9

Nesta Edição - revistaartereal.com.br · Se a Terra, no movimento de translação, girasse sobre um eixo vertical em relação ao plano da órbita, as suas diferentes regiões receberiam

  • Upload
    lamliem

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Nesta EdiçãoCapaCapa – Natalis Invicti Solis.........................................................CapaEditorialEditorial.........................................................................................2 TrabalhosTrabalhos - São João – 27 de Dezembro.......................................3

- Encontrando Nossa Centralidade na Cruz.....................6 - O Lampião e a Carreira Maçônica...................................8 - Revista Arte Real versão impressa lança a 3ª Edição...9 LançamentosLançamentos – Livros....................................................................9

Editorial““Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova.Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova. ””

Mahatma GhandiMahatma Ghandi

hegamos ao último mês do ano, que fecha o tão supersticioso, para muitos, ano de 2012. Independente das previsões de alguns, alheio ao

sensacionalismo de calendários de outros, seguimos avante com a nossa missão de bem informar e levar a cultura maçônica aos nossos leitores.

CCNesse período de encerramento de atividades,

preparando-nos para as Festas Natalinas, somos impulsionados a fazer um rápido balanço do ano que ora se encerra. Não podemos reclamar e, nem se motivos tivéssemos o faria, já que, por excelência, escolhemos ser otimista e entusiasta, esse é o segredo de alcançarmos tantas vitórias e não nos deixarmos nos abater pelos percalços do caminho. Assim sendo, temos que admitir que 2012 nos foi, de certo modo, um tanto generoso, e graças a Lei Justa e Perfeita galgamos degraus importantíssimos em nossa escalada, tanto progressista como evolutivamente falando.

Tivemos a oportunidade de, em quase todos os meses do ano, estar em um Oriente proferindo palestras sobre temas que, de certa forma, objetivaram o despertar da consciência daqueles que nos prestigiaram com suas presenças. Nessas nossas andanças, destacamos nossa presença em Cuiabá, Mato Grosso, quando atendendo ao convite de nossos Irmãos matogrossenses, proferimos uma palestra sobre a “Vida e a Obra de JHS”, na Loja Maçônica, que leva seu nome (ARLS Professor Henrique José de Souza nº 49). Fruto dessa oportunidade, formalizamos um Convênio com a Grande Loja Maçônica de Mato Grosso, com a finalidade de produzirmos a Revista Arte Real, em sua versão impressa, iniciativa que tem se traduzido em um estrondoso sucesso, junto aos nossos leitores.

Caso, neste ano, não mais alcançássemos outras

conquistas, essa, por si só, já seria mais do que suficiente para que disséssemos que 2012 foi maravilhoso. De fato, uma grande realização. A edição impressa já se encontra em sua 3ª edição e temos recebido comentários e considerações de nossas assinantes, que nos enchem de orgulho de estar à frente de tão altruístico trabalho, embora saibamos que nossas responsabilidades, em muito, aumentam a cada edição.

Superstições sobre o final dos tempos a parte, seguimos impávidos e com denodo, preparando-nos para o dealbar de 2013, com o mesmo entusiasmo e dedicação, a fim de colocarmos em prática novos projetos.

Nesta edição, cujo período envolve o Natal e as Festas do Novo Ano, selecionamos algumas matérias, que visam trazer luz sobre alguns aspectos pertinentes à época. De autoria do insigne escritor e historiador maçônico José Castellani, a matéria “São João – 27 de Dezembro”; da lavra de Kadu Santoro, escolhemos a matéria “Encontrando Nossa Centralidade na Cruz”; do nosso Irmão Vilson Marion Flores da Silva, a matéria “O Lampião e a Carreira Maçônica”, matérias para serem lidas e refletidas algumas vezes, e, na medida do possível, colocarmos seu conteúdo em prática, no Teatro de nossas vidas!

Desejamos a todos um Feliz Natal, na acepção da palavra, e que, em 2013, possamos estar juntos e conscientes de nosso imprescindível trabalho como iniciados, em prol de um mundo melhor! ?

Revista Arte Real 67 2

TrabalhosSÃO JOÃO – 27 DE DEZEMBRO

““Não há nada mais elevado do que a Verdade, e por isso mesmo é queNão há nada mais elevado do que a Verdade, e por isso mesmo é quea sua aquisição é o mais elevado dos ideais humanos.a sua aquisição é o mais elevado dos ideais humanos.” ”

Professor Henrique José de Souza.

