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CARLOS FERNANDO SANTANA COSTA NEOPLASIA MAMÁRIA EM CANÍDEOS E FELÍDEOS DOMÉSTICOS CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU SÃO PAULO 2008

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CARLOS FERNANDO SANTANA COSTA

NEOPLASIA MAMÁRIA EM CANÍDEOS E FELÍDEOS DOMÉSTICOS

CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU

SÃO PAULO

2008

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CARLOS FERNANDO SANTANA COSTA

NEOPLASIA MAMÁRIA EM CANÍDEOS E FELÍDEOS DOMÉSTICOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado

ao programa de graduação em Medicina

Veterinária, das Faculdades Metropolitanas

Unidas, como requisito parcial para

obtenção do título de médico veterinário.

Orientadora: Profª Aline Machado De

Zoppa

CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU

SÃO PAULO

2008

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Costa, NEOPLASIA MAMÁRIA EM FELÍDEOS E CANÍDEOS

DOMÉSTICOS / Carlos Fernando Santana Costa. – São Paulo:

Faculdades Metropolitanas Unidas, 2008. 47f; ilustração.

1. Neoplasia mamária. 2. cão. 3. Gatos I. Carlos Fernando Santana

Costa. II. Neoplasia Mamária em canídeos e felídeos domésticos.

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Carlos Fernando Santana Costa

NEOPLASIA MAMÁRIA EM CANÍDEOS E FELÍDEOS DOMESTICOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado

ao programa de graduação em Medicina

Veterinária, das Faculdades Metropolitanas

Unidas, como requisito parcial para

obtenção do título de médico veterinário.

Orientadora: Profª Aline Machado De

Zoppa

Defendido e aprovado em _____ de

dezembro de 2008, pela banca examinadora

constituída pelos professores:

__________________________________________________

Profa. Ms. Aline Machado de Zoppa

FMU - Orientadora

__________________________________________________

Prof. Ms. Carlos Ausgusto Donini

FMU

__________________________________________________

M. V. Jamara Alves Siqeira

Hospital Veterinário - FMU

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Agradecimentos

Agradeço a todos aqueles que de alguma

forma ajudaram no desenvolver deste

trabalho.

A minha orientadora professora Aline

Machado De Zoppa, por me auxiliar no

desenvolver do projeto e pela sua paciência,

dedicação e vocação em ensinar com prazer

naquilo que faz.

A minha esposa Jane Moreira Costa que

esteve ao meu lado em todos os momentos,

sempre me aconselhando e ajudando em tudo

a seu alcance.

E em especial, a minha mãe Edna Soares

Santana Costa por sempre me incentivar e

investir em meus estudos, pois afinal, sem ela

não estaria aqui hoje.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 10

2. EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................... 11

3. ETIOLOGIA ................................................................................................................ 11

4. PATOGENIA............................................................................................................... 12

5. ASPECTO CLÍNICO .................................................................................................. 14

6. DIGNÓSTICO............................................................................................................. 15

6.1. Exame clínico............................................................................................................. 15

7. TRATAMENTO CIRÚRGICO ................................................................................. 17

7.1. Conduta pré-operatória............................................................................................... 18

7.2. Anatomia cirúrgica..................................................................................................... 19

7.3. Técnica cirúrgica........................................................................................................ 19

7.4. Plastia em feridas incisadas após exérese de neoplasias cutâneas.............................. 20

7.5. Cuidados e complicações pós-operatórios.................................................................. 21

8. QUIMIOTERAPIA ..................................................................................................... 21

8.1. Doses e duração.......................................................................................................... 24

8.2. Classificação dos quimioterápicos.............................................................................. 26

8.3. Protocolos quimioterápicos........................................................................................ 30

8.3.1. Para caninos............................................................................................................. 30

8.3.2. Para felinos.............................................................................................................. 33

8.4. Medidas de proteção em quimioterapia...................................................................... 35

9. TRATAMENTO DA DOR ONCOLÓGICA EM PEQUENOS

ANIMAIS ..........................................................................................................................

36

10. ELETROQUIMIOTERAPIA ................................................................................... 39

11. PROGNÓSTICO....................................................................................................... 42

12. PROFILAXIA. ........................................................................................................... 44

13. CONCLUSÃO............................................................................................................ 45

14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA ....................................................................... 46

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Relação entre peso e superfície corporal em cães................................................ 24

Quadro 2 Relação entre peso e superfície corporal em gatos............................................... 25

Quadro 3 Esquema para administração de doxorrubicina em cães...................................... 30

Quadro 4 Esquema para administração de doxorrubicina e ciclofosfamida em cães........... 31

Quadro 5 Esquema para administração de doxorrubicina, vincristina e ciclofosfamida

(VAC I) em cães...................................................................................................

32

Quadro 6 Esquema para administração de doxorrubicina, ciclofosfamida e vincristina

(VAC II) em cães..................................................................................................

33

Quadro 7 Esquema para administração de doxorrubicina em gatos..................................... 34

Quadro 8 Esquema para administração de doxorrubicina e ciclofosfamida em gatos......... 34

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Paciente canino, Doberman, fêmea de 9 anos de idade apresentando um

espessamento de pele com eritema e aspecto inflamatório nas mamas......................

13

Figura 2 Imagem evidenciando o edema nos membros pélvicos no paciente canino,

doberman, de 10 anos de idade...................................................................................

13

Figura 3 Paciente felino, sem raça definida, fêmea de 12 anos de idade com formação

mamária de 10 centímetros de diâmetro, de consistência firme, aderida e

ulcerada.......................................................................................................................

14

Figura 4 Radiografia latero-lateral de região torácica de um paciente canino, fox

paulistinha, fêmea de 15 anos com metástase pulmonar............................................

17

Figura 5 Realização da plastia em V na mastectomia simples. Incisão em formato

geométrico (triangulo)................................................................................................

21

Figura 6 Dermorrafia utilizando plastia em V ou Y................................................................. 21

Figura 7 Aplicação de pulso elétrico com eletrodo de agulhas................................................. 41

Figura 8 Vasos linfáticos e linfonodo axilar próprio corados pelo azul de metileno................ 44

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RESUMO

COSTA, C. F. S. NEOPLASIA MAMÁRIA EM FELÍDEOS E CANÍDEOS [Mammary

neoplasia in canines and felines]. 2008. 47f. Trabalho de conclusão de curso de graduação em

Medicina Veterinária das Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, 2008.

A neoplasia mamária é uma enfermidade que se desenvolve principalmente em fêmeas idosas

não castradas. Estudos demonstraram que os tumores de mama em cães e gatos estão

relacionados com a produção de hormônios femininos reprodutivos. Embora vários tipos de

neoplasias possam se desenvolver em região mamária, os tipos mais comuns são os adenomas

e os carcinomas mamários. Essas formações podem não ser notadas pelos proprietários por

um longo período de tempo, ou até mesmo serem achadas no exame clínico de uma consulta.

O diagnóstico é realizado através da somatória de anamnese, exame físico e exames

complementares, porém somente o exame histopatológico da formação confirma o

diagnóstico. Embora a intervenção cirúrgica seja atualmente o tratamento mais utilizado para

neoplasias mamárias, ainda há a quimioterapia e radioterapia, que podem ser associados ao

tratamento cirúrgico com a finalidade de evitar recidivas em casos de neoplasias muito

agressivas. Estudos recentes comprovaram a eficácia da eletroquimioterapia, que pode ser

escolhida quando os tratamentos convencionais não estão obtendo respostas favoráveis. No

entanto, sabe-se que a castração precoce, antes da puberdade, reduz muito a probabilidade de

desenvolvimento de neoplasias mamárias no animal senil.

Palavras chave: neoplasia mamária, cães, gatos

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ABSTRACT

COSTA, C. F. S. MAMMARY NEOPLASIA IN CANINES AND FELINES [Neoplasia

mamária em canídeos e felídeos]. 2008. 47f. Trabalho de conclusão de curso de graduação em

Medicina Veterinária das Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, 2008.

The mammary neoplasia is a disease that develops primarily in older females not castrated.

Studies have shown that breast tumors in dogs and cats are related to the production of female

reproductive hormones. While several types of cancer can develop in the breast region, the

most common types are the tumors and breast carcinomas. These formations can

desapercebido pass by the owners for a long period of time, or even be found in a clinical

examination of a consultation. The diagnosis is made through a summation of history,

physical examination and diagnostic tests, but only the test of histopathologic training will

confirm the diagnosis. Although the intervention surgery is currently the most widely used

treatment for breast cancer, there is still the chemotherapy and radiotherapy, which may be

associated with surgical treatment in order to avoid relapses in cases of very aggressive

cancers. Recent studies have shown great effectiveness of eletroquimioterapia, which can be

chosen when conventional treatments are not getting favorable responses. However, it is

known that early castration before puberty, reduces much the probability of developing breast

cancer in animals senile.

Key words: mammary neoplasia, dogs, cats

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INTRODUÇÃO

A oncologia veterinária é uma especialidade do ramo que vêem desenvolvendo nos

últimos tempos. Este se deve por razão da observação do número crescente dos casos de

pacientes com doença oncológica pelas clínicas veterinárias. Acredita-se que esse aumento

ocorreu por causa da melhoria nos tratamentos de doenças e na dieta mais balanceada dos

animais de companhia somado a um melhor acesso a serviços médicos veterinários. Com isso,

os animais passam a obter uma maior expectativa de vida, que por conseqüência, aumenta a

incidência do desenvolvimento de doenças geriátricas, principalmente as neoplasias.

Dentre as neoplasias que se desenvolve nos animais, uma das mais comuns é a

neoplasia de glândula mamária. Embora a remoção cirúrgica da formação quase sempre é a

primeira escolha no tratamento, há uma variedade de terapias, que é escolhido através da

situação clínica de cada animal.

Este trabalho tem por objetivo mostrar, através de levantamento bibliográfico, quais os

procedimentos novos disponíveis para o diagnóstico e tratamento de neoplasia mamária em

pequenos animais.

A grande maioria dos casos atendidos na clínica cirúrgica, durante o estágio

obrigatório, foi de tumores de mama, o que despertou o interesse no estudo do assunto com

maior profundidade e de apresentar este trabalho.

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2. EPIDEMIOLOGIA

Tumores mamários são muito comuns em cães e gatos, sendo que em cães a grande

maioria são benignos, e em gatos, geralmente apresentam-se de forma agressiva e maligna

(MORRIS; DOBSON, 2007, p. 185). Aproximadamente trinta e cinco à cinqüenta por cento

dos tumores mamários caninos e noventa por cento dos tumores mamários felinos são

malignos (FOSSUM, 2008, p.729).

