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146 www.backstage.com.br NO PALCO ENGENHEIROS omo se reinventar? É o tipo de pergunta que, quando feita, pode ser facilmente vista como a representação de que existe algo de errado com um artista, uma banda ou com um profissional qualquer. Todavia, para todos os artistas que têm na constante reinvenção um processo natural, a evolu- ção como um grupo coeso é muito mais fácil e tangível. E é dessa forma, constantemente se recriando, que o Enge- nheiros do Hawaii vem seguindo seu percurso desde o seu surgimento, em 1984, na época como um quarteto de estu- Rogério Leão [email protected] C do Hawaii No palco com dantes de Porto Alegre, formado por Humberto Gessinger e Carlos Stein nas guitarras, Marcelo Pitz no baixo e Carlos Maltz na bateria. O grupo não demorou muito para, em 1987, de forma merecida, mas quase meteórica, des- pontar para a mídia com o seu segundo álbum, “Revolta dos Dandis”, que emplacou hits como “Terra de Gigantes”, “Infinita Highway” e “Refrão de Bolero”. De lá para cá a banda já passou pelas mais diversas combi- nações e por várias fases musicais diferentes. Variando de trio Em maio, no palco do Canecão, o Engenheiros do Hawaii apresentou a turnê do disco “Novos Horizontes” e mostrou como uma das bandas mais antigas do pop rock brasileiro consegue se manter atual e ainda assim conservar a legião de fãs fervorosos que há tantos anos o seguem

NO PALCO No palco com ENGENHEIROS do Hawaii · teclados, uma escaleta e um simulador de Leslie. Um dos teclados, um Nord Electro2, era igual ao de Humberto e usado com o mesmo propósito:

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NO PALCO

ENGENHEIROS

omo se reinventar? É o tipo de pergunta que, quando

feita, pode ser facilmente vista como a representação de

que existe algo de errado com um artista, uma banda ou com

um profissional qualquer. Todavia, para todos os artistas que

têm na constante reinvenção um processo natural, a evolu-

ção como um grupo coeso é muito mais fácil e tangível.

E é dessa forma, constantemente se recriando, que o Enge-

nheiros do Hawaii vem seguindo seu percurso desde o seu

surgimento, em 1984, na época como um quarteto de estu-

Rogério Leã[email protected]

C

do Hawaii

No palco com

dantes de Porto Alegre, formado por Humberto Gessinger

e Carlos Stein nas guitarras, Marcelo Pitz no baixo e

Carlos Maltz na bateria. O grupo não demorou muito para,

em 1987, de forma merecida, mas quase meteórica, des-

pontar para a mídia com o seu segundo álbum, “Revolta

dos Dandis”, que emplacou hits como “Terra de Gigantes”,

“Infinita Highway” e “Refrão de Bolero”.

De lá para cá a banda já passou pelas mais diversas combi-

nações e por várias fases musicais diferentes. Variando de trio

Em maio, no palco do Canecão, o Engenheiros do Hawaii apresentou aturnê do disco “Novos Horizontes” e mostrou como uma das bandas maisantigas do pop rock brasileiro consegue se manter atual e ainda assimconservar a legião de fãs fervorosos que há tantos anos o seguem

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NO PALCO

a quinteto, manteve de seus integrantes

originais apenas o vocalista e multiins-

trumentista “Humberto Gessinger”,

que afirma ter até hoje um bom relacio-

namento com seus antigos parceiros. E

chama a atenção para a prova dessa boa

convivência, que é o fato de durante a

gravação do último CD e DVD da

banda, outro integrante original, o

baterista Carlos Maltz, que permane-

ceu durante nove CDs no conjunto

até o ano de 1995, ter feito participa-

ção especial na música “Cinza”.

“Muitas pessoas costumam chegar

para mim e falar que gostavam da

banda como ela era e não gostam

mais, ou que não gostavam da banda

antigamente e hoje em dia gostam. Eu

respeito muito isso. Hoje em dia eu

vejo que isso é uma coisa de momen-

to. Não só do momento do artista,

que muda com o tempo, mas dos ou-

vidos do público também. A gente

mesmo pode ouvir um CD ou uma

banda da qual há alguns anos não gos-

tava. Eu acho cada vez mais que essa

coisa mora mais no ouvinte do que no

músico propriamente dito. Vinte por

cento é o que o artista faz e oitenta

por cento é como você mesmo ouve

aquilo”, afirma Humberto.

