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Patologia das construções: uma especialidade na engenharia civil Por Fernando Benigno da Silva O termo Patologia, de origem grega (páthos, doença, e lógos, estudo), é amplamente utilizado nas diversas áreas da ciência, com denominações do objeto de estudo que variam de acordo com o ramo de atividade. Sua aplicação em áreas como de Ciências Biológicas é comumente contextualizado, por se tratar de estudos investigativos referentes às alterações estruturais e funcionais das células, dos tecidos e dos órgãos, provocados por doenças. A introdução desses estudos, nas várias especialidades médicas, começa ainda no período da graduação, com métodos investigativos das doenças, estabelecimento de prognósticos, terapêutica e a profilaxia, itens futuramente abordados no presente trabalho. Em contrapartida, apesar de o termo patologia estar consolidado na área de reabilitação e conservação de edificações, é comum ver situações em que sua aplicação se dá de forma errônea, resultado da falta de qualificação e conscientização profissional da importância do emprego da terminologia da forma correta. Engenharia inspirada na medicina No ramo da medicina a patologia envolve tanto a ciência básica quanto a prática clínica, e é devotada ao estudo das alterações estruturais e funcionais das células, dos tecidos e dos órgãos que estão ou podem estar sujeitos a doenças modificadoras do sistema. Todas as doenças têm causa (ou causas) que age(m) por determinados mecanismos, os quais produzem alterações morfológicas e/ou moleculares nos tecidos, que resultam em alterações funcionais do organismo ou parte dele, produzindo sintomas. Na fase de estudos, cabe buscar novos meios para evitar as doenças ou a sua propagação. A esta ação denomina- se "profilaxia" (do grego, prophýlaxis = cautela). Foi exatamente este panorama vindo da medicina que inspirou engenheiros civis a passarem a usar termos da medicina na engenharia civil, sendo atualmente muitos deles já consagrados e usados inclusive em livros adotados nos cursos de graduação em engenharia civil em todo o mundo. Este intercâmbio de terminologias vem das similaridades dos objetos de estudo destes dois tradicionais campos de formação, o ser humano e a edificação. É fácil traçar um paralelo e entender que o esqueleto humano compara-se à estrutura do edifício (figura 1), onde a musculatura se assemelharia às alvenarias, a pele poderia ser comparada aos revestimentos, o sistema circulatório seria como as instalações elétricas, de gás, esgoto e água potável, enquanto que o aparelho respiratório seria o sistema de ventilação (janelas, ar-condicionado, sistemas de exaustão etc.). Figura 2 - Comparação do remédio da Figura 1 - Estrutura de sustentação na medicina e na engenharia civil

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Patologia das construções: uma especialidade na engenharia civil

Por Fernando Benigno da Silva

O termo Patologia, de origem grega (páthos, doença, e lógos, estudo), é amplamente utilizado nas diversas áreas da ciência, com denominações do objeto de estudo que variam de acordo com o ramo de atividade. Sua aplicação em áreas como de Ciências Biológicas é comumente contextualizado, por se tratar de estudos investigativos referentes às alterações estruturais e funcionais das células, dos tecidos e dos órgãos, provocados por doenças. A introdução desses estudos, nas várias especialidades médicas, começa ainda no período da graduação, com métodos investigativos das doenças, estabelecimento de prognósticos, terapêutica e a profilaxia, itens futuramente abordados no presente trabalho. Em contrapartida, apesar de o termo patologia estar consolidado na área de reabilitação e conservação de edificações, é comum ver situações em que sua aplicação se dá de forma errônea, resultado da falta de qualificação e conscientização profissional da importância do emprego da terminologia da forma correta.

Engenharia inspirada na medicinaNo ramo da medicina a patologia envolve tanto a ciência básica quanto a prática clínica, e é devotada ao estudo das alterações estruturais e funcionais das células, dos tecidos e dos órgãos que estão ou podem estar sujeitos a doenças modificadoras do sistema. Todas as doenças têm causa (ou causas) que age(m) por determinados mecanismos, os quais produzem alterações morfológicas e/ou moleculares nos tecidos, que resultam em alterações funcionais do organismo ou parte dele, produzindo sintomas.

Na fase de estudos, cabe buscar novos meios para evitar as doenças ou a sua propagação. A esta ação denomina- se "profilaxia" (do grego, prophýlaxis = cautela).

Foi exatamente este panorama vindo da medicina que inspirou engenheiros civis a passarem a usar termos da medicina na engenharia civil, sendo atualmente muitos deles já consagrados e usados inclusive em livros adotados nos cursos de graduação em engenharia civil em todo o mundo. Este intercâmbio de terminologias vem das similaridades dos objetos de estudo destes dois tradicionais campos de formação, o ser humano e a edificação. É fácil traçar um paralelo e entender que o esqueleto humano compara-se à estrutura do edifício (figura 1), onde a musculatura se assemelharia às alvenarias, a pele poderia ser comparada aos revestimentos, o sistema circulatório seria como as instalações elétricas, de gás, esgoto e água potável, enquanto que o aparelho respiratório seria o sistema de ventilação (janelas, ar-condicionado, sistemas de exaustão etc.).

Figura 2 - Comparação do remédio da medicina com o reparo com uso de pastilhas para proteção catódica das armaduras da engenharia civil

Figura 1 - Estrutura de sustentação na medicina e na engenharia civil

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As similaridades não param por aí. Quando uma estrutura apresenta problemas, é comum fazer uma recuperação por meio de reparos, e isso poderia ser comparado ao remédio receitado na medicina (figura 2). Neste momento entra-se em um dos pontos fortes de discussão deste trabalho, pois o médico não receita um medicamento sem saber a doença e suas causas, além de solicitar alguns exames comprobatórios ao paciente sobre estes tópicos, quando necessário. Durante décadas, a engenharia civil era como uma medicina que não fazia exame (figura 3) e sequer procurava a doença. Os serviços de reparo eram, e em alguns casos ainda são, feitos sem o envolvimento de especialistas na área de patologia das construções. Porém, isso tem mudado em alguns aspectos. Embora atualmente ainda existam empresas de menor porte que não aplicam toda a teoria de patologia das construções desenvolvida nas últimas décadas em prol de um diagnóstico benfeito que irá levar a uma correta especificação de materiais (remédio) e procedimentos de recuperação (procedimento cirúrgico), já existe muito conhecimento produzido e sendo disponibilizado para os profissionais, que estão sendo formados na área e sendo requisitados pelo mercado. Esse fato pode ser considerado uma vitória da engenharia civil resultante da militancia de vários professores e pesquisadores das universidades nacionais em prol desta vertente de formação necessária nos dias de hoje, haja vista a preocupação acerca de construções sustentáveis e mais duráveis.

Desse modo, a patologia nas edificações se dedica ao estudo de anomalias ou problemas (possíveis doenças) do edifício e as alterações anatômicas e funcionais causadas no mesmo (figura 4). Estas doenças podem ser adquiridas congenitamente, ou seja, durante a execução da obra (emprego inadequado de materiais e métodos construtivos) ou na concepção do projeto, ou mesmo serem adquiridas ao longo de sua vida. A morte da estrutura neste caso seria comparável à sua ruína. Dependendo do tipo e porte da obra, a ruína de uma edificação pode ocasionar perdas de centenas de vidas, além de perdas financeiras. Em geral, as perdas financeiras ocasionadas pelos processos de degradação das estruturas são elevadas. Para exemplificar, nos Estados Unidos, o custo anual apenas de problemas relacionados à corrosão chega a 3,1% do PIB, o que totaliza US$ 276 bilhões, contra 3,5% no Brasil.

Contudo, a expectativa de vida dessas estruturas também pode ser ampliada quando essas doenças são devidamente tratadas.

Na medicina, diversas terminações são usadas em associação com o termo patologia. Na engenharia, diversos termos, com significados voltados para a medicina (encontrados em dicionários) podem ser utilizados, desde que os objetos de estudo sejam voltados para materiais em edificações. São eles:● Profilaxia das edificações (do grego prophýlaxis, "cautela"): é a aplicação de meios tendentes a

evitar as doenças ou a sua propagação. Em sua adaptação para a engenharia significa a aplicação de meios para evitar as "doenças" (anomalias ou problemas) do edifício, bem como suas propagações;● Diagnóstico (do grego diagnosticu, dia = através de, durante, por meio de + gnosticu = alusivo ao

conhecimento de): conhecimento (efetivo ou em confirmação) sobre algo, ao momento do seu exame; ou a descrição minuciosa de algo, feita pelo examinador, classificador ou pesquisador. Em compreensão o termo na engenharia teria a função de identificar e descrever o mecanismo, as

origens e as causas efetivamente responsáveis pelo problema patológico;● Prognóstico (do latim prognosticu - pro = "antecipado, anterior, prévio" + gnosticu = "alusivo ao conhecimento

de"): juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, acerca da duração e evolução de uma doença; ou predição, agouro, presságio, profecia, relativos a qualquer assunto. Ou seja, estimativa da evolução do problema ao longo do tempo● Terapia (do grego θεραπεíα - «servir a deus»): significa o tratamento para uma determinada doença pela medicina

tradicional, ou por meio de terapia alternativa. Também há recomendação de medidas necessárias, sejam elas imediatas ou não;● Anamnese (do grego ana, "trazer de novo" e mnesis, "memória"): é uma entrevista realizada pelo profissional de

saúde ao seu paciente, que tem a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico de uma doença. Em outras palavras, é uma entrevista que busca relembrar todos os fatos que se relacionam com a doença e à pessoa doente

Uma anamnese, como qualquer outro tipo de entrevista, possui formas ou técnicas corretas de serem aplicadas. Ao obedecer as técnicas pode-se aproveitar ao máximo o tempo disponível para o atendimento, o que produz um diagnóstico seguro e um tratamento correto. Sabe-se hoje que a anamnese, quando bem conduzida na medicina, é responsável por 85% do diagnóstico na clínica médica, liberando 10% para o exame clínico (físico) e apenas 5% para

Figura 3 - Comparação do exame da

medicina com o exame da

engenharia civil

Figura 4 - Paralelo entre o doente da medicina (ser humano) e o doente na engenharia civil (edificação)

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os exames laboratoriais ou complementares. Na Engenharia Civil não existe um levantamento que estime este tipo de informação.

