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Nova Friburgo | Grupo 1

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Este relatório de campo foi desenvolvido por alunos como um Trabalho de Conclusão do Curso Agentes Locais em Desastres Naturais.

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TRABALHO DE CAMPO

GRUPO 1 NOVA FRIBURGO

FELIPE SOUZA DE OLIVEIRA

ANDRÉ LUIZ FARIA VIEIRA

SANDRA MACÁRIO NOGUEIRA

RITA DE CÁSSIA SILVA

SONIA MARIA DA SILVA FARIA

ESTE MATERIAL ESTÁ EM VALIDAÇÃO, POR ESTA RAZÃO NÃO PODE SER DIVULGADO, COPIADO, ALTERADO, CITADO E IMPRESSO.

A IMPRESSÃO ESTÁ AUTORIZADA SOMENTE AO CORPO DOCENTE E DISCENTE.

GRUPO 1 NOVA FRIBURGO

REALIZAÇÃO

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

VICE-PRESIDÊNCIA DE AMBIENTE, PROMOÇÃO E ATENÇÃO À SAÚDE

CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES EM SAÚDE

ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA

ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVA

PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM VIGILÂNCIA EM SAÚDE E AMBIENTE

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE FARMÁCIA

DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA E ADMINISTRAÇÃO FARMACÊUTICA

PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

SECRETARIA MUNICIPAL DE CONSERVAÇÃO E SERVIÇOS PÚBLICOS

SUBSECRETARIA DE DEFESA CIVIL

APOIO

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL

SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL

DEPARTAMENTO DE MINIMIZAÇÃO DE DESASTRES

VERSÃO EM AVALIAÇÃO

TRABALHO DE CAMPO

GRUPO 1 NOVA FRIBURGO

ORGANIZADORES CARLOS MACHADO DE FREITAS E VÂNIA ROCHA

REVISÃO TÉCNICA MARCELO ABELHEIRA E VÂNIA ROCHA

PROGRAMAÇÃO VISUAL PRISCILA FREIRE

PROFESSORES TUTORES MARCELO ABELHEIRA E SUELI SCOTELARO PORTO

0

RELATÓRIO SOBRE O BAIRRO BARRACÃO DOS MENDES

Nova Friburgo

2013

1

Sumário

1. Introdução

2. Área de estudo

3. Ambiente Físico

3.1. Geologia e clima

3.2. Vegetação

3.3. Hidrografia

4. A tragédia de 2011 e os Impactos e Riscos no Meio Ambiente e na Saúde

5. Redução de Riscos: Resiliência Ambiental, Prevenção, Mitigação,

Preparação e Resposta

5.1 Recuperação de Áreas Degradadas

5.1.1 Capim Vetiver

5.1.2 Reflorestamento

5.2 Educação Ambiental

5.3 Educação e Saúde

5.4 Fiscalização

5.5 Mobilização Social

5.6 Capacitação

5.7 Sinais e Alerta

5.8 Ponto de Apoio e Abrigo

5.9 Infra - estrutura

5.10 Familiograma

5.11 Possíveis parceiros

6. Potencialidades

6.1 Agroecologia

6.2 Parque Estadual dos Três Picos

7. Anexos

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1. Introdução

O modelo de produção praticado com o uso excessivo de agrotóxicos,

desmatamentos, queimadas, na degradação do solo e na criação intensiva de animais,

favorece o aumento dos níveis de emissões de gases do efeito-estufa.

O cenário atual dos sistemas produtivos predominantes no meio rural constitui um

exemplo de paradigmas dessa situação gerada pela adoção de um estilo de

desenvolvimento socialmente excludente e ecologicamente predatório (SACHS, 2001).

Entre os 16 municípios que compõe a Região Serrana do Estado do Rio de

Janeiro, encontra-se Nova Friburgo, com uma população de aproximadamente 178 mil

habitantes (IBGE, 2010), sendo menos de 15% destes, são moradores da zona rural.