José Castellani

ia 27 de dezembro, a Terra completa mais um giro em torno de seu eixo, desloca-se no espaço, com um movimento de translação em torno do Sol,

quando descreve uma elipse, de acordo com as leis de Kepler. Para o observador situado na Terra, todavia, é como se esta fosse fixa e o Sol se movesse em torno dela, seguindo um caminho, que, como já foi visto, é chamado de eclíptica.

DDEm sua marcha em torno do Sol, a Terra, descrevendo uma elipse, ficará mais próxima, ou mais afastada do astro da luz. O ponto mais próximo - 147 milhões de quilômetros - é o periélio; o mais afastado - 152 milhões de quilômetros - é o afélio. Se a Terra, no movimento de translação, girasse sobre um eixo vertical em relação ao plano da órbita, as suas diferentes regiões receberiam iluminação, sempre, sob o mesmo ângulo e a temperatura seria, sempre, constante, em cada uma delas. Mas, como o eixo é inclinado, em relação à órbita, essa inclinação faz com que os raios solares incidam sobre a Terra segundo um ângulo diferente, a cada dia que passa. E, assim, vão se sucedendo as estações: verão, outono, inverno e primavera.

Como os planos do equador terrestre e da eclíptica

não coincidem, tendo uma inclinação, um em relação ao outro, de 23 graus e 27 minutos, eles se cortam ao longo de uma linha, que toca a eclíptica em dois pontos: são os equinócios. O Sol, em sua órbita aparente, cruza esses pontos, ao passar de um hemisfério celeste para outro; a passagem de Sul a Norte marca o início da primavera no hemisfério Norte e do outono no hemisfério Sul; a passagem do Norte para o Sul marca o início do outono no hemisfério Norte e da primavera no hemisfério Sul. Esses são os equinócios de primavera e de outono.

Por outro lado, nos momentos em que o Sol atinge sua maior distância angular do equador terrestre, ou seja, quando é máximo o valor de sua declinação, ocorrem os solstícios. Os dois solstícios ocorrem a 21 de junho e a 21 de dezembro; a primeira data marca a passagem do Sol pelo primeiro ponto do trópico de Câncer, enquanto a segunda é a passagem do Sol pelo primeiro ponto do trópico de Capricórnio. No primeiro caso, o Sol está em afélio e é solstício de verão no hemisfério Norte e de inverno no hemisfério Sul; no segundo, o Sol está em periélio e é solstício de inverno no hemisfério Norte e de verão no hemisfério Sul.

Revista Arte Real 67 3

Portanto, o solstício de verão no hemisfério Norte e de inverno no hemisfério Sul, ocorre quando o Sol está em sua posição mais boreal (Norte), enquanto o solstício de verão no hemisfério Sul e de inverno no hemisfério Norte, ocorre quando o Sol está em sua posição mais austral (Sul).

Por herança recebida dos membros das organizações de ofício, que, tradicionalmente, costumavam comemorar os solstícios, essa prática chegou à Maçonaria moderna, mas já temperada pela influência da Igreja sobre as corporações operativas. Como as datas dos solstícios são 21 de junho e 21 de dezembro, muito próximas das datas comemorativas de São João Batista - 24 de junho - e de São João Evangelista - 27 de dezembro - elas acabaram por se confundir com estas, entre os Maçons Operativos, chegando à atualidade. Hoje, a posse dos Grão-Mestres das Obediências e dos Veneráveis Mestres das Lojas realiza-se a 24 de junho, ou em data bem próxima; e não se pode esquecer que a primeira Obediência maçônica do mundo, como já foi visto, foi fundada em 1717, no dia de São João Batista.

Graças a isso, muitas corporações, embora houvesse um santo protetor para cada um desses grupos profissionais, acabaram adotando os dois São João como padroeiros, fazendo chegar esse hábito à moderna Maçonaria, onde existem, segundo a maioria dos ritos, as Lojas de São João, que abrem os seus trabalhos "à glória do Grande Arquiteto do Universo (Deus) e em honra a S. João, nosso padroeiro", englobando, aí, os dois santos.

