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UENF nossa Revista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Ano 1 - Nº 4 - Edição especial de 15 anos

Nossa-uenf-ano1,n4,Edição Especial

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Nossa UENF, Ano1, numero 4, Edição Especial 15 anos

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UENFno

ssaRevista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Ano 1 - Nº 4 - Edição especial de 15 anos

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Um toque de realidade

Jornalistas ResponsáveisFúlvia D’Alessandri e Gustavo Smiderle

Projeto GráficoFelipe Moussallem

Estagiários:

Apoio:

Felipe Oliveira, Nathalia Guimarães, Nériton Toledo, Thaís Bereta

Elizabeth Cordeiro Silva e Nilza Franco Portela

Tiragem: 10 mil exemplares - Distribuição: gratuita e dirigidaImpresso por: Sumaúma Editora Gráfica

Exped

iente Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

Enfim, a Uenf completou 15 anos. E nada mais natural, numa ocasião como esta, do que uma edição especial na qual todas as matérias dialogam com esta história. Nossa proposta, quando começamos a pensar nesta revista, era resgatar os principais ingredientes desta trajetória — como a luta popular pró-Universi-dade, o papel de Darcy Ribeiro e as memórias dos pio-neiros da instituição. Mas não só isso. Queríamos ir além da história oficial — interessante, porém já bem conhecida — e penetrar no universo daqueles que constituem o lado vivo e dinâmico da instituição.

Num lugar onde se concentram indivíduos de per-fis os mais diversos, histórias de vida não faltam. E uma delas chegou até nós de forma espontânea, através de um ex-aluno que queria manifestar sua “gratidão” pela formação que teve na Uenf e que lhe permitiu passar em primeiro lugar geral em um concurso público com milhares de candidatos. Para nossa surpresa, ao che-car os resultados do concurso, descobrimos que havia outros ex-alunos da Uenf igualmente classificados em primeiro lugar em suas respectivas áreas. Fato que nos fez refletir sobre o quanto um bom curso pode fazer a diferença na hora de encarar o mercado de trabalho.

Este episódio poderia parecer apenas um caso par-ticular. Mas o que dizer quando o próprio Ministério da Educação (MEC) relaciona a Uenf, em seu conjunto, entre as 15 melhores universidades brasileiras? Com base em seu mais novo e completo indicador (IGC), que leva em conta a qualidade dos cursos de gradua-ção, mestrado e doutorado, o MEC situou a Uenf em 12.º lugar no ranking das 174 universidades de todo o País.

Esta edição traz ainda uma série de histórias de vida que podem servir de exemplo para muitas pessoas. Uma delas é a de um produtor rural que ingressou na primeira turma da Uenf 15 anos depois de ter cursado o ensino médio e não parou mais de estudar. Formou-se em Medicina Veterinária, passou pelo mestrado em Produção Animal e, recentemente, titulou-se doutor, na mesma área. Atualmente, João Gomes de Siqueira é um dos muitos técnicos altamente qualificados com que a instituição conta em seu quadro.

Enfim, esta é uma edição especial, com o dobro do tamanho habitual, onde a leitura vai oscilar entre o passado e o presente, apontando alguma coisa para o futuro. Se tivermos tido algum êxito, você, leitor, vai perceber a relação entre o projeto e sua concretização. Boa leitura!

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Nesta EdiçãoExemplo de Vida

Alçando vôo

O início de tudo

Pré-vestibular solidário

Festa, samba e integração

Cem anos de infecção

Autonomia, uma luta histórica

A extensão mostra a sua cara

O topo é logo ali

Uma Universidade que deu certo

Uenf tem o segundo melhor curso de zootecnia do Brasil

Entrevista / Paulo Ribeiro

Um olhar sobre a região

Governador do EstadoSérgio Cabral

Secretário de Ciência e Tecnologia

Alexandre Cardoso

ReitorAlmy Junior Cordeiro de Carvalho

Vice-reitorAntonio Abel Gonzalez Carrasquilla

Diretor do CBBArnoldo Rocha Façanha

Diretor do CCT Alexandre de Moura Stumbo

Diretora do CCH Teresa de Jesus Peixoto Faria

Diretor do CCTA Hernán Maldonado Vásquez

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Gerações de campistas sonha-ram com a “universidade que viria para Campos um dia”. Pelo menos um deles não se deixou intimidar pela espera: o produtor rural João Gomes de Siqueira, cuja trajetó-ria se confunde com a da própria Uenf. Após 15 anos sem estudar, ele prestou o primeiro vestibular para a Universidade em 1993, aos 33 anos de idade, vindo a integrar a primeira turma da Uenf. E não parou por aí. Tornou-se mestre em Produção Animal pela Uenf em 2001 e doutor, na mesma área, em 2006.

— Minha mãe sempre sonhou em ter um filho doutor, porque na sua época o médico era consi-derado um Deus. Seu sonho foi realizado, só que eu não me tornei um doutor de gente, mas de bois e vacas — diz João, que também faz parte do quadro de servidores da Uenf. Desde 2002, ele é técnico de nível superior do Laboratório de Reprodução e Melhoramento Ge-nético Animal (LRMGA) do Centro de Ciências e Tecnologias Agrope-cuárias (CCTA).

Casado e pai de três filhos, João estudou até a quarta série do ensi-no fundamental em uma escola pú-blica que existia nas proximidades na fazenda de seus pais, em Cam-po Novo, atualmente município de São Francisco de Itabapoana, onde morava. Depois, foi aluno da Escola Técnica Federal de Campos (ETFC), posteriormente chamado Cefet e atualmente Ifet. A entrada na faculdade teve que ser adiada

porque não havia na região ne-nhum curso que lhe agradasse.

— A Uenf veio preencher uma lacuna na região, que era a falta de cursos na área de ciências agrárias. A partir dela, outros cursos vieram e Campos virou uma cidade uni-versitária. Isso foi muito impor-tante, porque hoje os jovens não precisam mais sair da cidade para poder estudar — afirma João, que se orgulha de ter conseguido reto-mar os estudos após 15 anos longe das salas de aula, chegando até o doutorado, e espera que sua expe-riência sirva de exemplo para os mais jovens.

Conciliando o trabalho na Uenf com as atividades de produtor ru-ral em São Francisco, João participa de dois projetos de pesquisa, com apoio da Firjan e da Fenorte. Os projetos, que contam com a par-ticipação de outros pesquisadores da Uenf, abrangem estudos sobre a qualidade dos animais abatidos em frigoríficos locais.

— A Uenf também trouxe para a região o universo da pesquisa científica, que ela desenvolve em nível de excelência. Acho que o que ainda falta é desenvolver mais a extensão, pois a Uenf veio tam-bém com a finalidade de fomentar as atividades produtoras da região. A pesquisa básica é importante, mas é imprescindível, para o setor produtivo regional, o desenvolvi-mento da pesquisa aplicada — diz João, que foi um dos alunos a assis-tir à Aula Magna da Uenf, em 16 de agosto de 1993.

Exemplo de vida

João Gomes de Siqueira

Foto: Nériton Toledo

Ele ficou 15 anos sem estudar. Graças à Uenf, tornou-se médico veterinário, doutor em Produção Animal e hoje atua como pesquisador

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Alçando vôo Primeiro lugar em concurso público se torna uma marca de profissionais formados pela Uenf em diferentes áreas

A posse de um diploma supe-rior nem sempre é garantia de fácil inserção no mercado de trabalho. Mas alunos que passaram pela Uenf estão mostrando como, nessa hora, a qualidade do curso pode fazer toda a diferença. Em apenas um concurso realizado este ano, para o Inea (Instituto Estadual do Ambien-te), alunos formados pela Uenf con-seguiram o primeiro lugar em três áreas: Fabrício Alvim Carvalho (Bio-logia), Eduardo Buchaul de Azeve-do (Agronomia) e José Fernando Lisboa (Engenharia do Petróleo).

No mesmo concurso, outros dois

profissionais formados na Uenf fica-ram em primeiro lugar na disputa específica para o município de Ma-caé: Nelia Paula Freesz, para a vaga de Biologia, e Pablo Francisco de Oliveira, para Engenharia do Petró-leo. O concurso para o Inea — que resulta da fusão de três órgãos esta-duais: a Feema (Fundação Estadual de Engenharia e Meio Ambiente), a Serla (Superintendência Estadual de Rios e Lagoas) e IEF (Instituto Estadual de Florestas) — foi realiza-do no início do ano, somando cerca de 15 mil candidatos.

— Meu ensino de base foi na

Uenf. Eu praticamente não estu-dei para o concurso. Coincidiu de caírem os tópicos que foram bem abordados na graduação — con-ta Fabrício Alvim Carvalho, que se formou em Ciências Biológicas pela Uenf em 2001 e titulou-se mestre em Biociências e Biotecnologia (área de Ciências Ambientais) em 2005, também pela Uenf.

Concluindo atualmente o dou-torado em Ecologia Florestal pela Universidade de Brasília (UnB), ele conta que nunca foi propriamente um aluno “brilhante”, embora fos-se “disciplinado”. Na época em que

entrou na Uenf, não pretendia fazer carreira na área biológica, e sim tentar uma transferência para um curso de Farmácia em outra univer-sidade.

— Mas acabei gostando do curso e não saí mais — diz Fabrício, que teve a chance de atuar com várias bolsas, incluindo uma de Iniciação Científica do CNPq. No concurso do Inea, ele somou 97,5 pontos nos 100 possíveis da prova objetiva, além de mais três pontos na prova de títulos, graças ao mestrado na Uenf. A expectativa é começar a tra-balhar no ano que vem.

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Fabrício Alvim

Foto:

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Primeiro lugar no concurso para Engenheiro Agrônomo do Ce-fet Campos, Rogério da Silva Burla teve que colar grau antecipadamen-te para poder assumir a vaga no dia 1º de agosto. Campista, ex-aluno do Liceu de Humanidades de Cam-pos e do próprio Cefet — onde fez o curso técnico de Informática no ensino médio —, Rogério competiu com cerca de 50 candidatos, alguns deles titulados em nível de pós-gra-duação.

