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ALAGOAS EM DADOS E INFORMAÇÕES - UMA EXPERIÊNCIA SUBNACIONAL DE
PRODUÇÃO E CATALOGAÇÃO DE DADOS ABERTOS GOVERNAMENTAIS
Thiago José Tavares Ávila Roberson Leite Silva Júnior Lucas Barbosa Cavalcante
Genildo José da Silva
2
Painel 35/002 Dados Abertos e Novas Perspectivas de Acesso à Informação pelo Cidadão
ALAGOAS EM DADOS E INFORMAÇÕES - UMA EXPERIÊNCIA SUBNACIONAL DE PRODUÇÃO E CATALOGAÇÃO DE DADOS
ABERTOS GOVERNAMENTAIS
Isidro-Filho
Thiago José Tavares Ávila Roberson Leite Silva Júnior Lucas Barbosa Cavalcante
Genildo José da Silva
RESUMO
No âmbito da Parceria para o Governo Aberto (Open Government Partnership - OGP),
o Brasil assumiu compromissos para a promoção dos Dados Abertos
Governamentais, com ações voltadas a abertura de dados governamentais e a
“disseminação da cultura de abertura de dados públicos junto a governos locais”. Este
trabalho visa apresentar a experiência de Alagoas na implementação de um portal de
Dados Abertos “Alagoas em Dados e Informações”. Este portal, que oferece dados
governamentais de natureza socioeconômica e geoespacial, foi desenvolvido visando
disponibilizar um ambiente adequado para disseminação e compartilhamento de
dados e informações governamentais especialmente para atividades de planejamento
público, em consonância com os compromissos brasileiros assumidos na OGP, bem
como os recursos mais avançados da Lei de Acesso à Informação. Ademais, o
trabalho buscará apresentar os desafios encontrados ao longo da iniciativa de
Alagoas, bem como levantar questões referentes à ampliação da INDA para os
demais níveis subnacionais (estados e municípios) da administração pública
brasileira.
3
1. INTRODUÇÃO
Decorrente do surgimento dos conceitos de Governo Aberto e Dados Abertos,
diversas instituições em nível global, nacional e subnacional vem desenvolvendo
projetos e iniciativas voltadas à promoção da Transparência, Participação Social e
Colaboração em torno do aprimoramento da gestão e das políticas públicas. Neste
contexto, os dados e informações apresentam-se como ativo estratégico desta
sociedade que se desenvolve em torno de uma cultura de abertura e transparência
governamental.
Em nível global, o surgimento da Parceria para o Governo Aberto (Open
Government Partnership – OGP) em 2011, iniciou a consolidação desta nova era de
transparência e participação nos Governos. Liderados pelos Estados Unidos da
América e pelo Brasil, a OGP atualmente agrega 65 nações que possuem
compromissos formais voltados a promoção do Governo Aberto.
Cumpre destacar que, apesar dos compromissos no âmbito da OGP terem
dimensão geográfica nacional, por serem assumidos por nações, em diversos países
do mundo existem ações relevantes voltadas a cultura de transparência e abertura de
dados sendo desenvolvidas em nível subnacional. Por exemplo, o Portal de Dados
Abertos do Governo Americano, denominado “Data.gov”, possui 37.345 conjuntos de
dados, de um total aproximado de 200.000, cuja fonte está em nível subnacional,
sejam estados, municípios ou outras localidades.
Por outro lado, no contexto brasileiro, as iniciativas voltadas a Transparência e
ao Governo Aberto ainda estão muito concentradas na Esfera Federal. Este fato é
comprovado tanto pela inexistência de dados de origem subnacional no Portal de
Dados Abertos do Brasil (dados.gov.br), bem como o número inexpressivo (apenas 1)
de ações voltadas a promoção do Governo Aberto e Transparência em nível
subnacional no âmbito dos dois Planos de Ações do Brasil desenvolvidos para a
Parceria para o Governo Aberto. Como consequência, as iniciativas existentes em
Estados e Municípios Brasileiros, terminam por não estarem integradas as estratégias
nacionais para o Governo Aberto, não desempenhando papel destacado no âmbito
4
das ações brasileiras para o fortalecimento da Transparência e Abertura
Governamental.