É o segundo tumor mais comum em cães, e o mais comum em cadelas, acometendo

com maior frequência animais idosos (média de dez anos), inteiros ou que foram esterilizados

após o terceiro estro. Em felinos, ocorre com menos frequência, mas ainda é o terceiro mais

comum dentre todos os tumores. Atinge os felinos idosos (média de dez a doze anos), inteiros

e a raça siamês têm um maior risco que as outras raças (BOJRAB, 2005, p. 425).

Animais que recebem progestágenos, com o objetivo de suprimir o estro são mais

susceptíveis à doença (cerca de setenta por cento das cadelas com tratamento prolongado com

progestágenos apresentaram tumor de mama benigno). De modo geral, tumores mamários são

raros em machos e animais jovens de ambos os sexos (NELSON; COUTO, 2006, p. 847).

3. ETIOLOGIA

Estudos indicam que a neoplasia mamária está relacionada com a produção de

hormônios femininos estrógenos e progesterona nas espécies canina e felina. O risco em

adquirir a neoplasia mamária está relacionado ao número de ciclos estrais das cadelas, isto é,

sabe-se que a probabilidade de adquirir o tumor mamário quando castradas antes do primeiro

cio (antes da puberdade), diminui drasticamente a quase zero por cento. Gatas inteiras tem

mais chance de desenvolver o tumor quando comparado com gatas castradas antes da

puberdade. Quarenta a setenta por cento dos tumores mamários caninos, apresentaram

receptores de estrógenos e/ou progesterona, mas os tumores malignos tendem a ser negativos

para presença desses receptores. Em gatas, há baixa concentração de receptores de

progesterona e dez por cento dos tumores apresentam-se positivos para receptores de

estrógenos. Devido a essa relação dos hormônios reprodutivos com o desenvolvimento de

tumores mamários, sabe-se que o uso de progestágenos, como por exemplo, o acetato de

medroxiprogesterona, acetato de megestrol e acetato de cloromadinona, pode aumentar os

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riscos de adquirir a neoplasia mamária benigna. Em gatos, o uso de progesterona pode

aumentar o risco de desenvolvimento de formações benignas ou malignas (MORRIS;

DOBSON, 2007, p. 185).

4. PATOGENIA

A glândula mamária é constituída de ductos epiteliais e alvéolos situados entre tecido

conectivo estromal. Ao redor dos alvéolos encontram-se as células mioepiteliais, sendo que,

tumores que se desenvolvem de tecidos epiteliais são caracterizados como, simples (apenas

elementos epiteliais) ou complexos (elementos epiteliais e mioepiteliais). Podem ocorrer

outros tumores em região de glândula mamária, embora não sejam estritamente mamários

como, por exemplo, lipoma ou mastocitoma. Outras doenças encontradas na região, que

fazem parte do diagnóstico diferencial, são a hiperplasia lobular e a hiperplasia fibroepitelial

da glândula mamária (MORRIS; DOBSON, 2007, p. 185).

Os tumores são caracterizados como benignos (semelhante ao tecido de origem) ou

malignos (diferenciado do tecido de origem). Dentre os tumores benignos mais encontrados

destacam-se, os adenomas simples, adenomas complexos (tumores benignos mistos –

fibroadenomas) ou mesenquimais benignos. Os adenomas simples podem ser classificados

como lobular, quando originados do epitélio alveolar ou como papilomas intraductais caso

seja derivado do epitélio do ducto. Tumores benignos, geralmente não são invasivos e nem

sofrem metástases, no entanto há tendência de desenvolver tumores múltiplos e de recidivas

ocorrerem no mesmo grupo ou em grupos diferentes de glândulas mamárias, após a excisão

do tumor primário (JONES et al., 2000, p. 1214).

Dentre os tumores malignos, o mais frequente são os carcinomas, mas também podem

ser encontrados alguns tumores mistos (carcinossarcomas) e com menor frequência os

sarcomas (MORRIS; DOBSON, 2007, p. 186). Os adenocarcinomas podem ser classificados

como papilares, tubulares, lobulares, cirrosos, adenocantomas, medulares. Esses tipos podem

estar acompanhados de proliferação concomitante de células mioepiteliais cercadas por uma

matriz condromucinosa, nesse caso é denominado carcinoma complexo, sendo que na

ausência dessa característica é denominado carcinoma simples (JONES et al., 2000, p. 1216).

Alguns tumores mamários malignos não apresentam recorrência ou se espalham após

cirurgia (FOSSUM, 2008, p.730).

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Os carcinomas inflamatórios são carcinomas pouco diferenciados com um extenso

infiltrado celular mononuclear e polimorfonuclear. Em alguns casos, torna-se difícil

diferenciar uma mastite de um carcinoma inflamatório no exame físico ou por citologia. Esses

tumores crescem rapidamente, invadindo os vasos linfáticos subcutâneos e causando intenso

edema, inflamação e dor. O animal apresenta anorexia, prostrado e perda de peso. O tumor

normalmente é pouco demarcado, firme, geralmente ulcerado, e pode acometer as duas

cadeias mamárias (Figura 1). Pode ocorrer secundariamente a oclusão ou a infiltração

linfática, extensos linfedema dos membros (Figura 2). A coagulação intravascular

disseminada e a metástase torácica são comuns em cães com esse tipo de tumor (FOSSUM,

2008, p.730).

Figura 1 - Paciente canino, doberman, fêmea de 9

anos de idade apresentando um espessamento de pele

com eritema e aspecto inflamatório nas mamas.

Fonte:

http://www.ufrgs.br/favet/revista/342/artigo670.pdf

Acessado em 12/11/2008.

Figura 2 - Imagem evidenciando o edema nos

membros pélvicos no paciente canino, doberman, de

10 anos de idade.

Fonte:

http://www.ufrgs.br/favet/revista/34-2/artigo670.pdf

Acessado em 12/11/2008.

5. ASPECTO CLÍNICO

Os tumores se desenvolvem com maior frequência em mamas inguinais e mamas

abdominais caudais em cadelas, sendo que em gatas as mamas torácicas são mais acometidas.

Podem ser únicos ou múltiplos, normalmente palpáveis como nódulos discretos ou formações

dentro das glândulas mamárias. Podem aderir a pele superficial, a musculatura e estar ou não

ulcerados (MORRIS; DOBSON, 2007, p. 187). O tamanho é muito variável de poucos

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milímetros a muitos centímetros e concomitante, os linfonodos inguinais e/ou axilares podem

estar aumentados, caso uma metástase tenha ocorrido (NELSON; COUTO, 2006, p. 847).

Em muitos casos, uma formação pequena está presente há vários anos, e de repente,

aumenta rapidamente de tamanho. Este aumento está associado ao estímulo do estro, e o

rápido crescimento neoplásico ocorre ao mesmo tempo em muitas ocasiões, com o

desenvolvimento de metástases que se espalham por via linfática (FEITOSA, 2008, p.321).

Os tumores mamários em felinos não são tão bem delimitados quanto nos cães. São

firmes e geralmente ulcerados (Figura 3). A mastectomia bilateral é recomendada para

remover os tumores mamários em felinos, pois procedimentos menos radicais realizados

nessas ocasiões levam a reincidência local (FOSSUM, 2008, p.730).

Figura 3 - Paciente felino, sem raça definida, fêmea de 12 anos de idade com formação mamária de 10

centímetro de diâmetro, de consistência firme, aderida e ulcerada.

Fonte:

http://juhhazevedo.wordpress.com/2008/07/26/o-caso-da-bolinha/

Acessado em 12/11/2008.

6. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico baseia-se no conjunto de informações obtidas através de uma boa

anamnese, exame físico (observação e palpação principalmente) e exames complementares

tais como a citologia da formação e biópsias (FEITOSA, 2008, p.321).

As raças caninas onde o tumor mamário é mais frequente incluem os poodle, fox

terriers, airedales terriers, dachshund, e raças esportivas (pointer, retrievers, setters, spaniels)

(FOSSUM, 2008, p.730).

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6.1. Exame clínico

Antes de realizar o exame físico das glândulas mamárias, é importante conhecer

algumas informações sobre o animal, tais como espécie, raça, nome, registro hospitalar, idade,

peso e eventuais particularidades. Na anamnese, procura-se resgatar todo o histórico

reprodutivo do animal, perguntar sobre quantos partos a fêmea já teve, se os partos foram

normais ou distócicos, sobre cirurgias anteriores ou exames realizados, sobre o aparecimento

e duração dos sinais clínicos, uso ou não de anti-concepcionais, sobre tratamentos realizados e

evolução (FEITOSA, 2008, p.322).

Muitas vezes os proprietários vêm se queixando de uma ou várias formações em

mamas, ou pode até mesmo ser um achado acidental durante exame físico de rotina

(BIRCHARD; SHERDING, 1998, p. 235).

O exame físico das glândulas mamárias inicia-se com a inspeção do paciente, onde se

observa a coloração da pele, a presença de lesões, secreções, o número e o tamanho das

mamas. A palpação fica mais fácil de ser realizada com o animais em decúbito lateral e deve

iniciar-se das glândulas aparentemente sadias para as visivelmente alteradas. Todos os pares

de glândulas devem ser palpados (FEITOSA, 2008, p.322).

A maioria das formações são móveis, mas ocasionalmente estão fixadas ao músculo

ou a fáscia subjacente. As formações podem ser sésseis ou pedunculadas, sólidas ou císticas,

ulceradas ou cobertas por pele e pêlos. Os carcinomas inflamatórios normalmente são

ulcerados. O aumento dos linfonodos axilares e inguinais pode ser palpado (FOSSUM, 2008,

p.731).

Presume-se ser uma neoplasia mamária através da associação da anamnese, histórico

do animal e exame físico, no entanto devemos diferenciar de hipertrofia mamária e mastite. A

citologia por aspiração com agulha fina da formação, pode indicar se a formação é ou não

neoplásica, porém nem sempre é fácil a interpretação. Indica-se a citologia por aspiração com

agulha fina para acessar linfonodos regionais em suspeita de metástases (MORRIS;

DOBSON, 2007, p. 189). Normalmente, a biópsia que vai confirmar o diagnóstico é realizada

junto com a excisão da formação como parte do procedimento de tratamento. Antes da

excisão cirúrgica, um exame radiográfico da região torácica em três projeções (latero-lateral

direita e esquerda e ventro-dorsal), têm que ser realizado para observar a presença de

metástase pulmonar (Figura 4) (NELSON; COUTO, 2006, p. 847). No exame

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histopatológico, cada formação deve ser avaliada histologicamente, pois diferentes tipos de

tumores podem ocorrer em um mesmo animal (FOSSUM, 2008, p.731). Caso haja alguma

suspeita de acometimento de linfonodos inguinais a ultra-sonografia abdominal será indicada

para procura de metástases em linfonodos sublombares e vísceras abdominais (BOJRAB,

2005, p. 426). Em casos de claudicação e/ou edema de membros é necessário realizar

radiografia da área afetada em busca de metástase óssea (BIRCHARD; SHERDING, 1998, p.