— Mesmo sendo tão jovem, a Uenf é muito bem falada nos con-gressos e seminários. E o curso realmente é muito bom — conta o agrônomo, que não tinha convicção quanto à carreira quando ingressou na Universidade, em 2004, mas es-colheu a área porque gostava de Química e Biologia. Agora, ele está atuando na Unidade de Pesquisa e Extensão Agroambiental do Cefet, na localidade de Barcelos, limite de São João da Barra com Campos.

A Uenf também tem aju-dado a preencher as vagas na área de Educação do muni-cípio de Campos. No último concurso para pedagogo da Prefeitura, realizado em abril deste ano, foram aprovados pelo menos 21 ex-alunos da Uenf. O edital abriu inicial-mente 15 vagas, e, dentre os 15 primeiros colocados, qua-tro estudaram na Uenf: Otá-vio Cordeiro de Paula, Thiago Eugênio Loredo Betta, Claris-

sa Menezes e Fernanda Sera-fim Agum.

Para Otávio Cordeiro de Paula, a “base sólida” rece-bida na Uenf foi crucial para o seu bom desempenho no concurso. A mesma opinião tem o ex-aluno Thiago Eugê-nio Loredo Betta, que ainda credita a sua classificação ao fato de ter atuado como bol-sista na Biblioteca do Centro de Ciências do Homem (CCH) da Uenf, durante o curso.

A participação em projetos de pesquisa e extensão, desde os primeiros períodos, é um dos diferenciais dos alunos da Uenf

Centro de Ciências do HomemFoto: Felipe Moussallem

Agrônomo fica em primeiro no Cefet

Ex-alunos agora são pedagogos da Prefeitura

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O início de tudoUm dos desafios dos primeiros alunos da

Uenf, nos dias chuvosos, era conseguir che-gar ao único prédio então existente no cam-pus — onde hoje está o Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) — sem sujar os calçados de lama. Era o reflexo de uma universidade ainda em construção, fato que gerava expectativas e, também, muitas dúvidas entre os cerca de 90 jovens que in-gressaram na Uenf através de seu primeiro vestibular, em 1993.

— Como éramos a primeira turma, tínha-mos muita curiosidade em saber como seria o futuro da Universidade. Era uma propos-ta inovadora, e que gerava muitas dúvidas. Não havia separação entre professor e aluno, pois estávamos todos no mesmo barco. Foi um amadurecimento em conjunto — lembra Maurício Mussi Molisani, um dos integrantes da primeira turma, que se formou em Ciên-cias Biológicas.

Mas, com o tempo, as incertezas foram ficando para trás. Ao mesmo tempo em que testemunhavam a concretização do projeto da Uenf — com a construção dos demais pré-dios, a implantação dos laboratórios e dos novos cursos e a chegada de novos profes-sores —, os alunos da primeira turma abriam caminho para uma nova realidade em Cam-pos e no Norte Fluminense: o início da pes-quisa científica.

O biólogo campista Marcos Sarmet Mo-reira de Barros Salomão, um dos que inte-graram a primeira turma, observa que a Uenf já nasceu com o foco bem definido na pes-quisa científica. Embora já existissem alguns centros de pesquisa, a Uenf foi a primeira universidade pública a produzir ciência na região. Ele lembra que, mal os primeiros la-boratórios haviam sido montados, em 1993, os alunos já foram levados a participar de projetos de iniciação científica.

— Para quem quer seguir a carreira cien-tífica, isso é um grande passo. No meu caso, isso ajudou muito, pois quando fui fazer doutorado na USP já tinha anos de experiên-cia em pesquisas, desde a graduação — afir-ma Salomão, que, após se formar em Ciên-cias Biológicas, cursou mestrado, na própria Uenf, na área de Biociências e Biotecnologia. Posteriormente, tornou-se doutor em Ciên-

cias (Energia Nuclear na Agricultura) pela USP e hoje atua como professor visitante do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da Uenf.

Sérgio Henrique Seabra, que também integrou a primeira turma da Uenf e hoje é pró-reitor do Centro Universitário Estadual Zona Oeste (Uezo), conta que, graças à Uenf, pôde receber uma formação universitária de alto nível. Segundo Seabra, a Uenf já iniciou suas atividades com uma excelente estrutu-ra, sempre priorizando a alta tecnologia em seus laboratórios.

— Hoje a Uezo está passando por um momento parecido com este, vivido naquela época pela Uenf. A Uenf modificou o Norte Fluminense, e hoje a Uezo se espelha nela — afirma.

Uma característica marcante da primeira turma — que na época constituía o Ciclo Bá-sico, comum a todos os cursos — era a for-te união não só entre os estudantes, como entre estes e os professores, conforme lem-bram os primeiros alunos. Vítor Guimarães Correa, que hoje é professor da Universo e atua no Centro de Controle de Zoonoses de Campos (CCZ), é um deles:

— Por ser uma universidade nova, as tur-mas eram muito unidas. Sair do Rio e vir mo-rar em Campos me fez conviver com as di-ferenças. Tive um grande aprendizado sobre ética, coerência, honestidade. É lógico que algumas coisas a gente traz do berço, mas a orientação dos professores, principalmente nos laboratórios, foi fundamental — diz.

Deborah Monteiro da Gama, que hoje é professora de Ecologia na Universidade Salgado de Oliveira (Universo) e bióloga do CCZ, diz que tem muitas saudades do tempo em que entrou na Uenf. Ela lembra que as turmas eram pequenas e os alunos tinham um tratamento diferenciado. Para ela, a Uenf continua crescendo, levando adiante seu papel de atender às necessidades da socie-dade.

— Quando entrei na Uenf, só havia o pré-dio do CCTA, e era tudo um lamaçal. Tenho saudades dos momentos nos laboratórios, dos congressos dos quais a gente participa-va, e das festas, é claro, que eram muito boas — diz.

Área do Campus Leonel Brizola antes da construção

Primeira fase das obras

Darcy, Brizola e autoridades na Casa de Cultura Villa Maria

Primeira solenidade na recém-implantada Uenf e Aula Inaugural com Paulo Renato, à época, ministro da Educação.

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O que mais é preciso para que a agropecuária do Norte Fluminense se torne competitiva

Ex-anônima, Neusa quer defender a Universidade

Para além dos cursos

Até o aniversário de 15 anos da Uenf, Neusa Vieira de Castro era apenas uma dentre as 4.141 pessoas que assinaram embaixo da pro-posta de emenda popular para criar a Universidade, em 1989. Agora, ela conhece a instituição que ajudou a criar e está disposta a defendê-la e fortalecê-la. No dia da festa dos 15 anos, 29 de agosto, Neusa conhe-ceu o campus Leonel Brizola e foi recebida pelo reitor Almy Junior. Almy agradeceu pelo gesto e disse que a Universidade tem um dever de gratidão para com todos os que lutaram pela sua criação.

O nome “Neusa Vieira de Castro” é um dos três que constam da página do abaixo-assinado cuja cópia hoje se encontra nos arquivos da Universidade. Embora o documento traga nome completo e endereço, Neusa não mora mais no mesmo lugar. Quando foi contatada pela As-sessoria de Comunicação, que descobriu seu telefone pela informação de uma igreja vizinha a sua antiga casa, chegou a pensar que fosse algum tipo de trote.

Ela conta que na época chegou a se perguntar se valia a pena assi-nar o documento, mas se convenceu por ser professora e entender a importância de uma universidade pública para a região.

— Me sinto muito honrada por estar conhecendo a Uenf. Valeu mui-to a visita —, disse Neusa, que só tinha posto os pés no campus univer-sitário uma vez, há dez anos, mas para fazer a prova de um concurso público.

Sessenta e dois cursos, 1.240 vagas preenchidas, 289 horas-aula e 258 inscritos de 18 municípios do Estado do Rio de Janeiro. Este foi o saldo da 4.ª Semana do Produtor Rural na Uenf, realizada de 21 a 25 de julho, segundo o relatório da organização do evento. Se praticamente todos reconhecem a importância da oferta de cursos para o produtor pela Universidade, resta avaliar o desafio da efetiva transformação da realidade no campo a partir da aplicação de novas tecnologias.

Diretamente envolvido na organização das quatro versões da Se-mana, o professor Alexandre Pio Viana, ex-coordenador de Extensão do CCTA/Uenf, não acredita numa mudança repentina ou espetacular nos padrões de manejo da agropecuária no Norte Fluminense. Para o pesquisador, as universidades e institutos de pesquisa devem insistir na aproximação com o setor produtivo, mas a adoção de padrões de produção mais competitivos em larga escala depende fortemente de demandas do próprio produtor.

— As pessoas vêm, participam, mas acho que uma mudança de mentalidade é questão de longo prazo. Às vezes se fica esperando que o governo coloque recursos, mas a agropecuária é uma atividade em-presarial — opina.

Este ano cerca de 85% das inscrições foram de produtores rurais em sentido estrito. Segundo o professor, os cursos de aplicação mais imediata são os ligados a processamento de alimentos, como fabrica-ção de lingüiças, produção de iogurtes ou geléias. Em todos os cursos, a idéia é passar informações básicas (que muitas vezes fazem grande diferença) e despertar o interesse pela adoção de boas técnicas de pro-dução.

Neste ano, os participantes foram oriundos dos municípios de Bom Jesus do Itabapoana, Cambuci, Campos, Carapebus, Cardoso Moreira, Italva, Itaperuna, Macaé, Miracema, Niterói, Nova Friburgo, Petrópolis, Quissamã, Rio das Ostras, Rio de Janeiro, São Fidélis, São Francisco do Itabapoana e São João da Barra. A organização foi da Coordenação de Extensão do CCTA/Uenf, com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento e Pesca, Pesagro-Rio, Emater-Rio, UFRRJ, Sebrae/RJ, Fundenor, Procampo - Em-presa Junior e as Coordenações de Pós-Graduação de Ciência Animal, Produção Vegetal e Genética e Melhoramento de Plantas.

