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NOVAS METODOLOGIAS DE ENSINO DESENVOLVIDAS PELO PROJETO OFICINAS DE CIDADANIA II 1 André Luiz de Souza 2 Franciele Cristina Neves 3 Jaqueline Aparecida Alves dos Santos 4 Introdução O projeto de extensão Oficinas de Cidadania II: novas práticas pedagógicas para o envolvimento da juventude na busca de soluções para os problemas locais, subprograma apoio ás Licenciaturas, composto por professores e estudantes do curso de Ciências Sociais da Unioeste, prevê a realização de oficinas pedagógicas em escolas públicas de ensino médio. Estas oficinas, articuladas, preferencialmente, com o conteúdo curricular da disciplina de Sociologia, trabalham com os estudantes a construção de um conceito de “cidadania” que se estrutura a partir do exercício dos direitos civis, políticos e sociais. Atualmente ele envolve aproximadamente 250 estudantes em cinco escolas de nível médio da rede pública paranaense. As atividades são desenvolvidas em três municípios de baixo IDH, a saber; Diamante D`Oeste (IDH 0,709), São José das Palmeiras (IDH 0,724) e São Pedro do Iguaçu (IDH 0,732) e em duas escolas da periferia da cidade de Toledo. A metodologia adotada nas oficinas atende aos princípios do paradigma sócio- progressista de educação, o qual pressupõe uma prática educacional participativa, dialógica e democrática que aponte para a superação das práticas autoritárias incrustadas no interior das escolas. E que esteja comprometida com a construção de uma sociedade que tenha por base a afirmação da vida e da dignidade da pessoa humana. Antes de qualquer coisa, queremos deixar claro que desconfiamos de certas propostas de “educação para a cidadania” que encontramos embasando projetos dirigidos para a juventude. Esta desconfiança encontra razão na própria concepção de juventude, secundada 1 Projeto contemplado pelo programa Universidade Sem Fronteiras conforme editais SETI 04/2009, de agosto de 2009 e Edital SETI 07/2009 de 30 de outubro de 2009. Projeto de extensão, subprograma de Apoio ás Licenciaturas, do curso de Ciências Sociais da Unioeste/Campus Toledo. 2 Bolsista graduando do curso de Ciências Sociais/Licenciatura da Unioeste. 3 Bolsista graduando do curso de Ciências Sociais/Licenciatura da Unioeste. 4 Bolsista recém-formada em Ciências Sociais/Licenciatura.Aluna da Especialização de Planejamento Municipal e Políticas Públicas da Unioeste.

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NOVAS METODOLOGIAS DE ENSINO DESENVOLVIDAS PELO PROJETO OFICINAS DE CIDADANIA II1

André Luiz de Souza2

Franciele Cristina Neves3

Jaqueline Aparecida Alves dos Santos4

Introdução

O projeto de extensão Oficinas de Cidadania II: novas práticas pedagógicas para o

envolvimento da juventude na busca de soluções para os problemas locais, subprograma

apoio ás Licenciaturas, composto por professores e estudantes do curso de Ciências Sociais da

Unioeste, prevê a realização de oficinas pedagógicas em escolas públicas de ensino médio.

Estas oficinas, articuladas, preferencialmente, com o conteúdo curricular da disciplina de

Sociologia, trabalham com os estudantes a construção de um conceito de “cidadania” que se

estrutura a partir do exercício dos direitos civis, políticos e sociais.

Atualmente ele envolve aproximadamente 250 estudantes em cinco escolas de nível

médio da rede pública paranaense. As atividades são desenvolvidas em três municípios de

baixo IDH, a saber; Diamante D`Oeste (IDH 0,709), São José das Palmeiras (IDH 0,724) e

São Pedro do Iguaçu (IDH 0,732) e em duas escolas da periferia da cidade de Toledo.

