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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E ZOOTECNIA CURSO DE ZOOTECNIA THUANNY LETICIA ALVES DE ALMEIDA RASTREABILIDADE BOVINA CUIABÁ 2017

Normas para monografia - ufmt.br · de corte nas modalidades de recria e engorda. As atividades desenvolvidas durante o período de estágio permitiram acompanhar e participar de

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA E ZOOTECNIA

CURSO DE ZOOTECNIA

THUANNY LETICIA ALVES DE ALMEIDA

RASTREABILIDADE BOVINA

CUIABÁ

2017

THUANNY LETICIA ALVES DE ALMEIDA

RASTREABILIDADE BOVINA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Zootecnia. Orientadora: Profª. Lívia Vieira de Barros

CUIABÁ

2017

A minha mãe Luciana Alves, a minha avó Aparecida Alves, aos meus

irmãos João Victor e Pedro Henrique e aos demais familiares e amigos

Dedico.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter guiado e guardado cada passo percorrido durante

esta jornada, por nunca ter me desamparado e me dado forças mesmo quando

acreditei não tê-las.

A minha avó Aparecida por sempre ter feito por mim mais do que eu

realmente mereci, a minha mãe Luciana por me fazer acreditar que posso e devo me

esforçar para ser melhor do que sou, ter me criado para ser capaz de enfrentar

dificuldades e tentar supera-las da melhor forma. Aos meus irmãos João e Pedro

pelo presente que é tê-los em minha vida a 12 anos me amando incondicionalmente.

A tia Iza pelos ensinamentos, orações e puxões de orelha dispensados a mim.

Aos demais familiares que sempre oraram, torceram e me apoiaram durante

toda a minha vida e principalmente durante toda a graduação.

Agradeço a minha orientadora professora Lívia pela paciência, por sempre me

incentivar a melhorar, por entender meus atrasos e mesmo assim aceitar a

responsabilidade de me orientar.

Agradeço a todos os professores que tive a honra de ser aluna pela atenção,

disposição e ensinamentos transmitidos. Agradeço em especial pela amizade,

conversas nos corredores, aulas práticas e demais confraternizações os

professores: Carlos Eduardo, Joadil, Héder, Rosemary, Nelcino, Luciano, Vânia,

Márcio, Maria Fernanda, Ferdinando, Felipe, Lívia, Cely, Lisiane e Daniel.

Agradeço imensamente os amigos que fiz durante a graduação em especial:

Edvania, Kenia, Sérgio e Kel, pois se mostraram verdadeiros e fiéis amigos sempre

presentes em todos os momentos.

Agradeço a todos do grupo bom futuro em especial Dayla Scheffer pela

oportunidade de estágio concedida, agradeço a todos da fazenda Fartura com que

pude conviver, trabalhar e aprender muito em especial à Paula, Ramon e Fernanda.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Número do efetivo bovino das propriedades em função do sexo e idade.15

Tabela 2. Ingredientes do concentrado utilizado na fase de recria em sistema de

semi confinamento ....................................................................................................22

Tabela 3. Custos ração recria fazenda Fartura..........................................................22

Tabela 4. Ingredientes do concentrado utilizado na fase de engorda no sistema de

semi confinamento.....................................................................................................23

Tabela 5. Custos ração engorda fazenda Fartura.....................................................23

LISTA DE ABREVIATURA

BND Base Nacional de Dados

CSR Coordenação de Sistema de Rastreabilidade

DIA Documento de Identificação Animal

ERAS Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV

FESA Fundo Emergencial de Saúde Animal do Estado de Mato Grosso

FETHAB Fundo Estadual de Transporte e Habitação

GTA Guia de Trânsito Animal

INDEA Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

PIB Produto Interno Bruto

DAS Secretaria de Defesa Agropecuária

SISBOV Sistema de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos

1

Sumário

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 4

2 OBJETIVOS ................................................................................................... 5

3 REVISÃO ....................................................................................................... 6

3.1 Rastreabilidade Bovina ............................................................................... 8

3.1.1 Sisbov ...................................................................................................... 9

3.1.2 Etapas para implementar o SISBOV ...................................................... 11

3.1.3 Identificação dos animais ....................................................................... 13

3.1.4 Documento de Identificação Animal....................................................... 15

3.1.5 Números da Rastreabilidade Bovina no Brasil ....................................... 16

4 RELATÓRIO DE ESTÁGIO ......................................................................... 17

4.1 Histórico .................................................................................................... 17

4.2 Infraestrutura ............................................................................................ 17

4.2.1 Currais de Manejo.................................................................................. 19

4.2.2 Fábrica de Ração................................................................................... 19

5 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO ....................................... 20

5.1 Desembarque de animais ......................................................................... 20

5.2 Rastreabilidade ......................................................................................... 20

5.2.1 Softwares utilizados na propriedade ...................................................... 21

5.3 Processamento de animais no curral ........................................................ 21

5.3.1 Cadastramento ...................................................................................... 22

5.3.2 Identificação ........................................................................................... 22

5.3.3 Protocolo sanitário ................................................................................. 23

5.3.4 Formação de Lotes ................................................................................ 23

5.4 Manejo Nutricional .................................................................................... 24

5.4.1 Produção de Ração ............................................................................... 24

5.4.1.1 Produção de Ração para Bovinos ...................................................... 24

5.4.1.2 Recria ................................................................................................. 25

5.4.1.3 Engorda .............................................................................................. 26

5.4.1.4 Distribuição de Ração Semi Confinamento ........................................ 27

5.4.2 Produção de Ração para Peixes ........................................................... 27

5.5 Produção de Insumos para o Confinamento ............................................. 28

2

5.5.1 Amonização de Resíduo de Soja ........................................................... 28

5.6 Embarque de animais ............................................................................... 29

5.7 Morte de animais e/ou abate para consumo ............................................. 30

5.8 Outras Atividades...................................................................................... 31

5.8.1 Casqueamento Corretivo ....................................................................... 31

5.8.2 Controle de cigarrinhas .......................................................................... 31

5.9 Discussão ................................................................................................. 32

5.9.1 Módulos de engorda .............................................................................. 32

5.9.2 Controle de Cigarrinhas ......................................................................... 32

5.9.2 Mistura de lotes...................................................................................... 32

6 CONCLUSÕES ............................................................................................ 34

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 35

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 36

3

RESUMO

A bovinocultura de corte brasileira passou por grandes transformações nos últimos

anos, demandadas principalmente pelos consumidores finais e pelo cenário

econômico que tem estreitado cada vez mais as margens de lucro, forçando os

produtores a produzir de forma eficiente e minimizando custos. Crises sanitárias e

escândalos envolvendo cadeias de produção animal exigiram que fossem adotadas

medidas que permitissem garantir a segurança alimentar dos consumidores. Com

este intuito foi promulgado em janeiro de 2002 o Sistema de Identificação e

Certificação de Bovinos e Bubalinos – SISBOV. O sistema passou por algumas

reformulações desde sua criação, em 2006 foi estabelecida a norma operacional que

regulamenta o SISBOV por meio da instrução normativa 17/2006, criou-se também o

conceito de Estabelecimento Rural Aprovado (ERAS). Com intuito de acompanhar

ações e procedimentos relacionados a rastreabilidade bovina em um ERAS

habilitado a exportação o estágio curricular obrigatório foi realizado no grupo Bom

Futuro no segmento agronegócio divisão pecuária, na fazenda Fartura, localizada no

município de Campo Verde – MT, no período de 02 de fevereiro a 07 de abril de

2017 com carga horária semanal de 40 horas. A propriedade tem áreas destinadas

aos segmentos agrícola e pecuário. As áreas de lavoura são destinadas a produção

de sementes e grãos. As áreas de pecuária são destinadas a produção de bovinos

de corte nas modalidades de recria e engorda. As atividades desenvolvidas durante

o período de estágio permitiram acompanhar e participar de todos procedimentos

que envolvem a rastreabilidade bovina, nutrição e manejo nas fases de recria e

engorda em sistema de semi confinamento e produção de rações fareladas para

bovinos. O estágio curricular permitiu aprendizado em diferentes áreas de atuação

da zootecnia, colocar conhecimentos teóricos em prática e reafirmou a escolha em

trabalhar com produção de ruminantes. A realização do estágio em uma grande

propriedade que atua em diferentes divisões do agronegócio permitiu conhecer na

prática o conceito de empresa rural tanto na forma organizacional, estrutural e de

atuação no mercado.

Palavras-chaves: certificação,SISBOV,exportação.

