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NUTRI  ÇAO DO CAO E DO GATO UM  MANUAL PARA ESTUDANTES, VETERI NARI OS, CRIADORES E PROPRIET ARIOS MANUEL GUI LHERME RAM06 -  '__h' .. ----- Editor: A.T.B. EDNEY <IJ EDITORA  MANOLE 1987

Nutricão01

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NUTRI ÇAODO CAO E DO GATO

UM   MANUAL PARA ESTUDANTES,VETERINARIOS, CRIADORES E

PROPRIET ARIOS

MANUEL GUILHERME RAM06

-   '__h' .. -----

Editor:

A.T.B. EDNEY

<IJ

EDITORA  MANOLE

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PREFÁCIO

Dos muitos livros existentes sobre nutrição,

poucos são específicos para os animais de esti-

mação. Isto é surpreendente, já que, somente noReino Unido, existem cerca de 10 milhões de

cães e gatos. Em todo o mundo ocidental, a po-pulação de cães e gatos é da ordem de 150 mi-

lhões, sendo que, virtualmente, todos eles têm deser alimentados diariamente.

B difícil compreendr a nutrição por escrito; é

óbvia a natureza prática do assunto. Muito do

que temos disponível é bastante impreciso, e, em

alguns casos, apresenta um liberal componentefolclórico. As informações mais precisas tendem

a ser menos acessíveis para os leitores em geral.

Parece haver a necessidade da orientação práticade um texto, sobretudo compreensível, sobre a

nutrição dos cães e dos gatos. Este livro tem a

intenção de proporcionar tal trabalho para osestudantes de veterinária, os trata dores de ani-

mais, os criadores de cães e de gatos, e a todas as

pessoas que têm interesse mais profundo na ali-

mentação de seus animais.

O livro está estruturado de maneira que o lei-

tor possa progredir do entendimento das neces-

sidades nutricionais dos cães e gatos, até os ali-mentos usados para suprir essas necessidades. A

parte central é dedicada à alimentação em cir-

cunstâncias especiais, tais como, no trabalho pe-sado, no estresse, e dos filhotes órfãos e em várias

doenças. O capítulo final explica como os ali-

mentos preparados são avaliados e aprovados, in-

formações difíceis de serem encontradas em qual-quer lugar. Somente as referências principais sãoincluídas no texto, pois uma bibliografia maiscompleta é dada no final de cada capítulo, comoum guia para leituras posteriores.

Os colaboradores deste livro trabalham no Ani-

mal Studies Centre, em Leicestershire, e quatrodeles são as maiores autoridades mundiais em

nutrição de cães e de gatos. Entre estes, incluí-mos o Professor D. S. Kronfeld, que, muito gen-

tilmente, nos forneceu um relato de seus estudosindividuais sobre os cães de trenó, como uma

investigação das necessidades dos animais desti-nados ao trabalho pesado.

O editor tem a satisfação de expressar sinceros

agradecimentos a Christina Loxley, do AnimalStudies Centre, a Dorothy Howard, da Walthan,

por ter datilografado os manuscritos, a AlisonWearne, da Gwynne Hart & Associates, bemcomo a John Lavender, da Pergamon Press, por

ter processado o trabalho.

A. T. B. Edney

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INDICE

PREFÁCIO   ,..............................COLABORADORES   ,......

1. BALANÇODE ENERGIA, BALANÇODE ÁGUA E FISIOLOGIADA DIGESTÃO E A DA ABSORÇÃO .......................S.  E. Blaza

2. UM GUlA SIMPLIFICADODAS NECESSIDADESNUTRICIONAIS 15 I.  H.  Burger 

3. ALIMENTOS PARA CÃES E GATOS. .. . .. .. .. .. .. .. 37

 D. W. Holme4. O USO PRÁTlCO DE ALIMENTOS PREPARADOS PARA CÃES

E GATOS 53 D. W. Holme

5. ALIMENTANDO CÃES PARA O TRABALHO PESADO E EMCONDIÇOESDE ESTRESSE   ,   69 D.   S.   Kronfeld 

6. CRIANDO FILHOTES ÓRFÃOS DE MÃE. 85 A. T. B. Edney

7. ALIMENTANDO CÃES EM CRESCIMENTO, COM ESPECIALREFERBNCIA AS DOENÇAS DO ESQUELETO 89

, A.   A. Hedhammar 

8. ALIMENTANDOANIMAISQUE ESTÃODOENTES   ,   97 I.   Leibetseder 

9. FLUlDOTERAPIA E NUTRIÇÃO INTRAVENOSA ., 111 L. W. Hall

10. AVALIAÇÃO E APROVAÇÃO DOS ALIMENTOS PREPARADOS 119P. T. Kendall

APBNDICE IGUlA DAS CALORIAS PARA CÃES E GATOS 137

APBNDICE IILEITURAS COMPLEMENTARES 139

VIX

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CAPITULO   1

BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE ÁGUAE FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÃO

S. E. BLAZA

Para viver, todos os animais necessitam da in-

gestão regular de água e alimentos. O alimentofornece os nutrientes e a energia, e, na maioria

dos casos, também contribui com água. As ne-

cessidades de nutrientes em particular diferem

entre as es'pécies, e também variam no ciclo vitalde um único animal. Por exemplo, cães e gatos

adultos exigem proteína para substituir aquela

usada para a manutenção do tecido e seu reparo,

e também para produzir anticorpos, hormônios,

enzimas e hemoglobina, enquanto que cães e ga-tos em crescimento, gestação e lactação, necessi-

tam de proteína extra para a produção de novostecidos, ou leite, além de suprir as exigências dometabolismo normal.

O organismo não é uma unidade fechada, com

uma composição fixa, mas está num estado con-tínuo de transformações; os alimentos são inge-

ridos, os nutrientes absorvidos e utilizados ou ex-

cretados. A manutenção do nível de qualquer nu-

triente, ou da energia, ou do conteúdo de água

do organismo, pode ser pensada em termos de

"balanço". Para muitos dos nutrientes exigidos

pelos mamíferos, tais como proteínas, lipídeos,minerais e vitaminas, o balanço é atingido gran-

demente pelo controle da eliminação. Acredita-se

que os mamíferos comam para satisfazer suas ne-cessidades de energia, e, então, o nível de inges-

tão de nutrientes em particular é dependente de

sua concentração no alimento. Entretanto, supon-

do que a ingestão mínima necessária foi atingida,

qualquer excedente às exigências pode ser per-dido nas fezes, ou, tendo sido absorvido, pode se

converter em outra substância útil (no fígado) e

usado ou excretado pelos rins (na urina). Entre-tanto, há limites acima dos quais certos nutrien-tes se acumulam e se tornam tóxicos, e os ali

mentos de altas concentrações, particularmente de

vitaminas lipossolúveis, devem ser evitados. Hátambém, relações, entre nutrientes, que devem se

consideradas na formulação de qualquer alimento

A regulação do balanço de energia e de fluidos

é muito mais complexa do que aquela dos nutrientes individuais; ambas envolvem mecanismos

que governam a ingestão e a eliminação. A im

portância dada à energia e aos fluidos é diferente;então, estes serão estudados separadamente. Co

mo a digestão e a absorção são centrais à ma

nutenção de ambos, estas serão consideradas maitarde.

BALANCEAMENTO DE ENERGIA

Diz-se que um animal está em balanço de ener

gia quando seu gasto de energia é igual à ingestã

de energia, resultando que o nível de energia ar

mazenado no organismo não se altera. A seguint

equação é derivada da Lei de Conservação d

Energia:

Energia armazenada   =   ingestão de energia   -gasto de energia

No cão ou no gato adulto, a energia é armaze

nada predominantemente como gordura, com a

gum aumento no tecido antes magro (como ma

sa gordurosà livre). Num animal em cresciment

ou gestação a importância se volta para o acúmu

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Fig. I. Fotografia de um animal obeso.

10de tecidos. A gordura é armazenada como te-cido adiposo;esses depósitossão facilmente obser-vados num animal (Fig. 1). ~, também, possívelreduzir os estoques de energia, reduzindo a in-gestãoda mesma, até que se tome menor do queo gasto de energia. Isso faz reverter a equação.

Gasto - ingestão=  perda de energia dos

estoquesSob essas condições de balanço negativo de

energia, o organismotem de catabolizar (destruir)seus próprios tecidos para atender suas exigênciasenergéticas; como os estoques são depletados gra-dualmente, o animal se toma mais magro e opeso corpóreo diminui.

O balanço energéticoé atingido pela exata com-binação dos ganhos e gastos, durante longos pe-ríodos. Um desequilíbrio muito pequeno, mantido

por longo tempo, causará a obesidade (se a dife-rença for positiva), ou a debilidade (se a dife-rença for negativa). Por exemplo, imagine umcão Labrador Retriever, que tem um gasto deenergia diário de 1.700 kcal, mas com a ingestãode 1.800 kcal por dia. O desequilíbrio é de so-mente 100 kcal por dia (28 g de biscoito paracãel), mas, se mantido, poderia resultar numaumento de 2-3 kg no peso corpóreo, no períodode um ano. Se essa taxa de ganho continuar por

2 ou 3 anos, mesmo permitindo alguma compen-sação do gasto de energia (veja abaixo), o cão

NUTRIÇÃO DO CÃO E 00 GATO

terá um grande excesso de peso e estará sujeitoa todos os problemas da obesidade.

Até recentemente, presumiu-se que o balançode energia dependia somente da regulação exatado consumo e que qualquer desequilíbrio repre-

sentava uma deficiência no controle do consumopropriamente dito. Agora, parece provável quetanto a ingestão como o gasto são importantes namanutenção do balanço de energia. A ingestãopermite um controle preciso, em contraste com ogasto, que parece agir como uma "válvula de es-cape", opondo-sea qualquer alteração no conteú-do de energia do organismo.

Ingestão de energia

A ingestão de energia pode ser pensada em trêsdiferentes níveis: a energia bruta (EB), a energiadigestível (ED) e a energia metabolizável (EM).A   energia bruta  é a energia total que seria libe-rada na oxidação completa do alimento. Apesarde uma substância poder ter um alto nível deenergia bruta, a menos que o cão ou o gato pos-sam digeri-Iae absorvê-Ia,ela não é útil para oanimal.A quantidadeque é digeridae absorvida

(energia bruta menos as perdas fecais) é conhe-cida comoenergiadigestiva.Certa quantidade doalimento absorvido pode ser somente aproveitá-vel parcialmente pelos tecidos, o excedente sen-do perdido, via renal, na urina.

Aquela energia que utilizada pelos tecidos éconhecida comoenergiametabolizável, e pode sercalculada como a energia digestível menos as per-das urinárias.

O conteúdo de energia digestível e metabolizá-vel dos alimentos depende de sua composição eda espécie animal que o está ingerindo. Os rumi-nantes, por exemplo, são capazes de digerir ma-teriais como as paredes celulares das plantas, queseriam inaproveitáveis aos animais monogástricos(estômago simples), tais como o cão e o gato.Para esses animais, essas substâncias seriam sim-plesmente "fibras da dieta" ou "forragem". Há,também, diferenças entre as espécies monogástri-cas, por exemplo, o sistema digestivo do cão é,geralmente, mais eficiente que o do gato. Então,

o mesmo alimento administrado a um cão ou aum gato pode produzir valores diferentes de di-

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BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE ÁGUA E FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÁO

gestibilidade. Isso pode se dar, parcialmente, por-que o sistema digestivo do cão é, proporcional-mente, mais longo que o do gato.

Regulação do balanço energético atravésda ingestão

Apesar de que alimentos muito palatáveis po~-saro perturbar o controle da ingestão, muitos ani-mais, que comem alimentos suaves, regulam aingestão de energia muito precisamente. Aindaque o mesmo alimento seja fornecido de formadiluída (usando água ou algum material não di-gerível para alterar a densidade de energia), acompensação geralmente ocorre, rápida e comple-tamente, 'para um nível novo e apropriado deingestão de alimentos. Há.muitas teorias tentan-do explicar esse assunto, a maioria delas envolvendo o mecanismo de   feedback   * negativo, des-crito na Fig. 2, num grau maior ou menor.

O princípio do   feedback    negativo é muito sim-ples e pode ser demonstrado de muitas formas.Por exemplo, o controle da pressão sangüínea édependente de um   feedback    negativo, como sãomuitos dos mecanismos de controle do organis-

mo. ~ encontrado, muito freqüentemente, em ma-nobras como a que a Fig. 2 mostra.Em sua forma mais direta, o   feedback    negativo

é um sistema onde qualquer alteração no equi-líbrio desencadeia um sinal, provocando uma res-posta que se opõe à alteração inicial e corrige oerro. No exemplo, o termostato é um   sensor   quedetecta qualquer alteração na temperatura am-biente. A discrepância entre a temperatura am-biental e uma temperatura de referência é perce-bida pelo   comparador,   que avisa o depósito, ou

efetor,   ligando-o ou desligando-o. O calor libera-do pelos depósitos restauram a temperatura am-biente, que pode ser pensada como a   variável

controlada,   e faz com que o "comparador" parede avisar ao depósito.

No modelo da regulação do balanço de energia,mostrado na Fig. 2, a variável controlada é o ta-manho dos depósitos de energia. Há vários ele-mentos de   feedback    que podem avisar da altera-ção, tais como os nutrientes do plasma ou os ní-

.NoT.-   Feedback =  retroalimentação.

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a) Principio   de feedback   negativo

-Variável controlada   - r"'"~ - - - - - -- -..,... TemperaturaambientaI I '   '   I

,   ".   Termostato Tempo ae IMecanismo efetor I seneor referÉincla

Fornalha I'   I    I. I Comparador I \    '   I

I   /    I" ' 1'------, ".

, Sinal de erro - ...~- liga/desliga- - -

b) Feedback negativo no armazenamento de enerila

Variável controlada-   Depósi tos de energia   ------,   -, Seneorde referência

 I    Metebólltoe do plasmaMecanismo efetor Nutrientes do plasmaAlimentação   / ,   ,

, ,,""   Sinal de erro " "

, 1) neural (centros de alimentação)-2) hormonal(veja o texto)3) mecãnlco (contrações do estômago)

Fig.20   feedback    negalivo (siS\I:ll1a de n:troalimcntação)o

veis de metabólitos do plasma. Quaisquer dif~ren-

ças com os pontos de referência, conhecidos e es-~tabelecidos, indicam alteração nos depósitos deenergia, e estimulam a atividade nervosa e hormo-

nal, que pode iniciar ou{Ulibir a alimentação.A resposta neural envolve "centros de alimen-

tação", no cérebro, que não são simples centrosde "fome" ou saciedade", como se pensava, masfeixes de neurônios cobrindo várias áreas. A esti-mulação desses, por elétrodos, pode fazer comque animais saciados comam, ou impedir animaisfamintos de comer.

A resposta hormonal é mais complexa. A insu-lina estimula a alimentação, mas não se sabe seeste é um efeito direto no sistema nervoso central,ou por causar uma hipoglicemia periférica (baixosníveis de glicose no sangue circulante). O glicogê-nio tem um efeito oposto ao da insulina, inibindoa alimentação, como fazem os estrógenos e o hor-mônio luteinizante (hormônios reprodutores fe-mininos). Como todos esses hormônios têm fun-ções outras do que a estimulação ou inibição daalimentação, eles não podem ser os únicos agen-tes que governam a ingestão.

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Além dos mecanismos neurais e hormonais, háoutros estímulos mais diretos para a alimentação.As contrações do estômago vazio são tidas co-mo as causadoras da sensação de fome, e provo-cam a alimentação, enquanto a distensão gástricainibe o ato de comer.

Esse modelo é útil porque fornece uma estrutu-ra às teorias sobre a regulação do balanço ener-gético através da ingestão, e também permite tes-tar essas teorias. Entretanto, muito dele é espe-culação, e uma concessão tem de ser feita, paraalguma contribuição do gasto de energia para aregulação do balanço de energia. Na maioria doscasos, a regulação é eficiente. Os distúrbios ocor-rem quando petiscos altamente palatáveis são ofe-

recidos, e o apetite para uma alimentação espe-cial afoga os avisos de saciedade fisiológica: issoparece afetar os cães mais do que os gatos, quesofrem muito menos de obesidade.

