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1 PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA Nova Contagem: Percepção de Jovens residentes em áreas segregadas Projeto financiado pela FAPEMIG/PUC Minas Eduardo de Sousa Menandes Orientadora: Profª. Rita de Cássia Liberato Novembro 2010

Nova Contagem_Percepção Em Áreas Segregadas

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Contagem Juventude

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1 PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATLICA DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CINCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA Nova Contagem:Percepo de Jovens residentes em reas segregadas Projeto financiado pela FAPEMIG/PUC Minas Eduardo de Sousa Menandes Orientadora: Prof. Rita de Cssia Liberato Novembro 2010 2 EDUARDO DE SOUSA MENANDES Nova Contagem:Percepo de Jovens residentes em reas segregadas Projeto financiado pela FAPEMIG/PUC Minas MonografiaapresentadaaoCursodeGeografiada PontifciaUniversidadeCatlicadeMinasGerais, comorequisitoparcialparaobtenodottulode Bacharel em Geografia. Orientadora: Prof. Rita de Cssia Liberato Novembro 2010 3 SUMRIO 1-Introduo...................................................................................................7 2-O lugar de Nova Contagem na RMBH........................................................ 3-Do rural ao urbano e a precarizao da vida................................................ 4-O Espao Urbano......................................................................................... 5-O Estado e os Socialmente excludos.......................................................... 6-Segregao scio-espacial............................................................................ 7-O lugar do jovem: identidades e percepo................................................. 8-Consideraes finais..................................................................................... 10 13 28 30 38 41 65 Referncias Bibliogrficas.................................................................................. Apndice.............................................................................................................. 68 72 4 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Mapa de localizao dos Bairros Nova Contagem e Retiro, Vilas Estaleiro e Renascer no Municpio de Contagem-MG............................................ 12 FIGURA 2 Capela So Domingos..........................................................................13 FIGURA 3 Antigo Cemitrio da Regio.................................................................13 FIGURA 4 Mapa de ocupao antiga.....................................................................14 FIGURA 5 Conjunto Habitacional Nova Contagem em 1984................................ 16 FIGURA 6 Hortas Comunitrias.............................................................................16 FIGURA 7 Hortas Comunitrias.............................................................................16 FIGURA 8 Mapa de ocupao atual dos Bairros Nova Contagem, Retiro e Vilas Estaleiro e Renascer................................................................................................ 17 FIGURA 9 rea de ocupao prxima ao Crrego do Retiro................................ 19 FIGURA 10 rea de favelamento em baixa declividade........................................ FIGURA 11 Ocupao em Nova Contagem........................................................... FIGURA 12 rea de favelamento em alta declividade........................................... 19 19 19 FIGURA 13 Atividade comercial irregular e informal no Bairro Nova Contagem20 FIGURA 14 ETE Nova Contagem.........................................................................21 FIGURA 15 Rua Hrcules......................................................................................21 FIGURA 16 Ponte sobre o Crrego do Retiro....................................................22 FIGURA 17 Antigo Posto de Combustvel localizado na MG 432, Bairro Retiro.23 FIGURA 18 Projeto arquitetnico da Uai Vargem das Flores................................23 FIGURA 19 UAI Vargem das Flores o real.........................................................23 FIGURA 20 Localizao dos Equipamentos urbanos de Nova Contagem.............25 FIGURA 21 Vista panormica da Penitenciria Nelson Hungria...........................33 FIGURA 22 Autoconstruo em Nova Contagem..................................................34 FIGURA 23 Moradia popular.................................................................................35 FIGURA 24 Mapa dos lugares topoflicos dos Bairros Nova Contagem, Retiro eVilas Estaleiro e Renascer....................................................................................... 57 FIGURA 25 Praa do Coreto..................................................................................58 FIGURA 26 Praa do Retiro...................................................................................58 FIGURA 27 Campo de Futebol do Bairro Retiro...................................................58 FIGURA 28 Campo de Futebol da Vila Estaleiro..................................................58 FIGURA 29 Feira popular do Bairro Nova Contagem...........................................58 FIGURA 30 Igreja...................................................................................................58 FIGURA 31 Fachada da Escola Municipal pio Cardoso.....................................59 FIGURA 32 Casa de Apoio a criana e Adolescente.............................................59 FIGURA 33 Mapa dos lugares topofbicos nos Bairros Nova Contagem, Retiro e Vilas Estaleiro e Renascer.................................................................................... 62 FIGURA 34 Praa da Rua VC4..............................................................................63 FIGURA 35 Rato Molhado.....................................................................................63 FIGURA 36 Rua Hrcules......................................................................................63 FIGURA 37 Rua VL 30..........................................................................................63 FIGURA 38 Vila Renascer.....................................................................................63 FIGURA 39 Bairro Ip Amarelo.............................................................................63 FIGURA 40 Beira Campo.......................................................................................64 FIGURA 41 Vila Estaleiro......................................................................................64 FIGURA 42 Penitenciria Nelson Hungria.............................................................64 5 LISTA DE GRFICOS E TABELAS GRFICO 1 Sexo.................................................................................................. GRFICO 2 Grupo de Idade................................................................................. GRFICO 3 Grupo de Idade x Nvel de Escolaridade.......................................... GRFICO 4 Renda Familiar................................................................................. GRFICO 5 Ocupao.......................................................................................... GRFICO 6 Tempo de Residncia....................................................................... GRFICO 7 Computador em Casa....................................................................... GRFICO 8 Registro de ocorrncias policiais de homicdios tentados................ GRFICO 9 Registro de ocorrncias policiais de homicdios consumados......... GRFICO 10 Registro de ocorrncias policiais de roubo..................................... GRFICO 11 Registro de ocorrncias policiais de trfico e consumo de drogas. GRFICO 12 Sexo x Atividades de Lazer............................................................ GRFICO 13 Idade x Atividades de Lazer........................................................... GRFICO 14 Por que no gostar dos lugares....................................................... 44 45 45 46 47 47 48 50 50 51 52 54 54 60 TABELA 1 Populao total residente por grupo de idade em Nova Contagem 1991........................................................................................................................ 26 TABELA 2 Populao total residente por grupo de idade em Nova Contagem 2000........................................................................................................................ 26 TABELA 3 ndice de Desenvolvimento Humano Municipal, 1991 e 2000.........26 TABELA 4 Indigncia...........................................................................................27 TABELA 5 Lugares Topoflicos...........................................................................56 TABELA 6 Lugares Topofbicos........................................................................59 6 AGRADECIMENTOS GostariadeagradecerprimeiramenteaDeus,quenomeabandonouesempre me protegeu de todas as adversidades. Aosmeuspais,irmoseamigospelacompreensoaolongodocursoe, principalmente nos momentos finais do Curso de Geografia. professoraRitadeCssiaLiberatopelasorientaesrecebidas,e,sobretudo pelaforadadoaolongodestetrabalho,desdearedaodoProjetoPROBIC- FAPEMIG, em 2009, at a fase final deste trabalho no final de 2010. AtodososprofessoresdoCursodeGeografia,queemtodaagraduao demonstraramumagrandededicao,pacincia,contriburamparaaminhaformao acadmica, pessoal e profissional. Aos demais alunos do Curso de Geografia, em especial, Tasa, Diane, Rodrigo, Ivan, Priscila e Marcelo pela fora dada ao longo deste trabalho. APr-reitoriadePesquisaedePs-graduaodaPUCMINASqueviabilizou junto a FAPEMIG, o financiamento para esta pesquisa de iniciao cientfica. NopoderiadeixardeagradeceraalunaBeatriz,doCursodePsicologia,que poralgunsmesesmeajudounestetrabalho,tantonasdiscussestericasquantonas idas ao campo. AosjovensentrevistadosemNovaContagem,pelointeressedemonstrado.A participao de vocs foi fundamental para a realizao do trabalho. A Associao de Moradores Acorda Povo pelas informaes fornecidas ao longo deste trabalho.

