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Nesse diapasão, a Obra que tenho o privilégio de prefaciar é indiscutivel-mente, um dos melhores e mais originais trabalhos que pude ler e reler no âmbito do Direito das Novas Tecnologias e o Ordenamento Constitu-

cional, com a profundidade e reflexão da chamada experiência comparada. Na realidade, rompe com o lugar comum, explora a fundamentação e a concretude dos direitos fundamentais na era cibernética e da inteligência artificial, apresenta novos paradigmas e indica caminhos para o Direito e para a humanidade. Com efeito, os autores desta Obra Coletiva não merecem felicitações por mera corte-sia. Têm excelentes lemes para sua navegação. Guardam, entre si, respeitadas as diferenças e as escolas, o viés de suporte argumentativo e problematizante da temática proposta. As reflexões giram, nessa trilha, em torno: a) dos Direitos Fundamentais na era da Internet, com dados estatísticos e históricos emblemá-ticos; b) da novidade do marco civil da internet no Brasil e os reflexos decor-rentes da chamada proibição da prova ilícita; c) do regime de responsabilidade aplicável aos provedores de serviços de internet e o Decreto Legislativo Italiano 70/2003; d) da natureza jurídica e do regime jurídico da criptomoeda (moeda di-gital - BITCOIN), com pesquisa bibliográfica focada em estudos realizados pelo Banco Central Europeu e pela Receita Federal do Brasil, com a apresentação dos cenários de regulação no Brasil e no exterior; e) das transformações mundiais decorrentes das sociedades em rede; f) dos processos democráticos (sociedade civil e sociedade política) na era do Big Data; g) do uso da internet como forma de captação de recursos para projeto(s) ou empreendimento(s) – crowdfunding; h) da publicidade das funções extrajudiciais, na era digital, em confronto com o direito à privacidade da pessoa; i) da chamada economia della condivisione (comparação entre a Europa e a América Latina; j) inclusão digital e eleições; k) da esfera pública global ( internet) e o papel atual dos parlamentos no processo legislativo; l) da arbitragem no comércio exterior; m) do uso de aplicativos; n) e dos impactos do mundo virtual no tecido social e no sistema tributário nacional.”

Reynaldo Soares da Fonseca novas tecnologias

e o ordenamento constitucional

O direito das

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O direito das novas tecnologias e o ordenamento constitucional

Joaquim Portes de Cerqueira César Luca Mezzetti • Marcelo Figueiredo

[ o r g s . ]

1. Os direitos fundamentais na era da internetCarlos Roberto Siqueira Castro

2. O princípio da proibição da prova ilícita e o marco civil da internetElias Marques de Medeiros Neto

3. Secondary liability of isps and the italian legislative decree 70/2003Elisa Bertolini

4. Bitcoin: natureza jurídica e regime jurídico aplicável no BrasilFelipe Falcone Perruci

5. Las transformaciones del mundo las sociedades en red: Movimientos sociales, cultura, educación, entretenimiento, servicios públicos y tecnologíaJulio César Ortiz Gutiérrez

6. Democratização da sociedade através da inclusão digital: mecanismos de participação política e social, e as eleiçõesLaura Nathalie Hernández Rivera Raquel Cavalcanti Ramo Machado

7. Crowdfunding de participação Equity crowdfundingMaria Eugênia Reis Finkelstein

8. A publicidade das funções extrajudiciais, o uso das novas tecnologias e o direito à privacidade da pessoaPatricia André de Camargo Ferraz

9. Diritti e libertà alla prova dell’economia della condivisione: Un confronto tra europa e america latinadi Pier Luigi Petrillo Cecilia Honorati

10. Novas tecnologias e reflexões sobre o sistema tributário nacional a partir da teoria do discursoReynaldo Soares da Fonseca Rafael Campos Soares da Fonseca

11. Verso un diritto “a rete”? Spunti di riflessione sulla base delle questioni e ragioni della decisione urgendaRiccardo Perona

12. Internet e processi democratici: dalla partecipazione politica al costituzionalismo dei Big Datadi Romano Orrù e Marcello Salerno