4

1 INTRODUÇÃO

A participação efetiva do agronegócio no cenário econômico brasileiro vem

sendo destaque há alguns anos por ser um dos responsáveis por manter o saldo da

balança comercial positivo em tempos de crise. A pecuária teve participação de 30%

no PIB do agronegócio em 2015, em especial a bovinocultura de corte tem dado sua

contribuição no PIB, correlacionando-se positivamente aos números do país em

efetivo bovino e exportação de carne, (ABIEC,2015)

Apesar de apresentar condições que possibilitem a produção de carne com

custos mais baixos, favorecendo a competitividade do produto brasileiro no mercado

internacional, a necessidade em adequar os sistemas de produção ao mercado

externo tem sido um desafio para os pecuaristas que exportam ou pretendem

exportar carne. As crises sanitárias ocorridas nas cadeias de produção animal

revolucionaram as medidas de vigilância dos produtos oriundos dessas cadeias,

dentre elas a bovinocultura de corte.

O sistema de rastreabilidade bovina no Brasil foi desenvolvido na intenção de

identificar a procedência da carne bovina associada à possibilidade de obter o

histórico de vida do animal. Por conta de questões tanto sanitárias quanto

comerciais, atualmente o acesso a mercados externos é estabelecido pela existência

de rastreabilidade do produto, o que é visto como um entrave ao aumento nas

exportações, já que a adesão ao sistema de rastreabilidade não é obrigatório no

Brasil.

Em decorrência do atual cenário da carne bovina brasileira junto ao mercado

internacional e ao aumento de barreiras que vem sendo impostas por estes, optou-

se por acompanhar, aprender e entender como opera uma propriedade habilitada à

exportação. O estágio curricular obrigatório foi realizado na fazenda Fartura

localizada no município de Campo Verde, estado de Mato Grosso.

Neste trabalho foram descritas as atividades realizadas na propriedade no

período de 2 de fevereiro de 2017 até o dia 7 de abril de 2017, com carga horária de

40 horas semanais. O estágio foi supervisionado pela Zootecnista Paula Rocha.

5

2 OBJETIVOS

Geral

Objetivou-se acompanhar as diferentes práticas de manejo realizadas na recria e

terminação de bovinos de corte em uma propriedade habilitada a exportação.

Específico

Objetivou-se acompanhar todos os processos e ações que envolvem a

rastreabilidade bovina em uma propriedade habilitada a exportação tais como:

Desembarque;

Cadastramento;

Identificação;

Protocolo sanitário;

Formação de lotes;

Documentação e procedimentos relacionados ao embarque de

animais;

Documentação e procedimentos relacionados a morte natural ou abate

de animais para consumo;

Trâmites envolvidos na documentação referente a rastreabilidade dos

animais.

6

3 REVISÃO

A bovinocultura de corte é um dos principais segmentos do agronegócio

brasileiro, em 2015 as exportações de carne bovina representaram, em receita, 3%

de tudo o que o Brasil exportou, sendo, esta atividade importante para a geração de

emprego e renda para as pessoas envolvidas nos diferentes elos da cadeia

produtiva da bovinocultura de corte brasileira, (ABIEC,2015). Além disso, esta

atividade contribui para a produção de alimento de excelente qualidade nutricional,

sendo a carne bovina, uma das principais fontes de proteína animal consumida

pelos brasileiros. Além da importância da carne bovina no mercado interno, o Brasil

se destaca no mercado internacional como um importante fornecedor desta proteína.

A crescente ascensão da bovinocultura de corte brasileira no comércio

internacional vem se consolidando ano a ano. Em 2015 a venda de carne no

mercado interno movimentou R$93,98 bilhões, enquanto que as exportações de

carne chegaram a R$19,49 bilhões. A exportação foi de 1,88 milhão de toneladas

equivalente carcaça, representando 19,63% da produção, (ABIEC,2015).

O Brasil ocupa as primeiras posições no ranking dos principais países

exportadores de carne bovina, e possui o segundo maior rebanho bovino do mundo.

Os resultados citados anteriormente são reflexo do processo de intensificação

ao qual a atividade vem sendo submetida. Tem-se buscado elevar a produção, o

volume e a qualidade do produto final com adoção de técnicas como: manejo

racional e bem-estar animal; manejo adequado das pastagens; conservação de

forragens; melhoramento genético; suplementação com a utilização de coprodutos

da agroindústria; integração lavoura pecuária floresta; confinamento; entre outras.

Apesar de buscar-se aumento em produção, atualmente alguns sistemas de

produção da cadeia da carne tem visado a oferta de produtos com padrões de

qualidade superior, visando atender mercados consumidores mais exigentes e,

desta forma, agregar valor à carne brasileira.

A tecnificação da agricultura tem aumentado a produtividade e

consequentemente a rentabilidade por área e assim, esta atividade, vem ocupando

áreas anteriormente ocupadas com pastagens, que muitas vezes devido ao manejo

incorreto, apresentam rentabilidade muito baixa, inviabilizando a permanência do

pecuarista na atividade e assim, refletindo na migração da criação de bovinos para

regiões que apresentam limitações para a produção de grãos e terras relativamente

7

mais baratas. Os estados das regiões centro-oeste e norte do país, atualmente são

os detentores dos maiores rebanhos bovinos, (Cabral et al, 2010).

O estado de Mato Grosso é reconhecido nacional e internacionalmente por

recordes de produção nos segmentos agrícolas e pecuários, a bovinocultura de

corte é uma das principais atividades econômicas do estado que detém o maior

número efetivo de bovinos do país com cerca de 29,2 milhões de cabeças,

atualmente é o maior produtor de carne do país, (Revista Safra, 2016).

As condições edafoclimáticas favoráveis para produção à pasto,

disponibilidade e custo reduzido de grãos e coprodutos agroindustriais viabilizam

economicamente sistemas semi intensivo e intensivo de criação de bovinos no

estado.

Apesar da importância econômica e social que a atividade bovinocultura de

corte possui no Brasil e mais especificamente no estado do Mato Grosso, a cadeia

da carne possui grande heterogeneidade, por conta do conjunto de agentes que a

compõe: diversidade de produtores e seus capitais, de latifundiários a agricultores

familiar, de frigoríficos que atendem a legislação, altamente tecnificados com

elevado número de abates diários, a abatedouros clandestinos que não atendem

nenhum protocolo sanitário, (Buainain; Batalha,2007).

Dentre as cadeias que produzem proteína animal, a menos organizada e que

apresenta maior heterogeneidade é a da carne bovina. As oportunidades de

negociação e ausência de conformidade e interação entre os elos são os principais

responsáveis pela desorganização da cadeia. Fora isso, diferentes rotas

tecnológicas, sistemas produtivos, manejo e raças utilizados resultam em variação

tanto nos produtos quanto na qualidade dos mesmos, (Rossi et al, 2011).

Por apresentar áreas extensas, no Brasil os sistemas de produção baseados

em pastagens são os mais utilizados pelos pecuaristas, a utilização desses sistemas

possibilitam que os custos de produção sejam mais baixos, o que contribui para que

a carne brasileira tenha valor competitivo no mercado internacional, no entanto a

produção por área acaba sendo inferior aos sistemas intensivos. No geral, a carne

brasileira é considerada por muitos mercados compradores como uma carne de

qualidade inferior o que propicia uma remuneração geralmente baixa para a carne

exportada. No entanto atualmente algumas empresas produtoras de carne bovina

buscam atuar em todos os elos da cadeia produtiva da carne visando a obtenção de

um produto de qualidade superior. Para a obtenção de carne de melhor qualidade e

8

a obtenção de boa rentabilidade com esta atividade, vários aspectos do sistema de

produção precisam ser considerados, tais como: tecnologia (abrange tecnificação e

correto gerenciamento dentro do sistema de produção de bovinos, melhorias no

abate/processamento e distribuição da carne), o planejamento estratégico de todas

as etapas necessárias para a produção de bovinos de corte, a necessidade de

atender as exigências para rastreabilidade e certificação, e o atendimento das

exigências das legislações ambientais e sanitárias, (BUAINAIN; BATALHA, 2007).

Considerando este contexto, a rastreabilidade pode contribuir para melhorar a

produtividade e a rentabilidade da atividade agropecuária, pois, é necessária para

comercialização em mercados que são mais exigentes em relação a qualidade geral

da carne e também remuneram melhor a carne.

A resolução das problemáticas da bovinocultura de corte do Brasil deve ser

precedida inevitavelmente pela organização da cadeia produtiva, aperfeiçoar

práticas de manejo produtivo, compreensão da cadeia de forma holística por todos

os elos, troca de informações entre elos e sobretudo, autoconhecimento. Conhecer a

bovinocultura de corte, métodos e alternativas que proporcionem melhorias e o

desenvolvimento sustentável da atividade é responsabilidade dos participantes da

cadeia que representa grande parte do agronegócio brasileiro, (ABIEC, 2011).

