16
ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 1 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 ENCAR ENCAR ENCAR ENCAR ENCARTE TE TE TE TE TCNICO TCNICO TCNICO TCNICO TCNICO 1 Engenheiro Agrônomo, M.S., Doutor, diretor da POTAFOS; e-mail: [email protected] 2 Engenheira Agrônoma, M.S., POTAFOS; e-mail: [email protected] NITROG˚NIO E ENXOFRE NITROG˚NIO E ENXOFRE NITROG˚NIO E ENXOFRE NITROG˚NIO E ENXOFRE NITROG˚NIO E ENXOFRE NA AGRICULTURA BRASILEIRA NA AGRICULTURA BRASILEIRA NA AGRICULTURA BRASILEIRA NA AGRICULTURA BRASILEIRA NA AGRICULTURA BRASILEIRA Tsuioshi Yamada 1 Silvia Regina Stipp e Abdalla 2 D esafios e tendências no uso de nitrogênio e enxofre na atividade agrícola foi o tema do Simpósio sobre Nitrogênio e Enxofre na Agricultura Brasileira, organizado pelo Grupo de Apoio à Pesquisa e Extensão – GAPE, pelo Departamento de Solos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e pela FEALQ, e promovido pela POTAFOS, ANDA e SN Centro, no período de 17 a 19 de Abril último. Considerando a importância desses dois nutrientes para atender o aumento na demanda mundial de alimentos, o objetivo central do evento foi discutir o uso eficiente da adubação nitro- genada e sulfatada na agricultura visando a produção e a qualidade de produtos, a economia de divisas e a proteção ambiental. Um resumo das principais mensagens apresentadas pelos palestrantes é visto a seguir. Palestra: Palestra: Palestra: Palestra: Palestra: PRODU˙ˆO E DEMANDA DE PRODU˙ˆO E DEMANDA DE PRODU˙ˆO E DEMANDA DE PRODU˙ˆO E DEMANDA DE PRODU˙ˆO E DEMANDA DE FERTILIZANTES NITROGENADOS E SULFATADOS: FERTILIZANTES NITROGENADOS E SULFATADOS: FERTILIZANTES NITROGENADOS E SULFATADOS: FERTILIZANTES NITROGENADOS E SULFATADOS: FERTILIZANTES NITROGENADOS E SULFATADOS: TEND˚NCIAS E DESAFIOS TEND˚NCIAS E DESAFIOS TEND˚NCIAS E DESAFIOS TEND˚NCIAS E DESAFIOS TEND˚NCIAS E DESAFIOS Alfredo Scheid Lopes, Alfredo Scheid Lopes, Alfredo Scheid Lopes, Alfredo Scheid Lopes, Alfredo Scheid Lopes, Professor da Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, e-mail: [email protected] Segundo Lopes, todas as práticas agrícolas, inclusive o uso de fertilizantes, apresentam impactos ambientais, mas a evidência preponderante é a de que os fertilizantes minerais são necessários para o bem-estar da humanidade, quando se considera o aumento no potencial produtivo das culturas, permitindo poupanças notá- veis no uso da terra. Destacou que, dentre os nutrientes essenciais para as plan- tas, o nitrogênio (N) tem uma particularidade: é o único pode ser fixado da atmosfera pelas leguminosas. Embora a principal matéria-prima (99%) para a fabricação de fertilizantes nitrogenados seja o gás inerte N 2 , que constitui 78% do ar atmosférico, portanto uma fonte quase inesgotável, 75% do hidrogênio que irá formar o NH 3 durante o processo in- dustrial vem do gás natural. As reservas mundiais de gás natural atingem 6.112 trilhões de pés cúbicos e o Brasil, com reservas de 11,5 trilhões de pés cúbicos, ocupa a 29 a posição mundial. O con- sumo mundial de 95 trilhões de pés cúbicos para o ano de 2003 implica em uma vida útil esperada das reservas de 64 anos, o que se constitui em motivo de certa preocupação. Quanto ao enxofre (S), explicou que aproximadamente 70% vêm da forma elementar e as reservas mundiais atingem 5 bilhões de toneladas de S. Com uma taxa atual de consumo de 56 milhões de toneladas por ano, a vida útil seria de 90 anos. Entretanto, em rela- ção a outros possíveis recursos, como anidrita e gipsita, esses re- cursos são quase ilimitados. Segundo Lopes, é interessante notar que, até o final da dé- cada de 80, tanto os países desenvolvidos como os países em de- senvolvimento apresentavam um taxa mais ou menos constante de crescimento no consumo de N. A partir deste período houve uma tendência de diminuição acentuada nos países desenvolvidos e um crescimento constante nos países em desenvolvimento (Figura 1). Aumentos significativos no consumo de N na agricultura brasileira foram observados a partir da década de 70 (Figura 2), sendo que nos últimos 20 anos esse consumo passou de 824 mil toneladas, em 1984, para 2.225 mil toneladas, em 2004 (um aumento de 2,7 vezes no período), ocupando, atualmente, o 7 o lugar no mundo em consumo deste nutriente. Figura 1. Evolução no consumo de N no mundo, nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Fonte: IFA (2004). Embora tenha havido esse significativo aumento no con- sumo de N na agricultura brasileira, a atual relação de consumo de N:P 2 O 5 :K 2 O de 0,65:1,00:1,12, comparada com a relação de 2,82:1,00:1,00 para países de agricultura tecnificada, reflete ainda um subconsumo de N, em comparação com fósforo e potássio, principalmente nas culturas alimentícias.

NITROG˚NIO E ENXOFRE NA AGRICULTURA BRASILEIRAipni.net/publication/ia-brasil.nsf/0/839FD676233C1CA083257AA... · na atividade agrícola foi o tema do Simpósio sobre ... excesso

  • Upload
    buique

  • View
    226

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 1

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006

ENCARENCARENCARENCARENCARTE TE TE TE TE TÉCNICOTÉCNICOTÉCNICOTÉCNICOTÉCNICO

1 Engenheiro Agrônomo, M.S., Doutor, diretor da POTAFOS; e-mail: [email protected] Engenheira Agrônoma, M.S., POTAFOS; e-mail: [email protected]

NITROGÊNIO E ENXOFRENITROGÊNIO E ENXOFRENITROGÊNIO E ENXOFRENITROGÊNIO E ENXOFRENITROGÊNIO E ENXOFRENA AGRICULTURA BRASILEIRANA AGRICULTURA BRASILEIRANA AGRICULTURA BRASILEIRANA AGRICULTURA BRASILEIRANA AGRICULTURA BRASILEIRA

Tsuioshi Yamada 1

Silvia Regina Stipp e Abdalla 2

Desafios e tendências no uso de nitrogênio e enxofrena atividade agrícola foi o tema do Simpósio sobreNitrogênio e Enxofre na Agricultura Brasileira,

organizado pelo Grupo de Apoio à Pesquisa e Extensão – GAPE,pelo Departamento de Solos da Escola Superior de Agricultura Luizde Queiroz e pela FEALQ, e promovido pela POTAFOS, ANDA eSN Centro, no período de 17 a 19 de Abril último.

Considerando a importância desses dois nutrientes paraatender o aumento na demanda mundial de alimentos, o objetivocentral do evento foi discutir o uso eficiente da adubação nitro-genada e sulfatada na agricultura visando a produção e a qualidadede produtos, a economia de divisas e a proteção ambiental.

Um resumo das principais mensagens apresentadas pelospalestrantes é visto a seguir.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: PRODUÇÃO E DEMANDA DE PRODUÇÃO E DEMANDA DE PRODUÇÃO E DEMANDA DE PRODUÇÃO E DEMANDA DE PRODUÇÃO E DEMANDA DEFERTILIZANTES NITROGENADOS E SULFATADOS:FERTILIZANTES NITROGENADOS E SULFATADOS:FERTILIZANTES NITROGENADOS E SULFATADOS:FERTILIZANTES NITROGENADOS E SULFATADOS:FERTILIZANTES NITROGENADOS E SULFATADOS:TENDÊNCIAS E DESAFIOSTENDÊNCIAS E DESAFIOSTENDÊNCIAS E DESAFIOSTENDÊNCIAS E DESAFIOSTENDÊNCIAS E DESAFIOS � � � � �Alfredo Scheid Lopes,Alfredo Scheid Lopes,Alfredo Scheid Lopes,Alfredo Scheid Lopes,Alfredo Scheid Lopes, Professor da Universidade Federal deLavras, Lavras, MG, e-mail: [email protected]

Segundo Lopes, todas as práticas agrícolas, inclusive o usode fertilizantes, apresentam impactos ambientais, mas a evidênciapreponderante é a de que os fertilizantes minerais são necessáriospara o bem-estar da humanidade, quando se considera o aumentono potencial produtivo das culturas, permitindo poupanças notá-veis no uso da terra.

Destacou que, dentre os nutrientes essenciais para as plan-tas, o nitrogênio (N) tem uma particularidade: é o único pode serfixado da atmosfera pelas leguminosas.

Embora a principal matéria-prima (99%) para a fabricaçãode fertilizantes nitrogenados seja o gás inerte N

2, que constitui

78% do ar atmosférico, portanto uma fonte quase inesgotável,75% do hidrogênio que irá formar o NH

3 durante o processo in-

dustrial vem do gás natural. As reservas mundiais de gás naturalatingem 6.112 trilhões de pés cúbicos e o Brasil, com reservas de11,5 trilhões de pés cúbicos, ocupa a 29a posição mundial. O con-sumo mundial de 95 trilhões de pés cúbicos para o ano de 2003implica em uma vida útil esperada das reservas de 64 anos, o quese constitui em motivo de certa preocupação.

Quanto ao enxofre (S), explicou que aproximadamente 70%vêm da forma elementar e as reservas mundiais atingem 5 bilhões detoneladas de S. Com uma taxa atual de consumo de 56 milhões detoneladas por ano, a vida útil seria de 90 anos. Entretanto, em rela-ção a outros possíveis recursos, como anidrita e gipsita, esses re-cursos são quase ilimitados.

Segundo Lopes, é interessante notar que, até o final da dé-cada de 80, tanto os países desenvolvidos como os países em de-senvolvimento apresentavam um taxa mais ou menos constante decrescimento no consumo de N. A partir deste período houve umatendência de diminuição acentuada nos países desenvolvidos e umcrescimento constante nos países em desenvolvimento (Figura 1).Aumentos significativos no consumo de N na agricultura brasileiraforam observados a partir da década de 70 (Figura 2), sendo quenos últimos 20 anos esse consumo passou de 824 mil toneladas, em1984, para 2.225 mil toneladas, em 2004 (um aumento de 2,7 vezes noperíodo), ocupando, atualmente, o 7o lugar no mundo em consumodeste nutriente.

Figura 1. Evolução no consumo de N no mundo, nos países desenvolvidose em desenvolvimento.

Fonte: IFA (2004).

Embora tenha havido esse significativo aumento no con-sumo de N na agricultura brasileira, a atual relação de consumode N:P

2O

5:K

2O de 0,65:1,00:1,12, comparada com a relação de

2,82:1,00:1,00 para países de agricultura tecnificada, reflete aindaum subconsumo de N, em comparação com fósforo e potássio,principalmente nas culturas alimentícias.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 2

Estimativas recentes indicam que só para repor o que é re-movido pelas colheitas seria necessária a aplicação, acima do que éconsumido hoje, de mais 1 milhão de toneladas de N, em compara-ção com 500 mil toneladas de P

2O

5 e 500 mil toneladas de K

2O. Já em

relação ao aumento no consumo de S na agricultura brasileira, osnúmeros indicam um aumento de 3,3 vezes, de 1985 a 2004, passan-do de 354 mil toneladas para 1.155 mil toneladas.

Em termos de produção de matérias-primas para a fabrica-ção de fertilizantes nitrogenados e sulfatados, o Brasil ocupa o22o lugar na produção de amônia (939 mil toneladas anuais), pratica-mente todo o S elementar é importado, e o 7o lugar na produçãomundial de ácido sulfúrico, com uma produção de 5.807 mil tonela-das (3,4% da produção mundial).

O perfil de consumo aparente de fertilizantes nitrogenados(como N) no Brasil, em 2004, mostra que 49,4% foi representadopor uréia, 15,3% por sulfato de amônio, 14,2% por MAP, 10,9%por complexos, 7,4% por nitrato de amônio, 2,2% por DAP e 0,3%por nitrato de cálcio, a maior parte resultado de importações. Emrelação ao enxofre, 58,4% foi consumido na forma de superfosfatosimples, quase todo decorrente da produção nacional (com Simportado), e 41,6% na de sulfato de amônio, a maior parte tambémimportada.

Concluindo, em relação às tendências futuras, Lopes pon-derou que:

• No curto prazo, qualquer aumento na demanda de N deve-rá ser atendida por aumento das importações;

• No médio prazo, para reduzir a grande dependência, hoje,das importações, o setor de fertilizantes terá necessidade de gran-des investimentos para aumentar a sua capacidade de produção;

• Há necessidade de aumento no consumo de N em relaçãoao de S, principalmente nas culturas que produzem alimentos dacesta básica;

• Como a uréia deverá continuar como carro-chefe dos ferti-lizantes nitrogenados consumidos no Brasil, tecnologias industriaise de aplicação que reduzam as possíveis perdas por volatilizaçãodeverão ter prioridade de pesquisa;

• A indústria de fertilizantes deve dar prioridade a fertilizan-tes que permitam a proteção ambiental, a redução de custos e maiorretorno econômico;

• O pouco conhecimento da capacidade dos solos em suprirN para as plantas ainda se constitui em grande gargalo do conheci-mento nessa área;

• O aumento das áreas sob plantio direto e com integraçãopecuária-lavoura exige aprofundamento no conhecimento da dinâ-

mica de N e de S para que sejam atingidas máxima eficiência técnicae econômica das adubações.

