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Junho/2011 Vida Judiciária Nº 157 - Junho 2011 - 7,50€ ENTREVISTA Bagão Félix “Reduzir a TSU sem rever o Código Contributivo não faz sentido” ANÁLISE RNCAI – Arbitragem Institucionalizada Nacional MARCAS Concorrência desleal EM FOCO Intervenção da “troika” na área da Justiça ILMAI cria bolsa de árbitros e mediadores Futuro Tribunal Arbitral da CPLP arranca em 2013

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Nº 157 - Junho 2011 - 7,50€

ENTREVISTA Bagão Félix

“Reduzir a TSU sem rever o Código Contributivo não faz sentido”

ANálISERNCAI – Arbitragem Institucionalizada Nacional

MARCASConcorrência desleal

EM foCo Intervenção da “troika” na área da Justiça

ILMAI cria bolsa de árbitros e mediadoresFuturo Tribunal Arbitral da CPLP arranca em 2013

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editorial VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 1

Um imposto contra o empregoPor: João luís Peixoto de Sousa

A diminuição da Taxa Social Única está prevista no memorando de entendimento assinado com a Troika, mas a medida não é consensual nem quanto ao princípio nem quanto ao valor.

Na entrevista concedida à “Vida Judiciária”, o dr. Bagão Félix - ex-minis-tro no Governo de Durão Barroso que teve a iniciativa de criar o Código do Trabalho - admite que a TSU é um imposto contra o emprego. Mas tem dúvidas quanto à eficácia efectiva e à viabilidade da diminuição da TSU. Se for uma redução pequena tem pouco impacto sobre os custos das empresas. Se for uma diminuição significativa provoca um vazio de receitas, numa altura em que o Estado vive no desespero da falta de recursos para fazer face à despesa.Com ou sem consenso interno, a TSU terá que baixar, com a redução substancial prevista no acordo.Enquanto que o Código Contributivo apontava para um aumento das receitas da TSU, através do alargamento da base contributiva e da tributação agravada dos contratos a prazo, a Troika pretende o alívio dos encargos sociais sobre as empresas para fomentar a criação de emprego e também para favorecer o aumento das receitas da Segu-rança Social pela expansão da actividade económica.Outra mudança importante em perspectiva é a redução dos custos de despedimento e a sua aproximação à média europeia. Culturalmente, os empresários, os trabalhadores, os sindicatos e os governantes estão habituados a um regime superprotector que contraria a liberdade contratual e as regras normais nas outras economias. No imediato, a mudança será apenas para os novos contratos de trabalho. Mas, o acordo prevê o alargamento do novo regime a todos os empregados criando uma expectativa de menor protecção.Esta evolução não tem que ser necessariamente negativa para a maioria dos trabalhadores, podendo significar mais oportunidades de emprego e de evolução nas carreiras, porque o risco das empresas associado à contratação e à promoção das pessoas diminui.O receio em relação â mudança é legítimo. Mas, se pouco ou nada mudar e insistirmos nas regras e princípios do passado, corremos o sério risco de ficarmos parados no tempo, e de sermos ultrapassados por aqueles que compreendem e acompanham as mudanças.

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Periodicidade: mensal

Nº 157 Junho 2011REVISTA MENSAL

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SUmárioVIDA JUDICIÁRIA - Junho 20112

11 Em Foco ILMAI cria bolsa de árbitros e mediadores da CPLP

Intervenção da “troika” na área da Justiça

18 Actualidades Informações jurídicas

24 Registos & Notariado Contrato de doação de terreno com reserva de usufruto

26 Análise RNCAI - Arbitragem Institucionalizada Nacional

27 Marcas & Patentes Concorrência desleal

34 Jurisprudência

Resumos de Jurisprudência Jurisprudência do STJ e das Relações Sumários do STJ

62 Legislação Principal legislação publicada 1ª e 2ª séries do Diário da República

António Bagão Félix, ex-ministro do Trabalho e das Finanças, avisa

“reduzir a tSU sem rever o Código Contributivo não faz sentido”

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António Bagão Félix, ex-ministro do Trabalho e das Finanças, avisa

“reduzir a tSU sem rever o Código Contributivo não faz sentido”

TERESA SILVEIRA

[email protected]

“Há uma medida [no Código Contributivo] que foi adiada para 1 de Janeiro de 2012 e que é absolutamente crucial que não seja tomada”, tendo em conta o teor do acordo assinado com a ‘troika’ internacional (FMI, BCE e CE) e o propósito já assumido no programa do Governo de reduzir a Taxa Social Única (TSU) para as empresas. A medida é o aumento da TSU, também a cargo das entidades patronais, em 3% nos novos contratos a termo a celebrar.

O alerta parte do ex-ministro do Traba-lho e das Finanças, António Bagão Félix, que, em entrevista à “Vida Judiciária”, considera “um disparate” que o Estado “tire, por um lado, e dê, por outro”, no que aos benefícios às empresas diz respeito. Lamenta, aliás, que as auto-ridades estrangeiras que negociaram com Portugal as medidas constantes do acordo tenham analisado algumas matérias “pela rama”.Reconhecendo, mesmo assim, que o trabalho realizado pelas autoridades portuguesas e estrangeiras e o das pes-soas que foram ouvidas foi “notável”,

Bagão Félix aponta falhas. “Eu admito que os senhores da ‘troika’ internacio-nal que vieram aqui negociar não sai-bam que, no próximo ano, se nada se fizer, aumenta a TSU em 3% a cargo das entidades empregadoras para os con-tratos a termo, pois eles só souberam o que o interlocutor nacional lhes disse”, aponta o ex-ministro. Mas, mesmo “não havendo muito tempo”, deviam ter sido “ouvidas outras pessoas que sabem da matéria”. E “não foram”.

vida Judiciária – o senhor foi mi-nistro do trabalho e foi sob a sua tutela que se publicou em Portugal o primeiro Código do trabalho (lei 99/2003, de 27 de agosto). Porém, aquando da revisão do diploma e da publicação do actual Código (lei 7/2009, de 12 de Fevereiro), vi-o incomodado com aquela revisão. revisão por que terá de se passar de novo, dadas as imposições da ‘troika’ em matéria laboral e o acordo assi-nado com o Governo. Porquê esse incómodo?antónio Bagão Félix – Não tenho in-cómodo nenhum em relação à revisão. Posso ter em relação às matérias que são revistas. Quanto à revisão, acho correctíssimo, até porque se há legisla-ção que tem de se adaptar permanen-temente às novas realidades e desafios é a legislação laboral. Não pode ser uma peça de museu, arqueológica,

fixista, imobilista. Nesse aspecto, estou completamente aberto à ventilação e à renovação. Agora, o que eu muitas vezes procuro transmitir é que, se há – e há – matérias a melhorar e a rever no Código do Trabalho, normalmente não são aquelas que estão mais em cima da mesa.

vJ – Quer dar alguns exemplos?aBF – Olhe, a questão dos despedi-mentos. Não creio que seja a questão fulcral da rigidez do mercado de traba-lho. A rigidez do mercado de trabalho está mais na falência das convenções colectivas ou no seu pouco sucesso, está mais ao nível da mobilidade fun-cional, da mobilidade da contratação, isto é, nós não precisamos de flexibili-zar os despedimentos; precisamos é de flexibilizar a contratação das pessoas, que é exactamente o contrário.

vJ – mas justamente uma das medi-das acordadas com a ‘troika’ vai no sentido de, até dezembro de 2011, fazer ajustamentos aos despedimen-tos individuais. isso implicará uma revisão da Constituição?aBF – Não necessariamente. O que o acordo da ‘troika’ diz, se a memória não me atraiçoa, é quanto à possibilidade de despedimentos por inadaptação. Ou seja, hoje o despedimento por inadaptação é sobretudo por motivos de natureza tecnológica e agora passa

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“O conceito de despedimento por inadaptação é muito vago e pode levar a uma espécie de despedimento por justa causa forçada, entre aspas. Dependerá do modo como o legislador plasmar isto na lei”, considera António Bagão Félix.

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a ser por inadaptação e ponto final parágrafo. Isso significa que depende do modo como o legislador vier a fazer esta alteração. Actualmente, há a pos-sibilidade do despedimento individual por inadaptação por razões tecnológi-cas e a ideia do acordo com a ‘troika’ é retirar a expressão “razões tecnoló-gicas”. O conceito de despedimento por inadaptação é muito vago e pode levar a uma espécie de despedimento por justa causa forçada, entre aspas. Dependerá do modo como o legislador plasmar isto na lei. Se o plasmar de uma tal maneira que dá para tudo, então, nessa altura, estaremos perante uma situação de despedimento sem justa causa, embora encapotado de justa causa por inadaptação.

vJ – e esta mudança legislativa pode

ser feita sem rever a Constituição?aBF – Se for feita com alguma cautela, acho que sim, embora aí o Tribunal Constitucional deva ser chamado a intervir e a analisar.

vJ – Podem-se fazer perigar algumas garantias dos trabalhadores?aBF – Sim, claro. Actualmente o Código do Trabalho prevê que esta situação [despedimento por inadap-tação] só obedece a duas causas: ou a introdução de novas tecnologias – e aqui cai essa hipótese – ou não haver alternativa para esse mesmo trabalha-dor noutra área da empresa – e essa também cai. Ora, caindo estas duas, estamos perante uma situação de uma causa tão genérica que torna o despedimento praticamente livre. Eu não sou jurista, mas acho que isso vai,

naturalmente, provocar problemas de constitucionalidade e vai ser muito discutido, certamente. Esta é uma das questões... sinceramente acho que com tantos problemas que o país tem à frente…

vJ – tocar nesta questão não era essencial?aBF – … enquistarmos nisto, desperdi-çarmos energias, debatermos, também com os parceiros sociais, acho que… repare bem que, neste momento, te-mos 700 mil desempregados e não é por causa da lei dos despedimentos.

vJ – em termos de contribuir para a competitividade das empresas –, não é por aí que devemos caminhar, é isso?aBF - … admito que, nalguns secto-res e nalgumas empresas, isso possa

“Não creio que a questão dos despedimentos seja a questão fulcral da rigidez do mercado de trabalho, que está mais na falência das convenções colectivas ou no seu pouco sucesso, mais ao nível da mobilidade funcional, da mobilidade da contratação”

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ter algum resultado, mas a legislação laboral é um misto de objectivos económicos com razões de equidade social. Se, a certa altura, no mercado de trabalho é possível tudo, então eu pergunto: por que é que há legislação laboral? A legislação laboral existe porque há uma parte forte e uma parte fraca na relação contratual e justamente para equilibrar os dois pratos da balança é que existe o Direito do Trabalho. Ora, se a acerta altura se entra numa situação de tal maneira vaga que dá para tudo, evidentemente que os benefícios são inferiores aos inconvenientes e male-fícios que daí possam advir. Não tenho dúvidas sobre isso. Não me parece que essa seja a questão essencial.

vJ – vamos, então, ao essencial e pegando na questão que focou, a da contratação colectiva. Que mudan-ças deveria haver nessa área?aBF – Aqui estão previstas algumas medidas, relacionadas com a sobrevi-gência das convenções colectivas que, de facto, são uma espécie de batota. É batota ao contrário, neste caso, em que muda alguma coisa para que tudo fique na mesma, para usar a velha frase do Tomasi di Lampedusa. E reduzindo as possibilidades de a contratação colectiva ser regulada por inércia – porque, de algum modo, o que é im-portante é que ela seja limitada para não subsistir apenas por inércia (ponto um) e estar prevista a possibilidade de substituir convenções colectivas por contratos individuais ‘tout court’ (ponto dois) – é um ponto importante. Esse, sim, é importante. Ou seja, as convenções colectivas têm de provar que são úteis para os traba-lhadores, para os sectores e para o país. Se não o provarem, então têm de ser penalizadas com o aumento da contra-tação individual. Parece-me um desafio.

vJ – e como é que se faz a prova? Como é que se conclui que certa convenção colectiva não é útil?

aBF – Actualmente, já há regras de sobrevigência e de aplicação no tempo das convenções colectivas. E, a certa altura, verdadeiramente nada muda. E ou se fazem convenções colec-tivas novas… repare: ainda há muita contratação colectiva que resulta do PREC [Processo Revolucionário em Curso] e dos tempos a seguir e que está completamente desadaptada face aos desafios de hoje. E… é vida nova. A ideia da contratação colectiva é: ou isto é bom e não morre ou, então, morre e começa outra coisa. Nós não

podemos estar a discutir a legislação laboral individual – e a primeira per-gunta que me fez foi nesse sentido, ou seja, se eu sou favorável à mudança e à adaptação constante e eu sou – e, de-pois, nas relações colectivas onde, de facto, é fundamental haver a vontade de ambas as partes, estarmos perante peças de museu e peças de arqueolo-gia sindical e laboral. Uma coisa tem de jogar com a outra, compreende?

vJ – e parece-lhe que os princípios do acordo assinado com a ‘troika’ vão nesse sentido?aBF – Sim, vão. Há aqui prazos que vão claramente nesse sentido. E é ne-cessário que se faça, embora tenha de se fazer com cuidado e com equidade. Mas tem de ser feito.

vJ – e que outras medidas cons-

tantes do documento lhe merecem relevância?aFB – Há, por exemplo, a questão das horas extraordinárias, que vão ser remuneradas a valores inferiores. Eu percebo-a e não tenho grande coisa a objectar, mas num tempo de pleno em-prego, que é uma forma de reduzir os custos unitários das empresas. Agora, parece-me que numa situação, como a que estamos, de elevada taxa de de-semprego, diminuir o custo das horas extraordinárias é ainda desestimular mais a contratação de trabalhadores.

vJ – Por que é que diz isso?aBF – Veja: se o empresário vê que se os trabalhadores trabalharem mais uma ou duas horas recebem menos do que recebiam antes, então ele prefere isso a estar a contratar pessoas. É, pa-radoxalmente, e neste momento, um instrumento contra a redução da taxa de desemprego. Vejo a medida com bons olhos em termos gerais, mas não em termos da conjuntura.

vJ – o que pensa da intenção do Governo e que já tinha sido assinado com a ‘troika’, de reduzir a taxa social única (tSU) para as empresas? Fala--se em 4%, de imediato ou faseada, com o consequente ajustamento das taxas de iva.aBF – No plano académico, teórico, reduzir a TSU a cargo do empregador é uma forma de aumentar a nossa

“A legislação laboral existe porque há uma parte forte e uma parte fraca na relação contratual e é justamente para equilibrar que existe o Direito do Trabalho. Ora, se a acerta altura se entra numa situação de tal maneira vaga que dá para tudo, os benefícios são inferiores aos inconvenientes e malefícios”

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competitividade pela via da redução dos custos unitários do trabalho. Temos de ver os prós e os inconvenientes.

vJ – Que comparação é possível fa-zer, nesta matéria, com outros países europeus?aBF – Há países onde não é compa-rável. A Dinamarca, por exemplo, não tem TSU. É tudo através de impostos. As comparações não são fáceis, porque os sistemas de segurança social são muito diferentes. Mas vejamos o caso concreto aqui. Reduzir a TSU em 4% signifi ca 1600 milhões de euros por ano. No entanto, como os custos laborais, em média, não excedem os 30% - penso que até

são inferiores – do custo total dos produtos dos bens e serviços (falamos dos chamados custos laborais, ou seja, salários mais TSU), uma redução em 4% da TSU signifi ca 4% sobre 30, o que dá 1,2. Quer dizer, a redução no preço fi nal dos produtos, no máximo, é de 1%. E, no entanto, são 1600 milhões. Que têm de ser substituídos.

vJ – Como é que podem ser substi-tuídos?aBF – Bem, pode haver um ‘mix’ de aumento do IVA, mas o aumento de 2%, que anda à volta de 1000 milhões de euros, não chega. Tem de se ir, pro-vavelmente, aumentar impostos espe-cífi cos do consumo, tem de se reduzir

despesas, enfi m… não é fácil. E depois ainda há alguns aspectos que devem ser tomados em conta. É que, ao mes-mo tempo que este acordo prevê uma redução substancial da TSU, aumenta o IVA sobre a electricidade e o imposto específi co sobre a energia, quando nós sabemos que a energia, em alguns ca-sos, tem uma incorporação nos custos maior até que os custos laborais. E, ao mesmo tempo que se quer reduzir a TSU, este acordo aceita aquilo que, aliás, foi defi nido pelo anterior Governo, que é um fundo para despedimentos, que em 50% é fi nanciado pela TSU ainda que com outro nome, mas que é uma percentagem sobre os salários. Ou seja, tira-se de um lado e põe-se por outro.

“Esta redução da TSU tem de se aplicar a todas as empresas de bens transaccionáveis e de bens não transaccionáveis, por razões técnicas e até por razões constitucionais. Não pode haver medidas que discriminem em função da natureza exportadora”, avisa o ex-ministro Bagão Félix.

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E ainda há um terceiro aspecto que também é importante analisar: esta redução que é relativamente reduzida do custo final dos produtos. Vamos supor que vai ter algum impacto nas nossas exportações e nos nossos bens transaccionáveis.

vJ – mas esse é o intuito.aBF – Sim, esse é o intuito. Simples-mente, esta redução tem de se aplicar a todas as empresas de bens transaccio-náveis e de bens não transaccionáveis, por razões técnicas e até por razões constitucionais. Não pode haver me-didas que discriminem em função da natureza exportadora.

vJ – Não pode haver?aBF – Não. É inconstitucional, além de que, tecnicamente, é impossível, por-que as empresas de bens transaccioná-veis não são só as que exportam, são as que produzem cá dentro evitando importações.

vJ – mas a discussão em torno da redução da tSU tem assentado no pressuposto de que só seria aplicada às empresas exportadoras.aBF – Não, essa é uma ideia peregrina, tecnicamente peregrina. Sabe porquê? Vou-lhe explicar com uma simples afir-mação. Vamos supor que era só para as empresa de bens transaccionáveis. Quais são as empresas de bens transac-cionáveis? São as que exportam? E as que exportam com que percentagem? Mas pior do que isso. Também são em-presas de bens transaccionáveis as que produzem no mercado interno com isso evitando importações. E como é que se sabe que uma empresa no mercado interno evita importações? Como é que isto é escrutinável? Bem, entrávamos num processo… uma coisa é definir um bem transaccionável; outra coisa é definir uma empresa de bens transac-cionáveis. É completamente diferente.

vJ – essa redução da tSU deverá, então, ser para todas ou não será para nenhuma?

aBF – Pois, e, sendo para todas, acaba por beneficiar empresas em mercados muito imperfeitos, sujeitos a pouca concorrência, em que essa redução não se reflecte nos preços, reduzindo-os, mas reflecte-se no aumento dos lucros das empresas. E, portanto, o que é que acontece? Aconteceria uma migração de menos esforço fiscal para apropriação de empresas [que operam] em mercados imperfeitos. E com isto concluo da mesma maneira que come-cei: é uma ideia muito interessante, que pode eventualmente ser desenvolvida, mas que tem de se ter muito cuidado

ao desenvolvê-la, sob pena de ser um tiro pela culatra, uma coisa que pode correr mal.

vJ – a verdade é que o acordo foi assinado com a ‘troika’ e estamos confrontados com a necessidade de o implementar. Como é que se dá a volta à situação?aBF – Certo, certo, mas esse é um problema dos negociadores. Eu estou a analisar uma coisa que me foi posta à frente. Eu, se fizesse parte de uma negociação dessas, poria essas ques-tões todas. E ainda mais. Sobre isto teria muito mais a dizer. Estaríamos aqui uma hora seguramente, porque há mais aspectos a considerar. Quer que lhe diga outro? Esta medida pode provocar alguma iniquidade fiscal, porque, se diminui a TSU a cargo das

empresas, nalguns casos aumentando até os seus lucros porque não estão sujeitas a mercados de pressão, au-mentando o IVA, está a dizer assim à sociedade: ‘diminui um imposto sobre um conjunto de rendimentos e para o substituir vou buscar um imposto cego, injusto, que abrange ricos e pobres, remediados, altos, baixos, gordos, etc, que é o IVA’. Isto é, para beneficiar um sector vou buscar impostos onde o pão, os sapatos, etc são todos abran-gidos. Como sabe, o IVA é um imposto socialmente regressivo, porque acaba por implicar mais custo fiscal nas clas-

ses mais pobres. Portanto, como vê, este é um problema…

vJ – Complicado de resolver? mas não haverá muita margem para fugir disto, pois não?aBF – Complicado… pois não. É uma bota para descalçar. Provavelmente isto vai ficar com uma pequena redu-ção, mas, aí, volto àquela expressão do Lampedusa que é mudar alguma coisa para ficar tudo na mesma. E podemos correr mesmo esse risco, o que não é propriamente muito bom.Em todo o caso, e que fique bem claro nesta entrevista, eu sou favorável à diminuição da TSU. Até por uma razão fundamental que nem é esta: é que a TSU a cargo do empregador discrimina contra a contratação, isto é, contra as empresas de mão-de-obra intensiva.

“Se o empresário perceber que se os trabalhadores trabalharem mais uma ou duas horas recebem menos do que recebiam antes, então ele prefere isso a estar a contratar pessoas. É, paradoxalmente, e neste momento, um instrumento contra a redução da taxa de desemprego”

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Porquê? Imagine que somos ambos em-presários e que, para atingir o mesmo ‘output’, eu tomo uma opção: ou admi-timos uma pessoa ou compramos uma máquina que faz o mesmo. Bem, sobre a pessoa tem 23,75% de encargos [TSU]; sobre a máquina não tem. Portanto, a TSU a cargo da entidade empregadora é um imposto contra o emprego, contra a contratação, independentemente de ser para a exportação ou não. Portanto, no plano teórico, é indiscutível, agora o nosso sistema fiscal já está de tal maneira sob pressão – é uma panela de pressão – que retirar receitas aqui, onde é que se vão buscar? Eu há tempos vi uma coisa do Fórum para a Competitividade a dizer que a redução da TSU devia ser de 20 pontos percentuais e o próprio Paul Thomp-son, do FMI, diz que devia ser de três a quatro por cento do PIB. Ora, faça as contas: 20% da TSU são cerca de seis mil milhões de euros. Seis mil milhões de euros são cerca de 12% do IVA. Tinha de se aumentar o IVA de 23% para 35%. É possível? Bem, é muito bonito falar, dizer uns palpites muito interessantes, mas, depois, tem de se ver o conjunto. E aqui é que está a grande dificuldade.

vJ – Uma tarefa muito complicada para o ministro das Finanças.aBF – Sem dúvida, sem dúvida.

vJ – No meio disto tudo, temos o pro-blema do Código Contributivo, que foi revisto para entrar parcialmente em vigor em 2011. vai ser necessário revê-lo de novo?aBF – Estamos a falar num momento em que eu não sei, mas eu espero que isso seja contemplado, porque, além de ser necessário limar algumas injustiças rela-tivas – foram prejudicados, por exemplo, sectores que não estão representados na concertação social, como as IPSS [instituições particulares e solidarieda-de social], as famílias, as empregadas domésticas, etc, etc e que foram as que apanharam mais pancada –, há uma medida que foi adiada para 1 de Janeiro do próximo ano que é absolutamente

crucial que não seja tomada. É aumentar a TSU em 3% a cargo da entidade em-pregadora para os contratos a termo. Lá está: por um lado tira-se; por outro lado põe-se. Não faz sentido nenhum.Nós estamos perante uma situação em que há três medidas. Repare bem. Uma que é reduzir a TSU em 4%; outra que é aumentar a TSU para financiar em 50% aquele fundo para despedimentos, que é um anacronismo; a outra – se forem respeitadas as datas que estão no Có-digo Contributivo – que é aumentar a TSU em 3% nos contratos a termo, que é a única maneira, goste-se ou não se goste, de criar emprego. Ouça, isto é um disparate. É um disparate.

vJ – Poder-se-á concluir que a análi-se que foi feita à situação económica de Portugal e à legislação vigente e que precedeu a redacção do docu-mento assinado entre o Governo e a ‘troika’ pode não ter sido bem feita?aBF – Ouça: isto é um trabalho notável das autoridades portuguesas e tam-bém, naturalmente, das autoridades estrangeiras e das pessoas que foram ouvidas, mas há aqui sectores onde isto é tudo pela rama. E este é um deles. Acho que deveriam ter sido ouvidas outras pessoas, que sabem da matéria. E não foram.

vJ – estas implicações de natureza fiscal não foram estudadas com a devida profundidade?aBF – Não, esta parte não. Eu admito – admito, atenção, por mera hipótese, que isto não é nenhum processo de intenção – sei lá, eu admito que os senhores da ‘troika’ internacional que vieram aqui negociar isto não saibam que, no próximo ano, se nada se fizer, aumenta a TSU em 3% a cargo das entidades empregadoras para os con-tratos a termo. Eles só souberam o que o interlocutor nacional disse, não é? Eu sei que não havia muito tempo, mas isto devia ter sido… sabe que, nestas coisas, tem de se ouvir quem sabe. E com isto me calo. Acho que já todos perceberam o que eu queria dizer.

“Pode haver um ‘mix’ de aumento do IVA,

mas o aumento de 2%, que anda à volta de

1000 milhões de euros, não chega. Tem de

se ir, provavelmente, aumentar impostos

específicos do consumo, tem de se

reduzir despesas, enfim… não é fácil”,

alerta António Bagão Félix.

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em FoCo VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 11

TERESA SILVEIRA

[email protected]

“A nossa grande aposta está na forma-ção de quadros dos países de língua portuguesa”. Esta é a explicação do pre-sidente do ILMAI (Instituto de Mediação e Arbitragem), Fernando Tonim, falando à “Vida Judiciária” da primeira acção de formação para novos árbitros dos países de língua portuguesa que arranca em Lisboa no próximo mês de Outubro. Para tal, o ILMAI, criado há cerca de seis meses, estabeleceu já parcerias com a AIP (Associação Industrial Portuguesa), o GRAL (Gabiente para a Resolução Alter-nativa de Litígios), a UAL (Universidade Autónoma de Lisboa) e o ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas). Também é considerada “estratégica” a parceria estabelecida com a União de Advogados de Língua Portuguesa (UALP), que dispõe de centros de for-mação em todos os países membros da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa]”, explicou. No futuro próximo, revela Fernando To-nim, o ILMAI vai contar com delegações locais nos restantes países de língua portuguesa. “Vamos estabelecer esta rede agora em parceria com os centros de formação já existentes e com as câmaras de comércio e as ordens dos advogados dos países que compõem a CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa]”, disse.Trata-se, segundo aquele advogado são-tomense radicado em Lisboa, de “um conceito moderno e ambicioso de formação em meios de resolução de conflito, ajustados às realidades e à cultura dos países da CPLP”. A vantagem, acrescenta, é “a garantia de um serviço harmonizado a alto nível governamen-tal, com inovação contínua e uma ima-gem comum de confiança e legitimida-

de perante os mercados internacionais”.O objectivo final de todo o processo que agora arranca é, segundo o advogado Fernando Tonim, criar uma rede inter-nacional de profissionais especializados nesta área e estabelecer uma bolsa de árbitros e mediadores para aquele que será o futuro Tribunal Arbitral da CPLP. A nova instituição deverá entrar em fun-cionamento em 2013, vocacionada para a resolução de litígios entre entidades/empresas dos países da CPLP, e de forma a responder com igual nível de eficácia e credibilidade com que operam os tri-bunais arbitrais de cidades como Paris, Londres, Nova Iorque ou Hong Kong.“Quando decidi avançar para este pro-jecto foi exactamente devido às dificul-dades com que me deparava nos países onde os meus clientes tinham negócios e onde havia apenas os tribunais co-muns para dirimir os conflitos”, explicou Fernando Tonim à “Vida Judiciária”.Daí o advogado chamar a atenção para a necessidade de “fomentar” a mediação e a arbitragem, a exemplo do agora im-posto no acordo assinado com a ‘troika’ internacional (FMI, BCE e CE), uma vez que a “as empresas valorizam os meios alternativos de resolução de litígios, porque encontram ali uma ferramenta célere, ágil, segura e com características que os tribunais comuns não têm”. É que, explicou o advogado, “as empre-sas sabem que, a partir do momento em que recorrem aos tribunais para dirimir algum litígio, toda a sua situação passa a ser pública e elas preferem mantê-la com algum recato e discrição”. “As empresas têm uma preocupação enorme com esta questão”, realça ainda Fernando Tonim, notando que “toda a informação que consta num processo arbitral não pode ser tornada pública nem utilizada em tribunal caso não haja sucesso na mediação”. Isto, apesar de

“as decisões arbitrais terem o mesmo valor jurídico que uma sentença de um tribunal comum”.

ex-secretário de estado dos Negócios estrangeiros e da Cooperação, João Cravinho, elogia a arbitragem e fala do tribunal arbitral da CPlP

“As áreas da língua e da justiça de-vem escapar aos cortes financeiros”, defendeu recentemente João Gomes Cravinho, ex-secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, à margem de um seminário sobre me-diação e arbitragem na CPLP, organizado

Futuro Tribunal Arbitral da CPLP arranca em 2013

ilmai cria bolsa de árbitros e mediadores da CPlP

Fernando Tonim, advogado e presidente do ILMAI (Instituto de Mediação e Arbitragem).

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em FoCoVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201112

em Abril último pelo Instituto de Media-ção e Arbitragem Internacional (ILMAI).Frisando que “a cooperação tem domí-nios que não devem ser sacrificados, pelo que representam de união entre os povos de expressão portuguesa”, o ex-governante destacou a importância dos mecanismos alternativos de resolu-ção de conflitos e da criação do Tribunal Arbitral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). “O desenvolvimento de mecanismos alternativos de resolução de conflitos é uma forma de acelerar a cooperação no domínio empresarial”, sendo que “o mau funcionamento da justiça constitui um travão do desenvolvimento eco-nómico”, disse João Gomes Cravinho, com isso enaltecendo as vantagens da resolução alternativa de litígios como um processo mais rápido e mais barato e que funciona como “acelerador” do desenvolvimento.E à saída do encontro deixou um recado aos novos governantes: “É evidente que na próxima legislatura será necessário olhar de novo para as prioridades da co-operação, para ver se é possível manter todas as actividades ou se algumas terão que ser adiadas”, avisou João Gomes Cravinho.Ciente das vantagens da mediação e da arbitragem – “hoje não há um contrato internacional que não preveja uma cláusula arbitral” –, Fernando Tonim revelou ainda, em entrevista à “Vida Judiciária”, que o ILMAI encomendou um estudo ao perito Antonio Rivera Neutze, um “árbitro e professor catedrático da Guatemala especialista em arbitragem internacional”, com o objectivo de sis-tematizar e comentar a legislação em matéria de arbitragem dos oito países de língua portuguesa.O trabalho, já concluído, “será apre-sentado em Outubro, depois de cada bastonário dos advogados de cada um destes países ser chamado a dar um parecer sobre esse estudo”, explicou Fernando Tonim. A ideia, diz o advogado, é também “publicar um livro com toda a legislação em matéria de mediação e arbitragem destes oito países, sistematizada e

comentada”. Uma edição bilingue (em português e espanhol), “devido à nos-sa proximidade com Espanha, que é um mercado interessante, até porque eles também estão interessados nos países africanos de língua portuguesa e é importante fazer-lhes chegar esta ferramenta de trabalho”.Com todas estas acções, a primeira das quais em Outubro próximo com a pri-meira sessão de formação de árbitros de língua portuguesa, a “grande aposta” do ILMAI está na “formação de quadros dos países de língua portuguesa”, ex-plica o seu presidente, com o objectivo de, “num futuro próximo, poder contar com delegações locais” nessas mesmas geografias. “Vamos estabelecer esta rede em parce-ria com os centros de formação já exis-tentes e com as câmaras de comércio e as ordens dos advogados dos países que compõem a CPLP”. Tudo, de modo a que esteja “em pleno funcionamento” no segundo semestre de 2012, ao ponto de ser capaz de formar 75 formandos por ano, explicou Fernando Tonim. Objectivo final? Uniformizando as legislações em matéria de arbitragem, “criar um modelo moderno e ambicioso de formação em meios de resolução de conflito ajustado às realidades e à cultura dos países da CPLP”, referiu o advogado.

ilmai leva pela primeira vez Union internationale des advocats a angola

Acabado de criar, o Instituto de Media-ção e Arbitragem (ILMAI) organizou já com a Union Internationale des Advo-cats (UIA) e a Ordem dos Advogados de Angola um congresso, em Luanda (Angola), sobre as condições jurídicas para investidores em África. Um passo considerado “importante para fortifi-car a língua portuguesa na resolução de conflitos para além do inglês e do francês”.Nesse encontro, realizado entre 6 e 7 de Maio e que foi aberto por Carlos Feijó, ministro de Estado e Chefe da Casa Civil da Presidência de Angola, participaram

220 advogados de todo o mundo, ana-lisando as condições jurídicas e institu-cionais associadas à forma de realizar investimentos em África.Sobre este assunto, Fernando Tonim, representante da UIA para os países africanos de língua portuguesa e presi-dente do ILMAI, valorizou a escolha do local – Angola, país para o qual o FMI prevê um crescimento de 6 por cento em 2011 – como um “grande passo na direcção certa que é aumentar o valor da língua portuguesa na resolução de conflitos a nível internacional”. Um outro objectivo do congresso reali-zado em Luanda era sensibilizar os juris-tas internacionais para a importância da formação em mediação e arbitragem. “É fulcral para o desenvolvimento em África oferecer aos investidores meios alternativos para prevenir e resolver conflitos”, disse Fernando Tonim. Estes meios “dão-lhes segurança e contri-buem para o desenvolvimento mais rápido e eficaz de um negócio e da sua manutenção e expansão”, disse Fernando Tonim, que discursou sobre este tema no congresso. “Cada país tem a sua própria cultura de conflitos, mas, também, a sua própria cultura em lidar com estes conflitos e resolvê-los”, explica Fernando Tonim, que chama a atenção para o facto de o sucesso de cada investidor internacio-nal passar pelo “respeito destas tradi-ções enraizadas nas diferentes culturas africanas. Culturas africanas essas, que o presidente do ILMAI conhece “há décadas”, pois acompanha investidores através da sua empresa Inter-Mediação. “Já no início do novo milénio notei que os maiores obstáculos nos países afri-canos são a morosidade da justiça e o excesso de burocracia”, conta Fernando Tonim, que, aliás, prefere falar em “jus-tiça complementar”, em vez de “justiça alternativa”, uma vez que considera a mediação e a arbitragem complemen-tos e apoios à justiça tradicional e não concorrentes. “Na minha actividade de consultor internacional, apercebi-me que o progresso económico e social de-pende, em grande parte, da eliminação destes obstáculos”, conclui.

