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• TEMA • Deus chama todos e cada um em particular | pág. 143 Falar de vocações não é (só) falar de padres Entrevista ao Reitor do Seminário | Jubileus Sacerdotais | Diácono Marco Brites ANO XIV • NÚMERO 41 • MAIO / AGOSTO • 2006 • Novo Bispo de Leiria-Fátima | pág. 91 Diocese acolhe calorosamente D. António Marto documentos pastorais • notícias • santuário de fátima • serviços e movimentos • tema • reflexões • doc

Novo Bispo de Leiria-Fátima | pág. 91 Diocese acolhe ... · iniciativas e programação, para os contactos indicados nesta ficha técnica. ... Festival da Canção Jovem 109 A Diocese

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• TEMA • Deus chama todos e cada um em particular | pág. 143

Falar de vocações não é (só) falar de padresEntrevista ao Reitor do Seminário | Jubileus Sacerdotais | Diácono Marco Brites

ANO XIV • NÚMERO 41 • MAIO / AGOSTO • 2006

• Novo Bispo de Leiria-Fátima | pág. 91

Diocese acolhe calorosamenteD. António Marto

documentos pastorais • notícias • santuário de fátima • serviços e movimentos • tema • reflexões • docu

Leiria-FátimaÓrgão Oficial da Diocese

ANO XIV • NÚMERO 41 • MAIO / AGOSTO • 2006

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Ficha Técnica

DirectorLuís Inácio João

Chefe de RedacçãoLuís Miguel Ferraz

AdministradorHenrique Dias da Silva

Conselho de RedacçãoBelmira de SousaJorge GuardaLuciano CristinoManuel MelquíadesSaul Gomes

Capa, Grafismo e PaginaçãoLuís Miguel Ferraz

PropriedadeDiocese de Leiria-Fátima

SedeSeminário Diocesano de Leiria2414-011 LeiriaTel. 244 832 760Fax 244 821 102Mail: [email protected]

Periodicidade . QuadrimestralTiragem . 420 exemplares

Assinatura anual - 12 eurosNúmero avulso - 4 euros

Impressão - Gráfica de Leiria

Depósito Legal - 64587/93

Os textos não assinados das secções noticio-sas são elaborados pelo chefe-de-redacção da revista LEIRIA-FÁTIMA, tomando por base os jornais diocesanos A VOZ DO DOMINGO e O MENSAGEIRO. As paróquias, serviços e movimentos poderão enviar-nos ecos das suas iniciativas e programação, para os contactos indicados nesta ficha técnica.

E D I Ç Ã O G R Á F I C A

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Índice

EditorialEm júbilo! 85

Documentos PastoraisNota de despedida de D. Serafim 87Nomeações Episcopais 88Missionários nas pegadas de Maria 89Comunicação e inter-relação 90

Em DestaqueNovo Bispo de Leiria-Fátima 91

Homilia de entrada • “Descobrir a beleza e a alegria da fé”Diocese acolhe calorosamente D. António Marto Entrevista: “Quero conhecer ‘ao vivo’... vou deixar-me surpreender”

NotíciasFaleceu D. Américo Henriques 104Norma para o Baptismo de Adultos 105O Vaticano agradece donativo diocesano 105Samaritanos levam a Páscoa aos reclusos 105Encontro europeu da JOC em Leiria 105Claretianos celebram 50 anos da Província Portuguesa 106Cáritas promove seminário “Deus Caritas Est” 10625 anos do Centro Social dos Pousos 106Diocese e cidade comemoram 461 anos 107“Educação dos Filhos – Transmissão de Valores” 107Amigrante – Centro Local de Apoio ao Imigrante 108Vigília do Pentecostes na Sé 108PMA - Questões éticas em debate 109Festival da Canção Jovem 109A Diocese agradeceu a D. Serafim 110Encontro Nacional da ACI 111Fátima homenageia pároco há 50 anos 111Oficinas de Verão da Cáritas Portuguesa 111Igreja Velha restaurou o templo antigo 112A Diocese no Encontro Mundial das Famílias 112Encontro de D. António Marto com os padres da Diocese 113Aniversário da Dedicação da Catedral 113Jovens da Diocese em Taizé 114

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Índice

Cónego Rosa celebrou 90 anos de vida 114Escuteiros de Leiria – “Projecto Roménia” 115Ondjoyetu em missão no Alentejo 115Festa da Padroeira da Cidade de Leiria 115Vieira acolhe cristãos em férias 116Escola de Formação Social, 50 anos depois 116

Santuário de FátimaLivro de D. António Marto sobre Fátima 117Conferência Episcopal e os Estatutos do Santuário 11713 de Maio nos 25 anos do atentado a João Paulo II 118Novo filme sobre Fátima 119Peregrinação Nacional das Crianças 119Jornadas sobre Crianças institucionalizadas 120Guardas prisionais pedalaram até Fátima 120Grupos de Folclore em peregrinação 120Peregrinação de surdos e amblíopes 121Peregrinação dos avós 121Peregrinação do Movimento da Mensagem de Fátima 122Peregrinação de Julho 122Peregrinação do Migrante e do Refugiado 122Ajuda às mães com filhos deficientes 123Perfil do visitante de Fátima 123Preces a Nossa Senhora pela Internet 124Santuário com saldo negativo em 2005 124

Serviços e movimentosComissão Diocesana das Comunicações Sociais 125

Entrevista ao padre Rui Ribeiro: “Ousadia, criatividade, profissionalismo” Comissão Diocesana Justiça e Paz • “Pobreza e Exclusão Social na Diocese” 129Grupo diocesano Ondjoyetu está no Gungo • A missão no coração, o mundo nas mãos 131Colónia de Férias da Caritas • Monitores dão tudo por um sorriso 139Confraria de Nossa Senhora da Encarnação 142

TemaDeus chama todos e cada um • Falar de vocações não é (só) falar de padres 143

Entrevista ao padre Armindo Janeiro: “Descobrir a condição de chamados” Jubileus sacerdotais: O padre, esse desconhecido Marco Brites, diácono: “Deus chama-nos não por sermos bons mas para sermos bons”

Novos contactos da Diocese 160

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Editorial

Em júbilo!

“Chegou finalmente o dia do meu encontro convosco. Desde que disse sim à nomeação do Santo Padre, vós entrastes no meu coração de pastor”.

Completados 461 anos da sua existência, a Diocese volta a reunir-se para acolher um novo Bispo e guardou estas suas primeiras palavras.

Surpreendente… É esperado, como dádiva de Deus, um Pastor desconhecido que reconhece desconhecer a Igreja diocesana, que nunca pensou vir a pastorar.

Nas instituições habituais as mesmas pessoas funcionam de outro modo. Os líde-res são discutidos, votados, aceites ou rejeitados, segundo estatutos ou constituições contratuais. E mesmo que as sociedades devam humanizar-se, nelas, o mais comum é a frieza de um cumprimento legal que permite aos chefes governarem como se-nhores e aos grandes exercerem o seu poder… um “mínimo” social que não passou despercebido a Jesus que determinou, peremptório: “Não seja assim entre vós” (Mt 20, 26-26).

Um povo, que nem sequer é perfeito no seguir a originalidade do Mestre, não tem dúvidas em proceder a esta luz, na hora de acolher o seu Pastor. Com muito a dizer, as explicações baseadas em critérios psico-sociológicos revelam-se insuficientes. É necessário reportar-se a uma realidade encarnada e testemunhada por essa pessoa única, Jesus, que surpreendeu até os mais íntimos com a sua atitude de máxima de-dicação: veio efectivamente “para servir e não ser servido e dar a vida pelo resgate de muitos (20,28). Deste modo, instituiu o serviço como categoria eclesial. Mesmo sem nunca o conseguirem na perfeição, os cristãos encontram-se com a sua própria identidade ao lançarem-se, confiantes, no caminho do Senhor e fazem uma verdadei-ra experiência de “resgate”, na medida em que o vão conseguindo.

Ser serva não é para a Igreja uma apropriação acidental. São para ela um im-perativo o chamamento e o exemplo de Cristo, que a constitui enviando-a para dar testemunho de Deus dado em serviço de salvação para toda a humanidade, na pessoa de seu Filho. Ou ela vive e procede deste modo, ou não é. Os seus membros aceitam-se e realizam-se na senda da caridade/serviço que é a lei da Igreja. No contacto com todos, cristãos ou não, solidarizam-se no discernimento de caminhos mais humanos e acrescentam ao contributo de cada um a especificidade do testemunho da fé e do anúncio/proposta do Evangelho. E na comunidade eclesial, como órgãos diversifi-cados de um só corpo, em Cristo, estão para todos, no desempenho das suas funções únicas e insubstituíveis (cf: Rom 12, 4-5).

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Editorial

Foi na perspectiva do Mestre, de o primeiro ser o servo dos demais, que o Vati-cano II enquadrou a missão episcopal. Depois de declarar instituídos por Cristo os vários ministérios (serviços) da Igreja para o bem de todo o Corpo, afirma que “os mi-nistérios revestidos de poder sagrado estão ao serviço dos seus irmãos, para que todos os que pertencem ao povo de Deus e gozam portanto da verdadeira dignidade cristã, tendam livre e ordenadamente para o mesmo fim e cheguem à salvação” (LG 18).

Os sucessores dos Apóstolos, com o Papa, sucessor de Pedro, têm efectivamente o primado do serviço na representação de Cristo: quem os ouve ou rejeita ouve ou rejeita o Senhor (cf: Lc 10,16). Por isso o Povo de Deus acolhe-os e integra-os não como seus eleitos mas como enviados por Cristo. São estrutura ministerial organizada que, não sendo obra do homem, não segue as instâncias puramente humanas, e sendo obra de Deus, se acolhe como radicada no próprio Mistério de Jesus Cristo totalmente dado ao serviço da humanidade, na comunhão com o Pai e na unidade do Espírito Santo.

A Diocese não se aceita como mera divisão administrativa da Igreja Universal, para sua melhor organização e governo. Ela vive e concentra, em torno do seu Bispo, o Mistério da Igreja Universal. É a Igreja localizada. Nela, os fiéis descobrem-se “porção do Povo de Deus confiada a um Bispo para a apascentar, com a cooperação do presbitério, de forma que, unida ao seu Pastor e por ele conduzida, no Espírito Santo, pelo Evangelho e pela Eucaristia, constitua uma Igreja particular, em que es-teja presente e operante a Igreja una, santa, católica e apostólica de Cristo” (CD 11). “Assíduos ao ensino dos Apóstolos, à oração fraterna e às orações” (Act 2, 42), os diocesanos sentem-se comunidade convocada – Ecclesia – pelo Senhor Jesus Cristo, sua cabeça, e organizada para realização da obra de Jesus Cristo, que é também “ac-ção comum de todos os fiéis para a edificação do Corpo de Cristo” (LG 32).

A comunhão na Igreja opõe-se à passividade de quem apenas pretenda “obede-cer” e receber. As formas e instâncias de diálogo entre Bispo, presbíteros e leigos, que o Concílio concretizou e institucionalizou, não se esgotam nos aspectos funcio-nal, pedagógico ou psicológico, com vista a um governo eficaz e uma convivência serena. Passa-se algo de muito mais completo e profundo, pois que o múnus episco-pal se deve exercer de modo a possibilitar o desenvolvimento de todas as potenciali-dades e carismas confiados por Deus a cada um, na sua condição de leigo, religioso ou clérigo, para o bem de todo o Povo de Deus e desempenho da missão eclesial no seio da humanidade. Os Pastores “sabem que não foram instituídos por Cristo para assumirem sozinhos toda a missão da Igreja (…) e que o seu excelso múnus é apascentar os fiéis e reconhecer-lhes os seus serviços e carismas, de tal maneira que todos, a seu modo, cooperem unanimemente na tarefa comum” (LG 30). A vida da Igreja diocesana, também na sua pastoral, de interior e de exterior, é obra comum, resultante da acção de Deus e do exercício da corresponsabilidade de todos. O mi-nistério episcopal é coordenador e unificador de toda a diversidade em proveito da unidade orgânica da Diocese como corpo vivo. A Igreja diocesana rejubila.

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Documentos Pastorais

Documentos Pastorais

Nota de despedida de D. SerafimQueridos Diocesanos de Leiria-Fátima:A minha missão de bispo diocesano

chegou ao seu termo; tenho a alegria de anunciar que o meu ilustre Sucessor vai chegar no próximo Domingo. A Diocese está de parabéns.

Desde 1987 que resido e trabalho nesta Diocese. Como bispo coadjutor e depois re-sidencial procurei priorizar quanto concer-ne à formação e acção do Clero, bem como às organizações do Laicado e dos serviços. Fátima exigiu atenção especial, com todas as estruturas e acções do grande Santuário Mariano, que tem dimensão mundial.

Visitei toda a Diocese, com solicitude pastoral pelas pessoas, pelos lugares de culto, pela catequese e pelos não pratican-tes ou marginalizados.

O espírito sinodal foi uma coordenada vital do pensar e do agir de todo o conjun-to do bispo com o clero e os respectivos conselhos.

Neste primeiro ano do “projecto pastoral”, sobre o acolhimento, peço-vos para receberdes bem o novo Bispo, prestando toda a colaboração e fazendo sincera co-munhão.

Passarei a residir em Fátima e não vos esquecerei. Peço desculpa das minhas limitações, assim como agradeço todas as atenções por parte dos colegas sacerdo-tes, dos catequistas e dirigentes de apostolado, dos institutos religiosos e diversos serviços, sem esquecer as autarquias e instituições ou as pessoas anónimas que me dispensaram cordialmente ajuda e amizade. Que Deus vos abençoe e a Padroeira da Diocese vos proteja.

Leiria, 18 de Junho de 2006† Serafim de Sousa Ferreira e Silva,

Administrador Apostólico da Diocese de Leiria-Fátima

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Documentos Pastorais

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Documentos Pastorais

Nomeações EpiscopaisDom António Augusto dos Santos Marto, por mercê de

Deus e da Sé Apostólica, Bispo de Leiria-Fátima,Fazemos saber que, tendo cessado, a teor do Direito Ca-

nónico, por resignação do Bispo Diocesano, nosso Prede-cessor, alguns dos Titulares de Ofícios e Cargos, na Diocese, havemos por bem determinar que:

1. Enquanto não for comunicada, oficialmente, qualquer alteração na organização da Diocese, todos os que, juridi-camente, o necessitarem, ficam confirmados nos Ofícios e Cargos que vinham exercendo.

2. Tendo o Conselho Presbiteral e o Conselho Pastoral Diocesano cessado as suas funções, pelo mesmo motivo, proceder-se-á, oportunamente, à nova constituição dos mesmos a teor do Direito Canónico e das Leis da Diocese.

Dado em Leiria, aos 25 de Junho de 2006 †António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Nomeações EpiscopaisO bispo é enviado em nome de Cristo como pastor para cuidar duma determi-

nada porção do Povo de Deus, que é a Diocese. Daqui deriva para o bispo o múnus de governar, com solicitude pastoral, a Igreja que lhe foi confiada. Desta solicitude partilham os presbíteros, como colaboradores mais próximos do ministério do bispo e que com ele formam um só presbitério. Assim, faz parte do ministério do bispo a nomeação de sacerdotes e de outros fiéis, em comunhão de fé, de oração e da mesma solicitude pastoral, através do diálogo com cada um, atendendo às necessidades da Igreja diocesana. Não se trata, pois, de um processo meramente impessoal e mera-mente burocrático. É, antes, a expressão do encargo de prover ao bem do Povo de Deus nas suas comunidades e nos serviços diocesanos em ordem à evangelização.

Neste sentido, tornamos hoje públicas algumas nomeações, com a esperança de que sejam recebidas pelas comunidades cristãs em espírito eclesial de fé e de comunhão.

– O P. Vítor Manuel Leitão Coutinho é nomeado Chefe de Gabinete Episcopal, deixando a Direcção do Centro de Formação e Cultura e continuando a actividade académica como docente no ISET de Coimbra, na UCP do Porto e no CFC de Leiria.

– O P. Adelino Filipe Guarda é nomeado Director do Centro de Formação e Cultura e Director da Comissão Diocesana de Pastoral da Saúde. Cessa as suas funções como Pároco da Bidoeira e continua a sua actividade docente no ISET de Coimbra e no CFC.

– O P. Gonçalo Diniz é nomeado Director do Centro de Apoio ao Ensino Supe-rior, Assistente diocesano do Movimento Católico de Estudantes e Vigário Paroquial nos Marrazes. Exercerá actividade docente no CFC de Leiria.

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Documentos Pastorais

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Documentos Pastorais

– O P. Fernando Pereira Ferreira é nomeado Pároco da Maceira, deixando a Pa-róquia de Amor.

– O P. Manuel Pedrosa Melquíades é nomeado Pároco de Amor, deixando a Pa-róquia da Maceira.

– O P. André Antunes Batista é nomeado Vigário Paroquial na Maceira, onde já se encontra a prestar serviço.

– O P. Manuel Henrique Gameiro de Jesus é nomeado Vigário Paroquial na Ma-rinha Grande. Deixa a actividade paroquial em Ourém e continua como Assistente do Secretariado Diocesano de Pastoral Juvenil.

– O P. João Pereira Feliciano é nomeado Vigário Paroquial na Paróquia de Nossa Senhora das Misericórdias em Ourém.

– O P. José Henrique Domingues Pedrosa é nomeado Pároco da Boavista, Direc-tor do Secretariado Diocesano da Educação Cristã da Infância e da Adolescência e Assistente Regional do Corpo Nacional de Escutas.

– O P. Nelson José Nunes Araújo é nomeado Pároco da Bidoeira. Continua como Pároco das Colmeias e deixa a Paróquia da Boavista.

– O P. José Augusto Pereira Rodrigues, até à data Vigário Paroquial da Marinha Grande, é enviado para fazer estudos de especialização no estrangeiro.

– O P. David Nogueira Ferreira, até ao momento Vigário Paroquial nos Marrazes, é enviado para trabalho missionário na Diocese do Sumbe, em Angola.

Leiria, 23 de Julho de 2006† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Missionários nas pegadas de MariaA dimensão missionária dos cristãos e da Igreja é-nos ilustrada, na sua expressão

mais simples e bela, na figura de Maria, no mistério da Anunciação. Deus escolheu-a para a missão altíssima de dar ao mundo o próprio Filho, convidando-a à alegria: “Alegra-te, Maria”. O chamamento de Deus à missão é sempre, antes de mais, um chamamento à alegria: e todos nós, bispo, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, temos o dever de manifestar a alegria da fé na missão particular de cada um.

Num segundo momento, Maria apressou-se a ir ao encontro da prima Isabel num caminho de amizade, de amor e de partilha. Assim também todos nós somos convi-dados a ir ao encontro daqueles que ainda não conhecem Jesus Cristo, luz da vida. Devemos ir para além das nossas fronteiras a dar a conhecer a todos o projecto de amor do Pai. Como Maria devemos caminhar pelas estradas do mundo e anunciar e testemunhar a alegria do Reino, mostrando a todos que Jesus, e só Ele, é a luz da vida, a salvação e a alegria para todos.

Despertar o espírito missionário estimula-nos a reafirmar com a palavra e a vida que Jesus é a salvação do mundo e que por Ele vale a pena dar tudo. Convida-nos a partilhar o nosso bem e os nossos bens com os mais pequenos e necessitados da

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Documentos Pastorais

terra. Só assim poderemos viver até ao fundo e com alegria a nossa vocação missio-nária, traduzindo-a no compromisso de cada dia.

Que Maria, a primeira missionária, nos ajude a reavivar a nossa paixão por Cris-to e o nosso desejo de O anunciar, empenhando-nos, por todos os meios e modos, segundo as possibilidades de cada um, a apoiar a missão da Igreja ao serviço do Evangelho até aos confins da terra.

Julho 2006, pela apresentação do relatório das Obras Missionárias Diocesanas † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Comunicação e inter-relaçãoComunicar não é uma actividade facultativa: sem comunicação não há existência

nem desenvolvimento. A pessoa humana só é e só existe enquanto situada, enquanto ligada, graças ao corpo, a um tempo, a um espaço, na relação com os outros, no mundo e para o mundo.

Graças aos mass-media e às novas tecnologias assistimos hoje à globalização da comunicação. O mundo transformou-se numa aldeia onde toda a gente sabe tudo de todos, uma “aldeia global”. Todos os dias os media nos levam a participar na própria respiração do mundo.

Libertos da ignorância e cada vez mais informados, deveríamos habitar um uni-verso cada vez mais compreensivo e comunicativo. Mas isso só em parte é verdadei-ro. A comunicação não se pode reduzir a uma simples acumulação das informações e dos dados. À quantidade de informação nem sempre corresponde uma qualidade de comunicação. Deparamos, com frequência, com a solidão, a incapacidade de co-municar, o fechamento em si mesmo ou a formação de guetos neste mundo onde não faltam as informações e onde os intercâmbios são intensos e fáceis. Todavia o que domina, largamente, o nosso dia-a-dia é o intercâmbio mercantil em que prevalecem as coisas, o dinheiro, as prestações, enquanto as pessoas ficam marginalizadas. Mas existe também o intercâmbio simbólico em que a relação entre as pessoas prevalece sobre os objectos. Podemos dizer que, no primeiro caso, é dominante o ter – ter coi-sas, ter informações etc. –, enquanto, no segundo caso, é dominante o ser, o estar e viver em relação.

Nunca houve tantos meios e modos de comunicação e contudo as pessoas têm necessidade de falar, de se encontrarem. A característica da nossa geração informáti-ca é que nós podemos estar virtualmente em comunicação com o mundo inteiro, mas diante do ecrã estamos sós. Fascinados pelos media, pelos grandes e complicados network, não devemos esquecer este valor fundamental: a relação interpessoal. E que também através dos instrumentos de comunicação é possível investir mais na qualidade da comunicação para que seja comunicação humanizante.

