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Nº140 MARÇO/2015 Vamos mostrar nossa cara e virar o jogo “Agora, eu sou uma estrela” Segundo Congresso da AE pp. 8 e 9 pp. 18 e 19 pp. 20 a 24 O PETRÓLEO É NOSSO pp. 6 e 7 Reforma política conservadora

Nº140 MARÇO/2015 O PETRÓLEO É NOSSO5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.rackcdn.com/... · da. Nas redes sociais e nos movimentos sociais ampliam-se as

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Nº140 MARÇO/2015

Vamos mostrar nossa cara e virar o jogo

“Agora, eu sou uma estrela”Segundo Congresso da AE pp. 8 e 9 pp. 18 e 19 pp. 20 a 24

O PETRÓLEO É NOSSO

pp. 6 e 7

Reforma política conservadora

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EDITORIAL

A escolha é nossaNada mais didático que o pro-

grama de televisão que o PMDB divul gou, em rede

nacional, no final de fevereiro de 2015. Para quem não viu, o programa começa atacando o Partido dos Tra-balhadores. E em nenhum momento é dito, nem mesmo pelos vários mi-nistros que dão seu depoimento, que o PMDB faz parte do governo Dilma Rousseff.

Nunca é demais lembrar: em recente congresso petista, a maio-ria votou a favor de resolução que considerava o PMDB nosso aliado prioritário.

Hoje o PMDB detém a vice--presidência da República, a presi-dência da Câmara dos Deputados e a presidência do Senado. Ou seja: o aliado prioritário está a postos para o que der e vier.

Enquanto isto, o PT vive um dilema hamletiano: não possui influência corres-pondente no governo, mas assume todo o ônus decorrente de ser o partido da presi-denta. No dia 26 de fevereiro, por exemplo, a maioria da executiva nacional do PT apro-vou uma resolução onde diz que as Medidas Provisórias 664 e 665 “têm o nosso apoio”.

Exatos vinte dias, o Diretório Nacio-nal do PT havia deliberado algo profunda-mente diferente. Diz a resolução aprovada pelo Diretório Nacional do PT, no dia 6 de fevereiro: “Apoiar a engajar a militância em mobilizações sociais, a exemplo das jornadas convocadas pela CUT e na orga-nização do 1º de Maio; Propor ao gover-no que dê continuidade ao debate com o movimento sindical e popular, no sentido de impedir que medidas necessárias de ajuste incidam sobre direitos conquistados – tal como a presidenta Dilma assegurou

na campanha e em seu mais recente pro-nunciamento. Nesse sentido, é necessário formalizar o processo de diálogo tripartite entre governo, partido e movimento sin-dical e popular, principalmente no que se refere às Medidas 664 e 665, bem como a definição de uma agenda comum pelas reformas democrático-populares”.

A resolução da CEN alterou o sentido do que foi aprovado pelo DN. Ao incluir a palavra “aperfeiçoar” e, principalmente, ao falar de “apoio”, a maioria da Executiva nacional comprometeu o PT com medidas provisórias de ajuste recessivo.

O que explica esta mudança de opinião? Entre outras coisas, a pressão do PMDB, que mandou dizer que só votaria a favor das MPs se o PT capitulasse. E a maioria da executi-va nacional –contra o voto de três dirigentes, entre os quais Bruno Elias, da Articulação de Esquerda—aceitou capitular, ainda que sem nenhuma convicção.

Ou seja: a maioria da executiva nacio-

nal do Partido dos Trabalhadores apoia as MPs contra as quais a Central Única dos Trabalhadores está convocando uma jornada de lutas. Em qualquer tempo este tipo de contradição seria grave. Na atual conjuntura, em que a oposição de direita está em plena ofensiva, inclusive convocando manifestações pelo impedimento da presidenta, este tipo de con-fusão é extremamente perigosa. E no fundo da confusão, está a “mãe de todos os problemas”: a estratégia do Partido.

Este é o tema central do Se-gundo Congresso da tendência petista Articulação de Esquerda (AE), responsável pela publicação do jornal Página 13. O Congres-

so da AE vai realizar-se entre os dias 2 e 5 de abril de 2015, no Instituto Cajamar (Via Anhanguera, km 46,5 – Jordanésia/SP).

Para nós, quatro coisas estão total-mente claras: 1) estamos diante de uma ofensiva nacional e também regional da direita; 2) existe uma saída política para a situação em que estamos; 3) a saída passa por adotar uma tática ofensiva e mudar de estratégia; 4) insistir na velha estratégia e adotar uma tática amedrontada equivale a colocar em risco a sobrevivência do PT.

Parte da atual direção nacional do PT não se deu conta disto e, ao invés de reagir à altura, parece entregar-se ao desânimo e a depressão. A nossa escolha é outra: com a política no comando, combater em defesa de nosso Partido e de nossa classe trabalhadora.

*Página 13 publica nesta edição home-

nagem a três companheiras vítimas de um brutal acidente automobilístico. Lurdinha, Célia e Rosângela: presentes!!!

EXPEDIENTEPágina 13 é um jornal publicado sob responsabilidade da direção nacional da Articulação de Esquerda, tendência interna do Partido dos Trabalhadores. Circulação interna ao PT. Matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição da tendência.

Direção Nacional da AE: Adilson Nascimento dos Santos (MS), Adriana Miranda (DF), Adriano Oliveira (RS), Aila Marques (CE), Ana Afonso (RS), Ana Lúcia (SE), Ana Rita (ES), Beto Aguiar (RS), Bruno Elias (DF), Damarci Olivi (MS), Daniela Matos (MG), Denise Cerqueira Vieira (TO), Denize Silva de Oliveira (MS), Dionilso Marcon (RS), Edma Walker (SP), Eduardo Loureiro (GO), Emílio Font (ES), Expedito Solaney (PE), Fabiana Malheiros (ES), Fabiana Rocha (ES), Iole Iliada (SP), Iriny Lopes (ES), Isaias Dias (SP), Jandyra Uehara (SP), Janeth Anne de Almeida (SC), Joel Almeida (SE), Jonatas Moreth (DF), José Gilderlei (RN), Laudicéia Schuaba (ES), Leyse Souza Cruz (ES), Lício Lobo (SP), Lúcia Maria Barroso Vieira (SE), Marcel Frison (RS), Marcelo Mascarenha (PI), Marco Aurélio Moreira Rocha (MG), Mario Candido (PR), Múcio Magalhães (PE), Olavo Carneiro (RJ), Pere Petit (PA), Rafael Tomyama (CE), Raquel Esteves (PE), Rosana Ramos (DF), Rafael Pops (DF), Rubens Alves (MS), Sílvia de Lemos Vasques (RS), Sonia Hypólito (DF), Teresinha Fernandes (MA), Ubiratan Félix (BA), Valter Pomar (SP). Comissão de ética nacional: Eleandra Raquel Koch (RS), Rodrigo César (SP) e Wagner Lino (SP).

Edição: Valter Pomar e Adriana Miranda Diagramação: Cláudio Gonzalez (Mtb 28961) Secretaria Gráfica e Assinaturas: Edma Walker [email protected] Endereço para correspondência: R. Silveira Martins, 147 conj. 11 - Centro - São Paulo - SP - CEP 01019-000 Acesse: www.pagina13.org.br

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A luta por mudanças no sistema po-lítico brasileiro vive um momento decisivo. Desde a eleição de Edu-

ardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados, a direita mudou a tática e está em plena ofensiva no debate da reforma política. Se antes os setores con-servadores atuavam para impedir a aprova-ção dos projetos da esquerda no Congresso Nacional, agora intencionam aprovar sua própria proposta de reforma política.

Um dos primeiros atos do atual presi-dente da Câmara foi avocar para o plená-rio da Câmara dos Deputados a aprovação da admissibilidade constitucional da PEC 352/13, que estava até então na Comissão da Constituição e Justiça. Desde 2013, o PT e a sua bancada tem posição contrária à PEC por considerá-la uma contra-reforma política. A proposta de emenda constitu-cionaliza o financiamento das empresas às campanhas eleitorais e aos partidos polí-ticos.

Além disso, inclui medidas como uma modalidade de voto distrital, o voto facultativo, o fim da reeleição para cargos no Executivo, a coincidência das eleições em todos os níveis, a criação de cláusula de barreira, a unificação do prazo mínimo de filiação para a elegibilidade em seis meses, entre outros retrocessos.

Com a aprovação no plenário da Câ-mara, foi constituída uma comissão espe-cial com 34 deputados. A esquerda é mino-ritária na comissão e sua presidência ficou com o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e a relatoria com o deputado Marcelo Cas-tro (PMDB-PI).

No Senado, a apreciação de um con-junto de projetos também estão sendo acelerados, contemplando pontos como coligações nas eleições proporcionais, fi-nanciamento de campanha, duração de mandatos, prestação de contas eleitorais, participação das mulheres nas listas par-tidárias, etc.

Para incidir nas próximas eleições, a direita trabalha com a meta de aprovar a contra-reforma no Congresso até o final de

setembro e atua em jogo combinado com o ministro do STF Gilmar Mendes, que atrasa o julgamento da Ação de Inconsti-tucionalidade (ADI 4650) de iniciativa da OAB que propõe o fim do financiamento empresarial.

No STF, a ação já alcançou a maioria de 6 a 1 favorável à proibição. No entan-to, se a PEC da contra-reforma política for aprovada neste meio tempo, constitucio-nalizando o financiamento empresarial, corremos o risco da ação ser prejudica-da. Nas redes sociais e nos movimentos sociais ampliam-se as iniciativas com o mote “Devolve, Gilmar” e no próximo dia 2 de abril completa uma ano que o ministro retém a ação, momento pra lá de oportuno para mobilizações contra o financiamento empresarial e pela reforma política.

No mesmo sentido, a articulação das campanhas da esquerda e do movimento social retomam suas atividades. No dia 13 de março, a campanha pela Constituinte exclusiva e soberana do sistema político unificará seu dia nacional de lutas com a mobilização convocada pela CUT e movi-mentos sociais contra a retirada de direitos e em defesa da Petrobras e da reforma po-lítica. Sem prejuízo a reivindicações pon-tuais e imediatas, a luta pela constituinte é fundamental para dar voz ao povo na realização de uma mudança estrutural do sistema político.

Desde a coleta dos quase oito mi-lhões de votos em setembro de 2014, a campanha passou a dirigir seus esforços para transformar a pergunta do plebiscito popular (“Você é a favor de uma consti-tuinte exclusiva e soberana sobre o siste-ma político?”) em um plebiscito oficial. Para tanto, foram reunidas as assinaturas de mais de 180 deputados, que apresen-taram um Projeto de Decreto Legislativo (PDL 1508/14) com este objetivo e cuja tramitação precisa ser retomada.

Ao mesmo tempo, o PT também tem estimulado a coleta de assinaturas do seu projeto de iniciativa popular que contem-pla quatro pontos: constituinte exclusi-

va, financiamento público exclusivo de campanha, paridade de gênero e voto em lista. A militância do partido tem partici-pado ativamente da campanha da Consti-tuinte e das iniciativas em defesa da refor-ma política em todo o país, mobilizando diretórios, bancadas, setoriais e suas fren-tes de atuação no movimento popular.

Por fim, temos a Coalizão pela Re-forma Política Democrática e Eleições Limpas, que reúne OAB, CNBB, Movi-mento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), entre outras entidades e movi-mentos e que também articula a coleta de assinaturas para um projeto de iniciativa popular, já apresentado na Câmara dos Deputados.

As quatro principais propostas da Coalizão são o fim do financiamento em-presarial e doações com limite de pessoas físicas, a paridade de gênero, a ampliação dos mecanismos de democracia direta (plebiscito, referendo e iniciativa popular) e o voto em dois turnos nas eleições pro-porcionais (primeiro se vota no partido e em seguida no candidato/a).