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em FoCo VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 13

O Ministro da Justiça já definiu as linhas orientadoras e as medidas a adoptar pelas diversas entidades do Ministério da Justiça no sentido de viabilizar o cumprimento de tais compromissos nos curtos prazos acordados.Esses compromissos passam pela adop-ção das seguintes medidas:.- Agilização da implementação da refor-ma do mapa judiciário, com a criação de 39 comarcas, com apoio de gestão acrescido e com novos métodos de ges-tão: A aplicação do novo Mapa Judiciário na sua totalidade será antecipada para 2012. Actualmente estão a funcionar três comarcas-piloto (Alentejo Litoral, Baixo Vouga e Grande Lisboa Noroeste), tendo o Governo adiado para 2014 a entrada em vigor das restantes comar-cas. Segundo a “troika”, as 39 comarcas do Mapa Judiciário deverão estar todas implementadas até ao final de 2012.Para além da aplicação do Mapa Judi-ciário na tua totalidade, o Governo terá que aplicar um novo sistema de gestão nos tribunais, começando até final de 2011 em dois tribunais, sendo que um deles será de Lisboa. E terá ainda que avançar com um novo plano de gestão de pessoal para apoiar a especialização judicial e a mobilidade dos funcionários judiciais. Este plano terá que estar defi-nido até finais de 2011. Passamos a transcrever parcialmente o Despacho do Ministro da Justiça nesta matéria: ““1 - Determino que a DGAJ promova o mais rapidamente possível, dando prioridade aos tribunais que tramitem processos executivos e que tenham menores taxas de eficiência:

a) A realização de acções de forma-ção de formadores, ministradas em estreita colaboração e com a partici-pação activa dos funcionários judiciais responsáveis pelo desenvolvimento e aplicação prática do “Projecto X”, com vista a capacitar um número su-ficiente de formadores para ministrar as acções de formação seguidamente descritas.b) A elaboração de materiais de apoio às acções de formação, que condensem de forma; didáctica as boas práticas que caracterizam o “projecto X”, devendo os materiais de apoio ser preparados em estreita colaboração e com a partici-pação activa dos funcionários judiciais responsáveis pelo desenvolvimento e aplicação prática do Projecto;c) A preparação de uma versão resumi-da, em linguagem simples, destinada à divulgação pública do projecto, dos seus objectivos e dos seus resultados, nos vários sítios institucionais do Minis-tério da Justiça e dos seus organismos.d) Acções de formação de funcionários judiciais, na vertente de formação contí-nua, que visem a divulgação e o ensino das várias componentes do “Projecto X”, nomeadamente as relacionadas com:- Organização dos métodos e processos de trabalho, com vista a aumentar a eficiência;- Métodos de controlo da produtivi-dade;- Utilização eficiente dos meios informá-ticos ao dispor;- Liderança de equipas;- Motivação; e- Gestão de conflitos.2 - O Director-Geral da Administração

da Justiça deve, no âmbito dos seus poderes próprios:a) Ordenar a realização dos procedi-mentos necessários à efectivação do presente despacho, devendo, a curto prazo, tomar as medidas preparatórias de acções de formação, pelo menos, nos juízos de execução de Lisboa, Vila Nova de Gaia e Oeiras, por forma a melhorar as respectivas taxas de eficiência.b) Promover a participação dos fun-cionários judiciais dos tribunais e juízos onde se realizarem as acções de formação”.-     Realização, até ao final do mês de Junho, de um levantamento e análise de processos pendentes em atraso  no âmbito das execuções cíveis, processos de insolvência, processos de natureza laboral e processos tributários: O Gover-no português terá que reduzir o número de casos parados em tribunal no prazo de 24 meses e avançar até final de 2011 com uma auditoria às pendências, quer no que toca aos processos de execução, quer aos que respeitam a dívidas fiscais, insolvências e processos laborais. Está prevista a criação, nos processos fiscais, de uma ‘task-force’ de juízes, até ao final do ano, para resolverem rapidamente todos os casos que entram e estão pa-rados nos tribunais de valor superior a um milhão de euros. Deste pacote de austeridade sai, ainda, a entrada em funcionamento até final de Janeiro de 2012 dos novos tribunais em matéria de concorrência e direitos de propriedade intelectual. Sobre a reforma do Código de Processo Civil, a ‘troika’ impõe que o regime ex-perimental - que funciona actualmente

iNterveNção da “troika” na área da Justiça

O Estado Português assumiu com a “troika” (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional), na área da justiça, diversos compromissos.

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em FoCoVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201114

em sete tribunais - seja alargado a mais quatro até ao final de 2011, estando pre-visto estender-se o regime experimental a todos os tribunais. Passamos a transcrever parcialmente o Despacho do Ministro da Justiça nesta matéria: ““Importando assegurar que o apuramen-to de dados se faça quanto aos demais tipos de processos, e por tal ser estrita-mente necessário para o cumprimento do prazo acordado, determino o seguinte:1) A constituição de um grupo de traba-lho, com a finalidade de proceder:– ao levantamento de processos penden-tes em atraso no âmbito das execuções cíveis, processos de insolvência e proces-

sos de natureza laboral, seja com recurso a dados de natureza estatística, seja por via da utilização de outras técnicas de investigação, designadamente, a consulta de documentos já produzidos sobre estas matérias e de processos nos tribunais;– à análise dos dados recolhidos e;– à apresentação de propostas que melhorem as medidas-alvo já existentes ou de medidas adicionais para agilizar a resolução de processos em atraso;2) Os Directores-gerais da DGPJ e DGAJ e o Presidente do ITIJ designam um represen-tante para integrar o grupo de trabalho, que é coordenado pelo representante da DGPJ;3) O grupo de trabalho deve articular-se com todas as pertinentes entidades e

serviços e solicitar as informações ou outras formas de colaboração que se revelem necessárias à concretização da sua missão;4) Os dados apurados, logo que estabele-cidos, são facultados ao Conselho Supe-rior da Magistratura e à Procuradoria-Ge-ral da República, por forma a que possam oferecer em tempo útil contributos para a identificação dos principais motivos responsáveis pela duração excessiva de processos e apresentar propostas de medidas;5) A proposta de Relatório de levanta-mento e análise deverá ser apresentada até 29 de Junho de 2011, de acordo com a metodologia e o cronograma em anexo.

“aNeXometodoloGia e CroNoGrama Para o levaNtameNto

e aNáliSe de ProCeSSoS PeNdeNteS em atraSo

eNQUadrameNto:O presente documento define a metodologia de realização do levantamento e análise dos processos pendentes em atraso, pre-vista no ponto 44. do “Memorandum of economic and financial policies”, celebrado entre Portugal e o BCE e a CE e no ponto 7.1 do “Memorandum of Understanding” com o FMI.

FiNalidade:O levantamento e análise dos processos pendentes em atraso visa identificar os principais motivos responsáveis pelo elevado número de processos pendentes e pela duração excessiva dos processos judiciais. As linhas orientadoras para a estatística judicial da Comissão Europeia para Eficiência da Justiça (CEPEJ) - CEPEJ Guidelines on Judicial Statistics (GOJUST), de Dezembro de 2008 - referem especificamente que “uma grande parte dos casos apre-sentados levados ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem diz respeito à violação do «tempo razoável» de um processo, previsto no artigo 6. º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Dado que é difícil oferecer soluções eficazes para intervalos de tempo ideais e previsíveis, a menos que se tenha prévio conheci-mento detalhado da situação, deve ser dada especial atenção à recolha de informações sobre a duração do processo.” Para efeitos do levantamento e análise supra referidos, a análise das estatísticas judiciais deve ter em consideração que processos pendentes em atraso (“backlog”) são aqueles que apresentam uma duração que ultrapassa o valor mediano da duração global de cada tipo de processo,relativamente ao ano de referência de 2010.

oBJeCto:O levantamento incidirá sobre os processos executivos, processos de insolvência e processos laborais.

metodoloGia a adoPtar em Cada Um doS tiPoS de ProCeSSo:

1. Processos executivos

Dimensão da amostra para um nível de precisão de 10% e nível de significância de 5%: 96 antes de 15 de Setembro de 2003 e 97 processos iniciados a partir de 15 de Setembro de 2003.

Tipo de processos:a) Execuções iniciadas antes de 15 de Setembro de 2003;b) Execuções instauradas entre 15 de Setembro de 2003 e 30 de Março de 2009;c) Execuções instauradas a partir de 31 de Março de 2009.

Tribunais:a) Juízos Cíveis de Lisboa; Juízos Cíveis do Porto; Varas Cíveis de Lisboa; Tribunal de Comarca da Grande Lisboa-Noroeste; e Juízos de Pequena Instância Cível de Lisboa (execuções cíveis, comuns, iniciadas antes de 15 de Setembro 2003).b) Juízos de Execução de Lisboa; Juízo de Execução do Porto; e Tribunal de Comarca da Grande Lisboa Noroeste (execuções cíveis, comuns, iniciadas a partir de 15 de Setembro de 2003).

Identificação dos processos: A realizar, de forma aleatória, pela DGPJ com base em listagem fornecida pelo ITIJ através de pesquisa nas bases de dados dos tribunais judiciais de 1ª instância. A pesquisa a efectuar pelo ITIJ seguirá as directrizes fornecidas pela DGPJ.

Recursos a alocar: A DGPJ, a DGAJ e o ITIJ determinam e disponi-bilizam os recursos humanos e materiais necessários à realização do levantamento e análise dos processos pendentes em atraso.

entidades participantes:

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em FoCo VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 15

• Direcção-Geral da Política de Justiça (DGPJ)Compete à DGPJ: i) apresentar uma lista de elementos a recolher e/ou registar; ii) apresentar as directrizes para efeitos da pesquisa a realizar pelo ITIJ; iii) listar aleatoriamente os processos a consultar, com base em listagem fornecida pelo ITIJ através de pesquisa nas bases de dados dos tribunais judiciais de 1ª instância, a partir de directrizes fornecidas pela DGPJ; iv) acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos; v) elaborar conjuntamente com a DGAJ e com o ITIJ o relatório final da do levantamento e análise dos processos pendentes em atraso aos processos executivos.

• Direcção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ)Compete à DGAJ: i) Consultar os processos, recolher e registar a informação relevante;ii) elaborar conjuntamente com a DGPJ e com o ITIJ o relatório final da do levantamento e análise dos processos pendentes em atraso aos processos executivos.

• Instituto das Tecnologias de Informação da Justiça (ITIJ)Compete ao ITIJ: i) disponibilizar listagens de processos através da realização de pesquisa nas bases de dados dos tribunais judiciais de 1ª instância, com base em directrizes fornecidas pela DGPJ; ii) elaborar conjuntamente com a DGPJ e com a DGAJ o relatório final da do levantamento e análise dos processos pendentes em atraso aos processos executivos.

2. Processos de insolvência

Dimensão da amostra para um nível de precisão de 10% e nível de significância de 5%: 93 processos.

Tipo de processos:a) Processos de Falência e Recuperação de Empresas, iniciados até 14 de Setembro de 2004;b) Processos de Insolvência.

Tribunais: Tribunal de Comércio de Lisboa; Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia; Tribunal de Comarca do Baixo-Vouga e Tribunal de Comarca da Grande Lisboa-Noroeste.

Identificação dos processos: A realizar, de forma aleatória, pela DGPJ com base em listagem fornecida pelo ITIJ através de pes-quisa nas bases de dados dos tribunais judiciais de 1ª instância. A pesquisa a efectuar pelo ITIJ seguirá as directrizes fornecidas pela DGPJ.

Recursos a alocar: A DGPJ, a DGAJ e o ITIJ determinam e disponi-bilizam os recursos humanos e materiais necessários à realização do levantamento e análise dos processos pendentes em atraso.

entidades participantes:

• Direcção-Geral da Política de Justiça (DGPJ)Compete à DGPJ: i) apresentar uma lista de elementos a recolher e/ou registar; ii) apresentar as directrizes para efeitos da pes-quisa a realizar pelo ITIJ; iii) listar aleatoriamente os processos a consultar, com base em listagem fornecida pelo ITIJ através de pesquisa nas bases de dados dos tribunais judiciais de 1ª instân-cia, a partir de directrizes fornecidas pela DGPJ; iv) acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos; v) elaborar conjuntamente com a DGAJ e com o ITIJ o relatório final do levantamento e análise dos processos de insolvência pendentes em atraso

• Direcção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ)Compete à DGAJ: i) Consultar os processos, recolher e registar a informação relevante; ii) elaborar conjuntamente com a DGPJ e com o ITIJ o relatório final do levantamento e análise dos pro-cessos de insolvência pendentes em atraso

• Instituto das Tecnologias de Informação da Justiça (ITIJ)Compete ao ITIJ: i) disponibilizar listagens de processos através da realização de pesquisa nas bases de dados dos tribunais judiciais de 1ª instância, com base em directrizes fornecidas pela DGPJ; ii) elaborar conjuntamente com a DGPJ e com a DGAJ o relatório final do levantamento e análise dos processos de insolvência pendentes em atraso.

3. Processos laborais

Dimensão da amostra para um nível de precisão de 10% e nível de significância de 5%: 96 processos.

Tipo de processos: Processos declarativos comuns e especiais

Tribunais: Tribunal de Trabalho de Lisboa; Tribunal da Grande Lisboa- Noroeste; Tribunal de Trabalho do Porto.

Identificação dos processos: A realizar, de forma aleatória, pela DGPJ com base em listagem fornecida pelo ITIJ através de pes-quisa nas bases de dados dos tribunais judiciais de 1ª instância. A pesquisa a efectuar pelo ITIJ seguirá as directrizes fornecidas pela DGPJ.

Recursos a alocar: A DGPJ, a DGAJ e o ITIJ determinam e disponi-bilizam os recursos humanos e materiais necessários à realização do levantamento e análise dos processos pendentes em atraso.

entidades participantes:

• Direcção-Geral da Política de Justiça (DGPJ)Compete à DGPJ: i) apresentar uma lista de elementos a recolher e/ou registar; ii) apresentar as directrizes para efeitos da pesquisa a realizar pelo ITIJ; iii) listar aleatoriamente os processos a consul-tar, com base em listagem fornecida pelo ITIJ através de pesquisa nas bases de dados dos tribunais judiciais de 1ª instância, a partir

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em FoCoVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201116

de directrizes fornecidas pela DGPJ; iv) acompanhar o desenvol-vimento dos trabalhos; v) elaborar conjuntamente com a DGAJ o relatório final do levantamento e análise dos processos laborais pendentes em atraso.

• Direcção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ)Compete à DGAJ: i) Consultar os processos, recolher e registar a informação relevante; ii) elaborar conjuntamente com a DGPJ e o ITIJ o relatório final do levantamento e análise dos processos laborais pendentes em atraso.

• Instituto das Tecnologias de Informação da Justiça (ITIJ)Compete ao ITIJ: i) disponibilizar listagens de processos através da realização de pesquisa nas bases de dados dos tribunais judiciais de 1ª instância, com base em directrizes fornecidas pela DGPJ; ii) elaborar conjuntamente com a DGPJ e a DGAJ o relatório final do levantamento e análise dos processos laborais pendentes em atraso.”

(VER CRONOGRAMA)

- Adopção imediata de medidas preparatórias que viabilizem o cumprimento dos exigentes prazos acordados:Passamos a transcrever parcialmente o Despacho do Ministro da Justiça nesta matéria: “

“Deste modo, determino o seguinte:1 - Para possibilitar o cumprimento dos objectivos acordados em matéria de redução de processos pendentes em atraso no âmbito das execuções cíveis, processos de insolvência e processos de natureza laboral:a) Deve o Grupo de Trabalho para o levantamento de processos pendentes em atraso cumprir em prazo as missões que lhe fixei no respectivo despacho de criação;b) Deve o presidente do GDLE elaborar até 10 de Junho uma análise, com base nos dados que recebe mensalmente do ITIJ referentes às acções executivas pendentes, identificando os es-trangulamentos do sistema e apontando possíveis soluções para

a rápida extinção dos processos, privilegiando e potenciando ao máximo as soluções que sejam já possíveis face ao ordenamento jurídico vigente, transmitindo-as ao Grupo de Trabalho;c) Deve a DGAJ encetar a preparação – com vista à ponderação pelo Ministro da Justiça, pelo Conselho Superior da Magistratura e pela Procuradoria-Geral da República - de medidas tendentes a reforçar e concentrar as competências de organização da ocu-pação das salas de audiências dos tribunais, com definição de regras claras e objectivas de marcação gizadas ao nível de cada tribunal, de acordo com as melhores práticas.2 - Para possibilitar o cumprimento da reestruturação do sistema judicial no sentido de melhorar a eficiência da sua gestão e tendo em consideração, em especial, que será necessário criar, até ao final de 2012, todas as 39 comarcas do novo Mapa Judiciário, com o apoio complementar de gestão em cada comarca:a) Deve a DGAJ, em colaboração com o IGFIJ, a DGPJ e o ITIJ, desenvolver o plano de implementação desta reforma, identifi-cando, as principais metas trimestrais;b) Deve a DGAJ preparar proposta de lei de encurtamento da duração do estágio dos magistrados cuja formação está a

decorrer no CEJ;c) Deve o IGFIJ estudar as medidas a adoptar para que o plano referido na alínea anterior seja financiada pela redução das despesas, pelos ganhos de eficiência e pelo Fundo para a Mo-dernização da Justiça;d) Deve a DGAJ, em colaboração com o IGFIJ, a DGPJ e o ITIJ acelerar o processo de instalação dos novos tribunais nacionais de competência especializada em matéria de Concorrência e em matéria de Propriedade Intelectual;e) Deve a DGPJ e a DGAJ avaliar a necessidade de secções e juízes especializados em insolvência nos tribunais de comércio;f) Deve a DGAJ, em colaboração com o IGFIJ, a DGPJ e o ITIJ, iniciar o desenvolvimento de um novo plano de gestão de pes-soal aplicável a todo o território nacional que vise promover a especialização judicial e a mobilidade dos funcionários, por forma a que possa ser submetido a negociação nos termos da Lei n.º 23/98 e à ponderação pelo Ministro da Justiça, pelo Conselho

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em FoCo VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 17

Superior da Magistratura, pelo Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais e pela Procuradoria-Geral da República.3 - Para continuar a melhorar a eficiência do processo civil nos tribunais deve a DGPJ:a) Promover, em coordenação com a DGAJ, a monitorização do alargamento do novo regime processual civil experimental que determinei através da portaria n.º 115-C/2011, de 24 de Março;b) Encetar a elaboração do relatório que recomende se esse regi-me deve ou não ser aplicado a todos os tribunais e em que prazo;c) Iniciar a preparação de uma proposta de revisão do Código de Processo Civil identificando as áreas-chave para o seu aper-feiçoamento, incluindo:i. Aplicar uniformemente a todos os processos pendentes as mesmas regras processuais;ii. Dar poderes aos juízes para agilizar os processos;iii. Reduzir a as funções administrativas dos juízes eiv. Implementar prazos máximos para a resolução adequada de processos nos tribunais, especialmente injunções, acções executivas e insolvências, a partir dos quais se devem considerar processos com duração excessiva.4 - Para promover um orçamento mais sustentável e transparente para o sistema judicial, fundamental para o sucesso da reforma judicial:a) Deve a DGPJ, em colaboração com o IGFIJ e a DGAJ, desencade-ar a preparação de uma proposta legislativa que vise a aplicação uniforme a todos os processos pendentes das mesmas regras de custas processuais;b) Deve o IGFIJ, em colaboração com a DGPJ e a DGAJ, estudar a forma de elaborar e publicar um plano anual, relativo à aloca-ção dos recursos baseado em dados de desempenho de cada tribunal;c) Deve a DGAJ, em colaboração com o IGFIJ e a DGPJ começar a preparar a avaliação da carga de trabalho e de pessoal para as comarcas piloto abrangidas pela Reforma do Mapa Judiciário e para os tribunais especializados de comércio e trabalho e dos tribunais fiscais.5 - Para aperfeiçoar a oferta pública de informação estatística, disponibilizando até 30 de Setembro de 2011,novos indicadores sobre processos de insolvência, deve a DGPJ assegurar a produ-ção e a divulgação trimestral:a) Dos indicadores estatísticos sobre o movimento de processos de insolvência nos tribunais judiciais de 1ª instância e o número de insolvências decretadas;b) De relatórios sobre taxas de recuperação de dívidas, duração e custos relativos aos processos de insolvência de empresas e aos processos tributários.6 - Para reforçar a resolução alternativa de litígios no sentido de fa-cilitar a obtenção de mais acordos fora dos tribunais deve o GRAL:a) Proceder à preparação de uma versão revista da Lei de Ar-bitragem submetida ao Parlamento e por este aprovada na generalidade;b) Promover as medidas de operacionalização da arbitragem para a acção executiva, nos termos da legislação em vigor;

c) Finalizar a formulação da proposta de lei, já submetida a debate público, tendente à optimização do regime dos Julgados de Paz no sentido de aumentar a sua capacidade para resolver processos de pequeno montante;d) Preparar um projecto de alteração legislativa que vise reforçar o regime de resolução alternativa de litígios, adoptando medidas que visem dar prioridade à execução das decisões resultantes da resolução alternativa de litígios nos tribunais;e) Preparar a prevista campanha de informação que vise melhorar o conhecimento público dos meios de resolução alternativa de litígios existentes.7 - Para facilitar a resolução dos processos tributários de forma metódica e eficiente devem a DGPJ e a DGAJ:a) Apoiar o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais no levantamento e análise de casos de valor superior a 1 milhão de euros;b) Promover, em colaboração com o GRAL, a implementação da nova lei da arbitragem tributária;c) Preparar o diploma que permita a aplicação de juros legais aci-ma dos juros normais do mercado às dívidas não pagas durante todo o procedimento judicial e a implementação da aplicação de uma sanção compulsória ao incumprimento das decisões de um tribunal tributário;d) Preparar a avaliação de desempenho nos tribunais tributários in-corporando indicadores de qualidade no modelo quantitativo actual;e) Promover, em colaboração com o ITIJ e com os serviços com-petentes do Ministério das Finanças e da Administração Pública, a adopção, nos prazo previsto nos acordos, de um sistema integrado de informação entre a administração tributária e os tribunais tributários.8 - Para aperfeiçoar o quadro legal da insolvência deve a DGPJ:a) Encetar a preparação de uma proposta de alteração legislativa do regime da insolvência no sentido de:i. Melhor permitir a recuperação efectiva de empresas viáveis, com a assistência técnica do FMI, para, entre outros, introduzir um processo judicial expedito de aprovação dos planos de reestruturação;ii. Autorizar a Administração Fiscal e a Segurança Social a utilizar um vasto conjunto de ferramentas de reestruturação, com base em critérios claramente definidos;iii. Rever a lei fiscal com vista a remover impedimentos à reestru-turação voluntária da dívida;iv. Alterar a insolvência de pessoas singulares no sentido de apoiar a reabilitação das pessoas financeiramente responsáveis.b) Apresentar anteproposta de definição dos princípios gerais da reestruturação voluntária extrajudicial de empresas em linha com as boas práticas internacionais.c) Estudar, com os serviços competentes do Ministério da Eco-nomia, da Inovação e do Desenvolvimento, uma campanha de sensibilização para as ferramentas de reestruturação disponíveis no sentido de incentivar uma atempada recuperação das empre-sas viáveis através, por exemplo, da promoção da formação e de novos meios de informação.”

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aCtUalidadeSVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201118

transporte público de mercadorias – cancelamento temporário de matrículas

No dia 5 de Julho corrente ano entra em vigor o DL n.º 82/2011, de 20.6, que estabele-

ce o regime de cancelamento tempo-rário da matrícula dos automóveis pe-sados de mercadorias afectos ao trans-porte público, alterando, em conformi-dade, o Código da Estrada.O regime ora aprovado pretende evitar, em face da actual conjuntura econó-mica e financeira, que as empresas de transporte público rodoviário de mercadorias suportem determinados custos em caso de imobilização dos respectivos veículos, tais como, a taxa de cancelamento de matrícula.Estas empresas vão poder agora so-licitar o cancelamento temporário de matrícula dos veículos pesados de mercadorias junto do Instituto da Mobilidade e dos Transportes

Terrestres, I. P. (IMTT, I. P.), sempre que o veículo tenha sido objecto de candidatura a incentivo ao abate, no âmbito do Programa de Inves-timentos e Despesas de Desenvol-vimento da Administração Central (PIDDAC), enquanto o respectivo processo se encontre pendente, e sempre que, por falta de serviço, o veículo esteja imobilizado (sendo que neste último caso o cancela-mento temporário tem a duração máxima de 24 meses).Nestas duas situações estabelece-se a isenção do pagamento da taxa de cancelamento de matrícula. Por outro lado, no caso de reposição de matrí-cula, estes veículos ficam igualmente isentos da inspecção extraordinária e da respectiva taxa de reposição da matrícula.

Pelo Despacho n.º 8366/2011, de 17.6 (II série), foi recentemente autorizada a criação de um cen-

tro de arbitragem institucionalizada, a funcionar sob a égide da associação de-nominada CIMACE - Centro de Informa-ção, Mediação e Arbitragem do Comér-cio Electrónico. Trata-se de um centro de arbitragem de âmbito nacional e internacional, com carácter especializado, que tem sede

na Avenida do Duque de Loulé, 72, 2.º, em Lisboa. O objecto deste novo centro de arbitragem é a a resolução de litígios emergentes de relações de comércio que ocorram entre fornecedores e consumidores, em ambiente Internet, nomeadamente os litígios emergentes da interpretação, validade e execução de contratos electrónicos e os litígios emergentes da infracção de normas de protecção dos direitos do consumidor.

Novo centro de arbitragem – CimaCe

Em matéria de arrendamento ur-bano, o compromisso a que se obrigou o Estado Português jun-

to da “Troika”, deverá determinar que em caso de morte do titular do arrenda-mento (inquilino), quer o cônjuge que lhe sobreviva, quer os filhos menores, estudantes ou deficientes que com ele vivam, perdem o direito a continuar a

habitar no imóvel. Nestes casos, estas pessoas, ou deso-cupam o imóvel, ou passam a suportar uma renda de acordo com os valores actuais do mercado. Esta regra deverá aplicar-se aos arrendamentos anteriores a 2006 e aos celebrados no âmbito do NRAU (Novo regime do arrendamento urbano).

acordo com a “troika” limita direito de transmissão no arrendamento

estado paga dívida em 90 dias

De acordo com o memorando de entendimento com a “troika”, o Estado

Português terá de pagar as suas dívidas a fornecedores no prazo de 90 dias, a

contar do corrente mês de Junho. Esta é uma das metas quantitativas das quais

depende a ajuda financeira do FMI ao Estado Portugês.

Esta regra é aplicável a todas as administrações públicas, ao serviço

nacional de saúde e ao sector empresarial do Estado.

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aCtUalidadeS VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 19

No dia 5 de Junho entrou em vigor o DL n.º 61/2011, de 6.5, que estabelece o novo regime de acesso e de exercício da actividade das agências de viagens e turismo, revogando o anteriormen-te em vigor, aprovado pelo DL n.º 209/97, de 13.8.O novo regime introduz uma simplifi-cação no acesso e exercício da activi-dade das agências de viagens e turis-mo, abolindo o licenciamento como requisito de acesso, e substituindo-o por uma mera comunicação prévia que, acompanhada do comprovativo da prestação das garantias exigidas, permite o início imediato da activida-de, sem necessidade de autorização por parte de organismos da Admi-nistração Pública.Esta comunicação prévia é efectu-ada pelo empresário ou pelo seu representante, por via electrónica, através do novo registo nacional das agências de viagens e turismo (RNAVT). Este novo Registo é orga-nizado pelo Turismo de Portugal, I. P., e contém a relação actualizada dos agentes a operar no mercado. Trata-se de um instrumento de comunicação por via electrónica, que permite a disponibilização permanente ao consumidor de informação credível sobre a realida-de da oferta turística neste sector de actividade. O RNAVT integra o registo nacional de turismo (RNT).Por outro lado, o citado diploma vem viabilizar o acesso à actividade a pessoas singulares, eliminando a exigência de um capital social mínimo para as pessoas colectivas e suprime ainda a exigência de um estabeleci-mento para o exercício da actividade em território nacional.As garantias dos consumidores são reforçadas, criando-se o fundo de garantia de viagens e turismo (FGVT), que responde solidariamente pelo

pagamento da totalidade dos crédi-tos dos consumidores resultantes do incumprimento, total ou parcial, dos serviços contratados às agências de viagens e turismo.Ao estabelecer-se a responsabilidade solidária do fundo, reforçam-se as ga-rantias de efectivo ressarcimento dos consumidores pelo incumprimento de serviços contratados a agências de viagens e turismo.Esse fundo responde solidariamente, de forma ilimitada, pelo incumprimen-to contratual das agências de viagens e turismo, dando mais garantias aos consumidores quanto ao reembolso

dos montantes entregues e das des-pesas realizadas.Este novo regime jurídico reconhece, como título válido para o acciona-mento do aludido fundo, as decisões do provedor do cliente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), desde que registado no sistema de registo voluntário de procedimentos de resolução extraju-dicial de conflitos de consumo.De refreir que as agências de viagens e turismo desenvolvem, a título princi-pal, as seguintes actividades próprias:- organização e venda de viagens turísticas;

- representação de outras agências de viagens e turismo, nacionais ou estrangeiras, ou de operadores turís-ticos nacionais ou estrangeiros, bem como a intermediação na venda dos respectivos produtos;- reserva de serviços em empreendi-mentos turísticos;- venda de bilhetes e reserva de luga-res em qualquer meio de transporte;- recepção, transferência e assistência a turistas.Entretanto, na sequência da pu-blicação deste regime jurídico, no passado dia 6 de Junho entrou em vigor a Port.n.º 224/2011, de 3.6, que

aprova o Regulamento do Fundo de Garantia de Viagens e Turismo. Este Regulamento estabelece o regime de funcionamento e gestão do Fundo de Garantia de Viagens e Turismo (FGVT), o qual é dotado de personalidade jurídica e de autonomia administrativa, patrimonial e financeira, e tem sede em Lisboa, nas instalações do Turismo de Portugal, I. P., que assegura os serviços técnicos e administrativos indispensáveis ao seu funcionamento.O FGVT tem por objectivo assegu-rar o pagamento dos créditos dos

consumidores resultantes do incum-primento de serviços contratados a agências de viagens e turismo, satis-fazendo o reembolso dos montantes entregues pelos clientes e o reembol-so das despesas suplementares supor-tadas pelos clientes em consequência da não prestação dos serviços ou da sua prestação defeituosa.De referir que ficam excluídos do âmbito do FGVT o pagamento dos créditos dos consumidores relativos à compra isolada de bilhetes de avião, quando a não concretização da via-gem não seja imputável às agências de viagens e turismo envolvidas.

Novo regime jurídico das agências de viagens e turismo– Fundo de Garantia de viagens e turismo

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aCtUalidadeSVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201120

lei tutelar educativa. Caducidade das últimas alterações

O diploma que previa alterações à Lei Tutelar Educativa, nomea-damente a introdução de uma

medida de internamento terapêuti-co de jovens com problemas mentais, acabou por caducar com a dissolução do Parlamento.Outra das alterações previstas passava por se adaptar o prazo máximo de duração das medidas tutelares às ne-cessidades educativas do menor para o direito. De referir, ainda, a simplificação dos pressupostos formais de aplicação de medidas cautelares privativas da liberdade, mantendo-se, naturalmente, os princípios gerais da necessidade, proporcionalidade e adequação. Por último, previa-se a alteração do regime da suspensão provisória do processo, prescindindo-se da obrigatoriedade de ser o próprio menor a apresentar um plano de conduta. A simplificação dos procedimentos de soluções consensu-ais também seria alargada à audiência de julgamento. Contudo, todas estas inovações acabam agora por caducar

em face da dissolução da Assembleia da República.

regime jurídico dos campos de férias

No dia 7 de Junho entrou em vigor o Dec. Legisl.Reg. n.º 17/2011/A, de 6.6, que aprova, na Região

Autónoma dos Açores, o regime jurídi-co de acesso e de exercício da activida-de, promoção e organização de cam-pos de férias.Este diploma define o conceito de campos de férias e de instalações de campos de férias, introduzindo uma componente de cariz peda-gógica.O novo regime de campos de férias visa introduzir uma maior exigência no que diz respeito à qualificação, quer das en-tidades formadoras, quer dos próprios coordenadores e monitores, assumindo especial destaque a densificação do conteúdo pedagógico associado a todo o processo formativo.

De referir que o exercício da actividade de organização de campos de férias depende da emissão de licença, titulada por alvará, a conceder pelo membro do Governo Regional competente em matéria de juventude.As entidades organizadoras de campos de férias devem possuir um livro de reclamações, o qual deve ser facultado a quem o solicite.

Prorrogação do prazo de selecção

e recrutamento de juízes de paz

De acordo com a Port. n..º 223/2011, de 3.6, o prazo para recrutamento e

selecção de juízes de paz, bem como o prazo de validade do II concurso

de recrutamento e selecção de juízes de paz foram prorrogados por mais

um ano. Esta prorrogação conta-se a partir da data da publicação da lista de

classificação final.De referir que é de 30 o número

máximo de lugares a concurso para recrutamento e selecção de juízes de

paz.

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aCtUalidadeS VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 21

No dia 21 de Junho do corrente ano entrou em vigor o DL n.º 74/2011, de 20.6, que alarga às

comarcas da Cova da Beira e de Lisboa o novo mapa judiciário.O novo mapa judiciário, criado pela Lei n.º 52/2008, de 28 de Agosto – Lei de Organização e Funcionamento dos Tribu-nais Judiciais (LOFTJ) –, adoptou novos modelos de gestão e procedeu a uma reorganização profunda da estrutura dos tribunais. Das alterações ora introduzidas destacamos, desde logo, a criação de um Juízo de Família e Menores do Fundão e a sua agregação com o Juízo de Família e Menores da Covilhã.Por outro lado, extinguem-se a 5.ª Vara Cível do Tribunal da Comarca do Porto, o 4.º Juízo Criminal do Tribunal da Comarca de Braga, o 5.º Juízo de Competência Es-pecializada Cível do Tribunal da Comarca de Oeiras, o 4.º Juízo Cível do Tribunal da Comarca do Porto e o 4.º Juízo do Tribu-nal da Comarca de São João da Madeira, pelo facto de, nestes casos, não existir um volume processual significativo que justifique a sua existência.De refetir que é criado o Tribunal da Comarca da Cova da Beira, com sede na Covilhã, sendo o mesmo desdobrado nos seguintes juízos de competência especializada:- Juízo Misto do Trabalho e de Instrução Criminal, com sede na Covilhã;- Juízo de Família e Menores, com sede na Covilhã;- Juízo de Família e Menores, com sede no Fundão;- Juízo de Grande Instância Cível, com sede na Covilhã;- Juízo de Média e Pequena Instância Cível, com sede na Covilhã;- Juízo de Média e Pequena Instância Cível, com sede no Fundão;- Juízo de Instância Criminal, com sede na Covilhã;- Juízo de Instância Criminal, com sede no Fundão.

O Tribunal do Trabalho da Covilhã é con-vertido no Juízo Misto do Trabalho e de Instrução Criminal da Covilhã.São criados os seguintes juízos, com sede na Covilhã:- Juízo de Família e Menores;- Juízo de Grande Instância Cível;- Juízo de Média e Pequena Instância Cível;- Juízo de Instância Criminal.São criados os seguintes juízos, com sede no Fundão:- Juízo de Família e Menores;- Juízo de Média e Pequena Instância Cível;- Juízo de Instância Criminal.Em matéria de extinções, este diploma declara extinto o círculo judicial da Covi-lhã, sendo ainda extintas as comacas da Covilhã e do Fundão.Em Lisboa, é criado o Tribunal da Comar-ca de Lisboa, com sede em Lisboa, que fica desdobrado nos seguintes juízos de competência especializada, com sede em Lisboa:- Juízo do Trabalho;- Juízo de Família e Menores;- Juízo de Execução;- Juízo Central de Instrução Criminal;- Juízo de Instrução Criminal;- Juízo de Comércio;- Juízo de Grande Instância Cível;- Juízo de Média Instância Cível;- Juízo de Pequena Instância Cível;- Juízo de Grande Instância Criminal;- Juízo de Média Instância Criminal;- Juízo de Pequena Instância Criminal;- Juízo Marítimo;- Juízo de Execução das Penas.O Tribunal do Trabalho de Lisboa é con-vertido no Juízo do Trabalho de Lisboa.O Tribunal de Família e Menores de Lis-boa é convertido no Juízo de Família e Menores de Lisboa.Os Juízos de Execução de Lisboa são con-vertidos no Juízo de Execução de Lisboa.O Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa é convertido no Juízo Central

de Instrução Criminal de Lisboa.O Tribunal de Instrução Criminal de Lis-boa é convertido no Juízo de Instrução Criminal de Lisboa.O Tribunal de Comércio de Lisboa é con-vertido no Juízo de Comércio de Lisboa.As Varas Cíveis de Lisboa são convertidas no Juízo de Grande Instância Cível de Lisboa.Os Juízos Cíveis de Lisboa são conver-tidos no Juízo de Média Instância Cível de Lisboa.Os Juízos de Pequena Instância Cível de Lisboa são convertidos no Juízo de Pequena Instância Cível de Lisboa.As Varas Criminais de Lisboa são converti-das no Juízo de Grande Instância Criminal de Lisboa.Os Juízos Criminais de Lisboa são conver-tidos no Juízo de Média Instância Criminal de Lisboa.Os Juízos de Pequena Instância Criminal de Lisboa são convertidos no Juízo de Pequena Instância Criminal de Lisboa.O Tribunal Marítimo de Lisboa é converti-do no Juízo Marítimo de Lisboa.O Tribunal de Execução das Penas de Lisboa é convertido no Juízo de Execução das Penas de Lisboa.No que concerne a extinções, fica extinto o círculo judical de Lisboa e a comarca de Lisboa. De referir que extinção de círculos, comarcas, vara e juízos ora determinada opera-se a 1 de Dezembro de 2011.A extinção da 5.ª Vara Cível do Tribunal da Comarca do Porto, do 4.º Juízo Criminal do Tribunal da Comarca de Braga, do 5.º Juízo de Competência Especializada Cível do Tribunal da Comarca de Oeiras, do 4.º Juízo Cível do Tribunal da Comarca do Porto e do 4.º Juízo do Tribunal da Co-marca de São João da Madeira ocorre na data de produção de efeitos da portaria que procede à alteração dos quadros de pessoal das respectivas secretarias.As comarcas e juízos previstos no presen-te decreto-lei consideram-se instalados e convertidos a 1 de Dezembro de 2011.