No templo maçônico, essas datas solsticiais estão representadas num símbolo, que é o Círculo entre Paralelas Verticais e Tangenciais. Este significa que o Sol não transpõe os trópicos, o que sugere, ao maçom, que a consciência religiosa do Homem é inviolável; as paralelas representam os trópicos de Câncer e de Capricórnio e os dois S. João.

Tradicionalmente, por meio da noção de porta estreita, como dificuldade de ingresso, o maçom evoca as portas solsticiais, estreitos meios de acesso ao conhecimento, simbolizados no círculo cósmico, no círculo da vida, no zodíaco, pelo eixo Capricórnio-Câncer, já que Capricórnio corresponde ao solstício de inverno, e Câncer, ao de verão (no hemisfério Norte, com inversão para o Sul). A porta corresponde ao início, ou ao ponto ideal de partida, na elíptica do nosso planeta, nos calendários gregorianos e, também, em alguns pré-colombianos, dentro do itinerário sideral.

O homem primitivo distinguia a diferença entre duas épocas, uma de frio e uma de calor, conceito que, inicialmente, serviu-lhe de base para organizar o trabalho agrícola. Graças a isso é que surgiram os cultos solares, com o

Sol sendo proclamado - como fonte de calor e de luz - o rei dos céus e o soberano do mundo, com influência marcante sobre todas as religiões e crenças posteriores da humanidade. E, desde a época das antigas civilizações, o homem imaginou os solstícios como aberturas opostas do céu, como portas, por onde o Sol entrava e saía, ao terminar o seu curso, em cada círculo tropical.

A personificação de tal conceito, no panteão romano, foi o deus Janus, representado como divindade bifásica, graças à sua marcha pendular entre os trópicos; o seu próprio nome mostra essa implicação, já que deriva de janua, palavra latina que significa porta. Por isso, ele era, também, conhecido como Janitur, ou seja, porteiro, sendo representado com um molho de chaves na mão, como guardião das portas do céu. Posteriormente, essa alegoria passaria, através da tradição popular cristã, para São Pedro, mas sem qualquer relação com o solstício.

Janus era um deus bicéfalo, com duas faces simetricamente opostas, cujo significado simbolizava a tradição de olhar, uma das faces, constantemente, para o passado, e a outra, para o futuro. Os Césares da Roma imperial, em suas celebrações e para dar ingresso ao Sol nos dois hemisférios celestes, antepunham o deus Janus, para presidir todos os começos de iniciação, por atribuir-lhe a guarda das chaves.

Tradicionalmente, tanto para o mundo oriental, quanto para o ocidental, o solstício de Câncer, ou da Esperança, alusivo a São João Batista (verão no hemisfério Norte e inverno no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas mortais e, por isso, chamada de Porta dos Homens,

Revista Arte Real 67 4

enquanto o solstício de Capricórnio, ou do Reconhecimento, alusivo a São João Evangelista (inverno no hemisfério Norte e verão no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas imortais e, por isso, denominada Porta dos Deuses. Para os antigos egípcios, o solstício de Câncer (Porta dos Homens) era consagrado ao deus Anúbis; os antigos gregos o consagravam ao deus Hermes. Anúbis e Hermes eram, na mitologia desses povos, os encarregados de conduzir as almas ao mundo extraterreno.

A importância dessa representação das portas solsticiais pode ser encontrada com o auxílio do simbolismo cristão, pois, para o maçom, as festas dos solstícios são, em última análise, as festas de São João Batista e de São João Evangelista. São dois São João e há, aí, uma evidente relação com o deus romano Janus e suas duas faces: o futuro e o passado, o futuro que deve ser construído à luz do passado. Sob uma visão simbólica, os dois encontram-se num momento de transição, com o fim de um grande ano cósmico e o começo de um novo, que marca o nascimento de Jesus: um anuncia a sua vinda e o outro propaga a sua palavra. Foi a semelhança entre as palavras Janus e Joannes (João, que, em hebraico é Ieho-hannam = graça de Deus) que facilitou a troca do Janus pagão pelo João cristão, com a finalidade de extirpar uma tradição "pagã", que se chocava com o cristianismo. E foi dessa maneira que os dois São João foram associados aos solstícios e presidem às festas solsticiais.