A articulação em curso de uma fren-te de movimentos sociais e partidos de esquerda reforça a necessidade de ampla unidade para enfrentar a direita e avançar na luta por mudanças imediatas de refor-ma política, mas que também acumulem forças para uma constituinte exclusiva e soberana do sistema político.

Diante deste conjunto de iniciativas da sociedade e do enfrentamento com os setores conservadores, é fundamental criar-mos um centro de unidade em que as três principais campanhas pela reforma política que têm presença do campo democrático--popular - o Plebiscito Constituinte, a Co-alizão e o projeto de iniciativa popular do PT - marchem unificadas, preservando suas bandeiras próprias, mas contra o retrocesso da PEC da contra-reforma política e pelo “Devolve, Gilmar!”.

*Bruno Elias é secretário nacional de movi-mentos populares do PT

Constituinte contra a reforma do Cunha e do Gilmar

Bruno Elias*

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O impacto das MPs 664 e 665 no movimento sindical

Jandyra Uehara*

No dia 30 de dezembro de 2014, o Go-verno Federal anunciou duas Medi-das Provisórias (MPs) - 664 e 665

– que atingem diretamente os trabalhadores, especialmente os mais vulneráveis, retirando direitos e colocando sob as costas da classe trabalhadora o ônus do ajuste fiscal.

As promessas de estabelecimento de diálogo do governo com o movimento sin-dical feitas inúmeras vezes (sem qualquer efeito prático) após as movimentações das Marchas da Classe Trabalhadora, após as jornadas de junho e reiteradas durante a acirrada eleição presidencial de 2014 foram novamente descumpridas, prevalecendo a marca de um governo avesso ao diálogo e à negociação.

Desta vez agravado pelo fato das me-didas serem frontalmente contrária ao com-promisso assumido pela presidenta Dilma em não tocar em direitos trabalhistas. As medidas anunciadas tiram dos trabalhado-res cerca de 18 bilhões a fim de alcançar as metas de superávit primário.

De acordo com o Dieese “[...] várias medidas de apoio e benefícios ao setor em-presarial adotadas pelo próprio Governo nos últimos anos - como a redução de alí-quotas de IPI e desonerações, entre outras – representaram cerca de R$ 200 bilhões a título de renúncia fiscal, ou seja, de recur-sos que o Tesouro Nacional deixou de re-ceber. Não há como justificar, portanto, que o ajuste se inicie exatamente pela parcela mais vulnerável da população. “

A mudança de seis para no mínimo de-zoito meses de trabalho comprovado para ter direito ao primeiro acesso ao seguro de-semprego significa que com base nos dados de demissões imotivadas de 2013, de acor-do com o Dieese “chega-se a uma estimati-va de que, com a MP 665, mais 4,8 milhões de trabalhadores não poderiam acessar o seguro-desemprego (38,5% do total de de-mitidos sem justa causa em 2013).”

A alta rotatividade é uma marca per-versa do modelo de desenvolvimento con-servador historicamente implementado no país e agravado pelas políticas neoliberais, um modelo de desenvolvimento de caráter democrático e popular deve ancorar-se na ratificação da Convenção 158 da OIT, um dos mais importantes instrumentos jurídi-cos para iniciar o combate à rotatividade e consequentemente à insegurança dos traba-lhadores no mercado de trabalho.

A Convenção 158 não prevê estabili-dade no emprego, mas a obrigatoriedade de motivar a dispensa. A história da não aplicação da Convenção 158 no Brasil é exemplar da força dos interesses do em-presariado na manutenção do modelo de exploração máxima da classe trabalhadora.

A Convenção 158 foi ratificada pelo Brasil, após aprovação pelo Congresso Na-cional em 1996, em abril do mesmo ano foi publicado o decreto ratificador, em dezem-bro, o então presidente Fernando Henrique Cardoso denunciou a Convenção, cessando a sua vigência.

Em 1997 a CUT ingressou com uma ação direta de Inconstitucionalidade junto ao STF, já que o entendimento da maioria da jurisprudência do STF é de que estes tra-tados internacionais são normas supralegais e não podem ser revogadas por deliberação exclusiva do Presidente da República, sem autorização parlamentar.

Passados 17 anos, até hoje o STF não concluiu o seu julgamento, bem como os governos democráticos do último perío-do não chamaram para si esta questão que consta da Pauta da Classe Trabalhadora.

E com a MP 664, o Governo Dilma vem justamente retirar o direito ao seguro desemprego dos trabalhadores mais atingi-dos pela rotatividade, além de excluir cerca de 9,94 milhões de trabalhadores de baixa renda do abono anual e pagando ao restante um valor inferior ao que é pago atualmente.

A MP 665 atinge direitos previdenci-ários de pensionistas e de quebra permite a terceirização das perícias médicas, ou seja, são de medidas regressivas, um ajuste conservador, que associadas às medidas de recessão ao crédito, contribuem para o ca-minho da recessão.

O movimento sindical reagiu posi-cionando-se totalmente contrário às MPs e exigindo a sua retirada, no dia 25 de fe-vereiro foi convocado um dia nacional de lutas contra a retirada de direitos que levou manifestantes de todas as centrais às ruas.

O governo não aceitou a retirada das medidas e remeteu a negociação quadripar-tite na Câmara dos Deputados, o que é mui-to preocupante dada a correlação de forças desfavorável aos trabalhadores no congres-so recém empossado.

O impacto político das medidas na classe trabalhadora é imenso e de certa for-ma aparece nas pesquisas divulgadas pela Folha de São Paulo em 08 de fevereiro, onde “eleitores que garantiram a vitória de Dilma no segundo turno, num confronto polarizado de projetos políticos, ficaram decepcionados com aquilo que veio depois. Hoje, diz o DataFolha, um total espantoso de 54% dizem que Dilma é “falsa” — nú-mero que chegava a 13%, anteriormente”.

*Jandyra Uehara é da executiva nacional da CUT

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SINDICAL

Alerta vermelhoMaristela Pereira*

A resolução da executiva da CUT de 10 de fevereiro de 2015 reafirmou uma posição contrária às MPs 664

e 665 e defende uma proposta de política tributária que taxe os ricos, não os/as tra-balhadores/as; diz que a Petrobras é nossa e pertence ao povo brasileiro, não devendo ser privatizada e seus recursos devem ser aplicados no desenvolvimento do país, em especial na educação; diz também que a corrupção deve ser combatida com a re-forma política e implementada através de uma Constituinte Exclusiva e Soberana em relação ao poder econômico, aos partidos e ao governo; que a vigilância no Congresso será mantida para que projetos de lei que retiram direitos dos trabalhadores(as) não sejam aprovados, como especial vigilância contra o PL 4330 sobre a tercerização .

Em defesa destas posições, a CUT está conclamando as trabalhadoras e os trabalhadores para uma grande jornada de

lutas contra a retirada de direitos, contra a ameaça de desemprego, em defesa dos direitos da classe trabalhadora, da Petro-bras, da reforma política, do modelo de desenvolvimento, de sociedade e Estado que priorizem a inclusão social e valori-zem o trabalho.

A jornada vai acontecer do final de fevereiro até o 1º de maio, com a ocupa-ção de estradas, ruas, praças, escolas, hos-pitais, fábricas, na cidade e no campo, e também do Congresso Nacional através de amplas mobilizações com movimentos sociais e outras centrais, tendo como a pa-lavra de ordem “Direitos devem ser am-pliados, nunca diminuídos”.

A jornada começou no dia 24 de feve-reiro, com o lançamento do Manifesto em Defesa da Petrobras, no Rio de Janeiro. A seguir, algumas datas importantes:

• 8 de março: Dia Internacional da Mulher• 9 a 11 de março: Jornada de Lutas da

Agricultura Familiar• 13 de março: Ato Nacional em defesa

da Petrobras, dos Direitos e da Refor-ma Política

• 18 de março: Ato das Centrais Sindi-cais no Congresso Nacional

• 9 de abril: 9ª Marcha da Classe Traba-lhadora com todas as Centrais Sindi-cais (em São Paulo/SP)

• 1 de maio: Dia Internacional das traba-lhadoras e dos trabalhadores com atos da CUT em todo o país.

*Maristela Monteiro Pereira é assessora da CUT Nacional

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Engajado na defesa da Petrobras, Pá-gina 13 entrevistou João Moraes, secretário de relações internacionais

da Federação Única dos Petroleiros, vincu-lada à Central Única dos Trabalhadores.

Página 13. Primeiro uma pergunta sobre o estado de ânimo dos trabalhado-res: os que os funcionários da Petrobras pensam sobre a situação? Como estão vendo a Operação Lava Jato? Estão conscientes de que a Petrobras e o Pré--Sal estão sob ataque?

Moraes. Costumo dizer que hoje te-mos no Brasil duas Petrobras. Tem a Pe-trobras dos trabalhadores petroleiros, na qual quase quatrocentos mil (85 mil próprios e 300 mil terceirizados) pessoas honestas e de bem labutam todos os dias, deixando seu suor e muitas vezes sangue, produzindo a energia que o Brasil precisa para funcionar e se desenvolver.

Essa Petrobras em 2014 bateu todos os recordes de refino, produção e trans-porte, superou a Exxon como a empresa de capital aberto com maior produção de petróleo do mundo e recebeu pela tercei-ra vez o prêmio da OTC, considerado o Nobel da indústria do Petróleo, graças à tecnologia que desenvolvemos para a pro-dução no pré-sal.

“Mostrar nossa cara e virar o jogo”

João Moraes

Fotos: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

24/02/2015- Rio de Janeiro- RJ, Brasil- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acadêmicos, ar-tistas e lideranças políticas, participam de ato em defesa da Petrobras, convocado pela CUT e pela Federação Única dos Petroleiros.

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Aqui um parêntesis: no mundo, após a confirmação da existência de uma reser-va, leva-se em média quinze anos para a efetiva produção comercial. Na Petrobras, no pré-sal, nós o fizemos em apenas oito anos. Ainda em 2014, a nossa subsidiária Pbio (Petrobras Biocombustível) aumen-tou em 17% a produção de etanol. Essa Petrobras tem o reconhecimento interna-cional e também tem o reconhecimento de seus trabalhadores.

Mas também existe “a Petrobras na grande imprensa”: afundada na corrupção e em estado pre-falimentar. Essa é aquela assistimos todos os dias, a mais de um ano, no Jornal Nacional e nas manchetes de Fo-lha, Estadão, Globo, etc...

Conclusão: todo petroleiro sabe que a primeira Petrobras é a verdadeira e é muito maior que a segunda. Afinal, os Joãos, Josés e Marias são mais importantes e superam os Paulo Robertos e os Baruscos. No entan-to não vivemos na Lua: esse massacre mi-diático afeta nosso dia-a-dia e muitas vezes o nosso estado de espírito, mas não vai nos abater. Vivemos o sonho do Brasil grande e vamos construí-lo junto com os milhares de brasileiros e brasileiras como nós.

Sabemos que os ataques desmedidos vem daqueles que não se conformam com o modelo de partilha e querem desmora-lizar a Petrobras, para mudar o modelo e entregar o pré-sal.

Página 13. E a FUP, o que pensa da situação?

Moraes. Na FUP temos uma posição muito transparente: os erros cometidos devem ser apurados; se comprovados, os responsáveis devem ser punidos exem-plarmente. No entanto, sabemos que não é isso que move o PIG e a direita partidária, eles ainda não desenvolveram outra ideo-logia em substituição ao neoliberalismo e por isso permanecem na sanha privatista.

A Petrobras é hoje 13% do nosso PIB, 20% dos investimentos, 40% dos investi-mentos industriais. O setor petróleo em-prega perto de um milhão de brasileiros e de brasileiras, se consideramos os forne-cedores de equipamentos e materiais. Por-tanto, se eles tiverem êxito, a nossa econo-mia estará arruinada por muitos anos.

