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* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência. Nota Técnica n° 0075/2011-SRD/ANEEL Em 21 de dezembro de 2011. Processo: 48500.006470/2011-33. Assunto: Proposta de abertura de Consulta Pública para o recebimento de dados e contribuições para análise dos impactos da aplicação do Decreto n o 97.280, de 16 de dezembro de 1988 (Padronização das tensões). I. DOS OBJETIVOS Essa Nota Técnica tem como objetivo apresentar constatações preliminares sobre os eventuais impactos da aplicação do Decreto n o 97.280, de 16 de dezembro de 1988, mostrando os possíveis cenários para padronização das tensões de distribuição de energia elétrica no Brasil e buscar, por meio de Consulta Pública, dados e contribuições para melhor analisar os impactos econômicos, sociais e técnicos da eventual uniformização das tensões. II. DOS FATOS 2. O art. 1º do Decreto n o 97.280, de 16 de dezembro de 1988, alterou o inciso III e o § 2º do art. 47 do Decreto n o 47.019, de 26 de fevereiro de 1957, estabelecendo tensões nominais padronizadas conforme segue: - transmissão e subtransmissão: 750; 500; 230; 138; 69; 34,5; 13,8 kV - distribuição primária em redes públicas: 34,5 e 13,8 kV - distribuição secundária em redes públicas: 380/220 e 220/127 volts, em redes trifásicas; 440/220 e 254/127 volts, em redes monofásicas; 3. O Decreto determinou ainda que a utilização de tensões nominais de transmissão, subtransmissão ou distribuição primária de energia elétrica diferentes daquelas estipuladas naquele artigo somente podem ser utilizadas em reforço ou extensão de linhas ou redes já existentes, desde que sejam técnica e economicamente justificáveis. Além disso, foi estabelecido que em ampliação, reforço, melhoria e

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* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

Nota Técnica n° 0075/2011-SRD/ANEEL

Em 21 de dezembro de 2011.

Processo: 48500.006470/2011-33. Assunto: Proposta de abertura de Consulta Pública para o recebimento de dados e contribuições para análise dos impactos da aplicação do Decreto no 97.280, de 16 de dezembro de 1988 (Padronização das tensões).

I. DOS OBJETIVOS

Essa Nota Técnica tem como objetivo apresentar constatações preliminares sobre os eventuais impactos da aplicação do Decreto no 97.280, de 16 de dezembro de 1988, mostrando os possíveis cenários para padronização das tensões de distribuição de energia elétrica no Brasil e buscar, por meio de Consulta Pública, dados e contribuições para melhor analisar os impactos econômicos, sociais e técnicos da eventual uniformização das tensões.

II. DOS FATOS 2. O art. 1º do Decreto no 97.280, de 16 de dezembro de 1988, alterou o inciso III e o § 2º do art. 47 do Decreto no 47.019, de 26 de fevereiro de 1957, estabelecendo tensões nominais padronizadas conforme segue:

- transmissão e subtransmissão: 750; 500; 230; 138; 69; 34,5; 13,8 kV

- distribuição primária em redes públicas: 34,5 e 13,8 kV

- distribuição secundária em redes públicas: 380/220 e 220/127 volts, em redes trifásicas; 440/220 e 254/127 volts, em redes monofásicas;

3. O Decreto determinou ainda que a utilização de tensões nominais de transmissão, subtransmissão ou distribuição primária de energia elétrica diferentes daquelas estipuladas naquele artigo “somente podem ser utilizadas em reforço ou extensão de linhas ou redes já existentes, desde que sejam técnica e economicamente justificáveis”. Além disso, foi estabelecido que “em ampliação, reforço, melhoria e

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Fl. 2 da Nota Técnica no 0075/2011–SRD/ANEEL, de 21/12/2011.

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reforma de redes secundárias de distribuição que envolva a instalação de transformador, somente podem ser utilizadas as tensões padronizadas nesse Decreto, exceto nos casos de troca de transformadores por avaria ou outras necessidades operacionais, enquadráveis no orçamento de despesas operacionais”.

