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NEI SILVEIRA DE ALMEIDA O ELO PERDIDO UMA ABORDAGEM SOBRE A EDUCAÇÃO FAMILIAR QUE, SEGUNDO O AUTOR, NOS ÚLTIMOS 25 A 30 ANOS PERDEU-SE ENTRE AS MUDANÇAS DE COSTUMES PROMOVIDAS NO MUNDO

Nei Silveira de Almeida - O Elo Perdido

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Uma abordagem sobre a educação familiar que, segundo o autor, nos últimos 25 a 30 anos perdeu-se entre as mudanças de costumes promovidas no mundo.

Text of Nei Silveira de Almeida - O Elo Perdido

  • NEI SILVEIRA DE ALMEIDA

    O ELO PERDIDO

    UMA ABORDAGEM SOBRE A EDUCAO FAMILIAR QUE, SEGUNDO O AUTOR, NOS LTIMOS 25 A 30

    ANOS PERDEU-SE ENTRE AS MUDANAS DE COSTUMES PROMOVIDAS NO MUNDO

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    BIOGRAFIA DO AUTOR

    Brasileiro, 62 anos, viveu e vive neste Pas e fez parte da gerao dos anos 60, denominada a gerao de ouro, que transformou considervelmente os costumes. Presenciou os efeitos destas transformaes e convenceu-se que a forma desorganizada como essas transformaes aconteceram trouxeram conseqncias imprevistas sociedade brasileira, sobretudo ocasionando um processo de inverso de valores nas relaes pais e filhos. Editou um livro O AMOR QUE FICOU, em 2007, propondo a adoo de um novo modelo educacional para o Pas e embora tenha merecido elogios discretos de mbito individual por parte de algumas personalidades dos meios educacionais, jornalsticos e de vrios profissionais de outros segmentos, sofreu um enorme descaso por parte da imprensa, da rea educacional e entidades correlatas. Assistiu a instaurao de um regime de Ditadura Militar no Pas que de forma desastrosa destruiu com uma cultura de disseminao, formao e aglutinao de idias e que legou ao seu povo o medo de expressar-se e a incomoda condio de apatia e conformismo. Assistiu a retoma da democracia comandada por um bando de politiqueiros profissionais que se instalaram no poder e mergulharam o Pas em um mar de corrupes, falcatruas, cambalachos e maracutaias, instituindo cargas tributrias elevadssimas, levando instituies falncia, distribuindo esmolas polticos eleitoreiras produtoras de parasitas, deixando seu povo mal assistido nas reas da sade, segurana e educao, bem como mantendo a populao mergulhada em um obscurantismo providencial s suas manobras poltico eleitoreiras. Bem, Nei Silveira de Almeida natural de Santo Dumont/MG, cursou escola tcnica de mecnica e faculdade de cincias econmicas. aposentado, casado pela segunda vez e mora em Belo Horizonte/MG.

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    O ELO PERDIDO

    DEDICATRIA: Dedico esse livro minha filha Maura Corra de Almeida Pedagoga, formada pela UFMG, e que diversas vezes comentou comigo sobre a importncia do aluno que chega escola tendo recebido adequadamente os primeiros referenciais educacionais advindos da base familiar.

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    O ELO PERDIDO O que afoga as boas sementes no o mato, mas a negligencia do campons. (Confcio Filosofo chins)

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    INDICE

    PARTE DISCRIMINAO PG.

    INTRODUO 6

    1 NOS TEMPOS EM QUE FICAR ERA PARA SEMPRE

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    2 O QUE ERA PARA SER 28

    LIMITES 33

    FILHOS IAMI TIBA 35

    CAZUZA- FILME 37

    BILL GATES 39

    UMA BREVE AULA DE SELEO DE PESSOAL

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    TENHO VERGONHA DE MIM 45

    MATRIAS JORNALSTICAS 46

    COMENTRIOS DO AUTOR 49

    3 RETRATOS DE UM PAS 50

    AUXLIO RECLUSO 52

    IMPUNIDADE 54

    PLANO DE SADE DOS SENADORES 56

    MADRASTA PTRIA VIL 60

    O QUE VEM DE FORA 62

    SOU REACIONRIO 65

    COMENTRIOS DO AUTOR 69

    4 O MUNDO MINHA FRENTE 70

    ANLISE, DISCUSSO E REFLEXO 75

    5 NO SE PODE GENERALIZAR 80

    CONCURSO DE REDAO 82

    CONCLUSO 84

    ADENDO UM NOVO MODELO EDUCACIONAL

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    INTRODUO Ser mestre no resolver tudo com afirmaes, nem dar lies para que os outros aprendam, etc; ser mestre verdadeiramente ser discpulo. (Kierkegaard Telogo e filsofo dinamarqus)

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    O ELO PERDIDO INTRODUO A rigidez dos costumes levou toda uma gerao a levantar-se e voltar-se contra aquilo que denominavam de castrao. E, utilizaram-se da msica e da moda para rebelarem-se. Surgiram as bandas de rock-and-roll com suas msicas irreverentes, com seus figurantes trajando-se de forma diferente dos costumeiros ternos e gravatas que os componentes de conjuntos e orquestras tradicionais ostentavam. Os cabelos desciam at os ombros, partes do corpo se mostravam desnudas e surgiam as primeiras tatuagens. Os fs e admiradores comeavam a copi-los na maneira de se vestirem e aprendiam nas letras os primeiros gritos de liberdade. Os jovens da poca ansiavam libertar-se do julgo dos pais que consideravam rigorosos em demasia. Enquanto isso surgia a minissaia que colocava por terra as longas saias que desciam at o meio das canelas das mulheres, protegidas pelas famosas meias trs quartos que cobriam o restante das pernas femininas. Pernas mostra sem o uso das meias e metade das coxas em evidncia, as moas demonstravam sua rebeldia embaladas pelas canes que cada vez mais ecoavam mundo afora. No princpio houve muito confronto entre pais e filhos, mas os segundos no se curvavam fcilmente, insurgindo-se com veemncia. Muitos pais resistiam duramente, enquanto alguns cediam rendendo-se mesmo depois de muita insistncia. Era o incio dos anos 60, uma dcada de muitas transformaes e mudanas no mundo. Marcada por avanos tecnolgicos e retrocessos na poltica internacional. Perodo de muitos conflitos, regimes ditatoriais e incertezas quanto aos rumos do mundo. Em Terras Brasileiras instaurava-se uma ditadura militar que perdurou at os meados dos anos oitenta,

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    ocasio em que artistas, cantores, compositores, bem como profissionais da imprensa, foram perseguidos e muitos banidos do solo ptrio. Aqueles que prevaleceram foram submetidos a uma censura rigorosa que acabou por no s calar a voz, mas destruir com a cultura da insurreio. Hoje esses instrumentos de formao de opinies, de aglutinao de idias acham-se fragmentados e desarticulados, movidos pela cultura do medo e da represso que no se desfez depois da queda do regime. Enquanto isso as geraes dos anos 60 e 70 avanavam na sua proposta de quebrar cultura da castrao dos costumes, e tambm tornavam-se adultos e prestes a constituir famlias, prometendo que seus filhos jamais seriam vtimas das rgidas imposies a que estiveram submetidos, tanto no seio familiar, como no mbito das escolas. Contudo, esse processo se deu de uma forma desorganizada, sem o mnimo estabelecimento de padres e normas, cada qual adotando critrios prprios que o que se deu foi uma total inverso de valores nas relaes pais e filhos, onde os filhos passaram a se impor rgidamente e a se prevalecerem de forma intransigente, acintosa e ameaadora sobre seus pais. E a maioria chega hoje escola desprovida de um referencial de educao suficientemente capaz de sofrerem a incurso vida de forma eficaz e inequvoca, e com pais impondo aos educadores cobranas, intransigncias e s vezes at ameaas, chegando-se ao cmulo da adoo de uma poltica de vida fcil para o estudante onde independente do seu aproveitamento o mesmo avana indistintamente as etapas seguintes. preciso resgatar esse ELO PERDIDO da sociedade brasileira, restaurar valores que se deterioraram pelo equvoco cometido. Lgico que dentro de novos padres, pois os tempos mudaram, a realidade do mundo mudou, as pessoas mudaram. Mas, para isso h de se analisar, refletir, discutir. Reunir diversos segmentos da sociedade, estabelecer um consenso em torno do assunto. Usar artifcios de aglutinao e formao de idias eficazes para disseminar uma proposta que venha atender esses objetivos. Escrevi esse livro com o intuito de apresentar essa

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    proposta, estimular a reflexo e provocar essa discusso. Por isso, convido aos senhores leitores acompanharem as argumentaes que se seguem.

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    PARTE 1

    NOS TEMPOS EM QUE FICAR ERA PARA SEMPRE Quando uma criana se comporta mal, quase sempre erro de quem a educa. (Eva Ibbotson- Escritora e novelista britnica)

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    PARTE 1 NOS TEMPOS EM QUE FICAR ERA PARA SEMPRE

    Eu perteno quela gerao que atingiu a adolescncia nos anos 60. ou melhor, transitou da puberdade para a adolescncia quando efervesciam no mundo as bandas de rock-and-roll com seus protestos contra os costumes castradores da liberdade juvenil e contra a Guerra do Vietn. Os hippies com o seu movimento fundamentado no lema Paz e Amor, desfilavam em solo norte-americano o seu protesto contra o consumismo, sua averso contra uma guerra estpida onde morriam seus compatriotas no limiar da mocidade, ecoando cnticos de liberdade e enveredando perigosamente pelos caminhos das drogas. EEUU e URSS enfrentavam-se na corrida espacial e na Guerra Fria, disputando palmo a palmo a hegemonia mundial com suas ideologias e sistemas scio-poltico-econmicos decorrentes. Vivendo ento, em uma cidade de porte mdio no interior de Minas Gerais, pertencendo a uma famlia de classe mdia, eu era exatamente o filho do meio de uma prole de cinco, cujo pai era um bancrio e a me uma professora de nvel primrio, que jamais exerceu a profisso. Papai era um homem rgido e exigia de ns, seus filhos, o irrestrito cumprimento de obrigaes. Alm de freqentarmos assiduamente a escola, tnhamos regras e tarefas bem definidas como, cumprir rigorosamente os horrios de refeies, cuidar da organizao e limpeza de nossos quartos e pertences pessoais, respeito aos mais velhos, no fazer uso de palavras de baixo calo, manter regularmente a higiene bucal e corporal, arrumar a cama ao levantar e chegar em casa, ao final da tarde ou noite, no horrio pr-determinado, cujos horrios variavam em funo da idade. Minhas tarefas residiam em ficar disposio e atender prontamente mame para as eventuais compras