Localizada a 130 quilômetros da capital fluminense, possui o quarto IDH (Índice de

Desenvolvimento Humano) do Estado do Rio de Janeiro.

Nova Friburgo se destaca como um dos municípios mais conservados do

ecossistema Mata Atlântica do Brasil. De acordo com o INPE (Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais) e pela SOS Mata Atlântica, o município possui 40.614 hectares de

vegetação nativa, ou 44% do território.

Entre as conseqüências da colonização por imigrantes europeus no meio rural do

município, está o predomínio de pequenas propriedades rurais e de uso de mão de obra

familiar no processo de produção agrícola da região (Belo, 2009).

Nova Friburgo é hoje, um importante pólo de produção agrícola do Brasil e o

maior do Estado.

Em janeiro de 2011, a Região Serrana do Estado Rio de Janeiro sofreu com a

maior tragédia climática da história do país, foi o 8º maior deslizamento do mundo desde

1900, além das mais de 900 mortes, houve um prejuízo de mais de 1 bilhão de dólares

só no município de Nova Friburgo.

Nova Friburgo foi o município mais afetado por esse fenômeno, o volume intenso

das chuvas, desencadeou muitos deslizamentos de terra e o transbordamento de rios.

Diversos bairros foram devastados por esse desastre hidrológico. Em poucas horas,

choveu 182,8 mm em Nova Friburgo, provocando sérios danos, cerca de 70% do

território sofreu danos.

Após a catástrofe, houve uma quebra considerável da safra de verão de 2011, os

produtores perderam lavouras, infraestruturas e equipamentos. Uma caixa de tomate

chegou a custar R$ 100,00 dois dias após a tragédia.

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Os agricultores do município perderam cerca de 80% da produção, o local mais

prejudicado foi o 3º distrito, na bacia do Rio Grande, onde concentra cerca de 85% da

produção municipal.

Em algumas propriedades as erosões e as enxurradas foram tão intensas que

além da perda de plantações, a camada fértil do solo e do subsolo foi arrastada,

deixando as rochas expostas.

2. Área de estudo

A localidade escolhida para o trabalho é Barracão dos Mendes. Está situada no 3º

distrito de Nova Friburgo a aproximadamente 30 quilômetros a sudoeste do centro da

cidade e faz divisa com o município de Teresópolis. Seu acesso é pela estrada RJ 130,

que liga Nova Friburgo a Teresópolis. Existem três vias de acesso: pelo bairro Conquista

(principal acesso), por Alto dos Vieiras e por Fazenda Floresta.

Mapa 1 – Demonstração da área de estudo

O Barracão dos Mendes era um antigo ponto de comércio atacadista de

hortigranjeiros da região. Produtores cultivavam e transportavam seus produtos no

lombo de mulas e vinham vendê-los neste local. Hoje o barracão não existe mais, foi

substituído pelo mercado do produtor rural CEASA, próximo ao bairro.

A região na qual está localizado este bairro é caracterizada como área rural,

localizado em um vale a 1.000 metros de altitude, nele são desenvolvidas atividades

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agropecuárias, como o cultivo de vários alimentos, destacam-se a produção expressiva

de olerícolas (legumes e hortaliças) e a criação de animais. Devido à beleza cênica do

lugar, outra característica que atrai pessoas ao local é o ecoturismo, também chamado

de turismo rural.

A estrutura fundiária está baseada em pequenas propriedades rurais, a mão de

obra é exclusivamente familiar e a maioria dos produtores apenas possui o primeiro grau

de escolaridade.

A agricultura da área é caracterizada com agricultura de encostas em relevo

acidentado ou de margens dos corpos hídricos. Essa prática aliada aos altos índices

pluviométricos favorece a erosão dos solos e a inundação das áreas baixas.

