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O Amor C on ju g a l (As Delícias da Sabedoria sobre o Amor Conjugal; em seguida vem as V olúpias da Loucura do Amor Escortatório) Emanuel Sw edenborg Publicado em latim,Amsterdã,1768 T radução para o francês por J.F.E.de Boys de G uays Tradução do francês para o português por João de M endonça Lima, Livraria Freitas Bastos Rio de Janeiro 1963

O Amor Conjugal

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Obra do sueco Emanuel Swedenborg.

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Page 1: O Amor Conjugal

O AmorC on j u g a l

(As Delícias da Sabedoria sobre o Amor Conjugal;em seguida vem as V olúpias da Loucura do Amor

Escortatório)

Emanuel Sw edenborg

Publicado em latim, Amsterdã, 1768

T radução para o francês por J.F.E. de Boys de G uays

T radução do francês para o português por João de M endonça Lima,

Livraria Freitas BastosR io de Janeiro

1963

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Índice

Preliminares sobre as alegrias do céu e sobre as núpcias no céu........................................ 3Dos casamentos no céu................................................................................................... 28Do estado dos esposos depois da morte........................................................................... 42Do amor verdadeiramente conjugal ................................................................................ 53Da origem do amor conjugal pelo casamento do bem e da verdade................................. 79Do casamento do Senhor e da igreja e de sua correspondência........................................ 97Do casto e do não-casto................................................................................................ 114Da conjunção das almas e das mentes pelo casamento, a qual é entendida por estaspalavras do Senhor: eles não sao mais dois mas uma só carne....................................... 130Da mudança de estado da vida nos homens e nas mulheres pelo casamento.................. 149Universais concernentes aos casamentos....................................................................... 165Das causas das frieza, das separações e dos divórcios nos casamentos........................... 183Das causas de amor aparente, de amizade aparente e de favor nos casamentos.............. 208Dos esponsais e das núpcias ......................................................................................... 225Dos casamentos reiterados............................................................................................ 243Da poligamia................................................................................................................ 256Do ciúme...................................................................................................................... 274Da conjunção do amor conjugal com o amor dos filhos................................................. 291Da oposição do amor escortatório e do amor conjugal ................................................... 313Da fornicação............................................................................................................... 328Da concubinagem......................................................................................................... 341Dos adultérios, de seus gêneros e de seus graus............................................................. 351Do prazer libidinoso da defloraçao ............................................................................... 369Do desejo libidinoso de variedades............................................................................... 373Do desejo libidinoso da violaçao................................................................................... 376Do desejo libidinoso de seduzir inocentes..................................................................... 378Da correspondência das escortações com a violaçao do casamento espiritual................. 380Da imputaçao de um e outro amor, o escortatório e o conjugal ...................................... 384

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Preliminares sobre as alegrias docéu e sobre as núpcias no céu

1 - "Prevejo que muitos dos que lerão o que vai seguir, e os M emoráveiscolocados em seguida aos Capítulos, crerão que são invenções da imaginação;todavia afirmo em verdade que não são coisas inventadas, mas que são coisasque verdadeiramente aconteceram e foram vistas, não em um certo estado damente entorpecida, mas em um estado de plena vigília, pois aprouve ao Senhormanifestar-Se a mim, e me enviar para ensinar as coisas que devem ser da N ovaIgreja, que é entendida no Apocalipse pela N ova Jerusalém; para isso, Ele abriuos interiores da minha mente e do meu espírito; por isso me foi dado estar noM undo Espiritual com os Anjos, e ao mesmo tempo no M undo N atural comos H omens, e isto agora desde vinte e cinco anos".

2 - U m dia vi sob o Céu O riental um Anjo que voava, tendo na mão e à bocauma trombeta, e a tocava para o Setentrião, para o O cidente e para o M eio-dia;estava vestido com uma Clâmide, que pelo vôo flutuava para trás, e estavacintado com uma faixa que lançava como que chama e luz pelos carbúnculos esafiras; voava com o corpo inclinado e descia lentamente para a terra perto dolugar onde eu estava; logo que tocou a terra endireitando-se sobre os pés, foipara cá e para lá, e então me tendo visto, dirigiu seus passos para mim; euestava em espírito; e, nesse estado, permanecia sobre uma colina na PlagaM eridional; e quando chegou perto de mim, lhe dirigi a palavra, dizendo: "Oque há agora, então? ouvi o som da trombeta, e te vi descer através dos ares". OAnjo respondeu: Fui enviado para convocar os mais célebres em erudição, osmais perspicazes em gênio, e os mais eminentes em reputação de sabedoria que,saídos dos R einos do M undo Cristão, estão sobre a extensão desta terra, a fimde que se reunam sobre esta colina onde estás, e declarem do fundo do coraçãoo que no M undo pensaram, compreenderam e apreciaram a respeito da AlegriaCeleste e da Felicidade Eterna. Eis qual foi o motivo da minha missão: algunsrecém-vindos do M undo, tendo sido admitidos em nossa Sociedade Celeste,que está no O riente, contaram que, em todo o M undo Cristão, não há umúnico homem que saiba o que é a Alegria Celeste e a Felicidade Eterna, nempor conseqüência que é o Céu. M eus irmãos e consociados ficaramextremamente surpreendidos, e me disseram: Desce, chama e convoca os maissábios no M undo dos espíritos onde são a princípio reunidos todos os M ortaisdepois de sua saída do M undo N atural, a fim de que, pelo que sair da boca deum grande número de sábios, fiquemos certos se é uma verdade que há entre osCristãos uma tal obscuridade ou uma tal ignorância tenebrosa sobre a vidafutura“. E disse: "Espera um pouco, e verás Coortes de sábios que se dirigempara aqui; o Senhor preparará para eles uma Sala de Assembléia". Esperei, e eis

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que, depois de uma meia hora, vi duas companhias vindo do Setentrião, duasdo O cidente, e duas do M eio-dia, e à medida que chegavam, eramintroduzidos pelo Anjo da trombeta em uma Sala preparada; e aí tomavam oslugares que lhes eram designados segundo as plagas. H avia seis T ropas ouCoortes; tinha vindo do O riente uma sétima que, por causa de sua luz, não eravista pelas outras. Q uando estavam reunidas, o Anjo expôs o motivo daconvocação, e pediu que as Coortes, segundo sua colocação, manifestassem suasabedoria sobre o assunto da Alegria Celeste e da Felicidade Eterna; e entãocada Coorte se formou em círculo; com as faces voltadas para as faces, para serelembrar este assunto segundo as idéias recebidas no M undo precedente, eexaminá-lo agora, e depois do exame e da deliberação declarar o seusentimento.

