No Reino Do Supérfluo - Porcelanas, Sedas e Balangandãs - Uma História Dos Produtos de Luxo Em Circulação No Atlântico Setecentista

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  • 7/21/2019 No Reino Do Suprfluo - Porcelanas, Sedas e Balangands - Uma Histria Dos Produtos de Luxo Em Circulao No

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    XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSO JEPEX 2013 UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

    NO REINO DO SUPRFLUO: PORCELANAS, SEDAS EBALANGANDS: UMA HISTRIA DOS PRODUTOS DE LUXO EM

    CIRCULAO NO ATLNTICO SETECENTISTA.

    Luanna M Ventura dos Santos Oliveira1, Suely Creusa Cordeiro de Almeida2

    Introduo

    H alguns anos a historiografia brasileira alargou o seu elenco de objetos de estudos permitindo-se investigar temasque no estivessem ligados exclusivamente histria poltica ou econmica. Assim, tratar de como a sociedadepernambucana conviveu e se utilizou de objetos de luxo, torna-se um tema de pesquisa histrica legtimo. Mensurargostos, tendncias e modas, e ao mesmo tempo, que permite perscrutar como esses produtos aqui chegaram e a quedemandas atendiam, bem como, quais foram s estratgias para comercializao dos mesmos no Recife colonial,configura-se em uma pesquisa com carga de ineditismos e que trar novas questes a historiografia pernambucana ebrasileira. Esse trabalho, portanto pretende investigar como se deu a circulao de mercadorias, mas tambm as ideiassobre gostos e tendncias, no que tange aos objetos hoje considerados suprfluos nos setecentos pernambucano.

    Analisando a circulao de mercadoria que chegavam ao porto do Recife no sculo XVIII, qual o perfil dosconsumidores e como os altos funcionrios da coroa portuguesa interagiam com a legalidade e ilegalidade das cargasdesembarcada. Desvendar as engrenagens que permitiam a existncia de um comercio legal e ilegal; observar aparticipao dos funcionrios da coroa portuguesa nas operaes porturias; Analisar como a sociedade absorvia essesprodutos; esclarecer como esses produtos chegavam aos pontos de vendas e quem os vendia.

    Material e mtodos

    1-Proceder a uma leitura exploratria sobre o assunto na produo historiogrfica disponvel, etapa fundamental paraa formao de um domnio geral sobre o tema;

    2-Realizar uma iniciao a Metodologia da Histria do paradigma indicirio e da micro - historia, comoinstrumentos de enquadre que propicie anlise da temtica;

    3- Proceder ao levantamento dos Avulsos de Pernambuco, material digitalizado pelo Projeto Resgate que se encontradisponvel na Universidade Federal Rural de Pernambuco, no Laboratrio de Histria da Ps-Graduao em Histria,oriundas do Arquivo Histrico Ultramarino;

    4- Investigar a temtica nos fundos disponveis em Pernambuco.

    Resultados e Discusso

    Conseguimos alcanar ao longo desta pesquisa nossos objetivos, primeiramente desvendamos as engrenagens quepermitiram a existncia de um comrcio legal e ilegal. Separamos esse resultado em quatro perguntas chaves que iremosexpor e mostrar o resultado das mesmas:

    1) O que no poderia entrar na alfndega de Pernambuco? No poderiam entrar na alfndega produtos que estavamexpressos nas Ordens rgias, especificamente em uma lista que proibia a entrada dos produtos que estavamdescritos na mesma, entre eles estavam: cordes de fio de ouro e prata, sedas, rendas, que no forem feitas noreino, faqueiros, cristais, chocolateiras, caixinhas de po para aparelho de ch, louas de toda qualidade e exceto asdas ndias e nossas fbricas e at mveis para adornos das casas de fora do reino.3

