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Projeto de Cooperação Técnica INCRA / FAO Novo Retrato da Agricultura Familiar --------------------- O Brasil Redescoberto Coordenação Carlos Enrique Guanziroli – FAO Silvia Elizabeth de C. S. Cardim – INCRA Consultores FAO/INCRA Ademar Ribeiro Romeiro – Unicamp Alberto Di Sabbato - UFF Antônio Márcio Buainain – Unicamp Gervásio Castro de Rezende – UFF/IPEA Gilson Alceu Bittencourt - DESER Equipe INCRA Paulo de Tarso L. Vieira - PP Marlon Duarte Barbosa – DF Elizabeth Prescott Ferraz – DC Maria Alice Alves – DP Gilberto Bampi – Assessor Brasília, fevereiro de 2000

Novo Retrato da Agricultura Familiar ...Novo Retrato da Agricultura Familiar-----O Brasil Redescoberto Coordenação Carlos Enrique Guanziroli – FAO Silvia Elizabeth de C. S. Cardim

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  • Projeto de Cooperação Técnica INCRA / FAO

    Novo Retratoda AgriculturaFamiliar---------------------O BrasilRedescoberto

    Coordenação

    Carlos Enrique Guanziroli – FAO

    Silvia Elizabeth de C. S. Cardim – INCRA

    Consultores FAO/INCRA

    Ademar Ribeiro Romeiro – Unicamp

    Alberto Di Sabbato - UFF

    Antônio Márcio Buainain – Unicamp

    Gervásio Castro de Rezende – UFF/IPEA

    Gilson Alceu Bittencourt - DESER

    Equipe INCRA

    Paulo de Tarso L. Vieira - PP

    Marlon Duarte Barbosa – DF

    Elizabeth Prescott Ferraz – DC

    Maria Alice Alves – DP

    Gilberto Bampi – Assessor

    Brasília, fevereiro de 2000

  • 2

    Apresentação

    O maior mérito deste trabalho, sem dúvida, é demonstrar o enorme e pouco conhecido

    potencial de pujança da agricultura familiar brasileira. O estudo sugere uma mudança de paradigma

    cultural no que diz respeito ao meio rural, o avesso da tradição rural brasileira fundada no grande

    latifúndio, e exibe a existência de um novo e poderoso eixo de desenvolvimentista para o País.

    Trabalhos acadêmicos das mais variadas origens demonstram, de forma definitiva, as

    enormes vantagens da agricultura familiar comparativamente às grandes propriedades rurais. As

    unidades familiares, a par de atenderem melhor aos interesses sociais do País, são mais produtivas,

    asseguram melhor a preservação ambiental e são economicamente viáveis.

    Sem exceção, todos os países desenvolvidos têm na agricultura familiar um sustentáculo do

    seu dinamismo econômico e de uma saudável distribuição da riqueza nacional. Todos eles, em

    algum momento da história, promoveram a reforma agrária e a valorização da agricultura familiar.

    Este estudo evidência o acerto do presidente Fernando Henrique Cardoso em dar prioridade

    à reforma agrária desde o primeiro momento de sua administração. E agora, ainda mais com sua

    decisão de criar o Ministério do Desenvolvimento Agrário, responsável pela agricultura familiar e,

    primordialmente, por trazer para este universo os assentados da reforma agrária.

    É com renovado entusiasmo, portanto, que prosseguimos em nosso esforço de assegurar um

    pedaço de terra as famílias que dela carecem. E, a cada dia com mais ênfase, agregar qualidade e

    sustentabilidade aos projetos de assentamento rural, dando aos agricultores familiares condições de

    inserção competitiva nos mercados doméstico e global.

    Este trabalho faz parte de uma série que vem sendo produzida por solicitação do Ministério

    de Desenvolvimento Agrário ao Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO sobre temas

    relacionados com a reforma agrária no Brasil. O objetivo é promover o debate de temas polêmicos,

    incentivand0o uma ampla participação do público interessado, de modo a esclarecer o papel da

    reforma agrária neste momento do nosso processo histórico e recolher críticas e sugestões que

    possam contribuir par o permanente aperfeiçoamento da política fundiária brasileira.

    Exemplares deste e dos demais estudos do Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    podem ser solicitados diretamente ao Ministério do Desenvolvimento agrário ou na Internet, no

    endereço http:/www.INCRA.gov.br/fao/.

    Raul Jungmann

    Ministro do Desenvolvimento Agrário

  • 3

    Índice

    Introdução ___________________________________________________________________ 7

    1 Delimitação do Universo Familiar ___________________________________________ 10

    2 O Perfil da Agricultura Brasileira ___________________________________________ 162.1 Estabelecimentos, Área e Valor Bruto da Produção________________________________ 162.2 Área Média dos Estabelecimentos ______________________________________________ 192.3 Renda Total e Renda Monetária por Estabelecimento______________________________ 202.4 Renda Total por unidade de Área ______________________________________________ 212.5 Condição dos Agricultores em relação à Terra____________________________________ 212.6 Estrutura Fundiária__________________________________________________________ 222.7 Pessoal Ocupado_____________________________________________________________ 242.8 Características Tecnológicas___________________________________________________ 272.9 Investimentos realizados nos Estabelecimentos Agropecuários ______________________ 292.10 Participação da Agricultura Familiar no VBP Agropecuário ________________________ 312.11 Atividades Agropecuárias mais comuns entre os Agricultores Familiares _____________ 332.12 Principais produtos dos Agricultores Familiares na composição do seu VBP ___________ 342.13 Agricultores Familiares segundo Grupos de Renda Total ___________________________ 362.14 Agricultores Familiares segundo Grupos de Renda Monetária ______________________ 38

    3 Tipologia dos Agricultores Familiares________________________________________ 39

    4 Caracterização dos Tipos de Agricultores Familiares____________________________ 414.1 Estabelecimentos, Área, Valor Bruto da Produção e Financiamento Total_____________ 414.2 Renda Total e Renda Monetária por Estabelecimento______________________________ 454.3 Área Média dos Estabelecimentos ______________________________________________ 464.4 Renda Total por Unidade de Área ______________________________________________ 474.5 Condição em relação a Posse e Uso da Terra _____________________________________ 484.6 A Estrutura Fundiária entre os Tipos de Agricultores Familiares ____________________ 494.7 Pessoal Ocupado na Agricultura Familiar _______________________________________ 524.8 Características Tecnológicas dos Agricultores Familiares___________________________ 564.9 Investimentos dos Agricultores Familiares _______________________________________ 584.10 Participação dos Tipos de Agricultores Familiares no total do VBP Agropecuário ______ 614.11 Atividades Agropecuárias mais comuns entre os Agricultores Familiares _____________ 624.12 Agricultores Familiares segundo Grupos de Renda Total (RT) ______________________ 64

    5 Caracterização Complementar dos Agricultores Familiares ______________________ 675.1 Grau de Especialização dos Agricultores Familiares _______________________________ 685.2 Grau de Integração ao Mercado dos Agricultores Familiares________________________ 695.3 Agricultores Familiares segundo os tipos de Mão-de-obra utilizados__________________ 71

    Anexos _____________________________________________________________________ 74

  • 4

    Índice de Tabelas

    Tabela 1: Brasil – Estab., área, valor bruto da produção (VBP) e financiamento total (FT).............16

    Tabela 2: Agric. Familiares – Estab., área, VBP e financiamento total segundo as regiões .............17

    Tabela 3: Agricultores Familiares - Participação percentual das regiões no número deestabelecimentos, área, VBP e financiamento total destinado aos agricultores familiares........18

    Tabela 4: Agricultores Familiares e Patronais - Renda total (RT) e renda monetária (RM) porestabelecimento (Em R$) ...........................................................................................................20

    Tabela 5: Agricultores Familiares – Perc. dos estab. e área segundo a condição do produtor ..........22

    Tabela 6: Brasil – Agric. Familiares - Área média dos estab. segundo os grupos de área total ........23

    Tabela 7: Agricultores Familiares - Percentual de estab. e área segundo grupos de área total .........24

    Tabela 8: Agricultores Patronais - Percentual de estab. e área segundo grupos de área total ...........24

    Tabela 9: Agric. Familiares - Pessoal ocupado segundo as diferentes formas de ocupação .............25

    Tabela 10: Agricultores Familiares - Percentual de estabelecimentos com empregados permanentese serviço de empreitada..............................................................................................................26

    Tabela 11: Agricultores Familiares - Acesso a tecnologia e a assistência técnica ............................28

    Tabela 12 : Agricultores Familiares e Patronais - Investimentos totais, investimento por estab. einvestimento por ha segundo as regiões.....................................................................................29

    Tabela 13: Agricultores Familiares - Valor dos investimentos e destino (em %) 1995/96 ...............30

    Tabela 14 a: Agric. Familiar – Perc. do VBP produzido em relação ao VBP total do produto.........32

    Tabela 15: Agricultura Familiar - Percentual de estab. produtores entre os agricultores da categoria(principais produtos) ..................................................................................................................33

    Tabela 16: Agricultura Familiar - Participação per. dos produtos na composição do VBP ..............35

    Tabela 17: Agricultura Familiar - Participação percentual dos estab. e área segundo os grupos derenda total (Em Reais)................................................................................................................37

    Tabela 18: Agricultura Familiar - Participação percentual dos estab. segundo grupos de rendamonetária (Em Reais).................................................................................................................38

    Tabela 19: BRASIL – Agricultores Familiares - Estabelecimentos, área, valor bruto da produção efinanciamento total (FT) dos tipos .............................................................................................41

    Tabela 20: Agricultores Familiares - Estab., área e VBP dos tipos de agricultores familiares emrelação aos totais da região ........................................................................................................42

    Tabela 21: Agricultores Familiares - Renda total (RT) e renda monetária (RM) por estabelecimentosegundo os tipos familiares ........................................................................................................45

    Tabela 22: Agric. Familiares - Área média dos estab. familiares segundo os tipos (Em ha) ............46

    Tabela 23: Agricultores Familiares - Renda total (RT) por hectare/ano segundo os tipos................48

    Tabela 24: Agricultores Familiares - Percentual dos estabelecimentos e área dos tipos segundo acondição do produtor .................................................................................................................49

    Tabela 25: Agric. Familiares – Perc. de estab. e área dos tipos segundo grupos de área total ..........51

  • 5

    Tabela 26: Agricultores Familiares - Pessoal Ocupado, Empregados Permanentes, Temporários,Parceiros e em outras condições por Tipo Familiar ...................................................................53

    Tabela 27: Agricultores Familiares - Percentual de estab. por tipo familiar com empregadospermanentes e contratação de serviços de empreitada...............................................................54

    Tabela 28: Agricultores Familiares - Área média por pessoa ocupada (Em ha) e número de pessoasocupadas por estabelecimento, segundo os tipos familiares ......................................................55