Novo mapa Judiciário chega às comarcas de lisboa e da Cova da Beira

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aCtUalidadeSVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201122

No próximo dia 22 de Julho en-tram em vigor as alterações aprovadas pela Lei n.º 44/2011,

de 22.6, à Lei que criou os mecanis-mos de protecção dos utentes de ser-viços públicos essenciais (Lei nº 23/96, de 26.7).Com as alterações ora introduzidas estabelece-se a obrigatoriedade de discriminação nas facturas eléctricas, individualmente, de cada custo referente

a medidas de política energética, de sus-tentabilidade ou de interesse económico geral, bem como o respectivo montante, a par dos valores de consumo, da potên-cia contratada, da taxa de exploração e da contribuição áudio-visual.Estas alterações aplicam-se às relações contratuais que subsistam à data de 22.7.2011 e só produzem efeitos a partir do período de facturação imediatamen-te subsequente.

medidas de protecção dos utentes do serviços públicos- Discriminação das facturas eléctricas

Segundo um recente comunica-do da Comissão Europeia vão ser criadas novas regras aplicá-

veis aos países da União Europeia que visam facilitar e acelerar o pagamento das pensões de alimentos a menores, de forma a que os progenitores au-sentes deixem de poder fugir às suas obrigações.As novas regras vêm permitir, a partir de agora, a cobrança efectiva das prestações de alimentos em situações transfronteiriças, ou seja, em que o obri-

gado deixe de residir no país do Tribunal que lhe impõs o pagamento da pensão de alimentos. Assim, em termos gerais, qualquer decisão relativa a obrigações de alimentos num país da União passa a ser executória noutro Estado Mem-bro sem passar por um procedimento especial.Este novo regime também estabelece regras de cooperação entre as autorida-des centrais no que diz respeito à assis-tência que devem prestar relativamente aos pedidos de alimentos.

Pagamento da pensão de alimentos a menores será mais célere

Crédito bonificado à aquisição de

habitação própria permanente.

- Fixadas as taxas para cálculo das bonificações em vigor no 2º semestre

de 2011De acordo com o Aviso n.º 12869/2011,

de 20.6 (II série), a taxa de referência para o cálculo das bonificações (TRCB) a suportar pelo Orçamento do Estado,

para vigorar entre 1 de Julho e 31 de Dezembro de 2011 foi fixada em 2,214%. A taxa que vigorou no semestre anterior

estava fixada nos 1,758%.Recordamos que, até ao passado

dia 1 de Maio do corrente ano, data em que cessou a vigência da Portaria

n.º 384/2009, de 9.4, nos casos em que pelo menos um dos mutuários

se encontrasse em situação de desemprego, a TRCB era de 2,758%.

Fixados os limites de acréscimo de endividamento de Portugal

Na sequência da concessão da ajuda externa ao Estado Por-tuguês foi aprovado o Despa-

cho n.º 8364/2011, de 17.6 (II série), que determina ajustamentos nos limi-tes de acréscimo de endividamento lí-quido global. Assim, o limite de € 25 000 000 000 relativo à emissão de obrigações do Tesouro é reduzido para € 10 000 000 000; o limite de € 25 000 000 000 es-tabelecido para a emissão de bilhetes

do Tesouro é reduzido para € 14 000 000 000 e o limite de € 5 000 000 000 estabelecido para a emissão de certi-ficados de aforro e ou de certificados do Tesouro é reduzido para € 3 000 000 000. Pelo contrário, o limite de € 25 000 000 000 estabelecido para a emissão de dívida pública fundada sob formas de representação distintas das acima indicadas é elevado para € 53 000 000 000.

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aCtUalidadeS VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 23

No dia 24 de Junho foi aprova-da a Lei n.º 46/2011, que cria o tribunal de competência

especializada para propriedade inte-lectual e o tribunal de competência especializada para a concorrência, regulação e supervisão, e introduz alterações a diversos diplomas, no-meadamente à Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judi-ciais, ao Regime Jurídico da Concor-rência, à Lei das Comunicações Elec-trónicas, à Lei de combate ao bran-queamento de vantagens de pro-veniência ilícita e ao financiamento do terrorismo, à Lei de Organização e Financiamento dos Tribunais Judi-ciais, ao Regime Geral das Institui-ções de Crédito e Sociedades Finan-ceiras, ao Código dos Valores Mobili-ários, ao Código de Propriedade In-dustrial, ao regime jurídico aplicável aos contratos à distância relativos a serviços financeiros celebrados com consumidores.Ao tribunal da propriedade intelectu-al ora criado compete conhecer das questões relativas a:- Acções em que a causa de pedir verse sobre direito de autor e direitos conexos;- Acções em que a causa de pedir verse sobre propriedade industrial, em qualquer das modalidades pre-vistas na lei;- Acções de nulidade e de anulação previstas no Código da Propriedade Industrial;- Recursos de decisões do Instituto Nacional da Propriedade Industrial que concedam ou recusem qualquer direito de propriedade industrial ou sejam relativas a transmissões, licen-ças, declarações de caducidade ou a quaisquer outros actos que afectem, modifiquem ou extingam direitos de propriedade industrial;- Recurso e revisão das decisões ou

de quaisquer outras medidas legal-mente susceptíveis de impugnação tomadas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial, em processo de contra-ordenação;- Acções de declaração em que a causa de pedir verse sobre nomes de domínio na Internet;- Recursos das decisões da Fundação para a Computação Científica Nacio-nal, enquanto entidade competente para o registo de nomes de domínio de .PT, que registem, recusem o registo ou removam um nome de domínio de .PT;-Acções em que a causa de pedir verse sobre firmas ou denominações sociais;- Recursos das decisões do Instituto dos Registos e do Notariado rela-tivas à admissibilidade de firmas e denominações no âmbito do regime jurídico do Registo Nacional de Pes-soas Colectivas;- Acções em que a causa de pedir verse sobre a prática de actos de concorrência desleal em matéria de propriedade industrial;- Medidas de obtenção e preser-vação de prova e de prestação de informações quando requeridas no âmbito da protecção de direitos de propriedade intelectual e de direitos de autor.A competência do Tribunal nestas matérias abrange respectivos in-cidentes e apensos, bem como a execução das decisões.

Ao tribunal da concorrência regu-lação e supervisão, também agora criado, compete a conhecer das questões relativas a recurso, revisão e execução das decisões, despachos e demais medidas em processo de contra-ordenação legalmente sus-ceptíveis de impugnação:

- Da Autoridade da Concorrência (AdC);- Da Autoridade Nacional de Comu-nicações (ICP-ANACOM);- Do Banco de Portugal (BP);- Da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM);- Da Entidade Reguladora para a Co-municação Social (ERC);- Do Instituto de Seguros de Portugal (ISP);- Das demais entidades administrati-vas independentes com funções de regulação e supervisão.Compete, ainda, a este tribunal conhecer das questões relativas a recurso, revisão e execução:-Das decisões da AdC proferidas em procedimentos administrativos a que se refere o regime jurídico da concorrência, bem como da decisão ministerial;- Das demais decisões da AdC que ad-mitam recurso, nos termos previstos no regime jurídico da concorrência.Estas competência abrangem os res-pectivos incidentes e apensos.

De referir que a tramitação dos pro-cessos da competência do tribunal da propriedade intelectual é efectuada por via electrónica nos termos do artigo 138.º-A do Código de Processo Civil. A tramitação dos processos da competência do tribunal da concor-rência, regulação e supervisão é efec-tuada igualmente por via electrónica, nos termos a definir por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça.A competência dos actuais tribunais mantém-se para os processos neles pendentes à data da instalação dos novos tribunais.A lei ora aprovada produz efeitos a partir da data da instalação do tribu-nal da propriedade intelectual e do tribunal da concorrência, regulação e supervisão.

Criados os tribunais da propriedade intelectual e da concorrência

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reGiStoS e NotariadoVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201124

Com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, passaram a ser facultativas as escrituras relativas a diversos actos da vida dos cidadãos e das empresas, entre outros, os actos que importem reconhecimento, constituição, aquisição, modifi cação, divisão ou extinção dos direitos de propriedade, usufruto, uso e habitação, superfície ou servidão sobre coisas imóveis, os quais podem ser titulados por documento particular autenticado (cfr art.º 22.º e art.º 24.º).De acordo com o art.º 24.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, os documentos particulares que titulem actos sujeitos a registo predial devem conter os requisitos legais a que estão sujeitos os negócios jurídicos sobre imóveis, aplicando-se subsidiariamente o Código do Notariado.A minuta que seguir publicamos traduz um exemplo de contrato de doação de um terreno para construção com reserva de usufruto, e com o respectivo termo de autenticação.

CoNtrato de doação de terreno com reserva de usufruto

miNUta de CoNtrato de doação de terreNo Com reServa de USUFrUto

ENTREPRIMEIRO [Identifi cação do(s) signatário(s) , doravante designado(s) por Doador(es), com a(s) idade(s) de

[mencionar a idade de cada um] [ SEGUNDO[Identifi cação do(s) signatário(s)], doravante designado(s) por Donatário(s).

É celebrado o presente contrato de doação, que se rege pelas cláusulas seguintes: Primeira (Objecto)O(s) Primeiro(s) faz(em) doação ao(s) Segundo(s), seu(s) fi lho(s), com reserva de usufruto [simultâ-

neo/ou simultâneo e sucessivo/ou sucessivo] para o(s) Doador(es), do(s) seguinte(s) imóvel/imóveis:UM - prédio urbano, composto por lote de terreno destinado a construção urbana, com … metros

quadrados, designado lote número , sito em , confrontando com [….], freguesia de [freguesia], concelho de [concelho], descrito na Conservatória do Registo Predial de [concelho] sob o número [n.º] da freguesia de [freguesia], com a autorização de loteamento registada pela inscrição F - [n.º] e a aquisição a favor do(s) doador (es) pela inscrição G - [n.º], inscrito na respectiva matriz predial urbana sob o artigo [número do artigo matricial], com o valor patrimonial de [montante] euros, e o valor atribuído de [montante] euros.

Segunda (Ónus e encargos)O(s) prédio(s) doado(s) encontra(m)-se livre(s) de quaisquer ónus ou encargos .

Terceira(Valor) O(s) Doador(es) declaram que a doação é feita por conta [da sua quota disponível/ou por conta

da legítima que este(s) descendente(s) tem/têm direito a receber do(s) progenitor(es)], e atribui(em) à nua-propriedade doada o valor de [montante] euros e ao usufruto o valor de [montante] euros.

Quarta (Licenciamento camarário) O lote foi constituído ao abrigo do alvará de loteamento n.º [n.º] emitido pela Câmara Municipal

de [concelho] em [data], válido até [data] . Quinta (Aceitação) O(s) Donatário(s) declara(m) aceitar a doação.

Local …Data …

Assinaturas:[assinaturas dos signatários]

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reGiStoS e Notariado VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 25

termo de aUteNtiCação

No dia [dia] de [mês] de [ano], em [local], na [morada] , perante mim, [nome completo do profi ssional ou entidade que realizou o termo de autenticação, menção da respectiva qualidade, da cédula, se for o caso, e do domicílio profi ssional], compareceram:

PRIMEIRO[Identifi cação do(s) signatário(s) ; ]SEGUNDO[Identifi cação do(s) signatário(s)],Verifi quei a identidade dos signatários pela exibição dos respectivos documentos de identifi cação (ou por conhecimento pes-

soal/abonação).Os signatários apresentaram o documento anexo, que é um contrato de doação de imóvel com reserva de usufruto, tendo de-

clarado que [já o leram/que estão perfeitamente inteirados do seu conteúdo] e o assinaram, e que o conteúdo do mesmo exprime a sua vontade [e/ou do(s) seus representado(s)].

Verifi cado(s):Por consulta online - da Certidão Permanente de Registo Predial, com o código de acesso n.º [n.º]; da Caderneta Predial, verifi quei,

respectivamente, os elementos registrais e os elementos matriciais do imóvel objecto do documento anexo.Exibido(s): - [Certidão de registo predial, passada pela [identifi car serviço de registo], em [data]; - [Caderneta Predial/Certidão de Teor matricial/ Comprovativo da declaração para inscrição ou actualização de prédios urbanos

na matriz (Modelo 1)] emitido em [data];O presente termo de autenticação foi lido e explicado aos signatários, devendo, de seguida, ser obrigatoriamente depositado

electronicamente em www.predialonline.mj.pt. .

[assinaturas dos signatários, demais intervenientes e do profi ssional/entidade autenticadora]

Autor: Carlos Valentim e Paulo CardosoPreço: 50 € Formato: 17 x 24.5 cm Págs.: 576

Função FOLHEARVisualize a estrutura e alguns conteúdosdesta obra em: http://livraria.vidaeconomica.pt

NOVIDADERoteiro deJUSTIÇA FISCAL

Rua Gonçalo Cristóvão, 111 – 6º Esq. • 4049-037 Porto • Tel.: 223 399 400 • Fax: 222 058 098Email: [email protected] • www.vidaeconomica.pt • http://livraria.vidaeconomica.pt

“Esta obra que constitui um excelente instrumento de aprendizagem do sistema tributário para quem pretenda aprofundar o estudo sobre estas temáticas bem como para aqueles que necessitem de um instrumento prático que lhes possi-bilite o conhecimento da lei.”

Pedro Marinho Falcão, in Prefácio

Conheça a lei.Defenda os seus Direitos.

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aNáliSeVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201126

Um dos seus principais objectivos é o de assegurar o funcionamento integrado dos centros de arbitragem institucionalizada enquanto mecanis-mos de resolução alternativa de lití-gios, agregar os centros de arbitragem institucionalizada na mesma lógica de funcionamento e promover a utilização de sistemas comuns, a adopção de uma mesma imagem e a implementação de procedimentos uniformes.A RNCAI integra todos os centros de arbitragem institucionalizada que se-jam financiados pelo Estado em mais de 50% do seu orçamento anual ou em montante inferior, mas com carácter regular, nos termos a definir através de protocolo. Em matéria de procedimen-tos, a RNCAI assegura a uniformização da instrução dos processos de reclama-ção no âmbito de cada um dos centros, de prestação de serviços de mediação e conciliação, nos centros que os disponi-bilizem e de apoio aos tribunais arbitrais que a integram. No que diz respeito à partilha de infor-mação, a RNCAI dinamizará a consulta e a partilha de dados estatísticos entre os centros de arbitragem e o Estado, para efeitos de monitorização do desempe-nho e controlo do financiamento públi-co, mediante a utilização de ferramentas informáticas adequadas.Estabelece-se a regra de que apenas

podem ser financiados centros de ar-bitragem cujo objecto de arbitragem se mostre compatível com programas plurianuais constantes das Grandes Opções do Plano e demais documentos de estratégia nacional definidos pela As-sembleia da República ou pelo Governo. De referir que Arbitragem é uma forma de resolver um conflito sem recorrer aos tribunais. Um ou mais árbitros imparciais ouvem ambas as partes e decidem quem tem razão, sendo que a decisão tem o mesmo valor do que uma decisão de um tribunal. Os centros de arbitragem institucionalizada são autorizados pelo Estado e alguns são financiados por ele.Integram a RNCAI os centros de arbi-tragem institucionalizada autorizados nos termos da lei que sejam financiados pelo Estado em mais de 50 % do seu orçamento anual, independentemente do número e da natureza das pessoas colectivas públicas financiadoras.Todavia, podem aderir à RNCAI os centros de arbitragem que sejam finan-ciados pelo Estado em menos de 50 % do seu orçamento anual e com carácter regular, nos termos a definir por proto-colo a celebrar com o Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios (GRAL).Os centros de arbitragem institucionali-zada que integram a RNCAI publicam no sítio electrónico da RNCAI o plano anual

de actividades depois de aprovado; o orçamento anual; o relatório anual de actividades e o resumo das decisões arbitrais proferidas.Compete igulamente a esses centros de arbitragem eniarem por via electrónica ao GRAL e, no caso dos centros de arbi-tragem de conflitos de consumo, tam-bém à Direcção-Geral do Consumidor, os seguintes documentos:- O balanço, balancete, demonstração de resultados, demonstração dos flu-xos de caixa, mapas de amortizações e proposta de aplicação dos resultados referentes a cada exercício, assinados pelo técnico oficial de contas e pela administração do centro de arbitragem, até Abril do ano seguinte ao ano de referência;- A proposta de orçamento, até De-zembro do ano anterior ao ano de referência;- Os dados estatísticos relativos à actividade desenvolvida, devendo as reclamações e pedidos de informação recebidos pelos centros de arbitragem de conflitos de consumo ser organiza-dos segundo a Recomendação C (2010) 3021 final, da Comissão Europeia, de 12 de Maio, relativa ao sistema harmoniza-do de classificação.A avaliação do desempenho dos centros de arbitragem é feita anualmente pelo GRAL.

rNCai – arbitragem institucionalizada Nacional

A Rede Nacional de Centros de Arbitragem Institucionalizada (RNCAI), criada no passado dia 6 de Maio, pelo DL n.º 60/2011, já entrou em vigor. Trata-se de mais uma medida que contribuirá para a eficiência operacional da Justiça, tornando-a mais acessível aos cidadãos, através da promoção da arbitragem.

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marCaS VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 27

CoNCorrÊNCia deSleal(Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 12/05/2011)

SUmário:I- Inexiste semelhança gráfica, fonética ou outra que induza facilmente o consumi-dor médio de vinhos em erro ou confusão entre as marcas nominativas complexas BARCA VELHA, marca notória, e ROCHA VELHA, porquanto “VELHA”, elemento comum, é qualificativo de uso comum; tão-pouco inexiste risco de associação da marca questionada ROCHA VELHA à marca prioritária BARCA VELHA, pelo consu-midor médio de vinhos, sem exame atento ou confronto das duas.II- A questão da potencialidade da concorrência desleal nada tem a ver com a con-fusão entre marcas, tratando-se, normalmente de uma situação potencial de con-corrência desleal por confusão com os produtos ou serviços de outro concorrente.III- Inexistindo confusão entre as duas marcas, nada mais se sabendo acerca da produção e distribuição dos vinhos das duas marcas, não é possível concluir, sem mais, pelo risco de associação pelo consumidor médio de uma marca a outra e pela deslealdade na concorrência.

acordam os juízes na 2.ª secção Cível do tribunal da relação de lisboa

i – relatÓrio

APELANTE/RECORRENTE: “A” - Vinhos, S.A.(Representada em juízo, pelo ilustre advogado N. C., com escritório em Lisboa , conforme instrumento de procuração de 10/01/05 de fls. 74 dos autos, o qual substabeleceu, com reserva, na pessoa do ilustre advogado J. S., com escritório no mesmo local, conforme instrumento de 5/4/2010 de fls. 75).

aPelada/reCorrido/titUlar da marCa deFerida: “B”

Com os sinais dos autos.A Apelante veio ao abrigo do disposto no art.º 39 e ss do Código de Propriedade Industrial, interpor recurso do despacho do senhor Director de Marcas e Paten-tes do I.N.P.I. que deferiu o pedido de registo de marca nacional n.º 000.327 “ROCHA VELHA”, alegando ser titular da marca nacional n.º 000.372 “BARCA VELHA”, prioritária, destinada a assinalar os mesmos produtos e havendo entre os sinais tal semelhança que potencia a confusão no consumidor e a prática

da concorrência desleal, acrescentando ser a sua marca uma marca de prestígio. Cumprido o disposto no art.º 40 do Có-digo de Propriedade Industrial, o senhor Director de Marcas do I.N.P.I. remeteu o processo administrativo. Citada, a parte contrária nada disse.Inconformada com a sentença de 15/11/2010 que, negando provimento ao recurso que oportunamente apre-sentou para o Tribunal de Comércio de Lisboa, do despacho do Sr. Director de Marcas e Patentes do I.N.P.I. que, por subdelegação de competências, deferiu o pedido de registo de marca nacional n.º 000.327 – “ROCHA VELHA”, concedendo-se assim protecção jurídica à referida marca para assinalar os produtos da classe 33ª, para os quais o registo foi pedido pelo recorrido, dela apelou a “A” em cujas alegações conclui:a) A Recorrente é a titular dos registos das marcas nacionais n.ºs 000.372 e 000.588, ambas caracterizadas pela expressão “BARCA VELHA”, e que se destinam a assinalar “vinho tinto” e “vinho do Porto, aguardentes e licores”;b) Na sentença recorrida considerou-se – e bem – que estes registos de marca gozam de prioridade registal;c) Assim como também se considerou – igualmente bem – que as marcas em

confronto se destinam a assinalar os mesmos produtos: vinhos;d) A discordância da sentença recorrida circunscreve-se ao requisito de imitação de marca relativo à susceptibilidade de a marca “ROCHA VELHA” induzir facilmente os consumidores em erro ou confusão com a marca “BARCA VELHA”, bem como sobre a possibilidade daquela vir a pos-sibilitar a concorrência desleal, mesmo independentemente da intenção do requerente;e) Diversamente do que se entendeu na sentença recorrida, a marca “ROCHA VE-LHA” apresenta tais semelhanças gráficas e fonéticas com a marca “BARCA VELHA”, que o consumidor poderá ser facilmente induzido em erro ou confusão, correndo mesmo o risco de estabelecer uma equi-vocada associação entre elas;f ) A marca “ROCHA VELHA” tem óbvias semelhanças gráficas e fonéticas com marca “BARCA VELHA”, e da mesma re-sulta uma impressão de conjunto com esta marca, de modo a que o consumidor será facilmente induzido em erro ou confusão;g) A marca registanda contem e re-produz a expressão “VELHA” da marca “BARCA VELHA”;h) A palavra “velha” – substantivo fe-minino do vocábulo “velho” –, quando

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marCaSVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201128

aplicada a vinhos, é uma expressão com eficácia distintiva, e não uma indicação relativa a qualquer qualidade, tipo ou espécie de produto - em bom Português, um vinho pode ser “velho”… mas não “velha”;i) Na avaliação da possibilidade de con-fusão entre as marcas, deverá tomar-se em consideração que a marca “BARCA VELHA” goza de um prestígio excepcio-nal, factor este que facilita e potencia a possibilidade de marcas com algumas semelhanças – as quais, em regra, até poderiam ser consideradas menos rele-vantes – induzirem em erro ou confusão o consumidor médio – normalmente despreocupado e apressado;j) A marca “ROCHA VELHA” constitui uma imitação da marca de prestígio “BARCA VELHA”, e, por isso, o Tribunal a quo deveria ter revogado o despacho de concessão do registo daquela marca;k) O uso da marca “ROCHA VELHA” possibilitará ao Recorrido, mesmo in-dependentemente das suas intenções, fazer concorrência desleal à Recorrente, e, também por isso, o despacho de con-cessão do registo de marca em apreço deveria ter sido revogado;l) Pretendendo-se registar uma marca confundível com uma marca registada anteriormente, de prestígio, para assi-nalar precisamente os mesmos produtos (vinhos), existe a possibilidade de o Recorrido, mesmo independentemente da sua intenção, vir a fazer concorrência desleal à Recorrente;m) Conclui-se que na sentença recorrida foi violado o disposto nos art.ºs 239.º, n.º 1, alíneas a) e e) e 242.º, n.º 1 do Código da Propriedade Industrial.Termos em que, nos melhores de Direito, e com o sempre mui Douto suprimento de Vossas Excelências, deve ser julgada procedente a apelação, revogar-se a sen-tença recorrida e, consequentemente, ser recusado o registo da marca nacional n.º 000327, “ROCHA VELHA”, assim se fazendo, como sempre,JUSTIÇA !Não houve contra-alegações.Recebido o recurso, elaborado o projecto de acórdão o mesmo foi enviado por correio electrónico aos Meritíssimos

Juízes-adjuntos, do mesmo passo que o processo lhes foi com vistos de 5 dias, nada tendo sido, pelos mesmos sugerido; nada obsta ao conhecimento do recursoQuestão a resolver: Saber se ocorre erro de julgamento na sentença recorrida ao considerar que a marca “Rocha Velha” destinada a assinalar “Vinhos”,-classe 33ª -se não confunde com a marca an-teriormente registada e pertencente à apelante “Barca Velha” e que o uso da marca pela recorrida não constitui, independentemente de intenção da recorrida, qualquer concorrência desleal.

ii- FUNdameNtação de FaCto

O Tribunal recorrido deu como provados os seguintes factos que não vêm impug-nados, nos termos da lei de processo:1 - Por despacho de 05 de Janeiro de 2010 o Sr. Director de Marcas e Patentes do I.N.P.I., por subdelegação de compe-tências, deferiu o pedido de registo da marca nacional nominativa nº 000.327 - “ROCHA VELHA”, pedido em 06 de Julho de 2007. ---2 - Que se destina a assinalar na classe 33ª “vinhos”. ---3 – A recorrente é titular da marca na-cional nº 000372 “BARCA VELHA”, cujo registo foi pedido em 31 de Outubro de 1958 e concedido por despacho de 25 de Junho de 1959, destinada a assinalar na classe 33º “vinhos, vinho do Porto, aguardentes e licores”. ---3 – E tem a seguinte configuração: ---4 - A recorrente é titular da marca na-cional nº 0000882 “BARCA VELHA”, cujo registo foi pedido em 24 de Julho de 1959 e concedido por despacho de 06 de Maio de 1960, destinada a assinalar na classe 33º “vinho tinto”. ---5 – A revista Superbrands considerou a marca “BARCA VLHA” uma das 50 gran-des marcas em Portugal. -----6 – Ana Sofia Fonseca escreveu uma obra cujo título é “BARCA VELHA – HISTÓRIAS DE UM VINHO”. ---7 - No Jornal Diário de Notícias de 20 de Março de 2006 foi publicado um artigo intitulado “Novo “Barca Velha” chega esta semana” cuja cópia se mostra

junta a fls. 70 e cujo teor aqui se dá por reproduzido. ---8 – Num número da revista “Visão” foi pu-blicado um artigo intitulado “O Primeiro Barca Velha do Século XXI” cuja cópia se mostra junta a fls. 71 e cujo teor aqui se dá por reproduzido. ---9 – No semanário “Expresso” se 27 de No-vembro de 2004 foi publicado um artigo sobre o Vinho Barca Velha intitulado “Um emblema da nacionalidade” cuja cópia se mostra junta a fls. 72 e cujo teor aqui se dá por reproduzido. ---

iii- FUNdameNtação de direito

Conforme resulta do disposto nos art.ºs 660, n.º 2, 664, 684, n.º 3, 685-A, n.º 3, do CPC[1] são as conclusões do recurso que delimitam o seu objecto, salvas as questões cuja decisão esteja prejudica-da pela solução dada a outras e as que sejam de conhecimento oficioso. É esse também o entendimento uniforme do nosso mais alto Tribunal (cfr. por todos o Acórdão do S.T.J. de 07/01/1993 in BMJ n.º 423, pág. 539).Considerou-se no despacho que deferiu a nova marca que não havia imitação ao abrigo do disposto no art.º 239/1/a, nem reconhecimento de que se pretende fazer concorrência desleal nos termos do art.º 239/1/e do Código de Proprie-dade Industrial, ou seja o Código de Propriedade Industrial aprovado pelo DL 36/03 de 5/3, na redacção que lhe foi dada pelo DL 143/08, de 25/7; é este a redacção aplicável uma vez que o DL 143/08 entrou em vigor em 1/10/08, e o pedido do novo de registo é de 6/7/09, atentas as disposições dos art.ºs 4 e 16 do DL 143/08.Reza o art.º 239Artigo 239.º[...]1 – Constitui ainda fundamento de recu-sa do registo de marca:a) A reprodução ou imitação, no todo ou em parte, de marca anteriormente registada por outrem para produtos ou serviços idênticos ou afins, que possa induzir em erro ou confusão o consu-midor ou que compreenda o risco de associação com a marca registada;

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marCaS VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 29

b) A reprodução ou imitação, no todo ou em parte, de logótipo anteriormente registado por outrem paradistinguir uma entidade cuja actividade seja idêntica ou afim aos produtos ou serviços a que a marca se destina, se for susceptível de induzir o consumidor em erro ou confusão;c) A infracção de outros direitos de pro-priedade industrial;d) O emprego de nomes, retratos ou quaisquer expressões ou figurações sem que tenha sido obtida autorização das pessoas a que respeitem e, sendo já falecidos, dos seus herdeiros ou parentes até ao 4.º grau ou, ainda que obtida, se produzir o desrespeito ou desprestígio daquelas pessoas;e) O reconhecimento de que o requeren-te pretende fazer concorrência desleal ou de que esta é possível independen-temente da sua intenção.2 – Quando invocado em reclamação, constitui também fundamento de recusa:a) A reprodução ou imitação de firma, de denominação social e de outros sinais distintivos, ou apenas parte característi-ca dos mesmos, que não pertençam ao requerente, ou que o mesmo não esteja autorizado a usar, se for susceptível de in-duzir o consumidor em erro ou confusão;b) A infracção de direitos de autor;c) O emprego de referências a determi-nada propriedade rústica ou urbana que não pertença ao requerente;d) A infracção do disposto no artigo 226.º3 – No caso previsto na alínea d) do número anterior, em vez da recusa do registo pode ser concedida a sua trans-missão, total ou parcial, a favor do titular, se este a tiver pedido.

A marca tem hoje uma função essencial de distinguir e garantir que os produtos ou serviços se reportam a uma pessoa que assume em relação aos mesmos o ónus pelo seu uso não enganoso (fun-ção distintiva), uma função derivada de garantia indirecta de qualidade dos produtos ou serviços marcados por referência a uma origem não enganosa, e uma função complementar da função distintiva que é a de contribuir, por si

mesma, para a promoção dos produtos ou serviços que assinala (função publi-citária)[2]Dispõe o art.º 222 do Código de Proprie-dade Industrial, doravante designado por Código.Artigo 222.ºConstituição da marca1 – A marca pode ser constituída por um sinal ou conjunto de sinais susceptíveis de representação gráfica,nomeadamente palavras, incluindo nomes de pessoas, desenhos, letras, números, sons, a forma do produto ou da respectiva embalagem, desde que sejam adequados a distinguir os produtos ou serviços de uma empresa dos de outras empresas.2 – A marca pode, igualmente, ser cons-tituída por frases publicitárias para os produtos ou serviços a querespeitem, desde que possuam carácter distintivo, independentemente da pro-tecção que lhe seja reconhecida pelos direitos de autor.Quanto ao tipo de sinais utilizados há que distingui as marcas nominativas onde se distinguem as sugestivas e arbitrárias das de fantasia, sem signifi-cado conceptual, as gráficas que podem abranger as puramente gráficas com imagem do sinal e as figurativas que associam a imagem visual a um conceito concreto e as marcas mistas que combi-nam elementos nominativos e gráficos.No caso concreto estamos perante mascas, quer a prioritária quer a ques-tionada, puramente gráficas (sugestiva no caso de BARCA VELHA sugerindo uma embarcação de rio já velha, quando associado a transporte de vinhos por rio e arbitrária no caso de ROCHA VELHA, que nada nos sugere quando reportado a vinhos). Nas marcas nominativas a comparação das marcas, com ou sem significado conceptual pode ser feita nos termos legais, nos planos visual, fonético e ideográfico, dependendo da marca em concreto e o grau de relevância de cada um.É o seguinte o critério legal de imitação:Artigo 245.ºConceito de imitação ou de usurpação1 – A marca registada considera -se

imitada ou usurpada por outra, no todo ou em parte, quando, cumulativamente:a) A marca registada tiver prioridade;b) Sejam ambas destinadas a assinalar produtos ou serviços idênticos ou afins;c) Tenham tal semelhança gráfica, fi-gurativa, fonética ou outra que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de associação com marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não as possa distinguir senão depois de exame atento ou confronto.2 – Para os efeitos da alínea b) do n.º 1:a) Produtos e serviços que estejam inseri-dos na mesma classe da classificação de Nice podem não ser considerados afins;b) Produtos e serviços que não estejam inseridos na mesma classe da classifi-cação de Nice podem ser considerados afins.3 – Considera -se imitação ou usurpação parcial de marca o uso de certa denomi-nação de fantasia que façaparte de marca alheia anteriormente registada.Por conseguinte são três os requisitos da imitação: 1. A prioridade da marca registada;2. A identidade ou afinidade dos produ-tos ou serviços marcados;3. A semelhança gráfica, figurativa, fonética ou outra ou outra (que pode ser a semelhança conceptual) da marca posterior com a marca anteriormente registada que induza facilmente em erro ou confusão o consumidor, não podendo este distinguir senão depois de exame atento ou confronto ou crie um risco de associação.Realizando a subsunção aos factos, conclui-se pela verificação dos dois primeiros requisitos, tendo também em conta não só que ambas as marcas se referem à mesma classe de produtos (a 33.ª) como ainda a circunstância de os produtos serem em boa parte os mesmos ou seja vinhos.No que toca ao terceiro requisito há que ver.Há um conjunto de critérios de aprecia-ção comuns relativamente consensuais na doutrina: o primeiro é o dever de apreciar as marcas no seu conjunto, só se

