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NÓS E O CULTO - Um Estudo da Liturgia Cristã - Autores: Nilo Belotto Duncan Alexander Reily Ely Éser Barreto César 1997 SUMÁRIO CAPÍTULO I PRINCÍPIOS BÍBLICOS, HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DO CULTO I. NO ANTIGO TESTAMENTO A. Culto Hebreu - Êxodo - Aliança - Influências dos povos vizinhos B. O Culto Hebreu Reinterpreta o Culto Pagão Locais de culto As Festas Sacrifícios

Nós e o culto - metodistavilaisabel.org.br · 4 Ao libertar o povo eleito da escravidão no Egito e, posteriormente, estabelecendo com ele uma Aliança, Deus demonstra que é Senhor

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NÓS E O CULTO - Um Estudo da Liturgia

Cristã -

Autores:

Nilo Belotto

Duncan Alexander Reily Ely Éser Barreto César

1997

SUMÁRIO

CAPÍTULO I PRINCÍPIOS BÍBLICOS, HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DO CULTO

I. NO ANTIGO TESTAMENTO A. Culto Hebreu -- Êxodo -- Aliança -- Influências dos povos vizinhos B. O Culto Hebreu Reinterpreta o Culto Pagão

Locais de culto As Festas Sacrifícios

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C. Desvios do Culto e o Profetismo Purificador D. Avaliação Teológica dos Princípios Históri-cos do Culto II. NO NOVO TESTAMENTO A. A Nova Aliança e o Culto B. Dimensões Cristológicas do Culto C. Culto e Influências Culturais D. O Culto e o Espírito Santo E. Culto e Missão CAPÍTULO II INFLUÊNCIAS CULTURAIS NO CULTO CRISTÃO DO BRASIL CAPÍTULO III IMPLICAÇÕES DOS PRINCÍPIOS BÍBLICOS, HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS NO Culto CAPÍTULO IV RENOVAÇÃO DO CULTO A. A Reforma da Própria Liturgia

A Palavra de Deus O Sermão A Santa Ceia A Oração Confissão de Fé Hinos e Cânticos Testemunhos Litúrgicos da Vida Comunitária A Estrutura do Culto e Renovação Litúrgica Celebração dos Sacramentos O Ano Litúrgico Os símbolos no Culto Cristão

B. A Liturgia Como Elemento de Renovação da I-greja ANEXO I - PASSOS NA ELABORAÇÃO DE UMA ORDEM DE CULTO ANEXO II - ANO LITÚRGICO

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ANEXO III - SÍMBOLOS DO ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS ANEXO IV - ARRANJOS DOS MÓVEIS NA IGREJA BIBLIOGRAFIA

CAPÍTULO I

PRINCÍPIOS BÍBLICOS, HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS DO CULTO

I. NO ANTIGO TESTAMENTO

A. Culto Hebreu -- Êxodo -- Aliança -- Influ-ências dos povos vizinhos

Deus se revelou ao povo de Israel numa su-cessão extraordinária de fatos históricos, en-tre os quais se destacam o Êxodo e a Aliança. Para os antigos hebreus, o conhecimento de Deus era, assim, uma conseqüência direta do que re-almente aconteceu na História humana.

O episódio do Êxodo, que revela a luta do povo hebreu para se livrar da escravidão do E-gito, mostra claramente ao povo de Israel que Deus o havia escolhido como testemunho históri-co de sua revelação, sendo Ele o libertador do povo oprimido.

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Ao libertar o povo eleito da escravidão no Egito e, posteriormente, estabelecendo com ele uma Aliança, Deus demonstra que é Senhor da História. Nada acontece por acaso. Há um plano para a humanidade, do qual o Êxodo e a Aliança são uma antevisão. Além de se revelar ao povo de Israel através de sua interferência na His-tória, Javé, o Deus de Israel, se revela, tam-bém, através da Palavra, no sinal, quando se estabelece uma relação entre Deus e o Povo E-leito (Ex 20:2).

Juntamente com a revelação e a aliança, o povo de Israel recebia obrigações e responsabi-lidades (Ex 19:5). Israel deverá cumprir a lei recebida por Moisés, no Sinai.

Em resposta a tudo o que Deus fez pelo seu povo, Israel adora Javé e se coloca a seu ser-viço, engajando-se na Missão de Deus. Israel é uma comunidade que adora porque recebeu a reve-lação de Deus, e a adoração se faz, principal-mente, através do culto.

A palavra culto significa a soma das for-mas que procuram dar expressão ao relacionamen-to Deus-homem, homem-Deus. Isto quer dizer, em outras palavras, que tudo que se faz para ado-rar a Deus, até o pormenor mais insignificante, faz parte do culto.

Israel adora porque sente necessidade de, historicamente, caracterizar a libertação, a Aliança e outros eventos reveladores.

Adora, também, porque através desse ato, o povo encontra sua identidade e descobre que tem uma história e, consequentemente um futuro. O culto judeu, entretanto, não é totalmente ori-ginário de Israel. Houve grande influência de outros povos, como sacrifícios de animais, ofe-

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rendas de produtos da terra, determinação de locais para o culto, etc.

Deus nos revela que é Senhor da história e criador da natureza, mas, o entendemos mais a-través de seus atos poderosos na História que por meio da natureza. Por isso, afirmamos que o culto hebraico e cristãos estão ligados à His-tória, não à natureza.

Outra diferença importante que notamos en-tre o culto pagão e o judeu-cristão: o culto pagão se realiza para manipular a divindade, usando-se para isto, o rito; o culto hebreu ti-nha por objetivo adorar aquele de quem a vida dependia e agradecer-lhe a graça recebida.

B. O Culto Hebreu Reinterpreta o Culto Pagão

O Antigo Testamento faz muitas referências aos cananeus e seu Deus Baal, e o culto a este deus muito influenciou, nas formas do culto, o culto hebreu, como por exemplo, os lugares sa-grados, onde se realizavam as festividades e a oferenda de sacrifícios. Mas a essência da fé israelita não se baseia nas formas no culto.

Devemos assinalar que o culto pagão traz consigo uma tendência muito perigosa para a fé israelita, principalmente pelo fato de preten-der manter uma relação com a divindade e influ-enciá-la. Isso se processa em dois sentidos: conquistar a graça e aplacar a ira dos deuses. Devemos perguntar se no processo de assimila-ção cultual, a fé em Javé consegue impor-se contra tal tendência pagã.

Examinaremos, para melhor compreensão, os principais elementos do culto israelita, como locais sagrados, festividades e formas de sa-

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crifícios, através das várias fases de sua His-tória.

Locais de culto

No início de sua história, os hebreus eram nômades, isto é, não se fixavam em um lugar. Como exerciam uma atividade pastoril, iam com seus rebanhos à procura de melhores pastagens. Nessa fase, não possuem, obviamente, um lugar de adoração, um santuário fixo. Isto só aconte-ce quando eles deixam de ser nômades; nesta se-gunda fase seus principais locais de culto são: Siquém, Betel, Silo e Jerusalém. Todos estes locais eram, originalmente, pagãos.

Enquanto nômades, a idéia de um Deus que se relaciona pessoalmente com seus adoradores, através de um pacto, não se coaduna com a idéia de Deus limitado a um santuário. Somente quando o povo se fixa na terra é que aparecem os pri-meiros templos.

Mas, nem todos aceitam cultuar a Deus em locais determinados, pois Javé, por sua própria essência, não é confinável a um lugar pré-estabelecido.Por isso, houve reação a esta ten-dência, principalmente através da crítica dos Profetas.

Resumo

O culto hebreu foi influenciado pelos ri-tos culturais dos povos vizinhos, mas a essên-cia da fé israelita difere muito da fé destes povos.

Entretanto, o culto pagão oferece algum perigo para a fé judaica porque aquele pretende manipular a divindade, ao contrário deste. No-

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ta-se a influência do culto pagão na determina-ção de lugares sagrados, no costume de se ofe-recer sacrifícios à divindade, e nas festas. Os israelitas, porém, reinterpretam o cul-to pagão e o próprio objetivo do culto, que é o de agradecer a Deus pelos benefícios recebidos.

As Festas

Muitas festas organizadas pelos hebreus em homenagem à Javé, celebradas no santuário cen-tral (Jerusalém), eram festas agrárias, assimi-ladas dos cananeus, e devidamente reinterpreta-das.

Conforme já afirmamos, a fé em Javé não aceita todos os elementos do culto cananeu. As grandes festas judaicas -- Páscoa, Festa das Se-manas e do Outono -- são depuradas de qualquer elemento mágico ou relacionado com os ritos de fertilidade.

Israel celebra as grandes festas no santu-ário para onde a comunidade se dirige e rela-ciona-as a Javé, como o doador da Terra e de seus frutos e, por este motivo, Ele deve rece-ber louvor e gratidão.

Sacrifícios

O costume de oferecer sacrifícios à divin-dade é comum a muitas nações vizinhas de Isra-el. Naturalmente, cada povo praticava este cos-tume à sua própria maneira, sendo difícil des-cobrir a origem de todos eles.

Ao oferecer um sacrifício, o doador mani-festa sua adoração e seu agradecimento a Deus. Ambos participam da dádiva: um como doador, o outro, como receptor, estabelecendo, assim, uma comunicação entre as duas partes.

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Para os pagãos a dádiva significava que a divindade era alimentada pelo homem. O Antigo testamento não aceita essa concepção, pois, Ja-vé não necessita de alimentação. A comunhão com ele é pessoal, não mágica. Por isso, o objetivo das dádivas em Israel é de gratidão, adoração e, também, expiatório.

Em conseqüência do exílio, aumenta o sen-timento do pecado e generaliza-se o hábito de oferecer sacrifícios expiatórios. Com isso, os hebreus pretendem pagar esta dívida, possibili-tando a reconciliação com a divindade ultrajada pelos pecados.

Nos sacrifícios comunitários diários, que deviam acalmar a ira de Javé pelos pecados do povo, os holocaustos desempenhavam o principal papel. Há textos, porém, que afirmam ser o per-dão concedido independentemente de qualquer sa-crifício.

Nas relações pessoais entre Deus e o homem a consciência do perdão não está vinculada aos sacrifícios, embora sacrifício e expiação, sob o aspecto teológico pós-exílico, deveriam ir de mãos dadas.

Mas as formas culturais até então usadas pelos israelitas, sugeridas pelas observações das práticas religiosas dos povos vizinhos, ti-veram importância histórica, porque foi através delas que Israel pôde celebrar a aliança única estabelecida com Javé.

Resumo

As festas israelitas eram baseadas nas festividades de cunho agrícola dos cananeus, mas foram modificadas e reinterpretadas para melhor atender à fé do povo hebreu.

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Também os sacrifícios que, para os pagãos visavam a alimentar os deuses, para os hebreus eram dádivas de gratidão, adoração e expiação.

Inicialmente, os sacrifícios eram particu-lares, mas, com as construção dos templos, tor-naram-se comunitários e aparecem, por isso, os primeiros sacerdotes.

C. Desvios do Culto e o Profetismo Purificador

O culto autêntico, sendo uma forma de re-lacionamento entre Deus e o homem, tem o senti-do de recapitulação dos eventos salvíficos do passado, de adoração, gratidão, expiação e co-munhão, o que significa obediência às exigên-cias do pacto, como foi visto anteriormente.

Entretanto, o culto corre o perigo de ser deturpado, e isso realmente aconteceu, dando origem à polêmica profética contra a deturpação ocorrida.

Podemos citar numerosos textos bíblicos que comprovam tal polêmica: Am 5:21ss.; Os 6:6; Is 1:10-17.

Além de atacar o culto, IsaÍas ataca tam-bém, as orações (Is 1:15) e juntamente com A-mós demonstra, claramente, um espírito de crí-tica social, quando observa o requinte e a pro-fusão das oferendas, acessível, apenas, aos a-bastados.

Examinando os textos bíblicos citados, percebemos que, através dos Profetas, Javé re-jeita violentamente os sacrifícios e holocaus-tos e qualquer outro tipo de culto que não se expresse em uma vida diária de retidão e justi-ça. Os profetas colocam, portanto, o culto is-raelita como era praticado em sua época, no

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mesmo nível da idolatria dos pagãos, com suas monstruosidades cultuais e aberrações sexuais.

A maneira adequada de cultuar Deus é pura e simplesmente a obediência à sua vontade, e a vontade de Deus exige a fidelidade a Javé, co-nhecimento de Deus, relacionamento humano inte-gro e direito para todos, especialmente para com os desamparados.