4. Contudo, a aplicação do disposto nesse Decreto, da forma como disciplinado, pode apresentar impactos técnicos, sociais e econômicos não negligenciáveis, demandando a elaboração de estudos aprofundados para regulamentação efetiva da matéria. 5. Nesse sentido, foi realizada a Tomada de Preços no 04/2009 para contratação de consultoria especializada com o objetivo de realizar as seguintes atividades:

a) Levantamento da legislação atual e sua aderência à realidade dos sistemas de distribuição; b) Levantamento dos principais níveis de tensão existentes nas redes elétricas de distribuição de energia no Brasil; c) Estudo da compatibilidade dos equipamentos de baixa tensão existentes no mercado aos diversos níveis de tensão nominal de distribuição secundária; d) Estudo dos impactos técnicos e econômicos da padronização dos níveis de tensão de distribuição; e e) Elaboração das recomendações para regulamentação da padronização das tensões nominais de distribuição de energia elétrica.

6. Os trabalhos da consultoria foram realizados entre maio e dezembro de 2010 e as constatações dos estudos desempenhados são apresentadas na Nota Técnica n° 0027/2011-SRD/ANEEL. 7. As análises feitas pela Agência até o presente momento permitem criar um panorama do cenário nacional e estimar certos impactos da padronização de acordo com níveis de tensão. Entretanto, ainda são necessárias informações mais precisas acerca dos custos envolvidos, bem como formas de se estimar e mensurar os potenciais benefícios. III. DA ANÁLISE 8. A padronização das tensões pode envolver amplos investimentos e ter grandes consequências para todo o setor elétrico, necessitando, portanto, de prévia análise criteriosa que permita a regulação adequada do assunto. Para tanto, o processo para regulamentação foi estruturado com o intuito de se realizar uma análise dos impactos regulatórios que permita avaliar de maneira mais ampla os aspectos positivos e negativos da uniformização das tensões, por meio dos seguintes passos:

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Fl. 3 da Nota Técnica no 0075/2011–SRD/ANEEL, de 21/12/2011.

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a) Definição do problema e objetivos: estudo de quais são os níveis de tensão atualmente existentes no país, determinação de quais problemas a falta de padronização acarreta e de quais prejuízos o país possa estar sofrendo devido à diversidade nas tensões nominais de distribuição de energia elétrica, bem como especificação dos objetivos do presente trabalho para sanar os problemas constatados. b) Soluções possíveis: uma vez definido o problema, deve ser feita uma análise de quais seriam as possíveis soluções, com a definição de cenários de padronização que considerem os níveis de tensão a serem padronizados, o tempo para padronização, sua abrangência etc.

c) Análise dos impactos: execução de análise de custo-benefício ou uso de outras ferramentas de análise de multicritérios para que se tenha conhecimento das reais consequências da padronização das tensões.

d) Escolha do cenário: seleção da alternativa na qual a interação entre os benefícios e impactos na sociedade leve aos melhores resultados.

e) Implementação: análise criteriosa de como estabelecer as regras para implementação do cenário escolhido, de modo a executá-lo de maneira eficiente, considerando-se o que deve ser feito, o quão aceitável para a sociedade tal padronização seria, como fiscalizar, como aplicar penalizações pelo não cumprimento e qual seria a probabilidade da eventual punição ser efetiva e suas consequências.

