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Frenesi polissilábico Nick Hornby Rocco 263 páginas (21) 3525-2000 R$ 33 “A Sangue Frioé um dos livros mais influentes dos últimos cinquenta anos e penso que praticamente toda obra não-ficcional publicada a partir dos anos 1960 lhe deve alguma coisa. (...) Adorei A Sangue Frio, mas, ao mesmo tempo, percebo que não posso classificá-lo como uma Grande Experiência Literária. Me pareceu ao mesmo tempo menos pretensioso e mais estável, pé no chão.“ MIRELA PORTUGAL
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3| CULTURAL |SALVADOR, SÁBADO, 25/4/2009
RESENHA ❚ Em Frenesi polissilábico,Nick Hornby analisa outros autores
Passeio sempreconceitopela estantede livros
ANDRÉ CÂMARA | FOLHA IMAGEM
MIRELA PORTUGALm p o r t u g a l @ g r u p o a t a rd e . c o m . b r
Escreva com palavras simples,ordem direta e ideias claras. Re-mova excessos. A boa literaturase encontra no uso descomplica-do da língua. A receita para evitaro pecado do texto chato, de au-toria do inglês Nick Hornby, po-deria ser uma descrição de seupróprio estilo. O escritor – alcu-nhado de raso, populista e sim-plista em algumas críticas – er-gue a bandeira do prazer da lei-tura em Frenesi polissilábico, seuterceiro livro de não-ficção.
Fre n e s i reúne artigos publica-do por Hornby na revista alterna-tiva americana The Believer, daqual passou a ser articulista apósum convite para escrever sobre“a experiência da leitura, não so-bre livros isoladamente”. Nomesreverenciados e desconhecidosentraram no menu variado doautor de Alta fidelidade, que ig-nora a impessoalidade e nos guiaem um passeio voyeurístico emsua estante de livros.
Pelo caminho, enxergamosseus dois filhos no chão, desarru-mando as prateleiras. O cansaçode quem chegou à noite do tra-balho e acha tão importante lercinco páginas de um livro ou ver20 minutos de um seriado de co-média. Ou a falta de pudor ao as-sumir que lê também para man-ter boas conversas com gente in-teressante sobre as obras da vez.Com a mesma sede de quem bai-xa um CD novo e comenta entreamigos, ou quem indica um fil-me em cartaz.
Hornby elege a missão de des-mitificar a literatura em seu pos-to de alta arte refinada, e a leva àstrivialidades cotidianas. Ele éfranco quanto a seus gostos, e,para começo de conversa, diz lo-
go: “O bom livro não figura na lis-ta de clássicos” – é aquele queemociona, comove, e cujo autornos faz o favor de torná-lo dige-rível até o final. Coisa rara, diz.
Assim, defende, não há mor-tos nem feridos se alguém elegeO Código da Vinci como melhorlivro da sua vida, por exemplo. “Oque importa é que essa pessoaleu um livro e se divertiu no ca-minho. Pode ter sido sua porta deentrada na literatura, e se multi-plicar em mais obras.”
Frenesi polissilábico selecio-nou 28 artigos, que seguem amesma estrutura. Na abertura,duas listas, uma com os livroscomprados no mês, e a lista deobras de fato lidas. Os gênerossão variados, indo da autoajuda àpoesia e quadrinhos. Um acordode cavalheiros com a Believer re-ge as obras resenhadas – só ga-nham crítica as que Hornby clas-sificou como interessantes. Os li-vros ruins não ganham menção,e a revista não aceita críticas ne-gativas. Hornby não demorou aaderir a uma linha editorial quecombate “crítica que precisa es-culhambar alguém todos os diaspara garantir o pão de cada dia”,como define.
UM BOM LIVRO – Em suas leitu-ras, o cool e admirado autor de li-vros pop é capaz de se perder en-tre os múltiplos personagens in-tensos de Dickens ou lamentar aescolha infeliz do título Mo n e y -ball (“podre”) para um livro so-bre futebol. Nos intervalos, o es-critor nos conta como circula naroda de autores contemporâ-neos, confessa lembranças deadolescência, comenta jogos deboliche ou deixa entrever sua re-lação com o filho autista.
E se já foi dito que toda defi-nição apenas define os definido-
F re n e s ipolissilábicoNick HornbyRocco263 páginas(21) 3525-2000R$ 33
res, Tchekov por Hornby é o re-trato do artista moderno, envol-vido em intrigas, fofoca, grana efalhas. E e se vivesse hoje só de-veria dar atenção à cartas de in-centivo no começo da carreira seo remetente tiver um Nobel ouum Pulitzer. “Se formos nos en-volver com tudo quanto é lendaliterária que quer ser amigo, nãovamos mais conseguir traba-lhar”, aconselha.
PE R S É P O L I S – A irreverênciapontuada com os medalhões daliteratura é abandonada na críti-ca a obras mais recentes e des-pretensiosas, como a sensívelPersépolis, dos quadrinhos deMarjane Satrapi. A autobiografiaem HQ é reconhecida como “ex-celente e emocionante”, e os fa-tos descritos lhe parecem sur-realmente mais dignos de umatriste criação de Orwell do que àre a l i d a d e.
Para Hornby, dificilmente o li-vro seria uma opção de leitura,em toda a sua experiência de tris-teza e dor, se não fosse o lirismoda graphic novel. Essas e outrasimpressões se unem ao rastreardo caminho do livro até o au-tor-leitor, e o contexto em que sedeu o encontro.
Indicações de amigos, insightno ônibus, na escola, na loja delivros. Para Hornby, é um erro se-parar o livro do espaço, do tempoe do self. “Você tem de fingir que
não tem estética, gostou ou pro-blemas pessoais.”
Em Fre n e s i , o estilo de Hornby,por vezes, pode se perder na mo-notonia, mas não se contradizem sua generosidade e acessibi-lidade. Por fim, alguns capítulosdas obras resenhadas figuram lá,para degustação do leitor. Quepode ou não discordar de Horn-by. Para ele, tanto faz, contantoque o resultado seja uma leituraprazerosa e divertida.
O escritor inglês, na foto com seu best-seller Alta Fidelidade, propõe adicionar prazer à leitura
TRECHOS
Sallinger porHor nby“Grande parte do apelodeveu-se à possibilidade deler a obra inteira de umescritor ilustre em menos deuma semana – isso não rolacom o Dickens nem a pau –mas, ainda assim, foi maisdifícil que imaginei. Cadauma das Nove histórias éperfeita, e Carpinteiros,levantem bem alto acumeeira é original eengraçado, só queSeymour: uma introdução...Salinger jamais conseguiuatingir seu objetivo comigo,despertar a curiosidadesobre Seymour.”
Truman Capotepor Hornby“A Sangue Frio é um doslivros mais influentes dosúltimos cinquenta anos epenso que praticamentetoda obra não-ficcionalpublicada a partir dos anos1960 lhe deve algumacoisa. (...) Adorei A SangueFrio, mas, ao mesmotempo, percebo que nãoposso classificá-lo comouma Grande ExperiênciaLiterária. Me pareceu aomesmo tempo menospretensioso e mais estável,pé no chão.“