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Geriatria & Gerontologia Revista Volume 7 Número 3 Jul/Ago/Set 2013 ISSN 1981-8289 Sociedade Brasileira de Geriatria & Gerontologia Órgão Oficial de Publicação Científica ARTIGOS ORIGINAIS Tendência temporal da cobertura vacinal contra influenza no Brasil, Rio de Janeiro Espiritualidade, religiosidade e qualidade de vida em idosos Hipofunção das glândulas salivares em idosos hospitalizados relacionada a medicamentos Avaliação de dependência de idosos em enfermaria geriátrica: consequên- cias da hospitalização Avaliação de idosos atendidos em uma unidade de saúde da família do município de Ipatinga Hiperparatireoidismo secundário à hipovitaminose D e declínio de funciona- lidade em idosos internados Correlação entre funcionalidade e gravidade da doença de Parkinson em idosos Associação entre queixa de tontura, medo de cair e ocorrência prévia de quedas em idosos Frequência de quedas em pacientes idosos ambulatoriais ARTIGOS DE REVISÃO Avaliação de qualidade de vida em idosos frágeis: uso de questionários – revisão da literatura Transtorno depressivo no idoso: rastreamento, diagnóstico e aspectos epidemiológicos CARTA AO EDITOR Hipotiroidismo subclínico: um desafio mantido na população idosa RELATO DE CASO Síndrome de Sjögren – o desafio do diagnóstico em paciente idoso

Nº 3 – Edição: Jul/Ago/Set 2013

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Page 1: Nº 3 – Edição: Jul/Ago/Set 2013

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Geriatria & Gerontologia

Revista

Volume 7Número 3

Jul/Ago/Set 2013ISSN 1981-8289

Sociedade Brasileira de

Geriatria & Gerontologia

Órgão Oficial de Publicação Científ ica

ARTIGOS ORIGINAIS

Tendência temporal da cobertura vacinal contra influenza no Brasil, Rio de Janeiro

Espiritualidade, religiosidade e qualidade de vida em idosos

Hipofunção das glândulas salivares em idosos hospitalizados relacionada a medicamentos

Avaliação de dependência de idosos em enfermaria geriátrica: consequên-cias da hospitalização

Avaliação de idosos atendidos em uma unidade de saúde da família do município de Ipatinga

Hiperparatireoidismo secundário à hipovitaminose D e declínio de funciona-lidade em idosos internados

Correlação entre funcionalidade e gravidade da doença de Parkinson em idosos

Associação entre queixa de tontura, medo de cair e ocorrência prévia de quedas em idosos

Frequência de quedas em pacientes idosos ambulatoriais

ARTIGOS DE REVISÃO

Avaliação de qualidade de vida em idosos frágeis: uso de questionários – revisão da literatura

Transtorno depressivo no idoso: rastreamento, diagnóstico e aspectos epidemiológicos

CARTA AO EDITOR

Hipotiroidismo subclínico: um desafio mantido na população idosa

RELATO DE CASO

Síndrome de Sjögren – o desafio do diagnóstico em paciente idoso

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Referências bibliográficas: 1. Price R, Daly F, Pennington CR, McMurdo ME. Nutritional supplementation of very old people at hospital discharge increases muscle strength: A randomised controlled trial. Gerontology. 2005;51:179-185. 2. Fabian E, Bogner M, Kickinger A, Wagner KH, Elmadfa I. Vitamin status in elderly people in relation to the use of nutritional supplements. J Nutr Health Aging. 2012;16(3):206-12. 3. Morley JE. Sarcopenia in the elderly. Fam Pract. 2012;29 Suppl 1:i44-i48.

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EDITORIALAtitude saudável – vacinação contra influenza

ARTIGOS ORIGINAISTendência temporal da cobertura vacinal contra influenza no Brasil, Rio de Janeiro | Raphael Mendonça Guimarães, Andréia Rodrigues Gonçalves Ayres, Samyra Fábregas Boeira, Aliana Amandula Santos, Joana de Oliveira Pandoja Freire, Samuel Alves de Oliveira Junior, Bárbara Ragasse Pereira Gomes, Fabíola Alves Travesso, Renan Tomaz da Conceição

Espiritualidade, religiosidade e qualidade de vida em idosos | Fabiane Bregalda Costa, Newton Luiz Terra

Hipofunção das glândulas salivares em idosos hospitalizados relacionada a medica-mentos | Daniela Napoleão Freitas, Nicássia Cioquetta Lock, Beatriz Unfer

Avaliação de dependência de idosos em enfermaria geriátrica: consequências da hos-pitalização | Gabriela Antonio dos Santos, Márcia Torturella

Avaliação de idosos atendidos em uma unidade de saúde da família do município de Ipatinga | Aiane Xavier Felipe Batalha, Luísa Lage Souza Vidal, Aiala Xavier Felipe da Cruz

Hiperparatireoidismo secundário à hipovitaminose D e declínio de funcionalidade em idosos internados | Jussara Meyer Osielski, Décio F. Montresor Jr., Débora Carolina Netz Sanches, Luciano Henrique Monteiro Soares, Maurício de Miranda Ventura

Correlação entre funcionalidade e gravidade da doença de Parkinson em idosos | Marinei-de Pereira dos Anjos Guimarães, Valéria Cristina Borges Severino, Hudson Azevedo Pinheiro

Associação entre queixa de tontura, medo de cair e ocorrência prévia de quedas em idosos | Giesse Albeche Duarte, Cristina Loureiro Chaves Soldera

Frequência de quedas em pacientes idosos ambulatoriais | Renata Schikanowski Scilla, Márcia Vargas de Farias, Maurício de Miranda Ventura, Glória Maria Xavier, Priscila Lucia Queiroz Barbosa, Regina Lucia de Costa e Castro, Mirian Matsuda Shirassu

ARTIGOS DE REVISÃOAvaliação de qualidade de vida em idosos frágeis: uso de questionários – revisão da literatura | Flávia Regina de Andrade Varela, Rozana Mesquita Ciconelli, Patrícia Coelho de Soárez, Nelson Carvalhaes Neto

Transtorno depressivo no idoso: rastreamento, diagnóstico e aspectos epidemioló-gicos | Francisco Breno Magalhães Barbosa, Lara Sales Biermann, Arnaldo Aires Peixoto Júnior, Gilson Holanda Almeida

CARTA AO EDITORHipotiroidismo subclínico: um desafio mantido na população idosa | Glaucia Duarte

RELATO DE CASOSíndrome de Sjögren – o desafio do diagnóstico em paciente idoso | Bruno Sarpi, Karin Morales Assef, Maurício Miranda Ventura

INSTRUÇÕES AOS AUTORES

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ISSN 1081-8289

Volume 7Número 3

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associada à doença de Parkinson. CONTRAINDICAÇÕES: o uso em pacientes com conhecida hipersensibilidade à rivastigmina, a outros derivados do carbamato ou a qualquer componente da fórmula, também é contraindicado em pacientes com insuficiência hepática grave por não ter sido estudado nesta população. PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS: assim como outros colinomiméticos, deve-se ter cuidado ao utilizar Vastigma em pacientes com doença do nó sinusal ou defeitos na condução (bloqueio sinoatrial, bloqueio atrioventricular). A estimulação colinérgica pode causar aumento da secreção ácido-gástrica e pode também exacerbar obstruções urinárias e precipitar convulsões. Recomenda-se precaução ao tratar pacientes predispostos e essas patologias. Como com outros colinomiméticos, deve ser utilizado com precaução em pacientes que já tiveram crises asmáticas ou alguma doença de obstrução pulmonar. O tratamento deve sempre ser iniciado com a dose de 1,5mg, duas vezes ao dia, e ser ajustado à dose de manutenção do paciente. Se o tratamento for interrompido por vários dias, deverá ser reiniciada com a menor dose diária a fim de se minimizar a possibilidade

de reações adversas (por exemplo, vômitos graves). INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: é metabolizada principalmente pela hidrólise por esterases. Não foram observadas interações farmacocinéticas com digoxina, varfarina, diazepam ou fluoxetina em estudos com voluntários sadios. Não foram observados efeitos desfavoráveis na condução cardíaca após a administração concomitante de digoxina. A administração com medicamentos prescritos comumente, tais como antiácidos, antieméticos, antidiabéticos, anti-hipertensivos de ação central, betabloqueadores, bloqueadores de canal de cálcio, drogas inotrópicas, antianginosos, antiinflamatórios não esteroídais, estrógenos, analgésicos, benzodiazepínicos e anti-histamínicos, não foi associada às alterações na cinética de Vastigma nem ao aumento do risco de efeitos desfavoráveis clinicamente relevantes. Tendo em vista seus efeitos farmacodinâmicos, a rivastigmina não deve ser administrada concomitantemente com outras drogas colinomiméticas e pode interferir na atividade de medicações anticolinérgicas. Como um inibidor da colinesterase, a rivastigmina pode potencializar os efeitos de relaxantes musculares do tipo succinilcolina durante a anestesia. REAÇÕES ADVERSAS: as reações adversas relatadas mais comumente são gastrintestinais incluindo náuseas (38%) e vômitos (23%), especialmente durante a titulação. As pacientes dos estudos clínicos foram mais susceptíveis às reações adversas gastrintestinais e perda de peso. As seguintes reações adversas mais comuns: Náusea, vômito, diarréia, perda de apetite, dor abdominal e dispepsia, agitação, confusão, cefaléia, sonolência, tremor, fadiga e astenia e indisposição. POSOLOGIA: devem ser administradas duas vezes ao dia, com as refeições da manhã e da noite. Dose inicial: 1,5mg duas vezes ao dia. Os pacientes que são reconhecidamente sensíveis aos efeitos de drogas colinérgicas devem iniciar o tratamento com dose de 1mg, duas vezes ao dia. Gravidez e lactação: em estudos com animais, a rivastigmina não se mostrou teratogênica. Entretanto, a segurança de rivastigmina na gravidez humana não foi estabelecida e o mesmo deve ser utilizado em mulheres grávidas apenas se o benefício potencial for superior ao possível risco ao feto. Não se sabe se rivastigmina é excretado no leite humano e, portanto, pacientes que utilizam rivastigmina não devem amamentar. Registro MS nº 1.3569.0644 Comercializada por: NOVA QUÍMICA FARMACÊUTICA LTDA. “SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO”. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. ESTE MEDICAMENTO SÓ PODE SER VENDIDO COM RETENÇÃO DA RECEITA. Referências: 1. American Academy of Neurology, Alzheimer Disease Pharmacologic Treatment, 2013; 19 (2):339-357. 2. Tayeb HO, Yang HD, Price BH, Tarazi FI. Pharmacotherapies for Alzheimer’s disease: beyond cholinesterase inhibitors. Pharmacol Ther. 2012 Apr;134(1):8-25 3. Revista ABC Pharma de outubro/2013. 4. Selo de Bioequivalência.

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ATIVA A COGNIÇÃO DO PACIENTE, MELHORANDO A QUALIDADE DE VIDA.1

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EVITA A BUROCRACIA DO ALTO CUSTO.3

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AO DIMINUIR O DECLÍNIO COGNITIVO, TRATA A SÍNDROME DEMENCIAL, MELHORANDO A TAXA DE AVALIAÇÃO GLOBAL.1

1ª LINHA NO TRATAMENTO DA D.A.1,2

APRESENTAÇÕES: 1,5 mg / 3 mg / 4,5 mg / 6 mg - 30 cápsulas

VASTIGMA (Hemitartarato de rivastigmina). APRESENTAÇÃO: Cápsula de 1,5mg; 3mg; 4,5mg e 6mg - Embalagem contendo 30 cápsulas. INDICAÇÕES: USO ADULTO, USO ORAL: tratamento de pacientes com demência leve a moderadamente grave tipo Alzheimer, também conhecida como doença de Alzheimer provável ou doença de Alzheimer. Tratamento de pacientes com demência leve a moderadamente grave

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Revista GeRiatRia & GeRontoloGia

Editora-chefeMaysa Seabra Cendoroglo – São Paulo, Brasil (Unifesp)

CONSELHO EDITORIAL NACIONAL

Editores AssociadosJoão Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil (UFC)Júlio César Moriguti – Ribeirão Preto, Brasil (USP-RP)Milton Luiz Gorzoni – São Paulo, Brasil (FCMSC-SP)Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil (UFMG)Wilson Jacob Filho – São Paulo, Brasil (USP)

Editores ExecutivosJoão Senger – Novo Hamburgo, BrasilKarla Cristina Giacomin - Belo Horizonte, BrasilMaria do Carmo Lencastre Lins – Recife, BrasilMônica Rodrigues Perracini – São Paulo, Brasil

Adriano César B. S. Gordilho – SalvadorAna Amélia Camarano – Rio de JaneiroÂngelo Boss – Porto AlegreAnnette Leibing – Rio de JaneiroAnita Libetalesso Néri – CampinasCláudia Burlá – Rio de JaneiroClineu de Mello Almada Filho – São PauloEdgar Nunes de Moraes – Belo Horizonte Eduardo Ferriolli – Ribeirão PretoEliane Jost Blessmann – Porto AlegreElisa Franco de Assis Costa – GoiâniaElizabete Viana de Freitas – Rio de JaneiroEmilio H. Moriguchi – Porto AlegreEmilio Jeckel Neto – Porto AlegreFlávio Chaimowicz – Belo HorizonteGuita Grib Debert – CampinasIvete Berkenbrock – CuritibaJoão Carlos Barbosa Machado – Belo HorizonteJoão Marcos Domingues Dias – Belo HorizonteJoão Toniolo Neto – São PauloJohannes Doll – Porto AlegreJosé Elias S. Pinheiro – Rio de JaneiroKátia Magdala L. Barreto – RecifeLaura Mello Machado – Rio de JaneiroLeani Souza Máximo Pereira – Belo HorizonteLigia Py – Rio de Janeiro

Luiz Eugênio Garcez Leme – São PauloLuiz Roberto Ramos – São PauloMaira Tonidandel Barbosa – Belo HorizonteMarcella Guimarães A. Tirado – Belo HorizonteMarcos Aparecido Sarria Cabrera – LondrinaMaria Fernanda Lima-Costa – Belo HorizonteMaurício Gomes Pereira – BrasíliaMaurício Wajngarten – São PauloMyrian Spínola Najas – São PauloMônica Rodrigues Perracini – São PauloNewton Luiz Terra – Porto AlegrePaulo Hekman – Porto AlegreRenato Maia Guimarães – BrasíliaRenato Moraes Fabbri – São PauloRicardo Komatsu – MaríliaRoberto Dischinger Miranda – São PauloRômulo Luiz de Castro Meira – SalvadorSérgio Márcio Pacheco Paschoal – São PauloSilvia Maria Azevedo dos Santos – FlorianópolisSônia Lima Medeiros – São PauloTereza Loffredo Bilton – São PauloToshio Chiba – São PauloTulia Fernanda Meira Garcia – FortalezaUlisses Gabriel Vasconcelos Cunha – Belo HorizonteVânia Beatriz M. Herédia – Porto Alegre

CONSELHO EDITORIAL INTERNACIONAL

Andrea Caprara – Roma, ItáliaAntony Bayer – Cardiff, Reino UnidoDavid V. Espino – San Antonio, EUAJay Luxenberg – San Francisco, EUAJeanne Wei – Little Rock, EUA

Masatoshi Takeda – Osaka, JapãoPaulo Henrique M. Chaves – Baltimore, EUARoberto Kaplan – Buenos Aires, ArgentinaSergio Ariño Blasco – Barcelona, Espanha

Indexada na LATINDEX (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal).

Direção executiva e comercial: Silvio Araujo | André Araujo

Coordenação editorial: Natalie Gerhardt

Contatos: [email protected] | www.acfarmaceutica.com.br

São Paulo – (11) 5641-1870 | Rio de Janeiro – (21) 3543-0770

Esta é uma publicação

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na internet e outros), sem permissão expressa da editora.Todo o desenvolvimento, fotos e imagens utilizadas nesta publicação são de responsabilidade dos seus autores, não refletindo necessariamente a posição da editora nem do laboratório, que apenas patrocina sua distribuição à classe médica.Esta publicação contém publicidade de medicamentos sujeitos a prescrição, sendo destinada exclusivamente a profissionais habilitados a prescrever, nos termos da Resolução RDC Anvisa nº 96/08.

2013 © AC Farmacêutica® LTDA. Todos os direitos reservados.

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Page 7: Nº 3 – Edição: Jul/Ago/Set 2013

Base Editorial

Av. Copacabana, 500 sala 609/610, Copacabana 22020-001 – Rio de Janeiro.

e-mails: [email protected] / [email protected]

eDitoRial

Atitude sAudável – vAcinAção contrA influenzA

Os resultados esperados de redução da carga de doença, de mortalidade, de hospitalização e de complicações por in-fluenza dependem do paciente, dos serviços de saúde e das políticas públicas. A integração dessas ações deve se dar em período relativamente curto para que os objetivos da vacina-ção sejam alcançados. Os estudos que buscam informações para monitorar a eficácia e a efetividade das campanhas de vacinação encontram dificuldades para obtenção dos dados tanto por escassez de registro como por imprecisão das infor-mações. Em uma revisão sistemática publicada por Hagata et al (BMC Public Health, 2013, 13:388), os autores examinaram os determinantes sociais e as barreiras contra a vacinação de influenza em idosos com 65 ou mais anos de idade em países de alta, média e baixa renda. Embora com limitações meto-dológicas, eles utilizaram critérios qualitativos e quantitativos para a seleção dos trabalhos e trazem de forma esquemática a inter-relação entre os fatores que afetam a vacinação sazonal contra influenza em idosos e também as razões de aceitação e recusa da vacina. Os autores do artigo “Tendência temporal da cobertura vacinal contra influenza no Brasil, Rio de Janei-ro” chamam a atenção para os fatores associados às coberturas vacinais e nos mostram a dificuldade de obtenção dos dados e interpretação dos resultados considerando a heterogenei-dade do nosso país. Um dos aspectos discutidos diz respeito à preocupação de que as informações permitam a identifica-ção de bolsões, em que o número de idosos suscetíveis possa criar as condições favoráveis à disseminação da influenza. As próximas campanhas de vacinação deverão estar preparadas para superar as dificuldades apontadas pelos estudos e ter in-formações antecipadas para aprimorar seus recursos e ações.

Maysa Seabra CendorogloEditora-chefe

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DiRetoRia nacional Da sBGGPresidente Nezilour Lobato Rodrigues (PA)1o Vice-PresidentePaulo Renato Canineu (SP)Pres. Depto. GerontologiaMariana Asmar Alencar (MG)Secretária GeralAna Lúcia de Sousa Vilela (RJ)Secretária AdjuntaLeila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)TesoureiroDaniel Kitner (PE)Diretora CientíficaMaria Alice Vilhena de Toledo (DF)Diretora de Defesa ProfissionalSilvia Regina Mendes Pereira (RJ)Conselho ConsultivoMaria Angélica dos Santos Sanches (RJ)Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR)Paulo Roberto Cardoso Consoni (RS)Conselho Consultivo PlenoAdriano Cesar Gordilho (BA)Antonio Jordão Neto (SP)Eliane Jost Blessmann (RS)Elisa Franco de Assis Costa (GO)Elizabete Viana de Freitas (RJ)Flavio Aluizio Xavier Cançado (MG)João Carlos Barbosa Machado (MG)Jussara Rauth (RS)Laura Melo Machado (RJ)Margarida Santos (PE)Maria Auxiliadora Cursino Ferrari (SP)Marianela Flores de Hekman (RS)Myrian Spínola Najas (SP)Paulo Cesar Affonso Ferreira (RJ)Renato Maia Guimarães (DF)Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)Sonia Maria Rocha (RJ)Tereza Bilton (SP)Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP)Representantes no Conselho da Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG)Nezilour Lobato Rodrigues (PA)Mariana Asmar Alencar (MG)Marianela Flores de Hekman (RS)Comissão de NormasPresidente: Marianela Flores de Hekman (RS)Adriano Cesar Gordilho (BA)Eliane Jost Blessmann (RS)Elisa Franco de Assis Costa (GO)Elizabete Viana de Freitas (RJ)Jussara Rauth (RS)Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)

Comissão de Ética e Defesa ProfissionalPresidente: Silvia Regina Mendes Pereira (RJ)Adriano Cesar Gordilho (BA)Carlos Roberto Takayassu (MT)Cristiane Ribeiro Maués (PA)Emylucy de Paiva Paradela (RJ)Gelson Rubem A. Almeida (MG)Janaína Alvarenga Rocha (ES)João Senger (RS)Jussimar Mendes de Aquino (MS)Katíuscia Karine Martins da Silva (AL)Marcelo Azevedo Cabral (PE)Marcelo de Faveri (DF)Mariste Mendes Rocha (PB)Rangel Osellame (SC)Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR)Rosina Ribeiro Gabriele (CE)Tassio José D. Carvalho Silva (SP)Yara Maria Cavalcante de Portela (MA)Comissão de ComunicaçãoPresidente: Salo Buksman (RJ)Fabio Falcão de Carvalho (BA)Ivete Berkenbrock (PR)Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)Leani de Souza M. Pereira (MG)Marcela Guimarães Assis (MG)Renato Moraes A. Fabbri (SP) Comissão de Cuidados Paliativos Presidente: Daniel Lima Azevedo (RJ)Isadora Crosara Alves Teixeira (GO)Claudia Burlá (RJ)Johannes Doll (RS)José Francisco Pinto de Almeida Oliveira (RJ)Josecy Maria S. Peixoto (BA)Laiane Moraes Dias (PA)Ligia Py (RJ)Lucia H.Takase Gonçalves (SC)Maristela Jeci dos Santos (SC)Toshio Chiba (SP)Comissão de Título de GeriatriaPresidente: Elisa Franco de Assis Costa (GO)Adriano Cesar Gordilho (BA)Karlo Edson Carneiro Santana Moreira (PA)Livia Terezinha DEVENS (ES)Maira Tonidandel Barbosa (MG)Maria do Carmo Lencastre de M.E C. D.Lins (PE) Paulo José Fortes Villas Boas (SP)Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR)Veronica Hagemeyer Santos (RJ)Comissão de Título de GerontologiaPresidente: Cláudia Fló (SP)Jordelina Schier (SC)Marisa Accioly R. da C. Domingues (SP)

Tulia Fernanda Meira Garcia (CE)Viviane Lemos Silva Fernandes (GO)Comissão de Formação Profissional e Cadastro Geriatria Veronica Hagemeyer Santos (RJ)Gerontologia Maria Celi Lyrio Crispim (RJ)Comissão de InformáticaCoordenador: Rodrigo Martins Ribeiro (RJ)Representante Institucional COMLAT-Diretora da Área de Educação Marianela Flores de Hekman (RS)CNA Elizabete Viana de Freitas (RJ)CNDI Jussara Rauth (RS)Comissão Científica de GeriatriaPresidente: Maria Alice Vilhena de Toledo (DF)Ana Beatriz Galhardi Di Tommaso (SP)Ana Lúcia de Sousa Vilela (RJ)Daniel Apolinário (SP)Edgar Nunes de Moraes (MG)Einstein Francisco de Camargos (DF)Jacira do Nascimento Serra (MA)Juliana Junqueira M. Teixeira (GO)Jussimar Mendes de Aquino (MS)Luiz Antonio Gil Junior (SP)Maisa Carla Kairalla (SP)Marco Polo Dias Freitas (DF)Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR)Maria Fernanda Coelho Moreira Costa (PA)Monica Hupsel Frank (BA)Rubens de Fraga Junior (PR)Comissão Científica de GerontologiaPresidente: Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)Ana Elizabeth dos Santos Lins (AL)Leonor Campos Mauad (SP) Ligia Py (RJ)Márcia Carrera Campos Leal (PE)Maria Angélica dos S.Sanchez (RJ)Maria Izabel Penha de o. Santos (PA)Otávio de Toledo Nobrega (DF)Rosângela Corrêa Dias (MG)Vania Beatriz M. Herédia (RS)Comissão de Avaliação de Divulgação de Assuntos e Eventos CientíficosLeila Auxiliadora José Sant’Ana (MT)Ligia Py (RJ)Maria Alice Vilhena de Toledo (DF)Marianela Flores de Hekman (RS)Comissão de Políticas Públicas Marilia Anselmo V. da S. Berzins (SP)Comissão de PublicaçõesEditora-Chefe: Maysa Seabra Cendoroglo (SP)

ALAGOAS Presidente: Helen Arruda Guimarães2o Vice-Presidente: Ana Elizabeth LinsDiretor Científico: Oswaldo da Silva Liberal

BAHIA Presidente: Rômulo Meira2o Vice-Presidente: Fábio FalcãoDiretor Científico: Lucas Kuhn Prado

CEARÁ Presidente: João Bastos Freire Neto2a Vice-Presidente: Lucila Bonfim Lopes PintoDiretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho

DISTRITO FEDERAL Presidente: Marco Polo Dias Freitas2o Vice-Presidente: Vicente de Paula FaleirosDiretor Científico: Leonardo Pitta

ESPÍRITO SANTO Presidente: Roni Chaim Mukamal2o Vice-Presidente: Neidil Espinola da CostaDiretora Científica: Daniela Souza Gonçalves Barbieri

GOIÁS Presidente: Isadora Crosara Alves Teixeira2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Silva FernandesDiretora Científica: Ricardo Borges da Silva

MARANHÃOPresidente: Jacira do Nascimento Serra2o Vice-Presidente: Adriano Filipe Barreto GrangeiroDiretores Científicos: Herberth Vera Cruz Furtado Marques Júnior e Margareth de Pereira de Paula

MATO GROSSO DO SUL Presidente: José Roberto PelegrinoDiretora Científica: Marta Dreimeier

MATO GROSSO Presidente: Roberto Gomes de Azevedo2a Vice-Presidente: Roseane MunizDiretora Científica: Janine Nazareth Arruda

MINAS GERAIS Presidente: Rodrigo Ribeiro dos Santos2a Vice-Presidente: Marcella Guimarães AssisDiretora Científica: Maria Aparecida Camargos Bicalho

PARÁ Presidente: Karlo Edson Carneiro Santana Moreira2a Vice-Presidente: Maria Izabel Penha de O. SantosDiretor Científico: João Sergio Fontes do Nascimento

PARAÍBA Presidente: Arnaldo Henriques Gomes Viegas2a Vice-Presidente: Mirian Lucia TrindadeDiretor Científico: João Borges Virgolino

PARANÁ Presidente: Debora Christina de lacantara Lopes2a Vice-Presidente: Rosemary RauchbachDiretor Científico: Breno Barcelos Ferreira

PERNAMBUCO Presidente: Alexsandra Siqueira Campos2a Vice-Presidente: Luisiana Lins LamourDiretor Científico: Sergio Murilo Fernandes

RIO DE JANEIRO Presidente: Rodrigo Bernardo Serafim2a Vice-Presidente: Maria Angélica dos S. Sanchez Diretor Científico: Tarso Lameri Sant’Anna Mosci

RIO GRANDE DO SUL Presidente: Ângelo José Bos2a Vice-Presidente: Vania HerediaDiretor Científico: Paulo Roberto Cardoso Consoni

SANTA CATARINA Presidente: Paulo Cesar dos Santos Borges2a Vice-Presidente: Silvia Maria Azevedo do SantosDiretora Científica: Nagele Belettini Hahn

SÃO PAULO Presidente: Renato Moraes Alves Fabbri2a Vice-Presidente: Valmari Cristina AranhaDiretora Científica: Maisa Carla Kairalla

DiRetoRias Das seções estaDuais Da sBGG

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Tendência Temporal

da coberTura vacinal conTra influenza

no brasil, rio de Janeiroraphael mendonça Guimarãesa, andréia rodrigues Gonçalves ayresb,

samyra fábregas boeirac, aliana amandula santosc, Joana de oliveira pandoja freirec, samuel alves de oliveira Juniorc,

bárbara ragasse pereira Gomesc, fabíola alves Travessoc, renan Tomaz da conceiçãoc

Resumo Introdução: A cobertura vacinal contra influenza vem sendo monitorada para avaliar o acesso, a adesão à vacina e a carga de doença após a vacinação anual dos idosos no Brasil, no estado do Rio de Janeiro e na sua capital. Objetivo: Analisar a tendência da cobertura vacinal com a vacina contra influenza, desagregada para a capital fluminense, o estado do Rio de Janeiro e o Brasil, em um período de 12 anos. Métodos: Foram calculadas taxas de cobertura a partir dos dados secundários do Datasus com as coberturas vacinais para vacina contra influenza para o município do Rio de Janeiro, o estado do Rio de Janeiro e o Brasil no período de 1999 a 2010. Para tal, foi utilizada a técnica de regressão polinomial. Resultados: A análise da tendência das coberturas vacinais contra influenza mostrou decréscimo nos 3 níveis analisados. Observou-se que a capital mantém coberturas constantemente mais baixas que as estaduais, que por sua vez mimetizam o comportamento das coberturas vacinais nacionais. Conclusões: O resultado evidenciou queda no país, no estado do Rio de Janeiro e, principalmente, na capital fluminense, no período analisado. Muitos fatores po-dem ser associados a essa queda, destacando-se a qualidade do registro de doses, a imprecisão das estimativas de dados populacionais fornecidas pelo IBGE para grupos com mais de 60 anos e a heterogeneidade populacional crescente.

Time Trend in vaccinaTion coveraGe influenza in brazil, rio de Janeiro

ABsTRACTIntroduction: Vaccination coverage against influenza has been monitored to evaluate the access, the adherence to the vaccine and the disease burden after the annual vaccination of the elderly in Brazil, State of Rio de Janeiro and its capital city. Objective: To analyze the trend in vaccination coverage with influenza vaccine, separated for State of Rio de Janeiro, its capital and Brazil over a period of 12 years. Methods: Rates were calculated through secondary data from Datasus. Vaccination coverages for influenza vaccine for Rio de Janeiro, State of Rio de Janeiro and Brazil were performed in the period of 1999-2010. Trends were analyzed through polynomial regression. Results: Analy-sis of trends in influenza vaccination coverages showed a decrease in the three levels analyzed. It was observed that the capital city constantly maintains coverages at lower levels than the state, as the same behavior of the national vac-cination coverage. Conclusion: The results showed a decrease in the country, State of Rio de Janeiro and especially in the state capital in the period analyzed. Many factors may be associated with this fall, highlighting the quality of the registration of doses, the imprecision of estimates of population data provided by the IBGE for groups with more than 60 years old and increasing population heterogeneity.

a Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). b Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ).c Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da UFRJ.

Dados para correspondênciaRaphael Mendonça Guimarães - Avenida Horácio Macedo, s/n, próximo à Prefeitura Universitária da UFRJ. Ilha do Fundão/Cidade Univer-sitária, Rio de Janeiro, RJ. CEP 21941-598. Tel.: (21) 9585-9859. E-mail: [email protected]

Palavras-chave Vacinação, influenza,

análise de séries temporais,

epidemiologia das doenças

transmissíveis, cobertura vacinal.

Key words Vaccination,

influenza, time series analysis,

epidemiology of communicable

diseases, immunization

coverage.

Artigo or iginal

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InTRoDuçãoA infecção pelo vírus influenza é uma doença comum, de transmissão respiratória, presente em todo o mundo. Provoca desde infecção subclínica até síndrome respira-tória aguda grave, sendo a gripe sua manifestação mais frequente. Sua importância epidemiológica se deve à va-riabilidade do vírus influenza, cujas mutações são fre-quentemente observadas, e também à alta transmissibi-lidade em populações suscetíveis, causando incidência elevada, especialmente nos meses frios. As variações ge-néticas, quando introduzidas, são percebidas através da eclosão de epidemias que impõem demandas assisten-ciais que beiram o colapso, como recentemente observa-do após a circulação do subtipo pandêmico A (H1N1), em 2009.1 Associado à alta incidência, a gripe apresenta risco elevado para complicações, se comparada a outras infecções respiratórias. Em grupos mais vulneráveis, principalmente idosos e crianças, responde por 75% das infecções respiratórias, além de estar associada a taxas de letalidade mais elevadas.2

No Brasil, as doenças respiratórias são a terceira maior causa de óbitos em indivíduos com mais de 60 anos. Em 2009, ano de introdução do novo subtipo pandêmico A (H1N1), a hospitalização de idosos devido a influenza e/ou pneumonia foi cerca de 10% maior que nos anos anteriores. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, o país é o quinto mais populoso do mundo e vem apresentando aumento da expectativa de vida, com perfil demográfico que mostra aumento da proporção de idosos, com cerca de 10% da população com 60 anos de idade ou mais.3 Com envelhecimento rápido e inten-so, a OMS estima que em duas décadas o Brasil será o sexto país em número de idosos. Esse perfil demográfico introduz modificações nos padrões epidemiológicos e cria demandas para prevenção e assistência.4,5

A Política Nacional do Idoso foi criada no Brasil em atenção a essas expectativas e mudanças, através da Lei no 8.842/94, regulamentada pelo Decreto no 1.948/96. Nela está prevista a vacinação dos idosos contra in-fluenza, implementada pelo Programa Nacional de Imunizações, em 1999, conforme as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), redigidas em 1963.6 Cerca de 130 milhões de reais anuais foram gas-tos entre 2000 e 2005 na realização da campanha anual de vacinação. O país detém as avaliações mais positivas da OMS sobre a vacinação, mas o real impacto é difícil de ser avaliado. Estudos que avaliam o impacto da vaci-nação entre idosos empregando metodologias diversas citam medidas com avaliações variando entre extremos, desde ausência de correlação da vacina com a doença, efeito “modesto”, passando por tendência a queda das in-ternações até redução da incidência clínica e sorológica pela metade.7,8 As estimativas mostram redução de 32% a 45% das hospitalizações por pneumonia, mais de 50% das hospitalizações por influenza e 39% a 75% da mor-

talidade global entre idosos.9-12 Estudos de efetividade mostram efeito protetor de pelo menos 80% contra gripe e 90% contra hospitalização entre idosos vacinados.13,14

Estudos de custo-efetividade mostram que a introdução da vacina contra influenza reduz custos para idosos em geral e de “alto risco”, com redução do número de con-sultas, admissões hospitalares e óbitos.15,16

A cobertura vacinal contra influenza vem sendo mo-nitorada para avaliar o acesso, a adesão à vacina e a car-ga de doença da influenza após a vacinação anual dos idosos. Estudos mostram que há variação na tendência conforme o grupo etário de idosos e a macrorregião. Em geral, o número de doses aplicadas cresce anualmente desde 1999, acompanhando o crescimento do número de idosos.17 No entanto, a homogeneidade das cobertu-ras é ruim, pois apenas 37,6% dos municípios brasileiros alcançaram a meta de cobertura (70% de 1999 a 2008 e 80% de 2009 em diante).18

A adesão dos idosos à vacinação ocorreu gradual-mente, devido ao grande número de boatos que cerca-ram a incorporação da vacina no país. A alta adesão está associada positivamente ao nível de escolaridade, participação em atividades da comunidade, presença de comorbidades (hipertensão, diabetes), sexo femini-no, consulta médica recente, informações recebidas de profissionais de saúde, não ser tabagista, vacinação pré-via, verificação de pressão arterial recente e facilidade de acesso e uso dos serviços de saúde.19-21 Já a baixa ade-são está associada ao medo de reações adversas, consi-derar a vacina desnecessária, sexo masculino, sedenta-rismo, tabagismo, ser solteiro(a), não ter ido a consulta médica no último ano, não ter recebido recomendação da vacina por profissionais de saúde e baixa renda.19,20,22 A cobertura vacinal é mais elevada entre idosos com 70 anos ou mais.22

Apesar do número de estudos que se propõem a ava-liar o impacto da vacinação contra influenza, este ainda é um desafio, em face da falta de diagnóstico adequado e oportuno dos agentes etiológicos. Os erros de registro de doses aplicadas prejudicam a avaliação da cobertura vacinal e geram a impressão de que a adesão caiu. Cresce a necessidade da realização de estudos epidemiológicos que ajudem a compreender e fundamentar as propostas de planejamento e avaliação das ações de saúde voltadas para idosos, especificamente imunizações. Assim, este artigo tem como objetivo analisar a tendência da cober-tura vacinal com a vacina contra influenza, desagregada para a capital fluminense, o estado do Rio de Janeiro e o Brasil, em um período de 11 anos.

méToDosForam calculadas as coberturas vacinais para vacina contra influenza para o município do Rio de Janeiro, o estado do Rio de Janeiro e o Brasil no período de 1999 a 2010, com a seguinte fórmula:

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Cobertura vacinal contra influenza | 169

CV =

No de doses aplicadas de vacina contra influenza no período P

no espaço E

Número de indivíduos com mais de 60 anos no período P, no espaço E, sendo P o período estudado, cada um dos anos de 1999 até 2010, e E a capital fluminense, o estado do Rio de Janeiro ou o país, conforme a análise.23

Para fazer as análises, foram obtidos dados de cober-tura vacinal através do portal Datasus, gerados a partir do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SI-API), disponíveis em sítio eletrônico. Inicialmente, foram feitos diagramas de dispersão en-tre as coberturas vacinais e os anos de estudo, para se visualizar o tipo de relacionamento entre eles. A seguir, foi iniciado o processo de modelagem, considerando as coberturas vacinais como variável dependente (Y) e os anos de estudo como variável independente (X). Para o estudo da tendência, optou-se por estimar modelos de regressão. Para evitar a colinearidade entre os termos da equação de regressão, utilizou-se a variável centralizada. O primeiro modelo a ser testado foi o de regressão linear simples (Y = b0 + b1X) e, posteriormente, foram testados os modelos de ordem maior: segundo grau ou parabó-lico (Y = b0 + b1X + b2X

2) e terceiro grau (Y = b0+ b1X + b2X

2 + b3X3). Considerou-se como melhor modelo o

que apresentou maior coeficiente de determinação (R2).