Julho 2006† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Em DestaqueEm Destaque

Homilia da entrada solene deD. António Marto na Diocese de Leiria

Descobrir a beleza e a alegria da fé

Foi com intensa emoção que cheguei à catedral e me ajoelhei, à entrada, para beijar as pedras deste templo. O templo é sinal da comunhão dos crentes unidos pela presença de Deus que mora no meio do Seu povo. A Ele, Deus santo, no Seu Amor trinitário, dou hoje glória e louvor no limiar desta catedral.

Chegou, finalmente, o dia do meu encontro con-vosco. Desde que disse sim à nomeação do Santo Padre, vós entrastes no meu coração de pastor. Dele não sairão os muitos que até agora amei e guiei na fé, mas com eles – tende a certeza – entrais todos

vós com pleno direito de filhos. É esta relação de amor simples e verdadeiro, leal e fiel, transparente e alegre, capaz de escuta, de diálogo e fortaleza na fé, que desejo estabelecer com todos e cada um de vós.

SaudaçãoNeste amor, saúdo afectuosamente toda a Igreja de Leiria-Fátima, a cada um e a

cada uma de vós: o Rev.mo Vigário Geral – a quem agradeço a calorosa saudação, como gentil intérprete dos vossos filiais sentimentos –, o Il.mo Cabido, os estima-dos sacerdotes, as pessoas consagradas, os seminaristas, os muitos amigos que me acompanham, todos os fiéis, particularmente os doentes, os jovens e as crianças. A todos dirijo a saudação do apóstolo Paulo: "O Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz na fé, para que abundeis na esperança pela virtude do Espírito Santo" (Rom 15, 13). Muito obrigado por este caloroso acolhimento!

Saúdo com muita estima o Senhor Núncio Apostólico e, na sua pessoa, o Santo Padre, a quem testemunho o meu afecto filial. Saúdo fraternalmente o senhor ar-cebispo de Braga, Presidente da Conferência episcopal, o meu caro predecessor, senhor D. Serafim, e os demais irmãos no episcopado, a quem agradeço o afecto colegial; e estendo esta saudação aos mui dignos representantes das outras Confis-sões cristãs, cuja presença me é particularmente grata. Saúdo por fim e agradeço às autoridades civis e militares que quiseram honrar este encontro com a sua presença e me manifestam um afecto que eu desejo retribuir de todo o coração, com a lealdade de uma colaboração verdadeira, franca e desejosa do bem comum.

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Em Destaque

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Em Destaque

A fé perante uma viragem civilizacional

Não é este o momento para vos propor metas e itinerários precisos de um progra-ma pastoral. No espírito do diálogo de coração a coração, posso desde já dizer-vos que prosseguirei o programa que vós já traçastes com o belo lema "Testemunhar Cristo, fonte de esperança".

Desejo, contudo, oferecer-vos uma meditação sobre o horizonte do nosso ser cristãos hoje, na sociedade complexa em que nos é dado viver; e apresentar algumas prioridades que daí derivam. Faço-o a partir do texto do Evangelho que acabámos de escutar.

A narração evangélica da tempestade acalmada fala de nós e do nosso tempo: interpela-nos e estimula-nos. S. Marcos sabia que os cristãos de Roma estavam em perigo, como uma barca no meio da tempestade. A barca é uma grande metáfora não só da condição humana, mas também da Igreja de todos os tempos que atravessa o mar tempestuoso da história, muitas vezes exposta à fúria dos ventos e das ondas. Ao sabor de forças externas e obscuras, a pequena barca mais se parece a uma casca de noz temerária, destinada a ser engolida.

O caminho da fé dos discípulos e da Igreja não é uma marcha triunfal; está se-meado de provações. As duas últimas décadas do séc. XX e os primeiros anos do séc. XXI desencadearam abalos sísmicos profundos, de ordem cultural e espiritual, na consciência humana. Evoco-os simplesmente: a queda do muro de Berlim e o surgir de uma nova Europa hoje em dores de parto para a sua configuração; a revo-lução informática com a globalização do conhecimento, do mercado e do consumo; a revolução biotecnológica com novas esperanças e novas ameaças que põem em causa o sujeito humano; a violência do terrorismo global que transferiu a guerra dos exércitos para as consciências, dos porta-aviões para os indivíduos, ameaçando alterar as relações de confiança entre as pessoas e os povos e levar a um confronto de civilizações; a cultura dominante da era do vazio de valores e verdades universais, que resvala para o agnosticismo e o relativismo.

Quem não se apercebe que estamos perante uma nova paisagem cultural e re-ligiosa, perante uma viragem epocal, uma mutação civilizacional? Vivemos uma época cheia de paradoxos, aos quais é preciso prestar atenção. Nunca houve tanto desejo de espiritualidade e interesse pela religião; por outro lado, há muito indivi-dualismo, consumismo e materialismo. Nunca houve tantos meios de comunicação e, contudo, as pessoas têm necessidade de falar, de se encontrar. A característica da nossa geração informática é que nós podemos estar virtualmente em comunicação com o mundo inteiro, mas diante do ecrã estamos sós. Nunca houve tanto conforto possível e todavia estamos confrontados com a pobreza, o desemprego, as depres-sões, os suicídios, os sem abrigo… Nunca se falou tanto de liberdade e cada vez mais se acumulam regras e leis na sociedade.

Este é o novo contexto em que somos chamados a viver como cristãos. As convul-

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Em Destaque

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Em Destaque

sões da história assustam-nos, suscitam os nossos medos e o mal-estar, também em relação à fé. O recente fenómeno do Código da Vinci é um termómetro cultural que nos convida a reflectir sobre a religiosidade actual e a fé incerta e vacilante de tantos cristãos. Também a nós, hoje, o Senhor Jesus dirige a interrogação que fez aos discí-pulos assustados pela tempestade: "Porque tendes medo? Ainda não tendes fé?"

É como se Jesus dissesse: o verdadeiro problema é que vós acreditais pouco; por isso, não compreendeis o significado das provações e provocações históricas e cultu-rais em que estais mergulhados, para pôr à prova e purificar a vossa fé.

Na verdade, não é Jesus que dorme na barca; é a fé dos discípulos que está ador-mecida. Se o Senhor nos deixou entrar numa tempestade, é porque sabe que pode pôr no coração de quantos crêem e esperam, a força e a energia, a calma e a serenidade, a inteligência e a paixão para enfrentar as ondas e os ventos.

Falamos de uma nova qualidade de evangelização hoje. Mas a questão central, à partida, é a qualidade da nossa fé. O que caracteriza o nosso tempo não é propria-mente o ateísmo, mas antes a confusão relativa à fé, a indiferença, a tibieza, a super-ficialidade da fé, o analfabetismo religioso, a perda da memória cristã, o complexo de inferioridade que se apoderou de muitos cristãos.

Descobrir a beleza e a alegria da fé

O mundo exige-nos hoje a razão de ser da nossa fé no meio das convulsões da história, a sua comunicação simples, alegre e bela, para que o núcleo da fé cristã volte a resplandecer em toda a sua beleza e frescura. Isto pede um regresso às fontes e uma grande regeneração espiritual. E daqui derivam algumas prioridades.

1. Começar de novo a partir de CristoTalvez tenhamos de admitir com o cardeal Ratzinger, hoje Bento XVI, que “a

Igreja, com frequência se ocupa demasiado de si mesma e não fala com a força e a alegria necessária de Deus e de Jesus Cristo, enquanto o mundo não sente neces-sidade de conhecer os nossos problemas internos, mas tem sede da mensagem que deu origem à Igreja: o fogo que Jesus Cristo trouxe à terra. A crise da nossa cultura funda-se na ausência de Deus e temos que confessar que também a crise da Igreja é, em boa parte, a consequência de uma difundida marginalização do tema de Deus. Só poderemos ser mensageiros do Deus vivo, se este fogo se acende em nós mesmos. Só se Cristo vive em nós, é que o Evangelho é anunciado por nós, mostra a presença de Cristo e toca o coração dos nossos contemporâneos".

Hoje torna-se necessário despertar e reavivar no coração dos crentes a expe-riência da Beleza do mistério de Deus connosco: aquela experiência de Isaías, do homem tocado por Deus no mais íntimo do seu ser, envolvido pela Sua santidade como numa nuvem luminosa, purificado e transformado pelo Seu amor como fogo ardente; aquela experiência de S. Paulo, cativado por Cristo, que o leva a exclamar

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Em Destaque

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"o amor de Cristo possui-nos, abraça-nos, impele-nos". Uma experiência que resulta da contemplação de Cristo como Aquele que, em carne e sangue, trouxe a beleza de Deus à terra dos homens, a beleza suprema do amor misericordioso de Deus e a bele-za do homem criado à imagem de Deus, renovado pela graça e destinado à plenitude da vida eterna. O mais grave que pode acontecer a um homem é ter medo de Deus, pensar que Ele é seu inimigo ou o limite da sua liberdade e da sua alegria de viver, quando na realidade é a sua fonte e o seu fundamento perenes.

Na origem da nossa fé não está um conjunto de dogmas ou preceitos ou um ideal humanista, mas o encontro com a pessoa viva do Ressuscitado e a Sua história de amor, que abre um novo horizonte à vida e lhe imprime um rumo decisivo. "Ou nos enamora-mos por Jesus Cristo ou não temos grande interesse como cristãos" (Bento XVI).

Contemplar Cristo na Palavra, alimentar-se dele na Eucaristia é então a primeira prioridade. A dimensão contemplativa da vida não é uma fuga aos problemas do mundo; antes constitui uma reserva maravilhosa de humanidade plena, boa e feliz. Trata-se de testemunhar o primado de Deus com a vida, cultivando uma experiência intensa e fiel de oração pessoal e litúrgica e um compromisso generoso de anúncio da Boa Nova. Há necessidade de cristãos adultos, convictos da sua fé, peritos na vida segundo o Espírito, sempre prontos a dar razão da sua esperança.

Igreja de Leiria-Fátima, sonho-te, minha Igreja, como uma comunidade contem-plativa e eucarística, empenhada na escuta orante e perseverante da Palavra de Deus, continuamente alimentada pelo Pão da vida, vivificada pelo Espírito de santidade popular.

2. Viver a espiritualidade da comunhãoEsta beleza do Amor eterno e santo de Deus deve reflectir-se no mistério da Igre-

ja-comunhão. A imagem da barca no Evangelho é eloquente e sugestiva. Estamos todos na mesma barca. A fé não se vive isoladamente, mas em comunhão com os outros. Embarcamos todos na mesma aventura com Cristo, sentindo-nos acolhidos e protegidos na comunidade do povo santo de Deus, a Igreja do amor. Não sabo-rearemos a beleza da fé sem a espiritualidade da comunhão entre nós. Queremos ser Igreja, comunidade cada vez mais acolhedora, onde nos sintamos atraídos e reconciliados no amor, partilhando os diversos dons e os bens, vivendo unidos na simplicidade e verdade e procurando caminhar juntos, segundo o provérbio africano:"se queres chegar depressa corre sozinho; se queres chegar longe, corre juntamente com os outros". Assim testemunharemos a esta sociedade pós-moderna – que muitas vezes se apresenta como uma multidão de solidões – a possibilidade e a beleza da comunhão, da amizade, da solidariedade.

Igreja de Leiria-Fátima, sonho-te, minha Igreja, como a comunidade do amor, casa e escola de comunhão, animada por atitudes de estima, acolhimento e apoio re-cíprocos, de partilha e corresponsabilidade e, assim, testemunha da infinita caridade de Deus e da comunhão entre os homens.

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3. Amar o mundo do nosso tempoNo evangelho, Jesus convida os discípulos a "passar à outra margem", a ir em

missão ao encontro dos homens e do mundo. A vida é verdadeira e bela quando se torna dom para os outros. Este mundo não precisa de uma Igreja que se ocupe de si mesma, mas de uma Igreja que com Cristo seja para a vida do mundo, no serviço do amor.

Como cristãos somos chamados a promover, com todo o nosso empenhamento, a vida humana e a sua qualidade, recordando que não há qualidade de vida sem vida espiritual de qualidade. Somos chamados a fazer-nos voz dos que não têm voz, a en-frentar com humildade e coragem os desafios do sentido da vida e do vazio espiritual e moral, da justiça social e das tensões internacionais.

Se Cristo está no centro da vida da Igreja, esta não pode retirar-se da história em que Ele veio plantar a sua cruz. À fé dos cristãos é pedida a audácia de ideias e gestos de proximidade aos que sofrem e de reconciliação no seguimento de Cristo.

Igreja de Leiria-Fátima, sonho-te, minha Igreja, como uma comunidade que ama o mundo do nosso tempo com as suas belezas e potencialidades, com as suas crises e misérias; uma comunidade que com a luz da fé, o dinamismo da esperança e o calor da caridade oferece ao mundo aquele "suplemento de alma" que se torna fonte de uma nova cultura social, de promoção da dignidade da pessoa humana, de diálogo, de reconciliação e de paz.

Faz-te ao largo!

Faz-te ao largo, minha Igreja! Rema mar adentro! "Sigamos em frente com esperança. Diante da Igreja abre-se um novo milénio como um vasto oceano onde aventurar-se com a ajuda de Cristo" (NMI 58).

No caminho acompanha-nos Maria, Estrela do mar e Padroeira dos navegantes em águas difíceis. Com Ela aprenderemos a contemplar a beleza do rosto de Cristo, a viver a espiritualidade da comunhão, a levar ao mundo a infinita misericórdia de Deus como força e como limite divino ao poder devastador do mal no mundo, tal como no-la manifestou em Fátima. Maria, Mãe da Igreja, sustenta a fé eclesial nos momentos de dificuldade e de provação. A Ela peço que guie os meus passos na minha missão de confirmar os irmãos na fé.

Junto do seu santuário, na Cova da Iria, em união íntima ao Seu Coração Ima-culado, deixemo-nos confortar pelas palavras de Jesus: "Não tenhais medo! Tende confiança! Eu estarei convosco, todos os dias, até ao fim dos tempos!".

Ámen! Aleluia!

† António MartoBispo de Leiria-Fátima

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Novo Bispo de Leiria-Fátima

Diocese acolhe calorosamenteD. António MartoTexto e Fotos: Luís Miguel Ferraz

A igreja-mãe da Diocese – Sé (sede episcopal) ou Catedral (onde está a cátedra do Bispo) – abarrotou de fiéis na celebração que acolheu o novo prelado de Leiria-Fátima, D. António Marto, no passado dia 25 de Junho. Num ano em que toda a pas-toral diocesana gira em torno da virtude humana e cristã do acolhimento, não podia ser mais apropriado e expressivo este gesto do povo de Deus, que recebeu o pastor, presença visível nesta Igreja particular do “Bom Pastor” que o guia.

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Efusivamente recebido com aplausos e abraços no adro da Sé, onde chegou acompanhado pelo seu antecessor, D. Serafim Ferreira e Silva, foi cumprimentado pelos representantes da Diocese e das entidades oficiais da região, nomeadamente, os governadores civis de Leiria e Santarém e os presidentes de diversas autarquias.

Voltou a ser aclamado à entrada no templo, onde o presidente do Cabido lhe apresentou o crucifixo a beijar e o hissope de água benta, com que se benzeu e as-pergiu os fiéis. Depois, D. António Marto ajoelhou-se para beijar o chão da sua nova Catedral e, avançando pelo corredor central, foi distribuindo cumprimentos afectu-osos. Novo gesto significativo, para além do sorriso contagiante sempre presente, a atenção especialmente carinhosa dedicada às crianças e ao povo mais simples, visivelmente o mais emocionado.

Seguiu-se um momento de oração silenciosa, diante do altar do Santíssimo. Pas-sando, de súbito, da aclamação ao recolhimento, a assembleia elevava-se até Deus, em acção de graças, e unia-se silenciosa à súplica do pastor, implorando a bênção de Deus para a nova caminhada de toda a Igreja diocesana.

Já no altar-mor, lidas as Cartas Apostólicas de nomeação e assinada a acta de tomada de posse pelo chanceler da Cúria, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, Bis-po cessante e Administrador Apostólico da Diocese, entregou o báculo, símbolo da autoridade do pastor, e cedeu a cadeira episcopal a D. António Marto.

Novos aplausos foram marcando estes ritos, que terminaram com uma saudação pública proferida pelo vigário-geral e com a apresentação de cumprimentos e votos de obediência pelos representantes de toda a Diocese, padres, religiosos e leigos.

Aplausos, ainda, quando D. António dirigiu palavras de saudação aos diocesa-nos, na homilia: “Chegou, finalmente, o dia do meu encontro convosco. Desde que disse sim à nomeação do Santo Padre, vós entrastes no meu coração de pastor”. Palmas também dos muitos fiéis que vieram de Viseu, diocese onde esteve nos últimos dois anos, e de Vila Real, de onde é natural, quando afirmou: “Dele [do meu coração] não sairão os muitos que até agora amei e guiei na fé”.

E mais aplausos não faltariam, no final da celebração e no convívio que se lhe seguiu, nos claustros da Sé, durante o beberete oferecido a todos os presentes. Um convívio festivo que mais não foi do que a continuação do ambiente de alegria que marcou todo este dia histórico para a diocese de Leria-Fátima.

Cón. Luciano Cristino (pres. do Cabido)e os bispos D. António e D. Serafim

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Entrevista de D. António Marto a O Mensageiro

“Quero conhecer ‘ao vivo’... vou deixar-me surpreender”

Texto: Luís Miguel Ferraz | Fotos: Pedro Jerónimo

D. António Marto foi calorosamente acolhido na Diocese, que logo lhe exprimiu reconhecimento e afecto. Foi recebido como pastor e guia pelas ovelhas, que esperam dele a orientação na fé e o alento na caminhada. Entrou sob as palmas e os abraços da multidão, como Jesus em Jerusalém, mas sabe que o espera o trabalho árduo de uma acção pastoral que vai exigir a abnegação e o

sacrifício de si mesmo.No seu primeiro “dia de trabalho”, falou-nos sobre

o perfil do pastor que deseja ser. Consciente de entrar numa “Diocese que já tem a

sua história e o seu dinamismo”, onde quer inserir-se de corpo e alma, pois “não se pode ser Bis-po isolado da Diocese” refere, no entanto, ser sua intenção imprimir-lhe algumas “tóni-cas ou acentos pessoais”. Nesse sentido, aponta linhas pastorais que considera prioritárias e escolhe por lema o “amor ao mundo do nosso tempo”. Nas “visitas pastorais” que quer efectuar a todas as paróquias, e em es-pecial ao longo deste primeiro ano, quer “conhecer as ovelhas”,

disposto a “deixar-se surpreender”.

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Luís Miguel Ferraz (LMF) - Começando pela questão da sua nomeação, algo inesperada pelo facto de D. António Marto estar à frente da diocese de Viseu há apenas dois anos, apontaram-se algumas razões circunstanciais, como o facto de ter alguma proximidade com o Papa Bento XVI. Supomos que tenha havido motivos bem mais fortes do que esse. Que razões pastorais mais pesaram?

De facto, eu próprio coloquei algumas reticências antes da aceitação, dado estar há tão pouco tempo em Viseu e a diocese estar neste momento a arrancar. O primeiro ano foi para conhecer, no segundo estava a começar o trabalho pastoral, e não queria deixar a diocese assim. Mas recebi um telefonema pessoal do prefeito da Congregação para os Bispos, Cardeal Giovanni Battista Re, comunicando-me que o Santo Padre queria um Bispo teólogo em Fátima, que o meu nome tinha sido o mais sugerido e que era vontade dele que eu aceitasse. Diante disso, respondi que sim. Escrevi uma carta ao Papa a dizer que aceitava com alegria a nova missão que me confiava e recebi há poucos dias a resposta, desejando-me os melhores votos de êxito pastoral nesta diocese de Leiria-Fátima, referindo que é “onde está o Santuário de capital importância para a Diocese, para o País, para a Europa e para o mundo inteiro”. Daqui eu deduzo que, de facto, o Santo Padre quer apostar fortemente nesta dimensão nacional, europeia e universal do Santuário de Fátima como grande centro de evangelização.

LMF – Tendo Fátima pesado desse modo na escolha do Bispo para a Diocese, D. António já ponderou qual será a prioridade que dará ao Santuário? Considera a diocese de Leiria-Fátima ou de “Fátima-Leiria”?

Ainda hoje estive em reunião de trabalho com o reitor do Santuário, exactamente para coordenar as exigências do Santuário com as da Diocese. Quero ser Bispo da diocese de Leiria e dedicar-me a ela, quero fazer um programa de visitas pastorais a partir do próximo ano, quero dedicar-me aos párocos e ao clero em geral. E por isso tenho de conjugar muito bem estas duas dimensões. Neste primeiro ano, o objectivo prioritário vai ser conhecer as pessoas, as realidades, as situações… conhecer ao vivo, quer dizer, não apenas os números e as estatísticas. E isso requer tempo. De-pois, poderemos perspectivar o trabalho futuro, tendo em conta que o Projecto Pas-toral que está em curso para o próximo sexénio é para levar para a frente, não vamos começar do zero. Um Bispo que entra numa diocese sabe que ela tem já uma história, um dinamismo próprio, e insere-se aí. Com o tempo, vai abrindo novas perspectivas, mas sem fazer tábua rasa do que está programado.