Os profetas não apontam, diretamente, fa-lhas ou erros nas práticas cultuais, mas mos-tram como os homens devem agir, de acordo com o que vemos nos textos bíblicos.

Observando a vida da sociedade que os cer-ca, principalmente a opressão econômica e jurí-dica dos mais necessitados, como órfãos e viú-vas, os Profetas chegam à conclusão de que as exigências fundamentais do Deus do pacto estão sendo desprezadas. Os profetas constatam, en-tão, uma discrepância evidente entre esta situ-ação -- opressão social, infidelidade e desobe-diência à Javé -- e o afã verificado no âmbito cultual, onde se multiplicam cerimônias, sacri-fícios e ofertas, cada vez mais sofisticados.

Reconhecendo tal fato, os Profetas voltam sua polêmica, impiedosa, sarcástica e acirrada, contra o culto de sua época e o desmarcaram. Os profetas afirmam que, onde não há relacionamen-to íntegro, não pode haver culto autêntico. Mostram que o culto, em vez de proporcionar o contato com Deus, tornou-se uma arma contra Ja-vé e a favor da segurança do homem.

O homem abriga-se no culto contra a vonta-de de Javé. Utiliza o culto como instrumento de chantagem, de suborno, que pretende comprar a garantia da condescendência divina. Este é o perigo que o culto autêntico traz consigo, do qual falamos no início deste capítulo.

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Resumo

Com o passar do tempo, o objetivo do culto passou a ser deturpado em Israel. de ação de graças que era, passou a ser semelhante ao cul-to pagão, porque pretendia manipular Deus ou fazê-lo cúmplice dos pecados dos homens. O sa-crifício torna-se mais requintado, à medida que o homem se distancia de Deus pelo pecado.

Os profetas tiveram consciência deste fato e passam a proclamar que o verdadeiro culto a Deus pressupõe a justiça social, o conhecimento e obediência a Deus, e mostram que o homem está usando o culto como instrumento de chantagem contra Javé, pretendendo comprar a condescen-dência divina.

D. Avaliação Teológica dos Princípios Históri-cos do Culto

Qualquer forma de culto traz em seu bojo a possibilidade de tornar-se um instrumento de manipulação de Deus -- contra Deus. Por isso, todo culto precisa ser constantemente questio-nado.

Pode-se questionar se existe ou não cor-respondência entre o culto e a obediência con-creta e cotidiana à vontade de Deus, no que diz respeito à responsabilidade para com o próximo, a comunidade e o engajamento geral na missão de Deus.

Mas não nos iludamos: só aprenderá a ques-tionar assim aquele que souber entregar-se to-tal e irrestritamente a Deus e desprender-se, da mesma maneira, dos homens -- aquele que, como os Profetas, viver na dependência absoluta de Deus e na independência absoluta dos homens.

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Toda forma de culto tem a possibilidade de se tornar contra Deus, razão pela qual deve ser sempre questionada. Para isso, devemos seguir o exemplo dos profetas e perguntar se o culto es-tá se realizando conforme a vontade de Deus. Os Profetas questionaram o culto de maneira clara, radical, implacável e audaciosa. Pergunta-se swe os cristãos estão seguindo o preceito de Deus relativo à responsabilidade para com o próximo, e se estão se colocando a serviço de Deus.

Para questionar assim o culto, o cristão deve entregar-se totalmente a Deus como os Pro-fetas, e desprender-se das coisas terrenas.

II. NO NOVO TESTAMENTO

A. A Nova Aliança e o Culto

No Novo Testamento assim como no Antigo, o culto não é uma realidade independente da reve-lação de Deus; não é, também, uma atividade i-solada ao lado de outras, como o trabalho, o amor, etc. O culto cristão está ligado à Nova Aliança que Deus fez com seu povo na pessoa de Jesus Cristo, à nova liberdade que ele cria, à nova orientação histórica ao seu futuro.

Como os cristãos entenderam que havia uma novidade na revelação de Deus em Cristo, eles expressaram esta novidade desde os primeiros dias de vida da Igreja Cristã, criando um novo culto.

A primeira modificação diz respeito do dia consagrado ao culto. A escolha recaiu sobre o primeiro dia da semana, substituindo o sábado do culto judeu. A escolha desse dia baseia-se na recordação de um acontecimento marcante na vida dos primeiros discípulos: as aparições de

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Cristo ressuscitado. Por isso, o primeiro dia da semana foi chamado de ‘‘dia do Senhor’’ (di-es Domini) ou domingo.

A origem deste novo culto tem suas raízes na fé de que o Jesus de Nazaré, pela sua res-surreição, foi feito Senhor e Cristo. O culto surgiu para festejar a ressurreição, e é cele-brado somente a partir da presença maravilhosa e misteriosa do ressurreto, pois ‘‘onde estive-rem dois ou três reunidos em meu nome, ali es-tou no meio deles’’ (Mt 18:20).

As inovações introduzidas no culto cristão dependem, diretamente, desta nova revelações de Deus que os cristãos chamam de Nova Aliança, que é nova porque, através dela, Deus propõe ao homem uma libertação mais radical -- a liberta-ção da morte para a vida -- pois, o homem do primeiro século, como o homem antigo em geral, sabia que ele é aquele que morre.

Sem verdadeiro futuro o presente do homem não tem significado (I Co 15:32). Se Cristo nos liberta para a vida futura e, consequentemente, para a vida de cada dia, ensinando-nos a assu-mir nossa verdadeira dimensão humana, sua ali-ança com os homens torna-os herdeiros deste no-vo mundo, desta nova vida.

Por isso a Nova Aliança é celebrada como a semente de vida que germina no meio da morte, como a inauguração de um novo mundo e de nova possibilidade de uma ação significativa (1 Co 15:58). Por isso o culto cristão é celebrado no domingo, no dia em que os primeiros cristãos receberam o novo mundo do Ressuscitado. Esse culto foi, desde cedo, uma explosão de alegria e um comportamento sério no novo mundo que sur-ge. É a razão pela qual não pode ser uma cele-

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bração individual, mas é uma festa da comunida-de.

Resumo

Tanto o Antigo quando Novo Testamento tra-tam o culto como uma atividade ligada a todos os aspectos da vida. O culto cristão, porém, liga-se à Nova Aliança estabelecida entre Deus e o homem por intermédio de Cristo. O novo povo de Deus é representado pela Igreja.

A Nova Aliança determinou mudanças cultu-ais, a partir do próprio dia que passa a ser domingo, em lugar do tradicional sábado da re-ligião judaica.

O domingo é o dia em que Jesus Cristo res-suscitou e apareceu aos discípulos com a mensa-gem da libertação do homem para a vida futura. Por isso a Nova Aliança é celebrada como a vi-tória da vida sobre a morte, dando origem a uma nova comunidade.

B. Dimensões Cristológicas do Culto

Se todo o culto cristão tem seus alicerces nesta Nova Aliança, só pode haver culto cristão no Cristo. Portanto, só há celebração cristã onde o Senhor está presente.

Quem decide essa presença de Cristo em ca-da celebração não são os cristãos. Ela é uma decisão livre da graça de Deus. Mas, assim como só a fé e a graça permitem ver em Jesus de Na-zaré, o Cristo, a presença dele no culto não é aparente. É uma convicção de fé para os fiéis, que sabem que Deus também é fiel.

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Por outro lado, a Igreja não dispõe da presença de seu Senhor, nem pode provocá-la me-diante a repetição de certos ritos. Essa pre-sença só pode ser invocada, e é a graça do a-tendimento de uma súplica, não o exercício do poder sacerdotal.

Há outro aspecto importante quando se con-sidera o culto a partir da obra de Jesus Cris-to: é o fato de cada ato do culto não ser uma mera peça teatral e não se transformar apenas numa piedosa recordação de um acontecimento que se dará no futuro. Ele é uma recapitulação da história da Salvação. Ao revivermos a história de Cristo a cada domingo, estamos reavivando toda a história da humanidade, e descobrindo o verdadeiro homem e a verdadeira dimensão da hu-manidade.

Descobrimos que não é para a morte que fo-mos criados, mas para a vida e que nossa comu-nhão com o Cristo nos torna herdeiros de um mundo novo, já, aqui e agora e descobrimos, também que, em conseqüência disto, somos convi-dados a participar de sua missão libertadora, em favor de todos os homens, sua cultura, suas instituições.

O culto não é somente a atualização do passado no presente, mas também, a antecipação jubilosa do banquete final. Veja Mt 26:29.

O Reino de Deus está presente no culto por obra do Espírito Santo, por isso, também, é que o culto cristão é uma celebração de vida no nosso presente histórico, valorizando-o, digni-ficando-o, reorientando-o para o futuro defini-tivo de Deus. Isso torna o culto num momento de intensa alegria (At 2:46;16:34).

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Resumo

A Nova Aliança torna-se a base do culto cristão e, em conseqüência, só haverá culto cristão com a presença de Cristo. Mas Cristo é quem decide sobre sua presença no culto, a I-greja não dispõe livremente dele.

O culto autêntico não é só uma piedosa re-presentação teatral feita para recordar os e-ventos. É a própria história da salvação reca-pitulada, e também, a atualização desse passado e uma antecipação do Reino de Deus, que está presente no culto por obra do Espírito Santo. Essa participação torna o culto numa celebração histórica do nosso presente, valorizando-o, re-orientando-o para o nosso encontro com Deus.

C. Culto e Influências Culturais Ao constatarmos que a Igreja primitiva e-

laborou o seu culto, a partir de uma profunda meditação sobre a vida de Jesus Cristo e na ba-se de seu encontro libertador com Ele, podería-mos concluir que havia apenas um tipo de cele-bração naquela Igreja. Isto seria, porém, uma conclusão falsa. Sendo uma celebração de vida, cada comunidade celebra o culto a seu modo, de acordo com sua realidade cultural.

O Evangelho, sendo uma boa nova de vida para cada homem, convida cada um a responder a Cristo, em termos de elaboração doutrinal e é-tica, conforme o seu meio cultural próprio. Cristo não se comunica com robôs, mas com seres humanos que respondem na ‘‘linguagem’’ que co-nhecem, escolhendo as formas que lhes sejam significativas.

Isso já acontecia na primeira igreja. As-sim, o culto que celebra a vida da Nova Aliança e nos engaja na mesma missão de vida em Cristo,

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é um pouco ‘‘nosso culto’’, já que nós elabora-mos as formas que ele deve tomar.

Criamos nossas orações, nossos cânticos, nosso testemunho, proclamado, exatamente como os cristãos primitivos o fizeram. Cada época, incorpora sua cultura aos cultos. O batismo, por exemplo, é uma prática ligada à iniciação religiosa, em quase todas as religiões do ori-ente.

Os judeus, então, adotaram o rito batismal e o adaptaram para ser aplicado aos prosélitos, isto é, não judeus convertidos que não podiam se circuncidar.

João, o Batista, propôs um conteúdo novo para o seu batismo de arrependimento, preparan-do a vinda do Senhor. Era o batismo de água, ligado, portanto, à idéia de ‘‘purificação’’.

O batismo cristão incorpora a mesma forma comum na época, dando-lhe um novo significado, ligado à idéia de aliança, implicando na recep-ção, por parte do batizando, do Espírito Santo. Com o batismo, pela ação do Espírito Santo, o homem é incorporado à vida de Jesus Cristo. O mesmo fato aconteceu com outros elementos da fé cristã presentes no culto, como a Santa Ceia, o batismo, etc.

A Santa Ceia lembra as refeições sacrifi-ciais das religiões primitivas e a Páscoa ju-daica, mas seu conteúdo é novo, por incorporar o homem na Nova Aliança à última ceia de Jesus com seus discípulos.

Assim é que, para alguns cristãos primiti-vos, como os coríntios, a Santa Ceia fazia par-te de uma das refeições normais do dia, com a participação de toda a comunidade, seguramente dentro do estilo das refeições sagradas dos templos pagãos gregos.

Veja na Bíblia, os seguintes trechos: 1 Co 11:17 e ss; 11:24-25; At 2:46.

Atualmente, as igrejas estão preferindo ‘‘purificar’’ a prática da Santa Ceia, que não é mais celebrada como refeição sacrificial, mas como participação na Nova Aliança.

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Resumo

Em todas as partes do mundo e em todas as épocas celebra-se o culto cristão.