Quando dois modelos foram semelhantes, do ponto de vista estatístico, para a mesma localidade, optou-se pelo modelo mais simples, ou seja, de menor ordem.

ResulTADosO estudo descreve a tendência secular de estimativas de cobertura vacinal com a vacina contra influenza no pe-ríodo de 1999 a 2010. No período anterior, a vacina en-contrava-se disponível apenas nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), para indivíduos que eram contemplados por apresentar determinados estados patológicos ou condições que atendem aos crité-rios até hoje dispostos pela Coordenação Geral do Pro-grama Nacional de Imunizações.24

A Figura 1 apresenta as tendências para os três níveis ecológicos avaliados. Nela se observam variações rele-vantes, estatisticamente significativas e diversas. Nos três níveis ecológicos analisados segundo o modelo de regres-são, as estimativas de cobertura evidenciaram decréscimo (Brasil: y = -0,4046x2 + 5,6503x + 63,353 R² = 0,594; valor p: 0,15; estado do RJ: y = -0,4666x2 + 6,4694x + 57,542 R² = 0,6272; valor p: 0,19), estando as tendências para o decréscimo associadas ao tempo, principalmente para o município do Rio de Janeiro (y = -0,536x2 + 7,522x + 48,049 R² = 0,6802; valor p: 0,02). Observou-se que a capital mantém coberturas constantemente mais baixas que as estaduais, que por sua vez mimetizam o compor-tamento das coberturas vacinais nacionais.

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Ano

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

y = 0,7955x + 73,872R2 = 0,1968

y = 1,0903x + 61,985R2 = 0,2358

y = 1,0903x + 61,985R2 = 0,2358

MRJERJBrasil

Figura 1 Tendência de coberturas vacinais da campanha de influenza para idosos no Brasil, no estado do Rio de Janeiro e no município do Rio de Janeiro, no período de 1999 a 2010.

DIsCussãoA análise da tendência das coberturas vacinais contra in-fluenza mostrou decréscimo nos três níveis analisados: Brasil, estado do Rio de Janeiro e capital fluminense. No período analisado, foi verificado que, entre 1999 e 2008,

enquanto a meta de cobertura era de 70%, as médias de cobertura vacinal do estado e do Brasil evidenciaram alcance da meta (75,8% e 79,2%, respectivamente), fi-cando o município do Rio de Janeiro abaixo da meta es-

ERJ: Estado do Rio de Janeiro; MRJ: município do Rio de Janeiro.

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tabelecida.18 Em 2009, quando a meta passou para 80%, apenas o Brasil alcançou o objetivo. É preciso conhecer e compreender os fatores que podem ter influenciado o desempenho do Rio de Janeiro, estado e capital, na ten-tativa de explicá-los e desenvolver estratégias para que possam ser superadas as limitações, corrigindo distor-ções e aumentando o alcance da estratégia e a preven-ção da doença. Estudo análogo realizado em cidade do interior do estado de São Paulo mostra que a cobertura vacinal em período idêntico mostrou distribuição assi-métrica, variando de 57,5% a 95,78%, com mediana de 88,10%, mostrando alcance da meta de modo global.17 Já estudo que abordou idosos em cidades paulistas, interior e capital, mostra coberturas de 66,0%.25

Em 2007, a CGPNI publicou análise das coberturas vacinais entre 1999 e 2006 relatando que, dentre as regi-ões brasileiras, a Região Sudeste teve o menor percentual de municípios bem-sucedidos nas campanhas, mesmo com algumas melhoras pontuais. As características so-ciodemográficas da região impõem planejamento que aborde estratégias próprias, considerando a maior den-sidade demográfica do país, intenso fluxo de migração e particularidades climáticas.2 Assim, é necessário adi-cionalmente verificar se há diferença entre o alcance da meta de cobertura entre a capital e o interior do estado e se de fato o desempenho insatisfatório nas capitais, que concentram grande proporção de idosos, influencia as estimativas obtidas, o que esses resultados contrastantes sugerem.

As coberturas vacinais contra influenza são influen-ciadas pelo modo como são estimadas, pelo numera-dor e pelo denominador considerados. No Brasil, a co-bertura vacinal é estimada a partir de uma razão entre o número de doses aplicadas e a estimativa de idosos na população-alvo da campanha. Assim, o registro incorreto de dados de doses aplicadas pode enviesar as estimativas. Embora não contemplada nas análises deste estudo, a vacinação em 2010 mostra o pior de-sempenho do estado do Rio de Janeiro, parecendo ter sofrido influência dos registros de doses aplicadas em indivíduos com comorbidades, subtraindo essas doses dos idosos.18 É razoável, então, assumir que os regis-tros na série estudada possam ter sido influenciados pelo treinamento das equipes, conhecimento amplo do uso do impresso de registro de doses e outras condições que possam interferir na qualidade do dado registrado. Destacam-se, ainda, as constantes mudanças de versão do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-API), que, a cada vez que ocorrem, de-mandam a necessidade de adaptação e treinamento das equipes que o operam.

Do mesmo modo, estimativas populacionais impre-cisas podem introduzir vieses nas estimativas observa-das. Apesar de o número de doses aplicadas registradas aumentar anualmente, as coberturas vacinais apresen-

tam decréscimos que podem estar associados ao cresci-mento populacional desse grupo etário, estimado pelas projeções intercensitárias anuais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento da po-pulação de idosos no país reflete a previsão e a conso-lidação da transição demográfica, fenômeno observado em grande parte dos países. Essa projeção tem se repeti-do há três anos, podendo ter ocorrido variações relevan-tes na população que não são consideradas no cálculo da cobertura vacinal. À medida que aumenta a abrangência do nível ecológico estudado, aumenta a heterogeneidade das coberturas. Talvez menos impactante, mas não me-nos relevante, seja o fato de que os idosos enquadrados em níveis socioeconômicos mais favoráveis, do ponto de vista do poder aquisitivo, busquem vacinação na rede privada, cujos dados raramente são incorporados aos re-gistros de doses locais.

Apesar das limitações, o conhecimento acerca da co-bertura vacinal tem permitido que sejam identificados bolsões em que o número de idosos suscetíveis pode criar as condições favoráveis à disseminação da influen-za, bem como apontar onde a vacinação precisa ser ofer-tada com maior facilidade e para quais populações de idosos devem ser realizadas ações mais enfáticas. O mo-nitoramento de coberturas tem sido instrumento útil ao programa de imunizações para avaliar divergências nas estimativas populacionais utilizadas como denominador no cálculo da cobertura, assim como para avaliar a qua-lidade do registro de informações sobre doses aplicadas, uma vez que este é o numerador escolhido face à impes-soalidade do registro de dados do PNI.

Em estudo no qual foi avaliado o desempenho da es-tratégia de vacinação junto aos idosos,17 relata-se que as coberturas vacinais mostram-se maiores em países onde há consensos ou programas de vacinação consolidados e divulgados amplamente, situação em que se enquadra o Brasil.23 Análises temporais ecológicas mostram ten-dências diversas, com crescimento das coberturas vaci-nais em municípios do Sudeste, no período 1999-2005, e decréscimo no período 1999-2003 em municípios do Nordeste.12,21

Não foi possível descrever se houve influência da adesão à vacinação pelos idosos sobre as estimativas de cobertura vacinal. No entanto, avaliações em outros mu-nicípios do Sudeste e fora do estado do Rio de Janeiro mostram que idosos na região obtiveram informações sobre as campanhas, oriundas principalmente da mídia, sendo em sua maioria mulheres com idade entre 70-79 anos.27,28 Ratificam os questionamentos anteriormente expostos, ao indagarem se de fato a adesão à vacinação decresceu, refletindo nas tendências, ou se houve erros de registro de doses. De modo geral, atitudes favoráveis em relação à vacinação parecem estimular comporta-mentos de autoproteção, aumentando a adesão.28 Inqué-ritos de base populacional, descrevendo características

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socioeconômicas (p. ex., idade, sexo e escolaridade) e atitudes saudáveis dos idosos (entendimento da impor-tância da vacina) e estudos avaliando práticas da equipe de saúde, e como essas práticas incentivam a vacinação, têm se mostrado muito úteis para direcionar interven-ções em grupos prioritários e aumentar a homogeneida-de das coberturas.29

Tais observações vão ao encontro das controvérsias sobre a utilização das coberturas vacinais para avaliar a equidade de acesso. Enquanto há autores que as conside-ram limitadas e pouco sensíveis para avaliar a equidade de acesso, devido às imprecisões na sua obtenção com sistemas de registro ultrapassados, há os que as consi-deram indicadores bastante adequados, pois refletem o acesso à atenção básica de saúde, à prevenção primária e promoção à saúde dos idosos.30 Estudos que buscaram associar a cobertura vacinal à cobertura da estratégia de saúde da família mostraram associação positiva, indi-cando que o acesso à vacina pode ser facilitado em loca-lidades onde a estratégia encontra-se implantada e que sua ampliação beneficiaria a cobertura vacinal contra a influenza entre idosos.21

ConClusõesA análise da cobertura vacinal com a vacina contra a influenza evidenciou queda no país, no estado do Rio de Janeiro e, principalmente, na capital fluminense, no período analisado. Muitos fatores podem ser associados a essa queda, destacando-se a qualidade do registro de doses, a imprecisão das estimativas de dados populacio-nais fornecidas pelo IBGE para grupos com mais de 60

anos e a heterogeneidade populacional crescente, à me-dida que se amplia o nível de agregação em estudos eco-lógicos. A análise oportuna das coberturas vacinais, não apenas para essa vacina, aponta a necessidade de aperfei-çoamento na metodologia de coleta e registro de doses aplicadas, incluindo as doses aplicadas na rede privada. É possível que fatores ligados à adesão, não investigados neste estudo, tenham influenciado as estimativas de co-bertura no período analisado.

A alternativa à análise das coberturas vacinais ob-tidas com o cálculo de uma razão seria a realização de inquéritos vacinais, identificando os fatores relaciona-dos à adesão e fornecendo coberturas vacinais a partir de proporções. Com base em inquéritos realizados, po-deria ser utilizado fator de correção para as tendências elaboradas com as coberturas vacinais atualmente dispo-níveis. Com relação ao sistema de informação existente, é urgente que seja aprimorado tanto nos seus aspectos operacionais quanto no nível de informação que arma-zena, devendo caminhar em direção ao nível individual, o menos agregado possível, para que estudos ecológicos sejam uma dentre outras opções, e não a única alterna-tiva, como atualmente acontece. Com informações mais precisas, aumentará a segurança em planejar ações volta-das para a saúde dos idosos, especialmente aquelas rela-cionadas à prevenção das infecções respiratórias, maior complicação secundária à gripe.

ConFlITos De InTeRessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de in-teresse.

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espiriTualidade, reliGiosidade

e qualidade de vida em idosos

fabiane bregalda costaa, newton luiz Terrab

Resumo Objetivo: Identificar se a religiosidade/espiritualidade é preditora de qualidade de vida em indivíduos idosos. Méto-dos: Estudo transversal, descritivo e analítico em amostra de 158 idosos socialmente ativos, participantes de grupos de convivência em diferentes comunidades religiosas na cidade de Porto Alegre. Resultados: A média de idade foi de 70,6 anos, com amplitude de variação de 60 a 92 anos. Houve predomínio de pessoas do sexo feminino casadas. Em relação à escolaridade, no universo pesquisado prevaleceu o ensino superior e, quanto à condição socioeconômica, a maioria apresentou rendimentos de 1-4 salários mínimos. Quando questionados sobre a assiduidade com que frequentam o serviço religioso, 63% afirmaram ser mais de uma vez por semana. O resultado da análise do impacto da religiosidade/espiritualidade sobre os diferentes domínios de qualidade de vida evidenciou que esta pode ser associada positivamente com a maioria dos seus domínios. Conclusão: A variável religiosidade/espiritualidade é preditora de qualidade de vida nesta amostra de idosos.

spiriTualiTy, reliGiousness and qualiTy of life in elderly people

ABsTRACTObjective: To identify whether religiousness/spirituality are predictors of quality of life in elderly individuals. Methods: A cross-sectional, descriptive and analytical study in a sample of 158 elderly socially active, participating in social groups in different religious communities in Porto Alegre city. Results: Mean age was 70.6 years with a variation range between 60 and 92 years. There was a predominance of females and married marital status. Regarding the educa-tion of the studied group. There was a prevalence of higher education and, about the socioeconomic status, the majority had incomes between 1 to 4 minimum wages. When asked about the religious services assiduity, 63% attend more than once a week. The result of the religiosity/spirituality impact analysis, on the different quality of life domains, showed that this can be positively associated with most of their domains. Conclusion: Religiosity and spirituality variables are predictors of quality of life in this elderly sample.

a Mestranda do Programa de Geriatria e Gerontologia Biomédica da PUCRS.b Professor do Instituto de Geriatria e Gerontologia Biomédica da PUCRS.

Dados para correspondênciaFabiane Bregalda Costa – Avenida José Aloísio Filho, 889 casa 80, Humaitá, Porto Alegre, RS. CEP: 90250-180. Tel.: (51) 8254-1171. E-mail: [email protected]

Palavras-chave Idoso, religião,

espiritualidade, qualidade de vida.

Key words Elderly, religion,

spirituality, quality of life.

Artigo or iginal

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InTRoDuçãoO aumento da expectativa de vida nos últimos anos ge-rou uma grande mudança demográfica devido ao incre-mento da longevidade na sociedade, o que está deixando de ser um fenômeno para se tornar um acontecimento trivial. Significa que as pessoas estão tendo mais opor-tunidades de envelhecer.¹ Em decorrência disso, surgem inúmeros questionamentos na busca de dar significado e sentido para a vida do idoso, e possibilitar a promoção da longevidade com qualidade de vida, ativa e saudável.²

O ser humano é heterogêneo, e a compreensão da qualidade de vida é diferente de indivíduo para indiví-duo, podendo ser passível de mudanças no transcorrer da existência.³ Sendo assim, conceituá-la tem sido um desafio, pois se trata de um tema complexo e subjetivo. Para a Organização Mundial da Saúde, a qualidade de vida é definida como “a percepção que o indivíduo tem acerca da sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive, e tomando em con-sideração os seus objetivos, expectativas, padrões e pre-ocupações”.4

Pesquisas recentes sugerem que a variável espiritu-alidade/religiosidade pode estar ligada a melhor saúde física e emocional de idosos, beneficiando a melhor qua-lidade de vida.5 Atividades religiosas/espirituais podem aumentar a motivação para realizar atividades do dia a dia.6 Estudos americanos com idosos indicam que mais de 90% das pessoas acreditam em um "poder maior" e no valor de seu bem-estar espiritual, e a maioria delas con-corda fortemente que gostaria de ser interrogada pelos seus médicos quanto a alguma crença religiosa ou espiri-tual, pois influenciaria em suas decisões e na tomada de decisão médica.7,8

A religiosidade e a espiritualidade são fenômenos relevantes também em nosso país, tendo em vista que 92% da população declarou-se adepta de uma religião no censo demográfico de 2010. Esse dado se torna ainda mais relevante entre a população de idosos, em que 96% deles declararam ser religiosos.9 Especialmente no final da vida, a religião e a espiritualidade ocupam lugar de destaque, já que o envelhecimento traz consigo questões existenciais que essas variáveis tentam responder.10 Além disso, a religiosidade e a espiritualidade são identificadas como fonte de significação na vida.11

méToDoEstudo transversal, descritivo e analítico, feito com ido-sos pertencentes a grupos religiosos no município de Porto Alegre. Para a composição desta amostra, optou- se por seis diferentes práticas religiosas professadas no Rio Grande do Sul, conforme dados do censo demográfi-co do IBGE em 2010, resultando nas seguintes religiões: Católica, Evangélica Pentecostal, Assembleia de Deus, Evangélica de Missão, Adventista do Sétimo Dia, Espiri-tismo, Judaísmo e Testemunhas de Jeová.

Para critérios de inclusão na pesquisa, foram selecio-nados indivíduos com 60 anos ou mais e que aceitassem participar da pesquisa por meio do termo de consen-timento livre e esclarecido. O critério de exclusão foi algum déficit cognitivo, impossibilitando responder coe-rentemente aos questionários.

Na coleta dos dados foi utilizada uma entrevista estruturada através de questionário com dados socio-demográficos. Posteriormente, foram utilizados dois instrumentos da Organização Mundial da Saúde tra-duzidos e validados no Brasil. Um, o WHOQOL-Bref, é uma versão abreviada do WHOQOL-100, composto por 26 questões que obtiveram os melhores desempenhos psicométricos para avaliar a qualidade de vida, sendo subdividido em quatro domínios: físico, psicológico, re-lações sociais e meio ambiente.12 O outro, o WHOQOL- SRPB, é um módulo específico para avaliar espiritualida-de, religião e crenças pessoais. É composto por 32 itens e oito domínios: conexão a um ser ou força espiritual; sentido da vida; admiração; totalidade e integração; for-ça espiritual; paz interior; esperança e otimismo; fé.13 Também foram utilizadas quatro questões do domínio SRPB do WHOQOL-100, as quais referem-se a religião, espiritualidade, crenças pessoais e o quanto elas afetam a qualidade de vida. Posteriormente foram comparadas com o WHOQOL-SRPB.

A aplicação dos instrumentos foi realizada pelo próprio pesquisador nos centros religiosos propostos, de forma co-letiva, entre dezembro de 2011 e julho de 2012. Esse estudo está adequado à Resolução no 196/96, que determi-na as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.14 O projeto foi aprovado pela Comissão Científica do Instituto de Geriatria e Geronto-logia Biomédica e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, estando registrado no CEP sob o número 11/05652.

ResulTADosQuanto ao perfil demográfico da amostra, a média de idade foi de 70,6 (±7,7) anos, com amplitude de variação entre 60 e 92 anos. A maioria dos entrevistados era do sexo feminino, totalizando 68,4% mulheres e 31,6% ho-mens. Sobre o estado civil, as maiores frequências foram para as situações de casados, 55,4% (n = 87), e viúvos, 31,2% (n = 49).

Em relação à escolaridade, no universo pesquisado prevaleceu o ensino superior, 37,2% (n = 58), seguido do ensino fundamental completo, 23,7% (n = 37), e en-sino médio completo, 20,5% (n = 32). A maior parte da amostra relatou não estar trabalhando, 76,6% (n = 121). Quanto à ocupação, 48,1% (n = 76) dos investi-gados foram caracterizados como aposentados. Para a condição socioeconômica, 49,7% (n = 73) apresentaram rendimento de 1-4 salários mínimos. Quando questiona-dos sobre a assiduidade com que frequentam o serviço

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religioso, 63,0% (n = 97) responderam mais de uma vez por semana.

Quanto à análise realizada para comparar os domí-nios referentes à espiritualidade/religiosidade do WHO-QOL-SRPB com os domínios de qualidade de vida do WHOQOL-BREF, os resultados, em sua maioria, mos-

traram correlações significativas e positivas, conforme mostrado na Tabela 1. Exceto o fator conexão a um ser ou força espiritual, os demais domínios evidenciaram pontuações elevadas correlacionadas a pontuações tam-bém elevadas nos domínios referentes à qualidade de vida, mostrando nível de significância de 1%.

Tabela 1 Análise de correlação entre os domínios da QV Whoqol Bref e os domínios referentes à espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais do WHOQOL-SRPB

espiritualidadeQV Whoqol Bref

Físico Psicológico Relações sociais meio ambiente Total Whoqol

Conexão a um ser ou força espiritual 0,045 (p = 0,572) 0,069 (p = 0,391) 0,095 (p = 0,234) 0,112 (p = 0,163) 0,114 (p = 0,154)

Sentido na vida 0,371* (p < 0,001) 0,404* (p < 0,001) 0,533* (p < 0,001) 0,534* (p < 0,001) 0,312* (p < 0,001)

Admiração 0,402* (p < 0,001) 0,407* (p < 0,001) 0,430* (p < 0,001) 0,454* (p < 0,001) 0,202* (p < 0,001)

Totalidade integração 0,376* (p < 0,001) 0,403* (p < 0,001) 0,440* (p < 0,001) 0,489* (p < 0,001) 0,242* (p < 0,001)

Força espiritual 0,412*(p < 0,001) 0,486* (p < 0,001) 0,561* (p < 0,001) 0,534* (p < 0,001) 0,293* (p < 0,001)

Paz interior 0,291* (p < 0,001) 0,272* (p < 0,001) 0,364* (p < 0,001) 0,349* (p < 0,001) 0,124* (p = 0,122)

Esperança e otimismo 0,391* (p < 0,001) 0,310* (p < 0,001) 0,451* (p < 0,001) 0,544* (p < 0,001) 0,376* (p < 0,001)

Fé 0,481* (p < 0,001) 0,640* (p < 0,001) 0,692* (p < 0,001) 0,678* (p < 0,001) 0,774* (p < 0,001)

Dom. WHOQOL 100 Espiritualidade 0,531* (p < 0,001) 0,698* (p < 0,001) 0,698* (p < 0,001) 0,744* (p < 0,001) 0,783* (p < 0,001)

* A correlação foi significativa no nível de 1%.

Tomando como base os domínios referentes à es-piritualidade, foi implementada a análise de cluster (Tabela 2), buscando definir grupos de observações com máxima homogeneidade interna (intragrupos), enquanto também apresentam máxima heterogeneida-de externa (entre grupos). De acordo com a técnica de

agrupamento, a amostra foi segmentada em dois sub-grupos segundo os oito domínios do WHOQOL-SR-PB e o domínio espiritualidade do WHOQOL-100. A partir dessa segmentação, foi possível a caracterização dos subgrupos (cluster) e a observação de diferenças não verificáveis em análises anteriores.

Tabela 2 Médias para os escores referentes aos domínios do Whoqol SRPB segundo os clusters

Variáveis

Cluster**

1 (pontuações normais para a espiritualidade)

2 (pontuações superiores para a espiritualidade) p

Fator conexão a ser ou força espiritual 12,04 12,40 0,198Fator sentido na vida 13,91 17,31 <0,001

Fator admiração 13,84 16,58 <0,001Fator totalidade e integração 13,40 17,04 <0,001

Fator força espiritual 14,03 17,97 <0,001Fator paz interior 13,79 16,61 <0,001

Fator esperança e otimismo 13,62 15,27 <0,001Domínio fé 15,10 19,52 <0,001

Dom Whoqol-100 espiritualidade 16,05 19,62 <0,001**Análise de agrupamento – hierarchical cluster.

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De acordo com os dois subgrupos estabelecidos, o cluster 1 foi caracterizado como o grupo com espiritua-lidade “normal” e o 2 como o grupo com espiritualidade “superior”. Na comparação dos dois subgrupos, em rela-ção à qualidade de vida (Whoqol Bref), realizada através da análise de variância, foram detectadas diferenças es-tatisticamente significativas (p <0,001), de forma que o

cluster 2, formado pelos investigados com elevadas pon-tuações para a espiritualidade, apresentaram escores mé-dios para qualidade de vida significativamente mais ele-vados que as médias do cluster 1 (Tabela 3). Dessa forma, os investigados com pontuações elevadas, nos domínios referentes à espiritualidade, estão apresentando, também, elevados escores nos domínios da qualidade de vida.

DIsCussãoConstatamos, neste estudo, a prevalência do sexo femi-nino e a faixa etária predominante de 60 a 69 anos, as-sim como resultados obtidos em outros estudos com idosos.15,16 Em relação à escolaridade, no universo pes-quisado prevaleceu o ensino superior, dado incomum de acordo com outras pesquisas realizadas, porém justifica-do quando lembrado que a amostra foi composta de pes-soas socialmente ativas, participantes de grupos de con-vivência. Observamos, na amostra pesquisada, qualidade de vida boa ou normal, “superior”, como denominamos no estudo, de acordo com as variáveis do WHOQOL--Bref. Nenhum dos entrevistados apresentou escores baixos para qualidade de vida. Portanto, esse resultado corrobora estudos que evidenciam que idosos com me-nor escolaridade tendem a ter pior qualidade de vida ou vice-versa.16

A maior parte da amostra relatou não estar trabalhan-do e ter rendimento de 1-4 salários mínimos. Os resulta-dos obtidos com relação ao trabalho estão de acordo com o esperado de uma população com 60 anos ou mais. No que se refere à condição socioeconômica, confirma a ten-dência da grande parte da população em nosso país, onde 71,5% das pessoas estão na classe de faturamento de até dois salários mínimos mensais.9 Sobre a assiduidade com que frequentam o serviço religioso, 63% relataram mais de uma vez por semana. Esse dado se refere à importân-cia que a religião ocupa na vida dessas pessoas. A espiri-tualidade é característica exclusiva dos seres humanos e, em idosos, ela é mais evidente. Pessoas idosas afirmam que a fé em um ser superior contribui para melhor qua-lidade de vida e maior segurança no processo vivencial.17

Quando analisado o impacto da religiosidade/espiri-tualidade (domínios do instrumento WHOQOL SRPB) na qualidade de vida (domínios do WHOQOL BREF),

Tabela 3 Média e erro-padrão para os escores referentes à qualidade de vida dos domínios Whoqol Bref segundo os clusters

Domíniossubgrupos espiritualidade

p***Cluster 1 (n = 60) Cluster 2 (n = 98)

Físico 13,52 ± 0,14 14,69 ± 0,11 <0,001

Psicológico 14,72 ± 0,17 16,5 ± 0,13 <0,001

Relações sociais 15,33 ± 0,24 18,8 ± 0,19 <0,001

Meio ambiente 15,65 ± 0,20 18,66 ± 0,16 <0,001

Total Whoqol 15,00 ± 0,39 18,57 ± 0,31 <0,001*** Teste t de Student para grupos independentes.

constatamos que ela pode ser associada positivamente com a maioria dos seus domínios. Apenas o domínio co-nexão a um ser ou força espiritual não apresentou signi-ficância.

Os resultados nas médias dos demais domínios, como sentido da vida, admiração, totalidade e integração, for-ça espiritual, paz interior, esperança e otimismo, e fé se mostraram igualmente preditivos de boa qualidade de vida na amostra pesquisada. As respostas revelam que a admiração pelas coisas ao redor, como natureza, arte, música, manter o equilíbrio entre mente, corpo e alma, apoiar-se em uma força espiritual, estar em paz consigo mesmo, sentir harmonia na vida, manter a esperança e o otimismo predizem boa qualidade de vida.

Em uma metanálise dos principais estudos que envol-viam o tema espiritualidade e qualidade de vida, realiza-da em 2005, foi encontrada correlação moderada entre níveis mais altos de espiritualidade/religiosidade e me-lhor qualidade de vida.18 O impacto da espiritualidade na qualidade de vida tem sido demonstrado de forma quan-titativa e também qualitativa. Outra pesquisa envolvendo 365 idosos, os quais foram questionados sobre o que seja qualidade de vida, obteve como sétima resposta mais co-mum o fato de ter religião e fé.19

Para Moreira-Almeida et al. (2006), em uma revisão sobre o tema, os autores verificaram que a maioria dos es-tudos bem conduzidos sustenta que níveis mais elevados de envolvimento com a religião estão associados positi-vamente com indicadores de bem-estar psicológico (sa-tisfação com a vida, felicidade, afeto positivo e moral ele-vado) e com menos depressão, ideação e comportamento suicidas, e abuso de drogas e álcool. De modo geral, o maior envolvimento religioso está associado a melhores indicadores de saúde física, mental e qualidade de vida.

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Também para os mesmos autores, a religião pode forne-cer coesão social, promover o sentimento de pertencer a um grupo de carinho, de continuidade no relacionamen-to com amigos e familiares e grupos de apoio. Frequentar o serviço religioso é fazer parte de um grupo, o que traz apoio psicossocial que pode promover a saúde.20

O envelhecer possui relação íntima com a espiritua-lidade nos mais diferentes aspectos do envelhecimento, tendo impacto desde ser bem-sucedido até os cuidados no fim da vida.21

Outro estudo conduzido no Rio Grande do Sul mos-trou que os idosos cujas crenças pessoais davam maior significado à sua vida tinham até 10 vezes mais oportuni-dades de cursar com envelhecimento bem-sucedido, em comparação com aqueles que não as possuíam.15

Entre outros benefícios, uma experiência religiosa sa-tisfaz a necessidade de sentido da vida. Tal benefício pode ser especialmente útil para lidar com crises e traumas quando os indivíduos não dispõem de outros recursos que possam contribuir para esse suporte, como é o caso de idosos aposentados e viúvos.10 Krause, em sua inves-tigação sobre o significado religioso, definiu que idosos que possuem um senso de religião tendem a ter maior nível de satisfação na vida utilizando-a como forma de descobrir o propósito da vida, um senso de direção e uma razão para sua existência.22

O objetivo da religiosidade/espiritualidade pode va-riar de acordo com a pessoa, a situação e, principalmente, com o momento da vida, tornando-se mais expressivo no final dela. As experiências com Deus exercem influência positiva, podendo mudar a maneira da pessoa de ver o mundo, o lugar que ocupa e que bagagem é realmente importante ser levada vida afora. As prioridades são alte-radas, valorizando-se mais o ser do que o ter.23

Quando acrescentado o domínio SRPB do WHO-QOL-100, este mostrou significância (p < 0,001) correla-cionado com os quatro domínios de WHOQOL-BREF. A espiritualidade mostrou-se fator independente e prediti-vo de qualidade de vida superior.

Na comparação realizada através da análise de agrupa-mento, subdividindo a amostra em dois grupos, é interes-sante notar que o grupo formado pelos investigados com elevada pontuação para religiosidade/espiritualidade apre-sentou escores médios para qualidade de vida significativa-mente mais elevados que as médias do grupo caracterizado pelos investigados com pontuação normal para religiosida-de/espiritualidade. Dessa forma, os dados do estudo indi-cam que há evidências de que os indivíduos com pontuação elevada nos domínios referentes à espiritualidade também

apresentam elevados escores referentes à qualidade de vida.Em um estudo conduzido para avaliar fatores intrap-

síquicos, enfrentamento e espiritualidade de pacientes com tumores, foi detectado que pacientes com alta espi-ritualidade são mais propensos a desenvolver as suas po-tencialidades, também apresentando maior capacidade de se protegerem e cuidar de si. Além disso, eles têm me-lhor capacidade de desenvolver suas qualidades pessoais e maior autorrealização.24

A religiosidade está relacionada a sintomas significati-vamente menores de depressão, menor comprometimento cognitivo, menos dor e melhor qualidade de vida. Os profis-sionais da área da saúde devem considerar o paciente como tendo uma história espiritual ou religiosa e garantir que essas necessidades sejam abordadas. A religião na vida de pessoas idosas desempenha papel importante e significativo na saúde física e mental.5

O perfil das pessoas com menor espiritualidade intrín-seca e pontuações inferiores mostra capacidade ineficaz para lidar com alto risco de depressão, sugerindo autone-gligência, nas dimensões física e emocional, de autoabuso e autocrítica.24 Cabe salientar ainda que a presença de di-mensão espiritual pode ser um marcador positivo de pa-cientes, levando a uma boa adaptação para o tratamento de inúmeras doenças crônicas, entre elas o câncer.24,25

ConClusãoA espiritualidade e a religiosidade são frequentes entre pessoas com mais de 60 anos. Podemos notar que não apenas indivíduos com algum problema crônico ou agra-vo na saúde, mas também os idosos sem situação de do-ença grave buscam sua relação com o transcendente. Sete dos oito domínios da religiosidade, espiritualidade e crenças pessoais apresentaram associação positiva com melhor qua-lidade de vida. Os participantes com altos índices no domí-nio fé e espiritualidade apresentam qualidade de vida supe-rior. Com base em nossos dados e naqueles encontrados na literatura, fica evidente que a espiritualidade e a religiosidade são fatores a serem considerados na avaliação da qualidade de vida em idosos, o que confirma a hipótese da pesquisa.

Nesse contexto, reforçamos a necessidade de mais tra-balhos relacionados ao tema, para trazer mais aprofunda-mento à questão referida, visto que reverteria em ganhos reais para profissionais e instituições que atuam junto à população de idosos.

ConFlITos De InTeRessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de in-teresse.

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Hipofunção das glândulas salivares | 179

Hipofunção das Glândulas salivares

em idosos HospiTalizados

relacionada a medicamenTos

daniela napoleão freitasa, nicássia cioquetta lockb, beatriz unferc

Resumo Introdução: Doenças cronicodegenerativas e distúrbios mentais são causas comuns de internação hospitalar na po-pulação idosa. Essas condições clínicas fazem com que esses pacientes necessitem de farmacoterapia em grande escala. O uso de medicamentos pode ocasionar efeitos adversos na saúde do idoso, com repercussão bucal ou sistêmica. Obje-tivos: Identificar a presença de sinais e sintomas de hipofunção das glândulas salivares em pacientes idosos internados no Hospital Universitário de Santa Maria e relacionar com os medicamentos prescritos durante a internação. Métodos: Trata-se de um estudo de caráter descritivo transversal, em que foram realizados exames bucais e consulta ao pron- tuário do paciente. Os dados referentes a sinais e sintomas de xerostomia e os dados do prontuário foram registrados em ficha própria. Resultados: Observou-se que 59% dos idosos apresentavam queixa de boca seca durante a maior parte do dia e que 11 dos 20 medicamentos mais prescritos para os idosos têm como efeito adverso a xerostomia e/ou outras manifestações características de hipofunção das glândulas salivares. Conclusões: Os resultados do estudo indicam que os sinais e sintomas de hipofunção das glândulas salivares verificados nos idosos hospitalizados podem estar associados ao consumo de medicamentos que predispõem a essa condição. Portanto, a atuação multiprofissional, em especial a inserção do cirurgião-dentista no ambiente hospitalar, é necessária para monitorar as condições bucais dos pacientes internados, de modo a diminuir e controlar os efeitos dessa disfunção na saúde bucal.

salivary Gland HypofuncTion in elderly people HospiTalized relaTed To druGs

ABsTRACTIntroduction: Chronic diseases and mental disorders are common causes of hospitalization in the elderly. These cli-nical conditions make these patients require drug therapy on large scale. The use of drugs can cause adverse health effects in the elderly, with oral or systemic repercussions. Objectives: To identify the presence of signs and symptoms of salivary gland hypofunction in elderly patients admitted to Santa Maria University Hospital, and relate this to the medicines prescribed during hospitalization. Methods: This was a descriptive cross-sectional study, in which an oral examination and a consultation to the patient’s chart was performed. The data related to signs and symptoms of xeros-tomia and the medical record data were registered in the patient’s own card. Results: It was observed that 59% of the elderly complained of dry mouth during most of the day and that 11 of the 20 most prescribed drugs have side effects like xerostomia and/or other characteristic manifestations of salivary gland hypofunction. Conclusions: The results of the study indicate that the signs and symptoms of salivary gland hypofunction seen in hospitalized elderly people may be associated with the consumption of drugs that predispose this condition. Therefore, the multidisciplinary approach, with the inclusion of the dentist in the hospital is required to monitor the oral conditions of patients, in order to reduce and control the effects of this dysfunction in oral health.

a Mestranda em Ciências Odontológicas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Autora do trabalho. Responsável pela coleta de dados, análise e redação do artigo.b Graduanda do curso de Odontologia da UFSM, bolsista PET Saúde. Coautora do trabalho. Responsável pela coleta de dados e redação do artigo.c Professora associada do curso de Odontologia da UFSM. Orientadora do trabalho.

dados para correspondênciaDaniela Napoleão Freitas – Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Estomatologia. Rua Marechal Floriano Peixoto, 1.184, Centro, Santa Maria, RS. CEP: 97015-372. Tels.: (55) 9982-6768 e (55) 3222-2120. E-mail: [email protected]

Palavras-chave Idoso, hospital, medicamentos,

xerostomia.

Key words Elderly, hospital,

drugs, xerostomia.

Artigo or iginal

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InTRoDuçãoO número de pessoas com idade igual ou superior a

60 anos, definidas como idosas pelo Estatuto do Idoso,1 vem aumentando cada vez mais no Brasil desde a década de 1960, o que estreita a base da pirâmide populacional, fenômeno que antes era característico de países desen-volvidos. O crescimento dessa classe populacional pode ser reflexo da baixa taxa de fecundidade e do aumento da expectativa de vida da população brasileira.2

As doenças cronicodegenerativas e os distúrbios mentais são as principais morbidades que acometem os idosos, gerando aumento da demanda por serviços de saúde.3 As principais causas de internação hospitalar dos idosos, no âmbito do SUS, são as doenças dos aparelhos circulatório, respiratório e digestivo.4 Essas condições clínicas fazem com que os idosos necessitem de farma-coterapia em grande escala. Os medicamentos utilizados – que incluem, principalmente, aqueles com ação no sistema cardiovascular, sistema nervoso, trato alimentar e metabolismo5 – podem ocasionar efeitos adversos na saúde do idoso, com repercussão bucal ou sistêmica.

