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NOTICIAR Fundador: Renata Silva www.noticiar.pt Directora: Renata Silva Director-adjunto: Rena- ta Silva Preço: 1,90 Edição número 1 27 de Novembro de 2008 Sai às quintas-feiras EM DESTAQUE: Maria José Magalhães:“ Temos que lutar para que a igualdade se concretize cada vez mais” P 7/8/9 EM DESTAQUE: Explicações no desemprego O desemprego é cada vez maior em Portugal. O ensino é uma das áreas mais afectadas. Em resposta às não colocações, às dificuldades e à incerteza, os professores recém-licenciados procuram um lugar em centros de explicações. P 2/4 Cultura World Press Photo O melhor do fotojornalismo inter- nacional e nacional está exposto, a partir desta sexta-feira, no Fórum da Maia, com fotografias do World Press Photo 2008 e da última edição do Prémio Fotojor- nalismo Visão/BES. P 13 Inauguração Cine-Teatro Constantino Nery Matosinhos: Fogo e música no regresso do Cine-Teatro Constantino Nery P 13 Economia Portugal é dos países da OCDE com maior diferença entre ricos e pobres Portugal é um dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) onde há maior diferença entre ricos e pobres. Na mesma posição encontram-se os Estados Unidos. Atrás de Portugal e EUA surgem a Turquia e o México. P 5 Internacional Mais de 100 mortos em Bombaím A cidade indiana de Bombaim foi, esta quarta-feira à noite, alvo de ataques terroristas, dos quais resultaram cerca de 125 mortos e 300 feridos. P 6 Notícias sempre actualizadas em: www.noticiar.pt Grátis com o seu jornal:

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Jornal realizado para a cadeira de Ateliês de Jornalismo, no 3º e último ano do Curso de Ciências da Comunicação da UP

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NOTICIAR Fundador: Renata Silva

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Directora: Renata Silva

Director-adjunto: Rena-ta Silva

Preço: 1,90

Edição número 1

27 de Novembro de 2008

Sai às quintas-feiras

EM DESTAQUE:

Maria José Magalhães:“ Temos que lutar para que a igualdade se concretize cada vez mais” P 7/8/9

EM DESTAQUE: Explicações no desemprego

O desemprego é cada vez maior em Portugal. O ensino é uma das áreas mais afectadas. Em resposta às não colocações, às dificuldades e à incerteza, os professores recém-licenciados procuram um lugar em centros de explicações.

P 2/4

Cultura

World Press Photo

O melhor do fotojornalismo inter-nacional e nacional está exposto, a partir desta sexta-feira, no Fórum da Maia, com fotografias do World Press Photo 2008 e da última edição do Prémio Fotojor-nalismo Visão/BES.

P 13

Inauguração Cine-Teatro Constantino Nery

Matosinhos: Fogo e música no regresso do Cine-Teatro Constantino Nery

P 13

Economia

Portugal é dos países da OCDE com maior diferença entre ricos e pobres

Portugal é um dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) onde há maior diferença entre ricos e pobres. Na mesma posição encontram-se os Estados Unidos. Atrás de Portugal e EUA surgem a Turquia e o México.

P 5

Internacional

Mais de 100 mortos em Bombaím

A cidade indiana de Bombaim foi, esta quarta-feira à noite, alvo de ataques terroristas, dos quais resultaram cerca de 125 mortos e 300 feridos. P 6

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Quando o número de desempregados chega a atingir os 40 mil, os centros de explicações são vistos por muitos professores como uma oportunidade para o futuro, quer como negócio próprio, quer como emprego na área do ensino.

ACTUAL

NOTICIAR 27 de Novembro 2008 2

O desemprego é cada vez maior em Portugal. O ensino é uma das áreas mais afectadas. Em res-posta às não colocações, às dificuldades e à incerteza, os professores recém-licenciados pro-curam um lugar em centros de explicações. Estes centros são hoje em grande número e a procura por parte dos professores é muita. Uns criam os seus próprios negócios, abrindo novos centros de estudos e apostando nos mesmos e outros procuram trabalho enviando currículos para os mais diversos locais.

Situado na Rua do Campo Alegre, o Centro de Estudos Diana Magalhães representa um destes casos. Diana Magalhães criou o seu próprio negócio há dez anos atrás. Acabou o curso de Línguas e Literaturas Modernas - variante Portu-guês Alemão na Faculdade de Letras da Univer-sidade do Porto em 1989. Chegou a dar aulas, por motivos de substituição, durante 5 meses. Desde então, nunca mais conseguiu colocação. Procurou durante vários anos, até que há dois anos atrás acabou por desistir. Farta de incerte-zas, Diana Magalhães, revela: “ Gostei tanto da experiência do ensino que resolvi de uma outra forma, estando ligada ao ensino e não estando sujeita a ser chamada ou não, na incerteza, criar um centro de explicações.” Para além do Centro de Estudos trabalhou também como secretária.

Num ambiente de ensino e de alegria por parte das crianças, que insistiam em ser entrevistadas, foram-se revelando outros factos acerca do cen-tro de explicações. No início, segundo afirma a professora, o centro teve poucos alunos e o pre-juízo foi grande. É também um negócio que não compensa face ao ensino, como nos demons-trou. As explicações acabam forçadamente em Junho, tempo de férias e começam em Setem-bro. Natal e Páscoa são alturas complicadas. As regalias também não são muitas. Sem direito a subsídios, Diana Magalhães tem que pagar a todos os professores, ainda que os pais fiquem a dever.

Hoje em dia o trabalho no centro é maior. Exige dedicação a cem por cento. O centro de Estudos Diana Magalhães tem cerca de seis professores a trabalhar e são vários os alunos que o frequen-tam.

EXPLICAÇÕES NO DESEMPREGO DESTAQUE

Renata Silva

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O desemprego constitui ainda uma preocupação, mesmo para quem trabalha num centro de expli-cações. As perspectivas de futuro são outras e a quantidade da procura para tão pouca oferta tam-bém é preocupante. Diana Magalhães afirma que, todas as semanas, a caixa de e-mails enche com currículos de muitos recém-licenciados à procura de emprego. “ Todas as semanas tenho que arquivar uma série de currículos. Muitas vezes vêm cá pessoalmente, perguntar se estão a precisar de professores”, afirma. O panorama define-se. Não há colocações e o trabalho procu-ra-se em tudo o quanto é parte: colégios priva-dos, centros de explicações, escolas, etc.

Foi o que fez Catarina Brito. É uma das professo-ras a trabalhar neste centro de explicações. Com um sorriso e até alguma esperança, conta que andou a espalhar currículos por vários locais. Até que em 2005 encontrou trabalho no centro de explicações Diana Magalhães, onde revela gos-tar do que faz, embora não seja uma situação estável. Licenciou-se em Português via ensino, na Universidade do Minho e terminou o estágio em 2002. Desde então, nunca foi colocada e espera sempre por uma colocação, embora saiba que, na lista, o seu nome se encontra entre os 4000.

Contudo, alguns professores acabam mesmo por ficar colocados. Diana Magalhães, como qual-quer directora de um centro, fica preocupada com a situação, pois eram pessoas com quem contava e que têm de deixar de trabalhar lá. Colocada ficou a professora Carla Cruz que, ape-sar de ter encontrado emprego, conseguiu conju-gar o seu horário com o do centro. Esta foi a pri-meira vez que foi colocada, mas confessa gostar mais do seu trabalho como explicadora do que do trabalho que realiza agora enquanto professo-ra. A professora já tem larga experiência em cen-tros de estudo. Já desde o primeiro ano da facul-dade que trabalha em centros de explicações para cobrir as despesas da faculdade. Carla Cruz licenciou-se no ano lectivo 2005-2006 em Quími-ca, ramo educacional, mas, neste momento, lec-ciona EFAS (Ensino e Formação de Adultos), incluída este ano na candidatura de professores, uma disciplina para adultos, que diz ser comple-tamente diferente do trabalho realizado com crianças. Descreve a situação do ensino em Por-tugal como caótica e revela que há alguma

coisa que não está a ser bem feita.

Diana Magalhães também critica a situação de desemprego no ensino em Portugal. Revela que está muito mais difícil do que quando aca-bou o curso e que a selecção de professores é hoje em dia mais apertada. Os anos de serviço contam muito e os colégios não aceitam pes-soas sem experiência. Afirma ainda conhecer casos de colegas suas que estão actualmente a completar a parte exigida pela reestruturação do curso da Faculdade de Letras, muitos anos depois de já terem deixado de estudar. Catari-na Brito também não se poupa nas críticas. A situação é precária e tem tendência para pio-rar: “ Há mesmo muitos professores e se não aceitarmos determinadas condições, alguém aceitará”, revela. O panorama acaba por ser generalizado. A maioria das colegas de facul-dade de Catarina Brito estão em centros de explicações a trabalhar.

Desemprego, precariedade e proliferação dos centros de explicações

Existem cerca de 40 mil professores no desemprego. As condições dadas aos profes-sores em Portugal são precárias. Muitas esco-las não têm condições, os alunos são malcom-portados, os salários são baixos, muitos docentes são pagos a recibos verdes. As exi-gências para a entrada de professores nas escolas são muitas e pede-se cada vez mais um prolongamento do estudo, algo que não é possível a muitos. Catarina Brito revela que não pode continuar os estudos porque o que ganha não dá para pagar.

João Louceiro, dirigente sindical da FEN-PROF, revelou ao JN que mesmo os professo-res colocados, muitos deles, estão a trabalhar em condições precárias e a ganhar a recibos verdes, sendo considerados “ prestadores de serviços”.

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ACTUAL

O desemprego afecta maioritariamente os licenciados dos cursos da Faculdade de Letras pertencentes essencialmente aos cur-sos de História, Línguas e Literaturas e Cultu-ras e Geografia. À semelhança destes cursos estão muitos outros que abrem vagas de ano para ano e recebem cada vez mais aspiran-tes a um lugar no ensino. Por todo o país, há muitas situações de desemprego. Só no ensi-no básico, ficaram de fora, este ano lectivo, cerca de 80% dos professores candidatos. As queixas dos alunos são muitas.

Joana Valente, estudante da Escola Superior de Educação e que frequenta o curso de Ensino Básico, afirma que “fechar os cursos” era uma solução para diminuir a situação de desemprego no ensino em Portugal. Afirma ainda que o governo não deveria fechar as escolas, dificultando o acesso dos alunos ao ensino e dos professores à sua profissão. A quantidade de anos nos quais já se imaginam há espera de uma colocação leva a que alu-nos, aspirantes a professores, como Joana, estejam dispostos a trabalhar em qualquer ramo e oportunidade de ensino que ocorra.

Já Salomé Castro, aluna também da Escola Superior de Educação e futura professora do Ensino Básico, é mais crítica em relação ao governo e ao ensino de hoje em dia: “ Bem, se observarmos apenas o sector da educa-ção, é óbvio que o panorama não é muito positivo. Parece que a nossa política educati-va está mais direccionada para um processo ensino-aprendizagem “envelhecido”. Isto é, em vez de dar oportunidade aos mais recen-tes profissionais da educação que, natural-mente, têm uma pré-disposição para novas metodologias e técnicas de construir e orien-tar a aprendizagem das crianças, desenvolve e implementa reformas (alargamento da ida-de da reforma, desertificação do interior; encerramento de escolas, etc.) que a frus-tram e “atrofiam” as perspectivas de futuro da população mais jovem”, afirma.

Também Salomé não dirige os seus horizon-tes unicamente para o ensino nas escolas. O ensino nos Países de Língua Oficial Portu-guesa e também o trabalho como explicadora não são postos de lado. Para a jovem estu-dante, interessa que os professores não sejam “ simples parasitas da sociedade”.

Por parte dos centros de explicação, há tam-bém muita procura. Muitos são os anúncios que vemos diariamente em jornais como o Jornal de Notícias a pedir professores das mais variadas áreas do ensino para trabalhar em centros de estudo por todo o país.

É uma realidade difícil de refutar. Particulares ou em casa própria e por iniciativa do recém-licenciado, os centros de explicações são cada vez mais uma solução para o desem-prego no ensino.