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    na quitanda, padaria ou mercearia, entre s 13 e 15 h, e enxugar as vasilhas do jantar, que eram lavadas por ela e minha irm, dois anos mais velha. Mame controlava a ida e volta da escola, as tarefas escolares e os boletins. Era ela quem reportava a papai o andamento escolar de cada um. A disciplina do dia dia era fiscalizada por ela, que alm dessas misses de controle, tambm cuidava da organizao e limpeza da casa, assim como da alimentao. Tinha uma empregada domstica como auxiliar, mas papai no admitia que outra pessoa se ocupasse da preparao alimentar, no fosse ela. Exmia cozinheira, descendente de italianos, mame foi criada em uma cidadezinha do interior mineiro e tinha uma docilidade mpar, embora enrgica e de pulso firme na conduo de suas atribuies domsticas. Ns valorizvamos muito nossos pais. Reconhecamos o quanto se empenhavam com nosso bem estar, conforto e educao. Todos os filhos matriculados em boas escolas, bem vestidos, bem alimentados e sendo cuidados com muito zelo. Freqentvamos constantemente o dentista, ramos assistidos por mdicos ao primeiro sinal de alerta e desfrutvamos de lazeres com regularidade. Muitas vezes, eu me perguntava como meu pai dava conta de cumprir com tantas despesas sem jamais reclamar. Enquanto mame levantava da cama com o dia ainda escuro, preparava nosso caf matinal, acordava docemente a cada um, ajudava a organizar o material escolar, preparava nossa merenda, fiscalizava os uniformes, levava os mais novos at a porta da escola, cuidava do preparo do almoo, acompanhava as tarefas escolares de cada um, bordava, costurava, orientava os banhos, preparava o jantar e lavava as vasilhas, para ento poder sentar-se beira do rdio, e algum tempo depois frente TV, para ouvir (na primeira era) ou assistir(na segunda) sua novelinha. E, s depois que o ltimo estivesse sob as cobertas, que se dirigia ao seu quarto, sem manifestar qualquer sinal de descontentamento. Quantas vezes vi mame levantar-se em meio madrugada ante o choro de um, a tosse de outro e o resmungo de outro mais. Sentinela,enfermeira,

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    curandeira, encorajadora, confortadora. Era mame quem distribua as chineladas, os tapas nos traseiros e os puxes de orelhas. Papai no levantava as mos para ns, salvo uma nica vez em que distribuiu belas palmadas no traseiro de meu irmo mais velho, por algo que ele no havia feito e sim eu, em cujo dia urinei nas calas para lhe confessar ter sido eu o autor do delito. Todavia, o seu tom de voz, o seu franzir de sobrancelhas e o seu olhar, eram muito mais doloridos, nos faziam tremer do primeiro ao ltimo fio de cabelo, nos gelavam a alma e nos deixavam inertes, apavorados e envergonhados. Ele sabia punir com maestria. Impunha-nos um castigo, dependendo da gravidade da arte feita, que consistia em um determinado perodo sem poder sair de casa, salvo para ir escola ou cumprir alguma obrigao autorizada por ele. Isso significava ausncia das peladas, do cinema, das festinhas e das paquerinhas. Alm do mais, a semanada ficava suspensa naquele perodo. Mas o pior que durante a fase que compreendia o castigo, ele s falava o estritamente necessrio, ficava srio, carrancudo, no tocava seu violo, no solfejava a sua flauta transversal e nem mergulhava os olhos sobre os livros, as suas verdadeiras paixes. Aquilo era de cortar o corao. Quando estava por findar o castigo imposto, ele nos sentava sua frente, olhos nos olhos, e de forma sria e sensata falava o quanto tinha sido difcil para ele tomar aquela atitude, revelando o quanto havia ficado decepcionado com a gente, porque havia imputado a punio e esclarecendo que tinha sido muito mais uma atitude de amor j que seu intuito era fazer de ns homens dignos e honrados, e aquele perodo de recluso era uma forma de nos levar reflexo e uma oportunidade de nos corrigirmos.

    Para finalizar, enfatizava que um dia iramos entender exatamente as razes que o haviam levado a ser to rgido, naquele momento. S a partir de ento o brilho de seus olhos voltava a reluzir e os acordes de seu violo novamente enchiam o cair da noite de melodias. Quando me tornei pai, eu j havia compreendido isso h muito tempo, j sabia o

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    grande pai que havia tido e agradecia a Deus por ter me mandado para aquele lar. Eu fui seu filho mais rebelde, o mais indisciplinado, o mais irresponsvel. Fui eu o mais castigado, o que sentou-se mais vezes sua frente e que teve de olhar mais fundo dentro de seus olhos. Meu grupinho de amigos pouco se diferenciava de mim. Por pequenas margens de idade, que variavam entre poucos meses ou no mximo de um a dois anos, pela constituio numrica da famlia, pela profisso dos pais e pelo fato de que alguns, em menor quantidade, tinham mes que trabalhavam fora. Os costumes familiares eram os mesmos, pais severos, mes controladoras e regimes disciplinares austeros. Acompanhvamos os fatos do Pas e do cenrio mundial com ateno. Apareceram os Beatles, os Rolling Stones e outras bandas. Martin Luther King lutava contra a segregao racial nos EEUU. Nikita Kurschev na URSS, Marechal Tito na Iugoslvia, Fidel Castro em Cuba, Mo Ts Tung na China, buscavam consolidar o socialismo e o comunismo. O homem pisava na Lua, John F. Kennedy foi assassinado em Dallas. Surgia a minissaia e as adolescentes subiam as barras das saias quando chegavam s ruas e as desciam para retornarem s suas casas. Morriam Janis Joplin e Jimmy Hendrix por overdose, espantando o mundo. Entre amigos acompanhvamos e discutamos o mundo l fora, enquanto a Ditadura Militar instalava-se em solo ptrio. Devorvamos os jornais e as revistas especializadas. Eram muitos acontecimentos em curto espao de tempo. Procurvamos nos informar, nos atualizar, formar opinies, mas eram nos esclarecimentos de nossos pais que nos pautvamos e que defendamos pontos de vistas enfaticamente, depositando em seus conhecimentos a confiana irrestrita. Papai era um dos mais liberais entre os pais de nossa turma. Ele conversava conosco, seus filhos, sobre os fatos e acontecimentos do mundo e do Pas, e salientava sempre que preferia que aprendssemos em casa o que as ruas pudessem nos ensinar mal. Orientava-nos sobre as questes polticas, financeiras e sociais, falava de sexualidade (com reservas), e sobre tudo o que era dito em

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    casa recomendava discrio nas conversas porta afora. No havia assunto, de que natureza fosse, que papai no demonstrasse relativo conhecimento, e nos estimulava constantemente a dedicarmos aos livros parte de nosso tempo, colocando nossa disposio sua invejvel e numerosa biblioteca que cultivava desde os tempos de mocidade .E foram durante os perodos de castigo que me aprofundei em devor-los e adquirir enorme intimidade com eles. Alguns de meus amigos reclamavam de seus pais e da falta de dilogos com eles, e citavam o meu como um pai aberto e amigo. Invariavelmente, durante o jantar que era servido pontualmente s 18 h, ao qual papai no permitia atrasos e ausncias, que se discutiam os assuntos relativos famlia, ditadas as normas dos bons costumes e eram permitidas as perguntas que suscitavam dvidas ou o desconhecimento que tnhamos sobre qualquer assunto. Podia-se perguntar qualquer coisa e as respostas soavam inequivocamente, sem subterfgios e sem rodeios, seguidas de comentrios esclarecedores, salvo aquelas sobre sexualidade, que eram tratadas com reservas ou posteriormente, parte com mame, no caso de minha irm; ou com papai, em grupo com os rapazes ou individualmente, conforme as circunstncias. Eram nessas conversas que papai nos transmitia os valores da honestidade, da integridade, da moral e da tica. Durante a semana, em razo da diversidade de entradas e sadas de escola e de trabalho, raramente nos reunamos no mesmo horrio de almoo. Entretanto, aos almoos de sbados e domingos estvamos todos presentes, e estes se diferenciavam no s pelo cardpio, que apresentava pratos especiais, como pela descontrao. Nesses dias, papai contava casos de sua infncia, da adolescncia e da ento atualidade. Falava com orgulho de seus pais, irmos e amigos.Tinha sempre uma piada nova pra contar, ria, sorria e nos perguntava o que havamos feito durante a semana. Interpelava um, outro e ainda outro, at ouvir o que cada um tinha pra contar. Mame no deixava por menos, a todo instante tinha alguma coisa pra

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    dizer. Os casos de que mais gostava de narrar eram os de seu av, um velho italiano sisudo e autoritrio, mas de imenso corao. Fora um dos fundadores da pequena cidade do interior mineiro onde viviam e a que chegou ao final do sculo XIX com esposa e alguns de seus filhos, outros j nasceram por ali. Liderou a poltica local do ento distrito de um municpio vizinho, lutou pela sua emancipao, era comerciante, tornou-se delegado de polcia e um dos principais manda-chuvas do lugar. Narrava sobre seu pai, um farmacutico que falecera prematuramente e falido, cuja falncia, segundo o que se constatou, ocorrera em razo das demasiadas concesses de crdito populao pobre e carente, deixando sua me com seis filhos menores, o que a obrigou desdobrar-se em inmeras atividades para sustent-los e educ-los. Fazia tortas, doces e salgados para bares e festas, tornou-se a agente local dos Correios e Telgrafos e do nico posto telefnico da cidade. Ouvamos os casos de cada um, contvamos os nossos, ramos, nos divertamos, s vezes nos emocionvamos, respirvamos e sentamos-nos famlia. Assim terminvamos uma semana e inicivamos a outra.