Foi observado no bairro uma concentração na conformação urbana do espaço,

tais como vendas, bares, igrejas, ruas pavimentadas e iluminadas, mas que não é

classificada como uma área urbana.

Foto 1 – Barracão dos Mendes

Tabela com informações sobre a população

Número de famílias 260

Número de pessoas Aproximadamente 600

Acamados 8

Número de crianças até 7 anos 79

Idosos (+ 60 anos) 101

Gestantes 12

Hipertensos 118

Diabéticos 16

Pacientes em uso de psicotrópicos 46

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Tabela com outras informações sobre o território

Mercado 01

Escola 01

Creche -

Loja de material de construção 01

Loja agrícola 01

Farmácia 01

Posto de gasolina 01

Padaria 01

Bar 10

Igrejas 10

Coleta de Lixo Duas vezes por semana

Abastecimento de água 100% não tratada - Solução alternativa coletiva (poço e nascente)

Esgoto sanitário Algumas casas possuem fossas, mas a

maior parte lança seus resíduos líquidos

diretamente no rio.

Diversas áreas de vulnerabilidade foram observadas na pesquisa sendo possíveis

pontos de riscos de deslizamentos.

Centenas de pessoas estão expostas aos riscos associados aos desastres

naturais, principalmente por não haver uma ocupação regular do solo.

O bairro não possui um plano de contingência e tampouco uma infraestrutura

adequada, como sinais de alerta e ponto de apoio para enfrentar problemas de

enchentes e deslizamentos.

Constatamos junto à comunidade um princípio de ação contra os riscos, mas os

mesmos foram abortados pela Defesa Civil precocemente. Percebemos a falta de

conscientização da comunidade para os riscos existentes, pois pouco foi feito em termos

de estruturação para diminuir os prejuízos da comunidade.

Foi observado em campo a falta das APP’s (Áreas de Proteção Permanente),

estas são protegidas por lei e a vegetação destas áreas desempenham papéis

importantes na proteção dos recursos hídricos e evitam enchentes, assoreamentos e

controlam as erosões dos morros.

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Mapa 2 - Identificação, pela equipe de trabalho, das áreas de risco de deslizamento

(em vermelho)

Durante a pesquisa de trabalho de campo junto às agentes comunitárias de

saúde, constatamos problemas sérios relacionados ao alcoolismo, suicídio, doenças

sexualmente transmissíveis, casos de câncer, tráfico de drogas e alto índice de

acidentes envolvendo motocicletas.

Vários outros problemas vêem se agravando devido ao crescimento desordenado

que o bairro vem enfrentando, devido a migração de pessoas de outras localidades.

3. Ambiente Físico

3.1 Geologia e Clima

A área de estudo situa-se na Serra do Mar, caracterizada pelo seu relevo

montanhoso, com muitos afloramentos rochosos e pequenos vales, as altitudes variam

entre 900 metros e 2000 metros de altitude. A origem das montanhas se deve aos

eventos e influências dos eventos de separação dos continentes, denominada deriva

continental das tectônicas de placas. As rochas são basicamente do tipo Gnaisse e

Granito.

Os tipos de solo predominantes são: Latossolo Vermelho-Amarelo e húmico e

Podzólico Vermelho-Escuro. (RADAMBRASIL, 1983)

Recebe influências dos ventos úmidos oceânicos (massa tropical marítima), que

quando resfriam condensa-se e precipita-se em forma de chuva e nevoeiros.

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A região possui umidade relativa do ar em torno de 80%, a precipitação média

anual é entre 1.500 – 2400 mm. A temperatura varia entre 9 ºC a 27 ºC, com média

anual a 17,8 ºC (Brasil, 1970). O clima pode ser considerado tropical de altitude ou

subtropical, podendo atingir valores negativos no inverno e nas maiores altitudes

(BOHRER, 1998). Nos meses mais frios ocorrem geadas.