7 1-Introduo As grandes cidades brasileiras, ao longo de suas trajetrias, foram marcadas por intensascontradieseconmicas,polticasesociais,quedeformaconcomitante, expressaram(eaindaexpressam)adinmicascio-econmicaepolticaemvigorno pas. A ocupao dos espaos internos das cidades demonstrou como as relaes scio-econmicas e polticas se efetivaram. Ressalta-se que essas so resultantes, por um lado, da desigualdade scio-econmica e poltica e, por outro, pela impossibilidade de acesso aos bens culturais.OprocessodeocupaourbanadaRegioMetropolitanadeBeloHorizonte tambm caminhou nesse sentido. Desde a criao de Belo Horizonte, em 1897, a Cidade recebeugrandescontingentespopulacionais,bemacimadapopulaoprevistano projetodeconstruo.Esseexcessopopulacionaldeuorigemsprimeirasfavelasda Cidade. Aps algumas dcadas de crescimento da populacional a capital mineira passou aconvivercomumnmerocrescentedefavelaseloteamentospopulares,sendoa maioria desses ltimos clandestinos. OcrescimentodapopulaodeBeloHorizonteresultounacriaodevrios vetoresdeocupao.Ovetordemaiordestaqueeoprincipalresponsvelpela existnciadareaestudadafoiovetorOeste,queseguiurumoaoMunicpiode Contagem.Osurgimentodestevetorsedeuapartirdadcadade1940,comacriao da Cidade Industrial Juventino Dias. Trataremos deste ponto mais a frente. A partir ento, com o aumento da atividade industrial no Municpio, Contagem passouarecebersignificativosfluxospopulacionais,vindosdevriaspartesdeMinas Gerais e de outros Estados brasileiros.Esse grande contingente populacional, composto principalmente por trabalhadores de baixa qualificao, que na busca de um lugar para morarprximoaolocaldetrabalhoocuparamosvaziosurbanos,atentoexistentes. Comopassardotempo,ocrescimentoeempobrecimentodapopulaoconsolidaum tipodeocupaoquedorigemasfavelaseloteamentospopulareseclandestinos. Paralelamente, em especial durante a dcada de 1980 o poder pblico passou a construir conjuntos habitacionais populares em parceria com a populao. Aimportnciadetrabalhoscomoesteresidenofatodebuscaremidentificar, catalogareorganizarinformaesdispersassobreosvriosatoressociaiseaslutas desses na apropriao do espao urbano. Chama-se ateno para ofato de queas lutas 8 travadasnoespaourbanonoserestringemsomenteaconquistadeumpedaode terra. Analisando os fatores que influenciam a configurao/re-configurao da estrutura scio-espacial das cidades, Liberato (2007, p.107) afirma: (...) No s por um pedao de terra que se luta, a disputa envolve muito mais que uma poro de terra na medida em que junto com o acesso a terra se estrutura outros bens a seremapropriados,como,porexemplo,odireitodepertencereparticiparativae efetivamentedacidadeoficialondecirculamoscidados.Paratantonecessriose apropriar das duas faces cidade: a real e a simblica. A construo do Conjunto Habitacional Nova Contagem, bem como o processo de ocupao no seu entorno teve por objetivo atender a demanda da populao de baixa rendadeContagemedeoutrascidadesvizinhas.Tambmfoiutilizadocomo instrumentodedesfavelizaojqueparaelefoideslocadapopulaopobreresidente nasfavelasprximasaCidadeIndustrial,especialmenteaslocalizadasemreasde maior valor econmico. No se pode negar que a localizao do Conjunto Habitacional, distante da reacentral de Contagem, possibilitou deslocar e manterafastada das reas demaiorvalorcomercialumtipodepopulaoespecficadevidoasuasituao econmico-financeira.Deve ser salientado, como faz Liberato (2007), que apartirdapaisagempode-seobservaracidadereal,mesmoquenessanemtodosos atributosestejamdisponveisaoprimeiroolhar.Masacidadesimblicavaialmdo queestexpressonapaisagem,ela,antesdetudo,sesituanamemria,navisoe interpretao de seus habitantes. preciso ouvir para escutar, indispensvel olhar para poderver.Aescutasensveleoversempr-conceitos1sorequisitosfundamentais paraoresgatedatrajetriadeumacomunidadequeatravsdesuaorganizaoeda participaopopularconseguerompercomoisolamentoaelaimpostopelalgicado capital, especialmente o imobilirio, mesmo estando situada na periferia. Nestaperspectiva,osbairrosefavelaslocalizadasnaUnidadedePlanejamento (UP)NovaContagem,nacondiodeespaossegregados,sequalificamcomoobjeto de pesquisa de grande relevncia, pois sua anlise contribui para ampliar a compreenso dadinmicascio-espacialdaperiferiadascidadeslocalizadasnasregies metropolitanas,especialmentequandoatravsdacompreensodedinmicapermite entenderatransformaodeumbairropopularemumsub-centro,bemcomoo crescimento urbano no seu entorno. Alm disso,em outras palavras esteestudo buscar responderaseguintequesto:comooNovaContagem,localizadonaperiferiade 1 Pr-conceitos no sentido de conceitos formados a priori. 9 Contagem, se configurou, em decorrncia de sua estrutura e das funes que abriga, em um sub-centro. Esteestudotemporobjetivocentralanalisarcomoosjovensde14a20anos percebem a si e a rea em que vivem. importante salientar que Nova Contagem surge como uma forma de absorver grande contingente populacional recebido pelo Municpio que no tiveram acesso ao emprego formal e moradia. De acordo com Coura (2009) o espao urbano das cidades o lugar onde o jovem mais visvel nos seus mais variados sentidos,tantoporelesprprios,quantopelasociedade.principalmentesobreos jovenspobresquerecai,commaiorperversidade,aolongodesuastrajetrias,as questes do estigma territorial e da violncia. Outraquestoqueserabordadanesteestudoarelacionadaaoestigmados moradoresquesepercebemsegregadosedesprovidosdosrecursosbsicosde sobrevivncia.ParaenriqueceraanliseimportanteresgatarosestudosdeWacquant (2001), no qual ele argumenta que a concentrao de uma populao pobre em espaos separadoseisoladosdacidade,ondeadegradaofsicaestexpressamentepresente, propicia a construo de uma imagem marcada por aspectos negativos sobre o espao e seusmoradores.AindasegundoWacquant(2001)oestigmaterritorialpromove impactosnainteraodosresidentescomorestantedacidade,bemcomonarelao com os empregadores, com a polcia, com a justia e com a burocracia estatal. Asistematizaodasinformaesdesteestudofoirealizadaemduasfases.A primeirafasefoirealizadajuntoslideranaslocais,atravsdaAssociaode Moradores Acorda Povo, e teve como objetivo sistematizar informaes sobre a histria da localidade. A segunda, de carter mais amplo, foi efetivada tendo a entrevista como tcnica de coleta de dados e teve por objetivo identificar como os jovens residentes nos Bairros Nova Contagem, Retiro, Vila Estaleiro e Vila Renascer percebem o espao em que vivem e a eles prprios, conforme colocado no objetivo geral. Paralelamentearealizaodaspesquisasbibliogrficas/documentaisedasentrevistas foramrealizadasobservaesdareaestudadacomoobjetivodeidentificarainfra-estrutura e os equipamentos existentes e como os jovens os utilizam. 10 2-O lugar de Nova Contagem na RMBH Nova Contagem est localizada na poro Noroeste do Municpio de Contagem, na divisa com os municpios de Esmeraldas e Ribeiro das Neves, todos pertencentes Regio Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Sendo composta pelos bairros Nova Contagem,Retiro,VilaEstaleiro,VilaRenascer,CampoGrandeeMorroRedondo, sendoestesdoisltimoscondomniosfechados,portanto,noseroobjetosdesta pesquisa.Nova Contagem est distante cerca de 15 quilmetros da Sede do Municpio de Contagem.SaindodoCentrodecidade,toma-seaRuaBernardoMonteiroe,logo depoisaRuadoRegistro.EstaviaseestendeatoBairroPraia,ondetemincioa Rodovia MG 432, uma importante via de acesso e uma das nicas para a localidade at o trevo do Bairro Retiro. AregioestudadapertenceaRegionalAdministrativadeVargemdasFlores, queabrangedezbairrosetemumapopulaototalresidentedeaproximadamente50 mil habitantes (Atlas de Desenvolvimento Humano, 2006). Estes bairros foram loteados e invadidos, desrespeitando a legislao ambiental, em funo da Bacia Hidrogrfica de Vargem das Flores. EmrazodagrandequantidadedecursosdguanaregiodeVargemdas Flores,em1972,foiconstrudoumreservatrioparacaptaodegua,emconvnio com o Municpio de Betim, com capacidade trs vezes maior que a Lagoa da Pampulha. AlmdafunoprimordialdeabastecimentodeguaparaaRMBH,oreservatriode vargemdasFloresfoiprojetadoparafuncionarcomoumelementocontroladordas enchentes, e tambm um lugar de lazer para a populao local. De acordo com Sampaio (2007, p.11): NaBaciahidrogrficadeVargemdasFloresobservadaumaocupao urbanadesordenadaqueestcomprometendooabastecimentodeguada regiometropolitanadevidoaocrescimentopopulacionalligadoa degradaoambiental,comolanamentosdeesgotosnoscursosd`guae utilizao antrpica em reas de preservao permanentes ligados a qualidade e quantidade da gua na bacia. Ageologiadaregiocaracterizadaporgrandesextensesderochagranito-gnissico-migmttica,ondeseinteragemumainfinidadedetiposlitolgicos,cujas gnesesreferem-seacomponentesvulcnicos,plutnicosesedimentaresHasue Almeida (Santos, 1999). importante destacar, como faz Bacellaret al (2003, p.1), as 11 condiesdesfavorveisaocupaodosolonaBaciaHidrogrficadeVargemdas Flores,devidoaexistnciadereassuscetveisariscogeolgico,comoaeroso provocada por ravinas e voorocas. Noquedizrespeitoageomorfologiadareaestudada,elaestinseridano compartimentodenominadodepressodeBeloHorizonte,tendoatuaodosriosdas VelhaseParaopeba(afluentesdoRioSoFrancisco)paraasuaformao.Conforme Santos(1999),existemduasformasderelevonaBaciaHidrogrficadeVargemdas Flores.Aprimeiratopograficamenteabrangeosterrenosdonveldoreservatrio 840metros,atterrenosdeaproximadamente900metrosesoconstitudos por colinas cncavo-convexas suaves, vales amplos de fundo chato em que a drenagemchegaaformarmeandros.Aindanessaporoobservam-se mudanassignificativasnadireodosrios,querefleteopadrode estruturao do substrato gnissico. No contato entre esse compartimento e o quesesegue,asvertentestornam-sengremeseosvalesencaixados,ora cncavos,oraemV.Osegundogrupoconstitudopelosimportantes divisores de gua (cotas altimtricas entre 900 e 1025 metros), apresentando-sealongadoseplano-abaulados.Emalgunstrechosocorreumainterrupo provocada por pontes de grande declividade, que coincide com jazimento de granito-gnaisse. (SANTOS, 1999). sobre este stio, importante do ponto de vista hdrico e fragilizado nos aspectos geolgicos e geomorfolgicos que se situa o tecido urbano de Nova Contagem. Tecido estemarcadopelaocupaodesordenadadereasdealtadeclividadeetambmdas margensdoscrregos,ondeosprocessosdesegregaoscio-espacial,apobreza,a excluso social, a indigncia, a violncia e a falta de perspectivas da populao local se materializam. 12 Figura 1: Mapa de localizao dos Bairros Nova Contagem e Retiro, Vilas Estaleiro e Renascer no Municpio de Contagem-MG Fonte: Base cartogrfica do IBGE, Mapa dos setores Urbanos, 2008. 13 3-Do rural ao urbano e a precarizao da vida DentreosbairrosemanliseodeNovaContagempossuigrandeinfluncia sobre os demais, pois possui maior quantidade e qualidade de equipamentos em relao aosdemais.Ressalta-sequeonmerodeequipamentosinsuficienteparaatender adequada e eficazmente a populao do bairro e dos que se localizam no seu entorno. De acordo com entrevistas realizadas junto aos moradores do Nova Contagem, a regio onde esse se localiza comeou a ser ocupada ainda no sculo XIX, no entorno de umacapela,denominadaSoDomingosdeGusmo.DeacordocomCampose Anastcia(1991),ahistriadessacapelaacompanhaoprocessodepovoamentoda regiodesdeosseusprimeirosmoradores,queerampequenosfazendeiros,chamados retirantes.Daoprimeironomedalocalidade:Retiro.Nolocaltambmfoiconstrudo pelosmoradoresumcemitrio,quefuncionouat2006,quandosuasatividadesforam encerradaspelaPrefeituraMunicipaldeContagem(PMC)etambmporleis ambientais. Figura 2: Capela de So DomingosFigura 3: Antigo Cemitrio da regio Fonte: MENANDES, E., 2010 Fonte: Atlas Escolar de Contagem, 2009 Aindadeacordocomosentrevistados,asrelaessociaisdacomunidadeeram fortementeligadassatividadesreligiosasrealizadasnaCapeladeSoDomingosde Gusmo. De acordo com o depoimento de antigos moradores do Retiro, o terreno para a construo da Capela foi doado pelo antigo dono das terras onde esta se situa. A regio se caracterizava predominantemente como um espao rural, composto poralgumasfazendaseopovoadodoRetiroatoinciodadcadade1980.Apartir dessa dcada a rea comeou a sofrer as conseqncias do grande crescimento industrial deContagem,sobretudodaCidadeIndustrialJuventinoDias,quedesdeadcadade 1940recebeuumgrandenmerodeempresase,conseqentemente,deoperrios.De 14 acordocomCorra(2000),devidosdificuldadesdelocomooexistentenoespao urbano,ahabitaodostrabalhadorestendeaselocalizarnasproximidadesdasreas industriais, mesmo que seja de forma precria. Figura 4: Mapa de uso e ocupao do solo - Povoado Retiro, 1976 Fonte: Base Cartogrfica do IBGE, 1988 15 No caso da Cidade Industrial, a partir da dcada de 1950, surgiram vrias favelas emseuentorno,comdestaque,devidoaonmeroelevadodeocupantes,as denominadas:Magnesita,ItaeBarraginha,queselocalizavamemreasderisco, prximas a encostas e margens de crregos, de geomorfologia inadequada a habitao. Seusprimeirosmoradoreseramserventes,pedreiros,mestresdeobras,funcionrios dogovernodoestado,quetrabalhavamabrindoecalandoasnovasruasdacidade (ONG Favela isso a, 2009).Devidoograndecrescimentodefavelas,principalmentenadcadade1970, quando a populao de Contagem cresceu vertiginosamente e, tambm, pela realizao dediversasobrasnaCidadeIndustrial(construodalinhadoMetr,canalizaode crregoseimplantaodenovasempresas),grandepartedapopulaodessas localidadesfoiremovidapelaPrefeituraMunicipaldeContagem(PMC)parao Conjunto Habitacional Nova Contagem. Este foi construdo pela Prefeitura em parceria com a Comunidade, atravs da autoconstruo.Noinciodadcadade1980,oentoPrefeitodeContagem,NewtonCardoso, iniciou a criao do Conjunto Habitacional Nova Contagem. O objetivo do projeto era a edificaodecercadesetemilcasaspopulares,nosistemadeautoconstruo, beneficiandoaproximadamentecercadequarentamilpessoas.(RevistaContagem, 1984,p.9).OentoGovernadordeMinasGerais,TancredoNeves,presentena inauguraodoConjunto,em1983,definiuoNovaContagemcomooincioda reformaurbananopas(RevistaContagem,1984,p.9).Aindadeacordocoma publicao,nasolenidadedeinauguraoforamentreguesmaisdecentoecinqenta casas.NoanoseguintefoiassinadoumconvnioentreaPMCeCOHAB-MG (CompanhiadeHabitaodoEstadodeMinasGerais),paraaconstruodemais trezentas novas casas. De acordo com os idealizadores do Conjunto, a construo dascasas seria feita deformaaimpediraaglomerao,existindoespaospblicoscomopraase implantaodeequipamentosdeusocoletivo,emconformidadecomaLeiFederalN 6.766 de 1979 (Lei de Parcelamento do Solo Urbano). Ainda de acordocom a Revista Contagem (1984, p.9): NovaContagemrepresentanoapenasamoradiaparaquem,vivendoem condiesprecarssimas,embarracos,regiesribeirinhasouainda desabrigadaspelasenchentesencontramaumespaoparahabitar,mas tambmsignificaterumespaoparatrabalhar,cuidar,eaospoucosir gerandoumanovarealidade,umacomunidadecominstrumentosprprios 16 paragarantirseuprpriocrescimento.(...)Aintegraodacomunidadeser feita atravs de hortas comunitrias, implantao do pomar, viveiro de mudas ctricas,hortoflorestaleaindaaCentraldeProduo,englobando carpintaria,serralheria,olariaefuturamenteumafbricadevassouras,alm dopostomdico.OPAP,ProgramadeAbastecimentoPopular,implantado recentemente,garantiralimentoamenorpreoaosmoradores.(...)O prefeito anunciou tambm a instalao de uma creche em Nova Contagem, a implantao de um Grupo Escolar, rede eltrica e asfaltamento da estrada de acesso ao bairro. SegundooprojetodeconstruodoConjuntoHabitacionalNovaContagema rea seria loteada em 3.543 lotes, distribudos em quatro ncleos A, B, C e D, cada um com cerca de novecentos lotes. Na prtica foram criados apenas dois ncleos: a primeira e a segunda seo. Figura 5: Conjunto Habitacional Nova Contagem em 1984 Fonte: Revista Contagem, 1984. Ainda de acordo com a Revista Contagem (1984, p.10), constavam no projeto do Nova Contagem a construo de uma praa de esportes, com um campo de futebol com vestiriosequadraspoliesportivas.Tambmestavaprevistaacriaodeumarepresa, quealmdeirrigarahortacomunitria,nelaseriamdesenvolvidasprogramasde psicultura. Figuras 6 e 7: Hortas Comunitrias Fonte: Revista Contagem, 1984. 17 AobrigatoriedadedocumprimentodaLeiFederaldeParcelamentodoSolo Urbanocriou,nopapel,umbairroideal.Apopulaoqueviunoempreendimentoa soluodeseusproblemashabitacionaispassou,empoucosanos,devidoano implantaodosequipamentosprevistosnoprojetoviveremcondiesprecrias.O NovaContagemcresceudeformadesordenada,refletindoafragmentaourbana, visvelnasmetrpolesondeasdesigualdadessociaiseespaciaisocorremdeforma intensa, se consolidoucomo um espao segregado do conjunto urbano de Contagem. Entreosanosde1984e1986,foramconstrudasemNovaContagemcercade trsmilresidncias.NosanosseguintesoConjuntoHabitacionalultrapassouseus limites passando a ser Bairro. Este foi marcado por vrias ondas de ocupaes das reas no urbanizadas, no permetro interno e, tambm, em seu entorno. Estas ocupaes, de acordocomoMovimentoAcordaPovo(2010)foramrealizadasprincipalmentepor parentesdosmoradoresdeNovaContagem,quenoforamatendidospelosprogramas deacessoamoradiadoMunicpio.Conseqentemente,estasocupaesforam responsveis pela criao de vrios bairros e favelas na regio, como por exemplo, o Ip Amarelo, Vila Estaleiro, Vila Renascer e Vila Esperana.Entre a primeira e segunda seo do Conjunto Nova Contagem existiam grandes espaos verdes, consideradas como reas de proteo das nascentes e cursos dgua da regio. Alm disso, as margens desses crregos eram mais vulnerveis a ocorrncias de inundaesnosperodoschuvosos.Atmeadosdadcadade1990estasreasforam tambmutilizadasparaoplantiodehortascomunitrias.Emcontrapartida,devidoao grande crescimento populacional do bairro, aos poucos esses espaos se transformaram emfavelas,comruasebecosemcondiesprecrias.Essasfavelassoconhecidas como Rato Molhado, Feliz, Bastilha, Buraco da Coruja e Formosa. 18 Figura 8: Mapa de ocupao atual dos Bairros Nova Contagem, Retiro e Vilas Estaleiro e Renascer Elaborado por: MENANDES, E., 2010. Fonte: Base Cartogrfica do IBGE, 2008. 19 Grandepartedareaestudadaestlocalizadaemumrelevomuitoacidentado, conforme pode ser visto na figura 8. A ocupao do solo da rea pode ser destacada em duas formas: A primeira se deu ao longo das margens dos crregos da regio (Figuras 9 e10),ondeosriscosdeinundaessoconsiderveis.Asegundacaractersticade ocupaodareaocorrenosterrenosdealtadeclividade(Figuras11e12),ondeos processoserosivosatuanteseosescoamentossuperficiaisaumentamosriscosde desabamentos. Figura 9: rea de ocupao prxima ao Figura 10: rea de favelamento em baixa Crrego do RetirodeclividadeFonte: MENANDES, E., 2010 Fonte: MENANDES, E., 2010

