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Genéricos NO PAÍS DOS SEM-REMÉDIO, A DISPUTA POR UM MERCADO BILIONÁRIO BRASIL BRASIL www.americaeconomiabrasil.com.br HUGO CHÁVEZ Doente e sob pressão, o presidente está por um fio MENSALÃO STF reage à pressão para julgar os réus CHINA A esperança dos produtores brasileiros de suínos ESPECIAL FINANÇAS Executivos fazem apostas para 2012 BTG PACTUAL Depois de Chile, Peru e Colômbia, banco mira a Argentina AméricaEconomia N o 409 Março/2012 NO PAÍS DOS SEM-REMÉDIO, A DISPUTA POR UM MERCADO BILIONÁRIO N o 409 MAR/2012 R$ 10,00 ISSN 1414-2341

Nº 409 Edição Brasil

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Genéricos: No país dos sem-remédio, a Disputa por um mercado bilionário

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GenéricosNo país dos sem-remédio,

a disputa por um mercado bilioNário

BRASILBRASIL www.americaeconomiabrasil.com.br

HUGO CHávez Doente e sob pressão,

o presidente está por um fio

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CHIna A esperança dos produtores brasileiros de suínos

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4 AméricaEconomia Março, 2012

Foto de Capa:Shutterstock

SEçõES6 Portal8 Carta ao Leitor10 Índice de Empresas12 Pistas14 Negócio Fechado

16 Movimentos43 Opinião – Caio Megale75 Opinião – Luiz Fernando Furlan80 Ibiz – Ultraportáteis82 Opinião – Mac Margolis

44 BTG PACTUALDepois do Chile, Colômbia e Peru, banco mira a Argentina

48 Mercado de açõesParticipação de minoritários deve aumentar com voto eletrônico

DEbAtES

54 CAPA – GenéricosAumenta a disputa entre os laboratórios

60 Fim de Chávez?Oposição e doença ameaçam líder venezuelano

66 MensalãoSTF: pressão para julgar 38 réus de esquema

70 Energias renováveisCom vantagens econômicas e ambientais, biomassa chama a atenção de empresas

76 Menos CO2 no tanqueNova tecnologia transforma casca de laranja em biocombustível

78 China encolhe Crescimento menor afeta latino-americanos, mas cria oportunidades

NEgócioS

20 MotoresWEG investe nos emergentes

24 AviaçãoAs apostas no mercado de aviões comerciais e militares

28 Suínos Exportações para o mercado chinês são alternativa à Rússia e Argentina

32 Tip Top Empresa troca perfil industrial pelo varejista

34 Bimbo Depois das aquisições, a hora do crescimento orgânico

36 Setor marítimo Líder latino-americana, CSAV tenta se reinventar para sobreviver

FiNANçAS

38 ESPECiAL CFO Expectativas de executivos de finanças para América Latina

NESTA EDIÇÃO

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PORTAL

6 AméricaEconomia Março, 2012

www.americaeconomiabrasil.com.br

Prontas para IPOEntre 40 e 45 empresas brasileiras estão preparadas para fazer oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) neste ano, segundo o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto. De acordo com ele, a abertura de capi-tal dessas companhias está represada desde o segun-

Pré-sal monitoradoO secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal, declarou, no início de fevereiro, que o estado se ofe-receu para receber um centro de monitoramento da exploração do pré-sal. A atividade seria voltada não apenas a eventuais vazamentos, mas também a ou-tras atividades relacionadas ao desenvolvimento do pré-sal, envolvendo tanto a Petrobras quanto outros operadores e seus fornecedores. “Achamos que esse é o procedimento mais objetivo que nós temos a fazer no curto prazo”, afirmou Aníbal, ao ser questionado sobre o posicionamento do governo paulista em re-lação ao vazamento de petróleo ocorrido no dia 31 de janeiro na Bacia de Santos, a 250 quilômetros de Ilhabela, litoral de São Paulo.

Bolso do consumidorA privatização em alguns terminais aeroportuá-rios brasileiros promete trazer melhorias aos ser-viços prestados, mas deverá também elevar os custos ao consumidor, segundo a avaliação do especialista em direito administrativo da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesqui-ta Filho), José Carlos Oliveira. Ele usou o exemplo das concessões das rodovias federais e do serviço de telefonia para explicar o provável aumento de custos e destacou os pedágios “extremamente al-tos” nas rodovias e a “maior tarifa telefônica do mundo” paga, segundo Oliveira, pelos brasileiros. “Vamos sentir no bolso as tarifas de embarque e as de transporte de carga [com a privatização].”

Leia no Portal

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O recente acesso dos brasileiros de menor poder aquisi-tivo aos serviços bancários, principalmente aos cartões de crédito, trouxe também um lado pernicioso. Segun-do a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojis-tas), essa camada é a grande responsável pela inadim-plência registrada em janeiro. No total, a inadimplência do consumidor brasileiro subiu 2,91% no mês, em comparação com o mesmo período de 2011. “O país está tornando os bancos acessíveis às classes baixas, que entram no sistema de cartão sem ter experiência sobre seu melhor uso. Essas classes ainda não se acostuma-ram com o aumento do seu poder de compra e aca-bam se endividando”, ressaltou o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior.

Lado B do crédito

do semestre do ano passado, quando a movimentação foi suspensa em decorrência da crise europeia. Edemir destacou que a alta de 11,13% do índice Ibovespa em janeiro ajudou a “renovar as expectativas”, conforme publicado no site de AméricaEconomia.

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8 AméricaEconomia Março, 2012

CARTA AO LEITOR

PUBLISHERJosé Roberto Maluf

CONTEÚDODiretora de Redação: Tatiana EngelbrechtEditora Executiva: Paula PachecoDiretor de Arte/Projeto Gráfico: Luiz Fernando MachadoRepórteres: Graziele Dal-Bó e Sérgio SiscaroEditora do Site: Adriana ChavesRevisão: Victor ParedesColaborador: Vértice Translate (tradução)

COMERCIALIZAÇÃO Diretor Comercial: Maurício Castro – [email protected] de Contas: Dora Magalhães – [email protected] Hidalgo – [email protected]

MARKETINGMarcia Leonardi e Elisangela Goto

ADMINISTRATIVO/FINANCEIROGerente Financeiro: Edison Arduino

CIRCULAÇÃOGerente: Fatima Oliveira

Tratamento de imagem: Claudia FidelisPeriodicidade: Mensal (Março de 2012)CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfica

Circulação auditada por:

SPRING EDITORA-PRODUTORARua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666Site: www.springcom.com.brE-mail: [email protected]

AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONALDiretor: Elias Selman CarranzaGerente Geral: Eduardo AlbornozAssessora do Conselho: Gloria Landabur C.COO: Rodrigo Guaiquil C.Editor Executivo: Carlos TrombenEditor Adjunto: Rodrigo Lara SerranoEditores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco (Santiago) e Gisela Raymond (Guaiaquil)Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia: Miguel CandiaChefe de Operações: Matías Agurto

AMÉRICAECONOMÍA INTELLIGENCE(Estudos e Projetos Especiais)Diretor: Jaime Contreras SoriaPesquisador Sênior: Andrés AlmeidaAnalista: Catherine Lacourt e Rodrigo Dorn Pesquisador Especial de Cidades: Marco Ceballos

AMÉRICAECONOMIA.COMEditor: Lino Solis de Ovando

ESCRITóRIOSBuenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052

Chairman: Robert R. Paradise

BRASILwww.americaeconomiabrasil.com.br

Amargo remédio

Em um país onde se comemora a melhora da situação econômica e o aumen-to do poder aquisitivo da população, a situação da saúde – tanto pública

(ineficiente e saturada) quanto privada (nas mãos dos planos de saúde pouco preocupados em atender de forma eficiente os consumidores) – ainda é caótica, para não dizer lastimável. Para grande parte da população, depois de enfrentar o calvário em busca de atendimento na rede pública, começa a saga para conseguir os remédios fornecidos pelo governo, ou então o cálculo de quanto o doente terá de desembolsar para ter acesso ao medicamento de que necessita.

Mas, se para os pacientes o diagnóstico não é favorável, do ponto de vista dos negócios trata-se de um mercado para lá de saudável. Para se ter uma ideia, só em 2011 o setor farmacêutico movimentou R$ 40 bilhões no país, segundo dados do instituto IMS Health, enquanto o gasto da população mais pobre com remédios consumiu 12% da renda das famílias. Para tentar equilibrar essa con-ta, o governo – o maior comprador de medicamentos – se apressa em formular alternativas.

Em nossa reportagem de capa, mostramos as novas regras propostas pela Anvisa para os medicamentos de referência com o objetivo de facilitar a vida dos laboratórios de genéricos, beneficiando o consumidor.

Esta edição também traz uma reportagem especial sobre a delicada situação de Hugo Chávez. Abalado pela volta do câncer, o presidente venezuelano tem de enfrentar o surgimento de um candidato oposicionista com chances de vitó-ria nas eleições de outubro e as dificuldades que assombram o país, como a alta da inflação e o aumento da violência.

Não deixe de ler também as apostas e as dicas de investimentos de executi-vos de finanças para o ano de 2012; os planos do banco BTG Pactual, de André Esteves, para dominar a América Latina; a pressão da opinião pública para o julgamento dos réus do mensalão; o otimismo dos produtores de suínos brasi-leiros com a abertura do mercado chinês; e o especial sobre o bom momento da aviação na região.

Aproveite a leitura.

José Roberto Maluf

ASSINATURAS Central de AtendimentoTel.: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90

Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro.

Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.

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10 AméricaEconomia Março, 2012

Os números das páginas referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem.ÍNDICE DE EMPRESAS

Acer 80Aeroméxico 25Airbus 12, 25Alfonso Gallardo 14Alphaliner 36América Móvil 39Apple 80Ascend 25Asus 80ATR 25AudingIntraesa 18Aurora Alimentos 28AviancaTaca 25Bank of America Merril Lynch 47Barclay’s 29, 47, 62Bimbo 34BM&FBovespa 6, 14, 47, 50Boehringer Ingelheim 56Boeing 25Bombardier 25Boskalis 37BR Pharma 45Bradesco 47Brasil Foods 23, 28, 75Brasil Insurance 14BTG Pactual 44CCNI 37Celfin Capital 44Centro da Tecnologia Canavieira 72Cessna 25Chiavassa & Chiavassa 56Chinwhiz 29Cia. Libra de Navegação 36Citi 47CMA CGM Group 37COFCO 29Coinvalores 21, 29Convertin 23Credit Suisse 21CSAV 36CSN Steel 14CSN 14Datanálisis 61DCH 28Dell 80Demarest 49Electric Machinery 20Embotelladora Andina 38Embraer 23, 25Estapar 45

EuroAmerica 37Euromonitor International 81Facebook 16Fator 29Feller-Rate 37Femsa 38Finsol 16Fokker 25Friboi 29Frimesa 29GE Energy 20GlaxoSmithKline 55Gol 25Goldman Sachs 47Grupo Bolívar 39Grupo Sílvio Santos 45Grupo Sura 38Gulfstream 25Hamburg Süd 36Havaianas 32Hewlett-Packard 80Hope 32IHS 81Informa Economics FNP 28Intel 80Ipiranga 50Itaipu Binacional 20Itaú BBA 47Itaú Unibanco 44JBS 29JSL 38Keystone 29Kirin 45Klabin 70KPMG 56Laep 50Lafis 55Lenovo 80Maersk 37Marfrig 28, 71Mediterranean Shipping Co. 36Medley 56Merck 56Mesquita Pereira, Marcelino, Almeida Esteves Advogados 51Mongeral Aegon 16MZ Consult 49Natura 51Navistar 13Neobus 13

Novartis 58Odebrecht 38Oi 50P&G 12PanAmericano 45Parmalat 50PDVSA 63Peixoto de Castro 72Petrobras 23Pfizer 55Pilatus 25PKS Consultores 26Polo Capital 49Probiótica 14Progen 18Rafale 26Rede D’Or 45Rothschild 47SAAM 37SABMiller 12Samsung 80Sandoz 58Sanofi-Aventis 56Santander 47Sara Lee 35Schincariol 45Senergen 72Sinergia 16Sony 80Stefanini IT 38Sukhoi 27SulAmérica 51Supera 56Suzano 71TAM-LAN 25Teal Group 25Teuto 56TGL 14Tip Top 32Toshiba 80UBS 46Vale 75Valeant 14Watt Drive 20WEG 20Wickbold 35WikiLeaks 55WTorre 45Zazcar 17

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Fale com a redação: Envie sugestões e comentários para a revista – AméricaEconomia Brasil: [email protected]

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DesdeÊsuaÊfundaç‹o,ÊemÊ1990,ÊaÊExpotransÊ ŽÊumaÊagênciaÊ ita-lianaÊespecializadaÊemÊ importa-ç‹oÊeÊexportaç‹oÊdeÊ feiras,ÊcomÊmaisÊ deÊ 8000Ê exposiç›esÊ peloÊmundo.ÊAÊ naturezaÊ internacionalÊ deÊ

suaÊ atividadeÊ tambŽmÊ podeÊ serÊvistaÊnoÊaltoÊn’velÊdeÊserviçosÊqueÊofereceÊdesdeÊ2004ÊcomoÊaÊagên-

Milano,ÊoÊqueÊgaranteÊaÊlog’sticaÊintegradaÊdeÊquaseÊ80Ê feirasÊ in-ternacionaisÊ porÊ anoÊ eÊmaisÊ 50ÊmilÊexpositores,ÊcuidandoÊdeÊto-dosÊosÊtiposÊdeÊproblemas.AÊ ExpotransÊ ŽÊ aÊ Transporta-

deÊ grandeÊ import‰nciaÊ paraÊ aÊIt‡lia.AÊExpotransÊtambŽmÊtrabalhaÊ

paraÊ outrosÊ setores,Ê comoÊ m—-veis,Êm‡quinasÊpesadas,Êturismo,Êmarcenaria,Êmoda,Ê embalagens,Êconstruç›es,Ê hotŽis,Ê tecnologiasÊambientes,Ê setorÊ aliment’cioÊ eÊ

aeroespacial,ÊcomÊ360.000Êservi-çosÊalocadosÊaÊessesÊsetores.DesdeÊ 2008,Ê tambŽmÊ operaÊ

emÊMoscou,Ê comÊ aÊOOOÊEX-

consolidouÊ suaÊ presençaÊ nesseÊmercado,Ê oferecendoÊ agoraÊ naÊ

integradosÊ prestadosÊ aÊ clientesÊitalianosÊeÊestrangeiros.DesdeÊ1992ÊaÊExpotransÊŽÊas-

sociadaÊ ˆÊ IELAÊ (Associaç‹oÊ In-ternacionalÊ deÊ Log’sticaÊ deÊ Ex-posiç›es),ÊimportanteÊassociaç‹oÊpresenteÊemÊ43Êpa’sesÊdoÊmundo,ÊalŽmÊdoÊpontoÊdeÊ referênciaÊdaÊredeÊ internacionalÊ especializadaÊparaÊmaisÊdeÊ280Êcorresponden-tes.ÊDuranteÊ suaÊhist—ria,Ê aÊExpo-

transÊ atendeuÊ v‡riasÊ empresasÊemÊ buscaÊ deÊ novosÊ mercados,Ê

EmÊ particular,Ê aÊ ExpotransÊfortaleceuÊ suaÊ presençaÊ nosÊ pa-’sesÊ sul-americanos,Ê formandoÊ

colaboraç›esÊcomÊagentesÊlocaisÊqueÊcontribu’ramÊparaÊoÊsucessoÊdoÊ transporteÊparaÊ feirasÊouÊas-suntosÊcomerciais.AlŽmÊ daÊMacef Ê BrasilÊ (junhoÊ

deÊ2012),ÊeventoÊimperd’velÊparaÊdistribuidoresÊ eÊ compradoresÊbrasileirosÊe,ÊparaÊosÊamantesÊdoÊ

paraÊ aÊ qualÊ aÊ ExpotransÊ ser‡Ê aÊagênciaÊ deÊ transporte,Ê existemÊv‡riosÊ eventosÊ deÊ relev‰nciaÊ in-ternacionalÊ emÊ todosÊ osÊ setoresÊ

umÊdosÊmaisÊimportantesÊnoÊse-torÊdeÊm‡rmoreÊ eÊ granito,Ê comÊmaisÊ deÊ 25.000Ê visitantesÊ deÊ 65Êpa’sesÊnaÊediç‹oÊdeÊ2011;ÊaÊGlassÊ

exposiç‹oÊ bienalÊ sobreÊ vidro,ÊcomÊmaisÊdeÊ200ÊexpositoresÊnaÊ

Batimat,Ê eventoÊ sul-americanoÊmaisÊ importanteÊ noÊ setorÊ deÊconstruç›es,Ê comÊ cercaÊ deÊ 400ÊexpositoresÊ internacionais,Ê emÊsuaÊ20»Êediç‹o.Ê

OsÊ serviçosÊdaÊExpotransÊn‹oÊseÊ limitamÊ aoÊ transporteÊ dosÊexpositoresÊ italianosÊ noÊ Brasil,ÊmasÊ tambŽmÊ oferecemÊ quali-

ç›esÊ maisÊ importanteÊ daÊ It‡lia)Ê

deÊ auxiliarÊ osÊ expositoresÊ brasi-leirosÊqueÊpretendemÊexporÊsuasÊmercadoriasÊ nosÊ v‡riosÊ eventosÊoferecidosÊnoÊcalend‡rio.ÊAÊExpotransÊofereceÊvinteÊanosÊ

deÊexperiênciaÊnaʇreaÊdeÊtrans-porteÊ deÊ cargasÊ paraÊ empresasÊitalianasÊeÊbrasileiras,ÊpelosÊservi-çosÊdeÊimportaç‹oÊeÊexportaç‹oÊdaÊIt‡liaÊparaÊoÊBrasil,Êcustomi-zadosÊ segundoÊ asÊ necessidadesÊdeÊ cadaÊ empresa.Ê OsÊ serviçosÊ

representamÊ oÊ valorÊ agregadoÊqueÊ aÊ ExpotransÊ ofereceÊ aÊ seusÊ

obst‡culos.Ê

QuaisÊ s‹oÊ seusÊ principaisÊmercadosÊ internacionaisÊ deÊinteresse?Ê QuaisÊ mercadosÊconsideraÊdeÊinteresseÊparaÊoÊfuturoÊpr—ximo?

Exporustran.Ê AlŽmÊ deste,Ê asÊ

tremoÊ OrienteÊ (emÊ especialÊ aÊChina)Ê s‹oÊ interessantesÊ paraÊ oÊ

ouÊ paraÊ aÊ criaç‹oÊ deÊ jointÊ ven-turesÊ comÊ parceirosÊ locais,Ê comÊbaseÊ noÊ compartilhamentoÊ dosÊ

novosÊ acordosÊ comerciaisÊ comÊparceirosÊ locaisÊ queÊ seÊ tornar‹oÊl’deresÊ noÊ setorÊ eÊ semelhantesÊ ˆÊExportransÊemÊtermosÊdeÊmiss‹oÊ

ExpoÊ2015,ÊoÊeventoÊ seÊconcen-traÊemÊumÊtemaÊcomplexo,ÊaÊali-mentaç‹o,Ê eÊ oÊ desenvolvimentoÊsustent‡velÊqueÊofereceÊv‡riosÊde-

noÊÐÊExpotransÊ j‡ÊproporcionouÊ

v‡riosÊeventosÊligadosÊaoÊsetor.Ê

transÊ deuÊ suaÊ contribuiç‹oÊ paraÊeventosÊdeÊsucesso,ÊnoitesÊdeÊgalaÊeÊdegustaç›esÊdeÊvinhos,ÊemÊini-ciativasÊ promocionais,Ê exporta-ç›esÊ eÊ eventosÊ sobreÊ oÊ estiloÊ deÊvidaÊ italianoÊ organizadosÊ peloÊmundo.ÊAÊExpotransÊ tambŽmÊ ŽÊaÊ transportadoraÊ deÊ referênciaÊparaÊosÊexpositoresÊ italianosÊnosÊ

eventosÊ cl‡ssicosÊ deÊ agriculturaÊ

diç‹oÊemÊtermosÊdeÊqualidadeÊnaÊ

internacionais,Ê desdeÊ aÊ feiraÊ deÊ

adquiridaÊ tornaÊ aÊ ExpotransÊ aÊparceiraÊidealÊparaÊaÊExpoÊ2015,ÊcomÊsoluç›esÊvencedorasÊemÊter-mosÊ deÊ log’sticaÊ eÊ credibilidadeÊinternacional.

O CEO da Expotrans, GUIDO FORNELLI, responde

Publieditorial produzido e criado em colaboração com a Vox Media Partner

EXPOTRANS: vinte anos de sucesso na área de transporte internacional

Jornalista: Ana Izabel Mendonça

Maquete transportada pela Expotrans para a Heliexpo HOU 2010.

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12 AméricaEconomia Março, 2012

Cresce percepção da marca P&G PUBLICAMOS

A P&G multiplicou por sete sua receita no país na última década. O desafio nos pró-ximos anos é bem mais difícil: dobrar o tamanho da operação brasileira até 2015. (“P&G Vira Gente Grande”, AméricaEcono-mia, nº 404, outubro 2011)

O NOVO Segundo pesquisa do Instituto Ipsos enco-mendada pela P&G, sete em cada dez brasi-leiros já conhecem a empresa. Hoje, a marca corporativa da multinacional americana é co-nhecida por 74% dos brasileiros. No come-ço de 2011, apenas 10% dos consumidores tinham conhecimento da marca. O resultado mostra que a companhia está no caminho certo, ao optar pela estratégia de marketing de reforçar sua imagem institucional para os consumidores brasileiros.

Aviação em destaque PUBLICAMOS

Na América Latina, os números também impressionam. A Associação Latino-Americana e do Caribe de Trans-porte Aéreo (Alta) estima que a região represente, atual- mente, cerca de 7% do mercado mundial. São quase 100 companhias aéreas, das quais 59 operam aeronaves com mais de 40 assentos. A entidade prevê um faturamento anual de US$ 21 bilhões para o setor aéreo na região. (“Tur-binas Ligadas”, AméricaEconomia, nº 407, janeiro 2012)

O NOVO A expectativa positiva para o setor aéreo na região tem impul-sionado também as fabricantes de aeronaves. A Airbus, por exemplo, obteve recorde de encomendas na América Latina no ano passado, com 100 aeronaves comerciais avaliadas em US$ 9,5 bilhões, fazendo de 2011 o ano de maior sucesso na história da companhia. O recorde de vendas anterior da Airbus na América Latina foi em 1998, quando obteve 94 encomen-das líquidas. Até hoje, a Airbus vendeu 666 aeronaves na re-gião e tem em carteira outras 351. O número de aeronaves Airbus em operação em toda a América Latina e Caribe chega a 435 unidades.

SABMiller está otimistacom a América Latina PUBLICAMOS

Graham Mackay, executivo-chefe da SABMil-ler, demonstrou seu otimismo em relação à América Latina durante divulgação de resultados da companhia, em novembro de 2011, ao observar que a região ainda não sentiu os reflexos do recuo das eco-nomias maduras. Na ocasião, o executivo também destacou que os países emergen-tes respondem por cerca de 80% dos lucros globais do grupo britânico. (“Preferência Na-cional”, AméricaEconomia, nº 407, janeiro 2012)

O NOVO O otimismo da SABMiller com os mercados emergentes foi sentido também na divulgação dos resultados do último trimestre de 2011. A empresa encerrou o período com crescimento de 3% nas vendas, graças ao desempenho ob-servado na América Latina e na África. Os números positivos nessas regiões ajudaram a superar a queda em países da América do Norte e da Europa. As vendas tiveram alta de 11% na África, 8% na América Latina e 7% na Ásia Pacífico.

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Fevereiro, 2012 AméricaEconomia 13

Neobus terá fábrica no Rio PUBLICAMOS

De acordo com levantamento do Governo do Estado do Rio de Janeiro, nos próximos dez anos serão investi-dos R$ 178 bilhões em projetos. Já a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) trabalha com um vo-lume de recursos bem maior: R$ 181 bilhões, entre 2011 e 2014. (“Rio, Cidade Maravilhosa para Investir”, AméricaEconomia, nº 404, outubro 2011)

O NOVO A fabricante de ônibus gaúcha Neobus anunciou a cons-trução de uma fábrica em Três Rios (RJ), com investimen-to de R$ 90 milhões. O objetivo é produzir seis mil veícu-los por ano. Com sede em Caxias do Sul (RS), a Neobus já produziu mais de 30 mil ônibus em 12 anos de operação. No início de fevereiro, a empresa anunciou uma associa-ção com a americana Navistar, maior fabricante de ônibus escolares do mundo, que passa a ter uma participação acionária minoritária na empresa gaúcha.

O país avança emtransgênicos PUBLICAMOS

Segundo previsão para a safra 2011/2012, a produção de soja transgênica deve ser de 21,1 milhões de hectares, ou 85,3% da área plantada. (“O Brasil Vive Sem Transgênicos?”, AméricaEconomia, nº 408, fevereiro 2012)

O NOVO Segundo dados da ISAAA (Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecno-logia), em 2011 a área plantada de transgênicos no Brasil foi de 30,3 milhões de hectares, um au-mento de 19,3% na comparação com 2010. Os dados mostram que o país se descolou do tercei-ro lugar, a Argentina (23,7 milhões de hectares), mas ainda está bem longe do primeiro colocado, os Estados Unidos (69 milhões de hectares). Em 2011, a produção mundial foi de 160 milhões de hectares; 8% de crescimento em relação a 2010.

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NEGÓCIO FECHADO

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BrAsIl INsurANCE

Duas aquisições para crescer depressaA Brasil Insurance anunciou, em fevereiro, o início de su-as operações na comercialização de produtos pela in-ternet, com a aquisição do portal Economize no Seguro, de São Paulo, por R$ 13 milhões. A ideia da holding de corretoras de seguros é usar a atual plataforma do site, especializado na negociação de apólices para automó-veis, para comercializar outros produtos com os quais já trabalha, e que sejam compatíveis com as vendas onli-ne. É o caso dos seguros de vida e de acidente pessoal e da previdência privada, segundo o executivo. No mesmo dia, a companhia anunciou a compra da mineira TGL, especializada na venda de dois produtos que ainda não faziam parte do portifólio da BR Insurance: apólices in-dividuais de seguro de vida e previdência. O valor desta aquisição foi de R$ 5,3 milhões. O pagamento será feito em dinheiro, com o compromisso dos antigos sócios de adquirir o equivalente a 15% do recebido em ações da companhia negociadas na BM&FBovespa. A Bra-sil Insurance pretende ainda investir cerca de R$ 180 milhões em compras até dezembro.

VALOR: R$ 18,3 milhões

CsN

Siderúrgica brasileira chega à AlemanhaA CSN comprou uma siderúrgica de aços longos do grupo espanhol Al-fonso Gallardo, na Alemanha. O valor da operação, conduzida pela sub-sidiária espanhola CSN Steel, foi de € 482,5 milhões. A aquisição inclui a distribuidora Gallardo Sections. O negócio marca a entrada da CSN, tradi-cional fabricante brasileira de aços planos, no mercado dos chamados aços longos, usados na construção civil e em aplicações industriais. A operação é também mais um avanço da siderúrgica em seu processo de internaciona-lização: a companhia já tem operações nos Estados Unidos e em Portugal. VALOR: € 482,5 milhões

VAlEANt

Probiótica muda de mãosA farmacêutica americana Valeant fechou a sua terceira aquisição no Brasil ao adquir o controle do laboratório nacional Probiótica, especializado em nutrição esportiva. O valor do negócio foi da ordem de R$ 150 milhões. Com essa compra, a Valeant, que tem forte atuação nas áreas neurológica, dermatológica, de antibióticos e de anti-in-flamatórios, aumenta sua participação no mercado bra-sileiro, e agora atinge a liderança no segmento de nutri-ção esportiva.VALOR: R$ 150 milhões

EstáCIO

Avanço no Norte do paísA Universidade Estácio de Sá incorporou a faculda-de Seama, localizada no Amapá, por R$ 21,7 milhões. Hoje com 2,75 mil alunos, a faculdade permitirá que o grupo de ensino fluminense passe a contar com cerca de 13 mil alunos em Macapá. Esta foi a segunda aquisi-ção de uma instituição de ensino pela Estácio na região. A primeira foi a Atual, de Boa Vista (RR). VALOR: R$ 21,7 milhões

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Banco financia jogo de mitologia

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MOVIMENTOS

Os recursos que o BNDES (Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Econômico e So-cial) disponibiliza para fomentar o desen-volvimento das empresas do país, por meio de linhas de crédito, também estão sendo utilizados para financiar a criação de um jo-go virtual que tem a finalidade de auxiliar as mulheres em seus relacionamentos afeti-vos ou profissionais. Proposto pela empresa Sinergia, o game “Templo das Deusas” foi um dos projetos audiovisuais selecionados pelo Programa Banco do Nordeste de Cul-tura, que destinou R$ 6 milhões (repartidos igualmente entre o BNB e o BNDES) a ini-ciativas que promovam a difusão da cultu-ra nos estados do Nordeste, norte de Minas Gerais e Espírito Santo. Idealizado pela te-rapeuta comportamental Cristhyane Ribei-ro, o “Templo das Deusas” foi lançado via Facebook e busca, conforme a descrição de

seus criadores, oferecer dicas e orientações “para ampliar o re-pertório das jogadoras em seus relacionamentos reais”. Para isso, o jogo utiliza figuras mitológicas femininas, como Afrodite, Ka-li, Ísis, Oxum e Kuan Yin. Com previsão de lançamento para o início de março, o game está disponível no endereço http://www.facebook.com/pages/Templo-das-Deusas/263507800387014. O BNDES destina recursos ao programa do BNB desde 2010, mas não toma parte no processo de seleção dos projetos. De acordo com a assessoria de comunicação da instituição, o banco federal passará a participar do conselho responsável pela escolha a par-tir da edição deste ano.

