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Casa da Descoberta, um espaço da ciência em Niterói LAB traz o universo infantil para a universidade Antártica: os ensinamentos do continente gelado Nº 3 - Dezembro de 2013

Nº 3 - Dezembro de 2013 · pesquisa e extensão, ... a Casa da Descoberta contri-bui para a aprendizagem e o desenvolvimento ... a Igreja de São Pedro dos Clérigos e o Palácio

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  • Casa da Descoberta, um

    espao da cincia em

    Niteri

    LAB traz o universo

    infantil para a

    universidade

    Antrtica: os

    ensinamentos do

    continente gelado

    N 3 - Dezembro de 2013

  • Nesta edio

    o.p.i .n. i . .o

    c. i . .n.c . i .a

    e.d.u.c .a. ..o

    p.e.s .q.u. i .s .a

    h. i .s . t . .r. i .a

    Em depoimentos e imagens, Laboratrio de His-tria Oral e Imagem da UFF forma acervo com o intuito de preservar a memria do fotojorna-lismo brasileiro no perodo de 1940 a 1990.

    Laboratrio de Brinquedos, Jogos e Brincadei-ras (LAB) se dedica formao inicial e con-tinuada de educadores, com aes de ensino, pesquisa e extenso, em um espao pensado para as crianas.

    Pesquisadores da UFF integram equipe que saiu em expedio Antrtica. Coleta de sedi-mentos e estudo do fundo marinho permitem a construo de um panorama do passado, presente e futuro do continente gelado.

    Epitfio para a Perimetral, por Protasio Ferreira e Castro,professor do curso de Engenharia Civil da UFF

    Criada em 1998, a Casa da Descoberta contri-bui para a aprendizagem e o desenvolvimento do potencial cultural do indivduo e estimula a entrada dos jovens no mundo da cincia.

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    Epitfio para a Perimetral

    o.p. i .n . i . .o

    A engenharia civil e a indstria da construo denominam pontes e viadutos por obras-de--arte especiais (OAE). Nos ltimos 30 anos, a esttica das OAE se tornou foco de ateno devido ao tamanho e composio com a paisa-gem. Elas influenciam a qualidade visual.

    O ambiente construdo das cidades reflete a vida, a integrao com a natureza e o humor da populao que nelas vive. As intervenes urbansticas no Rio de Janeiro demoliram, den-tre outras edificaes, a Igreja de So Pedro dos Clrigos e o Palcio Monroe. A construo do elevado da Perimetral demoliu o Mercado Municipal da Praa XV. Embora beleza no seja definida, ela reconhecida. A Perimetral, no trecho da Praa XV, sempre foi considerada esteticamente um monstro. Uma agresso ao conjunto arquitetnico do Museu Histrico Na-cional, o prdio da Estao das Barcas, o Cha-fariz do Mestre Valentim e o Pao Imperial.

    A Perimetral foi entregue ao trfego nos anos 70. O viaduto est prximo ao mar e sofre ao dos ons cloretos. Est submetido a ele-vado nvel de concentrao de carbono devi-do ao trfego. Nesses 40 anos de prestao de servio, no necessitou de tratamentos e intervenes para recuperao estrutural, no-

    Protasio Ferreira e CastroProfessor do curso de Engenharia Civil da UFF

    tadamente devido corroso. Estimou-se que o ndice de corroso para as partes metlicas seja equivalente a perda de espessura de 1 mm a cada 188 anos. Uma garantia de segu-rana estrutural, alm de uma perspectiva de alto desempenho e longa vida til. O mesmo no se pode dizer para o elevado do Jo.

    Cidades dos Estados Unidos, Europa e sia demoliram viadutos, consequncia da dete-riorao ou para oferecer outra soluo de trfego. Em alguns casos, as OAE haviam pro-vocado degradao da rea e do patrimnio pblico e privado.