Por isso temos que, conjuntamente com a CUT e os movimentos sociais, ir às ruas para defender nossa maior realização econômica enquanto nação. Não fugire-mos a nossa responsabilidade.

Página 13. Há uma parte do movi-mento sindical petroleiro que não é re-presentado pela FUP. Esta parte está en-gajada na defesa da Petrobras?

Moraes. A defesa da Petrobras sem-pre foi consensual em nossas organiza-ções. Apesar dos setores que estão fora da FUP não terem muita tradição de mobili-zação, é importante buscar unidade entre os petroleiros, afinal nessa luta precisamos de todos os bons, brasileiros e brasileiras.

Página 13. Quais “recados” você da-ria para os movimentos sociais, para os partidos de esquerda, para a direção da empresa e para o governo?

Moraes. Para os movimentos eu lem-braria que com a descoberta do pré-sal, com o modelo de partilha e com a destina-ção social da riqueza gerada, poderemos mudar o Brasil. No entanto, sem a Petro-bras como operadora única e com a conse-quente entrega da produção a operadoras estrangeiras, não será possível. Portanto,

“Mostrar nossa cara e virar o jogo”vamos às ruas defender a Petrobras e o Brasil. Durante os sessenta anos de exis-tência da empresa foi assim: a direita e a imprensa atacaram e o povo defendeu e venceu. Vamos às ruas 13 de março mos-trar nossa cara e virar o jogo.

Aos partidos eu diria para saírem dos gabinetes e se somar aos movimentos so-ciais. Somente com muita coragem e dis-posição superaremos o atual momento.

Para a direção da Petrobras: chega de silêncio! Mostrem ao Brasil e ao mundo o que somos e certamente poderemos derro-tar as aves de mau agouro.

Ao governo: o verdadeiro aliado são as organizações populares comprometidas com o futuro de nosso país e nossa gente.

Página 13.Otimista ou pessimista?Moraes. Me perdoem, mas não sei

ser pessimista. O PIG e a direita partidária passaram do ponto. Quando isso acontece é perigoso demais para o agressor. O povo começa a reagir. A Petrobras e o Brasil tem o destino ligado umbilicalmente, não é a toa que quando tentaram entregá-la muda-ram o nome primeiro. A nossa gente não permitirá. Sabem que sem a Petrobras nos-so futuro estará ameaçado. Por isto, “de-fender a Petrobras é defender o Brasil”.

“Todo petroleiro sabe que a primeira Petrobras é a verdadeira e é muito maior que a segunda. Afinal, os Joãos, Josés e Marias são mais importantes e superam os Paulo Robertos e os Baruscos. “

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Reforma política: evitar o retrocessoRubens Alves*

No dia 25 de fevereiro de 2015, ocorreu na Câmara Federal um ato em defesa da reforma política,

organizado pela chamada Coalizão, forma-da por mais de 100 entidades, entre estas a CNBB, OAB, CUT, MST, CONTAG, FE-NAJ, UNE, UBES e Via Campesina.

Segundo os membros da Coalizão, o projeto de iniciativa popular já alcan-çou 500 mil assinaturas, de um total de 1,5 milhão que buscam conquistar pelos próximos meses, considerando que obje-tivam protocola-la a tempo de viabilizar a sua tramitação, juntamente com outras iniciativas e proposições que já se encon-tram no Congresso, inclusive a famigera-da PEC 352/13 que, se aprovada, cons-titucionalizará o financiamento privado por empresas.

Os pontos contemplados no projeto defendidos pela Coalizão, que tem pon-tos de contato com o que é defendido pelo PT, são:

*Fim do financiamento partidá-rio e eleitoral por empresas, permitindo, além do financiamento público, ape-nas a contribuição de pessoa física, com teto máximo individual de 700 reais; * Eleições proporcionais em lista fechada em dois turnos. No primeiro o eleitor vo-tará no partido e no segundo turno esco-lherá, da lista oferecida pelo seu partido, o candidato ou candidata de sua preferência;

* Alternância de gênero na lista partidária;

* Fortalecimento da democracia di-reta ou participativa.

Vários parlamentares compareceram ao ato, entre estes o relator da Comissão Especial da Reforma Política na Câmara, o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI).

O relator distribui uma cartilha so-bre o tema, apontando os principais pro-blemas que ele visualiza no atual sistema eleitoral brasileiro. Em seguida discorre, de forma bem resumida, sobre modelos existentes em alguns países, com foco para o majoritário distrital e o proporcio-nal de lista fechada pré-ordenada, apre-sentando o que ele considera positivo e negativo de cada sistema, perpassando ainda por vários pontos específicos que

estão em voga nas mais variadas propostas. Por fim, apresenta o modelo que ele defende como mais adequado ao Brasil.

Para ele o sistema eleitoral brasileiro é exclusivo, não se enquadrando em nenhum dos sistemas citados: “trata-se de uma cópia mal feita e inadequada de parte do sistema majoritário distrital e do sistema proporcio-nal”. Afirma ainda: “creio, que aqui, neste fundamental erro de concepção, está a origem dos principais problemas do nosso sistema”.

Em seguida externa a proposta que considera mais adequada para o sistema a ser implantado no Brasil: “proponho que implantemos no Brasil um sistema que es-teja funcionando bem em alguns países, há longo tempo. Tenho preferência pelo siste-ma misto, que conjuga o que há de melhor de um e do outro sistema”. Diz ainda: “na minha proposta, metade dos deputados fe-derais e estaduais seria eleita por um sis-tema e metade por outra. Já os vereadores, proponho que sejam eleitos pelo sistema proporcional de lista fechada, pois acho que seria muito complicado dividir em distritos pequenas cidades”.

Destaca também alguns pontos que ele considera relevantes, como: coincidências

de todas as eleições a partir de 2018; fim das reeleições para o executivo em todos os níveis; mandatos de cinco anos para todos os cargos eletivos, inclusive para senado-res; proibição de coligações proporcionais; cláusula de desempenho; permissão para organizar federações partidárias; diminui-ção do tempo de campanha, entre outros.

Registra, categoricamente, posição contrária ao plebiscito e referendo, o pri-meiro pela sua inexequibilidade e o segun-do porque, segundo ele, não se deve pedir que a população opine sobre uma reforma eleitoral que ela não conhece, que “ainda não viu funcionando”!

Integrando a mesa do ato, pois é sig-natário do projeto de iniciativa popular, afirmou ser a favor da maioria dos pontos apresentados pela Coalizão, como finan-ciamento público de campanha e voto em lista fechada, contudo não concorda com eleições proporcionais em dois turnos.

Sobre o distrital, argumenta que esta medida aproximará mais o parlamentar de seus eleitores, possibilitando maior con-trole por parte de sua base social. Aliás, esta tem sido uma fala recorrente de quem defende o distritão ou distrital, ignorando

25/02/2015- Brasília - DF. Ato em defesa da reforma política

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Reforma política: evitar o retrocessoque as experiências de modelos distritais tem demonstrado um fenômeno oposto, ou seja, quem passa a ter controle de fato é o parlamentar sobre a sua base, permitindo sistemáticas reeleições e baixíssimo surgi-mento de novas lideranças.

Também afirmou que “esta reforma política será neutra politicamente”! Como se fosse possível realizar uma reforma po-lítica imparcial!

É fato é que os temas que o rela-tor afirmou defender no ato da Coalizão, como o fim do financiamento empresarial de campanhas, a defesa da eleição para os parlamentos em lista fechada e a proibição de coligações proporcionais, se aprovados já significariam um bom avanço.

Contudo, o relator tem dado sinais preocupantes, como clara resistência aos instrumentos de participação direta, como plebiscito e referendo; defesa de cláusula de desempenho em percentuais que cria-riam enormes dificuldades para partidos como o PSOL e PCdoB garantirem repre-sentação no Parlamento; mudanças das datas das convenções partidárias, culmi-nando com a diminuição do período de campanha etc.

Segundo ele, seu relatório não conterá a reforma política que ele defende, mas sim a expressão do pensamento da maioria dos componentes da Comissão. Obviamente que é muito pouco provável que alguém consiga aprovar uma reforma política dos seus sonhos. Todavia, se considerarmos o nível de conservadorismo presente na atu-al legislatura e a desfavorável correlação de forças presente na Comissão, a postura do relator somente reforça as imensas di-ficuldades que teremos para aprovar qual-quer reforma política que não se traduza em retrocesso.

Apesar das mais variadas proposições tramitando no Senado e na Câmara, a insta-lação desta Comissão especial foi motivada pelo aceleramento da tramitação da PEC 352/13, comandada pelo atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já chamada de PEC das empreiteiras.

Os setores conservadores da socieda-de, obstáculos ao avanço e aprofundamen-to da democracia brasileira, estão bem po-sicionados no Congresso Nacional. Como estão cientes que a correlação de forças lhes é favorável, mudaram de comporta-mento e partiram para a ofensiva. Seu ob-jetivo hoje não se restringe a obstaculizar as medidas que buscam a democratização do sistema político do país. Tratam de re-tirar os poucos mecanismos positivos que existem no atual sistema, adotando outros que ao fim e ao cabo se traduzirão numa maior concentração de poder para um se-tor minoritário na sociedade, contudo his-toricamente dominante, do ponto de vista político, econômico e social.

Neste ambiente tão desfavorável para as forças democráticas no Congresso, faz se necessário lançar mão de muito mais ousadia, apostando firmemente na mobi-lização social, pois somente forte pressão e mobilização social serão capazes de de-mover parte dos parlamentares. Afinal de contas, o que está em jogo é o aprofunda-mento da democracia ou o retrocesso.

*Rubens Alves é dirigente nacional da AE

Foto: Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados

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NACIONAL

Esquerda em frenteRodrigo Cesar*

A partir de junho de 2013, as esquer-das brasileiras passaram a refletir intensamente sobre o novo mo-

mento político que se abriu. Cada setor a seu modo e de acordo com suas orien-tações programáticas, estratégicas e táti-cas, buscou-se compreender as causas e origens, as características, a evolução, o significado e as consequências das mobi-lizações de massas. Discutiu-se, principal-mente, as tarefas e desafios das esquerdas.

Contribuiu para isso a avaliação de que as manifestações ocorreram à revelia dos movimentos e partidos de esquerda, bem como a notória presença da direita organizada nas ruas, a difusão do conser-vadorismo e a postura do oligopólio midi-ático de legitimar os protestos e disputar o sentido político dos acontecimentos.

Ainda em junho 2013, movimentos sociais, partidos e organizações de esquer-da realizaram reuniões para discutir ações unitárias. As centrais sindicais convoca-ram manifestações em todo o país no dia 11 de julho. Percebia-se a necessidade e a urgência de impedir o avanço da direi-ta, evitar retrocessos, lutar por direitos e promover mudanças profundas em benefí-cio dos trabalhadores e trabalhadoras e da maioria do povo.

Contudo, passadas as mobilizações massivas, sem consenso a respeito das pautas prioritárias em torno das quais as esquerdas deveriam se orientar, os ele-mentos de atração perderam força para os elementos de repulsão. A partir de então, além das pautas que cada entidade e mo-vimento reivindicam, três agendas prin-cipais passaram a organizar diferentes setores da esquerda: a luta pela reforma política, a luta contra a Copa do Mundo e as eleições 2014.

A defesa da reforma política resul-tou em diferentes iniciativas, mas sua principal catalisadora foi a campanha do plebiscito popular por uma Constituinte exclusiva e soberana do sistema político, que congregou centenas de organizações, mobilizou dezenas de milhares de ativis-tas e alcançou quase 8 milhões de votos. A crescente falta de legitimidade do Con-gresso Nacional para realizar as mudanças

do sistema político fortaleceu a proposta de convocar uma Assembleia Constituinte especificamente para isso.

