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46 ECONOMIA A GAZETA DOMINGO, 7 DE JULHO DE 2013 NEGÓCIOS BRASIL/NORUEGA Empresas correm contra o tempo para apresentar soluções inéditas e ambientalmente corretas para a perfuração no fundo do mar brasileiro PETRÓLEO NORUEGA DE OLHO NO NOSSO PRÉ-SAL RONDINELLI TOMAZELLI Os noruegueses desenvolveram simuladores (acima) e válvulas para petróleo RONDINELLI TOMAZELLI [email protected] Com a perspectiva de pro- dução em larga escala tam- bém na camada do pré-sal, empresas norueguesas já projetam tecnologia de ponta, serviços e planos fo- cados em turbinar o forne- cimento para o setor de óleo e gás do Brasil. Há prospec- çõesatodovaporeinteresse crescenteporqueacadeiase desconcentra pelos 7 mil quilômetros da costa brasi- leira, onde há regiões am- bientalmente delicadas e formações geológicas dife- rentes que requerem solu- ções específicas. Além da forte filosofia de sustentabilidade, o que chama atenção nessas companhias é um quadro funcional enxuto, mas alta- mente especializado nas engenharias. Longe da pro- dução em massa, signifi- cam milhões em lucros os poucos e exclusivos servi- ços feitos no ano. Especializada em senso- res ultrassônicos que detec- tam vazamentos, erosão e corrosão dos equipamentos submarinos, a ClampOn aguarda o resultado da lici- tação da Petrobras para oito navios FPSO que vão operar no pré-sal. “Fizemos o pri- meiro projeto subsea (águas profundas) no Brasil em 2001. Vamos tentar vender este salto qualitativo de ino- vação (sensores) aos vence- dores dos FPSO”, afirma o presidente Hans Wagner. Dobrando sua capacida- deoperacionalnoBrasil,on- de está desde 1970 e toca um braço de subsea em Cu- ritiba, a Aker Solutions terá uma das maiores bases de serviço do mundo. Será em RiodasOstras(RiodeJanei- ro, perto do polo petroquí- mico de Macaé). “Estamos muito envolvidos com o Brasil, onde está quase tudo dofuturodaindústriadope- tróleo. A profundidade traz o desafio”, diz Ingvar Espe- land, do Centro Tecnológico de Performance da Aker. AMPLIAÇÃO Segunda maior fornece- dora dos campos de óleo es- candinavos, e em busca de soluções menos tóxicas, a Clariant Oil Services am- pliará em breve sua estru- tura no Brasil, onde já tem dois laboratórios de pesqui- sa – Rio e Suzano (SP). Ho- je, por meio de fornecedo- res, a Petrobras já compra muito da companhia. A Tomax, por sua vez, criou uma ferramenta que estabiliza a rotação das bro- cas em poços verticais e ho- rizontais. A empresa abriu um escritório de vendas no Brasil e aguarda a Petrobras finalizar um programa de testes do produto. Em Ma- caé, fará treinamentos e abrirá uma oficina. “Esta- moscomeçandoaoperarno Brasil, um mercado grande do pré-sal que quero alcançar”, frisa o presidente Hakon Skjelvik. Com ajuda da petroleira Chevron, a Cubility criou o Mudcube, um filtro eficiente de separação de resíduos misturados a óleo e gás, com capacidade de operar até 500 horas seguidas na plata- forma. Focada em compac- tarosresíduoselevá-lospara a terra, a Petrobras testou a tecnologia, que é mais cara, mas traz benefício ambien- tal e economiza tempo. “De- vemos nos instalar no Brasil em breve. O Mudcube cres- cerá muito no offshore e no onshore: é seguro, elimina vapor e reduz o volume de óleo. Também não trepida nem faz barulho”, destaca o CEO Even Gjesdal. Afora a produção de tur- binas e uma lista imensa de serviços de manutenção pe- sada no Brasil desde 2010, a superoficina móvel da Kars- ten Moholt já executa o se- gundo reparo do FPSO Ci- dade de Vitória. Detalhe: a bordo, sem interrupção da produção, destaca a direto- ra de gestão Linn Moholt. Já a Valves of Norway cria e faz manutenção de válvu- lasespeciaisduplexedeligas para a indústria petroquími- cadesubsea.Certificados,os equipamentos já chegaram a empresas do Brasil, Cana- dá, Austrália, Reino Unido e Estados Unidos. Simulador em poço real atende empresas Antes de os novos equipa- mentos ficarem “no ponto” para os campos no mar, um simulador de perfuração executa testes com uma sonda gigante num poço real em terra. Doada pela Shell há anos, a máquina fi- ca no Ullrig Drilling and Well Center do Instituto In- ternacional de Pesquisa de Stavanger (IRIS), que não tem fins lucrativos. O centro já fez testes para fornecedoras da Petrobras na bacia de Campos. “O de- safio do pré-sal também passa pela corrosão. É pre- ciso introduzir isso nos tes- tes, mas fazemos em escala pequena”, conta o vice-pre- sidente Oddvar Skjaeve- land, anunciando que terá uma nova sonda e outra cé- lula de testes. “OIRISbeneficiaaindús- tria toda ao testar, num lu- garsemriscoesemoscustos de operação offshore, o que poderia dar errado. Faz si- mulação de situações e tem- peraturas (250º C) e é o mais avançado teste de pressão (1500 bar) na Euro- pa”, completa Oddvar. A Statoil alocou dinheiro em pesquisa na unidade. Sobrepostos numa plata- forma, os dutos da sonda submergem dois quilôme- tros. Além de treinar e qua- lificar operadores para a in- dústria mundial, o IRIS exi- geumexemplardosequipa- mentos dos clientes que pa- gam pelas verificações – pe- quenas companhias finan- ciadas pelo governo e gran- des operadoras como Sta- toil, Shell e Schlumberger.