Continua, aí, a dualidade, princípio da vida: diante de Câncer, Capricórnio; diante dos dias mais longos, do verão, os dias mais curtos, do inverno; diante de São João "do inverno", com as trevas, Capricórnio e a Porta de Deus, o São João "do verão", com a luz, Câncer e a Porta dos Homens (vale recordar que, para os maçons, simbolicamente, as condições geográficas são, sempre, a do hemisfério Norte).

Dentro dessa mesma visão simbólica, podemos considerar a configuração da constelação de Câncer. Suas duas estrelas principais tomam o nome de Aselos (do latim Asellus, i = diminutivo de Asinus, ou seja: jumento, burrico). Na tradição hebraica, as duas estrelas são chamadas de Haiot Nakodish, ou seja, animais de santidade, designados pelas duas primeiras letras do alfabeto hebraico, Aleph e Beth, correspondentes ao asno e ao boi. Diante delas, há um pequeno conglomerado de estrelas, denominado, em latim, Praesepe, que significa presépio, estrebaria, curral, manjedoura, e que, em francês, é “crèche”, também com o significado de presépio,

manjedoura, berço. Essa palavra “creche” já foi, inclusive, incorporada a idiomas latinos, com o significado de local onde crianças novas são acolhidas, temporariamente.

Esse simbolismo dá sentido à observação material: Jesus “nasceu” a 25 de dezembro, sob o signo de Capricórnio, durante o solstício de inverno, sendo colocado em uma manjedoura, entre um asno e um boi. Essa data de nascimento, todavia, é puramente simbólica. Para os primeiros cristãos, Jesus nascera em julho, sob o signo de Câncer, quando os dias são mais longos no hemisfério Norte. O sentido cristão, no plano simbólico, abordaria, então, apenas, a Porta dos Homens e, assim, só haveria a compreensão de Jesus, como ser, como homem. Mas Jesus é o ungido, o Messias, o Cristo - segundo a teologia cristã - e o outro polo, obrigatoriamente complementar, é a Porta de Deus, sob o signo de Capricórnio, tornando a dualidade compreensível.

Dois elementos, entretanto, um material e um religioso, viriam a influir na determinação da data de 25 de dezembro. O material refere-se aos hábitos dos antigos cristãos e o religioso, ao Mitraismo da antiga Pérsia, adotado por Roma:

Os primeiros cristãos do Império Romano, para escapar às perseguições, criaram o hábito de festejar o nascimento de Jesus durante as festas dedicadas ao deus Baco, quando os romanos, ocupados com os folguedos e orgias, os deixavam em paz.

Mas a origem mitraica é a que é mais plausível para explicar essa data totalmente fictícia: os adeptos do Mitraismo costumavam se reunir na noite de 24 para 25 de dezembro, a mais longa e mais fria do ano, numa festividade chamada - no Mitraismo Romano - de Natalis Invicti Solis (nascimento do Sol triunfante). Durante toda a fria noite, ficavam fazendo oferendas e preces propiciatórias, pela volta da luz e do calor do Sol, assimilado ao deus Mitra. O Cristianismo, ao fixar essa data para o nascimento de Jesus, identificou-o com a luz do mundo, a luz que surge depois das prolongadas trevas. ?

Revista Arte Real 67 5

TRABALHOSENCONTRANDO NOSSA CENTRALIDADE NA CRUZ

Kadu Santoro o longo da história cristã, a cruz, sempre, foi símbolo de maldição e sofrimento. Dentro do quadro histórico do mundo antigo a cruz era local de condenação para

criminosos, provavelmente, teve sua origem entre os Persas. O historiador Heródoto apresenta um relato onde o Rei Dario mandou crucificar três mil babilônios, por volta de 519 a.C. (ver Heródoto, Histórias). Os romanos aperfeiçoaram a crucificação como forma de tortura. Cícero, o estadista romano, chamou esse ato de punição como: “o castigo extremo mais cruel e repugnante” (ver Cícero, Selected Works). Muitos mártires cristãos, também, foram mortos na cruz, pelo fato de não negarem sua fé em Jesus Cristo e serem considerados rebeldes contra a religião imperial. Para os judeus, era proibido olhar para alguém que estivesse crucifixado, pois este era considerado maldito. Além disso, a cruz proporcionava uma morte lenta e dolorosa, na maioria das vezes por asfixia, devido à posição incômoda com os braços abertos.