Gasto de energia

Visto que toda a energia despendida pelo orga-nismo pode. ser medida como calor, o gasto deenergia é freqüentemente referido em termos de

"perdas de calor", "produção de calor" ou emunidades geralmente associadas com a medida decalor, tais como watts, joules e calorias. Essas uni-dades podem, também, se aplicar à medida daingestão de energia.

O gasto de energia pode ser dividido emduas partes: média metabólica basal (MMB) etermogênese. A MMB é a quantidade de energianecessária 'para manter o corpo em funcionamen-to, isto é, representa a energia necessária para

suprir os gastos do trabalho essencial executadopelas células e pelos órgãos. Isso inclui processoscomo respiração, circulação e função renal. Mui-tos fatores determinam a MMB em um indivíduo,inclusive peso e composição do corpo, idade e

estado hormonal (particularmente dos hormôniosda tiróide). Como esses fatores variam, também ofaz a média metabólica basal, apesar de que essasal~rações tendem a ocorrer vagarosamente, porlongos períodos.

Gastos adicionais de energia vêm sob o termocoletivo "termogênese". A termogênese pode ser ocusto da digestão, absorção e utilização de nu-

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

trientes (algumas vezes chamado de "efeito tér-mico do alimento" ou "termogênese induzida peladieta"), do trabalho muscular ou exercício, doestresse, ou da manutenção da temperatura cor-pórea num ambiente frio. A ingestão de certasdrogas ou hormônios pode, também, causar ter-mogênese. A termogênese é, simplesmente, umaumento na taxa metabólica acima do nível basal.

Em contraste com a MMB, o grau de termogênesepode variar larga e rapidamente, e pode causargrandes variações diárias no gasto de energia. Dosdois componentes do gasto total de energia, a ter-mogênese é a parte responsável pela resposta rá-pida adaptativa às alterações no ambiente inter-no ou externo.

A regulação do balanço de energia atravésde gastos

Quando o alimento é restrito por um longotempo, a MMB diminui numa resposta de doisestágios. A primeira queda brusca é vista dentrode alguns dias depois da redução inicial da in-gestão de alimento, havendo uma de.pressãonometabolismo das células individuais, alcançadaem razão da tireóide e dos hormônios adrenaisque regulam a taxa metabólica. Se ocorrer umarealimentação durante esta fase, a taxa metabó-lica recupera seu nível. inicial rapidamente. Asegunda fase leva mais tempo para aparecer: háum declínio muito lento que se segue à 'perda dotecido do organismo,particularmente o tecido ma-gro que é muito ativo metabolicamente.Uma vezque esta fase tenha sido alcançada, a MMB nãopode ser restaurada até que o tecido tenha sido

substituído.Esta queda é uma forma muito simples de re-gulação e reduzirá qualquer perda do peso docorpo como resultado da restrição de alimento,embora não se possa preveni-Ia. Há importantesimplicaçõespara a manutenção do peso do orga.nismo seguindo um regime de emagrecimento; onível da ingestão de alimento exigido para man-ter o equilíbrio do peso será menor do que o exi-gido no peso anterior.

Do mesmo modo, uma superalimentação pro-longada resulta em uma elevada taxa metabólica,que restringe o aumento em armazenamento de

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BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE AGUA E FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÃO

energia. Este aumento em gasto de energia é par-cialmente atribuível ao efeito térmico do alimentoe ao custo de manter um tecido de organismoextra. Entretanto, estes fatos não são totalmenteresponsáveis pelo gasto extra, e ainda há uma

controvérsia quanto à fonte da adicional produ-ção de calor.

Há, portanto, uma regulação rudimentar da eli-minação de energia que se opõe a qualquer mu-dança no estado mencionado. Embora a elimina-ção de energia não possa prevenir qualquer mu-dança inteiramente, ela pode,limitar a sua dura-ção e esta contribuição não deveria ser ignorada.

BALANCEAMENTO DE ÁGUA

A água é freqüentem~nte negligenciada comoum requisito nutricional devido à sua pronta via-bilidade em muitos climas temperados. Entretan-to a necessidade da água é pelo menos tão im-

o portante quanto a dos outros nutrientes; a vidapode continuar por semanas na completa ausênciade alimento, mas somente por dias ou mesmo porhoras quando não houver água disponível.

A água preenche muitas exigências dentro doorganismo. ~ um excelente solvente, e esta pro-priedade torna possível toda a química complexado metabolismo celular. Como o principal consti-tuinte do sangue, a água dá um transporte vitalmédio, levando oxigênio e nutrientes aos tecidose rem0vendo dióxido de carbono e metabólitos.

O sangue também carrega anticorpos e célulasbrancas que protegem o organismo de doenças.

A água contribui de vários modos diferentespara a regulação da temperatura. Primeiramente,

o sangue transporta o calor de órgãos e tecidosem funcionamento, assim prevenindo perigososaumentos de temperatura. Então, pela redireçãode um pouco do sangue através de veias superfi-ciais, o calor pode ser transferido para a pelee perdido por radiação, condução e transmissão.A perda de calor pode ser aumentada pela eva-poração de água da pele.

A água também é essencial para a digestão.A hidrólise, a quebra dos componentes pela água,

é o meio pelo qual a digestão ocorre. As enzimasdigestivas são secreta das em solução, o melhor

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o  para dispersar por entre os alimentos. Até a eli-minação de metabólitos tóxicos pelo rim exigeágua como um meio. Essas representam somentealgumas das muitas funções da água.

Há vários diferentes compartimentos de fluidono organismo, que podem ser agrupados juntoscomo fluido intra ou extracelular (FIC e FEC).O FIC representa aproximadamente 50% do pesototal do organismo do animal e inclui a água den-tro de todas as células, desde as células verme-lhas do sangue aos neurônios da medula espinhal.O FEC é encontrado banhando os tecidos porentre as células e também no sangue e na linfa.O movimento de fluido entre estes compartimen-tos é contínuo, as diferentes concentrações de ele-

trólitos sendo mantidas pela atividade das mem-branas da célula.

Eliminação da água

A água sai do organismo por várias vias. Numcão saudável normal e num gato, estas incluemas perdas no ar expirado, nas fezes, na urina eraramente também no suor. Estes caminhos serãodiscutidos separadamente. Em animais doentes aperda de água pode ser aumentada notadamenteatravés de hemorragia (sangramento), vômitos ediarréia. A lactação é um outro e;emplo fie perdaaumentada.

Fezes

O conteúdo de água das fezes é geralmentemuito baixo, comparado com os enormes volumes

de fluido secretado dentro do tubo digestivo, comenzimas e vários eletrólitos. Os intestinos têm me-

canismos muito eficientes para a reabsorção deágua e é somente quando estes estão irregulares,e as fezes evacuadas como diarréria,que esta viaapresenta uma significativa contribuição para aperda de água.

Perdas por evaporação

A captação de oxigênio a partir do ar inspira-do é possível pela estreita associação entre o epi-

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télio pulmonar e uma extensa rede capilar. En-tretanto, isso também facilita a transferência deágua e evaporação para as cavidades do pulmão,e a água é perdida, então, no ar expirado. Essa

"perda respiratória de ar" é inevitável. Em épocasquentes, a evaporação é um mecanismo importan-te de regulação da temperatura, Idevido ao calorcorpóreo usado para evaporar a água. Esse é oporquê de os cães ficarem ofegantes ou colocaremsuas línguas para fora, e o porquê de os gatos co-brirem seus pelames de saliva por lambidas re-petidas. Em condições extremas, pode haver tam-bém uma leve evaporação pelos coxins plantares.Apesar de esses mecanismos auxiliarem no con-trole da temperatura, eles podem aumentar con-sideravelmente a perda de água.

Urina

o rim é o único órgão no corpo que pode con-trolar a perda de água, e, além disso, regular tam-bém o balanço acidobásico e a concentração demuitos eletrólitos. Em comum com outros mamí-feros, os cães e gatos têm dois rins, situados na

cavidade abdominal, um de cada lado, mas ven-trais (abaixo ou na frente da) à coluna espinhal(Fig. 3). O suprimento sangüíneo é feito pelaartéria renal e pela veia renal.

O rim consiste de uma rede de milhares detúbulos (Fig. 4). Cada túbulo tem um fundo cego.ou "cápsula glomerular", que envolve um novelode capilares sangüíneos, conhecido como glomé-rulo. Há uma grande diferença na pressão entreo capilar e a cápsula, e esse diferencial causa o

movimento contínuo de pequenas moléculas efluido dentro da cápsula, provenientes do capi-lar. Grandes moléculas, tais como as proteínas eas várias células sangüíneas, não podem passarpara dentro do túbulo, a menos que tenha havidolesão às paredes glomerulares ou tubulares. Naverdade, uma das indicações de lesão renal é oachado de proteínas na urina. Em animais sadios.entretanto, o fluido que entra no túbulo é um"ultrafiltrado" do sangue, e a taxa de entradadepende da diferença de pressão entre os doissistemas.

À medida que o fluido passa pelo túbulo, mui-to dele é absorvido pela parede tubular e retoma

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

UreterUreter

CVela cavacauda'H

Fig.:i. Estrutura macroscópica dos rins.

Túbulo

Ductoscoletores

Para oureter

Fig. 4. Estrutura do túbu)o renal (simplifkada).

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BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE ÁGUA E FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÃO

para o sangue. A reabsorção é seletiva, substân-cias presentes em quantidades excessivasno san-gue não são reabsorvitias, como também não osão vários produtos residuais. Algumas substân-cias podem ser secretadas ativamente ,para o in-terior do túbulo, pelas paredes celulares, Os tú-bulos convergem profundamente, dentro do rim,em duetos coletores, e o conteúdQ remanescentedeixa o rim via um tubo de paredes delgadas,conhecido como "uretet". Um ureter passa decada rim para a bexiga, onde a urina é armaze-nada até ser convenientemente vertida.

O controle da água e dos eletrólitos perdidosvia renal ocorre em vários níveis. Há uma formarudimentar de   feedback   negativo (retroalimenta-ção negativa); se a desidratação resultar numaperda do volume de PEC, a pressão sangüíneacairá, então as forças que regem a filtração paradentro do túbulo serão reduzidas, e menos filtra-do atingirá o túbulo. Isto limita a perda de água.

A pressão sangüínea pode ser parcialmente res-taurada pelo rim; quando a pressão sangüíneacai, o rim libera uma enzima, denominada reni-na, que catalisa a conversãode uma proteína plas-

mática inativa em angiotensina. A angiotensina éum hormônio potente, que causa constrição dosvasos sangüíneos arteriais, assim mantendo umapressão mínima, apesar da perda de volume. Elatambém estimula o córtex da adrenal a liberara aldosterona, outro hormônio, que aumenta areabsorção tubular de sal e de água. A taxa dereabsorção de água também é controlada pelohormônio antidiurético (HAD), que é produzidopela glândula pituitária, no cérebro, como respos-

ta a concentraçõeselevadas de alguns dos consti-tuintes do sangue. O HAD age sobre parte dotúbulo, para aumentar a absorção de água.

O papel do rim na regulação do balanço deeletrólitos, particularmente o nível de íons hidro-gênio, pode interferir com sua função no balançode água. Os íons hidrogênio são produzidos pormuitas das reações químicas do organismo, e seuacúmulo não pode serpennitido, já que isso alte-raria o pH do corpo. Como eles têm de ser remo-

vidos do corpo em solução,algumaperda de águana forma de urina é ir evitável, !Desmoem con-dições de desidratação severa.

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Ingestão de água

Há várias vias pelas quais a água pode entrarno organismo. Estas incluem o beber água, o con-teúdo de água dos alimentos, que 'pode ser até de

90%, e a liberação de ág;uadurante a utilizaçãometabólica desses alimentos.

Conteúdo de água dos alimentos

Quando os alimentos são degradados durantea digestão, a água é liberada junto com os outrosprodutos finais da digestão, tais como açúcares eaminoácidos. A quantidade de água depende dotipo de alimente, por exemplo, os alimentos co-merciaissecos para cães e gatos podem contersomente 6% de água (embora alguns contenhammais), enquanto muitos alimentos enlatados con-têm mais de 82% de água. O leite contém apro-ximadamente 88% de .água, e o peixe fresco e acarne 55 a 75%. Portanto, as quantidades deágua disponíveis para os animais em seus alimen-tos podem variar de 10 vezes.

A água metabólica~ a água 'produzida na degradação química dos

nutrientes, por oxidação, nos tecidos.O hidrogênio, no alimento, combina-secom o

oxigênio para produzir água. A quantidade deágua liberada depende totalmente do alimento edo grau de oxidação (veja a Tabela 1).

Tabela t. ÁGUA METABOLlCA

Classe de alimento   Água produzida na oxidaçãode 100 g

40 g107 g55 g

Proteína *GorduraCarboidrato

* Nem sempre oxidada completamente.

A água bebida

A água bebida está sob controle voluntário. Hávários mecanismosde feedback  negativo que esti

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mulam o ato de beber. Os receptores presentesna boca e garganta enviam sinais para o "centroda sede", no cérebro, quando eles estão secos.Da mesma forma, certos "osmorreceptores" avi-

sam o centro da sede quando a desidratação causaum aumento na pressão osmótica do FEC. Desi-dratação severa, resultando na perda do volumede FEC e o conseqüente aumento na angiotensinacirculante, também estimula o centro da sede.

As necessidades de fluidos obviamente variamde acordo com as condições do meio ambiente,com o estado fisiológicodo animal e com o con-teúdo de água dos alimentos ingeridos. O cãoadapta sua ingestão de água muito bem, de acor-do com o conteúdo de água da sua alimentação;o gato faz isso menos rápido e menos completa-mente. Do ponto de vista prático, o acesso   ad 

libitum   à água fresca e potável proporcionará,para o cão e para o gato, a melhor oportunidadede suprir suas exigênciasde água, particularmen-te em condiçõesde temperaturas elevadas e quan-do comidas secas são fornecidas.

A DIGESTÃO   E A   ABSORÇÃO NO

CÃO E NO GATO

A regulação da ingestão de alimentos já foidiscutida. Entretanto, antes que se chegue às ne-cessidadesnutricionais dos animais, um passo in-termediário deve ser considerado. Diz respeito àdecomposiçãodos grandes compostos complexosdo alimento para uma forma simples, que possaser absorvida pelo trato digestivo, circular pelostecidos e usada 'por eles, .para a manutenção, re-paro, crescimentoou para o fornecimentode ener-gia. Trata-se do papel do sistema digestivo.

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

Existem três grandes classes de gêneros alimen-tícios, que requerem digestão: carboidratos, lipí-deos e proteínas (Tabela 2). O propósito da di-gestão é remover as ligações, nos grandes compos-

tos, liberando as pequenas unidades. Isso é con-seguidopor "hidrólise", que é a quebra dos com-postos 'pela água, mecanismo acelerado por enzi-mas digestivas.As enzimas são catalisadores orgâ-nicos, produzidos pelo organismo, e que regulamo curso da maioria das reações bioquímicas doorganismo. As enzimas digestivas têm funçõesespecíficas, cada uma envolvida com uma faseem ,particular,na decomposição de um compostoem particular.

O trato digestivo do cão e o do gato podemser considerados como um simples tubo oco, ha-vendo algumas porções que se diferenciam porsua estrutura e por sua função. O alimento passada boca em direção do reto, sendo que o refluxoé prevenidopor válvulas entre cada compartimen-to. O movimento do alimento é auxiilado por con-trações musculares das paredes das vísceras, fre-qüentemente coordenadas numa seqüência deno-minada de ",peristaltismo".Isso ocorre quando aonda de contração da víscera se manifesta, con-

duzindo o bolo alimentar com ela. A Fig. 5 mos-tra, de forma muito generalizada, um sistema di-gestivo de monogástrico, que é aplicável ao cãoe ao gato. Os diferentes compartimentos serãoconsiderados separadamente, na ordem em queeles ocorrerem anatomicamente.

