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noiva tremia. Tudo é silêncio. A coitada Uma estátua parecia... Tão pálida como mármore, Como ele imóvel, fria; Só a flor da laranjeira No véu da noiva tremia. Abrem-se as portas. «É ele!» Disse toda a companhia: Porém ilusória esperança! Um pajem só aparecia: E a alva flor da laranjeira Do véu da noiva caía. Tristes novas traz o pajem, Que triste o rosto trazia; Fez-se um silêncio profundo Entanto que ele as dizia, E a alva flor da laranjeira Inda por terra jazia. Dispam-se as galas da festa, Calem-se os sons da alegria, Que morto em cruel combate O noivo... Um grito se ouvia, Junto à flor da laranjeira, A noiva no chão caía.. Cercam-na todos... debalde, O seio já não batia; Aquela mimosa planta Sem alentos sucumbia,

Noiva Tremia

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Page 1: Noiva Tremia

noiva tremia.

Tudo é silêncio. A coitada

Uma estátua parecia...

Tão pálida como mármore,

Como ele imóvel, fria;

Só a flor da laranjeira

No véu da noiva tremia.

Abrem-se as portas. «É ele!»

Disse toda a companhia:

Porém ilusória esperança!

Um pajem só aparecia:

E a alva flor da laranjeira

Do véu da noiva caía.

Tristes novas traz o pajem,

Que triste o rosto trazia;

Fez-se um silêncio profundo

Entanto que ele as dizia,

E a alva flor da laranjeira

Inda por terra jazia.

Dispam-se as galas da festa,

Calem-se os sons da alegria,

Que morto em cruel combate

O noivo... Um grito se ouvia,

Junto à flor da laranjeira,

A noiva no chão caía..

Cercam-na todos... debalde,

O seio já não batia;

Aquela mimosa planta

Sem alentos sucumbia,

Como a flor da laranjeira,

Derrubada ali jazia.

Page 2: Noiva Tremia

Mal sabia a pobre noiva

Pra que bodas se vestia!

Mal sonhava a desposada

Que a morte esposar devia!

Quando a flor da laranjeira

Ao véu da neve prendia.

Com as vestes do noivado

Para o sepulcro ela se ia;

Em vez do rubor da noiva

A palidez da agonia

E a alva flor da laranjeira

Do véu de neve pendia.

Tantos sonhos que sonhara!...

Tanta esperança que nutria!...

Por esposo tinha a morte,

Por tálamo, a lousa fria,

E a flor da laranjeira

Com ela à campa descia.

Que é isto? que sentimento

Me faz palpitar o seio?

Meu Deus, meu Deus, porque anseio?

A que aspira o coração?

Que me revela este fogo,

Esta vaga inquietação?

Da vida a clara corrente

Porque é que se perturba?

Porque, fugindo da turba,

Eu só folgo ao ver-me a sós,

Escutando ignotas falas

De não sei que estranha voz?

Ainda há pouco me apraziam 

Page 3: Noiva Tremia

Da alegre infância os folguedos;

Hoje não sei que segredos

O coração me prediz.

Enfadam-me as alegrias

Desses tempos infantis.

Às horas do fim do dia,

Quando o Sol no mar declina

E d'áurea luz ilumina

Todo o horizonte ao redor,

Porque me sinto enleada

Num indizível langor?