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José Manuel Lopes Na Galiza do betom, do "feísmo", das auto-estradas e do AVE, umha obra muito particular tem elevado umha ruidosa polémica acima de todo o resto. Prestes a se consumar sobre a desfeita do que tinha sido um dos emblemá- ticos montes que rodeiam Compostela e um dos últimos espaços agrários da capital gale- ga, a chamada Cidade da Cultura irrompeu como a brilhante pro- posta de "fim de carreira" que Manuel Fraga desenhou no seu pôr-do-sol político e biológico. Tratava-se de deixar umha pro- funda pegada, de calar com os factos toda a oposiçom -a institu- cional até- e, sobretudo, de fechar velhas e sólidas alianças: podero- sos grupos financeiros e empre- sariais aparecem já perfeitamente nítidos como actores na primeira fileira de umha obra que há de consumar um projecto que consa- gra a ostentaçom e o luxo, a von- tade de espectáculo e o regiona- lismo cultural. A maciça opo- siçom da sociedade galega nom evitou, porém, que o protesto activo fosse protagonizado só por pequenos sectores e que a voz da vizinhança afectada nom supe- rasse a censura mediática. A primeira notícia que se tivo de um projecto de concentraçom de serviços culturais, por empregar- mos a terminologia oficial, data de finais do ano 1997. Na altura, um Fraga ainda duramente abala- do por um processo eleitoral que confirmara o vertiginoso avanço nacionalista, dedicou o seu dis- curso de investidura no parla- mento autonómico a avançar, sem dados mais precisos, a ideia de um futuro espaço para a cultu- ra que havia de pasmar próprios e estranhos. A partir de entom, a combinaçom da ideia de grande- za (física e orçamentária, e nom propriamente cultural) de que tanto gosta o PP galego com um procedimento opaco e obscuran- tista acompanhou todo o proces- so. A oposiçom parlamentar nom obtivo por parte da presidência informaçom de primeira mao, limitando-se a acumulá-la por conta própria e a aguardar notí- cias mais concretas. A vizin- hança do bairro do Viso, umha das zonas urbanas onde a idios- sincrasia rural é ainda notável, tampouco conhecia ao pormenor o que ia acontecer com essa parte de um terreno de mais de 70 000 m2 que lhe pertencia e era utili- zada como fonte de sustento. Os agentes culturais galegos, na suas variadas manifestaçons, tampouco fôrom convocados a qualquer reuniom informativa sobre um espaço, dizia-se, em que haviam de ser os verdadeiros protagonistas. E nom lhe falta- vam ideias e sugestons ao que de certeza é um dos sectores mais vivos e críticos da nossa socieda- de: o "Fórum da Cultura Galega", que se tinha reunido em Agosto de 2000, alertava contra o trauma da cultura-espectáculo e contra a tentaçom de conceber só o uso turístico do património através da utilizaçom de grandes contentores culturais sem conte- údos definidos. novas da Número 18, Maio de 2004 Sucesso da greve pola galeguizaçom do ensino Mais de 19.000 assinaturas levam NÓS-UP às europeias Reintegracio- nismo começa a agir unido Incumprimento dos acordos fai retornar a greve a Castromil Sindicatos acudírom desunidos ao 1º de Maio Nunca Mais convoca Fórum da Verdade como comissom de investigaçom própria Barragem do rio Narla: Mais umha insensatez de umha política energética e ambiental interesseira Adela Figueroa Panisse 18 número Cidade da Cultura da Galiza: o mausoléu como negócio Manobras para a sucessom de Fraga M.Salgueiro O último encerramento dos Conselheiros da Junta da Galiza com Manuel Fraga tivo como notí- cia mais transcendente a comuni- caçom do Presidente da Junta ao seu governo de que nom se apre- sentará às próximas eleiçons auto- nómicas. Este anúncio leva implí- cito o compromisso do PP de nom falar desta questom até depois do dia 13 de Junho, data das eleiçons europeias. Manuel Fraga também encarregou a dirigentes do PP e aos seus conselheiros que elaborassem relatórios com os nomes do seu sucessor. Ainda, o presidente da Junta e presidente do PP na Galiza anunciou que criaria duas vice-pre- sidências. Umha delas seria, segun- do fontes do próprio partido, para José Cuinha Crespo, a fim de devolvê-lo à actividade política. Os dirigentes populares em Ourense e Lugo propugérom Cuinha também para a sucessom de Manuel Fraga. Boa parte do partido em Ponte Vedra atreveu-se a manifestar que "José Cuinha já pagou a sua dívida, soubo estar calado e os silêncios e a lealdade em política pagam-se".

Número 18, Maio de 2004 novas danovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz18.pdf · M.Salgueiro O último encerramento dos Conselheiros da Junta da Galiza ... dirigentes populares

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José Manuel Lopes

Na Galiza do betom, do "feísmo",das auto-estradas e do AVE,umha obra muito particular temelevado umha ruidosa polémicaacima de todo o resto. Prestes ase consumar sobre a desfeita doque tinha sido um dos emblemá-ticos montes que rodeiamCompostela e um dos últimosespaços agrários da capital gale-ga, a chamada Cidade da Culturairrompeu como a brilhante pro-posta de "fim de carreira" queManuel Fraga desenhou no seupôr-do-sol político e biológico.Tratava-se de deixar umha pro-funda pegada, de calar com osfactos toda a oposiçom -a institu-cional até- e, sobretudo, de fecharvelhas e sólidas alianças: podero-sos grupos financeiros e empre-sariais aparecem já perfeitamentenítidos como actores na primeirafileira de umha obra que há deconsumar um projecto que consa-gra a ostentaçom e o luxo, a von-tade de espectáculo e o regiona-lismo cultural. A maciça opo-siçom da sociedade galega nomevitou, porém, que o protestoactivo fosse protagonizado só porpequenos sectores e que a voz davizinhança afectada nom supe-rasse a censura mediática.A primeira notícia que se tivo deum projecto de concentraçom deserviços culturais, por empregar-mos a terminologia oficial, datade finais do ano 1997. Na altura,

um Fraga ainda duramente abala-do por um processo eleitoral queconfirmara o vertiginoso avançonacionalista, dedicou o seu dis-curso de investidura no parla-mento autonómico a avançar,sem dados mais precisos, a ideiade um futuro espaço para a cultu-ra que havia de pasmar próprios eestranhos. A partir de entom, acombinaçom da ideia de grande-za (física e orçamentária, e nompropriamente cultural) de quetanto gosta o PP galego com umprocedimento opaco e obscuran-tista acompanhou todo o proces-so. A oposiçom parlamentar nomobtivo por parte da presidênciainformaçom de primeira mao,limitando-se a acumulá-la porconta própria e a aguardar notí-cias mais concretas. A vizin-hança do bairro do Viso, umhadas zonas urbanas onde a idios-sincrasia rural é ainda notável,tampouco conhecia ao pormenoro que ia acontecer com essa partede um terreno de mais de 70 000m2 que lhe pertencia e era utili-zada como fonte de sustento. Osagentes culturais galegos, nasuas variadas manifestaçons,tampouco fôrom convocados aqualquer reuniom informativasobre um espaço, dizia-se, emque haviam de ser os verdadeirosprotagonistas. E nom lhe falta-vam ideias e sugestons ao que decerteza é um dos sectores maisvivos e críticos da nossa socieda-de: o "Fórum da Cultura

Galega", que se tinha reunido emAgosto de 2000, alertava contrao trauma da cultura-espectáculoe contra a tentaçom de conceber

só o uso turístico do patrimónioatravés da utilizaçom de grandescontentores culturais sem conte-údos definidos.

novas daNúmero 18, Maio de 2004

Sucesso dagreve polagaleguizaçomdo ensino

Mais de 19.000assinaturaslevam NÓS-UPàs europeias

Reintegracio-nismo começaa agir unido

Incumprimentodos acordos fairetornar a grevea Castromil

Sindicatosacudírom desunidos ao 1º de Maio

Nunca Maisconvoca Fórumda Verdade como comissomde investigaçomprópria

Barragem do rioNarla: Mais umhainsensatez de umhapolítica energética eambiental interesseira

Adela Figueroa Panisse

18número Cidade da Cultura da Galiza: o mausoléu como negócio

Manobras para a sucessom de Fraga

M.Salgueiro

O último encerramento dosConselheiros da Junta da Galizacom Manuel Fraga tivo como notí-cia mais transcendente a comuni-caçom do Presidente da Junta aoseu governo de que nom se apre-sentará às próximas eleiçons auto-nómicas. Este anúncio leva implí-cito o compromisso do PP de nomfalar desta questom até depois dodia 13 de Junho, data das eleiçonseuropeias. Manuel Fraga tambémencarregou a dirigentes do PP e aosseus conselheiros que elaborassem

relatórios com os nomes do seusucessor. Ainda, o presidente daJunta e presidente do PP na Galizaanunciou que criaria duas vice-pre-sidências. Umha delas seria, segun-do fontes do próprio partido, paraJosé Cuinha Crespo, a fim dedevolvê-lo à actividade política. Osdirigentes populares em Ourense eLugo propugérom Cuinha tambémpara a sucessom de Manuel Fraga.Boa parte do partido em PonteVedra atreveu-se a manifestar que"José Cuinha já pagou a sua dívida,soubo estar calado e os silêncios ea lealdade em política pagam-se".

Barragem do rio Narla: Mais umha insensatez de umha política energética e ambiental interesseira

segunda

Por Adela Figueroa Panisse, Catedrática de Biologia/Geologia, E.S. Lucus Augusti de Lugo / Activista de ADEGA e Nunca Mais Lugo

Editora: Minho Media S.L.

Director: Ramom Gonçalves.

Redacçom: Carlos B.G., MartaSalgueiro, J.Manuel Lopes, AntónÁlvarez, Ivám Garcia, Alonso Vidal.

Correspondentes: Compostela,Beatriz Peres / Vigo, Xiana Gonzalez /Lugo, Joám Bagaria / Ourense, TiagoPeres / Paris, J. Irazola / Madrid, JoséR. Rodriguez

Colaboraçons: Maurício Castro, JoámCarlos Ánsia, Santiago Alba Rico,Xesus Serrano, Kiko Neves, José R.Pichel, Ramom Pinheiro, Carlos Taibo,Ignacio Ramonet, Ramón Chao.

Fotografia: Borxa Vilas, Rosa Veiga,Miguel Garcia, Arquivo NGZ.

Humor Gráfico: Suso Sanmartin,Pepe Carreiro, Pestinho +1.

Publicidade: 639 146 523

Imagem Corporativa: Paulo Rico.

Desenho gráfico e maquetaçom:Miguel Garcia e Carlos Barros.

Correcçom lingüística: Eduardo Sanches Maragoto

NOVAS DA GALIZAApartado dos Correios 106927080 Lugo - GalizaTel: 639 146 [email protected]

As opinions expressas nos artigos nomrepresentam necessariamente aposiçom do periódico. Os artigos somde livre reproduçom respeitando aortografia e citando procedência. Éproibido outro tipo de reproduçom semautorizaçom expressa do grupo editor.

Fecho de Ediçom: 15.05.04

Quando se trata de interferir no entornocom acçons que podam causar danosirreversíveis no mesmo, devia fazer-se

umha valoraçom dos benefícios da actuaçom,que compensassem os prejuízos provocados.Sabemos que isto nom se fai assim nesta terrade caciques. Antes som valoram os benefíciosparticulares de quem tem capacidade paraconceder as licenças das obras e de interferir noentorno. As obras de infra-estrutura realizam-se,normalmente, da maneira menos onerosapossível para a empresa, sem se levarem emconta os danos ambientais. Estes danos tambémpodem ser avaliados economicamente, mas naactualidade isto nom se está a fazer assim. Estaé umha velha reivindicaçom dos gruposambientalistas e, em geral, de todos os queestám preocupados polo futuro do nossoentorno. Ou seja, por todos os que lutam porum futuro, por um desenvolvimentosustentável.No caso da barragem que está a ser projectadano Rio Narla, som vulnerados todos osprincípios deste desenvolvimento sustentável:as alteraçons produzidas serám irreversíveis eos rendimentos escassos. Ajustificaçom para sefazer esta barragem é a de dar água à cidade deLugo. É verdade que a populaçom luguesa sequeixa há tempo de que a água que nesta cidadese consome nom tem bom sabor, e ainda háquem diga que nom é de boa qualidade. Aqualidade das águas define-se polas suascaracterísticas de salubridade e organolépticas(sabor). É suposto estarem as de salubridadegarantidas pola Conselharia da Saúde. Em Lugo existe umha Central Potabilizadorahá ainda menos de 10 anos (desde 1996) quegarante a potabilidade das águas canalizadas. Apotabilizaçom, neste caso, é conseguidamediante um complexo tratamento físico-químico em que se eliminam os restos de lododo rio, e um tratamento final com cloro paraeliminar os possíveis patógenos queeventualmente podam conter as águas. Defacto, queixamo-nos de que a água da torneiracheira a cloro com freqüência. A água contémeste excedente em previsom de umha possívelcontaminaçom posterior à saída dapotabilizadora, a caminho dos reservatórios deGarabolos até às casas. Para eliminá-lo, bastadeixarmo-lo evaporar umhas horas (mais oumenos seis horas). A quantidade de água nuncafoi um problema em Lugo. Na própriapotabilizadora diziam-nos, numha visita deestudo com os alunos e alunas da EscolaSecundária, que nom se lembravam de teremtido problemas com o caudal.O caudal ecológico: Define-se como o caudalmínimo que mantém a vida no rio, comambiente aeróbio, e que permite aautodepuraçom das águas. Segundo as fontes járeferidas este caudal nunca foi ultrapassado. A

potabilizaçom retira entre 400 e 600 porsegundo. O caudal médio na estiagem é de7000 por segundo nos 12 Km de rio que vam dapotabilizadora até à central depuradora de águasresiduais.Portanto, nom é um problema de quantidadenem de qualidade. A quantidade até agorasempre estivo garantida, e a qualidade é antesum tema do tratamento das águas.