13. Internet como esfera pública global e o papel atual dos parlamentos no processo legislativoRubens Beçak

João Victor Rozatti Longhi

14. El derecho a la privacidad en la era digitalSergio Díaz Ricci

15. Arbitragem no Comércio Eletrônico: A regulamentação do e-commerce e os meios eletrônicos para solução de conflitos no BrasilThomas Law

16. Sobre o impacto da era digital na sociedadeWillis Santiago Guerra Filho

ISBN 978-65-5059-014-7

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Joaquim Portes de Cerqueira César Luca Mezzetti • Marcelo Figueiredo

[ o r g s . ]

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Catalogação na Publicação (CIP)Ficha catalográfica

O direito das novas tecnologias e o ordenamento constitucional: uma experi-ência comparada. CÉSAR, Joaquim Portes de Cerqueira; MEZZETTI, Luca; FIGUEIREDO, Marcelo. [Orgs.] --Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2019.322 p.

ISBN: 978-65-5059-014-7

1. Direito. 2. Direito comercial. 3. Direito Internacional. I. Título.

CDD342.2 CDU340

Plácido Arraes

Tales Leon de Marco

Bárbara Rodrigues

Nathalia Torres

Bárbara Rodrigues

Editor Chefe

Editor

Produtora Editorial

Capa, projeto gráfico

Diagramação

Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia do Grupo D’Plácido.

W W W . E D I T O R A D P L A C I D O . C O M . B R

Belo HorizonteAv. Brasil, 1843,

Savassi, Belo Horizonte, MGTel.: 31 3261 2801

CEP 30140-007

São PauloAv. Paulista, 2444, 8º andar, cj 82Bela Vista – São Paulo, SPCEP 01310-933

Copyright © 2019, D’Plácido Editora.Copyright © 2019, Os autores.

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J o a q u i m P o r t e s d e C e r q u e i ra C é s a r

Graduado pela Universidade de Brasília, com habilitação em Direito Financeiro e Tributário; Especialista em Direito Constitucional pela Universidade de Brasília; Especialista em Direito Econômico pela Universidade de Brasília; Mestre em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Doutor em Direito Constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi Diretor Jurídico do Banco do Brasil S/A. Atualmente exerce a

Advocacia em São Paulo e Brasília-DF.

Lu c a M e z z e t t i

Professor titular de Direito Constitucional, Direitos Humanos e Direito dos Países Islâmicos na Faculdade de Direito da Universidade de Bolonha e Diretor científico da Escola Superior de Estudos Jurídicos da Universidade de Bolonha.

M a r c e l o d e O l i v e i ra Fa u s t o F i g u e i r e d o S a n t o s

Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1982), Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1989) e Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1997). Atualmente é professor associado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Tem experiência na área de Direito Público, com ênfase em Direito

Constitucional e Administrativo.

os coordenadores

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Prefácio 11Reyna ldo Soa res da Fonseca

Apresentação 17Joaqu im Por tes de Cerque i r a Césa r

Luca Mezze t t i

Marce lo F igue i redo

1. Os direitos fundamentais na era da internet 19Car los Rober to S ique i ra C as t ro

2. O princípio da proibição da prova ilícita e o marco civil da internet 33E l i a s Marques de Mede i ro s Net o

3. Secondary liability of ISPS and the italian legislative decree 70/2003 45E l i sa Be r to l i n i

4. Bitcoin: natureza jurídica e regime jurídico aplicável no Brasil 61Fe l ipe Fa l cone Pe r ruc i

sumário

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5. Las transformaciones del mundo las sociedades en red: movimientos sociales, cultura, educación, entretenimiento, servicios públicos y tecnología 87Ju l io Césa r Or t i z Gut ié r rez

6. Democratização da sociedade através da inclusão digital: mecanismos de participação política e social, e as eleições 103Lau ra Nat ha l i e Her nández R i v e r a

Raque l Cava l can t i Ramo Machad o

7. Crowdfunding de participação: equity crowdfunding 125Mar ia Eugên ia Re i s F inke l s te in

8. A publicidade das funções extrajudiciais, o uso das novas tecnologias e o direito à privacidade da pessoa 137Pat r i c i a André de Camargo Fe r r az

9. Diritti e libertà alla prova dell’economia della condivisione: un confronto tra Europa e America Latina 157d i P ie r Lu ig i Pe t r i l l o

Cec i l i a Honora t i

10. Novas tecnologias e reflexões sobre o sistema tributário nacional a partir da teoria do discurso 189Reyna ldo Soa res da Fonseca