Este artigo visa apresentar uma experiência subnacional, desenvolvida pelo
Estado de Alagoas, para a produção e catalogação de Dados Abertos
Governamentais, que dentre outras motivações, foi desenvolvida em consonância
com a ação de “disseminação da cultura de abertura de dados públicos junto a
governos locais”, contemplada no segundo plano de ações do Brasil na OGP.
O trabalho está dividido em 5 seções além desta introdução. A segunda seção
apresenta o referencial teórico que servirá de base para o estudo. Na terceira seção
é apresentando a metodologia que utilizada para o desenvolvimento do trabalho. A
quarta seção apesenta o Portal Alagoas em Dados e Informações. Por fim, são
apresentados os aspectos conclusivos.
2. CONTEXTUALIZAÇÃO
2.1. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1.1. Governo Aberto: Transparência, Participação e Colaboração
Na esfera governamental, O´REILLY (2010) destaca que, com a complexidade
e a proliferação das demandas da sociedade e a restrição de recursos para solucioná-
los, muitos líderes de governo reconhecem que as oportunidades fornecidas por meio
das tecnologias Web, em especial seus recursos atuais conhecidos como Web 2.0,
não se limitam apenas para ajudá-los a serem eleitos, mas também podem ajudá-los
a fazer um governo melhor. Por analogia, muitos estão chamando este movimento de
Governo 2.0 (Government 2.0). O Governo 2.0 então é definido como o uso das
Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), especialmente tecnologias
colaborativas do núcleo da Web 2.0 para o desenvolvimento de melhores soluções
para os problemas coletivos de cidades, estados, nações e problemas em nível
internacional.
5
O conceito de Governo 2.0 é recente o que justifica em partes, sua adesão
ainda estar ocorrendo de forma gradual por governos especialmente nos níveis
subnacionais. Um marco histórico no posicionamento político por governos mais
efetivos, inovadores e transparentes foi registrada na campanha presidencial
americana em 2008, onde o então candidato a presidente, Barack Obama explanou a
seguinte proposta em sua campanha, destacado por O´REILLY (2010):
“We must use all available technologies and methods to open up the federal government, creating a new level of transparency to change the way business is conducted in Washington, and giving Americans the chance to participate in government deliberations and decision making in ways that were not possible only a few years ago.”
Posteriormente, após sua eleição, um dos primeiros atos do Governo Obama
foi a publicação do “Memorandum of Transparency and Open Government” em 21 de
Janeiro de 2009 (OBAMA, 2009a). Neste memorando, o Governo Obama se
comprometeu a promover um nível jamais visto de abertura governamental e
estabeleceu os três grandes pilares para o que se entende como um Governo Aberto:
transparência, participação e colaboração.
[...] “My Administration is committed to creating an unprecedented level of openness in Government. We will work together to ensure the public trust and establish a system of transparency, public participation, and collaboration.” [...]
Posteriormente, em 8 de Dezembro de 2009 (OBAMA, 2009b), foi publicado
outro memorando denominado “Open Government Directive”, que detalhou como
deveriam ser implementados os três princípios para o “Governo Aberto” supracitados.
Este documento destaca que a transparência promove e fortalece a responsabilização
dos atos governamentais, fornecendo ao público informações sobre o que o governo
está fazendo. A participação permite que cidadãos tenham a faculdade de contribuir
com ideias e conhecimentos para que o governo possa fazer políticas que se utilizem
as informações que estão amplamente disponíveis na sociedade. Por fim, a
colaboração melhora a eficácia do governo encorajando parcerias e cooperações
dentro da Administração Pública, dentre os vários de níveis de governo e entre o
governo e instituições fora do governo, como a iniciativa privada e outras entidades
não-governamentais.
Em que pese haver ao longo das nações mundiais diversas ações ora voltados
a Transparência Pública, ora voltadas a participação, ora voltadas a colaboração, o
6
conceito apresentado de “Governo Aberto” passou a influenciar o mundo por causa
da conexão estabelecida pelos três pilares: Transparência, Participação e
Colaboração. Somado a isto, o forte encorajamento ao uso extremo de TICs para o
fortalecimento da ação governamental com base neste conceito ensejou um novo
ecossistema em torno desta temática em nível global.