    Tabela 29: Agricultores familiares – Assistência técnica, tecnologia e associativismo ....................57

    Tabela 30: Agricultores Familiares - Percentual dos investimentos por tipo familiar, invest. porestab. e invest. por ha de área total ............................................................................................59

    Tabela 31: Agricultores Familiares - Valor dos investimentos e destino (%) por tipo familiar ........60

    Tabela 32: Agricultores Familiares - Participação percentual dos tipos familiares no VBP total deprodutos selecionados ................................................................................................................62

    Tabela 33: Agricultores Familiares - Percentual de estab. produtores entre os agricultores dacategoria (principais produtos)...................................................................................................63

    Tabela 34: Agricultores Familiares - Participação perc. dos estab. e área segundo os grupos de rendatotal por tipo familiar .................................................................................................................66

    Tabela 35: Brasil - Agricultores Familiares - Estabelecimentos, % da área, % do VBP, RT/estab. eRT por ha (Em R$), segundo o grau de especialização da produção () .....................................69

    Tabela 36: Brasil: Agricultores Familiares - Estabelecimentos, % da área, % do VBP, RT/estab. eRT por ha (Em R$), segundo o grau de integração ao mercado () ............................................70

    Tabela 37: Brasil: Agricultores Familiares - Estabelecimentos, % da área, % do VBP, RT/estab. eRT por ha (Em R$), segundo os tipos de mão-de-obra utilizados ............................................72

  • 6

    Índice de Gráficos

    Gráfico 1: Brasil - Agricultores Familiares - Participação percentual das regiões no númerode estabelecimentos familiares, área, VBP e financiamento total.....................................

    18

    Gráfico 2: Área média dos estabelecimentos familiares (Em ha)............................................. 19

    Gráfico 3: Área média dos estabelecimentos patronais (Em ha)............................................... 19

    Gráfico 4: Renda total (RT) por ha / ano dos estabelecimentos familiares e patronais............ 21

    Gráfico 5: Brasil - Agricultores Familiares – Percentual de estabelecimentos e área segundogrupos de área total............................................................................................................

    23

    Gráfico 6: Partic. Perc. das regiões no total de pessoas ocupadas na agric. familiar............... 26

    Gráfico 7: Agricultura Familiar e Patronal - Área (em ha) por pessoa ocupada..................... 27

    Gráfico 8: Participação das categorias e regiões no total dos investimentos em compra deterras..................................................................................................................................

    31

    Gráfico 9: Brasil - Perc. do VBP de produtos selecionados produzido nos estab. Familiares.. 32

    Gráfico 10: Brasil - Participação percentual de produtos no VBP total da agriculturafamiliar...............................................................................................................................

    34

    Gráfico 11: Brasil - Agric. Familiares – Percentual de estabelecimentos e área segundogrupos de renda total. ........................................................................................................

    36

    Gráfico 12: Brasil - Agric. Patronais – Percentual de estabelecimentos e área segundogrupos de renda total... .....................................................................................................

    37

    Gráfico 13: Brasil - Participação perc. de cada tipo no total dos agric. familiares................... 43

    Gráfico 14: Participação Percentual dos tipos no total de estab. familiares de cada região.... 44

    Gráfico 15: Agricultores Familiares - Distribuição percentual dos tipos entre as regiões....... 44

    Gráfico 16: Brasil - Área média dos tipos de agricultores familiares (Em ha)......................... 45

    Gráfico 17: Agric. Familiares - Renda total média por ha / ano segundo os tipos familiares... 47

    Gráfico 18: Brasil - Condição do produtor segundo os tipos de agricultores familiares.......... 48

    Gráfico 19: Brasil - Agric. Familiares – Percentual de estabelecimentos dos tipos familiaressegundo grupos de área total.............................................................................................

    50

    Gráfico 20: Brasil - Percentual de pessoas ocupadas na agric. familiar segundo os tiposfamiliares... .......................................................................................................................

    52

    Gráfico 21: Agricultores Familiares - Área média (Em ha) por pessoa ocupada segundo osTipos..................................................................................................................................

    55

    Gráfico 22: Agric. Familiares - Percentual de estabelecimentos que utilizam assistênciatécnica por tipo..................................................................................................................

    56

    Gráfico 23: Tipos de Agricultores Familiares - Percentual de estabelecimentos segundogrupos de renda total..........................................................................................................

    65

  • 7

    Introdução1

    A discussão sobre a importância e o papel da agricultura familiar no desenvolvimento

    brasileiro vem ganhando força nos últimos anos, impulsionada pelo debate sobre desenvolvimento

    sustentável, geração de emprego e renda, segurança alimentar e desenvolvimento local. A elevação

    do número de agricultores assentados pela reforma agrária e a criação do Pronaf (Programa

    Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) refletem e alimentam este debate na

    sociedade.

    A análise da agricultura familiar no Brasil é uma tarefa que requer um tratamento especial

    dos dados primários disponíveis, pois as tabelas estatísticas que são divulgadas não consideram essa

    categoria socioeconômica. As tabulações do Censo Agropecuário, que é um dos poucos

    instrumentos de análise quantitativa do setor agropecuário no Brasil, não permite a separação entre

    agricultura familiar e patronal na forma básica como os dados são disponibilizados pelo IBGE,

    restringindo-se a estratificação segundo a condição do produtor, o grupo de atividade econômica e

    os grupos de área total dos estabelecimentos agropecuários.

    O debate sobre os conceitos e a importância relativa da “agricultura familiar” também é

    intenso, produzindo inúmeras concepções, interpretações e propostas, oriundas das diferentes

    entidades representativas dos “pequenos agricultores”, dos intelectuais que estudam a área rural e

    dos técnicos governamentais encarregados de elaborar as políticas para o setor rural brasileiro.

    Estudos realizados no âmbito do Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO entre 1996 e

    1999, baseados na metodologia de sistemas agrários desenvolvida pela escola francesa de estudos

    agrários, vêm permitindo uma melhor compreensão da lógica e dinâmica das unidades familiares e

    dos assentados, assim como dos sistemas de produção por eles adotados nas diversas regiões do

    país. Os resultados destes estudos indicam que a agricultura brasileira apresenta uma grande

    diversidade em relação ao seu meio ambiente, à situação dos produtores, à aptidão da terras, à

    disponibilidade de infra-estrutura etc., não apenas entre as regiões mas também dentro de cada

    região. Isto confirma a extrema necessidade de aprofundar o conhecimento das realidades agrárias

    específicas que caracterizam a geografia agrária brasileira, bem como revela a necessidade de

    incorporar de forma efetiva e ágil tais conhecimentos ao processo de planejamento das políticas

    públicas para o meio rural.

    Para aprofundar este debate e fornecer mais elementos sobre a real situação da agricultura

    familiar no Brasil, o Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO, contando com a participação de

    1 Este documento foi elaborado por Gilson Alceu Bittencourt e Alberto Di Sabbato, com base nas tabelas obtidas com a

  • 8

    técnicos do INCRA, realizou um estudo com base nos dados do Censo Agropecuário do IBGE de

    1995/96. Este trabalho é uma evolução e um aprofundamento da metodologia anteriormente

    elaborada, que utilizou os dados do Censo Agropecuário do IBGE de 19852. A concepção básica

    que norteou o estudo anterior é mantida: trata-se de caracterizar os agricultores familiares a partir de

    suas relações sociais de produção3, o que implica superar a tendência freqüente nas análises

    sobre o tema de atribuir um limite máximo de área ou de valor de produção à unidade familiar,

    associando-a, equivocadamente, à “pequena produção”4. Tal procedimento é, em parte, derivado da

    própria forma como em geral são apresentadas as estatísticas agropecuárias5. Entretanto, isso não

    significa que devemos ficar limitados aos dados divulgados, sobretudo se considerarmos a grande

    riqueza das informações dos Censos Agropecuários do IBGE, que pode ser constatada pela simples

    análise do seu questionário de coleta. Assim, o que o trabalho pioneiro iniciado em 1995 fez foi

    tornar operacional, mediante a utilização de microdados6, um determinado conceito de agricultura

    familiar.

    Algumas características distinguem o atual estudo do anterior, entre as quais destacam-se:

    a) ampliação do escopo do trabalho, com a inclusão de procedimentos metodológicos que

    permitem identificar os principais sistemas de produção característicos dos diversos tipos de

    agricultores, nas diferentes unidades geográficas7 (municípios, microrregiões geográficas, unidades

    da federação, grandes regiões e país);

    b) reavaliação crítica da metodologia anterior, com alteração dos procedimentos

    metodológicos relativos à delimitação do universo familiar, sobretudo os relacionados ao cálculo da

    renda da unidade familiar e à determinação da quantidade de trabalho não familiar;

    aplicação da metodologia proposta pela equipe da FAO e do INCRA responsáveis por esta metodologia.2 Ver INCRA/FAO. Perfil da agricultura familiar no Brasil: dossiê estatístico. Brasília, 1996.3 Como apontado pelo trabalho anteriormente realizado, “a agricultura familiar pode ser definida a partir de trêscaracterísticas centrais: a) a gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados é feita por indivíduos quemantêm entre si laços de sangue ou de casamento; b) a maior parte do trabalho é igualmente fornecida pelos membrosda família; c) a propriedade dos meios de produção (embora nem sempre da terra) pertence à família e é em seu interiorque se realiza sua transmissão em caso de falecimento ou de aposentadoria dos responsáveis pela unidade produtiva.”(INCRA/FAO, op. cit., p. 4).4 “Os limites deste procedimento são hoje cada vez mais evidentes. Por um lado, eles acabam por superestimar aimportância econômica das unidades familiares de produção já que não é incomum que imóveis pequenos em áreadependam, para seu funcionamento, de um montante de trabalho assalariado que extrapola o esforço fornecidodiretamente pela família. (...) Por outro lado, e mais grave ainda, identificar automaticamente pequenas áreas àagricultura familiar supõe uma visão estática desta forma social, como se ela fosse incapaz de superar os limitesestatísticos assim estipulados.” (INCRA/FAO, op. cit., p. 4).5 No caso brasileiro, os resultados dos Censos Agropecuários do IBGE são estratificados, basicamente, segundo a áreatotal dos estabelecimentos.6 Esta é a denominação utilizada pelo IBGE para designar os arquivos contendo os dados individualizados de cadaestabelecimento agropecuário.7 No trabalho anterior, a unidade geográfica de menor agregação era a microrregião geográfica.