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devendo recorrer à dissecação analítica por justificada necessidade, quando não resultar da visão unitária um resultado claro, o segundo é o da irrelevância no conjunto da apreciação das marcas das suas componentes genérica ou descritiva e o facto de se assemelha-rem unicamente em relação aos sinais gráficos genéricos ou descritivos não é determinante; o terceiro é o de que nas marcas complexas (constituídas por mais de um elemento nominativo), se dever privilegiar sempre o elemento dominan-te e por último é o de que quanto maior for a notoriedade da marca maior o risco de confusão com uma marca posterior; há ainda a referir que nos termos do art.º 245/1/c, parte final o risco de associa-ção, passa a fazer parte do conceito de imitação.[3]No caso concreto há que ver que se trata de marcas nominativas complexas em ambos os casos constituídas por um substantivo (BARCA e ROCHA) e por um adjectivo comum (VELHA). Por serem marcas complexas há que ver se existe um elemento dominante. Ora, com o devido respeito por opinião contrária, o elemento dominante não pode, de maneira nenhuma, ser con-siderado apenas o adjectivo comum VELHA. Na verdade, esse adjectivo é de uso comum e no que toca a bebidas alcoólicas tanto pode qualificar vinhos como aguardentes, bagaceiras, etc. Não é possível concluir que, tratando-se de uma marca notória como o é, flagrantemente, a marca BARCA VELHA, o elemento dominante seja constituído exclusivamente pelo adjectivo VELHA; na verdade, no mundo dos conhecedo-res de vinhos e, diga-se até em abono da verdade no mundo do consumidor médio de vinhos, quer eles sejam de consumo corrente ou de alta qualidade e preço, o que realça é o conjunto das duas expressões ou seja BARCA VELHA e não se vê como é que um consumidor médio de vinhos solicite à mesa de um Restaurante um “VELHA” e o empregado associe, de imediato, a “BARCA-VELHA”; tão pouco inexistem factos alegados que permitam concluir tal.Apreciando as marcas no seu conjunto

não é possível concluir, até pelas razões que antecedem, que ocorra qualquer confusão entre as duas marcas. Dissecando:Os substantivos BARCA e ROCHA, sendo dissilábicos, não têm qualquer seme-lhança gráfica ou sonora (BAR-CA e RO-CHA), sequer conceptual. Acresce que na marca questionada as expressões ROCHA VELHA não estão unidas por um hífen ao invés da marca protegida BARCA-VELHA como claramente resulta dos pontos 3 e 4 da matéria de facto.Um consumidor habitual de vinhos sabe muito bem o que é um BARCA- VELHA, até pelo conhecido elevado preço do mesmo, e nem mesmo o mais distraído dos consumidores confundiria as duas marcas.Neste sentido veja-se, entre outras, a se-guintes decisão sumariada e disponível no sítio www.dgsi.ptAcórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa Processo: 55/05.TYLSB-2 Relator: ANA PAULA BOULAROT Descritores: MARCASCONFUSÃO Nº do Documento: RL Data do Acordão: 30-04-2009 Votação: UNANIMIDADE Texto Integral: S Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: CONFIRMADA A DECISÃO Sumário: I Em termos genéricos a “mar-ca” é qualquer sinal, ou combinação de sinais, susceptível de distinguir, além do mais, os produtos de uma empresa dos de outras empresas.II A marca constituída pela expressão “CASA VELHA” não se confunde com a marca “BARCA VELHA” uma vez que o ele-mento “VELHA”, é um qualificativo de uso comum, insusceptível de, per se, induzir em erro ou confusão os consumidores.(APB) Diferente desta é a situação que a seguir se sumaria em que ocorre uma patente confusão conceptual das marcas com-plexas:Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tri-bunal de Justiça

Processo: 070176 Nº Convencional: JSTJ00002666 Relator: JOAQUIM DE FIGUEIREDO Descritores: MARCASMATERIA DE DIREITOMATERIA DE FACTOCONCORRENCIA DESLEALPODERES DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Nº do Documento: SJ198211090701761 Data do Acordão: 09-11-1982 Votação: UNANIMIDADE Referência de Publicação: BMJ N321 ANO1982 PAG408 Texto Integral: N Privacidade: 1 Meio Processual: REVISTA. Decisão: CONCEDIDA A REVISTA. Indicações Eventuais: CIT PROF JOSE G PINTO COELHO RLJ ANO93 PAG19 E 50. Área Temática: DIR COM - MAR PATENT. Legislação Nacional: CPI40 ART93 N12 ART94 ART187 N4 ART212 N1. Jurisprudência Nacional: AC STJ DE 1976/07/16 IN BMJ N259 PAG239.AC STJ DE 1959/02/13 IN BMJ N84 PAG416. Sumário : I - Embora a Relação tenha concluido que as marcas “Barca Velha” e “Velho Barquinha” não tem qualquer se-melhança gráfica, figurativa ou fonética, pode o Supremo, apesar de funcionar apenas como tribunal de revista, con-cluir diferentemente, pela constatação documental dos factos que interessa considerar.II - A marca Velho Barquinha constitui imitação da marca Barca Velha, para vi-nhos, aguardentes, licores, não podendo o consumidor distingui-las senão depois do exame atento ou confronto, dadas as semelhanças fonéticas, e ideográficas das mesmas.III - Poder-se-ia concluir com base nas semelhanças das duas marcas, que o Ve-lho Barquinha torna possível a confusão entre os vinhos das duas marcas, sendo possível a concorrência desleal, indepen-dentemente da intenção do requerendo do registo impugnado.*

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A sentença considerou inexistir a pos-sibilidade de concorrência desleal, in-tencional ou objectiva prevista no art.º 239/e do Código na medida em que sendo dissemelhantes as marcas, não havendo possibilidade de confusão no consumidor, não há a possibilidade de o consumidor médio associar a marca “ROCHA VELHA”, também para vinhos quer à “A” quer à “C” titulares das marcas protegidas, não havendo impedimento à concessão da marca protegida.O recorrente discorda em suma dizendo:· As marcas em confronto destinam-se a assinalar produtos idênticos que concor-rem directamente entre si no mercado;· Não é mister que o acto de concorrência tenha logrado o fim em si, isto é, o desvio efectivo ou captação da clientela alheia, basta que tal acto tenha a potenciali-dade ou virtualidade para atingir esse objectivo;· As sociedades em confronto exercem actividades idênticas.Apreciando.Concorda-se com o recorrente quando afirma que não é necessária a demons-tração do desvio efectivo ou captação pela sociedade cujo registo vem questio-nado da clientela da “A” ou da “C”. Contudo, o fundamento de recusa do art.º 239/e do Código é muito específico.Como diz Luís Couto Gonçalves[4], “procura-se prevenir a atribuição de um direito privativo a um concorrente, que de um modo intencional ou não, desen-cadeia ou pode desencadear com o seu pedido uma situação objectivamente desleal (um acto contrário às normas e costumes honestos de qualquer activi-dade comercial”.Todavia, a questão da potencialidade da concorrência desleal nada tem a ver com a confusão entre marcas, tratando-se, normalmente de uma situação potencial de concorrência desleal por confusão com os produtos ou serviços de outro concorrente, podendo abarcar outras situações como aquela em que se pede o registo de uma marca com um logó-tipo, não registado, de uma entidade muito conhecida; mas não se trata de confusão de marcas pois “para haver confusão entre marcas seria necessário

que a marca do eventual concorrente lesado se encontrasse validamente registada e protegida no quadro do direito de marcas e que se verificassem os requisitos e só esses do n.º 1 do art.º 245, dispensando-se a verificação de outros requisitos nomeadamente os respeitantes à contrariedade de normas e usos honestos, a prova da relação de concorrência e a prova da confusão objectiva e não a simples identidade ou afinidade entre os produtos ou serviços propriamente dito. …não é isso que acontece no âmbito deste fundamento de recusa…”[5]Seguindo o raciocínio do ilustre jurista, que acompanhamos de perto, não es-tando em causa a confusão com marca anteriormente registada (que tem outra previsão e outros requisitos), na previsão caberão situações conflituantes de dois modos que a lei prevê de aquisição do direito de marcas, ou sejam o uso e o registo; exemplifica com a situação em que se pede o registo de uma marca de facto usada há mais de 6 meses por um outro concorrente (segundo o art.º 227/1 do Código, é dentro de 6 meses que o titular de marca de facto goza de prio-ridade na efectivação do registo) e uma outra em que se pede o registo de marca cujo registo haja sido pedido por outro concorrente que não tenha cumprido o prazo da prioridade de 6 meses para pedido do registo em Portugal previsto no art.º 4/C-1 da Convenção da União de Paris. Realça este Autor, nessa linha de pensamento, uma certa incongruência em relação ao regime legal, na medida em que, um acto de registo público é em princípio um acto conforme aos usos e normas honestos e que de iure constituendo deveria figurar como fundamento autónomo de causa de invalidade um registo efectuado de má fé, em circunstâncias reveladoras de uma consciente actuação do titular da marca em prejudicar terceiros ou obstaculizar a concorrência.Mas ainda que a situação de concorrên-cia desleal, face à nova redacção legal, se possa configurar num caso em que a marca protegida se encontra registada, o que temos de provado sobre a potencial

deslealdade do recorrido ao pretender registar a marca?Temos do processo administrativo que o requerente da marca questionada de nome “B”, pretende o registo de marca nacional para vinhos, o que foi deferido. O titular é de … e a “A” está sedeada em …, …, que, são localidades relativa-mente próximas. Contudo nada mais se sabe acerca dos circuitos de distribuição quer do vinho BARCA VELHA quer do potencial circuito de distribuição do ROCHA VELHA.Concluindo:Inexiste semelhança gráfica, fonéti-ca ou outra que induza facilmente o consumidor médio de vinhos em erro ou confusão entre as marcas BARCA-VELHA e ROCHA VELHA, marca notória, porquanto “VELHA”, elemento comum, é qualificativo de uso comum; tão pouco inexiste risco de associação da marca questionada ROCHA VELHA à marca prioritária BARCA-VELHA, sem exame atento ou confronto das duas.Inexistindo, como inexiste, pelas razões referidas, confusão entre as duas mar-cas, nada mais se sabendo acerca da produção e distribuição dos vinhos das duas marcas, não é possível concluir, sem mais, pelo risco de associação pelo consumidor médio de uma marca a outra e pela deslealdade na concorrência.

iv- deCiSão

Tudo visto acordam os juízes em julgar improcedente a apelação e confirmar a sentença recorrida.Regime de Responsabilidade por Custas: As custas são da responsabilidade do recorrente porque decai e na medida em que decai (art.º 446/1 e 2)Transitada em julgado este acórdão, deverá providenciar-se na 1.ª instância pelo cumprimento do disposto no art.º 35/3 do Código, com remessa ao I.N.P.I. de cópia ou suporte adequado para efeitos de publicação no Boletim.

Lisboa, 12 de Maio de 2011 João Miguel Mourão Vaz GomesJorge Manuel Leitão LealHenrique Antunes

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ComeNtário: No âmbito do presente recurso coloca-se a questão de saber se ocorre erro de julgamento na sen-tença recorrida ao considerar que a marca “Rocha Velha” destinada a assinalar “Vinhos” –classe 33ª – se não confunde com a marca ante-riormente registada e pertencente à apelante “Barca Velha” e que o uso da marca pela recorrida não constitui, independentemente de intenção da recorrida, qualquer concorrência desleal.No despacho que deferiu a nova marca entendeu-se que não havia imitação ao abrigo do disposto no art.º 239/1/a, nem reconhecimento de que se pretende fazer concor-rência desleal nos termos do art.º 239/1/e do Código de Propriedade Industrial, ou seja o Código de Pro-priedade Industrial.O artigo 239.º estabelece o seguinte:[...]1 – Constitui ainda fundamento de recusa do registo de marca:a) A reprodução ou imitação, no todo ou em parte, de marca ante-riormente registada por outrem para produtos ou serviços idênticos ou afins, que possa induzir em erro ou confusão o consumidor ou que compreenda o risco de associação com a marca registada;b) A reprodução ou imitação, no todo ou em parte, de logótipo ante-riormente registado por outrem paradistinguir uma entidade cuja activi-dade seja idêntica ou afim aos pro-dutos ou serviços a que a marca se

destina, se for susceptível de induzir o consumidor em erro ou confusão;c) A infracção de outros direitos de propriedade industrial;d) O emprego de nomes, retratos ou quaisquer expressões ou figurações sem que tenha sido obtida autori-zação das pessoas a que respeitem e, sendo já falecidos, dos seus her-deiros ou parentes até ao 4.º grau ou, ainda que obtida, se produzir o desrespeito ou desprestígio daque-las pessoas;e) O reconhecimento de que o requerente pretende fazer con-corrência desleal ou de que esta é possível independentemente da sua intenção.2 – Quando invocado em reclama-ção, constitui também fundamento de recusa:a) A reprodução ou imitação de firma, de denominação social e de outros sinais distintivos, ou apenas parte característica dos mesmos, que não pertençam ao requerente, ou que o mesmo não esteja autorizado a usar, se for susceptível de induzir o consumidor em erro ou confusão;b) A infracção de direitos de autor;c) O emprego de referências a deter-minada propriedade rústica ou urba-na que não pertença ao requerente;d) A infracção do disposto no artigo 226.º3 – No caso previsto na alínea d) do número anterior, em vez da recusa do registo pode ser concedida a sua transmissão, total ou parcial, a favor do titular, se este a tiver pedido.”A marca tem a função essencial de

distinguir e garantir que os produ-tos ou serviços se reportam a uma pessoa que assume em relação aos mesmos o ónus pelo seu uso não enganoso (função distintiva), uma função derivada de garantia indi-recta de qualidade dos produtos ou serviços marcados por referência a uma origem não enganosa, e uma função complementar da função distintiva que é a de contribuir, por si mesma, para a promoção dos produtos ou serviços que assinala (função publicitária).Dispõe o art.º 222 do Código de Propriedade Industrial:“Artigo 222.ºConstituição da marca1 – A marca pode ser constituída por um sinal ou conjunto de sinais sus-ceptíveis de representação gráfica,nomeadamente palavras, incluindo nomes de pessoas, desenhos, letras, números, sons, a forma do produto ou da respectiva embalagem, desde que sejam adequados a distinguir os produtos ou serviços de uma empre-sa dos de outras empresas.2 – A marca pode, igualmente, ser constituída por frases publicitárias para os produtos ou serviços a querespeitem, desde que possuam carácter distintivo, independente-mente da protecção que lhe seja reconhecida pelos direitos de autor”.Quanto ao tipo de sinais utilizados há que distingui as marcas nominati-vas onde se distinguem as sugestivas e arbitrárias das de fantasia, sem significado conceptual, as gráficas que podem abranger as puramente

NotaS:[1] Na redacção que foi dada ao Código do Processo Civil pelo DL 303/2007 de 24/08, entrado em vigor a 1/1/08, atenta a circunstância de o recurso ter entrado em juízo em 06/04/2010 e ter sido distribuída ao 2.º Juízo do Tribunal de Comércio da Comarca de Lisboa, onde foi autuada em 07/04/2010, como resulta dos autos e o disposto no art.º 11 e 12 do mencionado diploma; ao Código referido pertencerão as disposições legais que vierem a ser mencionadas sem indicação de origem.[2] Luís Couto Gonçalves, Manual de Direito Industrial, Almedina, 2008, pág. 197/198.[3] Autor e obra citados, págs 278 e 279;[4] Obra citada pág. 298.[5] Autor e obra citados, pág. 299.

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gráficas com imagem do sinal e as figurativas que associam a imagem visual a um conceito concreto e as marcas mistas que combinam ele-mentos nominativos e gráficos.No caso concreto estamos perante marcas, quer a prioritária quer a questionada, puramente gráficas (sugestiva no caso de BARCA VELHA sugerindo uma embarcação de rio já velha, quando associado a trans-porte de vinhos por rio e arbitrária no caso de ROCHA VELHA, que nada nos sugere quando reportado a vinhos). Nas marcas nominativas a comparação das marcas, com ou sem significado conceptual pode ser feita nos termos legais, nos planos visual, fonético e ideográfico, dependendo da marca em concreto e o grau de relevância de cada um.O critério legal de imitação é o seguinte:“Artigo 245.ºConceito de imitação ou de usur-pação1 – A marca registada considera -se imitada ou usurpada por outra, no todo ou em parte, quando, cumula-tivamente:a) A marca registada tiver prioridade;b) Sejam ambas destinadas a assi-nalar produtos ou serviços idênticos ou afins;c) Tenham tal semelhança gráfica, figurativa, fonética ou outra que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreen-da um risco de associação com marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não as possa distinguir senão depois de exame atento ou confronto.2 – Para os efeitos da alínea b) do n.º 1:a) Produtos e serviços que estejam inseridos na mesma classe da clas-sificação de Nice podem não ser considerados afins;b) Produtos e serviços que não estejam inseridos na mesma classe da classificação de Nice podem ser

considerados afins.3 – Considera -se imitação ou usurpa-ção parcial de marca o uso de certa denominação de fantasia que faça parte de marca alheia anteriormente registada”

Os requisitos da imitação são, pois: 1. A prioridade da marca registada;2. A identidade ou afinidade dos produtos ou serviços marcados;3. A semelhança gráfica, figurativa, fonética ou outra ou outra (que pode ser a semelhança conceptual) da marca posterior com a marca anteriormente registada que indu-za facilmente em erro ou confusão o consumidor, não podendo este distinguir senão depois de exame atento ou confronto ou crie um risco de associação.No caso dos autos conclui-se pela verificação dos dois primeiros requi-sitos, tendo também em conta não só que ambas as marcas se referem à mesma classe de produtos (a 33.ª) como ainda a circunstância de os produtos serem em boa parte os mesmos ou seja vinhos.No que toca ao terceiro requisito teremos ter em conta o seguinte: 1.º O dever de apreciar as marcas no seu conjunto, só se devendo recorrer à dissecação analítica por justificada necessidade, quando não resultar da visão unitária um resultado claro, 2.º O critério da irrelevância no con-junto da apreciação das marcas das suas componentes genérica ou des-critiva e o facto de se assemelharem unicamente em relação aos sinais gráficos genéricos ou descritivos não é determinante; 3.º Nas marcas complexas (constituí-das por mais de um elemento nomi-nativo), deve-se privilegiar sempre o elemento dominante;4.º Quanto maior for a notoriedade da marca maior o risco de confusão com uma marca posterior.No caso concreto há que ver que se trata de marcas nominativas com-

plexas em ambos os casos constitu-ídas por um substantivo (BARCA e ROCHA) e por um adjectivo comum (VELHA). Por serem marcas complexas há que ver se existe um elemento domi-nante. Este elementos dominante não pode ser considerado apenas o adjectivo comum VELHA. Na verda-de, esse adjectivo é de uso comum e no que toca a bebidas alcoólicas tanto pode qualificar vinhos como aguardentes, bagaceiras, etc. Não é possível concluir que, tratando-se de uma marca notória como o é, flagrantemente, a marca BARCA VELHA, o elemento dominante seja constituído exclusivamente pelo adjectivo VELHA; na verdade, no mundo dos conhecedores de vinhos e no mundo do consumidor médio de vinhos, quer eles sejam de con-sumo corrente ou de alta qualidade e preço, o que realça é o conjunto das duas expressões ou seja BARCA VELHA e não se vê como é que um consumidor médio de vinhos soli-cite à mesa de um Restaurante um “VELHA” e o empregado associe, de imediato, a “BARCA VELHA”.Apreciando as marcas no seu con-junto não é possível concluir que ocorra qualquer confusão entre as duas marcas. Os substantivos BARCA e ROCHA, sendo dissilábicos, não têm qualquer semelhança gráfica ou sonora (BAR-CA e ROCHA), sequer conceptual. Acresce que na marca questionada as expressões ROCHA VELHA não estão unidas por um hífen ao invés da marca protegida BARCA-VELHA.Um consumidor habitual de vinhos sabe muito bem o que é um BARCA- VELHA, até pelo conhecido elevado preço do mesmo, e nem mesmo o mais distraído dos consumidores confundiria as duas marcas.

Face ao exposto foi decidido julgar improcedente a apelação e confir-mar a sentença recorrida.

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JUriSPrUdÊNCia - ResumosVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201134

A decisão do acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 30 de Junho de 2011, foi sumariada do seguin-te modo: “I - Para a determinação da entidade patronal não assume relevância determinante, em tese, o facto de ter sido outra pessoa a intervir na outorga do acordo escrito e no pagamento da retribuição, quando está demonstrado que o núcleo duro, o objecto do con-trato – consubstanciado no comutativo cumprimento da obrigação de prestação da actividade e no exercício do poder directivo e seu reverso –, nada teve a ver, na prática execução do mesmo ao longo de 16 anos, com a pessoa que se limitou a outorgar o acordo escrito e a proceder ao pagamento da retribuição.II - Não resultando da factualidade provada as circunstâncias que paten-teiam a divergência entre a entidade que outorgou o acordo e aquela que, imediatamente, passou a receber e a determinar a prestação do trabalhador, fica excluída a hipótese de um cenário fraudatório, revelando-se, antes, como um caso que se aproxima do designado empréstimo de mão-de-obra, e, neste quadro, a única situação legalmente regulada é a da cedência ocasional de trabalhadores.III - Não sendo uma cedência ocasional,

excepcionalmente admitida nas situa-ções legalmente previstas – pois, além do mais, perdurou durante 16 anos e sem a autorização do trabalhador – revela-se um expediente ilícito, cujo tratamento jurídico/consequências se alcança por interpretação extensiva do art. 30.º, n.º 1, do DL n.º 358/89, de 17 de Outubro (com previsão homóloga no art. 329.º do CT/003): é conferido ao trabalhador “cedido” o direito de optar pela integra-ção no efectivo do pessoal da empresa cessionária, no regime do contrato de trabalho sem termo.IV - Neste contexto, o termo da “cedência de facto” corresponde ao momento em que o “cedente” comunica ao trabalhador a cessação da relação, e este a repudia desde logo, apresentando-se no local de trabalho, para aí prosseguir, como era habitual, o desempenho das suas funções, traduzindo essa manifestação o exercício do seu direito de opção.”Neste recurso interposto junto do Tri-bunal do Supremo Tribunal de Justiça discute-se a seguinte matéria: - Saber com quem se estabeleceu a re-lação juslaboral protagonizada pelo A. , ou, dito de outro modo, saber quem se encontra no lugar de entidade patronal. Em 12 de Março de 1990 foi celebrado entre o A. e DD o acordo escrito, tendo

o A. sido imediatamente colocado a tra-balhar nas oficinas dos T…, dos BB, onde exerceu as funções da sua profissão até 1 de Fevereiro de 2006). Importa indagar a que título e com que suporte legal o A., contratado por um terceiro, iniciou a sua prestação ime-diatamente ao serviço da R., sob cuja autoridade e direcção, desenvolveu a sua actividade, ininterruptamente, por tão dilatado período. O A. desenvolveu a sua actividade profis-sional integrado em estrutura organiza-tiva de uma empresa, a par dos demais trabalhadores denominados ‘efectivos’ desta, e sujeito às ordens, direcção e fiscalização da mesma, deve considerar-se que a prestação de trabalho do A. se prestou de forma juridicamente a ela subordinada’. No caso em apreço, durante os 16 anos da sua prestação, nem um dia sequer o A. exerceu as suas funções para o indivíduo que figura no acordo escrito, de fls. ....., como primeiro outorgante. Quem lhe deu ordens e instruções – desde sempre, nesta circunstância – foi o Chefe das oficinas da R. onde iniciou a prestação contratual em causa. Era este, EE, trabalhador que pertencia aos quadros de pessoal efectivo da R. e sob cuja autoridade e direcção trabalha-va, que organizava, dirigia e fiscalizava todo o trabalho das oficinas, em repre-sentação dos ‘BB’. Era ele também quem recebia e autori-zava as comunicações de faltas do A. e

CoNtrato de trabalho- Cedência de trabalhador

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 30.6.2011Fonte: site do STJ – www.dgsi.pt

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Resumos - JUriSPrUdÊNCia VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 35

demais colegas de trabalho, sendo ainda através dele que a R. marcava os períodos de férias dos trabalhadores das oficinas. O poder disciplinar sobre todos os traba-lhadores das oficinas estava delegado no EE, sendo este que determinava quando era necessário fazer trabalho extraordi-nário, em especial aos sábados. O A. marcava o ponto, diariamente, em folhas próprias dos ‘BB’, a quem perten-ciam todos os maquinismos e ferramen-tas usadas por aquele. Tinha um cartão de identificação e um ‘livre trânsito’, iguais aos demais traba-lhadores da R., usando roupa de trabalho com as cores dos ‘BB’, como os outros trabalhadores desta. Portanto, todos os poderes do emprega-dor sempre foram exercidos por quem precisava realmente da contratada acti-vidade profissional do A. Mostram-se, pois, evidenciados, com suficiência bastante, os factos consti-tutivos do vínculo laboral duradouro, com prestação de actividade funcional ininterrupta e sujeição/subordinação jurídica do A. à aqui R., durante toda a constância da relação. É, pois, seguro afirmar-se, ante a factua-lidade relembrada, que a prestação de trabalho do A. foi realmente executada, durante todo o longo tempo da relação em causa, de modo juridicamente subor-dinado à R., em cuja estrutura organiza-tiva se mostrava plenamente integrado. Tendo sido celebrado o acordo em epí-grafe, entre DD e o A., com data de 12 de Março de 1990 – cuja validade, pelo sobredito, não se questiona – resta averi-guar a que título foi o A., imediatamente após, e até princípios de 2002, colocado a trabalhar para a R. nas oficinas situadas na Av. …, Coimbra, e, depois, no edifício dos ‘BB’, em Taveiro/Coimbra. Apesar da alegação de que o referido DD detinha com a R. um contrato de prestação de serviço nada de factual-mente válido e prestável vem adrede demonstrado, tendo-se limitado a R. à junção, na sede e tempo devidos, de uma proposta de ‘contrato de prestação de serviços e contrato de comodato, com data de 1 de Fevereiro de 2005 (quinze anos depois de ter recebido o A. ao seu

serviço!), assinada por um suposto 1.º outorgante, documento apenas referi-do no elenco da factualidade relevante como tendo por si elaborado, sem outra menção, valor e/ou alcance. Ora, a situação sujeita aproximar-se-á daquilo a que vulgarmente se designa por empréstimo de mão-de-obra, sen-do que, neste quadro, a única situação legalmente regulada é a da cedência ocasional de trabalhadores em cujo regime jurídico/disciplina buscaremos, pois, a solução para o desenhado litígio. A cedência temporária, em sentido próprio, analisa-se normalmente num contrato através do qual uma empresa cede provisoriamente a uma outra, usualmente integrada no mesmo sector de actividade económica, um ou mais trabalhadores, conservando, no entan-to, o vínculo juslaboral estabelecido e a consequente qualidade de empregador. Nestes casos, a empresa cedente não tem por actividade o reenvio de tra-balhadores para outras organizações produtivas, surgindo acidentalmente a cedência de mão-de-obra, ao invés do que sucede com as ETT (empresas de trabalho temporário), cujo escopo é precisamente esse. No caso concreto está fora de dúvida que o empregador formal fosse uma ETT, empresa cuja constituição é legalmente condicionada por um apertado conjunto de requisitos e exigências, tendo o seu incumprimento, como consequência mais relevante, a consideração legal da existência de contrato de trabalho de duração indeterminada, com responsa-bilização do utilizador – n.º3 do art. 16.º. A cedência de trabalhadores do quadro de pessoal próprio para utilização de terceiros que sobre esses trabalhadores exerçam os poderes de autoridade e direcção próprios da entidade emprega-dora – disciplina encaixada nos arts. 26.º a 30.º do Decreto-Lei n.º 358/89, depois incluída no Código do Trabalho de 2003, no Capítulo VII, relativo às ‘Vicissitudes contratuais’, sob os arts. 322.º e seguintes – é, por regra, proibida, conforme princí-pio geral proclamado no n.º1 do art. 26.º. ‘O princípio geral nesta matéria é a proibição da cedência temporária ou

definitiva de trabalhadores…princípio que exprime – nas palavras de Regina Redinha, loc. cit. – o carácter anómalo da cisão entre titularidade e utilização na relação de trabalho. No caso em apreço, a cedência de facto, que a materialidade retida patenteia – não preenchendo embora, minima-mente, os requisitos legais da cedência ocasional de trabalhadores – perdurou por vários anos, com a certeza de que o A. nunca a autorizou. Em 1.2.2006, o A., ao apresentar-se no seu local de trabalho para o normal desempenho das suas funções, foi impedido de trabalhar pela Ré, através do respectivo chefe de ofici-nas, o qual lhe comunicou que estava dispensado do serviço e que não mais ali deveria comparecer.Esta situação equipara-se, para todos os efeitos, à de um despedimento ilícito, uma vez que a assumida conduta im-plicou a cessação unilateral da relação juslaboral sujeita, sem justa causa e precedência de procedimento discipli-nar – arts. 429.º, a), 436.º, b) e 437.º/1 do Código do Trabalho/2003. O A. pediu a reintegração no seu posto de trabalho, com antiguidade reportada a 12.3.1990 e com a categoria profissio-nal de mecânico auto de 1.ª, o pagamen-to das prestações vincendas e ainda, além dos juros sobre todas as quantias em dívida desde o seu vencimento e até efectivo pagamento, a condenação da R. no pagamento de uma sanção compul-sória de montante não inferior a € 100,00 por cada dia de atraso no cumprimento da condenação. Tratando-se, como se trata, de uma obri-gação “de facere”, de prestação de facto infungível, que só pode ser cumprida pela própria R., – notoriamente havida como uma grande empresa, bem es-truturada e sobriamente implantada no mercado – e visto o disposto nos n.ºs 1 a 3 do art. 829.º-A do Cód. Civil, o Tribunal deve, a requerimento da parte credora, condenar o devedor ao pagamento de uma quantia pecuniária por cada dia de atraso no cumprimento, a fixar segundo critérios de razoabilidade. Face ao exposto dediciu-se, no STJ, em conceder a revista.

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A decisão do acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 30 de Junho de 2011, foi sumariada do seguinte modo: “1. O nº 1 do art. 1550º do CC deve ser interpretado, segundo critérios funcio-nais ou teleológicos, no sentido de que o direito legal de preferência, aí outorgado ao proprietário do prédio serviente, não tem lugar em caso de alienação por um dos comproprietários a terceiro de parte alíquota do prédio dominante:2. Na verdade, ocorrendo mera alienação a terceiro do direito de compropriedade, não são alcançáveis os fins que estão na base de tal direito real de aquisição, já que, neste caso, o exercício da preferência não poderia conduzir ao termo do ónus imposto ao prédio serviente - ditando ainda o ingresso forçado do preferente na compropriedade do prédio dominante uma presumível litigiosidade acrescida na fruição e exploração deste pelos vários comproprietários.”Neste recurso interposto junto do Tri-bunal do Supremo Tribunal de Justiça discutem-se fundamentalmente a se-guinte questão:I - Por interpretação da norma constante do nº1 do art. 1555º do CC – apurar quais são exactamente os pressupostos do direito legal de preferência outorgado ao proprietário do prédio serviente, onerado com servidão legal de passagem : cons-tituirá venda do prédio dominante, para os efeitos desse artigo, o negócio jurídico

através do qual algum dos respectivos comproprietários vende a terceiro, não comproprietário, a sua quota no imóvel comum (no caso, a metade indivisa do prédio em causa)? - Ou seja, pressupõe o referido direito legal de preferência a alienação onerosa de todos os direitos de compropriedade que incidem sobre o imóvel comum ou basta-se com a alienação a terceiro de um desses direitos de que são titulares cada um dos vários comproprietários?Incidindo todos os direitos dos compro-prietários, de forma directa e concorrente, sobre o imóvel a todos pertencente, mostrando-se todos eles simetricamente onerados, com vista a permitir-se o exer-cício igualitário dos poderes de gozo e fruição sobre o bem comum - a alienação de um direito de compropriedade traduz inelutavelmente a transmissão a terceiro do próprio direito de propriedade sobre o imóvel ( e não apenas sobre uma quota ou fracção ideal, dele distinta, como ocorre, pelo contrário, nas situações de contitu-laridade ou comunhão num património autónomo não partilhado).A dúvida interpretativa atrás enunciada terá que ser resolvida segundo critérios funcionais ou teleológicos, decorrentes da adequada ponderação dos interesses e valores jurídicos determinantes da concessão do direito legal de preferência : serão tais interesses alcançados quando apenas é alienado a terceiro um direito de compropriedade sobre o imóvel comum,

nele sucedendo, por «subrogação», o preferente ; ou pelo contrário, os valores e interesses jurídicos determinantes desse direito real de aquisição só são realizados quando, tendo sido alienada, na totalida-de, a propriedade do imóvel, o preferente possa ingressar nessa propriedade plena?Ao contrário do que sucede com ou-tros direitos de prelação, a lei fornece aqui indicações fortes no sentido de a preferência ser reconhecida não apenas no caso de venda ou dação em cumpri-mento do prédio arrendado mas ainda quando ocorra uma venda ou dação em cumprimento de uma quota de compro-priedade detida sobre o mesmo prédio. Só neste contexto cobra sentido o nº 2 do art. 28º do DL 385/88, norma que faz o direito de preferência do arrendatário ceder perante o exercício desse direito por co-herdeiro ou comproprietário – uma vez que estes direitos são exercidos na venda de quotas da compropriedade e de quinhões hereditários, só faz sentido admitir que o legislador pressupõe que o direito de prelação do arrendatário rural existe também na venda de fracções ideais da propriedade do terreno e, até, de quinhões hereditários onde o terreno arrendado se integre. Daí que se conclua pela advertência de que a sujeição da venda ou dação em cumprimento de fracções ideais da pro-priedade se funda em razões próprias do arrendamento rural, o que impede que este caso possa ser usado como argu-mento para sustentar igual possibilidade noutros contextos.Na verdade, e como é evidente, as ra-zões que estão na base da amplitude e intensidade da preferência outorgada

direito de preferência- Servidão de passagem

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 30.6.2011Fonte: Site do STJ – “www.stj.pt”

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ao arrendatário rural não podem auto-maticamente ser transpostas para as restantes previsões legais de direitos de preferência na alienação de imóveis – desde logo, para o caso da que, em sede de emparcelamento, decorre da previsão normativa que consta do art. 1380º do CC, a que se reporta alguma jurisprudência citada pelos recorrentes: os objectivos prosseguidos por tal regi-me legal já não têm a mesma coloração político ideológica, visando antes – e tão somente – alcançar, no plano técnico e económico, uma exploração rentável e viável dos prédios rústicos, agregando vários imóveis contíguos, de área inferior à unidade de cultura vigente , de modo a propiciar uma exploração economica-mente rentável da unidade resultante do emparcelamento alcançado através do exercício dessa preferência legal .Importa considerar, relativamente a este problema, duas hipóteses: a de um prédio se encontrar em regime de comproprie-dade e um dos consortes transmitir a sua quota a um estranho que não seja comproprietário confinante; e a de , numa situação de propriedade plena, o respecti-vo titular alienar uma quota do seu direito, também a favor de um estranho que não seja comproprietário confinante.Em nenhuma destas hipóteses deve ser reconhecido o direito de preferência aos proprietários confinantes com o prédio a que respeita a quota alienada. Em primei-ro lugar, o art. 1380º, que é uma norma de natureza excepcional, apenas atribui o direito de opção na alienação de todo o prédio, e não na alienação de partes alíquotas. Por outro lado, a preferência, na medida em que não proporcionaria a aquisição da propriedade plena do terre-no, mas apenas de uma quota ideal, não permitiria alcançar o objectivo que está na base do art. 1380º, que é fomentar a exploração unitária de áreas que atinjam ou se aproximem da unidade de cultura considerada economicamente aconse-lhável. Acresce que a preferência iria fazer ingressar um estranho na comproprie-dade, com todos os inconvenientes que normalmente daí decorrem. Encarando a lei com desfavor as situações de comu-nhão (arts. 1409º e 1412) e sabendo-se

que, mesmo quando estabelecidas voluntariamente, constituem uma fonte permanente de conflitos, estranho seria que, através da regra do art. 1380º, se permitisse a aquisição da qualidade de comproprietário sem o assentimento e até, em regra, contra a vontade dos de-mais consortes.Daí que se conclua que só os consortes do alienante devam ser admitidos a preferir.Neste sentido se tem, aliás, orientado a jurisprudência do STJ – vide acs. de 19/4/99, proferido no P. 99A731 e de 6/11/02, no P. 03B671, em que claramente se afirma que o art. 1380º do CC deve ser interpretado no sentido de que o direito de preferência aí previsto não tem lugar em caso de alienação de parte alíquota de determinado prédio. Ora, considera-se que a situação de preferência legal controvertida no pre-sente `processo apresenta muito maior proximidade e analogia com o caso, atrás referido, em que a lei outorga um direito de preferência ao proprietário de prédio confinante, visando realizar os fins típicos do emparcelamento rústico – pelo que deverá ser idêntica a interpretação a fazer da expressão «venda do prédio dominan-te», utilizada pelo art. 1555º do CC.Na verdade, não se trata aqui de privile-giar e reforçar a todo o custo, por razões político-ideológicas, a posição de um dos proprietários em relação ao outro (como vimos que sucedia no âmbito do arrenda-mento rural), mas antes de potenciar um factor de racionalidade na exploração dos prédios, evitando, na medida do possível, a subsistência de relevantes ónus na fruição do prédio serviente, decorrentes da imposição forçada da servidão de passagem, destinada a possibilitar uma utilização minimamente adequada do prédio dominante.Ora, tais objectivos legais resultariam claramente frustrados pela outorga ao titular do prédio serviente de um direito legal de preferência que incidisse sobre a alienação de mera parte alíquota do prédio dominante, resultante, nomea-damente de, estando este em situação de compropriedade, um dos compro-prietários ter alienado o seu direito sobre o bem comum a terceiro (porque

desconsiderou a preferência prioritária dos demais comproprietários, que não reagiram tempestivamente a tal facto, ou porque estes, devidamente notificados, não quiseram exercitar o direito que lhes resulta do disposto no art. 1409º do CC). Na verdade: - por um lado, é evidente que, neste cir-cunstancialismo, sempre teria de subsistir indemne a servidão de passagem, como condição «sine qua non» para os restantes comproprietários do prédio dominante exercitarem os direitos de uso, gozo e fruição da coisa comum que lhes concede o art. 1406º do CC – ou seja, o exercício da preferência no caso de mera alienação do direito do comproprietário do prédio indiviso nunca poderia conduzir ao fim legal subjacente a este instituto , ditando o termo do encargo ou ónus que excep-cionalmente recai sobre a propriedade do prédio serviente ( cfr. Ac. do STJ de 30/1/86, proferido no P. 073021);- em segundo lugar, o exercício do direito de preferência, relativamente à mera alienação de quota alíquota do prédio dominante, produziria um efeito que, em termos de plausibilidade e normal previsibilidade, se configura como cla-ramente nocivo quanto à utilização e exploração do próprio prédio dominante, ao fazer ingressar, contra a vontade dos seus titulares, por via forçada e litigiosa, um novo comproprietário, que passaria naturalmente a estar legitimado para o exercício dos direitos de uso e fruição que a lei civil confere a qualquer com-proprietário, fomentando o surgimento de situações litigiosas quanto ao gozo e exploração do prédio comum - e culmi-nando numa eventual divisão deste, sem que, todavia, à partida, se possa assegurar que, na sequência do juízo divisório, a totalidade do prédio sempre caberia ao titular do prédio serviente que tivesse sido admitido a exercer a preferência…Verifica-se. deste modo, que uma inter-pretação ampliativa do conceito legal «venda do prédio dominante», de modo a abarcar a mera alienação do direito de um dos comproprietários, para além de não permitir alcançar o escopo essencial do direito de preferência ínsito na norma do art. 1550º , potencia ainda, como

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SoCiedade comercial- Vinculação de pessoa colectiva

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 30.6.2011Fonte: site do STJ – www.dgsi.pt

relevante efeito colateral negativo, uma acrescida – e presumida - litigiosidade no uso e exploração do prédio dominante, decorrente do ingresso forçado de um terceiro na respectiva compropriedade – o que permite afirmar e concluir que os fins subjacentes à referida norma não seriam aqui alcançados ( como o não são no caso paralelo, regido pelo art. 1380º) através da outorga do referido direito real de aquisição.importa ainda realçar dois aspectos relevantes:- o primeiro deles traduz-se em fazer notar que este último efeito prejudicial, decorrente do ingresso forçado de um novo comproprietário na fruição do prédio dominante, está muito atenuado no caso, atrás analisado, da preferência legal do arrendatário rural ( como se viu, abarcando aqui, segundo entendimento

dominante, a própria alienação da parte alíquota da propriedade pelo senhorio): é que, neste caso, o arrendatário, titular da preferência, não é um estranho relati-vamente ao prédio sobre que vai exercer o seu direito real de aquisição, uma vez que, na qualidade de titular de um direito pessoal de gozo, emergente do arrenda-mento, já anteriormente vinha fruindo e explorando em exclusividade o prédio arrendado ; deste modo, o tornar-se com-proprietário deste, por via do exercício da referência, apenas reforça a situação jurídica que já detinha sobre o prédio arrendado, no âmbito da relação jurídica de arrendamento, sem que naturalmente os restantes comproprietários se possam, enquanto subsistir tal direito pessoal de gozo, arrogar qualquer direito concorren-te de uso e fruição do imóvel arrendado;- a segunda nota relevante para um

correcto entendimento do sistema legal implica realçar o regime constante do art. 1551º do CC, outorgando ao proprietário do prédio serviente – em situações de muito particular onerosidade na consti-tuição da servidão legal de passagem ( contendendo eventualmente, de forma relevante, com o seu direito à privacida-de, por a servidão incidir sobre quintas muradas, quintais, jardins ou terreiros adjacentes a prédios urbanos) – um ver-dadeiro direito potestativo na aquisição forçada do próprio prédio dominante, naturalmente vigente fora do quadro de alienação da propriedade plena deste imóvel, afastando com o exercício deste direito a própria constituição da servidão legal.Face a todo o exposto, o Supremo Tri-bunal de Justiça acordou em conceder provimento ao recurso.

