Novo Terminal de Contentores em Portugal, uma escolha difícil (parte 2)

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Citação: Monteiro, M.F. (2013) “Novo Terminal de Contentores Em Portugal, Uma Escolha Difícil (parte 2)”. Revista APAT 79 (JAN-FEV), 30–31

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  • APAT 79 | JANFEV 2013 | www.apat.pt |

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    artigo

    Novo terminal de contentores em Portugal - Uma escolha difcil (parte 2)

    / Feliciana Monteiro

    / Assistente Acadmica e Doutoranda

    na Uni. Anturpia Becon, MEng, MSc

    / [email protected]

    A primeira parte deste artigo cobriu o enquadramento, a caracterizao da indstria e os riscos associados construo de um novo terminal de contentores na Pennsula Ibrica. A segunda parte ir focar os aspectos operacionais e um enquadramento que permita desenvolver um projecto destes com o menor risco possvel.

    1. Aspectos operacionais Como identificado na primeira parte do artigo existe uma grande

    oferta de capacidade porturia no Mediterrneo e sobretudo no Mediterrneo Ocidental, regio na qual Portugal se insere. Esta oferta pode ser visualizada na Figura 1.Figura 1: Oferta porturia no Mediterrneo Ocidental

    Fonte: adaptado de Containerization International, trfego de 2009

    A estes dados pode acrescentar-se que muitos destes portos dispem de uma capacidade de reserva muito significativa. S o

    porto de Tanger-Med tem capacidade planeada de 8,2 milhes de TEUs dos quais 3 milhes j se encontram construdos.

    Tambm porto de Sines tem uma capacidade mxima planeada de 4,5 milhes de TEUs quando o trfego actual no ultrapassa

    os 600 mil TEUs.

    Assim pode constatar-se que: Para alm da oferta significativa j existente, os operadores

    porturios globais e regionais j se encontram presentes nesta regio do Mediterrneo, por vezes em mais de uma infraestrutura;

    As companhias de navegao global tm igualmente uma

    presena significativa em vrios portos desta regio, tendo

    todas elas operaes de transhipment em pelo menos um grande porto da regio;

    Existe um elevado grau de excesso de capacidade disponvel

    na regio do Mediterrneo Oriental;

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    Os grandes portos so desenvolvidos por grandes operadores

    porturios ou tm grandes operaes de companhias globais de navegao. Frequentemente estes dois factores apresentam-se combinados.

    Assim, o projecto de um novo porto de contentores em Portugal de elevada capacidade tem riscos muito significativos dado

    a sobrecapacidade existente na regio o que coloca um risco significativo ao sucesso do projecto.

    Apenas para relembrar o projecto descrito no Plano Estratgico de Transportes prev o estudo da concesso e construo de um novo terminal de contentores na Trafaria, com fundos de 16,5

    metros e potencial de movimentao at dois milhes de TEUs

    por ano. O investimento estimado nunca ser inferior a 500 milhes de euros.

    2. Racional para a privatizao Um factor crtico de sucesso o envolvimento de grandes

    players internacionais: operadores porturios e em menor escala

    companhias de navegao. Estes players aceitaro concorrer a uma futura concesso apenas

    se as regras foram absolutamente transparentes. Neste contexto, apenas um processo bem estruturado pode atrair estes players

    internacionais. O prximo ponto ilustra como montar um processo de

    concesso/ privatizao.

    3. O processo de concesso/ privatizaoOs processos de concesso/ privatizao so genericamente conhecidos como transaes correspondem a um processo estruturado de venda (ou concesso) de activos. Este processo pode ser decomposto em diversas fases abaixo apresentadas.1. O vendedor/ concedente o sellers side - escolhe os

    assessores financeiros, jurdicos e tcnicos para o assessorar

    na transao e na montagem da operao. Nos casos da ANA e TAP os assessores tcnicos foram subcontratados pelos assessores financeiros. Ainda nesta fase inicial definido o

    permetro da privatizao, ou seja os activos a ser includos

    na transao. Na terminologia anglo-saxnica pode ser ainda

    identificada a regulated asset base ou base de activos regulada que indica os quais activos que sero regulados no futuro

    2. Os assessores preparam um documento sobre o activo a privatizar aos potenciais interessados, frequentemente empresas no mesmo ramo de negcios e investidores. So

    realizados roadshows nas principais praas financeiras

    mundiais para suscitar interesse junto dos investidores3. As entidades que demostram interesse no processo recebem

    um documento detalhado do activo a alienar o Information

    Memorandum - com a descrio da infraestrutura, operao, dados operacionais financeiros, estratgicos e de mercado.

    Contra a entrega deste documento so assinados acordos de confidencialidade.

    Junto com este documento so entregues o caderno de encargos e verses draft dos contratos de concesso; igualmente dado incio ao processo de perguntas e respostas

    entre os concorrentes e os assessores do vendedor. geralmente a partir da recepo do memorandum de

    informao que as empresas ou consrcio verdadeiramente

    interessados o lado comprador ou buyers side - comeam a trabalhar. Em geral, os compradores replicam a arquitectura do lado comprador nomeando os seus prprios assessores

    financeiros, jurdicos e tcnicos. Nesta fase um data room, fsico ou virtual aberto a todos os concorrentes.

    4. Passado um perodo de tempo os interessados apresentam

    as propostas chamadas no vinculativas. Frequentemente os interessados apresentam propostas de alterao aos cadernos de encargo e outros documentos tcnicos e jurdicos.

    5. Caso hajam critrios de passagem, sobretudo financeiros, o

    vendedor/ concedente faz uma short-list dos candidatos que passam fase seguinte

    6. Para os candidatos includos nessa short list comea ento a fase de due diligence ou auditorias aprofundadas. Nesta fase so realizadas entrevistas com a gesto, visitas de campo e consulta a documento na prpria companhia

    7. Aps algumas semanas so ento entregues as propostas

    finais ou vinculativas, binding offers, eventualmente com algumas condies

    8. O vendedor/ concedente analisa as propostas e anuncia o vencedor

    9. O negcio efectivamente fechado aps a relizao do

    chamado financial close ou seja aps todas a s obrigaes financeiras do vencedor estejam cumpridas

    Como evidente este processo de transao tem uma certa durao que pode oscilar entre os 6 e os 18 meses conforme a

    sua complexidade. A tentativa de acelerar o processo ou alterar as regras a meio do jogo por quaisquer motivos pode levar ao seu insucesso.

    5. ConclusoA concesso de um novo terminal de contentores de grande capacidade um projecto de risco elevado. Para ultrapassar ou minorar esse risco, deve ser conseguido o interesse dos principais players mundiais. Apenas com um processo de transao

    estruturado se pode garantir a transparncia do processo e assim minimizar o risco que este projecto representa. n

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