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anos    S    I    N    D    I    C    A    T    O    D    O    S    P    R    O    F    E    S    S    O    R    E    S    D    O    E    S    T    A    D    O    D    E    M    I    N    A    S    G    E    R    A    I    S      F    I    L    I    A    D    O     À    F    I    T    E    E  ,    C    O    N    T    E    E    E    C    T    B      W    W    W  .    S    I    N    P    R    O    M    I    N    A    S  .    O    R    G  .    B    R      M    A    R    Ç    O    2    0    1    3      N     Ú    M    E    R    O    6 Sinpro Minas: 80 anos com muita  participação feminina  Uma história de coragem e superação Noiva do Cordeiro

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    anos

    Sinpro Minas:80 anos com muita

    participaofeminina

    Uma histriade coragem e

    superao

    Noiva do Cordeiro

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    Eu quero todas as espciesno meu sangue

    das dceis s indomveisas que atravessam perigose sinais proibidose as que rezam ajoelhadassob o peso da missa de qualquer domingo

    a que no tem bero nem beiraa que se debruadenuncia e resistee a que se recolhe tremulantesob o apelo irresistvel

    de mais uma cano

    Elas

    Cludia Castanheira

    mas a que transita alheiapor entre ruas,

    abismos e rotas acidentaiseu quero muito maisque quando h tempo corree no cansa

    vai no rastro da esperanatentar alcanar a ltima estrelana beira dos caosdo prximo quarteiroe ser feliz para sempre

    como se fosse s isso...

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    Revista Elas por Elas- maro 2013

    Departamento de Comunicao:

    Diretores responsveis: Aerton Silva e Marco Eliel de CarvalhoEditora/Jornalista responsvel: Dbora Junqueira (MG05150JP)

    Redao: Ceclia Alvim (MG09287JP),Denilson Cajazeiro (MG09943JP) e Saulo Martins (MG15509JP)

    Programao visual/Diagramao: Mark FlorestDesign Grfico: Fernanda Loureno e Mark Florest

    Reviso:Aerton SilvaConselho Editorial: Lavnia Rodrigues, Terezinha Avelar, Marilda Silva,

    Liliani Salum Moreira, Cludia Pessoa, Clarice Barreto, Ndia Maria Barbosa,Maria Izabel Bebela Ramos e Antonieta Mateus

    Impresso: EGL-Editores Grficos Ltda - Tiragem: 5.000Distribuio gratuita: Circulao dirigida

    [email protected]

    Diretoria Gesto 2012/2016

    Presidente: Gilson Luiz Reis; 1 Vice-Presidente:Valria Peres Morato Gonalves; 2 Vice-Presidente: Marco Eliel Santos de Carvalho; Tesoureiro Geral: Dcio Braga de Souza; 1Tesoureiro: Dimas Enas Soares Ferreira; Secretria Geral: Liliani Salum Alves Moreira; 1Secretrio: Clovis Alves Caldas Filho; Conselho Fiscal: Newton Pereira de Souza; NalbarAlves Rocha; Ftima Amaral Ramalho; Suplente do Conselho Fiscal:Aerton de Paulo Silva;Renato Csar Pequeno; Maria Clia da Silva Gonalves. Diretoria:Adelmo Rodrigues de Oli-veira; Adenilson Henrique Gonalves; Albanito Vaz Jnior; Alessandra Cristina Rosa; AltamirFernandes de Sousa; Angelo Filomeno Palhares Leite; Aniel Pereira Braga Filho; AntonietaShirlene Mateus; Antnio de Pdua Ubirajara e Silva; Antnio Srgio de Oliveira Kilson; Apa-recida Gregrio Evangelista; Aristides Ribas Andrade Filho; Benedito do Carmo Batista; BrunoBurgarelli Albergaria Kneipp; Carla Fencia de Oliveira; Carlos Afonso de Faria Lopes; CarlosMagno Machado; Carolina Azevedo Moreira; Ceclia Maria Vieira Abraho; Celina Alves Pa-

    dilha Aras; Csar Augusto Machado; Clarice Barreto Linhares; Cludia Cibele Souza Rodri-gues; Cldio Matos de Carvalho; Daniel de Azevedo Teixeira; Dbora Goulart de Carvalho;Diva Teixeira Viveiros; Edson de Oliveira Lima; Edson de Paula Lima; Eliane de Andrade; ricaAdriana Cos ta Zanardi; Estefnia Ftima Duarte; Fbio dos Santos Pereira; Fbio Marinhodos Santos; Fernando Antnio Tomaz de Aquino Pessoa; Fernando Dias da Silva; FernandoLcio Correia; Geraldo Magela Ribeiro; Gislaine dos Santos Silva; Grace Marisa Miranda dePaula; Hada Viviane Palhano Arantes; Heleno Clio Soares; Henrique Moreira de Toledo Sal-les; Humberto Coelho Ramos; Humb erto de Castro Passarelli; Iara Prestes Stoessel; IdelminoRonivon da Silva; Joo Francisco dos Santos; Joo Marcos Netto; Jones Righi de Campos;Jos Carlos Padilha Aras; Jos Geraldo da Cunha; Jos Heleno Ferreira; Jos Mauricio Pe-reira; Josiana Pacheco da Silva Martins; Josiane Soares Amaral Garcia; Juliana Augusta Ra-belo Souza; Larcio de Oliveira Silva; Lavnia Rosa Rodrigues; Liliam Faleiro BarrosoLoureno; Luiz Antnio da Silva; Luiz Cludio Martins Silva; Luiz Henrique Vieira de Maga-lhes; Luliana de Castro Linhares; Marcelo Jos Caetano; Marcos Gennari Mariano; MarcosPaulo da Silva; Marcos Vinicius Arajo; Maria Aparecida Penido de Freitas; Maria Celma Piresdo Prado Furlanetto; Maria da Conceio Miranda; Maria da Gloria Moyle Dias; Maria dasGraas de Oliveira; Maria Elisa Magalhes Barbosa; Maria Goretti Ramos Pereira; Maria He-lena Pereira Barbosa; Maria Nice Soares Pereira; Marilda Silva; Marilia Ferreira Lopes; MarisaMagalhes de Souza; Mateus Jlio de Freitas; Meire Ruthe Branco Mello; Messias SimoTelecesqui; Miguel Jos de Souza; Miriam Ftima dos Santos; Moiss Arimatia Matos; MuriloFerreira da Silva; Nardeli da Conceio Silva; Neilon Jos de Oliveira; Nelson Luiz Ribeiro daSilva; Orlando Pereira Coelho Filho; Paulo Roberto Mendes da Silva; Paulo Roberto VieiraJnior; Pitgoras Santana Fernandes; Renata de Souza Guerra; Renata Titoneli de Aguiar;Rodrigo de Paula Magalhes Barbosa; Rodrigo Rodrigues Ferreira; Rogrio Helvdio LopesRosa; Romrio Lopes da Rocha; Rossana Abbiati Spacek; Rozana Maris Silva Faro; SandraLcia Magri; Sebastio Geraldo de Arajo; Simone Esterlina de Almeida Miranda; Siomara

    Barbosa Candian Iatarola; Sirlane Zebral Oliveira; Terezinha Lcia de Avelar; Valdir ZeferinoFerreira Jnior; Vera Lcia Alfredo; Vera Lcia Freitas Moraes; Wagner Ribeiro; Warley OliveiraDrumond; Wellington Teixeira Gomes.

    SINDICATO DOS PROFESSORES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

    SEDE: Rua Jaime Gomes, 198 - Floresta - CEP: 31015.240Fone: (31) 3115 3000 - Belo Horizonte - www.sinprominas.org.br

    SINPRO CERP - Centro de Referncia dos Professores da Rede Privada

    Rua Tupinambs, 179 - Centro - Cep: 30.120-070 - BH - Tel: (31) 3274 [email protected]

    SEDES REGIONAIS:

    Barbacena: Rua Francisco S, 60 - Centro, CEP: 36200-068 - Fone: (32) 3331-0635, [email protected];Cataguases:Rua Major Vieira, 300 - sala 04 - Centro - CEP: 36770-060 - Fone: (32) 3422-1485, [email protected];Coronel Fabriciano: Rua MoacirD'vila, n 45 - Bairro dos Professores - CEP: 35.170-014 - Fone: (31) 3841-2098, [email protected]; Divinpolis:Av. Minas Gerais, 1.141 - Centro - CEP: 35.500-010 - Fone: (37) 3221-8488, [email protected]; Governador Valadares: Av.Brasil 2.507 - Centro - CEP: 35020-070, Fone: (33) 3271-2458, [email protected]; Janaba: Rua Jos Teotnio, 556 - Esplanada, CEP: 39.440-000 - Fone (38)3821 4212, [email protected]; Montes Claros: Rua Januria, 672 - Centro, CEP:39.400-077 - Fone: (38) 3221-3973, [email protected]; Poos de Caldas:Rua Mato Grosso, n 275 - Centro, CEP: 37.701-006 - Fone: (35) 3721-6204, [email protected];Ponte Nova:Av. Dr. Otvio Soares, 41 - salas 326 e 328, Palmeiras- CEP: 35.430-229 - Fone: (31) 3817-2721, [email protected]; Pouso Alegre:Rua Dom Assis, 241 - Centro, CEP 37.550-000 - Fone: (35) 3423-3289, [email protected]; Tefilo Otoni: Rua Pastor Hollerbarch, 187/201 - Gro P ar, CEP: 39.800-148- Fone: (33) 3523-6913, [email protected]; Uberaba: Rua Alfen Paixo,105 -Mercs, CEP: 38.060-230 - Fone: (34) 3332-7494, [email protected]; Uberlndia:Rua Olegrio Maciel, 1212 - Centro, CEP: 38.400-086 - Fone: (34) 3214-3566, uber [email protected];Varginha:Av. Doutor Mdena, 261 - Vila Adelaide, CEP: 37.010-190Fone: (35) 3221-1831, [email protected]

    Neste ano o Sinpro Minas comemora oito dcadas de existncia e psenteia as mulheres e aqueles que gostam muito delas com esta ediopecial da revista Elas por Elas. Em seu sexto nmero, a revista couma parte da histria do sindicato relativa participao feminina.longo desses oitenta anos, duas mulheres ocuparam a presidncia da tituio e no foram poucos os episdios protagonizados pelas professoe dirigentes sindicais. Da superao do machismo, passando paguerridas batalhas por uma educao de qualidade, ao envolvimentograndes lutas do povo brasileiro, a verdade que elas deixaram importante legado para as futuras geraes.

    Se a luta de uma categoria como a dos professores exige mcoragem e garra das mulheres, imaginem o desafio de trabalhadoras vivem no campo, como as da inusitada histria retratada na reportagsobre a comunidade Noiva do Cordeiro, no municpio de Belo Vale,

    Minas Gerais. Em sua origem, a matriarca da comunidade foi excomungpela Igreja Catlica e pela sociedade porque deixou o marido para vcom o seu grande amor. Preconceito, fome, falta de instruo e isolamemarcaram a vida dos descendentes desse casal, at que eles se organizarsob a liderana das mulheres, e criaram alternativas de subsistncia.Uhistria de superao de preconceitos e uma lio de igualdadegnero, que mereceu o destaque na capa dessa edio tambm comemorados 80 anos do Sinpro Minas.

    Com tantas histrias para ilustrar as temticas que nos propomabordar, a revista est mais robusta e com muito contedo para servirestudos, debates e inspirao para atitudes comprometidas com a ideiauma sociedade mais igualitria. Mais uma vez, destacamos que lugarmulher pode e deve ser na poltica, assim como os homens tamb

    devem assumir mais responsabilidades com as tarefas domsticasmatria Mudana de hbito mostra que a jornada mdia semanal das lheres nessas atividades 2,5 vezes maior que a masculina.