AA

Analisando os evangelhos sinóticos e de João, em um nível mais profundo, onde Jesus fala a respeito de seguir a ele levando a própria cruz, podemos extrair sábias lições relacionadas ao processo do despertar da consciência.

Então, Jesus disse a seus discípulos: “Se alguém quiser vir em meu segmento, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, vai salvá-la. Que proveito terá o homem em ganhar o mundo inteiro, se o paga com a própria vida? Ou então, que dará o homem, que tenha o valor de sua vida? Pois o Filho do Homem virá com seus anjos na Glória do seu Pai; e, então, retribuirá a cada um segundo a sua conduta. Em verdade, eu vos

declaro: dentre os que estão aqui, alguns não morrerão antes de ver o Filho do Homem vir como rei” (Mt.16.24-28).

O ponto de partida para analisar esta passagem bíblica situa-se em duas perguntas fundamentais: quem é Jesus e o que representa segui-lo?

Jesus Cristo, dentro de uma interpretação psicológica e analítica, é o arquétipo do divino/humano, ou seja, o modelo ou paradigma a ser seguido pela humanidade. O apóstolo Paulo sintetiza bem esse objetivo quando diz em uma de suas cartas: “até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da

estatura completa de Cristo” (Ef.4.13).

Jesus não é alguém fora, um ente histórico, é o Cristo/símbolo que deve ser despertado dentro de nós. Possuímos todas as potencialidades cósmicas dentro de nós, quando Jesus diz que Ele e o Pai são um (Jo.10.30), está dizendo que essa condição é universal para todos seres humanos, pois foram feitos à imagem e semelhança de Deus (Imago Dei). Jesus falou aos seus seguidores que coisas maiores eles fariam, nunca mencionou ter curado alguém, a própria “fé” da pessoa que foi instrumento de cura.

Na interpretação cabalística, o sentido de Jesus na cruz simboliza a Árvore da Vida

em seu estado perfeito com suas dez sephiroth. Na cabeça a Coroa (Kether-01) representando a divindade absoluta, nos pés (Malkuth-10) representando o Reino terreno, a humanidade integral, e no meio da árvore, na posição do coração a Beleza (Tiphereth-06), representando o sagrado coração de Jesus, o fio condutor entre o homem e Deus.

Revista Arte Real 67 6

Em relação à segunda pergunta, seguir a Jesus significa, especificamente, estar ligado à Árvore da Vida, síntese de toda a história da salvação bílbica, descrita no último livro da Bíblia: “Bem aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito à Árvore da Vida e possam entrar na cidade pelas portas” (Ap.22.14).

Essa pequena introdução já nos possibilita analisarmos a questão sobre a centralidade da cruz com muito mais clareza. Vimos que o centro da cruz, na Árvore da Vida, encontra-se no coração (Tiphereth), que representa o local onde residem os nossos sentimentos humanos, a porta da vida, onde está resguardado o sopro divino.

A primeira etapa para ter um verdadeiro encontro com o nosso Cristo interior é renunciar a si mesmo, ou seja, é preciso deslocar o nosso Eu do centro da nossa vida. Devemos tomar ciência de que tudo é transitório e passageiro, nossa vida terrena é, apenas, uma experiência física, como disse Teilhard de Chardin: “Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana.” Esse é o ponto de mutação que devemos ter em mente para realizarmos o verdadeiro processo do despertar da consciência.

Renunciar a si próprio, também, representa dar lugar ao nosso inconsciente, local onde encontram-se a nossa porção divina escondida, deixar um pouco de lado o nosso agir racional, passar a perceber o que antes era chamado de coincidência, e, agora, chama-se sincronicidade; viver mais de forma subjetiva, deixando Deus conduzir nosso caminhar na estrada da vida.

O local simbólico onde realizamos essa experiência é no centro da cruz, no ponto de intercessão entre as coordenadas X (vertical) e Y (horizontal), local onde se encontram o Sagrado Coração de Jesus ou a Rosa Mística (utilizada pelos Rosa cruzes e por Martinho Lutero), que tem como simbolismo o desabrochar da rosa, que representa o despertar da nossa consciência e do amor universal. Segundo a Física moderna, esse ponto de encontro entre as

coordenadas chama-se horizonte de eventos, local de manifestação tempo/espacial. Em todas as culturas religiosas do mundo, temos imagens arquetípicas chamadas de Mandalas, que possuem a mesma função simbólica da cruz, pois são representações visuais, que apontam para um centro, local de foco e meditação, para atingirmos a união mística entre o humano e Deus.