Uma das queixas frequentes dos idosos é o sintoma de boca seca, possivelmente tendo como causa a utili-zação de grande número de medicamentos causadores de hipossalivação.6 Do ponto de vista da saúde bucal, a redução da saliva pode levar a complicações, como au-mento do risco de cárie, ulcerações e infecções da muco-sa bucal e periodontal.7

O objetivo deste estudo foi identificar a presença de sinais e sintomas de hipofunção das glândulas salivares em pacientes idosos internados no Hospital Universitá-rio de Santa Maria (HUSM) e relacionar com os medica-mentos prescritos durante a internação.

méToDosO estudo, de caráter descritivo transversal, foi realizado no Hospital Universitário de Santa Maria (RS), no período de junho a dezembro de 2012, nas unidades de clínica médica e clínica cirúrgica, com idosos internados. Essas unidades possuem 100 leitos no total. Para o cálculo da amostra foi tomado como base o número de pacientes internados no mês de março de 2012,8 o que resultou em 75 pacientes para compor a amostra mínima.

Foram incluídos os pacientes internados, com idade igual ou superior a 60 anos, que concordaram em partici-par do estudo ou cujos parentes ou responsáveis permiti-ram sua participação e em condições de ser examinados. Foi utilizado um termo de consentimento livre e esclareci-do, assinado e devolvido aos pesquisadores, permanecen-do uma cópia com os participantes do estudo.

O prontuário dos pacientes foi consultado para ob-ter as informações relativas aos medicamentos prescritos aos internados. Para identificar os efeitos adversos dos medicamentos prescritos foi consultado o Formulário Terapêutico Nacional 2010.9

Foram realizados exames bucais, no próprio leito, com o paciente sentado ou deitado. O exame consistiu na observação de mucosa, saliva, língua, lábios, comissu-ra labial e dentes mediante o uso de espelho bucal e lan-terna, por um único examinador, previamente calibrado (nível de concordância kappa de 93%). Foi perguntado ao paciente se apresentava sintomas bucais relacionados a paladar, mastigação, deglutição ou outros sintomas.10 Os dados referentes a sinais e sintomas de xerostomia e os dados do prontuário foram registrados em ficha própria.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Franciscano (Unifra), sob o parecer consubstanciado no 35.451/2012, sendo realizada de acordo com as Diretrizes e Normas Regula-mentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

ResulTADosTodos os pacientes abordados no HUSM que se encon-travam em condições para o exame bucal concordaram em participar do estudo. Do total de pacientes interna-dos, 15 foram excluídos por não haver condições para o exame bucal devido ao uso de tubo orotraqueal. Foram examinados 102 idosos internados, com idade média de 71 anos, sendo 59 homens e 43 mulheres. O tempo médio de internação dos pacientes era de 13 dias, e os motivos da internação eram câncer (33%), cirurgias di-versas (17%) e cardiopatias (15%).

O exame das condições bucais mostrou que mais da metade dos idosos (59%) apresentava queixa de boca seca durante a maior parte do dia. Ressecamento dos lábios e presença de fissuras foram os sinais mais obser-vados. Todos os pacientes apresentaram pelo menos um sinal e/ou sintoma de xerostomia (Tabela 1).

Tabela 1 Distribuição dos sinais e sintomas bucais relativos à hipofunção das glândulas salivares em idosos hospitalizados. Santa Maria, RS, 2012*

sintomas n %

Boca seca 60 59

Ingestão frequente de água 46 45

Halitose 44 43

Dificuldade de engolir/mastigar 35 34

Ardência na boca 14 14

Dificuldade no uso de prótese (n= 55) 10 18

sinais n %

Ressecamento/fissuras nos lábios 49 48

Saliva espessa 40 39

Ressecamento da mucosa 33 32

Queilite angular 26 25

Atrofia das papilas linguais 16 16

Cárie rampante 9 9* Vários pacientes apresentavam mais de um sinal ou sintoma.

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Hipofunção das glândulas salivares | 181

A análise dos prontuários mostrou que 11 dos 20 me-dicamentos mais prescritos para os idosos têm como efei-to adverso a xerostomia e/ou outras manifestações carac-

terísticas de hipofunção das glândulas salivares, conforme a informação do fabricante (Tabela 2). O medicamento prescrito para a maioria dos pacientes foi a dipirona (68%).

Tabela 2 Medicamentos prescritos aos idosos hospitalizados,* ação terapêutica e os efeitos adversos nas glândulas salivares, segundo a informação do fabricante. Santa Maria, RS, 2012

Medicamento Ação terapêutica Efeitos adversos n %

Dipirona Sistema nervoso central Xerostomia 69 68

Ondansetrona Aparelho digestivo Xerostomia 22 22

Morfina Sistema nervoso central Xerostomia 21 21

Clonazepam Sistema nervoso central Síndrome da boca ardente 18 18

Enalapril Sistema cardiovascular Ageusia 17 17

Atensina Sistema cardiovascular Boca seca 15 15

Metronidazol Anti-infeccioso Xerostomia, gosto metálico 9 9

Tramadol Sistema cardiovascular Boca seca 6 6

Clindamicina Anti-infeccioso Gosto metálico na boca 5 5

Diazepam Sistema nervoso central Alteração na saliva 5 5

Fluoxetina Sistema nervoso central Xerostomia 5 5* Foram listados os medicamentos prescritos para até 5 pacientes.

DIsCussãoA saliva tem papel importante na manutenção da saúde bucal, uma vez que suas propriedades físico-químicas têm influência na mastigação e ingestão de alimentos, na fonação, na proteção contra a cárie dentária e doenças periodontais, além de proporcionar efeitos protetores das mucosas bucal e gastrointestinal.11

A disfunção da glândula salivar é geralmente associada à xerostomia e à hipossalivação. A xerostomia é uma sensa-ção de boca seca, de caráter subjetivo, associada à redução da produção salivar e/ou alteração de suas propriedades químicas, embora nem sempre signifique redução real do fluxo salivar.6,12 Já a hipossalivação caracteriza-se pela redu-ção do fluxo salivar, que pode ser constatada objetivamente. Pode-se considerar que um indivíduo tem diminuição da produção salivar quando apresenta pelo menos um destes sintomas: boca seca, dificuldade de mastigar e engolir ali-mentos secos e pouca saliva na maior parte do tempo.6

As queixas de boca seca, que afetam cerca de 30% dos idosos acima de 65 anos, com prevalência maior no sexo feminino, são associadas ao envelhecimento, a doenças sistêmicas e ao uso de múltiplos medicamentos.7,11-13

A terapia medicamentosa prescrita aos idosos é capaz de produzir como efeitos adversos a diminuição do fluxo salivar e a xerostomia. Vários medicamentos associados à sensação de boca seca são encontrados nos grupos dos antidepressivos, antipsicóticos, anti-hipertensivos, diuré-ticos, antiparkinsonianos e broncodilatadores.6,11 Este es-tudo mostra que a maioria dos medicamentos prescritos aos internados no HUSM apresenta esses efeitos adversos.

A hipossalivação pode trazer como consequências o aumento do risco de cáries e gengivite, devido ao acúmu-lo de placa bacteriana, e o aparecimento de candidíase.11

A boca seca pode causar dificuldade de deglutição (dis-fagia) e alterações no paladar (disgeusia), dificultando também o uso de próteses dentárias. Podem surgir lesões na mucosa bucal decorrentes de traumatismos e lesões na comissura labial (queilite angular).11,14

O gosto metálico na boca (sintoma de disgeusia) ou mesmo a perda de paladar (sintoma de ageusia) é uma alteração muito frequente em pacientes com câncer tra-tados por quimioterapia e radioterapia. Como o apetite é afetado, o paciente pode perder peso e ter problemas nutricionais em consequência da menor ingestão de ali-mentos. Com origem multifatorial (injúria direta pela quimioterapia e radioterapia, efeitos adversos de medi-camentos, candidíase, deficiências nutricionais, saúde bucal precária e infecções virais), seu tratamento poderá ser também múltiplo, com uso de cubos de gelo na boca para provocar constrição dos vasos sanguíneos e dificul-tar a liberação das drogas quimioterápicas na cavidade bucal, adequação da técnica de radiação, adequação dos medicamentos com efeitos adversos, tratamento das condições bucais e adequação da dieta alimentar.15

A síndrome da ardência bucal é uma alteração na boca caracterizada por dor e ardência, com ou sem sinais inflamatórios. Não há presença de sinais clínicos, labora-toriais específicos ou causa orgânica evidente, podendo ser acompanhada de xerostomia e disgeusia.16-18 A sen-sação de ardência envolve geralmente a língua, os lábios e o palato. Os sinais e sintomas são complexos e dificul-tam o diagnóstico. As causas da síndrome são variadas, e contribuem com a doença os fatores neurológicos, psi-cogênicos e hormonais, acometendo mais as mulheres idosas.17 O tratamento consiste no alívio dos sintomas, pois não há tratamento específico para a cura.17

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Uma vez que a hipofunção das glândulas salivares pode ser consequência dos efeitos adversos de medica-mentos, a reavaliação da terapia medicamentosa torna--se necessária na medida em que existe possibilidade de substituição desses medicamentos por outros com efeitos adversos menos danosos à saúde dos indivíduos.6 Embora a prescrição de medicamentos seja prerrogativa médica, no setor público a escolha pode ser limitada em função do custo, gerando prescrições que nem sempre serão as mais adequadas.19

A utilização de saliva artificial é outra medida para atenuar os efeitos da hipofunção das glândulas salivares, que são soluções manufaturadas com pH neutro e eletró-litos semelhantes à saliva natural. Outras estratégias que podem ser utilizadas são: estimulantes salivares, como gomas de mascar, tabletes à base de vitamina C e de pilo-carpina, e ácido málico presente em frutas como a pera e a maçã.6 Beber água várias vezes ao dia é uma medida que mantém a boca hidratada e ajuda a eliminar os res-tos alimentares, além de auxiliar durante as refeições na mastigação, na ingestão e no paladar.11

As condições bucais dos idosos, mostradas pelos le-vantamentos epidemiológicos, revelam alta proporção de pessoas acima de 65 anos com média de 27,5 dentes afetados pela cárie, a maioria extraídos.20 No momento da internação hospitalar, as fragilidades e deficiências representadas por múltiplos problemas médicos reper-cutem negativamente na saúde bucal dos idosos, que já se encontra precária. Indivíduos com xerostomia ou hi-pofunção salivar têm maior risco de desenvolvimento de cáries dentárias. Com fluxo salivar reduzido, há queda na capacidade tampão da saliva em neutralizar os ácidos produzidos pelas bactérias da placa bacteriana dentária, podendo a desmineralização dentária ocorrer rapida-mente.21

Da mesma forma, o baixo fluxo salivar contribui para o aumento do acúmulo da placa bacteriana, o que predis-

põe as pessoas às doenças periodontais, como a gengivite e a periodontite. Adicionalmente, estudos mostram que patógenos respiratórios podem ser encontrados na placa bacteriana dentária, ocasionando pneumonia por aspi-ração.22-24

Embora os dados epidemiológicos das condições bucais de idosos indiquem que esse grupo populacional tem extensas perdas dentárias, os dentes remanescentes e a presença de próteses dentárias requerem cuidados diários. Nesse aspecto, médicos e dentistas devem exa-minar rotineiramente os pacientes em ambiente hospi-talar, com abordagem multiprofissional a fim de pro-porcionar melhor atenção à saúde bucal dos pacientes internados.

ConClusõesO perfil de saúde da população sofre transformações à medida que envelhece. Predominam doenças cronicode-generativas e suas complicações, gerando intensa utiliza-ção de serviços de saúde paralelamente ao consumo de medicamentos. Os resultados deste estudo indicam que os sinais e sintomas de hipofunção das glândulas sali-vares verificada nos idosos hospitalizados podem estar associados ao consumo de medicamentos que predis-põem a essa condição. Embora outros fatores, que não os medicamentos, possam estar envolvidos no processo, é necessário monitorar as condições bucais dos pacien-tes internados, de modo a diminuir e controlar os efei-tos dessa disfunção na saúde bucal. Portanto, a atuação multiprofissional, em especial a inserção do cirurgião- dentista no ambiente hospitalar, torna-se essencial para proporcionar atenção integral à saúde e qualificar a assis-tência hospitalar.

ConFlITos De InTeResseOs autores declaram não possuir nenhum conflito de in-teresse.

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avaliação de dependência de idosos

em enfermaria GeriáTrica:

consequências da HospiTalização

Gabriela antonio dos santosa, márcia Torturellab

Resumo Objetivos: Descrever o grau de dependência de idosos de acordo com o Sistema de Classificação de Pacientes (SCP) proposto por Fugulin et al. com o objetivo de analisar a diferença no momento da admissão e da alta hospitalar. Méto-dos: Estudo descritivo, exploratório, quantitativo, de corte transversal. Resultados: Ao todo, foram 105 fichas avalia-das, 54 homens e 51 mulheres, com idade média de 83,83 anos. Relacionados os resultados de dependência da admissão e da saída dos idosos, 61 mantiveram quadro de dependência (58%), oito evoluíram para menor dependência (7,6%) e 36 para maior dependência (34,2%). Daqueles que mantiveram o grau de dependência entre a admissão e a saída, 50 tiveram alta (81%) e 11 foram a óbito (18%). Daqueles que melhoraram, 100% (oito) tiveram alta. Entre os que pioraram, 20 (55,5%) tiveram alta e 16 foram a óbito (41,4%). Conclusões: Os resultados encontrados vêm corroborar outras pesquisas que também relacionam a maior dependência dos idosos quando há necessidade de internação. Para que essa realidade seja controlada, são necessários cuidados redobrados com a internação dos idosos, evitando que em momento de possível fragilidade percam a independência, a autonomia e a qualidade de vida.

evaluaTion of dependency of elderly in a GeriaTric ward: effecTs of HospiTalizaTion

ABsTRACTObjectives: To describe the degree of dependence of elderly according to the Patient Classification System (PCS) proposed by Fugulin et al. in order to analyse the difference at the time of admission and discharge. Methods: A des-criptive, exploratory, quantitative cross-sectional search. Results: All together 105 records were evaluated, 54 men and 51 women, with the mean age of 83 years. Relating the results of elderly dependence of admission and exit 61 maintai-ned dependence (58%), 8 progressed to lower dependence (7.6%) and 36 to greater dependence (34.2%). Those who maintained the degree of dependence between entry and output, 50 were discharged (81%) and 11 died (18%). Those who improved 100% (8) were discharged. But among the worsened 20 (55.5%) were discharged and 16 died (41.4%). Conclusions: The results corroborate with other studies that also relate to greater dependency of elderlies when there is a need of hospitalization. In order to this reality to be controlled, it is needed an extra care in elderly hospitalization admission, preventing that in a moment of weakness, they could lose their independence, autonomy and quality of life.

a Enfermeira aprimorada em geriatria e gerontologia pelo Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) Francisco Morato Oliveira.b Enfermeira do Núcleo de Apoio de Formação em Educação em Enfermagem (NAFEE) e supervisora do Programa de Aprimoramento Profissional em Enfermagem Geriátrica.

Dados para correspondênciaGabriela Antonio dos Santos – Rua Rozo Lagoa, 58, Imirim, São Paulo, SP. Tel.: (11) 99153-2967. E-mail: [email protected]

Palavras-chave Hospitalização,

saúde do idoso, área de dependência-

independência.

Key words Hospitalization,

health of older persons,

dependency-independency

area

Artigo or iginal

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InTRoDuçãoAs recentes modificações no crescimento populacio-nal, com transição demográfica expressiva de uma população jovem para uma população idosa, geram novas demandas para o setor saúde, bem como para outros diversos setores populacionais.1,2

Em 1940, os idosos representavam 4,1% da popu-lação total brasileira. De acordo com dados do último censo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, estima-se no Brasil uma população apro-ximada de 190 milhões de habitantes, com crescimen-to significativo da população de 65 anos ou mais. Em valores absolutos, o contingente passou de 1,7 milhão para cerca de 14,5 milhões em 2010, o equivalente a 7,4% da população total.3

Isso vem ocorrendo em consequência de aspectos como o desenvolvimento da economia e a moderniza-ção da sociedade. O chamado baby boom, caracteriza-do pelo aumento rápido da taxa de fecundidade após a Segunda Guerra Mundial gerou consequências tam-bém em países em desenvolvimento como o Brasil.4

Fatores como o nível de desigualdade social enfren-tado no país e a migração da classe feminina para no-vos campos de trabalho culminaram em uma taxa de fecundidade de 1,86 filho por mulher, o que significa que, atualmente, um casal não chega nem a se repor com descendentes. Em 2050, o grupo de idosos repre-sentará 22,71% da população total.1

O envelhecimento acarreta simultaneamente alte-rações biopsicossociais que exigem importante adap-tação por parte do idoso, mudando as necessidades de relações, de adaptação do ambiente físico e, princi-palmente, de cuidados de saúde. Se não estimulado de forma adequada, o idoso tende a limitar suas tarefas, mantendo-se em sua zona de conforto.2,5,6

Além do aumento da população como um todo, deve-se levar em consideração também o aumento da expectativa de vida ao nascer, que será de 81 anos,7 em 2050, igualando-se a países como China e Japão.3

A razão de dependência avalia a população em idade potencialmente inativa em relação aos que estão em idade potencialmente ativa. Dessa forma, em 2050 haverá uma razão de aproximadamente 3 pessoas em faixa etária potencialmente ativa para cada idoso, nú-mero que em 2000 era de quase 12 para 1. Uma popu-lação até então adaptada ao cuidado das crianças terá que adequar-se para o cuidado com seus pais e avós.3,4

Frente a toda essa mudança de demanda populacio-nal, houve inúmeros avanços tecnológicos na área da saúde, que culminaram na diminuição expressiva de doenças transmissíveis. Em algumas regiões do Brasil ainda se depara com problemas como malária, doen-ça de Chagas, além dos surtos de dengue e aumento da prevalência de hanseníase.8 Acrescente a esses pro-blemas o aumento de doenças cronicodegenerativas e

tem-se uma sobrecarga importante no setor saúde. A associação dessas doenças com o despreparo para re-ceber essa nova população leva a maior suscetibilida-de desses idosos a agravos como internações, quadros agudos ou até a morte.5,7

Considerados mais frágeis do que a população adulta, os idosos têm suas queixas muitas vezes des-valorizadas, dificultando uma atuação efetiva. Sem uma rede de amparo adequada, o idoso torna-se mais frágil, desprovido dos cuidados necessários para uma boa qualidade de vida. As consequências desse cui-dado mal realizado são o subdiagnóstico de doenças cronicodegenerativas, as internações de repetição por problemas agudos como infecções recorrentes, os pro-blemas respiratórios e a má nutrição.5,8,9

Com a internação hospitalar, torna-se ainda mais necessário um suporte adequado para manter as ca-pacidades funcionais do idoso. O cuidado com a mu-dança de ambiente, a quebra na rotina e a necessidade, muitas vezes, de manter-se acamado por algum perío-do podem ser cruciais no momento da alta.8,10,11

É durante a internação hospitalar que o risco de declínio funcional do idoso tende a aumentar. A equi-pe de enfermagem tem papel importante, visto que despende mais horas nos cuidados diretos ao pacien-te do que outras áreas. Dessa forma, com orientação multiprofissional, tem a responsabilidade de intervir de forma direta na preservação e reabilitação de aspec-tos funcionais do idoso.6,11,12

Para ajudar no cuidado e nortear as ações do en-fermeiro, faz-se uso de instrumentos que contribuam para a avaliação do indivíduo ao longo da internação hospitalar, determinando o tempo despendido em suas necessidades de cuidado. Um desses instrumentos que avalia a dependência dos idosos internados para os cuidados de enfermagem é o Sistema de Classificação de Pacientes (SCP).13

Este estudo vai descrever o grau de dependência dos idosos de acordo com o Sistema de Classificação de Pacientes proposto por Fugulin et al., com o obje-tivo de analisar a diferença no momento da admissão e da alta hospitalar. Assim, espera-se que seja possível avaliar o comportamento do idoso diante de uma in-ternação hospitalar e quais as consequências nas ne-cessidades de cuidado direto e indireto.14

Segundo Fugulin, a classificação de pacientes e a avaliação conforme a dependência compõem uma importante etapa no processo de distribuição de tra-balho conforme a necessidade assistencial. Dessa for-ma, o sistema de classificação será capaz de avaliar o número de horas despendidas aos cuidados de um paciente, avaliando 12 áreas diferentes dos cuidados que podem ser pontuadas de 1 a 4 conforme a avalia-ção do enfermeiro. As áreas abrangem avaliação do estado mental, oxigenação, sinais vitais, motilidade,

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deambulação, alimentação, cuidado corporal, elimi-nação, terapêutica, integridade cutânea, comprome-timento tecidual, curativo e tempo utilizado na reali-zação do curativo.14,15

méToDosO presente artigo trata de uma pesquisa descritiva ex-ploratória de método quantitativo de corte transver-sal, que tem como objetivo explorar aspectos de uma situação e descrever as características de determinada população ou fenômeno. O estudo foi realizado no Hospital do Servidor Público Estadual do Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual (HSPE ¾ IAMSPE), em enfermaria essencialmente ge-riátrica, composta por seis quartos com quatro leitos cada e cinco quartos com dois leitos cada, totalizando 34 leitos.

A amostra selecionada foi de pacientes que tive-ram saída entre os meses de outubro e dezembro de 2012. Os dados foram obtidos através do prontuário, além de livro de admissão e da avaliação diária aplica-da rotineiramente pelos enfermeiros do setor. Os da-dos coletados foram: idade, data de admissão e data de saída, diagnóstico de admissão, setor de procedência, presença de úlcera por pressão na admissão, avaliação segundo Fugulin no momento da admissão (máximo: 48 h após a internação na clínica) e na saída (máximo: 24 h que antecederam a saída), e tipo de saída.

Foram excluídos do trabalho pacientes com dados preenchidos incorretamente ou não preenchidos, além de pacientes cujo tipo de saída era de transferência, impossibilitando que se conhecesse sua real classifica-ção de dependência no momento da alta.

Os dados foram coletados em momento posterior à saída dos pacientes, não sendo possível nem necessá-ria a aplicação de termo de consentimento livre e es-clarecido, permanecendo de qualquer forma em sigilo todos os dados relativos à identificação dos pacientes. As fichas foram tabuladas em banco de dados do Excel 2007 e analisadas estatisticamente através do recurso tabela dinâmica, também do Excel 2007.

ResulTADosO total de fichas recolhidas foi de 142, das quais 37 (26%) foram excluídas por preenchimento incompleto ou incorreto (32), e excluídas também as saídas por transferência (cinco), totalizando 105 fichas avaliadas.

Ao todo, de 54 homens e 51 mulheres, com idade média de 83,83 anos, mais de 80% foram encaminha-dos pelo pronto-socorro. Dos 105, 22 (20,95%) apre-sentavam úlcera por pressão (UPP) no momento da admissão.

As fichas foram também distribuídas conforme a faixa etária dos idosos, como apresentado na Tabela 1, para posterior análise de dependência.

Tabela 1 Distribuição conforme a faixa etária

Faixa etária Idosos

<70 1

70-79 26

80-89 57

90-99 20

>100 1

Total 105

De acordo com a avaliação realizada na admissão, a maior parte dos idosos se encontrava com avaliação de cuidados de alta dependência (60 idosos), seguidos por cuidados intermediários (19), semi-intensivos (13), mí-nimos (10) e, em menor número, cuidados intensivos (3 idosos).

Já nas 24 horas que antecederam a saída da clínica, apesar de a maioria ainda permanecer em cuidados de alta dependência (39), o número de idosos em cuidados intensivos aumentou para 13, o de semi-intensivos para 25, o de mínimos para 11 e o de intermediários caiu, fi-cando em 17 idosos.

Quando unidas as avaliações com maior e menor grau de dependência, somados os pacientes que saíram com dependência entre mínima e intermediária, obteve- se um total de 29 na admissão e 28 no momento da saída; já os que se encontravam com dependência entre alta e intensiva, o total foi de 76 na admissão e 77 na saída.

Relacionando então os resultados de dependência no momento da admissão e no momento da saída dos ido-sos da clínica, dos 105 idosos estudados, 61 mantiveram o quadro de dependência (58%), 8 evoluíram para me-nor dependência (7,6%) e 36 para maior dependência, representando 34,2% da população estudada (Tabela 2).

Tabela 2 Relação de dependência entre admissão e saída

Fugulin Admissão

Fugulin saída M ID AD SI INT

mínimo (m) 9 2

Intermediário (ID) 13 3 1

Alta dependência (AD) 1 5 32 1

semi-intensivo (sI) 19 5 1

Intensivo (InT) 1 4 6 2

36 Pioraram

61 Mantiveram

8 Melhoraram

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Os dados foram avaliados também quanto ao tipo de saída dos pacientes em relação à evolução do grau de dependência avaliado. Daqueles que mantiveram o grau de dependência entre a admissão e a saída, 50 foram de alta, correspondendo à maioria de 81%, e 11 foram a óbi-to (18%). Daqueles que melhoraram conforme a avalia-ção Fugulin, 100% (8) tiveram alta, não sendo portanto nenhum óbito; entre os que pioraram, 20 (55,5%) tive-ram alta e 16 foram a óbito, equivalendo a 41,4%.

Quanto ao sexo, das 51 mulheres admitidas, 29 (56,8%) mantiveram o grau de dependência, três (5,8%) melhoraram e 19 (37,2%) pioraram. Do total de homens, 17 (31,4%) pioraram, 32 (59,2%) mantiveram o mesmo grau e 5 (9,2%) melhoraram.

Relacionando o grau de dependência à faixa etária dos idosos, dentre aqueles com 70-79 anos, a maior porcenta-gem manteve grau de dependência 15: cinco melhoraram e apenas seis pioraram. Entre os 80-89 anos, a maioria ainda permanece entre os que mantiveram dependência (38), porém aumenta a porcentagem dos que pioraram (17) e diminui a dos que melhoraram (dois). Com 90-99 anos, os percentuais se invertem, ficando maior porcen-tagem de piora (12) e menor porcentagem dos que man-tiveram grau de dependência entre a admissão e a saída sete e apenas um obteve melhor avaliação. Houve apenas um paciente com menos de 70 anos e um com mais de 100 anos, sendo que um manteve e outro piorou o grau de dependência, respectivamente (Tabela 3).

Tabela 3 Relação entre faixa etária e evolução evolução

Faixa etária Manteve Melhor Pior Total geral

<70 100% 1

70-79 57,6% 19,2% 23% 26

80-89 66,6% 3,5% 29,8% 57

90-99 35% 5% 60% 20

>100 100% 1

Total geral 61 8 36 105

Conforme análise da relação entre dias de internação e evolução de dependência, daqueles com permanência menor que 10 dias houve 35 que mantiveram a depen-dência, 5 que melhoraram e 5 que pioraram. Permane-ceram internados, por um período entre 11-20 dias, 32 idosos; destes, 18 mantiveram o mesmo grau, 1 melho-rou e 13 pioraram. Entre os idosos com tempo de inter-nação entre 21-30 dias, 7 pioraram, 6 mantiveram o mes-mo grau e apenas 1 melhorou. Daqueles que somaram 31 dias ou mais de internação, 11 pioraram, 2 mantiveram o mesmo grau e 1 piorou o grau de dependência conforme a avaliação (Tabela 4).

Tabela 4 Relação entre evolução e dias de internação

evolução

Dias de Internação Manteve Melhor Pior

<10 dias 77,7% 11% 11%

11-20 dias 56,2% 3,2% 40,6%

21-30 dias 42,8% 7,2% 50%

>30 dias 14,2% 7,1% 78,5%

DIsCussãoOs resultados encontrados vêm corroborar outras pesqui-sas que também relacionam a maior dependência dos ido-sos quando há necessidade de internação. Neste estudo, somados os pacientes que já foram admitidos com alta, semi/intensiva dependência aos que a adquiriram durante a internação hospitalar, tem-se um total maior do que so-mados esses mesmos graus de dependência na admissão.10

Dados encontrados em estudo também em hospital de grande porte mostram alta taxa de idosos com piora em relação à capacidade funcional. Fica visível que, mes-mo com a maioria dos idosos que mantiveram o quadro de dependência para os cuidados, muitos deles já foram internados com dependência importante, saindo por-tanto da mesma forma.16,17

A faixa etária também se mostrou fator predisponen-te à internação com maior dependência ou pior prog-nóstico de evolução, e o estudo traz análise da população conforme a faixa etária e a sua evolução quanto ao grau de dependência, com aumento percentual de depen-dência diretamente proporcional ao aumento da idade. Outros estudos também apresentam dados semelhantes, o que pode se justificar pelas comorbidades e declínio funcional correspondente à própria idade.10

A presença de úlcera por pressão (UPP) demonstra também a fragilidade desses idosos já no momento da internação. Além das dificuldades, tanto do cuidado domiciliar quanto hospitalar, as UPPs são complicações relativas ao cuidado, consideradas evitáveis em grande parte dos casos, podendo aumentar o risco de compli-cações, infecções e mau prognóstico. A avaliação, o cui-dado direto e a orientação ao cuidador domiciliar são de responsabilidade do enfermeiro, sendo fundamental a prevenção quando identificados os fatores de risco.18

Entre aqueles com piora no grau de dependência, está também a maior porcentagem de óbitos, o que mos-tra uma debilidade visível desses idosos, além de relacio-nar a evolução ao prognóstico.16

Quando relacionados homens e mulheres, os percen-tuais mostram-se semelhantes, com valores um pouco mais favoráveis ao sexo masculino, que mostrou evolu-ção levemente melhor do que o sexo feminino. Estudo descrito no Rio de Janeiro coloca o sexo masculino com maior número de internações, o que também ocorre nes-te estudo, porém com diferença mínima.

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A possível agudização de doenças preexistentes pode ocorrer mais nos homens, considerando que as políticas de saúde incentivam o cuidado à saúde da mulher muito antes e com mais ênfase do que a do homem. O maior número de fatores de risco para fragilidade em mulhe-res, principalmente idosas, pode justificar a evolução não tão favorável quanto à dependência.

Também conforme o tempo, a internação pode es-tar causando influência importante nos idosos, visto que, quanto maior o tempo de permanência no hospital, maior é a diferença entre aqueles que melhoraram e os que pioraram. Outros trabalhos também trazem asso-ciação entre declínio funcional e período prolongado de hospitalização.10,16

ConClusõesO presente estudo vem contextualizar achados já bem abordados e de grande importância, vista a nova popu-lação em ascensão. A hospitalização, portanto, pode ser um fator de importante influência na evolução do qua-dro de dependência desses idosos.

Certamente, muitos outros fatores também são cru-ciais na avaliação individualizada do idoso; doenças de base, queixas agudas e outros fatores externos de cuida-

dos com a saúde também podem corroborar um qua-dro de maior dependência, mas a hospitalização por si só vem se mostrando a grande vilã na qualidade de vida dos idosos. Para que essa realidade seja controlada, são necessários cuidados redobrados com a internação dos idosos, evitando que em momento de possível fragilida-de venham a perder a independência, a autonomia e a qualidade de vida.

Uma equipe preparada deve estar apta a identificar e trabalhar as demandas exigidas nesse momento. O en-fermeiro, como responsável pelo cuidado direto e inte-gral ao idoso, deverá buscar aprimorar-se e orientar ade-quadamente sua equipe em prol do cuidado.

São necessários mais estudos para melhor avaliação das principais demandas, quais os instrumentos mais adequados para avaliá-las e como prevenir ou tratar ade-quadamente, visando sempre ao benefício do idoso, da família e do cuidador.

ConFlITos De InTeResseA segunda autora e orientadora do artigo atua no Insti-tuto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual como supervisora do Programa de Aprimoramento Pro-fissional em Enfermagem Geriátrica.

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Avaliação de idosos de uma USF de Ipatinga | 189

avaliação de idosos aTendidos em uma unidade de saúde da família

do município de ipaTinGa

aiane Xavier felipe batalhaa, luísa lage souza vidala, aiala Xavier felipe da cruzb

Resumo Objetivos: Investigar o perfil sociodemográfico e os principais fatores que interferem na qualidade de vida dos indivíduos idosos cadastrados em uma unidade de saúde da família do município de Ipatinga (MG). Métodos: Es-tudo de caráter descritivo e quantitativo, cuja amostra foi composta por 181 pacientes com idade acima de 60 anos. Aplicou-se um formulário contendo questões sobre variáveis sociodemográficas e posteriormente foi realizada uma avaliação multidimensional rápida através da tabela adotada pelo Ministério da Saúde. Resultados: As característi-cas gerais dos 181 idosos entrevistados foram as seguintes: 51,9% mulheres, 33,7% entre 60-65 anos, 63,5% casados, 56,4% católicos, 65,2% aposentados, 60,2% com apenas o antigo curso primário como estudo, 93,9% com renda entre 1-5 salários mensais, 42% moram com os cônjuges. Dentre as alterações de saúde, a doença mais prevalente foi a hipertensão arterial, e a alteração geriátrica mais recorrente foi a incontinência urinária (21,5%). Conclusão: A realização deste estudo forneceu indicadores para o planejamento de ações de prevenção de doenças e promoção da saúde dos idosos.

assessmenT of elderly people assisTed in a family HealTH uniT in ipaTinGa ciTy

ABsTRACTObjectives: Investigating the socio-demographic profile and the main factors that affect the quality of life of elderly individuals enrolled in a family health unit in Ipatinga city (MG). Methods: A descriptive and quantitative study, whose sample consisted of 181 patients aged over 60 years. We applied a form containing questions about socio-de-mographic variables, and subsequently conducted a multidimensional assessment quickly through the table adopted by the Ministry of Health. Results: The general characteristics of the 181 subjects interviewed were as follows: 51.9% were women, 33.7% were between 60-65 years old, 63.5% were married, 56.4% Catholic, 65.2% retired, 60.2% had only primary as study, 93.9% with income between 1-5 monthly salaries, 42% live with their spouses. Among the changes in health, the most prevalent disease was hypertension and as the geriatric change the most recurrent was the urinary incontinence the most recurrent urinary incontinence (21.5%). Conclusion: This study supplied indicators for disease prevention action planning and for elderly healthy promotion.

a Acadêmica do curso de medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior/IMES – Univaço, Ipatinga, Minas Gerais, Brasil. Responsá-vel pela coleta de dados, pela edição do texto, pela análise estatística e pela revisão bibliográfica.b Especialista em Medicina de Família e Comunidade, docente do curso de medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior/IMES – Univaço, Ipatinga, Minas Gerais, Brasil. Responsável pela elaboração do projeto, pelas orientações gerais e pela revisão final.

dados para correspondência:Aiane Xavier Felipe BatalhaRua Begônia, 145 apt. 402. Bairro Esperança – Ipatinga/MG – CEP: 35162-314Telefones: (31) 3827-5581/ (31) 8749-5600E-mail: [email protected]

Palavras-chave Saúde do idoso,

avaliação geriátrica, envelhecimento.

Key words Acidental falls,

aged, frequency.

Artigo or iginal

RevistaG&G#3.indb 189 11/28/13 11:30 AM

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190 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

InTRoDuçãoO Brasil, à semelhança dos demais países latino-ameri-canos, passa por um processo de envelhecimento popu-lacional acelerado. Em 1980, as pessoas com 60 anos ou mais representavam 6,3% da população; em 2025 passa-rão a representar 14%.1

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada em 2005, o número de pessoas com mais de 60 anos é superior a 18 milhões, o que corresponde a cerca de 10% da população total.2

O rápido processo de envelhecimento, no Brasil, não foi estudado suficientemente para fornecer os elementos necessários ao desenvolvimento de políticas adequadas para essa parcela da população.3

A prioridade na atenção à saúde dos idosos deve voltar-se para estratégias que possibilitem a vida mais saudável, além da monitoração de indicadores capa-zes de avaliar a morbidade, o impacto da doença e/ou a incapacidade na qualidade de vida dos idosos e de sua família. Dentre as ações que podem contribuir para o envelhecimento mais ativo e saudável aponta-se o diagnóstico situacional das condições de vida através da avaliação multidimensional rápida da pessoa idosa, que pode ser realizada nas Unidades Básicas de Saúde.4

A avaliação da pessoa idosa nos serviços de atenção básica tem por objetivo a avaliação global com ênfase na funcionalidade. A presença de declínio funcional pode sugerir a presença de doenças ou alterações ainda não diagnosticadas. Desse modo, pode-se fazer um balanço entre as perdas e os recursos disponíveis para sua com-pensação.5

O instrumento adotado pelo Ministério da Saú-de consiste em uma abordagem rápida, que inclui a avaliação das seguintes áreas: nutrição, visão, audição, incontinência, atividade sexual, humor/depressão, cognição e memória, função dos membros superiores e inferiores, atividades diárias, domicílio, queda e su-porte social.6

O presente estudo teve por objetivo investigar o perfil sociodemográfico e os principais fatores que in-terferem na qualidade de vida de indivíduos com mais de 60 anos, com base na avaliação multidimensional rápida da pessoa idosa proposta pelo Ministério da Saúde.

méToDosTrata-se de um estudo do tipo descritivo, de delinea-mento transversal, por amostragem, realizado com 181 pacientes com idade igual ou superior a 60 anos, resi-dentes no município de Ipatinga, cadastrados na Uni-dade de Saúde da Família (USF) do bairro Vila Militar.

