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PERFIL DESTAQUE Amilna Estevão no top de Outono >> P. 06 FACTOS E FIGURAS YURI DA CUNHA “O intérprete” cinco anos depois > > P. 02 ACTUALIDADE KWANZA NORTE Na valorização dos monumentos P. 03 Este suplemento faz parte integrante do semanário Novo Jornal e não pode ser vendido separadamente www.novojornal.co.ao Agora também na internet ATD -O livro na visão de Gustavo Costa LANÇAMENTO >> P. 07 >> P. 04 O tenor angolano soma e segue além fronteiras NELSON EBO

NELSON EBO O tenor angolano soma e segue além fronteirasnelsonhebo.com/wp-content/uploads/2015/03/NJ372_Mutamba.pdf · elevado grau de qualidade para ... vida e muito humor”

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perfildestaque amilna estevão no top de Outono >> P. 06

factOs e figurasyuri da cunha “O intérprete” cinco anos depois > > P. 02

actualidadekwanza nOrte na valorização dos monumentos P. 03

Este suplemento faz parte integrante do semanário Novo Jornal e não pode ser vendido separadamente

www.novojornal.co.aoAgora também na internet

atd -O livro na visão de gustavo costa

lançamentO

>> P. 07

>> P. 04

O tenor angolano soma e segue além fronteiras

NELSON EBO

02 20 Março 2015

Factos e Figuras

25 e 26 de Abril são os dias reser-vados para o público ter nas mãos a nova obra do “showman”. A ven-da, segundo a sua produção, está marcada para os locais habituais. A Praça da Independência e o Belas Shopping.

O encontro, algo informal, que o artista realizou com alguns profis-sionais da comunicação, serviu para mostrar as faixas musicais que farão parte do seu novo CD,cinco anos de-pois de ter coloca do no mercado o aclamado “ Kuma Kua Kié”.

Ao longo deste periodo, alguns temas, produzidos para diferentes projectos e outros na perspectiva da manutenção, serviram para que Yuri da Cunha conquistasse algumas dis-tinções. Cantados nos mais diversos estilos, realçaram a versatilidade deste cantor várias vezes premiado, inclusive, internacionalmente. Des-tes, destaca-se o projecto “Yuri Can-ta Artur Nunes”, colocado na ideia de relançar um dos elementos que contribuiu para uma das matizes da Música Popular Angolana.

Da Cunha adiantou que “ O Intér-prete” é um trabalho discográfico onde aposta, novamente, na linha rítmica angolana privilegiando o Semba.

“À semelhança dos trabalhos an-teriores, este não fugirá à regra. Temos semba de qualidade, pois a equipa de trabalho, onde pontifi-cam nomes como os de Lito Graça, Chalana Dantas, Joãozinho Morga-do, entre outras referências no mer-cado instrumental angolano, tudo

Kiaku Kyadaff foi eleito, em 2014, artista revelação do Top dos Mais Queridos, bem como do An-gola Music Awards. Venceu ainda as categorias de Melhor Kizomba e Música do Ano, com “Entre Sete Sete e Rosas”. É ainda o autor do tema “Paga que Paga” que consa-grou a cantora Ary no Top dos Mais Queridos, edição 2014. Da sua tra-

jectória, consta também a conquis-ta de uma das edições do Festival Nacional de Trova, num momento em que a sua carreira despontava.

O género afrojazz é uma das ma-trizes com que facilmente se iden-tifica no início da sua carreira, tendo na manga um disco comple-tamente produzido pela AF Entre-tenimentos mas que não chegou a

Yuri da Cunha “O intérprete” em Abril

O primeiro de Kyaku perto do seu público

Top Rádio Luanda.Uma edição especial será feita

para Cabo Verde, São Tomé e Mo-çambique, na qual estará incluido um Funaná,estilo popular do ar-quipélago e que foi dos mais con-sumidos até finais da década de 90. Yuri da Cunha apontou bate-rias para o mercado internacional, começando pelos países de língua portuguesa, como forma de levar o público a consumir mais e cada vez mais música e outros produtos cul-turais angolanos.

Com o foco apontado para o mer-cado internacional, adiantou que “O Intérprete” foi produzido com maior cuidado em termos rítmicos, apostando numa produção com um elevado grau de qualidade para responder ao rumo traçado.