Perder a nossa vida aqui por Jesus, não representa tornar-se um mártir, ou virar um fanático religioso em busca da salvação como vemos ser pregado por aí de forma fundamentalista, significa uma mudança de mentalidade, onde o nosso coração já não é mais aprisionado pelo Ego, vivemos livres das amarras religiosas, pois o véu se rasgou do alto

(Kether) até em baixo (Malkuth), e vivemos no caminho do centro (Tiphereth), ponto de

comunhão com o divino, local de manifestação e vida, o centro da cruz.

Para todos aqueles que conseguirem viver essa

centralidade na cruz durante sua vida, a morte já não existirá mais, pois o medo e o temor da morte, nada mais é do que um inconformismo egoísta de não aceitarmos que temos um tempo determinado aqui no

plano físico, seja para quem acredite em

reencarnação ou ressurreição, pois a lei

cósmica é uma só, como Buda certa vez disse: “todo composto é

perecível”.

Em síntese, podemos concluir que a cruz é um arquétipo da Árvore da Vida, tanto é que

ela é unânime nos quatro evangelhos. Jesus é o protótipo do divino/humano, a condição que devemos atingir através da experiência do encontro no centro da cruz, em Tiphereth (sexta sephira), durante a subida pela Árvore (nossa caminhada pelo mundo), partindo de Malkuth em ascese até Kether. Jesus é a própria imagem de Tiphareth, que é simbolizada na Cabala Cristã como um rei majestoso e um Deus crucificado. Ele, também, é representado como o Sol, a Luz do mundo. Toda a narrativa bíblica a cerca da vida, morte e ressurreição de Jesus aponta para um único lugar, a centralidade do nosso coração (Tiphereth), que deve estar intimamente ligado a Deus.

Revista Arte Real 67 7

TRABALHOSO LAMPIÃO E A CARREIRA MAÇÔNICA

Vilson Marion Flores da Silvaqueles que viveram em algum lugar, sem luz elétrica com eu, que fui criado na campanha, devem lembrar-se do velho e saudoso lampião.

Para quem não o conheceu, deve-se destacar que o lampião é um utensílio que serve para iluminar. Normalmente, tem um depósito de combustível (querosene, quase sempre), um pavio (normalmente de tecido, para pegar fogo), um regulador, para o tamanho do pavio, e consequente intensidade da chama e um vidro protetor, para evitar que o vento apague o fogo. Esse vidro suja muito e é necessário limpá-lo constantemente.

AA

Assim, um lampião com combustível, pavio bem regulado e vidro limpo, quando aceso gera luz. Brilha no escuro.

Quando somos exaltados a Mestre, dizem-nos que, agora, temos luz própria, que devemos iluminar o caminho dos que nos seguem. Portanto, o Mestre Maçom, também, é um lampião, e assim como este, devemos ter um depósito de combustível (conhecimento, sabedoria) bem cheio. Da regulagem de nosso pavio dependerá a clareza e intensidade da chama, da luz que queremos transmitir aos Irmãos. Uma boa frequência, saber manifestar-se de maneira oportuna, equilibrada, são condições importantes para que nossa chama brilhe com força. Finalmente, nosso vidro deve estar bem limpo para a passagem da luz. Devemos saber falar de maneira a sermos entendidos, convencermos, ensinarmos aquele grupo de Irmãos ao qual nos dirigimos.

Portando, é necessário estarmos atentos mais e mais ao que o cargo que ocupamos nos exige. Estudando, participando de seminários, encontros, treinamentos,

palestras, lendo muito, etc., para termos uma boa bagagem e ferramentas para atendermos às expectativas em nós depositadas. A leitura constante e a participação em eventos mantêm cheio nosso depósito de combustível, atualizando nossos conhecimentos. O entusiasmo, a

participação em Loja, o interesse fazem com que nosso pavio seja grande e forte,

proporcionando uma chama brilhante, que a todos atinge. Nosso vidro limpo é nosso bom relacionamento e conhecimento dos Irmãos,

fazendo com que haja uma harmonia entre todos e deixando a luz passar.