Neste trabalho, será contextualizada a rastreabilidade bovina como estratégia

para possibilitar melhorias na produção e nas estratégias de comercialização da

carne bovina e assim, contribuir para a agregação de valor neste produto.

3.1 Rastreabilidade Bovina

Há alguns anos a preocupação com questões relacionadas à segurança

alimentar em função de crises sanitárias em diferentes cadeias de produção animal

influenciaram diretamente os padrões produtivos da carne bovina. Mercados

externos que importam carne brasileira passaram a exigir sistemas de certificação

que garantam a qualidade e sanidade do produto, como também informações

referentes a todas as fases do processo produtivo, desde sua origem, (NICOLOSO,

2012)

Rastreabilidade é definida como um conjunto de processos que possibilita

acompanhar todo o percurso de produtos, veículos ou mercadorias. A rastreabilidade

bovina especificamente é um conjunto de ações que envolvem identificação,

amostra, controle e processamento de informações relevantes para o monitoramento

9

de eventos, ocorrências, manejos nutricionais, reprodutivos, sanitário,

movimentações e transferências durante a vida do animal. Esse sistema possibilita a

identificação do produto final carne por meio de associação ao animal que o

originou, permitindo identificar o sistema de produção e manejo geral ao qual foi

submetido e o seu produtor, (DESIMON, 2006).

Com intuito de atender a demanda dos consumidores, continuar no mercado

de exportação de carne bovina e atender exigências de exportação feitas pela União

Europeia através do regulamento CE 1760/2000 que proibia a entrada de produtos

de origem animal que não estivessem inseridos em programas de rastreabilidade e

rotulagem, e em 2002 a lei geral dos alimentos CE 178/2002 decretou que a partir

de janeiro de 2005 a rastreabilidade seria requisito em todos os estágios da cadeia

produtiva para comercio de produtos alimentícios no bloco europeu, foi promulgado

em Janeiro de 2002 o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Bovinos e

Bubalinos – SISBOV, por meio da Instrução Normativa nº 01 do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, (LOPES,2008).

3.1.1 Sisbov

A rastreabilidade bovina no Brasil foi implantada através da criação do

Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina –

SISBOV, caracterizado por diversas ações, medidas e procedimentos empregados

para identificar origem, condição sanitária, eficiência produtiva de rebanhos bovinos

e bubalinos e assegurar a qualidade dos produtos obtidos de tais atividades

econômicas (BRASIL, 2002). O sistema passou por diversas modificações com o

objetivo de normatizar e adequar a produção de carne bovina com garantia de

origem e qualidade que atenda aos padrões exigidos internacionalmente, por meio

de instruções normativas que regulamentam e possibilitam maior credibilidade e

adequação do sistema de certificação as condições da cadeia da carne brasileira.

A Instrução Normativa n° 17, de 13 de julho de 2006 (BRASIL, 2006) passou

a denominar o SISBOV como Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de

Bovinos e Bubalinos, sendo novamente alterada a sua nomenclatura em 2009 pela

Instrução Normativa n° 65 (BRASIL, 2009).para Sistema de Identificação e

Certificação de Bovinos e Bubalinos, denominação que permanece atualmente, sem

alteração da sigla.

10

O SISBOV, estabelece normas e procedimentos que se aplicam a todas as

fases da produção, transformação, distribuição e dos serviços agropecuários,

visando assegurar a rastreabilidade, a origem e a identidade dos animais, produtos,

subprodutos e insumos agropecuários na cadeia produtiva de bovinos e bubalinos,

(BRASIL,2006)

Na Instrução Normativa n° 17, do ano de 2006, é divulgada a Norma

Operacional do SISBOV. Esta norma é aplicada em todo o território nacional a

produtores rurais e propriedades de criação de bovinos e bubalinos, às indústrias

frigoríficas que processam esses animais, às entidades credenciadas pelo MAPA

como certificadoras, aos fornecedores de elementos de identificação e também às

entidades que participam do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade

Agropecuária, (BRASIL, 2006)

A Secretaria de Defesa Agropecuária - SDA, conforme a Instrução Normativa

n° 24 de 30 de abril de 2008 (BRASIL, 2008), é o órgão a quem compete a

implementação, promoção e auditoria para certificação da execução das fases de

identificação e cadastro individual dos bovinos e bubalinos, e o credenciamento de

entidades certificadoras, cujos dados resultantes são inseridos na Base Nacional de

Dados (BND) do SISBOV.

A BND recebe e armazena informações, de identificação de bovinos e

bubalinos, dos Estabelecimentos Rurais Aprovados no SISBOV e dos seus

respectivos proprietários efetivamente cadastrados por meio de entidades

credenciadas e pelo MAPA.

As entidades públicas ou privadas que possuem credenciamento pelo MAPA,

denominadas certificadoras, são responsáveis pela caracterização e registro

individual de bovinos e bubalinos em território brasileiro na BND. Além dos registros

no banco de dados oficial do MAPA, as certificadoras são responsáveis por realizar

cadastro e monitorar estabelecimentos rurais, fornecer assistência e realizar

vistorias. As vistorias realizadas pela certificadora devem ser realizadas com

determinada periodicidade e de forma sistematizada, tendo como finalidade

averiguar a correta identificação de bovinos e bubalinos, registros e controles de

movimentações dos animais, até mesmo entre propriedades, mortes,

desaparecimentos, abates e sacrifícios, declarações ou registros relacionados aos

manejos sanitários e nutricionais do Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV.

As vistorias devem ter intervalo máximo de 180 dias em estabelecimentos de criação

11

e de 60 dias em confinamentos. São de responsabilidade das certificadoras arquivar

todas as informações em segurança e confidencialidade, durante período mínimo de

cinco anos.

3.1.2 Etapas para implementar o SISBOV

A adesão e implementação ao sistema de rastreabilidade envolve 6 diferentes

etapas, conforme descrito abaixo:

• 1ª Etapa: O produtor deverá escolher entre uma das certificadoras

credenciadas pelo MAPA, em seu estado, para certificação da sua fazenda.

• 2ª Etapa: A partir da escolha da certificadora, deverá ser realizada a

solicitação dos documentos para cadastramento de sua propriedade.

• 3ª Etapa: A certificadora encaminhará os seguintes documentos para que o

produtor preencha e assine:

I – Formulário para cadastro de produtor rural;

II – Formulário para cadastro de estabelecimento rural;

III – Formulário para inventário de animais (este formulário deverá conter o

mesmo número de bovinos que os do cadastro do Escritório Local do Órgão

Executor da Sanidade Animal no Estado);

IV – Formulário de termo de adesão à norma operacional do serviço de

rastreabilidade da cadeia produtiva de bovinos e bubalinos (SISBOV);

V – Formulário para protocolo declaratório de produção.

• 4ª Etapa: Após a etapa de organização e adequação dos documentos, o

produtor deverá encomendar a uma fábrica de brinco credenciada ou a certificadora,

uma quantidade adequada de brincos para a identificação de todos os animais da

propriedade.

• 5ª Etapa: O produtor receberá os brincos juntamente com a planilha de

identificação, deverá aplicar os brincos e preencher adequadamente a planilha.

• 6ª Etapa: Por último, o produtor deverá comunicar à certificadora para que a

vistoria de certificação seja realizada. Para isso, a certificadora enviará um

supervisor de campo que realizará o processo de vistoria, por meio da verificação de

100% dos animais identificados. O supervisor então preencherá e assinará o

formulário para o laudo de vistoria do estabelecimento rural, o que permitirá ao

produtor a atualização da BND com os dados dos seus animais, (BRASIL, 2006)

12

Os documentos necessários para que o produtor possa certificar

adequadamente sua propriedade são:

I – Formulário para cadastro de produtor rural;

II – Formulário para cadastro de estabelecimento rural;

III – Formulário para inventário de animais;

IV – Formulário de termo de adesão à norma operacional do Serviço de

Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (SISBOV);

V – Formulário para protocolo declaratório de produção. Todos estes

documentos serão solicitados pela certificadora e deverão ser preenchidos e

assinados pelo proprietário ou seu representante legal. O supervisor da certificadora

deverá assinar os formulários para cadastro de estabelecimento rural e para

inventário de animais, (BRASIL,2006).

Para ser considerado Estabelecimento Rural Aprovado no SISBOV (ERAS).a

propriedade rural deve ser supervisionada por uma certificadora credenciada pelo

MAPA e manter, por qualquer período de tempo, todos os seus bovinos e bubalinos

incluídos no SISBOV, cumprindo as regras previstas na Instrução Normativa n°

17/2006, (BRASIL, 2006).