Ra fae l Campos Soa res da Fo nseca

11. Verso un diritto “a rete”? Spunti di riflessione sulla base delle questioni e ragioni della decisione urgenda 203R icca rdo Pe rona

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12. Internet e processi democratici: dalla partecipazione politica al costituzionalismo dei Big Data 211d i Romano Or rù

Marce l lo Sa le r no

13. Internet como esfera pública global e o papel atual dos parlamentos no processo legislativo 239Rubens Beçak

João V i c to r Roza t t i Longh i

14. El derecho a la privacidad en la era digital 253Serg io D íaz R i cc i

15. Arbitragem no comércio eletrônico: a regulamentação do e-commerce e os meios eletrônicos para solução de conflitos no Brasil 273Thomas Law

16. Sobre o impacto da era digital na sociedade 301W i l l i s San t i ago Guer ra F i l ho

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Honrou-me o convite para prefaciar o livro “O DIREITO DAS NOVAS TECNOLOGIAS E O ORDENAMENTO CONSTITUCIONAL: UMA EXPERIÊNCIA COMPARADA”, organizado pelos brilhantes juristas Luca Mezzetti, Marcelo Figueiredo e Joaquim Portes de Cerqueira César, com alicerce no conteúdo científico explorado no 8º Congresso Constitucional Brasileiro-Ítalo-Ibero Americano, que foi promovido pelo consagrado Instituto Brasileiro de Ciências Jurídicas.

Com o progresso tecnológico representado pela evolução dos meios de comunicação e a possibilidade inédita de conexão entre os integrantes de uma mesma comunidade política sobre determinada questão pública em tempo redu-zido, independentemente das dificuldades do multiculturalismo e das diferentes concepções de vida na esfera pública, o regime democrático encontra desafios de atualização em contexto hodierno, especialmente quanto à efetivação dos direitos e garantias fundamentais na era digital.

Com efeito, nada mais oportuno do que pensarmos tal temática a partir da teoria das gerações de direitos.

Decerto, Paulo Bonavides foi responsável, a partir de atualizações ao seu “Curso de Direito Constitucional” posteriormente ao advento da Constituição de 1988, por espraiar essa terminologia nas discussões constitucionalistas no Bra-sil, concebendo a institucionalização dos direitos fundamentais por intermédio de três gerações sucessivas traduzíveis em processo cumulativo e qualitativo em prol de uma universalidade material e concreta. Com isso, tornou-se corrente nos manuais de direito constitucional e incorporado à gramática constitucionalista.

No entanto, é também certo que a inspiração a esse sistema geracional de direitos decorreu de reflexão do Diretor da Unesco, o francês Karel Va-sak, colaborador de expoentes do direito internacional como René Cassin, ao refletir na década de 1970 sobre a luta de trinta anos relacionada à força normativa da Declaração Universal dos Direitos Humanos aliada aos Pactos

prefácio

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Internacionais de Direitos Civis e Políticos e dos Direitos Econômicos, So-ciais e Culturais que advieram em 1966. Além da aula inaugural dos cursos do Instituto Internacional dos Direitos do Homem ocorrida no ano de 1979 em Estrasburgo referida por Bonavides1, a tríplice divisão dos direitos fundamentais encontrara divulgação dois anos antes em revista da Unesco de circulação limitada.2 Depois disso, recebeu achegas críticas por parte da doutrina internacionalista em decorrência de imprecisão temporal e técnica da concepção do acolhimento e transformação de demandas individuais e coletivas em normas fundamentais.

De todo modo, no escólio de Bonavides, a sequência histórica da gradativa institucionalização dos direitos fundamentais reside na tríade liberdade, igualda-de e fraternidade. Assim, a primeira geração consiste em direitos de liberdade, versados como civis e políticos na prática da proteção dos direitos humanos. Logo, “têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico; enfim, são direitos de resistência ou de oposição perante o Estado.”3 Na esteira de um Estado liberal, a função do Estado é não ingerir na esfera de exercício da liberdade individual, por exemplo quanto à disposição da vida ou do patrimônio.

