Upload
neuza-teixeira
View
216
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
poema
Citation preview
noiva tremia.
Tudo é silêncio. A coitada
Uma estátua parecia...
Tão pálida como mármore,
Como ele imóvel, fria;
Só a flor da laranjeira
No véu da noiva tremia.
Abrem-se as portas. «É ele!»
Disse toda a companhia:
Porém ilusória esperança!
Um pajem só aparecia:
E a alva flor da laranjeira
Do véu da noiva caía.
Tristes novas traz o pajem,
Que triste o rosto trazia;
Fez-se um silêncio profundo
Entanto que ele as dizia,
E a alva flor da laranjeira
Inda por terra jazia.
Dispam-se as galas da festa,
Calem-se os sons da alegria,
Que morto em cruel combate
O noivo... Um grito se ouvia,
Junto à flor da laranjeira,
A noiva no chão caía..
Cercam-na todos... debalde,
O seio já não batia;
Aquela mimosa planta
Sem alentos sucumbia,
Como a flor da laranjeira,
Derrubada ali jazia.
Mal sabia a pobre noiva
Pra que bodas se vestia!
Mal sonhava a desposada
Que a morte esposar devia!
Quando a flor da laranjeira
Ao véu da neve prendia.
Com as vestes do noivado
Para o sepulcro ela se ia;
Em vez do rubor da noiva
A palidez da agonia
E a alva flor da laranjeira
Do véu de neve pendia.
Tantos sonhos que sonhara!...
Tanta esperança que nutria!...
Por esposo tinha a morte,
Por tálamo, a lousa fria,
E a flor da laranjeira
Com ela à campa descia.
Que é isto? que sentimento
Me faz palpitar o seio?
Meu Deus, meu Deus, porque anseio?
A que aspira o coração?
Que me revela este fogo,
Esta vaga inquietação?
Da vida a clara corrente
Porque é que se perturba?
Porque, fugindo da turba,
Eu só folgo ao ver-me a sós,
Escutando ignotas falas
De não sei que estranha voz?
Ainda há pouco me apraziam
Da alegre infância os folguedos;
Hoje não sei que segredos
O coração me prediz.
Enfadam-me as alegrias
Desses tempos infantis.
Às horas do fim do dia,
Quando o Sol no mar declina
E d'áurea luz ilumina
Todo o horizonte ao redor,
Porque me sinto enleada
Num indizível langor?