De olho no aumento de renda do brasileiro, as segurado-ras apostam no lançamento de produtos voltados para os re-cém-chegados à classe C. A Mongeral Aegon colocou no mercado em fevereiro seu primeiro seguro de vida popular e está comemorando os resultados. Em três semanas, 2 mil pessoas aderiram ao plano, que oferece, entre outros bene-fícios, auxílio funeral de R$ 2 mil e cesta básica por um ano

ao custo de R$ 9,90 por mês. A expectativa é fechar 2012 com 20 mil clientes, segundo Waldemir Caputo, diretor co-mercial de Afinidades. Para alcançar a meta, a seguradora tem recorrido às parcerias. O banco de microcrédito Finsol é um exemplo. “Estamos conversando também com super-mercados de periferia e varejistas com lojas em regiões mais pobres”, conta Caputo.

Microsseguros em alta

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Com a facilidade de crédito para a compra de veículos, o sonho do brasileiro de ter seu carro tornou-se mais palpá-vel. Mas os custos de manutenção, sua depreciação ao lon-go do tempo e a carga tributária fazem com que adquirir um meio próprio de transporte seja dispendioso. E as malhas de transporte coletivo ainda têm deficiências. Uma alternativa é o serviço de compartilhamento de carros – ideia iniciada com sucesso na Europa, disponível já há uma década nos Estados Unidos e agora também em São Paulo. A Zazcar, primeira empresa latino-americana do setor, tem uma frota de 33 carros e mais de 600 clientes, atendendo 12 regiões da capital paulista. Funciona como um aluguel: o interessado se cadastra e pode fazer sua reserva via internet ou telefone. “O início de nossas atividades foi lento, em razão de seu ca-ráter inovador. Mas acreditamos que o brasileiro já perceba com mais clareza as vantagens do compartilhamento, e, aos poucos, vai se desapegar da ideia de posse do veículo. Um levantamento nosso mostra economia de R$ 800 por mês”, avalia o diretor e um dos fundadores da companhia, Felipe Barroso. “O mercado é bastante promissor. Aproveitaremos este ano para consolidar nossa posição e, depois, avaliare-mos uma eventual expansão para outras praças.”

Meu carro, seu carro

CNJ ainda está sob tiroteio

Enquanto muitos analistas acre-ditam que os serviços continua-rão a puxar a inflação para cima, o professor da FEA/USP (Faculda-de de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) e membro do Corecon--SP (Conselho Regional de Econo-mia de São Paulo), Heron do Car-mo, tem uma visão mais otimista. Para o economista, a pressão des-se segmento sobre o índice infla-cionário deve ser menor em 2012,

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) venceu um round no final de janeiro, ao garantir que seus poderes não fossem esvaziados, de acordo com decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Mas este é apenas um dos temas espinhosos que estão fazendo com que a atua-ção do Conselho sofra objeções. A regra do regimen-to interno do CNJ que permite o livre fluxo de infor-mações sigilosas com entidades monetárias, fiscais e empresas de telefonia também vem sendo questionada no Supremo. Agora, outra ação nas mãos do STF tem como alvo es-se sigilo. O detalhamento das folhas de pagamento de 22 tribunais do país, ini-ciado pela Corregedoria do CNJ em 2011, levou três associações de juízes a entrarem na Justiça sob a alegação de quebra ilegal de sigilo de 216 mil magistrados e servidores. Até a Procuradoria-Geral da República tem uma ação contra o Conselho no STF. Em 2008, o então procurador Antonio Fernando de Souza afir-mou que o CNJ passou dos limites ao criar regras sobre o processo judi-cial de interceptação telefônica.

Menos grave do que parece

com expectativa de fechar o ano em 6%. Entre os motivos para a baixa, Carmo cita a desaceleração na ati-vidade industrial e a maior oferta em algu-mas atividades. “A economia está crescendo menos, e isso deve con-tribuir para um nível menor no pre-ço dos serviços”, afirma. Em 2011, os serviços tiveram alta de 9,01% e pressionaram para cima o IPCA (Ín-

dice Nacional de Preços ao Consumi-dor Amplo), que fechou o ano em 6,5% – o teto da meta estipulada pelo governo. Para 2012, a expec-tativa de Carmo é que o IPCA feche o ano em 5%.

Inflação do setor de serviços deve recuar

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18 AméricaEconomia Março, 2012

MOVIMENTOS

MBA brasileiro atrai estrangeiro

A hora da infraestrutura

O Instituto Coppead de Administração da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Ja-neiro) é o único representante da América do Sul no ranking das 100 melhores esco-las de negócios do mundo, divulgado recentemente pelo jornal britânico Financial Times. A instituição também ficou com a melhor colocação na América Latina nos programas Full-Time MBA (que equivale ao mestrado no Brasil), com o 51º lugar. En-tre os fatores considerados pelo levantamento está o sucesso profissional dos ex-alu-nos. Segundo o instituto, três anos após a conclusão do curso, os alunos do Coppead têm uma melhora na carreira, com um acréscimo salarial médio, em dólares, de 151% em relação ao último emprego. O Coppead tem parceria com 37 instituições em to-dos os continentes, o que facilita os intercâmbios, diz a diretora de Relações Interna-cionais, Adriana Hilal. “Em 2011, o Full-Time MBA recebeu 45 alunos estrangeiros por meio de seu programa de intercâmbio, criando assim um verdadeiro ambiente mul-ticultural. Considerando que, anualmente, entram no programa aproximadamente 50 alunos regulares, o número de intercambistas recebidos representa 90% do total de estudantes da turma que iniciou o programa em 2011”, explica.

A Progen, empresa que atua no segmento de en-genharia e projetos industriais, anunciou a compra de 50% do capital das operações da companhia espanho-la AudingIntraesa no país. “O setor de infraestrutura foi considerado por nós como prioritário. Voltaremos nosso foco tanto à área aeroportuária quanto à de sa-neamento básico”, afirma o CEO da Progen, Eduardo Barella. “O país está em um momento positivo, mas não fez investimentos em infraestrutura. Agora, pode-remos aproveitar um pouco da experiência europeia”, afirma. Sem revelar o valor do investimento na empre-sa espanhola, o executivo conta que a Progen deverá manter suas operações já existentes no segmento de mineração, no qual é parceira da Va-le, e buscar oportunidades também na área de óleo e gás. Em 2011, a Pro-gen faturou R$ 400 milhões – 53,8% a mais que no ano anterior. A meta da companhia é atingir, em 2013, um total de R$ 800 milhões.

Do total de exportações do Brasil para o Iraque em 2011, cerca de 70% é de

carne de frango. O país é o quinto maior comprador das aves

brasileiras, segundo Jalal Chaya, da Câmara de Comércio Brasil-Iraque. No balanço oficial do Ministério do Desen-volvimento, Indústria e Comércio Exterior, os iraquianos aparecem com menos destaque, em 10º lugar. A diferença entre os dados, segundo Chaya, está na triangulação. Dos US$ 780,9 milhões exportados, US$ 380,6 milhões foram embarques triangulados. Ou seja, em vez de ser um contra-to fechado com o Iraque, o negócio foi feito com países-par-ceiros, como Jordânia, Síria e Turquia, que adquirem a mer-cadoria e a entregam no país vizinho. “O Iraque, apesar de estar em fase de reconstrução, ainda tem problemas com es-paço de armazenagem de mercadorias e de falta de energia, pontos cruciais no caso do frango”, explica. Na pauta de ex-portações, depois da carne de frango, vem o açúcar nacio-nal. E os negócios entre os dois países tendem a aumentar. Está prevista para este mês a reabertura da embaixada bra-sileira em Bagdá.

Frango nacionalfaz sucesso no Iraque

Barella aposta nos projetos de infraestrutura

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Economia e bem-estar catarinenseDivulgado recentemente, o IBEE

(Índice de Bem-Estar Econômico)aponta que Santa Catarina foi a unidade da Federação com os me-lhores resultados em termos de bem-estar econômico. Em segui-da vieram São Paulo e Rio Gran-de do Sul e, em último lugar, está Alagoas. O estudo, feito com base em dados de 2008, foi apresenta-do pela economista Cláudia Bue-no Rocha Vidigal, da Esalq (Esco-la Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) de Piracicaba (SP). “Base-

ado em um indicador do Canadá, adaptado às características brasi-leiras, o IBEE levou em conta o con-sumo das famílias e as despesas do governo; a riqueza existente e o legado geracional, que inclui tan-to investimentos quanto a dívida pública; a desigualdade de ren-da e a intensidade da pobre-

za; e os riscos relacionados à vio-lência e ao desemprego”, explica a pesquisadora. Por utilizar dados oficiais, o estudo não atingiu anos mais recentes.

O aumento dos negócios entre paí-ses latino-americanos levou o GACInt (Grupo de Análise da Conjuntura Inter-nacional), da USP (Universidade de São Paulo), a criar a pós-graduação em Geo-política, Estratégia e Negócios Latino--Americanos, vinculada à FIA (Fun-dação Instituto de Administração). O curso, que começa neste mês, é volta-do a executivos e funcionários do go-verno ligados ao ambiente empresarial da região. “Será um espaço de treina-mento para as pessoas que operam ne-gócios na América Latina”, explica Ri-cardo Sennes, coordenador do GACInt. O estudioso lembra que, cada vez mais, os governos têm procurado formas de

Integração regional em sala de aula

Florianópolis, a capital do estado

integração regional. É o caso da Anac, a agência que cuida da aviação civil e tem ampliado os acordos regionais, e do BNDES (Banco Nacional de Desenvol-

vimento Econômico e Social), que vem aumentando os empréstimos para em-presas brasileiras com atuação em ou-tros países latino-americanos.

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NEGÓCIOSExpansão

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Ao mesmo tempo em que amplia presença na Europa e nos Estados Unidos e planeja aquisições, a WEG aposta nospaíses emergentes

Sérgio Siscaro, de São Paulo

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No início de fevereiro, a WEG – fabricante de motores, equipa-mentos de energia e tintas se-diada em Jaraguá do Sul (SC)

– inaugurou o projeto de ampliação de uma subestação da Itaipu Binacional em Hernandárias (Paraguai). A opera-ção, que deverá garantir o fornecimento de energia elétrica ao país vizinho, mos-tra a evolução alcançada pela empresa em meio século de história. Fundada em 1961, a WEG é uma das principais mul-tinacionais brasileiras. Exporta equipa-mentos de alto valor agregado e tem uni-dades industriais em vários países.

Recentemente, a companhia deu dois importantes passos nesse processo de abrir novas fronteiras no exterior. Em novembro do ano passado, a WEG ad-quiriu a austríaca Watt Drive Antriebste-chnik, do setor de fornecimento de ener-gia na Europa e com unidades industriais na Alemanha e em Cingapura. No mes-mo mês, assinou com a GE Energy um acordo para a compra da americana EM (Electric Machinery), que desenvolve motores e geradores destinados aos mer-cados de petróleo e gás.

Essas aquisições mostram a estraté-gia da WEG de não apenas colocar seus produtos no mercado externo a partir do Brasil, mas também uma presença inter-nacional mais forte. Atualmente, a com-panhia tem unidades industriais na Áfri-

Fome de crescimentoPara o presidente da companhia, Harry Schmeltzer Jr., a diversidade de mercados diminui possíveis vulnerabilidades

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Março, 2012 américaEconomia 21

ca do Sul, Argentina, Áustria, China, Estados Unidos, Índia, México e Portu-gal. Além disso, está presente em 16 pa-íses (veja mapa na página 22). E, com a crise que abala a Europa e reduz o valor dos ativos, pretende dar mais espaço às aquisições. As oportunidades, dizem os executivos da WEG, devem ser aprovei-tadas para dar mais visibilidade ao negó-cio da companhia.

No ano passado, a empresa registrou um lucro líquido de R$ 586,9 milhões e uma receita operacional líquida consoli-dada de R$ 5,2 bilhões – que cresceram 12,9% e 18,15%, respectivamente, em re-lação a 2010. Ao todo, 44% da receita (ou R$ 2,286 bilhões) veio das operações in-ternacionais. De acordo com o relatório que acompanhou a demonstração dos resultados financeiros da WEG, contri-buíram para isso as aquisições feitas no ano anterior no México e na África do Sul, assim como as realizadas em 2011 na Argentina, na Áustria e nos EUA, e a exploração de nichos de negócios nos mercados desenvolvidos, que cresceram menos no ano passado.

A diversificação das atividades e o aumento das operações no exterior são uma importante forma de garantir a saúde financeira da WEG. Para Mar-co Aurélio Barbosa, analista-chefe da Coinvalores, a internacionalização da companhia tem surpreendido, à medida que suas exportações para os mercados desenvolvidos, que atualmente passam por dificuldades, têm aumentado. “A WEG tem aproveitado as oportunidades

geradas pela redução do preço dos ativos no exterior e feito aquisições estratégicas lá fora, em uma aposta de longo prazo.”

Barbosa avalia ainda que a estratégia da WEG de ter uma atuação maior em segmentos como o de energia é impor-tante – criando condições para que a em-presa possa se beneficiar, no futuro, do desenvolvimento dessa área. “Ela tem inclusive investido no campo de ener-gias renováveis, apostando em uma mu-dança da matriz energética. O segmento de óleo e gás também apresenta pers-pectivas interessantes e está no radar da WEG, como exemplificado pela recen-te aquisição da Electric Machinery nos EUA”, afirma.

Essa diversificação permite, na avalia-ção do analista, mitigar riscos conjuntu-rais que possam surgir na economia in-ternacional. “O crescimento no exterior é muito importante, mas a empresa deve ter em mente também o desenvolvimen-to do mercado doméstico, que oferece grandes oportunidades de expansão nos próximos anos.”

Em relatório divulgado após o anúncio dos resultados de 2011, o analista Bruno Savaris, do banco Credit Suisse, avaliou que os resultados da WEG mantiveram--se dentro do esperado, considerando--se a relevância cada vez maior das ope-rações internacionais para os resultados da companhia. Savaris lembrou que, do

início de 2010 até o final do ano passa-do, a participação dos mercados exter-nos na receita da empresa aumentou de 29% para 41%. De acordo com o analis-ta, essa tendência poderá ser negativa, caso as vendas no exterior tenham mar-gens de lucro menores.

Para Harry Schmeltzer Júnior, presi-dente-executivo da companhia, a forte presença que a WEG tem hoje nos EUA e na Europa – que enfrentam um cená-rio de menor crescimento econômico, aumento do desemprego e até recessão – não chega a constituir um risco para as operações nesses mercados. “Uma em-presa fica mais vulnerável se ela depen-de de um mercado só. A WEG busca am-pliar permanentemente seu portfólio de produtos a fim de atuar em diversos seg-mentos e, consequentemente, em vários mercados. E isso diminui nossa vulnera-bilidade”, disse.

O executivo admite, contudo, que a empresa também foi afetada pela desace-leração econômica do Hemisfério Norte, assim como as demais companhias bra-sileiras que mantêm negócios com aque-la parte do mundo. “A crise arrefeceu os negócios, e exigiu da WEG mais energia para continuar crescendo no mercado in-ternacional. Mas conseguimos expandir nossas operações na Europa e nos EUA. E acreditamos ser possível crescer mais de 20% nos próximos negócios no mer-cado externo em 2012.”

Outro possível foco de ameaça às ope-rações da companhia nesses mercados é a forte volatilidade do dólar e dos preços das commodities – no caso da WEG, es-pecialmente o cobre – nos mercados in-ternacionais. Schmeltzer conta que a empresa busca se proteger de tais os-cilações adquirindo o cobre com ante-cedência e obtendo empréstimos pa-ra financiar as exportações. “Em razão do dólar, perdemos um pouco de mar-gem de lucro, mas mantivemos nossa competitividade externa. E estamos

A WEG está entusiasmada com o crescimento do mercado chinês, onde passou a ter uma fábrica em 2005

Empresa também está diversificando seu portfólio de atuação, ingressando

em áreas como a de energias renováveis

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NEGÓCIOSExpansão

22 américaEconomia Março, 2012

aumentando nossa capacidade de produ-ção fora do Brasil – o que também acaba funcionando como uma espécie de hed-ge às nossas operações”, diz.

Mesmo levando em conta esses fa-tores, a WEG ainda espera manter seu crescimento continuado em 2012 – e pa-ra isso conta com a expansão interna-cional. “Este é um ponto forte de nossa estratégia; continuaremos perseguindo aquisições para sustentar um crescimen-to de dois dígitos – o que é muito difícil de manter apenas por meio da expan-são orgânica de nossos negócios”, afir-ma Schmeltzer. “Estamos sempre atrás de oportunidades.”

Dentro dessa ótica, a WEG está aten-ta também aos países emergentes. Sua mais recente investida foi na Índia, onde implantou uma unidade produtora na ci-dade de Hosur (localizada nas proximi-dades de Bangalore), cujas atividades co-meçaram em fevereiro de 2011. A planta é dedicada à fabricação de motores a se-

rem instalados em bombas de água e, até sua inauguração, recebeu investimentos de US$ 60 milhões.

Para Schmeltzer, os mercados emer-gentes se encontram, no momento, em um estágio inicial na estratégia da WEG. “A receita nesses países ainda não é tão significativa, mas acreditamos que tan-to a China quanto a Índia tendam a con-tribuir mais para a companhia. Já apren-demos a trabalhar lá, nos estruturamos, e agora devemos começar a colher os resultados. Lá tudo é favorável. Hoje, mesmo quando o PIB [Produto Interno Bruto] desacelera, ele ainda cresce con-sideravelmente”, afirma.

O executivo lembra que levou um pe-ríodo de cerca de cinco anos para a WEG conseguir montar uma estrutura adequa-da na China – o que não se repetiu na Ín-dia. “Quando chegamos lá, já tínhamos mais experiência em lidar com uma cul-tura tão diferente, como foi anteriormen-te o caso do mercado chinês.” Apesar de

considerar que hoje a WEG se encontra entre os principais players internacio-nais na América do Norte e na Europa, na Ásia a situação é diferente. “Lá, ainda precisamos construir nosso caminho.”

Outro vetor importante nos planos de expansão da WEG é a América Latina. A empresa já tem uma presença conso-lidada na Argentina e continua de olho em outros países da região. “O mercado argentino sempre foi muito importante. Temos lá uma fábrica de motores e outra de automação. Somos líderes de merca-do naquele país. Mas temos outras opor-tunidades interessantes para conquistar na região, como o Peru, a Colômbia e o México”, afirma.

O recente fornecimento dos transfor-madores da hidrelétrica de Itaipu é con-siderado pelo executivo um marco. “São poucos os fabricantes que têm a compe-tência técnica para fabricar esse tipo de equipamento.”

PROCESSO CONTÍNUONa avaliação do coordenador do Nú-cleo de Negócios Internacionais da FDC (Fundação Dom Cabral), Sherban Leo-nardo Cretoiu, esse bom posicionamen-

A companhia é considerada pela Fundação Dom Cabral como uma das mais internacionalizadas do Brasil

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Buenos AiresCórdobaSan Francisco

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Fonte: empresa

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Nantong (China)

Tamil Nadu (Índia)Equisul: São José

HISA: JoaçabaInstrutech: São Paulo

Presença global A WEG tem, ao longo dos anos, estabelecido sua presença em vários mercados ao redor do mundo

ZEST: Johannesburgo (África do Sul)

Unidades próprias

Unidades controladas

Jaraguá do Sul - PF 1Jaraguá do Sul - PF 2BlumenauGravataíGuaramirimItajaíManausMauáSão Bernardo do Campo

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A WEG também está presente em diversos países da América Latina, e tem unidades de produção na Argentina e no México (acima)

Com um ano de atividade, a unidade da Índia reforça a

aposta em emergentes

to da WEG no mercado externo deve-se à experiência adquirida nas últimas qua-tro décadas – quando a empresa primei-ro passou a exportar seus produtos, para depois optar pela implantação de unida-des produtivas em outros países e pela aquisição de companhias estrangeiras.

A continuidade desse processo tornou as operações internacionais mais impor-tantes para a empresa – tanto que, em seu “Ranking das Transnacionais Brasileiras 2011 – Crescimento e Gestão Sustentável no Exterior”, a FDC classificou a WEG em 16º lugar – acima de companhias atu-antes no mercado externo, como Brasil Foods, Embraer e Petrobras.

“A WEG tem várias lições a ensinar. Seu processo de internacionalização co-meçou há muitos anos, e fez com que a empresa tivesse de investir em inovação e eficiência para fazer frente aos concor-rentes externos. Ela se tornou competiti-va e compensou os momentos em que o mercado doméstico não era muito pro-missor”, avalia.

De acordo com Cretoiu, o sucesso da WEG alicerçou-se em dois pontos prin-cipais: o estabelecimento de uma estraté-gia de internacionalização gradual – que deu espaço, com o tempo, à abertura de filiais comerciais e, depois, de parques industriais no exterior – e a manutenção desse curso, por meio da profissionaliza-ção da gestão da empresa, que permitiu que essa estratégia fosse perseguida de forma consistente.

Além de buscar novas oportunidades de negócios no exterior – e, de certa for-

ma, proteger-se de eventuais oscilações do mercado doméstico – a predileção da WEG pela expansão internacional con-tribui para que ela entre em outros mer-cados e setores de atuação de forma competitiva. Um exemplo disso foi a re-cente aquisição da EM, sediada em Min-neapolis (EUA), que pertencia à Conver-tin (que, por sua vez, foi adquirida pela General Electric em setembro de 2011).

“Trata-se de uma empresa centenária, com ótima reputação no mercado, que fabrica turbogeradores de dois polos – e a WEG não tem uma participação forte no mercado de fornecimento desse tipo de equipamento. Além disso, a EM par-ticipa de forma destacada no segmen-to de óleo e gás. A aquisição nos colo-ca em posição mais competitiva”, avalia Schmeltzer. Ele acrescenta que a exper-tise da companhia nessa área já é ampla, devido à sua atuação no fornecimento de equipamentos destinados a unidades mineradoras e plataformas de petróleo.

TRAJETÓRIAFundada em 1961 como Eletromotores Jaraguá, a WEG logo encontrou sua vo-cação para o comércio fora das frontei-ras brasileiras. No início dos anos 1970, iniciou seus primeiros negócios inter-nacionais com vizinhos como Uruguai, Paraguai e Equador. “Em um primeiro momento, éramos uma companhia me-ramente exportadora. Depois, passamos à distribuição de nossos produtos, esta-belecemos filiais comerciais próprias em vários países e, atualmente, estamos na fase de ter instalações e indústrias lá fo-ra”, afirma Schmeltzer.

Nessas quatro décadas de participação no comércio internacional, a WEG viu o mercado doméstico enfrentar diversas crises – na década de 1980 havia um ce-nário marcado pela inflação galopante, pelo aumento da dívida externa e pelo impacto do segundo choque mundial do petróleo. Dessa forma, a empresa foi es-timulada a buscar oportunidades de ne-gócios em novos mercados.

Os anos 1990 assistiriam a um cres-cimento mais rápido no processo de in-ternacionalização da companhia, com a WEG chegando aos EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Espanha e Suécia. Em 2000, vieram as primeiras fábricas no exterior, localizadas na Argentina e no México. Em 2002, a empresa adqui-riu uma fábrica em Portugal e, três anos depois, iniciou sua produção na China. E, em fevereiro de 2011, chegou à Índia, por meio da inauguração de uma fábrica em Bangalore. Fo

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Com milhões de latino-americanos preparando as malas para sua primeira viagem de avião, as principais fabricantes mundiais de aeronaves afinam suas estratégias para crescer e engordar o caixa

David Cornejo, de SantiagoFo

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Está certo que as viagens aéreas a negócios podem se tornar rotinei-ras, com mudanças de horários, refeições, escalas. Mas você se

lembra da sensação de voar pela primeira vez? A cada ano, milhões de pessoas na América Latina e Caribe esperam ansio-samente para embarcar em seu primeiro voo, apertar os cintos e aguardar a deco-lagem. O desejo é o mesmo entre as fabri-cantes de aviões que disputam esse mer-cado, impulsionado principalmente pela

Pronto para decolar

queda nos preços das passagens. “Em termos reais, as tarifas atuais diminuí-ram cerca de 7% em comparação com o ano 2000 e cerca de 62% em relação a 1970”, comenta Patricio Sepúlveda, vi-ce-presidente regional para América La-tina e Caribe da Iata (Associação Inter-nacional de Transporte Aéreo).

Na região, ainda é baixo o número de passageiros: 0,53 voo per capita por ano, bem inferior à Europa (1,56) e aos Esta-dos Unidos ( 2,35).

Por outro lado, estar distante de mer-cados mais maduros abre um amplo es-paço de desenvolvimento. Por exemplo, apenas em 2011 no Brasil, 10,7 milhões de passageiros viajaram de avião pela primeira vez.

Esse crescimento da demanda no últi-mo ano foi impulsionado por voos den-tro da América Latina, domésticos e internacionais. “Em 2011, o tráfego in-ternacional entre países da região cres-ceu 9,5%, enquanto que, para outras re-

A Fidae, em Santiago, é uma oportunidade para os fabricantes apresentarem seus modelos nos segmentos de aviação comercial, executiva e de defesa

NEGÓCIOSTrAnsporTE AérEo

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Março, 2012 AméricaEconomia 25

giões, aumentou apenas 1,3%, tendência que continuará”, comenta Alex de Gun-ten, diretor-executivo da Alta (Associa-ção de Transporte Aéreo da América La-tina e do Caribe).

Com a demanda identificada pelas companhias aéreas, agora é preciso que o estoque de aviões esteja à altura. Se-gundo a Airbus, a região precisará de dois mil novos aviões de passageiros ao longo dos próximos 20 anos. As fabri-cantes estão cientes do potencial de cres-cimento e preparam-se para aterrissar nesse mercado.

O bOlO aéreOAs maiores companhias aéreas da região são TAM-LAN, AviancaTaca, Gol e Ae-roméxico, que possuem frotas de mais de 100 aviões. E o investimento em no-vas aeronaves tem sido cada vez maior. “Mais de 70% dessas aeronaves são de nova geração. Há 10 anos, eram cerca de 20%”, comenta Gunten, da Alta.

Ao contrário da grande variedade de companhias que fabricam aeronaves mi-litares, o estoque latino-americano de

aviões comerciais é dividido entre qua-tro fabricantes: 38% da Boeing, 36% da Airbus, 11% da Embraer e 6% da Bom-bardier. O restante do mercado está dis-tribuído entre empresas menores, como ATR e Fokker. Com contratos milioná-rios e alianças estabelecidas por décadas, as aéreas ainda preferem não se arriscar com aviões de fabricantes menores.

De acordo a Alta, o modelo mais utili-zado pelas companhias aéreas da Amé-rica Latina é o Airbus A320, com 166 aeronaves. Seu preço: US$ 85 milhões. Na sequência estão o Boeing 737-800, com 120 aparelhos a um custo de US$ 80 milhões cada, e o Boeing 737-700, com 113 aviões (o modelo custa US$ 68 milhões, em média).

“A tendência é a compra de aviões de curto alcance, com base na densidade de tráfego entre as cidades”, explica Sepúl-veda, da Iata. Os três modelos predomi-nantes são de fuselagem estreita, isto é, com apenas um corredor de passageiros e capacidade média. Segundo a consulto-ra aeronáutica Ascend, atualmente 67 % das aeronaves que operam na América

Latina são de fuselagem estreita e ape-nas 12% são de fuselagem ampla, com dois corredores de passageiros. Os mo-delos maiores transportam de 200 a 600 passageiros, enquanto o maior avião de fuselagem estreita leva no máximo 250.