LMF – Logo na saudação à Diocese, referiu esse seu primeiro objectivo de “co-nhecer”. Mas terá algumas informações que o levem a contar com determina-das potencialidades ou a assumir determinados desafios…

Confesso que não conheço nada, a não ser como turista. Conheço alguns colegas padres, mas muito superficialmente. Por isso, vou-me deixar surpreender. Sigo a re-

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gra evangélica: “O bom pastor conhece as suas ovelhas”, pelo que quero conhece-las muito bem. E há outra regra pastoral, de Santo Agostinho, que diz: “O bom rebanho faz o bom pastor”. Já tive ocasião de experimentar isso em Viseu. Cheguei lá cheio de temor, pois era a minha primeira experiência como Bispo residencial, com todos os problemas de uma diocese ao meu cuidado. Resolvi confiar nas pessoas, nos cola-boradores, e foi uma experiência que resultou muito bem. Aqui espero que aconteça o mesmo, até porque conheço o vigário-geral há muitos anos e como ele é o braço direito do Bispo, confio que corra bem.

Rui Ribeiro (RR) – Na homilia da tomada de posse, referiu a preocupação com a compreensão e o amor ao mundo, e mostrou uma sensibilidade especial ao diálogo com outras religiões e mesmo com pessoas sem religião. Faz parte do ser perfil esta preocupação?

Faz parte, de facto, do meu perfil e é uma das grandes preocupações da Igreja. A fé não é vivida numa redoma de vidro, na sacristia, mas no meio do mundo. E ninguém escolhe o mundo em que quer viver, temos é de tomar consciência dos pro-blemas do mundo em que vivemos e dos desafios que nos coloca. Este é um mundo novo, cujos contornos se estão agora a esboçar e que não sabemos ainda onde vai parar. Por isso, é necessário redescobrir os fundamentos da fé, pois no pluralismo em que vivemos já não se pode ser cristão por tradição. Depois, descobrir a beleza e a

alegria da fé. Choca-me imenso que, para muitos, a fé esteja reduzida a um conjunto de obrigações, como se fosse um fardo que Deus pôs sobre os ombros dos pobres mortais. De-pois, não vivem com alegria, com entusiasmo e com coragem.

Considero, portanto, muito importante o diálogo inter-reli-gioso, para maior conhecimento e encontrar os pontos que nos unem, e com os não crentes, muitos dos quais vivem hoje uma procura, uma busca que espera caminhos de aber-tura. Quando eu era estudante, um padre francês que tinha frequentes ligações com os países de Leste disse-me uma vez: “Sê um padre de coração universal”. E isso impres-sionou-me muito, ficou-me gravado na mente e no coração e procurei ser

“ A fé não é vivida numa redoma de

vidro, na sacristia, mas

no meio do mundo. ”

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sempre assim. E tem-me aberto portas de diálogo e entendimento com todos. Sem perdermos a identidade de bispo, de padre, de católico, podemos estabelecer este diálogo.

LMF – Outros dois pontos que desenvolveu na referida homilia, foram o centrar da mensagem cristã, de novo, em Cristo e o aperfeiçoar a vivência da comunhão em Igreja. Juntamente com o referido tópico do “amor ao mundo”, parecem ser os pilares da sua visão pastoral para os nossos dias. Curiosamente, essas são as três grandes conclusões do Sínodo que a Diocese realizou entre 1995 e 2002, e que inspiraram o Projecto Pastoral para 2005-2011.Não sente que o facto de chegar a uma diocese que tem já a decorrer um pro-jecto para os próximos seis anos pode limitar um pouco a sua iniciativa? Ou o projecto de Leiria-Fátima coaduna-se com o que desejaria?

Em primeiro lugar, não se pode ser Bispo isolado da Diocese e tudo o que ele faz é com o seu povo, através dos órgãos de corresponsabilidade. Por isso, citei na homilia de ontem o provérbio africano: “Se queres chegar depressa, corre sozinho; se queres chegar longe, corre com os outros”.

Eu venho e faço caminho com este povo. Claro que cada Bispo tem as suas tónicas, os seus acentos próprios, mas pode desenvolvê-los dentro do programa estabelecido.

Aliás, o programa pastoral saído do vosso Sínodo é muito lindo. E as linhas que eu tracei não são uma invenção minha: inspirei-me na última encíclica de João Paulo II, Novo Millennio Ineunte, com algumas inclusões da orientação do actual Papa. Portanto, o projecto está em sintonia com as linhas que me são queridas. O resto virá por acréscimo, à medida em que nos formos conhecendo, mas nunca serei um Bispo isolado da Diocese.

RR – Adiantou que uma das acções que pretende efectuar são as visitas pasto-rais às comunidades. Em que moldes pensa fazê-lo?

As visitas pastorais são a alma do governo diocesano. São a experiência mais gratificante da vida de um Bispo, não como quem chega de pára-quedas na missa do domingo, mas, durante a semana, se vai encontrando com os vários grupos da comu-nidade para dialogar com eles e os conhecer, desde as crianças aos jovens, adultos, idosos, doentes, e também instituições como as escolas. Trata-se de confirmar os irmãos na fé, isto é, a motivá-los, abrir-lhes pistas, e ao mesmo tempo o Bispo dei-xar-se confortar pelo testemunho dos seus irmãos, porque a corrente não passa só do Bispo para o povo, mas também do povo para o Bispo. E ao domingo fazemos o encerramento festivo.

Fiz isto como auxiliar em Braga, durante três anos, e comecei em Viseu, onde não tive oportunidade de terminar. E foi das experiências mais gratificantes. Como aqui há menos paróquias, permite fazê-las com calma.

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LMF – Numa entrevista ao jornal O Mensageiro, em Janeiro deste ano, D. Sera-fim dizia que o seu sucessor deveria “ter menos paciência” do que ele, sugerindo a necessidade de algumas decisões mais ousadas. Chegou a confidenciar-lhe ao que se referia?

(Rindo) Não me recordo dessa parte, nem sei ao que se referia. Sou pessoa cal-ma e serena, analiso as situações uma de cada vez e, quando for preciso tomar as decisões, também as tomo. Mas consulto sempre os órgãos de corresponsabilidade próprios.

LMF – Um dos assuntos a que D. Serafim se referiu concretamente foi ao diaco-nado permanente, que tentou implementar sem sucesso, devido à “mentalidade do clero paroquial”, segundo palavras que usou. Qual a sua posição sobre esta questão?

Encontrei o mesmo problema em Viseu, onde ainda não há diáconos perma-nentes. Pus a questão ao Conselho Presbiteral, que a discutiu e foi de opinião que avançássemos, com calma e fundamentos. Os padres tomaram consciência do que significa como riqueza ministerial, e não como estratégia por falta de padres. Pas-sou-se à sensibilização do povo de Deus, com algumas catequeses escritas sobre o assunto. Estava-se a fazer agora um pequeno documento sobre o perfil do candidato, a formação, as condições e as qualidades que deve ter. A partir daí é que se avançará para a implementação. Aqui julgo que seguiremos o mesmo caminho, com calma e decididamente, com fundamentos e não apenas por ser moda ou por estratégia.

LMF – Voltando à questão do “conhecer e amar o mundo”, qual a sua opinião sobre o papel dos meios de comunicação social da Igreja nesse contexto?

Tenho contactado mais com a comunicação social em geral. Mas penso que há um papel importante e específico dos órgãos da Igreja. Primeiro, como elo de comu-nhão, pois a vida passa pela comunicação. É um elo de partilha entre Igrejas, entre as comunidades, entre a Igreja e o mundo e vice-versa. Depois, é um meio de evan-gelização, pois dá uma visão cristã dos acontecimentos do mundo, da vida. Há hoje muita gente que apreende mais com um pequeno artigo de jornal, com uma imagem ou um comentário, do que com homilias. Estas são mais para os que frequentam, do que para os de fora. A comunicação social chega onde não chega uma homilia. Nessa linha, acho que devemos investir, apostando sobretudo na qualidade, recorrendo às novas tecnologias e a pessoas qualificadas.

LMF – Nesse âmbito, como considera o trabalho dos meios de comunicação eclesiais, nas várias dioceses do País, em geral?

Perece-me que deveriam trabalhar mais em rede. Às vezes, parece que cada um trabalha para si, para o seu “quintal”, e poderíamos fazer melhores coisas se traba-lhássemos mais em rede, quer seja dentro da Diocese, quer seja a nível inter-diocesa-

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no. Há um bom serviço que se presta a nível nacional pela agência Ecclesia, na Internet, no boletim que pu-blica e no programa de televisão, onde temos acesso rápido à informação. Hoje estamos na civilização da imagem, o que não é novo, pois a imagem foi sempre um meio de evangelização privi-legiado, mas tem nos nossos dias contornos especiais, trazidos pe-las novas tecnologias.

RR – Para terminar, uma pergunta sobre a recepção que a Dio-cese lhe ofereceu no domingo. Gostou?

Gostei, gostei. Sur-preendeu-me até acima de todas as expectativas. Eu também vinha para me deixar surpreender, pois não estava numa celebração em Leiria, desde há 18 anos, aquando da morte do padre Rogério. É importante sentir o calor de um povo. Pensei que fosse um pouco mais frio do que Viseu, pois aquelas gentes do interior são muito caloro-sas, mas encontrei aqui o mesmo calor e o mesmo afecto.

“ As visitas pastorais são a alma do governo diocesano. São a experiência mais gratificante da vida de um Bispo. ”

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Natural da diocese Leiria-FatimaBispo Emérito de Nova Lisboa (Huambo) – Angola

Faleceu D. Américo HenriquesNo passado dia 14 de Agosto, aos 82

anos de idade, na Casa do Clero, em Fátima, onde residia, faleceu D. Américo Henriques, Bispo Emérito de Nova Lisboa (Huambo), Angola.

Era natural de Alburitel (Ourém), dioce-se Leiria-Fatima, freguesia onde nasceu a 6 de Outubro de 1923. Foi ordenado pres-bítero a 19 de Julho de 1947, em Roma, onde estudou na Universidade Gregoriana e no Instituto Bíblico Pontifício. De re-gresso à diocese de Leiria, foi professor e reitor no Seminário.

Recebeu a nomeação episcopal a 5 de Julho de 1966, como bispo titular de

Tisili e Auxiliar do bispo de Lamego, e foi ordenado bispo em Fátima a 11 de Outubro de 1966. Em 17 de Abril de 1967,

foi nomeado Coadjutor da diocese de Lamego, com direito a sucessão. Em 2 de Fevereiro de 1971, passou a Bispo Residencial de Lamego, onde permaneceu até 12 de Fevereiro de 1972, data em que foi nomeado Bispo de Nova Lisboa (Huambo). Esteve ao serviço daquela diocese até 13 de Abril de 1976, data em que passou a bispo emérito. Regressado a Leiria, foi professor de Sagrada Es-critura no Seminário Diocesano e leccionou igualmente no Instituto Superior de Estudos Teológicos em Coimbra.

Os estudos bíblicos constituíram um interesse permanente na sua vida e ministério sacerdotal e episcopal. Colaborou na tradução da Bíblia para portu-guês, inclusive na mais recente, editada pela Difusora Bíblica.

No dia 14, o corpo deu entrada na casa mortuária em Leiria, onde foi cele-brada a Eucaristia às 21h.00, presidida pelo bispo da diocese D. António Mar-to. No dia 15, dia da Assunção de Nossa Senhora, de quem foi sempre muito devoto, o seu corpo esteve em câmara ardente na Igreja do Seminário. Após as exéquias, na manhã do dia 16 de Agosto, na Catedral de Leiria, o cortejo fúnebre seguiu para a sua terra natal, Alburitel, em cujo cemitério repousam os seus restos mortais.

A revista “Leiria-Fátima” recorda com saudade e estima o homem, o Bispo e o amigo, e junta-se a toda a Diocese num expressivo cântico de acção de graças pela sua vida e ministério. Paz à sua alma.

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Assembleia Diocesana – início do ano pastoral

2007/2008 sob o signo da “ternura”O início do ano pastoral é sempre um momento marcante da vida da Diocese.

Reunidos em Assembleia, cerca de 600 responsáveis das comunidades e serviços – leigos, padres e consagrados – partilham os frutos e as expectativas do seu traba-lho, recebem do seu Bispo as orientações para a caminhada e celebram a confiança em Deus que não falta ao Seu Povo com a abundância dos seus dons. Foi assim, mais uma vez, no passado 7 de Outubro.

D. António Marto apresentou o lema para 2007/2008, que desenvolvera na sua mais recente carta pastoral (ver secção documentos): “Testemunhas da Ternura de Deus”. Convicto de que “este será um ano para transformar em vivência a reflexão já feita”, e retomando os temas do acolhimento e da vocação que pautaram os últimos dois anos, primeiro biénio do Projecto Pastoral em curso, D. António explicou que esta retoma é como que uma pausa “não para descansar, mas para aprofundar estes importantíssimos aspectos da pastoral da Igreja”.

O primeiro momento do encontro, dedicado à revisão do caminho trilhado desde 2005, começou com uma atenção especial ao “acolhimento dos dons de Deus” e ao “acolhimento dos irmãos”, recordando iniciativas das comunidades, instituições e serviços, na continuidade do trabalho entre mãos ou completamente novas. O mes-mo se passou em relação à “descoberta da beleza e da alegria da vocação cristã”, tema do segundo ano, com uma consciência mais viva de chamados por Deus à vida, ao amor, por caminhos diversificados de realização, todos coincidentes com o projecto divino, único, de salvação e felicidade, já sobre a terra e a consumar depois, plenamente, junto do Pai.

Sobre as premissas do “acolhimento” e da “vocação” D. António assentou a sua abordagem da “Ternura de Deus” cujo amor de Pai se torna para a Igreja e para cada cristão “uma chama, que chama e que ama”. Num “mundo de competição, mercan-tilista, onde faltam as relações pessoais e se perdeu a consciência da gratuidade, do dom de si mesmo ao outro”, empenhar-se por uma “nova cultura de acolhimento e de atenção ao próximo e a Deus” não pode ser “como uma operação de charme de uma empresa que quer cativar clientes, mas como um novo estilo de vida, com uma espiritualidade e uma pedagogia novas, que testemunhem, de facto, essa ternura com que Deus nos acolhe, nos ama e nos chama a viver”.

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Na Bíblia, “Boa-Nova” da ternura de Deus, “o primeiro a acolher-nos”, e no ícone mariano, representando Aquela que melhor correspondeu à ternura de Deus, a Igreja diocesana encontrará as duas referências para ser “casa e escola” onde se hão-de concretizar os objectivos e as iniciativas propostos na Carta Pastoral.

Na Eucaristia de encerramento, D. António reforçou o seu apelo em forma de oração: “Senhor, aumenta em nós a fé, que nos dará a força para fazermos até o que julgamos impossível”; e apontou como segredo do bom fruto do trabalho pastoral o reconhecimento humilde de sermos “simples servos do maior e mais poderoso dos senhores”.

Corporizando o envio de todos às comunidades e ao mundo, a trabalhar na construção de “uma Igreja viva, que não seja nunca uma burocracia sem alma”, foi entregue à vigararia de Ourém a lamparina vocacional que, à semelhança do ano passado, irá passando sucessivamente pelas restantes vigararias, fazendo conjunto com os outros sinais maiores da Bíblia e do ícone de Nossa Senhora.

Assembleia diocesana em DVDFoi elaborado um DVD sobre esta Assembleia Diocesana, com várias inter-

venções, com destaque para a apresentação que o Senhor Bispo fez da sua Carta Pastoral. A Comunidade Canção Nova produziu um outro, mais curto, com a du-ração aproximada de 10 minutos, em forma de documentário. Além de imagens da Assembleia e da celebração eucarística, contém depoimentos de D. António Marto, do Reitor do Santuário de Fátima e do Vigário Geral, sobre o novo ano pastoral e seus objectivos. Podem ser adquiridos no Seminário de Leiria.

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Marcelo Cavalcante de Moraes

Novo sacerdote diocesano A diocese de Leiria-Fátima tem mais um sacerdote, ordenado por D. António

Marto, no passado dia 21 de Outubro, na sé de Leiria. Trata-se de Marcelo Caval-cante de Moraes, natural de Pindamonhangaba, Brasil, que veio para a diocese em 1999, então integrado na Comunidade Canção Nova. Depois de uma experiência na paróquia de Albergaria dos doze, fez os estudos filosófico-teológicos no ISET (Ins-tituto Superior de Estudos Teológicos), em Coimbra.

Com o templo repleto, D. António Marto expressou a sua alegria e, na homilia, relacionando o acontecimento com a liturgia do domingo, lembrou que a oração é ponto-chave da vida da Igreja e do sacerdote, e incentivou o neo-sacerdote a tor-nar-se sempre mais “um homem de Deus”, para puder levar Deus aos homens e os homens até Deus: “Crê o que lês, ensina o que crês e vive o que ensinas”. De forma clara, descreveu o papel do sacerdote na sociedade e recordou a necessidade de cada vez mais se tornar o dispensador dos mistérios de Deus ao povo sedento e carente da ternura e do amor de Deus. Apelando a que a verdade seja cada vez mais o distintivo do sacerdote, elogiou ao mesmo tempo a vida gasta e entregue ao serviço do Reino.

A presença numerosa do presbitério diocesano reforçou a comunhão de todos expressa na imposição das mãos sobre o jovem sacerdote, em união com o Bispo.

O novo sacerdote está agora a iniciar o seu ministério como Vigário paroquial em Maceira.

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Padres Luciano Guerra e Adelino Ferreira

Bodas de ouro sacerdotaisNo ano de 1957, há cinquenta anos, na Sé Catedral, D. João Pereira Venâncio,

então Bispo de Leiria, ordenou cinco novos presbíteros: três a 18 de Agosto e dois a 21 de Setembro. Um deles viria a pedir a dispensa dos compromissos sacerdotais e do exercício do ministério; dois já faleceram, os Padres Adelino da Silva Nunes e Filipe Luciano de Oliveira Vieira; estão ainda entre nós os Padres Adelino Rodrigues Ferreira e Luciano Gomes Paulo Guerra que foram homenageados pelas suas bodas de ouro sacerdotais no dia 27 de Setembro de 2007.

A basílica do Santuário de Fátima foi pequena para os muitos amigos, parentes e conhecidos que se juntaram à celebração promovida pela Fraternidade Sacerdotal. D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, que presidiu à Eucaristia concelebrada por mais de 50 sacerdotes, referiu o contexto privilegiado dos noventa anos das aparições de Fátima, do início de um novo pastoral sob o signo da contemplação da ternura de Deus, e da festa litúrgica do presbítero S. Vicente de Paulo que se dedicou à formação dos sacerdotes.

Na homilia, D. António falou da grandeza e humildade do sacerdócio. Grandeza patente na escolha e eleição dos apóstolos, fruto da compaixão de Deus pela huma-nidade: “O amor terno, paterno e materno de Deus, para com os homens levou-O a escolher colaboradores que participassem nessa ternura e nessa paternidade de Deus, à medida do seu coração”. No mundo que “tem fome do pão da verdade, o pão da vida, o pão do amor, o pão quotidiano”, “A missão do sacerdote é matar essa fome, sendo servidor da ternura de Deus que ama a humanidade. O sacerdócio não é, pois, uma mera profissão, mas é fruto da contemplação e da oração que enraíza na ternu-ra e no amor de Deus”. Mas o sacerdócio também é humilde, porque exercido por homens fracos, pequenos e pecadores: “Deus escolheu o que é fraco, o que é despre-zível, o que é louco, aos olhos do mundo para o tornar forte e grande”. Exemplo e expressão desta grandeza e humildade, S. Vicente de Paulo que, no início, “entendeu de forma errada a missão do sacerdote, mas, no contacto com os homens, acabou por descobrir o verdadeiro sentido do ministério”, teve uma vida marcada por aspectos que constituem “um excelente programa para o homem contemporâneo: a oração, o humanismo cristão e a fidelidade à Igreja”.

No final da celebração, os jubilados agradeceram a presença, ao longo da vida, de tantos amigos e companheiros de caminhada. Sobretudo agradeceram a Deus o Seu chamamento pelo qual se declararam honrados e felizes.

Terminada a celebração, a Fraternidade Sacerdotal ofereceu um almoço de confraternização aos aniversariantes, a todos os seus familiares e aos sacerdotes presentes.

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Adelino Rodrigues FerreiraFilho de José Ferreira Júnior e de Emília Ferreira Rodrigues, nasceu a 1 de De-

zembro de 1933, numa parcela da então freguesia de Pousos, actualmente freguesia de Santa Eufémia, concelho de Leiria. Entrou no Seminário a 14 de Outubro 1946 e recebeu a ordenação sacerdotal a 18 de Agosto de 1957. Foi nomeado coadjutor da Freixianda em 2 de Janeiro de 1958, pároco da Urqueira em 5 de Agosto de 1965 e Director Espiritual do Seminário Médio de Leiria em Outubro de 1967. A 3 de Março de 1971 foi para Lamego, como secretário do Bispo D. Américo Henriques, e, em 29 de Maio de 1972, obteve licença para o acompanhar, para a Diocese de Nova-Lisboa, Angola. Em Outubro de 1974, regressado à Diocese e ao Seminário, retoma o cargo de Director Espiritual e professor. Em 1988 é nomeado Director Diocesano do Apostolado de Oração e responsável da Cruzada Eucarística e da Liga Eucarística. Em 15 de Outubro de 1993 é nomeado pároco dos Parceiros, onde se mantém actualmente, em acumulação com os outros cargos. A 15 de Março desse ano é confirmado Juiz no Tribunal Eclesiástico e, a 5 de Abril de 1999, reconduzido na mesma função. Foi Ecónomo Diocesano desde 9 de Junho de 1994 até Março de 2007. Também foi Ecónomo da Casa Diocesana do Clero desde a sua fundação até há poucos anos, e locutor das celebrações aniversárias do Santuário de Fátima durante cerca de trinta anos.