Sem o disco estar no mercado, o artista anunciou estarem já marca-dos shows em Moçambique, Cabo Verde, Portugal, Itália, França e Angola.

“Por estes e outros mercados inter-nacionais já tenho um espaço e vou procurar, com o lançamento do novo disco, reforçar a base, conquistada

com muito sacrifício”, disse.Satisfeito com o conteúdo

do disco “O Intérprete”, Yuri da Cunha destacou ainda que aprofundou este trabalho na

base da linha melódica nacional, destacando--se o semba e com a inclusão de alguns

clássicos da música ango-lana, entre os quais “ Catorze

Chuvas”, uma grande música de Teta Lando que levou os presentes a relembrar este ícone da música angolana.

ErnEsto gouvEia

sair por várias razões. Segundo o jovem cantor, esta obra inédita re-vela aquilo que é a sua identidade como autor.

Com o tema “ Entre Sete Sete e Rosas”, incluido num projecto edi-tado por Chico Viegas, começou o trilhar de um outro caminho para o então promissor nome da músi-ca angolana, somando e seguindo entre palcos e distinções, desta-cando-se as conquistas no Angola Music Awards e Top Rádio Luanda.

Trovador por execelência, Kyaku Kyadaff não dispensa a aproximação com a guitarra e tem na composição uma das suas ocu-pações principais, inspirando-se em vários nomes da música ango-lana com destaque para Alberto Teta Lando.

ErnEsto gouvEia

É dos ArtistAs mais premiados em 2014. A celebração oportuna, junto do público, será já neste sá-bado no Centro de Conferências de Belas com a participação dos Tune-za, Yola Semedo e Ary. O espectácu-lo realizado por Agnelo Henriques, PT Produções, Esimagem e CCB, virá a ser o primeiro grande momen-to do autor de “ Entre Sete Sete e Rosas” e outros sucessos junto do público.

Para além dos temas já conheci-dos, incluídos também no álbum “Se Hunguwile”,Kyaku Kyadaff re-velou que vai levar ao palco duas

músicas inéditas, sendo uma em homenagem às vítimas das chuvas de Benguela. No espectáculo, pre-visto para duas horas e meia,o mú-sico espera proporcionar momentos indeléveis ao público amante da boa música. Além da interacção com o público, como detalhe que o artista faz questão de realçar, a ansiedade deste primeiro momento não são colocados de parte.

Segundo os promotores do even-to, Paulo Tonet e Agnelo Henri-ques, resta somente vinte por cen-to da lotação total da casa, num total de três mil.

fez para que as músicas deste disco saiam a público com um elevado grau de qualidade rítmica”, disse.

Este é um disco que foi trabalha-do com muito amor, carinho e com alma angolana, com o intuito de dar aos meus fãs um produto de quali-dade temática e sonora”, reforçou.

Yuri da Cunha realçou que o pro-cesso de produção, captação e edi-ção teve lugar em diversos estúdios entre Estados Unidos, França e Por-tugal. Em termos vocais, o artista contou com as colaborações de Ary e C4 Pedro. Os cabo-verdianos Suzana Lubrano e Nelson Freitas são os nomes pertencentes a outro PALOP que deram o seu contributo para o novo produto deste cantor e compositor oriundo do Kwanza--Sul, enquanto que Alexandre Pi-res, do Brasil, reforça o grupo.

PrÉMiosYuri da Cunha, artista que nas-

ceu na cidade do Sumbe, começou na música como cantor piô, em 1994. Lançou o seu primeiro CD “É tudo Amor”, em 1999, e o segundo intitulado “Eu”, em 2005.

Vencedor de vários tro-féus nacionais e inter-nacionais, Yuri da Cunha ganhou o prémio

Rádio Luanda 2008, na categoria “Kianda do Sucesso”, pela quanti-dade de shows realizados ao longo do ano e pela valorização da cultu-ra nacional. Em 2004, com a músi-ca “Makumba”, venceu o Top Rádio Luanda.

Com a música Kuma Kwa Kié ga-nha o Top dos Mais Queridos, em 2009, obra com que também arreba-tou os galardões de Melhor Disco do Ano, Melhor Produção Discográfica, Melhor Semba e Melhor Kizomba, no

o artista anunciou estarem jámarcados showsem Moçambique,Cabo Verde, Portugal, itália, França e Angola.