Um estudo publicado no ano 2000 por três investigadores da Universidade de Aveiro (Jorge Adelino Costa, António Neto Mendes e Alexandre Ventura), revela que “ uma das razões por detrás do aumento do número de centros de explicações em Portu-gal está relacionada com a existência de uma grande quantidade de professores desempre-gados, que (devido à pouca oferta) não con-seguirão uma colocação numa escola num futuro próximo e estão assim disponíveis como trabalhadores qualificados para assu-mir uma nova ocupação social comummente conhecida como "explicador".

Nesta análise, os autores apresentam ainda o que está por detrás da principal razão que leva à criação de centros de explicações: “A dificuldade em obter uma colocação numa escola, que tem sido experienciada nos últi-mos anos (motivada pela baixa taxa de natali-dade e consequente diminuição do número de alunos, turmas e necessidade de profes-sores) levou a que as explicações se tornas-sem a actividade principal de muitos profes-sores (…).”

Para muitos docentes, o primeiro contacto com o ensino e a única forma de o manter é o trabalho em centros de estudos. Segundo o artigo, não existem mais desenvolvimentos porque a investigação sobre esta problemáti-ca é reduzida.

Diana Magalhães é, por isso, um exemplo, dos muitos professores que durante anos não conseguiram colocações e que resolveram por sua conta e risco criar um centro de expli-cações, negócio cada vez mais em expan-são, para fazerem face ao desemprego e não se desligarem do que é o conceito de ensino.

NOTICIAR 27 de Novembro 2008 3

Diana Magalhães acabou o curso em 1981, leccionou temporariamente e a partir daí nunca mais obteve colocação. Criou um Centro de Estudos no Porto.

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ACTUAL

NOTICIAR 27 de Novembro 2008 4

DESTAQUES DA SEMANA

Violência Doméstica: agressores passam a usar pulseira electrónica

Futebol Clube do Porto vence o Fenerbahçe para a Liga dos Campeões

Mais de 100 mortos nos atentados em Bombaím

Cine-Teatro Constantino Nery é reinaugurado

Crise está a afectar as compras dos portugueses

Portugal escapa à reces-são no terceiro trimestre do ano

Novas Oportunidades na APDL

Renata Silva

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a Trabalhadores da APDL frequentam o sistema de RVCC em horário laboral

Os motivos para terem abandonado os estudos são vários. Aos 53 anos, Fernando Oliveira só tem o 9º ano porque não teve condições para continuar a estudar. Tirou o curso de Serralheiro e não foi difícil obter emprego. Com um sorriso nos lábios, revela que as Novas Oportunidades são para ele "um desafio pessoal".

Já Cláudia Amorim tem 32 anos, fez o 9º ano através de um curso profissional e teve a oportu-nidade de começar a trabalhar na APDL. A ideia era parar um ano, mas depois não pôde voltar a estudar. Destaca a facilidade e vantagem por ter formação dentro do local de trabalho e em horá-rio laboral. "Em termos profissionais sentimo-nos sem dúvida queiramos ou não, mais realizados" , revela a aluna. Cláudia Amorim não descarta ain-da a hipótese de prosseguir estudos.

A história de Joaquim Matos é diferente. Não tra-balha na APDL e tomou a iniciativa de se inscre-ver nas Novas Oportunidades. Sempre com inte-resse em fazer formações e progredir nos estu-dos, foi impedido por não ter os estudos míni-mos. Defende que as Novas Oportunidades são "uma forma de verificar e de atestar as capacida-des que as pessoas têm"

Estes são apenas três exemplos de formandos do programa Novas Oportunidades. Pelas 15 horas começava mais uma sessão do sistema de Reconhecimento e Validação de Competências (RVCC) na APDL.

A APDL é uma das empresas que está a utilizar o programa Novas Oportunidades para dar for-mação aos seus funcionários, a nível do ensino básico e secundário. A formação é académica e pretende ver reconhecidas competências.

Nas palavras de Helena Maia, formadora do Cen-tro de Serviços e Apoio às Empresas (CESAE), o objectivo consiste em "ajudar os adultos no senti-do de falarem sobre o seu percurso de vida e identificarem as competências que desenvolve-ram a nível de experiência." O RVCC assenta em três áreas de competências chave: Área Cidadania e Profissionalidade (CP), Área Socie-dade, Tecnologia e Ciência e Área Cultura, Lín-gua e Comunicação.

Nesta sessão, sentaram-se à mesa cerca de dez alunos. Sentiu-se motivação no ambiente, em que todos se encontravam inscritos de livre von-tade e com a ambição de ver concluído o ensino secundário.

Os trabalhos vêm de casa. As experiências são reveladas.

A APDL recebe, assim, desde o mês de Outubro a formação para os seus funcionários.

O programa das Novas Oportunidades é para Valdemar Cabral, dos recursos humanos, "uma ferramenta de motivação para os trabalhadores" que se torna vantajosa para a empresa. O horá-rio é laboral para tornar mais fácil o acesso à for-mação. "Nós tentamos dentro das possibilidades eliminar aquilo que seriam entraves ao proces-so", acrescenta.

Os resultados têm sido positivos. "Em todas as acções nós sentimos que eles querem continuar e estão motivados para obter a sua certificação. Mesmo os que estão a obter certificação no bási-co, já estão a pensar obter a certificação também ao nível do secundário", revela. Com o sistema de RVCC são as experiências de vida que dão o conhecimento e certificam o aluno.

Até agora meio milhão de portugueses já fre-quentou o programa das Novas Oportunidades. Tal como a APDL, perto de 500 empresas estão inscritas na iniciativa. O governo tem como meta a formação de 1 milhão de adultos até 2010, números que aos olhos de muitos parecem impossíveis e que causam polémica devido ao facilitismo na atribuição dos certificados.

O formando das Novas Oportunidades encontra-se na faixa etária entre os 25 e os 34 anos

Há mais pessoas inscritas para obter qualificação ao nível do ensino básico, do que do ensino secundário.

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2007

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NOTICIAR 27 de Novembro 2008 5

ECONOMIA

Portugal escapa à recessão técnica no terceiro trimestre do ano

Renata Silva

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Segundo uma estimativa apresentada esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal é o país da zona Euro que escapa à recessão técnica, isto, ao crescimento económico negativo durante dois trimestres consecutivos no terceiro trimestre de 2008.

No terceiro trimestre deste ano a economia portu-guesa não registou qualquer variação do Produto Interno Bruto, face ao mesmo período do ano anterior. O crescimento estagnou nos 0,7 por cen-to.

Estes dados contrariam o que já tinha sido aponta-do pela Comissão Europeia que previa um decrés-cimo do PIB em 0,3 por cento e a entrada em recessão nos últimos três meses do ano.

Na zona Euro, de acordo com dados do Eurostat divulgados também esta sexta-feira, o PIB caiu 0,2 por cento. Ou seja, todos os países da moeda úni-ca estão no seu conjunto a sofrer uma recessão técnica neste terceiro trimestre.

Crise afecta o Natal das famílias portuguesas

Renata Silva

Países como a Alemanha, a Espanha, a Itália, a Hungria e o Reino Unido apresentam um crescimento negativo nesse período. A Alemanha, a Estónia e Itália já tinham atingido valores inferiores a zero no segundo trimestre o que significa que se encontram em recessão técnica.

Um sector difícil mas fulcral para equilibrar a balança comercial portuguesa. Estas foram algumas das opiniões sobre o papel da indústria no futuro de Portugal expressas esta terça-feira na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto.

O presidente da Comissão da Administração da BA Vidro, Carlos Moreira da Silva, reconheceu que "não é fácil atrair as pessoas para a indús-tria". Apesar do retrato, os participantes da con-ferência, organizada pela "Exame" e pelo "Expresso", convergiram na importância deste sector para a economia portuguesa.

O presidente da Comissão Executiva da Sonae, Paulo Azevedo, vê no sector industrial a solu-ção para combater o défice da balança comer-cial portuguesa. "O importante não é irmos aos supermercados do nosso país e vermos produ-tos unicamente nossos, mas sim irmos ao estrangeiro e encontrarmos produtos portugue-ses", frisou.

Preparar empresas para os momentos difí-ceis No debate foi defendida a necessidade das indústrias portuguesas aumentarem a qualidade dos seus produtos. O objectivo é fazer face a um mercado cada vez mais competitivo no estrangeiro.

"Tem que se valorizar o que Portugal representa lá fora", afirmou Frederico Fortunato, gerente da Kyaia.

O presidente da comissão executiva da Unicer, António Pires de Lima, enfatizou a importância das empresas estarem atentas ao futuro da indústria. "Procuramos preparar a empresa para um panorama que se adivinha nada bom", dis-se. "É nos momentos de dificuldade que se vê o valor das empresas".

Saiu esta terça-feira um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que revela os números da desigualda-de e crescimento económico dos seus vários países nos últimos 20 anos. De acordo com os números apresenta-dos, Portugal está entre os membros da OCDE onde a disparidade entre ricos e pobres é mais elevada.

Os Estados Unidos estão na mesma posição que Portugal. Já a Turquia e o México encontram-se com valores mais elevados.

Segundo o estudo, os 10% mais pobres em Inglaterra ganham, em média, mais dinheiro que uma pessoa em Portugal.

Desigualdade cresce entre os jovens e as famílias com crianças

As diferenças entre ricos e pobres aumentaram na grande maioria dos países da OCDE.

O relatório revela que“ o aumen-to tem sido significativo e gene-ralizado, afectando mais de três quartos dos países da OCDE”. Países como a França, Espanha e Irlanda são excepções. Com baixos valores encontram-se a Dinamarca, a Suécia e Luxem-burgo.

A desigualdade está a diminuir nas faixas etárias mais velhas e a aumentar nas camadas mais jovens e em famílias com crian-ças.

OCDE pede mais esforços

A OCDE pede no relatório para que sejam tomadas políticas sociais por parte dos países para diminuírem esta diferença. A ajuda na inserção no trabalho é uma das medidas sugeridas.

Esforços também na educação e nos serviços são também descri-tos pela OCDE como soluções para o combate à desigualdade.

Portugal é dos países da OCDE com maior diferença entre ricos e pobres

Renata Silva

Paulo Azevedo defende reforço da indústria para combater défice comercial

Diana Albuquerque

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As famílias portuguesas vão gastar menos 4,8 por cento do que em 2007, segundo revela a consultora Deloitte num estudo divulgado esta quarta-feira. A crise económica vai afectar as tradicionais compras de Natal.

A grande maioria dos inquiridos neste estudo acredita que Portugal está em recessão, ao passo que 77 por cento afirma que tem menor poder de com-pra e que o rendimento é também infe-rior ao de 2007.

As famílias portuguesas acreditam ain-da num pior cenário de crise para 2009.

"Neste cenário, os portugueses preten-dem adquirir presentes mais úteis e estarão muito atentos às promoções efectuadas nesta época do ano", refere a Delloite.

Contudo, segundo revela a consultora, as crianças não vão ser afectadas pela crise, visto não estar previsto um decrésci-mo de prendas compradas pelos adultos.

Quanto aos presentes mais oferecidos pelos portugueses, o estudo indica que as prefe-rências são, por ordem decres-cente, roupa, livros e dinheiro.

O estudo realizou-se em 15 países europeus e na África do Sul entre 29 de Setembro e 10 de Outubro baseado numa amostra de 18.178 consumido-res representativa da popula-ção de cada um dos países.

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INTERNACIONAL

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Após o ataque, os Estados Unidos sus-penderam o serviço consular no Paquis-tão. George Bush condenou o atentado e alertou para a continuidade da luta contra a ameaça terrorista. Também a União Europeia condenou o atentado terrorista: “ Condeno nos termos mais enérgicos o vil ataque terrorista no Isla-mabad”, afirma Javier Solana, represen-tante da União Europeia para a política externa.

Um grupo chamado “ Combatentes do Islão” reivindicou a autoria do atentado.

O Hotel Marriott tem 290 quartos e é frequentado por estrangeiros que visi-tam ou residem na cidade. O condutor da viatura que embateu contra o hotel terá morrido no ataque registado no iní-cio da noite de ontem. Dezenas de car-ros que se encontravam no parque de estacionamento ficaram danificados.

O Hotel Marriott foi, este sábado, alvo do maior atentado terrorista des-de 2001, em Islamabad. 53 pessoas morreram e 266 ficaram feridas. Entre os feridos encontram-se pelo menos 7 alemães e 2 norte america-nos. Entre as vítimas mortais estava o Embaixador da República Checa.