    O recorte de raa tambm sempre est presente em nossas pauNesse aspecto, essa edio traz uma matria sobre a reserva de coraciais na educao, abordando como as mulheres negras conquistamdiploma universitrio e comeam a mudar o perfil do ensino superiorBrasil.Tambm fomos investigar como as questes sobre educao eminismo se desenvolvem nas comunidades indgenas e encontramos uprola, a ndia Adana kambeba, estudante de medicina e atriz no fiXingu, que conta sua experincia em unir conhecimento e tradio pajudar seu povo.

    A revista traz outras reportagens sobre parto humanizado, cncer

    mama, adolescentes negras, prostituio, entre outras, e um artigo soaborto. Ao final da revista, os leitores podero observar algo que perpagrande parte das matrias: a violncia de gnero. Uma entre vrias ouquestes importantes que necessita avanar.

    Boa leitura!

    Mulheres protagonistas

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    HISTRIA SINDICAL80 anos com muita

    participao femininaPg 6

    POLTICAMulheres ainda sominoria na polticaPg 8

    ARTIGOSO avano das

    mulheres naseleies de 2012

    Pg 16

    So dois pra l,dois pra c?Pg 36

    MATERNIDADE

    O parto da mulherPg 30

    MULHER E MDIAFora das capasde revistasPg 40

    REALIDADE

    Direito aos direitos

    Prostitutas queremregulamentarprofissoPg 20

    VIOLNCIA

    Lei Maria da Penha

    traz mudanas positivaPg 26

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    Revista Elas por Elas- maro 2013

    SADE DA MULHERCncer

    de mamatem curaPg 60

    COMPORTAMENTO

    Para alm da

    dona BentaPg 46

    Mudana de hbitoPg 50

    ETNIAEducao e feminismo

    nas comunidadesindgenasPg 52

    CAPANoiva do Cordeiro

    Uma histria decoragem e superaoPg 47

    EDUCAODemocracia,

    ainda que tardiaPg 72

    PERFILUma vida dedicada

    arte da interpretaoPg 82

    POUCAS E BOASDICAS CULTURAISPg 84

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    80 anos com muitaparticipao feminina

    HISTRIA SINDICAL | por Denilson Cajazeiro

    Mulheres assumem protagonismo nas lutas do Sinpro Minas

    A

    Professoras da Chapa 2 nas Eleies de 1985 do Sindicato dos Professores.

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    Revista Elas por Elas- maro 2013

    O Sinpro Minas completou, em fe-vereiro de 2013, 80 anos de histria.Durante essa trajetria, centenas de

    professores, entre eles muitas mulheres,assumiram a difcil tarefa de dirigir umaentidade sindical que esteve envolvidanas grandes lutas do povo brasileiro.Da campanha a favor da anistia aoscassados pelo regime militar s grevespor uma educao de qualidade, commelhores salrios e condies de tra-balho dos professores, no foram poucasas batalhas de que o sindicato participou.

    Uma dessas lutas ficou conhecidacomo o lobby do batom. Em meadosda dcada de 80, lideranas feministaspassaram a circular pelos corredoresdo Congresso para pressionar os par-lamentares a inclurem, na Constituinte,propostas de interesse das mulheres.Em novembro de 1987, as diretorasdo Sinpro Minas Lavnia Rosa, ElizabethMateus e Maria da Conceio Mirandatambm participaram de um encontro,em Braslia, que aprofundou o debateacerca de uma Constituio mais igua-litria. Durante trs dias, cerca de 470mulheres, representando diversas cate-

    gorias profissionais, discutiram, no IEncontro Nacional A Mulher e as

    Leis Trabalhistas, temas como jornadade trabalho, direitos da reproduo,garantia de emprego, a situao dastrabalhadoras domsticas e rurais, entreoutros. Dali saram diversas resoluesque ajudaram na elaborao dos dispo-sitivos previstos na Constituio.

    Ao longo dessas oito dcadasde histria, duas mulheres presidiram

    o Sinpro Minas. Uma delas Ins As-suno Teixeira, que esteve frente daentidade entre 1983 e 1986, anos emque o sindicato e a sociedade civil par-ticiparam das Diretas J, uma dasmaiores manifestaes populares do

    pas que reivindicava a realizao deeleies presidenciais diretas no Brasil.Foram muitos desafios, alguns ines-

    perados, mas foi um tempo muito feliz,bonito. O sindicato nos coloca a serviodo coletivo, afirma Ins Teixeira, aolembrar das greves e assembleias deprofessores.

    A ex-presidente conta que, na pocada eleio para a diretoria do sindicato,chegou a esconder a gravidez, commedo de perder votos. Achei que po-deriam pensar que uma mulher grvidano teria condies de se dedicar lutasindical, revela Ins Teixeira, que hoje professora da Faculdade de Educaoda Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG) e trabalha, entre outros temas,com o cinema na sala de aula.

    Segundo ela, as mulheres que parti-cipam do mundo sindical enfrentamdesafios maiores, quando comparadosaos dos homens. A luta sindical de-safiante, mas para a mulher dobrado.Em geral, na vida da mulher, o tempo sempre menor para a formao pro-fissional, poltica, aponta a professora.

    Em sua avaliao, as mulheres sin-

    dicalistas possuem muita representati-vidade, mas enfrentam mais barreiras.Voc tem desafios multiplicados. Temosa mesma capacidade de negociao,de defender uma proposta, mas en-frentamos mais resistncia. Quando umhomem fala, como diz Focault, ele jest legitimado. A mulher tem de ir selegitimando, construir uma respeitabili-dade pblica, afirma.

    De acordo com ela, as entidades pre-cisam oferecer mais condies para que

    as mulheres participem da luta sindical.Os sindicatos precisam pensar em formasde facilitar a participao feminina, lembrarque somos diferentes, mas somos iguaisno direito. Temos os mesmos direitos departicipar da esfera pblica.

    A outra mulher que presidiu o SinMinas Celina Alves Padilha ArAtual diretora do sindicato e secret

    de Formao e Cultura da Central Trabalhadores e Trabalhadoras do B(CTB), Celina Areas foi presidenta e1995 e 2000, em duas gestes. Foanos difceis para os trabalhadores sileiros, devido s polticas neolibeda dcada de 90, o que no inibluta do sindicato em defesa dos prosores. Acho que, no Sinpro Mincom todas as dificuldades, fazemos ugesto compartilhada, onde ns, lheres, temos mais condies de opinio, afirma a diretora. Seguela, a experincia de presidir o sindicque representa uma categoria matariamente feminina (cerca de 80%total), foi gratificante.

    Sempre tivemos o respeitocategoria. A experincia valeu a pe uma escola. Valeu, mas acho ainda temos de fazer uma polticaincluso das mulheres no movimesindical e na poltica, pois as condino so iguais, diz Celina Area

    lembra ainda que, das cinco centsindicais hoje reconhecidas, nenhudelas tem uma mulher na presidn

    A diretora defende tambm quesindicatos ampliem as aes de gncomo a revista Elas por Elas. O pro Minas vem numa luta cresceDesde a retomada [em 1980], o sicato vem crescendo. a continuidde uma concepo sindical classiem que se tem conscincia de qupreciso lutar tanto na questo eco

    mica, quanto na poltica e ideolgPenso que estamos no caminho cerafirma, otimista, a diretora do SinMinas, entidade na qual quase a tade da atual direo composta mulheres.

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    In

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    Mulheres aindaso minoriana poltica

    POLTICA| por Ceclia Alvim

    Belo Horizonte e grande parte das cidades brasileirastiveram poucas mulheres eleitas em 2012

    Mesmo com as recentes mudanasna lei de cotas de gnero na poltica ecom a eleio em 2010 de Dilma comoa primeira presidenta do Brasil, as elei-es municipais de 2012 ainda notrouxeram um significativo aumento donmero de mulheres eleitas no pas.

    A minirreforma eleitoral de 2009determinou que os partidos deveriampreencher a cota mnima de 30% de

    candidatas nas listas eleitorais para aseleies seguintes. Esperava-se queassim mais mulheres recebessem apoiopara terem aumentadas suas chancesde candidatarem-se e elegerem-se.

    No entanto, o que se viu foram as le-gendas ocuparem essa cota com mu-lheres, que, em sua maioria, no tinhamchances reais de eleio. Boa partedas candidatas entrou nas chapas quasesimbolicamente, e por isso o resultadoeleitoral foi pequeno, destacou a depu-tada estadual Luzia Ferreira (PPS-MG).

    Para a cientista poltica MarliseMatos, que tambm coordenadorado Ncleo de Estudos e Pesquisas sobrea Mulher da UFMG, os partidos brasi-leiros tm descumprido a lei de cotas.Na maior parte dos casos, no preen-

    cheram as cotas nem em 2010, nem 2012. E os tribunais no indeferias listas preenchidas indevidamenaponta.

    No Brasil, 72.476 mulheres focandidatas s Cmaras Municipais2008, e 6.504 foram eleitas. Em 20esse nmero passou para 133.8candidatas, sendo que apenas 7.6se tornaram vereadoras em tod

    pas. Esse pequeno aumento demonsque ser preciso promover mudanmais rigorosas na estrutura de parte do sistema poltico brasileiro pque haja transformaes maiores necenrio. Construmos no Brasil ucultura que inviabiliza o exerccio fenino de poder atravs da polticapreciso incentivar e promover o emderamento das mulheres, destaca Mlise Matos.

    Segundo a deputada Luzia, a cluso comea dentro dos partid

    Falta apoio financeiro, poltico egstico s candidaturas femininas.partidos ainda so predominantemechefiados por homens. As mulheno tm poder de mando, afirmou

    Luzia Ferreira acredita que propo

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    discutidas no mbito da reforma polticapodem ajudar a ampliar a participaofeminina no poder. O financiamento

    pblico de campanha e o voto em listapreordenada com alternncia de gneropodem favorecer as mulheres, destacou.

    Incentivar o protagonismoEsse quadro de pouca representati-

    vidade feminina tambm se constituipor questes culturais arraigadas. Apoltica ainda no um espao favorvelpara as mulheres. A mulher foi para omercado de trabalho, ampliou anos deestudo, mas continua acumulando fun-es de gerenciamento do espao pri-vado, destacou a deputada Luzia Fer-reira. Para ela, alm de conciliar umajornada tripla de atividades, a mulherprecisa vencer tambm a resistnciada prpria famlia para se envolver po-liticamente. Quando ela se candidata, porque j rompeu com muita coisa,j criou os filhos. Tambm por issoelas comeam mais tarde na poltica.

    Para a cientista poltica MarliseMatos, h ainda outro vis socioculturalque explica essa situao. A recenteascenso social das camadas mais pobresda sociedade brasileira no veio acom-

    panhada de aes que possibilitassemum processo educativo e formador deconscincia poltica e cidad. As pol-ticas de distribuio de renda dos go-vernos Lula e Dilma devem ser valori-zadas, mas no podem parar por a.Precisam ser associadas a outras polticassociais, tambm no campo da educao. fundamental preparar as pessoas,especialmente as mulheres, para assumirum maior protagonismo social, quegere transformaes profundas na rea-lidade brasileira, destacou.

    Assim, segundo Marlise, muitas fa-mlias, compostas tambm por mulheres,foram felizmente tiradas da pobreza,mas levadas em direo sociedade doconsumo. A prpria feminilidade esta servio do consumo. A mulher hoje

    est muito voltada para satisfazer seusdesejos de consumo, para obter bens,para consumir ideais de esttica, roupas

    e produtos de beleza. Alm disso, muitasesto consumidas no seu tempo, che-fiando lares. Precisamos descobrir,ento, o que vai mobilizar as mulheresa agir politicamente, analisa.