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46 ECONOMIAA GAZETA DOMINGO, 7 DE JULHO DE 2013

NEGÓCIOS BRASIL/NORUEGA

Empresas correm contra o tempo para apresentar soluções inéditas eambientalmente corretas para a perfuração no fundo do mar brasileiro

PETRÓLEONORUEGA DE OLHONO NOSSO PRÉ-SAL

RONDINELLI TOMAZELLI

Os noruegueses desenvolveram simuladores (acima) e válvulas para petróleo

RONDINELLI [email protected]

Com a perspectiva de pro-dução em larga escala tam-bém na camada do pré-sal,empresas norueguesas jáprojetam tecnologia deponta, serviços e planos fo-cados em turbinar o forne-cimentoparaosetordeóleoe gás do Brasil. Há prospec-çõesatodovaporeinteressecrescenteporqueacadeiasedesconcentra pelos 7 milquilômetros da costa brasi-leira, onde há regiões am-bientalmente delicadas eformações geológicas dife-rentes que requerem solu-ções específicas.

Alémdafortefilosofiadesustentabilidade, o quechama atenção nessascompanhias é um quadrofuncionalenxuto,masalta-mente especializado nasengenharias.Longedapro-dução em massa, signifi-cam milhões em lucros ospoucos e exclusivos servi-ços feitos no ano.

Especializada em senso-res ultrassônicos que detec-tam vazamentos, erosão ecorrosão dos equipamentossubmarinos, a ClampOnaguarda o resultado da lici-taçãodaPetrobrasparaoitonaviosFPSOquevãooperarno pré-sal. “Fizemos o pri-meiroprojetosubsea(águasprofundas) no Brasil em2001. Vamos tentar vendereste saltoqualitativode ino-vação (sensores) aos vence-dores dos FPSO”, afirma opresidente Hans Wagner.

Dobrando sua capacida-deoperacionalnoBrasil,on-de está desde 1970 e tocaum braço de subsea em Cu-ritiba, a Aker Solutions teráuma das maiores bases deserviço do mundo. Será em

RiodasOstras(RiodeJanei-ro, perto do polo petroquí-mico de Macaé). “Estamosmuito envolvidos com oBrasil, onde está quase tudodofuturodaindústriadope-tróleo. A profundidade trazo desafio”, diz Ingvar Espe-land,doCentroTecnológicode Performance da Aker.

AMPLIAÇÃOSegunda maior fornece-

doradoscamposdeóleoes-candinavos, e em busca desoluções menos tóxicas, aClariant Oil Services am-pliará em breve sua estru-tura no Brasil, onde já temdoislaboratóriosdepesqui-sa – Rio e Suzano (SP). Ho-je, por meio de fornecedo-res, a Petrobras já compramuito da companhia.

A Tomax, por sua vez,criou uma ferramenta queestabilizaarotaçãodasbro-

cas em poços verticais e ho-rizontais. A empresa abriuum escritório de vendas noBrasil eaguardaaPetrobrasfinalizar um programa detestes do produto. Em Ma-caé, fará treinamentos eabrirá uma oficina. “Esta-moscomeçandoaoperarnoBrasil, há um mercadograndedopré-salquequeroalcançar”, frisaopresidenteHakon Skjelvik.