Nos shows que aconteceram no Ca-

necão, o lugar no palco foi de um

quarteto que incluiu, além de Hum-

berto, o guitarrista e violonista Fer-

nando Aranha, o baterista Gláucio

Ayala e o tecladista Pedro Augusto.

Esse quarteto representou mais um

momento de mudança na carreira do

grupo. O conjunto, que já vinha há al-

gum tempo tocando em um amplo for-

mato acústico, se adaptou ao formato

de um trio durante algumas apresenta-

ções no final do ano passado e teve

novamente um pouco do gosto do

rock, quando em alguns shows se apre-

sentou novamente como um quarteto.

As mudanças então foram grandes.

Depois de Humberto permanecer já

há algum tempo delegado à viola cai-

pira, violão, bandolim, harmônico e

piano, a saída do baixista Bernardo

Fonseca e a mudança da concepção

acústica para a combinação de dife-

rentes formatos fez com que o con-

junto passasse a variar entre guitar-

ras, violões e teclados e Humberto

retornasse, depois de muitos anos, a

dividir ainda com seus outros instru-

mentos a função de baixista da banda.

O músico usou um Amplificador híbri-

do “SWR Bass 350”, que tem pré-am-

plificação valvulada e Power transis-

torizado durante todo o show. Ligado a

ele um baixo Richenbacker 4003 mo-

dificado. O instrumento teve a capta-

ção e toda a sua parte elétrica trocada

pela de um Steinberger em uma ten-

tativa de fundir em um só contra-

baixo as vantagens de dois tão distin-

tos instrumentos. No palco também

podia ser visto, entre os instrumen-

tos do músico, um Steinberger de cin-

co cordas, o instrumento que mais

marcou a imagem de Humberto como

baixista para o público, mas que não

foi usado durante todo o show.

“Depois da saída do Bernardo, eu vol-

tei ao baixo e aproveitei esse momen-

to para voltar a plugar. O show é me-

No palco também podia ser visto, entre os instrumentosdo músico, um Steinberger de cinco cordas, o

instrumento que mais marcou a imagem de Humbertocomo baixista para o público, mas que não foi usado

durante todo o show

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NO PALCO

tade acústico e metade plugado. De-

pois de tocar baixo durante dez discos,

eu fiquei muito tempo sem tocar e meus

baixos estavam todos empoeirados.

Na hora de voltar e escolher um bai-

xo para tocar, eu peguei esse baixo

porque era o único que estava com

umas cordas boas e surpreendentemen-

te ele acabou soando bem aos meus ou-

vidos e se impondo, até na opinião da

banda também. Ele é um Rickenbacker

meio Frankenstein em que eu botei os

captadores de um Steinberger na tenta-

tiva de juntar o melhor dos dois baixos.

O que na época acabou virando o pior

dos dois, hoje em dia já soa bem para

mim”, revela Humberto.

Também, segundo o artista, por ques-

tões de variedade timbrística e de re-

cursos de composição, há muitos

anos ele já tem uma tendência de usar

instrumentos variados durante uma

mesma apresentação e diversos ins-

trumentos circundavam os contra-

baixos do músico. Em uma espaçosa

plataforma redonda estavam dois te-

clados, um Nord Electro2 e um Korg

MicroX. O primeiro era usado para os

timbres mais variados, enquanto o se-

gundo era usado para linhas de baixo

sintetizado. Muitas gaitas com

diferentes afinações foram uti-

lizadas, mas, apesar de ainda

usar ao vivo uma viola caipira

eletroacústica Giannini, Hum-

berto ficou a maior parte do

tempo delegado ao contra-

baixo e ao teclado deixando

mais espaço para o guitarrista e

violonista Fernando Aranha.

“O Aranha entrou para o acústico

MTV como um segundo violão para

dar um reforço. A gente tinha uma ne-

cessidade de não perder potência quan-

do deixamos as guitarras, já que iríamos

continuar tocando mais ou

menos nos mesmos lugares. Por

isso, durante muito tempo, o

Aranha foi mais visto como vi-

olonista, mas a forma de ele to-

car, que é bem particular, aca-

bou abrindo mais e mais espaço

para ele”, diz Humberto. O gui-

tarrista variou entre um violão

de aço Dreadnought da Mar-

tin&Co., um violão Thinline

de nylon e uma guitarra Fender Tele-

caster Nashvile que tem um terceiro

captador na posição intermediária en-

tre o do braço e o da ponte.