  • 9

    c) ampliação das características associadas aos agricultores familiares, com a seleção de um

    grande número de variáveis disponíveis, o que ensejou a construção de uma base de dados

    municipais e de um conjunto de tabelas estatísticas básicas, agregadas por unidades da federação,

    grandes regiões e país;

    d) ampla discussão acerca da metodologia a ser adotada, tendo em vista a experiência

    acumulada, o maior tempo disponível e o maior número de pessoas envolvidas na sua elaboração8;

    e) maior interatividade na operacionalização da metodologia, em virtude do acesso, ainda

    que restrito, aos microdados do Censo Agropecuário do IBGE9.

    Portanto, este trabalho objetiva subsidiar o desenho e a implementação de políticas públicas

    (fundiárias e agrícolas) para o meio rural e de fortalecimento da agricultura familiar, inclusive as

    atividades de extensão rural e pesquisa agropecuária. Neste sentido, o estudo visa à criação de uma

    base de informação estatística e analítica, ao nível municipal, microrregional, estadual,

    macrorregional e nacional, necessária ao desenvolvimento e à utilização de mecanismos de

    planejamento estratégico das ações fundiárias, aumentando assim o nível de eficiência operacional e

    financeira destas políticas, assim com seu alcance e efetividade social.

    8 A elaboração da atual metodologia começou no final de 1997, tendo participado das discussões iniciais os seguintesconsultores, no âmbito do Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO: Carlos Enrique Guanziroli (coord.), AdemarRibeiro Romeiro, Alberto Di Sabbato, Antônio Márcio Buainain, Gervásio Castro de Rezende, Gilson AlceuBittencourt e Shigeo Shiki. Esta equipe elaborou uma proposta que serviu de base para uma nova rodada de discussões,da qual participaram, além dos já citados, os seguintes representantes das Diretorias do INCRA: Silvia Elizabeth C. S.Cardim (coordenadora), Elizabeth Prescott Ferraz, Gilberto Bampi, Josias Vieira Alvarenga, José Leopoldo RibeiroViégas, Maria Alice Alves, Marlon Duarte Barbosa e Paulo Loguércio.9 Um dos pontos fortes da metodologia adotada sempre foi a possibilidade de utilizar os microdados do CensoAgropecuário. No trabalho anterior, os microdados foram processados pelo próprio pessoal do IBGE, a partir detabulações especiais encomendadas, o que restringiu a possibilidade de testes relativos às definições metodológicas. Emcontrapartida, para a elaboração do presente trabalho foi possível ter acesso aos microdados, nas dependências doIBGE, o que tornou possível a realização de testes, inicialmente com os dados do estado do Espírito Santo, e em seguidacom Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Somente após a análise dos resultados dos testes é que se chegou à metodologiatal como é apresentada no presente texto.

  • 10

    1 Delimitação do Universo Familiar

    O universo agrário é extremamente complexo, seja em função da grande diversidade da

    paisagem agrária (meio físico, ambiente, variáveis econômicas etc.), seja em virtude da existência

    de diferentes tipos de agricultores, os quais têm interesses particulares, estratégias próprias de

    sobrevivência e de produção e que, portanto, respondem de maneira diferenciada a desafios e

    restrições semelhantes. Na verdade, os vários tipos de produtores são portadores de racionalidades

    específicas que, ademais, se adaptam ao meio no qual estão inseridos, fato que reduz a validade de

    conclusões derivadas puramente de uma racionalidade econômica única, universal e atemporal que,

    supostamente, caracterizaria o ser humano. Daí a importância de identificar os principais tipos de

    produtores.

    A escolha de um conceito para definir os agricultores familiares, ou a definição de um

    critério para separar os estabelecimentos familiares dos patronais não é uma tarefa fácil, ainda mais

    quando é preciso compatibilizar esta definição com as informações disponíveis no Censo

    Agropecuário do IBGE, sabidamente não elaborado para este fim.

    Existe uma multiplicidade de metodologias, critérios e variáveis para construir tipologias de

    produtores. Nenhuma delas é inteiramente satisfatória, em parte porque o comportamento e a

    racionalidade dos vários tipos de produtores respondem a um conjunto amplo e complexo de

    variáveis com peso e significado diversos de acordo com o contexto, e em parte devido às

    dificuldades de aplicação empírica de tipologias conceituais que levam em conta um número grande

    de variáveis. Sem entrar no intenso debate que cerca o tema, o estudo adotou uma tipologia simples

    que busca, em essência, classificar os produtores a partir das condições básicas do processo de

    produção, que explicam, em boa medida, suas reações e respostas ao conjunto de variáveis externas,

    assim como a sua forma de apropriação da natureza. Muito embora o foco do estudo seja a

    agricultura familiar, a própria delimitação deste universo implica a identificação dos agricultores

    não familiares ou patronais10.

    O universo familiar foi caracterizado pelos estabelecimentos que atendiam,

    simultaneamente, às seguintes condições:

    a) a direção dos trabalhos do estabelecimento era exercida pelo produtor;

    b) o trabalho familiar era superior ao trabalho contratado.

    10 Os estabelecimentos agropecuários cuja condição do proprietário era “Instituição Pia ou Religiosa” ou “Governo(Federal, Estadual ou Municipal)”, em virtude de suas características peculiares, foram excluídos do conjunto utilizadopara a referida delimitação. Além destes, não foi possível classificar como familiares ou patronais alguns poucos

  • 11

    Adicionalmente, foi estabelecida uma área máxima regional como limite superior para a

    área total dos estabelecimentos familiares11. Tal limite teve por fim evitar eventuais distorções que

    decorreriam da inclusão de grandes latifúndios no universo de unidades familiares, ainda que do

    ponto de vista conceitual a agricultura familiar não seja definida a partir do tamanho do

    estabelecimento, cuja extensão máxima é determinada pelo que a família pode explorar com base

    em seu próprio trabalho associado à tecnologia de que dispõe.

    A primeira condição é obtida diretamente da resposta a um simples quesito do questionário

    censitário, ao passo que, para a obtenção da segunda condição, é necessário recorrer a um conjunto

    de operações envolvendo inclusive variáveis externas ao Censo, tendo em vista não só a

    inadequação das informações censitárias para o caso, como também a complexidade conceitual e

    operacional de que se reveste o tema.

    No que se refere à determinação da quantidade de trabalho, tanto familiar quanto contratado,

    o ideal seria que se pudesse determinar o número de homens-hora trabalhado, de modo a determinar

    com maior exatidão a efetiva carga de trabalho de cada uma das categorias de trabalhadores.

    Para o caso do trabalho familiar, entretanto, pode-se supor que a informação sobre o número

    de pessoas ocupadas da família na atividade produtiva12 reflete, com razoável precisão, a carga de

    trabalho efetivamente empregada. Desse modo, considerou-se como de tempo integral o trabalho do

    “responsável”, que é o produtor familiar que, simultaneamente, administra o seu estabelecimento13,

    bem como o dos “membros não remunerados” com 14 ou mais anos de idade. Para evitar

    superestimação do trabalho familiar, computou-se pela metade o pessoal ocupado da família com

    menos de 14 anos14, não apenas em virtude da sua menor capacidade de trabalho, como também

    pela possibilidade de envolvimento em outras atividades, como, por exemplo, as escolares. Assim,

    foi calculado o número de Unidades de Trabalho Familiar (UTF), por estabelecimento/ano, como

    estabelecimentos, por não possuírem informação válida acerca da direção dos trabalhos do estabelecimento, que é umadas condições para caracterizar o universo familiar.11 Essa área máxima regional foi obtida do modo a seguir exposto. Foram consideradas as áreas dos módulos fiscaismunicipais, segundo a tabela do INCRA. Calculou-se a área de um módulo médio ponderado, segundo o número demunicípios em que incide cada área de módulo fiscal municipal, para cada unidade da federação. A partir desse“módulo médio ponderado estadual”, foi calculado um módulo médio para cada grande região do país. O “módulomédio regional” foi multiplicado por 15 para determinação da área máxima regional, com o que se procurou estabeleceruma aproximação com o que dispõe a legislação, tendo em vista que o limite máximo legal da média propriedade é de15 módulos fiscais (ver Quadro 1 anexo).12 A categoria de pessoal ocupado do Censo relativa ao trabalho familiar intitula-se “Responsável e membros nãoremunerados da família”.13 De acordo com as instruções de preenchimento do questionário do Censo, é obrigatório o registro de pelo menos umapessoa na categoria “Responsável e membros não remunerados da família” (ver IBGE. Censo Agropecuário – Manualdo Recenseador, p. 42-43).14 Foram utilizados os limites de idade disponíveis no Censo.

  • 12

    sendo a soma do número de pessoas ocupadas da família com 14 anos e mais e da metade do

    número de pessoas ocupadas da família com menos de 14 anos.

    Em relação ao trabalho contratado, as informações censitárias são claramente inadequadas,

    sobretudo as que se referem ao pessoal temporário. De um lado, tem-se a informação do número de

    empregados permanentes, temporários e parceiros (empregados) numa determinada data15; de outro,

    é informado o número máximo de empregados temporários em cada mês do ano. Em ambos os

    casos, não se tem a informação da carga de trabalho efetivamente realizada, uma vez que não se

    dispõe do número de meses ou dias trabalhados. Poder-se-ia, para os empregados permanentes e

    parceiros empregados, fazer suposição semelhante à que se fez para o trabalho familiar. Entretanto,

    tal suposição seria completamente equivocada para os empregados temporários16. Além disso, o

    Censo não possui informação sobre a quantidade de mão-de-obra empregada indiretamente, sob o

    regime de empreitada. Dessa forma, optou-se pela obtenção do trabalho contratado a partir das

    despesas realizadas com mão-de-obra empregada, incluindo os serviços de empreitada de mão-de-

    obra. O valor dessas despesas dividido pelo valor anual de remuneração de uma unidade de mão-de-

    obra permite obter o número de unidades de trabalho contratadas pelo estabelecimento.

    Operacionalmente, o número de Unidades de Trabalho Contratada (UTC) foi calculado da

    seguinte forma:

    1) obteve-se o valor total das despesas com mão-de-obra contratada, pela soma de: a) valor

    das despesas com o pagamento (em dinheiro ou em produtos) da mão-de-obra assalariada

    (permanente ou temporária); b) valor das despesas com o pagamento efetuado a parceiros

    empregados17; c) valor das despesas com o pagamento de serviços de empreitada com fornecimento

    só de mão-de-obra;

    2) calculou-se o valor do custo médio anual de um empregado no meio rural, mediante a

    multiplicação do valor da diária média estadual18 de um trabalhador rural pelo número de dias úteis

    trabalhados no ano, calculado em 260;

    15 No Censo Agropecuário de 1995-1996, a data de referência para os dados estruturais foi 31/12/1995 (ver IBGE.Censo Agropecuário 1995-1996 – número 1 – Brasil. Rio de Janeiro, 1998, p. 35) .16 Tal afirmação pode se respaldar em um exemplo simples: para uma mesma jornada de trabalho, um empregadotemporário trabalhando durante trinta dias equivale, em homens-hora de trabalho, a 30 empregados temporáriostrabalhando durante um dia. Entretanto, tal como estão dispostas as informações, haveria uma forte divergência entre oprimeiro caso (uma unidade de trabalho) e o segundo (trinta unidades de trabalho).17 Esse valor foi calculado, segundo o IBGE, mediante a conversão da cota-parte da produção (meia, terça, quarta etc.),tomando por base o preço que se obteria na venda dos produtos (ver IBGE. Censo Agropecuário – Manual doRecenseador, p. 76).18 O valor da diária estadual foi obtido pelo cálculo da média dos valores informados de remuneração de diarista naagricultura para os meses de junho de 1995, dezembro de 1995 e junho de 1996, segundo os dados do Centro deEstudos Agrícolas da Fundação Getúlio Vargas (ver Quadro 2 anexo).