Na essência, não há diferença entre os cultos de um lugar ou de uma época; mas na for-ma, cada local e cada período histórico influem na manifestação cultual. Cada homem responde a Cristo de acordo com sua formação cultural.

Vários ritos cristãos sofreram e sofrerão influências formais. Exemplificamos com o ba-tismo e a Santa Ceia. Ambos porém, reinterpre-tam e dão um novo conteúdo, o qual incorpora o homem na Nova Aliança.

D. O Culto e o Espírito Santo

O culto, para ser cristão, deve estar a-berto à ação soberana do Espírito Santo, e isto por duas razões: para que seja uma atualização da Aliança e para que nossa resposta a Deus se-ja autêntica.

Sem o Espírito nosso culto não será a nos-sa celebração da vida. Cristo prometeu a seus seguidores, o Espírito, para que não ficassem órfãos ou para que pudessem vê-lo após a sua ressurreição. É por isso que a morte e a res-surreição marcam o início de um mundo novo, tornado possível pela ação do Espírito.

Comprove as afirmativas acima, lendo e re-sumindo os seguintes trechos bíblicos: Jo 14:16-18; 16: 7-13.

Todas estas afirmações revelam que, se há culto hoje, e que Cristo está presente onde es-tiverem dois ou três reunidos em Seu nome, é

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por meio do Espírito que, vivifica e transforma nossos atos em celebração (Jo 6:23).

É o Espírito que nos convida a responder, em nossos termos, no ato onde celebramos a vi-da. Ele é o Espírito Criador. Por isso, cada culto é um pouco uma nova criação. Criar, no culto, é crer que o Espírito é vivificante, que age dentro de nós e da comunidade, criando nos-sa comunhão com a vida.

Finalmente, admitimos que o Espírito é a dinâmica de nosso culto por ser o agente da Missão (At. 1:8). É nele que descobrimos que nosso culto só é culto se nos engajarmos na missão de Deus.

E. Culto e Missão

Participar, no culto, é estar disponível para servir aos homens, ensejando-lhes a opor-tunidade de descobrirem, em comunhão com Jesus Cristo, o verdadeiro sentido de nossa comunida-de.

Nosso futuro é o mesmo de Deus. Estamos destinados à plenitude de vida, onde dominam as realidades do amor absoluto, de verdadeira jus-tiça e da autêntica paz.

Por isso, o culto nos leva a dizer sim à vida e não à morte, à injustiça, ao pecado en-fim. Participar da aliança da vida é, também, engajar-se contra todas as formas de opressão, miséria, injustiça, ódio, guerra.

Ser a favor do mundo de Deus é ser contra tudo o que conflita com este novo mundo. O ter-mo que os cristãos usam para definir culto é latreúein ou leitourgein, que significava, ori-ginalmente, prestar serviço não remunerado ao

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Estado. Foi empregado, religiosamente, para de-finir a relação de serviço religioso dos fiéis a seus deuses.

No Novo Testamento, culto significa tanto adoração ou oração, como serviço prestado a Deus. Veja At 26:7; Rm 1:9; Hb 12:28.

Cultuar é, também, de acordo com o Novo Testamento, comunhão com Cristo, pois o cristão é aquele que testemunha e adora Cristo, presen-te nos pequeninos irmãos da parábola de Mateus 25:31-46. Cultuar não é fugir do mundo para uma esfera sacral, mas dispor-se ao serviço de Deus pelo mundo.

O culto, conforme diz Von Allmen em seu livro O Culto Cristão, está para a Igreja assim como o coração está para a circulação do san-gue. O coração possui dois movimentos, o de sístole, que consiste no bombeamento do sangue para o coração, a fim de que, depois de revivi-do (ou consagrado) ali, possa fluir para o cor-po (mundo) no movimento de diástole. Sem sísto-le não há diástole, o que sufocaria e mataria o coração. Por conseguinte, no culto há renovação do homem para o serviço de Deus.

Resumo

A participação do cristão no culto exige deste uma disposição de trabalhar para Cristo em benefício da comunidade. O próprio termo ‘‘liturgia’’ significa prestar serviço não re-munerado. Cultuar é adorar e servir a Deus, a-lém de participar da comunhão com Cristo.

Sem a participação cultual não há renova-ção do homem em Cristo.

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O verdadeiro culto não se limita aos ritos do mesmo, mas se completa e se realiza com a atuação do cristão para que a boa nova seja le-vada à toda a humanidade.

CAPÍTULO II

INFLUÊNCIAS CULTURAIS NO CULTO CRISTÃO DO BRASIL

O culto cristão tem sido influenciado, a-través dos tempos, por vários fatores cultu-rais. Estes fatores podem ser econômicos, filo-sóficos, científicos e até mesmo políticos. E-xemplificando, podemos observar as mudanças so-fridas pela Santa Ceia, e inclusive a sua ori-gem, baseada na Páscoa judaica. Houve uma épo-ca, em Corinto, que a Santa Ceia oferecia uma refeição completa aos cristãos. Este costume iniciou-se devido a fatores sócio-econômicos da comunidade cristã.

Naturalmente, mesmo havendo uma mudança nos elementos simbólicos do culto, este não mu-da na sua essência. Claro que deve haver um critério na substituição dos elementos básicos. Deve-se usar produtos do local onde se realiza o culto, desde que guardem, uma semelhança com os primitivamente usados. O culto é autêntico na medida que corresponde a uma resposta cultu-ral do homem que adora.

Com a propagação do cristianismo a todos os lugares da Terra, os ritos cultuais cristãos foram modificados pela cultura de cada povo e de cada época. O culto, sendo um ato onde o ho-mem adora Deus, certamente é influenciado pelas condições humanas, que variam conforme a situa-ção sócio-econômico-política da comunidade.

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Antes do século 19, o Brasil havia sido território proibido aos Protestantes. Houve, é claro, uma colônia francesa no Rio de Janeiro no século 16, e uma holandesa no Nordeste no século 17; porém, ambas eram consideradas inva-sões e foram afastadas à força de armas. No en-tanto, após a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, e uma série de tratados com a Inglaterra (1810), o Brasil co-meçou a permitir o culto anglicano particular, concessão esta que foi logo estendida, também, a outros imigrantes, notadamente os alemães. Foram estes últimos que, em 1823, organizaram a primeira igreja Protestante no Brasil, em Nova Friburgo. Depois os Anglicanos também inaugu-raram o seu primeiro templo no Rio de Janeiro, em 1845. Em ambos os casos o trabalho era feito na língua dos imigrantes e visando a atender somente os imigrantes, sem nenhuma tendência proselitista.

Esses imigrantes eram leigos e não possuí-am uma base litúrgica. Traziam apenas a Bíblia.

Convém lembrar também, que a essa época, tanto na Europa quanto na América do Norte, as práticas litúrgicas estavam num nível extrema-mente baixo. As práticas e conceitos litúrgicos dos Reformadores tinham passado por grandes mu-danças, em virtude das guerras religiosas na Europa, e pelas limitações e desafios da tarefa de evangelizar a rude fronteira da América do Norte.

Além disso, o movimento para renovação litúrgica estava apenas começando. Basta lem-brar que a Igreja Metodista da América do Norte ficou cerca de 150 anos sem possuir um livro autorizado para seus cultos. Em conseqüência desses fatores, não é de se estranhar que os

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primeiros protestantes que vieram para cá não trouxessem uma base litúrgica.

Estes fatos, aliados à falta de ministros ordenados, deram origem a um culto doméstico, despojado, simples, desprovido de elementos es-téticos, limitando-se à leitura bíblica, ora-ções, cântico de hinos e uma exortação. Tudo isso era realizado sem qualquer orientação li-túrgica.

Quando começaram a chegar os primeiros missionários, no século passado, somente os e-piscopais tinham um ‘‘Livro de Oração Comum’’. A maioria não trouxe nenhum livro de culto, que não usavam no seu país de origem.

Este livro foi traduzido para a língua portuguesa para ser usado no Brasil. Os primei-ros luteranos chegados da Europa trouxeram a ordem do culto usada na sua região da Alemanha, a qual foi adaptada às exigências da situação brasileira.

Outra dificuldade encontrada pelos missio-nários e que refletiu sobre o culto, foi o fato de o mesmo ser proibido de ser realizado em i-grejas. Era permitido apenas realizar serviços cultuais em residências ou locais que não lem-brassem igrejas, como salões, galpões etc. Era proibida, por lei, a construção de templos para a liturgia protestante.

Desta maneira, o culto importado, aliado às dificuldades legais aqui encontradas, deu origem a um culto especificamente brasileiro. Outros fatores, porém, contribuíram para o de-senvolvimento de uma liturgias brasileira.

Entre estes fatores, podemos citar a gran-de extensão territorial do país, aliada às li-mitações de recursos humanos, isto é, o número

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de ministros ordenados não era suficiente para cobrir todo o país, o que fez com que o povo brasileiro fosse convertido e tivesse a assis-tência religiosa de leigos, apenas.

Muitas congregações raramente recebiam a visita de um pastor, os quais tinham a seu cui-dado vastas regiões que deveriam ser vencidas a cavalo, principal e, às vezes, único meio de locomoção.

Devido a fatores sócio-econômico-políticos, a maioria das igrejas nasceu de uma escola dominical, realizada em residências, di-rigida por um leigo recém-convertido e, quase sempre, semi-analfabeto, tendo apenas a Bíblia para orientação de seus cultos.

Essa foi a igreja que milhares de crentes conheceram durante os anos formativos de sua vida cristã. Além disso, a simples leitura da Bíblia resultava no nascimento de congregações de crentes no interior, sem qualquer contato com um pastor. A falta de ministros ordenados tornava, também, impossível a realização domi-nical da Santa Ceia.

Nas primeiras décadas do século 19, as So-ciedades Bíblicas Inglesa e Americana começaram a enviar Bíblias para o Brasil, através de ho-mens de negócios que para cá se dirigiram. Mui-tos distribuíam os livros ao povo brasileiro, outros, entretanto, simplesmente abandonavam-nos nos portos, onde quem quisesse poderia apa-nhá-los. Dessa forma, a Bíblia foi parar em di-versos lares, fazendo com que muitos brasilei-ros se convertessem, apenas com a leitura da mesma. Estas pessoas, depois de convertidas, passavam a realizar cultos domésticos, objeti-vando novas conversões.

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Os cultos realizados pelos novos converti-dos eram muito simples, seguindo tão-somente os ensinamentos bíblicos, único guia que os novos protestantes conheciam.

O crescimento da igreja protestante do Brasil foi, também, muito condicionado pelas leis do Império, que concediam aos protestantes estrangeiros o direito de, apenas realizar seus cultos em locais que não se assemelhassem a templos. A mesma lei não permitia que se fizes-se proselitismo entre os brasileiros.

Foi somente a partir de 1859 que o primei-ro missionário que aqui aportou, Dr. Kalley, obteve permissão, após uma luta jurídica, para promover cultos domésticos dos quais os brasi-leiros pudessem participar.

Frente às dificuldades legais encontradas, os primeiros missionários tiveram que preparar famílias de crentes, para dirigir cultos domés-ticos nas suas casas com o intuito de evangeli-zar. Tudo isso deixou marcas na vida litúrgica e nos cultos realizados no Brasil, que têm sido influenciados, também, por forças raciais e ét-nicas.

As influências africana e indígena nos cultos brasileiros não podem ser desprezadas porque vêm ao encontro das ânsias profundas do coração brasileiro.

Não devemos deixar de lembrar que, em qualquer cultura, a vida social e religiosa é sempre influenciada pela forma do governo.

No Brasil, desde os tempos coloniais, o padrão de vida tem sido fortemente influenciado pelo ‘‘homem forte’’ ou ‘‘manda-chuva” da regi-ão e, em reação, criou-se a capacidade de “ dar

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um jeito’’ e fugir às conseqüências diretas da lei, sem entrar em oposição com ela.

É difícil para a vida litúrgica escapar a esta herança. Neste país, com sua complexidade, sua vasta extensão geográfica, seu mosaico de culturas e grande amor à liberdade, existe a possibilidade de criar uma pluralidade de li-turgias para servir às subculturas da nação.

Um aspecto básico que deve ser considerado por aquele que proporá o culto brasileiro, nes-ta diversidade, é precisamente a sua realidade sócio-cultural. O culto no Nordeste deve ser nordestino e, no Rio de Janeiro, deve ser cari-oca, assim como o paranaense deve conter ele-mentos da cultura de seu Estado, e assim por diante.

