26
75 R E S U M O A escavação do recinto megalítico das Fontainhas (Mora), em 2005, veio confirmar, com dados novos, a atribuição cronológica do monumento ao Neolítico Antigo/Médio, com des- taque para a presença de cerâmicas decoradas e micrólitos. Foram igualmente obtidos ele- mentos pertinentes sobre alguns aspectos rituais, nomeadamente o uso das mós nas estrutu- ras de implantação e as orientações astronómicas (solar e lunar) dos menires exteriores ao recinto. A prospecção da área envolvente reforçou, por sua vez, a informação proporcionada pelos artefactos recolhidos na escavação do recinto, tendo sendo identificada, como seria de esperar, uma rede de povoados que cobre toda a diacronia desde o Neolítico Antigo até ao Calcolítico. A principal surpresa, neste domínio, foi uma ocupação de cariz mesolítico, que os dados provenientes de áreas contíguas e o próprio contexto geográfico, nos limites da bacia sedimentar do Tejo, tornam menos surpreendente. A B S T R A C T The excavation of the megalithic enclosure of Fontainhas (Mora), on 2005, has confirmed, with new data, the chronological attribution of the monument to the Early Neolithic, mostly decorated pottery and microlithic artefacts. Some new elements about ritual, like the reuse of quern stones inside the sockets of the menhirs, or the astronomical orientations (solar and lunar) of the stones outside the enclosure, have also been obtained. The survey around the site reinforced, by its side, the information given by the artefacts recovered in the dig of the monument: a network of settlements, spanning from the Early Neolithic to the Early Bronze Age, has been registered. The main surprise, in this domain, was a Mesolithic occupation, expectable, until a certain point, according to some recent data from contiguous areas, and to the geographical context, in the limits of the Terciary basin of the Tejo. Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) MANUEL CALADO LEONOR ROCHA PEDRO ALVIM REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

75

R E S U M O AescavaçãodorecintomegalíticodasFontainhas(Mora),em2005,veioconfirmar,com

dadosnovos,aatribuiçãocronológicadomonumentoaoNeolíticoAntigo/Médio,comdes-

taqueparaapresençadecerâmicasdecoradasemicrólitos.Foramigualmenteobtidosele-

mentospertinentessobrealgunsaspectosrituais,nomeadamenteousodasmósnasestrutu-

rasdeimplantaçãoeasorientaçõesastronómicas(solarelunar)dosmeniresexterioresao

recinto.Aprospecçãodaáreaenvolventereforçou,porsuavez,ainformaçãoproporcionada

pelosartefactosrecolhidosnaescavaçãodorecinto,tendosendoidentificada,comoseriade

esperar,umarededepovoadosquecobretodaadiacroniadesdeoNeolíticoAntigoatéao

Calcolítico.Aprincipalsurpresa,nestedomínio,foiumaocupaçãodecarizmesolítico,que

os dados provenientes de áreas contíguas e o próprio contexto geográfico, nos limites da

baciasedimentardoTejo,tornammenossurpreendente.

A B S T R A C T TheexcavationofthemegalithicenclosureofFontainhas(Mora),on2005,

hasconfirmed,withnewdata,thechronologicalattributionofthemonumenttotheEarly

Neolithic, mostly decorated pottery and microlithic artefacts. Some new elements about

ritual,likethereuseofquernstonesinsidethesocketsofthemenhirs,ortheastronomical

orientations(solarandlunar)ofthestonesoutsidetheenclosure,havealsobeenobtained.

The survey around the site reinforced, by its side, the information given by the artefacts

recoveredinthedigofthemonument:anetworkofsettlements,spanningfromtheEarly

NeolithictotheEarlyBronzeAge,hasbeenregistered.Themainsurprise,inthisdomain,

was a Mesolithic occupation, expectable, until a certain point, according to some recent

datafromcontiguousareas,andtothegeographicalcontext,inthelimitsoftheTerciary

basinoftheTejo.

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) MANUElCAlAdO lEONORROChA PEdROAlviM

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100

Page 2: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-10076

1. Introdução

OrecintodasFontainhasfoidescoberto,nosanossetentadoséculovinte,pelaequipadosServiços Geológicos de Portugal, que publicou, a propósito, uma curta notícia sobre o monu-mento,emqueseincluiumaplantabastanterigorosa(Zbyszewskietal.,1977).

Note-seque,aindanoconcelhodeMora,amesmaequiparedescobriu(epublicou,nareferidanotícia,comosefosseinédito)orecintomegalíticodovaled’ElRei,querebaptizoucomoCrome-lequedasFigueiras;naverdade,omonumentotinhasidodescobertoepublicado,cercadeduasdécadasantes,pelocasalleisnerque,noentanto,nãolhedeuadevidaimportância.

Essedesinteressecompreende-se,emboaparte,porque,nessaaltura,nãoseconheciamaindaosoutrosexemplaresdamesmafamíliaquecomeçariamaseridentificados,nasequênciadadesco-bertadorecintodosAlmendres,apenasapartirdadécadadesessenta.Omonumentoque,naalturaseencontravapraticamenteintacto,aparecia-lhes,assim,comoumcasoexcepcionaledifícildeintegrarnomegalitismoregionalque,poressaépoca,eraconcebidocomoumfenómenoexclu-sivamentefunerário(leisnereleisner,1959).

Na actualidade, o recinto das Fontainhas encontra-se, aparentemente, muito amputado;conservaapenasseismenires,degranito,comformasovóidesmaisoumenosalongadas,todoselesinclinados ou tombados, embora com as bases parcialmente enterradas nos respectivos alvéolos.Omenirdemaioresdimensões (comcercade4mdecomprimento), fracturadoemduaspartes,ocupaumaposiçãorazoavelmentecentradaemrelaçãoaoarcoformadopelosrestantesmonólitos.

Nas proximidades deste conjunto (do ladoNorte,acercade15mdomenir6)jazia,muitoenter-rado, um pequeno menir, com cerca de 1,20 m decomprimento; por outro lado, a cerca de 70 m, aNordeste,existiaumoutromenirtombado,tambémquasetotalmenteenterrado,comcercade1,70mdecomprimento. Curiosamente, estes dois monólitosnãoforamreferidospelosdescobridoresdorecinto,tendosidoidentificados,nadécadadenoventa,pordoisdossignatários(MCelR).

O recinto das Fontainhas implanta-se numarechã,ligeiramentebalançadaparaleste,emterrenosdetríticos(complexogreso-argilosoeconglomerático),

Fig. 1 Omonumento,antesdoiníciodostrabalhoseapósalimpezadoterreno.

Fig. 2 hipsometriadaáreaenvolventedasFontainhas.

Page 3: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 77

nasbordasdabaciasedimentardoTejo.TendocomobaseaCartaGeológicaeasprospecçõesnoterreno,osafloramentosgraníticosmaispróximoslocalizam-sealesteedistamcercade1,5kmdomonumento.Emtermosdecapacidadeagrícola,éjuntoàribeiradoRaia,cercade1,5kmaNortedasFontainhasqueselocalizamasmelhoresmanchasdesolos,nosterraçosquaternáriosquemarginamaqueleafluentedoSorraia.

2. Algumas das questões científicas de que partimos

OrecintodasFontainhasapresentava,àpartida,algumascaracterísticascomunsàmaioriadosrestantes“cromeleques”alentejanos,nomeadamente:

1.implantaçãonumavertenteexpostaaNascente.Noentanto,ofactodeselocalizarnabase(enãojuntoaotopo)deumapequenaelevação,constituiumtraçorelativamenteoriginal.

2.descontextualizaçãogeológicadosmenires.Naverdade,osmeniressão,comoénormanaregião,degranito,enquanto,nestecasoconcreto,osubstratogeológicoécompostoporsedi-mentosarenosos.

3.Aplanta,apesardemuitotruncada,sugeriaumadisposiçãoemferradura,abertaaEste,talcomotemvindoaserobservadonagenerali-dade dos recintos alentejanos (Calado, 2002,2004)e,deumaformainequívoca,norecintopaviense de vale d’El Rei (Calado, 2004). Ainclinaçãodoterrenoeapresençadeummenirdemaioresdimensões,nointeriordorecinto,aproxima-oigualmentedomodeloobservadona maior parte dos exemplares mais bemconservados (Almendres, Portela de Mogos,valeMariadoMeio,Tojal).