9. A seguir, são apresentadas as constatações da SRD/ANEEL até o presente momento em cada uma dessas etapas, bem como em quais pontos específicos a participação da sociedade por meio da Consulta Pública pode contribuir efetivamente para que os objetivos sejam alcançados. III.1 Definição do problema e objetivos

10. A energia elétrica foi introduzida no Brasil em 1889, e o assunto começou a ser disciplinado já em 1903. Entretanto, a primeira legislação a tratar da padronização de tensão foi o Decreto nº. 41.019, de 1957, estabelecendo as tensões nominais que deveriam ser adotadas, preferencialmente, nas novas instalações de serviço de energia elétrica. Em 1973, a uniformização foi alterada pelo Decreto nº. 73.080 e, por fim, foram definidas as tensões e estabelecida a necessidade de adequação das instalações fora dos padrões pelo Decreto nº. 97.280/1988. 11. Entretanto, alguns níveis de tensão comumente utilizados não foram abrangidos pela legislação, como, por exemplo, 7.967 V para redes monofásicas. Além disso, certos valores adotados

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precisariam de melhor análise para que se possa entender os motivos de sua adoção e sua adequação aos padrões utilizados atualmente. Isso acontece, por exemplo, com o estabelecimento do limite entre atendimento em alta e baixa tensão (AT e BT) em 2,3 kV (Decreto no 62.724/1968). Esse limite foi determinado em função do sistema de 2,2 kV utilizado principalmente na Light São Paulo e Light Rio, em que os tap’s dos transformadores eram de 2.300, 2.185 e 2.070 volts. Atualmente, esses valores de tensão não são mais utilizados, tornando o limite de 2,3 kV obsoleto e incompatível com o limite de 1 kV utilizado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para delimitação da tensão de atendimento a unidades consumidoras de BT.

12. Outros assuntos que necessitam de estudos mais aprofundados para regulamentação do Decreto 97.280 englobam, por exemplo, a padronização das redes em 88 kV, que gerariam impactos grandes mas ainda não completamente mensurados e cujos benefícios ainda não são totalmente conhecidos. Tal fato também acontece na BT, onde a tensão de 254 V é padronizada pelo Decreto mas pode não ser adequada para ligação da maioria dos equipamentos eletroeletrônicos utilizados nas residências brasileiras. 13. Por meio de um levantamento das instalações elétricas feito pela consultoria com o apoio da ANEEL junto a 101 distribuidoras (concessionárias e permissionárias), obteve-se um panorama das tensões nominais de atendimento no Brasil. Essa pesquisa permitiu concluir que mais de 12% das unidades consumidoras conectadas à rede de baixa tensão (BT) e quase 37% das instalações ligadas à média tensão (MT) são atendidas em níveis nominais não padronizados (Tabela 1).

Tabela 1 – Redes de distribuição existentes nas 101 distribuidoras

BT MT AT

Padronizada Não

padronizada Padronizada

Não padronizada

Padronizada Não

padronizada Tensão de

Transmissão

Número de Tensões

5 6 4 26 2 2 2

Porcentagem de Unidades

Consumidoras 87,24% 12,76% 63,08% 36,92% 95,95% 4,01% 0,04%

Porcentagem de Linhas e

Redes 89,78% 10,22% 84,92% 15,08% 98,02% 1,48% 0,50%

14. Das tensões nominais inferiores a 230 kV existem duas que não são consideradas padronizadas pelo Decreto no 97.280, a de 88 kV e a de 161 kV, sendo a última pouco representativa e existente apenas na CEMIG. A tensão de 88 kV foi mencionada por 8 distribuidoras, sendo mais significativa no Estado de São Paulo. Já as tensões não padronizadas em média tensão são expressivas nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estando mais da metade do comprimento total de linhas e redes em média tensão com tensões nominais não padronizadas concentrada em apenas quatro concessionárias. Esse tipo de concentração de redes não padronizadas também vale na BT, em que apenas ELETROPAULO e

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CEMIG juntas são responsáveis por cerca de 85% das unidades consumidoras de baixa tensão conectadas em níveis não padronizados. 15. Essa situação é particularmente preocupante na BT tendo em vista que a grande maioria dos consumidores atendidos em tensão não padronizada não possui conhecimento da tensão nominal de sua unidade consumidora, mesmo constando mensalmente esta informação nas faturas emitidas pelas distribuidoras. Isso é ainda agravado pelo fato de que grande parte dos fabricantes de equipamentos eletroeletrônicos não cita nos manuais de seus produtos as tensões nominais e faixas de variação de tensões estabelecidas pela ANEEL, mesmo em casos em que o uso de equipamentos em tensões diferentes das de projeto possa acarretar prejuízos ao consumidor, tais como redução da vida útil, ineficiência energética e eventual queima.

