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CENTRO DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO AMAZONAS CURSO TÉCNICO EM REABILITAÇÃO DE DEPENDENTES QUÍMICOS?Profa. M.Sc. MARIA DAS GRAÇAS FERREIRA DE MEDEIROSSUMÁRIOINTRODUÇÃO 1. PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS 2. TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2.1. Teoria do Desenvolvimento de Piaget 2.2. O Desenvolvimento Infantil segundo Vigotski 2.3. Teoria do Desenvolvimento de Freud 2.4. Os Oito Estágios do Homem segundo Erikson 2.6. Desenvolvimento Psicológico e Personalidade 3. NOÇÕES DE PSICOLOGIA SOCIA

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CENTRO DE EDUCAO TECNOLGICA DO AMAZONAS CURSO TCNICO EM REABILITAO DE DEPENDENTES QUMICOS

?

Profa. M.Sc. MARIA DAS GRAAS FERREIRA DE MEDEIROS

SUMRIO

INTRODUO 1. PROCESSOS PSICOLGICOS BSICOS 2. TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2.1. Teoria do Desenvolvimento de Piaget 2.2. O Desenvolvimento Infantil segundo Vigotski 2.3. Teoria do Desenvolvimento de Freud 2.4. Os Oito Estgios do Homem segundo Erikson 2.6. Desenvolvimento Psicolgico e Personalidade 3. NOES DE PSICOLOGIA SOCIAL 4. FUNDAMENTOS SOCIOLGICOS DO COMPORTAMENTO: DINMICA DE GRUPOS 5. NOES DE PSICOLOGIA COMUNITRIA 6. DROGAS X INTEGRIDADE PSICOSSOCIAL BIBLIOGRAFIA

3 5 16 17 19 20 24 28 34

2.5. Rogers e a Teoria da Pessoa em Pleno Desenvolvimento 26

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... as pessoas no esto sempre iguais, ainda no foram terminadas...(Guimares Rosa)

INTRODUO

A

palavra Psicologia foi originada das palavras gregas psyche, que significa alma, e logos, que significa discurso, ou estudo. Pode-se dizer que a Psicologia

to antiga quanto o prprio homem, pois desde sempre se colocaram questes ao homem sobre si prprio e sobre o que vulgarmente se designava "alma". A Psicologia na antiguidade ganhou consistncia com Scrates, para quem a principal caracterstica humana era a razo, condio que permitia ao homem sobrepor-se aos instintos. Seus sucessores mais proeminentes foram Plato e Aristteles, que deixaram em seus estudos filosficos a base para as principais correntes psicolgicas. Plato procurou definir no corpo fsico um lugar para a razo (ou alma), que seria a cabea. Ao morrer, segundo ele, o corpo desaparecia e a alma ficava livre para ocupar outro corpo. Aristteles acreditava que alma e corpo no podiam ser dissociados. Para ele tudo, mesmo os vegetais, possuam a sua psych ou alma, mas s o homem tinha a alma racional, com a funo pensante. Duas teorias, assim, foram delineadas na antiguidade: a platnica, que postulava a imortalidade da alma, e a aristotlica, que afirmava a mortalidade da alma e a sua relao de pertencimento ao corpo. A preocupao de conhecer o comportamento humano tem sido marcada por tentativas baseadas nas crenas e nos conhecimentos de cada cultura. As crenas populares, transmitidas de gerao em gerao, tambm constituem formas de explicao do comportamento pelo senso comum. Quando se afirma que o lder nasce feito, h um pressuposto bsico de que a hereditariedade o fator determinante do comportamento, enquanto que provrbios como as roupas fazem o homem ou diz-me com quem andas e te direi quem s denotam a predominncia

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dos fatores ambientais, estabelecendo os principais plos de referncia ainda usados para a compreenso do humano: a hereditariedade e o meio ambiente. A Psicologia s se constituiu como campo de conhecimento cientfico no final no sculo 19, definindo como seu objeto de estudo em sentido amplo o homem, a partir de suas manifestaes comportamentais. Considerando os diversos valores sociais que permitem vrias concepes de homem, pode-se dizer que a cincia psicolgica estuda os diversos homens concebidos pelo conjunto social. Vises Atuais da Psicologia Moderna A maioria dos cientistas do comportamento identificam-se mais com um ou outro dos quatro pontos de vistas considerados mais importantes na atualidade o psicanaltico, o neobehaviorista, o cognitivo e o humanista. Alguns preferem uma combinao entre as diferentes abordagens. O ponto de vista psicanaltico - A essncia do mtodo psicanalista a observao dos fatos, consistindo o mtodo da psicanlise em tirar inferncias (concluses) dos fatos observados, formular hipteses, compar-las com os fatos posteriores que forem encontrados e eventualmente fundir um corpo organizado de material com o fim de verificar a validade das hipteses. O mtodo utilizado principalmente para estudo da personalidade, o ajustamento, a anormalidade e o tratamento de pessoas psicologicamente perturbadas. O ponto de vista neobehaviorista - Os behavioristas modernos investigam, alm dos estmulos, respostas observveis e a aprendizagem, fenmenos complexos que no podem ser observados diretamente, como o amor, a empatia, a tenso, a confiana e a personalidade. Sua principal caracterstica o uso de perguntas precisas e bem delineadas e a utilizao de mtodos objetivos em pesquisas meticulosas. O ponto de vista cognitivo - A psicologia cognitiva tem como base de estudo os processos mentais como o pensamento, a percepo, a memria, a ateno, a resoluo de problemas e a linguagem, visando a aquisio de conhecimentos precisos sobre como esses processos funcionam e como so

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aplicados na vida cotidiana. Usam a introspeco informal para desenvolver intuies e os mtodos objetivos para confirmar as impresses colhidas. O ponto de vista humanista - Os psiclogos humanistas consideram que o objetivo principal do psiclogo ajudar as pessoas a compreender e desenvolver o seu potencial, visando o enriquecimento da vida. Os objetos principais das investigaes psicolgicas devem ser os problemas humanos significativos (objetivos de vida, auto-realizao, criatividade etc), com foco na conscincia subjetiva dos indivduos, esforando-se por compreender o individual, o excepcional e o imprevisvel da experincia humana. Combinam mtodos objetivos, estudos de caso, tcnicas introspectivas informais e mesmo anlise de obras literrias. A matria-prima da Psicologia, ento, o homem em todas as suas expresses visveis e invisveis, singulares ou genricas. A contribuio especfica da Psicologia para a compreenso da totalidade da vida humana o estudo da subjetividade, a maneira prpria de cada indivduo experienciar o mundo, construda aos poucos, ao mesmo tempo em que o homem atua sobre o mundo e sofre seus efeitos. No h, ento, uma psicologia, mas cincias psicolgicas em

desenvolvimento e, mesmo tendo a Psicologia definido o seu objeto de estudo, este tm sido entendido de diferentes formas pelas teorias psicolgicas. Estas teorias, no entanto, no so definitivas, sendo passveis de constante reformulao e atualizao, uma vez que o comportamento no pode ser explicado por uma causa nica, pois resulta de fatores psicolgicos e no-psicolgicos que interagem entre si.

1. PROCESSOS PSICOLGICOS BSICOS

Na compreenso do comportamento humano, o processo de aprendizagem constitui matria-prima para os estudiosos, sendo esta geralmente definida como uma mudana relativamente duradoura no comportamento, induzida pela experincia (DAVIDOFF, 1983).

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Aprender, no entanto, uma atividade que ocorre dentro de um organismo e que no pode ser diretamente observada, e as mudanas do comportamento nem sempre podem ser atribudas experincia, uma vez que o cansao, a motivao, as emoes e a maturao tambm alteram o comportamento, da a importncia de compreenso dos processos psicolgicos bsicos que esto envolvidos na aprendizagem e, consequentemente, na base do comportamento.

PERCEPO1 A percepo a atividade cognitiva mais fundamental, da qual emergem todas as outras. Na percepo esto envolvidas numerosas atividades cognitivas, como conscincia, memria, pensamento e linguagem. A ateno precede a percepo, pois uma abertura seletiva para uma pequena poro de fenmenos sensoriais. Estudos sugerem que a ateno se ativa em diversas ocasies e pode ser caracterizada por intensidade, capacidade e direo. Necessidades, interesses e valores tm sido citados como influncias importantes sobre a ateno. O processo perceptivo complexo depende tanto dos sistemas sensrios quanto do crebro. Nosso organismo equipado com sistemas especiais de captao de informaes, que denominamos sentidos ou sistemas sensoriais. Onze sentidos humanos foram identificados cientificamente, agrupados nos cinco sentidos perceptivos: 1) visual (vista); 2) auditivo (audio); 3) somato-sensorial (tato, presso profunda, calor, dor mais combinaes como ccegas, comicho e maciez); 4) qumico (paladar, olfato); 5) proprioceptivo (sentido vestibular, sentido cinestsico). O sentido cinestsico depende dos receptores dos msculos, tendes e articulaes, e informa o posicionamento relativo das partes do corpo durante o movimento; o sentido vestibular (sentido de orientao ou equilbrio), informa a respeito do movimento e da orientao de sua cabea e corpo com relao terra. Muitas condies ambientais durante a infncia so essenciais ao desenvolvimento de uma capacidade madura de percepo. Nos primrdios da vida, experincias negativas ou ausncia de experincias necessrias podem destruir o desenvolvimento das aptides normais, como os efeitos da luz, de experincias1

Cf. DAVIDOFF, Linda. Introduo Psicologia.

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visuais padronizadas e do movimento ativo. A privao sensorial afeta as pessoas de modo diferentes, dependendo de fatores como a durao, as condies durante a privao e as caractersticas pessoais dos indivduos. A motivao pessoal, as emoes, os valores, os objetivos, os interesses, as expectativas e outros estados mentais influenciam o que as pessoas percebem. A tendncia do indivduo dar nfase aos aspectos dos dados de realidade que se acham em harmonia com suas crenas; as expectativas influenciam as aes que, por sua vez, afetam a conduta das pessoas percebidas. Assim tambm as vivncias culturais podem influenciar o modo de processar a informao percebida.