Luciano Gomes Paulo GuerraFilho de Joaquim Paulo Guerra e de Maria do Rosário Gomes Louro, nasceu

na freguesia de Calvaria, concelho de Porto de Mós, no dia 31 de Agosto de 1932. Entrou no Seminário de Leiria a 15 de Outubro de 1943, onde cursou humanidades e filosofia, e recebeu a ordenação sacerdotal, na Sé de Leiria, a 21 de Setembro de 1957. Continuou os estudos eclesiásticos na Universidade Gregoriana de Roma, de 1952 a 1958. Licenciado em filosofia, veio a concluir o curso de Teologia, em Sala-manca, no ano de 1959. De 1959 a 1961 exerceu as funções de Capelão do Santuário de Fátima e Director da Pia União dos Servitas. Foi Director do Externato Dr. Afon-so Lopes Vieira, na Marinha Grande, de 1961 a 1964. De 1964 a 1968, trabalhou em várias paróquias de Paris, em França, onde fez o currículo para a Láurea em filosofia, no Instituto Católico. Regressou a Portugal para retomar o cargo de Director do Ex-ternato Dr. Afonso Lopes Vieira, de 1968 a 1973. Desde 13 de Fevereiro de 1973, é reitor do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, onde desempenha tam-bém as funções de Director do Jornal Voz da Fátima e do Boletim Internacional Fá-tima Luz e Paz. Foi nomeado Monsenhor/Capelão de Sua Santidade pelo Papa João Paulo II, a 14 de Fevereiro de 1983, e a dez de Abril de 1988 foi nomeado Cónego da Sé de Leiria. Desde 25 de Julho de 2001, é membro do Colégio de Consultores.

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Livro de D. António Marto sobre FátimaO Bispo de Leiria-Fátima deu à estampa um livro intitulado “Fátima e a moder-

nidade: Profecia e Escatologia”, onde apresenta um estudo teológico da mensagem de Fátima para os tempos modernos. Em declarações à agência Ecclesia, o prelado fundamentou a razão da sua obra: “Infelizmente, muitas vezes, as pessoas só sabem pormenores periféricos e não conhecem o coração da mensagem”. O estudo em causa foi-lhe pedido há dez anos, por ocasião dos oitenta anos das aparições, e nele descobriu as “chaves de compreensão da mensagem”, um assunto “mais sério do que eu pensava antigamente”.

Conferência Episcopal e os Estatutos do SantuárioA Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) aprovou, em Assembleia Plenária

realizada no início de Maio, os novos Estatutos do Santuário de Fátima. O comu-nicado final da Assembleia refere que “o relevo religioso e a dimensão eclesial do Santuário exigiam um enquadramento pastoral e jurídico que espelhasse a realidade actual, pelo que os estatutos devem definir a missão do Santuário no acolhimento aos peregrinos e na proposta de vivência da mensagem de Fátima”.

Um dos pontos assenta na corresponsabilidade da CEP com a jurisdição ordi-nária do Bispo de Leiria-Fátima, através da activação de um Conselho Nacional do Santuário de Fátima, já criado por Pio XII em 1958, o qual passa a ser constituído pelo presidente da CEP, pelos três metropolitas portugueses (Patriarca de Lisboa, Arcebispo Primaz de Braga e Arcebispo de Évora) e pelo Bispo de Leiria-Fátima, tendo como assessor permanente o Reitor do Santuário. Este conselho colabora com o Bispo diocesano e o Reitor “em tudo o que possa contribuir para o bom funcio-namento pastoral e administrativo do Santuário”. Fica ainda um representante da CEP no Conselho de Pastoral e na Comissão de Gestão Económico-Financeira do Santuário.

A este propósito, D. Jorge Ortiga, presidente da CEP, sublinhou que, dada a transformação da realidade deste Santuário numa dimensão nacional e mundial, “o próprio Bispo de Leiria-Fátima necessita, não de ser substituído, nem controlado, mas da ajuda desse Conselho Nacional, em termos pastorais, para que Fátima seja também modelo para as outras dioceses”. O Conselho Nacional deverá reunir-se duas a três vezes por ano, para “reflectir sobre uma pastoral de conjunto, fazer pro-postas e enriquecer o trabalho que se faz”.

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“A gestão do Santuário praticamente continuará na mesma”, por exemplo, com a nomeação do Reitor a ser da responsabilidade do Bispo leiriense, com homologação da CEP. “O Reitor do Santuário poderá, porventura, ser de outra diocese, mas não é aquilo que desejamos. Tomar conta do Santuário de Fátima foi uma coisa que nunca nos passou pela cabeça”, assegurou.

Quanto à questão da salvaguarda da “ortodoxia”, que chegou a ser apontada como razão para esta maior intervenção da CEP, D. Jorge Ortiga frisou que, se esse fosse o motivo, “o próprio Bispo de Leiria-Fátima seria capaz de o fazer”.

Os novos estatutos deverão, entretanto, ser homologados pela Congregação para o Clero, da Santa Sé, e posteriormente tornados públicos.

13 de Maio nos 25 anos do atentado a João Paulo IIMais de 250 mil peregrinos estiveram, no passado dia 13 de Maio, no Santuário

em Fátima, a participar nas cerimónias da 89ª Peregrinação Internacional Aniver-sária, presidida por D. Stanislaw Dziwisz, cardeal de Cracóvia e antigo secretário pessoal de João Paulo II. Muitos outros acompanharam as celebrações do exterior do recinto, que se tornou diminuto para acolher a multidão.

D. Stanislaw agradeceu a Nossa Senhora ter salvo a vida de João Paulo II e, também, a Igreja de Cracóvia que lhe está confiada, e salientou ser “um humilde ser-vidor deste grande Papa (João Paulo II) e, ao mesmo tempo, afortunada testemunha da sua santidade”. Na sua homilia, lembrou ainda as Aparições, os pedidos de Nossa Senhora aos Pastorinhos, acolhidos por João Paulo II, e as mudanças ocorridas na Europa e no mundo desde o atentado: “O comunismo ateu foi derrotado e hoje os povos oprimidos podem viver em paz”.

No final da celebração eucarística e antes da bênção final, o Santuário de Fátima completou a segunda fase da geminação com o Santuário de Pettoruto, na Itália. Nesta pequena cerimónia, os responsáveis dos santuários trocaram réplicas das ima-gens marianas dos dois santuários.

Participaram nas celebrações peregrinos de 25 países do mundo. As peregrina-ções organizadas foram 101 e os doentes inscritos 481. Até às 8h30 do dia 13 foram acolhidos 624 peregrinos no posto de socorros, confessaram-se 4070 e 1242 recor-reram ao serviço de lava-pés. Prestaram serviço 312 servitas, 30 escuteiros, dois médicos e sete enfermeiros.

No mesmo dia, uma das réplicas da primeira “Imagem Peregrina da Virgem de Fátima” esteve no Vaticano, para lembrar os 25 anos sobre o atentado sofrido por João Paulo II na praça de São Pedro. Coube ao Cardeal Camillo Ruini, vigário do Papa, presidir à celebração eucarística, na Basílica de São Pedro, que marcou o início de uma grande festa em honra de João Paulo II, com um concerto e fogo-de-artifício na praça de São Pedro.

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Novo filme sobre Fátima“O dia em que o sol dançou” é o nome do mais recente filme sobre o fenómeno

das Aparições de Fátima, realizado pelos britânicos Ian e Dominic Higgins, e que conta com crianças portuguesas no elenco. De acordo com a organização, o filme retrata o anticlericalismo que existia em Portugal durante a I República e aborda a prisão dos pastorinhos pelo administrador de Ourém. No momento alto do filme é abordado o Milagre do Sol, a 13 de Outubro de 1917. Produzido pela “13th Day Films”, a obra tem como fio condutor a “perspectiva das crianças” e baseia-se nos textos da Irmã Lúcia e em muitas testemunhas do Milagre do Sol. Sem fins comer-ciais, o filme visa “promover a mensagem de Fátima para uma audiência mais vasta e combater o cepticismo actual”, referem os seus promotores. É apresentado em inglês e português, em versões de 45 minutos para televisão e de 120 minutos para o cinema. Será dobrado em espanhol, polaco e italiano. Imagens e mais informações em www.thedaythesundanced.com.

Peregrinação Nacional das Crianças O tema da Peregrinação Nacional das Crianças ao Santuário de Fátima, nos dias

9 e 10 de Junho, centrou-se na mensagem do Anjo: “Não temais, sou o Anjo da Paz”. Presidiu a este encontro de fé e de festa, que congregou em Fátima cerca de 30 mil crianças portuguesas, D. Serafim de Sousa ferreira e Silva, administrador apostólico da Diocese de Leiria-Fátima.

Segundo a Comissão Organizadora, a escolha do slogan da peregrinação deveu-se ao facto de as “palavras do Anjo, mais do que quaisquer outras, serem portadoras de muita serenidade, confiança e paz, face aos muitos medos que nos assaltam na sociedade de hoje”.

Do programa da peregrinação destacamos a visita aos locais da aparição do Anjo (Loca do Cabeço e quintal da Irmã Lúcia), a celebração da noite “Orar com os An-jos”, as encenações “Aparições do Anjo” e “O Drama Espiritual dos Pastorinhos”, e a grande celebração eucarística, no recinto. No momento da Oração dos Fiéis, as crianças relembraram os medos mais comuns que têm e as situações infelizes que muitos vivem: o medo do escuro e do desconhecido, da guerra e do ódio, e de todas as agressões, violências e abandonos. E no final da celebração, como tem sido costu-me, houve uma surpresa. Este ano, foi a oferta do livro “O Anjo de Fátima”, ilustrado por trinta trabalhos seleccionados do concurso nacional lançado pelo Santuário a todas as escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico de Portugal, por ocasião deste 90.º aniversário das aparições do Anjo.

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Jornadas sobre Crianças institucionalizadasIntegradas no programa comemorativo dos 90 anos das Aparições de Fátima, o

Santuário de Fátima realizou, nos passados dias 2 e 3 de Junho, umas jornadas sobre crianças institucionalizadas, subordinadas ao tema “Ninguém espera por mim?”.

Da agenda de trabalhos fez parte a análise a temas como a assistência infantil, as instituições de acolhimento, a criança sob o olhar de Deus, o papel do educador como sentinela, os preconceitos sociais, entre outros. Teodoro da Fonte, Freitas Go-mes, Virgílio Mota e Catalina Pestana foram alguns dos conferencistas convidados.

Guardas prisionais pedalaram até FátimaNo dia 3 de Junho, um grupo de guardas dos dois estabelecimentos prisionais

de Leiria pedalaram em peregrinação ao Santuário de Fátima, mais concretamente, aos Valinhos. No grupo, essencialmente composto por guardas, integraram-se ainda alguns visitadores e outro pessoal civil para apoio logístico, e o capelão dos estabe-lecimentos, o padre Manuel Pina Pedro.

A bênção de partida foi dada por volta das 8h00 e, sempre com boa disposição, entusiasmo e camaradagem, foram pedalando até chegarem ao Calvário Húngaro, pelas 10h20. No local, participaram na Santa Missa, juntamente com algumas pesso-as amigas e um grupo coral de jovens. Nesta eucaristia, presidida pelo capelão, este-ve presente, de forma especial, a intenção da guarda Silvina Moreira, falecida no ano passado, vítima de doença súbita. O capelão fez uma reflexão sobre a actualidade da mensagem de Fátima apelando para a importância da fidelidade à acção do Espírito Santo, pela prática dos mandamentos, a vivência dos sacramentos e a oração.

Após a celebração, houve reforço alimentar para o regresso, e todos chegaram sem percalços ao Estabelecimento Prisional de Leiria pelas 13h00, para um almoço de convívio.

A iniciativa contribuiu para o crescimento espiritual dos participantes e cimentou a união e a amizade entre os membros do corpo prisional. Ficou desde logo o desejo de repetir o evento para o próximo ano.

Grupos de Folclore em peregrinaçãoPelo quinto ano consecutivo, numa organização da Federação do Folclore Por-

tuguês (FFP), centenas de grupos folclóricos e ranchos participaram, no passado dia 11 de Junho, na Peregrinação Nacional do Folclore Português ao Santuário de Fátima. De acordo com informação prestada pelo presidente da FFP, Fernando Fer-reira, estiveram presentes 245 ranchos e grupos representativos de todas as regiões de Portugal, num total de mais de treze mil elementos.

Os trajes e as alfaias de trabalho retratavam fielmente o povo católico português

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do início do século XX. As várias profissões e os vários estratos sociais represen-tados ilustraram, assim, o viver e o sentir da alma portuguesa no início de século, coincidente com a época das aparições do Anjo e de Nossa Senhora. “A ideia desta peregrinação é que sirva também de aprendizagem para os elementos mais novos dos grupos: queremos transmitir-lhes a nossa fé e a nossa devoção por Nossa Senho-ra e pedir a Maria que nos ajude, nas nossas vidas e aos nossos grupos de folclore”, afirmou Fernando Ferreira, sublinhando a religiosidade do povo português e a tradi-ção das grandes romarias realizadas um pouco por todo o País.

No próximo ano, a peregrinação revestirá um carácter internacional, uma vez que marcará o encerramento do 2.º Congresso Mundial de Folclore, que terá lugar em Portugal, de 25 a 29 de Abril, sob o tema “Os grupos de folclore cruzam olhares, unem esforços na defesa e na preservação da identidade dos povos do mundo”. O en-cerramento deste encontro mundial, a promover pela União das Federações de Gru-pos de Folclore, na qual estão representados cinquenta países, será precisamente no Santuário de Fátima, com esta peregrinação internacional. “A ideia da peregrinação a Fátima foi muito bem recebida pela União das Federações de Grupos de Folclore e será o ponto alto deste encontro do folclore de Portugal e do mundo”, considera o presidente da FFP, que aproveitou para “mandar uma mensagem ao Governo Portu-guês: que não se esqueça das raízes de Portugal, da identidade portuguesa, defendida e preservada pelo folclore”.

Peregrinação de surdos e amblíopesRealizou-se no passado dia 25 de Junho a Peregrinação de Surdos e Amblíopes

ao Santuário de Fátima. Pela primeira vez, os cristãos surdos e amblíopes puderam participar numa eucaristia, celebrada especialmente a pensar neles. Um ecrã gigante, colocado do lado da colunata sul, permitiu-lhes acompanhar, através de legenda, as palavras e cânticos da celebração. Quem acompanhou esta Missa, a partir de casa, com transmissão pela RTP 1, fê-lo a partir da tradução gestual, no canto inferior direito do ecrã. Trata-se de um trabalho inovador do Instituto Politécnico de Leiria, que visa permitir mais acessibilidades. Para monitorizar a experiência, esteve pre-sente na celebração uma equipa ligada ao projecto.

Peregrinação dos avósOs avós tiveram a sua peregrinação anual ao Santuário de Fátima, sob o tema

“Vamos viver a Primavera da Vida”, nos dias 25 e 26 de Julho, altura em que a Igreja celebra a festa litúrgica de S. Joaquim e Santa Ana, pais de Nossa Senhora.

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Peregrinação do Movimento da Mensagem de Fátima “Queremos ser Mensageiros da conversão e do amor. Prometemos prestar ser-

viço, com generosidade e esperança, aos mais desprotegidos. Vamos dizer em voz alta, por palavras e por obras, que a paz é fruto da verdade e da justiça. Pedimos a Nossa Senhora de Fátima uma bênção especial para o nosso trabalho e para a nossa fé. Acreditamos que o seu Imaculado Coração triunfará”, proclamaram os cerca de doze mil peregrinos, membros do Movimento Mensagem de Fátima, ao renovarem a sua consagração a Nossa Senhora, durante a peregrinação nacional do movimento ao Santuário, realizada nos dias 15 e 16 de Julho.

Peregrinação de Julho A defesa da vida e do matrimónio marcaram a peregrinação Internacional Aniver-

sária de Julho, no Santuário de Fátima, presidida pelo Cardeal norte-americano Ja-mes Stafford, Penitenciário-Mor da Penitenciaria Apostólica da Santa Sé. Durante o encontro, subordinado ao tema “Crescei e multiplicai-vos”, os peregrinos de Fátima rezaram pelos que são vítimas do aborto ou da eutanásia e foram exortados a rejeitar “qualquer tipo de contracepção”. Durante a homilia, o Cardeal Stafford sublinhou que “a espiritualidade do homem e da mulher casados significa que ambos vivem de acordo com o Espírito Santo. Para o homem e a mulher, que se unem em matrimónio cristão, as implicações são claras: ambos devem empenhar-se em transfigurar aquilo que ao princípio é primariamente um amor de apego físico, o eros, naquela espécie de amor que reconhece ser agarrado por e transformado no amor ‘agape’ de Deus, aquele amor que se esvazia de si mesmo para receber o outro”, frisou, lembrando que esta união é indissolúvel. Já no sábado, o cardeal norte-americano salientara que “o grande desafio da Europa é o desafio da socialização, em que homens e mulheres são pais e mães, aceitam a responsabilidade pela sua sexualidade, que tem como fim fazer nascer uma criança, e tudo aquilo que uma criança implica: amor, responsabi-lidade e estabilidade”.

Peregrinação do Migrante e do RefugiadoRealizou-se, a 12 e 13 de Agosto, mais uma edição da Peregrinação Internacional

do Migrante e do Refugiado, com uma participação de mais de 120 mil peregrinos. A Eucaristia internacional foi celebrada em rito latino e em rito oriental, o que aconte-ceu pela primeira vez no Santuário de Fátima, presidida por D. Dionisio Lachovicz, responsável da Igreja Greco-Católica pelas Comunidades Ucranianas no Exterior.

Durante a homilia, o prelado abordou as causas da migração e alguns problemas que enfrentam as comunidades de imigrantes, em especial as originárias dos países do Leste Europeu: “Ao caírem os muros e rasgarem-se as cortinas de ferro, o mundo

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inteiro percebeu o mal que o sistema soviético ateu conseguiu fazer nas pessoas e na sociedade, além da falência total do seu sistema económico. A falência do sistema soviético gerou novas estruturas da morte. Como resolver os grandes problemas duma imigração que é sequela de um sistema injusto e criminoso? Como recuperar o sentido da vida, da família, da castidade, da pureza num contexto saturado de dor, separação e fortíssimas tentações de infidelidade? É possível ser honesto num mundo de mentiras e exploração? É possível ainda viver a cultura da vida dentro do contexto da cultura da morte? Do ponto de vista humano parece impossível, apesar de tanto esforço dispensado pelos Governos e pela Sociedade, pela Igreja e suas organizações de caridade. Todavia, sim, é possível! È preciso olhar para o alto! Para o alto, na direcção do sol e acharemos a solução. Acredito que o milagre da “dança do Sol” poderá repetir-se, apesar das tempestades morais do contexto actual. Nossa Senhora pede-nos conversão!”

Ajuda às mães com filhos deficientesO Santuário e o Movimento da Mensagem de Fátima pretendem ajudar as

crianças, em especial as que pertencem a famílias mais carenciadas, a viver um momento diferente durante o ano, uma ocasião onde possam brincar e descansar, permitindo também às suas mães que tenham um momento de descanso. “Sabendo que há famílias que têm consigo um filho com deficiência, e que agradeciam muito poder deixá-lo durante alguns dias do ano a uma instituição idónea, até para terem descanso próprio, pareceu-me que o Santuário de Fátima faria bem em proporcionar essa possibilidade”, explicou o reitor do Santuário de Fátima.

Assim, de 20 a 31 de Agosto, o Santuário ofereceu uns dias de repouso às mães com filhos deficientes e umas férias diferentes aos filhos, assumindo a totalidade das despesas com esta iniciativa. As mães que o desejaram puderam continuar na companhia dos filhos.

Perfil do visitante de FátimaEstudar a satisfação, as motivações e as expectativas dos visitantes de Fátima foi

o objectivo do estudo realizado entre 24 de Julho e 31 de Agosto por dois bolseiros, licenciados em Turismo, que efectuaram cerca de 400 inquéritos na cidade, para conhecer o perfil do visitante, peregrino ou turista. O estudo servirá para estudar os vários segmentos de mercado que afluem a Fátima, adiantou a responsável pela equipa de investigação, Graça Poças dos Santos, e também para dar pistas sobre potenciais novos públicos. A investigadora acredita que as pessoas com mobilidade condicionada (deficientes e idosos) poderão ser este público-alvo. O projecto, dirigi-do localmente pela Região de Turismo Leiria/Fátima, foi financiado pelo programa comunitário Interreg IIIC.

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Preces a Nossa Senhora pela InternetSão cerca de 60 os pedidos de oração que chegam diariamente ao Santuário

de Fátima pelo endereço electrónico [email protected]. A maioria das mensagens vem do outro lado do Atlântico, do Brasil. Seguem-se Portugal, Canadá, Estados Unidos e Itália. Há quem peça a graça da saúde, de matrimónios felizes ou namoros abençoados, bem como o sucesso escolar, profissional e familiar. A paz no mundo e o fim dos conflitos estão entre os pedidos colocados diariamente na peanha da imagem de Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições. Em 2005, foram recebi-dos 163.571 pedidos de oração, através de email, carta ou entrega pessoal.

Santuário com saldo negativo em 2005O Santuário de Fátima apresentou um saldo negativo de 3,7 milhões de euros

durante o exercício de 2005, em parte resultante do investimento de cerca de 10 milhões de euros com as obras de construção da igreja da Santíssima Trindade. Por outro lado, o Santuário passou a pagar impostos sobre os lucros de actividades co-merciais, referentes a três casas de alojamento, duas livrarias e duas lojas de artigos religiosos.