235).

Exames laboratoriais como hemograma completo, perfil bioquímico e urinálise,

embora não sejam específicos para neoplasia mamária, trazem informações importantes para

identificar problemas geriátricos e síndromes paraneoplásicas concomitantes (FOSSUM,

2008, p.731).

Figura 4 - Radiografia latero-lateral de região torácica de um paciente canino, fox paulistinha, fêmea de 15 anos

com metástase pulmonar.

Fonte:

Imagem do arquivo do HOVET-FMU, 2008

7. TRATAMENTO CIRÚRGICO

Em gatos devido à maioria das neoplasias serem agressivas recomenda-se tratamento

radical (MORRIS; DOBSON, 2007, p. 189). A excisão permite o diagnóstico histológico e

pode ser realizada com objetivo de ser curativa, melhorar a qualidade de vida ou alterar a

progressão da doença. Os carcinomas inflamatórios devido a sua agressividade, a cirurgia não

tem valor como medida paliativa ou para controle da doença. A escolha da técnica cirúrgica

vai depender do tamanho do tumor, localização, consistência, estado do paciente e preferência

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do cirurgião. Se a excisão completa não for possível com uma única cirurgia, um segundo

procedimento deve ser realizado três a quatro semanas após a retirada dos pontos de sutura da

primeira intervenção cirúrgica, esse período permite a reparação e o relaxamento da pele que

foi esticado (FOSSUM, 2008, p.731).

A ovariectomia pode ser realizada na mesma intervenção cirúrgica para excisão do

tumor, no entanto deve ser realizada antes da mastectomia, com o objetivo de evitar que

células tumorais caiam na cavidade tumoral. Embora a ovariectomia não vá prevenir futuro

desenvolvimentos de tumores mamários, evita doenças uterinas (piometra, metrite) e elimina

a influência de hormônios reprodutivos sobre os tumores existentes (FOSSUM, 2008, p.731).

A lumpectomia ou mastectomia parcial é a excisão de uma formação e margem de

tecido mamário grosseiramente normal, esta é indicada para procedimentos de biópsia, ou

formações menores do que meio centímetro de diâmetro, encapsuladas e não invasiva., No

entanto, o extravasamento de leite e linfa do tecido mamário para dentro da ferida, pode

causar inflamação pós-operatória e desconforto. A mastectomia simples é a excisão de uma

glândula inteira que contenha o tumor esta indicada quando acomete a região central da

glândula ou maior parte dela. Esse procedimento evita complicações pós-operatórias causadas

por extravasamento de leite e linfa. A mastectomia regional compreende a excisão da

glândula acometida e das glândulas adjacentes, quando múltiplos tumores aparecem nas

glândulas adjacentes na cadeia mamária ou quando às formações se encontram entre duas

glândulas (FOSSUM, 2008, p.731). Para realização da mastectomia unilateral completa

devemos considerar anatomia presumida da drenagem linfática da glândula mamária

acometida. Os linfonodos inguinais são excisados como parte da mama inguinal, no entanto,

os linfonodos axilares somente serão removidos se estiverem aumentados ou demonstrarem

células neoplásicas ao exame citológico (BOJRAB, 2005, p. 426). A mastectomia bilateral

pode ser realizada quando várias formações estiverem presentes nas duas cadeias mamárias.

Há necessidade de se planejar o fechamento da pele, pois em alguns casos pode ser

extremamente difícil ou impossível, tornando a mastectomia unilateral mais aconselhável

(FOSSUM, 2008, p.731).

7.1. Conduta pré-operatória

Formações ulceradas e infectadas devem ser tratadas com compressas quentes e

antibióticos por vários dias antes da cirurgia, com o objetivo de reduzir a inflamação e

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permitir uma avaliação mais precisa da margem de segurança do tumor. A antibioticoterapia

somente é indicada para pacientes muito debilitados ou aqueles com evidências de infecção.

A tricotomia deve ser realizada em todo o abdômen ventral e o tórax caudal. É muito

frequênte formações serem identificadas após a tricotomia (FOSSUM, 2008, p.732).

7.2. Anatomia cirúrgica

Na espécie canina normalmente estão presentes cinco pares de glândulas mamárias.

Nos felinos, há apenas quatro pares de glândulas. As artérias e veias epigástricas superficiais

caudais irrigam as glândulas caudais, e originam-se da artéria pudenda externa, próximo ao

linfonodo inguinal superficial. A mama torácica cranial é irrigada pelos quarto, quinto e sexto

vasos e nervos cutâneos lateral e ventral e ramos dos vasos torácicos laterais. As mamas

torácicas caudais são irrigadas pelos sexto e sétimo vasos e nervos cutâneos e ramos dos vasos

epigástricos superficiais craniais, estes por sua vez irrigam a mama abdominal cranial e a pele

sobre o músculo reto abdominal. Os linfonodos axilares drenam as três glândulas craniais e os

linfonodos inguinais drenam as duas glândulas caudais, entretanto há comunicações linfáticas

entre as glândulas e através da linha média (FOSSUM, 2008, p.732).

7.3. Técnica cirúrgica

Faz-se uma incisão elíptica ao redor da(s) glândula(s) mamária(s) acometida(s), no

mínimo um centímetro distante do tumor, evitando incisar o tecido mamário. Controla-se a

hemorragia superficial com eletrocoagulação, pinças hemostáticas e/ou ligaduras. Realiza-se

uma excisão em bloco elevando uma das extremidades da incisão e dissecando o tecido

subcutâneo da fascia peitoral até o reto abdominal. Remove-se o tecido adiposo e o(s)

linfonodo(s) inguinal(is) junto com a glândula mamária inguinal. O linfonodo axilar não está

incluído na ressecção em bloco das glândulas torácicas. Retira-se a fascia quando o tumor

acometer o tecido subcutâneo. Quando houver acometimento da musculatura abdominal, a

excisão deve incluir uma porção da parede abdominal (FOSSUM, 2008, p.733).

A dissecção com a tesoura é realizada até que os vasos principais da glândula sejam

encontrados, a artéria epigástria superficial cranial e a artéria epigástrica superficial caudal

são ligados. Lava-se a ferida cirúrgica e avalia-se o remanescente. Divulciona-se a pele das

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bordas da ferida e avançamos em direção ao centro da ferida, utilizando suturas móveis. Se o

espaço morto for muito grande pode-se fixar um dreno para evitar formação de seroma. O

tecido subcutâneo poderá ser aproximado com suturas contínuas ou descontinuas, utilizando-

se fio de sutura absorvível monofilamentoso 3-0 ou 4-0. Realiza-se a sutura de pele com fio

inabsorvível monofilamento 3-0 ou 4-0, ou com grampos. Uma bandagem circunferencial

para comprimir o espaço morto e absorver os fluídos pode ser utilizada. Tais bandagens

devem ser trocadas diariamente nos primeiros dois a três dias, ou quantas vezes forem

necessárias para manter a ferida seca. Deve-se avaliar a ferida quanto à presença de

inflamação, edema, seroma, deiscência de sutura e necrose (FOSSUM, 2008, p.734).

7.4. Plastia em feridas incisadas após exérese de neoplasias cutâneas

Como na maioria das vezes, a intervenção cirúrgica é o método de tratamento mais

eficiente nas neoplasias, pode ocorrer falha cutânea resultante do procedimento cirúrgico o

que requer o manejo aberto da ferida e/ou a sua reconstrução. Perdas cutâneas extensas após

procedimentos cirúrgicos, podem causar ao animal um comprometimento anâtomo-funcional

de uma região do corpo além da perda da estética, por esse motivo a cirurgia reconstrutiva,

que utiliza flaps, enxertos e plastias cutâneas, muitas vezes, representa oportunidade única

para o reparo cirúrgico após a ressecção de lesões de pele, tumores ou quando é necessária

uma reconstrução mais extensa. A cirurgia reconstrutiva é utilizada para fechar os defeitos

secundários de traumatismos, corrigir ou melhorar anormalidades congênitas ou após remoção

de neoplasia, proporcionando uma disposição estética e restabelecimento da função do tecido

lesionado. Entre os recursos disponíveis, pode-se preferir fechar os defeitos grandes ou

irregulares com incisões de relaxamento ou técnicas de plastia, como por exemplo, V-Y

plastia (Figura 5 e 6) ou Z-plastia. A plastia em duplo M que pode ser considerada duplo V,

reduz o comprimento da excisão e a quantidade de tecido removido comparada à excisão

fusiforme. A plastia em V pode ser usada para reparar o defeito da pele deixado pela

mastectomia bilateral de glândulas torácicas. É importante ressaltar, que as plastias têm por

intenção retirar a neoplasia com margem de segurança, diminuindo as chances de recidivas e

melhorar o prognóstico, sendo assim, a reconstrução cirúrgica deve agir de modo a corrigir

anatômica e fisiologicamente o tecido, preservando estruturas importantes. Logo, a cirurgia

reconstrutiva pode ser indicada em feridas incisas, sendo uma técnica efetiva de fácil

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execução e baixo custo quando comparada a cicatrização por segunda intenção. (MONTEIRO

et al., 2007, p.40).

Figura 5 – Realização da plastia em V na mastectomia

simples. Incisão em formato geométrico (triangulo).

Fonte:

MONTEIRO, Vanda L. C., 2007.

Figura 6 – Dermorrafia utilizando plastia em V

ou Y.

Fonte:

MONTEIRO, Vanda L. C., 2007.

7.5. Cuidados e complicações pós-operatórios

As complicações pós-operatórias associadas à mastectomia incluem a formação de

seroma, a deiscência de suturas e o edema de um ou de ambos os membros pélvicos. O

seroma pode ser tratada através do uso de compressas úmidas e mornas. A deiscência de

sutura será tratada como feriada séptica, e cicatrizada por segunda intenção. O edema de

membros pélvicos será manejado com compressas mornas, diuréticos e o tempo, pois deve-se

a ausência temporária de drenagem linfática (BOJRAB, 2005, p. 429).

8. QUIMIOTERAPIA

A quimioterapia é o tratamento farmacológico dos tumores que envolve aplicação

sistêmica ou regional de fármacos capazes de destruir as células neoplásicas ou interromper a

proliferação destas. No entanto, estes fármacos não são seletivos na destruição exclusiva de

células tumorais, já que a maioria desses agentes farmacológicos atuam em um ou mais

estágios do ciclo celular. As células e os tecidos com maiores taxas de divisão são mais

afetados. A administração dos quimioterápicos leva em consideração um equilíbrio dinâmico

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entre atividades citotóxicas tumoral máxima e a toxicidade aceitável para os tecidos normais

do paciente (RODASKI; NARDI, 2008, p. 20).

