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O a cor d o n ucl e ar co m o Ir ã : e n t re a esp e r a n ça d a p a z e o precipício d o m edo por P aulo S o t e ro  em18/11/ 201 5 O p re se n te a rti g o d e scr eve o p r o ce sso q u e ga ra n t i u a p r e se r vaçã o do  p acto co m o Irã no Co n g r esso dos Estado s U n ido s , a de s p eito do s e sf or ço s e m co n t r á r i o d a s m a i o ri a s r e p u b l ica n a s q u e co n tr o l a ma C â m a ra de R e p r ese n t a n t e s e o S e n a d o , a p oi a d a s exp l i cit a m e n te p el o  g overno d e I srae l . O te x t o a b o r d a tam b é m a ap r ov a ç ão d o a co r d o pe l as vári a s i n st i t u içõ e s d e p o d e r e m Te e r ã e o i ci o de su a a p li ca çã o p elo  p s , s ob a supe r vi s ã o d o s ins p eto r e s da A g ê nci a Internacio n al de E n er gi a A t ôm i ca ( A I E A ) , con f or m e o cr on o gr a m a d e su spe nsão e sca l o n ada d a s sa n çõ e s e co n ô mica s, a p a rtir d e 2 0 1 6 . O a rti g o tr a ta a i n d a d a s i m p l ic a ç ões int e r n a cio n a i s d o p a ct o , i n i ci a l m e n te p o si ti va s, e co ncl u i co m uma r e exãosobre seu si g n i ca do p a ra o B r a si l q u e, co m a Tu r q u i a , l i d e r o u e m 2 010 uma m a l su ce d i d a te n t a t i va d e m e d i a çã o e n tre o

O Acordo Nuclear com Irã

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O acordo nuclear com o Irã: entre aesperança da paz e o precipício do

medoporPaulo Sotero em 18/11/2015

O presente artigo descreve o processo que garantiu a preservação do

 pacto com o Irã no Congresso dos Estados Unidos, a despeito dos

esforços em contrário das maiorias republicanas que controlam a

Câmara de Representantes e o Senado, apoiadas explicitamente pelo

 governo de Israel. O texto aborda também a aprovação do acordo pelas

várias instituições de poder em Teerã e o início de sua aplicação pelo

 país, sob a supervisão dos inspetores da Agência Internacional de

Energia Atômica (AIEA), conforme o cronograma de suspensão

escalonada das sanções econômicas, a partir de 2016. O artigo trata

ainda das implicações internacionais do pacto, inicialmente positivas, econclui com uma reflexão sobre seu significado para o Brasil que, com a

Turquia, liderou em 2010 uma malsucedida tentativa de mediação entre o

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Irã e a comunidade internacional.

This article describes how the nuclear pact between the E5+1 and Iran

was preserved in the US Congress, despite the Republican majorities

opposition to it and the lobby against it explicitly supported by the Israeli

 government. The text also deals with the approval of the agreement by

the Teeran's institutions of power and the beginning of its application by

the country, under the supervision of the International Atomic Energy

 Agency (IAEA), in return to the suspension of the economic sanctions

against Iran from 2016. The article also brings the international

implications of the pact, that are initially positive, and concludes with a

reflection on its meaning for Brazil that, in 2010, led with Turkey an

unsuccessful attempt to mediate an agreement between Iran and theinternational community. A summary of the agreement, released by the

White House on July 14, 2015, is in the appendix.

O acordo nuclear que os Estados Unidos e os demais membros permanentes doConselho de Segurança das Nações Unidas (Reino Unido, França, China e Rússia),mais a Alemanha, alcançaram com o Irã em meados de 2015 é histórico e poderá

ter desdobramentos altamente positivos para os interesses dos países signatários epara a paz, se for implementado. Não se trata, porém, exatamente de um acordo.Como o próprio nome sugere, o “Plano Abrangente Conjunto de Ação” (JCPOA), nasigla em inglês, anunciado em Viena em 14 de julho passado, é um roteirocuidadosamente construído em resposta ao maior e mais urgente desafio para asegurança internacional desde o fim da Guerra Fria.Negociado ao longo de 18 meses, o JCPOA nasceu sem celebrações. Resumido aoessencial, consiste na aceitação, por Teerã, de limitações a seu programa nuclear,incluindo a promessa de jamais, em circunstância alguma, construir uma bombaatômica, em troca do levantamento de sanções econômicas de mais de $100bilhões de dólares impostas ao longo dos anos pela comunidade internacional, porintermédio de resoluções do Conselho de Segurança da ONU, e de açõesunilaterais dos Estados Unidos e da União Europeia.“Todos os caminhos para o Irã chegar a uma arma nuclear foram cortados”, disse opresidente Barack Obama, ao anunciar o pacto. Ciente da complexidade e das

limitações do acordo, bem como dos riscos inerentes à sua implementação nodecorrer da próxima década e meia, o líder dos EUA evitou dar ao anúncio tom decelebração – em marcado contraste com o clima festivo que marcou o anúncio em

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Teerã, cinco anos antes, dos elementos de um acordo nuclear com o Irã, mediado

pelo Brasil e pela Turquia, que nunca saiu do papel e marcou o maior fiasco dahistória da diplomacia brasileira.