ATENO2 A ateno pode ser definida como a direo da conscincia, o estado de concentrao da atividade mental sobre determinado objeto. Quanto natureza da ateno podem ser distinguidos dois tipos bsicos: a ateno voluntria, que exprime a concentrao ativa e intencional sobre um objeto, e a ateno espontnea, suscitada pelo interesse momentneo, aumentada nos estados mentais em que o indivduo tem pouco controle voluntrio sobre sua atividade mental. Quanto direo da ateno podem ser discriminadas duas formas bsicas: a ateno externa, projetada para fora do mundo subjetivo do sujeito (mundo exterior) e a ateno interna, voltada para os processos mentais do prprio indivduo (ateno reflexiva, introspectiva e meditativa). Em relao amplitude da ateno, identifica-se uma ateno focal, centrada sobre um campo delimitado da conscincia, e a ateno dispersa, que se espalha por um campo mais amplo. Denomina-se ateno seletiva capacidade de seleo de estmulos e objetos especficos e estabelecimento de prioridades da atividade consciente; e ateno sustentada refere-se manuteno da ateno seletiva. CONSCINCIACf. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.2

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O termo conscincia tem significado mltiplo. Utilizamos a palavra para nos referirmos ao total estado de uma pessoa e/ou ao seu estado normal de viglia. Conscincia, na definio neuropsicolgica, fundamentalmente o estado de estar desperto, acordado, vigil, lcido. Na definio psicolgica a capacidade do indivduo de entrar em contato com a realidade, perceber e conhecer os seus objetos (DALGALARRONDO, 2000). A conscincia pode se alterar por processos fisiolgicos e patolgicos. No sono normal o indivduo perde em vrios graus (nveis de profundidade do sono), por um perodo determinado de tempo, a sua conscincia. Em quadros neurolgicos e psicopatolgicos, o nvel de conscincia diminui de forma progressiva, desde o estado normal, at o estado de coma profundo. Os graus de rebaixamento da conscincia (alteraes quantitativas) so3: 1) Obnubilao (ou turvamento) da conscincia rebaixamento em grau leve ou moderado. Diminuio do grau de clareza do sensrio, lentido da compreenso e dificuldade de concentrao. 2) Sopor estado de marcante turvao da conscincia, com psicomotricidade mais inibida, sonolncia acentuada. 3) Coma grau mais profundo de rebaixamento da conscincia, onde no possvel qualquer atividade voluntria consciente. Nas alteraes qualitativas da conscincia, uma certa parte do campo da conscincia est preservada, normal, e a outra parte alterada: 1) Estados crepusculares estreitamento transitrio do campo da

conscincia, com conservao de atividade psicomotora global mais ou menos coordenada. Surge e desaparece de forma abrupta e tem durao varivel de horas a semanas. Com freqncia ocorrem atos explosivos violentos e descontrole emocional. 2) Dissociao da conscincia fragmentao ou diviso do campo da conscincia, ocorrendo perda da unidade psquica, resultando em estadoCf. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.3

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semelhante horas. 3) 4)

ao

sonho

(estado

onrico),

geralmente

desencadeado

por

acontecimentos psicologicamente significativos. As crises duram minutos a Transe assemelha-se a um sonho acordado, diferindo pela presena de Estado hipntico estado semelhante ao transe, no qual a

atividade motora automtica e estereotipada. sugestionabilidade do indivduo est aumentada. Pode ser induzido por outra pessoa (hipnotizador). A ateno parece desempenhar importante papel no direcionamento do estado de conscincia. A conscincia comum em viglia est continuamente mudando, sendo influenciada pelas caractersticas pessoais persistentes e pelas circunstncias ambientais, bem como os ritmos biolgicos. As circunstncias ambientais tambm estruturam o contedo da conscincia.

MEMRIA A percepo e a conscincia muitas vezes dependem de comparaes entre o presente e o passado, a aprendizagem exige a reteno de hbitos ou de novas informaes, e at as atividades corriqueiras dependem da capacidade de recordar. De acordo com estudos psicolgicos, trs processos bsicos so necessrios para todos os sistemas de memria: codificao, armazenamento e recuperao. A codificao refere-se a todo o preparo de informao para a armazenagem, o que acarreta a representao do material sob uma forma com a qual o sistema de armazenagem tambm possa lidar. Uma vez codificada a experincia, ela ser armazenada e posteriormente recuperada. Os estudos modernos da memria baseiam principalmente em duas medidas: a recordao e o reconhecimento. Recordao a capacidade de lembrar-se da informao desejada quando intimados por material associado denominado sinal, sondagem, indicador ou instigao. Reconhecimento a capacidade de escolher uma resposta que foi vista, ouvida ou lida antes, comparando-se a informao dada com a que est armazenada na memria.NOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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Tipos de Memria: Memria sensorial nossos sentidos esto sendo continuamente

bombardeados por grande volume de informaes e, mesmo que no prestemos ateno, a informao absorvida pelos sentidos e entra em um depsito sensorial. Memria icnica refere-se informao retida sob a forma de imagem. Devido grande quantidade de estmulos recebidos, uma vasta proporo de informaes icnicas se apaga aps aprox. 250 milissegundos (processo de deteriorao). Memria a curto prazo as pessoa podem recordar das palavras mais recentes ditas ou ouvidas, mesmo que tenham prestado apenas ligeira ateno, entretanto essas informaes so perdidas minutos mais tarde. A memria a curto prazo tem como funo o armazenamento temporrio. Memria a longo prazo teoricamente o armazenamento na memria a longo prazo feito por codificao (representado por seu significado). A recuperao de fatos requer uma estratgia chamada memria de reconstruo, de reintegrao, de refabricao ou criativa, na qual preenchemos as lacunas com conjecturas. A teoria da deteriorao a explicao para o esquecimento: medida que o tempo passa, a lembrana vai se desintegrando. Quando usamos o termo aprendizagem, estamos falando sobre a codificao da memria a longo prazo e sua recuperao. O sucesso em tarefas complexas como a aprendizagem exige a concentrao de esforos e ateno focalizada. Quando a pessoa tenta sobrecarregar a memria a longo prazo com fatos sem ter organizado as informaes, tem muita dificuldade em recupera-los depois.

PENSAMENTO E LINGUAGEM A linguagem depende do pensamento e, at certo ponto, o pensamento depende da linguagem. Para dominar uma linguagem, uma pessoa tem que representar mentalmente alguma coisa; as palavras tm que desfilar em conjunto de modo ordenado. O pensamento, por sua vez, influenciado pela linguagem, mas

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pode ocorrer sem ela, havendo situaes em que as palavras podem at restringir ou limitar o pensamento. A linguagem um sistema de signos arbitrrios, que ganham significados especficos por meio de um sistema de convenes historicamente dado. A linguagem , portanto, uma criao social de cada um e de todos os grupos humanos. O que o pensamento? Esta palavra utilizada para atividades mentais variadas, tais como raciocinar, resolver problemas e formar conceitos. O pensamento pode ser caracterizado por suas metas ou elementos. Durante o tempo em que estamos acordados, as idias se misturam com lembranas, imagens, fantasias, percepes e associaes. A atividade mental errante sem meta especfica chamada de pensamento no dirigido, corrente de conscincia ou conscincia comum de viglia. O pensamento dirigido visa a uma determinada meta, podendo ser avaliado por padres externos: raciocnio, soluo de problemas e aprendizagem so exemplos de pensamento dirigido. Os elementos intelectivos do pensamento dividem-se em conceitos, juzos e raciocnio. O conceito o elemento estrutural bsico do pensamento, nele se exprimem os caracteres essenciais dos objetos e fenmenos da natureza. O juzo expressa uma relao entre conceitos. O raciocnio representa a ligao entre conceitos. O que caracteriza o pensamento normal ser regido pela lgica formal, bem como orientar-se segundo a realidade e os princpios de racionalidade da cultura na qual o indivduo se insere.

MOTIVAO Motivo ou motivao refere-se a um estado interno que resulta de uma necessidade e que ativa ou desperta comportamento usualmente dirigido ao cumprimento da necessidade ativante. Geralmente os motivos so estudados nas seguintes categorias: Impulsos bsicos visam a satisfao de necessidades relativas sobrevivncia (fome, sede, sexo, homeostase etc).NOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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Motivos sociais satisfao de necessidade de sentir-se amado, aceito, aprovado e estimado. Motivos para estimulao sensorial satisfao de necessidades de experincias sensoriais (modificaes ambientais, atividades estimulantes, novos experincias etc). Motivos de crescimento satisfao de necessidade de desenvolver competncias e realizar o potencial (intimamente ligados aos motivos de estimulao, explorao e manipulao sensorial). Idias como motivos necessidade de valores, crenas e metas como guias do comportamento. A necessidade de coerncia intelectual ou cognitiva frequentemente motiva comportamento, no sentido de reduzir a dissonncia cognitiva (ansiedade produzida pela coliso entre conhecimentos, idias e percepes). Ocorre dissonncia quando as condies pessoais do indivduo no so coerentes com os padres sociais; quando uma pessoa espera uma coisa e ocorre outra; ou quando os indivduos se empenham em comportamento que no est de acordo com suas atitudes gerais.

EMOO As emoes (ou afetos) so estados internos caracterizados por cognies, sensaes, reaes fisiolgicas e comportamento especfico expressivo, que tendem a aparecer subitamente e ser de difcil controle. Durante os afetos, as reaes fisiolgicas so geradas pelo sistema nervoso central e autnomo e pelas glndulas endcrinas. Os circuitos dentro do Sistema Nervoso Central (SNC) despertam, regulam e integram as respostas feitas durante uma emoo. Os pensamentos, expectativas e percepes que surgem aqui desempenham papis importantes em manter e dissolver afetos e o comportamento que os acompanha. O sistema lmbico, um grupo de circuitos inter-relacionados profundamente dentro do ncleo do crebro, desempenha um papel regulatrio nas emoes e nos motivos. O hipotlamo responsvel pela ativao do sistema nervoso simptico durante emergncias e tambm est envolvido no medo e na raiva, bem como na fome, sede e sexo.

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Durante uma emoo intensa, muitas vezes as pessoas esto conscientes de um tumulto interno (corao acelerado, pulso mais rpido, msculos tensos, tremores etc). Estas respostas so chamadas reaes autnomas porque so iniciadas pelo Sistema Nervoso Autnomo (SNA), que consiste em nervos que vo da medula espinhal e do crebro para os msculos lisos dos rgos internos, (glndulas, corao e vasos sanguneos). Os dois ramos do SNA, sistemas simptico e parassimptico, mantm o equilbrio: o parassimptico tende a ser mais ativo quando as pessoas esto calmas, e o simptico assume quando surgem emergncias. Quando ocorrem experincias despertadoras de emoes, as glndulas supra-renais liberam os hormnios adrenalina e noradrenalina. Estes mensageiros qumicos estimulam muitos dos mesmos centros que o sistema nervoso simptico j ativou (incluindo os circulatrio e respiratrio). Enquanto o corpo permanecer alerta e ativo at que a crise tenha passado ou que haja exausto estes hormnios so continuamente secretados. O padro de resposta fisiolgica de uma pessoa a determinadas emoes influenciado por idade, sexo, drogas, dieta, personalidade etc. Durante uma emoo, o comportamento, assim como os pensamentos, pode modificar as sensaes. Aparentemente, as componentes variadas de uma emoo podem alterar-se mutuamente. As emoes no apenas esto misturadas umas s outras; elas tambm esto ligadas aos motivos. As emoes, por sua vez, geram motivos e comportamentos.

