Notas Sobre o Artigo a Investigação Em Educação

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Notas sobre o artigo “A Investigação em Educação – Modelos Socioepistemológicos e inserção institucional”

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  • Notas sobre o artigo A Investigao em Educao Modelos Socioepistemolgicos e insero institucional

    de Guy Berger. Educao Sociedade E cultura, n 28, 2009, 175-192

    O conferencista (Guy Berger) comea por chamar a nossa ateno para as presses sociais em relao

    investigao educacional, ao mesmo tempo que reala o facto de os produtos resultantes das investigaes

    realizadas no serem levadas a srio e a enorme desconfiana em torno destes trabalhos. Reala ainda, o

    grande interesse manifestado pela sociedade em geral em relao educao dizendo que o nico tema em

    Frana que consegue promover manifestaes com mais de 500 mil pessoas.

    Em seguida fala da importncia da relao que temos com o tema e a nossa experincia pessoal, para a

    compreenso deste e para as metodologias utilizadas, afirmando que a experincia da investigao em

    cincias sociais, tende a ser, um trabalho de reelaborao e reinterpretao, de um conjunto de fenmenos

    que todos experienciamos. Portanto, tem sempre por base o nosso background cultural ou os nossos pr-

    adquiridos.

    O autor analisa os dois modelos de abordagem nas cincias Sociais, sendo o primeiro modelo o de algum que

    capaz de saber o que os outros no sabem, portanto, que se coloca a si mesmo numa posio de

    superioridade em relao aos que executam a atividade que ele investiga, produzindo um olhar exterior sobre

    o assunto e sobre comportamentos considerados cegos e desprovidos de saber sobre eles prprios.

    No segundo modelo admite-se que o investigador deve ir buscar a construo do saber junto daqueles que

    sabem baseando-se nas suas experincias. Analisa o aparecimento dos prticos-investigadores (auto-

    investigadores) que se recusam a ser esmagados por um saber elaborado sua margem ou revelia das

    suas experincias e os trata como objetos, tornando-se assim investigadores do seu prprio trabalho.

    O papel do Estado, bem como os seus interesses na investigao educacional, analisado pelo palestrante,

    que se refere a esta entidade como sendo um parceiro de primordial importncia, que, para alm de exercer o

    papel de rbitro, ainda detm nas suas mos o poder de deciso sobre tornar ou no operatrios os resultados

    das investigaes introduzindo-os na prtica diria de educao das escolas.

    Guy Berger faz comparaes com o que se passa a nvel de investigao noutros domnios das cincias tais

    como na medicina, fsica, biologia, agronomia, etc. que, contrariamente educao, interessam mais a setores

    privados e empresariais do que ao Estado.

    So os professores aqueles que maioritariamente podem vir a interessar-se por aquilo que se escreve e faz

    neste domnio, havendo uma tendncia para que novas descobertas (resultados) fragilizem o seu estatuto (de

    professor), visto que colocam em causa as suas prticas dirias de trabalho, mas tambm existem tendncias

    que podem ajudar a definir esse mesmo estatuto, dependendo, claro est, dos resultados obtidos com as

    investigaes.

    O autor faz uma distino entre dois tipos especficos de investigao que se deduzem de alguns textos

    publicados em Frana, a microinvestigao e a macroinvestigao, salientando a tendncia para definir as

    cincias da educao, no em referncia a campos tericos, mas sim a dois tipos de relao com a prtica.

    Nesta perspetiva, ele considera a investigao psicolgica, a investigao cognitiva, definida como sendo

    macroeducativa, a par da macrossociologia de Bourdieu ou de Boudon. Por outro lado a abordagem clnica de

    um psicanalista, por exemplo, as anlises s interaes entre duas pessoas, ou mesmo a interao numa sala

    de aula definem-se como microeducativas. Prticas imediatas dos atores (microeducativas) vs. prticas

    macrossociais (macroeducativas).