Este estabelecimento deve ser supervisionado por uma única certificadora,

independente do número de proprietários ou produtores, fica a critério do produtor a

escolha da certificadora (dentre as credenciadas pelo MAPA) que irá realizar a

certificação da sua propriedade, (BRASIL, 2006).

Para que seja credenciada como Entidade Certificadora, as empresas

certificadoras devem possuir uma base de dados estruturada para ser conectada a

Base Nacional de Dados. A finalidade dessa base de dados interna na certificadora

é realizar cadastro de propriedades e proprietários de animais, controle da

confecção e da distribuição das identificações de animais, registros locais, datas de

nascimentos e identificações. Após a identificação oficial, a certificadora faz o

registro e a emissão do Documento de Identificação Animal, obtenção e transmissão

de dados relacionados a gestão da propriedade.

As auditorias nas certificadoras, nos ERAS, nas fábricas e importadores de

elementos de identificação e nas demais entidades vinculadas ao SISBOV, são

realizadas por Fiscais Federais Agropecuários. Os ERAS também podem ser

auditados por servidores de órgãos de defesa agropecuários dos estados e Distrito

Federal com formação profissional como engenheiro agrônomo, médico veterinário e

13

zootecnista, com competência para exercer fiscalização agropecuária desde que

habilitados previamente, (BRASIL, 2006).

3.1.3 Identificação dos animais

Os animais rastreados recebem uma codificação, que permite acesso a seu

histórico desde a origem, possibilitando o “recall”, retirando o produto de circulação

caso seja detectado alguma irregularidade.

Utiliza-se uma sequência de números juntamente a um código de barras para

identificar a carne e outros produtos. O modelo seguido no Brasil é apresentado na

figura 1, composto por 15 dígitos, emitido e controlado pelo SISBOV, os três dígitos

iniciais caracteriza o país de nascimento de bovinos e bubalinos, os dois dígitos

posteriores representam a Unidade da Federação de origem dos bovinos e

bubalinos, os nove dígitos subsequentes identificam os bovinos e bubalinos e o

ultimo dígito é o verificador, (DESIMON, 2006).

Figura 1 – Brinco Auricular Padrão Sisbov

Fonte: http://www.allflex.com.br/identificacao-visual/SISBOV/

A escolha do método de identificação fica a cargo do produtor, de acordo com

a instrução normativa n° 17 as opções de identificação são as seguintes:

I – um brinco auricular padrão SISBOV em uma das orelhas e um brinco

botão;

II – um brinco auricular ou um brinco botão padrão SISBOV em uma das

orelhas e um dispositivo eletrônico, no estômago ou na prega umbilical;

14

III - um brinco auricular padrão SISBOV em uma das orelhas e uma tatuagem

na outra orelha, com o número de manejo SISBOV (repetição do 9°, 10°, 11°, 12°,

13° e 14° número);

IV - um brinco auricular padrão SISBOV em uma das orelhas e o número de

manejo SISBOV marcado a ferro quente, em uma das pernas traseiras, na região

situada abaixo de uma linha imaginária ligando as articulações das patas dianteira e

traseira, enquanto que os seis números de manejo SISBOV deverão ser marcados

três a três, sendo os três primeiros números na linha imaginária e os outros três

imediatamente abaixo;

V - um dispositivo eletrônico contendo identificação visível equivalente ao

brinco auricular padrão SISBOV ou um brinco auricular padrão SISBOV em uma das

orelhas: nesta opção, a perda do identificador resultará que estes animais sejam

submetidos a uma nova identificação cumprindo todos os procedimentos constantes

nesta Norma; e

VI - outras formas de identificação aprovadas pela SDA.

A identificação dos animais nascidos no ERAS deve ser realizada até a

desmama ou no máximo até os 10 meses de idade, sempre antes da primeira

movimentação.

Animais que ingressarem no ERAS oriundos de estabelecimento não

aprovado no SISBOV devem ser identificados no momento de entrada e deve-se

respeitar o período de quarentena, sendo observados prazos mínimos de

permanência no último estabelecimento e na área habilitada para o abate para

mercados que exijam rastreabilidade, (MAPA,2006)

Admite-se nova identificação, no caso da perda do identificador simples e a

substituição de brinco auricular e brinco botão padrão SISBOV por dispositivo

eletrônico, mantendo a identificação original vinculada à nova e prevalecendo a

identificação do dispositivo eletrônico nos registros de movimentação.

Quando ocorrer a perda de um dos elementos de identificação, o produtor

rural, baseado na outra identificação, poderá adotar, na ordem apresentada, os

seguintes procedimentos:

I - solicitar a reimpressão do mesmo elemento de identificação à sua

certificadora;

II - a certificadora encomendará o novo elemento de identificação e informará

à Coordenação de Sistema de Rastreabilidade (CSR);

15

III - o fabricante ou importador providenciará o novo elemento de identificação

e informará o fato à CSR;

IV - o fabricante ou importador enviará o elemento de identificação à

certificadora que o solicitou; e

V - a certificadora assumirá a responsabilidade de que o novo elemento de

identificação seja colocado no animal correto e desenvolverá procedimentos

auditáveis de reidentificação de bovinos e bubalinos.

No caso de perda da identificação dos bovinos e bubalinos, a Certificadora

poderá promover a reidentificação se solicitada, registrando no seu banco de dados

o histórico da ocorrência.

3.1.4 Documento de Identificação Animal

Os animais registrados no SISBOV possuem um Documento de Identificação

Animal (DIA), desde seu cadastro na BND até sua baixa no sistema, por ocasião de

morte natural, sacrifício ou abate. O DIA contém informações referentes a:

• Identificação da propriedade de origem;

• Identificação individual do animal;

• Data de nascimento ou data de ingresso na propriedade;

• Sexo;

• Sistema de criação e alimentação;

• Registro das movimentações e dados sanitários.

Animais importados devem ser identificados o País e propriedade de origem,

datas da autorização de importação e de entrada no País, números de Guia e

Licença de Importação e propriedade de destino.

A certificadora é responsável pela emissão do DIA após a inclusão dos

animais na BND. O documento é anexado à Guia de Trânsito Animal e acompanha

bovinos e bubalinos em trânsito independente da finalidade (BRASIL, 2006).

O abatedouro-frigorífico, após conferir a relação dos animais rastreados a

serem abatidos, tendo como base o sumário gerado pela BND e respectivas GTAs,

registram os procedimentos realizados durante o abate, correspondendo cada

carcaça com o número do SISBOV, originando o relatório síntese do abate. Durante

a maturação deverão ser realizados registros informando valor de pH obtido e

identificação das carcaças aptas à mercados que exijam rastreabilidade e realizar

16

registros durante a desossa, os quartos a serem desossados identificados

individualmente, conservando a identificação realizada na sala de abate.

O abatedouro-frigorífico deverá manter arquivado os elementos de

identificação e GTAs correspondentes pelo período de cinco anos, (BRASIL, 2006).

3.1.5 Números da Rastreabilidade Bovina no Brasil

De acordo com dados do MAPA publicados na edição de abril de 2016 na

revista safra, em janeiro de 2016 o Brasil possuía 1640 propriedades rurais com

habilitação para exportar para união europeia, atualmente Goiás lidera o ranking de

estados com maior número de Estabelecimentos Rurais Aprovados no SISBOV, com

cerca de 436, Mato Grosso ocupa a segunda posição com 426, seguido por Minas

Gerais com 286 ERAs.

Mato Grosso ocupa o primeiro lugar no ranking de número de animais

rastreados abatidos com 10.058.420 cabeças, em segundo lugar com 9.516.625

cabeças ficou o estado de Goiás e em terceiro lugar ficou Mato Grosso do Sul com

6.258.619 de cabeças.

17

4 RELATÓRIO DE ESTÁGIO

4.1 Histórico

Principal referência de empresa do agronegócio no cenário nacional e

internacional, o Grupo Bom Futuro atua no setor a mais de 30 anos, uma

empresa genuinamente Mato-Grossense que investindo e apostando no uso de

tecnologias de ponta, profissionais capacitados e verticalização da produção

alcançou reconhecimento como um dos maiores produtores de soja do mundo

segundo uma publicação de 2015 da revista globo rural. Atualmente o grupo atua

em diversos segmentos de negócio: Agronegócio, Energético, Imobiliário e

Aeroportuário.

O Agronegócio, segue como o principal segmento de atuação do Grupo

Bom Futuro, sendo subdividido em: Agrícola, Pecuária, Sementes, Armazenagem

e Transportes.