Em outras palavras, a contribuição da cul-tura nacional e regional sobre este ato de res-posta deve ter a marca da autenticidade, deve ser um pouco, uma expressão de arte. Devemos criar nossa mímica, nosso estilo de orar, nos-sos hinos, enfim, devemos sempre cultuar a Deus à nossa maneira. Só assim o culto será realmen-te autêntico.

Finalizando, devemos enfatizar o fato de que todas essas dificuldades encontradas pelo protestantismo no Brasil, não contrariou o de-sejo de se fazer um culto simples, sem pompas, diferente do culto católico, para justificar sua própria existência no país.

Todos esses fatores devem ser conhecidos e considerados pelas pessoas que querem dar uma contribuição à vida litúrgica do povo evangéli-co do Brasil.

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CAPÍTULO III

IMPLICAÇÕES DOS PRINCÍPIOS BÍBLICOS, HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS NO CULTO

Vimos no Capítulo I deste volume, alguns princípios bíblicos, históricos e teológicos do culto cristão.

Veremos agora algumas implicações desses princípios, na prática do culto cristão.

Deus se revelou ao povo de Israel numa su-cessão extraordinária de fatos históricos e na encarnação de Jesus Cristo, que testemunhou nosso amor a Deus porque Deus nos amou primei-ro.

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Estudamos também, a ação do Espírito Santo que cria o verdadeiro culto e também, o atuali-za, hoje, aqui, agora.

Enfatizamos a natureza essencialmente co-munitária, corporativa, do culto, ou seja, não é o indivíduo que adora, mas toda a Igreja.

Terminando, falamos que o culto tem uma dimensão missionária, ele não é um fim em si mesmo, mas algo que prepara o povo para o tes-temunho no mundo.

O culto cristão é uma resposta humana à revelação divina. A Bíblia toda testifica que a obra da salvação é de iniciativa divina. Deusa toma a iniciativa e o povo responde. Com essa resposta estabelece-se o diálogo no culto. Este princípios afeta o culto no seu conteúdo.

A parte mais importante do culto cristão é Deus, que se revela soberano, criador e Santo. Deus é sujeito e objeto do Culto. Ele cria e busca o povo que o adora. Em conseqüência deve haver uma objetividade no culto.

O culto é uma resposta à revelação de Deus.Se Deus é o sujeito e objeto do culto, o conteúdo das orações, hinos e pregação deve ser orientado para Deus e não para o homem, já que este não é o objeto do Culto. No culto, deve-se enfatizar que Deus é Senhor da História. Ele toma uma iniciativa e nós respondemos a ela.

Outra decorrência do princípio teológico da iniciativa divina é relativa ao lugar onde é realizado o culto, isto é, a igreja ou templo. A própria arquitetura dos locais de culto deve ser orientada para a glória de Deus e não a do homem. A disposição dos móveis internos deve refletir a ação de Deus na salvação do seu po-vo. É por isso que a mesa da comunhão deve fi-

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car no centro. À direita da mesa coloca-se o púlpito, onde é interpretada a palavra da reve-lação, e à sua esquerda deve ficar o lectório ou atril, onde se lê a palavra de Deus.

Quando estes princípios não são observa-dos, os templos não refletem o fato de Deus ser sujeito e objeto do Culto. A igreja deve ser um lugar adequado para a glória, a oração e o tes-temunho da ação de Deus na História e na vida de um povo.

Outra implicação dos princípios bíblicos e teológicos envolve o diálogo que deve haver no Culto: este deve ser um diálogo entre Deus, que toma a iniciativa, e o homem, que responde. Se isto não acontece dá-se o monólogo, que às ve-zes de estabelece, por falta de respeito aos princípios bíblicos.

O homem não pode se tornar o centro do culto e, simplesmente, falar de suas necessida-des, suas angústias, e não ouvir Deus. Neste caso o culto é subjetivo.

Mas pode acontecer o contrário: o homem não é levado em conta, não há respeito à liber-dade humana; é o culto objetivo.

O culto é composto de partes intimamente ligadas, obedecendo a uma harmonia de forma. A Bíblia oferece certos padrões de liturgia dos quais derivam a forma do culto praticado hoje.

Podemos exemplificar com o capítulo 6 do livro de Isaías, quando o jovem foi ao templo, provavelmente para lamentar a morte de seu ami-go, o rei Usias; havia, sem dúvida, um espírito preparado e receptivo para o culto e Isaías te-ve uma visão maravilhosa de Deus (Is 6:1).

Esta é a primeira experiência do culto -- o encontro com Deus. Ali se sente a presença de

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Deus, e os anjos cantam a grandiosidade de um Deus justo e santo. A partir deste momento Isa-ías passa a reconhecer sua indignidade e fra-queza e faz uma confissão de pecados, conforme o versículo 5.

Esse ato de confissão significa a resposta de Isaías à glória, à majestade, à santidade de Deus. O diálogo se estabelece entre Deus que se revela, e o homem Isaías que sente, face a grandeza da revelação, os seus pecados, e con-fessa-os.

Após a confissão de Isaías, um anjo tirou do altar uma brasa viva, tocou com ela a boca do profeta, dizendo: ‘‘a tua iniquidade foi ti-rada e purificado o teu pecado’’ (vers. 7). As-sim, a confissão dos pecados e a declaração do perdão constituem a segunda e terceira parte do culto.

Após o perdão de Isaías, existe uma explo-são de alegria, onde acontece a manifestação de louvor, de ação de graças, que é a quarta parte do culto.

A seguir vemos, novamente, Deus, que se manifesta através de uma comissão, de uma reve-lação de vontade, a Isaías dizendo que ele de-veria ir ao povo e proclamar a sua palavra como profeta. Este mandamento é imediatamente aten-dido por Isaías que responde: ‘‘Eis-me aqui Se-nhor e envia-me” . Aqui estão a quinta e sexta parte do culto, que é a iluminação ou explica-ção da palavra e a dedicação, a resposta, a consagração ao discipulado, à vontade de Deus.

Outro princípio que terá conseqüências im-portantes na estrutura do culto é aquele que coloca Cristo como o ápice, o ponto mais impor-tante na história da salvação, da revelação e

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do pacto que Deus fez com a Igreja e o novo Is-rael.

Se todo o culto cristão tem seus alicerces nesta nova aliança de vida estabelecida por meio da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, só pode haver culto cristão no Cristo, isto é, só há culto cristão ali onde Cristo es-tá presente, mais do que isto, a forma, a es-trutura do culto é dada pela própria vida de Jesus Cristo.

O Culto, no dizer de Von Allmen, é ‘‘a re-capitulação da história da salvação’’, aonde a vida de Cristo aparece novamente, os seus ensi-nos, a sua pregação e especialmente a sua morte e ressurreição.

Vários autores modernos vêem, na maneira como os evangelistas organizaram seus evange-lhos, reflexões dos primeiros cultos cristãos. Assim, o culto teria, pelo menos, duas partes distintas:

• a primeira se inspira no ministério de Jesus na Galiléia, ou ministério galile-ano de Jesus;

• a segunda parte baseia-se na estrutura-ção do culto, é aquela que se chama de o culto dos fiéis, correspondendo ao mi-nistério de Jesus em Jerusalém. Esta parte se concentra sobre a morte e res-surreição de Jesus Cristo, sua bênção e o envio de seus discípulos ao mundo para o testemunho de sua missão. Nesta parte do culto apareceriam o ofertório, a ora-ção de consagração e a Santa Ceia.

Assim, se a base do culto cristão é a pró-pria vida, morte, ressurreição e ensino de Cristo, é, portanto, o exame de sua vida e sua

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obra que nos indicará a forma que deve tomar nosso culto hoje. Isto nos leva a concluir que um culto é verdadeiro se demonstrar os dois mo-mentos da Nova Aliança: presença da palavra e celebração da Santa Ceia. A forma do culto está dada em Cristo e não é, portanto, objeto de nossa criação.

Outro princípio que tem suas implicações na estrutura do culto é aquele que diz ser a verdadeira oração aquela que nasce da atividade do Espírito Santo. O culto só é culto cristão se estiver aberto à ação soberana do Espírito Santo.

O Apóstolo Paulo diz em 2 Co 3:17: ‘‘Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade’’.

A nova vida em Cristo corresponde a nova vida em liberdade, não só para os indivíduos mas, também, para a congregação, a Igreja.

O Pentecostes testemunha o nascimento do poder, da liberdade. Podemos dizer que a ação do Espírito dinamiza o culto, mas também, ofe-rece, segundo a doutrina cristã, o equilíbrio e a sobriedade tão importantes e necessários ho-je.

A verdadeira e genuína adoração exige uma Igreja guiada pelo Espírito Santo, e também, uma ordem no culto aliada à expressão carismá-tica. A liberdade não deve ser confundia com licenciosidade. A liberdade cristã está em fun-ção de Jesus Cristo. A obra cristã é a obra de Cristo, portanto, não há completa liberdade do homem na direção do culto cristão.

O Espírito é livre e não deve ser manipu-lado, mas o critério é Cristo que é atualizado pelo Espírito Santo. Portanto, no culto, os e-

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lementos e as estruturas devem dar suficiente liberdade de expressão para a criatividade da congregação e dos indivíduos.

A criatividade da ação do Espírito de Deus na congregação local, na comunidade deve-se permitir a ação do Espírito Santo para criar e recriar a vida comunitária. Deve-se lembrar, também, que a ordem, a disciplina voltada para aquilo que fez Jesus Cristo deve ser o crité-rio.

Outro princípio que tem implicações no culto, hoje, é aquele que diz ser o culto cris-tão essencialmente comunitário. A adoração é um ato de toda a Igreja, não do indivíduo apenas. O homem participa como membro da comunidade. Quando se diz que o culto cristão é essencial-mente comunitário significa dizer que a Igreja vive e está em Cristo, incorporada no Seu cor-po.

A Igreja adora e obedece, por isso Jesus, quando ensinou a oração dominical, disse: Pai nosso, significando o Pai de toda a comunidade. Ele não disse Pai meu. Deste princípio decorre um culto não individualista. O ministro ou lí-deres leigos, não detêm o monopólio cultual.

O culto é de todo o povo de Deus que deve ter a máxima participação no mesmo, através das leituras responsivas e nos congregacionais, o uso do amém e de orações comunitárias. Deve-se usar sempre o adjetivo nosso e não meu.

Por isso, a estrutura, o local dos tem-plos, bem como a mesa de comunhão, o púlpito, o atril, devem ficar ao alcance da comunidade. Tudo deve ser colocado de maneira tal que en-volva o maior número de pessoas.

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Os móveis não devem ser fixos, e deve-se usar, de preferência, cadeiras, o que permite uma maior mobilidade para formar círculos ou arranjos que facilitem a participação maior de todos nas funções do Culto.

Um outro princípio que tem implicações im-portantes no culto é aquele que procura ligá-lo à Missão. Culto é uma preparação adequada da Igreja para o serviço e o testemunho de Deus no mundo.

Participar no culto é estar disponível pa-ra servir aos homens no mundo, ensejando-lhes a oportunidade de descobrir, em comunhão com Je-sus Cristo, o verdadeiro sentido de nossa huma-nidade ou da liberdade de sermos verdadeiros homens deste mundo. Este princípio faz do culto o momento adequado para que as ansiedades, os problemas e as angústias daqueles que adoram sejam trazidos à luz da palavra e da revelação de Deusos sacramentos e na oração.

Disso decorre a importância de as orações comunitárias estarem ligadas à vida daqueles que adoram, e também, o valor das orações in-tercessórias que refletem a preocupação com o povo de Deus e com aqueles que não pertencem à comunidade da fé.

No culto, a Igreja deve preparar os fiéis para intercederem por aqueles que não têm voz, os irmãos que não têm o necessário para uma vi-da condigna, enfim, deve-se pedir por todos os injustiçados e infelizes.

A intercessão pelos oprimidos não deve es-gotar-se no culto. A luta deve prosseguir atra-vés do testemunho no trabalho, em casa, enfim, nos campos mais diferentes da vida; os cristãos devem testemunhar sempre a favor da justiça, da liberdade e da igualdade entre os homens.

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A pregação também deve refletir os proble-mas e angústias dos homens da congregação que deveriam dialogar com o pregador, antes ou de-pois da apresentação da palavra. Isto é possí-vel quando o ministro, ou aquele que lidera o culto, é sensível às necessidades de sua Igreja e a missão que ele tem no mundo.