Figura 11: Ocupao em Nova Contagem Figura 12: rea de favelamento em alta declividade Fonte: Google maps Street view, 2009 Fonte: Google maps Street view, 2009 AindasegundooMovimentoAcordaPovo,vriasreaspblicas,destinadasa construodepraasereasdelazerforamocupadasduranteadcadade1990,para finscomerciais.Comoexemplodeocupaonessesentido,pode-secitaraocorrida entreasruaspioCardosoeVC2,localdestinadoaconstruodaPraaNova Contagem. No local existe atualmente o Sacolo e Casa de Carnes ABC, alm de vrias atividades informais. 20 Figura 13: Atividade comercial irregular e informal no Bairro Nova Contagem Fonte: Google maps Street view, 2009 OprocessodeadensamentopopulacionalemNovaContagem,bemcomonas favelaslocalizadasemseuinteriorenosbairrosefavelasvizinhas,assimcomoem muitas periferias urbanas brasileiras, ocorreu de forma lenta e gradual. De acordo com o MovimentoAcordaPovo(2010),vriasobrasrealizadasnareadoConjunto Habitacional,desdeasuainaugurao,ocorreramprincipalmentenosperodos eleitorais,ficandomuitaspossveismelhorias,poranos,somentecomopromessase ainda no realizadas.ParaagravaraindamaisasituaodoBairro,neleestsituadaaPenitenciriade SeguranaMximaNelsonHungria,queabrigacercade1600presos(AGNCIA MINAS,2008)2.Inauguradaem1988,suaconstruoteveinciopoucosanosapsa criaodoBairroNovaContagem.AlocalizaodoPresdionaquelalocalidade favoreceu o surgimento de novas reas de ocupao na regio, como foi o caso da Vila Estaleiro, localizada no seu entorno.Servios pblicos de primeira necessidade, como por exemplo, energia eltrica e guatratadasomenteforamfornecidas(aindaqueprecariamente),aosmoradoresdo Conjunto Nova Contagem, nos anos de 1986 e 1987, respectivamente. A rede de esgoto somente comeou a ser implementada a partir de 2006, devido construo da Estao de Tratamento de Esgotos (ETE) da COPASA. As operaes desta iniciaram em 2008, processandooesgotoprovenientedeaproximadamentesetemilresidnciasdaregio. De acordo com o Movimento Acorda Povo (2010), a grande reclamao da populao, 2 Presos de alta periculosidade. 21 principalmentedeNovaContagemeRetiroquantoaomau-cheiroprovenienteda ETE. Figura 14: ETE Nova Contagem Fonte: COPASA, 2008 A pavimentao das vias do Conjunto, por muitos anos, ficoureservada apenas s principais. A partir de 2006, o restante das vias do Bairro, excetuando as ruas e becos localizados nas reas invadidas, foi pavimentada. (Movimento Acorda Povo, 2010). Figura 15: Rua Hrcules Fonte: MENANDES, E., 2010 OacessoaoNovaContagemfeitoatravsdaMG432atotrevodoBairro Retiro.AcomunicaoviriadesteBairrocomoNovaContagemrealizadaapenas pela ponte construda sobre o Crrego do Retiro, na Rua Retiro dos Esportistas. 22 Figura 16: Ponte sobre o Crrego do Retiro Fonte: MENANDES, E., 2010 Noquedizrespeitoaotransportecoletivo,desdeaimplantaodoConjunto Habitacional,aregiodispunhaapenasdeduaslinhasdenibus,queatendiama populaocompoucoshorriosaolongododia.Estaslinhaseramasantigas1167 (Nova Contagem Cidade Industrial) e 1168 (Retiro-Cidade Industrial). Mas devido ao intensocrescimentopopulacionaldaregio,bemcomodoaumentodademandapelo transportepblico,12linhasforamcriadas,atendendo(aindadeformaprecria) tambm os bairros e favelas do entorno de Nova Contagem.importantedestacarquealmdaprecariedadedosnibusqueatendema localidade,apopulaoresidentenalocalidadeencontraoutroproblema,opreoda passagem.Em2010opreodapassagemparaBeloHorizonteeradeR$3,55.Para Contagem os valores das tarifas so R$2,90 (DER/MG, 2010) e R$2,40 (TRANSCON, 2010).Emsetratandodeumapopulaocomosmaioresndicesdepobrezade Contagem, a locomoo entre Nova Contagem e outras localidades torna-se um desafio bem maior. Outra situao que contribui para dificultar a locomoo da populao residente quepossuioutrosmeiosdetransporte(carro,moto,etc.)aausnciadepostosde combustveis na localidade. O nico que atendia a regio estava localizado na MG 432, prximoaotrevodeacessoaoBairroRetiro.Deacordocomosmoradores,devidoa irregularidadesexistentesnesteposto(combustveladulterado,preoexcessivo),este foifechadoem2009.Asalternativasencontradaspelapopulaoforamcomprar combustvelnocentrodeContagem(distante15km),Esmeraldas(distante20km)ou no mercado informal na localidade. 23 Figura 17: Antigo Posto de Combustvel localizado na MG 432, Bairro Retiro Fonte: MENANDES, E., 2010 OsserviospblicosdesadeoferecidospopulaoresidenteemNova ContagemsofeitosbasicamenteporseisUnidadesBsicasdeSadedaFamlia. Destas,trsestolocalizadasnoBairroRetiro,duasnoBairroNovaContagemeuma na Vila Estaleiro. A PMC oferece tambm dois centros de servios odontolgicos, uma farmcia distrital.OsServiosdeUrgnciaeEmergnciasorealizadospelaUnidadede Atendimento Imediato (UAI) do Bairro Nova Contagem. Com o objetivo de melhorar o atendimento de urgncia e emergncia na regio, a PMC iniciou em outubro de 2007 a construodaUAIVargemdasFlores,localizadanaAvenidaRetirodosImigrantes, cujoprojetoarquitetnicoestrepresentadonafigura18.Destaca-sequeestaUnidade deSadetinhadeprevisodeserconcludaem240dias,masataconclusodo presente estudo, suas obras estavam paralisadas conforme demonstra a foto 19 a seguir.