16. Para que se tenha uma noção da repartição do consumo por nível de tensão nas redes de distribuição de energia elétrica, a Figura 1 apresenta esse panorama para o ano de 2010.

Figura 1 – Consumo de energia elétrica nas redes de distribuição por nível de tensão. Fonte: ANEEL, 2010.

17. Adicionalmente, a tabela 2 apresenta o consumo de energia elétrica nas unidades consumidoras atendidas por distribuidoras por Classe de Consumo para o ano de 2010.

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Tabela 2 – Consumo de energia elétrica – Distribuição – 2010 (em kWh). Fonte: ANEEL, 2010.

Nível de Tensão +230 kV 88-138 kV 69 kV 30-44 kV 2,3-25 kV BT

Classe de Consumo

Residencial 0,00 0,00 0,00 367,66 129.527,02 108.202.425,56

Consumidores Livres 2.688.780,39 53.271.327,96 7.170.581,34 266.572,35 8.243.808,38 0,00

Industrial 10.245.401,36 5.311.449,21 5.616.609,12 3.351.250,94 48.933.811,93 5.104.245,42

Comercial, Serviços e Outras 705.864,56 606.725,75 320.707,10 513.620,46 29.565.464,49 35.891.035,71

Rural 0,00 180.137,96 195.253,70 278.967,72 2.027.430,92 11.661.765,37

Poder Público 0,00 182.632,96 18.196,47 100.377,93 6.545.512,81 5.937.270,97

Iluminação Pública 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 12.106.730,91

Serviço Público 85.733,71 1.409.183,67 793.107,65 356.400,39 7.288.680,12 1.519.710,29

Consumo Próprio 0,00 0,00 0,00 297,40 224.234,72 435.904,80

Rural Aquicultor 0,00 0,00 1.778,61 304,23 133.016,65 259.894,34

Rural Irrigante 0,00 43.634,41 204.413,98 723.075,41 2.182.031,04 696.806,15

Total geral 13.725.780,03 61.005.091,91 14.320.647,95 5.591.234,49 105.273.518,07 181.815.789,53

18. Esses dados permitem traçar um perfil do tipo de unidades consumidoras conectadas a cada um dos níveis de tensão. Tais informações, juntamente com dados referentes aos tipos de equipamentos presentes em cada classe de consumo, permitem a modelagem das cargas ligadas em cada nível de tensão, possibilitando, assim, uma análise mais detalhada dos potenciais efeitos de uma eventual modificação no valor da tensão nominal de fornecimento. Estudos dessa natureza permitiriam que a ANEEL avaliasse os potenciais cenários de padronização das tensões de maneira mais eficiente. Portanto, espera-se que a sociedade possa contribuir com informações referentes a esse tipo de estudo que já tenham sido realizados, ou estejam em andamento, bem como acerca do potencial de se desenvolver trabalhos de Pesquisa e Desenvolvimento que tratem do assunto. 19. A falta de padronização das tensões leva ao aumento no custo de equipamentos para construção de redes, transformadores etc. Além disso, a indústria de aparelhos eletroeletrônicos também é afetada, tendo em vista que pode haver aumento de custos devido à necessidade de se projetar dispositivos para diversos níveis de tensão e essas diferenças entre valores nominais de tensão constituem uma barreira técnica ao livre comércio dos produtos. 20. Do ponto de vista dos consumidores, a falta de informações quanto ao nível de tensão da rede e quanto à tensão nominal dos equipamentos leva ao uso incorreto de aparelhos, reduzindo sua vida útil, causando mau funcionamento e diminuindo sua eficiência energética. 21. Outro ponto importante se refere às dificuldades de operação das redes de distribuição quando os níveis de tensão são diferentes. Nesses casos, a flexibilidade operativa fica reduzida, podendo elevar a duração de interrupções no fornecimento de energia elétrica aos consumidores, com impactos diretos nos indicadores de continuidade das distribuidoras de energia elétrica.