    Cmara de BH tem apenasuma vereadoraDe acordo com o Tribunal Superior

    Eleitoral, dos 1.287 candidatos a ve-reador na capital mineira, 397 (30,85%)eram mulheres. No entanto, somenteuma mulher foi eleita, Elaine Matozinhos(PTB), para ocupar uma das 41 cadeirasda Cmara Municipal de Belo Horizonte. a menor representao feminina nolegislativo municipal desde a redemo-cratizao, em 1988.

    Em 2008, foram eleitas cinco ve-readoras, sendo que quatro delas noconseguiram se reeleger em 2012:Neusinha Santos (PT), Pricila Teixeira(PTB), Slvia Helena (PPS) e MariaLcia Scarpelli (PCdoB). Essa reduo

    de cinco para uma eleita, aps aquatro anos, assustou as mulhemerece ateno e anlise.

    A nica vereadora da capital mse disse surpresa com o resultadeleies e lamentou a reduo dmero de vereadoras. um grantrocesso, mas no um fato isem BH. Aconteceu em todo o apontou Elaine Matozinhos.

    Ela formada em Direito, Delde Polcia h mais de 30 anos, edas fundadoras das Delegacias dlheres e do Idoso em Belo HorizEm 2012, foi eleita para seu qmandato eletivo, sendo trs na CMunicipal e um na Assembleia Letiva de Minas Gerais.

    Ela considera que h um desendas mulheres por se candidataremmulheres que esto nesse meio scomo difcil se eleger e contEm muitos casos, quando eleitapessoas que se destacam muito nciedade pelo trabalho que exerceque recebem poder poltico por hede um homem, que seu padrinhltico, afirmou.

    Na opinio de Elaine Matozinfalta de apoio dos partidos, uma c

    extremamente conservadora colao s mulheres, e a reduzida ppao delas no cenrio poltico muninfluenciaram esse resultado. Htambm um desgaste da imageCmara no ltimo mandato, pletou, ao se referir aos escndalcentes que envolveram vereadoresimagem desgastada realmente aos resultados, haja vista a grandevao da Cmara. Apenas 19 dvereadores foram reeleitos em 20

    Encorajar as mulheresMarlise Matos considera essa reum problema multideterminado, facetado. uma queda drstica trica. Se deve a inmeros facomo a cultura, as instituies, o

    1988

    1992

    1996

    2000

    2004

    2008

    2012

    quantidade de mulhereseleitas

    Mulheres

    vereadoras emBHBH

    9921

    9881

    as emdoreaerv

    esMulher

    2008

    2004

    2000

    9961

    9921

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    de de mulherquantidaaseleitesde de mulher

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    lores, as mentalidades, analisa. Paraela, Belo Horizonte perdeu um ricoprocesso de participao poltica, quese dava atravs de alguns mecanismos,hoje enfraquecidos, como os conselhose os processos de oramento partici-pativo. BH vive um contexto neocon-

    servador h alguns anos. Temos nopoder grupos polticos refratrios a mu-danas, que no incentivam a partici-pao poltica e social e que no tem apretenso de resultados cvicos, analisa.

    Marlise enumera outros fatores queinfluenciaram esse contexto de reduzidarepresentao feminina na Cmara deVereadores de Belo Horizonte. Para ela,h um avano das representaes pro-testantes a ocupar um significativo espaopoltico. Esse reencantamento religiosocoincide com um processo de desen-

    cantamento com a poltica, destaca.Alm disso, para ela, h outraquesto conjuntural, que tambm afetaa populao da cidade. A crise de insti-tuies como a escola e a famlia fazcom que o processo de socializao

    acontea de uma forma diferente, semgerar valores de cidadania. Hoje,grande parcela de ricos e pobres vivemalienados no consumo, na internet, nareligio. Esto orientados por outrossentidos e significados. No pensamem agir coletivamente atravs da pol-

    tica, pondera.Para mudar esse cenrio, o grande

    desafio incentivar a formao de novaslideranas femininas, e isso passa porencorajar as mulheres a participar. Nsprecisamos levar para a sociedade aconfiana em mandatos femininos. Noadianta ficar gritando de fora. Ningumvai te ouvir, disse Elaine Matozinhos, aconvocar as mulheres da cidade.

    Cidadania plenaElaine entrou na Polcia com 23

    anos, e aos 44, entrou para a poltica.Tanto a polcia como a poltica soespaos majoritariamente masculinosde poder, destacou. Mas ainda assim,ela se considera uma feminista. Entendofeminismo como a busca da garantia

    da igualdade, da plena cidadaniamulher, afirmou.

    Para a vereadora, violncia con

    a mulher no s a que chega dgacia. Os salrios desiguais, a atenprecria sade da mulher, que papor problemas graves como gravde risco, cncer de mama, entre ousituaes atuais, afrontam os diredas mulheres, disse. No dia da envista, ela analisava, para encaminpara tramitao, um projeto de lei institui o Programa Sade Itinerada Mulher em BH.

    Mulheres na lideranaA baixa representao das mulhe

    no um problema somente dos lelativos municipais. Em 2012, dos 5deputados federais, apenas 46 emulheres, e dos 81 senadores, ape10 eram mulheres. Esse triste quatambm se confirma em Minas GerA Assembleia Legislativa Estadual atmente conta apenas com cinco detadas, entre 77 vagas. Foram queleitas, e uma que assumiu comoplente na vacncia de um deputado

    Alm de todos os esforos pserem eleitas, as mulheres preci

    superar barreiras tambm dentro instituies.

    A deputada Luzia Ferreira reque as mulheres, muitas vezes, no consideradas para ocupar espaocomisses importantes dentro da clegislativa. Enquanto os homens ficsucessivos mandatos, elas tm dificuldde se eleger e de se manter na poltiafirma.

    Luzia Ferreira foi a primeira mua exercer a presidncia da CmaraVereadores de Belo Horizonte, a

    15 legislaturas. Ela foi eleita parbinio 2009/2010 com 40 votosum parlamento composto por 36readores e apenas cinco vereadoAps dois mandatos de vereadoLuzia foi eleita deputada estadual.

    Cecilia Alvim

    Elaine Matozinhos foi a nica vereadora eleita em Belo Horizonte em 2012.

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    J Moraes

    Paraibana, radicada em Minas desdea poca da militncia contra a ditaduramilitar, J Moraes fundadora da UnioBrasileira de Mulheres. Participou dacriao do Conselho Estadual da Mulher,em 1982. Foi tambm a primeira presidente

    do Movimento Popular da Mulher. Foi ve-readora de Belo Horizonte por dois man-datos, deputada estadual, e, em 2006, foieleita deputada federal, sendo reeleita em2010. Atualmente, presidente do PCdoBem Minas e membro da Comisso Exe-cutiva Nacional do partido. tambmpresidente da Comisso Parlamentar Mistade Inqurito (CPMI) que investiga a vio-lncia contra as mulheres no Brasil.

    Como sempre, o principal desafiopara as mulheres a falta de estruturapara dar uma amplitude maior s suascampanhas. importante resgatar o fatode que, em relao s eleies anteriores,cresceu o nmero de eleitas tanto para asCmaras Municipais (13,3% ) como paraas Prefeituras (12,1%). Evidente que foium crescimento pequeno, o que resultadotambm do processo eleitoral que se tornacada vez mais caro. Ao mesmo tempo, a demonstrao de que as estruturas par-

    tidrias continuam concentradas nasdos homens. As campanhas nas caparticularmente onde a disputa foacirrada, exigiu uma grande estrutudivulgao das candidaturas. Alieisso o pequeno nmero de lideranmininas destacadas que pudessemtornar a falta de recursos.

    Enquanto o poder econmicoprincipal eleitor, dificilmente as muconquistaro mais espaos. Por issnanciamento pblico de campanhprimeiro passo. preciso tambm rea presena das mulheres nas estrpartidrias, sobretudo nos cargos de dexecutiva. S assim as polticas afirmtero maior fora. Cursos de formpara as filiadas, presena nos progde mdia, creches nas convenes, lidade nos eventos, so algumas dadidas que podero ajudar a supe

    barreiras. Sem isso o caminho ser l

    Mulheres na poltica analisama participao feminina nas eleies

    Neila Batista Neila Batista foi vereadora por oitoanos em Belo Horizonte. Em 2012, emboratenha sido a segunda mulher mais votadana cidade, no conseguiu se eleger nova-mente para a Cmara, Ela assistentesocial e filiada ao PT desde 1980. Almde tcnica em instituies pblicas e pri-vadas, foi gestora pblica na PBH e nogoverno Lula (Ministrio do Desenvolvi-mento Social). Foi sindicalista e diretorade associao comunitria. Atualmente,assessora o deputado estadual Rogrio

    Correia.Hoje, sou a primeira suplente do PT e

    fui a segunda mulher mais votada da cidade.Os desafios enfrentados pelas mulheres?Primeiro, a eleio tendeu despolitizao,o que enfraquece o debate sobre a questo

    de gnero, no contexto dos desafioscipais. O debate do urbano e os ddas mulheres caminham juntos. Oumenos deveriam. E com uma eleipolitizada isso fica prejudicado. Em sea cultura machista milenar, que incidna estruturao dos partidos. Na Cde 41 representantes, temos apenamulher!

    Para superar esse quadro, as prinmedidas passam por uma mudana cnos partidos e mudanas na legi

    eleitoral. A definio de paridade presentao nas entidades sindicadirees partidrias e de movimentciais, nos rgos e nas empresas pso algumas das medidas urgentestruturais que mudariam esse cenr

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    Revista Elas por Elas- maro 2013

    Neusinha Santos Neusinha Santos foi vereadora pelo PTem Belo Horizonte por cinco mandatos,porm no se elegeu em 2012. professorade Histria e psicloga. Entre suas aesespecficas para as mulheres, foi presidenteda CPI que investigou a violncia contra amulher na capital, em 1992, e foi presidentepor dois mandatos do Conselho Municipaldos Direitos da Mulher. de sua autoria oprojeto que deu origem lei que instituiu oDia Municipal de Preveno ao Cncer deMama e o que garantiu o direito s gestantesatendidas pelo SUS de ter acompanhantena hora do parto, o que tornou BH pioneiranessa iniciativa, entre outros. Recentemente,voltou a atuar como tcnica no terceirosetor, que a sua origem.

    Na realidade, a legislao exige quehaja 30% de mulheres em relao ao n-mero de candidatos, o que no resolve,

    porque as estruturas partidrias brasileainda so muito machistas, assim comsociedade de maneira geral. Ento mulheres temos mais dificuldades psustentar uma campanha financeirameSe no temos um padrinho forte dedo partido, se no herdamos o podeno representamos um setor essenmente masculino, fica muito difcil.contrrio da academia, onde a mulhedestaca por sua sapincia e o saber gum tira, nem herda.

    A lei deve ser modificada e estabela proporcionalidade no nmero de carmesmo que a quantidade de votos menor. Precisamos de uma lei que e

    belea cotas para as mulheres no Lelativo Federal, Estadual e Municipalmelhante lei de cotas para ingressouniversidades pblicas.

    Margarida Salomo

    Margarida Salomo foi candidata Prefeitura de Juiz de Fora em 2008 e2012, mas no conseguiu se eleger. Parti-cipou do movimento estudantil e das lutasde resistncia Ditadura Militar. Na Pre-

    feitura de Juiz de Fora, foi secretria deAdministrao e de Governo. professorauniversitria h mais de trinta anos. Entre1998 e 2006, foi reitora da UniversidadeFederal de Juiz de Fora. Eleita para a pri-meira suplncia em 2010, assumiu comodeputada federal (PT) em janeiro desteano. Na Cmara, priorizo o desenvolvi-mento regional e a educao, mas tambmme dedico a ampliar os espaos da mulherna poltica.