Boca

Uma vez que o alimento foi apreendido e con-

sumidó (ou pelo menos colocado em um reci-

Tabela2. ESTRUTURADOS NUTRIENTES

Classe

CarboidratosProteínas

Formas comuns nos alimentos

polissacarídeos (ex. amido)dissacarídeos (ex. sacarose)monossacarídeos (ex. glicose)

proteínas

monossacarídeos(açúcares simples)

.Lipídeos   gorduras neutras

Após a digestão

}peptídeosaminoácidos

glicerolácidos graxasalguns glicérides

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10

Antro

Fig. 7. Estôlllago. de um animal mo.no.gástrico..

as células nas quais é produzida. O pepsinogênioé convertido em pepsina na presença do ácido hi-droclórico, que também proporciona o meio am-biente apropriado para o funcionamento das en-zimas, numa velocidade ótima. O estômago é pro-tegido da pepsina por um fluxo de muco sobresuas paredes.

A secreção de ácido, muco e enzimas dependeda quantidade e composição do alimento no estô-mago, e está sob controle hormonal e nervoso

(Fig. 8).O hormônio gastrina estimula o estômago a

produzir ácido, enzimas, e, também, aumenta amotilidade do estômago. Ele é produzido nas cé-lulas da mucosa antral e liberado para o sanguequando o estômago é distendido ou há alimentopresente. A gastrina "viaja" na corrente sangüí-nea até retomar ao estômago, onde exerce seuefeito na mucosa do corpo. A liberação de gas-trina é eventualmente autolimitante; quando a se-creção ácida causa a queda do pH, a liberaçãode gastrina é inibida. Quando o estômago esvazia,para o intestino delgado, a presença de lipídeosestimula a liberação do hormônio duodenal ente-rogastrona, que faz o estômago cessar a produçãode ácido.

O controle nervoso da secreção gástrica é bemmais direto. Há um reflexo simples e rápido queestimula a secreção, e também uma resposta gus-tativa à visão, cheiro e gosto do alimento, queestimula uma secreção rica em proteases e ácido,em prontidão, para o alimento atingir o estômago.

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

A mucosa antral,por contraste, produz umasolução que é alcalina e pobre em enzimas. Elaé misturada com o alimento antes de sua entrada

no intestino delgado. Ondas mistas originam-seno corpo e, gradualmente, aumentam em compri-

mento conforme alcançam o antro muscular, ondeocorre uma completa mistura. Nesse estágio, oconteúdo estomacal forma um líquido espesso eleitoso, conhecido como quimo.

A velocidade pela qual o estômago libera oquimo para o duodeno (parte mais alta do in-testino delgado) é influenciada por vários fatores,permitindo as condições ótimas para a digestão.Os mecanismos envolvidos são muito simples. Naporção distal (final) do estômago, há um espesso

anel de músculo, chamado esfíncter pilórico, que,

aI Estimulação da secreção

Liberada quando-   estômago estiver dlstendldo-   presença de alimento

bl Inibição da secreção

Fig. 8. Controle da secreção. gástrica.

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BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE ÁGUA E FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÃO

da mesma forma que o esfíncter cardíaco, estánormalmente contraído. Quando chegam as for-ças peristálticas muito fortes, o esfíncter relaxae permite a entrada do quimo para o duodeno.

A presença de ácidos, irritantes, lipídeos ou qui-mo no duodeno inibe o movimento peristáltico doestômago e reduz a taxa de esvaziamento.

O fluido quimo passa mais facilmente atravésdo esfíncter a significar que a passagem do quimoíquido, parcialmente digerido e bem misturado,

é favorecida, particularmente, quando já não hámais nada presente no intestino. Isso 'asseguraque o intestino delgado não receba mais quimodo que ele pode suportar eficientemente, e, tam-

bém, que as" enzimas gástricas tenham oportuni-dades suficientes de trabalhar num meio ambien-e ácido.

Intestino delgado

(a) DIGESTÃO

Mais enzimas são adicionadas ao quimo noduodeno. Algumas delas originam-se da mucosaduodenal e outras do pâncreas. O pâncreas é im-portante não somente como uma glândula exócri-na na digestão (isto é, uma glândula que secretaexternamente), mas também como uma glândulaendócrina (uma glândula que secreta hormôniospara a corrente sangüínea), produzindo insulina.Ele também secreta grandes volumes de bicarbo-nato, na forma de sal, no intestino, neutralizandoo quimo ácido vindo do estômago, proporcionan-do um pH ótimo para as enzimas pancreáticas eintestinais. As enzimas pancreáticas incluem pro-teases inativas, lipases (que digerem lipídeos) eamilases (que digerem carboidratos). As enzimasintestinais geralmente catalisam os últimos está-gios da digestão.

A regulação da produção pancreática está gran-demente sob o controle de dois hormônios, a se-cretina e a pancreozimina (Fig. 9). Ambas sãoproduzidas pelas células da mucosa intestinal, e,

sob certas condições, liberadas para a correntesangüínea. A secretina é liberada em resposta aosácidos no intestino, e estimula a liberação de vo-lumes maiores de bicarbonato pelo pâncreas. Em

11

aI Pela secretina

Secretina (para aAcido   \~~: corrente sangüinea)

,C   , ,I,

Pâncreas(

Bicarbonato

""\    r   j   -.Aci~o r:-=-- - - - -   j  - - - - L   ---)

b) Pela pancreozlmlna

'\  ~Pâncreas

)1   1

Fig. 9. Regulação da secreção pancreática.

contraste, a liberação de pancreozimina é provo-cada pela presença de alimento parcialmente digerido e estimula a liberação de sucos ricos emenzimas. O papel complementar desses hormôniosassegura um uso sem o menor desperdício, dopâncreas.

A bile é, também, adicionada ao quimo no duo-

deno. A bile é um fluido produzido continua-mente pelo fígado; em alguns animais (como cavalos e ratos), ela é depositada diretamente noduodeno, via o ducto biliar. Entretanto, em outrasespécies (ex. homem, cães e gatos) a bile é arma-zenada na vesícula biliar, para ser liberada noduodeno, quando solicitada. A bile contém saisbiliares e pigmentos, e vários produtos residuaisdo fígado, tais como hormônios e metabólitos dedrogas. Os sais biliares não são enzimas, apesar

de eles desempenharem importantes funções nadigestão e na absorção. O mais importante é aemulsificação das gorduras, sendo que a bile agesobre o lipídeo de forma muito semelhante a um

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detergente, quebrando-o em muitos glóbulos di.minutos, com uma superfície muito grande, sobrea qual as lipases podem atuar. Algumasdas lipa-ses são, também, ativadas pela presença de bile,

de forma similar à ativação das proteases peloácido, no estômago.A secretina, o hormônio duodenal, aumenta o

conteúdode bicarbonato e velocidadede fluxo debile. Outro hormônio duodenal, a colecistocinina,causa a contração da vesícula biliar e a liberaçãoda bile armazenada (Fig. 10).

O intestino delgado é assim chamado por cau-sa de seu diâmetro estreito, porém, apesar de seudiâmetro ser muito menor do que o do intestino

"grosso", ele é várias vezes mais longo. A di-gestão é completada no intestino delgado: todasas proteínas digestíveis, lipídeos e carboidratossão reduzidos a aminoácidos, dipeptídeos, glice-rol, ácidos graxos e monossacarídeos. Tão logoessas substâncias são liberadas, elas são absorvi-das, como o são os minerais, as vitaminas e aágua.

(b) ABSORÇÃO

A absorção é a transferência do material di.gerido do lúmen do intestino para o sangue ouvasos linfáticos. Apesar de que alguma absorçãoocorra no estômagoe intestino grosso,de longe amaior proporção de absorção ocorre através damucosa do intestino delgado. A área superficialsobre a qual isso tem lugar é grandemente aumen-

.

". . Secretlna", \ 

I,I,I

II

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Fig. 10. Produção e liberação da bile.

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

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.::.::::::::~:~:~:~::j,.\,~~,.:::,:,::::::=   Capilar"".   Vaso linfático

Lúmen Intestinal

Parede do Intestino

Fig. 11. Vilos intestinais (simplificado).

tada por dobras e numerosas projeções como de-dos, chamadas vilos (Fig. 11). Em alguns cães, aárea superficial do intestino delgado pode serequivalente ao assoalho de uma pequena sala.Movimentos mistos independentes da parede in-testinal, e dos vilos, asseguram que há um bomsuprimento de materiais para as superfícies epi-teliais, e a densa rede de capilares garante quenão haja acúmulo de nutrientes absorvidos, que

poderiam impedir absorções posteriores.Há várias diferentes maneiras pelas quais os

nutrientes são absorvidos. A absorção pode ser"passiva", de acordo com a concentração ou como gradiente osmótico, ou "ativa", exigindo o gas-to de energia para promover "bombas" atravésde células ou membranas. Os aminoácidos e osmonossacarídeosdemonstram alguma difusão pas-siva, mas ela é muito limitada. Os aminoácidossão absorvidos ativamente, por vários sistemas

diferentes de transporte, para as células da mu-cosa e depois se difundem para a corrente san-güínea. Um pouco da proteína digerida é absor-vida na forma de dipeptídeo (dois aminoácidos),por sistemasativos, sendo a ligação peptídica que-brada dentro da célula da parede do vilo, e osdois aminoácidos liberados separadamente paraa corrente sangüínea. Animais recém-nascidossão, também, capazes de absorver proteínas inotactas (por ex., os anticorpos matemos do colos-

tro), por um processo de envolvimento pela cé-lula, conhecido como pinocitose.A captação ativa de monossacarídeo está liga-

da a um complexo de carreamento que depende

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BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE ÁGUA E FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÃO

da captação de sódio. Outros minerais (ex. cál-cio) estão também relacionados com os movimen-tos dos monossacarídeos. Os açúcares e os ami-noácidos são absorvidos para os capilares vilosose, de lá, convergem para a veia porta, que desvia

o sangue para o fígado, antes que ele retome aocoração para a recirculação.O fígado convertemuito da glicose absorvida em glicogênio (regu-lado pelo nível de insulina circulante), e arma-zena-a até que uma queda na glicose sangüíneapeça a conversão do glicogênio armazenado emglicose (regulado pelo hormônio glucagon). O ní-vel circulante de glicose deve ser mantido para,proporcionar um pronto suprimento de energiaviável para os tecidos, particularmente para o

cérebro. Os aminoácidos circulam no sangue esão absorvidos pelas células quando necessário;os aminoácidos excedentes são convertidos emoutros, se necessário, ou transformados, no fíga-do, em uréia,que é excretada pelo rim.

A absorção de gordura difere da de proteínase carboidratos; os ácidos graxos e o glicerol sãoabsorvidos raramente para os capilares dos vilos,sendo que a maior parte deles é absorvida pelosistema linfático dos vilos. Os produtos da diges-tão dos lipídeos, ácidos graxos, o glicerole ostriglicerídeos são insolúveis em água. Entretanto,formam micelas com os sais biliares e com a liso-lecitina, e esses compostos podem se dispersar li-vremente no fluido do intestino. Os ácidos gra-xos de cadeia longa associam-se com os sais bilia-res para formar ácidos coléicos, que são solúveisem água. Os sais biliares e a lisolecitina não sãoabsorvidos com os lipídeos, mas retomam para olúmen intestinal. Após a absorção, ocorre a res-sintetização nas células da mucosa; os triglicerí-

deos e os fosfolípideos são formados e liberadospara O sistema linfático, enquanto o glicerol eácidos graxos de cadeia curta podem se dirigirao sistema porta. A linfa, eventualmente, encon-tra a circulação venosa próximo ao coração.

Os mínerais são geralmente absorvidos em umaforma ionizada. Os meios de absorção variam li-geiramente, de acordo com o local; por exemplo,no jejuno, a captação do sódio está ligada à capta-ção ativa de glicose; no íleo, este processo é

inteiramente ativo, e no intestino grosso, ele émuito ativo (isto é, pode operar contra gradientesde concentração muito fortes), e inteiramente de-

13

pendente do movimento de glicose. A absorçãode minerais depende dos seus níveis no sangue(que influenciarão os gradientes de concentra-ção), e de vários fatores hormonais.

As vitaminas hidrossolúveis (grupo B) são ge-

ralmente absorvidas passivamente, mas podeha,ver alguma absorção ativa. A vitamina B1'2podeser absorvida somente após ter se ligado a umaproteína conhecida como fator intrínseco, que éproduzido pela mucosa gástrica.

As vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) tor-nam-se solúveis pela combinação com os sais bi-liares, e esse fato ajuda sua absorção; Onde hou-ver digestão e absorção normal de lipídeos, de-veria haver uma captação normal das vitaminas

lipossolúveis.A água é absorvida passivamente por difusão,sob um gradiente osmótico. A maior parte daágua é absorvida no intestino delgado, um poucono estômago e no intestino grosso. Se a captaçãode água estiver alterada, uma desidratação pode-rá ocorrer muito rapidamente, já que todas assecreções aquosas no intestino serão perdidas,além da água bebida e daquela contida nos ali-mentos.

Ointestíno grosso

O conteúdo do intestino delgado entra no intes-tino grosso pela válvula ileocecal. Pouco do ali-mento e da água ingerido pela boca chega até ointestino grosso; a água é principalmente destina-da à evacuação na forma de fezes.

O intestino grosso não tem vilosidades, entãosua superfície de absorção é limitada e, apesar

de ele ser capaz de retirar um pouco de água ede eletrólitos, não possui nenhum dos mecanis-mos de transporte necessários para os nutrientesorgânicos. A água é absorvida de maneira dife-rente aqui, passando pelos espaços intercelularesdependendo dos gradientes. O grau de absorçãoé afetado pelo estado do fluido do organismo, re-fletido pela presença ou ausência dos. hormôniosaldosterona e angiotensina. O íleo e o cólon (par-te do intestino grosso) são particularmente sensí-veis a eles. Há, também, uma leve ação inibitóriada secretina, da gastrina e da pancrozimina sobrea captação de água.

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As colônias bacterianas residentes no intestino

grosso são capazes de digerir parcialmente umpouco da proteína e dos resíduos de fibra. Os

produtos dessa digestão dão às fezes seu odor e

sua cor característica. Quaisquer resíduos quenão foram digeridos, junto com a água, mineraise bactérias mortas são armazenados no reto até aevacuação.A defecaçãoestá, geralmente, sob con-trole voluntãrio. envolvendo o relaxamento de .um esfíncter anal; porém a diarréia ou doençaspodem sobrepujar este controle.

Um entendimento da fisiologia do trato diges-tivo ajuda na interpretação das doenças gastro-intestinais. Então, uma absorção pobre de água,

por alterações nos mecanismos,ou por um trân-

.

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

sito muito rápido, resulta em diarréia. Se ocorreruma absorção muito forte, as fezes tornam-se en-durecidas, difíceis de evacuar, resultando emconstipação. Os vômitos podem ser causados por

toxinas ou venenos, que irritam a parede estoma-cal, ou por doenças do esfíncter pi16rico.Engolircorpos estranhos pode causar, também, o vô-mito.

Uma diarréia persistente e o vômito podem serfatais, devido à perda de íons inorgânicos e doefeito da desidratação. Eles podem ser uma indi-cação de danos sérios ou doenças em alguma par-te do trato digestivo.Entretanto, uma náusea oca-sional ou fezes diferentes podem ser causados,por nada mais sério do que uma mudança repen-

tina na dieta ou um período de superalimentação.

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CAPITULO 2

UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES

NUTRI CIO N AIS

I. H. BURGER

Como todas as outras criaturas vivas, os cãese os gatos necessitam de alimento para se mante-

rem vivos e saudáveis. Alimento pode ser defi-

nido como "qualquer substância capaz de nutrir

o ser vivo". Uma descrição mais completa fala

que alimento é qualquer sólido ou líquido que,

quando engolido, pode suprir uma ou qualquer

das seguintes exigências:

materiais que dão energia, com a qual o

corpo pode produzir movimento, calor ou

outras formas de energia;materiais para o crescimento, reparos ou

reprodução;

substâncias necessárias para iniciar ou re-

gular os processos envolvidos nas duas

primeiras categorias.

Os componentes do alimento, que têm essas

funções, são chamados nutrientes e os alimentos

e as misturas alimentares, que são comidos atual-

mente, são referidos como dieta. A estrutura dosnutrientes maiores já foi discutida no Capítulo 1;

a discussão, aqui, restringir-se-á, principalmente,

à função e às exigências. Os principas tipos de

nutrientes presentes nos alimentos são:

(a)

(b)

(c)

Carboidratos   -   proporcionam energia ao corpo.

e podem, também, ser convertidos em gordura

corpórea.