3.2 Vegetação

A região encontra-se inserida no bioma Mata Atlântica. A vegetação original é

constituída pela Floresta Ombrófila Densa Montana nas altitudes até 1600 metros de

altitude, essa floresta possui uma alta diversidade biológica.

A cobertura vegetal atual da região é constituída de pequenos fragmentos

remanescentes da Mata atlântica, por florestas secundárias, plantios florestais,

olericultura intensiva e pastagens em baixadas e em encostas.

Foto 2 – Pastagem e fragmento de Mata Atlântica em bom estágio de regeneração

3.3 Hidrografia

A micro bacia hidrográfica do rio Barracão dos Mendes faz parte da bacia

hidrográfica do Rio Grande, este nasce na Serra do Morro queimado no bairro de São

Lourenço, que está localizado há 10 quilômetros da área de estudo.

O Rio Grande sofre com as enxurradas, com as construções irregulares em suas

margens e com a poluição. Este recurso hídrico é um dos mais importantes mananciais

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de abastecimento de Nova Friburgo, cerca de 50 % da cidade é abastecida com suas

águas, além disso, quase toda a região serrana norte depende dele.

Mapa 3 - Bacias hidrográficas do município de Nova Friburgo. Imagem da Agenda 21 do

município. A bacia do Rio Grande está marcada na cor rosa.

4. A tragédia de 2011 e os Impactos e Riscos no Meio Ambiente e na Saúde

Barracão dos Mendes contabilizou 6 mortes e dezenas de desalojados e

desabrigados na catástrofe serrana de 2011.

Os condicionantes do meio físico e vegetal foram determinantes para as

suscetibilidades à erosão e pelas enchentes da região.

Em Barracão dos Mendes as práticas da agricultura e da pecuária foram se

expandindo dentro dos vales, a mata de encosta e a mata ciliar foi retirada. O

desmatamento provocado pela ocupação, inicialmente com o plantio de café, seguido

pela pecuária e cultivos agrícolas, favoreceu a formação dos processos erosivos.

O desmatamento impermeabiliza o solo e agrava os processos erosivos.

O resultado disso foi aumento de áreas degradadas nas encostas e o

assoreamento do rio que acabou ficando desprotegido.

A erosão que é um processo de deslocamento de terra ou de rochas de uma

superfície deixou profundas marcas nas encostas dos morros de Barracão dos Mendes.

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Foto 3 – Encosta onde havia uma residência que foi soterrada pela erosão (1 óbito)

O relatório do Ministério do Meio Ambiente para a catástrofe de 2011 na região

serrana argumenta que se o Código Florestal vigente fosse aplicado, os efeitos das

chuvas teriam sido significativamente menores.

Foto 4 – Morro com erosão

Foi possível observar que a camada mais fina do relevo constituída pelo solo e

algumas pedras se deslocaram da montanha e desceram feito uma avalanche. A grande

inclinação das montanhas fez com que o deslizamento atingisse grande velocidade,

aumentando a potência de destruição. Toneladas de pedras desceram pela calha do rio

e atingiram casas e lavouras.

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Foto 5 - Diversos cultivos agrícolas se perderam e algumas terras ficaram soterradas por pedras

de diversos tamanhos, ficando incultiváveis.

Fotos 6 e 7 - A topografia acidentada e as fortes chuvas causaram deslizamentos que desceram

em forma de cabeça d’água. O agricultor Manoel Onofre perdeu sua casa e seus bens materiais.

Felizmente conseguiu sair com vida junto a sua família.

Durante a calamidade foi vivenciado o mais puro conceito de resiliência no bairro.

Moradores de comunidades vizinhas (Três Picos, Baixada de Salinas e Salinas),

somaram um total de 115 voluntários que vieram ao socorro do Sr. Manoel Onofre e sua

família. Trabalharam e auxiliaram continuamente na retirada de entulhos, pedras e

lamas da sua residência e da sua propriedade.

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Devido às ajudas, hoje o agricultor está se recuperando e sua terra esta voltando

a reproduzir devido a resiliência humana e ambiental.

