Nutrição e Reprodução - Ufmg

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

    DEPT. DE CLINCA E CIRURGIA

    ESCOLA DE VETERINRIA

    Nutrio e Reproduo em Ruminantes:Alguns Aspectos

    Fernando Andrade Souza

    Belo Horizonte

    2006

    Escola de Veterinria da UFMG - Campus da Pampulha, Av. Pres. Antnio Carlos, 6.627.

    Cep. 31270-901 Caixa Postal 567 - (031) 3499-2229 - Fax (031) 3499-2230 - Belo Horizonte, MG Brasil

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    SUMRIO

    1. INTRODUO 04

    2. CRESCIMENTO FOLICULAR OVARIANO DE BOVINOS 04

    2.1 Ao da nutrio sobre a secreo de FSH e LH 07

    2.2 Secreo dos hormnios hipotalmicos e hipofisrios no incio do ps-parto 08

    2.2.1 Dinmica folicular ovariana durante o anestro ps-parto 10

    3. CONDIO CORPORAL E REPRODUO: A base da avaliao reprodutiva 12

    3.1 Estado metablico e intervalo ps-parto primeira ovulao 13

    4. RESPOSTAS DO HORMNIO DO CRESCIMENTO (GH), DAS SOMATOMEDINAS

    (IGF I), DA INSULINA E DA GLICOSE FRENTE AOS ASPECTOS NUTRICIONAIS 14

    4.1 Glicose 15

    4.2 Insulina 15

    4.3 Hormnio do crescimento 16

    4.4 Fator de crescimento semelhante insulina do tipo-1 (IGF-1) 17

    5. AO DA LEPTINA E DO NEUROPEPTDEO-Y (NPY) COMO SINALIZADORES DOS

    EFEITOS NUTRICIONAIS 21

    6. AO DA GRELINA COMO MODULADOR REPRODUTIVO 24

    6.1 Grelina e ingesto de energia 24

    6.2 Efeito da grelina sobre a secreo in vivo do hormnio do crescimento em ruminantes 26

    6.3 Grelina e Reproduo: ligao entre balano energtico e fertilidade 27

    6.4 Expresso da grelina no ovrio 296.5 Sndrome do ovrio policistico 29

    7. EFEITO DO NITROGNIO DE RPIDA DEGRADAO RUMENAL SOBRE A

    REPRODUO 30

    8. LIPDEOS 32

    9. MINERAIS E VITAMINAS NA REPRODUO 33

    9.1 Vitamina A 34

    9.2 Vitamina D 34

    9.3 Vitamina E 34

    9.4 Clcio 35

    9.5 Ferro 35

    9.6 Cobre 36

    9.7 Zinco 36

    10. EFEITOS NUTRICIONAIS SOBRE A OVULAO, DESENVOLVIMENTO EMBRIONRIO E O

    ESTABELECIMENTO DA PRENHEZ EM RUMINANTES 36

    11. BASES ENDCRINAS PARA A PUBERDADE EM NOVILHAS E OVELHAS 44

    12. HORMNIO DO CRESCIMENTO E FUNO REPRODUTIVA: Testculo como foco do estudo 43

    12.1 Sistema reprodutivo do macho: local de ao do GH 45

    12.1.1 Ao testicular 4512.1.2 Gametognese 45

    12.1.3 Esteroidognese 46

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    12.1.4 Receptor testicular de GH 48

    13. CONTROLE HIPOTALMICO DO BALANO ENERGTICO: Diferentes peptdeos,

    diferentes funes 49

    13.1 Peptdeos orexignicos 51

    13.2 Peptdeos anorexignicos 52

    14. CONSIDERAES FINAIS 53

    REVISO DE LITERATURA 54

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    1. INTRODUO

    A relao entre nutrio e reproduo em ruminantes complexa e os resultados observados

    na bibliografia so muito variveis e inconsistentes. A condio corporal, o nvel de

    alimentao e o estado fisiolgico (lactao e gestao) do animal podem influenciar a

    eficcia do sistema reprodutivo (Jimeno et al., 2004).

    Os fatores nutricionais afetam, indiretamente, a reproduo por influenciar o hipotlamo, a

    hipfise, o ovrio e o tero, regulando a interao entre a secreo hipofisria de hormnio

    luteinizante (LH), hormnio folculo estimulante (FSH) e hormnios de origem ovariana, tais

    como: estradiol (E2), progesterona (P4), inibina, fatores de crescimento semelhantes

    insulina do tipo I e II (IGF I e II) e prostaglandina F2de origem uterina (OCallaghan &Boland, 1999).

    Em ruminantes, a restrio alimentar tem efeito principal sobre as concentraes circulantes e

    as reservas hipofisrias de gonadotropinas. Possivelmente mudando a atividade ovariana por

    inferir mudanas no perfil dos hormnios luteinizante e folculo estimulante. Como

    conseqncia, interferindo na dinmica folicular (Dawuda, 2002).

    2. CRESCIMENTO FOLICULAR OVARIANO DE BOVINOS

    O crescimento folicular ovariano pode ser dividido, didaticamente, em duas fases. A primeira

    corresponde formao folicular pr-antral (anterior ao aparecimento da cavidade folicular

    antro), que possui trs estdios: ativao dos folculos primordiais, transio dos folculos

    primrios a secundrios e desenvolvimento dos folculos secundrios ao estdio peri-antral

    (Fortune, 2003).

    A ativao dos folculos primordiais caracterizada pela transformao das clulas da

    granulosa de um formato achatado ao cuboidal, e sua posterior proliferao.

    Consequentemente, fatores que estimulam a proliferao das clulas da granulosa so

    considerados promotores de ativao dos folculos primordiais (Gonzlez, 2004).

    A aquisio da camada completa de clulas da granulosa envolvendo o ovcito leva a

    formao dos folculos primrios. A progresso ao estdio de folculo secundrio

    caracterizada pelo surgimento de uma segunda camada de clulas da granulosa, bem como

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    pela formao da zona pelcida ao redor do ovcito e dos grnulos corticais em seu

    citoplasma. Neste ponto os folculos demonstram ser responsivos s gonadotropinas (Fair,

    2003). Antes da formao desses grnulos, os folculos crescem independentes das

    gonadotropinas, sendo influenciados apenas por fatores autcrinos e parcrinos, tais como:

    inibina, IGF-1 e suas protenas de ligao (IGFBP) (Gil, 2003).

    O crescimento dos folculos at 4mm de dimetro no requer suporte de gonadotropinas. No

    entanto, os estdios finais do desenvolvimento folicular, em bovinos, necessitam de FSH para

    manter seu crescimento entre 4mm e 9mm de dimetro, e de LH, para o desenvolvimento de

    folculos de dimetros superiores a 9mm (Ginther, 2003).

    A responsividade do folculo secundrio ao FSH caracteriza o desenvolvimento da segunda

    fase do crescimento folicular, que considerada rpida, e dependente das gonadotropinas.

    (Mihm, 2003).

    O crescimento e o desenvolvimento dos folculos antrais em bovinos ocorre em forma de

    ondas, as quais so caracterizadas pela emergncia de um grupo de crescimento folicular, com

    dimetros superiores a 4mm (folculos transitrios), sempre precedido pelo aumento daconcentrao plasmtica de FSH (Webb & Armstrng, 1998).

    Um dos folculos da onda cresce mais rapidamente por meio da mudana da responsividade as

    gonadotropinas, passando a responder por estmulos do LH; esta mudana caracteriza a

    seleo do folculo que se tornaria dominante. Assim, este folculo selecionado continua seu

    desenvolvimento, enquanto os demais entram em regresso. O folculo dominante alcana

    dimetro mximo, varivel com a raa e o estado fisiolgico do animal e permanece poucosdias, at tornar-se atrsico e regredir, caso exista um corpo lteo funcional. Caso contrrio, se

    ocorrer lutelise, o folculo dominante poder ovular. Aps a perda de funo, um novo

    ovcito surgir e novo folculo dominante estar presente em, aproximadamente, cinco dias

    (Evans, 2003).

    O folculo dominante tornar-se- ovulatrio se a regresso do corpo lteo ocorrer durante a

    fase de crescimento ou no incio da fase esttica, quando o folculo dominante est livre da

    restrio hormonal imposta pelo corpo lteo, sobre o eixo hipotalmico-hipofisrio. O folculo

    dominante continuar seu desenvolvimento at o tamanho ovulatrio (20mm) (Fair, 2003).

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    O folculo dominante selecionado continua seu crescimento independente de FSH, cuja

    concentrao mantida em nveis basais devido a produo, pelo folculo dominante, de

    estradiol (E2) e inibina, que fazem feedback negativo em nvel hipofisrio. Contudo, esta

    concentrao mnima essencial para a sobrevivncia do folculo dominante, e a sua

    supresso, a baixo do nvel basal, predispe o folculo dominante atresia (Mihm, 2003).

    Aps a seleo folicular, o crescimento e a atividade estrognica so controlados pelos pulsos

    de LH. O folculo dominante selecionado pode, ao superar a dependncia de FSH, tornar-se

    extremamente sensvel pulsatilidade do LH, ao adquirir receptores para este hormnio nas

    clulas da teca interna, bem como da sntese de enzimas esteroidognicas (Macmillan, 2003;

    Rawlings, 2003). A produo de andrgeno LH induzido crucial expresso gnica daenzima aromatase (conversora de androstenediona a estradiol) na clula da granulosa (Fair,

    2003; Mihm, 2003).

    As elevadas concentraes de estradiol produzidas no folculo dominante, esto associadas

    com menores concentraes de protenas ligadoras de fatores de crescimento semelhantes

    insulina (IGFBP-2, -4 e 5), permitindo maior nmero de IGFs livres no fluido folicular

    (Granger, 1989).

    Os folculos dominantes apresentam aumento na concentrao da protena plasmtica

    associada prenhez (PAPP-A), que promove rpida mudana nas concentraes de IGFBP

    intrafolicular, ao degradar dois subtipos (IGFBP-4 e 5) e, consequentemente, levam ao

    aumento dos valores intrafoliculares do fator de crescimento semelhante insulina do tipo 1

    (IGF-1) (Fortune, 2004). Em bovinos, os nveis intrafoliculares de IGF-1 e de IGFBP-3

    permanecem relativamente constantes durante o crescimento folicular. Todavia os nveis deIGFBP-2, -4 e 5 variam bastante, indicando que a biodisponibilidade de IGF-1 no folculo

    ditada por mudanas nos nveis de IGFBPs (Voge et al., 2004).

    Os fatores de crescimento semelhantes insulina do tipo-1 e -2 estimulam a mitose e a

    esteroidognese das clulas da teca e da granulosa, por meio de mecanismos endcrinos,

    autcrinos e parcrinos. As IGFBP-2, -4 e 5 esto normalmente ausentes, tanto nos folculos

    dominantes ovulatrios quanto nos no-ovulatrios (Voge et al., 2004).

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    O IGF-1 livre amplifica os efeitos endcrinos do FSH, permitindo ao futuro folculo

    dominante rpida regulao da produo de estradiol. Desta maneira, a supresso do FSH

    circulante por elevao da concentrao de estradiol, preveni os folculos subordinados de

    adquirirem a dominncia, sem que haja interferncia do desenvolvimento do folculo

    escolhido a ovular (Fortune, 2003).