Um carro com 600 quilos de explosi-vos embateu contra o portão do hotel Marriott. A explosão provocou uma enorme cratera à entrada do hotel e destruiu janelas e portas. Deflagra-ram no hotel focos de incêndio.

Este é o terceiro e o maior ataque ao hotel de luxo, localizado na capital do Paquistão.

A explosão fez desabar o tecto de uma sala de banquetes, onde se encontravam entre 200 a 300 pes-soas que celebravam o fim do Rama-dão, período de jejum respeitado pelos muçulmanos.

Para a noite do ataque terrorista estava agendado um jantar no hotel Marriott entre o presidente paquista-nês e o seu primeiro-ministro. O jan-tar foi desmarcado em cima da hora.

O atentado ocorreu horas depois de o actual presidente Paquistanês, Asif Ali Zardari, viúvo da ex-primeira ministra Benazir Butto, se ter com-prometido a continuar na luta contra os fundamentalistas islâmicos.

Em 2001, o então presidente Pervez Musharraf anunciou o seu apoio à guerra contra o terrorismo, desenca-deada pela administração Bush após os atentados do 11 de Setembro.

A cidade indiana de Bombaim foi, esta quarta-feira à noite, alvo de ata-ques terroristas, dos quais resulta-ram cerca de 125 mortos e 300 feri-dos.

Os ataques terroristas em Bombaim provocaram, ate às 17h00 desta quinta-feira, 125 mortos e centenas de feridos nas explosões e disparos que atingiram hotéis de luxo, restau-rantes e hospitais.

Pelo menos outras três vítimas mor-tais são cidadãos estrangeiros: um italiano, um australiano e um japo-nês, segundo a AFP. De acordo com a Lusa, estavam cinco portugueses entre os cerca de 200 turistas estran-geiros que, entretanto, conseguiram escapar do hotel Taj Mahal.

Várias pessoas foram feitas reféns em dois hotéis de cinco estrelas, mas, de acordo com informação divulgada pela polícia indiana de Maharashtra, já terá sido retomado o controlo da situação no Taj Mahal, onde, segundo a Reuters, foram encontrados hóspedes refugiados nos quartos e vários cadáveres.

Há, ainda, cerca de 20 a 30 reféns no Trident-Oberoi, entre eles vários estrangeiros, e alguns dos atacantes no interior, onde terá deflagrado um incêndio ainda esta noite. O hotel, situado na parte Sul da cidade de Bombaim, encontra-se cercado por elementos do Exército e comandos das forças antiterroristas indianas.

Relatos de pessoas que consegui-ram escapar aos ataques indicam que os assaltantes procuravam cida-dãos estrangeiros, sobretudo britâni-cos e norte-americanos para toma-rem como reféns.

Islamitas reivindicam os ataques

Os ataques foram reivindicados por um grupo islamita que se apresenta como os Mujaedines do Deccan. Em pequenos grupos, o grupo atingiu o restaurante Café Leopold e o termi-nal de transportes públicos Chhatra-pathi Shivaji, com armas automáticas e granadas praticamente em simultâ-neo.

Para além dos dois hotéis, foram também atacados dois hospitais e um quartel da polícia no sul da cida-de. De acordo com o jornal "Público", as autoridades confirmaram a explo-são de uma bomba num táxi e um rabi feito refém no ataque contra um edifício de apartamentos conhecido como Chabad House.

O “Times of India” revelou que o pri-meiro tiroteio começou por volta das 22h33 (17h03 em Lisboa) na princi-pal central ferroviária da cidade. De a c o r d o c o m o " P ú b l i c o " , "testemunhas contam que dois homens armados com metralhadoras AK-47 e granadas mataram pelo menos dez pessoas e feriram deze-nas de outras antes de serem abati-dos pelos agentes que acorreram ao local".

Ainda assim, não é certo que os ata-ques tenham sido levados a cabo por este grupo islamita, tendo em conta que vários meios de comunicação social acreditam que a acção pode ter sido conduzida pelo Lashkar-e-Taiba. Este grupo extremista, sedia-do no Paquistão, é responsável por alguns dos atentados na Índia nos últimos anos. O principal motivo é o fim da presença indiana em Caxemi-ra, região dos Himalaias disputada pelos dois países vizinhos.

De acordo com a agência Lusa, um

dos homens armados do hotel Obe-

roi disse que os ataques foram per-

petrados como forma de chamar a

atenção para a discriminação dos

muçulmanos na Índia.

As autoridades de saúde de Bom-

baim confirmaram ter recebido, até

ao momento (17h00 de quinta-feira),

125 corpos e 327 feridos, um número

que não será ainda definitivo.

Mais de 100 mortos em ataques terroristas na Índia

Sara Lima Azevedo

[email protected]

Explosão em Islamabad faz 53 mortos e 266 feridos

Renata Silva

[email protected]

Mais de 100 pessoas morreram nos atentados de Bombaim

O terceiro e maior ataque ao Hotel Marriott em Islamabad

Page 7: Noticiar

“ É preciso sempre lutar para que a igualdade se concretize cada vez mais”

Feminista desde a sua juventude, defensora de uma educação para a igualdade, voz de muitas mulheres. Assim é Maria José Magalhães, vice-presidente da União para as Mulheres Alternati-va e Resposta e professora na Faculdade de Psicologia e Ciên-cias da Educação da Universida-de do Porto. A docente fala dos temas que acompanham a sua carreira, tais como a igualdade de géneros, o tratamento a vítimas de violência doméstica e o abor-to.

Renata Silva

[email protected]

É vice-presidente da União para as Mulheres Alternativa e Resposta. Já publicou vários livros e estudos sobre discriminação de género e vio-lência doméstica. Como nasce o inte-resse pelo feminismo?

É uma pergunta interessante. Porque eu era anti-feminista quando era jovem. Tenho um grande respeito pelas pes-soas que são anti-feministas porque também fui. Logo após o 25 de Abril, colocou-se a questão de fazer ou não fazer grupos só de mulheres e de fazer um trabalho feminista na sociedade. Na época, algumas mulheres defendiam que era importante haver grupos de mulheres e grupos feministas. Eu acha-va que não era preciso haver um traba-lho específico para as mulheres. A ver-dade é que a pouco e pouco comecei a constatar que o que elas diziam era ver-dade. As mulheres não tinham o mesmo direito à palavra, não tinham as mesmas possibilidades de intervenção, mesmo junto com os seus companheiros e camaradas nas mesmas associações, as mulheres não eram ouvidas, nem valorizadas da mesma maneira, não tinham as mesmas possibilidades de participação, nem as mesmas possibili-dades de decisão. Assisti várias vezes, em diversas situações, a mulheres a serem humilhadas. Umas nunca mais voltaram a intervir em público, outras saíram de debates a chorar, em temas que eram quentes como o aborto, a con-tracepção, o trabalho doméstico, o salá-rio igual, etc. Com os meus 18, 19 anos a minha posição tinha mudado e come-cei a participar nos grupos de mulheres, naqueles grupos mais radicais na época e a deixar as organizações mistas. Ain-da por cima na altura as mulheres eram consideradas como extraterrestres, quando não eram consideradas lésbi-cas.

A vice-presidente da UMAR diz que “Ainda há muito trabalho para fazer”

NOTICIAR 27 de Novembro 2008 7

O que via na altura quando olhava para a sociedade é muito diferente em termos discriminação de géneros face ao que vê hoje?

Da água para o vinho. A sociedade nos anos 70 e nos anos 80 em Portugal era um atraso de vida que até custa recor-dar. Para as mulheres então a diferença era abismal. A grande maioria das mulheres estava muito coarctada. Havia reuniões onde o marido impedia a espo-sa de falar publicamente. Havia uma violência contra as mulheres generaliza-da e simbólica com um peso imenso em relação aos dias de hoje. O 25 de Abril de facto trouxe o fim do Estado fascista, mas não trouxe a igualdade de direitos logo, foi passo a passo muito lutado. O Código Civil é mudado só em 1978 com a liderança da Leonor Beleza que teve um papel fundamental na mudança do Código Civil, não só na mudança da lei, mas também na auscultação das opi-niões das mulheres em vários pontos do país. E mesmo assim o Código Civil muda e há décadas em que muitas coi-sas se mantêm na desigualdade para as mulheres. Tudo é feito muito devagar e com grandes custos para todas as mulheres e aí as mulheres das classes trabalhadoras têm nitidamente maiores dificuldades.

Então ainda hoje a evolução se encontra muito lenta?

Sim. Há muita coisa que ainda não está conseguida. As mulheres continuam a receber em média salários inferiores aos dos homens. As mulheres recebem 80% do salário masculino, em termos de média. O grupo social onde as mulheres são mais prejudicadas é o das licencia-das, o que é um paradoxo porque as mulheres são as que têm mais sucesso escolar no ensino superior. A jornada de trabalho das mulheres também é maior do que a dos homens. Parece que o dia das mulheres é maior que o dos homens (risos). Em termos semanais, as mulhe-res trabalham mais 17 horas do que os homens, em média. Em termos familia-res, como sabemos, a violência domésti-ca é 99,9% contra as mulheres. A vio-lência contra os homens é estatistica-mente irrelevante.

Acha que o conceito de feminismo é hoje diferente do seu conceito ini-cial?

Quando o feminismo da primeira vaga começou, aquelas senhoras sofreram muito, algumas sofreram nas suas vidas pessoais e familiares e eram considera-das contra-natura. Ao fim destas déca-das de trabalho penso que ganhamos credibilidade e já conseguimos afirmar na sociedade portuguesa que os femi-nismos são plurais, que o feminismo não é só uma perspectiva: vai desde a mais marxista, até à mais liberal.

Há feministas para todos os gostos (risos).

Ainda se justificam os movimentos feministas?

Sim e sobretudo das jovens. Ainda há muito trabalho para fazer. Tal como aconteceu no primeiro quartel do século XX, isto não está garantido para ninguém. É preciso sempre lutar para que a igualdade se concretize cada vez mais, mas também para manter as conquistas que já conse-guimos. Vemos que as raparigas, nos estudos que se fazem, continuam a achar que é importante casar. Fez-se uma investigação, há pouco tempo, com adolescentes que responderam que gostavam que ainda houvesse princesas e gostavam de ser prince-sas. Isto ainda perdura muito nas raparigas. As raparigas das classes trabalhadoras são as primeiras a res-ponder que se casassem e o marido ganhasse o suficiente para a família não queriam trabalhar. Depois sobra para elas, sobra no divórcio, na vio-lência doméstica, sobra até nas pos-sibilidades de sociabilidade das suas crianças, de colocar as suas crianças em equipamentos com jardim-de-infância. Isso é bastante aflitivo por-que significa que afinal não consegui-mos passar bem a mensagem.

Luta pelos direitos das mulheres

“Isto não está garanti-do para ninguém”

SOCIEDADE

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Inícios do feminismo

“ As mulheres eram consideradas extra-terrestres, quando não eram considera-das lésbicas.”

Mentalidade dos jovens

“ As raparigas continuam a achar que é importante casar”

Page 8: Noticiar

As mulheres estão agora mais cien-tes da sua posição na sociedade?

Sim. Em geral as mulheres estão mais cientes da sua discriminação, mas também do seu poder. Ainda não con-seguimos perceber que nós juntas, somos muito fortes e ainda não con-seguimos passar essa mensagem de que se as mulheres se unissem isto dava uma volta em três tempos. Tam-bém se as mulheres resolverem parar, nada anda. E não é preciso pararem todas. Basta pararem algumas.

Como é a mulher do século XXI?

Pois sim (pausa para reflectir) é uma mulher fragmentada, tem várias caras, várias condições. Mulheres que já ascenderam ao topo que contratam uma mulher para tratar da casa e não vêem naquela pessoa outra mulher. Atingem lugares de governo, mas não chegaram lá com uma consciência feminista e às vezes até acham que são tão boas que chegaram lá pelo mérito próprio e que já não precisam de dar cavaco a ninguém (também não quero Cavaco). As mulheres das classes trabalhadoras que vivem em situações terríveis, as desemprega-das, as mulheres dos bairros sociais, as mães adolescentes. As mulheres que têm dificuldade em ir ao centro de saúde, que engravidaram e têm medo de ser recriminadas por fazer um aborto. As empregadas domésticas, as crianças que abandonam a escola. As jovens todas cheias de expectativa que acabam o curso superior e cons-tatam que afinal o mercado de traba-lho é uma selva insuportável. O que eu gostaria é que esta mulher frag-mentada com vários casos, com várias experiências fosse cada vez mais, articulando estas várias faces e encontrando uma face comum.