Este vidro, que no lampião funciona como uma proteção para o vento não apagar o fogo, em nossa vida maçônica, também, funciona como uma proteção contra o descaso, o ostracismo, a falta de interesse. O vidro não é inquebrável (não somos insubstituíveis), mas quanto maior a espessura desse vidro, maior será a proteção.

Pergunte-se para que serve um lampião estragado? Ou seja, sem tanque de combustível, ou sem pavio. Certamente a resposta será: não serve para nada. É inútil!

Pois se em nossa vida maçônica faltar

bagagem de conhecimentos (depósito de combustível), falta

de equilíbrio emocional (“Pavio Curto”), ou estivermos

desatualizados (com o vidro opaco/sujo), talvez, para nada serviremos. Seremos inúteis, ao ponto de ficarmos na prateleira (sem nenhum cargo)

e um dia sermos jogado fora.

Portanto, estude, participe de eventos, leia bastante, atualize-se, transmita sua sabedoria, seja um Mestre, e brilhe mais e mais.

Revista Arte Real 67 8

Lançamentos“Indicamos aos nossos diletos leitores, como livro de cabeceira, a excelente obra de nosso Irmão e Amigo, Alfredo Roberto Netto, que, magistralmente, uniu seu vasto conhecimento com a arte de bem escrever, traduzindo-se em um livro que, levará o ávido leitor a profundas reflexões e, consequentemente, a um eterno aprendizado!” Feitosa.

Os direitos autorais foram cedidos à Loja Maçônica União e Solidariedade - GLESP, acordado que o lucro advindo da venda se reverta para obras de Filantropia.?

REVISTA ARTE REAL VV ERSÃOERSÃO I I MPRESSAMPRESSA

Lançamos, em julho/12, com enorme sucesso, a versão impressa da Revista que trata a Cultura Maçônica com a seriedade que merece! A 3ª edição, versão impressa, está sendo distribuída aos nossos assinantes. Com 28 páginas, em papel couchê, traz um trabalho de diagramação e edição de imagens de alto padrão, com matérias de renomados autores, como: “O Simbolismo do Natal; A Origem do Natal – Movimentos Republicanos Regionais e a Maçonaria – A Disputa Entre Antigos e Modernos – Exoterismo e Esoterismo na Mçaonaria – Brasil, Reconhecimento e Regularidade.”

Clique nas capas da Revista e acesse a página para preencher o Formulário Cadastro de Assinante, e receber, no conforto de seu lar, a Revista que tem conquistado o mais alto conceito junto ao Povo Maçônico! Parte do que arrecadarmos com a venda de assinatura e publicidade será direcionado, como doação, para instituições. Com isso, além de adquirir cultura maçônica, você estará sendo partícipe nessa empreitada filantrópica!

Assine já a versão impressa da Revista Arte Real!Assine já a versão impressa da Revista Arte Real!

rte Real é uma Revista maçônica, nas versões virtual e impressa, de publicação bimestral (a partir de julho de 2012), fundada em 24 de fevereiro de 2007, com registro na ABIM – Associação Brasileira de Imprensa Maçônica – 005-JV, que se apresenta como mais um canal

de informação, integração e incentivo à cultura maçônica, sendo distribuída, gratuitamente, via Internet, hoje, para 24.000 e-mails de Irmãos de todo o Brasil e, também, do exterior, além de uma vasta redistribuição em listas de discussões, sites maçônicos e listas particulares de nossos leitores. Sentimo-nos muitíssimo honrados em poder contribuir, de forma muito positiva, com a cultura maçônica, incentivando o estudo e a pesquisa no seio das Lojas e fazendo muitos Irmãos repensarem quanto à importância do momento a que chamamos de “Quarto de Hora de Estudos”. Obrigado por prestigiar esse altruístico trabalho!

AA

Editor Responsável, Diagramação, Editoração Gráfica e Distribuição: Francisco Feitosa da Fonseca - M∴I∴ - 33ºRevisão Ortográfica: João Geraldo de Freitas Camanho - M∴I∴ - 33º Colaboradores nesta edição: José Castellani – Kadu Santoro – Vilson Marion da Silva. Contatos: MSN - [email protected] / E-mail – [email protected] / Skype – francisco.feitosa.da.fonseca / (35) 3331-1288 / 8806-7175

Suas críticas, sugestões e considerações são muito bem-vindas. Temos um encontro marcado na próxima edição!

Revista Arte Real 67 9