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lyduong
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O Arqueiro
Geraldo Jordo Pereira (1938-2008) comeou sua carreira aos 17 anos, quando foi trabalhar com seu pai, o clebre editor Jos Olympio, publicando obras marcantes
como O menino do dedo verde, de Maurice Druon, e Minha vida, de Charles Chaplin.
Em 1976, fundou a Editora Salamandra com o propsito de formar uma nova gerao de
leitores e acabou criando um dos catlogos infantis mais premiados do Brasil. Em 1992,
fugindo de sua linha editorial, lanou Muitas vidas, muitos mestres, de Brian Weiss, livro
que deu origem Editora Sextante.
F de histrias de suspense, Geraldo descobriu O Cdigo Da Vinci antes mesmo de ele ser
lanado nos Estados Unidos. A aposta em fico, que no era o foco da Sextante, foi certeira:
o ttulo se transformou em um dos maiores fenmenos editoriais de todos os tempos.
Mas no foi s aos livros que se dedicou. Com seu desejo de ajudar o prximo, Geraldo
desenvolveu diversos projetos sociais que se tornaram sua grande paixo.
Com a misso de publicar histrias empolgantes, tornar os livros cada vez mais acessveis
e despertar o amor pela leitura, a Editora Arqueiro uma homenagem a esta figura
extraordinria, capaz de enxergar mais alm, mirar nas coisas verdadeiramente importantes
e no perder o idealismo e a esperana diante dos desafios e contratempos da vida. Raymond E. Feist
Sumrio
Livro 4 As Trevas de Sethanon: Macros Ressurge 13
Prlogo Ventos Negros 15
Captulo 1 Festival 22
Captulo 2 Descoberta 43
Captulo 3 Assassinato 62
Captulo 4 Embarque 81
Captulo 5 Crydee 99
Captulo 6 Despedida 120
Captulo 7 Mistrios 138
Captulo 8 Yabon 164
Captulo 9 Prisioneiros 187
Captulo 10 Compromisso 213
Captulo 11 Descoberta 240
Captulo 12 Mensageiros 262
Captulo 13 Primeiro sangue 275
Captulo 14 Destruio 296
Captulo 15 Fuga 326
Captulo 16 Criao 348
Captulo 17 Retirada 378
Captulo 18 Para casa 395
Captulo 19 Sethanon 409
Captulo 20 Consequncias 437
Agradecimentos 462
Dedico este livro minha me,Barbara A. Feist,
que no teve um nico momento de hesitao.
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Livro 4 As Trevas de Sethanon
M A C R O S R E S S U R G E
Olhai! a Morte edificou seu trononuma estranha cidade solitria
Edgar Allan Poe, A Cidade no Mar1
1 Edgar Allan Poe, A Cidade no Mar, in Poemas e Ensaios, Traduo de Oscar Mendes e Milton Amado, So Paulo, Globo, 2009, p. 45.
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Prlogo
Ventos Negros
O vento soprava de lugar nenhum.Ganhando vida com o bater do martelo que profere uma senten-a, emanava o intenso calor de uma forja que previa uma guerra exaltada e mortes implacveis. Ganhava vida a partir do centro de alguma terra perdida, emergindo de algum local misterioso entre a realidade e o imaginrio. Soprava do sul, do tempo em que as serpentes andavam eretas e falavam uma lngua antiga. Enraivecido, cheirava a uma maldade ancestral, que ecoava longas profecias esquecidas. O vento rodopiava em frenesi, gi-rando no vcuo, como se procurasse uma direo, e depois parecia se deter, para ento soprar em direo ao norte.
Enquanto costurava, a velha ama murmurava uma cantiga simples que, durante geraes, fora transmitida de me para filha. Fez uma pausa para contemplar seu trabalho. As duas crianas dormiam sob sua proteo, com os pequenos rostos serenos enquanto tinham breves sonhos. De vez em quando, os dedos se flexionavam ou os lbios se franziam em movimen-tos de suco, para depois sossegarem novamente. Eram bebs lindos, que iriam se tornar bonitos rapazes, disso a ama tinha certeza. Quando atin-gissem a idade adulta, teriam apenas vagas recordaes da mulher que os protegia naquela noite, mas, por ora, pertenciam tanto a ela quanto pr-pria me, que acompanhara o marido em um jantar social. Foi ento que
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um estranho vento entrou pela janela, causando-lhe um arrepio, apesar do calor. Produzia um rudo que lembrava uma misteriosa e retorcida disso-nncia, uma quase imperceptvel entoao malvola. A ama estremeceu e contemplou os meninos. Eles ficaram inquietos, como se estivessem prestes a despertar aos prantos. A ama foi apressadamente janela e fechou as ve-nezianas, impedindo a entrada do estranho e perturbador ar noturno. Por instantes, pareceu que o tempo parara, mas depois, como um tnue suspiro, a brisa diminuiu e a noite retornou tranquilidade. A ama aconchegou o xale em volta dos ombros e os bebs agitaram-se inquietos durante mais uns instantes, at carem em um sono profundo e sereno.