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22. Parte da solução para esses problemas poderia estar na padronização das tensões, iniciada por meio do Decreto nº. 97.280/1988, cuja eficácia e eventuais impactos ainda não foram integralmente analisados. Assim, a proposta de Consulta Pública tem o objetivo de avaliar a melhor forma de tratamento definitivo do tema, procurando considerar os custos associados para se atingir os benefícios que se espera de uma padronização em massa das tensões de distribuição de energia elétrica.

23. Para tanto, conforme explicado anteriormente nesta Nota Técnica, a análise da Agência pretende avaliar cenários para determinação das melhores opções para regulação da padronização das tensões no Brasil. Assim sendo, a seguir são apresentadas diretrizes para elaboração dos cenários possíveis, de forma a permitir à sociedade contribuir de maneira mais objetiva no processo de análise da ANEEL. III.2 Estabelecimento de cenários possíveis 24. Uma abordagem inicial do tema indicaria a formulação de quatro cenários básicos, definidos com base nas tensões a serem padronizadas:

• Nenhuma padronização • Todas as tensões do decreto • Somente AT e MT • Somente BT

25. Esse enfoque levaria à eventual necessidade de se criar subcenários nos quais seriam considerados critérios relativos ao tempo para padronização e à sua área de abrangência (uniformemente em todo o país, por região, por unidade federativa, por área de concessão etc.). 26. Assim sendo, com base na combinação desses critérios, a Agência espera contribuições de distribuidoras, consumidores, fabricantes de equipamentos e associações no sentido de fornecer informações sobre quais seriam os melhores cenários para padronização das tensões no Brasil. 27. A partir das contribuições apresentadas, a Agência pretende realizar uma análise dos pontos positivos e negativos em cada cenário, escolhendo a melhor opção e definindo as ações necessárias à sua implementação. 28. Para se atingir esses objetivos, uma análise prévia das eventuais consequências regulatórias da padronização é imprescindível, posto que os custos e demais impactos envolvidos na uniformização das tensões podem ser bastante expressivos e os benefícios advindos desse processo podem não fazer face aos seus efeitos negativos. III.3 Análise dos Impactos da padronização das tensões 29. A avaliação dos impactos regulatórios necessita de análise completa dos possíveis benefícios e prejuízos trazidos pela regra a ser proposta. Para que isso se dê de forma adequada, é necessária efetiva

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contribuição da sociedade, por intermédio de consumidores, distribuidoras de energia, fabricantes e importadores de equipamentos etc. 30. Um primeiro mapeamento permitiu delinear eventuais impactos negativos da padronização das tensões:

a) Aumento de tarifas

b) Custos com troca de equipamentos dos consumidores (aparelhos de unidades consumidoras conectadas na BT, transformadores e equipamentos de consumidores em AT)

c) Aumento dos indicadores de continuidade para realização dos trabalhos de padronização

31. Adicionalmente, dentre os possíveis benefícios da padronização das tensões destacam-se:

a) Melhor uso dos equipamentos eletroeletrônicos dos consumidores, incluindo:

- aumento da vida útil

- melhor desempenho técnico

- redução de consumo

b) Diminuição de custos de produtos eletroeletrônicos devido à eliminação de barreira técnica

(tensões nominais do equipamento) ao livre comércio

c) Ganhos de escala na produção e comércio de produtos;

d) Diminuição de custos devido à padronização de equipamentos usados na construção das redes

e) Aumento da flexibilidade operativa nos sistemas de distribuição de energia elétrica,

possivelmente diminuindo interrupções no fornecimento

f) Nos casos em que a padronização se dá pela elevação da tensão para um nível padronizado superior ao nível de tensão atual, pode ainda haver:

- redução de perdas técnicas,

- redução do carregamento das linhas, com aumento da capacidade e consequente

postergação de investimentos,

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- diminuição das quedas de tensão (aumentado inclusive o faturamento das

distribuidoras) 32. No ANEXO I é apresentado o impacto tarifário estimado em cada distribuidora de energia elétrica para adequação de cada um dos níveis de tensão não padronizados existentes no Brasil. São mostrados somente os casos em que o impacto tarifário seria maior que 0,01%. Os dados foram calculados a partir de estimativas de custos fornecidas pelas próprias distribuidoras à ANEEL, considerando-se que os investimentos seriam uniformemente realizados ao longo de quatro anos e com metodologia estabelecida no trabalho da consultoria especializada contratada pela Agência.

33. Complementarmente, o ANEXO II apresenta estudos realizados pela consultoria especializada com o intuito de estimar impactos tarifários da padronização das tensões no Brasil. 34. Em relação à padronização das tensões em BT, a compatibilidade dos equipamentos aos níveis de tensão em regime permanente é de grande importância, pois não seria conveniente permitir que a distribuidora adotasse níveis de tensão nominal de distribuição incompatíveis com os principais equipamentos dos consumidores. Nesse contexto, uma análise da compatibilidade dos equipamentos de baixa tensão existentes no mercado aos diversos níveis de tensão nominal de distribuição secundária foi desenvolvida pela consultoria contratada pela ANEEL e o relatório é apresentado no ANEXO III.

35. No que tange aos demais impactos, as contribuições da sociedade no sentido de fornecer dados e possíveis metodologias de mensuração à Agência é indispensável para realização dos trabalhos de forma a se adotar a opção que traga melhores resultados para o país. 36. Em que pese já terem sido efetuados certos estudos dos impactos negativos dos possíveis cenários, com análise dos custos e impactos tarifários, a mensuração/quantificação dos benefícios carece de dados adicionais que poderiam ser fornecidos pela sociedade. Nesse sentido, um dos objetivos da presente Consulta Pública é solicitar que a sociedade contribua com dados ou metodologias que permitam a correta mensuração (monetária ou não) dos potenciais benefícios da padronização. 37. Espera-se que a sociedade se manifeste no sentido de realizar análise crítica dessa Nota Técnica e dos Relatórios (Anexos) fornecidos pela Agência, utilizando, se necessárias, as informações constantes nesses documentos e apresentando sugestões de como melhor gerir os níveis de tensão nominal de distribuição no Brasil.

III.4 Escolha do melhor cenário e formas de implementação 38. Uma vez produzidos os cenários possíveis e feitas as análises de seus impactos, com contribuições provenientes da Consulta Pública à sociedade, a Agência pretende determinar o cenário mais adequado e estabelecer as formas de execução e controle para que os objetivos sejam alcançados.

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QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 39. A seguir são apresentadas questões elaboradas com o intuito de permitir a participação de consumidores, distribuidoras, fabricantes, acadêmicos e demais interessados nas análises para regulamentação da eventual padronização das tensões de distribuição no Brasil. Não há necessidade de enviar resposta para todos os itens, podendo o colaborador restringir-se àqueles que considerar mais adequados. No entanto, ressaltamos a importância de se justificar adequadamente a resposta aos itens, de modo a fornecer à Agência o embasamento necessário para avaliação do tema. 40. As questões são indicativas e servem para estimular a discussão nos pontos já identificados. Ressaltamos que contribuições adicionais são bem vindas, não sendo necessário que a contribuição se limite apenas às questões enumeradas neste documento.