Patologia x manifestação patológicaHá um grande equívoco no emprego da palavra patologia, tanto entre leigos como no meio técnico. Ouve-se repetidamente a palavra patologia sendo empregada para definir o que na verdade pode ser chamado de manifestação patológica.

Em termos apropriados, uma manifestação patológica é a expressão resultante de um mecanismo de degradação e a patologia é uma ciência formada por um conjunto de teorias que serve para explicar o mecanismo e a causa da ocorrência de determinada manifestação patológica. Em função disso, fica claro que a patologia é um termo muito mais amplo do que manifestação patológica, uma vez que ela é a ciência que estuda e tenta explicar a ocorrência de tudo o que se relaciona com a degradação de uma edificação.

Desse modo, uma fissura não é uma patologia, mas sim um sintoma cujo mecanismo de degradação (doença) poderia ser corrosão de armaduras, deformação excessiva da estrutura, reação álcali-agregado, e cuja terapia (o que fazer para restabelecer a estrutura) deve levar em conta as causas da doença.

Outro emprego do termo que se dá de forma errônea diz respeito ao uso da patologia no plural, referindo-se a diversas manifestações patológicas. A ciência patologia é única e possui aplicação em diversas áreas do conhecimento. No meio técnico da construção civil é comum depararmos com empregos errôneos, como supracitado, até para designar nomes de disciplinas nas universidades e nomes de institutos ou empresas especializadas nesta área. Finalizando esta comparação, é importante se conscientizar que não se vê a patologia e sim se estuda patologia, pois ela é uma ciência. O que se enxerga em uma vistoria são as manifestações patológicas, ou seja, os sintomas que a edificação apresenta.

Para sedimentar os termos corretamente, a tabela 1 ilustra alguns exemplos de manifestações patológicas com suas devidas causas, origens e mecanismos.

Patologia das construções: uma especialidade na engenharia civil

Por Fernando Benigno da Silva

O termo Patologia, de origem grega (páthos, doença, e lógos, estudo), é amplamente utilizado nas diversas áreas da ciência, com denominações do objeto de estudo que variam de acordo com o ramo de atividade. Sua aplicação em áreas como de Ciências Biológicas é comumente contextualizado, por se tratar de estudos investigativos referentes às alterações estruturais e funcionais das células, dos tecidos e dos órgãos, provocados por doenças. A introdução desses estudos, nas várias especialidades médicas, começa ainda no período da graduação, com métodos investigativos das doenças, estabelecimento de prognósticos, terapêutica e a profilaxia, itens futuramente abordados no presente trabalho. Em contrapartida, apesar de o termo patologia estar consolidado na área de reabilitação e conservação de edificações, é comum ver situações em que sua aplicação se dá de forma errônea, resultado da falta de qualificação e conscientização profissional da importância do emprego da terminologia da forma correta.

Engenharia inspirada na medicinaNo ramo da medicina a patologia envolve tanto a ciência básica quanto a prática clínica, e é devotada ao estudo das alterações estruturais e funcionais das células, dos tecidos e dos órgãos que estão ou podem estar sujeitos a doenças modificadoras do sistema. Todas as doenças têm causa (ou causas) que age(m) por determinados mecanismos, os quais produzem alterações morfológicas e/ou moleculares nos tecidos, que resultam em alterações funcionais do organismo ou parte dele, produzindo sintomas.

Na fase de estudos, cabe buscar novos meios para evitar as doenças ou a sua propagação. A esta ação denomina- se "profilaxia" (do grego, prophýlaxis = cautela).

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Foi exatamente este panorama vindo da medicina que inspirou engenheiros civis a passarem a usar termos da medicina na engenharia civil, sendo atualmente muitos deles já consagrados e usados inclusive em livros adotados nos cursos de graduação em engenharia civil em todo o mundo. Este intercâmbio de terminologias vem das similaridades dos objetos de estudo destes dois tradicionais campos de formação, o ser humano e a edificação. É fácil traçar um paralelo e entender que o esqueleto humano compara-se à estrutura do edifício (figura 1), onde a musculatura se assemelharia às alvenarias, a pele poderia ser comparada aos revestimentos, o sistema circulatório seria como as instalações elétricas, de gás, esgoto e água potável, enquanto que o aparelho respiratório seria o sistema de ventilação (janelas, ar-condicionado, sistemas de exaustão etc.).

Figura 2 - Comparação do remédio da medicina com o reparo com uso de pastilhas para proteção catódica das armaduras da engenharia civil

As similaridades não param por aí. Quando uma estrutura apresenta problemas, é comum fazer uma recuperação por meio de reparos, e isso poderia ser comparado ao remédio receitado na medicina (figura 2). Neste momento

entra-se em um dos pontos fortes de discussão deste trabalho, pois o médico não receita um medicamento sem saber a doença e suas causas, além de solicitar alguns exames comprobatórios ao paciente sobre estes tópicos, quando necessário. Durante décadas, a engenharia civil era como uma medicina que não fazia exame (figura 3) e sequer procurava a doença. Os serviços de reparo eram, e em alguns casos ainda são, feitos sem o envolvimento de especialistas na área de patologia das construções. Porém, isso tem mudado em alguns aspectos. Embora atualmente ainda existam empresas de menor porte que não aplicam toda a teoria de patologia das construções desenvolvida nas últimas décadas em prol de um diagnóstico benfeito que irá levar a uma correta especificação de materiais (remédio) e procedimentos de recuperação (procedimento cirúrgico), já existe muito conhecimento produzido e sendo disponibilizado para os profissionais, que estão sendo formados na área e sendo requisitados pelo mercado. Esse fato pode ser considerado uma vitória da engenharia civil resultante da militancia de vários professores e pesquisadores das universidades nacionais em prol desta vertente de formação necessária nos dias de hoje, haja vista a preocupação acerca de construções sustentáveis e mais duráveis.

Desse modo, a patologia nas edificações se dedica ao estudo de anomalias ou problemas (possíveis doenças) do edifício e as alterações anatômicas e funcionais causadas no mesmo (figura 4). Estas doenças podem ser adquiridas congenitamente, ou seja, durante a execução da obra (emprego inadequado de materiais e métodos construtivos) ou na concepção do projeto, ou mesmo serem adquiridas ao longo de sua vida. A morte da estrutura neste caso seria comparável à sua ruína. Dependendo do tipo e porte da obra, a ruína de uma edificação pode ocasionar perdas de centenas de vidas, além de perdas financeiras. Em geral, as perdas financeiras ocasionadas pelos processos de degradação das estruturas são elevadas. Para exemplificar, nos Estados Unidos, o custo anual apenas de problemas relacionados à corrosão chega a 3,1% do PIB, o que totaliza US$ 276 bilhões, contra 3,5% no Brasil.

Figura 4 - Paralelo entre o doente da medicina (ser humano) e o doente na engenharia civil (edificação)

Figura 3 - Comparação do exame da

medicina com o exame da

engenharia civil

Figura 1 - Estrutura de sustentação na medicina e na engenharia civil

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Contudo, a expectativa de vida dessas estruturas também pode ser ampliada quando essas doenças são devidamente tratadas.

Na medicina, diversas terminações são usadas em associação com o termo patologia. Na engenharia, diversos termos, com significados voltados para a medicina (encontrados em dicionários) podem ser utilizados, desde que os objetos de estudo sejam voltados para materiais em edificações. São eles:● Profilaxia das edificações (do grego prophýlaxis, "cautela"): é a aplicação de meios tendentes a evitar as doenças ou a sua

propagação. Em sua adaptação para a engenharia significa a aplicação de meios para evitar as "doenças" (anomalias ou problemas) do edifício, bem como suas propagações;● Diagnóstico (do grego diagnosticu, dia = através de, durante, por meio de + gnosticu = alusivo ao conhecimento de):

conhecimento (efetivo ou em confirmação) sobre algo, ao momento do seu exame; ou a descrição minuciosa de algo, feita pelo examinador, classificador ou pesquisador. Em compreensão o termo na engenharia teria a função de identificar e descrever o mecanismo, as origens e as causas efetivamente responsáveis pelo problema patológico;● Prognóstico (do latim prognosticu - pro = "antecipado, anterior, prévio" + gnosticu = "alusivo ao conhecimento de"): juízo

médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, acerca da duração e evolução de uma doença; ou predição, agouro, presságio, profecia, relativos a qualquer assunto. Ou seja, estimativa da evolução do problema ao longo do tempo● Terapia (do grego θεραπεíα - «servir a deus»): significa o tratamento para uma determinada doença pela medicina tradicional,

ou por meio de terapia alternativa. Também há recomendação de medidas necessárias, sejam elas imediatas ou não;● Anamnese (do grego ana, "trazer de novo" e mnesis, "memória"): é uma entrevista realizada pelo profissional de saúde ao seu

paciente, que tem a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico de uma doença. Em outras palavras, é uma entrevista que busca relembrar todos os fatos que se relacionam com a doença e à pessoa doente

Uma anamnese, como qualquer outro tipo de entrevista, possui formas ou técnicas corretas de serem aplicadas. Ao obedecer as técnicas pode-se aproveitar ao máximo o tempo disponível para o atendimento, o que produz um diagnóstico seguro e um tratamento correto. Sabe-se hoje que a anamnese, quando bem conduzida na medicina, é responsável por 85% do diagnóstico na clínica médica, liberando 10% para o exame clínico (físico) e apenas 5% para os exames laboratoriais ou complementares. Na Engenharia Civil não existe um levantamento que estime este tipo de informação.