A metodologia adotada nas oficinas atende aos princípios do paradigma sócio-

progressista de educação, o qual pressupõe uma prática educacional participativa, dialógica e

democrática que aponte para a superação das práticas autoritárias incrustadas no interior das

escolas. E que esteja comprometida com a construção de uma sociedade que tenha por base a

afirmação da vida e da dignidade da pessoa humana.

Antes de qualquer coisa, queremos deixar claro que desconfiamos de certas propostas

de “educação para a cidadania” que encontramos embasando projetos dirigidos para a

juventude. Esta desconfiança encontra razão na própria concepção de juventude, secundada

1Projeto contemplado pelo programa Universidade Sem Fronteiras conforme editais SETI 04/2009, de agosto de 2009 e Edital SETI 07/2009 de 30 de outubro de 2009. Projeto de extensão, subprograma de Apoio ás Licenciaturas, do curso de Ciências Sociais da Unioeste/Campus Toledo. 2 Bolsista graduando do curso de Ciências Sociais/Licenciatura da Unioeste.3 Bolsista graduando do curso de Ciências Sociais/Licenciatura da Unioeste.4 Bolsista recém-formada em Ciências Sociais/Licenciatura.Aluna da Especialização de Planejamento Municipal e Políticas Públicas da Unioeste.

por concepções igualmente distorcidas de educação e de cidadania que tais projetos esposam.

Em síntese, nosso projeto não pretende ser mais um projeto elaborado “para formar

cidadãos”, ou para “transformar jovens em cidadãos críticos ou conscientes”. Isto quer dizer

que procuramos nos distanciar de uma noção largamente difundida de que a juventude é um

“nada” para que possamos nos aproximar da idéia de que o jovem, antes de nosso contato e

antes mesmo de qualquer outra coisa, já é um cidadão.

Uma sociedade que nega o jovem admira-se César Muñoz, “não deseja sua

participação” e se priva do grande potencial que estes poderiam trazer como “portadores de

idéias frescas, novas, capazes de provocar a mudança” 5.

Existe certo desentendimento em torno de uma definição explicitada pela LDB em seu

artigo 2º. Lá está prescrito que a educação “tem por finalidade o pleno desenvolvimento do

educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Isto

parece ser o suficiente para os mais apressados inferirem que é obrigação da escola “formar o

cidadão”, caindo assim na armadilha de pretender “transformar o jovem de hoje no cidadão de

amanhã”. Quando a escola pretende transformar o jovem de hoje no cidadão de amanhã, ela

não nega apenas o jovem para converter os ânimos renovadores em forças de continuísmo.

Ela nega também a cidadania como uma prática social de sujeitos que têm o direito de ter

direitos6.

Nesse sentido a escola pode contribuir muito mais com o “preparo do jovem para o

exercício da cidadania” chamando-o para exercitar sua condição de cidadão, abrindo-se para

suas opiniões, aceitando suas vontades como tão importantes quanto às vontades de qualquer

outro membro da comunidade, convidando-o para participar ativamente e em condição de

igualdade, de todo processo decisório que molda o destino da comunidade escolar.

Em linhas gerais nossas oficinas são espaços coletivos nos quais algumas práticas

pedagógicas são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar aos jovens condições para que

ele se perceba cidadão; sujeito de direitos. O eixo estruturador da proposta está fundado em

uma visão de mundo que articula a problemática local com a global e que tem a cidadania não

apenas como principio ético abstrato, mas como condição capaz de materializar-se na forma

de direitos.

Objetivos

Entre os objetivos do projeto destacam-se:5 Ver “Pedagogia da Vida Cotidiana e Participação Cidadã”, onde este autor estende até a infância grande parte dos pressupostos que assumimos aqui acerca da juventude (MUÑOZ, 2004).6 Uso da expressão clássica de Arendt (1973).