Resumo

O culto cristão é uma resposta do homem a Deus, que é sujeito e objeto do culto, razão pela qual este deve ser orientado para Deus. Tudo no culto deve visar à adoração de Deus, desde a arquitetura e a disposição dos móveis no templo, até a oração mais simples.

O culto é um diálogo da comunidade com Deus e compõe-se de partes intimamente ligadas. No entanto a base do culto é a vida, morte, ressurreição e ensino de Cristo, que indicam a forma do culto. A verdadeira oração e o verda-deiro culto nascem da atividade do Espírito Santo.

A nova vida em Cristo dá à comunidade e ao indivíduo uma liberdade de culto sob a orienta-ção do Espírito Santo. A Igreja tem liberdade de criar o culto mas, sempre tomando Cristo co-mo paradigma.

Outras implicações: o culto é sempre da coletividade e deve sempre vir ligado à Missão. Não há culto cristão completo desvinculado do serviço e do testemunho.

Finalmente, devemos insistir que só é pos-sível celebrar a vida que Deus nos dá na ale-

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gria. O culto verdadeiro é uma eucaristia, isto é, uma ação de graças.

CAPÍTULO IV

RENOVAÇÃO DO CULTO

A. A Reforma da Própria Liturgia

Ao considerarmos as possibilidades de uma renovação litúrgica devemos afirmar que o culto tem uma parte que pode ser reformada e outra que não é passível de reformas.

O elemento sacramental do culto, os meios de graça, aquilo que foi instituído por Jesus Cristo, as palavras e os sacramentos, não podem ser mudados. Não se pode reformar a leitura bíblica, mas as leituras que são feitas durante o culto, isto é, o lecionário, pode ser modifi-cado.

Veremos, a seguir, os elementos do culto e as possibilidades que encerram para sua renova-ção litúrgica para a nossa igreja de hoje.

De um modo geral, os elementos cultuais se resumem em quatro: a palavra de Deus, os sacra-mentos, as orações e a manifestação litúrgica da vida comunitária.

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A Palavra de Deus

Todos os cristãos concordam que a palavra de Deus é um elemento indispensável para o cul-to. Sem ela o culto não seria um encontro vivo e eficaz entre Deus e seu povo, entre Cristo ressurreto e sua Igreja; sem ela não se estabe-leceria o diálogo entre a divindade e o homem. Com a palavra de Deus sabemos que Cristo é en-tendido e revivido pela Igreja.

Não se podem alterar os sacramentos na sua essência. Não se concebe um batismo sem água e sem a invocação da Trindade.

Igualmente, não se podem modificar os ele-mentos (pão e vinho) da Santa Ceia, nem elimi-nar as palavras de Jesus quando da instituição da mesma. No entanto, outros elementos podem ser modificados e reinterpretados a fim de tor-nar os sacramentos mais relevantes para o dia que vivemos.

No culto a palavra se manifesta sob di-versas formas: diretamente, como na leitura das Escrituras; a pregação; a absolvição; a sauda-ção; a bênção. Indiretamente, temos a manifes-tação da palavra nos hinos, nas confissões de fé e nas doxologias.

Porém, jamais se deve substituir, no cul-to, a leitura da palavra da Bíblia pela prega-ção dessa palavra, o que significaria clerica-lizar o culto e dar um golpe mortal na leitura e na participação dos leigos e, também, pelo fato de que a recapitulação da história da sal-vação exige que essa palavra seja reatualizada através da leitura da Bíblia durante o culto.

Mas, como escolher a leitura para o culto. É costume o pastor decidir sobre o tipo de lei-tura. Isso resulta muitas vezes em repetições e

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ênfases próprias de cada um. Aconselha-se, para evitar isso, o uso do calendário cristão, o que daria maior variedade, abrangendo toda a histó-ria da salvação.

Para que haja uma completa recapitulação histórica no culto, são necessárias pelo menos três leituras, na seguinte ordem: a do Antigo Testamento, onde ouvimos sobre a criação e os profetas; outra, das Epístolas, para que a I-greja se faça ouvir através do apóstolo e, fi-nalizando, uma leitura dos Evangelhos, a voz do Senhor que deve ser ouvida cada domingo. A or-dem da leitura é relativa.

Uma pergunta que se faz freqüentemente -- quem deve proceder às leituras? A do Antigo Testamento e a da Epístola devem ser feitas por leigos, dando-lhes a oportunidade de participar ativamente no culto.

As leituras devem ser feitas de frente pa-ra o povo e devem-se escolher as versões bíbli-cas que comuniquem melhor a palavra, e de pre-ferência a versão que as pessoas tenham em mãos.

É possível, também, usar antífonas e res-ponsos, para não se restringir a uma só forma de leitura. Para uma maior participação da con-gregação, pode-se pedir a leigos para que pro-cedam à leitura de trechos bíblicos que tenham uma mensagem especial para o leitor.

Deve-se estimular a criatividade conforme o grupo, de crianças, jovens, adultos ou misto, para que a leitura desperte interesse e a par-ticipação de todos, lembrando que ela atualiza a vida de Cristo, a história da Igreja e a ação do Espírito Santo, aqui e agora.

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Outra forma de usar-se a palavra de Deus é uma saudação especial no início do culto, com aquela tradicional ‘‘Graça e Paz a Vós outros da parte de Deus, nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo’’. Pode-se usar, também, um versículo bíblico que convida o povo a participar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não se deve começar um culto anunciando o programa ou destacando uma pessoa.

A primeira palavra deve ser aquela que brota de Deus, sujeito e objeto do culto, e portanto a celebração de sua presença deve vir em primeiro lugar. Para isso selecionam-se, previamente, textos bíblicos variados, permi-tindo uma renovação à medida que solicitamos a presença de Deus.

No início do culto, antes da mensagem e da Santa Ceia deve-se rogar, numa invocação, a a-ção inspiradora do Espírito, para que o culto, a pregação e a Ceia, não se tornem em atos má-gicos, eficazes devido à correta manipulação do homem, mas atos de salvação pelo poder do Deus presente. Deve-se destacar, nesses momentos, a iniciativa de Deus.

Outro elemento importante é a absolvição, após a confissão. É fundamental declarar-se que Deus liberta e perdoa a congregação. A atuali-zação de versículos bíblicos adequados a esse momento deve ser enfatizada para que a palavra de Deus se torne um elemento de perdão e graça.

A bênção final também faz parte da palavra de Deus e está incluída em todas as liturgias. Esta bênção não é um ato mágico, mas tem o ob-jetivo de oferecer-se, pela palavra de Deus, a certeza de que Deus continua agindo na vida da Igreja. Nesse momento, usa-se sempre a segunda

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pessoa do plural, caso contrário, seria uma o-ração, apenas.

Se a igreja usa a bênção em forma de ora-ção e não mostra a ousadia de abençoar de forma declarativa e direta, mostraria pequenês de fé e desobediência diante da obrigação de usar a autoridade que lhe foi outorgada.

As palavras da bênção devem ser acompanha-das pelo gesto bíblico de erguer as mãos, o mesmo usado por Cristo. (Lv 24:50ss).

A bênção apostólica é uma palavra cheia de poder na qual, Deus em pessoa, representado por um homem, no caso o ministro, faz descer sobre a comunidade cristã a salvação, a prosperidade, a alergia de viver e testemunhar a ação de Cristo, de Deus e do Espírito Santo.

Resumo

A renovação litúrgica é possível em algu-mas partes e impossível em outras.A palavra de Deus não deve ser substituída, da mesma forma que as partes essenciais do batismo e Santa Ceia.

Pode-se renovar o lecionário e a simbolo-gia batismal. A Palavra de Deus é indispensável para o culto e não pode ser substituída pela pregação, porque ela é a recapitulação da his-tória da salvação. A palavra no culto pode ser levada aos fiéis em forma das leituras das Es-crituras, de pregação, da absolvição, da sauda-ção e da benção.

O Sermão

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A pregação é a palavra de Deus interpreta-da para a congregação, porém é uma verdade da personalidade; ela é um testemunho pessoal a-cerca do Deus que se revela. Esta palavra, po-rém, não é auto-suficiente. São necessários os sacramentos para deixar claro que o sermão não é uma forma intelectual ou testemunho pessoal do pregador, mas está ligado ao evento repre-sentado nos sacramentos.

A pregação é um ato indispensável na es-trutura do culto mas não é o seu ponto culmi-nante, como pretendem alguns. Não se deve ir ao culto apenas para ouvir o pregador ou para prestigiá-lo, como se o culto estivesse restri-to à Palavra do homem.

Deve haver um equilíbrio entre a palavra pregada e os sacramentos, pois o culto cristão hoje, não deve deixar que a palavra do homem seja fundamental, mesmo evidenciado a ação do Espírito que a torna a Palavra de Deus.

Entretanto, a palavra de Deus é entendida mais claramente se a mesma for vinculada à eu-caristia. A Santa Ceia estabelece uma ligação entre a Igreja e o futuro e a pregação liga-a ao presente.

A Santa Ceia

De acordo com o Novo Testamento a Santa Ceia foi o ponto culminante no culto dos pri-meiros cristão, que se reuniam para ouvir a pa-lavra e partir o pão.

Através da Ceia os discípulos e os primei-ros cristãos perseveravam na doutrina dos após-tolos (At 2.42). A Ceia era celebrada regular-mente, no domingo. Havia um vínculo entre o

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dia do Senhor e o partir o pão, conforme vemos na Carta aos Coríntios.

Algumas testemunhas antigas, como Plínio governador da Bitínia, afirmam que os cristãos, além do culto da palavra, incluíam no seu cul-to, uma refeição, a Santa Ceia. A Santa Ceia atualiza a dádiva de Cristo dando-se a si mesmo para a salvação dos homens. Por isso, o culto não é completo sem a Santa Ceia. A Santa Ceia é necessária ao culto porque foi instituída por Cristo que ordenou a Igreja a sua celebração. Ela é necessária, portanto, por simples obedi-ência à ordem e à palavra de Cristo.

Os membros da Igreja primitiva participa-vam dominicalmente da Ceia do Senhor, e membros da Igreja de hoje devem ter o mesmo privilégio. Porém, nem toda a reunião realizada na igreja deve incluir a Ceia. Isso se aplica especial-mente a reuniões evangelizantes e outras que envolvem pessoas não-crentes. Deve ser lembrado que a participação da Santa Ceia é privilégio oferecido àqueles que professam a fé e são ba-tizados.

A Santa Ceia deve se realizar de forma a integrar totalmente o povo. Por este motivo, muitas Igrejas eliminam qualquer empecilho que separe a comunidade da comunhão, dando acesso direto às pessoas a uma mesa ampla onde o pão é o vinho sejam oferecidos informalmente.

Na Santa Ceia os cristãos devem se comuni-car uns com os outros, falando sobre seus pro-blemas, suas angústias e também, suas alegrias. O culto, a comunhão são verdadeiras festas que devem refletir a ressurreição e a presença de Cristo, aqui e agora.

Portanto, as pessoas não devem se dirigir para a mesa de comunhão, tristes, com os olhos

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baixos. Não, ali se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado, sobre a morte e sobre as limi-tações do homem. Na Santa Ceia e no culto deve-se demonstrar alegria porque o Senhor nos rece-be. Ele é o dono, o senhor do banquete que par-te o pão.

É pela presença de sua espírito entre nós que o culto é um momento de júbilo, pois ele atualiza a salvação atualizando o cristo no nosso momento e no nosso tempo.

A participação de todos deve ser a mais criativa possível. O ministro, ou aquele que dirige o culto, deve fazer com que a realidade da vida, do dia-a-dia, participe deste evento, e que a congregação não deixe de lado os pro-blemas que a afligem.

Quando Cristo instituiu a Santa Ceia fez menção 0àquilo que estava lhe acontecendo: a traição, a vitória da cruz que se aproximava, a promessa do futuro. Por isso ao participarmos hoje da Santa Ceia devemos trazer a realidade da vida. Esta realidade dá uma dimensão nova ao culto ao ser compartilhada entre os presentes e ao procurar-se o perdão, a renovação, a graça, o alimento, que permite continuar a proclamar a hora nova para os que ainda não a conhecem.

Resumo

O sermão, ato indispensável no culto, é a interpretação da Palavra de Deus. Mas se não for complementado pelos sacramentos, o valor do sermão se esvazia. Por isso, a pregação está vinculada à eucaristia, que desde os primeiros tempos do cristianismo é um dos pontos culmi-nantes do culto.