1. Baixa Tensão

1.1. Quais níveis de tensão BT devem ser os padronizados? Favor justificar. 1.2. A tensão padronizada em BT deve ser a mesma em todo território nacional? Favor justificar. 1.3. Quais os impactos da falta de padronização das tensões (principalmente em BT) para os

consumidores? Há dados confiáveis acerca dos prejuízos relativos à redução da vida útil, queima de equipamentos, mau funcionamento e ineficiência energética oriundos da atual configuração de tensões no país?

1.4. Quais os ganhos com eliminação de barreiras técnicas ao livre comércio de equipamentos

eletroeletrônicos com a padronização das tensões? Quais os valores de tensão padronizada (BT) apresentariam maiores ganhos dessa natureza?

1.5. Ainda no que tange à mensuração/quantificação, quais as melhores formas de avaliar os benefícios

com: redução de perdas técnicas pela padronização em um nível de tensão mais elevado; aumento de capacidade da rede e consequente postergação de investimentos; e melhoria do nível de tensão?

1.6. Além dos benefícios já explicitados na presente Nota Técnica, que benefícios adicionais podem ser

esperados com a padronização das tensões BT?

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1.7. Quais os custos decorrentes de interrupções para realização dos serviços de troca do nível de tensão? Quais as formas, monetárias ou não, de se quantificar esses problemas?

1.8. Na análise dos eventuais impactos tarifários da padronização das tensões apresentada no ANEXO II

não foram considerados os benefícios com postergação de investimentos. Tais benefícios seriam expressivos? Como mensurá-los?

1.9. Quais ações poderiam diminuir os custos envolvidos na padronização das tensões?

1.10. Quais ações poderiam majorar os benefícios envolvidos na padronização das tensões?

2. Média Tensão

2.1. Quais níveis de tensão AT e MT devem ser os padronizados? Favor justificar. 2.2. A padronização da AT e MT deve ser a mesma em todo território nacional? Favor justificar.

2.3. Em que sentido a padronização da AT e MT aumentam a flexibilidade operativa das redes de

distribuição? Quais os reais benefícios desse aumento? Como mensurá-los?

2.4. Para MT, os impactos nas tarifas de energia elétrica de uma eventual padronização podem ser elevados. Além dos aspectos já abordados nesta Nota Técnica, há elementos que possam justificar a padronização de redes de MT somente em 13,8 ou 34,5 kV?

3. Cenários

3.1. Como devem ser estabelecidos os cenários para comparação dos impactos da padronização das tensões? Favor justificar.

3.2. No caso de se considerar quatro cenários, de acordo com as tensões a serem padronizadas, haveria

a necessidade de inclusão de subcenários? Como eles deveriam ser formados?

3.3. Qual ferramenta de análise dos critérios (relação custo-benefício, análise de multicritérios etc.) seria mais apropriada para a correta mensuração e comparação dos impactos positivos e negativos?

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Fl. 12 da Nota Técnica no 0075/2011–SRD/ANEEL, de 21/12/2011.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

4. Embasamento e formas de atuação

4.1. A realização de projetos piloto de padronização das tensões poderia ser uma ferramenta efetiva para avaliar a necessidade e modo de atuação? Como deveriam ser implementados?

4.2. A realização de ações de P&D poderia ser uma ferramenta efetiva para melhor conhecimento do

assunto? Caso positivo, que tipo de ações deveriam ser desenvolvidas?

4.3. Há estudos realizados em outros países para avaliação da padronização das tensões? O que esses estudos concluem? Como podem ser aplicados à realidade brasileira?

4.4. Como a ANEEL deve interagir com outras instituições (INMETRO, ABNT, Ministérios) para melhorar a

adequação entre os equipamentos eletroeletrônicos comercializados no país e as tensões nominais de distribuição?

IV. DO FUNDAMENTO LEGAL

41. A presente Nota Técnica fundamenta-se nos seguintes dispositivos:

a) A Lei no 9.427, de 26 de dezembro de 1996; b) O artigo 4°, do Anexo do Decreto no 2.335, de 6 de outubro de 1997, estabelece, nos

seguintes incisos, que à ANEEL compete: “(...)