O atual coordenador de Extensão do CCTA, professor Fábio Cunha Coelho, espera atrair ainda mais produtores nas próximas versões da Semana e incrementar a divulgação. Para o pesquisador, uma aproxi-mação com a Emater, por exemplo, pode favorecer o intercâmbio com os produtores ao longo de todo o ano.

07Foto: Nériton Toledo

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As comemorações pelos 15 anos da Uenf têm se estendido ao longo de todo o ano de 2008, mas o ponto alto ocorreu em agosto, mês oficial do aniversário. Com a presença da escola de samba Esta-ção Primeira de Mangueira, o Cen-tro de Convenções da Uenf viveu, na noite de 29 de agosto, um mo-mento mágico de congraçamento entre a comunidade universitária e a sociedade regional.

A Mangueira, que vai apre-sentar na Avenida em 2009 um enredo sobre o povo brasileiro na visão de Darcy Ribeiro, veio a Campos conhecer um dos últi-mos “fazimentos” do fundador da Uenf. Além disso, veio dar uma pequena mostra do que pretende apresentar no sambódromo.

Com a linguagem universal do samba, que encanta brasileiros

e turistas de todas as partes do mundo, os artistas da Mangueira diluíram hierarquias e distâncias, culminando com o momento em que já não foi possível distinguir artistas e público, palco e platéia. O encurtar de distâncias foi a mar-ca da solenidade comemorativa ao aniversário da Uenf. A população de Campos, que tantas vezes se sentiu uma observadora distante da Universidade, foi condecorada com a Medalha Darcy Ribeiro na pessoa do professor Mário Lopes Machado. Líder do movimento pró-Uenf durante a Constituinte estadual de 1989, Mário Lopes agradeceu ao Conselho Universi-tário e a todos que participaram daquela luta ou ajudaram em sua realização, incluindo vários políti-cos da época. Disse que recebia a Medalha “com humildade” e que

As passistas da Estação Primeira comandaram a festa e convocaram os uenfianos a subir no palco e cair no samba.

Foto: Felipe Moussallem

Na festa dos 15 anos, Estação Primeira de Mangueira traduz o espírito de uma universidade que pertence a todos

festasamba e integração

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sentia aumentar sua responsabili-dade como servidor da Uenf.

— Farei, reitor, o que estiver a meu alcance para que os sonhos de Darcy se tornem realidade.

A festa teve a presença do presidente da Fundação Darcy

Ribeiro (Fundar), Paulo Ribeiro, sobrinho de Darcy. Ele reforçou os cumprimentos à população de Campos e enfatizou o papel do então governador Leonel Brizola. Emocionado, Paulo lembrou que Darcy acreditava numa universi-

dade que estivesse “no coração de Campos” e fosse solidária com a população, seus problemas, suas angústias.

O reitor Almy Junior marcou seu pronunciamento pelo tom de agradecimento. Dirigiu-o à popu-lação, a Darcy, a Brizola (governa-dor na época) e a Oscar Niemeyer (autor do projeto arquitetônico). Falou do inquietante legado do fundador da Uenf e exaltou o es-pírito crítico e o potencial acadê-mico do corpo docente da Univer-sidade.

O carnavalesco RobertoSzanie-cki, da Mangueira, apresentou o

que pôde ser antecipado com re-lação ao enrede de 2009, centra-do no tema “A Mangueira traz os Brasis do Brasil mostrando a for-mação do povo brasileiro”.O en-redo é baseado na obra de Darcy Ribeiro sobre o povo brasileiro. A presidente da Mangueira, Eli Gon-çalves da Silva, trocou presentes com o reitor da Uenf e agradeceu a acolhida.

No final, não poderia ser di-ferente: a festa foi tomada pelo samba, com passistas, mulatas, rit-mistas e muita música. O público cantou, dançou e acabou subindo ao palco junto com os artistas.

Foto: Nériton Toledo

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Autonomia,

A história da Uenf, repleta de fatos e personalidades importantes, tem pelo menos dois momentos cruciais. O primeiro é sua implantação, que oficialmente se deu aos 16 de agosto de 1993. O segundo é a conquista da auto-nomia administrativa e patrimonial, em 23 de outubro de 2001. Assim como a criação da Uenf, a conquista da autonomia administrativa se deu à custa de muita luta, sacrifício e determinação.

O modelo concebido por Darcy Ribeiro previa a co-existência da Universidade propriamente dita com uma fundação mantenedora e um parque de alta tecnologia. A idéia era uma atuação cooperativa entre as três instân-cias, mas a experiência mostrou um conflito profundo — na prática, o modelo permitia que a Universidade se tornasse uma espécie de apêndice da fundação, numa evidente inversão em relação às intenções de Darcy. Após seguidos conflitos, a comunidade acadêmica firmou posi-ção e decidiu investir todas as suas energias na conquista da autonomia administrativa.

O movimento envolveu os três segmentos da comuni-dade universitária e culminou com uma longa greve que não permitiu o início do segundo semestre letivo de 2001 enquanto a questão não fosse decidida. Mesmo sob pres-são, professores e técnicos-administrativos mantiveram o movimento, com a participação e a solidariedade dos estudantes. Finalmente em 23 de outubro daquele ano, através da Lei Complementar n.º 99, sancionada pelo en-tão governador Anthony Garotinho, a Uenf conquistou sua autonomia administrativa. A partir da implementação da lei, a instituição passou a ter efetivamente no reitor seu principal dirigente.

No histórico dia 23 de outubro de 2001, o boletim informativo da Assessoria de Comunicação anunciava a conquista com estas palavras:

— Oito anos, dois meses e sete dias depois de ministrar sua primeira aula, a Uenf passa a existir como organismo jurídico próprio e dotado de autonomia didático-científi-ca, administrativa e de gestão financeira e patrimonial.

Para o reitor da Uenf, Almy Junior, a grande bandeira da comunidade universitária hoje é a conquista da auto-nomia de gestão financeira. Mas isto é assunto para uma próxima matéria.

Movimento que uniu professores, estudantes e técnicos-administrativos completa sete anos e

inspira novas bandeiras

Acima: texto da lei complementar que concede autonomia à Uenf. Abaixo: a medalha Darcy Ribeiro.

Medalha para os campeões de luta cívicaRepresentando cada cidadão que se mobilizou para

que o Norte Fluminense tivesse sua universidade pública, o professor Mário Lopes Machado recebeu da Uenf, em 29 de agosto, a Medalha Darcy Ribeiro. A entrega foi feita pelo reitor Almy Junior, que se referiu à luta pró-Uenf como um movimento inspirador para os dias atuais.

Mário Lopes foi um dos líderes da mobilização que aglutinou estudantes secundaristas, professores univer-

sitários, entidades não-governamentais e lideranças polí-ticas. Todos lutavam pela aprovação da emenda popular à Constituição Estadual de 1989, apresentada com 4.141 assinaturas qualificadas. Aprovada a proposta, foi preciso continuar lutando para fazer a Universidade sair do pa-pel, cumprindo os prazos constitucionais.

Mário Lopes recebeu a Medalha com humildade e dis-se que ela pertence a cada um dos campistas que subs-

creveram a emenda constitucional em 1989. O homena-geado agradeceu à família, que o ajudava toda noite a conferir o total de assinaturas, e a todos que participaram da luta. Citou ainda a senhora Neusa Vieira de Castro, uma das signatárias do abaixo-assinado. Até então uma simples anônima, Neusa foi conhecer a Uenf na manhã de 29 de agosto e foi recebida por Mário Lopes e pelo reitor Almy Junior.

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uma luta histórica

LEI COMPLEMENTAR Nº 99, DE 23 DE OUTUBRO DE 2001.

DISPÕE SOBRE A ÁREA DE ATUAÇÃO DA UNIVERSIDADE ES-TADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO - UENF, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

O Governador do Estado do Rio de Janeiro,Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro de-creta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º - A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF, instituída em conformidade com a autorização constante da Lei nº 2043, de 10 de dezembro de 1992, fica integrada à Administração Es-tadual Indireta, sob a forma de uma fundação com personalidade jurídica de direito público.

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Medalha para os campeões de luta cívicaRepresentando cada cidadão que se mobilizou para

que o Norte Fluminense tivesse sua universidade pública, o professor Mário Lopes Machado recebeu da Uenf, em 29 de agosto, a Medalha Darcy Ribeiro. A entrega foi feita pelo reitor Almy Junior, que se referiu à luta pró-Uenf como um movimento inspirador para os dias atuais.

Mário Lopes foi um dos líderes da mobilização que aglutinou estudantes secundaristas, professores univer-

sitários, entidades não-governamentais e lideranças polí-ticas. Todos lutavam pela aprovação da emenda popular à Constituição Estadual de 1989, apresentada com 4.141 assinaturas qualificadas. Aprovada a proposta, foi preciso continuar lutando para fazer a Universidade sair do pa-pel, cumprindo os prazos constitucionais.

Mário Lopes recebeu a Medalha com humildade e dis-se que ela pertence a cada um dos campistas que subs-

creveram a emenda constitucional em 1989. O homena-geado agradeceu à família, que o ajudava toda noite a conferir o total de assinaturas, e a todos que participaram da luta. Citou ainda a senhora Neusa Vieira de Castro, uma das signatárias do abaixo-assinado. Até então uma simples anônima, Neusa foi conhecer a Uenf na manhã de 29 de agosto e foi recebida por Mário Lopes e pelo reitor Almy Junior.

Inquietação incorrigívelMineiro de Montes Claros, nascido aos

26 de outubro de 1922 — o efervescente ano da Semana de Arte Moderna —, Darcy Ribeiro se destacou como intelectual e ho-mem de ação. Atuou em várias frentes, no-tabilizando-se como etnólogo, educador, político e romancista. Fruto de uma década marcada por movimentos como a Coluna Prestes e a formação do Partido Comunis-ta do Brasil, Darcy dizia que “já nasceu em ebulição”.