Lopes finalizou com uma questão: como viabilizar o uso dasmilhões de toneladas de gesso agrícola, uma excelente fonte de S,decorrente da fabricação do ácido fosfórico?

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: FUNDAMENTOS DO NITROGÊNIO E DO FUNDAMENTOS DO NITROGÊNIO E DO FUNDAMENTOS DO NITROGÊNIO E DO FUNDAMENTOS DO NITROGÊNIO E DO FUNDAMENTOS DO NITROGÊNIO E DOENXOFRE NA NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTASENXOFRE NA NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTASENXOFRE NA NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTASENXOFRE NA NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTASENXOFRE NA NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS � � � � �Eurípedes MalavoltaEurípedes MalavoltaEurípedes MalavoltaEurípedes MalavoltaEurípedes Malavolta, Pesquisador do CENA/USP, Piracicaba, SP,e-mail: [email protected]

Professor Malavolta tratou dos aspectos principais dosmacronutrientes nitrogênio (N) e enxofre (S) na vida das plantassuperiores.

Segundo ele, tanto as raízes quanto as folhas são capazesde absorver N e S sendo que, nas condições de campo, N-NO

3- e

S-SO42- são as formas predominantemente absorvidas pelas raízes.

As folhas são capazes de absorver formas gasosas dos doiselementos e, em geral, como certos frutos (citros, por exemplo),absorvem S elementar aplicado como pó molhável para ação fun-gicida. Disse que, uma vez absorvidos, reduzir é preciso, e assimsão transformados em NH

3 e S2-, com a transferência de oito

elétrons.

A corrente transpiratória carrega N e S do solo para a parteaérea no xilema, enquanto o floema representa a via maior para ocaminhamento dos elementos aplicados nas folhas na direção deoutros órgãos, inclusive raízes. Proporções relativamente grandesdas reservas nitrogenadas podem ser redistribuídas para atender asnecessidades de órgãos novos, inclusive frutos. No caso do S,entretanto, a proporção é muito menor, o que implica na exigênciade um suprimento constante a partir de uma fonte externa.

Ressaltou que a exigência de S das culturas é muito menorque a de N, sendo comparável às de P e de Mg, mas que numerososcompostos da planta – de aminoácidos a proteínas, incluindo asenzimáticas – possuem tanto N quanto S, o que ajuda a explicar aexistência de uma relação N/S que está associada com o crescimen-to e a produção. Comentou que não há função alguma na vida daplanta da qual o N não participe. Como no caso do N, o S estápresente em todas as funções e processos que são parte da vida daplanta: da absorção iônica aos papéis do RNA e DNA, inclusivecontrole hormonal para o crescimento e a diferenciação celular.

Explicou que os sintomas de deficiência de N e a redução nocrescimento e na colheita são usualmente associados com baixoteor de matéria orgânica ou com condições desfavoráveis à mine-ralização. O mesmo se aplica ao S. Sempre que o teor de S-SO

42-

na camada de 0-20 cm do solo for menor que 10 mg dm-3 existe a

possibilidade de ocorrer deficiência e queda na produção. Nos doiscasos, o sintoma de deficiência na folha é clorose mais ou menosuniforme: em primeiro lugar nas folhas mais velhas, quando falta N,e, nas mais novas, quando o S for deficiente. Vários métodos po-dem ser usados para avaliar se a planta está bem nutrida ou se estácom fome de N ou de S, como, por exemplo, medidor de clorofila,análise das folhas ou diagnose foliar, testes bioquímicos, relaçãoN-teor de asparagina e reação S-glutaraldeído.

O N e o S podem mostrar interação com outros elementos eentre eles. Sua presença pode provocar aumento (sinergismo) oudiminuição (inibição, antagonismo) no teor de outros elementos ereciprocamente. Os casos mais comuns de sinergismo são: N x S,N x Ca, N x Mg, N x Zn, N x Cu, N x Mn. Casos de antagonismo são:N x B, N x W, N x S-SO

4, S x Se, S x Cu x Mo.

Figura 2. Evolução no consumo de N no Brasil.Fonte: Dias (2004).

2.225

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 3

Tanto a colheita quanto a qualidade do produto podem serinfluenciadas pelo N e pelo S. Como regra, mais N quer dizer maisproteína nos grãos. A adubação nitrogenada, por exemplo, melhoraa qualidade do milho, aumentando o nível de zeína, e aumenta onúmero e o peso do capulho e o índice micronaire no algodão. Já oexcesso de N diminui a qualidade da batatinha no cozimento, masaumenta o seu teor de proteína. A cana-de-açúcar que recebe excessode N, ou o mesmo aplicado tardiamente no ciclo, continua a vegetar,com o que consome parte do açúcar que seria armazenado no colmo.O N causa aumento no teor de proteína e diminuição no de amido damandioca. Há quase uma relação inversa entre a colheita de laranjae o tamanho do fruto: o N parece, pois, favorecer mais o fruto paraa indústria do que o destinado ao mercado de fruta fresca. Acidez ecor melhoram com o N. O enxofre aumenta o teor de metionina nasproteínas dos cereais, melhorando sua qualidade nutritiva. Aqualidade da farinha para panificação é prejudicada pela falta de S;assim, o volume do pão diminui com a deficiência de S na farinha. Opeso da semente e o índice micronaire do algodão melhoram com oS. O nível de glicosinolato na colza aumenta com o S podendoatingir índices excessivos, o que obriga a procurar compromisso noprograma de adubação para assegurar aumento na colheita e teortolerável daquele composto. O uso conjunto de S e de N emforrageiras ajuda a reduzir o teor de nitrato que, quando em exces-so, é prejudicial ao animal. Vários compostos de S são responsá-veis pelo sabor do aspargo, pelo cheiro da cebola e do alho. Horta-liças deficientes em S são mais rígidas, com menor valor comercial.Além de aumentar a produção de colmos, o S aplicado à cana-de-açúcar eleva o teor de sacarose: 1 kg de S gera 50 kg de açúcar.

Acrescentou que N e S são importantes não somente comonutrientes, mas também pelo papel que desempenham nos meca-nismos de defesa contra pragas e doenças. As plantas sadias con-têm uma grande variedade de metabólitos secundários, muitos dosquais contendo N e S em sua estrutura, que estão presentes seja emsua forma ativa biologicamente ou armazenados como precursoresinativos, que são convertidos na forma ativa pela ação de enzimasem resposta ao ataque do patógeno ou da praga. Excessos, entre-tanto, podem criar condições no tecido favoráveis à invasão dopatógeno. Embora o uso do enxofre elementar (S0) como fungicidaseja muito antigo, pouco se sabe a respeito do modo como elefunciona. Recentemente, foi demonstrado que a própria planta podegerar S0

endógeno como mecanismo de proteção contra o patógeno.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO,MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO,MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO,MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO,MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO,NITROGÊNIONITROGÊNIONITROGÊNIONITROGÊNIONITROGÊNIO E ENXOFRE NOS DIVERSOS E ENXOFRE NOS DIVERSOS E ENXOFRE NOS DIVERSOS E ENXOFRE NOS DIVERSOS E ENXOFRE NOS DIVERSOSSISTEMAS DE EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA:SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA:SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA:SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA:SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA:PLANTIO DIRETO X PLANTIO CONVENCIONAL �PLANTIO DIRETO X PLANTIO CONVENCIONAL �PLANTIO DIRETO X PLANTIO CONVENCIONAL �PLANTIO DIRETO X PLANTIO CONVENCIONAL �PLANTIO DIRETO X PLANTIO CONVENCIONAL �Celso AitaCelso AitaCelso AitaCelso AitaCelso Aita, Professor Adjunto do Departamento de Solos da Uni-versidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, e-mail:[email protected]

Segundo Aita, a variação no estoque de matéria orgânica dosolo (MOS) nos diversos sistemas de exploração agrícola dependediretamente dos fluxos de entrada e saída de carbono (C) no siste-ma, através dos processos bioquímicos da fotossíntese e da decom-posição dos resíduos culturais, respectivamente. Essa fração orgâ-nica complexa resultante é de grande relevância na manutenção emelhoria da qualidade do solo, já que em solos minerais ela contri-bui com 20% a 80% da capacidade de troca de cátions, além depromover a agregação do solo.

Salientou que as práticas de manejo do solo adotadas, in-cluindo os sistemas de cultura e de preparo, afetam a taxa de de-

composição destes resíduos e também da MOS e, conseqüente-mente, a dinâmica daqueles elementos ligados à fração orgânica,com destaque para o nitrogênio (N) e o enxofre (S).

Aita explicou como se dá a diferença na taxa de decomposi-ção nos dois sistemas de preparo do solo, plantio convencional(PC) e sistema plantio direto (SPD): resíduos culturais incorpora-dos ao solo pelo PC, através de aração e gradagem, são mais facil-mente colonizados por microrganismos, em comparação ao SPD,sem mobilização do solo e com manutenção dos resíduos na super-fície do solo, o que deve estar correlacionado ao maior contatoentre o solo e os resíduos e ao menor tamanho das partículas dosresíduos, que garante maior acesso dos microrganismos ao C adi-cionado, facilitando o fluxo de água e nutrientes, especialmente denitrato, dos agregados do solo até os sítios de decomposição. De-vido às melhores condições de oxidação do ambiente no PC, alémda maior exposição da MOS, há aumento na emissão de C-CO

2 para

a atmosfera, com diminuição nos estoques de C do solo.

Comentou que, mesmo adotando-se sistemas de manejoconservacionistas, a recuperação dos estoques de C no solo é umprocesso bastante lento, especialmente em condições de clima tro-pical e subtropical, e para que o solo funcione como um dreno doCO

2 atmosférico e não como uma fonte de CO

2, é necessário que as

adições de C superem as perdas por oxidação e erosão. Neste sen-tido, os sistemas de rotação de culturas com elevado aporte deresíduos vegetais intensificam os fluxos de matéria e energia nosolo, facilitando a interação entre os componentes minerais e orgâ-nicos, com reflexos no acúmulo de matéria orgânica.

Disse que o processo geral de decomposição ocorre em es-tádios ou módulos e é regulada pela combinação de três grupos defatores, os quais atuam de forma interativa:

• Ambiente físico-químico: temperatura, umidade, pH, nívelde O

2, disponibilidade de N mineral e o contato entre resíduos cul-

turais e solo são os principais fatores que influenciam a atividadedos organismos decompositores;

• Qualidade do substrato: relação C/N (Figura 3), C solúvel,celulose e lignina e relações lignina/N e polifenóis/N; e

• Comunidade de organismos decompositores.

Figura 3. Tempo de decomposição da matéria seca em função da qualida-de do resíduo.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 4

Segundo ele, o ciclo biogeoquímico do N é semelhante aodo S por apresentar uma variedade de compostos orgânicos einorgânicos, em vários estados de oxidação e redução. Além disso,ambos os elementos sofrem transformações biológicas no solocomo, por exemplo, a mineralização e a imobilização.

A disponibilidade de N no solo é determinada por uma sériede processos e transformações de complexidade diversa. Além dostrês processos biológicos (mineralização, imobilização e desni-trificação), ainda existem aqueles de natureza físico-química, comoa volatilização de amônia e a lixiviação de NO

3-, os quais também

desempenham um papel importante no ciclo do N e podem variar emfunção do manejo do solo.

Explicou que, de maneira similar ao N, durante a decomposi-ção de materiais orgânicos no solo, o S é assimilado pelos microrga-nismos para suprir suas necessidades em S para a biossíntese deaminoácidos. A quantidade assimilada de S é condicionada pelofluxo de C e pela relação C/S dos resíduos e da biomassa microbiana.Com a adição de resíduos orgânicos ao solo, cuja relação C/S éelevada, normalmente ocorre a imobilização de S do solo. O contrárioé observado com os materiais orgânicos ricos em S. Assim, o balançoentre imobilização e mineralização de S regula o acúmulo e o ciclo doS no solo e, portanto, a disponibilidade de S para as plantas. Apesarde existirem essas relações entre C, N e S durante a decomposição,normalmente a mineralização do S apresenta menor correlação coma decomposição do C do que aquela observada entre C e N.