    O profeta gentileza deixou inmeras ins-cries nos pilares do elevado da Perimetral. Jos Datrino se dizia amansador dos burros homens da cidade que no tinham esclareci-mento. Se soubesse da demolio da Perime-tral talvez Gentileza deixassse um epitfio. Na ausncia do profeta, certamente a prefeitura deixar, nos blocos de fundao dos pilares, uma lpide, para posteridade, com uma ins-crio tipo assim:

    Aqui jaz a Perimetal, nascida soluo, demo-lida devido ao que causou de mal.

  • Texto e fotos:

    Paula Rodrigues

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    Casa da Descoberta: centro de experincia interativa, cientfica e cultural

    c. i . .n.c . i .a

    Fsica no s frmula. assim que Daisy Luz, coordenadora da Casa da Descoberta, justifica a necessidade do projeto, que con-siste em ajudar na aprendizagem e no de-senvolvimento de todo o potencial cultural do indivduo.

    O projeto de 1998, quando o Instituto de Fsica da Universidade Federal Fluminense completava 30 anos. Naquele ano, foram fei-tas vrias atividades de comemorao, dentre elas seminrios de divulgao para alunos do ensino mdio. Ficamos muito surpresas com o pblico e com a audincia, conta Daisy.

    Um ano depois, as professoras Daisy Luz, Ruth Bruno e Rosa Benevento, hoje aposentada, fi-zeram um projeto piloto no Museu do Ing, du-rante um ms. O objetivo era aprender a pla-nejar um centro de cincia, faz-lo funcionar e conseguir verba. Conseguimos muita visibi-lidade, cerca de sete mil pessoas visitaram o

    projeto. Diante do resultado fomos at a uni-versidade para apresentar a proposta ao reitor da poca, lembra Daisy. No demorou muito e em 2000 o Instituto de Fsica inaugurou o espao da Casa da Descoberta, no Campus da Praia Vermelha, Boa Viagem.

    A Casa um dos cantinhos de cincia em Nite-ri que tem como intuito colaborar na forma-o do indivduo, motivar a entrada de jovens e do pblico em geral na cultura cientfica. Para isso, so desenvolvidas atividades que contribuam para a divulgao da cincia e con-solidem o espao como um polo de interao entre comunidade acadmica e sociedade.

    Hoje, esto disponveis cerca de 50 experimen-tos interativos nas reas de mecnica, tica, eletricidade, hidrodinmica, fsica moderna, astronomia, formas alternativas de energia, estudo da matria e reaes qumicas.

    A equipe formada por professores dos insti-tutos de Fsica e Qumica e da Escola de En-genharia e alunos dos cursos de Fsica, Qu-mica e Engenharia.

    Alguns equipamentos so construdos por servi-dores da UFF ou comprados de empresas espe-cializadas. Professores da instituio tambm realizam trabalhos com alunos, e o estudante pode sozinho ceder experimentos.

    A Casa da Descoberta conta, ainda, com o an-fiteatro do Instituto de Geocincias, com ca-pacidade para 150 pessoas, e a sala de vdeos do Instituto de Fsica. Mas as visitas aos expe-rimentos interativos so mesmo a principal ati-vidade. So recebidos, principalmente, alunos de escolas pblicas e privadas de Niteri e ar-redores, da pr-escola ao ensino mdio. As vi-sitas so guiadas por monitores que estimulam o uso dos equipamentos e tambm explicam os conceitos cientficos de maneira informal.

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    c . i . .n.c . i .a

    Para alm dos experimentos cientficos, ao longo de 45 anos de existncia, o Instituto de Fsica acumulou uma srie de equipamentos de seus laboratrios didticos e de pesquisa, que esto guardados em armrios e almoxarifados, mas que se preservados, contribuiro para o resgate da memria da comunidade. Este o objetivo fundamental do projeto novo: pro-mover, recuperar e difundir o patrimnio cul-tural e histrico do instituto, mediante a for-mao de um pequeno museu, dentro da Casa da Descoberta. Esperamos que este museu se transforme em um polo atrativo e contribua para a motivao, fator fundamental para o aprendizado das pessoas, destaca Daisy Luz.