O presidente iraniano, Hassan Rouhani, um clérigo moderado cuja chegada aopoder em 2013 abriu o caminho para as negociações, afirmou que o acordo abriu

“um novo capítulo” nas relações de seu país com o mundo, sem que o Irã tenhaabandonado seu direito de desenvolver um programa nuclear para fins pacíficos,que sempre foi, segundo Teerã, o objetivo do país. Um frustrado primeiro-ministrode Israel, Benjamin Netanyahu, que tudo fez para impedir que o JCPOA se tornasserealidade e, depois, para que fosse barrado no Congresso norte-americano,declarou em 14 de julho que o acordo “tornou o mundo mais perigoso do queestava ontem”.Nas palavras de Robert Litwak, especialista em segurança internacional que atuouno Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca no governo Bill Clinton e hojeé vice-presidente acadêmico do Woodrow Wilson International Center for Scholars,o JCPOA é um “deal”. Ou seja, um trato ou compromisso temporário e transacional,inspirado por uma grande esperança e um grande temor.A esperança foi o que animou Obama a engajar-se na sua realização, contrariandoa opinião doestablishment dos EUA. Ela se baseia no cálculo segundo o qual aRepública Islâmica do Irã está entrando em sua fase pós-revolucionária e que o

acordo nuclear, válido pelos próximos 15 anos, aumentará o poder das forçaspolíticas moderadas e colocará a sociedade da milenar nação persa numa trajetóriapositiva, gerando de dentro para fora as mudanças que a transformarão de ameaçaem garantia da paz e da estabilidade internacional na região mais conflagrada doplaneta.O medo é a aposta tácita que levou o líder supremo da teocracia iraniana, o AiatoláSayyed Ali Hosseini Khamenei, um nacionalista radicalmente antiamericano, a

abençoar um acordo que limita o programa nuclear do país e o coloca sob o maisdrástico regime de inspeção internacional da história da Agência Internacional deEnergia Atômica das Nações Unidas (AIEA). A aposta de Khamenei “é que oregime pode beneficiar-se imediatamente do JCPOA, graças ao levantamento nelecontemplado de duras sanções que sufocam a economia do país, e frustrar seuefeito potencial de transformação da sociedade iraniana, preservando o caráter e aidentidade revolucionários do Estado islâmico profundo”, escreveu Litwak.O líder supremo da República Islâmica, hoje com 76 anos, talvez já não esteja em

cena quando o acordo expirar, em 2030, como ele próprio disse. Obama, cujoscabelos mudaram de preto para grisalho em seus primeiros sete anos na CasaBranca, terá então 66 anos e provavelmente estará com a cabeça branca de

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preocupar-se constantemente com a implementação do acordo, que definirá em boa

medida seu legado, como previu Thomas Friedman, colunista doNew York Times eespecialista em Oriente Médio que fez a primeira e mais abrangente entrevista comObama sobre o acordo, um dia depois da conclusão das negociações(http://www.nytimes.com/2015/07/15/opinion/thomas-friedman-obama-makes-his-

case-on-iran-nuclear-deal.html).Este artigo apresenta, num apêndice, um resumo do acordo divulgado pela CasaBranca em 14 de julho de 2015. Ele descreve o processo que garantiu a

preservação do pacto no Congresso dos Estados Unidos, a despeito dos esforçosem contrário das maiorias republicanas que controlam a Câmara de

Representantes e o Senado, com o apoio explícito do governo de Israel, que devemcontinuar durante sua implementação. O texto aborda também a aprovação do

acordo nas várias instituições do poder em Teerã e o início de sua implementaçãopelo governo iraniano, em outubro, sob a supervisão de equipes de inspetores da

AIEA, segundo cronograma que prevê a suspensão escalonada, a partir de 2016,das sanções econômicas. O artigo trata ainda das implicações internacionais do

pacto, inicialmente positivas, e conclui com uma reflexão sobre seu significado parao Brasil que, em 2010, liderou, juntamente com a Turquia, uma malsucedida

tentativa de mediação do acordo nuclear alcançado este ano entre o Irã e acomunidade internacional.

Como Obama contornou o bloqueio doacordo no Congresso dos EUAProteger o JCPOA contra a oposição declarada da maioria republicana noCongresso americano foi uma proeza política tão difícil de ser realizada quanto aque Hassan Rohani e seus aliados realizaram no Irã para viabilizá-lo. Osrepublicanos haviam prometido sepultar o acordo no Senado. Fariam isso, primeiro,aprovando uma resolução de desaprovação do JCPOA e, segundo, derrubando oveto presidencial que certamente viria. Contavam, para tanto, com o apoio expressodo governo de Israel, cujo líder veio pessoalmente a Washington em março de 2015para denunciar o acordo perante uma sessão conjunta do Congresso como “umaameaça” a seu país e ao mundo. Embora represente apenas cerca de 6% dapopulação dos EUA, os judeus-americanos têm uma influêcia desproporcional a seutamanho porque pertencem às faixas mais afluentes da população e vivem, em sua

maioria, nos dez Estados mais populosos, que constituem também os dez maiorescolégios de eleitores americanos.Os adversários do acordo tinham também a seu favor o cofre e a máquina do