AFETIVIDADE O termo afetividade compreende vrias modalidades de vivncias afetivas, distinguindo-se 5 tipos bsicos: 1) Humor ou estado de nimo estado emocional basal, ou disposio afetiva de fundo na qual se encontra a pessoa em determinado momento. H uma vertente somtica (em boa parte o humor vivido corporalmente) e uma vertente psquica.

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2) Emoes

so

estados por

afetivos estmulos

intensos,

de

curta

durao, ou

originados/desencadeado somticas ao mesmo tempo.

significativos

conscientes

inconscientes. Assim como o humor, as emoes so experincias psquicas e

3) Sentimentos so estados e configuraes afetivas atenuados em intensidade e menos reativos a estmulos passageiros. Esto geralmente associados a contedos intelectuais, valores, representaes e constituem fenmeno muito mais mental do que somtico. 4) Afetos qualidade e tnus emocional que acompanham uma idia ou representao mental (inespecificamente, qualquer estado de humor, sentimento ou emoo). 5) Paixes estado afetivo muito intenso, que domina a atividade psquica como um todo. Variando de um momento para o outro, a vida afetiva ocorre sempre em um contexto amplo de relaes, caracterizando-se a afetividade particularmente por sua dimenso de reatividade. Quanto reao afetiva do indivduo pode-se distinguir a sintonizao afetiva, quanto capacidade de o indivduo ser influenciado afetivamente por estmulos externos (ocorrncias e eventos que o alegram ou entristecem); irradiao afetiva, quanto capacidade de contaminar os outros com o seu estado afetivo momentneo; e rigidez afetiva, quando o indivduo tem dificuldade ou impossibilidade tanto de sintonizar quanto irradiar afetivamente (no produz reaes nem reage afetivamente).

INTELIGNCIA Inteligncia pode ser definida como uma capacidade para atividade mental que no pode ser medida diretamente, pois consiste em muitas capacidades cognitivas distintas, inclusive as envolvidas em percepo, memria, pensamento e linguagem, cujos processos variam em eficincia. A inteligncia se aplica em ajustamento em todas as esferas da vida. Tanto a hereditariedade quanto o ambiente influenciam as diferenas em inteligncia medida, constatando-se as diferenas em ambientes empobrecidos e estimuladores da inteligncia para as crianas.NOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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Para Dalgalarrondo (2002) a inteligncia pode ser definida como a totalidade das habilidades cognitivas do indivduo. Refere-se capacidade de identificar e resolver problemas novos, de reconhecer adequadamente as situaes vivenciais cambiantes e encontrar solues satisfatrias para si e de acordo com as exigncias do ambiente. De acordo com Piaget, a inteligncia, os processos mentais que criam, organizam e utilizam adaptativamente os conceitos e raciocnios no so inatos, pois mudam ao longo da vida; no so tambm apenas aprendidos dos adultos, mas foram sendo adquiridos ao longo do desenvolvimento pessoal do indivduo. A inteligncia, portanto, algo difcil de mensurar, pois temos inteligncias diversificadas, e umas mais evidenciadas do que outras. Nossa cultura, porm, valoriza mais a inteligncia lgico-matemtica e ser inteligente geralmente est associado a um desempenho muito bom em reas ligadas a este tipo de inteligncia. A teoria das inteligncias mltiplas foi elaborada a partir dos anos 80 por pesquisadores da universidade norte-americana de Harvard, liderados pelo psiclogo Howard Gardner. Segundo Gardner, excetuando-se os casos de leses, todos nascem com o potencial das vrias inteligncias. A partir das relaes como o ambiente, incluindo os estmulos culturais, desenvolvemos mais algumas e deixamos de aprimorar outras. Isso d a cada pessoa um perfil particular de inteligncias, o "espectro". Para ele a inteligncia considerada como um conjunto de habilidades e talentos que permitem pessoa resolver problemas que so conseqncia de um ambiente cultural prprio. O psiclogo estabeleceu vrios critrios para que uma inteligncia seja considerada como tal, desde sua possvel manifestao em todos os grupos culturais at a localizao de sua rea no crebro. Tipos de Inteligncias propostos por Gardner: Lgico-matemtica: determina a habilidade para raciocnio dedutivo, alm da capacidade para solucionar problemas envolvendo nmeros e demais elementos matemticos. a competncia mais diretamente associada ao pensamento cientifico, portanto, idia tradicional de inteligncia. Pictrica: faculdade de organizar elementos visuais de forma harmnica, estabelecendo relaes estticas entre eles. Musical: permite organizar sons de maneira criativa, a partir daNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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discriminao de elementos como tons, timbres e temas. Intrapessoal: competncia de uma pessoa para se conhecer e estar bem consigo, administrando seus sentimentos e emoes a favor de seus projetos (caracterstica dos indivduos "bem resolvidos", como se diz na linguagem popular). Interpessoal: capacidade de uma pessoa dar-se bem com as demais, compreendendo-as, percebendo suas motivaes e sabendo como satisfazer suas expectativas emocionais. Espacial: capacidade de formar um modelo mental preciso de uma situao espacial e utilizlo para orientar-se entre objetos ou transformar as caractersticas de um determinado espao. Lingstica: habilidade para lidar criativamente com as palavras nos diferentes nveis da linguagem (semntica, sintaxe), tanto na formal como na escrita. Corporal-cinestsica: habilidade para utilizar o prprios corpo de diversas maneiras; envolve tanto o autocontrole corporal quanto a destreza para manipular objetos. Sempre envolvemos mais de uma habilidade na soluo de problemas, embora existam predominncias, portanto as inteligncias se integram. Em sua definio de inteligncia, Gardner enfatiza que necessrio que duas tendncias sejam consideradas no estudo da inteligncia: uma o reconhecimento de que a inteligncia contextualizada e, portanto, deve ser considerada no contexto de culturas particulares. A segunda que se deve levar em considerao a forma pela qual as pessoas operam com as ferramentas e a tecnologia em cada sociedade.

2. TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

O desenvolvimento humano tem sido abordado pelos estudiosos a partir de quatro aspectos bsicos: a) aspecto fsico-motor refere-se ao crescimento orgnico, maturao neurofisiolgica; b) aspecto intelectual a capacidade de pensamento, raciocnio; c) aspecto afetivo-emocional o modo particular de o indivduo integrar as suas experincias; e d) aspecto social a maneira como o indivduo reage diante das situaes que envolvem outras pessoas. Um ponto fundamental para a compreenso do comportamento humano, sem dvida, o estudo dos fatores biolgicos e sociais e das condies em que essesNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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fatores influenciam a formao e o desenvolvimento das caractersticas individuais. Hereditariedade e meio ambiente constituem os fatores bsicos ou o background do comportamento. O processo de desenvolvimento da estrutura biolgica do ser humano denominado maturao e ocorre em etapas, dependendo da hereditariedade. Estudos sobre maturao tm indicado que so necessrias condies ambientais adequadas para que o indivduo consiga alcanar sua maturao biolgica. Condies pr-natais adversas, tais como falta de oxignio no tero materno ou uso de drogas, dificultam ou impedem o processo de maturao. A falta de espao fsico e de alimentao adequada tambm interferem no processo, indicando que a maturao biolgica depende da hereditariedade, mas pode ser dificultada por fatores ambientais. Do ponto de vista psicolgico, o meio definido como a soma total de estmulos que o indivduo recebe desde a concepo at a morte (AGUIAR, 1981). O meio psicolgico do ser humano integrado pelos meios pr-natal (condies ambientais anteriores ao nascimento), intercelular (clulas somticas circundantes e substncias que cada clula contm) e social (grupo/sociedade onde a criana nasce e cresce). A sociedade um grupo de pessoas dependentes umas das outras, que desenvolveram padres de organizao capazes de lhes tornar possvel viver juntos e sobreviverem como um grupo. A sociedade desenvolve padres de comportamento e os transmite para seus membros, e os pais so os principais transmissores desses padres, indicativos de aspectos da cultura (conjunto de valores, expectativas, atitudes, crenas e costumes compartilhados pelos membros de um grupo). A cultura influencia o desenvolvimento de caractersticas individuais. Todas as teorias que estudam o desenvolvimento humano partem do pressuposto de que os quatro aspectos mencionados so indissociados, mas costumam enfatizar aspectos diferentes, dando nfase a um deles especificamente. Algumas das principais teorias so:

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2.1 Teoria do Desenvolvimento de Piaget Piaget divide os perodos do desenvolvimento humano de acordo com o aparecimento de novas qualidades do pensamento, que, por sua vez, interfere no desenvolvimento global: Perodo Sensrio-Motor (0 a 2 anos) vida mental reduzida ao exerccio dos aparelhos reflexos, de fundo hereditrio. Ao longo desse perodo ir ocorrer uma diferenciao progressiva entre o seu eu e o mundo exterior tambm no plano afetivo, manifestando-se na escolha dos objetos. Por volta dos 2 anos, a criana evolui de um estado passivo para uma atitude ativa e participante e uma maior integrao no ambiente. Perodo Pr-Operatrio (2 a 7 anos) aparecimento da linguagem, acelerando o desenvolvimento do pensamento. Ao contrrio do incio do perodo, quando transformava o real em funo de seus desejos e fantasias (jogo simblico), posteriormente passa a procurar a razo de tudo (fase dos porqus). Por estar centrada em si mesma, ocorre uma primazia do prprio ponto de vista, na medida em que a criana no consegue colocar-se do ponto de vista do outro. No aspecto afetivo surgem os sentimentos interindividuais, sendo um dos mais relevantes o respeito por aqueles julgados superiores (pais e professores, p. ex.). Com relao s regras, concebe-as como imutveis e determinadas externamente. Amplia o interesse pelas diferentes atividades e objetos, dando surgimento ao uma escala prpria de valores, pela qual passa a avaliar suas prprias aes. Desenvolvimento da coordenao motora fina e de novas habilidades. Perodo das Operaes Concretas (7 a 12 anos) capacidade de estabelecer relaes que permitam a coordenao de pontos de vista diferentes e sua integrao de modo lgico e coerente. No plano afetivo, capacidade de cooperar com os outros, de trabalhar em grupo e, ao mesmo tempo, ter autonomia pessoal. Intelectualmente, surgimento de nova capacidade mental (as operaes), sendo capaz de empreender uma ao fsica ou mental e revert-la, mas sempre com referncia a objetos concretos presentes ou j experienciados (objetos reais).