Detentor do maior projeto de integração lavoura-pecuária do Brasil a

divisão Pecuária do grupo atualmente conta com cerca de 74 mil hectares onde

são produzidos mais de 120 mil cabeças de bovinos das raças Meio Sangue

Aberdeen e Red Angus e Nelore em sistemas de semi confinamento e

confinamento. O rebanho é composto de animais de alta qualidade genética e

sua procedência e qualidade são garantidas através de sistema de rastreamento

SISBOV – Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e

Bubalinos.

O estágio foi realizado na divisão pecuária do grupo na Fazenda Fartura,

com início no dia 02 de Fevereiro de 2017 e término no dia 7 de abril de 2017,

com carga horária de 40 horas semanais, totalizando 400 horas. A responsável

por supervisionar as atividades desenvolvidas durante o período de estagio foi a

Zootecnista Paula Rocha, Encarregada de Nutrição e Rastreamento Bovino do

Grupo Bom Futuro.

4.2 Infraestrutura

Localizada a 49 quilômetros do município de Campo Verde, a Fazenda

Fartura possui uma área de aproximadamente 12.000 hectares, ocupadas pelos

segmentos agrícola e pecuário. As áreas de lavoura são destinadas a produção

de sementes e grãos de soja e milho, sementes e pluma de algodão.

18

As áreas de pecuária são destinadas a bovinocultura de corte, as

modalidades realizadas na propriedade são: recria e engorda de animais das

raças nelore, cruzamentos de nelore com aberdeen angus e alguns animais

braford oriundos de tricross.

A modalidade engorda na fazenda Fartura é realizada em sistema de semi

confinamento em uma área de 3394,12 ha, divididas em 29 módulos com

dimensionamento variado. A recria na propriedade é realizada em sistema de

pastejo com fornecimento de sal mineral e suplemento proteinado de baixo

consumo.

Há alguns quilômetros da fazenda Fartura está localizada a fazenda Água

Azul que também pertence ao grupo, na propriedade é realizada a modalidade

de recria em semi confinamento e pastejo com fornecimento de sal mineral. A

propriedade possui aproximadamente 10.000 hectares, ocupadas por lavoura e

pecuária, 1356 ha são áreas ocupadas por forrageiras perenes, divididas

atualmente em 13 módulos com animais em recria e 8 com animais na fase de

engorda. Após a colheita da soja é realizada a semeadura de Brachiaria

ruzizienses em 6400 ha para formação de pasto safrinha onde são alocados

animais da recria.

O rebanho da propriedade é composto atualmente por 29.385 cabeças

divididas em diferentes categorias apresentadas na tabela 1, a maior parte são

machos inteiros voltados para produção de carne. As fêmeas presentes no

rebanho são de aptidão leiteira e atendem apenas a demanda interna da

fazenda.

Tabela 1 - Número do efetivo bovino das propriedades Àgua Azul e Fartura em função do sexo e idade.

Idade Machos Fêmeas

0-12 meses 689 29

13- 24 meses 12.571 38

25-36 meses 11.804 28

+ 36 meses 4.095 131

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

19

4.2.1 Currais de Manejo

A propriedade conta com dois centros de manejo onde são realizados

desembarques, embarques e manejos de animais, ambos foram adaptados para

realização de manejo racional.

Os dois currais possuem troncos automáticos, que possuem como

principal característica a necessidade de apenas um operador para manipulação,

agilidade e segurança nos procedimentos realizados. Os troncos possuem

balanças digitais para que o peso dos animais seja registrado e armazenado na

base de dados utilizada. A utilização de bandeiras proporcionando um manejo

racional de forma efetiva tem sido adotada na propriedade.

4.2.2 Fábrica de Ração

Localizada na sede da fazenda, a fábrica de ração atende à demanda de

produção de rações para peixes, bovinos e ovinos das demais propriedades do

grupo em regiões próximas ao município de Campo Verde.

A fábrica conta atualmente com 24 funcionários que revezam e mantem a

produção constante por conta da alta demanda. A produção diária de ração varia

de 200 à 250 toneladas conforme a demanda.

A fábrica possui silos de armazenamento de grãos e insumos utilizados na

produção das rações, moegas para recepção de ingredientes, moinhos,

balanças, misturadores, extrusora, resfriador, secador, entre outras estruturas

que permitem atender a demanda diária de ração.

20

5 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO

5.1 Desembarque de animais

O acompanhamento e realização de desembarques de animais oriundos de

transferências de outras fazendas do grupo ou aquisições de outros produtores foi

uma atividade constante durante o início do período de estágio. Semanalmente

foram desembarcados em média 370 animais, havendo semanas com fluxo de

desembarque maior.

Conforme os animais são desembarcados, vão sendo contados, ao finalizar

realiza-se a conferência da GTA e minuta da carga desembarcada, ambos os

valores devem ser os mesmos e corresponder com o número de animais contados

no momento do desembarque. Após a conferencia são entregues ao capataz ou

encarregado que acompanhou os procedimentos de desembarque a GTA original, 2ª

via da minuta e nota fiscal. Caso algum animal chegue morto ou apresente

dificuldade para desembarcar, é realizada uma notificação na via da minuta

pertencente ao motorista e esta por sua vez direcionada a transportadora

responsável pelo translado entre propriedades.

Os animais após serem desembarcados no curral são encaminhados a um

piquete com disponibilidade de forragem e água onde permanecem de 1 a 4 dias.

Esse período varia conforme a condição em que chegam os animais, distância

percorrida e duração da viagem.

5.2 Rastreabilidade

A fazenda Fartura é certificada como Estabelecimento Rural Aprovado, para

que continue com a certificação a propriedade passa por vistorias regularmente

conforme exige a IN17/2006.

Os animais são em sua maioria vendidos e abatidos em frigoríficos aptos a

exportação, o que garante um diferencial no valor remunerado por @, bonificações

relacionadas a idade e acabamento das carcaças e acesso a mercados mais

exigentes.

Além dos benefícios já citados anteriormente, por ser uma propriedade

certificada, o gerenciamento do rebanho é realizado com maior eficiência através

das informações coletadas e arquivadas via sistemas, dados de controle de entrada,

saída, mortes e sacrifícios de animais, carência de medicamentos, ganho de peso,

21

tempo de permanência na propriedade, propriedades de origem, entre outras

informações que facilitam e possibilitam realizar intervenções em possíveis pontos

críticos da atividade.

A certificadora responsável por auditar a propriedade segundo as normativas

que regulamentam a rastreabilidade bovina no Brasil é o SBC – Serviço Brasileiro de

Certificações LTDA. Movimentações e manejos realizados no rebanho são

registrados e enviados para a certificadora e posteriormente para a base de dados

do MAPA através de softwares e plataformas digitais, em todo processo de coleta,

armazenamento, envio, conferencia e por fim registro na BND, são utilizados os

programas: DataCollection®, TraceSys® e Vegas®

Em 2016 o custo com rastreabilidade na propriedade por animal ficou em R$

3,55, este valor inclui elementos de identificação padrão SISBOV (brinco auricular;

brinco botão e brinco macho), custos com certificação (diário do auditor da

certificadora, deslocamento do auditor e certificado). Nesses custos não estão

inclusos softwares e equipamentos eletrônicos utilizados na propriedade.

5.2.1 Softwares utilizados na propriedade

DataCollection®: base de dados off-line onde são armazenadas as coletas de

dados de manejo de bovinos de durante o trabalho no curral, tais como: entradas,

saídas, inventários, pesagens, vacinações, entre outros.

Trace Sys®: plataforma online disponibilizada pela certificadora para que os

dados coletados na base de dados off-line após serem exportados em formato excell

sejam enviados à certificadora por meio desta plataforma online e a certificadora por

meio desta plataforma envia os comunicados de entrada, saída, planilhas de

identificação, entre outros documentos relacionados a rastreabilidade bovina.

Vegas®: plataforma online disponibilizada pela certificadora para envio de

documentos digitalizados assinados pelo responsável técnico da propriedade e

órgão de defesa estadual – Indea. Esta plataforma surgiu da necessidade de agilizar

o processo de envio de documentação à certificadora antes feito via correios.

5.3 Processamento de animais no curral

Após o período de descanso pós-desembarque, os animais retornam ao

curral para realização de cadastramento, identificação e protocolo sanitário.