    Os partidos ainda no priorizam asmulheres em suas composies de chapa,seja para o executivo ou para o legislativo.Mesmo a regra que exige que 30% dos

    candidatos a vereador sejam mulherestem se mostrado insuficiente. Felizmente,o PT tem dado uma importante contri-

    buio a isso. Conseguimos eleger a pri-meira mulher presidenta do Brasil e vamoslanar, na prxima eleio municipal, uma

    chapa para as Cmaras Municipais ctituda paritariamente entre homens e lheres. Em Juiz de Fora, a situao nmuito diferente. Tivemos poucas mulhcandidatas, ainda que tenha sido m

    bonita a acolhida nossa candidatur necessrio que nossas institui

    sejam cada vez mais permeveis sena das mulheres, no apenas quancargos eletivos. H vrias instnciaspoder, como secretarias em prefeiturgovernos que podem ser ocupadas poderanas femininas. Para isso, temosinvestir em polticas pblicas. Por olado, necessrio tambm que os parti

    sindicatos e movimentos sociais prioriessa causa, tanto como tema, como dede suas prprias organizaes. De tmodo, podemos utilizar nosso mandnesse sentido, apresentando projetodialogando com esses setores.

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    Maria da Consolao

    Maria da Consolao Rocha foi can-didata Prefeitura de BH em 2012. professora e trabalha h 27 anos na RedeMunicipal de Belo Horizonte e h 13 anosna Universidade Estadual de Minas Gerais.

    Nesse tempo, dedicou-se ao trabalho, s

    lutas sociais e ao mestrado e doutoradoem educao. Atuou na Pastoral da Ju-ventude e participou das lutas dos(as)professores(as), ingressando nas diretoriasdo SindUTE/MG e SindREDE-BH. Con-tribuiu para a construo no Brasil daMarcha Mundial das Mulheres e para afundao do PSOL. Em 2006, foi candidataao Senado.

    Um dos maiores desafios nas eleiesno pas o tempo desigual entre as can-didaturas e a ausncia de financiamentopblico de campanha. As condies so

    completamente desiguais entre as candi-daturas majoritrias e as proporcionais.Outro aspecto o baixo investimento dospartidos para garantir a ampliao do es-pao feminino no legislativo. Em BH, fi-zemos uma boa campanha, focada nosproblemas da cidade e em aes capazesde melhorar as condies de vida das

    mulheres, como creches, lavanderi

    blicas, emprego e contra a violncia se domstica. Lembro que ns, mulsomos 52% da populao da capita

    Os partidos de esquerda esto tindo a urgncia de uma profunda RePoltica no Brasil, que crie mecanpara garantir cargos de representamulheres no parlamento, e no anas candidaturas, o financiamento pde campanha, e o tempo igual papresentao das candidaturas. Asomos mais da metade da populaestamos sub-representadas nas inst

    de definio poltica no pas. A RePoltica em debate contribuir ainda reapropriao da poltica como epblico de construo coletiva da resdos problemas comuns, retirandoespao privado, da mercantilizaoest subordinada atualmente em pas.

    Vanessa Portugal

    Vanessa Portugal foi candidata Pre-feitura de Belo Horizonte em 2012. pro-fessora da Rede Municipal de Ensino de

    BH e Betim. Atua na rede pblica de

    ensino h 22 anos. Foi diretora do Sind-Rede e presidente municipal do PSTU.Tem 16 anos de atuao poltica e suaprimeira candidatura foi em 2002, comovice-governadora. Desde ento, se candi-datou em todas as eleies.

    Em nossa campanha, tivemos apenaso espao do programa eleitoral, no fomosconvidados para os debates e nem t-nhamos espao dos demais veculos mi-diticos. Ainda assim, o resultado de 2012foi bastante gratificante, pois apontou queum conjunto significativo de trabalhadores

    est de acordo com a poltica que apre-sentamos. J o que aconteceu na Cmara um retrocesso. Reflete duas questesprincipais: a presena da ideologia machistaainda predominante em nossa sociedade,que dificulta a atuao poltica das mu-

    lheres, e a atuao de parlamentar

    nunca se preocuparam em travarluta em prol das principais reivindicdas trabalhadoras.

    As mulheres trabalhadoras, alserem mais exploradas, pois ocuppostos de trabalho mais precriotambm vtimas de uma opresso exque se expressa em taxas de vioalarmantes e com a ausncia de popblicas que respondam a esse qPara mudar esse cenrio, lutamoimplantao do Juizado Especial de

    bate Violncia Contra a Mulher

    delegacias, casas abrigos e centros ferncia para as mulheres vtimas dlncia, lavanderias e restaurantes pe pela universalizao do atendimem tempo integral para as crianaa 6 anos na educao infantil.

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    O avano das mulheres nas eleies d2012 e o dficit democrtico de gner

    ARTIGO | Jos Eustquio Diniz Alves1

    O ano de 2012 marca o aniversrio

    dos 80 anos do direito de voto femininono Brasil e as eleies de 07 de outubropossibilitaram um pequeno aumentodo nmero de mulheres eleitas para asCmaras Municipais e um aumento umpouco maior para as prefeituras. Mas,

    no geral, o avano tem sido pequeno e

    o pas ainda continua muito longe daparidade (50% / 50%) entre homens emulheres na poltica. Os partidos pre-cisam criar mecanismos internos de in-cluso feminina para que se possa su-perar o dficit democrtico de gnero.

    O aumento do nmero de

    mulheres eleitas em 2012Em 1992, foram eleitas men4 mil vereadoras nos municpios leiros, representando apenas 7,4total de vagas nas representaenicipais de todo o pas. Com a

    H 80 anos, as mulheres comemoravam o direito de voto.

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    Revista Elas por Elas- maro 2013 Revista Elas por Elas - maro 2012

    duo da primeira poltica de cotas,em 1995, os resultados apareceramnas eleies seguintes. O nmero de

    mulheres eleitas passou para 6,5 milvereadoras, representando 11,1%, em1996. Foi o maior salto ocorrido entreduas eleies na histria brasileira. Naseleies de 2012 o nmero de mulhereseleitas chegou a 7.648 vereadoras, re-presentando 13,3% do total de vagas.Estes nmeros, embora baixos, so re-cordes na histria brasileira.

    Um dos fatores que explicam o au-mento do nmero de vereadoras eleitasfoi a mudana da poltica de cotas. ALei 12.034, de 29/09/2009, substituiua palavra reservar por preencher e anova redao da poltica de cotas ficouassim redigida:

    "Do nmero de vagas resultante dasregras previstas neste artigo, cadapartido ou coligao preencher o m-nimo de 30% (trinta por cento) e o m-ximo de 70% (setenta por cento) paracandidaturas de cada sexo".

    A alterao pode parecer pequena,mas a mudana do verbo "reservar" para"preencher" significou uma mudana nosentido de forar os partidos a daremmaiores oportunidades para as mulheres.

    O ideal que fosse garantida a paridadede gnero (50% para cada sexo) naslistas de candidaturas. Mas diante dobaixo nmero de mulheres candidatas,a mudana da Lei em vigor j representouum avano, mesmo que limitado. O pri-meiro resultado foi visto nos nmerosde candidaturas femininas em 2012. Onmero de mulheres candidatas passoude 72,4 mil em 2008, representando21,9% do total, para 133 mil em 2012(considerando s as candidaturas aptas),representando 31,5% do nmero de

    candidatos.O aumento do nmero de mulheres

    candidatas deveria ser fundamental paraaumentar o percentual de mulhereseleitas. Porm, a maioria dos partidoslanou candidatas laranjas, ou seja,

    candidatas apenas para compor a lista,mas sem condies efetivas de ganhareleies. Faltou apoio e investimento

    na formao poltica das mulheres.Faltou tambm apoio financeiro parasustentar as campanhas femininas.

    O percentual de vereadoras cresceuem todas as regies, sendo que o Nortee o Nordeste continuam sendo as duasregies com maior percentual de mu-lheres eleitas. A menor percentagemde vereadoras continua na regio Su-deste, com o Rio de Janeiro e EspritoSanto ficando na lanterninha do rankingde participao poltica.

    O nmero de prefeitas eleitas em2008 foi de 504 mulheres, represen-tando 9,1% do total de prefeituras epassou para 670 mulheres eleitas (noprimeiro turno) em 2012, represen-tando 12,1% das prefeituras brasileiras.

    O nmero absoluto de vereadorasaumentou 17,4% e o nmero de pre-feitas aumentou 32,9% entre 2008 e2012. Contudo, o percentual de mu-lheres prefeitas passou de apenas 9,1%para 12,1%, continuando abaixo dopercentual de mulheres vereadoras(13,3%). Apesar do avano, os per-centuais de mulheres nos espaos de

    poder da poltica municipal aindamuito baixo e diferenciado.

    As mulheres nas Cmaras deVereadores das capitais brasileirasem 2008 e 2012

    Houve um avano do nmero demulheres eleitas tambm para as C-maras Muncipais nas eleies de 2012.Mas foi um aumento pequeno que nofoi capaz de eliminar o dficit demo-crtico de gnero nas cidades maisdestacadas em cada estado.

    Em termos absolutos, as capitaisque elegeram mais vereadoras em 2008foram Rio de Janeiro (13), Macei (7),Manaus (6), Salvador (6) e Curitiba (6).Nas eleies de 2012, os maiores n-meros absolutos foram alcanados pelas

    Nmero e percentual de mulhereeleitas para as Cmaras Municipa

    Brasil: 1992-2012

    Ano

    1992

    1996

    2000

    2004

    2008

    2012

    N de

    vereadoras

    eleitas

    3.952

    6.536

    7.001

    6.555

    6.504

    7.648

    %

    7,4

    11,1

    11,6

    12,7

    12,5

    13,3

    Nmero e percentual de mulhereeleitas nas eleies Municipais, Bra

    2008 e 2012

    FONTE: Tribunal Superior Eleitoral (visitado 08/10/201

    Nmero e percentual de mulherecandidatas nas Cmaras Municipa

    Brasil: 2008 e 2012

    Ano

    2008

    2012

    N de

    mulheres

    candidatas

    72.476

    133.868

    84,7

    Total de

    candidatas

    330.630

    419.633

    26,9

    21

    31

    % deaumento

    Eleies

    Vereadoraseleitas

    % demulheres

    vereadoras

    Prefeitaseleitas

    % demulheresprefeitas

    2008

    6.512

    12,5

    504

    9,1

    2012

    7.646

    13.3

    670

    12.1

    Varia

    17

    32

    Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - visitado em 11/10/2

    Nota: O nmero de prefeitas eleitas em 2012se refere ao primeiro turno

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    mulheres das cidades do Rio de Janeiro(8), Fortaleza (7), Macei (6), Recife(6), Teresina (6) e So Paulo (6).

    A cidade do Rio de Janeiro liderouem nmero absoluto de vereadoraseleitas nas duas eleies, mas o nmerode mulheres vitoriosas na disputa caiude 13 em 2008 para 8 em 2012. Flo-rianpolis foi a nica capital que noconseguiu eleger nenhuma mulher paraa Cmara Municipal nas duas eleies.Em 2012, teve a companhia de Palmas,capital do Tocantins, com resultado zero.

    Diversas capitais tiveram aumento donmero absoluto de vereadoras eleitasentre 2008 e 2012: Goinia (de 3 para4), Campo Grande (de 4 para 5), RioBranco (de 1 para 4), Macap (de 2 para5), Belm (de 2 para 5), Boa Vista (de 1para 4), Fortaleza (de 4 para 7), So Luis(de 1 para 4), Teresina (de 2 para 6),Natal (de 2 para 4), Porto Alegre (de 4para 5) e So Paulo (de 5 para 6).

    Dentre as capitais que apresentaramo maior declnio absoluto nas duas elei-es, destacam-se: Rio de Janeiro (de13 para 8), Belo Horizonte (de 5 para1) e Aracaju (de 4 para 2).