Os especialistas do setor aéreo acre-ditam que há oportunidade de negó-cios na região também para os aviões maiores, já que a expectativa é de au-mento no número de passageiros trans-portados. Segundo a Airbus, em 2030, esse total será o dobro do atual. A previ-são é conservadora em relação à da Ia-ta, que espera que o tráfego na América Latina quase quadruplique em 20 anos.

Enquanto isso, será preciso torcer pa-ra que os governantes saiam da imo-bilidade e resolvam o problema dos já colapsados aeroportos. Se estes forem suficientemente eficientes para atender à demanda, a América Latina poderá tirar proveito e aumentar as alianças comer-ciais e gerar novos negócios, especial-mente com as viagens sobre o Oceano Pacífico, que predominarão no mercado aéreo nas próximas décadas.

Não é apenas uma questão de ima-gem diante dos clientes e da concorrên-cia. Ter um avião privado proporciona se-gurança, mais privacidade e eficiência aos executivos — e pode até ser decisivo em um negócio que dependa de pontua-lidade, por exemplo. Porém, desde 2008, as turbulências na economia traduziram--se em uma queda nas vendas mundiais desse tipo de aeronave. Na américa lati-na e outras regiões emergentes, ocorreu o contrário. O mercado de aviões priva-dos mantém-se em crescimento.

“a aviação de negócios na américa do Sul tem, atualmente, 1.831 aviões e 1.747 helicópteros”, aponta richard Aboulafia, vice-presidente e analista do Teal Group, dos estados Unidos. Segundo projeções feitas pela fabricante brasileira embraer, uma das protagonistas na avia-

ção executiva mundial, nos próximos dez anos, esse mercado deverá somar negó-cios da ordem de US$ 12,4 bilhões na américa latina, com destaque para Mé-xico, brasil, Venezuela, argentina e Chile.

Uma oportunidade para conhecer mais sobre o setor é a Fidae (Feira Internacio-nal do ar e do espaço), que acontece en-tre 27 de março e 1º de abril, no aeropor-to arturo Merino benítez, em Santiago. além de aviões executivos, serão apre-sentados fornecedores de equipamen-tos de defesa, segurança, manutenção de aeronaves, serviços aeroportuários e tecnologia espacial.

“O setor de aviação executiva, tanto de aviões quanto o de helicópteros, tem alcançado um papel mais relevante devi-do à prosperidade econômica da região. Hoje, há uma necessidade de acelerar os

negócios entre os empresários e executi-vos. além disso, as principais cidades da américa latina estão crescendo, e isso impacta a duração das viagens, mais lon-gas com os congestionamentos no trânsi-to, impulsionando este mercado”, comen-ta Sepúlveda, da Iata.

entre os aviões executivos presentes na feira, destaca-se, por sua versatilida-de, o PC-12 NH, da fabricante suíça Pi-latus. O modelo pode desempenhar um papel executivo, ser configurado como ambulância ou realizar transporte de car-ga. Uma adaptabilidade bem interessan-te para o atual momento.

“a aviação executiva estará represen-tada na feira por empresas como bom-bardier, Gulfstream, Cessna e embraer”, comenta o coronel Jean Pierre Desgroux, diretor-executivo da Fidae.

No Chile, uma vitriNe de jatos

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NEGÓCIOSTrAnsporTE AérEo

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aVIõeS De FarDaOs caças-bombardeiros são decisivos em uma guerra entre Estados. Mas, em tempos de paz, são outras as aeronaves que mais atendem às necessidades de defesa de cada país. Atualmente, o pe-rigo de uma guerra externa foi reduzi-do ao mínimo. Quando muito, há dois ou três conflitos internos, como o que ocorre em território colombiano com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o problema entre Peru e o Sendero Luminoso e, até certa medida, o conflito do Brasil com o narcotráfico. “Nesse sentido, as aeronaves de carga e ataque leve respondem mais a essa ne-cessidade. Vamos observar uma tendên-cia de adquirir armamento que garan-ta mais o controle interno do que uma guerra interestatal”, comenta Luis Gia-coma, analista político da PKS Consul-tores, do Peru.

Há 100 anos, os italianos lançaram manualmente bombas a partir de seus

aviões sobre a Líbia, inaugurando o sé-culo de ataques aéreos no mundo. Con-tudo, os conflitos aéreos na América Latina têm sido raros. Por enquanto, li-mitaram-se a combates na Guerra das Malvinas, em 1982, na Guerra do Cene-pa, entre Peru e Equador, em 1995. As-sim, os caríssimos caças-bombardeiros passam a maior parte do tempo nos han-gares ou fazendo exercícios de exibição, enquanto os cargueiros e as aeronaves de reconhecimento realizam um importan-te trabalho de menor visibilidade, mas nem por isso pouco relevante.

“O que é mais adequado para cada país depende das ameaças que enfrenta, bem como da geografia, das habilidades e da riqueza, o que determina a ampli-tude da oferta atual”, comenta Richard Aboulafia, vice-presidente e analista da consultoria americana Teal Group.

Um avião de combate clássico – um F16, por exemplo – não seria muito útil no combate ao narcotráfico, já que o mo-

delo não reconhece elementos na selva. “As aeronaves mais úteis são as subsô-nicas, que não ultrapassam a velocida-de do som, como os aviões do tipo Tuca-no, utilizado pela Força Aérea do Peru, ou o Pillán, do Chile, de treinamento le-ve”, diz Giacoma. “O mercado está se focando nesse tipo de aeronave, que de-monstra mais facilidade e capacidade de operar em espaços de selva e monta-nhas, diante de inimigos não convencio-nais, quase sempre carentes de meios an-tiaéreos”, acrescenta.

Por isso, são necessárias aeronaves multifuncionais, adaptáveis aos impre-vistos de cada país, além da colaboração entre vizinhos. “Existem necessidades comuns, resultantes de problemas com-partilhados, como catástrofes naturais, narcotráfico, terrorismo, para as quais, em muitos casos, já existem acordos pa-ra reagir e operar coordenadamente”, co-menta Jean Pierre Desgroux, coronel da Força Aérea do Chile.

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O Super Tucano é um dos principais produtos da área

de defesa da Embraer

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Mais do que substituir um tipo de ae-ronave por outra, as necessidades de de-fesa externa e interna indicam que é pre-ciso combinar diversos equipamentos com diferentes funcionalidades. “A ver-satilidade demonstrada pelos helicópte-ros em certas circunstâncias não pode ser imitada por uma aeronave de asa fi-xa, por exemplo. Em contrapartida, a ca-pacidade dos helicópteros pode se mos-trar limitada quando se opera em altura com uma quantidade significativa de carga”, acrescenta Desgroux.

Os caças-bombardeiros têm custos que vão de US$ 40 milhões a US$ 100 milhões por avião. São apenas 11 os paí- ses que os produzem: Rússia, Estados Unidos, França, China, Índia, Japão, Suécia e o consórcio Eurofighter, for-mado por Alemanha, Reino Unido, Itá-lia e Espanha.

Um dos atrativos nesse negócio, além da compra da aeronave, é o pacote que vem com a aquisição – mais especifi-camente a transferência tecnológica en-tre fabricante e comprador, nos chama-dos acordos offset. Este é um dos pontos centrais, por exemplo, das conversas en-tre a fabricante francesa dos aviões Ra-fale, que está fechando uma importante venda para a Índia, e o governo brasilei-ro, que quer reaparelhar a Força Aérea. No caso indiano, o acordo prevê a inau-guração de fábricas no país asiático, al-go a que os brasileiros também aspiram.

O objetivo brasileiro tem a ver com uma das principais vantagens das aero-naves de carga e ataque leve: elas poten-cializam a indústria latino-americana. Grande parte dessas frotas na América Latina é abastecida pela indústria local, sobretudo em países que aumentaram

os seus gastos militares na última déca-da. É o caso de Chile, com 48% de cres-cimento do orçamento militar; Brasil, com 39%; e Colômbia, com 111% de au-mento, segundo números divulgados pe-lo Sipri (Instituto Internacional de Pes-quisa da Paz, de Estocolmo).

Com esse gasto militar de alguns dígitos, não é de se estranhar que se-jam esses os países com maior relevân-cia na região, em termos de frotas aére-as. “Destacam-se, em primeiro lugar, o Brasil, seguido da Colômbia, que enfren-ta um conflito armado interno, e, em ter-ceiro lugar, o Chile”, explica Giacoma.

OS brINqUeDOS MaIS CarOSEntre as aeronaves que mais se destacam na América Latina, estão os helicópte-ros militares, dada a sua versatilidade em uma geografia diversa. Entre os mo-delos estão os russos MI-171, com capa-cidade de transporte e combate, blinda-dos e equipados com mísseis antitanque Ataka/Shturm. Com um custo aproxi-mado de US$ 12 milhões, atualmen-te são utilizados pelas Forças Armadas de Peru, México, Argentina, Venezuela e Colômbia. Neste último país, tiveram seu momento mais relevante na Opera-ção Jaque, que libertou Ingrid Betan-court em 2008, depois de um sequestro de seis anos articulado pelas Farc.

Em termos de aviões, segundo Giaco-ma, são três os modelos mais utilizados na região – por seu poderio bélico e faci-lidade de manobra. “Atualmente, o F16, usado pelos chilenos, é a aeronave mais avançada. Na sequência vem o Sukhoi 30, adotado pelas Forças Armadas da Venezuela e, em terceiro lugar, podemos citar aos F5 ou Mirage, que fazem parte da frota brasileira”, aponta.

Além dos 36 Rafale que poderão ser adquiridos pelo pelo governo brasileiro em um processo de escolha que começou no governo de Fernando Henrique Car-doso, as aquisições esperadas para 2012 são os dez Super Tucanos brasileiros, da Embraer, que serão comprados pelo Pe-ru e os 12 Cheetah sul-africanos recebi-dos pelo Equador em fevereiro.

A Airbus (à esquerda) tem 36% do mercado latino--americano de aviões comerciais. Acima, o F-35B, da Lockheed Martin, usado em defesa

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Com 1,354 bilhão de habitantes, a China tem uma necessida-de urgente de garantir o for-necimento de alimentos para

sua população. E essa alimentação tem como um de seus principais ingredien-tes a carne de porco, tradicional em sua culinária. Esses dois fatos indicam que o mercado chinês é bastante promissor em termos de importações de carne su-ína. E as oportunidades proporciona-das pela entrada naquele mercado co-meçarão a ficar mais evidentes para o Brasil neste ano, em razão do início dos embarques do produto.

Os produtores brasileiros de suínos já começaram a se movimentar, aprovei-tando a abertura do mercado chinês. A Aurora fez o primeiro embarque para o país no início de fevereiro. Dias depois, a BRF (Brasil Foods) anunciou uma joint venture com a DCH (Dah Chong Hong), da China, para estruturar sua distribui-ção. Na empresa já se fala, inclusive, da possibilidade de instalar no futuro uma linha de produção em território chinês.

Apesar do apetite das companhias brasileiras, todo o processo de nego-ciação com o gigante asiático costuma ser lento. Até agora, três produtores têm unidades licenciadas pelo governo chi-nês para vender carne suína para o país: Aurora, Marfrig e BRF. Na avaliação de José Vicente Ferraz, diretor-técnico da consultoria Informa Economics FNP, a China deverá se tornar um importa-dor muito importante de alimentos, le-vando-se em conta que a rápida urbani-zação do país vem tornando escassas as regiões destinadas à agricultura e à cria-ção de rebanhos. “Nesse quadro, o Bra-sil tende a ser um fornecedor natural.”

Sediada em Chapecó (SC), a Cooper-central Aurora (Aurora Alimentos) foi uma das primeiras escolhidas para ini-ciar os embarques de carne suína para a China. No início de fevereiro, a compa-nhia emabarcou no porto de Itajaí (SC) cinco contêineres, ou 120 toneladas – um negócio de R$ 420 mil. Atualmente, a empresa tem como principais merca-dos internacionais Hong Kong, Ucrânia

e Argentina. Cerca de 15% da produção total da Aurora é direcionada para o co-mércio exterior.

O presidente da Aurora, Mário Lan-znaster, lembra que a lentidão no de-senvolvimento do mercado chinês é frustrante, mas mesmo assim tem da-do frutos positivos. “O país é um tradi-cional consumidor do produto brasileiro via Hong Kong. Mas sempre quisemos exportar sem intermediários”, afirma. O executivo diz, contudo, que esse pri-meiro embarque não equivale a 10% do volume diário de produção da empresa. “Esperamos chegar a ter embarques di-ários de 120 toneladas mais para frente.”

Lanznaster ressalta, entretanto, que há problemas que afetam a competitividade externa da carne suína brasileira – como a carga tributária e a dificuldade de es-coamento logístico, assim como a vola-tilidade do dólar. “Os investimentos para expandir a produção visando abastecer o mercado chinês são estratégicos, pa-ra que possamos ganhar uma posição de destaque naquele país.” E a Aurora vem

Início dos embarques para a China ocorre em uma boa hora. País pode ser alternativa à Rússia e Argentina, que seguem barrando o produto brasileiroSérgio Siscaro, de São Paulo

NEGÓCIOSCOMÉRCIO EXTERIOR

Começa a corrida dos suínos

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se movimentando. Neste ano, a compa-nhia utilizará R$ 20 milhões do lucro de 2011 (que atingiu R$ 138,9 milhões) à expansão de suas atividades. incluindo a reabertura de sua unidade de Joaça-ba, fechada em razão do embargo russo.

O valor estratégico do mercado chinês tem feito as companhias brasileiras mo-vimentarem em na busca de parceiros comerciais naquele país que possibilitem aprimorar os canais de distribuição. A pioneira nesse campo foi a Marfrig, que no ano passado firmou duas joint ventu-res: uma com a Chinwhiz Poultry Verti-cal Integration, por meio de uma subsi-diária, a Keystone, para o segmento de carne de frango; e outra com a COFCO, voltada ao escoamento logístico de seus produtos na China. Em novembro, a Se-ara, pertencente ao grupo, iniciou seus embarques de carne suína.

Na avalaliação de Ferraz, da Infor-ma Economics FNP, a opção é acertada. “A Marfrig já havia feito isso em outros mercados, como na Europa, assim co-mo a Friboi e a JBS. No mercado chinês, é fundamental ter um distribuidor local. A BRF também foi por esse caminho, e certamente os demais players brasileiros interessados na China farão isso.”

A BRF estabeleceu uma parceria com a DCH – o que, de acordo com a exporta-dora brasileira, possibilitará a distribui-ção local de produtos in natura e proces-sados. A companhia estima que a joint venture irá gerenciar mais de 140 mil to-neladas anuais, permitindo a geração de

receitas de US$ 450 milhões nos primei-ros 12 meses de atuação.

Para a analista do setor de Alimentos da Coinvalores, Sandra Peres, a parce-ria será positiva. “A marca Sadia é muito conhecida por lá”, diz. Renato Prado, da corretora Fator, tem a mesma opinião. “É essencial que a BRF possa escoar parte de sua produção para o exterior, a fim de não haver um excesso de oferta no mer-cado doméstico. E o mercado asiático é bastante importante atualmente no con-sumo de carne suína.”

NECESSIDADE CRUCIALCom relação às parcerias feitas pela BRF e pela Marfrig, o analista Gabriel Lima, do banco Barclay’s, vê essa aproximação com empresas locais crucial para as ven-das do produto no país. “A China consi-dera a questão dos alimentos como es-tratégica. Além disso, o mercado de lá é bastante diferente; vejo a BRF e a Mar-frig atuando como exportadores de car-

ne suína, mas sempre acompanhados de uma empresa chinesa na distribuição”, afirma, acrescentando que as duas em-presas deverão ser os principais players brasileiros na China por terem iniciado mais cedo sua internacionalização.

A paranaense Frimesa ainda tem uma atuação reduzida no comércio interna-cional de carne suína. “Já tivemos no pa-sado um volume mais significativo de produção destinado aos mercados exter-nos, principalmente à Rússia, e também algo para Hong Kong, Uruguai e Ucrâ-nia. No entanto, as restrições sanitárias aplicadas ao Paraná por causa da febre aftosa fizeram com que nos voltássemos mais ao abastecimento do mercado do-méstico”, explica o diretor-presidente da companhia, Valter Vanzella.

Apesar disso, a empresa também aguarda sua habilitação para vender à China, embora Vanzella não acredite em uma grande expansão das exportações da empresa no curto prazo. “Podemos aumentar de 5% para 10%, não mais do que isso.” Ele conta que, além da ques-tão sanitária, os principais problemas que dificultam a vida dos exportadores do setor continuam sendo a logística de-ficiente e a volatilidade cambial.

ENTRAVESSegundo os dados da Abipecs (Associa-ção Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína), os embar-ques para a China totalizaram, em janei-ro, apenas 52 toneladas, ou US$ 149

120toneladas de

carne suína foram embarcadas em

fevereiro pela Aurora com destino à China

A entrada no mercado chinês e a abertura nos EUA deverão ajudar o setor exportador de carne suína a superar os problemas recentemente trazidos pelo embargo russo e argentino

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NEGÓCIOSCOMÉRCIO EXTERIOR

30 AméricaEconomia Março, 2012

mil. O valor é irrisório, mas trata-se apenas do começo. Os produtores comemoram o fato de o país ter final-mente aceito a produção na-cional, uma notícia que che-ga em boa hora. Em junho do ano passado, o princi-pal comprador da carne su-ína brasileira, a Rússia, de-cidiu embargar a produção nacional, alegando irregu-laridades de ordem buro-crática. Na Ásia, Coreia do Sul e Japão alegam restrições de ordem fitossanitá-ria para não aceitar o produto nacional. E a Argentina também decidiu embargar o produto no início de fevereiro.

Nesse contexto, a chegada à China é animadora – mas a médio prazo. Nos próximos meses, o setor deverá conti-nuar amargando uma queda em sua par-ticipação no mercado internacional. De acordo com dados da Abipecs, em 2011 foram exportadas 516,4 mil toneladas. Os principais destinos foram Hong Kong e Rússia – ambos respondendo por cerca de metade dos embarques.

No entanto, há um ponto positivo – a recente liberação do mercado dos Esta-dos Unidos para a carne suína brasileira. Ainda que não seja um grande compra-dor – o país é atualmente um dos princi-pais produtores e exportadores de carne suína no mundo – a medida contribuirá para a conquista de novos mercados, que poderão optar pela carne brasileira ao constatarem que esta conta com a chan-cela de Washington.

Para o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto, o aspecto positivo do início dos embarques para a China e da liberação das exportações para os EUA não esconde o fato de o setor enfrentar dificuldades. “Temos uma visão otimista

no médio prazo. Mas, no curto prazo, en-frentamos crises”, diz. Ele lembra que a Argentina consome 8% das exportações brasileiras de carne suína, boa parte ori-ginária dos estados da região Sul, pena-lizados pelo embargo russo.

ALTERNATIVASDe acordo com Ferraz, da Informa Eco-nomics FNP, o Brasil sofre com a insta-bilidade do mercado russo, mas a chega-da à China e a liberação dos EUA podem ajudar os produtores a combater um pos-sível excesso de oferta no mercado in-terno. “A entrada na China é muito im-portante, à medida que aquele país tem hoje grandes dificuldades para alimen-tar sua população – mesmo sendo res-ponsável por 50% da produção mundial de carne suína. E, de certa forma, já co-nhece a carne brasileira, uma vez que um dos nossos maiores compradores é

Hong Kong, que triangula o produto pa-ra a China continental”, avalia.

O especialista também avalia como fa-vorável a decisão dos EUA. “Com a libe-ração, o produto nacional passa a ganhar acesso aos mercados do México e do Ca-nadá, que também fazem parte do Nafta [North American Free Trade Agreement, ou Tratado Norte-Americano de Livre Comércio]. E vários países menores, que não têm meios de controlar a quali-dade dos alimentos que importam, ten-dem a seguir as decisões de Washington. Japão e Coreia do Sul também são mui-to influenciados pelas medidas adotadas pelos EUA”, pondera Ferraz.

Essa avaliação é compartilhada pe-lo analista de Alimentos da Corretora Fator, Renato Prado, para quem o va-lor estratégico das exportações para as companhias nacionais vai além do que poderá ser obtido em termos de receita com as vendas internacionais. “Deve-mos levar em conta o fato de que, para as empresas, a importância do mercado externo está diretamente ligada à atua-ção no Brasil. Se não houver uma ‘vál-vula de escape’, a produção será destina-da ao mercado doméstico, cuja demanda pode não acompanhar esse movimento. Como resultado, haverá pressão pela di-minuição dos preços.”

Depois da parceria com um distribuidor,

a Sadia planeja instalar uma fábrica

na China

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Boa parte da carne suína que chega à

China vem de Hong Kong (foto). Os

brasileiros tentam eliminar a triangulação

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“Bank of America Merrill Lynch” é o nome comercial para os negócios de banco global e mercados globais do Bank of America Corporation.  Empréstimos, derivativos e outros produtos e serviços de banco comercial são conduzidos globalmente por uma a� liada do Bank of America Corporation, incluindo Bank of America, N.A., membro FDIC. Valores mobiliários, assessoria estratégica e outros produtos e serviços de banco de investimento são conduzidos globalmente por um banco de investimento a� liado do Bank of America Corporation (“banco de investimento a� liado”), incluindo, nos Estados Unidos, Merrill Lynch, Pierce, Fenner & Smith Incorporated e Merrill Lynch Professional Clearing Corp., membros da FINRA e SIPC, e em outras jurisdições por entidades registradas localmente. Produtos de investimentos oferecidos por a� liadas de banco de investimento: não estão assegurados pela FDIC; podem perder valor; não são garantidos pelo banco. ©2011 Bank of America Corporation

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NEGÓCIOSModa infantil

32 américaEconomia Março, 2012

Tip Top troca perfil industrial pelo varejista, investe em franquias e quer dobrar o número de lojas até 2013

Graziele Dal-Bó, de São Paulo

Desde 2008, a rotina de Má-rio Silveira, superintendente comercial da Tip Top, envol-ve mais do que acompanhar

o desempenho da companhia de dentro de seu escritório, na zona oeste de São Paulo, onde também fica uma das uni-dades industriais da fabricante de pro-dutos para bebês e crianças. No dia a dia do executivo, estão presentes ainda via-gens frequentes por todo o país e muita negociação com shopping centers.

As horas a mais de trabalho, no entan-to, nem de longe são motivo para recla-mação. Elas fazem parte do novo ciclo da marca sexagenária, que há quatro anos optou por trocar o perfil exclusivamen-te industrial por um foco mais varejista, por meio da inauguração de franquias. O projeto, capitaneado pelo executivo, deve ser intensificado neste ano. O objetivo é chegar ao final de 2013 com 100 lojas. A Tip Top encerrou 2011 com 54. Ou seja, se o ritmo for mantido, a empresa deve praticamente dobrar o número de unida-des até o ano que vem. “Uma das vanta-gens dessa aproximação com o consu-midor final é a experiência de compra que se consegue garantir. Por exemplo, ao contrário do que ocorre na venda pa-ra o varejista, na qual sua marca se mis-tura a outras, na loja própria ou franquia

é possível criar um ambiente exclusivo e isso certamente influencia nas vendas”, afirma Francisco Saraiva Junior, profes-sor de Gestão de Marcas da FGV-Eaesp (a Escola de Administração de Empre-

sas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas). Esse é um dos fatores que moti-varam a Tip Top, a exemplo do que já fi-zeram Hope, Havaianas e tantas outras, a investir na venda direta aos clientes.

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Estratégia de gente grande

Com 54 lojas, a empresa planeja chegar a 100 até o fim de 2013

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Março, 2012 américaEconomia 33

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PRÓXIMAS PARADASAs próximas cidades onde a franquia da Tip Top irá desembarcar são Belém, Ja-boatão dos Guararapes (PE) e Salvador. As regiões Norte e Nordeste, aliás, estão no radar na companhia, que já tem pre-sença consolidada no Sul e Sudeste. Ou-tras unidades devem ser instaladas em Jundiaí (SP), Bauru (SP), Mogi das Cru-zes (SP) e Recife. Para chegar à meta ou-sada de uma centena de lojas em 2013, os executivos miram-se nos resultados con-seguidos pela companhia com a mudança de rota. O investimento em lojas franque-adas foi um dos principais responsáveis pelo salto de 1.600% no faturamento da Tip Top entre 2008 e 2011, de R$ 2,2 mi-lhões para R$ 37,5 milhões. No mesmo período, as unidades franqueadas passa-ram de seis para 54. Em 2012, a expec-tativa é chegar a 74 lojas e um fatura-mento de R$ 50 milhões.

Para chegar a resultados tão positivos, porém, foi preciso rever estratégias e ad-mitir erros. “Era tempo de crise, em mea- dos de 2008, e vimos que não estávamos indo tão bem como gostaríamos. Fize-mos uma série de reuniões e percebe-mos que o problema estava justamen-te naquilo que mais prezávamos: a força da marca. Ao produzir para vender a ou-tras empresas, estávamos perdendo nos-sa identidade”, afirma Silveira.

Investir em lojas voltadas exclusi-vamente à própria marca foi o cami-nho encontrado para vencer as dificul-dades. O primeiro passo foi encontrar um local para instalar a primeira unida-de, uma das três lojas que pertencem to-talmente à Tip Top. A escolha do Shop-ping Bourbon, em São Paulo, tinha como ponto a favor o fato de ele estar localiza-do a apenas cinco minutos do parque fa-bril da companhia e foi a melhor opção depois das várias tentativas de entrar no Shopping Center Norte, também na ca-pital paulista. “Achávamos que o Center Norte seria ideal, pois atrai um público que vai desde a classe A até a classe D, mas o dono do espaço onde ficaríamos postergou muito a negociação. Então re-

solvemos fechar com o Bourbon, o que foi ótimo porque os resultados nos ani-maram muito”, diz o superintendente da Tip Top. A partir daí, outras 36 unidades foram inauguradas até 2010.

PRÓXIMAS PARADASPara sustentar o crescimento, foi ne-cessário criar um departamento volta-do exclusivamente a franquias. Atual- mente, trabalham nessa área 20 pessoas, de assessores jurídicos a gerentes.

Apesar do aumento da equipe, Sil-veira prefere comparecer pessoalmente às conversas com fornecedores e admi-nistradores de shopping centers – foco de atuação da Tip Top. Segundo o exe-cutivo, um dos principais desafios para o crescimento da companhia está liga-do exatamente a locais disponíveis para instalar as lojas. Além do já conhecido problema com os valores do aluguel co-brados por esses empreendimentos, que dispararam nos últimos anos em todo o país, setores como o infantil ainda têm outro obstáculo a superar. “Existem al-guns segmentos que são prioridade para

os shoppings, como o feminino. Para se ter uma ideia, estamos esperando há três anos para entrar no Villa Lobos [shop-ping center localizado na zona oeste de São Paulo]”, conta Silveira. Mesmo as-sim, o executivo segue confiante.

O plano agora é entrar no mundo vir-tual, por meio do comércio eletrônico. “Mas ainda estamos vendo como partici-par desse mercado. Afinal, o nosso fran-queado não pode nos ver como adversá-rio”. Foi para “proteger” o novo modelo de negócio e dar mais valor à marca que, ao optar por vender através de franquias, o grupo teve de abrir mão de outras fren-tes. Um exemplo disso foi o encerramen-to dos contratos com os hipermercados.

Outra medida adotada foi deixar de comercializar para os estabelecimen-tos multimarcas quando um franqueado abre uma loja no mesmo empreendimen-to. E isso pode desencadear uma retalia-ção, principalmente no caso das gran-des redes varejistas? Silveira garante que não. “Fazemos tudo com muita transpa-rência. Esse foi sempre o ponto central do nosso negócio.”

Uma das dificuldades para crescer rapidamenteé a escassa oferta de pontos em shoppings, diz Silveira

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NEGÓCIOSAlimentAção

34 Américaeconomia Março, 2012

Empresa mexicana inaugura sua oitava fábrica no Brasil e opta pelo crescimento orgânico para manter a liderança

Paula Pacheco, de São Paulo

Uma década atrás, a Bimbo che-gou com muito apetite no Bra-sil. Fez aquisições, investiu em fábricas e colocou o país co-

mo o terceiro na lista de lugares onde o grupo mexicano mais fatura. Nesse período, conquistou a liderança nacio-nal no mercado de pães industrializa-dos. Tudo aconteceu muito rapidamen-te na história de uma empresa com tão pouco tempo por aqui. Agora, chegou o momento de mudar a estratégia. Em lugar das aquisições, é hora de mirar o crescimento orgânico. Um dos cami-nhos é o aumento da produção. No mês passado, a empresa inaugurou a oitava fábrica brasileira, em Brasília — as de-mais ficam em Mogi das Cruzes (SP), Jaboatão dos Guararapes (PE), Salva-dor, Contagem (MG), Rio de Janeiro, São Paulo e Gravataí (RS). “Pela pri-meira vez, o conselho de administração da Bimbo reuniu-se no país para defi-nir estratégias para toda a companhia”, conta o diretor-geral Daniel Servitje. A iniciativa mostra que as vendas no Bra-sil (cujos valores não são revelados) en-tusiasmaram os executivos mexicanos.