Figura 18: Projeto arquitetnico da Uai Vargem Figura 19: UAI Vargem das Flores o real das Flores. Fonte: PMC, 2007 Fonte: Google Street View, 2009 24 Aeducaonalocalidadeoferecidadesdeaeducaoinfantilatoensino mdio. A educao infantil oferecida pela PMC por apenas uma escola, localizada no Bairro Retiro. Esta modalidade de ensino ainda oferecida por uma rede conveniada prefeitura no Bairro Nova Contagem, mantida pelo Colgio Batista Mineiro, e tambm outrosdoiscentrosdeeducaoinfantilnaVilaEstaleiro.Oensinofundamental oferecidoatravsdequatroescolas,sendoquetrsestolocalizadasnoBairroNova ContagemeumanoBairroRetiro.Oensinomdiooferecidoporduasescolasda Rede Estadual e uma da Rede Municipal. Destas, duas esto localizadas no Bairro Nova Contagem e uma no Bairro Retiro. importantedestacarapresenadevriasorganizaesnogovernamentais (ONGseassociaes)nareaestudada.Grandepartedestasorganizaesatuam juntamenteapopulaojovem,comooexemplodaCasadeApoioCrianae Adolescente,doCentrodeAcolhidaChiaraPalazzoliedoCentrodeFormao Profissional Divina Providncia. OcomrcioemNovaContagemocorreprincipalmentenasprincipaisviasdos BairrosNovaContagemeRetiro,tendonoprimeiroamaiordiversidadeequantidade deatividadesparaestafinalidade.Nasuamaioriaocomrciodestaregiodedicado, principalmenteaosgnerosalimentcios(supermercados,padaria,mercearia, lanchonete,bares,sorveteria,pizzaria,entreoutros);vesturio(roupasecalados); material de construoe lojas de mveis. Destaca-se que o comrcio voltado para a comercializao de produtos populares e de baixo valor. Muitos destes estabelecimentos seorganizamseguindoumpadrodeexposioqueultrapassaoslimitesdaslojas, alcanadoascaladas,oquedificultaacirculaodostranseuntes,obrigando-osa transitar pela rua.NosfinaisdesemanaacontecenoencontroentreasruasVC2epioCardoso (NovaContagem)aFeiradeComrcioPopular.DeacordocomoMovimentoAcorda Povo (2010) a Feira rene nos finais de semana, em mdia, cerca de duas mil pessoas. EmvirtudedessegrandepbliconaFeira,filaisdelojaslocalizadasnasreascentrais de Contagem e Belo Horizonte se instalaram na localidade. A presena destas lojas, aos poucos,aumentaonveldequalidadedocomrciodaregiofazendocomqueo comrcio j existente seja obrigado realizar melhorias em suas instalaes e tambm nos produtos comercializados. 25 Figura 20: Localizao dos Equipamentos urbanos de Nova Contagem Fontes: Base Cartogrfica do IBGE, 2008. Adaptado por MENANDES, E.S., 2010 26 DeacordocomoAtlasdoDesenvolvimentoHumanodaRMBH(2006)a populao total residente nos Bairros Nova Contagem, Retiro, Vila Estaleiro e Renascer eram de 19.119 habitantes em 1991, aumentando para 25.914 habitantes em 2000. TABELA 1 Populao total residente por grupo de idade em Nova Contagem, Retiro, Vila Estaleiro e Vila Renascer 1991 Grupos de idadeAbs% De 0 a 4 anos2.04310,69 De 4 a 9 anos3.30017,26 10 a 14 anos2.95615,46 15 a 17 anos1.3316,96 18 a 24 anos2.4509,58 25 anos ou mais7.03936,82 Total19.119100 Fonte: Adaptado de Atlas do Desenvolvimento Humano da RMBH, FJP, 2006. TABELA 2 Populao total residente por grupo de idade em Nova Contagem, Retiro, Vila Estaleiro e Vila Renascer 2000 Grupos de idadeAbs% De 0 a 4 anos3.05311,8 De 4 a 9 anos2.84211 10 a 14 anos2.73510,6 15 a 17 anos1.8397,1 18 a 24 anos4.16312,1 25 anos ou mais11.28243,5 Total25.914100 Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano da RMBH, FJP, 2006. EstapopulaopossuiopiorndicedeDesenvolvimentoHumanos(IDHs)do MunicpiodeContagem,queem2000foi0,712.Estendicepodefacilmenteser comparadoscidadesmaispobresdoNordestebrasileiro,aoutrasperiferiasdas grandes cidades brasileiras, onde a subcidadania atua com muita perversidade. TABELA 3 ndice de Desenvolvimento Humano Municipal, 1991 e 2000 UDH IDHM, 1991 IDHM, 2000 IDHM-Renda, 1991 IDHM-Renda, 2000 IDHM-Longevidade, 1991 IDHM-Longevidade, 2000 IDHM-Educao, 1991 IDHM-Educao, 2000 NOVA CONTAGEM0,611 0,712 0,511 0,559 0,624 0,769 0,698 0,808CONTAGEM0,730 0,789 0,665 0,714 0,688 0,751 0,836 0,901RMBH0,759 0,813 0,730 0,771 0,706 0,762 0,840 0,906Fonte: Adaptado de Atlas do Desenvolvimento Humano na RMBH, FJP, 2006. 27 AprecariedadedavidaemNovaContagempodetambmseranalisadapelo percentual de indigncia. De acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano (2006), entre 1991 e 2000, o percentual de indigentes da localidade teve uma pequena queda de 3%,masaindaquasetrsvezessuperioradeContagem,emtornode17%da populao total em 2000 (4.405 habitantes). TABELA 4 Indigncia