Patologia x manifestação patológicaHá um grande equívoco no emprego da palavra patologia, tanto entre leigos como no meio técnico. Ouve-se repetidamente a palavra patologia sendo empregada para definir o que na verdade pode ser chamado de manifestação patológica.

Em termos apropriados, uma manifestação patológica é a expressão resultante de um mecanismo de degradação e a patologia é uma ciência formada por um conjunto de teorias que serve para explicar o mecanismo e a causa da ocorrência de determinada manifestação patológica. Em função disso, fica claro que a patologia é um termo muito mais amplo do que manifestação patológica, uma vez que ela é a ciência que estuda e tenta explicar a ocorrência de tudo o que se relaciona com a degradação de uma edificação.

Desse modo, uma fissura não é uma patologia, mas sim um sintoma cujo mecanismo de degradação (doença) poderia ser corrosão de armaduras, deformação excessiva da estrutura, reação álcali-agregado, e cuja terapia (o que fazer para restabelecer a estrutura) deve levar em conta as causas da doença.

Outro emprego do termo que se dá de forma errônea diz respeito ao uso da patologia no plural, referindo-se a diversas manifestações patológicas. A ciência patologia é única e possui aplicação em diversas áreas do conhecimento. No meio técnico da construção civil é comum depararmos com empregos errôneos, como supracitado, até para designar nomes de disciplinas nas universidades e nomes de institutos ou empresas especializadas nesta área. Finalizando esta comparação, é importante se conscientizar que não se vê a patologia e sim se estuda patologia, pois ela é uma ciência. O que se enxerga em uma vistoria são as manifestações patológicas, ou seja, os sintomas que a edificação apresenta.

Para sedimentar os termos corretamente, a tabela 1 ilustra alguns exemplos de manifestações patológicas com suas devidas causas, origens e mecanismos.

Formação na engenharia civilEm princípio, o profissional formado atualmente nas universidades brasileiras não está habilitado para atuar na área de patologia das construções. Pela necessidade de conhecimento amplo sobre o funcionamento das construções, envolvendo reações químicas e solicitações mecânicas, este campo da engenharia civil tem sido tratado como uma especialidade. Nos cursos de engenharia civil em algumas destas universidades, a matéria patologia das construções é ofertada como disciplina optativa na

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graduação, sendo ministrada também nos cursos de pós-graduação. Além disso, a cada ano surgem novos cursos de especialização em patologia das construções como uma maneira de suprir a carência de informações para os profissionais atuantes no mercado, haja vista a importância desta ciência na prática diária dos engenheiros civis.

É fácil compreender que o aluno graduado em engenharia civil precisa sair dos seus cursos com noções sobre esta área, pois, deste modo, ele será um profissional mais completo e capaz de produzir construções duráveis e mais eficazes no desempenho de suas funções. Na medicina, a patologia clínica ou medicina laboratorial é uma especialidade médica que tem por objetivo auxiliar os médicos de diversas especialidades no diagnóstico e acompanhamento clínico de estados de saúde e doença. No Brasil a especialidade é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) com o nome de patologia clínica ou medicina laboratorial. Esta por sua vez se difere de patologia cirúrgica ou anatomia patológica, especialidade que tem por objeto de análise os tecidos sólidos do corpo humano, geralmente obtidos por meio de biópsia.

No Brasil, o médico patologista clínico passa por uma formação que inclui, além dos seis anos regulares do curso superior em medicina, mais três anos de residência médica, sendo um ano em clínica médica e dois anos em laboratório de análises clínicas.

Comparando com a engenharia civil, alguns cursos de especialização na área têm duração de aproximadamente dois anos e abordam disciplinas como: Mecanismos de Degradação, Sintomatologia e Ensaios para Diagnóstico, Vida Útil, Métodos de Avaliação, Produtos para Recuperação, Técnicas de Recuperação, Sistemas de Impermeabilização, Diagnósticos de Estruturas de Concreto, Problemas Técnicos Jurídicos nas Construções, além de estudar os diversos mecanismos e manifestações patológicas em Pisos Industriais, Revestimentos, Pavimentos Rígidos, Pavimentos Flexíveis, Fundações, Pontes e Viadutos de Concreto, Alvenarias e Monitoração Estrutural. Porém, nota-se que ainda não existe a obrigatoriedade de especializar- se na área para atuar como patologista das construções. Assim, um profissional despreparado corre o risco de equivocar-se na avaliação e tratar somente os sintomas e não as causas do problema.

Atualmente existem várias técnicas para diagnosticar uma manifestação patológica. Diversos ensaios destrutivos e não-destrutivos têm surgido com intuito de realizar o prognóstico das doenças nas edificações. Em linhas gerais, estes ensaios podem ser utilizados para fornecer informações como mapeamento das estruturas, tamanho, profundidade, condições físicas, ou para fornecer parâmetros que estão associados aos processos de deterioração ou risco de danos às estruturas. Assim, convém consultar especialistas para empregar a melhor técnica e com isso obter análises mais eficientes e confiáveis. Felizmente, não faltam terapias, que vão desde revestimentos especiais até técnicas eletroquímicas. No entanto, o fundamental é melhorar a qualidade das obras, para que não adoeçam tanto e tão cedo.

Mediante a modernidade tecnológica que significa, hoje em dia, a automação e a informatização da maioria dos processos de análise, o profissional também deve possuir conhecimentos básicos na área de informática.

Considerações finaisMuitas vezes as manifestações patológicas estão relacionadas aos materiais componentes e ao processo construtivo, o que reflete no desconhecimento às normas pelos profissionais que lidam com o assunto e a falta de cuidados na elaboração e aplicação do concreto.

Na maioria dos casos, o cumprimento às normas poderia evitar ou desacelerar consideravelmente os mecanismos de degradação de estruturas (doenças). O cumprimento às normas é obrigatório, não só para atender o Código de Defesa do Consumidor (vide artigo n° 39 do Código de Defesa do Consumidor), mas também com a finalidade de orientar os profissionais para as melhores práticas, evitando assim, a ocorrência desses problemas.

A tabela 2 apresenta algumas variáveis de influência e as respectivas recomendações normativas para evitar problemas patológicos.

Diante do panorama comparativo entre a relevância da patologia na medicina e na engenharia, demonstrados no presente artigo, cabe salientar que um dos fatores inerentes a esta significativa diferença diz respeito à mudança de valores arraigados pelas áreas influentes nas edificações comparados com a medicina. Nota-se que há uma preservação de valores culturais muito forte e que ainda predomina sobre o pensamento de construtibilidade e sustentabilidade nas edificações. Este fato não se restringe apenas aos profissionais envolvidos, mas também pelos contratantes (clientes) os quais ainda encaram as atividades de um profissional capacitado nesta área como um custo extra à obra e desconhecem os riscos assumidos com tal ato. Neste caso, infelizmente, ainda não nos comparamos com a medicina, uma vez que nesta área os especialistas são tratados e respeitados

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como tal para a prevenção e cura de doenças humanas. Cabe, neste momento, a atuação mais precisa de órgãos competentes de fiscalização para a disseminação desta especialidade para a vistoria e acompanhamento na execução de obras de todos os portes. Contudo, os investimentos com desenvolvimento de pesquisas na área da patologia nas edificações ainda são pequenos, se comparados à atenção dedicada à patologia da medicina. Sem muitos incentivos à obrigatoriedade de especialização e utilização de ensaios específicos que demandam mão de obra especializada não há aumento significativo da difusão e aplicação efetiva desta ciência nas engenharias e áreas correlatas. Como citado, o avanço existe, porém ele poderia ser potencializado e tratado de forma prioritária. É preciso lembrar que o incentivo a avanços na área poderia mitigar e até evitar alguns acidentes que ocorreram nos últimos anos. O reconhecimento destes engenheiros especialistas por toda a comunidade é fator preponderante para o decréscimo de desastres ocorridos nos últimos tempos. (Veja na tabela 3 alguns dos principais acidentes ocorridos no Brasil nos últimos anos.)

Dessa forma, o atendimento às Normas Brasileiras e atenção ainda para alguns cuidados construtivos tais como: respeitar o ambiente ao qual a estrutura estará submetida e utilizar técnicas para mitigar os efeitos ambientais sob as edificações são requisitos importantes para evitar a ocorrência destas manifestações. A aplicação conjunta destes conceitos deverá evitar o aparecimento das manifestações que acontece com frequência em edificações antigas e mesmo novas.As normas constituem-se, neste caso, como sinônimo de qualidade e economia, enquanto a falta de qualidade significa desperdício e custo extra.

Atualmente o Programa de Pós- -graduação em Construção Civil (PPGCC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) é um dos centros de pesquisa que estuda e forma profissionais capacitados para atuar na área de patologia das construções. O tempo de formação é de dois anos e o aluno de mestrado pode fazer disciplinas sobre patologia e desenvolver sua dissertação nesta área de pesquisa. O processo seletivo ocorre anualmente no mês de outubro/novembro (informações no site: www.ppgcc.ufpr.br).

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Recuperação de estruturas de concreto

Empresa contratada para diagnóstico das patologias também deve responder pela especificação das quantidades de materiais e pela fiscalização dos serviços

Por BRUNNA STAVIS

Quando a estrutura de concreto apresenta fissuras, trincas,

eflorescências e infiltrações, sinais de que precisa ser

reparada, a primeira medida é contratar um laudo técnico

de diagnóstico, que deve ser feito por especialista em

patologia para identificar causas e origens das

manifestações e indicar técnicas de recuperação,

reabilitação e reforço que serão aplicadas para restabelecer

sua vida útil.

Se possível, o laudo deve trazer levantamento quantitativo

de serviços e materiais a serem empregados, além de

apontar a necessidade de um projeto de reforço estrutural.

Segundo o professor e engenheiro César Henrique Daher, diretor de planejamento do Instituto IDD, a principal

manifestação patológica apresentada na maioria das estruturas é corrosão das armaduras. "Uma das origens

deste tipo de manifestação está na especificação inadequada do concreto. Falhas em projeto e alta densidade

de armadura aliadas à execução de má qualidade e falta de controle desencadeiam esse tipo de situação",

explica Daher.