As manifestações contra a Copa não tiveram grande impacto, entre outros mo-tivos porque se diluíram em meio à crítica de direita visando desgastar e derrotar o governo nas eleições. O sucesso na orga-nização do evento não eximiu o governo de uma derrota política, mas quem ganhou não foram os organizadores das mani-festações contra a Copa nas ruas, mas a oposição de direita que pelos noticiários pautava as conversas nos bairros, praças, escolas, locais de trabalho etc.

Como previsto, as esquerdas não en-traram unificadas nas eleições 2014. Con-tudo, a necessidade de evitar o retroces-so representado pela candidatura tucana tornou-se quase um consenso no segundo turno. Em parte por isso, este objetivo foi alcançado. Mas não se criaram as condi-ções para Dilma fazer um segundo manda-to superior ao primeiro, como desejava a maioria do povo brasileiro.

Parte das preocupações que fizeram as esquerdas se atraírem em junho de 2013 se manifestou em outubro de 2014, mas de modo difuso, massivo e com um ele-vado grau de espontaneidade. A politiza-ção, a polarização e a mobilização foram decisivas para garantir a vitória eleitoral do campo progressista e de esquerda que se conformou no segundo turno. Porém, não bastou para frear a ofensiva do campo conservador e de direita.

Cientes de que derrota não é sinônimo de derrotismo e que luta política não se faz apenas nas eleições, os inimigos, dentro e fora do governo, puseram em pratica ime-diatamente três táticas distintas e simultâ-neas: 1) pressionar pela implementação do programa derrotado nas urnas; 2) desgas-tar o governo e o PT principalmente a par-tir da Operação Lava Jato; e 3) questionar a legitimidade do novo mandato de Dilma.

Neste contexto, cresceu e ganhou for-ça a ideia de se formar um espaço de arti-culação para unificar as lutas populares e de esquerda no período seguinte, que já se demonstrava complexo e difícil.

O Diretório Nacional do PT, reunido em Fortaleza nos dias 28 e 29 de novembro, aprovou resolução que determinava “adotar iniciativas para dar organicidade ao grande movimento político-social que venceu o segundo turno das eleições presidenciais.” Concretamente, isso significava: “Compor uma ampla frente onde movimentos so-ciais, partidos e setores de partidos, inte-lectuais, juventudes, sindicalistas possam debater e articular ações comuns, seja em defesa da democracia, seja em defesa de re-formas democrático-populares.”

Esta é uma preocupação comum. Res-ta saber se as diferenças de orientação pro-gramática, estratégica e tática no interior da esquerda vão impedir a empreitada ou serão superados.

De qualquer modo, o ajuste fiscal do governo federal é certamente uma pedra no sapato: ao mesmo tempo em que cria

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sociais populares e as forças progressistas e de esquerda. A direção defensiva do PT tornou mais azedo o ambiente para a con-formação da articulação permanente do conjunto das forças políticas, sociais e cul-turais que construíram a vitória de Dilma no segundo turno das eleições de 2014.

Mas trata-se de uma tentativa que terá êxito na medida em que, antes mesmo de ganhar organicidade, seja capaz de estabe-lecer um calendário de lutas e mobilizações no campo e na cidade ao longo do próximo período, selando os acordos das reuniões no calor das ruas; na medida em que a militân-cia se mobilize espontaneamente e à revelia de suas direções, se necessário.

Se realizado no contexto de mobiliza-ções e lutas sociais, o processo de constru-ção desta frente tende a aguçar as contradi-ções mais profundas da sociedade brasileira e tornar ainda mais evidente a inadequação da estratégia dos setores majoritários da es-querda para o atual momento histórico.

Contra os inimigos e a maioria de nós mesmos, trabalhemos para que a formação da frente de esquerda ajude a empurrar a es-querda para frente.

* Rodrigo Cesar é conselheiro da Escola Nacional de Formação do PT.

confusão e insatisfação na base social que elegeu Dilma, coloca as forças populares e de esquerda em uma posição defensiva de lutar contra retrocessos e em rota de colisão com o governo recém eleito. Não com um aspecto da política do governo, mas com o núcleo programático que afeta e contamina todo o governo, todas as polí-ticas públicas, o conjunto da economia, da sociedade e da política brasileira.

Por um lado, isso anima os setores da esquerda que tem por objetivo derrotar o governo e o PT a participar disputar os ru-mos da frente para que ela assuma este ca-ráter. Por outro lado, reforça a necessidade do campo democrático-popular construir ativamente este espaço, seja para impedir que a direita ganhe mais um reforço tático, seja para fazer com que o governo enfren-te as dificuldades fiscais onerando os ricos, não os trabalhadores.

Isso porque um passo decisivo e ime-diato para conquistar as reformas estru-turais – agrária, urbana, política e das co-municações – é obter vitórias na luta por outro ajuste, principalmente através da re-dução da taxa de juros, do imposto sobre as grandes fortunas e heranças, revisão de subsídios e isenções, progressividade no imposto de renda e demais medidas tribu-tárias que façam os ricos pagarem a conta necessária para superar a crise e retomar o crescimento.

Além disso, outro passo decisivo e imediato para realizar as reformas democrá-ticas e populares é impedir que seja aprova-da a PEC da corrupção (PEC 352/13) – que, entre outros retrocessos, constitucionaliza o financiamento empresarial de campanhas eleitorais e partidos.

Neste sentido, faz-se necessário unir forças e promover ações conjuntas das di-ferentes campanhas e iniciativas do campo de esquerda pela reforma política para bar-rar esta PEC no Congresso Nacional, assim como para que Gilmar Mendes devolva e o Supremo Tribunal Federal aprove a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4650) que proíbe o financiamento empresarial de campanhas e partidos.

Em suma, avançar nas mudanças es-truturais exige, em primeiro lugar, não retroceder, transformando em realidade o mote “nenhum passo atrás, nenhum direito a menos”.

Entretanto, a maioria da Executiva Na-cional do PT não pensa assim. Ao invés de fazer como a CUT e enfrentar as MPs 664 e 665, que restringe direitos aos trabalhado-res, esta maioria as apoia; ao invés de mobi-lizar sua militância e fazer o bom combate nas ruas pelos direitos, ela prefere orientar a bancada a debater e negociar no Congresso conservador; ao invés de reivindicar, exigir e pressionar o governo, se limita a um acanha-do e envergonhado encaminhamento de “de-bater com o Executivo a possibilidade de...”.

Economicamente, em um cenário de recessão, o impacto sobre os trabalhadores é uma certeza, enquanto a propalada reto-mada posterior do crescimento é mera pos-sibilidade (remota, aliás). Politicamente, como fiador da recessão, o PT se coloca em rota de colisão com uma classe trabalhado-ra que já se afasta do petismo com veloci-dade alarmante.

Na condição de maior partido da es-querda, o PT, que deveria cumprir um papel positivo para a construção desta frente, aca-ba contribuindo para repelir os movimentos

Na condição de maior partido da esquerda, o PT, que deveria cumprir um papel positivo para a construção desta frente, acaba contribuindo para repelir os movimentos sociais populares e as forças progressistas e de esquerda. A direção defensiva do PT tornou mais azedo o ambiente para a conformação da articulação permanente do conjunto das forças políticas, sociais e culturais que construíram a vitória de Dilma no segundo turno das eleições de 2014.

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SAÚDE

A Constituição Federal (CF) deter-mina que é “vedada a participação direta ou indireta de empresas ou

capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei”. Por uma questão de lógica, se a exceção (os casos previstos em Lei) tornar-se a regra (presença ampla, geral e irrestrita), a Cons-tituição estará sendo desrespeitada.

O Congresso Nacional aprovou e o Governo Dilma sancionou a Lei nº 13.097/2015, que permite a participação de empresas de capital estrangeiro na assistên-cia à saúde, ou seja, em hospitais, clínicas, laboratórios, produção e fornecimento de produtos de saúde brasileiros. Ou seja: a lei aprovada pelo Congresso e sancionada pelo governo, que torna a vedação constitucio-nal letra morta é, portanto, inconstitucional.

Além disso, esta Lei suprimiu um pa-rágrafo do texto da Lei Orgânica da Saúde que regulamenta o SUS, onde se determi-nava que as empresas estrangeiras exis-tissem como exceção, estando sujeitas à autorização e fiscalização do de órgãos do SUS. Uma Lei que torna desnecessá-ria a autorização prévia dos organismos do SUS escancara um grave atropelo à Cons-tituição: o que era exceção, agora virou re-gra e sem quaisquer controles.

Os defensores do SUS e dos termos da CF esperavam que a presidenta vetasse os dispositivos desta Lei que desrespeitam a Carta Magna do País, mas a presiden-ta a sancionou e contou para isso com a orientação favorável do Ministério da Saú-de. O Ministro Arthur Chioro, conforme discurso feito em recente reunião do Con-selho Nacional da Saúde, defendeu a aber-tura da Saúde ao capital estrangeiro.

Arthur Chioro afirmou, em sua defe-sa, que a Lei 13.097/2015 corrigiria uma distorção já existente, pois a abertura ao capital internacional na Saúde teria ocor-rido através da Lei 9.656/1998. De fato, esta lei criou uma brecha que permitiu que operadoras de capital internacional adqui-rissem planos de saúde brasileiros. Mas há pelo menos duas maneiras de corrigir uma distorção. Uma é eliminando a distorção e voltando ao que a CF estabelece. A outra é ampliando a distorção, atropelando ainda mais a Constituição.

Esperava-se de um governo encabe-çado pelo PT, dirigido por uma presidenta petista e um ministro com histórico de de-fensor do SUS, que não ampliasse o estrago feito antes pelo governo tucano de FHC.

Com a aprovação da Lei 13.097/2015, propiciou-se às empresas es-trangeiras um “filão de ouro”: um mercado de mais de 55 milhões de consumidores de planos privados de saúde fortemente sub-sidiados com recursos públicos. Em sínte-se, o governo Dilma, ao apoiar os referidos dispositivos desta Lei, ajudou a criar condi-ções para aprofundar a presença do grande capital na assistência à saúde brasileira: as médias empresas comprando as pequenas, as grandes comprando as médias e conglo-merando-se internacionalmente, submeten-do os Estados Nacionais, regulando-os, ao contrário de serem regulados.

A verdade é que, ao longo dos últi-mos anos, setores do PT, da esquerda e dos defensores do SUS vêm abrindo mão, na prática, do objetivo de realizar profun-das mudanças qualitativas e quantitativas na Saúde.

O PT deve debater francamente esta si-tuação e tomar medidas para que o governo reafirme o que está previsto na CF, na legis-lação exaustivamente discutida pelo con-trole social e expressa na vontade da maio-ria da população que votou 13 nas quatro últimas eleições presidenciais.

O Diretório Nacional do PT deve ser co-autor da Ação Direta de Inconstituciona-lidade, junto com as organizações represen-tativas do Reforma Sanitária Brasileira, con-tra disposições desta Lei inconstitucional.

E a militância petista deve fazer ampla mobilização em defesa do SUS, com des-taque para:

a) o enfrentamento da fragmenta-ção, privatização, ausência de carreiras de âmbito nacional e seu crônico subfinancia-mento;

b) o funcionamento global do siste-ma, recomendando o debate sobre a cria-ção de autarquia especial constituída pelo Ministério da Saúde, Secretarias de Saúde estaduais e municipais, organizada através das 436 Regiões de Saúde brasileiras, deno-minada SUS Brasil proposta pelo professor Gastão Wagner, da UNICAMP;

c) as ações contrárias à participação de empresas ou do capital estrangeiro na assis-tência à saúde;

d) o debate contra aqueles que – ale-gando ser defensores do SUS – estão pro-movendo seu desmonte;

e) o debate com amplos setores so-ciais, sindicais e partidários, instituições de saúde, de ensino e pesquisa, cuja interven-ção política é fundamental para retomar-mos a organização de um Sistema de Saúde nacional, público e universal, que na nossa Constituição chama-se Sistema Único de Saúde.