A decisão do acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 30 de Junho de 2011, foi sumariada do seguinte modo: “I - Sendo a autora uma sociedade por quotas e a ré uma sociedade anónima, competia à gerência da autora ou à admi-nistração da ré praticar os actos materiais ou jurídicos de execução da vontade da sociedade e manifestar, externamente,

a vontade desta, nomeadamente cons-tituindo, modificando e extinguindo as relações jurídicas que tenham a socieda-de como sujeito.II - Deste modo, o director de produção da fábrica da ré não tinha poderes para vincular a ré em negócio de colocação da máquina à experiência, ou em contrato de aquisição da máquina, uma vez que tal competência é reservada à adminis-

tração da ré.III - Não se tendo provado que o director de produção tivesse praticado os aludi-dos actos por mandato de administração, o negócio que aquele celebrou em nome da sociedade é ineficaz em relação à au-tora se não for ratificado pela ré.IV - A laboração da máquina é acto da ré de onde se extrai, com toda a probabilida-de, que a ré quis confirmar os actos do seu director de produção que justificaram, em primeira mão, a entrega do dia 02-11-2007, constituindo laboração declaração tácita de ratificação pela ré daqueles actos do seu director de produção.

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V - A colocação e instalação da máqui-na nas instalações da ré, à experiência, pelo prazo de um mês, constituía uma reserva relativa à aceitação do contrato de compra e venda, o que significa que, em virtude dessa cláusula, o acordo das partes consubstancia uma mera proposta de venda, ficando o vendedor vinculado sem que o comprador o venha a estar.VI - Ao contrário do que genericamente sucede, a lei admite posteriormente a celebração do negócio através do silêncio do comprador, pelo que não tendo este, no prazo da aceitação, tomado nenhuma iniciativa, deixando escoar sem qualquer declaração ou manifestação de vontade, não há senão que interpretar o seu silên-cio como aceitação do aperfeiçoamento do contrato.VII - Por isso, entregue que seja a coisa em condições de poder ser examinada pelo potencial comprador, estabelece-se o ónus a cargo desse comprador de decla-rar ao vendedor que não quer comprar, ou o ónus de lhe devolver a coisa, podendo essa devolução consistir em simples de-claração de disponibilidade da coisa se o vendedor a quiser vir buscar.VIII - Não se tendo a ré pronunciado den-tro do prazo de trinta dias, considera-se o mesmo concluído em 02-12-2007, ficando a ré obrigada a pagar o preço da máquina.IX - Ainda que a ré viesse a declarar, de-pois dessa data, que a máquina lhe não interessava, tal declaração seria irrele-vante, dado que o contrato se encontrava concluído.X - Desmente a declaração de falta de interesse na compra da máquina o uso sistemático que a ré lhe continuou a dar depois de decorrido o prazo fixado para a experiênciaNeste recurso interposto junto do Tri-bunal do Supremo Tribunal de Justiça discute-se, entre outras, a seguinte ques-tão – Qualificação do negócio celebrado entre as partes:Os artigos 923º e seguintes do Código Civil, diploma subsidiário do Código Comercial, referem-se a modalidades específicas de venda em que esta se rea-liza por etapas, como a venda a contento e a venda sujeita a prova. Em ambas as

situações, normalmente relativas a bens móveis, se verifica a subordinação do contrato a uma aprovação da coisa ven-dida por parte do comprador, da qual vai depender a sua efectiva vigência. A diferença reside em que na venda a con-tento o comprador reserva a faculdade de contratar ou a de resolver o contrato, consoante a apreciação subjectiva (o seu gosto pessoal) que vier a fazer do bem vendido, Pelo contrário, na venda sujeita a prova está antes em causa uma avaliação objectiva do comprador em relação às qualidades da coisa, em conformidade com um teste a que esta será sujeita. Em ambos os casos, no entanto, a vigência efectiva do contrato fica dependente de um teste, a realizar pelo comprador.A venda a contento, na modalidade que ora interessa, “implica a estipulação de que a coisa vendida terá que agradar ao comprador, correspondendo à tradicional cláusula ad gustum (artigo 923º). Esta modalidade de venda a contento, não é, no entanto, no regime do nosso Código Civil um negócio condicional, uma vez que o legislador não recorre à técnica de subordinação do negócio a uma condição. Efectivamente, a cláusula ad gustum referida no artigo 923º constitui antes uma reserva relativa à aceitação do contrato de compra e venda, o que significa que, em virtude dessa cláusula, o acordo das partes vem a ser qualifica-do como uma mera proposta de venda, ficando o vendedor vinculado sem que o comprador o venha a estar. Ao contrário do que, porém, genericamente sucede, a lei admite posteriormente a celebração do contrato através do silêncio do com-prador (artigo 218º), uma vez que dispõe que a proposta se considera aceite se o comprador não se pronunciar dentro do prazo de aceitação, nos termos do artigo 228º. Assim, se o comprador não se pronunciar dentro do prazo o contrato considerar-se-á concluído, mesmo que a coisa lhe não agrade. No entanto, a lei estabelece que a coisa deve ser facultada ao comprador para exame (artigo 923º, n.º 3), pelo que o prazo para aceitação não se poderá iniciar antes de a coisa ter sido entregue.Caso o comprador, durante o prazo es-

tabelecido, se pronunciar no sentido da rejeição do contrato, a venda considerar-se-á como não celebrada.Uma vez que a lei qualifica a situação como uma mera proposta de venda, naturalmente que todos os efeitos do contrato, designadamente a transmissão da propriedade e a atribuição do risco ao comprador, só se verificarão com o decurso do prazo estabelecido, que confirmará a sua intenção de adquirir nos termos do artigo 218º, sendo até lá o comprador considerado como mero detentor precário”.Atendendo aos princípios expostos, os factos comprovam, é de considerar que autora e ré celebraram um contrato de compra e venda a contento.Defende, porém, a recorrente que a sua administração não celebrou qualquer negócio com a recorrida, por duas ordens de razões:

1 - Não se pode atribuir ao comportamento da administração da recorrente uma intenção de adquirir, já que fora o seu director de produção quem recebera a máquina à experiência e não a administração da ré;

2 - O comportamento desta mesma administração constitui uma evidente de-monstração da intenção de não contratar a aquisição da aludida máquina.I – Quanto ao primeiro dos argumentos:Sendo,a autora e a ré sociedades comer-ciais, são os respectivos órgãos que inte-gram a organização interna da sociedade e através dos quais ela forma, manifesta e exerce a sua vontade de pessoa jurídica.Nas sociedades por quotas, é a gerência o órgão de administração e representa-ção (artigos 252º e seguintes), enquanto nas sociedades anónimas, na estrutura designada por “tradicional” ou “latina” competem tais funções à administração.Deste modo, compete à gerência, nas sociedades por quotas, ou à administra-ção, nas sociedades anónimas, praticar os actos materiais ou jurídicos de execução da vontade da sociedade e manifestar, externamente, a vontade desta, nome-

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adamente constituindo, modificando e extinguindo as relações jurídicas que tenham a sociedade como sujeito.Sendo a ré uma sociedade anónima, é verdade que o director de produção da fábrica da ré, CC, não tinha poderes para vincular a ré em negócio de colocação da máquina à experiência, ou em contrato de aquisição da máquina, uma vez que tal competência é reservada à administração da ré (cfr. artigos 405º e 409º do CSC).Também não se provou que o referido CC praticasse os aludidos actos por mandato da administração, ou seja, o director de produção não era mandatário da ré para aqueles efeitos, com ou sem poderes de representação, pelo que não têm aplica-ção ao caso as normas dos artigos 231º a 277º do Código Comercial, as quais, gene-ricamente, regulam o mandato comercial e actos aproximados aos de mandato.Assim, o director de produção excedeu os seus poderes quando solicitou à autora a colocação da máquina nas instalações da ré, à experiência.Logo, o negócio que o director de produ-ção da ré, sem poderes de representação, celebrou em nome desta com a autora é ineficaz em relação àquela, se não for ratificado pela ré. Ou seja, os actos praticados pelo director de produção não determinam a nulidade do negócio correspondente mas tão só a sua mera ineficácia em relação à ré.Quem no-lo diz é o artigo 268º, n.º 1 do Código Civil, diploma subsidiário do Código Comercial.Mas tal negócio pode ser ratificado. A ratificação tem eficácia retroactiva, não podendo contudo prejudicar terceiros, e está sujeita à forma exigida para a procuração (cfr. artigo 268º, n.º 2).Afastada a tese do empréstimo que a ré defendera, sem êxito, na contestação, o negócio de colocação da máquina à experiência e a definitiva aquisição da máquina, ou seja, a venda a contento não está sujeita a forma legal. Assim, segun-do a regra geral do artigo 219º do CC, a procuração que conferiria poderes para realizar qualquer um desses actos nem estaria sujeita a forma escrita, nem teria de cumprir qualquer outra exigência de forma, uma vez que o artigo 262º, nº 2

do CC estipula que, “salvo disposição em contrário, a procuração revestirá a forma exigida para o negócio que o procurador deva realizar”.Donde, a ratificação seria acto da ré não sujeito a forma específica. Ora, como ficou provado, a máquina entrou nas instalações da ré em 2/11/2007, ao abrigo de guia de transporte, com a mesma data, onde se refere que “este equipamento vai à experiência pelo pra-zo de um mês. Findo esse prazo, se nada houver em contrário, será adquirido pelo cliente”. Independentemente do referido na guia, a resposta conjunta aos quesitos 1º, 3º, 4º e 5º confirma que a máquina ficaria à experiência pelo prazo de um mês. Estabelece o n.º 1 do artigo 224º do Código Civil que “a declaração negocial que tem um destinatário torna-se eficaz logo que chega ao seu poder ou é dele conhecida” A questão é saber se a guia de transporte torna eficazes as declarações negociais da autora junto da ré.A guia de transporte, da autoria da dona da máquina e proponente da sua venda, define o estatuto jurídico da máquina nas instalações da ré, define o seu regime de utilização pela ré e define, na condi-ção de proposta contratual, o contrato final que vigorará entre a autora e a ré, decorrido que seja o prazo de um mês.A ré vem identificada na guia e é a des-tinatária jurídica daqueles conteúdos.Assim sendo, o negócio que permitiu a colocação da máquina nas instalações da ré deixou de ser apenas assunto tratado entre pessoa sem poderes de represen-tação (da ré) e a autora, passando a ser negócio que a ré ficou em condições de poder vir a tornar eficaz, por via de rati-ficação, nos termos do transcrito artigo 268º nº 1”.A ratificação pela ré dos actos praticados pelo seu director de produção implica que ela passará a ser a destinatária imediata da proposta de compra da má-quina. Tal como os factos demonstram, a autora montou, em 2/11/2007, nas insta-lações da ré a aludida máquina de corte e embalagem de produtos de panificação. Aliás, resultou provado que a ré utilizou aquela máquina no seu processo indus-trial, pelo menos, até 12/03/2008. Essa

data, que pode nem corresponder ao fim do uso da máquina pela ré, ultrapassa o prazo fixado para a experiência, o qual, como se provou, cessava em 2/12/2007.E tendo laborado, esse lapso de tempo em funcionamento não é circunstância que pudesse ter escapado à percepção da administração da ré, como se referiu, tanto mais que a máquina veio acom-panhada da citada guia de transporte e a administração teve de conhecer em tempo real, ou em lapso de tempo muito curto, a entrada da máquina nas suas instalações, como ela própria reconhece na contestação, ainda que diga que tinha vindo a título de empréstimo.Resulta do exposto e dos ensinamentos da doutrina que, entregue que seja a coisa em condições de poder ser examinada pelo potencial comprador, estabelece-se o ónus a cargo desse comprador de decla-rar ao vendedor que não quer comprar, ou o ónus de lhe devolver a coisa, podendo essa devolução consistir em simples de-claração de disponibilidade da coisa se o vendedor a quiser vir buscar. Teria agora a recorrente de ter expresso a vontade de não adquirir a máquina até que estivesse decorrido aquele prazo de um mês, sob pena de, caducando a possibilidade de recusar a proposta contratual da então vendedora se considerar aceite a propos-ta de venda. Essa declaração do potencial comprador não tem de ser acompanhada de qualquer justificação, uma vez que se trata de uma questão de apreciação subjectiva, ou gosto pessoal.Uma vez que a lei qualifica a situação como uma mera proposta de venda, naturalmente que todos os efeitos do contrato, designadamente a transmissão de propriedade e a atribuição do risco ao comprador, só se verificarão com o decurso do prazo estabelecido, que confirmará a sua intenção de adquirir nos termos do artigo 218º.Assim, não se tendo pronunciado a ré dentro do prazo do contrato, considerar-se-á o mesmo concluído, em 2/12/2007, ficando a ré obrigada a pagar o preço da máquina, nos termos do artigo 879º, alínea c) do Código Civil.Face ao exposto dediciu-se, no STJ, em negar a revista.

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ASSUNTO: Contribuições devidas à segurança socialReferências: Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 20.6.2011Fonte: site do TRP – www.dgsi.pt

Sumário: I – Na acção de impugnação de despedimento compete ao trabalhador alegar e provar a existência de um contrato de trabalho e a sua cessação através de despedimento promovido pela entidade patronal – art. 342º, nº1, do Cód. Civil.II – Na ausência de factos que revelem, no caso, uma manifestação de vontade no sentido de proceder ao despedimento, por parte do empregador, não é possível considerar como verificada a existência dessa declaração negocial.III – Os titulares da obrigação contributiva para a Segurança Social são os trabalhadores e as entidades patronais e que, no caso dos trabalhadores por conta de outrem, há uma obrigação unitária de pagamento das contribuições a cargo da entidade patronal.IV – Embora fundada na relação laboral, esta relação jurídica contributiva não se confunde com ela, e apenas incide sobre

um dos sujeitos da relação laboral, a entidade empregadora, sendo esta a responsável pelo pagamento, mesmo na parte respeitante ao trabalhador.V – Razão pela qual não possa fazer a compensação desse pagamento com créditos laborais do trabalhador.

Acordam os juízes que compõem a

Secção Social deste Tribunal da Relação do Porto:

******1. B…, ajudante de acção directa, re-

sidente na Rua …, .., …, em Santa Maria da Feira, deduziu contra C… e D…, resi-dentes na …, nº .., S. João da Madeira, a presente acção declarativa, emergente de contrato individual de trabalho, com processo comum, pedindo que a acção seja considerada provada e procedente e, por via disso:

a) Declarar-se ilícita a cessação do contrato de trabalho doméstico da A., promovida pelos R.R., em qualquer das circunstâncias alegadas nos artigos 14º a 28º e/ou 36º a 47º deste articulado, e consequentemente serem os R.R. con-denados a pagar à A. a indemnização le-gal, prevista no artigo 31º do DL235/92, que, atenta a actuação dolosa dos R.R., deverá ser calculada à razão de dois meses de retribuição por cada ano com-pleto de serviço ou fracção, decorrido até à data em que tenha sido proferido o despedimento, no valor de 9.040€ (nove mil e quarenta euros).

b) Serem os R.R. condenados a pagar à A. a quantia de 113€ (cento e treze euros), a título de salário do mês de Agosto de 2009.

c) Serem os R.R. condenados a pagar à A. a retribuição proporcional de férias, subsídio de férias e subsídio de natal correspondentes ao trabalho prestado em 2008, no valor de 1.129,98€ (mil cento e vinte e nove mil euros e noventa e oito cêntimos), caso se entenda que o contrato cessou a 09.09.2008, ou no valor de 1.412,49€ (mil quatrocentos e doze euros e quarenta e nove cêntimos), caso se entenda que o contrato cessou a 30.10.2008.

d) Na hipótese de se entender que o contrato cessou a 30.10.2008, os R.R. de-verão ser condenados a pagar à A. a quan-tia de 942,27€ (novecentos e quarenta e dois euros e vinte e sete cêntimos), a título de salários vencidos durante o período de 09.09.2008 a 30.10.2008.

e) Serem os R.R. condenados a pagar os juros de mora que, à taxa legal, se vencerem desde a data da citação até à data do integral pagamento de todas as quantias pedidas.

Para o efeito alegou, em suma, que Em 01 de Setembro de 2001, a A. e os RR celebraram um contrato de serviço doméstico, por força do qual, a partir dessa data, a A. começou a trabalhar sob as ordens, instruções e fiscalização dos R.R., na residência destes.

Os R.R. remuneraram mensalmente a A. de acordo com os seguintes salários líquidos:

deSPedimeNto ilícito- Impugnação do despedimento

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• 400€, no período de 01/09/2001 a 31/12/2001;

• 500€, no período de 01/01/2002 a 31/12/2003;

• 525€, no período de 01/01/2004 a 31/12/2005;

• 550€, no período de 01/01/2006 a 31/12/2007;

• 565€, no período de 01/01/2008 em diante.

No dia 27 de Agosto de 2008, a A. estava doente, foi ao médico e este certificou a sua incapacidade temporá-ria para trabalhar até ao dia 08.09.2008.

No dia 03 de Setembro de 2008, a A. recebeu uma carta da Segurança Social na qual lhe era comunicado que não lhe seria atribuído o subsídio de doença por não existir registo das remunerações necessárias para tal efeito.

Nesse mesmo dia, a A. telefonou à R. mulher e deu-lhe conhecimento do conteúdo da referida carta e perguntou-lhe se ela tinha efectuado os descontos legais.

A R. mulher respondeu-lhe que tinha os descontos em dia e manifestou-se surpreendida pelo conteúdo da carta da Segurança Social.

Perante o teor desta resposta, o marido da A. dirigiu-se aos serviços da Segurança Social a fim de esclarecer aquilo que se passava e aí foi informado de que os R.R. não tinham efectuado quaisquer descontos das retribuições que pagaram à A. desde a altura em que a contrataram.

No dia 09.09.2008, no momento em que a A. se apresentou em casa dos R.R. para retomar o exercício das suas fun-ções, a R. mulher apresentou-lhe uma declaração escrita e comunicou-lhe que não lhe pagaria o salário do mês de Agosto, nem a deixaria começar a trabalhar sem que ela assinasse a refe-rida declaração.

A A. leu a referida declaração e, como o conteúdo da mesma não era verdadeiro, imediatamente comunicou à R. mulher que não a assinaria.

Perante a recusa da A., a R. mulher ordenou-lhe, primeiro, que saísse de sua casa e, depois, repetiu-lhe que não permitia que ela voltasse ali a trabalhar

enquanto ela não assinasse a referida declaração.

A A. acatou a ordem, mas, ainda nesse mesmo dia, voltou a apresentar-se em casa dos R.R. – desta vez acom-panhada pelo seu marido e por mais 2 testemunhas – a fim de retomar o exercício das suas funções.

Aí chegada, a A. foi atendida pelo R. marido que lhe comunicou, na presença das testemunhas, que não lhe pagariam o salário de Agosto, nem a deixariam tornar ali a trabalhar enquanto ela não assinasse a referida declaração

A R. mulher aproximou-se e disse à A., na presença das testemunhas, para ela fazer o que quisesse, mas se não assi-nasse a referida declaração não voltaria ali a trabalhar.

A A. disse, uma vez mais, aos R.R. que queria retomar o seu trabalho, mas que nunca assinaria a referida declaração.

Os R.R., ao exigirem à A. que ela assi-nasse a referida declaração e ao fazerem depender a prestação de trabalho da A. da assinatura de tal documento, mesmo depois de a A. lhes ter comunicado que nunca a assinaria, agiram com a inten-ção de impedir definitivamente a A. de voltar a prestar trabalho em casa deles.

O despedimento deverá ser declara-do ilícito pelo Tribunal por inobservân-cia do formalismo imposto pela lei e por insubsistência de justa causa.

A A. tem direito ao recebimento da indemnização legal, prevista no artigo 31º do DL235/92, que, atenta a actuação dolosa dos R.R., deverá ser calculada à razão de dois meses de retribuição por cada ano completo de serviço ou frac-ção, decorrido até à data em que tenha sido proferido o despedimento, isto é, até 09.09.2008.

A A. é uma pessoa de modesta condição sócia-económica e necessita de trabalhar para viver, não tendo outro rendimento para além do seu salário mensal.

O despedimento deixou a A. sem trabalho, sem fonte de rendimento e, face à inexistência de descontos, sem qualquer protecção social, designa-damente o subsídio de doença ou o subsídio de desemprego.

Neste contexto de grande dificul-dade, a A. viu-se forçada a procurar um trabalho remunerado e, na altura, con-seguiu encontrar um trabalho num su-permercado em regime experimental.

Os R.R. apenas pagaram à A. a quan-tia de 452€ a título de salário do mês de Agosto de 2008, ficando a dever-lhe a parte restante no montante de 113€.

Os R.R. nada pagaram à A. a título de proporcionais de férias, subsídio de férias e subsídio de natal correspon-dentes a 2009, que ascenderá ao valor de 1.129,98€, caso se entenda que o contrato cessou a 09.09.2008, ou ao valor de 1.412,49€, caso se entenda que o contrato cessou a 30.10.2008.

Na hipótese de se entender que o contrato cessou a 30.10.2008, os R.R. deverão ser responsabilizados pelo pagamento do salário da A. corres-pondente ao período de 09.09.2008 a 30.10.2008, uma vez que a ausência da A. lhes é totalmente imputável, e que ascende ao montante de 942,27€ (395,50€ + 546,77€).

Em qualquer das hipóteses de cessa-ção do contrato de trabalho doméstico equacionadas neste articulado, o valor da indemnização a que a A. tem direi-to, por força da aplicação do disposto no artigo 31º do DL235/92, ascende a 9040€.

******2. Frustrada a audiência de partes os

Réus apresentaram contestação. Invocam a prescrição dos créditos

da autora por já ter decorrido o prazo prescricional plasmado no artigo 381º do Código do Trabalho.

Invocam, ainda, a compensação, no montante € 1.182,31 que pagou à Segu-rança Social a título de contribuições devidas pela Autora.

Deduziram pedido reconvencional alegando que foi a Autora que aban-donou o trabalho pelo que deve ser condenar a pagar-lhes a quantia de € 847,00 correspondente a 6 semanas de retribuição (aviso prévio).

Alegou também que a autor litigou com má fé pelo que deve ser condena-da nessa conformidade no pagamento de uma multa a fixar pelo Tribunal e

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de uma indemnização a seu favor no montante de € 1.850,00.

******3. A Autora apresentou articulado

de resposta à contestação alegando que a prescrição não se verifica, que a compensação não é devida e que pug-nando pela inadmissibilidade do pe-dido reconvencional, sendo certo que não litiga com má fé. Termina pedindo que os réus sejam condenados como litigantes de má fé no pagamento de uma multa e de uma indemnização à A. de montante igual às despesas proces-suais e aos honorários dos Advogados, a liquidar em execução de sentença e caso o Tribunal viesse a julgar provada a versão do abandono do trabalho alega-da pelos R.R., sempre deverá ser julgado improcedente o pedido reconvencional por manifesta prescrição do alegado crédito aí reclamado.

******4. Saneado o processo, foi dispensa-

da a fixação de matéria de facto assente e da base instrutória.

******5. Procedeu-se a julgamento após a

que o Tribunal respondeu à matéria de facto, não tendo havido reclamações.

******6. Foi proferida sentença, cuja parte

decisória tem o seguinte conteúdo:«Pelo exposto, decido: Julgar a presente acção parcialmen-

te procedente, por provada, e, em con-sequência, condeno a A.. a pagar aos RR. a quantia de € 52,33 ( cinquenta e dois euros e trinta e três cêntimos, quantia esta obtida a título de compensação nos moldes sobreditos), absolvendo A. e RR. do demais peticionado.

Custas da acção pela A. e pelas RR. na proporção dos respectivos decai-mentos.

Registe e notifique.»******7. Inconformada com o assim de-

cidido a Autora interpôs o presente recurso de apelação, tendo formulado as seguintes conclusões:

1) Objecto do recurso: o Tribunal de recurso deverá reapreciar a prova gravada e efectuar uma nova análise da

questão jurídica debatida nos presentes autos, de modo a que os pedidos for-mulados pelo A. na petição inicial sejam julgados procedentes.

2) A indicação dos concretos meios probatórios que impunham decisão sobre os pontos da matéria de facto impugnados diversa da recorrida será efectuada, nos termos legais (art. 685º-B/1,b do CPC) por referência ao registo da gravação da audiência de julgamento.

3) A prova prestada durante a au-diência de julgamento não possibilita que se considere provado a totalidade do Facto nº4, designadamente na parte em que o Tribunal considerou que os R.R. remuneraram mensalmente a A. de acordo com salários ilíquidos, isto é, na parte em que o Tribunal considerou que as quantias que os R.R. entregaram mensalmente à A. a titulo de remune-ração, desde 01.09.2001 até à data da cessação do contrato, eram quantias ilíquidas.

4) Ao contrário daquilo que foi feito pelo Tribunal da 1ª instância, o depoi-mento de parte dos R.R. não pode ser usado como prova de factos favoráveis aos próprios R.R. (artigos 352º e 358º/1, ambos do Código Cível), logo o depoi-mento destes não pode ser utilizado para fundamentar a prova, nessa parte, do Facto Provado sob o ponto 4. Logo, deverá ser eliminada a referência efec-tuada no Facto nº 4 à alegada natureza ilíquida dos montantes pagos pelos R.R. à A..

5) O carácter líquido da retribuição é demonstrado pelo depoimento de parte dos R.R., pelo depoimento da tes-temunha E… (cfr. registo da gravação deste depoimento de 5.20 a 11.56) e pela evidência das circunstâncias.

6) Durante o período de tempo referido no art. 4º da petição inicial, os R.R. entregaram mensalmente à A. as quantias referidas nesse mesmo artigo; mesmo enquanto fizeram descontos para a Segurança Social, continuaram a entregar à A. as quantias aí referidas; foram aumentando a retribuição da A. como bem entenderam;

7) Em função do conteúdo das

duas ultimas conclusões, entendemos que o Facto nº4 deverá ser alterado, passando a ter a seguinte redacção: “Os R.R. remuneraram mensalmente a A. de acordo com os seguintes salários líqui-dos: 400€, no período de 01.09.2001 a 31.12.2001; 500€, no período de 01.01.2002 a 31.12.2003; 525€, no perí-odo de 01.01.2004 a 31.12.2005; 550€, no período de 01.01.2006 a 31.12.2007; 565€, no período de 01.01.2008 em diante.”

8) Atenta a prova prestada durante a audiência de julgamento, designada-mente o depoimento da testemunha E… (cfr. registo do depoimento de 5.20 a 11.56 e 44.00 a 45.00), deverá ser considerado provado que “Aquando da contratação os R.R. assumiram perante a A. a obrigação de suportarem integral-mente os valores referentes à totalidade das contribuições para a Segurança So-cial, isto é, o valor da sua parte e o valor correspondente à parte da A..” (artigo 14º da resposta à contestação)

9) A prova junta aos autos não possibilita que se considere provado que “Naqueles pagamentos de Contribuições à Segurança Social foram efectuados pelos R.R. os pagamentos das Contribuições à Segurança Social devidas pela entidade empregadora e devida pela trabalhadora.” (Facto 22).

10) Na fundamentação do julga-mento da matéria de facto, o Tribunal não explica porque razão é que julgou tal facto provado.

11) Tal como foi alegado nos artigos 9º, 10º e 11 da resposta à contestação, os documentos juntos aos autos pelos R.R. como documentos 1 a 44 (cfr. Facto 21) apenas demonstram que se pagou à Segurança Social as quantias neles referidas, mas não comprovam quem é que efectivamente as pagou.

12) A A. desconhece totalmente quem é que procedeu ao pagamento de tais quantias, e o julgamento não esclareceu minimamente esta situação.

13) Competia aos R.R. a prova de que

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tinham sido eles a realizarem tais paga-mentos, mas não provaram. Nenhuma das suas testemunhas se pronunciou sobre esta matéria.

14) A eliminação do Facto 22 tem como consequência a improcedência da matéria da compensação, pois não se sabendo quem é que efectuou o referido pagamento, não é possível atribuir qualquer tipo de crédito aos R.R. e consequentemente condenar os A.A. no seu pagamento.

15) Obviamente, que se se conside-rar que a remuneração era liquida não há lugar ao pagamento de qualquer compensação, uma vez que os R.R. não eram credores da A., porque os R.R. ne-nhum crédito teriam sobre a A..

16) Atenta a prova prestada durante a audiência de julgamento, deverá ser considerado provado a matéria do despedimento alegado pela A., e que se consubstancia na prova dos seguintes factos:

• No dia 09.09.2008, no momento em que a A. se apresentou em casa dos R.R. para retomar o exercício das suas funções, a R. mulher apresentou-lhe uma declaração escrita e comunicou-lhe que não lhe pagaria o salário do mês de Agosto, nem a deixaria come-çar a trabalhar sem que ela assinasse a referida declaração. (artigo 14º da petição inicial)

• A A. leu a referida declaração e, como o conteúdo da mesma não era verdadeiro, imediatamente comunicou à R. mulher que não a assinaria. (artigo 16º da petição inicial)

• Perante a recusa da A., a R. mulher ordenou-lhe, primeiro, que saísse de sua casa e, depois, repetiu-lhe que não permitia que ela voltasse ali a trabalhar enquanto ela não assinasse a referida declaração. (artigo 17º da petição inicial)

• A A. acatou a ordem, mas, ainda nesse mesmo dia, voltou a apresentar-se em casa dos R.R. – desta vez acom-panhada pelo seu marido e por mais 2 testemunhas – a fim de retomar o exercício das suas funções. (artigo 18º da petição inicial)

• Aí chegada, a A. foi atendida pelo R.

marido que lhe comunicou, na presença das testemunhas, que não lhe pagariam o salário de Agosto, nem a deixariam tornar ali a trabalhar enquanto ela não assinasse a referida declaração. (artigo 19º da petição inicial)

• A A. respondeu-lhe que o conte-údo da declaração não era verdadeiro e que, por isso, ela nunca a assinaria. (artigo 20º da petição inicial)

• A R. mulher aproximou-se e disse à A., na presença das testemunhas, para ela fazer o que quisesse, mas se não assinasse a referida declaração não voltaria ali a trabalhar. (artigo 21º da petição inicial)

• A A. disse, uma vez mais, aos R.R. que queria retomar o seu trabalho, mas que nunca assinaria a referida declara-ção. (artigo 22º da petição inicial)

• Perante as circunstâncias acabadas de alegar, a A. entendeu a posição assu-mida pelos R.R. como uma declaração de despedimento. (artigo 25º da peti-ção inicial) 17) A matéria alegada nos referidos artigos deverá considerar-se provada com base nos depoimentos das testemunhas E… (cfr. depoimento com os seguintes registos: 14.30 a 17.00; 19.49 a 25.38; 33.20 a 33.55), F… (cfr. depoimento com os seguintes registos: 5.20 a 9.00) e G… (cfr. depoimento com os seguintes registos: 3.18 a 7.00).

18) Tal como resulta dos respectivos depoimentos, todos eles estiveram presentes em casa dos R.R., no dia 09 de Setembro de 2008, acompanhando a A., e aí presenciaram os R.R. a dizerem à A. que ela só voltaria a entrar em casa deles e a trabalhar depois de assinar o documento dado como provado sob o Facto 13.