Segundo Bandeira (2014), um Governo é considerado aberto quando é
implementado uma plataforma de políticas públicas voltadas para este fim. Todavia,
para a implementação de tais políticas, são condicionantes a criação e
institucionalização de uma cultura de Governo Aberto, onde em este contexto o capital
humano precisa ser desenvolvido e encorajado para atuar neste novo paradigma
(O´REILLY, 2010). Isto posto, para que uma cultura de Governo Aberto seja
implantada, são necessários outros condicionantes como o enriquecimento da
qualidade da informação governamental e da tomada de decisão, que por ventura,
prescinde e estimula que haja uma ampla publicação dos dados e informações
governamentais na Web. A figura 3 abaixo demonstra este fluxo de condições
estabelecidas por O´REILLY (2010) para a viabilização do Governo Aberto.
Figura 1. Princípios para o Governo Aberto (Bandeira, 2015, a partir de O´REILLY, 2010).
Neste contexto, considerando os conceitos expostos pode-se deduzir que a
efetivação do Governo Aberto passa naturalmente pela transparência e abertura de
dados públicos. Por este motivo este artigo terá ênfase na relação entre de Dados
Abertos Governamentais e o Governo Aberto.
2.1.2. Parceria para o Governo Aberto – Open Government Partnership
Em setembro de 2011, 8 nações de diversos continentes, liderados pelos
E.U.A. e pelo Brasil instituíram a “Parceria para o Governo Aberto” (The Open
Government Partnership - OGP), como uma iniciativa multilateral que visa assegurar
compromissos concretos dos governos para promover a transparência, capacitar
Ampla publicação de dados e informações governamentais On-
line
Melhoria sistemática da Qualidade da
Informação Governamental
Criação e institucionalização de uma cultura de Governo Aberto
Criação de política para promoção e
desenvolvimento do Governo Aberto
7
cidadãos, lutar contra a corrupção e aproveitar as novas tecnologias para fortalecer a
governabilidade no espírito de colaboração entre os vários interessados. Atualmente
a OGP já conta com um total de 69 nações filiadas1. Como principais objetivos, a OGP
se propõe a ampliar o acesso a novas tecnologias para fins de transparência e
prestação de contas; aumentar a disponibilidade de informações sobre as atividades
governamentais; apoiar a participação cívica; e implementar os mais altos padrões de
integridade profissional por todas as administrações (GUIMARÃES& DINIZ, 2015).
Ademais, cumpre destacar que o Brasil é um dos co-fundadores da OGP, já
desenvolveu dois planos de ações com compromissos para a OGP e encontra-se
desenvolvendo o terceiro plano de ação. Este artigo abordará duas ações voltadas a
disseminação de Dados Abertos Governamentais no contexto brasileiro.
2.1.3. Dados Abertos Governamentais
De acordo com Guimarães& Diniz (2015), Dados abertos são dados publicados
e distribuídos na Internet, compartilhados em formato aberto para que possam ser
lidos por qualquer pessoa e por máquinas, permitindo o cruzamento com outros dados
de diferentes fontes, para serem livremente reutilizados pela sociedade. Dados
abertos governamentais são, portanto, dados produzidos pelos governos, que devem
ser colocados à disposição de qualquer cidadão e para qualquer fim. (W3C BRASIL,
2013, p.4). Foram estabelecidas três leis dos dados governamentais, contendo as
condições para que um determinado dado governamental seja considerado como
aberto (Eaves, 2009):
Se o dado não pode ser encontrado e indexado na Web, ele não existe;
Se não estiver aberto e disponível em formato compreensível por
máquina, ele não pode ser reaproveitado; e
Se algum dispositivo legal não permitir sua replicação, ele não é útil.