A quimioterapia pré-operatória é utilizada quando o tratamento quimioterápico é a

primeira escolha. É indicada para reduzir o tamanho dos tumores localmente invasivos,

permitir a ressecção mais segura da neoplasia, e evita o uso de cirurgias mutiladoras. É

vantajosa no tratamento imediato das micrometástases provavelmente presentes no momento

do diagnóstico, não retardando o tratamento sistêmico até a conclusão de um esquema de

radioterapia de várias semanas ou até que haja recuperação total da ressecção cirúrgica do

tumor primário. A quimioterapia adjuvante é empregada após a eliminação loco-regional do

tumor pela cirurgia ou radioterapia. Normalmente é utilizada para o controle de

micrometástases em potencial, em pacientes que apresentam riscos de moderado a grande, de

recidivas ou metástase. A quimioterapia paliativa consiste na utilização de fármacos

antineoplásicos como única forma de tratamento para uma neoplasia avançada. O paciente

apresenta lesões metastáticas em vários locais, nos quais, o tratamento loco-regional através

da cirurgia ou irradiação não permitirão o controle da neoplasia. Logo o objetivo desta terapia

é apenas aumentar a sobrevida do paciente. A fase de indução da quimioterapia tem por

objetivo provocar a remissão da neoplasia, geralmente, dura cerca de quatro semanas, onde o

paciente recebe doses mais altas de quimioterápicos em um menor intervalo de tempo entre as

seções. A fase de manutenção é a continuação de um protocolo quimioterápico, porém com

menos intensidade, utilizada para manter a remissão neoplásica após uma terapia de indução

(RODASKI; NARDI, 2008, p. 26).

A via de administração oral é utilizada normalmente para quimioterápicos de boa

absorção gastrintestinal e pouco irritativos a mucosa, em pacientes livres de episódios

eméticos. A via intravenosa é a mais utilizada e a mais segura quanto a obtenção de níveis

séricos do fármaco e sua absorção. No entanto, necessita de cuidados especiais,

principalmente com os fármacos vesicantes, ou seja, capazes de ocasionar inflamação intensa

e necrose tecidual quando aplicados no espaço extravascular. Nesta via podemos administrar

medicações em bolus ou sob infusão contínua, sendo a escolha dependente do fármaco e do

vaso sanguíneo escolhido. Quando optar-se por infusão contínua deve-se diluir o fármaco em

cloreto de sódio 0,9%. As vias intramuscular e subcutânea têm seu uso restrito devido a

dermatotoxicidade local provocada pela maioria dos agentes quimioterápicos e pela absorção

mais lenta (RODASKI; NARDI, 2008, p. 27).

A resposta parcial à quimioterapia vai ocorrer quando houver redução igual ou

superior a cinqüenta por cento do tecido tumoral. Esta resposta pode ser subdivida em mínima

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(redução inferior a cinqüenta por cento do tamanho do tumor), e máxima (redução superior a

cinqüenta por cento, porém sem regressão completa). Para que haja resposta completa, o

tumor deve desaparecer nos exames físicos e nas avaliações através dos exames radiográficos,

ultrassonográficos, de tomografia e ressonância magnética, num período mínimo de quatro

semanas. A doença é considerada progressiva quando há um aumento do volume do tumor

igual ou maior a vinte e cinco por cento, ou quando há o surgimento de novas lesões.

Considera-se a doença estável quando não há nenhuma alteração do tecido tumoral ou quando

o tamanho for menor que a resposta parcial. No entanto a doença estável nem sempre indica

que o tumor não responde ao tratamento, pois muitos tumores volumosos podem sofrer

necrose ou fibrose com destruição acentuada das células tumorais viáveis, mas com pouca ou

nenhuma modificação das suas dimensões (RODASKI; NARDI, 2008, p. 27).

A resistência dos quimioterápicos pode ter origem nas mutações espontâneas ou

provocadas, sendo que quanto maior o tumor, maior é a probabilidade de surgirem células

quimiorresistentes. A resistência a múltiplos fármacos ocorre quando um tumor torna-se

resistente a vários quimioterápicos estruturalmente distintos. Atualmente foi identificado um

gene causador de resistência a múltiplos fármacos e seu produto protéico (glicoproteína P),

que causa eliminação de vários quimioterápicos do espaço intracelular dos tecidos neoplásicos

(RODASKI; NARDI, 2008, p. 28).

A poliquimioterapia é a utilização de mais de um agente citostático combinados. As

células cancerosas são capazes de sofrer mutações, e desenvolver resistência aos

quimioterápicos. Para retardar esse mecanismo de resistência e obter melhores respostas ao

tratamento é indicada a utilização de mais de um quimioterápico no tratamento. A

poliquimioterapia pode ser uma tentativa de tratamento antitumoral a todas as células

resistentes, sem aumentar a toxicidade aos tecidos normais. A poliquimioterapia somente não

é indicada para tratamento de tumores, cujo agente é comprovadamente eficaz quando usado

de forma isolada, como por exemplo, a utilização de sulfato de vincristina utilizado

isoladamente para o tratamento de tumor venéreo transmissível. Para a poliquimioterapia são

escolhidos medicamentos de diferentes classes, a fim de atingir as subpopulações de células

oncóticas em divisão e repouso. A associação de quimioterápicos exerce efeito aditivo ou

sinérgico. O efeito aditivo é a somatória dos benefícios obtidos com o emprego isolado do

fármaco, e o sinergismo ocorre quando um fármaco potencializa o efeito farmacêutico do

outro. Com isso pode-se diminuir as doses e conseqüentemente diminuir os efeitos tóxicos e

colaterais. Normalmente devemos escolher fármacos com toxicidades distintas, de forma a

evitar a sobreposição ou a adição de problemas (RODASKI; NARDI, 2008, p. 23).

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8.1. Doses e duração

Para que ocorra maior destruição das células tumorais, os quimioterápicos devem ser

administrados em dose máxima toleradas e durante o menor tempo possível. A posologia

desses medicamentos é baseada na dose máxima tolerada e precisa ser ajustada ao estado do

paciente, ao estadiamento da doença ou à disfunção orgânica (RODASKI; NARDI, 2008, p.

21).

A padronização para administração dos quimioterápicos é em superfície corpórea,

descrita em miligramas por metro quadrado (mg/m2). Existem muitos nomogramas de fácil

consulta para converter quilograma em metro quadrado (Quadro 1 e 2). Animais obesos, ou

com grande acúmulo de líquidos no terceiro espaço (efusões pleurais ou acite) devem ter

doses reajustadas (RODASKI; NARDI, 2008, p. 22).

Quadro 1 - Relação entre peso e superfície corporal em cães.

kg m2 kg m2 kg m2 kg m2 kg m2 kg m2 0,5 0,06 11 0,49 22 0,78 33 1,03 44 1,25 60 1,55 1 0,10 12 0,52 23 0,81 34 1,05 45 1,26 62 1,58 2 0,15 13 0,55 24 0,83 35 1,07 46 1,28 64 1,62 3 0,20 14 0,58 25 0,85 36 1,09 47 1,30 66 1,65 4 0,25 15 0,60 26 0,88 37 1,11 48 1,32 68 1,68 5 0,29 16 0,63 27 0,90 38 1,13 49 1,34 70 1,72 6 0,33 17 0,66 28 0,92 39 1,15 50 1,36 72 1,75 7 0,36 18 0,69 29 0,94 40 1,17 52 1,41 74 1,78 8 0,40 19 0,71 30 0,96 41 1,19 54 1,44 76 1,81 9 0,43 20 0,74 31 0,99 42 1,21 56 1,48 78 1,84 10 0,46 21 0,76 32 1,01 43 1,23 58 1,51 80 1,88

Fonte: RODASKI; NARDI, 2008

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Quadro 2 - Relação entre peso e superfície corporal em gatos.

kg m2 kg m2 kg m2 kg m2 kg m2 0,1 0,022 1,6 0,137 4,0 0,252 6,4 0,345 8,8 0,426 0,2 0,034 1,8 0,148 4,2 0,260 6,6 0,352 9,0 0,433 0,3 0,045 2,0 0,159 4,4 0,269 6,8 0,360 9,2 0,439 0,4 0,054 2,2 0,169 4,6 0,277 7,0 0,366 9,4 0,445 0,5 0,063 2,4 0,179 4,8 0,285 7,2 0,373 9,6 0,452 0,6 0,071 2,6 0,189 5,0 0,292 7,4 0,380 9,8 0,458 0,7 0,079 2,8 0,199 5,2 0,300 7,6 0,387 10,0 0,464 0,8 0,086 3,0 0,208 5,4 0,307 7,8 0,393 0,9 0,093 3,2 0,217 5,6 0,315 8,0 0,400 1,0 0,100 3,4 0,226 5,8 0,323 8,2 0,407 1,2 0,113 3,6 0,235 6,0 0,330 8,4 0,413 1,4 0,125 3,8 0,244 6,2 0,337 8,6 0,420

Fonte: RODASKI; NARDI, 2008

O intervalo entre as aplicações depende da toxicidade dos quimioterápicos nos tecidos

normais, sendo que, nos fármacos imunossupressores, a leucopenia e a trombocitopenia

podem ser observadas através de hemogramas realizados entre o nono e o décimo dia após

inicio de tratamento. O intervalo necessário para assegurar a recuperação efetiva da atividade

da medula óssea ou de outros efeitos tóxicos também pode permitir a recuperação e o

repovoamento das células tumorais residuais. Com objetivo de amenizar os problemas de

toxicidade com um único medicamento e de diminuir as chances do surgimento de células

tumorais resistentes, é indicada a poliquimioterapia (RODASKI; NARDI, 2008, p. 23).

Um proprietário bem informado e interessado é de grande importância na decisão para

o tratamento com quimioterapia, pois devem estar cientes das opções terapêuticas, da

toxicidade dos fármacos e dos benefícios esperados com o tratamento. Apesar de não ser

possível prever com exatidão a evolução de qualquer tumor maligno, pode-se tranqüilizar o

proprietário ao enfatizar que cada mês que passa, depois do tratamento bem sucedido da

neoplasia primária, aumentam as chances de cura do paciente, além de diminuir a

possibilidade de recorrência do tumor. É importante lembrar sempre que o objetivo da

quimioterapia ou de outra modalidade de tratamento para os pacientes oncológicos portadores

de tumores malignos é prolongar o tempo de sobrevida com qualidade de vida (RODASKI;

NARDI, 2008, p. 29).