UDH % de indigentes, 1991 % de indigentes, 2000 NOVA CONTAGEM20,51 17,13CONTAGEM6,82 6,96RMBH9,07 7,35Fonte: Adaptado de Atlas do Desenvolvimento Humano na RMBH, FJP, 2006. 28 4-O Espao Urbano OestudosobreapercepodosjovensdeNovaContagemfundamental discutir sobre a produo e reproduo do espao, tendo por referncia que este parte fundamentalnasrelaeshomem-sociedade,namedidaemquedemarcalugarese impe formas de agir. Para tanto necessrio fazer uma reviso terico-conceitual das noes, conceitos e categorias analticas sobre a espacialidade, esclarecendo que muitas vezes essas se superpem. Gomes (1997, p. 38) afirma que o objeto da geografia (...) [o] espao, que simultaneamente disposio fsica das coisas e prticas sociais que ali ocorrem. O espao deve ser considerado como no mais um reflexo da organizao social criada sobre ele, mas sim como uma unidade que, juntamente com as demais estruturas einstnciasdavidasocial,deveseranalisadodemododinmicoedialtico. (LIBERATO,2000,p.13).Nessesentido,atravsdosrelatosdemoradores,lderes comunitrios e dos prprios jovens entrevistados, fica evidenciado que desde o incio da ocupaodosbairrosefavelasdaregio,arelaohomem-espaosofreuprofundas transformaes, caminhando no sentido de sua precarizao.Aoseanalisaracategoriaespaocomoumatotalidade,deve-sedestacarque, enquanto fenmeno global, este se encontra fragmentado.Lefebvre,emseulivro EspaoeSociedade,analisaoespaourbanocomoumprodutosocialimbudode elementospolticoseideolgicossustentadosereproduzidosporumadeterminada classe da sociedade. Corra (2000) parte tambm do princpio de que o espao urbano reflexo das relaes sociais existentes entre os agentes sociais, que configuram o espao de acordo com os seus interesses. Aformadoespaourbanodopresentetraz,entresi,asmarcasdasaes realizadasnopassadopelosagentessociais.DeacordocomCorra(2000)estes utilizam estratgias e aes complexas e concretas em suas intervenes para fazerem e refazeremacidade,segundoseusanseiosdeacumulaodocapital,reproduodas relaes de produo, e neutralizar conflitos de classe que delas emergem. DeacordocomLefebvre(2008)noespaourbanoqueoprocessodere-produodasrelaesdeproduosedesenrola,tantonasatividadessociaisquanto naquelasaparentementemaisindiferentes(oslazeres,avidacotidiana,ohabitareo 29 habitat, a utilizao do espao). Este espao valor de uso e valor de troca, tendo este ltimo solapado toda a caracterstica humanizadora da cidade moderna.A cidade como palco das mais diversasrelaessociais local do encontro, da troca,daplenarealizaodavidaurbana,esegundoLefebvre(2008)tudoissosed pela apropriao. A apropriao ou direito a cidade se estabelece como contraponto ao processodefragmentaodoespaocaracterizadopelaexistnciadosmaisvariados centrosdedominao:centrosdedeciso,deriqueza,depoder,deinformaoe conhecimento (LEFEBVRE, 2008). De acordo com Liberato (2007, p.52), fragmentar o espao significa transform-loemumlugarinformado,ondeosindivduos,nocotidiano,estabelecememantm suasrelaes(sociais,culturais,econmicas,afetivase/oupolticas). Conseqentemente,oespaotambmtransformadoemlugardesignificao.Nesse sentido Ferrara (1999, p. 153) argumenta: Paraapreenderainformaodoespao,necessriofragment-lo, transformando-oemlugarinformado.necessrioultrapassaraquela totalidadehomogneadoespaoparadescobrirseuslugaresnosquaisa informaoseconcretiza,namedidaemqueproduzaprendizadoe comportamentotraduzidosnosseussignos:usosehbitos.Nolugar,o espaoseconcretizanaepelainformaoqueagasalha.Deumespaode informao evolumos para um lugar informado. Ainda nesta mesma discusso de espaos e seus elementos, Milton Santos (1982, p. 19) afirma que: Oespaodeveserconsideradocomoumatotalidade,aexemplodaprpria sociedadequelhedvida.Todavia,consider-loassimumaregrade mtodo cuja prtica exige que se encontre paralelamente atravs da anlise, a possibilidadededividi-loempartes.Ora,aanliseumaformade fragmentao do todo que se caracteriza pela possibilidade de se permitir, ao seutrmino,areconstituiodessetodo.Quantoaoespao,suadivisoem partes deve ser operada segundo uma variedade de critrios. (...) O espao torna-se imprescindvel em toda a vida dos indivduos, pois o locus privilegiadodasaes/relaessociais.Entoasuatotalidade(dinmicaedialgica) nopodeserapreendidaapenasporumareadoconhecimentoe,muitomenos,pela tica de apenas um de seus agentes modeladores. . De acordo com Corra (2000), o espao urbano um reflexo da sociedade. Este seapresentadeformafragmentadaearticulada,ondeoprodutosocialresultadode aesacumuladasatravsdotempo,eengendradasporgentessociaismoduladoresdo 30 espao3 que produzem, reproduzem e consomem espao de acordo com seus interesses, ou interesses dos que representa. 5-O Estado e os Socialmente excludos AoseanalisarcomoocorreuoprocessodecriaoeocupaodeNova Contagem, bem como dos bairros e favelas no seu entorno, pode-se notar a atuao de vriosagentessociais,comdestaqueparaoEstadoeosSocialmenteExcludos.Os resultados de suas aesse acumularam atravs do tempo, refletindo no produto social atual.OEstadoparaCorra(2000)umimportanteagentemodeladordoespao urbano, pois alm de consumir espao representa os interesses dos integrantes da classe dominante. Sua atuao tem sido complexa e varivel, tanto no tempo como no espao, refletindoadinmicadasociedadedaqualparteconstituinte(CORRA,2000,p. 24). Nocapitalismoasdiferenassomuitograndes,emaioresaindaempases como, entre outros, os da Amrica Latina. A habitao um desses bens cujo acessoseletivo:parcelaenormedapopulaonotemacesso,querdizer nopossuirendaparapagaroalugueldeumahabitaodecentee,muito menos,comprarumimvel.Esteumdosmaissignificativossintomasde exclusoque,noentanto,noocorreisoladamente:correlatosaelaestoa subnutrio,asdoenas,obaixonveldeescolaridade,odesempregoouo subemprego e mesmo o emprego mal-remunerado. (CORRA, 2000, p.29). OEstadocapitalistapodeatuarcomoumgrandeagenteindustrial,proprietrio fundirio,promotorimobilirioe,aomesmotempo,comoreguladordousodaterra, sendo,nestaperspectiva,alvodosgrupossociaisexcludos.NocasodeNova Contagem,atravsprincipalmentedaconstruodoConjuntoHabitacionalNova Contagem (parceria PMC e COHAB) na dcada de 1980, o Estado assumiu o papel de promotor imobilirio.A atuao do Estado, enquanto promotor imobilirio serviu tambm de estimulo ocupaoporfavelaseloteamentosclandestinosdasreasprximasadoConjunto Habitacional.Pode-sedestacartambmoaumentodaespeculaoimobilirianos terrenoslocalizadosasmargensdaviaqueligaareacentraldeContagemaoNova 3 De acordo com Corra (2000) os agentes sociais modeladores do espao so: Proprietrios de Meios de Produo, o Estado, os Proprietrios Fundirios, os Promotores Imobilirios e os Socialmente Excludos. 31 Contagem.Essasforamgradativamenteocupadasporpopulaesempobrecidas,no contempladascomresidnciasnoConjuntoequenoencontraramoutrasoluopara resolver seu problema habitacional. AatuaodoagenteEstado,emmuitoscasos,representaojogodeforas existentenoespaourbanodasgrandescidadesequesetornavisvelatravsda desigualdade econmico-financeira que, por conseqncia, descortina a excluso social esegregaoscio-espacial.Deumladohumapopulaoabastada,comacesso qualidadedevida(infra-estruturabsica,sade,educao,dentreoutros)ecom capacidadedeseorganizarepressionaroEstado.Dooutrolado,umapopulao desfavorecida,volumosaecomdificuldadesdeseorganizareserouvidapelopoder pblico. Esse fato revelador que por trs da desigualdade socioeconmica, da excluso e da segregao scio-espacial se situa a primeira de todas as excluses que a excluso poltica que impede a organizao dos integrantes dos segmentos sociais com pouco ou nenhum recurso financeiro: os pobres em geral.OcontingentepopulacionaldoMunicpiodeContagem,nasdcadasde1970e 1980,erade108.028e278.081,respectivamente.Oexpressivonmerodehabitantes, sobretudoaquelesresidentesnoespaourbano,seconfiguraparaoEstadocomoum desafio que ameaa a estabilidade social. Para tentar equilibrar a balana, o Estado age, conforme argumenta Corra (2000, p.15) atravs da ideologia da casa prpria.De acordo com Carrion (1990, p.293), esta ideologia surge em 1964, junto com as diretrizes que criaram o modelo BNH, onde se ofereciam as moradias j acabadas ou reas para sua autoconstruo. Nesse sentido que o Estado atinge o desejo, sobretudo ossegmentossociaisdepoucoounenhumpoderaquisitivo,procurandominimizara presso social, sem, contudo, negligenciar os interesses dos agentes capitalistas. AsimplicaessociaisepolticasdaaodoEstadocomoagenteimobilirio sotambmarticuladasporHarvey(apudGOTTDIENER,1993,p.137),quandose refere propriedade da casa, (...) como um meio pela asreivindicaes do trabalhador foram divididas em preocupaesrelativasaotrabalhoepreocupaesreferentesqualidadede vida,emqueestarecebemaiornfasedapartedoEstado(socializaodo capital). Finalmente, o fato de uma poro importante da classe trabalhadora possuir uma propriedade quebra ainda mais a conscincia da classe e faz com queogrupodeproprietriosdaclassetrabalhadorasealieaoscapitalistase contra aqueles que vivem de aluguel. 32 Corra (2000) analisando a mesma questo informa que a atuao do Estado se fazdemododesigual,criandoereforandoasegregaoresidencialquecaracterizaa cidadecapitalista.E,namedidaemqueemoutrossetoresdoespaoproduzem conjuntos habitacionais populares, a segregao ratificada (p.29) Liberato(2007)tambmanalisaasintervenesdoEstadonoespaourbano buscandoesclareceromodopeloqualsepautaaatuaodesteagente.Deacordo com a autora:(...)tem-sequeaintervenodoEstadonascidadesbrasileirasnofoi,em suaorigem,resultantedepolticafundadacomoobjetivodegarantir condio de vida para os integrantes das classes trabalhadoras, pelo contrrio. A histria demonstra que a interveno estatal atendeu fundamentalmente aos interessesdocapital,umavezqueesse,porumlado,sedesobrigoude possibilitarascondiesnecessriasdereproduodotrabalhoe,poroutro, possibilitou a emergncia de uma nova frao do capital o imobilirio nas cidades,que,porsuavez,transformouaproduodoespaourbanoemum novo espao de acumulao. (2007, p.82). AmesmaautoradestacaemsuaanlisesobreaatuaodoEstadonombito scio-polticoecultural.Esclarecequedeacordocomatradioprevalecentena tradio poltico-cultural brasileira as relaes entre as populaes segregadas e o poder pblico se do sob a gide do clientelismo. Aqui, o paternalismo, o assistencialismo e o apadrinhamento so a tnica central sobre a qual se assentam as relaes.De acordo com o Movimento Acorda Povo (2010) esta foi uma questo histrica muito marcante em Nova Contagem, que ao longo de sua existncia sempre foi tida e se comportou como um grande curral eleitoral para vrios polticos de Contagem.Em Nova Contagem o Estado, alm de controlar e impedir a locomoo de mais de vinte e cinco mil habitantes (teoricamente livres) em direo a cidade formal, exclui outrasmileseiscentospessoas,dentrodosmurosenormesefortementevigiadosda Penitenciria Nelson Hungria (Figura 21). Em ambos os espaos pode-se notar grandes semelhanas, a diferena se d na existncia dos muros. Estes no caso da Penitenciria soconstruesfsicasepossuemmaisdecincometrosdealtura.JodeNova Contagemumaconstruoideolgica,feitamedianteaextremarepressopoliciale excluso social da populao. 33 Figura 21: Vista panormica da Penitenciria Nelson Hungria Fonte: Site Panoramio, 2010 NaproduodoespaoemNovaContagem,osgrupossocialmenteexcludos tiveram uma importante participao. A morfologia atual, sobretudo do Conjunto Nova Contagememnadaseassemelhaadeseuprincipio,nadcadade1980.Poucascasas mantiveramomodelooriginal.Comofoiditoanteriormente,ocorreuumaintensa ocupaodasreasnoocupadas,originadonovosbairrospopularesefavelas.De acordo com Corra (2000, p. 30): na produo da favela, em terrenos pblicos ou privados invadidos, que os grupossociaisexcludostornam-se,efetivamente,agentesmodeladores, produzindo seu prprio espao, namaioria dos casos independentemente e a despeito dos outros agentes.A produo deste espao , antes demaisnada, umaformaderesistnciae,aomesmotempo,umaestratgiade sobrevivncia. Aatuaodosgrupossocialmenteexcludosocorreprincipalmentenasreas residenciais segregadas das periferias das grandes cidades, onde as aes do Estado so ausentes ou insuficientes para modelar o espao. Corra enfatiza que: A segregao residencial pode resultar tambm de uma ao direta e explicita doEstadoatravsdoplanejamento,quandodacriao,apartirdozero,de ncleos urbanos. Este planejamento reproduz o velho modelo colonial padro tpicodacidadebrasileira,comospobresnaperiferia.(CORRA,2000,p. 28). Os grupos socialmente excludos, sobretudo aqueles que no tiveram alternativa demoradia,buscamnosespaosmaisperifricosdosncleosurbanosolocalpara erguersuasresidncias.Nosepodenegarqueestesegmentofoiprofundamente penalizadocomaspolticashabitacionaisadotadaspeloregimeditatorialnoBrasil,a 34 partirde1964.Apartirdaquelemomentoosnveisdesegregaoepauperizaodas periferias dasgrandes cidades foram agravadas.As contradies sociais tornaram mais potencializadasemdecorrnciadaacumulaodecapital,doagravamentodonvelde pobrezadostrabalhadoresassalariados,docrescimentourbanodesordenado,do aumento populacional, do declnio da qualidade de vida, do rebaixamento salarial, entre outras perdas, resultando em ocupaes irregulares nas reas perifricas. Como alternativa de subsistncia e sobrevivncia, a alternativa encontrada pelos grupossocialmenteexcludosparaamenizaroproblemahabitacionalnaqualse transformaramnaspioresvtimas,foiatravsdaautoconstruo.Kowarickconsidera que: Aautoconstruorealizadaatravsdotrabalhoadicionalegratuito,que freqentemente perdura por anos, a confeco da casa prpria s pode levar reduo de outros itens vitais da cesta de consumo, inclusive diminuio do padro alimentar que, para muitas famlias, passa a se situar abaixo dos nveis mnimosdesobrevivncia.Assim,aautoconstruoenquantoumaalquimia queserveparareproduziraforadetrabalhoabaixoscustosparaocapital constitui-senumelementoqueacirraaindamaisadilapidaodaquelesque stmenergiafsicaparaofereceraumsistemaeconmicoquepersij apresenta caractersticasmarcadamente selvagens. Por outro lado, este longo processoredunda,nomaisdasvezes,numamoradiaque,almdeser desprovida de infraestrutura bsica e de se situar em reas distantes dos locais de emprego, apresenta padres bastante baixos de habitabilidade. Alm disto, acasasedeteriorarapidamente,poisfeitaportrabalhadoresno especializados,queutilizamtcnicasprodutivaseferramentasrudimentares, ondeadivisodotrabalhopraticamenteinexistenteesuaconstruo efetuadaaospoucosesemseqnciaprogramada.(KOWARICK,1979, p.57). Figura 22: Autoconstruo em Nova Contagem Fonte: Fonte: Revista Contagem, 1984 35 Figura 23: Tipologia de moradia do Conjunto Nova Contagem Fonte: MENANDES, E., 2010 SegundoCastells(1995)osexcludossoresultadosdeumadesfiliaosocial. Esse processo marcado pela desvalorizao do individuo, ruptura dos elos de filiao institucional decorrentesda crise da sociedade salarial. Este autor ainda acrescenta que seantesessesatoressociaiseramsubordinadosedependentes,hoje,emboraestejam integrados de alguma forma, simplesmente encontram-se a margem de qualquer tipo de participao na sociedade.Apobrezaeaexclusosocial,almdemantergrandescontingentes populacionaiscadavezmaisamargemdasociedade,aindareafirmadapelos processosglobaiselocais,queimpempadresdeconsumoinacessveisaestas pessoas.Aurbanizaobrasileiraevidenciaessesdoisprocessos,aprofundandoainda mais as desigualdades sociais, principalmente nos espaos urbanos das grandes cidades. Kowarick(1979,p.29e30)argumentaqueosespaosocupadospelosgrupos socialmente excludos surgem em meioa uma lgica da desordem. Essa lgica pode serobservada,aindasegundooautor,naaparnciadesordenadadocrescimento metropolitano atravs de seu traado irregular e o desconexo de seus espaos vazios e ocupados que j sugerem formas disparatadas de ocupao do solo. a partir do surgimento e expanso dos bairros perifricos e favelas, onde esto alojados grande parte da populao trabalhadora, que se concentra a pobreza da cidade e deseushabitantes,gerandoasegregaoscio-espacialcomoconseqnciada 36 intensificao da pobreza e da desigualdade social. Lavinas (2002) argumenta que essas questesrefletemnoprocessodeexcluso,categoriaquecaracterizaacondiosocial de uma parcela considervel dos pobres em reas segregadas. Nesse sentido, Aexclusoaparecemenoscomoumestadodecarnciadoquecomoum percurso, uma trajetria ao longo do qual, insuficincia de renda e falta de recursosdiversossomam-sedesvantagensacumuladasdeformaquase constante,processosdedessocializaoocasionadosporrupturas,situaes de desvalorizao social advindas da perda de status social (...) e da reduo drstica das oportunidades, e onde as chances de ressocializao tendem a ser decrescentes. (LAVINAS, 2002, p.37) Segundo Santos (1979, p.126)(...)asegregaoespacialresponde,porsimesma,scondiesde apropriao do espao pelas diferentes classes sociais e encontra uma de suas explicaesnaespeculaofundiria,queumamaneiradeextrairmais-valiadosterrenosurbanos,muitasvezesvalorizadosporinvestimentos pblicos. AaodoEstadonoespaourbanoevidenciaofavorecimentodasclasses dominantes, como afirma Corra (2000, p.26): [A]complexaevariadagamadepossibilidadedeaodo Estadocapitalista no se efetiva ao acaso. Nem se processa de modo socialmente neutro, como seoEstadofosseumainstituioquegovernassedeacordocomuma racionalidade fundamentada nos princpios do equilbrio social, econmico e espacial,pairandoacimadasclassessociaisedeseusconflitos.Suaao marcadapelosconflitosdeinteressesdosdiferentesmembrosdasociedade de classes, bem como das alianas entre eles. Tende a privilegiar os interesses daquelesegmentoousegmentosdaclassedominanteque,acadamomento, estonopoder.(...)AatuaodoEstadosefaz,fundamentalmenteeem ltimaanlise,visandocriarcondiesderealizaoereproduoda sociedadecapitalista,isto,condiesqueviabilizemoprocessode acumulao e a reproduo das classes sociais e suas fraes. importante destacar que a atuao do Estado no espao urbano, seja de modo diretoouindireto,acabapormarginalizaresegregarosdesprovidosdosrecursos geradospelocapital.NocasodeNovaContagemessaaogerouaformaodeum guetourbano,noextremonortedoMunicpio,marcadopeloisolamentogeogrficoe pelaimpossibilidadededeslocamentoparareascommelhorescondiesde sobrevivncia. Nocapitalismoasdiferenassomuitograndes,emaioresaindaempases como, entre outros, os da Amrica Latina. A habitao um desses bens cujo acessoseletivo:parcelaenormedapopulaonotemacesso,querdizer nopossuirendaparapagaroalugueldeumahabitaodecentee,muito menos,comprarumimvel.Esteumdosmaissignificativossintomasde exclusoque,noentanto,noocorreisoladamente:correlatosaelaestoa 37 subnutrio,asdoenas,obaixonveldeescolaridade,odesempregoouo subemprego e mesmo o emprego mal-remunerado. (CORRA, 2000, p.29). Aliteraturaespecializadaapontaqueosgrupossociaisexcludossomentese tornamagentesmodeladoresdoespaodascidadesquandopassamaocuparterrenos pblicos ou particulares. Essas reas, devido ao grupo social que as ocupa, passam a ser segregadas.Mesmosegregadaselasparticipamdaproduoereproduodoespao citadino. na produo de favelas, em terrenos pblicos ou privados invadidos, que os grupossociaisexcludostornam-seefetivamenteagentesmodeladores, produzindoseuprprioespaonamaioriadoscasosindependentementeea despeito dos outros agentes.A produo deste espao , antes demaisnada, umaformaderesistnciae,aomesmotempo,umaestratgiade sobrevivncia.Resistnciaesobrevivnciasadversidadesimpostasaos grupossociaisrecmexpulsosdocampoouprovenientesdereasurbanas submetidassoperaesderenovao,quelutampelodireitocidade(...) quesetraduzemnaapropriaodeterrenosusualmenteinadequadospara outros agentes de produo de espao, encostas ngremes e reas alagadias. (Corra, 2000, p.30) 38 6-Segregao scio-espacial Areflexosobreoprocessodesegregaoscio-espacialemNovaContagem requer que se proceda algumas consideraes a respeito do processo de configurao do espaourbanodasgrandescidades.imprescindvelanalisar,emespecial,as localizadasnospasessubdesenvolvidosnamedidaemquemantm,deacordocoma reviso bibliogrfica efetivada para confeco deste trabalho, grande similaridade. importante destacar, como faz Liberato (2007, p.16): Asegregaoscio-espacialdecorredadivisodoespaourbanoentre integrados(includos)eno-integrados(excludos),sendopercebidacom maiorclarezanasgrandescidadesporqueessas,almdeconcentraremo maiornmerodeindivduos,explicitammaisacentuadamenteaforma desigual com que o espao apropriado pelas classes sociais. Nesse sentido, asegregaoscio-espacialexistentenascidadesindicativadequeos locais,dentrodaarquiteturaurbana,sopreviamenteestabelecidose desigualmente apropriados.