Rio NarlaÉ um rio pequeno com um caudal que no Veraofica ainda mais reduzido. É um afluente doMinho águas acima da potabilizadora. Se sefiger umha barragem no Narla, o Minho vaireceber ainda menos água e menos oxigenaçome a qualidade das suas águas virá a sofrer aindamais do que hoje. O dinheiro necessário paradepurar o Minho e controlar os despejos águasacima nom supera o custo da represa, e, sempreseria necessária esta actuaçom. A água doNarla, segundo nos informárom na CámaraMunicipal de Lugo, tem menos qualidadeque a do Minho, contendo, por exemplo,muito mais ferro.Juntamos aqui as declaraçons do vereadordo ambiente do Cámara Municipal deLugo Lino G. Dopeso: "nom é verdadeque a água do Minho seja pior do quea do Narla". Segundo as análises dequalidade que tem o Pelouro doAmbiente a água de ambos os riosé do tipo A2 (o nível óptimo dequalidade é o A1). A água doNarla precisaria, da mesmamaneira que a do Minho, deum tratamento físico, químicoe de um processo dedesinfecçom. "Portanto, ajustificaçom da qualidade daágua para a construçom darepresa nom tem fundamento".E ainda, o caudal do Narla émínimo se o compararmos com o caudal doMinho, e portanto a barragem poderá vir aencher muito devagar. Isto pode comprometer oseu conteúdo em oxigénio, e levar a umhapossível eutrofizaçom das águas. Águas acimanom há centrais depuradoras de águas residuais,e neste rio desaguam os esgotos de Friol evárias exploraçons agrícolas, com o qual nomhá garantia de salubridade destas águas. Qualentom a motivaçom para fazer uma barragemque vai provocar umha mudança irreversívelmesmo nas Terras do Minho, reserva daBiosfera?Aliás, nom esqueçamos que esta zona éassinalada como zona LIC (lugar de interessecomunitário) e é proposta para ser incluída naRede Natura 2000. Os argumentos daConfederaçom Hidrográfica do Norte, apromotora desta barragem, som o da qualidade

das águas, o da quantidade e o do risco depoluiçom acidental que poderiam vir a sofrer aságuas do Minho perante umha cheia queinundasse a Central Potabilizadora, dado queestá situada mesmo à beira do rio. Todos estesargumentos foram refutados acima, salvo o deperigo de inundaçom. Sabemos que este existe,mas entom: Porque é que foi construída ali nomhá nem sequer 10 anos? Nom teria sido maiseconómico transferi-la para mais acima do queconstruir umha barragem de 38 m de altura comcapacidade para 9,5 Hm3 e com umhasdespesas de 33 545 126 euros?Sabemos que esta barragem implicará tambéma construçom de umha minicentral eléctricacuja exploraçom resultaria bem rentável àsempresas do sector, já que os excedentes deelectricidade tenhem que ser revertidos à rede epagos pola empresa que tem a exclusiva doabastecimento (em Lugo, Barras EléctricasAsturiano-leonesas). Isto implica um impactoambiental acrescentado ao já indicado daprópria barragem, pois implica movimentos deterra e acessos à minicentral. Já o Conselho deContas da Galiza emitiu um parecer segundoo qual as minicentrais nom som nuncafavoráveis do ponto de vista económico,

só rentáveis para a empresa que asexplora.

Estes trabalhos vam ser elaboradoscom orçamentos europeus, e assim,

a empresa construtora teria ummínimo de despesas e ummáximo de ganho. Nom seentende, porém, como é queum organismo oficial como aConfederaçom Hidrográficado Norte, associada àDeputaçom de Lugo, que é aimpulsionadora do projecto,apoia um empreendimento

que ocasiona um danoambiental irreversível, que aliás

nom é necessário para os fins que sedeclaram. Parece que esta quer ter o domínio daágua que fornecerá também Outeiro de Rei eRábade.Há pois negócio económico, para a empresaque redige o projecto e para a empresa que oexecuta (aproximadamente 60% do custo,muito dele pago com dinheiro europeu do planoFEDER). Também haverá negócio quanto aoaproveitamento eléctrico, e finalmente, negóciopolítico e económico na Deputaçom de Lugo.Neste momento político em que os planoshidrográficos que tinha planeado o anteriorpartido no governo estám a ser revistos, erabom lembrarmos ao PSOE da Galiza os seuscompromissos com os votantes e votantesgalegas. Nom há motivo para serviremunicamente as directrizes centrais do seupartido espanhol.

2 segunda Maio 2004 novas da galiza

Suso Sanmartin

sumário

Quem sucederá Fraga Iribarne?

"José Cuinha já pagou a sua dívida, soubo estar calado e os

silêncios e a lealdade em política pagam-se" dizem no

PP de Lugo e Ourense

Estreamos secçom: O Pelourinho

NGZ também quer dar voz àqueles grupos ou indivíduos que desejam compartilhar informaçons, opinions ou debates com todos os leitores e leitoras.

Pontos de encontro:associacionismo naBD galega

Germám Hermida aproxima-nos ao mundo da BandaDesenhada galega

O galeguismo de domJoaquim Lourenço

Marcos Valcárcel achega-nos à figura do Xocas, o etnógrafo

ourensám a quem se dedica esteDia das Letras Galegas

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Arelaçom atormentada e desigualentre a cultura e o poder veu a serum dos sinais identitários destenosso século. O uso, por parte do

poder, do ámbito cultural para exercer o con-trolo sobre o pensamento quase sempre estivoacompanhado por lufadas de populismo e foicaracterística sine qua non dos regimes totali-tários. A Cidade da Cultura planificada porManuel Fraga Iribarne é um claro exemplo deutilizaçom perversa e interesseira da esferacultural para uns fins económicos e políticosque nada tenhem a ver com o altruísmo quedeve rodear e limitar o espaço cultural. Obrafaraónica, imposta e messiánica, construçomalheia à realidade das necessidades galegas, aCidade da Cultura é o legado pessoal dogovernadorinho de Vilalva, da mesma manei-ra que há tempo herdamos o Vale dos Caídosou o "Triunfo da Vontade". Oitenta mil mil-hons de pesetas investidos para umha ope-raçom económica em que serám nomeada-mente os bancos e as empresas multinacionaisa obterem umha boa talhada. E isto aconteceao mesmo tempo que das instáncias indepen-dentes da nossa cultura se fala da necessidadede impulsionar o mundo editorial galego,diversificar e aumentar os irrisórios subsídiosao teatro deste país ou impedir que a nossalíngua desapareça nuns poucos anos. A

Cidade da Cultura nom virá a solucionar aendémica e lamentável situaçom do nossoámbito cultural. Será a reserva indígena quesempre sonhou Fraga para a Galiza. Mas cul-tura nom é isso. Pavese teria dito com maisclareza ainda: "o humanismo nom é umha pol-trona."A Cidade da Cultura está planificada comoum parque temático, mais um passo para aturistificaçom da Galiza, um zoológico cul-tural que nom reverterá em benefício doconjunto da populaçom galega, embora hajaelementos culturais que nom vejam commaus olhos a sua construçom. Decerto, nomé preciso dizer que, evidentemente, nem aoposiçom a este projecto, nem a vizinhançade Sar e Viso afectada polas expropiaçons seoponhem à cultura nas suas diversas mani-festaçons. É cinismo visceral expor o pro-blema nesses termos. O que está em causa éque o dinheiro dos galegos e galegas nom épara ser esbanjado nos projectos megalóma-nos de um Presidente da Junta que ainda hápouco tempo reprimia a fogo e sangue tudoo que cheirasse a cultura galega (mesmotudo o que cheirasse a cultura) e que exer-ceu, como ministro da informaçom no fran-quismo, umha das censuras culturais maisférreas e obscuras da história europeia doséculo vinte.

Mausoléus, tumbas e cidades

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A verdade sobre aCidade da Cultura

Analisamos o que se encon-tra detrás do faraónico pro-jecto no monte Gaiás deCompostela

editorialMaio 2004novas da galiza 3

editorial

4 notícias Maio 2004 novas da galiza

notíciasA luita pola galeguizaçom continua com a irrupçom de piquetes em centros de Santiago e Ourense

Estudantado secunda maioritariamentegreve pola galeguizaçom do ensinoRedacçom

A jornada de greve convocadana passada quarta-feira 28 deAbril contou com umha amplaadesom na maior parte dos cen-tros de ensino secundário.Galiza Nova quantificou a parti-cipaçom estudantil em 85%,enquanto o conselheiro daEducaçom, Celso Currás, redu-ziu a percentagem a 15,41%.Segundo as estimativas doscolectivos convocadores, agreve paralisou, polo menos, amaioria dos centros de ensino ehouvo manifestaçons em nume-rosas localidades. Entre as orga-nizaçons que chamavam àmobilizaçom em defesa da gale-guizaçom integral do ensinoestavam os Comités Abertos deEstudantes (CAE), Galiza Nova,A Mesa, Mocidade polaNormalizaçom, AMI e Agir.Galiza Nova valora "muito posi-tivamente" a participaçom estu-dantil, apesar de nom se teremcumprido as expectativas nasgrandes cidades. Do indepen-dentismo, AMI analisa a jornadadestacando que o dia 28 de Abril"deve ficar como um referentepara continuarmos a avançar nareivindicaçom e consecuçom deum sistema de ensino galego". A

organizaçom estudantil Agirtambém participou na greve,trabalhando em doze localida-des.O decreto 247/95 só delimitanum terço o número de horasleccionadas em galego e é deri-vado da Lei de Normalizaçom.Segundo um relatório elaboradopola Mesa, 70% dos centros deensino nom cumpriam o decretono ano passado. Por sua vez, osecretário geral da Conselhariada Educaçom, Néstor Valcárcel,assegurou ter dados que situamo cumprimento da lei em94,81% dos centros, e ironizacom o 5,19% restante, já que,indicou, "nom temos constánciado que acontece exactamentenessa percentagem".A Mesa assinala que "é evidenteque o incumprimento da legis-laçom é assim percebido poloestudantado, para além de serconfirmado por numerosos rela-tórios realizados por diferentesinstituiçons e organismos."

Piquetes polo idioma

A AMI, que leva desde começosdeste curso a trabalhar nadenúncia do incumprimento dodecreto 247/95 e na reivindi-caçom dum ensino integramente

em galego, continuou com acti-vidades neste sentido depois dopassado dia 28. Assim, no 11 deMaio, um piquete conformadopor umha vintena de militantesindependentistas irrompeu noIES Rosalia de Castro deSantiago, paralisando as aulasem espanhol e denunciando aténove professores que violam anormativa em matéria lingüísti-ca. Após umha reuniom com a

directiva do centro, a AMI criti-cou a negativa explícita desta afazer cumprir o estipulado nodecreto, e anunciou novas mobi-lizaçons.Apenas dous dias depois, no dia13, umha iniciativa semelhanteera levada a cabo no IES BlancoAmor de Ourense. Neste caso, oalunado do centro somou-semaciçamente ao piquete inde-pendentista, paralisando-se

completamente as aulas. Combandeiras, bombos e pandeire-tas, activistas e estudantes exi-girom o cumprimento imediatodos mínimos fixados pola lei,assim como a plena galegui-zaçom do ensino. O acto rema-tou com umha concentraçom deumhas 200 pessoas no pátio docentro, onde se deu leitura aosnomes do professorado riscadode "espanholista e delinquente".

Redacçom

A organizaçom política indepen-dentista fizera público já no iní-cio de Abril a sua vontade deapresentar candidatura àseleiçons para o ParlamentoEuropeu que se celebrarám novindouro mês de Junho. O desta-cável desta notícia nom é apenaso facto de ser a primeira vez queo independentismo galego deci-de concorrer a umha cita eleito-ral de ámbito europeu, mas,sobretudo, a barreira legal quetinha a obrigaçom de ultrapassarpara a candidatura alcançar vali-dade legal. Com efeito, a legis-laçom eleitoral vigorante noEstado espanhol estabelece quetodas as forças que desejarem

concorrer terám que apresentar aassinatura de cinqüenta cargoseleitos ou eleitas ou, no seudefeito, a de 15 000 cidadaos ecidadás. Devido a que NÓS-UPcarece dos requisitos que marcaessa primeira condiçom, viu-sena obrigaçom de desenvolver emapenas duas semanas umhaintensa campanha de angariaçomde apoios que superou as expec-tativas mais optimistas. Graças aum esforço organizativo semprecedentes, NÓS-UP conseguiujuntar 19.638 assinaturas, e oindependentismo estará naseleiçons europeias, erigindo-se,por palavras da própria organi-zaçom política, "na única candi-datura galega e de esquerda"(em referência a que o naciona-

lismo maioritário vai coligadocom a direita basca e catalá).Falta por ver qual é o rendimen-to eleitoral tirado dos escassostrês anos de existência de NÓS-UP numhas eleiçons em que jogaum papel de menor releváncia ochamado "voto útil" e com umíndice mais baixo de partici-paçom.Por sua vez, o BNG decidiu for-talecer os laços que o unem comPNB e CiU desde há seis anos,quando assinárom a Declaraçomde Barcelona. Ainda parcialmen-te envolvidos no debate que seseguiu aos pobres resultados daseleiçons espanholas, dadirecçom da organizaçom nacio-nalista afirmou-se que o objecti-vo de tal aliança é "avançar no

reconhecimento da condiçomplurinacional do Estado espan-hol" e levar à Europa a voz daGaliza, que estará presente semintermediários, se mais umhavez for eleito o eurodeputadoCamilo Nogueira. AnxoQuintana participou do debatesobre a política de alianças inter-nacionais do BNG sustendo que"nom se trata de ver Galeuscacomo umha aliança entre certospartidos, mas umha aliança entrenaçons". Numha linha especial-mente dura com quem do interiorda frente acusa o BNG de perdera cada vez mais o seu perfilnacionalista de esquerda,Francisco Rodríguez deslegiti-mou umha possível candidaturacom ERC afirmando que "nom

se trata de ir de braço dado comas opçons políticas que contamcom o beneplácito do PSOE", oude se inserir numha plataformaem companhia de organizaçonsregionalistas, em referência àconvergência que desenhou aformaçom de Carod-Rovira.Ainda no nível informal, sommuitas as vozes que se ouvem nonacionalismo a mostrar o seudescontentamento com aassunçom da linha política maisdubitativa e difusa que publica-mente encarna Anxo Quintana, enom poucas as que sugerem apertinência de dar o aval eleitoralà organizaçom independentistacatalá como castigo ao que seentende como 'aggiornamento'progressivo.