    Novo espao sustentvel

    Desde sua criao, a Casa j recebeu mais de 70 mil visitantes. O nmero parece grande, mas o centro cientfico recebe apenas cerca de

    Em visitas guiadas, estudantes tm acesso a mais de 50 experimentos interativos

    oito mil pessoas por ano, quase o equivalente ao que o projeto piloto recebeu em um ms.

    Por isso, as idealizadoras do espao planejam mudar de endereo. O principal interesse da mudana a restrio do pblico. O Museu do Ing, por exemplo, muito mais acessvel. Nosso prdio fica localizado no segundo andar do prdio de fsica, poucas pessoas passam por aqui, explica Daisy.

    Atualmente, 98% dos visitantes da Casa da Des-coberta so estudantes que chegam acompa-nhados por professores. Segundo as respons-veis, um local fora do instituto poderia atrair o pblico espontneo, de famlias, por exem-plo. J h, inclusive, uma negociao para transferir o espao para uma rea no trreo, onde ser a sede da Casa da Descoberta, com visibilidade para a Avenida Litornea.

    O projeto para a construo da nova estrutura foi idealizado por alunos do curso de Arqui-tetura e Urbanismo da UFF. O prdio ter efi-cincia energtica, com formas alternativas de energia, como a solar e a elica, captao de chuva e reutilizao de gua. O prprio espao ser como um equipamento, um expe-rimento a ser mostrado, conta a coordenado-ra. O projeto ganhou prmio da Eletrobrs.

    A Casa da Descoberta funciona de segunda a sex-ta-feira, das 9h s 17h, na Avenida General Milton Tavares de Souza, s/n, 2 andar, Campus da Praia Vermelha, Boa Viagem, Niteri. s segundas-fei-ras, abre tambm das 18h s 21h, quando so realizadas observaes do cu. No ltimo sbado do ms o espao funciona das 9h s 17h.

    Outras informaes em: www.uff.br/casadadescoberta

    http://www.uff.br/casadadescoberta

  • LAB: o mundo infantil dentro da universidade

    e.d.u.c .a. ..o Texto: Frederico Canequela Fotos: Gabriel Oliveira

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    Um espao ldico destinado formao ini-cial e continuada de educadores. assim que se pode definir o Laboratrio de Brinquedos, Jogos e Brincadeiras (LAB), vinculado Facul-dade de Educao (Feuff) da Universidade Fe-deral Fluminense.

    A sala nmero 209 do Bloco D do Campus do Gragoat um lugar de aes ligadas a pro-jetos de ensino, pesquisa e extenso, com princpios que se voltam ao protagonismo infantil, seus saberes, lgicas, experincias e formas singulares de aprendizado. Quem frequenta o espao garante ser um lugar agradvel, que oferece conforto, pratici-dade, liberdade para imaginao e para a criatividade. Um espao onde o reaproveita-mento de materiais contribui para a decora-o, funcionalidade e versatilidade.

    A coordenadora do projeto, Mnica Silvestri, conta que a ideia da criao do LAB surgiu de uma pesquisa feita com crianas do ensi-no fundamental da rede pblica, no municpio de Niteri, sobre como poderia ser um espao agradvel para elas. Por isso mesmo, o visual, os retoques, as cores e todos os brinquedos foram idealizados, requeridos ou produzidos pelos pequenos ou com a sua participao. A nossa sala tem a cara de quem a ocupa. Nas paredes, nas prateleiras, nos armrios e nos brinquedos h um pouco de cada uma das crianas; dos alunos e alunas do curso de pe-dagogia da UFF; e, claro, dos professores e professoras de muitas instituies acadmicas parceiras do projeto, explica.

    Mnica conta que para a montagem do LAB fo-ram utilizadas obras de um antigo acervo onde, desde 2004, eram confeccionados e criados

    brinquedos e jogos com o reaproveitamento de materiais. Antes de ter seu espao na Fa-culdade de Educao, a sala de brinquedos ocupava o Instituto de Educao Professor Is-mael Coutinho (Iepic), em So Domingos. O acervo era ligado ao Papelo, boto, gro de feijo: coisas de brinquedo feito mo, um projeto de oficinas voltadas para crianas e professores baseadas na criao ou inven-o de brinquedos.