Complementarmente, a The Association of Computing Machinery’s publicou
uma Recomendação para o Governo Aberto, onde estabeleceu que:
1http://www.opengovpartnership.org/about
8
"Os dados publicados pelo governo deve ser em formatos e abordagens que promovam a análise e reutilização desses dados." (ACM, 2009)
A relevância dos dados governamentais abertos vem da habilidade do público
de realizar suas próprias análises dos dados brutos, em vez de depender de uma
análise do próprio governo. Cumpre destacar esta característica de que os dados
governamentais abertos devem ser produzidos e estruturados para serem
processados por máquinas, ampliando a sua capacidade de processamento,
interpretação e produção de informações e conhecimento a partir deles.
2.1.4. Infraestrutura Nacional de Dados Abertos - INDA
No contexto brasileiro, no âmbito do primeiro Plano de Ação contendo os
compromissos assumidos pelo Brasil junto a OGP, foi estabelecida a criação da
Infraestrutura Nacional de Dados Abertos (INDA), que é um conjunto de padrões,
tecnologias, procedimentos e mecanismos de controle necessários para atender às
condições de disseminação e compartilhamento de dados e informações públicas no
modelo de Dados Abertos, em conformidade com o disposto nos padrões de
interoperabilidade de governo eletrônico (e-PING)2.
Para a implementação da INDA, o governo comprometeu-se com a publicação
do plano de ação para a INDA, com os objetivos da infraestrutura para os próximos
anos, seu histórico, modelo de desenvolvimento colaborativo e a forma de gestão; o
desenvolvimento de um plano de capacitação sobre a INDA, voltado para servidores
públicos federais, bem como o desenvolvimento do Portal Brasileiro de Dados
Abertos(www.dados.gov.br), um ambiente virtual voltado para simplificar a pesquisa
e o acesso a dados públicos, propondo-se a ser o ponto de convergência do acesso
aos dados do setor público brasileiro de todas as esferas de governo. A INDA foi
oficializada por meio da Instrução Normativa nº4 de abril de 2012, do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão (BRASIL, 2012).
Após o desenvolvimento de diversas ações na Esfera Federal, o segundo plano
de ação do Brasil na OGP, ainda que de forma limitada, buscou iniciar a expansão da
cultura de abertura de dados para o nível subnacional, mediante o compromisso
2http://www.governoeletronico.gov.br/acoes-e-projetos/e-ping-padroes-de-interoperabilidade
http://www.dados.gov.br/
9
“disseminação da cultura de abertura de dados públicos junto a governos locais”. Este
compromisso tem como objetivo “Sensibilizar gestores estaduais e municipais, além
de representantes do legislativo, do judiciário e do Ministério Público para que eles
atentem para a importância da sedimentação de uma cultura de dados abertos. Além
disso, os gestores federais deverão compartilhar boas práticas, disseminar padrões e
trocar experiências com outras esferas e poderes de governo no Brasil. Pretende-se,
a partir do desenvolvimento desses processos colaborativos, que haja a inserção de
conteúdos de outras esferas governamentais no Portal dados.gov.br” (BRASIL, 2015).
Este compromisso veio ao encontro de algumas iniciativas já existentes no
Brasil voltadas a promoção do Governo Aberto e do desenvolvimento de portais e
catálogos de dados abertos. Somada a problemática local, a existência deste
compromisso brasileiro foi norteadora para o desenvolvimento do Portal de Dados
Abertos Governamentais de Alagoas, conhecido como Alagoas em Dados e
Informações.
2.2. PROBLEMÁTICA
A motivação inicial deste trabalho consiste na necessidade do Estado de
Alagoas possuir uma plataforma digital para consolidação de dados e informações
necessários à subsidiar o ciclo de planejamento e políticas públicas. Cumpre destacar
a existência de diversas instituições em nível Federal, Estadual e Municipal cuja
missão consiste na produção de informações socioeconômicas e geoespaciais para
apoio ao planejamento, onde em Alagoas, complete atualmente a Secretaria do
Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio, desempenhar esta atribuição.
