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NO PALCO
ENGENHEIROS
omo se reinventar? É o tipo de pergunta que, quando
feita, pode ser facilmente vista como a representação de
que existe algo de errado com um artista, uma banda ou com
um profissional qualquer. Todavia, para todos os artistas que
têm na constante reinvenção um processo natural, a evolu-
ção como um grupo coeso é muito mais fácil e tangível.
E é dessa forma, constantemente se recriando, que o Enge-
nheiros do Hawaii vem seguindo seu percurso desde o seu
surgimento, em 1984, na época como um quarteto de estu-
Rogério Leã[email protected]
C
do Hawaii
No palco com
dantes de Porto Alegre, formado por Humberto Gessinger
e Carlos Stein nas guitarras, Marcelo Pitz no baixo e
Carlos Maltz na bateria. O grupo não demorou muito para,
em 1987, de forma merecida, mas quase meteórica, des-
pontar para a mídia com o seu segundo álbum, “Revolta
dos Dandis”, que emplacou hits como “Terra de Gigantes”,
“Infinita Highway” e “Refrão de Bolero”.
De lá para cá a banda já passou pelas mais diversas combi-
nações e por várias fases musicais diferentes. Variando de trio
Em maio, no palco do Canecão, o Engenheiros do Hawaii apresentou aturnê do disco “Novos Horizontes” e mostrou como uma das bandas maisantigas do pop rock brasileiro consegue se manter atual e ainda assimconservar a legião de fãs fervorosos que há tantos anos o seguem
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NO PALCO
a quinteto, manteve de seus integrantes
originais apenas o vocalista e multiins-
trumentista “Humberto Gessinger”,
que afirma ter até hoje um bom relacio-
namento com seus antigos parceiros. E
chama a atenção para a prova dessa boa
convivência, que é o fato de durante a
gravação do último CD e DVD da
banda, outro integrante original, o
baterista Carlos Maltz, que permane-
ceu durante nove CDs no conjunto
até o ano de 1995, ter feito participa-
ção especial na música “Cinza”.
“Muitas pessoas costumam chegar
para mim e falar que gostavam da
banda como ela era e não gostam
mais, ou que não gostavam da banda
antigamente e hoje em dia gostam. Eu
respeito muito isso. Hoje em dia eu
vejo que isso é uma coisa de momen-
to. Não só do momento do artista,
que muda com o tempo, mas dos ou-
vidos do público também. A gente
mesmo pode ouvir um CD ou uma
banda da qual há alguns anos não gos-
tava. Eu acho cada vez mais que essa
coisa mora mais no ouvinte do que no
músico propriamente dito. Vinte por
cento é o que o artista faz e oitenta
por cento é como você mesmo ouve
aquilo”, afirma Humberto.
Nos shows que aconteceram no Ca-
necão, o lugar no palco foi de um
quarteto que incluiu, além de Hum-
berto, o guitarrista e violonista Fer-
nando Aranha, o baterista Gláucio
Ayala e o tecladista Pedro Augusto.
Esse quarteto representou mais um
momento de mudança na carreira do
grupo. O conjunto, que já vinha há al-
gum tempo tocando em um amplo for-
mato acústico, se adaptou ao formato
de um trio durante algumas apresenta-
ções no final do ano passado e teve
novamente um pouco do gosto do
rock, quando em alguns shows se apre-
sentou novamente como um quarteto.
As mudanças então foram grandes.
Depois de Humberto permanecer já
há algum tempo delegado à viola cai-
pira, violão, bandolim, harmônico e
piano, a saída do baixista Bernardo
Fonseca e a mudança da concepção
acústica para a combinação de dife-
rentes formatos fez com que o con-
junto passasse a variar entre guitar-
ras, violões e teclados e Humberto
retornasse, depois de muitos anos, a
dividir ainda com seus outros instru-
mentos a função de baixista da banda.
O músico usou um Amplificador híbri-
do “SWR Bass 350”, que tem pré-am-
plificação valvulada e Power transis-
torizado durante todo o show. Ligado a
ele um baixo Richenbacker 4003 mo-
dificado. O instrumento teve a capta-
ção e toda a sua parte elétrica trocada
pela de um Steinberger em uma ten-
tativa de fundir em um só contra-
baixo as vantagens de dois tão distin-
tos instrumentos. No palco também
podia ser visto, entre os instrumen-
tos do músico, um Steinberger de cin-
co cordas, o instrumento que mais
marcou a imagem de Humberto como
baixista para o público, mas que não
foi usado durante todo o show.
“Depois da saída do Bernardo, eu vol-
tei ao baixo e aproveitei esse momen-
to para voltar a plugar. O show é me-
No palco também podia ser visto, entre os instrumentosdo músico, um Steinberger de cinco cordas, o
instrumento que mais marcou a imagem de Humbertocomo baixista para o público, mas que não foi usado
durante todo o show
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tade acústico e metade plugado. De-
pois de tocar baixo durante dez discos,
eu fiquei muito tempo sem tocar e meus
baixos estavam todos empoeirados.
Na hora de voltar e escolher um bai-
xo para tocar, eu peguei esse baixo
porque era o único que estava com
umas cordas boas e surpreendentemen-
te ele acabou soando bem aos meus ou-
vidos e se impondo, até na opinião da
banda também. Ele é um Rickenbacker
meio Frankenstein em que eu botei os
captadores de um Steinberger na tenta-
tiva de juntar o melhor dos dois baixos.
O que na época acabou virando o pior
dos dois, hoje em dia já soa bem para
mim”, revela Humberto.