    2.1 Ao da nutrio sobre a secreo de FSH e LH

    As gonadotropinas so importantes para o desenvolvimento final dos folculos dominantes.

    Assim, qualquer fator que interfira na sua secreo ser limitante performance reprodutiva.

    Alguns trabalhos relatam que ovelhas sob pobre nutrio possuem baixa taxa de ovulao,

    associada diminuio da freqncia dos pulsos de LH ligada a inadequada secreohipotalmica de GnRH. Mostra-se desta maneira que o retorno das ondas foliculares sem

    ovulao em vacas no ps-parto com condio corporal pobre, promove aumento do intervalo

    de pario e a primeira ovulao e aumento do intervalo pario-concepo (OCallaghan e

    Boland, 1999).

    A nutrio pode influenciar a funo ovariana por modular a secreo principalmente do LH

    e, em menor intensidade, do FSH, tanto em condies de alta quanto em baixa ingestoalimentar. Em animais de boa condio corporal, os nveis de LH so mais elevados do que

    aqueles que apresentam perda de escore corporal (Gil, 2003).

    A alta ingesto protica por um curto perodo de tempo promove o aumento da freqncia dos

    pulsos de LH, elevando a taxa de ovulao, principalmente em ovinos (OCallaghan &

    Boland, 1999). O aumento na ingesto de matria seca pode elevar a taxa de metabolismo do

    estradiol pelo fgado. Podendo, este decrscimo no estradiol, estar associado com o aumentoda concentrao de FSH (Adams et al., 1997 citado por Gil, 2003).

    Todavia, as concentraes de FSH aumentam durante a restrio alimentar por curto perodo

    de tempo, possivelmente devido a efeitos sobre a hipfise anterior, mediado diretamente pelo

    eixo ativina-inibina-folistatina, dentro das clulas gonadotrpicas (Diskin et al., 2003).

    O longo perodo de restrio alimentar tambm promove a reduo da produo de FSH, por

    reduzir a transcrio de RNAm para a formao das subunidades e do FSH (Stagg et al.,

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    1995), embora exista pouca evidncia do efeito da nutrio sobre a concentrao plasmtica

    de FSH.

    A liberao do LH pela hipfise reduzida com a restrio alimentar prolongada, devido a

    supresso da liberao do hormnio liberador de gonadotropinas (GnRH) (Denniston et al.,

    2003). A supresso do GnRH maior em bovinos submetidos longa restrio alimentar e,

    em vacas acclicas, devido a maior sensibilidade do eixo hipotalmico ao feedback negativo

    do estradiol (Diskin et al., 2003), que contrria ao apresentado por animais cclicos.

    Diskin et al. (2003) relatam que a restrio alimentar prolongada s ter efeito significativo

    quando houver perda de 22-24% da massa corporal. No entanto, a restrio aguda severa temefeito supressivo imediato sobre a dinmica folicular ovariana.

    Bruce et al. (1998) citam que, em particular, os neurnios produtores de GnRH esto

    intimamente associados a neurnios de dopamina no ncleo arcuado do hipotlamo.

    Entretanto, a sua secreo poder ser alterada por estmulos oriundos dos centros superiores

    do sistema nervoso central (SNC), por meio de uma srie de neurotransmissores destacando-

    se asendorfinas. A dopamina e os opiides, inibem a secreo de LH por reduzir a atividadedo GnRH no ncleo arcuado, sendo sua secreo estimulada pela norepinefrina.

    Os mecanismos com que os efeitos nutricionais agem no crescimento folicular ainda no

    foram desvendados pela pesquisa. Atualmente, o FSH tem sido identificado como o hormnio

    mais importante, sendo responsvel pela estimulao do desenvolvimento folicular.

    2.2 Secreo dos hormnios hipotalmicos e hipofisrios no incio do ps-partoDurante a prenhez a alta concentrao circulante de progesterona (P4) resulta no prolongado

    feedback negativo sobre o eixo hipotalmico-hipofisrio, inibindo a sntese de LH pela

    glndula hipofisria anterior. No final da gesto, devido inibio deste eixo, pela elevao

    do estradiol, ocorre a depleo dos valores plasmticos de FSH. A inibio da sntese de LH

    por longo perodo, reduz os estoques hipofisrios desta gonadotropina propiciando

    decrscimo da liberao basal. Os mecanismos para liberao de LH, aparentemente,

    permanecem intactos e funcionais por toda a prenhez (Nett, 1987).

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    As gonadotropinas so importantes para o desenvolvimento final dos folculos dominantes.

    Assim, qualquer fator que interfira na sua secreo ser limitante performance reprodutiva.

    Alguns trabalhos relatam que ovelhas sob pobre nutrio possuam baixa taxa de ovulao,

    associada diminuio da freqncia dos pulsos de LH ligada a inadequada secreo

    hipotalmica de GnRH. Mostra-se desta maneira que o retorno das ondas foliculares sem

    ovulao em vacas no ps-parto com condio corporal pobre, promove aumento do intervalo

    de pario e a primeira ovulao e aumento do intervalo pario-concepo (OCallaghan e

    Boland, 1999).

    A subnutrio crnica em vacas de corte no ps-parto amamentando pode induzir estado

    anlogo hipofisectomia, suprimindo totalmente a maturao dos folculos ovarianos os quaisso dependentes do suporte gonadotrpico; intervalos acclicos prolongados resultantes da

    subnutrio esto associados com a supresso tanto tnica quanto pulstil da secreo

    hipotalmica de GnRH, e desta forma, suprimindo tambm a secreo de LH e FSH

    hipofisrios. A pobre condio nutricional est associada com concentraes mnimas

    plasmticas de LH e estradiol, atrasando o desenvolvimento folicular e retardando a

    ocorrncia ou decrscimo da magnitude do surgimento ovulatrio de LH induzido pelo

    estradiol (Jolly et al., 1992).

    Contudo, Nett (1987) caracteriza que durante o perodo do ps-parto, h duas fases de

    recuperao do eixo hipotalmico-hipofisrio-gonadal (HHG). A primeira fase, ocupando

    duas a cinco semanas aps a pario, caracterizada pela descarga, relativamente, no

    freqente de GnRH dentro da circulao portal hipotalmica-hipofisria, normalmente com

    um pulso a cada 4-8 horas. Este modo de secreo de GnRH estimula efetivamente a

    maquinaria biossinttica nos gonadotropos elevando a taxa de sntese do LH. No entanto, ospulsos de GnRH so suficientemente espaados, ainda que somente poucas pores do novo

    LH sintetizado seja secretado.

    Os aumentos da taxa de sntese de LH conjuntamente s baixas taxas de liberao criam

    situaes nas quais os estoques de LH sejam restaurados. A magnitude dos pulsos de LH

    dependente da quantidade de LH estocado na glndula hipofisria anterior, assim enquanto

    durar a fase de recuperao, os pulsos de LH tero magnitudes insuficientes para induzir a

    maturao folicular. Somente aps o estoque de LH ter retornado ao seu nvel normal que os

    pulsos de LH liberados na corrente sangunea tero amplitude suficiente para estimular o

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    crescimento folicular ovariano, assim marcando a segunda fase de recuperao do eixo HHG

    (Nett, 1987).

    2.2.1 Dinmica folicular ovariana durante o anestro ps-parto

    O anestro ps-parto o perodo transiente no qual a funo do eixo hipotalmico-hipofisrio-

    ovariano-uterino, recupera-se da prenhez prvia. Duas a trs semanas so necessrias

    ocorrncia da involuo uterina, do restabelecimento dos estoques de LH e para a retomada das

    ondas ovarianas de crescimento folicular. Desta forma, com trs semanas ps-parto, a vaca est,

    aparentemente, apta ciclar (Yavas e Walton, 2000).

    A durao da aciclicidade do ps-parto influenciada pela amamentao, estado nutricional,estao de pario, idade e vrios outros fatores menores. Embora a involuo uterina inicie-se

    e as ondas foliculares retomem seu crescimento logo aps a pario, os folculos dominantes

    dessas ondas falham em ovular, devido ao fracasso na maturao terminal. Como resultado, os

    folculos dominantes anovulatrios so menores do que os folculos ovulatrios de vacas

    cclicas (Murphy et al., 1990).

    A primeira ovulao, ps-parto, precedida da elevao da secreo pulstil de LH. Contudo,flutuaes nas concentraes perifricas de estradiol que so relacionadas ao crescimento das

    ondas foliculares no so observadas at momentos antes primeira ovulao ps-parto

    (Stagg et al.,1995).

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    Modelo esquemtico descrevendo o desenvolvimento do ciclo e funo do folculo

    dominante em relao a mudanas metablicas, hormonais reprodutivos e ao balano

    energtico negativo durante a primeira onda folicular ps-parto em vacas leiteiras.

    A ovulao no incio do ps-parto dependente da elevao da concentrao de estradiol pelo

    folculo dominante para sinalizar o surgimento da gonadotropina pr-ovulatria. Para que a

    retomada do ciclo estral em vacas em anestro seja bem sucedida, algumas das mudanas

    endcrinas responsveis pela retomada espontnea necessitam ser iniciadas. Os padres de

    crescimento parecem ser bem estabelecidos antes da primeira ovulao aps a pario. A

    presena dos folculos com capacidade em ovular antes do retorno espontneo do ciclo estral dada pelos relatos de que folculos dominantes no incio do ps-parto ovulam (100%) aps a

    administrao de GnRH durante a fase de crescimento do folculo (Crowe et al., 1993).

    No entanto, a percepo inguinal do bezerro pela me durante a amamentao eleva a

    sensibilidade hipotalmica dos pulsos geradores de GnRH retro-alimentao negativa

    exercida pelo17-estradiol ovariano via liberao de peptdeos opiides endgenos do

    hipotlamo. Isto resulta na supresso da liberao pulstil de LH, falhando a ovulao, e

    prolongando o anestro ps-parto. Desta forma, seguindo o restabelecimento dos estoques de

    LH hipofisrios, o anestro ps-parto assemelha-se a fase luteal do ciclo estral com ondas de

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    folculos dominantes que tem o potencial para ovular, mas falham (Yavas e Walton, 2000;

    Henao et al.,2000).

    3. CONDIO CORPORAL E REPRODUO: A base da avaliao reprodutiva

    O escore da condio corporal o melhor indicador do desempenho reprodutivo no ps-parto.

    Quando vacas parem magras ou com escore de condio corporal (ECC) quatro ou menos

    (escala de um a nove) e tm elevado suporte nutricional energtico logo aps o parto

    demonstram, a maior parte, estro durante a estao de monta subseqente (Lamb, 1999).

    Semelhantemente, novilhas que parem com ECC quatro e so alimentadas para manter o pesoaps a pario tm reduo na atividade ovariana e baixa taxa de prenhez do que novilhas que

    parem na mesma condio corporal e ganham peso aps a pario. A condio do escore

    corporal pario e na estao de monta o fator determinante que influencia o sucesso da

    prenhez, embora a mudana do peso corporal durante o final da gestao, module este efeito

    (Lamb, 1999; Wettemann, 1994).

    Becker et al. (2001) demonstraram que os rendimentos produtivos e reprodutivos das vacasprimparas encontram-se associados ao peso e a condio corporal ao parto, sugerindo que as

    novilhas deveriam chegar ao parto com ECC igual a trs (escala de um a cinco).