Foto 8 - Em alguns pontos do bairro foi possível visualizar moradias em áreas de risco. Todas

estas casas da foto acima estão servindo de moradia.

A região da bacia hidrográfica do rio Grande, na qual inclui a micro bacia do rio

Barracão dos Mendes, vem apresentando uma situação preocupante, destacando-se por

um elevado consumo de agrotóxicos, que pode chegar a 56 Kg por trabalhador durante

um ano. Este valor é um dos maiores do país, cinco vezes maior que a média da região

sudeste e dezoito vezes maior que a do estado (MOREIRA, 2002).

Pesquisas evidenciam que elevados níveis de contaminação humana e ambiental

foram encontrados nesta região, devido ao uso de agrotóxicos.

A maior parte dos agrotóxicos aplicados nas lavouras, cerca de 99%, não atingem

as “pragas’’ e acabam contaminando as águas subterrâneas, as águas superficiais, o

solo e a atmosfera. Este descontrole traz grandes riscos socioambientais.

Pesquisas demonstraram que dos 32 agrotóxicos mais utilizados na região, 17

sofrem restrições em outros países e oito deles já foram proibidos.

A contaminação dos recursos hídricos representa uma das preocupações mais

centrais e de alta relevância, devido ao fato deste recurso natural atuar como via de

transporte desses contaminantes para fora das áreas-fonte.

Se uma região agrícola, onde se utiliza extensivamente uma grande quantidade

ou variedade de agrotóxicos, estiver localizada próxima a um manancial hídrico que

abasteça uma cidade, a qualidade da água ali consumida estará seriamente sob o risco

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de uma contaminação, embora a mesma possa estar localizada bem distante da região

agrícola. Assim, não só a população residente próxima à área agrícola estaria exposta

aos agrotóxicos, mas também toda a população da cidade abastecida pela água

contaminada. (PERES; MOREIRA; DUBOIS, 2003, p.38).

A água utilizada na agricultura é captada do Rio Barracão. Sendo que o mesmo

recebe os dejetos da comunidade e do uso químico de agrotóxicos e fertilizantes.

Foto 9 – Água sendo captada do Rio Barracão

Segundo algumas pesquisas realizadas os principais efeitos associados à

exposição aos agrotóxicos são: efeitos neurotóxicos, carcinogênicos, mutagênicos,

dermatites de contato, lesões renais e hepáticas, arritmia cardíaca, alergia, asma

brônquica, fibrose pulmonar, irritação nas mucosas e danos ao sistema reprodutivo.

Em algumas visitas de campo feitas pelo grupo do trabalho, foi possível observar

que alguns agricultores desconhecem ou negligenciam o uso dos equipamentos de

proteção individual (EPI).

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5. Redução de Riscos: Resiliência Ambiental, Prevenção, Mitigação,

Preparação e Resposta

5.1 Recuperação de Áreas Degradadas

5.1.1 – Capim Vetiver

A espécie vegetal conhecida como Capim-Vetiver é uma ferramenta

biotecnológica para estabilizar encostas, surge como uma alternativa simples para

recuperar as áreas degradadas da região.

O Vetiver é uma espécie de colonização pioneira na sucessão ecológica dos

ecossistemas e tem grande capacidade de estabilizar e controlar a erosão. Tem grande

poder de adaptação e resiliência, sobrevive onde nenhuma espécie sobreviveria. Resiste

a extremos de pluviosidade (300 - 3.000 mm/ano), tolera extremos térmicos (-14 ºC a

+55 ºC), sobrevive a solos de baixa fertilidade e com valores extremos de pH (3-10).

Controla a erosão até mesmo em grandes inclinações. Suas raízes alcançam até 6

metros de extensão e tem uma força tensil equivalente a 1/3 da força tensil do aço

(fonte: http://sistemavetiver.blogspot.com.br/p/o-capim-vetiver.html).