    Era mame quem fiscalizava nossas roupas, verificava os nossos cabelos e olhava se nossos sapatos estavam limpos, quando saamos rumo ao cinema, a um passeio e s festinhas de finais de semana. Enquanto percorria os olhos sobre nossa indumentria ou percebia o asseio pessoal, ia fazendo as recomendaes sobre o comportamento, a educao e os princpios. Para ns, os rapazes, que ramos quatro, alertava sobre o respeito s moas, nos lembrando sempre que tnhamos uma irm dentro de casa. E terminava por dizer que nossa boa apresentao e bom comportamento eram exigncias das quais ela no abria mos, pois se nos apresentssemos e/ou nos comportssemos mal, certamente as pessoas iriam se referir vergonha que eram os filhos de Dona Beatriz, seu nome; e se fizssemos boa figura com certeza seramos elogiados como os filhos do Sr. Ivan, o nome de meu pai. Quando meu irmo mais velho completou dezoito anos, ganhou a chave de casa, e aquilo

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    me causou uma revolta porque me achava no mesmo direito, embora acabasse de fazer apenas quatorze primaveras. Esse descontentamento, lgico, ficou apenas embutido em meu mago, revelado na rebeldia em chegar sistematicamente aps s 21 h, horrio limite que papai havia fixado para minha permanncia na rua, enquanto meus colegas tinham um horrio um pouco mais flexvel: 22 h. Isso gerou um conflito entre papai e eu, e tanto bati o p que ele resolveu me liberar at as 22 h , mas que eu continuei a atravessar de duas trs vezes por semana. Depois de vrias admoestaes e ameaas de no me abrir a porta quando excedesse o horrio, chegou o dia em que isso aconteceu. Ele no s no abriu a porta, como proibiu que algum o fizesse.Minha soluo foi bater porta de meu vizinho e amigo, Chiquinho, que morava com sua tia velha e surda, pois seus pais residiam em uma fazenda e ele viera para a casa da tal tia para freqentar a escola. No dia seguinte, fiquei escondido atrs de um muro, de uma casa prxima nossa, esperando papai sair para trabalhar, e aps faz-lo, cheguei em casa com as roupas em desalinho, amassadas e sujas, os cabelos atrapalhados, os olhos vermelhos(fiquei cerca de meia-hora esfregando-os com as mos), trmulo e relatando uma suposta perseguio, por dois marginais, que me obrigou esconder em um matagal de um terreno baldio, onde passara a noite ao relento. Mame me abraou e chorou. Ordenou-me tomar um banho, lanchar e repousar. Quando papai chegou, trancaram-se em seu quarto e por l permaneceram por quase uma hora. Foi assim que me safei, daquela vez, de mais um castigo e que me possibilitou a promessa de ganhar a chave de casa quando completasse dezesseis anos, mediante um acordo que at l no merecesse mais nenhum castigo e que cumprisse irrepreensivelmente os horrios fixados pelas normas da casa. O que no aconteceu, cuja bendita chave s conquistei aps haver dado baixa do exrcito. Meus atos de rebeldia se manifestavam de muitas outras formas e os conflitos com papai eram freqentes . Ele foi muito duro comigo em diversas ocasies, em outras seu corao amolecia e me passava a mo na cabea, mas jamais perdeu o controle e a autoridade sobre mim. Eu aprontava tanto, que cheguei ao

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    cmulo de perder o ano letivo justamente na ltima srie, do ento, ginasial. Sem maiores cerimnias comuniquei a ele, no incio do ano subseqente, que iria descansar da escola naquele perodo. Pois bem, no outro dia ao retornar do trabalho sentou-me sua frente e me ordenou que procurasse o Sr. Jos do Monte, na Grfica Manchester, de propriedade do mesmo, onde eu iria trabalhar partir do dia seguinte, pois l em casa quem no estivesse estudando teria de trabalhar para pagar a cama, a comida e a roupa lavada. Entre outras determinaes, comunicou que minha semanada estava suspensa at retornar aos estudos e que a minha contribuio para as despesas fora fixada em 70% de minha remunerao na grfica. Isso significava que os 30% com os quais iria ficar representavam menos da metade da somatria mensal de minha semanada, me obrigando a reduzir despesas pessoais e me privando de muitos prazeres do consumismo juvenil. Comecei na grfica como aprendiz de compositor de chapas, que era uma das funes mais especficas e tcnicas da empresa. Com o passar do tempo eu ia sendo despromovido. Passei a impressor, auxiliar de guilhotinista, bloquista, at que um dia , um tal de Sr. Mattos, o gerente do estabelecimento empurrou-me uma bicicleta, daquelas com uma roda menor e uma carregadeira na frente, dizendo -me que a partir daquela data eu iria fazer as entregas de pedidos aos clientes. Eram pacotes e pacotes de impressos, distncias enormes e uma entrega atrs da outra. No fim do dia eu estava exaurido pelo cansao, as pernas doloridas e uma sonolncia to imensa, que mal chegava em casa tomava um banho, jantava e mergulhava na cama, da qual s saia ao amanhecer para voltar quela jornada exaustiva e fatigante, s me restando os domingos para recuperar as energias perdidas. Foi nessa poca que tive o contato direto com a marmita, que levava debaixo do brao para o trabalho, e passei a conhecer a chapa de aquecimento, onde 30 a 40 minutos antes do horrio do almoo os funcionrios as depositavam pra esquentar a bia. Era uma chapa de lato apoiada sobre duas colunas paralelas de tijolos, e que sob a mesma encontravam-se dois tubos galvanizados

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    cheios de furos, acoplados a uma mangueira de plstico, que por sua vez embocava--se em um botijo de gs. Josu, o subgerente, quem controlava a chapa de aquecimento. E, sentado a um canto do ptio externo da grfica, eu devorava a comidinha preparada cuidadosamente por mame, ouvindo as queixas e lamrias dos demais empregados, sobre a falta de dinheiro, as dificuldades em suprir suas necessidades e de suas famlias. Ali, um falava da mulher doente e da dificuldade para obter os medicamentos nos postos de sade, outro falava das prestaes das roupas que comprara e que estavam em atraso, enquanto um outro mais dizia no saber como ia encomendar a confeco dos culos para o filho mais novo, a quem levara ao oftalmologista, filho da patroa de sua esposa, que lhe concedera um desconto na consulta, por caridade. Muitas vezes via alguns deles lacrimejando durante o turno de trabalho e outros sarem ao final do expediente rumo aos botecos para afogarem suas mgoas nos copos de bebidas. Mal acabou agosto, tive uma conversa franca com papai, relatando os fatos por mim vividos e presenciados naquela grfica, informando-lhe que retornaria aos estudos no prximo ano. Mediante essa conversa e minha deciso, ele me autorizou a pedir demisso do emprego e restabeleceu minha semanada, ao mesmo tempo em que programou aulas particulares dirias com ele para reviso das matrias do ano perdido, dedicando-me todas as noites duas horas de acompanhamento e deixando uma carga de exerccios que me ocupavam considervel parte do dia seguinte, cujos exerccios ele corrigia em minha presena na noite imediatamente posterior. Quando dei baixa do exrcito, onde permanecera por dez meses e alguns dias, ele me convidou para tomarmos uma cerveja em um bar perto de nossa casa. Neste dia me contou que minhas despromoes haviam sido combinadas com seu amigo, o dono da grfica, e que a inteno em me empregar naquela estabelecimento era para tomar contato com a verdadeira realidade da vida e adquirir a conscincia que sem estudos o homem fica condicionado a uma situao de dificuldades e privaes. E ainda, neste dia, relatou-me que quando meu

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    irmo mais velho estava prestes a alistar-se no Exrcito Brasileiro, acorrera a um outro amigo seu, um coronel da ativa, intercedendo em favor de facilitar sua dispensa, j que ele, meu irmo, iria cumprir naquele ano o estgio curricular da escola tcnica que estava cursando. Ao mesmo tempo me confidenciou que recorrera ao mesmo amigo, o tal coronel, para que eu fosse incorporado a todo custo, de preferncia em uma unidade onde fosse exigido o mximo rigor de disciplina. E foi assim que fui dar com os meus costados em um regimento de infantaria do Exrcito Brasileiro Hoje, me lembro que amaldioei todos os dias, a cada dia que l dentro passei, acreditando que estava perdendo um ano de minha vida, e somente algum tempo depois passei a agradecer todos os dias em que l permanecera, pois no demorou muito para que eu entendesse o quanto havia ganho por toda a minha existncia, reconhecendo que aquela fora a melhor escola que freqentei em toda a minha vida.

    Papai faleceu aos 70 anos de idade, quando faltava apenas um para comemorar junto mame as suas Bodas de Ouro. Nesse perodo de convvio assistimos, algumas vezes, a uma ou outra discusso por coisas banais. Algumas vezes, um ou outro, ou os dois, de cara fechada, sem se dirigirem a palavra, mas esses perodos de intempries no duravam mais que um dia ou dois. Logo os vamos sorrindo, pronunciando palavras de mtuo carinho e se desdobrando em atenes recprocas. Embora papai se revelasse muito mais temperamental, aquelas pequenas desavenas no nos preocupavam, pois sabamos que tudo era da boca pra fora, no ntimo conhecamos o seu imenso corao e o enorme sentimento que nutria por mame e vice-versa. Mame nos deixou doze anos mais tarde, em um Natal, coincidentemente o nico em que conseguira reunir todos os quatro filhos vivos, pois havamos perdido quatro anos antes o nosso irmo caula. Ela faleceu, repentinamente, devido um infarto quatro dias depois de uma consulta ao cardiologista, que mencionara estar a sua presso arterial assemelhada a de um jovem de 18 anos.

    ramos uma famlia feliz, unida e coesa.

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    Isso ficava evidente nas pocas de festividades, sobretudo Natal, que era divertido e farto. O movimento dos presentes comeava em outubro. Papai fazia tudo com critrio e antecipao, deplorava a mania nacional da ltima hora.. As guloseimas e quitutes natalinos comeavam a ser preparados com quinze dias de antecedncia, iniciando pelas compras, passando pela confeco dos no perecveis como, doces, bombons, compotas, panetones, etc; culminando com um dia antes no preparo dos condimentos e acessrios, para finalmente comearmos a aspirar o aroma dos cozidos e assados que exalavam da cozinha, tentadores. no derradeiro dia. Aos maiores de dezoito anos o vinho era permitido com moderao e aos menores os sucos e refrigerantes. Uma hora antes das badaladas da meia-noite, que sinalizavam o incio da ceia, mame reunia-nos em uma corrente circular a mos dadas em meio sala de visitas, recitava uma mensagem de Natal e dirigia uma orao que repetamos em coro. Imediatamente entovamos em unssono a infalvel e insubstituvel Noite Feliz. Findo este ritual, papai distribua os presentes, abravamos-nos e beijvamos-nos entre desejos mil, aguardando as badaladas para o incio da ceia. Fartvamos-nos entre risos, alegrias e contentamentos. Papai e mame contavam histrias dos Natais de suas infncias, revelando as saudades dos tempos em que se reuniam com seus pais e irmos em igual alegria. Do mesmo modo adentrvamos o Ano Novo, passvamos pela Pscoa, comemorvamos os dias das mes e dos pais, e os aniversrios em famlia.

    Em nossas reunies familiares a msica sempre esteve presente, ora pelos clssicos, ora pelas romnticas serestas, vezes outra pelo samba ou pelo chorinho, tudo dependendo do momento ou da poca. E, quando manifestaes musicais como o rock, o twist e o ch-ch-ch comearam a fazer sucesso nas paradas musicais, papai deu a cada um de ns o equivalente ao preo comercial de cinco LP's (os antigos LP's de vinil) para que nossa livre escolha adquirssemos as msicas de nossas preferncias. E foi assim que Elvis Presley, Bill

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    Halley, Neal Sedaka, Beatles, Rolling Stones, Chubby Checker, Little Richard, Ritchie Vallens, Celli Campelo, Ronnie Cord e tantos outros adentraram-se ao nosso lar misturando-se Beethoven, Bach, Tchaikovsky, Chopin, Nat King Cole, Frank Sinatra, Ray Conniff, Paul Muriat, Connie Francis, Bert Kaempfert, Maysa Matarazzo, Nelson Gonalves, Slvio Caldas, Orlando Silva, entre tantos outros, tornando o nosso acervo musical em um dos mais variados e eclticos de nossa rua e bairro, dando-nos tambm a certeza que as opes de escolhas em nosso lar eram respeitadas e que a liberdade de opinio era um valor que se prezava em casa.