NÓS-UP supera barreira legal para concorrer às eleiçons europeiasCom a presença do independentismo, Galiza apresenta nesta ocasiom duas opçons nacionalistas

notíciasMaio 2004novas da galiza 5

Reintegracionismo começa a agir unido

Retomam greve em castromil perante o "incumprimento dos acordos"

A.V.

Parece que, por fim, o alvo daacçom conjunta, sempre multi-plicadora de efeitos, está a seratingida aos poucos polos colec-tivos reintegracionistas do País.Após um magnífico Fórum daLíngua, onde o MDL contou coma participaçom activa da práticatotalidade dos colectivos lusistasem activo, o seguinte plano deacçom conjunta apresenta-se-noscomo um projecto esperançoso,inovador e vanguardista: acriaçom de umha temporadaactiva das letras, unindo simboli-camente as datas do 17 de Maioe do 10 de Junho (Dia deCamões), tornou-se num projec-to aglutinante de esforços quevisa perpetuar-se. E a ideia é tamsimples quanto eficaz: este ano,os actos desenvolvidos por todosos colectivos culturais do ámbitoreintegracionista vam ser anun-ciados e apresentados em con-junto, no mesmo cartaz, nas mes-mas brochuras e com o mesmolema. É verdade que isso nomsignifica que a organizaçom decada acto esteja a ser conjunta,mas o caminho percorrido nompermite voltar atrás, e já está adesembocar, em actos concretos,

na colaboraçom entre entidadesque outrora se mostravam reti-centes.O programa é ambicioso, con-templando actos em Compostela,Condado, Corunha, Límia, Lugo,Ourense, Ponte Vedra e Vigo. Asactividades propostas abrangemtodo o tipo de manifestaçonslúdicas e reivindicativas, de reci-tais poéticos a cortejos normali-zadores que percorrerám as nos-sas ruas para galeguizar os seusnomes. Nom faltará a música, oteatro, títeres, conferências,semana de cinema brasileiro, e ajá tradicional Festa da Língua dePonte Vedra, organizada poloMDL, apoiada pola CámaraMunicipal, e que também conta-rá este ano com um 'book cros-sing' na cidade.Entre os colectivos implicadosneste amplo programa coordena-do estám associaçons culturaiscomo O Facho, Alto Minho,Galeguiza, Gentalha do Pichel,Revolta, Reviravolta, Auriense,Rádio Kalimero -CasaEncantada-, Juventude polaAutodeterminaçom e aAssociaçom ReinegracionistaEne Agá, para além dos promo-tores iniciais da ideia, AGAL eMDL. Para mais informaçons

sobre actos concretos podemvisitar-se as seguintes páginasweb: www.mdl-galiza.org ouwww.agal-gz.org ou ainda ligarpara o telemóvel permanente doMDL (609 309 780).

Jornadas da Língua deCompostela, mais e melhorPor outra lado, o MDL, Oureol eRádio Kalimero, conseguírom

oferecer em Compostela ummagnífico programa de actos nassuas VI Jornadas da Língua.Cinema, exposiçons fotográfi-cas, documentários e palestraspara reflectir sobre temas deactualidade, como a situaçom demarginalidade das favelas doBrasil, a situaçom ambiental naGaliza, as eivas da sociedademoderna, a educaçom no País

Basco e os caminhos para omonolingüismo... Tudo acom-panhado de umha "Noite deAbril" celebrada no dia 26 deAbril no bar Tarasca, com poe-sia, fotografia, música e teatro.No fim-de-semana seguinte, umroteiro polo Suído pujo fim aestas Jornadas, que fôrom umêxito -tanto de crítica como depúblico- difícil de superar.

As datas do 17 de Maio e o 10 de Junho sustentam esta esperançosa unidade de acçom

Redacçom

A boa saúde de que está a des-frutar o reintegracionismo gale-go nos últimos anos parece termuito a ver com a manifestaçomque os principais grupos norma-lizadores do País convocárompara a manhá do dia 16 de Maio,véspera do Dia das LetrasGalegas. Assim o entendem oscolectivos organizadores, entreos que se encontra NOVAS DAGALIZA. Com esta manifes-

taçom, que partirá da Alamedacompostelana às 12h, o movi-mento reintegracionista reapare-ce no 17 de Maio como o únicoa convocar um acto reivindicati-vo em prol da língua nesta dataassinalada, num momento histó-rico em que a recente reformanormativa parecia ter deixado oreintegracionismo ainda maisisolado face ao segregacionismolingüístico. Longe de ter sidoassim, o movimento normaliza-dor mostra-se agora muito mais

unido, encetando com este actoumha ambiciosa Temporada dasLetras que se prolongará até odia 10 de Junho e sobre a qualtambém encontrará infor-maçons neste número doNOVAS DA GALIZA. Os orga-nismos convocadores, paraalém do nosso periódico, somAGAL, Alto Minho, FundaçomArtábria, Associaçom CulturalGaleguiza, a Gentalha doPichel, MDL, a Reviravolta e aRevolta.

Reintegracionismo convoca manifestaçom pola primeira vezNovas da Galiza está entre os colectivos convocantes, reunidos sob o lema "Agora é Reintegracionsimo."

Redacçom

A tranqüilidade em Castromilfoi sol de pouca dura.Terminada há menos de meioano a passada greve, cuja fina-lizaçom tinha evidenciado asdiferenças entre as centraisnacionalistas CIG e CUT, ocomité de empresa decidiuretomar as medidas de pressom.A greve está a atingir as comar-cas das províncias da Corunha,Ourense e Ponte Vedra, recor-tando-se os serviços todas as

sextas-feiras. O sindicato CUT,que lidera os protestos, infor-mou que a falta de acordo coma direcçom de Monbus eviden-ciava a pretensom do grupo deRaul López de "destruirCastromil, outrora umhaempresa modélica de transportede viajantes na Galiza". Após oacordo alcançado depois daúltima greve, em Outubro de2003, a CUT denuncia "incum-primentos do pactuado, a elimi-naçom de empregos e do pró-prio volume de trabalho".

Também se assinalou o tremen-do zelo da Junta da Galiza nahora de velar por uns "serviçosmínimos claramente excessi-vos". Vários porta-vozes sindi-cais manifestárom, aliás, queesta greve que afecta mais de20 000 pessoas, nom se fai con-tra "mas a favor dos usuários eusuárias, de dia para dia maisafectadas pola progressiva pre-carizaçom da empresa". Nofecho desta ediçom, a grevemantinha-se com as posiçonsinalteradas.

Continuam em favor dumharádio livre para Trás-Ancos

Redacçom

A associaçom cultural OPAIapresentou-se publicamente nopassado dia 8 de Abril numhafesta em Ferrol sob a legenda"Conspirando por umha rádiolivre". O colectivo continua aangariar apoios humanos emateriais para fazer possível oprojecto de rádio livre a médioprazo.Na festa de apresentaçomactuárom numerosos artistascomo o jovem cantor Miguel

Alonso, o membro d'OsCempés Óscar Fernández, osFunky Brewsters, Loom, osferrolanos Window Pane e abanda de rap IV GuerraMundial.Para conseguir pôr em anda-mento o projecto de RádioFilispim precisam de conseguirfinanciamento para a emissorae a antena, razom pola qualestám a desenvolver diferentesactividades, como a ediçom deum CD com 17 formaçonsmusicais da comarca.

6 notícias Maio 2004 novas da galiza

Sindicatos acudírom desunidos ao 1º de Maio

Redacçom

Mais uma vez, o mundo sindical naGaliza acode desunido ao chama-mento do Dia da Classe operária.Nas principais cidades galegas, mil-hares de trabalhadores e trabalhado-ras percorrêrom as ruas sob palavrasde ordem relativas à precariedadelaboral, ao pleno emprego, ou recla-mando atençom sobre os conflitosem empresas, principalmente doramo naval, têxtil ou dos transpor-tes.Assim, em Vigo, três manifestaçonsdiferentes terminárom na Porta doSol. A mais numerosa foi a convo-cada pola CIG com cerca de 10 000pessoas, sob o lema "contra a preca-riedade, mais e melhor emprego".Animada por um ambiente festivo,com música e cançons, a marchadeu ênfase, nomeadamente, à recla-maçom de convençons laboraisgalegas, mais emprego e mais sobe-rania. À cabeça da manifestaçomcaminhavam Beiras, Castrilho e adeputada Olaia Fernández.A manifestaçom mais madrugadorafoi a da CUT e CGT, em que cercade duas mil pessoas marchárompola cidade olívica. Atrás de umcartaz em que se lia: "pola paz e ajustiça social", os participantesberrárom palavras de ordem como"Europa social e nom do capital","reforma laboral, traiçom sindical","operário despedido, patrom pendu-

rado" e "trabalho temporário, terro-rismo patronal". Nom faltou nestareinvindicativa manifestaçom, aalusom à conflitividade por queatravessa a empresa Castromil,podendo ler-se noutro cartaz: "Nomà destruiçom de Castromil".Por outro lado, as centrais sindicaisde ámbito estatal espanhol, UGT eCC.OO., reunírom perto de 4000pessoas sob o lema "Constituiçomeuropeia para a paz, o pleno empre-go e o bem-estar. Nom aoTerrorismo". Na manifestaçominsistiu-se na necessidade de a futu-ra constituiçom europeia vir a terum conteúdo social avançado.

Actos centrais em FerrolMas os actos centrais das princi-pais forças sindicais foram transfe-ridos neste ano para a cidade ferro-lana, dada a actual situaçom deprecariedade do ramo naval nestazona. Nom foi possível, apesar dastentativas, que os três sindicatos,polo menos em Ferrol, acudissemunidos sob um mesmo lema.A manifestaçom da CIG, com cercade mil pessoas, contou com a pre-sença destacada de trabalhadoresdas empresas Texmin, Astafersa eLocalia, que atravessam por umhaprofunda crise. O secretário Geralda CIG, Jesus Seixo, fijo finca-péna crise do sector naval que afectaa comarca, tam castigada já desde areconversom naval dos anos oiten-

ta. Nom faltárom referências àmudança da cor política noGoverno do Estado e à necessidadede se manterem as mobilizaçonspara pressionar o novo governo doPSOE, cuja etapa "felipista" lem-brou como sendo de reconversombrutal e políticas neoliberais.Por sua vez, também na comarcade Trás-Ancos, cumpre destacar apostura de NOS-UP de participarnas manifestaçons convocadas,sem deixar de criticar as "inco-erências da CIG" e a "manipu-laçom das organizaçons sindicaispor parte das organizaçons políti-cas que as hegemonizam".

Também apoiou incondicional-mente, nesta jornada, o quadro deASTAFERSA, que está em lutacontra o seu patrom, JuanFernández, líder dosIndependentes por Ferrol.Nas outras cidades galegas a parti-cipaçom nas manifestaçons foimenos numerosa, mas nem porisso menos reivindicativas. NaCorunha, Ourense e Compostela,a divisom sindical foi tambémmanifesta. Em Compostela, paraalém das duas manifestaçons deUGT-CC.OO e CIG, vários centosde pessoas respondêrom à convo-catória da CNT.

Nunca Mais convoca Fórum da Verdade como comissom de investigaçom própria

Redacçom

Após ano e meio da catástrofe doPrestige, a Plataforma NuncaMais convocou o Fórum daVerdade. Esta nova convocatóriado Fórum vai ocorrer em PonteVedra, no Paço da Cultura, nosdias 15 e 16 de Maio e ainda noPaço de Marinhám, na Corunha,durante os dias 29 e 30 deste mês.O Fórum da Verdade é concebidocomo umha comissom de investi-gaçom própria desta plataformacidadá, e nele vam comparecer,para além dos sectores mais afec-tados pola catástrofe, pessoas liga-das ao campo artístico, literário,jornalístico, actores e actrizes, eainda "aquele movimento das pes-soas que de diferentes áreas tra-balhamos em todo o que tem a vercom a catástrofe do Prestige",segundo apontam na Plataforma.