    Os dados mostram que as capitaisbrasileiras no so os locais mais pro-

    pcios para o avano da participaofeminina nas Cmaras Municipais enas Prefeituras. Somente Boa Vistaelegeu uma mulher para o ExecutivoMunicipal, representando 3,8% das 26capitais do pas.

    No geral, as mulheres tiveram melhordesempenho nas cidades pequenas,onde o nvel da competio poltica menor. Porm, se o Brasil quiser eliminaro dficit democrtico de gnero terque estabelecer um mapa para se chegarna paridade entre homens e mulheres

    nos espaos de poder local, comeandopor promover o empoderamento dasmulheres das sedes estaduais de go-verno, que , em geral, onde se encon-tram os maiores capitais econmico,social, cultural e poltico do pas.

    Municpios com maioria de mu-lheres nas Cmaras de Vereadoresem 2008 e 2012

    Embora a excluso feminina na po-ltica seja grande na maioria dos muni-cpios brasileiros, existem excees,pois em um nmero pequeno de cidadesas mulheres so maioria dos vereadores

    ou dividem paritariamente as cadeirasda Cmara Municipal. Em 2008, asmulheres conseguiram maioria em 17municpios e conseguiram espao pari-trio em outras trs cidades. No muni-cpio de Dias Dvila, na Bahia, as mu-lheres conquistaram 70% das vagas davereana municipal, em 2008. Foi umrecorde na desigualdade reversa dasrelaes de gnero no espao local,pois o sexo feminino elegeu 7 repre-sentantes para a Cmara de Vereadores,em um total de 10 vagas. Evidente-

    mente, esta desigualdade reversa quase nada diante dos 1.668 municpioscom 100% de representao masculina.Outro destaque nas eleies de 2008,foi o municpio de Senador La Rocque,no Maranho, que elegeu 6 mulheres

    num total de 9 vagas (66,7%).Em 2008, quinze outros munic

    entre eles So Joo do Manhuauelegeram 5 vereadoras e 4 vereaapresentando um percentual de 5de participao feminina. Por fimunicpios de So Joo Del ReMinas Gerais, Breves, no Par e C

    Limpo Paulista, em So Paulo, elego mesmo nmero de homens e mupara o total de 10 vagas para amaras de Vereadores.

    J em 2012, as mulheres cotaram maioria na Cmara de Vereaem 23 municpios. Os destaques para as cidades de Fronteiras e Bambas no Piau, que elegeram muem um percentual de 66,7% e 6respectivamente. Outras 17 cielegeram 5 mulheres e 4 homensfazendo um total de 55,6% de p

    pao feminina, entre elas esto qcidades de Minas: Cajuri, IlicneaJoo do Manhuau e SilvianAinda outras 4 cidades ficarammaioria feminina variando de 5354,5%, em 2012. As cidades de

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    Revista Elas por Elas- maro 2013

    mirim (CE), Senador La Rocque (MA),Stio Novo (RN) e So Joo do Ma-nhuau (MG) figuraram nas listas de ci-dades com maioria feminina em 2008e 2012.

    guisa de conclusoNas eleies de 2012 houve avanos

    na representao poltica das mulheresbrasileiras. Mas, no geral, foram avanospequenos. Contudo, existem locais noBrasil onde as mulheres so maioriano espao de poder local de represen-tao parlamentar. So poucos muni-cpios com hegemonia feminina, maso nmero destes municpios cresceuentre 2008 e 2012. Por enquanto,podem ser considerados excees, masno futuro devem se tornar algo comum,na medida em que as desigualdadespersistentes de gnero na representao

    poltica forem deixando de ser umarealidade da sociedade brasileira.

    J existe uma lei incentivando aesafirmativas para se atingir um percentualmais equitativo das candidaturas decada sexo. Falta agora os partidos in-

    corporarem os princpios da equidadede gnero e abrirem espao para umadiviso paritria das estruturas internasde poder tornando as prticas misginascoisa do passado. O eleitorado brasileiroj deu demonstrao que no discriminaas mulheres. Falta as direes partidriasdemonstrarem o mesmo.

    Os diversos institutos de pesquisado pas j mostraram que o eleitoradono s no discrimina as mulheres,como tem uma viso positiva da parti-cipao feminina na poltica. Mas aprova mais cabal que o problema dabaixa participao feminina na polticano est no eleitorado que nas eleiesde 2010 havia 9 candidatos Presi-dncia (7 homens e 2 mulheres) e o re-sultado do primeiro turno mostrou quedois teros (67%) dos votos foram paraas duas mulheres (Dilma Rousseff e

    Marina Silva). Se a populao vota emmulher para a Presidncia da Repblica,por que no votaria em mulheres can-didatas a vereadoras e prefeitas?

    Portanto, o problema no est noeleitorado, mas sim nos partidos pol-

    ticos, pois so os homens que controos principais cargos dentro dos parte nos espaos pblicos de poder. C

    trolam tambm os recursos financee o processo de escolha de candidaO funil est na mquina partidNo existe nenhum partido no Brpresidido por mulher. Para aumea participao feminina na polticaBrasil preciso alterar a participadas mulheres na estrutura de podos partidos polticos.

    Podemos concluir, portanto, no mento em que se comemora osanos do direito de voto femininoBrasil, as mulheres deram um passfrente na participao poltica em nmunicipal. Porm, de 1992 a 201avano foi, em mdia, de 1% no centual de eleitas a cada eleio. Nritmo, a paridade de gnero nos espade poder municipais vai demorar anos no Brasil.

    A baixa participao femininapoltica no corresponde ao papel as mulheres desempenham em oucampos de atividade. Elas so maida populao, maioria do eleitoradoultrapassaram os homens em todonveis de educao e possuem u

    esperana de vida mais elevada.mulheres compem a maior partePopulao Economicamente A(PEA) com mais de 11 anos de este so maioria dos beneficiriosPrevidncia Social. Nas duas ltimOlimpadas (Pequim e Londres)mulheres brasileiras conquistaram ddas trs medalhas de Ouro. Portantexcluso feminina da poltica a ltfronteira a ser revertida, sendo qudficit poltico de gnero em nmunicipal no faz justia contribu

    que as mulheres do sociedbrasileira.

    1. Doutor em Demografia e Professor tilar da Escola Nacional de Cincias Estaticas - ENCE/IBGE

    internet

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    Direito aosdireitosProstitutas querem regulamentar

    profisso e ter reconhecimento social

    REALIDADE | por Denilson Cajazeiro

    Assunto polmico

    entre feministas, e projeto

    de lei sobre o tema tramita

    no Congresso Nacional

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    anos. Em Belo Horizonte, trabaldurante 15 anos como costureira, nuconfeco no bairro Carlos Prates, m

    a empresa faliu e a deixou sem recualgum. No recebi nada, nem o FGTdiz a prostituta.

    Ela considera que a profisso exerce a de costureira, cujo regiconsta em sua carteira de trabalho. tenho vergonha de ser prostituta, minha profisso costureira, eu trabacomo prostituta, declara Laura, quequesto de dizer que o que a envergomesmo morar num pas em que pono tm direitos. A prostituio, coLaura, garantiu-lhe recursos para crifilha, atualmente com 30 anos. Valpena. Hoje ela uma menina lindatoriosa, e est na Europa fazendo incmbio. Tenho carter e dignidade no ficam na rua, andam comigo aoeu vou, afirma.

    No primeiro dia de imersopauta, a reportagem conversa compresidenta da associao, Cida Viede 46 anos. A entrevista no remuito. A todo momento, interromppor prostitutas, a maioria delas jovque chegam em busca de preservat

    e saem com um pacote de 80 unidaO reprter quer saber das reivi

    caes daquelas que trabalham na Gcurus, rua que j faz parte do imaginpopular da capital. O local, descpor um blog na internet como complexo de diverses e o mshopping popular de sexo do mundabriga hotis que recebem milhareclientes diariamente procura de spago ou apenas para observar o ali se passa. O programa, revelamprostitutas, dura em mdia 15 minu

    e varia entre R$10 e R$ 30, mashomens que pagam mais, dependedo tempo em que permanecemquarto e da garota que escolhem.

    Cida Vieira, que trabalha com tasias sexuais, mas no transa com

    A reportagem chega para o segundo diade entrevistas no mesmo local da visita ante-rior: uma sala de pequenas dimenses no

    fundo de um dos estacionamentos da ruaGuaicurus, no Centro de Belo Horizonte,onde funciona a sede da Associao dasProstitutas de Minas Gerais (Aprosmig). Logona entrada, um cartaz exibe os princpios da

    Rede Brasileira de Prostitutas, entidade qual a associao filiada. Entre eles, ode que a rede considera a prostituiouma profisso, desde que exercida pormaiores de 18 anos, e contra a ex-plorao sexual de crianas e ado-lescentes, em consonncia com alegislao brasileira.

    Num espao anexo saleta, se-melhante a um pequeno auditrio, o

    reprter conhece um pouco da histriade mulheres que se prostituem. Uma delas

    a de Pmela (nome fictcio), paulista de 31anos. Me de uma menina de 9 anos, agarota de programa conta que entrou naprofisso aps perder o marido, num acidentede carro, h trs anos. Comecei a trabalharpor dificuldades financeiras, depois de ficarviva. Para minha filha no passar dificuldade,resolvi eu mesma passar. Hoje consigo daruma vida boa pra ela e pra minha me.

    H pouco mais de seis meses em Belo

    Horizonte, Pmela veio de Santo Andr,cidade da regio metropolitana de SoPaulo. Trabalha 22 dias por ms, de segundaa segunda, e atende no mximo 30 clientespor dia, sendo a maioria deles conhecidosque retornam, conforme conta repor-tagem. Voc gosta do que faz?, perguntao reprter. um dinheiro rpido. difcil.Quem fala que fcil, no . Mas notenho vergonha da minha profisso, res-ponde Pmela, que planeja abandonar oofcio no prximo ano, quando pretendevoltar para So Paulo e montar um estdio

    de fotografia, rea em que fez um curso.Outra garota de programa que aceitadar entrevista Laura Maria, de 54 anos,vice-presidente da Aprosmig. Nascida emParaopeba, no interior de Minas, Lauracomeou a se prostituir h cerca de 20

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    clientes, e diz adorar o que faz, explicaque quer pautar na sociedade o debatesobre o preconceito e a violncia contra

    as prostitutas. A delegacia de mulheress atende casos relativos Lei Mariada Penha. Ela tem de se especializarpara atender todas as mulheres, re-clama a presidenta da associao, quej chegou a cursar direito e a estagiarno Banco Central, mas logo percebeuque a rea jurdica no a interessava.

    Segundo ela, a Aprosmig possuicerca de quatro mil associadas e foicriada em 2009 para lutar por direitosdas garotas de programa e elevar a au-toestima delas. Com uma mdia de 50visitas por dia, a associao ofereceorientaes sobre a sade da mulher eo uso de preservativos e presta serviosgratuitos nas reas psicolgica e jurdica.Orientamos as garotas a fazerem acontribuio ao INSS, para garantiraposentadoria e acesso aos direitosprevidencirios, informa Cida Vieira.

    Tambm por meio da associao,centenas de garotas comearam emmaro um curso de ingls para a Copado Mundo, e uma parceria foi feitacom a Prefeitura de Belo Horizonte,para oferecer ensino regular s prosti-

    tutas, na Educao de Jovens e Adultos(EJA). Queremos profissionalizar nossotrabalho para expandir as oportuni-dades, comenta Cida Vieira, defensorada regulamentao da prostituio, umadas principais bandeiras da associao.Lutamos pelo direito aos direitos erespeito. Se um taxista no recebe pelacorrida, pode recorrer Justia paracobr-la. Ns no temos esse direito, ea legalizao da prostituio vai dar vi-sibilidade a essa questo, argumenta.