As contas mostram que o total de investimentos ultrapassou os 12,4 milhões de euros. Em termos de despesa, no total, os diversos serviços do Santuário gastaram 8,52 milhões de euros, com destaque para o serviço de alojamento aos peregrinos (2,19 milhões) e o serviço de administração (4,23 milhões, entre os quais 694 mil euros em ofertas concedidas). A manutenção do Santuário custou 904 mil euros.

A nível das receitas, os donativos dos peregrinos voltaram a aumentar ligeira-mente, ultrapassando os 9,3 milhões de euros (9,2 milhões em 2004 e 8,7 milhões em 2003). O total de proveitos do Santuário chegou aos 17,26 milhões de euros.

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Serviços e MovimentosServiços e movimentos

Comissão Diocesana das Comunicações SociaisEntrevista ao Director, padre Rui Ribeiro

“Ousadia, criatividade, profissionalismo”Joaquim Santos

No dia 28 de Maio, a Igreja assinalou o Dia Mundial das Comunicações Sociais, este ano dedicado ao tema “Os Media: rede de comunicação, comunhão e cooperação”. O distrito de Leiria é um dos mais represen-tativos em número e qualidade de meios de comunicação social escrita e de rádio. Dos cerca de 900 títulos jornalísticos inscritos no Instituto da Comunicação Social, 90 são do distrito de Leiria; das 348 estações de rádio portuguesas, 19 pertencem à área distrital leiriense. Para além do Órgão Oficial “Lei-ria-Fátima” e dos dois semanários diocesa-nos, muitos são propriedade de paróquias e instituições católicas, cujos objectivos pri-mordiais passam por corresponder de forma permanente aos valores da Igreja.

A este propósito, entrevistámos o padre Rui Ribeiro. Fez o curso de Comunicação Social na Sorbonne, em Paris, e em 2001 foi nomeado pároco das Cortes e director da Comissão Diocesana das Comunicações Sociais, acumulando com o trabalho no Seminário. Em 2004, deixa o Seminário e é nomeado capelão dos estabelecimentos prisionais de Leiria. Já em 2005, aceitou o cargo de director do semanário mais an-tigo do Distrito e da Diocese, O Mensageiro.

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Serviços e Movimentos

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Serviços e Movimentos

É director da Comissão Diocesana para as Comunicações Sociais da Diocese de Leiria-Fátima. Como é constituída, para que serve e quais os seus objectivos dessa comissão?

A actual Comissão Diocesana para as Comunicações Sociais está desfeita. Foi constituída um pouco à pressa, em 2001, reuniu-se durante os primeiros anos, elabo-rou projectos, fez estudos, mas, com o passar do tempo, foi-se desmembrando. Os objectivos da Comissão são de vária índole: cabe-lhe coordenar tudo o que diz res-peito à comunicação social da Diocese, incluindo os boletins e os jornais paroquiais. Este trabalho de coordenação não é entendido como vigilância, mas como suporte, colaboração e apoio. Na reflexão que fizemos, pensámos ir mais longe: constituir um gabinete de comunicação social, que seria uma espécie de central de informação em dois sentidos, para dentro e para fora da Igreja. Seria o pólo de ligação entre a diocese e a sociedade civil. Outro projecto era a possibilidade de se constituir uma cooperativa de distribuição, que iria permitir ultrapassar dificuldades relativas ao porte pago dos vários jornais paroquiais.

A Diocese de Leiria-Fátima tem um grande património de jornais e boletins pa-roquiais. Não acha pertinente um maior acompanhamento dos seus conteúdos e reformulações gráficas?

O que se passa a nível da Diocese passa-se a nível nacional. A Igreja é a maior empresa de informação do País. O que acontece é que não há uma experiência de trabalho conjunto, o que é de estranhar na Igreja. Cada diocese olha para si mesma e cada paróquia preocupa-se consigo. Este olhar demasiado centrado nas próprias possibilidades e capacidades impossibilita um trabalho de conjunto e profundo. Há algumas tentativas de dar volta a isto, mas trata-se de um processo moroso. Por outro lado, importa ter presente que a maioria dos jornais e boletins surgiram de forma pouco ou nada profissional, o que limita em muito a coragem de enveredar por um caminho que exige profissionalismo e qualidade.

Qual o modelo e orientações para o futuro da comunicação social da diocese de Leiria-Fátima? Concorda com a existência de dois semanários católicos?

Os dois jornais que refere têm fisionomias próprias e lugar na Diocese. Penso, no entanto, que a comunicação social da Diocese tem uma especificidade e pode apostar nela. Algum do espaço que estes jornais vieram preencher foi invadido por outros que apareceram nos últimos anos. Não me choca que lhes deixemos esse espaço e nos ocupemos daquilo que nos é específico. Há uma linguagem, uma visão e uma filosofia que só a Igreja consegue ter. Aliás, é mesmo seu dever tê-las. Um jornal católico deve ser porta-voz dessa visão e dessa forma de estar, sem entrar em concorrências, sem medos… porque nunca ninguém poderá dizer o que a Igreja diz. Para o futuro, preconizo uma aposta mais radical, serena e convicta na afirmação dessa identidade.

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Quais as maiores dificuldades para essas mudanças?É neste campo que temos, talvez, muito a fazer. A Comissão Diocesana das

Comunicações Sociais desmembrou-se, porque os seus membros se foram aperce-bendo de que lhes era pedido trabalho, mas não lhes eram dadas as condições para o executar. Ou seja, de uma vez por todas, temos que acabar com o amadorismo; trabalhamos por amor à camisola, mas precisamos de viver e, às vezes, até de so-breviver. É preciso investir na formação e no equipamento. Não se pode ter uma Comissão destas a funcionar sem ter uma sala, um computador, um telefone, um fax, etc. É preciso investir sem medo. Creio que a Diocese tem de se questionar: quer, ou não quer, apostar na comunicação social? Esta aposta serve, ou não, o trabalho da evangelização? Se sim, então é necessário investir: em pessoas, em estruturas e em meios técnicos.

A TVI teve como propósito ser uma estação de televisão da Igreja católica e houve um desfasamento dos seus objectivos iniciais. Ao nível da rádio, como vê a actual situação da RR/Voz de Leiria?

O estatuto da RR/Voz de Leiria nunca lhe permitiu ter uma autonomia completa em relação à emissora nacional. Foi sempre uma rádio dependente das directrizes nacionais. Apostar na regionalização não significa apenas fazer programas regio-nais. Pelo contrário, começa pela confiança depositada nas estruturas e direcções regionais. Enquanto não se der maior autonomia às emissoras regionais, nunca se dará possibilidade de progressão e crescimento. A RR/Voz de Leiria não é ainda uma causa perdida de todo, mas precisa de uma reestruturação, sobretudo no estatuto que a liga à emissora nacional.

A criação de uma agência de comunicação de toda a diocese de Leiria-Fátima garantiria a produção de conteúdos a difundir localmente e a nível nacional. Não será esse um passo a seguir futuramente?

Essa é a ideia que está por trás da proposta feita pela Comissão Diocesana, há já 5 anos, quando falou no “Gabinete de Comunicação Social”. Ninguém se opôs, mas ninguém deu um passo para a sua criação. São precisos meios.

Como vê os média de Leiria, sobretudo no que respeita ao sentido de responsa-bilidade pelo bem comum?

Penso que Leiria está talvez um pouco “sufocada” pelos média e um pouco dispersa. Não precisaríamos de tantos jornais nem de tantas rádios. Precisávamos de maior especificidade. Aposta-se demasiado na comunicação de tipo generalista e não se fazem apostas na comunicação ou informação especializada. Por toda a Europa, este é o passo que se está a dar e nós poderíamos avançar para ele, sem ter de passar as dificuldades que outros passaram: o desaparecimento de muitos órgãos de comunicação.

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Como director do jornal O Mensageiro, o semanário mais antigo do distrito de Leiria, como define a sua linha editorial?

O jornal O Mensageiro nasceu num contexto muito próprio e com o objectivo, na altura, muito concreto, de lutar pela a restauração da Diocese. Esse objectivo foi al-cançado, muito pelo trabalho feito pelo fundador do jornal, o padre Lacerda. Só por isso, O Mensageiro está de parabéns e a Diocese, como o Distrito, devem-lhe muito. Agora, os tempos são outros; o jornal continua e, a meu ver, deveria tornar-se a voz e o espelho da Igreja. Voz para ajudar a fazer uma leitura cristã da vida civil; espelho para dar a conhecer o que vai mexendo dentro da Igreja. É propriedade do Seminá-rio e está implantado num meio onde há outro jornal diocesano. Ambos deveriam sentar-se à mesa e dialogar, tendo em conta os fiéis, os homens de boa vontade e o serviço que se lhes pode prestar, e nessa linha delinear em conjunto uma estratégia e um projecto. Sem saudosismos, sem medos, mas apenas com um objectivo: servir o melhor possível o Distrito, as pessoas que aqui vivem, os cristãos que aqui esperam a voz da Igreja.

O Papa Bento XVI, na sua mensagem para o 40º Dia Mundial das Comunica-ções Sociais, afirma: “Os meios de comunicação social são uma ‘grande mesa redonda’ para o diálogo da humanidade, mas algumas atitudes no seu interior podem gerar uma monocultura que ofusca o génio criativo, reduz a subtileza de um pensamento complexo e desvaloriza as peculiaridades das práticas culturais e a individualidade do credo religioso”. Quer comentar esta afirmação?

Tal como respondi anteriormente, penso que há em nós muita dificuldade em nos libertarmos do passado; temos muito medo de arriscar; não somos criativos em relação ao futuro. O Papa pede-nos ousadia, criatividade, planeamento, profissiona-lismo. Tudo o que se pode conseguir numa mesa redonda, ou seja, no diálogo, e na abertura à verdade e ao bem comum. Estamos cá para servir os homens e não para nos servirmos a nós próprios.

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Comissão Diocesana Justiça e Paz

“Pobreza e Exclusão Social na Diocese”O problema da pobreza e da exclusão social vem sendo referido com alguma

frequência na comunicação social e tem sido objecto de intervenções cada vez mais numerosas tanto por parte de entidades oficiais como da sociedade civil. Esta aten-ção em crescendo indicia uma reacção salutar à prevalência de uma avaliação social quase exclusivamente económica e que se exprime em termos tendencialmente globais. As médias e outros indicadores gerais do nível social de vida, podem esca-motear completamente os dramas reais das pessoas concretas.

Em 8 de Julho de 2004, quando se despertava para uma situação de agravamento da pobreza em todo o País, cujos números ninguém sabia precisar, a Comissão Dio-cesana Justiça e Paz levou a efeito um colóquio sobre o tema, numa perspectiva ao mesmo tempo nacional e local. O principal objectivo, ao nível da sensibilização e identificação da problemática, pareceu atingido. A presença e participação de nume-rosas pessoas inseridas no respectivos meios e de representantes de organizações so-ciais, públicas e privadas, e de movimentos sócio-caritativos, proporcionaram vivo debate e deixaram claro que um melhor conhecimento da realidade e uma estreita cooperação entre todos são imprescindíveis para lutar de forma adequada e eficaz contra os diversos géneros de pobreza e exclusão.

Hoje, decorridos quase dois anos, a persistência dos problemas e os aspectos multifacetados do seu agravamento em áreas como o emprego, saúde, habitação e educação, apelam a uma abordagem mais localizada das situações e dos meios necessários em termos económicos, de participação cívica e de saúde física e psico-lógica das pessoas atingidas.

A um pequeno questionário lançado no território da Diocese, responderam 60% das paróquias, representativas de cerca de 75% da população. Dentro do condiciona-lismo do empreendimento, podemos chegar a algumas conclusões de grande alcance prático:

1- A percepção dos casos de pobreza e exclusão, nas próprias comunidades, torna-se difícil. As pessoas afectadas procuram fugir a um certo estigma social es-condendo a sua situação. Por outro lado, falta uma definição dos contornos ou do limiar da pobreza.

2- Mediante as indicações obtidas e numa extrapulação ao todo da Diocese, cal-culam-se em cerca de 1300 as famílias apercebidas em situação de pobreza.

3- O maior número de casos de pobreza é detectado nas paróquias mais popu-losas. Estão nestes casos a Marinha Grande, Marrazes e Vieira de Leiria. Tanto na Marinha Grande como em Marrazes, é visível a correlação entre o número de casos

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e a habitação em bairros sociais de grande concentração e de difícil inserção. O de-semprego e o trabalho precário são factores decisivos aos quais se junta, no caso da Vieira de Leiria, o carácter sazonal de algumas ocupações.

4- Nas paróquias tradicionalmente mais agrícolas, como a Batalha e Colmeias, a evolução da agricultura, de subsistência a actividade não rentável, criou novas dificuldades.

5- Em geral, os casos de pobreza são associados a: Falta de recursos económicos; Comportamentos auto-destrutivos (alcoolismo, toxicodependência, prostituição); Rupturas familiares ou enfraquecimento dos laços familiares e sociais; Questões do foro mental; Problemas de inserção de minorias étnicas.

6- Entre os recursos institucionais de resposta, são valorizados designadamente: Conferências de São Vicente de Paulo; Grupos sócio-caritativos e voluntários; Cen-tros sociais e paroquiais; Caritas; Associações de desenvolvimento; Conselho Local de Acção Social (CLAS); Segurança Social.

7- As paróquias consideram como maior preocupação nos casos de pobreza: Falta de capacidade para gerir recursos; Desemprego; Insuficiência de rendimentos familiares; Falta de habitação condigna; Pobreza envergonhada; Falta de formação; Alcoolismo/tóxicodepedência.

8- Como expectativas de resposta, apontam para: Maior apoio das Entidades Oficiais; Formação e apoio técnico aos grupos socio-caritativos; Criação de empre-go e melhoria da situação económica geral; Apoio no acesso à habitação (rendas apoiadas, créditos bonificados...); Obtenção de respostas, a partir da rede social; Criação de gabinetes de apoio social nas freguesias; Constituição do Conselho Pastoral como elemento coordenador das actividades paroquiais; Criação de grupos socio-caritativos, onde não existem, com representantes de cada lugar da paróquia; Menos burocracia.

9- As respostas obtidas e a maneira como foram expressas, manifestam claro empenhamento, mas também grande dificuldade em definir os contornos concretos da pobreza e exclusão.

10- Em termos práticos, intui-se que uma atenção local permanente é tão impres-cindível como insuficiente. A pobreza e a exclusão são “factos sociais totais” cuja solução, implicando muito mais que o estrito âmbito económico, em grande parte dependente da grande conjuntura global, tem que contar com a cooperação solidária e subsidiária de todos. Todas as instâncias de carácter local, regional e até nacional necessitam de cooperar complementando-se nas suas acções e possibilidades espe-cíficas.

O problema da pobreza e da exclusão social, pelo seu carácter de urgência e de apelo a uma vigilância constante, continuará a constituir um dever para a Comissão Diocesana Justiça e Paz que, por isso mesmo procurará continuar a partilhá-lo com todos.

Leiria, 1 de Junho de 2006

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Grupo diocesano Ondjoyetu está no Gungo

A missão no coração, o mundo nas mãosEntrevista de Luís Miguel Ferraz

Podemos considerar o padre Vítor Mira como o iniciador do “movimento missio-nário” no seio do clero diocesano e das comunidades de Leiria-Fátima, exceptuando o trabalho dos institutos missionários propriamente ditos. Apesar de não gostar que lhe chamemos o “pai” desta iniciativa missionária, frisando sempre que este é um trabalho de equipa, o certo é que foi com a sua partida para o Sumbe, em 1993, que se “abriu o precedente”.

A ideia de ir em missão está com ele desde que se conhece. Logo nos primeiros anos de formação, ponderou ingressar num instituto “ad gentes”, mas acabou por nunca deixar o Seminário Diocesano. Quando soube que era possível, já como padre da Diocese de Leiria-Fátima, fazer uma experiência temporária em terras de missão, não hesitou em fazer esse pedido ao Bispo, logo após a ordenação, em 05-07-1992. Quando lhe foi dada “luz verde”, partiu com alegria e vontade de evangelizar junto dos mais pobres e desfavorecidos.

A diocese de Novo Redondo – agora chamada Sumbe – surgiu como possibili-dade, por mero acaso. À chegada, ofereceram-lhe cargos como o de secretário epis-copal ou reitor do seminário. Mas não era essa a vontade que levava. Queria estar com o povo, conhecê-lo, viver com ele, dar-lhe o que tinha de melhor: a sua presença

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amiga e a mensagem de Jesus Cristo.Assim aconteceu durante três anos, até que, findo o tempo concedido pela Dio-

cese para esta experiência, foi chamado a regressar. Mas as saudades, o amor ao povo que deixou nas montanhas angolanas e o ímpeto missionário que lhe corria nas veias levaram-no a cativar outros para este trabalho, padres e leigos. O bispo tinha-o colocado como responsável das Obras Missionárias Pontifícias na Diocese, o que lhe dava ainda mais espaço para desenvolver este “amor”.

Em 1999, juntando os amigos que entretanto o acompanham, cria o grupo mis-sionário diocesano Ondjoyetu (no dialecto umbundo significa “a nossa casa”) e pro-move o projecto Acção Solidária em Angola (ASA), com o principal objectivo de levar com ele um grupo de voluntários ao Sumbe, durante dois meses das férias de Verão. A primeira edição foi em 2000 e, nestes seis anos, participaram nestas acções 25 pessoas, sobretudo jovens leigos.

Entretanto, o padre Vítor Mira vai alimentando a ideia de geminar estas duas dio-ceses, em sinal da sua comunhão eclesial, mútuo enriquecimento pastoral e partilha de bens materiais e espirituais. Os bispos D. Benedito Roberto e D. Serafim Ferreira e Silva vão aderindo à proposta e envolvem no processo as respectivas dioceses, Sumbe e Leiria-Fátima. O acordo de geminação concretiza-se já em 2006, e prevê, entre outras iniciativas comuns, o intercâmbio pastoral de padres e leigos. “A vinda de pessoas do Sumbe não será possível para já, pois exige que sejam criadas as con-dições de acolhimento, mas esperamos que venha a realizar-se em anos próximos, sobretudo para formação e colaboração pastoral”, esclarece o padre Vítor.

O que avança desde já é a ida de uma equipa de voluntários para o Gungo, uma comuna com 2100 km2 e cerca de 30 mil habitantes, isolada e muito pobre, onde o projecto ASA se tem desenvolvido com mais intensidade nos últimos anos.

A missa de envio foi no passado dia 30 de Julho, presidida por D. António Marto, na igreja paroquial dos Marrazes. Com o templo quase esgotado, e naquela que foi a primeira visita do prelado à paróquia, D. António Marto exortou a assembleia, e mais concretamente o grupo Ondjoyetu, com as palavras de São João a propósito do milagre da multiplicação dos pães e peixes: “Vão realizar o milagre do Evangelho de hoje, vão levar o dom de comunhão, sendo vós próprios dons para pôr ao serviço da comunhão em Angola, com a diocese do Sumbe”. Sem esquecer o importante papel de Maria, como intercessora junto do Pai, o prelado pediu a sua bênção para o grupo: “Confiamos a Nossa Senhora esta missão de comunhão, que leva daqui para realizar lá; que seja para eles a estrela e guia na entrega, na missão”. Após a celebração, seguiu-se um convívio promovido pela comunidade paroquial, que se prolongou pela tarde.

Foram quatro os voluntários que partiram, no dia 2 de Agosto, por períodos de 1 a 3 anos, com o objectivo de instalarem a missão. Outros se seguirão, garantindo uma permanência prevista para dez anos, mas que poderá vir a ser mantida posterior-mente. Antes da partida, conversámos com eles.

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O padre Vítor Mira foi o primeiro a deixar a Diocese de Leiria-Fátima para uma experiência de evangelização nas Missões, ou tinha já havido outros exemplos?

Pe. Vítor Mira (PVM) – Que eu tenha conhecimento, não havia exemplos dessa experiência missionária no clero diocesano, à excepção do padre Isidro, que esteve no Brasil, dada a sua ligação anterior ao instituto missionário de S. João de Deus.

Podemos, então, dizer que não havia um espírito missionário muito marcado na Diocese, excepto nos institutos com esse carisma?

PVM – Não é hábito desenvolver-se esse espírito nas dioceses, em Portugal, nem é muito frequente saírem padres diocesanos para esse serviço. Havia apenas o exemplo de alguns que integravam temporariamente o Instituto da Boa Nova para irem em missão, voltando depois às suas dioceses.

Não havendo esse “hábito”, o que o motivou para a actividade missionária?PVM – É um sonho desde miúdo, um chamamento de Deus. Entrei para o Se-

minário Diocesano porque foi o que conheci na altura e cheguei a ponderar duas ou três vezes sair para um instituto missionário. Nunca senti apoio para essa mu-dança e acabei por ficar. Quando soube que, mesmo como padre diocesano podia dar algum tempo às Missões, pedi ao Bispo D. Alberto para fazer essa experiência. Não senti inicialmente grande adesão e estava quase a desistir quando me disse que podia ir. Avancei imediatamente.

Considero que uma diocese não pode estar fechada em si mesma. O mundo mudou, não podemos viver só para os nossos problemas e questões. Mesmo o facto de haver poucos padres, não pode ser razão para deixarmos de mandar pessoas em missão, senão somos uma Igreja antiquada, agarrada às suas razões humanas.

Porque escolheu o Sumbe como destino?PVM – Foi por mero acaso. Um bispo meu conhecido tinha contactos com D.