Foram excluídos do estudo os pacientes acamados e aqueles que se recusaram a participar ou assinar o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).

A coleta de dados ocorreu entre janeiro e julho de 2012, e consistiu na aplicação de um questionário contendo as variáveis sociodemográficas (sexo, idade em anos, ocupação, estado civil, religião, renda em sa-lários mínimos, arranjo domiciliar, doenças preexis-tentes).

O instrumento utilizado no estudo para avaliação multidimensional está representado na Tabela 1. O mes-mo é adotado pelo Ministério da Saúde e se baseia no método desenvolvido por Lachs et al.7

Utilizou-se a escala de depressão geriátrica (GDS), em sua versão simplificada com 15 perguntas, propos-ta por Yesavage et al.8 e validada no Brasil por Stoppe Júnior et al.,9 a qual tem demonstrado confiabilidade na prática clínica.

As informações obtidas foram processadas no pro-grama Epi Info, versão 3.5.3, e organizadas de acordo com o percentual, sendo apresentadas em tabelas.

Para a realização do estudo, houve autorização do Departamento de Atenção à Saúde do município e da equipe de saúde da unidade. O protocolo de pesquisa obteve aprovação em 14/12/2011 pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos do Centro Universitá-rio do Leste de Minas Gerais/Unileste (n° 49.287.11). A coleta de dados foi realizada na unidade de saúde pelas acadêmicas, supervisionadas pela pesquisadora orientadora. Foi realizada uma capacitação para que não houvesse divergências em relação à abordagem dos entrevistados.

ResulTADosAs principais características sociodemográficas e clí-nicas dos idosos são apresentadas nas Tabelas 2 e 3. Conforme a Tabela 2, as idades variaram de 60-90 anos, com média de 68,65 anos e desvio-padrão de 7,06 anos. Com 33,7%, a faixa etária que concentrou o maior número de idosos foi a de 60-65 anos.

Quanto ao sexo dos participantes, a maioria era de mulheres, com o total de 94 (51,9%), e 87 (48,1%) do sexo masculino. Em relação ao estado civil, 115 (63,5%) eram casados, 18 (9,9%) solteiros, 36 (19,9%) divorciados e uma minoria, 12 (6,6%), era de viúvos. Foi observado que 60,2% possuíam somente escolaridade primária. No arranjo domiciliar, apenas 25,4% dos idosos informaram residir sozinhos. Em relação às pessoas com as quais os idosos residiam, 42,0% moravam com o cônjuge.

No que se refere à ocupação, a grande maioria (65,2%) era de aposentados. A categoria “outra” (11%) é relativa aos idosos que não trabalham ou são depen-dentes financeiramente de alguém ou, ainda, trata-se do idoso aposentado que tem emprego. Quanto à reli-gião prevalente nos entrevistados, 102 (56,4%) idosos eram católicos.

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Tabela 1 Avaliação multidimensional rápida da pessoa idosa

Área avaliada Avaliação breve

Nutrição O(A) Sr.(a) perdeu mais de 4 kg no último ano, sem razão específica? Peso atual e altura. Calcular IMC

Visão O(A) Sr.(a) sente dificuldade para ler, assistir televisão, dirigir ou executar qualquer outra atividade da vida cotidiana?

AudiçãoTeste do sussurro. O examinador se posicionava fora do campo visual da pessoa idosa a uma distância

de aproximadamente 33 cm e “sussurrava”, em cada ouvido, uma questão breve e simples como, por exemplo, “qual o seu nome?”

Incontinência O(A) Sr.(a) já perdeu urina ou sentiu-se molhado(a)?

Atividade sexual O(A) Sr.(a) tem algum problema na capacidade de desfrutar do prazer nas relações sexuais?

Humor/depressão O(A) Sr.(a) se sente triste ou desanimado(a) frequentemente? Em caso afirmativo, aplicação da escala de depressão geriátrica (GDS-15)

Cognição e memória Solicitar que repita o nome dos objetos: maçã, mesa e dinheiro. Após 3 minutos, pedir que os repita

Função dos membros superiores

Proximal: capacidade de tocar a nuca com ambas as mãosDistal: capacidade de apanhar um lápis sobre a mesa com cada uma das mãos e colocá-lo de volta

Função dos membros inferiores Capacidade de levantar da cadeira, caminhar 3,5 m, voltar e sentar-se sem ajuda

Atividades diárias Sem auxílio, capaz de: sair da cama? vestir-se? preparar suas refeições? fazer compras?

Domicílio Na sua casa há: escadas? tapetes soltos? corrimão no banheiro?

Queda Quantas no último ano?

Suporte social Alguém poderá ajudá-lo(a) caso fique doente ou incapacitado? Quem?

Fonte: Ministério da Saúde (2007, p. 48-49).6

Tabela 2 Características demográficas de idosos cadastrados no Programa de Saúde da Família (Ipatinga, Minas Gerais)

Variável n %

Sexo

Feminino 94 51,9

Masculino 87 48,1

Estado civil

Solteiro 18 9,9

Casado 115 63,5

Divorciado 36 19,9

Viúvo 12 6,6

Ocupação

Aposentado 118 65,2

Pensionista 26 14,4

Trabalhador 17 9,4

Outra 20 11,0

Escolaridade

Analfabeto 49 27,1

Primário 109 60,2

Primeiro grau 12 6,6

Segundo grau 10 5,5

Curso superior 01 0,6

Renda familiar

Menos de 1 salário mínimo 07 3,9%

1-5 salários 170 93,9%

Mais de 5 salários 04 2,2%

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Tabela 3 Doenças preexistentes nos idosos cadastrados no Programa de Saúde da Família (Ipatinga, Minas Gerais)

Variável n %

Hipertensão arterial

Sim 123 68,0

Não 58 32,0

Diabetes mellitus

Sim 37 20,4

Não 144 79,6

Osteoporose

Sim 16 8,8

Não 165 91,2

Artrose

Sim 15 8,3

Não 166 91,7

Outras doenças

Sim 24 13,3

Não 157 86,7

Nenhuma doença

Sim 36 19,9

Não 145 80,1

Em relação ao rendimento mensal em salários mí-nimos, é importante destacar que a minoria dos idosos (2,2%) apresentou renda maior que cinco salários, en-quanto 170 (93,9%) idosos apresentaram renda de 1-5 salários.

Conforme a Tabela 3, a doença mais prevalente foi a hipertensão arterial sistêmica (68,0%) seguida pelo dia-betes mellitus (20,4%).

Em relação à nutrição, observou-se que 7,7% tiveram perda de peso acima de 4 kg sem causa aparente no úl-timo ano.

Com relação à acuidade visual, 87,3% (n = 158) dos idosos afirmaram não ter dificuldades para realizar as atividades da vida diária devido a comprometimento vi-sual. Dos idosos com comprometimento visual, um era cego desde o nascimento.

Quando aplicado o teste do sussurro, 90,1% (n = 163) responderam à pergunta feita no ouvido direito e 89,5% (n = 162) à pergunta no ouvido esquerdo.

Sobre incontinência urinária, 21,5% dos idosos rela-taram já ter perdido urina ou se sentir molhados.

A respeito da atividade sexual, 34,3% afirmaram não ter relações sexuais, enquanto 39,2% disseram não ter problema algum para desfrutar do prazer sexual.

Na Tabela 4, encontram-se as frequências da GDS-15, de modo que 11,60% dos avaliados foram classifi-cados com sintomas de depressão leve ou moderada, e 2,2%, grave; 45,3% repetiram corretamente e 14,4% não

repetiram nenhuma das palavras solicitadas durante a avaliação do item cognição e memória.

Tabela 4 Resultados do rastreamento para depressão e nível de cognição e memória de idosos inscritos no Programa de Saúde da Família (Ipatinga, 2013)

Variável (100) n (181) %

Depressão

Sem depressão 156 86,2

Depressão leve ou moderada 21 11,6

Depressão grave 4 2,2

Cognição e memória

Repetição total 82 45,3

Repetição parcial 73 40,3

Sem repetição 26 14,4

A avaliação da mobilidade dos membros superiores e inferiores revelou que 97,2% (n = 176) e 98,3% (n = 178), respectivamente, foram capazes de realizar os movimen-tos solicitados.

Quase a totalidade dos idosos (95,3%) declarou inde-pendência para realizar as atividades diárias.

Dos entrevistados, 32,8% (n = 60) tiveram uma ou mais quedas nos últimos 12 meses. Com relação ao do-micílio, foi identificada a presença de escada em 75,7% das casas, tapetes soltos em 76,2% e ausência de corri-mão no banheiro em 96,1% dos domicílios.

Sobre suporte social, 92,8% contariam com alguém, sendo que o cônjuge e os filhos foram os mais citados, 87,5%.

DIsCussãoA predominância de mulheres reforça a chamada “femi-nização da velhice”, porque a razão de feminilidade no grupo de idosos é crescente no Brasil.4 Ocorreu maior percentual de idosos do sexo feminino (51,9%). Embora o motivo para essa diferença não tenha sido pesquisado, possíveis justificativas referem-se à maior longevidade da mulher porque, entre outras causas, elas possuem menor exposição a fatores de riscos, como tabagismo e etilismo, além das diferenças de atitude entre homens e mulheres em relação ao controle e tratamento das doenças.6,7

A faixa etária prevalente foi a de 60-65 anos, a qual se assemelha aos dados encontrados em pesquisas relacio-nadas ao envelhecimento.8 Por outro lado, a baixa par-ticipação de idosos com mais de 84 anos pode decorrer de maiores graus de dependência e comorbidades com o aumento da idade, limitando o acesso ao posto de saúde.9

Na variável estado civil, prevalece a condição de casa-do, seguido de divorciado. Em pesquisa mais recente foi encontrado percentual de casados que chega a 70%. Esse resultado se aproxima mais do presente estudo. Essa por-

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centagem pode indicar que os idosos conseguem viver por mais tempo em união estável.9

Com referência à religião, foi demonstrado menor per-centual de pessoas da religião católica (56,4%), em relação à população brasileira (77,8%), e maior número de evan-gélicos (40,9%), em relação ao perfil nacional (12,4%).10

Quanto à ocupação, observou-se que 65,2% dos idosos eram aposentados. Estudo acerca da situação de idosos no mercado de trabalho brasileiro revelou dados semelhantes, com 68,4% de aposentados.4 Pesquisas de-monstram, ainda, que aposentadorias e pensões consti-tuem a principal fonte de renda dos idosos brasileiros.11 Apenas 9,4% dos idosos continuavam tendo uma ocupa-ção profissional devido à necessidade de complementa-ção da renda familiar porque, de acordo com os dados relativos à renda, mostrou-se que os idosos desse PSF possuem baixos salários, com muitos deles (93,9%) rece-bendo entre 1-5 salários mínimos.9

Essa realidade limita o acesso a bens de consumo de serviços, como um plano de saúde, por isso é dito que a renda do idoso é um dos principais determinantes do seu estado de saúde.11

Quanto às variáveis socioeconômicas dos idosos, foi observada elevada taxa de analfabetos (27,1%), o que concorda com os resultados de pesquisas sobre o perfil educacional dos idosos brasileiros, que em regra é ruim.12 Baixos níveis de educação e piores condições socioeconômicas estão associados a maiores riscos de deficiência e morte, pois idosos analfabetos podem estar mais sujeitos a dificuldades nas atividades da vida diária, como o simples ato de ler uma receita médica e segui-la corretamente.7

A situação familiar dos idosos revelou que 39% mo-ravam em domicílio multigeracional, prevalecendo os domicílios com três gerações (presença de filhos e ne-tos). Idosos que residem em domicílios multigeracionais tendem a ser mais pobres e mais dependentes, podendo representar mais que uma necessidade de sobrevivência do que uma escolha pessoal.4 O fato de dividirem o mes-mo teto com netos, onde a maioria é de crianças, pode favorecer a priorização dos cuidados para a criança em detrimento dos idosos.13

Percentual significativo de idosos (25,4%) é dos que moram sozinhos, fato que não significa um problema em si, já que pode ser por opção. A OMS, entretanto, consi-dera essa condição um estado de risco, haja vista a pos-sibilidade de perda da autonomia, solidão e sentimentos de vulnerabilidade.9

A doença crônica mais frequente foi a hipertensão ar-terial. A prevalência da hipertensão arterial foi de 68%, o que diferiu expressivamente do observado na população idosa brasileira (43,9%) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD).14

Estudos mostram que, durante o envelhecimento, os idosos queixam-se de dificuldade visual e auditi-

va.15,16 Com referência a essas alterações, os resultados encontrados foram semelhantes ao estudo realizado por Schneider et al.,17 cuja prevalência ficou em torno de 20%. Em se tratando do comprometimento auditivo, os dados obtidos foram concordantes com a avaliação feita por Hott e Pires,18 demonstrando baixa prevalência de déficit auditivo. Conforme citado por Schneider,17 a baixa porcentagem do déficit talvez se deva ao método empre-gado, por não ser o padrão-ouro (audiometria). Deve- se considerar uma limitação na comparação de estudos com resultados semelhantes, tendo em vista os diferen-tes protocolos, além de diferenças socioculturais entre os grupos pesquisados.

Corroborando os dados do presente estudo, com re-lação à atividade sexual, pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) cons-tatou que 55% dos adultos com idade de 55 anos ou mais negaram atividade sexual.19 Em outro estudo, Batista et al.20 relataram que, quando questionados sobre a ativida-de sexual, 73,9% dos entrevistados referiram não ter vida sexual ativa. O mesmo justificou que, devido ao avan-ço da idade, é possível que a atividade sexual diminua, sobretudo em função do declínio das condições físicas.

A avaliação cognitiva mostrou que 54,7% dos idosos apresentaram triagem positiva para alterações cogniti-vas. Esses dados se assemelham ao estudo realizado por Machado et al.,21 no qual aproximadamente 36,5% dos idosos entrevistados apresentaram déficits cognitivos.

A presença de depressão na população estudada foi de 13,2%. Barcelos-Ferreira et al.,22 avaliando 1.563 ido-sos comunitários em São Paulo, encontraram prevalên-cia de 13%. Estudo realizado por Hoffmann et al.23 em uma comunidade no norte de Minas Gerais encontrou 20,9%, resultado semelhante ao encontrado no estudo de Lima et al.,24 envolvendo 1.639 idosos, dos quais 325 (19,8%) apresentavam rastreio positivo para depressão. Por estar fortemente associada com os piores níveis de capacidade funcional, que por sua vez aumenta em muito o risco de morte, a sintomatologia depressiva, se-gundo Ramos et al.,25 pode não ser fator determinante de mortalidade, mas certamente contribui para a perda funcional do idoso.

Pelos resultados obtidos neste estudo, destaca-se que parcela significativa (32,8%) de idosos já sofreu algum tipo de queda no último ano. Esse resultado é semelhan-te ao obtido por Nunes et al.11 em estudo de população do sul de Minas Gerais, no qual 38,7% referiram quedas. As quedas têm como consequências, além de possíveis fraturas e risco de morte, o comprometimento progres-sivo em sua capacidade funcional ao longo do tempo, na medida em que, pelo medo de cair, os idosos podem se encontrar em situação de baixa autoconfiança para reali-zar atividades do dia a dia.26

Estudos revelaram que a prevalência da incontinên-cia urinária no idoso varia de 8%-34%.27 No presente

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estudo, manifestou-se em 21,5%. Essa variação da preva-lência pode ser parcialmente explicada pelos diferentes tipos de questionários aplicados, pelas amostras popu-lacionais distintas, pela falta de uniformização nas defi-nições, pela ausência de seguimento em longo prazo das populações estudadas e pelo desconhecimento da histó-ria natural da incontinência urinária.28

Para a Organização Mundial da Saúde, incapacida-de funcional é definida como a dificuldade, por causa de uma deficiência, para realizar atividades típicas e pesso-almente almejadas na sociedade. Frequentemente, é ava-liada através de declaração indicativa de dificuldade ou de necessidade de ajuda em tarefas básicas de cuidados pessoais e em tarefas mais complexas, necessárias para viver independentemente na comunidade. Em nosso es-tudo, 95,3% dos idosos declararam independência para sair de casa. Em se tratando de avaliação da mobilidade dos membros superiores e inferiores, 97,2% (n = 176) e 98,3% (n = 178), respectivamente, não apresentaram restrição para realização de movimentos.

Giacomin et al.29 tiveram por objetivo estimar a pre-valência da incapacidade funcional entre idosos resi-dentes na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e os resultados mostraram que 16% dos idosos apresentavam algum grau de incapacidade para realizar atividades da vida diária. Inquérito domiciliar realizado por Fiedler e Peres,30 no sul, mostrou que 37,1% dos idosos apresen-taram restrição para a realização das atividades da vida

diária. Segundo Rosa et al.,31 as atividades básicas da vida diária são as últimas a serem comprometidas em decorrência do envelhecimento ou dos agravos à saúde.

ConClusãoO estudo realizado permitiu rastrear indivíduos de maior risco e fornecer subsídios para intervenções precoces na promoção à saúde, visando à manutenção da autonomia e independência desses idosos, através de ações preven-tivas que poderão postergar ou evitar o aparecimento de uma massa de idosos com limitações físicas e mentais, e ao consequente custo econômico e social.

Entretanto, qualquer instrumento tem limitações e, sozinho, não é suficiente para o diagnóstico. Nada subs-titui a escuta qualificada realizada por profissional de saúde habilitado e a investigação de todos os aspectos que envolvem a vida da pessoa.

Embora os resultados encontrados no nosso estudo tenham sido semelhantes aos de outros estudos nacio-nais, não se encontrou outro estudo nacional que tenha utilizado o mesmo protocolo para avaliar o referido des-fecho, devendo-se portanto considerar essa limitação ao serem feitas comparações diretas entre os resultados dos diferentes estudos.

ConFlITos De InTeResseOs autores declaram não possuir nenhum conflito de in-teresse.

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HiperparaTireoidismo secundário À HipoviTaminose d e declínio de funcionalidade em idosos inTernados

Jussara meyer osielskia,b, décio f. montresor Jr.a,b, débora carolina netz sanchesa,c, luciano Henrique monteiro soaresa,c, maurício de miranda venturaa,d

Resumo Objetivo: Este estudo visa avaliar a prevalência de hiperparatireoidismo secundário à deficiência de vitamina D e sua associação com o declínio de funcionalidade na população de idosos acima de 65 anos de idade, internados na enfermaria de geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual. Métodos: Os idosos foram avaliados através de um questionário na forma de entrevista, elaborado com destaque para os fatores mais comuns que levam à hipovitaminose D. Foram ana-lisadas através de escalas apropriadas as perdas funcionais das atividades básicas e instrumentais da vida diária e possível correspondência com o diagnóstico laboratorial de hipovitaminose D e hiperparatireoidismo secundário. Resultados: Foram avaliados, no final do período de verão (março) e no período de outono (meses de abril e maio), 62 pacientes internados na enfermaria de geriatria, dos quais 60 eram considerados válidos. Observou-se associação positiva de hi-perparatireoidismo secundário a deficiências de vitamina D em 46,77% dos casos, sendo a média de idade de 84,75 anos. Não foi demonstrada correlação positiva entre o grau de perda funcional com o aumento do hormônio da paratireoide ou deficiência de vitamina D. Conclusão: Os dados evidenciam considerável prevalência de hiperparatireoidismo secundá-rio à deficiência de vitamina D em pacientes internados e a importância de novas investigações, bem como a introdução de estratégias diagnósticas e de tratamentos adequados para a população subdiagnosticada. No entanto, não foi possível associar perda funcional e hiperparatireoidismo à amostra pesquisada.

HyperparaTHyroidism secondary To HypoviTaminosis d and decline of funcTionaliTy in elderly inpaTienTs

ABsTRACTObjective: This study assesses the prevalence of hyperparathyroidism secondary to vitamin D deficiency and its association with functional decline in elderly patients above 65 years old, hospitalized at a geriatric ward at Hospital do Servidor Público Estadual. Methods: The elderly people were evaluated through a questionnaire as an interview, prepared highlighting the most common factors leading to the hypovitaminosis D. It was analyzed using appropriate scales of functional losses in basic and instrumental activities of daily living and a possible correlation with the laboratory diagnosis of hypovitaminosis D and secondary hyperparathyroidism. Results: The elderlies were evaluated at the end of summer and autumn (March, April and May), 62 patients were admitted in the geriatric ward, which 60 patients were considered valid. It was observed a positive asso-ciation of hyperparathyroidism secondary to deficiencies of vitamin D in 46.77% of the cases, with a mean age of 84.75 years. No positive correlation was demonstrated between the degree of functional loss with the increase of parathyroid hormone or vitamin D deficiency. Conclusion: The data shows a significant prevalence of hyperparathyroidism secondary to vitamin D deficiency in hospitalized patients and the importance of further investigations and the introduction of diagnostic and treat-ment strategies appropriate for the under-diagnosed population, however it was not possible to associate functional loss and hyperparathyroidism in the sample studied.

a Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe).b Concepção, desenho, coleta, análise e interpretação dos dados.c Coleta, análise e interpretação dos dados.d Concepção, análise e interpretação dos dados.

dados para correspondênciaJussara Meyer Osielski – Avenida Bernardino de Campos, 98, 3º andar, Cemint, Paraíso, São Paulo, SP. CEP: 04001-040. Tel.: (11) 3057-3627. E-mail: [email protected]

Palavras-chave Idoso,

hiperparatireoidismo secundário, deficiência

de vitamina D, perda funcional.

Key words Elderly, secondary

hyperparathyroidism, vitamin D deficiency,

loss of function.

Artigo or iginal

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InTRoDuçãoEstima-se que um bilhão de pessoas apresentem deficiên- cia de vitamina D. As populações de mais alto risco são os idosos e as mulheres após a menopausa. A vitamina D tem papel essencial nos ossos e músculos. Direta ou indiretamente, a 1,25-di-hidroxivitamina D controla mais de 200 genes, incluindo aqueles responsáveis pela regulação da proliferação celular, diferenciação, apop-tose e angiogênese.1

A hipovitaminose D é uma deficiência que vem sen-do cada vez mais estudada e que acomete muitos idosos residentes em instituições de longa permanência. Essa é uma situação que pode ser grave, em termos de saúde pública, pois a deficiência de vitamina D causa piora na qualidade de vida, aumentando o risco de desenvol-vimento de doenças ósseas e musculares, e o risco de queda.2

Há indícios de sua ligação com cérebro, próstata, mamas, cólon e sistema imune, aumentando o número de doenças que podem estar ligadas a sua deficiência, como câncer de mama, de próstata, de cólon, insufi-ciência cardíaca, doenças autoimunes, esquizofrenia e depressão, assim como sua ingestão adequada parece melhorar doenças como tuberculose, esclerose múlti-pla e artrite reumatoide.1,2

A vitamina D, mais especificamente a 1,25-di-hi-droxivitamina D (1,25[OH]2D) ou calcitriol, tem sido relacionada à doença cardiovascular e, nesse contexto, parece estar bastante associada à fisiopatologia da insu-ficiência cardíaca. A prevalência de doença cardiovas-cular aumenta com o envelhecimento, atingindo, após os 75 anos, 77,8% dos homens e 86,4% das mulheres. Vários estudos demonstram que a deficiência de calci-triol e/ou as alterações que ela promove nos níveis sé-ricos de paratormônio (PTH) ativam o sistema renina--angiotensina-aldosterona, modula o sistema imune, regula a proteína C quinase, causando hipertrofia das miofibrilas e apoptose dos cardiomiócitos, o que gera arritmia, disfunção mitocondrial e estresse oxidativo.3,4

Existem duas principais fontes de vitamina D: a pri-meira e principal é a luz solar, e a segunda é advinda da dieta ou da suplementação alimentar.5,6 A maioria das doenças causadas pela privação da luz solar pode ser corrigida com a suplementação de vitamina D.7

O envelhecimento parece ser um fator de risco para a diminuição da vitamina D.8-11 Ele reduz a capacidade da pele de sintetizar pró-vitamina D, e essa redução não pode ser explicada apenas por uma redução na mas-sa total da epiderme; provavelmente, existem outros fatores associados.12 Além disso, a ação intestinal do calcitriol, a forma ativa da vitamina D, diminui com a idade.13

A hipovitaminose D é muito frequente em idosos em vários países. Seu diagnóstico, em geral, está asso-ciado com hiperparatireoidismo secundário.14,15

Em São Paulo (capital), onde existe quantidade ade-quada de radiação ultravioleta B (UVB) no verão, e me-nor no inverno, foram estudados 250 idosos (média de 79,1 anos) de acordo com a incidência dessa radiação. A média do nível sérico de 25-hidroxivitamina D foi de 26,9 ng/mL no verão e 11,6 ng/mL no inverno. De-ficiência de vitamina D, definida como níveis inferiores a 10 ng/mL, foi detectada em 15,4%; insuficiência, de-finida por níveis entre 10-20 ng/mL, em 41,9%, e hi-perparatireoidismo secundário, em 55%. Foi observado também que é necessário não menos que 30 dias de ex-posição ou privação da radiação da UV para que ocorra alteração no nível sérico da vitamina D. A prevalência de hipovitaminose D (deficiência/insuficiência) foi maior que o esperado pelos pesquisadores.16

Em estudo realizado em Buenos Aires (Argentina), foram avaliados 83 idosos e 76 jovens de 71,9 ± 3,8 anos e 29,9 ± 6 anos, respectivamente. Foi realizada medição de vitamina D, PTH e marcadores do metabolismo ós-seo e mineral. No inverno se comprovaram valores de vitamina D em grau insuficiente em ambos os grupos, com 14,2% dos idosos e 15,9% dos jovens com valores <10 ng /mL; no verão, observou-se o incremento de vi-tamina D em toda a população, no entanto os níveis circulantes de vitamina D não superaram 40 ng/mL. Conclui-se que os níveis de vitamina D apresentaram variações sazonais, com valores superiores no verão.17

Na Itália, a prevalência de hipovitaminose D foi es-tudada em centenários, sendo que em 99 de 104 pessoas os níveis séricos de vitamina D foram indetectáveis.18

Em Boston (Estados Unidos), foi feito um levanta-mento para avaliar a concentração sérica de vitamina D na população de idosos caucasianos residentes em casa de saúde, comparando com grupo de idosos não insti-tucionalizados. A exposição à luz solar dos residentes foi monitorada, e os efeitos na concentração da vitami-na no soro, causada pela exposição solar, foram com-parados com a contribuição da dieta e os complexos multivitamínicos. Os autores do levantamento detecta-ram que a dieta foi insuficiente para repor a quantidade adequada de vitamina D nos voluntários que tiveram mínima atividade fora de casa. Já o uso de suplemento vitamínico (400 UI) manteve a concentração acima de 37,5 nmol/L.19

É importante salientar que o diagnóstico da hipovita-minose D, do ponto de vista clínico, é inespecífico. Con-siste em fraqueza muscular com aumento na frequên- cia de quedas e de fraturas decorrentes de alterações na contração e no relaxamento muscular.20,21

Considerando a importância que o déficit de vitami-na D vem assumindo entre os idosos por sua frequên- cia e associação com múltiplas doenças, optamos por estudar sua prevalência em uma população com com-prometimento funcional significativo, agudamente en-ferma e portadora de doenças crônicas. Supomos que

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nessa população haja deficiência importante de vitami-na D, decorrente de seu comprometimento funcional secundário à elevada prevalência de comorbidades.

méToDosTrata-se de um estudo transversal, observacional, reali-zado na enfermaria de geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual, durante o período de março a maio de 2012. A população escolhida constituiu-se de pacientes com idade superior a 65 anos, internados por estarem agudamente descompensados, normalmente por causas infecciosas: pneumonia, infecção urinária ou de pele. Apresentaram elevado comprometimento funcional, não somente por estarem agudamente enfermos, mas também por suas doenças crônicas: síndrome de demência, seque-lados de acidente vascular cerebral encefálico, doença car-díaca avançada, doença pulmonar obstrutiva crônica.

Foram selecionados aleatoriamente os pacientes in-ternados com enfermidades diversas, na enfermaria de geriatria, que eram provenientes do pronto-socorro.

Nos 62 pacientes estudados, foram realizadas as do-sagens de paratormônio (PTH), cálcio total (CaT), cálcio ionizável (CaI), fósforo (P), magnésio (Mg) e fosfatase alcalina (FA). A partir de então, foram selecionados dois grupos, um com PTH aumentado (grupo 1) e outro com PTH normal (grupo 2). No grupo 1, procedeu-se à do-sagem de vitamina D (25 OH). No grupo 2, foi selecio-nada uma amostra aleatória para a dosagem de vitamina D (25 OH). Cada participante respondeu a uma ficha de avaliação com a finalidade de coletar e caracterizar os dados gerais dos idosos investigados para obtenção de informações, como suplemento de vitamina D, prática de atividade física regular, diagnóstico prévio de oste-openia ou osteoporose, histórico de acamação prévia à internação, antecedentes de fratura nos últimos 10 anos, etilismo, tabagismo e hábito de expor-se pelo menos 20 minutos diariamente à luz solar direta.

Foram considerados tabagistas aqueles que eram fu-mantes ativos ou tiveram hábito por longo período, não sendo avaliada a quantidade de cigarros consumidos. Consideramos etilista aqueles que tiveram ou persistiram no hábito de ingerir bebida alcoólica com regularidade, independentemente da quantidade. Quanto à exposição solar, foi feito um questionamento direto a respeito do tempo e da frequência, computando como resposta positi-va aqueles pacientes que se expunham ao Sol diariamente por um tempo mínimo de 20 minutos.

A funcionalidade foi avaliada por meio da escala de independência em atividades básicas da vida diária (es-cala de Katz) e atividades instrumentais da vida diária (escala de Lawton).

Procedeu-se, no horário da manhã, à coleta de mate-rial biológico por punção periférica em dois tubos secos que foram entregues ao laboratório para processamento dos exames.

Princípio técnico dos ensaios dos exames complementares • Ensaio ARCHITECT 25-OH Vitamin D: imunoensaio

de micropartículas por quimioluminescência (CMIA) para a determinação quantitativa de 25-hidroxivita-mina D (25-OH) em soro e plasma humanos. O ensaio segue o Protocolo EP5-A2 do National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS). Abbott.

• IMMULITE 2000 PTH intacta: ensaio sequencial imunométrico quimioluminescente em fase sólida. Abbott.

• Cálcio ionizado: tecnologia de eletrodo íon-seletivo.• Cálcio total: a dosagem baseia-se no trabalho de

Gitelman (o-cresolftaleína complexona sem despro-teinização).

• Fósforo inorgânico: o método baseia-se no procedi-mento de Daly e Ertingshausen.

• Magnésio: reação com azul de xilidil em meio alcalino para formar um complexo púrpura/vermelho solúvel em água.

Para a análise do resultado da deficiência de vitamina D, adotamos como referência os critérios diagnósticos propostos por Lips: valor normal acima de 20 ng/mL, deficiência leve com valores entre 10-20 ng/mL, mode-rada entre 5-10 ng/mL e grave <5 ng/mL.22,23

Análise estatísticaPara atingir os objetivos do estudo, as variáveis categóri-cas foram descritas com o uso de frequências absolutas e relativas, e as variáveis contínuas foram descritas em todos os indivíduos com o uso de medidas de resumo (média, desvio-padrão mínimo e máximo). Inicialmen-te, foram realizadas análises de correlação bivariada com o teste de correlação de Pearson para verificar possíveis relações das variáveis com a vitamina D.

Para verificar os preditores de variação na vitamina D, inicialmente foi construído um modelo de regressão linear simples utilizando seus níveis como variável de-pendente com a variável que apresentou significância estatística nas análises bivariadas.

Foi calculada a prevalência de hiperparatireoidis-mo secundário na amostra de 62 pacientes pela análi-se de correlação bivariada com o teste de correlação de Pearson, e calculado o IC (intervalo de confiança) de 95% da estimativa da prevalência através da distribuição binomial.

Na sequência foram definidos dois grupos: com hi-perparatireoidismo secundário e sem hiperparatireoi-dismo. Nas variáveis contínuas aplicou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov (KS) para verificar a normalida-de dos dados. Como houve rejeição à normalidade nos exames de cálcio total e magnésio, usamos o teste t de Student, porém nos demais exames houve rejeição à nor-malidade e utilizou-se Mann-Whitney.

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Categorizada a vitamina D, foi verificado através do qui-quadrado de tendência se, com o aumento da classe, diminui a frequência (proporção) de hiperpa-ratireoidismo. Também foi testado se havia correlação entre a vitamina D categorizada com as variáveis Katz e Lawton.

O nível de significância aplicado nos testes foi de 5%, sempre considerando as hipóteses alternativas bicaudais.

ResulTADosParticiparam do estudo 62 pacientes admitidos na enfer-maria de geriatria. Foi excluída uma amostra na análise do grupo 1 com hiperparatireoidismo por suspeita de hiperparatireoidismo primário. A partir de então, foram selecionados dois grupos: um com PTH aumentado (n = 28) e outro com PTH normal (n = 33). No grupo 1, pro-cedeu-se à dosagem de vitamina D (25 OH). Na amostra de 33 pacientes com PTH normal, foram selecionados aleatoriamente 22 pacientes para a dosagem de vitamina D (25 OH) para fins comparativos com o grupo 1 em relação ao déficit de vitamina D (25 OH).

As características da população estudada mostraram média de idade de 85 anos (dp = 8,1 anos), em que 54,1% eram do sexo feminino e 45,9% do sexo masculino.

Das 50 amostras selecionados para a dosagem de vi-tamina D, foram encontrados níveis entre 5-10 ng/mL em 8 pacientes, níveis séricos entre 10-20 ng/mL foram encontrados em 33 pacientes, níveis séricos entre 20-30 ng/mL em 8 pacientes, e acima de 30 ng/mL apenas em um paciente. O nível médio de vitamina D observado foi de 15,6 ng/mL (dp = 6,8 ng/mL).

O nível médio de PTH foi de 91,8 pg/mL (dp = 91,8). Os valores bioquímicos médios foram: cálcio total de 8,5 mg/dL (dp = 0,8), cálcio ionizável de 1,2 mmol/L (dp = 0,1), magnésio de 2,0 mg/dL (dp = 0,3), fósforo de 3,1 mEq/L (dp = 0,8). Quanto ao comprometimento funcional, a escala de Katz apresentou pontuação média de 2,9 pontos (dp = 2,7), enquanto na escala de Lawton a amostra pontuou, em média, 14,3 pontos (dp = 6,5), confirmando o importante declínio funcional dessa po-pulação. Todos os valores das variáveis quantitativas afe-ridos durante nossa investigação estão na Tabela 1.

Tabela 1 Termos descritivos gerais da amostra

Variáveis n média mediana Desvio-padrão mínimo máximo Q1 Q3

Idade 61 85,0 86,0 8,1 72,0 103,0 78,0 89,5

PTH 61 91,8 69,9 91,8 13,8 650,0 44,3 113,0

Vitamina D 50 15,6 13,5 6,8 5,9 37,5 10,7 17,7

CAT 61 8,5 8,5 0,8 5,9 10,5 8,0 9,0

CAI 58 1,2 1,2 0,1 1,1 1,8 1,2 1,2

P 61 3,1 3,1 0,8 1,0 7,9 2,7 3,4

Mg 61 2,0 2,0 0,3 1,2 2,9 1,8 2,2

FA 54 263,1 207,5 166,4 100,0 955,0 160,3 311,5

Katz 61 2,9 2,0 2,7 0,0 6,0 0,0 6,0

Lawt 61 14,3 10,0 6,5 9,0 27,0 9,0 20,0

ON 57 61,1 61,0 15,1 30,2 100,0 47,8 70,0

Peso 57 1,6 1,6 0,1 1,4 1,8 1,5 1,7

Altura 44 3,6 3,0 2,3 0,0 10,0 2,0 4,8

Em relação às demais variáveis, 11 pacientes (18%) esta-vam em uso de suplemento de vitamina D, 8 (13,1%) exer-ciam atividade física regular, 14 (23%) tinham diagnóstico prévio de osteopenia ou osteoporose, 31 (50,8%) tinham histórico de acamação prévia à internação, 10 (16,4%) refe-

riram antecedentes de fratura nos últimos 10 anos, 11 (18%) eram etilistas, 21 (34,4%) eram tabagistas e 34 (55,7%) tinham o hábito de expor-se com regularidade à luz solar.

A análise de correlação bivariada com o teste de corre-lação de Pearson mostrou que houve correlação negativa

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significativa (– 0,37; p = 0,008) somente entre os níveis de PTH e vitamina D, quer dizer, quanto maior a deficiência

de vitamina D, maior a elevação do PTH. Entre as demais variáveis, não foi observada qualquer correlação (Tabela 2).