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8.2. Classificação dos quimioterápicos

Os quimioterápicos atuam sobre um ou mais componentes do ciclo celular,

promovendo efeitos como evitar a síntese do DNA através do bloqueio da disponibilidade dos

precursores de nucleotídeos de purina e pirimidina, causar lesão no DNA com a formação de

ligações cruzadas com os grupos alquílicos instáveis, impedir a transcrição do DNA através

da ligação direta do medicamento ao DNA e interromper o processo de mitose através da

ligação da tubulina, impedindo a formação do fuso mitótico. Sendo assim o tempo de duração

entre um ciclo celular e outro é importante para programar as várias sessões do tratamento. O

ciclo celular não é constante e exato para os tecidos ou animais, este depende de condições

como idade e estimulação hormonal. O ciclo de vida de uma célula é dividido em duas fases,

uma interfase (período sem divisão) e uma fase mitótica (período de divisão). Na interface

ocorre a replicação do material genético, que na fase de mitose é distribuído igualmente para

as células filhas. O ciclo celular é subdivido por meio de estágios. O estágio G1 representa o

período se caracteriza por uma intensa síntese de RNA e proteínas, aumento do citoplasma

celular. Nesta fase o citoplasma dividido durante a mitose, se refaz. Este período pode durar

horas, meses ou anos, em tecidos de rápida renovação o estágio G1 é curto. O estágio S

representa o período de síntese, que se inicia com o aumento da quantidade de DNA

polimerase e RNA e duplica o seu DNA. O DNA da célula é dividido ao meio e cada

nucleotídeo serve de molde para a síntese de uma nova molécula de DNA. O estágio G2

representa o período de tempo adicional para o crescimento celular, neste momento a célula

realiza uma completa replicação do DNA antes da mitose. Ocorre uma discreta síntese de

RNA e proteínas essenciais para o inicio da mitose. O estágio M (mitose) é o processo de

divisão celular, dividido em quatro fases, a prófase, metáfase, anáfase, telófase. E o estágio G0

corresponde a fase adicional de repouso celular (RODASKI; NARDI, 2008, p. 36).

Os quimioterápicos são classificados conforme a sua especificidade pelo ciclo celular,

sua estrutura química e sua função em nível celular. Podem ser inespecíficos de fase (atuam

sobre as células independendo da fase) ou específicos de fase (atuam em uma ou mais fases

do ciclo celular). Esses fármacos são divididos em várias categorias, constituído de agentes

alquilantes, antimetabólicos, fármacos naturais, antibióticos antitumorais, hormônios e

antagonistas hormonais, enzimas e outros fármacos (RODASKI; NARDI, 2008, p. 37).

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Os agentes alquilantes interagem com o DNA pré-formado, com RNA e com as

proteínas. O principal efeito é sobre as células na fase G1 ou mitose, e em doses altas pode

haver efeito citotóxico em G0. Esse grupo é constituído pelos derivados da mostarda

nitrogenada (clorambucil, ciclofosfamida, ifosfamida, melfalano), os derivados da etilamina

(tiotepa), alquil sulfonados (bulsulfano), nitrosuréias (carmustina, lomustina, semustina),

triazenos (dacarbazina) e sais metálicos (cisplatina e carboplatina) (RODASKI; NARDI,

2008, p. 38).

Os alcalóides (fármaco natural) extraídos da planta Pervinca (Vinca Rósea Linn), são

agentes específicos do ciclo celular, que inibem o processo de mitose, pois possuem a

capacidade de ligar-se a tubulina e bloquear o efeito da proteína de polimerizar-se em

microtúbolos. Com a destruição do aparelho mitótico a divisão celular é interrompida na

metáfase (são fármacos específicos de estágio M). Nessa categoria encontra-se a vincristina,

vimblastina e os derivados sintéticos. Formações tratadas com esses fármacos tem

predisposição à resistência, devido aos alcalóides serem alvos preferenciais para a

glicoproteína P (RODASKI; NARDI, 2008, p. 39).

Os antibióticos são sintetizados através da fermentação de fungos com atividade

antimicrobiana, com propriedades citotóxicas. São antibióticos antitumorais como a

doxorrubicina e a daunorrubicina, no entanto seu uso clínico é limitado por seu efeito

colateral, uma toxicidade cardíaca dose dependente e irreversível. A epirrubicina é um

fármaco que vem sendo estudado como um agente de menor efeito colateral e maior atividade

antitumoral. Esses antibióticos são capazes de se intercalarem com o DNA prejudicando a

síntese de DNA e RNA. O comprometimento da produção de DNA é responsável pela enzima

topoisomeraze II ou pela produção de radicais livres. Esses citostáticos atuam no estágio S do

ciclo celular (RODASKI; NARDI, 2008, p. 40).

Os medicamentos mais utilizados nos protocolos para o tratamento quimioterápico de

neoplasia mamária em cães e gatos incluem a ciclofosfamida, o sulfato de vincristina e a

doxorrubicina. A ciclofosfamida é um quimioterápico que atua inibindo a síntese e divisão do

DNA, sendo um fármaco de ciclo celular não especifico, mais utilizado em associação com

outros fármacos. É utilizada em vários protocolos para o tratamento de linfomas, leucemias,

hemangiosarcomas, sarcomas de tecidos moles, sarcomas de células cinoviais, tumores orais,

neoplasias mamárias, carcinomas de tireóide e tumor venéreo transmissível. Em felinos é

associado a doxorrubicina para o controle de micrometástases, após exérese de neoplasia

mamária. Sua metabolização ocorre no fígado pela ação da enzima fosfomidase, o que deve

ser considerado quando o animal for portador de hepatopatias e bilirrubina total elevada. Sua

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excreção é urinária, sendo que sua dose deve ser reduzida quando a concentração sérica de

creatinina do animal ultrapassar 2mg/dl. Seus efeitos colaterais são principalmente

hematológicos, gastrintestinais, urológicos e dermatológicos. Dos efeitos hematológicos, a

leucopenia ocorre entre o oitavo e o décimo quarto dia após o inicio da terapia, a recuperação

medular ocorre dez dias após o NADIR (tempo transcorrido entre a aplicação do

quimioterápico e a ocorrência do menor valor de contagem de leucócitos). O uso crônico da

medicação pode provocar severa imunossupressão, levando até a aplasia de medula óssea. Os

principais efeitos gastrintestinais incluem êmese, diarréia e anorexia. Dos efeitos colaterais

urológicos, a cistite hemorrágica estéril ocorre pela irritação direta da mucosa vesical

provocada pela acroleína, esse efeito é mais freqüente em cães, após administração

intravenosa. Com o uso crônico pode levar a desenvolvimento de tumores de bexiga urinaria.

Apesar de não frequente alguns pacientes podem apresentar alopecia e pigmentação, como

efeito colateral dermatológico. Esse fármaco é contra-indicado para animais com severa

imunossupressão e aqueles que apresentaram hipersensibilidade a tratamentos anteriores. Não

deve ser administrado a animais gestantes, filhotes e durante os oito primeiros dias após a

cirurgia. Evita-se o medicamento em pacientes que desenvolveram cistite hemorrágica

(RODASKI; NARDI, 2008, p. 43).

O Sulfato de vincristina atua impedindo a metáfase, ao se ligar com proteínas dos

microtúbulos (estes são necessários para formação dos fusos mitóticos e mitose celular). A

vincristina se adere também as plaquetas, leucócitos e outros tecidos ricos em tubulinas. Inibe

a utilização do acido glutâmico, comprometendo a síntese das purinas, no ciclo do acido

cítrico e formação de uréia. Esse fármaco pode ser associado a ciclofosfamida e prednisona

para tratar linfossarcomas, leucemia linfocítica crônica, leucemia linfoblástica aguda,

sarcomas de tecido mole, mastocitomas e adenocarcinomas mamários de cães e gatos. É

excretado principalmente na bile, com metabolização hepática, o que requer reajustes nas

doses quando utilizada em pacientes hepatopatas. Seus principais efeitos colaterais envolvem

alterações hematológicas, neurológicas, gastrintestinais e dermatológicas. A toxicidade é

dose-dependente em cães, a mielossupressão (leucopenia) é baixa, pois as células do sangue

raramente sofrem alterações. A supressão da medula óssea pode ocorrer quando o fármaco for

associado a L-asparaginase, pode ocorrer neutropatia periférica, observando-se paresia,

diminuição da propriocepção, íleo adinâmico e constipação. Anorexia, náusea, êmese,

estomatite, disfagia, alopecia também podem estar presentes. Quando aplicado fora do vaso

sanguíneo promove necrose tecidual, devido a sua ação vesicante. Maior cautela quando

aplicação desse fármaco for realizada em animais com doenças hepáticas, leucopenia,

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infecção bacteriana ou doença neoromuscular pré-existente (RODASKI; NARDI, 2008, p.

93).

A doxorrubicina é um antibiótico antitumoral (antraciclina) derivado de culturas de

Streptomyces peucetius. Impede a síntese do DNA e RNA, sendo um agente de ciclo celular

não específico. Pode ser usado em tratamentos monoquimioterápicos ou poliquimioterápicos.

As enfermidades mais tratadas com esse medicamento são os linfomas, sarcomas

osteogênicos, carcinoma testicular, hemangiosarcoma, carcinoma de tireóide, carcinoma de

células escamosas e adenocarcinoma mamário. Esse medicamento é metabolizado no fígado e

excretado principalmente na bile (50%), fezes e urina. Promove vários efeitos colaterais, o

que requer um maior monitoramento dos pacientes que recebem administração desse

quimioterápico. Seus principais efeitos colaterais envolvem alterações hematológicas,

gastrintestinais, cardiocirculatórias, dermatológicas e renais. Ocorre leucopenia, anemia, e

trompocitopenia, com nadir de sete a dez dias e recuperação medular vinte e um dias após a

ultima aplicação. Um hemograma completo deve ser efetuado no décimo dia após o inicio da

terapia e antes de cada sessão. Quando os neutrofilos estiverem em uma concentração menor

que 2000/ul, a terapia deve ser suspensa até que o número de células sanguíneas volte ao

normal. Pode ocasionar anorexia, náusea, êmese, colite e perda de peso. A cardiotoxicidade

em cães é representada por uma cardiomiopatia congestiva, dose-dependente. Essa toxicidade

se caracteriza por liberação de radiais livres, provocando arritmias, taquiarritmias, congestão

cardíaca e morte. A doxorrubicina causa degranulação de mastócitos nos tecidos cardíacos,

liberando histamina que provoca lesão no miocárdio e conseqüentemente causa disfunção

cardíaca. Tais lesões podem progredir por muitas semanas após a descontinuidade do

fármaco. Essa complicação pode ser diagnosticada através da avaliação ultra-sonográfica, no

entanto, o melhor método de monitoração dessa toxicidade é através de biopsia de miocárdio,

que não é realizada em medicina veterinária. Pode ocorrer alopecia, principalmente em poodle

e cockers. Esse fármaco tem ação vesicante, que requer cuidados na sua administração. A

nefrotoxicidade ocorre principlamente em gatos com alterações do tipo glomerulopatia e

fibrose intersticial. Em cães promove alteração na cor da urina, que fica avermelhada. É

contra-indicado o uso desse quimioterápico em pacientes com mielossupressão ou com

cardiomiopatia pré-existente. Com objetivo de previnir os efeitos colaterais são realizadas

aplicações prévias de anti-histamínicos e corticóides, principalmente quando as aplicações são

repetidas. Nos casos de comprometimento hepático, suspende-se ou diminui-se a dose do

quimioterápico (RODASKI; NARDI, 2008, p. 113).