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American Israel Public Affairs Committee (AIPAC). Um influente grupo delobby 

alinhado ao governo de Tel Aviv, o AIPAC anunciou que investiria entre $20 milhõese $40 milhões de dólares numa pesada campanha negativa na televisão e outrasmídias. Implícita nessa estretégia estava a ameaça de negar fundos de campanha aparlamentares simpatizantes. No final de julho, dezenas de deputados e senadores

democratas, entre eles o vice-líder do partido de Obama no Senado, CharlesSchumer, de Nova York, já ameaçavam rebelar-se contra o acordo e humilhar opresidente em casa e perante a opinião pública internacional, aderindo aos

republicanos.A declaração pública de Schumer contra o acordo, confirmada na primeira semana

de agosto, produziu o efeito oposto ao esperado pelos detratores do JCPOA. Emlugar de engrossar a oposição ao pacto, desencadeou uma contraofensiva

cuidadosamente planejada pela Casa Branca para preservá-lo. Segundooperadores democratas, esse foi o trabalho delobby mais extenso, coordenado e

agressivo já visto entre a administração e os democratas no Congresso, cujasrelações durante o governo Obama foram marcadas por desacordos frequentessobre tática e estratégia.Cientes do temor de congressistas democratas à reação negativa ao acordo com oIrã por parte de seu eleitorado e às retaliações dolobby pró-Israel, feitas emameaças veladas de corte em financiamento de campanha, a Casa Branca e seus

aliados no Capitólio concentraram seus esforços exclusivamente na Câmara e noSenado, ignorando a maciça campanha de críticas ao acordo orquestrada peloAIPAC. A ofensiva incluiu contatos diretos e repetidos entre Obama e deputados,algo pouco usual para um presidente frequentemente criticado por não se envolverno viscoso toma lá dá cá cotidiano da política.O processo de revisão de leis pelo Congresso favorecia Obama desde o início.A Casa Branca precisava apenas impedir que se formassem as maiorias de dois

terços nas duas casas necessárias para blindar uma decisão de desaprovação doacordo. Na atual legislatura, isso impunha manter as deserções da bancadagovernista na Câmara de Representantes abaixo de 42, de um total de 188deputados, e abaixo de 13 entre os 46 senadores democratas, incluídos na contaos dois independentes que votam com o partido. Mais urgente e importante para aimagem e a credibilidade internacional dos EUA, porém, era evitar que a votação serealizasse. Para isso, era crucial garantir o apoio de 41 senadores necessário paraarmar uma manobra de obstrução parlamentar e negar o quórum mínimo de 60

senadores, ou três quintos do total, exigido para pôr a matéria em votação.Obama foi ajudado também pela polarização crescente da política americana nosúltimos tempos, que tornou os senadores democratas em estados com eleitorado

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mais conservador, sobretudo no meio-oeste, mais dependentes do apoio maciço da

máquina do partido para mobilizar os eleitores. Segundo pesquisa da firma PublicPolicy Polling, que agrega várias sondagens de qualidade, os eleitores democratas

eram a favor da implementação do acordo por margens de 75% a 25%. No final de julho, o apoio maciço da base democrata refletia-se numa opinião favorável de 54%,

contra 38% do conjunto do eleitorado, a despeito de cenários mais adversos emestados importantes, como Ohio e Missouri.

O papel crucial do secretário de EnergiaO senador republicano Robert (Bob) Corker, opositor ao acordo que preside a

Comissão de Relações Exteriores do Senado, disse à CNN ter ouvido de colegasdemocratas que “a Casa Branca estava quebrando braços e pernas” para impedir

que o Congresso se pronunciasse num voto de desaprovação ao acordo eproduzisse um vexame internacional para os EUA. Os líderes do Partido Democratano Congresso, senador Harry Reid, de Nevada, e a deputada Nancy Pelosi, daCalifórnia, forneceram informações sigilosas sobre o JCPOA a seus colegas mais

relutantes. Estes receberam também atenção especial de conversas com osministros mais importantes do gabinete de Obama, entre eles o secretário de

Estado, ex-candidato presidencial e ex-senador John Kerry, e o secretário doTesouro, Jack Lew, um judeu ortodoxo.