5.1.2 – Reflorestamento

Para a recuperação das áreas degradadas que estão nas Áreas de Proteção

Permanente, principalmente a mata ciliar e os morros com inclinação maior que 45º, os

métodos mais indicados para a restauração e resiliência seria o plantio de mudas

nativas da Mata Atlântica, a semeadura ou a regeneração natural que se da pelo

abandono da área.

5.2 – Educação Ambiental

A educação ambiental poderá ser trabalhada de forma –’’formal” e “não formal” na

localidade. As questões da educação ambiental necessitam estar referentes aos

problemas locais.

O objetivo desta educação buscará o despertar da consciência para a

transformação da realidade, tanto em aspectos sociais quanto naturais.

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5.3 – Educação em Saúde

A educação em saúde na localidade poderá ser trabalhada para a prevenção de

doenças, a promoção da saúde e a qualidade de vida da população.

A saúde e o bem estar da população estão intimamente ligados ao ambiente, sem

uma terra saudável, cultivada de maneira adequada não é possível modificar o presente,

comprometendo ainda mais o futuro das comunidades e da sociedade.

5.4 – Fiscalização

Fiscalizar efetivamente o pleno cumprimento da legislação de uso e parcelamento

do solo na área rural.

As áreas de plantio e de habitação precisam ser definidas previamente de acordo

com a lei.

Desenvolver um plano de ação estratégico de controle da ocupação irregular com

base nas informações descritas no Plano Diretor Participativo, no Código Ambiental e na

lei do uso do solo e as leis ambientais vigentes.

Regularização de loteamentos clandestinos, desde que não estejam em áreas de

risco ou de interesse ambiental.

5.5 – Mobilização Social

A mobilização social é imprescindível para a prevenção e para a preparação.

Precisa ser um processo permanente de promoção e envolvimento coletivo.

A mobilização pode ser trabalhada como uma estratégia de estímulo a

participação integrada da população diante a uma situação de risco.

A localidade necessita estar mobilizada e preparada para se orientar e ter

respostas preliminares nas situações adversas.

As pessoas que moram em áreas de risco precisam estar conscientizadas das

necessidades de se dirigir a um ponto de apoio.

É preciso confeccionar panfletos com informações de interesse público, sobretudo

referente a desastres naturais em parceria com a associação de moradores.

5.6 – Capacitação

A capacitação é um instrumento relevante na preparação dos riscos, pois oferece

treinamento e conhecimento para moradores e profissionais de diversas áreas que

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poderão se integrar na prevenção ou na resposta de um evento que cause danos à

comunidade.

5.7 – Sinais de Alerta

O uso dos pluviômetros em áreas de risco auxilia o monitoramento dos alertas.

Os alertas poderão ser através de mensagens por celular ou por sirenes instaladas na

localidade.

Há necessidades de melhoria na telefonia e na comunicação do bairro.

É necessário estabelecer e formar um grupo de rádio amador para atuar como

multiplicadores de informação.

5.8 – Ponto de Apoio e Abrigo

É preciso estabelecer um ponto de apoio e um abrigo temporário com

infraestrutura adequada e que garanta condições de permanência.

O abrigo deve estar suprido de materiais (alimentos, água potável, artigos de

limpeza, cobertores, colchonetes etc) e de uma equipe integrada – coordenador, médico,

psicólogo, assistente social e outros profissionais.

O ponto de apoio precisa estar seguro e sinalizado para o seu acesso.

5.9 – Infraestrutura

Em relação ao escoamento das águas pluviais, constatamos que os bueiros e as

galerias onde o escoamento é feito, está insuficiente para suportar o volume das águas

e precisam de reparos e ampliação da rede com novas galerias.

Contenção de encostas que ameaçam estradas e residências.