A fábrica de Brasília consumiu US$ 29 milhões de investimento. A partir dela,

Menos fermento na receita da Bimbo

“Há muito potencial na América Latina, e particularmente no Brasil”, diz Servitje

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Março, 2012 Américaeconomia 35

a empresa vai distribuir seus produtos em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Tocantins, Minas Gerais e Distrito Federal. O objetivo é que os pães e bolos cheguem mais frescos e com um menor custo logístico às padarias, super-mercados e empresas que compram a li-nha food service.

Ganhos como esse são fundamentais no atual momento da Bimbo. Quanto mais próxima do consumidor, menor é o gasto com a distribuição dos produtos e maior é a margem de lucro. São movi-mentos assim que colocam a Bimbo en-tre as maiores empresas de pães indus-trializados do mundo. Ao todo, são 156 plantas, distribuídas por 19 países. De janeiro a setembro de 2011, as vendas globais acumuladas já eram da ordem de US$ 10,1 bilhões (em 2010, somaram US$ 9,5 bilhões). Tudo à base de muita farinha, água e fermento, embalados e distribuídos em cerca de 1,8 milhão de pontos de venda.

De seus fornos saem por dia 37 mi-lhões de pacotes de pães, bolos e bisna-gas, por exemplo. É como se cada habi-tante da Oceania comprasse um produto da Bimbo por dia.

“Viemos de várias aquisições no Bra-sil e no exterior. Só o que adquirimos nos Estados Unidos resultou em um cresci-mento de 50% no volume de produção e nas vendas. Vivemos situação seme-lhante na Europa. Então, chegou a ho-ra de entender esses mercados e integrar os sistemas operacionais e administra-tivos. Afinal, uma má integração pode ser dolorosa para a companhia. Agora te-mos de aproveitar a oportunidade para o crescimento orgânico”, explica Servitje.

O executivo refere-se aos negócios fe-chados com a Sara Lee. Em outubro do ano passado, a multinacional america-na vendeu suas operações de pães frescos na Espanha e em Portugal à mexicana por € 115 milhões. Um ano antes, a Bimbo já havia fecha-

do negócio com a Sara Lee nos Estados Unidos ao ficar com sua unidade de pa-nificação por US$ 959 milhões.

No continente americano, a Bimbo é líder. Ao todo, 85% das suas vendas sa-em dos bolsos de americanos e mexica-nos. No Brasil, onde chegou em 2001, é dona das marcas Pullman, Nutrella, Ana Maria, Firenze, Plus Vita, Laura e Crocantíssimo. Depois de uma década no país, conta com 5,3 mil funcionários.

PerfilFundada há 67 anos na Cidade do Méxi-co, a Bimbo é uma das maiores empre-sas mundiais de panificação. Sua mar-ca, conhecida pelo ursinho branco com chapéu de mestre-cuca, é encontrada nos continentes americano, asiático e euro-peu. A multinacional chegou à China há cinco anos. Apesar do tamanho do mer-cado, sua operação no país ainda não é tão robusta.

No Brasil, a situação não é de confor-to garantido, pois a empresa tem de en-frentar o movimento constante da con-corrência, que se arma seja por meio de aquisições ou com estratégias para ace-lerar a expansão. É o caso da Wickbold, a segunda colocada no segmento de pães especiais no Brasil (25,2% das vendas), que recentemente divulgou planos agres-sivos para chegar à liderança até o fim de

2013. Parte do fôlego virá da inaugura-ção de uma fábrica em Santa Catarina, domínio da marca Nutrella, da Bimbo. Na empresa paulista, fala-se da abertura de outras duas unidades de produção – no Centro-Oeste, onde a mexicana acaba de desembarcar, ou no Nordeste.

Servitje conta com o fortalecimento da nova classe média para vender cada vez mais pães ensacados para os brasi-leiros. “Há muito potencial na América Latina, e particularmente no Brasil. As pessoas tiveram uma melhora na renda, há mais gente trabalhando e o tempo é cada vez menor. O pão industrializado é uma facilidade”, explica o diretor ge-ral da multinacional mexicana. Os nú-meros da empresa, ainda que não deta-lhados, comprovam que o brasileiro quer cada vez mais praticidade na hora de se alimentar. No ano passado, segundo Ser-vitje, as vendas no país tiveram um cres-cimento de dois dígitos.

Como desembarcou no Brasil por meio de aquisições de nomes tradicio-nais no mercado consumidor, a Bimbo optou por manter as marcas locais. Mas, em abril de 2011, houve uma mudança importante na estratégia, que pode levá--la, no futuro, a repensar as ações de mar- keting e fortalecer a marca Bimbo.

A companhia passou a adotar o ur-sinho nas embalagens dos produtos da Pullman, de forma tímida. Servitje diz que ainda é cedo para dizer se o logoti-po da Pullman poderá ser substituídope-lo ursinho ou se o símbolo da Bimbo será colocado ao lado das outras marcas, co-mo Nutrella. O fato é que a empresa já faz um ensaio nesta direção.

O ursinho, símbolo da empresa, tem estampado as

embalagens da Pullman

milhões de pacotes são produzidos

diariamente pela empresa nos 19 países onde atua

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ESPECIALFinanças

Riscos & oportunidadesEm um ano que começou sob o temor de um default na Grécia que poderia respingar em toda a zona do euro e com os preços em alta das commodities, o que mantêm elevados os fluxos de investimento e comércio na América Latina, os diretores financeiros da região estão otimistas, mas não eufóricos. Oito CFOs (Chief Financial Officer) de empresas de destaque responderam a um questionário de AméricaEconomia e apontam quais são os riscos e as oportunidades que a economia oferece.Sérgio Siscaro e Paula Pacheco (São Paulo), David Santa Cruz (México), Juan Pablo Ríoseco (Santiago) e Jenny C. González (Bogotá)

Quais são suas perspectivas para o mercado de capitais latino-americano

em 2012?

Jayme Fonseca, CFO da Odebrecht Engenharia & Construção (Brasil)O cenário é otimista, já que os primeiros meses de

2012 indicam uma melhora no mercado de capitais para empresas latino-americanas. A tendência é de recuperação, principalmente se comparada ao segun-do semestre de 2011. Alguns pontos que reforçam as perspectivas são o acordo da Grécia com a União Eu-ropeia e a leve recuperação da economia americana.

Denys Marc Ferrez, diretor Financeiro, Administrativo e de Relações com Investidores da JSL (Brasil)

O cenário atual é favorável. Certamente, bem me-lhor do que aquele visto em outras regiões.

Pedro Meirelles, CFO da Stefanini (Brasil)Com o crescimento modesto da região, deve-

mos ter um movimento menos intenso nos mer-cados de capitais. Ainda que em melhor situação do que a Europa e, eventualmente, os Estados Unidos, as economias da América Latina, que embora estejam mais bem preparadas, ainda de-pendem muito das exportações e do humor in-ternacional, o que não é positivo para 2012. Não acho que vá haver muitas surpresas negativas este

ano, pois não há muito o que nos afetar – talvez uma queda no crescimento da China, diminuindo os custos das commodities.

Javier A. Sanjines, CFO da Femsa (México)Há um maior apetite por risco e um melhor ambien-

te de negócios na região. Do ponto de vista da liqui-dez, o setor corporativo passa por um bom momento.

Ignacio Calle Cuartas, vice-presidente Financeiro do Grupo Sura (Colômbia)

Embora os resultados de 2011 não tenham sido os melhores para o mercado em termos de valorização, a expectativa é que 2012 seja um ano de recuperação. Da mesma forma, espera-se a consolidação de várias empresas que realizaram emissões de ações. Por ou-tro lado, é preciso estar atento ao âmbito político,

pois haverá eleições presidenciais em vários países do continente.

Andrés Wainer, gerente Corporativo de Administração e Finanças da Embotelladora Andina (Chile)

Desde o fim do ano passado temos visto um aumento do fluxo de capitais para a região, o que justifica em grande par-

te o desempenho positivo apresentado por alguns

dos principais merca-

ESPECIALFinanças

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Sanjines, da FemsaEmbora as medidas econômicas globais tenham se

traduzido em uma diminuição na pressão de alta das taxas de financiamento interbancário, o cenário acar-reta alguns riscos que devem ser avaliados de acordo com o desempenho e as exigências de cada institui-ção financeira.

Cuartas, do Grupo SuraOs mercados locais são uma excelente opção para

as empresas obterem financiamento a baixo custo. Poderíamos pensar também na emissão de bônus em mercados latino-americanos, recomendando sempre taxas fixas e coberturas, tendo em vista as variações na taxa de câmbio.

Wainer, da Embotelladora AndinaDeve-se aproveitar para tomar dívidas nos momen-

tos em que os mercados estiverem mais calmos. Se uma empresa sabe que precisará de financiamento externo para sua gestão no ano, é melhor que levan-te os fundos durante os primeiros meses. Mas pode não ser muito conveniente emitir dívida a prazos mui-to longos, já que, no médio prazo, a situação deve se normalizar e, portanto, as taxas devem baixar mais.

Esparragoza, do Grupo BolívarOs bancos centrais dos países industrializados – FED

[EUA], BCE [União Europeia], BOE [Reino Unido] e BOJ [Japão] – mantêm uma política monetária expansiva, o que se traduziu em importantes volumes de liqui-dez e baixas taxas de juros. Além disso, as autoridades monetárias indicam que essas políticas se manterão por períodos relativamente prolongados. Assim, é um bom momento para o investimento na dí-vida de mercados internacionais. Para as econo-mias que já tinham um grau de investimento ou que o adquiriram recentemente, o endividamento ex-terno continua sendo uma estratégia adequada. Le-vando em conta que, desde o final do ano passado, os spreads da dívida soberana sobre os bônus do tesou-ro voltaram a níveis muito baixos, o endividamento com base em taxas fixas é provavelmente uma ótima opção. A emissão de bônus é especialmente atraente para as empresas que, por seu tamanho, não podem fazê-lo. Embora, como resultado da redução das ta-xas de juros domésticas, o crédito externo co-mece a ser menos rentável em outros países da região, na Colômbia é cada vez mais econômico, na medida em que o Banco da República continua incrementando a taxa de política monetária. O país atravessa também uma expansão do setor minerador que, ao fornecer os dólares necessários para a economia, reduz o risco cambial.

dos acionários, como Brasil e Peru. Em um contexto macroeconômico que parece razoável, as empresas devem desenvolver novos projetos de investimentos que precisam ser financiados. Essa situação pode en-volver um aumento na quantidade de emissões de dí-vidas nos mercados e mais aberturas de capital.

Javier Suárez Esparragoza, vice-presidente de Riscos Financeiros do Grupo Bolívar (Banco Davivienda, da Colômbia)

Será um bom ano para o fortalecimento do merca-do de capitais. O intercâmbio de bens vem crescendo, e o investimento doméstico e estrangeiro é cada dia maior. Apesar da situação da Grécia e de outros países europeus, por sermos a região do mundo com menor vínculo comercial e financeiro com a Europa, nosso desempenho econômico não será muito afetado.

Carlos García Moreno, diretor de Finanças e Administração da América Móvil (México)

A América Latina terá um grande crescimento eco-nômico, portanto, os mercados locais estarão bem. Teremos uma certa volatilidade como no ano passa-do, mas a região se manterá em bom estado.

Quais estratégias você recomendaria às empresas que pretendem buscar financiamento externo?

Fonseca, da OdebrechtÉ importante que as empresas estejam preparadas

e atentas às janelas de oportunidade. Com a alta vola-tilidade do mercado, a recomendação é estar com as demonstrações financeiras em dia para garantir agili-dade. Outro ponto é ter contato periódico com inves-tidores, já que isso permite avançar etapas no proces-so de emissão, sem a necessidade de roadshows.

Ferrez, da JSLAs empresas buscam preservar seu capital, alocan-

do recursos em operações que tenham rentabilidade próxima de zero. Elas perceberão que, em algum mo-mento, deverão colocar esse capital para trabalhar e, diante do cenário atual, o mercado acionário latino--americano é uma boa opção.

Meirelles, da StefaniniO financiamento externo estará atrativo para as

empresas sadias financeiramente e em crescimento. A ajuda de bancos de fomento locais e internacionais deve ser decisiva. Essas instituições estão vivendo mo-mentos bem difíceis na Europa, e não muito bons nos EUA, o que nos deixa em posição privilegiada.

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Moreno, da América MóvilAs empresas da América Latina jamais tiveram fi-

nanciamentos nos prazos que podem ser conseguidos nos dias de hoje graças à estabilidade macroeconô-mica. A região tem um grau de investimento inédito, e isso nos abre portas para inúmeros financiamentos de grande porte. Com essa capacidade, as empresas podem conseguir prazos de cinco ou seis anos sem problemas, e até maiores, de até 30 anos, a taxas his-toricamente baixas.

Com baixas taxas internacionais de juros, quais pré-requisitos devem ser cumpridos para finan-ciar os aumentos de capital e da dívida?

Fonseca, da OdebrechtPercebe-se que o primeiro critério analisado pelo

investidor é a qualidade do crédito e o rendimento dos papéis. O rating e o nível de alavancagem baixo também são requisitos fundamentais a serem ava-liados, já que trazem uma percepção de que a com-panhia atende aos critérios de rigidez financeira. O compromisso com a transparência é sempre um ponto crucial para o investidor.

Ferrez, diretor da JSLA questão da credibilidade é essencial. Por essa ra-

zão, o nível de transparência na comunicação da em-presa com o mercado é um fator importantíssimo.

Meirelles, da StefaniniO mercado de capitais ainda é muito sujeito a hu-

mores e efeitos de manada, que nem sempre são ex-plicáveis. Nesse sentido, até pode ajudar a América Latina, pois assim como a BM&FBovespa vem retor-nando a patamares de meses atrás, outras bolsas da região também estão em fase de recuperação. Está se consolidando a ideia de que nossas economias são sólidas, com baixas dívidas públicas e déficits fiscais (quando comparadas a outros países, notadamente da Europa). Isso aumenta o otimismo, proporcionan-do maior fluxo financeiro que, por sua vez, permite movimentos de IPO, aumentos de capital e eventual-mente de dívidas externas.

Sanjines, da FemsaAs medidas econômicas globais se traduzem em

uma diminuição na pressão de alta nas taxas de finan-ciamento interbancário; portanto, o cenário acarreta riscos que devem ser avaliados conforme o desempe-nho e as exigências de cada projeto ou instituição.

Cuartas, do Grupo SuraO ano é de consolidação das recentes aquisições,

mas continuaremos atentos às diferentes oportunida-des de negócios que possam surgir.

Wainer, da Embotelladora AndinaOs spreads para que empresas chilenas possam emi-

tir no exterior aumentaram nos últimos meses. Por-tanto, não é tão evidente que estamos em um cenário no qual a melhor opção seja financiar-se por meio de endividamento. É preciso ver caso a caso.

Esparragoza, do Grupo BolívarAs emissões de capital estão sendo facilitadas nos

países emergentes, por motivos externos e internos. Entre eles, destaca-se o crescimento econômico que gerou maior capacidade de economia nos lares e o surgimento de um novo perfil de consumo. Além dis-so, existe muito apetite por parte dos estrangeiros em investimentos de portfólio.

Moreno, da América MóvilAcredito que, independentemente das taxas, há

uma estrutura de capital mínima necessária e, no caso da América Móvil, é fundamental ter uma boa base de capital. Isso é algo que nos permite navegar por águas turbulentas, como vimos nos últimos anos, sem que tenhamos maiores problemas para nossos negó-cios. Ter um nível de alavancagem adequado que cor-responda a seus fluxos de operação é fundamental.

Qual será o principal tipo de investimento que beneficiará sua empresa neste ano?

Fonseca, da OdebrechtComo os investimentos da Odebrecht estão concen-

trados em equipamentos para construção, geralmen-te, as fontes utilizadas são as agências multilaterais que financiam equipamentos importados ou o Fina-me [linha de crédito do BNDES], que financia no lon-go prazo a compra de equipamentos nacionais.

ESPECIALFinanças

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Ferrez, da JSLDevemos continuar buscando alternativas interes-

santes no mercado – como foi o caso da compra da Rodoviário Schio [especializada na movimentação de cargas com temperatura controlada, como alimen-tos, produtos químicos e de higiene e limpeza] em novembro de 2011. Para manter nossa liquidez nessa operação, buscamos uma linha específica de crédito, sem usar nosso caixa.

Meirelles, da StefaniniA maior fonte será o próprio crescimento orgânico,

mas também contamos com eventuais financiamen-tos para aquisições.

Sanjines, da FemsaNossa previsão de investimentos em ativo fixo em

2012 é de aproximadamente 14 bilhões de pesos me-xicanos [cerca de US$ 1,1 bilhão] para o total de nos-sas operações. Nossa capacidade de geração de fluxo deve nos permitir financiar esses investimentos quase inteiramente com nossos próprios recursos.

Cuartas, do Grupo SuraAs emissões de dívida a taxa fixa podem represen-

tar uma ótima opção neste momento, dada a solidez da economia, as projeções de crescimento e a esta-bilidade financeira, que tornam possível obter taxas bastante atraentes.

Wainer, da Embotelladora AndinaNosso plano de investimentos, que é de aproxima-

damente US$ 230 milhões, será financiado principal-mente por meio da nossa própria geração de caixa.

Esparragoza, do Grupo BolívarRecentemente, anunciamos a assinatura do acordo

com o HSBC para a compra da operação que ele tem na América Central. A negociação foi em torno de US$ 801 milhões e esperamos que se concretize no segundo semestre. Para o financiamento dessa ope-

ração, aproveitaremos os recursos de uma emissão de ações no mercado local, realizada no final do ano passado por cerca de US$ 400 milhões, e recursos que se encontram no caixa do banco. Temos ainda plano de fazer uma emissão de bônus no mercado interna-cional, que poderia ser utilizada nesse investimento.

Moreno, da América MóvilTemos acesso a muitos mercados. Começamos o

ano com um investimento em yuan. Somos o primeiro emissor latino-americano a ter uma emissão na China. Agora precisamos definir os próximos passos, mas sin-to que as taxas ficarão nesses níveis ou até mais baixas e haverá possibilidades de fazer coisas no curto prazo em vários mercados.

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ESPECIALFinanças

Quais são os principais focos de risco para a administração financeira neste ano? Como é possível se preparar para eles?

Fonseca, da Odebrecht Os principais focos de risco são a volatilidade do

mercado de capitais e a variação cambial em países onde operamos. A tendência é de que as empresas reforcem seus caixas e tornem-se mais líquidas. A fal-ta de capacidade dos bancos europeus para financia-mento em prazos mais longos também acarreta uma mudança significativa no cenário econômico.

Ferrez, da JSLEm um cenário externo marcado por certa volatili-

dade, é necessário se proteger – como na questão da cotação do dólar.

Meirelles, da StefaniniNo caso brasileiro, os maiores riscos são eventuais

mudanças no âmbito regulatório. A forma como o go-verno brasileiro está enfrentando a crise internacio-nal demonstra que, se não for este o melhor caminho, pelo menos não está atrapalhando a economia.

Sanjines, da FemsaNo mundo dos negócios, os riscos são constantes.

Por esta razão, seguiremos operando com prudência.

Cuartas, do Grupo SuraSeria muito importante que fossem feitas algumas

mudanças regulatórias que facilitassem as negocia-ções das ações listadas no mercado europeu, para me-lhorar sua liquidez. Estamos bastante interessados na inclusão da Colômbia entre os países nos quais os fun-dos mexicanos possam investir. Por outro lado, acom-panharemos com atenção as reformas dos sistemas previdenciários em vários países do continente.

Wainer, da Embotelladora AndinaO maior risco no médio prazo é a volatilidade no

preço das matérias-primas e uma eventual deprecia-ção das moedas dos países nos quais temos operações. Por outro lado, em um cenário de depreciação das moedas de Chile, Argentina e Brasil, existe um efeito negativo sobre nossos custos denominados em dólar, o que tem um impacto em nossos resultados. Tanto a volatilidade do preço das matérias-primas quanto dos tipos de câmbio são gerenciados por meio de uma boa política de coberturas.

Esparragoza, do Grupo BolívarO risco que provavelmente ocupa uma posição de

destaque é a volatilidade na taxa de câmbio. É pre-visível que, em consequência da expansão monetária na Europa, vivamos uma turbulência significativa na cotação do euro durante este ano.

Moreno, da América MóvilO principal risco continua sendo a Europa, que tem

um problema de dívida pela frente. Isso terá consequên- cias políticas e nos mercados financeiros, gerando vo-latilidade na região, embora na América Latina esteja-mos bem posicionados. Da mesma forma, poderemos ser atingidos por ondas das tormentas de outros luga-res, e por isso devemos ser bastante conservadores nas posições cambiais adotadas na América Latina.

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Março, 2012 AméricaEconomia 43

OPINIÃO Caio Megale

é mestre em Economia pela PUC-Rio e economista do Itaú BBA ([email protected])

Balanço das empresas e crescimento econômicoQ uando as bolsas despencaram

em setembro do ano passa-do, muitos acreditaram que

o mundo estava voltando para uma recessão. O Banco Central do Brasil, por exemplo, passou a incorporar em seu cenário base um choque negativo de intensidade equivalente a um quar-to do choque de 2008. Se acontecesse, seria uma boa derrapada no cresci-mento mundial.

No entanto, mais uma vez valeu a velha ironia segundo a qual a bolsa antecipa dez em cada cinco recessões. Passaram-se seis meses e o mundo con-tinuou se expandindo, especialmente as economias emergentes e os EUA.

Este fato é, até certo ponto, surpreen-dente, pois o mundo atualmente parece mais fragilizado do que em 2008. Na época, os governos tinham munição para uma política fiscal expansionista – aumento de gastos públicos e corte de impostos –, enquanto hoje o tamanho das dívidas públicas, especialmente nos países centrais, é um constrangimento. Havia espaço para cortes de juros, que no momento atual em muitos casos já estão perto de zero. E os consumidores americanos e europeus continuam qua-se tão endividados como antes, agora com o fantasma do desemprego eleva-do rondando suas vidas.

Porém, há uma diferença muito im-portante. O setor corporativo, desta vez, conta com um balanço saudável, com elevada posição de caixa para fa-zer frente às incertezas econômicas e às intempéries dos mercados financei-ros. Por que não era assim em 2008?

Durante boa parte da década passa-da, havia um entendimento (um tan-to pretensioso) entre economistas do mainstream de que a ciência macroe-conômica estava dominada. Sabia-se

plenamente como domar os ciclos eco-nômicos, permitindo ao mundo crescer com baixa volatilidade do PIB e esta-bilidade de preço. Havíamos atingido a “grande moderação”.

A sensação de baixo risco permanen-te levou as empresas a tomarem riscos exagerados, endividando-se através de instrumentos financeiros sofisticados. Isso aconteceu em países desenvolvi-dos e emergentes, como Brasil, Méxi-co e Coreia do Sul. A elevada alavan-cagem das empresas foi um acelerador importante da recessão do final da dé-cada passada.

A situação é diferente agora. As em-presas aproveitaram os anos de juros excepcionalmente baixos no mundo in-teiro para trocar dívida cara por dívida barata, alongar o prazo e reforçar suas posições em ativos líquidos. O trauma de 2008 deixou as empresas bem mais conservadoras. É verdade que esta postura avessa ao risco acabou fazen-

do com que a recuperação econômica fosse mais lenta que o imaginado ini-cialmente. Mas torna a retomada mais sustentável.

A segurança representada pelo ex-cesso de liquidez no setor corporativo, no entanto, tem seu preço: os juros bai-xos que remuneram o caixa limitam o lucro. Aos poucos, o zelo vai dando lu-gar ao espírito animal dos empresários. Um sinal de que isso já está acontecen-do é a aceleração do investimento es-trangeiro direto no Brasil. Mesmo nos EUA, já são claros os sinais de reacele-ração do investimento privado.

Os balanços saudáveis das empresas são, portanto, um dos motores que de-vem empurrar a recuperação da econo-mia global. Mas não devemos esperar grandes arrancadas. O mundo continua incerto, e o trauma de 2008 continua presente. Melhor que seja assim, a úl-tima coisa que queremos agora é uma nova bolha de crescimento, inflada por endividamento excessivo.

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44 AméricaEconomia Março, 2012

FINANÇASInvEstImEntos

Um novo desbravador latino-americanoCompra do controle do Celfin, do Chile, consolida o plano de André Esteves, do BTG Pactual, de tornar-se um líder regional e desbancar o Itaú Unibanco

Paula Pacheco, de São Paulo

AAmérica Latina, quem diria, virou a moça mais desejada do baile no mundo financei-ro. É no que acredita o prin-

cipal banco de investimentos do Bra-sil: o BTG Pactual, de André Esteves. Conhecido por imprimir agressividade aos negócios, o banqueiro foi categóri-co no dia em que anunciou a conclusão do negócio com o banco chileno de in-vestimentos Celfin Capital. “O sistema financeiro mundial está se dividindo em grupos locais. Queremos ser líde-res regionais para competir com ban-cos globais”, afirmou o presidente e

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controlador do BTG Pactual durante a conferência de imprensa em São Pau-lo. Sócio da instituição financeira, Per-sio Arida defendeu o mesmo ponto de vista. “O objetivo é aproveitar o cresci-mento de renda e do mercado de capi-tais nos países dessa região”, afirmou.

O plano de André Esteves é ambicio-so. “A agenda mundial para a Améri-ca Latina é muito relevante em termos de investimentos e o nosso plano, assim como o do Itaú, é sermos líderes regio-nais”, disse já como controlador do Cel-fin e de suas operações no Chile, na Co-lômbia e no Peru.

Passaram-se dez meses entre o pri-meiro contato feito com o banco chile-no e a assinatura do contrato, como con-ta Roberto Sallouti, COO (do inglês chief operating officer) e sócio do BTG Pac-tual. O valor do negócio não é revela-do pelos sócios, mas uma estimativa de mercado feita no início das negociações apontava para algo na casa dos US$ 600 milhões. O BTG pagará US$ 245 mi-lhões com recursos do próprio caixa e passará às mãos dos acionistas do Cel-fin 2,4% do capital do banco brasileiro. Com esse acordo, o BTG Pactual passa a ter US$ 69 bilhões em ativos na área

Esteves: “Queremos ser

líderes regionais para competir

com bancos globais”

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Março, 2012 AméricaEconomia 45

Alejandro Montero (ao fundo, em pé), entre os sócios do banco chileno: oportunidades de crescimento para as empresas da região

Roberto Sallouti, que não gosta de ser fotografado, recebeu a AméricaEcono-mia na sede do banco, localizada na zo-na sul de São Paulo. Ele detalhou como foi a aproximação com o Celfin e falou sobre seu otimismo em relação ao poten-cial latino-americano. Acompanhe, a se-guir, a entrevista.

AméricaEconomia – O que levou o BTG a fechar negócio com o Celfin?

Roberto Sallouti – No final de 2010, com a consolidação de nossa liderança no Brasil e a conclusão de nosso priva-te placement [venda de ações, títulos de dívida e outras aplicações diretamen-te a investidores pessoa jurídica], o que nos deu um grande reforço de capital e, ao mesmo tempo, um aprofundamento da nossa rede global de relacionamen-tos, achamos que era uma boa oportu-nidade para expandir nossa franquia pa-ra a América Latina. Ao mesmo tempo, acompanhamos sempre o que estava acontecendo na região andina. Colôm-bia e Peru passam por um processo mui-to similar ao vivido pelo Brasil 20 anos atrás. E o Chile é o Brasil que já se con-solidou e está dez anos à frente, mas se-gue crescendo 4,5%, 5% ao ano. Além disso, cada vez mais vemos o movimen-to das empresas latinas fazendo negócios na região. E cada vez mais o mundo esta-va olhando para a América Latina como uma região. Unimos tudo isso e resolve-mos expandir a franquia do banco. Con-versamos com muita gente, e a Celfin se destacou pelo fato de a cultura deles ser muito semelhante a nossa. A cultura em-presarial é o nosso principal diferencial, então precisávamos de uma empresa que se encaixasse para que a integração fos-se suave, e encontramos isso na Celfin.

de asset management (gerenciamento de ativos) e US$ 28 bilhões em wealth ma-nagement (atuação com foco no cliente).