Foi mentor e o primeiro reitor da Uni-versidade de Brasília (UnB), criada em 1961 com ambiciosos propósitos de renovação do meio acadêmico brasileiro. Entre as ino-vações da época, a UnB se estruturou por departamentos em vez de cátedras, contra-tou professores pela legislação trabalhista e abriu maiores espaços à participação de professores e estudantes na gestão univer-sitária. A agressão da ditadura militar a vá-rias inovações da UnB faria com que Darcy encarasse com especial entusiasmo a chan-ce que teve de elaborar o Plano Orientador da Uenf, três décadas depois.

Órfão de pai aos três anos, contrariou o desejo de um tio de fazê-lo médico, argu-mentando que desejava ser médico “do ser social”, como lembra a professora Yolanda Lobo (CCH/Uenf ), estudiosa da vida e da obra de Darcy. Antropólogo formado em 1946, dedicou-se ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia, tendo fundado o Museu do Índio.

Participou ativamente da campanha em defesa da escola pública, na década de 1950, tendo sido um dos signatários do

Manifesto dos Educadores Democratas em Defesa do Ensino Público.

Foi ministro da Educação e ministro-chefe da Casa Civil no governo João Gou-lart. Exilado durante o regime militar, ela-borou projetos de instauração ou reforma de universidades na Costa Rica, Argélia, Uruguai, Venezuela e Peru. Com a anistia, retornou ao Brasil em 1976 e voltou à mili-tância política.

Foi vice-governador do Rio de Janeiro na primeira gestão de Leonel Brizola (1983-1986), secretário de Cultura e coordenador do Programa de Educação. Projetou e im-plantou os Centros Integrados de Educa-ção Pública (Ciep), escola em tempo inte-gral para a população carente. No segundo governo Brizola, iniciado em 1991, voltou a se dedicar aos Ciep e tentou implantar, através dos Ginásios Públicos, novo padrão para o ensino médio. Foi por esta época que se dedicou à implantação da Uenf.

Eleito senador em 1991, foi o autor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, conhecida como Lei Darcy Ribeiro. Morreu de câncer em 1997. Entre seus es-critos, deixou uma frase que é uma espécie de testamento intelectual:

— Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasilei-ras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universi-dade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me ven-ceu.

Foto: Nériton Toledo

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Foi o médico italiano Alfonso Splendore (1871-1953), então atuando no Brasil, quem descreveu pela primeira vez, em 1908, o pro-tozoário causador da doença que hoje se cha-ma toxoplasmose. Ele é considerado um dos pioneiros dos estudos sobre o parasita, ao lado dos pesquisadores franceses Charles Nicolle (1866-1936) e Louis Hubert Manceaux (1865-1943), que “batizaram” o parasita com o nome atual: Toxoplasma gondii.

Numa dupla homenagem aos pioneiros e aos contemporâneos que se destacam mun-dialmente nos esforços para ampliar os conhe-cimentos sobre o parasita e a doença, a organi-zação do Congresso conferiu uma honraria — a Medalha Splendore Nicolle — a sete pesquisa-dores: os norte-americanos Elmer Pfefferkorn e Jack Remington; os franceses Georges Des-monts e Pierre Ambroise-Thomas; o alemão Ja-cob K Frenkel; o indiano Jitender P. Dubey; e o brasileiro Mario Endzdeld Camargo.

Elmer Pfefferkorn foi um dos pioneiros em estudos genéticos que lançaram as bases para os conhecimentos adquiridos posteriormente sobre o Toxoplasma gondii. Georges Desmonts, que se destacou no desenvolvimento de novas ferramentas de diagnóstico da toxoplasmose, morreu em julho, pouco antes da realização do Congresso.

Presente ao Congresso e aplaudido de pé, o médico alemão radicado nos Estados Unidos Jacob K. Frenkel tornou-se referência mundial em estudos na área com seus estudos publica-dos a partir de 1949. Sua contribuição inclui estudos detalhados com recém-nascidos mor-

Parasita foi descrito pela primeira vez no Brasil

A medalha comemorativa homenageia os descobridores do Toxoplasma

Professor Frenkel,um dos agraciados, foi quem primeiro descreveu o ciclo do parasita no gato

Foto: Felipe Moussallem

tos pela forma congênita grave da toxoplas-mose e avanços no trabalho com modelos desenvolvidos com animais. Também aplau-dido de pé, o médico veterinário Jitender P. Dubey, indiano radicado nos EUA, tornou-se referência na área desde a publicação de seus primeiros artigos, na década de 1960. Ele de-senvolveu pesquisas em todo o mundo, com a cooperação de equipes locais, sobre a infec-ção da toxoplasmose em animais. Esta dupla de pesquisadores (Frenkel e Dubey) descre-veu, na década de 1970, o ciclo de vida do Toxoplasma gondii.

Jack Remington propiciou muitos pro-gressos no conhecimento da doença nos úl-timos 40 anos. O brasileiro Mario Endzdeld Camargo foi apresentado como um “predes-tinado” a dar uma contribuição importante ao mundo das análises clínicas. Já o francês Pierre Ambroise-Thomas tem vasta produção científica que tem estimulado a parasitologia médica e os estudos sobre a toxoplasmose.

O design da Medalha foi concebido por dois profissionais da Uenf: o designer Alex-sandro Azevedo e o publicitário Felipe Mous-sallem. A confecção da medalha foi patrocina-da pela Fundação Oswaldo Cruz.

A realização do “Congresso Centenário do Toxoplasma: da descoberta às estratégias de saúde pública” mostrou que é possível organizar eventos de grande envergadura sem contratar uma empresa especializada. Graças ao trabalho de pelo menos 20 es-tudantes de graduação ou pós-graduação e quatro professores da Uenf, o custo de realização do Congresso caiu 30%.

Com a coordenação da professora Lí-lian Bahia de Oliveira, a organização en-volveu os professores Andrea Cristina Vetö

Arnholdt, Fátima Sarro e Renato Augusto DaMatta. Os alunos engajados foram os seguintes: Alba Lucínia Peixoto Rangel, Amanda Gimenez, Beatriz Moraes, Bianca Magneli, Carla Cristina da Silva Leite, Da-niele Seipel, Fabrício Siqueira, Flávia Perei-ra Vieira, João Cláudio Damasceno, Kamilla Ritter Nogueira, Laura Motta, Lívia da Silva Rangel, Lívia Mattos Martins, Luciana Le-mos, Marcela Bastos Boechat, Raul Ramos Furtado Dias, Thatiane Lacerda e Juliana Azevedo.

Desafio para estudantes e professores

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Uenf tem o 2º melhor curso de Zootecnia do Brasil

Houve quem os chamasse de “cobaias” por ingressarem em um curso que estava apenas co-meçando. Hoje, os alunos de Zootecnia da Uenf orgulham-se de participar do segundo melhor curso do país nesta área, segundo a avaliação do Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Es-tudantes). O excelente resultado veio justamente no ano em que a avaliação do MEC ficou mais ri-gorosa, com a redução dos conceitos máximos e a ampliação dos conceitos mínimos.

Esta foi a primeira avaliação do curso de Zoo-tecnia da Uenf, implantado em 2003. Em todo o Estado do Rio, o curso foi o único a obter o con-ceito preliminar máximo: 5. O novo indicador de avaliação do ensino superior considera basica-mente três critérios: o desempenho dos alunos no Exame do MEC; a diferença de desempenho entre ingressantes e concluintes; e parâmetros relativos à qualidade do corpo de professores e à percepção dos alunos quanto à estrutura do curso.

— O curso é realmente muito bom. Os profes-sores são ótimos, e a parte prática é muito bem estruturada — diz Michelle Sant’Anna Lyra, que in-tegrou a primeira turma de Zootecnia da Uenf e se formou em agosto.

Tal como ocorre com os demais cursos da Uenf, todos os professores da Zootecnia têm doutorado e desenvolvem projetos de pesquisa, o que tende a se refletir na qualidade do ensino. A ênfase no programa de Iniciação Científica, traço caracterís-tico da Uenf (reconhecido inclusive pelo CNPq em

Em sua primeira avaliação pelo Enade, curso foi o melhor no Estado

Trajetória de lutasSe hoje a Zootecnia da Uenf

ocupa lugar de destaque no cená-rio nacional, os primeiros alunos lembram que o início não foi fácil. Muitos chegaram a desistir no meio do caminho por causa do conteúdo básico, considerado difícil. Isso sem falar na pressão externa decorren-te do pouco conhecimento sobre

a área de Zootecnia, relativamente nova no país e por muitos ainda confundida com Medicina Veteriná-ria.

— No primeiro momento, fica-mos com muito medo. Éramos a primeira turma, chamaram a gente de cobaia, disseram que não ia dar certo. Alguns perguntavam o que é

Zootecnia, e a gente tinha que expli-car — lembra Michelle, que pretende se especializar na área de avicultura e vai tentar uma vaga no mestrado em Produção Animal da Uenf.

Para Gabriela Soares Carvalho Pamplona Corte Real, que se formou em fevereiro, o mais difícil no curso foi passar pelas matérias básicas, como matemática, física e química. Mas ela entende que tais disciplinas são necessárias para quem quer ser

um bom zootecnista. E acredita que, embora tenha uma grade curricular já bastante extensa, o curso ainda carece de algumas disciplinas im-portantes.

— A gente faz planejamento de propriedades, então tem que saber de tudo um pouco — diz Gabriela, que fez o ensino fundamental no Colégio Estadual Barão de Macaú-nas, em São Fidélis, e o ensino mé-dio no Cefet/Campos (hoje Ifet).

2003), também contribui para a boa formação dos estudantes.

A coordenadora do curso, professora Rita da Trindade Ribeiro Nobre Soares, ficou muito feliz com o resultado, obtido logo na primeira avalia-ção do MEC. Já o reitor Almy Junior lembra que a Zootecnia é uma das possibilidades da Uenf para seu futuro campus em Itaperuna, no Noroeste Flu-

minense.— A Uenf tem sido uma referência de quali-

dade, não só na graduação, mas também na pós-graduação. E é essa qualidade que queremos expandir pela região, que está ávida por um de-senvolvimento sadio e sustentável — opina Almy, cumprimentando professores, alunos e coordena-ção pelo resultado alcançado.