Com ajuda da petroleiraChevron, a Cubility criou oMudcube,umfiltroeficientede separação de resíduosmisturadosaóleoegás,comcapacidade de operar até500horasseguidasnaplata-forma. Focada em compac-tarosresíduoselevá-losparaa terra, a Petrobras testou atecnologia, que é mais cara,mas traz benefício ambien-taleeconomizatempo.“De-vemosnos instalarnoBrasil

em breve. O Mudcube cres-cerá muito no offshore e noonshore: é seguro, eliminavapor e reduz o volume deóleo. Também não trepidanemfazbarulho”, destacaoCEO Even Gjesdal.

Afora a produção de tur-binas e uma lista imensa deserviçosdemanutençãope-sadanoBrasildesde2010,asuperoficinamóveldaKars-ten Moholt já executa o se-gundo reparo do FPSO Ci-dade de Vitória. Detalhe: abordo, sem interrupção daprodução, destaca a direto-ra de gestão Linn Moholt.

JáaValvesofNorwaycriae faz manutenção de válvu-lasespeciaisduplexedeligasparaaindústriapetroquími-cadesubsea.Certificados,osequipamentos já chegarama empresas do Brasil, Cana-dá, Austrália, Reino Unido eEstados Unidos.

Simulador em poçoreal atende empresas

Antesdeosnovosequipa-mentos ficarem “no ponto”para os campos no mar, umsimulador de perfuraçãoexecuta testes com umasonda gigante num poçoreal em terra. Doada pelaShell há anos, a máquina fi-ca no Ullrig Drilling andWell Center do Instituto In-ternacional de Pesquisa deStavanger (IRIS), que nãotem fins lucrativos.

Ocentrojáfeztestesparafornecedoras da Petrobrasna bacia de Campos. “O de-safio do pré-sal tambémpassa pela corrosão. É pre-ciso introduzir isso nos tes-tes, mas fazemos em escalapequena”, conta o vice-pre-sidente Oddvar Skjaeve-land, anunciando que teráuma nova sonda e outra cé-lula de testes.

“OIRISbeneficiaaindús-tria toda ao testar, num lu-garsemriscoesemoscustosde operação offshore, o quepoderia dar errado. Faz si-mulaçãodesituaçõesetem-peraturas (250º C) e é omais avançado teste depressão(1500bar)naEuro-pa”, completa Oddvar. AStatoil alocou dinheiro empesquisa na unidade.

Sobrepostosnumaplata-forma, os dutos da sondasubmergem dois quilôme-tros. Além de treinar e qua-lificar operadores para a in-dústria mundial, o IRIS exi-geumexemplardosequipa-mentos dos clientes que pa-gampelasverificações–pe-quenas companhias finan-ciadas pelo governo e gran-des operadoras como Sta-toil, Shell e Schlumberger.

Documento:AG07CA046;Página:1;Formato:(274.11 x 382.06 mm);Chapa:Composto;Data:06 de Jul de 2013 13:09:42

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ECONOMIA47DOMINGO, 7 DE JULHO DE 2013 A GAZETA

Estímulo àinovação. O Ipark deStavanger é umaincubadora de empresaspara desenvolver novasideias. Divulgação

AS TECNOLOGIAS

ClampOn: A vitrine são ossensores inteligentes quemonitoram presença departículas de areia e outrosresíduos misturados aopetróleo nos oleodutos.Fabrica dois milsensores/ano a cada 10funcionários.

Aker Solutions: Divididaem nove áreas de negóciose com R$ 3,5 bilhões dereceita, a Aker tem umgrande simulador virtual detestes em 3D paraequipamentos deperfuração de poços, alémde um sistema de controleque reduz riscos deacidentes, engenharia efabricação.

K. Lund: Faz montagem deguinchos que suportam até240 toneladas e decompressores de ar e gáspara qualquer temperatura.Faturamento em 2013 deveser de R$ 100 milhões.

Tomax: Comercializadadesde 2007, a tecnologiaantiparalisação, já locadapela Shell e Repsol, ajuda aremover areia e evitadanos à broca.

Cubility: Criou umseparador de altaperformance que aspira ereaproveita a lama usadanos furos.

GE Oil & Gas: Lançouagora uma gaiola commicrofones que, aoconverter ruídos em sinaiselétricos, detectamvazamentos no mar.

Karsten Moholt: Empresafamiliar de 68 anos é umamegaoficina de inspeção.

