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O Acidente no Porto de Santana, (AP, 2013): Caracterização Geotécnica do Solo do Porto de Santana Ensaios de Laboratório Fernando A. M. Marinho Universidade de São Paulo

O Acidente no Porto de Santana, (AP, 2013) · 2017. 6. 19. · Carta de Atividade Comparação com outros solos 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 10 20 30 40 50 60 70 %) %

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O Acidente no Porto de Santana, (AP, 2013):

Caracterização Geotécnica do Solo do Porto de SantanaEnsaios de Laboratório

Fernando A. M. MarinhoUniversidade de São Paulo

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Quando uma estrutura é composta de elementos independentes, o arranjo destes elementos pode levar a uma situação de estabilidade débil

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Qualquer alteração na geometria da estrutura pode fazer ruir o sistema estruturado

http://www.ruadireita.pt/largo-do-pelourinho/um-castelo-de-cartas-que-tem-de-ruir-7568.html

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By Georg Wiora (Dr. Schorsch) - self made drawing, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=858366

MetaestávelO solo do Porto de Santana provou ser:

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0

10

20

30

40

50

60

70

80

6.30 6.30 8.30 9.30 12.30 12.30 14.30 14.30 16.10 16.30 20.10 20.30 21.10 22.30 24.30 26.30 27.30 28.30 29.50 31.30 36.50 38.30 38.50 40.30 43.30

Profundidade (m)

ARG SILTE AF AM

GranulometriaArgila

Silte

Areia Média

Areia Fina

Metaestável

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Granulometria

8.00-8.60 m

38.00-38.60m

16.00-16.60m

Silte

Areia

Argila 20%

60%

20%

http://watchingtheworldwakeup.blogspot.com.br/2010/03/dangers-of-riding-on-clay.html

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Teor de Umidade, Limite de Liquidez, Limite de Plasticidade e Índice de LiquidezDados do Porto de Santana

-45.0

-40.0

-35.0

-30.0

-25.0

-20.0

-15.0

-10.0

-5.0

0.0

0.00 0.50 1.00 1.50 2.00 2.50

Co

ta (

m)

IL

-45.0

-40.0

-35.0

-30.0

-25.0

-20.0

-15.0

-10.0

-5.0

0.0

0 20 40 60 80 100 120

Co

ta (

m)

w, LL, LP (%)

𝐼𝐿 =𝑤 − 𝑤𝐿𝑃

𝑤𝐿𝐿 − 𝑤𝐿𝑃

Limite de liquidez

Limite de plasticidade

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8.3

14.3

9.3

12.3

14.3

28.3

27.3

12.3

43.3

40.3

12.3

28.3

14.3

12.3

Curva de Compressão por Sedimentação para Argilas Normalmente Adensadas (Skempton 1970)e Dados do Porto de Santana

Porto de Santana

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Definição e Normalização da ICL

Burland (1990)

(a) (b)(c)

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Linha de Compressão Intrínseca e Linha de compressão por Sedimentação Burland (1990)e os dados do Porto de Santana.

Burland (1990)

Porto de Santana

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“Colapso progressivo da estrutura natural do solo”

Burland (1990

Ivo

s’vo

Linha de Compressão Intrínseca e Linha de compressão por Sedimentação Burland (1990) Interpretação

SCL

ICL

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freshwater glacial lake clay from Sault Ste Marie, near Chicago (Wu, 1958).

Linha de Compressão Intrínseca e Linha de compressão por Sedimentação

outros solos

Burland (1990)

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Linha de Compressão Intrínseca e Linha de compressão por Sedimentação

outros solos

Chandler (2000)

Porto de Santana

Chandler (2000)

Porto de Santana

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Carta de AtividadeComparação com outros solos

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

0 10 20 30 40 50 60 70

Ip (

%)

% <2mm

Porto Santana <35 m

Porto Santana >35m

Argila de Santos (Andrade, 2009)

Argila do Recife - Fereira et al (1986)

Horten Noruega (Hansen, 1950)

St. Thuribe Canadá (Peck et al., 1951)

Porto de Santana

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Microscopia – Solo do Porto de Santana Profundidade de 20,2 m

Plano horizontal Plano vertical

“Textura composta por agregados de minerais argílicos muito unidos, orientados na direção horizontal e com baixa porosidade entre e intra-agregados. Na direção vertical, apresenta partículas e agregados de partículas dispostos aleatoriamente e floculados em algumas partes da amostra, com textura aparentemente mais consolidada e menos aberta que a visualizada nos solos de alta sensibilidade.”

Barreto (2015)

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Microscopia – Solo do Porto de Santana Profundidade de 36,4 m

Plano horizontal Plano vertical “não possui orientação de partículas e agregados em nenhuma das direções e apresenta grande quantidade de microfósseis, que são sílicas livres e agentes cimentantes, e que são capazes de acumular bastante água em seu interior. Estes microfósseis estão floculados juntamente com partículas e agregados de partículas grosseiros, em ambas as direções vertical e horizontal, formando uma textura aberta (um pouco mais aberta na vertical que na horizontal) e ligada por contatos estreitos, conferindo ao material elevada porosidade e metaestabilidade.”