    Segundo Zurek et al. (1995) e Wettemann (1994), o declnio do escore corporal o principal

    fator da inibio da atividade ovariana ps-parto. Para manter a sade, a funo reprodutiva e

    a capacidade produtiva, fmeas bovinas necessitam ter adequada quantidade de reserva

    corporal ao parto, particularmente vacas de leite (Montiel e Ahuja, 2005).

    Vrios estudos tm relatado a interao entre estado nutricional e desempenho reprodutivo em

    bovinos. Acredita-se que se mantendo vacas em elevado plano nutricional antes do parto,

    usualmente, se encurtar o intervalo ps-parto primeira ovulao, comparado com vacas

    mantidas sob baixos planos nutricionais. A restrio de energia durante o perodo do pr-parto

    resulta em vacas magras pario, prolongando o anestro ps-parto, e com decrscimo na

    percentagem de vacas exibindo estro durante a estao de monta. A taxa de prenhez e o

    intervalo pario-prenhez tambm so afetados pelo nvel de energia pr-parto (Lamb, 1999).

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    A nutrio pr-parto, refletida pelo escore de condio corporal (ECC) pario,

    determinante sobre o comprimento do anestro ps-parto. Vacas com ECC >6 ou

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    mximo (NADIR), ocorrendo a primeira ovulao logo aps, para a maioria das vacas (Yavas

    e Walton, 2000; Zurek et al.,1995).

    Correlatos metablicos do BE podem provir sinais ao eixo reprodutivo. Richards et al.(1991)

    citados por Zurek et al. (1995) relataram que as concentraes circulantes de LH e IGF-I

    decrescem durante a restrio alimentar em vacas no lactantes e no gestantes, sugerindo que

    essas respostas podem estar ligadas fisiologicamente. Vacas leiteiras com reduzida

    concentrao de glicose sangunea tm reduzida progesterona plasmtica. As reservas de

    gordura corporal regulam a secreo de hormnios hipotalmicos e hipofisrios que

    controlam a funo ovariana (Montiel e Ahuja, 2005).

    Em bovinos, como na maioria das espcies mamferas, est bem estabelecido que a funo

    ovariana primariamente controlada pelo eixo hipotalmico-hipofisrio-ovariano. No entanto,

    trabalhos mais recentes tm demonstrado a importncia de outros fatores, tais como o

    hormnio do crescimento, insulina e os fatores de crescimento semelhantes insulina (IGFs)

    que so classicamente associados a funo metablica. Essas associaes tendem a explicar a

    ligao entre o aumento da produo e o decrscimo da funo reprodutiva em vacas leiteiras

    modernas (Mann et al., 2003).

    4..RESPOSTAS DO HORMNIO DO CRESCIMENTO (GH), DAS

    SOMATOMEDINAS (IGF-I), DA INSULINA E DA GLICOSE FRENTE AOS

    ASPECTOS NUTRICIONAIS.

    O desenvolvimento dos folculos antrais, tambm est correlacionado com as mudanas na

    concentrao dos hormnios metablicos perifricos, como: insulina, IGF-1 e GH (Webb &Armstrong, 1998), cujas concentraes podem ser afetadas pelo status metablico do

    animal.

    muito difcil diferenciar os efeitos dos vrios hormnios metablicos, pois as mudanas

    reprodutivas hormonais que comprometem a funo ovariana ocorrem simultaneamente

    quando a nutrio comprometida (Mihm et al., 2003).

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    4.1 Glicose

    Exposio prolongada glicose exgena pode resultar em secreo alterada de GH. Este

    hormnio usualmente elevado quando o status de nutrientes est baixo no organismo. O

    aparente decrscimo na ingesto de alimentos pode explicar a tendncia secreo alterada de

    GH. Essas mudanas esto inversamente ligadas ao status nutricional, com aumento da

    secreo associada a restrio alimentar (RUBIO, et al. 1997).

    Altas concentraes de glicose no alteram o padro de secreo de LH em ruminantes.

    Contudo, eleva a concentrao de progesterona com o desenvolvimento do corpo lteo.

    Mostrando que o CL pode ter tido um perodo de vida maior. Este aumento da progesterona

    pode ser devido, parcialmente, a ao das clulas da granulosa (RUBIO, et al. 1997).

    Observa-se que os tecidos luteais de ovelhas que recebem 50g de glicose tm mais RNAm

    codificando as enzimas esteroidognicas citocromo P450, do que o tecido luteal de ovelhas

    controle (RUBIO, et al. 1997).

    Animais infundidos com glicose possuem reduzido desempenho reprodutivo, provavelmente,

    em resposta diminuio da alimentao induzida pela maior concentrao de glicose noorganismo (RUBIO, et al. 1997).

    4.2 Insulina

    A insulina um hormnio metablico que interfere na reproduo por regular a sntese de

    neurotransmissores de GnRH e, conseqentemente, controla a secreo das gonadotropinas,

    principalmente na liberao de LH pela hipfise (Webb & Armstrong, 1998).

    Embora as concentraes plasmticas de glicose em bovinos permaneam constantes

    comparadas com as de animais monogstricos, a insulina regula a utilizao de glicose pelas

    clulas bovinas, estimula a liberao de GnRH de fragmentos hipotalmicos, assim

    determinando correlao com os valores de LH. Sendo que a produo de esterides pelas

    clulas ovarianas tambm estimulada pela insulina (Wettmann et al., 2003).

    Os bovinos submetidos restrio alimentar prolongada, apresentam reduo no tempo mdio

    de vida do folculo dominante, por apresentarem decrscimo nas concentraes sangneas e

    intrafoliculares de insulina e IGF-1, respectivamente. Pois, a produo de andrgeno,

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    precursor do estradiol, responsvel pelo prolongamento do tempo mdio de vida do folculo

    dominante, ocorre nas clulas da teca interna, que so dependentes de insulina e IGF-1

    (Diskin et al., 2003). O efeito da insulina pode ser exercido indiretamente sobre o ovrio pela

    elevao das concentraes de GH e IGF-1 (Webb & Armstrong, 1998).

    Richards et al. (1989) citados por Wettmann et al. (2003) determinaram que, durante o

    anestro induzido nutricionalmente, as vacas tornam-se resistentes insulina, diminuindo a

    entrada de glicose nas clulas hipotalmicas. Sendo que recentes trabalhos demonstraram que

    a insulina, atravs do seu aumento por meio da alimentao durante o perodo ps-parto,

    diminuiu o perodo de anestro aps a pario (Mann et al., 2003).

    Desta forma esperasse que animais em anestro ps-parto sob boa condio nutricional,

    responda mais prontamente ao retorno do ciclo estral quando submetidos a injees contnuas

    de insulina exgena, por meio da modulao local das gonadotropinas por sinalizao

    metablica (insulina e glicose), por ao nutricional direta (glicose) ou pela interao de

    ambas (Downing e Scaramuzzi, 1997).

    4.3 Hormnio do crescimentoO hormnio metablico GH, atua sinergicamente a insulina, influenciando a ao mitognica

    e esteroidognica do IGF-1 sobre as clulas da teca interna e da granulosa. A alta ingesto

    protica eleva os nveis sangneos de GH e insulina, levando ao aumento, significativo, das

    concentraes plasmtica de IGF-1 por meio do GH e intrafolicular pela ao da insulina

    (Bruce et al., 1998).

    A privao prolongada de calorias de origem protica ou jejum total pode estimular asecreo de GH, por reduzir o feedback negativo proveniente de produtos perifricos de

    ao do GH, e reduzir os nveis de insulina, levando a uma queda dos valores das

    somatomedinas intrafoliculares (Bruce et al., 1998).

    O GH no um hormnio essencial para a reproduo, pois animais com mutaes genticas

    que carecem de receptores para o GH podem reproduzir-se. Contudo, sua eficincia

    reprodutiva inferior (Bach 2004).

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    4.4 Fator de crescimento semelhante insulina do tipo-1 (IGF-1)

    O fator de crescimento semelhante insulina do tipo-1 produzido pelo fgado e tem efeito

    sobre muitos tipos celulares regulando o metabolismo de carboidratos, protenas e lipdeos.

    Sendo tambm produzido por outros tecidos e podendo ter efeitos autcrinos e parcrinos

    (Wettmann et al., 2003)

    A restrio alimentar prolongada de bovinos causa decrscimo na concentrao circulante de

    insulina, IGF-1 e nas protenas ligadoras de IGFs (IGFBPs). Como as IGFBPs transportam e

    elevam a meia-vida plasmtica das IGFs, a baixa concentrao sangnea de IGFBPs,

    induzida por uma baixa ingesto alimentar, limitar a disponibilidade de IGFs nas clulas

    foliculares e, conseqentemente, sua habilidade sinrgica com as gonadotropinas hipofisriasna estimulao da proliferao celular e da esteroidognese intrafolicular (Diskin et al., 2003).

    De acordo com Brier et al. (1988) citados por Wettmann et al. (2003) a reduo de IGF-1

    srica durante a restrio nutricional associada com reduo da ligao de GH na membrana

    heptica.

    Concentraes de IGF-1 no fluido folicular e seus receptores nas clulas da granulosa defolculos subordinados e dominantes so similares; contudo, folculos dominantes tm menor

    atividade das protenas ligadoras dos fatores de crescimento semelhantes insulina

    (Wettmann et al., 2003)

    Desta forma, o eixo insulina-GH-IGF-1 responde por parte das mudanas da secreo de

    gonadotropinas, do crescimento folicular e da taxa de ovulao induzida pela dieta alimentar

    (OCallaghan & Boland, 1999).

    No que diz respeito interao entre a qualidade dos folculos, ovcitos e embries no est

    claro que altas concentraes de glicose tm efeitos deletrios. Contudo, possvel que as

    interaes entre insulina, glicose e protenas transportadoras de glicose, durante o

    desenvolvimento do embrio, promova as condies timas para o seu crescimento

    (OCallaghan & Boland, 1999).

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    Fig. (A) Quando existeabundncia de combustveismetablicos, os ciclosovulatrios so caracterizados

    pela secreo pulstil deGnRH liberado dos terminais

    celulares neurossecretorioshipotalmicos. Fonte:Schneider 2004 .

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    Fig. (B) O efeito primrio do dficit

    do dficit de combustveis

    metablicos a inibio do pulso

    gerador de GnRH hipotalmico.Fonte: Schneider (2004).

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    Fig. (C) Dficit dos combustveis

    metablicos disponveis tendo efeito

    direto sobre o sistema reprodutivo ou

    sobre os pulsos geradores de GnRH.

    Fonte: Schneider (2004).

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    5. AO DA LEPTINA E DO NEUROPEPTDEO-Y (NPY) COMO

    SINALIZADORES DOS EFEITOS NUTRICIONAIS

    A leptina uma protena sintetizada primariamente pelo tecido adiposo e secretada na

    corrente sangnea aps a clivagem em peptdeo de 21 aminocidos. Est implicada na

    regulao da ingesto de alimentos, no balano energtico e no eixo neuroendcrino de

    bovinos e outras espcies animais (Barb & Kraeling, 2004).