A mesa do sector piscatório, acomissom jurídica, a mesa dosmeios de comunicaçom e o "reci-tal das verdades" é o programaque será desenvolvido em PonteVedra. A programaçom daCorunha começa no sábado 29 deMaio às dez da manhá com umhamesa sobre "segurança marítima"em que participarám TomásRodríguez, Presidente daAssociaçom de Chefes e Oficiaisde Máquinas Navais da Galiza,Felipe Louzán, Capitám daMarinha, e Antón Salgado, oficialradioeléctrico da MarinhaMercante. A jornada continuarácom umha mesa sobre "saúde ePrestige" em que participam inte-grantes da Plataforma de PessoalSanitário da AssociaçomEspanhola de Toxicologia eMiguel Porta, coordenador doGrupo de Epidemiologia Clínica e

Molecular do Cancro no InstitutoMunicipal de InvestigaçomMédica de Barcelona e Professortitular da Universidade Autónomade Barcelona. À tarde, o debatevai tratar das repercussons socioe-conómicas, com três relatóriosapresentados por diferentes eco-nomistas, para analisar os recursospiscatórios e o impacto da marénegra. Os movimentos sociais e aresposta dada pola sociedade gale-ga terám um protagonismo espe-cial na Corunha. Assim, numhaparticiparám Uxia Senlle, XesusRon, José Luís Castro Baleto,Xosé Sánchez Blázquez, vice-pre-sidente da Confederaçom Galegade Associaçons Vicinais e RamomChao, que reflectirá acerca dosmovimentos sociais no actual con-texto europeu e mundial. Para ajornada do domingo deixou-se oacto de reconhecimento à socieda-

de civil que estará simbolizadanos pratrons maiores que na alturaestivérom em greve de fome, nasredeiras, nas cozinheiras que aten-diam o voluntariado, no própriovoluntariado, nos marinheiros enas crianças que participáromnaquela espectacular correntehumana. Entre as actividadescumpre salientar a projecçom deum vídeo da Confraria de Ogrovea homenagear os voluntários e asvoluntárias. Ao meio dia e meiado domingo celebrará-se a con-ferência de encerramento em queos coordenadores e coordenadorasde cada mesa se encarregarám deexpor as conclusons de todas asmesas celebradas neste Fórum,tanto em Ponte Vedra como naCorunha. O escritor Manuel Rivasserá o encarregado de pôr o pontofinal a esta nova convocatória doFórum da Verdade.compostela

Celebra-se na Corunha e Ponte Vedra com diferentes mesas e comunicaçonssobre o acontecido com o Prestigeacontecido com o Prestige

Os actos centrais celebrárom-se em Ferrol, em apoio ao sector Naval

reportagemMaio 2004novas da galiza 7

Um projecto de cultura-espectáculo mediante grandes contentores sem conteúdos definidos

Na Galiza do betom, do "feísmo", dasauto-estradas e do AVE que nom chega, umhaobra muito particular tem elevado umha ruidosapolémica acima de todo o resto. Prestes a seconsumar sobre a desfeita do que tinha sido umdos emblemáticos montes que rodeiamCompostela e um dos últimos espaços agráriosda capital galega, a chamada Cidade da Cultura

irrompeu como a brilhante proposta de "fim decarreira" que Manuel Fraga desenhou no seupôr-do-sol político e biológico. Tratava-se dedeixar umha profunda pegada, de calar com osfactos toda a oposiçom -a institucional até- e,sobretudo, de fechar velhas e sólidas alianças:poderosos grupos financeiros e empresariaisaparecem já perfeitamente nítidos como actores

na primeira fileira de umha obra que há deconsumar um projecto que consagra aostentaçom e o luxo, a vontade de espectáculo eo regionalismo cultural. A maciça oposiçom dasociedade galega nom evitou, porém, que oprotesto activo fosse protagonizado só porpequenos sectores e que a voz da vizinhançaafectada nom superasse a censura mediática.

Cidade da Cultura da Galiza,o mausoléu como negócio

José Manuel Lopes

A primeira notícia que se tivo deum projecto de concentraçom deserviços culturais, por empregar-mos a terminologia oficial, datade finais do ano 1997. Na altura,um Fraga ainda duramente abala-do por um processo eleitoral queconfirmara o vertiginoso avançonacionalista, dedicou o seu dis-curso de investidura no parla-mento autonómico a avançar,sem dados mais precisos, a ideiade um futuro espaço para a cultu-ra que havia de pasmar próprios eestranhos. A partir de entom, acombinaçom da ideia de grande-za (física e orçamentária, e nompropriamente cultural) de quetanto gosta o PP galego com umprocedimento opaco e obscuran-tista acompanhou todo o proces-so. A oposiçom parlamentar nomobtivo por parte da presidênciainformaçom de primeira mao,limitando-se a acumulá-la porconta própria e a aguardar notí-cias mais concretas. A vizinhançado bairro do Viso, umha daszonas urbanas onde a idiossincra-sia rural é ainda notável, tampou-co conhecia ao pormenor o que iaacontecer com essa parte de umterreno de mais de 70 000 m2 quelhe pertencia e era utilizada comofonte de sustento. Os agentes cul-turais galegos, na suas variadasmanifestaçons, tampouco fôromconvocados a qualquer reuniominformativa sobre um espaço,dizia-se, em que haviam de ser osverdadeiros protagonistas. E nomlhe faltavam ideias e sugestonsao que de certeza é um dos secto-res mais vivos e críticos da nossasociedade: o "Fórum da CulturaGalega", que se tinha reunido emAgosto de 2000, alertava contra otrauma da cultura-espectáculo e

contra a tentaçom de conceber sóo uso turístico do patrimónioatravés da utilizaçom de grandescontentores culturais sem conteú-dos definidos.

Procedimento irregularO que estava em questom nomera dar informaçons concretas demais, porque todas as infor-maçons de que dispomos apon-tam que nom havia demasiadasideias. Para além de erigir umgrande parque temático da cultu-ra galega a escassos quilómetrosdo maior centro de concentraçomturística da nossa naçom, a Praçado Obradoiro, Pérez Varela resu-mia o sentido profundo da obraprojectada com a frase: "os gale-gos temos que fazer peito". Aindefiniçom dos conteúdos era acarência mais gritante que carac-terizava o projecto nos seus pri-meiros passos, como insistiamem assinalar umha e outra vezdestacados representantes doBloco Nacionalista Galego noPaço do Hórreo. De facto, eperante a insistência da Junta aclamar pola necessidade de ser-viços culturais em Compostela, aorganizaçom nacionalista recla-mou a imediata posta em anda-mento nesta cidade do conserva-tório de música, da escola dramá-tica galega e de um ambiciosoplano de reabilitaçom do patri-mónio. Mas nom só se tratava deausência de definiçom. O partidogovernante na Junta insistiunumha outra marca da casa quedefine a sua gestom: umha opaci-dade continuada que tam-só serompeu pola desavença frustradade Francisco Vázquez. O presi-dente da cámara corunhesa fijopúblico perante os meios decomunicaçom, aguilhoado poloseu localismo, que um grande

concurso de ideias estava a serarranjado para a concessom dodesenho arquitectónico daCidade da Cultura, era mais umexemplo de marginalizaçom daCorunha. Com efeito, um tribu-nal composto por vários profis-sionais da arquitectura e destaca-dos responsáveis políticos, entreos quais Manuel Fraga, PérezVarela e Sánchez Bugalho conce-diam a obra ao arquitecto estado-unidense Peter Eisenman. Paraalém da sua reconhecida famainternacional, este arquitecto aca-baria por ganhar ainda mais noto-

riedade polo seu papel protago-nista na obra projectada:começou por nom respeitar asbases do concurso, enviando umtexto em inglês -embora teorica-mente só fossem admitidos ogalego e o espanhol- e continuoua manifestar, os dias prévios àseleiçons autonómicas de Outubrode 2001, que as obras se paralisa-riam se Manuel Fraga nom repe-tisse como presidente da Junta.

Conteúdos: concretizaçomdo espectáculoCom a passagem do tempo osresponsáveis pola Junta dam aconhecer parte dos conteúdosconcretos que albergará esta obramagna e, mais importante ainda,o sentido concreto que se escon-de atrás de umha das mais fabu-losas mostras de investimentopúblico na Galiza. Tratava-se deconstruir sobre o lombo do Gaiásum museu de história, duasbibliotecas e umha hemeroteca,um centro audiovisual galego,um auditório, um teatro da ópera,umha sonoteca e um chamado"bosque autóctone". A enxurradade projectos concentrados nestemonte compostelano e a atractivaexibiçom de poderio culturalcontrastárom, ainda, com umoutro tipo de valorizaçons chega-das paradoxalmente do mesmolado dos impulsionadores do pro-jecto. O historiador X.R. BarreiroFernández, presidente da RealAcademia Galega e representanteegrégio do oficialismo culturalgalego (conhecido espanhol-falante que até tem defendidoFrancisco Vázquez ao lhe restargravidade aos seus arroubos con-tra o idioma) nom demorou amanifestar que lhe parecia umhaobra perniciosa e excessiva. Oconhecido Relatório Galiza 2010,

Relatório Galiza2010 mostrou-se

crítico com os ámbitosque a Cidade daCultura pretende

revitalizar emformato concentrado

reportagem

“Fundaçom Cidade da Cultura da Galiza” acolhe entidades como Caixa Galiza, Caixanovae Telefónica. Nom se descarta a entrada de transnacionais como Siemens ou Philips

8 reportagem Maio 2004 novas da galiza

um estudo prospectivo elaboradopor diferentes especialistas sobrecada campo de actuaçom, faziaumha diagnose terrivelmente críti-ca sobre o estado da cultura gale-ga ao longo da nossa geografia:índices mínimos na aquisiçom delivros face a outras zonas doEstado, ausência de umha redebibliotecária pública que atinja atotalidade dos núcleos de popu-laçom, falta de incentivos fiscaispara o uso e promoçom do galego,deficiências profundas nas infra-estruturas de catalogaçom e docu-mentaçom do património, nulida-de na política de formaçom e qua-lificaçom do pessoal restaurador...o relatório, críticocom todos e cada umdos ámbitos que aCidade da Culturapretende revitalizarem formato concen-trado, foi encomen-dado às caixas depoupança, responsa-bilizadas pola suapublicaçom. Apesarda conhecida e explí-cita vinculaçom dosgrandes poderes eco-nómicos galegoscom o projecto polí-tico da direita espan-hola mais dura, asconclusons que ava-lizavam esse relató-rio bem poderiamcoincidir com as crí-ticas chegadas daprópria oposiçominstitucional. A deputada PilarGarcia Negro destacava a escas-sez de meios da infra-estruturacultural galega e manifestava asua rejeiçom ao esbajamento pro-pagandístico de recursos. Para aex-parlamentar, umha bibliotecanacional galega, umha hemerote-ca nacional galega, novos museusde arte contemporánea ou qual-quer tipo de inovaçom som per-feitamente factíveis partindo doque já existe. A dirigente nacio-nalista acrescentava ainda o

seguinte, com umha ilustrativacomparaçom: "acontece o mesmoque em qualquer economiadoméstica: com certeza qualifica-ríamos de insensata a pessoa quetivesse três vídeos e quatro tele-visores na sua morada e nomtivesse água corrente ou aqueci-mento num país como o nosso.Pois transfiramos este esquemaao dos orçamentos públicos, queainda necessitam mais desta polí-tica: em primeiro lugar, devemosatender o que há, sem adiarmos arealizaçom, quando for necessá-ria, de novas infra-estruturas". Contudo, a maior concreçom doprojecto que incubava a Junta da

Galiza nom foi resul-tado do enquadra-mento traçado porPeter Eisenman nemda distribuiçom físi-ca de cada um dosprédios do macro-complexo. Foi o con-selheiro da culturaJesús Pérez Varelaquem insistiu umha eoutra vez na ligaçomque tem a própriaobra com umha pla-nificaçom global noque diz respeito àeconomia e à culturagalegas. Para estedirigente do PP, quepassou de adeptoentusiasta do golpis-mo no 23-F, quandoera jornalista, aagente promocional

do nosso património, este "navioalmirante da cultura galega" foipensado como centro aglutinantede serviços "porque os relatóriostécnicos aconselhárom a fazê-loassim, à procura de umha maiorrepercussom económica". Nom setrataria tanto de melhorar asdotaçons culturais da Galiza comode erigir a Cidade num "pólo deatracçom em si próprio, ao nívelde Paris, Praga ou Berlim". Estasdeclaraçons, complementam-seperfeitamente com as do vereador

do PSOE Francisco Candela, quetem equiparado orgulhosa e publi-camente a Zona Velha da nossacapital com "um autêntico parquetemático". Talvez esta acabadadefiniçom dos objectivos, em con-fronto com a imprecisom dos pro-jectos culturais a promover, sirvapara entender a arriscada apostaeconómica da Junta: dos iniciais18 000 milhons das antigas pese-tas a investir no macrocomplexo -o BNG insistiu logo no início emque a quantidade ultrapassaria omontante oficial- o governo auto-nómico chegou a reconhecer queo investimento andaria por voltados 80 000 milhons. Ficam aindapor concretizar as despesas queoriginará o mantimento das insta-laçons e a organizaçom das activi-dades, que o membro do PSOEAntón Louro avaliou em mais de5000 milhons de pesetas por ano.Com efeito, a pura generosidadenom poderá carregar com semel-hante nível de gasto. Mesmo tra-tando-se de umha intervençompública, a iniciativa privada nomvai ficar nem muito menos à mar-gem da gestom e orientaçom dofuturo complexo. A chamada"Fundaçom Cidade da Cultura da

Galiza", sita no Hospital de SamRoque do centro de Compostela,acolhe entidades como CaixaGaliza, Caixanova e Telefónica, epor enquanto nom se descarta aentrada no Patronato de transna-cionais como Siemens ou Philips,que terám capacidade para decidirsobre os conteúdos e actividadesdo complexo.Umha obra de filosofia muitosemelhante, mas neste caso geri-da por umha fundaçom atravésde umha franquia e com menorcarga fiscal para o governo auto-nómico -o Guggenheim bilbaí-no- foi umha e outra vez compa-rada com o projecto de PeterEinsenman quanto ao que partil-ham de sintoma de certo fenó-meno cultural em duas naçonssem Estado. Homologáveis somas obras, como homologáveispodiam ser, salvando todas asdiferenças, as críticas que mere-ceu por parte de certas vozesautorizadas: o arquitecto galegoCésar Portela pujo em causa que"um arquitecto à distáncia seja omais acertado para a Cidade daCultura da Galiza". O artistabasco Agustín Ibarrola, por seuturno, afirmou que o

Guggenheim era só "umhaavançada do colonialismo for-mal norte-americano". Longe deidentificaçons com o seu país deorigem, Peter Eisenman foi, noentanto, muito claro ao seu jeito:"a Cidade da Cultura, como omuseu Guggenheim em Bilbau,será um símbolo da Espanha nomundo".