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Em nvel de pensamento, a criana consegue estabelecer relaes de causa e efeito, seqenciar idias ou eventos e trabalhar simultaneamente com dois pontos de vista. No aspecto afetivo, aparece a vontade e h aquisio de uma autonomia crescente em relao ao adulto, passando a organizar seus prprios valores morais. O sentimento de pertencer ao grupo torna-se mais forte, com diminuio gradual da grupalizao com o sexo oposto. Perodo das Operaes Formais (11 ou 12 anos em diante) passagem do pensamento concreto para o formal, abstrato, sendo as operaes realizadas no plano das idias. Desenvolvimento de conceitos, crescente capacidade de abstrao, generalizao e formulao de hipteses. Passa por uma fase de interiorizao e posteriormente atinge o equilbrio entre pensamento e realidade. Afetivamente o indivduo vive conflitos, deseja ser aceito e tem no grupo um importante referencial. Comea a estabelecer sua moral individual, referenciada moral do grupo. De acordo com Piaget, a personalidade comea a se formar no final da infncia, entre 8 e 12 anos, com a organizao autnoma das regras, dos valores e afirmao da vontade. Esses aspectos vo ser exteriorizados na construo de um projeto de vida, que vai nortear o indivduo em sua adaptao ativa realidade, que ocorre com a sua insero no mundo do trabalho, quando ocorre um equilbrio entre o real e os ideais do indivduo. Na idade adulta no surge nenhuma nova estrutura mental, e o indivduo caminha para um aumento gradual do desenvolvimento cognitivo, em profundidade, e uma maior compreenso dos problemas e das realidades significativas que o atingem, influenciando os contedos afetivo-emocionais e sua forma de estar no mundo.

2.2 O Desenvolvimento Infantil segundo Vigotski Para Vigotski, o desenvolvimento infantil visto a partir de trs aspectos:

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O aspecto instrumental por esse prisma, no apenas respondemos

aos estmulos apresentados no ambiente, mas os alteramos e usamos suas modificaes como um instrumento de nosso comportamento. O aspecto cultural - envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza os tipos de tarefa que a criana em desenvolvimento enfrenta, e os tipos de instrumento que ela dispe para dominar aquelas tarefas, sendo a linguagem um dos principais. O aspecto histrico - funde-se com o cultural, pois os instrumentos usados para dominar o ambiente foram criados e modificados ao longo da histria social da civilizao. Os instrumentos culturais expandiram os poderes do homem e estruturam seu pensamento. Assim, a histria da sociedade e o desenvolvimento do homem caminham juntos e intrincados. As crianas, desde o nascimento, esto em constante interao com os adultos, e atravs dessa mediao que os processos psicolgicos mais complexos tomam forma: primeiramente so interpsquicos (partilhados), depois, medida que a criana cresce, tornam-se intrapsquicos. O desenvolvimento est alicerado sobre o plano das interaes. Por meio da fala a criana comea a fazer distines para si mesma e vai adquirindo a funo de auto-direo. A fala inicial da criana tem, portanto, um papel fundamental no desenvolvimento de suas funes. Vigotski acredita que as funes psicolgicas emergem e se consolidam no plano da ao entre pessoas e tornam-se internalizadas. Do plano interpsquico, as aes passam para o plano intrapsquico, sendo as relaes sociais, portanto, consideradas como constitutivas das funes psicolgicas do homem, o que caracteriza o carter interacionista da viso de Vigotski, que deu nfase ao processo de internalizao como mecanismo que intervm no desenvolvimento das funes psicolgicas complexas, fundado nas aes, nas interaes sociais e na linguagem. Vigotski enfatiza o aspecto interacionista, pois considera que no plano intersubjetivo, na troca entre as pessoas, que tm origem as funes mentais superiores, e tambm apresenta um aspecto construtivista, quando explica o aparecimento de inovaes e mudanas no desenvolvimento a partir do mecanismo da internalizao.

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2.3 Teoria do Desenvolvimento de Freud Uma das mais controvertidas teorias a respeito do desenvolvimento a teoria psicossexual proposta por Freud, na qual o desenvolvimento sexual considerado o ncleo em torno do qual toda a personalidade moldada. Segundo ele a energia sexual, a que chamou libido, o impulso para viver e para reproduzir e est envolvida em todos os aspectos do desenvolvimento. Fundado nessa hiptese, desenvolveu o princpio de que a energia libidinal (energia vital ou sexual) ertica ou geradora de prazer quando expressa em comportamento. Em seus estudos sobre as causas e o funcionamento das neuroses, Freud identificou conflitos de ordem sexual localizados nos primeiros anos de vida do indivduo, isto , na vida infantil estavam as experincias de carter traumtico que se configuraram como origem de sintomas na vida adulta. No processo de desenvolvimento psicossexual, o indivduo nos primeiros anos de vida tem a funo sexual ligada sobrevivncia, portanto o prazer erotizado, estando as zonas de excitao sexual localizadas em partes do corpo. Freud acreditava que a personalidade moldada pelas experincias iniciais, quando as crianas passam por uma seqncia de fases psicossexuais. Segundo ele, a libido (energia sexual) centra-se em diferentes regies do corpo medida que prossegue o desenvolvimento psicolgico. Se as crianas tm concesses em excesso ou so privadas e frustradas de modo indevido em uma determinada fase, o desenvolvimento interrompido e a libido se fixa l. A fixao envolve deixar uma parte da libido a quantidade varia com a seriedade do conflito permanentemente instalada nesse nvel do desenvolvimento. Freud postou as seguintes fases do desenvolvimento sexual: fase oral, quando a zona de erotizao a boca; fase anal, a zona de erotizao o nus; fase flica, a zona de erotizao o rgo sexual. Depois dessas fases vem um perodo de latncia, que se prolonga at a puberdade, poca em que atingida a ltima fase, a fase genital , quando o objeto de erotizao passa a ser externo ao indivduo. Um dos eventos considerados mais importantes para a estruturao da personalidade do indivduo acontece entre os 3 e 5 anos, durante a fase flica: o Complexo de dipo, quando a me o objeto de desejo do menino, e o pai o rival.NOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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Para Freud, aquilo que para o indivduo assume valor de realidade a realidade psquica, e isso o que importa, mesmo que no corresponda realidade objetiva. Sintoma, na teoria psicanaltica, seja um comportamento ou pensamento, uma produo resultante de um conflito entre o desejo e os mecanismos de defesa. Ao mesmo tempo em que sinaliza, o sintoma busca encobrir um conflito e substituir a satisfao do desejo. O Ego emerge nas crianas em desenvolvimento a fim de tratar de suas transaes dirias com o ambiente, medida que aprendem que h uma realidade parte de suas prprias necessidades e desejos. O Ego controlado, realstico e lgico, atuando segundo o princpio da realidade, adiando a gratificao dos desejos do Id at que seja encontrada uma situao ou objeto apropriado. O Superego formado do modo como as crianas se identificam com os pais e internalizam suas restries, valores e costumes, sendo essencialmente uma conscincia. Funciona de modo independente, recompensando o Ego por comportamento aceitvel e criando sentimento de culpa quando as aes e pensamentos se colocam contra princpios morais. O Superego trabalha para atender a metas morais e forar o Id a inibir impulsos primitivos. Segundo Freud, quanto mais intensos os conflitos, tanto mais energia psquica necessria para resolv-los. Assim, na tentativa de enfrentar o Id, o Superego e a realidade, o Ego desenvolve mecanismos de defesa, modalidades de comportamento que aliviam a tenso, processos inconscientes pelos quais so excludos da conscincia os contedos indesejveis. Com a finalidade de proteger o aparelho psquico, o Ego mobiliza estes mecanismos, que suprimem ou dissimulam a percepo do perigo interno. Os principais Mecanismos de Defesa psicolgicos descritos so4 represso, negao, racionalizao, formao reativa, isolamento, projeo, regresso e sublimao. Estes mecanismos podem ser encontrados em indivduos saudveis, mas a sua presena excessiva indicao de possveis sintomas neurticos. Represso - A Represso consiste em afastar uma determinada coisa do consciente, mantendo-a distncia (no inconsciente). A represso afasta da4

Baseado em FADIMAN, J. e FRAGER, R., Teorias da Personalidade, 1980.

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conscincia um evento, idia ou percepo potencialmente provocadores de ansiedade, entretanto, o material reprimido continua fazendo parte da psique, apesar de inconsciente, e continua causando problemas. Negao - Negao a tentativa de no aceitar na conscincia algum fato que perturba o Ego. Os adultos tm a tendncia de fantasiar que certos acontecimentos no so, de fato, do jeito que so, ou que na verdade nunca aconteceram. O indivduo recorda-se de um acontecimento de forma vvida, depois pode lembrar-se do incidente de maneira diferente e dar-se conta de que a primeira verso era uma construo defensiva. Racionalizao - Racionalizao o processo de achar motivos lgicos e racionais aceitveis para pensamentos e aes inaceitveis. um modo de disfarar verdadeiros motivos e tornar o inaceitvel mais aceitvel. Usa-se a Racionalizao para justificar comportamentos quando as razes para esses atos no so recomendveis. A afirmao cotidiana de que "eu s estou fazendo isto para seu prprio bem" pode ser a racionalizao do sentimento ou pensamento. Formao Reativa - Esse mecanismo substitui comportamentos e sentimentos que so opostos ao desejo real. Trata-se de uma inverso clara e, em geral, inconsciente do verdadeiro desejo. No s a idia original reprimida, mas qualquer vergonha ou auto-reprovao que poderiam surgir ao admitir tais pensamentos em si prprios tambm so excludas da conscincia. Certas posies puritanas e moralistas de algumas pessoas podem ser indicativas desse processo psicolgico. Projeo - um mecanismo pelo qual os aspectos da personalidade de um indivduo so deslocados de dentro deste para o meio externo. A pessoa pode, ento, lidar com sentimentos reais, mas sem admitir ou estar consciente de que a idia ou comportamento temido dela mesma. Sempre que caracterizamos algo de fora de ns como sendo mau, perigoso ou imoral, sem reconhecermos que essas caractersticas podem tambm ser verdadeiras para ns, provvel que estejamos projetando. As pessoas que negam ter um determinado trao de personalidade so sempre mais crticas em relao a este trao quando o vem nos outros. Regresso - Regresso um retorno a um nvel de desenvolvimento anterior ou a um modo de expresso mais simples ou mais infantil. um modo de aliviar a ansiedade escapando do pensamento realstico para comportamentos que reduzemNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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a ansiedade. A regresso um modo de defesa bastante primitivo e, embora reduza a tenso, freqentemente deixa sem soluo a fonte de ansiedade original. Sublimao - A energia associada a impulsos e instintos socialmente e pessoalmente constrangedores , na impossibilidade de realizao destes, canalizada para atividades socialmente meritosas e reconhecidas. Deslocamento - o mecanismo psicolgico de defesa onde a pessoa substitui a finalidade inicial de uma pulso por outra diferente e socialmente mais aceita. Durante uma discusso, por exemplo, a pessoa tem um forte impulso em socar o outro e acaba deslocando tal impulso para um copo, o qual atira ao cho. 2.4 Os Oito Estgios (ou Idades) do Homem, segundo Erik Erikson Segundo Erikson o que ns chamamos de "personalidade" resulta da interao contnua de 3 grandes sistemas: o biolgico, o social e o individual, os quais so interdependentes e inseparveis. O resultado da coordenao desses trs sistemas ser uma pessoa que domina ativamente o seu ambiente, mostra certa unidade de personalidade e capaz de perceber corretamente o mundo e a si mesma. O ser humano psicologicamente saudvel aquele que desenvolveu um "firme sentido de identidade", significando o reconhecimento de que ele uma pessoa nica, com passado, presente e futuro particulares. A identidade, para Erikson, algo que est sempre mudando e se desenvolvendo. um processo de diferenciao crescente e cada vez mais abrangente medida que o indivduo se torna cada vez mais consciente das interaes com outros indivduos. Para Erikson, cada estgio da vida se desenrola de acordo com um plano de base definido, e apresenta ao indivduo um desafio caracterstico (conflitos nucleares), desde o nascimento at a morte. Cada conflito ou crise deixa sua marca no indivduo e na sociedade, sublinhando a continuidade das experincias humanas.