    Os receptores de leptina foram identificados em muitas reas do crebro e em muitos outros

    tecidos, incluindo os ovrios. No crebro, eles esto localizados, principalmente, no

    hipotlamo, e esto associados ao controle do apetite, reproduo e crescimento (OCallaghan

    & Boland, 1999).

    A localizao do RNAm para receptores de leptina junto expresso gnica de NPY, implica

    na evidncia que o NPY hipotalmico o alvo potencial para a leptina. O NPY tem sido

    implicado na regulao da secreo GnRH/hormnio luteinizante (Barb & Kraeling, 2004).

    Mudanas no peso corporal ou no status nutricional so caracterizadas por alteraes nas

    concentraes sricas de insulina, GH e IGF-1. Responsveis pela regulao da funo edesenvolvimento dos adipcitos (Barb & Kraeling, 2004).

    A restrio alimentar crnica em vacas resulta na reduo acentuada na secreo de leptina,

    que coincide com a reduo de LH. Desta forma, o status metablico, parece ser o fator

    primrio determinante da responsividade do eixo hipotalmico-hipofisrio a leptina em

    ruminantes (Barb & Kraeling, 2004). Sendo correlacionada positivamente com as

    concentraes de insulina e glicose e, negativamente, com as concentraes de GH e decidos graxos no-esterificados (Voge et al., 2004).

    Durante perodos de stress nutricionais, o RNAm do NPY hipotalmico elevado. Durante

    perodos de stress metablico em animais de interesse econmico, o NPY suprime a secreo

    de LH e estimula o comportamento alimentar. A ativao do NPY parece ser relacionada a

    mudanas fisiolgicas crnicas (Barb & Kraeling, 2004).

    O possvel mecanismo pelo qual a leptina controla os processos reprodutivos envolve sua

    ligao aos neurnios -endorfina que, por sua vez, influenciam os neurnios produtores de

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    Fig. (D) Ao dos hormnios e metablitos em resposta a nutrio. Fonte: DISKIN(2003).

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    6. AO DA GRELINA COMO MODULADOR REPRODUTIVO

    O balano energtico mantido por meio do sistema homeosttico envolvendo tanto o crebro

    quanto ao perifrica do organismo. A chave deste sistema o hipotlamo. H mais de

    duas dcadas os principais avanos tm sido realizados na identificao de peptdeos que so

    produzidos ou localizados no hipotlamo e que participam do processo homeosttico da

    energia. Assim, constatou-se a existncia do equilbrio entre os peptdeos anablicos, que

    estimulam o comportamento ingestivo e reduzem o gasto de energia, e os peptdeos

    catablicos, que restringem a ingesto alimentar e estimulam a mobilizao de energia (Orr e

    Davy, 2005).

    Destes, a grelina, peptdeo orexgeno de 28 aminocidos, est primariamente envolvido nocontrole da ingesto de alimentos e na secreo do hormnio do crescimento (Fernndez-

    Fernndez et al., 2004). No entanto, em contraste aos efeitos bem documentados, de certos

    peptdeos (leptina e neuropeptdeo Y-NPY), sobre o sistema reprodutivo, poucos so os

    estudos que tm dado ateno a potencial ao reprodutiva da grelina, apesar de vrias linhas

    de pesquisas possurem evidncias de que a grelina possa participar no controle do eixo

    hipotalmico-hipofisrio-gonadal (Barreiro e Tena-Sempere, 2004).

    6.1 Grelina e a Ingesto de Energia

    A descoberta da grelina, peptdeo de ligao endgena dos receptores estimuladores do

    hormnio do crescimento (GHS), produzida no estmago, hipotlamo e adenohipfise

    (Estienne e Barb, 2005), tm levado a novos entendimentos quanto a existncia do eixo

    hipotalmico-hipofisrio-gstrico, que prov controle endcrino da homeostase por meio da

    secreo do hormnio do crescimento (GH) e da motilidade intestinal. A grelina estimula a

    secreo de GH, assim como controla o comportamento e a ingesto de alimentos, por atuarsobre os receptores de liberao do GH na hipfise e no hipotlamo. De forma contrria, as

    concentraes sistmicas do GH exercem feedback tanto negativo quanto positivo sobre a

    homeostase estomacal da liberao da grelina (Anderson et al., 2005).

    A grelina possui forte ao orexignica e lipognica em mamferos, favorecendo o ganho de

    peso e a adiposidade. Tambm exerce controle homeosttico do balano energtico por estar

    intimamente ligada regulao da ingesto de alimentos, conectando o trato gastrintestinal ao

    crebro. A inibio da expresso dos receptores de grelina no hipotlamo diminui a secreo

    do hormnio do crescimento, a ingesto de alimentos e a gordura corporal, sugerindo que

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    nesta rea, os receptores de grelina so importantes reguladores da secreo do GH e da

    homeostase energtica (Uenoa et al., 2005).

    Micro-injees de grelina dentro do ncleo arcuado de ratos induzem a ingesto de alimentos.

    O Neuropeptdeo Y (NPY) e a Protena Relacionada ao Aguti (AgRP), dois peptdeos

    orexignicos leptina-responsivos, so produzidos conjuntamente aos receptores de leptina e

    grelina nos neurnios do ncleo arcuado (Sugino et al., 2004). Os neurnios produtores de

    grelina so alvo de atuao da leptina, hormnio que se caracteriza por forte ao anortica,

    reduzindo a ingesto de alimentos e a quantidade de gordura, sem alterar a massa corporal,

    sugerindo que a ao da grelina, dada em contra-corrente, regulando os peptdeos

    orexignicos NPY e AgRP, contrapondo os efeitos da leptina sobre a expresso dos neurniosdesses peptdeos, o que resulta em aumento da ingesto de alimentos e peso corporal (Sugino

    et al., 2002; Chen et al., 2005; Korhonen e Saarela, 2005).

    H relatos de que a ingesto de lipdeos, glicose ou ambos resultam no decrscimo das

    concentraes plasmticas de grelina. A ingesto de alimentos promove o aumento de insulina

    e esta, conseqentemente, leva a reduo da concentrao de grelina. O mecanismo pelo qual

    o aumento de insulina leva ao decrscimo dos valores plasmticos de grelina permanecedesconhecido. No entanto, especula-se que a liberao de grelina regula a ativao do sistema

    parassimptico e, devido hiperinsulinemia ter ao oposta, acredita-se que, em ltima ao,

    o decrscimo observado da grelina plasmtica pode ser devido ao menor estmulo do sistema

    parassimptico induzido pela insulina (Yanga, et al., 2005).

    A grelina exerce seus efeitos sobre o hipotlamo por meio de trs diferentes caminhos: (1)

    quando sintetizada no estmago, pelas clulas endcrinas das glndulas oxnticas da regiofndica, alcanando o ncleo arcuado via corrente sangnea e, possivelmente, em outras

    reas do crebro via transporte ativo atravs da barreira hemato-ceflica; (2) quando

    sintetizada na periferia, estimulando os nervos vagais aferentes, que mostram expresso de

    receptores para o hormnio estimulador do GH (GHS-R); e (3) quando produzida localmente

    no hipotlamo tendo conexes diretas com NPY/AgRP e outras clulas hipotalmicas

    (Korbonits et al., 2004).

    Os receptores de grelina so sintetizados nos neurnios vagais aferentes e transportado ao seu

    eferente terminal no estmago. A administrao intravenosa de grelina suprime o impulso

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    nervoso dos aferentes vagais. Esses achados sugerem que os nervos aferentes vagais gstricos

    determinam o principal caminho de transporte dos sinais da fome ao crebro por meio da

    grelina. Ao contrrio, a atividade eltrica das fibras eferentes do nervo vago estimulada pela

    administrao da grelina. Esses dados indicam que o nervo vago importante para o

    transporte dos sinais da grelina, no somente do estmago para o sistema nervoso central, mas

    tambm no sentido inverso (Uenona et al., 2005).

    A grelina negativamente correlacionada com o peso. Altos nveis de grelina so encontrados

    em pacientes mantidos consumindo dietas de baixa caloria, em pacientes que sofrem de

    anorexia devido ao cncer, a doenas cardacas ou devido anorexia nervosa. O jejum

    aumenta as concentraes de grelina, bem como a expresso da protena e do RNAm dagrelina estomacal. Acredita-se que a elevao do GH relacionado ao jejum poder ser

    conseqncia da elevao das concentraes de grelina (Korbonits et al., 2004).

    6.2 Efeito da grelina sobre a secreo in vivodo hormnio do crescimento em ruminantes

    O hormnio do crescimento, produzido pelas clulas da adenohipfise (somatotropos)

    crucial para o crescimento, aumento da musculatura, homeostase energtica, alm de atuar

    sobre o metabolismo de protenas, acares, gordura e minerais nos mamferos. Uma srie dehormnios estimulatrios e inibitrios, secretados do hipotlamo e de origem perifrica

    controlam a liberao pulstil do GH pelos somatotropos (Anderson et al., 2005).

    O GH produzido e secretado devido interao de dois hormnios hipotalmicos: o

    hormnio liberador do hormnio do crescimento (GHRH) e a somatostatina. Enquanto o

    GHRH estimula, a somatostatina inibe a secreo do GH. Alguns estudos demonstraram que a

    somatostatina diminui os valores sistmicos da grelina, enquanto os valores de GHdemonstraram elevao em resposta ao aumento da grelina srica (Ukkola, 2003).

    A grelina circula em considerveis concentraes no plasma de ovelhas e bovinos, assim

    como em humanos. Clulas imunorreativas grelina foram amplamente encontradas

    distribudas do pescoo base das glndulas estomacais oxnticas de vacas, ovelhas, sunos e

    eqinos (Hashizmue et al., 2005). No entanto, pouco se conhece acerca de sua atividade sobre

    a liberao do GH e seus efeitos nos animais domsticos. Em humanos e em ratos a grelina

    recombinante (rGrelina) estimula a liberao do GH em cultura in vitrode clulas hipofisrias

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    de bovinos e sunos. Desta forma, h interesse em determinar se, in vivo, ocorre este estmulo

    para liberao do hormnio do crescimento (Sugino et al., 2003).

    Clulas imuno-marcadas para grelina foram encontradas distribudas no abomaso. Desta

    forma, sugere-se que esta molcula seja secretada pelo estmago e circule pela corrente

    sangunea at o local da estimulao da secreo do GH em ruminantes. Em bovinos, h

    relatos de que as concentraes plasmticas de grelina diminuam uma hora aps a

    alimentao e retornem aos seus valores elevados momentos antes da alimentao. Assim,

    corroborando a idia da ao da grelina na estimulao do GH, necessria a homeostase

    energtica (Hashizmue et al., 2005).

    6.3 Grelina e Reproduo: Ligao entre balano energtico e fertilidade

    Em ratos, um limitado nmero de estudos tem sido realizado para avaliar os efeitos da grelina

    sobre a secreo dos hormnios hipofisrios. Os dados obtidos at agora indicam que em ratos

    machos a grelina inibe a secreo do hormnio luteinizante (LH) e da prolactina. A regulao

    da secreo de gonadotropina feita por meio de uma complexa interao entre hormnio

    liberador do hormnio luteinizante (LHRH), ativina, inibina, folistatina, esterides gonadais e

    peptdeos (Fernndez-Fernndez et al., 2004).

