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107 Revista Brasileira de Geomorfologia - v. 10, nº 2 (2009) www.ugb.org.br NOTA TÉCNICA CARTOGRAFIA E SIMBOLOGIA GEOMORFOLÓGICA: EVOLUINDO DA CARTOGRAFIA TRADICIONAL PARA O USO DE SIMBOLOGIA DIGITAL Sílvio Carlos Rodrigues Doutor em Geografia Física - Instituto de Geografia - Universidade Federal de Uberlândia - Av. João Naves de Avila, 2121 Bloco 1H Sala 16 - Cep 38400-902 - Uberlândia-MG - e-mail: [email protected] Resumo Este trabalho pretende discutir formas de promover a uniformização de símbolos utilizados na cartografia geomorfológica, baseando-se principalmente no sistema ITC, gerando padrões de informação entre os profissionais da área em questão e afins, além de facilitar a representação de feições do modelado e de processos morfodinâmicos das unidades geomorfológicas. Portanto, é apresentada uma sugestão de construção de linhas (linetypes) no software gráfico AutoCad, que tende a prontificar o uso de símbolos lineares digitais e otimizar o trabalho cartográfico por meio do emprego de símbolos já utilizados na cartografia geomorfológica. Palavras-chave: cartografia geomorfológica, simbologia geomorfológica, Sistema ITC Abstract This paper’s objectives are discuss ways of promoting just one kind of symbols group that have to be used on geomorphologic cartography, having its bases related mainly with the ITC System. So, a standardization will be done and the professionals will start to work just with a way, making the map visualization easier. For this, the paper shows a line construction suggestion using the software AutoCad, what will help in the process of standardization of the geomorphologic cartography. Keywords: geomorphologic cartography, geomorphological symbols, ITC System Introdução Por definição, a ciência geomorfológica identifica, classifica e analisa as formas da superfície terrestre, bus- cando compreender as relações processuais pretéritas e atuais do relevo planetário em seus diversos aspectos ge- néticos, cronológicos, morfológicos, morfométricos e di- nâmicos (RODRIGUES, 1998). Associada a classifica- ção e análise pressupõe-se ainda, uma descrição sobre o modelado e uma avaliação dos complexos físicos e físi- co-biológicos considerando-se também, a estrutura geo- lógica e os processos morfoclimáticos atuantes ao longo do tempo. Nesse sentido, intimamente ligado à interpretação dos dados competentes à Geomorfologia, é atribuído à Cartogra- fia Geomorfológica o papel de recurso gráfico, sendo citada por Ferreira (2003) como “uma importante ferramenta nos estudos ambientais e no planejamento físico-territorial, ge- rando subsídios para o entendimento dos ambientes natu- rais.”. Assim sendo, pode-se afirmar que o trabalho de car- tografia geomorfológica deve ser apoiado em critérios de representação gráfica bem definidos, a fim de otimizar a lei- tura e facilitar a interpretação dos fenômenos geomorfológicos. Sobre a ordenação dos procedimentos du- rante a elaboração de um mapeamento geomorfológico, Ross (1992) faz as seguintes considerações: Revista Brasileira de Geomorfologia, v.10, n.2, p.107-114, 2009

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Revista Brasileira de Geomorfologia - v. 10, nº 2 (2009)

www.ugb.org.br

NOTA TÉCNICA

CARTOGRAFIA E SIMBOLOGIA GEOMORFOLÓGICA:EVOLUINDO DA CARTOGRAFIA TRADICIONAL PARA O USO DE

SIMBOLOGIA DIGITALSílvio Carlos Rodrigues

Doutor em Geografia Física - Instituto de Geografia - Universidade Federal de Uberlândia - Av. João Naves de Avila,2121 Bloco 1H Sala 16 - Cep 38400-902 - Uberlândia-MG - e-mail: [email protected]

Resumo

Este trabalho pretende discutir formas de promover a uniformização de símbolos utilizados na cartografia geomorfológica,baseando-se principalmente no sistema ITC, gerando padrões de informação entre os profissionais da área em questão e afins,além de facilitar a representação de feições do modelado e de processos morfodinâmicos das unidades geomorfológicas.Portanto, é apresentada uma sugestão de construção de linhas (linetypes) no software gráfico AutoCad, que tende a prontificaro uso de símbolos lineares digitais e otimizar o trabalho cartográfico por meio do emprego de símbolos já utilizados nacartografia geomorfológica.