a) Promover um estreitamento das relações entre a Universidade e a rede pública de educação

básica contribuindo para superar a barreira estabelecida entre a pesquisa acadêmica e o ensino

básico;

b) Instigar a participação ativa dos jovens na vida política das suas comunidades, no

reconhecimento de seus principais problemas, no debate público e na elaboração e

encaminhamento de propostas que visem à superação dos problemas locais;

c) Estimular o desenvolvimento do senso crítico da juventude por intermédio da reflexão

sobre sua própria realidade e da utilização do conhecimento científico sistematizado para a

superação do senso-comum;

d) Contribuir com o debate sobre os problemas que cercam a disciplina de Sociologia na

educação básica na atualidade, momento privilegiado, posto que recentemente a disciplina foi

tornada obrigatória nas três séries do ensino médio;

e) Incentivar a utilização de novas metodologias e práticas pedagógicas no ensino de

Sociologia no nível médio.

Métodos

As oficinas são estruturadas e desenvolvidas em quatro momentos pedagógicos

distintos. O primeiro momento, sensibilização, busca-se uma aproximação da turma com a

própria condição de sujeitos de direitos. O homem é um ser histórico e social, portanto, todos,

na sua diferença ou semelhança, no seu tempo e espaço, são sujeitos históricos que

constroem, partilham e participam de uma mesma história.

A construção da nossa história está inserida numa ordem dialética onde ao mesmo

tempo em que a sociedade constrói o indivíduo, o indivíduo constrói a sociedade.

Para este momento foi desenvolvida a oficina “Sujeito Histórico”. As atividades

realizadas por meio desta oficina têm como objetivo possibilitar aos estudantes o

reconhecimento como sujeitos históricos, da mesma forma que seus pais, avós, bisavós etc.

são ou foram. Sendo assim tem possibilidades e certas liberdades de escolherem e construírem

a história que desejam. Sistematização da oficina:

Passo1- Poema. O primeiro momento é realizado através da declamação de um trecho do

poema “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto. O poema relata a dura

trajetória de um migrante nordestino em busca de uma vida melhor no litoral. O trecho do

poema é declamado para que os estudantes compreendam o próximo passo da oficina, que

será o de contar quem são eles, assim como o autor conta quem é “Severino”.

Passo 2 - Trocar sua história com o grupo. O facilitador divide a turma aleatoriamente em

grupos de quatro ou cinco pessoas e solicita que cada um relate aos seus colegas de grupo a

história da sua família, quem são e de onde vieram, etc.

Passo 03 – Compartilhar as histórias. O facilitador deve pedir para que os grupos relatem para

todos na sala o que foi narrado em cada grupo. Quais as semelhanças entre as diferentes

histórias? Quais as especificidades? Alguém no grupo tinha uma história muito diferente dos

demais? O que há de comum em todas as histórias? (Nesse momento tudo que é falado pelos

estudantes é anotado no quadro).

Passo 04 – Quem somos nós? Os relatos permitem ao facilitador chamar a atenção da turma

para o fato de que todos possuem uma história de vida única e exclusiva: a história da sua

vida e da sua família. Mas também é possível observar que todos compartilham de uma

mesma história. Processos como migração, imigração em massa, urbanização,

desenvolvimento industrial, podem ser facilmente percebidos nos relatos das histórias dos

antepassados dos estudantes de todos os grupos. O mediador deve observar que todos nós

temos, compartilhamos, construímos e deixaremos uma história.

Passo 05- Quem sou eu? Nesse momento entregamos um questionário para cada estudante

responder, informando-os que o questionário é um método de pesquisa quantitativa utilizado

por diferentes áreas para levantar dados, e posteriormente tabularmos juntos e assim darmos

continuidade a construção da identidade da turma. Após todos terem preenchido os

questionários são trocados entre os alunos (não vai nome nos questionários) inicia-se a

tabulação ou contagem dos dados. O facilitador pede para quem tem a resposta assinalada

erguer o braço para que seja feita a contagem e assim até encerrar as questões. Os dados,

todos os que aparecem em maior e menor quantidade, são anotados em pequenos bonecos

feitos de cartolina, colados no quadro. Após encerrar a tabulação, o facilitador retira os

pequenos bonecos do quadro e coloca-os em um boneco grande, que ficará preenchido com os

bonequinhos.