    O eixo hipotalmico-hipofisrio-adrenocortical estimulado pela administrao aguda de

    grelina in vitro, liberando quantidades significativas de GHRH, do hormnio liberador de

    corticotropina e da arginina-vasopressina (AVP) por implantes hipotalmicos. Em ratos,

    alguns estudos demonstraram que a administrao intracerebroventricular (i.c.v) de grelina

    suprimiu a secreo pulstil do hormnio luteinizante (LH), enquanto outros demonstraram

    inibio da liberao do hormnio estimulante da tireide (TSH) (Ukkola, 2003; Fernndez-Fernndez et al., 2004).

    Tambm, a grelina, de maneira ainda desconhecida, diminui significativamente a

    responsividade do LH ao GnRH in vitro, embora os efeitos estimulatrios diretos da grelina

    na secreo basal das gonadotropinas hipofisrias tambm tenham sido detectados. Diferente

    de sua ao sobre o LH, a grelina no interfere nas concentraes plasmticas do FSH (Tena-

    Sempere,2005).

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    Levando-se em conta o fato que o eixo reprodutivo altamente dependente do estado

    nutricional, a grelina, atuando central e perifericamente, poder ser um dos mediadores do

    estado nutricional ao eixo hipatmico-hipofisrio-gonadal (Korbonits et al., 2004).

    Existe grande probabilidade que integradores neuroendcrinos adicionais possam interferir no

    controle do balano energtico e reproduo. Os dados at agora coletados permitem a

    especulao de que a grelina possa atuar nesta funo fisiolgica, j que possui funo

    envolvida no controle da ingesto de alimentos e no eixo somatotrpico (Sugino et al., 2002;

    Barreiro e Tena-Sempere, 2004).

    Alguns estudos tm demonstrado que a expresso da grelina difere quanto ao sexo e o estdiode desenvolvimento, sugerindo que sua expresso seja modulada por esterides sexuais.

    Assim, o nmero de clulas secretoras de grelina, os valores de RNAm para grelina no

    estmago e a concentrao de grelina plasmtica so significativamente elevados em fmeas

    ovariectomizadas, e seus valores podem ser revertidos quando tratadas com estradiol-17.

    Tambm, a co-localizao dos receptores de estrgeno e grelina no estmago, sugerem que o

    estrgeno tem efeito direto sobre a expresso da grelina (Matsubara, et al. 2004).

    A ao reprodutiva da grelina no est, aparentemente, restrita sua expresso e ao direta

    nas gnadas. Aes extragonadais dentro do eixo reprodutivo tambm tm sido

    documentadas, embora os dados sejam escassos. Os efeitos estimulatrios da grelina sobre

    concentraes sricas da prolactina, tm sido observados em seres humanos adultos. Alm

    disto, seus efeitos neuroendcrinos no eixo lactotrpico e gonadotrpico, sua expresso nos

    endomtrios decidualizados e no-gravdicos tm sido encontrados (Barreiro e Tena-Sempere,

    2004; Tena-Sempere, 2005).

    Existem vrios locais de controle da secreo dos hormnios hipofisrios (Scanes, et al.,

    2005). No entanto, os mecanismos envolvidos permanecem desconhecidos. O xido ntrico

    (NO) um possvel mediador da ao da grelina sobre a secreo das gonadotropinas. O NO

    estimula diretamente a secreo de LH e FSH por meios de mecanismos clcio-dependentes e

    de monofosfato de guanosina ciclico (GMPc) independente, e media os efeitos da secreo do

    GH, relaxamento vascular e ingesto alimentar. Tambm, o NO hipotalmico elevado pela

    grelina, existindo a possibilidade da grelina estimular a secreo gonadotrpica por meio de

    sua atuao nos receptores GHS (Fernndez-Fernndez, et al., 2004).

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    6.4 Expresso da Grelina no Ovrio

    Em ratos, a expresso do gene da grelina foi encontrada durante todo o ciclo estral,

    verificando-se menores valores no pr-estro e picos no diestro. Alm disso, marcadores

    imuno-reativos de grelina foram localizados, predominantemente, no corpo lteo maduro e

    jovem de humanos, estando ausentes nos folculos ovarianos de qualquer estdio do

    desenvolvimento (Tena-Sempere, 2005).

    Recentes relatos demonstraram a presena dos receptores para GHS em ovcitos, em clulas

    lutenicas de corpos lteos jovens, maduros e em regresso, alm da superfcie do epitlio

    ovariano de humanos, onde a expresso da grelina tambm foi detectada. Desta maneira,

    hipotetiza-se uma possvel relao entre o desenvolvimento folicular ovariano e a grelina, quenecessita ser melhor estudada (Tena-Sempere, 2005).

    6.5 Sndrome do Ovrio Policistico

    Os valores sistmicos de grelina tm sido bem estudados em pacientes com sndrome do

    ovrio policstico (SOPC). Esta condio est associada resistncia a insulina, e ligada s

    baixas concentraes de grelina. Os valores de grelina correlacionam-se negativamente com a

    sensibilidade da insulina e com a concentrao de androstenediona na SOPC. No entanto,alguns trabalhos no encontraram esta correlao (Orr e Davy, 2005).

    O isolamento e a caracterizao da grelina tm possibilitado o entendimento da fisiologia do

    anabolismo, do comportamento ingestivo e da homeostase nutricional ligada reproduo,

    por meio da secreo do GH e da motilidade gastrintestinal que interage com o crebro.

    Outros hormnios peptdicos (motilina, hormnio liberador de tireotropina, leptina, galanina,

    neuropeptdeo-Y, dentre outros), tambm exercem papel na modulao da secreo do GH eda reproduo, tanto de humanos quanto de animais domsticos.

    No entanto, mais estudos so necessrios para a determinao concreta da ao direta da

    grelina e suas inter-relaes sobre a reproduo. Tem-se a necessidade do entendimento dos

    caminhos de ao da grelina que envolvam outros peptdeos, j que a complexa integralizao

    dos locais de ao e de produo dos demais peptdeos, conjuntamente a grelina, traz

    confundimento quanto a real ao desta no eixo nutrio-reproduo. Os poucos estudos em

    animais domsticos de produo, corroboram com esta falta de dados para a correlao entre

    as espcies.

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    7. EFEITO DO NITROGNIO DE RPIDA DEGRADAO RUMENAL SOBRE A

    REPRODUO

    O requerimento da protena diettica do animal dependente de seustatus fisiolgico e do seu

    grau de produo. A qualidade da protena no alimento dependente do perfil de seus

    aminocidos e sua digestibilidade. O volume de protena que degradado no rmen dieta-

    dependente. Desta forma, a digesto das protenas tambm influenciada pela composio da

    dieta. Aonde, em animais monogstricos a dieta consumida digerida no estmago e

    duodeno, tornando os animais muito sensveis a uma mudana aguda na ingesto da dieta.

    Contudo, nos ruminantes, h uma diviso quanto degradao da protena aonde as que so

    classificadas como no degradveis no rmen, sejam metabolizadas no intestino, e as que so

    degradveis no rmen promovam a formao de amnia para proveito da formao daprotena microbiana. Onde o excedente transformado em uria pelo fgado (OCallaghan e

    Boland, 1999).

    Uma alta concentrao de uria geralmente indicativa de excesso de ingesto de protena

    que provavelmente associada com altas concentraes de amnia no rmen e outros

    sistemas do corpo. H um requerimento de energia quanto incorporao de materiais

    nitrogenados para a sntese da protena microbiana, necessitando de uma sincronia quanto disponibilidade de energia para que haja uma eficincia no anabolismo da protena. Desta

    forma, observa-se que tanto os ruminantes quanto a microbiota rumenal possuem um

    requerimento de energia individualizado (OCallaghan e Boland, 1999).

    O efeito da ingesto de protena bruta, sobre a reproduo, reflete-se quando h uma

    exacerbao do nvel de uria circulante, oriunda de uma alta ingesto de protena ou uma

    baixa disponibilidade de energia, sendo que esse alto nvel de uria pode propiciar umamudana no pH uterino inviabilizando a implantao embrionria ou a passagem dos gametas

    masculinos, podendo ainda modificar o muco cervical, impossibilitando a viabilidade dos

    gametas (OCallaghan e Boland, 1999).

    Estratgias dietticas para o conjunto de requerimentos nutricionais para vacas de alta

    produo de leite tm sido ajustadas de acordo com ganho gentico na produo de leite.

    Dietas com alto teor de protena bruta so dadas no incio da lactao para estimular e

    suportar a produo de leite. Contudo, excesso de nitrognio na dieta como protena ou como

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    nitrognio inorgnico em vacas leiteiras lactantes pode reduzir o desempenho reprodutivo em

    alguns animais (Dawuda et al., 2004).

    Os efeitos lesivos no sistema reprodutivo pela alta concentrao srica de uria mais

    evidente no tero antes do quarto dia de prenhez, sendo mais acentuada em animais com um

    baixo plano nutricional. A disponibilidade inadequada de energia da dieta resulta na

    mobilizao de reservas corporais, como fonte de nutrientes, resultando no aumento de cidos

    graxos no-esterificados (NEFAs), necessitando ser eliminados atravs do fgado. Assim,

    aumentando sua funo (OCallaghan e Boland, 1999).

    Como supracitado, a concentrao plasmtica de IGF-1 e Insulina so relacionadas com ostatus energtico; estando tambm associada com a funo reprodutiva podendo afetar a

    esteroidognese, proliferao celular, atividade aromatase, foliculognese, ovulao,

    fertilizao, implantao e subseqente desenvolvimento. Alguns trabalhos demonstram a no

    existncia da correlao da baixa fertilidade s mudanas dos valores de IGF-1 e insulina

    frente a desafios nutricionais com nitrognio no protico (Dawuda et al., 2004).

    O hormnio do crescimento (GH) atua como regulador de IGF-1 e insulina. A secreo deIGF-1 e insulina pelo fgado so elevadas em resposta ligao do GH nos receptores

    hepticos. Desta forma, podendo o GH interagir com IGF-1 e insulina no controle da funo

    reprodutiva. Alguns trabalhos citam que a concentrao de GH afetada pelo estdio

    reprodutivo e no pelo aumento de nitrognio rapidamente degradvel (NRD) (Dawuda et al.,

    2004).

    As concentraes plasmtica de estradiol, LH e progesterona tambm no so afetadas pelaadministrao de nitrognio rapidamente degradvel no rmen. Os resultados de vrios

    estudos sugerem que a ingesto de altos valores de NRD comeando 10 dias antes da

    inseminao em vacas leiteiras lactantes no afeta a performance reprodutiva das vacas de alta

    produo leiteira (Dawuda et al., 2004).

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    8. LIPDEOS

    No que diz respeito funo ovariana e a nutrio, demonstra-se que com rpido

    melhoramento da condio corporal conquista-se um aumento na taxa de ovulao e pario.

    Desta maneira provvel que o suprimento energtico por um curto perodo esteja

    diretamente envolvido com o crescimento folicular (OCallaghan e Boland, 1999).

    O ambiente metablico intra-folicular considerado potente modulador da capacidade

    esteroidognica e da maturao oocitria. Alguns trabalhos sugerem que mudanas na

    ingesto de lipdeos dietticos podem promover mudanas da ligao entre lipoprotenas-

    colesterol e funo ovariana. A concentrao de cidos graxos, elevando os valores de

    colesterol carreado pelas lipoprotenas, pode aumentar o substrato para a sntese de hormniosesterides pelas clulas ovarianas, aumentando com isso o nmero e tamanho dos folculos

    (Wehrman et al.,1991).