Para evitar a necessidade de recuperar a estrutura, a primeira recomendação, ainda para a fase de concepção

do projeto, é compatibilizar a estrutura quanto ao dimensionamento, materiais e execução. Para isso, é

indispensável a presença de três profissionais: o projetista estrutural, o tecnologista e o responsável pela

execução da obra.

COTAÇÕES DE PREÇOS E FORNECEDORES

É importante especificar detalhadamente os serviços que serão realizados, o prazo de execução, o período de

trabalho, os equipamentos e os produtos a serem empregados. "É uma fase muito difícil, pois mesmo que se

tenha o quantitativo bem levantado, muitos vícios estão ocultos e surpresas podem aparecer durante a

recuperação. Portanto, é preciso contar com a experiência de especialista, geralmente o responsável pelo

diagnóstico, para auxiliar na cotação, estimando um percentual de majoração baseado em experiências

anteriores", destaca Daher. Também é recomendável que a empresa responsável pelo diagnóstico seja

contratada para fiscalizar os serviços.

Checklist

> O primeiro passo da recuperação estrutural é a contratação de especialista em patologia para elaboração de

laudo técnico de diagnóstico

> O laudo deve informar sobre causas da patologia, soluções possíveis, além de determinar quantidades de

materiais

Sucesso da recuperação estrutural depende do correto diagnóstico das

causas que levam ao aparecimento de patologias

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> Antes da contratação, verificar se a empresa atende à legislação trabalhista e às boas práticas de segurança do

trabalho

> O profissional responsável pela elaboração do laudo deve participar tanto da cotação de preços quanto da

fiscalização da execução

 Normas técnicas

Segundo Daher, não existem normas técnicas nacionais para execução dos serviços de recuperação de estruturas

de concreto. Os procedimentos são baseados em normas técnicas internacionais.

Doenças concretas

Conheça as principais causas de patologias de concreto provocadas por elementos químicos presentes

no ar e na água

Por Heloisa Medeiros

As patologias por ataques químicos e ambientais às estruturas de concreto podem ter origem nas falhas de projeto, de execução, uso inadequado e falta de manutenção. As causas podem ser decorrentes de sobrecargas, impactos, abrasão, movimentação térmica, concentração de armaduras, retração hidráulica e térmica, alta relação água/cimento, exposição a ambientes marinhos, ação da água, excesso de vibração, falhas de concretagem e falta de proteção superficial, entre outros. 

Nesse campo, entram nos livros e manuais de engenharia os termos emprestados da medicina. Patologia, diagnóstico, prognóstico, profilaxia, terapia, enfim, descortina-se o vasto elenco das "doenças do concreto", que tantos prejuízos trazem aos bens públicos e privados. E a exemplo das doenças nos seres humanos, os ataques químicos e ambientais acontecem quando o concreto se torna vulnerável, com baixa resistência, geralmente pela alta porosidade, fissuração e insuficiente cobrimento de armaduras. É como se várias portas se abrissem para a entrada dos mais diversos agentes agressores, que apenas aproveitam a oportunidade para causar danos. 

As agressões às estruturas de concreto podem ser físicas (variação de temperatura, umidade, ciclos de congelamento e degelo, ciclos de umedecimento e secagem); químicas (carbonatação, maresia ou água do mar, chuva ácida, corrosão, ataque de ácidos, águas brandas, resíduos industriais); e biológicas (micro-organismos, algas, solos e águas contaminadas). Entre as principais patologias por agentes químicos e ambientais estão a corrosão de armaduras, a carbonatação, ataque de sulfatos, de soluções ácidas e a ação de cloretos. Os sintomas dessas doenças são, em geral, as fissuras, eflorescências, desagregação, lixiviação, manchas, expansão por sulfatos e reação álcalis-agregado. Tudo isso pode fazer com que o concreto perca sua capacidade de resistência, chegando à ruptura da estrutura. Por isso, existem classes de agressividade de ambientes que variam de I (rural, o menos problemático), II (urbano), III (marinho ou industrial) e IV (polos industriais, os mais agressivos). Essa classificação auxilia o projetista de estruturas a fazer o dimensionamento correto, especificar o cobrimento das armaduras e elaborar recomendações sobre traço do concreto, relação água/cimento, compacidade e outras características adequadas ao ambiente em que a obra estará inserida. 

De acordo com Antônio Carmona Filho, especialista em concreto armado e patologia das estruturas, as obras mais vulneráveis aos ataques químicos e ambientais são as que se encontram em contato direto com a água do mar e as localizadas em ambientes industriais

Corrosão de armaduras em subsolo de edifício por infiltração de água

Infiltração de água em subsolo - Infiltração de água que acarreta a perda rápida da alcalinidade do concreto, favorecendo ataque de cloretos e corrosão das armaduras

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muito agressivos. "Isso provoca a corrosão das armaduras, consequente desplacamento do concreto, perda da durabilidade e da segurança estrutural", esclarece Carmona. Na sua opinião, a cobertura insuficiente das armaduras está em primeiro lugar no ranking das causas de patologia, seguida pelas falhas de execução, agressividade dos ambientes e falhas de projeto. Para o especialista em patologia de obras civis Cesar Henrique Daher, todas as estruturas de concreto estão sujeitas aos ataques químicos e ambientais. "Mas quanto maior for sua exposição a meios mais agressivos (maré, zonas industriais, poluição ambiental, sulfatos, contato intensivo com a umidade), maior a tendência de ocorrência de manifestações patológicas", explica. Segundo Daher, há uma distinção entre os termos causa e origem. "A causa está relacionada com os aspectos ou mecanismos que levam à manifestação patológica, que são as reações químicas, físicas ou o fenômeno causador da manifestação. Já a origem está relacionada às etapas de planejamento, projeto, definição dos materiais e suas proporções, execução, utilização e manutenção.

Influência da umidade e velocidade do ar na evaporação da água do concreto

Degradação das estruturasAs estruturas mais sujeitas aos ataques químicos diretos são as edificações industriais, principalmente as que produzem matérias-primas básicas como cloro, soda, celulose, fertilizantes, produtos petroquímicos, além de outras que manipulam produtos químicos agressivos, como fábricas de baterias, galvanoplastia, entre outras e das ETEs (estações de tratamento de esgotos domésticos e industriais). 

Segundo Carlos Eduardo Granato, consultor e especialista em patologias das construções, nessas atmosferas industriais mais agressivas, o processo de corrosão se acelera entre 60 e 80 vezes, se comparado ao meio rural. Zonas industriais contaminadas por gases e cinzas, como o H2S, SO2 e NOX, além de outros gases ácidos, contribuem para a redução da alcalinidade do concreto e aumentam a velocidade de carbonatação, destruindo a película passivadora que protege o aço. 

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Na orla marítima as condições também não são amigáveis para as estruturas de concreto assim como em cidades industriais, com elevado índice de poluição, como Cubatão (SP) e nos grandes centros populacionais, que sofrem com chuvas ácidas e CO2. Além disso, em microclimas como garagens de edifícios e reservatórios de água clorada, os agentes agressivos também maltratam o concreto. Granato explica que em atmosferas marinhas a velocidade de corrosão chega a ser 30 a 40 vezes superior à que ocorre em ambiente rural. Na obras localizadas rurais, uma eventual corrosão só será notada após oito anos. Já no litoral, sinais acentuados de corrosão podem aparecer em dois ou três meses e, algumas vezes, antes mesmo das obras serem concluídas.

Detalhes preventivosPara o engenheiro Maurício Grochoski, especialista em patologias do concreto, o risco de apresentar problemas por ação ambiental está diretamente ligado ao ambiente ao qual está exposta a estrutura. "Mas é claro que algumas delas, principalmente as estruturas muito solicitadas, que sofrem impactos, por exemplo, podem apresentar fissuração excessiva, trincas, lascamentos, o que facilita o ataque do meio ambiente", acrescenta. Segundo ele, nesses casos, se manifestam as principais patologias, que são a corrosão das armaduras, o ataque por sulfatos, ácidos em geral, e a reação álcali-agregado (RAA).

Além disso, segundo Granato, a corrosão das armaduras é um dos mais importantes fenômenos patológicos, responsável por grande parte das manifestações. "A corrosão das armaduras se insere em uma área claramente interdisciplinar, onde a química, eletroquímica e cinética têm papel fundamental." Devido à complexa natureza dos efeitos ambientais sobre as estruturas, destaca Granato, a verdadeira melhora de desempenho das edificações não pode ser alcançada somente pela melhoria dos materiais utilizados, mas também pela técnica de execução, aperfeiçoamento dos projetos arquitetônicos e estruturais, procedimentos de fiscalização e manutenção, incluindo a manutenção preventiva.

Falha de concretagem/vibração do concreto - Falha de concretagem, representada por má vibração, aumenta a porosidade do concreto e abre caminho para ataque do CO2 atmosférico

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Execução criteriosaDe acordo com Cesar Henrique Daher as fases relativas ao projeto e planejamento somam 44% das origens das manifestações patológicas das estruturas de concreto. Esses dados provêm de um estudo, apresentado por Helene e Figueiredo em 2003, que demonstra que a maior parte das origens das manifestações encontra-se no projeto da obra (40%), seguida pela execução (28%) e dos materiais (18%), enquanto as fases de uso e manutenção são responsáveis por 10% e, finalmente, a de falhas de projetos, e as de planejamento por 4%.

Se somadas as falhas de projeto, e as executivas ao emprego de materiais inadequados, alcança-se um nível de aproximadamente 90% das origens das manifestações. "Isso significa que uma grande parte dos problemas está na falta de compatibilidade entre o planejamento e o projeto, aliada a problemas executivos", diagnostica Daher.Apesar dos avanços na construção civil brasileira, ainda há muitos problemas em relação à fase de execução, destaca Enio Pazini Figueiredo, professor da Universidade Federal de Goiás. "Embora o conhecimento científico atual seja bem maior, é impressionante a negligência humana na utilização do conhecimento disponível e

consolidado." 