  • 13

    3) por fim, determinou-se o número de Unidades de Trabalho Contratado (UTC), por

    estabelecimento/ano, como sendo a divisão do valor total das despesas com mão-de-obra

    contratada pelo valor do custo médio anual de um empregado no meio rural.

    Resumindo a metodologia de delimitação do universo familiar

    Caracterização dos agricultores familiares

    Direção dos trabalhos do estabelecimento é do produtor e

    UTF > UTC e

    Área total do estabelecimento ≤ área máxima regional

    Unidade de Trabalho Familiar (UTF)

    Pessoal ocupado da família de 14 anos e mais

    +

    (Pessoal ocupado da família de menos de 14 anos) / 2

    Unidade de Trabalho Contratado (UTC)

    (Salários + Valor da quota-parte entregue a parceiros empregados + Serviços de empreitada

    de mão-de-obra)

    ÷

    (Diária estadual x 260)

    Os gastos com serviços de empreitada de mão-de-obra foram incluídos no cálculo do

    trabalho não familiar, tal como indicado acima, a fim de evitar a inclusão de formas típicas de

    contratação informal de mão-de-obra através de “gatos”, empreiteiros etc., utilizadas por unidades

    patronais, muitas vezes com o objetivo de eludir obrigações previstas na legislação trabalhista. No

    entanto, considerou-se que os gastos com serviços de empreitada com fornecimento de máquinas

    não deveriam entrar na massa salarial contratada por várias razões, entre as quais vale mencionar o

    fato de a empreita de serviços ser uma das características mais marcantes das unidades familiares

    nos países desenvolvidos. Este recurso permite às unidades familiares superarem a escassez de mão-

    de-obra e restrições de escala sem romper com sua natureza familiar. Além disso, trata-se de

    tendência inevitável do desenvolvimento econômico, da especialização das tarefas e do problema de

    escala que afeta em particular os estabelecimentos de menor porte, como é o caso da grande maioria

    do universo de produtores familiares.

  • 14

    A possibilidade de recorrer ao serviço de empreitada, particularmente para os casos que

    dificilmente podem ser eficientemente resolvidos via forma de cooperação direta entre produtores,

    facilita a viabilização da agricultura familiar. Por outro lado, é importante lembrar que os gastos

    com aluguel de máquinas e implementos agrícolas, não contratados em forma de empreitada,

    também não foram considerados como despesas com mão-de-obra.

    Para definir um indicar de renda dos agricultores, levando em conta a produção para

    autoconsumo e à destinada ao mercado, considerando as informações disponíveis pelo Censo,

    optou-se por trabalhar com a Renda Total (RT) dos estabelecimentos. A Renda Total foi calculada

    como segue:

    1) obteve-se o Valor Bruto – ajustado – da Produção (VBP*) do estabelecimento, calculado

    pela soma de: a) valor da produção vendida de milho19; b) valor da produção vendida dos principais

    produtos utilizados na indústria rural20; c) valor da produção colhida/obtida dos demais produtos

    animais e vegetais;

    2) calculou-se a Receita Agropecuária Indireta, composta pelas receitas provenientes de:

    venda de esterco; serviços prestados a terceiros; venda de máquinas, veículos e implementos; e

    outras receitas21;

    3) obteve-se o Valor da Produção da Indústria Rural, informada diretamente pelo Censo;

    4) da soma dos três itens acima foi subtraído o Valor Total das Despesas, com o que,

    finalmente, determinou-se a Renda Total do estabelecimento.

    19 De um modo geral deve-se considerar o valor bruto da produção colhida, já que a utilização da produção vendidaelimina o consumo humano de produtos agrícolas e animais e desfigura um conjunto importante de sistemascaracterizados precisamente pelo elevado grau de “endogenia” e de aproveitamento de subprodutos. Estes sistemasestão presentes tanto em formas “atrasadas” (sistema roça/farinha/capoeira) como em formas “modernas” (sistema decriação avícola/milho/quintal). Este critério, no entanto, apresenta um problema, principalmente no caso do consumointermediário de milho, que é largamente utilizado como alimento para animais. Neste caso haveria dupla contagem, jáque seria computado todo o milho colhido, assim como aquele que se “transforma” em suínos/aves que dele sealimentam. Para evitar este problema, o milho foi contabilizado a partir da produção vendida e não colhida.20 Foram incluídos neste item os seguintes produtos: arroz em casca, café em coco, cana-de-açúcar, fumo em folha, leitee mandioca, quando havia informação de valor da produção dos respectivos produtos da indústria rural: arrozbeneficiado em grão, café em grão, rapadura, fumo em rolo ou corda, queijo e farinha de mandioca. Este procedimento,que implica alguma imprecisão, foi o único possível, de vez que a informação sobre matéria-prima da indústria rural,existente nos Censos Agropecuários anteriores, foi suprimida no Censo atual.21 É importante destacar que, à exceção da receita de exploração mineral, todas as receitas registradas pelo Censo sãoprovenientes, direta ou indiretamente, da atividade agropecuária do estabelecimento, não havendo, portanto, informaçãoacerca de eventuais remunerações do produtor fora do estabelecimento, tais como salários, benefícios previdenciáriosetc.

  • 15

    Resumindo, a metodologia para o calculo da Renda Total (RT) e de outros indicadores

    Valor Bruto da Produção (VBP)

    ΣΣ do Valor da produção colhida/obtida de todos os produtos animais e vegetais;

    Renda Total (RT)

    (VBP* + Receita Agropecuária Indireta + Valor da Produção da Indústria Rural )

    Valor Total das Despesas

    VBP*

    Σ do Valor da produção vendida de milho e dos principais produtos utilizados na indústria rural

    +

    Σ do Valor da produção colhida/obtida dos demais produtos animais e vegetais

    Receita Agropecuária Indireta

    Venda de esterco + Serviços prestados a terceiros +

    + Venda de máquinas, veículos e implementos + Outras receitas provenientes do

    estabelecimento agrícola

    Valor da Produção da Indústria Rural (VPIR)

    ΣΣ do valor da produção de todos os produtos da indústria rural 22

    Receita Agropecuária Total (RAT)

    Receita Total – Receita de exploração mineral

    Renda Monetária (RM)

    (Receita Total – Receita de exploração mineral) – Despesa Total

    22 O Censo conceitua “indústria rural” como “as atividades de transformação ou beneficiamento de produtosagropecuários produzidos no estabelecimento ou adquiridos de terceiros, efetuados pelo produtor em instalações dopróprio estabelecimento, comunitárias (moinhos, moendas, casas de farinha, etc.) ou de terceiros por prestação deserviços” (ver IBGE. Censo Agropecuário – Manual do Recenseador, p. 71).

  • 16

    2 O Perfil da Agricultura Brasileira

    2.1 Estabelecimentos, Área e Valor Bruto da Produção

    Segundo o Censo Agropecuário 1995/96, existem no Brasil 4.859.864 estabelecimentos

    rurais (Tabela 1), ocupando uma área de 353,6 milhões de hectares. Nesta safra23, o Valor Bruto da

    Produção (VBP) Agropecuária foi de R$ 47,8 bilhões e o financiamento total (FT) foi de R$ 3,7

    bilhões. De acordo com a metodologia adotada, são 4.139.369 estabelecimentos familiares,

    ocupando uma área de 107,8 milhões de ha, sendo responsáveis por R$ 18,1 bilhões do VBP total,

    recebendo apenas R$ 937 milhões de financiamento rural. Os agricultores patronais são

    representados por 554.501 estabelecimentos, ocupando 240 milhões de ha. Os estabelecimentos

    restantes são formados por aqueles que, conforme já foi mencionado (ver nota 10), foram excluídos

    do universo analisado.

    Tabela 1: Brasil – Estab., área, valor bruto da produção (VBP) e financiamento total (FT)24

    CATEGORIASEstab.

    Total

    % Estab.

    s/ total

    Área Tot.(mil ha)

    % Área

    s/ total

    VBP

    (mil R$)

    % VBP

    s/ total

    FT

    (mil R$)

    % FT

    s/ total

    FAMILIAR 4.139.369 85,2 107.768 30,5 18.117.725 37,9 937.828 25,3

    PATRONAL 554.501 11,4 240.042 67,9 29.139.850 61,0 2.735.276 73,8

    Inst. Pia/Relig. 7.143 0,2 263 0,1 72.327 0,1 2.716 0,1

    Entid. pública 158.719 3,2 5.530 1,5 465.608 1,0 31.280 0,8

    Não identificado 132 0,0 8 0,0 959 0,0 12 0,0

    TOTAL 4.859.864 100,0 353.611 100,0 47.796.469 100,0 3.707.112 100,0

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    A safra agrícola de 1995/96 foi a que recebeu o menor volume de crédito rural no Brasil

    desde o final dos anos sessenta. O valor total dos financiamentos rurais foi inferior a R$ 4 bilhões, o

    que representou apenas 7,7% do VBP desta safra. Os agricultores familiares demonstraram ser mais

    eficientes no uso do crédito rural que os agricultores patronais, pois produzem mais com menos

    recursos do crédito rural.

    23 O termo safra pode ser aqui utilizado, em virtude do fato de que neste Censo, ao contrário dos anteriores, o períodode referência adotado para os dados de produção foi o ano agrícola.24 O número total de estabelecimentos apresentados nesta tabela é inferior em uma unidade ao número divulgado peloIBGE (ver IBGE. Estatísticas do Censo Agropecuário 1995-1996, número 1, Brasil. Rio de Janeiro, 1998). Isto se deveao fato de que o presente trabalho utilizou-se dos microdados do Censo, que contêm correções realizadas após apublicação do volume Brasil, que provocaram, entre outros acertos, a eliminação de um estabelecimento localizado noRio Grande do Sul.