O BTG Pactual ficou conhecido nos últimos anos pela participação crescen-te em vários negócios fora do mercado fi-nanceiro por meio da divisão de private equity (chamada de Merchant Banking) do grupo. Entre eles, a BR Pharma, a Re-de D’Or, a WTorre e a Estapar. Além dis-so, o banco comprou, no ano passado, os ativos do banco PanAmericano, do Gru-po Silvio Santos. Foi o BTG, por exem-plo, que, também em 2011, intermediou a venda da Schincariol para o grupo japo-nês Kirin. Tantos movimentos levaram André Esteves a ser apontado como um dos homens de negócios mais influentes do Brasil. Segundo a revista americana Forbes, Esteves é o 13º homem mais rico do país. Depois de ganhar musculatura, o mercado dá como certo que o próximo passo será a abertura de capital.

BTG e Celfin têm um perfil muito se-melhante, o que deve facilitar a expansão dos negócios. Ambos demonstram mui-to apetite pelo crescimento. A diferença fundamental está no tamanho do grupo. O banco é líder em asset management no Chile, com cerca de US$ 4,6 bilhões de ativos sob sua gestão, e aproximadamen-te US$ 5,9 bilhões distribuídos em fun-dos de pensão, fundos exclusivos e fun-dos de private equity entre investidores institucionais do Chile, Peru e Colômbia.

Apesar de manter a estrutura gerencial dos chilenos, o BTG vai carregar para es-

ses países produtos que ainda não são ex-plorados pelo novo sócio. Para Alejandro Montero, gerente-geral e sócio do Celfin, a chegada do BTG dará ao grupo condi-ções de captar melhor as oportunidades de negócios que podem surgir com in-vestidores estrangeiros, particularmen-te os asiáticos.

“Houve um aumento significativo do fluxo de investimentos da Ásia para a América Latina nos últimos anos e isso vai se manter em crescimento. Nós esta-mos no melhor momento para oferecer a esses investidores um menu comple-to da América Latina. Esse é um dos ga-nhos que vejo [com a fusão]. Nós pode-mos ser uma ponte entre esses fundos e a região”, explica.

Além disso, segundo Montero, há oportunidades de crescimento entre as empresas latino-americanas, que têm ex-pandido seus negócios na região. “Mui-tas delas querem diversificar e ir além das fronteiras”, explica.

bilhões é o total de ativos do BTG na área de asset depois de ter fechado negócio com

o Celfin Capital

US$ 69

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46 AméricaEconomia Março, 2012

FINANÇASInvEstImEntos

AE – No Chile fala-se em fusão. No Brasil, em aquisição. Qual é a estrutu-ra do negócio?

Sallouti – Na verdade, é uma tecnici-dade. Nós encaramos como uma fusão, porque esperamos que eles continuem a tocar o negócio. Eles serão nossos só-cios e nós temos uma cultura de parceria muito forte. Queremos ser o banco latino local em todos os países, com uma ges-tão local, com os relacionamentos locais e o conhecimento local; tudo isso uni-do na América Latina e como um bloco da região para o mundo. Nós não quere-mos ser um banco do Brasil com sede no Chile, queremos ser um banco multilati-no, onde há sócios locais chilenos, com relacionamentos locais, conhecimento local e que são sócios do mesmo negó-cio. Conseguimos fazer isso aqui no Bra-sil em vários negócios. E por meio dos nossos negócios em asset management, conseguimos fazer isso fora. Nossos só-cios ingleses, suíços, escoceses, dina-marqueses e americanos se sentem só-cios da mesma coisa. É o mesmo que nós queremos fazer para a América Latina.

AE – Como será a expansão do negó-cio, com a bandeira Celfin ou BTG?

Sallouti – No Chile, será mantida a bandeira Celfin. Vamos fazer os estudos necessários para ver o que fazer com a marca no futuro. No Peru e na Colôm-bia, nós devemos adotar a bandeira BTG Pactual, assim que o negócio for aprova-do pelo Banco Central.

AE – Os aspectos políticos dos países da região influenciam a tomada de de-cisão sobre a expansão dos negócios?

Sallouti – Não, pelo contrário. O que há nesses quatro países – Brasil, Colôm-bia, Chile e Peru – é o consenso político de um modelo de desenvolvimento eco-nômico, seja com o ex-presidente Lula e o teste pelo qual o Brasil passou, com Humala agora no Peru, com o Chile e a troca de poder, ou com a Colômbia, que hoje convive com as Farc [Forças Ar-madas Revolucionárias da Colômbia] em um nível completamente diferen-

te. A Colômbia só dominava metade do território, agora ganhou uma fronteira a ser explorada, rica em agricultura, miné-rio e petróleo. Vai ser um boom, na nos-sa visão, estamos muito otimistas com esses países.

AE – Brasil, Chile, Peru e Colômbia já são suficientes para dar ao BTG a lide-rança na região?

Sallouti – Se forem somadas as creden-ciais do BTG Pactual e do Celfin, chega--se a essa liderança. Contratamos o Gor-don Lee, que era o diretor do UBS, um mexicano, para liderar nosso esforço de prospecção no México também. E é mui-to provável que abramos um escritório

de representação na Argentina nos pró-ximos 12 meses. Nunca direi nunca so-bre aquisição. Mesmo porque, se existir uma fusão ou aquisição que faça sentido estratégico, e principalmente cultural, nós a faremos. Mas fazer uma aquisição só para falar que foi fincada uma bandei-ra em certo lugar, nisso não acreditamos.

AE – Existe algum tipo de resistência nos países latino-americanos às institui-ções financeiras estrangeiras?

Sallouti – A América Latina como um todo é como um continente aberto ao investidor estrangeiro e às empre-sas estrangeiras. Tanto que vemos em-presas mexicanas no Brasil, empresas

Com o negócio, o BTG vai desembarcar no centro financeiro de Bogotá

O Celfin, assim como o BTG, é conhecido pelo perfil agressivo de gestão

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Março, 2012 AméricaEconomia 47

colombianas e chilenas no Brasil. Há, no entanto, menos empresas brasileiras nesses países. Obviamente, um certo regionalismo sempre acaba existindo. Mas temos sentido nesse nosso projeto o apoio tanto do setor de governo des-ses países quanto dos empresários. To-dos estão vendo essa integração latino--americana, que sempre foi um sonho, tornar-se uma realidade. A cada dia, es-tamos perdendo mais nosso complexo de inferioridade. Em setembro passa-do, fizemos uma visita ao Panamá e um dos nossos sócios do private placement [colocação privada], a família Motta [uma das maiores fortunas do país], nos ofereceu um jantar com vários clientes. Na ocasião, um dos integran-tes da família falou que ‘nós, que sem-pre olhamos para o norte como um por-

to seguro, agora estamos só olhando para o sul’. Olhar para o sul hoje em dia é um porto seguro e há muitas oportu-nidades de investimento.

AE – Ou seja, existe demanda pela América Latina?

Sallouti – Existe, sim. Entre os nos-sos clientes chineses, temos três manda-tos para a América Latina – um no Chi-le e dois no Brasil. Há muito interesse dos nossos clientes pela Colômbia, pe-lo Chile. Este ano, nós já assessoramos uma aquisição no Chile e também uma operação de mercado de capitais. Há demanda tanto dos investidores regio-nais quanto por parte dos investidores globais. A demanda por bancos regio-nais é cada vez maior. Esses bancos glo-bais pré-2008, dada a crise daquele ano

e a própria regulação bancária que tem ocorrido na Europa e nos Estados Uni-dos, terão, cada vez mais, de se concen-trar em seus mercados locais e ter nichos de atuação global. Isso abre espaço para os bancos regionais. É possível ver esse fenômeno na América Latina, no Leste Europeu, na Ásia.

AE – A integração regional no mer-cado de capitais ainda é muito tímida. O que falta para o Brasil olhar para o mercado de capitais latino-americano?

Sallouti – A integração empresarial vai acontecer antes da integração de merca-dos; por razões políticas e até protecio-nistas e, por que não, regulatórias, isso virá a reboque depois. Há alguns esfor-ços, como a Brain [associação que busca articular a consolidação do Brasil como um polo internacional de investimentos e negócios, com foco na América Lati-na], mas é uma batalha morro acima. Até há um esforço da BM&FBovespa, que está na Brain, mas também há resistên-cia. Será inevitável e, infelizmente, mais lento do que nós gostaríamos.

AE – A América Latina é prioridade para o BTG?

Sallouti – Sem dúvida. Somos um ban-co de investimentos asset management focado na América Latina.

AE – O que pode dar errado?Sallouti – Só mesmo se houvesse uma

mudança sobre o atual consenso políti-co, mas me parece difícil. Os fundamen-tos econômicos conspiram a favor. Pre-cisaria haver alguma coisa que nós não vemos no horizonte neste momento pa-ra mudar isso. Mas provavelmente es-tamos no melhor momento nos últimos 500 anos na América Latina, como mui-tos acreditam. Esta é uma oportunida-de secular. Para o Brasil, a história não é de commodities, porque hoje a histó-ria é mercado interno, é a formação da classe média.

Com a colaboração de Juan Pablo Rioseco, de Santiago.

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O BTG já mira a Argentina. Acima, a Casa Rosada, sede do governo

No topo da listaBTG Pactual liderou a coordenação das fusões e aquisições em 2011 Instituição Volume de Total de

financeira transações (US$ milhões) operações

1 BTG Pactual 22.758,0 47 2 Itaú BBA 21.391,5 38 3 Goldman Sachs 16.785,6 19 4 Bank of America Merril Lynch 15.562,0 15 5 Bradesco 14.864,2 10 6 Rothschild 12.700,8 28 7 Barclays Capital 12.001,1 7 8 Goldman Sachs 11.864,1 22 9 Citi 11.729,0 1510 Santander 10.002,8 9 Fonte: Dealogic/BTG Pactual Janeiro, 2012

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48 AméricaEconomia Março, 2012

Com um pé dentro

da empresaPossibilidade de votar remotamente

pode estimular a participação de acionistas minoritários em assembleias

Natalia Gómez, de São Paulo

Nem o crescente desenvolvi-mento do mercado de ações no Brasil tem conseguido mudar a pífia participação

dos acionistas minoritários nas assem-bleias das companhias. Oportunidade rara para a troca de informações entre os investidores e a direção das empre-sas, esses eventos atraem um público Fo

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reduzido porque ocorrem obrigatoria-mente na sede das companhias – o que, para o acionista, significa investir tem-po e dinheiro. Mesmo com esta falta de tradição, as assembleias estão prestes a ganhar um novo estímulo.

Neste ano, começa a valer o voto ele-trônico dos acionistas, feito remotamen-te durante a assembleia. O texto, que mu-

da a Lei das Sociedades por Ações, ainda será regulamentado pela CVM (Comis-são de Valores Mobiliários), mas já per-mite a adesão das empresas com ações listadas na bolsa.

Até agora, o acionista podia enviar o voto eletronicamente para ser represen-tado por procuração nas assembleias. Isso significa que um advogado ou ad-

FINANÇASMERCADO DE AçÕES

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o investidor pudesse acessar os encon-tros via internet. “Eu certamente seria um adepto em todas as empresas que es-tou comprando”, afirma. Até o momento, nenhuma das companhias em que Siu-fi é acionista divulgou informações so-bre o assunto.

Além de despertar otimismo nos agen-tes do mercado, a novidade também tem provocado muitas dúvidas sobre como será adotado o voto remoto na prática. Um dos principais questionamentos é se o voto à distância será uma ferramenta obrigatória para as empresas, ou se cada uma poderá optar por oferecer ou não es-te serviço. A lei informa que, nas compa-nhias abertas, o acionista poderá partici-par e votar remotamente em assembleia geral, nos termos da regulamentação da CVM, mas existem divergências sobre a questão da obrigatoriedade.

O advogado Thiago Giantomassi, só-cio da área de mercado de capitais do escritório Demarest, acredita que o vo-to remoto é opcional, não uma obriga-ção. Segundo ele, as companhias têm feito consultas ao escritório sobre a lei, mas devem aguardar a regulamentação da CVM antes de tomar qualquer deci-são. “Como existe pouca informação,

ministrador da companhia precisava participar presencialmente do evento em nome do acionista. Caso contratas-se um advogado para fazer o serviço, o acionista poderia arcar com honorários de R$ 3 mil a R$ 5 mil, custo considera-do elevado, especialmente para pessoas físicas. A outra opção é usar ferramentas oferecidas por consultorias especializa-das, como a da MZ Consult. Chamado de Assembleia Online, o serviço da con-sultoria é pago pelas companhias e não gera custos para o acionista. Até o mo-mento, a MZ conta com 12 empresas lis-tadas neste serviço.

O sócio da gestora de recursos Polo Capital, Claudio Andrade, conta que, ho-je, a participação em assembleias é cus-tosa e difícil, pois requer não apenas a presença de um representante ou do pró-prio minoritário, mas também uma ex-tensa documentação. “Mesmo os fundos de investimento que possuem maior es-trutura têm custos expressivos para exer-cer seu voto e ter representatividade em assembleias”, afirma Andrade.

Com a nova regra, o voto poderá ser

exercido remotamente durante o encon-tro, o que deve reduzir os custos. Na vi-são de especialistas, a mudança pode es-timular a participação dos acionistas que hoje se ausentam das reuniões. “Qual-quer ferramenta que facilite o acesso e o debate terá um efeito importante, em es-pecial uma ferramenta eletrônica”, afir-ma Renato Chaves, especialista em go-vernança corporativa.

O acionista Eduardo Siufi, 26 anos, é um dos que estão otimistas com a inicia-tiva. Dono de ações de seis companhias, o consultor de negócios diz que muitas vezes não tem condições de participar de assembleias por falta de tempo ou pe-la distância. Mas isso seria diferente se

Para melhorar o relacionamento, a Natura levou os minoritários até sua sede, em Cajamar (SP), e vai repetir a dose

No ano passado, os acionistas da SulAmérica conheceram a sede da

seguradora, no Rio de Janeiro

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50 AméricaEconomia Março, 2012

FINANÇASMERCADO DE AçÕES

as empresas vão esperar uma posição da autarquia”, afirma.

O órgão que regula o mercado de ca-pitais informou que conta com um gru-po de trabalho dedicado ao assunto, pro-duzindo pesquisas sobre as experiências internacionais e discutindo a questão in-ternamente. Apesar de ainda não ter re-gulamentado o tema, a CVM informou que isso não é um impedimento para a realização de uma assembleia que fa-ça uso do voto remoto. “Hoje, caso uma companhia tenha interesse em realizar uma assembleia com o uso de voto não presencial, a Superintendência de Rela-ções com Empresas da CVM analisará a questão da mesma maneira que proce-de com as demais assembleias, buscan-do verificar se os requisitos legais estão sendo cumpridos”, informou.

Outras dúvidas do mercado recaem sobre o funcionamento da assembleia com participação à distância, como a possibilidade de interação do acionista que quiser fazer perguntas ou sugestões, além da necessidade de tradução para os investidores estrangeiros. O mercado também questiona como lidar com uma eventual queda na conexão de internet. Andrade, da Polo Capital, defende que seja criado um sistema flexível para que minoritários possam apresentar conside-rações aos itens de pauta. “Por exemplo, facilitar o pedido de voto múltiplo para

conselheiros ou que minoritários pos-sam se unir a outros em propostas.” O voto múltiplo é uma forma de os investi-dores se organizarem em um grupo para a eleição do conselho de administração, para conseguir um assento. Segundo ele, muitas companhias não facilitam o recebimento de manifestações ou votos contrários à pauta da assembleia, e estes ficam escondidos, pois as atas são redi-gidas de forma sumária.

A presidente da MZ Consult, Tereza Kaneta, conta que a consultoria foi cha-mada pela CVM em dezembro de 2011 para conversar sobre o tema. A executi-va também participou de um evento pro-movido pela BM&FBovespa sobre o as-sunto no final do ano passado e diz que não houve consenso sobre essas questões entre os advogados, pois a palavra final ainda não foi dada pela autarquia. Hoje, a MZ já tem uma plataforma pronta pa-

Tereza, da MZ Consult: trocade opiniões com a CVM

A nova ferramenta, segundo Chaves, do Demarest, facilita o debate

Fraca participação dos minoritários é cultural, diz Giantomassi

Portal dos minoritáriosOs minoritários que procuram fontes

de informação contam com um site es-pecializado desde o final do ano passa-do. O Transparência e Governança (www.transparenciaegovernanca.com.br) foi lançado em setembro de 2011 com o objetivo de ser um fórum independente de debates que possam fomentar a me-lhoria dos direitos dos acionistas minori-tários e a aplicação de boas práticas em governança corporativa no Brasil. Se-gundo Claudio Andrade, um dos sócios da Polo Capital, que está à frente do pro-jeto, o site tem obtido boa repercussão entre investidores minoritários.

O caso da Laep, empresa que adqui-riu os ativos da Parmalat, atraiu a aten-ção e é o caso mais comentado até o momento, tendo sido tema de aproxi-

madamente 20% das participações dos membros ativos no site. Na se- quência, vieram os casos da Oi, por causa de seu processo de reestrutu-ração, e a venda da Ipiranga. Os cases sobre essas duas companhias atraíram conjuntamente cerca de 14% dos usuá-rios ativos do site.

Na visão de Andrade, o mercado bra-sileiro está evoluindo para se tornar um mercado bem mais ativo e mais parti-cipativo, mas é preciso haver iniciati-vas para educar esses investidores e garantir que exerçam seus direitos. “A grande maioria das companhias é con-trolada e alguns acionistas controla-dores não enxergam os minoritários como sócios, apenas como financia- dores”, afirma.

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Março, 2012 AméricaEconomia 51

ra funcionar com o voto à distância, ba-tizada de Voto Fácil.

Tantas dúvidas devem inibir o uso do voto remoto na temporada de assem-bleias deste ano, que vai até abril. “Não acredito que a virtualização ocorrerá em 2012, porque as empresas ainda não têm tanta desenvoltura com o tema”, afirma o advogado Daniel Alves Ferreira, do escritório Mesquita Pereira, Marcelino, Almeida Esteves Advogados, cuja equi-pe participa de mais de 400 assembleias ao ano para representar seus clientes.

Uma das empresas mais proativas em relação a suas assembleias (leia mais ao lado), a Natura não pretende adotar o vo-to à distância ainda este ano. Segundo o diretor de Governança Corporativa da empresa, Moacir Salzstein, a nova pro-posta é muito positiva, pois tem como objetivo aproximar e facilitar a relação com acionistas minoritários. “Porém, ainda existem alguns pontos que preci-sam ser esclarecidos e, por cuidado, não traremos a opção do voto eletrônico es-te ano”, afirma.

Uma vez que as dúvidas sejam sana-das, ainda resta saber até que ponto o vo-to à distância será suficiente para atrair a participação dos investidores. Os es-pecialistas lembram que este tipo de en-volvimento não é comum na cultura bra-sileira, e o quórum costuma ser baixo até mesmo em reuniões de condomínio.

“Existe a visão de que uma andorinha só não faz verão, e isso é uma questão cultural”, diz Renato Chaves. O advoga-do do Demarest também tem dúvidas de que a redução de custos será suficiente para garantir uma participação expres-siva no curto prazo.

Do lado das empresas, a expectativa é que aquelas com capital pulverizado, sem controle definido, sejam mais rá-pidas para aderir ao novo sistema, pois

quando a empresa tem controle difu-so, a participação de outros acionistas é maior. Na prática, as companhias que têm controle acionário definido geral-mente fazem propostas na assembleia que já foram aprovadas internamente. Seja qual for a opção do mercado, o fato é que, a partir de agora, existe mais uma alternativa disponível para empresas que desejam incentivar a participação de seus acionistas minoritários.

EvEntos são novidadEApesar de o Brasil estar distante

do modelo de assembleias de empre-sas dos Estados Unidos, onde esses eventos chegam a reunir multidões em estádios de futebol, algumas compa-nhias brasileiras estão começando a dar maior atenção a suas reuniões com acionistas. Dois exemplos que se des-tacam neste quesito são a Natura e a SulAmérica. No ano passado, a Natura enviou convites personalizados a seus acionistas e ofereceu ônibus fretados que levaram os investidores à sua sede em Cajamar (SP). Cerca de 200 pesso-as compareceram ao evento, no qual fi-zeram perguntas e sugestões à direto-ria da empresa.

Após acompanhar a assembleia e par-ticipar de um brunch, os investidores as-sistiram a um vídeo sobre o trabalho da Natura com as comunidades do Nor-te do país e experimentaram a nova li-nha de sabonetes da marca. Participa-ram de uma sessão de perguntas ao presidente e aos fundadores da Natura, Luiz Seabra, Pedro Passos e Guilherme Leal. O diretor de Governança Corpora-tiva da Natura, Moacir Salzstein, afirma que, este ano, a empresa fará um evento nos mesmos moldes, agendado para 13 de abril. “Desde 2010, abrimos o Espaço Natura a nossos acionistas, em um dia aberto não apenas para votação, mas pa-ra diálogo, troca de experiências e enten-dimento maior de nossa empresa”, diz.

Um dos acionistas que participaram do evento foi Eduardo Siufi, que tem pa-

péis da Natura desde 2010. Ele con-ta que se surpreendeu ao receber um convite para a assembleia por meio de uma carta nominal, que depois foi con-firmada por um telefonema da equipe de relações com investidores. “Duran-te o evento, tive a sensação de também ser dono da empresa”, conta, destacan-do que tanto grandes quanto pequenos investidores foram tratados da mesma forma pela Natura.

Outra companhia que está trabalhan-do para se aproximar dos acionistas é a SulAmérica. No ano passado, a segu-radora promoveu pela primeira vez um evento para atrair parte de sua base de 1,4 mil acionistas na modalidade pes-soa física. Depois da assembleia, que ocorreu na sede da empresa no Rio de Janeiro, os acionistas fizeram um tour pelas instalações.

Siufi está otimista com a possibilidade do voto remoto

Salstein: “Desde 2010, abrimos o Espaço Natura para os acionistas”

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54 AméricaEconomia Março, 2012

Um Brasil doenteOs consumidores pagam a conta, enquanto os laboratórios farmacêuticos disputam um mercado de R$ 40 bilhões

Graziele Dal-Bó, de São Paulo

dos laboratórios farmacêuticos – quanto para o consumidor.

Na prática, a iniciativa da Anvisa, en-tre outros pontos, vai obrigar os fabri-cantes de medicamentos de referência a disponibilizarem amostras desses pro-dutos para a realização dos testes de bio-equivalência, necessários para provar a igualdade entre o produto genérico e o de marca. A consulta pública deve be-neficiar principalmente os medicamen-tos que não são vendidos nas farmácias,

Em um país no qual, segundo estimativas, 20% da popu-lação não tem acesso a me-dicamentos, em que o servi-

ço público não consegue dar conta da demanda e os gastos da popula-ção mais pobre com remédios aboca-nham 12% da renda das famílias, de acordo com o Ipea (Instituto de Pes-quisa Econômica Aplicada), ainda há muito a ser conquistado pelos consu-midores – sufocados pela disputa en-

tre laboratórios de remédios de refe-rência e de genéricos.

Um dos avanços pode vir no fim deste mês, quando se encerra o prazo da con-sulta pública aberta pela Anvisa (Agên-cia Nacional de Vigilância Sanitária) que define novas regras para os medicamen-tos de referência e promete facilitar a vi-da dos laboratórios de genéricos. Com essa medida, a expectativa é aumentar o acesso a medicamentos e reduzir a conta, tanto para o governo – principal cliente

CAPAMEdicAMEntos

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Março, 2012 AméricaEconomia 55

Eles mostraram de que forma funcio-nava o lobby americano para proteger as patentes das empresas americanas no Brasil. Segundo o site, por meio de tele-gramas, os diplomatas atuavam para in-fluenciar entidades brasileiras – em es-pecial a CNI, a Confederação Nacional da Indústria – para evitar que a quebra de patentes de remédios para tratamento do vírus HIV se propagasse para outros me-dicamentos e produtos.

Até hoje, a cada possibilidade de mu-dar as regras do jogo no Brasil, fabrican-tes de medicamentos genéricos e de re-ferência mobilizam-se nos gabinetes em Brasília para defender seus interesses.

Outro caminho para evitar perdas é o da Justiça. Fabricantes de produtos de marca têm recorrido cada vez mais aos tribunais para conter o avanço dos gené-ricos no país. “A única alternativa que eles têm é tentar prolongar o prazo de ex-

clusividade por meio de liminares”, diz Bruno Nogueira, analista da área farma-cêutica da consultoria Lafis.

Nos últimos anos, os fabricantes de medicamentos de referência vêm per-dendo bilhões em todo o mundo com a quebra de patentes. A Pfizer, uma das mais afetadas, por exemplo, foi obrigada a deixar para trás uma receita de US$ 10 bilhões anuais ao perder a exclusividade sobre o Lípitor, indicado para controlar os níveis de colesterol. O caixa da ame-ricana também sofreu com a quebra da patente do Viagra, receitado para tratar a disfunção erétil, em 2010.

Nos Estados Unidos, o derretimen-to dos lucros das fabricantes de medi-camentos de marca veio acompanhado de denúncias de fraudes e pagamento de propina para os fiscais do governo. O maior laboratório farmacêutico da Grã--Bretanha, o GlaxoSmithKline, por

mas são usados exclusivamente em hos-pitais, segmento que movimenta cerca de R$ 3 bilhões por ano. Do outro lado do balcão, a promessa é oferecer ao con-sumidor um mix maior dos genéricos, que são, em média, 52% mais baratos que seus pares de marca.

“As empresas levam até seis meses pa-ra ter acesso ao medicamento de referên-cia oferecido nos hospitais para fazer o teste. Quando esses laboratórios desco-brem que o comprador é um desenvol-vedor de genéricos, fazem de tudo para dificultar a comercialização do produto. A desculpa mais comum é a falta de es-toque para suprir a demanda”, reclama Odnir Finotti, presidente da PróGené-ricos (Associação Brasileira das Indús-trias de Medicamentos Genéricos). Par-tiu da entidade, que reúne grande parte das empresas do setor, o pedido para que o governo interviesse nesse diálogo. Do primeiro contato até a finalização do tex-to da consulta pela Anvisa, foram três anos de muita pressão em Brasília.

Mas este não é um jogo em que de um lado está o mocinho e, do outro, o ban-dido. Protagonistas e coadjuvantes têm o mesmo objetivo: encontrar maneiras de engordar o caixa. Somente no Brasil, o setor farmacêutico movimentou cer-ca de R$ 40 bilhões entre janeiro e no-vembro de 2011, segundo os últimos da-dos disponíveis do instituto de pesquisas IMS Health. E ninguém quer perder lu-gar nessa locomotiva. Documentos ob-tidos pelo WikiLeaks no final de 2010 exemplificam como o jogo é pesado.

2001

2,67% 6,39% 8,97% 12,48% 15% 20,50%

2003 2005 2007 2009 2011

Fatia cada vez maior do boloParticipação dos genéricos no faturamento total do mercado farmacêutico brasileiro

Fontes: Anvisa; PróGenéricos

Mais além do campo dos negócios, os genéricos chegaram às disputas políti-cas no Brasil. A entrada desses medica-mentos no mercado nacional sempre foi, por exemplo, a bandeira do PSDB – a lei que os instituiu foi promulgada em 1999, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, quando José Serra era minis-tro da Saúde. Serra, aliás, utilizou-se dis-so em sua campanha para a presidência em 2002 e 2010. O PSDB chegou a co-locar em seu site, durante o período elei-toral, um texto no qual sustentava que o

candidato apresentou a “Lei dos Genéri-cos”, e destacava a promessa do parti-do de continuar com a aposta nesse ti-po de medicamento. O discurso irritou o PT, da então candidata Dilma Rousseff, que se apressou em reivindicar a pater-nidade dos genéricos para o ex-ministro do governo Itamar Franco, Jamil Haddad. Em meio à polêmica, Serra negou ter “in-ventado” esse tipo de remédio, disse que a ideia já existia e que apenas trabalhou para colocá-la em prática enquanto co-mandava o Ministério da Saúde.

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exemplo, terá de pagar US$ 3 bilhões aos EUA, segundo um acordo firmado em novembro do ano passado, para evi-tar ações criminais e civis resultantes de investigações do Departamento de Jus-tiça do país. O governo acusou o GSK, como é conhecido o laboratório, de de-senvolver e comercializar no país medi-camentos não aprovados para determi-nados usos. A multa é uma das maiores da história da indústria farmacêutica.