Para solucionar esta demanda, Alagoas desenvolveu um Portal de Informações
socioeconômicas e geoespaciais denominado “Alagoas em Dados e Informações” no
ano de 2012. Este portal dispunha de um gestor de conteúdo, sendo alimentado com
informações mais relevantes ao seu público-alvo, bem como hyperlink para outros
softwares de apoio, como o Sistema de Informações Municipais, responsável pela
disponibilização de dados estatísticos e o SIGWEB Alagoas Geográfico, voltado a
oferta de dados geoespaciais.
http://dados.gov.br/sobre/
10
Figura 2. Tela principal da primeira versão do Portal Alagoas em Dados e Informações.
Fonte: SEPLAG (2014).
Apesar do êxito do “Alagoas em Dados e Informações”, com o passar dos
tempos, alguns problemas passaram a ficar evidenciados como:
Incapacidade de realização de consultas avançadas que integrassem os
dados dos softwares de apoio ao portal, considerando que cada software
dispunha de um banco de dados específico, modelado e desenvolvido
separadamente, à época;
11
Limitações para indexação e recuperação dos dados e informações
ofertadas no portal, pois de um lado, os dados estavam armazenados
apenas em bancos de dados relacionais, sem recursos de consumo
automatizado. Por outro lado, o acesso as bases de dados principais
(estatística e geoespacial) era feita por meio de softwares específicos,
apenas hiperlinkados ao portal.
Como consequência das limitações para busca de dados, associado ao
crescimento dos dados e informações ofertados, o acesso aos dados
passou a se tornar complexo, sendo necessário diversos cliques em
telas do portal e seus softwares de apoio. O usuário para utilizar o portal
precisava previamente “aprender” a navegar no mesmo, devido a
complexidade de se localizar uma informação;
O portal não dispunha de nenhum recurso que permitisse o acesso
automatizado aos dados (como uma API). Consequentemente, a
solução estava em desacordo com o que determina o Art. 8º, Inciso III
da Lei de Acesso a Informação;
Desta maneira, considerando a ação de “disseminação da cultura de abertura
de dados públicos junto a governos locais” prevista no 2º Plano de Ação do Brasil na
OGP somado aos problemas então existentes no âmbito do Alagoas em Dados e
Informações, ficou evidenciado a necessidade de buscar uma evolução deste portal,
visando a proposição e o desenvolvimento de uma nova solução que solucionasse os
problemas existentes, bem como aproveitando o legado existente, oportunizasse ao
Estado de Alagoas, corroborar a cultura de abertura de dados públicos implantada no
Brasil a partir da Lei de Acesso a Informação e da Infraestrutura Nacional de Dados
Abertos – INDA.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Para o desenvolvimento do estudo elegeu-se a abordagem qualitativa, do tipo
descritiva, pois permite captar dados com maior abrangência, de forma ampla,
tratando do tema pesquisado com enfoque e relevância. Sampieri, Collado e Lucio
12
(2006) descrevem que a pesquisa qualitativa vem com o propósito de definir e refinar
questões de pesquisa. Este tipo de pesquisa reconstrói a realidade, assim como é
vista pelos atores envolvidos no estudo. Frequentemente, em seu uso, surgem
questões e hipóteses acerca do tema proposto que se tornam flexíveis, tendo uma
mobilidade entre os eventos que ocorrem e suas interpretações, ou entre as respostas
e o desenvolvimento da teoria.
Minayo (1998) descreve a pesquisa qualitativa como sendo capaz de incorporar
questões significativas e intencionais as ações, relações e estruturas sociais,
proporcionando construções humanas significativas. Gil (2007) cita que pesquisas
descritivas descrevem características de determinada população ou fenômeno, ou o
estabelecimento de relações em entre variáveis. Estudam as características de um
grupo, levantando opiniões, atitudes e crenças destes indivíduos.
Em estudos descritivos o objetivo do pesquisador se baseia em descrever fatos
e acontecimentos, e relatar um fenômeno explicando seu conceito e sua
manifestação. Sob aspecto cientifico, descrever é coletar dados, e avaliar sobre
diversos aspectos o tema estudado (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO. 2006). Para o
estudo foram escolhidos os métodos descritos acima, com o objetivo de descrever
sobre a descrição da experiência de evolução do Portal Alagoas em Dados e
Informações para implementação de um portal de dados governamentais abertos em
consonância as ações Governo Aberto no Brasil
Na primeira etapa do trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica da
literatura sobre a temática dados e informações para o desenvolvimento
socioeconômico, bem como governo aberto, internet e portais de dados e informações
socioeconomicas e portais de informações para governos abertos, com o intuito de
construir um referencial teórico de apoio à análise realizada pelo estudo.