*Nayara Oliveira é militante do PT-Campinas e do Movimento Popular de Saúde MOPS Campinas. Este texto é um resumo de outro escrito em co-autoria com Anderson Dalecio Feliciano, Juliana Rocha e Ronaldo Costa, que pode ser encontrado em: http://www.pagina13.org.br/saude/saude-e-capital-estrangeiro/#.VOir2_nF9qU

Concessão inconstitucionalNayara Oliveira *

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ÁGUA

A grave situação hídrica já coloca em risco o abastecimento de água da população das grandes cidades

brasileiras. As razões deste pré-colapso não podem ser atribuídas apenas ao lon-go período de estiagem pelo qual estamos passando. Dentre outros fatores, faltou planejamento e obras, a tempo, para evitar essa situação.

Outra questão importante a ser en-frentado são os múltiplos usos das águas. De acordo com a Agência Nacional das Águas (ANA), 72% da água doce consu-mida no Brasil são destinados à irrigação, 11% vão para o consumo animal, 7% para a indústria, 1% para o consumo rural e 9% para o consumo urbano.

Esses dados indicam que o proble-ma não pode e não deve ser tratado ape-nas com a redução do consumo urbano. A conscientização de nossa população acer-ca da necessidade de racionalização do gasto é importante, mais não o suficiente. É fundamental que tratemos o problema como um todo. Essa conta não pode ser apresentada tão somente aos usuários ur-banos. Até porque, limitados a esse ângulo do problema, não o resolveremos.

A agricultura precisa ser mais eficien-te nos processos de irrigação. Sabemos que o mecanismo mais utilizado na irriga-ção é o que faz uso do esguicho. Há enten-dimentos de que esse mecanismo ocasiona uma perda significativa com a evaporação da água. Formas de produção como a de base agroecológica, além das inúmeras outras vantagens, também consomem me-nos água e devem ser incentivadas.

Por outro lado, a indústria precisa apresentar propostas de reuso da água utilizada nos processos de produção. Um exemplo de grande consumo de água na indústria é o bombeamento de minérios em minerodutos. Estes cruzam estados até os portos, onde os minérios seguem para exportação. O volume de água utilizado nesses processos é significativo e ao final é despejado no mar. Uma possível alterna-tiva seria a realização de tratamento dessa água para reuso nas cidades litorâneas.

Nas cidades precisamos avançar no saneamento, por meio do investimen-

to em Estações de Tratamento de Esgo-tos (ETEs) e Estações de Tratamento de Águas (ETAs), a fim de evitar a polui-ção de nossos rios e ampliar a oferta de água à população. As perdas no processo de distribuição chegam a 37% de toda a água tratada, investir em tecnologias que evitem este desperdício também são muito importantes. No campo, devemos avançar na implementação do Novo Código Flo-restal, principalmente, no que se refere a recuperação das matas ciliares e das reser-vas legais nas propriedades rurais. Estas medidas contribuiriam muito para a qua-lidade e a oferta de águas aos nossos rios.

A situação atual exige, portanto, um esforço conjunto dos governos e usuários, para que o povo brasileiro não fique vul-nerável diante de períodos de estiagem prolongados. Afinal, a ocorrência de tais eventos climáticos adversos estão indica-dos já no relatório de 2007 do Painel Inter-governamental de Mudanças Climáticas da ONU. Elaborado pelos mais de 6 mil cientistas de todo mundo que compõem esse Painel, o documento orienta os paí-

ses a se adaptarem aos severos efeitos das mudanças climáticas, a fim de evitar pre-juízos à população.

Ao persistir no atual modelo de desen-volvimento, retirando da natureza mais do que ela pode suportar, estamos conduzindo a humanidade a um colapso ambiental de consequências inestimáveis. Neste sen-tido, o PT, demais partidos da esquerda e os movimentos sociais de todo o mundo devem construir propostas e apresentá-las aos fóruns de diálogo nas Nações Unidas acerca dos Objetivos do Desenvolvimen-to Sustentável (ODS). O acordo resultante destes diálogos, em curso, deve ser finali-zado e assinado pelos Chefes de Estado dos Países Membros na Conferência da ONU, a se realizar no segundo semestre de 2015. O momento exige de todos um esforço con-centrado rumo a um outro modelo, que seja economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente sustentável.

*Geraldo Vitor de Abreu é Superintendente na SUPRAM Metropolitana da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais

O que falta?Geraldo Vitor de Abreu*

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ÍNDIGENAS

A promoção dos direitos dos povos indígenas não esteve entre as prio-ridades do primeiro governo Dilma,

cuja atuação, nesse campo, deixou bastan-te a desejar. A expectativa para o próximo mandato, é que o governo assuma essa inadiável responsabilidade, construindo uma agenda de compromisso com os povos indígenas, com sua efetiva participação, deixando de considerar a pauta como um problema.

Subverter a lógica das prioridades do modelo político, econômico, social, e cultu-ral, há muito imposto, é fundamental nesse sentido.

Não é incomum que se questione por-que é que se dispensa tanta atenção, se mo-bilizam tantos esforços, ações, e agentes em torno de uma população numericamen-te inexpressiva frente à população total do país. Há, ainda, quem confronte a defesa de políticas específicas e diversas para prote-ger indígenas já “integrados” à sociedade dominante (ou “civilizados”, como alguns preferem afirmar).

Contrapor esse equívoco demanda, primeiramente, a reafirmação e defesa de um modelo de sociedade justa, solidária, democrática, igualitária, e pluriétnica.

De outro lado, assenta em razões histó-ricas. Estima-se que em 1500, a população indígena no território hoje corresponden-te ao Brasil, era de, ao menos, 3 milhões de indivíduos. Em 2010, segundo último censo do IBGE, ficou demonstrado que os indígenas atualmente somam pouco mais de 800.000 indivíduos vivendo no país. O dever de reparação da dívida histórica para com esses povos, ao menos no que tange à drástica redução demográfica operada a partir dos processos coloniais, parece moti-vo mais que suficiente para a promoção de seus direitos.

Soma-se a isso a consideração de que a aniquilação (física ou cultural) de um povo indígena corresponde à erradicação de uma sociedade inteira da face da Terra. Permitir o desaparecimento de um povo indígena é determinar a exclusão de uma cosmovisão, em nome de um “processo civilizatório” baseado em paradigmas e preconceitos ocidentais que, ultimamente, apenas fazem

abrir alas à replicação em escala global de hábitos, conformando uma cultura amorfa, homogênea, artificial e opressora.

Além disso, é essencial tratar da ra-zão econômica que sempre mereceu lugar de destaque dentre as vigas que sustentam por séculos a ação anti-indígena: o inte-resse pela terra, que se constitui no maior entrave à promoção dos direitos dos povos indígenas no país. A reparação territorial aos povos indígenas é parte fundamental no processo de enfrentamento à concentração de terras no Brasil, e de reversão de suas consequências.

Ofensiva anti-indígena

As demandas e pressões do capitalis-mo global se impõem de forma violenta. O governo, a partir das coalizões e formatos como tem sido composto, vai-se torando cada vez mais poroso aos interesses econô-micos de grupos ligados ao capital. O Con-gresso, também tem tido composições cada vez mais conservadoras. E a atuação do Ju-diciário, ancorada na tradição de busca por neutralidade, se mostra, no mais das vezes, desfavorável à defesa das demandas e di-reitos atinentes ao campo popular. A busca

Proteger e promoverMaria Guta Assirati*

A ofensiva, liderada por setores latifundiários ligados ao agronegócio, desenvolveu tentáculos e ocupou espaços institucionais. No campo indígena, expressou-se concretamente por iniciativas como a PEC 215, o PLP 227, e a proposta de alteração de instrumentos normativos que disciplinam a demarcação de terras indígenas

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ÍNDIGENAS

pela tal neutralidade possibilita, na verda-de, a opção por um lugar confortável de manutenção do status quo, de conservação do estado e lugar – dominante e dominado – dos campos nas relações de poder.

Ultimamente, vimos ganhar força uma dura e explícita ofensiva contra povos indí-genas, quilombolas, extrativistas, agriculto-res familiares, e outras comunidades que se relacionam com a terra a partir de bases dis-tintas daquelas sustentadas pela propriedade.

A ofensiva, liderada por setores lati-fundiários ligados ao agronegócio, desen-volveu tentáculos e ocupou espaços institu-cionais. No campo indígena, expressou-se concretamente por iniciativas como a PEC 215, o PLP 227, e a proposta de alteração de instrumentos normativos que disciplinam a demarcação de terras indígenas. Seus des-dobramentos trouxeram desafios até então não enfrentados, já que pela primeira vez, desde a redemocratização, setores dos três Poderes do Estado passaram a manifestar--se de forma inequívoca em favor da revi-são do arcabouço normativo que estabelece direitos a essas populações.

Conferência Nacional como espaço de disputa e construção coletiva

A atuação do movimento indígena, das organizações indigenistas, e de outros movimentos sociais, foi fundamental no estabelecimento de uma resistência que im-pedisse o avanço desse movimento. Até o presente momento, não se efetuou qualquer alteração normativa de dispositivos que ga-rantem direitos indígenas. No entanto, to-dos os espaços que permitam a realização desse debate, devem ser encarados como arenas de disputa de posições, recursos e ações em busca de uma intervenção política que afaste os riscos de retrocessos em rela-ção a direitos já conquistados. Nesse senti-do, é bom ter em mira a I Conferência Na-cional de Política Indigenista prevista para realizar-se esse ano, já que pode se consti-tuir num ambiente propício para a efetiva-ção de um diálogo com os povos indígenas e a pactuação de compromissos firmes no sentido da proteger os direitos do segmen-to, e promover ações que os concretizem.

Demarcação de terras indígenas

Cerca de 8% do total de áreas regula-rizadas em favor dos indígenas no Brasil não está em sua posse plena. Significa que mais de 90% das terras que eram original-

mente ocupadas por indígenas, permane-cem em mãos não indígenas, e boa parte desse percentual (por razões de variadas ordens, inclusive jurídicas) jamais tornará a permitir ocupações tradicionais indígenas. Quase 99% das áreas demarcadas no Brasil concentram-se na Amazônia Legal, levan-do cerca de 40% da população indígena dos estados do sul, sudeste, e parte do centro--oeste e nordeste a viverem em pouco mais de 1% da superfície demarcada restante.

No do Mato Grosso do Sul, por exem-plo, onde a insustentável situação de con-finamento territorial indígena impõe todos os dias, sobretudo ao Povo Guarani Kaio-wá, consequências como a morte, a desa-gregação, a doença, e a violência, as terras indígenas regularizadas ocupam 1,64% da superfície total do estado. Ali vivem 149 indígenas por km², contra apenas 6,86 não indígenas por km². No entanto, durante o primeiro governo Dilma, não houve avan-ço nos processos de demarcação no Mato Grosso do Sul.

Enfrentar a questão da terra no Brasil, concretizar a reforma agrária, concluir a demarcação das terras indígenas, operar a regularização fundiária dos territórios qui-lombolas e demais territórios tradicionais, são ações indissociáveis da promoção de justiça, da desconcentração e consequente redistribuição de renda e riqueza no país.

Por isso, não dá para abordar a ques-tão partindo-se da relação de propriedade. Não dá para sentarmos na mesma mesa para ‘disputar’ a terra, caciques indígenas e empresários do agronegócio, produtores de cana, soja, e gado, latifundiários respalda-

dos e subsidiados por um forte aparato dos poderes político e econômico. A evidente assimetria de poder e força entre os inter-locutores de um espaço assim formatado, inviabiliza por completo as chances de re-alização (e sucesso) de diálogo. Mas ainda que se busque dialogar para tratar conflitos entre direitos envolvidos em casos concre-tos (nunca entre direitos e interesses econô-micos), é imprescindível que se demarque! A demarcação das terras é um dever do Estado e um direito dos povos. Nesse as-pecto é imprescindível ter-se em evidência que, o campo dos direitos abrange tudo o que se relaciona com o passivo devido às comunidades indígenas, quilombolas, e tra-dicionais em geral, agricultores familiares, e sem-terra. A defesa das questões decor-rentes da propriedade faz parte do rol dos interesses econômicos, que estão em cam-po adversário.