  • 17

    Os agricultores familiares representam, portanto, 85,2% do total de estabelecimentos,

    ocupam 30,5% da área total e são responsáveis por 37,9% do Valor Bruto da Produção

    Agropecuária Nacional, recebendo apenas 25,3% do financiamento destinado a agricultura.

    A análise regional (Tabela 2) demonstra a importância da agricultura familiar nas regiões

    Norte e Sul, nas quais mais de 50% do VBP é produzido nos estabelecimentos familiares. Na região

    Norte, os agricultores familiares representam 85,4% dos estabelecimentos, ocupam 37,5% da área e

    produzem 58,3% do VBP da região, recebendo 38,6% dos financiamentos. A região Sul é a mais

    forte em termos de agricultura familiar, representada por 90,5% de todos os estabelecimentos da

    região, ou 907.635 agricultores familiares, ocupando 43,8% da área e produzindo 57,1% do VBP

    regional. Nesta região, os agricultores familiares são ficam com 43,3% dos financiamentos

    aplicados na região.

    O Centro-Oeste apresenta o menor percentual de agricultores familiares entre as regiões

    brasileiras, representando 66,8% dos estabelecimentos da região e ocupando apenas 12,6% da área

    regional e 12,7% dos financiamentos.

    Tabela 2: Agric. Familiares – Estab., área, VBP e financiamento total segundo as regiões

    REGIÃOEstab.

    Total

    % Estab.

    s/ total

    Área Total

    (Em ha)

    % Área

    s/ total

    VBP

    (mil R$)

    % VBP

    s/ total

    FT

    (mil R$)

    % FT

    s/ total

    Nordeste 2.055.157 88,3 34.043.218 43,5 3.026.897 43,0 133.973 26,8

    Centro-Oeste 162.062 66,8 13.691.311 12,6 1.122.696 16,3 94.058 12,7

    Norte 380.895 85,4 21.860.960 37,5 1.352.656 58,3 50.123 38,6

    Sudeste 633.620 75,3 18.744.730 29,2 4.039.483 24,4 143.812 12,6

    Sul 907.635 90,5 19.428.230 43,8 8.575.993 57,1 515.862 43,3

    BRASIL 4.139.369 85,2 107.768.450 30,5 18.117.725 37,9 937.828 25,3

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    A região Nordeste é a que apresenta o maior número de agricultores familiares,

    representados por 2.055.157 estabelecimentos (88,3%), os quais ocupam 43,5% da área regional,

    produzem 43% de todo o VBP da região e ficam com apenas 26,8% do valor dos financiamentos

    agrícolas da região.

    Os agricultores familiares da região Sudeste apresentam uma grande desproporção entre o

    percentual de financiamento recebido e a área dos estabelecimentos. Esses agricultores possuem

    29,2% da área e somente recebem 12,6% do crédito rural aplicado na região.

    O financiamento destinado à agricultura é desproporcional entre os agricultores familiares e

    patronais, sendo que em todas as regiões a participação dos estabelecimentos familiares no crédito

    rural é inferior ao percentual do VBP de que eles são responsáveis.

  • 18

    Quando cruzados os dados das cinco regiões brasileiras (Tabela 3), o Nordeste desponta

    com o maior percentual de estabelecimentos, sendo responsável por 49,7% de todos os

    estabelecimentos familiares brasileiros. Entretanto, ocupa apenas 31,6% da área total dos familiares,

    é responsável por 16,7% do VBP dos agricultores familiares e absorve 14,3% do financiamento

    rural destinado a esta categoria de agricultores.

    Tabela 3: Agricultores Familiares - Participação percentual das regiões no número deestabelecimentos, área, VBP e financiamento total destinado aos agricultores familiares

    REGIÃO% Estab.

    s/ total

    % Área

    s/ total

    % VBP

    s/ total

    % FT

    s/ total

    Nordeste 49,7 31,6 16,7 14,3

    Centro-Oeste 3,9 12,7 6,2 10,0

    Norte 9,2 20,3 7,5 5,4

    Sudeste 15,3 17,4 22,3 15,3

    Sul 21,9 18,0 47,3 55,0

    BRASIL 100,0 100,0 100,0 100,0

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    A região Centro-Oeste é a que apresenta o menor número de agricultores familiares, sendo

    responsável por apenas 3,9% do total de estabelecimentos familiares no Brasil. Por outro lado,

    apresenta em conjunto com a região Norte, a maior área média entre os familiares, pois com um

    menor número de estabelecimentos, ocupam respectivamente 12,7% e 20,3% da área total dos

    agricultores familiares.

    Gráfico 1: Brasil - Agricultores Familiares - Part. perc. das regiões no número de estab. familiares, área, VBP e

    financiamento total

    50

    32

    17 14

    4

    136

    109

    20

    8 5

    15 1722

    1622

    4755

    18

    % Estab % Área % VBP % FT

    Nordeste C. Oeste Norte Sudeste Sul

  • 19

    A região Sul, apesar de deter 21,9% dos estabelecimentos familiares e ocupar 18% da área

    total, é responsável por 47,3% do Valor Bruto da Produção da agricultura familiar brasileira. O

    crédito rural também está mais concentrado nesta região, a qual absorve 55% dos recursos de

    crédito rural utilizados pelos agricultores familiares do Brasil.

    2.2 Área Média dos Estabelecimentos

    A área média dos estabelecimentos familiares é muito inferior à dos patronais, apresentando

    também uma grande variação entre as regiões. A área média dos estabelecimentos familiares no

    Brasil é de 26 ha, enquanto que a patronal é de 433 ha.

    A área média dos estabelecimentos familiares e patronais tem uma relação entre as regiões, a

    qual está relacionada ao processo histórico de ocupação da terra. Nas regiões onde os agricultores

    patronais apresentam as maiores áreas médias, o mesmo acontece entre os familiares. Enquanto a

    área média entre os familiares do Nordeste é de 16,6 ha, no Centro-Oeste é de 84,5 ha.

    Gráfico 2: Área média dos estabelecimentos familiares (Em ha)

    17

    84

    57

    3021 26

    NE CO N SE S BR

    Em

    ha

    Gráfico 3: Área média dos estabelecimentos patronais (Em ha)

    269

    1.324

    1.008

    223 283433

    NE CO N SE S BR

    Em

    ha

  • 20

    Entre os patronais, com uma média de 433 ha para o Brasil, na região Centro-Oeste a média

    chega a 1.324 ha, encontrando-se na região Sudeste a menor área entre a dos patronais, com 223 ha

    por estabelecimento.

    2.3 Renda Total e Renda Monetária por Estabelecimento

    A Renda Total (RT) agropecuária e a Renda Monetária (RM) por estabelecimento

    apresentam uma grande diferenciação entre os agricultores familiares e patronais, sendo a renda

    patronal muito superior à encontrada entre os familiares. Esta diversidade também ocorre entre os

    agricultores de uma mesma categoria, mas localizados em diferentes regiões.

    No Brasil, a RT média por estabelecimento familiar (Tabela 4) foi de R$ 2.717, variando

    entre R$ 1.159/ano no Nordeste e R$ 5.152/ano na região Sul. A RM da agropecuária por

    estabelecimento foi de R$ 1.783 entre os agricultores familiares, sendo R$ 696 na região Nordeste e

    R$ 3.315 na região Sul.

    Tabela 4: Agricultores Familiares e Patronais - Renda total (RT) e renda monetária (RM)por estabelecimento (Em R$)

    FAMILIAR PATRONALREGIÃO

    RT/Estab RM/Estab RT/Estab RM/Estab

    Nordeste 1.159 696 9.891 8.467

    Centro-Oeste 4.074 3.043 33.164 30.779

    Norte 2.904 1.935 11.883 9.691

    Sudeste 3.824 2.703 18.815 15.847

    Sul 5.152 3.315 28.158 23.355

    BRASIL 2.717 1.783 19.085 16.400

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    A Renda Total e a Renda Monetária obtida nos estabelecimentos familiares demonstram o

    potencial econômico e produtivo dos agricultores familiares, que apesar de todas as limitações, não

    produzem apenas para subsistência, obtendo renda através da produção agropecuária de seus

    estabelecimentos.

    Os estabelecimentos patronais apresentaram Renda Total média de R$ 19.085 anuais,

    variando de R$ 9.891/ano no Nordeste a R$ 33.164 no Centro-Oeste. A Renda mais elevada entre

    os patronais é explicada principalmente pela área de que estes dispõem.

  • 21

    2.4 Renda Total por unidade de Área

    A Renda Total por hectare demonstra que a agricultura familiar é muito mais eficiente que a

    patronal, produzindo uma média de R$ 104/ha/ano contra apenas R$ 44/ha/ano dos agricultores

    patronais.

    A maior eficiência da agricultura familiar sobre a patronal ocorre em todas as regiões

    brasileiras. No Nordeste, os agricultores familiares produzem em média R$ 70/ha contra R$ 37/ha

    dos patronais, no Centro-Oeste produzem uma média de R$ 48/ha contra R$ 25/ha dos patronais.

    Na região Sul, os agricultores familiares produzem R$ 241/ha contra R$ 99/ha dos agricultores

    patronais. Na região Norte, os agricultores familiares obtém uma média de R$ 52/ha de Renda

    Total, valor quase cinco vezes superior à dos agricultores patronais, que obtêm uma média de

    apenas R$ 12/ha/ano.

    2.5 Condição dos Agricultores em relação à Terra

    A situação dos agricultores familiares, segundo a condição de uso da terra demonstra que

    74,6% são proprietários, 5,7% são arrendatários, 6,4% são parceiros e 13,3% são ocupantes. O

    menor percentual de agricultores familiares proprietários está na região Nordeste, com apenas 65%

    dos estabelecimentos. O Centro-Oeste é o que apresenta maior percentual de agricultores familiares

    proprietários, representado por 89,8% dos estabelecimentos familiares da região .

    Entre as regiões, o percentual de ocupantes é maior no Nordeste, chegando a 19,3% dos

    estabelecimentos familiares, representado por 397 mil agricultores. Na região Norte, os ocupantes

    somam 13,2% dos estabelecimentos familiares, representado por 50 mil agricultores. Na região Sul,

    apesar de representarem apenas 6,7% do total de estabelecimentos familiares, os ocupantes somam

    mais de 61 mil agricultores familiares.