Segundo Figueiredo, o aperfeiçoamento de técnicas de dimensionamento mais avançadas e, portanto, mais econômicas, também pode interferir na durabilidade. "Somando esses e outros fatores, pode-se chegar à conclusão de que as estruturas de concreto armado contemporâneas estão cada vez mais vulneráveis ao aparecimento de patologias", opina. No Brasil, de acordo com a maioria dos especialistas em estruturas de concreto, o controle da execução deveria ser bem mais rigoroso, atentando para a qualidade da mão de obra, diferente do que ocorre na Europa, onde a atenção se volta para o controle rígido na etapa de projeto.

Poros e fissurasA estrutura de concreto saudável proporciona dupla proteção às armaduras. A primeira por causa de sua alcalinidade, que age como capa passivadora para o aço. A outra é a massa do concreto, uma barreira física que separa o aço do contato direto com o meio ambiente agressivo. Por isso, a compacidade do concreto é uma propriedade importante para resistir à penetração dos agentes externos, minimizando processos como a carbonatação, ataque de cloretos e sulfatos, que causam a degradação da estrutura. A quantidade de matéria sólida contida em um determinado volume de concreto, ou a relação entre o volume sólido e o volume aparente total, define a compacidade, diretamente associada à relação água/cimento, que deve ser a mais baixa possível.

A cura é outro ponto crucial para um concreto saudável e resistente a ataques agressivos. "A cura, muitas vezes desprezada, é muito importante para a qualidade do concreto. Deve-se evitar mudanças drásticas de temperatura, como também a secagem prematura, promovendo a cura úmida", recomenda  Granato. Por outro lado, uma temperatura baixa durante a concretagem (< 7oC) pode inibir as reações químicas de

Ataque em indústria têxtil - Pequeno cobrimento do concreto expõe armaduras a produtos químicos ácidos usados para branquear tecidos em indústria têxtil. Ocorre exposição dos agregados pela lixiviação da pasta de cimento

Falha de concretagem/vibração do concreto - Falha de concretagem, representada por má vibração, aumenta a porosidade do concreto e abre caminho para ataque do CO2 atmosférico

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endurecimento do cimento e permitir a evaporação da água de mistura. No inverno, devido às baixas taxas de umidade relativa do ar, a evaporação da água pode ser alta, tornando-se insuficiente para a reação química do cimento. Portanto, é preciso estar atento às condições climáticas, controlando sempre a temperatura e a umidade ideal

O vento é outro fator importante. Juntos, vento e temperatura aceleram a evaporação da água de mistura do concreto. Portanto, um dos objetivos da cura criteriosa é assegurar que o concreto não seja submetido a tensões que originem fissuras devido a diferenças térmicas e retração de secagem. A água do concreto se evapora através da superfície úmida e dura em torno de dez a 12 horas. Após esse período, o movimento da água se dá por difusão, um processo muito lento. Portanto, é fundamental impedir a secagem do concreto durante as primeiras 24 horas. "A continuidade da cura úmida por mais dias repõe a perda de água por evaporação. A falta de cura úmida do concreto faz com que sua primeira camada perca a água de hidratação, tornando-na fraca, com baixa resistência à abrasão,

porosa e permeável aos agentes agressivos", ressalta Granato. 

NBR 6118 previne patologias

As últimas revisões da NBR 6118, realizadas em 2003 e 2007, e que contaram com a participação de engenheiros especialistas em tecnologia do concreto e em patologia, chamou a atenção para a durabilidade das estruturas, o cobrimento das armaduras e a relação água/cimento do concreto. O objetivo foi tornar as estruturas mais impermeáveis aos agentes agressivos, aumentando sua vida útil. "Portanto, nos casos dos projetos que adotaram esta revisão, se aliada a uma boa execução e um bom planejamento, há uma tendência de redução destas manifestações patológicas. Mas, ainda é muito cedo para darmos uma posição precisa", comenta Cesar Henrique Daher. Antônio Carmona Filho também não revela entusiasmo ao avaliar o impacto da nova NBR 6118 na redução de  patologias: "os problemas vêm diminuindo de forma muito lenta".

Mas é preciso lembrar que outras normas que passaram por revisões recentes também podem ajudar a prolongar a vida útil das estruturas de concreto. A NBR 12655, em sua revisão de 2006, também incorporou os princípios de redução de permeabilidade do concreto por meio da relação água/cimento, mais resistente ao ataque por cloretos e sulfatos. "Em relação ao problema da reação álcali-agregado, em 2008 foi publicada a NBR 15577, em seis partes, dedicada a orientar a mitigação deste tipo de manifestação. Não se pode esquecer da Norma de Desempenho para edifícios habitacionais com até cinco pavimentos, a NBR 15575, que acaba de entrar em vigor e que traz as especificações relativas à vida útil mínima das partes que compõem as edificações. No caso das estruturas para este tipo de edificação, o prazo mínimo previsto é de 40 anos.

Etapas do diagnóstico

Vistoria preliminar - Nessa fase, é realizado um levantamento superficial das manifestações patológicas para se

ter uma noção do grau de deterioração da estrutura.

Anamnese - Fase em que se realiza um levantamento junto aos usuários da estrutura sobre a utilização, histórico

de manutenções, histórico das manifestações (surgimento, evolução).

Levantamento documental - Procura-se buscar o máximo de documentos existentes da estrutura afetada, tais como projeto estrutural, as-built, memorial descritivo, diário de obras, cartas de traço do concreto empregado, certificados técnicos do controle tecnológico. Com raras exceções, nas obras de vulto (como usinas hidrelétricas),

Ataque químico em estação de tratamento de esgoto - Deterioração do concreto em estação de tratamento de esgoto, com exposição dos agregados, onde são comuns os ataques de sulfatos e a erosão pela ação da velocidade da água

Ataque por água do mar - Água do mar contribui para expansão, fissuração e desagregação do concreto devido à ação dos sulfatos, além de lixiviação e corrosão de armaduras pela ação de cloretos

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consegue-se pelo menos 10% dessa documentação.

Vistoria detalhada - Realização de levantamento detalhado da estrutura afetada, com registro de todas as

manifestações e sintomas, como fissuras, trincas, desplacamentos de concreto, corrosão visível de armaduras etc.

Ensaios - Execução de ensaios in-situ, retirada de amostras para realização de ensaios em laboratórios. Essa é uma

fase mais detalhada, onde se busca um delineamento mais preciso dos problemas existentes e de suas causas.

Conclusão - Compilação dos dados, análise criteriosa e parecer final. Nessa fase, pode-se necessitar de uma equipe

multidisciplinar para realizar a análise e o parecer. Quando as causas e origens estiverem relacionadas a sobrecargas na estrutura, será necessária a presença de um engenheiro projetista estrutural  para fazer a análise e propor o reforço.Reparo de armaduraFissuração e destacamento de concreto dos pilares de borda de condomínio residencial, que comprometia a segurança dos usuários e pedestres. Essa manifestação patológica ocorreu devido à corrosão das armaduras do concreto por causa de carbonatação, agravada pelo pequeno cobrimento das armaduras nesses elementos estruturais. A origem do problema foi falha de execução e se manifestou na etapa de uso do edifício.

Pilar de borda (fachada) que apresentou fissuração e destacamento de concreto

O início do reparo acontece com o corte da área afetada e a escarificação do concreto, processo que remove o material solto, de baixa resistência, resultante da corrosão das armaduras

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Depois da limpeza dos resíduos resultantes da escarificação e do lixamento das armaduras, realiza-se a saturação do substrato com água potável e pulverizador, de forma a manter a superfície na condição "saturado com superfície seca", ideal para o recebimento e adesão da argamassa de reparo

A partir daí aplica-se uma argamassa cimentícia tixotrópica, modificada com polímeros e, preferencialmente, reforçada com fibras, que recebe depois o acabamento com desempenadeira de madeira

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Atenção - Uma manta de cura molhada com água é aplicada sobre a argamassa, para manter a umidade ao longo de sete dias, evitando a evaporação da água de amassamento e a consequente fissuração.

Como o contratante pode se precaver de problemas técnicos? É obrigatória a consulta ao

projetista da estrutura ou a consultor especializado?

O primeiro caminho é sempre a consulta ao projetista estrutural autor do projeto, que pode assumir a

tarefa de projetar o reforço ou indicar um terceiro, que fará o serviço conforme as indicações sobre o

projeto original. Porém, sempre é importante que esteja envolvido um profissional com experiência na

especificação das técnicas de reforço e na execução.

Quais são os principais riscos que esse serviço envolve?

Projetar um reforço não segue os mesmos critérios e procedimentos utilizados em projetos de

estruturas novas. A razão principal é que, em estruturas a serem reforçadas, quase sempre existe

carga aplicada, o que muda completamente a maneira de dimensionar a capacidade estrutural. O

risco é de se ter que refazer o reforço, assim

que a estrutura entre em uso novamente.

Detecção preventiva de patologias em edificações

A manutenção predial compreende importantes processos que contribuem para a conservação e melhora de performance das construções. Além disso, empreendimentos de recuperação e reabilitação são custosos, o que aumenta a relevância da manutenção predial e da prevenção de patologias em edificações. Neste contexto, o estudo e a sistematização do conhecimento nessa área são necessários para que se desenvolvam novas tecnologias para a gestão da manutenção predial.

A aplicação de sistemas periódicos de inspeção das edificações é uma das soluções viáveis para que a detecção de patologias possa ocorrer antes mesmo que seus efeitos danosos possam ser sentidos. No entanto, o que se verifica é uma intensa despreocupação dos gestores de edificações com esse aspecto, quadro que apenas é invertido quando problemas patológicos começam a alterar a funcionalidade da construção.