Lídia Onde

20 Março 2015 03

Actualidade

Os mOnumentOs e sítios históri-cos da província do Kwanza Norte estão a merecer, uma atenção es-pecial do executivo local, que já tem um plano da sua conservação e valorização. Segundo o gover-nador, André Henrique Júnior, “o património cultural é um recurso e uma tarefa no âmbito das políti-cas públicas que tem merecido uma atenção especial na província do Kwanza Norte”, disse.

Segundo o governante, a aten-ção está virada para os monumen-tos no Cazengo, como o Palácio D.

Teles Carreira e a casa de passagem do Presidente Agostinho Neto, am-bos localizados no Kilombo, cerca de sete quilómetros a Sudoeste de Ndalatando.

Uma particular atenção tem sido dada aos programas municipais de cultura e das respectivas infra--estruturas culturais, assim como a formação como um desafio que se propõe à sociedade. O Kwanza--Norte é uma região do país com um importante acervo de monu-mentos e sítios históricos que, se-gundo estudantes de história, só

perde para Mbanza Congo. As ruí-nas do Tribunal no Zavula na região de Caculo Camuiza na Canhoca, Co-lónia de São João, são igualmente monumentos e sítios importantes. Ainda no Cazengo, existem as fur-nas do Zanga, a primeira casa que em 1942 serviu de escola primária.

A Casa Verde, na comuna da Cer-ca, Golungo Alto, e o grande for-tim do Mussungo, antigo quartel colonial que pode ser encontrado na comuna de Cambondo, a casa onde o poeta e nacionalista Antó-nio Jacinto viveu na sua infância e

Plano de conservação e valorização dos monumentos

Ki Mona Mesu de Tendinha e “ Tonspi”

O Kwanza-Norte é uma região do país com um importante acervo de monumentos e sítios históricos que, segundo es-tudantes de história, só perde para Mbanza Congo

máriO tendinha e José Silva Pin-to “ Tonspi” levam ao Centro Cultu-ral Português a exposição Ki Mona Mesu, no próximo dia 26 de Março. O evento resume uma amostra de artigos em pintura, fotografia e instalação que estará aberta ao pú-blico até o próximo dia 10 de Abril.

A problemática das minas e as suas consequências para os seres humanos é o foco para a qual está direcciona-da esta empreitada artística de duas referências no contexto das artes em Angola, um através das artes plásticas e outro das artes fotográficas.

“O nosso país viveu uma guerra devastadora e neste ponto, as mi-nas vitimaram milhares de homens, mulheres e crianças e deixaram ou-tros tantos com sequelas dolorosas para sempre”.

Irene Guerra Marques, num tex-to introdutório sobre a exposição,

afirma que “A exposição Kina Mona Mesu é surpreendente e emocio-nante, levando-nos a interiorizar e a reflectir sobre os horrores da guerra que quase devastaram o nosso país e das suas consequên-cias nefastas e irreparáveis.

Através da fotografia, da pintura e da instalação, acrescenta na sua opinião, estes dois artistas angola-nos propõem-nos diversas aborda-gens à representação da diferença marcando, seguramente, todos os que as virem.

“Estamos perante uma exposição conjunta que nos remete para as pos-sibilidades polissémicas de cada um dos elementos retratados. Enquanto José Pinto pretende destacar a cruel-dade da guerra e suas consequências para que jamais Angola seja vítima deste flagelo devastador, Mário Ten-dinha suaviza e transforma o infortú-

nio, desafiando-nos com outros signi-ficados e funções para esses mesmos elementos. Nas suas telas há amor, esperança, vida e muito humor”.

Benjamin Saaby, artista plástico e curador da última exposição de Mário Tendinha denominada “ Através das Portas”, afirma que Tendinha já nos habituou a apresentações ousadas. Este autor incorpora bem a ideia de que a arte e a criação não terminam apenas na concepção das obras, mas que a própria exposição é uma obra de arte, o conjuntos de peças, a dis-posição delas na galeria, bem como a forma com que o espectador visuali-za as obras formam no conjunto uma verdadeira peça de arte.

«Já tivemos oportunidade de constatar esta tendência nas duas últimas amostras do autor “Os Ogros” 2008, onde pinturas de grandes di-mensões coabitavam de uma forma

inusitada e muito interessante com os bailarinos (numa colaboração com a Companhia de Dança Contem-porânea de angola) e em “Ngola Mir-rors” 2009 onde o espectador tinha que subir e passar por uma platafor-ma para ter acesso às obras, como uma ponte que permitia o acesso a uma interessante viagem por Angola através do olhar de Mário Tendinha.