Quais são as pessoas da história do feminismo que mais a inspiram?

Foram-me muito inspiradoras as femi-nistas radicais dos anos 70. A Kate Millett, a Shulamith Firestone, a Ger-maine Greer que tem escritos de aba-nar as nossas concepções todas. A Juliet Mitchell que discutiu sobre o trabalho doméstico e fez uma investi-gação: “ o trabalho doméstico tem tan-to valor e é tão importante para o lucro capitalista como o trabalho nas fábri-cas”. As sufragistas, a Cady Stanton, aquelas mulheres que sujaram as estátuas e foram presas e na prisão fizeram greve de fome, só para pedir o voto das mulheres. Ferreira, Irene Pimentel, Idília de Castro Osório…

Em Portugal: Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno, Madalena Barbosa, Manuela Tavares, Teresa Joaquim, Vir-gínia Ferreira, Irene Pimentel, Idília de Castro Osório…Cada uma com o seu contributo.

“Vemos, ouvimos e lemos. Não pode-mos ignorar”. O que é que esta afir-mação de Sophia de Mello Breyner significa para si?

Usamos essa frase numa campanha quando começamos com o Observatório das Mulheres Assassinadas: “A violên-cia doméstica também mata. Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”. Significa que não podemos fechar os olhos e cruzar os braços em relação àquilo que é a opressão, a discrimina-ção e a pobreza ao nosso lado. Penso que as pessoas hoje em relação à vio-lência contra as mulheres estão bastan-te e cada vez mais alertadas. Ainda há dificuldade em agir e em apelar. Há ain-da zonas onde as mulheres sofrem mui-to e é preciso sabermos que a violência doméstica pode calhar a qualquer uma, mesmo à que está mais prevenida, à que não quer casar, à que acha que vai impor-se face ao companheiro ou namo-rado.

Enquanto professora universitária, lida diariamente com jovens. Os jovens de hoje são mais ou menos interessados por feminismo?

São mais. Há hoje muitos jovens inte-ressados no feminismo, muitos mais que nos anos 80 e 90. Sobretudo as rapari-gas.

Defende uma educação para a cida-dania e para a mudança de mentalida-des. Por que etapas deveria passar essa formação?

Tem que haver numa formação inicial para docentes. Tem de haver cadeiras ou módulos para a prevenção da violên-cia doméstica e um saber sobre a cida-dania das mulheres. As professoras também foram formadas nesta socieda-de que ensina a submissão das mulhe-res. Elas não ensinarão de outra manei-ra se não tiverem uma formação. É pre-ciso que os professores sejam alertados para o que têm que ensinar de forma diferente. Valorizar as raparigas e dar-lhes formação para que elas também sejam líderes. Há todo um conjunto de mensagens, livros, textos e formas de dar as disciplinas que é preciso mudar para uma educação igualitária. As disci-plinas escondem a participação das mulheres nas várias áreas. Outro dia fez-se um levantamento das autoras e ser o Camões e o Gil Vicente e o Eça de Queirós e o Pessoa?

Não há no meio disto três ou quatro mulheres? Não se pode fazer 5-5? Como é que as raparigas podem apren-der a valorizar as outras mulheres?

Há quanto tempo está na UMAR?

Costumo dizer que entrei para a UMAR em Nova Iorque no ano 2000. Antes disso era dos outros grupos feministas radicais mais pequenos.

Conte-nos um pouco do seu percurso na UMAR.

Já tinha sido convidada pela UMAR para um seminário comunista no Montepio em 1998. Já tinha estado em muitos sítios com a UMAR, que também era uma organização participante em even-tos desde os anos 80. Na altura era da direcção da APEM (e continuo a ser) (Associação Portuguesa dos Estudos sobre as Mulheres) e fui me aproximan-do e a certa altura inscrevi-me. Depois houve uma circunstância em que foi quase exigida a minha participação acti-va. Tinha um grande trabalho já nas questões da reivindicação do aborto com os grupos feministas radicais. Para mim estava muito claro como é que íamos lutar contra os argumentos do não e o que é que estava em causa. Fui ganhando protagonismo nessa área e foram-me solicitando que eu dissesse o que era preciso dizer e sou hoje respon-sável por essa área.

A UMAR é um produto do 25 de Abril. O que significou para si, enquanto feminista, o 25 de Abril?

Uma revolução inacabada. Em muitos aspectos da vida das mulheres só temos conseguido alterar muitos anos depois do 25 de Abril. Do ponto vista feminista, foi sobretudo uma alteração para a liber-dade política e uma alteração em rela-ção às classes trabalhadoras, não signi-ficou um grande passo para as questões de igualdade de género.

O é que é facto é que a violência doméstica só vai para a agenda pública em 1999/2000. Foi regulamentada no ano 2000 e portanto quase século XXI. Foi uma revolução política, ideológica. Mas muita coisa ainda ficou por fazer.

Os números de violência no namoro saídos nos últimos estudos revelam valores muito elevados. As vítimas de violência no namoro procuram a UMAR?

Algumas procuram. Mas procuram em muito menor número do que as casadas e já com filhos. Elas acreditam que por amor conseguem transformar o monstro em príncipe encantado. Quando gostam, parece que nenhum conselho adianta.

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SOCIEDADE

“A violência doméstica pode calhar a qualquer uma”

“A violência doméstica só vai para agenda pública em 1999/2000”

“A mulher do século XXI é uma mulher fragmentada”

Violência doméstica

“ Não se muda um agres-sor com conversa”

Prevenção da violência doméstica

“ Como é que se pode pensar que se pode abrir um centro de atendimento a vítimas de vio-lência domésti-ca duas vezes por semana das 15h às 17h da tarde?”

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SOCIEDADE

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Que tipo de apoio é oferecido de vio-lência doméstica e violência no namoro, em especial por parte da UMAR?

Temos vários serviços, gerimos casas de abrigo do estado, temos centros de atendimento nas casas de abrigo das mulheres que estão incógnitas com os seus filhos. Há um regulamento que diz que há um período a partir do qual se faz uma reavaliação para ver se ela já está em condições de sair ou não e depois arranjar emprego, habitação, colocação para os seus filhos, etc. Temos centros de atendimento onde as mulheres não vivem lá, mas são atendi-das, fazem terapias psicológicas, têm acompanhamento jurídico, social, etc., para conseguirem encontrar um projecto de autonomia pessoal.

Acha que Portugal está preparado para reduzir os números da violência doméstica?

Está preparado. Tem que ter é mais juí-zo na forma como os dinheiros públicos estão a ser utilizados. É preferível gastar um bocadinho mais e pagar um pouco melhor às técnicas que estão nos cen-tros de atendimento e fazer formação e exigir-lhes que elas façam um bom tra-balho, do que financiar uma instituição para pagar uma ninharia a uma técnica que logo que tenha um emprego melhor se vai embora. Quando ela começa a aprender a saber o que há-de fazer com as vítimas, já ela vai trabalhar para outro sítio. Não faz sentido, pagarmos por exemplo a psicólogas, juristas e assis-tentes sociais que estão a trabalhar com vítimas de violência porque é um traba-lho de risco, é um trabalho que exige especialização. Ainda não há um conhe-cimento suficiente do que é as vítimas precisam, de forma que estes serviços não têm muitas vezes boas respostas para as mulheres. Como é que se pode pensar que se pode abrir um centro de atendimento a vítimas de violência doméstica duas vezes por semana das 15h às 17h da tarde? Nas juntas de fre-guesia, dizem que têm um centro de atendimento com uma técnica. Se sabe que há muitos casos de violência doméstica, devia exigir que ali ficassem contratadas, pelos menos, três técnicas.

Quando vetou a proposta de lei do divórcio, o Presidente da República anunciou que a lei devia ter em conta a protecção da parte mais fraca, nes-te caso a mulher. O que é que acha sobre o veto do Presidente da Repú-blica?

O senhor Presidente da República, o professor Cavaco Silva não sabe nada da violência doméstica. A questão que ele levanta é a do ressarcimento da víti-ma. É claro que ela não pode ficar sem nada. As vítimas vêm queixar-se e depois começa o processo de divórcio que habitualmente é litigioso e dura 3 anos.

As mulheres vítimas de violência andam muitas vezes com não sei quan-tos processos atrás. Nunca há leis com-pletamente boas. Toda a lei depende da forma como é aplicada. A maioria de nós (UMAR), ao ler aquela lei, acha que tem de haver cada vez mais uma sensi-bilização dos magistrados em relação às questões das mulheres vítimas de vio-lência doméstica. Quando são maltrata-das e ainda por cima eles têm posições sexistas em relação a isso, é tão má esta lei como a anterior. A nova lei é benéfica na medida em que diminui a litigiosidade dos divórcios. As vítimas de violência são um pretexto para o veto do Presidente da República. Tem a ver com os sectores mais conservadores da sociedade portuguesa que ainda acham que o casamento é mais importante que o bem-estar individual das pessoas e que a família deve manter-se com todo o esforço.

Ainda faz sentido falar da mulher enquanto parte mais fraca?

Faz, porque é ela a parte mais fraca no sentido económico, no sentido social e no sentido político.

Nos últimos anos tem-se falado de vários temas que envolvem a mulher: o aborto, a lei do divórcio, os salários mais baixos que os dos homens, a tomada de consciência sobre o aumento da violência doméstica. Em que é que a discussão sobre estes temas se reflectiu numa evolução do próprio país?

Na questão do aborto, a discussão foi crucial porque foi a que mais atravessou a sociedade portuguesa e que mais tor-nou claro o que estava em causa. O que estava em causa era se as mulheres tinham direito a decidir sobre a sua vida ou se era a sociedade ou se era o pai quem decidia. E na violência doméstica também é muito isto que está em causa. Mas a violência doméstica, apesar de tudo, veio à consciencialização das pes-soas com grande consenso. Há mais problema com o que se faz com as víti-mas de violência doméstica e com os agressores. Como actuar, também há hoje IPSS que recebem financiamento para tratar as mulheres vítimas de vio-lência doméstica, mas depois o que ten-tam é que homem e mulher se conci-liem, mas desde que preservem que a mulher não é vítima por mim tudo bem.

O que é que o feminismo lhe dá no dia-a-dia?

Energia, satisfação, trabalho, bem-estar, humor, estar bem comigo mesma. O feminismo ensinou-me primeiro a gostar de mulheres e depois a aceitar-me a mim como sou. O mais importante é aprendermos a gostar de nós, é eu gos-tar de mim. Para gostar de mim tenho que gostar das outras mulheres, das novas, das velhas, das cientistas, por-que eu também sou um bocadinho disso tudo.

Depois ficam zangadas com famílias e amigos, fica completamente isolada, o que significa que ainda fica mais vulne-rável à acção do agressor que também trabalha muito para isso. E depois ela quando der conta está casada e com filhos e está completamente no fundo do poço. Vêm ter connosco e quando vêm dizem que não querem deixar o namora-do. Querem que nós consigamos por obra e graça do espírito santo que eles deixem de ser agressores. Não se muda um agressor com conversa. Há uma ideologia nos ensina a sermos donos do nosso destino e portanto as raparigas ainda por cima estudantes universitá-rias, mais conscientes, têm um namora-do que as trata mal e não conseguem aguentar e acabam com eles. Mas não tomam precauções. Os agressores, mesmo os que são mais “light” têm uma concepção de que elas lhes pertencem. Alguns matam e a seguir suicidam-se. Há uma campanha em Espanha que diz para se suicidarem antes. Nós temos que nos unir. Calha a qualquer uma de nós. Não estamos livres de ser alvo de alguma acção mais fatal, porque infeliz-mente isto não é um problema indivi-dual. Elas também têm que aprender que pedir ajuda não é apenas bom para elas, vítimas de violência, mas também é bom para estabelecer redes de solida-riedade e apoio para as amigas.

Apesar dos números elevados, acha que pode haver uma evolução positi-va no que toca à mentalidade das novas gerações?