4. Cronologia aparentemente recuada, nasequência neolítica regional, sugerida inicial-menteapenaspelapresençadesílex,detectadoemprospecçõesdesuperfície;essaantiguidadeeraigualmentesuportadapelosdadosobtidos,nosúltimosanos,nosoutrosrecintosmegalí-ticos do Alentejo Central. Note-se que, naregião, a presença, estatisticamente relevante,deartefactoserestosdetalhedesílex,serela-ciona sistematicamente com contextos doNeolíticoAntigo/Médio;apartirdoNeolíticoFinal,osílexfoi,emgrandeparte,substituídopeloxistojaspóideouoquartzohialino,nofabricodeprojécteis(pontasdeseta)emanteve-se,quaseexclusivamente,nofabricodaslâminas.Nesteâmbitocultural,osílextendeaocorrerempercentagensínfimas,sobretudoquandocomparadocomascerâmicas(Calado,2004).

Fig. 3 Sobreposição,comalteraçãodasescalas,dasplantasdosrecintosdoTojal(avermelho)edasFontainhas(acinzento)(1)edasplantasdosrecintosdosAlmendres(anegro)edoTojal(avermelho)(2).Note-se,emambososcasos,acoincidênciadasposiçõesdosmenires“centrais”.

Page 4: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-10078

5.Afastamentoemrelaçãoàsmanchasdolménicasqueatingem,sobretudoaNascente-Sul,umanotávelentidade(asantasdeCabeção,PaviaeBrotas).Omesmoacontece,aliás,comosrecintosdeÉvora,emparticularodosAlmendrese,atécertoponto,tambémodoXarez.

Noutraescalaedeoutromodo,noAlgarveéigualmentenotóriaasegregaçãoespacialentremenires e antas, fenómeno que, para além dasdiferenças cronológicas, implica diferentesformasdegestãodapaisagem.

Mas,paraalémdesseconjuntodecaracte-rísticasgenéricas,orecintodasFontainhasapre-sentavaalgumasespecificidades.

A ausência, nas imediações, de vestígioshabitacionais atribuíveis ao Neolítico Antigo/Médio, constituía, desde logo, uma excepçãoflagrante em relação às realidades observadasnasrestantesáreasmeníricasdoAlentejoCentral;defacto,asprospecçõesefectuadas,naúltimadécada,nasáreasenvolventesdosrecintosdeÉvora,deReguengosdeMonsarazoudeMontemor-o-Novo(Calado,2004),conduziramàidentificaçãosistemáticademanchasdepovoamentodessaépoca.

Estalacuna,queconstituía,porassimdizer,umpontofraconomodelocronológicoquetemosvindoadefender(Rocha,1999,2005;Calado,2004;Alvim,2006),prende-se,antesdemais,comumacuriosadiscordânciaentreasgeografiasneolíticaseasgeografiasdainvestigação:defacto,a

5.Afastamentoemrelaçãoàsmanchasdolménicasqueatingem,sobretudoaNascente-Sul,umanotávelentidade(asantasdeCabeção,PaviaeBrotas).Omesmoacontece,aliás,comosrecintosdeÉvora,emparticularodosAlmendrese,atécertoponto,tambémodoXarez.

Noutraescalaedeoutromodo,noAlgarveéigualmentenotóriaasegregaçãoespacialentremenires e antas, fenómeno que, para além dasdiferenças cronológicas, implica diferentesformasdegestãodapaisagem.

Mas,paraalémdesseconjuntodecaracte-rísticasgenéricas,orecintodasFontainhasapre-sentavaalgumasespecificidades.

A ausência, nas imediações, de vestígioshabitacionais atribuíveis ao Neolítico Antigo/Médio, constituía, desde logo, uma excepçãoflagrante em relação às realidades observadasnasrestantesáreasmeníricasdoAlentejoCentral;defacto,asprospecçõesefectuadas,naúltimadécada,nasáreasenvolventesdosrecintosdeÉvora,deReguengosdeMonsarazoudeMontemor-o-Novo(Calado,2004),conduziramàidentificaçãosistemáticademanchasdepovoamentodessaépoca.

Estalacuna,queconstituía,porassimdizer,umpontofraconomodelocronológicoquetemosvindoadefender(Rocha,1999,2005;Calado,2004;Alvim,2006),prende-se,antesdemais,comumacuriosadiscordânciaentreasgeografiasneolíticaseasgeografiasdainvestigação:defacto,a

Fig. 4 AspectodorecintodasFontainhasantesdoiníciodaescavação.

Fig. 5 OcontextoarqueológicodasFontainhas,namargemesquerdadaRib.doRaia:povoadosdaBarroca(Mesolítico/Neolítico)edasCabeçasdeMora(Calcolítico).

Page 5: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 79

delimitaçãodaáreadeestudodevergílioCorreia,opioneirodainvestigaçãosistemáticadomega-litismoalentejano,excluía,porescassamargem,oslocaisondeviemos,nasprospecçõesagoraefec-tuadas,aidentificarosprimeirospovoadosneolíticos,relacionáveiscomorecintodasFontainhas.Note-sequevergílioCorreia(quenãoregistouoprópriorecinto,apesardeesteselocalizarnasuaáreadeestudo)utilizou,parabalizaroseu“NeolíticodePavia”,umaáreacorrespondenteàfolha409,daCartaMilitardePortugal(Esc.1:25000)equeamesmagrelhafoi,naturalmente,utilizadanumtrabalhode investigaçãoregional levadoacaboporumdossignatários (Rocha,1999)quetinha,precisamente,comoprincipalobjectivo,reverosdadosdevergílioCorreia(1921).

Paraalemdessaausência,note-seque,antesdaintervençãoagoralevadaacabo,erammuitoescassos,naáreaenvolventedorecintodasFontainhas,osdadosarqueológicosque,emtermoscronológico-culturais,sepudessemrelacionarcomaconstruçãoeutilizaçãodomonumento.deentreeles,destacava-seopovoadocalcolíticodasCabeçasdeMora,implantadonumaelevaçãoaNortedasFontainhas,entreorecintoearibeiradoRaia,registado,háalgunsanos,pelossignatá-rios(Rocha,1999);tambémanortedorecinto,jánosterraçosquaternáriosdamargemesquerdadoRaia,existiamnotíciasdeváriassepulturassubmegalíticase,namargemdireita,umaantadecorredor(Moita,1956).

Emtermostafonómicos,umdosaspectosmaisintrigantesdorecintodasFontainhasera,àpartida,ofactodealgunsmeniresseencontraremaindacravadosesemi-erectos,apresentandodiversosgrausdeinclinação.Esseestadoinusitadodeconservaçãodasestruturaspareciacontra-ditóriocomosubstratoarenosoemqueomonumentoseinsereeparecia,teoricamente,implicarumaboaconservaçãoestratigráfica,pelomenosemtermosdeestruturasnegativaserespectivosconteúdos.Colocava-se,pois,apossibilidadedeseencontraremosalvéoloseascoroasdesusten-taçãodemeniresdesaparecidos,oque,aconfirmar-se,permitiria,nomínimo,recuperarinforma-çãosegurasobreaplantaoriginaldoconjunto.

A presença de dois menires (Menires 7 e 8), aparentemente independentes em relação aorecintopropriamentedito,masprovavelmentearticuladoscomele,apareciacomoumacaracterís-ticarelativamenteexcepcional,nosrecintosalentejanos,sobretudosevalorizarmosaquestãodaproximidade.Naverdade,tantoosmeniresdoMontedosAlmendresedevaledeCardos,emrela-çãoaorecintodosAlmendres,comoomenirdaCoureladoMonteNovo,emrelaçãoaorecintodeCuncos,ouomenirdoTojal,emrelaçãoaorecinto do mesmo nome, parecem conformarsituaçõesdeassociaçãorecinto/menirparalelizá-veis,apesardasdiferenças,comarealidadeobser-vadanasFontainhas(Calado,2004).

Nestedomínio,oobjectivodotrabalhoera,antesdemais,saberseosmeniresestariamefec-tivamente in situ; esta possibilidade era, num enoutrocaso,fortementeindicadapelasposiçõesdesniveladasdosmenires.

3. Metodologia

Face às problemáticas acima enunciadas, foram abertas três áreas de escavação. O Sector 1,inicialmentecom120m2,foidelimitadoemvoltadosmeniresquecompõemorecintopropriamente

Fig. 6 Menir8,tombadoacercade70maNascentedorecinto,naalturadasuadescoberta.Note-sequeomenirapresentavaumadasextremidadesligeiramentesobreelevadaemrelaçãoàoutra,sugerindoumalocalizaçãoin situ.