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A eucaristia é repartir o pão e também compartilhar as dores e alegrias da vida. É um momento de festa porque recebe-se o Senhor. Cristo é o criador da eucaristia e ordena a i-greja que ministre-a regularmente.

A Oração

A oração é indispensável, não só à vida do cristão, mas também ao culto litúrgico. O Novo Testamento não cessa de exortar a sua prática (At 2.42), que foi ordenada expressamente por Jesus.

Ela é, por conseguinte não a simples ex-pressão de uma necessidade religiosa ou uma técnica mediante a qual o homem possa coagir Deus, mas sim um ato de obediência.

Quando os discípulos interpelam Cristo so-bre a oração, ele não se restringe a dar-lhes ensinamentos teóricos, mas ensina-lhes a orar o ‘‘Pai Nosso’’, ordenando-lhes que fizessem dela a sua própria oração. Por esse motivo, essa o-ração marcou, desde o início, a vida diária dos cristãos.

A oração não é somente um ato de obediên-cia, mas também, de fé e esperança, porque a-pressa a chegada do Reino de Deus. Com o se-nhor, aprendemos que a oração começa com o nos-so ‘‘Sim’’ ao mundo de Deus: seu nome, seu rei-no e sua vontade.

E no Espírito do ‘‘Seja feita a tua vonta-de’’ que pedimos perdão, o pão nosso de cada dia, o não cair em tentação. Fazer a vontade de Deus é o objeto central da oração.

Nós não podemos nos associar ao mundo de Deus por conta própria. ‘‘Ninguém vem ao Pai

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senão por mim’’, disse Jesus. Por isso, só há oração cristã feita em nome de Jesus.

Por ser comunitária, a oração deve ser feita, sempre, usando o adjetivo nosso e não meu, nós nolugar do pronome eu.

Por outro lado, deve-se evitar o uso de linguagem infantil, como por exemplo, paizinho no lugar de Pai, e também, não deve se usar uma linguagem bombástica, em tom de discurso.

A oração, no culto, deve refletir os an-seios e a ação de graças à Deus de toda a comu-nidade, razão pela qual deve-se evitar o uso de chavões e o tom professoral. Uma sugestão é de se preparar uma oração do culto em grupos que expressem os anseios, preocupações, alegrias e frustrações vividas concretamente na semana.

Algumas pessoas evitam escrever orações para não cair no ritualismo, mas nota-se que quando não são preparadas prevíamente, as pre-ces resvalam para a repetição de chavões sem significado. Aconselha-se uma preparação cuida-dosa das preces.

O estudo da oração dos grandes homens de Deus pode ajudar o cristão a compreender a grandeza e o valor das orações.

A leitura de livros devocionários e o cos-tume de se indagar sobre as necessidades comu-nais, ajuda a preparação das preces que se pre-tende fazer no culto.

As orações devem ser compreendidas pela congregação e trazer as necessidades dos mem-bros da Igreja. Elas devem ser definidas, con-cretizando as necessidades das pessoas.

Há diversas formas de orações cultuais:

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• Existem as coletas, orações breves e precisas que ‘‘recolhem’’ as necessida-des da Igreja e do mundo, apresentando-lhes a Deus, que as recebe em nome do Filho.

• A litania, outro tipo de oração, é uma intercessão em favor da Igreja, do mundo e seus governantes e de todos os que es-tão cansados, aos quais o Salvador veio aliviar. Essa oração se apresenta, tra-dicionalmente, em três formas: o cele-brante a pronuncia e o povo se associa em silêncio; pode ser rezada por dois oficiantes, ou o oficiante anuncia o te-ma em forma de exortação e, após um mo-mento de silêncio, o povo responde ‘‘Se-nhor, tem misericórdia’’.

Resumo

A oração é indispensável, não só à vida do cristão, como ao culto litúrgico. O culto não pode prescindir da oração. A oração não corres-ponde a uma simples expressão de uma necessida-de religiosa. É um ato de obediência, de fé e de esperança. O cristão deve orar ao Pai atra-vés de seu filho.

A oração deve refletir os anseios e a ação de graças à Deus de toda a comunidade. Deve ser compreendida pela congregação e trazer as ne-cessidades dos membros da Igreja.

Há várias formas de orações cultuais: as coletas, orações breves e precisas que ‘‘reco-lhem’’ as necessidades da Igreja e do mundo. Outro tipo de oração é a litania, uma interces-são em favor da Igreja, do mundo e seus gover-

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nantes e de todos os que estão cansados, aos quais o Salvador veio aliviar.~

Confissão de Fé

É o elemento pelo qual a Igreja se compro-mete com o serviço de Deus no mundo, declaran-do-se disposta a enfrentar todas as conseqüên-cias dessa confissão, inclusive a final, isto é, morrer pela fé.

A palavra credo não significa simplesmente ‘‘eu admito aquilo que vou enumerar’’, mas ‘‘eu arrisco minha vida por aquilo que vou enume-rar’’. Poder-se-ia dizer que no Credo a igreja dá a si mesma a palavra que recebe, tal como na comunhão eucarística ela se dá àquilo que se entregou por ela.

É um ato tão importante que não permite improvisações e deve ser proclamada por toda a comunidade com voz audível e em tom de testemu-nho, com os olhos abertos, olhar para a frente, testemunhando a crença professada pela Igreja.

Pode-se professar a confissão de fé atra-vés de credos escritos por outras igrejas cris-tãs. A Igreja Metodista tem usado o ‘‘Credo da Coréia’’.

O credo deve ser proferido antes da Santa Ceia, depois da confissão, num momento onde a igreja já perdoada deve proclamar aquilo que crê ao mundo.

Hinos e Cânticos

A Igreja sempre fez uso de hinos e cânti-cos no culto, o que evidência a sua importân-

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cia, além das referências a eles encontradas no Novo Testamento que demonstram serem os hinos e cânticos formas de oração provenientes do cora-ção humano e da inspiração do Espírito Santo.

A história da hinologia apresenta épocas de glória e de decadência, de movimentos de re-novação, de falsas inovações e de necessárias retificações da música sacra. Demonstra também, que a produção de hinos serve de indicador fiel da vida da igreja. e podendo, por vezes, tor-nar-se fonte de vitalidade espiritual quando o pensamento teológico se torna vazio e esclero-sado.

Pode-se distinguir diversos tipos de hi-nos: cânticos de aclamação e de confissão, como o ‘‘Amém’’, ‘‘Aleluia’’, ‘‘Santo-Santo” , e ‘‘Glória’’; cânticos de meditação que servem de elo entre a leitura e a oração; e cânticos de ação de graças.

Os cânticos têm um elemento litúrgico que reflete e proclama a teologia, a fé e a espe-rança da igreja, por isso os hinos não devem ter letras muito subjetivas ou refletir um es-tado emocional particular.

Os hinos refletem o pensamento da igreja, por isso deve-se estimular a criação de novos cânticos que traduzam a época vivida pela comu-nidade de fé.

Temos atualmente novos hinos, como o hiná-rio há pouco publicado A Nova Canção, e outros criados pela juventude.

Testemunhos Litúrgicos da Vida Comunitária

O texto já citado de Atos diz: ‘‘perseve-ravam na doutrina dos apóstolos e na comu-

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nhão’’. Comunhão (Koinonia) pode-se dizer que é a contribuição para o sustento dos pobres, as exortações, as admoestações mútuas, as antífo-nas, os anúncios, o ósculo da paz. Todos esses elementos eram testemunhos da comunidade cris-tã.

A oferta, dentro da perspectiva do culto cristão, é um sinal efetivo da oferenda dos fi-éis ao serviço de Deus, razão pela qual não po-de ser monopolizada. A oferta não é apenas um elemento material mas, também, um sinal de fra-ternidade e unidade cristã.

A oferta objetiva auxiliar a Igreja a vi-ver nesta fraternidade, nessa dimensão humana de atender à missão e promover a ação social em favor daqueles que têm pouco ou nenhum recurso.

O ósculo (beijo) da paz, prática apostóli-ca que caiu em desuso, pode ser restaurado a-través de um aperto de mão ou um abraço, e de-sejo de paz de Deus entre os membros da comuni-dade.

O orgulho, as diferenças sociais e raci-ais, desapareceriam diante do encontro de Cris-to, razão pela qual este elemento de testemunho da comunidade seria muito importante.

Assim como Deus esteve presente em Cristo, mostrando-se, também, através dos seus gestos, é desejável que incorporemos nossos gestos, nosso andar, nosso assentar, etc., na celebra-ção que fazemos. Celebrar a vida é ir concreta-mente ao outro.

Os testemunhos de experiências pessoais que possam apresentar algo de positivo para a comunidade, também podem ser utilizados. O ofi-ciante, conhecedor desses testemunhos saberia utilizá-los adequadamente, sem entretanto, fa-

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zer uso disso com muita freqüência, para não cair numa rotina prejudicial. Para evitar isso, poderia se restaurar esse testemunho de uma ma-neira mais criativa.

Um elemento comunitário importante são os anúncios e avisos que devem fazer parte da or-dem do culto, colocando, de preferência, logo após a pregação ou antes da oração de interces-são, dando a esta algo de concreto.

Isso significa que nascimento, morte, ale-gria, e tristeza, enfim, a experiência de cada um ou as realizações comunitárias, como culto, encontros, devem ser trazidas à vida, porque são elementos reais da existência e portanto devem servir de elemento de oração e de teste-munho do povo.

Mas é preciso cuidado. Deve-se evitar a-núncios que podem aparecer no jornal, no bole-tim ou anunciados, com melhor propriedade, nas reuniões das diferentes sociedades. No culto devem aparecer os anúncios que são essenciais ao desenvolvimento da comunidade, ao testemunho e às orações que devem ser dirigidas em torno desses anúncios.

A Estrutura do Culto e Renovação Litúrgica

A estrutura da ordem do culto pode ser um elemento de renovação litúrgica da Igreja: vi-mos que a passagem de Isaías, cap. 6, pode e tem servido de base para a estrutura cultual.

Assim, teríamos a visão como primeira par-te dessa estrutura; depois a confissão e o per-dão que Isaías recebeu e o louvor em resposta ao perdão. Em seguida a instrução quando ele recebe a missão de ir ao povo como profeta e, finalmente, a dedicação dele e a benção.

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Apareceriam assim, na primeira parte -- a visão -- a possibilidade do convite, a adoraçãoa leitura do salmo, a oração evocativa, a epi-clessis, o hino de adoração, a oração de reco-nhecimento da presença divina ou de adoração.

Na segunda parte teria lugar a confissão, que falta em muitos cultos. Na confissão, nós nos medimos a partir da Palavra de Deus. Aquele que organiza o culto poderá sempre propor um trecho da Palavra que oriente a confissão da congregação. Esta poderia ser uma oração públi-ca ou silenciosa, um hino de confissão, uma leitura responsiva de salmos de confissão ou de textos que falam da fraqueza humana.

Segue-se o perdão que poderia ser em forma de leitura, hino, ou declaração de perdão.

Depois tem lugar o louvor, quando a con-gregação exulta em gratidão e louvor pelo per-dão recebido. Nesta parte haveria a leitura de um salmo, um cântico ou oração de ação de gra-ças, hinos de aleluia.

O momento da instrução é um dos mais crí-ticos do culto. O pregador pode ser tentado a propor apenas suas idéias. A congregação pode ser tentada a ouvir simplesmente um belo dis-curso. Como cremos que o Espírito é o que vivi-fica o culto, atualizando-nos a salvação, ele deve ser invocado para que o testemunho humano seja vivificado, isto é, se transforme em pala-vra de salvação. Esta oração, chamada epicle-sis, pode ser feita na forma de um hino ou co-ro, ou uma simples oração. Não se deve esquecer da leitura bíblica na qual se baseará o sermão ou mensagem.

Finalmente, existe a dedicação, onde apa-recem os hinos de consagração, a parte inter-cessória, os avisos, a oração de consagração e

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também a comunhão, quando o povo se dedica a Cristo e se compromete com sua missão. Finali-zando, vem a bênção apostólica.

Além dessas possibilidades, há outras mo-dernas e mais enriquecedoras, baseadas no Evan-gelho, cuja estrutura lembra a do culto. Na primeira parte teríamos a encarnação de Cristo, onde sua presença e comunhão com os homens se-ria o ponto de celebração de gratidão. esta presença deve ser invocada através de uma ora-ção ao Espírito (Epiclesis).

