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1942 operação prato JUNHO/JULHO DE 2013 PÁGINA 10 Novo teste à imaginação UFÓLOGOS DISCUTEM RELEVÂNCIA DA ABERTURA DE DOCUMENTOS MILITARES SOBRE OVNIS POR Laísa Mendes da Silva (3º sem.) e Victor Rypl (5º sem.) A prometida liberação dos documentos da Operação Prato – que aconteceu no final de 1977, no Pará – atiça a imaginação sobre a possibilidade de existência de vida inteligente extraterrestre, mas não anima os especialistas na área. O caso é tido como um dos mais relevantes da ufologia no Brasil. Estudiosos do assunto, no entanto, entendem que a revelação do conteúdo da investigação pelo Ministério de Defesa trará à tona informações que não serão capa- zes de responder a todas as per- guntas sobre o caso. O fenômeno, conhecido como “O Caso Roswell Brasi- leiro”, foi uma ope- ração realizada pela Força Aérea Bra- sileira (FAB) para investigar o possí- vel aparecimento de objetos voadores não identificados (OVNIs) nos estados de Amazonas, Ma- ranhão e Pará. Na época, autoridades locais comu- nicaram à Aeronáutica sobre algo misterioso, que descia do céu em forma de raios e atingia as pessoas, provocando queimaduras, imo- bilização, perda da voz, tontura e distúrbios psicológicos. Segundo os relatos de mo- radores da região e membros da operação, foram avistados objetos triangulares, esféricos, ovais e cilíndricos, dos mais diversos ta- manhos. Naquela ocasião, quem estava chefiando a operação era o capitão da FAB Uyrangê Bolí- var Soares Nogueira de Holanda Lima. O comandante e seus agen- tes foram enviados ao Pará, quan- do os fenômenos já haviam causa- do histeria entre a população. No entanto, com o objetivo de analisar os fatos e colher depoimentos de testemunhas, Lima deparou com algo muito mais sério. Uma nave mãe e vários OVNIs teriam apare- cido nos céus para eles, de acordo com os relatos. O professor universitário apo- sentado e pesquisador de vida inteligente extraterrestre Osmar Inácio da Silva está descrente com as possibilidades de esclare- cimento, a partir do material da Operação Prato que virá à tona. Para ele, a revelação deverá ser parcial, sem documentos relevan- tes. “A liberação não será importante para a ufologia”, garante. O servidor pú- blico e ufólogo Eu- clides Nunes Pereira afirma que a divul- gação do conteúdo não passa de uma enganação. Segundo ele, a Aeronáutica tem mais de duas horas de filmagens e 500 fotos dos OVNIs, mas só irá liberar rascu- nhos e desenhos. Com a Lei de Acesso à Infor- mação, a expectativa é de que o material seja publicado ainda no primeiro semestre de 2013. Na direção oposta do ceticismo de Euclides e Osmar, o professor da PUCRS e astrônomo Délcio Basso anima-se. Para ele, se os documentos comprovarem que houve a visita de seres extra- terrestres, a próxima etapa será entender o porquê. Afinal, “toda a humanidade ficaria feliz ao entender mais sobre os mistérios do universo”, alega. Liberação não será importante para a ufologia” Osmar Inácio Euclides entende que publicação do conteúdo da FAB será uma enganação Daniele Souza (5º sem.) O termo UFO, criado pelas Forças Armadas dos Estados Unidos, é a sigla da expressão Unidentified Flying Object, traduzindo para o português Objeto Voador Não Identificado ou OVNI. Alguns fenômenos foram considerados OVNI por não ser possível identificar a procedência. Veja alguns deles nas imagens ao lado. Olhe para os céus 1974 Objetos não identificados eram avistados por pilotos na Alemanha Foto de um suposto ovni feita na Dinamarca

Novo teste à imaginação

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Reportagem sobre a prometida liberação dos documentos da Operação Prato.

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Page 1: Novo teste à imaginação

1942

operação prato

JUNHO/JULHO DE 2013 • PÁGINA 10

Novo teste à imaginaçãoUFÓLOGOS DISCUTEM RELEVÂNCIA DA ABERTURA DE DOCUMENTOS MILITARES SOBRE OVNIS

P O R Laísa Mendes da Silva (3º sem.) e Victor Rypl

(5º sem.)