Page 6: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-10080

dito,emboracomumcertoalargamento,paraleste,umavez que era nessa direcção que esperávamos detectar osrestos das estruturas dos menires desaparecidos; apóssucessivas contracções, foram efectivamente escavadosapenas 70,5 m2, embora, no quadrante balizado pelosmenires 1, 2, 3, 4 e 5 (com cerca de 16 m2), tenha sidoapenasescavadaacamadasuperficial(quadrados8G,8h,9Ge9h).

QuantoaoSector2, foidelimitado,emvoltadomenir8,umquadradode5m2(2mx2,5m)e,noquedizrespeitoaoSector3,umquadradode4m2(2mx2m),reduzido,nasequênciadostrabalhos,para2m2(2mx1m).

Foifeita,apriori,aligaçãoàredegeodésicanacional,peloqueosvaloresaltimétricoseplanimétricosutilizadoscorrespondem,emtodososcasos,avaloresabsolutos.

Porsetratardeumaáreamaiscomplexaecomumacerta densidade de materiais arqueológicos, logo nacamadasuperficial,oSector1,foisubdividido,paraefeitosderegisto,deacordocomumaquadrí-culaorientadapelospontoscardiaisereferenciadaporumsistemaalfanumérico,comasletrasG,h,i,J,noeixoE-W,eosnúmeros8,9,10,11,12,noeixoN-S.

AsUnidadesEstratigráficasidentificadasforamescavadaspelaordeminversadasuadeposi-ção,seguindo,dentrodopossível,osprincípiosdaescavaçãoemárea(Barker/harris),eossedi-mentosremovidosforamintegralmentecrivados.

Quantoàsprospecções,foramefectuadasbatidassistemáticasdaáreaenvolvente,comequi-pasdetrêsacincoelementos,numraiodecercade3km.Ossítiosidentificadosforamcartografa-doscomGPS.

OstrabalhosdeescavaçãoeprospecçãodecorreramduranteomêsdeAgostode2005,contandocomaparticipaçãodealunosdearqueologiadasUniversidadesdelisboa,NovadelisboaedeÉvoraeoapoiologísticodaCâmaraMunicipaldeMoraedoinstitutoPortuguêsdeArqueologia;registam--se,ainda,ascolaboraçõesvoluntáriasdodr.Pedroduarte,dadra.MariadoRosárioFernandes,doEng.JoaquimFernandes,doManuelPisco,dalíliaBotoe,nadiscussãodasquestõesrelacionadascomoarranjopaisagísticodomonumento,daArq.ªAndreaMorgenstern.

(CMP1/25000,fl.409.CoordenadasMilitareshayfordGauss,datumdelisboa:m=201043p=218157,calculadassobreabasedomenir1)

4. Os dados da escavação

a) Sector 1

OSector1foiinicialmenteobjectodeumadecapagemdacamadasuperficial,decoracinzen-tada, com espessura entre 5 cm e 15 cm (U.E. 0); esta operação permitiu, desde logo, recolheralgunsmateriaispré-históricos, (sobretudosílexecerâmicamanual)misturadoscommateriaismodernos (vidros, cartuchos, fragmentosdecerâmicaeumamoedaantiga,muitodeteriorada,maseventualmenteromana).

Fig. 7 distribuiçãoespacialdostrêssectoresintervencionados.

Page 7: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 81

Aformaçãodacamadasuperficialresultounaturalmentedousoagrícolarecentedosítio,sendoclaramentevisíveis,nacamadasubjacente(U.E.1),ossulcosdosarados,correspondentesàsúltimaslavouras.

AU.E.1apresentava-se,emtodooSector1,comoumacamadadeterraamarelada/alaran-jada,praticamentesempedras,mascombastantesmateriaispré-históricose,atéàbasedaestrati-grafia,tambémcommateriaisrecentes.Osubstratogeológicoéconstituído,emtodoesteSector,porsedimentosarenosos,decoresbranquiçada.

Noquedizrespeitoàsestruturasdeimplantaçãodosmenires,apareceram,logodeinício,doisblocos,juntoaosmenires2e6,respectivamente;aposiçãodemasiadosuperficialdestesblocossugerequesetratedeelementosdesustentaçãodosmenires,deslocadosporfactorespós-deposi-

Fig. 8 Aspectodaescavaçãoemfaseinicial.

Aformaçãodacamadasuperficialresultounaturalmentedousoagrícolarecentedosítio,sendoclaramentevisíveis,nacamadasubjacente(U.E.1),ossulcosdosarados,correspondentesàsúltimaslavouras.

AU.E.1apresentava-se,emtodooSector1,comoumacamadadeterraamarelada/alaran-jada,praticamentesempedras,mascombastantesmateriaispré-históricose,atéàbasedaestrati-grafia,tambémcommateriaisrecentes.Osubstratogeológicoéconstituído,emtodoesteSector,porsedimentosarenosos,decoresbranquiçada.

Noquedizrespeitoàsestruturasdeimplantaçãodosmenires,apareceram,logodeinício,doisblocos,juntoaosmenires2e6,respectivamente;aposiçãodemasiadosuperficialdestesblocossugerequesetratedeelementosdesustentaçãodosmenires,deslocadosporfactorespós-deposi-

Fig. 9 Osmenires2,3,4e5nosanos70(fotoMarcianodaSilva).

Fig. 10 vistageraldorecintonosanos70(fotoMarcianodaSilva).

Page 8: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-10082

cionais.Juntoaosmenires1e3foramdetectadas,nestafase,fortesperturbaçõesque,sobretudonosegundocaso,resultaram,semdúvida,daacçãoderaízesdeárvores,entreasquaiscertamenteospinheirosdocumentadosnasfotografiasdosanos70doséculopassado.

Paraalémdosmateriaisanálogosaosdacamadasuperficial,destacou-se,naU.E.1,apresençadedoisconjuntos(U.E.2eU.E.23)defragmentosdevasosdecorados,parcialmenteemconexãoeque, tipologicamente, apontam, sem ambiguidade, para o Neolítico Antigo/Médio regional.Ambos se relacionam com pequenas concentrações de pedras cuja posição, em planta, parececompatívelcomasupostalocalizaçãodemeniresdesaparecidos.

Foram igualmente recolhidos, na U.E. 1, dois fragmentos de taça carenada, cuja presençaremete para contextos do Neolítico Final/Calcolítico, em consonância com um fragmento delâminaespessa,igualmenteprocedentedaU.E.1.

Poroutrolado,foiidentificadaumafossaalongada(U.E.5),preenchidacomterraacinzen-tada(U.E.4),quecontinhaalgunsfragmentosincaracterísticosdecerâmicaderoda,paraalémdealgunsblocospétreosqueresultamprovavelmentedadestruiçãodasestruturasdeimplantaçãodesteoudoutrosmenires.Estaestruturanegativaestavaparcialmentesobrepostapelofragmentotombado(distal)domenircentral(menir1)queacabouporserremovido,parafacilitaraescava-çãointegraldorespectivoenchimento(U.E.4).

Naverdade,oresultadomaissólido,noquedizrespeitoàrecuperaçãodaplantaoriginaldomonumento,foiadescobertadosrestosdeumalvéoloedacoroadeimplantação,entreaU.E.3eomenir5,correspondenteaumpresumívelmenirdesaparecido(menir5a).

Ainda no Sector 1, foi detectado, desenhado e, posteriormente, desmontado um pequeno“empedrado”(U.E.3),constituídoporumamancha(comcercade50cmdediâmetromáximo)deblocos de quartzo, com dimensões inferiores a 10 cm, cujo significado funcional nos escapa.

Fig. 11 Restosdaestruturadeimplantaçãodomenir5a(desaparecido).

Page 9: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 83

Aposiçãorelativamentesuperficialdestamanchaeofactode, por baixo, se terem recolhido materiais modernos,significa que se trata do resultado de actividade recente,eventualmente agrícola, e correspondendo, em últimaanálise, a restos perturbados de níveis de cascalheira,frequentesnestetipodecontextogeológico.

desalientarque,nosmeniresqueaindaseencontra-vamimplantados,nãoeramperceptíveis,noiníciodaesca-vação da U.E. 1, estruturas de sustentação consistentes,embora surgissem alguns blocos avulsos junto a algunsdeles.Asevidênciasdecoroaspétreas,nosmeniresaindacravados, surgiram apenas com o decurso da escavaçãodestacamada.