Barreto (2015)

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Microscopia – Solo do Porto de Santana Profundidade de 38,3 m

Plano horizontal Plano vertical

“não possui orientação de partículas em nenhuma das direções, suas partículas estão associadas em flocos, e apresenta grande quantidade de microfósseis, o que confere ao material elevada porosidade e capacidade de acumular água em seu interior. Os microfósseisestão floculados juntamente com partículas e flocos, em ambas as direções vertical e horizontal, formando uma textura bem aberta e ligada por contatos estreitos, conferindo ao material elevada porosidade e metaestabilidade.”

Barreto (2015)

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Giao & Tanaka (2003)

Outros Solos

Pusan Clay – Yangsan (Korea do Sul)

5.4 m 17.4 m

Tanaka et al. (2001)

Pusan Clay

Giao & Tanaka (2003). Geotechnical Characetrization and engineering problems of Pusan clay -Characetrization and Engineering of Natural Soils - 505-

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O Conceito de Excesso de Poro Pressão de Água

Ensaio Triaxial

Lambe & Whitman (1969) Lambe & Whitman (1969)

Lambe & Whitman (1969)

𝐴 =∆𝑢

∆𝜎1

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Strouta & Tjelta (2004)

Lambe & Whitman (1969)

O Conceito de Excesso de Poro Pressão de Água

Ensaio Triaxial

Du

𝐴 =∆𝑢

∆𝜎1

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Resultado de Ensaio com Solo do Porto de Santana (Ensaio Triaxial CIU)

A = 1 A = 0

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Linha e Região de Instabilidade

Modificado de Lade (1992)

Linha de ruptura

Linha de Instabilidade

Porosidade e

Região de instabilidade

Linha de ruptura

Linha de Instabilidade

Topo da trajetória de tensões efetivas

Trajetória de tensões efetivas

“..uma pequena perturbação em depósitos de siltes e areiasfinas, que possuem relativamente baixas condutividadehidráulica, irá induzir uma solicitação não drenada e geraruma instabilização no talude sob condição estática.”

“O início da instabilização requer que o solo tenda acomprimir durante a solicitação não drenada”

“uma vez que a zona de instabilidade é criada, o aumento daporo-pressão de água irá se propagar ampliando a regiãoinstável no talude. Assim, um volume progressivamentemaior de solo instável irá ficar envolvido com o processo, e otalude romperá por liquefação estática.”

Liquefação Estática

K = 10-8 m/s

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u2

qt Du

qt - svo

Bq

𝐵𝑞 =∆𝑢

𝑞𝑛

Parâmetro de poro-pressão normalizado

𝑞𝑛 = 𝑞𝑡 − 𝜎𝑣𝑜

Resistência líquida

∆𝑢 = 𝑢2 − 𝑢𝑜

Excesso de poro-pressão

O Conceito de Excesso de Poro Pressão de Água

Ensaio CPTU

𝐴 =∆𝑢

∆𝜎1

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0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

1.40

1.60

1.80

2.00

-1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0

Bq

lL(%)

Porto de Santana

Oliveira (1991)

Mantaras et al (2015)

Baroni (2010)Porto de Santana

Solos do Recife, Rio de Janeiro e Espirito Santo

Bq – Comparação com outros solos - Ensaio CPTU

Levemente sobre adensadasMayne (2006)

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Conclusões

Trata-se de um silte argilo-arenoso

Apresenta características variáveis com a profundidade.

A uma profundidade que vai da cota -25 à -40 o solo possui características distintas do trecho superior.

A estrutura é floculada e com elevada quantidade de micro fósseis. Esta característica cria uma estrutura com elevada porosidade e por conta das características mineralógicas do solo, com grande capacidade de reter água, como constatado por Barreto (2015).

As características de natureza apontam um comportamento metaestável.

A eventual destruição da estrutura induz elevadas pressões de água desencadeando um processo de fluidificação do material.

O solo do Porto Santana se posiciona acima da linha SCL, o que sugere a presença de algum tipo de cimentação entre as partículas, reforçando a sua metaestabilidade.

Materiais com este tipo de estrutura e no estado em que se encontram são muito difíceis de serem amostrados sem perturbações. Ainda assim observa-se valores de Af > 1.

O melhor parâmetro para identificar a geração de poro pressão é o parâmetro de poro pressão Bq obtido com os ensaios de piezocone. Este parâmetro reflete de forma inequívoca a tendência de geração de poro pressão durante o cisalhamento.

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Obrigado !

Moema, 1866Victor Meirelles (Brasil, SC 1832- RJ 1903)Óleo sobre tela, 129 x 199 cmMASP – Museu de Arte de São Paulo