    Naquela poca eram muito comuns as comemoraes caseiras de aniversrios, para as quais se convidavam parentes, amigos, vizinhos e colegas de escola, e jamais algum que no fosse convidado comparecia. A figura do penetra inexistia. Caso houvesse algum primo ou amigo em visita casa de algum convidado, a autorizao para lev-lo era quase uma exigncia irrestrita. Ningum se comportava mal, no se destruam pertences da residncia do aniversariante e o respeito entre anfitries e convidados era irrepreensvel. cada festinha em nossa rua ou em rua prxima a nossa casa, uma das primeiras providncias a serem tomadas era o emprstimo de vrios de nossos discos, que retornavam absolutamente, um a um, sem arranhes e com suas capas intactas. Eram nessas festinhas que surgiam os primeiros flertes, o danar de rostos colados e os primeiros pegar na mo. O primeiro beijo viria depois de algum tempo, ou no escurinho do cinema ou frente ao porto da pretendida. Eu sou do tempo em que quando um homem dizia para uma mulher que queria ficar com ela, subentendia-se FICAR PARA SEMPRE, que a conquista de um corao se dava por valores muito mais significativos do que os materiais e amar era entregar a alma, jamais o sinnimo de uma mera transa.

    Acredito que esse processo de inverso de valores e referenciais humanos so o resultado de uma somatria de fatos e acontecimentos que incidiram sobre o ambiente familiar. O desenvolvimento feminino que cada vez

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    mais reduziu o tempo de permanncia da mulher em suas funes domsticas, lhe concedeu a desvinculao da submisso e das relaes de dependncia ao marido. A forma desorganizada como as geraes dos anos 60 e 70 lutaram e conquistaram mudanas, sem diretrizes bem definidas e sem o devido controle e estabelecimento de limites. Os avanos tecnolgicos e a forma como eles foram colocados disponibilidade da sociedade, sobretudo da juventude. Essas evolues cientficas acabaram por substituir a participao dos pais, pela falta de tempo para o convvio familiar em razo dos compromissos profissionais e da luta pela sobrevivncia em um pas marcado pelos desajustes e desequilbrios scio-poltico-econmicos, mecanizando em demasia os jovens em formao, subtraindo-lhes o desenvolvimento de valores e referenciais dentro de um processo natural associado sensibilidade. Nesta era de informtica, quando o homem dispe de um universo virtual sua inteira disposio, fico me perguntando para onde ele caminhar. s vezes me preocupo, pois percebo que quanto mais avana a tecnologia, mais retrocede a sensibilidade. A, aprofundo-me nas divagaes e questionamentos. Em alguns momentos chego a pensar o quanto me foi benfico ter vindo ao mundo na era do rdio de vlvulas, da velha vitrola d e bolachas de 78 RPM e sem TV. Enquanto a TV ganhava o mundo, aquela de seletor de canais rotativo, em P&B e vlvulas, eu brincava de cabra cega, pique bandeira, soltava pipas e nadava pelado nas lagoas e regatos. Enquanto o rdio de vlvulas era substitudo pelo rdio de placas eletrnicas, eu ia ao circo ver os palhaos, malabaristas e bailarinas; ao parque de diverses andar de roda gigante, trem fantasma e montanha russa; e s quermesses das igrejas, jogar argolas, atirar ao alvo e bolas de meia nas pirmides de latas. E, enquanto as antigas vitrolas davam lugar s eletrolas de discos de vinil em 33.1/2 RPM, com doze ou mais faixas, eu roubava beijinhos no escurinho do cinema, caminhava de mos dadas em volta das pracinhas e corria deliciosamente os olhos por sobre os livros, suspirando e deleitando-me em romances, dramas, fices,

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    histrias e poemas. Sim, corri pelos matos, subi em rvores, bati peladas, brinquei de roda, pulei fogueiras. Fiz serenatas, contei e recontei estrelas. Despertei sentimentos e os nutri tambm, apaixonadamente, enquanto o mundo minha volta ingressava e avanava na era da eletrnica e, posteriormente, da informtica. Quando comecei a acessar gradativamente os benefcios gerados pela escalada da tecnologia, estava enraizado e arraigado pelas emoes, fisgadas e instaladas pela inigualvel construtora da alma, a sensibilidade. Vieram tantas evolues e as alcancei com essa alma lapidada e esse corao transbordando sensaes. Por isso acho que preciso fazer o homem entender que jamais desassocie a sensibilidade da inteligncia, a emoo da tecnologia. Que antes de aprofundar seus filhos no mundo mecnico e eletrnico , deva conduzi-los pelo infinito da alma, pelos caminhos das artes e pelo traado dos livros, aos sons das batidas do corao, carcia dos ventos soprados ao rosto nas manhs iluminadas, to generosamente ofertadas pela natureza. Quando deixei para trs minha cidade, em busca de meu espao profissional em outra que me oferecia condies para tal, os anos 70 estavam s portas. Lembro-me que da minha turma de bairro, que era o mais populoso da cidade, daquela parte adjacente rua onde morava, conviviam com assiduidade cerca de duzentos ou mais adolescentes, entre moas e rapazes. Deste universo somente o Henriquinho, cuja me ficara viva prematuramente e vivia com um amante, um sujeito bomio e beberro, que durante o dia perambulava pelos bares do bairro e noite a espancava sistematicamente; e o Alberto, filho de uma mulher desquitada, cujo amante era um caminhoneiro, que aparecia quando muito dois finais de semana por ms; no pertenciam a famlias constitudas pela estrutura do casamento e do convvio regular que este propiciava. Hoje, em um universo de mesmas propores,o nmero de adolescentes dentro desta mesma condio de estrutura familiar esto em significativa menor quantidade e aqueles que vivem fora do lar estruturado e regularmente constitudo esto em quantidade muito maior.

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    Naqueles tempos, quando ainda no havia o divrcio, a mulher desquitada era vista com maus olhos, discriminada e ridicularizada. A que se aventurava a ter um amante, essa ento era uma sacrlega. O homossexualismo existia, mas feroz e igualmente discriminado, dentro de uma discrio quase que absoluta. E foram contra esses tipos de tabus e preconceitos, que a minha gerao se lanou em protesto e buscou desmistificar, mas em contra partida no soube estabelecer limites para a liberdade de conquistas alcanadas e o resultado essa degenerao em que estamos mergulhados. Entre as reivindicaes dos adolescentes daquela poca, uma das mais enfatizadas era o estabelecimento do dilogo franco e aberto entre pais e filhos, mas o que era para ser construtivo e esclarecedor, acabou por se tornar um conflito de difcil soluo e voltou a ser unilateral, s que da forma inversa. Hoje os filhos se interpem aos pais, ditam as regras, se opem aos seus conselhos e orientaes, agem por conta prpria e os julgam uns ignorantes que nada sabem, desprezando suas experincias e conhecimentos. Foi da que surgiram novos termos como babaca, CDF, man e tantos outros depreciativos. E agir com sensatez, exercer preceitos de moral elevada, praticar uma conduta tica e cumprir irrepreensivelmente com deveres e obrigaes passou a ser vergonhoso, garantir rtulos inusitados e alijar muitos jovens do convvio com os grupinhos e rodas dos pseudo-pretensos espertos, os massas, os legais.

    Esses massas e/ou legais, que pensam que tudo sabem, mas na realidade sabem muito pouco, no curso dos ltimos 25 a 30 anos acabaram por constituir uma considervel parte da sociedade brasileira mal formada e mal informada, mergulhada no obscurantismo, e resultaram em uma enorme frao desta mesma sociedade sem a devida capacidade de organizao, participao e interveno no contexto scio-poltico-econmico do Pas. Compem, certamente, uma grande parte dos desempregados, igualmente de uma sociedade cuja distribuio de rendas e riquezas altamente

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    desequilibrada e desproporcional, amargando uma carga tributria elevadssima, cujo retorno infinitamente aqum contribuio em segurana, educao e sade. Assiste inerte e impotente a uma administrao pblica incompetente e corrupta, e ao crescimento acelerado e progressivo da criminalidade e violncia, das quais potencial vtima e nem mesmo tem a conscincia e a exata dimenso de que indiretamente o agente desse quadro insuportvel e absurdo. Provavelmente, os babacas, os CDFs e os mans, sejam a minoria que conquistou melhores condies no contexto scio-econmico, mas que se encontra penalizada pelos efeitos ocasionados, em primeiro lugar pela incapacidade geral de organizao da sociedade, e em segundo lugar porque ser honesto, digno e honrado neste Pas, confere muito mais desmerecimentos do que merecimentos.

    Evidentemente, que os resultados dessa condio catica e assustadora que vive a Nao, no advm total e absolutamente da decadncia da base educacional familiar. Existem outras razes, mas a fragilizao desse referencial certamente contribuiu significativamente. Por isso, estou levantando essa discusso, dando este depoimento pessoal e colocando em evidncia a minha crtica. Em seguida estou colhendo depoimentos de profissionais especializados e outros, de pais das mais variadas condies scio-econmicas e conjugais, bem como de jovens universitrios, do ensino mdio e fundamental, para que procedam suas anlises, dem seus depoimentos, opinem, sugiram, participem. O objetivo colocar o tema em discusso, com a expectativa de tirar concluses que permitam, quem sabe, definir diretrizes capazes de estabelecerem um projeto eficaz e orientador para a reintegrao deste elo ao contexto social nacional. Dentro de novos moldes, que seja, pois os tempos mudaram, a realidade do mundo mudou, o Pas mudou, os costumes mudaram, valores mudaram, e o intuito no criar leis e normas, mas gerar um processo de conscientizao.

    Nas prximas partes constaro os

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    depoimentos, anlises e opinies de pessoas que se predispuseram a dar sua colaborao, para que sejam igualmente analisadas e discutidas, permitindo uma evoluo do processo e a formao de uma corrente nacional sobre o tema, talvez um primeiro passo para a reconstituio e reintegrao desse ELO PERDIDO.