Irene Guerra Marques termina a sua observação sobre o Ki Mona Mesu realçando que estes dois grandes e talentosos artistas, Mário Tendinha e José Silva Pinto, juntam-se a ou-tros, empenhados e engajados contra todo o tipo de exclusão, servindo-se

uma particular atenção tem sido dada aos programas municipaisde culturae das respectivas infra-estruturas culturais

Kwanza- norte

da arte como meio de denúncia para sensibilizar, consciencializar e cha-mar a atenção da sociedade, por vezes tão violenta e injusta, para a desmis-tificação, a desconstrução e o desmo-ronamento dos preconceitos sociais, dos estigmas e dos arquétipos criados à volta dos portadores de deficiência.

O grande objectivo será provocar a modificação de consciências para que não mais se olhe para eles como pessoas incapazes de exercer os seus direitos, de mostrar as suas capacida-des, sentimentos, dons ou talentos, mas como cidadãos aptos a participar na vida e no desenvolvimento do país.

São as obras artísticas comprome-tidas e seus autores que, alertando, irão contribuir para a construção de uma era em que a esperança, a solida-riedade e a paz social farão de Angola um país onde a exclusão seja total-mente substituída pela integração de todos numa sociedade que fará a diferença ao ser generosa e inclusiva.

ernesto gouveia

juventude, para além das grandes casas construídas de pedra na Ki-pemba, a três quilómetros da mes-ma vila.

A granja portuguesa pode ser en-contrada no Kilombo dos Dembos, assim como o centro do Tumba.

Na comuna de Camame, município de Ngonguembo (Kwanza-Norte), encontram-se grandes edifícios que estão igualmente classificados na lista de monumentos e datam dos séculos XVII e XVIII mas estão em ruinas. Na região da Pamba, muni-cípio de Lucala, existe também o fortim que foi um dos presídios onde se instalou a administração de Am-baca quando, na altura, o município foi elevado à categoria de distrito. Em Ambaca,Paulo Dias de Novais foi feito prisioneiro quando ia combater contra as forças de Ngola Kiluange.

“Só isso é um grande valor da resistência colonial. Paulo Dias de Novais foi solto numa troca de pri-sioneiros, vindo a perder a vida tem-pos depois em Massangano onde foi sepultado”, reza a História.

Em Samba Cajú, o histórico ce-mitério de Cahenda, remonta aos séculos XVII e XVIII. Na comuna de Samba Lucala, ainda no mesmo mu-nicípio, precisamente na região de Dala Capanga, encontra-se o local onde em 1959 a população negra reivindicou as suas terras usurpadas pelas autoridades coloniais. Em Ca-culo Cabaça (Banga) há três pedras gémeas onde se encontra o sinal de Ngola Kiluange e a primeira capela construída pela Igreja Católica. Os mais conhecidos são a Fortaleza de Massangano, Casario de Cambambe, Igrejas da Nossa Senhora do Rosá-rio e da Nossa Senhora da Vitória, ambas do século XVI. Ainda dessa época, destaque para as ruínas do Tribunal de Massangano.

DaviD FiLiPe

04 20 Março 2015

Entrevista

“o meu percurso não foi nada fácil”O tenor angolano continua a fazer o seu percurso no mundo da ópera, conquistando outros espaços. Depois de Espanha, Estados Unidos da América e Itália, o novo desafio é o mercado alemão onde o tenor angolano acredita ter todas as condições para alcançar positivamente os seus objectivos .

Texto de ernesto gouveia

Fotos de Dr

nelson ebo

Sendo que está a traçar uma car-reira que já é uma certeza e que faz com que esteja agora fixado na Alemanha, depois de vários outros países como Espanha e Es-tados Unidos da América, como é que está a ser a inserção nesse mercado complexo onde só con-quista espaço quem, verdadeira-mente, tem talento?

Estou-me a sentir bem. Não só com o talento mas também com esta dose tão grande de oportunidades para agora mostrar aquilo que sei fazer na Alemanha. Não é nada fácil mas, pouco-a-pouco, estou a che-gar lá. Este espaço é conquistado por tenores que têm talento, mas

com muito estudo e disciplina.