Palavras-chave: cartografia geomorfológica, simbologia geomorfológica, Sistema ITC

Abstract

This paper’s objectives are discuss ways of promoting just one kind of symbols group that have to be used on geomorphologiccartography, having its bases related mainly with the ITC System. So, a standardization will be done and the professionals willstart to work just with a way, making the map visualization easier. For this, the paper shows a line construction suggestion usingthe software AutoCad, what will help in the process of standardization of the geomorphologic cartography.

Keywords: geomorphologic cartography, geomorphological symbols, ITC System

Introdução

Por definição, a ciência geomorfológica identifica,classifica e analisa as formas da superfície terrestre, bus-cando compreender as relações processuais pretéritas eatuais do relevo planetário em seus diversos aspectos ge-néticos, cronológicos, morfológicos, morfométricos e di-nâmicos (RODRIGUES, 1998). Associada a classifica-ção e análise pressupõe-se ainda, uma descrição sobre omodelado e uma avaliação dos complexos físicos e físi-co-biológicos considerando-se também, a estrutura geo-lógica e os processos morfoclimáticos atuantes ao longodo tempo.

Nesse sentido, intimamente ligado à interpretação dosdados competentes à Geomorfologia, é atribuído à Cartogra-fia Geomorfológica o papel de recurso gráfico, sendo citadapor Ferreira (2003) como “uma importante ferramenta nosestudos ambientais e no planejamento físico-territorial, ge-rando subsídios para o entendimento dos ambientes natu-rais.”. Assim sendo, pode-se afirmar que o trabalho de car-tografia geomorfológica deve ser apoiado em critérios derepresentação gráfica bem definidos, a fim de otimizar a lei-tura e facilitar a interpretação dos fenômenosgeomorfológicos. Sobre a ordenação dos procedimentos du-rante a elaboração de um mapeamento geomorfológico, Ross(1992) faz as seguintes considerações:

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“A cartografação geomorfológica deve mapear concreta-mente o que se vê e não o que se deduz da análisegeomorfológica, portanto em primeiro plano os mapasgeomorfológicos devem representar os diferentes tama-nhos de formas de relevo, dentro da escala compatível.Em primeiro plano deve-se representar as formas de di-ferentes tamanhos e em planos secundários, a represen-tação da morfometria, morfogênese e morfocronologia,que têm vínculo direto com a tipologia das formas”.

Assim, podemos concluir que o processo demapeamento compreende desde os levantamentos e obser-vações diretas no campo, técnicas de representaçãocartográfica, análise de documentação, linguagem visual, atéa interpretação, publicação, e impressão definitiva do mapa.Ainda sobre o mapeamento geomorfológico Tricart (1965)(apud ROSS, 1996) afirma que este, “constitui a base dapesquisa e não a concretização gráfica de pesquisa já fei-ta”, servindo ao mesmo tempo nesse caso, como um instru-

mento de direcionamento e, quando concluído, síntese/pro-duto da mesma. (Rodrigues, 1998, Souza, 2006)

A questão temporal apresenta-se como uma variávelque a cartografia geomorfológica e os estudosgeomorfológicos enfocam com dificuldade. Nos trabalhos queabrangem grandes superfícies, a questão temporal é avaliadadentro da escala geológica do tempo. Nos estudos mais loca-lizados, este problema torna-se mais grave, pois a escala dotempo geológico nem sempre satisfaz o enfoque adotado,sendo difícil adotar outros intervalos menores de tempo en-volvidos nos processos ou na esculturação do relevo de de-terminadas áreas.