A prometida liberação dos documentos da Operação Prato – que aconteceu no final de

1977, no Pará – atiça a imaginação sobre a possibilidade de existência de vida inteligente extraterrestre, mas não anima os especialistas na área. O caso é tido como um dos mais relevantes da ufologia no Brasil. Estudiosos do assunto, no entanto, entendem que a revelação do conteúdo da investigação pelo Ministério de Defesa trará à tona informações que não serão capa-zes de responder a todas as per-guntas sobre o caso.

O f e n ô m e n o , conhecido como “O Caso Roswell Brasi-leiro”, foi uma ope-ração realizada pela Força Aérea Bra-sileira (FAB) para investigar o possí-vel aparecimento de objetos voadores não identificados (OVNIs) nos estados de Amazonas, Ma-ranhão e Pará. Na época, autoridades locais comu-nicaram à Aeronáutica sobre algo misterioso, que descia do céu em forma de raios e atingia as pessoas, provocando queimaduras, imo-bilização, perda da voz, tontura e distúrbios psicológicos.

Segundo os relatos de mo-radores da região e membros da operação, foram avistados objetos triangulares, esféricos, ovais e cilíndricos, dos mais diversos ta-manhos. Naquela ocasião, quem estava chefiando a operação era o capitão da FAB Uyrangê Bolí-var Soares Nogueira de Holanda

Lima. O comandante e seus agen-tes foram enviados ao Pará, quan-do os fenômenos já haviam causa-do histeria entre a população. No entanto, com o objetivo de analisar os fatos e colher depoimentos de testemunhas, Lima deparou com algo muito mais sério. Uma nave mãe e vários OVNIs teriam apare-cido nos céus para eles, de acordo com os relatos.

O professor universitário apo-sentado e pesquisador de vida inteligente extraterrestre Osmar Inácio da Silva está descrente com as possibilidades de esclare-cimento, a partir do material da Operação Prato que virá à tona. Para ele, a revelação deverá ser parcial, sem documentos relevan-

tes. “A liberação não será importante para a ufologia”, garante.

O servidor pú-blico e ufólogo Eu-clides Nunes Pereira afirma que a divul-gação do conteúdo não passa de uma enganação. Segundo ele, a Aeronáutica tem mais de duas

horas de fi lmagens e 500 fotos dos OVNIs,

mas só irá liberar rascu-nhos e desenhos.

Com a Lei de Acesso à Infor-mação, a expectativa é de que o material seja publicado ainda no primeiro semestre de 2013. Na direção oposta do ceticismo de Euclides e Osmar, o professor da PUCRS e astrônomo Délcio Basso anima-se. Para ele, se os documentos comprovarem que houve a visita de seres extra-terrestres, a próxima etapa será entender o porquê. Afi nal, “toda a humanidade ficaria feliz ao entender mais sobre os mistérios do universo”, alega.

“Liberação não será importante para a ufologia”Osmar Inácio

Euclides entende que publicação do conteúdo da FAB será uma enganação

Daniele Souza (5º sem

.)

O termo UFO, criado pelas Forças Armadas dos Estados Unidos, é a sigla da expressão Unidentifi ed Flying Object, traduzindo para o português Objeto Voador

Não Identifi cado ou OVNI. Alguns fenômenos foram considerados OVNI por não ser possível identifi car a procedência. Veja alguns deles nas imagens ao lado.

Olhe para os céus

1974

Objetos não identifi cados eram avistados por pilotos na Alemanha

Foto de um suposto ovni feita na Dinamarca

Page 2: Novo teste à imaginação

1974

JUNHO/JULHO DE 2013 • PÁGINA 11

Roswell, Prato e a batalha inglóriaA Operação Prato,

investigação militar feita no Brasil pela FAB na década de 1970, guarda paralelo com o Incidente Roswell, no Estados Unidos. Considerado um dos casos mais relevantes da ufologia, o acidente que aconteceu, em 1947, na cidade de Roswell, no estado do Novo México, ainda gera controvérsia.