Aescavaçãojuntodosmeniressemi-erectos(Menir1,omenircentral,Menir2,osegundomaiordoconjunto,e,nosentidodosponteirosdorelógio,osmenires3,4e5)permitiu constatar duas situações distintas: junto à basedo menir 1, não se conservaram quaisquer vestígios de

estrutura pétrea, enquanto, no menir 2, apenas sobreviveram alguns pequenos blocos, no ladosudoeste;pelocontrário,nosrestantes,foramdetectadosrestosdeestruturasrelativamentebemconservados,constituindoanéisdeblocosdepequenasemédiasdimensões,entreosquais,nosmenires4e5,váriosfragmentosdemósmanuais.Estesmeniresforamretiradosparaforadaáreaescavada,operaçãodestinadaafacilitaraleituraeoregistodasestruturasdesustentação.

Fig. 12 Concentraçãodeblocosdepedra(seta),interpretadacomoosrestosdeestruturadeimplantaçãodeummenirdesaparecido(menir5b)emenir6,antesdeserretiradodaescavação.Note-seainclinaçãodomenir6,comabaseaindain situ.

Fig. 13 AspectodoSector1,emfasefinaldeescavação.Ébemvisívelabasedomenir2,semrestosdeestruturadeimplantação.Foramnumeradosospossíveisalvéolosdemeniresdesaparecidos.

Page 10: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-10084

Poroutrolado,aremoçãodomenir6eaescavaçãodossedimentossubjacentespermitiramrecuperartambémrestosmalconservados,masinequívocos,darespectivaestruturadeimplan-tação.

Fig. 14 Negativosderaízesdepinheiro,juntoàbasedomenir3(noladoSE)eestruturadeimplantaçãodomesmomenir(noladoNW).

Fig. 15 Estruturasdeimplantaçãodosmenires4e5.

Fig. 16 Elementosdemósmanuaisincluídasnosalvéolosdosmenires4e5.

Page 11: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 85

Fig. 17 Restosdoalvéoloedaestruturadeimplantaçãodomenir6.

Fig. 18 Fragmentosdecerâmica,emconexão(U.E.2).

Page 12: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-10086

Emtermosglobais,aescavaçãodoSector1traduziu-senaausênciaaparentedeestratigrafiaspré-históricas intactas, exceptuando, naturalmente, os restos das estruturas de implantação dealgunsmenires;estessobreviveramaosfenómenospós-deposicionaisgraças,muitoprovavelmente,aoobstáculorepresentadopelosprópriosmenires;efectivamente,comojáfoireferido,aU.E.1continha,embaladosnumsedimentomaisoumenoshomogéneo,decoramarelada,materiaisdediferentesépocas,embora,emtermosgerais,setenhaobservadoumaumentorelativodosmate-riaispré-históricos,nascotasmaisbaixas.

Ficouassimconfirmadaaafectaçãodosdepósitosarqueológicos,tendosido,nesteprocesso,afectadooprópriosubstratogeológicooriginal.Estasalteraçõeseaconcomitantehomogeneiza-çãoestratigráficaresultaramcertamentedeumaacçãocruzadadostrabalhosagrícolasedefenó-menosdebioturbação,nomeadamenteaacçãodasraízesdasárvores(dequeseobservaramexem-plosrecentes),dastocasdosanimais,etc.Efectivamente,asuperfícietopográficaactualdevesermuitosemelhanteàquelaemque,originalmente,osmeniresforamimplantados;sendoassim,osmateriais arqueológicos incorporados na U.E. 1 poderiam resultar da mistura de sedimentossuperficiaiscomosubstratogeológico.

Porém,apresença,nessamesmaunidadeestratigráfica,masemcotasmuitodiferentes,deduaspequenasbolsasdefragmentoscerâmicos(U.E.2eU.E.23),emconexão,sugere,emalterna-tiva,apossibilidadedeessesmateriaisteremsidodepositados,originalmente,emestruturasnega-tivas (alvéolos de menires, fossas ou lareiras) de que, infelizmente, não encontrámos nenhumaevidênciaconcreta.

Fig. 19 FragmentoscerâmicosdaU.E.23.

Page 13: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 87

Fig. 20 PlantafinaldoSector1:esquemadaquadrícula. Fig. 21 PlantafinaldoSector1:topografiaecotas.

Fig. 22 PlantafinaldoSector1:alvéolosecoroasdosmenires.

Fig. 23 PlantafinaldoSector1:outrasestruturas.

Page 14: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-10088

b) Sector 2Juntoaomenir8,acercade70mdorecinto,foi,comovimos,abertaumaáreacom5m2,com

oobjectivodeconfirmarasuapresumidalocalizaçãoin situ.Sobacamadasuperficial,acinzentada,foiescavada,emredordasestruturasdeimplantaçãodomenir,umaoutracamada,aU.E.1,decoramareladaescuraque,porsuavez,assentavanumacamadacompostaporpequenosseixosrola-dos, com diâmetros na ordem dos 3-5 cm, interpretada como restos de cascalheira natural e,portanto,comoosubstratogeológico.

Paraalémdeumpresumívelcalcedegranito,visíveljáàsuperfície,eparcialmentedeslocado(aparentementepeloprópriobasculamentodomenir,aotombar)aescavaçãopermitiuverificarqueabasedomonólitoassentava,tombada,sobreopróprioalvéoloepartedacoroadesustenta-ção,aqual,porsuavez,seencontravamuitobemconservada.

Esta estrutura era constituída por seteelementos de mós manuais, inteiros ou frag-mentados, para além de alguns pequenosblocosdequartzoedegranito.Note-sequeareutilizaçãodemós,nasestruturasdeimplan-taçãodosmenires,jáhaviasidoobservadanasescavações dos recintos de Évora (Almendres,vale Maria do Meio e Portela de Mogos),embora de formas muito mais pontuais(Calado,2004;Gomes,1997,2002).

Após a definição das estruturas pétreas,foiesvaziadooconteúdodoalvéolo,dematrizmuitogeológica,relacionadocomosubstratode argilas e gredas sobre o qual assentam asareias.

Foramrecolhidossedimentosparaflutu-açãoepalinologiaeamostrasparaOSl;estasúltimasforamretiradasdenoite,deentreaspedrasdacoroa,porsetratardoúnicocontextoaparentementeintactodesdeaerecçãodomenir.Proce-deu-se,nessaoperação,aodesmontedaestruturapétrea,tendosidorecolhidososelementosdemósqueaintegravam.

NãoforamrecolhidosartefactosnesteSector.

Fig. 24 Omenir8,emfasedeescavação.

Fig. 25 Oalvéolodomenir8,emfasedeescavação(depoisderetiradoocalcequeafloravaàsuperfície)

Page 15: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 89

b) Sector 3definiu-secomoSector3umaáreade4m2(dequeacabaramporserescavadosapenas2m2)

emtornodabasedomenir7.Apósaremoçãodomenir,aescavaçãodossedimentosemqueesteassentava[2]nãopermitiudetectarrestosdeestruturaspétreas;noentanto,aposiçãomuitoincli-nadadomonólito,comabasebastanteenterrada,sugeria,àpartida,queesteseencontravatombadoin situ. Por outro lado, a U.E. 2 apresentava uma coloração nitidamente distinta dos sedimentos“encaixantes”,U.E.1,correspondendoprovavelmenteaoenchimentoperturbadodoalvéolo.

TalcomonoSector2,nãoforamrecolhidosartefactos.

Fig. 26 Elementosdemóincluídosnoalvéolodomenir8. Fig. 27 PlantafinaldoSector2.

Fig. 28 Omenir7emfasedeescavação.

Fig. 29 PlantafinaldoSector3.