1. Estgio: Confiana Bsica X Desconfiana Bsica - Durante o primeiro perodo de vida, o modo segundo o qual o beb integra as experincias oral ou "incorporativo". Depende dos outros para a satisfao de suas necessidades, e sua "confiana" depende da regularidade e consistncia com a qual as pessoas voNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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responder aos seus apelos. Neste perodo a criana aprende a "contar" ou no com as outras pessoas. O conflito "confiana x desconfiana", de natureza interpessoal, nunca ser resolvido totalmente A necessidade de confiana num ser superior quase que universal entre os adultos, e a instituio cultural derivada desde primeiro estgio a religio. A confiana do beb um precursor da f na vida adulta.

2. Estgio: Autonomia x Vergonha e Dvida - Nesta fase a criana (aprox. 18 meses a 1 ano) ainda muito dependente, mas j experimenta seu desejo de autonomia. Em um impasse com os pais descobre-se ainda fraca e dependente, expondo-se a sentimentos de vergonha, por sua insensatez, e duvida quanto sua prpria capacidade (autonomia) e quanto firmeza de seus pais. Neste perodo a vontade de fazer as coisas por si prpria evidenciado na criana, demandando dos pais a introduo de um respeito saudvel, no opressivo, s regras e regulamentos.

3. Estgio: Iniciativa X Culpa - A dependncia da criana em relao aos pais continua a decrescer, enquanto aumenta a sua conscincia das diferenas entre a sua prpria autonomia e a dos outros. O sentimento de culpa origina-se agora da idia de ter feito alguma coisa errada, em funo de sua impulsividade, e ao medo de ser descoberta junta-se uma "voz interior", que induz a criana a uma autoobservao, auto-orientao e auto-punio. Se for vivida equilibradamente, sem culpa excessiva nem iniciativa descontrolada, esta fase pode resultar num sentimento moral que limita os horizontes do permissvel e estabelece as diretrizes quanto s possibilidades futuras.

4. Estgio: Produtividade X Inferioridade - Idade da escola elementar (aprox. 6 a 12 a). No incio dos anos escolares a criana comea a adquirir as habilidades para o trabalho na sua sociedade, o que requer certo grau de disciplina, para transformar o sentido de iniciativa em "sentido de produtividade". Na escola comea o aprendizado sobre o "padro de ao" da sociedade. O sentimento de produtividade competir com um sentimento de inferioridade, em funo de comparao de desempenho entre os membros do grupo, assim como a maneira como a criana tratada. Este estgio est relacionado auto-estima e competncia futuras.

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5. Estgio: Identidade X Confuso de Papis - Fase da adolescncia, comeo da formulao de uma identidade (identificao de caractersticas comuns em relao a outras pessoas e particulares). O processo de anlise simultnea de muitas possiblidades e alternativas intelectual, e depende de um conjunto de habilidades cognitivas adquiridas antes da adolescncia. O adolescente pressionado familiar e socialmente, inclusive sobre suas possibilidades profissionais futuras, podendo tambm sentir-se desorientado e confuso nesta fase.

6. Estgio: Intimidade X Isolamento - Uma auto-imagem firme (identidade) necessria antes do estabelecimento de relao "ntima" verdadeira com outra pessoa. No romance adolescente, em razo da insegurana de ambos, h uma projeo recproca de auto-imagens, na tentativa de auto-definio de uma identidade pessoal. A definio de identidade tambm pode ser procurada por meios destrutivos no relacionamento grupal. medida que as oscilaes entre os extremos desaparecem, emerge uma verdadeira capacidade de intimidade, contrabalanada por um sentimento de isolamento. A capacidade para o amor e o trabalho na vida adulta requer o equilbrio entre essas duas tendncias (intimidade e isolamento). Essa idade caracterizada pela ampliao dos horizontes sociais e origem de um novo sentimento de participao e solidariedade.

7. Estgio: Generatividade X Estagnao - Estgio maduro da vida, necessidade de dar continuidade espcie atravs da procriao. Este impulso para a paternidade pode ser dirigido, em algumas pessoas, para outros interesses, assim como simplesmente gerar um filho no suficiente para assegurar o sentimento de generatividade. Aqueles que o fazem por fazer, podem experimentar mais tarde um sentimento de estagnao.

8. Estgio: Integridade X Desesperana - Fase da velhice, na qual, na maioria das culturas, costuma-se fazer uma avaliao do que foi feito e o que se conseguiu realizar no decorrer da vida. A desesperana a imagem mais freqente, em razo das limitaes fsicas, restries sociais e parcas perspectivas futuras. Por outro lado, se a pessoa acredita que superou as crises com razovel sucesso, pode predominar o sentimento de integridade (sentimento de dever cumprido, sem lamentaes, integrado ao presente e sem inquietaes quanto ao futuro).

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2.5 ROGERS e a Teoria da Pessoa em Pleno Desenvolvimento A teoria de desenvolvimento do psiclogo Carl Rogers concentra-se na sade psicolgica ou maturidade pessoal. Para ele a mais importante espcie de desenvolvimento envolve os processos pelos quais as pessoas vm a funcionar livre e plenamente. Rogers sugere que em cada um de ns h um impulso inerente em direo a sermos competentes e capazes tanto quanto o que estamos aptos a ser biologicamente. Assim como uma planta tende a tornar-se saudvel, como uma semente contm dentro de si impulso para se tomar uma rvore, tambm uma pessoa impelida a se tomar uma pessoa total, completa e auto-atualizada. As foras positivas em direo sade e ao crescimento so naturais e inerentes ao organismo e os indivduos tm a capacidade de experienciar e de se tomarem conscientes de seus desajustamentos. Rogers v o ajustamento no como um estado esttico, mas como um processo no qual novas aprendizagens e novas experincias so cuidadosamente assimiladas. Aceitar-se a si mesmo um prrequisito para uma aceitao mais fcil e genuna dos outros. Em compensao, ser aceito por outro conduz a uma vontade cada vez maior de aceitar a si prprio. Este ciclo de auto-correo e auto-incentivo, a forma principal pela qual se minimizam obstculos ao crescimento psicolgico. Rogers sugere que os obstculos aparecem na infncia e so aspectos normais do desenvolvimento. O que a criana aprende em um estgio como benfico deve ser reavaliado nos estgios posteriores: Motivos que predominam na primeira infncia mais tarde podem inibir o desenvolvimento da personalidade. Quando a criana comea a tomar conscincia do Self (si mesmo), desenvolve uma necessidade de amor ou de considerao positiva. Esta necessidade universal, considerando-se que ela existe em todo ser humano e que se faz sentir de uma maneira contnua e penetrante. Uma vez que as crianas no separam suas aes de seu ser total, reagem aprovao de uma ao como se fosse aprovao de si mesmas. Da mesma forma, reagem punio de um ato como se estivessem sendo desaprovadas em geral.

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O amor to importante para a criana que ela acaba por ser guiada, no pelo carter agradvel ou desagradvel de suas experincias e comportamentos, mas pela promessa de afeio que elas encerram. A criana comea a agir da forma que lhe garante amor ou aprovao, sejam os comportamentos saudveis ou no para ela. As crianas podem agir contra seu prprio interesse, chegando a se perceber em termos destinados, a princpio, a agradar ou apaziguar os outros. Teoricamente esta situao poderia no se desenvolver se a criana sempre se sentisse aceita e houvesse aprovao dos sentimentos mesmo que alguns comportamentos fossem inibidos. Em tal situao ideal a criana nunca seria pressionada a se despojar ou repudiar partes no atraentes, mas autnticas de sua personalidade. Comportamentos ou atitudes que negam algum aspecto do Self so chamados de condies de valor. Quando uma experincia relativa ao Eu procurada ou evitada unicamente porque percebida como mais ou menos digna de considerao de si, diz Rogers que o indivduo adquiriu um modo de avaliao condicional. Condies de valor so os obstculos bsicos exatido da percepo e tomada de conscincia realista. Acumulamos certas condies, atitudes ou aes cujo cumprimento achamos necessrio para permanecermos dignos. Na medida em que essas atitudes e aes so idealizadas, elas constituem reas de incongruncia pessoal. De forma extrema, as condies de valor so caracterizadas pela crena de que "preciso ser respeitado ou amado por todos aqueles com quem tenho contato". Quando a criana amadurece, o problema persiste. O crescimento impedido na medida em que a pessoa nega impulsos diferentes do auto-conceito artificialmente "bom". Para sustentar a falsa auto-imagem a pessoa continua a distorcer experincias: quanto maior a distoro maior a probabilidade de erros e da criao de novos problemas. Os comportamentos, os erros e a confuso que resultam do manifestaes de distores iniciais mais fundamentais. E a situao realimenta-se a si mesma. Cada experincia de incongruncia entre o Self e a realidade aumenta a vulnerabilidade, a qual, por sua vez, ocasiona o aumento de defesas, interceptando experincias e criando novas ocasies de incongruncia. A terapia centrada no cliente de Rogers esfora-se por estabelecer uma atmosfera na qual condies de valor prejudiciais possam ser postas de lado, permitindo, portanto,

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que as foras saudveis de uma pessoa retomem sua dominncia original. Uma pessoa recupera a sade reivindicando suas partes reprimidas ou negadas.