Finalizou dizendo que a disponibilidade de S no solo, a cur-to prazo, em sistemas agrícolas, está ligada principalmente à quan-tidade e ao tipo de resíduos culturais, os quais dependem do siste-ma de sucessão/rotação de culturas empregado. Já a longo prazo, adisponibilidade de S está mais relacionada ao sistema de preparodo solo. Aqueles com maior revolvimento, como o PC, resultam nadiminuição da MOS e, conseqüentemente, na redução da capacida-de do solo em fornecer S às culturas.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: MANEJO DO NITROGÊNIO E DO ENXOFRE MANEJO DO NITROGÊNIO E DO ENXOFRE MANEJO DO NITROGÊNIO E DO ENXOFRE MANEJO DO NITROGÊNIO E DO ENXOFRE MANEJO DO NITROGÊNIO E DO ENXOFREEM DIFERENTES SISTEMAS DE EXPLORAÇÃOEM DIFERENTES SISTEMAS DE EXPLORAÇÃOEM DIFERENTES SISTEMAS DE EXPLORAÇÃOEM DIFERENTES SISTEMAS DE EXPLORAÇÃOEM DIFERENTES SISTEMAS DE EXPLORAÇÃOAGRÍCOLA: PLANTIO DIRETO X PLANTIOAGRÍCOLA: PLANTIO DIRETO X PLANTIOAGRÍCOLA: PLANTIO DIRETO X PLANTIOAGRÍCOLA: PLANTIO DIRETO X PLANTIOAGRÍCOLA: PLANTIO DIRETO X PLANTIOCONVENCIONALCONVENCIONALCONVENCIONALCONVENCIONALCONVENCIONAL � � � � �

Carlos Alberto CerettaCarlos Alberto CerettaCarlos Alberto CerettaCarlos Alberto CerettaCarlos Alberto Ceretta, , , , , Professor do Departamento de Solos daUniversidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, e-mail:[email protected]

De acordo com Ceretta, a principal fonte de nitrogênio (N) ede enxofre (S) no solo é a matéria orgânica, e isso, por si só, jádiferencia o manejo desses elementos no sistema plantio direto(sem revolvimento do solo) em relação ao sistema convencional(com revolvimento do solo), embora, em ambos, a preocupação sejaevitar a erosão e conservar o solo de forma a permitir uma adequadaestrutura, visando, principalmente, maior crescimento e distribui-ção do sistema radicular das plantas e ciclagem dos nutrientes.

Comentou que, do ponto de vista químico, indiscutivelmen-te, na maioria dos casos, o ambiente solo sob plantio direto torna-se mais adequado ao acúmulo de nutrientes, que, associado àsmelhores condições de matéria orgânica, permite rápida resposta aquaisquer estímulos ambientais ao crescimento das plantas. Issosignifica que, em períodos de estresse ambiental, os prejuízos naprodutividade são mais significativos no sistema convencional, emcomparação ao plantio direto. Por isso, o plantio direto permite apossibilidade de uso mais eficiente dos nutrientes existentes nosolo e daqueles adicionados via fertilizantes, justificando a dimi-nuição nas quantidades de N em muitas culturas, observada nas

atuais recomendações de adubação. Além disso, no sistema plantiodireto é maior o aproveitamento de N e de S dos resíduos vegetaisporque a taxa de decomposição é menor e isso favorece o melhorsincronismo entre a taxa de liberação de N e S para o solo e a taxa deabsorção desses nutrientes pelas plantas.

Lembrou que para o manejo eficiente de N e S, ou seja, deNO

3- e SO

42-, é preciso aumentar a capacidade do solo em armazenar

água, visto que estes são elementos móveis, que se translocam porfluxo de massa, e que podem se perder por escoamento e porpercolação através do perfil do solo. Também que, em muitos solos,o SO

42- é mais retido nas camadas subsuperficiais e, por isso, a

recomendação da dose de S deve ser feita com base na amostragemdas camadas de 0-20 cm e de 20-40 cm.

Comentou também sobre a importância de se considerar nomanejo de fontes orgânicas de N, como, por exemplo, dejetos desuínos, a exigência das plantas e os fenômenos de perdas (vola-tilização de amônia, percolação de nitrato e escoamento superficial)e a possível contaminação ambiental, devido, na maioria dos casos,à distribuição dos dejetos antes da semeadura e sem cobertura(Figura 4). Sugere, para evitar as perdas, que sejam planejadas rota-ções de culturas, que diminuem o escoamento, mantendo os resí-duos sobre o solo, melhorando sua estrutura e permitindo o cresci-mento de raízes em profundidade.

Figura 4. Amônio e nitrato na água de escoamento superficial, apósaplicação de dejeto líquido de suínos na cultura de milho. SantaMaria, RS.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO ESTADO MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO ESTADO MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO ESTADO MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO ESTADO MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO ESTADONUTRICIONAL DAS PLANTAS PARA NITROGÊNIONUTRICIONAL DAS PLANTAS PARA NITROGÊNIONUTRICIONAL DAS PLANTAS PARA NITROGÊNIONUTRICIONAL DAS PLANTAS PARA NITROGÊNIONUTRICIONAL DAS PLANTAS PARA NITROGÊNIOE ENXOFREE ENXOFREE ENXOFREE ENXOFREE ENXOFRE � � � � �

Antonio Roque Dechen, Antonio Roque Dechen, Antonio Roque Dechen, Antonio Roque Dechen, Antonio Roque Dechen, Professor do Departamento de Nutri-ção Mineral de Plantas da Escola Superior de Agricultura Luiz deQueiroz, Piracicaba, SP, e-mail: [email protected]

De acordo com Dechen, ao se utilizar os métodos de avalia-ção do estado nutricional das plantas pretende-se obter um balan-ço equilibrado de nutrientes, visando a produção integrada com aqualidade, direcionado à sustentabilidade.

Segundo ele, os fatores que afetam negativamente a absorçãode nutrientes pelas plantas são: alta umidade relativa do ar (diminui atranspiração), sistema radicular pouco desenvolvido, pH inadequa-do, umidade excessiva do solo, baixa aeração, nematóides ou outraspragas e compactação do solo. Já os fatores que afetam positiva-mente são: alta transpiração das plantas, solos com boa estrutura ebom suprimento de O

2, teor de matéria orgânica, atividade dos mi-

crorganismos, pH adequado e sistema radicular bem desenvolvido.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 5

Dechen destacou os principais métodos utilizados para ava-liação do estado nutricional das plantas, para N e S, nas culturasde interesse econômico:

1. DIAGNOSE VISUAL

De forma geral, para a maioria das espécies, a deficiência de Npromove clorose nas folhas mais velhas, próximas à base das plan-tas, já que o N é móvel em termos de redistribuição (Figura 5), alémde ângulo agudo entre caule e folhas, dormência de gemas laterais,redução de perfilhamento, senescência precoce, folhas pequenas efrutos intensamente coloridos. Por outro lado, quando em excesso,promove desequilíbrios na planta, como maior sensibilidade ao ata-que de doenças e pragas, excessivo crescimento vegetativo, aca-mamento em cereais e desordens fisiológicas (Figura 6).

das amostras por ácidos e sais catalisadores. Para a interpretaçãodos resultados da análise foliar normalmente é feita a comparaçãodos teores de nutrientes em amostras coletadas em talhões de la-vouras com valores-padrões estabelecidos para cada espécie ve-getal, podendo ser feita através de:

• Nível crítico: é o nível de concentração do elemento nafolha abaixo do qual a produção ou a qualidade é significativamen-te diminuída, e normalmente está situado em torno de 90% a 95% dacolheita máxima (Figura 7).

Figura 5. Princípios de diagnose visual de desordens nutricionais dadeficiência de nitrogênio e enxofre.

Figura 6. Bitter pit, desordem fisiológicaem maçã, devido ao excessode nitrogênio.

Os sintomas de de-ficiência de S são pareci-dos com os de N quanto àalteração que causam nacoloração das folhas. Noentanto, o principal fatorque os diferencia é a posi-ção na planta: como o S épouco móvel no floema, ossintomas ocorrerão inicial-mente nas folhas mais no-vas. Outros sintomas in-cluem: folhas pequenas,enrolamento das margensdas folhas, necrose e des-folhamento, internódioscurtos, redução no florescimento, menor nodulação nas leguminosas.

Comentou que as desvantagens deste método são: os sin-tomas geralmente aparecem quando a produção já está comprome-tida; eles podem ser mascarados por interações, doenças, pragas eexige experiência do técnico. Por outro lado, tem baixo custo e pos-sibilidade de correção imediata e é muito útil em plantas perenes,para micronutrientes.

2. DIAGNOSE FOLIAR OU ANÁLISE QUÍMICA DETECIDOS VEGETAIS

Os teores de N e de S são determinados em folhas secas pormetodologias específicas, após processo de moagem e digestão

Figura 7. Interpretação da análise foliar pelo nível crítico: concentraçãona folha abaixo da qual a taxa de crescimento, produção ouqualidade são significativamente diminuídas.

• Faixa de suficiência: faixa pouco acima do nível crítico,para um nível ótimo de produção.

Dechen destacou que um dos principais problemas dadiagnose foliar é que, em geral, não se consegue corrigir os pro-blemas nutricionais na mesma safra, principalmente nas culturasanuais. A análise foliar precoce pode ser uma alternativa para con-tornar esta questão, podendo ser realizada em qualquer estádio dedesenvolvimento da cultura, o que facilita a correção de desequi-líbrios nutricionais dentro do mesmo ciclo.

Esta técnica consiste na determinação da curva de concen-tração de nutrientes no decorrer do ciclo da cultura em diversosanos e locais para a obtenção da curva característica para cadanutriente. Assim, agora não há somente uma época padrão pararealização da análise foliar e, sim, esta pode ser realizada em qual-quer estádio de desenvolvimento.

• DRIS: este método utiliza as relações entre os nutrientese as compara com uma população de alta produtividade, permitin-do identificar quais os elementos mais limitantes, e também con-tribui para um diagnóstico mais preciso do estado nutricional dasplantas, comparado ao critério do nível crítico e ao da faixa desuficiência. Deve-se ressaltar que a regionalização dos levanta-mentos para a obtenção das normas de referência proporcionaresultados mais confiáveis.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 6

• Medição indireta da clorofila: através do medidor de clo-rofila, também conhecido como SPAD, obtém-se leituras quecorrespondem ao teor do pigmento presente na folha. É utilizado naavaliação do teor de N na folha.

• Métodos bioquímicos: partem do princípio de que, haven-do a deficiência de um determinado nutriente, os processos meta-bólicos no qual ele participa serão reduzidos. São pouco utilizadosem análises de rotina, e mais aplicados para fins de pesquisa.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: DIAGNÓSTICO PARA RECOMENDAÇÃO DE DIAGNÓSTICO PARA RECOMENDAÇÃO DE DIAGNÓSTICO PARA RECOMENDAÇÃO DE DIAGNÓSTICO PARA RECOMENDAÇÃO DE DIAGNÓSTICO PARA RECOMENDAÇÃO DEADUBAÇÃO NITROGENADA EM CULTURAS DEADUBAÇÃO NITROGENADA EM CULTURAS DEADUBAÇÃO NITROGENADA EM CULTURAS DEADUBAÇÃO NITROGENADA EM CULTURAS DEADUBAÇÃO NITROGENADA EM CULTURAS DEINTERESSE AGRONÔMICO INTERESSE AGRONÔMICO INTERESSE AGRONÔMICO INTERESSE AGRONÔMICO INTERESSE AGRONÔMICO �����

Fernando O. Garcia,Fernando O. Garcia,Fernando O. Garcia,Fernando O. Garcia,Fernando O. Garcia, Diretor Regional do INPOFOS/PPI, Argen-tina, e-mail: [email protected]

Segundo Garcia, o diagnóstico da necessidade de nitrogê-nio pelas culturas, visando atingir o máximo rendimento biológico eeconômico, contribui para:

• Maximizar a eficiência e o retorno do investimento, e

• Reduzir os impactos ambientais provenientes de aplica-ções excessivas (contaminação do solo, da água e do ar) e deficien-tes do elemento (degradação do solo por diminuição das reservasnaturais de N, principalmente N orgânico).

Comentou que, devido à importância do N na produçãoagrícola, têm sido realizadas numerosas pesquisas e experimentosna busca de métodos de diagnóstico da necessidade de N pararecomendação de adubação. Em geral, os métodos de diagnósticoque pretendem predizer a probabilidade de resposta da adubaçãonitrogenada baseiam-se na disponibilidade de N no solo e/ou naplanta e a necessidade prevista para um determinado nível derendimento.

Garcia fez um resumo das metodologias ou sistemas de diag-nóstico para os cultivos de trigo e milho, com ênfase nas pesquisasrealizadas na Região Pampeana da Argentina. Mostrou que a reco-mendação da adubação nitrogenada considera a disponibilidadedo N no solo antes do plantio e durante o ciclo da cultura para onível desejado de produtividade, assim como os índices de mine-ralização da matéria orgânica do solo. O esquema destas informa-ções estão nas Figuras 8 e 9.

A cultura é monitorada através da análise da planta –concentração do N total, curvas de diluição de N e concentração denitrato na base do pecíolo – e de sensores espectral – medidor declorofila – e remotos.

Mostrou ainda que os modelos de simulação agronômicaconstituem ferramenta promissora para o manejo eficiente de N nosistema solo-planta integrando os fatores de solo, clima e manejoque afetam a dinâmica de N e o crescimento e rendimento da cultura.Estes modelos permitem diagnosticar situações de deficiência de Ne gerar informações sobre as probabilidades de resposta a doses eépocas de aplicação de N.