3 - Depois da deliberação a Primeira Coorte, que era do Setentrião, disse "AAlegria Celeste e a Felicidade Eterna são um com a vida mesma do Céu, é porisso que, quem quer que entre no Céu entra quanto à sua vida nas alegrias doCéu, absolutamente do mesmo modo que aquele que entra em uma sala denúpcias, entra nas alegrias que aí se desfrutam; o Céu diante de nossa vista, nãoestá acima de nós, assim, em um lugar? e é lá, e não noutro lugar, que háfelicidade sobre felicidade e volúpias sobre volúpias; o homem é introduzidonessas delícias quanto a toda percepção da mente e quanto a toda sensação docorpo segundo a plenitude das alegrias desse lugar, quando é introduzido noCéu; a felicidade celeste, que é eterna também, não é portanto outra cousasenão a admissão no Céu, e admissão pela G raça Divina". Depois que aPrimeira Coorte assim falou, a Segunda do Setentrião tirou de sua sabedoriaeste sentimento: "A Alegria Celeste e a Felicidade Eterna não são outra cousasenão R euniões muito alegres com os Anjos e Conversações muito agradáveiscom eles, pelas quais as fisionomias expandidas são mantidas na alegria, e todasas bocas em risos graciosos, excitadas por palavras agradáveis e assuntosdivertidos; e que poderão ser as alegrias celestes, senão as variedades destesprazeres durante a eternidade?" A T erceira Coorte, que era a Primeira dossábios da Plaga O cidental, se exprimiu assim segundo os pensamentos de suasafeições: “O que é a Alegria Celeste e a Felicidade Eterna, senão Banquetes comAbrahão, Isaac e Jacob, em cujas mesas estarão M anjares delicados erebuscados, e V inhos generosos e excelentes; e, depois dos repastos, Jogos eCoros de jovens virgens e de homens jovens dançando ao som de sinfonias e deflautas entrecortadas por cânticos, melodiosos; e enfim, à noite, representaçõesteatrais; e, depois destas representações, novos repastos, e assim cada dia,durante a eternidade". Depois a Q uarta Coorte, que era a Segunda da PlagaO cidental, enunciou seu sentimento, dizendo: "Examinamos várias idéias arespeito da Alegria Celeste e da Felicidade Eterna, e exploramos diversasalegrias e as comparamos entre si, e concluímos que as Alegrias Celestes sãoAlegrias Paradisíacas; o Céu é outra cousa mais do que um Paraíso, que seestende do O riente ao O cidente, e do M eio-dia ao Setentrião? N o meio destas

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árvores e destas flores está a magnífica Arvore da V ida, em torno da qual estãoassentados os bem-aventurados, alimentando-se de frutas de um sabor delicado,e ornados com grinaldas de flores de um odor muito suave; estas árvores e estasflores sob a influência de uma primavera perpétua nascem e renascem cada diacom uma variedade infinita; e por este nascimento e esta floração perpétuas, eao mesmo tempo por esta temperatura eternamente primaveril, os espíritos(animi) continuamente renovados não podem deixar de aspirar e respirarAlegrias renovadas cada dia, e assim reentrar na flor da idade, e por isso noestado primitivo, em que Adão e sua esposa foram criados, e por conseqüênciaser recolocados em seu Paraíso, transferido da T erra para o Céu". A Q uintaCoorte, que era a Primeira dos mais perspicazes em gênio da Plaga M eridional,se exprimiu assim: "As Alegrias Celestes e a Felicidade Eterna não são outracousa senão Dominações sobreeminentes e T esouros imensos, e porconseguinte uma magnificência mais que real, e um esplendor acima de todobrilho; que as Alegrias do Céu, e o gozo dessas alegrias, que é a felicidadeeterna, sejam tais, é o que vimos claramente por aqueles que, no M undoprecedente, gozaram dessas vantagens; e, além disso, pelo fato de que os bem-aventurados no Céu devem reinar com o Senhor, e ser reis e príncipes, porquesão filhos d'Aquele que é o. R ei dos reis e o Senhor dos senhores, e pelo fato deque estarão sentados em tronos, e os Anjos os servirão. V imos claramente àmagnificência do Céu, pelo fato de que a N ova Jerusalém, pela qual é descrita aglória do Céu, terá portas, cada uma das quais será uma Pérola, e terá Praças deouro puro, e uma M uralha cuja fundação será de pedras preciosas; que porconseqüência quem quer que tenha sido recebido no Céu tem um Palácioresplandecente de ouro e cousas de um grande preço, e que a Dominação aípassa sucessivamente e em ordem de um a outro; e como sabemos que emsemelhantes cousas há alegrias inatas e uma felicidade inerente, e elas sãopromessas irrevogáveis de Deus, não podemos tirar de outra parte o estado maisfeliz da vida celeste". Depois desta Coorte, a Sexta, que, era a Segunda da PlagaM eridional, elevou a voz e disse: "A Alegria do Céu e a Felicidade Eterna nãosão outra cousa senão uma perpétua glorificação de Deus, uma festa que duraeternamente, e um culto de grande beatitude com cantos e gritos de alegria; eassim uma constante elevação do coração para Deus, com plena confiança naaceitação das preces e dos louvores por esta Divina munificência de beatitude.Alguns desta Coorte ajuntaram que esta G lorificação se fará com magníficasiluminações, com suaves perfumes e pomposas procissões à testa das quaismarcharão, com uma grande T rombeta, o soberano Pontífice, seguido dosPrimazes e Porta-maças, grandes e pequenos, e atrás deles H omens levandopalmas e mulheres tendo estatuetas de ouro nas mãos.