    O material utilizado para a criao dos brin-quedos o mais diversificado possvel. Garra-fas pet, retalhos, caixas de papelo, brinque-dos usados, tudo ganha outra vida nas mos da equipe do LAB. As coisas que as pessoas descartam nos interessam. Para criar qual-quer coisa, as nossas ideias surgem a partir do material disponvel para a gente, escla-rece a coordenadora.

  • O LAB reaviva o espirito in-

    fantil de quem o visita, por-

    que parece que as pessoas

    se esquecem de brincar

    e.d.u.c .a. ..o

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    Inaugurado em 24 de setembro deste ano, o LAB conta com mais de 400 itens dispon-veis, entre jogos, livros e brinquedos, para as atividades da criana-da. O espao funciona de segunda a sexta-feira, das 7h s 17h, com capacidade para receber turmas de at 30 crianas por visita.

    Para este ano experimental constaram da agenda do LAB: oficina de cartonagem, ofi-cina de cinema, oficina de teatro, oficina de

    tapete de historias, oficina de contao de histrias, oficina de criao de brinquedos, dentre outras.

    Para Mnica Silvestri, o La-boratrio um espao indis-pensvel para formao dos licenciados e para os profes-sores criarem formas de tor-nar as aulas mais criativas e

    prazerosas, levando em considerao a rela-o entre ensino e diverso. As crianas ado-ram este espao dedicado a elas, pois apren-

    dem, criam, e nos ensinam muitas coisas. O LAB ainda mais importante por reavivar o esprito infantil de quem o visita, por-que parece que as pessoas se esquecem de brincar. Parece que brincar s permitido at certa idade, ressalta a professora.

    Portal infantil

    O portal do LAB tem um contedo ldico voltado para o pblico infantil. Alm de ou-tros recursos, comporta uma revista eletr-nica de total autoria das crianas. O suporte est incluso no processo de aprendizagem da leitura, escrita, e para o conhecimento do mundo. As crianas escolhem temas e procuram ao mximo pesquis-los. Em se-guida, revisitam todo o estudo e selecio-nam o mais relevante. A revista faz parte do projeto de extenso da Faculdade de Educao Infncias: revista eletrnica, em parceria com o Programa Institucional de Iniciao Docncia (Pibid), vinculado Coordenao de Aperfeioamento de Pes-soal de Nvel Superior (Capes) do Ministrio da Educao (MEC).

    Para agendar uma visita ao LAB o respon-svel pela escola interessada deve entrar em contato pelo e-mail [email protected]. A programao mensal e outras informaes sobre o laboratrio esto disponveis em www.lab.uff.br.

    O laboratrio um espao de aprendizagem e descoberta para aluno e professor

    http://www.lab.uff.br

  • Texto: Gabriel Oliveira

    e Luiza Gould

    Fotos: Reproduo

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    h. i .s . t . .r. i .a

    Laboratrio de Histria Oral e Imagem registra a histria do fotojornalismo brasileiro de 1940 a 1990

    A dor de quebrar o coto-velo ou a insegurana de danificar o equipamen-to foram recompensadas por aquele clique. Um nico aperto no dispara-dor da mquina que regis-traria um dos momentos mais inusitados da Rainha Elisabeth II. O ano era 1968. A recm-construda sede do Museu de Arte de So Paulo Assis Chateau-briand, na Avenida Pau-lista, teria como mestres de cerimnia da inaugura-o a rainha e seu marido, prncipe Philip.

    Depois do desembarque, enquanto Elizabeth entra-va em seu carro, Evandro Teixeira, em busca do me-lhor ngulo, aproveitou o tumulto e a janela aberta, para posicionar a cmera dentro do veculo e registrar a Rainha da Inglaterra em posio nada convencional. Acho importante

    mostrar o que no seria mostrado em nenhu-ma outra situao. S eu fotografei a rainha daquele jeito, afirma Teixeira. A histria apenas uma dentre as tantas que marcaram a

    carreira de um dos maio-res nomes do fotojornalis-mo no Brasil.