Passo 6- Síntese. Nesse momento o boneco grande está preenchido e o facilitador lança as

seguintes questões? O que vocês entendem vendo os bonequinhos, que representam vocês

colados e preenchendo o boneco grande? Qual a relação que existe entre o boneco e o sujeito

histórico? Nesse momento vários comentários são feitos pelos estudantes, a síntese se

encaminha para a idéia de que cada um com suas particularidades, diversidade também faz

parte de uma coletividade (sociedade), convive com um grupo social, porque compartilha uma

identidade em comum com o grupo. E que todos independente das diferentes identidades são

sujeitos que estão agindo e construindo a história.

Imagem do boneco construído com estudantes do colégio Estadual Maracanã da

cidade de Toledo:

No segundo momento é feita uma introdução ao tema da cidadania buscando superar a

visão parcial e ingênua com a qual, normalmente, muitos jovens encaram os problemas que

afetam sua vida. Atualmente o termo “Cidadania” é utilizado com freqüência pela sociedade

com campanhas nacionais exibidas em mídia aberta. Quando se pergunta para um grupo de

pessoas o que é cidadania? Com segurança pode-se dizer que aparecem inúmeros equívocos a

respeito do tema. Isso se deve ao fato de que o termo “Cidadania” vem sendo trabalhado e

discutido de forma antagônica à sua essência.

Esse momento desenvolve-se em torno da oficina “A Mandala dos Direitos e

Deveres”. Esta tem como objetivo trabalhar o conceito de “Cidadania” da perspectiva do

exercício da mesma. Sistematização da oficina:

Passo 01 - Tempestade de idéias. Lançando a seguinte questão: O que é Cidadania? Inicia-se

então, uma tempestade de idéias. Em meio a várias questões e reflexões, surge a idéia por

parte dos estudantes que a cidadania consiste em Direitos e Deveres. A partir dessa idéia, é

lançada a seguinte pergunta: Quais são nossos direitos? Lançada essa questão, inicia-se uma

nova tempestade de idéias, agora referente aos direitos assegurados pela constituição

brasileira de 1988. Neste instante o facilitador entrega tarjetas de papel e canetas coloridas e

solicita à turma que procure anotar em cada tarjeta um direto que lembrarem. Conforme os

direitos vão sendo lembrados e anotados pelos estudantes, os mesmos se levantam, um de

cada vez, colam a tarjeta na lousa, para uma melhor visualização, e falam em voz alta o

direito anotado (algumas citações não constituem direitos; o facilitador deve expô-la ao

debate e buscar esclarecer o sentido de modo a encontrar o direito que melhor expressa a

intenção inicial do propositor).

Passo 02 – Organização das idéias. Depois de obtido um grande e variado número de direitos,

o facilitador deverá apresentar à turma alguns conceitos exemplificando com direitos citados.

Conforme foi observado por T. H. Marshall (1967), os direitos não são todos do mesmo

gênero. Alguns deles remetem às liberdades dos homens, condição essencial para a própria

existência humana (Ex: direito de ir e vir, liberdade de crença etc.); estes são os “Direitos

Civis”. Outros dizem respeito à atividade política, ou seja, são direitos que garantem aos

cidadãos a participação em todas as decisões que, de alguma forma, lhes dizem respeito (Ex:

direito de votar, de livre associação etc.); trata-se dos “Direitos Políticos”. Outros ainda

comportam uma noção de materialidade por se referirem a determinados “bens sociais” (Ex:

saúde, educação, moradia etc.); são os “Direitos Sociais”. Feita essa conceituação, o

facilitador pede ajuda da turma para organizar todo o conjunto de direitos citados

anteriormente conforme os três grupos sugeridos. Posteriormente, num primeiro momento é

colocado o centro da mandala no chão da sala e proposto aos estudantes a reflexão de quais,

dentre todos os direitos mencionados anteriormente, constituem os direitos de liberdade. Ao

mesmo tempo, foi proposto que cada estudante, mediante esclarecimento e/ou argumentação

pegassem as tarjetas do quadro que correspondiam os direitos de liberdade e colocassem no

centro da mandala. Posteriormente foi posto no centro da sala outra parte da mandala que

representava os direitos de participação e por último a parte que representava os direitos de

bens. Esse instante se revela extremamente rico, pois a classificação de alguns direitos suscita

debates intensos.