2.6 Desenvolvimento Psicolgico e Personalidade O estudo sistemtico da personalidade e do carter (traos de personalidade com sentido tico ou social) comeou com Hipcrates, o primeiro a elaborar uma teoria de tipos. Considerando o temperamento o aspecto mais importante da personalidade, ele agrupou os homens em quatro tipos: colricos, sanguneos, fleumticos e melanclicos. Essa tipologia foi adotada por Pavlov, com a diferena de atribuir ao constituinte nervoso (teoria fisiolgica) a base para a classificao dos tipos. Atualmente as tipologias baseadas em morfologia e temperamento tm valor bem limitado. Hoje temos como mais aceita a definio de personalidade como um conjunto de traos e caractersticas singulares, tpicas de uma pessoa, que a distinguem das demais. Esse conjunto abrange, necessariamente, a constituio fsica, alicerada nas disposies hereditrias, os modos de interao do indivduo com o mundo; seus hbitos, valores e capacidades; suas aspiraes; seus modos experimentar afetos e de se comportar em sociedade e maneira peculiar de lidar com o mundo, incluindo as defesas para se proteger das presses e ajustamento ao contexto social, constituindo um estilo de vida prprio. Assim sendo, a personalidade diz respeito totalidade daquilo que somos, no apenas hoje, mas do que fomos e do que aspiramos ser no futuro. Implica, tambm, que esse modo de ser s pode ser entendido dentro de um contexto sciohistrico, geogrfico e cultural. Em que se alicera essa totalidade dinmica que a personalidade, e como se processa a sua formao? Uma das principais controvrsias da psicologia diz respeito aos considerados dois grandes fatores na formao da personalidade: hereditariedade x meio. Estudos feitos com gmeos univitelinos em casos de psicoses (Breuler) e prticas criminosas (Lange) e os estudos de Galton sobre genialidade com militares e artistas, a partir de rvores genealgicas, reforaram a concepo de que a hereditariedade tem peso decisivo na formao daNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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personalidade. Casos como o de Vtor, o selvagem de Aveyron (sculo XVIII) e de Amala e Kamala, de 2 e 7 anos, chamadas meninas-lobo, que viviam numa caverna em companhia de lobos, quanto aprendizagem de condutas tipicamente humanas, serviram aos cientistas partidrios da idia de preponderncia decisiva das influncias ambientais na configurao da personalidade. Hoje j no h dvidas de que tanto a hereditariedade quanto meio so decisivos para a formao da personalidade, e que a sua constituio depender das interaes entre um e outro fator. Por exemplo, nem o meio mais favorvel poder tornar um gnio uma pessoa cuja constituio gentica tenha lhe reservado um dficit intelectual, assim como o processo de maturao, prprio da espcie humana, pode sofrer alteraes importantes, favorveis ou desfavorveis ao indivduo, em funo da influncia do meio. A aprendizagem cognitiva social na formao da personalidade Albert Bandura enfatizou que os seres humanos aprendem observando. Segundo ele, a exposio a modelos adultos pode provocar uma variedade de efeitos, inclusive a elevao do nvel de raciocnio moral ou um aumento do comportamento agressivo. Os modelos tambm podem influenciar o desenvolvimento de padres de comportamento nas crianas. Um contexto social que transmite valores positivos para padres elevados, leva interiorizao desses padres nas crianas. Ele afirma que nada que no for observado ser aprendido, enfatizando os processos de ateno, que so influenciados tambm pelas caractersticas do observador, como capacidades sensoriais, nvel de excitao, motivao e reforos do passado. Os processos motivacionais foram considerados por Bandura como fator importante para a aprendizagem. Segundo ele, a no ser que esteja motivada, uma pessoa no produzir um comportamento aprendido, e essa motivao provm de reforos externos ou baseados na observao de modelos que so recompensados. Bandura props o conceito de determinismo recproco, o qual se refere influncia que a pessoa, o meio e o comportamento exercem uns sobre os outros, enfatizando que o meio no apenas causa, mas tambm um efeito do comportamento.NOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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Bandura faz uma distino entre auto-eficincia, a crena de que se tem a capacidade para desempenhar o comportamento, e expectativa de resultados, a crena de que, se for bem feito, o comportamento produzir os resultados desejados. Um sentimento de auto-eficincia leva persistncia diante dos contratempos e a eficincia aumenta quando os sujeitos adquirem um domnio progressivo da tarefa, melhorando gradualmente o seu desempenho. Alm da eficincia individual, Bandura prope que um senso de eficincia coletiva ocorre quando os grupos acreditam que conseguem fazer o que tem que ser feito. O seu modelo de determinismo recproco sugere que a eficincia pessoal e a coletiva teria, efeitos adicionais sobre o comportamento e as situaes. As foras sociais podem incentivar ou impedir o desenvolvimento individual e podem estimular ou desestimular as aes desejveis. Com base nas teorias apresentadas possvel observar que o desenvolvimento cognitivo do indivduo no ocorre independentemente do desenvolvimento emocional ou social. O processo integrado e a dinmica de desenvolvimento da personalidade no cessa durante toda a vida do indivduo, dependente, em grande parte aos processos de interao social por ele vivenciados.

2.7 O Comportamento Anormal5 A diferenciao entre o que normal e o que patolgico tem sido motivo de controvrsia na rea de sade, particularmente com relao aos aspectos psicolgicos do indivduo. Vrios problemas so identificados quanto aos critrios que definem anormalidade psicolgica (ou inadaptao psicolgica), tidos como vagos e sem diretrizes claras para que distrbios de comportamento sejam avaliados. Mesmo as classificaes mdicas aprovadas e utilizadas frequentemente, mostram efeitos danosos quanto rotulao, pois fato que estes influenciam no s o meio em que o indivduo vive, mas at a maneira como os profissionais da rea vem as pessoas. Em Psicopatologia (DALGALARRONDO, 2000), alguns critrios5

Extrado de DAVIDOFF, Linda. Introduo Psicologia.

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foram estabelecidos para avaliar o nvel de normalidade de uma pessoa, exclusivamente para efeito de diagnstico e possvel tratamento. Os limites da cincia psicopatolgica, no entanto, consistem em que nunca se pode reduzir o ser humano a conceitos psicopatolgicos, pois em todo indivduo oculta-se algo que no se pode conhecer, aspectos essncias das dimenses existenciais, ticas e metafsicas. a) Normalidade como ausncia de doena seria aquele indivduo que no portador de um transtorno mental definido. b) Normalidade ideal baseada na adaptao do indivduo s normas morais e polticas de determinada sociedade. c) Normalidade estatstica o normal passa a ser aquilo que se observa com maior freqncia, e o anormal o que se situa estatisticamente fora (ou no extremo) de uma curva de distribuio normal. d) Normalidade como bem-estar normal, no caso, definido como saudvel, ou seja, completo bem-estar fsico, mental e social. e) Normalidade funcional o patolgico o disfuncional, ou seja, provoca sofrimento para o prprio indivduo ou para o seu grupo social. f) Normalidade como processo nesse caso so considerados os aspectos dinmicos do desenvolvimento psicossocial, das crises e mudanas prprias a certos perodos etrios. g) Normalidade subjetiva a nfase dada percepo subjetiva do prprio indivduo em relao ao seu estado de sade. h) Normalidade como liberdade a doena mental vista como perda da liberdade existencial, como constrangimento do ser, fechamento, fossilizao das possibilidades existenciais (orientao fenomenolgica e existencial). i) Normalidade operacional tem finalidades pragmticas, definindo a priori o que normal e o que patolgico, para trabalhar operacionalmente a partir de tais conceitos, aceitando-se as conseqncias dessa definio prvia. comum rotular-se um comportamento estranho como neurtico ou psictico, porm estes termos so usados pelos profissionais de sade de modo especfico. Uma pessoa considerada com psicose ou psictica quando seu funcionamento mental est de tal modo prejudicado que interfere de modo considervel na sua capacidade de enfrentar as necessidades comuns da vida. Os problemas deNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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comportamento geralmente manifestados podem provir de uma incapacidade para reconhecer a realidade, alteraes de humor e/ou dficits intelectuais, bem como de situaes de estresse e motivados por traumas psicolgicos. Do ponto de vista da sade mental, alguns distrbios psquicos so constantemente identificados como perturbadores do desenvolvimento individual, muitas vezes at incapacitantes, o que no significa que a pessoa no possa recuperar-se plenamente, particularmente nos casos dos distrbios mais comuns, como os citados abaixo. A fobia, o pnico, a neurose obsessivo-compulsiva centram-se em torno da ansiedade. A fobia um medo excessivo ou absurdo de uma situao ou objeto especfico, controlados atravs de uma evitao permanente. O fbico sabe que sua angstia no proporcional ao perigo, mas sente-se impotente para controlar o sentimento. As pessoas que tm pnico ou neurose de angstia sofrem de ataques de angstia (ou pnico), que vm subitamente em forma de terror inexplicvel e incontrolvel, geralmente acompanhados de outros graves sinais de tenso do sistema nervoso autnomo (taquicardia, nuseas, respirao difcil etc). As pessoas com esse tipo de problema reagem quase sempre desproporcionalmente s menores tenses e aborrecimentos, sendo os sintomas mais comuns a tenso muscular, problemas digestivos e cefalia. A pessoa com distrbio obsessivo-compulsivo torturada por obsesses (pensamentos no desejados e recorrentes) e/ou compulses (atos rituais recorrentes e no desejados). Os pensamentos e condutas variam bastante, podendo ser classificados de modo geral em: 1. dvidas obsessivas preocupao persistente com algum ato especfico (ex. trancar uma porta); 2. pensamento obsessivo uma cadeia infindvel de pensamente, geralmente concernentes a acontecimentos futuros (ruminaes obsessivas); 3. impulsos obsessivos compulso de realizar vrios atos que podem variar desde os mais comuns at os mais graves (como assassinato, p. ex.); 4. medos obsessivos preocupao com uma hipottica perda de controle que ir causar situaes embaraosas; 5. imagens obsessivas imagens persistentes sobre um acontecimentos visto ou imaginado; 6. ceder a compulses efetuar atos sugeridos pelos pensamentos obsessivos; 7. compulses de controle usar certos expedientes para controlar os pensamentosNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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indesejveis. As obsesses e compulses s so consideradas neurticas quando no servem a nenhum propsito construtivo, so extremamente cansativas e atrapalham a vida do indivduo, ou causam danos ao indivduo ou a outrem. Os distrbios afetivos (ou distrbios da afetividade) caracterizam-se principalmente por tristeza excessiva ou excitao frentica. No primeiro caso est a depresso, o mais recorrente desses distrbios. O indivduo deprimido vive sem prazer, comporta-se de maneira passiva ou letrgica ou de forma inquieta e irritada, e tende a largar ocupaes rotineiras e negligenciar deveres e responsabilidade e a abandonar o convvio social. Crises recorrentes de depresso e mania (euforia e excitao) caracterizam uma pessoa com distrbio bipolar. O nmero de episdios depressivos e manacos varia, bem como a rapidez com que se alternam, tendendo a ser mais comum a ocorrncia de episdios depressivos do que manacos. De acordo com pesquisas recentes, a depresso envolve as cognies, porm no est claro se os pensamentos precedem e causam o estado depressivo, havendo tambm estudos sobre a contribuio dos problemas fisiolgicos nos distrbios da afetividade. A depresso, episdios manacos e crises de pnico so muito comuns em quadros de drogadio, pois envolvem, alm das alteraes qumicas, elementos da personalidade do indivduo, bem como predisposies decorrentes da histria de vida e da prpria situao de instabilidade emocional na qual o indivduo se situa.