Tabela 2 Matriz de correlação entre vitamina D, peso, altura, IMC, PTH, CAT, CAI, P, Mg, FA, Katz e Lawton

Peso Altura ImC PTH Pg/ml CAT CAI P mg FA Katz lawton

Vitamina D − 0,13 − − 0,1 0,0 0,0 0,2 − − −0,078

ng/mL 0,022 2 0,109 0,377* 82 35 63 0,9 0,158 0,087* P <0,01.

Verificamos os preditores de variação na vitamina D com o modelo de regressão linear simples, utilizamos os níveis de vitamina D como variável dependente com a variável que apresentou significância estatística nas aná-lises bivariadas, e, para tanto, observamos na Tabela 3 os níveis de PTH, que explicam R2 = 14,2% da variação dos níveis de vitamina D. Assim, à medida que o PTH aumenta um ponto, a vitamina D diminui 0,048 ng/mL.

Tabela 3 Modelo de regressão linear simples utilizando os níveis de vitamina D como variável dependente

β Dp T Valor pConstante

Constante 20,097 1,795 11,197 0,000

PTH pg/mL −0,048 0,017 −2,79 0,008

Após a análise de regressão simples, foi construído um modelo múltiplo adicionando as outras variáveis (Tabela 4). Como podemos observar, apesar de a expla-nação do modelo ter melhorado em relação ao simples (R2 = 28,3%), o PTH continuou sendo o único preditor da variação na vitamina D.

Tabela 4 Modelo de regressão múltipla

B std.error T Valor p

Constante 0,123 12,458 0,01 0,992

PTH pg/mL

−0,06 0,023 −2,613 0,013

CAT 2,092 1,223 1,711 0,096

CAI 1,474 1,665 0,886 0,382

Katz −0,274 0,567 −0,483 0,632

Lawton 0,034 0,22 0,155 0,878

Tabagismo 3,594 2,256 1,593 0,120

Etilismo −0,533 2,82 −0,189 0,851

Exame físico −2,659 2,827 −0,941 0,353

Luz do sol 0,81 2,038 0,397 0,694

Na análise comparativa dos dois grupos onde a va-riável foi a vitamina D, os pacientes que têm hiperpara-tireoidismo apresentam média de vitamina D menores dos que os que não têm a doença.

Por fim, definimos dois grupos: com hiperparatireoi-dismo secundário (grupo 1) e sem hiperparatireoidismo (grupo 2). Nas variáveis contínuas aplicamos o teste de KS para verificar a normalidade dos dados. Observamos que as variáveis idade (valor p = 0,0286) e vitamina D (valor p = 0,0039) foram estatisticamente significantes. Os pacientes com hiperparatireoidismo apresentaram média de idade superior aos que não tinham a doença.

DIsCussãoNo presente estudo, comparamos múltiplas variáveis, como idade, nível sérico de paratormônio (PTH), nível sérico de vitamina D, cálcio total (Ca T), cálcio ionizá-vel (CaI), fósforo (P), magnésio (MG), fosfatase alcalina (FA), índice de Katz, índice de Lawton, peso, altura, po-lifarmácia, tabagismo, etilismo, nível de exposição solar. Nenhum outro trabalho comparou tantas variáveis. A maioria compara exposição solar com déficit de vitami-na D,16-18 ou hiperparatireoidismo.18

Esperávamos que não houvesse alterações bioquí-micas significativas, pois o hiperparatireoidismo secun-dário ao déficit de vitamina D é mais insidioso quando comparado ao hiperparatireoidismo primário. Neste tra-balho, em média, os níveis de Ca T, CaI, Mg, P mostra-ram-se dentro dos limites da normalidade.

No presente trabalho, a população estudada mostrou média de idade de 85 anos (dp = 8,1 anos), maior quan-do comparada com os estudos de Fassi et al., nos quais foram avaliados 83 idosos de 71,9 ± 3,8 anos.17 Média de idade um pouco inferior à nossa população foi en-contrada no trabalho realizado por Saraiva et al., em que foram estudados 250 idosos, com média de 79,1 anos.16 Faixa etária maior é vislumbrada no estudo realizado por Passeri et al., no qual a prevalência foi estudada em re-lação à vitamina D sérica e esses níveis foram indetec-táveis em 99 de 104 centenários.18 Nosso estudo, além do déficit de vitamina D, mensurou o aumento de hor-mônio da paratireoide (PTH),16 focando o diagnóstico de hiperparatireoidismo secundário, demonstrando alta prevalência de hiperparatireoidismo secundário ao défi-cit de vitamina D nessa faixa etária.

Ann R. Webb, Carol Pilbeam, Namcy Hanafin e Michael F. Holick demonstraram que há variações sazonais na concentração sérica de vitamina D, mesmo quando a

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dieta suplementar e a suplementação de vitamina D es-tão ou não presentes, e que a intensidade e o tempo de exposição da pele ao sol produzem variações significati-vas nos valores de vitamina D.19 No presente trabalho não optamos por comparar com grupo controle19 ou incluir grupo de jovens, como no estudo realizado por Fassi et al.17 Os indivíduos não foram expostos à luz solar du-rante a internação e não usaram suplementação de vita-mina D diária. A falta de grupo comparativo nos deixou sem dados para analisar melhor se o déficit de vitamina D seria devido à variação sazonal da incidência solar, ao tem-po de exposição ao sol, ao envelhecimento da pele, ao déficit de absorção intestinal da vitamina D, à dieta ou mesmo à combinação de todos esses fatores com o envelhecimen-to,8-11,19 como causa multifatorial para o desenvolvimento do hiperparatireoidismo secundário. Muitos pacientes declararam ter tido exposição à luz solar adequada até a internação, porém isso não corroborou para um achado de normalidade nos exames. Mesmo o paratormônio es-tando normal em muitos desses pacientes, apenas em uma amostra a dosagem de vitamina D foi normal.

Trabalhos de prevalência anteriores ao nosso estu-do16-19 não relacionaram perda funcional usando como dado o índice de Katz e Lawton, com aumento no índi-ce de hiperparatireoidismo secundário. No entanto, não encontramos significado estatístico quando cruzamos esses dados com os níveis de vitamina D sérica e hormô-nio da paratireoide (PTH).

Saraiva et al. encontraram que deficiência de vitami-na D (definida como níveis inferiores a 10 ng/mL) foi de-tectada em 15,4%, insuficiência (definida por níveis entre 10-20 ng/mL), em 41,9%, e hiperparatireoidismo secun-dário, em 55%.16 Os dados do presente trabalho informam associação positiva de hiperparatireoidismo secundário a deficiências de vitamina D em 46,77% dos pacientes inter-nados. O nível médio de vitamina D observado foi de 15,6 ng/mL (dp = 6,8 ng/mL). Somente 50 pacientes foram se-lecionados para a dosagem de vitamina D, entre os quais se encontraram níveis entre 5-10 ng/mL em 8 pacientes (16%), níveis séricos entre 10-20 ng/mL em 33 pacientes (66%), níveis séricos entre 20-30 ng/mL em oito pacientes (16%) e acima de 30 ng/mL apenas em um paciente (2%). Índice maior de alteração entre os níveis de 10-20 ng/mL também foram encontrados no trabalho de Saraiva et al.16

Conforme esperado, a população estudada apresen-ta grande declínio funcional decorrente de suas morbi-dades. Nossa pesquisa nesse sentido foi de avaliar se o grave comprometimento funcional, a falta de exercício

físico aliado a hábitos como tabagismo, etilismo e baixa exposição solar podem contribuir de alguma forma com a deficiência observada. Entretanto, nossos achados não se correlacionaram com a deficiência de vitamina D nem com o hiperparatireoidismo secundário. A presença de múltiplas morbidades e a dificuldade do idoso em rea-lizar suas atividades instrumentais e básicas poderiam sugerir maior restrição no domicílio, menor exposição solar e, talvez, menor ingestão de alimentos ricos em vi-tamina D. Apesar de tais premissas serem verdadeiras, a análise estatística não confirmou essa associação, porém encontramos alta prevalência de hiperparatireoidismo associado ao déficit de vitamina D independentemente dos possíveis fatores desencadeantes.

ConClusãoO atual trabalho demonstrou correlação significativa e inversa entre vitamina D e PTH, evidenciando alta pre-valência entre a população idosa avaliada de hiperpara-tireoidismo secundário a hipovitaminose D.

Vivemos em um país tropical, onde teoricamente de-veríamos ter exposição adequada aos raios solares, difi-cultando o aumento da prevalência dessa enfermidade, o que não pôde ser constatado no estudo pelo perfil dos pacientes analisados. Recomendamos uma busca ativa de pacientes com deficiência de vitamina D, visto que há prevalência elevada, com potencial de comprometimen-to da qualidade de vida do idoso e cuja suplementação é bastante simples e segura. Salientamos que a avaliação dos níveis de PTH e de vitamina D 25(OH) deveria fazer parte rotineira da propedêutica médica geriátrica dessa população, uma vez que não há outra forma de mensu-rarmos os estoques de vitamina D se esses estoques estão tão baixos que levaram o indivíduo ao desenvolvimen-to do hiperparatireoidismo secundário. A mensuração concomitante do PTH e da vitamina D se faz necessária para individualizar o tratamento e o acompanhamento de cada paciente, uma vez que o excesso da reposição pode também causar danos ao sistema endócrino.

AgRADeCImenTosAgradecemos à Abbott pela doação dos kits de vitamina D e aos funcionários do laboratório do Hospital do Ser-vidor Público Estadual de São Paulo.

ConFlITos De InTeRessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de in-teresse.

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Gravidade e funcionalidade na doença de Parkinson | 203

correlação enTre funcionalidade e Gravidade

da doença de parkinson em idosos

marineide pereira dos anjos Guimarãesa, valéria cristina borges severinoa, Hudson azevedo pinheirob

Resumo A doença de Parkinson (DP) é uma doença de progressão lenta, sendo caracterizada por quatro componentes básicos: bradicinesia, tremor de repouso, rigidez e instabilidade postural. Objetivo: Correlacionar a funcio-nalidade e a gravidade da DP em pacientes atendidos em um serviço público do Distrito Federal e na Clíni-ca Escola de Fisioterapia do Centro Universitário Unieuro. Métodos: Foram recrutados 27 pacientes com diagnóstico de DP e moradores no Distrito Federal. A coleta de informações se deu por meio da escala de graus de incapacidade de Hoehn e Yahr (HY) e dos testes funcionais alcance funcional (AF), timed up and go (TUG), sentar e levantar cronometrado (SL), velocidade de marcha (VM) e distância occipito-parede (OP). Resultados: Considerando o teste de correlação de Pearson, foram encontradas correlações expressivas e es-tatisticamente significantes entre a escala de HY e os testes funcionais OP (R = 0,47; p = 0,013), TUG (R = 0,63; p = 0,0001) e AF (R = - 0,66; p = 0,0001). Foi encontrado baixo índice de relação linear entre as variáveis e resultados pouco significantes na correlação entre a escala de HY e os testes funcionais SL (R = 0,25; p = 0,20) e VM (R = - 0,26; p = 0,17). Conclusões: Existe associação entre gravidade e funcionalidade na DP, uma vez que, à medida que ocorre a gravidade do quadro clínico do paciente, ocorre também perda de funcionalidade, mobilidade e estabilidade postural.

correlaTion beTween funcTionaliTy and severiTy of parkinson’s disease in THe elderly

ABsTRACTParkinson’s disease (PD) is a slowly progressive disease, characterized by four basic components: bradykinesia, resting tremor, rigidity and postural instability. Objective: To correlate the functionality and severity of PD patients enrolled in a public service of the Federal District and the School of Physiotherapy Clinic of the Uni-versity Center Unieuro. Methods: We recruited 27 patients with PD and residents of the Federal District, the gathering information was through the Hoehn and Yahr (HY) scale of degrees of disability and functional tests: Functional Reach (AF), Timed Up and Go (TUG), timed sit and stand (SL), gait speed (VM) and wall-occiput distance (OP). Results: Whereas the Pearson correlation test, and significant correlations were statistically significant between the HY scale and test OP (R = 0.47, p = 0.013), TUG (R = 0.63, p = 0.0001) and AF (R = - 0.66, p = 0.0001). It is a low rate of linear relationship between the variables and the results that were a little significant correlation between the scale of HY and the test SL (R = 0.25, p = 0.20) and VM (R = - 0.26, p = 0.17). Conclusion: There is an association between severity and functionality in PD, since when the severity of the patient clinical condition occurs there is also a loss of functionality, mobility and postural stability.

a Discente do curso de fisioterapia, Centro Universitário Euro-americano – Unieuro, Brasília, Distrito Federal.b Mestre em Gerontologia pela Universidade Católica de Brasília e docente do curso de fisioterapia do Unieuro.

dados para correspondênciaHudson Azevedo Pinheiro – Rua 12 Norte, lote 1, Edifício Águas de Vitória, apto. 1402, Águas Claras, Brasília-DF. CEP: 71900-100. Tel.: (61) 8195-0550. E-mail: [email protected]

Palavras-chave Doença de Parkinson,

incapacidade e saúde, limitação da

mobilidade.

Key words Parkinson disease,

disability and healthy, mobility

limitation

Artigo or iginal

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204 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

InTRoDuçãoA doença de Parkinson (DP) é uma doença de progres-são lenta que afeta, principalmente, pessoas acima de 50 anos, sendo caracterizada por quatro componentes básicos: bradicinesia (lentidão de movimento), tremor de repouso, rigidez e instabilidade postural, que são de-correntes do comprometimento da via dopaminérgica nigroestriatal.1-5

Os principais sintomas relacionados com a DP estão associados a distúrbios da marcha, caracterizados por assincronia dos passos, baixa velocidade, comprimento do passo pequeno, rigidez nos movimentos de tronco, propulsão (festinação para a frente) e retropulsão (fes-tinação para trás), que podem acarretar limitação das atividades da vida diária (AVD) já na fase inicial da doença, provocando redução no nível de atividade, o que gera, consequentemente, mais imobilidade, deficiência no desempenho funcional com consequente piora da qualidade de vida.4,6

As alte rações posturais podem manifestar-se como incapacidade de recuperar o equilíbrio quando empur-rado e, pro gressivamente, modifica-se para incapacidade de ficar em pé sem suporte ou mesmo ao sentar, tendo íntima relação com episódios de quedas, sobretudo os que apresentam estágios mais avançados da doença.6,7

O equilíbrio em pé é conseguido mantendo o centro do corpo de massa sobre a base de apoio e, quando a capacidade de manter o equilíbrio se deteriora, os pa-cientes com DP ficam predispostos a quedas, problema comum e grave, que pode levar a várias comorbidades.7,8

A necessidade de monitorar a evolução de pacien-tes e os resultados de intervenção fisioterapêutica exige conhecimento para utilizar medidas sistematizadas e de fácil aplicabilidade para avaliação de pacientes com DP, podendo gerar mais informações relacionadas à saúde desses indivíduos, como as incapacidades que impossi-bilitam a realização de atividades básicas.3

Esta pesquisa tem por objetivo correlacionar a fun-cionalidade e a gravidade da DP em idosos admitidos em um serviço público do Distrito Federal.

méToDos Foi realizado um estudo do tipo transversal, com amos-tra não probabilística por conveniência, para o qual foram recrutados pacientes com diagnóstico de DP e moradores do Distrito Federal. A coleta de dados foi fei-ta no período de agosto a novembro de 2012 em 27 pa-cientes admitidos no ambulatório de fisioterapia no setor de geriatria/neurologia da Unidade Mista de Taguatinga, Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF), cuja aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) se deu por meio do parecer de número 129.071/2012.

Foram incluídos no estudo indivíduos acometidos por DP, sendo todos eles moradores do Distrito Federal e que, atendendo aos requisitos da pesquisa, aceitaram

de livre e espontânea vontade participar do estudo e de-monstraram interesse por meio da assinatura do consen-timento livre e esclarecido.

Foram excluídos do estudo pacientes que não tinham diagnóstico confirmado de DP, indivíduos com outras doenças associadas cujos sintomas se confundiam com os sintomas de Parkinson, como Alzheimer e parkinso-nismos secundários, indivíduos que não foram capazes de realizar algum dos testes propostos, com declínio cognitivo grave e acamados.

O procedimento para coleta de informações se deu por meio da escala de graus de incapacidade de Hoehn e Yahr (HY) e de instrumentos destinados à avaliação fun-cional: os testes de alcance funcional (AF), e timed up and go (TUG), sentar e levantar cronometrado (SL), veloci-dade de marcha (VM) e distância occipito-parede (OP).

A escala de graus de incapacidade de HY é uma es-cala utilizada frequentemente para avaliar os pacientes com DP, classificados de acordo com o estado geral de gravidade da doença. Os pacientes classificados nos está-gios I, II e III dessa escala apresentam incapacidade leve a moderada, enquanto aqueles nos estágios IV e V apre-sentam incapacidade mais grave.9

O AF determina o quanto o idoso é capaz de se deslocar dentro do limite de estabilidade anterior, fi-xando-se uma fita métrica à parede e paralela ao chão, posicionada na altura do acrômio do voluntário; o indi-víduo, descalço, é posicionado com os pés confortáveis e paralelos entre si, perpendicularmente em relação à parede e próximo ao início da fita métrica, com punhos em posição neutra, cotovelos estendidos e ombro com flexão de 90º. O voluntário é instruído a realizar in-clinação para a frente sem tocar na fita e, em seguida, deve-se verificar o deslocamento sobre ela, com deslo-camentos < 15 cm indicando fragilidade do paciente e risco de quedas.10,11

O TUG tem como objetivo avaliar a mobilidade e o equilíbrio funcional, quantificando em segundos a mo-bilidade funcional por meio do tempo no qual o indiví-duo realiza a tarefa de levantar de uma cadeira (apoio de aproximadamente 46 cm de altura e braços de 65 cm de altura), caminhar 3 m, virar, voltar rumo à cadeira e sentar novamente, sendo que a cronometragem é ini-ciada após o sinal de partida e parada somente quando o idoso se coloca novamente na posição inicial, sentado com as costas apoiadas na cadeira, sendo considerado até 10 segundos, tempo normal para adultos saudáveis, independentes e sem risco de quedas; valores entre 11-20 segundos são esperados para idosos com deficiência ou frágeis, com independência parcial e baixo risco de quedas; acima de 20 segundos sugere que o idoso apre-senta déficit importante da mobilidade física e risco de quedas.11,12

A VM se associa com atributos do estado geral de saúde, antropométricos, físicos, psicológicos e sociais,

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Gravidade e funcionalidade na doença de Parkinson | 205

podendo ser utilizada como indicador da reserva fisio-lógica em idosos e fator prognóstico do risco de quedas, fragilidade, institucionalização de óbito em pacientes geriátricos, utilizando uma distância conhecida (3 m) e mensurando o tempo gasto para percorrê-la; logo, quan-to mais rápido realizam o teste, melhores são os seus re-sultados.13,14

O SL é utilizado para avaliar o estado funcional, a força muscular dos membros inferiores e o equilí-brio em idosos, sendo que o participante é solicitado a levantar-se da cadeira por cinco vezes consecutivas sem a ajuda das mãos, no menor tempo possível; logo, quanto maior o tempo despendido, pior o status fun-cional.13,15

A OP foi realizada com os calcanhares do paciente encostados na parede, mantendo o tronco reto e sem fletir os joelhos, sendo mensurada em centímetros, com fita métrica, a distância perpendicular entre a parede e a protuberância occipital externa, onde o valor normal é zero, ou seja, a região occipital deve tocar a parede; trata- se de um subitem da escala de Webster e, quanto maior for a distância, maior o comprometimento funcional do paciente.16,17

Para a análise estatística utilizou-se o software SPSS versão 20, considerando um nível de significância de 5%. Levaram-se em consideração medidas de frequência para categorização da amostra, verificando a normalida-de dos dados e optando-se por utilizar o teste de corre-lação de Pearson.

ResulTADosParticiparam do estudo 27 sujeitos com diagnóstico de DP, todos em acompanhamento clínico regular, sendo 17 homens (63%) e 10 mulheres (37%), com média de idade de 73,03 ± 9,80 anos.

Todos os pacientes foram avaliados pelo geriatra e encaminhados ao serviço de fisioterapia da UMT; os mesmos faziam uso regular de prolopa ou carbidopa conforme a prescrição médica.

Foram realizados testes de correlação de Pearson en-tre a gravidade da doença medida pela HY com testes funcionais distintos descritos na Tabela 1.

Tabela 1 Correlação entre gravidade da DP e testes funcionais

HY r p

OP 11,74 ± 7,67

2,90 ± 0,87

0,47 0,013*

TUG 23,66 ± 12,43 0,63 0,0001*

AF 14,29 ± 9,80 – 0,66 0,0001*

SL 28,07 ± 19,75 0,25 0,20

VM 0,70 ± 0,38 – 0,26 0,17

*p < 0,05; OP: distância occipito-parede; TUG: timed up and go; AF: alcance funcional; SL: sentar e levantar cronometrado; VM: velocidade de marcha.

DIsCussãoObservaram-se no presente estudo associações significa-tivas entre gravidade da DP e funcionalidade, sobretudo quanto ao risco de quedas, avaliado por meio dos testes distância occipito-parede (OP), timed up and go (TUG) e alcance funcional (AF). Não se observaram relações entre gravidade na DP e estimativa de força em mem-bros inferiores e aspectos gerais de saúde por meio dos testes sentar e levantar cronometrado (SL) e velocidade de marcha (VM), respectivamente.

Observou-se que a maioria dos pacientes pesquisa-dos apresentava nível de comprometimento moderado na escala de HY (2,90 ± 0,87). É relevante informar que todos estavam em acompanhamento clínico regular e tal constatação pode ter influenciado no retardamento sin-tomático da doença, a destacar: alterações da velocidade da marcha e do ato de levantar e sentar, em decorrên-cia do comprometimento no desempenho muscular. De acordo com Abreu e Caldas (2008), a força muscular dos membros inferiores traz grande relação com a velocidade de marcha. Nos seus achados literários foi encontrado aumento dessa condicionante em idosas após 18 sema-nas de treino de força muscular.18 O funcionamento ina-dequado dos núcleos da base compromete, por um lado, os rápidos ajustamentos no tempo de disparo muscular, que mudam a direção e dão sequência às ações que ca-racterizam a agilidade, e, por outro lado, o adequado re-crutamento de grupos musculares durante a locomoção, inclusive a velocidade de recrutamento, podendo preju-dicar a produção de força para a propulsão do corpo a cada passo.19

Takeuti et al. (2011) utilizaram a escala de gravidade de HY e a escala de Berg para correlacionar o equilíbrio com as incidências de quedas em pacientes com DP. Os resultados apresentaram forte corre lação entre a gravi-dade da DP e o risco de quedas, consequentes ao aumen-to das disfunções no equilíbrio.7 O mesmo autor afirma que os sinais e sinto mas agem de forma combinada na degradação do equilíbrio e da marcha. Biaszczyk et al. (2007) afirmam que, quanto maior a gravidade e/ou a variedade dos sintomas apresentados pelo paciente com DP, maior a severidade da doen ça e maiores os distúr-bios de marcha, equilíbrio e postura.20 No nosso estudo encontramos resultados semelhantes aos dos autores ci-tados, que utilizaram a escala de gravidade HY para ava-liar a doença, mas empregamos diferentes instrumentos de avaliação da funcionalidade.

Peternella (2009) assevera em sua pesquisa que, com o surgimento das alterações físicas, há um desencadea-mento do decréscimo da força muscular e do condicio-namento físico, com reflexos no estado mental, social e econômico dos indivíduos portadores e de seus fami-liares.21 Durante a pesquisa percebemos, na aplicação dos testes funcionais, em especial o TUG, deficiência na mobilidade, força muscular e condicionamento físico,

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206 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

porém não foi objeto de análise o impacto da doença na vida social ou econômica dos pacientes, restringindo-se tão somente à avaliação física e funcional.

Navarro-Peternella (2012) afirma que a gravidade da DP pode ou não comprometer a funcionalidade e pre-dizer o grau de comprometimento da qualidade de vida do paciente,15 o que contradiz a maioria dos achados literários e os resultados encontrados em nosso estudo, no qual predominou a alta correlação entre gravidade e funcionalidade. O referido autor menciona que o baixo nível de adaptação psicológica é mais importante que a gravidade da doença para a piora da qualidade de vida, sob o ponto de vista social. Em sua pesquisa, ele conclui que não há diferença significativa entre a evolução e a gravidade da DP com a qualidade de vida dos indivíduos; apenas na dimensão mobilidade houve diferença entre o grupo de acometimento leve e grave, indicando que é necessário grande aumento na manifestação dos sinais e sintomas para poder refletir pior mobilidade.22

Todavia, esta última afirmação corrobora os resul-tados encontrados em nossa pesquisa, que demonstrou forte correlação entre a escala de gravidade de HY e os testes funcionais AF, TUG e OP, ou seja, o aumento dos sinais e sintomas refletiu no aumento das limitações fun-cionais. Atribuímos a baixa correlação encontrada entre gravidade (HY) e funcionalidade da DP (LS e VM) ao fato de os pacientes pesquisados serem participantes de programas de reabilitação, facilitando o desempenho durante a execução de suas funções.

Os testes AF e OP demonstraram maior instabilida-de postural do indivíduo, o que dificulta a execução das AVD e aumenta o risco de incidência de quedas dos ido-sos, embora Dibble (2008) relate que certo grau de insta-

bilidade postural pode estar presente em muitas pessoas com DP e nem todas elas demonstram perda de equilí-brio ou quedas durante as atividades diárias.23

O presente estudo mostrou que, com a evolução da DP, as alterações no controle motor tornam-se notá-veis, resultando em vários distúrbios, como alterações estáticas e dinâmicas do controle postural, alteração da mobilidade, comprometimento do equilíbrio e conse-quente aumento do risco de quedas. Correlacionamos a classificação do indivíduo na escala de gravidade HY e os testes específicos que avaliam a funcionalidade (AF, TUG, SL, VM, OP), uma vez que esses instrumentos são amplamente descritos na literatura para medir a função das pessoas com instabilidades, sendo eficazes e de fácil aplicabilidade, utilizados para examinar a funcionalida-de em pessoas com DP em relação à condição clínica e às incapacidades.

Por meio dessa análise foi possível conhecer o está-gio da doença em que o indivíduo se encontra em decor-rência dos sinais e sintomas, e identificar as limitações físicas e funcionais, a fim de facilitar o planejamento da intervenção fisioterapêutica e minimizar o impacto da doença na qualidade de vida.

ConClusãoExiste associação entre gravidade e funcionalidade na DP, na qual, à medida que ocorre a gravidade do quadro clínico do paciente, ocorre perda de funcionalidade, mo-bilidade e estabilidade postural.

ConFlITos De InTeResseOs autores declaram não possuir nenhum conflito de in-teresse.

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Gravidade e funcionalidade na doença de Parkinson | 207

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208 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

associação enTre queiXa de TonTura, medo de cair e ocorrência prévia de quedas em idosos

Giesse albeche duartea, cristina loureiro chaves solderab

Resumo Objetivo: O objetivo desta pesquisa foi associar queixa de tontura, medo de cair e ocorrência de quedas em idosos. Métodos: Foram avaliados 38 idosos aplicando anamnese e escala para avaliar o medo de cair (FES-I-Brasil). Resultados: Dos 38 idosos entrevistados, 68,4% relata-ram queixa de tontura, 97,4% apresentaram medo de cair e 57,9% sofreram queda após os 60 anos de idade. A média de idade dos idosos caidores foi significativamente maior que a dos que não caíram (p = 0,015). Os idosos que relataram tontura utilizam número de medicações signi-ficativamente maior que os que não relataram tontura (p = 0,030). O escore na FES-I-Brasil foi estatisticamente significativo quando associado ao número de quedas (p = 0,003). Conclusões: O estudo evidenciou alta prevalência de tontura, medo de cair e ocorrência de quedas entre os idosos avaliados, e correlação significativa entre o aumento da idade e a ocorrência de queda, entre a queixa de tontura e o número de medicações utilizadas, e entre o escore na FES-I-Brasil e o número de quedas.

associaTion amonG complainT of dizziness, fear of fallinG and prior occurrence of falls in elderly people

ABsTRACTObjectives: The objective of this research was to associate complaint of dizziness, fear of falling and occurrence of falls in elderly people. Methods: We evaluated 38 elderlies by applying an interview and a scale to measure fear of falling (FES-I-Brazil). Results: Of the 38 elderly inter-viewed, 68,4% reported complaint of dizziness, 97,4% showed fear of falling and 57,9% had su-ffered a fall after 60 years old. The mean age of the elderlies who fell was significantly higher than of those who didn’t (p = 0.015). The elderly people who reported dizziness utilize significantly higher number of medicines than those who did not report dizziness (p = 0.030). The score on the FES-I-Brazil was statistically significant when associated with the number of falls (p = 0.003). Conclusions: The study showed high prevalence of dizziness, fear of falling and occurrence of falls among elderly people evaluated and significant correlation between increasing age and the occurrence of falls, the dizziness complaints and the number of medications used and the FES-I--Brazil score and the number of falls.

a Pesquisadora do trabalho. Acadêmica do curso de fonoaudiologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.b Pesquisadora responsável pelo trabalho. Professora assistente do curso de fonoaudiologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. dados para correspondênciaGiesse Albeche Duarte – Rua Lauro Rodrigues, 590, Rubem Berta, Porto Alegre, RS. CEP: 91180-660. Tel.: (51) 9220-9798. Fax: (51) 3303-8810. E-mail: [email protected]

Palavras-chave Tontura, acidentes

por quedas, envelhecimento.

Key words Dizziness,

accidental falls, aging.

Artigo or iginal

RevistaG&G#3.indb 208 11/28/13 11:30 AM

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Tontura, medo de cair e queda em idosos | 209

InTRoDuçãoA faixa etária da população mundial que mais cresce é a idosa.1 A lei brasileira que dispõe sobre a Política Nacio-nal da Saúde do Idoso define como idosa a pessoa com 60 anos ou mais.2 As regiões Sul e Sudeste evidenciam--se as mais envelhecidas do Brasil, apresentando no ano de 2010 um contingente de 8,1% de idosos com 65 anos ou mais. Com relação à população da cidade de Porto Alegre (RS), totalizava 1.409.351 habitantes em 2010, sendo que 211.896 (15%) com idade igual ou superior a 60 anos.3

Com o envelhecimento populacional atual, tanto em caráter mundial quanto nos âmbitos nacional e regional, essa população emergente necessita de aten-ção. O foco vem passando dos jovens aos idosos, estes necessitando de políticas públicas adequadas, progra-mas de promoção de saúde e prevenção de doenças características da faixa etária para reduzir os riscos à saúde associados ao envelhecimento. É necessário que a sociedade se adapte a essa mudança e se instrumen-talize no que se refere a proporcionar aos idosos boas condições de saúde e segurança, para que mantenham suas capacidades funcionais, ou seja, sua autonomia pelo maior tempo possível, assim como sua participa-ção social.2,4-8

Com o avanço da idade, o indivíduo passa por inú-meras alterações fisiológicas e estruturais, como: déficits sensoriais periféricos (proprioceptivos, auditivos e visu-ais), que podem promover falsas percepções do ambien-te, gerando desequilíbrios; anormalidades de marcha; dificuldade no controle neuromuscular, necessário à re-cuperação do equilíbrio; anormalidades nos pés que di-ficultam o andar; aumento da instabilidade postural;9 re-dução da capacidade de associar as informações visuais, proprioceptivas, vestibulares e de modificar os reflexos adaptativos, por declínio no processamento central.10 Com isso, a população idosa passa a ser mais suscetível a quedas.11 No Brasil, há estudos que indicam que 30%-37,5% dos indivíduos idosos caem, no período de um ano, pelo menos uma vez.4,5,11,12

As quedas podem ser definidas como casos de desequilíbrio do indivíduo que o levam ao solo devido à falta momentânea do controle postural.9,13 A queda pode ser considerada uma síndrome, pois envolve as-pectos e consequências psicológicas, biológicas, fun-cionais e sociais.9 É um dos principais fatores incapa-citantes nos idosos, causando restrições na realização de atividades,4,6,14 dor,2 perda da independência,2 medo de cair novamente4 e morte prematura,2 interferindo na qualidade de vida dessa população.4,11,15 Grande parte dos idosos que sofrem quedas necessita de atendimento especializado,4 gerando altos custos com tratamento e reabilitação.6 É necessário conhecer os fatores associa-dos à ocorrência de quedas nos idosos para evitá-las e interromper o ciclo.4,16

A tontura consiste na sensação de perturbação do equilíbrio corpóreo no meio ambiente. A vertigem é um tipo de tontura, caracterizada pela sensação de rotação do indivíduo em torno de si ou de rotação do ambiente à sua volta.17 A vertigem e outras tonturas são frequentes em idosos (presbivertigem) e tendem a aumentar com o avanço da idade.10 Ricci et al. (2010) referem que há 35,5% de prevalência da queixa de tontura entre os ido-sos.16 Com o envelhecimento podem ocorrer perda de função do sistema vestibular periférico e central por otó-litos soltos nos canais semicirculares, processos degene-rativos das células ciliadas, das células ganglionares e das terminações, interferindo no equilíbrio e gerando tontu-ras.10 Além disso, essa população geralmente faz uso de inúmeros medicamentos4,18 que podem causar tontura.18

A tontura é um dos principais fatores associados a quedas na população idosa,16 podendo gerar no idoso o medo de cair14 e, em alguns casos, restringir certas ativi-dades em função desse medo.4 O medo de cair tende a aumentar, caso já tenha havido a ocorrência da queda, sendo observado no relato de aproximadamente 90% dos idosos com quedas prévias,4,19 aumentando também com o avanço da idade.19

A ocorrência de quedas afeta diretamente a qualidade de vida4,11,15 e a autonomia dos idosos,9 além de gerar al-tos gastos com saúde.6 O medo de cair é relatado pela maioria dos idosos.16 Esse sentimento, associado à ocor-rência prévia de queda, torna o idoso menos confiante de si, com menos autonomia e receoso de realizar certas atividades.9,19 Uma vez que, para evitar a queda, é im-prescindível conhecer seus fatores de risco e suas con-sequências,4,14 a presente pesquisa objetivou analisar a associação da tontura com o medo de cair e a relação destes com a ocorrência de queda.

méToDosO estudo possui delineamento transversal, visando à medida de prevalências e relações entre as variáveis (ton-tura, medo de cair e queda) na população estudada. Para tanto, foram analisados os dados fornecidos diretamente pela amostra de sujeitos da pesquisa por meio de inter-rogação direta dos idosos sobre a ocorrência das variá-veis da análise, caracterizando-se como delineamento do tipo levantamento.

A pesquisa foi composta por uma amostra de conveni-ência de idosos atendidos no Serviço de Audiologia do Hos-pital Santa Clara da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA). Foram convidados a participar do estudo 39 idosos, dos quais 38 aceitaram o convite.

Foram incluídos no estudo indivíduos com ida-de igual e superior a 60 anos, de ambos os sexos, que aceitaram participar da pesquisa após convite, esclare-cimentos e assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). O convite aos idosos foi realiza-do pessoalmente pela pesquisadora na sala de espera

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do serviço em questão. Foram excluídos do estudo os idosos com déficit visual sem a devida correção (uso de óculos/lentes), portadores de demência de grau moderado ou severo discriminada no prontuário do paciente, sendo, portanto, incapazes de responder aos protocolos da pesquisa, assim como aqueles que faziam uso ou tinham necessidade de usar órteses e/ou próte-ses em membros inferiores (pé, perna) e/ou andador e cadeirantes.

Os participantes da pesquisa responderam a uma anamnese, com dados de identificação e questões quan-to a medicamentos em uso, à queixa e caracterização da tontura e à ocorrência de queda nos últimos 12 meses. Após a anamnese, foi aplicada a Falls Efficacy Scale — International — Brasil (FES-I-Brasil), validada no Brasil por Camargos (2007), que, após estudo, concluiu ser a escala adequada para avaliar o medo de cair de idosos comunitários brasileiros.20 A FES-I-Brasil é composta por 16 atividades distintas de vida diária e, para cada ati-vidade, o indivíduo deve relatar qual a sua preocupação em cair. Os níveis da escala variam de 1 a 4, sendo: 1, o menor grau de preocupação em cair — nem um pouco preocupado; 2, um pouco preocupado; 3, muito preocu-pado; 4, a preocupação máxima — extremamente pre-ocupado. A pontuação total mínima consiste, portanto, em 16 pontos, indicando nenhuma preocupação em cair. O máximo será de 64 pontos, indicando a maior preo-cupação com a ocorrência de quedas. Neste estudo, foi considerado como tendo medo de cair o sujeito que as-sinalou pelo menos em uma das atividades da escala a opção 2 (um pouco preocupado), 3 (muito preocupado) ou 4 (extremamente preocupado) obtendo, portanto, es-core superior a 16.19

Tanto a anamnese como a escala FES-I-Brasil foram aplicadas pela pesquisadora e por acadêmicos do curso de fonoaudiologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). A técnica utilizada para aplicação dos instrumentos foi frente a frente, pela qual as questões são feitas e respondidas verbalmente.