Finalizou comentando que a maior ou menor utilidade des-sas metodologias dependerá da calibração regional, permitindo ajus-tar as variáveis às condições edafo-climáticas e de manejo locais.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTESNITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURANITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURANITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURANITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURANITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURADO CAFÉDO CAFÉDO CAFÉDO CAFÉDO CAFÉ � � � � �José Braz Matiello, José Braz Matiello, José Braz Matiello, José Braz Matiello, José Braz Matiello, Ministério da Agricultura e Pesquisa Agrí-cola/PROCAFÉ, Brasília, DF, e-mail: [email protected]

De acordo com Matiello, com a expansão da cultura cafeeirapara terras de baixa fertilidade, principalmente para as arenosas decerrado, os problemas nutricionais começaram a ser observados. Adespeito de ser uma cultura antiga, há pouca pesquisa de adubaçãopara esta cafeicultura. Atualmente, o critério utilizado é o da neces-sidade nutricional, onde se leva em consideração as exigênciaspara vegetação e para a produção. Assim, a indicação de adubaçãopara o cafeeiro adulto deve ser feita com base na retirada nutricio-nal pelas plantas, considerando, ainda, as perdas dos adubos, adisponibilidade no solo e a condição da lavoura (idade, variedade,potencial produtivo, sistema de manejo, clima, etc.).

A pesquisa mostra que para cada saca de café produzida hánecessidade da reposição de 6,2 kg de N, 0,6 kg de P

2O

5, 5,9 kg de

K2O e 0,3 kg de S. Na média, calcula-se um adicional de cerca de

30% para suprir as perdas, chegando-se, assim, nas doses indicadas(Tabela 1). Alguns fatores podem ajudar a contrabalançar tais perdasno aproveitamento do adubo, como: reciclagem de material orgânico,fornecimento pelo solo e pela chuva (principalmente N e S), asso-ciação com micorrizas (P), etc. A seguir, examina-se os resultados daanálise de solo para ajuste das doses de acordo com a suficiênciaou não, observando os níveis de cada um dos nutrientes, sendo

Figura 9 . Nitrogênio no solo e na planta para milho de alta produtividade.

Figura 8 . Esquema para determinar a probabilidade de resposta à aduba-ção nitrogenada em milho com base na disponibilidade de nitro-gênio no solo, no pH do solo e nos anos de cultivo.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 7

solos devido à monocultura e à destruição mecânica da soqueira dealgodão, afetando a dinâmica do nitrogênio e do enxofre, pois estesnutrientes estão diretamente relacionados à matéria orgânica dosolo.

Segundo o pesquisador, o ciclo de crescimento da culturado algodão é complexo devido à ocorrência simultânea de diversoseventos importantes, como crescimento vegetativo, aparecimentode botões florais, flores, maçãs, capulhos, havendo, por isso, gran-de competição interna pelos nutrientes.

Comentou que o N é o nutriente mais extraído e exportadopelo algodoeiro e que, no manejo dos fertilizantes nitrogenados,um dos aspectos importantes a se considerar é a variedade, poisdistintas variedades diferem em relação à velocidade de absorção eà quantidade absorvida de nutrientes (Figura 11). O manejo do Ntambém deve estar associado ao ciclo da variedade.

Cuidados especiais devem ser tomados durante o planeja-mento da adubação e monitoramento da lavoura, pois o N em defi-ciência resulta em redução significativa da produtividade. O exces-so promove crescimento vegetativo intenso, resultando muitas ve-zes em maior dificuldade de controle do crescimento, maior apodre-cimento de maçãs, maior dependência da formação das maçãs daparte superior do dossel da cultura, maior dificuldade no manejo dedoenças e insetos, além de reduzir o rendimento de pluma.

que para o K é necessário verificar, ainda, sua participação na CTCe sua relação com o Ca e o Mg.

Segundo ele, as fontes usuais de N para o cafeeiro sãouréia, sulfato de amônio e nitrato de amônio. Já as fontes de S sãosulfato de amônio, superfosfato e gesso. Resultados de pesquisamostraram que a uréia, como fonte de N, proporcionou menorprodução de café, na média de três safras, em relação ao sulfato deamônio e ao nitrato de amônio. Observou-se também que os nu-trientes K, S e B permaneceram disponíveis ao sistema radicular docafeeiro, em bom nível, a até mais de 1 metro de profundidade noperfil do solo (Figura 10), o que pode explicar a permanência doefeito da adubação, por mais de 1 ano, mesmo paralisando-se asaplicações de adubo.

Tabela 1. Níveis básicos de NPKS indicados para cafezais adultos, deacordo com os níveis de produtividade.

Produtividade Nutrientes indicados (kg ha-1)1

(sc ha-1) N P2O

5K

2O S

20 120-160 15-20 120-130 7-10

30 180-240 18-40 170-220 9-20

40 250-310 25-50 240-270 12-25

50 310-390 30-60 300-330 15-30

60 380-470 40-80 360-400 20-40

1 Estes níveis básicos devem ser ajustados de acordo com a análise desolos para PK, considerando, ainda, a textura do solo, onde os arenososexigem mais NK e, também, as condições climáticas. Em áreas quentes,deve-se acrescer 15% a 20% de N e, em áreas frias, 10% a 15% menos deN. Caso seja possível, ajustar os dois últimos parcelamentos de N con-forme a análise foliar.

Figura 10. Teores de K no perfil do solo.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTESNITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURANITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURANITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURANITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURANITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURADO ALGODÃODO ALGODÃODO ALGODÃODO ALGODÃODO ALGODÃO � � � � �Leandro Zancanaro, Leandro Zancanaro, Leandro Zancanaro, Leandro Zancanaro, Leandro Zancanaro, Pesquisador da Fundação Mato Grosso,Rondonópolis, MT, e-mail: [email protected]

De acordo com Zancanaro, a cultura do algodão apresentaum custo de produção elevado, e os resultados obtidos em centrosde pesquisa, quando aplicados corretamente e associados ao bommanejo da cultura em campos comerciais, resultam em lucros para oprodutor.

O sistema de produção de algodão no Mato Grosso apre-senta limitações quanto ao aspecto de manejo e conservação dos

Figura 11. Acúmulo de N, P e K pelo algodoeiro em função da idade daplanta. A cultivar ITA 90 (B) exige maior quantidade de nutrien-tes em menor período de tempo do que a cultivar IAC 22 (A).

Fonte: Rosolem (2006).

A

B

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 8

Considerando a região do Mato Grosso, os resultados depesquisas com adubação na cultura de algodão, conduzidas pelaFundação MT, demonstraram variabilidade dos resultados, ouseja:

• A resposta da cultura do algodão a N não é a mesma emtodos os solos. As condições físicas do solo associadas ao manejoe aos teores de matéria orgânica, mesmo em solos com resultadosde análises de solo idênticos, podem fazer com que a cultura res-ponda de forma diferente à adubação em geral, inclusive para N e S.Solos com condições físicas favoráveis e com maiores teores dematéria orgânica respondem menos à adubação;

• Em solos argilosos, deve-se aplicar toda a quantidade de Ne de K em cobertura até 60 dias após a emergência;

• Mesmo em solos arenosos não houve diferença no parce-lamento da adubação de cobertura com N e K em duas, três e quatrovezes;

• O rendimento em pluma de algodão em caroço diminui como aumento da quantidade de N aplicada;

• A adubação nitrogenada não influenciou as característicastecnológicas das fibras de algodão.

Desta forma, Zancanaro citou algumas sugestões de mane-jo de N para a cultura:

1. Ter bom senso e conhecer a condição da lavoura, sendoimportante considerar: condições climáticas associadas à cultura,época de plantio, condições do solo e genética.

2. Em solos com fertilidade corrigida, com vários anos decultivo e região de elevado potencial produtivo, sugere-se as se-guintes adubações:

ADUBAÇÃO NITROGENADA (considerando aplicação deN com alta eficiência)

• Solos argilosos: 120 a 130 kg ha-1 de N. Deve-se evitardoses mais elevadas de N pois isto implicará em maior crescimentovegetativo, aumento da probabilidade de perdas de maçãs dobaixeiro, criando maior dependência da formação do ponteiro.

• Solos arenosos: 150 kg ha-1 de N.

• Modo de aplicação (parcelamento): 15 a 30 kg ha-1 de N noplantio e o restante em duas adubações de cobertura, aos 25-30 diase aos 55-60 dias após a emergência.

Em solos argilosos e de textura média não há necessidadede se fazer três ou quatro adubações de cobertura com N, exceto emalgumas situações. Em solos de textura arenosa, pode-se tambémtrabalhar com duas adubações de cobertura. No entanto, caso hajanecessidade de aumentar o parcelamento, até por questões opera-cionais, não se recomenda fazer mais do que três adubações decobertura, sendo a terceira realizada até, no máximo, aos 60-70 diasapós a emergência.

Quanto ao S, Zancanaro citou a dificuldade em se estabe-lecer uma estratégia de adubação em virtude dos poucos resul-tados de pesquisa disponíveis que avaliam especificamente oelemento, da sua disponibilidade depender da dinâmica da maté-ria orgânica do solo e da sua lixiviação para as camadas maisprofundas do solo.

De acordo com Zancanaro, as principais causas da deficiên-cia de S no solo são: esgotamento das reservas do solo; utilizaçãode fertilizantes NPK concentrados, com pouco S; condições inade-quadas para a formação de sulfatos a partir da matéria orgânica;lixiviação de sulfatos.

ADUBAÇÃO SULFATADA

Na literatura, é comum a sugestão de 30 kg ha-1 de S naadubação anual para as condições de deficiência do elemento. Osresultados obtidos nos experimentos e nas lavouras acompanha-das pela Fundação MT demonstram que há respostas a quantida-des maiores em condições mais adversas de disponibilidade de S.Considerando os resultados de experimentos conduzidos por doisanos, houve resposta até 60 kg ha-1 de S. Porém, há condições emque a probabilidade de resposta a S é pequena.

Observou-se também que não houve diferença entre as fon-tes avaliadas (enxofre elementar em pó, gesso, superfosfato e sulfa-to de amônio) quando devidamente utilizados.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTESNITROGENADOS E SULFATADOS NA SUCESSÃONITROGENADOS E SULFATADOS NA SUCESSÃONITROGENADOS E SULFATADOS NA SUCESSÃONITROGENADOS E SULFATADOS NA SUCESSÃONITROGENADOS E SULFATADOS NA SUCESSÃOSOJA-TRIGO E SOJA-MILHO SAFRINHA NOSOJA-TRIGO E SOJA-MILHO SAFRINHA NOSOJA-TRIGO E SOJA-MILHO SAFRINHA NOSOJA-TRIGO E SOJA-MILHO SAFRINHA NOSOJA-TRIGO E SOJA-MILHO SAFRINHA NOSISTEMA PLANTIO DIRETOSISTEMA PLANTIO DIRETOSISTEMA PLANTIO DIRETOSISTEMA PLANTIO DIRETOSISTEMA PLANTIO DIRETO � � � � �João Carlos de Moraes Sá, João Carlos de Moraes Sá, João Carlos de Moraes Sá, João Carlos de Moraes Sá, João Carlos de Moraes Sá, Professor do Departamento deSolos da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa,PR, e-mail: [email protected]

Segundo Sá, para compreender o funcionamento do sistemade plantio direto como um sistema é preciso tentar “pensar comopalha”, isto é, compreender a cinética de transformações dos com-postos com o tempo, associada aos atributos do solo. Assim, citouas fases de evolução do solo em função do tempo em que estepermanece sob plantio direto:

• Fase inicial (0-5 anos): reordenamento da estrutura dosolo, baixo teor de matéria orgânica (MOS), baixa acumulação depalhada, reestabelecimento da biomassa microbiana (BM), maiorexigência de N;

• Fase de transição (5-10 anos): reagregação do solo, iníciode acumulação de palhada, início de acumulação de MOS, início deacumulação de P, imobilização de N maior que o mínimo;

• Fase de consolidação (10-20 anos): acumulação de palhada,acumulação de C, aumento da CTC, maior armazenamento de H

2O,

imobilização de N menor que o mínimo, maior ciclagem de nutrientes;

• Fase de manutenção (acima de 20 anos): fluxo contínuo deC e N, elevada acumulação de rastrojo, maior armazenamento deH

2O, maior ciclagem de nutrientes, menor exigência de N e P.

Explicou que, com a elevação do teor de MOS nas camadassubsuperficiais do solo, com o passar dos anos, está ocorrendotambém armazenamento de N no solo (Figura 12), pois a matériaorgânica é constituída de 5% de N (relação C:N no solo é próxima a10:1). E que a maior retenção de C e N orgânicos tem sido associadaao aumento da agregação das partículas do solo, que protegemfisicamente a MOS por formar uma barreira que isola os microrga-nismos do substrato. Acrescentou que a taxa de agregação maiselevada é favorecida quando se tem adição semestral de resíduosdas culturas, liberação e deposição de polissacarídeos e outrassubstâncias orgânicas resultantes do processo de mineralização,combinadas com ausência de revolvimento do solo.

Assim, dentre os benefícios gerados pela MOS, destacam-se a melhoria das condições físicas do solo, o fornecimento deenergia para o crescimento microbiano, o que se reflete em maiorciclagem de nutrientes e aumento da CTC do solo e, portanto, me-lhor qualidade do solo.