Segundo congressitas democratas, o mais prolífico e eficaz integrante desse grupode ministros foi o secretário da Energia, Ernest Moniz. Renomado físico nuclear doMassachusetts Institute of Technology (MIT), Moniz é de origem portuguesa ecasado com uma brasileira, professora emérita de Língua e Literatura Portuguesada Universidade de Georgetown. Ernie Moniz, como é conhecido, detinha, além desimpatia pessoal, um elemento-chave para convencer os recalcitrantes: ascredenciais de especialista em questões nucleares e a credibilidade de quemnegociou os aspectos técnicos do acordo com os iranianos. Em julho, ele viajou aDetroit para persuadir o senador Gary Peters, de Michigan. Diante das notícias deque a ofensiva republicana contra o acordo poderia causar estrago em Montana,estado esparsamente povoado do noroeste dos EUA com dois senadores e apenasum deputado, Moniz deu entrevistas à imprensa local para evitar que o senador JonTester, sob forte pressão, passasse para o outro lado. O secretário de Energiaconcedeu entrevista também a uma rádio de North Dakota para dar argumentos, junto ao eleitorado do estado, a senadora Heidi Heitkamp, uma democrata centrista

que os olheiros da Casa Branca identificaram como hesitante.Segundo relato da CNN:Moniz foi tão influente no processo de contenção da oposição conservadora que a

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senadora democrata Maria Cantwell, do estado de Washington, que deu o último

voto, dos 43 que tornaram inviável o plano republicano de colocar o acordo com Irã

em votação, esperou para voltar a Washintgon e reunir-se com o secretário de

Energia para receber dele as garantias sobre a capacidade de os inspetores da

 AIEA detectarem atividades no Irã proibidas pelo acordo durante a vigência do

 JCPOA.O vice-líder da minoria no Senado, Richard Durbin, de Illinois, interrompeu mais de

uma vez suas férias com a família, no estado de Oregon, para manter a bancadademocrata unida e frustar o plano dos conservadores para derrubar o acordo. O

vice-presidente Joseph Biden, um ex-senador popular entre seus ex-colegas e queera visto então como candidato potencial à sucessão de Obama, viajou

especialmente à Flórida para garantir a neutralidade, senão o apoio, da deputadaDebbie Wasserman Schultz, uma influente líder judia da bancada democrata.

Wasserman Schultz enfrentava protestos de eleitores em seu distrito, incluindoalguns ativistas que proclamaram que ela iria “para o forno”, numa referência de

óbvio mau gosto ao Holocausto, caso apoiasse Obama no acordo nuclear com oIrã. A deputada, normalmente uma defensora ferrenha da administração, havia sido

incluída numa lista de 57 democratas, elaborada pela líder da bancada na Câmara,Nancy Pelosi, que exigiriam atenção especial. Além das várias reuniões que tevecom grupos de parlamentares, Obama telefonou para todos os recalcitrantes, em

alguns casos mais de uma vez, durante a semana de férias que passou com afamília na ilha de Martha’s Vineyard, em Massachusetts. Em Washington, altosfuncionários da administração fizeram cerca de 250 telefonemas ou visitas pessoaisa congressistas.No dia 10 de setembro, quando o líder republicano no Senado, Mitchell (Mitch)McConnell, de Kentucky, apresentou um projeto de resolução para barrar o acordo,apenas quatro senadores democratas juntaram-se aos 54 republicanos: Schumer,

de Nova York, Robert (Bob) Menendez, de New Jersey, Benjamin (Ben) Cardin, deMaryland, e Joseph (Joe) Manchin, de West Virginia.A bem-sucedida campanha de Obama em defesa do acordo com o Irã resultou nãoapenas dos méritos de um plano bem concebido e magistralmente executado peloExecutivo. Ele refletiu também o pragmatismo que orienta a política externa doprimeiro presidente negro dos Estados Unidos. Determinado a desenredarWashington das armadilhas do Oriente Médio, o líder americano abraçou um planode desenvolvimento do gás de xisto que, embora tenha custos ambientais, em

poucos anos tornou os EUA autossuficientes em geração de energia e menosdependentes de fontes da Península Arábica, onde a estabilidade que existe égarantida pela força por regimes feudais cada vez mais contestados em casa, a

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começar pela Arábia Saudita.

Na pauta econômica, Washington avançou na concretização da ParceriaTranspacífica, um movimento geopolítico calculado para se contrapor à ascensão

da China e que reúne economias representativas de dois quintos do Produto InternoBruto (PIB) mundial. Acordo plurilateral de liberalização entre 12 nações da orla do

Pacífico, o TPP, como é chamado nas iniciais em inglês, terá que vencer fortesresistências no Congresso dos EUA e, eventualmente, do próprio Executivo, se aex-senadora Hillary Clinton, que se declarou contrária ao pacto, confirmar seufavoritismo nas eleições presidenciais de novembro de 2016. Mesmo assim, o TPPé um gesto de afirmação da liderança dos EUA difícil de ser minimizado.Nas Américas, Obama virou a página ao decidir que chegara a hora de abandonara obsoleta e fracassada política de isolar Cuba, que resultara na proeza oposta àpretendida e isolara apenas os próprios EUA. Levará anos até que o históricoanúncio de 17 de dezembro de 2014 sobre a normalização das relações entreWashington e Havana produza todos os seus efeitos. O mais importante deles é olevantamento do embargo econômico contra a ilha, que depende de ato doCongresso americano. Mas a decisão de restaurar as relações bilaterais, quecomeçou a ser implementada com a reabertura de Embaixadas nas duas capitaisem julho de 2015, criou uma dinâmica que deve levar gradualmente à completanormalização desejada pelas sociedades americana e cubana e contra a qual os