Em seguida vem o batismo de Cristo onde aparecem a confissão e a busca de fé e da re-consagração; depois têm lugar a expiação e res-surreição, representadas na Santa Ceia.

Finalizando, tem lugar o discipulado de Cristo, o envio ao mundo, quando Jesus diz aos discípulos que eles têm todo o poder e devem ir para pregar e batizar.

Outra possibilidade e estrutura do culto é baseada nos três passos ou pilares fundamentais da história da redenção -- criação, queda e re-conciliação.

Na parte da criação apare a manifestação da grandeza do Ccriador, da diferença que exis-te entre criador e criatura, e a alegria na presença do Criador e de sua direção no mundo.

À segunda parte, a queda, corresponde o afastamento do homem de seu Criador, quando sente toda a tragédia de seu pecado e vê as possibilidades e a necessidade da busca de Deus.

O terceiro passo -- a reconciliação -- quan-do o homem vê na promessa do Antigo Testamento, a vinda de Cristo, a resposta para o pecado. Nesta parte entrariam as leituras do Antigo

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Testamento, as Epístolas, a pregação, a euca-ristia e a Missão.

Podemos dividir o culto, de uma forma a-breviada, em quatro passos:

1º -- a celebração da glória e do poder de Deus;

2º -- a liberação, a confissão e o perdão;

3º -- a instrução, onde apareceriam o mes-tre e o Espírito Santo;

4º -- a comunhão, onde sobressaía o Salva-dor.

O mais importante em toda essa estrutura é a participação do povo nas partes mais acessí-veis, razão pela qual devem usar-se orações, hinos e expressões inteligíveis para a comuni-dade.

Para isso há necessidade de se conhecer os elementos cultuais da comunidade a elaborar hi-nos e orações de acordo com essa realidade cul-tual para que o povo tenha uma participação e-fetiva e total.

Isto não quer dizer que os elementos uni-versais do culto cristão devem ser colocados de lado; naturalmente, deve-se criar instrumentos para a participação da congregação, mas sempre coordenados com os aspectos históricos e teoló-gicos do culto cristão.

Quem elabora a ordem do culto e decide o que o mesmo vai ser são os ministros, que devem se preparar com muito cuidado.

O oficiante, deve, também, deixar ao povo, a possibilidade de desenvolver a sua criativi-dade.

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Celebração dos Sacramentos

É necessário agora darmos uma orientação geral sobre a maneira de se celebrar os sacra-mentos da igreja, que são o batismo e a euca-ristia.

Batismo

O batismo está ligado à fé, e é a marca, o selo do cristão, a sua ordenação para missão.

É um sacramento que se relaciona com a fé dos pais e testemunhas do batizando, os quais assumem o compromisso de educar a criança no Evangelho, até que ela mesma possa fazer a sua profissão de fé.

O batismo é um ordenação de todos os dis-cípulos para a Missão. Por isso, na estrutura do culto, ele deve vir sempre na primeira par-te, isto é, na parte chamada de culto dos ini-ciados ou catecúmenos.

Por marcar o início da vida cristã, este sacramento se coloca onde está no Evangelho o batismo de Jesus, no chamado dos discípulos, após a parte da visão da celebração ou depois da confissão, antes da pregação e da Santa Cei-a.

No batismo deve aparecer, claramente, a confissão de fé por parte de toda a Igreja, a-través do credo apostólico, ou de orações nas quais os participantes, diante de Deus e dos presentes, assumam um compromisso de testemu-nhar e ajudar os batizandos a crescerem na gra-ça e no conhecimento de Cristo.

Outro elemento que deve aparecer no batis-mo é a epiclesis, a oração que invoca a presen-ça de Jesus e pede que ele seja o dirigente, o

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que vai dar sentido ao batismo, através da água e do Espírito.

Finalmente, aparece a recepção do corpo de Cristo em que o compromisso da comunidade re-flete o batismo. Por isso este sacramento não é de cunho individual, e só deve ser ministrado particularmente em casos extremos, na iminência de morte. Mesmo assim, sempre que possível, de-ve ser feito na presença de dois ou três mem-bros da comunidade.

Santa Ceia

O enfoque desse sacramento é a morte e ressurreição de Cristo e, consequentemente, a morte e ressurreição do participante. Isto sig-nifica que aquele que vai participar da morte de Cristo morre para o pecado e ressuscita numa nova vida em Cristo.

O centro da eucaristia é a celebração da vida, portanto, a alegria deve estar presente, porque o Senhor venceu o pecado e a morte, e está vivo, presidindo este sacramento, ofere-cendo, como o anfitrião da ceia, o alimento que assinala o fato de pertencermos à Nova Aliança, ao novo mundo, ao reino. Por isto, a Ceia é uma celebração de toda a comunidade beneficiada pe-lo novo pacto.

A Santa Ceia tem uma dimensão que aponta para o passado, quando Jesus diz: ‘‘Fazei isto em memória de mim’’. A vida de Cristo é relem-brada na dimensão presente quando o cristão participar do amor, da graça e da comunhão com seus irmãos.

Não existe Santa Ceia sem comunhão ou fra-ternidade, que nasce do aceitar o outro, do perdão, da recepção do outro. Por isso é um mo-

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mento propício para o cristão perdoar os seus semelhantes.

A Santa Ceia tem, também, uma dimensão do futuro, pois, ao constituí-la, Jesus disse: ‘‘porque vos digo que já não beberei do fruto da vida até que venha o Reino de Deus’’. Aí, o futuro invade o presente e o presente é içado para o futuro do Reino, porque fomos admitidos à Nova Aliança do Reino. Na Ceia celebramos nossa condição de herdeiros de um mundo novo, mundo futuro que já principia no nosso presente concreto.

Deve-se iniciar a Santa Ceia com a epicle-sis para se evitar a possibilidade de se enca-rar aquela celebração como algo mágico, ou se-ja, que a simples e correta repetição das pala-vras de Jesus que instituíram a Ceia, confira a garantia de que estaremos celebrando a vida.

Pela epliclesis invocaremos o Espírito pa-ra que, por sua graça, aquele ato comum de vida se transforme numa participação real à vida de Deus. Portanto, a eucaristia é um convite de Cristo à comunhão, à nova vida, à participação ao Reino de Deus. O Espírito invocado atualiza-rá, através dela, a morte e a ressurreição de Cristo em nosso favor. É por causa desta morte e desta ressurreição que Deus estabeleceu a No-va Aliança com os homens.

Neste evento, os hinos e as orações devem refletir a alegria da ressurreição de Cristo. Participando da morte através do pão e do Reino através do cálice, somos enviados para o mundo testemunhar nossa fé.

O Ano Litúrgico

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Desde a sua fundação, a igreja atribui a certos domingos e às semanas por eles inicia-das, um colorido especial e intenção memorial específica. Estes domingos formam o ano litúr-gico ou eclesiástico.

O ano litúrgico é um plano de adoração que se baseia nos grandes temas da história da sal-vação, especialmente no Evangelho, na vida de Cristo. De acordo com o plano, os textos mais expressivos da Bíblia se sucedem a cada domin-go.

Estes textos bíblicos formam o lecionário, que é um plano organizado de leituras bíblicas, incluindo lições do Antigo Testamento, das E-pístolas e do Evangelho.

Os textos bíblicos são arranjados de ma-neira que permitam enfatizar certos eventos da história da salvação.

O ano litúrgico não é obrigatório na Igre-ja Metodista como não o é em muitas outras. É assim porque nós adoramos a Deus e não uma es-trutura.

A comemoração do ano litúrgico é importan-te porque permite reviver os principais eventos da história da salvação, desde a criação até o Apocalipse. Também evita a repetição desneces-sária, por parte dos dirigentes do culto e da congregação, de trechos prediletos que focali-zam apenas alguns aspectos da revelação.

Há diversas maneiras de se estruturar o ano cristão. Falaremos da estruturação cronoló-gica que permite conhecer a história da salva-ção desde a criação até a consumação do Reino de Deus.

A primeira estação do ano litúrgico é a Criação. Esta época se comemora no período que

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vai do 13º domingo antes do Natal até ao 4º do-mingo antes do Natal e se estrutura no Antigo Testamento. Na criação se procura ver a ação de Deus no mundo, na criação do homem, na sua pro-vidência.

Nesta estação dá-se ênfase aos textos bí-blicos sobre o chamado de Abrahão, sua promes-sa, a formação do povo de Israel, a escravidão e a libertação, a Aliança, o povo peregrino e de modo especial os profetas.

A segunda estação é o Advento -- quatro do-mingos antes do Natal. Nessa época enfatizar-se-ia a profecia que prepara a vinda de Jesus Cristo.

Outra quadra é o Natal quando se celebra a encarnação de Jesus Cristo, o nascimento do Fi-lho de Deus, que veio participar da natureza humana. É bom lembrar que a festa de Natal não substitui o culto de Natal, o qual é importante porque focaliza a encarnação de Cristo.

Segue-se a Epifania. Nesta estação é cele-brada a revelação universal de Jesus Cristo, a manifestação do Salvador de todos os homens. Nesta época é comemorada a manifestação de Je-sus aos homens sábios (magos) do oriente, no dia 6 de janeiro, quando se inicia este perío-do.

Além disto, nessa ocasião celebra-se tam-bém a apresentação de Jesus ao mundo, desde sua infância até o início de sua missão, passando pela sua circuncisão, a apresentação no templo, a visita ao templo, o batismo de Jesus, o mila-gre de Caná, a cura dos cegos, a tempestade a-calmada. O número de domingos dessa fase varia de acordo com a Páscoa, pode ser de quatro a nove domingos.

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A quinta estação é a Quaresma que começa na quarta-feira de cinzas e termina domingo de Ramos. São seis domingos nos quais se recordam a decisão de Jesus em oferecer sua vida e a ne-cessidade do discípulo tomar a cruz e seguir Cristo no caminho do sacrifício.

Recorda-se nessa época, a parábola da se-mente que morre para frutificar. Contudo, não é uma estação onde se faz penitência por amor à penitência, mas antes, a Quaresma, na sua obra de disciplina está para a paz e para o Pente-costes, assim como a convicção do pecado está para a redenção.

A sexta quadra do ano litúrgico é a Páscoa e Ascensão. Tem início na Semana-Santa, na quarta-feira, quando se comemora o lava-pés. Na quinta-feira se comemora a última ceia; na sex-ta-feira, a morte e, no domingo, a Ressurrei-ção.

A Páscoa deve ser a celebração mais cuida-dosa e significante do calendário cristão. É o ponto alto do ano litúrgico, porquanto, é o e-vento central do cristianismo -- a morte e res-surreição de Jesus. Ela dura do domingo da res-surreição até o 6º domingo seguinte. No 6º do-mingo após a Páscoa a Igreja se prepara para Pentecoste, lendo e meditanto os capítulos 14-16 do Evangelho de João e Atos 1.

A última quadra é o Pentecoste, a segunda festa cristã em significado.

Poderia se incluir nesta fase a igreja no Reino de Deus. Esta comemoração é importante porque se celebra a atualização da presença de Cristo no mundo através do espírito e a inaugu-ração da igreja.

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A celebração do Pentecoste começa no séti-mo domingo após a Páscoa e se prolonga até três domingos antes do início do tempo da criação, ou 16 domingos antes do Natal. São relembradas a Igreja, a palavra, os sacramentos, a atuação do Espírito através da Igreja.

O calendário litúrgico termina com os três domingos nos quais se celebram a escatologia, isto é, os últimos dias. Neste três domingos focaliza-se, respectivamente, a remissão dos pecados, a ressurreição geral e a vida eterna.

Sugerimos que cada igreja programe seu ano litúrgico a parir de setembro, quando se come-mora a criação.

Os símbolos no Culto Cristão

Para finalizar mencionaremos a importância dos símbolos no culto, os quais apontam para a realidade que está atrás deles mesmos. Através dos símbolos conhecemos o sentido e o signifi-cado das coisas materiais que utilizamos em nosso culto.

Começamos dizendo que o lugar onde adora-mos a Deus, o próprio templo, tem um sentido e uma significação simbólicos. A arquitetura da igreja deve significar algo de muito importante para a comunidade que ali adora.

Podemos falar da autenticidade do material que é utilizado; a colocação dos móveis, o sim-bolismo da luz e das cores. Todos esses elemen-tos simbólicos têm um significado especial den-tro do culto cristão.