19) Atenta a prova prestada durante a audiência de julgamento, deverão ser considerados provados os seguintes factos:

• A A. é uma pessoa de modesta condição sócia-económica e necessita de trabalhar para viver, não tendo outro rendimento para além do seu salário mensal. (artigo 35º da petição inicial)

• O despedimento deixou a A. sem trabalho, sem fonte de rendimento e, face à inexistência de descontos, sem

qualquer protecção social, designa-damente o subsídio de doença ou o subsídio de desemprego. (artigo 36º da petição inicial)

• Neste contexto de grande difi-culdade, a A. viu-se forçada a procurar um trabalho remunerado e, na altura, conseguiu encontrar um trabalho num supermercado em regime experimen-tal. (artigo 37º da petição inicial)

20) A matéria dos referidos artigos da petição inicial deve ser considerada provada com base nos depoimentos das testemunhas E… (cfr. registo de depoimento de 25.60 a 29.00) e F… (cfr. registo do depoimento de 10.00 a 12.34). 21) Tal como resulta dos res-pectivos depoimentos, todos eles têm conhecimento da situação em que a A. ficou e da necessidade que esta tinha de começar a trabalhar rapidamente para assegurar o seu sustento. A A. é uma pessoa humilde, de modesta condição sócio-económica e para poder viver não tem outra solução a não ser trabalhar. Mais esclareceram que a A. foi trabalhar para o H… em cumprimento de um período experimental de 90 dias.

22) Os R.R., ao exigirem à A. que ela assinasse o documento referido no Facto 13 e ao fazerem depender a prestação de trabalho da A. da assinatura de tal documento, mesmo depois de a A. lhes ter comunicado que nunca a assinaria, agiram com a intenção de impedir definitivamente a A. de voltar a prestar trabalho em casa deles.

23) O despedimento da A. foi pro-movido pelos R.R. de forma tácita, sem justa causa e sem precedência forma-lismo previsto na lei. O despedimento deverá ser declarado ilícito pelo Tribu-nal por inobservância do formalismo imposto pela lei e por insubsistência de justa causa.

24) Os efeitos da ilicitude da ces-sação do contrato de trabalho estão previstos no artigo 31º do DL235/92. A A. tem direito ao recebimento da

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indemnização legal, prevista no artigo 31º do DL235/92, que, atenta a actuação dolosa dos R.R., deverá ser calculada à razão de dois meses de retribuição por cada ano completo de serviço ou frac-ção, decorrido até à data em que tenha sido proferido o despedimento, isto é, até 09.09.2008.

25) O documento referido sob o Facto 18 não tem qualquer eficácia, nem produz qualquer efeito em relação ao contrato de serviço doméstico que existiu entre as partes e isto porque tal documento foi elaborado e comunica-do à A. em momento posterior ao da cessação deste mesmo contrato.

26) No referido documento os R.R. fazem cessar o contrato da A. com base em 02 argumentos: falta de comparên-cia ao serviço desde 10 de Setembro de 2008 e prestação de trabalho num hipermercado.

27) No que respeita à ausência ao serviço, tal como foi alegado, os R.R. têm conhecimento dos motivos que levaram à A. a não comparecer ao serviço, uma vez que foram eles os causadores referida ausência, na medida em que condicionaram ilegalmente a prestação do trabalho da A. à assinatura da declaração provada sob o Facto 13.

28) Quanto à prestação de trabalho para um hipermercado, convém escla-recer o seguinte: a A. não deixou de trabalhar para os R.R. para ir trabalhar para outro sítio; pelo contrário, a A. teve de trabalhar noutro sítio porque os R.R. impediram-na de trabalhar da forma atrás descrita.

29) Do trabalho do supermercado não resulta qualquer intenção de não retomar o trabalho em casa dos R.R., mas tão-só, e apenas, a manifestação da necessidade de a A. assegurar um rendimento mensal que lhe permitisse satisfazer as suas despesas mensais.

30) A improcedência dos motivos invocados para fazer cessar o contrato de serviço doméstico por abandono de

trabalho constitui os R.R. na obrigação de pagarem à A. a indemnização legal, prevista no artigo 31º do DL235/92, que, atenta a actuação dolosa dos R.R., deve-rá ser calculada à razão de dois meses de retribuição por cada ano completo de serviço ou fracção, decorrido até à data em que tenha sido proferido o despe-dimento, isto é, à data da recepção da carta por parte da A. - 30.10.2008.

31) A decisão recorrida viola o dis-posto nas normas legais referidas nas conclusões precedentes.

Termos em que deverá dar-se pro-vimento ao presente recurso e, conse-quentemente, revogar-se a sentença recorrida e julgar-se totalmente proce-dente os pedidos formulados pelo A. na petição inicial.

******8. Os Réus apresentaram contra-

alegações, pedindo a manutenção da sentença recorrida, referindo que:

A Autora não identificou minima-mente uma única afirmação produzida em tais depoimentos que fosse suscep-tível de legitimar conclusão contrária à extraída pelo tribunal a quo quanto à decisão da matéria de facto;

A Autora não transcreveu um único excerto dos depoimentos prestados pelas testemunhas que sustentasse as suas levianas conclusões;

A Autora não explicou sequer quais os motivos concretos que, em seu en-tendimento, poderiam fundamentar, a partir dos depoimentos identificados em abstracto, uma decisão diferente daquela que o tribunal a quo perfilhou

Naturalmente, considerando o ex-posto, a parte do recurso concernente à impugnação da decisão sobre a matéria de facto está objectiva e irremediavel-mente prejudicada.

Em segundo lugar, no que se refere ao despedimento, com todo o respeito, parece óbvio que o próprio recurso é um mero exercício formal de dever de patrocínio.

Com efeito, para que a pretensão da Autora pudesse proceder, necessário seria que provasse os factos que supos-tamente consubstanciariam o alegado despedimento.

De facto, não havia nem há quais-quer dúvidas de que o ónus da prova incumbe nessa matéria à Autora.

Sucede que a Autora não logrou provar minimamente os factos que alegou nesse âmbito.

E acresce que, pelo contrário, vieram a ser dados como assentes diversos factos que contradisseram em absoluto a tese veiculada pela Autora na petição inicial.

Consequentemente, bem andou o tribunal a quo quando decidiu inexistir qualquer despedimento.

Bem como, no que concerne a todas as conclusões jurídicas de que dessa primeira decisão extraiu.

Nada do que a Autora agora veio alegar de forma pouco imaginativa mas muito especulativa tem a menor hipótese de fazer soçobrar ou sequer abalar a sentença recorrida.

Contra factos sólidos dados como assentes pelo tribunal a quo, veio a Autora agora esgrimir fantasias.

Naturalmente, na opinião da Autora, sem quaisquer perspectivas minima-mente sólidas de sucesso.

9. O Ex.º Procurador-Geral Adjunto deu o seu parecer no sentido de que a apelação deve apenas proceder no que tange à questão do pagamento das quotizações para a Segurança Social.

10. A autora respondeu ao douto parecer.

11. Admitido o recurso, foram colhi-dos os vistos legais.

******II – Questões a DecidirDelimitado o objecto do recurso

pelas conclusões do recorrente, nos termos do disposto nos artigos 684º, nº 3, e 685º-A, nº 1, do Código de Processo Civil aplicáveis ex vi do disposto nos artigos 1º, nº 2, al. a), e 87º do Código de Processo do Trabalho, não sendo lícito ao tribunal ad quem conhecer de matérias nelas não incluídas, salvo as de conhecimento oficioso, temos que as questões a decidir são as seguintes:

1ª Questão: Alteração da Matéria de Facto

2ª Questão: Despedimento/Ilicitude3ª Questão: Compensação (Paga-

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mento das quotizações à Segurança Social)

iii – FUNdameNtoS1-Factos que a decisão recorrida

considerou como provados:1 - Em 01 de Setembro de 2001, a

A. e os RR celebraram um contrato de serviço doméstico, por força do qual, a partir dessa data, a A. começou a trabalhar sob as ordens, instruções e fiscalização dos R.R., na residência destes, situada na …, nº.., em S. João da Madeira, executando, mediante remuneração, actividades destinadas à satisfação das necessidades próprias da família dos R.R..

2 - Por força do referido contrato, a A. estava obrigada a executar, e efectivamente executava, as seguintes funções: confecção de refeições, lava-gem e tratamento de roupas, limpeza e arrumo de casa, vigilância e assistência aos 03 filhos menores dos R.R., arranjo do jardim.

3 - A A. estava obrigada a cumprir o horário de trabalho que os R.R. lhe determinavam.

4 - Os R.R. remuneraram mensal-mente a A. de acordo com os seguintes salários ilíquidos:

• 400€, no período de 01/09/2001 a 31/12/2001;

• 500€, no período de 01/01/2002 a 31/12/2003;

• 525€, no período de 01/01/2004 a 31/12/2005;

• 550€, no período de 01/01/2006 a 31/12/2007;

• 565€, no período de 01/01/2008 em diante;

5 - Os R.R. anualmente concediam 22 dias úteis de férias remuneradas à A., que por norma eram gozados durante o mês de Agosto.

6 - Antes do inicio do gozo de cada período de férias, os R.R. pagavam à A. um subsídio de férias de valor igual à remuneração mensal.

7 - Até ao dia 15 de Dezembro de cada ano, os R.R. pagavam à A. um subsídio de Natal de valor igual à remu-neração mensal.

8 - O pagamento dos referidos sa-

lários mensais, dos subsídios de férias e dos subsídios de natal era efectuado pelos R.R. através de transferência bancária para a conta da A., ou através de cheque.

9 - No dia 27 de Agosto de 2008, a médica I… certificou à A. a sua incapa-cidade temporária para o trabalho por estado de doença até ao dia 07.09.2008.

10 - No dia 8 de Setembro de 2008, a médica I… certificou à A. a sua incapa-cidade temporária para o trabalho por estado de doença até ao dia 08.09.2008.

11 - Teor da carta datada de 29/08/2008, enviada pela Segurança Social à A., para a qual se remete e aqui se dá por integralmente reproduzida, junta a Fls. 18 dos autos.

12 - Perante o Teor daquela carta o marido da A. indagou junto dos serviços da Segurança Social a fim de esclarecer aquilo que se passava e aí apurou que os R.R. não tinham efectuado descontos das retribuições que pagaram à A..

13 - Teor do documento junto a Fls. 19 dos autos, datado de 3/09/2008, sob o título “Comunicação”, elaborado pelos RR, para o qual se remete e aqui se dá por integralmente reproduzido, o qual tem o seguinte conteúdo:

“Serve a presente para informar B… (trabalhadora), à presente data vinculada por contrato de trabalho de serviço doméstico, celebrado com C… (entidade patronal) do seguinte: O vencimento bruto que a trabalhadora aufere à presente data é de € 565,00.

Conforme acordado com a traba-lhadora, foi esta inscrita na Segurança Social pela entidade patronal aqui em causa, no dia 8 de Outubro de 2004, data a partir da qual são devidos os descontos legalmente estabelecidos.

Desde essa data até à presente, a trabalhadora nunca pagou à entidade patronal o montante dos descontos mensais a que legalmente está obri-gada, no âmbito da Contribuição para a referida Segurança Social a que cada trabalhador está sujeito.

À presente data, o desconto da trabalhadora à Segurança Social é de € 26,53.

Nessa medida, a partir da presente

data, o montante do cheque ou da transferência bancária emitidos pela entidade patronal para efeitos do pagamento do salário à referida traba-lhadora, resulta do montante devido por esta a título de contribuição para a Segurança Social a que legalmente está obrigada.

Mais, a entidade patronal é credora dos montantes mensais devidos pela trabalhadora, àquele título, desde Ou-tubro de 2004. Pelo que, a entidade pa-tronal se reserva o direito de, em devido tempo, compensar o respectivo crédito com a actual dívida da trabalhadora resultante da falta de pagamento dos descontos para a

Segurança Social a que esta sempre esteve obrigada.

Mais, por referência ao mês de Agos-to e atendendo:

i) Ao período de baixa médica que mediou entre 27 e 31 de Agosto;

ii) Um dia de ausência ao trabalho (26);

Resulta que o montante do cheque que titula o vencimento da trabalhado-ra relativo ao mês de Agosto de 2008, se cifra em € 452,00.

Eu, B…, declaro, para os devidos efeitos que tomei conhecimento, com-preendi e aceitei o acima comunicado.”

14 - A A. não assinou aquele docu-mento.

15 - Teor da carta datada de 9.09.2008, junta a Fls. 20, enviada pelos R.R. à A. e por esta recebida, para a qual se remete e aqui se dá por reproduzida, com o seguinte conteúdo:

“Tendo em vista o pagamento da quantia devida pelo trabalho de serviço doméstico prestado durante o mês de Agosto findo, vimos pela presente en-viar cheque no valor de quatrocentos e cinquenta e dois euros, sacado sobre o J…, S.A., datado de 4 de Setembro de 2008, cheque esse que se encontra disponível para entrega em mão à tra-balhadora, como até à data habitual, desde essa data (mais concretamente desde 3 de Setembro à noite).

Nesta mesma data foi comunicado à trabalhadora o disposto na declaração anexa, cuja assinatura condicionava a

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entrega do mesmo cheque. Posto que, até à presente data, a trabalhadora se recusa a assinar a declaração em causa – a qual se limita a esclarecer as dedu-ções feitas e a relembrar o acordado entre ambas em Setembro de 2004 em termos de suporte de encargos relativos à Segurança Social – e a entidade patro-nal, como sempre, pretende cumprir to-das as obrigações a que está legalmente sujeita, procede-se assim, ao envio do cheque acima referido.

Mais se declara, o que aliás foi antecipadamente dado a conhecer à trabalhadora no dia 3 de Setembro de 2008, que a referida quantia resulta da dedução à retribuição auferida pela trabalhadora, da quantia de 110,00 euros correspondente ao período de baixa médica entre 27 de Agosto a 31 de Agosto de 2008 e ao dia 26 do mesmo mês, por ausência ao trabalho.

Quanto a qualquer outro assunto relativo à relação contratual em causa, será a trabalhadora oportuna e devi-damente contactada pela entidade patronal.”

16 - Teor da carta registada datada de 15.09.2008, junta a Fls. 21 dos autos, enviada pela A. aos R.R., para a qual se remete e aqui se dá por reproduzida, com o seguinte conteúdo:

“Venho pela presente solicitar a V.Exa. que fosse feito o apuramento dos vencimentos e respectivos direitos provenientes da interrupção do contra-to de trabalho com V. Exa., uma vez que o mesmo só teria continuidade se fosse assinada uma comunicação cuja cópia consta da V/carta de 09 de Setembro de 2008 enviada a 10 de Setembro de 2008 e que a falta de assinatura da mesma comunicação condicionava o acesso à v/habitação e ao respectivo trabalho.

Ou seja foi dito pela Snra. Dra. C… e pelo Snr. Eng. D… que só tinha acesso ao trabalho se assinasse a respectiva comunicação.

Como sabem a comunicação não correspondia à realidade e simultanea-mente ao que foi combinado em Agosto de 2001, precisamente antes de iniciar as minhas funções a 01 de Setembro de 2001.

Espero pois o apuramento das res-pectivas remunerações e direitos o mais rapidamente possível.”

17 - A A. não tem outro rendimento para além do seu salário mensal.

18 - Teor da carta registada datada de 28.10.2008, junta a Fls. 22, enviada pela R. à A., para a qual se remete e aqui se dá por reproduzida na íntegra, com o seguinte conteúdo:

“Serve a presente para expor o seguinte:

1. Conforme sabe, desde o dia 10 de Setembro de 2008, nunca mais compa-receu ao serviço nesta casa, no âmbito do contrato de trabalho de serviço doméstico em vigor desde Setembro de 2001.

2. Verifica-se assim que não compa-rece ao serviço sem qualquer justifica-ção ou comunicação há mais de 10 dias úteis consecutivos.

3. Presume-se assim, nos termos previstos no artigo 450º, nº 2, do Código do Trabalho, que abandonou o trabalho.

4. Acresce em qualquer circunstância que, independentemente de tal presunção, a sua ausência foi acompanhada de factos que, com toda a probabilidade, revelam a intenção de não retomar o trabalho.

5. Com efeito, para além de estar ausente, sabemos que actualmente terá já trabalho, no horário em que an-teriormente trabalhava em minha casa, (ao que consta, num hipermercado, sito em …).

6. Não há pois quaisquer dúvidas que ocorreu uma situação de abandono do trabalho, não só nos termos previs-tos pela disposição legal supra citada como também nos termos previstos no nº 1 do mesmo artigo 450º do Código do Trabalho.

7. Ora, o abandono do trabalho vale como denúncia do contrato de trabalho.

8. Donde decorre pois que, nesta data, cessou definitivamente o contrato de trabalho que nos vinculava recipro-camente.

9. Desde já esclarecemos que, nos termos do nº 4 do citado artigo, o abandono do trabalho constitui o tra-balhador em obrigação de indemnizar o empregador pelos prejuízos causados, não devendo tal indemnização ser inferior ao valor da retribuição base correspondente ao período de aviso prévio em falta.

10. Atenta a sua antiguidade ao serviço, o período de aviso prévio a observar deveria ter sido de 6 semanas.

11. Sendo certo que a sua retribui-ção base era a de € 565,00, verifica-se assim que a indemnização devida é a de € 847,50.

12. Acresce ainda que, como sabe igualmente, é-me devedora das quan-tias correspondentes às suas contri-buições para a segurança social, cujo montante global ascende a € 1.182,31.

13. Mais se regista que a tais quan-tias acrescem ainda as que resultam de danos causados em bens que me são pertencentes, o último dos quais um ferro de engomar (€ 27,00).

14. Pelo que, pelas proveniências acima referidas, é-me devedora da quantia global de € 2.054,81.

15. Desde já esclareço que será feita a compensação entre os débitos e créditos recíprocos.

16. Sendo certo que tem a seu crédito o montante de € 1.271,25 refe-rente a férias e subsídios proporcionais, verifica-se que, feitas as contas, há a registar um saldo a meu favor no mon-tante de € 783,56.

17. Aproveito ainda esta oportuni-dade para refutar de forma veemente o teor da sua carta data de 15 de Setembro de 2008, a qual não só não corresponde minimamente à verdade como é reveladora de evidente má fé.”

19 - Os R.R. pagaram à A. a quantia de 452€ a título de salário do mês de Agosto de 2008.

20 - Os R.R. nada pagaram à A. a tí-tulo de proporcionais de férias, subsídio de férias e subsídio de natal correspon-dentes a 2009.

21 - Teor dos documentos juntos a Fls. 53 a 96 dos autos (Recibos de Paga-mento de Contribuições à Segurança

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Social, num total de € 1.182,31, refe-rentes a serviço doméstico, referentes à A., reportados aos meses de 04/2005 a 08/2008 (pagos em 11/09/2008) e aos meses de 08/2006, 01/2005, 11/2004, 12/2004, 9/2004 (pagos nas datas ali insertas), respectivamente.

22 - Naqueles pagamentos de Con-tribuições à Segurança Social foram efectuados pelos RR. os pagamentos das Contribuições à Segurança Social devidas pela entidade empregadora e devida pela trabalhadora.

23 - A Autora jamais pagou tal im-portância aos RR.

24 - A Autora dirigiu-se a casa dos RR no dia 9 de Setembro 2008 cerca das 8h05 da manhã.

25 - Naquele mesmo dia 9, cerca de algum tempo depois, e antes das 10.00 H, a Autora regressou a casa dos RR, acompanhada agora de 3 pessoas, o pai, o marido e o irmão.

26 - E acabou pouco depois por abandonar a residência dos RR, acom-panhada das 3 testemunhas que a haviam acompanhado.

27 - A partir de então, a Autora jamais retomou a sua actividade ao serviço dos RR. nem comunicou por qualquer forma com os RR., pelo menos até 28/10/2010.

28 - A Autora começou a trabalhar, no dia 11 de Setembro de 2008, num estabelecimento pertencente a “K…, S.A”, localizado em ….

29 - Estabelecimento esse no qual continua ainda a trabalhar.

30 - Teor dos documentos juntos aos autos a fls. 112 a 117, para os quais se remete e aqui se dão por reproduzidos (extracto de remunerações emitido pela S.S., referentes à ora A.).

******2. Feita esta enumeração, e delimi-

tado como está o objecto do recurso pelas conclusões das alegações da recorrente, passaremos a apreciar as questões a decidir.

2ª Questão: despedimento/ilicitude

A questão que neste momento

cumpre resolver é apurar se a Autora foi despedida ilicitamente, como defende, pelos Réus.

Antes de mais diremos que entre as partes foi estabelecido um contrato de trabalho doméstico, tal como é definido pelo artigo 2º do DL nº 235/92, de 24 de Setembro. Qualificação que as partes não põem em questão.

Tal contrato está sujeito a um regime especial, o qual é resultado da sua especificidade, conforme se pode retirar do preâmbulo do referido decreto-lei, pois a circunstância de o trabalho doméstico ser prestado a agregados familiares, e, por isso, gerar relações profissionais com acentuado carácter pessoal que postulam um permanente clima de confiança exige, a par da consideração da especificidade económica daqueles, que o seu regime se continue a configurar como especial em certas matérias.

Por isso, as regras do Código do Trabalho só lhe são aplicáveis quan-do não sejam incompatíveis com a especificidade do contrato de serviço doméstico, tal como decorre do art. 11 daquele diploma legal.

De acordo com o disposto no artigo 27º do DLº 235/92, de 24 de Setembro, o contrato de serviço doméstico pode cessar por acordo das partes; por ca-ducidade; por rescisão de qualquer das partes, ocorrendo justa causa; por rescisão unilateral do trabalhador, com pré-aviso.

Por sua vez, o artigo 31º, sob a epí-grafe «Indemnização por despedimento com alegação insubsistente de justa causa» dispõe que «[o] despedimento decidido com alegação de justa causa e que venha a ser judicialmente decla-rado insubsistente, não havendo acordo quanto à reintegração do trabalhador, confere a este o direito a uma indem-nização correspondente à retribuição de um mês por cada ano completo

de serviço ou fracção, decorrido até à data em que tenha sido proferido o despedimento, nos casos de contrato sem termo ou com termo incerto, e às retribuições vincendas, nos casos de contrato com termo certo( nº 1)» e «[q]uando se prove dolo do empregador, o valor da indemnização prevista no número anterior será agravado até ao dobro.»( nº 2).

Por último, dispõe o artigo 34º, sob a epígrafe «Abandono do trabalho» que:

«1 - Considera-se abandono do trabalho a ausência do trabalhador ao serviço acompanhada de factos que, com toda a probabilidade, revelem a intenção de o não retomar.

2 - Presume-se abandono do traba-lho a ausência do trabalhador ao serviço num período de 10 dias sem que a entidade empregadora tenha recebido comunicação do motivo da ausência.

3 - A presunção estabelecida no nú-mero anterior pode ser ilidida pelo tra-balhador mediante prova da ocorrência de motivo de força maior impeditivo da comunicação da ausência.

4 - O abandono do trabalho vale como rescisão do contrato e constitui o trabalhador na obrigação de indemni-zar a entidade empregadora de acordo com o estabelecido no artigo anterior[1].

5 - A cessação do contrato só é invocável pela entidade empregadora após comunicação registada, com avi-so de recepção, para a última morada conhecida do trabalhador.»

No caso, a Apelante defende ter sido despedida e para o efeito alegou uma série de factos. Factos estes cons-tantes nos artigos 14º, 16º a 22º e 25º da petição inicial, mas que não ficaram provados. Tais factos, segundo ela ale-ga, foram entendidos por si como uma posição de despedimento por parte dos réus.

Como se sabe, o despedimento constitui estruturalmente um negócio jurídico unilateral receptício, através do qual a entidade patronal revela a vontade de fazer cessar o contrato de trabalho.

A declaração negocial pode ser expressa ou tácita: é expressa quando

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feita por palavras, escrito ou qualquer outro meio directo de manifestação da vontade; é tácita quando se deduz de factos que, com toda a probabilidade, a revelam – art. 217º nº1 do Cód. Civil.

Essencial, para a relevância da de-claração tácita, é a inequivocidade dos chamados “facta concludentia”.

Dir-se-á que ela tem lugar sempre que a um comportamento seja atribuí-do um significado legal tipicizado, sem admissão de prova em contrário[2].

Diversa da declaração tácita é a de-claração presumida, que ocorre sempre que a lei liga a determinado comporta-mento o significado de exprimir uma vontade negocial em certo sentido, po-dendo elidir-se tal presunção mediante prova em contrário[3].

No domínio do despedimento promovido pela entidade patronal, tem-se entendido que a vontade de pôr termo ao contrato há-de ser “ine-quívoca”, razão por que se não tem admitido o despedimento tácito, com a amplitude que é conferido às decla-rações negociais tácitas pelo falado art. 217º (e, muito menos, o despedimento presumido).

Neste particular, apenas se admitem os chamados “despedimentos de facto”, corporizados numa atitude inequívoca da entidade patronal, de onde decorre necessariamente a manifestação de uma vontade de fazer cessar a relação laboral.

Como quer que seja, a manifestação negocial da entidade patronal só se torna eficaz se for levada ao alcance da outra parte, por forma a que esta tome conhecimento da respectiva declaração de vontade – art. 224º do C. Civil.

Essa declaração, por sua vez, há-de ser interpretada segundo os critérios enunciados nos artigos 236º e segs. do mesmo Código: por isso, se não for expresso, o despedimento terá de ser extraído de factos que, perante o ho-mem médio, revelem, inequivocamente a vontade da entidade patronal de fazer cessar o contrato.

Finalmente, importará referir que cabe ao trabalhador, na acção de im-pugnação de despedimento, alegar

e provar a existência de um contrato de trabalho e a sua cessação através de despedimento promovido pela entidade patronal – art. 342º nº1 do Cód. Civil[4].

Perante uma situação de incerteza ou non liquet probatório sobre os factos materiais da causa, o juiz terá de desfazer a dúvida, na apreciação do direito, em desfavor da parte sobre quem impende o correspondente ónus da prova (artigo 346º, in fine, do Código Civil e 516º do Código de Processo Civil).

E, assim, na ausência de factos que revelem, no caso, uma manifestação de vontade no sentido de proceder ao despedimento, por parte do em-pregador, não é possível considerar como verificada a existência dessa declaração negocial[5].

Ora, no caso, mesmo que se con-siderassem provados os factos que a apelante não logrou provar, dificilmente poderíamos defender a posição de que estávamos perante um despedimento, já que os factos não são inequivoca-mente, assim nos parece, reveladores de que a vontade da entidade patronal fosse de fazer cessar o contrato. Mas independentemente dessa proble-mática, a verdade, é que da matéria de facto apurada não resultam factos susceptíveis de integrarem quer de forma tácita e, muito menos expressa, qualquer declaração de despedimento por parte dos Réus.

E, como competia à Autora, provar, ter sido vítima de um despedimento, conforme já se deixou expresso, e não o tendo conseguido, a sua pretensão improcederá. Não tendo provado ter sido vítima de um despedimento (ilícito), prejudicada fica a questão da indemnização.

Diremos ainda, que não está em causa neste recurso apreciar se a relação laboral cessou através do abandono do trabalho. A questão que nos foi trazida era decidir se houve ou não despedi-mento.

E assim sendo, nesta parte, impro-cede a apelação, sendo de manter a decisão impugnada.

3ª Questão: Compensação (Pagamento das quotizações à Segurança Social)

Analisemos, por fim, a questão relacio-nada com a compensação, ou seja, saber se os réus podem compensar nos créditos da autora o pagamento das quotizações à Segurança social. As sucessivas Leis de Bases da Segurança Social impõem a obri-gação de contribuição para os regimes de Segurança Social aos beneficiários e, no caso de exercício de actividade profissio-nal subordinada, às respectivas entidades empregadoras, estabelecendo mesmo a responsabilidade destas pelo pagamento das quotizações dos trabalhadores ao seu serviço, pelo que devem, para o efeito, proceder, no momento do pagamento das remunerações, à retenção na fonte dos valores correspondentes, e fazer o respectivo pagamento juntamente com a contribuição própria [Nesse sentido po-demos ver a Lei nº 28/84, de 14 de Agosto (art. 24°), Lei 17/2000, de 8 de Agosto (arts. 60° e 62°), a Lei 32/2002, de 20 de Dezem-bro (arts. 45° e 47°/1) e a Lei 4/2007, de 16 de Janeiro (arts. 56°/1 e 59°/1].

A obrigação contributiva da entidade empregadora constitui-se – como tam-bém decorre dos diplomas citados – com o início do exercício da actividade profis-sional dos trabalhadores ao seu serviço.

Está, assim, delineada, nestes diplomas, uma relação jurídica bilateral, de natureza contributiva, que impõe à entidade empregadora a obrigação de efectuar uma prestação pecuniária (a contribuição), correspondendo a tal obrigação o direito da Segurança Social a essa prestação. Embora fundada na relação laboral, esta relação jurídica contributiva não se confunde com ela, e apenas incide sobre um dos sujeitos da relação laboral, a entidade empregadora, pois que, como vimos, é esta a responsável pelo pagamento, mesmo na parte respeitante ao trabalhador.

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Como decorre destes preceitos a contribuição é uma prestação pecu-niária que consubstancia o objecto de uma verdadeira obrigação, a que corresponde um direito por parte da Segurança Social, estabelecendo-se entre o contribuinte e a instituição de Segurança Social uma relação jurídica contributiva.

Resulta, ainda, que os titulares da obrigação contributiva são os trabalha-dores e as entidades patronais e que, no caso dos trabalhadores por conta de outrem, há uma obrigação unitária de pagamento das contribuições a cargo da entidade patronal.

Assim, a relação jurídica contribu-tiva, filiada embora na relação laboral, não se confunde com ela, e concretiza-se sob a forma de uma relação jurídica bilateral, dado que apenas incide sobre um dos sujeitos passivos, a entidade empregadora, a quem cabe a liquida-ção e pagamento das contribuições, mesmo na parte respeitante ao tra-balhador.[6]

É perante as instituições de Segurança Social, que integram a chamada administração indirecta do Estado, pois são entidades públicas, revestidas de autoridade pública, designadamente, tendo poderes para intervenções coactivas, que as entidades empregadoras têm que cumprir a sua obrigação contributiva.

Na verdade, se é certo, que a rela-ção jurídica contributiva se estabelece tendo como pressuposto a existência de um contrato de trabalho, verdade é também que ela não emerge de relação conexa com a relação de tra-balho. Ela concretiza-se sob a forma de uma relação jurídica bilateral entre o empregador e o Estado. No âmbito desta relação jurídica a entidade em-pregadora não se acha constituída em qualquer dever jurídico perante o trabalhador: a sua obrigação contribu-tiva existe face à Segurança Social e é perante esta que tal obrigação deve ser cumprida[7].

Conforme refere o Ex.º Sr.º Procura-dor Geral Adjunto no seu douto parecer «a substituição tributária é efectivada através do mecanismo da retenção na fonte do valor das cotizações devidas por aqueles trabalhadores, ficando a entidade empregadora obrigada á re-tenção responsável pelas importâncias retidas e não entregues á segurança social, e o substituído desonerado de qualquer responsabilidade no seu pagamento».

Assim sendo, no caso em apreço, o pagamento das quotizações feito pelos Réus à Segurança Social foi realizado no cumprimento de uma obrigação legal, pelo que inexiste, por parte da traba-lhadora, qualquer dever de compensar com créditos seus, aquele pagamento obrigatório e tardio, diga-se.

Sendo-se assim, a decisão recorrida não poderia ter procedido à compensa-ção da quantia paga pelos réus a título

de quotizações à Segurança social no valor de € 1.182,31 nos créditos salariais da Autora/ Apelante. Deverá, assim, nesta, parte, a sentença ser revogada.

******3. As custas da acção e do recurso

ficam a cargo da recorrente e recorridos de acordo com o decaimento (artigo 446º do CPC).

iii. decisão.

Em face do exposto, acordam os juí-zes que compõem esta Secção Social do Tribunal da Relação do Porto em julgar parcialmente procedente o recurso, e, em consequência:

a) Revogam a sentença na parte em que julgou procedente a compensação e condenam os Recorridos a pagar à Recorrente a quantia de € 1.129,98 (mil cento e vinte e nove euros e noventa e oito cêntimos).

b) No restante, mantêm a sentença impugnada.

c) Condenam a recorrente e os recorridos no pagamento das custas da acção e do recurso de acordo com o decaimento.

(Processado e revisto com recurso a meios informáticos (art. 138º nº 5 do Código de Processo Civil).

Porto, 20 de Junho de 2011

Os Desembargadores,António José da Ascensão RamosEduardo Petersen SilvaJosé Carlos Dinis Machado da Silva

NOTAS:[1] Artigo que dispõe da seguinte forma:Artigo 33.ºRescisão do contrato pelo trabalhador, com aviso prévio1 - O trabalhador tem direito a rescindir o contrato, devendo propô-lo

por escrito, com aviso prévio de duas semanas por cada ano de ser-viço ou fracção, não sendo, porém, obrigatório aviso prévio superior a seis semanas.

2 - Se o trabalhador não cumprir, total ou parcialmente, o prazo do aviso prévio, pagará ao empregador, a título de indemnização, o valor da retribuição correspondente ao período do aviso prévio em falta.

3 - A obrigação a que se refere o número anterior poderá ser satisfeita por compensação com créditos de retribuição.

[2] cfr. Mota Pinto in “Teoria Geral”, 1967, pág. 174.[3] cfr. Autor e ob. citados, pág. 173.[4] Cfr. AC do STJ de 12/09/2007, processo 07S1261, www.dgsi.pt.[5] Acórdão do STJ de 22 de Novembro de 2006, Processo 2439/06.[6] (Vide o Ac. do STJ, de 2003.02.05 (proferido na Revista n.º 2673/02 da

4ª Secção) e Ilídio das Neves, in “Direito da Segurança Social - Princí-pios Fundamentais numa Análise Prospectiva”, 1996, p.328.

[7] Acórdãos do Tribunal de Conflitos de 27/10/2004 e de 17/01/2008, respectivamente processos nº 02/04 e 016/07, in www.dgsi.pt.

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JUriSPrUdÊNCia do STJ e das Relações VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 51

aNotaçãoQuestão decidenda:O Tribunal da Relação do Porto, no

passado dia 20 de Junho de 2011, pro-curou dar solução definitiva às seguintes questões:

1ª Questão: Despedimento/Ilicitude2ª. Questão: Compensação (Paga-

mento das quotizações à Segurança Social)

Solução jurídica:A 1.º questão consistem em saber

se a Autora foi despedida ilicitamente pelos Réus.

Entre as partes foi estabelecido um contrato de trabalho doméstico, tal como é definido pelo artigo 2º do DL nº 235/92, de 24 de Setembro. Tal contrato está sujeito a um regime especial o qual é resultado da sua especificidade. Por isso, as regras do Código do Trabalho só lhe são aplicáveis quando não sejam incompatíveis com a especificidade do contrato de serviço doméstico, tal como decorre do art. 11 daquele diploma legal.

De acordo com o disposto no artigo 27º do DLº 235/92, de 24 de Setembro, o contrato de serviço doméstico pode cessar por acordo das partes; por caducidade; por rescisão de qualquer das partes, ocorrendo justa causa; por rescisão unilateral do trabalhador, com pré-aviso.

Por sua vez, o artigo 31º, sob a epí-grafe «Indemnização por despedimen-to com alegação insubsistente de justa causa» dispõe que « despedimento decidido com alegação de justa causa e que venha a ser judicialmente declara-do insubsistente, não havendo acordo quanto à reintegração do trabalhador, confere a este o direito a uma indem-nização correspondente à retribuição de um mês por cada ano completo de serviço ou fracção, decorrido até à data em que tenha sido proferido o despedimento, nos casos de contrato sem termo ou com termo incerto, e às retribuições vincendas, nos casos de contrato com termo certo( nº 1)» e «[q]uando se prove dolo do empregador, o valor da indemnização prevista no

número anterior será agravado até ao dobro.»

Por último, dispõe o artigo 34º, sob a epígrafe «Abandono do trabalho» que:

«1 - Considera-se abandono do trabalho a ausência do trabalhador ao serviço acompanhada de factos que, com toda a probabilidade, revelem a intenção de o não retomar.