A segunda etapa tomou como base uma pesquisa de satisfação dos clientes
do Alagoas em Dados e Informações, que anteriormente tinha uma estrutura de Portal
de informações. Nesta pesquisa os clientes foram indagados sobre suas
necessidades junto ao portal bem como sugestões de melhoria que poderiam ser
adotadas no portal, em uma possível reformulação. Decorrente do quantitativo de
13
sugestões, foi tomada a decisão de reformular o Portal, buscando alinhá-lo com as
tendências mais atuais das plataformas de dados governamentais desenvolvidas no
mundo.
Cumpre destacar que as manifestações dos clientes expressas na pesquisa de
satisfação em questão, gerou novos requisitos a serem implementados em uma
reformulação do Alagoas em Dados e Informações, a seguir:
66% dos entrevistados informaram que o layout do Alagoas em Dados e
Informações era insatisfatório.
37% dos entrevistados informaram que o caminho para acessar as
informações do portal era insatisfatório.
Outros problemas relatados foram:
Página inicial do portal “muito poluída”, ou seja, com excesso de
conteúdos;
Dificuldade em localizar as informações desejadas;
Falta de atratividade para continuar navegando no portal;
Layout antigo/ultrapassado.
A terceira etapa do trabalho pesquisa consistiu em consolidar as manifestações
dos clientes visando formalizar requisitos para o Portal Alagoas em Dados e
Informações levando em consideração aspectos conceituais e tecnológicos bem como
melhoria do design do layout, eliminação de possíveis ofertas duplicadas de
informação, agrupamento de conteúdos em seções afins, maior destaque para os
conteúdos mais acessados, dentre outros tópicos relacionados ao conteúdo ofertado
pelo portal.
A quarta etapa do trabalho consistiu em analisar os em padrões de design,
acessibilidade e usabilidade de sites de referência mundial. Para esta optou-se por
analisar dois portais da América do Norte, sendo um site de dados do governo dos
Estados Unidos da América (data.gov), um do governo do México (datamx.io) e um
da União Europeia (publicdata.eu). A escolha desses sites de referência foi
intencionalmente relacionada como os Portais que serviram de inspiração ao Alagoas
em Dados e Informações, contribuindo como um produtor de informação de forma
14
segura e acessível para o fortalecimento do planejamento e da gestão pública e
consequentemente para o desenvolvimento da sociedade alagoana. Os portais foram
escolhidos com o objetivo de analisar suas funcionalidades e mensurar a relevância
em termos de conteúdo e o auxílio prestado ao processo de decisão, pois esta analise
servirá de subsidio para uma verificação mais aprofundada na qualidade e quantidade
de conteúdo disponibilizada pelo Alagoas em Dados e Informações.
A quinta e última etapa consistiu na análise de ferramentas disponíveis para a
estruturação de portais de dados governamentais, sendo analisado os
softwaresCKAN, DKAN e Socrata, onde o CKAN foi escolhido, dentre outros fatores,
por ser a tecnologia utilizada pelo Portal Brasileiro de Dados Abertos (dados.gov.br) o
que facilitará a integração dos dados de Alagoas com a base nacional, no âmbito da
Infraestrutura Nacional de Dados Abertos – INDA.
4. RESULTADOS
Decorrente deste trabalho, foi desenvolvida no ano de 2014, houve uma
completa reformulação do Portal Alagoas em Dados e Informações, o qual passou a
efetivamente, dispor de características e recursos de um catálogo de Dados Abertos
Governamentais. Cumpre destacar, ainda, que esta reformulação buscou priorizar,
além dos requisitos elencados, os comandos do Art. 8º, §3 da Lei Federal de Acesso
a Informação.