    Autor de fotos como a da passeata dos cem mil; a de um militante indo ao cho em confronto com a pol-cia durante a ditadura mi-litar; a de um policial da FAB caindo de sua motoci-cleta; e a de Ayrton Senna piscando ainda com seu capacete depois de uma vitria; Evandro Teixeira se destaca tambm pelo registro do povoado de Canudos, fato que conhe-ceu a partir do relato de sua av, e pela cobertura de 11 Copas do Mundo e oito Olimpadas.

    Das dores do serto destreza dos ps de Garrincha e Pel ou aos gritos por um novo pas nas recentes manifestaes no Brasil, Evandro Teixeira faz at hoje o que o leva a

    Rainha Elisabeth II em visita ao Brasil, 1968

  • h.i .s . t . .r. i .a

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    viver: fotografar. As imagens nicas captadas pela sua lente fizeram histria e agora so par-te do acervo do Laboratrio de Histria Oral e Imagem (Labhoi) da UFF.

    Evandro foi um dos entrevistados para o pro-jeto O olhar contemporneo: memrias do fotojornalismo 1940-1990. Com a iniciativa, o fotgrafo deixou registrados arquivos de u-dio e vdeo relatando fatos da sua carreira e colaborando para manter viva a histria do fo-tojornalismo para alm das prprias imagens. Esses trabalhos que mostram a fotografia em toda a sua essncia so sempre muito impor-tantes, e iniciativas como a do Labhoi so por isso muito bem-vindas, opina.

    Por uma memria do fotojornalismo

    Criado em 1982 pelas professoras Ismnia Martins e Eullia Lobo, o Labhoi se apresenta como um espao de reflexo sobre os teste-munhos obtidos, como lembra a historiadora Ana Maria Mauad. Agregou-se essa questo de forma completamente inovadora. Essas duas professoras trouxeram a fotografia como um elemento para a composio de memrias a respeito de uma determinada realidade, relata.

    O projeto que ajuda a criar uma memria do fotojornalismo no Brasil constitui uma das mais relevantes iniciativas do laboratrio. Coorde-nado pela fotgrafa e pesquisadora Silvana Louzada e supervisionado por Ana Maria

    Fotos que contam histria

    Sob a forte represso do regime do ditador Augusto Pinochet, em 1971, Evandro Teixei-ra presenciou um dos momentos mais emo-cionantes da sua carreira. Ele foi o nico a registrar em fotos o velrio do poeta Pablo Neruda, desde a liberao do corpo at o en-terro que levou milhares s ruas de Santiago.

    Um dia aps o anncio da morte de Neruda, Evandro chegou ao hospital onde o poeta es-tava internado e, com uma cmera escondida conseguiu driblar o cerco militar e entrar no prdio, onde viu o corpo do poeta em uma maca no cho. Aps se identificar como amigo do escritor Jorge Amado, conseguiu de Dona Matilde, viva de Neruda, a permisso para registrar o ltimo adeus ao poeta chileno.

    Em fevereiro desde 2013, o corpo de Neruda foi exumado, e um inqurito aberto para apu-rar a causa da morte do poeta. Testemunha ocular da histria, Evandro nunca descartou a hiptese de assassinato. As fotos mostram um homem gordinho, sadio e no com apa-rncia de doente como alegaram os milita-res. Em meu depoimento falei isso. As fotos falam por si.

    Dona Matilde, esposa de Neruda, ao lado do corpo do marido

    Mauad, a iniciativa consiste em realizar en-trevistas com fotojornalistas e fotodocumen-taristas, a maioria ainda atuante, na tentativa de produzir um histrico da profisso, incluin-do um acervo de imagens. O que temos feito

    juntar a pesquisa biogrfica dos fotgrafos e a forma como eles produzem discursos com determinados acontecimentos histricos, fri-sa Ana Maria.