Lipídeos   -   trazem energia de forma mais con-

centrada, liberando, aproximadamente, o do-

bro da quantidade de energia, por unidade de

peso, do que os carboidratos ou as proteínas.

Os lipídeos sempre agem como veículo para as

vitaminas lipossolúveis e para certos tipos delipídeos, geralmente referidos como ácidos gra-

xos essenciais (AGE), que, como o nome su-

gere, são necessários para numerosas funçõesdo organismo e são tão importantes quanto asvitaminas individuais e os minerais. Os AGE

serão discutidos em maior detalhe posterior-

mente, neste capítulo.

Proteínas   -   são importantes porque trazem os

aminoácidos que estão envolvidos no cresci-

mento e no reparo dos tecidos do corpo. Osaminoácidos podem, também, ser metaboliza-

dos para produzir energia.

Minerais e microelementos   -   os "macrominerais"

são substâncias comõ o cálcio e o fósforo, que

são usadas no crescimento e reparo, mas essa

categoria também inclui substâncias necessá-

rias em menores quantidades, tais como ferro,

cobre e zinco. O último grupo é, geralmente,chamado de "microelementos".

Vitaminas - ajudam a regular os processos doorganismo, e são, geralmente, consideradas em

duas categorias: o grupo lipossolúvel e o gru-

po hidrossolúvel. No primeiro grupo estão as

vitaminas A, D, E e K; no último grupo estão

as vitaminas do complexo B (tais como a tia-

mina) e a vitamina C. O outro constituinte im-

portante dos alimentos é a água, e apesar de

não ser vista como nutriente, é essencial paraa vida.

A necessidade de água é secundária somente à

necessidade de oxigênio, o outro elemento vitalnão incluído na lista acima.

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Dificilmente um alimento contém somente umnutriente: a maioria dos alimentos são misturas

complexas, que consistem de uma variedade decarboidratos, lipídeos e proteínas, junto com aágua. Os minerais e as vitaminas (especialmente

as últimas) estão geralmente presentes em quanti-dadesmuitomenores. '

NECESSIDADES E RECOMENDAÇOES

Uma ingestão adequada de nutri~ntes é essen-cial para a saúde e para a atividade do animal;mas, quanto é adequado? Comparado com as ne-cessidades de cães e gatos adultos, há exigênciasadicionais para os estágios mais carentes do ciclode vida, tais como crescimento, gestação e lacta-ção. No caso do cão e do gato, é possível inves-tigar suas necessidades de nutrientes e obter va-lores mais precisos do qu.e é possível para o ho-mem. A quantidade mínima de um nutriente, ne-cessária a cada dia para o metabolismo própriodo corpo é, geralmente, referida como a necessi-dade diária mínima (NDM). Entretanto, mesmoquando foi possível determinar esses valores porinvestigação cuidadosa e extensa, eles não se re-

ferem à variação individual das necessidades queexistem mesmo entre animais de mesma espécie,raça, peso,. sexo e atividade física. Em lugar dese usarem esses valores, é .mais comum se usaremvalores de concessão diária recomendada (CDR),como guia para a adequação nutricional. Essasrecomendações são designadas para assegurar queas necessidades de todos os cães e gatos, virtual-mente sadios foram supridas. Segue-se que a CDRestará sempre em excesso de uma necessidade mí-nima diária (exceto para a energia, que será dis-

cutida na próxima seção) e as necessidades atuaisde nutrientes dos animais serão menores do quea ingestão recomendada. ~ possível, portanto, queuma dieta possa contribuir menos que a CDR,mas ainda prover uma ingestão adequada de nu-trientes.

Um aspecto mais importante é a aplicação deCDR (ou NDM) a um   dado alimento ou misturade a-limentos, isto é, à dieta. A CDR e a NDMserão, inicialmente, medidas como a quantidade

de nutrientes ingeridos pelo animal a cada dia,e terão, geralmente, unidades de g por kg de

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

peso corpóreo, por dia. Mas, em última análise,o modo mais útil e relevante de expressar essevalor é como uma concentração na dieta. Isto dáorigem à questão da quantidade dos diferentestipos de alimentos ingeridos por animais diferen-

tes. Os alimentos variam em sua composição (deenlatados a secos) e os animais, particularmenteos cães, mostram uma grande variação de raçapara raça. A ligação entre essas variáveis é o con-teúdo de energia da dieta.

ENERGIA

A energia difere dos outros nutrientes, em queo apetite normalmente controla a ingestão, e amantém próxima das necessidades. A ingestãoalém das necessidades é indesejável e, eventual-mente, leva à obesidade. O conteúdo de energiada dieta é derivado dos carboidratos, lipídeos eproteínas e a quantidade de cada nutriente numalimento irá determinar seu conteúdo de energia.A água não tem valor energético, então a densi-dade. de energia dos alimentos varia numa rela-ção inversa do seu conteúdo de umidade. A ener-gia é, geralmente, expressa em termos de kilo-

calorias (kcal), onde 1 kcal é definido como aquantidade de calor necessária para elevar a tem-peratura de 1 kg de água de 1 grau centígrado.Uma convenção mais recente expressa a energiaem termos de joule   m,   que é mais difícil de de-finir em termos familiares, e é baseada em umequivalente mecânico ou elétrico do calor. Parao propósito desta discussão, é necessário, somen-te, compreender que 1 kcal é equivalente a apro-ximadamente 4,2 kilojoules (kJ).

O corpo obtém energia oxidando ("queiman-

do") alimentos, mas de forma diferente do pro-cesso de queimar numa caldeira ou máquina avapor, a energia é liberada gradualmente por umasérie de reações químicas complexas, cada umaregulada cuidadosamente por uma enzima.

As enzimas são proteínas especiais que contro-lam a velocidade das reações químicas e, maisimportante, permitem que essas complexas alte-rações ocorram nas condições relativamente ame-nas do organismo. Para se realizar as mesmas al-

terações, num processo industrial típico, condi-ções muito mais extremas de temperatura e pH

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UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS

ou ingredientes altamente reativos, seriam reque-ridos. Muitas enzimas necessitam da presença de

vitaminas ou minerais para funcionar apropria-

damente, e esse aspecto será discutido com mais

detalhes q~ndo esses nutrientes forem conside-

rados.

O cão e o gato, como todos os animais, nãosão .totalmente eficientes na extração de toda a

energia do alimento. A quantidade disponível

para o"brganismo, a chamada energia metabolizá-

vel (EM), é menor do que aquela obtida por quei-

ma dos alimentos (energia bruta). Há, também,

variações entre animais individualmente, em sua

própria eficiência metabólica; então, a única ma-neira de obter uma medida consciente do conteú-

do de EM de um almento é fornecê-Ioa um gru-po tão grande de cães ou gatos, quanto for possí-

vel, e medir (por combustão) a energia fornecida

pelo alimento e a energia perdida nas fezes e naurina.' A EM do alimento é a diferença entre a

ingestão e as perdas. Esta técnica, apesar de per-feitamente executável, consome tempo e gastos,

e não é realizável a menos que estejam disponí-

veis as facilidades de animais especializados. Por-

tanto, através dos anos, uma simples fórmula foi

desenvolvida, usando dados de muitos mamíferos,incluindo o homem, que dá uma aproximação ra-

zoavelmente boa da EM num alimento, a partir

do seu conteúdo em carboidratos, lípides e pro-

teínas, permitindo as perdas em absorção e efi-

ciência. :e geralmente aceito que:

1 g de carboidrato da dieta (calculado comomonossacarídeos) traz 3,75 kcal, ou 16 kT;

1 g de lipídeos da dieta traz 9 kcalou 37 kT;

1 g de proteínas da dieta traz 4 kcal ou 17 kT.

Esta técnica é muito rápida e útil para obteruma estimativa da EM de um alimento ou da

dieta.

Mas deve ser lembrado que ela é somente' uma

aproximação, e que não será, necessariamente,

aplicável com a mesma precisão para todos osalimentos ou misturas alimentares. As recomen-

dações de ingestão de alimentos, baseadas nessas

medidas, geralmente levam em conta essas limi-

tações.

A energia é usada para a execução do trabalho

muscular, .para processos tais como respiração e

17

para outras atividades, como mante'r a tempera-

tura corpórea. Como o homem, os cães e os gatos

mantêm sua temperatura corporal ao redor de

40°C, normalmente bastante acima das condições

ambientais, e grandes quantidades de energia são

necessárias para conseguir isso. Portanto, a pri-meira exigência do animal, quanto à sua dieta,

é a energia. A densidade ~nergética da dieta deve

ser suficientemente alta para permitir que o cão

ou ô gato obtenham calorias o bastante para man-

ter o balanço de energia, e esse é o principal

fator que determina a quantidade de alimento

ingerido a cada dia. Para tanto, nas seções se-

guintes, as exigências de nutrientes são, geral-

mente, expressas em termos de concentração de

EM calculada, sendo que os valores são aplicáveisa qualquer tipo de alimento ou dieta, independen-te de seu conteúdo de água, nutrientes ou valor

energético total.

O National Research Council (NRC), da Natio-

nal Academy of Sciences, nos Estados Unidos,

compilou uma lista dos níveis dietários recomen-dados da maioria dos nutrientes, e freqüentemen-

te, neste capítulo, referir-nos-emos a esses valo-res *. As recomendações estão resumidas na Ta-

bela 3, e são definidas em termos de 400 kcal

de EM. A primeira vista, isso pode parecer bas-tante arbitrário, mas a razão advém do fato de

que a maioria dos alimentos comerciais para cães

e gatos contém, aproximadamente, 400 kcal por

100 g de matéria seca, isto é, após toda a águater sido removida. Então, os valores usados na

Tabela 3 (e em quaisquer outros lugares no tex-

to) podem, também, ser considerados aproxima-

dos de uma concentração por 100 g de matériaseca da dieta.

NUTRIENTES: FUNÇOES E EXIGENCIAS

Carboidratos

Não existe uma exigência mínima de carboidra-

tos na dieta de cães e gatos. Baseando-se em in-

vestigações no cão, e em outras espécies, parece

* O NRC publicou em 1983 uma nova edição das Necessidades de Nutrientes dos Cães.   .

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18   NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

Tabela 3. NtVEIS DIET ÁRIOS RECOMENDADOS DOS NUTRIENTESPARA OS CÃES E GATOS

Notas

ab

c

c

de

f f 

g

h

~

Todos os valores são expressos em termos de 400 kcal de EM, que se aproximamde 100 g de matéria seca nos alimentos comerciais.

* Abreviações: lU   =   Unidades Internacionais; NR   =(a) As quantidades são dependentes do conteúdo de

dieta. Veja, também, a Tabela 4.(b) Não há exigência de lipídeos além da necessidades de ácidos graxos essenciais,

e como carreadores de vitaminas lipossolúveis. As recomendações de ácidolinoléico e araquidônico estão, provavelmente, acima das necessidades reaisdesses dois nutrientes.

(c) As exigências de ferro e de zinco podem ser aumentadas por proteínas vege-

tais (principalmente a soja) da dieta. As recomendações de zinco, para os cães,podem ser próximas às exigências. e possuem apenas uma pequena margemde segurança.

(d) Provavelmente necessário apenas para animais em crescimento, já que os ani-mais adultos podem fabricar quantidades suficientes na pele, sob a ação deluz ultravioleta (UV). Algumas evidências recentes sugerem que os gatos re-querem pouca (se necessitarem!) vitamina D durante seu crescimento, mesmona ausência de luz ultravioleta (UV).

(e) As necessidades são dependentes dos níveis de selênio e de gorduras poliinsa-turados na dieta; as necessidades são aumentadas quando houver grandes quan-tidades de gorduras poliinsaturadas.

(f) Em animais normais e saudáveis, uma grande proporção das necessidades des-sas vitaminas é suprida por síntese bacteriana no intestino.

(g) A necessidade de colina é muito dependente do nível de metionina da dieta.Em gatos, foi mostrado que o aumento da metionina pode substituir comple-tamente a colina.

(h) Última estimativa das necessidades (publicada em 1981).

Não requer.

amionácidos da proteína   da

Nutriente Unidades Cão   Gato,.

Proteína   g   22   28Lipídeo g   5

L}Ácido linoléico   g   1Ácido araquidônico g   NR*Cálcio   g 1,1   1Fósforo   g   0,9 0,8Potássio -   g   0,6   .0,3Cloreto de sódio   g   1,1   0,5Magnésio   g   0,04   0,05Ferro   mg   6 10Cobre   mg   0,73 0,5Manganês mg   0,5   1Zinco   mg   5 3lodo   mg   0,15   0,1Selênio   p.g   11 10Vitamina A   IU* 500 1000Vitamina D IU* 50 100Vitamina E IU* 5 8Tiamina   mg   0,1 0,5Riboflavina -   mg   0,22   0,5Ácido pantotênico   mg   1 1Niacina   mg   1,14 4,5Piridoxina   mg   0,1 0,4Biotina   p.g   10 5Ácido fólico   p.g   18   100Vitamina 812   p.g   2,2   2Colina   mg   120 200

. Taurina   mg   NR* 50

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UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS

que os cães e gatos podem ser mantidos semcar-boidratos se a dieta proporcionar lipídeos e pro-

teínas suficientes, dos quais são derivadas as exi-

gências metabólicas de glicose. Entretanto, recen-

temente foi reportado que o consumo de uma

dieta rica em lipídeos e livre de carboidratos por

cadelas em gestação reduzia, substancialmente, a

sobrevivência de seus filhotes, comparado com

um gr1ij20 controle, que recebia uma dieta con-tendo 44% de EM, na forma de carboidrato. Esse

efeito foi atribuído a uma severa hipoglicemia que

ocorria nas primeiras cadelas, na época da pari-

ção. Nessa ocasião, a fonte de carboidrato era

amido cozido, e há dúvidas de que essa substân-

cia seja prontamente digerida por cães e gatos.

Os açúcares individuais, dissacarídeos, tais como

a sacarose (açúcar da cana) e a lactose (açúcar

do leite) não são tão bem tolerados. A habilidade

de metabolizar esses açúcares é governada, res-

pectivamente, pelas quantidades de enzimas beta-

fructofuronidase (sacarase) e beta-galactosidase

(lactase), presentes nos intestinos. As atividadesda sacarase e da lactasé estão certamente presen-

tes em cães e gatos adultos, apesar de saber que

são mais altas em gatinhos, e diminuem com o

passar dos anos. Se se fornecerem grandes quan-tidades de sacarose, ou de lactose (por ex., uma

grande vasilha de leite), repentinamente, a cães

ou gatos adultos ou jovens, eles poderão apre-

sentar uma diarréia, que é devida, parcialmente,

à purgação (ou evacuação forçada) de natureza

osmótica e, em parte, à fermentação bacteriana

(no intestino grosso) dos carboidratos que esca-

param à digestão. Apesar de essas pequenas quan-tidades de carboidratos (5% das calorias totais)

poderem ser bem toleradas pela maioria dos ani-mais, existem, obviamente, variações na eficiên-

cia individual na utilização dessas substâncias pe-los animais.

Alguns trabalhos recentes com cães sugeriram

que uma dieta rica em lipídeos e livre de carboi-dratos confere algumas vantagens, em corridas

forçadas prolongadas, para cães de corrida com

trenó, quando comparado com dietas contendomais de 38 % de calorias na forma de carboidra-

tos. Essas vantagens incluíam uma alta capacida-de de carregar oxigênio com maior número de

células vermelhas sangüíneas e hemoglobina. En-

19

tretanto, para cães e gatos normalmente ativos, ainclusão de 40-50% de calorias, como carboidra-

to da dieta, não parece representar qualquer des-

vantagem, quando comparado com uma dieta

completa em lipídeosjproteínas, e pode realmen-

te ser benéfica, como já foi indicado anterior-

mente; veja o Capítulo 5.

Lipídeos

A gordura da dieta é a fonte mais concentrada

de energia, e traz palatabilidade e uma textura

mais aceitável aos alimentos dos cães e gatos. Co-

mo os carboidratos, os lipídeos são compostos de

carbono, hidrogênio e oxigênio. Quimicamente,os lipídeos dos alimentos consistem principalmen-

te de misturas de triglicérides, onde cada um de-

les é uma combnação de três ácidos graxos asso-

ciados a uma unidade de glicerol. As diferenças

entre um lipídeo e outro são certamente o resul-

tado dos diferentes ácidos graxos neles contidos.