    O ambiente intra-folicular no qual o ovcito est submetido, exposto como sendo um dos

    principais fatores da qualidade embrionria juntamente ao ambiente uterino. Sendo que a

    cascata de mudanas metablicas, hormonal e morfolgica que controlam esse ambiente intra-

    folicular e uterino podem ser influenciadas pela ingesto de lipdios, independentemente ingesto de energia (Ryan et al., 1992).

    A gordura na dieta pode influenciar positivamente a reproduo por alterar os folculos

    ovarianos e a funo do corpo lteo, alm de aumentar os precursores para a sntese de

    hormnios reprodutivos tais como esterides e prostaglandinas por meio da melhora do

    status energtico do animal. A manipulao do perfil dos cidos graxos da dieta pode ser

    usada, potencialmente, para amplificar a supresso da sntese de prostaglandina F2durante oincio da prenhez em fmeas bovinas, contribuindo para a reduo de mortalidade embrionria

    (Mattos et al., 2000).

    Mann et al. (1996) citados por Ramos (2004) reportaram que o tempo de elevao da

    concentrao de progesterona aps a ovulao importante para o desenvolvimento

    embrionrio. Eles afirmaram que a demora na elevao da progesterona est associada com a

    menor, ou potencial, perda da viabilidade embrionria.

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    As concentraes perifricas de progesterona nos dia zero (dia do estro) e um aps o pico de

    LH so importantes para a sobrevivncia embrionria, devido modificao da maturao

    folicular e qualidade do ovcito. O efeito da progesterona sobre o desenvolvimento

    embrionrio est diretamente relacionado com seu efeito sobre o ambiente uterino (Lozano et

    al., 1998 citado por Ramos, 2004).

    De acordo com Talavera et al. (1985) citados por Borges (1999) a concentrao srica de

    colesterol total durante o ciclo ovariano de novilhas apresenta padro cclico, com um

    declnio durante a fase lutenica, provavelmente resultante da sua utilizao para a sntese de

    progesterona.

    A alimentao de bovinos com dietas ricas em lipdios aumenta as concentraes sricas de

    colesterol e de progesterona, alm de promover o crescimento folicular (Williams, 1996). Isto

    pode ocorrer devido a maior disponibilidade de substrato para a sntese de esterides

    (Hawkins et al., 1995), ou por aumento nos valores sricos de insulina e IGF-1 (Bao et al.,

    1997) que estimulam a proliferao das clulas da granulosa (Savion et al., 1981).

    Segundo Staples et al. (1998), os mecanismos pelos quais, a gordura diettica, podermelhorar o desempenho reprodutivo, so:

    o Aumento da esteroidognese com melhoria da fertilidade e

    o Manipulao da insulina, com isto estimulando o desenvolvimento folicular.

    Desta maneira, estima-se que atravs da manipulao estratgica dos lipdeos dietticos

    consiga-se maior nmero e melhores embries recuperados aps o stimo dia da inseminao

    artificial (Ryan et al., 1992).

    9. MINERAIS E VITAMINAS NA REPRODUO

    Os minerais so essenciais ao crescimento e reproduo, sendo envolvidos em processos

    digestivos, fisiolgicos e biossintticos do organismo animal. Participam dos componentes

    dos rgos, tecidos corporais e suporte estrutural. Em adio, atuam como eletrlitos,

    constituintes de fluidos corporais e como catalisadores em sistemas enzimticos e hormonais

    (Boland, 2003).

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    Todos os minerais e vitaminas que so necessrios para o crescimento e a produo, tambm

    os so reproduo. Contudo, as vitaminas A, D, E; os minerais clcio, fsforo, selnio,

    cobre e zinco tm relevncia especial na funo reprodutiva (Bach, 2004).

    9.1 Vitamina A

    A suplementao com vitamina A tem pouco risco de toxidade, sua deficincia pode retardar

    a apario do primeiro cio, induzir cios silenciosos, aumentar o nmero de ovrios csticos,

    reduzir os ndices de concepo, ocasionar abortos, morte embrionria e bezerros dbeis ao

    nascimento (Bach, 2004).

    Os mecanismos de ao da vitamina A no esto bem esclarecidos. Gawienowski et al.,(1974) citados por Bach (2004) descreveram maiores secrees de hormnios esteroidais

    ovarianos, quando as concentraes de carotenos no fluido folicular, estavam elevadas.

    Contrapondo estes dados, Scheweigert e Zucker (1988) citados por Bach (2004) descreveram

    concentraes mais elevadas de estradiol e vitamina A nos folculos que terminavam em

    ovulao que nos que terminavam em atresia.

    9.2 Vitamina DA deficincia de vitamina D pode resultar numa involuo uterina lenta, aborto e nascimento

    de bezerros mortos ou dbeis. No entanto, a vitamina D participa no metabolismo e utilizao

    de clcio e fsforo, por tanto, muitos dos efeitos da vitamina D sobre a reproduo so

    mediados por estes minerais.

    9.3 Vitamina E

    A deficincia de vitamina E pode causar o nascimento de bezerros dbeis ou mortos eaumento de reteno de placenta. Contudo, somente um estudo (Segerson et al., 1977)

    descreveu melhoras significativas em bovinos leiteiros ao comparar os ndices de concepo

    de vacas deficientes com os de animais bem suplementados com vitamina E (Bach, 2004).

    A funo da vitamina E est muito ligada ao selnio. Vrios estudos descreveram melhora no

    transporte do espermatozide atravs do trato reprodutivo quando os valores de vitamina E e

    selnio so adequados. Quando a incidncia de reteno placentria elevada, recomenda-se

    a reviso dos valores de selnio e vitamina E na rao. Nos casos extremos a injeo

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    intramuscular de ambos antes do parto (entre 20 e 40 dias pr-parto) recomendada (Bach,

    2004).

    Existe clara relao entre os valores adequados de vitamina E e selnio na reduo de

    patologias reprodutivas no ps-parto, como metrites e reteno placentria. Esta reduo na

    patologia devida melhora do sistema imune estimulada pelo aumento na atividade da

    glutationa peroxidase (Arthur e Boyne, 1985 citados por Bach, 2004).

    9.4 Clcio

    O excesso de clcio pode interferir com a utilizao de fsforo, magnsio, zinco, cobre e

    outros minerais que so importantes para a funo reprodutiva. As concentraes de clcio narao, no devem superar 1% (alcana-se toxicidade com 2%). Dficit de clcio pode alterar a

    ovulao, posto que o clcio agente necessrio para a liberao de LH atravs da

    estimulao de GnRH. Podendo ainda levar a paresia muscular terminando em prolapso

    vaginal ou reteno de placenta (Bach, 2004).

    O excesso de clcio afeta negativamente a assimilao do fsforo, nos casos em que nveis de

    clcio da rao estejam elevados ser necessrio aumentar tambm o aporte de fsforo. Atagora, se julga que o fsforo exerce papel fundamental na fertilidade, na manifestao de cios

    e na atividade ovariana (Bach, 2004).

    Segundo Wu e Satter (2000) citados por Bach (2004) atravs da compilao de dados de

    outros estudos, perfazendo um total de 785 vacas analisadas, concluram que no havia

    nenhum efeito sobre a reproduo ao usar-se raes com 0,4-0,6% de P frente s raes com

    concentraes de 0,32-0,4%. Por tanto, as recomendaes atuais (0,35%) do NRC (2001) sosuficientes para assegurar boa reproduo sem necessidade de maior suplementao de

    fsforo.

    9.5 Ferro

    O ferro pode ser fator causal da falha reprodutiva. O ferro muito oxidante e pode alterar a

    funo reprodutiva lesando o ovcito por estresse oxidativo. Em caso de usar corretores com

    valores elevados de ferro torna-se importante assegurar que a gua para consumo dos animais

    conte somente traos de ferros (Bach, 2004).

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    9.6 Cobre

    A deficincia de cobre tambm tem sido associada com infertilidade. A falha reprodutiva

    devido falta de cobre pode atribuir-se a importncia do cobre no mantimento da secreo de

    gonadotropinas pela hipfise e a reduo do estresse oxidativo ovariano. O zinco, igualmente

    ao cobre e selnio, participa na reduo do estresse oxidativo ovariano (Bach, 2004).

    9.7 Zinco

    Concentraes elevadas de zinco diminuem a unio de progesterona a seus receptores uterinos

    em humanos (Habib et al., 1980 citados por Bach, 2004) comprometendo a mantena de uma

    possvel gestao.

    Como para todos os nutrientes, o excesso de microminerais pode ser nocivo para animais.

    Olson et al., (1999) citados por Bach (2004) descreveram efeitos negativos sobre a

    reproduo de bovinos em engorda quando ofereceram nveis acima das necessidades para

    cobre, magnsio, cobalto e zinco.

    10. EFEITOS NUTRICIONAIS SOBRE A OVULAO, DESENVOLVIMENTOEMBRIONRIO E O ESTABELECIMENTO DA PRENHEZ EM RUMINANTES.

    Em vacas leiteiras lactantes, a inadequada nutrio por curto perodo de tempo ou prolongada

    depleo das reservas do corpo durante o incio da lactao pode promover efeitos deletrios

    sobre a retomada da atividade ovariana (ps-parto), nas taxas de concepo e fertilidade. A

    condio corporal, a ingesto de alimentos e o estdio de lactao ou prenhez podem

    influenciar nutricionalmente a eficincia do sistema reprodutivo (OCallaghan e Boland,

    1999).

    Segundo Scaramuzzi et al. (1993) citado por Robinson (1996) as alteraes na taxa de

    ovulao em geral ocorrem quando a durao da janela de tempo na qual os folculos

    viveis so gonadotropina-dependentes aumenta ou quando existe elevao na taxa de posio

    folicular sem nenhuma mudana na durao da janela.

    Atravs do controle do feedback negativo ovariano, a nutrio pode alterar os nveis e a

    durao da exposio dos folculos gonadotropina-dependentes ao FSH. Podendo atravs dos

    nutrientes (glicose, aminocidos) e metablitos (insulina, hormnio do crescimento, IGF-1 e

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    suas protenas ligadoras) diminurem a concentrao de FSH necessria para suporte dos

    folculos gonadotropina-dependentes no ovrio (Robinson, 1996).

    Os esterides e os agentes humorais metablicos sofrem efeitos da ingesto diettica levando

    a baixa concentrao de progesterona por meio do aumento do clearenceheptico. Contudo,

    os esterides so seletivamente estocados na gordura; desta maneira alguns regimes dietticos

    mobilizam gordura, assim resultando na liberao da progesterona estocada. Isto pode

    aumentar os valores de progesterona, evidentes em animais sob uma baixa ingesto diettica

    (OCallaghan e Boland, 1999).

    A qualidade do ovcito est fortemente ligada nutrio. Consegue-se, numericamente, altataxa de blastocisto em animais com dieta pobre, frente aos bem alimentados. Os estudos

    apontam que os efeitos da nutrio sobre a reproduo podem ocorrer sobre o ovcito antes da

    ovulao (OCallaghan e Boland, 1999).