Os estudos sobre segregao urbana no Brasil destacam os inmeros impactos da formadeorganizaoterritorialsobreavidadosmoradoresresidentesnasperiferias urbanasesobreaformacomoessesmoradoressepercebemeinteragemnosespaos pblicos.ComodestacamRibeiroeSantosJunior(2003,p.84),aestruturaurbana expressa[...]asdesigualdadesexistentesemumacidadeaoacessoaosrecursos materiaismaterializadosnoespaourbanoemrazodalocalizaoresidencialeda distribuio desigual dos equipamentos, servios urbanos, da renda monetria e do bem-estar-social.Masosefeitosdasegregaourbananosemanifestamtosomenteno acessodesigualaosbenseserviosdispostosnacidade.Adimensoimaterialdeste fenmeno tambm tem sido destacada como um fator importante para a compreenso de suasimplicaessobreaformadeintegraodosindivduosmoradoresdereas segregadasaotodosocialesobreadinmicacomunitriapresentenesteslugares (WACQUANT, 2001; KAZTMAN, 2001; RIBEIRO, 2005). Fatores como os efeitos da estigmatizao e discriminao das periferias urbanas, sobretudo das favelas, a perda de vnculossociais,aprojeodaautoimagemdomoradorcomoumindivduoinferior, entre outros, so fundamentais para a compreenso dos processos de segregao. Aosefazerumaabordagemsobreasegregaoscio-espacialemcidadesdos pasessubdesenvolvidosinevitvelassoci-laaquestodapobreza,desigualdadee exclusosocial,fenmenosfacilmentevisualizadosnoespaourbanodessas.Esses 39 espaossomarcadospelaimposiodoconfinamentoespacial.Esseseriaorecurso utilizado,comoargumentaLiberato(2007,p.68),paraimpedire/ouafastaros indivduos/gruposindesejveisevitandoassimacontaminaodoconjuntoda sociedade. Podemosdestacartambmcomoevidnciasdoprocessodeconfinamento espacial, resultante do processo de segregao scio-espacial em Nova Contagem, a sua prprialocalizaonoextremonoroestedoMunicpiodeContagem.Nestareaexiste apenasumaopodeacesso,aausnciadepostosdecombustveisnalocalidadeeno seuentorno,ograndendicedeviolnciaeasformasatravsdasquaiscombatidae que, por sua vez, tambm violenta. Dessaformaoespaourbanodasgrandescidadesconstrudoapartirdeum reconhecimentodaexistnciademundossocialmentedistantes.SegundoRibeiro (2005),oconjuntodemoradoresdasperiferiasurbanasrepresentadocomoum mundodiferente,ondeaorganizaosocialeaspraticassociaissofundadasem princpios, normas e valores diferentes dos de cima, dos brancos, dos letrados, dos ricos.Eassimcadavezseconstroemmaisbarreiraseconstrangimentosapopulao segregada, excluda, pobre e marginalizada para impedi-los de acessar a cidade formal.Asperiferiasurbanas,sobretudoaquelasondeasmarcasdasegregaoscio espacialsoresultantesdaperversaproduodoespao,comoocasodeNova Contagem, podem ser consideradas, como faz Kowarick (2000, p.43): Periferias...Noplural.IstoporquesomilharesdeVilaseJardins.Tambm porquesomuitodesiguais.Algumasmaisconsolidadasdopontodevista urbanstico;outrosverdadeirosacampamentosdestitudosdebenfeitorias bsicas.Mas,nogeral,comgravesproblemasdesaneamento,transporte, serviosmdicoseescolares,emzonasondepredominamcasas autoconstrudas, favelas ou o aluguel de um cubculo situado no fundo de um terreno em que se dividem as instalaessanitrias com outrosmoradores: ocortiodaperiferia.Zonasqueabrigampopulaopobre,ondesegastam vriashoraspordianopercursoentreacasaeotrabalho.Limperaa violncia.Dosbandidos,dapolcia,quandonodosjusticeiros.Lpor excelncia o mundo da subcidadania. DeacordocomCoura(2009),essaperceponoapenaspelofatodequea maior parte dos pobres esteja nas grandes cidades, mas, sobretudo, porque a reproduo detaisfenmenostambmsedpelareproduodaformaurbanadascondiesde vida.ParaLavinas(2002)areproduodapobrezaedadesigualdadesoaindamais visveisnoterritriodacidade,porquesomarcasindelveisdascontradiessociais que a reconfiguram e recontextualizam a cada momento.40 Apobrezanoespaourbanosurgecomoumproblemasocialmuitorelevante. DeacordocomLavinas(2002)essaquestosurgeconcomitantementeaosurgimento dasgrandescidades,quandoascondiesextremamenteprecriasdaspopulaes recm-chegadas do campo inspiravam preocupao e receio, suscitando intervenes do setorpblicoemproldainstituiodeumanovaordemsocial.Apobreza,ainda conformeaautorasurgenoselourbano,ondeocorredisputapelaapropriaodo espao, a luta pela moradia e pelo controle de novos locus de produo.OsprocessoseformasespaciaispelasquaisNovaContagemfoiproduzida contmtodososrequisitosparaconsider-lacomoresultantedasegregaoscio-espacialpromovidapeloEstadoeafirmadapelosgrupossociaisexcludosnasua apropriao.possvelconstatar,medianteumolharcrticoetendocomobaseas teorias do espao urbano, que elas se confirmam sob vrias formas. Podemos destacar em Nova Contagem, j segregado em relao a outros espaos dacidade,ocorreoutroprocessodeexclusoouumasegregaodossegregados (TorreseMarques,2001).Esseprocessopodeservisualizadopelalocalizaodos equipamentosurbanos(Figura18),existentesprincipalmentenasviaseentradas principaisdalocalidade.Conseqentemente,osmoradoresdasreaspoucoatendidas pelocomrcioeservios,quandoquenecessitamdestes,precisamfazerlongas caminhadas para acess-los.Destaca-setambmcomoevidnciadasegregaodossegregadosemNova Contagemasmelhoriaseminfraestruturarealizadasapenasnasreasprximasas principaisviasdeacesso.EnquantoissoasfavelaslocalizadasnointeriordeNova ContagemetodaaVilaEstaleiroencontram-secompletamenteabandonadasaprpria sorte,sujeitasavulnerabilidadedoterrenoeadiversosriscosscioambientais.Nesse sentido, Torres e Marques argumentam que:Amelhorianaofertadeequipamentoseserviosnoimpediuqueuma acentuadaparceladapopulaocontinuasseincludadeformamarginalno sistemaeconmicoesubmetidaspiorescondiesdeinfraestruturaem espaosquepodemtambmseremdenominadoscomohiperperiferias. Estes representariam asegregao da segregao por conta da ausncia de equipamentosedeofertadeservios,menorrendadapopulao,maior percursoparaotrabalhoealtavulnerabilidadeariscosambientais (inundaes, desmoronamentos, etc.). (Torres, H.G e Marques, E, 2001, p.7). 41 7-O lugar do jovem: Identidade e percepo Parainiciarosestudossobreapercepodejovensemreasegregada importante considerar os estudos sobre o espao geogrfico, produto das relaes entre homensedoshomenscomanaturezae,aomesmotempo,fatorqueinterferenas relaes que o constituram.TendoemvistaosprocessosdesegregaopresentesemNovaContagem interessa-nos saber como os atores sociais mais afetados por estes processos, sobretudo osjovensde14a20anos,vivenciamepercebemolugarsocialdequedispemea formacomosobrevivemnoespaourbanodesigual.Sabe-sequeosfenmenosda pobrezaedadesigualdadeinterferemdemodomaisefetivosobreavidade determinadossegmentosdasociedade,emespecialosjovens.Osjovenssoosatores sociaismaisaptosparalidarcomossignosculturaisdaatualidadeeostecnolgicos presentesnosespaosurbanos,mesmoconsiderandoqueacondiojuvenilnose estabelece como homognea existindo uma multiplicidade de fatores que interferem no modocomocadajovemirexperimentaromundoqueocerca(DAYRELL,2003; SPSITO, 1997; PERALVA, 1997; ABRAMO, 1994). O lugar para Santos (1997, p.227) o plano dovivido, onde se do as relaes cotidianas.Podemosconsiderartambmqueoespaoondeocorreaconstruodas identidadesindividuaisecoletivasdosmoradoresapartirdesuasvivencias, experincias,anterioresedoquevividonaquelelugar.Aidentidadeseformana relaoqueogrupodemoradoresestabelececomoespaoqueocupa,que,aoser apropriado,converte-seemterritrio,umavezquesoelesquecontrolam,emcerta medida, a disposio dos objetos e lutam para exercer a territorialidade. Almdisso,aconstruodaidentidadedojovem,conformedestacaCoura (2009, p.94) marcadopor mltiplas influncias, passando pela vivncia na escola, na vizinhana, at chegar s experincias apreendidas e incorporadas pelos/nos espaos da cidade.Odesafiodaconstruodasidentidadesjuvenis,principalmenteparaos adolescentes, passa tambm pelas dificuldades e at mesmo impossibilidades de acessar bensmateriaiseimateriaisedeatingirumamobilidadesocialsignificativanuma realidadeemque,cadavezmais,osexigemaisaptosparalidarcomadinmicado mercadodetrabalhoedasociedadedainformao.Osjovenstambmexperimentam 42 umdispositivoinvisveldecontroledecondutaqueoslimitanumlugarsocial. (COURA, 2009). Aformacomoosjovenssevemesereconhecemeomodocomotomama dimensodolugardemoradiacomoumelementoconstitutivodesuaidentidade, desencadeiaimpactosdiretossobreaapropriaodacidade,nodaapropriao estritamentedeumespaoououtro,masdacidadecomoumatotalidade,como possibilidade. (LEFEBVRE, 2006). Osjovensadolescentes,independentedareaonderesidemeserelacionam possuemumamaneiraparticulardeperceberoespaogeogrfico,principalmente aquelesdeseucotidiano.Suasimpressesdoespaocotidianosocarregadasde sentimentos,sejamelesdeatraoourepulso,positivosounegativos,agradveis (topoflia)oudeaverso(topofobia).ParaErickson(1972),naadolescnciaqueo indivduoviveummomentodecrise,masnosentidopositivo,ouseja,est adquirindonovosconhecimentos,sereestruturando,amadurecendo.Apontaainda,o autor, que esse perodo necessrio, podendo resultar em um ser mais saudvel, maduro e preparado para enfrentar a vida adulta. Emsetratandodejovensresidentesemreasegregada,viveressaimportante fase da vida torna-se um grande desafio. necessrio enfrentar a precariedade das suas condies de vida, fraca educao, dificuldades financeiras, fragilidade das relaes em seumicro-cosmo,especialmenteafamiliar,violncia,criminalidade,drogas,excluso social, preconceito (racial, social, cultural), etc.Paraanalisarcomoosjovensresidentesemreasegregadapercebeme apropriamoespaoonderesidemnecessriofazerumarevisodosestudosde percepo geogrfica. Essa rea da Geografia ganhou fora a partir da dcada de 1950, quandovriosgegrafos,assimcomopesquisadoresdereasafinsadotarama percepogeogrficacomofontedeanliseeestudo.DeacordocomStefanelloe Silveira(2005)aEscolaClssicaFrancesamuitoavanounosestudosdapercepo geogrfica,destacando-segrandesautorescomo:Deffontaines(1968),Gallais(1967), Rochefort (1961), Dardel (1950), Frmont (1968) e Collot (1950).AindadeacordocomStefanelloeSilveira(2005),essaabordagemdo conhecimentogeogrficoteveinicialmentesuasbasesnaGeografiaCulturaldeCarl Sauer, e ficou denominada num primeiro instante como de Geografia da Percepo e do 43 Comportamento,parasdepois,maistardeserefetivamenteconsagradadeGeografia Humanista. Foi a partir de Tuan (1974) que ocorre uma mudana no enfoque dos estudos da percepogeogrfica.SegundoHolzer(1993,p.120),osestudosrealizadosataquele momentodedicavam-seaanlisedosmundospessoais,sobretudoapartirdaanlise psicolgica, em particular da Teoria do Aprendizado de Piaget. ApartirdosestudosrealizadosporYi-FuTuan,conceitosimportantesforam definidos e comearam a ser utilizados nos estudos de percepo geogrfica, como os de topofilia e topofobia que, ainda segundo Holzer (2001, p.108), ajudaram a fundamentar a Geografia Humanista que apresenta como referncia epistemolgica a fenomenologia.Afenomenologia,deacordocomGiles(1975)definidacomosendouma filosofia que descreve um fenmeno a partir da percepo e experincia manifesta pelos indivduosqueconvivemcomofenmenonotempoenoespaoeointerpretam segundooseuconhecimentooudasuaconscincia.ParaSuertegaray(2005)a fenomenologiaumadimensoespacialdaexperinciahumanaquecomeadesdeo nascimento e que se torna cada vez mais ampla e complexa com o passar do tempo.De acordo com Tuan (1980, p.105) o termo topofilia consiste no elo afetivo que apessoaouumdeterminadogruposocialtmemrelaoaolugarouaoambiente fsico.Enquantoqueodetopofobiaestintrnsecoossentimentosdedesafetoe aversoqueaspessoastmparacomdeterminadoslugares,espaosoumesmo paisagens (Tuan, 1980). A paisagem, enquanto categoria de anlise geogrfica ser tambm abordada no presente estudo, visto a sua importncia histrica de dar unidade e identidade ao espao, sendo codificado de diferentes formas, cujas denominaes variam de paisagem urbana, rural, turstica, natural, entre outras (Cabral, 2000). Apercepodapaisagemnageografiacomumenterelacionadacomaporo doespaoapreendidapeloolharapaisagem,levandoemconsideraoocunho sensorialeesttico,almdaessencialidadedaviso.DeacordocomCabral(2006), perceberoespaonoselimitaemreceberpassivamenteosestmulosexternos,mas organiz-los e lhes atribuir sentido (interpretao).Como j fora destacado nos objetivos deste trabalho, seu foco principal avaliar qualapercepodosjovensentre14e20anosresidentesemNovaContagem. Conforme o Atlas de Desenvolvimento Humano da RMBH (2006), essa faixa de idade 44 corresponde a cerca de 32% da populao total da localidade em 2000, o que demonstra agrandeimportnciadoolhardojovemparaaapropriaodoespaodalocalidade. Para tanto foi elaboradoum questionrio contendo 12 questes abertas e fechadas, que foi aplicado, na forma de entrevista direta, junto amostra de 121 (cento e vinte e um) jovens.O objetivo da entrevista era o de caracterizar os jovens residentes na localidade, identificaroslugarestopoflicosetopofbicoseosespaospblicosparaosmesmos, bem como o(s) local (is) onde praticam atividades de lazer. Aps a realizao das entrevistas, as informaes coletadas foram codificadas e tabuladas utilizando o software SPSS. Este software permitiu apresentar as freqncias erealizaroscruzamentosdetodasasvariveisdasentrevistas,tornandopossvel analisar com maior eficcia os resultados mais relevantes para este trabalho. GRFICO 1 Sexo Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 45 GRFICO 2 Grupos de Idade (%) Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 Dentreoscentoevinteeumjovensentrevistados,sessentaenoveeradosexo masculino(57%).Muitosdestesjovens(principalmentedosexomasculino)foram abordados nas ruas da localidade, nas quadras e campos de futebol praticando esportes, em lan houses e praas. Grande parte dos jovens pesquisados tinha idades entre 14 e 16 anos (63,6%). GRFICO 3 Grupos de Idade x Nvel de Escolaridade (%) Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 46 importantedestacarqueentreosjovensentrevistadosnofoiencontrado nenhumqueestivessecursandooensinosuperior,fatoquedemonstraqueoacessoa Universidadeaindaumagrandebarreiraaserquebradapelosjovensresidentesem reas perifricas. GRFICO 4 Renda Familiar (%) Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 A renda familiar de mais de 54% dos jovens entrevistados , em mdia, de um a trssalriosmnimosmensais.Onmerodejovensquevivemcomapenasumsalrio mnimofoitambmmuitorepresentativo,cercade38%dototalpesquisado.Foi possvelidentificaraolongodasentrevistasqueosjovensquevivemcomaspiores rendas familiares residiam no Bairro Nova Contagem e Vilas Renascer e Estaleiro. J no Bairro Retiro os jovens informaram ter renda familiar entre trs e seis salrios mnimos mensais. 47 GRFICO 5 Ocupao (%)

Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 Cercade15%dosjovensentre14a18anos,amaioriadosexomasculino, trabalham para complementar a renda familiar. Destacam-se algumas profisses citadas, comoporexemplo:padeiro,repositordesupermercado,Officeboy,catadordesucata, etc.Salienta-sequedentreosentrevistados8,3%afirmamnoexerceremnenhuma atividade (estudo ou trabalho). GRFICO 6 Tempo de Residncia (%) Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 48 Dentreosentrevistados,amaioriadosjovenssempreresidiunaUPNova Contagem (63.6%). Dentre os jovens de 14 a 16 anos, cerca de 70% viveram toda a sua vidanoespaoestudado,informaoqueprovavelmenteinterfereemsuasnoes espaciais e tambm na forma de apropriao deste. GRFICO 7 Computador em casa (%)

Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 Atravsdasentrevistasfoipossvelverificarque,entreosjovenspesquisados, 49possuemcomputadore34acessamainternetdecasa.Esteresultadomostraque mesmo em meio a precariedade, algumas famlias conseguem adquirir um computador e at mesmo acessar a internet na prpria residncia. Foi possvel identificar que entre os jovensquenopossuemcomputadoremcasa,cercade56%utilizamocomputadore acessam a internet em lan houses, na casa de amigos e parentes. importante destacar tambmque11%dosjovensentrevistadosnoseinteressamporcomputadoreto pouco por internet,a maioria desses so do sexo masculino e renda familiar deat um salrio mnimo. Vulnerabilidade Social OsndicesdecriminalidadenascamadasmaisjovensdapopulaoBrasil, sobretudonasreasperifricasdasgrandescidades,crescememumamagnitude preocupante a cada dia. A ocorrncia de homicdios, furtos, trfico e consumo de drogas 49 tornam-se as principais manifestaes da violncia no espao. Dentre estas, a ocorrncia de homicdios nas camadas mais jovens merece relevante ateno, devido a sua grande complexidade, seja pelo aspecto quantitativo, mas principalmente pela complexidade da problemticaesuasconseqnciasdeordemdemogrfica,econmica,socialede sade. Oterritrioconstrudoapartirdaespacializaointeraoedasdiferenas sociais,econmicaseculturaisdapopulao.Emsetratandodosespaosurbanos perifricos,principalmenteaquelesondeasegregaoscio-espacialapresenta-sede uma forma mais perversa, essa interao entre a populao, de alguma forma afetada peloriscodaviolnciasocial.Dessainteraoresultariaavulnerabilidadedosjovens face violncia urbana. AocupaoespacialdeNovaContagemocorreudeformaexcludente, configurando a injustia social. Isso significou na reduo ou negao de oportunidades deinserosocialdapopulaonacidadeformal.Conseqentementequemtemmais dificuldade de acesso s oportunidades do ponto de vista social fica mais afastado delas do ponto de vista espacial. Nessesespaosdesvalorizados,comoocasodeNovaContagem,ondeo Estado e as instituies pblicas ainda se mostram ausentes e com atuao pouco eficaz queocrime(organizadoouno)seinstala.Asperiferiaspobresoferecema localizao privilegiada para a territorializao do crime, tornando o espao suscetvel a vulnerabilidade social. Os dados apresentados pela 38 Companhia da Polcia Militar, responsvel pela reaestudada,mostramqueentreosanosde2006atomsdeagostode2010os nmerosdecriminalidadedeumaformageralsopreocupantes.Almdisso,outra questoapontadapelosdadosaparticipaoconsiderveldosjovensentre14e20 anos no envolvimento com a violncia da localidade, seja como autor ou vtima. 50 GRFICO 8 Registro de ocorrncias policiais de homicdios tentados (%) Fonte: Armazm SIDS e Geo 38 Cia PM Esp. Adaptado por MENANDES, E., 2010 Osgrficos8e9mostramosnmerosdoshomicdiostentadoseconsumados nosquatrobairrosabordadosporesteestudo.possvelperceberquenoperodo apresentado,emambasastabelas,ototalderegistrosbemcomoaparticipaodos jovens da faixa etria estudada muito expressiva. Quanto s tentativas de homicdio, a o grfico 8 mostra que a participao dos jovens, em todos os anos ficou em torno de 35 a quase 50%.GRFICO 9 Registro de ocorrncias policiais de homicdios consumados (%) Fonte: Armazm SIDS e Geo 38 Cia PM Esp. Adaptado por MENANDES, E., 2010 51 Osdadosapresentadosdoshomicdiosconsumadosmostraramagrande vulnerabilidade e a vitimizao dos jovens residentes em Nova Contagem. Assim como nasocorrnciasdatabelaanterior,ototaldosregistrosdeassassinatosbastante expressivo,bemcomotambmaparticipaodosjovens,tantocomoautoresou vtimas. Destaca-se na tabela abaixo que no ano de 2006, o envolvimento de jovens de 14a20anosemhomicdiosfoiquase65%,umnmeromuitopreocupante.Nostrs anos seguintes esse ndice teve uma importante queda, mas ainda ficou em torno de 20 a 40%.Josdadosdejaneiroaagostode2010mostramumaumentoconsidervelda participao dos jovens nesse delito, acima de 40%. Ao longo das entrevistas realizadas foipossvelperceberagrandepreocupaodemuitosjovenscomoaumentodos homicdiosnaregio.Segundoeles,muitasdessasmortesestopossivelmenteligadas ao trfico de drogas. AsocorrnciaspoliciaisderoubosemNovaContagemtiveramnosltimos quatro anos apresentam uma ligeira queda. Foram registradas 83 ocorrncias no ano de 2006, contra 43 em 2009. Mas importante destacar que ndices de roubo de janeiro a agostode2010jestoprximosdototalregistradonoanoanterior.Quantoao envolvimentodosjovensentre14e20anos,osdadosapresentadosmostramqueesta variou entre 16 e 32% no perodo analisado. GRFICO 10 Registro de ocorrncias policiais de roubo (%) Fonte: Armazm SIDS e Geo 38 Cia PM Esp. Adaptado por MENANDES, E., 2010 52 Deacordocominformaesobtidasna38CompanhiadaPolciaMilitar,nos ltimos anos houve diminuio dos nmeros de roubos na localidade, mas a quantidade de jovens entre 14 e 20 anos envolvidos nesta modalidade de crime tem aumentado. GRFICO 11 Registro de ocorrncias policiais de trfico e consumo de drogas (%) Fonte: Armazm SIDS e Geo 38 Cia PM Esp. Adaptado por MENANDES, E., 2010 AsocorrnciaspoliciaisenvolvendootrficoeconsumodedrogasemNova Contagemapresentouentre2006e2010umtotalde308registros.Osdadostotais tiveramumgrandeaumentoentre2006e2008,eumareduonosltimosdoisanos. No que diz respeito ao envolvimento dos jovens entre 14 e 20 anos, os ndices esto em ligeiro aumento nos ltimos anos. Em 2006 o envolvimento deste grupo de idade foi de 17%. J entre janeiro e agosto de 2010, esse ndice subiu para mais de 42% do total de ocorrncias policiais.Osdadosapresentadosmostramarealidadedegrandepartedasperiferias brasileiras,naqualNovaContagemmaisdosespaosondeavulnerabilidade provocada pela violncia aumenta de forma acentuada.Para muitos jovens, as ocorrncias apontadas anteriormente j se tornaram parte de seu cotidiano, ou seja, no so vistas por eles como algo fora da realidade e, por mais incrduloquepossaparecer,comoinadequadoouanormal.Dentreessesdestaca-seo trfico,oconsumodedrogaseasmortesquedevidoagrandeocorrnciapassouaser 53 tratadacomoumfatobanal.Issoexplicaempartesoaumentodaparticipaodos jovens no total de ocorrncias policiais na rea estudada.Podemosconsiderarqueessesnmerosalarmantesdemonstramoresultadoda perversasomadapobreza,exclusosocial,segregaoscio-espacial,matuaodo Estadoedesvalorizaodaimportnciadojovemparaaconfiguraodeumterritrio fragmentado pela violncia.