Há diversos ácidos graxos diferentes encontrados

nos alimentos, e suas estruturas químicas são ca-

racterizadas pelo número de átomos de carbono

e duplas ligações. Os ácidos graxos saturados nãotêm duplas ligações, enquanto os insaturados pos-

suem uma ou mais de uma; aqueles que contêm

mais de uma dupla ligação são conhecidos como

poliinsaturados. A maioria dos lipídeos contêm

todos esses tipos, mas em proporções muito va-riadas.

E difícil de dizer, precisamente, qual a exigên-

cia de lipídeos totais na dieta de cães e gatos.

A única necessidade demonstrável de lipídeos

(além de seu papel como carreador das vitaminaslipossolúveis) é como fornecedor de ácidos graxosessenciais (AGE). O NRC recomenda níveis de

lipídeos de 5% e ,9% de matéria seca, para cãese gatos, respectivamente. Isso representa, aproxi-

madamente, 11% e 20% de calorias, sendo que

esses valores estão baseados largamente nas ne-

cessidades de haver um certo nível de lipídeos

para fornecer a densidade energética exigida e a

palatabilidade da dieta.

Existem três ácidos graxos essenciais geral-mente reconhecidos: o linoléico, o alfa-linoléico e

o araquidônico, sendo que todos eles são poliinsa-

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20

turados. Devido à natureza complexa desses com-postos, é comum designar-se sua estrutura pelonúrdero de átomos de carbono e duplas ligaçõesque eles contêm; assim, o ácido linoléico,. quecontém 18 átomos de carbono e duas duplas li-

gações',é descrito como 18:2. Os ácidos graxosessenciais não podem ser sintetizados pelo orga-nismo e, por isso, são nutrientes essenciais, quedevem ser fornecidos na ~ta. O ácido linoléicoe o alfa-linoléico são os compostos precursores,a partir dos quais compostos mais complexos, decadeia longa (AGE derivados), podem ser sinte-tizados pelo corpo. Os ácidos graxos essenciaissão importantes para a saúde geral do animal, eestão envolvidosem muitos processos,incluindo apele e a função renal, além da reprodução. l! naformação dos ácidos graxos essenciais que se tor-na evidente uma importante diferença entre anutrição do cão e do gato; um contraste entre osdois animais, que se assemelham para outrosnutrientes, mostra que o gato tem um comporta-mento atípico, enquanto que o cão segue os mes-mos padrões da maioria dos mamíferos. Foi re-portado, recentemente, que os gatos têm uma ha-bilidade limitada de converter os ácidos graxosessenciais precursores em derivativos de cadeia

longa; o leão também parece ter perdido essahabilidade. Como resultado, os felíneos necessi-tam de uma fonte dietária de ácidos preformados20:3 e 20:4, que, em termos práticos, significa anecessidadede certa quantidade de ácidos graxosessenciais de origem animal. Atualmente, é difí-cil dar um quadro preciso das necessidades, deácidos graxos essenciais derivados, dos gatos, e épossível que eles também necessitem de ácido li-noléico em sua dieta. As recomendaçõesdo NRCpara o ácidos linoléico e o araquidônico para os

gatos são de 1% e 0,1% da matéria seca (apro-ximadamente 2,3% e 0,23% de calorias), res-pectivamente, mas essas concessões são, prova-velmente, bastante generosas. A recomendaçãopara o cão é de 1% de ácido linoléico, e tam-bém é, provavelmente,mais do que o animal real-mente precisa. As necessidades de ácidos graxosess~ciais para os gatos são assunto de pesquisasatuais, e é possível que os níveis dietários reco-mendados de ácidos graxos precursores e deriva-dos serão mais precisamente definidos num futu-ro próximo.

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

Proteínas e aminoácidos

Todas as proteínas são compostos de carbono,hidrogênio e oxigênio; porém, ao contrário doscarboidratos e dos lipídeos, elas sempre contêm

nitrogênio. A maioria das proteínas também con-tém enxofre. As proteínas são moléculas muitograndes, que consistem de cadeias de centenas(ou, talvez, milhares) de subunidades muito me-nores, chamadas aminoácidos. Apesar de existi-rem somente 20 aminoácidos usados na compo-sição das proteínas, a variedade das' seqüênciasnas quais eles podem se arranjar é quase infini-ta, e disso resulta a grande variedade de proteínasque ocorrem na natureza. O cão e o gato neces-sitam de proteínas na dieta para fornecer os ami-noácidos específicos, que não .podem ser sinteti-zados, pelos seus tecidos, numa quantidade sufi-ciente para um desempenho ótimo. Esses amino-ácidos são, então, transformados em novas pro-teínas, que são os constituintes essenciaisde todasas células vivas, regulando processos metabólicos(na forma de enzimas), fornecendo a estruturasendo, ,portanto, necessários para a reparação epara o crescimento tecidual.

Os aminoácidos podem ser convenientemente

divididos em duas classes: essenciais (indispensá-veis) e não-essenciais(dispensáveis). Como os no-mes sugerem, os aminoácidos essenciais não p0-dem ser fabricados no corpo em quantidades su-ficientes, devendo, portanto, estar presentes nosalimentos. Os aminoácidos não-essenciaispodemser produzidos a partir dos excessos de certosoutros aminoácidos da dieta, embora, como com-ponentes de ,proteínas corpóreas, eles sejam tãoimportantes quanto as variedades essenciais. Osseguintes aminoácidos foram estabelecidos como

essenciaispara a manutenção dos cães adultos (asnecessidades quantitativas estão relacionadas naTabela 4):

TreoninaValinaMetioninaIsoleucinaLeucina

FenilalaninaHistidina

TriptofanoUsina

As exigências dos gatos adultos têm, ainda, de

ser determinadas, mas não parece que elas   se-

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UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS   21

Todos os valores são expressos em mg por 400 kcal de EM, que se aproximamde mg/l00 g de matéria seca da dieta nos alimentos comerciais.

(a) Os valores apresentados para a cistina e para a tirosina refletem o quantoesseli aminoácidos podem substituir as necessidades totais de metioninae fenilalanina, respectivamente.

(b) NE = não exigido.A arginina é, entretanto, exigida pelo gato adulto.

 jam diferentes das do cão, com respeito aos ami-noácidos relacionados na tabela. Onde o gatoadulto difere do cão (e também do rato e do ho-mem) é no fato de que ele requer uma fontedietária do aminoácido arginina. A deficiência dearginina no gato resulta, rapidamente, em efeitosadversos severos, devido a uma falta de habili-dade em metabolizar os compostos de nitrogênio(via o ciclo da uréia) , que se acumulam, então,na corrente sangüínea, na forma de amônia (hi-peramonemia) , e em casos mais sérios podem le-var à morte dentro de várias horas. Parece quenão há um outro componente essencial da dieta(incluindo a água), cuja deficiência tenha talefeito drástico sobre o animal. A rapidez dessesefeitos é secundária somente a uma falta de oxi-gênio. Essa exigência ímpar parece ser devida auma falta de habilidade de sintetizar o aminoáci-do omitina (também um componente do cicloda uréia) , que protege os gatos contra os efeitos

adversos da deficiência de arginina.As exigências de aminoácidos essenciais para

o crescimento dos filhotes de cães e de gatos fo-

ram assunto de muitos estudos nos EUA, nos úl-timos anos. As estimativas mais recentes dessasexigências estão sumarizadas na Tabela 4. Comoindicado, as necessidade de metionina e fenilala-nina podem ser parcialmente supridas (mais de50%) pela cistina e tirosina, respectivamente. En-tretanto, além da necessidade de aminoácidos in-dividuais, todos os animais requerem proteínastotais que forneçam nitrogênio dietário suficientepara que o corpo exerça sua função. Obviamente,os valores obtidos para essas exigências são de-pendentes do conteúdo de aminoácidos essenciaisda proteína, ou das proteínas, em questão. Umaproteína que contivesse todos os aminoácidos, nasquantidades exatamente iguais às exigidas peloscães ou gatos, poderia, logicamente, ser usadanum nível muito mais baixo na dieta, do queuma proteína que contivesse uma baixa concen-tração de um ou mais aminoácidos essenciais.Essa é uma das maneiras pelas quais as proteínas

diferem em sua qualidade nutricional. As proteí-nas animais, geralmente, têm um perfil de ami-noácidos mais balanceado do que as proteínas

Tabela 4.   NíVEIS RECOMENDADOS DE AMINOÁCIDOS PARAOS CÃES E GATOS

CÃO   GATO

Aminoácido Adulto Em crescimento   Em crescimento

Treonina   264 600   680Valina   325 450   510Cistina(a)   88 350   380Metionina 180 450   380Cistina + metionina(a)   268 800   760Isoleucina 302 800   510Leucina 544 600   1020Tirosina(a) 211   425Fenilalanina 304   425Tirosina+ fenilalanina(4)   515 1000 850Histidina   132   130 255

Triptofano   79   150   125Usina   368 650 680Arginina   NE(b)   1000 900

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originárias de plantas, que são, freqüentemente,}\obres em um ou mais aminoácidos essenciais.

Apesar disso, se todos os aminoácidos essen-ciais estão sendo fornecidos, há, ainda, a neces-sidade de nitrogênio adicional, e isso tem sido,tambény objeto de recentes investigações na Grã-Bretanna e E.U.A. Por exemplo, foi relatado, re-centemente, que, se todas as exigências de ami-noácidos essenciais forem atingidas, as necessi-dades de proteínas   totais   para os gatinhos emcrescimento seriam fornecidas por aproximada-mente 16% das calorias das proteínas. Entretan-to, esse quadro foi obtido usando uma dieta sin-tética baseada em aminoácidos individuais, quenão podiam ser considerados típicos de proteínas

dos alimentos. As recomendações do NRCparaas proteínas dietárias do gato são 28 % de calo-rias, para todos os estágios do ciclo de vida, istoé, incluindo os eventos mais exigentes nutricio-nalmente, como crescimento, gestação e lactação.O contraste entre esta recomendação e o valorobtido pela dieta sintética ilustra o cuidado quese deve tomar ao extrapolar resultados obtidosem laboratórios às situações domésticas. Os atri-butos nutricionais das proteínas devem ser con-siderados em termos de aminoácidos essenciais,

e o suprimento desses, na prática, na forma dedietas, será quase que invariavelmente como pro-teínas pré-formadas. O perfil de aminoácidos p0-de variar consideravelmente de uma dieta para aoutra, e esse fato deve ser levado em conta quan-do as recomendações forem feitas. É um bomexemplo da diferença entre uma exigência, deter-minada em condições experimentais definidascuidadosamente, e uma recomendação que deveser aplicada a um número muito grande de ani-mais comendo uma variedade enorme de alimen-

tos. O gato é um animal particularmente apropria-do para ser usado para explicar este aspecto danutrição, porque ele tem sido visto tradicional-mente como um animal que tem uma necessidadealta de proteínas, muito mais alta que a dos ou-tros animais. Uma série de experimentos de ali-mentação (usando uma dieta semi-sintética) fo-ram recentemente desenvolvidos, e sugeriram quesomente por volta de 10% de calorias de proteí.nas são necessárias para manter um gato adulto

em balanço protéico, enquanto o perfil de ami-noácidos essenciais foi ajustado para fornecer

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

Tabela 5. COMPOSIÇÃO DE AMINOACIDOSESSENCIAIS DE UMA DIETA CONTENDO 10%DE PROTErNAS EM RELAÇÃO ÀS CALORIAS,BASEADA NA PROTErNA DO OVO INTEIRO

AminoácidoConcentração na dieta(mg por 400kcal de EM)

512752176320496560832400512912

240176624608

TreoninaValinaCistinaMetioninaCistina + metioninaIsoleucinaLeucinaTirosinaFenilalaninaTirosina + fenilalanina

HistidinaTriptofanoLisinaArginina

quantidades sabidamente adequadas usando va-lores de gatinhos em crescimento. Poderia essenível de proteínas fornecer uma quantidade sufi-ciente de aminoácidos essenciais, usando umafonte   convencional de proteínas?

O ovo inteiro é, geralmente, visto como o ali-mento mais balanceado nutricionalmente, conten-do proteínas da mais alta qualidade. O perfil deaminoácidos essenciaisde uma dieta que contémovos inteiros num nível de 10% de proteínas   01<

por calorias é dado na Tabela 5. Comparando-acom os valores para crescimento de gatinhos, naTabela 4, é duvidoso se esta dieta supriria quan-tidades adequadas de todos os aminoácidos, mes-mo admitindo o fato de que os valores da Tabela

5 são para uma dieta de manutenção de um ani-mal adulto.   .

Apesar dessas qualificações, os experimentospara determinar as exigências precisas de proteí-nas e aminoácidos dos cães e dos gatos são im-portantes passos para se refinar a formulação dasdietas desses animais, numa época em que a pro-teína é um material bastante caro, que deve serusado tão eficientemente quanto possível.

* N.T. - Uma relação é feita entre proteínas e ca.lorias da dieta, sendo que o valor é expresso em por-centagem de proteínas em relação às calorias fornecidas.

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UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS

Taurina

Nenhuma discussão das necessidades de ami-noácidos dos cães e dos gatos seria completa sem,pelo menos, uma breve explanação da importân-

cia da taurina. Estritamente falando, a taurinanão é um aminoácido, mas um ácido aminossul-fônico que não faz parte da cadeia polipeptídicade uma proteína. A taurina é um produto finaldo metabolismo dos aminoácidos sulfurosos, e éproduzida, normalmente, a partir dos aminoáci-dos metionina e cistina, que contêm enxofre. Elaestá envolvida em várias funções, mas a de maiorinteresse é a de estruturação e funcionamento daretina. Uma deficiência geralmente resulta em de-

generação da retina, e uma deficiência na respos-ta visual, apesar de que as alterações possam de-morar um longo tempo para ocorrer, e sinaisóbvios de defeitos visuais podem não ser muitoevidentes até um ano ou mais de uma dieta de-ficiente em taurina. Diferentemente da maioriados outros mamíferos, os gatos não podem sinte-tizar taurina suficiente a partir dos aminoácidossulfurosos. A erizima responsável por essacon-versão não está totalmente ausente no gato, massua atividade não é grande o bastante para suprir

todas as necessidadesdo gato.A sensibilidade especial do gato é aumentadapela sua total dependência de taurina para a for-mação de sais biliares; ao contrário de outrasespécies, ele não pode utilizar glicina para essepropósito (veja o Capítulo 1). Este é ainda umoutro exemplo de uma importante diferença nu-tricional entre o cão e o gato. As pesquisas sobreas exigênciasprecisas de taurina dietária do gatoestão ainda em andamento, mas a última estima-

tiva põe o mínimo entre 0,05% de matéria seca,isto é, aproximadamente 50 mg por 400 kcal. Asfontes mais ricas de taurina são os materiais crusde origem animal; pouco é encontrado em tecidosvegetais.

Minerais e  microelementos

As concentrações dietárias recomendadas des-ses elementos são mostradas na Tabela 3. Essesvalores incorporam as exigências mínimas doscães e gatos (nos quais os dados foram estabele-cidos) e os achados em outras espécies animais.

23

Minerais

CÁLCIO E FÓSFORO

O cálcio e o fósforo estão intimamente rela-

cionados, nutricionalmente falando, e serão, porisso, discutidos juntamente. Eles são os maioresminerais envolvidos em proporcionar a rigidezestrutural aos ossos e aos dentes. O cálcio está,também, envolvido na coagulação sangüínea e natransmissão de impulsos nervosos. O nível de cál-cio no plasma é crucial para essas funções e éregulado muito cuidadosamente. O fósforo tem,também, muitas ç>utras funções (mais funções doque qualquer outro elemento mineral), e uma dis-

cussão completa do metabolismo do fósforo exi-giria que se falasse de quase todos os processosmetabólicos do organismo. O fósforo é um com-ponente de muitos sistemas enzimáticos e está,também, envolvido no armazenamento e na trans-ferência de energia, na forma de compostos orgâ-nicos de fosfato, denominado de alta energia.