Em outro quarto, ali perto, um jovem dedicava-se a uma lista, esforan-do-se para ignorar seus gostos pessoais enquanto decidia quem deveria escolher para servir em uma pequena cerimnia no dia seguinte. Era uma tarefa que detestava, mas que realizava com destreza. Ento o vento empur-rou as cortinas da janela para o interior. Instintivamente, o jovem se levan-tou da cadeira, levando habilmente a mo a um punhal no cano da bota, assim que seu senso de defesa, adquirido nas ruas, alertou-o do perigo. Em posio de combate, permaneceu imvel, com o corao palpitando, duran-te muito tempo, com a certeza da iminncia de uma luta at a morte, que nunca tivera em toda uma vida repleta de conflitos. Ao perceber que no havia ningum ali, o jovem foi relaxando aos poucos. O momento passou. Balanou a cabea, perplexo. Uma estranha inquietao instalou-se em seu estmago enquanto se aproximava lentamente da janela. Permaneceu lon-gos minutos olhando fixamente, atravs da noite, para o norte, onde sabia que estavam as grandes montanhas, e para alm delas, onde um inimigo de forma obscura o aguardava. Os olhos do jovem se estreitaram fitando a es-curido, como que tentando vislumbrar algum perigo espreita nas trevas. Depois, quando o ltimo resqucio de raiva e temor se esvaiu, retornou sua tarefa. Porm, durante o resto da noite, passou a olhar ocasionalmente pela janela.
Na cidade, um grupo de bomios perambulava pelas ruas, procura de outra estalagem e de outros companheiros alegres. O vento soprou en-tre eles e os fez parar por instantes, trocando olhares. Um deles, um merce-nrio de pele bronzeada, recomeou a caminhar, mas logo parou, pensativo. Perdendo subitamente o interesse pela diverso, despediu-se dos compa-nheiros e regressou ao palcio onde morava havia quase um ano.
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O vento soprou sobre o mar, onde um navio regressava ao porto de ori-gem aps uma longa patrulha. O capito, um velho alto com o rosto marcado e um olho branco, imobilizou-se quando o vento fresco soprou. Estava prestes a dar ordens para baixarem as velas quando seu corpo foi percorrido por um estranho calafrio. Olhou para seu imediato, que havia anos o acompanhava, um homem com a cara cheia de marcas de varola. Trocaram olhares, mas logo o vento passou. O capito fez uma pausa, deu ordens para os homens subirem aos mastros, e, aps outro instante de si-lncio, mandou que se acendessem mais lampies para iluminar a opressiva escurido que se fazia sentir.
Mais ao norte, o vento soprou por entre as ruas da cidade, formando pequenos redemoinhos empoeirados que danavam sobre as cala-das, deslizando sobre o solo com movimentos desconexos. Naquela cidade, viviam homens de outro mundo entre os nativos. Entre as foras da guar-nio, um homem do outro mundo lutava com outro criado a menos de um quilmetro do local onde o duelo se travava e faziam-se apostas entre os espectadores. Os dois homens j haviam cado uma vez, e o prximo a ir ao cho seria considerado derrotado. Subitamente, o vento estalou e os dois adversrios se detiveram, olhando em volta. A poeira atingiu os olhos dos espectadores e vrios veteranos queimados de sol tentaram esconder os ca-lafrios. Sem trocar uma palavra, os dois oponentes abandonaram o combate e aqueles que tinham feito apostas pegaram seus investimentos sem protes-tar. Os presentes regressaram em silncio aos seus aposentos e o ambiente festivo do duelo desapareceu antes do vento cortante.
O vento seguiu rumo ao norte at se abater sobre uma floresta onde pe-quenas criaturas simiescas, delicadas e tmidas, se enroscavam nos ga-lhos, procurando o calor que apenas a proximidade do contato fsico podia proporcionar. Mais abaixo, no cho da floresta, estava um homem sentado em postura meditativa. Tinha as pernas cruzadas e descansava os punhos sobre os joelhos, formando, com os polegares e os indicadores, crculos que representam a Roda da Vida qual todos os seres esto vinculados. Seus olhos se abriram repentinamente assim que sentiu o primeiro contato do enigmtico vento, e contemplou o ser sentado diante dele. Um elfo ancio, que revelava apenas os leves traos da idade caractersticos de sua raa,
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contemplou o humano por instantes, captando a pergunta no proferida. Acenou delicadamente com a cabea. O humano apossou-se das duas ar-mas que estavam ao seu lado. Embainhou o comprido sabre e a adaga na cintura; com um simples aceno de despedida, ele se foi, caminhando entre as rvores da floresta e dando incio sua jornada em direo ao mar. L, procuraria outro homem que tambm era amigo dos elfos, e trataria dos preparativos para o confronto final que em breve comearia. Enquanto o guerreiro seguia caminho rumo costa, as folhas das rvores sussurravam acima de sua cabea.
Em outra floresta, folhas tambm estremeciam, em um ato de simpa-tia para com aqueles que eram perturbados pela passagem do ven-to enigmtico. Atravs de um gigantesco abismo de estrelas, ao redor de um Sol amarelo-esverdeado, rodopiava um planeta quente. Nesse mundo, debaixo da calota de gelo do Polo Norte, existe uma floresta gmea da-quela que o guerreiro viajante acabara de deixar. Nas profundezas dessa segunda floresta reunia-se em crculo um grupo de seres contemplados por uma