    2) O que entrava legalmente pela alfndega de Pernambuco: No perodo que delimitamos para analisar os produtosde luxo, foi o perodo em que a Companhia de Pernambuco e Paraba detinha o monoplio de importao dosprodutos advindos da metrpole, encontramos em nossa investigao no AHU as encomendas realizadas pelaCompanhia dos anos 1760 a 1776 a Real Fbrica das Sedas, entre eles estavam: Sedas, gales de ouro e prata,pentes de Marfim, Chapus, fitas sortidas; porm analisando as encomendas desse perodo, encontramos apredominncia da seja, seja em cvados, em meias ou fitas como o produto mais rentvel para a Companhia, Osprodutos de seda tiveram o percentual de 86% do valor de todas as encomendas feitas pela Companhia dePernambuco e Paraba nos anos de 1760 a 1776.

    3) O que entrava ilegalmente pela alfndega de Pernambuco: Vrias embarcaes advindas de vrias capitaniasatracavam no Porto do Recife, abarrotadas de contrabando e os produtos de luxo, aparecem na documentao

    1 Primeiro Autor graduando do curso de Licenciatura em Histria pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e bolsistaPIBIC/CNPq/UFRPE [email protected]

    2 Segundo Autor professor Adjunto do Departamento de Histria, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)[email protected]

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    XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSO JEPEX 2013 UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

    entrando com selo da capitania de Bahia, vejamos um caso: Em 23 de novembro de 1775, foi apreendida umasumaca no porto do Recife, abarrotada de contrabando de artigos de luxo em caixas de acar, a embarcao vinhado porto do Uma, e os produtos estavam abarrotados em caixas de acar, entre esses produtos estavam: Peas deChitas da ndia, facas flamengas, peles marroquinas, Berlanha de Holanda, Druguete Rei, Sergilha de Frana entreoutros tipos de tecidos advindos de vrios lugares do mundo.4

    4) O que saia ilegalmente pelos portos de Pernambuco? Encontramos indcios do envolvimento dos senhores de

    engenho no contrabando de fazendas que as caixas de acar eram vendidas por preos exorbitantes para osSumangeiros que so da Capitania de Bahia.5As conexes entre as capitnias so ativas no perodo colonial,muitos produtos escoavam dos nossos portos para a Bahia.

    Outro objetivo de nossa investigao foi o de Observar como os funcionrios da coroa portuguesa interagiam nasoperaes porturias, primeiramente descobrimos que eles no eram inabilitados de suas funes tanto de justia, quantode fazenda, nos dar indcio que o contrabando era feito por funcionrios. Podemos citar nesse caso do embargo daCorveta de Santo Antnio que pertencia companhia de Pernambuco e Paraba, na documentao se fala sobre opagamento de fiana a alfandega como punio de se ter encontrado contrabando dentro da embarcao.6

    Identificamos que a prpria coroa ratificava a diferenciao entre metropolitanos e colonos as leis Pragmticas de1677 e 1749 e as leis de Suntuosidade 1742 e 1749 proibiam a utilizao de seda, veludo, ouro, prata, espadas e armasde fogo ou de smbolos de elevado status por habitantes da colnia.( Lara, 2007. P.89). Porm, quando o objeto de

    tais determinaes era predominante o elemento branco, a coroa e oficiais metropolitanos utilizavam uma tticadiferente, argumentando que os gastos com vestimentas, carruagens, palanquins, criados e lacaios constituam umdesperdcio para as economias locais, e que tais demonstraes exacerbavam tenses sociais latentes na colnia, espaoonde as desigualdades sociais e econmicas j se mostravam exacerbadas. ( Russell- Wood, 1998). Dentro desseuniverso de lutas travadas atravs de panos e smbolos, chegamos a concluso que os produtos de luxo eram essenciaispara a manunteo do teatro do poder da sociedade recifense do sculo XVIII.

    AgradecimentosGostaria de agradecer a minha querida Orientadora Profa. Dra. Suely Creusa Cordeiro de Almeida pela oportunidade

    de pesquisar esse tema e das orientaes dadas, pois sem elas no existiria este trabalho e ao CNPq/UFRPE quepossibilitou a execuo da pesquisa.