Para análise dos dados foi utilizado o  Statistical  Package for the Social  Sciences (SPSS) versão 16.0 para Windows. A distribuição das amostras foi avaliada uti-lizando o teste Shapiro-Wilk. Para variáveis quantitati-vas com distribuição paramétrica utilizou-se o teste t de Student para amostras independentes e, no caso de dis-tribuição não paramétrica, o teste Mann-Whitney. Para variáveis nominais utilizou-se o teste de independên-cia qui-quadrado de Pearson. Para avaliar as variáveis quantitativas aplicou-se o teste da correlação linear de Pearson ou Spearman. O nível de significância estatística adotado foi de 5% (p <0,05).

O projeto de pesquisa e o TCLE foram submetidos ao Comitê de Ética em Pesquisa da ISCMPA, aprovado pelo parecer número 482/11, e ao Comitê de Ética em Pesqui-sa da UFCSPA, aprovado pelo parecer número 864/11.

ResulTADosNo período de fevereiro a julho de 2012, todos os idosos que compareceram para avaliação auditiva no Serviço de Audiologia do Hospital Santa Clara e que se enquadra-vam nos critérios de inclusão da pesquisa foram convi-dados a participar. O convite foi feito a 39 idosos, dos quais 38 aceitaram integrar a amostra do estudo.

A Tabela 1 apresenta as características sociodemo-gráficas, o número de medicações utilizadas e sua relação com a ocorrência de quedas após os 60 anos de idade.

Tabela 1 Caracterização da amostra (n = 38) e associação com ocorrência de quedas

Variáveis média ± dp/n(%)/mediana Caidores: média ± dp/n(%)/mediana

não caidores: média ± dp/n(%)/mediana P

Idade (anos) — m ± dp 69,7 ± 7,1 72,1 ± 7,4 66,5 ± 5,4 0,015

Sexo — n(%)

Masculino 17 (44,7) 10 (45,5) 7 (43,8) 1,000

Feminino 21 (55,3) 12 (54,5) 9 (56,3)

Estado civil n(%)

Solteiro/divorciado 5 (13,2) 1 (4,5) 4 (25,1) 0,163

Casado 23 (60,5) 14 (63,6) 9 (56,3)

Viúvo 10 (26,3) 7 (31,8) 3 (18,8)

Com quem mora — n(%)

Sozinho 7 (18,4) 5 (22,7) 2 (12,5)

0,487Com cônjuge 16 (42,1) 10 (45,5) 6 (37,5)

Com familiares 15 (39,5) 7 (31,8) 8 (50)Nº de medicações — md

(P25-P75) 3 (1-4) 3 (1-5) 2,5 (0-5)

≤2 medicações — n(%) 18 (47,4) 10 (45,5) 8 (50) 1,000

>2 medicações — n(%) 20 (52,6) 12 (54,5) 8 (50)

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A média de idade do grupo avaliado foi de 69,7 anos (mínimo de 60 e máximo de 87 anos). A maioria dos idosos é casada (60,5%), e apenas um idoso (2,6%) é sol-teiro. Somente sete idosos (18,4%) moram sozinhos.

Após os 60 anos de idade, 57,9% (n = 22) sofreram pelo menos uma queda. A Figura 1 ilustra a média de idade dos idosos caidores e dos que não caíram. A dife-rença foi estatisticamente significativa (p = 0,015).

Dos 38 idosos entrevistados (100%), 26 (68,4%) rela-taram sentir tontura. A Tabela 2 apresenta a frequência,

a duração e os sintomas associados à tontura na amostra estudada e sua relação com a ocorrência de quedas.

Idosos caidores Idosos não caidores

74

7272,1 ± 7,4

66,5 ± 5,4

70

68

66

64

62

60

Idad

e m

édia

(an

os)

Figura 1 Associação entre média de idade e ocorrência de quedas (p = 0,015).

Tabela 2 Características da tontura na amostra estudada (n = 38) e relação com a ocorrência de quedas

Variáveis média ± dp/n(%)/mediana Caidores: média ± dp/n(%)/mediana não caidores: média ± dp/n(%)/mediana P

Tontura

Sim 26 (68,4) 17 (77,3) 9 (56,3) 0,306

Não 12 (31,6) 5 (22,7) 7 (43,8)

Frequência

Diariamente 5 (13,2) 3 (13,6) 2 (12,5) 0,293

Até 3 vezes por semana 1 (2,6) 1 (4,5) 0

1 vez por semana 7 (18,4) 5 (22,7) 2 (12,5)

1-3 vezes no mês 4 (10,5) 4 (18,2) 0

Raramente 9 (23,7) 4 (18,2) 5 (31,3)

Nunca 12 (31,6) 5 (22,7) 7 (43,8)

Duração

Segundos/minutos 13 (34,2) 10 (45,5) 3 (18,8) 0,224

Horas 9 (23,7) 4 (18,2) 5 (31,3)

Dias/semanas 4 (10,5) 3 (13,6) 1 (6,3)

Nunca 12 (31,6) 5 ()22,7 7 (43,8)

Sintomas associados

Náusea 9 (23,7) 6 (27,3) 3 (18,8) 0,706

Vômito 3 (7,9) 2 (9,1) 1 (6,3) 1,000

Dor de cabeça 5 (13,2) 2 (9,1) 3 (18,8) 0,632

Suor 9 (23,7) 6 (27,3) 3 (18,8) 0,706

Perda auditiva 7 (18,4) 4 (18,4) 3 (18,8) 1,000

Do total de 38 idosos entrevistados, a tontura é um sintoma com frequência diária para cinco deles (13,2%), enquanto 12 (31,6%) relataram nunca ter

tontura. A tontura permanece durante semanas para quatro idosos (10,5%) e durante segundos ou minutos para 13 sujeitos da amostra (34,2%). A perda auditiva

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aparece como sintoma associado à tontura para sete idosos (18,4%).

Dentre os idosos que apresentaram queixa de tontu-ra, 64,5% relataram ocorrência de, no mínimo, um epi-sódio de queda após os 60 anos de idade. Dentre os que não relataram tontura, o percentual de queda caiu para 41,7%, porém essa diferença não foi estatisticamente significativa (p = 0,306).

Entre os participantes que relataram tontura, a me-diana do número de quedas sofridas após os 60 anos de idade foi de uma ocorrência (p25 = 0; p75 = 3). Para os que não apresentaram queixa de tontura, essa mediana foi de zero (p25 = 0; p75 = 4), não sendo significativa estatisticamente (p = 0,343).

Não houve relação significativa entre idade e queixa de tontura (teste t de Student; p = 0,344) ou com o escore da FES-I-Brasil (r = – 0,050; p = 0,765).

Houve relação estatisticamente significativa entre o número de medicações utilizadas e a queixa de tontura (p = 0,030). Os idosos que relataram tontura apresentaram mediana de três medicações (p25 = 2; p75 = 6) enquan-to entre os que não relataram tontura a mediana foi de uma medicação (p25 = 0; p75 = 3). Não houve correla-ção estatisticamente significativa entre sexo ou número de medicações utilizadas (correlação de Spearman) com o número de quedas.

Com relação ao medo de cair, 37 idosos (97,4%) rela-taram essa preocupação, sendo considerados como “com medo de cair” os indivíduos que assinalaram em pelo menos uma das atividades da escala FES-I-Brasil a opção “um pouco preocupado” (2), “muito preocupado” (3) ou “extremamente preocupado” (4).19 A Figura 2 mostra a prevalência de idosos com medo de cair em cada uma das atividades avaliadas pela escala FES-I-Brasil.

Preparando refeições simplesIndo atender o telefone antes que ele pare de...

Indo a uma atividade social

Visistando um amigo ou parenteCaminhando pela vizinhança

Vestindo ou tirando a roupaLimpando a casa

Indo às comprasSentando ou levantando de uma cadeira

Tomando banho

Andando em lugares cheios de gente

Pegando algo acima de sua cabeça ou no chão

Subindo ou descendo uma ladeiraSubindo e descendo escadas

Caminhando sobre superfície irregular

Andando sobre superfície escorregadia

Idosos com medo de cair (%)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

13,218,4

21

2121

23,726,3

42,1

44,744,7

55,360,5

63,276,3

81,6

89,5

Ativ

idad

es d

a es

cala

FE

S-I

-Bra

sil

Figura 2 Prevalência de idosos com medo de cair em cada uma das atividades da escala FES-I-Brasil (%).

Dos idosos entrevistados, 34 (89,4%) referiram alguma preocupação em cair com relação à atividade da FES-I-Brasil “andando sobre superfície escorregadia” e 31 (81,6%) com relação à atividade “caminhando sobre superfície irregular”. Apenas cinco idosos (13,2%) refe-riram preocupação em cair com relação ao item “prepa-rando refeições simples”.

Não houve significância estatística entre a preva-lência de tontura e o escore na escala FES-I-Brasil (p = 0,372). Observou-se não haver correlação estatisti-camente significativa entre o escore na FES-I-Brasil e o número de quedas (rs = 0,226; p = 0,172). A Figura 3

mostra a correlação entre o escore na FES-I-Brasil e o número de quedas dos sujeitos entrevistados.

As variáveis que apresentaram valor p <0,20 na aná-lise bivariada com escores da FES-I-Brasil foram inseri-das em um modelo de regressão linear multivariada. As variáveis que entraram no modelo foram: número de quedas, número de medicações e morar sozinho. Após o ajuste, a única variável que se associou estatistica-mente com o escore na escala FES-I-Brasil foi o núme-ro de quedas (b = 1,38; β = 0,46; p = 0,003); portanto, a cada queda há um aumento de 1,38 ponto no escore na escala FES-I-Brasil.

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50

40

20

10

0 2 4 6 8 10 12 14

30

Nº de quedas

Esc

ore

na F

ES

-I-B

rasi

l

Figura 3 Escore na FES-I-Brasil e número de quedas dos idosos na amostra estudada (n = 38).

DIsCussãoA tontura é uma queixa frequente entre os idosos.10 Ricci et al. (2010) afirmam que cerca de 40% dos indivíduos nessa faixa etária relatam tontura.16 Dos 38 idosos entre-vistados neste estudo, 26 (68,4%) referiram sentir esse sintoma. As perturbações do equilíbrio e a sensação de tontura podem estar associadas a déficits sensoriais,9 à redução da capacidade associativa e dos reflexos adapta-tivos e ao declínio no processamento central, frequentes nos idosos.10 Além disso, também as alterações do siste-ma vestibular periférico e central, e o processo degene-rativo das células ciliadas, das células ganglionares e das terminações, são características do processo de envelhe-cimento.10 Com isso, a população idosa passa a ser mais suscetível à tontura10,16 e a quedas.4,5,11,12

No presente estudo, entre os idosos que apresenta-ram queixa de tontura, a maioria (64,5%) relatou ter tido algum episódio de queda. Esse dado corrobora os acha-dos de Ricci et al. (2010), de que há maior prevalência de tontura entre os idosos com histórico de quedas quan-do comparados aos que não apresentam tal histórico,16

e com o estudo de Gazzola et al. (2006) com 120 idosos com queixa de tontura, no qual 53,3% da amostra admi-tiram ter sofrido pelo menos uma queda no último ano.21 Portanto, a tontura é um dos principais fatores associa-dos a quedas na população idosa.16

Os idosos utilizam grande número de medicamen-tos,4,18 e muitos deles podem ocasionar tonturas18 e que-das.9,18 De acordo com Hamra et al. (2007, p. 143), “o uso de medicamentos por idosos é frequente e tem crescido a cada dia em virtude do aumento da expectativa de vida no Brasil”. Algumas das drogas administradas provocam, como efeitos colaterais, tontura e redução dos reflexos, o que pode ocasionar quedas e consequentes fraturas.18 No

presente estudo, os idosos que relataram tontura utiliza-vam maior número de medicações, confirmando a rela-ção entre o número de medicações e a tontura descrita por Hamra et al. (2007).18

As quedas também são muito frequentes na popu-lação idosa. Estudos referem ocorrência de quedas afe-tando 20%-40% dos idosos,4,5,11,12 e a incidência tende a aumentar com o avanço da idade.10,19 Na amostra des-te estudo, a ocorrência de quedas foi de 71,1%, sendo a média de idade entre os idosos caidores maior do que a daqueles que não caíram, corroborando, portanto, estu-dos anteriores que referem a tendência ao aumento das quedas com o avanço da idade.19 Esse achado pode ser explicado devido às alterações fisiológicas e estruturais características do envelhecimento, como déficits senso-riais, anormalidades de marcha, dificuldade no controle neuromuscular, anormalidades nos pés, aumento da ins-tabilidade postural,9 redução da capacidade de associar as informações e de modificar os reflexos adaptativos, por declínio no processamento central.10

No presente estudo, 57,9% dos idosos sofreram pelo menos uma queda após os 60 anos de idade, sendo que a recorrência de quedas entre os caidores foi de 72,7%. Os dados encontrados foram consideravelmente superiores aos dados da literatura, que refere recorrência de queda em aproximadamente 30% da população idosa.4,21 Esse dado poderia estar relacionado ao fato de a amostra do presente estudo consistir em sujeitos encaminhados para avaliação audiológica a partir de atendimento realizado em um ambulatório de otorrinolaringologia, ou seja, tratava-se de sujeitos com suspeita ou confirmação de alterações no sistema auditivo e/ou vestibular. Por esse motivo, a amostra desta pesquisa poderia ter maior pro-

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babilidade de apresentar alterações do equilíbrio e, por conseguinte, maior probabilidade de quedas. Além dis-so, cabe ressaltar que a pergunta relacionada à ocorrên-cia de quedas após os 60 anos de idade sofre a influência direta da idade do sujeito, uma vez que, quanto maior a idade, maior é o intervalo de tempo para que o idoso tenha a possibilidade de cair.

A ocorrência de quedas interfere diretamente na qua-lidade de vida dos idosos,4,11,15 pois é um dos principais fatores incapacitantes nessa população, causando res-trições das atividades da vida diária,4,6,14 perda da inde-pendência2 e preocupação com a recorrência da queda.4 Parte dos idosos que sofrem quedas restringe suas ativi-dades por medo de cair novamente.6,16

Além disso, grande parte dos idosos que caem — 48,6%, segundo Ribeiro et al. (2008) — necessita de atendimento médico,4 o que gera altos custos aos cofres públicos.6 Lopes et al. (2009) demonstraram que quase 55% dos idosos de sua pesquisa apresentaram histórico de queda e, destes, 96,25% apresentaram medo de cair. No entanto, mesmo idosos que não sofreram quedas po-dem apresentar medo de cair.19

Neste estudo encontrou-se prevalência de 97,4% dos idosos com medo de cair, dado bastante semelhante ao estudo de Lopes et al. (2009), o qual refere que apro-ximadamente 90% dos idosos da sua amostra relatam medo de cair em pelo menos uma das 16 tarefas pro-postas pela FES-I-Brasil, sendo considerados “com medo

de cair” os idosos que apresentaram escore >16 pontos na escala.19 Em estudo de Ganança et al. (2006), o medo de cair é relatado pela quase totalidade dos idosos com vestibulopatias crônicas. Esses indivíduos apresentam restrições de atividades de vida diária por medo de cair.14

Em relação às atividades de vida diária avaliadas pela escala FES-I-Brasil, na presente pesquisa, assim como no estudo de Lopes et al. (2009), foi identificada maior preocupação em cair nas seguintes atividades, em ordem decrescente: “andando em uma superfície escorregadia”, “caminhando sobre uma superfície irregular”, “subindo e descendo escadas” e “subindo e descendo uma ladeira”.19

Este estudo evidenciou a alta prevalência da tontura, do medo de cair e da ocorrência de quedas entre os ido-sos e a associação significativa entre o aumento da idade e a ocorrência de quedas, entre a queixa de tontura e o número de medicações utilizadas pelos idosos e entre o escore na FES-I-Brasil e o número de quedas. Ressalte--se ainda que, sendo a amostra deste estudo composta por idosos com suspeita ou confirmação de alterações do sistema auditivo e/ou vestibular, e sendo um tema de ex-trema relevância para a promoção da saúde e o cuidado do idoso, sugere-se a realização de estudos semelhantes com outras populações.

ConFlITos De InTeRessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de in-teresse.

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Quedas em pacientes ambulatoriais | 215

frequência de quedas em pacienTes idosos ambulaToriais

renata schikanowski scillaa, márcia vargas de fariasa, maurício de miranda venturab, Glória maria Xavierc,

priscila lucia queiroz barbosad, regina lucia de costa e castroe, mirian matsuda shirassuf

Resumo Objetivo: Avaliar a frequência e as características das quedas em idosos, visando identificar seu contexto e pos-sível prevenção. Métodos: Aplicou-se um questionário sobre a frequência de quedas em 201 pacientes idosos dos ambulatórios de cardiologia, clínica médica, endocrinologia e geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. As perguntas relacionaram-se ao número de quedas, contexto, consequências e mudanças de hábitos a partir do evento. Resultados: Relataram quedas 83,9% dos entrevistados, observando-se maior número delas na faixa etária entre 60-79 anos (61,6%), predominantemente nas mulheres (76,5%). Naqueles com 80 anos ou mais, o percentual de eventos foi de 37,1%, sendo 51,7% em homens. Em relação ao local, a rua foi o lugar mais frequente (40%). Conclusão: A verificação dos dados obtidos evidenciou a importância de implantação de instrumentos de triagem para risco de queda, bem como do desenvolvimento de atividades educativas e de prevenção.

falls frequency in elderly ouTpaTienTs

ABsTRACTObjective: Evaluation of the frequency and characteristics of falls in older adults, in order to identify the con-text and possible prevention. Methods: A questionnaire about the frequency of falls in 201 elderly outpatients of cardiology, internal medicine, endocrinology and geriatrics from Hospital Servidor Público Estadual of São Paulo was applied. The questions were about number of falls, context, consequences and habits changes after the event. Results: The patients who reported fall were 83.9% with a higher number of those aged between 60 and 79 years (61.6%), predominantly women (76.5%). Those with 80 years or more, the percentage of events were 37.1% and 51.7% in men. Street is the most frequent place (40%). Conclusion: Data revealed the importance of implementing screening tools for fall risk as well as the development of educational and prevention activities.

a Médica residente do Serviço de Geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual. Participação na elaboração do texto.b Diretor do Serviço de Geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual. Participação na elaboração do texto e do projeto.c Enfermeira do Centro de Promoção e Proteção à Saúde – Prevenir do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual. Parti-cipação no levantamento de dados do trabalho.d Psicóloga do Serviço Especializado em Engenharia, Saúde e Medicina do Trabalho do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual. Participação no levantamento de dados do trabalho.e Farmacêutica do Centro de Promoção e Proteção à Saúde – Prevenir do Instituto de Assistência ao Servidor Público Estadual. Participação no levantamento de dados do trabalho.f Diretora do Centro de Promoção e Proteção à Saúde – Prevenir do Instituto de Assistência ao Servidor Público Estadual. Organizadora do projeto.

dados para correspondência Renata Schikanowski Scilla – Hospital do Servidor Público Estadual. Rua Pedro de Toledo, 1.800, Vila Clementino. Tel.: (11) 4573-8322. E-mail: [email protected]

Palavras-chave Acidentes por

quedas, idosos, frequência.

Key words Acidental falls,

aged, frequency.

Artigo or iginal

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216 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

InTRoDuçãoO envelhecimento populacional produz impacto na economia de um país e no sistema de saúde, o que faz com que o envelhecer, atualmente, seja visto através de um novo ângulo.1,2

No Brasil, de acordo com estimativas projetadas para 2020, o número de idosos acima de 60 anos de idade será de 28,3 milhões e, para 2050, aproximada-mente 64 milhões.3

Uma das características do envelhecimento da po-pulação é o acúmulo progressivo de incapacidades. O risco de morte passa a ser substituído pelas morbidades e limitações funcionais.2

A capacidade funcional é definida como a habili-dade de manter as atividades físicas e mentais neces-sárias, o que significa poder viver com independência para atividades básicas e instrumentais da vida diária. Esse comprometimento tem implicação para os idosos, sua família, comunidade e sistema de saúde, já que a incapacidade leva a maior dependência e vulnerabili-dade na velhice.3 Nesse cenário, a longevidade passa a ser contraditória, já que ao mesmo tempo em que leva a mais anos de vida gera também mais prejuízos físicos e psicológicos.2

Consequência das mais sérias do surgimento das incapacidades é o risco de queda em idosos. Pode-se defini-la como uma mudança de posição inesperada, não intencional, sem ser consequência de paralisia sú-bita, ataque epilético ou força externa extrema, fazendo com que a pessoa fique em um nível inferior, por exem-plo, sobre um mobiliário ou no chão.4 O envelhecimen-to leva a alterações fisiológicas que podem aumentar o risco de quedas, como declínio hormonal, progres-siva atrofia e fraqueza muscular, descalcificação óssea, aumento da espessura da parede das artérias, do nível de gordura corporal e diminuição da capacidade de coordenação. O idoso responde com maior lentidão e menor eficácia às alterações do ambiente, tornando-se mais suscetível às quedas.5

A maioria das quedas resulta de fatores predispo-nentes, que são fatores de risco que impõem aos idosos maior chance do evento, e de fatores precipitantes, re-lacionados com comportamento imprudente (como su-bir em bancos) e percepção equivocada do espaço fren-te aos obstáculos impostos pelo ambiente.6-8 Fatores de risco intrínsecos importantes são: idade ≥75 anos, sexo feminino, presença de declínio cognitivo, déficit visual, inatividade, fraqueza muscular, distúrbio do equilíbrio corporal e da marcha, história prévia de acidente vas-cular encefálico, quedas anteriores e fraturas, uso de drogas psicotrópicas, assim como de várias medicações em associação, fato comum em idosos.4-6,8-10 Entre os fatores de risco extrínsecos ou ambientais, verificam-se locais com móveis, objetos ou tapetes espalhados pelo chão, pouca iluminação e condições climáticas que le-

vam a piso escorregadio, causando ambientes insegu-ros e perigosos.2

O objetivo deste estudo foi avaliar a frequência de quedas em idosos e as características desses eventos, visando identificar seu contexto e possível prevenção.

méToDosUtilizou-se um questionário aplicado nos ambulatórios do Hospital do Servidor Público Estadual para avalia-ção do risco de quedas em idosos. Os pacientes entre-vistados (201) estavam aguardando suas consultas de rotina nos setores de cardiologia, clínica médica, en-docrinologia e geriatria. As perguntas relacionaram-se à presença de quedas, número de eventos, contexto da ocorrência, consequências e alterações de hábitos após a queda. As informações contempladas nos registros foram analisadas e tabuladas, gerando dados relativos às quedas.

ResulTADosA idade dos participantes variou entre 60-92 anos. Destes, 62,4% eram do sexo feminino.

Dos entrevistados, 83,9% relataram já ter sofrido quedas. Quando questionados sobre a ocorrência de-las nos últimos seis meses, observou-se a frequência de 41,9%, 24,4% e 33,7%, respectivamente, para nenhuma queda, apenas uma queda e duas quedas.

No que tange ao número de quedas por faixa etária, o grupo entre 60-79 anos (61,6%) superou o de idade ≥80 anos (37,1%), com predomínio das mulheres (76,5%) em relação aos homens (22,9%).

Na faixa etária ≥80 anos, a distribuição de quedas por sexo foi mais equitativa, com 48% no feminino e 51,7% no masculino (Figura 1).

As mulheres caíram mais (71,9%) em relação aos ho-mens (28,1%).

Em relação ao local de quedas, a rua foi o lugar mais frequente, com 40% dos casos, seguida da residência (27,3%) e da combinação residência e rua (32,7%). As maiores frequências de queda na residência referiram-se aos locais de passagem entre cômodos ou que possuem algum tipo de desnível, como escadas, banheiros ou la-vanderias, no total de 77,5% .

Os modos de ocorrência das quedas mais comuns fo-ram após tropeçar, escorregar e perder o equilíbrio, tota-lizando 91,2% dos casos.

As quedas podem gerar graves consequências, in-cluindo aspectos físicos (dor e fratura) e psicológicos (medo), somando 98,2% dos casos.

Após as quedas sofridas, 72,5% dos idosos deixaram de realizar atividades domésticas e sociais, sendo a mais relatada a realização de compras, em 49,9% dos casos. Tal fato pode demonstrar, em uma análise individual, perda da liberdade e autonomia para resolver suas ne-cessidades, gerando algum grau de dependência.

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Quedas em pacientes ambulatoriais | 217

Per

cent

ual

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

060-79

Faixa etária

Frequência de quedas em pacientes idosos segundosexo e grupo etário do ambulatório HSPE 2011

22,9

76,5

51,7 48,3

Sexo masculino Sexo feminino

Figura 1 Frequência de quedas em pacientes idosos do ambulatório do HSPE, segundo sexo e grupo etário (2011).

DIsCussãoEm nosso estudo, encontramos a frequência de pelo menos uma queda em 83,9% dos entrevistados. No Brasil, aproximadamente 29% dos idosos caem ao me-nos uma vez ao ano e, destes, cerca de metade dos ca-sos apresenta quedas recorrentes.7 A razão para essa diferença não está clara, mas pode dever-se ao fato de o Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo atender pacientes com múltiplas morbidades, usuários de grande número de medicamentos e com maior com-prometimento funcional do que idosos de uma popu-lação geral.

Idade avançada mostra associação com maior risco e maior número de quedas.11,12 Porém, em nosso estudo, verificou-se que o maior número de quedas foi entre os idosos mais jovens, no grupo entre 60-79 anos (61,6%), contra 37,6% naqueles com 80 anos ou mais. Tal fato coincide com o resultado encontrado por Fhon et al.3 Também aqui o motivo para essa diferença não está bem estabelecido,3 mas é possível que idosos mais jovens es-tejam mais expostos ao risco de queda devido a maior atividade e possível comportamento imprudente.

Os idosos que mais sofreram quedas pertencem ao sexo feminino (71,9%), coincidindo com os dados da literatura. Ainda que os motivos sejam desconhecidos, admitem-se como alguns fatores: quantidade de massa magra e força muscular menor do que a de homens da mesma idade, maior exposição a tarefas domésticas, com maior comportamento de risco.3,8,11,12

Na comunidade, a maioria das quedas ocorre no próprio local da moradia,2,7 diferentemente do resulta-do encontrado no estudo, cujo local mais frequente foi a rua (40% casos), seguida da associação de rua e residên-

cia (32,7%) e domicílio (27,3%). Mais uma vez, não há uma justificativa clara para essa discrepância, entretanto, observando-se maior número de quedas entre os idosos mais jovens, podemos considerar que tal fato seja conse-quência de maior movimentação desse grupo por ruas e calçadas irregulares e com múltiplos obstáculos em rela-ção aos demais idosos.

Quando se indagou sobre o local específico da resi-dência onde ocorreu a queda, os mais citados foram os de passagem entre cômodos ou que possuem algum tipo de desnível, como escadas, banheiros, lavanderias, perfa-zendo um total de 77,5% nesses locais, em concordância com a literatura, que cita escadas, quartos e salas como locais importantes e de elevado risco.3,7

As formas mais comuns de ocorrência de quedas ve-rificadas no estudo foram após tropeçar, escorregar ou perder o equilíbrio, totalizando 91,2% dos casos.

O planejamento, a manutenção e a readequação dos espaços, considerando as mudanças naturais ao longo da vida, são indispensáveis no manejo de posturas e obstá-culos ambientais que podem acarretar acidentes.

As consequências das quedas ficam em torno de 98,2%, variando de limitações físicas geradas por dores e fraturas a alterações psicológicas, sendo a principal delas o medo. A síndrome do medo de cair gera receio de novas quedas, além de comportamento que implica limitação de atividades cotidianas, podendo resultar em tristeza, isolamento social, insegurança, limitação fun-cional, imobilidade e até mesmo morte.3,12

Conforme já observado em trabalhos anteriores, 72,5% dos idosos do estudo em questão passaram a li-mitar as suas atividades, com perda da liberdade e auto-

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nomia, sendo o abandono do ato de realizar compras o mais relatado, em 49,9% dos casos.

ConClusãoO aumento do contingente de idosos, sobretudo da-queles com idade superior a 80 anos, população de maior risco para perda progressiva de funcionalidade e dependência, demanda custos adicionais para a so-

ciedade. É imperioso, portanto, após a verificação dos presentes dados, a implantação de instrumentos de triagem rápida para o risco de quedas, bem como a rea-lização de atividades educativas da população a respei-to desse problema. A promoção de ações permanentes de atenção aos idosos e seus cuidadores possibilitará a prevenção de novos eventos e de suas consequências crônicas ou fatais.

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Page 63: Nº 3 – Edição: Jul/Ago/Set 2013

a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).b Análise e interpretação dos dados, elaboração do rascunho e aprovação da versão final do trabalho.c Participação na revisão crítica do conteúdo e aprovação da versão final do trabalho.d Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.e Concepção e planejamento, elaboração do rascunho, revisão crítica do conteúdo e aprovação da versão final do trabalho.f Pesquisador da Unifesp, Departamento de Endocrinologia.

dados para correspondênciaFlávia Regina de Andrade Varela – Universidade Federal de São Paulo. Rua Botucatu, 685. Tel.: (11) 5575-6427. E-mail: [email protected]ícia Coelho de Soárez – Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Av. Dr. Arnaldo, 455, 2º andar, Cerqueira César, São Paulo. CEP: 01246-903. Tel.: (11) 3061-7290. E-mail: [email protected]

avaliação de qualidade de vida em idosos fráGeis:

uso de quesTionários – revisão da liTeraTura

flávia regina de andrade varelaa,b, rozana mesquita ciconellia,c, patrícia coelho de soárezd,e, nelson carvalhaes netoc,f

Artigo de revisão

Resumo Objetivo: A avaliação das intervenções em saúde na população idosa frágil sempre constituiu um desafio devido ao caráter múltiplo e complexo dos seus problemas. Uma vez que ela tem se mostrado adequada com o uso de questioná-rios de avaliação de qualidade de vida, uma revisão da literatura sobre esse tema se faz necessária. Foi realizada revisão utilizando como palavras-chave “frail elderly”, “questionnaire” e “quality of life, acrescentando “Brazil” numa segunda busca, tendo como resultado final a inclusão de 63 artigos. A combinação de um questionário genérico de avaliação de qualidade de vida com um específico para a patologia ou condição a ser avaliada é a estratégia mais utilizada pelos au-tores para acessar essa dimensão do conhecimento. Embora não existam questionários específicos para idosos frágeis, a aplicação de questionários já testados tem se mostrado válida, e o desenvolvimento de uma ferramenta específica para essa população é fortemente recomendada pelos autores estudados.

assessmenT of qualiTy of life in frail elderly: usinG quesTionnaires – liTeraTure review

ABsTRACTThe evaluation of health interventions in frail elderly people was always a challenge due to the nature of its multiple and complex problems. Once it has been adequate with the use of questionnaires to evaluate quality of life, a review of the lite-rature on this topic is needed. Thus, a review was conducted using key words such as “frail elderly” and “questionnaire” and “quality of life” and adding “Brazil” in the second search, with the final result the inclusion of 63 articles. The combination of a generic questionnaire for assessing quality of life for a specific disease or condition to be evaluated is the tactic used by the authors to access this dimension of knowledge. Although there are no specific questionnaires for the frail elderly, the questionnaires that have been tested have shown to be valid, and the development of a specific tool for this population is strongly recommended by the authors studied.

Palavras-chave Idoso frágil,

questionário, qualidade de vida,

Brasil.

Key wordFrail elderly,

questionnaire, quality of life,

Brazil.

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220 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

InTRoDuçãoA longevidade, antes considerada um fenômeno, atual-mente faz parte da realidade da maioria das sociedades. Estima-se que, para o ano de 2050, existam cerca de dois bilhões de pessoas com 60 anos ou mais no mun-do, a maioria vivendo em países em desenvolvimento. No Brasil, estima-se que existam atualmente 17,6 mi-lhões de idosos, com a perspectiva de existirem mais idosos do que crianças abaixo de 15 anos em 2050.1 Esse envelhecimento populacional é entendido como uma resposta à queda da fecundidade e da mortalidade, e ao aumento da esperança de vida,1 constituindo um de-safio à construção de políticas públicas que atendam a esse novo perfil populacional.

O envelhecimento pode ser entendido como sinôni-mo de senescência quando a diminuição progressiva da reserva funcional do indivíduo em questão não acarre-ta maiores problemas, mas também pode cursar com doenças, estresse emocional ou acidentes, levando à necessidade de atenção diferenciada, sendo conhecido então como senilidade1 e se caracterizando pela fragili-dade do envelhecimento.

Embora não haja consenso entre os diferentes pes-quisadores, a fragilidade pode ser entendida como uma síndrome multidimensional que envolve interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais, culmi-nando em estado de maior vulnerabilidade, associado a maior risco de desfechos clínicos adversos.1 Clinica-mente, podemos observar perda de peso, fadiga, dimi-nuição da força de preensão, da velocidade de marcha e diminuição da atividade física, tendo como consequên- cias quedas, dependência, incapacidade, diminuição da qualidade de vida, institucionalização e morte.2 Es-tima-se que 10%-25% das pessoas acima dos 65 anos e 46% acima dos 85 anos que vivem na comunidade sejam frágeis.1 Idosos frágeis frequentemente sofrem de doenças crônicas e progressiva perda de capacidades funcionais,3 o que impacta negativamente na qualidade de vida, principalmente na preservação da dignidade e da independência.4

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a incapacidade como um “termo guarda-chuva” para com-prometimentos, limitações de atividades ou restrições, representando uma interação dinâmica entre condições de saúde, atributos pessoais e ambientais.5 Já “qualidade de vida” tem recebido uma variedade de definições ao longo dos anos, podendo se basear em três princípios fundamentais: capacidade funcional, nível socioeconô-mico e satisfação, mas também está relacionada com es-tado emocional, interação social, atividade intelectual e autoproteção de saúde.6 A avaliação de qualidade de vida pode ser realizada através de questionários estruturados mais genéricos ou específicos para uma função ou habili-dade a ser testada, com poder de inferir o grau de satisfa-ção do indivíduo com suas condições atuais de vida.

A preocupação com a incapacidade e com o seu impacto na qualidade de vida como assunto de saúde pública justifica-se pelo envelhecimento populacio-nal rápido e intenso, e pela alta prevalência de doen-ças crônicas causadoras de limitações funcionais e de incapacidades entre os idosos.5 A avaliação das inter-venções em saúde na população idosa frágil sempre constituiu um desafio devido ao caráter múltiplo e complexo dos seus problemas.4 O uso de questioná-rios para avaliação de qualidade de vida mostra-se adequado a esse propósito. Assim, o objetivo deste estudo é revisar os artigos que utilizam questioná-rios para avaliação de qualidade de vida em idosos frágeis, contribuindo para direcionar novos estudos na área e também com a implantação de alternati-vas de intervenção e políticas públicas para os idosos frágeis.

mATeRIAIs e méToDosRevisão da literatura nas bases de dados MEDLINE e BIREME, englobando as bibliotecas LILACS, IBECS, COCHRANE, SCIELO, utilizando como palavras- chave “frail elderly”, “questionnaire” e “quality of life”, acrescentando “Brazil” numa segunda busca. Foram incluídos artigos publicados entre janeiro de 1986 e maio de 2010.

Critérios de inclusão: artigos que utilizam algum questionário de avaliação de qualidade de vida aplica-do em idosos frágeis.

Critérios de exclusão: artigos que avaliam somente saúde oral da amostra ou os que se utilizam de exames laboratoriais ou cirurgias para execução da pesquisa. Também foram excluídos artigos que avaliassem quali-dade de vida do cuidador, uso de fármacos ou serviços.

ResulTADos Nesta revisão foram levantados 105 artigos no MEDLINE e 71 artigos na BIREME. Ao se acrescentar “Brazil” à busca, recuperou-se um artigo adicional no MEDLINE. Ao se pesquisarem os artigos relacionados ao único nacional7 encontrado no MEDLINE foram identifi-cados 175 artigos, dos quais apenas 26 preenchiam os critérios de inclusão desta pesquisa. Dos 352 artigos levantados, foram revisados 63 (Figura 1).

Características gerais dos estudosOs estudos foram classificados em três grandes grupos: estudos de comunidade (Tabela 1), serviços de saúde (ambulatório ou hospital; Tabela 2) e instituições de longa permanência (Tabela 3). Esses artigos também foram avaliados em relação a país de origem, ano de publicação, amostra utilizada e tipo de questionário aplicado, possibilitando a construção de um painel sobre avaliação de qualidade de vida através da aplica-ção de questionários em idosos frágeis.

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Qualidade de vida em idosos frágeis: uso de questionários | 221

FIGUra 1 Artigos pesquisados na base de dados Medline.