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8.3. Protocolos quimioterápicos

O tratamento quimioterápico para neoplasia mamária em cães e gatos pode ser

utilizado de forma pré-operatória, pós-operatória ou paleativa, dependendo do tamanho,

infiltração, e tipo do tumor. Existem inúmeros protocolos propostos em literatura para o

tratamento da neoplasia mamária canina e felina, de acordo com RODASKI; NARDI (2008,

p. 181), os protocolos mais utilizados incluem o uso da doxirrubicina, ciclofosfamida e

vincristina.

8.3.1. Para caninos

Doxorrubicina (monoquimioterapia):

Posologia:

Doxorrubicina:

- 30mg/m2 (intravenosa), para cães com mais de dez quilos;

- 25mg/m2 (intravenos), para cães com menos de dez quilos;

Difenidramina:

- 1mg/kg (intramuscular), antes da administração de doxorrubicina;

Sufametoxazol trimetoprina:

- 10 a 20mg/kg (por via oral), a cada doze horas, durante oito dias.

Esquema para administração ver Quadro 3.

Quadro 3 – Esquema para administração de doxorrubicina em cães.

Dia Doxorrubicina

1º X

22º repetir a aplicação de doxorrubicina, prosseguir a administração a cada três

semanas, num total de três a seis sessões. Fonte: RODASKI; NARDI, 2008

Observações:

A doxorrubicina tem que ser administrada após a aplicação de difenidramina;

Realiza-se hemograma completo, previamente a cada tratamento. Em cães com o

número de neutrófilos inferior a 2000 células/ul, suspender a quimioterapia por três a cinco

dias e se o paciente estiver febril administrar antibiótico sufametoxazol trimetoprina;

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Realiza-se auscultação cardíaca antes de cada sessão de doxorrubicina. O exame de

ecocardiograma deve ser realizado antes do inicio do tratamento e outro após quatro ciclos. A

cardiotoxicidade é dose dependente acima de 250mg/m2.

Doxorrubicina e ciclofosfamida

Posologia:

Doxorrubicina:

- 30mg/m2 (intravenosa), para cães com mais de dez quilos;

- 25mg/m2 (intravenosa), para cães com menos de dez quilos;

- 1mg/kg (intravenosa), para cães com menos de dez quilos;

Ciclofosfamida:

- 50 a 150mg/m2 (intravenosa); ou 50mg/m2 (por via oral), a cada 24 horas durante 4

dias.

Difenidramina:

- 2mg/kg (intravenosa), dose máxima de 30mg.

Sufametoxazol trimetoprina:

- 10 a 20mg/kg (por via oral), a cada doze horas, durante oito dias.

Esquema para administração ver Quadro 4.

Quadro 4 – Esquema para administração de doxorrubicina e ciclofosfamida em cães.

Dia Doxorrubicina Ciclofosfamida 1º X

2ºao 5º X

22º Repetir todo o ciclo, a cada três semanas, num total de 3 a 6 sessões. Fonte: RODASKI; NARDI, 2008

Observações:

Este protocolo não é indicado para pacientes com cardimiopatias;

Realiza-se exames de avaliação cardíaca antes de cada sessão;

Realizar exame de hemograma completo, incluindo plaquetas, urinálise e provas

bioquímicas, antes de cada sessão;

Se o número de granulócitos for inferior a 3000 células/ul suspender a quimioterapia

por cinco a sete dias. Administrar o antimicrobiano caso o paciente esteja febril;

Este protocolo pode ser indicado como quimioterapia adjuvante após a realização da

cirurgia.

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Vincristina, Doxorrubicina e Ciclofosfamida (VAC I)

Posologia:

Doxorrubicina:

- 30mg/m2 (intravenosa);

Vincristina:

- 0,7mg/m2 (intravenosa);

Ciclofosfamida:

- 50 mg/m2 (por via oral), a cada 24 horas.

Esquema para administração ver Quadro 5.

Quadro 5 – Esquema para administração de doxorrubicina, vincristina e ciclofosfamida (VAC I) em cães.

Dia Doxorrubicina Vincristina Ciclofosfamida

1º X X

8º ao 11º X

15º ao 17º X

22º Repetir todo o ciclo, num total de 6 sessões. Fonte: RODASKI; NARDI, 2008

Observações:

Esta quimioterapia não é indicada para pacientes com problemas cardíacos;

Realiza-se avaliação cardíaca antes de cada sessão;

Realiza-se exame de hemograma completo incluindo contagem de plaquetas antes de

cada sessão.

Vincristina, Doxorrubicina e Ciclofosfamida (VAC II)

Posologia:

Vincristina:

- 0,7mg/m2 (intravenosa);

Doxorrubicina:

- 30mg/m2 (intravenosa), para cães com mais de dez quilos;

- 25mg/m2 (intravenosa), para cães com menos de dez quilos;

- 1mg/kg (intravenosa), para cães com menos de dez quilos;

Ciclofosfamida:

- 200mg/m2 (por via oral ou intravenosa);

Sulfametoxazol trimetoprima:

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- 10 a 20mg/kg (por via oral), a cada 12 horas durante oito dias.

Esquema para administração ver Quadro 6.

Quadro 6 - Esquema para administração de doxorrubicina, ciclofosfamida e vincristina (VAC

II) em cães.

Dia Doxorrubicina Ciclofosfamida Vincristina

1º X X

8º X

15º X

22º Repetir todo o ciclo, num total de 4 a 6 sessões. Fonte: RODASKI; NARDI, 2008

Observações:

Este protocolo não é indicado para pacientes com cardimiopatias;

Realiza-se exames de avaliação cardíaca antes de cada sessão;

Este protocolo pode ser indicado como quimioterapia adjuvante após a realização da

cirurgia;

A doxorrubicina tem que ser administrada após a aplicação de difenidramina (1mg/kg,

intramuscular);

Esta terapia também é indicada como quimioterapia paliativa nos casos de presença de

metástases ou tumores não ressecáveis.

8.3.2. Para felinos

Doxorrubicina (monoquimioterapia):

Posologia:

Doxorrubicina:

- 25mg/m2 (intravenosa) ou 1mg/kg (intravenosa), administrado em 15 a 30

minutos, após aplicação de difenidramina;

Difenidramina:

- 1mg/kg (intramuscular);

Esquema para administração ver Quadro 7.

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Quadro 7 - Esquema para administração de doxorrubicina em gatos.

Dia Doxorrubicina

1º X

28º repetir a aplicação de doxorrubicina, prosseguir a administração a cada quatro

semanas, num total de quatro sessões. Fonte: RODASKI; NARDI, 2008

Observações:

Este medicamento é nefrotóxico para felinos, recomenda-se avaliação da função renal,

através da dosagem de uréia, creatinina serica e urinálise tipo I;

A doxorrubicina tem que ser administrada após a aplicação de difenidramina;

Realiza-se auscultação cardíaca, eletrocardiograma e ecocardiografia antes de cada

sessão de doxorrubicina;

Este protocolo é indicado como quimioterapia adjuvante em carcinomas mamários

com objetivo de combater micrometástases em potencial.

Doxorrubicina e ciclofosfamida

Posologia:

Doxorrubicina:

- 25mg/m2 (intravenosa) ou 1mg/kg (intravenosa);

Ciclofosfamida:

- 100 a 150mg/m2 (intravenosa ou por via oral);

Esquema para administração ver Quadro 8.

Quadro 8 - Esquema para administração de doxorrubicina e ciclofosfamida em gatos.

Dia Doxorrubicina Ciclofosfamida 1º X

3ºao 5º X

22º Repetir todo o ciclo, a cada três semanas, num total de três sessões. Fonte: RODASKI; NARDI, 2008

Observações:

Este protocolo não é indicado para pacientes com cardimiopatias;

Realizam-se exames de avaliação cardíaca antes de cada sessão;

Realiza-se exame de hemograma completo, incluindo plaquetas, urinálise e provas

bioquímicas, antes de cada sessão;

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Este protocolo pode ser indicado como quimioterapia adjuvante após a realização da

cirurgia;

A doxorrubicina pode causar nefrotoxicidade em gatos.

8.4. Medidas de proteção em quimioterapia

A exposição continua com agentes antitumorais esta associada com anormalidades

cromossômicas, alterações hematológicas, lesões hepática e a maior incidência de

deformidades fetais e aborto, sendo que alguns obtêm potenciais carcinogênicos. A porta de

entrada desses agentes pode ser pelo contato direto com a pele, ingestão acidental e através de

alimentos ou cigarros contaminados. A liberação desses agentes no ar ocorre através de

aerossóis, quando se abre as ampolas na transferência de soluções e nas retiradas de ar das

seringas. O manipulador também pode se expor através de fracionamento de comprimidos,

tabletes, entre outros. Com o objetivo de promover proteção ambiental e pessoal nas unidades

de preparação e administração desses citostáticos, o instituto nacional de câncer nos Estados

Unidos, em 1975, criou diretrizes para manipulação segura desses agentes (RODASKI;

NARDI, 2008, p. 287).

O armazenamento deve ser feito em áreas seguras, identificadas e com acesso limitado

aos técnicos treinados para manipulação desses fármacos. Esses ambientes devem obter o

controle de luminosidade, temperatura, ventilação e umidade. Os fármacos devem ser

armazenados em embalagens plásticas seguras ou em caixas apropriadas para evitar o

extravasamento (RODASKI; NARDI, 2008, p. 289).