seus opositores, uma força minguante nas duas sociedades, terão dificuldades parareverter.A estratégia do fato consumado, ironicamente facilitada pela polarização doCongresso americano, esteve claramente presente também na abordagem daadministração Obama no caso iraniano. Ela contém riscos evidentemente bemmaiores para os EUA e as nações diretamente envolvidas ou afetadas pelo acordocom Teerã em comparação com o que falta para resolver da peleja de mais de meio

século entre as sucessivas administrações em Washington e o regime castrista deCuba. Mas os desdobramentos potenciais positivos embutidos no JCPOA justificama aposta de seus signatários. A inclusão do Irã, no final de outubro, nasnegociações internacionais sobre a Síria, que reuniu os chanceleres de 19 nações

em Viena, foi um primeiro dividendo diplomático do acordo nuclear e reflete a opçãopela esperança dos que apostaram no pacto. Ela reflete fundamentamente o cálculo

de que um Irã tratado como parte da solução dos problemas internacionais tenderáa agir com moderação, buscando soluções que vão ao encontro de seus interesses

de longo prazo como a maior e uma das poucas verdadeiras nações do conturbadoOriente Médio.

Dois tipos de argumentos mostraram-se especialmente eficazes na campanha de

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convencimento da Casa Branca sobre o pacto com o Irã. O primeiro é que o acordo,

embora não contenha garantias pétreas de que Teerã cumprirá sua parte, e aceitaráde forma transparente suas obrigações de signatário do Acordo de Não Proliferação

Nuclear das Nações Unidas (TNP), é melhor do que a falta dele. Esta foi a teserepetida em manifestos e cartas abertas divulgadas nos EUA por generais da

reserva, ex-embaixadores e 29 especialistas em política nuclear, entre os quaisalguns detendores do prêmio Nobel.Com variações, todos sustentaram que a ausência de um entendimento com o Irãlevaria o país inexoravelmente à bomba e exigiria uma resposta militar queincendiaria o Oriente Médio, potencializaria o terrorismo na região e no mundo elevaria a uma guerra sobre a qual os EUA não estão interessados nem emcondições políticas ou econômicas de sustentar após o desastre do Iraque.Este argumento foi trocado em miúdos com os correligionários de Obama noCongresso pelo estrategista democrata Robert Creamer, ancorado num fatopoliticamente poderoso: a maioria dos opositores ao acordo com o Irã foramardorosos defensores da invasão do Iraque em março de 2003, hoje reconhecidapela maioria dos eleitores americanos como um erro histórico que custou caro aosEUA, em tesouro e prestígio, e continuará a gerar consequências nefastas noOriente Médio, como a ascensão do chamado Estado Islâmico. O pesado legadopolítico da Guerra do Iraque, que o presidente George W. Bush iniciou

fundamentado em argumentos baseados em fatos fabricados e apresentados aopaís e ao mundo como verdadeiros, têm se refletido, ao longo de 2015, no fracassoda campanha presidencial de seu irmão mais novo, Jeb Bush.Operou também, para o êxito de Obama, a oposição dos demais membrospermanentes do Conselho de Segurança da ONU, bem como de uma massa críticade nações influentes, a manter ou aprofundar o regime de sanções contra o Irã. Namesma linha, o secretário do Tesouro, Jack Lew, cujo ministério tem a incumbência

de aplicar o regime de sanções econômicas contra Teerã, disse aoNew York Timesque aqueles que acreditam que novas e mais severas sanções econômicasunilaterais contra o Irã convenceriam o país a desmantelar seu programa nuclear oua mudar o caráter do regime islâmico estavam envolvidos “numa perigosa fantasia”,que ignora realidades econômicas e diplomáticas.Como mencionado, a maioria dos eleitores americanos apoia o acordo, ainda quecom restrições. Isso é verdade em todas as faixas etárias e grupos étnicos, entrehomens e mulheres e mesmo entre os judeus-americanos. Segundo pesquisa

encomendada pelo J Street, olobby rival do AIPAC na comunidade judaica norte-americana, esse segmento do eleitorado aprovava o pacto por 60% a 40% no finalde julho.

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Embora pesquisas de opinião sejam menos confiáveis no Irã, a premissa do apoio

da população do país ao trato feito pelo governo islâmico, com o objetivo primordialde obter o levantamento das sanções econômicas internacionais, revelou-se em

outubro nas declarações de apoio condicional feitas por Khamenei e reiteradas,dentro do cronograma previsto, pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional,

pelo Parlamento iraniano e as demais instâncias do poder da República Islâmica. OAiatolá deixou claro que a adesão de seu país ao JCPOA não deve ser interpretadacomo indício de desejo de uma distensão nas relações entre o Irã e os EUA. Eadvertiu que Teerã não aceitará atrasos na suspensão das sanções econômicasnem sua reimposição, defendida por conversadores em Washington comorepresália ao apoio iraniano a atividades, no Líbano e na Síria, de gruposclassificados como terroristas ou à prisão de cidadãos americanos.O presidente do Irã, Hassan Rohani, disse que seu país espera que a AIEA atue demaneira “justa” em seu trabalho de monitoramento da execução do acordo por seupaís, que resultará na redução de 19 mil para 6 mil no total de centrífugas deenriquecimento de urânio. “Ao implementar o JCPOA, executaremosvoluntariamente o Protocolo Adicional e esperamos que o monitoramento pela AIEAda implementação do acordo seja equilibrada”, disse Rohani ao diretor-geral daAIEA, o japonês Yukiya Amano, ao recebê-lo em Teerã, em setembro. Ele afirmouesperar que a agência acelere suas operações em 2016 para fortalecer o progresso