EstudOs na COMunIdadEForam incluídos 36 estudos realizados na comunidade, 29 estudos realizados na comunidade somente,5-12,15-17,19-26,30-38,67 três estudos na comunidade e no hospital,13,28,39 três estudos na comunidade e ambulatório,14,27,29 um estudo em comu-nidade e instituição que não é de longa permanência.18

A leitura dos artigos possibilitou a seguinte síntese:• Apenas três estudos datam da década de 1990,8-10 en-

quanto, a partir de 2000, nota-se aumento do núme-ro de publicações e estudos na área, principalmente a partir de 2005.5,7,23-39

• A maioria dos artigos (31 de 36) foi publicada em países desenvolvidos, 16 estudos são euro-peus,8,10-13,15,18,20,21,24,25,27,31,35,36,39 13 estudos são da América do Norte,9,14,16,17,19,22,23,26,29,30,33,37,67 um estudo é australiano28 e um estudo é japonês.38

• Dezoito estudos foram classificados pelo autor como longitudinais,9,11-13,15,18,20,24-28,30,33,35,38,39,67 13 estudos fo-ram considerados transversais,5-8,10,14,16,22,23,32,33,36,37 qua-tro foram ensaios controlados randomizados17,19,21,31 e um foi classificado como quase experimental.29

• Oito estudos utilizaram questionário próprio na cons-trução de suas pesquisas,5,7,8,11,20,22,25,31 seis utilizaram IADL/ADL/PADL,12,17,18,34,35,39 nove aplicaram MOS ou MOS-SF e SF-36 ou SF-129,19,21,24,26,28,29,37,38,67 e 13 utili-zaram dois ou mais questionários.9,12-14,16,17,21,23,24,27,30,35,38 Destes últimos 13 estudos, nove utilizaram um ques-tionário específico em conjunto com um genérico, sendo que o SF-36 foi escolhido em três estudos, e sua versão SF-12 em um estudo.

• Oito estudos usaram amostra abaixo de 100 entre-vistados,7,21,23,26,29,32,38,39 17 usaram 100-500 entrevista-dos,6,11-17,19,22,24,25,28,30,31,32,35 quatro entre 500-1.0008-10,27 e sete acima de 1.000.5,18,20,34,36,37,67

EstudOs EM sERvIçOs dE saúdEEm relação aos estudos realizados em serviços de saúde (hospital ou ambulatório), foram selecionados 17, dos quais sete foram realizados exclusivamente em ambiente hospita-lar,3,44-48,54 nove em ambulatórios4,40,41,43,49,50-53 e um em am-bulatório e hospital.42

Destes estudos:• Cinco foram realizados na década de 1990,3,4,40,42 en-

quanto oito foram realizados a partir de 2005.47-54

• Todos os estudos recuperados foram conduzidos em países desenvolvidos, sendo quatro na América do Norte,3,4,42,46 oito na Europa,41,44,45,47-50,54 quatro no Ja-pão40,43,51,52 e um na Austrália.53

• Em relação ao desenho dos estudos, os autores clas-sificaram oito como transversais,3,4,40,43,47,49,51,52 sete como longitudinais41,44-46,48,50,54 e dois como controla-dos randomizados.42,53

• Nenhum dos estudos selecionados utilizou ques-tionário próprio, sendo que cinco aplicaram o SF-364,42,43,51,54 e nove deles utilizaram dois ou mais questionários,3,42,44,47,49-52,54 sendo que o SF-36 foi o instrumento mais utilizado.

• Cinco estudos utilizaram amostra com menos de 100 entrevistados,3,40,41,46,51 oito com 100-3004,43,45,47-50,52 e quatro com, mais de 300.42,44,53,54

Medlinen = 281

Biremen = 71

Incluídosn = 63

Artigos excluídos (n = 149)

Artigos relacionados ao único nacional encontrado por não cumprirem os critérios de inclusão

Artigos excluídos (n = 140)

Artigos que não cumpriam critérios deinclusão relacionados à amostra utilizadae/ou questionários de qualidade de vida

Potencialmente relevantesn = 352

Potencialmente relevantesn = 203

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222 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

Tabela 1 Estudos na comunidade

Referência Ano País Desenho Amostra Questionário

Sorensen et al.1 1992 Dinamarca Transversal 585 idosos Questionário próprio

O’Keefe et al.2 1995 Estados Unidos Longitudinal 704 idosos MOSEBSQ

Noro et al.3 1996 Finlândia Transversal 795 idosos NHP

Fry OS4 2000 Colúmbia Britânica Longitudinal 331 idosos Questionário próprio

Hellstrom et al.5 2001 Suécia Longitudinal 448 idosos IADLPADL

Schechtman et al.6,7 2001 Estados Unidos Longitudinal 1.733 idosos SF-36

Dos Santos et al.7 2002 Brasil Transversal 128 idosos Escala de qualidade de vida de Flanagan

Van Balen et al.8 2003 Holanda Longitudinal 208 idosos RAP, BI, NHP, COOP/WONCA

Preville et al.9 2003 Canadá Transversal 315 idosos PRIME-MD, PDI-29

Frieswijk et al.10 2004 Holanda Longitudinal 444 idosos GFI

Kellerh11 2004 Estados Unidos Transversal 367 idosos HR-QOL e SCREEN

Binder et al.12 2004 Estados UnidosEnsaio clínico

controlado randomizado

155 idosos PPT, FSQ, ADL

Hellstrom et al.13 2004 Suécia Longitudinal 4.337 idosos ADL

Villareal et al.14 2004 Estados Unidos Coorte randomizada 156 idosos MOS -SF

Stenzelius et al.15 2004 Suécia Longitudinal randomizado 4.227 idosos Questionário próprio

Helbostad et al.16 2004 NoruegaEnsaio clínico

controlado randomizado

77 idososSF-36

ACWSFDOW

Gollub et al.17 2004 Estados Unidos Transversal 381 idosos Questionário próprio

Arnold et al.18 2005 Canadá Transversal 73 idosos OQLQABC

Jakobsson et al.19 2005 Suécia Longitudinal 175 idosos SF-12 e MPI-S

Underwood et al.20 2006 Inglaterra Longitudinal 498 idosos Questionário próprio

Villareal et al.21 2006 Estados Unidos Longitudinal randomizado 40 idosos SF-36

Hinkka et al. 22 2006 Finlândia Longitudinal 741 idososFIM, GDS,

minimental, 15 dimension qlq

Stretton et al.23 2006 Austrália Nova Zelândia Longitudinal 243 idosos SF-36

Vincent et al.24 2006 Canadá Quase experimental 38 idosos SF 12

Zhang et al.25 2006 Canadá Longitudinal 192 idosos HUI2, MDS-HC

Inoye et al.26 2007 Brasil Transversal 80 idosos Questionário próprio

Van Haastregt et al.27 2007 HolandaEnsaio clínico

controlado randomizado

168 idosos Questionário próprio

Paschoal et al.28 2007 Brasil Transversal 193 idosos EQoL índex

Levasseur et al.29 2008 Canadá Longitudinal 49 idosos QOL index

Santos et al.30 2008 Brasil Transversal 2.143 idosos IADL

Armi et al.31 2008 Suíça Longitudinal 340 idosos ADL, IADL

Waldorff et al.32 2008 Dinamarca Transversal 2.934 idosos Euroqol-5D-vas

Giacomin et al.35 2008 Brasil Transversal 1.786 idosos Questionário próprio

Masel et al.33 2009 Estados Unidos Transversal 1.008 idosos SF-36

Maillet et al.36 2009 França Longitudinal 84 idosos ADL

Sato et al.34 2009 Japão Longitudinal randomizado 22 idosos SF-36

FIM

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Qualidade de vida em idosos frágeis: uso de questionários | 223

Tabela 2 Estudos em hospital/ambulatório

Referência Ano País Desenho Amostra Questionário

Guyatt et al.37 1993 Canadá Transversal 76 idosos GQOLQ, HRQL, RPEFQ

Hashizume et al.38 1996 Japão Transversal 95 idosos GGWBS

Stadnyk et al.39 1998 Canadá Transversal 146 idosos SF-36

O’Keeffe et al.40 1998 Reino Unido Longitudinal 60 idosos CHF

Gagnon et al.41 1999 CanadáEnsaio clínico

controlado randomizado

427 idosos SF-36, CSQ-8, OARS

Suzuki et al.42 2002 Japão Transversal 133 idosos SF-36

Jordhoy et al(43) 2003 Noruega Longitudinal 395 idosos EORTC QLQ-C30

Hickson et al.44 2003 Reino Unido Longitudinal 233 idosos EuroQol EQ-5D

McKiernan et al.45 2004 Estados Unidos Longitudinal 46 idosos OQoLQ

Baró et al.46 2006 Espanha Transversal 134 idosos NHP, MMSE, BI

Lupón et al.47 2006 Espanha Longitudinal 196 idosos MLHFQ

Hernandez et al.48 2007 Espanha Transversal 203 idosos EQ-5D, SGRQ

Ruiz-Miralles et al.49 2007 Espanha Longitudinal 107 idosos COOP/WONCA

Sato et al.50 2007 Japão Coorte transversal simples cego 30 idosos SF-36, FIM

Kanauchi et al.51 2008 Japão Transversal 101 idosos WHOQOL-26, GHQ-28, GDS

Swamy et al.52 2009 Austrália Coorte controlada randomizada 616 idosos NEIVF-25

Perret-Guillaume et al.53 2010 França Longitudinal 701 idosos DHP, SF-36

Tabela 3 Estudos em instituição de longa permanência

Referência Ano País Desenho Amostra Questionário

Hughes et al.54 1988 Estados Unidos Transversal 313 idosos OARSMFAQ

Basket et al.55 1991 Nova Zelândia Transversal 5.213 idosos SF-36

Hays et al.56 1996 Estados Unidos Transversal 50 idosos QWB

Ross et al.57 1998 Canadá Transversal 66 idosos WHOCIDH

Toye et al.58 2006 Austrália Transversal 12 idosos FEFAT

Samus et al.59 2006 Estados Unidos Transversal 198 idosos ADRQLQ

Wodchis et al.60 2007 Canadá Transversal 514 idosos HUIM 2, MDSSI

Chan et al.61 2007 China Transversal 287 idosos QOLC-E

Watt et al.62 2007 Canadá Transversal 38 idosos Questionário próprio

Eloranta et al.63 2008 Finlândia Transversal 21 idosos Questionário próprio

Chen et al.64 2010 Taiwan Transversal 69 idosos PSQITDQ

ADL: Activities of Daily Living; ADRQOL: Alzheimer’s Disease related Quality of Life; CHQ: Chronic Heart Failure Questionnaire; DPEQ: Discharged Patients’ Enquiry Questionnaire; DHP: Duke Health Profile; EBSQ: Elderly Bowel Symptom Questionnaire; FIM: Functional Independence Measure; FSQ: Functional Status Questionnaire; GDS: Geriatric Depression Scale; GFI: Groningen Frailty Indicator; GHQ-28: General Health Questionnaire 28; GQLQ: Geriatric Quality of Life Questionnaire; HRCA: Hebrew Rehabilitation Center for Aged Vulnerability Index; IADL: Instrumental Activities of Daily Living; MOS: Medical Outcomes Survey; MOS-SF: Medical Outcomes Survey short form; Mini Mental State Examination; MPI-S: Multidimensional Pain Inventory; MLHF: Minnesota Living with Heart Failure; NEIVFQ-25: National Eye Institute Visual Function Questionnaire; NHP: Nottingham Health Profile; PADL: Personal Activities of Daily Living; PPT: Physical Performance Test; QOLC-E: Quality-of-Life Concerns in the End of Life Questionnaire; RPEFQ: Rand Physical and Emotional Function Questionnaires; SCREEN: Seniors en the Community Risk Evaluation for Eating and Nutrition; SF-12: Short Form Questionnaire 12; SF-36: Short Form Questionnaire 36; SGRQ: Saint George Respiratory Questionnaire; Six Minute Walk Test; VES: Vulnerable Elderly Survey Index; WHOCIDH: World Health Organization Classification of Impairment Disability and Handicap; WHOQOL-26: World Health Organization Quality of Life 26 Questionnaire.

EstudOs EM InstItuIçãO dE lOnga PERManênCIa

Foram selecionados 11 estudos realizados em instituição de longa permanência, dos quais:

•Quatro foram realizados entre 1988-199855-58 e os outros sete entre 2006-2010.59-65

• Nove estudos foram conduzidos em países desen-volvidos, sendo seis na América do Norte,55,57,58,60,61,63

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224 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

um na Finlândia64 e dois na Oceania.56,59 Outros dois estudos foram conduzidos na China62 e Taiwan.65

• Destes 11 estudos avaliados, nove foram classifica-dos como transversais.55-58,60-64

• Dois estudos aplicaram questionários próprios,63,64 três aplicaram dois questionários55,61,65 (OARS e MFAQ, HUIM dois e MDSSI, PSQI e TDQ, res-pectivamente) e os seis restantes aplicaram um questionário: SF-36, QWB, WHOCIDH, FEFAT, ADRQLQ, QOLC-E.

• Seis estudos utilizaram amostra com menos de 100 indivíduos,57-59,63-65 quatro utilizaram amostra com mais de 100 indivíduos55,60-62 e um estudo contou com mais de cinco mil participantes.56

DIsCussãoO presente trabalho pretendeu revisar os artigos sobre avaliação de qualidade de vida em idosos frágeis para apontar quais questionários têm sido mais frequente-mente utilizados nessa população.

Os estudos conduzidos na comunidade indicam ten-dência à utilização de questionário genérico acompa-nhando a aplicação de outro específico para o assunto do interesse do pesquisador. Notamos o aumento do núme-ro de publicações a partir do ano 2000 e a concentração dessas publicações em países desenvolvidos, apontando uma lacuna na pesquisa com idosos frágeis em países em desenvolvimento. A maioria desses estudos utili-zou amostra de até 500 participantes, sendo que dos 11 estudos envolvendo mais de 500 participantes, os dois brasileiros, um realizado em Belo Horizonte (MG)5 e o outro realizado em São Paulo (SP),34 demonstraram que as incapacidades aumentam com a idade, são maiores entre as mulheres e menos pronunciadas entre indiví-duos de maior escolaridade e renda.34 Essa incapacidade é compreendida como fruto de doenças crônicas inicia-das na meia-idade, sendo que a hipertensão arterial e a artrite apresentaram associações com incapacidade leve ou moderada, e o diabetes e o acidente vascular cerebral associaram-se às incapacidades graves.5 Foi possível es-tabelecer que o controle das doenças crônicas e os laços sociais, familiares ou não,5 funcionaram como fatores protetores das incapacidades funcionais. Em relação aos estudos internacionais, três deles9,20,36 avaliaram impac-tos de doenças, como problemas do funcionamento in-testinal,9 incontinências urinária e fecal20 e dificuldades de memória36 na qualidade de vida. Todos eles indica-ram correlação entre pior qualidade de vida e presença de incapacidades/dificuldades nos aspectos avaliados, sugerindo que intervenções neles impactariam positi-vamente na avaliação de qualidade de vida dos idosos avaliados. Os demais estudos8,10,18,27 tratam de caracte-rizar a população idosa frágil vivendo na comunidade quanto ao seu risco de institucionalização,27 necessidade

de manutenção da independência funcional e saúde para diminuir esse risco,8 uma vez que a qualidade de vida e a capacidade funcional referidas pelos idosos instituciona-lizados mais saudáveis foram piores do que as referidas por aqueles vivendo na comunidade.10 Já o estudo norte--americano de 200167 comprovou que exercícios podem melhorar a qualidade de vida de idosos frágeis, mas de maneira modesta. Todos esses estudos compartilharam as dificuldades em aplicar questionários na população idosa frágil, pela própria característica da população e por aplicarem questionários que não foram desenvolvi-dos especificamente para tal uso.

Em relação aos estudos em serviços de saúde, obser-vamos a manutenção da predominância dos estudos em países desenvolvidos, o uso preferencial do SF-36 como questionário genérico e amostras de no máximo 300 participantes, na sua maioria. Dos quatro estudos com amostras com mais de 300 participantes, um avaliou o rastreamento visual em idosos frágeis na Austrália,53 concluindo que o procedimento não melhora a visão nem a qualidade de vida relacionada à visão da popu-lação avaliada, o que está de acordo com outros estu-dos semelhantes realizados nos Estados Unidos, Reino Unido e Holanda. Outro estudo realizado nos Estados Unidos42 demonstrou que idosos frágeis na comunida-de sob cuidados de enfermagem se utilizam mais dos serviços de emergência, sem concomitante ganho em saúde, quando comparados aos idosos que não contam com esse serviço. Possíveis vieses dessa conclusão do estudo incluem insuficiente poder estatístico do estudo, validade interna comprometida, critérios de inclusão/exclusão inadequados ou intervenção fraca. O 3o estudo avaliado pesquisou o perfil de idosos que morrem em instituições que recebem pacientes terminais de cân-cer.44 Esse estudo demonstrou que esses pacientes são mais idosos, não vivem com cônjuge e apresentam pior status funcional quando comparados aos que morrem em casa ou em hospitais, e propõe o planejamento de serviços mais adequados para o recebimento dos mes-mos. O estudo mais recente54 demonstrou, através da aplicação de dois questionários genéricos de avaliação de qualidade de vida, que o Duke Health Profile parece ser o mais adequado a ser aplicado em população idosa frágil, o que contribui para a resolução de um problema comum a toda pesquisa envolvendo idosos frágeis: a es-colha do questionário.

Os estudos conduzidos em instituições de longa per-manência se mostraram equilibrados entre si em relação aos questionários de escolha, com a maioria utilizando somente um questionário. Notamos também a presença de um estudo chinês e outro conduzido em Taiwan, com apontamento da necessidade de equipe multiprofissional treinada para cuidar dessa população. O estudo com o maior número de participantes56 teve como objetivo me-dir e comparar o grau de incapacidade dos idosos frágeis

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Qualidade de vida em idosos frágeis: uso de questionários | 225

residentes em instituições religiosas e comerciais. Foram selecionados 2.087 residentes em instituições religiosas e 3.126 residentes em instituições comerciais para aplicação do SF-36. Apresentaram incontinência 24% dos residentes em instituições comerciais, 62% demonstraram confusão mental e 78% exigiram assistência com mobilidade e au-tocuidado, sendo significativamente mais incapacitados dos que aqueles em instituições religiosas. Como reco-mendação, o estudo sugere que essas instituições devem empregar equipe treinada para identificar e minimizar problemas, garantindo qualidade de vida aos residentes.

Apesar das limitações da aplicação de questionários não específicos nessa população, existem inúmeras pos-sibilidades de avaliação da qualidade de vida relacionada às patologias mais comuns, incapacidades e condições associadas ao envelhecimento. Os estudos avaliados pontuam suas dificuldades e limitações em relação ao uso dos questionários e à necessidade de desenvolvi-mento de versões específicas para essa faixa populacio-nal, recomendando o uso de questionário genérico, por exemplo, o SF-36, em conjunto com um específico para garantir avaliação abrangente.

Em relação ao número de idosos incluídos nos es-tudos, mesmo os estudos com número grande de par-ticipantes não puderam afirmar que suas conclusões poderiam ser extrapoladas da realidade avaliada, dada a heterogeneidade da população em análise.

ConClusãoA ampliação da expectativa de vida é um dos maiores feitos da humanidade.5 Alcançá-la com qualidade de vida é um dos desafios atuais na área da saúde. O uso dos questionários de avaliação de qualidade de vida na população idosa frágil é de fundamental importância para mensurar os ganhos e deficiências nos diferentes serviços e abordagens oferecidas a essa parcela da po-pulação. A combinação de um questionário genérico de avaliação de qualidade de vida com um específico para a patologia ou condição a ser avaliada é a estra-tégia metodológica mais utilizada pelos autores para acessar essa dimensão do conhecimento. Embora não existam questionários específicos para idosos frágeis, a aplicação de questionários já testados tem se mostrado válida, e o desenvolvimento de uma ferramenta espe-cífica para essa população é fortemente recomendada pelos autores estudados.

ConFlITos De InTeResseOs autores declaram não possuir nenhum conflito de in-teresse.

AgRADeCImenTosA todos os envolvidos no processo de construção do artigo e que possibilitaram sua evolução ao longo dos meses.

ReFeRênCIAs1. Sorensen KDH. To grow old. From a sociomedial epidemiological

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a Acadêmico do Curso de Medicina da Faculdade Christus, Fortaleza (CE). Responsável pela proposição do tema, pela definição dos objetivos, pela pesquisa bibliográfica e pela formatação das referências.b MD, MSc, Coordenador do CHA-VI (Comunicação, Habilidades e Atitudes) e professor de geriatria do curso de medicina da Faculdade Christus, Fortaleza (CE). Responsável pela construção dos objetivos, pela metodologia e pela redação final. c MD, MSc, PhD, professor de psiquiatria do curso de medicina da Faculdade Christus e diretor de ensino e pesquisa do Hospital de Saúde Mental de Messejana, Fortaleza (CE). Responsável pela construção dos objetivos, pela metodologia e pela redação final.

dados para correspondênciaFrancisco Breno Magalhães Barbosa – Rua Vicente Leite, 960, apto. 702, Meireles, Fortaleza, CE, CEP: 60170-150. Tels.: (85) 9997-8014 e (85) 3023-8014. E-mail: [email protected]

TransTorno depressivo no idoso: rasTreamenTo, diaGnósTico e aspecTos epidemiolóGicos

francisco breno magalhães barbosaa, lara sales biermanna, arnaldo aires peixoto Júniorb, Gilson Holanda almeidac

Artigo de revisão

Resumo Introdução: A depressão é um problema de saúde frequente entre idosos e, muitas vezes, de difícil identificação na prática clínica. Acarreta perda de autonomia, agravamento de quadros patológicos preexistentes e se associa com maior risco de morbimortalidade, suicídio e negligência no autocuidado. O diagnóstico e o tratamento ainda se configuram deficientes. Objetivos: Identificar o uso de escalas de triagem, conhecer dados epidemiológicos na realidade brasileira e fatores de risco relacionados à depressão no ido-so. Método: Estudo exploratório utilizando pesquisa bibliográfica de consulta a livros, documentos e artigos das bases MEDLINE, SCIELO, LILACS publicados de 2006 a 2011 referentes ao tema. Resultados: Síndromes depressivas são os distúrbios psiquiátricos mais prevalentes em idosos, com taxas de depressão de cerca de 5% e sintomas depressivos significativos em até 15%. A prevalên-cia em idosos hospitalizados ou institucionalizados atinge 22%. Na comunidade, a prevalência na literatura varia entre 6,4%-59,3%. Dentre os principais fatores de risco estão: sexo feminino, viuvez, baixas escolaridade e renda, presença de doenças físicas crôni-cas, vulnerabilidade neurológica e eventos estressantes da vida. Os principais métodos de triagem identificados para diagnóstico fo-ram: escala de depressão geriátrica, Center for Epidemiological Studies e DSM-IV-TR. Conclusões: A depressão no idoso é um proble-ma de saúde pública que não pode ser entendido como manifestação do envelhecimento fisiológico. O uso rotineiro de instrumentos de triagem permite o diagnóstico de muitos casos que passam despercebidos e podem influenciar na qualidade de vida dos pacientes.

depressive disorer in elderly people: screeninG, diaGnosis and epidemioloGical aspecTs

ABsTRACTIntroduction: Depression is a health problem that is frequent among elderly people. Most of the time it is difficult to identify in clinical practice. It results in the loss of autonomy, aggravation of a preexistent pathological state and it is also associated with a bigger risk of morbid-mortality, suicide and negligence in self-care. The diagnosis and the treatment are still deficient. Objectives: To identify the selected range used, to know epidemiological data in Brazil and risk factors related to elderly people’s depression. Method: Explanatory study using bibliography research from books, documents and articles that are related to the theme from the basis MEDLINE, SCIELO, LILACS published from 2006 to 2011. Results: Depressive syndromes are psychiatric disturbance more prevalent among elderly people with 5% of depression and significant depressive symptoms up to 15%. The prevalence of hospi-talized or institutionalized elderly people reaches 22%. The prevalence in literature varies between 6.4 to 59.3% in the community. Among the main risk factors are: female sex, widowhood, low schooling, chronic physical diseases and stressful events of life. The main methods of selection identified for diagnosis have been: the level of geriatric depression, center of epidemiological studies and DSM-IV-TR. Discussion and conclusion: Depression in elderly people is a problem of public health that can’t be seen as a manifestation of physiological aging. The use of routine instruments of selection helps the diagnosis in many cases that may be unnoticeable and may influence in these patients quality of life.

Palavras-chave Idoso, depressão, envelhecimento, geriatria, escalas

de graduação psiquiátrica, fatores

de risco.

Key wordAged, depression,

geriatric psychiatry, psychiatric status rating scales, risk

factors.

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Transtorno depressivo no idoso | 229

InTRoDuçãoO estudo do envelhecimento e da velhice, como pro-cessos do ciclo vital, é hoje um dos principais pontos de atenção dos agentes sociais e governamentais, bem como da medicina em geral. Dentre os diversos trans-tornos que afetam os idosos, a depressão, considerada, no final do século XX o “mal do século”, merece especial atenção.1

Segundo levantamento feito pela DSM-IV-TR, a par-tir de amostras comunitárias, o risco para transtorno depressivo maior durante a vida varia de 5%-25%.1 A es-cala de depressão geriátrica (Geriatric Depression Scale, GDS)2 e a escala do Center for Epidemiological Studies – Depression (CES-D)3 são instrumentos de rastreio re-conhecidos como recursos rápidos, simples e úteis para a identificação de sintomas depressivos ou de vulnerabi-lidade à depressão na velhice.3

No Brasil, a GDS é bem conhecida e utilizada por pesquisadores e clínicos. A CES-D é de uso recente, em populações jovens e adultas, e entre idosos suas proprie-dades psicométricas ainda não foram exploradas.3 De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), desde a década de 1990 a depressão vem ocupando uma posição de destaque no rol dos problemas de saúde pú-blica, sendo considerada a doença com mais consequên-cias econômicas em todo o mundo. Essa síndrome, no ano 2020, será a segunda moléstia, em termos quantitati-vos, que mais afetará os países desenvolvidos, e a primei-ra em países em desenvolvimento.4

É importante estar atento ao idoso quanto a proble-mas psiquiátricos, pois a presença de comorbidades e o uso de múltiplos medicamentos são habituais na popu-lação geriátrica, fazendo com que tanto o diagnóstico quanto o tratamento dos transtornos do humor se tor-nem mais complexos.5

Este trabalho tem como objetivos identificar o uso de escalas de triagem, levantar a epidemiologia brasileira e conhecer os fatores de risco relacionados à depressão no idoso.

méToDosRealizou-se um estudo exploratório utilizando o mé-todo da pesquisa bibliográfica que, segundo Silva e Schappo (2001, p. 46), “consiste na procura de referên-cias teóricas publicadas em livros, artigos, documentos etc., para o pesquisador que procura explicar um pro-blema a partir das referências neles publicadas, tome conhecimento e analise as contribuições científicas ao assunto em questão”.6 As fontes consultadas foram li-vros, documentos e revistas impressas e artigos extra-ídos das bases de dados MEDLINE, SCIELO, LILACS publicados nos últimos cinco anos referentes ao tema. A pesquisa bibliográfica foi realizada no período de ja-neiro a junho de 2011.

esCAlAs De TRIAgem De DePRessão no IDosoNas últimas décadas foram publicados numerosos es-tudos abordando os principais métodos de diagnóstico de depressão, citando-se, além dos critérios do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, 4ª edi-ção (DSM-IV-TR: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders)7 e da CID-10 (décima revisão da Clas-sificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde),8 os instrumentos de avaliação/ras-treio de saúde mental, como o SPES (Short Psychiatric Evaluat Schedule), validado para a língua portuguesa, a escala de depressão em geriatria (Geriatric Depression Scale, EDG), entre outros.7,8

A EDG é um dos instrumentos mais utilizados para o rastreio de depressão em idosos. Diversos estudos mos-traram que ela oferece medidas válidas e confiáveis. Des-crita em língua inglesa por Yesavage et al. (1983), a esca-la original tem 30 itens e foi desenvolvida especialmente para o rastreamento dos transtornos de humor nessa etapa da vida, com perguntas que evitam a esfera das queixas somáticas. Entre as suas vantagens, destacam-se: ser composta por perguntas fáceis de ser entendidas; ter pequena variação nas possibilidades de resposta; ser au-toaplicada ou aplicada por um entrevistador treinado.3

A EDG, com 15 itens (EDG-15), é uma versão curta da escala original e foi elaborada por Sheikh & Yesavage (1986), a partir dos itens que mais fortemente se correla-cionavam com o diagnóstico de depressão.9

Um trabalho de Paradela et al. (2005) aplicou a EDG-15 e obteve como resultado boa acurácia diagnóstica, com sensibilidade de 81% e especificidade de 71%, quan-do usado o ponto de corte 5/6.2 Essa versão reduzida é bastante atraente para rastreamento dos transtornos de humor em ambulatórios gerais, assim como em outros ambientes não especializados, pois o tempo necessário para a sua administração é menor.2

Em outro estudo, constatou-se que a EDG-30 apre-sentou sensibilidade de 83% e especificidade de 57%, e a EDG-15 apresentou sensibilidade de 50% e especificida-de de 62%, evidenciando que a EDG pode ser útil para detectar como negativos os pacientes que realmente não apresentam depressão, sendo necessárias outras pesqui-sas para aumentar a sua especificidade e o seu valor pre-ditivo positivo.10

Levando-se em consideração o nível de escolarida-de da população geriátrica, em alguns levantamentos foi demonstrado que a escala EDG, quando usada em ido-sos com nível de escolaridade elevado, não demonstrava pontuação relacionada com sintomatologia depressiva, tornando-se mais rara nessa faixa etária. A escolaridade foi a variável mais consistentemente associada com a in-tensidade de depressão em vários estudos, pensando-se nessa hipótese para a baixa pontuação da EDG.11

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Dessa forma, a escolaridade exerceria um papel pro-tetor para sintomas depressivos ou para a sua expressão, sugerindo a criação de uma nova escala, mais simples e de entendimento mais fácil para pacientes que têm nível cognitivo rebaixado.12

Outro método de triagem usado em estudos de depressão geriátrica foi o inventário de depressão de Beck (BDI, Beck Depression Inventory), composto por 21 itens, abordando os componentes cognitivos, afetivos, comportamentais e somáticos da depressão, comportan-do cada item quatro afirmações que variam quanto à in-tensidade (0-3).13 Cabe ao respondente indicar qual das quatro afirmações descreve melhor os seus sintomas. O escore final é obtido mediante o somatório dos 21 itens que compõem a escala, resultando na seguinte normati-zação, segundo o Centro de Terapia Cognitiva (Beck et al., 1988): a) nenhuma depressão ou depressão mínima: escores finais menores que 11 pontos; b) depressão leve- moderada: escores finais entre 12-19 pontos; c) depres-são moderada-grave: escores finais entre 20-35 pontos; d) depressão grave: escores finais entre 36-63 pontos. Em amostras não diagnosticadas, as diretrizes são diferentes: escores acima de 15 indicam disforia e, acima de 20, de-pressão.14

Ao longo dos anos, foram elaboradas duas novas ver-sões do BDI: uma curta ou breve e outra, mais recente, denominada inventário de depressão de Beck II (BDI-II). Desta foram retirados alguns itens (perda de peso, dis-túrbios da imagem corporal, preocupação com o corpo e dificuldade no trabalho), substituídos por outros (perda de energia e dificuldade de concentração). Além disso, os autores ampliaram a duração dos sintomas de uma para duas semanas, de acordo com as normas do DSM-IV- TR.10 De acordo com Gorestein & Andrade15 (p. 245), “há várias propostas de diferentes pontos de corte para distinguir os níveis de depressão utilizando o BDI [...], dependendo da natureza da amostra e dos objetivos do estudo”. Ruscio & Ruscio16 comentam que comparações entre estudos utilizando o BDI tornam-se inconsistentes em função dos diferentes pontos de corte adotados.