Talvez de maior importância, nas exigências decálcio e de fósforo, seja sua proporção na dieta.As proporções ótimas de cálcio e fósforo, paracães e gatos, situam-se entre 1,2 a 4: 1 e 0,9 a

1,1: 1, respectivamente. Qualquer alteração nes-saS proporções, onde o cálcio vem em muito me-nor quantidade do que o fósforo, leva a umaacentuada deficiência de cálcio em relação à for-mação óssea. Há, também, evidências de queuma proporção muito alta é prejudicial, apesarde menos séria do que uma deficiência de cálcio.O metabolismo do cálcio e do fósforo está inti-mamente relacionado com a vitamina D, e issoserá discutido posteriormente, neste capítulo.

POTÁSSIO

O potássio é encontrado em altas concentra-ções dentro das células e é necessário para atransmissão nervosa, balanço de fluidos e para ometabolismo muscular. A deficiência de potássiocausa debilidade muscular, crescimento insatisfa-tório e lesões do coração e dos rins. Entretanto,o potássio encontra-se largamente distribuído nos

alimentos e deficiências de ocorrência naturalsão extremamente raras.

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24 I 

somo E CLORETO

Em contraste com o potássio, o sódio encon-tra-se, principalmente, nos fluidos extracelulares,

porém, com o potássio, é importante para as fun-ções fisiológicasnormais, e essas três substânciasrepresentam os maiores eletrólitos dos líquidoscorporais. O sal comum (cloreto de sódio) é aforma mais usual desses dois minerais, adiciona-dos aos alimentos; a recomendação dietária des-ses elementos é, então, geralmente expressa emtermos de cloreto de sódio. Da mesma forma quepara o potássio, é muito pouco provável que asdietas normais sejam deficientes desses dois mi-nerais.

MAGN1!SIO

o magnésioé encontrado nos tecidos moles doorganismoe nos ossos. Os músculos esqueléticose o cardíaco e o tecido nervoso dependem deum balanço apropriado entre o cálcio e o magné-sio ,paradesempenharemsuas funções normais. Omagnésio também é importante no metabolismo

de sódio e de potássio e desempenha um papelprincipal em muitas reações enzimáticas essen-ciais, ,particularmente aquelas relacionadas como metabolismoenergético. A deficiência de mag-nésio é caracterizada ,por fraqueza muscular e,em casos severos, podem ocorrer convulsões. En-tretanto, uma deficiência dietária de magnésio émuito rara.

Em contraste, ingestões muito altas de magné-sio pelos gatos estão associadas com um aumentode incidência da chamada síndrome urológica fe-lina (SUF). Essa síndrome é caracterizada pordisúria, hematúria, cistites e obstruções do tratourinário por precipitados sólidos que sairiam coma urina. O componentecristalino mais comum dosurólitos felinos é o hexaidrato de fosfato amônio-magnésio (estruvita), e há muitas evidências deque altas concentrações de magnésio na dieta(dez vezes, ou mais, os níveis recomendados) au-mentam a freqüência da SUF. Entretanto, deveser lembrado que essa doença está associada com

muitos fatores de risco, dos quais o alto magné-sio da dieta representa apenas um deles. Umaproporção adversa de cálcio e fósforo da dieta

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

(ou muito maior, ou menor do que 1) tambémfoi relatada estar relacionada com o aumento daincidência de SUF. J! ,possível que, aumentandoo nível de sal (cloreto de sódio) na dieta (mais

de 4% da matéria seca, 4 g por 400 kcal) aliviem-se alguns dos sintomas da SUF, aumentando aingestão de água, por isso aumentando o volumeurinário e diminuindo a concentração de magné-sio da urina."1!,também, possível que o sal inibaa formação de "estruvita" no trato urinário comoresultado do aumento na quanitdade de íons clo-reto na urina. Vale notar que esses efeitos opostosdo magnésio e do sal, em relação à urolitíase,também foram relatados em outros animais, ove-lhas, bezerros e cabras, por exemplo, apesar de

que, no cão, a urolitíase está normalmente asso-ciada com infecções do trato urinário, mais doque com a dieta.

Microelementos

FERRO

O ferro é, provavelmente, o mais conhecido

microelemento e muitas pesquisas foram realiza-das sobre suas funções e exigências, particular-mente no cão. O ferro é um componente da he-moglobina e da mioglobina, que' tem um impor-tante papel no transporte de oxigênio; ele é,também, parte essencial de muitas enzimas (he-meenzimas), que estão envolvidas na respiraçãoa nível celular, isto é~na oxidação de nutrientespara formar energia química.

A absorção do ferro é sabidamente influencia-da por um número de fatores. O ferro ferroso é

melhor absorvido que o ferro férrico, e o ferrocontido em alimentos de origem animal tende aser melhor absorvido do que aquele que provémde fontes vegetais. Algumas evidências recentes,de estudos no homem, sugerem que a inclusão deproteína de soja numa dieta reduz a absorção deferro e de outros microelementos (zinco e man-ganês) e, é importante assegurar, que a concen-tração de ferro em produtos que contêm altosníveis de proteína de soja é sempre superior às

recomendações.A deficiência de ferro resulta em anemia, como quadro clínico típico de fraqueza e fadiga. Ao

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UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS

contrário, o ferro, como a maioria dos microele-mentos, é tóxico, se ingerido em quantidades ex-cessivas. A toxicidade do ferro, em cães, foi ex-tensivamente estudada, e está associada com ano-

rexia e perda de peso. Dos sais de ferro investi-gados, o sulfato ferroso foi o mais tóxico, pro-vavelmente porque sua absorção é alta; o óxidode ferro foi menos perigoso.

COBRE

O cobre está envolvido numa extensa linha de

funções biológicas e é um constituinte de muitossistemas enzimáticos, inclusive um no qual é ne-cessário para a formação do pigmento melanina.

O cobre está intimamente ligado com o me-tabolismo do ferro e sua deficiência perturba aabsorção e o transporte do ferro, diminuindo asíntese de hemoglobina. Então, a falta de cobrena dieta 'pode causar uma anemia, mesmo se aingestão de ferro for normal. Os transtornosósseos também ocorrem como resultado da defi-

ciência de cobre, e, nesse caso, a causa pensa-seser uma redução na atividade de uma enzima quecontém cobre, levando a uma diminuição da

estabilidade e da resistência do colágeno ósseo.Ironicamente, o   excesso   de cobre na dieta po-

de, também, causar anemia, que se pensa serresultante da competição,entre o cobre e o ferro,pelos sítios de absorção no intestino. Sabe-sequecães da raça Bedlington terriers exibem um de-feito incomum, que resulta em excessos tóxicosde cobre no fígado. Esta desordem resulta emhepatite e cirrose, e parece ser hereditária. Parti-cularmente para esta raça de cães, seria uma boaidéia excluir alimentos com alto conteúdo de co-

bre e, também, evitar o uso de suplementos mi-nerais que contenham cobre.

MANGAN~S

Apesar de se conhecer pouco sobre as exigências

de manganês, especificamente, do cão e do gato,

uma quantidade considerável de evidências tem

mostrado que esse microelemento é essencial na

nutrição animal, e não existe razão para se pen-

sar que o cão e o gato sejam diferentes quanto a

esse aspecto.

25

O manganês, sabidamente, ativa muitos siste-mas metal-enzimáticos no organismo, estando,portanto, envolvido numa grande variedade dereações. A deficiência de manganês é caracteri-zada por um crescimento insatisfatório e pertur-bações no metabolismo de lipídeos. Esses efeitos,como aqueles de deficiência de cobre, são prova-velmente causados por uma inativação ou porum mau funcionamento de uma ou mais reaçõescatalisadas por enzimas, associadas com essesprocessos fisiológicos.

Apesar de o manganês ser tido como um dosmenos tóxicos dos microelementos, uma toxici-

dade foi relatada em várias espécies, inclusive emgatos, onde causou baixa fertilidade e albinismo

parcial em alguns siameses.Um dos outros efeitosdo excesso de manganês relaciona-se com a for-

mação de hemoglobina, onde se pensa que suaação é similar àquela anteriormente descrita pa-ra o cobre, isto é, competição com o ferro nossítios de absorção, no trato alimentar.

ZINCO

Com base nos conhecimentos atuais de bioquí-

mica, as funções do zinco podem ser divididas em

duas amplas categorias: função enzimática e sín-

tese protéica. Sabe-se que o zinco é necessário

para os cães e gatos e pesquisas recentes no gato

sugerem que uma dieta baseada em proteínas

vegetais pode aumentar dramaticamente as exi-

gências de zinco - acima de cerca de 10 mg por

400 kcal. Talvez esse efeito esteja relacionado

àquele relatado com respeito à absorção de ferro,

no homem. Sabe-se que o zinco é antagonizado

'pelo cálcio da dieta, apesar de que os mecanis-mos não sejam conhecidos. Uma deficiência de

zinco foi reportada em cães que recebiam uma

dieta contendo 3,3 mg de zinco por 100 g e 1,1%

de cálcio (na matéria seca). Com vistas para esse

fato, e outros fatores que il1fluenciam a absorção

de zinco, os valores recomendados pelo NRC,

dados na Tabela 1, podem estar próximos dasexigências reais e concentrações maiores desse

elemento são aconselháveis para que se obtenha

uma maior margem de segurança.

A deficiência de zinco é caracterizada por um

crescimento insatisfatório, anorexia, atrofia testi-

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cular, emaciação e lesões de pele. Quando dealtas ingestões, o zinco é relativamente atóxico.Ele interfere com a absorção e utilização de ferroe cobre (principalmente o último), portanto a se-

veridade dos efeitos é dependente dos níveis des-ses dois elementos na dieta. Não obstante, comníveis dietários normais de ferro e de cobre, pa-rece que concentrações de zinco superiores a pelomenos 30 mg por 400 kcal não produzirão efeitosadversos.

IODO

A única função conhecida do iodo é na sín-

tese de hormônios tireoidianos, que são liberadospela glândula tireóide, e regulam a taxa metabó-lica do animal. Um dos fatores que influenciam aliberação de hormônios tireoidianos é a disponi-bilidade de iodo suficiente e, na ausência dasquantidades solicitadas, a glândula tireóide au-menta sua atividade com a finalidade de compen-sar a deficiência de iodo. Como resultado, a glân-dula (que se localiza na região do pescoço doanimal) aumenta e se toma túrgida, uma condi-

ção conhecida como bócio, que é o principal si-nal de deficiência de iodo. Entretanto, existemoutros fatores que são importantes na ocorrênciade bócio. Estes incluem agentes infecciosos, subs-tâncias que ocorrem naturalmente nos alimentos(substâncias bociogênicas), que inibem a síntese,liberação ou efeitos gerais dos hormônios ti-reoidianos, e defeitos geneticamente determina-dos em sistemas enzimáticos responsáveis pelabiossíntese desses hormônios.

A redução severa da atividade da tireóide (hi-

potiroidismo) é, geralmente, chamada de creti-nismo quando ocorre em animais jovens, e mixe-dema, quando ocorre nos animais adultos. Am-bas as alterações já foram descritas em cães e adeficiência de iodo também já foi observada emfelídeos de zoológico e em gatos domésticos. Ossinais clínicos incluem anormalidades de pele epêlos, prostração, apatia e sonolência. Podem,também, ocorrer metabolismo anormal de cálcioe deficiências reprodutivas, com reabsorção fetal.

A ingestão de iodo em excesso pode ser tóxica.Em gatos hipotiroídeos, que receberam altas do-ses de iodo (aproximadamente 50 vezes a con-

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

cessão recomendada) relatou-se apresentarem-seefeitos adversos que incluíam anorexia, febre eperda de peso. Em outros animais, reportou-seque altas doses de iodo produziram efeitos agu-

dos, semelhantes àqueles descritos ,para as   defi-ciências.   As altas doses, de certa forma, alterama síntese de hormônios tireoidianos e podem pro-duzir os chamados mixedema ou bócio.

SEL:eNIO

Ironicamente, a atenção foi primeiramente di-rigida para o selênio devido à sua toxicidade. Adescoberta de que ele é um nutriente essencial

para os mamíferos ocorreu bastante recentemen-te, há aproximadamente 25 anos. Qualquer dis-cussão do papel bioquímico do selênio tem delevar em conta a relação muito próxima desseelemento com a vitamina E e com os aminoáci-

dos que contêm enxofre, metionina e cistina. Aligação com a vitamina E é particularmente im-portante, já que um nutriente pode evitar umadeficiência de outro. Entretanto, foi demonstra-do, em muitos animais, inclusive no cão, que o

selênio não pode ser reposto completamente pelavitamina E, e que ele possui uma única e discretafunção. Sabe-se que o selênio é um componenteobrigatório de umaenzima chamada glutationaperoxidase, que é tida como a protetora das mem-branas celulares contra lesões causadas por subs-tâncias oxidantes (notavelmente, osperóxidos li-pídicos), que podem ser liberados por vários pro-cessos metabólicos no organismo. Os aminoácidosque contêm enxofre são necessários para formaras enzimas; a vitamina E provavelmente age den-

tro das membranas, prevenindo a oxidação doslipídeos. Dessa forma, as funções desses três nu-trientes estão intimamente relacionadas.

As interações do selênio são, obviamente, alta-mente complexas, e muito ainda é desconhecidosobre essa substância. Ela pode, por exemplo,esar envolvida em processos não relacion~doscom seu papel como componente da glutationaperoxidase. Tem sido relatado que ela protegecontra a intoxicação por chumbo, cádmio e mer-

cúrio, e foi até implicada como um agente anti-câncer em estudos experimentais e epidemioló-gicos.

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UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS

A deficiência de selênio tem muitos efeitos,

mas um deles, descrito em cães, é a degeneração

do músculo cardíaco e dos esqueléticos. Os efei-

tos da deficiência, em outras espécies, incluem

desordens reprodutivas e edema.Como mencionado anteriormente, o selênio é

altamente tóxico em altas doses, e as evidências

disponíveis ~ugerem que a diferença entre as con-cessões recomendadas e a dose tóxica pode ser

um tanto pequena. A suplementação injudiciosa

dos alimentos é, portanto, particularmente peri-

gosa.

COBALTO

O cobalto é um componente da vitamina B12

e essa pode ser a sua única função biológica no

cão e no gato. Em condições de laboratório, o

cobalto pode substituir o zinco em poucos siste-

mas enzimáticos que contêm zinco, mas se esse

fato tem importância biológica não é conhecido.

Em ruminantes, a vitamina B"2 pode ser sinteti-

zada por bactérias intestinais, na presença de co-

balto, nas porções altas do intestino, a partir de

onde ela é absorvida. Em não-ruminantes, comocães e gatos, essa síntese pode ser de uso limi-

tado, porque ela ocorre principalmente nas por-

ções baixas do intestino, onde a absorção é mí-

nima. Parece que, para ter um valor nutricional

significativo, o cobalto deve ser ingerido pelo

cão e pelo gato principalmente como vitamina

W2.   Com um suprimento adequado da vitamina,

é duvidoso se qualquer cobalto adicional seja

requerido. A vitamina B12 será discutida mais

tarde, neste capítulo.

OUTROS MICROELEMENTOS

Um número de outros microelementos têm sido

demonstrados como necessários para a saúde dos

mamíferos, apesar de que as exigências especí-

ficas não tenham sido estabelecidas para o cão e

para o gato. Esses elementos estão relacionadosna Tabela 6, com um breve resumo de suas fun-

ções. Por trabalhos com outros animais, parece

que as quantidades exigidas na dieta são muito

baixas, geralmente bem abaixo de 1 mg por 400

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Tabela   6. RESUMO DAS FUNÇOES DE ALGUNSMICROELEMENTOS

Elemento   Envolvimento

Cromo   Metabolismo de carboidratos,intimamente relacionado com a funçãoda insulina.

Desenvolvimento dos dentes e dos

ossos. Possivelmente algumenvolvimento com a reprodução.

Função na membrana; possivelmenteenvolvido no metabolismo do ácidonucléico RNA.

Constituinte de várias enzimas, uma

das quais está envolvida nometabolismo do ácido úrico.

Desenvolvimento do esqueleto,crescimento e manutenção do tecido

conjuntivo.

Crescimento, reprodução, metabolismo

de lipídios.Crescimento; também algum efeito na

formação do sangue e possivelmenteprodução de hemoglobina.

Flúor

Níquel

Molibdênio

Sílica

Vanádio

Arsênico

a sílica pode ser necessáriade cerca 5 mg por 400kcal, apesar de quenuma concentraçãokcal.