    Gráfico 4: Renda total (RT) por ha / ano dos estabelecimentos familiares e patronais

    7048 51

    129

    241

    104

    37 25 12

    85 99

    44

    NE CO N SE S BR

    R$

    / Ha

    / An

    o

    Familiar Patronal

  • 22

    Tabela 5: Agricultores Familiares – Perc. dos estab. e área segundo a condição do produtor

    Proprietário Arrendatário Parceiro OcupanteREGIÃO

    % Estab. % Área % Estab. % Área % Estab. % Área % Estab. % Área

    Nordeste 65,4 91,8 6,9 1,0 8,4 1,6 19,3 5,6

    Centro-Oeste 89,8 93,6 3,4 2,7 1,3 0,4 5,6 3,2

    Norte 84,6 94,2 0,7 0,3 1,4 0,4 13,2 5,1

    Sudeste 85,7 92,2 4,1 3,8 5,2 1,5 5,0 2,5

    Sul 80,8 87,8 6,4 5,4 6,0 3,2 6,7 3,7

    BRASIL 74,6 91,9 5,7 2,3 6,4 1,5 13,3 4,3

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    A prática de arrendamento e de parceira por agricultores familiares está mais presente nas

    regiões Nordeste e Sul, sendo que os arrendatários representam 6,9% dos estabelecimentos

    familiares da região Nordeste e 6,4% dos estabelecimentos da região Sul. A condição de uso da

    terra em forma de parceira ocorre em 8,4% dos estabelecimentos familiares da região Nordeste e

    6% da região Sul.

    2.6 Estrutura Fundiária

    A propriedade da terra não é o único elemento a ser considerado em relação à necessidade

    da reestruturação fundiária no Brasil. Entre os agricultores familiares que são proprietários, muitos

    possuem menos de 5 ha, o que, na maioria dos casos, inviabiliza sua sustentabilidade econômica

    através da agricultura, com exceção de algumas atividades econômicas, sua localização e/ou seu

    grau de capitalização.

    No Brasil, conforme demonstrado no próximo gráfico, 39,8% dos estabelecimentos

    familiares possuem, sob qualquer condição, menos de 5 ha, sendo que outros 30% possuem entre 5

    a 20 ha e 17% possuem entre 20 e 50 ha. Ou seja, 87% dos estabelecimentos familiares possuem

    menos de 50 ha. Os agricultores familiares com área maior que 100 ha e menor que a área máxima

    regional são representados por 5,9% dos estabelecimentos, mas ocupam 44,7% de toda a área da

    agricultura familiar brasileira.

  • 23

    A área media dos estabelecimentos familiares em cada grupo de área também é baixa.

    Considerando a média para o Brasil (Tabela 6), com dados muito semelhantes para todas as regiões,

    a área média dos estabelecimentos com menos de 5 ha é de apenas 1,9 ha por estabelecimento.

    Mesmo entre os com área entre 5 e 20 ha, a média é de apenas 10,7 ha por estabelecimento.

    Tabela 6: Brasil – Agric. Familiares - Área média dos estab. segundo os grupos de área total

    GRUPOS DE ÁREA TOTAL Área Média (Em ha)

    Menos de 5 ha 1,9

    5 a menos de 20 ha 10,7

    20 a menos de 50 ha 31,0

    50 a menos de 100 ha 67,8

    100 ha a 15 Módulos Regionais 198,0

    Área Média dos Agricultores Familiares 26,0

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    A região Nordeste é a que apresenta o maior número de minifúndios (Tabela 7), com 58,8%

    de seus estabelecimentos familiares com menos de 5 ha. Entre esses agricultores, a área média é de

    1,7 ha por estabelecimento. Quando somados aos 21,9% dos estabelecimentos com 5 ha a menos de

    20 ha, os quais possuem uma área média de 9,8 ha por estabelecimento, obtém-se 81% dos

    estabelecimentos familiares desta região. Considerando somente a pequena área disponível e que

    uma grande parte destes estabelecimentos está situada na região do semi-árido nordestino, estes

    agricultores dificilmente terão perspectivas de melhoria e potencialização de seus sistemas

    produtivos.

    Na região Sul, 20% dos estabelecimentos familiares possuem menos de 5 ha, 47,9%

    possuem entre 5 e menos de 20 ha e outros 23,2% possuem entre 20 e menos de 50 ha.

    Gráfico 5: Brasil - Agricultores Familiares - Perc. de estab. e área segundo grupos de área total

    39,8

    29,6

    17,2

    7,6 5,93,0

    19,7

    44,7

    12,220,4

    < 5 5 a 20 20 a 50 50 a 100 100 a15MR

    Em ha

    Em

    %

    % Estab. % Área

  • 24

    Tabela 7: Agricultores Familiares - Percentual de estab. e área segundo grupos de área total

    Menos de 5 ha 5 a – de 20 ha 20 a – de 50 ha 50 a – de 100 ha 100 ha a – de 15 MRREGIÃO %

    Estab.%

    Área%

    Estab.%

    Área%

    Estab.%

    Área%

    Estab.%

    Área%

    Estab.%

    Área

    Nordeste 58,8 6,1 21,9 13,0 11,0 20,3 4,8 19,3 3,4 41,3

    Centro-Oeste 8,7 0,3 20,5 2,9 27,3 10,7 18,8 15,5 24,6 70,6

    Norte 21,3 0,8 20,8 3,8 22,5 12,5 17,9 20,8 17,4 62,0

    Sudeste 25,5 2,1 35,6 13,6 22,7 24,4 9,9 23,2 6,3 36,5

    Sul 20,0 2,6 47,9 25,1 23,2 32,5 5,9 18,8 2,9 21,1

    BRASIL 39,8 3,0 30,0 12,2 17,1 20,4 7,6 19,7 5,9 44,7

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    Entre os agricultores patronais (Tabela 8), a maioria absoluta possui estabelecimentos com

    área superior a 50 ha, com destaque a estabelecimentos com mais de 100 ha. No Brasil, apenas 7%

    dos estabelecimentos patronais possuem menos de 5 ha, sendo o Nordeste a região com o maior

    percentual deles nesta condição, representando 13,7% do total de estabelecimentos patronais desta

    região, provavelmente situados em pólos de irrigação e em regiões próximos as regiões

    metropolitanas.

    Tabela 8: Agricultores Patronais - Percentual de estab. e área segundo grupos de área total

    Menos de 5 ha 5 a – de 20 ha 20 a – de 50 ha 50 a – de 100 ha 100 ha e maisREGIÃO %

    Estab.%

    Área%

    Estab.%

    Área%

    Estab.%

    Área%

    Estab.%

    Área%

    Estab.%

    Área

    Nordeste 13,7 0,1 16,1 0,7 17,0 2,0 14,5 3,8 38,7 93,4

    Centro-Oeste 1,1 0,0 3,3 0,0 6,4 0,2 8,5 0,5 80,8 99,3

    Norte 4,1 0,0 5,5 0,1 10,4 0,3 13,0 0,9 67,1 98,7

    Sudeste 4,9 0,1 14,8 0,8 20,7 3,1 17,6 5,7 41,9 90,2

    Sul 5,9 0,1 16,1 0,7 16,3 1,9 12,5 3,2 49,2 94,2

    BRASIL 7,1 0,0 13,4 0,4 16,5 1,3 14,4 2,4 48,6 95,9

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    2.7 Pessoal Ocupado

    A agricultura familiar é a principal geradora de postos de trabalho no meio rural brasileiro

    (Tabela 9). Mesmo dispondo de apenas 30% da área, é responsável por 76,9% do Pessoal Ocupado

    (PO). Dos 17,3 milhões de PO na Agricultura brasileira, 13.780.201 estão empregados na

    agricultura familiar. Enquanto na região Sul a agricultura familiar ocupa 84% da mão-de-obra

    utilizada na agricultura, no Centro-Oeste ela é responsável por apenas 54%.

  • 25

    Os agricultores familiares são responsáveis pela contratação de 16,8% (308.097) do total de

    empregados permanentes do Brasil, enquanto os estabelecimentos patronais contratam 81,7%

    (1.502.529) desses25.

    Tabela 9: Agric. Familiares - Pessoal ocupado segundo as diferentes formas de ocupação

    REGIÃOPessoal

    Ocup. total

    Pess. Ocup.

    % s/ total

    Empreg.

    Perm,

    Empreg

    Temp.

    Parceiros

    (empreg.)

    Outra

    Cond.

    UTF/UT

    %

    Nordeste 6.809.420 82,93 81.379 588.810 34.081 62.212 97,1

    Centro-Oeste 551.242 54,14 42.040 39.824 2.793 15.418 90,2

    Norte 1.542.577 82,15 25.697 68.636 6.880 29.772 96,9

    Sudeste 2.036.990 59,20 98.146 160.453 58.146 58.294 91,6

    Sul 2.839.972 83,94 60.835 128.955 20.548 26.207 96,7

    BRASIL 13.780.201 76,85 308.097 986.678 122.448 191.903 95,9

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    Enquanto todos os estabelecimentos familiares ocupam o trabalho de 122.448 parceiros

    empregados, os patronais ocupam 163.530 parceiros. O número de empregados temporários

    ocupados nos agricultura, levantados em uma data fixa (31/12/95) foi de 986.678 empregados entre

    os familiares e 800.235 entre os patronais. Embora os familiares apresentem um número superior ao

    patronal nesta data, isto não significa que os familiares utilizam-se do emprego temporário com

    maior freqüência e intensidade que os patronais ao longo do ano. Pelo contrário, a tendência, pela

    relação obtida entre o percentual de trabalho dos membros da família em comparação com o

    trabalho contratado, demonstra que os patronais utilizam-se com muita intensidade deste tipo de

    trabalho.

    Os agricultores concentram seu trabalho entre os membros da família do próprio agricultor.

    Do total de Unidades de Trabalho utilizadas na agricultura familiar, apenas 4% são contratadas,

    sendo todo o restante do trabalho desenvolvido por membros da família. Os agricultores patronais

    apresentam uma relação inversa, sendo que 78,5% do total das unidades de trabalho utilizadas no

    estabelecimento são contratadas.

    Conforme dados apresentados no próximo gráfico, a região Nordeste é a que concentra o

    maior número de pessoas ocupadas entre os agricultores familiares, sendo responsável por 49%

    (6.809.420 pessoas) das pessoas ocupadas na agricultura familiar brasileira. Em seguida vem a

    região Sul, responsável por 21% das pessoas ocupadas na agricultura familiar brasileira. Novamente

    25 A diferença para 100% é constituída dos estabelecimentos excluídos da análise (ver nota 10)

  • 26

    a região Centro-Oeste aparece com menor destaque, sendo responsável por apenas 4% de todo o

    pessoal ocupado na agricultura familiar brasileira.

    Entre os estabelecimentos familiares (tabela 10), apenas 4,3% contratam empregados

    permanentes, sendo que 2,9% contratam apenas um empregado, outros 0,8% contratam dois

    empregados e apenas 0,6% contratam mais do que dois empregados permanentes. Em relação a

    serviços de empreitada, 7,4% dos familiares contratam serviços só de mão-de-obra, sendo que

    outros 5,9% de estabelecimentos familiares contratam serviços de empreitada só de máquinas ou de

    máquinas e de mão-de-obra.