Por sua vez, o constitucionalismo social e o problema da normatividade dos direitos sociais deram origem à segunda geração, cujo foco é a realização da igualdade material e referenciam o Estado social, tendo em conta que possuem um componente necessariamente prestacional por parte do Poder Público.

Por fim, teríamos no atual quadrante histórico a terceira geração de direitos fundamentais centrada na noção de fraternidade ou de solidariedade. Seriam os direitos ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e de comunicação. Por possuírem titularidade dispersa, difusa ou coletiva, a vinculatividade e a função do Estado são diversas, fugindo ao figurino das gerações anteriores.

Os direitos fundamentais das três gerações, nessa teoria classificatória, diferenciam-se estruturalmente entre si, em virtude do elemento preponderante que lhes compõem: enquanto os direitos de Primeira Geração exigem um não agir do Estado (direito negativo), a imple-mentação dos direitos de Segunda Geração justamente está centrada na prestação estatal (direito à prestação). Por sua vez, a nota diferen-

1 VASAK, Karel. For the Third Generation of Human Rights: the rights of solidarity. Aula Inaugural da Décima Sessão de Estudo do Instituto Internacional de Direitos Humanos. Estrasburgo, julho de 1979.

2 VASAK, Karel. A 30-year struggle. The sustained efforts to give force of law to the Universal Declaration of Human Rights. The Unesco Courier, Paris, n. 10, 1997, p. 29-32.

3 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 20 ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 563-564.

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ciatória inovadora dos direitos de Terceira Geração reside no caráter difuso, inexistente nas estruturas normativas anteriores. São, portanto, estruturalmente diferentes esses grupos de direito.

A classificação, pois, ocorre não somente em virtude de os direitos não serem previstos na geração anterior, mas porque os direitos emergentes trazem, estruturalmente, algum elemento preponderante ausente nos direitos anteriormente classificados. Se assim não fosse, cada surgimento de determinado direito novo deveria estar acom-panhado da formulação de nova geração dos direitos fundamentais, num movimento infinito e improdutivo cientificamente.4

Com o fenômeno político e econômico da globalização, boa parte da doutrina passa a formular por uma quarta e até uma quinta gerações de direitos fundamentais, sendo que aquela é vertida no direito à democracia, à informação e ao pluralismo, à luz de uma dimensão máxima de universalidade.5

Na precisa objeção de Cançado Trindade já encontram-se as principais críticas à classificação geracional dos direitos, pois diz que “a fantasia nefasta das chamadas ‘gerações de direitos’, histórica e juridicamente infundada, na medida em que alimentou uma visão fragmentada ou atomizada dos direitos humanos, já se encontra definitivamente desmistificada.”6

Nessa perspectiva, critica-se a mistificação dessas categorias jurídicas como obstáculo a sua efetivação, visto a imprecisão conceitual das gerações de direitos, do mesmo modo a eficácia vinculativa das diferentes gerações daria margem para a baixa efetividade dos direitos sociais, econômicos e culturais, dependentes mais fortemente de provisões orçamentárias. A sucessão histórica apontada a partir da tríade revolucionária seria igualmente imprecisa, basta ver o desenvolvimento do direito internacional do trabalho ou diversos outros organismos internacionais vocacionados à proteção internacional de direitos considerados de segunda geração. Por fim, a moderna dogmática dos direitos fundamentais propugna por uma visão unitária desse plexo de normas, evitan-do-se a atomização aludida pelo juiz da Corte Internacional de Justiça.

Seja como for, além da ubiquidade do conceito de gerações de direito nos manuais de direito constitucional, houve expressa acolhida, em alguma medida, do sistema geracional de direitos fundamentais. Por sua significati-vidade refere-se à ementa do MS 22.164, de relatoria do Ministro Celso de Mello, que ao tratar de desapropriação-sanção com assento no art. 184 da Constituição em caso envolvendo imóvel situado no pantanal mato-gros-

4 SCAFER, Jairo. Classificação dos Direitos Fundamentais: do sistema geracional ao sistema unitário: uma proposta de compreensão. 2 ed. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 2013, p. 22-23.

5 BONAVIDES, op. cit., p. 571.6 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos.

v. 1. Porto Alegre: Fabris, 1997, p. 390.

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sense submetido à reforma agrária, localizou-se o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado na terceira geração referente aos direitos de fraternidade ou solidariedade.