4 - A Sétima Coorte, que não era vista pelas outras por causa de sua luz, era doO riente do Céu; compunha-se de Anjos da mesma Sociedade a que pertencia oAnjo da trombeta; tendo sabido em seu Céu que, no M undo Cristão não haviaum único homem que soubesse o que era a Alegria do Céu e a Felicidade

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Eterna, estes Anjos tinham dito entre si: "Isso não pode ser verdadeabsolutamente; é impossível que haja entre os cristãos uma tão grandeobscuridade, e um tal embotamento das mentes; desçamos nós também, esaibamos se é verdade; e, se é a verdade, certamente é um prodígio". Entãoestes Anjos disseram ao Anjo da trombeta: "T u sabes que todo homem quedesejou o Céu, e pensou alguma cousa de positivo a respeito das alegrias doCéu, é introduzido depois da morte nas alegrias de sua imaginação; e quedepois que aprendeu pela experiência o que são essas alegrias, isto é, que sãosegundo as vãs idéias de sua mente, e segundo os delírios de sua fantasia, éafastado delas e instruído; é o que acontece no M undo dos Espíritos à maiorparte daqueles que, na vida precedente meditaram sobre o Céu, e que segundocertas idéias assentadas a respeito das alegrias celestes, desejaram possuí-las".Depois de ter ouvido estas palavras, o Anjo da trombeta disse às seis Coortes deSábios do M undo Cristão que ele tinha convocado: "Segui-me, e eu vosintroduzirei nas vossas Alegrias, por conseqüência no Céu". Depois depronunciar estas palavras, o Anjo seguiu em frente, e, em primeiro lugar, foiseguido pela Coorte daqueles que se tinham persuadido de que as AlegriasCelestes eram unicamente reuniões muito alegres e conversações muitoagradáveis. O Anjo os introduziu em Assembléias da Plaga Setentrional, quenão tinham tido, no mundo precedente, outras noções a respeito das Alegriasdo Céu. H avia lá uma Casa espaçosa na qual os que eram assim tinham sidoreunidos; esta Casa tinha mais de cinqüenta salas, distinguidas segundo osdiversos gêneros de palestras; em umas se falava do que se tinha visto e ouvidonas praças públicas e nas ruas; em outras, se tratava de diversos assuntosagradáveis sobre o belo sexo, entremeando-os com gracejos, multiplicados aoponto de espalhar o riso da alegria sobre todas as faces da Assembléia; em outrassalas, ocupavam-se de N ovidades das Cortes, dos M inistérios, do Estadopolítico, de diferentes cousas, que tinham transpirado dos Conselhos secretos, ese faziam raciocínios e conjeturas sobre os acontecimentos; em outras, se falavado comércio; em outras, de literatura; em outras, do que se relaciona com aPrudência civil e a V ida moral; em outras, de cousas Eclesiásticas e de Seitas; eassim por diante. Foi-me dado fazer uma inspeção nesta Casa, e vi pessoas quecorriam de sala em sala, procurando companhia conforme suas afeições e porconseqüência conforme sua alegria; e, nas companhias, vi três espécies depessoas; umas ansiosas por falar, outras desejosas de perguntar, e outras ávidasde ouvir. H avia quatro portas na Casa, uma para cada Plaga, e notei quemuitos deixavam as companhias e se apressavam para sair; segui alguns deles atéà porta O riental, e vi alguns outros assentados com ar triste perto desta porta;aproximei-me, e lhes perguntei por que estavam sentados assim tristes, e elesme responderam: "As portas desta Casa são conservadas fechadas para os quequerem sair; e eis que agora é o terceiro dia desde que entramos aqui; e queaqui temos vivido, conforme o nosso desejo, em companhias e emconversações; e estas conversas contínuas nos fatigam de tal modo, que mal

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podemos suportar ouvir o seu próprio burburinho; é por isso que levados peloenfado, viemos para esta porta, e temos, batido; mas nos responderam: "Asportas desta Casa se abrem, não para os que querem sair, mas para os quequerem entrar; ficai e gozai as alegrias do Céu"! Por estas respostas, concluímosque ficaremos aqui eternamente; desde esse momento a tristeza se apoderou denossas mentes, e agora o nosso peito começa a se cerrar, e a ansiedade a seapoderar de nós". Então o Anjo tomou a palavra e lhes disse: "Este estado é amorte de vossas alegrias que acreditastes serem unicamente celestes, quandoentretanto não são mais do que acessórios das alegrias celestes". E eles disseramao Anjo: “O que é então a Alegria Celeste?" E o Anjo respondeu em poucaspalavras: "É o prazer de fazer alguma cousa que seja útil a si mesmo e aosoutros; e o prazer do uso tira do Amor a sua essência, e da Sabedoria a suaexistência; o prazer do uso que tira sua origem do Amor pela Sabedoria é aalma e a vida de todas as Alegrias Celestes. H á nos Céus R euniões muitoagradáveis, que alegram as mentes dos Anjos, divertem suas mentes exteriores(animi), deleitam seus corações, e recreiam seus corpos; mas não as gozamsenão depois de terem feito usos em suas funções e em suas obras, por isto háalma e vida em todas as suas alegrias e em todos os seus divertimentos; mas quese tire esta alma ou esta vida, e as alegrias acessórias deixam progressivamentede ser alegrias, e se tornam a princípio indiferentes, e em seguida como nada, epor fim não são mais que tristezas e ansiedades". Depois que ele assim falou, aporta se abriu, e os que estavam sentados perto dela saíram precipitadamente; efugiram para suas casas, indo cada um para sua função e seu trabalho; e foramaliviados.