    A modulao da secreo de gonadotropina e a taxa de ovulao est sob a interao da

    insulina, aminocidos e possivelmente da glicose que modulam a secreo de GnRH. Aonde

    os efeitos da desnutrio podem ser medidos pelos mecanismos esterides-dependentes ouesterides-independentes (OCallaghan e Boland, 1999).

    A correlao da glicose com a superovulao baixa, proporcionando reduzida taxa de bons

    embries. Desta forma, discrimina-se que o requerimento nutricional timo para o

    crescimento folicular e ovulao podem ser diferentes do que requerido para o

    desenvolvimento timo do embrio (OCallaghan e Boland, 1999).

    A dieta maternal controla o crescimento fetal diretamente por provir glicose, aminocidos e

    elementos qumicos essenciais para o concepto. Esta, tambm controla o crescimento fetal

    indiretamente por modificar a expresso dos mecanismos endcrinos que influenciam o

    entendimento e a utilizao de nutrientes pelo concepto (Robinson et al.,1999).

    A expresso desses mecanismos amplamente modificada pelas caractersticas maternas, tais

    como o tamanho, condio corporal e a idade da me. Essas caractersticas influenciam a

    partio de nutrientes entre o tero e corpo materno, afetando o crescimento e a funo da

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    placenta e consequentemente alterando o crescimento responsivo do feto s flutuaes na

    nutrio (Robinson et al.,1999).

    Os efeitos sobre o crescimento fetal podem ser programados antes do surgimento da forma

    trofoblstica placentria. McEvoy et al. (1997) citados por Robinson et al. (1999) obtiveram

    dados que sugerem que elevadas concentraes plasmticas de amnia, oriundos da adio

    imediata, e excesso de protena degradvel no rmen, regula o metabolismo embrionrio,

    direcionando a uma longa gestao e a um alto peso do recm-nascido (Robinson et al.,

    1999).

    Quanto ao efeito desse ambiente sobre o desenvolvimento dos estdios de zigoto a blastocisto,observa-se que em muitos casos os procedimentos combinam maturao do ovcito,

    fertilizao e a cultura ps-fertilizao. Sendo estes dados no viveis identificao do

    perodo crtico de desenvolvimento embrionrio quanto aos efeitos da cultura in vitro sobre

    o crescimento fetal programado. Contudo, h certo nmero de experimentos aonde notou-se

    os efeitos sobre o tamanho fetal por meio de zigotos cultivados in vitro logo aps a

    fertilizao in vivo (Robinson et al.,1999).

    Efeitos do embrio sobre o crescimento fetal no so restritos a cultura in vitro. Mudanas

    tnues no ambiente in vivodo embrio e na nutrio histotrfica, ocorre como um resultado

    da alterao do melhor momento para a elevao da progesterona luteal. Tem-se notado que

    vacas com ovulao espontnea exibindo uma precoce elevao natural da concentrao

    progesternica na fase luteal tem alongado o concepto no dia 16 (Robinson et al.,1999).

    Pesquisadores tm especulado que alteraes precoces no ambiente do embrio podeminfluenciar a expresso da impresso gnica, desta forma conduzindo ao super crescimento

    fetal. A desnutrio tem um efeito adverso sobre o crescimento do trofoblasto antes de sua

    implantao, podendo promover uma diminuio no tamanho da placenta e desta forma

    reduzir o crescimento fetal no final da prenhez (Robinson et al.,1999).

    Se a restrio alimentar removida por volta do 40 dia de gestao, bem antes do tempo (dia

    90) em que o tamanho placentrio em ovelhas busca o plat, os efeitos sobre o crescimento

    placentrio e fetal parecem ser temporrios e no detectvel ao nascimento. No entanto, os

    mecanismos por onde a nutrio controla a pr e a peri-implantao do crescimento do

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    trofoblasto no tm sido identificados, e isto provavelmente envolve os fatores de crescimento

    semelhantes insulina (IGFs), que tm uma importante influncia endcrina, parcrina e

    autcrina sobre o metabolismo, diviso celular e a diferenciao, to bem quanto a protena

    ligadora do fator de crescimento semelhante a insulina e proteases que modificam as aes

    das IGFs (Robinson et al.,1999).

    No contexto nutricional, existem dados que mostram que, a atividade da protease IGFBP est

    sob controle da progesterona, sendo a concentrao, tanto da ovelha como na porca,

    inversamente proporcional ao nvel de alimentao ingerida. A nutrio aps o incio da

    implantao (dia 15) na ovelha tem importante influncia sobre o crescimento placentrio e

    desta forma sobre o tamanho do neonato. O perodo crtico ocorre entre os dias 40 e 80 quecoincidem com o rpido crescimento proliferativo da placenta. Durante este tempo, a direo

    e magnitude da placenta responsiva nutrio est influenciada pelo tamanho, condio

    corporal e o grau de maturidade da ovelha. Em ovelhas em crescimento, uma

    superalimentao ou subalimentao ter efeito adverso no crescimento placentrio (Robinson

    et al.,1999).

    O efeito estimulante, do leve grau de subnutrio, sobre o tamanho placentrio pode nemsempre ser acompanhado por um aumento na rea de superfcie para a troca de nutrientes. O

    ambiente do ovcito, o embrio prvio a implantao e o enlongamento do concepto no

    perodo de peri-implantao tm efeitos sobre o crescimento fetal e o tamanho do recm-

    nascido (Robinson et al.,1999).

    Os efeitos da nutrio durante a gestao sobre o desenvolvimento e crescimento do feto

    dependem em grande parte do perodo da gestao. Ao inicio da gestao o crescimento dofeto muito lento e suas necessidades nutritivas so extremamente baixas. Em geral, admite-

    se que durante o primeiro ms de gestao, nveis extremos de alimentao, excessivamente

    elevados ou severos, podem reduzir a sobrevivncia embrionria ou atrasar o crescimento do

    feto, devido a alteraes do equilbrio hormonal progesterona/estrgeno que modifica a

    composio do fluido uterino (Jimeno et al., 2004).

    A nutrio materna no incio da prenhez pode tambm influenciar o desenvolvimento do

    ovrio fetal, e isto pode fornecer uma explanao mecnica do reduzido desempenho

    reprodutivo da ovelha nascida em rudes ambientes. Existem trabalhos que mostram que

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    mesmo na ausncia de efeitos sobre o tamanho fetal, o desenvolvimento do trato

    gastrintestinal sensvel a reduzida nutrio durante a primeira metade da prenhez (Robinson

    et al.,1999).

    Muito dos efeitos da nutrio durante a metade da prenhez, sobre o tamanho do recm-

    nascido, opera indiretamente atravs das alteraes no crescimento da placenta. A adaptao

    materna envolve o aumento na produo de glicose pela mobilizao perifrica e o

    reconhecimento heptico de aminocidos surgindo da quebra do msculo materno e da

    glicose na mobilizao de triglicerdeos. Durante a subnutrio, na ovelha, o exerccio

    materno eleva a glicose umbilical e a capacidade de transferncia de glicose placentria

    (Robinson et al.,1999).

    Uma hiperinsulinemia crnica, como um longo perodo de administrao de IGF-I, tem

    efeitos variveis sobre o crescimento dos principais rgos do feto, levando ao aparecimento

    do elevado crescimento cardaco, heptico, renal e pulmonar. Aonde a insulina, frente ao

    IGF-I, o determinante da variao no crescimento fetal, sendo que o IGF-I atua como um

    amplificador endcrino dos sinais nos tecidos. O efeito estimulatrio de IGF-I sobre o

    crescimento fetal est associado com a diminuio da oxidao do aminocido fetal, elevandoa glicose e o aminocido fetoplacentrio, sem mudar o fluxo sangneo uterino e umbilical

    (Robinson et al.,1999).

    Na prtica a subnutrio crnica durante o final da gestao surge de uma falha do aumento

    gradual do suplemento na linha de necessidade do crescimento fetal. O cortisol fetal tambm

    eleva a capacidade gliconeognica do feto pelo incremento dos nveis fetais das enzimas

    hepticas e renais. Os efeitos de uma baixa ingesto de protenas dietticas durante o final daprenhez sobre o crescimento fetal esto mais pronunciados quando os substratos de energia

    tambm esto sendo curtamente suplementados (Robinson et al.,1999).

    Na ovelha, quando a demanda de aminocidos para o crescimento fetal e para a produo de

    l materna excede o suplemento da microbiota, o crescimento de l torna-se mais sensvel

    reduo de suplemento que o crescimento fetal (Robinson et al.,1999).

    Estudos demonstram que o animal sob subnutrio protica, utiliza como fonte de

    aminocidos para o crescimento fetal e para o metabolismo das vsceras a carcaa materna. E

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    isto, implica que durante um dficit especfico de protenas a musculatura materna pode

    catabolizar aminocidos para prover diretamente o crescimento fetal (Robinson et al.,1999).

    11. BASES ENDCRINAS PARA A PUBERDADE EM NOVILHAS E OVELHAS.

    A maturao do hipotlamo em novilhas resulta do decrscimo do feedback negativo do

    estradiol que conduz ao aumento da freqncia de liberao dos pulsos de LH. O aumento da

    liberao tnica dos pulsos de LH durante a maturao sexual o fator endcrino primrio

    que regula o incio da puberdade em ovelhas e novilhas (kinder et al., 1995).

    Os fatores que podem influenciar o aumento puberal na liberao dos pulsos de LH so:

    gentipo, sexo, a estao do ano na qual a idade puberal atingida, o crescimento ou aingesto nutricional, influncia social ou tratamento com progestgenos exgenos (kinder et

    al., 1995).

    O contedo hipotalmico de GnRH no muda durante a maturao sexual em novilhas. A

    liberao de GnRH dos estoques da eminncia mdia, parece ser o componente hipotalmico

    final para o desenvolvimento que resulta no inicio da puberdade. A maturao do hipotlamo

    permite a funo da hipfise, do ovrio e do tero no animal adulto (kinder et al., 1995).

    Se ocorrer uma estimulao apropriada do GnRH, a pituitria pode funcionar como um

    modelo adulto, antes da puberdade. O tratamento de novilhas com gonadotropinas exgenas

    pode induzir a ovulao de ovcitos frteis antes da puberdade (kinder et al., 1995).

    O ovrio, contudo, tem a capacidade de funcionar como no modelo adulto antes da puberdade,

    mas a estimulao gonadotrpica para permitir a ovulao ocorrer ausente. A falta daestimulao de gonadotropinas dos ovrios antes da puberdade limita a produo de

    esterides ovarianos, estradiol e progesterona. Isto volta a limitar o desenvolvimento uterino

    (kinder et al., 1995).

    Modificaes nos processos neurais durante a maturao sexual pode resultar no aumento da

    freqncia da liberao tnica dos pulsos de GnRH dentro da vasculatura portal do feixo da

    eminncia mdia (kinder et al., 1995).

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    O hipotlamo de novilhas e ovelhas pr-puberais, mais responsivo aos efeitos inibitrios do

    estradiol sobre a liberao de GnRH do que aps a puberdade, e isto leva ao desenvolvimento

    da hiptese gonadosttica. Esta mudana na responsividade ao estradiol o fator primrio no

    tempo de regulao do incio da puberdade em ovelhas e novilhas (kinder et al., 1995).