Portanto, o caminho mais produtivo parece ser o reconhecimento da importância das classificações dos direitos fundamentais em gerações como produto de seu tempo, mesmo que já superada pela robusta teorização dos direitos fundamentais na literatura pátria e estrangeira nos últimos tempos.

Nesse escopo mais limitado, depreende-se melhor a realidade constitu-cional brasileira, pois conforme Fachin e Machado Filho: “[é] curioso observar que, enquanto para os críticos da teoria das gerações dos direitos as sucessivas gerações representavam um enfraquecimento da normatividade dos direitos humanos, na historiografia constitucional dos primeiros anos da nova consti-tuição passava-se o contrário.”7

No âmbito do Direito Comparado, a realidade não é diferente.Em resumo, podemos recordar:

a) Primeira geração/dimensão: está atrelada aos direitos individuais que solidificam as liberdades individuais, impondo limites ou limi-tações ao poder de legislar do Estado. Influência do Direito Natural e dos iluministas.

b) Segunda geração/dimensão: os direitos sociais, culturais e eco-nômicos decorrentes dos direitos da primeira geração e exigindo do Estado uma postura mais ativa (solidificação da igualdade).

c) Terceira geração/dimensão: são os direitos fundamentais direcio-nados ao destino da humanidade, relacionados à paz, ao meio ambiente e a sua proteção e conservação, ao desenvolvimento econômico e à defesa do consumidor ( consolidação da fraternidade).

d) Quarta geração/dimensão: são os direitos relacionados à mani-pulação genética. Podemos citar, a título exemplificativo, as discussões sobre a biotecnologia e a bioengenharia, tratando de assuntos referentes à vida e à morte, a partir do pressuposto da ética.

e) Quinta geração/dimensão: representada pelos direitos oriun-dos da realidade virtual, demonstrando a crescente preocupação do sistema constitucional como propagação e desenvolvimento do Direito Eletrônico na atualidade. Envolve, assim, a internacionali-zação da jurisdição constitucional em virtude do rompimento das fronteiras físicas por meio da internet, também conhecida como “Grande Rede – WWW”.

7 FACHIN, Luiz Edson; MACHADO FILHO, Roberto Dalledone. Direito Comum da Hu-manidade. In: TOFFOLI, José Antonio Dias (org.). 30 Anos da Constituição Brasileira: democracia, direitos fundamentais e instituições. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 579.

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Diante desse contexto, os temas propostos nesta Obra instigam o debate crítico sobre a relação declaração x efetividade dos direitos fundamentais no mundo globalizado e virtual.

Nesse diapasão, a Obra que tenho o privilégio de prefaciar é indiscu-tivelmente, um dos melhores e mais originais trabalhos que pude ler e reler no âmbito do Direito das Novas Tecnologias e o Ordenamento Constitu-cional, com a profundidade e reflexão da chamada experiência comparada. Na realidade, rompe com o lugar comum, explora a fundamentação e a concretude dos direitos fundamentais na era cibernética e da inteligência artificial, apresenta novos paradigmas e indica caminhos para o Direito e para a humanidade.

Com efeito, os autores desta Obra Coletiva não merecem felicitações por mera cortesia. Têm excelentes lemes para sua navegação. Guardam, entre si, respeitadas as diferenças e as escolas, o viés de suporte argumentativo e proble-matizante da temática proposta.

As reflexões giram, nessa trilha, em torno: a) dos Direitos Fundamentais na era da Internet, com dados estatísticos e históricos emblemáticos; b) da novidade do marco civil da internet no Brasil e os reflexos decorrentes da chamada proi-bição da prova ilícita; c) do regime de responsabilidade aplicável aos provedores de serviços de internet e o Decreto Legislativo Italiano 70/2003; d) da natureza jurídica e do regime jurídico da criptomoeda (moeda digital - BITCOIN), com pesquisa bibliográfica focada em estudos realizados pelo Banco Central Europeu e pela Receita Federal do Brasil, com a apresentação dos cenários de regulação no Brasil e no exterior; e) das transformações mundiais decorrentes das sociedades em rede; f) dos processos democráticos (sociedade civil e sociedade política) na era do Big Data; g) do uso da internet como forma de captação de recursos para projeto(s) ou empreendimento(s) – crowdfunding; h) da publicidade das funções extrajudiciais, na era digital, em confronto com o direito à priva-cidade da pessoa; i) da chamada economia della condivisione (comparação entre a Europa e a América Latina; j) inclusão digital e eleições; k) da esfera pública global ( internet) e o papel atual dos parlamentos no processo legislativo; l) da arbitragem no comércio exterior; m) do uso de aplicativos; n) e dos impactos do mundo virtual no tecido social e no sistema tributário nacional.