A probabilidade de existir uma deficiência de

qualquer um desses nutrientes, numa dieta nor-

mal, é quase inexistente. Ao contrário, como coma maioria dos microelementos, todas essas subs-

tâncias são tóxicas se administradas em grandes

quantidades, embora as quantidades que podemser toleradas variem. O arsênico, o vanádio, o

flúor e o molibdênio são os mais tóxicos, enquan-to que quantidades relativamente grandes de ní

quel e cromo podem ser ingeridas sem efeitosadversos.

Vitaminas

Os níveis dietários recomendados para as vitaminas são mostrados na Tabela 3 e esses in-

corporam os resultados obtidos de espécies outras

que o cão ou o gato.

As vitaminas podem ser convenientemente di

vididas em dois subgrupos: lipossolúveis e hidros-

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solúveis. Além das óbvias diferenças químicas, ograu de armazenamento no organismo também édiferente, sendo que as vitaminas lipossolúveissão armazenadas mais do que as do tipo hidros-

solúvel. Um suprimento regular diário é, então,menos crítico no caso das vitaminas lipossolúveis.

Vitaminas llpossolúveis

VIT AMINA A

o termo vitamina A é agora usado para des-crever vários compostos biologicamente ativos,

porém o retinol é a substância de importânciaprimária na fisiologia dos mamíferos. Na natu-reza, a vitamina A é encontrada em grande quan-tidade, !Ul forma de seus precursores, os caro-tenóides, que são pigmentos amarelos e alaran- jados da maioria das frutas e vegetais. Desses, obeta-caroteno é a mais importante "provitaminaA", por ter a maior atividade em uma base quan-titativa, consistindo, essencialmente, de duas mo-léculas tipo vitamina A ligadas, que podem serconvertidas, pela maioria dos animais, em duasmoléculas da vitamina ativa.

. Aqui encontramos ainda uma outra importan-te diferença entre o cão e o gato, como tem sidomostrado que o gato é incapaz de converter obeta-caroteno em vitamina A, enquanto que ocão pode, efetivamente,usar o caroteno para essepropósito. Os gatos, portanto, necessitamde umafonte dietária preformada de vitamina A, cujasformas mais comuns são derivativas do retinol(retini! acetato e retini! palmitato). As conse-

qüênciaspráticas dessa peculiaridade é que o gatodeve ter, pelo menos, algum material cru de ori-gem animal em sua dieta, já que a vitamina Apreformada não está presente em plantas.

A função mais conhecida da vitamina A é comrelação à visão. Ela é encontrada, na retina, com-binada com uma proteína específica,denominadaopsina. O composto resultante é denominado derooopsina (púrpura visual) e, quando de sua ex-posição à luz, ela se decompõe em opsina e um

metabólito do retinol. ~ a troca de energia desseprocesso que produz as transmissões nervosas,que são enviadas, pelo nervo óptico, para o cé-

NUTRIÇÃÓ DO CÃO E DO GATO

rebro, resultando em sensações visuais. Apesar dea decomposição da rodopsina ser reversível, umsuprimento fresco de vitamina A é necessáriopara reformar o ,pigmentovisual completamente

e permitir que o processo continue. A vitamina Aestá envolvida em muitas outras funções fisioló-gicas, sendo uma das mais importantes a regu-lação das membranas celulares; essa vitamina éessencial para a integridade dos tecidos epiteliaise para o crescimento normal das células epite-liais. A vitamina A está, também, envolvida nocrescimento dos ossos e dos dentes.

Como era de se esperar, a deficiência de vita-mina A possui muitos efeitos bastante extensosno organismo, e tem sido observada em muitosanimais, inclusive no cão e no gato. Os sinto-mas incluem a xeroftalmia (excessiva secura dosolhos), ataxia, conjuntivite, opacidade e ulcera-ção da cómea, lesões de pele e alterações dascamadas epiteliais, por exemplo, o epitélio brôn-quico, o trato respiratório, as glândulas saiivarese túbulos seminíferos.

Um excessode vitamina A é tão perigosoquan-to sua deficiência.Uma doença óssea, em que osossos se tomam facilmente quebráveis, com sen-

sibilidade das extremidades, associada com gengi-vite e perda de dentes, foi descrita ~m gatos quetomaram doses excessivas, por tempo prolonga-do, dessa vitamina, na forma de vitamina A pro-priamente dita, ou por se alimentaremde grandesquantidades de fígado cru. Efeitos semelhantestêm sido descritos em cães que ingeriram grandesdoses de vitamina A. Então, a inclusão na dietade alimentos que contêm grandes quantidadesdessa vitamina, por exemplo, fígado e óleos defígado de peixes, deve ser controlada muito cui-dadosamente. A suplementaçãode uma dieta que

 já esteja adequada é não somente desnecessária,mas potencialmente perigosa, devendo ser evi-tada.

VITAMINA D

Há vários compostos que têm a atividade davitamina D, mas os dois mais importantes são

chamados ergocalciferol (vitamina D2) e o cole-calciferol (vitamina Ds). Ambas essas formas sãoefetivas nos cães e nos gatos, como fontes de ati-

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UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS

vidade de vitamina D. Tem havido uma grandequantidade de pesquisas conduzidas recentemen-te sobre o metabolismo da vitamina D em outrosmamíferos e é, agora, conhecido que essa vita-

mina sofre uma série de conversões bioquímicasnos rins e no fígado, antes de se tornar biologi-camente ativa. ,É um derivativo diidroxi dos com-postos precursores que é o mais potente metabó~lito. A vitamina D é freqüentemente chamada de"vitamina dos ossos" e sua função mais estabe-lecida é a de elevar os níveis plasmáticos de cál-cio e de fósforo, até aqueles exigidos para queocorra a mineralização normal dos ossos. No in-testino delgado, a vitamina D estimula a absor-ção de cálcio e de fósforo e também está envol-

vida na mobilização de cálcio do osso, para man-ter uma concentração normal de cálcio no plasma.De fato, a síntese bioquímica dos metabólitos ati-vos é estimulada :por uma queda no cálcio plas-mático.   .

Está claro que as necessidades de vitamina Destão intimamente ligadas às concentrações dietá-rias de cálcio e de fósforo e, também, à propor-ção cálcioj.fósforo. .

Como a vitamina D está envolvida com a ab-

sorção do cálcio, sua ação é mais drástica du-rante o crescimento e desenvolvimento ósseo, istoé, nos animais jovens, em fase de crescimento.A deficiência dessa vitamina causa o raquitismo.Entretanto, há evidências de que os cães e osgatos, em comum com os outros mamíferos, po-dem formar a vitamina Da, a partir de compos-tos lipídicos, na pele, em presença do componen-te ultravioleta da luz solar, e parece que animaisadultos necessitam pouca, ou nenhuma, suple-mentação dessa vitamina na dieta. Além disso,

alguns trabalhos recentes sugerem que os gatossão quase totalmente independentes de uma fon-te dietária de vitamina D, mesmo durante o cres-cimento e protegidos da luz ultravioleta, assumin-do que eles tenham uma dieta com concentraçõesadequadas e uma correta proporção de cálcio!fósforo. Isso se deve ao fato de que os gatos mo-bilizam estoque de vitamina Da, que é adquiridadurante a amamentação.

Como ocorre com a vitamina A, quantidadesexcessivas de vitamina D causam efeitos adver-sos em cães e em gatos, notadamente calcifica-ções extensas nos tecidos moles, pulmões, rins e

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estômago. As deformações dos dentes e das man-díbulas podem, também, ocorrer e a morte poderesultar, se a ingestão de vitaminas for particular-mente alta. A suplementação de vitamina D é,

portanto, potencialmente perigosa e, para o gato,as exigências podem ser tão baixas que qualquerdieta razoável poderá suprir mais do que o ne-cessário desse nutriente.

VITAMINA E

A função que foi primeiramente atribuída aessa vitamina foi a de prevenção de reabsorçãofetal em animais que foram alimentados com uma

dieta contendo toucinho rançoso. O nome quí-mico dessa vitamina (alfa-tocoferol) é derivadoda expressão. grega "Trazer para fora os descen-dentes". Entretanto, recentemente pesquisas so-bre a vitamina E revelaram muito mais sobre asua função no organismo, a-pesar de que os deta-lhes ainda permanecem obscuros.

Ela age como um antioxidante, e é importantena manutenção da estabilidade de membranascelulares; nisso, sua função está intimamente liga-

da àquela do microelemento selênio, que já foidiscutido anteriormente. A exigência de vitaminaE está, também, na dependência dos níveis deácidos graxos poliinsaturados (AGPI), na dieta.Aumentando os AGPI, também aumenta a ne-cessidade de vitamina E, e esse efeito foi mostra-do em muitos animais, inclusive no cão e no gato.e   difícil, entretanto, precisar as recomendaçõespara a vitamina E da dieta; os níveis citados naTabela 1 são baseados nos níveis recomendadospara o selênio e para os AGPI. As gorduras ran-

çosas devem ser evitadas porque são particular-mente destrutivas para essa vitamina.

A deficiência de vitamina E em condições ex-perimentais apresenta uma série de confusasanormalidades físics, mais do que é encontradoem qualquer outra vitamina. Esses efeitos podemser divididos em quatro áreas principais: os sis-temas muscular, reprodutivo, nervoso e vascular.Em cães, a deficiência foi associada com um oumais desses efeitos, incluindo uma distrofia dos

músculos esqueléticos, degeneração do epitéliogerminativo dos testículos e anomalias na gesta-ção. Em gatos, alterações inflamatórias na gordu-

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ra corpórea (esteatite ou "doença da gordura ama-rela") ocorrem quando baixos níveis de vitaminaE são administrados, em presença dos AGPI. Defato, tão grande é a classe da síndrome de defi-ciências da vitamina E que alguns pesquisadores

sustentam que um nutriente tão (aparentemente)vital como esse deve ter outra(s) função(ões) nãorelacionada(s) com esse efeito antioxidante. Fica,ainda, por ver, se as pesquisas subseqüentes pro-varão isso corretamente.

Existem, somente, limitadas informações sobreos efeitos de altas ingestões de vitamina E pelocão e pelo gato. Não foram relatados efeitos de-letérios quando aproximadamente dez vezes o ní-vel recomendado foi fornecido por 15 semanasa cãezinhos Beagle desmamados. Entretanto, emoutras espécies, algumas reações adversas sobre aatividade da tireóide e sobre a coagulação sangüí-nea têm sido notadas quando de altas ingestãesde vitamina E. Portanto, altos níveis desse nu-triente devem ser considerados potencialmente pe-rigosos, apesar de estarem longe de serem tãodanosos quanto os excessos das vitaminas A e D.

VITAMINA K

A vitamina K descreve um grupo de compos-tos, os derivativos da quinona, que regulam aformação de vários fatores envolvidos no meca-nismo de coagulaçãosangüínea. Uma exigência devitamina K foi demonstrada no cão e não pareceque o gato apresente qualquer diferença a esserespeito. Entretanto, as exigênciasnos cães foramdemonstradas em condições experimentais, ondeos animais tomaram-se deficientes em vitaminaK pelo uso de drogas anticoagulantes (tais como

os compostos cumarínicos), que antagonizam aação desse nutriente. Em animais normais e sau-dáveis, a deficiência de vitamina K é muito rara,porque os cães e os gatos, como outros mamífe-ros, obtêm a maior parte, senão toda, a exigên-cia dessa vitamina, por dia, a partir de síntesebacteriana nos intestinos. Somente em condiçõesanormais, tais como uma depressão da síntesebacteriana (pelo tratamento por drogas, por exem-plo) ou interferência com a absorção ou utiliza-

ção da vitamina K, que uma suplementação dadieta é necessária. Uma dieta contendo somente

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

60 llg/kg de matéria seca (aproximadamente 66llg por 400 kcal) foi administrada a Beaglesma-chos e adultos e a gatos, por 40 semanas, semque ocorressem sinais de deficiência, apesar deque a mesma dieta resultou em hemorragias,

quando administrada a ratos. Uma concentraçãode 0,1 mg por 400 kcal foi sugerida como umnível dietário recomendado, apesar de que, ten-do em vista a síntese bacteriana dessa substância,isto deva representar uma margem de segurançamuito grande.

A ingestãomuito alta de vitamina Kpode pro-duzir anemia e outras anormalidades sangüíneasem animais jovens, mas ela não parece ser parti-cularmente tóxica.

Vitaminas hidrossolúveis

As vitaminas hidrossolúveis de importânciapara a nutrição do cão e do gato são todas mem-bros do complexo B, e quase todas estão envol-vidas com a utilização dos alimentos e com aprodução ou interconversão da energia no orga-nismo.

Nesse processo, as vitaminas do complexo Bsão usadas pelo animal para formarem coenzimas

(algumas vezes chamados também de cofatores).Estas são moléculas orgânicas, relativamente pe-quenas, associadas com moléculas enzimáticasmaiores, e que são necessárias às enzimas 'para acatalisação das reações bioquímicas mais eficien-temente. As coenzimasfreqüentemente agemcom-binando-secom e, depois, liberando moléculas oufragmentos de moléculas, como uma "estação bio-química de revezamento". Algumas vezes, mine-rais e microelementos estão também envolvidos

nessas reações, como já foi discutido anteriormen-te neste texto.As vitaminas B são, agora, geralmente conhe-

cidas por seus nomes químicos, mais do que poruma combinação de letras e números; porém, es-sa nomenclaturaalternativa será mencionada paraas vitaminas onde estiver, ainda, em uso comum.

TIAMINA   (ANEURINA, VIr AMINA B1)

A tiamina é um composto que contém enxofre,que participa como enzima na forma de seus pi-

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UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS

rofosfatos (TPP), algumas vezes referida comococarboxilase. A TPP está envolvida em váriasconversões chaves no metabolismo de carboidra-tos, e as necessidades de tiamina são dependen-tes do conteúdo de carboidratos da dieta. Uma

dieta alta em lipídeos e pobre em carboidratosirá poupar a necessidade de tiamina, já que me-nos dessa vitamina é necessário para o metabo-lismo de lipídeos do que para a utilização doscarboidratos.

A deficiência de tiamina foi descrita em cães

e em gatos. Seu resultado primário é uma "lesãobioquímica", com alteração do metabolismo decarboidratos, havendo acúmulo anormal dos com-postos intermediários da via metabólica. A defi-ciência se expressa, clinicamente, por anorexia,desordens neurológicas (principalmente dos me-canismos posturais), seguidas, por' fim, de debili-dade, insuficiência cardíaca e morte. No homem,a deficiência de tiamina é conhecida como beri-

béri. A tiamina é uma vitamina particularmenteimportante, do ponto de vista de formulação dadieta, porque ela é progressivamente destruída pe-lo cozimento e pode, também, ser inativada por

substâncias que ocorrem naturalmente, denomi-nadas de tiaminases, que são encontradas numgrande número de alimentos, principalmente nopeixe cru.

As tiaminases são inativadas pelo calor, sendoque a manutenção de uma ingestão adequada detiamina deve levar todos esses fatores em consi-

deração. Para os alimentos comercialmente pre-parados, a prática normal é suplementar com umaquantidade suficientemente grande, antes do pro-cessamento, de tal forma que se ocorrerem perdasparticularmente sérias, a quantidade remanescen-te no produto final suprirá, ainda, ou até exce-derá as recomendações dietárias.

Como as outras vitaminas hidrossolúveis, a tia-mina é pouco tóxica. Apesar de que injeções in-travenosas de tiamina em cães produzam a mor-te, devida a uma depressão do centro respirató-rio, a dose ingerida por via oral necessária paracausar o mesmo efeito é aproximadamente 40vezes a dose intravenosa, representando um nível

que é milhões de vezes a concentração dietáriarecomendada.

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RIBOFLAVINA   (VITAMINA B2)

A riboflavina é um composto amarelo crista-lino que mostra uma fluorescência amarelo-esver-

deada característica, quando dissolvida em água.A riboflavina é um constituinte de duas coenzi-

mas, a riboflavina 5-fosfato e um composto quí-mico mais complexo denominado de flavina ade-nina dinucleotídeo. Essas coenzimas são essen-

ciais num grande número de sistemas enzimáticosoxidativos. O crescimento celular não pode ocor-rer na ausência de riboflavina.