Zacarias em Angola e perguntou-lhe se queria lá um padre de Leiria. Ele aceitou e eu também. Quando cheguei lá, era tudo novo, não conhecia nada nem ninguém. A partir daí criou-se uma relação só interrompida em 1996, quando me vim em-bora. Em 2000, quando o Bispo D. Benedito cá esteve e conheceu o nosso grupo manifestou desejo de que fizéssemos lá a primeira experiência do projecto ASA, e reactivou-se a ligação a esta diocese. Já em 2003, convidou-nos à geminação e a ter lá uma presença permanente, assumindo a missão do Gungo.

Quando começámos com este grupo missionário, não sabíamos se tínhamos condições para continuar, mas foram aparecendo voluntários e apoios que nos permitiram levá-lo por diante. Foi um processo gradual.

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Essa visão da universalidade da Igreja foi marcante no Concílio Vaticano II, como comprova a encíclica “Ad Gentes”, um forte incentivo à evangelização de todas as culturas, sobretudo onde a mensagem cristã era ainda desconhe-cida. Vivemos ainda esse contexto e essa necessidade?

PVM – Está a haver uma reanimação do espírito missionário na Igreja portu-guesa. Nos últimos 15, 20 anos, cerca de 2000 pessoas participaram em projectos de voluntariado desta natureza. Significa que há uma sensibilização para esta cau-sa, que tanto pode ser entusiasmo passageiro como tendência que se consolida. Dado interessante, depois de uma “quebra” registada nos anos 70 e mesmo nos anos seguintes ao Vaticano II, verifica-se que os leigos – casais, jovens em início de carreira, reformados, etc. – assumem cada vez mais força e presença nesta ac-ção. Embora não seja movimento de massas, há muitos focos deste espírito, sinal de uma Igreja mais consciente e participativa dessa sua missão universal.

Na nossa diocese, essa dinâmica é assegurada, sobretudo, pelo secretariado das Obras Missionárias Pontifícias e pelo grupo missionário Ondjoyetu.

PVM – As Obras Missionárias Pontifícias são a estrutura de enquadramento, que coordenam as acções do grupo missionário com as dos institutos, por exem-plo, as semanas missionárias, e onde se dá algum acompanhamento aos vários missionários que partem da Diocese. A certa altura, tive a noção de que havia duas Igrejas, a de cá e a de lá. Nós tínhamos os nossos jornais, eles tinham as revistas missionárias, mas eram dois mundos estanques e com pouca comunhão. Um dos objectivos é fazer que toda a Diocese se sinta missionária com os missionários que tem lá fora e que eles se sintam diocesanos, sem perder as ligações com as respec-tivas comunidades de origem. A experiência deles também enriquece a diocese.

Quem faz parte e como funciona o grupo?PVM – Há vários níveis de participação. Os “cativos”, que constituem o nú-

cleo de voluntários, são cerca de 40. Depois, há outros tantos “colaboradores”, que acompanham regularmente e dão apoio à nossas actividades. Mais recente-mente, criámos o grupo dos “Mil & Tal Amigos”, no qual qualquer pessoa se pode inscrever, dando a ajuda que puder, não só material, nas iniciativas e projectos que desenvolvemos. Simbolicamente, pedimos uma quota de um euro mensal, para apoiar especificamente a equipa que vai em missão, para a sua subsistência. Em casa recebem a nossa folha informativa, pela qual acompanham o que vamos fazendo. Neste movimento temos cerca de 140 inscritos.

Que mais motiva os voluntários: a evangelização ou o serviço humanitário?PVM – A ajuda humanitária também é evangelização, até porque desperta nas

pessoas o sentido da ajuda aos outros. Jesus diz: “Tive fome e destes-Me de co-

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mer, tive sede e destes-Me de beber…” O fazer o bem aos outros, que vivem em condições de extrema pobreza, de abandono e fome, também é Evangelho. Pro-curamos que, mesmo quem vem mais por razões humanitárias, ganhe um espírito cristão e evangélico, pois se vamos só por esses motivos pomos muito a questão em nós, nas nossas motivações pessoais. Quando vamos com a consciência de que é Cristo que nos chama, não agimos tanto em função de nós, mas d’Aquele que nos envia. Isso dá uma dimensão mais completa ao que fazemos. Não é só a promoção humana por si mesma, pôr as pessoas a comer melhor, a vestir melhor, ajudá-las materialmente, pois essa é a salvação terrena que não é definitiva. Mas, a partir daí, ajudar as pessoas a encontrar a salvação total, que Deus nos oferece em Jesus Cristo. Partimos da dimensão terrena para a dimensão de fé, que é a única que salva o homem.

No caso concreto do Sumbe, as pessoas já ouviram falar de Jesus Cristo, já há cristãos?

PVM – Sim, embora seja fruto de uma evangelização muito recente. Os pri-meiros cristãos são dos anos 30, ainda nem há um século. As pessoas acolhem a mensagem com muito entusiasmo e é impressionante ver, mesmo assim, o núme-ro de cristãos e o testemunho de alguns, tendo em conta as dificuldades que têm tido e o facto de serem uma comunidade muito entregue a si mesma. As pessoas agarraram a mensagem de Cristo e vêm n’Ele uma força e uma ajuda para se li-bertarem, quer no sentido da promoção humana, quer no sentido da libertação es-piritual, porque lá os feitiços, os maus-olhados, os medos têm uma presença muito grande. As pessoas aprendem a libertar-se pela fé em Jesus Cristo, como Deus que nos ama e que é uma força superior a tudo. Isso liberta-os. Até o facto de se identificarem com Jesus, morto e ressuscitado, ajuda-os a encontrar sentido para o sofrimento, que vêem normalmente como um castigo pelo mal que terão feito.

Essa comunidade tem já o acompanhamento de algum sacerdote?PVM – Teoricamente, estão ligados à paróquia do Sumbe. Mas, na prática, o

Gungo é imenso e o padre vai a um extremo que fica muito longe do sítio onde vive a maioria das pessoas. Celebra a missa, mas vem pouca gente, pois não há um acompanhamento regular e uma caminhada em comunidade. Nós vamos abrir a missão na Donga, um sítio central, no meio das montanhas.

E existem outros missionários a trabalhar no local?PVM – Há alguns na diocese do Sumbe, mesmo portugueses, como é o caso dos

padres da Boa Nova, que estão na Gabela, e dos dominicanos, que estão no Waku-Kungo. Encontramos gente de muitas nacionalidades, como os Capacetes Azuis da ONU, e as questões nacionais esbatem-se. Sentimo-nos todos cidadãos do mundo.

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Tendo em conta a multiplicidade de pessoas e as experiências que já fizeram, quais as principais resistências que encontram?

PVM – Há sempre quem resista um pouco. No Gungo, as pessoas acolhem-nos com grande alegria, apesar de alguns nativos nos olharem com desconfiança, com referências ainda ao processo de colonização, que também começou por “levar roupa e baptizar de graça”. O mais complicado é a burocracia do Governo, a ne-cessidade dos vistos, etc., mas em termos práticos sentimo-nos bem-vindos, mes-mo pelos governadores e administradores, que nos acolhem como uma ajuda.

Por outro lado, como tem sido a reacção dos voluntários ao que encontram? O processo de integração tem sido fácil?

PVM – Num grupo, há sempre uns que se adaptam melhor do que outros. Há sempre um ou outro que vai e se desliga quando volta. Mas a maioria continua e quer voltar. O segredo está na preparação cá e no acompanhamento que damos no local, ajudando-os a fazer a leitura daquela realidade, que é muito diferente da nossa. É importante conhecer os antecedentes e o porquê de muitas coisas. Mas entender a cultura local será fruto de um processo, em que temos de nos inserir para conseguir melhorá-lo.

Essa formação dada cá baseia-se fundamentalmente em que aspectos?PVM – Alguns participam em formações da Fundação Evangelização e Cul-

tura (FEC), em áreas como espiritualidade, evangelização, diálogo de culturas, documentação da Igreja sobre laicado missionário, etc. Este ano tivemos, na nossa Escola de Leigos, um curso sobre missiologia, em que os voluntários participa-ram. Depois temos a formação específica no próprio grupo.

Padre David Nogueira (PDN) – Um aspecto fundamental é o crescimento em grupo e a amizade entre nós, pois vamos viver como uma família. Não podemos ir como desconhecidos para um projecto deste género, onde teremos de ser como suporte uns dos outros.

Referem um processo de integração, ao ritmo da cultura nativa. Isso também significa menos “stress”…

PVM – Não sei se será. A quebra do ritmo a que estamos habituados também causa algum “stress”. Não vamos viver exactamente como eles, senão não iríamos fazer nada. Queremos integrar-nos, mas vamos para trabalhar pela melhoria das condições de vida. Teremos dois contentores para descarregar, muitos materiais a transportar, uma casa a construir. Vamos ter problemas, de certeza, porque lá nada funciona. A África exige duas virtudes fundamentais: paciência e resistência. É duro e temos de ir preparados.

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Já têm trabalhos definidos para cada voluntário?PVM – Nas anteriores edições do projecto ASA, cada um foi já com uma tarefa

definida, pois íamos por pouco tempo e precisávamos de rentabilizar ao máximo a nossa presença. Desta vez não. Como vamos para ficar, vamos fazer caminhada com a comunidade. O primeiro objectivo é instalar-nos e construir a casa. Depois, à medida que formos vendo as necessidades locais, vamos tentando dar resposta segundo as nossas capacidades. Há trabalho a fazer nas áreas da educação, da pro-moção feminina, da saúde… mas não levamos um projecto predefinido.

PDN – Podemos dizer que, para começar, todos vamos trabalhar na construção civil…

A construção da casa vai ser feita só por vós?PDN – Contamos com a orientação de um empreiteiro local, que trabalha na

diocese do Sumbe, mas vamos dar a mão-de-obra principal. Como sou filho de um empreiteiro, nas férias trabalhei na construção e também como tanoeiro, com o meu avô. Fiquei com boas noções do trabalho das obras e da madeira. E como levamos muitos materiais que nos ofereceram, como a estrutura da casa, caixilha-ria, canalização, electricidade, louças sanitárias, etc., muita coisa foi projectada e pensada por nós, pelo que teremos de acompanhar a edificação.

Têm já os fundos e materiais necessários à obra?PVM – Em princípio, teremos o necessário. Já tínhamos alguns fundos, como

os angariados no espectáculo com a Mafalda Veiga em Fátima. Além disso, re-cebemos da Diocese o ofertório realizado nas paróquias no dia 11 de Junho e temos também várias ofertas em materiais e ferramentas usados que poderão ser aproveitados.

PDN – A maior dificuldade será pagar o trabalho do construtor...

O processo de geminação prevê um intercâmbio nos dois sentidos, também com a vinda de padres ou leigos do Sumbe. Como está a ser desenvolvida essa outra dinâmica?

PDN – Para já, não está nada ainda previsto. Há essa referência no projecto de geminação, mas no Sumbe não se iniciou qualquer movimento nesse sentido. O ponto de partida foi o pedido que nos fizeram e desencadeou um processo de resposta. Queremos posteriormente fazer caminhada com eles, lá, e conhecer pes-soas que possam vir a corresponder a esse segundo momento deste intercâmbio pastoral.

PVM – É de referir que estão cá já duas jovens do Sumbe a estudar, desde 2000, integradas em famílias de Regueira de Pontes. São já uma face visível dessa reciprocidade, uma experiência-piloto que assumimos à nossa responsabilidade.

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Com a nossa presença lá, será mais fácil conhecer outras situações e pessoas dis-poníveis para vir. Por outro lado, nos já vamos lá há seis anos. Temos essa experi-ência e vamos criar condições de autonomia, com uma casa, etc. Eles não têm essa experiência e não vêm cá construir. Teremos de ser nós a garantir-lhes condições: famílias, paróquias e estruturas de acolhimento.

O processo tem sido acompanhado e assumido pelas estruturas de ambas as dioceses?

PVM – Há sempre quem não acompanhe ou “não olhe com bons olhos”, mas os Bispos e os órgãos representativos de ambas as dioceses acompanharam e deram o seu aval. Há grupos que se identificam com o projecto e querem levá-lo por diante, o que se foi conseguindo nesta caminhada de seis anos, de amadure-cimento progressivo. Não quisemos fazer as coisas a correr. Novos problemas e dificuldades vão surgir, mas este amadurecimento dá certa força para acreditar que vamos superá-las.

Como pensam manter o contacto connosco?PMV – Vou tentar manter o espaço “Janela sobre a Missão”, no jornal O Men-

sageiro. Vamos estar dependentes das condições de comunicação, mas tentaremos enviar regularmente notícias e fotos do nosso trabalho.

Como coordenador de toda esta iniciativa, está mais receoso ou confiante?PVM – Confiante. Tenho sentido muitos sinais de Deus neste projecto, que

não foi pré-definido, mas foi acontecendo e evoluindo. É evidente que tenho apreensão e consciência dos riscos e dificuldades. Mas por termos caminhado e visto os sinais de Deus no caminho, acreditamos que a missão é d’Ele. Quando fui, em 1993, os primeiros tempos foram difíceis. Só não desisti por acreditar que foi Deus que me enviou e eu teria de aguentar a prova. Somos instrumentos d’Ele, vamos em seu nome. É essa a grande força dos missionários. Apesar da provação, sabemos que Deus está lá… daí a confiança e a serenidade.

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Colónia de Férias da Caritas

Monitores dão tudo por um sorrisoOrlando Marques

Todos os anos, entre Julho e Setembro, a Caritas Diocesana de Leiria proporciona a cerca de 300 crianças desfavorecidas umas férias na sua Colónia. Em 3 turnos de crianças e um de adolescentes, 60 jovens dos 17 aos 25 anos disponibilizam-se a dar-lhes o que têm de melhor: eles mesmos, a sua juventude, a sua generosidade. Com efeito, este projecto da Caritas diocesana é também para os monitores uma ocupação durante o período de Verão, e uma ajuda para o seu crescimento pessoal e humano.

Podem inscrever-se crianças com idades entre os 6 e 11 anos, e dos 13 aos 15 anos, e dá-se preferência às que têm mais necessidades a nível económico, familiar e social. As inscrições são efectuadas através dos grupos de acção social das paróquias ou por um responsável nomeado para o efeito. “A este agentes responsáveis paro-quias pedimos que façam a selecção, respeitando as condições exigidas”, explica Paulo Adriano, coordenador da Colónia. “Ao nível infantil, damos prioridade aos que têm menor número de participações. Entre os jovens, escolhemos sempre os mais velhos”, adianta.

Caritas suporta quase totalidade dos custosEste ano, pediu-se uma comparticipação de cerca de 30 euros aos mais novos e

de 40 euros aos adolescentes, o que corresponde a 25% da despesa real. “Na verda-

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de, há uma grande parte que não paga, já que essa despesa é assumida pelo grupo pa-roquial de acção social que faz a inscrição. Em todo o caso, nunca nenhuma criança ficou por se inscrever só porque não pôde pagar”, sublinha este responsável.

A restante despesa é suportada pelas Caritas Diocesana. “Não temos nenhum contributo da Segurança Social, nem camarário, nem do Estado, apesar de haver muitas instituições públicas, como comissões de protecção de menores, lares e inter-natos que vêm inscrever as suas crianças.”

Monitores voluntários são fundamentaisA assegurar o bom funcionamento das colónias de férias estão uma equipa de

monitores voluntários, o coordenador das colónias de férias, e uma equipa de em-pregadas de limpeza e cozinha. Os monitores são jovens voluntários, de ambos os sexos, vindos um pouco de todo o País, inscritos através do site www.sdpjleiria.com/COLONIA/index.html ou directamente. “Não exigimos nenhuma formação espe-cial, mas promovemos alguns encontros durante o ano, que servem para se ambien-tarem aos colegas e à casa, para conhecerem a instituição e a Colónia de Férias. Além disso, um ou dois dias antes da chegada dos miúdos, damos-lhes alguma formação intensiva.”

Paulo Adriano conta ainda que as crianças que vêm pela primeira vez chegam com um misto de entusiasmo e receio. “Vêm fazer uma experiência diferente, mas não conhecem ninguém. É aqui que o papel dos monitores é fundamental. Muitas crianças, nos primeiros dias, sentem saudades dos pais, choram e querem ir para casa. É importante explicar-lhes que quando a colónia acabar vão para casa, mas mais importante ainda é criar ambiente acolhedor e dar a perceber que participar é um privilégio que não está ao alcance de todos.”

Um dia na colónia…O dia na colónia de férias começa cedo e acaba tarde. As crianças acordam às

08h30. Segue-se o pequeno-almoço, arrumação das camaratas, actividades lúdicas na praia ou no campo, e regresso a casa para o almoço das 13h00. Depois da sesta vão de novo para actividades no exterior (praia, pinhal, fazer um jogo de cidade ou de pista, …), e merenda. Regressam a casa pelas 18h30 para o banho. Depois do jantar, um pequeno passeio, e o dia culmina com um serão divertido, que as crianças muito apreciam. “Por exemplo, anuncia-se uma noite de cinema, mas não se mostra apenas o filme. Fazem-se bilhetes que os miúdos vão ter de ‘comprar’, numeram-se os lugares e filas, vem o senhor do cinema, vestido a rigor, que rasga o canhoto dos bilhetes e indica o lugar, há pipocas, uma grande tela, etc. Este é um dos serões elaborados. Depois há outros mais simples, preparados pelos monitores, com teatro, animações, etc.” Os monitores fecham o dia com uma avaliação.

Mas o dia inclui ainda outras tarefas. Aos monitores pede-se, não apenas a ani-mação dos tempos livres, mas que, “ao mesmo tempo, ponham sentido pedagógico

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nas actividades”. “No caso da higiene de cada criança, isso é fundamental. Ensiná-las a fazer e desfazer a cama, a lavar os dentes, a ter a roupa asseada, a estar à mesa, etc. Isso também faz parte da colónia, pois há crianças sem hábitos de higiene e que não sabem estar à mesa.”

Também se aprendePor serem muitas e de terem de conviver longamente, as crianças exigem dos

monitores alguma formação e pedagogia. Tendo em conta o perfil de algumas crian-ças, “por vezes temos mesmo de começar do zero, ensinar o que é uma escova de dentes e o que se deve fazer com ela. Tudo isto é feito e ensinado, não como uma obrigação, mas como um divertimento dentro das tarefas diárias, e elas encaram isso até melhor que alguns adultos.” Por isso, na hora de regressar, “ficam contentes porque vão ver a família de novo, mas ficam tristes porque gostavam de continuar na colónia. Fica o desejo de voltar”.

Paulo Adriano, coordenador da colónia

“Hoje não seria quem sou... sem a Colónia”Paulo Adriano é o coordenador há vários anos. “A minha juventude começou

com a participação nas colónias de férias. Para mim foram uma escola de desen-volvimento pessoal e de relacionamento. É um pouco essa experiência que tento passar para os monitores. Estão ali por causa das crianças, mas também eles ganham, sobretudo pela aquisição de conhecimentos e pelo desenvolvimento da própria per-sonalidade. E isso toca profundamente o monitor, mais ainda do que a camaradagem e o espírito de grupo sempre necessário numa actividade destas. Hoje não seria quem sou senão tivesse passado pela Colónia.”

Outros testemunhosHélder Antunes, é o coordenador do 1º turno. Ao longo de 7 anos, o gosto pelas

crianças, a relação de empatia e a amizade que se cria entre os monitores e os miú-dos, foram os motivos que o fizeram repetir a experiência. “No fim de cada turno fica a sensação gratificante de ter ajudado a realizar um sonho”.

Andrea é uma das monitoras de serviço. Pela primeira vez nestas andanças, conta que chegou através de um e-mail. “As férias não são para não fazer nada. É muito bom estar aqui a ver o sorriso na cara das crianças, e perceber que somos o suporte delas”. A maior dificuldade, confessa, é “saber gerir o carinho com a disciplina”. Marta, ou “Martinha” como é conhecida entre os miúdos, integra também a equipa de monitores, e isso, para além de já lhe ter custado uma lesão no tornozelo, não a impediu de ir fazer um exame de acesso ao ensino superior. “Estou a gostar muito. É cansativo, dorme-se pouco, mas vale a pena”.

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Confraria de Nossa Senhora da EncarnaçãoPe. Armindo Janeiro *

O Santuário de Nossa Senhora da Encarnação é administrado pela respectiva Confraria, erecta em 1588, logo nos primórdios da sua fundação. Depois das con-vulsões do século XIX e início do século XX, esta Associação Pública de Fiéis foi restaurada por D. José Alves Correia da Silva, em 31 de Julho de 1945, e hoje encar-rega-se da manutenção do Santuário e de todo o monte onde se situa, com cerca de 80 irmãos. Inicialmente eram apenas padres e os leigos apenas eram admitidos como “auxiliares”, mas a revisão dos estatutos atribuiu a todos as mesmas condições.

O objectivo da Confraria é o culto a Nossa Senhora, dentro da espiritualidade peculiar de um santuário dedicado ao SIM de Maria, no interior do mistério da En-carnação do Filho de Deus. O mistério e o culto são intemporais e tão actuais hoje como há 400 anos. No entanto, a Confraria tem a preocupação de estar atenta aos tempos modernos e se actualizar. Em 2003, os estatutos foram revistos, para centrar o santuário na sua vocação original: o culto a Maria, a valorização do mistério da encarnação e uma presença espiritual na cidade.

Além da revisão dos estatutos, procedeu-se, nos últimos anos, à renovação de todo o espólio, pinturas, arquitectura do santuário, casa anexa e infra-estruturas de apoio. Foram trabalhos extensos, mas há muito necessários para que o aspecto cor-respondesse à importância e dignidade do Santuário. Falta ainda recuperar toda a escadaria, obra considerável e em muito dependente da boa-vontade das entidades e particulares que se revejam neste projecto: antes de mais, os beneméritos da Confra-ria, devotos de Nossa Senhora e do seu Santuário; depois, entidades oficiais, como o GAT e a Câmara Municipal, que já demonstraram reconhecer a beleza e o valor deste ex-libris da cidade.