3. NOES DE PSICOLOGIA SOCIAL6

A Psicologia Social a rea da Psicologia que procura estudar a interao social. o estudo das manifestaes comportamentais suscitadas pela interao de uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal interao. Os principais conceitos so a percepo social; a comunicao; as atitudes; a mudana de atitudes; o processo de socializao; os grupos sociais e os papis sociais.

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Extrado de BOCK, Ana. Psicologias.

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Percepo social processo que vai desde a recepo do estmulo pelos rgos dos sentidos, at a atribuio de significado ao estmulo. Comunicao um processo que envolve codificao (formao de um sistema de cdigos) e decodificao (entendimento da codificao) de mensagens, constitudas no apenas de cdigo verbal. Atitudes informaes com forte carga afetiva, que predispem o indivduo para uma determinada ao (comportamento). Para a Psic. Social, ns desenvolvemos atitudes (crenas, valores, opinies) em relao aos objetos do meio social. Mudana de atitudes podem ocorrer a partir de novas informaes, novos afetos, novos comportamentos ou situaes, pois existe uma forte tendncia a manter os componentes das atitudes em consonncia. Processo de socializao ocorre pela formao do conjunto de nossas crenas, valores e significaes, quando o indivduo torna-se membro de um determinado conjunto social, aprendendo seus cdigos, normas e regras de relacionamento, apropriando-se do conjunto de conhecimentos j sistematizados e acumulados por esse conjunto. Grupos sociais so pequenas organizaes de indivduos que, possuindo objetivos comuns, desenvolvem aes na direo desses objetivos. Para garantir essa organizao, possuem normas, formas de presso para a conformao dos membros s normas, um funcionamento determinado com distribuio de tarefas e funes; formas de cooperao e competio e mecanismos de coeso e manuteno do grupo. Papis sociais todas as expectativas de comportamento estabelecidas pelo conjunto social para os ocupantes de diferentes posies sociais determinam o chamado papel prescrito, e todos os comportamentos que manifestamos, de acordo ou no com a prescrio social, so chamados de papel desempenhado. Os papis sociais so referncias para a nossa percepo do outro e para o nosso prprio comportamento, e permitem que nos adaptemos s diferentes situaes sociais.

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Hoje a Psicologia Social busca compreender como se d a construo do mundo interno do indivduo (o psiquismo humano) a partir das relaes sociais vividas pelo homem, passando o mundo objetivo a ser visto no como fator de influncia para o desenvolvimento da subjetividade, mas como fator constitutivo. Para a nova Psicologia Social, o homem um ser social, que constri a si prprio, ao mesmo tempo que constri, com os outros homens, a sociedade e sua histria. O comportamento deixa de ser o objeto de estudo para ser uma das expresses do mundo psquico e fonte importante de dados para a compreenso da subjetividade, por ele se encontra no nvel do emprico e pode ser observado. Como conceitos bsicos de anlise, a nova Psicologia Social ir propor a conscincia e a identidade, que so as propriedades ou caractersticas essenciais do homem e expressam o movimento humano. Conscincia expressa a forma como o homem se relaciona com o mundo objetivo. No se limita ao saber lgico, inclui o saber das emoes e sentimentos do homem, o saber do inconsciente, produto das relaes sociais que os homens estabelecem. Como produto subjetivo e apropriao pelo homem do mundo objetivo, a conscincia produz-se em um processo ativo, que tem como base a atividade sobre o mundo, a linguagem e as relaes sociais. O homem encontra um mundo de objetos e significados j construdos pelos outros homens. Nas relaes sociais, ele se apropria desse mundo cultural e desenvolve o sentido pessoal, produzindo uma compreenso sobre o mundo, sobre si mesmo e os outros, construdo no processo de produo da existncia, com a matria-prima da realidade objetiva e social, mas que prpria do indivduo. Estuda-se a conscincia atravs de suas mediaes, como as representaes sociais, expresses da conscincia, conjunto de idias que articula os significados sociais, envolvendo crenas, valores e imagens que os indivduos constroem, no decorrer de suas vidas, a partir da vivncia na sociedade. Identidade denominao dada s representaes e sentimentos que o indivduo desenvolve a respeito de si prprio, a partir do conjunto de suas vivncias. A identidade a sntese pessoal sobre o si-mesmo, incluindo dados pessoais,

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trajetria, atributos conferidos pelos outros, permitindo uma representao a respeito de si. A identidade psicossocial refere-se sensao de pertencer a algo, ser parte de algo. composta, portanto, de mltiplas identidades, como a identidade sexual, a identidade tnica ou racial, a identidade religiosa, a profissional etc. Permite que o indivduo oriente-se em relao s outras pessoas e ao seu meio ambiente, e formada a partir do conjunto de identificaes consciente e inconscientes que o indivduo faz ao longo de seu desenvolvimento. Aps a Segunda Guerra mundial, a psicologia social ganhou espao. Kurt Lewin fixa novos objetivos em Psicologia Social ao trabalhar com a dinmica dos fenmenos de grupo, apegando-se s dimenses concretas e existenciais. Para ele os fenmenos de grupos deveriam ser trabalhados no prprio campo psicolgico, em vez de laboratrio, criando o termo pesquisa-ao para esse procedimento. 4. FUNDAMENTOS SOCIOLGICOS DO COMPORTAMENTO - DINMICA DE GRUPOS

De acordo com Bock (2002), a instituio um valor ou regra social reproduzida no cotidiano como estatuto de verdade, que serve como guia bsico de comportamento e de padro tico para as pessoas em geral. O elemento que completa a dinmica de construo social da realidade o grupo, que realiza e promove os valores, assim como formula e reformula as regras. O grupo se caracteriza pela reunio de um nmero varivel de pessoas com um determinado objetivo, compartilhado pelos seus membros, que podem desempenhar diferentes papis para a execuo desse objetivo. No campo terico pode-se definir o grupo como um todo dinmico, o que significa que ele mais que a soma de seus membros, e que a mudana no estado de qualquer sub-parte modifica o grupo como um todo. Quando um grupo de estabelece, os fenmenos grupais passam a atuar sobre as pessoas individualmente e sobre o grupo, ao que chamamos de processo grupal. A fidelidade de seus membros, o grau de aderncia s regras de manuteno do grupo, chamada de coeso grupal. Os motivos individuais soNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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importantes para a adeso ao grupo, mas as diferenas individuais sero admitidas desde que no interfiram nos objetivos centrais do grupo ou suas caractersticas bsicas. Os objetivos do grupo iro sempre prevalecer aos motivos individuais e, quanto mais o grupo precisar garantir sua coeso, mais ele impedir manifestaes individuais que no estejam de acordo com seus objetivos. A dinmica de grupo como cincia emprica dos processos cientficos depende de observao, quantificao, mensurao e experimentao. No apenas os grupos constituem seu objeto de estudo, mas principalmente a dinmica da vida coletiva, os fenmenos e os princpios que regem seu processo de desenvolvimento. As foras psicolgicas e sociais que atuam no grupo se fazem sentir atravs de coeso, coero, presso social, atrao, rejeio, resistncia mudana, interdependncia, equilbrio e quase-equilbrio. Estes aspectos foram estudados pela dinmica de grupo na formulao de teorias. Kurt lewin A construo fundamental, para K. Lewin, a chamada teoria de campo. Campo o espao de vida de uma pessoa, sendo este constitudo da pessoa e do meio psicolgico, como ele existe para o indivduo. O comportamento do indivduo depende das mudanas que ocorrem em seu campo (espao de vida) em determinado momento. O espao de vida de um grupo consiste em elementos de um grupo e em um meio tal como existe para o grupo naquele momento. A representao do grupo e seu ambiente como um campo social so o instrumento bsico para a anlise de vida do grupo. Um grupo sobrevive quando tem trs elementos fundamentais: existncia, interdependncia de seus membros e contemporaneidade (quer dizer que os determinantes do comportamento so as propriedades do campo naquele momento). A importncia de cada grupo para o indivduo depende da situao do momento, o que caracteriza a atmosfera do grupo. Os objetivos do grupo no precisam ser idnticos aos objetivos do indivduo, mas as divergncias entre o indivduo e o grupo no podem ultrapassar determinados limites, alm dos quais um rompimento inevitvel.