Claro que pode. Temos que fazer essa mudança e construir esta rede entre nós. Percebemos que há muitos sinais que nós podemos identificar, muitas coi-sas que eles fazem e que são logo indi-cadores que eles são agressores. Essa noção, podemos transmiti-la às jovens, às famílias, às crianças, para percebe-rem e também dar às amigas e às pró-prias mães algumas indicações do que devem fazer quando as raparigas estão enamoradas e que a gente se apercebe que ele é um agressor. Colegas nossas dizem: “ A minha irmã é casada e perce-be-se que é vítima de violência, o que é que faço?”. Uma reacção que nós não devemos ter é: “ não percebo como é que tu aguentas e continuas a andar com ele”. Esta atitude não ajuda a mulher vítima de violência. Dizia-se: “ Olha tu é que sabes o que tens a fazer. No teu caso pedia ajuda. Há especialis-tas com quem devias falar, independen-temente do que decidas para a tua rela-ção”. É muito perigoso, elas saírem ou acabarem com eles. Ela tem que avaliar o tipo de relação que tem o marido ou namorado e como pode sair dessa rela-ção. Nessa avaliação é importante que esteja alguém que perceba e olhe para os dados e diga “Se está a pensar aca-bar com o seu marido, mude de casa, deixe de atender o telemóvel, vá passar uns dias para casa da sua família, ponha os seus vizinhos à cautela, fale com as suas colegas, etc.” Mesmo assim não temos a certeza que essa avaliação seja completamente segura. Temos que fazer passar esta informa-ção.

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SOCIEDADE

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: CIG

SAÚDE

Projecto Gripenet regressa este mês

O projecto Gripenet, iniciativa da Instituto Calouste Gulbenkian da Ciência vai arrancar novamente no mês de Novembro. O objectivo é monitorizar em tempo real a epidemia sazonal da gripe.

O projecto consiste num site onde qualquer pessoa se pode registar e responder a um inquérito sobre os sintomas da gripe, desde que resida em território nacional e tenha ende-reço electrónico.

A Universidade do Porto está inserida há 3 anos na iniciativa, através da divulgação do projecto nos vários sites das faculdades. “ A tentativa era sabermos se estas acções que vamos fazer poderão ter ou não algum impacto na redução da actividade gripal na própria uni-versidade”, afirma Carla Lopes, coordenadora do projecto na UP.

Com os mesmos objectivos do Gripenet, existe também a Gastronet para monitorizar a activi-dade da gastroenterite a nível nacional.

SOLIDARIEDADE

Nova campanha do Banco Alimentar este fim-de-semana

Realiza-se este fim-de-semana mais uma campanha do Banco Alimentar contra a Fome. Estão mobilizados para esta acção 20.540 voluntários. Esta campanha vai poder ajudar 245.269 mil pessoas desfavorecidas.

Os 14 bancos alimentares de todo o país vão efectuar a recolha de alimentos nos principais hiper e supermercados.

O governo lançou, segunda-feira, uma proposta de lei que aborda a prevenção e a protecção das vítimas de violência doméstica. As medidas apre-sentadas podem ser consultadas no portal do governo.

O uso de pulseira electrónica é uma das propos-tas para afastar o agressor da vítima. No Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, Salomé Coelho, do Observatório de Mulheres Assassinadas da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), revela ao NOTI-CIAR que esta era “ uma medida já prevista e que se espera que seja mesmo definitivamente posta em prática”.

A UMAR aprova estas medidas, em que se des-taca também a prisão preventiva sem ser em situações de flagrante delito. “ É um grande avanço. Ainda bem que o governo tomou esta posição”, afirma Salomé Coelho.

Número de mulheres assassinadas duplicou face a 2007

Segundo dados do Observatório de Mulheres Assassinadas relativos a 2008, 44 mulheres mor-reram vítimas de violência doméstica.“É assusta-dor. São os valores mais altos desde 2004”, afir-ma Salomé Coelho.

A UMAR lançou uma nova campanha para combater a violência doméstica. “ Eu não sou cúmplice” tem como objectivo mobilizar os homens para que estes sejam solidários e não apoiem os agressores e terá a duração de um ano. Associada a esta iniciativa está uma petição online e projectos de sensibili-zação para a causa.

O primeiro projecto realizou-se no sábado passado e serviu como homenagem às mulheres. “ Fomos aos locais onde as mulheres foram assassinadas e fizemos uma homenagem”, descreve Salomé Coelho.

“No dia em que lançamos a campanha, havia dados de que outra mulher tinha sido assassinada”, acrescenta.

Governo propõe pulseira electrónica para travar agressores

Renata Silva

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Pobreza envergonhada aumenta em Portugal

Renata Silva

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Realizou-se esta terça-feira a inauguração da sede da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) onde Cavaco Silva dis-cursou acerca do aumento da pobreza envergonhada no país.

O Chefe do Estado afirmou que estão a desenvolver-se “ novas formas de pobreza, como a pobreza envergonha-da.” Devido à crise económica e às dificuldades atravessa-das, tem-se assistido a um aumento de pedidos de ajuda por parte dos portugueses.

Estas afirmações vêm confir-mar o que o Presidente da República tinha previsto, quan-do em Maio de 2007 promoveu a iniciativa “Roteiro para a Inclusão” com o objectivo de reflectir sobre “ os novos desa-fios no domínio da pobreza e da exclusão social, as causas, os novos contextos, os novos pobres, o desemprego ou a dificuldade no pagamento de empréstimos à habitação.”

São nestas situações, de acor-do com o que revela Cavaco Silva, que surgem os chama-dos “ novos pobres” que escondem a cara perante a sociedade e permanecem anó-nimos quando procuram o apoio de instituições de solida-riedade social.

O Chefe do Estado aproveitou para reiterar o papel das miseri-córdias na luta contra a pobreza ao longo dos séculos.

O aumento dos pedidos de aju-da às várias instituições de apoio social é confirmado pelo presidente da UMP, Manuel Lemos que sublinha o aumento dos pedidos de desculpa por parte dos pais que não têm dinheiro para pagar as creches dos filhos.

Manuel Lemos diz que o proble-ma também se estende à tercei-ra idade visto haver “uma maior pressão para acolhermos ido-sos nos lares” e “famílias a recolher os seus idosos desses mesmos lares na expectativa que a sua escassa pensão pos-sa contribuir para equilibrar o orçamento familiar.”

Para o presidente da UMP, só através de uma reflexão é que se pode “gerar um consenso alargado na sociedade portu-guesa que permita em estreita cooperação com o Governo, propor soluções equilibradas a instituições”. Manuel Lemos sublinha ainda que “não é só distribuindo dinheiro às pessoas que se resolve o problema da pobreza e exclusão.”

A União das Misericórdias Por-tuguesas e o Governo assina-ram um protocolo de financia-mento.

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SOCIEDADE

São voluntários. Jovens com vontade de aju-dar, de aprender, de viver e de sentir que podem ser úteis. Estudantes ou trabalhado-res, dão um pouco do seu tempo para ajudar quem mais precisa. Histórias de vida partilha-das entre quem ajuda e quem é ajudado.

“Proporcionar momentos bons”

Ana Tulha é voluntária acerca de dois meses no Instituto Português de Oncologia (IPO) no Porto. De duas em duas semanas, tal como é estipula-do pela instituição, Ana vai visitar crianças com doenças terminais. O contacto nem sempre é feito com as mesmas crianças para que não se crie uma relação demasiado próxima entre ambos. São feitas brincadeiras, contadas histó-rias. “ A experiência está a ser muito positiva. É uma oportunidade de poder ajudar alguém, tornar menos maus momentos para as pessoas que... “, afirma a estudante de Ciências da Comunica-ção. Reticências que marcam uma pausa para respirar e retomar uma frase emocionada de um trabalho que embora realize há pouco tempo, lhe dá boas experiências: “ É uma oportunidade de proporcionar momentos bons a crianças que têm problemas graves e que têm sofrido muito.” Ana Tulha revela ainda que o voluntariado tem valido a pena pelos sorrisos que conseguem ver nas crianças.

Ao falar da sua experiência, a estudante recorda um momento vivido com uma das crianças do IPO. Conta a história de “Luís” (nome fictício). Um menino que mora em Barcelos e que tem de ir e vir todos os dias para a instituição. “ Nós per-guntamos-lhe “Não te chateia ter que ir e vir todos os dias?” e ele respondeu “Não, eu gosto muito das viagens e gosto de ver os sítios por onde passo e da semana a seguir passar e dizer que já tive aqui.” E aquilo marcou-me porque acho que são um exemplo, conseguem encontrar coisas boas em pequenas coisas que normal-mente as pessoas estão demasiado ocupadas com problemas que não têm a dimensão dos deles e que não reparam nisso.”

Para além destas experiências no IPO, Ana Tulha faz também outro tipo de voluntariado, também ele com crianças. O projecto é o Porto de Futuro e inclui alunos voluntários da Universi-dade do Porto que vão auxiliar crianças do Agru-pamento Escolar de Miragaia a prosseguir nos estudos, a estarem motivadas e a superarem dificuldades. Todas as segundas-feiras à tarde, a estudante desloca-se para a escola e ajuda os jovens nos trabalhos de casa. “Eles sentem-se muito mais à vontade connosco do que com os professores. É mais fácil para os ensinarmos por-que eles vêm em nós mais amigos que professo-res”, conta a estudante num balanço que faz do voluntariado.

Dois tipos de voluntariado e último ano da facul-dade. Para conciliar, Ana Tulha explica que é uma “ questão de gerir o tempo”. “ Quando há força de vontade e as coisas que fazemos nos dão gozo consegue-se fazer tudo”, acrescenta a estudante.

Numa área tão vasta como é o voluntariado, há espaço para muitas pessoas que queiram dar o seu tempo para ajudar. Por todo o país, existem bancos de voluntariado onde todos se podem inscrever e escolher a área para a qual se sen-tem mais motivados. O voluntariado a nível social, como é o caso do praticado por Ana Tulha, é um dos mais escolhidos. Aborda ajudar crianças, idosos, animais, pessoas desfavoreci-das.

“Vontade para aprender a construir”

Daniela Espírito Santo é também estudante do último ano de Ciências da Comunicação. O seu projecto de voluntariado é diferente e é levado a cabo por pessoas de todo o mundo. “Habitat for Humanity” é a causa porque luta e já foram várias as vezes que a jovem se deslocou a Bra-ga, sede da instituição em Portugal, para ajudar na construção de casas para famílias com pou-cas condições. “ É uma experiência muito inte-ressante”, revela a estudante. Daniela conheceu este projecto através de uma banda americana que participou na iniciativa nos Estados Unidos. Procurou saber sobre a “Habitat for Humanity” e inscreveu-se. “ Para ser voluntário desta institui-ção basta ligar para lá, ter disponibilidade e von-tade de aprender a construir”, afirma a voluntária. É um projecto onde todos se mobilizam para construir com os mais diversos materiais uma casa para quem mais precisa.

Daniela não se ficou apenas por este tipo de voluntariado. Também foi voluntária no apoio a eventos como o “Rock in Rio” e Festival Sudoes-te.

A pobreza é um dos flagelos sociais que mais precisa do apoio de voluntários. Pessoas de todas as idades e com diferentes crenças abra-çam projectos de solidariedade social de institui-ções como a Legião da Boa Vontade, Ajuda de Berço, Associação CAIS e o Banco Alimentar contra a Fome.

“ Um voluntário é prestável para tudo”

O Banco Alimentar tem reunido, ao longo dos anos, voluntários de várias idades. É quase como algo que pode ir dos 8 aos 80. As tarefas que se podem desempenhar são várias. Desde a reco-lha de sacas até à separação de alimentos nos armazéns. Fernando Pereira é voluntário do Ban-co Alimentar há 8 anos. É coordenador do volun-tariado no Continente da Senhora da Hora e revela estar a passar a melhor experiência da sua vida. “ Para além de dar as sacas, também dou informações de alguma coisa que seja preci-sa. Um voluntário é prestável para tudo”, afirma Fernando Pereira. Com 38 anos, Fernando já conhece as várias respostas dadas pelas pes-soas a quem oferece um saco do Banco Alimen-tar. Entre as experiências que viveu como volun-tário recorda uma situação que descreve como “ caricata”:   “Duas ciganas a pedir e sempre a insistir e eu ali de um lado para o outro. E eu estava sozinho e tinha de estar atento a tudo, a dar sacas, a recebê-las e estar atento às ciga-nas.”