Tentando resolver esta questão Tricart (op. cit.) apre-senta uma proposta de classificação taxonômica dos fatosgeomorfológicos na qual as unidades de superfície têm cor-respondência com diferentes escalas temporais. Esta classi-ficação associa diferentes unidades da superfície da Terra adiferentes unidades espaço-temporais (Tabela 1).

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Rodrigues, S. C.

Tabela 1 - Tabela Sinótica. Classificação Taxonômica dos Fatos Geomorfológicos.

Fonte: Adaptado de Principles e Methodes de Geomorphologie, Tricart, J – 1965.

Esta preocupação também é encontrada no trabalho deMercerjakov (1968) quando analisa o problema de classifi-cação do relevo da Terra. Nesse trabalho é apresentada umaesquematização das morfotecturas, morfoestruturas emorfoesculturas segundo diferentes ordens espaciais, confor-me apresentado na Tabela 2.

Porém, nesse trabalho, a questão temporal acaba rece-bendo uma menor importância do ponto de vista cronológi-

co, passando a estar associada a eventos geológicos que atu-am na geração ou esculturação das morfoestruturas.

A questão da representação das formas de relevo apre-senta dificuldades quanto a sua concepção e conceituaçãoteórica e técnica. Diversas técnicas são utilizadas para acartografação do relevo, o trabalho de Salomé & Van Dorsser(1982) apresenta uma comparação entre seis modelos de re-presentação cartográfica do relevo de uma mesma área, mos-

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trando e comparando os diferentes resultados obtidos pelasdiferentes técnicas. Segundo Ross (1992), “A cartografiageomorfológica ressente-se da dificuldade de encontrar ade-quado modelo de representação gráfica, existindo uma di-versidade de propostas metodológicas, que valorizam sem-

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pre um determinado elemento do relevo”. Este também é oresultado a que chegam Salomé & Van Dorsser, através daexperiência citada acima, pois cada um dos modelos de re-presentação acaba seguindo preferencialmente uma ou outralinha de sustentação teórico-metodológica.

Tabela 2 - Esquema Geral de Classificação do Relevo da Terra

Fonte: Adaptado de I.P. Mercejakov - Les concepts de Morphostruture et Morphoesculture. Paris, Annales de Geographie, 1968

Seguindo recomendação da Demek (1998) a cartografiageomorfológica deve apresentar necessariamente quatro níveisde abordagem. Assim, devem ser anotados a morfometria(altimetria, dimensões, desníveis, extensões); a morfologia (for-mas do perfil, convexidades, concavidades, retilinidades, to-pos, rupturas, fundos de vale, etc); a gênese (agradação oudegradação); a cronologia relativa (datação absoluta, idaderelativa das formas) e o comportamento morfodinâmico.

Alguns autores preocuparam-se em estabelecer umahierarquização dos elementos do relevo segundo escalas es-paciais, como Tricart (Tabela 1), Mercerjakov (Tabela 2), eoutros, classes de cartografação e suas relações com as esca-las de representação, como o caso de Thomas e Young (apudFaniran & Jeje) (Tabela 3).

Tabela 3 - Hierarquia das Paisagens, conforme Proposto por Thomas e Young.

Fonte: Adaptado de Faniram A. & Jeje, L.K.(1980) - Humid Tropical Geomorphology

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Gellert (apud Demek, 1972) mostra com esta classifi-cação que os mapas geomorfológicos possuem um grandepotencial de aplicação prática, podendo ser confeccionadosconforme alguns direcionamentos específicos.