Comentou que a rotação de culturas é um fator preponde-rante para a construção e o desenvolvimento do SPD, e a complexi-

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 9

1. Adubação no sulco de semeadura ou a lanço na aveia preta

• Aplicação de 30 a 40 kg ha-1 de N. Estimula maior produçãode fitomassa, maior desenvolvimento radicular, reduz a relação C/Nda aveia preta, proporciona maior ciclagem de N para os períodosde maior demanda pela planta.

2. Adubação no sulco de semeadura do milho

• Aplicação de 30 kg ha-1 de N em áreas com < 4,0 t ha-1 depalha. Suporte de N para os estádios V

2 a V

4, quando o potencial de

produção é definido. Reduz a carência de N devido à imobilizaçãodurante o processo de mineralização da palhada.

• Aplicação de 40 a 45 kg ha-1 de N em áreas com > 4,0 t ha-1

de palha. Suporte de N para os estádios V2 a V

4, quando o potencial

de produção é definido. Reduz a carência de N devido à imobiliza-ção durante o processo de mineralização da palhada.

3. Adubação antecipada e/ou em cobertura no milho

• Solos com < 25% com argila e até 10 anos em PD. Não fazeraplicação antecipada de N. Há maior resposta com a aplicação emcobertura entre os estádios V

4 e V

6.

• Solos com < 25% de argila e mais de 10 anos em PD: aplica-ção de 40 kg ha-1 de N na aveia preta. A aplicação antecipada de Nque apresentará a maior resposta será com 70% no manejo da aveiae o restante em cobertura entre os estádios V

4 e V

6.

• Solos com > 25% de argila e mais de 5 anos em PD eacúmulo de palhada na superfície: aplicação de 40 kg ha-1 de N naaveia preta e aplicação antecipada de N com 70% a 100% da doseno manejo da aveia.

• Solos com > 25% de argila e mais de 10 anos em PD eacúmulo de palhada na superfície: aplicação de 40 kg ha-1 de N naaveia preta e aplicação antecipada de N com 100% da dose nomanejo da aveia.

• Solos com > 55% de argila e mais de 10 anos em PD eacúmulo de palhada na superfície: em solos sujeitos ao enchar-camento temporário durante 3 a 5 dias deve ser mantida a aplicaçãoem cobertura nos estádios V

4 a V

6 para evitar a desnitrificação de N.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: MANEJO DE FERTILIZANTES NITROGENADOS MANEJO DE FERTILIZANTES NITROGENADOS MANEJO DE FERTILIZANTES NITROGENADOS MANEJO DE FERTILIZANTES NITROGENADOS MANEJO DE FERTILIZANTES NITROGENADOSE E E E E SULFATADOS NA CULTURA DO FEIJÃO E DO MILHOSULFATADOS NA CULTURA DO FEIJÃO E DO MILHOSULFATADOS NA CULTURA DO FEIJÃO E DO MILHOSULFATADOS NA CULTURA DO FEIJÃO E DO MILHOSULFATADOS NA CULTURA DO FEIJÃO E DO MILHO � � � � �Antonio Luiz Fancelli, Antonio Luiz Fancelli, Antonio Luiz Fancelli, Antonio Luiz Fancelli, Antonio Luiz Fancelli, Professor do Departamento de Agricul-tura da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba,SP, e-mail: [email protected]

Segundo Fancelli, o N representa um elevado custo ener-gético para o sistema de produção: para a síntese, por exemplo, de1 kg de N gasta-se quase 15.000 kcal kg-1. Além disso, ele tem efeitopoluente, quando não bem manejado, e sua eficiência como fertili-zante é de 50%-70% de aproveitamento pelas plantas.

Comentou que a eficiência de utilização do N pela plantadepende também da presença do teor adequado de S. O S apresentacomportamento semelhante ao do N bem como contribui significa-tivamente para a melhoria do valor nutritivo e comercial dos princi-pais produtos agrícolas.

Fancelli mencionou que os processos de perdas de N po-dem ser irreversíveis (volatilização, lixiviação, desnitrificação) e re-versíveis (imobilização), e que a volatilização dos adubos é influen-ciada pelas condições climáticas no momento da aplicação, sendoque em sistema plantio direto a presença da palhada superficial(com maior conteúdo da enzima urease) é um fator de maximizaçãode volatilização. Acrescentou que as perdas de N no plantio con-

Figura 12. Representação das alterações no conteúdo de NO3- e da

biomassa microbiana do solo durante o desenvolvimento dacultura do milho cultivado após aveia-preta no sistema plantiodireto. (SÁ, 1999).

Figura 13. Influência do tempo de adoção do plantio direto no aumento doteor de carbono e nos processos bioquímicos da dinâmica deN no solo (imobilização-mineralização) na região dos CamposGerais.

Fonte: SÁ (1999).

dade da dinâmica de N no sistema e a importância econômica domanejo da adubação nitrogenada justificou um amplo estudo, delonga duração, na região dos Campos Gerais do Paraná, envolven-do aspectos relacionados a doses de N, métodos de aplicação etipos de rotação de culturas para milho e trigo (trigo-soja/aveiapreta-soja/aveia preta-milho) em solos com diferentes classes detextura e tempos de adoção do SPD.

Os resultados mostraram que o aumento do teor de carbonoem função do tempo de adoção do plantio direto proporciona maiorliberação de N ao sistema, e que a maior resposta à adubaçãonitrogenada para as gramíneas (milho e trigo), nas condições daregião, tem sido com o aumento da dose de N no sulco de semeadu-ra, justamente para contornar a carência em N na fase inicial dodesenvolvimento das culturas, causada pelo efeito da imobilizaçãodo N mineral (Figura 13). Mostraram também que antecipação daadubação nitrogenada na cultura precedente pode ser um fator deter-minante do potencial de rendimento da cultura seguinte.

Segundo ele, as principais estratégias de aplicação de N emmilho, com base nos principais resultados do estudo, foram:

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 10

vencional podem ser de até 35%, e em plantio direto podem chegara até 77%, devido à volatilização (Figuras 14 e 15).

• A época recomendada para a realização da adubação decobertura é caracterizada pela presença de plantas com 2 a 3 trifóliosplenamente expandidos (estádio R4 – aproximadamente 16 a 22 diasapós a semeadura), em que há predomínio da formação de raízes.

• Não se recomenda o uso de sulfato de amônio em glebascom histórico de Fusarium sp., pois os sintomas podem se intensi-ficar.

• Na aplicação via pivô, usar lâmina dágua de 8-10 cm.

• Evitar distribuição a lanço, dar preferência à adubação in-corporada e optar pela distribuição em filete contínuo no centro darua.

De acordo com Fancelli, a nodulação (número, massa denódulos e atividade) reveste-se de fundamental importância para amanifestação do potencial de produção da cultura de feijão, quenão pode ser compensada (dentro de certos limites) pelo forneci-mento de N mineral, e que cerca de 70%-80% do N exigido pelofeijoeiro deverá estar disponível para a planta até o estádio R6.Todavia, o restante será utilizado nos estádios R7/R8. A quantidadefinal deverá ser originária dos nódulos, pois nessa fase a absorçãoativa é baixa (problemas relação fonte-dreno). Acrescentou que autilização de cobalto e molibdênio amplifica o efeito da inoculaçãode sementes de feijão.

Disse que o momentomáximo para a aplicação foliar denitrogênio, enxofre, manganês,cobre, zinco, molibdênio e fito-hormônios é no estádio compre-endido entre 3 e 8 trifólios, por-que é uma fase crítica de defini-ção de área foliar e pela proximi-dade da fase final da diferencia-ção das estruturas reprodutivas.O N aplicado via foliar entre osestádios R5 (botão floral) e R7(formação de vagens – “cani-vetinho”) pode melhorar o apro-veitamento pelas vagens presen-tes no terço superior da planta;quando aplicado via foliar no estádio R8 (enchimento de vagens),poderá ampliar o ciclo da cultura.

MILHO

Recomendações de adubação:

De acordo com Fancelli, a recomendação de adubação nitro-genada para a cultura do milho, em pré-semeadura, vem sendo am-plamente discutida, objetivando a garantia de maior eficiência nouso do N pela planta, bem como na economicidade da atividade.Todavia, muitos fatores interferem em seu pleno sucesso, tais como:disponibilidade de N no solo (imobilização); espécies antecessoras;programa de rotação de culturas empregado; tempo de adoção dosistema de plantio direto; relação C/N da palhada predominante nosistema; potencial biótico do sistema; tipo de solo e regime pluvio-métrico da região (início da cultura). Como esses fatores não podemser efetivamente manipulados, conclui-se que a adubação nitro-genada, em pré-semeadura, ainda constitui-se em uma prática derisco e com baixo grau de previsibilidade, somente sendo recomen-dada para situações especiais.

Estudando a influência da aplicação de nitrogênio em co-bertura em diferentes estádios fenológicos na produtividade domilho, Fancelli citou algumas considerações práticas:

Figura 14 . Perdas acumuladas de cinco fontes nitrogenadas de cobertu-ra em plantio convencional.

Fonte: LARA CABEZAS (1990).

Figura 15. Perdas acumuladas de cinco fontes nitrogenadas de coberturaem plantio direto.

Fonte: LARA CABEZAS (1990).

Ressaltou que, devido às características tropicais dos solosbrasileiros, é preciso considerar, no manejo, o processo dinâmicoda fertilidade do solo, que implica em presença e atividade de raiz eágua. Considerando que N e S são absorvidos nas partes maisnovas da raiz, é necessário estimular a planta a produzir raízes con-tinuamente, principalmente na fase inicial de desenvolvimento daplanta, pois tudo o que se fizer nesta fase vai comprometer a produ-tividade final.

Lembrou também que, além de considerar a fisiologia dasplantas, o manejo da adubação deve ser fundamentado nos está-dios fenológicos da planta, e não no número de dias, como comu-mente considerado.

Fancelli, citou, a seguir, as recomendações gerais de aduba-ção para feijão e milho.

FEIJÃO:

• Adubação nitrogenada na semeadura: 15 a 25 kg ha-1

• Adubação nitrogenada em cobertura: 40 a 80 kg ha-1

• Adubação sulfatada: relação ideal N/S = 10/1 a 12/1

Respostas significativas paraa aplicação de nitrogênio,potássio e fósforo (via foliar)

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 11

• O milho exige cerca de 15 a 20 kg ha-1 de N por toneladade grãos;

• A presença e a disponibilidade de N (incluindo legumino-sas) no início da vida das plantas, bem como o equilíbrio entre asformas amoniacal e nítrica favorecem o crescimento do sistemaradicular.

• A maior necessidade relativa de nitrogênio compreende operíodo entre a emissão da 4a e a 8a folha e a maior necessidadeabsoluta de nitrogênio compreende o período entre a emissão da8a e 12a folha.

• O aporte significativo de nitrogênio no início da cultura domilho (até a 5a/6a folha) proporciona maior número de grãos porespiga e maior aparato fotossintético (IAF), culminando na mani-festação do potencial genético da planta.

• O uso de nitrogênio tardiamente na cultura de milho (apósa 10a folha) propiciou os piores resultados absolutos nos parâme-tros anteriormente citados, bem como contribuiu para o aumento daincidência da Pinta Branca (Phaeosphaeria maydis) e Ferrugem(Puccinia polysora).

• A utilização de 30-45 kg ha-1 de N, na semeadura, permiteque a adubação de cobertura possa ser efetuada até o estádio de7/8 folhas, sem prejuízos consideráveis ao desempenho das plan-tas, e até a 10a folha, sob irrigação (Tabela 1). Porém, quando daausência de N na semeadura, os valores absolutos de produtivida-de demonstram que a cobertura deverá ser efetuada até o estádiocorrespondente a 4-5 folhas, caso contrário a perda de produçãoassume valor significativo.

• Suprir os nutrientes que não estão disponíveis no solo emquantidades suficientes e com sincronismo com os períodos demaior demanda da planta, para otimizar a produção e a qualidadedos frutos.

Destacou que a produção de citros é largamente influencia-da pelo suprimento de N, pelo fato desse nutriente regular a taxafotossintética e a síntese de carboidratos, o peso específico dasfolhas, a produção de biomassa total e a alocação de carbono emdiferentes órgãos na planta, sendo, por isso, considerado o nu-triente mais importante para os cítricos, com participação no cresci-mento, produção e qualidade dos frutos.

Disse que os citros armazenam grande quantidade dessenutriente na biomassa, que pode ser redistribuída, principalmente,para órgãos em desenvolvimento como folhas e frutos. Por essemotivo, o decréscimo no suprimento de N pode não afetar a produ-ção de frutos imediatamente; contudo, quando fornecido em quan-tidade inferior à exportada com as colheitas, as árvores sofrem re-dução gradativa da densidade de folhas e do crescimento da copa,com prejuízos na produção em anos posteriores.

No estádio inicial da carência de N as plantas ficam ama-relecidas (notadamente as folhas mais velhas), há redução do nú-mero e do tamanho dos frutos e, em casos mais severos de deficiên-cia, pode ocorrer seca de ramos. Por outro lado, o excesso dessenutriente provoca vegetação exuberante, com folhas graúdas, aplanta sofre redução na diferenciação floral e, conseqüentemente,na frutificação.