O desempenho de alunos como Michelle e Gabriela no Enade foi fundamental para a boa avaliação do curso

Foto: Gustavo Smiderle

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Mário Lopes

Foto:

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O primeiro mestre O primeiro doutorSonhando colaborar com a recuperação da cana,

Vicente defendeu a primeira dissertação da Uenf em 1996

oS pioneiroS

Hoje são mais de 1.500 te-ses ou dissertações, mas houve uma primeira vez. Foi em 30 de julho de 1996 que nasceu a pri-meira dissertação de mestrado da Uenf. Era uma pesquisa sobre manejo de irrigação em cana-de-açúcar desenvolvida pelo enge-nheiro Vicente de Paulo Santos de Oliveira, com a orientação do professor Salassier Bernardo.

— Eu tinha dito ao professor que queria trabalhar com algo que pudesse ser útil de alguma forma à região — conta Vicente, que hoje tenta entender como a cana está “estourando” em todo o país, mas não avança na região de Campos.

Campista de uma família de dez filhos, todos criados no Par-

que Leopoldina, Vicente é enge-nheiro agrimensor formado pela Universidade Federal de Viçosa, em 1988, e doutor na área de gestão de recursos hídricos pela mesma instituição, em 2003. Atualmente Vicente é professor do Cefet Campos e diretor da Unidade de Pesquisa e Extensão Agroambiental (Upea), recém-instalada perto da localidade de Barcelos, São João da Barra, mas ainda em território de Campos.

— Apesar de todas as difi-culdades, principalmente por conta de sucessivas mudanças de governo na esfera estadual, a Uenf está avançando e tem um nome nacional. A gente tem sido testemunha disso — conta o pes-quisador.

Hoje pesquisador do Observa-tório Nacional, Giovanni Chaves Stael foi o primeiro doutor titulado pela Uenf, em 1997. Engenheiro Mecânico, com mestrado na área de Mecânica e Materiais pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos (SP), Gio-vani foi convidado a ingressar no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciências dos Mate-riais da Uenf pelo professor Sérgio Neves, então diretor do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT).

— Apesar do cansaço com o mestrado, aceitei esta nova emprei-tada sem medo, aprendendo, jun-to aos colegas de pós-graduação e funcionários, as conquistas e as an-gústias próprias da implantação de uma nova universidade — diz.

Giovani conta que na verdade veio à Uenf em busca de opor-tunidade de trabalho, pois tinha acabado de concluir o mestrado. Tendo sido recebido pelo professor Sérgio Neves, foi informado de que

a Uenf só contratava professores com título de doutorado. Apesar da inviabilidade do projeto inicial, recebeu o convite para se candida-tar à primeira turma de doutorado do curso de pós-graduação em En-genharia e Ciência de Materiais da Universidade.

Sua pesquisa consistiu na pro-dução e caracterização de um mate-rial compósito — formado por dois ou mais materiais — com finalida-des específicas na engenharia. Uma das matérias-primas desse compó-sito foi o bagaço de cana-de-açúcar, e o produto desenvolvido tinha em vista a utilização em móveis, divisó-rias e aplicações afins.

No Observatório Nacional, Gio-vanni Stael atua na Coordenação de Geofísica, onde as duas principais linhas de pesquisa são na área de processamento de dados magne-totelúricos (método que se aplica à estimativa da resistividade em subsuperfície) e petrofísica (carac-terização física de rochas).

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Paulo Ribeiro

Fotos: Felipe Moussallem

NOSSA UENF: O que a Uenf teria representa-do, para o próprio Darcy, no conjunto da sua obra? E na sua opinião, o que a Uenf representou?

Paulo Ribeiro: Darcy Ribeiro durante sua vida interferiu para mudanças em várias universidades latino-americanas, como na Venezuela, Uruguai etc. Sobre o tema escreveu “Universidade Neces-sária”. O livro está esgotado e merecia uma nova edição pela atualidade das idéias. Foi responsável pela criação e instalação da Universidade de Brasí-lia, quando convenceu o então presidente de que a nova Capital deveria ter uma Universidade reno-vada em seus princípios e organização. No dia da renúncia de Jânio, aproveitou o momento de vazio de poder e conseguiu a aprovação, pelo Congresso Nacional, da criação da Universidade. O golpe mi-litar de 64 interrompeu os trabalhos da Universida-de (UnB). Militares a invadiram em 1968. Dispersa-ram professores e alunos que resistiram ao ataque. Professores e alunos foram presos. Muitos foram

para o exílio. Estava, naquele momento, perdida a utopia de Darcy Ribeiro e de outros importantes educadores brasileiros, como Anísio Teixeira, Maria Yedda Linhares, Leite Lopes e tantos outros. Passa-ram-se os anos, e Darcy, na década de 90 do século passado, retoma, durante o governo de Leonel de Moura Brizola, o “fazimento” interrompido. Surge uma nova universidade. Criou e instalou a Uni-versidade do Norte Fluminense, chamada por ele Universidade do Terceiro Milênio, edificada e im-plantada na cidade de Campos: um conjunto uni-versitário projetado por Oscar Niemeyer. Nasceu já oferecendo cursos de graduacão e pós-graduação. Naquele momento, foram reunidos importantes pesquisadores e montados grandes laboratórios de pesquisa nas áreas de ponta da agroindústria (ca-na-de-açúcar) e a indústria petroquímica. A Uenf sofreu um golpe nos últimos anos da década de no-venta por obscurantismo do governo que assumiu o Estado do Rio de Janeiro. Embora alguns ideais tenham se perdido, a Uenf é destaque no conjunto

da obra de Darcy como educador. Não obstante as dificuldades interpostas pelo poder político e pelo quadro geral que prevaleceu naqueles anos, a Uenf é hoje uma realidade.

NOSSA UENF: O que o senhor acha que Darcy sentiria se pudesse participar das comemorações dos 15 anos da Uenf?

Paulo Ribeiro: É muito difícil responder a per-gunta. Como se sentiria Darcy na comemoração dos 15 anos da UENF? Talvez, seu jeito batalha-dor estaria apontando alguns pontos que altera-dos corresponderiam melhor às novas exigências do mundo contemporâneo. Mas, sem dúvida, o reconhecimento e a visão do vigor de uma Univer-sidade criada para viver nas décadas de um século transbordante de mudanças encheria seu coração de alegria.

NOSSA UENF: A paixão de Darcy Ribeiro pelo povo brasileiro vai virar enredo na próxima edição

‘Ele soube unir teoria e prática’Se Darcy Ribeiro pudesse participar da festa dos 15 anos da Uenf, seu coração se encheria de alegria ao contemplar o vigor de uma universidade que tem a cara deste século transbordante de mudanças. Pelo menos esta é a impressão de Paulo Ribeiro, presidente da Fundação Darcy Ribeiro (Fundar) e sobrinho do fundador da Uenf. A Fundar foi instituída pelo próprio Darcy em 1996 com o objetivo de manter viva sua obra e de elaborar projetos nas áreas da educação e da cultura. Na condição

de quem ajuda a zelar por este patrimônio, Paulo Ribeiro considera a Uenf um destaque no conjunto da obra do tio como educador. Para ele, a implantação da Uenf representou um ato de sensibilidade da dupla Brizola-Darcy frente à luta do interior para finalmente ocupar um lugar de visibilidade no Estado do Rio. Nesta entrevista, Paulo fala da paixão de Darcy pelo Brasil e opina sobre a melhor maneira de manter sua inspiração sem fossilizar sua herança intelectual. Confira:

ENTREVISTA / PAULO RIBEIRO

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do carnaval carioca, através de uma grande escola, que é a Mangueira. Acha que isto pode, de certa forma, ajudar a reforçar algumas de suas bandeiras, como a escola e a universidade pública e os direi-tos dos índios?

Paulo Ribeiro: Pode ser. Edificar o Sambódro-mo foi um imenso desafio. Darcy Ribeiro contra-riou interesses dos técnicos, dos montadores de arquibancadas a cada ano etc. Ali se realizam es-petáculos variados. Ali a Mangueira ganhou o pri-meiro carnaval: na Praça da Apoteose a coreografia dos passistas, das baianas encantou a população que estava assistindo. Sua bandeira foi beijada por Darcy e Brizola. Darcy escreveu em Confissões: “O sambódromo me tem dado alegrias incomparáveis de ver ali desfilarem as grandes escolas. (...) Vejo os sambódromos se multiplicarem pelas capitais brasileiras...” Por tudo isso talvez, a Mangueira escolheu o Povo Brasileiro como tema de enredo. Não é Darcy Ribeiro, é sua obra o que se homena-geia. E é muito significativo. É o pensamento de Darcy, sua visão de Brasil. Um país, um mosaico de culturas, uma rede de relações costuradas pela língua portuguesa e pelo imaginário de Brasil. É o homem que pensou o Brasil em suas diferenças na pluralidade de sua cultura e na unidade de seu povo mestiço.

NOSSA UENF: A Uenf nasceu de um movi-mento popular durante a Constituinte estadual de 1989. Depois, Leonel Brizola incumbiu Darcy de conceber o projeto e implantar a Universidade. Ao fazê-lo, Darcy de certa forma reinterpretou os

anseios populares, elevando-os a um patamar mais ambicioso, de longo prazo. Como o senhor avalia a figura desse intelectual que pôde aliar teoria e prática e que, como ele mesmo deixou escrito, não pôde ser sempre vitorioso?

Paulo Ribeiro: Os momentos que antecederam a criação da Uenf foram muito significativos para a história do Estado do Rio de Janeiro. A cidade do Rio de Janeiro, desde sua incorporação ao estado, teve um lugar de primazia nas políticas públicas e representações políticas. O interior do Estado começara, desde os anos 80, um movimento de reversão deste quadro. Uma luta por visibilidade política e medidas que favorecessem o crescimen-to econômico da região, centro de produção de cana-de-açúcar, agricultura de subsistência, horti-granjeiros, petróleo e o gás natural. A instalação de uma Universidade representava a criação de um centro de pesquisa e de formação de jovens que se fixassem no interior. No governo de Brizola, tendo Darcy vice-governador, destacado educador, houve sensibilidade ao ouvir as vozes da mudança. Mais uma vez, Darcy investiu no fazer, como ele se dizia um homem de fazimentos. Soube como raros inte-lectuais aliar teoria e prática. Teve a coragem de se expor e romper as amarras do saber encastelado na academia. Perdeu algumas vezes, mas se declarou vencedor ao estar ao lado dos perdedores.