Etapas da construção

Foto 1 - Fissuras no concreto paralelas à armadura

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Um processo de construção abrange atividades que, embora apresentem diferentes níveis de dificuldade e ocorram em etapas distintas da construção, contribuem com igual fração para o bom desenvolvimento da obra e para a obtenção da construção desejada.

A tentativa de caracterizar e separar em estágios essas inúmeras atividades constitui uma tarefa bastante difícil. No entanto, em termos práticos, pode-se incluí-las em três grandes etapas que devem ser comuns a todos os processos construtivos. São elas: planejamento, execução e manutenção.

O planejamento compreende a elaboração do projeto arquitetônico, a formulação e análise do estudo de viabilidade e também a criação de um cronograma de obra e de um orçamento. É nesta fase que devem ocorrer as discussões entre o cliente, o projetista e o construtor no sentido de promover uma construção adequada às necessidades do cliente, porém, dentro das possibilidades técnicas de execução e manutenção.

A execução consiste da aplicação prática dos serviços propostos pela etapa de planejamento. Essa etapa constitui um momento em que vários fatores apresentam interferência direta na qualidade da construção, dentre eles, destacam-se o correto uso do material e a correta aplicação do projeto. A gestão de qualidade do serviço, embora deva estar presente ininterruptamente durante todas as fases da construção, torna-se uma importante aliada ao bom desempenho do serviço durante a execução.

A manutenção se segue como etapa a ser realizada após a inauguração e durante a efetiva utilização da estrutura. Pode-se definir a manutenção como um conjunto de técnicas, práticas e rotinas necessárias ao bom desempenho da estrutura (Souza e Ripper, 1998). De acordo com esse conceito, cabe destacar as duas formas em que esta etapa pode ser realizada: a manutenção preventiva e a manutenção corretiva

Procedimentos de inspeção

A exposição das edificações aos variados mecanismos de deterioração exige que cuidados sejam adotados para preservar a funcionalidade da estrutura e o aumento de sua vida útil. Esses cuidados se refletem na existência de uma proposta de manutenção eficiente, que inclua os procedimentos necessários ao bom estado da construção.

No entanto, em muitos casos, o processo de manutenção é inadequado ou insuficiente para evitar a ocorrência de problemas patológicos nas construções. Uma recuperação emergencial se faz necessária para evitar a inutilização da estrutura.

Nesse contexto, evidencia-se a importância dos procedimentos de inspeção na manutenção do bom estado das edificações. As inspeções constituem parte fundamental de qualquer processo de reforma e manutenção, seja de caráter previsível ou emergencial. O conhecimento das formas, metodologias e técnicas de inspeção é um fator bastante relevante na análise dos problemas de ordem patológica.

A seguir, são listados alguns cuidados para a realização de um bom processo de inspeção periódica em edificações.

Observação do ambiente

O ambiente em torno da estrutura é decisivo na ocorrência de deficiências e problemas patológicos em uma construção. Essas manifestações patológicas - e suas respectivas velocidades de deterioração - são consequentes, em megaescala, da influência do meio na durabilidade dos materiais empregados.

A inserção de uma estrutura em um meio suficientemente agressivo levará à formação de patologias em uma velocidade mais elevada do que em um processo natural de deterioração. Como forma de evitar patologias nesses ambientes, tem-se a diminuição dos intervalos de inspeção e o aumento da perícia e precisão.

As construções brasileiras estão normalmente sujeitas a condições ambientais agressivas, devido às características climáticas verificadas no País. A elevada temperatura média anual e a média amplitude térmica diária, a alta salinidade do litoral, a incidência pluviométrica e a macrodinâmica de ventos são alguns dos fatores que contribuem para a deterioração das edificações no País.

Todos esses fatores ambientais devem ser considerados durante o processo de inspeção das edificações. O conhecimento do ambiente em torno da construção facilita e otimiza o diagnóstico da estrutura, além de possibilitar

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a aplicação de técnicas mais precisas em sua recuperação. Deve-se considerar também as características ecológicas do ambiente em que a construção está inserida. Alguns meios, como praias, margens de rios e manguezais, são naturalmente agressivos em função dos mecanismos fisiológicos dos organismos que vivem ali. Por esse motivo, manifestações patológicas tendem a se intensificar nessas regiões, exigindo maior atenção durante a vistoria. Mesmo em procedimentos rotineiros de inspeção, a agressividade ambiental deve ser avaliada e comparada com medições anteriores, observando-se então se houve intensificação ou diminuição da agressividade.

A importância da inspeção visual

A análise visual constitui uma etapa importante do processo global, pois permite a observação da sintomatologia apresentada. A partir dessa análise, pode-se recomendar a realização de testes, ensaios e verificações específicas em partes da estrutura.

CASCUDO (1997) recomenda que a descrição da sintomatologia em estruturas de concreto seja baseada nas seguintes verificações:

 Fissuras no concreto paralelas à armadura (Figura 1); Fragmentação e destacamento do concreto de cobrimento; Lascamento do concreto; Exposição de armaduras corroídas (Figura 2); Acúmulo de produtos de corrosão nas armaduras expostas, formando crostas; Visível perda de seção das armaduras; Comprometimento da aderência barra-concreto; Flambagem das armaduras longitudinais de pilares; Manchas de ferrugem na superfície do concreto, denotando a migração dos produtos de corrosão; Deformações estruturais próximas a áreas com manifestações de corrosão.

Além destas, devem ser sugeridas as seguintes verificações para edificações:

 Deterioração de elementos de acabamento;

 Evidências de infiltrações na alvenaria;

 Presença de fungos na alvenaria, com ênfase nas fachadas;

 Grau de alteração do padrão arquitetônico da construção.

A descrição desses fatores deve ser feita de maneira detalhada, citando-se todas as características observadas na estrutura e também condições excepcionais encontradas na construção.

Os ensaios e testes são etapas importantes da inspeção de edificações. No entanto, é a análise visual que permite ao avaliador ter uma noção da dimensão superficial das anomalias.

Conclusões

Um bom programa de manutenção predial para edificações deve incluir procedimentos periódicos de inspeção que levem em consideração o ambiente no qual a construção está inserida, as condições prévias da estrutura, a análise criteriosa dos métodos que serão utilizados para se diagnosticar os problemas da edificação e também a importância da análise visual para a identificação da extensão dos danos. A gestão da manutenção predial é uma forma racional e pouco custosa para a detecção preventiva de patologias e para a correta intervenção em construções que apresentem danos. O estudo de caso corrobora a ideia de que a maior parte das anomalias verificadas nas edificações é o resultado da negligência de seus gestores em adotar programas eficientes de manutenção predial.

Recuperação subterrânea

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Túneis viárias estão sujeitos à fissuração,

infiltração e degradação do revestimento.

Saiba como tratá-las

Por Ana Paula Rocha

Com a falta de terrenos disponíveis nos grandes centros urbanos e a incessante busca por obras com menos impactos ambientais, o Brasil tem assistido nos últimos anos a um aumento considerável na construção de túneis viários por todo o País. Como consequência, tem crescido também o número de patologias nessas estruturas, além de produtos e soluções para a sua recuperação.

Em túneis desses tipos, a maioria dos problemas patológicos acontece por ataque de CO2 e por infiltração. "No caso de túnel viário existe muito ataque por CO2, então a carbonatação e a corrosão de armaduras, quando acontecem, acabam sendo algo intenso. Mas o que mais chama atenção nos túneis é o problema das infiltrações, porque a retração do concreto acaba induzindo à fissuração, que acaba incomodando o usuário e prejudicando um pouco a durabilidade do túnel, mas normalmente não compromete a segurança estrutural", explica Antonio Domingues de Figueiredo, professor- doutor da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo).

Além disso, obras realizadas abaixo de terrenos e montanhas, como é o caso de túneis, escavações, fundações e garagens subterrâneas, induzem a perturbações geológicas que levam muito tempo para se consolidarem. Enquanto o solo não atingir a consolidação total, o terreno fica sujeito a movimentos de acomodação, o que irá causar o aparecimento de trincas e rachaduras. "Por isso, eliminar totalmente as fissuras é praticamente impossível porque como a obra é contínua, quase sempre haverá retração do concreto, constantemente irão aparecer algumas fissuras", explica Domingues. "O ideal é que essas fissuras tenham uma abertura controlada, que não permita que a água entre em grande quantidade por ela", completa.

Além das fissuras e infiltrações, outras patologias que também ocorrem nesse tipo de estrutura são armadura exposta, abertura de juntas e algumas deficiências no pavimento. "Entre nossas principais preocupações, a infiltração é a principal delas, porque, além de atrapalhar o tráfego, a água vai danificar a estrutura e a parte elétrica", afima o engenheiro Eloi Angelo Palma Filho, coordenador de obras do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

Detecção de falhas

Assim como em projetos de recuperação de edifícios, a revitalização de túneis viários também necessita de um bom projeto de engenharia para a sua execução. É preciso fazer um levantamento rigoroso do local porque, diferentemente de outras estruturas, os túneis passam por longos trechos de maciço e, a cada um deles, pode mudar a configuração do solo e consequentemente a manifestação patológica.

De acordo com Eduardo Serrano, engenheiro da EPT (Engenharia e Pesquisas Tecnológicas), a elaboração do projeto de recuperação é dividida em quatro etapas: detecção das tipologias de anomalia, diagnóstico, as suas quantidades e os procedimentos de como recuperar, sempre associando isso ao preço da intervenção. Segundo ele, a análise do local é imprescindível não só para o contratante da obra como também para o projetista. "Dependendo da causa, é possível até preterir de fazer o tratamento", afirma. "Ao verificar, por exemplo, que a cada 20 m há uma fissura uniforme em torno de todo o perímetro do túnel, conclui-se que isso pode ser uma fissura ou uma junta de concretagem, mas pode ser também um recalque muito pequeno entre os 20 m. Então, é preciso conhecer o projeto, como ele foi construído, porque se o recalque está perigoso, alguma coisa atípica aconteceu. Nesse caso, seria preciso fazer um reforço para ele não ir afundando, mas pode ser que isso inviabilize a obra. Daí a importância da análise prévia", defende o engenheiro.