As faixas para interpretação de teores foliares de N para la-ranjas são: baixo, < 23 mg kg-1; adequado, entre 23 e 27 mg kg-1; eexcessivo, > 30 mg kg-1. Para limões e lima ácida Tahiti, as faixas deinterpretação do teor de N foliar são: baixo, < 17 mg kg-1; adequado,entre 18 e 22 mg kg-1, e excessivo, > 22 mg kg-1.

Já o S é constituinte de aminoácidos (cisteína e metionina),componente estrutural de ferredoxinas, fitoquelatinas e outrasproteínas, e também responsável pela síntese de clorofila. Na defi-ciência, as folhas mais novas ficam amareladas, semelhante àquelasdeficientes em N; as folhas em fluxos de crescimento seguintesmostram clorose acentuada, menor tamanho e sujeitas à abscisãoprematura.

Para o S, as faixas para interpretação de teores foliares são:baixo, < 2,0 mg kg-1; adequado, entre 2,0 e 3,0 mg kg-1; e excessivo,> 5,0 mg kg-1.

Os conteúdos de N e S na planta toda variam em função daconcentração desses nutrientes, da distribuição da massa seca nasdiversas partes da planta (folhas, ramos e raízes) e da idade dostecidos (jovens, maduros e senescentes). Resultados de pesquisademonstram que o conteúdo de N na planta excede em cerca de dezvezes aquela de S, e essa diferença é importante para a caracteriza-ção da demanda desses nutrientes pelos citros e para a tomada dedecisão acerca da adubação do pomar.

Comentou que, devido ao caráter dinâmico do ciclo do N naagricultura, condicionado pelas transformações bioquímicas e con-seqüente impacto sobre características químicas do solo, como opH, e pelo transporte do nitrato por lixiviação no perfil do solo ouda amônia por volatilização para a atmosfera, é importante a adoçãode estratégias de manejo que otimizem a sua eficiência de uso (EUN).Resultados de pesquisa sugerem que a EUN é geralmente menorque 50% do total aplicado no pomar. Assim, o ajuste de doses emfunção do estado nutricional das árvores e da produção de frutos,contemplado pelas atuais tabelas de recomendação da adubaçãodos citros, o emprego adequado de diferentes fontes dos fertilizan-

• Regiões baixas e quentes, em que há maior demanda inicialde N, usar 40 a 45 kg ha-1 de N na semeadura; em regiões ou épocasquentes e/ou solos arenosos, aplicar 30 a 60 g ha-1 de Mo, via foliar.

30 a 60 g/haPalestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTESNITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURANITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURANITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURANITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURANITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURADOS CITROSDOS CITROSDOS CITROSDOS CITROSDOS CITROS � � � � �Dirceu de Mattos Jr., Dirceu de Mattos Jr., Dirceu de Mattos Jr., Dirceu de Mattos Jr., Dirceu de Mattos Jr., Pesquisador do Centro de Citros SylvioMoreira/IAC, Cordeirópolis, SP, e-mail: [email protected]

Segundo Dirceu, o manejo da fertilidade do solo na citri-cultura, que compreende práticas de calagem e adubação, visa:

• Corrigir barreiras químicas ao crescimento radicular, per-mitindo maior aprofundamento das raízes e, conseqüentemente, me-lhor utilização do armazenamento da água do solo, que é fundamen-tal à produtividade da citricultura brasileira, em grande parte prati-cada sem irrigação, e

Tabela 1. Adubação nitrogenada de cobertura – quando aplicar?

Parcelamentos Época Condição ou indicação

1 3a a 4a folha Solos argilosos (> 30% deargila) e regiões não muitochuvosas

2 (1o) 3a a 4a folha Solos arenosos e condições(2o) 6a a 7a folha de alta percolação de N

3 (1o) 4a folha Sistema de produção sob(2o) 6a a 8a folha irrigação por pivô central(3o) 10a folha

Nota: Considerando-se o uso de 30-45 kg ha-1 de N na semeadura. Fonte: FANCELLI (2000).

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 12

tes nitrogenados, a escolha do modo de aplicação e parcelamentodas doses, procurando adequar o suprimento do N aos períodos demaior demanda pela planta e de menor probabilidade de perda emépocas de chuvas intensas, devem constar das boas práticas demanejo do citricultor.

Finalizou dizendo que as informações disponíveis aindaapontam que o suprimento adequado de S para os citros já é atingi-do com as práticas usuais no pomar, ou seja, a aplicação de fertili-zantes nitrogenados (sulfato de amônio), fosfatados (superfosfatosimples) e de micronutrientes que contém esse nutriente (sulfato demanganês, sulfato de zinco) e que, associado ao uso de outrosinsumos contra pragas e doenças (sulfato de cobre, S elementar),cuja pressão de controle aumentou significativamente nos últimosanos na citricultura, suprem quantidades bastante superiores a umademanda de 20-30 kg ha-1 ano-1 de S.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTESNITROGENADOS NITROGENADOS NITROGENADOS NITROGENADOS NITROGENADOS E SULFATADOS NA CULTURAE SULFATADOS NA CULTURAE SULFATADOS NA CULTURAE SULFATADOS NA CULTURAE SULFATADOS NA CULTURADA DA DA DA DA CANA-DE-AÇÚCARCANA-DE-AÇÚCARCANA-DE-AÇÚCARCANA-DE-AÇÚCARCANA-DE-AÇÚCAR � � � � �Heitor Cantarella, Heitor Cantarella, Heitor Cantarella, Heitor Cantarella, Heitor Cantarella, Pesquisador do Instituto Agronômico, Cam-pinas, SP, e-mail: [email protected]

Segundo Cantarella, o N, juntamente com o K, são os ele-mentos minerais acumulados em maiores quantidades na cultura dacana-de-açúcar. Apesar disso, a resposta da cana-de-açúcar à adu-bação nitrogenada ainda gera dúvidas (Figura 16).

perdas de N fertilizante por lixiviação e a contribuição do N estoca-do no tolete do colmo-semente.

Acrescentou que as recomendações de adubação com Npara cana-planta refletem as respostas a doses relativamente baixasencontradas na maioria dos estudos publicados, como a do IAC, de30 kg ha-1 de N no sulco de plantio e 30 a 60 kg ha-1 de N emcobertura, no final do período das águas, dependendo da meta deprodução de colmos. Já o o parcelamento da adubação nitrogenadaem cana-planta ainda suscita dúvidas e sua viabilidade depende daépoca de plantio, da textura do solo e do regime de chuvas.

Por outro lado, as respostas em soqueiras são maiores ecom retornos econômicos freqüentes, e as quantidades de N apli-cadas, mais elevadas, variando de 60 a 120 kg ha-1 de N, dependen-do da produtividade. Comentou que, com as novas variedades,mais produtivas e responsivas, e em melhores ambientes, as dosesatualmente recomendadas podem estar subestimadas.

Explicou que o advento da cana colhida sem despalha afogo, que deixa sobre o solo uma palhada com cerca de 10 a 15 t ha-1

de matéria seca, pode causar alterações no solo e no manejo daadubação nitrogenada. Apesar do alto aporte anual de palha, oacúmulo de C e de N orgânico no solo tem ocorrido apenas nacamada superficial, até 5 ou 10 cm de profundidade. Porém, os efei-tos sobre algumas características ligadas à qualidade do solo pare-cem se manifestar também abaixo daquela camada. A grande quan-tidade de palha depositada na superfície do solo dificulta a incor-poração dos fertilizantes, o que contribui para diminuir a eficiênciado principal fertilizante nitrogenado disponível no mercado, a uréia,devido às chances de perdas por volatilização de amônia. Portanto,novos estudos devem ser realizados para determinar o melhor ma-nejo do N em sistemas de cana sem despalha a fogo e a necessidadede alterar as doses de N nessas condições.

Em boa parte das áreas com cana-de-açúcar, o S tem sidosuprido na forma de gesso – aplicado geralmente para melhorar osubsolo – ou por meio de resíduos orgânicos da indústria sucro-alcooleira (torta de filtro, vinhaça, compostos). Assim, áreas onde agessagem ou a adição de adubos ou resíduos orgânicos não érealizada e fórmulas concentradas são empregadas, correm o riscode apresentar deficiência de S, especialmente em canaviais maneja-dos com queima antes da colheita. Os poucos estudos disponíveisenvolvendo a resposta da cana-de-açúcar ao S mostram que asdoses necessárias desse nutriente são bem menores do que as de N– por exemplo, 30 kg ha-1 de S para a cana-planta e 15 kg ha-1 de Spara soqueiras –, porém, sugerem que a adubação com S pode estarsendo negligenciada nesta cultura. Devido ao sinergismo entre o Ne o S, especialmente pelo fato de ambos serem componentes deaminoácidos, a necessidade de S deve ser maior em áreas com altasprodutividades e responsivas ao N.

Finalizou comentando que, além da remoção pela colheita,cerca de 95% do S contido na palha é volatilizado quando a cana équeimada. Por outro lado, quando a palhada é mantida sobre o solo,em sistema de colheita sem despalha a fogo, grande parte do Scontido no resíduo vegetal pode retornar ao solo.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: LEGISLAÇÃO PARA FERTILIZANTES LEGISLAÇÃO PARA FERTILIZANTES LEGISLAÇÃO PARA FERTILIZANTES LEGISLAÇÃO PARA FERTILIZANTES LEGISLAÇÃO PARA FERTILIZANTESNITROGENADOS E SULFATADOSNITROGENADOS E SULFATADOSNITROGENADOS E SULFATADOSNITROGENADOS E SULFATADOSNITROGENADOS E SULFATADOS � � � � �José Guilherme Tollstadius Leal, José Guilherme Tollstadius Leal, José Guilherme Tollstadius Leal, José Guilherme Tollstadius Leal, José Guilherme Tollstadius Leal, Coordenador da CFIC/DFIA/SD e Fiscal Federal Agropecuário, Brasília, DF, e-mail: [email protected]

De acordo com Leal, a legislação brasileira de fertilizantes ecorretivos é um conjunto de leis, decretos, portarias, ofícios, circu-

Figura 16. Conteúdo de nutrientes na cana-de-açúcar. Produção de100-120 t ha-1 de colmos.

Fonte: TRIVELIM (2004).

A recuperação do N fertilizante pela cana-de-açúcar geral-mente é baixa, menor que 40% do N aplicado, valor inferior ao ob-servado para a maioria das culturas, que se situa em torno de 50% a70%. O destino de parte considerável do N fertilizante é o solo,onde se incorpora à matéria orgânica – mas é reciclado depois, como tempo –, e outra parte do N, que não é recuperada, é perdida porlixiviação (pouco relevante), volatilização e desnitrificação.

Disse que, em cana-planta, a resposta ao N é relativamentepequena, embora haja evidências suficientes de que a aplicaçãodesse nutriente não deva ser dispensada, especialmente em solosde textura leve. Vários fatores podem explicar essas baixas respos-tas, entre os quais a mineralização da matéria orgânica do solo e dosrestos culturais da própria cana, favorecida pelo revolvimento dosolo durante a reforma do canavial; maior vigor do sistema radicularda cana-planta comparada com a soqueira; melhor fertilidade dosolo associada à calagem e à adubação feitas na reforma do cana-vial; fixação biológica de N; menor demanda inicial por nutrientes;

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 13

lares e instruções normativas que dispõem sobre a produção e co-mércio de fertilizantes, corretivos e inoculantes destinados à agri-cultura, determinando o que é obrigatório, proibido, permitido efacultado.

Segundo ele, em 14 de janeiro de 2004, foi aprovado o Decre-to Nº 4.954, que revogou o Decreto anterior nº 86.955, de 18 defevereiro de 1982, e fez-se necessária a emissão das InstruçõesNormativas que regulamentam o referido Decreto, o que ocorreu aolongo do ano.

Conforme o novo decreto, toda empresa, para produzir ecomercializar produtos, precisa ser registrada no Ministério e, paraser comercializado, cada produto também precisa de registro, me-diante comprovação da eficiência agronômica. Os produtos sãoclassificados por natureza (fertilizante mineral), categoria (simples,complexo, misto) e modo de aplicação (via foliar, via solo, viafertirrigação, via hidroponia, via semente).

Leal discorreu sobre algumas características específicas dosfertilizantes minerais simples, fertilizantes minerais mistos e com-plexos; fertilizantes para fertirrigação, hidroponia, aplicação foliar,orgânicos e organominerais, bem como a garantia mínima de nutrien-tes, no caso nitrogênio e enxofre, para cada um deles.