Sabe-se que, antes, já havia no local uma ermida (capela do Monte), dedicada ao anjo Gabriel, provavelmente do século XV e fruto da devoção dos padres francisca-nos, o que denota a vocação do lugar para a valorização do mistério da Encarnação.

O Santuário continua vivo. Além de inserido na vida paroquial, nomeadamente, com a Eucaristia dominical e a celebração de casamentos, está aberto a actividades vicariais e diocesanas, e desenvolve as suas próprias iniciativas, centradas em três momentos principais: 25 de Março, festa litúrgica da Anunciação do Senhor, 11 de Julho, origem do Santuário, 15 de Agosto, em que celebra a Padroeira da cidade. De registar, ainda, uma celebração em Novembro, em que os irmãos se reúnem para recordar os falecidos. Também merece destaque a celebração da Missa dominical, no final do dia, procurada por muitos, depois de um passeio em família, sobretudo na época de Verão. É animada por oito coros, de forma rotativa: Marrazes, Paulo VI, Cercal, Cortes, Chãs, Santo Agostinho, Cruz da Areia e Franciscanos.

* Com base numa entrevista dada ao jornal O Mensageiro

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Vida Consagrada

Deus chama todos e cada um em particular

Falar de vocaçõesnão é (só) falar de padresLuís Miguel Ferraz

A primeira semana de Maio foi dedicada à oração pelas vocações. Na perspectiva do Projecto Pastoral, a nossa Diocese dedica este ano uma atenção muito especial a esta problemática. Muito mais que lamentar uma suposta “crise”, interessa descobrir o que é verdadeiramente prioritário na pastoral vocacional, numa linha concreta de compromisso e reposta.

A “crise de vocações”, mesmo que grave, tornou-se lugar-comum e corre o risco de não ser devidamente compreendida. Muitas vezes restringida às vocações sacerdotais e à diminuição de efectivos, parece preocupar as comunidades sobre-tudo porque antevêem maior dificuldade na obtenção de resposta às suas próprias solicitações e às novas exigências sociais. Esta mentalidade, sem dúvida, redutora, inscreve-se como parte de um problema que é a falta de um correcto entendimento da verdadeira vocação cristã.

Sim, a crise de vocações é muito mais preocupante do que a mera diminuição de um efectivo, tudo apontando para um enfraquecimento da fé e do compromisso cristãos, e para uma crise na própria sociedade. Não há apenas carestia de resposta a um chamamento particular para o desempenho de dado ministério ou função. Há também, e talvez primeiro, deficit de consciência de que Deus chama cada pessoa a acolher a vida como dom e desafio, a sentir a felicidade de amar e ser amado, a soli-darizar-se com os outros em serviço humilde, generoso e gratuito; e falta aos critãos a descoberta e o devido apreço pela vocação baptismal que os torna membros vivos de Jesus Cristo e da sua Igreja.

A vocação não é sobretudo talento ou tendência pessoais, mas antes dom e ini-ciativa de Deus que espera de nós uma atitude de escuta e resposta na fé. Com mais disponibilidade efectiva, não faltariam obreiros em todos os sectores da vida da Igreja e da própria sociedade.

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Escutar Deus no “barulho” do mundoNão podemos ignorar os condicionalismos do mundo em que vivemos, e os jo-

vens, em particular. O contexto hedonista, egoísta e materialista despreza facilmente os valores fundamentais e dificulta a adesão a projectos com seriedade e futuro. Nes-te contexto é difícil escutar a voz interior de Deus e responder-Lhe sem medo nem reservas. Os seus caminhos são novos em relação a perspectivas tão limitadas.

Não é possível dizer seja o que for em relação às vocações, sem partir do diálogo do homem que escuta e responde às interpelações e desafios de Deus. O crente não é portador de uma crença do passado ou de outros, mas da sua, que é pessoal e se tornou encontro e marca profunda da sua vida. Frequentemente praticantes de uma religião sem Deus, seguimos muitas vezes um Deus sem rosto e sem nome. Deste modo não há espaço para a fé nem, desde logo, a possibilidade de encarar a hipótese de um chamamento.

A solução parece estar do lado da sensibilização e consciência do nosso “ser pes-soa”, numa relação com Deus e o outros, do tomar nas mãos a decisão do caminho, independentemente das modas, do pensar e agir globalizados, das vozes discordan-tes e dos obstáculos do comodismo.

A pastoral vocacional de que precisamos não será, por isso, um recrutamento de padres, mas sim uma catequese que leve ao encontro com Deus, que seja mais dialogante com o homem moderno e concreto e que revele a centralidade desse cha-mamento universal de Deus a todos e a cada um.

Oração como respostaA Semana de Oração pelas Vocações pôs em relevo um tipo de resposta que pare-

ce ser a mais simples, básica e fundamental: a oração. Pode parecer desafio moralista e pouco prático, mas o apelo à oração é, sem dúvida, o mais importante, neste como em todos os sectores da vida. Confiamos pouco a Deus os nossos dilemas e preocu-pações. Acreditamos mais em “medicinas alternativas” por nós criadas, ou então nos “milagres” que Deus terá necessariamente de operar. Contudo, nesta como noutras questões, tudo se joga na relação com Deus e no modo como vivemos a fé. E é na oração que esta se desenvolve e nos sacramentos que se alimenta.

A Semana das Vocações foi ao arrepio da lógica humana e racional dos tempos modernos. Apelou para Deus e pôs em destaque a sua força interventora. Foi mais uma afirmação de fé no Senhor da história, o único que pode regê-la e sabe o que é importante em cada momento. Tudo o mais são conjecturas, mais ou menos alician-tes, mas sempre conjecturas…

“Mandai, Senhor, operários para a vossa messe”. “Falai, Senhor, que o vosso servo escuta (…) aqui estou!”. “Faça-se em mim segundo a vossa palavra”.

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Entrevista ao Reitor do Seminário, padre Armindo Janeiro

“Descobrir a condição de chamados”Falámos com o padre Ma-

nuel Armindo Janeiro, reitor do Seminário Diocesano, um dos responsáveis desta área e impulsionador de alguns pro-jectos como a reestruturação do Secretariado Diocesano de Pastoral Vocacional.

Quais os objectivos da Dio-cese para o próximo ano, em termos de pastoral vocacio-nal?

Neste momento estamos a procurar articular a recuperação de uma dinâmica de animação vocacional com os objectivos do próximo ano indicados no Plano Pastoral Dio-cesano. Procurando integrar as diversas peças do jogo, aprofundaremos com toda a Diocese a consciência de escolhidos, amados, e chamados por Deus, o que nos compromete numa vida com um jeito próprio. A resposta à iniciativa divina há-de concretizar-se num estilo que exprima a própria pessoa, com os dons que recebeu, e corresponda ao amor com que Deus nos amou primeiro. Queremos trabalhar nesta nossa condição de crentes baptizados.

Como desenvolver essa ideia base nos diversos sectores da pastoral diocesana?De hoje em dia, a sociedade valoriza as capacidades e competências pessoais.

Inscrevendo-se nesta dinâmica de valorização, a Igreja percebe que, aos olhos de Deus, valemos pelo que somos, muito mais que pelo que fazemos. Mas é com o que fazemos que agradeceremos o que somos segundo o desígnio do amor de Deus. O fazer há-de seguir o ser. Neste contexto, devemos procurar que a pastoral diocesana, nas suas diversas áreas, valorize este aspecto da condição específica do crente. Sem esquecer as demais, é importante fazê-lo com as gerações mais novas, crianças, jo-vens e adolescentes. Neste contexto sobressai o papel da pastoral familiar, desafiada a assumir-se como serviço à descoberta da vocação, sobretudo matrimonial. Mas a descoberta do essencial e a sua conretização coloca-se como primeiro desafio a todos os sectores.

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Quais as grandes linhas de acção para o próximo ano?Para trabalhar a descoberta deste essencial teremos que privilegiar a escuta da

Palavra de Deus. Para lermos a nossa vida num contexto crente, precisamos de Deus como interlocutor. A oração como atitude de escuta, será uma das grandes dimensões do próximo ano. Esperamos assim perceber melhor e pôr em prática estratégias de pastoral vocacional sacerdotal, concretizadas no Pré-Seminário, nas diversas fases do próprio Seminário, e nas demais valências da pastoral vocacional como a vida re-ligiosa, a consagração no mundo em institutos seculares, o caminho do matrimónio e todas as formas de entrega ao serviço da Igreja e da sociedade. Em resumo, o ano que vem será de sensibilização, por meio da intensificação do encontro com Deus e da consequente descoberta de que nos ama e chama. Nos anos seguintes os trabalhos serão mais especificados por áreas.

Pode revelar melhor algumas das ideias projectadas?Essas ideias estão a ser trabalhadas no contexto do Secretariado Diocesano

de Coordenação Pastoral (SECOPA). Um primeiro desejo é a reorganização do Secretariado Diocesano de Pastoral Vocacional cuja falta tem sido suprida por um acréscimo de esforço e trabalho por parte do Seminário. Outro passo importante é o da sensibilização. Nenhim meio pode ser descurado, desde cartazes e outros in-trumentos, até ao oportuno aproveitanmento de momentos privilegiados da vida da Diocese, nomeadamente os de oração e vida comunitária mais intensa.

A descoberta desta condição de chamados é tão importante que merece o melhor do nosso tempo, trabalho e criatividade. As concretizações hão-de surgir. Antes po-rém, precisamos de nos abrir Àquele que nos chama.

E quanto à família, meio normal de desenvolvimento de toda a vocação?O SECOPA deverá coordenar esforços com o Secretariado de Pastoral Familiar.

Contudo, a estrutura base é a sensibilização pela prática da oração. Para isso há três momentos de referencia: a Semana dos Seminários, o Dia dos Consagrados e a Semana das Vocações. Pede-se a cada sector da pastoral diocesana que assuma a sua parte, sabendo que o essencial é tomar consciência da dignidade e da responsa-bilidade da condição baptismal que faz de todos chamados à comunhão no mesmo Jesus Cristo.

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Jubileus sacerdotais

O padre, esse desconhecidoRui Ribeiro

“Nos dias que correm é das profissões mais complicadas, a do padre”, assim exclamava a D. Fátima num destes dias, quando precisei de me deslocar ao seu local de trabalho e lhe fornecia os meus dados pessoais identificando-me como padre. “Antigamente era tudo ao contrário, a voz do padre era a única que se fazia ouvir e não havia ninguém que o contestasse, estivesse certo ou errado”, continuou, na expectativa de suscitar alguma reacção da minha parte. Lá fomos tecendo pequenos comentários sobre as suas afirmações e ideias. D. Fátima trabalha numa instituição bancária da nossa cidade e define-se como católica “não praticante”, relacionando isso com o facto de não ir á missa regularmente. “Vou em dias de festa ou em oca-siões especiais, mas a verdade é que normalmente a hora da missa não me dá muito jeito. Aos domingos de manhã gosto de ficar na cama sem relógio nem despertador que me acorde. Ouço o sino a chamar para a missa e ás vezes até fico com problemas de consciência, mas vale mais ficar a dormir em casa do que ir dormir para a Igreja. Sabe, hoje toda a gente se acha no direito de ter uma opinião e ao mesmo tempo confunde-se a liberdade de expressão com a obrigatoriedade de se exprimir. Há muita gente que não tem opinião nenhuma sobre nada e outros que até a têm mas era melhor que se calassem. O que acontece é que, faça o padre o que fizer, tem sempre alguém a criticá-lo”.

A imagem que a D. Fátima faz do padre nos dias de hoje é deveras assustadora para qualquer jovem que pense seguir esta via. Desde pessoas incompreendidas, a esquisitas pelo tipo de vida que levam, passando pelas infidelidades que adivinha mais do que conhece, a D. Fátima traça o perfil do padre do mesmo modo que é visto e conhecido pela maioria das pessoas. “Não sei se leu um artigo que vinha na revista Sábado na semana passada?!.. Ali se deu uma imagem dos padres que não coincide bem com aquela imagem angélica com que muitas vezes nos querem brindar. São homens como os outros e certamente pecam como os outros”. A conversa foi-se desenrolando enquanto íamos tratando dos papéis e assim que o assunto se resolveu não havia motivo para continuar. A D. Fátima rematou “Adeus senhor padre e tenha coragem porque as pessoas nem sempre merecem o que vocês fazem. Dedicam a vida toda ao seu serviço e depois acabam por não ser compreendidos. Tenha cora-gem!”.

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Quando saí pelas portas do edifício senti que os olhos de todos os que esperavam sentados caíram sobre mim e quase me devoravam. Senti-me mal. Mas sem medo e no fundo com uma ponta de orgulho, afinal de contas o padre ainda é aquele que está aí para servir. Não agrada a todos, mas o seu empenho e a sua missão são reco-nhecidos.

A conversa gerou vontade de falar sobre o assunto e fazer reportagem, por isso pareceu importante ouvir mais alguém que pela idade e pela cultura se pudesse dis-tanciar da D. Fátima. O escolhido foi o senhor Joaquim, de 74 anos, afoito no falar e amigo do seu amigo. “Católico praticante”, como se define a si mesmo, vai falando da forma como vê os padres, sempre entre sorrisos comprometidos de quem sabe que disse mais do que é comum pensar-se. Para ele os padres mais novos “são sim-páticos e estão á vontade com o povo, não são como os antigos que nos obrigavam a saudá-los e a ter-lhes um respeito que muitas vezes se transformava em medo”. Lembra os anos de catequese, na sacristia, diante do padre que impressionava desde logo pela forma como se vestia; lembra os sermões, que era obrigado a ouvir nas manhãs de domingo, sempre em jejum “porque antigamente não se comia desde a meia-noite até á hora da comunhão”; e fala de forma desencontrada sobre o exame que foi obrigado a fazer por ocasião do casamento: “o padre chamou-nos lá e fez-nos umas quantas perguntas. Eu não fui capaz de dizer as orações que ele me pediu e obrigou-me a voltar lá no dia seguinte, dizendo que não me casava enquanto eu não soubesse as orações”. O senhor Joaquim tem um coração bom e grande, perdoa os erros e as atitudes menos correctas que vê na vida do padre, mas acha que “eles deviam ter mais poder, como tinham antes. Os mais novos tratam os padres com muito á vontade e por vezes até com falta de respeito, e isso está mal. Os padres são pessoas que estudaram muito e podem falhar, porque nunca se agrada a todos, mas o que eles fazem é pensado e é para o bem das pessoas”.

Em busca de uma identidade…No meio de tantas dúvidas e opiniões, no meio de tantas formas diferentes de

viver, a pergunta fica ainda no ar: quem é afinal o padre, independentemente da pessoa que está sempre presente em cada um? O que constitui a essência da missão do padre?

Historicamente, o padre surgiu como um prolongamento do próprio bispo. Ou seja, o padre no desempenho da sua missão é inconcebível sem a ligação e a depen-dência do bispo. Ele age e actua em nome e em vez do bispo, mas nunca ao serviço de uma causa pessoal. A missão do padre, é pois a do serviço. Ao serviço de Deus, ao serviço da Igreja, ao serviço do bispo e ao serviço do povo com quem partilha as contingências de cada dia. É na forma como cada um entende este serviço e esta disponibilidade para servir que muitas vezes se encontram as diferenças de uns para os outros. Nem sempre se entende a disponibilidade e o serviço da mesma maneira e com a mesma radicalidade. E aí nasce a forma diferente de exercer o ministério e de

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ser padre. Questões como o celibato, a política ou a forma de vestir têm que ver com a disciplina da Igreja e não são por si só garantia de um êxito na missão do padre. Esta prende-se não tanto com as normas disciplinares mas mais com a vocação e o sentido do seu exercício.

Muitas e variadas foram as formas que deram o perfil ao padre. Nos tempos ainda não muito longínquos, ele foi um verdadeiro médico, um psicólogo, um assistente social e chegou a ser presidente de Junta, etc. Pouco a pouco, os espaços e os lugares foram-se definindo e limitando; hoje é clara a missão espiritual e religiosa que lhe cabe, como homem de Deus. Alguns pensam que se trata de uma missão sem lugar nas sociedades modernas; outros acreditam que essa missão é hoje mais necessária que nunca. No meio do devir da história e das preocupações do mundo, o padre continua á procura da sua identidade alicerçada sempre numa certeza: a de que se é padre para servir.

50 anos a servir….No dia 12 de Agosto de 1956, a diocese de Leiria viveu um dia excepcional da

sua história eclesiástica: onze filhos seus subiram ao altar e receberam a ordenação sacerdotal. Eram eles: Américo Ferreira; António das Neves Gameiro; Benevenuto Santiago Morgado; David Pedrosa Gaspar; Filipe Marques Castelão; Jacinto de Sousa Gil; João Vieira Trindade; João Simões Pipa; Luís Pereira Perdigão; Manuel Rodrigues; Miguel Sapata Ramalho.

Depois da festa e do gáudio, a vida deu as suas voltas, uns foram levados para longe, outros morreram, outros abandonaram o ministério. Do grupo inicial restam seis sacerdotes, na vida activa ou aposentados. Conversámos com cinco deles, já que nos foi impossível contactar o sexto. Colocámos as mesmas questões a cada um e reproduzimos as suas respostas, com uma advertência: leia-se nas entrelinhas a profundidade que as palavras, o espaço e o contexto não deixam alcançar: são cinquenta anos de vida dada ao ministério do serviço; cinquenta anos de encantos e desencantos, de alegrias e tristezas, de vitórias e de derrotas… mas sempre cinquenta anos dedicados a uma causa comum: a do serviço e da entrega desinteressada pelo bem dos outros.

Para agradecer o dom do sacerdócio, a Diocese programou um conjunto de ce-lebrações, entre as quais, uma Eucaristia na Sé, no dia 12 de Agosto, e outra no dia 28, no Santuário de Fátima, presididas pelo Bispo Diocesano e com a presença dos padres jubilares, familiares e amigos, sacerdotes e leigos.

Fizemos a alguns deles três perguntas:1 - Que avaliação faz destes cinquenta anos de padre?2 - Quais as principais diferenças entre o padre de há cinquenta anos e de hoje?3 - Que conselhos daria a um jovem inquieto com a vocação sacerdotal?

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Pe Américo FerreiraNasceu no lugar do Tojal, freguesia de Vermoil,

no dia 25 de Janeiro de 1933, filho de Manuel Fer-reira e de Joaquina da Mota. A 14 de Outubro de 1945, ingressou no Seminário de Leiria, onde con-cluiu o Curso de Teologia, em Junho de 1956; 1 de Novembro de 1956, nomeado coadjutor da freguesia da Freixianda; 27 de Dezembro de 1957, nomeado pároco da freguesia de Alqueidão da Serra; 4 de Novembro de 1971, iniciou as funções de capelão militar, na Guarnição Militar de Leiria; Setembro de 1973, nomeado para integrar a Equipa Formadora do

Seminário Diocesano de Leiria; Setembro de 1979, matriculou-se na Universidade Navarra, onde concluiu as provas de Licenciatura em Teologia Sistemática; 19 de Março de 1982, nomeado juiz do Tribunal Eclesiástico de Leiria; 20 de Junho de 1983, nomeado reitor do Seminário Diocesano de Leiria; 10 de Abril de 1988, nome-ado cónego da Sé de Leiria; 12 de Outubro de 1983, nomeado membro da Comissão do Inventário do Património Artístico da Diocese; 5 de Setembro de 1996, nomeado Chanceler da Câmara Eclesiástica de Leiria. Durante vários anos, leccionou Filoso-fia e Teologia, Português e Inglês, no Seminário Diocesano.

1. O sacerdócio é um dom de Deus, oferecido ao mundo, através da Igreja; dom, que deve ser enriquecido e partilhado. Por isso, não me compete fazer avaliação da minha vida sacerdotal. Isso pertence a Deus e, em certo modo, ao povo que me foi confiado. Nesta linha, a minha avaliação situar-se-á apenas numa linha de perdão a Deus e de gratidão aos homens.

2. Passou-se da ideia de poder, à ideia de serviço: serviço à Comunidade, diálogo com o mundo. Há cinquenta anos, na linha do concílio de Trento, o padre ainda era considerado como um homem separado do mundo, defensor e distribuidor dos “mis-térios” de Deus. Sem pretender minimizar o zelo apostólico de tantos, o ministério orientava-se sobretudo para o exercício do culto. O padre era o detentor de poderes divinos para celebrar a Eucaristia e perdoar os pecados. A sua autoridade situava-se na ideia do poder e não na do serviço. Enaltecia-se o sacerdócio ministerial e acentu-ava-se a sua visibilidade, e ignorava-se o sacerdócio dos fiéis. O padre era o reflexo do modo como a sociedade se concebia, organizava e relacionava.

Coincidindo com a abertura do segundo concílio do Vaticano, desmoronou-se este cenário e a ideia do poder foi substituído pela ideia do serviço fraterno e da co-munhão eclesial. A visibilidade do padre cedeu à visibilidade da Igreja. Privilegiou-se a abertura ao Espírito, que fala através dos sinais dos tempos, e a identificação do padre com a Pessoa de Jesus Cristo, profeta, sacerdote e pastor.