Page 16: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-10090

5. A estratigrafia

Sector 1

[1] – Nível de areia amarelo escuro, muito perturbada por fenómenos tafonómicos. Apre-senta-semuitosoltocomabundantematerialpré-histórico,masigualmentecominclusõesdemateriaisdeépocasrecentes.[2]–Conjuntodeblocosdegranitoequartzo,correspondendoeventualmenteaosrestosdaestrutura de implantação de um presumível menir (menir 5b), associados a um pequenoconjuntodecerâmicasemconexão.[3] – Conjunto de pequenos blocos de quartzo, formando uma mancha com cerca de0,80mx0,50m.[4]–Preenchimentodafossa[5],compostaporterraacinzentadaealgunsblocosdegranito.Continha duas moedas romanas e vários fragmentos de cerâmica de roda, eventualmenteromanos.[5]–Fossaabertasobomenircentral,comcercade2,50mx1,80m,comfundoovalado,ecomcercade0,40mdeprofundidademáxima.[6]–Enchimentodoalvéolo[8]domenir5a(desaparecido).Areiasmuitosoltas,comnódu-losdearenito,muitodurosepequenaspedrasdegranito.[7]–Manchadeareias soltas, avermelhadas, comnódulosdearenito,muitocompactosealgunsfragmentosminúsculosdecarvão,soba[3].Correspondeprovavelmenteàperturba-çãoprovocadaporumaárvore.[8] – Alvéolo do menir 5a, muito amputado, com cerca de 0,70 m de diâmetro e cerca de0,25mdeprofundidademáxima.[9]–Manchadeareiasacinzentadas,comnódulosferruginosos,soboconjuntodepedras[2].[10]–Restosdaestruturadeimplantaçãodomenir6,constituídosporumblocodecercade0,5mdecomprimentoedoisblocosdepequenasdimensões.[11]–Enchimentodoalvéolodomenir6[12].Terrasamareladas,muitosoltas.[12]–Alvéolodomenir6.Estruturanegativamuitoamputada,comcercade0,80mdediâme-troeescassos0,20mprofundidade.[13]–Restosdaestruturade implantaçãodomenir5a, constituídosporcincoblocos,dedimensõesmédias,dispostosemarcodecírculo.[14]–Estruturade implantaçãodomenir3.Constituídaporpedrasdegranito,dediversasdimensões;trata-se,certamente,daestruturadeimplantaçãomelhorconservadadoconjunto.[15]–Enchimentodoalvéolodomenir3:areiasmuitosoltas,comabundantesperturbaçõesderaízes,noladoleste.Nãofoiescavado.[16]–Alvéolodomenir3.[17]–Estruturadeimplantaçãodomenir4.Constituídaporblocosdegranito(4mós)eumblocodegnaisse.[18]–Enchimentodoalvéolodomenir4.Areiasmuitosoltas.[19]–Restosdoalvéolodomenir4;estruturanegativapoucoprofunda,comcercade0,70dediâmetro.[20]–Estruturadeimplantaçãodomenir5.Compostopor7fragmentosdemósmanuais(dormentesemoventes)eblocosdequartzo.[21]–Enchimentodoalvéolodomenir5.Areiasdetonalidadeacinzentada,muitosoltas.[22]–Alvéolodomenir5.

Page 17: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 91

[23]–Manchadeareiasacinzentadas,comsílexecerâmicasemconexãoparcialealgumaspequenas pedras, nomeadamente um seixo de quartzito. A matriz arenosa, apresentava-semuitosolta.Podecorresponder,emparte,aosrestosafectadosdasestruturasdeummenirdesaparecido(menir6a).[24]–Enchimentodopossívelalvéolodomenir5a.Areiasmuitosoltas,detomligeiramenteacinzentado.[25]–Alvéolodomenir5a.Trata-sedeumadepressãopoucoprofunda(cercade15cm),queinterpretámoscomoosrestosamputadosdoalvéolodeummenirdesaparecido.Estainter-pretaçãoéreforçadapelamétricadasdistânciasentreosmenires.

Sector 2

[1] - Nível de areia amarelo escuro, muito perturbada pela acção da agricultura, árvores earbustos.Apresentava-semuitosolta.[2]–Estruturadesustentaçãodomenir8,constituídaporblocosdequartzoe7fragmentosdemósdegranito(moventesedormentes;umdosdormentesfoireutilizado,comopolidor,noreverso)[3] – Enchimento do alvéolo do menir 8: areias com abundantes nódulos ferrosos. Poucocompacta.[4]–Alvéolodomenir8.depressãodeplantaovalada,comcercade0,90mx0,80mecercade0,30mdeprofundidadeconservada.

Osubstratogeológico,juntoaomenir8éconstituídoporareiadecoramareladacominter-calaçõesdeuma finacamada,de tipocascalheira, compostaporpequenos seixos rolados, comdiâmetrosnaordemdos3-5cm.

Sector 3

[1] - Nível de areia amarelo escuro, muito perturbada pela acção da agricultura, árvores earbustos.Apresentava-semuitosolta.[2]–Camadadeterraacinzentada,definidajuntoàbasedomenir.[3]–Bolsadeterraacinzentadaescura, interpretadacomoperturbaçãodeorigemnatural,eventualmenteosvestígiosdeumaraiz.

6. Síntese dos resultados

6.1. Os materiais

AescavaçãodorecintomegalíticodasFontainhaspermitiu,comovimos,recolheruminte-ressante conjunto de artefactos pré-históricos, sobretudo sílex e cerâmica manual, assim comomateriaismodernos,nomeadamentevidros,cartuchosefragmentosdecerâmicavidrada.

deentreosmateriaispré-históricos,osmaisdirectamenterelacionáveiscomaconstruçãoeousodomonumento,destacam-seosartefactos líticos—maioritariamente lamelaserestosde

Page 18: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-10092

talhe — que, em termos tipológicos, remetem genericamente para o Neolítico Antigo/Médio.Foramigualmenterecolhidosdoistrapéziosdesílex,simétricos,comtruncaturasrectas/convexas,amboscomentalhenabasemenor;este tipodemicrólitosocorre,porexemplo,nas indústriasmesolíticasdoTejo (Roche,1972),embora,comalgumafrequência, estejampresentes tambémnosespóliosdassepulturasprotomegalíticasdaregião(enãosó)(Rocha,2005).

Éimportantesublinharque,nestassepulturas,estão,pornorma,ausentesascerâmicasdeco-radas.

Note-se,poroutrolado,queocarácteraparentementeanacrónicodostrapézios,sobretudo,comotambémacontececomfrequência,emmonumentosfuneráriosdetipologiaevoluída,pode-riaresultardepráticasrituais,detipotrasladação,que,emconjugaçãocomfenómenosdeconser-vadorismo, reutilização ou utilização prolongada, tornariam inadequado o modelo tradicionalquetendeaconsiderarosespólioseasarquitecturascomoautomaticamentecontemporâneose,sobretudo,tendeaexcluirapossibilidadedeosespóliosseremmaisantigosqueassepulturasqueosencerram(Rocha,2005).

Quantoàscerâmicas,foirecolhidoumconjuntodecercadeumadezenadefragmentos,algunsdosquaisdecorados(incisos,impressosecomdecoraçãoplástica),pertencentesavasosdiferentes,dequesedestacaapresençadeumfragmentocomasa,combotãonapartesuperior.EstesachadosindiciamigualmenteumacronologiadentrodoNeolíticoAntigo,numafasepossivelmenteevolu-cionada(SilvaeSoares,1981;SoareseSilva,2003),cominúmerosparalelosconhecidos,nomeada-mentenaGrutadaFurninha(diniz,1994)ouemS.PedrodeCanaferrim(Simões,1999).

Paraalémdestesmateriais,queinterpretamoscomocontemporâneosdaconstruçãoeusoinicialdorecinto,foramidentificadosindíciosqueimplicamumacertacontinuidade(comousemhiatos)deuso,emfasesmaisavançadas(carenaselâminaespessadechert).

Tendoemcontaograudeconservaçãodomonumentoeapresença,nasimediações,devestí-gios de povoados do Neolítico Final e do Calcolítico, parece razoável que, pelo menos nessas

Fig. 30 SelecçãodeartefactoslíticosdaescavaçãodasFontainhas. Fig. 31 CerâmicasdoSector1(osdoisfragmentosdovaso1provêmdaU.E.2).

Page 19: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 93

épocas,orecintotenhaconservadoalgumaproeminênciasimbólicae,deumaformaoudeoutra,setenhamantidoemuso.Éaltamenteprovável,aliás,que,nessasépocas,orecintoseconservasseaindaintacto.

Apesardaescassezdeestudosespecíficossobreotema,dispomoscadavezmaisdeelementosquecomprovamousodosmonumentosmegalíticos(antasoumenires),emépocasmuitoposte-rioresàsuaconstrução(Calado,2004;Mataloto,2007).

Aspermanênciasmegalíticas,naregião,têm,aliás,umexemplarmuitosui generis—oAlinha-mentodaTera—construídonaiidadedoFerro,numambientepaisagísticofortementemegalí-tico,emquesobressai,aliás,orecintodevaled’ElRei;comosesabe,estemonumentochegou,praticamenteintacto(comligeirasinclinaçõesdealgunsmenires)atéaosanos70doséculopassado(Calado,2004).