    O assunto uma das promessasde polmicas para este ano no Con-gresso Nacional, onde tramita um pro-jeto de lei do deputado Jean Wyllyscom esse propsito. Outro projetonesse sentido j tramitou na Casa, mas

    no chegou a ir ao plenrio. Em funoda proximidade da Copa do Mundo, aproposta atual tem mais potencial de

    reacender o debate, e por isso mesmotem ganhado certa projeo miditica.O parlamentar quer aprov-la at oincio dos jogos do prximo ano, massabe que a misso difcil, tendo emvista as diversas manifestaes contrriasj feitas nos bastidores do Congresso.

    Entre outras coisas, a proposgulamenta a atividade, assegura fissionais do sexo o direito ao tra

    voluntrio e remunerado e autocobrana de valores devidos na Juem casos de clientes que no pago preo combinado. Ainda de acom o projeto, a prostituta poderbalhar como autnoma, coletivamem cooperativas ou em casas detituio, que passariam a ser permAlm disso, seria considerada psional do sexo toda pessoa mai18 anos que, voluntariamente, pservios sexuais mediante remune

    O objetivo principal do projelei no s desmarginalizar a proe, com isso, permitir s profissdo sexo o acesso sade, ao diretrabalho, segurana pblica e, ppalmente, dignidade humana.que isso, a regularizao da proconstitui instrumento eficaz ao com explorao sexual, pois possiba fiscalizao em casas de prostite o controle do Estado sobre o serargumenta o parlamentar. Casoaprovado, ele sugere que a lei recnome de Gabriele Leite, uma hnagem militante dos direitos das

    titutas desde o final da dcada defundadora da organizao no gnamental Davida e da grife Dasp

    Para Letcia Barreto, pesquisda Universidade Federal de Santtarina, muitos dos problemas quemulheres enfrentam esto ligadosminalizao do entorno em que lham, j que a prostituio permno pas, mas o Cdigo Penal ticomo crime manter casa de prostiou locais destinados a encontros seComo esse universo ilegal

    nunca vo poder exigir do poder pmelhorias, como a segurana. A vao do projeto seria um pripasso para elas se reconheceremLetcia Barreto.

    A pesquisadora estudou o ass

    MarkFlorest

    Cida Vieira, presidente da Aprosmig

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    vismo das profissionais do sexo emBelo Horizonte e entrevistou garotasde programa que trabalham em hotis,

    boates e ruas da capital. A ao coletivamuitas vezes dificultada por ideias deque essas mulheres devem ser resgatadasou por noes de que no podem secolocar publicamente, tanto para notornar pblica sua ocupao quantopor no se sentirem merecedoras detal direito, aponta.

    O que mais grita essa questo deque a prostituio precisa ser reconhe-cida como um trabalho e, principal-mente, de que elas precisam ser ouvidas.Muitas querem sair da profisso, masmuitas querem melhorar as condiese ter os direitos assegurados, no sofrernenhum tipo de violncia e ter reco-nhecimento social, afirma a pesquisa-dora.

    O psiclogo Gilmar Fideles tambmentrevistou garotas de programa emBelo Horizonte para uma pesquisa deextenso da Universidade Federal deMinas Gerais, feita na dcada de 90. Ainteno era levantar dados para in-centivar uma articulao entre poderpblico e entidades no governamentaisa fim de criar um centro de apoio s

    prostitutas.Entre as concluses do estudo, ele

    destaca o fato de que essas mulherestinham, na poca, uma conscinciaprecria de cidadania. Elas no tinhamacesso sade e a informaes de ummodo geral. Havia um sentimento deno pertencimento sociedade, umarelao de marginalidade.

    Segundo o psiclogo, muitas dessasmulheres so provedoras e enviam di-nheiro aos pais no interior ou sustentama famlia, mas no esto nesta atividade

    somente por razes econmicas. Al-gumas prostitutas se iludem e dizem:eu escolho com quem eu transo, mas90% delas fariam outra opo ou noteriam entrado na prostituio se pu-dessem, acredita.

    Fora do Congresso, o projeto de leido parlamentar no foi bem recebidoentre feministas. A Marcha Mundial

    das Mulheres, por exemplo, j mani-festou publicamente a discordncia coma questo. Em documentos, o movi-mento, que rene grupos de mulheresde vrias partes do mundo, enfticoao afirmar que a prostituio umaforma de opresso s mulheres, j que

    mantm a lgica da submisso feminaos prazeres dos homens e ao sistepatriarcal e capitalista. A naturaliza

    da prostituio refora um modeloque a sexualidade feminina se consem funo do desejo masculino. gente, a sexualidade um proceque voc tem de ter o direito ao praao desejo, e nessa relao mercantilizdo corpo da mulher, isso no possv

    critica Tica Moreno, uma das coonadoras no Brasil da Marcha.

    Segundo ela, o movimento noum debate abstrato da prostituisem considerar a situao em quemulheres vivem. A realidade da p

    tituio no Brasil est vinculada breza de muitas mulheres. No muideal, com condies de igualdade berdade para todos, a prostituio deveria existir, defende a feminista

    Em artigo no site da Marcha, ClarO que mais grita

    essa questo de que aprostituio precisa ser

    reconhecida comoum trabalho

    Lticia Barreto, pesquisadora que estuda o associativismo das prostitutas de BH

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    Goulart, militante do movimento emMinas Gerais, tambm no poupa cr-ticas ao projeto do deputado Wyllys.

    De acordo com ela, a proposta poucocontribui para a vida das prostitutasnem prev nenhum tipo de poltica p-blica especfica, que contribua paraque essas mulheres no tenham queser constantemente vtimas de insultos,violncia e marginalizao. Ao con-trrio de promover os direitos e a auto-nomia econmica das prostitutas, oprojeto visa suprir uma necessidade daindstria sexual, que juntamente comas grandes corporaes, buscam utilizaro corpo das mulheres para faturar altosmontantes em grandes eventos comoa Copa do Mundo.

    Como exemplo de que a propostano funcionaria e ainda seria prejudicials mulheres, as militantes do movimento Desde 2002, a profissional do sexo

    passou a ser includa na ClassificaoBrasileira de Ocupao (CBO) do Mi-nistrio do Trabalho e Emprego. O sis-tema legal adotado no pas define aprofissional do sexo como vtima e cri-minaliza o agenciador ou dono de casade prostituio. Por isso, a legislaopune o dono ou gerente de casa deprostituio, e no a prostituta.

    Alm desse sistema, existem doisoutros tipos em vigor no mundo: o quereconhece a profisso e a regulamenta,estabelecendo algumas garantias legais,sendo adotado no Uruguai, Equador,Bolvia, alm da Alemanha e Holanda,entre outros pases, e o sistema emque a prostituio proibida e tipificadacomo crime, adotado, por exemplo,nos Estados Unidos.

    Tambm em 2002, o Ministrio daSade lanou a campanha Sem ver-gonha, garota. Voc tem profisso, a

    fim de conscientizar as profissionais dosexo sobre a importncia de se preve-nirem contra doenas sexualmente trans-missveis, sobretudo a Aids, e desdeento promove aes nesse sentido.

    Profisso reconhecidapelo Ministrio do Trabalho

    citam o caso da Holanda que legalizouo mercado h 12 anos , cuja situaofoi relatada num artigo da revista inglesa

    The Spectator, traduzido e republicadono site da Marcha no Brasil. Cafetes,sob a legalizao, foram reclassificadoscomo gestores e empresrios. Os abusossofridos pelas mulheres so agora cha-mados de risco ocupacional, da mesmaforma que uma pedra que cai no p deum pedreiro. O turismo sexual cresceumais rpido, em Amsterd, do que oturismo regular: como a cidade setornou o local de prostituio da Europa,

    mulheres so importadas por traficda frica, Europa do Leste e smodo a suprir a demanda. Em o

    palavras, os cafetes permanecmas tornaram-se legtimos a vioainda prevalecente, mas se tomera parte do trabalho e o trficmentou. Suporte para que as mudeixem a prostituio quase itente. A obscuridade inata do trano foi desmanchada pela beno lafirma a autora Julie Bindel, no aPelo visto, a polmica em torno dsunto est s comeando.

    MarkFlorest

    Laura Maria, vice-presidente

    da Aprosmig

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    Lei Maria da Penha trazmudanas positivasdo pas. No foi s por causa dovolume de processos que o Tribunal deMinas decidiu criar varas especializadas.

    A Justia mineira entende que tratarespecialmente uma matria traz umaresposta mais rpida e eficaz para asociedade, comenta o juiz RelbertVerly, responsvel pela 13 vara criminalde Belo Horizonte competente paraos crimes previstos na Lei Maria daPenha.

    De acordo com o magistrado, todotipo de violncia passvel de puniopela lei, seja fsica, psicolgica, patri-monial ou sexual. Nos ltimos anos, onmero de casos aumentou, mas parao judicirio esse crescimento fruto damaior credibilidade depositada na justiapelas mulheres, principalmente por causado rigor adotado na aplicao da lei.

    Quanto mais as mulheres acredina eficincia da Justia, mais elas nunciam. Hoje, elas no esperam a

    gunda ou terceira ocorrncia, na meira agresso j existe uma tendnde procurar a polcia, destaca o ju

    Segundo o juiz, os casos so bemversificados, mas existem os mais rerentes como, por exemplo, as ameae leses corporais. A Justia tem adotas medidas de proteo previstas na11.340, tais como as medidas protetde afastamento do agressor; proibide aproximao e contato com a vtiseus familiares e testemunhas; impmento de circular em locais de trnda vtima, como o ambiente profissioespaos de lazer e supermercado. casos excepcionais, as varas espectambm tm condio de atuar emlao guarda dos filhos e fixar, mesmo, valores de penso alimentce isso no exclui a competncia varas de famlia.

    O cumprimento das medidas calizado pela Polcia Militar, pela PoCivil e principalmente pela prpriatima, que ao primeiro descumprimedeve ir a uma delegacia e registraocorrncia do fato. Depois disso

    mulher precisa procurar o MinistPblico, que por sua vez, vai pedpriso preventiva do agressor, compo juiz Relbert Verly .

    As varas especializadas tambcontam com um corpo de profissio

    VIOLNCIA | por Saulo Esllen Martins

    Cansada de sofrer ameaas e agres-ses do marido, Maria do Socorro(nome fictcio) decidiu registrar a primeira

    queixa contra o companheiro, em 2007.Depois de 10 anos de convivncia eaps passar por inmeros momentosde tenso e medo, entre discusses,brigas violentas e muita presso psico-lgica, ela chegou concluso de queno queria mais viver ao lado daquelehomem violento.

    Amparada pela Justia, Maria doSocorro conseguiu o afastamento domarido da casa onde moravam, almdisso, atravs de uma medida protetiva,o juiz determinou que o agressor nopoderia mais manter nenhum contatocom ela. Socorro obteve ainda a guardadefinitiva dos filhos, e, hoje vive maistranquila.

    As mudanas positivas no cotidianode Socorro s foram possveis porcausa da Lei 11.340, de 2006, quecompleta esse ano o seu stimo ani-versrio. So muitos os avanos que alei Maria da Penha trouxe para o com-bate violncia contra as mulheresbrasileiras, mas alguns desafios aindaprecisam ser superados. A confianana efetividade da lei e a superao do

    medo de denunciar uma das maioreslacunas apontadas por especialistas.