Portanto, a transição de paradigmas inerentes às novas configurações sociais na sociedade digital provoca diferentes olhares, demonstrando o alto grau de impacto não apenas nas questões tecnológicas, mas essencialmente no Direito e nas relações humanas (mutações sociais).

Aproveitem, pois, os textos instigantes dos coautores sempre em busca de novas qualidades, como advertiu Camões:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

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Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Reynaldo Soares da Fonseca

Ministro do Superior Tribunal de Justiça; Professor da Universidade Federal do Maranhão; Doutor em Direito Constitucional – FADISP;

Mestre em Direito Público - PUC/SP; Especialista em Direito Penal e Processual Penal – UNB; Especialista em Direito

Constitucional – UFMA/UFSC

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É com muita satisfação que apresentamos essa obra. Estão de parabéns o Instituto Brasileiro de Ciências Jurídicas - IBCJ e o IBRACHINA seus par-ceiros neste empreendimento cultural que congregou vinte e três professores brasileiros, argentinos, colombianos e italianos em São Paulo para discutir de modo aprofundado as novas tecnologias e o Direito.

É lugar comum ouvirmos que passamos por uma verdadeira revolução tecnológica nas últimas décadas. Talvez não tenhamos a necessária consciência do que isso tem significado para a Humanidade nos diversos campos do co-nhecimento, na ciência, na medicina, no progresso tecnológico, nos meios de comunicação, nos hábitos mesmo das pessoas em todo o mundo.

Como é natural, o jurista, o professor de direito, o (a) estudioso (a), acaba focando sua análise nas relações jurídicas que esse fenômeno nos traz. Assim, a internet, a era digital, os direitos fundamentais, as novas tecnologias, a publi-cidade, são alguns dos temas tratados pelos ilustres professores (as) convidados para contribuir nesta obra.

Essa verdadeira revolução tecnológica- para alguns a terceira da humanida-de- por que passamos no século XXI afeta 7.5 bilhões de pessoas. A gigantesca base de dados de que dispomos para consulta facilita e muito a vida de milhões de usuários. O estudo avançado de algoritmos antecipa as probabilidades e resultados de inúmeros processos, inclusive judiciais.

Como conviver e interagir diante de tantas modificações que a tec-nologia nos aporta diariamente? Não há negar as inúmeras vantagens que o desenvolvimento tecnológico nos traz. Do mesmo modo, que as tecnologias de informação e de comunicação podem também gerar sérios riscos para o normal funcionamento dos Estados, para a segurança dos cidadãos e também para o exercício dos direitos e liberdades fundamentais.

Um dos efeitos negativos que todos conhecemos do fenômeno é sua incidência no âmbito da criminalidade e da delinquência.

apresentação

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A internet e as redes estão on line, vinte e quatro horas por dia. Estamos conec-tados todo o tempo com inúmeros “universos” virtuais. O “digital” não é somente um segmento ou um setor, mas uma série de atividades horizontais e transversais.

A internet permite estabelecer uma série de relações, das amorosas às co-merciais e empresariais. Tudo hoje pode ser conectado, copiado, estudado, desde os eletrodomésticos aos automóveis. É o fenômeno da internet total em todas as coisas e domínios. Como compreender essa rede complexa de tecnologias, como entender o que é o ciberespaço, o fenômeno das redes que encurtam o universo e expandem as possibilidades entre os homens e mulheres.

Esta obra ajuda-nos nessa difícil tarefa de compreender nosso tempo.