22

5.3.1 Cadastramento

O cadastramento é realizado no DataCollection®, onde são preenchidas

informações como sexo, raça, idade, protocolo sanitário, fazenda de origem, CNPJ

da propriedade de origem, número da nota fiscal de compra, número da GTA,

número de animais da GTA, entre outras. Estas informações são preenchidas no

sistema para dar início ao cadastro individual de animais na base de dados, as

coletas realizadas são exportadas em formato excel e enviadas à certificadora via

plataforma online Trace Sys®, a certificadora então emite o comunicado de entrada

de animais e respectiva planilha de identificação com numeração de brincos SISBOV

utilizados na coleta, comunicado de entrada e planilha de identificação são

impressos em 3 vias (CERTIFICADORA,ERAS e INDEA), as 3 vias são levadas até

o órgão de defesa estadual juntamente com a GTA original de cada carga

cadastrada para que o INDEA atualize o saldo de animais da propriedade no

sistema e assine o comunicado de entrada, após estarem devidamente assinados

comunicado e planilha são enviados via Vegas® para a certificadora, esta por sua

vez envia para a base nacional de dados do MAPA. A via da propriedade é

armazenada nos livros de registros.

5.3.2 Identificação

A identificação dos animais na propriedade é realizada com brinco auricular,

brinco botão e dispositivo eletrônico de radiofrequência (RFID) apresentados na

figura 2. Antes de realizar a “brincagem” no animal é realizada a leitura do código de

barras do brinco que será utilizado no sistema DataCollection, após cadastrar o

brinco SISBOV utiliza-se o bastão eletrônico para realizar a leitura do dispositivo

eletrônico que no sistema será vinculado ao número do brinco SISBOV que será

aplicado no animal. O brinco auricular é aplicado na orelha direita, brinco botão e

dispositivo eletrônico são aplicados na orelha esquerda. Os animais que serão

apartados para módulos de engorda geralmente são marcados a fogo no cupim com

a numeração do módulo para onde serão encaminhados. Após preencher os

campos destinados a numeração de brinco SISBOV, numeração de dispositivo

eletrônico, protocolo sanitário realizado e aparte, é registrado o peso observado na

balança digital e o animal é liberado.

23

Figura 2 – Brinco Auricular, Brinco Botão, Brinco Macho – Padrão SISBOV e

Dispositivo Eletrônico (RFID) Utilizados na fazenda Fartura

Fonte: Acervo Pessoal

5.3.3 Protocolo sanitário

O protocolo sanitário é realizado nos animais no momento do cadastramento,

os animais são vermifugados, vacinados contra clostridiose e contra doenças

respiratórias na época de maior incidência (período seco), aplica-se brinco

mosquicida em 75% do lote para repelir diferentes espécies de moscas. Realiza-se

banhos carrapaticidas no períodos de maior infestação.

5.3.4 Formação de Lotes

Os animais são apartados em 3 lotes: boiada, meio e refugo. Os parâmetros

avaliados para esse aparte são a condição corporal (frame size) e peso. Animais

com maior peso e condição corporal pesando entre 450-500 kg são encaminhados

para módulos de terminação em semi confinamento, os animais apartados como

refugo e meio geralmente pesam entre 350 kg e 415 kg, respectivamente e são

encaminhados para pastos de recria.

24

5.4 Manejo Nutricional

5.4.1 Produção de Ração

A produção de ração é atividade constante na propriedade por conta da

elevada demanda na produção de rações e suplementos para bovinos da própria

fazenda e de fazendas do grupo localizadas na região.

A propriedade não realiza produção de peixes, no entanto a fabricação de

rações também é realizada na fábrica da fazenda Fartura e consegue atender a

demanda das propriedades que realizam produção de peixes do grupo.

5.4.1.1 Produção de Ração para Bovinos

A produção de ração utilizadas na modalidade de engorda é realizada o dia

todo e algumas vezes da semana até durante a noite por conta da alta demanda da

propriedade. À cada 5 minutos são produzidos 1000 kg de ração.

Por apresentar menor demanda e ingredientes que limitam o consumo em

sua formulação, a ração de recria é produzida diariamente apenas no período

noturno.

Os insumos utilizados na fabricação das rações são armazenados em silos e

transferidos para a fábrica por meio de roscas e elevadores que ligam os silos de

armazenamento externo aos silos de armazenamento interno, antes de serem

pesados e misturados os ingredientes passam por um moinho tipo martelo (milho

peneira de 8mm, farelo de soja 8mm).onde atingem a granulometria desejada, a

balança possui um operador que controla a quantidade de cada ingrediente de

acordo com a formulação, após pesados os ingredientes são homogeneizados por

cinco minutos.

Após realizar a mistura a ração pronta é encaminhada para silos de

armazenamento interno por meio de roscas. A fábrica possui quatro silos com

capacidade de 50 toneladas cada, três são utilizados para armazenamento de ração

de engorda e um para ração de recria.

Como as rações são distribuídas em sua maior parte na própria fazenda por

caminhões vagões, na parte externa à fábrica estão localizados 2 silos de 100

toneladas destinados a ração de engorda e 2 silos de 30 toneladas destinados a

ração de recria. O carregamento de rações pelos caminhões é realizado nestes silos

diariamente. A produção diária de rações para bovinos varia de 180 – 230 toneladas.

25

Este valor é determinado mediante a demanda, sendo maior no período seco do

ano.

5.4.1.2 Recria

A fase de recria varia de 7 meses a 1 ano, o ganho médio diário esperado

varia de 700 a 900g/dia conforme o período do ano, o peso médio de entrada dos

animais é de 300 kg e o de saída 450 kg.

A recria é realizada com três estratégias nutricionais distintas:

Sistema de pastejo com fornecimento de sal mineral;

Sistema de pastejo com fornecimento de suplemento proteinado de baixo

consumo;

Sistema de semi confinamento com fornecimento de ração de 0,5 a 1% do

Peso Vivo. A formulação e ingredientes do concentrado utilizados nesse

sistema são apresentados na tabela 2.

Tabela 2 - Ingredientes do concentrado utilizado na fase de recria em sistema de semi confinamento ngredientes Fórmula

Milho grão moído 66,5%

Farelo de soja 13,5%

DDG 10,0%

Novanis Núcleo Corte Recria 10,0%

Total 100,0%

Fonte: Novanis / Agroceres.

Os custos envolvidos na produção de ração concentrada utilizada na fase de recria

em semi confinamento são apresentados na tabela

Tabela 3 - Custos ração recria fazenda Fartura

Ingrediente Preço Tonelada(R$) Inclusão na dieta(%) Preço Final em 1

Tonelada (R$)

Milho 333,33 66,50% 221,67

Farelo de Soja 960,00 13,5% 129,60

DDG 340,00 10% 34,00

Núcleo Recria 1335,07 10% 133,51

Custo Operacional 50,00 - -

Total 100% 568,77

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

26

5.4.1.3 Engorda

Os animais são destinados aos módulos de engorda quando atingem em

média 450 kg, são terminados em sistema de semi confinamento com ração

concentrada fornecida com base no percentual de peso vivo que varia de 1,5% no

período das águas a 2,0% no período da seca, os ingredientes utilizados e inclusão

na formulação da ração concentrada utilizada na engorda são apresentados na

tabela 4. O ganho médio diário esperado é de 1,5 kg/dia. A fonte de volumoso da

dieta é o pasto.

Na propriedade os pastos são formados pelas forrageiras dos gêneros

Brachiaria brizantha cultivares Marandu e Piatã e Panicum maximum cultivar

Mombaça.

Tabela 4 - Ingredientes do concentrado utilizado na fase de engorda no sistema de semi confinamento Ingredientes Fórmula

Milho grão moído 78,0%

Farelo de Soja 8,5%

DDG 10%

Novanis Núcleo Corte 3,5%

Total 100,0%

Fonte: Novanis / Agroceres.

Os custos envolvidos na produção de ração concentrada utilizada na fase de

engorda em semi confinamento são apresentados na tabela 5.

Tabela 5 - Custos ração engorda fazenda Fartura Ingrediente Preço Tonelada(R$) Inclusão na Dieta(%) Preço Final(R$)

Milho 333,3 78% 260,00

Farelo de Soja 960,00 8,50% 81,60

DDG 340,00 10% 34,00

Núcleo Corte 1179,07 3,5% 41,27

Custo Operacional 50,00 - 50,00

Total 100% 466,87

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

27

5.4.1.4 Distribuição de Ração Semi Confinamento

A distribuição do trato nos módulos de engorda em sistema de semi

confinamento é realizada por dois caminhões vagões que possuem balanças digitais

que permitem acompanhar a quantidade de ração carregada e fornecida, os

caminhões possuem capacidade de 16 toneladas por carregamento, realiza-se

aproximadamente 6 carregamentos por dia no período das águas, no período seco a

frequência de carregamentos é maior. A frequência de trato é de uma vez por dia em

cada módulo de engorda, aos domingos apenas um caminhão realiza a distribuição

de ração.