Passo 03 – Síntese. Uma vez classificados todos os direitos citados, o facilitador deve

solicitar à turma que procure verificar que relação é possível ser feita entre os três conjuntos

de direitos que obteve. Normalmente se percebe uma relação temporal entre os conjuntos que

aponta para a seqüência histórica relatada por Marshall. Ao facilitador cabe efetuar uma

síntese que aponte para a idéia de que a noção de cidadania é histórica e chegando à conclusão

que há uma inter-relação entre os direitos. Os direitos de liberdade geram os direitos de

participação, que por sua vez conquistam e asseguram os direitos de bens e que o efetivo

exercício dos direitos ao seu tempo leva a novas gerações de direitos, processo que

historicamente vem ampliando a noção de cidadania.

Passo 04 – Deveres. Neste momento, o facilitador faz a seguinte pergunta para os alunos:

“Quais são os deveres do cidadão?”. Inicia-se uma nova tempestade de idéias sobre essa

questão. Deve-se ressaltar que neste momento alguns direitos são confundidos como deveres

(ex. trabalho, educação, etc.), cabe ao facilitador abrir a reflexão para que seja explicado que

antes de termos qualquer dever, temos o direito (ex. voto). O voto é um direito, porém por ele

ser obrigatório a partir dos 18 anos muitas vezes é colocado como um dever também, mas

antes do voto ser um dever, ele é um direito constituído que remete a participação do cidadão

nas escolhas políticas. Conclui-se a oficina com uma reflexão a respeito da frase: “O maior

dever do cidadão é garantir o direito dos outros cidadãos” da filósofa francesa Simone Weil

(1909-1943).

Sabemos que não vivemos isolados do mundo, pois somos seres sociais pertencentes a

vários grupos dentro de uma sociedade. Por pertencer a uma sociedade pautada nos princípios

da democracia, somos todos portadores de direitos e deveres, o que nos torna cidadãos.

Somos responsáveis pela garantia dos direitos dos outros cidadãos, uma vez que a

participação de cada um é fundamental para manter, modificar, reivindicar ou criar políticas

públicas que possibilitem melhor qualidade de vida para todos.

Imagem da mandala desenvolvida e utilizada pelo projeto nas escolas:

No terceiro momento, refletindo a cidade que temos e a cidade que queremos, a

oficina “Jogo da Cidadania” têm como objetivo de forma descontraída, proporcionar aos

estudantes, através de um jogo fictício, a identificação e reflexão acerca dos problemas sociais

que eles encontram cotidianamente. Problemas esses relacionados à saúde, educação, meio

ambiente, alimentação, segurança, lazer, entre outros. E, através dessa identificação e

reflexão, enaltecer a participação como meio importante para a resolução dos respectivos

problemas. Sistematização da oficina:

O “Jogo da Cidadania” é um jogo de tabuleiro com dados7, semelhante ao tradicional

“banco imobiliário”, onde cada jogador anda, ao ritmo dos dados, pelos caminhos de uma

cidade fictícia, recebendo salário, pagando impostos e taxas e enfrentando problemas como o

desemprego, a falta de médicos nos postos de saúde ou a falta de professores nas escolas, o

excesso de agrotóxicos nos alimentos, a destinação do lixo nos centros urbanos etc. O jogador

é penalizado sempre que cai em uma casa que apresente um destes problemas. As penas são

do tipo multas em “dinheiro”, ou retroceder no tabuleiro, ou ficarem rodadas sem jogar etc.