científico nos países membros do TNP, “incluindo o Irã”.Cinco anos depois de amargar os efeitos de uma frustrada tentativa de, juntamentecom a Turquia, mediar um acordo nuclear entre o Irã e a comunidade internacional,o Brasil saudou o anúncio do JCPOA com uma nota. “O governo brasileiro saúdatodas as partes pela vontade política, persistência e determinação demonstradas aolongo de um processo de negociação complexo e de elevada sensibilidade”, afirmouo Itamaraty no texto. “Essas qualidades serão cruciais também para a plena e

oportuna execução do acordo”, acrescentou o Ministério das Relações Exteriores,lembrando que o Brasil apoiara esforços diplomáticos para garantir a naturezaexclusivamente pacífica do programa nuclear iraniano. O comunicado lembrou aDeclaração de Teerã, de 17 de maio de 2010, cujo anúncio foi feito e celebrado

publicamente pelos então presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, do Irã,Mahmoud Ahmadinejad, e pelo ainda presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

A declaração – uma enumeração de dez princípios que orientariam a negociaçãode um acordo – nunca saiu do papel e nem produziu o efeito imediato para o qual

fora calculado, que era impedir a imposição de uma nova rodada de sançõeseconômicas contra o Irã por descumprimento de duas obrigações sob o TNP.

O então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que aparentemente

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contava com vetos da China e da Rússia a novas sanções no Conselho de

Segurança da ONU em 2010, viu Pequim e Moscou alinharem-se rapidamente aWashington, Londres e Paris na aprovação de novas represálias. A versão oficial à

época, ouvida ainda hoje em corredores oficiais em Brasília, foi que Obama, queenviara cartas Lula e Erdogan incentivando-os a buscar o entendimento com Teerã,

enfrentou forte resistência interna, liderada pela então secretária de Estado HillaryClinton, e acabou cedendo.O ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia contestou a teoria de Amorim no livro Aposta

em Teerã, no qual escreveu que a iniciativa de Brasília e de Ancara, comandada nolado brasileiro por Amorim, “estava fadada ao fracasso desde o início”. Ao saudar oacordo anunciado em julho passado, Amorim reconheceu que o acordo é de “umacomplexidade muito maior” do que a enumeração de princípios feita em clima defesta, em 2010, em Teerã. Mesmo assim, ele reivindicou algum crédito, afirmandoque o Brasil contribuiu “com um grãozinho de areia” ao “apostar sempre em umasolução positiva” e ao mostrar que o entendimento era possível.Essa certamente não era, no segundo semestre de 2015, a percepção dominantenas chancelarias dos países que negociaram o JCPOA e mesmo no Itamaraty,onde ganhou espaço a tese segundo a qual, boas intenções à parte, a iniciativabrasileira foi um erro crasso alimentado pelo voluntarismo da era Lula e produziu omaior fiasco da história diplomática do país. O episódio marcou também o início de

um período de retração da política externa brasileira, que a inapetência e a falta detemperamento da presidente Dilma Rousseff para a diplomacia só fizeram aumentara partir de 2011. A paralisante crise política, econômica e ética que se abateu sobre

o Brasil em 2015 tornou ainda mais evidente o esgotamento da diplomaciabrasileira e da capacidade de ação do Itamaraty, privado de meios para funcionar

de maneira apropriada. Expôs, também o fracasso da “Política Externa Altiva eAtiva”, para citar o título do livro que Amorim escreveu sobre seus oito anos como

chanceler de Lula.

Principais trechos do acordoTópicos do acordo nuclear entre o Irã, oficialmente chamado de Plano AbrangenteConjunto de Ação (JCPOA), e os cinco membros permanentes do Conselho deSegurança das Nações Unidas (Estados Unidos, Reino Unido, França, China eRússia) mais a Alemanha.

Preâmbulo e disposições geraisA plena implementação deste JCPOA garantirá a natureza exclusivamentepacífica do programa nuclear do Irã.

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O Irã reafirma que, sob nenhuma circunstância, desenvolverá ou adquirirá

armas nucleares.Este JCPOA resultará na retirada de todas as sanções do Conselho de

Segurança da ONU, assim como das sanções multilaterais e nacionais relacionadasao programa nuclear iraniano.

A Comissão Mista, que inclui o E3/UE+3 e o Irã, será estabelecida paramonitorar a implementação deste JCPOA e desempenhará as funções previstasneste JCPOA. (E3 refere-se aos Estados Unidos, China e Rússia; UE+3 refere-se aFrança, Reino Unido e Alemanha)

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) será chamada aacompanhar e verificar as medidas voluntárias relacionadas ao programa nuclear,conforme detalhado neste JCPOA. A AIEA será convidada a apresentarregularmente atualizações para o Conselho de Governadores e, tal como previstoneste JCPOA, também ao Conselho de Segurança da ONU.

