarconfiança no Projecto de Integração de forma a encaminharemas crianças seleccionadas às Escolas do Ensino Geral.

5. Continuar os esforços junto ao Governo no sentido de permitir oaumento da capacitação dos técnicos e a continuidade deformação, bem como assegurar as oportunidades de bolsasdoadas por Associações amigas.

6. Continuar a realizar contactos junto do Governo, no sentido deconseguir-se a conclusão das obras do edificio onde funciona aEscola do Ensino Especial, bem como a construção de umanova escola, com condições próprias para crianças deficientes enão só.

7. Continuar a empreender esforços junto das ONG no sentido deprestação de apoios às crianças mais vulneráveis.

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,c,

No período de reconstrução nacional em Angola, a constru­ção da paz e da solidariedade no espírito dos jovens angolanos éuma prioridade que contribui a garantir o carácter durável do pro­cesso de edificação duma nova sociedade.

De facto, o País é confrontado com três grandes desafios: aconstrução duma paz duradoura ligada à promoção do espírito detolerância, do respeito pelas diferenças e sobretudo da solidarieda­de; a reconstruçào nacional baseada nomeadamente sobre a valori·zação dos recursos consideráveis que o País possui; a educação e aformação dum novo lipo de cidadão, capaz de enfrentar os desafiosda paz, da reconstrução e de desenvolvimento humano durável.

Para atingir progressivamente o objectivo úhimo, o projecto534/ANGIIO implementado, visa a promoção das oportunidadeseducativas para a reabilitação das crianças vulneníveis, vítimas daguerra e das suas consequências. crianças portadoras de deficiênçasdiversas (motoras. mentais. auditivas. visuais, psicológicas).

Aprender de Mãos Dadas consrilui assim o paradigma tra­duzindo a orientação para o novo ripo de Educação a promover emAngola: a Educação integrada.

ISBN 92.9091.067.4

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