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    PARTE 2

    O QUE ERA PRA SER Nesta gesto de conflitos, o pior no a imaturidade em lidar com os conflitos, mas a tentativa de sufoc-los. (Renata Corra de Almeida Sociloga brasileira)

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    PARTE 2 O QUE ERA PARA SER Evidentemente, que os resultados dessa condio catica e assustadora que vive a Nao, no advm total e absolutamente da decadncia da base educacional familiar. Existem outras razes, mas a fragilizao desse referencial certamente contribuiu significativamente.

    Era meu objetivo levantar essa discusso, dando este depoimento pessoal e colocando em evidncia a minha crtica. Em seguida colheria depoimentos de profissionais especializados e outros; de pais das mais variadas condies scio-econmicas e conjugais; bem como de jovens universitrios, do ensino mdio e fundamental; para que procedessem suas anlises, dessem seus depoimentos, opinassem, sugerissem, participassem. O objetivo era colocar o tema em discusso, com a expectativa de tirar concluses que permitissem, quem sabe, definir diretrizes capazes de estabelecerem um projeto eficaz e orientador para a reintegrao deste elo ao contexto social nacional. Dentro de novos moldes, que seja, pois os tempos mudaram, a realidade do mundo mudou, o Pas mudou, os costumes mudaram, valores mudaram, e o intuito no criar leis e normas, mas gerar um processo de conscientizao.

    Entretanto, quando comecei a buscar esses depoimentos, deparei-me com situaes das mais variadas formas. Muitos entenderam o objetivo e se predispuseram a colaborar emitindo pareceres conforme sua anlise e viso do proposto. Contudo, houve muita gente que fez questionamentos das mais variadas formas, muitas delas surpreendentes. Posso destacar:

    1) Aqueles que demonstraram um enorme receio em opinar, muito mais por insegurana pessoal que qualquer outra coisa.

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    2) Aqueles que demonstraram um grande receio em opinar pela posio que ocupam no cenrio educacional, temendo represlias por parte daqueles a quem direta ou indiretamente esto subordinados.

    3) Aqueles que discordaram absolutamente com a minha proposio e abordagem, e que no entenderam que discordar tambm fazia parte do processo e forneceria elementos importantssimos para as devidas reflexes e discusses sobre o assunto, enriqueceria a temtica. Acredito que a existe um misto de insegurana tambm com a prpria posio.

    4) Aqueles conservadores tradicionalistas que esto acomodados em posies que lhes propiciam uma pequena parcela de poder(chamados tambm de pequenas autoridades) e tm um verdadeiro pavor de mudanas, acreditando que elas ameaam a sua posio.

    5) Aqueles comprometidos com o poder constitudo e que sabem que a manuteno desse obscurantismo nacional lhes permite cmoda ocupao desse espao dentro do poder, e que manter a Nao nessa condio propcio aos seus anseios.

    Bem, eu no queria abrir mos do meu objetivo e tive que mudar o projeto deste livro, pois acredito que esse ELO PERDIDO um fator de enorme responsabilidade no processo de inverso de valores a que a sociedade brasileira est acometida, dificulta o processo educacional escolar e tem gerado uma sociedade cada vez mais destituda do suficiente conhecimento para o exerccio da vida e da cidadania dentro de padres morais e ticos irrepreensveis.

    Portanto, tomei a deciso de mudar a dinmica de abordagem, buscando outros artifcios que passo a discorrer, acrescentando que tenho recebido inmeras crticas, sendo rotulado de reacionrio e sofrendo um descaso bastante acentuado. Contudo, estou decidido a prosseguir no vou me

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    render sob hiptese alguma, convicto de que estou no caminho certo, e o simples fato de perceber que estou incomodando j me d essa certeza, assim como inmeras opinies favorveis me motivam acentuadamente. Outrossim, firmo-me na minha prpria conscincia que tentei contribuir para a busca de novos caminhos para a Nao.

    Aqueles que no admitem que profissionais de outra rea que no seja a educacional opinem a respeito do assunto, deveriam refletir que eu como todo e qualquer cidado passou por vrias escolas e viveu o processo educacional, portanto, mesmo que desconhea as tcnicas e as teorias decorrentes, vivenciou o processo, participou efetivamente do mesmo. Talvez no domine a terminologia referente metodologias de ensino, mas identificou os benefcios e as deficincias da aplicao na vida prtica daquilo que a escola lhe forneceu, e o percebe de maneira geral na sociedade da qual faz parte. Acrescento, inclusive, que a vida constituda de vrias outras escolas alm da institucional, e que muitas delas ensinam muito mais e servem como referenciais anlogos, citando a prpria vida como uma dessas escolas.

    Gostaria de chamar a ateno para alguns aspectos interessantes, pois em meu livro O AMOR QUE FICOU, onde proponho a adoo de um novo modelo educacional para o Pas, mesmo que enfatizasse no prprio livro que minha proposta se referia a modelo educacional e no metodologia de ensino, percebi em comentrios de algumas pessoas que muitos no estavam diferenciando adequadamente uma coisa da outra, portanto vou apresentar abaixo algumas definies importantes para ao acompanhamento adequado de minha exposio:

    Processo:

    Um processo um ambiente de execuo que consiste em um segmento de instrues.

    Sistema

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    Um sistema um conjunto de elementos diferentes com atributos e funes especficas que podem interagir entre eles e com ambiente externo, em forma organizada.

    Modelo

    um referencial, um padro a ser seguido.

    Metodologia

    A Metodologia o estudo dos mtodos. Ou ento as etapas a seguir num determinado processo. Tem como finalidade captar e analisar as caractersticas dos vrios mtodos disponveis, avaliar suas capacidades, potencialidades, limitaes ou distores e criticar os pressupostos ou as implicaes de sua utilizao. Alm de ser uma disciplina que estuda os mtodos, a metodologia tambm considerada uma forma de conduzir a pesquisa ou um conjunto de regras para ensino de cincia e arte.

    Portanto, quando eu me referir a processo, sistema, metodologia e modelo dentro do sentido acima definido.

    Dentre as opinies contrrias ao tema deste livro, encontra-se a de um psiclogo que ao ler a primeira parte do mesmo que era o referencial para que se dessem os pareceres, negou-se veementemente a emitir o seu, bem como demonstrou sua enorme insatisfao sobre a proposta do tema aludindo de forma grosseira que no compactuava com o autoritarismo e que no iria participar de um retrocesso da conquista duramente alcanada pela sociedade brasileira nas relaes familiares. E, mesmo que eu explicasse que pareceres contrrios devidamente argumentados enriqueceriam a anlise e a discusso, o mesmo continuou negando sua participao de forma acentuadamente hostil.

    No me cabe aqui apontar nomes de pessoas, e no

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    o farei, nem nesse caso ou outro qualquer a que me refira, mas apenas dar o devido enfoque ao fato, reservando-me apenas o direito de fazer meu comentrio sobre o mesmo. E, nesse caso , tenho a comentar que quando discordo de uma coisa eu apresento, clara e explicitamente, os argumentos que me levam a esta posio, o que no foi o caso deste profissional, que com essa atitude intempestiva demonstrou que nem ele prprio tinha certeza de sua posio, caso contrrio a teria defendido com argumentaes convincentes em um relato oficial. E acrescento ainda que, existem bons e maus profissionais em todas as categorias e que uma opinio isolada no representa a de todos os profissionais de uma mesma rea, como veremos mais adiante nas abordagens seguintes.

    O que era pra ser est sendo substitudo por depoimentos dados atravs de textos publicado amplamente ou enunciados por personalidades vrias em conferncias, simpsios ou similares, e que retratam opinies que servem como referenciais de anlises, reflexes e discusses sobre a tema principal deste livro, a Educao Familiar, sua importncia e funo dentro da sociedade.

    Estou acrescentando esse material com a devida referncia de autoria, seja no corpo do texto ou no rodap das

    pginas onde esto sendo retratados.

    LIMITES

    Texto de Mnica Monastrio Madrid/Espanha

    Somos a primeira gerao de pais decididos a no repetir com os filhos os mesmos erros de nossos progenitores. E com esforo abolimos os abusos do passado. Somos os pais mais dedicados e compreensivos. Mas, por outro lado, os mais bobos e inseguros que houve na histria. O grave que estamos lidando com crianas mais espertas, ousadas e mais poderosas do que nunca!

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    Parece que em nossa tentativa de sermos os pais que queramos ser, passamos de um extremo ao outro. Assim, somos a ltima gerao de filhos que obedeceram a seus pais e a primeira gerao de pais que obedecem a seus filhos. Os ltimos que tivemos medo dos pais e os primeiros que tememos os filhos. Os ltimos que cresceram sob o mando dos pais e os primeiros que vivem sobe o julgo dos filhos. E, o que pior, os ltimos que respeitamos os nossos pais e os primeiros que aceitamos que nossos filhos os faltem ao respeito. medida que o permissvel, substituiu o autoritarismo, os termos das relaes familiares mudou de forma radical para o bem e para o mal. Com efeito, antes se considerava um bom pai, aquele cujos filhos se comportavam bem, e os tratavam com o devido respeito. E, bons filhos, as crianas que eram formais, e veneravam seus pais, mas medida em que as fronteiras hierrquicas entre ns e nossos filhos foram se desvanecendo, Hoje, os bons pais so aqueles que conseguem que seus filhos os amem, ainda que pouco os respeitem. E so os filhos, quem agora, esperam respeito de seus pais, pretendendo de tal maneira que respeitem as suas idias, seus gostos, suas preferncias e sua forma de agir e viver. E que alm disso, os patrocinem no que manifestam para tal fim. Quer dizer, os papis se inverteram, agora so os pais que tm que agradar a seus filhos para ganh-los e no o inverso como no passado. Isto explica o esforo que fazem tantos pais e mes para serem os melhores amigos e darem tudo a seus filhos. Dizem que os extremos se atraem. Se o autoritarismo do passado encheu os filhos de medo de seus pais, a debilidade do presente preenche-os de medo e menosprezo ao nos verem to dbeis e perdidos como eles. Os filhos precisam perceber que durante a infncia estamos frente sua vidas, como lderes capazes de sujeit-los quando no os podemos conter e de gui-los enquanto no sabem para onde vo. assim que evitaremos que as novas geraes se afoguem no

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    descontrole e tdio no qual est afundando uma sociedade que parece ir deriva, sem parmetros nem destino. Se o autoritarismo suplanta, o permissvel sufoca . Apenas uma atitude firme, respeitosa, lhes permitir confiar em nossa idoneidade para governar suas vidas enquanto forem menores, porque vamos frente liderando-os e no atrs, carregando-os rendidos s suas vontades. Os limites abrigam o indivduo com amor ilimitado e profundo respeito.

    FILHOS IAMI TIBA

    Palestra ministrada pelo mdico psiquiatra Dr. Iami Tiba, em Curitiba, 23/07/09. Em pesquisa realizada em maro de 2006, pelo IBOPE, os entrevistados colocaram o Dr. Iami Tiba como terceiro autor de referncia e admirao.