NOSSA UENF: Como o senhor acha que a co-munidade da Uenf pode preservar a inspiração de seu fundador ao longo da história que ainda será construída sem, no entanto, perder a capacidade

de adaptar os princípios aos novos tempos e de-safios? Em outras palavras, como fazer para que a inspiração inteligente de Darcy Ribeiro esteja sem-pre por perto?

Paulo Ribeiro: Vou utilizar palavras de Darcy: “A Universidade Estadual Norte Fluminense nasceu comprometida especificamente com os problemas da região em que funciona, principalmente com o desafio de criar a alta tecnologia requerida pela área que produz a maior parte do petróleo e do gás do país, bem como de dar assistência científica à antiga e poderosa agroindústria açucareira que lá sobrevive; e ainda enfrentar a degradação ecológi-ca da região realizando e revitalizando o rio Paraí-ba, planejando o reflorestamento e a produção da biomassa.

(...) não quer ser só uma Universidade local. Sua ambição é atender ao imperativo de contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil (...)

Uma Universidade devotada ao cultivo e à difusão do saber científico e à sua aplicação no diagnóstico e na solução de nossos problemas do desenvolvimento autônomo e socialmente respon-sável. Uma universidade capaz de operar nas fron-teiras do novo saber em que se fundará a civilização emergente. Saber cujo domínio é indispensável até para preservar a soberania nacional.”

Estas são palavras de Darcy Ribeiro no texto “Criatividade Universitária”, escrito em 1991. Creio que é ter esse ideal como meta, ao vencer desafios, o que se impõe nos tempos em que vivemos.

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Quinze anos depois de sair das entranhas do movimento popular e de vir ao mundo pelas mãos de gente como Darcy Ribeiro, Oscar Niemeyer e Leonel Brizola, a Uenf foi apontada pelo Ministé-rio da Educação como uma das 15 melhores uni-versidades do País. O ranking é baseado no mais abrangente indicador já adotado pelo MEC: o Índi-ce Geral de Cursos da Instituição. O IGC combina parâmetros de qualidade dos cursos de graduação, mestrado e doutorado e traduz tudo isto numa pontuação. Numa escala de 0 a 500, a Uenf obteve 377 pontos, situando-se em 12.º lugar entre 174 universidades de todo o Brasil.

Única universidade estadual na lista das 12 ins-tituições melhor colocadas no ranking do MEC, a

Uenf figura logo após a Universidade de Brasília (UnB) — também ela fundada por Darcy Ribeiro, em 1961. A primeira da lista é a Unifesp (Universi-dade Federal de São Paulo). No Estado do Rio, só três universidades aparecem entre as 12 primeiras: a UFRJ (7.º), a PUC (9.º) e a própria Uenf.

Este é o segundo destaque nacional da Uenf numa avaliação do MEC neste segundo semestre de 2008. Em agosto, a divulgação do resultado do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estu-dantes) relacionou o curso de Zootecnia como o segundo melhor do país, com conceito máximo (5). A diferença é que agora a avaliação se refere ao conjunto da Universidade, e não a um curso em particular.

Para o reitor da Uenf, Almy Junior, o reconheci-mento do êxito da trajetória da Uenf nestes 15 anos de atividades se deve fundamentalmente ao acerto do projeto concebido por Darcy Ribeiro. Segundo Almy, tópicos como a exigência de dedicação ex-clusiva e de doutorado para todo o corpo docente, assim como o entrelaçamento entre pesquisa, ensi-no e extensão, explicam os sucessivos indicadores positivos de avaliação.

— A trajetória vitoriosa da Uenf foi coletivamen-te construída ao longo dos piores anos da educação pública brasileira. No entanto, para quem conhece essa história, esses resultados não trazem surpresa, mas sim a concretização de uma expectativa bem fundamentada — diz Almy.

O

1993

1996

1997

2001

1ª aula ministrada

1ª Dissertação de Mestrado

1ª Tese de Doutorado

AutonomiaUniversitária

MEC reconhece a Uenf, em seu conjunto, como uma das 15 melhores universidades do Brasiltopoé logo ali

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23

Nos últimos anos, têm sido recorrentes os in-dicadores positivos de qualidade atribuídos a di-ferentes áreas da Uenf. Nas avaliações do próprio MEC, as Ciências Biológicas sempre tiveram con-ceito máximo. A Agronomia teve a melhor média do Brasil no Provão de 2002. Também os cursos de Ciências Sociais, Engenharia Civil, Matemática e Medicina Veterinária figuram ou figuraram com conceito máximo em avaliações oficiais.

Em 2003, foi o programa de Iniciação Científica da Uenf quem ganhou reconhecimento nacional, levando o Prêmio Destaque do Ano na Iniciação Científica na categoria Mérito Institucional. O Prê-mio é concedido pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, vin-culado ao Ministério da Ciência e Tecnologia).

Em fevereiro deste ano, levantamento do Ins-tituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação,

da Ciência e da Tecnologia apresentou a Uenf com uma das 17 instituições mais produtivas cientifi-camente do país, com custo por artigo publicado equivalente à metade da média nacional. Num levantamento referente ao período 2001-2005, concluiu-se que a Uenf recebeu 0,36% dos finan-ciamentos do CNPq, mas sua participação no total de artigos científicos publicados foi o dobro, ou seja, 0,70%.

já colecionava destaques específicos

2002

2003

2005

2008

1º Lugar da Agronomia no

Provão do MEC

Destaque do ano no CNPq

Iniciação Científica

Ciências Biológicas obteve a nota máxima nas avaliações

do MEC desde 2000

12º lugar no IGC do MEC

Universidade

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Capacitação feita com professores da rede pública estadual

Bairro do Matadouro onde o trabalho teve início

Capacitação sobre o preservativo feminino

A chave da prevenção está na informação, e a Uenf desenvolve des-de 1999, junto com diferentes parceiros — especialmente o Programa Municipal DST/Aids, da Prefeitura de Campos —, um projeto de pre-venção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e Aids. Inicia-do na comunidade do Matadouro, vizinha ao campus Leonel Brizola, o trabalho foi se ampliando entre alunos da própria Universidade e escolas públicas de Campos, até atingir as localidades da Aldeia, em Guarus, e de Três Vendas.

O trabalho é paciente e perseverante, mas já indica resultados pal-páveis. Por exemplo, levantamento realizado junto ao Centro de Testa-gem e Aconselhamento (CTA) de Campos, que faz exames de HIV-Aids, mostrou que a maior procura para exames anti-HIV foi solicitada por moradores(as) da comunidade do Matadouro, berço do projeto. O es-tudo foi desenvolvido pela estudante Núbia Grazielle Vieira (Ciências Biológicas), orientada pelo professor João Carlos de Aquino Almeida, professor do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da Uenf.

Quem está por trás de grande parte dessa história é a assistente social Maria Helena Barros Barbosa, da Uenf. Tudo começou em 1999, com uma pesquisa sobre o perfil da comunidade do Matadouro. Na época, foram aplicados 340 questionários entre os moradores, objeti-vando conhecer o grau de informação sobre as doenças sexualmente transmissíveis e HIV/Aids.

— Os dados revelaram uma realidade permeada de desconhecimen-to em relação a tais doenças, além de preconceito, temor e vergonha do próprio corpo quando se falava sobre sexo — conta Maria Helena.

Com base nas respostas, foi iniciado, no mesmo ano, um trabalho de formação de agentes multiplicadores. Foram realizadas reuniões, palestras e visitas domiciliares para o repasse de informações sobre as formas de prevenção. Além disso, também foi feito o cadastramento de pessoas interessadas em receber preservativos.

Sempre em cooperação com outras instâncias ou instituições, os trabalhos nessa área evoluíram para a participação no projeto “Saúde e Prevenção nas Escolas”, de iniciativa federal (Ministério da Saúde e MEC) e desenvolvido em Campos em parceria com o Programa Muni-cipal DST/Aids, Secretaria Municipal de Educação e Coordenadoria Re-gional de Educação (órgão do Estado). Os campos de trabalho foram a Escola Municipal Francisco de Assis, no Matadouro, e o Ciep da Lapa.

— Não é nada fácil para o professor abordar estes assuntos em sala de aula, porque em geral ele não se sente preparado — diz Maria He-lena, lembrando que o novo edital de multiplicadores proposto pela Pró-Reitoria de Extensão da Uenf, com a inserção de nove bolsistas, possibilitou a ampliação das ações de prevenção para outras comuni-dades e instituições públicas.

Atualmente, está sendo traçado o mapa de vulnerabilidade das co-munidades Tira-Gosto, Aldeia e Três Vendas — locais onde é alto o ín-dice de gravidez na adolescência. Também estão sendo inseridas várias escolas da rede pública, com a proposta de realização de um trabalho interdisciplinar e transdisciplinar.

Informação para deter a AidsEm parceria com o Programa DST/Aids de Campos, Uenf desenvolve, desde 1999, trabalho de prevenção junto a comunidades

carentes

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O Pré-Vest Uenf atende alunos de todas as idades

Foto: Felipe Moussallem

Sabe aquele ímpeto de se dedicar a uma causa nobre que com o tempo acaba arrefecen-do? Foi precisamente isto que não aconteceu com o Pré-Vest/Uenf, o cursinho pré-vestibular gratuito criado voluntariamente por alunos e professores da Uenf para democratizar o aces-so à universidade pública regional.