    A modificao nos ligadores de estradiol por esses neurnios pode resultar na reduo da

    habilidade do estradiol em inibir a liberao de GnRH. O mnimo de receptores para

    estrgenos no hipotlamo declina durante o perodo prei-puberal nas novilhas, e isto pode

    reduzir a resposta ao estradiol e aumentar a liberao dos pulsos de GnRH (kinder et al.,

    1995).

    A exposio transiente de neurnios pr-pticos a altas concentraes de estradiol, altera

    permanentemente os neurnios da rea pr-ptica, a fim de reduzir o estradiol, reduzindo a

    inibio dos pulsos de LH, que so requeridas para a maturao final dos folculos. Opiides

    interagem com o estradiol para inibir a liberao de LH durante a pr-puberdade em novilhas

    que passam da pr-puberdade a peri-puberdade. As concentraes de LH na hipfise no

    mudam da pr-puberdade para a peri-puberdade em novilhas, mas declinam entre a peri-

    puberdade e a ps-puberdade (kinder et al., 1995).

    Novilhas ovariectomizadas resultam em uma maior quantidade de RNAm que codifica as

    subunidades e do LH; tanto na pr e peri-puberdade, quanto em novilhas no castradas. A

    presena dos ovrios antes da pr-puberdade resulta em quantidade reduzida de RNAm, que

    codifica as subunidades do LH, que provavelmente resultado da supresso do estradiol

    liberao de GnRH, que mantm a transcrio dos genes de LH (kinder et al., 1995).

    Durante a pr-puberdade, em novilhas, os pulsos de LH no so freqentes (1-4 pulsos em

    24h), at cerca de 50 dias antes da puberdade. A freqncia dos pulsos aumenta em 24 pulsos

    em 24 horas, durante os poucos dias antes da puberdade (kinder et al., 1995).

    Em vacas ps-puberal, a mesma concentrao de estradiol que inibe a liberao de LH antes

    da puberdade, aumenta a amplitude dos pulsos e a concentrao circulante de LH. Em

    novilhas, a freqncia de liberao dos pulsos de LH o melhor fator de predio da idade a

    puberdade. No entanto, a freqncia de liberao dos pulsos de LH no realizvel como

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    fator de predio do tempo da puberdade at os ltimos 50 dias antes da puberdade (kinder et

    al., 1995).

    Concentraes de FSH na circulao aumentam 3 a 11 semanas de idade em ovelhas recm-

    nascidas, mas no ocorrem mudanas subseqentes entre 11 e 35 semanas de idade quando o

    incio do ciclo estral ocorre na puberdade. Mudanas nas concentraes circulantes de FSH,

    contudo, no so associadas com o incio da puberdade em ovelhas e novilhas (kinder et al.,

    1995).

    Aparentemente, h bastante LH para luteinizar o folculo ovariano dominante na ausncia de

    ovulao durante a peri-puberdade, quando as estruturas luteais se desenvolvem na ausnciada ovulao. A ovulao no necessria para o aumento da progesterona durante a peri-

    puberdade (kinder et al., 1995).

    Em novilhas, o tero cresce em uma taxa similar ao do resto do corpo at seis meses de idade,

    mas passa a crescer mais rapidamente puberdade. A funo luteal antes do estro puberal

    pode servir para provir melhor ambiente uterino para o embrio que ocorrer como resultado

    da monta do estro puberal. O desenvolvimento da funo luteal em novilhas associado comuma marcada mudana no crescimento uterino (kinder et al., 1995).

    Existe correlao negativa entre a idade puberdade em novilhas e a subseqente produo

    de leite das fmeas adultas. A seleo para o aumento da circunferncia escrotal durante a

    maturao sexual resulta em precocidade puberal nas filhas desses touros. Devido alta

    herdabilidade para idade a puberdade, a seleo da gentica pode resultar em mudanas da

    seqncia de eventos endcrinos que modula o incio da puberdade (kinder et al., 1995).

    O perodo no qual existe um aumento na freqncia de liberao dos pulsos de LH que

    estimulam o desenvolvimento gonadal, varia significativamente entre machos e fmeas

    recm-nascidos (kinder et al., 1995).

    Os sinais fotoperidicos que afetam a idade a puberdade so mediados pela melatonina da

    glndula pineal, como resultado da percepo de um dia longo e a transmisso dos sinais

    fotoperidicos ao hipotlamo (kinder et al., 1995).

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    O aumento na freqncia dos pulsos de LH ocorre precocemente em novilhas alimentadas

    com alta concentrao energtica, que pode levar ao desenvolvimento de um grande folculo

    ovariano precoce (kinder et al., 1995).

    Baixos planos alimentares reduzem a taxa de crescimento durante a fase de cria em 50% dos

    animais, potencialmente retardando a puberdade em bovinos, ovinos, caprinos e sunos; os

    efeitos so mais pronunciados quando aplicados no incio do ps-natal do que na fase

    peripuberal. Regimes nutricionais no to severos variam quanto aos efeitos, mas em alguma

    instncia sero importantes quantitativamente. A nutrio tem forte participao na

    precocidade sexual, pois animais que so subnutridos possuem maior sensibilidade ao

    feedback negativo exercido pelo estradiol (Robinson, 1990).

    12.HORMNIO DO CRESCIMENTO E FUNO REPRODUTIVA: Testculo como foco do

    estudo

    O hormnio do crescimento (GH) no considerado classicamente como hormnio

    reprodutivo, embora existam vrias evidncias que o GH exera papel importante nos

    processos da reproduo (Hull e Harvey, 2000). Ele primariamente produzido na glndulahipofisria, embora esteja bem estabelecido que alguns tecidos expressam gene para sua

    formao. Dentre estes, acredita-se que o testculo sintetize GH, uma vez que a transcrio

    gnica do GH est presente no testculo humano (Harvey, et al. 2004).

    Nos machos, os receptores para GH tm sido encontrados por todo o sistema reprodutivo

    incluindo as clulas de Leydig e Sertoli, ductos deferentes e epididimrios, prstata e

    vesculas seminais (Champion, et al. 2002).

    O GH pode atuar, indiretamente, atravs do fator de crescimento semelhante insulina do

    tipo I (IGF-I), estando os seus receptores presentes nos testculos, aonde o IGF-I pode,

    potencialmente, mediar s interaes entre todos os tipos celulares. No entanto, as

    concentraes, teoricamente necessrias, so alm das fisiolgicas observadas nos testculos.

    Vrios estudos tm observado o papel do eixo GH-IGF sobre as gnadas. Demonstrando a

    influncia deste eixo no processo da espermatognese e da secreo de andrgenos pelos

    testculos (Champion, et al. 2002; Codner e Cassorla, 2002).

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    Essas aes podem refletir a atuao autcrina ou parcrina do GH extra-hipofisrio, to bem

    quanto s aes endcrinas do GH hipofisrio (Hull e Harvey, 2000).

    12.1 Sistema reprodutivo do macho: local de ao do GH

    12.1.1 Ao testicular

    Acredita-se que o GH exera importante papel no desenvolvimento e crescimento testicular,

    uma vez que humanos com deficincia do GH so associados a testculos anormalmente

    pequenos. Similarmente, funes testiculares, incluindo a esteroidognese e a gametognese,

    podem ser afetadas pelo GH testicular e hipofisrio (Hull e Harvey, 2000).

    12.1.2 Gametognese

    O efeito da deficincia do GH em ratos parece ser associado com o comprometimento da

    espermatognese e da motilidade espermtica. No homem e em muitas espcies animais,

    incluindo o touro, o aumento da idade est relacionado com o decrscimo das concentraes

    plasmticas de GH e IGF-I. Contudo, segundo Sauerwein et al. (2000) as concentraes de

    GH e IGF-I representam o status do GH em touros adultos, mas no de touros velhos oucom deficincia de GH.

    Alguns dados sugerem que o tratamento com IGF-I por curto perodo de tempo em ratos GH-

    deficientes, melhora a motilidade e morfologia dos espermatozides imaturos. Desta forma,

    os efeitos observados com a terapia de GH podem ser parcialmente mimetizados pela

    elevao plasmtica dos valores de IGF-I por infuso deste fator de crescimento (Vickers, et

    al. 1999).

    Existem poucos dados sobre os efeitos indiretos do GH atravs do IGF-I sobre as funes

    testiculares. Tem-se demonstrado que o IGF-I in vitro tem ao sobre as clulas de Sertoli,

    elevando a sntese de DNA e induzindo a proliferao celular. Em outros estudos, o IGF-I

    mostrou afetar a diferenciao de clulas de Leydig imaturas em maturas (Santos, et al. 1999).

    O aumento coordenado da motilidade espermtica e das concentraes de IGF-I em homens

    aps a administrao de GH pode indicar que a produo local de IGF-I media a ao

    gametognica do GH. Contudo, a motilidade espermtica se desenvolve no epiddimo mais do

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    que na vescula seminal, e como o IGF-I epididimrio no elevado pelo GH, ao

    gametognica do GH provavelmente indireta. Esta possibilidade suportada pela

    demonstrao que atualmente o IGF-I impede a motilidade espermtica humana (Hull e

    Harvey, 2000; Sauerwein, et al., 2000).

    O epitlio seminfero de ratos sofre processos apoptticos, estes provavelmente exercem um

    importante papel na produo de espermatozides, uma vez que a eficincia da

    espermatognese depende da soma de clulas degeneradas em sucessivos estdios da

    espermatognese (Hull e Harvey, 2000; Santos, et al. 1999).

    Alguns estudos destacam a regulao da morte programada das clulas nos testculos.Destacando-se que a testosterona induz a retirada de clulas apoptticas, mortas na maioria

    dos estdios do ciclo do epitlio seminfero. As concentraes sricas de gonadotropinas,

    especialmente FSH, determinam o inicio da apoptose das clulas germinativas dos machos.

    Em adio, o tratamento com estradiol tambm induz a apoptose das clulas germinativas,

    mas o padro de retirada da apoptose pelo estradiol difere do que extrado pelas

    gonadotropinas ou testosterona (Santos, et al. 1999; Sauerwein, et al., 2000).

    Alguns fatores de crescimento, como IGF-I, atuam inibindo a apoptose em certo nmero de

    tipos celulares, tais como clulas hematopoiticas, folculos pr-ovulatrio e glndula

    mamria. possvel que o GH possa ter efeito sobre a espermatognese mediado pela

    liberao de IGF-I, a qual poderia prevenir a morte apopttica das clulas do epitlio

    seminfero, desta forma elevando a eficincia da espermatognese. (Santos, et al. 1999).

    12.1.3 Esteroidognese

    O GH pode alterar a gametognese por afetar a sntese de testosterona, pois esta necessria

    para a produo de espermatozides e a codificao do RNAm para os receptores do GH nas

    clulas de Leydig de ratos (Hull e Harvey, 2000).

    Camundongos deficientes quanto a receptores de GH tem reduzido desenvolvimento testicular

    e espermatognese. As espermatognias de ratos anes GH-deficientes, tm elevada

    incidncia de patologias morfolgicas e decrscimo da motilidade. Em eqinos, o tratamento

    com GH demonstrou um aumento na motilidade dos espermatozides, mas em touros,

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    carneiros, macacos e hum