6 - Em seguida o Anjo se dirigiu aos que se tinham formado da Alegria do Céue da Felicidade Eterna esta idéia, que eram Banquetes com Abrahão, Isaac eJacob; e, depois das refeições, jogos e espetáculos, e de novo refeições, e assimdurante a eternidade; e lhes disse: "Segui-me e eu vos introduzirei nasfelicidades de vossas alegrias". E os fez entrar, através de um bosque, em umcampo coberto por um estrado, sobre o qual haviam colocado mesas, quinze deum lado e quinze do outro; e eles perguntaram: "Por que tantas mesas?" e oAnjo respondeu: "A primeira mesa é a de Abrahão; a segunda, a de Isaac; aterceira, a de Jacob; e perto destas estão em ordem as mesas dos doze Apóstolos;do outro lado estão outras tantas mesas para suas esposas, as três primeiras sãoas de Sarah esposa de Abrahão, de R ebeca esposa de Isaac, e Leah e R achelesposas, de Jacob; e as outras doze, as das esposas dos doze apóstolos". Algunsinstantes depois, todas as mesas apareceram cobertas de iguarias e os pequenosespaços, entre os pratos, ornados de pequenas pirâmides carregadas de todaespécie de doces. O s que deviam tomar parte no banquete estavam em pé, emtorno das mesas, na expectativa de verem chegar os seus Presidentes; depois dealguns momentos de espera, foram vistos entrar em ordem de marcha desdeAbrahão até ao último dos Apóstolos; e em seguida cada um deles, seaproximou de sua mesa, colocando-se à cabeceira sobre um leito; e daí,

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disseram aos que se mantinham em pé em torno: “T omai lugar tambémconosco". E eles tomaram lugar com estes Patriarcas, e as mulheres com suasesposas e comeram e beberam com alegria e com veneração. Depois do repasto,estes Patriarcas saíram; e então começaram jogos, danças de moças e rapazes;depois das danças, espetáculos; terminados os espetáculos, os assistentes foramconvidados de novo para Festins, mas com este regulamento, que no primeirodia comeriam com Abrahão, no segundo com Isaac, no terceiro com Jacob, noquarto com Pedro, no quinto com T iago, no sexto com João, no sétimo comPaulo, e com os outros seguindo a ordem até ao décimo quinto dia, a partir doqual retornariam os festins na mesma ordem, variando de lugares, e assimdurante a eternidade. Em seguida o Anjo convocou os homens da Coorte, elhes disse: "T odos aqueles que vistes nas mesas têm estado em um pensamentoimaginário semelhante ao vosso, sobre as Alegrias do Céu e sobre a FelicidadeEterna; e a fim de que vejam por si mesmos a fragilidade de suas idéias e sejamafastados delas, tais cenas de mesas foram instituídas, e permitidas pelo Senhor.O s Presidentes, que vistes à cabeceira das mesas, eram Anciãos desempenhandoum papel, a maior parte de origem rústica, que tendo muita barba, e sendoorgulhosos de uma certa opulência acima dos outros, tinham tido a fantasia deque eram antigos Patriarcas. M as segui-me pelos caminhos que conduzem parafora deste recinto", E eles o seguiram, e viram cinqüenta em um lugar, ecinqüenta em um outro, que se tinham ingurgitado de alimento ao ponto desentir náuseas, e desejavam voltar para o interior de suas casas, uns a seusempregos, outros a seu comércio, e outros a seu trabalho;, mas um grandenúmero estava retido pelos guardas do bosque, e interrogados sobre os dias deseus repastos, se tinham comido também nas mesas de Pedro e de Paulo; e lhesdiziam que se saíssem antes, como isso era contrário à decência, eles seriamcobertos de vergonha. M as a maior parte respondia: "Estamos saciados denossas alegrias, as iguarias se nos tornaram insípidas, e o nosso paladar estáressecado, o estômago as desdenha, não podemos mais tocá-las; passamosalguns dias e algumas noites nesta festança; pedimos insistentemente que nosmandem embora". E tendo sido despedidos, fugiram ofegantes, correndoprecipitadamente para suas casas. Depois disso o Anjo chamou os homens daCoorte; e em caminho, eis o que lhes ensinou sobre o Céu: "N o Céu, domesmo modo que no M undo, há Alimentos e Bebidas, há Festins e Banquetes;e lá entre os Principais, há M esas sobre as quais são servidas iguarias delicadas,cousas gostosas e rebuscadas, pelas quais as mentes exteriores (animi) sãoalegradas e recreadas; há também Jogos e Espetáculos; há Concertos e Cânticos;e tudo isso na maior perfeição; estas coisas são também alegrias para os Anjos,mas não uma felicidade, esta deve estar nas alegrias, e por conseguinte provirdas alegrias; a felicidade nas alegrias faz com que sejam alegrias, as fertiliza e assustenta, a fim de que não se tornem nem banais nem fastidiosas; e estafelicidade, cada um a possui pelo uso em sua função. N a afeição da vontade decada Anjo, há uma certa veia escondida; que atrai a mente para fazer alguma

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cousa, a mente por isso se tranqüiliza e se satisfaz; esta satisfação e estatranqüilidade tornam o estado da mente suscetível de receber do Senhor oamor do uso; desta recepção vem a Felicidade Celeste que é a vida destasalegrias de que já se falou. A Alimentação celeste, em sua essência, não é outracousa mais do que o amor, a sabedoria e o uso juntos, isto é, o uso pelasabedoria do amor; é por isso que, no Céu, é dado a cada um o alimento para ocorpo segundo o uso que ele tem, suntuoso aos que estão em usos eminentes,medíocre, mas de sabor agradável aos que estão em um uso de grau médio, e vilaos que estão em um uso vil, mas não é dado aos preguiçosos.