2 - Presume-se abandono do traba-lho a ausência do trabalhador ao serviço num período de 10 dias sem que a entidade empregadora tenha recebido comunicação do motivo da ausência.

3 - A presunção estabelecida no número anterior pode ser ilidida pelo trabalhador mediante prova da ocorrên-cia de motivo de força maior impeditivo da comunicação da ausência.

4 - O abandono do trabalho vale como rescisão do contrato e constitui o trabalhador na obrigação de indemnizar a entidade empregadora de acordo com o estabelecido no artigo anterior

5 - A cessação do contrato só é invocável pela entidade empregadora após comunicação registada, com avi-so de recepção, para a última morada conhecida do trabalhador.»

No caso em apreço, a Autora/ Ape-lante defende ter sido despedida ver-balmente.

A declaração negocial pode ser expressa ou tácita: é expressa quando feita por palavras, escrito ou qualquer outro meio directo de manifestação da vontade; é tácita quando se deduz de factos que, com toda a probabilidade, a revelam – art. 217º, nº1, do Cód. Civil.

Essencial, para a relevância da de-claração tácita, é a inequivocidade dos chamados “facta concludentia”.

Dir-se-á que ela tem lugar sempre que a um comportamento seja atribuí-do um significado legal tipicizado, sem admissão de prova em contrário.

Diversa da declaração tácita é a declaração presumida, que ocorre sempre que a lei liga a determinado comportamento o significado de ex-primir uma vontade negocial em certo sentido, podendo elidir-se tal presunção mediante prova em contrário.

No domínio do despedimento pro-

movido pela entidade patronal, tem-se entendido que a vontade de pôr termo ao contrato há-de ser “inequívoca”, razão por que se não tem admitido o despe-dimento tácito, com a amplitude que é conferido às declarações negociais tácitas pelo falado art. 217º (e, muito menos, o despedimento presumido).

Neste particular, apenas se admitem os chamados “despedimentos de facto”, corporizados numa atitude inequívoca da entidade patronal, de onde decorre necessariamente a manifestação de uma vontade de fazer cessar a relação laboral.

Como quer que seja, a manifestação negocial da entidade patronal só se torna eficaz se for levada ao alcance da outra parte, por forma a que esta tome conhecimento da respectiva declaração de vontade – art. 224º do C. Civil.

Essa declaração, por sua vez, há-de ser interpretada segundo os critérios enunciados nos artigos 236º e segs. do mesmo Código: por isso, se não for expresso, o despedimento terá de ser extraído de factos que, perante o ho-mem médio, revelem, inequivocamente a vontade da entidade patronal de fazer cessar o contrato.

Finalmente, importará referir que cabe ao trabalhador, na acção de im-pugnação de despedimento, alegar e provar a existência de um contrato de trabalho e a sua cessação através de despedimento promovido pela entida-de patronal – art. 342º, nº1, do Cód. Civil.

Perante uma situação de incerteza ou non liquet probatório sobre os factos materiais da causa, o juiz terá de desfa-zer a dúvida, na apreciação do direito, em desfavor da parte sobre quem im-pende o correspondente ónus da prova (artigo 346º, in fine, do Código Civil e 516º do Código de Processo Civil). E, as-sim, na ausência de factos que revelem, no caso, uma manifestação de vontade no sentido de proceder ao despedi-mento, por parte do empregador, não é possível considerar como verificada a existência dessa declaração negocial.

Ora, no caso concreto, mesmo que se considerassem provados os factos que a apelante não logrou provar, dificilmente poderíamos defender a

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JUriSPrUdÊNCia do STJ e das RelaçõesVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201152

posição de que estávamos perante um despedimento, já que os factos não são inequivocamente, assim nos parece, re-veladores de que a vontade da entidade patronal fosse de fazer cessar o contrato. Mas independentemente dessa pro-blemática, a verdade, é que da matéria de facto apurada não resultam factos susceptíveis de integrarem quer de forma tácita e, muito menos expressa, qualquer declaração de despedimento por parte dos Réus.

E, como competia à Autora, provar, ter sido vítima de um despedimento, conforme já se deixou expresso, e não o tendo conseguido, a sua pretensão improcederá. Não tendo provado ter sido vítima de um despedimento (ilícito), prejudicada fica a questão da indemnização.

A 2.º questão estão relacionada com a compensação, ou seja, saber se os réus podem compensar nos créditos da autora o pagamento das quotizações à Segurança social.

As sucessivas Leis de Bases da Se-gurança Social impõem a obrigação de contribuição para os regimes de Segu-rança Social aos beneficiários e, no caso de exercício de actividade profissional subordinada, às respectivas entidades empregadoras, estabelecendo mesmo a responsabilidade destas pelo pagamen-to das quotizações dos trabalhadores ao seu serviço, pelo que devem, para o efeito, proceder, no momento do paga-mento das remunerações, à retenção na fonte dos valores correspondentes, e fa-zer o respectivo pagamento juntamente com a contribuição própria.

A obrigação contributiva da enti-dade empregadora constitui-se com o início do exercício da actividade profis-sional dos trabalhadores ao seu serviço.

Está, assim, delineada uma relação jurídica bilateral, de natureza contributi-va, que impõe à entidade empregadora a obrigação de efectuar uma prestação pecuniária (a contribuição), correspon-dendo a tal obrigação o direito da Se-gurança Social a essa prestação. Embora fundada na relação laboral, esta relação

jurídica contributiva não se confunde com ela, e apenas incide sobre um dos sujeitos da relação laboral, a entidade empregadora, pois que, como vimos, é esta a responsável pelo pagamento, mesmo na parte respeitante ao traba-lhador.

Como decorre destes preceitos a contribuição é uma prestação pecu-niária que consubstancia o objecto de uma verdadeira obrigação, a que corresponde um direito por parte da Segurança Social, estabelecendo-se entre o contribuinte e a instituição de Segurança Social uma relação jurídica contributiva.

Resulta, ainda, que os titulares da obrigação contributiva são os trabalha-dores e as entidades patronais e que, no caso dos trabalhadores por conta de outrem, há uma obrigação unitária de pagamento das contribuições a cargo da entidade patronal.

Assim, a relação jurídica contribu-tiva, filiada embora na relação laboral, não se confunde com ela, e concretiza-se sob a forma de uma relação jurídica bilateral, dado que apenas incide sobre um dos sujeitos passivos, a entidade empregadora, a quem cabe a liquidação e pagamento das contribuições, mesmo na parte respeitante ao trabalhador.

É perante as instituições de Segu-rança Social, que integram a chamada administração indirecta do Estado, que as entidades empregadoras têm que cumprir a sua obrigação contributiva.

Na verdade, se é certo, que a rela-ção jurídica contributiva se estabelece tendo como pressuposto a existência de um contrato de trabalho, verdade é também que ela não emerge de relação conexa com a relação de trabalho. Ela concretiza-se sob a forma de uma rela-ção jurídica bilateral entre o emprega-dor e o Estado. No âmbito desta relação jurídica a entidade empregadora não se acha constituída em qualquer dever jurídico perante o trabalhador: a sua obrigação contributiva existe face à Segurança Social e é perante esta que tal obrigação deve ser cumprida.

Assim sendo, no caso em apreço, o pagamento das quotizações feito pelos Réus à Segurança Social foi realizado no cumprimento de uma obrigação legal, pelo que inexiste, por parte da traba-lhadora, qualquer dever de compensar com créditos seus, aquele pagamento obrigatório e tardio.

Sendo-se assim, a decisão recorrida não poderia ter procedido à compen-sação da quantia paga pelos réus a título de quotizações à Segurança social no valor de € 1.182,31 nos cré-ditos salariais da Autora/ Apelante. Deverá, assim, nesta, parte, a sentença ser revogada.

decisão do acórdão:A decisão tomada pelos Juizes

Desembargadores acabou por ser sumariada, no Acórdão, do seguinte modo: I – Na acção de impugnação de despedimento compete ao trabalha-dor alegar e provar a existência de um contrato de trabalho e a sua cessação através de despedimento promovido pela entidade patronal – art. 342º nº1 do Cód. Civil.

II – Na ausência de factos que re-velem, no caso, uma manifestação de vontade no sentido de proceder ao despedimento, por parte do empre-gador, não é possível considerar como verificada a existência dessa declaração negocial.

III – Os titulares da obrigação con-tributiva para a Segurança Social são os trabalhadores e as entidades patronais e que, no caso dos trabalhadores por conta de outrem, há uma obrigação uni-tária de pagamento das contribuições a cargo da entidade patronal.

IV – Embora fundada na relação laboral, esta relação jurídica contributi-va não se confunde com ela, e apenas incide sobre um dos sujeitos da relação laboral, a entidade empregadora, sendo esta a responsável pelo pagamento, mesmo na parte respeitante ao traba-lhador.

V – Razão pela qual não possa fazer a compensação desse pagamento com créditos laborais do trabalhador.

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o QUe diZ a lei

Decreto-Lei n.º 235/92, de 24 de Outubro

(Estabelece o regime jurídico das relações de trabalho emergentes do contrato de serviço doméstico)

artigo 2.ºdefinição

1 - Contrato de serviço doméstico é aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição, a prestar a outrem, com carácter regular, sob a sua direcção e autoridade, actividades destinadas à satisfação das necessi-dades próprias ou específicas de um agregado familiar, ou equiparado, e dos respectivos membros, nomeada-mente:

a) Confecção de refeições;b) Lavagem e tratamento de rou-

pas;c) Limpeza e arrumo de casa;d) Vigilância e assistência a crian-

ças, pessoas idosas e doentes;e) Tratamento de animais domés-

ticos;f ) Execução de serviços de jardi-

nagem;g) Execução de serviços de costura;

h) Outras actividades consagradas pelos usos e costumes;

i) Coordenação e supervisão de tarefas do tipo das mencionadas neste número;

j) Execução de tarefas externas relacionadas com as anteriores.

2 - O regime previsto no presente diploma aplica-se, com as necessárias adaptações, à prestação das activida-des referidas no número anterior a pes-soas colectivas de fins não lucrativos, ou a agregados familiares, por conta daquelas, desde que não abrangidas por regime legal ou convencional.

3 - Não se considera serviço do-méstico a prestação de trabalhos com carácter acidental, a execução de uma tarefa concreta de frequência intermi-tente ou o desempenho de trabalhos domésticos em regime au pair, de autonomia ou de voluntariado social.

artigo 3.ºForma

O contrato de serviço doméstico não está sujeito a forma especial, salvo no caso de contrato a termo.

artigo 27.ºCessação do contrato

O contrato de serviço doméstico pode cessar:

a) Por acordo das partes;b) Por caducidade;c) Por rescisão de qualquer das

partes, ocorrendo justa causa;d) Por rescisão unilateral do traba-

lhador, com pré-aviso.

artigo 31.ºindemnização por despedimento

com alegação insubsistente de justa causa

1 - O despedimento decidido com alegação de justa causa e que venha a ser judicialmente declarado insubsis-tente, não havendo acordo quanto à reintegração do trabalhador, confere a este o direito a uma indemnização cor-respondente à retribuição de um mês por cada ano completo de serviço ou fracção, decorrido até à data em que tenha sido proferido o despedimento, nos casos de contrato sem termo ou com termo incerto, e às retribuições vincendas, nos casos de contrato com termo certo.

2 - Quando se prove dolo do em-pregador, o valor da indemnização pre-vista no número anterior será agravado até ao dobro.

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JULHO • 1ª QUINZENA

ANO 79º • 2011 • Nº 13

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JUriSPrUdÊNCia - SumáriosVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201154

arreNdameNto

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 8/2/2010 Revista nº 1722/06.8TJVNF.P1.S1 - 1.ª Secção Assunto: Arrendamento para habitação

I - Uma das obrigações do locatário é a de avisar imediatamente o locador sempre que tenha conhecimento de vícios da coisa locada, desde que o facto seja ignorado pelo locador, designadamente comunicar as dete-riorações do arrendado que devam ser reparadas por ele, de modo a garantir o gozo da coisa para o fim contratual convencionado. II - Se o fizer mas o locador ignorar o pedido e não efectuar tais reparações indispensáveis ao gozo da coisa, faltará culposamente ao cumprimento da obrigação, incorrendo em responsa-bilidade pelos prejuízos que cause ao locatário/credor. III - Se a ré comprou o prédio aos an-teriores proprietários, assumindo, por força da lei, a qualidade de senhoria, com os consequentes direitos e obri-gações (art. 1057º do CC), não será por esse motivo que se lhe transmite o conhecimento dos defeitos do arren-dado, daí que só se teria constituído em mora pela não realização das obras, caso a autora provasse tê-las pedido à ré ou que ela tinha conhecimento por qualquer outra via. IV - O art. 65º da CRP trata-se de uma norma programática que se impõe ao Estado, no sentido de fomentar uma política de habitação de modo a faci-litar e promover o acesso de todos ao direito de habitação. De modo algum se impõe aos particulares, designa-damente aos senhorios, a obrigação de garantir habitação a quem dela necessite.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 8/2/2011 Revista nº 2016/05.1TVLSB.L1.S1 - 1.ª Secção Assunto: Arrendamento ao Estado

I - Importa distinguir quais os casos em que a interpretação da declaração negocial resultou directamente da prova produzida nas instâncias, por se haver directamente demonstrado que o declaratário conhecia a vontade real do declarante – matéria de facto –, daqueloutros casos em que a interpre-tação negocial decorreu com recurso à teoria da impressão do declaratário normal, ao abrigo do disposto no art. 236º, nº 1, do CC, ou em violação de outras normas cogentes, relativas à interpretação dos contratos, como as limitações decorrentes do art. 238º do CC – matéria de direito. II - O ICN (Instituto da Conservação da Natureza), AQSA (Agência para a Qua-lidade e Segurança Alimentar) e APSA, IP (Agência Portuguesa de Segurança Alimentar, IP), são entidades criadas pelo Estado, mas para actuar numa área específica da administração. A atribuição de personalidade jurídica não descaracteriza a sua natureza de Estado, o qual, no entanto, se mani-festa de forma indirecta, sob as formas técnico-jurídicas utilizadas para agilizar e tornar mais eficiente a função do Estado num campo específico, mas cuja tutela radicou sempre num órgão governamental, do qual dependem. III - A personalidade jurídica daquelas entidades não é sobreponível à per-sonalidade jurídica de direito privado, na medida em que a personalidade jurídica de direito público corresponde a uma capacidade judiciária específica, com autonomia tutelada, mas não descaracterizada da pessoa jurídica Es-

tado, da qual só se mostra separada por razões de eficiência e não de natureza. IV - A prática do Estado é justamente não afectar os prédios arrendados a finalidades muito estritas, porquanto os serviços extinguem-se, modificam-se, integram-se noutros, passam de serviços não autónomos a institutos públicos ou vice-versa, o que, natural-mente, a proceder-se de outro modo, colocaria, muitas vezes, a questão da extinção do contrato de arrendamen-to e, reflexamente, a necessidade de novos e mais onerosos arrendamentos. V - Tendo-se estipulado, num contrato de arrendamento, outorgado em 1976, que “o prédio arrendado destina-se à instalação de serviços do Estado, salvo estabelecimentos de ensino, reparti-ções de finanças e organismos assis-tenciais, não lhe podendo ser dado qualquer outro uso sem autorização expressa, por escrito, do senhorio”, a ocupação do locado, sucessivamente, por parte do ICN, AQSA e APSA, não desvirtua o contrato, pelo que não tinha o Estado, como arrendatário, de comunicar aos senhorios qual o serviço concreto que a cada momento o ocuparia, nem muito menos obter autorização deles para afectar o gozo do locado a outros serviços do próprio Estado.

Civil

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 8/2/2011, Revista nº 12/09.9T2STC.E1.S1 - 1.ª Secção Assunto: Acção de reivindicação

I - Na acção de reivindicação o facto jurídico de que deriva o direito de pro-priedade só pode ser constituído pela alegação de uma das formas originárias de adquirir, salvo se, por invocada a presunção do artigo 7º do Código do

SUPremo triBUNal de JUStiça

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Sumários - JUriSPrUdÊNCia VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 55

Registo Predial, ficar dispensado da alegação de factos conducentes ao domínio, “ex vi” do disposto no artigo 350º, nos 1 e 2 do Código Civil. II - Demonstrada a propriedade – cujo pedido de reconhecimento pode ser implícito – a entrega/ restituição surge como consequência, por o direito de reivindicar ser uma manifestação da sequela. III - A invocação do arrendamento para paralisar o efeito do nº 2 do artigo 1311º do Código Civil tem a natureza de excepção peremptória. IV - O arrendatário rural não pode transmitir, ou por qualquer forma ceder, ou mesmo comodatar total ou parcialmente, o prédio arrendado, sendo que, na vigência da Lei nº 76/77 de 29 de Setembro (alterada pela Lei nº 76/79, de 3 de Dezembro) a regra era excepcionada se o Estado ou uma autarquia fossem arrendatários ou a cedência fosse a favor do Estado ou da cooperativa agrícola (artigo 36º). O regime do Decreto-Lei nº 385/88, de 25 de Outubro (artigo 13º, nº 1) manteve a proibição, salvo se o senhorio desse acordo escrito (ou acordo expresso, no Decreto-Lei nº 294/2009, de 13 de Outubro). V - A violação da proibição gera a nu-lidade da transmissão (artigo 294º do Código Civil), que opera “ipso jure”, é cognoscível “ex officio”, não sendo sa-nável nem por confirmação nem pelo decurso do tempo. VI - O negócio jurídico nulo não é um “numelle” não existente, sendo apenas um acto ao qual são recusados os efei-tos jurídicos a que se destina. VII - Pode ter efeitos jurídicos diferentes dos usados pelas partes com o negócio, resultantes de diversa qualificação ao abrigo do artigo 664º CPC desde que não seja alterada a causa de pedir, não se afastando, assim, o princípio da substanciação oposto ao da indi-vidualização. VIII - Se o detentor do imóvel pagou o preço da compra de um prédio implan-tado por outrem nesse terreno e não formalizou o contrato, a nulidade teria como consequência obter a restituição

do que pagou. Mas não sendo tal pos-sível por o vendedor não estar na lide, deverá a construção ficar sujeita ao regime das benfeitorias aquando da restituição do terreno ao dono. IX - O regime de caducidade do arren-damento é o vigente à data do facto que o determinou. X - O direito de remição do contrato de arrendamento não é conferido ao cessionário, com transmissão logrado ao arrepio do artigo 36º, nº 1 da Lei nº 76/77. XI - A benfeitoria útil consiste num melhoramento ou aperfeiçoamento feito por quem tem um vínculo à coi-sa (relação de facto ou de direito), na perspectiva de lograr uma sua maior utilidade ou melhoria. XII - O nº 1 “in fine” do artigo 1273º do Código Civil não se reporta ao detri-mento das benfeitorias mas à perda ou danificação significativa da coisa onde foram implantadas. XIII - Se forem realizadas por um ter-ceiro, que não por quem tenha um poder de facto sobre a coisa, não pode, este, em princípio, ser indemnizado ao abrigo do artigo 1273º. XIV - O nº 1 do artigo 36º da Lei nº 76/77 não viola o disposto nos artigos 62º e 13º da Constituição da República.

ComerCial

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 1/2/2011 Revista nº 6845/07.3TBMTS.P1.S1 - 1.ª Secção Assunto: Estabelecimento comercial

I - Quando as pessoas, na conformação das suas relações jurídicas privadas que o princípio da liberdade contratual consente, não observam os limites impostos por lei, podem os negócios jurídicos celebrados ser nulos, salvo nos casos em que outra solução resulte da lei. II - O licenciamento dos estabelecimen-tos comerciais constitui um condicio-namento administrativo ao exercício da actividade comercial e visa garantir as condições mínimas do seu funcio-

namento, em ordem a salvaguardar os interesses dos particulares, sendo o alvará de licença de utilização uma formalidade habilitante da celebração do contrato que se destina a instruir. III - A finalidade visada pela exigência do alvará de licença de utilização do estabelecimento comercial para ser-viços de restauração ou de bebidas contende com as formalidades inclu-ídas na ordem pública de direcção, através da qual os poderes públicos realizam certos objectivos de interesse geral e dirigem a economia nacional, a justificar a supremacia dos interesses gerais sobre os interesses das partes contratantes, a que corresponde a ca-tegoria dogmática da nulidade simples ou absoluta, que pode ser conhecida, oficiosamente, pelo tribunal. IV - Mas quando a formalidade anali-sada não é reclamada por interesses eminentemente públicos, já integra a ordem pública de protecção ou a ordem pública social, podendo a nuli-dade textual cominada na lei justificar a atribuição de um regime misto de nu-lidade e de anulabilidade, um regime de invalidade mista mais adequado aos interesses que constituem a matéria da respectiva regulamentação e às exigências da justiça, a que correspon-de uma invalidade que constitui uma nulidade atípica ou mista. V - Não se mostra violado o princípio do dispositivo de parte, por excesso de pronúncia, quando o tribunal conhece, oficiosamente, de questões que não tenham sido suscitadas pelas partes, nomeadamente, da nulidade do con-trato de trespasse, por inexistência do alvará de licença de utilização do estabelecimento. VI - Cabem no âmbito das decisões-surpresa aquelas que, embora, juridica-mente, possíveis, não foram peticiona-das, e que as partes não tinham o dever de prognosticar, antes estabelecem uma relação colateral com o pedido formulado para a concreta decisão da causa. VII - É intempestiva a arguição da nulidade processual decorrente da inobservância do princípio do contra-

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ditório antes da prolação da sentença, considerada como decisão-surpresa, que apenas foi deduzida, nas alegações da apelação, que tiveram lugar muito para além do prazo de dez dias sobre a data daquela sentença.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 1/2/2011 Revista nº 3485/05.5TVLSB.L1.S1 - 1.ª Secção Assunto: Contrato de concessão comercial

I - A particular estrutura jurídica do contrato de concessão comercial – aquisição e revenda dos produtos do concedente – confere-lhe a natureza de um contrato atípico, não possuindo regulamentação legal própria, apesar da sua tipicidade social. II - A regulamentação jurídica deste tipo de contratos tem de se encontrar, desde logo e porque eles se apre-sentam como o desenvolvimento da autonomia privada das partes (art. 405º do CC), nas cláusulas negociais. Depois, e porque estas nem sempre dispõem sobre todas as incidências implicadas pelo acordo, analogicamente, pelo regime do contrato nominado com que tenha mais afinidades, de acordo com o disposto no art. 10º do CC, e que é, neste caso, o contrato de agência, que é também, em certa medida, um contrato de distribuição com especi-ficidades próprias. Finalmente, pelos princípios estabelecidos na lei para a generalidade dos contratos. III - As partes podem estabelecer o período de tempo pelo qual o con-trato vigorará: neste caso o contrato é celebrado por tempo determinado. Mas podem nada estabelecer acerca da duração do contrato ou referirem expressamente que ele se manterá até que, qualquer delas, livremente, me-diante aviso prévio, o faça cessar: con-sidera-se, neste caso, que o contrato é celebrado por tempo indeterminado. IV - O contrato por tempo determinado cessa por caducidade, automatica-mente, sem necessidade de qualquer manifestação de vontade das partes, com o decurso do prazo (art. 26º, nº 1,

al. a), do DL nº 178/86, de 03-07). V - Se as partes, após o decurso do prazo nos contratos por tempo de-terminado, continuarem a “cumprir” o contrato, ou seja, a observar os direitos e obrigações do contrato anterior, como se este não tivesse caducado, o contrato considera-se transformado em contrato por tempo indeterminado (art. 27º, nº 2, do DL nº 178/86, de 03-07), tratando-se, contudo, de um novo contrato, concluído tacitamente, mas que prossegue a relação contratual anterior. VI - A razão de ser desta norma (art. 27º, nº 2) é impedir que o contrato, depois de renovado, possa vir a cessar sem necessidade de pré-aviso, como sucederia se continuasse a tratar-se de um contrato por tempo determinado.

CoNtratoS

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 3/2/2011 Revista nº 6323/06.8TVLSB.L1.S1 - 7.ª Secção Assunto: Contrato de seguro

I - De acordo com o disposto no art. 4º, nº 1, do DL nº 388/91, de 10-10, o me-diador não pode dar como celebrado um contrato em nome de uma segura-dora sem prévia audiência desta (a não ser que exista acordo entre o mediador e a seguradora nesse sentido) e, bem assim, de acordo com as als. a) e e) do art. 8º do mesmo diploma, deve fazer ao tomador do seguro uma apresenta-ção correcta do produto e cumprir as disposições legais, designadamente as normas reguladoras da actividade seguradora, informando-o atempada e convenientemente de que não tem poderes para celebrar o contrato em nome e por conta da seguradora e comunicando pronta e rapidamente à seguradora a apresentação da propos-ta concretizada perante si. II - A violação de tais obrigações por parte do mediador de seguro fá-lo incorrer em responsabilidade, como resulta do art. 9º do DL nº 388/91, de 10-10.

III - Uma vez que a ausência de infor-mação sobre a falta de poderes do mediador para celebrar contratos em nome e por conta da seguradora e, bem assim, a não entrega da «propos-ta» na seguradora no dia da recepção determinou que o contrato viesse a ter início em 08-08-1994, e não em 05-08-1994, como era vontade expressa do tomador de seguro, a responsabilida-de do R. posiciona-se no domínio da responsabilidade civil extracontratual por factos ilícitos, e não no domínio da responsabilidade contratual ou pré contratual. IV - Integrando a conduta do R. res-ponsabilidade civil extracontratual encontra-se a mesma sujeita ao regime da prescrição previsto no art. 498º do CC, pelo que, tendo em atenção que o conhecimento do facto ocorreu em 22-01-1997 e a acção instaurada em 14-12-2006, deve considerar-se prescrito o direito de indemnização dos autores.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 3/2/2011 Revista nº 263/07.0TBCHV.P1.S1 - 2.ª Secção Assunto: Contrato- promessa - incumprimento

I - A simples mora não é suficiente para se almejar a resolução contratual e a devolução do sinal. II - Alcançar, pela via legal, a resolução em caso de mora, encerra uma vio-lência que só em casos bem definidos legalmente se poderia aceitar: mesmo no contrato de agência, em que o legislador afastou a resolução contra-tual da necessidade de incumprimento definitivo, não se quedou pela simples mora, exigindo igualmente a gravidade ou reiteração do incumprimento (art. 30º do DL nº 178/86, de 03-07). III - A expressão «livre de ónus e en-cargos» traduz o reverso do que a lei estabelece para os casos de contratos de compra e venda e, por força do disposto no art. 939º do CC, também para os demais contratos onerosos, no art. 905º do CC. IV - Devem considerar-se bens onera-

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dos aqueles que estão sujeitos a alguns ónus ou limitações que excedam os limites normais inerentes aos direitos da mesma categoria, neles não se incluindo os que advêm de regras de direito público. V - Assim a limitação consistente na necessidade de autorização camarária para a venda não deve ser considerada como um ónus para estes efeitos, a não ser que derivasse da específica afectação do imóvel em causa e não de providências gerais e abstractas.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 17/2/2011 Revista nº 1458/05.7TBVFR-A.P1.S1 - 7.ª Secção Assunto: Contrato de adesão

I - O “contrato de adesão” na sua forma pura poderá definir-se como sendo “aquele em que uma das partes, nor-malmente uma empresa de apreciável dimensão, formula unilateralmente as cláusulas negociadas e a outra parte aceita essas condições mediante a adesão ao modelo ou impresso que lhes é apresentado, não sendo possível modificar o ordenamento negocial apresentado”. II - Entre o contrato de adesão e o contrato consensual não existe toda-via uma dicotomia absoluta, havendo ainda a considerar uma figura híbrida, o “contrato de adesão individualiza-do”, onde, a par de cláusulas que se mantêm inalteráveis de contrato para contrato, se verifica a inserção de disposições específicas moldadas no interesse das partes e em particular do aderente; estes contratos têm uma regulamentação diversificada, de har-monia com a índole das normas que deles constam. III - Tendo em consideração a supe-rioridade em que por via de regra o proponente do contrato de adesão se encontra perante o cliente que ao mesmo adere, a lei procura, através de mecanismos legais – entre nós o DL 446/85 –, que a decisão deste último seja tomada no pleno conhecimento de todos os termos contratuais, one-

rando o primeiro com o ónus da prova que os comunicou de forma cabal ao aderente. IV - Sendo omitido aquele ónus em relação a cláusulas fulcrais para o negó-cio tido em vista, terão as mesmas que considerar-se excluídas, o que pode afectar integralmente os termos do contrato com reflexo sobre os direitos e obrigações constituídos pelo mesmo. V - Não se provando que aos avalistas de duas livranças de garantia fora dada a informação do pacto de preenchi-mento respectivo, as mesmas terão de considerar-se incompletas pelo que nulas, não podendo servir de base a acção executiva.

FamÍlia

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 22/2/2011 Revista nº 1561/07.9TBLRA.C1.S1 - 1.ª Secção Assunto: Responsabilidade civil do cônjuge administrador

I - O princípio base do regime de comu-nhão de adquiridos é só fazerem parte do acervo comum os bens adquiridos, a título oneroso, depois do casamento. II - Residualmente é também comum o produto do trabalho dos cônjuges, os frutos e o valor das benfeitorias úteis dos bens próprios elencados no nº 1 do artigo 1733º do Código Civil e o direito de compensação a que se refere o nº 1 do artigo 1728º. III - Os bens comuns – participados por metade pelos cônjuges – constituem uma massa patrimonial, que não uma compropriedade, embora, em certos casos, se lhe apliquem as regras deste instituto. IV - As coloquialmente chamadas “so-bras” do casal, mais não são do que as “poupanças”, que tanto podem resultar do produto do trabalho como de frutos ou do valor de benfeitorias úteis de bens próprios. V - O depósito bancário tem a natu-reza de depósito irregular, podendo integrar uma relação plural do lado do depositante.

VI - Nas contas plurais solidárias qual-quer dos depositantes (ou titulares) tem a faculdade de exigir do banco depositário a prestação integral, de tudo o que lhe foi entregue (assim este se liberando para com todos os depositantes). VII - Qualquer depositante pode mobi-lizar, total ou parcialmente, os fundos que depositou. VIII - Tratando-se de depósito colectivo conjunto, só pode ser movimentado a débito por todos (ou com autorização) de todos os depositantes. IX - Há que distinguir entre titularidade da conta e propriedade das quantias depositadas mas pela presunção “tantum iuris”, aplicável às contas soli-dárias do artigo 516º do Código Civil, na relação interna, os depositantes participam no crédito em partes iguais. X - O regime da compropriedade é aplicável à comunhão de outros direi-tos, “ex vi” do artigo 1404º do Código Civil (sem prejuízo do especialmente disposto para cada tipo de comunhão), sendo de o considerar para todas as situações de contitularidade de contas bancárias, razão por que também lhes é extensível a presunção de participa-ção quantitativa igual ao que se refere o nº 2 do artigo 1403º. XI - Se o levantamento de uma conta solidária do casal foi efectuado por um dos cônjuges na constância do casamento, e não existindo prova de mandato para administração da me-tade pertencente ao outro cônjuge, haverá responsabilidade civil do côn-juge administrador. XII - Porém, nestes casos, e por força do nº 1 do artigo 1681º do Código Civil, o elemento subjectivo da responsa-bilidade aquiliana é o dolo (directo, necessário ou mesmo eventual) cuja alegação e prova incumbe ao cônjuge lesado, nos termos do nº 1 do artigo 487º do Código Civil. XIII - A responsabilidade civil do côn-juge administrador perante o outro cônjuge é excepcional (afastando-se a mera culpa e as simples omissões), já que, fora das situações do artigo 1681º, e em nome da estabilidade, harmonia

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e paz conjugais, não há obrigação de prestação de contas na constância do casamento. XIV - Cumpre ao Autor que pede a res-tituição por enriquecimento sem causa alegar e provar a deslocação patrimo-nial em seu desfavor e em benefício do enriquecido sem qualquer suporte legal ou negocial.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 22/2/2011 Revista nº 81/04.8TBVLF.C1.S1 - 1.ª Secção Assunto: Casa de morada de família

I - As obrigações naturais fundam-se num mero dever de ordem moral ou social, não sendo o seu cumprimento judicialmente exigível, mas correspon-dendo a um dever de justiça, estando sujeitas ao regime das obrigações civis em tudo o que não se relacione com a realização coactiva da prestação – arts. 402º e 404º do CC. II - Não há uma obrigação natural quan-do o fundamento da prestação seja um dever de gratidão, de reconhecimento, e a intenção, por parte do autor, de gratificar, retribuir ou compensar um serviço realizado gratuitamente. III - As prestações e pagamentos realiza-dos pelo autor, enquanto casado com a filha dos réus, numa casa pertença destes, tendo em vista a edificação da habitação do autor e do seu agregado familiar, cujo objectivo se inviabilizou com o divórcio dos cônjuges, não con-figuram, face às concepções éticas do-minantes, deveres morais e sociais que consubstanciem obrigações naturais. IV - Tendo-se gorado o objectivo de edificação da habitação do agregado familiar do autor, com a prolação do divórcio e consequente separação dos cônjuges, deixou de ter causa a transfe-rência material realizada do património do autor para o dos réus – enrique-cendo estes e empobrecendo aquele –, pelo que se justifica a obrigação de restituição, com base no instituto do enriquecimento sem causa. V - Não há abuso de direito do autor ao instaurar a acção correspondente, pois, tendo ficado enriquecido o património

dos réus, longe de ofender qualquer valor social vigente, a acção do autor visou, antes, o legítimo e ajustado re-equilíbrio entre os patrimónios, o seu e o dos réus, colocando fim ao injusto locupletamento por parte destes. VI - O preceito constante do art. 661º, nº 2, do CPC, tanto se aplica no caso de se ter inicialmente formulado um pe-dido genérico e de não se ter logrado converter em pedido específico, como ao caso de ser formulado pedido espe-cífico sem que se tenha conseguido fazer prova da especificação, ou seja, quando não se tenha logrado coligir dados suficientes para se fixar, com precisão e segurança, o quantitativo da condenação.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 8/2/2011 Revista nº 2242/03.8TMLSB.L1.S1 - 6.ª Secção Assunto: Deveres conjugais

I - Os critérios de apreciação da prova testemunhal entram no domínio da competência reservada das instâncias e são a expressão do princípio da liber-dade de julgamento a que alude o art. 655º, nº 1, do CPC. II - Julgada a matéria de facto, pode perfeitamente outro juiz proferir a respectiva sentença, pois a plenitude da assistência dos juízes, prevista no art. 654º do CPC, respeita apenas ao julgamento da matéria de facto. III - A culpa do cônjuge ofendido apenas lhe poderá retirar o direito ao divórcio se ele tiver instigado o facto que invocou como fundamento ou tiver criado condições propícias à sua verificação, tal como se determina no art. 1780º, al. a), do CC, constituindo excepção peremptória. IV - Não é qualquer violação dos de-veres conjugais, enquadráveis nos diversos tipos, de resto não taxativos do art. 1672º do CC, que constitui causa de divórcio. V - Para que determinada infracção cul-posa dos deveres conjugais possa justi-ficar o divórcio, torna-se necessário que ela se revista de gravidade objectiva e

subjectiva, e que, por outro lado, seja essencial no sentido de comprometer a possibilidade da vida em comum. VI - O critério de apreciação da gra-vidade da infracção situa-se num plano objectivo e concreto, devendo atender-se às circunstâncias em que a falta foi cometida e à condição social dos cônjuges. VII - O decretamento do divórcio deve resultar da aplicação de um critério prático (cf. art. 1779º do CC): a violação será grave e, como tal, causa de divór-cio quando em face das circunstâncias do caso, comprometa a possibilidade da vida em comum.