Centro reúne melhores ideiasNoruega possui umparque tecnológicovoltado à criação desoluções para petróleo

Capital do petróleo daNoruega, Stavanger man-tém um parque tecnológi-co de Inovação – o Ipark –que fomenta novos negó-cios e abriga uma incuba-doraligadaàuniversidadelocal. Iniciativa voltada adescentralizar e diversifi-car a atividade econômicado país, a incubadora reú-ne 24 companhias que de-senvolvem tecnologiasdesde a exploração deóleo e gás até segmentoscomo alimentação.

“Construímos pontesentre ideias e negócios.Num mesmo ambiente físi-co, montamos os times, fa-zemos networking, damosexperiência, gerenciamosprocessos e geramos con-fiança para as ideias vira-ram sucesso comercial”,defineTerjeHandeland,di-retordo Ipark, chamadode

“jardim de negócios”.Gerente técnico da in-

cubada GOE-IP (energiaorgânica), Asle Ravnasdesenvolve desde 2002uma tecnologia microbialpara melhorar a recupe-raçãodaáreadopoçoere-duzir a emissão de carbo-no, preservando o ecos-sistema marinho. O mi-cróbio limpa o petróleobruto e aumenta a produ-

tividade. Ele não desistiudepois de ter a novidadedispensada por uma em-presa: entrou no Ipark em2010 e, agora, Shell e BPtem interesse em investirno seu negócio.

Para Asle, a vantagemde ser uma empresa encu-bada é ser só uma, mas serforte. No Ipark, frisa, háconsultores em desenvol-vimento de tecnologia e

de empresas, consegue-secredibilidade e há cone-xãocomasagênciasdogo-verno: “Agora chegueiperto dos investidores pri-vados, foi uma cadeia quea incubadora produziu. Opotencial dessa indústriade recuperação de óleo sóna Noruega movimentabilhões em tecnologia”.

Pode parecer, mas nemtudo são flores numa re-giãode300milhabitantesque foi ocupada transfor-mando a grande quanti-dade de pedras em murosresidenciais. Cobrandomelhorias, expansão, no-vasempresasemaiorcola-boração no Ipark, Terjedeu um ultimato às orga-nizações parceiras na áreado campus.

“Somos práticos e foca-dos em resultados. A prio-ridade é construir umagrande empresa de inova-ção, com mais dinheiro emusculatura. Queremoscriar um novo centro depesquisa e desenvolvi-

mentoe atrair empresasgrandes para atividadesde pesquisa na região”,elenca o diretor.

Na incubadoraseletiva,de200ideiasrecebidas,só20% (10) se viabilizam nofinal. Nesse intervalo, oIpark assina um contratocomoempreendedorparabuscar financiamento. Osistema ajuda a construirinfraestrutura e na faseinicial. O mercado finan-ciaprojetosdeseu interes-se e só usa as tecnologiascertificadas.

Colaboram de forma“fundamental” com oIpark instituições, indús-trias,Statoile-pormeiodeempréstimos atéa fundoperdido do InnovationNorway - o governo. Pelasempresas da incubadorajá passaram diversos uni-versitários – até 15 todoano - num programa detrainee de nove meses.“Queremos que os estu-dantes tambémsejamem-preendedores”, diz Terje.

Terje Handeland: “Ideias viram sucesso comercial”

DIVULGAÇÃO

País investe em inovação e tem 45 incubadorasA Noruega faz farto in-

vestimento para o fomen-to da produção tecnológi-ca: no país há 12 centrosde expertise, 45 incuba-doras (pesquisa e desen-volvimento, indústria eatédecultivodeouriçodomar), 25 parques de ino-vaçãoe500centrosdemi-cro negócios.

Cidade-sede da Statoil,Stavanger gera R$ 40 bi-

lhões na produção de pe-tróleoe sedia40empresasdo setor com centenas defornecedores locais. “Te-mos educação, capital hu-mano e serviços de quali-dade”, define o empresá-rio Gaute Jorpeland.

Enquanto Bergen é re-ferência mundial em sub-sea, Stavanger mantémum centro para Integra-ção de Pesquisas de Petró-

leo, tem a mais alta con-centraçãodeengenheirosdereservatóriodomundoesediaamaior feiradose-tor - da qual o InstitutoBrasileiro de Petróleo(IBP) mantém um centrode operações em petróleoé parceiro.

O repórter viajou a con-vite da Embaixada da No-ruega Gaute Jorpeland: “Temos educação e capital humano”

RONDINELLI TOMAZELLI

Documento:AG07CA047;Página:1;Formato:(274.11 x 382.06 mm);Chapa:Composto;Data:06 de Jul de 2013 13:09:47