    A criao de varas especializadasnesse tipo de caso um passo adiantepara demonstrar a relevncia da lutapela diminuio das agresses nos lares

    Quanto mais asmulheres acreditam

    na eficincia daJustia, mais elas

    denunciam

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    que auxiliam ao juiz. So psiclogos eassistentes sociais que compem umaequipe designada para acompanhar os

    casos do comeo ao fim. A psiclogajudicial Maria Cristina Leo umadessas profissionais. Lotada na 13Vara Criminal de Belo Horizonte, j foichamada a opinar em inmeros autos."Ns somos requisitados nos processosque envolvem vnculos afetivos e fami-liares, quando se trata de casais com fi-lhos, por exemplo, ou mesmo quandoo magistrado no se sente convencidodas declaraes da vtima ou do agressore precisa de um olhar externo paraidentificar elementos subjetivos, enfatizaa psicloga.

    Maria Cristina esclarece que quandoa mulher denuncia iniciado um pro-cesso composto por vrias etapas. Adelegacia a porta de entrada. Depoisdisso, as informaes so encaminhadasao judicirio, inaugurando a etapa pr-processual na qual j podem ser apli-cadas as medidas protetivas. Nesta faseo juiz pode pedir o subsdio da equipemultidisciplinar, afirma.

    De acordo com a psicloga, muitoimportante que a sociedade compreenda

    as dinmicas e as particularidades dofenmeno social da violncia contra amulher. Maria Cristina ressalta que a

    reincidncia faz parte do ciclo. Amulher enfrenta conflitos culturais, poisela foi socializada para ser responsvelpelo xito do casamento. Em tese,quando o assunto famlia, questesafetivas, tolerncia, dedicao, a mulher personagem principal e quando en-frenta o fracasso ela sofre. Em muitoscasos, ela no quer o rompimento dovnculo e sim o fim da violncia, analisaa psicloga.

    Maria Cristina aponta que o cicloda violncia bem parecido em diversoscasos. O homem pede uma segundachance, muda a sua conduta duranteum tempo e da a pouco comea a sedesestabilizar. No comeo um grito,depois xingamentos e no demora avoltar a agredir fisicamente. Segundoela, um caminho complexo para amulher. Ela tem que vencer essa din-mica psicolgica que envolve questesde gnero e socioeconmicas.

    A psicloga salienta que quandouma pessoa sofre violncia existem se-quelas e impactos que ela no consegue

    perceber imediatamente. A morientao que a mulher busque pois muito difcil superar uma sit

    de violncia sozinha. preciso acos servios pblicos de apoio pareles sejam legitimados e recebagesto pblica a ateno devida,plementa.

    Se queremos uma sociedadecidados mais responsveis e maduros, temos que tirar essa respolidade das mulheres e parar de pque elas devem enfrentar sozinhassituaes. Temos que entender problema de toda a sociedadelienta Maria Cristina.

    Monitoramento eletrnicoO caso de Joana Darc (nome f

    ainda no foi resolvido e ela cocom a insegurana todos os dias, mdiante de reiteradas medidas proteDepois de violentas agresses pelo ex-namorado, Joana resmudar de casa, sair do trabalho se sente segura em nenhum lugagressor continua a fazer ligaeenviar mensagens ameaadoras.

    Pela lei, o agressor que descu

    muito importanteque a sociedadecompreenda as dinmicasdo fenmeno socialda

    violncia contraa mulher

    A psicloga judicial Maria Cristina

    Leo defende que o problema da

    violncia de toda a sociedade

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    a medida protetiva e for denunciadopode ter a priso preventiva decretada,mas Joana no tem coragem para fazer

    isso, por medo de represlias. Masuma ao recente do judicirio podediminuir o medo de muitas mulheres.O uso de tornozeleiras eletrnicas podeevitar que casos como esse voltem aacontecer.

    De acordo com o juiz Relbert Verly,os equipamentos j foram comprados esero utilizados em casos de reiteradosdescumprimentos das medidas protetivas.Quando ocorrer o pedido da vtima polcia e ao Ministrio Pblico e for de-ferida a priso preventiva, a Lei 12.403prev a aplicao de medidas cautelaresem substituio priso preventiva euma das medidas esta: o monitoramentodo agressor com tornozeleiras eletr-nicas, destaca o juiz. O magistrado res-salta que as tornozeleiras s sero usadasem substituio priso preventiva,como forma de garantir o cumprimentoda medida protetiva.

    Trabalhamos com a Lei Maria daPenha acreditando que, talvez, ela noimpea o primeiro fato, mas se a apli-carmos de maneira eficiente pode ser

    que possamos encerrar o ciclo da vio-lncia e esse o principal objetivo dalei, enfatiza o juiz.

    Outro ponto importante marcadopelo entendimento do Supremo TribunalFederal (STF) de que a leso corporal um crime de ao pblica incondicio-nada, que no depende da represen-tao da vtima e que pode ser comu-nicado por qualquer pessoa que teste-munhe a agresso. Na prtica, o crimede leso corporal no depende mais darepresentao da vtima para o prosse-guimento da ao penal. Com isso, amulher no pode mais retirar a queixa.Contudo, nos crimes de ameaa, issoainda pode acontecer porque condi-cionada a representao da mulher.

    No podemos ser tolerantes comnenhuma forma de violncia. Temosque fazer valer a nossa condio deseres humanos. As pessoas tm o di-logo como alternativa para a soluode conflitos. E os homens no podemachar que a vontade deles deve preva-lecer pela fora. Qualquer mulher estsujeita a situaes de violncia, mas,sem dvida, as mulheres mais pobresencontram outros desafios, desabafa

    a psicloga judicial Maria Cristina.

    O poder da Educao

    Professores, juzes, psiclogos e,mesmo, as vtimas de violncia ccordam em um ponto essencial: a ecao est na base da formaouma conscincia cidad e na construde valores que podem auxiliar na cpreenso das diferenas. Para a psloga judicial Maria Cristina Leo, atrada educao, as pessoas aprendemes de igualdade e respeito ao difereSe as crianas forem educadas pentender que existem diferenas ehomens e mulheres, mas que spapis sociais devem ser exercidosuma maneira igualitria, j ser grande passo. Isso envolve os cuidacom os filhos, responsabilidade cofamlia, a casa, o trabalho. Alm di necessrio que uma coisa fique bclara: um homem no proprietde uma mulher e ele no tem dirde exigir que ela fique ao seu ladoela no quiser. Se as crianas enderem e se apropriarem desses valopoderemos prevenir muitas situade violncia no futuro, finaliza.

    A leso corporal umcrime de ao pblicaincondicionada, que nodepende da representa

    da vtima

    O juiz Relbert Verly explica que astornozeleiras sero usadas paragarantir o cumprimento das medidaprotetivas

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    O parto da mulher

    MATERNIDADE | por Ceclia Alvim

    Movimentos denunciam a violncia e propem mudanas parpromover o parto ativo e humanizado

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    Lucimary Alves de Brito, 33 anos,desejava que sua segunda filha chegassea esse mundo da forma que havia es-

    colhido: atravs do parto normal. Desdeo pr-natal manifestava ao mdico essadeciso. No stimo ms soube que es-tava com diabete gestacional, que foicontrolado com cuidados extras. Grvidade sete meses, em uma consulta, foiinformada que teria que desembolsarR$ 4.890,00 pelo parto, valor que po-deria ser pago com uma entrada e umcheque. Estranhou, porque sabia queseu plano de sade tinha coberturapara parto. Disse ento ao mdico queiria checar essa informao e que sefosse esse o caso, iria optar em ter aassistncia de um mdico plantonista.

    Na consulta seguinte, disse ao mdicoque sabia do seu direito de no ter quefazer o tal pagamento. O pr-natalprosseguiu e na consulta da 36 semana,numa segunda-feira, foi pega de surpresapelo mdico que determinou que oparto teria que ser cesrea, por contado diabetes, e que iria marcar para asexta da mesma semana. Alegou queisso era necessrio para que o bebno corresse riscos. Ele disse que eupoderia perder o nenm, e fez um

    terror comigo e com meu marido. As-sustados e preocupados com a sadeda nossa filha, acabamos consentindo.Ela se submeteu cesariana, a contra-gosto, em dezembro de 2013. Ficoudois dias no hospital, onde soube queo mesmo mdico realizou mais 11 ce-sreas no mesmo dia, e que uma colegade enfermaria, que tinha passado porisso naquele dia, estava tambm com37 semanas, antes do tempo habitualdo parto normal. Infelizmente, eu per-cebi que muitos profissionais no se

    preocupam com o desejo e o bem-estar dos pais e da criana. Esto inte-ressados em resolver suas agendas eganhar dinheiro, relatou.

    Quando chegou em casa, Lucimaryse sentiu limitada para cuidar de sua

    filha por conta das dores e da recurao da cesrea. Lembra que se reperou mais rpido e se sentiu mais

    com o primeiro parto, que foi normincentivado por profissionais do SDisse ter ficado frustrada em notido o sonhado parto normal, e chatecom o mdico, que mudou de condna ltima hora, fez presso psicolpela cesrea agendada, no deu osclarecimentos necessrios, e, princimente, porque no levou em contadesejo e deciso. Dias depois, em uconsulta, outra mdica informou qucaso dela no era para indicao pressa de cesrea, ainda mais comsemanas. Ela chorou. Depois dissoconsidera que todo esse processo deimarcas doloridas, justo num mometo sublime: a chegada de uma nvida

    Violncia sutilAo longo da histria, a mulher

    vtima de inmeras formas de explorae desrespeito por parte dos homereflexo de uma cultura de submissdominao patriarcal. Felizmente, esituao tem mudado com o protanismo crescente das mulheres no mu

    atual. As mulheres j ocupam espaiguais no mercado de trabalho, pode comando e poder, alm de chefiasuas famlias, e cuidarem da casa efilhos. Nesse contexto de superano entanto, comea a se revelar utriste realidade, um novo tipo de lncia contra a mulher que se manifna gravidez e no parto.

    A mulher que gera um filho emventre, e dedica um tempo-espao nificativo de sua vida para essa espcria uma grande expectativa quanto

    momento do nascimento. Acontece esse momento do parto est sendo cvez mais estigmatizado, pois tem negado mulher o direito escosobre o tipo de parto que desejaainda, o direito assistncia humaniz

    Mrian Siqueira, instantes

    depois do nascimento na gua

    de seu filho de 4 quilos, Luiz

    Guilherme, em julho de 2012

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    por parte dos profissionais de sade.Isso tem resultado em um nmero cres-cente de cesarianas desnecessrias,

    partos sofridos, e relatos de tenso, so-frimento, dor e indignao por parte demes, pais e familiares. Essa nova cons-tatao de uma violncia sutil, muitasvezes nem percebida como violncia,advm do movimento de mulheres pelagestao e parto ativo. Mobilizadas, elasdenunciam que a violncia no partotambm violncia contra a mulher.

    Procedimentos frequentemente ina-dequados como administrao de oci-tocina de rotina (hormnio sintticopara induzir ou acelerar o trabalho departo), lavagem intestinal, episiotomiade rotina (corte cirrgico feito no perneopara facilitar a passagem da cabea dobeb), exames de toque abusivo, dire-cionamento de puxos (falas como faafora agora), fora comprida, ma-nobra de kristeller (em que se imprime

    fora sobre o fundo uterino no perodoexpulsivo), restries de posies parao trabalho de parto (momento anterior

    ao parto) e parto (momento do nasci-mento), restrio alimentar, so comu-mente empregados em maternidadesde todo o pas, e esto sendo conside-rados atos de violncia contra a mulher.

    Um nmero crescente de mulherestem denunciado a ocorrncia de situa-es degradantes no momento do parto.Elas relatam serem vtimas de abusosfsicos, comentrios agressivos, discri-minao, humilhao, ameaas, restri-es de acompanhante, e serem sub-metidas a cesarianas por conveninciamdica e a separao de seus bebslogo aps o parto. Condutas comoessas por parte das equipes de sadeso apontadas como violentas, poisafrontam o direito da mulher e do beba uma experincia consciente e feliz departo e ps-parto.