Na verdade, todos os materiais recolhidos correspondem presumivelmente a actividadesposteriores à erecção dos monólitos; porém, as mós manuais, registadas em número surpreen-dente(dezoitoexemplares,nasestruturasdesustentaçãodeapenastrêsmenires),são,emnossaopinião, o melhor indicador de uma génese neolítica do monumento. O carácter ritual destapráticapareceumahipóteseareter:nãosevislumbram,aliás,explicaçõesdetipotécnico/econó-micoparaumatalopção,tantomaisqueospovoadosdeonde,teoricamente,terãosidooriundas,selocalizamaumadistânciamaiordoqueosprópriosafloramentosgraníticos.

Avalorizaçãosimbólicadosartefactosdemoagempoderia,aliás,relacionar-secomaconsa-bida utilização de outros artefactos especificamente neolíticos — e fundamentais na economianeolítica—comosãoosmachadoseosbáculos(cajadosdepastor),elevados,deumaformamuitoevidente,àcategoriadeelementossimbólicos.

Note-sequeaantiguidaderelativa(NeolíticoAntigo/Médio)sugeridapelascerâmicasdeco-radasepeloprópriosílex,implicaqueasmósdevemserdessaépocaoumesmoalgoanteriores,assumindoqueomonumentorepresentaa“primeirapedra”naestratigrafiadosítio.Ora,asmós,tal como a pedra polida, costumam escassear nos contextos habitacionais do Neolítico Antigo(emboraestejamsemprepresentes)(diniz,2003);estararidadepodetersido,emúltimaanálise,umdosingredientesdecisivosnavalorizaçãoritualdessesutensílios.

A associação de mós manuais com menires — e, no caso destes últimos, a funcionalidaderitualéinquestionável—pareceassumir,nocontextoalentejano,umaoutramodalidade,nocasodorecintodoXarez:defacto,norestaurolevadoacabosobadirecçãodePiresGonçalves,nosanossetentadoséculopassado,foramincorporadosnomonumentováriosdormentesdemómanual,cujaproveniênciaseria,presume-se,aprópriaáreaemqueosmeniresseencontravammasque,atendendo às dimensões de algumas, não é plausível que tenham servido de calces (Gomes,2000).

Conhece-se,aliás,umcasomuitoeloquentedaligaçãoconceptualentremeniresemós:trata--sedomenirdaCegonha,naBeiraBaixa,que,naverdade,éumgrandedormentedemómanual,implantadonavertical,comomenir(Cardosoetal.,1995).

Seasmóscorrespondem,certamente,àépocadaconstruçãodomonumento,osmateriaisromanosrecolhidoscorresponderão,provavelmente,aoúltimoepisódioemqueorecintoparecetersidoofocodealgumtipodeusoritual.defacto,nasproximidadesdomenircentral,foramrecolhidastrêsmoedasromanas(uma,naU.E.0,easoutrasduas,naU.E.4)sugerindoigualmenteumapresençadecarácterritual(funerárioououtro).

Naverdade,nãoéaprimeiravezqueosmeniresdoAlentejoCentralapresentamevidênciasde fenómenos de utilização/destruição, ocorridos em época romana: no caso de S. Sebastião(Évora) (Calado, 2004), os menires foram derrubados e amputados nessa época, embora aí no

Page 20: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-10094

contextodoqueparecetersido,emfunçãodaquan-tidadeedavariedadedosartefactosrecolhidos,umaocupação relativamente intensa (eventualmentehabitacional)dolocal.

No recinto de vale Maria do Meio, onde nãoexistemindíciosdeumaverdadeirapresençaromana,foram identificados vários casos de amputação eremoção de monólitos, supostamente em épocaromanaouposterior,atendendoaqueparecemter-sedestinado à produção de silhares; por outro lado,num sítio romano localizado nas redondezas dorecinto,foidescobertoumfragmentodemenirque,aoque tudo indica, terá sidodeslocadoapartirdovaleMariadoMeio(Calado,2004).

Também no recinto do Tojal existem sinaisclaros(tijoloetégula)deumapresençaromana,nolocal,emboraanaturezadostrabalhosefectuadosnãotenhampermitidocaracterizá-lamelhor(Calado,2003,2004).

Sejacomofor,regressandoàsFontainhas,osdadosdisponíveis(rarosfragmentoscerâmicos,deatribuiçãoquestionável,etrêsmoedas,permitem,semnenhumamargemparadúvidas,excluirqualquertipodeusohabitacional.

6.2. As estruturas e as estratigrafias

OmonumentodasFontainhas,talcomohojeoconhecemos,estámanifestamenteamputado.infelizmente,aocontráriodasexpectativas,aescavaçãoapenaspermitiuconfirmar,semreservas,aposiçãooriginaldeumdosmeniresdesaparecidos(5a),noespaçoentreosmenires5e6.

Porém,adistribuiçãodosmeniressobreviventeseaposiçãodeduaspequenasconcentraçõesdepedras(U.E.2eU.E.23),ambasassociadasafragmentoscerâmicosemconexão,permitem-noscolocarahipótesede,nasduassituações,essesconjuntoscorresponderem,commaioroumenorperturbação,aosrestosdasestruturasdeimplantaçãodospresumíveismenires5be6a.Osmate-riais associados correspondem provavelmente aos restos, muito perturbados, de estratigrafiasmaisoumenosprotegidaspelapresençadosprópriosmenires,entretantodesaparecidos.

Odesaparecimentodosmenirespode,obviamente,terocorridoemqualqueraltura,apósaconstrução;noentanto,asprospecçõesefectuadas,atéagora,nasimediaçõesdorecinto—deonde,atéàdata,estãoausentesossítiosproto-históricos,romanosemedievais—sugeremqueodestinomaisprovávelparaosmeniresemfaltaterãosidoos“montes”,nasuamaioriaconstruídosjánoséculo XX, num processo de parcelamento agrícola que está na origem da actual estrutura dapropriedade,nasFontainhas.Nalgunsdesses“montes”,actualmenteabandonadoseemprocessode ruína, sãovisíveisosblocosdegranitousadosnas respectivas fundaçõesouembasamentos.Recorde-sequetodaestaáreaéconstituídaporterrenosarenososeque,apartirdascourelasdasFontainhas,orecintomegalítico,localizadoaindaporcimajuntoaocaminho,eraafontedessamatéria-primamaisfacilmenteacessível.

Emrelaçãoàfossaidentificada,juntoaomenircentral(e,parcialmente,sobaextremidadedistal),aU.E.5,colocámos,deinício,duashipótesesinterpretativas:poderiaeventualmentetratar-

Fig. 32 Moedaromana.

Page 21: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 95

-sedeumaviolaçãolevadaacaboporpesquisadoresdetesourosou,emalternativa,umasonda-gemdediagnósticofeitaporarqueólogos,emboranadatenhasidopublicadoquepermitaatestá--lo;estaleituraresultoudainformaçãoprestadaporumdospopularesquevisitouaescavação,referindoqueuns“professores”tinhamefectuadoescavaçõesnorecintonosfinaisdosanos60ouiníciosdosanos70doséculoXX.

Porém,apresençadosmateriaisromanosnossedimentosquecolmatavamafossa(U.E.4),apesar de escassos, sugere a possibilidade de a estrutura ter sido aberta e colmatada em épocaromana. Note-se que a localização do recinto, junto a uma encruzilhada de caminhos antigos,poderiaconjugar-secomahipótesedeumusofunerário.

Tantoquantosesabe,avillaromanamaispróximalocaliza-seameiadúziadequilómetros,aNordeste,juntoaocemitériodeCabeção.

Paraalémdosdadosobtidosnorecintopropriamentedito,aescavaçãodosSectores2e3,confirmourazoavelmenteassuspeitasiniciais.

Nocasodomenir8,queconservavaasestruturasdeimplantaçãoparcialmenteintactas,essaconfirmaçãofoiabsoluta;noquedizrespeitoaomenir7,semestruturasconservadas,apresentavauma posição inclinada que, atendendo àquilo que tem sido observado, repetidamente, noutroscasossemelhantes—paraalémdomenir8,refiram-se,porexemplo,osmeniresdoTojaledoBarro-cal,assimcomováriosdorecintodovaleMariadoMeio—deveriaencontrar-seaindain situ.

Épossívelqueosmenires7e8sejamapenasoremanescente de um sistema mais complexo. Noentanto,considerandosomenteessesdoismenireseohorizontemaispróximo—ocabeçoadjacente,nolado ocidental — é possível detectar duas possíveisorientações astronómicas, recorrentes, de diversasformas, noutros monumentos análogos (Silva eCalado,2003a,2003b;Silva,2004;Alvim,2006).