As metodologias para preparação dos agentes antiblásticos devem ser fixadas nos

locais de manipulação. Para evitar que o operador seja contaminado através da inalação ou de

contato direto com a pele ou mucosas é necessário que se manipule os fármacos em capela de

fluxo laminar vertical classe II, evitando assim contaminação ambiental e pessoal. O operador

deve estar adequadamente protegido com avental longo de material descartável e com baixa

permeabilidade, estes aventais devem ser descartados dentro da área de preparação (os

aventais laváveis podem expor os funcionários da lavanderia aos efeitos deletérios dos

quimioterápicos). Usar óculos de proteção, gorros, máscara com filtro (a máscara cirúrgica

não oferece proteção adequada para prevenir a contaminação com os quimioterápicos) e luva

de látex (devem ser livres de talco, pois essas partículas, contaminadas pelos citotásticos,

podem ser inaladas facilmente). A diluição e aspiração dos quimioterápicos devem ser

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realizadas, respeitando o equilíbrio das pressões de dentro e fora do frasco, com objetivo de

dispersar aerossóis no local de trabalho, para isso é indicado o uso de um quimiodispensador

entre a seringa e a ampola, o qual promove um equilíbrio de pressão e evita a liberação de

aerossóis. O excesso de medicação que eventualmente for aspirado deve retornar ao próprio

frasco do quimioterápico. Quando utilizar ampolas, estas devem ser inclinadas em direção

oposta ao corpo, envoltas em gaze ou algodão umedecidos em álcool e finalmente quebradas,

promovendo absorções de aerossóis pela gaze com álcool e diminui a possibilidade de

ocorrer lesões na pele com o vidro da ampola. Todo material utilizado para preparação dos

fármacos e proteção de quem os manuseia deve ser descartado em embalagens apropriadas,

seladas e devidamente identificadas, e encaminhadas para a incineração. Finalmente a

lavagem das mãos após a preparação dos quimioterápicos remove resíduos destes, evitando

contaminação pessoal e ambiental (RODASKI; NARDI, 2008, p. 290).

9. TRATAMENTO DA DOR ONCOLÓGICA EM PEQUENOS ANIMAIS

Trabalhos atuais foram realizados com o objetivo de conscientizar médicos

veterinários de que a dor de origem neoplásica é um fator biológico, que pode causar

conseqüências estressantes ao animal, levando à imunossupressão, retardo na cicatrização de

feridas, aceleração de processos patológicos e desfavorecer seu prognóstico. A dor é

responsável por desencadear eventos para defesa da vida do indivíduo, exercendo função

protetora, porém em certas ocasiões pode causar sofrimento extremo a um animal. Estudos

comprovam os benefícios do uso de analgésicos, liberando substâncias deletérias do

organismo e melhorando a recuperação do mesmo reduzindo a morbidade e a mortalidade

(YOSHIOKA et al, 2007, p. 26).

A dor é classificada em dor aguda e dor crônica. A dor aguda é aquela que desaparece

durante um período esperado de recuperação do organismo. Já a dor crônica é aquela existente

a mais de três meses, ou que ultrapassa o período usual de recuperação esperada para a causa

desencadeante da dor. Muitas vezes na dor crônica o fator casual pode já não estar mais

atuante ou não ser passível de remoção, sendo um exemplo importante à dor oncológica. A

dor pode não ser causada propriamente pelo tumor, podendo ser secundária a evolução da

própria patologia, aos procedimentos terapêuticos e de procedimentos de diagnóstico. A dor

se diferencia em três tipos nos pacientes humanos com câncer: somática, viceral e

neuropática. A dor somática pode ser causada por metástases ósseas, dor pós-cirúrgica ou dor

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músculo-esquelética, esse tipo de dor geralmente é localizada. A dor viceral é resultado da

inflamação, compressão, distensão ou estiramento da víscera em decorrência do crescimento

do tumor. A dor neuropática é resultado do acometimento do sistema nervoso central ou

periférico ou ambos, devido à compressão ou infiltração do tumor, ou da lesão causada pela

cirurgia, radiação ou quimioterapia. A importância da distinção do tipo de dor é fundamental

para o estabelecimento da melhor estratégia de seu tratamento (YOSHIOKA et al, 2007, p.

28).

O animal com dor apresenta alteração em seu comportamento incluindo agressividade

ou submissão, isolamento ou desinteresse com relação ao ambiente, perda do comportamento

de saudação, depressão, estupor, agitação, inquietação, anorexia, insônia, alteração da

expressão facial e vocalização. No exame físico pode-se encontrar sinais como salivação,

midríase, taquicardia e taquipnéia, ou achados mais específicos que ajudam a localizar a

origem da dor, como edema, claudicação, sensibilidade à palpação e à manipulação, bem

como identificação de áreas com hiperalgesia (resposta dolorosa exagerada a um estímulo

nocivo) ou alodinia (dor provocada por estímulos que normalmente não a causariam). A

postura do corpo pode estar alterada para proteger uma região lesada o animal pode recusar-se

a deitar. No entanto, é necessário considerar o estado geral desses animais, pois animais muito

debilitados são incapazes de expressar esses comportamentos, nesses casos não deve ser

interpretado como paciente que não tem dor (YOSHIOKA et al, 2007, p. 30).

A avaliação da dor é importante tanto para o controle da causa dolorosa, quanto para o

controle da dor e do sofrimento. O proprietário tem que estabelecer uma escala de

quantificação da dor que o animal sente em sua residência, visando avaliação álgica

longitudinal e ajustes constantes nas doses necessárias ao controle do paciente. Os

instrumentos para mensurar a dor podem ser uni ou multidimensionais. Destacam-se entre as

escalas unidimensionais, a Escala Visual Numérica, graduada de zero a dez, a Escala Visual

Descritiva e a Escala Visual Analógica. No entanto, a experiência dolorosa é um evento muito

mais amplo, que não se resumindo apenas a intensidade (YOSHIOKA et al, 2007, p. 30).

O tratamento é baseado no tipo de dor que o animal apresenta, utilizando fármacos que

inibem os impulsos aferentes no cérebro ou medula espinhal (opióides), outros que

interrompem diretamente a condução do impulso (anestésicos locais), ou prevenindo a

sensibilização do nociceptor que acompanha o processo inflamatório (antiinflamatórios não-

esteróides). A farmacoterapia analgésica baseia-se em uma seqüência terapêutica que se

tornou conhecida como escala analgésica. A escala analgésica deve ser instituída sempre que

a queixa de dor for crônica. Esse protocolo é baseado em três passos principais, esses passos

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representam uma seqüência crescente na potência dos analgésicos utilizados. A mudança de

um passo para o outro ocorre devido a uma analgesia inadequada, decorrida pelo aumento da

dor quando há progressão da doença e aos efeitos colaterais dos medicamentos. O primeiro

passo inclui o uso de analgésicos antiinflamatórios não-esteróides, indicado para o controle da

dor de pequena e média intensidade, usados como analgésico para reduzir a resposta

inflamatória da periferia. Estes podem ser suspensos devido aos seus efeitos adversos

(ulceração do tratograstrintestinal, intolerância, inibição da agregação plaquetária, inibição da

motilidade uterina, reações de hipersensibilidade). Dentre os mais utilizados incluem o

carprofeno, meloxicam, flunixim meglumine, paracetamol e dipirona. Estes são indicados

para dor causada por metástases ósseas, dores musculares, infiltração de músculos. Se a dor

não for aliviada e for moderada inicia-se o segundo passo da escala analgésica, que consiste

em acrescentar aos antiinflamatórios, os analgésicos conhecidos como opióides fracos

(codeína, proproxifeno e tramadol), estes atuam na maioria das células nervosas, promovendo

hiperpolarização, inibição da deflagração do potencial de ação e inibição pré-sináptica da

liberação de neurotransmissor. O terceiro passo consiste em administrar medicamentos

opióides potentes. A morfina é o opióide potente de primeira escolha. Indicado no tratamento

da dor do câncer com intensidade de moderada a severa. O fentanil é um fármaco sintético e

aproximadamente cem vezes mais potente do que a morfina, porém apresenta duração ultra-

curta (uma a duas horas), a principal vantagem na utilização deste fármaco é por ser

administrado por via intravenosa e apresentar efeito quase imediato (YOSHIOKA et al, 2007,

p. 34).

Com o objetivo de amenizar os efeitos colaterais dos fármacos analgésicos, faz-se a

associação destes medicamentos com fármacos adjuvantes, sendo que os mais comuns

utilizados são os antiácidos, antieméticos, ansiolíticos, antagonista H2, hipnóticos, laxativos,

neurolépticos. Os neurolépticos são úteis principalmente quando se usa morfina, atuando

como antiemético e antialucinógeno (YOSHIOKA et al, 2007, p. 36).

10. ELETROQUIMIOTERAPIA

A eletroquimioterapia é a combinação da quimioterapia com a eletroporação, indicada

como tratamento localizado de diversos tipos de tumores sólidos, sejam eles cutâneos ou

subcutâneos. A eletroporação, definida como um fenômeno de quebras elétricas reversíveis na

membrana celular, isto é, aumento da permeabilidade da membrana da célula, através de

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formação de poros hidrofílicos. Esse processo tem por objetivo facilitar a entrada de

moléculas, que normalmente não são permeáveis à membrana celular, para dentro da célula.

Atualmente, esse método tem sido amplamente utilizado em medicina veterinária para o

transporte de fármacos para dentro das células, no tratamento de diversas neoplasias

(RANGEL et al., 2008, p. 30).

A eletroquimioterapia se caracteriza por seu baixo custo, ser pouco invasiva, efeito

antitumoral extensivo e imediato, assim como no controle da disseminação de metástase. É

considerada uma terapia simples, com curta duração nas seções do tratamento, baixas doses

do quimioterápico e efeitos adversos insignificantes, além de ser uma alternativa para aqueles

tumores, na qual a excisão cirúrgica é de difícil localização. Essa terapia é indicada para

neoplasias de diversas origens em cães e gatos, como melanoma em mucosas, fibrossarcoma,

hemangioma, hemangiossarcoma, neurofribroma, tumor perianal, sarcoma felino e

adenocarcinoma mamário. A eletroquimioterapia aumenta a resposta imune aos tumores

auxiliando na regressão tumoral (ROCHA et al., 2008, p.30).

Quando uma célula é submetida a um campo elétrico, uma diferença de potencial

transmembrana é induzida em sua membrana, que ao atingir determinados valores, pode-se

observar um aumento em sua permeabilidade. A intensidade do campo induzido determinara a

área de eletroporação, e o tempo de duração e o número de pulsos definirão o tamanho do

poro. A eletroporação esta relacionada com o padrão de amplitude, a duração, a freqüência, o

número e a forma do pulso elétrico aplicado. Os poros formados pelo pulso elétrico podem ser

reversíveis, mantendo a viabilidade das células após aplicação, no entanto se os valores de

amplitude e duração excederem determinados padrões de pulso elétrico suportáveis pela

membrana, os poros se tornam irreversíveis, desencadeando a morte da célula. Os poros

formados pela eletroporação permitem que moléculas de peso molecular com valores acima

de trinta mil Da, normalmente não permeáveis, penetrem na célula. Os poros se formam

simultaneamente à aplicação do campo elétrico, porém, seu fechamento pode demorar de

alguns segundos a minutos. No tecido exposto a eletroporação ocorre outro fenômeno, como a

diminuição do fluxo sanguíneo no local do tumor, o que possibilita um maior tempo de

penetração do fármaco pelos poros formados, com isso proporciona uma maior concentração

de fármaco dentro das células neoplásicas (RANGEL et al., 2008, p. 31).