Comentou que, em relação à qualidade dos fertilizantesminerais, o principal problema encontrado diz respeito à deficiên-cia nos teores de nutrientes garantidos, devido à matéria-primaempregada, erros na fabricação (cálculo na formulação, pesagem,equipamentos) ou segregação. Espera-se, em 2007, alcançar ummelhor nível de qualidade dos insumos, com índices de 96% para osfertilizantes minerais, 96% para os corretivos e 99% para osinoculantes.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: VIABILIDADE ECONÔMICA DA ADUBAÇÃO VIABILIDADE ECONÔMICA DA ADUBAÇÃO VIABILIDADE ECONÔMICA DA ADUBAÇÃO VIABILIDADE ECONÔMICA DA ADUBAÇÃO VIABILIDADE ECONÔMICA DA ADUBAÇÃONITROGENADA E SULFATADA EM PASTAGENS NANITROGENADA E SULFATADA EM PASTAGENS NANITROGENADA E SULFATADA EM PASTAGENS NANITROGENADA E SULFATADA EM PASTAGENS NANITROGENADA E SULFATADA EM PASTAGENS NAREGIÃO DO CERRADOREGIÃO DO CERRADOREGIÃO DO CERRADOREGIÃO DO CERRADOREGIÃO DO CERRADO � � � � �Geraldo Bueno Martha Jr., Geraldo Bueno Martha Jr., Geraldo Bueno Martha Jr., Geraldo Bueno Martha Jr., Geraldo Bueno Martha Jr., Pesquisador da Embrapa Cerrados-CPAC, Planaltina, DF, e-mail: [email protected]

Segundo Martha, em pastagens de baixa produtividade osíndices zootécnicos e econômicos são insuficientes para garantir asustentabilidade da atividade. Essa insustentabilidade tem sidoadicionalmente comprometida nos últimos anos pela conjunturamacroeconômica do País, pela pressão pelo uso da terra exercidapor outras alternativas agrícolas e pela expressiva área de pasta-gens degradadas. Estima-se que 60% a 70% dos 60 milhões dehectares de pastagens cultivadas no Cerrado apresentam-se emalgum grau de degradação.

Disse que, nos moldes atuais de exploração de pastagens,um contingente crescente de fazendas tradicionais se tornaráinviável no curto/médio prazo. Assim, técnicos e pecuaristas pre-cisam internalizar que é necessário elevar a produtividade do“recurso terra” para garantir a rentabilidade do empreendimento,pela diluição dos custos fixos de produção e dos custos deoportunidade do uso do capital, visando a redução do custo médiode produção. Ressalte-se que o aumento da produtividade do“recurso terra” também é interessante pelo prisma ambiental, poispode reduzir a pressão para a abertura de novas áreas de vegetaçãonativa. Além disso, a maior produtividade das pastagens podecontribuir para a melhoria da qualidade do solo e para a redução deeventuais impactos sobre o ciclo hidrológico, enquanto o maiordesempenho por animal pode reduzir a emissão de gases causa-dores do efeito estufa por unidade de produto produzido.

Acrescentou que a pressão econômica imposta aos empre-endimentos de pecuária – e, portanto, a estratégia de intensificaçãoa ser priorizada na fazenda – varia com a região e é fator prepon-derante, interferindo nas metas de produtividade delineadas para osistema de produção. Em razão da baixa fertilidade química da maio-ria dos solos sob pastagens e da exigência em nutrientes das plan-tas forrageiras, na intensificação dos sistemas de produção animalem pastejo deve-se considerar, quase que obrigatoriamente, inves-timentos em fertilidade do solo, pela adubação direta de pastagensou pela adoção da integração lavoura-pecuária. Estas estratégias,por aumentarem a produção e, por vezes, a qualidade da forragem,atuam positivamente sobre os dois determinantes primários daprodutividade animal em pastagens: a taxa de lotação e o desempe-nho por animal.

Comentou que investimentos no componente animal (sa-nidade, suplementação, genética) são indispensáveis para asse-gurar a rentabilidade do empreendimento, porque quanto maior odesempenho animal, menor o tempo para o retorno do capital (menoridade de abate) e, portanto, melhor o fluxo de caixa do empreen-dimento. Contudo, é importante notar que ações voltadas paraaumentar a taxa de lotação das pastagens são mais efetivas emaumentar a escala de produção e a produtividade quando com-paradas à intensificação do desempenho por animal. Outro aspectorelevante é que o aumento da taxa de lotação torna mais líquido opatrimônio, pois parcela crescente dos ativos passa a ser repre-sentada pelos animais, cuja liquidez é substancialmente maior doque a de terra e benfeitorias.

Nesse cenário, constata-se que, apesar de o uso de fertili-zantes ser uma maneira efetiva de repor nutrientes no sistema e,potencialmente, garantir a sustentabilidade do sistema de produção,sua adoção pelos pecuaristas envolve incertezas inerentes aos com-plexos sistemas pastoris, e tal condição explica, em grande parte, ouso limitado desses insumos nos empreendimentos de pecuária.Não se pode esquecer da maior necessidade de capital de giro parapossibilitar o adequado funcionamento de sistemas pastoris adu-bados e de que não basta o projeto ser viável em termos econômi-cos, ele também deve apresentar viabilidade financeira.

Na opção pela intensificação de sistemas pastoris deve-seconsiderar, ainda, o maior tempo de retorno do capital investido napecuária em relação às culturas de grãos e a necessidade de inves-timentos na aquisição de animais e na correspondente infra-estruturanecessária para permitir o manejo eficiente da pastagem e a obtençãode ganhos marginais condizentes com o novo patamar de inves-timentos. Desse modo, o aumento na taxa de lotação resultante douso do fertilizante implica em custos fixos e variáveis adicionaisque precisam ser conhecidos e considerados na análise econômico-financeira da adubação de pastagens.

Segundo Martha, o resultado econômico do uso de fertili-zantes em sistemas pastoris depende do incremento na quantidadede produto no sistema (carne, bezerro, leite), em resposta à aduba-ção, porque a forragem adicional produzida é de difícil valoração e,portanto, o seu valor está associado à sua capacidade em gerardesempenho animal (Figura 17). Assim, o valor da forragem extraproduzida pela adubação depende do perfil de cada sistema deprodução, que reflete o produto animal comercializável (bezerro,garrote, tourinho, arroba do boi gordo, etc.) e o valor correspondentedesse produto no mercado. Adicionalmente, a valoração da forragemproduzida pela adubação diz respeito à época do ano em que essaforragem extra é produzida. A maior produção de forragem pelaadubação, em épocas em que já existe excedente na produção,condição que varia com o perfil de cada fazenda, provavelmente

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 14

não é econômica quando não for acompanhada pelo aumento dataxa de lotação ou quando esse estoque de forragem não puder serutilizado em épocas de escassez de alimentos na propriedade. Só seaumentaria o desperdício de forragem na fazenda.

Finalizou comentando que um outro fator importante deter-minando a limitada adoção de fertilizantes na pecuária é a instável edesfavorável relação de troca insumo-produto. Nos últimos anos, aelevação no preço dos fertilizantes não foi proporcionalmenteacompanhada pela valorização no preço do bezerro e da arroba doboi gordo. Tais relações de troca desfavoráveis podem inviabilizara adoção de tecnologias mais intensivas em capital na pecuária nocurto prazo. Assim, a integração lavoura-pecuária passa a ser alter-nativa interessante para viabilizar a correção da fertilidade do soloem pastagens e para minimizar o risco de oscilações nos preços dosfertilizantes nos empreendimentos pastoris, refletindo um ambientemenos dependente do uso de fertilizantes (efeito residual das adu-bações na cultura de grãos) na fase de pastagem do sistema. Talcaracterística reflete, em particular, a capacidade da planta forra-geira em utilizar, eficientemente, os nutrientes residuais dasadubações praticadas nas áreas de lavouras.

Mostrou que a opção pela adubação de pastagens na inte-gração lavoura-pecuária é mais robusta frente a preços (produto einsumos) e produtividades desfavoráveis e aumenta o retornoeconômico quando as condições agronômicas e econômicas sãofavoráveis, em comparação à adubação nitrogenada em pastosexclusivos.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIO FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIO FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIO FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIO FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIONO SISTEMA SOLO-PLANTANO SISTEMA SOLO-PLANTANO SISTEMA SOLO-PLANTANO SISTEMA SOLO-PLANTANO SISTEMA SOLO-PLANTA � � � � �

Eli Sidney Lopes, Eli Sidney Lopes, Eli Sidney Lopes, Eli Sidney Lopes, Eli Sidney Lopes, Presidente da Associação Nacional de Produ-tores e Importadores de Inoculantes e Gestor de Pesquisa da BioSoja, São Joaquim da Barra, SP, e-mail: [email protected]

Segundo Lopes, a fixação biológica do nitrogênio (FBN) éfeita apenas por microrganismos e por suas associações com algu-mas plantas. Esse processo tem significância ecológica e agronô-mica porque as plantas associadas aos microrganismos fixadorestornam-se praticamente independentes do N do solo, da mesmaforma que os microrganismos. Por ele, o N gasoso é transferido daatmosfera para células microbianas e plantas e posteriormente parao solo. A energia necessária para a FBN provém do sol. As indús-trias de fertilizantes realizam essa mesma transformação, porém, aenergia necessária provém da geração industrial, competitiva comoutras áreas produtivas.

Explicou que existem microrganismos fixadoresde N no grupo das bactérias, algas e actinomicetes,sendo que o mais conhecido é a bactéria rizóbio, quevive em simbiose com as leguminosas.

Disse que o Brasil é o maior produtor e usuáriode inoculantes para leguminosas no mundo e adotoua fixação do N como opção para a nutrição nitrogenadada soja desde o início do seu cultivo. A tecnologia dainoculação da soja com as estirpes de rizóbio atual-mente recomendadas pela pesquisa, quando corre-tamente efetuada, com inoculante de boa qualidade,propicia ganhos médios da ordem de 8%. A economiaque o país faz anualmente com a opção da FBN paranutrição nitrogenada da soja é da ordem de dois bi-

lhões de dólares. Na última década do século XX, os aprimoramen-tos na tecnologia da produção de inoculantes, da inoculação, bemcomo no sistema oficial de controle de qualidade do inoculantepossibilitaram esse grande sucesso, resultado da atividade da pes-quisa no país.

Finalizou dizendo que os resultados recentes de estudossobre FBN em feijão, caupi e outras leguminosas sugerem que osbenefícios serão ampliados com a divulgação dessa tecnologia paraesses cultivos. Resultados de estudos com bactérias diazotróficassugerem que inoculantes para gramíneas poderão também propi-ciar benefícios consideráveis em futuro breve.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: CARBONO, NITROGÊNIO E ENXOFRE NO CARBONO, NITROGÊNIO E ENXOFRE NO CARBONO, NITROGÊNIO E ENXOFRE NO CARBONO, NITROGÊNIO E ENXOFRE NO CARBONO, NITROGÊNIO E ENXOFRE NOSISTEMA SOLO-PLANTA-ATMOSFERASISTEMA SOLO-PLANTA-ATMOSFERASISTEMA SOLO-PLANTA-ATMOSFERASISTEMA SOLO-PLANTA-ATMOSFERASISTEMA SOLO-PLANTA-ATMOSFERA � � � � �Carlos Clemente Cerri, Carlos Clemente Cerri, Carlos Clemente Cerri, Carlos Clemente Cerri, Carlos Clemente Cerri, Pesquisador do CENA/USP, Piracicaba,SP, e-mail: [email protected]

Segundo Cerri, tem sido crescente a preocupação mundialem relação às mudanças do clima no planeta, decorrentes, princi-palmente, das emissões de dióxido de carbono (CO

2) e outros gases

de efeito estufa, tais como o metano (CH4) e o óxido nitroso (N

2O).

.

Estes gases são responsáveis pela manutenção da temperatura mé-dia de 160-180C na terra, promovendo o chamado “efeito estufa”,essencial para a existência da vida no planeta. Estudos revelamque, nos últimos 200 anos, a concentração desses gases na atmos-fera, principalmente de CO

2, tem aumentado, sendo este aumento

mais significativo nas últimas décadas. Uma das principais conse-qüências deste aumento na concentração dos gases da atmosfera éo que podemos chamar “aumento do efeito estufa” ou “efeito estu-fa antrópico” – eleva-se a quantidade dos raios infra-vermelhosrefletidos para a terra, promovendo um desequilíbrio energético.

Comentou que o aumento das emissões destes gases sãodecorrentes da queima de combustíveis fósseis pelas indústrias,meios de transporte, máquinas e o uso da terra para fins agrícolas eas mudanças no uso da terra pelo desmatamento e subseqüentequeima de biomassa. Recentemente, verificou-se que grande partedos gases do efeito estufa são oriundos de atividades agrícolas,principalmente o CH

4 e o N

2O, caracterizando esse setor de produ-

ção como um vilão na questão do efeito estufa. Por outro lado, setécnicas adequadas de manejo do solo forem adotadas, tais como“boas práticas de manejo”, controle da erosão, plantio direto e tam-bém através de reflorestamento/aflorestamento, pode-se remover ocarbono atualmente contido na atmosfera.

Salientou que o solo se constitui em um compartimento-chave no processo de emissão e seqüestro de carbono. Globalmen-te, há duas a três vezes mais carbono nos solos em relação ao

Figura 17. Objetivos do uso de fertilizantes em pastagens.

Aumento da longevidadeda pastagem

Aumento narentabilidade do

negócio

Aumento na flexibilizaçãodo manejo na fazenda

Menor necessidade de arrendamentoLiberação de áreas para outros usos

AUMENTAR A SUSTENTABILIDADE DO NEGÓCIO

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 15

estocado na vegetação e cerca do dobro em comparação com aatmosfera. Portanto, manejos inadequados podem mineralizar amatéria orgânica e transferir grandes quantidades de gases do efei-to estufa para a atmosfera. É importante salientar a diferença entrebalanço e seqüestro de carbono no solo. O primeiro está mais restri-to a diferença de estoques de carbono entre dois manejos ou siste-mas agrícolas. O segundo, mais amplo, envolve a diferença de esto-ques, mas também as variações nas emissões de CH

4 e N

2O, uma

vez que o comportamento do CO2 está embutido na diferença dos

estoques de carbono do solo. As diferenças entre estoques no soloe fluxo de gases são normalmente expressas na unidade “equiva-lente em Carbono”, onde leva-se em consideração o potencial deaquecimento global dos gases envolvidos.