Da Cartografia Analógica à Cartografia Digital

A partir da década de 1970, com o surgimento e cres-cente ampliação do uso de microcomputadores, a ciênciacartográfica passou a se dedicar à automação do desenho. Apartir desse momento a Cartografia Analógica passa a contarcom a tecnologia do Geoprocessamento apoiada em softwarese hardwares cada vez mais sofisticados integrando as basesde informação alfa-numérica com a informação gráfica dedeterminado espaço correspondendo a Cartografia Digital.(Souza et al, 2004, p 136)

A automação dos mapas, por sua vez, também influencioudiretamente na Simbologia Gráfica (convenções) pelas novaspossibilidades de representação simbológica permitida pelossoftwares de desenho. As variáveis visuais do sistema de símbo-los da linguagem cartográfica tradicional foram gradativamentesubstituídas por cor e hachuras representadas por pontos, linhas epolígonos vetorizados. (Souza et al, 2004, p 137)

Neste caminho, a aplicação de técnicas de SemiologiaGráfica para a visualização de dados é um pressuposto da Car-tografia moderna, principalmente, no que diz respeito aos méto-dos condicionados a um sistema integrado de ferramentas SIG,que possibilitam a manipulação, armazenamento, representaçãográfica e a análise informações. (Souza et al, 2004, p 137)

Tendo como base as variáveis visuais utilizadas nasimbologia, a execução de um documento cartográfico deveseguir precisamente a linguagem da Semiologia Gráfica, ten-do sempre como objetivo a finalidade de um mapa, que estádiretamente associada à informação e à transmissão de co-nhecimentos. A partir de então, sugere-se a precisão e a pru-dência no uso dos símbolos, para que seus os usuários assi-milem os dados cartográficos e utilizem as informações daforma mais adequada. (Souza et al, 2004, p 138)

Geomorfologia apoiada na cartografia digital

A Geomorfologia, nas últimas décadas, tem apresenta-do novas técnicas metodológicas com uma roupagem atuali-zada dos parâmetros conceituais e uma base tecnológica apoi-ada nas ferramentas informatizadas, objetivando a aplicaçãodo conhecimento geomorfológico de forma eficaz aos estu-dos e manejos ambientais.

Tradicionalmente os mapas geomorfológicos registra-vam as feições geomorfológicas de uma área de forma des-critiva, baseando-se em sistema classificatório específico esem a preocupação de apresentar elementos cujo interesseestivesse associados a problemas ambientais. Este procedi-mento dava a estes mapas um valor prático direto pouco útil,por exemplo, para o planejamento ambiental.

Os mapas geomorfológicos assim concebidos come-çaram a ser produzidos a partir da Segunda Guerra Mundial,sendo considerado como um método fundamental para a aná-lise das formas do relevo. Entre as décadas de 1940 e 1970vários sistemas classificatórios aplicados ao mapeamento dasformas do relevo foram testados, alguns países da Europatais como a Holanda, Bélgica, Polônia, França e Suíça(Salome & Van Doorser, 1982).

Segundo Rosa, (apud SIQUEIRA, 1998):

“A forma do relevo é de fundamental importância noestudo das paisagens. As informações topográficas sãoindispensáveis, devendo ser representadas de formaprecisa, clara, simples e por meio de uma simbologiaelaborada de modo a aproximar-se ao máximo das for-mas existentes no espaço geográfico e a facilitar a sualeitura e interpretação. Devem também ser quantificadas,de modo a permitir a avaliação e interpretação corretado modelado”.

Atualmente nota-se que nas propostas metodológicas demapeamento a proposição orientada para retratar nos mapasgeomorfológicos com informações de interesse às necessida-des de um planejamento. A questão da cartografia e represen-tação das formas de relevo apresenta dificuldades em relaçãoa sua concepção e conceituação teórica e técnica. Diversasmetodologias são utilizadas na cartografação do relevo.