Fernando Pereira deixa ainda um apelo para que as pessoas “dêem um bocadinho do seu tempo para ajudar quem mais precisa”.

Desde crianças a idosos. São muitos os que colaboram com esta instituição. Uns experimen-tam pela primeira vez o voluntariado e exprimem o desejo de repetir. Benedita tem 15 anos e aju-dou, no ano passado, a separar os alimentos nos armazéns do Banco Alimentar. A voluntária salienta o trabalho de grupo e entreajuda que existe nas pessoas que ajudam nos armazéns e revela ser esse o significado do voluntariado. “Gostei imenso e por isso vou repetir este ano”, afirma.

São muitas as formas de se aceder ao voluntaria-do. Hoje em dia é cada vez mais simples ser-se voluntário. As informações constam em vários sites, como o Instituto Português da Juventude, o site Voluntariado.pt, e os próprios sites das insti-tuições. Também os principais concelhos do país aderem a estes projectos e organizam bancos de voluntariado. É o caso do VEM, projecto de voluntariado em Matosinhos e que tem mobiliza-do cada vez mais voluntários. Desde jovens a idosos, são muitos os que dispensam o seu tem-po, uma ou duas vezes por semana, para ajudar nas mais diversas áreas. O voluntariado a nível social, ambiental e cultural são as áreas mais contempladas. Desde o senhor Vasco, como lhe chamam, que conta histórias às crianças na Biblioteca Municipal Florbela Espanca para ocu-par o tempo que lhe sobra da reforma, até Bruno Fernandes que todas as quartas feiras acompa-nha crianças com dificuldades numa sala de estudo de uma Casa da Juventude de Matosi-nhos. Diferentes motivações levam a que várias pessoas se inscrevam no projecto. Todos os voluntários têm direito a um dia de formação e a um acompanhamento da sua actividade.

Menos desculpas para não ajudar, mais facilida-de e sobretudo muita força de vontade que une todos os voluntários em torno de causas impor-tantes.

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Daniela E. Santo é voluntária da Habitat for Humanity desde Agosto deste ano

Voluntários para a vida

Renata Silva

[email protected]

Page 12: Noticiar

DESPORTO

NOTICIAR 27 de Novembro 2008 12

Futebol Clube do Porto nos oitavos de final

Catarina Morais

[email protected]

O Futebol Clube do Porto venceu o Fenerbahçe por 2-1 e está nos oitavos de final da Liga dos Campeões.

Os golos dos dragões foram apontados por Lisandro López aos 18 e 28 minutos. Na segunda parte, Kazim Kazim reduziu para os turcos.

No final do jogo, Jesualdo Ferreira enalteceu a atitude da equi-pa. “ Tivemos, como toda a gente sabe, fora da próxima fase. O FCPorto conseguiu duas vitorias importantes fora de casa. Recuperamos os pontos perdidos e estamos apurados”, afirma o treinador.

Também Lisandro se mostrou satisfeito com o apuramento. “Está cumprido o objectivo de passar aos oitavos de final, era o que vínhamos cá buscar. Todos estamos muito contentes por isso”, revela o jogador.

Com estes dois golos, Lisandro tornou-se no terceiro melhor marcador de sempre do Porto na Liga dos Campeões.

LIGA DOS CAMPEÕES

Grupo G J Ptos

Arsenal 5 9

Porto 5 9

Dinamo Kiev 5 7

Fenerbahçe 5 2

1ª LIGA 2008-2009

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Tabela classificativa: Jornada 8

Lisandro López foi o autor dos dois golos do FCP

Posição Clube Pts

1 Leixões 19

2 Benfica 18

3 Marítimo 14

4 Porto 14

5 Nacional 14

6 Sporting 13

7 Braga 12

8 Naval 11

9 E. Amadora 11

10 Vit. Guimarães 9

11 Académica 9

12 Vit. Setúbal 7

13 Belenenses 7

14 Rio Ave 7

15 Paços de Ferreira 5

16 Trofense 4

DESPORTO DO MÊS: Kickboxing e Boxe

Em entrevista com…

Alice Silva

Há seis anos que Alice Silva pratica kick-boxing. Há 2 anos que se apaixonou pelo boxe. Está este ano a concluir o curso de Sociologia da Faculdade de Letras da Uni-versidade do Porto.

Embora sportinguista, é atleta do Futebol Clube do Porto e já ganhou três campeo-natos nacionais de boxe.

Quando é que descobriu que tinha vocação para o kickboxing?

Comecei a fazer kickboxing primeiro tinha eu os meus 14, 15 anos. Encontrei um ginásio e foi muito engraçado porque eu ao inicio tinha um interesse que era a capoei-ra. Mas acho que acabou por não haver e o professor não vinha. E eu vi lá kickboxing e eu sempre fui muito ligada a essas artes marciais. Quando dava reportagens na televisão eu gostava de ver. Fui a uma aula de experiência. Até combinei com uma colega minha porque tinha aquele receio que era só homens. Fui e por acaso a minha colega deixou-me “na prancha”. Fui fazer a aula e a partir daí amei o kick-boxing e nunca mais deixei aquele ginásio. Senti-me muito à vontade e a partir daí nunca mais deixei.

Entre o boxe e o kickboxing o que lhe chama mais a atenção?

O kickboxing sem dúvida. O boxe é uma coisa de há cerca de um ano e meio. Comecei a fazer boxe e digamos que fui “recrutada” pelo Futebol Clube do Porto. Comecei a fazer jogos pelo Futebol Clube do Porto e aí comecei a gostar mais de boxe. Mas o kickboxing para mim é melhor porque é uma arte mais completa. É uma mistura de boxe com pernas. O kickboxing é uma arte marcial e eu sou muito mais ligada a esse tipo de desportos.

Sente que ainda aquele preconceito de o boxe ser um desporto mais masculi-no?

Sim. O boxe, principalmente. É muito mas-culino. O kickboxing não é tanto. Fui a um campeonato nacional em Lisboa e reparei que a maioria era homens, mas se calhar no inicio havia 2% de mulheres e agora provavelmente há 30% de mulheres. O boxe consegue ser mais masculino, mas também penso que está a evoluir, mas de uma maneira mais lenta do que o kickbo-xing. Não sei explicar as razões disso. Dava um bom estudo sociológico. (risos) Mas é perfeitamente possível ter uma mulher lá no meio. Também ainda não se tem a preocupação de que nos campeona-tos de boxe vai haver atletas femininas. Há um balneário por equipa e às vezes é um bocado constrangedor nós estarmos num balneário cheio de homens.

Como é que os homens do boxe a encaram?

Relativamente a mim eu acho que não há nenhuma discriminação. Se calhar porque vêm em mim capacidades e apti-dão para o boxe. Colegas meus de equi-pa, de ginásio, nunca me discriminaram, muito pelo contrário. São capazes de me perguntar se não vou jogar e porquê. Os homens de fora, às vezes há aque-les olhares por verem uma mulher a pra-ticar boxe, principalmente quando são poucas mulheres nos campeonatos. Mas hoje começa a haver uma evolução de um olhar de estranheza em relação a uma rapariga para um olhar de admira-ção. Se se for para lá fazer passerelle, não se é bem aceite.

Qual é o seu boxeur de referência?

De boxe, para mim, não há homem mais determinado e legendário como o Mike Tyson. É um exemplo de um homem que vem de uma classe muito baixa, com más condições de vida e que vê no boxe uma saída. Em termos de boxe é para mim uma referência.

Para além do boxing ou kickboxing, pratica outro tipo de desporto?

Não. Gosto muito de desporto. Muitas vezes faço um pouco de jogging e sem-pre que surge a oportunidade jogo fute-bol.

No futuro, pretende continuar com o boxe e o kickboxing?

Pretendo nunca deixar o desporto. O boxe não sei até que ponto irei continuar pela equipa do Porto. Não sei até que ponto a minha vida vai permitir a conci-liação dos dois desportos. O kickboxing será uma coisa para manter. Estou à espera de quando surgir uma oportuni-dade, disputar um título. Farei os possí-veis para o conseguir. O boxe e o kick-boxing fazem parte da minha vida. Futu-ramente vai ser difícil desmembrar-me dessas duas actividades.

Renata Silva

Leia a entrevista na íntegra em: www.noticiar.pt/desporto

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Resultados dos jogos:

Trofense 0– Marítimo 2

Porto 2– V.Guimarães 0

Nacional 0– Rio Ave 0

P. Ferreira 2– Naval 1

Benfica 1– E.Amadora

Braga 1– V.Setúbal 0

Belenenses 1– Académica 0

Sporting 0– Leixões 1

Page 13: Noticiar

CULTURA

NOTICIAR 27 de Novembro 2008 13

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O melhor do fotojornalismo de novo na Maia

Renata Silva

[email protected]

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O melhor do fotojornalismo interna-cional e nacional está exposto, a partir desta sexta-feira, no Fórum da Maia, com fotografias do World Press Photo 2008 e da última edição do Prémio Fotojornalismo Visão/BES.

O vencedor do WPP foi Tim Hethe-rington, que fotografou um soldado americano a descansar num bunker no Afeganistão a 16 de Setembro de 2007. A foto premiada insere-se na categoria "Notícias em Geral" e reflecte, nas palavras do presidente do júri, Gary Knight, a "exaustão de um homem - e a exaustão de uma nação".

A imagem foi escolhida porque "o júri viu nela um poder de comunica-ção muito grande, a nível metafóri-co", revelou Maaike Smulders, comissária do WPP, na apresenta-ção oficial da exposição. "Inspira-nos a pensarmos no que se passa no Afeganistão e sobre a guerra em geral", acrescentou.

“Mostrar algo de novo”

Um gorila, uma espécie ameaçada, a ser capturado na República Demo-crática do Congo, um homem a segurar nos braços uma criança feri-da no Afeganistão são exemplos de outras das principais fotos premia-das a nível internacional.

A originalidade e a criatividade são dois dos critérios chave na escolha do júri. Segundo a comissária do WPP, o maior desafio dos fotógrafos é "mostrar algo de novo e pôr a sua própria criatividade na fotografia".

O presidente da Câmara da Maia, Bragança Fernandes, preferia que o vencedor tivesse sido John Moo-re pela sequência de fotos "muito interessantes" tiradas no dia da morte de Benazir Butto. "Foi uma pena não ter ganho a exposição", opinou.

243 fotografias

A nível nacional, o destaque da mostra vai para o fotojornalista Augusto Brázio, da Kameraphoto, que fotografou uma jovem de 19 anos a ser assistida pelo INEM que segura nos braços o seu terceiro filho. Com a captura deste instante venceu o Prémio Fotojornalismo Visão/BES. Entre os vencedores das noves categorias do prémio nacional estão, por exemplo, Bruno Simões Castanheira, do "Jornal de Notícias", que venceu na categoria "Vida Quotidiana" com uma foto-grafia que regista uma iniciativa para ajudar as crianças a perderem o medo de ir ao médico no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa.

Com 185 fotografias do WPP e 58 do concurso português, ao todo há 243 fotografias para apreciar no Fórum da Maia até 28 de Novem-bro. A entrada custa 3 euros.

A inauguração do Cine-Teatro Constantino Nery reabilitado atraiu centenas de pessoas para as ruas de Matosinhos. Este sábado, três companhias lideraram um desfile que animou as artérias da cidade com dança e teatro, tendo o mar como tema.

Foram duas horas e meia de desfile até à sala de espectáculos aberta em 1906 e agora renovada, após anos de degradação. "Em tempos foi um ex-libris de Matosinhos e ago-ra vai voltar a sê-lo", disse Maria Branca Bulhosa, trabalhadora na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, que acompanhou a festa de perto.

O cortejo começou por volta das 17h, na mar-ginal de Matosinhos. Nessa altura já muitas eram as pessoas que se juntavam na rotunda da Praça da Cidade do Salvador para assisti-rem ao espectáculo. Maria Manuela Maga-lhães, residente em Matosinhos, não tinha conhecimento da inauguração e, por isso, estranhou o "aparato". Já Raul Alves veio de propósito de Valongo para ver a reabertura do cine-teatro.

As intervenções de rua da companhia lisboe-ta Artelier deram início à inauguração. Em transportes inovadores e com um vestuário original, a pirotecnia teve o seu lugar de des-taque. Ao mesmo tempo, eram lançadas bolas de sabão. Explosões de rebuçados deliciaram os mais novos.