O E3+3 deverá apresentar um projeto de resolução para o Conselho deSegurança da ONU, endossando esta JCPOA, afirmando que a conclusão destemarca uma mudança fundamental na visão [do Irã] deste tema e expressando seudesejo de construir uma nova relação com o Irã.

Nuclear – Enriquecimento, enriquecimento

de pesquisa e desenvolvimento (R&D),arsenais

O plano iraniano sobre o enriquecimento de urânio de longo prazo e/ouatividades relacionadas ao urânio inclui certas limitações pré-acordadas, incluindocertas limitações a pesquisas específicas e atividades voltadas ao desenvolvimento(R&D) durante os oito primeiros anos, a ser seguido a partir de uma evolução

gradual, em um ritmo razoável, até a próxima fase da atividade de enriquecimento,para fins exclusivamente pacíficos.

O Irã começará a tirar suas centrífugas IR-1 em dez anos. Durante esteperíodo, o Irã manterá seu programa de enriquecimento em Natanz, totalizando umenriquecimento de urânio em centrífugas de capacidade 5060 IR-1. Excesso decentrífugas e enriquecimento relacionados à infraestrutura de Natanz serãoarmazenados sob monitoramento contínuo da AIEA.(Nota: O Irã tem atualmente

instaladas cerca de 19 mil centrífugas IR-1 e centrífugas avançadas, de porte IR-2M).

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Com base no seu plano de longo prazo, o Irã irá manter o seu nível de

enriquecimento de urânio em até 3,67% durante 15 anos.(Nota: antes do JCPOA, o Irã enriqueceu urânio em quase 20%).

O Irã abster-se-á de qualquer enriquecimento de urânio, de enriquecimento deurânio proveniente de R&D e de manter qualquer material nuclear em Fordow por

15 anos.(Nota: o Irã atualmente tem cerca de 2.700 centrífugas IR-1 instaladas em

Fordow, das quais cerca de 700 são para enriquecer urânio).O Irã deverá converter sua instalação de Fordow em um centro para estudos

nucleares, de física, e de tecnologia.1.044 máquinas IR-I permanecerão em seis cascatas em uma das asas de

Fordow. Duas dessas seis cascatas girarão sem urânio e serão transformadas,através da modificação de infraestrutura adequada, para a produção de isótoposestáveis. As outras quatro cascatas, que terão suas infraestruturas intactas,permanecerão inativas.

Durante o período de 15 anos, o Irã manterá seu estoque de urânio em umaquantidade de até 300 kg, dos quais 3,67% serão UF6 enriquecidos ou oequivalente em outras formas químicas.

(Nota: o Irã mantém atualmente um estoque de cerca de 10 mil kg de UF6 deenriquecimento baixo).

Todas as outras centrífugas e infraestruturas relacionadas ao enriquecimentovão ser removidas e armazenadas sob o monitoramento contínuo da AIEA. 

Nuclear – Arak, água pesada,reprocessamento

O Irã desenhará e reconstruirá um reator modernizado de pesquisa de águapesada em Arak, com base em um desenho conceitual já acordado, usando

combustível de enriquecimento de até 3,67%, na forma de uma parceriainternacional que certificará o projeto final. O reator apoiará pesquisas que visam a

paz nuclear e a produção de radioisótopos. O reator reconstruído de Arak não iráproduzir plutônio enriquecido ao grau de uso em armas nucleares.

O Irã planeja acompanhar a tendência internacional de avanço tecnológico,contando com água leve para sua futura (geração de) energia, e de pesquisa com

cooperação internacional reforçada, incluindo a garantia de abastecimentonecessário de combustível.

Não haverá reatores adicionais de água pesada ou acumulação de água

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pesada no Irã por 15 anos.

O Irã tem a intenção de enviar para fora do país todo o combustívelenriquecido usado para gerar energia ou realizar pesquisas em reatores nucleares

atuais ou futuros.

Transparência e medidas de construção deconfiançaO Irã aplicará provisoriamente o Protocolo Adicional (do Acordo de Não

Proliferação Nuclear) ao seu Acordo Abrangente de Salvaguardas conforme o artigo17 b do Protocolo Adicional.

O Irã implementará plenamente o “Roteiro para a Clarificação de QuestõesPendentes Passadas e Presentes”, acordado com a AIEA, que contém acordos

para tratar de preocupações passadas e atuais relativas ao seu programa nuclear.O Irã permitirá que a AIEA monitore a implementação das medidas voluntárias

acima, conforme suas respectivas durações, bem como implementará medidas paragarantir transparência, tal como estabelecido pela JCPOA e por seus anexos. Essasmedidas incluem: presença de longo prazo no Irã; monitoramento durante 25 anospor parte da AIEA aos minérios de urânio produzidos pelo Irã em suas plantas;confinamento e vigilância dos rotores e foles das centrífuga por 20 anos; uso de

tecnologias modernas, certificadas e aprovadas pela AIEA, incluindo medidas deenriquecimento on-line e selos eletrônicos; e um confiável mecanismo paraassegurar a rápida resolução para acesso da AIEA durante 15 anos, tal como

definidos no Anexo I.O Irã não se envolverá, inclusive em nível de pesquisas e desenvolvimento,

em atividades que possam contribuir para o desenvolvimento de um dispositivonuclear explosivo, incluindo atividades de metalurgia de urânio ou de plutônio.