    RefernciasLara, Silvia Hunold. Fragmentos Setecentistas: escravido, cultura e poder Amrica portuguesa. So Paulo:Companhia das Letras, 2007.Leite, Jos Roberto Teixeira. As Companhias das ndias e a porcelana chinesa de encomenda. Salvador: FundaoCultural do Estado da Bahia, 1986.Maxwell, Kenneth. Chocolate, piratas e outros malandros: ensaios tropicais. So Paulo: Paz e Terra, 1999.Silva, Maria beatriz Nizza da, Ser Nobre na Colnia. So Paulo: Editora UNESP, 2005.Hespanha, Antnio Manuel. Imbecillitas: As bem-aventuranas da inferioridade nas sociedades do Antigo Regime. SoPaulo: Annablume,2010.Carreira, Antnio. As Companhias Pombalinas :de Gro-Par e Maranho e Pernambuco e Paraba. Lisboa: EditorialPresena,1982.Kohler, Carl. Histria do Vesturio.So Paulo: Editora: Martins Fontes, 2001.SILVA, Maria Bratriz Nizza da (Org.). Brasil: colonizao e escravido. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 183.BICALHO, Maria Fernanda; FRAGOSO, Joo; GOUVA, Maria de Ftima. O Antigo Regime nos trpicos. Rio deJaneiro: Civilizao Brasileira, 2001.Brancante,Eldino da Fonseca. O Brasil e Loua da ndia. So Paulo: Elvino Pocai,1950.

    Artigos:

    Dias, rika.A capitania de Pernambuco e a instalao da companhia geral de Comrcio.p.5. Encontrado no site:http://cvc.instituto-camoes.pt/eaar/coloquio/comunicacoes/erika_dias.pdfPIJNING, E. . Contrabando, ilegalidade e medidas polticas no Rio de Janeiro do sculo XVIII. Revista Brasileira deHistria, Sao Paulo, SP, v. 21, p. 398, 2001.

    3APEJE, arquivo permanentes, srie OR 14 Folha 139.4AHU_ACL_CU_015, Cx.121 D. 9245 09/12/1773- Cd PE5AHU_ACL_CU_015, Cx. 133, d. 100126AHU_ACL_CU_015,Cx.135, D. 10063

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    CHAVES, Cludia . O Outro lado do Imprio: as disputas mercantis e os conflitos de jurisdio no Imprio Luso-brasileiro. Topoi (Rio de Janeiro), v. 7, p. 163, 2006.LIMA, T. A. . Pratos e mais pratos: louas domsticas, divises culturais e limites sociais no Rio de Janeiro, sculoXIX. ANAIS DO MUSEU PAULISTA, HISTORIA E CULTURA MATERIAL (NOVA SERIE), SAO PAULO, v. 3,p. 129-191, 1996.LARA, Silvia H. Sedas, panos e balangands: o traje de senhoras e escravas nas cidades do Rio de Janeiro e de Salvador(sculo XVIII). In: SILVA, Maria Bratriz Nizza da (Org.). Brasil: colonizao e escravido. Rio de Janeiro: Nova

    Fronteira, 2000. p. 183.FERREIRA, Roquinaldo. Dinmica do comrcio intracolonial; Geribitas, panos asiticos e guerra no trfico angolanode escravos (sculo XVIII), p. 352-353.

    Manuscrito:

    APEJE Livros ManuscritosColeo Ordens RgiasO.R. 13,O.R. 14 e O.R. 15

    Arquivo Histrico Ultramarino ManuscritoAHU_ACL_CU_015, Cx.126 D. 9623 27/06/1777- Cd PEAHU_ACL_CU_015, Cx.121 D. 9245 09/12/1773- Cd PE

    AHU_ACL_CU_015, Cx. 133, D. 10012AHU_ACL_CU_015,Cx.135, D. 10063