Maria Branca Bulhosa qualificava o que via como "uma maneira de festejar" a reabertura de um espaço que terá "teatro e de cinema", disponível para "todos os matosinhenses".

Já Avenida da República, o desfile mudou de tom. Das cores e músicas vivas do Artelier, passou-se para a actuação do Balleteatro. A companhia do Porto apareceu com cerca de 30 figurantes que, através da dança e repre-sentação, encarnaram um grupo de refugia-dos em fuga pelo mundo.

Vestidos de preto e branco, percorreram a Avenida Serpa Pinto até chegar ao cine-teatro, onde deram lugar a actuação da Academia Contemporânea do Espectáculo (ACE). Vestidos de marinheiros, os actores da escola portuense cantaram, tocaram e encantaram a população, antes da entrada no novo edifício do Constantino Nery.

Homenagem a Passos Manuel

No interior do cine-teatro, o presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, destacou a importância da requalificação para Matosinhos. A inauguração ficou mar-cada também por uma homenagem a Pas-sos Manuel, "um grande vulto de Matosi-nhos".

O autarca salientou também o seu desejo de que o cine-teatro dê um importante con-tributo à Área Metropolitana do Porto.

Para os próximos dias, estão já agendados dois momentos culturais para o Constanti-no Nery. Terça-feira irá actuar o Quarteto de Cordas de Matosinhos. Já na quarta-feira estreia a peça "Sétimo Céu", encena-da por Fernanda Lapa. No final do mês, haverá uma homenagem a Fernando Pes-soa.

Matosinhos: Fogo e música no regresso do Cine-Teatro Constantino Nery

Renata Silva

[email protected]

Sara Santos Silva ( parceria com o jornal Neocultura)

Fotografia vencedora que reflecte a “ exaustão de uma nação”

Actuação da Academia Contemporânea do Espectáculo antes da entrada no Cine-Teatro

Page 14: Noticiar

O jornalismo sem cinismo

Renata Silva

“ Os cínicos não servem para este ofício – Conversas sobre o bom jornalismo” é uma obra de referência de Ryszard Kapuscinski, repór-ter polaco falecido em 2007, que pode servir como guia

para jornalistas e, principalmente, para futuros jornalistas. Este livro encontra-se tripartido e é organizado pela escritora italia-na Maria Nadotti. As três partes resultam de conversas com Kapuscinski acerca do jornalismo. Uma conversa com Maria Nadotti e com o público num congresso moderado pela escri-tora, uma entrevista e um encontro entre o repórter polaco e John Berger, crítico de arte são as várias partes que consti-tuem a obra e que a organizam.

Uma obra com muitos aspectos positivos. As experiências descritas pelo autor enriquecem o conhecimento dos leitores e que tornam-na apelativa e dinâmica. Além disso, põe a nu uma profissão e dá vários conselhos sobre a mesma. Fica-se a conhecer o jornalismo, como uma actividade responsável, atenta, exigente, mas não cínica (como o próprio título da obra exemplifica). O autor descreve o que está subjacente ao jorna-lismo: «O nosso trabalho consiste em indagar e em descrever o mundo contemporâneo que está em permanente, profunda, dinâmica e revolucionária transformação. (…) Por isso, é necessário aprender e estudar constantemente.»

São também esclarecidos os pontos fracos da profissão hoje em dia. Como exemplifica, e este livro também prima pelos exemplos, Kapuscinski, uma grande empresa de comunicação social “ não tem como finalidade ou princípio melhorar a nossa profissão, mas sim ganhar mais.” O jornalista fala abertamente sobre estas questões e outras que envolvem o ofício jornalísti-co.

De destacar ainda as conversas simples, directas e próximas. Nota-se uma casualidade e proximidade entre Maria Nadotti (a escritora trata-o por “tu”) e o jornalista polaco e entre este e as pessoas com quem dialoga. É um livro de fácil leitura. Um esquema pergunta-resposta que se enquadra perfeitamente nos horizontes de um leitor que, presumivelmente, gosta de jornalismo. Para além destes aspectos, a obra contém uma boa introdução e notas para que os leitores que não conhecem o autor, o passem a conhecer e para que entendam também a divisão do livro e a sua finalidade.

Mas, por outro lado, acaba por deixar que o leitor, tão empol-gado pelo tom casual dos primeiros capítulos, se sinta mais desinteressado quando caminha para o fim do livro. As duas últimas partes, principalmente a terceira, distanciam-se mais do enfoque da obra e são mais difíceis de ler. A segunda fala sobre a emancipação africana através do olhar de Kapuscinski e a terceira incide muito em elogios mútuos entre Berger e o jornalista polaco e em trocas de ideias acerca da literatura. Desvia-se um pouco do tema central do jornalismo e confunde o leitor. Estão então, nestas partes, os pontos fracos de um livro, que se poderia alongar mais sobre as vastas experiên-cias de Kapuscinski no jornalismo, uma profissão que tem ain-da muito mais a dizer para além do que é revelado na obra.

NOTICIAR 27 de Novembro 2008 14

A Outra Face do Mercador

Manaíra Aires

O ódio é o veneno que se bebe esperando que o outro morra. Essa recorrente idéia nas obras de Shakespeare sustenta o enredo de O Mercador de Veneza, no final do século XVI. A peça retrata a conversão dos judeus em novos-cristãos e aborda, sutilmente, a homossexualidade castrada pelo peso dos valores morais. A encenação de Ricardo Pais, apresentada de 07 a 23 de Novembro no Teatro Nacional São João, ganhou mais uma temporada, de 06 a 18 de Janeiro de 2009.

Antônio, um bem-sucedido mercador de Veneza, oferece como garantia algumas gramas de sua própria carne ao angariar um empréstimo com o judeu Shylock. O dinheiro é entregue a Bassânio, para que ele possa pagar o dote e casar-se com Pórcia. Uma grande tempestade destrói os barcos de Antônio, que se vê sem meios para pagar a dívida. Shylock exige arduamente que o contrato seja cum-prido. Eis que começa um longo julgamento, em que Shakespeare utiliza condi-ções religiosas, sociais, políticas para subsidiar profundas inquietações ontológi-cas.

A adaptação de Ricardo Pais respeitou o tom burlesco da peça original, que é uma típica visão caricaturesca do imaginário inglês a respeito dos judeus. A peça adaptada, contudo, não acentua a comédia e já em sua narrativa plástica revela as opções de Pais por enfatizar o gênero dramático. Uma parede formada por vários espelhos e dividida em duas balizas convida o espectador a refletir: aquilo que o ser humano revela de si não transcende a representação do que ele real-mente é. Nessa parede, Antônio cospe em sua imagem e, logo em seguida, cos-pe a Shylock, numa grande comprovação de que o judeu é a outra face do mer-cador. Essa ambivalência também é representada, simbolicamente, por um chão traçado com linhas descontínuas em preto e branco.

O clímax da peça reside no momento em que o corpo de Shylock é posto em cima do corpo de Antônio, ambos deitados entre as duas balizas da parede espe-lhada – ou do muro esmagador. Antônio repete frases de impacto ditas por vários personagens, enquanto que uma acentuada iluminação dá ao espectador um ar claustrofóbico, como se o espaço se contraísse para, de uma vez por todas, clari-ficar-se a fusão entre os dois personagens. Eis a representação cênica da culpa e do desdém de Antônio, esmagado pelo judeu. “Preciso saber o quanto te amo para saber o quanto te odeio”, diz o mercador, que faz de Shylock a sua própria invenção, imagem e espelho.

A adaptação de Ricardo Pais acentua a idéia de que Antônio se reconhece em Shylock por meio da castração, pois trata-se de dois homens frustrados e insatis-feitos por serem podados pelos filtros sociais. Antônio sente-se castrado porque ama Bassânio e não pode conter esse sentimento, que aparece acobertado por nostalgias – daí o pedaço de carne oferecido como garantia inclinar-se a ser ou o coração ou os órgãos sexuais. Já Shylock é castrado não necessariamente por ter perdido a família, a riqueza e a religião, mas por tudo aquilo em que ele foi forçado a tornar-se – e a castração surge na peça como uma referência à circun-cisão judaica.

Na conferência “Tu Judeu e Eu Judeu”, no dia 15 de Novembro, a professora Janet Adelman, da Universidade da Califórnia, comentou que, na maioria das adaptações que são feitas no mundo todo, Shylock aparece como um grande estereótipo escarnecido, mas na encenação de Pais fica clarividente a escolha por mostrar que, pior do que a visão cristalizada de Shylock como monstro, é a forma como sua suposta monstruosidade é utilizada pela mesma sociedade que lhe condena por ser judeu. “Se me fizerem mal, eu me vingo tal qual os cristãos fazem”, setencia Shylock.

De maneira densa e longa, O Mercador de Veneza a la Pais parece muitas vezes maçante pela celeridade com que o texto de Shakespeare é representado pelos atores. O som também desfavorece em alguns momentos a compreensão do texto. No entanto, é a plasticidade da peça a grande protagonista da adaptação por atribuir um ar contemporâneo a uma obra que resiste à fluência do tempo. Uma obra que nos faz refletir sobre as várias partes que, sutilmente, castramos e esquecemos em nós.

Estrearam esta semana:

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Madagáscar 2 de Eric Darnell e Tom McGrath

Com Ben Stiller, Chris Rock, David Schwimmer

O sorriso das estrelas de George C. Wolfe Com Diane Lane, Richard Gere, James Franco

O Perigo Espreita (Bangkok Dangerous) de Danny Pang, Oxide Pang Chun ;

Com Nicolas Cage, Phil-lip Waley, Charlie Yeung

Veja mais:

www.noticiar.pt/

CULTURA

O que se passa no mundo da música

Lançamento do novo álbum dos U2 adiado para 2009

No Doubt vão regressar em 2009

Novo disco de Britney Spears “ Circus” já pode ser ouvido na Internet

Beyoncé apresenta novo albúm “ I am Sasha Fierce”

Pensamento da semana

“A curiosidade é mais importante do que o

conhecimento.”

Albert Einstein

Page 15: Noticiar

NOTICIAR 27 de Novembro 2008 15

EDITORIAL

Esta semana o governo anunciou, finalmente, medi-das para prevenir a violência doméstica. Vivemos, infelizmente, num país, em que, num ano, 44 mulhe-res foram assassinadas pelos seus maridos, ex-maridos ou companheiros. Um número que chega a ser assustador e que só justifica o país que ainda guardou o conservadorismo do tempo da ditadura. As vítimas de violência doméstica são e vão conti-nuar a ser, se nada se fizer, mais vítimas de uma sociedade retrógrada do que dos seus próprios mari-dos.

A violência doméstica é um dos maiores flagelos sociais e lamentamos, apesar de tudo, que só agora o governo tenha decidido fazer algo pelas mulheres vítimas de violência doméstica. Foi preciso que o Observatório das Mulheres Assassinadas da UMAR expusesse essas informações. Este foi um tema que nunca foi levado a sério pelo governo. Só entrou, como diz em entrevista Maria José Maga-lhães, em agenda pública em 1999 e só quase dez anos depois é que se toma medidas concretas.

As medidas chegam atrasadas, mas consideramos que são importantes. Através do uso da pulseira electrónica, os agressores vão estar controlados e afastados das vítimas. A ordem de prisão sem ser em flagrante delito também é igualmente fundamen-tal para evitar mais homicídios.

As soluções são estas. Contudo, tem de haver uma maior consciencialização que começa num maior número de notícias, campanhas, acções de sensibili-zação e sobretudo mudança de mentalidades. É preciso uma nova educação com base em valores de igualdade e luta por um futuro seguro para todos e em que não haja subjugação da mulher. É esse o rumo que o país deve tomar.

Pobreza e crise não é só de vez em quan-do...

Renata Silva

É quase como a reciclagem. A crise toca a todos. Ou pelo menos parece. Nesta semana, temos a crise em destaque nas notícias, visto que afecta a economia do país e ao mesmo tempo, não é coincidência, a proliferação dos chamados “novos pobres”.

Ainda não estamos em recessão, mas para muitos parece que isso acontece. Tudo está cada vez mais caro e os salários não aumen-tam. A verdade é que não é só em tempos de crise que convém lembrar aos portugueses que existe pobreza. Ela já existia muito antes. Não se via era tanto. Agora a crise afecta toda a gente. Vê-se pobreza na história do nosso vizinho que ficou desempregado por-que a fábrica em que trabalhava fechou.