Disse que o uso agrícola do solo com técnicas convencio-nais de cultivo, incluindo arações e gradagens, tem sido apontadocomo uma das principais causas das emissões de gases do efeitoestufa para a atmosfera, potencializando o aquecimento global, cujasconseqüências adversas podem influenciar a própria produtivida-de agrícola. Mais recentemente, a adoção de sistemas de manejoconservacionistas, como o sistema de plantio direto na palha, temmodificado esse paradigma. Resultados de pesquisas mostram queessas práticas podem reduzir as emissões de gases para a atmosfe-ra e incorporar e armazenar carbono no solo, o qual encontrava-seanteriormente na atmosfera sob a forma de CO

2.

Dessa forma, os sistemas conservacionistas de manejo, alémde diminuir os custos de produção sem alterar a produtividade, têmtambém a função de mitigar as mudanças climáticas globais. Toda-via, apesar do claro benefício ambiental que elas produzem, estasainda não são reconhecidas para requerer créditos de carbono noâmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo estabelecido noProtocolo de Quioto. É preciso, então, ações políticas imediataspara fazer com que essa redução de emissão de gases, e o seqües-tro de carbono pelo solo devido ao sistema plantio direto, sejamreconhecidos como atividades elegíveis para o período pós-Quioto,que terá início em 2013.

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTES MANEJO DE FERTILIZANTESNITROGENADOS E SULFATADOS EM PASTAGENSNITROGENADOS E SULFATADOS EM PASTAGENSNITROGENADOS E SULFATADOS EM PASTAGENSNITROGENADOS E SULFATADOS EM PASTAGENSNITROGENADOS E SULFATADOS EM PASTAGENS � � � � �Moacyr Corsi, Moacyr Corsi, Moacyr Corsi, Moacyr Corsi, Moacyr Corsi, Professor do Departamento de Zootecnia, EscolaSuperior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, SP, e-mail:[email protected]

Segundo professor Corsi, as tecnologias de adubação emsistemas de produção de pastagens serão cada vez mais adotadaspelos produtores visando melhorar a sua eficiência econômica. Oequilíbrio do nitrogênio (N) e do enxofre (S) nas adubações podemudar a ótica do negócio da pecuária ao promover a exploraçãointensificada da pastagem e do animal, inserindo a atividade em umsistema sustentável e reduzindo a agressão ao ambiente.

Devido à dinâmica do ciclo do N no solo, a recomendaçãode adubação com base na sua quantificação no solo não é viável,porque a quantidade de N fornecida é variável, dependente da rela-ção C/N dos resíduos culturais, da imobilização por microrganis-mos, etc. Assim, a adubação deve ser feita de acordo com a produ-ção almejada, considerando as condições de resposta da pastagem.

Comentou que, atualmente, a despeito da excepcional res-posta das pastagens ao nitrogênio (N), o uso de adubações nitro-genadas é insignificante. Entre o ano de 1994 e 2002, por exemplo,as pastagens brasileiras receberam, em média, apenas 4 kg ha-1 deNPK, enquanto a cana-de-açúcar recebeu cerca de 100 vezes mais(Figura 18).

Resultados de pesquisa demonstram alta resposta das pas-tagens à adubação nitrogenada. A produtividade cresce linear-mente com aplicações de até pelo menos 400 a 600 kg ha-1 de N,justificando a realização de adubações mais pesadas em área redu-zida em detrimento de adubações com doses menores em área maisextensa, uma vez que áreas menores exigem menor investimento eminfra-estrutura e facilitam o gerenciamento.

Salientou que, de maneira geral, para cada nível de manejoda pastagem, existe uma meta diferente de fertilidade do solo a sertrabalhada. Assim, em pastagens tropicais sob diferentes intensi-dades de pastejo, a quantidade de N que permanece no sistema émenor quando o manejo é mais severo, e o sistema pode ficar insus-tentável se as quantidades de N removidas não forem repostas poradubação.

Comentou que a baixa eficiência da adubação nitrogenadaobservada no primeiro ano de recuperação de pastagens degrada-das pode ser explicada pelas condições de estresse fisiológico econseqüente despreparo estrutural das plantas nessa situação.Resultados de dois anos de pesquisa na recuperação de uma pasta-gem de Brachiaria brizantha mostram que não houve diferençapara adubações com 70 kg, 140 kg ou 210 kg de N no primeiro ano,enquanto no segundo ano a adubação nitrogenada gerou diferen-ças na produtividade de matéria seca. Disse que é preciso equilibraros macro e micronutrientes para intensificar a formação de perfilhose a elongação foliar e aprofundar o sistema radicular.

Segundo ele, devido à forte interdependência do N e do Snos processos vitais da planta (fotossíntese, respiração, síntese deproteínas, etc.), a deficiência de qualquer um dos dois elementosprovoca consumo de luxo do outro e o desequilíbrio faz com que ooutro elemento não seja aproveitado para a produção. Assim, oexcesso de N, ou a deficiência de S, prejudica a síntese de proteína,reduz a produtividade da gramínea e provoca acúmulo de nitrogê-nio não protéico (NNP), favorecendo o aparecimento de pragas ereduzindo a qualidade da pastagem, o que pode causar redução nodesempenho dos animais. Já o excesso de S reduz a absorção demolibdênio (Mo), cobre e selênio; esta deficiência de Mo induzidapelo excesso de S causa acúmulo de nitrato (NO

3-), que reduz a

qualidade e a produtividade da forrageira por limitar a síntese deproteínas.

Disse que o metabolismo de N demanda S e a relação N:S naparte aérea das plantas é uma das formas mais sugeridas para adiagnose da deficiência de S. Em geral, a adição de 1 parte de S paracada 15 a 17 partes de N maximiza a utilização do N na adubação.

Figura 18. Consumo de fertilizantes por cultura.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 114 – JUNHO/2006 16

Palestra:Palestra:Palestra:Palestra:Palestra: FORMAS ALTERNATIVAS DE OBTENÇÃO FORMAS ALTERNATIVAS DE OBTENÇÃO FORMAS ALTERNATIVAS DE OBTENÇÃO FORMAS ALTERNATIVAS DE OBTENÇÃO FORMAS ALTERNATIVAS DE OBTENÇÃOE UTILIZAÇÃO DO NITROGÊNIO E DO ENXOFRE:E UTILIZAÇÃO DO NITROGÊNIO E DO ENXOFRE:E UTILIZAÇÃO DO NITROGÊNIO E DO ENXOFRE:E UTILIZAÇÃO DO NITROGÊNIO E DO ENXOFRE:E UTILIZAÇÃO DO NITROGÊNIO E DO ENXOFRE:UMA VISÃO HOLÍSTICAUMA VISÃO HOLÍSTICAUMA VISÃO HOLÍSTICAUMA VISÃO HOLÍSTICAUMA VISÃO HOLÍSTICA � � � � �Godofredo Cesar Vitti, Godofredo Cesar Vitti, Godofredo Cesar Vitti, Godofredo Cesar Vitti, Godofredo Cesar Vitti, Professor do Departamento de Solos eNutrição de Plantas, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz,Piracicaba, SP, e-mail: [email protected]

De acordo com Vitti, o nitrogênio (N) e o enxofre (S) cami-nham juntos na nutrição vegetal, fazendo parte de proteínas, sendoque o S é constituinte de quatro aminoácidos – metionina, cistina,cisteína e taurina –, os dois primeiros essenciais e, portanto, funda-mentais para a adequada nutrição humana e animal. Além disso, oenxofre está envolvido diretamente na fixação biológica do N

2

atmosférico através de sua participação na ferrodoxina, enzima queorigina a formação de H

2, fundamental para a síntese da amônia

através da seguinte reação simplificada:

N2 + 3H

2 2NH

3

Assim sendo, é fundamental a adubação balanceada com Ne S para obtenção de produção e qualidade de proteínas e de outrascaracterísticas desejáveis nos alimentos, como sabor, coloração,palatabilidade e odor.

Explicou que, dentre os nutrientes, o N é o de obtenção maiscara, sendo o ar atmosférico sua principal fonte. Ocorre na formainerte de N

2, necessitando a “quebra” da ligação trivalente e sua

combinação com o gás hidrogênio (H2), fonte mais barata, para a

formação de amônia (NH3). O custo energético dessa reação é mui-

to grande – 42 milhões de Btu (10.584.000 Kcal) por tonelada de NH3

produzida –, e envolve altas temperaturas e pressão e presença decatalisadores, conforme esquema abaixo apresentado:

N2 N N

225,8 Kcal/mol

N2

+ 3H2

2NH3

400 ºC

Ar Combustíveis 300 ATM Amôniafósseis

Assim, comparando-se a obtenção dos três macronutrientesprimários, tem-se o seguinte gasto energético para obtenção de 1 kgdos mesmos: 16.800 Kcal para N, 3.040 Kcal para P

2O

5 e 2.100 Kcal

para K2O.

Quanto às fontes de H2, Vitti disse que, tradicionalmente, as

que envolvem combustíveis fósseis são: gás natural, petróleo (gásresidual, nafta e resíduo asfáltico) e carvão mineral, apresentandocusto crescente de energia na seguinte ordem, respectivamente:7,0 Gcal, 7,3 Gcal, 7,6 Gcal, 8,5 Gcal e 9,8 Gcal, para produção de1 tonelada de NH

3. Essas fontes, além de causarem contaminação

ambiental, também são reservas finitas, estimadas em duração rela-tiva de 41 anos, para o petróleo, e de 67 anos, para o gás natural.Além disso, 78% das fontes de petróleo estão concentradas empaíses da OPEP, tendo o custo do barril aumentado em 505% (85%entre 2004 e 2005), atingindo, hoje, com a crise no Oriente Médio, ocusto de US$ 78,00/barril.

Deste modo, cresce a busca por novas fontes de H2 (nova

matriz energética) a partir de fontes renováveis, como a biomassamoderna (álcool da cana-de-açúcar, metanol da madeira, biodiesel)e mesmo hidroelétricas (água), que, além da independência do mer-

cado externo, são fontes mais baratas, renováveis, muito menospoluidoras do ambiente, e o Brasil é o principal líder no mercadointernacional da agricultura de energia, bastando lembrar que, com-parativamente com o mundo, que utiliza 1,7% de biomassa modernae 2,2% de hidroelétrica, tem participação hoje, respectivamente, em23,0% e 14,0% da composição da matriz energética, conforme aTabela 1.

Vitti acrescentou que, além da procura por fontes alternati-vas de H

2, é importante potencializar e viabilizar outras fontes de N,

como cloreto e bicarbonato de amônio e misturas de fontes nitro-genadas, em especial com a uréia, para diminuir as perdas porvolatilização, como: uréia + sulfato de amônio (32-00-00-12); uréia +enxofre elementar (10 a 30% de S); misturas de sulfato de amôniocom nitrato de amônio, como sulfonitrato de amônio (75% NA +25% SA, 32-00-00-06), nitrosulfato de amônio (50% NA + 50% SA,26-00-00-12); e fertilizantes de liberação lenta e controlada.

Além da fixação industrial do N2, também é importante

potencializar a fixação biológica, a qual tem uma contribuição de1,72 x 107 t de N, abrangendo a fixação simbiótica principalmente(leguminosas x Bradyrhizobium), a das poaceas (Azospirilum,Acetobacter, Beijerinckia, Azotobacter), a fixação por algas azuis-verdes, bem como a fixação orgânica (adubos orgânicos).

Quanto ao S, Vitti recomenda utilizar esse nutriente regu-larmente no programa de adubação, procurando atender a relaçãoN/S adequada através de fontes tradicionais como:

• Fertilizantes nitrogenados (sulfato de amônio, 24% de S),misturas nitrogenadas com sulfato de amônio;

• Fertilizantes fosfatados (superfosfato simples, 12% de S;multifosfato magnesiano, 6 a 13% de S; termofosfato magnesiano,0 a 6% de S);

• Gesso agrícola (15 a 17% de S);

• Fertilizantes potássicos: sulfato de potássio (18% de S),sulfato de potássio e magnésio (22% de S);

• Fertilizantes magnesianos: kieserita (20% de S), epsomita(13% de S);

• Enxofre elementar (> 85% de S);

• Tiosulfato de amônio (26% de S);

• Calcário dolomítico + gesso agrícola (5,0% de S) e

• Resíduos orgânicos (por exemplo: vinhaça da cana-de-açúcar).

nitrogenase

Tabela 1. Composição da matriz energética.

Fonte Mundo Brasil

- - - - - - - - (%) - - - - - - - -

Petróleo 35,3 43,1

Carvão mineral 23,2 6,0

Gás natural 21,1 7,5

Biomassa tradicional 9,5 8,5

Nuclear 6,5 1,8

Hidroelétrica 2,2 14,0

Biomassa moderna 1,7 23,0

Outras renováveis 0,5 0,1

Fonte: IEA (mundo) e MME (Brasil).