Em meio às discussões judiciais, o consumidor – como sempre – é o mais prejudicado. “O paciente fica refém do oligopólio das grandes empresas”, afir-ma Rosana Chiavassa, sócia do Chia-vassa & Chiavassa, escritório especia-lizado em direito do consumidor. Isso porque, enquanto gigantes do setor far-macêutico – tanto de um lado quanto de outro – debatem a posse de um fárma-co, milhares de brasileiros têm de recor-rer à Justiça para obter um direito básico: o acesso a tratamento para doenças gra-ves. Os casos mais comuns envolvem o acesso a medicamentos contra o câncer, que chegam a custar R$ 40 mil. Segun-do a advogada, esses processos podem durar até quatro anos – não é preciso ser especialista para saber que é tempo de-mais para quem luta diariamente contra a doença. “Se você conseguir uma limi-nar do juiz, e o processo for contra o Es-tado, em três meses você consegue o re-médio; se for contra o plano de saúde, o prazo cai para uma semana”, diz Rosana.

E, ao que parece, salvo algumas me-didas pontuais, como a da Anvisa, não há muita preocupação em mudar o qua-dro. O deputado federal Darcísio Perondi (PMDB/RS), presidente da Frente Parla-mentar da Saúde, por exemplo, afirmou à AméricaEconomia desconhecer a con-sulta pública da agência que deverá faci-litar o acesso a medicamentos.

ESTRATéGIAComo as questões no Judiciário ser-vem apenas para postergar o uso exclu-sivo dos medicamentos de referência, as multinacionais têm outra estratégia pa-ra não perder mercado: investir nos pró-

prios concorrentes, a exemplo do que fez o grupo francês Sanofi-Aventis ao com-prar a brasileira Medley por R$ 1,5 bi-lhão em 2009 e da própria Pfizer, ao de-sembolsar R$ 400 milhões para ficar com 40% da também brasileira Teuto. Um dos casos mais recentes foi a joint venture firmada entre a americana MSD (Merck & Co) e a Supera, empresa cria-da pelos laboratórios brasileiros Cristália e Eurofarma, este último com forte atua-ção no segmento de genéricos. Agregar ao próprio portfólio, por meio de aquisi-ções, produtos cujas patentes expiraram é uma tendência que deve se manter nos próximos anos, segundo estudo da con-sultoria KPMG divulgado em meados de 2011. A pesquisa, intitulada “Pharma-ceuticals executive survey: executives seek M&A to spur growth” (Pesquisa so-bre a indústria farmacêutica: executivos buscam fusões e aquisições para estimu-lar o crescimento do setor, em tradução livre), mostrou que a atividade de fusões

e aquisições deve aquecer o setor nos próximos dois anos, estimulando o cres-cimento e ajudando a compensar as per-das da indústria com patentes, regula-ção e pressões para a redução de preços.

Os números comprovam que o setor farmacêutico é um grande gerador de negócios. Foram 21 aquisições no Bra-sil em 2011, três a mais que em 2010. “O mercado farmacêutico hoje é muito di-ferente de cinco anos atrás. Não existe mais uma divisão clara entre empresas que fabricam medicamento genérico e companhias voltadas apenas ao de mar-ca [referência]”, avalia Antônio Britto, presidente da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa).

Mas ainda há quem resista às mudan-ças, como a alemã Boehringer Inge-lheim, fabricante de remédios como o Anador e o Buscopan. “Nosso foco é a pesquisa e o desenvolvimento”, afirma Sérgio Pacheco, responsável pela área de Acesso aos Medicamentos. Ele reconhe-ce, no entanto, que o fim de uma paten-te pode significar uma queda de até 30% nas vendas do produto. Há três anos, por exemplo, a companhia não tem mais di-reitos exclusivos sobre o Perlutan, um antirretroviral injetável. Para compensar as perdas, a Boehringer investiu no for-talecimento da marca junto à classe mé-dica e aos consumidores. Isso tem con-tribuído para uma receita crescente no Brasil. O país está entre os dez mais im-portantes para os negócios da alemã e fe-chou 2011 com faturamento de R$ 1 bi-

Proposta da Anvisa deve aumentar as opções de genéricos para o consumidor

bilhões foi o faturamento dos

genéricos em 2011 no Brasil, 41% a mais

do que em 2010

R$ 8,7

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Crescimento aceleradoEvolução nas vendas de genéricos entre 2003 e 2011 no Brasil (em R$ bilhões)

lhão, 15,1% a mais que em 2010. Para Nogueira, da Lafis, o fato de exis-

tirem fabricantes que resistem ao merca-do de genéricos não significa que essas empresas estejam nadando contra a ma-ré. “A descoberta de um medicamento resulta em lucros astronômicos durante duas décadas”, pondera.

MUITO TEMPOAcelerar a entrada de medicamentos no mercado, principalmente aqueles desti-nados a tratamentos de alto custo e com poucas alternativas terapêuticas dispo-níveis, é uma consequência natural da aprovação da proposta. “As empresas [ fabricantes de genéricos] reduzirão o tempo para o registro de um novo me-dicamento, pois não terão dificuldades no acesso aos produtos de referência pa-

ra teste. Esta definição é fundamental para toda a indústria de medicamentos no Brasil”, avalia Dirceu Barbano, dire-tor presidente da Anvisa. Resta saber se a agência está preparada para atender ao aumento da demanda. Isso porque, se-gundo a PróGenéricos, enquanto a regu-lamentação determina que o prazo para que um medicamento seja liberado pe-la Anvisa seja de 90 dias, na prática essa autorização chega a levar até 15 meses.

Considerando o apetite com o qual as empresas entram no mercado brasileiro, a agência reguladora terá muito mais tra-balho pela frente. De olho no crescimen-to que o setor vem apresentando no país, as fabricantes desse tipo de genéricos já falam em aumentar a produção para sustentar sua presença no segundo mer-cado onde as vendas de genéricos mais

avançam no mundo – o primeiro, como já era de se esperar, é a China. A Teu-to é um exemplo disso. Com uma pro-dução atual de 30 milhões de caixas por ano, o laboratório quer dobrar esse nú-mero até 2013. Neste caso, a resolução da Anvisa será crucial, segundo Marce-lo Leite Henrique, presidente-executivo da Teuto. “Não produzimos ainda remé-dios contra o câncer, por exemplo. É um mercado no qual podemos entrar se con-seguirmos comprar o [medicamento] de marca mais facilmente”, afirma.

Para chegar a um total de 60 milhões de caixas no próximo ano, a Teuto des-tinará US$ 40 milhões à compra de equipamentos que serão instalados em seu parque fabril, na cidade de Anápo-lis (GO). Grande parte do investimento (70%) será financiada via BNDES (Ban-co Nacional do Desenvolvimento Eco-nômico e Social) por meio de programas destinados ao Centro-Oeste. Os 30% restantes virão de recursos próprios. “Já temos uma área grande, com um milhão de metros quadrados de área total e 105 mil metros quadrados de área construí-da, portanto só teremos de aumentar o número de máquinas. O mercado cres-ceu muito nos últimos anos, e nós temos de acompanhar”, diz Henrique.

A Teuto projeta um aumento de recei-ta de 27% para 2012. No ano passado, o faturamento da empresa foi de R$ 450 milhões líquidos, 40% maior que o re-

De janeiro a novembro de 2011, setor farmacêutico movimentou R$ 40 bi no Brasil

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CAPAMEdicAMEntos

sultado atingido em 2010. A empresa fa-brica 300 tipos de genéricos e tem outros 189 produtos em análise pela Anvisa.

Quem também tem planos ousados é a suíça Novartis, por meio da Sandoz, seu braço de genéricos, cuja matriz está lo-calizada em Holzkirchen, na Alemanha. Na busca por expandir sua atuação além dos territórios americano e europeu, o grupo tem apostado suas fichas no Brasil. O objetivo, de acordo com Daiane Trom-bini, diretora de Planejamento Estratégi-co e Portfólio, é repetir a posição já alcan-çada em nível global. Mundialmente, a Sandoz é uma das líderes no desenvolvi-mento de medicamentos genéricos, em-bora ainda não tenha uma representação de destaque em solo brasileiro.

Para alcançar a meta, a Sandoz irá ace-lerar seus lançamentos. Em 2011, a em-presa colocou no mercado nacional cer-ca de 20 novos medicamentos e expandiu sua atuação com o início das operações no setor de saúde feminina, com opções de contraceptivos, e masculina, ao lançar uma linha voltada ao tratamento proble-mas na próstata. Para este ano, outros 20 tipos de remédios deverão ser lançados

pela companhia, que comemora as mu-danças propostas pelo governo brasilei-ro. “A empresa irá apoiar qualquer inicia-tiva governamental que facilite o acesso da população a medicamentos de qua-lidade a um custo mais baixo. E se isso puder ser feito em um tempo adequado, melhor ainda”, afirma Daiane.

A executiva refere-se ao tempo que um fármaco leva para ser aprovado pela Anvisa – segundo ela, até dois anos, de-pendendo da prioridade do produto pa-ra o Ministério da Saúde. A preocupação da Novartis com sua divisão de medi-camentos genéricos está embasada nos resultados obtidos pelo grupo nos últi-mos anos. As vendas líquidas globais da

Sandoz subiram 10% em 2011, atingindo US$ 9,5 bilhões e ajudando a impulsio-nar o crescimento da holding. Atualmen-te, o braço de genéricos do grupo repre-senta 16% das vendas totais da Novartis.

RECORDE DE VENDASAtualmente o Brasil é um dos países on-de os genéricos mais crescem. Em volu-me, o crescimento foi de 32,3% em 2011, na comparação com o ano anterior. Fo-ram comercializadas 581 milhões de unidades no país. As vendas movimen-taram R$ 8,7 bilhões em 2011, uma al-ta de 41% em comparação a 2010, quan-do a receita do setor fechou em R$ 6,2 bilhões. Foi um recorde histórico.

O momento favorável deve continuar neste ano. A expectativa da PróGenéri-cos é que, em unidades vendidas, os ge-néricos representem 25% de mercado até o final de 2012 e que, até 2015, essa par-ticipação, que hoje é de 22,3%, chegue a 35%. “Ainda há muito espaço para cres-cer. Em mercados maduros, como o eu-ropeu e o americano, a participação dos genéricos chega a quase 50%”, afirma Bruno Nogueira, analista do setor far-macêutico da consultoria Lafis. Em sua avaliação, fatores como o envelhecimen-to da população e o aumento no nível de renda do consumidor contribuem para o cenário positivo.

Mas essa indústria está em condições de atender a esse aumento de demanda projetado para os próximos anos? Finot-ti, da PróGenéricos, garante que não há riscos. “Produção não é problema. Até 2010, trabalhávamos para fazer produ-tos com patentes já vencidas. A partir daí, começamos a fazer genéricos de me-dicamentos que ainda iriam ter suas pa-tentes expiradas”, observa. O processo de produção de uma cópia leva, em mé-dia, dois anos.

Para Barbano, da Anvisa, a consulta deve acelerar o registro de remédios por parte das empresas

Embora a regulamentação dos gené-ricos esteja completando 13 anos em 2012 – eles foram instituídos pela lei 9.787, de 1999 – esse tipo de medica-mento ainda causa desconfiança no Bra-sil. E, por incrível que pareça, os questio-namentos sobre sua eficácia não vêm dos consumidores, mas sim da classe médica. é o que mostra um estudo divul-gado pela entidade Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) no ano passado.

Segundo a pesquisa, enquanto 83% dos consumidores confiam plenamente nas cópias, 46% dos médicos ainda têm dúvidas. Polyanna Carlos Silva, supervi-sora institucional da associação, defen-de que além da campanha para facilitar o acesso aos genéricos, a Anvisa inten-sifique a fiscalização, já que uma das preocupações alegadas pelos médicos é quanto à falsificação. “É preciso dar

instrumentos para que o médico confie nesse tipo de medicamento, afinal, é ele quem vai receitá-lo ao paciente”, afirma.

Florentino Cardoso, presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), diz que esse índice alto pode estar ligado também a relatos dos pacientes. “Temos depoimentos de colegas que usaram o genérico para determinado tratamento, e ele não surtiu o efeito esperado. Ao tro-car pelo medicamento de referência, a doença regrediu”.

Apesar disso, Cardoso se diz favorá-vel à proposta do governo de estimular esse mercado. Finotti, da PróGenéricos, garante que a desconfiança é fruto de preconceito. “Para um medicamento ser aprovado pela Anvisa, ele tem de passar por inúmeros testes. Não estou dizendo que não exista produto de má qualida-de, mas isso existe no mercado de mar-ca também”, defende.

Classe médica ainda tem dúvidas

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Chávez, mais perto do ocasoPresidente venezuelano é abalado pela volta do câncer, o surgimento de um oposicionista com chances de vitória e um país fragilizado pela violência e a inflação

Andrea N. Miranda, de Caracas

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Hugo Chávez pediu perdão ao povo venezuelano. “Foi detec-tada uma nova lesão no mes-mo local em que foi encon-

trado o tumor cancerígeno”, anunciou o presidente à mídia venezuelana em 21 de fevereiro passado.

Assim que reconheceu que precisa-ria ser submetido a uma nova cirurgia, o presidente venezuelano declarou-se “em boas condições físicas para enfrentar a batalha”. Se ele estava se referindo a sua própria saúde ou ao desafio eleitoral, não ficou claro. Chávez vinha multiplicando declarações que reforçavam seu desejo de lutar por uma terceira reeleição, espe-cialmente depois de a oposição convocar mais de três milhões de pessoas para as primárias, para definir o candidato que a representará em outubro.

O escolhido: um advogado de 39 anos que se define de centro-esquerda, aficio-nado de correr maratonas, descendente de judeus que fugiram do nazismo, de-clarado católico e admirador do ex-presi-dente Lula. Henrique Capriles Radonski levanta a bandeira da unidade, da educa-ção, do emprego, da iniciativa privada e da luta contra a violência.

Mas, sobretudo, o candidato se preo-cupa em projetar a imagem de um polí-

tico que não entra no jogo do confronto que Chávez lançou apenas três dias após sua eleição. E este já se manifestou so-bre seu oponente. “Uma de minhas tare-fas será tirar sua máscara. Quanto mais você se empenhar em se disfarçar, mais vai chegar a mim”, exclamou o coman-dante-presidente.

Rosto da “burguesia” e da direita, co-mo o chamou Chávez, Capriles não fez caso das diatribes e defende-se garantin-do que não foi escolhido para brigar, mas sim para resolver problemas. Sua estra-tégia foi premiada pelo eleitorado oposi-

tor: obteve quase dois milhões de votos, muito à frente dos candidatos que inter-pelaram mais duramente o mandatário venezuelano.

“A parte mais perigosa para Chávez no discurso de Capriles é a de unidade nacional, integração e respeito. É pre-ciso desmontá-la. E o desafio de Capri-les será suportar as provocações sem se

desviar de sua es-tratégia. Ele não po-de morder o anzol da confrontação”, aponta o diretor do instituto de pesqui-sa Datanálisis, Luis Vicente León.

Não se sabe se o presidente Chávez, abatido pela doen-ça ou pelos núme-ros desmoralizantes de seu governo, es-tá lançando mão do

discurso duro e frontal que tanto suces-so lhe rendeu. Nas eleições presidenciais de 2006, venceu com quase 63% dos vo-tos e, hoje, 13 anos após chegar ao poder, tem níveis de aprovação acima de 50%. Antes de a oposição escolher um candi-dato único, todas as pesquisas o aponta-vam como o vitorioso nas urnas.

OtimismOMas, desta vez, há espaço para um oti-mismo moderado na oposição. Nas pri-márias, os oposicionistas sacudiram o governo, que não esperava que a partici-

pação fosse tão alta e chegasse aos 17% da população eleitoral, de 18 milhões de votantes. Um grande mérito, consideran-do o temor que muitos têm de ser obje-to de represálias por terem participado.

A oposição tampouco esperava tama-nha adesão. Nenhum de seus dirigentes havia se atrevido a colocar um número como meta, declaravam apenas que 10% do eleitorado seria um sucesso. Mas, de-pois de meses de campanha, com os ve-nezuelanos convocados a votar “sem medo”, o chamado da Mesa de la Unidad Democrática foi atendido. O grupo reúne a maioria das forças não-chavistas (cerca de 20 partidos políticos, da centro-direi-ta à extrema esquerda), todas unidas pe-lo desejo de derrotar Chávez pelas urnas.

Em 2002, a oposição participou com mais ou menos protagonismo de um falido golpe de Estado contra Chávez, apoiou uma longa greve petroleira e, nos anos seguintes, cometeu outros gra-ves erros políticos. Hoje, está conven-cida de uma coisa: que tem diante de si uma oportunidade melhor para derrotar nas urnas o comandante, apoiando-se no desgaste de sua gestão e em transmi-tir a ideia de um país cansado da divisão política e dos problemas econômicos.

Após anos de estratégias equivocadas, a oposição venezuela acredita agora

que é possível derrotar Chávez nas urnas

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Capriles: foco na educação, no emprego e no combate à violência

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“O enfrentamento será entre um pro-jeto estadista e autoritário e a liderança de uma oposição que, nos últimos anos, passou a ter uma cara mais democrática e plural”, afirma a historiadora Margari-ta López Maya, autora do livro Ideias pa-ra Debater o Socialismo do Século XXI e antiga partidária de Chávez.

A escolha de Capriles despertou tam-bém o otimismo dos mercados. No dia seguinte às primárias, os bônus dispara-ram e o risco-país caiu.

“O mercado está reagindo de manei-ra muito positiva, porque começou a au-mentar a probabilidade de uma mudan-ça na condução política e econômica”, destaca Alejandro Grisanti, diretor pa-ra a América Latina do Barclays Capital.

ECONOmiA COm mULEtAsO maior produtor de petróleo da Amé-rica do Sul e dono das maiores reservas de óleo cru do mundo não vive seu me-lhor momento. Em 2011, a inflação vene-zuelana foi de 27,2% e o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), de modes-tos 4,2%. O panorama econômico é com-plexo para este ano eleitoral, marcado por um forte gasto público.

As estatizações, o controle do merca-do do dólar, a fixação de preços e a for-te dependência da indústria petroleira – que nos últimos anos baixou sua pro-dução para 2,3 milhões de barris diários, segundo a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) – estão entre as principais causas da deterioração da economia, apontam os ana-listas. Claramente, é uma economia muito abaixo de seu potencial, embora não em ruínas, como apontam seus detratores.

E, embora a pobreza te-nha retrocedido nestes 13 anos de Chávez, que con-centrou seu discurso e os esforços de seu governo no favorecimento das classes com menor poder de ren-da, a miséria continua afe-

tando um terço dos 28 milhões de habi-tantes de um país que, além de petróleo, tem enormes reservas de água e recur-sos minerais.

O carismático presidente construiu um sólido vínculo com as classes popu-lares e é aí que reside a força de sua lide-rança. Interpelando diretamente o “po-vo” e destinando enormes recursos a programas sociais que levaram saúde e educação a setores desfavorecidos, Chá-vez focou-se em deixar muito claro que assegura o bem-estar de quem apoiou sua revolução bolivariana.

“Chávez continua a ser dono do dis-curso social e, quando a oposição fala disso, ele se encarrega de esclarecer que são uns impostores”, comenta o sociólo-go Ignacio Ávalos. “Pode haver insegu-rança, problemas econômicos ou mau governo, mas até agora a oposição não conseguiu romper o vínculo emocional do presidente com as classes populares.”

Com o petróleo acima de US$ 100 por barril, o governo venezuelano dispõe de enormes recursos para mover a máqui-na eleitoral. Nos últimos tempos, lançou uma série de programas ou “missões” para construir habitações, diminuir o desemprego, cuidar dos idosos e dar di-nheiro às famílias pobres. Alguns analis-tas creem que será a campanha mais ca-ra da história do país.

A oposição sabe que não pode com-petir em recursos com o candidato ofi-

cial e, para compensar os dividendos que Chávez pode vir a ter com isso, tratou de criticar os programas sociais do gover-no, que favoreceram amplos setores da sociedade com potenciais eleitores. A aposta de Capriles é conquistar os de-sencantados com a política assistencia-lista do chavismo, ao propor o fortaleci-mento do emprego e da educação.

“Não podemos despachar Chávez apenas dizendo que ele tem um talão de cheques. Nele, há símbolos, afetos, re-presentações”, insiste o sociólogo Áva-los. “Chávez olhou para o povo, levou--o em conta e disse-lhe que era o grande protagonista. Mas, depois de 13 anos, não desperta esperanças”.

No centro da proposta econômica de Capriles está o investi-mento privado, o comba-te à inflação e o aumen-to da produção petroleira venezuelana. Mas, até o momento, o oposicionista não deu detalhes de como pretende colocar tal plano em prática. O economista José Guerra, membro de sua equipe, diz que entre as primeiras medidas de um eventual novo gover-no estará a diminuição do desemprego e da inflação, que hoje é uma das mais al-tas do mundo.

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Altos e baixos bolivarianosInflação e desemprego na era Chávez – em %

Fontes: Banco Central da Venezuela, Instituto Nacional de Estatística1998

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INFLAÇÃO DESEMPREGO

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Março, 2012 AméricaEconomia 63

“A primeira coisa que Capriles deve-ria fazer é ter um plano para dar trabalho aos setores mais empobrecidos da popu-lação, fortalecendo, por exemplo, a in-dústria da construção. Depois, deveria também anunciar uma reestruturação da PDVSA [estatal venezuelana de pe-tróleo] e, em terceiro lugar, adotar medi-das para diminuir gradualmente a infla-ção”, afirma Guerra.

Com faro apurado para a política, Ca-priles preocupou-se em assinalar que ninguém será demitido da PDVSA e que também não fará imediatamente um re-

ajuste do preço da gasolina, em um país onde encher o tanque de um carro custa apenas um dólar, graças aos fortes sub-sídios oficiais.

“Capriles foi claro. Aqui, não pode ha-ver ajustes dramáticos, nem choques no curto prazo”, insiste Guerra, ex-diretor do Banco Central. “O foco deste governo deveria ser o desmantelamento gradual do controle do câmbio”, complementa Alejandro Grisanti, que também propõe atacar o desemprego – que ele calcula es-tar em torno de 50%, se contados os mi-lhares de trabalhadores informais.

Mas o comandante se encarregou de deixar as coisas claras. “A batalha es-tá colocada nesses termos. A burguesia contra a classe operária”, resumiu Chá-vez. Em suas frequentes aparições pú-blicas, ele não se cansa de afirmar que a oposição trata inutilmente de imitá-lo e de diluir as diferenças políticas. Ele che-ga a afirmar, com a costumeira eloquên-cia, que a “extrema direita” eliminará to-dos os avanços sociais de seu governo.

PrOPOstA dE mUdANçAApesar de um placar favorável até o mo-mento, Capriles terá de acertar em ca-da um de seus objetivos estratégicos pa-ra derrotar o poderoso aparato eleitoral chavista. Por exemplo, precisará expli-car claramente o que fará com as deze-nas de empresas estatizadas. Ele garan-te que não vai “tirar nada de ninguém” e que as expropriações se transformaram em um instrumento político. O político diz que convidará todos os setores a uma eventual administração e que governará para aqueles que usarem camisas verme-lhas – marca dos chavistas – ou de qual-quer outra cor.

Assim como Chávez chegou ao po-der marcando a derrota de um esgotado sistema bipartidário, que durou 40 anos desde a queda do ditador Marcos Pérez Jiménez, em 1958, Capriles quer surgir agora como o símbolo da mudança e da reunificação de um país dividido pela

Violência e popularidadeResultados eleitorais e violência na Venezuela

Fontes: Consejo Nacional Electoral, Observatório Venezuelano de Violência

1998

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ELEIÇÕES PrESIdEncIaIS

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rEFErEndo (nova conStItuIÇÃo)

rEFErEndo ELEIÇÕES PrESIdEncIaIS

Apesar da pobreza ter recuado no governo chavista, indicadores

ainda mostram um grave quadro de miséria no país

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DEBATESElEiçõEs

política. Com essa estratégia, que o as-sessor brasileiro Renato Pereira ajudou a desenhar, Capriles aposta na conquis-ta de espaço entre os chavistas menos ra-dicais e os indecisos que inclinarão a ba-lança em 7 de outubro.

Com uma projeção tão rápida de Ca-priles, seus oponentes trataram de reagir prontamente. Uma fonte oficial assegu-rou que ele era representante do sionis-mo. Em um programa de televisão – de um canal estatal –, insinuou-se que o candidato é homossexual. A mídia vene-zuelana também recorda constantemen-te que em 2004, quando era prefeito do município de Baruta, ele esteve preso por não impedir um ataque à embaixada de Cuba durante o golpe de Estado de 2002, caso do qual já foi absolvido. “Durante a campanha, continuarão a desqualifi-car Capriles”, afirma o analista político Ricardo Sucre, da Universidade Central da Venezuela.

A historiadora Margarita concorda que será uma competição muito desi-gual. “O presidente utiliza recursos pú-blicos, tem uma plataforma midiática cada vez mais complexa e é um homem muito sagaz, que também fez um há-bil uso de sua doença”, comenta sobre o câncer que Chávez descobriu em junho do ano passado.

Sobre a doença do presidente, de 57 anos, há detalhes até agora desconheci-dos – como a localização do tumor e o seu tipo. Até agora, Chávez foi o único a falar sobre esse assunto, que já deu por superado e sobre o qual a oposição evi-tou fazer maiores comentários – ao me-nos em público.

Capriles, enquanto isso, explora sua imagem de homem jovem e renovador. Apoiado pelo centro-direitista Primero Justicia (embora afirme “transcender os partidos”), direciona sua munição con-

tra a má gestão do Estado, os deficientes serviços públicos, a inflação, a frequen-te escassez de alimentos e a insegurança.

ViOLÊNCiACom uma taxa reconhecida pelas auto-ridades de 48 homicídios a cada 100 mil habitantes, uma das mais altas do conti-nente americano, a violência afeta sobre-tudo as classes populares, o bastião elei-toral chavista.

Especialistas apontam, contudo, que na Venezuela se associa violência com pobreza, e não necessariamente à de-mora judicial, à corrupção das polícias, à altíssima impunidade em que recaem os delitos, à escassa presença do Estado em algumas regiões do país ou às deplo-ráveis condições das prisões; todas estas, questões de política pública.

Embora a insegurança seja o princi-pal problema para os venezuelanos, se-gundo a última pesquisa do Datanálisis, apenas 23% dos entrevistados responsa-

bilizam Chávez por este problema e, por isso, o impacto desta questão em sua al-segundo Luis Vicente León, do institu-to. “Quando consultados sobre inflação ou desemprego, as pessoas responsabili-zam imediatamente Chávez. Portanto, o custo político dos problemas microeco-nômicos é muito mais alto que o da inse-gurança”, assegura.

Contudo, se à crescente violência fo-rem somados outros fatores de piora da sociedade venezuelana, a historiadora Margarita considera que a oposição tem diante de si uma poderosa arma para en-frentar o presidente. “Essa sociedade se-gue um processo de deterioração. Há uma crise, e essa é a grande fraqueza do presidente”, aponta.

A corrida até outubro será cheia de in-certezas. Dois projetos e dois líderes lu-tarão por cada voto nos próximos meses, durante os quais Capriles planeja percor-rer o país de ponta a ponta, como Chá-vez fez antes de ganhar a presidência pe-la primeira vez.

“Aquele cavalo está cansado”, afir-mou, em uma metáfora grosseira. “Este está cheio de energia, vamos ver quem aguenta esses meses”.

A continuidade dos fortes subsídios aos combustíveis gera dúvidas

64 AméricaEconomia Março, 2012

Apesar de preocupante, a questão da violência não deverá afetar a popularidade de Hugo Chávez com os venezuelanos

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JOÃO DORIA JR.,MAIS UMA VEZ, ELEITO UMA DAS 100 PERSONALIDADESMAIS INFLUENTESNO BRASIL E NO MUNDO.

Desde 2007, a revista ISTOÉ elege as 100

personalidades brasileiras e estrangeiras que

mais se destacaram no Brasil e no mundo,

através de suas iniciativas, opiniões e

inovações. E João Doria Jr. foi apontado

como uma delas pelo quarto ano consecutivo.

É mais um brasileiro se destacando no

cenário nacional e internacional.

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DEBATESPolítica

Depois do crime, o castigo? STF sente a pressão para julgar os 38 réus do mensalão, o maior escândalo do governo Lula, antes da prescrição dos crimes

Débora Zampier, de Brasília

Obra de ficção, criação men-tal, piada de salão. Essas são algumas expressões que já foram usadas para definir

o maior escândalo de corrupção en-volvendo o Partido dos Trabalhadores (PT), que derrubou figurões do gover-no Luiz Inácio Lula da Silva e marcou para sempre a política nacional. A rea-lidade mostra, no entanto, que se na po-lítica os fatos podem ser relativizados, na Justiça não há espaço para subjeti-vismo. Sete anos depois de as denún-cias virem à tona, os 38 réus do mensa-lão estão prestes a ser julgados no STF (Supremo Tribunal Federal).