A partir da ferramenta CKAN, foram implantadas novas funcionalidades na
arquitetura tecnológica de sustentação do portal, conforme listado abaixo:
4.1. CENTRALIZAÇÃO DOS DADOS NUMA BASE ÚNICA COM BUSCA INTEGRADA
Visando solucionar as limitações para indexação e recuperação dos dados e
informações do portal, foi implementado um processo de migração dos dados
disponibilizados nos softwares de apoio para o banco de dados vinculado a ferramenta
CKAN. Desta maneira, todas as publicações ofertadas na versão anterior (em formato
15
PDF) foram inseridos na ferramenta CKAN. Além disso, encontra-se em curso um
processo de migração dos dados geoespaciais atualmente disponíveis no SIGWEB
Alagoas Geográfico para a plataforma CKAN. Posteriormente, será desenvolvida uma
reformulação no Sistema de Informações Municipais – SIM, para que o mesmo passe
a dispor de uma Interface de Programação (Application Programming Interface - API),
sendo possível indexar seus dados através da ferramenta CKAN.
Desta maneira, o Alagoas em Dados e Informações passou a dispor de uma
busca integrada dos seus dados. Além disso, a nova tecnologia permite uma
indexação muito mais ampla dos dados por parte dos motores de busca (Google, Bing,
etc.), o que contribuiu para um maior acesso aos dados disponibilizados.
Figura 3. Tela principal da nova versão do Portal Alagoas em Dados e Informações
Fonte: SEPLAG (2015).
Esta melhoria visa atender ao inciso I do supracitado parágrafo 3º, que
determina que os sítios governamentais devem “conter ferramenta de pesquisa de
conteúdo que permita o acesso à informação de forma objetiva, transparente, clara e
em linguagem de fácil compreensão”.
4.2. DISPONIBILIZAÇÃO DE DADOS EM VÁRIOS FORMATOS
16
Outra funcionalidade incorporada ao processo de produção de dados e
informações do Alagoas em Dados e Informações consiste da disponibilização de
dados em vários formatos, preferencialmente não proprietários. Quanto aos dados
brutos, inicialmente os de natureza geoespacial, estão disponibilizados em conjuntos
de dados que disponibilizam os recursos de dados (dados em si) nos formatos KML,
SHP e GeoJSON. Quando aplicável, os conjuntos de dados geoespaciais também
ofertam recursos tabulares com dados descritivos que complementam a compreensão
dos conteúdos disponibilizados pelos recursos de dados.
Além disso, os conjuntos de dados estão sendo acompanhados de arquivos
que arquivos que descrevem os seus metadados (dicionários de dados), facilitando o
reuso de tais dados por clientes de natureza humana ou computacional.
Estas melhorias visam atender aos incisos II e IV do supracitado parágrafo 3º,
que determina que os sítios governamentais devem “possibilitar a gravação de
relatórios em diversos formatos eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários, tais
como planilhas e texto, de modo a facilitar a análise das informações” e “divulgar em
detalhes os formatos utilizados para estruturação da informação”.
Figura 4. Disponibilização de dados abertos governamentais em vários formatos no Portal Alagoas em Dados e Informações.
Fonte: SEPLAG (2015).
17
4.3. ACESSO AUTOMATIZADO AOS DADOS VIA API
Uma importante funcionalidade incorporada a nova versão do Alagoas em
Dados e Informações consiste da Interface de Programação (API), em atendimento
ao III do supracitado parágrafo 3º da Lei de Acesso a Informação, que determina que
os sítios governamentais devem “possibilitar o acesso automatizado por sistemas
externos em formatos abertos, estruturados e legíveis por máquina”.
Tal funcionalidade permitiu que todos os dados ofertados no Alagoas em Dados
e Informações passassem também a ser consumidos online por outras interfaces e
sistemas computacionais. Como saída padrão, a API disponibiliza os dados para
consumo automatizado no formato JSON, conforme apresentado na Figura 5.
Figura 5. Recurso de dado do Portal Alagoas em Dados e Informações com visualização para usuários humanos (via navegador) e para usuários computacionais, através do código gerado pela API3.
Fonte: SEPLAG (2015).