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    Ao todo, j foram feitos 50 registros entre u-dio e vdeo, com finalidade estritamente acad-mica. Dentre os colaboradores, figuram nomes como Evandro Teixeira, Milton Guran, Kim-ir-Sen Leal, Duda Bentes e Julio Bernardes.

    Depois de autorizadas, transcritas e cataloga-das, as entrevistas so disponibilizadas para divulgao cientfica, visando ampliao do espao de interlocuo entre a UFF e a comu-nidade externa. Apesar de alguns arquivos j estarem acessveis na pgina do Labhoi, a dis-ponibilizao completa do material restrita a pesquisadores. Para o pesquisador consultar ele ter uma espcie de ndice de referncia. Algumas entrevistas podem ser disponibiliza-das na ntegra. Aqueles que quiserem acessar

    todo o material preci-sam vir ao laboratrio, onde possvel con-sultar os terminais, explica Ana Maria.

    Com uma equipe com-posta por alunos bol-sistas de mestrado, doutorado, alunos de iniciao cientfica e estgio acadmico, o laboratrio funciona como um arquivo p-blico, servindo a todo o estado do Rio de Janeiro e alcanando tambm projeo in-

    ternacional. O Labhoi colabora com a Uni-versidade da Califrnia, em Berkeley, a Uni-versidade Autnoma de Madri e o Instituto Moama, no Mxico.

    Fotografia engajada

    No projeto O olhar contemporneo: mem-rias do fotojornalismo 1940-1990, o recorte temporal do trabalho corresponde ao perodo que vai do surgimento da revista O Cruzei-ro, momento de afirmao e conquista de identidade do fotojornalismo brasileiro, at os primeiros anos do Brasil aps o processo de redemocratizao, e conta com registros de momentos emblemticos da poltica nacio-nal e fotografias dos mais diversos grupos que

    compem a sociedade brasileira, como indge-nas e quilombolas, por exemplo.

    Assim que soube do projeto sobre memrias do fotojornalismo, com esse recorte histrico, Silvana Louzada no teve dvidas em partici-par. Muitas histrias daquela poca urea da fotojornalismo so emblemticas. Eu comecei a me interessar por isso e minha tese de dou-torado foi muito em cima da histria de vida desses fotgrafos, para tentar entender como se deu o seu processo de formao, porque nos anos de 1940 no existia faculdade. Era um outro processo, principalmente para o fo-tgrafo. A entrada na profisso era muito por vias informais, at os anos de 1980, conta a fotojornalista que tem mestrado e doutorado na rea de comunicao.

    Silvana destaca que, a partir dos anos de 1980, j no fim do regime militar, surgiram os mo-vimentos das agncias independentes. Esses grupos, segundo ela, passaram a disseminar a ideia de trabalho autnomo. Alguns grupos de fotgrafos, em Braslia, no Rio e em So Paulo, se organizaram em agncias independentes, com o objetivo de veicular seu trabalho e con-trolar o fluxo dessas imagens. Os fotgrafos passaram a ser seus prprios patres.

    Essa fotografia engajada, que produz um dis-curso poltico, mas que tambm insere o fo-tgrafo na arena poltica graas a questes trabalhistas, como o direito de veiculao de imagens e a profissionalizao dos fotgra-

    h.i .s . t . .r. i .a

    Estudante vai ao cho durante Ditadura Militar, em 1968

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    fos, corresponde ao perodo estudado pelas pesquisadoras atualmente. As entrevistas so feitas com fotojornalistas que se destacaram nessa poca, como Milton Guran.

    Antroplogo e fotgrafo, Guran criou junto com os amigos Eliane Mota e Rolnan Pimenta a Agncia Imprensa Livre (Agil), que integrou as nascentes agncias de fotgrafos independen-tes dos anos 1980. Conhecida como o movi-mento das agncias a Agil se tornou inspira-o para iniciativas semelhantes inclusive em outros estados.