Também, segundo o artista, por ques-
tões de variedade timbrística e de re-
cursos de composição, há muitos
anos ele já tem uma tendência de usar
instrumentos variados durante uma
mesma apresentação e diversos ins-
trumentos circundavam os contra-
baixos do músico. Em uma espaçosa
plataforma redonda estavam dois te-
clados, um Nord Electro2 e um Korg
MicroX. O primeiro era usado para os
timbres mais variados, enquanto o se-
gundo era usado para linhas de baixo
sintetizado. Muitas gaitas com
diferentes afinações foram uti-
lizadas, mas, apesar de ainda
usar ao vivo uma viola caipira
eletroacústica Giannini, Hum-
berto ficou a maior parte do
tempo delegado ao contra-
baixo e ao teclado deixando
mais espaço para o guitarrista e
violonista Fernando Aranha.
“O Aranha entrou para o acústico
MTV como um segundo violão para
dar um reforço. A gente tinha uma ne-
cessidade de não perder potência quan-
do deixamos as guitarras, já que iríamos
continuar tocando mais ou
menos nos mesmos lugares. Por
isso, durante muito tempo, o
Aranha foi mais visto como vi-
olonista, mas a forma de ele to-
car, que é bem particular, aca-
bou abrindo mais e mais espaço
para ele”, diz Humberto. O gui-
tarrista variou entre um violão
de aço Dreadnought da Mar-
tin&Co., um violão Thinline
de nylon e uma guitarra Fender Tele-
caster Nashvile que tem um terceiro
captador na posição intermediária en-
tre o do braço e o da ponte.
No palco também poderia ser visto
um amplificador Fender HotRod
Deville com quatro alto-falantes de
dez polegadas e um case de pedais
Landscape que continha um multi-
efeitos AG-Stomp da Yamaha usado
exclusivamente para os dois instru-
mentos acústicos, um afinador da Boss
e cinco pedais. Os pedais eram um com-
pressor Dynacomp da Mxr, um Ibanez
Tubescreamer TS9, um Tremoland da
Dynaboxxe dois pedais de delay. Entre
eles, um outro pedal da Dynaboxx, um
Echo Machine e um Line6 Echo Park.
O tecladista Pedro Augusto se apresen-
tou atrás do que poderia parecer um pi-
ano elétrico com as palavras “Novos
Horizontes”, mas era na verdade um
artifício cenográfico que escondia dois
teclados, uma escaleta e um simulador
de Leslie. Um dos teclados, um Nord
Electro2, era igual ao de Humberto e
usado com o mesmo propósito: exclusi-
vamente para timbres de piano. Uma
reminiscência do acústico. O outro
teclado é na verdade um órgão. O
Hammond xk-2 é usado passando por
um Hughes&Kettner Rotosphere, um
simulador de Leslie valvulado fabrica-
Os pedais eram umcompressor Dynacomp
da Mxr, um IbanezTubescreamer TS9, um
Tremoland daDynaboxxe dois pedais
de delay
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NO PALCO
do na Alemanha. Já o baterista Gláucio
Ayala, que assim como Pedro Augusto,
já está na banda desde 2001, usou uma
bateria da marca nacional RMV e pra-
tos da americana Paiste. Duas empresas
com quem o músico e eventual fotógra-
fo mantêm contratos de patrocínio.
Os dois músicos, juntamente com
Fernando Aranha, são uma combina-
ção que Humberto faz questão de elo-
giar, não só por suas capacidades mu-
sicais, mas por suas personalidades.
“Eu me coloco na posição dos músi-
cos que entram para a banda, porque é
muito complicado entrar para um
grupo que já tem um passado. Ao
mesmo tempo em que você tem sua
própria assinatura, existe uma histó-
ria que não dá para desconhecer. De-
mora um tempo. É como uma relação
orgânica mesmo”, conclui.
Depois de um longo processo de
adaptação, hoje, todos os músicos
usam exclusivamente monitores in
ear e, como com quase todos os artis-
tas que já cederam a essa facilidade, o
princípio se deu por repetidas suges-
tões da equipe técnica. Nesse caso, o
responsável é o profissional mais anti-
go da equipe, o técnico de monitores
Alexandre Alves, ou Máster. Alexan-
dre é o único profissional que já traba-
lha com o conjunto desde o início em
Porto Alegre. De 1986 para cá ele
também já trabalhou como técnico
de PA, mas depois desses 22 anos aca-
bou se estabelecendo exclusivamente
como técnico de retorno e deixando
o PA nas mãos de Marcelo Oliveira.
Dois roadies fazem a assistência aos
quatro músicos e como se era de esperar,
não só por ser o maior foco de atenção,
mas também pela quantidade de mu-
danças de instrumentos e equipamen-
tos, Humberto Gessinger tem um dos
roadies, Anderson Engel, especialmen-
te preparado para ele, enquanto os ou-
tros três músicos trabalham com a aju-
da de Rodrigo Guerreiro.
O que não pode deixar de ser notado
em um show como esse é que os cuida-
dos com a apresentação vão muito além
de um bom timbre de voz. A mesma ilu-
minação e cenografia concebida por
Binho Schaefer e Isabelle Bittencourt
foi reproduzida em todos os shows da
turnê até os mínimos detalhes. Todo o
palco, junto com todos os cabos, estava
encoberto por tapeçaria roxa que com-
binava com o local para uma apresenta-
ção leve e lúdica em um ambiente ge-
ralmente tão escuro e opressor.
Os músicos fizeram boas apresentações e
as músicas, que em grande parte já fazem
parte da memória coletiva, estavam
muito bem arranjadas. Emoldurado pela
já citada bela cenografia, o show, com
produção de Luis Arnaldo Bortolon e
Marcio Figueredo, vale a pena ser visto
por todos, fãs ou não, do conjunto.
O que não pode deixarde ser notado em umshow como esse é que
os cuidados com aapresentação vão
muito além de um bomtimbre de voz