Trata-se,porumlado,deumaorientaçãosolsti-cial (24º), materializada pela linha que passa pelosdoismenires,e,poroutro,deumaorientaçãolunar,materializadanalinhaquepassapelomenir8epelotopodoreferidocabeço,aOeste;efectivamente,estaorientaçãocoincidecomadonascerdalua,nohori-zonte,naPausaMaior(29º).

6.3. Outros aspectos

Finalmente,umbrevecomentário sobreos resultadosdasprospecçõesde2005que,aliás,tiveramcontinuidadeem2006.Foram,comojáfoiassinalado,identificadosvestígiosdepovoadosdoNeolíticoAntigo/Médio,NeolíticoFinaleCalcolítico.

Todos eles ocupam posições relativamente próximas das margens da Ribeira do Raia, emarticulaçãocomosterraçosférteisque,nestetroço,assumemumadimensãomuitonotável.

destacam-se os povoados da Barroca e da Chaminé 3, localizados, respectivamente, namargemesquerdaenamargemdireitadoRaia;ambosforamobjectodebrevessondagensdediag-nóstico,nacampanhade2006,tendoproporcionadomateriaisenquadráveisnumlequecronoló-gicoquecobreatransiçãoMesolítico-Neolíticoeseconjugam,noseuconjunto,comosmateriais

Fig. 33 Alinhamentosastronómicosdosmenires7e8.

Page 22: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-10096

maisantigosrecolhidosnasFontainhas.Foiigualmenteidentificada,naChaminé3,umaocupa-çãodoNeolíticoFinalque,nestafase,seprolongaporumaáreaextensa,navárzeaimediatamenteadjacente,comaqualsepoderãorelacionarosmateriaismaistardiosdorecinto.

Existemsemelhanças(nomeadamenteadecoraçãoincisa,compostaporcanelurasparalelas)entre as cerâmicas das Fontainhas e as da Barroca; no entanto, os triângulos, abundantes naBarroca, não estão representados nas Fontainhas. Os próprios trapézios das Fontainhas (doisexemplares)sãodiferentesdosdoisúnicosexemplaresdaBarroca:estessãotrapéziosassimétricosedetruncaturascôncavas(tipoTéviec).

Poroutrolado,ascerâmicasdecoradasdaChaminé3conjugam-sebemcomasdasFontai-nhas,ambascomumaboapercentagemdecerâmicaimpressa;noquedizrespeitoàpedralascada,omaterialdopovoadoreduz-seaumpequenoconjuntodelascas,semgeométricos.Convémrefe-rirque,sobretudonocasodaChaminé3,aamostrasondadafoimuitodiminutaoque,natural-mente,limitaoalcancedosdadosobtidos.

Nasproximidadesdorecinto,foramigualmenteregistadosalgunspresumíveissítiosdehabi-tat,deescassaentidadesuperficial,cujarelaçãocomorecintoépraticamentecerta.UmfenómenosemelhantefoiobservadonasimediaçõesdorecintodosAlmendres,numpadrãoque,atendendoàssondagenspraticadasnumdeles(Gomes,2002),sugereocupaçõesepisódicas,relacionadascomaconstruçãoouousoespecíficodosmonumentos.

Estão,porora,ausentes,nasimediaçõesdasFontainhas,povoadosdaidadedoBronzeedoFerro,aspectoquepareceapontarparaumacriseregional,detectável,nosfinaisdoCalcolítico,emtodooAlentejoCentral(Calado,1995),masque,nestaárea,pareceter-setraduzidonumaban-donoparticularmenteprolongado.

Complementarmenteaostrabalhosdeescavaçãoeprospecção,foramefectuadasobservaçõesefotografiasnocturnas,comluzrasante,nosmeniresdasFontainhas.

Essaoperaçãoconduziuàdetecção,nomenir2,deduaspossíveisgravuras,malconservadas:umcrescenteladeadoporumbáculo,embaixorelevo.

Trata-se de dois dos temas mais frequentes nos menires alentejanos, embora, no que dizrespeitoaosrecintos,apenasseconheçam,porenquanto,nosexemplaresdosarredoresdeÉvora.Nosmonumentosmaisperiféricos,comoéocasodasFontainhas,nãotinha,atéàdata,sidoiden-tificadoqualquertipodegravuras,àexcepçãodascovinhas.

Fig. 34 Possíveisgravuras,embaixo-relevo,deumcrescenteeumbáculo,juntoaomenir2.

Page 23: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 97

7. Perspectivas futuras

Umdosobjectivos finaisdestaescavação foio restauroeamusealizaçãodomonumento,àsemelhançadoquetemsidofeito—ouseprojectafazer—noutroscasosanálogos.

AproximidadedorecintoemrelaçãoàestradaPavia-Morae,portanto,asuafácilacessibili-dade, é uma das características que tornam este monumento particularmente adequado à suarentabilizaçãoturísticaesócio-cultural;esteaspectoé,naturalmente,reforçadopelaqualidadedocontextopaisagísticoemqueorecintodasFontainhasseencontrainserido.

Em termos mais gerais, o recinto das Fontainhas faz parte de um pequeno conjunto demonumentos,praticamenteexclusivosdoAlentejoCentral,cujararidaderelativa(comparando,porexemplo,comasantas)ecujapresumidaantiguidade—representamoarranquedomegali-tismo e, simultaneamente, do Neolítico, na região — justificam plenamente a sua valorizaçãosócio-cultural.

Note-seque,apesardeumcertoardefamília,traduzindo,certamente,umcontextomuitoespecífico,emtermossociaiseideológicos,osrecintosalentejanossãotodosdiferentesentresi.Asdiferençasentreelesimplicam,sobretudo,ocontextopaisagístico,aplantadosrecintos,onúmeroeaformadosmenires,ossímbolosgravados(ounão)easprópriasorientaçõesastronómicas(SilvaeCalado,2003a,2003b;Alvim,2006).

Emtermoscientíficos,orecintodasFontainhaseoseucontextoarqueológicocolocam-nos,maisumavez(deus,2002),peranteaquestão,nuncaformulada,darelaçãoentreoMesolíticoeosmenires,nasfronteirasdoAlentejoCentral,tantomaisque,nosúltimostempos,surgiram,emáreasmuitomaisinteriores,algunsindíciosdessarelação,empovoadoscomooAltodeS.Bento(Évora)eoBarrocalinho17(ReguengosdeMonsaraz)(Calado,2004).

Emtermospráticos,importa,logoquepossível,criarcondiçõesadequadasàsuavisitabili-dade,integrando,naturalmente,soluçõesquepassempelagestãodoestacionamento,sinaléticaeestruturasinformativas.

Fig. 35 Orecinto,apósorestauroparcial.Àdireita,omenir7.

Page 24: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-10098

Ficaram,comoseviu,algumasquestõescientíficasporresolver.Aclarificaçãodealgumasdelaspassará,obviamente,peloestudodocontextoarqueológico,comprioridadeparaaanálisedospovoadosentretantoidentificados,semexcluirahipótesedeumanovacampanhadeescava-ções,comoobjectivodedetectareventuaisestruturasdeimplantaçãodemeniresdesaparecidos,expectáveisnaáreanãoescavada,sobretudonoladoNascente/Sul.Seria,igualmenteimportanteefectuarsondagensnoexteriordorecinto,tendoemvistaaeventualdetecçãodeestruturas(fossas,lareiras,buracosdeposte,etc.)e,sobretudo,acomparaçãocomaamostrarecolhidanointeriordorecinto.

Fig. 37 OsmeniresdorecintodasFontainhas(Calado,2004).

Fig. 36 (aeb).Osmenires8e7apósareimplantação.

Page 25: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central) Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 99

BIBLIOGRAFIA

AlviM,P.(2006)-Menires, paisagem, paisagens: os Almendres e a Serra do Monfurado.www.crookscape.org.

ANGElUCCi,d.;dEUS,M.de(2006)-Geomorfologiaeocupaçãopré-históricanobaixocursodorioSor:primeirasobservações

geoarqueológicas.Revista Portuguesa de Arqueologia.lisboa.9:1,p.5-26.

CAlAdO,M.(1990)-Aspectosdomegalitismoalentejano.ComunicaçãoapresentadaàsivJornadasdaAssociaçãodeArqueólogosPortugueses.

O Giraldo (JulhoeAgosto).Évora.

CAlAdO,M.(1993)-Menires,alinhamentosecromelechs.inMEdiNA,J.,ed.-História de Portugal. lisboa:Ediclube.1,p.294-301.