Pretexto para devolver favoresMas as decisons com maior rele-váncia económica de algumhamaneira ligadas à Cidade daCultura nom se encontram apenasna gestom do seu Patronato. Aescolha do terreno para situar asobras nom foi inocente, porquantomais da metade dos 700 000 m2de extensom do Gaiás pertenciamà Caixa Galiza. Ainda que a Juntanom fizesse nunca nenhumadeclaraçom pública em relaçomao que parecia umha evidenteoperaçom político-económicacom a entidade de José LuísMéndez, aproveitando a "cultura"como pretexto, era sobejamenteconhecido que assistíamos ao pri-meiro capítulo de umha operaçomde relativa transcendência, desti-nada a se consumar com umha

PeterEisenman foimuito claroao seu jeito:“a Cidade da

Cultura, comoo Guggenheim,

será umsímbolo da

Espanha nomundo”

Mais da metade dos 700 000 m2 de extensom do Gaiás pertenciam à Caixa Galiza

9reportagemMaio 2004novas da galiza

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aproximaçom obscena do PP e daentidade financeira. Com efeito,um ano depois da cessom dos 406000 m2 à administraçom autonó-mica por meio de umha con-vençom em condiçons vantajosaspara esta, umha polémica decisomda Junta acabava por se tornarpública: no processo de privati-zaçom da Empresa Nacional deCeluloses em 2001, o importantegrupo de pressom florestal forma-do por Sonae, Banco Pastor,Foresgal e Silvanus ficava fora dejogo ao adquirir 24,9% do capitalda papeleira o grupo CaixaGaliza-Banco Saragoçano-Bankinter. Tampouco FragaIribarne andou com demasiadasvoltas, porventura iludido com umcomplexo cultural que eternizaráo seu nome e a sua tradiçom polí-tica, quando concedeu à caixacorunhesa a medalha de ouro daGaliza. Entre os méritos valoriza-dos estava, como afirmou o presi-dente da Junta, o de "ter cedido osterrenos dos quais é proprietáriano monte Gaiás (Santiago deCompostela) onde se empreenderáa construçom da Cidade daCultura da Galiza".Também nom podemos desconsi-derar as preferências económicasde um arquitecto, PeterEisenmann, que demonstrou emmais de umha ocasiom o seu gostopolo protagonismo: a ele se deve,segundo algumhas fontes, aeleiçom de Soluziona -filial deFENOSA dedicada aos serviços-como empresa encarregada dodesenho e direcçom da obra.Neste cenário tam previsível, e emabsoluto oculto, nom podiam fal-tar aqueles que estám a demons-trar ser os mais sólidos aliados doPP dentro dos grandes capitalistas,ansiosos por consumar esse PlanoGaliza que tam destacada pre-sença lhe cede. Os grandes gigan-tes da construçom som, como éóbvio, actores principais num pro-jecto que precisou, antes de mais,de destruir todo um monte parainstalar o grande parque da cultu-

ra. Nom surpreendeu ninguém quea concessom da obra, feita atravésde concurso público, recaíssenumha aliança pontual de empre-sas entre Construçons Paraño S.A.e NECSO. A primei-ra, com sede emOurense e habitualdas obras licitadaspola Junta, foradenunciada há poucomais de um ano porNunca Mais Carnotapor trabalhar nas tare-fas de limpeza dopiche, junto a Tragsa,sem a mínima consi-deraçom polo meionatural nem polasaúde dos trabalhado-res e trabalhadoras.Quanto a NECSO,trata-se da divisom deconstruçom do gigan-te empresarialAcciona, e está a serumha das empresasmais beneficiadaspolo Plano Galiza e onovo desenvolvimen-to agressivo que os sucessivosgovernos espanhóis ensaiam naGaliza em matéria de infra-estru-turas. Hoje em dia, encarrega-se

também das obras do porto exte-rior de Ferrol (que, como jádenunciou NOVAS DA GALIZA,está a destruir ilegalmente umhaárea incluída na Rede Natura

2000). Umha outradivisom de Accionaprojecta a cons-truçom de quatroparques eólicos naprovíncia de Lugo,enquadrados noPlano de EnergiaEólica 2004, sob adirecçom da Juntada Galiza.Se dermos atençomà letra pequena,veremos que a apa-rente distáncia entreos propósitos turis-tificadores quePérez Varela ideiaatravés da Cidadeda Cultura e o boomconstrutivo destesanos nom é tal. Aoperaçom económi-ca do Gaiás é aponta do icebergue

de umha aliança tácita, comoreconheceu nom há muitoAntonio Fontenla, presidente dapatronal galega e ele próprio

construtor. Perguntado polosenormes fundos que o PlanoGaliza dedica à promoçom turís-tica - quase o triplo do que dedi-ca a potencializar os sectores pro-dutivos -, manifestou ser esta"umha excelente notícia".

Oposiçom fragmentáriae contundenteA oposiçom de certos sectores dasociedade e o tecido associativo epolítico desinchou-se por razonsdiversas à medida que as obrasavançavam (o seu final teóricodevia situar-se em 2003). Omundo da cultura nom saiu à ruanem exteriorizou o seu desconten-tamento além dos canais habi-tuais, revistas especializadas oumanifestos, e o nascimento deBurla Negra nom inverteu atendência. Tam-só umha asso-ciaçom cultural local, "OPedroso", organizou palestras eroteiros contra a construçom doGaiás. O BNG, por sua vez, aderiuao "apoio crítico" do PSOE umhavez que o governo municipallevou o nacionalismo autonomistaa assinar com Sánchez Bugalho areivindicaçom de um complexocultural para a cidade de Santiago.A possível indefiniçom quebrouquando Encarna Otero assistiu aoacto de colocaçom da primeirapedra em companhia de autorida-des religiosas, militares e políti-cas. Nesse mesmo dia, um cordompolicial mantinha afastado o pro-testo dos fastos: umha concen-traçom da Assembleia Popular daComarca de Compostela, antece-dente compostelano de NÓS-Unidade Popular. A organizaçompolítica independentista protago-nizou umha oposiçom mais sim-bólica do que relevante, mas queem qualquer caso pretendia repre-sentar a vizinhança afectada e esse59% de compostelanos e compos-telanas que nom viam necessária aobra. Umha assembleia de vizin-hos e vizinhas, propaganda e agi-taçom contra a obra caracterizá-rom os primeiros meses de 2001.

Mais recentemente, em plena crisenacional do Prestige, activistas deNÓS-UP pintárom de preto parteda fachada do prédio daFundaçom Cidade da Cultura parareivindicarem que o orçamento daobra se destinasse a combater asmarés negras.Porém, o tecto mediático foiatingido em 2001: no mês deNovembro, umha sabotagemcom vários artefactos incendiá-rios de fabricaçom caseira, reti-rados dos camions antes deexplodirem, voltou a situar oprojecto como manchete deactualidade. Umha comunicaçomanónima atribuiu a autoria a gru-pos independentistas, facto que adelegaçom do governo espanholconfirmou tempo depois.Pequenas e nem sempre comuni-cadas oposiçons continuárom aconfluir ou a confundir-se aolongo do processo: a vizinhançaque acabou por perder as suasterras de lavoura polo processode expropriaçom forçosa recorrê-rom à advogacia. As queixas apa-recêrom entrecortadas nas pági-nas d'El Correo Gallego. A opo-siçom nom prosperou e muitoslembram com pesar o tempo emque o prado se estendia pola abasul do monte ou em que aindahavia vacas no lugar. Algunsrecordam o barulho de certasnoites, quando as pressas daJunta obrigárom a meter amaquinaria de noite e a trabalhartodas as madrugadas. Outrosainda podem ensinar as fendasque aparecêrom nas suas mora-das nos primeiros momentos daobra, produto das explosons quedestripárom o monte. O Viso e oSar, dous dos bairros mais esque-cidos polos sucessivos governosmunicipais, com défices notransporte público, na ilumi-nação ou no firme das ruas,aguardam como vertiginosamen-te tudo isto se tornará decente,embora artificial e forçosamente,quando as vagas de turistascomeçarem a invadir o Gaiás.

A operaçomeconómica do

Gaiás é aponta do

icebergue deumha aliançatácita entre os

podereseconómicos epolíticos da

Galiza

Dos iniciais 18 000 milhons das antigas pesetas a investir no macrocomplexo, o governoautonómico chegou a reconhecer que o investimento andaria por volta dos 80 000 milhons

10 reportagem Maio 2004 novas da galiza

Relatórios dos presidentes do PP de Ourense e Lugo proponhem cacique de Lalim para a vice-presidência

Manuel Salgueiro

O Partido Popular iniciou já ospreparativos para a sucessom deManuel Fraga, que tivo de serparalisada em várias ocasions. Oprimeiro braço-de-ferro foi aConvençom que se celebrou a 15de Maio, em que José ManuelBarreiro e Alberto Nuñez Feijoóapresentárom as comunicaçonsmais esclarecedoras do encontro.O segundo grande passo, com aestratégia perfeitamente desenha-da e a executiva remodelada, vaidar-se após as eleiçons europeias.Dous movimentos de ManuelFraga voltavam nestas últimassemanas a levantar a poeira polí-tica do Partido Popular, adorme-cida durante as eleiçons espanho-las. Primeiro, Fraga anunciava notradicional "retiro" do governo,neste ano celebrado emMonforte, que nom se candidata-ria à reeleiçom. Ao mesmotempo, encarregava a elementosdestacados do partido relatórios"francos" sobre quem e porquêpoderia vir a sucedê-lo. EmMonforte, o presidente da Junta,anunciou também que nomearia"duas vice-presidências".Posteriormente, logo após umhadas reunions do Conselho daJunta, dizia perante os meios decomunicaçom "que com probabi-lidade nomearia um vice-presi-dente". Destacados membros daexecutiva estám confiantes deque umha delas "há de ser paraCuinha, cumpre recuperar a suaimagem, já pagou".As conjecturas voltavam comforça ao Partido Popular, e asvelhas aspiraçons de alguns e asnovas de outros começavam atentar ganhar posiçons dentrodo partido do governo naComunidade Autónoma Galega.José Luís Baltar e FranciscoCacharro querem recuperar JoséCuinha Crespo para sucederManuel Fraga. O político deLalim conta com apoio suficien-te, sobretudo no rural galego.Os dirigentes do PP de Ourense,

Ponte Vedra e Lugo insistem nainjustiça cometida com o filhodo Moleiro -como gosta Cuinhade se chamar a si próprio- eentende que a dívida foi sufi-cientemente paga com o silên-cio mantido por quem tinha sidoo eterno aspirante à sucessomde Manuel Fraga Iribarne.Cuinha calou, esperou e entre ospopulares vincou a ideia de que"já pagou". Muitos dirigentes doPP galego recordam agora queMariano Rajoy está na opo-siçom em Madrid. Um fracassoeleitoral que para alguns"desautoriza Mariano paraimpor sucessor".

Dirigentes queremregresso de CuinhaRivas Fontán, de Ponte-Vedra,dizia para quem o quigesseouvir o que muitos pensam noPP mas poucos se atrevem adizer a viva voz: "Fraga já nomserve, vai velho". AgustimBaamonde, presidente popularda Cámara Municipal deVilalva, a localidade natal deFraga, manifestou abertamenteque "no PP as luzes vermelhasestám acesas". O Secretário deOrganizaçom no PP de Ourense,José Manuel Baltar Blancopedia "reflexom e galeguismopara sair da epilepsia políticaem que está metido o partido".Foi entom também, após aseleiçons espanholas, quandoJosé Luis Baltar, presidente doPP de Ourense indicou que ele"nom se movia". Todos os olha-res se voltárom entom de novopara Lalim. José CuinhaCrespo, o eterno delfim deManuel Fraga até aquele mês deJaneiro de 2003, quando oConselheiro foi defenestradopoliticamente por causa davenda de material das empresasfamiliares para a recolhida dopiche do Prestige., voltou àspalestras políticas. Em Março de 2003, José LuisBaltar já tinha esclarecido a suaposiçom, após ter protagonizado

o seu filho José Manuel Baltar equatro parlamentares popularesourensanos um protesto peranteFraga pola perda de "galeguida-de" do Partido Popular na Galizae em apoio de Cuinha Crespo.Baltar Pumar indicou naquelemomento: "Na mente de todos osmilitantes está que voltará a che-gar o momento de Cuinha". Foi omomento em que a fracçom doPP conhecida por "os da boina"considerárom que os tempos paraCuinha eram chegados. No rela-tório que acabou na mesa daPresidência, elaborado polos pre-sidentes de Ourense e daDeputaçom de Lugo e ainda poralguns cargos políticos de PonteVedra o nome proposto é o deJosé Cuinha Crespo.

Fraga ordena silêncioManuel Fraga Iribarne tinha dadono Partido Popular a consigna denom se falar da sucessom atédepois das eleiçons e até queMariano Rajoy fosse presidentedo governo Espanhol. Rajoy diri-gia "pessoalmente" da ruaGénova, segundo apontam fontesdo PP, a sucessom de ManuelFraga. Após o dia 14 de Março,

com a surpresa eleitoral e oSecretário Geral do PP na opo-siçom começam-se a sentir osmovimentos políticos para asdiferentes fracçons populares se

posicionarem. Umha correntepopular quer devolver Cuinhapara a cena política galega.Umha corrente encabeçada poraqueles deputados que no piormomento do ex-conselheiro oapoiárom e se fizérom chamar "ogrupo de Ourense".

Eleiçons autonómicasAs eleiçons autonómicas som emOutubro de 2005. Até depois dasEuropeias, em Junho próximo,nom haverá movimentos públi-cos no Partido Popular. Mas aestratégia já está definida a estasalturas do campeonato. OPresidente da Deputaçom deLugo, Francisco Cacharro indica-va recentemente que "o processode sucessom deve ficar claro nopróximo congresso". Umha citaque o PP terá antes do fim doano.Um dos nomes mais citados nosúltimos tempos som o de AlbertoNunes Feijoo, Conselheiro daPolítica Territorial e substituto deJosé Cuinha Crespo. No entanto,as possibilidades do ouresanosom mínimas por nom contarcom os apoios necessários dentrodo partido. Nunes Feijoó chegouà Conselharia da PolíticaTerritorial após ter passado porMadrid, onde presidia osCorreios, e chegou com o apoiodo presidente da cámara ourensa-na Manuel Cabezas, de JoséManuel Romay Beccaria e aindada própria política desenhada narua Génova. Foi empregado polo

O último encerramento dos Conselheiros da Juntada Galiza com Manuel Fraga, celebrado nestaPáscoa no Parador de Monforte de Lemos, tivocomo notícia mais transcendente a comunicaçominterna do Presidente da Junta ao seu governo deque nom se apresentará às próximas eleiçonsautonómicas. Este anúncio leva implícito o com-promisso do PP de nom falar desta questom até

depois do dia 13 de Junho, data das eleiçonseuropeias. Manuel Fraga também encarregou adirigentes do PP e aos seus conselheiros que ela-borassem relatórios com os nomes do seu suces-sor. Ainda, o presidente da Junta e presidente doPP na Galiza anunciou que criaria duas vice-pre-sidências. Umha delas seria, segundo fontes dopróprio partido, para José Cuinha Crespo, a fim

de devolvê-lo à actividade política. Os dirigentespopulares em Ourense e Lugo propugéromCuinha também para a sucessom de ManuelFraga. Boa parte do partido em Ponte Vedra,sobretudo tendo em conta o fracasso eleitoral do14-M, atreveu-se a manifestar que "José Cuinhajá pagou a sua dívida, soubo estar calado e ossilêncios e a lealdade em política pagam-se".