A quantidade de ração por módulo é variável e definida conforme o número

de animais, raça e tempo de permanência de cada módulo. Realiza-se leitura de

cocho e registra-se a quantidade de ração fornecida por módulo em uma folha de

trato diário, a folha é entregue no fim do dia após a realização de trato em todos os

módulos para a encarregada de nutrição e para a responsável por controlar

estoques da fábrica de ração.

A encarregada de nutrição faz o lançamento das informações de quantidade

fornecida e leitura de cocho em uma planilha de controle de suplementação

fornecida pela empresa Novanis. A planilha permite o acompanhamento de consumo

dos módulos e baseado no número de animais por módulo faz o consumo por

animal, entre outros recursos.

A responsável pelo controle de estoques da fábrica também realiza o

lançamento da quantidade de ração carregada nos caminhões em planilhas que

calculam a quantidade de insumos utilizados.

5.4.2 Produção de Ração para Peixes

A demanda em produção de ração para piscicultura é alta e realizada

diariamente das 7:00 ás 18:00 horas, são produzidos seis tipos de rações para

peixes com diferentes teores de proteína e granulometria. A produção diária varia de

26 a 28 toneladas.

O processo de fabricação é iniciado com a pesagem dos ingredientes em

balança automática que dispensa a manipulação de controles de abertura e

fechamento de silos, após a pesagem automática dos ingredientes que entram em

28

maior proporção na formulação é realizada a pesagem manual em balança digital

dos aditivos e ingredientes que participam em menor quantidade da fórmula.

Após a pesagem os ingredientes são encaminhados para o misturador onde

são homogeneizados e encaminhados para o moinho onde são padronizados na

granulometria de 6 mm. Após estarem devidamente padronizados e homogêneos a

mistura está pronta para ser encaminhada ao processo de extrusão, onde é cozida

em alta temperatura, umidade e pressão, e posteriormente é encaminhada para um

equipamento que define a granulometria da ração de acordo com a formula

produzida, após atingir o formato desejado a ração é encaminhada para um secador

por força gravitacional, o secador utilizado para diminuir a umidade dos pellets(ar

quente), após saírem do secador os pellets recebem um banho de óleo de algodão

que tem função de vedar o pellet, após o banho de óleo os pellets são

encaminhados para o resfriador e posteriormente encaminhados para os silos de

armazenamento interno, os dois silos externos utilizados no carregamento de

caminhões possuem capacidade de 120 toneladas.

5.5 Produção de Insumos para o Confinamento

5.5.1 Amonização de Resíduo de Soja

No mês de maio na propriedade realiza-se o confinamento de bovinos, com

capacidade estática para 3.000 cabeças. A dieta é composta por diferentes

ingredientes, dentre eles, utiliza-se o resíduo de soja obtido a partir do

beneficiamento para produção de sementes e limpeza de áreas e maquinários que

realizam a colheita da soja. Realiza-se a amonização com intuito de elevar o teor de

proteína bruta e aumentar a digestibilidade do material. Os dados referentes a

composição bromatólogica são muito variáveis por conta da diversidade de origem

do material. Algumas cargas possuem maior proporção de casca e grão pois são

obtidas no processo de beneficiamento de sementes e outras maior proporção de

vagem e caule que são originadas no processo de limpeza de áreas e máquinas.

O processo de amonização do resíduo consiste em duas etapas,

primeiramente calcula-se quantidade de uréia necessária e posteriormente realiza-se

a aplicação de uréia no material.

A dose de uréia que será utilizada é calculada a partir da soma do peso

líquido total de resíduo, correção da matéria seca do resíduo (78%), após a correção

29

realiza-se estimativas de diferentes doses de uréia (3, 4 e 5% na MS total do

resíduo).e define-se qual dose será utilizada.

O processo de amonização se inicia após serem obtidos os valores referentes

a quantidade de resíduo e uréia utilizados, com auxílio de uma pá carregadeira e um

garfo acoplado a um trator realiza-se a separação e compactação do material,

formando camadas onde aplica-se uréia agrícola. Não realiza-se a diluição da uréia

em água para aplicação no material por conta do percentual de umidade que o

mesmo já apresenta.

Após atingir a altura determinada o material é coberto com lona e cercado

com terra e tocos, para garantir que o material não entrará em contato com o ar,

garantindo assim que todas as reações necessárias para se obter o resultado

esperado com o processo sejam bem sucedidas.

A abertura do material deve ser realizada dias antes de sua utilização para que o

odor produzido durante o processo seja retirado e os animais não limitem seu

consumo quando o resíduo for incluído na dieta.

5.6 Embarque de animais

Os animais são encaminhados para abate quando atingem peso e

acabamento determinados conforme a raça, animais cruzados são abatidos mais

pesados em média pesando 680 kg, já os animais nelore são abatidos com 620 kg.

A venda dos animais para frigoríficos é realizada pelo departamento de pecuária do

grupo que fica na central em Cuiabá, a central comunica os encarregados em

Campo Verde sobre o dia, quantidade de animais que serão embarcados e quantas

cargas serão necessárias, após a definição do número de animais que serão

vendidos, são pagas as taxas FESA, FETHAB e INDEA. A GTA só pode ser emitida

após o pagamento dessas taxas, com as informações necessárias a encarregada de

rastreabilidade emite o número de GTAs que serão necessárias para o embarque.

A emissão de GTA e nota fiscal é realizada um dia antes do embarque, com

as informações necessárias da transportadora e frigorifico que devem constar na

nota fiscal e GTA.

Como aproximadamente 90% do rebanho possui dispositivo eletrônico, o

embarque é realizado de forma rápida e eficiente, os animais são bipados com o

bastão eletrônico e antes de entrarem no tronco suas informações já são

processadas no sistema DataCollection®, informando se o animal está habilitado

30

para embarque, caso não esteja o sistema alerta e o animal é reencaminhado para

módulo, animais que não apresentam acabamento são refugados e também são

reencaminhados para módulos.

O peso dos animais habilitados à embarque é registrado no sistema e este

mostra o período em que o animal permaneceu na propriedade, dados da sua última

pesagem, ganho de peso desde a última pesagem e ganho médio diário.

Após fechar a carga é emitido o Documento de Identificação Animal pelo

sistema, impresso no próprio curral e entregue ao motorista da carreta. A carreta

deve ser pesada antes de carregar e depois de carregada para emissão do

romaneio que é realizado por um funcionário da sede que fica na balança e depois

este romaneio é entregue aos encarregados da pecuária que realizam o cálculo de

peso do caminhão com carga menos o peso do caminhão sem carga e divide-se

pelo número de animais de cada carga, obtendo um valor de peso médio dos

animais por carga.

Como a maioria dos animais são abatidos em frigoríficos habilitados a

exportação não é necessário emitir um comunicado de saída ou morte dos animais

junto à certificadora pois o próprio frigorifico realiza a baixa dos animais junto a BND.

O grupo conta com os serviços terceirizados de um médico veterinário que

acompanha os abates e envia informações relacionadas a peso de carcaça,

rendimento, porcentagem de carcaças com abcessos, entre outros.

Além das informações enviadas pelo terceirizado, os encarregados solicitam

ao frigorifico o sumário e romaneio de abate com informações individuais de peso de

carcaça, rendimento de carcaça, valor pago por carcaça, entre outros.

5.7 Morte de animais e/ou abate para consumo

Assim que é identificado algum animal morto na propriedade são retirados os

elementos de identificação e anotado o dia e a possível causa da morte. A retirada

dos brincos e dispositivo eletrônico é realizada pelos vaqueiros, capataz, motorista

do caminhão que distribui ração ou qualquer funcionário que encontrar o animal

primeiro, os elementos de identificação são entregues a encarregada de

rastreabilidade com a data em que o animal foi encontrado e possível causa da

morte para que seja realizada a baixa desse animal.

O registro de morte natural ou abate para consumo é realizado conforme a

demanda, quando existe um certo volume de brincos realiza-se a baixa no sistema.

31

O registro de morte é realizado no DataCollection®, faz-se a leitura do código

de barras do brinco auricular retirado do animal após sua morte e o sistema mostra

suas informações e atribui morte ao animal, a planilha com dados dos animais

mortos é exportada do sistema e encaminhada para a plataforma TraceSys®, onde

a certificadora emite o comunicado de morte que é assinado pelo responsável

técnico da propriedade e pelo órgão de defesa do estado e enviado novamente via

plataforma Vegas® para a certificadora que faz a baixa dos animais na BND.