    1- lugar: Sigmund Freud

    2- lugar: Gustav Jung

    3- Lugar: Iami Tiba

    1. A educao no pode ser delegada escola. Aluno transitrio. Filho para sempre. 2. O quarto no lugar para fazer criana cumprir castigo. No se pode castigar com internet, som, tv, etc... 3. Educar significa punir as condutas derivadas de um comportamento errneo. Queimou ndio patax, a pena (condenao judicial) deve ser passar o dia todo em hospital de queimados. 4. preciso confrontar o que o filho conta com a verdade real. Se falar que professor o xingou, tem que ir at a escola e ouvir

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    o outro lado, alm das testemunhas. 5. Informao diferente de conhecimento. O ato de conhecer vem aps o ato de ser informado de alguma coisa. No so todos que conhecem. Conhecer camisinha e no usar significa que no se tem o conhecimento da preveno que a camisinha proporciona. 6. A autoridade deve ser compartilhada entre os pais. Ambos devem mandar. No podem sucumbir aos desejos da criana. Criana no quer comer? Ento a criana deve aguardar at a prxima refeio que a famlia far. A criana no pode alterar as regras da casa. A me NO PODE interferir nas regras ditadas pelo pai (e nas punies tambm) e vice-versa. Se o pai determinar que no haver um passeio, a me no pode interferir. Tem que respeitar sob pena de criar um delinqente. 7. A criana deve ser capaz de explicar aos pais a matria que estudou e na qual ser testada. No pode simplesmente repetir, decorado. Tem que entender. 8. preciso transmitir aos filhos a idia de que temos de produzir o mximo que podemos. Isto porque na vida no podemos aceitar a mdia exigida pelo colgio: no podemos dar 70% de ns, ou seja, no podemos tirar 7,0. 9. Se o pai ficar nervoso porque o filho aprontou alguma coisa, no deve alterar a voz. Deve dizer que est nervoso e, por isso, no quer discusso at ficar calmo. A calmaria, deve o pai dizer, vir em 2, 3, 4 dias. Enquanto isso, o videogame, as sadas, a balada, ficaro suspensas, at ele se acalmar e aplicar o devido castigo. 10. Se o filho no aprendeu ganhando, tem que aprender perdendo. 11. No pode prometer presente pelo sucesso que sua obrigao. Tirar nota boa obrigao. No xingar avs

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    obrigao. Ser polido obrigao. Passar no vestibular obrigao. Se ganhou o carro aps o vestibular, ele o perder se for mal na faculdade. 12. Se a me engolir sapos do filho, ele pensar que a sociedade ter que engolir tambm. 13. Videogames so um perigo: os pais tm que explicar como a realidade, mostrar que na vida real no existem 'vidas' e sim uma nica vida. No d para morrer e reviver. No d para apostar tudo, apertar o boto e zerar a dvida. 14. O erro mais freqente na educao do filho coloc-lo no topo da casa. O filho no pode ser a razo de viver de um casal. O filho um dos elementos. O casal tem que deix-lo, no mximo, no mesmo nvel que eles. A sociedade pagar o preo quando algum educado achando-se o centro do universo. 15. Filhos drogados so aqueles que sempre estiveram no topo da famlia. 16. Cair na conversa do filho criar um marginal. Filho no pode dar palpite em coisa de adulto. Se ele quiser opinar sobre qual deve ser a geladeira, ter que mostrar qual o consumo (kwh) da que ele indicar. Se quiser dizer como deve ser a nova casa, tem que dizer quanto isso (seus supostos luxos) incrementar o gasto final. 17. Dinheiro 'a rodo' para o filho prejudicial. Mesmo que os

    pais o tenham, precisam controlar e ensinar a gastar. CAZUZA FILME Texto de Karla Christine, psicloga clnica aps assistir o filme CAZUZA 'Fui ver o filme Cazuza h alguns dias e me

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    depare i com uma coisa estarrecedora. As pessoas esto cultivando dolos errados. Como podemos cultivar um dolo como Cazuza? Concordo que suas letras so muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, , no mnimo, inadmissvel. Marginal, sim, pois Cazuza foi uma pessoa que viveu margem da sociedade, pelo menos uma sociedade que tentamos construir (ao menos eu) com conceitos de certo e errado. No filme, vi um rapaz mimado, filhinho de papai que nunca precisou trabalhar para conseguir nada, j tinha tudo nas mos. A me vivia para satisfazer as suas vontades e loucuras. O pai preferiu se afastar das suas responsabilidades e deixou a vida correr solta. So esses pais que devemos ter como exemplo? Cazuza s comeou a gravar porque o pai era diretor de uma grande gravadora... Existem vrios talentos que no so revelados por falta de oportunidade ou por no terem algum conhecido importante. Cazuza era um traficante, como sua me revela no livro, admitiu que ele trouxe drogas da Inglaterra, um verdadeiro criminoso. Concordo com o juiz Siro Darlan quando ele diz que a nica diferena entre Cazuza e Fernandinho Beira-Mar que um nasceu na zona sul e outro no. Fiquei horrorizada com o culto que fizeram a esse rapaz, principalmente por minha filha adolescente ter visto o filme. Precisei conversar muito para que ela no comeasse a pensar que usar drogas, participar de bacanais, beber at cair e outras coisas, fossem certas, j que foi isso que o filme mostrou. Porque no so feitos filmes de pessoas realmente importantes que tenham algo de bom para essa juventude j

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    to transviada? Ser que ser correto no d Ibope, no rende bilheteria? Como ensina o comercial da Fiat, precisamos rever nossos conceitos, s assim teremos um mundo melhor. Devo lembrar aos pais que a morte de Cazuza foi conseqncia da educao errnea a que foi submetido. Ser que Cazuza teria morrido do mesmo jeito se tivesse tido pais que dissessem NO quando necessrio? Lembrem-se, dizer NO a prova mais difcil de amor. No deixem seus filhos revelia para que no precisem se arrepender mais tarde. A principal funo dos pais educar.. No se preocupem em ser 'amigos' de seus filhos. Eduque-os e mais tarde eles vero que voc foi a pessoa que mais os amou e foi, , e sempre ser, o seu melhor amigo, pois amigo no diz SIM sempre.'

    BILL GATES Conselhos dados por Bill Gates em uma conferncia Aqui esto alguns conselhos que Bill Gates recentemente ditou em uma conferncia em uma escola secundria sobre 11 coisas que estudantes no aprenderiam em uma escola. Ele fala sobre com o a poltica educacional de vida fcil para as crianas tem criado uma gerao sem conceito de realidade, e como essa poltica tem levado as pessoas a falharem em suas vidas posteriores escola. Muito conciso, todos esperavam quem ele fosse fazer um discurso de uma hora ou mais, ele falou por 5 minutos, foi aplaudido por mais de 10 minutos sem parar, agradeceu e foi embora em seu helicptero a jato. Regra 1: A vida no fcil, acostume-se com isso.

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    Regra 2: O mundo no est preocupado com sua auto-estima. O mundo espera que voc faa alguma coisa til por ele ANTES de sentir-se bem com voc mesmo. Regra 3: Voc no ganhar R$ 20.000,00 por ms assim que sair da escola. Voc no ser vice-presidente de uma empresa, com telefone disposio, antes que voc tenha conseguido comprar o seu prprio carro e telefone. Regra 4: Se voc achaque seu professor rude, espere at ter um Chefe. Ele no ter pena de voc. Regra 5: Vender jornais velhos ou trabalhar durante as frias no est abaixo de sua posio social. Seus avs tm uma palavra diferente para isso: eles chamam de oportunidade. Regra 6: Se voc fracassar no culpa de seus pais. Ento no lamente seus erros, aprenda com eles. Regra 7: Antes de voc nascer, seus pais no eram crticos como agora. Eles s ficaram assim por pagar suas contas, lavar suas roupas e ouvir voc dizer que eles so ridculos. Ento antes de salvar o planeta para a prxima gerao querendo consertar os erros da gerao de seus pais, tente limpar o seu prprio quarto. Regra 8: Sua escola pode ter eliminado a distino entre vencedores e perdedores, mas a vida no assim, em algumas escolas voc no repete mais de ano e tem quantas chances precisar at acertar. Isto no se parece absolutamente com NADA na vida real. Se pisar na bola, est despedido, RUA!!! Faa certo da primeira vez. Regra 9: A vida no dividida em semestres. Voc no ter os veres livres e pouco provvel que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no final de cada perodo.

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    Regra 10: Televiso NO vida real. Na vida real, as pessoas tm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar. Regra 11: Seja legal com os CDFs (aqueles estudantes que os demais julgam uns babacas). Existe uma grande probabilidade de voc vir a trabalhar PARA um deles.

    BILL GATES Dono da maior fortuna pessoal do mundo, e da Microsoft, a nica empresa que enfrentou e venceu a Big Blue (IBM) desde a sua fundao em meados de 1900... A empresa que construiu o primeiro Crebro Eletrnico (computador) do mundo. UMA BREVE AULA DE SELEO DE PESSOAL. (ANNIMO) Um jovem de nvel acadmico excelente, candidatou-se posio de gerente de uma grande empresa. Passou a primeira entrevista e o diretor fez a ltima entrevista e tomou a ltima deciso.

    O diretor descobriu atravs do currculo que as suas realizaes acadmicas eram excelentes em todo o percurso, desde o secundrio at pesquisa da ps-graduao e no havia um ano em que no tivesse pontuado com nota mxima.

    O diretor perguntou, "Tiveste alguma bolsa na escola?" o jovem respondeu, "nenhuma".

    O diretor perguntou, "Foi o teu pai que pagou as tuas mensalidades ?"

    o jovem respondeu, "O meu pai faleceu quando tinha apenas um ano, foi a minha me quem pagou as minhas mensalidades."

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    O diretor perguntou, "Onde trabalha a tua me?" e o jovem respondeu,

    "A minha me lava roupa."

    O diretor pediu que o jovem lhe mostrasse as suas mos. O jovem mostrou um par de mos macias e perfeitas.

    O diretor perguntou, "Alguma vez ajudaste a tua me a lavar as roupas?", o jovem respondeu, "Nunca, a minha me sempre quis que eu estudasse e lesse mais livros. Alm disso, a minha me lava a roupa mais depressa do que eu."

    O diretor disse, "Eu tenho um pedido. Hoje, quando voltares, vais e limpas as mos da tua me, e depois vens ver-me amanh de manh."

    O jovem sentiu que a hiptese de obter o emprego era alta. Quando chegou a casa, pediu feliz me que o deixasse limpar as suas mos. A me achou estranho, estava feliz, mas com um misto de sentimentos e mostrou as suas mos ao filho.