Dirigentes do PP galego queremrecuperar Cuinha para suceder Fraga

Fraga encarregou a elementos destacados do partido relatórios "francos" sobre quem e porquê poderia vir a sucedê-lo

Num relatório queacabou na mesada Presidência,elaborado poraltos cargos doPartido Popular

de Galiza, o nomeproposto é o de José

Cuinha Crespo

Arquivo

partido em Madrid para romper, afavor da maquinaria central dopartido, a luta contra os chamados"da boina", entre os que se encon-trava o próprio Cuinha, José LuisBaltar, presidente do PP ourensa-no (que continua a ser um dosgrandes feudos de voto do parti-do) e Francisco Cacharro Pardo,presidente da Deputaçom emLugo. Se se produzisse pois onomeamento de Nunes Feijoócomo vice-presidente poderia pro-duzir-se dentro do PP galegoumha profunda crise. Isso apesarde que Nunes Feijoo protagoni-zou a maioria das inauguraçonsproduzidas nos últimos anos, porestar muito ligado à figura do ex-ministro ÁlvarezCascos, e nomeada-mente por ser acabeça visível daconselharia maisinvestidora.O actual Conselheirodo Ambiente ePresidente doPartido Popular emLugo José ManuelBarreiro é o nomeque mais consensosuscita dentro dasfileiras do PP galego.No entanto, Barreiroterá de lidar com oconfronto aberto quemantém comFrancisco CacharroPardo, a quem substituiu na lide-rança do PP provincial. Barreiro étambém a pessoa de confiança deXesús Palmou. De facto, Palmoujá o tinha ao seu lado como vice-secretário geral do PP da Galiza.Nom perdoam os dirigentes popu-lares a Palmou o que consideramumha traiçom a Cuinha e a sub-missom "aos ditados" do PP deMadrid. Apesar disso há vozesque consideram que XesúsPalmou é a figura melhor situadapara a sucessom. Mas todas estasvozes procedem de fora do PP. É o

caso do ex-vice-presidente daJunta José Luis Barreiro Rivas,que indicou que "Palmou é o can-didato melhor situado". Corre otempo também contra o consel-heiro do Ambiente pois a apresen-taçom perante a sociedade galegacomeça a ter pressa, e unicamentehá um ano de tempo para fazeresse trabalho.

Queda de um conselheiro,promoçom de um vice-presidenteNinguém dá por perdido JoséCuinha Crespo e os dirigentesestám dispostos a recuperá-lopara a acçom e o protagonismopolítico. De Monforte saiu ainformaçom de que polo menos

será vice-presidente.Contra o ex-consel-heiro figuram osescándalos protago-nizados com as suasempresas familiares,o incumprimento daLei deCompatibilidade. Osescándalos de vendade material do seuholding familiarpara recolher pichedo Prestige. Mas oPP na Galiza temclaro que a queda deCuinha respondeantes à sua "apostagaleguista" do queao facto de que o seu

perfil nom tivesse convencidoem Madrid. Nesta ultima ques-tom radica a principal das causasda sua defenestraçom política.As informaçons jornalísticas queacusavam o conselheiro de nomcumprir a lei de compatibilidade,a venda de material para oPrestige e a presumível tramaurdida para assassiná-lo partíromda própria "rua Génova". Porisso nos corredores do partidoouve-se de dia para dia com maisforça "os tempos som chegadospara José Cuinha".

reportagemMaio 2004novas da galiza 11

1993. Cuinha, sendo já conselheiro, retoma a amizade comJorge Esparza, cúmplice e testa-de-ferro de Roldán.Naquele momento, Esparza exerce de alto cargo executivode Huarte, a empresa que ganhou a licitaçom para construiro Hospital Clínico de Santiago. Começa a especular-se comas comissons recebidas por Cuinha pola realizaçom destaobra.

1994. INASUS factura quase 1000 milhons de pesetas emempreitadas para obras da Junta.

1995. As empresas de Cuinha Inasus, Metaldeza e Pumadepassam do registo de Morosos do Banco de Espanha em1989 a ser as quintas no estado em fabricaçom de fachadas.

1999. Confronto entre o empresário afim ao PP MartínezNunhez e José Cuinha

1999-2000. As empresas da família Cuinha recebem 250milhos de pesetas em subsídios a fundo perdido. OMinistério da Economia contribui com 180 milhons e aJunta, através do IGAPE, com 70 milhons de pesetas. Asbeneficiárias som as sociedades mercantis INASUS, Ibéricade Conformados e Pumade.

2000. A Guarda Civil investiga a tentativa de assassinato doconselheiro. O sicário contratado por Martínez Nunes,Wolfrang Pérez, para sabotar empresas da sua competênciano Berzo, relacionado também com a tentativa de assassi-nato de Cuinha, aparece morto.

06/2000. A viuva de Wolfrang Perez apresenta manuscritos queimplicam o seu homem na trama contra o Conselheiro e decla-ra: "o meu marido morreu por nom ter querido matar Cuinha".

09/2001. O jornalista Manuel Rico denuncia a violaçom daLei de Incompatibilidades. O conselheiro possui 16% dasacçons do grupo empresarial familiar que factura 48 mil-hons de euros por ano.

16/01/03. Cuinha é demitido após comprovar-se que empresasda sua propriedade vendêrom material para recolher piche doPrestige. Os dirigentes populares culpam Xesús Palmou,Secretário Geral do Partido na Galiza de ter "atraiçoado"Cuinha e de "se ter submetido aos ditados do PP de Madrid".

17/01/03. As empresas TECONSA e PROINSA do Holdingde Martínez Nunes celebram a sua convençom anual noGrande Hotel de Lugo, um dia depois da queda de Cuinha.

20/01/03. Cuinha tenta promover umha rebeliom, dirigidada sua casa em Lalim, de presidentes de cámara afins e diri-gentes do PP contra Palmou.

22/01/03. José Luis Baltar ordena ao seu filho José ManuelBaltar Blanco e a quatro parlamentares ourensanos que pro-tagonizem um protesto perante Fraga. Assim acontece.Exigem de Aznar e do presidente da Junta a destituiçom dePalmou como Secretário Geral do PP da Galiza. No mesmodia, Palmou assegura: "comprometo a minha palavra: nomhouvo nenhum tipo de armadilha para acabar com Cuinha".

01/04/04. Cuinha manifesta: "quem vai a 300 à hora empolítica, pode acabar na sargeta, mas da sargeta também épossível sair".

24/05/04. Inicia-se em Ponferrada o julgamento contraMartínez Nunes polas sabotagens sofridas por duas empre-sas da concorrência. Relacionado com as sabotagens tam-bém figura o nome do sicário que apareceu morto após tersido implicado na tentativa de assassinato de Cuinha.

Ninguém dá por perdido José Cuinha Crespo e os dirigentes estámdispostos a recuperá-lo para a acçom e o protagonismo político

Cronologia

As informaçonsque acusavamo conselheiroe a presumível

trama paraassassiná-lopartírom daprópria "rua

Génova"

Arquivo

12 vários Maio 2004 novas da galiza

Dá nas vistas o vergonhoso tra-tamento informativo dadopolos meios de comunicaçom àapresentaçom do Relatório2003 do Provedor da Justiça,mais conhecido por Valedor doPovo. Apesar de os jornais erádios do nosso país terem rece-bido no mesmo dia desta apre-sentaçom umha análise quechamava a atençom sobrevários pontos negativos da ges-tom desta instituiçom, estesmesmos meios tenhem-se limi-tado a louvar o trabalho de JoséRamón Vázquez Sande,mesmo quando a gestom delesupujo umha diminuiçom dasqueixas, que passárom de 2656em 2001 a 1635 em 2002 e a só1307 em 2003. Apesar de estefacto vir a demonstrar umhafalta de confiança crescente porparte dos cidadaos e cidadásnesta instituiçom, a questom foiminimizada polo meios decomunicaçom. Foi oculto ofacto de o Provedor da Justiçanom ter aceitado denúncias quedepois, quando formuladasperante o Provedor da Justiçaespanhola, sim fôrom aceites,

sendo que o lógico teria sidoque o Provedor da Justiça gale-ga as tivesse remetido directa-mente, enviando-as a EnriqueMúgica. Também foi oculto ofacto de que várias denúnciasque vulneram claramente oTítulo I da Constituiçom nomfôrom expedidas porque oProvedor da Justiça se conside-rou incompetente para as reme-ter enquanto realizava outrasactividades que fugiam clara-mente às suas competências,como a abertura de umha contapara os danificados e danifica-das pola crise do Prestige emque fôrom depositados 600 000€. A falta de iniciativas porparte da Provedoria da Justiçapara realizar inquiriçons sobreeventuais direitos vulneradosaos cidadaos e cidadás tambémfoi oculta, e estas investigaçonssó atingem 1% das indagaçonsrealizadas, tratando muitasdelas sobre temas tam levescomo o facto de, nas ruas deumha urbanizaçom, ter faltadoa numeraçom dos prédios. Gostava de lembrar que oTítulo I da Constituiçom é

muito amplo (46 artigos emtotal) e fala do direito a umhainformaçom verdadeira, dodireito ao honor, do direito àtutela judiciária, do direito amanifestar-se, do direito dereuniom, do direito à liberdadede expressom, etc., direitosvulnerados polas adminis-traçons e denunciados poloscidadaos e cidadás sem que,na data de hoje, tivessemmerecido umha atençom clarapor parte do Provedor daJustiça, que por enquanto setem interessado, nomeada-mente, por questons de urba-nismo (40% das queixas).Por tudo isto, e sobretudo polodireito a receber umha infor-maçom verdadeira e contrasta-da, assim como pola liberdadede expressom, gostaria que osmeios de comunicaçom mos-trassem um pouco mais deimparcialidade e oferecessemtodos e cada um dos diferentespontos de vista quando, comoacontece neste caso, existem.

Xosé Renato Núñez da SilvaTeu, Compostela

Germám Hermida

Do mesmo modo que em tantosoutros ámbitos da acçom socialgalega, a banda desenhada no Paíscaracterizou-se durante anos porumha incapacidade organizativaaparentemente crónica. Apesar de acriaçom de colectivos de abrangi-mento local, articulados ao redor daediçom de qualquer fanzine, ter sidoinevitável por razons práticas, aescassa difusom das diferentes ini-ciativas e mesmo a rivalidade entrepropostas impediu que estes movi-mentos cristalizassem a nível nacio-nal. Unicamente o fanzine"Valiumdiez", dirigido emCompostela por Fausto Isorna emmeados dos anos oitenta, conseguiuintegrar boa parte dos autores que naaltura trabalhavam na Galiza. Em1989, o colectivo "FrenteComixário" de Ourense substituiu"Valiumdiez" nesta liderança. Arevista deste grupo ourensano viupassar polas suas páginas a práticatotalidade de autores e autoras doPaís, contando com umha distri-buiçom a nível nacional nunca vistaaté entom. O colectivo organizou,pouco antes da sua morte e semêxito, a primeira assembleia de auto-res e autoras galegas de BD, com aqual pretendia tornar efectiva acriaçom de um movimento nacio-nal de criadores e criadoras danona arte. Logo depois da desapa-riçom do grupo começou umhanova etapa de atomizaçom nopanorama, que duraria quase dezanos. No ano 2001 a BD galegaviu nascer dous novos projectos queinvertêrom esta dinámica. NaCorunha, o colectivo Polaqia nasceucom o propósito de publicar os seusautores e autoras com umha qualida-de realmente profissional.Começárom com "Mmmh!!" umálbum de histórias mudas. Ao grupooriginal de cinco autores (KikeBenlloch, Alberto Vázquez, Jano,Bernal e David Rubín) que se auto-editavam, fôrom somando-se, com apassagem do tempo, outros criado-res e criadoras como Enma Ríos ouos irmaos Hugo e Sérgio Covelo,que colaborárom em diferentes ini-ciativas até que no ano 2003 nasceua revista "Barsowia" que reunia tra-balhos de muitos dos autores já refe-ridos ao lado de outras colabo-raçons, e que continua a sua camin-hada. Também em 2001 apareceu"BD Banda", revista que aspira,semelha por enquanto que com bas-tante sucesso, a ser a revista da BD

Galega. Polas suas páginas tenhemdesfilado boa parte dos autores eautoras do País. O conselho deredacçom da revista conta commembros nas principais cidades daGaliza e entre os promotores do pro-jecto só há um desenhador (Kiko daSilva), algo que fai com que estapublicaçom seja um caso estranhona história da banda desenhada gale-ga. No entanto, foi a catástrofe doPrestige o que acabou por impulsarum movimento unido na nossa BD.A partir da participaçom de ManelCráneo e de Kike Benlloch naassembleia fundacional daPlataforma contra a Burla Negra,começou a articular-se o Colectivo"Chapapote". O grupo organizouuns setenta autores e autoras do País,que pugérom a sua criaçom gráficaao serviço do povo na luta contra o

piche e a incom-

petência. Exposiçons,cartazes, acçons na rua ou trabalhosde desenho gráfico para movimen-tos como Nunca Mais ou a BurlaNegra situárom pola primeira vez aBD à mesma altura que o resto doscampos criativos e surgiu com umhacapacidade organizativa nunca vistaantes no sector. Paralelamente a estemovimento, o ilustrador ÓscarVillán trabalhava na revitalizaçomda praticamente inactivaAssociaçom Galega de Profissionaisda Ilustraçom. Este processo culmi-nou em Junho de 2003, quandoumha grande maioria de autores deBD do País entrárom para formarparte dela, substituindo a anteriorjunta directiva. Este colectivo ini-ciou entom umha nova época, con-tando de novo com umha activa listade correio e desenvolvendo diferen-tes iniciativas que ainda estám emboa medida por concretizar.