Depois de apostas feitas por pes-soas que acreditaram seu no valor, não será um paradoxo ser mais conhecido fora do seu próprio país como um tenor irrepreensível e que vai, a cada, dia conquistando mais apreciadores? ou será pelas características que o contexto cul-tural da sua terra natal possui?

A ópera integra, salvo raras ex-cepções, a cultura europeia. Isso faz com que este estilo de música seja mais conhecido em toda a Eu-ropa e na América. As características musicais da minha terra natal são totalmente diferentes, mas já esta-

mos também a entender a cultura lírica europeia e até já temos alguns talentos. Isso deixa-me muito feliz porque Angola, a nossa terra, está a ganhar o gosto pela música lírica.

Será que estamos a seguir devi-damente o caminho, quanto aos intérpretes que aqui temos, ou há outros elementos que temos ain-da de destapar para entendermos melhor esta música?

Em Angola, sempre tivemos ta-lentos maravilhosos que gostariam de dedicar-se ao mundo da ópera. Verdadeiramente, estamos a falar de um mundo ou de um círculo de muito difícil acesso, porque, para

isso, é necessária muita dedicação. Nada é fácil. Angola já começa a en-tender este estilo de música mas, como diz, temos muito ainda por destapar para entender melhor a música clássica. Creio que em pou-co tempo entenderemos.

Que análise faz dos poucos intérpre-tes que temos localmente, se é que já teve a oportunidade de os ouvir ?

Já tive, sim, essa oportunidade. Um dos exemplos é o do Emanuel Mendes, do grupo Lírikus do qual faz parte também o Waldemar Ta-vares. Ambos são bons intérpretes e com um talento irrepreensível .Para além dos intérpretes, a for-

mação musical tem um impor-tante peso na trajectória que um músico deve traçar. Do contacto que teve com algumas institui-ções que dão formação, com que impressão é que ficou?

Para mim, a música sacra sempre foi a base de tudo. A maioria dos intérpretes começam sempre por aí. Eu, pessoalmente comecei com a ópera, cantando música sacra. Para mim foi um presente divino .

Um regresso definitivo é ainda um pensamento longe de ser uma realidade ou já se pode pensar no Nelson Ebo a prosseguir a carreira a partir daqui ?

20 Março 2015 05

“Alemanha tem um mercado muito difícil mas eu gosto de desafios. Já estando aqui em Berlim, consegui chegar a uma final de um concurso internacional de canto, o “Gut Immling”, conhecido pelo seu alto perfil de teatro e concertos de ópera”

“o meu percurso não foi nada fácil”

Estou a pensar sim, no meu re-gresso. Pode acontecer, tudo depen-de de algumas decisões pessoais. Angola está sempre nos meus pen-samentos e no meu coração.

Se falarmos de dificuldades, podemos pensar que o precon-ceito é um elemento a ter em conta quanto a quem interpreta esse género musical, como é o seu caso, ou o talento supera tudo?

Sim, no meu caso, como também no caso de outros intérpretes, o ta-lento pode superar tudo. Mas isso só é possível se formos acompanhando com muitas com muitas horas de es-tudo, prática e muita dedicação.

Fale um pouco daquilo que foi o seu percurso em busca da concretização de um so-nho depois de ter deixado a sua terra ?

Posso dizer que o meu percurso não foi nada fácil ! Deixei a minha terra natal, família, amigos de infância e fui em busca do meu sonho. Com muitos anos de luta e muita competência conse-gui ganhar concursos importantes, come-çando por Espanha, onde

“Deixei a minha terra natal, família, amigos de infância e fui em busca do meu sonho. Com muitos anos de luta e muita competência consegui ganhar concursos importantes”

ganhei um bolsa de estudo com o primeiro prémio do concurso para o Conservatório Arturo Sorias em Madrid. Eram cento e cinquenta participantes, e eu não tinha mui-tos conhecimentos musicais. O ta-lento levou-me a conseguir. Logo depois, passei pela Escola Superior de Canto de Madrid onde também ganhei outro concurso para uma bolsa de estudos musicais superio-res. A seguir, participei num outro, na Universidade Carlos III, também em Madrid, ganhando nova bolsa de estudo com a ajuda se Sua Ma-jestade, o então rei de Espanha, D. Juan Carlos. Depois desse percurso, segui para os Estados Unidos e a seguir para a Itália. Agora estou na Alemanha e sempre, sempre com o mesmo esforço e a mesma entrega.