    O jovem limpou lentamente as mos da me. Uma lgrima escorreu-lhe enquanto o fazia. Era a primeira vez que reparava que as mos da me estavam muito enrugadas, e havia demasiadas contuses nas suas mos.

    Algumas eram to dolorosas que a me se queixava quando limpas com gua.

    Esta era a primeira vez que o jovem percebia que este par de mos que lavavam roupa todo o dia tinham-lhe pago as mensalidades. As contuses nas mos da me eram o preo a pagar pela sua graduao, excelncia acadmica e o seu futuro.

    Aps acabar de limpar as mos da me, o jovem silenciosamente lavou as restantes roupas pela sua me.

    Nessa noite, me e filho falaram por um longo tempo.

  • 43

    Na manh seguinte, o jovem foi ao gabinete do diretor.

    O diretor percebeu as lgrimas nos o lhos do jovem e perguntou,

    "Diz-me, o que fizeste e aprendeste ontem em tua casa?"

    O jovem respondeu, "Eu limpei as mos da minha me, e ainda acabei

    de lavar as roupas que sobraram."

    O diretor pediu, "Por favor diz-me o que sentiste."

    O jovem disse "Primeiro, agora sei o que dar valor. Sem a minha

    me, no haveria um eu com sucesso hoje. Segundo, ao trabalhar e

    ajudar a minha me, s agora percebi a dificuldade e dureza que ter algo pronto. Em terceiro, agora aprecio a importncia e valor de uma relao familiar."

    O diretor disse, "Isto o que eu procuro para um gerente. Eu quero recrutar algum que saiba apreciar a ajuda dos outros, uma pessoa que conhea o sofrimento dos outros para terem as coisas feitas, e uma pessoa que no coloque o dinheiro como o seu nico objetivo na vida.

    Ests contratado."

    Mais tarde, este jovem trabalhou arduamente e recebeu o respeito dos seus subordinados. Todos os empregados trabalhavam diligentemente e como equipe. O desempenho da empresa melhorou tremendamente.

    Uma criana que foi protegida e teve habitualmente tudo o que quis, vai desenvolver- se mentalmente e vai sempre colocar-se em primeiro.

  • 44

    Vai ignorar os esforos dos seus pais, e quando comear a trabalhar,

    vai assumir que toda a gente o deve ouvir e quando se tornar gerente,nunca vai saber o sofrimento dos seus empregados e vais sempre culpar os outros. Para este tipo de pessoas, que podem ser boas academicamente, podem ser bem sucedidas por um bocado, mas eventualmente no vo sentir a sensao de objetivo atingido. Vo resmungar, estar cheios de dio e lutar por mais. Se somos esse tipo de pais, estamos realmente a mostrar amor ou estamos a destruir o nosso filho?

    Pode deixar o seu filho viver numa grande casa, comer boas refeies, aprender piano e ver televiso num grande plasma. Mas quando cortar a relva, por favor deixe-o experienciar isso. Depois da refeio, deixe-o lavar o seu prato juntamente com os seus irmos e irms. Isto no porque no tem dinheiro para contratar uma empregada, mas porque o quer amar como deve de ser. Quer que ele entenda que no interessa o quo ricos os seus pais so, um dia ele vai envelhecer, tal como a me daquele jovem.

    A coisa mais importante que os seus filhos devem entender a apreciar o esforo e experincia da dificuldade e aprendizagem da habilidade de trabalhar com os outros para fazer as coisas.

    Quais so as pessoas que ficaram com mos enrugadas por mim?

    O valor de nossos pais...

    "Quando o mundo diz, 'Desista', a esperana sussurra, 'Tente uma vez mais'." (Annimo extrado da Internet onde foi amplamente divulgado)

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    TENHO VERGONHA DE MIM Poema de Cleide Canton, professora e poetisa, amplamente divulgado na Internet Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justia, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo j chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra. Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vcios, a ausncia da sensatez no julgamento da verdade, a negligncia com a famlia, clula-mater da sociedade, a demasiada preocupao com o eu feliz a qualquer custo, buscando a tal felicidade em caminhos eivados de desrespeito para com o seu prximo. Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos floreios para justificar atos criminosos, a tanta relutncia em esquecer a antiga posio de sempre contestar, voltar atrs e mudar o futuro. Tenho vergonha de mim pois fao parte de um povo que no reconheo, enveredando por caminhos que no quero percorrer Tenho vergonha da minha impotncia, da minha falta de garra, das minhas desiluses e do meu cansao. No tenho para onde ir pois amo este meu cho, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestao de nacionalidade. Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro !

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    MATRIAS JORNALSTICAS Matria publicada no Jornal SUPER NOTCIAS/BH 27/06/2007

    FALTA LIMITE Na manh do ltimo sbado, a empregada domstica Sirlei Dias Carvalho, de 32 anos, foi assaltada e covardemente agredida, inclusive com pontaps na cabea, num ponto de nibus na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O crime chamou ateno principalmente pelo perfil dos agressores: cinco jovens de classe mdia,sendo quatro universitrios. Mas o que faz pessoas que tm acesso educao e sade de qualidade cometerem um crime brutal? Para especialistas a falta de limites impostos pelos pais e at a certeza da impunidade podem ser a resposta pergunta. Ludovico Carvalho, pai de Rubens Arruda, de 19 anos, disse anteontem que considera o filho uma criana. Para especialistas, ele pode estar perpetuando a falta de limites, que provavelmente no soube impor ao filho. A funo do pai basicamente orientar e limitar os excessos. Este pai no est vendo o filho como uma pessoa capaz de conviver, analisou Maria Jos Gontijo Salum, psicanalista e membro do Instituto da Criana e Adolescente (ICA) da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais (PUC Minas). Na avaliao de Mrcia Stengel, psicloga e especialista me adolescncia, se os jovens no encontrarem punio na famlia, devem encontrar na lei. MARCOS DPAULA/AGNCIA O ESTADO 24/06/2007

  • 47

    Matria publicada no Jornal SUPER NOTCIAS/BH 28/06/2007

    AGRESSES COMEAM DENTRO DE CASA Registros da Delegacia de Mulheres de Belo Horizonte mostram que comum jovens de classe mdia alta baterem nas mes Depois de apanhar do filho pela dcima vez, a me, uma psicloga de um bairro de classe mdia alta de Belo Horizonte, procurou a Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher para dar queixa da ltima agresso. Chegou delegacia na presena do agressor, o filho de 24 anos. Na sala da delegada titular, a me estava disposta a entregar o filho para que ele respondesse criminalmente. A policial puxou a ficha do agressor no computador e verificou que havia contra ele um mandado de priso por outro espancamento, denunciado pela irm. A delegada determinou a deteno ali mesmo, mas a me pediu para que tudo fosse esquecido. O relato da ocorrncia registrada na delegacia da Capital mostra que as agresses fsicas cometidas por jovens de classe mdia alta acontecem tambm dentro de casa. Na ltima segunda-feira, o caso da domstica Sirley Dias Carvalho, de 32 anos, agredida no Rio d Janeiro, causou indignao em muitas pessoas. Ela teria sido confundida com uma prostituta por cinco jovens e foi espancada. Segundo a delegada Silvana Fiorilo Rocha, titular da Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher de Belo Horizonte, nos casos de mes que apanham dos filhos, a situao ainda mais complicada porque elas acabam recuando. EM 2006, A DELEGACIA RECEBEU 7.005 PEDIDOS DE PROVIDNCIA

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    Adendo mesma matria:

    SINAL DE DELINQUNCIA A tendncia para a delinqncia em sua fase inicial pode ser percebida em adolescentes de 12 e 13 anos. O auge alcanado aos 18 anos e o fim aos 26 anos, quando eles desistem ou morrem. A afirmao do pesquisador Daniel Cerqueira, integrante do Gruo de Estudo de Violncia do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea), que h nove anos estuda a criminalidade, violncia e as polticas pblicas de segurana no Pas. Ele explica que o crime em algumas fases da vida fruto de um processo de abstrao infantil, gerada quando os pais no impem limites aos filhos. Toda vez que seu filho transgredir alguma norma precisa receber punio proporcional para saber que existem regras. A coordenadora do setor de psicologia da Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher, Silvane Vasconcellos, acredita que a agresso dentro de casa uma herana cultural, modificada nos dias de hoje de acordo com a estrutura de cada famlia.

  • 49

    COMENTRIOS DO AUTOR Com base nos comentrios acima, percebe-se que as opinies de vrias pessoas, inclusive de um psiclogo e um psiquiatra, so compatveis s deste autor, que a Educao Familiar de fundamental importncia na formao de uma sociedade, bem como ela sofreu uma significativa fragilizao no curso dos ltimos anos, com conseqncias negativas sociedade, inclusive mais preocupante ainda em um Pas como o nosso onde claramente perceptvel que seu povo est aprofundado em um obscurantismo providencial uma administrao pblica corrupta e incompetente. Enquanto a escola se encontra impossibilitada de preparar e formar o individuo para o exerccio da cidadania com o suficiente embasamento tico-moral, com o conhecimento dos princpios que regem a economia, a poltica e a sociedade; e com a capacidade de se organizar, participar e intervir da vida nacional, porque o poder constitudo no fornece as condies para tal, mas, sobretudo, porque sua ao est prejudicada pela

    deteriorao do primeiro referencial de educao: a familiar.