IV - regular os serviços de energia elétrica, expedindo os atos necessários ao cumprimento das normas estabelecidas pela legislação em vigor; (...) XVI - estimular a melhoria do serviço prestado e zelar, direta e indiretamente, pela sua boa qualidade, observado, no que couber, o disposto na legislação vigente de proteção e defesa do consumidor; (...)”;

c) Art. 47 do Decreto no 41.019, de 26 de fevereiro de 1957; e d) Decreto no 97.280, de 16 de dezembro de 1988.

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Fl. 13 da Nota Técnica no 0075/2011–SRD/ANEEL, de 21/12/2011.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

DA CONCLUSÃO 42. O Decreto no 97.280/1988 estabeleceu que a utilização de tensões nominais de transmissão, subtransmissão e distribuição primária diferentes das padronizadas no art. 47 do Decreto no 41.019/1957 somente poderiam ser utilizadas em reforço ou extensão de linhas ou redes já existentes, desde que fossem técnica e economicamente justificáveis. 43. Esse Decreto estabeleceu, também, que em ampliação, reforço, melhoria e reforma de redes secundárias de distribuição que envolva instalação de transformador somente poderiam ser utilizadas as tensões nominais padronizadas, exceto nos casos de troca de transformadores por avaria ou outras necessidades operacionais, enquadráveis no orçamento de despesas operacionais.

44. A aplicação do disposto nesse Decreto, da forma como disciplinado, pode representar impactos técnicos e econômicos às distribuidoras, até hoje não devidamente avaliados. 45. A padronização das tensões pode trazer benefícios pela possível economia em projetos, equipamentos e subestações, favorecendo a melhoria da confiabilidade pela maior facilidade nas interligações e reconfigurações dos sistemas elétricos, além de ganhos no desempenho de equipamentos eletroeletrônicos. 46. Entretanto, para efetiva avaliação dos impactos positivos e negativos da padronização das tensões nominais das instalações existentes e das expansões dos sistemas elétricos de distribuição é imprescindível a participação efetiva da sociedade, contribuindo com informações, dados e metodologias que permitam que a Agência avalie as melhores ações a serem tomadas.

47. Com isso, podem ser realizados estudos de modo a adequar a regulamentação à realidade do país e aos objetivos almejados pela sociedade, com ponderação dos impactos e estabelecimento de metas e formas de controle efetivas.

48. Dessa forma, a avaliação dos impactos da padronização das tensões de distribuição de energia elétrica no Brasil exige uma discussão abrangente com os diversos setores da sociedade e, assim, a SRD incluiu esta questão em sua Agenda Regulatória Indicativa para o biênio 2011-2012, conforme Portaria ANEEL nº 1.447, de 12 de janeiro de 2010 e expõe as informações e questionamentos da presente Nota Técnica com o intuito de obter subsídios da sociedade para nortear os estudos da Superintendência para aperfeiçoamento dos regulamentos desta Agência.

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Fl. 14 da Nota Técnica no 0075/2011–SRD/ANEEL, de 21/12/2011.

* A Nota Técnica é um documento emitido pelas Unidades Organizacionais e destina-se a subsidiar as decisões da Agência.

VI. DA RECOMENDAÇÃO 49. A SRD recomenda a instalação de processo de Consulta Pública, na modalidade intercâmbio documental, com período de noventa dias para recebimento de contribuições sobre as questões apresentadas nesta Nota Técnica, visando dar suporte aos estudos desenvolvidos por esta Superintendência para eventuais alterações na regulamentação vigente.

DANIEL VIEIRA Especialista em Regulação – SRD

ARMANDO SILVA FILHO Especialista em Regulação – SRD

De acordo:

IVAN MARQUES DE TOLEDO CAMARGO Superintendente de Regulação dos Serviços de Distribuição