Pontos de encontro:associacionismona BD galega

O Pelourinho do Novas

análise

‘Pangirl’, por Paula e Crego

O Novas da Galiza nasceu com o propósitode ocupar um lugar na informaçom alternati-va desvinculada das dependências políticas eeconómicas a que está ligada a imprensa donosso país. Nasceu para informar de outraforma, de outro ponto de vista, dandoatençom a temas que nos interessam, muitosdeles mal tratados polos media politicamentecorrectos. Mas o NGZ também quer dar vozàqueles grupos ou indivíduos que desejamcompartilhar informaçons, opinions ou deba-tes com todos os leitores e leitoras.O PELOURINHO é umha coluna levantadanumha praça pública, onde outrora eramexpostos os criminosos e as criminosas. O

PELOURINHO do NOVAS é, porém, paraexpor a tua voz à opiniom pública. Se tensalgumha crítica a fazer, algum facto a denun-ciar, ou desejas transmitir-nos qualquerinquietaçom, comentário ou mesmo algumhaopiniom sobre qualquer artigo aparecido noNGZ ou noutros meios, este é o teu lugar.Para fazeres uso dele envia o texto junto aoteu nome completo, localidade, número debilhete de identidade, correio electrónico etelefone de contacto. NOVAS GZ reserva-se odireito de descartar as cartas que ostentaremalgum género de desrespeito pessoal ou pro-moverem condutas antisociais intoleráveis.Tu tens a palavra... todos e todas te escutamos.

Silêncio informativo sobre a ineficazgestom do Provedor da Justiça

Do Novas da Galiza queremos parabenizar operiódico comarcal A Peneira no seu vigési-mo aniversário, desejando-lhe umha longa efrutífera vida como publicaçom galega eindependente. Esta publicaçom foi desde oseu nascimento um espaço aberto à partici-paçom e à difusom dos diversos colectivossociais, culturais e políticos, um autênticoreferente para os sectores conscientes e acti-

vos da comarca do Condado e os arredores.A Peneira é um exemplo de resistência notempo frente a numerosas dificuldades epressons, sobrevivendo com escassos recur-sos, mas com grande perseveráncia e ilusom.Neste número do Novas da Galiza celebra-mos o aniversário e aguardamos que iniciati-vas como A Peneira se espalhem por todas ascomarcas do País.

A Peneira fai vinte anos

‘Golfiño’

letras galegasMaio 2004novas da galiza 13

[email protected]@terra.es

Marcos Valcárcel

Dom Joaquim Lourenço (1907-1989), a figura a que se dedica esteano o Dia das Letras Galegas, foi umdos nossos mais importantes etnó-grafos e um intelectual que nosachegou realizaçons importantesnoutros campos do saber (arqueolo-gia, museologia, língua, literaturapopular, etc.). Foi membro dageraçom do Seminário de EstudosGalegos e, por motivos de idade ecronologia, foi também, em boaparte, o responsável por guardar ofio da memória que vinha daGeraçom Nós, da qual se considera-va só um modesto discípulo. Ambasas geraçons -Nós e o Seminário deEstudos Galegos- cons-tituírom a arquitecturafundamental do pensa-mento do galeguismodo período 1920-1936e assentárom os alicer-ces do nacionalismoc o n t e m p o r á n e o .Joaquim Lourenço foigaleguista porque todoo seu labor em prol danossa cultura e da nossaidentidade estivo sem-pre guiado polo impul-so ético de construir anossa pátria a partir doterreno que ele considerava maisajeitado às suas inquietaçons.Nom foi um político galeguista comprotagonismo destacado. Nem umpensador sistematizador do naciona-lismo. Desde muito novo, estivointegrado no núcleo ourensano dogaleguismo, através da IrmandadeNacionalista Galega, que conduziaVicente Risco, em confronto com onúcleo corunhês das Irmandades. Ogrupo ourensano tinha umha com-ponente basicamente intelectual,nele estavam também figuras comoOuteiro Pedraio, FlorentinoCuevillas, o próprio XurxoLourenço, Artur Noguerol, AntomLousada Diegues (embora residisse

em Ponte Vedra neste momento),Roberto Branco Torres ou AlfonsoV. Monjardín. Em Agosto de 1930 odirectório da Irmandade Galeguistade Ourense estava formado porVicente Risco como presidente;Florentino Lopes Cuevillas e Ánge-lo Martins do Val como vice-presi-dentes; Afonso Vasques Monjardíncomo secretário; Isaac ForneiroBarandilla como tesoureiro e osirmaos Joaquim e Xurxo LourençoFernandes como vogais (La Zarpa,3-VIII-1930). Neste momento haviagrupos activos da Irmandade, paraalém do da própria capital, nas vilasde Celanova e na Rua de Val deOrras. Este embriom de partido polí-tico, muito centrado ainda na activi-

dade cultural, tirou àrua, desde Outubrodesse ano, o seu sema-nário Heraldo deGalicia, porta-voz dosgaleguistas até o inícioda guerra civil, queestava dirigido polojornalista RicardoOuteirinho (poucosanos depois, em 1932,director de La Región).Deveu ser este o únicomomento da sua vidaem que JoaquimLourenço aceitou ocu-

par algum tipo de cargo político,aliás, por um período muito brevede tempo, pois sabemos que já emJaneiro de 1931 se reformula adirectiva da Irmandade e desapare-cem dela os irmaos Lourenço,enquanto continua Risco comopresidente e entram novos nomescomo Eleutério Gonçales Salgado,Inácio Herrero e o poeta ManuelLuís Acunha.Chegada a Segunda República,encontramos Joaquim Lourenço, emcoerência com todo o grupo ouren-sano, subscrevendo o manifesto fun-dacional do Partido NacionalistaRepublicano de Ourense, que presi-dia Ramom Outeiro Pedraio e no

qual militárom igualmente VicenteRisco, Cuevillas, Pena Rei, etc. Comesta plataforma, o galeguismoourensano situa nos Paços doConcelho o primeiro vereadornacionalista da história local, o mes-tre Eleutério Gonçales Salgado, epouco depois Outeiro Pedraio noParlamento espanhol, servindo-separa isso de diferentes coligaçonscom os republicanos e os socialistas.O programa do PNRO era nidia-mente nacionalista e defendia quatropontos básicos, assim reflectidos:"1. República federal espanhola, queleva consigo a autonomia do Estadogalego, sob a soberania do Estadoespanhol. 2. O poder autónomogalego deve encarregar-se de todosos serviços, tirando os seguintes:

Representaçom diplomática e con-sular; defesa do território nacional,exército e marinha; ordem pública;justiça criminal e regime penitenciá-rio; caminhos-de-ferro, correios etelégrafos; monopólios de caráctergeral e alfándegas, culto e clero.Estes serviços, como próprios dasoberania do Estado, ficam a cargodo Poder Central. 3. Cooficialidadedos idiomas galego e castelhano. 4.A terra para quem a trabalha, comoideal para a resoluçom do problemaagrário." (Heraldo de Galicia,Ourense, 20 Abril de 1931).A guerra frustrou todas aquelasesperanças e o impulso das pessoasque as tinham feito possíveis. Areor-ganizaçom do "galeguismo históri-co" no interior, desde os anos 50,

vai-se produzir limitada à frente cul-tural e ao redor da Editorial Galáxia.Dom Joaquim Lourenço estivo fiel-mente embarcado nessa caminhadaaté o fim dos seus dias e, chegada atransiçom democrática, em múlti-plas entrevistas repetia que o seupartido de sempre tinha sido oPartido Galeguista e que essa era asua militáncia para o resto da vida.Aliás, assinou vários manifestos dogaleguismo histórico a favor doEstatuto de Autonomia ou pola uni-dade dos partidos nacionalistas naseleiçons autárquicas. Quando se lheperguntava polas suas ideias políti-cas ou económicas, repetia, com amesma fidelidade, os eixos básicosdo pensamento galeguista anterior a1936: por exemplo, a necessidade deumha política económica que favo-recesse a industrializaçom agrária episcatória, sem estragar as con-diçons naturais do País, ou a neces-sidade de dar cabo dos incêndios flo-restais ou a defesa da proximidadecultural entre a Galiza e o norte dePortugal. Eram as ideias chaveaprendidas antes da guerra no seiodo Partido Galeguista. Nos seus últi-mos anos, o protagonismo políticode dom Joaquim Lourenço foi muitoescasso e mesmo se poderia afirmarque tinha umha "incapacidade será-fica para entender às direitas nadaque tivesse a ver com a política, oqual é umha prova inequívoca dafalta absoluta de qualquer intuitomalicioso", tal como escreveu em1983 Carlos Casares. O seu terrenoera outro: o galeguismo cultural, acriaçom de umha cultura orgulhosade si própria que plantasse as suasraízes na própria Terra, sem rejeitaros contributos mais valiosos deoutros povos e culturas, sem recu-sar-se tampouco a assumir a moder-nidade nos seus aspectos maisfecundos. E foi nesse campo onde oseu labor adquiriu maior valia inte-lectual e onde nos deixou um legadoque deve ser relembrado polas novasgeraçons da Galiza de hoje.

letras galegas

O galeguismo de dom Joaquim Lourenço

Todo o labor de Xocas em prol da nossa cultura estivo sempre guiado polo impulso ético deconstruir a nossa pátria a partir do terreno que ele considerava mais ajeitado às suas inquietaçons

Pretendia acriaçom de

umha culturaorgulhosa de

si própria,com raízesna Terra

14 cultura Maio 2004 novas da galiza

portal galego da língua

Ponte... nas ondas!Já na X edição

PGL

Desde 1995 um grupo de profes-sores e professoras da Galiza edo Norte de Portugal vêm reali-zando uma experiência educati-va que visa, através de uma jor-nada de rádio elaborada pelosalunos e alunas das escolas par-ticipantes, mais um ponto deunião entre a Galiza e Portugal.Esta experiência de rádio inter-escolar atingiu já a X edição nopassado dia 7 de Maio.Esta décima edição mostrou aviveza e a presença da culturaimaterial mais próxima das esco-las. Esta proximidade esteve liga-da à apresentação da Candidaturado Património Imaterial Galego-Português, um patrimóniocomum vivo, evolutivo e trans-fronteiriço. O projecto "Ponte...nas Ondas" tem sido reconhecidopor múltipas instituições. Várias estações de rádio da Galizae Portugal, das CâmarasMunicipais dos Concelhos próxi-mos, gente do mundo da cultura e,ainda, a Companhia Telefónica deEspanha, que fornece a infra-estrutura técnica para a emissão,colaboram numa experiência quenos últimos anos também pôde serouvida através da Internet, aproxi-mando desta maneira escolas, pro-fessorado e personagens da cultu-

ra de diferentes países, como aFrança, Holanda, Finlândia e per-mitindo, nomeadamente, a incor-poração da "área linguística maispróxima", como as escolas doBrasil ou Moçambique. Como referenciam no seu web naInternet "PONTE...NAS ONDAS!é uma ponte de comunicação entrejovens, professorado, jornalistas egente da cultura, que podemcomunicar numa língua comum apartir da sua realidade social, edu-cativa e cultural, compartilhandouma experiência multicultural".

Campanha procura aumentarmassa associativa agálica

Conselho da AGAL

Nos últimos anos a AGAL e o rein-tegracionismo todo passárom pormomentos em que a sua força e pre-sença social fôrom mínimas, beiran-do o desaparecimento. Mas há jáalgum tempo, a associaçom iniciouum novo caminho de reorganizaçome fortalecimento. Um dos primeirosfrutos desse trabalho é o PortalGalego da Língua. Posteriormenteiniciou-se um processo de for-maçom de grupos locais, com gru-pos que já funcionam em cidadescomo Ourense, Compostela, Lugo,Corunha ou Vigo. Além disto tam-

bém foi retomada a iniciativa edito-rial com sucesso.Nesta nova etapa da AGAL oConselho é consciente de que a pre-sença pública e a força do movimen-to de normalizaçom reintegracionis-ta dependerá directamente do núme-ro de pessoas envolvidas nele. É porisso que se considera muito impor-tante que todas as pessoas que somospolo reintegracionsimo podamos tra-balhar juntos e juntas para avançar-mos para a sua consecuçom. A plenanormalizaçom da língua dependerádo trabalho de todos e todas nós. Com esta ideia lança-se a campanha"Associa-te à AGAL e ganha liv-

ros". Umha campanha que convidatodas as pessoas interessadas a seassociarem à AGAL e conseguiremlivros editados pola associaçom.Entre outros, obras de Guerra daCal, Carvalho Calero, João Guisánou Joel R. Gómez. Para além disto,as sócias e sócios da AGAL tenhemdireito a um desconto de 30% naspublicaçons da associaçom e a umendereço de correio-e pessoal [email protected] obter mais informaçons sobrea campanha pode escrever para oapartado dos correios 453 deOurense ou para o endereço decorreio-e [email protected].