CAlAdO,M.(1995)-A região da serra d’Ossa: introdução ao estudo do povoamento neolítico e calcolítico.lisboa:FaculdadedeletrasdaUniversidade

delisboa(ediçãopolicopiada).

CAlAdO,M.(1997)-Cromlechsalentejanoseartemegalítica.inActas del III Coloquio Internacional de Arte Megalítico.ACoruña:Museo

Arqueolóxicoehistórico,p.289-297.

CAlAdO,M.(2000a)-NeolitizaçãoemegalitismonoAlentejoCentral:umaleituraespacial.inActas do 3.º Congresso de Arqueologia Peninsular.

Porto:AdECAP,p.35-45.

CAlAdO,M.(2000b)-OrecintomegalíticodevaleMariadoMeio(Évora,Alentejo).inActas do I Colóquio Internacional sobre Megalitismo (Monsaraz,

1996). lisboa:institutoPortuguêsdeArqueologia,p.167-182.

CAlAdO,M.(2001)-Da serra d’Ossa ao Guadiana: um estudo de Pré-História regional. lisboa:institutoPortuguêsdeArqueologia.

CAlAdO,M.(2002)-Standingstonesandnaturaloutcrops.TheroleofritualmonumentsintheNeolithictransitionoftheCentralAlentejo.

inSCARRE,C.,ed.-Monuments and Landscape in Atlantic Europe.london:Routledge,p.17-35.

CAlAdO,M.(2003)-Megalitismo,megalitismos:oconjuntoneolíticodoTojal(Montemor-o-Novo).inMuita gente poucas antas? Origens, espaços

e contextos do Megalitismo. Actas do II Colóquio Internacional sobre Megalitismo. lisboa:institutoPortuguêsdeArqueologia,p.351-369.

CAlAdO,M.(2004a)-EntreoCéueaTerra.MeniresearterupestrenoAlentejoCentral.inCAlAdO,M.,ed.- Sinais de pedra. I Colóquio

Internacional sobre Megalitismo e Arte Rupestre.Évora:FundaçãoEugéniodeAlmeida.

CAlAdO,M.(2004b)-MeniresdoAlentejoCentral.GéneseeEvoluçãodapaisagemmegalíticaregional.lisboa:FlUl(Tesefotocopiada).

http://www.crookscape.org/tesemc/tese.html

CAlAdO,M;ROChA,l.(1996)-NeolitizaçãodoAlentejointerior:oscasosdeÉvoraePavia. in Actas del I Congrés del Neolític a la Península lbèrica.

Gavà:[s.n.],p.673-682.

CARdOSO,J.l.;GOMES,M.v.;CANiNAS,J.C.;hENRiQUES,F.R.(1995)-OmenirdeCegonhas(idanha-a-Nova).Estudos Pré-históricos.viseu.

3,p.5-17.

CORREiA,v.(1921)-El Neolítico de Pavia.Madrid:ComisióndeinvestigacionesPaleontológicasyPrehistóricas(Memoria27).

dEUS,M.de(2002)- Povoamento neolítico e calcolítico na região de Montargil.lisboa:FaculdadedeletrasdaUniversidadedelisboa(tese

fotocopiada).

diNiZ,M.(1994)-Acerca das cerâmicas do Neolítico Antigo da Gruta da Furninha (Peniche) e da problemática da neolitização do Centro/Sul de Portugal.

lisboa:FaculdadedeletrasdaUniversidadedelisboa(policopiado).

GOMES,M.v.(1997)-CromelequedaPorteladeMogos.Ummonumentosócio-religiosomegalítico.inSARANTOPOUlOS,P.,ed.-Paisagens

Arqueológicas a Oeste de Évora.Évora:CâmaraMunicipal,p.35-40.

GOMES,M.v.(2000)-CromelequedoXerez.Aordenaçãodocaos.inSilvA,A.C.,ed.-Das pedras do Xerez às novas terras da Luz.Beja:EdiA,

p.17-190.

GOMES,M.v.(2002)-Cromeleque dos Almendres. Um monumento socio-religioso neolítico.lisboa:FaculdadedeCiênciasSociaisehumanasda

UniversidadeTécnicadelisboa(textopolicopiado).

MATAlOTO,R.(2007)-Paisagem,Memóriaeidentidade:tumulaçõesmegalíticasnopós-megalitismoalto-alentejano.http://www.crookscape.

org/textmar2007b/text11b.html

MOiTA,i.(1956)-SubsídiosparaoestudodoEneolíticodoAltoAlentejo. O Arqueólogo Português. lisboa.3.ªsérie.2,p.135-175.

MOiTA,i.(1965)-SobrevivênciadecultosdeorigemremotanointeriordoAlentejo.Separata das Actas do Congresso Internacional de Etnografia.

lisboa:[s.n.].

ROChA,l.(1999a)-AspectosdomegalitismodaáreadePavia,Mora(Portugal).Revista Portuguesa de Arqueologia.lisboa.2:2,p.71-94.

ROChA,l.(1999b)-OmegalitismofuneráriodaáreadePavia,Mora(Portugal).Estadoactualdainvestigação.inII Congrés del Neolític

a la Península Ibèrica.

ROChA,l.(1999c)-Povoamento megalítico de Pavia. Contributo para o conhecimento da Pré-História regional.Setúbal:CâmaraMunicipaldeMora.

ROChA,l.(2005)-As origens do megalitismo funerário no Alentejo Central: a contribuição de Manuel Heleno.lisboa:FlUl(Tesefotocopiada).

Page 26: Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das ... · 78 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100 5. Afastamento em relação às manchas

Manuel Calado | Leonor Rocha | Pedro Alvim Neolitização e megalitismo: o recinto megalítico das Fontainhas (Mora, Alentejo Central)

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 75-100100

ROChE,J.(1972)-Le gisement mésolithique de Moita do Sebastião, Muge, Portugal-Archéologie. vol.i.lisboa:direcção-GeraldosAssuntosCulturais.

SilvA,C.M.da(2000)-SobreopossívelsignificadoastronómicodoCromlequedosAlmendres.A Cidade de Évora.Évora.2:4,p.109-127.

SilvA,C.M.da(2004)-Thespringfullmoon.Journal for the History of Astronomy. Cambridge. 35,p.475-478.

SilvA,C.M.da;CAlAdO,M.(2003a)-NewastronomicallysignificantdirectionsofmegalithicmonumentsintheCentralAlentejo.Journal of

Iberian Archaeology.Porto.5,p.67-88.

SilvA,C.M.da;CAlAdO,M.(2003b)-MonumentosmegalíticoslunaresnoAlentejoCentral.inCAlAdO,M.,ed.-Sinais de pedra. Actas

do 1.º Colóquio Internacional sobre Megalitismo e Arte Rupestre na Europa Atlântica. Évora:FundaçãoEugéniodeAlmeida(Cd-ROM).

SilvA,C.T.;SOARES,J.(1981)-Pré-História da área de Sines.lisboa:GabinetedaÁreadeSines.

SilvA,C.T.;SOARES,J.(2000)-ProtomegalitismonoSuldePortugal:inauguraçãodaspaisagensmegalíticas.inGONçAlvES,v.S.,ed.-Muitas

antas, pouca gente? Actas do Colóquio Internacional sobre Megalitismo.lisboa:institutoPortuguêsdeArqueologia,p.117-134.

SiMÕES,T.(1999)-O sítio neolítico de S.Pedro de Canaferrim (Sintra).lisboa:institutoPortuguêsdeArqueologia.

SOARES,J.;SilvA,C.T.(2003)-AtransiçãoparaoNeolíticonacostasudoesteportuguesa.inGONçAlvES,v.S.,ed.-Muita gente poucas antas?

Origens, espaços e contextos do Megalitismo. Actas do II Colóquio Internacional sobre Megalitismo.lisboa:institutoPortuguêsdeArqueologia,p.45-56.

ZBYSZEWSKi,G.;FERREiRA,O.v.;REYNOldSdeSOUSA,h.;NORTh,C.T.;lEiTÃO,M.(1977)-Nouvellesdécouvertesdecromelechsetde

menhirsauPortugal.CSGP.lisboa:[s.n.].61,p.63-73.

ZilhÃO,J.(2001)-RadiocarbonevidenceformaritimepioneercolonizationattheoriginsoffarminginWestMediterraneanEurope.Proceedings

of the National Academy of Sciences.Washington,dC.98,p.14180-14185.