7 - O Anjo chamou em seguida para junto dele a Coorte dos pretensos sábios,que haviam colocado as Alegrias Celestes, e segundo estas Alegrias, a FelicidadeEterna, nas Dominações sobreeminentes e nos T esouros imensos, e em umamagnificência mais que real e em um esplendor acima de todo brilho; e issoporque se diz na Palavra que eles serão reis e príncipes, que reinarão comCristo eternamente e serão servidos pelos Anjos, além de várias outras coisas; oAnjo lhes disse: "Segui-me, e eu vos introduzirei nas vossas alegrias". E osintroduziu em um Pórtico composto de colunas e de Pirâmides; na frente haviaum átrio pouco elevado pelo qual havia acesso ao Pórtico; foi por esse átrio queele os introduziu; e eis que foram vistos vinte de um lado e vinte de outro lado,e esperavam. E de repente apareceu alguém desempenhando o papel de umAnjo, e lhes disse: "Por este Pórtico passa o caminho que conduz ao Céu;espera! um pouco, e preparai-vos, porque os maiores dentre vós vão se tornarR eis e os menores serão Príncipes". A estas palavras, perto de cada Colunaapareceu um T rono, e sobre o T rono uma clâmide de seda, e sobre a clâmideum cetro e uma coroa; e perto de cada Pirâmide apareceu um Assento elevadode três côvados acima da terra, e sobre o assento uma cadeia de anéis de ouro ecordões da ordem eqüestre reunidos pelas pontas com pequenos círculos dediamantes. E então gritou-se: "Ide, agora; revesti-vos, assentai-vos e esperai''. Eno mesmo instante os G randes correram para os tronos, e os M enores para osassentos, e se revestiram e se colocaram; mas então apareceu um nevoeiroelevando-se dos infernos; os que estavam assentados nos tronos e nos assentostendo-o aspirado, as suas faces começaram a inchar, os seus corações a estufar, eeles ficaram cheios de confiança de que eram agora reis e príncipes; estenevoeiro era a aura (atmosfera) da fantasia de que estavam inspirados; e derepente, acorreram, como vindos do Céu, mancebos; e se colocaram dois atrásde cada trono, e um por trás de cada assento, para servir; e então, de temposem tempos, um arauto exclamava: "Sois reis e príncipes, esperai ainda umpouco, neste momento se preparam no Céu as vossas cortes; os vossos cortesãosvão chegar em breve com os vossos guardas, e vos introduzirão". Elesesperavam e esperavam, a ponto que seus espíritos apenas respiravam e eramexcedidos por seu desejo. Depois de três horas de espera, o Céu se abriu acimade suas cabeças, e os Anjos baixaram seus olhares sobre eles, e tiveram piedadedeles, e lhes disseram: "Por que estais assim sentados como loucos, a agir como

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histriões? Fizeram troça de vós, e de homens vos transformastes em ídolos; eisso porque pusestes em vossos corações que reinaríeis com o Cristo como reis epríncipes, e que então seríeis servidos pelos Anjos. Será que esquecestes estaspalavras do Senhor: "Q ue aquele que quer ser grande no Céu torna-seservidor?" Aprendei pois o que é entendido pelos reis e príncipes, e peloreinado com o Cristo; sabei que é ser sábio e fazer usos; com efeito, o R eino doCristo, que é o Céu, é o R eino dos usos; pois o Senhor ama todos os homens, epor conseguinte, quer o bem a todos, e o bem é o uso, e como o Senhor faz obem ou os usos mediatamente pelos Anjos, e no M undo pelos homens, é porisso que àqueles que fazem fielmente os usos Ele dá o amor do uso, e arecompensa do uso, que é a beatitude interna, e esta é a felicidade eterna. H ános Céus, como nas terras, Dominações sobreeminentes e T esouros imensos,pois há governos, e formas de governo, e por conseqüência, há poderes maiorese menores, dignidades maiores e menores, e aqueles que estão no supremo graudos poderes e das dignidades, têm Palácios e Cortes, que ultrapassam emmagnificência e em esplendor os palácios e as cortes; dos Imperadores e dosR eis na terra, e são cercados de honra e de glória por numerosos cortesãos,ministros e guardas, e pelas vestimentas magníficas destes; mas aqueles que sãoassim elevados à categoria suprema são escolhidos entre aqueles cujo coração épelo bem público e cujos sentidos do corpo estão unicamente na grandeza e namagnitude por causa da obediência; e como é do bem público que cada umesteja em algum uso na sociedade como corpo comum, e como todo uso vemdo Senhor, e é feito pelos Anjos e pelos homens como por si mesmos, éevidente que é isso reinar com o Senhor". Depois de terem ouvido estaspalavras pronunciadas do Céu, estes pretensos reis e príncipes desceram dostronos e dos assentos, e lançaram para longe deles os cetros, as coroas e asclâmides; e o nevoeiro em que estava a atmosfera da fantasia se afastou deles, eeles foram envolvidos por uma nuvem branca em que havia a atmosfera dasabedoria que restituiu a saúde a suas mentes.