5.8 Outras Atividades

5.8.1 Casqueamento Corretivo

Alguns animais do rebanho apresentaram problemas de casco decorrentes de

diversos fatores como dieta com elevado teor energético, solo úmido, presença de

bactérias no solo, entre outros.

Os animais são alocados em um módulo enfermaria com fornecimento de

ração de engorda, próximo ao curral de manejo e da estrutura onde é realizado o

confinamento no período seco.

No ano de 2016 os animais com problemas de casco formaram alguns lotes

do confinamento, visto que no semi confinamento esses animais não estavam

atingindo o peso de abate pois não conseguiam se movimentar para chegar ao

cocho e consumir ração concentrada, esses animais foram encaminhados para o

confinamento onde as baias possuem tamanho menor, facilitando o deslocamento

até o cocho para consumo da ração.

Os animais casqueados recebem anestesia local, medicação intramuscular e

subcutânea com intuito de auxiliar a recuperação, prevenir inflamações e infecções.

A recuperação ocorre em aproximadamente 4 dias, durante esse período os animais

são alocados em um piquete com disponibilidade de forragem, água e sombra.

5.8.2 Controle de cigarrinhas

Os pastos ocupados com Brachiaria brizantha cv Marandu e Piatã

apresentaram certo grau de infestação de cigarrinhas das espécies Deois e

Mahanarva. Avaliam-se os pastos individualmente e realiza-se a contagem de

cigarrinhas por metro quadrado em diferentes pontos dos módulos, foi definido por

um técnico o valor de 3 cigarrinhas/m², se constatada infestação recomenda-se o

controle químico.

32

A aplicação de inseticida foi realizada em 16 módulos totalizando 1502 ha, foi

utilizado CONNECT®, um inseticida sistêmico, dos grupos químicos neocotinoide e

piretroide, indicado para o controle de diversas pragas.

Composição da calda aplicada nos módulos: 0,75 ml de CONNECT, 0,5 ml de

óleo degomado, 0,0125 ml de solubion por hectare. Os produtos são diluídos em

água até atingirem o volume de 5 litros e posteriormente realizada aplicação aérea, o

avião aplicador possui vazão de 5L/ ha.

5.9 Discussão

5.9.1 Módulos de engorda

A princípio o calçamento próximo ao cocho seria uma melhoria a ser realizada

nos módulos de engorda, de forma que durante o período chuvoso o acesso tanto

dos animais quanto do caminhão que realiza o trato não fossem impedidos, uma vez

que a fase de terminação envolve custos elevados e cada dia que o animal deixa de

consumir ele está sujeito a não atingir o ganho diário esperado e em alguns casos

até perder peso. Portanto além de proporcionar bem estar animal esta melhoria pode

acabar refletindo de maneira positiva no desempenho dos animais e

consequentemente na viabilidade econômica da atividade.

O sombreamento em algumas áreas dos módulos também seria uma

melhoria a ser pensada para diminuir o gasto energético e estresses causados pela

alta temperatura principalmente nos animais cruzados. A energia que o animal gasta

para dissipar calor e manter a temperatura corporal dentro da sua zona de conforto

térmico poderia estar sendo utilizada para produção, sem comprometer o

desempenho do animal.

5.9.2 Controle de Cigarrinhas

O controle de cigarrinhas poderia ser realizado antes das chuvas se tornarem

frequente, uma vez que o controle é muito mais difícil quando se tem cigarrinhas em

diferentes fases do ciclo de vida, dificultando e impossibilitando o controle eficaz.

5.9.2 Mistura de lotes

Um dos pontos observados na propriedade foi a mistura de lotes de animais

decorrentes da falta de módulos de engorda ou formação de lotes refugos de

embarque que foram misturados em lotes de animais com hierarquia já estabelecida,

33

Essas alterações refletiam em casos de sodomia entre os animais pois na

propriedade não é realizada a castração. Os animais acabam machucados na

maioria das vezes no quarto traseiro e nos cascos, se afastam dos demais e acabam

não indo até o cocho consumir a ração, com isso chegam a perder peso e demoram

mais tempo para serem abatidos.

34

6 CONCLUSÕES

A Rastreabilidade Bovina é uma ferramenta que possibilita maior controle e

consequentemente melhor gerenciamento da produção de bovinos de corte. No

entanto deve ser implantada e coordenada por profissionais bem instruídos e

idôneos para que todos os processos sejam realizados de acordo com o que

estabelece as normativas e exigências que regulamentam a rastreabilidade no

Brasil.

Rastrear um rebanho não é uma decisão a ser tomada sem antes verificar a

viabilidade econômica da adoção desta prática, haja visto que o investimento em

estruturas que facilitam o bom desempenho dos processos relacionados a

rastreabilidade não são baratos. Isso acaba refletindo em elevação dos custos por

animal estreitando mais ainda as margens de lucro da atividade. No entanto os

benefícios, bonificações e oportunidades de mercado proporcionadas ao produtor

com rebanho habilitado a exportação na maioria das vezes conseguem cobrir os

custos e ter um retorno econômico satisfatório.

A operação carne fraca deflagrada recentemente mostra o quão falhas e

frágeis podem ser as barreiras e normativas de qualquer sistema quando

profissionais que deveriam agir com idoneidade e honestidade em suas atribuições

são corrompidos e corruptos, trazendo prejuízos incalculáveis a toda cadeia. Os

reflexos da operação foram acompanhados de perto durante as últimas semanas de

estágio, queda no valor da @, embarques desmarcados e módulos com taxa de

lotação elevada.

Assim como em qualquer atividade a rastreabilidade também está sujeita a

ação de profissionais desonestos que podem tentar manipular e corromper as

auditorias, documentações, entre outros. Acredito que a conscientização dos

reflexos que atitudes desonestas e corruptivas podem trazer não só a cadeia da

carne como para a economia de todo país são extremamente necessárias no

cenário atual da carne brasileira.

35

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O curso de Zootecnia em suas diversas vertentes permite conhecer e atuar

em diferentes segmentos da produção animal, sempre visando maximizá-la de forma

eficiente, sustentável e economicamente viável.

A realização do estágio permitiu acompanhar de perto a rotina de uma

propriedade habilitada à exportação, permitiu conhecer e aprender todos os

procedimentos que envolvem a rastreabilidade bovina, haja visto que o mercado de

exportações vem crescendo exponencialmente nos últimos anos e a necessidade de

conhecimentos nesta área serão cada dia mais requeridos e de grande importância

para formação e inserção do profissional no mercado de trabalho.

Além dos conhecimentos adquiridos em rastreabilidade bovina, foi possível

colocar em prática conhecimentos em produção e nutrição de ruminantes, manejo de

pastagens e integração lavoura pecuária que foram abordados em sala de aula,

aulas práticas, congressos, entre outros.

A participação no Núcleo de Estudos em Ruminantes e Pastagens – NERP

durante a graduação foi de grande importância durante o estágio pois permitiu

discutir assuntos relacionados a nutrição de bovinos com base em apresentações

realizadas e assistidas nas reuniões semanais do núcleo, as viagens realizadas com

o núcleo permitiram abordar e comentar sobre diferentes sistemas de produção de

bovinos vistos em visitas técnicas.

36

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNES.

Perfil da pecuária no Brasil: Relatório anual 2016. São Paulo, [S. l.: s.n., 2015].

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bovina. Brasília: IICA, MAPA, 2007. 86 p, (Agronegócios, 8). Disponível em:

<http://www.iica.org.br/Docs/CadeiasProdutivas/Cadeia%20Produtiva%20da%20Car

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MAPA 2002. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução

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Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina - SISBOV, em

conformidade com o disposto no Anexo da Instrução Normativa, Publicada no DOU

de 10/01/02. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 10 jan. 2002, Seção 1, p. 6.

Disponível em:

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MAPA 2006. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução

Normativa n° 17, de 13 de julho de 2006. Estabelece a Norma Operacional do

37

Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (SISBOV),

constante do Anexo I, aplicável a todas as fases da produção, transformação,

distribuição e dos serviços agropecuários. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 14

jul. 2006, Seção 1, p. 23. Disponível em:

<http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=14/07/2006&jornal=

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MAPA 2008. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução

Normativa n° 24, de 30 de abril de 2008. Altera a Instrução Normativa nº 17 de 13

de julho de 2006. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 2 maio 2008, Seção 1, p. 3.

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MAPA 2009. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução

Normativa n° 65, de 16 de dezembro de 2009. Altera a denominação do Serviço de

Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos - SISBOV, que passa a

chamar-se Sistema de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos -

SISBOV. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 17 dez. 2009, Seção 1, p. 19.

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