Joaquim Portes de Cerqueira César

Luca Mezzetti

Marcelo Figueiredo

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Nesse diapasão, a Obra que tenho o privilégio de prefaciar é indiscutivel-mente, um dos melhores e mais originais trabalhos que pude ler e reler no âmbito do Direito das Novas Tecnologias e o Ordenamento Constitu-

cional, com a profundidade e reflexão da chamada experiência comparada. Na realidade, rompe com o lugar comum, explora a fundamentação e a concretude dos direitos fundamentais na era cibernética e da inteligência artificial, apresenta novos paradigmas e indica caminhos para o Direito e para a humanidade. Com efeito, os autores desta Obra Coletiva não merecem felicitações por mera corte-sia. Têm excelentes lemes para sua navegação. Guardam, entre si, respeitadas as diferenças e as escolas, o viés de suporte argumentativo e problematizante da temática proposta. As reflexões giram, nessa trilha, em torno: a) dos Direitos Fundamentais na era da Internet, com dados estatísticos e históricos emblemá-ticos; b) da novidade do marco civil da internet no Brasil e os reflexos decor-rentes da chamada proibição da prova ilícita; c) do regime de responsabilidade aplicável aos provedores de serviços de internet e o Decreto Legislativo Italiano 70/2003; d) da natureza jurídica e do regime jurídico da criptomoeda (moeda di-gital - BITCOIN), com pesquisa bibliográfica focada em estudos realizados pelo Banco Central Europeu e pela Receita Federal do Brasil, com a apresentação dos cenários de regulação no Brasil e no exterior; e) das transformações mundiais decorrentes das sociedades em rede; f) dos processos democráticos (sociedade civil e sociedade política) na era do Big Data; g) do uso da internet como forma de captação de recursos para projeto(s) ou empreendimento(s) – crowdfunding; h) da publicidade das funções extrajudiciais, na era digital, em confronto com o direito à privacidade da pessoa; i) da chamada economia della condivisione (comparação entre a Europa e a América Latina; j) inclusão digital e eleições; k) da esfera pública global ( internet) e o papel atual dos parlamentos no processo legislativo; l) da arbitragem no comércio exterior; m) do uso de aplicativos; n) e dos impactos do mundo virtual no tecido social e no sistema tributário nacional.”

Reynaldo Soares da Fonseca

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O direito das novas tecnologias e o ordenamento constitucional

Joaquim Portes de Cerqueira César Luca Mezzetti • Marcelo Figueiredo

[ o r g s . ]

1. Os direitos fundamentais na era da internetCarlos Roberto Siqueira Castro

2. O princípio da proibição da prova ilícita e o marco civil da internetElias Marques de Medeiros Neto

3. Secondary liability of isps and the italian legislative decree 70/2003Elisa Bertolini

4. Bitcoin: natureza jurídica e regime jurídico aplicável no BrasilFelipe Falcone Perruci

5. Las transformaciones del mundo las sociedades en red: Movimientos sociales, cultura, educación, entretenimiento, servicios públicos y tecnologíaJulio César Ortiz Gutiérrez

6. Democratização da sociedade através da inclusão digital: mecanismos de participação política e social, e as eleiçõesLaura Nathalie Hernández Rivera Raquel Cavalcanti Ramo Machado

7. Crowdfunding de participação Equity crowdfundingMaria Eugênia Reis Finkelstein

8. A publicidade das funções extrajudiciais, o uso das novas tecnologias e o direito à privacidade da pessoaPatricia André de Camargo Ferraz

9. Diritti e libertà alla prova dell’economia della condivisione: Un confronto tra europa e america latinadi Pier Luigi Petrillo Cecilia Honorati

10. Novas tecnologias e reflexões sobre o sistema tributário nacional a partir da teoria do discursoReynaldo Soares da Fonseca Rafael Campos Soares da Fonseca

11. Verso un diritto “a rete”? Spunti di riflessione sulla base delle questioni e ragioni della decisione urgendaRiccardo Perona

12. Internet e processi democratici: dalla partecipazione politica al costituzionalismo dei Big Datadi Romano Orrù e Marcello Salerno

13. Internet como esfera pública global e o papel atual dos parlamentos no processo legislativoRubens Beçak

João Victor Rozatti Longhi

14. El derecho a la privacidad en la era digitalSergio Díaz Ricci

15. Arbitragem no Comércio Eletrônico: A regulamentação do e-commerce e os meios eletrônicos para solução de conflitos no BrasilThomas Law

16. Sobre o impacto da era digital na sociedadeWillis Santiago Guerra Filho

ISBN 978-65-5059-014-7