Lançado em 1995, apenas dois anos depois da própria Uenf, o Pré-Vest continua vivo e atu-ante graças ao trabalho voluntário de cerca de 30 alunos ou ex-alunos da Uenf. Ano passado, por exemplo, mais de 20 alunos do cursinho conseguiram se classificar para a Uenf ou ou-tras universidades públicas.

Nenhum dos pioneiros do Pré-Vest continua à frente do curso, mas a renovação de quadros parece ser uma das explicações para a susten-tação da atividade, que tem o apoio da Univer-sidade. Boa parte dos professores do cursinho é formada por ex-alunos que um dia se bene-ficiaram da iniciativa e conseguiram ingressar na Uenf mesmo com as conhecidas deficiências do ensino público de nível básico.

Ioanes Vicente da Silva Sideris, que parti-cipa do Pré desde 1997, é um dos atuais co-ordenadores. Ele se ofereceu para atuar no cursinho quando estava no segundo período de Engenharia Metalúrgica e de Materiais.

Mesmo tendo se formado em 2006, continua dando aulas de Matemática e participando da coordenação.

— Primeiro, tem que ter dom, gostar de ensinar. Depois, é sentar, estudar e preparar a aula — conta.

Em algumas disciplinas, como Biologia, Fí-sica, Matemática e Química, há gente de sobra se oferecendo para ensinar. Em outras, sobre-tudo Português e Língua Estrangeira, o curso enfrenta dificuldades.

As aulas do Pré-Vest/Uenf ocorrem de se-gunda a sexta, das 18h15 às 22h30, e aos sába-dos, das 8h às 12h e das 14h às 18h.

Pré-vestibular solidárioDurante 13 dos 15 anos da Uenf, o Pré-Vest ajudou a incluir alunos carentes na Universidade

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Uma universidade que deu certoEx-reitores falam sobre trajetória da Uenf e o que esperam do futuro

Criar uma universidade de pon-ta numa das regiões mais pobres do país era um grande desafio no início da década de 1990 — época em que o atual campus Leonel Brizola, em Campos (RJ), não passava de um imenso terreno vazio à margem do Rio Paraíba do Sul e o campus de Ma-caé simplesmente não existia. Ainda mais difícil, naquela época, era arre-gimentar pesquisadores qualificados que comprassem a idéia e se dispu-sessem a vir morar no Norte Flumi-nense. Mas a história da Uenf mostra que boas idéias são preciosas armas para transpor grandes desafios.

Na visão do professor Wanderley de Souza — o primeiro a ocupar a cadeira de reitor da Uenf, no perío-do de 16/08/93 a 08/02/95 —, a op-ção por temas de interesse regional

em seus objetos de pesquisa foi um dos pontos positivos na trajetória da Universidade. Segundo Wanderley, em diversas áreas já é possível sentir o impacto das pesquisas realizadas na Uenf, como em petróleo, piscicul-tura, agricultura, fruticultura, entre outras.

Para o professor, os 15 anos da Uenf devem servir como um mo-mento de reflexão, tendo em vista a modernização do projeto original da Universidade. Para ele, o modelo laboratorial implantado na Uenf, em-bora tenha funcionado em alguns ca-sos, em outros tornou a estrutura da Universidade muito rígida. Wander-ley observa que, na sua percepção, a tendência moderna é organizar os grupos de pesquisa por grandes te-mas ou programas.

Reitor pró-tempore de 22/04/97 a 01/01/99, o professor Pedro Caraji-lescov considera um ponto positivo na trajetória da Uenf a opção por áreas do conhecimento prioritárias não só para o país como para toda a humanidade. Além de estratégi-cas, tais áreas também constituem, na sua opinião, um elevado fator de multiplicação de oportunidades de trabalho para pessoas de diferentes graus de formação, através do sur-gimento de novos negócios de base tecnológica.

— Será dessa forma que o Norte Fluminense irá se beneficiar da exis-tência da Universidade, pois os pro-fissionais formados não serão benefi-ciados apenas individualmente, mas serão fator multiplicador de empre-gos e oportunidades. Acredito que

os próximos 15 anos serão altamen-te frutíferos, e a região poderá se be-neficiar social e economicamente da presença da Uenf — afirma.

Adilson Gonçalves (gestão 01/01/99 a 05/07/99), que prepa-rou a primeira eleição direta para a Administração da Uenf, traça uma linha de continuidade entre a lon-ga luta de lideranças “democráticas e republicanas” pela escola e pela universidade pública e a fundação da Uenf. Adilson se refere a persona-lidades como Anísio Teixeira, Heron de Alencar, Leite Lopes, Jaime Tiomo Salmeron e o próprio Darcy Ribeiro.

— Essas lideranças defendiam uma ampliação do ensino público, defendendo uma valorização do professor e mantendo as escolas públicas de qualidade (embora insu-

Wanderley de Souza

Eugênio Lerner

Adilson Gonçalves

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ficientes) mesmo em regiões menos favorecidas. Essa deve ser uma ques-tão de Estado, já que até agora a ci-ência não tem como controlar onde nascerá, por exemplo, uma grande liderança científica. Pode vir a acon-tecer em uma região economicamen-te pouco favorecida, ou não — diz.

Para Adilson Gonçalves, a Uenf é hoje reconhecida por sua força regional transformadora. Sinal disto é o destaque, entre as universida-des do Estado, em relação às verbas destinadas pela Faperj. Na iniciação científica, aponta o professor, a Uenf também é considerada uma das prin-cipais universidades brasileiras pelo CNPq, além de ter conseguido forte atuação em projetos de Extensão.

Salassier Bernardo, primeiro reitor eleito da Uenf, com mandato de 06/07/99 a 30/06/03, lembra que em 1993 não havia muita oferta de doutores disponíveis e dispostos a vir para uma universidade estadual recém-implantada no Norte Flumi-

nense. Mesmo assim, considera um acerto que deve ser mantido a deci-são da época de se exigir o douto-rado como titulação mínima para a docência.

— Acredito que nos próximos 15 anos a Uenf estará plenamente con-solidada. Menor em tamanho, mas no mesmo nível acadêmico, cientí-fico e tecnológico das melhores uni-versidades públicas estaduais ou fe-derais do país — avalia o professor.

Raimundo Braz Filho, reitor de 30/06/03 a 29/06/07, lembra que não tem conhecimento de outra universidade pública brasileira com notório sucesso em período tão curto como a Uenf. Sucesso que ele credita não só ao excelente nível de seu corpo docente como tam-bém ao empenho e dedicação dos professores, estudantes e técnicos-administrativos, incluindo os servi-dores que atuaram antes do primei-ro concurso público para o cargo permanente, que considera ter sido

“mal dirigido e administrado”. Braz também ressalta a importante con-tribuição da sinergia desenvolvida com empresas ou instituições como a Pesagro, a Fundenor (que inclusive cederam espaços para atividades da Uenf ), a Petrobras, os representan-tes políticos da região, a imprensa e as diversas entidades da sociedade organizada, além de instituições pú-blicas de ensino superior. Braz des-taca ainda o apoio fundamental dos órgãos de fomento à pesquisa, como a Faperj, o CNPq e a Capes (através da concessão de bolsas e auxílios), sem o que muitos projetos não te-riam saído do papel.

— Após a aposentadoria oficial em março de 1991 na UFRRJ, com-pletei o período de Pesquisador Aposentado com bolsa do CNPq (ca-tegoria extinta pelo órgão posterior-mente) na mesma instituição em 31 de julho de 1994 e no dia seguinte iniciei minhas atividades na Uenf. Sinto grande satisfação pela partici-

pação efetiva no processo evolutivo de consolidação institucional desta Universidade, o que me proporcio-nou o honroso título de Cidadão Campista — declara Raimundo Braz Filho, o mais recente a figurar na ga-leria dos ex-reitores da Uenf.

Visão - O físico Eugênio Lerner, falecido aos 23/05/99, foi o segun-do reitor da Uenf, tendo exercido o cargo de 09/02/95 a 22/04/97. Contemporâneo do professor César Lattes no Centro Brasileiro de Pes-quisas Físicas (CBPF), na década de 1950, Lerner construiu uma sólida carreira acadêmica. Foi professor ti-tular do Instituto de Física da UFRJ, secretário-geral e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Física e membro titular da Academia Brasi-leira de Ciências. À frente da Uenf, Eugênio Lerner foi um dos precur-sores do movimento de aproxima-ção entre a Universidade e a socie-dade, tendo feito muitos amigos em Campos e região.

Pedro Carajilescov

Raimundo Braz Filho

Salassier Bernardo

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Antes mesmo que a Uenf fosse criada, ela já era aguardada como um importante instrumento para o desenvolvimento regional. A história da Universidade mostra que essa perspectiva não se perdeu ao longo da história, muito pelo contrário. Hoje, grande parte das pesquisas realizadas na Uenf tem como foco o Norte/Noroeste Fluminense. E os seus pesquisadores têm mos-trado que, quando solicitados neste quesito, são capazes de responder à altura.

No primeiro Edital da Faperj (Fundação Carlos Cha-gas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Ja-neiro) voltado exclusivamente para as instituições situa-das fora da Região Metropolitana fluminense — o Edital de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (DCTR) —, a Uenf foi a instituição que mais aprovou projetos de pesquisa. Dos 67 selecionados, a Uenf foi contemplada com 43. O Edital prevê, no total, um investimento de cerca de R$ 10 milhões em pesqui-sas voltadas para questões regionais.

O reitor da Uenf, professor Almy Junior, viu o resulta-do do Edital como uma prova de que a Uenf é hoje uma referência na pesquisa científica desenvolvida no inte-rior do Estado. Embora não acredite em soluções mági-cas para alavancar a região, ele considera fundamental o tripé educação, ciência e tecnologia. Por este motivo, acha necessário fortalecer o processo de interiorização das instituições de ensino e pesquisa em todo o Estado.

— O conhecimento científico é uma forma de enfren-tar nossos problemas de forma consistente e duradoura. A Faperj está de parabéns por ser sensível a esta ques-tão. E a Uenf está mostrando que tem uma excelente capacidade de produção científica — afirma.