5.10 – Familiograma

O familiograma é uma espécie de árvore genealógica muito útil que visualiza a

relação dos componentes (ancestrais e descendentes) da família dentro de um

determinado imóvel. Pode ser utilizado na prevenção e na resposta.

Começou recentemente a ser utilizado por Agentes Comunitários de Saúde de

áreas próximas a Barracão dos Mendes.

Exemplo:

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Foto 10 - Familiograma

Rua Augusto Mendes Casa nº 2

Número de moradores 6

Maria – 53 anos Hipertensa

João – 55 anos Diabético

Joana – 20 anos Cadeirante

Luís – 15 anos

Fátima – 18 anos

Fábio – 22 anos

5.11 – Possíveis parceiros

Governo Federal, Estadual e Municipal, Defesa Civil, Banco do Brasil, Conselho

dos agricultores familiares de Nova Friburgo (CONRURAL), EMATER, EMBRAPA,

ONG’s, Pesagro, Secretarias municipais (agricultura, cultura, meio ambiente, saúde e

trabalho).

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6. Potencialidades

6.1 Agroecologia

Diante dos impactos dos agrotóxicos e dos fertilizantes sintéticos no meio

ambiente e na saúde, é importante propor medidas mais sustentáveis de produção.

A forma convencional de agricultura praticada na região precisa passar por uma

transição mais sustentável e menos agressora.

Uma forma de produção mais equilibrada com o meio é a agroecologia, pois

respeita e conserva a biosfera. Proporciona uma melhor qualidade de vida as pessoas,

seja produtora ou consumidora.

Segundo a pesquisadora Ivani Guterres: "A abordagem agroecológica propõe

mudanças profundas nos sistemas e nas formas de produção. Na base dessa mudança

está a filosofia de se produzir de acordo com as leis e as dinâmicas que regem os

ecossistemas – uma produção com e não contra a natureza. Propõe, portanto, novas

formas de apropriação dos recursos naturais que devem se materializar em estratégias e

tecnologias condizentes com a filosofia-base".

6.2 Parque Estadual dos Três Picos

A localidade do estudo faz divisa com o Parque Estadual dos Três Picos. Com

46.000 hectares é a maior unidade de conservação do Estado do Rio de Janeiro.

Pesquisas realizadas constataram o maior índice de biodiversidade da Mata atlântica do

país neste parque.

O parque possui um dos afloramentos rochosos mais espetaculares do país.

A cerca de 10 Km de Barracão dos Mendes está a portaria do parque que da

acesso ao conjunto rochoso denominado Três Picos. A montanha denominada Pico

Maior de Friburgo com 2.310 metros de altitude é a maior rocha da Serra do Mar.

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Foto 11 – Três Picos

A unidade de conservação dos Três Picos oferece e representa um estímulo ao

desenvolvimento econômico da região, pois oferece o ecoturismo, já que há diversas

atrações e possibilidades de atividades, como caminhadas, escaladas e cachoeiras de

grande beleza.

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Referências:

Guterres, I. Agroecologia militante: contribuições de Enio Guterres. São Paulo:

Expressão Popular, 2006

Peres, F. É veneno ou é remédio? Os desafios da comunicação rural sobre

agrotóxicos [Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde

Pública/ Fundação Oswaldo Cruz; 1999.

RADAMBRASIL. Ministério de Minas e Energia (1983). Levantamento dos

Recursos Naturais.

AGENDA 21 – Nova Friburgo

www.vetiver.com

www.inea.rj.gov.br

www.codenf.com.br

SACHS, I. Repensando o crescimento econômico e o progresso social: o papel da

política. In: ABRAMOVAY, R. et al. (Orgs.). Razões ficções do desenvolvimento. São

Paulo: Editora Unesp/Edusp,2001.

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7. Anexo

Entrevistas:

Dra. Ana Carolina do PSF de Centenário (PSF mais próximo de Barracão

dos Mendes, onde os habitantes desta localidade vão se consultar).