Muitos dos que tiveram a oportu-nidade de assistir às suas actua-ções, antes de “emigrar” para o mundo da mais alta roda musical, puderam de algum modo esperar a evolução que naturalmente ha-via de sofrer. De lá para cá, alguns já não sabem nada da sua trajec-tória. Será da divulgação que é necessária à volta do seu trabalho para que seja melhor compreendi-da e consumida?

Eu penso que falta mais comuni-cação. Tenho no Youtube muito ví-

deos com entrevistas e concertos feitos em Espanha e nos Estados

Unidos. Claro que gostaria de estar em maior contacto com Angola para acompanharem o que estou a fazer.

Quanto a todos os meus amigos que me ouviram a cantar, o meu percurso não foi nada fácil…

o facto de vir à Angola e apresentar-se em espec-táculos reservados a um

grupo restrito de pessoas, não será também uma ra-

zão para entendermos a pou-ca divulgação ?Sim. Tenho estado em vários

espectáculos e também em apre-sentações privadas. Tive um con-certo em público mas ainda sinto que, em Angola, tenho que fazer

por expandir mais o meu nome.

Existe da sua parte, o interesse em fazer com que a música angolana na sua verdadeira essência seja um pouco mais conhecida, usan-do como recurso a música clássica. Que mecanismos é que vai utilizar para além da pesquisa ?

A música angolana é muito bo-nita. Cresci também a ouvir música folclórica. Deste modo, sim, quero recolher a nossa música tradicional possível e adaptá-la ao método líri-co. Já tentei fazer isso nos Estados Unidos e realmente funciona. Fica muito bonito acrescentar os ins-trumentos musicais europeus, sem sair da nossa essência, mas tornan-do-se numa fusão maravilhosa.

Pretende com isso fazer vincar o factor identidade, de modo que não seja confundido como, por exemplo, um artista espanhol, coisa que já aconteceu em algu-mas ocasiões?

Afirmativo. Todos os concertos em que sou convidado a cantar, faço questão de dizer que sou angolano.

Que passos pretende dar a seguir, considerando o facto de estar agora num mercado mais com-plexo como o da Alemanha?

Alemanha tem um mercado mui-to difícil mas eu gosto de desafios. Já estando aqui em Berlim, con-segui chegar a uma final de um concurso internacional de canto, o “Gut Immling”, conhecido pelo seu alto perfil de teatro e concertos de ópera .Isso já é um bom começo para as ambições que tenho quan-to à conquista do mercado alemão. Será uma grande luta mas estou em crer que o conseguirei.

Desde a sua chegada, além deste, tem tido outros indicadores?

Sim, tenho estado em contac-to com maestro Plácido Domingo. Em Berlim, já estivemos juntos e também estou em contacto com a Ópera de Berlim que é um dos tea-tros mais importantes do mundo da ópera. Para mim, é um grande es-tímulo e um grande orgulho cantar também neste teatro.

Perfil06 20 Março 2015

primeiras três, e por isso foi uma grande surpresa” ,afirmou.

Com isso, Amilna espera ser um exemplo para as futuras mane-quins. Para ela, hoje em dia, não interessa a cor da pele, mas sim aquilo que é transmitido, factor considerado por ela, preponde-rante para a conquista do terceiro lugar.

A jovem modelo mostra ter a no-ção do peso da responsabilidade ao conquistar o terceiro lugar e exalta o orgulho em ser angolana.

Outro dos sonhos da jovem pro-missora passa por desfilar para as marcas Giorgio Armani, Channel, Versace e Dior e assim tornar-se uma top model, para além de fixar residência em Nova Iorque . Tem como referência a modelo porto-ri-quenha Joan Smalls, que a inspira pelo facto de ter começado do nada e hoje ser um ícone da moda.

Figurar entre as dez melhores no-vas modelos, classificadas pelo Sty-le, representa para Coreon-Dú um motivo de satisfação. O número um da produtora Da Banda manifestou o seu sentimento por via das redes sociais, mais ainda pela aposta e crença de que a jovem poderia al-cançar lugares de referência e des-pertar a atenção de figuras de rele-vo no mercado da moda mundial.