Bicos de injeção perfurados e instalados no pavimento de concreto do túnel de acesso para o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, possibilitaram a injeção de resinas flexíveis de poliuretano para tratamento de infiltrações

Para a revitalização das fissuras com percolação de água no túnel TA2, localizado na Rodovia Anchieta, em São Paulo, foi necessário injetar resinas flexíveis de poliuretano e espuma de poliuretano hidroativada expansiva

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Vale lembrar que a maior responsabilidade de uma boa ou má recuperação de patologias em túneis viários não é dos fabricantes dos produtos utilizados e nem dos executores da obra em si, e sim do projetista. "De certa forma, 30% da responsabilidade é do produto, 30% é da aplicação e 40% é do diagnóstico e do projeto. Isso significa que não adianta ter um bom produto, bem aplicado, mas aplicado no lugar errado", analisa Emílio Takagi, gerente técnico da MC-Bauchemie Brasil.

Para a revitalização das fissuras com percolação de água no túnel TA2, localizado na Rodovia Anchieta, em São Paulo, foi necessário injetar resinas flexíveis

de poliuretano e espuma de poliuretano hidroativada expansiva

Causa e tratamento das patologias

Detectadas as anomalias, é preciso definir suas origens e tratamentos. Com relação às fissuras, há dois tipos de causas. "As fissuras são provocadas por movimentação do terreno ou por retração, normalmente do tipo hidráulica, que é uma perda de água precoce, ou seja, naquele lugar tinha água e o vazio provocou a fissura", explica Eduardo Serrano. "Essa retração hidráulica pode ter ocorrido na época da construção, seja por uma corrente de vento muito intensa dentro dos túneis, seja por um sistema de ventilação forçado, que foi instalado para dar condições de trabalho na região", conclui.

As fissuras podem ser secas, com água e sem movimentação, e com água e com movimentação. Se for uma fissura seca, por exemplo, que está aberta e não tem passagem de água, é preciso fechá-la para não causar a oxidação da armadura. Isso pode ser feito com uma mistura simples de argamassa cimento/areia, que é o material mais barato e simples para se fazer a recuperação. Já se a fissura é com água, mas sem movimentação, é preciso utilizar produtos químicos para seu tratamento. Os principais são a injeção de géis acrílicos e resinas à base de poliuretano, que em presença de água aumentam de volume, virando uma espuma. Os materiais expandem, mantêm a água lá no fundo e a fissura na frente fica aberta e sem água

Infiltrações na abóbada do túnel da Sudecap, em Belo Horizonte, foram tratadas por meio de injeção de géis de acrílico flexíveis

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Infiltrações na abóbada do túnel da Sudecap, em Belo Horizonte, foram tratadas por meio de injeção de géis de acrílico flexíveis

Para escolher entre géis acrílicos e resinas à base de poliuretano, é necessário analisar a fluidez dos dois materiais. "O poliuretano é indicado quando há uma trinca ou uma junta de concretagem bem definidas. Já o gel acrílico é indicado para casos em que há trincas numa região com segregação, porque a diferença está exatamente na fluidez do material", explica Emílio Takagi. Segundo ele, apesar de os dois materiais serem extremamente fluidos, há uma diferença grande: um está na faixa de 100 mPa e outro está na faixa de 10 mPa. "A diferença é de dez vezes, sendo que a viscosidade da água é de 1 milipascal (mPa)", completa. Takagi lembra que, para o uso da espuma de poliuretano hidroativada expansiva, é necessária a injeção subsequente de gel de poliuretano flexível ou de uma resina flexível de poliuretano na superfície da fissura. "São sempre dois produtos porque é um requisito da norma europeia EN 1504 - Parte 5, que rege todas as injeções", esclarece.

Outra alternativa para o tratamento das fissuras com infiltração é desviar o caminho da água para locais que não atrapalhem a circulação dos carros. "Pode-se fazer injeção de cimento ou de materiais poliméricos para vedar as fissuras. Mas nem sempre é certo que vai resolver, porque a água tende a aparecer em outro lugar", afirma o engenheiro do Dnit, Eloi Angelo Palma Filho. Nesses casos, são aplicadas fitas de plástico fabricadas especialmente para a condução da água para fora da pista e depois projetadas camadas de concreto por cima para que o túnel volte a ter o aspecto de sempre. "A condução da água fora do túnel é uma opção boa, porque não se altera o fluxo normal dela, só se conduz para outro destino", explica.

Por fim, para o tratamento de uma fissura com água e com movimentação do concreto, é preciso utilizar produtos mais maleáveis, como poliuretano flexível. Para reforçar, também é recomendada a colocação de perfis de vedação. "Como se sabe que vai movimentar, é feita a injeção do poliuretano, o estancamento da água e imediatamente a colagem de um perfil elástico deformável nessa superfície para evitar o rompimento da resina injetada", exemplifica o engenheiro da EPT.

Além das fissuras, outra patologia que pode ocorrer em túneis viários são as armaduras expostas, que podem ter aparecido em função de cobrimento pequeno do concreto, ou porque houve algum acidente que danificou a parede, ou pela própria oxidação do aço. Para seu tratamento, caso tenha água, o primeiro passo é o estancamento dessa infiltração com os mesmos produtos utilizados na fissura e de preferência, atrás da armadura. "Depois essa armadura será recomposta a partir da limpeza, remoção da ferrugem e aplicação de inibidores de corrosão, que são pinturas e zincagem a frio", recomenda Eduardo Serrado. Feito isso, a estrutura é recomposta com concreto, caso seja uma abertura com grande volume, ou com argamassa.

Os túneis viários também podem ter juntas de concretagem, que são indutoras de infiltração e devem ser tratadas. A recuperação dessas patologias é um misto entre o que é feito em fissuras e o que é feito nas armaduras expostas. "Para diferenciar uma junta de uma fissura, é só verificar se a abertura acompanha todo o perímetro do túnel, mas o tratamento é o mesmo, até nos casos com água e movimentação", explica o engenheiro da EPT.

No caso da pavimentação de túneis viários, normalmente ocorrem desgaste superficial por abrasão, deformações verticais e até mesmo trincas e fissuras, que podem ser tratadas com poliuretano ou outros materiais mais

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específicos. "Para o tratamento dessas patologias, outras soluções são os microrrevestimentos à base de microcimento, além da injeção de calda coloidal com dosagem apropriada para a correção das patologias", aponta José Vanderlei de Abreu, da Holcim.

Fonte: Holcim.

Manutenção preventiva

Para prolongar a eficácia do trabalho de recuperação e tratamento de patologias, é fundamental a realização de manutenções periódicas e preventivas. Segundo a norma NBR 15661 - Proteção Contra Incêndio em Túneis, da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), a frequência da inspeção dos equipamentos, sistemas operacionais, estruturas civis e/ou dispositivos do sistema de proteção contra incêndio instalados no túnel deve ser definida pelo gestor do túnel, considerando a idade da construção e de suas condições operacionais e de manutenção. Como base, no entanto, a norma define um prazo mínimo para cada tipo de túnel. Nos rodoviários, por exemplo, a inspeção deve ser a cada período de cinco anos a partir do início de sua operação. Já em túneis urbanos, subaquáticos e metroviários, deve ser a cada três anos, dependendo do estado de conservação e de manutenção dos equipamentos e ou dispositivos do sistema de proteção contra incêndio instalados no túnel.

A NBR 15661 também especifica requisitos sobre uma série de aspectos do túnel, como ventilação, sinalização, piso e toda a parte de combate a incêndio, a exemplo de alarmes e sistemas de comunicação. Além disso, a normativa, criada especialmente para casos de incêndio, cuja incidência é considerável em túneis, sugere o uso de tempos de resistência ao fogo para especificação e dimensionamento de materiais e estruturas. Para revestimento estrutural em túneis, por exemplo, todos os elementos em concreto e aço devem ter resistência ao calor de 120 minutos. Já o bandejamento de cabos elétricos e de controle deve resistir por 60 minutos. A armadura principal das estruturas deve ser protegida para que não atinja 300ºC, que é o limite da fragilidade do próprio concreto.

Produtos para preenchimento de fissuras e cavidades (EN 1504-5)

Tratamento Estrutural Durômero

Epóxi - Estrutural Rígido Altas resistências Excelente aderência Grande durabilidade Não funciona com água Pré-dosado

Poliuretano estrutural Rígido Boas resistências Excelente aderência Grande durabilidade Funciona com água Controle da reação

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Suspensão mineral

Microcimento - Estrutural Rígido Boas resistências Excelente aderência Grande durabilidade Proteção alcalina Funciona com água Injeção subaquática

Selamento flexível

Poliuretano flexível Flexível: 100% de alongamento Impermeável Excelente aderência Grande durabilidade Funciona com água

Preenchimento por área

Gel acrílico Flexível: 200% de alongamento Impermeável Excelente aderência Grande durabilidade Funciona com água Controle da reação

Novas técnicas

Gel acrílico para selamentoO MC-Injekt GL-95 TX, gel acrílico polimérico de baixa viscosidade, também da MC-Bauchemie, é recomendado para o selamento de estruturas contra o ingresso de água, principalmente em obras subterrâneas e em áreas de difícil acesso. Não há restrição quanto ao volume de aplicação.www.mc-bauchemie.com.br

 

Microconcreto projetávelO Trafix 736 Cret, da Bautech, é um microconcreto projetável, pronto para uso, à base de cimento estrutural, agregados selecionados, fibras sintéticas e terpolímero de acetato de vinila/etileno. O produto é recomendado para revestimento, reestruturação e reforço de estruturas de túneis, canalizações e outras construções subterrâneas.www.bautechbrasil.com.br

 