A vontade política do governo em avan çar nessa questão poderá ser demons-trada se as demarcações voltarem a ser pro-cessadas normalmente.

Cabe, ainda, destacar a urgência de investimento político para conclusão de processos importantes de terras situadas no Xingu e no Tapajós, por exemplo; onde a pressão gerada por empreendimentos de infraestrutura em fase de implementação ou projeção, conforma um cenário de vul-nerabilidade. No Xingu, algumas dessas terras estão na área de influência da UHE Belo Monte, e suas conclusões foram as-sumidas pelo governo como condicionan-tes do licenciamento do referido empreen-dimento.

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Promoção efetiva de direitos numa perspectiva intercultural

A criação de um novo paradigma na relação com os povos indígenas exige tra-tar da Educação. Atuar para a inclusão da óptica indígena nos processos de formação de estudantes indígenas e não indígenas. Superar a abordagem da temática indígena nas escolas públicas e privadas de ensino fundamental e médio sob o manto do es-tereótipo. É preciso reverter a abordagem folclórica sobre as culturas indígenas, que apenas confirma a prevalência dessa episte-mologia que negligencia ou desqualifica o conhecimento indígena, desconsiderando-o como elemento de conhecimento.

As Universidades não podem ignorar o tema indígena em determinadas áreas de for-mação. A diversidade sociocultural do Bra-sil demanda instituições de ensino superior que formem a partir da visão da diversidade. Com professores, cientistas, pesquisadores, interlocutores indígenas, mesmo em se tra-tando da educação formal de segmentos não indígenas da população, levando os indíge-nas do lugar de objeto de conhecimento ao de sujeitos de conhecimento.

Outra ação relevante é investir em pro-gramas robustos de fomento em ciência e tecnologia ao desenvolvimento de ativida-des tradicionais, que valorizem os conheci-mentos tradicionais indígenas e seus poten-ciais para o manejo sustentável dos recur-sos da biodiversidade. Será enriquecedor apostar nos centros de saberes tradicionais como espaços de transmissão e comparti-lhamento desses conhecimentos, a partir de métodos de aprendizagem horizontais e transversais às mais diversas áreas de co-nhecimento.

Essas iniciativas devem articular-se sem prescindir de um debate sobre o siste-ma próprio de educação escolar indígena, respeitando o direito ao ensino em língua in-dígena, a formação e contratação de profes-sores indígenas, e a liberdade de expressão de todas as especificidades culturais de cada povo no âmbito dos processos pedagógicos.

A Saúde, como direito humano funda-mental, deve sempre ser objeto de preocu-pação pública, sendo inconcebível transferir ao setor privado qualquer parcela dessa atri-buição. Precisamos, sim, de Mais Médicos. Mas precisamos também investir na forma-ção de mais profissionais dispostos a aplicar um conhecimento multidisciplinar, voca-cionados ao convívio nas aldeias, e abertos ao intercâmbio no que se refere às práticas tradicionais indígenas de cura. É fundamen-tal a articulação e interlocução constante entre as unidades públicas de saúde e as unidades regionais da Funai, para resgatar o sentido social de uma institucionalidade sanitária baseada em valores e princípios que contribuem com o desenvolvimento em comunidade e em sociedade, como equida-de e justiça social. Na construção dessa en-genharia inovadora, precisamos consolidar o Subsistema de Saúde Indígena dentro do SUS, ofertando condições adequadas e uma estrutura capaz de responder aos complexos desafios que essa tarefa impõe, no âmbito da atenção básica, mas também da média e alta complexidade, querendo sempre extrapolar os contornos da lógica da medicina ocidental convencional.

Enfrentar a violência contra os indígenas

Outro ponto sensível e inadiável no âm-bito da transformação da política indigenista pública é o enfrentamento à violência contra os indígenas. A primeira providência para tanto, é reconhecer sua existência, ao invés de jogá-la para debaixo do tapete. Isso exi-ge trabalho no sentido de reunir e processar dados, produzir informação sobre essa vio-lência, e com base num diagnostico preciso, reagir com uma política robusta de promo-ção à segurança dos indígenas. A tarefa de coordenação e articulação desse arranjo é do governo federal, que deve reunir União, es-tados e municípios, por meio de instituições, não só ligadas à área de segurança pública, mas também de promoção de direitos, de po-líticas sociais de prevenção à violência.

Gestão territorial

A dedicação, o cuidado e o respeito cultural devem estar presentes em todos os eixos de gestão das terras indígenas. É urgente investir em fomento para a cons-trução e recuperação de casas tradicionais, transpondo as barreiras impostas pelos pro-gramas habitacionais convencionais, que não atendem aos indígenas com a especi-ficidade devida; desenvolver incentivo real às atividades produtivas indígenas, aliando a preocupação com o fomento à produção e inclusão de seus produtos nas cadeias produtivas, sempre respeitando as particu-laridades decorrentes de suas organizações sociais próprias.

Nesse sentido, a Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial das Terras Indígenas – PNGATI, construída de for-ma participativa com ampla representação indígena, figura como instrumento mobili-zador da inversão dos lugares de domínio na gestão das terras indígenas, ao conferir a cada Povo o protagonismo no planejamen-to e implantação do plano de gestão de seu território. A PNGATI, contudo, ainda repre-senta um compêndio de diretrizes progra-máticas para a gestão das terras indígenas, exigindo um compromisso político e admi-nistrativo mais sólido para tirá-la do papel e efetivá-la a partir de ações concretas em escala mais abrangente.

Recursos naturais nas terras indígenas “As terras tradicionalmente ocupadas

pelos índios destinam-se a sua posse per-manente, cabendo-lhes o usufruto exclusi-vo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.”

A previsão é expressa em dispositivo da Constituição Federal, e integra o rol dos direitos e garantias estabelecidos em favor dos povos indígenas a partir de 1988.

Os modos particulares pelos quais as comunidades indígenas desenvolvem a exploração dos recursos naturais em seus territórios, protegendo-os, conduz a resul-tados satisfatórios no campo da sustenta-bilidade.

ÍNDIGENAS

A diversidade sociocultural do Brasil demanda instituições de ensino superior que formem a partir da visão da diversidade. Com professores, cientistas, pesquisadores, interlocutores indígenas, mesmo em se tratando da educação formal de segmentos não indígenas da população, levando os indígenas do lugar de objeto de conhecimento ao de sujeitos de conhecimento

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A Funai precisa ter garantida a estru-tura adequada ao cumprimento de sua mis-são institucional indigenista. Dentre outras coisas, depende, sobretudo, de um quadro de servidores qualitativa e quantitativa-mente compatível com a possibilidade de cumprimento de sua missão. Sua atua-ção deve ser respeitada e respaldada com apoio político-institucional que permita a atenção integral aos indígenas, e não a viabilização junto aos povos, de projetos e ações integrantes de agendas externas de outros setores e órgãos públicos. Isso implica abandonar a concepção da Funai como órgão responsável pela ‘pacifica-ção’, ‘assimilação’ e ‘integração’ dos po-vos indígenas aos interesses, objetivos e espaços-tempos hegemônicos.

Garantir a sobrevivência física e cul-tural dos povos indígenas no Brasil é uma obrigação inequívoca do Estado. Ou o go-verno olha com respeito para a Funai e para a importância de sua missão, ou deixará claro que não se importa nem se responsa-biliza pelo futuro dos povos indígenas no Brasil. Na esfera do Executivo, respeito significa ouvir a instituição a partir de sua qualidade de competência para atuar na matéria, e fornecer os recursos imprescindí-veis (concurso público, orçamento, estrutu-ra física...) para a implantação das medidas que o órgão propõe e defende.

Coragem para mudar

Portanto, o que se espera desse segun-do governo da Presidenta Dilma em relação ao tema indígena, é que soprem ventos de coragem e determinação para contrapor os desmandos do agronegócio e encarar esse assunto com a atenção que merece. Que se leve a efeito uma política pública indigenis-ta capaz de ouvir e fazer ouvir, de olhar e fazer olhar, verdadeiramente, os indígenas, buscando retirá-los dessa invisibilidade ex-cludente e opressora e reconhecê-los como sujeitos ativos e imprescindíveis na concre-tização de soluções voltadas a um projeto de desenvolvimento, econômico, social, e ambiental, efetivamente sustentável.

*Maria Guta Assirati foi presidente interina da Fundação Nacional do Índio (Funai) de junho de 2013 a setembro de 2014. Esteve à frente da Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Fundação desde 2012. Atualmente cursa um Programa de Doutorado no Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra

Basta citar que as terras indígenas vêm apresentando o menor índice de desma-tamento da Amazônia Legal. Essas áreas costumam apresentar um índice médio de apenas 1% no total de desmatamento veri-ficado na região, contra 59% de desmata-mento em áreas privadas. As Terras mais desmatadas localizam-se nos estados do Pará, Rondônia, Mato Grosso e Amazonas, e 75% delas apresentam alguma vulnerabi-lidade específica, tal como presença de em-preendimentos de infraestrutura, situação não regularizada, ou sub judice, ou ocupa-ção não-indígena. O Prodes desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espa-ciais (INPE), constatou que 57% da floresta remanescente na Amazônia Legal estão lo-calizados em Terras Indígenas e Unidades de Conservação, e que estas áreas apresen-tam taxas de desmatamento bem inferiores a outras não protegidas.

A utilização racional de recursos natu-rais não se circunscreve, como é óbvio, ao campo da garantia de direitos indígenas. Ao contrário, representa a condição primordial para sobrevivência dos seres humanos na Terra, responsabilidade com a qual, os indí-genas vêm contribuindo em larga medida. Combater a utilização indevida, e por vezes ilícita, desses recursos, e fomentar métodos sustentáveis de manejo desses recursos, são tarefas inequívocas de nosso governo, par-tindo-se da expectativa de efetivação de um projeto de desenvolvimento que seja sus-tentável sob os aspectos social, ambiental, e econômico. Pressuposto disso é, portanto, que os projetos desenvolvidos pelo próprio governo atentem também para o uso racio-nal desses recursos, sobretudo quando há territórios protegidos em suas áreas de in-fluência, já que se impõe, nesses casos, tan-to a relevância da sustentabilidade, como o dever de cumprir o que a Constituição ga-rante aos povos originários.

Nesse sentido, é de se reforçar nova-mente a implementação da PNGATI, no âmbito de uma ação potencialmente eficaz.

Participação indígena é indispensável

É inerente à rediscussão da relação entre o Estado e os povos indígenas, a sua integral participação nos ciclos de formula-ção, implementação e avaliação de políticas públicas. Talvez possamos começar pelo caminho mais simples, garantindo-lhes os espaços participativos convencionais, já institucionalizados no tratamento de grande parte das políticas sociais.

ÍNDIGENAS

A partir do Governo Lula, houve gran-de investimento nas instâncias participati-vas. Hoje, quase todas as políticas sociais possuem Conselhos. A política indigenista ainda conta somente com uma Comissão Nacional.

No que concerne à participação, nunca é demais frisar a necessidade de se colocar em prática o efetivo cumprimento da Conven-ção 169 da OIT, vigente no Brasil há mais de 10 anos, especialmente no que tange ao direito à consulta livre, informada, e prévia a qualquer ação a ser desenvolvida junto a es-sas populações. Esse direito tem sido muitas vezes, desconsiderado ou transfigurado.

Diversos povos indígenas, no entanto, têm se antecipado ao governo, discutindo, construindo coletivamente, e apresentan-do protocolos de consulta específicos de acordo com suas organizações políticas e sociais. É fundamental que o governo es-tabeleça diretrizes básicas que garantam direitos a todos os povos durante os pro-cessos de consulta, prevendo a observação dos protocolos específicos, sempre que já tenham sido apresentados.