Em visita ao campo o grupo constatou que a assistência médica não acontecia há

anos na comunidade. Agora com a sua incorporação ao programa de saúde da família

esse trabalho está sendo realizado.

Quais são as principais doenças constatadas?

Principais doenças:

Verminose: devido a falta de higiene

Depressão: aumento devido a falta de lazer e cresceu após a tragédia de 2011

Hipertensão

Alcoolismo

O que poderia ser feito para prevenir estes problemas?

Trabalhos educativos com a comunidade.

Já está sendo realizado um trabalho de caminhadas para idosos, doação de tênis

e palestras que ajudam a melhorar o conhecimento da população

Em relação a depressão a falta de profissionais prejudica a melhora desses

pacientes.

Existe o NASF um programa que envolvem profissionais como: fisioterapeutas,

psicólogos e outros, só que no momento em Friburgo não há esses profissionais no

Programa de saúde da Família.

Lílian Bento da Silveira, Diretora da Escola Municipal Cypriano da Veiga

Como diretora o que você observa de problemas na comunidade? O que a

secretaria de educação do município pode oferecer para minimizar estes males?

Resposta:

A escola tem matriculado 211 alunos, da educação infantil à educação de jovens

e adultos. Um problema frequente é a defasagem idade/série que é causado pela

repetência dos alunos e acabam ficando fora da idade recomendada. Para isso temos

aulas a noite.

Outro problema é o uso de agrotóxicos.

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A secretaria de educação do município disponibiliza um veículo para trazer e levar

os alunos. Também junto com a secretaria de saúde nos proporciona palestras sobre

drogas, sexualidade, higiene e cuidados com a saúde.

Jorge Pajuaba, presidente da Associação de Moradores de Barracão dos

Mendes

Qual o número de associados e quando se reúnem?

R: 186 associados, reunindo-se sempre na primeira quinta-feira do mês.

O que o Sr. acha que possa ser feito para melhorar o bairro?

R: Mais participação ativa dos produtores rurais e moradores, melhoria da

iluminação pública, quebra molas com melhor aferição, pontos de ônibus cobertos, mais

coletores de lixo, mais ronda policial.

Em relação a saúde, o que pode ser feito?

R: Construção de fossas sépticas e construção de uma ETE – Estação de

Tratamento de Esgoto.

Em relação a educação?

R: Falta creches e colégio de segundo grau

Esporte e Lazer?

R: Construção de quadra poli esportiva e praças

Em relação ao Meio ambiente?

R: A Associação de moradores de Barracão dos Mendes é membro atuante do

COMMAM – NF (conselho municipal do meio ambiente). Atua na agenda 21 local, no

CBT – comitê de bacias hidrográficas, coordenação da bacia do Rio Grande, Comperj,

INEA, Rio Rura, Defesa Civil e demais órgãos do setor.

Existe pluviômetro na região?

Existe sim, alguns estão instalados em algumas fazendas e temos materiais para

a confecção de mais.

A defesa cedeu alguns materiais como mochilas e lanterna, dos quais encontram-

se no posto de gasolina de Barracão dos Mendes.

Houve mudanças na característica da população após a catástrofe?

Sim houve mudança de comportamento, devido a perda de entes queridos, a

perdas totais da lavoura e materiais de uso e até mesmo de suas próprias casas. Há

uma angústia e dor sem ser abertamente declarada.

Este relatório de campo foi desenvolvido pelo corpo discente como um Trabalho de Conclusão do Curso Agente Locais em Desastres Naturais, um projeto-piloto que visa a formação de multiplicadores em ações de Saúde, Proteção e Defesa Civil.

Este material está em validação, por esta razão não pode ser divulgado, copiado, alterado, citado e impresso. A impressão está autorizada somente ao corpo docente e discente.

Esta publicação foi desenvolvida em 2013 no Estado Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

O curso ocorreu entre os meses junho e julho de 2013 na cidade de Petrópolis, RJ, Brasil.