    Alm de sua atuao no movimento que se ins-creveu no contexto de resistncia ao regime militar de 1964 e reconstruo de um estado democrtico, Guran se destaca ainda por suas fotografias. Com um acervo extenso sobre os indgenas, povos com que comeou a trabalhar em 1978, Guran utilizou a antropologia como mecanismo de seu trabalho fotogrfico. Fui motivado pelo aspecto humanista da questo, a prpria sobrevivncia fsica dos povos ind-genas, a sobrevivncia das suas matrizes cul-turais. No Brasil so faladas mais de 200 ln-guas diferentes, e cada uma representa uma maneira de viver nesse planeta. Isso represen-ta uma das maiores riquezas que uma nao pode ter, relata.

    Milton Guran tambm pesquisador associa-do do Labhoi, onde se encontram seus arqui-vos fotogrficos sobre os aguds, comunidades de escravos libertos no Brasil que retornaram

    para a frica. Trabalho no terreno comum entre a antropologia e a histria oral, no cam-po da imagem. Minhas pesquisas, portanto, esto em total sintonia com as atividades do Labhoi, de modo que naturalmente acabaram nascendo vrias parcerias com pesquisadores do laboratrio que, ao longo do tempo, se consolidaram nesse status de pesquisador as-sociado, explica.

    Indgenas, aguds, sertanejos, dolos do espor-te. O enfoque antropolgico de Milton Guran e coberturas como a da morte do poeta chi-leno Pablo Neruda de Evandro Teixeira, uma das preferidas do fotgrafo, tm em comum o amor pela fotografia. Agora esses instantes e o trabalho desses fotojornalistas esto imortali-zados no acervo do Labhoi.

    h.i .s . t . .r. i .a

  • Antrtica: os ensinamentos do continente gelado

    p.e.s .q.u. i .s .a Texo: Luiza GouldFotos: Reproduo/

    Lapsa

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    Um lugar distante, com temperaturas abaixo de zero grau, habitado por pinguins, focas, or-cas e outros animais que suportam condies climticas extremas. Essas so algumas carac-tersticas que vm mente de muitas pessoas quando se fala em Antrtica, o continente ge-lado localizado no polo sul do planeta. Para os cientistas, o local no s um espao de trabalho como uma importante fonte de in-

    Pesquisadores da UFF fazem parte de equipe brasileira que estuda a regio

    formao. Afinal, o que acontece l pode ge-rar mudanas que vo desde a formao de correntes martimas at alteraes na produ-o de alimentos, mesmo em pases tropicais como o Brasil.

    No time de cientistas que tenta desvendar os mistrios desse continente e as suas conse-quncias esto brasileiros, dentre eles, qua-

    tro pesquisadores do Instituto de Geocincias da Universidade Federal Fluminense, que se dividem em dois grupos: um responsvel pela coleta e anlise de sedimentos dos ambien-tes terrestre e lacustre e outro que reconstitui a histria das geleiras por meio do estudo do fundo marinho. Juntos trabalham na constru-o de um panorama da Antrtica, do seu pas-sado, presente e futuro.

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    Rosemary Vieira e Humberto Marotta so os gegrafos que estudam os resqucios oriundos dos recuos das geleiras que afetam o ambien-te. O gelo ao derreter carrega sedimentos em suspenso que alteram a dinmica da regio, tanto biolgica quanto oceanogrfica. Nosso trabalho monitorar a geleira, ver a quanti-dade de carga sedimentar produzida, a quan-tidade acumulada por ano e para onde esses sedimentos se deslocam, explica Rosemary, que j participou de oito expedies regio estudada por ela desde 2003.

    A ltima ida dos dois pesquisadores Antrti-ca foi em maro deste ano. O material reco-lhido em um ms de viagem j est no Brasil e, embora a anlise seja preliminar, possvel encontrar respostas sobre a produo e emis-so de gases responsveis pelo efeito estufa. Esses ambientes subpolares apresentam uma atividade biolgica que produz gases do efeito estufa. Determinados aumentos de tempera-tura poderiam influenciar uma maior produo e emisso de gases. Pelo que vimos at agora, parece haver mais metano e gs carbnico nas amostras, revelou Marotta.