8 - O Anjo voltou em seguida à Casa da Assembléia dos sábios do M undoCristão e chamou a si aqueles que se tinham persuadido de que as Alegrias doCéu e a Felicidade Eterna eram delícias paradisíacas; e lhes disse: "Segui-me, evos introduzirei no Paraíso, vosso Céu, a fim de que comeceis a gozar dasbeatitudes de vossa felicidade Eterna". E ele os introduziu por uma Portaelevada, construída com um entrelaçamento de ramos e vergônteas de árvorespreciosas, depois que entraram, conduziu-os por caminhos sinuosos de regiãoem região; era efetivamente um Paraíso na primeira entrada do Céu, Paraíso aque são enviados aqueles que, no M undo, acreditaram que o Céu inteiro é umParaíso único porque é chamado Paraíso, e que têm impressa em si a idéia deque depois da morte há inteira cessação do trabalho e que esse repousoconsistirá unicamente em respirar delícias, em passear sobre rosas, em sedeleitar com o suco das uvas mais finas, em celebrar festas e festins; e que estavida não pode existir senão no Paraíso Celeste. Conduzidos pelo Anjo, eles

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viam uma grande multidão tanto de velhos como de moços e crianças, etambém mulheres e mocinhas, de três em três, e de dez em dez, sentadas nosbosques de roseiras, entretecendo grinaldas com que ornavam as cabeças dosvelhos, os braços dos moços, e com ramalhetes os peitos das crianças; em outroslugares, colhendo frutas das árvores, e levando-as em cestas para seuscompanheiros; em outros lugares espremendo em taças o suco das uvas, dascerejas e das groselhas, e bebendo-o com prazer; em outros lugares, aspirandoos perfumes exalados pelas flores, pelas frutas e pelas folhas odoríferas, eespalhadas por toda parte; em outros lugares, cantando odes melodiosas comque deliciavam os ouvidos dos que estavam presentes; em outros lugares,assentadas perto de fontes, e de águas que jorravam tomando formas diversas;em outros lugares, passeando, conversando e lançando exclamações alegres; emoutros lugares, correndo, brincando, aqui aos pares, lá em rodas; em outroslugares, retirando-se para caramanchões no meio de jardins, para aí repousarem leitos; sem falar de muitas outras alegrias paradisíacas. Depois que viramtodos esses grupos, o Anjo conduziu seus companheiros por circuitos aqui e ali,e por fim para outros espíritos que estavam sentados em um bosque de roseirasmuito bonito, cercado de oliveiras, de laranjeiras e de limoeiros, e que, com acabeça inclinada e as mãos sobre as faces, gemiam e derramavam lágrimas; osque acompanhavam o Anjo lhes dirigiram a palavra, e disseram: "Por que estaisassim sentados?" E eles responderam: "Faz hoje sete dias que chegamos a esteParaíso, quando entramos, a nossa mente parecia ter sido elevada ao Céu emergulhado nas beatitudes íntimas de suas alegrias; mas, ao cabo de três diasestas beatitudes começaram a diminuir e a se apagar em nossas mentes, e a setornarem insensíveis, e por conseguinte nulas; e quando as nossas alegriasimaginárias assim se dissiparam, tememos a perda de todo atrativo de nossasvidas, e nos tornamos, em relação à felicidade eterna, incertos quanto à suaexistência; desde esse momento temos andado errantes pelas aléias e pelaspraças, procurando a porta pela qual entramos; mas temos andado em vão, decircuito em circuito; e temos interrogado os que encontramos e alguns nosdisseram: "N ão se acha a porta, porque este Jardim Paradisíaco é um vastolabirinto, de tal natureza que aquele que quer sair dele, cada vez embrenha-semais; não podeis, portanto, fazer outra cousa que não seja permanecer aquieternamente; estais agora no meio, onde todas as delícias estão concentradas".Além disso, disseram aos que acompanhavam o Anjo: "Faz agora um dia e meioque estamos aqui sentados, e como não temos esperança de encontrar umasaída, nos recolhemos neste bosque de roseiras, e vemos com abundância emtorno de nós olivas, uvas, laranjas e limões, mas quanto mais os olhamos, maisse cansa a vista vendo, o olfato cheirando, e o paladar provando; eis a causa datristeza, dos gemidos e das lágrimas que vedes em nós". O Anjo da Coorte,tendo ouvido estas palavras lhes disse: "Este Labirinto Paradisíaco éverdadeiramente uma entrada do Céu, conheço uma saída e vos farei sair". Aestas palavras os que estavam sentados se levantaram e abraçaram o Anjo, e o

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seguiram com sua Coorte; e no caminho o Anjo lhes ensinou o que é a AlegriaCeleste e por conseguinte a Felicidade Eterna. "N ão são as delícias paradisíacasexternas, a não ser que haja ao mesmo tempo Delícias Paradisíacas internas; asdelícias paradisíacas externas são unicamente dos sentidos do corpo, mas asdelícias paradisíacas internas são delícias, das afeições da alma; se estas não estãonaquelas, não há vida celeste, porque não há alma nas delícias externas; e todadelícia sem sua alma correspondente definha e se entorpece pela continuidade,e fatiga, mais que o trabalho, a mente exterior (animus). N os Céus há por todaparte jardins paradisíacos, e os Anjos ai encontram também alegrias, e quantomais aí colocam a delícia da alma, tanto mais estas alegrias são para elesalegrias". A essas palavras todos perguntaram o que é a delícia da alma, e dondevem; o Anjo respondeu: "A delícia da alma vem do amor e da sabedoriaprocedentes do Senhor, e como é este amor que age, e age pela sabedoria, é porisso que a sede de um e da outra está na ação, e a ação é o uso; esta delíciainflui do Senhor na alma, e desce pelos superiores e pelos inferiores da mente atodas as cousas do corpo, e aí se completa; daí a alegria tornar-se alegria, etorna-se eterna pelo Eterno de Q ue procede. V istes, Jardins Paradisíacos, e euvos asseguro que neles não há a menor cousa, nem mesmo a menor folha, quenão provenha do casamento do amor e da sabedoria no uso; se portanto, ohomem está neste casamento, está no Paraíso Celeste, e assim no Céu.