    Tabela 10: Agricultores Familiares - Percentual de estabelecimentos com empregadospermanentes e serviço de empreitada

    % de Estabelecimentos com EmpregadosPermanente

    % Estabelecimentos c/ serviço deempreitadaREGIÃO

    Total 1 perm. 2 perm. + de 2 perm. Só MO Com máquinas e MO

    Nordeste 2,0 1,2 0,4 0,4 5,2 3,4

    Centro-Oeste 15,6 10,3 3,0 2,3 19,8 12,7

    Norte 3,3 1,9 0,7 0,7 12,1 0,9

    Sudeste 9,3 6,6 1,5 1,2 11,5 5,4

    Sul 4,3 3,1 0,8 0,5 5,1 12,6

    BRASIL 4,3 2,9 0,8 0,6 7,4 5,9

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    Entre os agricultores patronais, 62,7% contratam empregados permanentes, sendo que

    23,4% contratam apenas um empregado, 15% contratam dois empregados e 24,4% contratam mais

    de dois empregados permanentes. Os patronais também contratam muita mão-de-obra através de

    Gráfico 6: Partic. Perc. das regiões no total de pessoas ocupadas na agric. familiar

    49%

    4%11%

    15%

    21%

    NE CO N SE S

  • 27

    contratação de serviços de empreitada, sendo que 29,1% dos estabelecimentos patronais contratam

    empreitada só de mão-de-obra e outros 7,4% contratam serviços empreitada só de máquinas ou de

    máquinas e de mão-de-obra. Os estabelecimentos da região Centro-Oeste são os que mais contratam

    empregados permanentes, sendo que 16,6% dos estabelecimentos familiares e 80% dos patronais

    utilizam-se deste tipo de mão-de-obra. Os patronais também utilizam o trabalho de parceiros com

    maior intensidade que os familiares.

    O número de pessoas ocupadas por estabelecimento é maior entre os patronais,

    representando uma média de 6,4 pessoas ocupadas, contra 3,3 pessoas ocupadas entre os

    agricultores familiares. Por outro lado, conforme demonstrado no próximo gráfico, quando é

    calculado o número de pessoas ocupadas por unidade de área, os agricultores familiares apresentam

    uma grande superioridade em relação aos patronais, ocupando muito mais pessoas por unidade de

    área. Entre os agricultores patronais, são necessários em média 67,5 ha para ocupar uma pessoa,

    sendo que entre os familiares são necessários apenas 7,8 ha para ocupar uma pessoa.

    A variação também é grande entre as regiões. Enquanto no Nordeste os agricultores

    familiares ocupam uma pessoa a cada 5 ha, no Centro-Oeste são necessários 24,8 ha. Entre os

    patronais, varia de 32,8 ha por pessoa ocupada no Sudeste a 216,5 ha no Centro-Oeste.

    2.8 Características Tecnológicas

    O acesso a tecnologia apresenta grande variação tanto entre familiares e patronais quanto

    entre os agricultores de diferentes regiões, mesmo que de uma mesma categoria. Entre os familiares

    (Tabela 11), apenas 16,7% utilizam assistência técnica, contra 43,5% entre os patronais. Entretanto,

    entre os familiares este percentual varia de 2,7% na região Nordeste a 47,2% na região Sul. Mesmo

    Gráfico 7: Agricultura Familiar e Patronal - Área (em ha) por pessoa ocupada

    5 25 14 9 7 842

    217166

    33 4867

    NE CO N SE S BR

    Familiar Patronal

  • 28

    considerando as diferenças no interior da agricultura familiar nordestina, o número de agricultores

    com acesso a Assistência técnica é muito pequeno.

    A energia elétrica também é um privilégio para poucos agricultores familiares das regiões

    Norte e Nordeste. Enquanto 36,6% dos estabelecimentos familiares do Brasil têm acesso ao este

    serviço público, os percentuais variam de 9,3% e 18,7% nas regiões Norte e Nordeste,

    respectivamente, a 73,5% na região Sul.

    Tabela 11: Agricultores Familiares - Acesso a tecnologia e a assistência técnica

    Uso de força nos trabalhosREGIÃO

    UtilizaAssist.

    Técnica

    UsaEnergiaElétrica

    Sóanimal

    Só mecânica oumecânica + animal

    ManualUsa

    Adubos eCorretivos

    FazConserv.do solo

    Nordeste 2,7 18,7 20,6 18,2 61,1 16,8 6,3

    C. Oeste 24,9 45,3 12,8 39,8 47,3 34,2 13,1

    Norte 5,7 9,3 9,3 3,7 87,1 9,0 0,7

    Sudeste 22,7 56,2 19,0 38,7 42,2 60,6 24,3

    Sul 47,2 73,5 37,2 48,4 14,3 77,1 44,9

    BRASIL 16,7 36,6 22,7 27,5 49,8 36,7 17,3

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    O uso de Tração Animal e/ou Tração Mecânica é muito baixo entre os estabelecimentos

    familiares, sendo que cerca de 50% utilizam apenas força manual nos trabalhos agrários. No Brasil

    23% dos agricultores familiares utilizam apenas tração animal e outros 27% utilizam tração

    mecânica ou mecânica e animal.

    Na região Norte, 87% dos estabelecimentos familiares não utilizam tração animal ou

    mecânica, limitando-se à força manual. Apesar da presença do extrativismo nesta região, o

    percentual de estabelecimentos que utilizam tração mecânica ou animal é muito baixo. Os

    familiares da região Sul apresentam um alto percentual de uso de tração mecânica/animal ou

    somente animal, representado por 48,4% e 37,2% dos estabelecimentos, respectivamente.

    Entre os familiares, 36,7% usam adubos e corretivos, variando de 9% na região Norte,

    16,8% no Nordeste até 77,1% dos estabelecimentos na região Sul. A conservação de solos também

    apresenta uma grande variação entre as regiões. Enquanto na região Sul 44,9% dos

    estabelecimentos fazem algum tipo de conservação de solos, na região Norte esta prática é

    desenvolvida por menos de 1% dos estabelecimentos familiares.

    A assistência técnica está mais presente entre os patronais, sendo que 43,5% dos

    estabelecimentos a utilizam. Na região Sul chega a 64,4%, no Sudeste 55,1%, no Centro-Oeste

    51,9%, no Norte 20,7% e no Nordeste, apenas 18,9%. O acesso a energia elétrica também é maior

  • 29

    entre os patronais, sendo que 64,5% dos estabelecimentos têm acesso a energia elétrica, com

    destaque a região Sudeste, onde 80,2% dos estabelecimentos têm acesso a este serviço.

    O uso de tração mecânica e/ou animal está presente em 68,3% dos estabelecimentos

    patronais, sendo que aqueles do Norte e Nordeste são os que menos utilizam este tipo de tração nos

    trabalhos agrários, com 39,9% e 50,7% dos estabelecimentos, respectivamente. A conservação dos

    solos é adotada por 33,2% dos estabelecimentos patronais, sendo uma prática pouca adotada pelos

    agricultores patronais da região Norte e Nordeste, sendo que apenas 3,1% e 9,6%, respectivamente,

    dos estabelecimentos destas regiões fazem conservação de solos.

    2.9 Investimentos realizados nos Estabelecimentos Agropecuários

    Os investimentos realizados na agricultura (Tabela 12) somaram R$ 7,7 bilhões na safra

    1995/96, sendo que os agricultores familiares foram responsáveis por R$ 2,5 bilhões ou 32% de

    todos os investimentos realizados26. As regiões que mais investiram foram o Sul (44,2%) e Sudeste

    (23,2%), representando juntas 67,4% de todos os investimentos realizados pelos agricultores

    familiares brasileiros nesta safra.

    Os agricultores patronais investiram R$ 5,1 bilhões ou 66,1% do investimento total

    realizado na safra 1995/96, sendo que as regiões Sudeste (28,4%) e Centro-Oeste (36,4%) foram

    juntas responsáveis por 64,8% dos investimentos realizados por estes agricultores.

    Tabela 12 : Agricultores Familiares e Patronais - Investimentos totais, investimento porestab. e investimento por ha segundo as regiões

    FAMILIAR PATRONAL

    REGIÃO Total deInvest.

    (Mil R$)

    Invest.Total

    %

    Invest. /Estab.

    (R$)

    Invest. /Ha

    (R$)

    Total deInvest.

    (Mil R$)

    Invest.Total

    %

    Invest. /Estab.

    (R$)

    Invest. /Ha

    (R$)

    Nordeste 355.455 14,0 173,0 10,4 564.716 11,1 3.495,8 13,0

    Centro-Oeste 308.128 12,2 1.901,3 22,5 1.449.605 28,4 20.570,5 15,5

    Norte 161.494 6,4 424,0 7,4 296.582 5,8 8.855,6 8,8

    Sudeste 588.598 23,2 928,9 31,4 1.861.744 36,4 9.212,4 41,4

    Sul 1.121.784 44,2 1.235,9 57,7 935.725 18,3 10.766,8 38,0

    BRASIL 2.535.459 100,0 612,5 23,5 5.108.372 100,0 9.212,6 21,3

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    O investimento médio por estabelecimento foi de R$ 9.212/ano entre os agricultores

    patronais e R$ 612/ano entre os agricultores familiares. A região Centro-Oeste apresentou os

    maiores investimentos nas duas categorias, representado por R$ 1.901 entre os agricultores

  • 30

    familiares e R$ 20.570 entre os agricultores patronais. Os agricultores familiares da região Nordeste

    foram os que menos investiram, com apenas R$ 173 por estabelecimento.

    Quando observados os investimentos por ha, os agricultores familiares investiram mais que

    os patronais, com uma média de R$ 23,5/ha contra R$ 21,3/ha dos agricultores patronais. Na região

    Sul, os agricultores familiares investiram uma média de R$ 57,7/ha, no Nordeste foram R$ 10,4/ha

    e na região Norte, apenas R$ 7,4/ha.

    O principal destino dos investimentos (Tabela 13) realizados pelos agricultores familiares

    foi a formação de novas plantações (culturas permanentes e matas plantadas) e compra de animais

    (designados, abreviadamente, por novas plantas e animais), com 37,1% dos investimentos, seguido

    por máquinas e benfeitorias (25,2%) e compra de terras (16%).