As necessidades de riboflavina têm sido inves-

tigadas nos cães e nos gatos, e a deficiência é

associada com lesões oculares, desordens na pelee hipoplasia testicular. Existe alguma evidênciade que parte da exigência de ríboflavina pode sersuprida por síntese bacteriana nos intestinos, eque isso é favorecido por uma dieta pobre emlipídeos e rica em carboidratos. Entretanto, asnecessidades diárias dessa vitamina são, certa-

mente, maiores do que qualquer contribuição for-necida por essa via, portanto sendo necessáriauma ingestão regular na dieta.

ÁCIDO PANTOT~NICO

Essa substância é uma constituinte da coenzi-

ma A, que é um componente essencial de reaçõesenzimáticas do metabolismo de carboidratos, li-

pídeos e de aminoácidos. Uma exigência de áci-do pantotênico foi demonstrada em cães e gatos.Há muitos sinais de deficiência, incluindo depres-

são ou insuficiência do crescimento, desenvolvi-mento, ou osteatose hepática e distúrbios gastro-intestinais, inclusive úlceras. Em cães, mas nãoem gatos, uma alopecia também tem sido obser-vada. Esses sinais de deficiência foram produzi-dos usando uma dieta semipurificada. Em cir-cunstâncias normais, usando uma mistura de ali-

mentos, a ocorrência de deficiência de ácido pan-totênico é muito pouco provável, já que ele estábastante difundido em tecidos animais e vegetais,

como indicado pelo seu próprio nome, que signi-fica "derivado de todos os lugares".

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NIACINA   (ACIDO NICOT1NICO)

A niacina é rapidamente convertida, no corpo,no seu derivativo fisiologicamente ativo, nicoti-namida (niacinamida). A nicotinamida é um com-

ponente de duas coenzimas muito importantes, asnicotinamida adenina dinucleotídeos, que são ne-cessárias para as reações de oxidorredução, paraa utilização de todos os macronutrientes. Nas es-pécies mamíferas, inclusive no cão, as necessida-des de niacina são influenciadas pelo nível dietá-rio do aminoácido triptofano, que pode ser con-vertido nessa vitamina. Nos gatos essa conversãonão ocorre mas, ao contrário de outras diferençasentre o cão e o gato, isso não é devido à perda

de uma enzima. O fato ocorre pOl'que a seqüên-cia de reações para a quebra do triptofano podeassumir um entre dois caminhos e, no gato, aenzima re&ponsável pela via "não-niacina" temuma atividade muito alta e efetivamente retiraos metabólitos do triptofano da síntese de niaci-na. Essa via alternativa, eventualmente, decom-põe os metab6litos para fornecer energia, seme-lhante à utilização dos carboidratos.

A deficiência de niacina foi descrita em cãese gatos e é acompanhada de inflamação e ulcera-ção da cavidade oral, com uma saliva espessa,tingida de sangue vertendo da boca, acompanha-da de mau hálito. Refere-se a síndrome de defi-

ciência como "blacktongue" (língua negra) nocão e "pelagra" no homem. A niacina é chamada,algumas vezes, de vitamina preventiva da pela-gra ou fator   PP.

Grandes doses de niacina (mas não nicotina-

mida) produzem uma reação de excitação em mui-tos animais inclusive os cães. Portanto, se gran-

des quantidades terapêuticas dessa vitamina tive-rem de ser administradas, é preferível usar a for-ma de amida. Entretanto, nenhuma das duas for-

mas dessa vitamina pode ser descrita como alta-mente tóxica.

PIlUDOXINA   (VITAMINA B6)

Existem três compostos encabeçados por esse

nome, com atividades efetivas essencialmenteequiparáveis: piridoxina, piridoxal e piridoxami-

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

na. Todos os três ocorrem naturalmente e sãointerconversíveis durante os processos metabóli-cos. O composto biologicamente ativo é o pirido-xal, e a forma de coenzima é o piridoxal-S-fosfa-to, que está envolvido num grande número e va-

riedade de sistemas enzimáticos, quase inteira-mente associados com o metabolismo do nitro-gênio e dos aminoácidos. De fato, o piridoxal éconsiderado essencial para praticamente todas asconversões enzimáticas e degradações não oxida-tivas de aminoácidos. Algumas dessas reações jáforam discutidas em relação a outros nutrientes;por exemplo, a síntese de niacina, a partir dotriptofano, envolve essa vitamina. Como seria dese esPerar, uma dieta rica em proteínas exacer-

ba a deficiência de vitamina Ba, um efeito que écomparado ao efeito das dietas ricas em carboi-drato na deficiência de tiamina.

Foi demonstrado que a piridoxina é requeridapor cães e gatos; a deficiência resulta em perdade peso e um tipo de anemia. Em gatos, danosreais irreversíveis podem, também, ocorrer, comdepósitos tubulares de cristais de oxalato de cál-cio (a piridoxina é necessária para a conversãodo oxalato em glicina). Dermatites e alopecia fo-

ram ocasionalmentedescritas quando de uma de-ficiência de piridoxina em cães.Como as outras vitaminas hidrossolúveis, a pi-

ridoxina e seus derivativos não são consideradosaltamente tóxicos.

BIOTINA

Como as outras vitaminas B, presume-se que

a biotina funcione como coenzima e que seja ne-cessária para certas reações envolvendo o metabo-lismo do grupo carboxil (CC>2), que é, inicial-mente, ligado à biotina, antes de ser transferidopara uma molécula "aceptora". Na deficiência debiotina, há uma redução na incorporação de ami-noácidos às proteínas, aparentemente devida auma queda na síntese de ácido dicarboxílico.Alterações da utilização de glicose e da síntesede ácidos graxos também foram reportadas. Nosestágios iniciais da deficiência, o principal sinal

clínico parece ser uma dermatite descamativa.Apesar de esses efeitos terem sido investigados

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UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS

inicialmente em outros animais, agora é conheci-do que a biotina é requerida por cães e gatos, esinais semelhantes de deficiência foram descritos.Entretanto, é muito difícil de se produzir uma

deficiência de biotina com uma dieta normal,porque a maioria, senão toda a exigência diária,pode ser suprida pela síntese pelas bactérias in-testinais. Sinais de deficiência foram produzidosem cães e em gatos somente quando antibióticosforam dados para suprimir a ação bacteriana egrandes quantidades de ovos brancos inteiros fo-ram incluídas na dieta. A clara do ovo contémuma proteína chamada avidina, que forma umcomplexo estável e inativo, biologicamente, com

a biotina. A avidina também "neutraliza" a bio-tina no alimento,bem como aquela produzida porbactérias. A avidina, por si, é relativamente sen-sível ao calor, portanto, se os ovos tiverem deser incluídos na dieta, deverão ser cozidos e nãocrus. ~, também, importante concluir que algunstratamentos com drogas podem aumentar as exi-gências de vitaminas, como a biotina, que sãofabricadas pelas bactérias intestinais. Entretanto,a probabilidade de naturalmente ocorrer uma de-ficiência de biotina é remota. '

ÁCIDO FOUCO(ACIDO PTEROILGLUT AMICO, FOLACINA)

O ácido fólico é encontrado, na natureza, naforma de conjugados com o aminoácido ácido glu-tâmico. A coenzima biologicamente ativa é o de-rivativo tetraidro, freqüentemente abreviado co-mo THFA ou FH4, havendo várias outras formas

de THFA com atividade de coenzima, todas elasgeralmente grupadas sob o nome genérico de fo-lato, ou coenzimas folato. Os folatos estão en-volvidos na transferência de grupos simples decarbono (exemplo, metil e formil), que são im-portantes de várias maneiras, mas, talvez, as rea-ções m~is significativas sejam aquelas necessáriaspara a síntese de timidina, um componente essen-cial do ácido nucléico DNA. A perda de um for-necimento adequado de DNA impede a matura-

ção normal das células sangüíneas vermelhas, namedula óssea, e os sinais típicos de deficiênciade ácido fólico são, portanto, anemia e leucope-nia. A deficiência de ácido fólico foi descrita em

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cães e gatos, mas, geralmente, só quando dietassemipurificadas eram administradas na presençade antibióticos. Parece que a maior parte da exi-gência diária de folato é suprida por síntese bac-

teriana no intestino.

VITAMINA B12

Essa vitamina é única por ser a primeira subs-tância que contém cobaIto e demonstra ser essen-cialpara a vida, e é a única vitamina que contémum microelemento. A vitamina B12é também co-nhecida como cobalamina mas é geralmente iso-

lada em combinação cOm um grupo cianeto, liga-do ao átomo cobaIto. Esta forma é conhecida co-mo cianocobalamina e é usada algumas vezes co-mo sinônimo da vitamina B12 propriamente dita.A forma ativa de coenzima já é um outro deri-vativo, onde um novo grupamento químico subs-titui o cianeto na molécula precursora. Como osfolatos, a vitamina B12 está envolvida na trans-ferência de um fragmento de carbono e sua fun-ção está intimamente relacionada àquela do ácidofólico.

A vitamina B12 está também envolvida no metabolismo de lipídeos e de carboidratos e na síntese de mielina, um constituinte do tecido nervoso. Os sinais típicos de uma deficiência de vitamina B12, de várias maneiras, assemelham-seàqueles de deficiência de folato, mas,caracteris-ticamente, também envolvem distúrbios neurológicos; como resultado de uma produção inadequa-da de mielina. A vitamina B12é apenas pobremente absorvida dos alimentos, a menos que uma

proteína, um "fator intrínseco", esteja presenteno intestino. Esse fator, presumivelmente, facilitaa transferência de vitamina pela membrana mUcosa. Deficiência de absorção de vitaminaB12,devida a uma falta do fator intrínseco resulta na

anemia perniciosa, com denegeração neurológicaEsses efeitos têm sido descritos em outros ani

mais, inclusive no homem, mas poucas informações são disponíveis com relação ao cão e ao gatoDemonstrou-se que essa vitamina é necessária pa

ra essas duas espécies, mas uma exigência quantitativa não foi determinada. Baseado em dadode outros mamíferos, a quantidade requerida ndieta parece ser muito pequena.

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COLINA

A colina faz parte dos fosfolipídeos, que sãocomponentes essenciais das membranas celulares;ela é o precursor da acetilcolina, um dos compos-tos químicos neurotransmissores do organismo, eé um importante doador de metil, isto é, fornecefragmentos simples de carbono para conversõesmetabólicas, cujo significado já foi discutido nasseções anteriores, com relação ao ácido fólico eà vitamina B12.A deficiência de colina causa vá-rias anormalidades, incluindo disfunção renal ehepática que, no cão e no gato, são manifestadaspor infiltração gordurosa no fígado. O mecanismonecessário para isso é desconhecido, mas pode

estar relacionado a uma biossíntese inadequadados tipos específicos de fosfolipídeos, levando aproporções alteradas do transporte de lipídeos.

A exigência de colina na dieta pode ser mo-dificada por muitos fatores, em particular, pelaconcentração de metionina da dieta. Como a me-tionina pode, também, atuar como doadora demetil, no metabolismo intermediário, um forne-cimento dietário aumentado de uma tende a pou-par a necessidade da outra. Alguns trabalhos re-centes com gatos demonstraram que a metionina

pode repor completamente a exigência dietária decolina, se forneci da em quantidades adequadas.Os valores dados na Tabela 1 são baseados numacontribuição negligenciável de metionina e, por-tanto, representam uma considerável margem desegurança. Tendo em vista o efeito poupador dametionina, e a larga distribuição da colina emmateriais de plantas ou de animais, é muito im-provável que um cão ou um gato tornar-se-á de-ficiente em colina em circunstâncias normais.

ÁCIDO ASCORBICO   (VITAMINA   C)

Ao contrário do homem, os cães e os gatos nãonecessitam de um fornecimento dessa vitaminana dieta, porque eles são capazes de sintetizá-Ia,a partir da glicose. Entretanto, alguns pesquisa-dores têm afirmado que um número de doençasdo ~ão podem ser melhoradas pelo ácido ascór-bico. Além do mais, as doenças do esqueleto, taiscomo osteodistrofia hipertrófica, displasia do qua-

dril, e um número de outras, particularmenteaquelas comuns em raças grandes e gigantes, fo-

NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO

ram lidas por alguns como sendo parecidas comdeficiência de ácido ascórbico (escorbuto). En-tretanto, outros grupos de pesquisas falharam emdemonstrar quaisquer benefícios da vitamina C

em aliviar ou prevenir essas doenças. De acordocom as evidências disponíveis, pareceria não ha-ver necessidade de incluir esse nutriente, em par-ticular, nos alimentos para cães e gatos.

COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS

Está completa a lista de nutrientes importantespara o cão e para o gato. Todas essas substânciasque, nas evidências atuais, estão sabidamente (ou

aparentemente) envolvidas nos metabolismos des-ses dois animais foram aqui incluídas.Naturalmente, é possível que pequisas futuras

revelarão outros compostos químicos com ativi-dade nutricional, mas o que parece muito maisprovável é que informações adicionais serão obti-das sobre as funções, interações e exigências pre-cisas dos nutrientes listados aqui. Apesar de sersempre difícil salientar alguns temas de uma mas-sa relativamente grande de dados, existem trêsque merecem, no mínimo, uma breve menção.

O primeiro é que as funções dos nutrientesnão são isoladas. De fato, as várias interaçõesentre eles representam um dos mais fascinantes einteressantes aspectos das exigências nutricionais,e que estão sempre mudando conforme aumenta-mos os nossos conhecimentos da utilização e dometabolismo dos nutrientes. Seu número é tãogrande que é difícil escolher alguns exemplos,mas aqueles entre o cálcio, fósforo e a vitaminaD, selênio e vitamina E, colina e metionina, e

triptofano, niacina e piridoxina representam umaseleção bastante elucidativa.A segunda e talvez mais importante mensa-

gem é que todos os nutrientes têm uma exigênciafinita: o suficiente é suficiente. Não há resulta-dos mágicos, promotores de saúde, ou proprieda-des que prolongam a vida, quando se trata deuma ingestão excessiva de qualquer que seja onutriente. Uma suplementação não justificada nãosomente é desnecessária, como pode vir a ser pe-rigosa, particularmente no caso dos micronutrien-

tes e das vitaminas lipossolúveis. Além disso, ape-sar de que a discussão das exigências ter sempre

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UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS

sido em termos de ingestão diária de nutrientes,

isso não deve dar a impresão de que os cães e os

gatos devam receber a exata quantidade recomen-

dada todos os dias, sem faltar. Mesmo para as vi-

taminas hidrossolúveis, que não são estocadas de

forma nenhuma no organismo, flutuações levespodem ser toleradas pelos animais saudáveis, sem

quaisquer efeitos mórbidos, enquanto a quanti-

dade média ingerida, digamos, por uns poucosdias, for suficiente. Somente em casos extremos,

como concentrações muito baixas (ou ausência

total) de um nutriente, ou um efeito metabólico

incomum (por exemplo, uma deficiência de argi-

nina no gato), é que o animal parece ter pre-

 juízos.

Por fim, provavelmente o mais interessante as-

pecto da nutrição do cão e do gato, ou seja, as

diferenças entre súas exigências, em particular o

metabolismo atípico do gato. O tema total é que

o gato é dependente de um fornecimento de pelo

menos algum material cru de origem animal emsua dieta, e deve ser visto como um carnívoro

obrigatoriamente. Por que deveria ele não possuirsistemas enzimáticos totalmente ativos responsá-

veis pela produção de taurina, ácidos graxos es-

senciais e vitamina A? Seria possível que durante

a evolução esses sistemas teriam sido perdidos.devido à habilidade da família do gato de caçar

uma presa e sobreviver, o que significa uma dieta

baseada quase inteiramente em alimento de ori-

gem animal? Alternativamente, eram os mamífe-

ros primitivos carnívoros obrigatórios, e a famí-

lia do gatv representa um tronco recente da ár-

vore d'a evolução, com um estilo de vida preda-

tório tão eficiente que foi submetido a pouca, ou

nenhuma, pressão ambiental para desenvolver me-

canismos para utilizar materiais crus de plantas?

Talvez uma investigação das necessidades nutri-

cionais de um mamífero primitivo placentário.

como o ouriço-caicheiro (porco-espinho norte-ame-

ricano) revelaria alguns fatos interessantes que

contribuiriam para esta discussão?

Quaisquer ;que sejam as razões para que haja

as diferenças entre o cão e o gato, deve sempre

ser lembrado por aqueles envolvidos em quais-

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