9 - Em seguida o Anjo condutor voltou à Casa para junto dos que se tinhamfirmemente persuadido de que a Alegria Celeste e a Felicidade Eterna são umaperpétua G lorificação de Deus e uma Festa que dura toda a eternidade; e issoporque no M undo tinham crido que então veriam a Deus, e porque a vida doCéu, por causa do culto a Deus, é chamada um Sabbath perpétuo. O Anjo lhesdisse: "Segui-me, e eu vos introduzirei em vossa alegria". E os fez entrar emuma cidadezinha, no meio da qual havia um T emplo, e cujas casas eram todasdenominadas casas sagradas. N esta cidade, viram uma afluência de espíritos detodos os quadrantes da região circunvizinha, e entre eles um grande número dePadres que recebiam os que chegavam, saudavam-nos e lhes apertavam as mãos,os conduziam às portas do T emplo, e de lá para algumas moradas sagradas emtorno do T emplo, e os iniciavam no culto contínuo de Deus, dizendo: "EstaCidade é o vestíbulo do Céu, e o T emplo desta cidade é a entrada para omagnífico e vastíssimo T emplo, que está no Céu, onde Deus é glorificadodurante a eternidade pelas preces e os louvores dos Anjos; as ordenanças, aqui eno Céu, são que é preciso primeiro entrar no T emplo, e aí permanecer três diase três noites; e depois desta iniciação, é preciso entrar nas casas desta cidade,que são outras tantas moradas santificadas para nós, e passar de uma para aoutra; e aí, em comunhão com os que nelas estão reunidos, orar, exclamar emaltas vozes, e recitar orações; tende muito cuidado de não pensar em vósmesmos e de não dizer aos vossos consociados senão cousas santas, piedosas ereligiosas". O Anjo introduziu portanto a sua coorte no T emplo; ele estavacheio com uma multidão muito compacta, composta de muita gente que no

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M undo tinha estado em grande dignidade, e também com muita gente do povomiúdo; e tinham sido colocados guardas nas portas, a fim de que não fossepermitido a pessoa alguma sair antes de ter ficado aí três dias; e o Anjo disse:"Faz agora dois dias que estes entraram; examinai-os, e vereis como elesglorificam a Deus". E eles os examinaram e viram a maior parte dormindo, e osque estavam acordados não cessavam de bocejar; alguns tendo, por umacontínua elevação de seus pensamentos para Deus, sem nenhuma volta aocorpo, a face como que separada do corpo, pois apareciam assim a eles mesmose por conseguinte também aos outros; outros tendo olhares esgazeados à forçade voltá-los continuamente para cima; em uma palavra, tendo todos o coraçãocerrado e o espírito abatido pelo tédio, e se afastavam do púlpito e exclamavam:"O s nossos ouvidos estão aturdidos; acabai esses sermões, não ouvimos maisnenhuma palavra, e o som da vossa voz se nos tornou fastidioso". E então selevantaram e correram em massa para as portas, forçando-as e se lançaram sobreos guardas e os expulsaram. O s Padres vendo isso, os seguiram e se puseram aolado deles, pregando e pregando, orando, suspirando dizendo: "Celebrai aFesta, glorificai a Deus, santificai-vos; neste vestíbulo do Céu, nós vosiniciaremos na G lorificação eterna de Deus no magnífico e vastíssimo T emploque está no Céu, e assim no gozo da felicidade eterna". M as eles nãocompreendiam estas palavras, e mal as ouviam, por causa do abatimento damente pela suspensão e pela cessação, durante dois dias de todas as atividadesdomésticas e públicas. Entretanto, como eles se esforçavam por escapar aospadres, os padres os agarravam pelos braços, e também pelas roupas, osempurravam para as moradas sagradas onde os sermões deviam ser pregados;mas era em vão, e gritavam: "Deixem-nos, sentimos no corpo como que umdesfalecimento". N esse instante, eis que apareceram quatro H omens vestidos debranco e com tiaras; um deles tinha sido Arcebispo no M undo, e os outros trêstinham sido Bispos; tinham se tornado Anjos; chamaram os Padres; e,dirigindo-lhes a palavra, disseram: "N ós vos vimos do Céu com estas ovelhas;como as apascentais? V ós as apascentais até enlouquecê-las; não sabeis o que éentendido pela glorificação de Deus; é entendido produzir frutos de amor, istoé, fazer fielmente, sinceramente e cuidadosamente o trabalho de sua função,pois isto pertence ao amor de Deus e ao amor do próximo, e isto é o liame dasociedade e o bem da sociedade; por isto Deus é glorificado, e o é então peloculto que se lhe presta em tempos determinados; não lestes estas palavras doSenhor: "N isto é G lorificado meu Pai, que deis muito fruto, e que vos torneismeus discípulos? (João, XV , 8)". V ós, Padres, podeis estar na glorificação doCulto, porque é a vossa função, e nela encontrais honra, glória e remuneração;mas vós, entretanto, não poderíeis estar, mais do que eles, nesta glorificação, seao mesmo tempo com vossa função não houvesse honra, glória e remuneração".Depois de ter assim falado, os B ispos ordenaram aos guardas da porta quedeixassem cada um entrar e sair; há, com efeito, uma multidão de homens quenão pensou em uma alegria Celeste que não fosse o culto perpétuo de Deus,

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porque nada sabiam do estado do Céu.