Atualmente, um importante aspecto a se considerarquanto à utilização de Sistemas de Informação Geográficaem mapeamentos geomorfológicos é a carência de modelosde convenções cartográficas otimizadas, ou seja, necessáriasno ato da vetorização das bases. Tal deficiência é ainda maisclara quando se procuro nos softwares utilizados, linhas es-pecificas para representação de feições geomorfológicas.(Souza, 2006)

Assim sendo, o objetivo principal desse trabalho é oemprego do software AutoCAD no desenvolvimento desimbologia para utilização na cartografia geomorfológicadigital sendo que, os pressupostos teóricos estão fundamen-tados no Sistema ITC para Levantamentos Geomorfológicos– “ITC textbook” (VERSTAPPEN & VAN ZUIDAM, 1975),onde são apresentadas convenções geomorfológicas e geo-lógicas básicas.

Segundo Brito & Rosa (1994), “um CAD possui fun-ções que permitem a representação precisa de linhas e for-mas, podendo ser utilizado na digitalização de mapas e car-tas”. No entanto, apresenta restrições no que diz respeito àatribuição de outras informações às entidades espaciais. Ape-sar disso, os CADs podem ser utilizados em conjunto com osSIGs, representando uma importante ferramenta no auxílio àdigitalização gráfica.

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Nesse sentido, o presente trabalho procura suprir a ca-rência de estudos mais detalhados a cerca do desenvolvimentoe aperfeiçoamento de linhas especiais para utilização comosimbologia na Cartografia Geomorfológica.

Sendo os sistemas CAD considerados recursos que con-templam as mais diversas áreas dentre as chamadas geotecnologias,tais estudos atem-se ainda, à problemática da conformidade deconvenções adotadas nos trabalhos cartográficos visto que, o usoda informática conseguiu flexibilizar as atividades da cartografiapossibilitando o uso de diversas simbologias gráficas, no entanto,facilitou simultaneamente a disseminação de estilos diferencia-dos, sem padrões definidos.

Metodologia

A pesquisa em questão propõe-se a investigar e aplicaros métodos de desenvolvimento e aperfeiçoamento das li-nhas digitais na Cartografia Geomorfológica. O procedimentotécnico-operacional utilizado parte do princípio de que, se épossível aperfeiçoar as linhas existentes conhecendo os pas-sos de elaboração, ou seja, os procedimentos de programa-ção utilizados, há também, condições de desenvolver símbo-los lineares segundo as intenções desejadas.

Nesse caso, o primeiro passo, consta de uma revisão bi-bliográfica a respeito do software, mais especificamente, sobreo tutorial, onde se encontram dados de grande relevância. Combase nas informações adquiridas, buscou-se novos fundamentosnas bibliografias científicas, manuais técnicos de informática

(software e hardware), Internet e, por meio de contatos comusuários e especialistas no sistema e/ou software CAD.

Sabendo-se que o desenvolvimento obedece a uma li-nha de programação, foram realizados testes na fase inicial dapesquisa com as linhas já existentes a fim de se verificar asparticularidades técnicas relativas à escala de apresentação,rotação e deslocamento em relação à origem, dos símbolos etextos dispostos na linha. Os tipos de linhas criados obedece-ram basicamente, aos padrões do Sistema ITC para Levanta-mentos Geomorfológicos – “ITC textbook” (VERSTAPPEN& VAN ZUIDAM, 1975), onde são apresentados símbolos li-neares e pontuais geomorfológicos e geológicos para mapas.Os testes foram realizados no Laboratório de Geomorfologiae Erosão dos Solos (LAGES) da Universidade Federal deUberlândia (UFU). As linhas concluídas foram utilizadas “apriori” em ensaios Cartográficos dentro do próprio LAGES.

Resultados

Simbologia Desenvolvida para utilização na cartografiaGeomorfológica

A partir dos padrões de símbolos lineares propostospelo Sistema ITC, principalmente, e em atenção a outras iden-tidades lineares identificadas em mapas geomorfológicos di-versos, foram desenvolvidas linhas para utilização na carto-grafia geomorfológica (quadro 3), utilizando-se das ferramen-tas e métodos para criação de entidades gráficas lineares(linetypes), disponíveis no software AutoCAD.

Quadro 1 – Linhas desenvolvidas para utilização na cartografia geomorfológica a partir dos padrões de símboloslineares propostos pelo Sistema ITC entre outros.