PeNal

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 17/11/2010 Proc. nº 51/10.7YFLSB.S1 - 5.ª Secção Assunto: Acusação – princípio da vinculação temática

I - O objecto do recurso centra-se em saber se o despacho de rejeição da acusação (particular, que rejeitou considerando-a manifestamente in-fundada, por os factos imputados ao arguido não constituírem crime) se contém nos limites do controlo dos vícios estruturais da acusação. II - A acusação, sendo uma condição indispensável do julgamento, por ser pela acusação que se fixa o objecto do processo, há-de conter os factos que são imputados ao arguido e esses factos hão-de integrar a prática, pelo arguido, do ilícito penal pelo qual é requerido o seu julgamento; não havendo lugar à fase da instrução, a legalidade da acusação está sujei-ta a fiscalização judicial, por via do despacho a que se refere o art. 311º do CPP, no âmbito do qual se terá de aferir da ocorrência dos pressupostos legais para que a acusação possa ser admitida. III - O art. 311º, nº 2, al. a) dispõe que, se o processo tiver sido remetido para julgamento sem ter havido instrução, o presidente despacha no sentido de rejeitar a acusação, se a considerar

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manifestamente infundada, devendo entender-se como tal aquela que não contenha a identificação do arguido, a narração dos factos, as disposições legais aplicáveis ou as provas que a fundamentam, ou se os factos não constituírem crime (nº 3 dessa norma). IV - Já foi notado, e com razão, que os vícios elencados no nº 3 do art. 311º se sobrepõem às nulidades sanáveis do art. 283º, nº 3, als. a), b), e c), pelo que as ditas nulidades se convertem em matéria de conhecimento oficioso do tribunal. V - A tutela penal do direito constitucio-nal “ao bom-nome e reputação” – art. 26º, nº 1, da CRP – é assegurada, em primeira linha, pelos arts. 180º e 181º do CP que, na descrição típica, utilizam a expressão “ofensivos da honra e con-sideração”, não se podendo prescindir de definir o conceito de “honra”. VI - A doutrina dominante adopta uma concepção dual da honra: esta é vista como um bem jurídico complexo que inclui, quer o valor pessoal ou interior de cada indivíduo, radicado na sua dignidade, quer a própria reputação ou consideração exterior. O que o bem jurídico protege é a honra interior ine-rente à pessoa enquanto portadora de valores espirituais e morais e, para além disso, a valência deles decorrente, a sua reputação no seio da comunidade. VII - Esta é a doutrina compatível com a nossa própria lei, já que o nosso ordenamento jurídicopenal, em con-sonância com a ordem constitucional, alarga o conceito da honra também à consideração ou reputação exteriores. VIII - A jurisprudência e a doutrina jurídico-penais portuguesas têm cor-rectamente recusado sempre qualquer tendência para uma interpretação restritiva do bem jurídico “honra”, que o faça contrastar como o conceito de “consideração” ou com os conceitos ju-rídico-constitucionais de “bom-nome” e de “reputação”, nunca tendo tido en-tre nós aceitação a restrição da “honra” ao conjunto de qualidades relativas à personalidade moral, ficando de fora a valoração social dessa mesma perso-nalidade; ou a distinção entre opinião

subjectiva e opinião objectiva sobre o conjunto das qualidades morais e sociais da pessoa; ou a defesa de um conceito puramente fáctico, quer – no outro extremo – estritamente norma-tivo da honra. Por isso se pode concluir seguramente pela total congruência entre a tutela jurídico-penal e a protec-ção jurídico-constitucional dos valores da honra das pessoas – cf. Figueiredo Dias, RLJ, Ano 115º, pág. 105. IX - Segundo o entendimento hoje dominante, os juízos de apreciação e valoração vertidos sobre realizações ou prestações, na medida em que não seja ultrapassado o âmbito da crítica objectiva, caem já fora da tipicidade de incriminações como a difamação – cf. Costa Andrade, Liberdade de Imprensa e Inviolabilidade Pessoal, Coimbra Edi-tora, 1996, págs. 232 a 240. X - E no sentido da atipicidade da crítica objectiva afastam-se, hoje, as exigên-cias de proporcionalidade e da neces-sidade objectiva, do bem-fundado ou da “verdade”, bem como o pressuposto do meio menos gravoso. XI - Ou seja, a tese da atipicidade da crí-tica objectiva não depende do acerto, da adequação material ou da “verdade” das apreciações subscritas. Por outro lado, o direito de crítica com este sentido não conhece limites quanto ao teor, à carga depreciativa e mesmo à violência das expressões utilizadas. XII - É hoje igualmente pacífico o en-tendimento que submete a actuação das instâncias públicas ao escrutínio do direito de crítica objectiva. XIII - São ainda de levar à conta da atipicidade os juízos que, como reflexo necessário da crítica objectiva, acabam por atingir a honra do autor da obra ou prestação em exame: nesta linha, o crítico que estigmatizar uma acusação como “persecutória” ou “iníqua” pode igualmente assumir que o seu agente teve, naquele processo, uma conduta “persecutória” ou “iníqua” ou que ele foi, em concreto, “persecutório” ou “iníquo”. Aqui, está já presente uma irredutível afronta à exigência de consideração e respeito da pessoa, mas trata-se de sacrifício ainda coberto pela liberdade

de crítica objectiva, não devendo ser levado à conta de lesão típica. XIV - Já o mesmo não se poderá susten-tar para os juízos que atingem a honra e consideração pessoal perdendo todo e qualquer ponto de conexão com a prestação ou obra que, em princípio, legitimaria a crítica objectiva.

ProCeSSo Civil

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 22/2/2011 Revista nº 31/05.4TBVVD-B.G1.S1 - 1.ª Secção Assunto: Livrança – pacto de preenchimento

I - O aval é um acto cambiário que origina uma obrigação autónoma in-dependente, cujos limites são aferidos pelo próprio título. II - A violação do pacto de preenchi-mento é uma excepção de direito ma-terial que não pode ser invocada pelo avalista salvo se o mesmo nele teve intervenção, subscrevendo-o. III - Daí que o acordo de preenchimen-to só concluído entre o subscritor e o portador da livrança se imponha, tal qual, ao avalista. IV - O preenchimento, que pode ser contemporâneo ou posterior à aquisi-ção do título pelo adquirente, terá de ser feito de harmonia com as cláusulas negociais do contrato que garantia, não podendo exceder esses limites. V - A qualidade de mero avalista não legitima a oponibilidade da excepção de preenchimento abusivo, se não subscreveu o pacto de preenchimento. Isto porque a prestação do aval estará então condicionada ao conhecimento e aceitação pelo avalista do montante a avalizar e data de vencimento. VI - A nulidade da alínea b) do artigo 668º do Código de Processo Civil não se basta com uma justificação deficiente ou pouco convincente, antes impondo ausência de motivação que impossibi-lite a revelação das razões que levaram à opção final. VII - Os requisitos que condicionam a decisão remissiva prevista no nº 5 do

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JUriSPrUdÊNCia - SumáriosVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201160

artigo 713º do Código de Processo Civil, na redacção do Decreto-Lei nº 303/2007, só são exigíveis para as de-cisões proferidas em lides intentadas após 1 de Janeiro de 2008.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 24/2/2011 Revista nº 396/03.2TCGMR.G1.S1 - 2.ª Secção Assunto: Omissão de pronúncia

I - A omissão de pronúncia não se confunde com o erro de julgamento, o qual pode ser sindicado pelo STJ em via de recurso. II - O STJ apenas conhece da matéria de facto na estrita previsão dos arts. 722º, nº 2, e 729º, nº 2, do CPC, não podendo alterar aquela com base no erro na apreciação das provas e na fixação dos factos materiais da causa. III - Assim, o poder de sindicância do STJ de um eventual erro na apreciação das provas está limitado à matéria sujeita a prova vinculada ou ao caso de desconsideração do valor legal das provas. IV - Os documentos particulares escri-tos não impugnados – logo, cuja auto-ria tenha sido reconhecida – têm força probatória plena quanto à emissão das declarações que deles constam e quanto aos factos desfavoráveis a que estas se referem. V - Tais factos desfavoráveis, por se considerarem provados nos termos do disposto no art. 376º, nº 2, do CC, podem ser aproveitados pelo STJ, mesmo como tribunal de revista, para, nesta sede e juntamente com os demais já apurados, se lhes aplicar o regime jurídico definitivo e adequado. VI - Age como titular de um contrato de transporte marítimo de mercado-rias o réu transitário que diligenciou por esse transporte ou procedeu ao mesmo, ainda que por intermédio de agentes a seu mando. VII - Comprometendo-se ainda o mes-mo transitário a deslocar e depositar no terminal de desalfandegamento da ré a mercadoria em causa, de modo a que o respectivo proprietário a possa

depois desalfandegar e levantar, de-verá aquele assegurar o correcto con-trolo sobre a identificação dos bens a depositar, constante dos respectivos conhecimentos de depósito de carga ou transporte (bill of lading). VIII - O mesmo dever de controlo incidirá sobre quem receber remune-radamente, em depósito, os referidos bens, em conjugação de esforços com o depositante (transitário), de modo a poder cumprir, como depo-sitário, a correspondente obrigação de custódia daqueles e assegurar a sua oportuna entrega ao destinatário. IX - Havendo troca dos títulos de depósito das mercadorias deposi-tadas e a consequente modificação da correcta menção dos respectivos destinatários, devido à incauta inter-venção do pessoal auxiliar (funcio-nários) que transitário e depositária utilizaram no cumprimento das suas obrigações, o que determinou que a mercadoria encomendada pela autora e a si destinada fosse parar à unidade fabril de outro destinatário e que a deste tivesse como destino – indevido e imprestável – a autora, incumpriram os réus, culposamente, as suas obri-gações, pelo que devem os mesmos indemnizar aquela pelos prejuízos que lhe causaram.

reSPoNSaBilidade Civil

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 3/2/2011 Revista nº 5915/03.1TBSTB.E1.S1 - 7.ª Secção Assunto: Responsabilidade excontratual

I - No que concerne à responsabilidade civil extracontratual por factos ilícitos, o exercício do direito de indemnização contra o(s) lesante(s), de acordo com o disposto no art. 498º, nº 1, do CC, pres-creve no prazo de 3 anos «(…) a contar da data em que o lesado teve conheci-mento do direito que lhe compete, em-bora com desconhecimento da pessoa do responsável e da extensão integral dos danos (…)», prazo este que pode vir a ser mais longo se, como dispõe o

nº 3 do mesmo normativo, «(…) o facto ilícito constituir crime para o qual a lei estabeleça prescrição sujeita a prazo mais longo(…)». II - A aplicação deste prazo mais lon-go, previsto no nº 3, está dependente da alegação e prova dos factos que integram os elementos essenciais de determinado tipo legal de crime, não se bastando com a mera alegação. III - Uma vez que resultou provado que um dos réus não chegou sequer a ser pronunciado e os outros vieram a ser absolvidos, é de concluir pela inapli-cabilidade do prazo mais longo que os três anos. IV - A instauração de inquérito cri-me por parte do Ministério Público constitui, nos temos do disposto nos arts. 323º, nos 1 e 4, e 306º, nº 1, do CC, vicissitude de carácter interruptiva na contagem do prazo prescricional. Sumários de Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça Secções Cíveis Nú-mero 156 – Fevereiro de 2011 15 V - Com efeito, só depois de esgotadas as possibilidades de punição criminal é que o lesado ficará em condições de deduzir em separado a acção cível de indemnização, representando a pendência do processo crime como que uma interrupção continuada, por aplicação do estabelecido no art. 323º, nos 1 e 4, do CC, do prazo prescricional, o qual não começa a correr enquanto pender a acção penal, face ao disposto no nº 1 do art. 306º, do CC.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 9/2/2011 Revista nº 67/05.5TBMUR.P1.S1 - 2.ª Secção Assunto: Estado de necessidade

I - As regras do Código Civil atinentes à responsabilidade civil são aplicáveis aos acidentes ferroviários. II - Havendo, porém, que ter em conta, quanto a estes, as normas especiais que têm vindo a lume sobre os cami-nhos-de-ferro. III - Aquele que por força da lei e, acres-cidamente, por contrato realizado com a CP tem obrigação de zelar pelo bom

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Sumários - JUriSPrUdÊNCia VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 61

estado duma passagem de nível par-ticular deve ser considerado culpado da queda duma pá em virtude dos solavancos impostos à máquina que conduzia – e em cuja pá acondicio-nara a que caiu – pelo mau piso de tal passagem. IV - Tendo esta pá caído na via-férrea em ordem a provocar necessaria-mente o descarrilamento de com-boio que por ali poderia circular a 120 Km/h e tendo o condutor, perante tal iminência, passado a tentar tirá-la dali com a máquina, determinando o embate do comboio que surgiu antes contra a própria máquina, sem descarrilar, não pode beneficiar do instituto do estado de necessidade porque foi ele quem, culposamente, criou o perigo. V - E, ainda que o embate não tivesse tido lugar contra a pá que caíra à via, não deve deixar de ser responsabiliza-do, uma vez que é de relevar a causali-dade indirecta. VI - Não obstante circular a mais 10 km/h do que o limite permitido, o condutor do comboio não deve ser concorrentemente considerado cul-pado se não se provou que o excesso de velocidade tenha concorrido para a produção do acidente ou dos danos que se verificaram e accionou a buzina, levando concomitantemente o freio à emergência. VII - O condutor da máquina, ao agir depois da queda da pá como se referiu em IV, tendo sacrificado a própria vida que foi ceifada no embate afinal veri-ficado, determinou uma diminuição acentuada da própria culpa. VIII - O que, aliado ao facto de terem só sido produzidos danos materiais no comboio e às dimensões da empresa ferroviária, justifica o recurso à redução indemnizatória prevista no art. 494º do CC. IX - A atitude dele, com o sacrifício da vida para evitar um descarrilamento de consequências terríveis, determina mesmo que tal redução seja particu-larmente substancial, fixando-se em € 10 000 euros a indemnização, quando os prejuízos ascenderam a € 73 239,34.

traBalHo

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 18/2/2011 Recurso nº 76/06.7TTVIS.C1.S1- 4.ª Secção Assunto: Contrato de trabalho - caducidade

I - O contrato de trabalho para o exercício de funções docentes na Universidade Ca-tólica Portuguesa está sujeito às regras do Estatuto da Carreira Docente da Universi-dade Católica Portuguesa (ECDUCP), em vigor deste 01.10.1990, que constitui o regulamento interno a que se refere o nº 2 do art. 5º do DL nº 128/90, de 17 de Abril. II - O sentido prevalecente do art. 39º do ECDUCP é o de que o contrato laboral de docência, na sua génese e essência, é um contrato de duração limitada, quando celebrado para o exercício de funções de assistente, sem qualquer possibilidade de conversão em contra-to por tempo indeterminado, impondo a estes profissionais, para continuarem a exercer funções de docência, a ob-tenção do grau de doutor, terminando, sem mais, o respectivo vínculo laboral se, findo o prazo ou a sua prorrogação estabelecidos estatutariamente, tal grau académico não tiver sido alcan-çado. III - Não tendo a trabalhadora, docente universitária na Universidade Católica Portuguesa, obtido o doutoramento, no decurso dos seis anos de duração do contrato de trabalho, acrescidos dos dois anos previstos para a sua prorrogação, passou a faltar um requisito essencial ao exercício das contratadas funções de docência, a consequenciar a caducidade desse contrato.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 18/2/2011 Recurso nº 4848/08.0TTLSB-C.L1.S1- 4.ª Secção Assunto: Aplicação da lei no tempo

I - A acção ajuizada em 4 de Novembro de 2008 é aplicável, no que respeita ao regime recursório, o disposto nos artigos 676º a 688º e 721º a 732º, do Código de Processo Civil, na redacção introduzida pelo DL nº 303/2007, de 24 de Agosto,

ex vi do artigo 81º, nº 5, do Código de Processo do Trabalho. II - Das decisões proferidas nos procedi-mentos cautelares não cabe recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, sem preju-ízo dos casos em que o recurso é sempre admissível – artigo 387º-A, do Código de Processo Civil –, sendo que nenhum dos casos previstos na actual redacção do artigo 678º prevê a possibilidade de recurso nas situações de contradição de Acórdão da Relação com outro, dessa ou de diferente Relação, sobre a mesma questão fundamental de direito e do qual não caiba recurso ordinário por motivo estranho à alçada do tribunal.

Referências: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 24/3/2011 Recurso nº 444/07.7TTALM.L1.S1- 4.ª Secção Assunto: Carreira profissional

I - Sendo o trabalhador membro de uma Estrutura Representativa de Trabalha-dores (a Comissão de Trabalhadores), podia optar pelo regime especial do Re-gulamento de Promoções e Progressões Salariais, em que o critério relevante, contrariamente ao regime geral, é a antiguidade e não mérito/desempenho profissional. II - Tendo optado pelo regime especial – e não tendo existido entretanto qualquer proposta de promoção, subscrita pela sua hierarquia, nem tendo sido designado pela Administração do empregador para o exercício de funções específicas de Técnico Consultor ou de enquadramento – a sua promoção a essa categoria profis-sional apenas decorre da verificação dos respectivos requisitos. III - Decidida a sua promoção, por reunião dos referidos requisitos, com efeitos reportados a 1 de Janeiro de 2004, não pode o trabalhador, em tais circunstân-cias, valer-se de cláusula (a 9.ª, nº 4) do ACTV aplicável, a pretexto do desempe-nho das tarefas que executa ser comum, desde data anterior a 2001, à generali-dade dos técnicos do Departamento em que se integra (sejam estes Assistentes, Assessores ou Consultores), para pre-tender a retroacção dos efeitos salariais/remuneratórios a 1 de Janeiro de 2001.

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leGiSlação - SínteseVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201162

Centro de arbitragem - CimaCeDespacho n.º 8366/2011, de 17.6 (II Série)- Cria o Centro de Arbitragem CIMACE - Centro de Informação, Mediação e Arbitragem do Comércio Electrónico

execução fiscal - vendaPor. n.º 219/2011, de 1.6- Aprova os procedimentos e especificações técnicas a observar na realização da venda de bens penhorados em processo de execução fiscal de venda judicial na modalidade de leilão electrónico.

Juízes de PazPort. n.º 223/2011, de 3.6- Prorroga o prazo de validade do II concurso de recrutamento de juízes de paz

Juros – bonificaçõesAviso n.º 12869/2011, de 20.6 (II série)- Fixa a taxa de referência para o cálculo das bonificações (TRCB) a vigorar entre 1 de Julho e 31 de Dezembro de 2011

licenciamento zero – comunicações préviasPort. n.º 239/2011, de 21.6- Identifica os elementos que as meras comuni-cações prévias e as comunicações prévias com prazo previstas no Decreto-Lei n.º 48/2011, de 1 de Abril, devem conter

mapa judiciário - alargamentoDL n.º 74/2011, de 20.6- Alarga às comarcas de Lisboa e da Cova da Beira o regime do novo mapa judiciário, por forma a ampliar o uso de novas formas de coordenação e gestão, bem como de apoio reforçado aos magistrados

mediação imobiliáriaDL n.º 69/2011, de 15.6- Simplifica os regimes de acesso e exercício das actividades de construção, mediação e angariação imobiliária e altera a Lei Orgânica do InCI, I. P., aprovada pelo Decreto-Lei n.º 144/2007, de 27 de Abril

medicamentos – obrigação de indicação do preço de vendaLei n.º 25/2011, de 16.6- Estabelece a obrigatoriedade da indicação do preço de venda ao público (PVP) na rotu-lagem dos medicamentos e procede à quarta alteração ao Decreto-Lei n.º 176/2006, de 30 de Agosto, e revoga o artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 106-A/2010, de 1 de Outubro

orçamento suplementarRAR n.º 111-A/2011, de 4.7 (Supl.)- Primeiro orçamento suplementar da Assem-

bleia da República para 2011

ProderPort. n.º 228/2011, de 9.6- Altera vários regulamentos de aplicação das medidas do PRODER

Port. n.º 231/2011, de 14.6 Aprova o Regulamento de Aplicação da Medida n.º 3.7, «Centros Educativos Rurais do Algarve», integrada no subprograma n.º 3, «Dinamização das zonas rurais», do Programa de Desenvol-vimento Rural do Continente, designado por PRODER

Propriedade industrialDeliberação n.º 1318-A/2011, de 30.6 (II série) - Actualiza as taxas de propriedade industrial

Protecção do consumidor de serviços públicos essenciaisLei n.º 44/2011, de 22.6- Procede à quarta alteração à Lei n.º 23/96, de 26 de Julho, que «Cria no ordenamento jurídico alguns mecanismos destinados a proteger o utente de serviços públicos essenciais»

reGiÕeS aUtÓNomaSAçoresComissões da dissuasão da toxicodependênciaDRR n.º 13/2011/A, de 3.6- Regula o funcionamento das comissões para a dissuasão da toxicodependência

Campos de fériasDLR n.º 17/2011/A, de 6.6- Estabelece o regime jurídico de acesso e de exercício da actividade de organização de campos de férias

açores – licenciamento das actividades pelas câmaras municipaisDLR n.º 20/2011/A, de 21.6- Segunda alteração ao Decreto Legislativo Regional n.º 37/2008/A, de 5 de Agosto, que estabelece o regime jurídico de actividades su-jeitas a licenciamento das câmaras municipais na Região Autónoma dos Açores

SimplegisDL n.º 70/2011, de 16.6- Determina, de forma expressa, no âmbito do programa SIMPLEGIS, que certos decretos-leis não se encontram em vigor, em razão de cadu-cidade, revogação tácita anterior ou revogação efectuada pelo presente decreto-lei

taxa de gestão de resíduosPort. n.º 222/2011, de 2.6- Primeira alteração à Portaria n.º 72/2010, de

4 de Fevereiro, que estabelece as regras respei-tantes à liquidação, pagamento e repercussão da taxa de gestão de resíduos.

taxas - iGaCPort. n.º 238/2011, de 16.6- Aprova as tabelas de taxas relativas aos actos e serviços prestados pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) em resultado do exercício da sua actividade

turismo – Fundo de GarantiaPort. n.º 224/2011, de 3.6- Aprova o Regulamento do Fundo de Garantia de Viagens e Turismo

traBalHo e SeGUraNça SoCial

Cuidados de saúdePort. n.º 220/2011, de 1.6- Fixa os preços dos cuidados de saúde e de apoio social prestados nas unidades de inter-namento e ambulatório da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) a praticar no ano de 2011

estágios profissionaisDL n.º 66/2011, de 1.6- Estabelece as regras a que deve obedecer a realização de estágios profissionais extracurri-culares, no uso da autorização legislativa con-cedida pelo artigo 146.º da Lei n.º 55-A/2010, de 31 de Dezembro

defesa nacional - formaçãoPort. n.º 226/2011, de 8.6- Aprova o Regulamento do Curso de Formação Específico para a Integração de Trabalhadores na Carreira Especial de Inspecção Aplicável à Inspecção-Geral da Defesa Nacional

estatuto da aposentação – deficientes das forças armadasDL n.º 68/2011, de 14.6- Aprova uma norma interpretativa, esclare-cendo não ser aplicável aos deficientes das forças armadas a alteração aos artigos 78.º e 79.º do Estatuto da Aposentação, prevista no artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 137/2010, de 28 de Dezembro

Centros novas oportunidadesPort. n.º 236/2011, de 15.6- Regula o processo de acreditação dos ava-liadores externos e da actividade por estes desenvolvida no âmbito dos processos de reconhecimento, validação e certificação de competências desenvolvidos pelos centros novas oportunidades

emprego protegidoLei n.º 24/2011, de 16.6

PriNCiPal leGiSlação PUBliCada1ª e 2ª. Série do Diário da República de 1 a 30 de Junho de 2011

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leGiSlação - Síntese VIDA JUDICIÁRIA - Junho 2011 63

- Reforça os apoios concedidos aos centros de emprego protegido e às entidades que promovem programas de emprego apoiado (primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 290/2009, de 12 de Outubro)

acidentes de trabalho – praticantes desportivosLei n.º 27/2011, de 16.6- Estabelece o regime relativo à reparação dos danos emergentes de acidentes de trabalho dos praticantes desportivos profissionais e revoga a Lei n.º 8/2003, de 12 de Maio

Profissionais de espectáculos – contratos de trabalhoLei n.º 28/2011, de 16.6- Procede à segunda alteração à Lei n.º 4/2008, de 7 de Fevereiro, que aprova o regime dos contratos de trabalho dos profissionais de es-pectáculos e estabelece o regime de segurança social aplicável a estes profissionais

Pensões de invalidez e velhicePort. n.º 246/2011, de 22.6- Determina os valores dos coeficientes de revalorização das remunerações que servem de base de cálculo das pensões de invalidez e velhice do regime geral de segurança social e do regime do seguro social voluntário e revoga a Portaria n.º 269/2009, de 17 de Março

Prestações sociais - requerimentoPort. n.º 249/2011, de 22.6- Aprova os modelos de requerimento do ren-dimento social de inserção, do abono de família pré-natal e abono de família para crianças e jo-vens, bem como da declaração da composição e rendimentos do agregado familiar, e revoga a Portaria n.º 598/2010, de 2 de Agosto

transferência de farmáciasLei n.º 26/2011, de 16.6- Transferência de farmácias (primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 307/2007, de 31 de Agosto)

tribunais de propriedade intelectual e da concorrênciaLei n.º 46/2011, de 24.6- Cria o tribunal de competência especializada para propriedade intelectual e o tribunal de competência especializada para a concorrên-cia, regulação e supervisão e procede à 15.ª alteração à Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro, que aprova a Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais, à 4.ª alteração à Lei n.º

18/2003, de 11 de Junho, que aprova o Regime Jurídico da Concorrência, à 5.ª alteração à Lei n.º 5/2004, de 10 de Fevereiro, que aprova a Lei das Comunicações Electrónicas, à 2.ª alteração à Lei n.º 25/2008, de 5 de Junho, que estabelece medidas de natureza preventiva e repressiva de combate ao branqueamento de vantagens de proveniência ilícita e ao financiamento do terrorismo, à 7.ª alteração à Lei n.º 52/2008, de 28 de Agosto, que aprova a Lei de Organização e Financiamento dos Tribunais Judiciais, à 1.ª alteração à Lei n.º 99/2009, de 4 de Setembro, que aprova o regime quadro das ordenações do sector das comunicações, à 23.ª alteração ao Decreto-Lei n.º 298/92, de 31 de Dezembro, que aprova o Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, à 15.ª alteração ao Decreto-Lei n.º 94-B/98, de 17 de Abril, que regula as condições de acesso e de exercício da actividade seguradora e ressegura-dora no território da Comunidade Europeia, ao Código dos Valores Mobiliários, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 486/99, de 13 de Novembro, ao Código de Propriedade Industrial, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 36/2003, de 5 de Março, à 2.ª alteração ao Decreto-Lei n.º 95/2006, de 29 de Maio, que estabelece o regime jurídico aplicável aos contratos à distância relativos a serviços financeiros celebrados com consu-midores, e à 2.ª alteração ao Decreto-Lei n.º 144/2006, de 31 de Julho, que transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2002/92/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 9 de Dezembro.

veículos eléctricos – postos de carregamentoPort. n.º 252/2011, de 27.6- Estabelece as normas técnicas para instalação e funcionamento de pontos de carregamento normal em edifícios e outras operações urba-nísticas.

veículos pesados – cancelamento temporário de matrículasDL n.º 82/2011, de 20.6- Aprova o regime de cancelamento temporário da matrícula dos automóveis pesados de mer-cadorias afectos ao transporte público, alteran-do pela 10.ª vez o Código da Estrada, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 114/94, de 3 de Maio

valores mobiliáriosDL n.º 85/2011, de 29.6- Simplifica o regime de liquidação nos siste-

mas de pagamentos e de valores mobiliários e inclui nos activos que podem ser objecto de acordos de garantia financeira os créditos sobre terceiros, procedendo à transposição da Direc-tiva n.º 2009/44/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 6 de Maio, à 1.ª alteração ao Decreto-Lei n.º 221/2000, de 9 de Setembro, à 15.ª alteração ao Código dos Valores Mobiliá-rios, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 486/99, de 13 de Novembro, e à 1.ª alteração ao Decreto-Lei n.º 105/2004, de 8 de Maio

Supremo tribunal de Justiça

técnico de telecomunicações aeronáuticas – funçõesAcórdão do Supremo Tribunal de Justiça n.º 8/2011, de 9.6- O técnico de telecomunicações aeronáuticas deve assegurar, quando necessário, a condução da viatura para o exercício das suas funções desde que para tal esteja legalmente habilitado, salvo nos casos previstos nos n.os 9 e 10 da cláusula 34.ª do acordo de empresa TTA

Competência territorialAcórdão do Supremo Tribunal Administra-tivo n.º 1/2011, de 21.6- Uniformiza a jurisprudência no sentido de que a competência territorial para o conheci-mento de pedidos de anulação ou de nulidade de actos administrativos e de adopção de providências cautelares a eles respeitantes, formulados por dois requerentes - um com sede no estrangeiro e outro com sede em Portugal -, cabe ao tribunal da residência ou sede do autor em Portugal, ou ao Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa, cabendo aos autores essa escolha.

reCtiFiCaçÕeS

açores – crédito bonificado para desempregadosDecl. de Rect. n.º 17/2011, de 7.6- Rectifica a Resolução da Assembleia Legis-lativa da Região Autónoma dos Açores n.º 7/2011/A, de 5 de Maio, que resolve recomen-dar ao Governo Regional dos Açores a criação de um programa destinado à bonificação dos juros do crédito à habitação para a residência permanente na Região Autónoma dos Açores, destinado a desempregados, publicada no Diário da República, 1.ª série, n.º 87, de 5 de Maio de 2011

disponíveis em www.dgsi.ptaCÓrdãoS do StJ

UNião de FaCto – PeNSão de SoBre-vivÊNCiaSumário: “I - Nos casos em que a morte do beneficiário ocorre quando este estava casado com a cônjuge sobreviva há menos de um ano e por esse facto não está preenchido o requisito da duração mínima do casamento necessário ao reconhecimento do direito à pensão de

sobrevivência de acordo com o regime do casamento, o direito àquela pensão deve ser apreciado à luz do regime da união de facto, se verificados os requisitos deste regime. II - Na pensão de sobrevivência a favor do uni-do sobrevivo (tal aliás como ao cônjuge), do que se trata é da satisfação das necessidades daquele que vivendo em comunhão de vida passou a viver sem o auxílio nas despesas

do falecido unido de facto, deixando de beneficiar das inerentes economias de escala advindas da vida em comum. III - Na pensão de sobrevivência o que está em causa no âmbito da protecção da norma são as necessidades próprias do sobrevivo e não as suas eventuais dificuldades económicas derivadas do auxílio aos seus familiares. IV - Não fazendo a Lei n.º 23/2010 de 30-08

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leGiSlação - SínteseVIDA JUDICIÁRIA - Junho 201164

depender a sua aplicação da data da morte do unido, do regime ora instituído não pode ser arredado o unido sobrevivo em que a morte do beneficiário ocorreu antes da entrada em vigor daquela lei” (Proc. n.º 1038/08.5 TBAVR.C2.S1, de 16/6/2011).

aCideNte de traBalHoSumário: “I. Quando um sinistro for, simultaneamente, de viação e de trabalho e deva haver lugar à fixação de prestações ou indemnizações na dupla vertente do acidente, cada um dos tribunais – o cível e o laboral – procederá à sua atribuição segundo os critérios legais aplicáveis.II. Mas, por não ser permitida a acumulação de pensões ou indemnizações fixadas pelo acidente de trabalho com indemnizações por danos patrimoniais indirectos atribuídas pelo acidente de viação, a lei previne o critério para a evitar e que, em termos gerais, se traduz no direito de a entidade empregadora, ou a seguradora, ficar desonerada do pagamento das prestações da sua responsabilidade até ao montante do valor da indemnização fixada pelo acidente de viação. III. Porém, se na acção por acidente de viação em consequência de transacção, homologa-da por sentença, se estipulou uma quantia única respeitante a danos patrimoniais e não patrimoniais para vários beneficiários, sem qualquer discriminação de valores quanto aos danos patrimoniais e à natureza destes, ficando sem se saber se foram contemplados danos futuros (danos patrimoniais indirectos), deve improceder o pedido da seguradora de suspensão do pagamento da pensão arbitra-da pelo acidente de trabalho”. (Proc. nº. 71-A/1990.P1.S1, de22/6/2011).

liBerdade de imPreNSaSumário: “1 . A nulidade prevista na primeira parte do artigo 668.º, n.º1 d) do Código de Processo

Civil só tem lugar quando o juiz deixe de conhecer, em absoluto, de questões que devesse apreciar.2 . A Constituição da República Portuguesa tutela, quer o direito à honra, quer o direito à liberdade de expressão e informação.3 . Sem estabelecer hierarquia entre eles.4 . Por força dos artigos 8.º e 16.º, n.º1 da Lei Fundamental, a Convenção Europeia dos Di-reitos do Homem situa-se em plano superior ao das leis ordinárias internas.5 . Esta não tutela, no plano geral, o direito à honra, a ele se reportando apenas como possível integrante das restrições à liberdade de expressão enunciadas no artigo 10.º, n.º2.6 . O que leva o intérprete a ter seguir o ca-minho consistente, não em partir da tutela do direito à honra e considerar os casos de eventuais ressalvas, mas em partir do direito à livre expressão e averiguar se têm lugar algumas das excepções deste n.º2.7 . Este caminho sai reforçado pelo texto da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.8 . Na interpretação daquele artigo 10.º é de acatar, pelos tribunais internos, a orientação jurisprudencial que, muito reiteradamente, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem vem seguindo e que se caracteriza, no essen-cial, pelo seguinte: A liberdade de expressão constitui um dos pilares fundamentais do Estado democráti-co e uma das condições primordiais do seu progresso e, bem assim, do desenvolvimento de cada pessoa;As excepções constantes deste n.º2 devem ser interpretadas de modo restrito;Tal liberdade abrange, com alguns limites, expressões ou outras manifestações que criticam, chocam, ofendem, exageram ou distorcem a realidade.Os políticos e outras figuras públicas, quer pela sua exposição, quer pela discutibili-dade das ideias que professam, quer ainda pelo controle a que devem ser sujeitos, seja

pela comunicação social, seja pelo cidadão comum – quanto à comunicação social, o Tribunal vem reiterando mesmo a expressão “cão de guarda” - devem ser mais tolerantes a críticas do que os particulares, devendo ser, concomitantemente, admissível maior grau de intensidade destas;Na aferição dos limites da liberdade de expressão, os Estados dispõem de alguma margem de apreciação, que pode, no entanto, ser sindicada pelo próprio TEDH.9 . Neste quadro – considerando que o autor era Presidente da Câmara, que se tratou de obras públicas e que, nos docu-mentos alusivos a estas obras, se passou da designação de “Obras de recuperação e beneficiação do edifício dos Paços do Concelho” para “Reabilitação do Centro Histórico ..............- Restauro e Renovação do Edifício do Antigo Hospital do Espírito Santo” – ainda é de considerar integradas no círculo de liberdade de imprensa as seguintes expressões, proferidas em en-trevista a um jornal local:“O processo antes designado como da “Câ-mara Municipal ...........” passou, a dada altura, a chamar-se “Hospital do Espírito Santo.” Sabe porquê? Porque a União Europeia (UE) não subsidia obras em Câmaras. Quero dizer que, à boa maneira portuguesa, vigarista, para se conseguir subsídios da UE, alterou-se o nome do processo. O Estado português, a CMB, o arquitecto Teles e AA defraudaram a UE em milhares de euros. Isto é uma trafulhice. E se calhar na UE nem sequer sabem o que pagaram”. 10 . O que não significa que tais expressões sejam de avalizar.11 . Cabendo a cada um, quer na vertente de produção da comunicação social, quer na sua vertente de consumo, ajuizar sobre a inaceitabilidade de muito do que se diz ou do modo como se diz.”(Proc. n º 1272/04.7TBBCL.G1.S1, de 30/6/2011).

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Lei nº 29/2009, de 29 de Junho(alterada pela Lei n.º 1/2010, de 15 de Janeiro e Lei nº 44/2010, de 3 de Setembro de 2010)

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Autor: Adalberto Costa (Advogado)

Páginas: 272

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O NOVO PROCESSO de INVENTÁRIO O Regime Jurídico do Processo de Inventário

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