    Tabela 13: Agricultores Familiares - Valor dos investimentos e destino (em %) 1995/96

    DESTINO DOS INVESTIMENTOS (Em %)

    REGIÃO

    Total deInvestimentos

    (Em Mil R$)Máquinas eBenfeitorias

    Compra deTerras

    Novas plantas eanimais

    OutrosInvestimentos

    Nordeste 355.455 18,8 8,5 56,9 15,9

    Centro-Oeste 308.128 22,7 17,9 41,7 17,7

    Norte 161.494 25,0 9,6 45,5 19,9

    Sudeste 588.598 21,0 16,0 41,4 21,6

    Sul 1.121.784 30,2 18,7 26,2 24,8

    BRASIL 2.535.459 25,2 16,0 37,1 21,6

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    Os investimentos dos estabelecimentos familiares do Nordeste concentraram-se em novas

    plantas e animais, com praticamente 57% do total realizado na região. Para compra de terra foram

    destinados apenas 8,5% dos investimentos. Os agricultores familiares da região Sul concentraram

    seus investimentos em máquinas e benfeitorias, com 30,2% dos investimentos realizados, sendo

    também os que mais investiram na compra de terras, representando 18,7% dos investimentos.

    Os agricultores patronais também concentraram seus investimentos em novas plantas e

    animais, representando 46,8% do total, seguido de máquinas e benfeitorias (25,8%) e compra de

    terras (12,5%).

    26 Os dados sobre valores de investimento referem-se ao período de 01/08/1995 a 31/07/1996.

  • 31

    Conforme gráfico a seguir, do total de recursos investidos na compra de terras na safra

    1995/96, os agricultores patronais da região Sudeste foram os que mais investiram, com 22% do

    total de recursos aplicados.

    Os agricultores familiares da região Sul ficaram em segundo, gastando 20,2% do total de

    recursos investidos em compra de terras no Brasil. Em terceiro ficaram os agricultores patronais da

    região Sul, com 16,7% do total de recursos investidos em compra de terras. Os agricultores

    familiares da região Norte e Nordeste foram os que menos investiram na compra de terras,

    representando apenas 1,5% e 2,9% de todos os recursos aplicados no Brasil com esta finalidade.

    2.10 Participação da Agricultura Familiar no VBP Agropecuário

    Com apenas 30,5% da área e contando somente com 25% do financiamento total, os

    estabelecimentos familiares são responsáveis por 37,9% de toda a produção nacional. Dado o

    grande número de estabelecimentos familiares, muitos dos quais com área muito pequena, destinada

    principalmente para moradia e plantio para subsistência, este percentual é elevado, principalmente

    quando considerado que a pecuária de corte e a cana-de-açúcar, produtos tipicamente patronais e de

    alto valor agregado, têm um importante peso no VBP da Agropecuária Nacional.

    O percentual do VBP produzido pela agricultura familiar, quando consideradas algumas

    atividades, demonstra a sua importância em produtos destinados ao mercado interno e também entre

    os principais produtos que compõem a pauta de exportação agrícola brasileira.

    Os agricultores familiares produzem (Tabela 14a e 14b) 24% do VBP total da pecuária de

    corte, 52% da pecuária de leite, 58% dos suínos e 40% das aves e ovos produzidos. Em relação a

    algumas culturas temporárias e permanentes, a agricultura familiar produz 33% do algodão, 31% do

    arroz, 72% da cebola, 67% do feijão, 97% do fumo, 84% da mandioca, 49% do milho, 32% da soja

    Gráfico 8: Partic. das categorias e regiões no total dos investimentos em compra de terras

    2,9

    9,1

    20,2

    13,6

    4,3

    22,0

    1,55,3

    16,7

    4,5

    NE CO N SE S

    Em

    %

    Familiar Patronal

  • 32

    e 46% do trigo, 58% da banana, 27% da laranja e 47% da uva, 25% do café e 10% do VBP da cana-

    de-açúcar.

    Entre as cinco regiões, os agricultores familiares da região Sul são os que mais se destacam

    pela sua participação no VBP regional, sendo responsáveis por 35% da pecuária de corte, 80% da

    pecuária de leite, 69% dos suínos, 61% das aves, 83% da banana, 43% do café, 81% da uva, 59%

    do algodão, 92% da cebola, 80% do feijão, 98% do fumo, 89% da mandioca, 65% do milho, 51%

    da soja e 49% do trigo produzido na região.

    Tabela 14 a: Agric. Familiar – Perc. do VBP produzido em relação ao VBP total do produto

    Produção Animal, Fruticultura e Cultura PermanenteREGIÃO % Área

    s/ total Pec. corte Pec. leite Suínos Aves/ovos Banana Café Laranja Uva

    Nordeste 43,5 42,6 53,3 64,1 26,2 56,0 22,6 64,2 2,9

    Centro- Oeste 12,6 11,1 50,8 31,1 29,4 55,9 62,8 29,8 62,9

    Norte 37,5 26,6 67,0 73,8 40,3 77,4 93,8 66,5 51,9

    Sudeste 29,2 22,5 37,5 21,0 17,8 43,4 22,8 16,6 37,4

    Sul 43,8 35,0 79,6 68,6 61,0 82,8 42,8 77,8 81,3

    BRASIL 30,5 23,6 52,1 58,5 39,9 57,6 25,5 27,0 47,0

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    Gráfico 9: Brasil - Perc. do VBP de produtos selecionados produzido nos estab. familiares

    25 31

    67

    9784

    49

    3224

    5258

    40

    Café

    Arro

    z

    Feijã

    o

    Fum

    o

    Mand

    ioca

    Milh

    oSo

    ja

    Pec.

    corte

    Pec.

    leite

    Suín

    os

    Aves

    /ovo

    s

    Em

    % d

    o V

    BP

  • 33

    Tabela 14b: Agric. Familiar – Perc. do VBP produzido em relação ao VBP total do produto

    Culturas TemporáriasREGIÃO % Área

    s/ total Algodão Arroz Cana Cebola Feijão Fumo Mand. Milho Soja

    Nordeste 43,5 56,3 70,3 7,5 57,0 79,2 84,5 82,4 65,5 2,7

    Centro- Oeste 12,62 8,9 23,4 2,7 2,2 21,8 84,3 55,6 16,6 8,4

    Norte 37,5 83,6 52,6 43,8 31,1 89,4 86,5 86,6 73,3 3,5

    Sudeste 29,3 23,5 51,3 8,6 43,9 38,3 74,2 69,8 32,8 20,3

    Sul 43,8 58,8 21,3 27,2 92,1 80,3 97,6 88,9 65,0 50,8

    BRASIL 30,5 33,2 30,9 9,6 72,4 67,2 97,2 83,9 48,6 31,6

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

    Alguns desses produtos estão concentrados em determinadas regiões, sendo muito pouco

    produzidos nas demais regiões, como é o caso da uva, cebola, café, algodão, fumo e soja. Como a

    produção desses produtos é muito pequena nestas regiões, qualquer produção, por menor que seja,

    aparece com destaque tanto para a agricultura patronal como familiar.

    2.11 Atividades Agropecuárias mais comuns entre os Agricultores Familiares

    Entre os agricultores familiares, a atividade mais comum, independentemente da quantidade

    produzida em cada estabelecimento, é a criação de aves e a produção de ovos, presente em 63,1%

    dos estabelecimentos. O milho e o feijão vêm em seguida, com produção em 55% e 45,8% dos

    estabelecimentos, respectivamente. A produção de leite está presente em 36%, seguido da pecuária

    de corte, criada em 27,8% dos estabelecimentos familiares.

    Na região Nordeste, aves/ovos, feijão e milho também são as principais atividades

    desenvolvidas pelos agricultores familiares, com mais de 50% de estabelecimentos produtores.

    Entretanto, todas as demais culturas e criações aparecem com um percentual muito baixo de

    produtores, inclusive a mandioca, com apenas 22% de estabelecimentos produzindo esta cultura.

    Tabela 15: Agricultura Familiar - Percentual de estab. produtores entre os agricultores dacategoria (principais produtos)

    REGIÃO Pecuáriade cortePecuáriade leite Suínos

    Aves/Ovos Café Arroz Feijão Mand. Milho Soja

    Nordeste 17,5 22,1 22,0 60,9 1,5 19,3 56,4 22,1 55,1 0,0

    Centro- Oeste 53,7 61,0 36,7 69,4 4,0 26,3 9,9 11,8 37,8 2,6

    Norte 23,6 25,7 23,4 63,1 10,7 35,0 23,1 43,2 40,4 0,1

    Sudeste 27,9 44,1 23,5 53,4 25,2 12,4 32,3 11,9 44,3 0,7

    Sul 48,2 61,6 54,9 73,5 2,0 18,1 46,9 35,7 71,4 22,5

    BRASIL 27,8 36,0 30,1 63,1 6,2 19,7 45,8 25,0 55,0 5,2

    Fonte: Censo Agropecuário 1995/96 – IBGE

    Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO

  • 34

    Entre os agricultores familiares da região Sul, 48% criam pecuária de corte, 61,6% pecuária

    de leite, 55% suínos e 73,5% aves/ovos. Nessa região, 71,4% dos agricultores cultivam milho,

    46,9% feijão e 35,7% mandioca e 22,5% soja. Na região Sudeste, os produtos mais comuns entre os

    agricultores familiares são aves/ovos, milho, pecuária de leite, feijão, pecuária de corte e café.

    Em relação aos agricultores patronais, as atividades mais comuns são a pecuária de leite, a

    pecuária de corte e criação de aves/ovos, com 54,2%, 48,5% e 39,5%, respectivamente. A

    suinocultura aparece em 19% dos estabelecimentos. Entre as culturas, o milho aparece com maior

    destaque, sendo cultivado por 32,3% dos patronais, seguido pelo feijão (17,9%), laranja, (15,2%),

    banana (11,6%) e café (10,8%).

    2.12 Principais produtos dos Agricultores Familiares na composição do seu VBP

    As atividades da produção animal, por apresentarem valor agregado mais elevado, têm uma

    maior participação na composição do VBP nacional. Destacam-se a pecuária de leite, com 13,3% de

    todo o VBP da agricultura familiar, seguida por aves/ovos, com 10,5% e pecuária de corte, com

    9,5%. O milho e o feijão, apesar de serem cultivados na maioria dos estabelecimentos familiares,

    apresentam uma baixa participação no VBP total da agricultura familiar, representando 8,7% e

    3,8%, respectivamente.

    Estas atividades variam de importância de acordo com cada região, sendo que os dados da

    região Sul influenciam muito a média nacional, em virtude da sua maior participação no VBP total

    dos agricultores familiares (47% do total). Um bom exemplo são os suínos, aves/ovos, fumo, milho

    e soja, os quais têm uma fraca participação no valor do VBP das demais regiões, mas devido à forte

    participação no VBP da região Sul, elevam sua importância na agricultura familiar brasileira.

    Gráfico 10: Brasil - Participação percentual de produtos no VBP total da agricultura familiar

    9,513,3

    5,6

    10,5

    3,5 2,7 3,8 4,25,5

    8,7 7,4

    25,4

    Pec.

    corte

    Pec.

    leite

    Suín

    os

    Aves

    /Ovo

    sCa

    féAr

    roz

    Feijã

    oFu