O lazer na periferia: que lugar esse? O lazer um direito de todo cidado. De acordo com Camargo (1989) o tempo dequesepodelivrementedispor,umavezcumpridososafazereshabituais.Atividade praticada nesse tempo; divertimento, entretenimento, distrao e recreio. Porm o que se percebe, principalmente nas periferias das grandes cidades brasileiras a negao deste direito a populao. Cada vez mais possvel perceber nas grandes cidades brasileiras a existncia de umaindstriaculturaldolazer(cinemas,clubes,exposiesculturaisparques, shoppingscenters,teatros,etc),quevisamolucroeadiverso.Esteslugaresse encontramprincipalmente,emsuagrandemaioria,naszonasquecongregama populaodemaiorpoderaquisitivo,ficandoosmaispobres,abandonadossreas mais afastadas e segregadas. Afaltadeopodelazernasperiferiasdasgrandescidadesbrasileirasum grandecanalparaocrescimentodaviolncia.Osjovensconstantementeociosos canalizam sua energia e direcionam suas idias para atos criminosos de maior ou menor grau,oprocessodeviolnciaquasesempredesenvolvidoentreosjovensquevivem em bairros de baixa renda. Afaltadelazerumdosgrandesproblemasencontradosnaperiferia.Nos bairros de baixa renda, os jovens reclamam da falta de praas esportivas e at mesmo de nohaverasfaltonasruas.NocasodeNovaContagem,osjovensquequerembuscar outras alternativas de lazer que a localidade no dispe, e aqueles que no querem virar refns da televiso, so obrigados a se deslocar para outros bairros, como por exemplo, Eldorado e Sede do Municpio. No entanto, at isso difcil, pois o valor da tarifa dos nibus consideravelmente alta para a populao local, e o trajeto destes at os bairros podem consumir at uma hora de viagem.54 GRFICO 12 Sexo x Atividades de Lazer (%)

Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 GRFICO 13 Idade x Atividades de Lazer (%)

Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 Atravsdasentrevistasrealizadas,foipossvelperceberaexistnciadepoucos locais para atividades de lazer. Estes privilegiam principalmente a apropriao pelo sexo masculino,comoporexemplo,oscamposdefutebolequadras,citadopelagrande maioria dos jovens entrevistados, principalmente na faixa etria entre 14 e 16 anos. Este 55 fato explica a grande rejeio (GRAF. 12), principalmente do sexo feminino pela prtica de atividades de lazer no espao analisado. A prtica de atividades de lazer em Nova Contagem, como j havia sido possvel perceberatravsdasobservaesdecampo,maiornosexomasculino(87%)doque no feminino (GRF.11), principalmente entre os jovens de 14 e 16 anos de idade. Nesta faixaetria,sobretudonosexofeminino,sedestacaagranderejeioaprticade atividades de lazer, em cerca de 48% das jovens entrevistadas. Topofilia e Topofobia: De onde gosta e de onde no gosta um problema de identificao NoquedizrespeitoaosespaospblicosexistentesemNovaContagem,o resultadodasentrevistasdestacouqueestessofreqentados,deformarepresentativa porjovensdeambosossexos,pertencentefaixaetriaentre14e18anos.Deveser salientado,comodemonstraosdadoscoletados,quehconsidervelrejeio(30%) pela freqncia a locais pblicos, independentemente do sexo. AidentificaodosespaostopoflicosetopofbicosdeNovaContagem,o pontochavedesteestudofoifeitoatravsdeperguntassobreoslugaresqueosjovens mais gostavam, e tambm aqueles que no gostavam. As respostas obtidas foram muito diversasemtodaareaestudada,tendoimportantesvariaesporfaixaetria,sexo, rendafamiliareprincipalmentetempoderesidnciaentreosbairrosefavelas analisados. Osespaostopoflicosmaiscitadospelosjovensforamoscamposdefutebol, praas, escolas, feira popular e Organizaes No Governamentais (ONGs). Destaca-se tambmoconsidervelnmerodejovensentrevistadosquedisseramnogostarde nenhum lugar na rea estudada. 56 TABELA 5 Lugares Topoflicos LugaresAbs.% Praas 3629,8 Campo de Futebol 1512,4 Escolas 129,9 Feira 129,9 Casa 65 Igreja 54,1 Casa de Apoio 54,1 Chiara 43,3 Academia 32,5 Lan house 32,5 Quadras 21,7 Outros 54,1 Nenhum 129,9 No Respondeu 10,8 Total 121100,0 Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 Atabela5apresentaosprincipaislugarestopoflicosindicadospelosjovens entrevistadosemNovaContagem.Salienta-sequemuitosjovens,principalmente aqueles com faixa etria de 18 a 20 anos, disseram gostar de ficar em casa. Os espaos topoflicossediferememmuitoscasosporfaixaetria.Podemoscitarcomoexemplo que os cerca de 10% dos jovens entre 14 e 18 anos gostam da escola que estudam, das praas (principalmente da Praa do Coreto, a preferida tambm pelos jovens de 18 e 20 anos). As praas so tambm locais favoritos pelos jovens residentes a menos de 6 anos na localidade, com cerca de 25% de indicao. importante destacar a feira popular que funciona, nos finais de semana, na Rua pioCardosoolocalpreferidopelosjovensde18a20anos,principalmentepelas mulheres(13,5%).Entreosmoradorescommenosde3anosderesidnciaafeira tambm detm a preferncia.Os jovens entrevistados, independentemente de faixa etria apresentam motivos osmaisdiversosporgostardefreqentardeterminadoslocaisdobairro.Osmotivos maiscitadosforam:encontrarosamigos,diverso,prazeremfreqentar,prticade esporteselazer.Muitosjovensdestacaramnasentrevistasaspoucasopesdelazer disponveis na regio. Aquelas existentes sofrem com o vandalismo e a violncia. 57 Figura 24: Mapa dos lugares topoflicos nos Bairros Nova Contagem, Retiro e Vilas Estaleiro e Renascer. Fontes: Base Cartogrfica do IBGE, 2008. Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010. 58 A figura 24 indica os lugares topoflicos de Nova Contagem que receberam mais de dez indicaes nas entrevistas realizadas (Praas, Campos de Futebol, Escolas e Feira Popular).Asfigurasaseguirmostramalgunsdesteslugaresetambmoutroscitados pelos jovens. Figura 25: Praa do CoretoFigura 26: Praa do Retiro Fonte: Google maps Street view, 2009Fonte: MENANDES, E., 2010 Figura 27: Campo de Futebol do Bairro RetiroFigura 28: Campo de Futebol da Vila Estaleiro Fonte: MENANDES, E., 2010Fonte: MENANDES, E., 2010

Figuras 29: Feira popular do Bairro Nova Contagem Figura 30: Igreja Fonte: MENANDES, E., 2010 Fonte: MENANDES, E., 2010 59 Figura 31: Fachada da Escola MunicipalFigura 32: Casa de Apoio a criana Adolescente pio Cardoso. Fonte: MENANDES, E., 2010Fonte: MENANDES, E., 2010 Aexistnciadelugarestopofbicosestintimamenterelacionadaano apropriaodosespaosporgrupossociais.EstesespaosindesejadosemNova Contagempodemrelacionadosafaltadeidentidadecomolugaretambmcomo estigma territorial resultante do fato que esses jovens no se reconhecem e no querem sereconhecernoespaoondevivem.(COURA,2009,p.47).Taiscaractersticas topoflicas foram possveis de serem constatadas atravs dos resultados obtidos atravs das entrevistas realizadas junto amostra de jovens pesquisados. TABELA 6 Lugares Topofbicos

LugaresAbs.% Praas 1613,2 Rato Molhado 1411,6 Ruas 119,1 Escolas 108,3 Vila Renascer 86,6 Vila Estaleiro 75,8 Beira Campo 75,8 Penitenciria Nelson Hungria 65,0 Ip Amarelo 54,1 Vila Esperana 54,1 Favelas da regio 43,3 Bares 43,3 Pontos de droga 21,7 Outros 75,8 Nenhum 97,4 No respondeu 65,0 Total 121100 Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 60 Assimcomoverificadonoslugarestopoflicos,apraasforamtambmcitadas oslugaresmaistopofbicoscitadospelosjovensentrevistados.Emsegundolugar,o lugarmaiscitadofoiafaveladoRatoMolhado,localizadanointeriordoBairroNova Contagem. Estareferidafavela,este foi considerada desagradvel por jovens de toda a reaestudada,principalmentedosexofeminino(13,5%),estudantesdoensinomdio (20%), e com renda familiar de 1 a 3 SM (15%).DuranteasentrevistasvriosjovenscitaramoprprioBairroNovaContagem comolugartopofbico,masdevidoaindicaodeoutroslugareslocalizadosnoseu interior,estenofoilistadonaTABELA6.AtopofobiapeloBairroNovaContagem ocorreprincipalmenteentreosjovensentrevistadosnosBairroRetiroeVilaEstaleiro. Atopofobianalocalidadeocorretambmnasfavelas,bairros,escolas,algumasruas, Penitenciaria Nelson Hungria, dentre outros. importante destacar tambm que as escolas localizadas na rea estudada foram consideradaspormaisde8%dosjovensentrevistados,todoscomescolaridadeato ensino fundamental, como espaos topofbicos. Guimares(2002,p.19)argumentaquemuitasvezes,atopofiliaouuma topofobia queembora sejam distintas, no se excluem mutuamente, podendo verificar-seemrelaoaumaspaisagemaocorrnciadestesdoissentimentosopostos, concernentes a uma s pessoa, ou grupo cultural.IssoaconteceemNovaContagemcomasEscolasePraas,poisambosos espaossoconsideradosagradveisedesagradveisporgrandeparcelados entrevistados (Topofilia - 19,8%, Topofobia 16,6%). GRFICO 14 Por que no gostar dos lugares Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 61 OslugarestopofbicosexistentesemNovaContagemdemonstraramogrande pesoqueaviolnciatemcomofatorgeradordestes.Ametadedosjovensresidentes entrevistados(50%)disseramnogostardedeterminadoslugaresdevidoaviolncia presente nestes. A topofobia causada pela violncia maior no sexo feminino (55,8%), entre os jovensde16a18anos(56,3%),estudantesdoensinofundamental(51%),renda familiarde3a6salriosmnimos(66,7%)etempoderesidncianalocalidadedeat trs anos (80%). importantedestacartambmquecercade23%dosjovensentrevistados disseramnogostardecertoslugaresemNovaContagemdevidoafaltade agradabilidadedestes.Ressalta-setambmaexistnciadelugarestopofbicos resultantesdosdiversosproblemaseducacionaisetambmpelaausnciadeservios pblicos de qualidade. 62 Figura 33: Mapa dos lugares topofbicos nos Bairros Nova Contagem, Retiro e Vilas Estaleiro e Renascer Fontes: Base Cartogrfica do IBGE, 2008. Fonte: Pesquisa realizada no segundo semestre de 2010 63 Na figura 33 esto representados os lugares topofbicos que receberam mais de cinco indicaes pelos jovens entrevistados. As figuras abaixo apresentam alguns destes lugares.

Figura 34: Praa da Rua VC4 Figura 35: Rato Molhado Fonte: MENANDES, E., 2010Fonte: Google maps Street view, 2009 Figura 36: Rua HrculesFigura 37: Rua VL 30 Fonte: Google maps Street view, 2009Fonte: Google maps Street view, 2009 Figura 38: Vila RenascerFigura 39: Bairro Ip Amarelo Fonte: Google maps Street view, 2009Fonte: Google maps Street view, 2009 64 Figura 40: Beira Campo Figura 41: Vila Estaleiro Fonte: MENANDES, E., 2010 Fonte: Google maps Street view, 2009 Figura 42: Penitenciria Nelson Hungria Fonte: Site UAI, 2010 65 Consideraes finais Este trabalho procurouanalisar como os jovens de 14 a 20 anos, residentes nos BairrosNovaContagem,Retiro,VilaEstaleiroeRenascerpercebemoespaoonde residemeaelesprprios.Partiu-sedopressupostodequeoprocessodeocupaoda localidadefoimarcadapela