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Assim como o indivduo e seu ambiente formam um campo psicolgico, o grupo e seu ambiente formam um campo social. O conceito de campo social abarca a dinmica e a estrutura desse espao. A conduta de um grupo ser, ento, explicada em funo das foras objetivas que decorrem da prpria situao no momento. O campo social uma totalidade dinmica, estruturada em funo da posio relativa das entidades que o compem. O comportamento social resulta da interrelaao de tais entidades, tais como grupos, subgrupos, membros, barreiras, canais de comunicao etc., ou seja, da distribuio de foras em todo o campo. Moreno Jacob L. Moreno foi um dos iniciadores do trabalho de grupo. A estrutura latente dos grupos, na concepo de Moreno, representa para cada membro do grupo a forma como vivem o grupo e seus membros; a forma como vive sua prpria situao dentro do grupo; a forma como percebe os outros e a distncia social que experimenta em relao a eles; a forma como percebido pelos outros. A organizao das relaes vividas uma expresso de afetividade de suas formas e de colocao no grupo e das representaes (percepo e conhecimento) que cada participante tem do grupo e dos outros. A atividade global do grupo seus objetivos, seus programas e suas esperanas influi na forma com que os membros do grupo se apercebem entre si, se aliam ou se excluem. Em relao aos horizontes reais do grupo e s necessidade, devem estar compreendidas a confiana ou a desconfiana, a solidariedade, a estima, a indiferena e o desprezo. Cada um pensa, sente e age em funo de mltiplos papis, no desempenho dos quais a pessoa sente-se congruente ou incongruente. H momentos em que existem diversos papis a serem representados, que ningum v claramente, e papis efetivamente representados em relao ao grupo (pacificador, unificador, sabotador, coordenador, animador, censor etc). Todos esses papis so expressos mediante atitudes que se adotam dentro do grupo, e que se desenvolvem ou se modificam, formando assim a dinmica do grupo, medida que se influenciam reciprocamente. Aprender a assumir os papis necessrios, ser capaz de mudar de papel de acordo com a situao, indcio, segundo Moreno, de ajustamento da personalidadeNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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social e abertura e afirmao da prpria personalidade (conjunto de papis que podemos representar e atitude para assumir o papel adaptado situao atual). Moreno atribui ao psicodrama a capacidade de explorar a verdade dos seres humanos ou a realidade das situaes. O grupo psicodramtico opera uma catarse do passado no presente ou do futuro no presente pela representao dramtica de conflitos, com intensidade emocional ao vivo. O psicodrama tambm uma experincia vivida em grupo, pelo grupo e para o grupo, onde o indivduo compartilha seus problemas com os outros. Piaget Embora no tenha trabalhado com dinmica de grupo, Piaget forneceu elementos valiosos ao estudar o desenvolvimento do pensamento, pondo em foco as condies intelectuais que tornam uma criana capaz de cooperar e explicam o efeito da cooperao na formao de sua mente. O valor e a dificuldade do intercmbio cultural num grupo se baseiam na colocao do indivduo diante de pontos de vista diferentes dos seus, sendo necessrio que cada participante compreenda o ponto de vista alheio. Quando os conceitos de cada um no so rgidos, nem o indivduo dominado por seu limitado ponto de vista, a condio para que sua mente se adapte a uma organizao grupal. Outro tipo de comportamento que o grupo desenvolve chamado reciprocidade. Essa estrutura do pensamento refere-se s contribuies de ajuda mtua, de colaborao. As condies intelectuais da cooperao foram cumpridas num grupo quando cada integrante for capaz de compreender os pontos de vista dos demais e de adaptar sua prpria ao ou contribuio verbal deles. O grupo s ter condies de funcionar equilibradamente quando seus elementos tiverem condies de pensar operativamente. O grupo favorece o desenvolvimento do chamado pensamento operatrio: a resoluo de problemas por equipe, de projetos em comum, tudo enriquecer o repertrio de atividades cooperativas e favorecer o desenvolvimento do pensamento operatrio. Implicitamente Piaget faz sentir a necessidade do trabalho de grupo no desenvolvimento da inteligncia, quando afirma que choque de nosso pensamento com o dos outros que produz a dvida e a necessidade de provar. a necessidade social de compartilhar o pensamento com os outros, de comunicar o nosso e deNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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convencer, que est na origem de nossa necessidade de verificao. A cooperao o ponto de partida de uma srie de atitudes importantes para a constituio e o desenvolvimento da lgica. A cooperao uma coordenao de pontos de vista ou de aes que emanam de diferentes indivduos. A afinidade (e o desenvolvimento operatrio) interiorizada no indivduo, tornando-o suscetvel de cooperar com os demais; ou a cooperao exterior, depois, interioriza-se nele, obrigando-o a agrupar suas aes em sistemas operatrios. Bion W. R. Bion (1952) centralizou o estudo do comportamento do grupo no fator emocional, defendendo a existncia de quatro emoes bsicas no processo grupal: combatividade, fuga, parceria e dependncia. Em qualquer ponto da existncia de um grupo, d-se a predominncia de uma dessas emoes (humor de briga, humor de parceria etc). Para Bion, o grupo trabalha no nvel da tarefa , no sentido de colaborao, estando os elementos conscientes e em compatibilidade com do desempenho do eu no nvel consciente. Tambm trabalha no nvel de valncia, capacidade que os indivduos tm, reunidos em grupo, de se combinarem de modo instantneo e involuntrio. O grupo progride no momento em que as necessidades inconscientes convergem e se superpes s necessidades conscientes, ou quando as necessidades inconscientes so reconhecidas ou satisfeitas, isto , quando h um encontro entre nveis de tarefa e nveis de valncia. Na concepo de Bion um grupo cresce seguindo 3 etapas fundamentais. 1. dependncia; 2. luta (fuga ou ataque, agressividade, afastamento); 3. pareamento (criao de subgrupos). No primeiro momento, o lder comanda; no segundo momento, incio da maturidade, o grupo comea a romper o cordo umbilical; no terceiro momento o grupo liga-se ao lder e o considera um dos participantes. Pichn Rivire Enrique Pichn Rivire e outros introduziram os chamados grupos operativos no estudo da famlia, partindo da hiptese de que o grupo um conjunto restrito de pessoas que se propem, de forma explcita ou implcita, a efetuar uma tarefa queNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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constitui sua finalidade. A unidade grupal tem muitas vezes a caracterstica de situao espontnea, mas os elementos desse campo grupal podem ser organizados e a interao poder ser regulada para maior eficcia de seu objetivo. A tcnica operativa nasce, assim, para instrumentar a ao grupal e caracteriza-se por estar centralizada na tarefa. Sejam quais foram os objetivos propostos aos grupos (diagnstico institucional, aprendizagem, planificao, criao etc), a finalidade que seus integrantes aprendam a pensar em uma co-participao do objeto do conhecimento, entendendo que pensamento e conhecimento no so fatos individuais, mas produes sociais. O conjunto de integrantes do grupo aborda as dificuldades que se apresentam em cada momento da tarefa, logrando situaes de esclarecimento e mobilizando estruturas estereotipadas. O processo de crescimento do grupo operativo fundamenta-se na metodologia que Pichon chama didtica, estratgia destinada no s a comunicar conhecimento (tarefa informativa), mas tambm desenvolver aptides e modificar atitudes (tarefa formativa). A interao deve ser regulada para potencializar a unidade grupal, torn-la mais eficaz com vistas ao seu objetivo (planificao). A tcnica operativa surge, assim, para instrumentar a ao grupal. O grupo operativo o primeiro elemento de uma abordagem do cotidiano, no qual tendem a reproduzirse as relaes cotidianas, os vnculos que pem em jogo modelos internos.

Processo grupal na famlia Malinowski acredita que impossvel pensar em qualquer forma de organizao social quando ela carente de estrutura familiar. Os esteretipos familiares, como um sistema de relao, so levados s organizaes sociais e atuam em sua estruturao. Pichn Rivire diz que a famlia, como grupo primrio, pode ser analisada em trs nveis: Do ponto de vista psicolgico os problemas estudados seriam a conduta do indivduo em funo de seu meio familiar; as reaes de agresso e o sentimento em relao a diferentes tipos de autoridade familiar; o impacto que significa o ingresso de novos membros na famlia, suas crenas e atitudes como resultado da educao e de experincias familiares. Os problemas deste tipo devem serNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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investigados por meio do estudo do campo psicolgico do indivduo, esclarecendo as noes e as idias sobre sua famlia em conjunto e sobre cada membro em particular (grupo interno). Do ponto de vista da dinmica de grupo ou sociodinmico investigam-se os problemas concernentes a determinadas famlias, segundo determinadas circunstncias (perigos externos): morte, admisso de novos membros, partida de membros para lugares distantes, relaes de autoridade, prestgio etc. importante medir os ndices de rigidez ou de maleabilidade do grupo familiar. Do ponto de vista institucional so problemas tpicos os de estrutura da famlia em diversas classes sociais (meio urbano, rural, classes abastadas, favelados) e os de transformaes da estrutura familiar devido a crises econmicas, guerras, mudanas de costumes. Assim, na anlise pluridimensional da famlia como grupo, temos os nveis psicolgico (grupo interno conduta, reaes de agresso e simpatia, autoridade, crenas e experincias familiares); sociodinmico (grupo externo perigos exteriores que ameaam a segurana da famlia) e institucional (a estrutura da famlia em funo do meio e de crises). Pichn Rivire acredita que a enfermidade mental no uma enfermidade do indivduo, e sim decorrncia da unidade bsica da estrutura social: o grupo familiar. O enfermo desempenha o papel (role) de porta-voz, emergente dessa situao total. O grupo famlia o ncleo e o ponto de partida da interiorizao do conceito grupal, e as distores no sistema famlia interferem nas demais atividades grupais das quais o indivduo participa. O grupo doente interioriza sistemas distorcidos de comportamento, principalmente naquele indivduo que se torna o elemento emergente dessa situao patolgica. A teoria freudiana centraliza a ateno no papel da famlia no modelamento da personalidade e da sade mental da criana, mas d prioridade aos instintos inatos. Enfatiza o ncleo biolgico do homem e diminui o papel da sociedade. Detm-se muito na estruturao permanente da personalidade nos primeiros anos de vida e reduz a importncia dos nveis posteriores de participao social. FreudNOES DE PSICOLOGIA Curso Tcnico em Reabilitao de Dependentes Qumicos

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concebia a famlia como o grupo disciplinador dos instintos biolgicamente fixos da criana, que forava a represso de sua descarga espontnea.

5. NOES DE PSICOLOGIA COMUNITRIA

A Psicologia Comunitria um saber em construo, pragmtico, derivado da Psicologia Social, bastante novo e amplo, por isso mesmo de difcil conceituao. Escovar (1979) e Montero (1984) apontam que o nome Psicologia Comunitria surgiu em 1965 nos Estados Unidos, com a proposta de formar uma disciplina que se dedicasse a trabalhar com a sade mental das populaes excludas. Uma das primeiras definies da Psicologia Comunitria amplamente divulgada foi a de Montero (1982, p. 16), afirmando que esta disciplina constitui a "rea da psicologia cujo objeto o estudo dos fatores psicossociais que permitem desenvolver, fomentar e manter o controle e poder que os indivduos podem exercer sobre seu ambiente individual e social, para solucionar problemas que os afetam e lograr mudanas nestes ambientes e na estrutura social". Seus princpios bsicos so os de: 1) unio entre teoria e prtica; 2) transformao social como meta; 3) poder e controle dentro da comunidade; 4) conscientizao e socializao; 5) autogesto e participao. De acordo com a autora, no espao do coletivo, que deve trabalhar-se junto com o individual, o psiclogo trabalha como agente de mudana com um grupo, induzindo a tomada de conscincia, a identificao de problemas e necessidades, a eleio de vias de ao, a tomada de decises e, com isto, a mudana na relao entre indivduo e seu ambiente, que transformado (Montero, 1984). Alguns fundamentos podem ser identificados, assim, no conceito de Psicologia Comunitria: a) viso pragmtica da psicologia, isto , uma preocupao com a aplicao prtica da psicologia a situaes sociais concretas; b) nfase psicolgica na melhoria da qualidade de vida das comunidades como obj