Uma efetiva política indigenista pública precisa de um órgão capaz de coordená-la e implementá-la. As especificidades indígenas ainda não fazem parte da preocupação e atu-ação de um grande número de órgãos públi-cos, federais, estaduais, e municipais. Isso significa que, ainda hoje, em certos casos, se a ação da Funai não chegar a determinadas comunidades ou povos indígenas, nenhu-ma outra ação pública chegará. Por isso, o desempenho satisfatório da Funai ainda é fundamental para a sobrevivência de muitos indígenas. Inversamente, o funcionamento inadequado da instituição, pode significar perdas irreparáveis aos povos indígenas. A desconsideração disso pode permitir ou acarretar a perda de vidas indígenas, ou até mesmo, o desaparecimento de todo um povo indígena, o que equivale a um genocídio.

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TENDÊNCIA

O segundo congresso da tendência petista Articulação de Esquerda vai ser realizado no Instituto Cajamar

(SP), de 2 a 5 de abril de 2015. Simulta-neamente, ocorrerá a Conferência sindical da tendência (ver a programação na última página desta edição de Página 13).

Página 13 publica a seguir um dos projetos de resolução em debate no Con-gresso, contendo propostas de reforma programática, estratégica e organizativa do Partido dos Trabalhadores. Os demais pro-jetos de resolução estão disponíveis na Tri-buna de Debates (www.pagina13.org.br).

1. O 5º Congresso do Partido dos Traba­lhadores deve priorizar odebate do nosso projeto estratégico, com destaque para a articulação entre as reformas estruturais (como as reformas agrária, urbana e tribu­tária) e o socialismo.

2. Uma coisa é falar que nossa tarefa princi­pal em 2015 e adiante será completar o que não foi feito em 2014, criando as condições para um segundo mandato superior.

3. Outra coisa é construir as condições para isto, apoiando o governo contra a oposição de direita, revertendo as concessões que o governo faz à direita e ao grande capi­tal, mobilizando os setores populares em defesa de reformas estruturais, criando as condições para outro tipo de governabili­dade.

4. Não será fácil e, num certo sentido, é mais difícil ter êxito hoje do que se tivéssemos adotado outra estratégia desde 2003 ou antes. Por isto, não concordamos em nada com aqueles que promovem uma com­petição entre Dilma e Lula. Nosso camin­ho não depende da genialidade deste ou daquele líder, depende das opções estra­tégicas e do comportamento prático de milhões de trabalhadores e trabalhadoras que têm como referência política o Partido dos Trabalhadores.

5. O que houve no segundo turno das eleições presidenciais de 2014 demon­strou que a quase totalidade da esquerda e do campo democrático­popular tem con­sciência de que a derrota do PT seria a der­rota do conjunto da esquerda; e que nossa vitória seria a vitória do conjunto das for­ças democráticas e progressistas.

6. Na prática, setores da esquerda, mesmo os que romperam com o PT, foram levados a aceitar a correção de nossas afirmações quanto ao papel histórico do PT. O voto de esquerda teve papel decisivo no re­sultado do segundo turno, especialmente entre os jovens.

7. Mas isto só terá continuidade e conse­quência se dermos continuidade à linha de politização, polarização e mobilização que marcou a reta final das eleições de 2014; se adotarmos outra tática frente à militân­cia social em geral e frente à militância de outros partidos de esquerda; se adotarmos uma nova estratégia e um novo padrão de funcionamento, o que inclui um imenso esforço de trabalho de base, de democra­tização interna, de comunicação, de for­mação político­ideológica, bem como um combate permanente à corrução. E que mantenha e aprofunde os vínculos do Par­tido com as massas trabalhadoras. Pois em tempos de confusão como os que vivemos, sobreviverá e avançará quem tiver o apoio da maioria da classe trabalhadora.

8. É com este espírito que a militância do PT deve participar dos congressos da CUT, da UNE e da UBES e construir o congresso da Juventude petista.

9. É com este espírito, também, que apre­sentamos propostas de reforma organizati­va do Partido dos Trabalhadores, baseadas nas seguintes diretrizes:

a) o  PT deve voltar a ser um partido que atua também nos anos ímpares e que sabe combinar luta social, luta cultural, cons­trução partidária, com disputa eleitoral, ação parlamentar e governamental;

b)  precisamos reatar laços orgânicos com nossa base social, por um lado retomando a prática do trabalho de base e por outro lado recobrando a capacidade de mobiliza­ção social;

c) a necessidade, tanto estratégia quanto tática, de realizar grandes jornadas de luta exige constituir uma frente orgânica daqueles setores que integram o campo democrático­popular, por exemplo outros partidos de esquerda e entidades históri­cas da classe trabalhadora e da juventude, como a CUT, UNE, MST, MNLM, CMP, CONAM e outras;

d) o PT deve construir uma política de co­municação de massas — articulando im­pressos (jornais e revistas), rádio, televisão e redes sociais — voltada a defender as posições da classe trabalhadora, fortalecer os laços com os movimentos sociais, lutar pela ampliação de direitos, amplificar o al­cance do programa democrático­popular e socialista na disputa ideológica, no plano nacional e internacional, dialogar e organi­zar nossa ampla base social, realizar a dis­puta política e ideológica permanente com nossos adversários e também com nossos inimigos de classe;

A reforma do PT

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O 2º Congresso Nacional da AE se realizará nos dias 2, 3, 4 e 5 de abril de 2015, no Instituto Cajamar (Via Anhanguera km 46,5 no estado de SP), para debater a seguinte pauta:

balanço das eleições de 2014;

desafios e propostas para o segundo mandato Dilma Rousseff, para a luta social, para a comunicação e cultura, para os governos/parlamentos estaduais e municipais, para as eleições 2016 e 2018;

nossas propostas de reforma programática, estratégica e organizativa do Partido dos Trabalhadores;

atuação e organização da Articulação de Esquerda;

eleição da nova direção nacional da Articulação de Esquerda e da Comissão de ética nacional

Simultaneamente ao 2º Congresso, será realizada a Oitava Conferência Sindical Nacional da AE.

2 de abril

20h Abertura da conferência sindical

3 de abril

9h Aprovação do regimento interno e eleição da Mesa Diretora

10h Apresentação e debate dos projetos de resolução do Congresso

20h Abertura do Segundo Congresso

4 de abril

9h Apresentação e debate do projeto de resolução da Conferência Sindical

14h Congresso e da Conferência Sindical (sessões simultâneas)

20h Confraternização

5 de abril

9h Congresso e da Conferência Sindical (sessões simultâneas)

14h Encerramento conjunto da Conferência e do Congresso

e) o PT deve reconstruir sua rede de orga­nizações de base, através da constituição de núcleos do PT nos locais de trabalho, de moradia e de estudo;

f)  o PT deve reorganizar seu trabalho de formação, com o objetivo de atingir da ma­neira mais rápida o maior número de mili­tantes, dando ênfase não apenas a nossa história e a nossas propostas programáti­cas democrático­populares, mas também aos aspectos político­ideológicos e teóri­cos indispensáveis à luta da classe trabal­hadora pelo poder e pelo socialismo;

g) as instâncias partidárias devem ser for­talecidas, em detrimento dos centros de comandos paralelos localizados nos gabi­netes parlamentares e executivos;

h) as direções partidárias devem ser eleitas nos congressos partidários. Fim do PED e da influência das práticas eleitorais bur­guesas (como a compra de votos) nos pro­cessos internos;

i)  a Juventude do PT precisa assumir o caráter de uma frente de massas do PT en­tre os jovens, superando seu profundo pro­cesso de dispersão e desorganização em um dos momentos em que o PT é mais de­safiado a dialogar com as novas gerações;

j) reafirmar a paridade de gênero e as cotas étnica e de juventude na composição das direções partidárias, reafirmando nosso es­forço de organizar setores historicamente excluídos e compreendendo que sua pre­sença nas direções partidárias pode contri­

buir para superar nossos problemas políti­cos e organizativos;

k)  garantir a auto-sustentação financeira. Um partido de trabalhadores não pode de­pender de recursos financeiros doados pelo empresariado, seja para fazer campanhas eleitorais, seja para conduzir o cotidiano da vida partidária;

l) fortalecer nosso trabalho de relações in­ternacionais;

m) colocar a política no comando e reaf­irmar o caráter de classe do Partido. Os problemas organizativos vividos pelo PT derivam de opções políticas e sua solução também passa pela política. E a principal decisão política é: o PT  pretende continuar sendo um partido da classe trabalhadora.

TENDÊNCIA

PROGRAMAÇÃO

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ESPECIAL 8 DE MARÇO

Foi num sábado de Carnaval que perdemos três companheiras de luta. Rosangela Rigo, Lurdinha Rodrigues e Célia Escanfella faleceram no dia 14 de fevereiro de 2015, vítimas de um brutal acidente de carro no km 69 da Rodovia BA172, quando se dirigiam para a tão sonhada viagem pela Chapada Diamantina, no município de Serra Dourada, BA.

Todos os anos, milhares de homens e mulheres morrem em acidentes de trânsito nas ruas, avenidas e estradas brasileiras. Relatório da ONU em 2013 coloca o Brasil no quarto lugar entre 183 países do mundo em número absoluto de mortes no trânsito, atrás apenas de China, Índia e Nigéria. A violência desses traumas nem sempre é reconhecida para além das estatísticas oficiais, até que ela nos colhe e ceifa vidas tão próximas de nossas vidas e militâncias.

Assim é que a notícia da morte trágica de duas figuras tão expressivas do feminismo brasileiro e da construção do movimento de mulheres no Brasil ­ Rosangela e Lurdinha ­ correu o país e chocou quem as conhecera ou quem apenas soube das circunstâncias do acidente. Choque ainda maior quando se relaciona a morte violenta de três companheiras de tantas lutas sociais contra a violência de gênero.

A perplexidade das mortes inesperadas tornou­se em poucos dias comoção, à medida que chegavam as informações sobre o drama da identificação, traslado e entrega dos corpos para as famílias, processo que — mesmo com todo o apoio dos governos Federal, da Bahia e do Distrito Federal — encerrou-se apenas no dia 25 de fevereiro. Ao longo desses onze longos dias, o legado das companheiras foi lembrado, pranteado e admirado por quem as conhecia e por quem ficou conhecendo por meio da rede de solidariedade que se formou.

Em suas trajetórias, seja nos movimentos sociais, na assessoria parlamentar, em vários níveis de governo e na atividade acadêmica, lutaram contra toda forma de exploração, dominação e violência contra as mulheres e outros setores vulneráveis da sociedade brasileira, como a criança e o adolescente. Lutaram contra o racismo e contra a homofobia. Lutaram por uma sociedade justa e igualitária, com a certeza de que sem feminismo não há socialismo.

Rosangela, Lurdinha e Célia, presentes!

“Agora, eu sou uma estrela”

Não há socialismo, sem feminismo

Uma grande perda, um legado à luta das mulheres

Rosangela

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Celia

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ESPECIAL 8 DE MARÇO“Agora, eu sou uma estrela”

Rosangela Rigo estava feliz neste co-meço de ano. A convite da ministra Eleonora Menicucci havia assumi-

do o desafio de comandar a Secretaria Na-cional de Articulação Institucional e Ações Temáticas da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) do Governo Federal.

Tinha acabado de finalizar uma gran-de tarefa, que foi a entrega da primeira Casa da Mulher Brasileira – em Campo Grande -, programa que ajudou a gestar na SPM e uma das marcas do compromisso com as mulheres vítimas de violência do governo Dilma. Tratava de tudo com pro-fissionalismo e carinho muito grande, pois a primeira unidade deste programa se dava numa conjuntura complicada, tudo tinha que dar certo. Era sua a responsabilidade pelo acompanhamento da obra, desde a es-colha do terreno até a inauguração. Tudo correu muito bem, a despeito de uma porta quebrada que renderia muita risada depois.