No palco também poderia ser visto

um amplificador Fender HotRod

Deville com quatro alto-falantes de

dez polegadas e um case de pedais

Landscape que continha um multi-

efeitos AG-Stomp da Yamaha usado

exclusivamente para os dois instru-

mentos acústicos, um afinador da Boss

e cinco pedais. Os pedais eram um com-

pressor Dynacomp da Mxr, um Ibanez

Tubescreamer TS9, um Tremoland da

Dynaboxxe dois pedais de delay. Entre

eles, um outro pedal da Dynaboxx, um

Echo Machine e um Line6 Echo Park.

O tecladista Pedro Augusto se apresen-

tou atrás do que poderia parecer um pi-

ano elétrico com as palavras “Novos

Horizontes”, mas era na verdade um

artifício cenográfico que escondia dois

teclados, uma escaleta e um simulador

de Leslie. Um dos teclados, um Nord

Electro2, era igual ao de Humberto e

usado com o mesmo propósito: exclusi-

vamente para timbres de piano. Uma

reminiscência do acústico. O outro

teclado é na verdade um órgão. O

Hammond xk-2 é usado passando por

um Hughes&Kettner Rotosphere, um

simulador de Leslie valvulado fabrica-

Os pedais eram umcompressor Dynacomp

da Mxr, um IbanezTubescreamer TS9, um

Tremoland daDynaboxxe dois pedais

de delay

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NO PALCO

do na Alemanha. Já o baterista Gláucio

Ayala, que assim como Pedro Augusto,

já está na banda desde 2001, usou uma

bateria da marca nacional RMV e pra-

tos da americana Paiste. Duas empresas

com quem o músico e eventual fotógra-

fo mantêm contratos de patrocínio.

Os dois músicos, juntamente com

Fernando Aranha, são uma combina-

ção que Humberto faz questão de elo-

giar, não só por suas capacidades mu-

sicais, mas por suas personalidades.

“Eu me coloco na posição dos músi-

cos que entram para a banda, porque é

muito complicado entrar para um

grupo que já tem um passado. Ao

mesmo tempo em que você tem sua

própria assinatura, existe uma histó-

ria que não dá para desconhecer. De-

mora um tempo. É como uma relação

orgânica mesmo”, conclui.

Depois de um longo processo de

adaptação, hoje, todos os músicos

usam exclusivamente monitores in

ear e, como com quase todos os artis-

tas que já cederam a essa facilidade, o

princípio se deu por repetidas suges-

tões da equipe técnica. Nesse caso, o

responsável é o profissional mais anti-

go da equipe, o técnico de monitores

Alexandre Alves, ou Máster. Alexan-

dre é o único profissional que já traba-

lha com o conjunto desde o início em

Porto Alegre. De 1986 para cá ele

também já trabalhou como técnico

de PA, mas depois desses 22 anos aca-

bou se estabelecendo exclusivamente

como técnico de retorno e deixando

o PA nas mãos de Marcelo Oliveira.

Dois roadies fazem a assistência aos

quatro músicos e como se era de esperar,

não só por ser o maior foco de atenção,

mas também pela quantidade de mu-

danças de instrumentos e equipamen-

tos, Humberto Gessinger tem um dos

roadies, Anderson Engel, especialmen-

te preparado para ele, enquanto os ou-

tros três músicos trabalham com a aju-

da de Rodrigo Guerreiro.

O que não pode deixar de ser notado

em um show como esse é que os cuida-

dos com a apresentação vão muito além

de um bom timbre de voz. A mesma ilu-

minação e cenografia concebida por

Binho Schaefer e Isabelle Bittencourt

foi reproduzida em todos os shows da

turnê até os mínimos detalhes. Todo o

palco, junto com todos os cabos, estava

encoberto por tapeçaria roxa que com-

binava com o local para uma apresenta-

ção leve e lúdica em um ambiente ge-

ralmente tão escuro e opressor.

Os músicos fizeram boas apresentações e

as músicas, que em grande parte já fazem

parte da memória coletiva, estavam

muito bem arranjadas. Emoldurado pela

já citada bela cenografia, o show, com

produção de Luis Arnaldo Bortolon e

Marcio Figueredo, vale a pena ser visto

por todos, fãs ou não, do conjunto.

O que não pode deixarde ser notado em umshow como esse é que

os cuidados com aapresentação vão

muito além de um bomtimbre de voz