    Ateno respeitosaA mdica e doutora em Sade P

    Snia Lansky, diz que, muitas vez

    prprios profissionais de sade nxergam o que fazem como violncum fenmeno mdico masculino, mvezes incorporado tambm pelalheres. O que acontece uma mcao e despersonalizao de concomo se todas as mulheres fossem igdestaca. Ela afirma que essas con

    j esto institucionalizadas, de tal que as gestantes tambm no percque esto sendo vtimas de violncum direito da mulher e da crianacesso ateno respeitosa no Essa dimenso, muitas vezes, no peitada, destaca.

    Ao considerar a incidncia deprticas no auxlio ao parto emmeros pases, a Organizao Mde Sade elaborou e difunde recodaes para a assistncia obstcom base em evidncias cienatuais. Segundo a OMS, h conclaramente prejudiciais ou ineficaque deveriam ser eliminadas na tncia ao parto, como o uso rotda posio supina (deitada com apara cima) ou de litotomia (posi

    necolgica) durante o trabalho de exame retal, uso de pelvimetria grfica (radiografia da pelve), made Valsalva (orientar a trincar os de fazer fora) durante o perodpulsivo, entre outras.

    Direito humanoGraves denncias da ocorrn

    violncia no parto em Minas Gforam apresentadas por represende entidades no-governamentais daudincia pblica da Comisso de D

    Humanos da Assembleia Legislati1 de agosto de 2012. Deputadopresentantes do poder pblico e dvimentos de mulheres discutiram o a partir do documento Violnc

    parto em Minas Gerais.Lucimary queria ter sua filha, Bethany, por parto normal, mas teve uma cesrea agendada

    SauloEsllenMartins

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    em Belo Horizonte chega a 42,3 paracada 100 mil, sendo que o aceitvelpela OMS de 20.

    Normal ou cesariana?Durante os nove meses de espera, a

    mulher se prepara e cria muitas expec-tativas com relao hora e ao tipo departo. No entanto, hoje em dia, muitasvezes a mulher no participa ativamentedesse momento, pois negado a ela odireito escolha informada do parto e assistncia humanizada. Com isso,ocorrem partos sofridos e cesarianas emmuitas situaes desnecessrias e sem oconsentimento da mulher.

    Segundo Pollyana do Amaral Fer-reira, integrante do Parto do PrincpioMulheres em Rede pela MaternidadeAtiva, desde a gerao anterior as mu-lheres vivem momentos de sofrimentorelacionados a procedimentos inade-quados e m assistncia ao parto

    normal. Isso fortaleceu mitos de quparto normal sempre sofrido e droso, o que no verdade. Mu

    vezes, quando (a grvida) diz querecesrea, est dizendo: eu no quser maltratada no parto normal, afir

    Embora a cesariana seja indicadadeterminados casos, evidncias cientfcomprovam que o mtodo natural ctinua sendo a melhor forma de daluz. Os benefcios do parto normal inmeros para a me e para o bebmulher tem uma recuperao mais rpe corre menos riscos de complicainfeces, dor aps o parto e probleem futuras gestaes. Para a crianfacilita a amamentao, diminui a chade nascer prematura e ter alterarespiratrias e outras complicaApesar da reduo dos riscos associaao procedimento cirrgico nas ltidcadas, a incidncia de morte mateassociada cesariana 3,5 vezes m

    O relatrio, elaborado pela rede demulheres pelo parto ativo, apresentainformaes relevantes sobre as condi-

    es de ateno ao parto no estado eno pas. Est embasado em diversasreferncias bibliogrficas, legislaesnacionais e acordos internacionais que,segundo a rede de mulheres, no estosendo cumpridos nas maternidades bra-sileiras.

    O documento destaca ainda que,em 2010, a Corte Europeia de DireitosHumanos reconheceu a autoridade, aautonomia e o apoio s escolhas feitaspela parturiente como direitos humanos.Esses direitos j foram reconhecidospela OMS e tm sido sistematicamentedesrespeitados pela maioria das insti-tuies de sade pblicas e privadas doBrasil e de Minas Gerais. Diariamente,as parturientes e seus bebs sofremviolaes de seus direitos.

    Algumas pesquisas citadas pelo re-latrio comprovam essas afirmativas.Uma delas, feita em 2010 pela Fun-dao Perseu Abramo, apontou queuma em cada quatro brasileiras relatouter sofrido algum tipo de violncia du-rante a assistncia ao parto. Outra pes-quisa realizada na internet por uma

    rede de setenta blogs com cerca deduas mil mulheres apresentou um re-sultado parecido: 25% das brasileirassofreram algum tipo de violncia duranteo trabalho de parto. Prticas queagridem a parturiente mostram que aviolncia contra a mulher extrapola oambiente domstico, escopo da leiMaria da Penha, destaca o documento.

    Durante a audincia na AssembleiaLegislativa, Snia Lansky, que tambmcoordenadora da Comisso Perinatal edo Comit de Preveno de bitos

    Materno, Fetal e Infantil da SecretariaMunicipal de Sade de Belo Horizonte,afirmou que 78,6% das mortes duranteo parto no Brasil tm como causadireta a qualidade da assistncia. Se-gundo ela, o nmero de bitos de mes

    A mdica Snia Lansky participou da audincia pblica sobre "Violncia no pana Assembleia Legislativa de Minas Gerais em agosto de 2012

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    do que no mtodo natural, segundodados do Ministrio da Sade.

    Ritual de passagemAinda assim, o Brasil registra muito

    mais cesreas do que os 15% reco-mendados pela OMS. A pesquisa doMinistrio da Sade de 2008 confirmao elevado nmero de cesarianas prati-cadas no pas. No total, 44% dos nas-

    cimentos foram cirrgicos, sendo estataxa maior nas regies Sudeste (52%)e Sul (51%), dentre as mulheres commais de 35 anos (61%) e entre asbrancas (49%). Alm disso, os percen-tuais de cesreas em mulheres com 12

    ou mais anos de estudo (83%) e no sis-tema de sade privado ou suplementar(81%) foram extremamente elevados.

    A mdica Snia Lansky percebe adisseminao da cesariana como umfenmeno latinoamericano relacionado violncia de gnero, muitas vezes in-corporada pelas mulheres, em funodas relaes de poder que se estabe-lecem. H um domnio do poder m-

    dico. ele que decide, sabe, controla.A mulher fica completamente expostae subjugada a esse poder, alerta.

    De acordo com ela, o parto umritual de passagem da natureza humana,ocorre fisiologicamente, sem interven-

    es desnecessrias. Substiturampor processos artificiais, tecnologiOs hospitais aceleraram os proce

    padronizaram condutas, muitas obsoletas, lamenta.

    Protagonismo da mulherEntender o parto como um ac

    cimento fisiolgico normal, e no doena, consider-lo um ritual drao e transformao da vida,centivar o protagonismo da mulhtodo o processo da maternidadalgumas das premissas que moprofissionais, especialistas e muativistas pelo parto normal no pa

    Um desses grupos que incenparto ativo o Ishtar Espaogestantes. O nome faz referndeusa babilnica da fertilidade e odo grupo pelo respeito ao temgestar, parir e amamentar. Preem nove cidades do Brasil, o gdesde 2007, acolhe mulheres emcontros peridicos e gratuitos e fomlistas de discusso pela internetorient-las e fortalec-las em toprocesso de gestao, parto, amatao e maternidade ativa.

    Em Belo Horizonte, o grupo

    moveu o primeiro encontro de 20ms de janeiro, com o tema 12 ppara um parto feliz. Gestantes ecompanheiros, mulheres que j paspor experincias de parto, doulas soas interessadas se reuniram manh de sbado no Parque Ecoda Pampulha para trocar experinconhecimentos que favorecem o gonismo da mulher.

    Amanda Santos, 27 anos, grcomeou a participar do Ishtar em jaem busca de apoio para o parto n

    que quer ter. A gente acha que coo prprio corpo, no entanto, noensinado, desde o perodo escolidar com as mudanas que vem cgravidez e com a maternidade. Poprecisamos nos informar, seno

    Pollyana doula e coordena grupo de mulheres pelo parto ativo

    Cecilia Alvim

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    Revista Elas por Elas- maro 2013 3

    nuamos sem saber, afirmou. Para ela,sem conhecimento e apoio, as mulheresacabam por delegar decises relativas

    gestao e parto aos profissionais desade. muito comum as mulhereshoje terem confiana total nos mdicose no questionarem suas opinies e re-comendaes, alertou.

    Para Pollyana Ferreira, que coor-denadora do Ishtar em BH, a crena nomodelo mdico muitas vezes est con-trria s evidncias cientficas. A mulher que vai ter que mudar isso. Ela que a protagonista do parto. O papel dosprofissionais acompanhar o processoe apoiar a mulher, confirmou.

    Identidade femininaPollyana doula h cinco anos. A

    palavra "doula" vem do grego "mulherque serve". Nos dias de hoje, aplica-ses mulheres que do suporte fsico, in-formacional e emocional a outras mu-lheres antes, durante e aps o parto.A doula uma agente de humanizaodo parto, que incentiva e acredita namulher, para que ela tenha condiesde tomar as melhores decises relacio-nadas gestao e ao parto. A mulhers precisa descobrir o poder que tem

    dentro de si mesma, disse.Segundo Pollyana, hoje, com a am-

    pliao da conscincia e do protago-nismo da mulher e com a melhoria daassistncia, cada vez mais as mulheresesto se despertando e conseguindoter experincias boas de parto. No n-timo, toda mulher quer um parto feliz,quer se sentir feminina e protagonistade seu prprio parto, destaca.

    Snia Lansky afirma que precisoressignificar o parto no Brasil, com aviso do respeito e do direito, e como

    uma experincia fortalecedora da iden-tidade feminina. preciso resgatar ovalor do bom parto, praticar, oferecer,disseminar boas prticas. O parto damulher. Elas so outras aps o parto,incentiva.

    Acatando ao civil pblica ajui-zada pelo Conselho Regional deEnfermagem (Coren-RJ), a 2 VaraFederal do Rio de Janeiro suspendeuno dia 30 de julho de 2012, as re-solues do Conselho Regional deMedicina do Rio de Janeiro (Cre-merj), publicadas no dia 19 de julhono Dirio Oficial do Estado do Rio

    de Janeiro. As resolues 265 e266 proibiam mdicos de atuaremnas equipes de parto domiciliar oude integrar quadros hospitalares desuporte e sobreaviso. O Cremerjtambm havia vetado obstetrizes,doulas e parteiras de acompanharas grvidas antes, durante e aps oparto hospitalar.

    De acordo com a deciso daJustia do Rio, as resolues ofen-diam diversos dispositivos constitu-cionais e legais "que garantem mulher o direito ao parto domiciliar,assim como ao acompanhamento,em ambiente hospitalar, de pessoa

    livre de sua escolha". Segundo a li-minar, proibir a participao de m-dicos nos partos em casa podetrazer "considerveis repercussesao direito fundamental sade",que um dever do estado, uma vezque "a falta de hospitais fora dosgrandes centros urbanos muitasvezes suprida por procedimentos

    domiciliares, nos quais indispen-svel a possibilidade de participaodo profissional da medicina, semque sobre ele recaia a pecha de in-frator da tica mdica".

    A mdica Snia Lansky consi-dera como violao e cerceamentoda liberdade as tentativas de restrioao parto domiciliar no Brasil. Se-gundo ela, essas aes esto nacontramo de pases como Inglaterrae Canad, que recomendam o partodomiciliar ou em centros de partonormal, com referenciamento paraservios de sade complementar,em casos de complicaes.

    Direito da mulher

    Justia suspendeu resoluessobre partos em casa

    Por um novo modo de nascer

    Filmes:

    - O Renas