Havia muito que comemorar nestes dois meses de 2015, inclusive o seu ani-versário de 51 anos juntos com outras duas amigas. Ela mesma escreveu. “Este início de ano várias comemorações importantes: posse da presidenta Dilma Rousseff no segundo mandato; aniversário na Chapa-da dos Veadeiros (estou devendo as fotos) maravilhoso!; recondução da ministra Ele-onora Menicucci; eu assumo agora a Secre-taria de Articulação Institucional e Ações Temáticas; será inaugurada a primeira Casa da Mulher Brasileira, do Programa Mulher Viver sem Violência; e a festa com come-moração tripla de aniversário”.

A viagem à Chapada Diamantina no Carnaval, com sua grande amiga e compa-nheira Lurdinha, seria um momento ideal para celebrar junto à natureza – adorava ca-choeiras - e amigos os triunfos do ano novo.

Rosangela Rigo partiu de bem com a vida, e de forma intensa como a viveu. De família militante gaúcha - plural política, ideológica e partidariamente -, Rosangela viveu com força sua militância feminista e

socialista em São Paulo. Filiada, militante e dirigente do PT, construiu sua trajetó-ria em movimentos sociais, organizações não-governamentais, governos e nas vá-rias estruturas de direção do Partido que ajudou a construir.

Trajetória e partido, histórias que se misturam

Rosangela faz jus às homenagens que o seu partido – dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, como sempre reafirmava - lhe rende, das notas das secretarias de Mu-lheres do PT em todos os níveis e ao ato partidário que será realizado no próximo dia 13 de março, em São Paulo. Ela era dessas militantes de carregar bandeira nos atos públicos, algumas confeccionadas por ela mesma, de participar de campanhas eleitorais nas escolas, nas ruas, campos, construções, de passar tempo no deba-te político nas instâncias do PT e de sua corrente, de comprar briga com coxinhas e conservadores em geral.

Deixou marcas na elaboração do PT sobre feminismo e políticas de igualdade de gênero. Foi secretária de Mulheres do PT-SP e integrou muitos coletivos muni-cipais, estadual e nacional de mulheres do PT. Assumiu no dramático período pós 2005 a Executiva Nacional do PT, no pro-

cesso de construção de uma nova corrente petista, a Militância Socialista, da qual foi fundadora e dirigente nacional desde a pri-meira hora até sua morte.

No último Congresso partidário, a luta pela paridade de gênero nas instâncias de direção do PT a consumiu integralmente. Articulou, defendeu, brigou e deixou sua assinatura nesta página da história do com-promisso petista com a participação políti-ca das mulheres. Mas não há resolução do PT sobre a luta das mulheres e o feminismo que não tenha tido o pitaco da Rosangela Rigo.

Rosangela faz jus às homenagens que mulheres e homens dos movimentos so-ciais lhes rendem. Como militante femi-nista nunca abriu mão da construção da igualdade, de uma plataforma de mudanças sociais em favor das mulheres, como parte integrante do projeto de classe, como ide-ologia e prática, seja nas organizações ou nos movimentos misto. Consciente de que a construção do feminismo como luta so-cial pode incidir de forma concreta sobre as contradições sociais que materializam as desigualdades de gênero tão presentes nas relações pessoais e nas práticas coletivas.

Sempre atenta na construção do mo-vimento autônomo e auto-organizado das mulheres compartilhamos com ela no ano 2000 da construção da 1ª Ação da Mar-

Uma militante petista, socialista e feminista

Lourdes Simões*

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rio e competente com as equipes de gover-no e a militância dos movimentos de mu-lheres. Sua participação nas Conferências dos Direitos das Mulheres, como repre-sentante da sociedade civil ou do governo, dependendo do ano, sempre foi constru-tiva e eficaz para produzir resultados de qualificação do debate e das resoluções.

Reforma política, desafio central

Rosangela coordenaria, entre outras ações temáticas vinculadas à pasta que re-cém assumira na SPM, os trabalhos visando a realização de uma reforma política com participação popular, que entre outros eixos deveria enfrentar a privatização da política que afastava, pelo poder econômico, as mu-lheres dos centros de decisão em governos e parlamentos. Portanto, defenderia os ei-xos centrais do projeto do PT pelo finan-ciamento público exclusivo de campanhas e partidos, a defesa do voto proporcional em lista partidária com paridade de gênero na sua composição e a convocação de uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sis-tema Político, de cujo Plebiscito Popular participara em setembro de 2014.

Claro que as posições de Rosangela e do PT estariam sendo mediadas com a conjuntura e a correlação de forças deste que é uma das mais conservadoras com-posições do Congresso Nacional de nossa história republicana democrática, mas sua firmeza e determinação teriam como ponto de partida as convicções do PT e dela pró-pria do esgotamento do atual sistema polí-tico de representação popular, que fez das mulheres suas mais evidentes excluídas.

Com certeza, olhar para o passado e o presente do pensamento e da militância de nossas companheiras recentemente falecidas sempre é doloroso, mas necessário para neles encontrar inspiração e força pra continuar.

Por isso, com certeza em todo o país a morte trágica de Rosângela, Lurdinha e Célia acenderão compromissos renovados com suas bandeiras e lutas de quem sonha para mudar o mundo e mudar a vida das mulheres. Aqui estamos nós, marchando até que todas sejamos livres, com elas e com todas as outras que vieram antes delas e que virão depois, até a vitoria final.

*Lourdes Simões, militante do MMM. Representa a MMM no CNDM. Secretaria de Mulheres da Macro Campinas do Partido dos Trabalhadores

cha Mundial de Mulheres em Campinas, momento que marcou a possibilidade de aglutinar a diversidade do movimento de mulheres que na Marcha se encontram pra lutar contra a pobreza e a violência sexista, fortalecendo espaços coletivos com criati-vidade e irreverência, para enfrentar o ca-pitalismo patriarcal, racista e lesbofóbico.

Formuladora e gestora de políticas públicas

Rosangela aliava uma grande capacida-de de trabalho prático com inspirada refle-xão sobre a necessidade de consolidar polí-ticas públicas de promoção da igualdade de gênero. Desenvolveu essas habilidades nos mandatos parlamentares da deputada federal Marta Suplicy e do deputado estadual Re-nato Simões, ambos do PT-SP, mas foi no Executivo que ela teve condições de efetivar suas elaborações e reivindicações.

No plano municipal, Rosangela im-plantou a Coordenadoria da Mulher e co-ordenou políticas importantes de inclusão social e combate à violência contra as mu-lheres na Prefeitura Municipal de Cam-pinas, na gestão do prefeito Toninho e da prefeita Izalene Tiene. Integrou também a Secretaria de Participação Popular na Pre-feitura Municipal de São Paulo na gestão da Marta Suplicy; e na Prefeitura Munici-pal de Suzano, no Alto Tietê, na gestão do Prefeito Marcelo Cândido, contribuindo para a reflexão sobre a participação popu-lar das mulheres e a necessidade de cria-ção de um órgão executivo coordenador das ações afirmativas para as mulheres.

Em Campinas, enfrentou todo o ma-chismo e conservadorismo político da ci-dade contra a gestão de uma prefeita al-çada ao governo municipal pela tragédia do assassinato do prefeito Toninho. Izale-ne Tiene com certeza teve em Rosangela Rigo e nas mulheres do PT, companhei-ras de realizações e de enfrentamentos, a compreensão sobre a importância da rela-ção dos governos com o partido e os mo-vimentos sociais que foi fundamental para este período de resistência.

Sua experiência de gestão a levou à Secretaria de Políticas para as Mulheres a convite da ministra Iriny Lopes, como di-retora e posteriormente como Secretária--Adjunta de Combate à Violência contra a Mulher. Por mérito, foi galgando posições na estrutura da Secretaria de Políticas para as Mulheres, por meio do trabalho solidá-

ESPECIAL 8 DE MARÇO “Agora, eu sou uma estrela”

No último Congresso partidário, a luta pela paridade de gênero nas instâncias de direção do PT a consumiu integralmente. Articulou, defendeu, brigou e deixou sua assinatura nesta página da história do compromisso petista com a participação política das mulheres. Mas não há resolução do PT sobre a luta das mulheres e o feminismo que não tenha tido o pitaco da Rosangela Rigo

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É uma força que nos alenta, uma mulher que viveu e contribuiu de forma grandiosa para que as polí-

ticas públicas dirigissem seu olhar para a diversidade, principalmente, das mu-lheres. Cada pessoa que viveu perto dela sabe dessa luta e de como ela nos ensina-va a importância de perceber e respeitar as questões relativas à diversidade, como um princípio de democracia e de direito ao acesso às políticas de cidadania.

É o som é a voz! Bradava ela, quando a Ellen Oléria ganhou o concurso nacional: “enfim, foi reconhecido o valor de uma mu-lher negra”. Vibrava com cada conquista das mulheres negras, lésbicas, com defici-ência, indígenas, jovens, idosas, enfim das mulheres que por muito tempo foram invi-síveis aos olhos do Estado, da sociedade e, por consequência, das políticas necessárias para o reconhecimento da cidadania plena.

Indignava-se com a injustiça, com o preconceito. Ficava abalada, mas não fica-va de braços cruzados, porque esta mulher,

Maria Marias Isabel Freitas*

sempre teve a estranha mania de ter fé na vida. É assim que o movimento feminista e LGBT, entre tantos outros, reconhece a Maria de Lourdes Rodrigues.

A teimosia de uma gente ri quando deve chorar, e quer viver e não apenas pas-sar pela vida. Viver de forma justa e plena, sem ter que correr o risco de pagar com a vida, o preço de viver a diferença, de ser di-ferente numa sociedade patriarcal, racista, hétero-normativa, que segrega a diferença, retirando à liberdade.

A Lurdinha, que conhecemos, era essa mistura da dor e da alegria.

Ela nos deixou sua marca inconfundí-vel, que une a combatividade e a esperança na vida diversa, na democracia, na plura-lidade e na liberdade. Ao lado da dor que sentimos com sua ausência, uma força ar-rebatadora nos convoca a seguir na luta por um país mais igual para todas as mulheres. Nos convoca a uma vida de inabalável soli-dariedade com a diferença e com o compro-misso da dignidade e da justiça, porque é

preciso ter força é preciso ter raça, é preciso ter graça, é preciso ter manha sempre.

Multiplicaremos tua força, por mil, por um milhão. Seremos milhares defendendo suas bandeiras e seus sonhos de mundo mais justo e igualitário para as mulheres de todas as cores, credos e crenças. É preciso ter sonho sempre!

Isabel Freitas, ativista feminista

ESPECIAL 8 DE MARÇO“Agora, eu sou uma estrela”

Lurdinha Rodrigues

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Caminhos do Coração

Há muito tempo que eu saí de casa Há muito tempo que eu caí na estrada Há muito tempo que eu estou na vida Foi assim que eu quis, e assim eu sou feliz

Principalmente por poder voltar A todos os lugares onde já cheguei Pois lá deixei um prato de comida Um abraço amigo, um canto prá dormir e sonhar

E aprendi que se depende sempre De tanta, muita, diferente gente Toda pessoa sempre é as marcas Das lições diárias de outras tantas pessoas

Rosangela Rigo gostava muito de música e de fotografar. No dia 17 de janeiro deste ano, a Ro Rigo – como muitas a chamavam – escreveu no Facebook “...Tem uma música do Gonzaguinha que se hoje pudesse escolher, seria a que melhor me retrata:

E é tão bonito quando a gente entende Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá E é tão bonito quando a gente sente Que nunca está sozinho por mais que pense estar

É tão bonito quando a gente pisa firme Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos É tão bonito quando a gente vai à vida Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração

E aprendi ...

Final:O coração, o coração

Que 2015 seja um grande ano!”

ESPECIAL 8 DE MARÇO “Agora, eu sou uma estrela”