Mensalão é o termo que define uma série de operações fi-nancei-

ras suspeitas que envolveram o núcleo governista, empresários, gestores e par-lamentares em 2005. Para o Ministério Público Federal, trata-se de uma “sofis-ticada organização criminosa” que mo-vimentou milhões para pagar mesada em troca de apoio político. Para os petis-tas, tudo não passou de dinheiro de cai-xa dois usado para financiar campanhas.

A proximidade do julgamento não preocupa apenas os réus que temem ser condenados – e que, nesses anos, acio-

naram o STF quase 30 vezes para tentar atrasar o processo. Além disso, também estão em jogo as eleições municipais de 2012, ocasião que o PT quer aproveitar para ampliar sua presença nos municí-pios brasileiros. Além da exposição ne-gativa para o partido como um todo, o julgamento antes de outubro afetaria di-retamente as pretensões políticas de uma parte dos réus, como é o caso deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), pré--candidato à prefeitura de Osasco (SP).

“Caso o julgamento aconteça durante a campanha eleitoral, os adversários

certamente utilizarão o assun-to para atacar o PT, mas

tenho dúvidas se isso real-

Números do meNsalão

7 anos de tramitação no STF

38 réus

650 testemunhas

1 mil decisões ao longo do processo

50 mil páginas de autos

DEBATESPolítica

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Março, 2012 américaEconomia 67

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O fantasma da prescriçãONo que depender do relator do proces-so, Joaquim Barbosa, o julgamento do mensalão começará ainda no primeiro semestre de 2012, pois ele pretende libe-rar seu voto em maio. O ministro passou por um problema ortopédico e ausentou--se do tribunal várias vezes nos últimos anos – ainda assim, o mensalão não foi esquecido, e ele fez vários despachos de sua própria casa. O quadro clínico vem melhorando desde meados de janeiro, e a ideia de Barbosa é não tirar licenças lon-gas até o julgamento do processo.

No entanto, pessoas próximas ao mi-nistro lembram que o desfecho do caso não depende somente dele, já que cabe ao ministro revisor liberar o processo pa-ra a pauta e ao presidente do STF dar iní-cio ao julgamento. Em maio, este último posto será ocupado pelo ministro Carlos Ayres Britto, que já sinalizou a intenção de colocar o processo em pauta assim que tudo estiver pronto.

Responsável pela revisão do proces-so, o ministro Ricardo Lewandowski diz que, de sua parte, não haverá atra-sos, mas prefere não dizer se o seu voto fica pronto antes de outubro. “Aqui não nos pautamos pelo calendário político.

mente mudaria votos em grande escala, já que a oposição tradicio-nal não tem se mostrado uma al-ternativa ética”, avalia o cientis-ta político Leonardo Barreto, da UnB (Universidade de Brasília). “No entanto, acredito que a expo-sição exagerada do assunto po-de de fato abalar a imagem do PT nas capitais, especialmente em São Paulo”.

Vale ressaltar que é justamente nas capitais e grandes cidades do país que o PT pretende concen-trar seu foco em 2012. A pers-pectiva é que o partido finque bandeiras em 117 municípios com mais de 150 mil habitan-tes, incluindo capitais como São Paulo, Porto Alegre e Salvador. “Essas eleições são decisivas e colocam em teste o modo petis-ta de governar. Queremos man-ter o que temos, conquistar o que perdemos e ampliar nos-sa presença em cidades estra-

tégicas”, resumiu o presidente da legen-da, Rui Falcão, no aniversário de 32 anos do PT, em fevereiro. Resta saber como o mensalão se encaixaria nesse roteiro.

A ação penal começou com 40 réus, mas atualmente tem 38 – o deputado José Janene morreu em 2010 e o ex--secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, fez acordo com o Ministério Público para deixar de integrar o processo. Confira a situação dos principais envolvidos:

Onde eSTãO OS menSaleirOS?

João Paulo Cunhao que fazia: presidente da Câmara dos Deputados. acusação: recebimento de propina. Responde por cor-rupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato. situação atual: deputado federal, é pré-candidato à prefeitura de Osasco (SP).

O escândalo do mensalão marcou o governo Lula

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68 américaEconomia Março, 2012

José dirceu o que fazia: ministro da Casa Civil do primei-ro governo Lula.acusação: ser o chefe do esquema. Responde por corrupção ativa e formação de quadrilha. situação atual: membro do diretório nacio-nal do PT, trabalha como consultor nos basti-dores da política.

Meu gabinete está com todos os esforços concentrados nesse processo, mas é pre-ciso lembrar que são mais de 50 mil pá-ginas com fatos que precisam ser verifi-cados minuciosamente. Eu não faço um voto a partir do relator, eu faço um vo-to totalmente novo. O que posso garan-tir é que ele ficará pronto em 2012 e que não haverá risco de prescrição na minha mão”, ressalta o ministro. Ele deve se de-dicar mais à análise do mensalão quan-do deixar a presidência do Tribunal Su-perior Eleitoral, em abril.

A discussão sobre a prescrição das penas assombrou o STF no final do ano passado. Lewandowski disse que a de-mora no julgamento poderia livrar os réus das condenações menores – e foi ta-xado de simpático aos mensaleiros. No entanto, o ministro havia alertado para um perigo real que já tinha causado seus primeiros estragos em agosto de 2011, quando o processo ainda estava na fase das alegações finais das partes.

A prescrição é calculada de acordo com a sentença definitiva do Tribunal. Os prazos variam segundo a gravida-de da pena – as mais leves prescrevem primeiro, as mais graves depois. No ca-so do mensalão, se os ministros optarem pela pena mínima, os réus escaparão de várias condenações. “É claro que essa é apenas uma tese, mas de fato, quando o réu é primário, a tendência não só do Su-premo, mas de toda a Justiça brasileira, é que se aplique a menor pena, deixando um risco real de prescrição. A nossa lei penal é muito benévola”, afirma Carlos Velloso, ex-ministro do STF.

Caso essa tese se confirme, os réus es-caparão das condenações por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, peculato, falsidade ideológica e evasão de divisas. Com a validação da Lei da Fi-cha Limpa no STF, em fevereiro, a possi-bilidade de prescrição ganhou tons ainda mais dramáticos, já que os réus também deixariam de ficar inelegíveis por oito

anos. Os crimes que ainda não correm o risco de prescrição são lavagem de di-nheiro e gestão fraudulenta.

O advogado Marcelo Leonardo, que representa o publicitário Marcos Valé-rio no processo, acredita que agora já não faz mais sentido apressar o julgamento, uma vez que as novas prescrições come-çam apenas em agosto de 2015. “O mi-nistro Ricardo Lewandoski apenas in-formou o que o Ministério Público, os advogados de defesa, o relator e os es-tudiosos de direito penal já sabiam. Não há, portanto, motivo para exigir de qual-quer ministro do Supremo Tribunal Fe-deral que faça a análise do processo com açodamento”, diz.

tOgas sOb pressãONa frente das câmeras, os ministros cos-tumam dizer que o STF é uma corte in-dependente, que não sofre pressões po-líticas e não cede à opinião pública. Mas a Suprema Corte não vive em uma redo-

marcos Valérioo que fazia: dono de agências de publicidade que tinham contratos com o poder público. acusação: fazer repasses de verbas do mensalão. Responde por corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, forma-ção de quadrilha e evasão de divisas.situação atual: consultor empresarial. Condenado pela Justiça mineira a mais de 15 anos de prisão.

DEBATESPolítica

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ma de vidro. Ainda que não se deixem influenciar, os ministros que julgarão o mensalão vêm sendo cortejados pe-la nata da advocacia criminalista, práti-ca dentro da lei e relativamente comum no STF. “É claro que procuramos os mi-nistros para tentar convencê-los do nos-so ponto de vista, pois precisamos fazer tudo o que está ao alcance para defender nossos clientes. Alguns ministros nos re-cebem melhor, outros nem tanto, mas es-se contato existe sim”, relata um dos ad-vogados do caso.

Outro foco de pressão é a opinião pú-blica, que vê o julgamento como a pro-va de fogo da independência dos minis-tros indicados pelo PT – oito de um total de 11 – e sinaliza não tolerar absolvi-ções. “Nós estamos analisando as pro-vas e os depoimentos e buscaremos um julgamento justo perante a lei e a nossa consciência. Mas se houver alguma coi-sa diferente da condenação, sei que sere-mos crucificados”, desabafa um minis-

tro. Outro integrante da Corte também faz críticas à ansiedade que se criou em torno do julgamento. “Estamos analisan-do um processo de milhares de páginas, e só ficaremos sabendo do voto do rela-tor e do revisor no dia do julgamento. A coisa mais natural do mundo é que, ca-so alguém tenha dúvida, possa pedir vis-ta para analisar melhor o assunto, mas aí alguém vai dizer que você não quer jul-gar o mensalão”.

A previsão é que o julgamento do pro-cesso demore, no mínimo, três semanas. Caso o desfecho não seja conhecido no primeiro semestre, a aposentadoria dos ministros Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto, em setembro e novembro, res-pectivamente, pode prolongar os pra-zos por tempo indefinido. O Executi-vo tem levado meses para repor vagas no Supremo, e na avaliação do jurista Luiz Flávio Gomes, o STF não deverá se arriscar sem a Corte completa. “Jul-gar um caso dessa magnitude sem to-

dos os ministros é temeroso, poderá dar uma sensação de interferência externa no judiciário”.

Também está pendente de análise um pedido para que o processo seja des-membrado, o que poderia dar nova so-brevida aos envolvidos. A solicitação é do poderoso advogado Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça do gover-no Lula que influenciou na escolha de vários integrantes do STF. Ele quer que apenas os réus com prerrogativa de foro – hoje os deputados João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto e Pedro Henry – sejam julgados na Suprema Corte, sob pena de violação da Constituição.

Enquanto as defesas se desdobram em estratégias, até os ministros mais falan-tes do Supremo têm se mostrado reticen-tes em comentar os rumos da votação, sentindo na toga a responsabilidade que têm pela frente. Afinal, essas 11 cabeças decidirão até que ponto a ficção do men-salão foi baseada em fatos reais.

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roberto Jeffersono que fazia: deputado federal pelo PTB e presidente do partido, denun-ciou o mensalão.acusação: conceder apoio político em troca de dinheiro. Responde por cor-rupção passiva e lavagem de dinheiro.situação atual: presidente do PTB.

delúbio Soareso que fazia: tesoureiro do PT. acusação: captar dinheiro para financiar o men-salão. Responde por corrupção ativa e formação de quadrilha. situação atual: expulso do PT em 2005, foi re-admitido em 2011. Faz palestras em todo o país apresentando sua defesa no caso do mensalão.

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Sustentabilidade e lucro de mãos dadasPara reduzir a dependência de combustíveis fósseis e abrir novas fontes de renda, empresas avaliam melhor o potencial das fontes de energia renováveis

Sérgio Siscaro, de São Paulo

De alguns anos para cá, as vantagens econômicas e am-bientais do uso de alternati-vas energéticas têm se torna-

do mais atraentes para as empresas. O emprego de processos de biotecnolo-gia – ou seja, transformação de maté-rias-primas, que podem ser resíduos de processos agrícolas ou industriais, em fontes de energia renovável (veja qua-dro na página ao lado) – é sustentá-vel do ponto de vista do meio ambiente e, além disso, possibilita a redução de custos. Sem falar que, em alguns casos, permite a criação de uma fonte alter-nativa de ganhos para as companhias.

O presidente da Abib (Associação Brasileira das Indústrias de Biomassa e Energia Renovável), Celso Marcelo de Oliveira, avalia que o mercado potencial nesse campo é imensurável. “Hoje, há um grande aproveitamento de resíduos na área florestal, o que se nota especial-mente em lugares mais desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e Euro-pa. O Brasil desponta com um grande potencial na área de produção e uso de

biomassa, gerando anualmente cerca de 100 mi-lhões de toneladas de resíduos florestais reaproveitáveis”, diz Oliveira.

Segundo o executivo, a inexistência de benefícios tributários e fiscais para a utilização de energia renovável, que são comuns em outros países, emperra o de-senvolvimento do setor. “Estamos bus-cando elaborar uma proposta de legisla-ção junto ao governo federal.”

Em razão do elevado volume de resí-duos gerados, o setor de papel e celulose apresenta perspectivas interessantes pa-ra o fornecimento de biomassa destina-da à conversão em energia. A Klabin é uma das mais avançadas nesta direção. Seu foco é tornar sua matriz energética cada vez mais associada a fontes renová-veis. De acordo com o ex-diretor e atual consultor da companhia, José Oscival dos Santos, atualmente o grupo Klabin é menos dependente de combustíveis fósseis. As fontes renováveis de energia respondem por 71% do total, e as fon-tes mistas (das quais a maior parte é re-

novável), por 9%. Como comparação, a matriz brasileira é composta por 55% de fontes fósseis e 45% de renováveis, se-gundo dados oficiais.

“O valor energético da biomassa de-pende de seu grau de pureza. A Klabin tem hoje uma tecnologia que gera alta eficiência e possibilita retirar o máximo de proveito dessa fonte”, afirma. A prin-cipal fonte de energia gerada pela em-presa é o licor negro, extraído a partir do processo de criação da celulose. “O uso de fontes renováveis permite à Klabin ter 45% de autossuficiência em eletricidade – dos 225 MW de consumo médio anu-al das unidades do grupo, 100 MW vêm de resíduos da floresta, e outros 10% são de origem hidráulica. Nossa meta é di-

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FareloPellets

Madeira

Milho

Cana-de-açúcar

Trigo

Casca de laranja

Amendoim

minuir ao máximo nossa dependência de combustíveis fósseis”, diz Santos. Os in-vestimentos em caldeiras e equipamen-tos para o processamento de biomassa consumiram, nos últimos anos, R$ 285 milhões em três fábricas do grupo.

A Klabin estuda mais uma iniciativa: a gaseificação da biomassa para a utili-zação nos fornos de cal. “O estudo está em desenvolvimento, mas é uma opção mais complicada, que depende de um es-tudo de viabilidade”, diz Santos.

A concorrente Suzano pretende apro-veitar a demanda internacional para ex-portar. A empresa está prestes a colocar no mercado a Suzano Energia Renová-vel, que atuará na produção de pellets de madeira voltados à exportação.

Durante a apresentação da Suzano na reunião da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimen-to do Mercado de Capitais), realizada em dezembro, o executivo André Dorf, presidente da subsidiária da Suzano, ex-plicou que até 2014 a empresa pretende operar três unidades, cada uma com ca-pacidade de 1 milhão de toneladas por ano, dedicadas à produção de pellets de madeira para geração de energia.

O projeto – que já conta com um pro-tocolo de intenções assinado com o go-verno do Maranhão para a instalação das unidades naquele estado – será fo-cado inicialmente no fornecimento de

biomassa ao mercado europeu. “Temos boas perspectivas na Europa. O Reino Unido, por exemplo, é um mercado mui-to importante para os pellets, uma vez que a União Europeia prevê metas de re-dução na emissão dos gases que causam o efeito estufa até 2020. Ou seja, há um incentivo para a utilização de biomassa”, afirmou Dorf na ocasião.

FONTES RENOVÁVEISOutros setores produtivos também es-tão atentos à necessidade de empregar cada vez mais energia produzida a par-tir da biomassa. O grupo Marfrig inau-gurou um sistema de biodigestores

O aproveitamento da biomassa, con-siderada a mais antiga fonte renová-vel de energia, contribui para reduzir as emissões de gás carbônico na at-mosfera, bem como para diminuir a dependência de fontes energéticas como o petróleo – cujo fornecimento sempre depende de delicadas ques-tões econômicas e geopolíticas. Além disso, trata-se de um material que pode ser obtido a partir das sobras de processos agrícolas e industriais di-

versos – do bagaço da cana-de-açúcar à casca de laranja, passando ainda por resíduos gerados pela indústria de celulose.

Dependendo da matéria-prima, a transformação pode envolver hidró-lise, liquefação, gaseificação e biodi-gestão, entre outros processos. Com isso obtêm-se, por exemplo, etanol, pellets de madeira, carvão, metanol, biogás e biodiesel, que são converti-dos em energia.

A TRANSFORMAÇãO

DE RESÍDUO A FONTE ENERGÉTICA

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DEBATESInovAção

em 2010 em sua unidade Seara Dia-mantino (MT), a fim de tratar e apro-veitar os gases gerados por dejetos suí-nos. A empresa também produz, em sua planta Promissão II (SP), biogás a par-tir da biodigestão dos resíduos do aba-te de bovinos.

De acordo com o diretor de Susten-tabilidade da empresa, Clever Ávila, a Marfrig tem uma política que busca au-mentar a utilização de fontes limpas e renováveis. “Nós compramos energia de PCHs [Pequenas Centrais Hidrelé-tricas] para substituir aquela obtida de termelétricas. E também passamos a utilizar o bagaço de cana na geração de energia, assim como a biomassa origi-nária do capim, destinada à produção de vapor”, afirma.

A utilização de fontes renováveis pe-lo grupo teve início há cerca de 11 anos e atualmente não são mais usados recur-sos fósseis. A empresa tem ainda outros projetos em desenvolvimento nessa área. Um deles prevê o uso de resíduos sólidos para geração de energia elétrica. “Esta-mos utilizando a energia gerada a partir de biomassa, mas poderemos, eventu-almente, comercializá-la também. Para isso, são importantes as parcerias tecno-lógicas e de investimentos, que agregam valor ao projeto”, pondera.

CANA-DE-AÇÚCARUma das principais matérias-primas pa-ra a produção de biomassa no Brasil é a cana-de-açúcar. A partir de seu baga-ço e de sua palha, por exemplo, é possí-vel obter etanol. De acordo com Sulei-man Hassuani, coordenador de Pesquisa Tecnológica do CTC (Centro de Tecnolo-gia Canavieira), o grande desafio é obter formas de aumentar a eficácia energéti-ca da cana – uma vez que 50% do baga-ço é composto por água, o que demanda energia para ser evaporada. “Apesar da biomassa ser relativamente mais barata e uma fonte renovável, há ainda alguns pontos que inibem sua utilização, como sua grande dispersão geográfica, a bai-xa densidade energética e a umidade”, afirma. Segundo o estudioso, uma alter-

nativa para aumentar a eficiência da bio-massa gerada pela cana é a peletização – processo por meio do qual a matéria--prima torna-se livre de umidade e mais fácil de transportar. “No entanto, a utili-zação desse processo é mais complicada no caso, por exemplo, da madeira.”

Segundo Hassuani, o CTC tem atuado também na geração de energia a partir da palha gerada no processo de colheita da cana, com a finalidade de elevar a dis-ponibilidade de biomassa. “Para tanto, sempre atuamos por meio de parcerias com as usinas de cana-de-açúcar”, diz.

Além das tecnologias específicas pa-ra a cana, outras já estão ganhando es-paço – inclusive iniciativas totalmente verde-e-amarelas. O grupo petroquími-co Peixoto de Castro, do Rio de Janeiro, investe em biotecnologias para a produ-ção de energia há 20 anos. Em 2009, as-sociou-se ao empresário Roberto Pas-choali para criar a Senergen – que atua no aproveitamento de diferentes tipos de biomassa para a criação não só de ener-gia, mas também de matérias-primas com alto valor de mercado. Atualmen-te, a companhia tem uma unidade em Lorena (SP), com capacidade de proces-samento de 20 toneladas de resíduos por

dia – e sem emitir CO2. “O que fazemos é reorganizar cadeias de carbono – ou seja, desconstruímos o resíduo e o trans-formamos em produtos para o mercado”, diz Paschoali.

A companhia utiliza duas tecnologias. A primeira, denominada de conversão em baixa temperatura, é aplicada na uni-dade de Lorena. “Nós colocamos pneus usados na unidade, e deles conseguimos obter três produtos: um gás, que man-tém o equipamento aquecido; um óleo combustível, usado para a fabricação de borracha sintética – e que tem entre seus componentes o D-Limoneno, um solven-te ecológico; e o negro de fumo, compo-nente do pneu com várias aplicações.”

A peletização (acima) permite facilidade no transporte. Já a produção de biomassa a partir da cana (ao lado)

demanda processos mais eficientes

28,4%Carvão

34,6%Petróleo

22,1%Gás

2,0%Energia nuclear Fonte: Srren/Ipcc, 2011

0,1%Energia solar direta 0,002%

Energia oceânica

2,3%Biomassa moderna

0,2%Energia eólica

0,1%Energia geotérmica

2,3%Energia hidráulica

8%Biomassa tradicional

Fontes primárias de energia no mundo – 2008

Petróleo e carvão ainda são as principais, respondendo por 63% do total

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A outra tecnologia empregada pela Senergen é a da pré-hidrólise, que per-mite aproveitar a biomassa de origem ce-lulósica, como o eucalipto, e extrair to-dos os produtos químicos que a planta retirou da natureza. “Essas duas tecno-logias não existem em lugar algum. Já temos a patente em 45 países”, comple-ta Paschoali. O executivo comenta ainda que, em 20 anos, foram investidos cerca de US$ 35 milhões no desenvolvimento desses processos.

“A nossa primeira planta de Lorena consumiu US$ 10 milhões; e agora ob-tivemos o financiamento de R$ 27 mi-lhões da Finep [Financiadora de Estu-dos e Projetos, empresa vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia] pa-ra uma segunda unidade, que terá capa-cidade de processar 80 toneladas por dia. Esse valor representa 90% do investi-mento total do projeto”, afirma.

A Senergen ainda está pesquisando outras formas de aproveitar a biomassa de forma rentável, como as que permi-tem a obtenção de carvão siderúrgico a partir do eucalipto. “Por meio desse processo, podemos obter também al-catrão não-cancerígeno, produto que tem um valor de mercado altíssimo e é utilizado pelo segmento de construção civil. Buscando o carvão vegetal, que vale R$ 500 a tonelada, descobrimos a possibilidade de ter algo que pode va-ler R$ 20 mil a tonelada.”

TENDÊNCIAS A utilização de biomassa oriunda de di-versos tipos de resíduos e seu aproveita-mento na geração de energia oferecem oportunidades bastante interessantes aos países que produzem essa matéria-prima – localizados principalmente no Hemis-fério Sul. De acordo com a coordenadora do Cenbio (Centro Nacional de Referên-cia em Biomassa, ligado ao Instituto de Eletrotécnica e Energia, da USP), Suani Coelho, a biomassa tem um papel signi-ficativo dentre as fontes renováveis. “É a única com possibilidade de utilização

comercial no curto e médio prazos no se-tor de transportes. Além disso, somente ela tem perspectivas concretas de aplica-ção nos países em desenvolvimento nes-se setor, sendo assim a opção mais indi-cada, em termos de acesso à energia nas regiões mais pobres”, afirma.

Suani acrescenta que, hoje, as alterna-tivas aos combustíveis fósseis mais inte-ressantes economicamente são o etanol de cana e o biodiesel de gordura animal. “Na zona rural, o biogás de resíduos cer-tamente é uma opção importante para a geração de energia elétrica.”

A especialista lembra que o Cenbio vem atuando na proposição de políticas para biomassa e também em projetos--piloto nessa área. Na avaliação da co-ordenadora, o governo federal poderia adotar uma postura mais ativa para in-centivar a utilização das fontes renová-veis. “O BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] poderia ter linhas de crédito mais inte-ressantes para processos de cogeração de energia [como na produção de ele-tricidade e energia térmica a partir de gás natural ou biomassa] com o bagaço de cana. Também o uso do biogás pode-ria ser objeto de políticas específicas pa-ra produtores rurais”, pondera.

O BNDES afirma que os desembolsos acumulados nos últimos quatro anos pa-ra a área de cogeração a partir do bagaço de cana somam R$ 5,7 bilhões. A cartei-ra de operações é composta por 56 proje-tos, que equivalem a uma capacidade ex-tra de geração de energia de 1,7 mil MW. A instituição oferece condições mais fa-voráveis para essas iniciativas dentro de sua linha Finem (Financiamento para Empreendedores).

“Para esses projetos, nós oferecemos uma remuneração básica de 0,9% ao ano, que é bastante vantajosa para os to-

madores desses financiamentos”, afirma o gerente do Departamento de Biocom-bustíveis da instituição, Arthur Mila-nez. Já a gerente do Departamento de Energias Alternativas do BNDES, Ana Raquel Paiva Martins, salienta que o banco também oferece linhas de finan-ciamento às empresas que comerciali-zam energia. As operações são feitas na modalidade de project finance jun-to a companhias que já têm contratos de compra e venda.

“No campo das fontes alterna-tivas, acreditamos que haverá um

Na avaliação do Cenbio, a biomassa é hojea melhor alternativa de acesso à

energia nas regiões mais pobres do planeta

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74 AméricaEconomia Março, 2012

DEBATESInovAção

grande crescimento na energia eólica neste ano, assim como na de origem so-lar”, afirma Martins, acrescentando que o banco também atende clientes que operam PCHs.

MERCADOA utilização crescente da biomassa no mundo poderá viabilizá-la como uma commodity de fato – por meio do desen-volvimento de um mercado negociador internacional. A avaliação é da professo-ra Helena Chum, que coordenou a reda-ção do capítulo de bioenergia do SRREN (sigla em inglês para Relatório Especial sobre Fontes de Energia Renovável e Mi-tigação das Mudanças Climáticas).

O relatório foi lançado no ano passa-do pelo IPCC (Painel Intergovernamen-tal de Mudanças Climáticas), da ONU (Organização das Nações Unidas). “Ho-je, já há uma estrutura de mercado para esses produtos. São commodities, cada vez mais negociadas em várias regiões do mundo”, afirma.

Segundo Helena, a grande demanda, principalmente por parte de países euro-peus, de fontes renováveis – que vão des-

de a energia solar e eólica até os pellets de madeira – oferece oportunidades bastan-te interessantes. “Já se percebe que esses produtos, como o etanol, são uma com-modity. E biotecnologias que geram pro-dutos sólidos, como é o caso dos pellets, têm a vantagem de serem mais fáceis de serem transportados.”

Para a professora, o Brasil já é hoje um país desenvolvido no que se refere à utili-zação da biomassa. O emprego de novas tecnologias, como os métodos transgê-nicos no cultivo de cana-de-açúcar, po-derá elevar a produtividade, favorecendo assim a produção de energia renovável.

Colega de Helena na redação do ca-pítulo de bioenergia do SRREN, o pro-fessor André Faaij, da Universidade de Utrecht (Holanda), pondera que a utili-zação mundial de biomassa para gerar energia deverá registrar um aumento de 10% por ano na próxima década. “Es-se desempenho depende de políticas de governo dos países, mas o aumento dos preços do petróleo, a preocupação com a sustentabilidade e a chegada de novas tecnologias deverão estimular a produ-ção de bioenergia”, afirma.

Faaij também avalia que as metas es-tabelecidas por países desenvolvidos pa-ra reduzir suas emissões de CO2 contri-buirão para gerar oportunidades para o Brasil – especialmente no que se refe-re à exportação de pellets de madeira. “Essa biomassa tem mais possibilidade de atingir critérios de sustentabilidade e permitir a redução na emissão de gases.”

Hassuani, do CTC, lembra que algu-mas iniciativas foram adotadas no senti-do de se incentivar a produção desse tipo de energia. Ele cita a redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercado-rias e Prestação de Serviços) adotada pe-lo governo paulista no ano passado pa-ra equipamentos destinados a unidades que geram energia a partir da biomassa da cana-de-açúcar.

E, de agora em diante, as empresas de-verão perceber melhor o valor dos resí-duos que produzem para a geração de energia. “Os governos estão aderindo a protocolos internacionais na área do meio ambiente, e isso vai gerando incen-tivos para as companhias utilizarem fon-tes renováveis de energia”, pondera Ávi-la, da Marfrig.

Nos arredores de Sevilha, na

Espanha, foi construída a

PS20, destinada à captação de energia solar

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OPINIÃO

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra

Luiz Fernando Furlan foi ministro de Estado do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2003/2007).

não se vê quando o assunto é agrone-gócio, como a geração de empregos e a de riqueza que irriga em diferentes níveis o setor de produtos e serviços. Em cada caixa de frango, há dez em-balagens plásticas e uma caixa de pa-pelão. A Brasil Foods, por exemplo, é a maior exportadora brasileira de caixas de papelão. Isso mostra que o agrone-gócio agrega valor em outras cadeias produtivas.

Sem falar dos efeitos que esse pro-tagonismo brasileiro no agronegócio mundial tem sobre as contas do gover-no. O superávit na balança comercial gerado nos últimos dez anos, a partir de 2003, é fundamentalmente basea-do no agronegócio. Esse superávit é o cerne das reservas do Banco Central, de US$ 350 bilhões, que fazem com que o Brasil hoje passe relativamen-te tranquilo pela crise mundial. Não fosse a exportação de commodities, o país não teria esta situação tranquila.