Os números explicam porque é que os portu-gueses vão gastar menos no Natal. Contudo, as prateleiras dos brinquedos nos hipermer-cados estão rodeadas de pais acompanha-dos pelos filhos para escolher presentes.

A crise parece afectar só alguns ou então esses alguns poupam demasiado no que é mais importante para manterem as aparên-cias ou para satisfazerem os caprichos dos filhos.

É bom que o país, ao contrário de muitos na Europa, não tenha entrado em recessão, mas por outro lado vêm aspectos muito piores anexados. Maior diferença entre ricos e pobres, por exemplo.

Hoje em dia, devido a estes factores agrava-dos, considero que é e vai ser cada vez mais fundamental estendermos a mão a quem mais precisa, ajudarmos o próximo, nem que seja com pouco, porque se a crise ainda não bateu à nossa porta, ainda pode vir a bater.

NOTICIAR

Director: Renata Silva

Director-adjunto: Renata Silva

Redactores Principais: Renata Silva

Redacção: Renata Silva ( Socie-dade, Economia, Internacional, Cultura, Actual), Catarina Morais ( Desporto), Sara Santos Silva (Cultura), Diana Albuquerque (Economia), Sara Lima Azevedo (Internacional)

Colunistas: Mariana Albuquer-que, Ana Tulha;

Edição Online: www.noticiar.pt

Emails: [email protected] ; opi-niã[email protected]

Conselho de administração: Renata Silva

Impressão: CopiDouro

NÃO SÃO TRAPOS

Mariana Albuquerque

[email protected]

São velhos, enferrujados com olheiras fundas e um andar arrastado. Nas rugas guardam histórias que poucos se dão ao trabalho de entender. É triste dizê-lo mas há quem tenha de ouvir: se eu fosse velha agarrava a minha malinha e partia com as minhas recorda-ções até onde as forças me levassem. Ser idoso em Portugal não é uma condição de respeito nem de dignidade. É ser um corpo inútil e pesado que só dá despesa porque ainda come, ainda tem necessi-dades fisiológicas e ainda sente dor.

Foi preciso chegar o dia 1 de Outubro, internacionalmente dedicado às pessoas idosas, para a comunicação social denunciar os maus tratos a que estão diariamente sujeitos os nossos velhinhos nos lares da terceira idade. Porque é que em Portugal só nos lembramos das pessoas e de certas coisas no dia que lhes é estipulado? Só se vai ao cemitério no dia dos finados; os políticos só plantam árvores no dia da árvore; só se tira a bicicleta da garagem no dia europeu sem carros e só se olha para a situação dos velhinhos no dia dos idosos. Ninguém compreende, toda a gente o faz. Reles tecido o que temos cá dentro!

Mas pior do que a nossa amnésia anual é saber que, segundo a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima o número de idosos víti-mas de maus tratos aumentou de 472 casos em 2000 para 4732 em 2005. E este número que já cresceu até aos nossos dias exclui todos os velhinhos que sofrem em silêncio. Como é possível existi-rem lares onde os idosos só comem cinco minutos antes da visita de um familiar? E como é que se confia em funcionárias que não dão a medicação aos velhinhos e nem sequer lhes mudam a fralda? É desumano, é nojento, é crime. Às criaturas estranhas que trabalham nesses lares: ajoelhem-se em grãos de milho, cortem os pulsos, façam o que quiserem! Mas por favor não saiam de casa até conse-guirem andar na rua sem ser a olhar para o chão!

Isto já para não falar nos filhos que maltratam os pais. É difícil cuidar de uma pessoa doente? É. Dói assistir aos ataques de loucura de quem já esteve no seu perfeito juízo? Dói. Mas os nossos pais tam-bém nos acompanharam quando estivemos doentes e foram eles que aturaram as nossas birrinhas. É como se houvesse uma troca de papéis ditada pelo ciclo da vida: começas em criança a receber carinho de adultos, acabas adulto a dar carinho a crianças cresci-das. Filhos, honrem o que os vossos pais vos deram e portem-se como seres humanos! É degradante saber que agora que o país está em crise, muitas são as famílias que estão a repescar os pais dos lares para se apoderarem das reformas. É o país que temos!

Obrigada a todos aqueles que me vão fazer emigrar. Tu que bates, tu que maltratas, tu que és pior do que um animal lembra-te que um dia serás enrugado. Aqui fica o desejo: que sintas na pele velha e no coração cansado o desgosto de ainda seres alguém. E agora vou juntar os meus trapos. Quando o branco tingir todos os meus cabe-los parto desde país de corações de pedra. ADEUS!

OPINIÃO

“Teacher, leave those kids alone”

Ana Tulha - [email protected]

Longe vai o tempo em que a instrução era um sonho de muitos e uma realidade de poucos. Em que nos velhos bancos da escola se sentavam alunos sedentos de aprender. Em que o profes-sor, dono de uma sapiência inquestionável, exer-cia a profissão com honra e dignidade. Em que os pais se enchiam de orgulho porque os filhos podiam ir à escola e ser alguém na vida.

Hoje, a realidade das escolas portuguesas são alunos que fazem de tudo para não pôr os pés nas aulas e que quando põem é para atirar aviõezinhos ou gozar com os “stôres”. Alunos que entram na escola dispostos a tudo, menos a aprenderem. Alunos para quem as aulas de Por-tuguês e História são um autêntico “frete” e os trabalhos de casa de Matemática e Físico-Química uma palhaçada. São professores desani-mados, descredibilizados, desautorizados e des-crentes na profissão que escolheram. Professores humilhados e enxovalhados por crianças e ado-lescentes que desaprenderam o significado da palavra “respeito”. Professores que têm que se confrontar com agressões verbais e físicas por parte daqueles a quem se limitam a prestar um serviço (e acredito que o melhor que podem). São pais para quem ter os filhos na escola é muitas vezes um alívio, porque não têm tempo para eles. Pais que não hesitam em criticar os docentes sem nunca se questionarem sobre a conduta dos filhos que às vezes não sabem educar. Pais que vêem os professores como os maus da fita, do outro lado da barricada.

Fora dos portões das escolas, a situação não é mais risonha. Professores, sindicatos e Ministério da Educação travam batalhas constan-tes em vez de unirem forças e remarem todos para o mesmo lado. A Ministra Maria de Lurdes Rodrigues prefere dar largas à burocracia e vir a público com novos estatutos do Aluno ou da Car-reira Docente em vez de combater o abandono escolar e a violência nas salas de aula. Prefere enfatizar a obtenção de melhores médias nos exames de matemática do que apostar num ensi-no rigoroso e de qualidade. Prefere apostar em processos de avaliação dos docentes que os fazem gastar energias no supérfluo do que apre-sentar estratégias que estimulem o gosto dos alunos pela escola. Os sindicatos e os professo-res desmultiplicam-se em numerosas manifesta-ções e protestos em vez de proporem soluções alternativas e mostrarem vontade de reparar esta situação que está muito perto de ser catastrófica.

Na praça pública, os argumentos esgrimem-se de ambos os lados, com crescente veemên-cia. Mas por estes dias, o ensino em Portugal não é mais do que uma discussão gasta. Em que já ninguém tem razão.

Page 16: Noticiar

NOTICIAR

Garfield

Ainda nesta semana...

Professora da Escola Caroli-na Michaëlis no Porto distin-guida pela Ministra da Educa-ção

A docente Jacinta Moreira recebeu esta segunda-feira o Prémio Nacional do Professor. O prémio foi entregue na Casa da Música. O galardão reco-nhece o mérito dos professores a nível de qualidade do ensino.

Ministério Público retira 384 crimes a Carlos Silvino

Ainda só foram provados 53 crimes. O procurador desafia o principal arguido da Casa Pia a contar tudo o que sabe.

Milhares de professores manifestaram-se contra a avaliação

Os professores querem a suspensão da avaliação. As manifestações dura-ram 4 dias. Os docentes dizem que as alterações são inaceitáveis.

Polícias britânicos treinados para utilizarem tasers

O governo britânico afirma que vai comprar 10.000 tasers, armas que servem para atordoar infractores . Estas armas já mataram, só nos Esta-dos Unidos, 320 pessoas desde 2001.

Famílias separadas pagam mais IRS

Os divorciados vão pagar mais IRS. Os proprietários de carros a gasóleo irão pagar mais 250 euros de imposto. Estas são medidas apresentadas e aprovadas pelo PS como alterações ao Orçamento de Estado 2009.

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Crónicas de um país mal parado

Renata Silva

O Tintim está de volta

O país parou desde Setembro deste ano. Chegou o sal-vador do orgulho português. Não, não é mais dinheiro. Não, não se aumentam os salários. Não, não se combate a pobreza, nem se constroem escolas. Chegou há pouco tempo, como todos os leitores já devem ter notado, o Magalhães, uma verdadeira revolução na história de Por-tugal e um passo muito importante. É designado como um computador cem por cento nosso. Mas todas as suas peças são importadas dos Estados Unidos. Quanto ao nome, é tipicamente português. Aliás, é o pouco de por-tuguês que o computador tem. Não há Toshiba’s, nem HP’s, nem Acer’s. É Magalhães porque é de terras lusita-nas.

Foi montado e concluído numa fábrica em Matosinhos para depois ser publicitado e mais tarde distribuído a crianças de todas as escolas.

É um computador que parece só apontar para o positivo. Afinal de contas, o que importa é que é português, é de última geração e que é adaptado às crianças. Mas Sócrates parece mais entretido com o novo portátil do que os mais novos. Não bastam os livros para as costas e agora ainda vai o peso do Magalhães já recrutado como material escolar.

Para além disso, soube-se recentemente das capacida-des publicitárias do Primeiro-ministro. A cimeira ibero-americana aparece uma vez mais palco de insólitos. Pri-meiro o Rei de Espanha manda calar Hugo Chávez e agora em vez de se discutir o que realmente é importan-te, José Sócrates faz publicidade ao “primeiro grande computador ibero-americano", distribuindo computadores pelos governantes.

E mais incrível ainda é que Sócrates parece ter chamado criança a Hugo Chavéz que volta a ser protagonista na cimeira, mesmo sem ter lá estado: "Foi pensado para as crianças e por isso é resistente ao choque. O Presidente [Hugo] Chávez já o atirou ao chão e não o conseguiu partir". O “ Tintim”, como Sócrates o alcunhou, é também impermeável. Ponho me a tentar imaginar uma criança no seu perfeito juízo a molhar o Magalhães. Talvez se pense que ele precisa de tomar banho.

No lugar de fazer publicidade, Sócrates poderia estar a dar mais atenção a outros factores. Como cumprir as suas promessas e olhar mais para o que realmente importa na educação e outras áreas. Um país com pro-testos de professores e alunos, com greves já marcadas, com violência nas escolas, com crianças que têm dificul-dades de aprendizagem. Isto parece nem estar na lista do Primeiro-ministro, porque não há nada que orgulhe mais um país como este do que um computador “ pensa-do para as crianças”.

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Domingo 16º C/ 9º C

Famílias vão buscar idosos aos lares para ficar com as reformas

Na inauguração da sede da UMP, Manuel Lemos, presidente da institui-ção, afirma à agência Lusa que há “cada vez mais famílias a retirar os idosos dos lares das misericórdias para os levarem para casa e obterem, assim, mais uma fonte de rendimen-to”.

São vários os casos em que se verifi-ca esta situação.

As Misericórdias pouco podem fazer porque as famílias são “ sobera-nas”, mas receiam pela maneira como esses idosos estejam a ser trata-dos e alertam para esse facto.

Manuel Lemos sublinha que o mais importante é a “prestação de servi-ços à terceira idade”, visto haver muitos idosos que estão nos lares numa situação não só de “ dependência física”, mas também “ de soli-dão ou por questões de segurança.”

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Violência Doméstica:

Agressores vão passar a usar pulseira electrónica >>> pág.10

Economia:

Portugal escapa à recessão técnica no terceiro trimestre do ano >>> pág.5

Atentados:

Mais de 100 mortos em Bom-baím >>> pág.6

Liga dos Campeões

Futebol Clube Porto qualifica-se para os oitavos de final >>> pág.12

Foto: Renata Silva