    Guy Berger refere que se o nosso objeto uma prtica, quer seja de Estado, quer de um ou dois indivduos,

    ento a investigao em educao transforma-se em praxiologia, ou seja, no uma investigao capaz de

    produzir no sentido clssico do termo, mas sim, apenas sobre um certo tipo de aes. Ele considera este

  • panorama como sendo uma ameaa para as cincias da educao, ameaa que se vem a juntar ao primeiro

    tipo de ameaas que era a da sua dissoluo em disciplinas. Esta situao, segundo Guy Berger, torna difcil

    distinguir o que da ordem de pesquisa e o que da ordem de estudo. Debate-se a educao no opondo o

    conhecimento ignorncia, mas sim, argumentando de opinio em opinio.

    O autor faz referncia ao facto de, independentemente do mtodo de investigao utilizado, a pessoa

    questionada se indagar, antes de responder, sobre o que ser que o investigador pretende que ela responda,

    sendo a sua resposta uma interpretao pessoal da pessoa inquirida, sobre a resposta esperada. Desta forma

    ele pode aceitar a resposta ou rejeit-la, tornando-se assim em algo mais do que um simples resultado de uma

    interpretao pessoal. Segundo Berger, Devereux chama a ateno para o facto da metodologia utilizada na

    investigao proteger o investigador no s do transfert, mas tambm do contra-transfert, chamando aos

    instrumentos de investigao de sistema de proteo, mesmo quando so do tipo quantitativo, em relao

    dupla relao que ele mantm com o objeto. Transfert e contra-transfert, reao atravs de rejeies,

    aceitaes, satisfaes, ou angstias, quando o objeto de investigao o interpela.

    Berger fala-nos da necessidade que o investigador tem em compreender o sentido que determinada ao de

    formao, seja ela de que tipo for, tem para todos os atores intervenientes, no s na formao, mas tambm,

    para quem a financia e quem vai dar emprego aos formandos (alunos) sados dela, salientando ainda a

    necessidade atual de atender aos aspetos dos trabalhos etnogrficos (etnografia em educao).

    Na conferncia o autor faz referncia tendncia mais atual nos Estados Unidos, Alemanha, Frana, etc. de os

    investigadores no fazerem incidir as suas pesquisas nem no macro nem no micro, mas sim, ao nvel do

    estabelecimento escolar de ensino, encarado, no apenas como o lugar onde se estabelecem interaes entre

    o meio e as prticas educativas, mas tambm, o espao de interaes onde se implicam diversos atores como

    os educadores, educandos, pais, etc. Este nvel, visto como intermedirio, constitui hoje segundo Berger um

    dos nveis privilegiados de anlise.

    Macrossocial: descrito pelo autor como tendo sido durante muito tempo o objeto de estudo da Sociologia da

    Educao.

    Microssocial: Objeto de estudo preferido durante muito tempo pela Psicologia da Educao.

    Nvel intermedirio de anlise: estabelecimento de ensino, espao onde se constri o sujeito na articulao

    entre o sujeito individual e o sujeito social.

    A articulao entre o social e o psicolgico, atravs da apreenso de trajetrias simultaneamente individuais

    e coletivas, encaradas simultaneamente como uma histria coletiva e como histria individual.

    Concluso:

    De uma maneira geral, depreende-se que o investigador se mostra apreensivo com a possibilidade real da

    grande maioria das investigaes em educao poderem ser tendenciosas, visto que, quer sejam feitas por

    professores, quer por pessoas externas escola, quem as faz, est sempre comprometido em algum aspeto,

    com, pelo menos uma ou mais das partes interessadas, que, atravs do financiamento para a pesquisa,

    ideologia poltica, etc. podem manipular de alguma forma a investigao e o tipo de resultados obtidos, para

    que estes sejam os que mais lhes interessam. Esta manipulao tanto pode ser feita pelo Estado, como pela

    prpria instituio escolar, ou ainda pela prpria sociedade, que de alguma maneira influi no trabalho do

    investigador. Por outro lado tambm existe uma preocupao geral em definir o objeto a investigar e em

    atribuir-lhe um lugar no espao e no tempo. Macrossocial, microssocial, intermedirio, etc.