    Segundo o pesquisador, possvel constatar, ainda, um ciclo na Antrtica chamado de re-troalimentao positiva: gases de efeito estu-fa, como o dixido de carbono, o gs metano e o xido nitroso, ficam retidos nas camadas in-feriores da atmosfera e elevam a temperatura do ar e dos oceanos. Esse aquecimento provo-ca maior evaporao, inclusive no ambiente

    antrtico. O vapor dgua, que tambm retm calor na atmosfera, colabora com a elevao da temperatura, reiniciando o processo. Os pesquisadores estudam essa dinmica para entender melhor a retroalimentao positiva e suas consequncias.

    A equipe formada pelos geofsicos Arthur Ayres e Fbio Magrini tambm esteve na Antrtica em janeiro deste ano para a anlise do fundo marinho. O degelo deixa rastros de sedimen-tos no fundo do mar que permitem reconstruir a histria da evoluo de uma rea em escalas que vo at bilhes de anos.

    As mudanas climticas trazem alteraes que vo alm da elevao do nvel do mar e que podem afetar at mesmo as plantaes. Onde voc planta batata, voc no vai mais conseguir plantar, no vai ter mais um regime climtico que permitir a plantao. Isso, por sua vez, vai gerar falta de alimentos, inflao e uma srie de outros problemas, destaca Ayres, que tem no currculo cinco expedies ao continente.

    Nova expedio vista

    A quebra do mito de que o que acontece na Antrtica no interfere em nosso pas explica o crescimento do interesse do Brasil naquele continente. O Brasil o stimo pas mais pr-ximo da Antrtica. O que acontece no oceano austral tem consequncias diretas aqui, prin-cipalmente em termos de padres climticos, afirma Rosemary Vieira.

    Humberto Marotta coleta sedimentos para

    monitorar a geleira

    p.e.s .q.u. i .s .a

    Expedio requer preparo e planejamento para enfrentar

    condies extremas

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    A jornada ao continente gelado requer preparo para enfrentar as dificuldades de se trabalhar em meio a intempries, como tempestades, e em temperaturas muito baixas. Segundo Rosemary, a ida Antrtica demanda um longo planejamento. Antes das expedies, as equipes so preparadas pela Marinha e, durante uma semana, recebem treinamento de incndio, de primeiros socorros, so apresentadas s roupas de frio e participam de acampamentos.

    O planejamento para uma expedio deve co-mear com muita antecedncia. Verificar os equipamentos que sero usados, medir distn-cias e pensar na logstica so passos impres-cindveis para o xito da pesquisa. Quem tra-balha com a Antrtica, respira Antrtica 365 dias por ano. Quando voc vai para l tudo tem que estar previsto, principalmente os er-ros, ressalta Rosemary.

    Por esse motivo, os pesquisadores j se pre-paravam para a prxima expedio, previs-ta para janeiro de 2014. Desta vez, a equipe da UFF viajar no navio da Marinha Almirante Maximiano, apelidado de Tio Max. A embar-cao capaz de transportar at 113 pessoas conta com equipamentos de geofsica e cinco laboratrios de pesquisa.

    Em fevereiro de 2012 a praa das mquinas da Estao Antrtica Comandante Ferraz pegou fogo, o que resultou na morte de duas pes-soas e na desativao do local. Desde ento os pesquisadores ficam hospedados na estao

    p.e.s .q.u. i .s .a

    do Chile, que assinou acordo de cooperao cientfica com o Brasil.

    O grupo de pesquisadores est vinculado ao Instituto Nacional de Cincia e Tecnologia da Criosfera (INCT-Criosfera). A logstica e os re-cursos so oriundos do Programa Antrtica

    Brasileiro, projeto dos ministrios da Defesa, do Meio Ambiente e da Cincia e Tecnologia. Na UFF, os setores envolvidos na pesquisa da Antrtica so os laboratrios de Processos Se-dimentares e Ambientais (Lapsa), de Geologia Marinha (Lagemar) e de Geografia Fsica (Lagef), todos ligados ao Instituto de Geocincias.

    A bordo de navio, equipe coleta material para anlise do fundo do mar

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