Complementarmente, os conjuntos de dados estão acompanhados de outros
metadados que visam proporcionar ao usuário, informações complementares voltadas
a evidenciar a autenticidade e integridade dos dados disponibilizados, bem como
informando a sua periodicidade de atualização e data da última atualização, em
3Disponível em: . Acesso em: 25. Abr. 2016
http://dados.al.gov.br/dataset/aeroportos-e-pistas-de-pouso-do-estado-de-alagoas
18
consonância com os incisos V e VI do supracitado parágrafo 3º do Art. 8º da Lei de
Acesso a Informação.
Figura 6. Disponibilização de metadados no Portal Alagoas em Dados e Informações4.
Fonte: SEPLAG (2015).
3. CONCLUSÕES
Conforme exposto, as ações voltadas a promoção do Governo Abertoe
abertura de dados no Brasil ainda se encontram muito concentradas na esfera federal.
Salvo exceções, este tema ainda não se encontra na pauta prioritária da elaboração
de políticas públicas em nível subnacional.
Considerando, dentre outros fatores, as restrições de recursos do Poder
Público, Estados e Municípios tem priorizado o cumprimento do que é determinado
pela legislação. Neste contexto, no âmbito da Transparência Pública, observa-se uma
priorização do cumprimento do que determina a Lei Complementar 131/2009,
conhecida como “Lei da Transparência”, tendo como foco principal o desenvolvimento
e atualização dos Portais de Transparência, que na sua maioria, limita-se a ofertar
dados administrativos como a execução de receitas, despesas, quadro de servidores
e seus vencimentos, licitações, contratos e convênios do setor público, dentre outras
informações. Em que pese a sua relevância, são limitados ao acompanhamento e a
fiscalização das atividades governamentais.
4Disponível em: . Acesso em: 25. Abr. 2016
http://dados.al.gov.br/dataset/atrativos-turisticos
19
Mais recentemente, Estados e Municípios, assim como Alagoas, passaram a
priorizar o cumprimento efetivo dos comandos principais da Lei Federal 12.527/2011
(Lei de Acesso a Informação), ora buscando atender os requisitos determinados no
âmbito da Transparência Ativa, bem como visando implementar recursos de
Transparência Passiva, mediante os Serviços de Informações ao Cidadão – SICs
onde os usuários tem a possibilidade de solicitar dados e informações públicas, sendo
atendidos obrigatoriamente por força de Lei.
Todavia, percebe-se que há um descasamento entre o que é demandado pelos
cidadãos e o que é ofertado proativamente nos espaços de Transparência Ativa dos
sítios governamentais. Uma maior sistematização do recebimento destas demandas
de informações (Transparência Passiva) poderá impulsionar um aprimoramento da
Transparência Ativa, onde os catálogos de dados abertos governamentais, como
descritos na experiência de Alagoas, tornam-se elementos fundamentais para a
ampliação e aprimoramento da cultura de transparência e abertura governamental.
Especificamente na experiência do “Alagoas em Dados e Informações”, a
Secretaria de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio encontrou restrições a
incorporação de novas fontes de dados estaduais (outras secretarias e órgãos) por
motivos diversos, como, a cultura ainda existente de “propriedade” dos dados, que
desencoraja as instituições a disponibilizar seus dados noutro repositório que não seja
seu sitio oficial. Outra barreira consiste na falta de estrutura institucional de outras
instituições estaduais para a produção e gestão sistemática de dados e informações,
que passa pela ausência de processos de produção da informação, infraestrutura
tecnológica bem como a alocação de servidores capacitados à esta atividade.
Por fim, entendemos que a expansão do Governo Aberto e da abertura de
dados em nível subnacional depende de uma articulação em torno de uma agenda
que envolva todos os entes federativos em torno desta pauta. O engajamento de
Estados e Municípios é fundamental para que haja uma maior integração das
iniciativas federais com as demais iniciativas existentes no Brasil, potencializando os
dados abertos governamentais disponíveis e contribuindo para uma cultura efetiva de
transparência, participação e colaboração.
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AUTORIA
Thiago José Tavares Ávila - Secretaria de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio de Alagoas
Roberson Leite Silva Júnior
Lucas Barbosa Cavalcante
Genildo José da Silva