Para além de Amilna Estevão, a Da Banda, produtora responsável pela gestão da carreira da jovem mane-quim, colocou outros nomes na are-na da moda internacional, entre os quais Elsa Baldaia, Roberta Narciso, Alécia Morais, Edna Ferreira e Maura António, numa lista em que figuram ainda outras modelos.

A Da Banda é responsável pelo surgimento de novos valores no contexto da moda, lançando como plataforma uma ferramenta de des-cobertas, usando como referência o Elite Model Look. A intenção é projectar nomes angolanos na are-na da moda internacional, inten-ção não frustrada para os intentos

Mais do que a beleza, a perso-nalidade é que mantém uma mo-delo no jogo. Melhor ainda quando uma menina tem a combinação certa de ambas. Amilna Estevão, modelo angolana, chama a atenção por estar entre as dez novas mode-los de Outono.

Estar entre estilistas como Ale-xander Wang e Stella McCartney ou simplesmente solta, sentindo-se à vontade nos bastidores, tirando selfies para as redes sociais. Amilna Estevão chama a atenção de nomes mediáticos como Adriana Lima, Cara Delevigne e Lady Gaga que não hesitaram em dar o click no “gosto” que poderá ter contribuido para que a modelo angolana con-quistasse a simpatia do Style.com.

O seu comportamento alegre e uma atitude despreocupada, se-gundo o site virado para o mundo fashion, são elementos que con-quistaram fãs não só dentro como também longe dos bastidores.

A modelo angolana, de dezasseis anos de idade, começou a dar nas vistas desde a conquista da primei-ra posição no concurso Elite Model Look Angola. Fez uma curta passa-gem por Portugal onde começou a ter um contacto mais directo com a alta roda da moda, observando alguns desfiles.

Apesar de passível ainda de ser realizado, para trás fica o sonho de se tornar assistente de bordo, escolhendo caminhar em direcção às passarelas para impressionar os mais atentos apreciadores do mun-do fashion.

As viagens a vários pontos do

mundo têm, para ela, os seus mo-mentos marcantes, entre os quais não esquece a China. “Conheci 60 raparigas de vários países, todas diferentes mas ao mesmo tempo unidas e focadas no mesmo obje-tivo. Hoje posso dizer que tenho novas amigas nos quatro cantos do mundo” disse.

Estar entre as três primeiras classificadas do Elite Model Look World Final foi algo inesperado, tendo em consideração o poten-cial das outras concorrentes. Outra das vantagens, para ela, é o facto de ter aprendido muitas coisa em função das novas experiências que colheu. “ Foi muito cansativo.” Não estava à espera de ficar entre as

Figurar entre as dez melhores novas modelos, classificadas pelo style, representa para Coreon-dú um motivo de satisfação e manifestou o seu sentimento por via das redes sociais

amilna estevão no top 10

Livros20 Março 2015 07

“Estamos perante uma obra com nome e endereço próprios, cujos testemunhos retratam os horrores da ocupação colonial, os mortos, nas cidades e nas matas, os perseguidos e os desaparecidos”.

Associação Tchiwekalança novo livroNo ANo em que comemoramos o 40º aniversário da independência nacio-nal, a Associação Tchiweka de Docu-mentação traz a público o conteúdo de uma parceria estabelecida com o Novo Jornal, iniciada quando o nos-so companheiro de trabalho e colega de há muitos anos, Gustavo Gosta, dirigia este semanário. O livro, inti-tulado “1961 – Memória de um ano decisivo” teve o seu lançamento no Museu das Forças Armadas, na For-taleza de S. Miguel, perante centena e meia de interessados, em cerimó-nia presidida pelo director da A.T.D., General M´Beto Traça.

Gustavo Costa, que já tinha sido convidado para prefaciar o livro, apresentou-o ao público. Pela im-portância da obra, pelo profundo interesse das suas palavras e, porque faz parte intrínseca da nossa história e deste jornal, não podíamos deixar de lembrar o que disse, na passada quinta-feira, dia 12 de Março.

“Minhas senhoras e meus senhores

CAros Amigos,Confrontado com a magnitude dos

“Trilhos da Independência”, que a Associação Tchiweka entendeu ofe-recer-nos como uma das mais recen-tes e valiosas peças do nosso acervo histórico-político, deixem-me dizer--vos, em primeiro lugar, que tenho sérias dúvidas se, perante a minha pequenez, serei a pessoa mais indi-cada para fazer a apresentação desta compilação de textos, como modes-tamente lhe chama a Wanda, focali-zada no ano decisivo de 1961.