O Irã cooperará e agirá em conformidade com o canal de compra do JCPOA,conforme detalhado no anexo IV, aprovado pela Resolução do Conselho de

Segurança da ONU.

SançõesA resolução do Conselho de Segurança da ONU, que aprova a JCPOA,

encerrará todas as disposições das resoluções anteriores do Conselho deSegurança da ONU sobre a questão nuclear iraniana, simultaneamente com a

implementação – verificada pela AIEA – de medidas nucleares conexas acordadaspelo Irã, as quais estabelecerão restrições específicas.

A UE encerrará todas as suas disposições do regulamento e emendas

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subsequentes, que implementaram sanções econômicas e financeiras relacionadas

à questão nuclear, incluindo as referentes denominações, simultaneamente com aimplementação – verificada pela AIEA – de medidas nucleares acordadas pelo Irã,

tal como especificado no Anexo V.Os Estados Unidos cessarão a aplicação das sanções previstas no Anexo II,

de acordo com o JCPOA, a entrar em vigor simultaneamente com a implementação– verificada pela AIEA – de medidas acordadas pelo Irã, conforme especificadas noAnexo V.

(Nota: as sanções legais dos EUA, voltadas a combater o apoio do Irã aoterrorismo, violações de direitos humanos e atividades relacionadas a mísseis,permanecerão em vigor e continuarão a ser aplicadas).

Oito anos após o Dia de Adoção ou quando a AIEA atingir a Conclusão Amplade que todos os materiais nucleares do Irã permanecerão em atividades pacíficas,qualquer um que ocorrer primeiro, os Estados Unidos proporão medidas legislativasapropriadas para encerrar ou modificar de forma a efetuar o encerramento dassanções previstas no Anexo II.

Plano de implementaçãoO Dia de Finalização é a data em que as negociações deste JPCOA entre o

E3/UE+ 3 e Irã serão concluídas e deverá contar com a imediata entrega e

implementação da resolução endossando este JCPOA ao Conselho de Segurançada ONU.

O Dia de Adoção é a data 90 dias após a aprovação deste JCPOA peloConselho de Segurança das Nações Unidas ou qualquer data antecipadadeterminada com consentimento mútuo dos participantes do JCPOA, momento esteem que este JCPOA e seus compromissos entram em vigor.

O Dia de Implementação é a data em que, simultaneamente com o relatórioda AIEA, se verifica a aplicação por parte do Irã das medidas nucleares descritasnas Seções 15.1 a 15.11 do Anexo V, a UE e os Estados Membros tomarão asações descritas nas Seções 16 e 17 do Anexo V.

O Dia de Transição será oito anos depois do Dia de Adoção ou do dia em queo diretor-geral da AIEA emitir um relatório declarando que a AIEA chegou àConclusão Ampla de que todo o material nuclear do Irã permanence em estadopacífico. O Dia de Transição ocorrerá oito anos depois do Dia de Adoção ou quandoo relatório ficar pronto, dependendo de qual ocorrer primeiro.

O Dia de Término da resolução do Conselho de Seguranca da ONU é a datana qual termina a resolução do Conselho de Segurança da ONU que endossa esteJCPOA, de acordo com seus próprios termos, o que deverá ser dez anos após o

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Dia de Adoção.

Mecanismo de resolução de disputasSe o Irã estiver convicto de que qualquer ou todos os membros do E3/EU+3

não estiverem honrando seus compromissos sob o JCPOA, o Irã pode encaminhar

este assunto à Comissão Conjunta de Resolução; de maneira similar, caso algumdos E3/Eu+3 acreditar que o Irã não está honrando seus compromissos sob esteJCPOA, pode fazer o mesmo. A Comissão Conjunta terá 15 dias para resolver a

disputa, a não ser que este período seja estendido por consenso.Após considerações finais da Comissão Mista, qualquer participante pode

remeter a questão aos ministros de Relações Exteriores, caso acredite que aquestão de cumprimento não tenha sido resolvida. Os ministros teriam 15 dias para

resolver o assunto, a menos que o período de tempo seja estendido por consenso.Se o problema ainda não for resolvido à satisfação do participante queixoso e

se o participante queixoso considerar que a questão se constitui umdescumprimento significativo, este participante poderia então tratar esta questão

não resolvida como motivo para cessar o cumprimento de seus compromissos sobeste JCPOA, em totalidade ou parcialmente, e/ou notificar o Conselho de

Segurança da ONU de que acredita que a questão constitui um descumprimentosignificante.

ESTA MATÉRIA FAZ PARTE DO VOLUME 24 Nº1 E 2 DA REVISTAPOLÍTICA EXTERNA