Esta Xª edição mostrou a viveza e a presença da cultura imaterial mais próxima às escolas

O projecto "Ponte... nas Ondas" tem sido reconhecido por múltipas instituições

Vem a lumetraduçom emgalego-portuguêsde um livrosobre a figura deAntónio Gramsci

PGL

Com o objectivo de dar a conhe-cer o pensamento dialéctico deAntónio Gramsci relacionadocom o papel da cultura na socie-dade civil, e ainda para comemo-rar o centenário (1891-1991) donascimento deste grande pensa-dor, o educador e escritor vene-zuelano Carlos Mezones escreveu"Educaçom e Cultura emGramsci", publicaçom que desdejá pode ser lida na versom galego-portuguesa traduzida por Mário J.Herrero Valeiro.

NovidadesLusófonas naBiblos

PGL

O clube de leitores e leitorasgalego, Biblos, acabou de assi-nar acordos com as importanteseditoras portuguesas DomQuixote e Caminho. Entre asedições que oferecerão a quemfor assinante destaca uma biblio-teca fundamental de literatura.Durante um ano, cada bimestreserão oferecidos dois autores ouautoras da Dom Quixote, editoraque recolhe uma boa selecção depenas do país vizinho.

"Longe, tão perto",estreia literária

em prosa deKike Benlloch

PGL

O corunhês Kike Benlloch aca-bou de ver publicado o seulivro de contos "Longe, tãoperto", com 16 histórias, quesuponhem a sua estreia comoescritor em prosa, acompanha-das de fotografias de BraisRodríguez.O livro fai parte da colecçom"Criaçom" da AGAL, e dacolecçom "Vento do Sul" daeditora Laiovento, que maisuma vez publica de parceriacom a Associaçom Galega daLíngua.Kike Benlloch desenvolve asua actividade em diferentescampos. Tem trabalhado comoredactor para muitos meioselectrónicos e como produtorpara culturagalega.org, o portalda Internet do Conselho daCultura Galega.

GZe-ditora publicaconclusons do ''I

Fórum da Língua''

PGL

A editora de e-books da AGAL,GZe-ditora, volta para trazer-nosas conclusons do "I Fórum daLíngua", que decorreu emCompostela no passado dia 28de Fevereiro, sob a organizaçomdo MDL, e com a participaçomde praticamente todo o reintegra-cionismo galego. Subordinadoao título "Um espaço para odebate sobre a situaçom actual eas estratégias de futuro do rein-tegracionismo. Conclusões doFórum da Língua" apresenta asanálises de actuaçom realizadasem cada uma das palestras e aspropostas de actuaçom futuras.

"Ponte... nas ondas!é uma ponte de

comunicação entrejovens, professorado,jornalistas e gente

da cultura

O objectivo é tornar mais forte o reintegracionismo

Construindo oactivismo limiao

Juventude pola autodeterminaçom

O dia 1 de Novembro de 2003constituiu-se a Associaçom daJuventude pola Autodeterminaçomda Límia, J.A.!! , cujo objectivo éa criaçom dum movimento juvenilna Límia comprometido com alibertaçom nacional e a transfor-maçom da sociedade.A Juventude polaAutodeterminaçom, conscienteda situaçom da Límia , defende acultura e língua galega nestacomarca , além de reclamaro reconhecimento jurídico-políti-co de Galiza como naçom e oseu legítimo direito de livredeterminaçom.

músicaMaio 2004novas da galiza 15

música

Davide Loimil e Inácio Gomes

Pensamos que nom estamosa dizer nenhum disparate seafirmamos que umhagrande parte das propostasartísticas, digamos antesmusicais, que se organizamna Galiza tenhem umhaseivas determinadas mesmoantes de nascerem e seremconcebidas: a falta de ima-ginaçom, variedade e opróprio medo a afastar-se dedeterminados convencio-nalismos. A organizaçom doFestival IFI celebrado nosdias 6, 7 e 8 de Maio nacidade de Ponte Vedrademonstrou que o públicogalego está a reclamar umhaoutra cultura, muito afastadado inferno da OperaçomTriunfo, mas também doinferno da "gaita-pandeire-ta-pandeireta-gaita".Suponho que todo o mundosabe de que estamos afalar… e por isso queremosdar a conhecer nestaspáginas o que se passoudurante essas três jornadas,concentrando-nos navertente musical.

Tendo Lambchop e Explosionsin the Sky como pequenas estre-las, a oferta completou-se compessoal como Dj Rupture eConsole. Já na quinta-feira ogrupo escandinavo CleaningWomen surpreendeu toda agente com o seu jazz-cabaréfuturista executado com instru-mentos de fabrico próprio, masfoi na sexta-feira que tivemos aoportunidade de desfrutar polaprimeira vez no nosso país dessamaravilhosa banda de Nashville

chamada Lambchop, ainda quepara curtir com ela tivéssemosde sofrer antes esse par chamadoNiza, um casal insulso comonenhum outro, devedor nos seustextos do discurso elegante esimples de Le Mans, aqui ofere-cido com vestes semielectróni-cas e sem graça, sem atitude,sem credibilidade... Custa aacreditar que fosse, como expli-cou a frágil vocalista no fim doconcerto, convidado pola pró-pria banda Lambchop. E, chega-

do este ponto, foi dentre o públi-co que começárom a sair comen-tários altissonantes do tipo"...isto já é umha outra cousa" ou"...isto sim é umha banda", paranos apresentarem Lambchop,desta vez oito em cena, com esseengendro de duas caras que é"Aw c'mon"/"No, you c'mon" sobo braço. Com a sala cheia, mos-trando-se encantados com acomida autóctone e um recebi-mento se calhar inesperado,dérom um recital desses que

cheiram a clássicos constantes,revisando quase completamente asua última obra e fechando comumha inesquecível sucessom detemas com maiúsculas: "The manwho love beer", "Soaky in thepooper" e "Is a woman", todoseles de discos anteriores (vaiam,por favor, até "What another manspills", "I hope you're sittingdown" ou "Is a woman" ) tridenteselecto para resumir umha carrei-ra de maos dadas com emoçom ea honestidade.

Dj Rupture estivo presente no Festival IFI de Ponte Vedra

Com a sala cheia,um recebimento secalhar inesperado,dérom um recital

desses que cheiram aclássicos constantes

FESTIVAL IFIO festival celebrado os dias 6, 7 e 8 de Maio em Ponte Vedra demonstrou que o público demanda cultura muito afastada do inferno da Operaçom Triunfo

Outra vez a mentira. Contraas campanhas de infor-maçom orquestradas atravésdo poder, o jornalistaMichel Collon reclamaconstruir informaçom alter-nativa através dos meios decomunicaçom modernos(Internet, sms, etc.)."Globalizemos a resposta",diz. No entanto, nem sem-pre é fácil apontar ao alvo.O eleitorado do Estadoespanhol, cansado de enga-nos, respondeu com o votoao PSOE. "Era boa!", háquem ironize. A vanguardados protestos dos últimosanos, a esquerda alternativae independentista, regressapara o acampamento basecom o sorriso parvo dosciclistas gregários. A massamanifestante, sempre dis-posta ao "karaoke" daspalavras de ordem, cumpri-menta o campeom com uminfantil "nom nos decepcio-nes". Um passo à frente,dous passos atrás. Já sabe-mos. Entom, cumpre voltara caminhar pola velhacorredoira das estratégiasdesestabilizadoras. De diapara dia somos menos.Enlameado com o possibi-lismo pós-moderno, o BNGapanha, finalmente, as auto-estradas de portagem noelegante carro da burguesiabasca e catalá. Quer dizer, acircular pola direita e semincomodar. Esquece, claro,qual a obrigaçom dospeons: na estrada, semprepola esquerda. A paraferná-lia dos hemiciclos semelhaa dos altares das catedrais.Ao cabo, os deputados gas-tam as energias em genufle-xons. Assim, o Blocosucumbe ao isco e luta porum espaço nas belas fotosde fato escuro e gravata. Osmeninos do coro que aju-dam os padres a repartir asrodas de moinho. Daí, cui-dam, só podem subir na hie-rarquia. Ao fim, é boa nova:a velha corredoira despeja-se de entraves. E de menti-rosos.

F. Marinho

A 20 de Abril inaugurava-se ocurso "Guerra e Informaçom"organizado na Universidade deSantiago de Compostela. A aber-tura nom pudo ser mais especta-cular e surpreendente para osamadores e amadoras do jorna-lismo alternativo. Nesse dia,Michel Collon, autor reconhecidopolo seu livro 'Olho com osMedia', dirigiu um colóquiosobre os seus trabalhos à voltadas guerras da Jugoslávia e doIraque.

Qual a sua opiniom acerca daformaçom dos jornalistas nasfaculdades?Bem, eu nom sou jornalista de for-maçom académica, nem de univer-sidade nem de escola especial,como setenta por cento dos jorna-listas da minha geraçom. Mas achoque, na verdade, a maioria dasfaculdades de Ciências daComunicaçom sofrem umha enor-me pressom por parte dos grandespoderes económicos e políticospara a formaçom de soldados.

Entom, está a falar da formaçomde pessoas servis ao sistema, aosinteresses económicos?Nom, nom. Eu falo, como já dixemnas conferências, de que há muitasclasses de escolas de jornalismo.No entanto, a maioria preparamsoldados da informaçom nos seusplanos de estudo. Umha minoriaprepara jornalistas críticos, compossibilidade de decidir o que é quetem importáncia na hora de infor-mar. Como dixem antes, o mundo éumha guerra entre ricos e pobres, ea informaçom também é.

Entom, podemos falar da infor-maçom como umha mercadoria?Podemos, é isso. Nom penso queisto seja algo novo, porque o jorna-lismo foi sempre umha indústria.Mas, na verdade, tem vindo a inten-sificar o seu carácter mercantil.Nos media actuais, a imensa maio-ria dos e das jornalistas sofremumha situaçom de proletarizaçomda informaçom. Qualquer jornalistade hoje em dia já nom é umha per-sonagem como Tintim, que viajapolo mundo para investigar e con-hecer segredos. Noventa e cinco

por cento dos e das jornalistas ape-nas transformam matérias primas.Os boletins das agências de impren-sa som essas matérias primas.Com o controle das quatro grandesagências de imprensa (AP, UIP,AFP e Reuters) sobre a informaçommundial, o papel dos e das jornalis-tas é o de transformarem esses bole-tins em notícias breves para a rádio,a imprensa e a televisom, mas semnenhum trabalho prévio de investi-gaçom. Sem tempo para investiga-rem, porque investigar é caro.

Porque era a Jugoslávia tamdesejada polas multinacionais?Havia dous motivos. O primeiro eraque a Jugoslávia supunha um malexemplo com a sua legislaçomlaboral, o sistema de autogestom eas limitaçons legais que encontra-vam as multinacionais.Para além disso, também podemosreferir os corredores energéticos,como bem explicou o generalJackson (chefe das tropas da NATOna Macedónia no ano 1999). Estescorredores eram também um exem-plo da rivalidade entre Washingtone Berlim.

Qual o motivo polo qual estadoseuropeus como o espanhol sealiárom aos EUA?A Gram-Bretanha depende muitodas suas exportaçons de capital,muito mais do que outros países.Também existe umha aliança tradi-cional entre a classe dirigente britá-nica com a dos EUA, para a defesados interesses económicos comuns.Quem tinha contratos importantescom o Iraque? A França. Quem é osócio número um do Irám? AAlemanha. Quando Bush organizao ataque contra o Iraque, é um ata-que contra os interesses alemáns efranceses.A posiçom que adoptárom estadoscomo o espanhol ou o italiano é umproblema a nível europeu. Europatem interesses contrários aos dosEstados Unidos, interesses numhaaliança. Devêrom ser muitas asdeliberaçons das classes dirigentesde outros países para saberem o queera melhor para a defesa dos seusinteresses.Sobre a intervençom espanhola,isso deve-o responder o Estadoespanhol. Bush prometeu umhaparte do petróleo do Iraque a

Repsol. As multinacionais espanho-las, aliás, comprárom empresas naAmérica Latina aproveitando acrise económica de países como aArgentina. Os interesses naAmérica Latina som muito impor-tantes, e por isso o Estado espanholnecessita de um exército para osmanter. Naturalmente, para issoestá o exército estado-unidense.

No seu artigo "Dividamos oIraque em três partes", dizia queesta era umha proposta apresen-tada por Israel no ano 1982.Pensa que se está a avançar como referido argumento?Está, sim. É o modelo de divisométnica dos países e das regions:divide e vencerás. É um modeloaplicado ao povo palestiniano, etambém ao povo sérbio no Kosovo.Isto pom em causa os estados etni-camente puros, que é umha atroci-dade, a justificaçom de todos osprocessos de limpeza étnica.

Continua a pensar que a inte-lectualidade europeia estáparalisada?A intelectualidade nom é ummundo à parte. Está submetida aosmesmos interesses e às mesmasideologias dominantes. E se eu digoque o mundo se divide a cada vezmais entre pobres e ricos, a intelec-tualidade também tem que escolherali onde puder. O problema é de

representatividade e isso fai comque dê umha impressom determi-nada, porque cada intelectual quevemos em qualquer momento natelevisom nom é representativo ourepresentativa da intelectualidadetoda. A cultura também é um mer-cado, e assim, quem quiger ser umfamoso ou famosa escritora, porexemplo, deve empregar umha lin-guagem acorde com o sistema.

Nesse sentido, os meios de comu-nicaçom som vítimas do sistema?Nom, porque quando reparamosnos conselhos de administraçomdos meios de comunicaçom, encon-tramos representantes de grandesmultinacionais com interesses emqualquer sector industrial. O grandeexemplo: Berlusconi na Itália.Assim, os media nom som vítimas,porque quem os chefia nom é tamboa gente como se pensa.A minha conclusom sobre isto, queaparece no livro de dous jornalistasintitulado 'As mentiras dos Media',é que nom devemos cair na falsailusom de que o sistema será refor-mado ou que mudará para melhor.Devemos ter cuidado quando nosdizem que a informaçom é um pre-sente, um obséquio. A informaçomé cousa de todos e todas. Estesautores afirmam que todos somosjornalistas, cada um de nós poderecolher informaçom de qualquerlugar ou fonte.

"O mundo é umha guerra entre ricose pobres, e a informaçom também"

a entrevista Michael CollonMeninosdo coro

Kiko Neves

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