Por isso, num primeiro instante, confesso que hesitei em aceitar tão honroso convite e abraçar tamanha responsabilidade. Quis, no entanto, a Vanda que o fizesse.

E, perante o desafio dela, ao mer-gulhar nas raízes das histórias tri-lhadas nas cento e noventa e oito páginas daquilo que pode ser já o maior espólio documental reunido até hoje à volta da nossa narrativa independentista, não pude resistir à amplitude de uma utopia que se

consagrou na nossa maior saga: a conquista da Independência!

Não resisti também ao pioneiris-mo de um trabalho de investigação de uma envergadura ímpar, que tem o DNA de um nacionalista cuja gran-deza se confunde com a epopeia de milhares de angolanos que, naquele tempo, há mais de cinquenta anos, cada um à sua maneira, deram o me-lhor de si para abrirem os caboucos do nosso edifício pátrio.

Por essa razão, as fotografias, os vídeos e as gravações, mais do que o acervo e o legado do nacionalista Lúcio Lara, são a expressão do grito de alma de uma imensa geração de-positária dos mais nobres valores do nosso moderno nacionalismo.

CAros Amigos,Foi por essa razão que, desde o

primeiro momento, entre Fevereiro de 2011 e Janeiro de 2012, a equipa do Novo Jornal da qual eu fazia par-te, se associou, incondicionalmen-te, a esta iniciativa.

Contagiado pela sua dimensão, o Novo Jornal de então abriu-lhe as páginas e, assumindo-se cúmplice da mesma causa, paginadores e jor-nalistas, entenderam contribuir, de forma modesta, para a sua visibili-dade ao irradiar grafismos e afins ex-traordinários para um projecto que era então uma esperança e um sonho e que, agora, se tornou realidade.

Esta é uma obra que não foi gera-da por nenhuma universidade, nem

recebeu o concurso de nenhuma consultora estrangeira, como agora, exageradamente, virou moda.

Também não foi escrita por ne-nhum jornalista insigne, que quase já não os há, nem por jovens engra-vatados que, falando de cátedra, da história têm a mesma vaga noção que alguns dos nossos novos ricos têm da pobreza...

Estamos perante uma arma po-derosa, que resistiu a todas as tentativas de rasura da história da Independência e mesmo a certas correntes negacionistas, que gos-tariam de ver triunfada aqui uma narração “descafeinada”.

Se essa narração se impusesse, não sejamos inocentes, prevaleceria a manipulação da verdade através de uma subtil selecção de aconte-cimentos, que daria lugar à criação de mitos para justificar doutrinas e práticas do passado e do presente.

Se essa narração triunfasse, as-sistiríamos, não tenhamos ilusões, a exclusão de partes da nossa memó-ria colectiva e de grupos mais sensí-veis, tais como as minorias étnicas, políticas, religiosas ou raciais.

A Associação Tchiweka preferiu a Nação e decidiu memorizar um peda-ço chave da nossa história cuja rique-za assenta na sua transversalidade.

Nele estão projectados depoimen-tos e fotos memoráveis de patriotas angolanos, de outros combatentes africanos anti-colonialistas e tam-bém de anti-fascistas portugueses, que decidiram solidarizar-se com a causa angolana.

Não há aqui, nesta obra, angolanos da UPA, da FNLA, do MPLA, da Revol-ta Activa, da Revolta do Leste ou da UNITA. Há aqui apenas angolanos! Estamos aqui, porventura, perante a viagem documental de maior fôlego nacionalista, que carrega o mérito de estar despida de estreitismos partidá-rios ou de preconceitos de natureza étnica, tribal, racial ou religiosa. Esta-mos perante um hino à reconciliação, escrito com poemas que afastam a ex-clusão e procuram antes irmanar pas-sados com percursos diferentes mas todos eles trilhando o mesmo espírito.

CAros Amigos,Estamos perante uma obra com

nome e endereço próprios, cujos testemunhos retratam os horrores da ocupação colonial, os mortos, nas cidades e nas matas, os perse-guidos e os desaparecidos.

“Nele estão projectados depoimentose fotos memoráveis de patriotas angolanos...”

Fotos DR