Dentre os estudos realizados com o BDI encontra-se o de Kim et al. (2002),17 que avaliaram a precisão dos itens dessa escala para verificar sintomas depressivos em idosos. Segundo os autores, “a depressão é uma das doenças mentais mais comuns em idosos, afetando ao menos um de cada seis pacientes que procuram o aten-dimento médico geral”17 (p. 379). No entanto, alguns trabalhos vêm contestando essa afirmação, assegurando que as escalas superestimam os níveis de depressão em idosos, porque a normatização das escalas produz escore único, fruto do somatório dos itens da escala, dentre os quais se encontram aqueles relacionados ao aspecto so-mático da depressão, como distúrbios do sono e do ape-tite, perda de peso, fadiga, perda da libido, que servem tanto para diagnosticar sintomas de depressão como

para diagnosticar sintomas naturais decorrentes do próprio envelhecimento. Dessa forma, tanto as doenças comuns na terceira idade podem superestimar o diag-nóstico de depressão em idosos como o uso de medica-mentos pode, simultaneamente, mascarar sintomas.9

A escala do Center for Epidemiological Studies – De-pression (CES-D), validada para idosos brasileiros, é ou-tro método de triagem visto em alguns estudos. A escala contém 20 itens escalares sobre o humor, sintomas so-máticos, interações sociais e funcionamento psicomotor. As respostas são em escala Likert (0: nunca ou raramen-te; 1: às vezes; 2: frequentemente; 3: sempre). Em estu-do de validação com idosos brasileiros, identificou-se o ponto de corte válido (≥ 12 pontos) para rastrear sinto-matologia. O instrumento mostra-se psicometricamente adequado para uso entre idosos.3 Entretanto, pesquisas adicionais de natureza longitudinal e transversal, desen-volvidos em diferentes contextos, poderão esclarecer os efeitos de variáveis somáticas e situacionais sobre os re-sultados desse instrumento em pessoas idosas.18

Outra escala de rastreio é o instrumento de avaliação SPES (Short Psychiatric Evaluation Schedule). Tal ins-trumento apresenta a vantagem de ser validado para a língua portuguesa, além de ser relativamente curto e de fácil treinamento. Por meio de 15 questões objetivas e di-retas, explora o prazer da vida, a dificuldade do cotidiano, a disposição das pessoas, os sentimentos de felicidade e utilidade, a sensação de solidão, o sono e os sintomas fí-sicos, como dor de cabeça, dificuldade de andar, falta de ar e fraqueza. Um escore de sete ou mais pontos indica sintomatologia depressiva. Análise discriminante apon-tou que uma versão reduzida do teste com seis itens, SPES-R, mostrou desempenho superior.19

Alguns estudos mostram associação significativa entre a sintomatologia depressiva e o estado cognitivo, medido pelo miniexame do estado mental (MEEM). Os que apresentaram comprometimento do estado cogniti-vo (escore no MEEM <24) eram mais deprimidos com-parados àqueles sem déficit cognitivo (escore no MEEM >24), assinalando uma associação de dois diagnósticos bastante comuns entre idosos: depressão e déficit cog-nitivo. Ambos estão inter-relacionados, visto que a de-pressão pode, muitas vezes, levar a quadros clínicos diagnosticados como demência, e os casos de demência geralmente cursam com sintomas de depressão. Relati-vamente ao comprometimento nas atividades de vida diária (AVDs),20 verifica-se uma tendência crescente na proporção de deprimidos à medida que os idosos se tor-nam mais dependentes fisicamente. Há maior proporção de deprimidos entre os idosos com maiores índices de comprometimento nessas atividades.20

Conforme o item A dos critérios diagnósticos do DSM-IV-TR, da American Psychiatric Association,7 o diagnóstico de depressão foi feito no caso de ocor-rência de cinco ou mais determinados sintomas, com

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comprometimento funcional, durante o período míni-mo de duas semanas, sendo pelo menos um dos sinto-mas humor deprimido ou perda de interesse/prazer. Os demais sintomas são: perda ou ganho de peso; insônia ou excesso de sono; agitação ou retardo psicomotor; fa-diga ou perda de energia; sentimento de inutilidade ou culpa excessiva; dificuldade de concentração; pensamen-to de morte recorrente ou ideias suicidas.7,21

Outro método promissor que ainda precisa de va-lidação como diagnóstico é a escala de depressão para idosos (EDI), composta por dois fatores principais: fator cognitivo-afetivo (n = 27 itens) e fator somático-motor (n = 11 itens), resultando no total de 38 itens. São com-ponentes cognitivo-afetivos: pessimismo recorrente, baixa motivação, baixa autoestima, atribuição interna de causalidade (p. ex., culpa, fracasso), autoatitude ne-gativa, generalização de eventos negativos, ampliação da seriedade dos problemas, perda da memória e/ou concentração, tristeza, melancolia, apatia, sentimentos de rejeição, abandono, medo, irritabilidade e ansiedade, entre outros. Os componentes somático-motores estão relacionados ao aspecto físico/motor, como: retardo ou agitação psicomotora (p. ex., lentidão motora ou da fala, agitação, intranquilidade), alterações no sono e no apeti-te, perda da libido e imunossupressão. A escala propor-ciona, ainda, um fator de segunda ordem, denominado nível geral de depressão, que reúne em si os itens dos dois fatores principais.7

Verificou-se que, para fins de pesquisa em população idosa com reduzida escolaridade, a estrutura de itens da EDI avalia o constructo depressão e apresenta fato-res com índices de precisão dentro dos padrões exigidos pela psicometria, porém, para fins diagnósticos, ainda são necessários estudos posteriores que verifiquem essa validade.9

Com esses dados, foi denotado que o uso rotineiro, por médicos, de instrumentos de triagem de depressão, facilmente aplicáveis na prática clínica, permitiria não só o diagnóstico de muitos casos da doença, que passam despercebidos e influenciam adversamente a qualida-de de vida dos pacientes, como também o prognóstico das comorbidades existentes, as quais contribuem para maior mortalidade, seja pelo aumento do risco de suicí-dio, seja pela evolução desfavorável das doenças crônicas existentes. A depressão é uma doença, e não uma mani-festação do envelhecimento fisiológico; portanto, neces-sita ser diagnosticada e tratada.21

AsPeCTos ePIDemIológICosO último relatório de Síntese dos Indicadores Sociais (SIS) de 2010, com base nos dados da Pesquisa Nacio-nal por Amostra de Domicílios (PNAD) para o ano de 2009, salienta que o Brasil possui 21 milhões de idosos. No período de 1999-2009, o peso relativo dos idosos (60 anos ou mais de idade) no conjunto da população passou

de 9,1% para 11,3%.22 Os distúrbios neuropsiquiátricos, como a depressão, são as principais causas de perda da capacidade de realizar as atividades diárias em pacientes idosos.5 A depressão manifesta-se em até 5% dos adul-tos idosos, e sintomas depressivos significativos estão presentes em até 15% dessa população.5 As síndromes depressivas, juntamente com as síndromes demenciais, representam os distúrbios psiquiátricos mais prevalentes em indivíduos da terceira idade.23

Em diversos estudos, a prevalência da depressão ao longo da vida figura ao redor de 15%.24 A depressão ocu-pa o quinto lugar no mundo como problema de saúde mais incidente, afetando 120 milhões de pessoas, se-gundo a OMS. De acordo com as projeções, estima-se que, em 20 anos, a depressão ocupará o segundo lugar, perdendo apenas para as doenças cardíacas.22 Segundo Harris et al. (2006), a incidência de depressão foi de 8,4%.25

Os transtornos depressivos entre idosos que vivem na comunidade variam de 4,8%-14,6%, e a prevalência em idosos hospitalizados ou institucionalizados é maior, atingindo 22%.11 Por outro lado, os estudos que avaliam os sintomas clinicamente relevantes e que utilizam as es-calas de sintomas mostram prevalência na comunidade que varia de 6,4%-59,3%.26

FAToRes De RIsCoEm razão de sua alta prevalência, a depressão constitui importante problema de saúde pública na população idosa, com frequente associação a doenças crônicas, im-pacto negativo na qualidade de vida e risco de suicídio, sendo importante ressaltar a existência e o reconheci-mento dos principais fatores de risco que podem predis-por a ela.21

De acordo com a literatura, quando deprimidos, os idosos são menos propensos a apresentar sintomas afe-tivos  e mais tendentes a mostrar alterações cognitivas, sintomas somáticos e perda de interesse, em comparação aos adultos mais jovens. A bibliografia sugere que uma variedade de fatores de risco leva ao desenvolvimento de depressão nos idosos, provavelmente relacionados com complexas interações entre vulnerabilidades genéticas, distúrbios cognitivos associados à idade, alterações neu-robiológicas e eventos estressantes.27

O envelhecimento provoca numerosas perdas que poderiam influenciar a produção de uma síndrome de-pressiva, por comprometer a qualidade de vida, como, por exemplo, a perda de contatos e das funções sociais, bem como o abandono, o isolamento social, a incapaci-dade de reengajamento na atividade produtiva, a ausên-cia de retorno social do investimento escolar, a redução dos recursos mínimos para a sobrevivência, pela aposen-tadoria, e a perda do companheiro.11

Além dos fatores mencionados, sugeriu-se também a história de depressão pregressa, eventos de vida estres-santes, institucionalização em casas asilares, renda baixa,

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insatisfação com o suporte social, ansiedade, nível edu-cacional baixo e uso de medicação antidepressiva.11

Idosos institucionalizados são bastante afetados, pois apresentam maior incidência de sintomas depressivos ante a ausência de perspectivas positivas em relação à sua própria vida. O sentimento de abandono e a instabilida-de em relação ao futuro são constantes nessas pessoas.13 Foi observada também tendência crescente na proporção de deprimidos à medida que os idosos se tornavam mais dependentes fisicamente.20 Verificou-se, ainda, que quei-xas em relação à quantidade de sono (insônia, hipersonia) associam-se com o risco aumentado de depressão.22

Publicações recentes têm revelado a influência dos aspectos da personalidade sobre a qualidade de vida e a depressão em idosos. Os que são mais voltados para si próprios, menos interativos e pouco dominantes apresentaram escores menores de sintomas sugestivos de depressão em relação àqueles que são mais voltados e interessados no outro, mais deferentes, organizados, persistentes e interativos, porém são necessários outros estudos para explicar e consolidar essa afirmação.28

Além disso, observou-se que 76,6% dos idosos afir-maram que na última consulta o médico não perguntou se eles se sentiam tristes ou deprimidos, evidenciando que a depressão nos idosos é pouco investigada em am-bientes clínicos, sugerindo que os médicos sejam alerta-dos sobre isso e recebam treinamento adequado para o monitoramento de depressão nesse grupo etário.1

ConsIDeRAções FInAIsA revisão da bibliografia permite traçar reflexões sobre alguns aspectos desse amplo transtorno psiquiátrico. Na maioria dos estudos citados, a análise dos resultados foi efetuada com base na efetividade das escalas usadas para triagem, comparações epidemiológicas das diversas regiões do Brasil e nos fatores de risco mais comuns para o desenvolvimento da depressão em idosos.

A literatura revisada apoia a perspectiva de que a depressão não é uma parte normal do envelhecimento.  Embora a depressão no idoso seja frequentemente me-nos grave, as consequências podem ser devastadoras. Os estudos corroboram também os achados para sexo e es-colaridade, ao apresentar maiores riscos de recorrência

entre as mulheres e indivíduos com menor escolaridade. A escolaridade tem sido apontada na literatura geron-tológica como fator de resiliência ou proteção, por am-pliar os recursos de enfrentamento dos idosos diante de situações estressantes e da depressão. Diversos estudos apontam que os riscos biológicos tornam-se dramatica-mente mais prevalentes na terceira idade, considerando que aumenta a vulnerabilidade psicológica e diminui a resiliência psicológica ao longo da vida. Há um consenso substancial sobre grandes categorias de fatores de risco para depressão no idoso,  que incluem vulnerabilidade neurológica, doenças, deficiências físicas e  eventos es-tressantes da vida, como o luto e a ausência de cuidados familiares. Várias pesquisas estão apenas começando a estudar as interações entre esses fatores de risco. Com os diversos estudos e descobertas sobre esses fatores e sua relação protetora, a concepção e o ensaio de novas abor-dagens de prevenção da depressão tornar-se-ão mais viáveis.

A literatura sobre a depressão sinaliza que um epi-sódio depressivo constitui risco para a ocorrência de outros episódios, principalmente entre indivíduos que não receberam nenhum tipo de intervenção em saúde mental, mostrando a grande importância de uma tria-gem dos médicos para essa doença tão complexa. Con-clui-se também que o uso rotineiro de instrumentos de triagem de depressão, facilmente aplicáveis na prática clínica, permitiria não somente o diagnóstico de muitos casos da doença, que passam despercebidos e influen-ciam adversamente a qualidade de vida dos pacientes, como também o prognóstico das comorbidades existen-tes, as quais contribuem para maior morbimortalidade, seja pelo aumento do risco de suicídio, seja pela evolução desfavorável das doenças crônicas existentes. Enfim, é fundamental que a população em geral, e principalmen-te os profissionais de saúde, saiba que a depressão é uma doença, e não uma manifestação do envelhecimento fi-siológico; portanto, necessita ser diagnosticada e tratada adequadamente.

ConFlITos De InTeRessesOs autores declaram não possuir nenhum conflito de in-teresse.

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Transtorno depressivo no idoso | 233

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234 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

a Médica endocrinologista, pós-graduada em Geriatria pela Disciplina de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo, pós-doutoranda da Disciplina de Nutrição da Universidade Federal de São Paulo.

dados para correspondênciaRua Francisco de Castro, 105, São Paulo, SP. CEP: 04020-050. Tel.: (11) 5575-4848. Fax (11) 5083-2225. E-mail: [email protected]

HipoTiroidismo subclínico: um desafio manTido na população idosa

Glaucia duartea

Carta

O artigo de revisão de Oliveira et al. (Hipotiroidismo subclínico na terceira idade: tratar ou observar?) avaliou a morbimortalidade dentro do hipotiroi-dismo clínico, já bem estabelecido, e nos mostrou trabalhos concernentes ao hipotiroidismo subclínico, entidade nosológica controversa em diagnóstico e tratamento. A conclusão foi a de que, no hipotiroidismo subclínico, não há suporte científico para uso de tratamento medicamentoso nos idosos.

Cada um de nós que trata idosos, particularmente aqueles dedicados ao grupo dos muito idosos, concorda que as alterações tiroidianas comumente encontradas não definem se essas mudanças representam alterações fisioló-gicas com o avanço da idade ou se representam doenças verdadeiramente subclínicas.1 Para essa faixa etária, o questionamento sobre os benefícios da terapia com levotiroxina persiste após publicação de trabalhos que relacio-nam o aumento do TSH com a longevidade.2

O fato é que os hormônios tiroidianos mudam com a idade. Recentemen-te, tem sido relatado que o envelhecimento desloca a curva de distribuição do TSH e o seu percentil 97,5 para a direita, mostrando maiores concentra-ções.3 Uma reanálise de dados populacionais norte-americanos mostrou mé-dias superiores dos valores normais de TSH em idosos de 4,70 mU/L para 60-69 anos, 5,60 mU/L para 70-79 anos e 6,30 mU/L para aqueles acima de 80 anos.4

Essas alterações – juntamente com o fato de não termos quase nenhum estudo referenciando a população idosa brasileira – criam desvantagem para a correta interpretação do estado da tiroide no idoso, porque muitas das complicações dependem de variações na idade e nos níveis de TSH; p. ex. a consistente associação do hipotiroidismo subclínico com risco cardiovascu-lar em níveis acima de 10 mU/L, mas, particularmente, nos valores acima de 7,0 mU/L em indivíduos abaixo dos 65 anos.5 Serão os idosos acima dos 65 anos protegidos?

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Transtorno depressivo no idoso | 235

O hipotiroidismo subclínico persistente deve ser di-ferenciado de causas transitórias de elevação do TSH, especialmente naqueles com níveis séricos <10 mU/L e, consequentemente, subclassificado em leve-moderado (TSH 4,5-9,9 mU/L) e grave (TSH >10 mU/L), este úl-timo sabidamente com maior risco de progressão para hipotiroidismo manifesto, doença arterial coronariana e

morte.5 Deveríamos considerar a população idosa uma população especial, merecedora de diretriz específica e, sem dúvida, que seja estratificada não só por idade – pela possibilidade de respostas clínicas diferentes dentro de variações dos valores de TSH –, mas também pela sua funcionalidade, ajudando-nos a tratar e/ou observar com segurança nossos pacientes.

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236 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA

síndrome de sJöGren – o desafio

do diaGnósTico em pacienTe idoso

bruno sarpia, karin morales assefa,b, maurício miranda venturaa

Resumo A síndrome de Sjögren é uma doença inflamatória sistêmica de na-tureza autoimune caracterizada pela infiltração linfocitária progres-siva de vários órgãos exócrinos e não exócrinos. Acomete preferen-cialmente as glândulas salivares e lacrimais, determinando prejuízo estrutural e disfunção secretória. A referida síndrome afeta princi-palmente mulheres, na proporção de 9:1. Ocorre em todas as idades, especialmente entre a quarta e a quinta décadas de vida, afetando cerca de 3% da população geriátrica. A proposta deste trabalho é apresentar o caso clínico de uma pa-ciente de 72 anos que permaneceu com quadro compatível com a síndrome durante aproximadamente 10 anos. As queixas em diver-sas consultas não foram valorizadas, permanecendo assim até que em consulta geriátrica de rotina foi aventada a hipótese de síndrome de Sjögren.Procuramos enfatizar a importância clínica e a necessidade da rea-lização do diagnóstico precoce para proporcionar melhora na quali-dade de vida dos pacientes acometidos.

a Hospital do Servidor Público Estadual Francisco Morato de Oliviera. Autor do trabalho. b Orientador do trabalho.

dados para correspondênciaBruno Sarpi – Rua Pedro de Toledo, 1.800, 8º andar, Vila Clementino, São Paulo, SP. CEP: 04039-004. Tel.: (11) 5088-8000. E-mail: [email protected]

Palavras-chaveIdoso, vacinação,

vacinas contra influenza.

Relato de caso

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Síndrome de Sjögren – o desafio do diagnóstico em paciente idoso | 237

A síndrome de Sjögren é uma doença autoimune das glân-dulas exócrinas que envolve particularmente as glândulas salivares e lacrimais. Seu espectro clínico é muito amplo, podendo restringir-se apenas à diminuição do lacrime-jamento e xerostomia ou cursar com acometimento ar-ticular, pulmonar e renal. A síndrome de Sjögren pode ser isolada, chamada síndrome de Sjögren primária, ou ocorrer simultaneamente com outra doença autoimune, principalmente lúpus e artrite reumatoide, sendo cha-mada síndrome de Sjögren secundária.

Essa doença acomete principalmente o sexo femini-no, com prevalência de 9 mulheres para cada homem, e idade de estabelecimento dos sintomas em torno dos 40-45 anos.1 A idade média de diagnóstico é de 50 anos.2

Sua prevalência real é difícil de ser estabelecida devido à dificuldade de diagnóstico, mas estima-se que seja de 1%-3%.3

Cerca de 3% da população geriátrica é afetada pela síndrome de Sjögren. O diagnóstico, por vezes, é retar-dado em muitos anos devido ao amplo espectro e à pou-ca valorização dos sinais e sintomas iniciais.4

mAnIFesTAções ClínICAs Com relação aos achados clínicos, os pacientes portadores da síndrome em estudo exibem sinais e sintomas ocula-res e orais, envolvimento da pele, mucosa nasal e vaginal, além de fadiga, linfadenopatia, cirrose biliar primária, ne-frite intersticial, fibrose pulmonar, vasculites e neuropa-tias periféricas. Os achados orais e oculares estão sempre presentes e são os mais relevantes para o diagnóstico.5,6

Ceratoconjuntivite seca ou xeroftalmia, representada pela reduzida produção de lágrimas e perda da lubrificação ocular, causa sensação arenosa nos olhos e, nos casos mais severos, o aparecimento de uma crosta na região periocu-lar. A visão pode se tornar turva e, algumas vezes, há dor contínua. Tais manifestações são mais intensas pela manhã e tornam-se mais pronunciadas com o passar do dia.7

O sintoma oral mais evidente é a xerostomia. Os pa-cientes frequentemente apresentam secura nos lábios, língua e faringe, e consequente sensação dolorosa e de ardor da mucosa, que dificulta a fala, a mastigação, a de-glutição e a digestão dos alimentos.

O exame intraoral normalmente revela saliva visco-sa e espumosa, e a língua pode apresentar-se fissurada e despapilada.

No diagnóstico diferencial incluem-se os pacientes submetidos a radiação para o tratamento de malignida-des da região da cabeça e pescoço, idosos e os que fazem uso de medicações anticolinérgicas e antimuscaríni-cas, como anti-hipertensivos, anticonvulsivantes, anti--histamínicos, diuréticos e antidepressivos. Indivíduos portadores da síndrome do ardor bucal podem exibir sintomas de secura bucal, no entanto o quadro envolve uma variedade de manifestações clínicas e laboratoriais, sendo caracterizado como desordem sistêmica.8

RelATo De CAsoILDS, gênero feminino, 74 anos, casada, natural e pro-cedente de São Paulo. Em consulta geriátrica de rotina refere secura na boca, secura no nariz, diminuição de lágrimas, coceira nos olhos, dor no baixo ventre, disúria e secura vaginal. Tem histórico pessoal de infecção do trato urinário de repetição, olho seco diagnosticado há cerca de 10 anos em consulta oftalmológica, osteoartro-se, osteopenia. Encontrava-se em investigação de nódu-lo pulmonar. Tem uma irmã com doença reumatológica que cursou com deformidades importantes das mãos.

exame físicoPeso: 53 kg. Pressão arterial: 160 × 90 mmHg. Apresenta-se em bom estado geral, acianótica, anic-

térica, afebril, corada, hidratada, consciente, comunica-tiva, colaborativa.

Ausculta respiratória: MV+ sem RA.Ausculta cardíaca: BRNF 2T sem sopros. ESV raras.Membros inferiores: boa perfusão periférica, pulsos

palpáveis sem edemas ou cianose.Formulou-se a hipótese de síndrome de Sjögren, sen-

do solicitados exames para comprovação diagnóstica: fator reumatoide, fator antinúcleo, antígenos nucleares extraíveis, raios X de mãos e pés, testes oftalmológicos (teste de Schirmer), biópsia de glândula salivar.

Resultado dos examesFator reumatoide: 37 (normal: inferior a 20).Fator antinúcleo: núcleo reagente padrão nuclear

pontilhado fino 1/1280.Antígenos nucleares extraíveis: Anti-SM inferior a 100 (normal).Anti-RNP inferior a 100 (normal).Raios X de mãos: calcificação periarticular interfa-

langiana do primeiro dedo à esquerda, redução difusa da densidade óssea, estruturas ósseas de morfologia conser-vada, espaços articulares sem reduções expressivas.

Teste de Schirmer: positivo.Biópsia de glândula salivar menor: atrofia de ácinos

e moderado infiltrado linfocitário intersticial. O quadro histológico é compatível com síndrome de Sjögren.

DIsCussãoDe acordo com o consenso americano-europeu de 2002, a classificação mais utilizada no diagnóstico da síndro-me de Sjögren (Tabela 1),9 a paciente apresentou:• Positividade no critério I: secura nos olhos diaria-

mente, nos últimos três meses, e sensação recorrente de areia nos olhos.

• PositividadenocritérioII:sensaçãodebocasecadia-riamente por mais de três meses.

• PositividadenocritérioIII:testedeSchirmerpositi-vo para olho seco.

• PositividadenocritérioIV:biópsiadeglândulasali-var menor: atrofia de ácinos e moderado infiltrado

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linfocitário intersticial. O quadro histológico é com-patível com síndrome de Sjögren.Portanto, seguindo as orientações do consenso ame-

ricano-europeu (Tabela 2),9 chegamos ao diagnóstico de

síndrome de Sjögren primária, uma vez que a paciente preenche os critérios citados e não apresenta doença es-tabelecida do tecido conjuntivo, como artrite reumatoi-de, lúpus ou esclerodermia.

Tabela 1 Critérios de classificação da Comunidade Europeia para a síndrome de Sjögren (2002)

Critérios de classificação da síndrome de sjögren

I. Sintomas oculares: pacientes devem apresentar resposta positiva para pelo menos uma das seguintes questões:1. Você tem apresentado algum problema de secura nos olhos, diariamente, nos últimos 3 meses?2. Você tem sensação recorrente de areia nos olhos?3. Você usa lágrima artificial por mais de 3 vez ao dia?

II. Sintomas orais: pacientes devem apresentar resposta positiva para pelo menos uma das seguintes questões:1. Você tem apresentado a sensação de boca seca diariamente por mais de 3 meses?2. Você tem apresentado edema persistente na glândula salivar?3. Você frequentemente ingere líquidos para auxiliar na deglutição de alimentos secos?

III. Sinais oculares: envolvimento ocular detectado por pelo menos um dos 2 testes seguintes:1. Teste de Shirmer realizado sem anestesia (<5 mm/5 min).2. Escore Rosa-bengala ou outro escore para medir a secura ocular (<4, de acordo com o sistema de escore de Van Bysterveld)

IV. Histopatologia: presença de sialoadenite linfocitica focal detectada por um patologista experiente (um ou mais focos de linfócitos periductais – 50 linfócitos/4 mm2)

V. Envolvimento da glândula salivar detectado por pelo menos um dos seguintes testes de diagnóstico:1. Ausência completa de estimulação do fluxo salivar (<1,5 mL/ 15 minutos)2. Sialografia de parótida mostrando a presença de sialectasias difusas (padrão puniforme, cavitário ou destrutivo) sem evidência de obstrução

do ducto principal.3. Cintilografia salivar mostrando absorção lenta, concentração reduzida e/ou excreção lenta do isótopo radioativo)

VI. Autoanticorpos: presença no soro dos seguintes autoanticorpos:1. Anticorpos para antígenos anti-SSA, anti-SSB ou ambos.

Tabela 2 Critérios estabelecidos pela Comunidade Europeia para classificação da síndrome de Sjögren primária e secundária (2002)

síndrome de sjögren primária síndrome de sjögren secundária

Em pacientes sem qualquer doença potencialmente associada, a SS primária pode ser definida da seguinte forma:

a) Presença de 4 dos 6 critérios ou, ainda, positividade no item IV (histopatologia) ou item VI (sorologia).

b) Presença de 3 dos 4 critérios objetivos (III, IV, V, VI).

Em pacientes com outra doença do tecido conjuntivo potencialmente associada, a SS secundária pode ser definida da seguinte forma:

a) Presença do item I ou II em adição a dois dos seguintes itens: III, V e VI.

ConClusãoA síndrome de Sjögren é uma doença prevalente, mas subdiagnosticada devido à grande variedade de sinais e sintomas apresentados.

No nosso meio fica mais difícil a suspeita, pois os pa-cientes geriátricos podem apresentar diversas patologias que cursam com sintomas semelhantes aos da patologia estudada. Outras causas que dificultam o diagnóstico são a polifarmácia a que são submetidos nossos pacien-tes, o uso de medicações anticolinérgicas e muscarínicos, anti-hipertensivos, anticonvulsivantes, anti-histamínicos, diuréticos e antidepressivos, que podem, como evento ad-verso, levar ao quadro de xerostomia.

Valorizar a queixa do paciente e investigar as possí-veis causas foi decisivo para realizarmos um diagnóstico que permaneceu oculto durante vários anos, prejudican-do a qualidade de vida da paciente.

Portanto, história clínica, valorização das queixas e conhecimento das patologias são condições essenciais para o correto diagnóstico e tratamento de nossos pa-cientes.

ConFlITos De InTeRessesO autor e os orientadores declaram não possuir nenhum conflito de interesse.

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Síndrome de Sjögren – o desafio do diagnóstico em paciente idoso | 239

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Informações geraisA revista Geriatria & Gerontologia – G&G é uma publicação científica trimestral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Ge-rontologia – SBGG, cujo objetivo é veicular artigos que contri-buam para a promoção do conhecimento na área de Geriatria e Gerontologia, em suas diversas subáreas e interfaces. A G&G aceita submissão de artigos em português, inglês e espanhol. Seu conteúdo encontra-se disponível em versão impressa, distribuí-da a todos os associados da SBGG, e em versão eletrônica aces-sada pelo site: www.sbgg.org.br.

Instruções para o envio dos manuscritosOs trabalhos devem ser enviados por via eletrônica (arquivo word) para o endereço: [email protected]; ou por correio, em CD ou DVD, para SBGG - Av. Copacabana, 500 - sala 609/610, Copa-cabana - 22020-001, Rio de Janeiro - RJ. Antes de enviar o manus-crito, verifique se todos os itens definidos em “Orientações para a preparação dos manuscritos” foram apontados em seu texto. O autor receberá mensagem acusando recebimento do trabalho; caso isto não aconteça, deve-se entrar em contato. Concomitante-mente, o autor deverá enviar uma declaração de que o manuscrito está sendo submetido apenas à revista G&G, a concordância com a sessão de direitos autorais, a declaração de conflito de interesses e o documento de aprovação do comitê de ética em pesquisa.

Avaliação dos manuscritos por pareceristas (peer review)Os manuscritos que atenderem à política editorial e às instruções aos autores serão encaminhados aos editores, que considerarão o mérito científico da contribuição. Aprovados nesta fase, os ma-nuscritos serão encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida competência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão retomar aos autores para aprovação de eventuais alterações no processo de editoração e normalização, de acordo com o estilo da revista. Manuscritos não aceitos não serão devol-vidos, a menos que sejam solicitados pelos respectivos autores no prazo de até três meses. Os manuscritos publicados são de proprie-dade da revista, sendo proibida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como a tradução para outro idioma.

Pesquisas envolvendo seres humanosResultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser acompanhados de declaração de que todos os procedimentos te-nham sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da insti-tuição de origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro comitê de ética em pesquisa credenciado junto a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá constar, no último parágrafo do item Méto-dos, uma clara afirmação do cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000), além do atendimento a legislação específicas do país no qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Tipos de artigos publicadosA revista G&G aceita a submissão de:Editoriais e comentários: esta seção destina-se à publicação de artigos subscritos pelos editores ou aqueles encomendados a autoridades em áreas específicas, devendo ser prioritariamente relacionados a conteúdos dos artigos publicados na revista.artigos originais: contribuições destinadas à divulgação de re-sultados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o alcance e o conhecimento gerado para a área da pes-

quisa. Devem ter de 2 mil a 4 mil palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras [máximo de cinco]) e referências (máximo de 30).artigos de revisão: avaliação crítica sistematizada da literatura sobre deter-minado assunto, de modo a conter uma análise comparativa dos trabalhos na área, que discuta os limites e alcances metodológicos, permitindo indicar perspectivas de continuidade de estudos naquela linha de pesquisa e deven-do conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de 5 mil palavras e o número máximo de referências bibliográficas de 50.Comunicações breves: são artigos resumidos destinados à divulgação de resultados preliminares de pesquisa; de resultados de estudos que envolvem metodologia de pequena complexidade; hipóteses inéditas de relevância na área de Geriatria e Gerontologia. Deve-se ter de 800 a 1.600 palavras (ex-cluindo tabelas, figuras e referências), uma tabela ou figura e no máximo dez referências bibliográficas. Sua apresentação deve acompanhar as mesmas normas exigidas para artigos originais, fazendo-se exceção aos resumos, que não são estruturados e devem ter até 150 palavras.Relatos de caso: são manuscritos relatando casos clínicos inéditos e interessantes. O título deve apresentar a doença ou a peculiaridade clínica – relato de caso. Devem observar a estrutura de resumo (150 palavras) com introdução (justificativa ao leitor o motivo do relato de caso, não se estender na descrição da «doença ou particularidade clínica»), relato do caso (com descrição do paciente, resultados de exames clínicos, seguimento, diagnóstico. ATENÇÃO: Não utilizar siglas ou notas de rodapé), discussão (comparar com dados de semelhança na literatura) e conclusão do caso. Devem conter a bibliografia consultada e não podem ter mais de 1500 palavras e 15 referências.artigos especiais: são manuscritos entendidos pelos editores como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não havendo limite de tamanho ou exigências previas quanto as referências bibliográficas.Cartas ao editor: seção destinada à publicação de comentários, discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de mil palavras e até cinco referências.

orientações para a preparação dos manuscritosOs manuscritos devem ser digitados em Word for Windows (inclusive ta-belas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no mínimo 300 dpi de resolução.Devem ser apresentados na sequência:a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90 carac-teres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (incluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores por exten-so, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados de um dos autores para correspondência, incluindo nome, endereço, telefones, fax e e-mail.Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e em inglês (abstracts), entre 150 a 250 palavras. Para os artigos originais e comunicações breves, os resumos devem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas informações. Não devem conter citações e abreviaturas. Desta-car no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraídos do vocabulário “Descritos em Ciências d Saúde” (DeCS – www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/), quando acompanha-rem os “Abstracts”. Se não forem encontrados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscrito, poderão ser indicados termos ou ex-pressões de uso conhecido.texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revi-são os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos:

insTruçÕes aos auTores

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Instruções aos autores | 241

Introdução: deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada a apresentação do problema, e que destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema estudado, sin-tetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimen-to (estado de arte) que serão abordados no artigo. Métodos: devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adotados; uni-verso e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resultados: Devem se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir inter-pretações e comparações. Sempre que possível, os resultados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. discussão: deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos a luz de outras observações já registradas na literatura. É importante assinalar li-mitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prática pro-fissional. agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em parágrafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho.

Conflito de interessesDeve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, participação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produ-tos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empre-gadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnolo-gias envolvidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstâncias que poderiam ser consideradas capazes de influenciar a interpretação dos resultados.

Referências bibliográficasAs referências devem ser listadas no final do artigo, numeradas consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar: “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” www.icmje.org). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguindo de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das refe-rências a trabalhos que tenham sido consultados e mencionados no texto do artigo são de responsabilidade do autor.livrosKane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics 5th ed. New York: McGraw Hill, 2004.Capítulos de livrosSayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Ja-neiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8artigos de periódicosOuslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981; 135 (2): 482-91dissertações e tesesMarutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacien-tes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encontros, se-minários e outrosPeterson R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild congnitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disor-ders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05.artigos em periódicos eletrônicosBoog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Ver Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10]; 15(1). Disponível em www.scielo.br/rm

textos em formato eletrônicoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de saú-de: assistência médico-sanitária. www.ibge.gov.br (Acessado em: 05/02/2004)More SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Avail-able from URL; www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: 05/06/1996.

insTrucTions for auTHors

BackgroundGeriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de Geria-tria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology Society) aiming the publication of articles on Geriatrics and Geron-tology, including their several subareas and interfaces. G&G accepts article submissions in Portuguese, English, and Spanish. The print content is available for SBGG members and the online content can be accessed at: www.sbgg.org.br

Instructions for sending the manuscriptPapers should be sent by e-mail to: [email protected]. Before sending your manuscript, please check if all the items established under “Instruction for Manuscript Sending” have been fulfilled. The corresponding author will receive a message acknowledging receipt of the manuscript. Should this do not occur up to seven working days, the author should get in touch with the journal. Concurrently, the author should send by mail a declaration stating that the manu-script is being submitted only to Geriatria & Gerontologia and that he/she agrees with the cession of copyright.

manuscript evaluation by peer reviewManuscripts that regard the editorial policy and the instructions for authors will be referred to editors who will evaluate the scientific merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers with expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might re-turn for authors’ approval in case of changes made for editorial and standardization purposes, according to the journal style. Manuscripts not accepted will not be returned, unless they are requested by the respective authors within three months. The copyright of the pub-lished manuscripts are held by the journal. Therefore, full or partial reproduction in other journals or translation into another language is not authorized.

Research involving human subjectsArticles related to research involving human subjects should indicate whether the procedures were followed in accordance with the ethical standards of the responsible committee on human experimentation (institutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of com-pliance with ethical principles outlined in the Helsinki Declaration (2000) shall appear in the last paragraph of “Methods” section, as well as fulfillment of specific requirements of the nation the research was performed in. The subjects included in the research should have sig-ned a “Free and Informed Consent Term”.

Categories of manuscriptsG&G accepts the following submissions:Original articles: Contributions aiming at the release of unpublished research results considering the theme’s relevance, its range and the knowledge generated for research purposes. Original articles should contain 2,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures (not exceeding 5) and references (not exceeding 30).Review articles: Critical and systematic evaluation of literature on

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certain subject containing a comparative review of papers in that area, discussing methodological limitations and ranges, indicating further study needs for that research area, and containing conclusions. The proceedings adopted for the review, as well as search, selection, and article evaluation strategies should be described, informing the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words and 50 references.Brief communications: These are summarized articles designed for dissemination of preliminary results, results of studies involving meth-odology of low complexity, and new hypotheses of relevance in the field of Geriatrics and Gerontology. They should contain 800-1600 words (excluding tables, figures and references), one table or figure and a maximum of ten references. Your presentation should follow the same standards of original articles, with exception of the abstracts, which are not structured and should contain a maximum of 150 words.Case Reports: These are manuscripts reporting original and inter-esting clinical cases. The title should have the disease or clinical peculiarity — a case report. They must observe the structure of ab-stract (150 words) with introduction (an explanation to the reader for the case report does not extend the description of “illness or clinical particularity”), case report (with description of the patient, results of clinical tests, follow-up, and diagnosis — WARNING: Do not use acronyms or footnotes), discussion (comparison with simi-lar data in the literature), and case outcome. They should contain a bibliography and have no more than 1500 words and 15 references.letters to the editor: Section designed for publication of com-ments, discussion or any article reviews. They should not exceed 1,000 words and 5 references.

Instructions for manuscript preparationManuscripts should be typed in Word for Windows [(including tables), figures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi resolution]. Manuscripts should be prepared according to the sequence below:a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 char-acters, b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Portuguese and English, c) authors’ and coauthors’ complete name, indicating institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author data, including name, address, tele-phone and fax numbers, and e-mail. abstract: All manuscripts should be submitted with an abstract in Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words. For original articles and brief communications, abstracts should be struc-tured to include objective, methods, results, and conclusions. For other manuscript categories, abstract models could be narrative, but rather carrying the same information. Abstracts should not contain quota-tions and abbreviations. At least three and at most six keywords should accompany the Abstracts being extracted from the vocabulary in De-scritores em Ciências da Saúde (DeCS - www.bireme.br) when accom-panying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Headings – MeSH (http //www.nlm nih gov/mesh/) when accompanying abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manuscript theme, words or expressions of known usage might be indicated.text: except for Review Articles, papers should assume formal struc-ture of a scientific text. Introduction: The introduction should con-tain updated literature review, being appropriate to the theme, suit-able to the problem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Methods: This section should have clear and brief description of proceedings adopted, sampling, data source and selection criteria, measurement instruments, statistical analysis, among other features. Results: This section should be limited to de-scribing the results found without including interpretation and com-parison. Whenever possible, results should be displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and having statistical analysis. discussion: The discussion should properly and objectively explore

the results, discussed in the light of further observation already reg-istered in literature. It Is important to point out the study limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating avenues for new research or implications for professional practice.

acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that effective-ly contributed to the paper.

Conflict of interestConflict of interest includes a) financial conflict such as employ-ment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent sharing related to marketed products or technology in-volved in the manuscript; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers in companies connected to marketed prod-ucts or technology involved in the manuscript c) potential conflict: situations or circumstances that could be considered capable of in-fluencing the result interpretation.

ReferencesShould be listed at the end of the manuscript and numbered in the order they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedi-cal Journals Writing and Editing for Medical Publication” [http://www.icmje org]). List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. The titles of journals should be abbreviated according to style used in Med-Line. Authors are responsible for the accuracy and completeness of references consulted and cited in the text.

examples of reference styleBooksKane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th ed New York: McGraw Hill, 2004.

Book chaptersSayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Ja-neiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8

Journal articlesOuslander JG. Urinary incontinence in the elderly West J Med 1981; 135 (2): 482-91

Essays and thesesMarutinho AF Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pa-cientes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.

Papers introduced in congresso, symposiums, meetings, seminars etc.Peterson R, Grundman M, Thomas R, Thai L. Donepezil and vi-tamin E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05.

articles from electronic journalsBoog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10]; 15(1). Disponível em www.scielo.br/RN

texts in electronic formatInstitute Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de saúde: assistência médico-sanitária. www.ibge.gov.br (Acessado em: 05/Fev/2004)

More SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL; www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996.

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Referências bibliográficas: 1. Price R, Daly F, Pennington CR, McMurdo ME. Nutritional supplementation of very old people at hospital discharge increases muscle strength: A randomised controlled trial. Gerontology. 2005;51:179-185. 2. Fabian E, Bogner M, Kickinger A, Wagner KH, Elmadfa I. Vitamin status in elderly people in relation to the use of nutritional supplements. J Nutr Health Aging. 2012;16(3):206-12. 3. Morley JE. Sarcopenia in the elderly. Fam Pract. 2012;29 Suppl 1:i44-i48.

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Geriatria & Gerontologia

Revista

Volume 7Número 3

Jul/Ago/Set 2013ISSN 1981-8289

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Geriatria & Gerontologia

Órgão Oficial de Publicação Científ ica

ARTIGOS ORIGINAIS

Tendência temporal da cobertura vacinal contra influenza no Brasil, Rio de Janeiro

Espiritualidade, religiosidade e qualidade de vida em idosos

Hipofunção das glândulas salivares em idosos hospitalizados relacionada a medicamentos

Avaliação de dependência de idosos em enfermaria geriátrica: consequên-cias da hospitalização

Avaliação de idosos atendidos em uma unidade de saúde da família do município de Ipatinga

Hiperparatireoidismo secundário à hipovitaminose D e declínio de funciona-lidade em idosos internados

Correlação entre funcionalidade e gravidade da doença de Parkinson em idosos

Associação entre queixa de tontura, medo de cair e ocorrência prévia de quedas em idosos

Frequência de quedas em pacientes idosos ambulatoriais

ARTIGOS DE REVISÃO

Avaliação de qualidade de vida em idosos frágeis: uso de questionários – revisão da literatura

Transtorno depressivo no idoso: rastreamento, diagnóstico e aspectos epidemiológicos

CARTA AO EDITOR

Hipotiroidismo subclínico: um desafio mantido na população idosa

RELATO DE CASO

Síndrome de Sjögren – o desafio do diagnóstico em paciente idoso

Revista

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