O processo consiste em potencializar a ação de um fármaco que quando utilizado

sozinho há uma baixa ou nenhuma permeabilidade na membrana da célula, através do

fenômeno de eletroporação. A bleomicina, um fármaco de alto poder citotóxico intrínseco,

porém impermeável à membrana, teve, in vitro, seu efeito aumentado cerca de oito mil vezes

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com a eletroporação. Esse fármaco, sem a eletroporação entra na célula por meio de proteínas

de membranas carreadoras, através do processo de endocitose, logo nessa ocasião o transporte

do fármaco para dentro da célula dependerá da quantidade de exposição de tais proteínas na

membrana celular, e da velocidade com que elas são endocitadas. Outro fármaco também

utilizado na eletroquimioterapia é a cisplatina, que também é pouco permeável na membrana

celular e, in vitro, teve seu efeito melhorado em cerca de oitenta vezes com a eletroporação. A

administração dos fármacos antineoplásicos pode ser intratumoral, ou intravenosa. A

administração intravenosa tem se mostrado mais eficiente em tumores com volumes maiores.

Já em tumores menores e menos vascularizados é mais indicada a administração intratumoral.

O intervalo entre administração do fármaco e a aplicação do campo elétrico deve ser o

suficiente apenas para que a concentração do fármaco na neoplasia alcance seu valor máximo

(RANGEL et al., 2008, p. 32).

A eletroquimioterapia é composta de um gerador de pulsos elétricos e eletrodos. O

gerador regula o tipo de onda, a frequência do pulso e a intensidade do campo elétrico, tendo

como objetivo gerar campos elétricos controlados, enquanto que os eletrodos devem delimitar

a área tumoral e regular o número e duração dos pulsos (ROCHA et al., 2008, p.27). Os

eletrodos podem assumir diversas formas conforme a comodidade da aplicação, porém podem

ser agrupados em dois tipos principais, os de placas e os de agulhas. O eletrodo de placa é

composto de duas tiras de aço inoxidável com cantos arredondados com cerca de dez

milímetros de largura estando separadas por uma distancia de seis a oito milímetros, estes são

indicados para neoplasias superficiais. O eletrodo de agulha obtém disposição circular ou em

paralelo com diversas agulhas de aço inoxidável, tais agulhas devem ser introduzidas na

neoformação a uma profundidade de três a vinte milímetros (Figura 7). O eletrodo invasivo

tem mais vantagens, pois é capaz de ultrapassar a camada subcutânea o que resulta em uma

redução da voltagem necessária para alcançar a permeabilidade adequada. O tamanho e o tipo

dos eletrodos devem ser usados com base na intensidade do campo elétrico, nas características

das lesões tumorais, no tipo de onda e na frequência desejada (ROCHA et al., 2008, p.27). O

procedimento consiste na administração do fármaco no animal e posterior exposição do tecido

ou células neoplásicas aos pulsos elétricos por meio de eletrodos. A eletroquimioterapia pode

ser realizada no período transoperatório ou pós-operatório nas adjacências da margem

cirúrgicas da neoplasia, nesse caso, foi administrado juntamente a hialuronidase, na dose

aproximada de 300 UI, para garantir a distribuição mais uniforme do agente antineoplásico

(RANGEL et al., 2008, p. 32).

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Figura 7 – Aplicação de pulso elétrico com eletrodo de agulhas.

Fonte:

ROCHA, Marcela S., 2008.

As doses recomendadas de bleomicina intravenosa e intratumoral são respectivamente,

15 mg/m2 (0,5 mg/kg) e 1000 UI/cm3 do volume de tumor e para cisplatina intratumoral,

variam de 0,5 a 2 mg/cm3 do volume de tumor. As concentrações para administração

intratumoral podem ser de 1000 UI/ml e 2 mg/ml para a bleomicina e cisplatina,

respectivamente. A eletroquimioterapia pode ser realizada em intervalos de três a seis

semanas. O protocolo de pulsos elétricos aplicados mais utilizado, adota oito pulsos de 100us

de duração, 1300 Vcm-1 de amplitude, e frequência de 1 Hz ou 5 kHz. A diferença entre essas

freqüências de pulso utilizadas estão relacionadas quanto as contrações musculares

desencadeadas pelos pulsos elétricos e ao tempo de tratamento. Com frequência de 1 Hz os

pacientes sentem oito contrações, que podem ocasionar deslocamento dos eletrodos e falhas

no processo, e o tempo de aplicação dos pulsos dura aproximadamente dez segundos. Quanto

se utilizam 5 kHz o processo de aplicação dura aproximadamente 1,5 milisegundos e o

paciente sente apenas uma contração, nesse caso diminui o desconforto e outras possíveis

falhas decorrentes do deslocamento dos eletrodos. Para promover um bom contato entre os

eletrodos e a pele, recomenda-se utilizar gel condutor, o mesmo empregado nos exames de

ultra-sonografia (RANGEL et al., 2008, p. 32).

Os efeitos colaterais mais comuns da eletroquimioterapia são as contrações musculares

involuntárias no local de aplicação dos pulsos elétricos, que cessam imediatamente ao final

destes. Em animais, mesmo depois de várias sessões, não se nota nenhum sinal de

comprometimento do estado geral de saúde. Após as sessões, a maioria dos animais apresenta

comportamento normal e ausência de sinais de dor. Pode ser observado nos primeiros dias

após a aplicação, uma reação inflamatória local com discreto eritema no tecido normal

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adjacente e formação de crosta superficial. Em tumores maiores, algumas vezes podem

ocorrer ulcerações da formação, que desaparece em no máximo cinco semanas após o

tratamento (RANGEL et al., 2008, p. 33).

Tumores já tratados com cirurgia, quimioterapia ou radioterapia que apresentaram

comportamento refratário ou recidiva, também podem ser tratados com eletroquimioterapia

sem interferência em sua eficiência (RANGEL et al., 2008, p. 304).

11. PROGNÓSTICO

Os fatores prognósticos em felinos incluem o tamanho do tumor, a extensão da

cirurgia e a graduação histológica da neoplasia. Tumores menores que dois centímetros

apresentam menos reincidência local do que aqueles maiores que dois a três centímetros.

Gatos com carcinoma mamário maior que três centímetros apresentam uma média de

sobrevida de seis meses, enquanto que aqueles com tumores menores apresentam uma média

de sobrevida em torno de três anos. Gatas com tumores menores que oito centímetros cúbico

de volume, sem invasão linfática ou vascular, e/ou com um índice de mitose baixo obtém um

melhor prognóstico (FOSSUM, 2008, p.734).

O aumento do tamanho do tumor primário promove um maior risco de

desenvolvimento de metástases e diminui o tempo de sobrevida. O prognóstico para os

caninos com tumor benigno é bom com a cirurgia. Os que possuem tumores malignos vão ser

dependentes do tipo histológico e do estágio do tumor. Aqueles com presença de metástase no

momento do diagnóstico têm uma média de sobrevida menor (cinco meses). Cães com

tumores de tamanho menor do que três centímetros apresentam melhores prognósticos

(apenas trinta e cinco por cento de recidiva em dois anos, com uma média de vinte e dois

meses de sobrevida), do que os tumores maiores que três centímetros de diâmetro (oitenta por

cento de recidiva em dois anos, com uma média de sobrevida de quatorze meses). Os

carcinomas confinados ao ducto epitelial apresentam um prognóstico bom após cirurgia. O

prognóstico torna-se ruim, quando células neoplásicas são encontradas nos vasos sanguíneos

ou linfáticos. O tempo médio de sobrevida de cães com carcinoma anaplásico é de dois anos e

meio, esse tempo cai para dezesseis meses em cães com carcinoma sólido. Os sarcomas de

glândula mamária e o carcinoma inflamatório apresentam um prognóstico muito ruim

(FOSSUM, 2008, p.734).

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A pesquisa dos linfonodos sentinelas, o primeiro linfonodo da cadeia linfática a

receber a drenagem regional onde se encontra a formação, com administração de corante azul

de metileno intratumoral para posterior análise histopatológica,tem o objetivo de auxiliar no

estadiamento e prognóstico de diversos tumores. Corresponde ao primeiro local de

implantação tumoral, além de que, após a injeção, o corante sofre drenagem pelo sistema

linfático, permitindo a visualização da cadeia linfática regional durante o procedimento

cirúrgico (Figura 8). A análise histopatológica desses linfonodos associada às informações da

lesão primária e à pesquisa de eventuais metástases à distância define o estadiamento dessas

patologias (CAMPOS et al., 2007, p.18).

Figura 8 – Vasos linfáticos e linfonodo axilar próprio corados pelo azul de metileno.

Fonte:

CAMPOS, Marina L. C., 2007.

11. PROFILAXIA

O risco de tumores mamários em cadelas castradas antes do primeiro estro é de 0,05%.

Esse risco aumenta para oito por cento após o primeiro ciclo estral e para vinte e seis por

cento após o segundo estro. Gatas castradas antes dos seis meses de idade apresentam um

risco de nove por cento, e aquelas castradas entre os seis e doze meses de idade apresentam

um risco de desenvolvimento de neoplasia mamária de quatorze por cento quando

comparadas com gatas inteiras (FOSSUM, 2008, p.729).

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CONCLUSÃO

Conclui-se que a neoplasia mamária é uma enfermidade cujo diagnostico e tratamento

precoce favorecem muito no prognóstico da doença. Devido seu desenvolvimento estar

relacionado com a produção de hormônios sexuais femininos, sabe-se que as fêmeas idosas e

não castradas são mais susceptíveis a desenvolver a doença. Exames como citologia aspirativa

com agulha fina, histopatológico da formação ajudam na identificação da neoplasia, na

escolha do melhor tratamento para cada animal e oferece uma noção de prognóstico, o que

justifica sua importância e sempre tem que ser realizado. Embora há uma variedade de

terapias disponíveis, a cura nem sempre é alcançada. Logo, a castração precoce, antes da

puberdade, impede o estímulo hormonal e reduz a quase zero as chances de desenvolvimento

de tumor da mama em cadelas e gatas.

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