Resina epóxi para injeçãoFabricado pela Denver Impermeabilizantes, o Denverpóxi Injeção é uma resina epóxi de baixa viscosidade, bicomponente, isenta de solvente, destinada à injeção de trincas, fissuras e juntas, em peças de concreto armado. Para a aplicação, as fissuras passivas no concreto devem ter aberturas de 0,15 mm a 10 mm e as juntas horizontais de até 10 mm.www.denverimper.com.br

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Espuma poliuretânica para vedação flexívelRecomendado para vedação flexível de trincas e juntas em paredes de contenção de subsolos e em obras enterradas, o Sika Injection-105 é uma espuma de injeção poliuretânica reativa à água, com rápida espumação, baixa viscosidade e livre de solventes. O material deve ser aplicado por meio de bombas de injeção vendida pela própria fabricante nos modelos EL 1 e EL 2.www.sika.com.b

MicrocimentosA Holcim disponibiliza dois microcimentos para o mercado brasileiro: o Microcem 20 e o Microcem 30, produtos com granulometria fina que devem ser utilizados para resolver patologias, como falhas de concretagem, trincas e fissuras em estruturas de concreto, estabilização de solos e rochas, correção de recalques em pisos e fundações, correção de pisos e pavimentos, dentre outras.www.holcim.com.br

Estudo de caso

Deterioração de marquises de concreto armado na cidade de Bambuí (MG)

As patologias nas marquises, assim como nas demais estruturas de concreto armado ocorrem em fases distintas do processo construtivo, as quais são: projeto, construção, utilização e manutenção. O colapso da estrutura não ocorre sempre pela ação de agentes causadores de forma isolada, mas geralmente por agentes causadores principais e outros que aceleram o processo de deterioração (Braguim, 2006). A patologia mais comum nas marquises é a fissuração do concreto, seja pela ação de sobrecargas, erros de projeto ou na fase de construção - fissuras pelas quais percolam agentes oriundos da poluição do ar, das fezes de animais, e a própria água de chuva, que causam a corrosão de armaduras, levando a estrutura à ruína (Dorigo, 1996).

De acordo com cálculos do Crea-RJ em 2007, cerca de 500 marquises na cidade do Rio de Janeiro apresentam problemas estruturais. Ainda no Rio de Janeiro, a Defesa Civil confirma que 70% das marquises dos edifícios do centro não passam por manutenção há anos. A marquise que ruiu em Copacabana em 04 de março de 2006, matando duas pessoas e ferindo oito, não era vistoriada há quase 13 anos. Ainda segundo a Defesa civil, 16 marquises foram demolidas em 2006.

Em Vitória, capital do Estado do Espírito Santo, a prefeitura identificou após inspeções de rotina 190 marquises em situação de risco, dessas, 157 (82,6%) já possuem laudo técnico de estabilidade e segurança emitido por engenheiro civil após recuperação efetuada pelos proprietários. Outros levantamentos foram realizados em várias cidades brasileiras indicando a gravidade do problema.

Em virtude do alto índice de acidentes com marquises, visando evitar a ruína e posterior queda dessas estruturas, é imprescindível tomar medidas que levem ao conhecimento das causas de patologias nessas estruturas, visando evitar a repetição dos mesmos erros na construção de novas marquises. O conhecimento das causas dessas patologias deve ser feito por uma metodologia que leve em consideração a análise de projeto, o levantamento das características geométricas da estrutura, e a inspeção visual e/ou detalhada pela realização de ensaios não destrutivos.

O objetivo deste artigo é aplicar uma metodologia simplificada e objetiva que possa ser capaz de diagnosticar, por métodos de inspeção adequados, os aspectos estruturais, de utilização e de deterioração de marquises em edificações. Com isso, busca-se a implementação de normas e regulamentos que tratam da inspeção de marquises, com preocupação de garantir a durabilidade desta, e consequentemente uma maior segurança para pedestres que passam pelos locais. Vários trabalhos foram desenvolvidos abordando a inspeção de marquises (Gomes et al, 2003, Souza et al, 2007) ou de estruturas em geral. O CEB 243 (1998) aponta as estratégias disponíveis por inspecionar e avaliar as estruturas de concreto com referência particular para corrosão das armaduras. No documento abordam-se as atividades de preparação, rotina e inspeções detalhadas, o procedimento de avaliação e a proposta para intervenção.

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Nesse sentido, este trabalho foi desenvolvido na região central da cidade de Bambuí, visando identificar patologias em marquises de edifícios nessa região, por inspeção visual e com realização de ensaios de pacometria, potencial de corrosão, resistividade elétrica e ultrassom e assim diagnosticar o grau de deterioração dessas marquises. Um trabalho similar foi iniciado na cidade de Uberlândia (MG), atualmente paralisado, onde a região central conta com aproximadamente 105 edifícios (antigos e recentes) com marquises.

Pacometria

O pacômetro é o termo adotado para o aparelho que, por ondas eletromagnéticas de baixa frequência, é usado para localizar as barras de aço da armadura e para estimar a sua posição em relação à superfície onde está a sonda. A base do método de ensaio está descrita em ACI 228 2R-98. Nesse ensaio foi usado o equipamento da marca James Instruments Inc., sendo necessária antes do seu uso a sua calibração. Pela definição da unidade de medida para os parâmetros desejados, a unidade escolhida foi a de milímetros para o cobrimento e distância horizontal entre armaduras e do diâmetro da armadura para a estrutura; na falta dessa informação estimou-se o diâmetro conforme orientação do fabricante.

Com o aparelho calibrado iniciou-se o ensaio, que consiste em percorrer os pontos previamente marcados com a sonda, identificando por sinal sonoro a existência de armadura nas proximidades do ponto, fazendo-se então a leitura do cobrimento da armadura e o espaçamento horizontal entre essas. Sendo, no entanto, para este estudo necessário apenas a informação do cobrimento da armadura, os quais foram expressos em milímetros.

Resultados e discussão

Inspeção visual

Na inspeção visual foram levantados os problemas mais comuns das marquises e que podem contribuir para o comprometimento da segurança. Na tabela 2 encontram-se relacionados os percentuais para um dos tipos de patologia. Nela pode-se notar que as trincas longitudinais e verticais são as patologias que mais aparecem.

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A situação crítica foi a marquise 10 que apresentou trincas transversais (que transpassam toda a espessura da estrutura), equidistantes ao longo de todo o seu comprimento.

Inspeção detalhada

Na inspeção detalhada buscou-se verificar se as características do concreto e das armaduras foram influenciadas ou estavam influenciando as patologias apresentadas.

Pacometria

Na determinação do cobrimento das armaduras, em algumas lajes ou regiões, não foi possível a determinação na parte superior, onde normalmente encontram-se as armaduras. Nesses casos, o cobrimento foi analisado tendo-se como base a espessura medida da laje.

De acordo com a NBR 6118:2003, as marquises em questão enquadram-se na classe ambiental II, agressividade moderada e com risco de deterioração pequeno. Para essa classe de agressividade o cobrimento nominal deve ser no mínimo de 25 mm.

Na análise do cobrimento das armaduras das marquises, determinada pelo ensaio de pacometria, verificou-se que somente as estruturas 7 e 10 não apresentaram cobrimento insuficiente em nenhum ponto. Sendo o caso mais grave o da m Resistividade do concreto

A resistividade do concreto é um dos parâmetros que estão relacionados com a velocidade de corrosão das armaduras. Esta é responsável pelo fluxo de íons na solução aquosa dos poros do concreto, pelo que, a umidade dos poros é um fator fundamental para a resistividade (Cost, 1996). Assim como é possível estimar a corrosão pelas armaduras, também se pode fazê-lo pelo concreto, que é o eletrólito do sistema.

Considerações finais

Pela realização do ensaio de pacometria, houve a constatação de falhas quanto ao cobrimento das armaduras em 80% das marquises analisadas, o que evidencia mesmo para as estruturas com menor idade de construção falha no processo construtivo quanto à adequada posição das armaduras.

No ensaio de ultrassonografia verificou-se concreto pouco compacto em também 80% das marquises analisadas, o que mostra concreto pouco adensado, alto grau de fissuras e, portanto, alta probabilidade de percolação de agentes agressivos à integridade da armadura.

Já para os ensaios de potencial de corrosão e resistividade elétrica, ficou clara a corrosão das armaduras nas marquises 6 e 8, que têm idade de construção maior e manutenção muito precária. Dessa forma, fica evidente que essas duas marquises devem ser recuperadas com urgência, caso contrário, poderão tornar-se mais um caso de ruína a ser relatado nos noticiários do País.

Deve-se ressaltar que nenhuma das marquises analisadas apresenta sistema de impermeabilização, a manutenção é precária, nem tampouco é realizada a limpeza, haja vista a quantidade de sujeira encontrada sobre essas marquises.

Ao projetar e construir uma marquise, é necessário considerar a incidência muito elevada de acidentes que vêm ocorrendo no Brasil e no exterior. Sendo assim, deve ser dado maior rigor no projeto, na escolha dos materiais, na execução e conservação de marquises, observando os seguintes aspectos: na construção, seguir os projetos estabelecidos e as precauções usuais como as relativas à dosagem e à vibração do concreto; cuidado especial quanto à posição correta da armadura negativa no engastamento. A armadura pode sair de posição, por exemplo, por pisoteamento durante o transporte ou manuseio de equipamentos e de materiais na laje; observar o cobrimento do concreto adequado para proteção da armadura; realizar a cura do concreto adequadamente para evitar fissuras por retração; evitar acúmulo de água de chuva (represamento), que implica sobrecarga não prevista em projeto; uso e ocupação devem ser de acordo com o previsto em projeto.

Por último devem-se programar inspeções visuais rotineiras e periódicas na estrutura, nos sistemas de drenagem e de impermeabilização, fazendo os reparos necessários dos danos e deficiências encontrados. Na realização deste trabalho não houve transtorno para os usuários e, por serem ensaios não destrutivos, as lajes continuam no mesmo estado anterior à inspeção.

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