  • 50

    PARTE 3

    RETRATOS DE UM PAS

    Tenho me esforado por no rir das aes humanas, por no deplor-las e nem odi-las, mas por entend-las. (Spinoza Filsofo Holands)

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    PARTE 3 RETRATOS DE UM PAS Ser chamado de reacionrio, ser considerado algum que se mete onde no foi chamado, ser boicotado pela imprensa, sofrer todas as formas de descasos possveis confere-me muito orgulho diante do quadro assustador de um Pas de rarssimas oportunidades, onde a justia privilegia bandidos, onde os homens pblicos recebem propinas, amplamente divulgado atravs de filmagens realizadas por cmeras ocultas e tm a cara de pau de negarem, onde todas as formas de corrupo so acobertadas por aqueles que deviam estar defendendo o uso devido do dinheiro e do patrimnio pblico com investimentos nas reas da sade, da segurana e, sobretudo, da educao. Resta-me rir da figura ridcula de uma presidente de uma associao de profissionais de Pedagogia, que disfarou sua inconfundvel voz de taquara rachada ao atender-me ao telefone, e se identificou como uma outra pessoa para desvencilhar-se de mim. Tenho pena da maioria dos profissionais de imprensa deste Pas, porque lutaram muito para concluir uma faculdade de jornalismo e tm que se render s imposies do poder constitudo, dos jogos de interesse dos poderosos porque seno no sobrevivem. E tm que produzir jornalecos a preos populares, porque o povo no l jornal, no tem dinheiro pra comprar e so atrados para esses pasquins de 2 categoria atravs de pginas policiais sensacionalistas, futebol, mulher pelada e resumos de novelas, tendo a coragem de se intitularem formadores de opinio. Tenho pena de voc, povo brasileiro, que vive na linha da pobreza, iludido com propagandas ilusrias, pela arte e o poder do marketing, que lhes vende um retrato de um Pas maravilhoso, cheio de oportunidades, de administraes pblicas irrepreensveis e de governantes trabalhadores honrados e dignos. Enquanto voc recebe essa esmola poltico-eleitoreira, morre nas filas dos ambulatrios

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    mdicos e hospitais, mendiga medicamentos nos postos de sade, sofre todas as formas de violncia, despenca morro abaixo nas ocasies das chuvas; e vive o sonho das Olimpadas, da Copa do Mundo e dos benefcios do pr-sal, cujos beneficiados sero sempre os mesmos, os corruptos, os governantes que voc vai eleger iludido pelas esmolas providenciais que voc recebe, que vo viajar para a Europa, para os Estados Unidos, pelos parasos caribenhos com suas famlias e amigos, vo usufruir de mordomias, de cartes de crdito, de moradias luxuosas e gabinetes infestados de parentes, amigos e amantes. Tenho pena de vocs professores, pedagogos, que recebem essa misria de salrio e tm que compactuar com o que lhes imposto, aprovar alunos que no tiveram o aproveitamento exigido, suportar esses pais arrogantes que no souberam educar seus filhos, a lhes cobrar, criticar e exigir. E o que pior aturar esses meninos rebeldes, insubordinados e, muitos deles, a lhe ameaar de todas as formas e maneiras. Estou errado sim, Dr. Psiclogo, o senhor que est certo. Nossa sociedade fez conquistas preciosas, avanamos consideravelmente, temos filhos educadssimos e preparados para chegar escola e receber os ensinamentos tericos e prticos que vo lhes conceder a capacidade do exerccio da cidadania, de usufrurem de toda as oportunidades que este Pas ostenta orgulhosamente, pelo exerccio de uma administrao pblica que tem feito desta Nao, um povo prspero, saudvel e bem assistido em todos os sentidos. E, para melhor exemplificar isso vamos acompanhar algumas matrias, textos e outros referenciais que estou intitulando RETRATOS DE UM PAS:

    AUXLIO RECLUSO Amplamente divulgado na Internet em 2009 AUXLIO RECLUSO!

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    Inacreditvel! Quem tiver dvida acesse a portaria mencionada na mensagem!

    VOCS SABIAM DO AUXLIO RECLUSO?

    Bandido com 5 filhos, alm de comer e beber nas costas de quem trabalha e comandar o crime de dentro das prises, ainda recebe auxilio de R$ 3.763,55. Qual pai de famlia com 5 filhos recebe um salrio suado igual??? QUE PAS ESSE?

    VOCS SABIAM DO AUXLIO RECLUSO? (... e vamos l pessoal... no deixem de cantar o Hino Nacional, pelo menos 15 vezes ao dia...) Vocs sabiam que todo presidirio com filhos tem uma bolsa que, a partir de 1/2/2009 de R$ 752,12, por filho para sustentar a famlia, j que o coitadinho no pode trabalhar para sustentar os filhos por estar preso. Mais que um salrio mnimo que muita gente por a rala pra conseguir e manter uma famlia inteira! Ah, t duvidando?!?! (Portaria n 48, de 12/2/2009, do INSS) - CONFIRA NO SITE http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=22) (Auxlio-recluso)

    Pergunta que no quer calar 1 : Por acaso os filhos do sujeito que foi morto pelo coitadinho que est preso recebe uma bolsa de R$752,12 para seu sustento? Pergunta que no quer calar 2 : J viu algum defensor dos direitos humanos defendendo esta bolsa para os filhos das vtimas? por essa e outras que a criminalidade no diminui... Ela d lucro!

    ESTE MAIS UM DOS ABSURDOS QUE PROTEGEM OS BANDIDOS. TEMOS QUE NOS PROTEGER COM GRADES, ALARMES E AFINS, ENQUANTO OS BANDIDOS ANDAM LIVREMENTE PELAS RUAS, E, AINDA COM PROTEAO

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    DOS DIREITOS HUMANOS.

    PRECISAMOS FAZER ALGUMA COISA, MUITO DESCASO COM O CIDADO TRABALHADOR, QUE PAGA POR TODA ESTA IMORALIDADE, TEMOS QUE ACABAR COM ESSA POUCA VERGONHA.

    IMAGINE S SE NS TRABALHADORES TIVESSEMOS ESSES DIREITOS.

    NESSE PASINHO S TEM VALOR SE FOR MARGINAL.

    AFINAL... QUE PAS ESSE?

    IMPUNIDADE

    Amplamente divulgado na Internet em 2009

    DA IMPUNIDADE: Justia neste Pas para rico Cadeia para pobre

    Lembram do cantor Alexandre Pires? Atropelou, fugiu do local do acidente sem prestar socorro vtima, que veio a falecer, mas foi absolvido por "falta de provas" pela nossa justia. Ou ser injustia?

    Lembram do Jogador Edmundo? Usando seu carro importado, matou e mutilou, mas continua solto aguardando ser julgado pela justia. Ou ser injustia?

  • 55

    Lembram do jogador Guilherme? Passou a noite na farra, lotou seu carro de prostitutas, amigos e cervejas, matou um inocente. Mentiu dizendo que no era o motorista, com certeza para escapar do exame toxicolgico, mas continua solto por ordem da justia. Ou ser injustia?

    Lembram do cantor Renner? Dirigindo com velocidade acima do permitindo, matou duas pessoas inocentes. Mas continua solto aguardando julgamento por ordem da justia. Ou ser injustia?

    Lembram do cantor Belo? Conversando por telefone com um traficante de drogas, acertou fazer um emprstimo para o mesmo traficante poder abastecer a favela de p, ou "tecido fino", em troca receberia um fuzil AR15, ou tnis AR. Est solto por fora de um habeas-corpus, concedido gentilmente pela justia. Ou ser injustia?

    Lembram do ex-senador Jader Barbalho? Acusado de desviar milhes de reais da extinta SUDAM, teve seu mandato cassado pelo seus pares. Hoje deputado federal, continua solto aguardando julgamento pela justia.

  • 56

    Ou ser injustia?

    Lembram do roubo do TRT paulista? O chefe da quadrilha era o juiz Lalau, que hoje encontra-se descansando em priso domiciliar. "Numa bela manso". O restante da quadrilha foi absolvida em sentena dada em vspera de final de copa do Mundo. O juiz responsvel pelo processo era Casem Mazloum, acusado de diversos crimes pelo ministrio pblico, mas que continua solto aguardando julgamento pela justia. Ou ser injustia?

    PLANO DE SADE DOS SENADORES

    Amplamente divulgado na Internet em 2009

    O fantstico Plano de Sade Vitalcio dos senadores

    Eugnia Lopes e Rosa Costa Fonte: O Estado de So Paulo (26.04.09)

    Basta passar seis meses como Senador para ter garantido, sem nada mais pagar, um plano de sade familiar vitalcio que consome por ano R$ 17 milhes.

  • 57

    O pior e que com um plano de sade desses e a despreocupao com a vida, tornam os senadores, como esse a, quase imortais, no morrem nunca, se perpetuam no planeta, causando despesas eternas aos cofres pblicos

    Esse o melhor plano de Sade familiar do mundo, um custo benefcio sem precedentes: uma cobertura total, desde o comeo, sem preocupaes com doenas preexistentes, sem limites de idade e nenhum custo, para o resto da vida, que se alonga pelas facilidades com o atendimento mdico e custa ainda mais ao contribuinte. A matria de Eugnia Lopes e Rosa Costa no Estado de hoje, pe a descoberto mais um exagerado beneficio que o senhores senadores e senadoras se autopremiara a pesar nas costas de todos os brasileiros: Os 310 ex-senadores e seus familiares pensionistas custam pelo menos R$ 9 milhes por ano, cerca de R$ 32 mil por parlamentar aposentado. Detalhe: para se tornar um ex-senador e ter direito a usar pelo resto da vida o sistema de sade bancado pelos cofres pblicos preciso ocupar o cargo por apenas seis meses. Antes de 1995, a mordomia era ainda maior: bastava ter ficado na suplncia por apenas um dia. No total, os 81 senadores da ativa e os 310 ex-senadores e seus pensionistas usufruem de um sistema privilegiado de sade que consome cerca de R$ 17 milhes por ano. Os parlamentares da ativa e seus familiares no tm limite de despesas com sade: em 2008, gastaram cerca de R$ 7 milhes - R$ 80 mil por senador. No ano passado, os gastos globais do Senado com sade para parlamentares e servidores foram de R$ 70 milhes. O Senado no divulga, no entanto, o valor dessas despesas apenas com senadores. O diretor-geral, Alexandre Gazineo, alega que precisa de "tempo" para obter esses dados.

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    O Estado apurou que, em 2008, o Senado gastou cerca de R$ 53 milhes com a sade de 18 mil servidores efetivos e comissionados, entre ativos e inativos. Ao contrrio dos senadores, que no descontam um tosto para ter todas as despesas de sade pagas, os servidores em atividade e inativos tm descontados, em mdia, R$ 260 por ms. O custo de cada servidor ao ano de cerca de R$ 3 mil.

    E no precisam nem trabalhar: O senador Mo Santa preside a sesso para ningum. A foto de uma sexta-feira, 24 de abril de 2009 - 13h03, horrio de sesso. As sexta-feiras no h mais senadores em Braslia, chegam na tera e abandonam o senado e Braslia na quinta a noite, no mais tardar, a est altura j esto em casa, ou em Nova Iorque, Miami, Paris, Londres... (Foto: Antonio Cruz/Abr)

    Para este ano, a previso feita no Oramento estabeleceu R$ 61 milhes para arcar com a sade dos senadores e servidores. Na quinta-feira, o Senado anunciou contingenciamento de R$ 25 milhes nas despesas mdicas e odontolgicas. Ou seja: o oramento de 2009 dever ficar em R$ 36 milhes. A rea tcnica do Senado est convicta de que o corte recair integralmente sobre a sade dos servidores. Os senadores continuaro com as despesas ilimitadas. Tcnicos comearam a fazer estudo para compensar o corte no oramento deste ano no plano de sade dos servidores. Uma das hipteses aumentar a contribuio dos funcionrios. Atualmente, existem 262 servidores e funcionrios comissionados em tratamento de cncer custa do Senado. Diante do anncio de contingenciamento, 18 famlias procuraram a direo do Senado nas ltimas 24 horas para saber se sero atingidas com o corte de gastos. O pagamento das despesas mdicas de senadores, ex-

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    senadores e dependentes regulamentado pelo Ato n 9, de 8 de junho de 1995. A