Segundo relatos, o fazendeiro William Brazel encontrou, no dia 2 de julho, a 12 quilômetros da sua fazenda, destroços de alumínio de um objeto totalmente desconhecido. Infl uenciado pelos boatos de que jornais estariam recompensando quem tivesse provas da existência de discos voadores, Brazel foi até a delegacia falar sobre o que havia encontrado. A

notícia do avistamento do OVNI se espalhou pela cidade e ganhou a primeira página do jornal Roswell Daily Record. Todavia, o alvoroço não durou muito tempo. No dia seguinte, o jornal se contradisse, afi rmando que o disco voador do Novo México era apenas um balão meteorológico.

A luta pelo reconhecimento dos fenômenos ufológicos, como os casos Roswell e Prato, está cercada de incógnitas. Para o ufólogo Euclides Nunes Pereira, o objetivo da atividade é preparar a sociedade para um possível contato com seres de outro planeta. O pesquisador acredita que a humanidade não está pronta para esse momento. Para Osmar Inácio da Silva, que possui uma estação de procura de vida

inteligente extraterrestre em sua casa, a população não tem conhecimento sufi ciente para lidar com o contato.

Formado em Geografi a pela PUCRS, Euclides é assistente administrativo na Câmara Municipal de Porto Alegre desde o início da década de 1990. Por 10 anos, escondeu a sua paixão de seus colegas na Câmara. Ao ser descoberto, virou alvo de brincadeiras, até um dia esbravejar: “Eu não discuto ufologia com leigo, eu ensino”. As provocações cessaram.

Osmar condena o acobertamento dos governos, mas tenta entender os motivos de tanto segredo. “Imaginem o poder de uma nação ter que declarar para o seu povo que é incapaz de se defender”, diz.

Céticos e sonhadores

Registro de nave espacial na França

O professor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Pon-tifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Ênio Lourenço Dexheimer foi piloto da Varig por 23 anos. Sobrevoou pelos céus do mundo todo e diz nunca ter visto nada que pudesse ser con-siderado extraterrestre. “Nunca me considerei um ufólogo. Teria imensa curiosidade de encontrar um ET. Só que não acredito ne-les”, ressalta. O pro-fessor conta ter lido muitos livros sobre astronomia, física e mecânica nos últi-mos 20 anos, e que, talvez, seu ceticismo tenha surgido daí.

A s s i m c o m o Enio, o astrônomo Marcelo Bruckmann trabalha no Labora-tório de Astronomia da PUCRS. Em uma espécie de cápsula, explora o universo dos planetas, astros, estrelas e satélites e conta já ter visto pontos luminosos que não tinham características de satélites e nem por isso se deixou levar pelas hipóteses ufológicas. “Não podemos abrir mão de certas convicções, apenas para justifi car esses acontecimentos. Acompa-nhar um movimento no céu não quer dizer que o objeto não seja produzido pela mão humana, pode

ser uma sonda, um satélite ou até a visita de uma nave de espionagem de um governo”, argumenta. Ape-sar de cético, o astrônomo vê valor na ufologia, pois “qualquer coisa que leve alguém a olhar para o céu é positiva”.

A ufologia já recebeu uma maior cobertura dos veículos de comunicação. Nos anos 1980, encontrar cadernos sobre o as-sunto era comum. Para Humberto

Trezzi, repórter da Zero Hora, o possível motivo para a atual escassez de matérias é que “a mídia con-vencional se tornou mais pragmática e menos sonhadora”. Desta forma, as dis-cussões teológicas ou fi losófi cas acabam não tendo muito es-paço nos veículos, e a ufologia se encaixa nesses grupos. “Fal-

ta um clima mais metafísico no jornalismo. É tudo muito prático e cotidiano, hoje”, diz o jornalista.

O ceticismo da mídia, segundo Trezzi, também se deve à forma como algumas pessoas se posi-cionam com relação à ufologia. Crentes, curiosos, ufólogos e sen-sacionalistas, todos falam sobre o mesmo tema. “Tem muita gente delirante, mas também gente séria e que estuda isso”, comenta.

+Confi ra o vídeo com a entrevistas dos ufólogos

1991

Osmar condena o acobertamento de informações pelos governos

Peças exóticas viram objetos de coleção

Imagem capturada nos Estados Unidos