3. Antes de me pronunciar, gostaria de o ver e de o ouvir.

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Pe João Vieira TrindadeNasceu em Alburitel, freguesia de Seiça, em 27

de Fevereiro de 1931, filho de Manuel Vieira Trin-dade e de Joaquina Efigénia de Oliveira. Outubro de 1944, ingressou no Seminário de Leiria, onde concluíu o Curso de Teologia, em Junho de 1956; 16 de Janeiro de 1957, nomeado coadjutor da freguesia da Marinha Grande; 23 de Agosto de 1961, nome-ado pároco da freguesia de Urqueira; 5 de Agosto de 1965, nomeado pároco da freguesia de Mira de Aire; Outubro de 1973, veio integrar a equipa sa-cerdotal dos educadores dos alunos do Seminário

Diocesano de Leiria; 31 de Março de 1989, nomeado Notário-Actuário adjunto do Tribunal Eclesiástico; 13 de Maio de 1995, nomeado capelão do Hospital de Leiria. Leccionou Português, no Seminário Diocesano; 22 de Setembro de 1997, nomeado assistente da Associação dos Enfermeiros e Profissionais de Saúde; 29 de Janeiro de 2001, nomeado capelão da Santa Casa da Misericórdia de Leiria.

1. Olhando para os 50 anos de sacerdócio, tenho de reconhecer que tive muita sorte ao ser enviado, após a ordenação, para a Marinha Grande, campo pastoral de grande exigência. A vida em comunidade com mais dois padres proporcionou-me uma transicção bastante fácil do Seminário para o ministério a que iria dedicar toda a minha vida. A cooperação generosa dos leigos com quem tive a dita de trabalhar, primeiro, na Marinha Grande, depois, em Urqueira, e, mais tarde, em Mira de Aire, fizeram com que as minhas preferências se voltassem para a pastoral paroquial.

A vinda para Leiria para integrar a equipa formadora do Seminário não foi fácil, mas os 23 anos ali passados na formação dos alunos e os últimos onze na pastoral hospitalar proporcionaram-me momentos de vivência sacerdotal inesquecíveis que nunca poderão ser comensurados em termos temporais porque são de outra ordem. Não obstante as falhas próprias do ser frágil e imperfeito e a consciência do muito que ficou por fazer, entendo que valeu a pena.

2. Entendo que a questão que me põe carece de alguma explicitação. Qualquer padre ordenado há cinquenta anos ou há dez, se parou no tempo, não correspondeu às exigências da sua vocação, nem poderá sentir-se realizado.

Neste período de tempo ocorreu um concílio donde vieram directrizes para todos os agentes pastorais, bispos, padres e leigos, bem como para as estruturas, ao tempo existentes, que tiveram de se adaptar e outras que tiveram de se criar.

Se muita coisa mudou no mundo, não é de estranhar que a forma de o padre se apresentar, se deslocar, comunicar ou viver tenha sofrido alterações. Mas tudo isso é acidental. O mais importante é a Mensagem a apresentar, que deve informar a vida. Talvez, neste ponto, se tenha perdido algo. De resto, os novos problemas com que o homem se confronta exigem uma actualização permanente.

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3. Os jovens de hoje, como regra, não aceitam recomendações dos mais velhos e recusam, com frequência, modelos feitos. Por isso mesmo, tem de ser o próprio jo-vem a tomar consciência das capacidades que tem dentro de si, descobrir o projecto de vida que quer construir e solicitar as ajudas que julgue necessárias para o atingir.

A clarificação do projecto e a adequação dos meios para uma decisão consciente e responsável por qualquer estado de vida, constituem o chamado processo vocacio-nal. Para ajudar o jovem a fazer o discernimento, ultrapassar dificuldades, vencer resistências, toda a comunidade em que ele está inserido deve colaborar de forma empenhada. De resto, faz parte do ministério do padre, quer seja jubilado quer se tenha ordenado há pouco, aproveitar todos os meios e oportunidades para ajudar o jovem ou o adulto a acertar nas suas decisões. O testemunho de vida do padre nunca pode ser considerado elemento secundário na questão que me propõe.

Pe David Pedrosa GasparNasceu no dia 14 de Janeiro de 1933, na fregue-

sia de Monte Redondo, filho de Manuel Pedrosa Gaspar Júnior e de Luísa Maria Ferreira. A 14 de Outubro de 1944, ingressou no Seminário de Leiria, onde terminou o Curso de Teologia, em Junho de 1956; 14 de Outubro de 1956, nomeado coadjutor da freguesia de Porto de Mós; 27 de Dezembro de 1959, nomeado pároco da freguesia de Carnide; 31 de Janeiro de 1971, nomeado pároco da freguesia do Coimbrão; 25 de Dezembro de 1978, nomeado pároco da freguesia do Juncal e em 7 de Dezembro

de 1979, foi nomeado pároco de freguesia de Alpedriz; em Março de 1983 e a seu pedido, autorizado a ter um tempo de repouso para recuperar a saúde; 4 de Outubro de 1983, nomeado pároco da freguesia do Arrabal; 12 de Outubro de 1993, nomeado membro da Comissão do Inventário do Património Artístico da Diocese. Durante algum tempo foi docente da disciplina de Físico-Químicas, no Seminário Diocesano. Actualmente aposentado.

1. Estes 50 anos ao serviço de Deus como sacerdote, foram muito enriquecedores e gratificantes. Um dos aspectos que mais me marcam a memória são os inúmeros contactos que tive ao longo deste tempo. Fui fazendo o que pude, conforme as exi-gências de cada momento e conforme as minhas capacidades, muitas vezes com limitações em termos de saúde. Hoje sinto-me bem e com vontade de continuar a missão que aceitei há cinquenta anos.

2. A missão do padre é a mesma hoje que era então: anunciar Jesus Cristo. A for-ma de a executar é que é muito diferente, devido também às exigências dos tempos.

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Antes, tudo era mais lento, mais calmo e mais sereno, o que nos dava muito tempo para ler, reflectir e amadurecer as ideias. Hoje, a correria dispersa e, por vezes, há questões sérias que me parecem tratadas de forma muito superficial. Encontramos nos jovens padres uma formação religiosa bastante boa, mas depois parece haver alguns limites na transmissão dos conhecimentos, muito por causa da tal correria e agitação. O stress domina muitas pessoas e também o padre é vítima.

3. Eu diria a um jovem que o que há de mais firme e cativante na vida é a pes-soa de Jesus Cristo. A missão do padre como anunciador de Jesus Cristo é a mais aliciante e gratificante que podemos assumir. Deixar-se cativar por Ele e ser capaz de cativar outros para Ele, é uma nobre missão que pode constituir a felicidade de qualquer pessoa.

Pe António das Neves GameiroNasceu a 14 de Fevereiro de 1934, no lugar do

Carvalhal, freguesia de S. Simão de Litém, filho de Manuel Gameiro e de Conceição de Jesus. A 15 de Outubro de1945, ingressou no Seminário de Leiria, onde concluíu o Curso Teológico, em Junho de 1956; 6 de Janeiro de 1957, nomeado coadjutor da Sé de Leiria; 10 de Julho de 1964, nomeado pároco da Sé de Leiria; Outubro de 1967, nomeado director espiritual do Seminário Maior de Leiria e pároco interino dos Pousos; 13 de Julho de 1978, nomeado pároco da freguesia dos Marrazes; 30 de Novembro

de 1979, nomeado director espiritual da Cúria da Legião de Maria; 10 de Abril de 1988, nomeado cónego da Sé de Leiria; Durante vários anos, leccionou a disciplina de Biologia, no Seminário Diocesano; 20 de Agosto de 2003, por motivos de saúde e, a seu pedido, foi dispensado da paroquialidade da freguesia dos Marrazes e foi residir para a Casa Diocesana do Clero.

1. Agradeço a Deus pelo percurso que me fez trilhar na Igreja ao longo deste tempo. Muitos ideais concebidos inicialmente ficaram a perder de vista. Entretanto confesso que, ao longo dos anos, a luz e a força do Espírito nortearam a minha vida pastoral de harmonia com a evolução da sociedade e da Igreja.

2. A resposta a esta questão é muito subjectiva. Penso que o padre de ontem e de hoje deve ser a possível encarnação de Jesus Cristo na história humana e dentro do povo de Deus. Hoje não consigo compreender a vida do presbítero senão enquadrada na vida de uma verdadeira comunidade cristã, onde cresça na fé e partilhe a vida. Talvez seja este o aspecto mais inovador do ser padre nos dias de hoje, em relação ao passado.

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3. Que considere o chamamento de Deus à vida sacerdotal como o dom maior que lhe é oferecido, alicerçado na graça baptismal e na autentica vida cristã. É fun-damental pôr sempre em primeiro lugar o baptismo e a vida cristã, considerando a vocação presbiteral como meio específico de viver o dom recebido no baptismo, em plena doação à comunidade.

Pe Benevenuto Santiago MorgadoNasceu em 16 de Setembro de 1932, na freguesia

do Juncal, filho de Rafael Tomás Morgado e de Joa-quina Santiago Rodrigues. A 14 de Outubro de 1944, entrou no Seminário de Leiria, onde concluiu o Curso de Teologia, em Junho de 1956; 8 de Outubro de 1956, nomeado coadjutor da freguesia de Monte Redondo; Outubro de 1960, foi prestar serviço reli-gioso no Santuário de Fátima; 3 de Agosto de 1961, nomeado pároco das freguesias de Rio de Couros e Formigais; 18 de Setembro de 1971, designado para frequentar o Curso de capelães Militares. A seguir,

desempenhou as funções de capelão militar, em Moçambique; 30 de Outubro de 1973, foi autorizado a trabalhar, como missionário, na diocese de João Belo, hoje, Xai-Xai, Moçambique; 18 de Maio de 1975 pároco da freguesia de São Simão de Li-tém; 21 de Setembro de 1985, pároco das freguesias de Monte Real e Carvide; 15 de Agosto de 1990, pároco da freguesia da Atouguia; 8 de Fevereiro de 1996, capelão do Santuário de Fátima; 14 de Janeiro de 2003, Presidente da Direcção e assistente espiritual da Casa Diocesana do Clero.

1. Sinto-me alegre e feliz por ser padre e sentir o amor de eleição de Deus. Pro-curei ser instrumento nas mãos de Deus e penso que fui fiel a esse propósito. Sei também que muita coisa ficou por fazer, mais por dureza da minha parte do que por vontade de Deus. Valeu a pena, voltaria a fazer a mesma escolha.

2. Às vezes parece que a cultura geral é hoje mais reduzida que anteriormente. Em contrapartida parece haver maior generosidade e entrega ao serviço desinteres-sado. Mas, independentemente das diferenças sublinho o facto de todos vivermos o mesmo sacerdócio que não nos pertence e é de Cristo.

3. Apenas lhe diria que é deveras importante ter e assumir ideias na vida. Acres-centaria que um grande ideal é o do Amor, cuja fonte está em Deus. Independente-mente do estado ou da vocação seguida, é importante que as opções que se tomam correspondam ao desfio do amor.

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...restantes finalistas de 1956

Filipe Marques CastelãoNasceu na freguesia da Freixianda, em 6 de Abril de 1932, filho de Joaquim

Castelão e de Emília Marques. A 14 de Outubro de 1944, ingressou no Seminário de Leiria, onde terminou no Curso de Teologia, em Junho de 1956; 14 de Outubro de 1956, nomeado coadjutor da freguesia de Pataias; 29 de Dezembro de 1858, no-meado pároco da freguesia da Boavista; 6 de Agosto de 1963, nomeado pároco da freguesia de Pataias; 4 de Janeiro de 1967, licenciou-se em Direito, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Por o haver solicitado, foi dispensado dos com-promissos sacerdotais.

Jacinto de Sousa GilNasceu no lugar de Moinhos, freguesia de Carvide, no dia 19 de Outubro de

1932, filho de António de Sousa e de Maria Pereira Gil. A 14 de Outubro de 1944, ingressou no Seminário de Leiria, onde concluíu o Curso de Teologia, em Junho de 1956; 6 de Janeiro de 1957, nomeado coadjutor da Sé de Leiria; 10 de Agosto de 1960, autorizado a exercer as funções sacerdotais, como missionário, em Angola e nomeado capelão militar; 13 de Outubro de 1967, nomeado pároco da freguesia da Sé de Leiria; 1 de Março de 1975, deixou de exercer as funções de pároco da Sé de Leiria. Por o haver solicitado, foi dispensado dos compromissos sacerdotais.

João Simões PipaNasceu em 31 de Março de 1933, no lugar de Formarigos, freguesia da Freixian-

da, actualmente freguesia de Casal dos Bernardos, filho de Joaquim Simões Pipa e de Maria Joaquina. A 14 de Outubro de 1945, ingressou no Seminário de Leiria, onde concluiu o Curso de Teologia, em Junho de 1956; Outubro de 1956, nomeado membro da equipa formadora do Seminário Menor de Leiria, secção da Cova da Iria, Fátima; Outubro de 1958, nomeado e membro da equipa formadora do Seminário de Leiria; 22 de Fevereiro de 1960, nomeado pároco da freguesia de Caxarias; 30 de Novembro de 1969, deixou as funções de pároco e, na Faculdade de Letras da Uni-versidade de Lisboa, licenciou-se em Direito. Por o haver solicitado, foi dispensado dos compromissos sacerdotais.

Luís Pereira PerdigãoNasceu no lugar de Pontes, freguesia de Seiça, no dia 9 de Julho de 1932, filho

de Manuel Lopes Perdigão e de Carlota de Jesus Pereira. A 14 de Outubro de 1945, ingressou no Seminário de Leiria, onde, em Junho de 1956, concluiu o Curso de Te-ologia; Outubro de 1956, nomeado professor de Matemática do Seminário de Leiria; Outubro de 1959, autorizado a frequentar a Universidade de Salamanca, onde fre-quentou um Curso de Pastoral; Março de 1960, nomeado coadjutor da freguesia da

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Marinha Grande; 2 de Setembro de 1961, nomeado pároco da freguesia da Marinha Grande; Outubro de 1967, foi autorizado a exercer o ministério sacerdotal, como missionário, na diocese de Tete, Moçambique; 9 de Janeiro de 2001, faleceu em Lisboa; 10 de Janeiro de 2001, sepultado no cemitério de Caxarias.

Manuel RodriguesNasceu no lugar de Picoto, freguesia do Souto da Carpalhosa, no dia 5 de Abril

de 1933, filho de Joaquim Rodrigues e de Joaquina Ferreira. A 14 de Outubro de 1945, ingressou no Seminário de Leiria, onde concluíu o Curso de Teologia, em Junho de 1956; 9 de Outubro de 1956, nomeado pároco da freguesia da Serra de Santo António; Julho de 1959, nomeado capelão militar; 12 de Setembro de 1959, nomeado pároco da freguesia de Atouguia; 27 de Maio de 1969, deixou de exercer as funções de pároco de Atougia e foi autorizado a exercer o ministério presbiteral, na diocese de Carmona, hoje Uíje, Angola; 14 de Dezembro de 1972, autorizado a exer-cer o ministério sacerdotal, na diocese de João Belo, hoje, Xai-Xai, Moçambique. Por o haver solicitado, foi dispensado dos compromissos sacerdotais e do exercício das Ordens Sacras.

Miguel Sapata RamalhoNasceu no lugar de Cavadinha, freguesia da Urqueira, no dia 29 de Maio de

1932, filho de Francisco de Sousa Nunes Ramalho e de Emília Pereira Sapata. A 14 de Outubro de 1945, ingressou no Seminário de Leiria, onde concluíu o Curso de Te-ologia, em Junho de 1956; 14 de Outubro de 1956, nomeado coadjutor da freguesia da Marinha Grande; 15 de Agosto de 1960, nomeado coadjutor da Sé de Leiria; 15 de Junho de 1961, capelão militar dos soldados portugueses destacados em Angola; 23 de Janeiro de 1971, nomeado coadjutor da freguesia de Monte Redondo; 3 de Março de 1971, nomeado pároco da freguesia de Monte Redondo; 4 de Maio de 1975, foi autorizado a exercer o ministério sacerdotal, na diocese de Lisboa. Em Ma-drid, fez provas de licenciatura, em Teologia Pastoral. Com a criação da diocese de Setúbal, em 1975, aí foi exercer o seu ministério, sendo incardinado nessa Diocese, em 15 de Março de 1978.

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Entrevista a Marco Brites, diácono

“Deus chama-nos não por sermos bons mas para sermos bons”Entrevista de Rui Ribeiro e Orlando Marques

Marco Paulo da Silva Brites, 26 anos, natural de Lavegadas, paróquia de Monte Redondo. Entrou para o Seminário Dioce-sano de Leiria em 1992. Durante a caminhada vocacional, destaca as experiências que fez com o grupo missionário diocesano: no ano 2000 durante 2 meses na diocese do Sumbe (Novo Redon-do), através do Projecto ASA; e em Portugal, no Alentejo, por duas vezes.

Desde Outubro de 2005 en-contra-se a estagiar na paróquia de Regueira de Pontes, com o Pe. Vítor Mira, onde integra também o grupo missionário diocesano «Ondjoyetu». Colabora ainda com a equipa do Secretariado do grupo missionário.

Foi ordenado diácono, no passado dia 16 de Julho, na Sé de Leiria, numa cele-bração presidida por D. António Marto, a primeira ordenação enquanto bispo da diocese de Leiria-Fátima. Na homilia, D. António lembrou que é Deus que chama: “É uma graça de Deus sermos chamados, em primeiro lugar a ser santos; Deus es-colheu-nos para sermos santos e viver a caridade”. Nas palavras que dirigiu ao novo diácono, salientou a necessidade de “ser generoso na missão” que agora recebeu, a exemplo da mãe de Deus: “Ter sempre os olhos postos em Maria: tudo o que és, toda a tua afectividade, toda a tua pessoa”.

Uns dias antes da ordenação, fomos falar com ele.

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Como encara este momento antes da ordenação?Com confiança em Deus. Depois de uma caminhada nos Seminários de Leiria e

de Coimbra e de quase um ano de estágio na Paróquia de Regueira de Pontes, este momento que antecede a ordenação só pode ser de confiança n’Aquele que a todos chama e a cada um entrega uma missão.

O que é ser diácono?Deus precisa e quer precisar de nós, de cada um de nós, porque nos ama. Neste

sentido, ser diácono é um ministério ligado à vida do próprio Cristo, que veio para servir e não para ser servido. O diácono é ordenado para servir o Povo de Deus de modo especial na Liturgia, na Palavra e na Caridade.

Este é o princípio de uma etapa ou o fim de outra?Na vida não existem cortes abruptos: cada etapa é o prolongamento da anterior.

Por isso a ordenação é, de facto o início de uma nova etapa, mas que vem sendo preparada ao longo dos anos, com a formação de Seminário, os estágios nas diversas Paróquias onde estive, o crescimento pessoal, a ajuda de todos aqueles que me têm acompanhado e sobretudo com a força de Deus.

Como nasceu a sua vocação?Deus chama ao seu amor e ao seu serviço os mais comuns e normais de entre

muitos: e a minha história é idêntica à de muitos cristãos: fui para o Seminário de Leiria em 1992, com 13 anos, agradado sobretudo pelo campo de futebol e pelos matraquilhos, depois de um dia de encontro com rapazes de toda a Diocese.

É evidente que Deus tem os seus meios para nos chamar e pouco a pouco fui percebendo que Deus, que quer servir-se de nós, também queria servir-se de mim, de um modo muito concreto como é o ministério ordenado.

No nosso crescimento temos o tempo para discernir e ouvir a voz de Deus, e seguir o caminho que Ele nos apresenta.

Não houve uma data, um momento único em que esta vocação irrompesse na mi-nha vida: certamente começou com o Baptismo, chamamento de todos à santidade, e foi crescendo e amadurecendo ao longo dos anos, no percurso normal de adolescente e de jovem.

O que mais destaca na sua formação? No Seminário, o que mais o ajudou a clarificar a vocação?

Durante os primeiros anos de Seminário, a saída de algum rapaz era sempre para mim um momento de crise interior que me questionava.

Mais tarde, sobretudo a partir do 2º ano em Coimbra, foram os directores espiri-tuais que mais me ajudaram a clarificar a vocação.

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Vai dar um passo muito importante. Tem a certeza que quer ser padre, ou é um risco que assume?

Certezas absolutas na vida? Só que Deus nos ama e a morte. Tudo o resto é um risco! Por isso, ser padre é evidentemente um risco que vale a pena correr sabendo que Deus nos chama, não por sermos bons mas para sermos bons e, em união com Ele, podermos ser um sinal, uma presença d’Ele mesmo no mundo, diante de cada homem.

Sente-se preparado para assumir o impacto do trabalho de uma paróquia?Depois de quase um ano de estágio e do tempo de seminário há já algum contacto

com o trabalho de uma paróquia, mas como não é apenas pelas minhas capacidades que posso assumir esse impacto, mas acima de tudo com a ajuda d’Ele, sinto-me confiante para avançar. Com Ele, apesar das dificuldades que possam surgir, é pos-sível.

Tem algum sector pastoral que mais o entusiasme?Desde o seu início, a Igreja abarca variadas dimensões da vida humana, interliga-

das, evidentemente, que têm de ser promovidas em conjunto, sob pena de descurar dimensões fundamentais.

É óbvio que em cada momento pode haver necessidade de investir mais num lado ou noutro, mas tendo sempre em vista a globalidade e, neste momento con-creto da nossa história e no nosso contexto, um dos sectores em que me parece ser necessário investir mais, é a pastoral juvenil, com novas propostas pastorais para o pós-crisma.

Acha que a Igreja seria mais rica se tivesse mais diáconos?Certamente. Se o Concílio Vaticano II recuperou este ministério significa que a

Igreja sente que ele pode ser um sinal positivo para o mundo, nomeadamente através do diaconado permanente, que não substitui, nem é essa a sua finalidade, a redução do número de padres, mas que possibilita outra forma de entrega a Cristo, servindo as comunidades com a sua especificidade.

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