Consideramos, porém, só o simbolismo das cores. As cores sempre foram um importante meio de comunicação. A Igreja sempre as usou para

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dar o tom à sua celebração. Assim, termos o verde para a fase da Criação e o Pentecoste; o roxo para o Advento e Quaresma; branco e amare-lo-ouro para o Natal, Epifania e Páscoa. No dia de Pentecoste deve-se usar o vermelho, e na Sexta-feira Santa usa-se a cor preta.

No culto, Deus e o homem utilizam diversos elementos da linguagem litúrgica para comunicar a linguagem do culto. A voz, por exemplo, é um elemento utilizado na leitura, no sermão e nos cânticos. O sermão pode ser proferido em forma de diálogo, de história ou mesmo de forma poé-tica, mas sempre através da voz.

Da mesma maneira, a simbologia das cores, a arquitetura do templo e os arranjos dos mó-veis, tudo visa a uma linguagem litúrgica.

Há, também, elementos visuais, como os bo-letins, fotos, projeção de diapositivos e fil-mes, colagens, representações teatrais simbóli-cas, enfim, vários elementos que podem ser usa-dos com criatividade para a renovação da vida da igreja.

Tudo isso, porém, só tem sentido na medida em que comunica a vontade de Deus e renova a vida da igreja. Estes elementos não são um fim de si mesmos, mas um veículo que pode ser uti-lizado pelo Espírito em favor de uma verdadeira renovação eclesiástica através do Culto.

Resumo

Para evitar a repetição de alguns trechos da Bíblia, aconselha-se instituir o calendário litúrgico que rememora a história da salvação em ordem cronológica, começando com a Criação e terminando na Ressurreição de Cristo. Isso da-

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ria uma unidade temática ao culto e uma visão global da Bíblia.

Para melhor compreender-se o culto, deve-se conhecer os símbolos usados na celebração do mesmo. Tudo é importante: a arquitetura do tem-plo, os móveis, as cores usadas, a voz, a luz, os elementos visuais. Esses símbolos são impor-tantes na medida em que permitem uma melhor co-municação entre Deus e o homem.

B. A Liturgia Como Elemento de Renovação da I-greja

O culto, por atualizar a história da sal-vação em favor do homem, por ser o resultado da presença vivificadora do Espírito que nos faz participantes da morte e ressurreição de Cris-to, pode se transformar na base de renovação da igreja.

Esta renovação pode se dar em várias dire-ções. Em primeiro lugar, o culto faz reavivar a comunhão da igreja com Cristo, e isso dá a ela a consciência de ser o próprio corpo do Senhor. Por isso o culto é de suma importância para i-greja. Onde ela estiver, onde ela se manifes-tar, o culto deve estar presente para permitir a sua constante reanimação como corpo de Cris-to.

Em segundo lugar, o culto é um veículo de renovação porque, no nível individual, ele cria condições para a renovação da fé pessoal. No culto, o cristão descobre sua própria história no resumo da história dos atos de Deus no mun-do.

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O culto, sendo a comunhão entre Cristo e os homens é uma atualização do batismo do cris-tão, isto é, através do culto revive-se a morte do homem com Cristo, para a velha vida e o ve-lho mundo que estão marcados pela falência, pe-la importância e pela não-vida. Atualizando-se a morte com Cristo, atualiza-se o renascimento para o mundo novo, inaugurado através da res-surreição do Cristo.

No culto, celebra-se a vida inaugurada na ressurreição e selada no batismo, redescobrindo no cristão, a condição de herdeiros do mundo novo, através da Nova Aliança de Deus.

Esta Aliança faz reviver a condição de pe-regrinos, de povo em marcha, na história dos homens em direção ao Reino. Através da Aliança revive-se a esperança que acompanha o homem no seu dia-a-dia trivial e rotineiro.

Um terceiro elemento ligado à renovação do culto é precisamente o seu vínculo com a cria-ção de Deus e encarnação de Cristo. Por isso, deve-se destacar permanentemente a necessidade de se levar a sério o elemento material, corpó-reo, no culto. Assim, a criação deve ser cele-brada no culto (através das cores, do ritmo, da música, das flores, etc); o corpo do homem deve ser valorizado (através de movimento, gestos, etc); sobretudo o apelo para a presença do ho-mem no mundo de Deus através do serviço ao ho-mem necessitado, reverência ao mundo (preocupa-ção como mordomia, ecologia, etc).

Um quarto aspecto de renovação que o culto relembra que os cristãos possuem um ministério e que não há distinção de funções entre pasto-res e leigos para o cumprimento da missão.

Reavivando o batismo, o culto possibilita a renovação dessa consciência missionária cris-

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tã. Todos são batizados para o Reino que Deus está construindo juntamente com os homens.

Por isso, o culto deve permitir o confron-to entre a comunidade que o Cristão constrói com as próprias mãos e o ideal futuro do Reino de Deus. O culto permite, por uma razão, a crí-tica da vida individual e comunitária.

Questiona-se se a vida íntima e familiar de cada um deve ser decidida pelo indivíduo ou se o ideal de vida do Reino e da verdadeira vi-da que ele trará deve julgá-la.

Revivendo o batismo e a ordenação para a missão, o culto permite ao cristão uma crítica do presente sem saída e uma reorientação de seu engajamento, sua luta, na direção da única op-ção definitiva: o futuro perfeito prometido no culto, em Jesus Cristo.

Por esta razão, cada culto de hoje possui, como no Antigo Testamento, um colorido proféti-co que lembra que a história vivida pelo homem não é o Reino e que os cristãos são responsá-veis pelo aparecimento deste Reino na realidade de hoje, nos níveis político, econômico e soci-al.

O culto, por ser o encontro com o Cristo vivo, é o termômetro que avalia a totalidade da vida cristã. A confissão de fé, as orações, a pregação, a eucaristia são feitas na presença do Senhor, que chama o homem para a vida e para o futuro.

Através do culto, redescobre-se a missão, e o cristão é reorientado para ela, e é alerta-do para o fato de que a bênção de Deus sempre se destina a todas as gentes. Por tudo isso, o culto não pode ser somente um encontro social, um programa do pastor ou de algum grupo de i-

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greja. Ele é um verdadeiro encontro entre os homens, por ser um encontro com a verdade.

Ele será um programa na medida em que atu-aliza o verdadeiro programa, a história dos a-tos de Deus, que arranca os homens de suas vi-das vazias para a verdadeira esperança. Ele po-de ser um encontro, porque é a celebração ale-gre da própria vida.

ANEXO I - PASSOS NA ELABORAÇÃO DE UMA ORDEM DE CULTO

• CELEBRAÇÃO • DA GLÓRIA E O PODER DE DEUS • LIBERAÇÃO • CONFISSÃO, PERDÃO E COMPROMISSO • AFIRMAÇÃO • DA COMUNIDADE CRISTÃ • INSTRUÇÃO • O MESTRE É O ESPÍRITO SANTO

Extraído de um folheto escrito pelo Prof. Pablo Sosa

ANEXO II

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ANO LITÚRGICO

**** FIGURA *****

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ANEXO III

SÍMBOLOS DO ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS

1. Pomba com ramo de oliveira -- às vezes usado como símbolo do dilúvio. Significa paz, per-dão, e a promessa da vida nova.

2. Altar do sacrifício -- o altar com o cordeiro morto indica o caráter sacrificial da adora-ção do A. T.; ao cristão sugere o caráter sacrificial da vida e ministério de Jesus.

3. Rolo e feixe de trigo -- símbolos da festas de Pentecostes, festa esta que ocorria ao final da colheita de trigo e, mais tarde in-cluía a comemoração da entrega da Lei no Si-nai.

4. Verga e umbrais -- a verga e umbrais, respin-gados de sangue, são o símbolo de proteção de Deus no Egito quando passava o anjo des-truídos -- fator central da festa da Páscoa.

5. Tábuas da Lei -- representadas por uma tábua de pedra dupla; forma adotada pela maioria das igrejas protestantes.

6. Castiçal de sete braços -- é um símbolo de adoração do AT; conhecido como Menorah, é usado hoje nas sinagogas judaicas.

7. Altar dos holocaustos -- altar sobre o qual as ofertas das primícias e cereais eram queimadas. Também símbolo da adoração do A.T.

8. QUI - RHO -- monograma das primeiras letras QUI e RHO, da palavra grega ‘‘Cristo’’.

9. Alfa-Ômega -- a primeira e a última letras do alfabeto grego, significando que Jesus Cris-to é o começo e o fim de tudo (Apocalipse 1.8).

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10. Jesus Cristo Vencedor -- Consta da cruz grega com abreviações das palavras gregas Jesus (IC) e Cristo (XC) e ainda a palavra Nika (vencedor)

11. QUI-RHO com Alfa e Ômega num círculo -- o símbolo do Cristo está dentro do símbolo da eternidade (círculo), assim significando a existência eterna do nosso Senhor.

12. Monograma de Jesus -- formado pelas primeiras duas e última letras d apalavra Jesus, no grego com sinal de abreviação.

13. Cruz na forma de âncora -- usada pelos cris-tãos nas catacumbas; de origem egípcia.

14. A Cruz do triunfo -- símbolo do triunfo do Evangelho por toda a terra.

15. Três círculos -- representam as três pessoas eternas da Santíssima Trindade.

16. Cruz e túmulo vazio -- simboliza a morte sa-crificial de Cristo e sua vitória sobre a morte na ressurreição.

ANEXO IV

ARRANJOS DOS MÓVEIS NA IGREJA

Abreviações: M = Mesa de Comunhão; P = Púlpito; L = Lectório; B = Batistério; Ó = ór-gão.

1. CULTO FORMAL -- Todos os móveis são portá-teis, talvez, com exceção do órgão. A ênfase é sobre a mesa, o púlpito e o batistério.

2. BATISMO -- O pastor e a pessoa a ser batizada ficam de pé no mesmo nível do santuário (chamado coro) a fim de que a cerimônia seja

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vista pela congregação. Os pais e testemu-nhas permanecem de pé diante do batistério, mas no nível da nave (onde está a congrega-ção).

3. COMUNHÃO -- A Santa Ceia é servida pelo pas-tor para a congregação enquanto as pessoas permanecem de pé ao redor da mesa.

4. COMUNHÃO -- A Santa Ceia é servida pelo pas-tor num genuflexório portátil.

5. COMUNHÃO -- A mesa da Santa Ceia é removida para a nave com os comungantes ao redor. O púlpito é colocado no centro. A ceia põe ser servida de pé ou usando genuflexório portá-til ou ainda com almofadas.

6. CASAMENTO -- A largura do corredor central e da frente é aumentada a fim de permitir es-paço para os noivos, testemunhas e o pastor. Um genuflexório é usado.

7. FUNERAL -- A largura do corredor central é aumentada para permitir a movimentação com o caixão fúnebre que será colocado na frente como indicado no desenho.

8. RECEPÇÃO DE NOVOS MEMBROS -- Os que vão ser recebidos à comunhão da Igreja permanecem junto ao genuflexório. O mesmo arranjo pode servir para o culto de confirmação.

9. REUNIÃO DE EVANGELIZAÇÃO -- A congregação se reúne em frente ao púlpito que fica ao cen-tro. O coro se reúne atrás do púlpito. A mesa da comunhão e genuflexório ficam diante do púlpito.

10. APRESENTAÇÃO CORAL -- O coro é reunido na plataforma olhando para o regente e a con-gregação. Programas especiais do coro, can-

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tatas, oratórios, etc, podem se servir des-te arranjo.

11. CONCERTO -- Espaço amplo fica disponível nes-te arranjo para instrumentos de maior porte como o piano.

12. DRAMA -- A plataforma (ou coro) serve como palco para drama, festas de natal, represen-tações de Escola Dominical. Neste caso o ór-gão fica escondido.

13. DRAMA -- A área teatral fica no centro da na-ve. Assemelha-se ao teatro de arena.

14. GRUPO CORAL -- Para comunidade ou grupo de cantores. neste caso a congregação se reúne ao redor do piano e do regente.

15. AUDIO-VISUAL -- A tela é localizada na plata-forma para que a maioria das pessoas fique dentro de um ângulo visual de 60º. Além des-te ângulo, a imagem se torna distorcida.

16. ENCONTROS -- Nesta ilustração duas mesas são colocadas no centro da Plataforma com os lí-deres sentados atrás das mesas. Este arranjo é usado para debates, palestras ou encontros comunitários.

Extraído de God’s Party.David James Ran-dolph.

New York, Abingdon Press, 1975. p. 129-31.

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