No capítulo das commodities mine-rais, a Vale é a empresa mais superavi-tária em comércio exterior no país. So-zinha, ela exportou US$ 36,85 bilhões a mais do que importou em 2011. No caso dos minérios, os ganhos também

são vistos no desenvolvimento de infraestrutura. Para

escoar a produção, é preciso investir

muito em ferro-vias e portos.

Digo tudo isso no sentido de não se desprezar as commodities e o esfor-ço que envolve esse tipo de negócio, quando se fala em agregação de valor. E, apesar de dependermos tanto das commodities, não somos seus reféns. O país não tem uma dependência des-ta ou daquela commodity. Se olhar-mos a pauta brasileira de exportações, veremos que o setor mais preponde-rante talvez represente cerca de 10% do total, não mais que isso.

Claro que existe uma ameaça, ain-da que muito tímida, ao protagonismo do Brasil como fornecedor mundial de alimentos, já que existe uma crise econômica mundial que pode conta-minar, em maior ou em menor pro-porção, nossos parceiros comerciais. É aí que entra a China.

Vemos um esforço muito grande dos chineses em investir em países que pos-sam assegurar o fornecimento de maté-rias-primas, principalmente no continen-te africano, mas também em território brasileiro, onde eles têm comprado pro-priedades agrícolas voltadas à produção de grãos. Isso deveria nos despertar para um tema central: o capital estrangeiro no investimento em terras no país.

Existe uma norma constitucional es-tabelecendo que o capital estrangeiro não deve ser discriminado. Ao mesmo tempo, há um regulamento que limita a posse de terras por estrangeiros. Este tema deveria ser olhado mais de perto. Não é fácil estimular os investimentos sem que haja uma perda da soberania, mas é necessário.

Está certo buscar aumento de valor e incremento da exportação de servi-ços. Mas é impossível ser o melhor em tudo. Portanto, nossas vantagens com-petitivas devem ser cultivadas.

“O Brasil é dependente de commodities”. Esta é uma frase recorrente, mas não

deve ser analisada de forma simplista. Na época em que estive no Ministério do Desenvolvimento, o país chegou a ter mais de 50% de suas exportações baseadas em produtos industrializa-dos. Este é um objetivo permanente-mente importante: ter a exportação de produtos com valor agregado. Mas, para os distraídos, é bom lembrar que,principalmente no caso de commo-dities agrícolas, é grande a tecnologia que existe para sermos competitivos.

Sem isso, não veríamos o avanço da soja no país, da forma como se deu. O país conseguiu superar a competi-tividade americana no grão. Nos anos 1970, a soja era um produto restrito às fazendas do Rio Grande do Sul, depois ao Paraná. Hoje, planta-se soja tam-bém no Centro-Oeste e no Nordeste.

Tudo isso tem a ver com o desen-volvimento de tecnologia. Por trás das commodities, há uma infraestrutura de alta tecnologia que levou o Brasil a expandir sua fronteira agrícola para a região do cerrado, a desenvolver novas sementes e a se tornar um dos maiores produtores mundiais de equipa-mentos agrícolas.

E, claro, é pre-ciso falar do que

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DEBATESInovação

76 américaEconomia Março, 2012

Tecnologia britânica promete encurtar a corrida por melhores biocombustíveis e reduzir a carga de CO2 na atmosfera. A aposta é a fruta brasileira, ou melhor, sua casca

Loreto Urbina, de Londres

Na safra 2010/2011, o Brasil produziu 15,3 milhões de to-neladas de laranja. Aproxima-damente 86% desse total foi

destinado à indústria de suco de laran-ja fresco. Imagine a quantidade de cas-cas resultantes dessa atividade.

O volume produzido nos pomares brasileiros – responsável por 60% das exportações mundiais de suco – foi mais do que suficiente para chamar a atenção do químico britânico James Clark. O professor do Centro de Quí-mica Verde da Universidade de York, no Reino Unido, revolucionou a última Feira Científica Britânica ao apresen-tar um método que permite transfor-mar cascas de laranjas em biocombus-tíveis usando energia de micro-ondas. Trata-se de uma das várias pesquisas realizadas no velho continente para desenvolver biocombustíveis que aju-dem a diminuir as emissões mundiais de CO2. Contudo, o caminho em dire-ção a uma indústria sustentável de bio-combustíveis está permeado de obstá-culos econômicos e riscos ambientais.

A tecnologia concebida por Clark in-tegra o projeto Opec (Orange Peel Ex-ploitation Company). Ela consiste em triturar a casca da laranja e colocá-la no micro-ondas da mesma forma que se fa-

Laranja no tanque

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Março, 2012 américaEconomia 77

ria com um forno caseiro, obtendo celu-lose e outros componentes. “A pele da laranja contém um interessante elemen-to químico que é muito facilmente trans-formado em combustível”, afirma Clark.

A União Europeia contribuiu com € 6 milhões para o projeto, no qual colabo-ram também o Carbon Trust, maior or-ganização britânica especializada na di-minuição das emissões de carbono, e a USP (Universidade de São Paulo). Ago-ra, Clark e seu grupo trabalham na uni-dade de processamento de prova, que lhes permitirá tratar 30 quilos de cas-ca de laranja (e outros cítricos) por hora.

Envolvido com pesquisas que utili-zam resíduos para a criação de com-bustíveis alternativos, o professor ti-tular do IFSC/USP (Instituto de Física de São Carlos, pertencente à USP), Igor Polikarpov, esteve à frente de uma pes-quisa sobre a produção de bioetanol a partir de biomassa da indústria de ce-lulose. Em sua opinião, a utilização de cascas de laranja como matéria-prima para a produção de biocombustíveis é bastante interessante.

“É necessário equacionar primeiro como obter o maior valor agregado por meio das tecnologias disponíveis. Uti-lizando-se comercialmente o limone-no [constituinte majoritário do óleo da casca de laranja], com alto valor agre-gado, é possível transformá-lo em um subproduto da geração do biocombustí-vel, barateando assim o processo como um todo”, afirma o professor.

Esse barateamento, de acordo com Polikarpov, é essencial para tornar o processo efetivamente competitivo. “Atualmente, a casca de laranja é utili-zada como alimento para animais. Por essa razão, o seu aproveitamento como biomassa deve levar em conta o melhor aproveitamento econômico, a fim de tornar o processo mais atrativo.”

Além de liderar a produção mun-dial de suco de laranja, o Brasil é um dos principais fornecedores de etanol para biocombustíveis. Em 2010, pro-duziu cerca de 28 bilhões de litros de etanol. O projeto de Clark propõe uma

convergência entre as duas indústrias – laranja e cana-de-açúcar. Mas existe uma polêmica entre partidários e de-tratores dos biocombustíveis. Um es-tudo recente da Universidade Estadu-al do Oregon concluiu que todas as leis de biocombustíveis vigentes nos Esta-dos Unidos reduziriam o uso de com-bustíveis fósseis em apenas 2,5%, a um custo de US$ 67 bilhões.

SEGUNDA GERAÇÃOMarvin Marcus, cientista e ambienta-lista da Escola de Biologia da Univer-sidade de Nottingham, no Reino Uni-do, que colabora com o Programa Lace (Lignocellulosic Convertion to Etha-nol), focado na produção de etanol a partir de resíduos agrícolas, defende alternativas como a da casca da laranja – os chamados biocombustíveis de se-gunda geração. A Europa está de olho neles, particularmente na produção de etanol a partir de resíduos de palha (wa-ste straw). Marcus não considera que possa haver uma tecnologia sem efeitos colaterais para o meio ambiente. Con-tudo, os biocombustíveis extraídos de resíduos de palha provêm de materiais de descarte de outras indústrias, o que os transforma em um subproduto.

Um estudo do Imperial College de Londres tratou do conflito entre o uso energético e alimentício dos cultivos. Sua conclusão é a de que a substituição gradual de combustíveis fósseis por bio-massa só será possível se houver o au-mento da produtividade agrícola e seus descartes forem melhor aproveitados.

O chileno Claudio Ávila, do De-partamento de Química e Engenharia Ambiental da Universidade de York, concorda com Marcus em relação aos efeitos colaterais de alguns biocom-bustíveis. O uso indiscriminado dos re-cursos atenta contra a produção de ali-mentos ou gera aéreas de monocultivos para satisfazer às necessidades de ma-téria-prima para a produção de com-bustível. No entanto, Ávila sustenta que esses efeitos colaterais serão redu-zidos “`à medida que evoluir a tecnolo-gia empregada, o que depende de fato-res econômicos e sociais”.

Na opinião do cientista, a principal barreira para a produção de biocombus-tíveis na América Latina é o alto custo do investimento, assim como a baixa renta-bilidade a longo prazo para investidores. No entanto, Ávila acredita que os bio-combustíveis poderiam suprir as neces-sidades energéticas em pequenas comu-nidades distantes das grandes economias de escala. Por exemplo, a quantidade de gás metano gerado pela fermentação de lixo de um depósito é muito peque-na para incentivar uma empresa a inves-tir nele, “mas pode ser uma fonte valio-síssima para uma pequena comunidade agrícola que deseje aquecer casas ou es-tufas”, salienta.

Clark defende sua tecnologia de mi-cro-ondas exatamente com base na questão dos custos. O cientista ponde-ra que, com ela, não busca recriar o ta-manho das grandes refinarias de petró-leo, mas oferecer uma tecnologia barata e modular. O aparelho de micro-ondas é relativamente pequeno e fácil de ser des-locada para onde estão os rejeitos. “O maior que conheço, capaz de trabalhar com seis toneladas por hora, tem cinco ou seis metros de comprimento”, afirma.

Se o projeto vingar, é provável que seu copo matutino de suco de laran-ja (ou do drinque com vodca da happy hour) sirva também para abastecer seu tanque de combustível.

Com a colaboração de Sérgio Siscaro, de São Paulo.

da produção nacional de laranja

é transformadahoje pela indústria

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78 AméricaEconomia Março, 2012

DEBATESCOMÉRCIO INTERNACIONAL

Palavra de ordem:proteger o “8”A China seguirá cautelosa diante do delicado cenário econômico. Um crescimento menor afetará as exportações latino-americanas, mas também criará oportunidades

Natalia Tobón, de Pequim

Onúmero 8 é símbolo de sor-te na China, porque sua so-noridade é semelhante à da palavra “tesouro”, que re-

presenta dinheiro e fortuna. Há mais de seis anos, o governo chinês afirmou que, para sua estabilidade econômica, o país deveria crescer a uma taxa mí-nima de exatamente 8%. O número foi facilmente atingido, superando os dois dígitos em 2009.

No entanto, a China fechou 2011 exi-bindo números claros de desaceleração,

com crescimento de 9,2%, menor que os 10,4% do ano anterior.

Por isso, se 2011 foi dedicado a comba-ter a inflação, o objetivo de 2012 é man-ter a estabilidade. Trata-se exatamente de “proteger o 8” em um ano difícil. E os alertas já soaram, pois uma queda no crescimento chinês teria efeitos conside-ráveis – especialmente no ano de mudan-ça de governo do gigante asiático.

Em relação a projeções para 2012, o FMI (Fundo Monetário Internacional) calcula um crescimento de 8,4%. Os

analistas do Banco da China, seguindo com o simbolismo numérico, colocam--no em 8,8%. Embora uma cifra inferior a 9% não seja vista desde 2001, a previ-são não é motivo para desespero. Isso, considerando uma economia global “se-vera e complicada”, como classificou o Ministério do Comércio chinês.

Em meados de dezembro passado, a China anunciou para 2012 uma política monetária prudente e uma política fis-cal proativa. Não haverá grandes mu-danças no plano quinquenal, colocado

Problemas com o crédito e a inflação podem comprometera demandainterna chinesa

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em operação no início de 2011. A crise da dívida da Europa e os fracos gastos do consumidor nos Estados Unidos exi-gem cautela.

Nesse cenário, as exportações chine-sas foram reduzidas. Para este ano não se espera nenhuma melhora. Esse avan-ço diminuiu especialmente nos últimos meses, deixando novembro passado com a maior queda desde 2001 (13,8%). Em dezembro, a alta foi de 13,4% na compa-ração com o igual período de 2011.

As consequências nas PMEs (peque-nas e médias empresas), das quais de-pendem aproximadamente 80 milhões de empregos, já estão se manifestan-do. Centenas de fábricas fecharam em 2011 e houve surtos de protestos so-ciais. Em setembro passado, por exem-plo, o cenário do descontentamento foi uma das mecas das PMEs chinesas: a cidade de Wenzhou, no sudeste do país. Centenas de trabalhadores inter-romperam o trânsito na região claman-do por seus salários, após a falência de uma fábrica de óculos de sol. A indigna-ção ser vista também na China é um cla-ro sinal de alerta.

OPORTUNIDADE Por sua dependência da exportação de matérias-primas, a América Latina se-rá afetada pela desaceleração chinesa. Embora sejam poucos os economistas que arriscam um prognóstico categóri-co, a maioria espera que, no curto prazo, os vínculos comerciais continuem cres-cendo, mas a um ritmo menor.

“Pelo menos nos próximos três a cinco anos, a demanda por matéria-prima lati-no-americana permanecerá forte”, afir-ma Matt Ferchen, pesquisador de assun-tos latino-americanos da Universidade Tsinghua de Pequim, ressaltando que o mercado de commodities em 2012 não dependerá apenas da China, mas tam-bém de outros agentes mundiais.

É fato que, durante 2011, o mercado chinês começou a dar mais importância a sua demanda interna. “Antes, concen-trávamos a atenção nos investimentos públicos, no comércio exterior. Hoje, de-vemos atender a um terceiro pilar, que é

nossa demanda interna”, comenta o pro-fessor Wu Guoping, integrante da ACCS (Academia Chinesa de Ciências Sociais).

Esse maior protagonismo do mercado interno abre uma possibilidade maior à entrada de outros produtos latino-ameri-canos, além das velhas commodities. Por exemplo, alimentos. Guoping destaca os casos do Chile, que tem buscado expor-tar, além do cobre, vinhos e frutas; e da Argentina, que depende em 75% das ex-portações de soja, segundo dados da Ce-pal (Comissão Econômica para a Amé-rica Latina e o Caribe). “A China precisa diversificar os produtos de importação, assim como a América Latina deve fa-zer um esforço para exportar outros pro-dutos”, acrescenta o acadêmico.

Contudo, para acentuar a demanda in-terna, a China precisa enfrentar dois obs-táculos: o problema do crédito e a infla-ção. Por isso, em meados de dezembro de 2011, foi anunciado um corte nas re-servas obrigatórias para os bancos, em 50 pontos básicos. Por outro lado, o pre-sidente do banco central chinês anun-ciou a intenção de flexibilizar o yuan an-tes de 2015. No entanto, já se colocou em dúvida a possibilidade real dessa mudan-ça, por causa da instabilidade que pode-ria ser provocada pela reforma na moeda da segunda maior potência econômica mundial. No momento, trata-se apenas de promessas diante de um ano difícil.

Por outro lado, prevê-se que, com o aumento de custos na China, chegará um ponto em que o sistema atual de pro-dução não se sustentará. “É preciso mu-dar a estrutura de exportação. O país não pode continuar exportando itens manu-faturados de baixo valor agregado, mas

deve começar a exportar produtos de al-to valor agregado”, comenta o professor Guoping. Por isso, a China deve come-çar a considerar opções para o atual mo-delo de crescimento.

A solução proposta pelo professor Jiang Shixue, também da ACCS, é pen-sar em uma aliança estratégica entre Eu-ropa, China e América Latina: “A trian-gulação entre Europa, China e América Latina deve ser construída sobre rela-ções econômicas. Uma das grandes pos-sibilidades pode ser a criação de um fun-do comum para facilitar o investimento europeu e chinês na América Latina”, afirma. Guoping ressalta a importância de o mundo deixar de pensar na “ameaça chinesa”. “É o momento de fazer alian-ças”. É hora de reflexão, mas ficam dú-vidas sobre a capacidade real da Chi-na de externalizar seus empregos e sua mão de obra – e de compartilhar seu su-cesso e avanço em direção à supremacia econômica, já que a ascensão não foi in-terrompida.

A China tem sido um colchão para a América Latina no sentido de amorti-zar a crise financeira. Por isso mesmo, se chover na China em 2012, a América La-tina deverá pegar um guarda-chuva. Em termos mais específicos, se para alcançar os 8% de crescimento o governo chinês decidir impulsionar decididamente a de-manda à custa do investimento, algumas commodities de mineração poderão ser afetadas. Em todo caso, uma coisa é cer-ta: a China não é um país de mudanças rápidas ou movimentos bruscos. “A eco-nomia chinesa é enorme, e qualquer po-lítica só tem efeito depois de muito tem-po”, aponta Shixue.

Pequenas e médias fábricas chinesas começam a ter dificuldades de caixa

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80 AméricaEconomia Março, 2012

IBIZ

Ainda mais portátil

Este será o ano dos ultrabooks... Ou pelo menos é nisso que apostam Intel, HP, Sony, Le-novo, Samsung e praticamen-

te qualquer fabricante de computadores móveis além da Apple. A previsão foi mencionada em cada lançamento, feira ou fórum de discussão nos últimos me-ses. Porém, como acontece com toda no-va tecnologia ou denominação, poucos sabem em detalhes suas características e funções, e menos ainda se esses equi-pamentos terão um sucesso real no com-petitivo mercado da tecnologia.

O termo não corresponde a um dispo-sitivo radicalmente novo, como foi o ca-so dos tablets em 2010, mas sim a uma estratégia da Intel de redefinir o merca-do dos dispositivos a serem usados no trabalho, introduzindo um equipamen-to que combine a potência de um note-book com a portabilidade e o baixo pre-ço de um tablet.

Isso implica bater de frente com o Macbook Air, da Apple, mas oferecen-do como vantagem uma amplitude de

softwares e serviços em qualquer nível que não seja o puramente audiovisual ou então o artístico.

O que define um ultrabook? Segun-do a Intel, esta variedade de notebook precisa ser dotada da última tecnologia de processadores Intel Core (i3, i5 e i7), ter uma bateria com duração próxima a dez horas, peso similar ao do tablet, com espessura em torno de 0,7 polegada, te-la na faixa de 13 e 14 polegadas e siste-ma operacional Windows. E um detalhe igualmente importante: preço inferior a US$ 1 mil.

“A Intel trabalhou na criação dos ul-trabooks ouvindo clientes que busca-vam equipamentos leves, que fossem além dos tablets, que não estavam ten-do muita entrada no mundo corporati-vo por uma questão de compatibilidade de software”, afirma Eduardo Godoy, gerente de Desenvolvimento de Negó-cios da Intel Chile. “Os ultrabooks não vão tirar espaço dos tablets. Eles terão seu próprio espaço, semelhante ao que aconteceu com os netbooks, isto é, equi-

pamentos de acompanhamento que não necessariamente são equipamentos pa-ra trabalhar”.

EstrElas Em las vEgasA CES (Consumer Electronic Show), que acontece em Las Vegas (EUA), é a maior feira de tecnologia de consu-mo do mundo. Os serviços e produtos lançados no evento costumam mar-car a agenda do que será o ano tecno-lógico em todo o globo. Em 2011, fo-ram apresentados centenas de tablets, e ninguém pode duvidar de que eles fo-ram o artigo eletrônico mais relevante do ano. Antes vieram a TV 3D, o net-book, o Blu-ray.

Este ano, em Las Vegas, a CES viu o lançamento de quase 50 ultrabooks, e suas diferentes variações e características fo-ram assunto obrigatório entre os visitan-tes. Samsung, Sony, Lenovo, HP, Dell, Toshiba, Acer e Asus apresentaram, em seus respectivos setores, um ou vários desses dispositivos. Entre os produtos, modelos inéditos como o IdeaPad YO-

Os fabricantes de computadores dão o pontapé inicial emuma nova categoria de dispositivos com a promessa de desenvolverum segmento de aparelhos móveis a serem usados no trabalhoChristopher Halloway, de Las Vegas

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GA, da Lenovo, um ultrabook que gira seu teclado para se transformar em um tablet totalmente tátil, e opções como o Envy 14 Spectre, da HP, que se des-taca por sua tela Gorilla Glass e a inclu-são da tecnologia NFC (sigla em inglês para “comunicação por proximidade de campo”) para realizar compras ou trans-missão de informações a curta distância.

Como apontou o CEO da Intel, Paul Otellini, em seu discurso para a CES, cerca de 75 modelos devem chegar ao mercado durante 2012.

Mas as críticas e dificuldades já sur-gem para esses novos dispositivos. Se-gundo Mykola Golovko, pesquisadora da empresa Euromonitor Internatio-nal, a proposta de portabilidade e ren-dimento pode jogar contra eles por uma razão mais do que relevante: o preço. “Os produtores precisaram incorporar caros discos de estado sólido [SSD, na sigla em inglês] para reduzir peso e es-pessura, aumentar a vida da bateria e reduzir o tempo de inicialização e rei-nicialização”.

A especialista afirma que a propos-ta dos ultrabooks de combinar o melhor dos laptops e dos tablets só pode ser um forte gerador de vendas se eles puderem cumprir a promessa de ter baixo custo e peso. “Cumprir apenas metade da pro-messa, oferecendo um laptop leve, não será suficiente para atrair os consumi-dores”, avalia.

Ainda assim, há aqueles mais otimis-tas, como a empresa de pesquisa de mer-cado IHS, que em seu relatório iSuppli Compute Platforms Service prevê que,

em 2012, os ultrabooks conseguirão abo-canhar a 13% do segmento de portáteis, subindo para 28% em 2013 e 38% em 2014, praticamente substituindo os net-books e roubando uma boa fatia de mer-cado dos notebooks.

UltracorporativosDe que forma esses dispositivos aten-derão às empresas e com quais caracte-rísticas? Segundo Juan Carlos Barroux, gerente da Intel para Bolívia, Chile e Pa-raguai, os dispositivos contam com solu-ções específicas e úteis para os clientes de diferentes empresas. “Esses equi-pamentos vêm com sistemas operacio-nais Windows Enterprise, ideais para os clientes empresariais, além de contar com a tecnologia Intel de Proteção à Se-gurança [IPT, na sigla em inglês]”. Essa tecnologia permite armazenar todas as informações de forma criptografada no disco. “Somado ao baixo tempo de ini-cialização e reinicialização e às dez ho-ras de bateria, ele se torna indispensável

para executivos e funcionários em deslo-camento”, conclui Barroux.

Outras características úteis para em-presas, mas não exclusivas desses mo-delos, são a integração, dentro de alguns meses, do novo processador da Intel com tecnologia Ivy Bridge. Trata-se de uma engenharia totalmente nova que substi-tuirá os tradicionais transistores planos por um modelo em três dimensões, au-mentando a potência e a eficiência no uso de energia. A Ivy Bridge incluirá tam-bém o USB 3.0 para transferência rápi-da de arquivos e um sistema que permite mostrar até três saídas de vídeo indepen-dentes, o que pode ser útil em conferên-cias e apresentações.

Dentro das opções para empresas, já está disponível na América Latina o HP Folio 13. Mas praticamente todas as marcas anunciaram produtos com essas características para meados do ano, in-cluindo Lenovo, Dell e Samsung.

“Daqui até o final de 2012, 40% do total de ultrabooks será especificamen-te para empresas”, afirma Barroux, da Intel. Que expectativas há com relação à adoção desses sistemas? Segundo o executivo, embora os parques de equi-pamentos se renovem ao longo de pe-ríodos de tempo, a aceitação dos ultra-books deve ser ampla no ambiente dos executivos com alto grau de mobilidade. “Claramente, também é um case de mar- keting, da imagem que a empresa quer projetar: os ultrabooks são equipamen-tos elegantes que demonstram ter o que há de mais avançado em tecnologia e de-sign”, aponta.

é o valor máximo que deve custarum ultraportátilpara ser atraenteao consumidor

US$ 1 mil

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OPINIÃO

“Dilmaplocia”

Mac Margolis é correspondente de longa data da revista Newsweek. Realiza reportagens sobre o Brasil,

outros países da América Latina e os mercados emergentes, e já colaborou para diversas outras publicações, entre elas The Economist, The Washington Post e The Los Angeles Times.

No início do ano passado, quando Dilma Rousseff assumiu a Pre-sidência, a especulação fervia.

Parte dos observadores internacionais temia que ela mantivesse a diplomacia tendenciosa da era Lula, seu padrinho e feitor político. Outra metade temia que ela recuasse. Mais de um ano, algumas viagens presidenciais e muito palavrea- do depois, as dúvidas permanecem. Que a política internacional desse país em ascensão está passando por trans-formações, ninguém duvida. Para onde vai é que ninguém sabe. A única certeza é que ficar como estava, não podia.

Na gestão Lula, a historicamente discreta e objetiva política externa to-mou anabolizantes. O petista decola-va mundo afora, exortando os países emergentes a assumirem o protagonis-mo na nova geografia do poder global. Tal como João Havelange, o ex-chefão da Fifa, que construiu seu império ao levar a franquia do futebol global aos cafundós, Lula foi longe para estampar seu marco no mundo. Abriu mais de 60 embaixadas e consulados, tornando cada país um seu aliado em potencial na tentativa de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A caminho, alfine-tou as potências ocidentais (honras para os EUA) e os responsáveis pela crise fi-nanceira mundial (aquela gente “branca

e de olhos azuis”). Travou uma nova guerra fria à brasileira, uma reprise tur-binada da política externa ativa e altiva da época militar.

E agora? No governo Dilma há dis-cretos, porém claros, sinais de mudan-ça. Foi-se o ranço antiamericano, o síla-bo marxista obrigatório dos formandos do Instituto Rio Branco e os afagos aos tiranos de Teerã a Pyongyang. Antes mesmo de tomar posse na Presidência, em entrevista ao Washington Post, Dil-ma criou celeuma ao criticar a política de Brasília pela indesculpável vista grossa aos abusos de direitos humanos no Irã. Parecia a senha de que a época Lula havia terminado.

Uma vez no Planalto, calibrou o dis-curso. A diplomacia de Dilma absteve--se na resolução da ONU que condenou a violência da repressão do governo líbio contra civis. Tampouco endossou a censura à Síria, cuja sangrenta repres-são à rebelião das ruas imprimia um novo padrão de barbárie à Primavera Árabe. E a mesma Dilma que deplorara a prática “medieval” de apedrejar mu-lheres não encontrou espaço na agenda para receber Shirin Ebadi quando a No-bel da Paz iraniana esteve no país.

Mas em novembro, Brasília saiu do muro. Trocou o “abstencionismo” pela condenação inequívoca da brutalidade do regime de Bashar Al-Assad, uma verdadeira “libertação da camisa de for-

ça” que impedia nações em desenvolvi-mento de criticar uns aos outros, segun-do Human Rights Watch. Tampouco passou despercebido o esfriamento com o Irã quando em janeiro, no auge da crise sobre seu duvidoso programa nuclear, Mahmoud Ahmadinejad fez um giro pela América Latina, sem esca-la no Brasil. Em vez de Dilma, seu cice-rone foi o venezuelano Hugo Chávez, o combalido supremo da inexpressiva aliança bolivariana. Em abril, Dilma irá a Washington para seu segundo encon-tro com o presidente Barack Obama em pouco mais de um ano, pondo fim ao estremecimento entre os gigantes das Américas desde a época Lula.

Já na viagem da presidente a Cuba, Brasília ficou no meio do caminho. Dilma levou a tiracolo uma delegação de empreiteiras, deixando claro que in-teresses comerciais e não ideológicos pautariam as relações bilaterais. Esca-pou de uma saia justa ao conceder visto à blogueira dissidente Yoani Sanchez, devolvendo a Havana o ônus da decisão de deixá-la viajar ao Brasil ou não. Mas ao ignorar os oposicionistas cubanos e ainda, ao lado de Raul Castro, bater o tambor contra abusos de direitos huma-nos dos Estados Unidos, ela virou alvo fácil das mesmas críticas da era Lula.

A diferença, talvez, seja mais no tom do que no teor. Hoje, não são afinida-des ideológicas que regem os laços do Brasil com o mundo, senão oportunida-des econômicas e comerciais. Cinismo? Hipocrisia mercantilista? Talvez. Mas atire a primeira pedra a grande potên-cia que não subscreva a essa cartilha de realpolitik. São críticas duras, mas fa-miliares, de um Brasil menos exaltado e mais centrado em seus interesses. Se a política da era Dilma ainda não disse a que veio, pelo menos deixou de ser a tempestade que havia virado ultima-mente. A guerra fria à brasileira acabou. O que virá depois, ainda se desenha. Il

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