Durante o transcorrer do jogo um jogador pode ficar desempregado, ou ficar sem dinheiro

para pagar suas taxas tornado-se um pedinte. Em um determinado instante do jogo, os

cidadãos se reúnem em um “conselho” ou um “fórum da cidade”, quando todos têm a

oportunidade de propor soluções para alguns problemas. Mas para isso eles precisam

rapidamente chegar a um entendimento sobre qual problema solucionar com os recursos

disponíveis, vindo do pagamento de impostos durante o jogo.

O andamento do jogo, bem como o comportamento dos jogadores, constitui farto

material para debate após o seu encerramento. Inumeráveis acontecimentos se colocam para o

facilitador retomar em uma discussão. Esta deve seguir na direção de evidenciar o fato de que

nas cidades não estamos sozinhos e que somos responsáveis também pelos destinos dos

outros cidadãos, uma vez que a participação de cada um é fundamental para a solução dos

problemas da cidade.

Nesse momento os facilitadores sugerem a cada turma à organização de um “fórum”

para debater e propor soluções para os problemas reais enfrentados pela comunidade, não se

trata de impor uma tarefa ao grupo, mas propor uma atividade. As turmas não mobilizadas

para a realização dos “fóruns” devem continuar desenvolvendo as atividades em campo e na

sala de aula e propor outros encaminhamentos, tais como a elaboração de abaixo-assinados, a

publicação de manifestos etc.

Imagem do tabuleiro do “Jogo da Cidadania”:

7 Adaptado a partir de “A Tale of Two Cities”, atividade constante no Campass: A Manual on Human Rights with Young People do Council of Europe Human Rigths Education Youth Resources disponível em http://www.coe.int/compass.

Diferentes temas são trabalhados em forma de oficinas. No momento o projeto está

discutindo e desenvolvendo uma oficina referente à temática da representação política, através

de um jogo que criamos e intitulamos de “A-Tua-Ação”.

No último momento, os participantes compartilham suas experiências, informações e

reflexões, resultado das pesquisas de campo, avançando na direção da construção de um

entendimento coletivo acerca da sua própria realidade que escape ao senso comum. Este

momento, que aqui é tido como privilegiado para a construção do conhecimento cientifico

sobre a realidade e se caracteriza pela pesquisa e pelo debate.

Discussões e resultados

Os resultados esperados, bem como os obtidos até o momento são difíceis de

quantificação, porém espera-se que o projeto de extensão mobilize e instrumentalize cerca de

250 alunos da rede estadual de nível médio na defesa dos direitos de cidadania, maior

engajamento com a política, enfrentamento dos problemas sociais de suas comunidades

locais, o desenvolvimento do senso crítico e da participação dos jovens estudantes em sala de

aula e na escola como um todo. De outro, o projeto se propõe a desenvolver novas

metodologias para o ensino de Sociologia no nível médio, integrando nesse sentido,

professores da rede estadual de ensino e estagiários da prática de ensino.

Devemos observar finalmente que por se tratar de um projeto em andamento,

alterações na estrutura e no desenvolvimento das oficinas são sugeridas a cada momento e

muitas delas são imediatamente incorporadas.

Conclusão

O projeto tem se revelado um grande laboratório de desenvolvimento de metodologias

para o ensino da Sociologia em escolas de ensino médio capazes de contribuir para a

formação de um cidadão crítico e participativo através da reflexão sobre a realidade local

convertida em temas para análise em sala de aula.

Referências Bibliográficas

ARENDT, H. Crises da República. São Paulo: Perspectiva, 1973.

CANDAU, Vera Maria; ET AL. Tecendo a Cidadania: oficinas pedagógicas de direitos

humanos. Petrópolis: Vozes, 1995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

GADOTTI, Moacir. Concepção Dialética de Educação. São Paulo: Cortez, 1983

MUÑOZ, César. Pedagogia da Vida Cotidiana e Participação Cidadã. São Paulo: Cortez,

2004.