Adaptado de SOUZA.(2006)

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Para melhor elucidar a eficiência e a praticidade darepresentação gráfica das linetypes desenvolvidas a partir dosoftware CAD, foi analisado e adotado como base para oEnsaio Cartográfico, um mapa geomorfológico gerado a par-tir do PROJETO RADAMBRASIL e editado na escala1:1.000.000 no ano de 1982, mais especificamente, um tre-

cho da Folha SD.23 (Brasília) situado entre as coordenadasgeográficas: 13º00’ a 15º00’ de latitude sul e 44º00’ a 46º00’de longitude oeste de Greenwich.

É importante salientar que os símbolos constantes dasua legenda, correspondem apenas às feições lineares situadasna ordem de grandeza inferior ao último táxon considerado.

Figura 1 - Em evidência:representação gráfica dafeição geomorfológica“escarpa” por meio dosímbolo linearcorrespondente. Serra daCanastra/MG. Fonte:SOUZA (2006)

Figura 2 - Ensaio CartográficoUtilizando-se de LinhasSimples e Complexas da Regiãoda Serra da Canastra/MG.Detalhe de Formas de Relevodo Planalto Dissecado da Serrada Canastra evidenciando oescarpamento nas bordas daserra.

Fonte: SOUZA, (2006)

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Considerações finais

A cartografia de um modo geral apresenta atualmenteum vácuo de padronização sobre simbologia e esquemas derepresentação a nível nacional. Nos eventos relacionadossobre geomorfologia, são levantados constantementequestionamentos a respeito da necessidade de montar umacomissão de discussão sobre cartografia geomorfológica,demonstrando a urgência do tema bem como, a necessidadeexplicitada pela maioria da comunidade de geomorfólogos epesquisadores que usufruem os conhecimentosgeomorfológicos.

Cabe ressaltar que a questão sobre as dificuldades denormalização das convenções vai além do plano nacionalestendendo-se também à cartografia geomorfológica de paí-ses mais avançados, tanto em termos de estudos conceituaisquanto tecnológicos, gerando constantemente discussões acerca do assunto.

Diante desta realidade ocorre a necessidade de desen-volver metodologias adotando softwares alternativos quepossibilitem a criação de uma biblioteca digital de símbolospara serem disponibilizados aos profissionais da cartografiageomorfológica a fim de melhorar o trabalho e propiciar apadronização dos mapas, já que este é a base de toda a dis-cussão teórica.

O emprego do software AutoCAD nas versões 14 e2000 no desenvolvimento de simbologia cartográfica, alémde possibilitar um estudo mais avançado sobre a semiologiagráfica utilizada na cartografação geomorfológica, gera tam-bém, como produto, linhas especiais otimizadas que propor-cionam a redução do tempo gasto na confecção de um mapa.Ao longo do trabalho de Ensaio Cartográfico com a utiliza-ção de “linetypes” especiais, foi possível constatar a agilida-de e a versatilidade das entidades digitais, confirmando ashipóteses levantadas sobre os benefícios proporcionados pelaotimização da simbologia linear.

Entre os avanços identificados durante a prática dacartografação, destaca-se a redução do tempo de execuçãodo mapa e a facilidade de representação de determinadas fei-ções ligadas ao modelado e aos processos morfodinâmicosdas unidades geomorfológicas identificadas Ainda que se-jam ressaltados os resultados satisfatórios, deve-se citar osproblemas relacionados à apresentação virtual tais como: di-ficuldades de regeneração do desenho; distorção das linetypesnas curvaturas dos segmentos; conflitos entre os limites line-ares e as hachuras e problemas de apresentação impressa dasimbologia linear destacando a necessidade de reajustes naescala e forma das linhas para apresentação impressa. Sendoassim, a pesquisa segue sendo aprofundada na medida emque vão surgindo restrições operacionais quanto ao uso eaplicação da simbologia linear.

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