Grande parte dos projetos tem por objetivo o desen-volvimento da agricultura regional. É o caso, por exem-plo, do projeto “Desenvolvimento de insumos agrícolas de base biológica para o Norte Fluminense”, coordena-do pelo professor Luciano Canellas, do Laboratório de Solos (LSOL), que tem por objetivo desenvolver produ-tos agrícolas baseados no aprimoramento de processos biotecnológicos. Dentre os insumos que se pretende produzir, estão inoculantes, biofertilizantes e substratos agrícolas, direcionados a cadeias produtivas específicas.

Outro projeto aprovado, “Desenvolvimento da me-teorologia na região Norte Fluminense”, coordenado pelo professor Valdo da Silva Marques, do Laboratório de Meteorologia da Uenf (Lamet), tem por objetivo a implantação de um novo Programa de Pós-Graduação na Universidade: o mestrado em Meteorologia. O projeto envolve oito pesquisadores da Uenf.

— Vamos dar seqüência à implantação definitiva do Lamet, equipando-o com os recursos materiais necessá-rios ao seu funcionamento normal, em apoio às ativida-des de ensino e pesquisa — diz o professor Valdo.

sobre a regiãoCom 43 projetos aprovados pela Faperj, pesquisadores da Uenf estudam questões que podem contribuir para o desenvolvimento regional

Estado do Rio de Janeiro visto a partir do espaço

olharUm

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Espécies nativas no combate à dengueNo meio do que ainda resta da Mata Atlânti-

ca na região, pode estar a chave para o combate à dengue. Apostando nesta possibilidade, cientistas da Uenf estão dando início à pesquisa “Agentes an-tivirais isolados de espécies vegetais da Mata Atlân-tica das Regiões Norte e Noroeste Fluminense no combate à dengue”, uma das contempladas no Edital de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional da Faperj.

As espécies em questão são a Moraceae (Clari-sia racemosa, também conhecida como guariuba, oiticica amarela e oiticica da mata; e Cecropia lyra-tiloba) e Meliaceae (Trichilia quadrijuga e Toona ciliata, mais conhecida como cedro australiano). Segundo o coordenador da pesquisa, professor Ivo Curcino, o projeto tem por objetivo avaliar a ativi-dade antiviral, em diferentes sorotipos do vírus da dengue, de extratos, frações purificadas e substân-

cias isoladas destas espécies vegetais, visando à ob-tenção de um fitoterápico (medicamento feito de planta cujo princípio ativo não foi purificado).

— Das espécies escolhidas, algumas já se en-contram em estudo químico aqui no laboratório. Elas foram selecionadas pelo seu potencial biológi-co, como por exemplo, atividades larvicidas, anti-tumorais e antivirais. Não temos relatos de ativida-de contra o vírus da dengue, mas esperamos que ela exista, uma vez que seu potencial biológico é muito bom — diz Ivo Curcino, que atua no Labora-tório de Ciências Químicas (LCQUI) do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) da Uenf.

Segundo o professor, caso seja possível chegar a um fitoterápico eficaz, ele deverá ser introduzi-do na Rede Fitovida do Grupo Saúde Alternativa, apoiado pela Pastoral da Terra (CNBB), onde a Uenf já desenvolve um trabalho utilizando fitote-

rápicos. Fazem parte do grupo as comunidades quilombolas da Região de Barrinha (São Francis-co de Itabapoana-RJ), Conselheiro Josino e Imbé (Campos dos Goytacazes-RJ).

— Já fizemos a coleta do material botânico, constituído de folhas, lenho e sementes das espé-cies vegetais. Por enquanto, o fitoterápico ainda é algo que vislumbramos para o futuro. O que que-remos é achar alguma substância em potencial que possa ter atividade contra o vírus da dengue. E que ela possa ser, no futuro, um agente, larvicida ou antiviral atuando no combate à doença — afirma.

A pesquisa envolve nove pesquisadores do Se-tor de Química de Produtos Naturais do LCQUI/CCT e seis do Setor de Bioquímica de Insetos do Laboratório de Química e Função de Proteínas e Peptídeos (LQFPP) do Centro de Biociências e Bio-tecnologia (CBB) da Uenf.

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Emas e avestruzes pertencem ao mesmo grupo — o das “ratitas”, no qual estão incluídos ainda os emus, os cassuares e os kiwis —, mas en-quanto as primeiras são dóceis, os avestruzes são conhecidos por sua agressividade, o que se constitui num grande problema para os cria-dores. Pesquisadores da Uenf estão empenhados em produzir conheci-mentos que possam tornar a criação de emas uma alternativa mais viável e rentável do que a de avestruzes.

O projeto “Criação de emas (Rhea americana): Uma nova e al-ternativa pecuária para o produtor rural do Estado do Rio de Janeiro”, coordenado pelo professor Fran-cisco Carlos Rodrigues de Oliveira, do Laboratório de Sanidade Animal (LSA) do Centro de Ciências e Tec-nologias Agropecuárias (CCTA) da Uenf, foi um dos aprovados no Edi-tal de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional da Faperj.

— Nos últimos anos, muitos produtores fluminenses desistiram de criar avestruzes devido a proble-mas com o manejo, a alimentação e a falta de assistência técnica es-pecializada. Além de serem menos

agressivas, as emas possuem menor porte e oferecem produtos e sub-produtos com a mesma qualidade que os oferecidos pelos avestruzes — diz o professor.

A pesquisa, que vai mobilizar seis professores do LSA, cinco doutorandos e seis mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, além de 10 alunos de graduação em Medicina Veterinária da Uenf, visa conhecer a fauna parasitária das emas, incluin-do sintomas, patologias e, conse-qüentemente, possíveis perdas na produção. A idéia é, futuramente, repassar os conhecimentos obtidos aos produtores rurais e técnicos que dão assistência aos criatórios. As pesquisas abrangem as áreas de produção, sanidade, helmintologia e patologia.

— Dentre outras coisas, preten-demos aumentar a produção de ovos; identificar as principais doen-ças que acometem as emas no Bra-sil; estudar os principais helmintos gastrintestinais, caracterizar as suas principais lesões, determinando tratamentos profiláticos e consoli-dar padrões para a inspeção sanitá-ria das carnes — diz o professor.

No momento, não existem criadores comer-ciais de emas no Estado do Rio de Janeiro. As poucas que existem servem de ornamentação ou atração turística em sítios, hotéis e pousadas. No Brasil, os produtores de emas estão localiza-dos nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Cen-tro-Oeste. Em todo o mundo, os Estados Unidos detêm o maior número de emas criadas em ca-tiveiro, assim como grande parte das pesquisas

sobre este animal. Na Europa, há fazendas de emas em diversos países, como Inglaterra, Sué-cia, Holanda, Bélgica, França e Portugal.

Nativas da América do Sul (Brasil, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina), as emas alimen-tam-se basicamente de pastagem, sementes e insetos, podendo viver até os 40 anos de idade. Cada fêmea coloca um ovo a cada dois ou três dias, totalizando cerca de 40 ovos por período

reprodutivo. Os animais estão prontos para o abate com 12 a 15 meses de idade, gerando aproximadamente 12 quilos de carne sem osso. A carne é praticamente livre de gordura — esta acumula-se na cavidade abdominal e sobre o lombo, na extremidade caudal, sendo facilmen-te separada da carne —, sendo rica em proteí-nas, ômega 3 e ferro, pouco calórica e com bai-xo teor de colesterol.

Ema: uma alternativa para o produtor

Por enquanto, só ornamentação

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Projeto coordenado pelo professor Helion Var-gas, do Laboratório de Ciências Físicas (LCFIS) da Uenf, foi contemplado no Edital de Apoio à Aqui-sição de Equipamentos de Grande Porte, lançado pela Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). O projeto prevê a aqui-sição de um espectrômetro de ressonância para-magnética eletrônica, no valor de R$ 1,4 milhão.

Segundo o professor Édson Corrêa — um dos 29 pesquisadores da Uenf que estão envolvidos no projeto —, o aparelho vai permitir avanços em várias áreas. Ele será utilizado por pesquisadores dos quatro Centros da Uenf (CCT, CCTA, CBB e CCH), através dos laboratórios de Física, Química, Materiais Avançados, Ci-ências Ambientais, Biologia Celular e Tecidual, Engenharia de Alimen-tos e Estudo do Espaço Antrópico.

— É interessante observar que a área de ciências humanas também vai se beneficiar, pois esta técnica pode ajudar a obter informações, por exemplo, no caso de peças ar-queológicas — diz o professor.

O equipamento poderá ajudar ainda em pes-quisas com materiais magnetocalóricos (alter-nativas para refrigeração que não prejudicam o ambiente), estudos focando os solos argilosos da região e o processo de produção de peças para a construção civil, aplicações tecnológicas de ce-râmicas, materiais e processos catalíticos de inte-resse da indústria petroquímica, materiais poli-méricos, caracterização de ecossistemas costeiros, alterações químicas durante a secagem das frutas, monitoramento da irradiação de alimentos visan-

do a sua conservação, entre muitos outros.A Ressonância Paramagnética Eletrônica

(RPE) é uma técnica consagrada, de alta sensi-bilidade e muito versátil, que pode ser aplicada aos mais diversos sistemas. Ela aplica campos magnéticos e radiação de microondas nas amos-tras, obtendo suas propriedades magnéticas e outras com estas ligadas. Os pesquisadores da Uenf, que vinham trabalhando com esta técnica utilizando equipamentos de outras universida-des, agora vão compartilhar o equipamento com

outras três instituições: a Embrapa, a UFRRJ e a UFRJ.

— O equipamento vai ampliar consideravelmente a disponibilidade de temas para o desenvolvimento de teses e para a obtenção de conheci-mento científico e tecnológico na Uenf. Sem dúvida, é uma técnica que precisa estar acessível para uma uni-versidade com o envolvimento em pesquisa de qualidade como a nossa e que se encontra distante dos gran-des centros — conclui o professor Édson.

Espectrômetro vai ampliar pesquisasProjeto, aprovado pela Faperj, vai mobilizar 29 pesquisadores da Uenf