10 - O Anjo, com os que o haviam acompanhado, voltou em seguida à sala daAssembléia, de onde as coortes de Sábios não se tinham ainda retirado; e lá,chamou para junto dele aqueles que acreditavam que a alegria celeste e afelicidade eterna não são senão a admissão no Céu, e a admissão pela graçaDivina; e que então os que são admitidos têm a mesma alegria daqueles que, noM undo, entram nas Cortes dos R eis nos dias de regozijo, ou que convidadospara núpcias entram na sala do festim. O Anjo lhes disse: "Esperai aqui umpouco, eu vou tocar a trombeta, e aqueles que tem uma grande reputação desabedoria nas cousas espirituais da Igreja virão aqui". Depois de algumas horasapareceram nove homens, coroados de louro em sinal de sua reputação; o Anjoos introduziu na sala da Assembléia, onde estavam presentes todos os quetinham sido precedentemente convocados; o Anjo, dirigindo em sua presença apalavra aos nove homens coroados de louro, disse: "Sei que, segundo vosso votoconforme à vossa idéia, vos foi dado subir ao Céu, e que voltastes a esta terrainferior ou subceleste, com um inteiro conhecimento do estado do Céu; contaiportanto como vos pareceu o Céu". E eles responderam, um após outro; e oPrimeiro disse: "A minha idéia sobre o Céu, desde minha infância até ao fim deminha vida no M undo, tinha sido que era o lugar de todas as beatitudes, e detodas as diversões, prazeres, encantos e volúpias, e que se eu fosse admitido lá,eu me encontraria cercado pela atmosfera dessas' felicidades, e respiraria aplenos pulmões, como um noivo quando celebra suas núpcias, e entra com suanoiva no leito nupcial; com esta idéia eu subi ao Céu, e passei os primeirosguardas, e também os segundos, mas quando cheguei aos terceiros, o chefe dosguardas me dirigiu a palavra e me disse: "Q uem és amigo?" E eu respondi:"N ão é aqui o Céu?" Subi até aqui pelo voto do meu desejo; peço-te que medeixes entrar!" E ele me deixou entrar; e vi Anjos vestidos de branco, e eles mecercaram, e me examinaram, e disseram baixinho: "Eis um novo hóspede quenão tem a vestimenta do Céu", e eu ouvi estas palavras e tive este pensamento:"Parece-me que se dá comigo como com aquele de quem o Senhor disse quetinha entrado no festim de núpcias, sem uma vestimenta nupcial; e disse: Dai-me vestimentas do Céu, eles, porém, se puseram a rir; e então acorreu um Anjoda Corte com esta ordem: “Ponham-no completamente nu, expulsai-o, e jogaisuas roupas atrás dele''; e fui assim expulso. O Segundo em ordem disse: euacreditava, como ele, que se fosse apenas admitido no Céu, que está acima daminha cabeça, as alegrias me cercariam e eu poderia gozá-las eternamente;obtive assim o que havia desejado; mas vendo-me os Anjos fugiram, e disseramentre si: "Q ue prodígio é este?'' Com efeito, senti uma mudança como se eunão fosse mais homem, ainda que eu não tivesse mudado; isso provinha, emmim, da atração da atmosfera celeste; mas em breve acorreu um Anjo da Cortecom esta ordem, que dois servidores me fizessem sair e retornar ao caminhopelo qual eu tinha subido para me reconduzir à minha casa; e quando chegueiem casa, apareci aos outros e a mim mesmo como homem". O T erceiro disse:

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"A idéia do Céu era constantemente para mim uma idéia de lugar e não doamor; é por isso que, quando cheguei a este mundo, desejei com vivo ardor oCéu; e vi espíritos que subiam, e eu os segui, e fui admitido, mas não além dealguns passos; ora, quando quis alegrar minha mente (animus) com a idéia dasalegrias e das beatitudes celestes, pela luz do Céu, que era branca como a neve,e cuja essência se diz ser a sabedoria, a minha mente foi tomada de estupor epor conseqüência os meus olhos foram cobertos de obscuridade, e eu comecei aficar insensato; e em breve, pelo calor do Céu, que correspondia à brancuraresplandecente desta luz, e cuja essência se diz ser o amor, meu coraçãopalpitou, a ansiedade se apoderou de mim, e fiquei atormentado por uma dorinterior, e me lancei por terra, estendido sobre o dorso; e, enquanto estavaassim deitado, um guarda veio da Corte com a ordem de me fazer transportardocemente para a minha luz e o meu calor; quando para aí voltei, o meuespírito e o meu coração me voltaram". O Q uarto disse: "Eu também, arespeito do Céu, estava na idéia do lugar e não da idéia do amor, e desde quecheguei ao M undo espiritual, perguntei aos sábios se era permitido subir aoCéu; eles me disseram que isso era permitido a cada um, que era preciso tomarcuidado para não ser expulso; esta resposta me fez rir, e eu subi, acreditando,eu como os outros, que todos no M undo inteiro podem receber as alegrias doCéu em sua plenitude; mas com efeito desde que entrei me achei quase semvida, e não podendo suportar a dor e o tormento que sentia na cabeça e nocorpo, me lancei por terra, e rolava como uma serpente aproximada do fogo, erastejei até a um precipício e me lancei nele; e em seguida fui levantado pelosque estavam em baixo, e levado para uma hospedaria, onde a saúde me foirestabelecida". O s cinco outros contaram também cousas admiráveis que lhestinham acontecido quando subiram ao Céu; e comparavam as mudanças deestado de sua vida com o estado dos peixes tirados da água para o ar, e com oestado dos pássaros no éter; e disseram que depois dessas duras provas nãotinham mais desejado o Céu, mas unicamente uma vida conforme à dos seussemelhantes, em qualquer lugar que fosse; acrescentaram: "Sabemos que noM undo dos espíritos, onde estamos, todos são preparados, primeiro, os bonspara o Céu e os maus para o Inferno; e que, quando estão preparados vêem oscaminhos abertos para eles em direção às Sociedades de seus semelhantes, comos quais devem permanecer durante a eternidade; e que então entram nessescaminhos com prazer, porque são os caminhos do seu amor". T odos os daprimeira Convocação, ouvindo estas declarações, confessaram também que nãotinham tido igualmente outra idéia do Céu senão como de um lugar, onde sesaboreia de boca cheia durante toda eternidade alegrias de que se é inundado.Em seguida o Anjo da trombeta lhes disse: "V edes agora que as Alegrias do Céue a Felicidade eterna não pertencem ao lugar, mas pertencem ao estado de vidado homem; ora o estado da vida celeste vem do amor e da sabedoria; e como ouso é o continente de um e da outra, o estado da vida celeste vem da conjunçãodo amor e da sabedoria no uso; é o mesmo se se disser da Caridade, da Fé e da

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Boa O bra, pois a Caridade é o Amor, a Fé é a V erdade donde procede aSabedoria, e a Boa O bra é o U so; além disso, em nosso M undo Espiritual hálugares como no M undo N atural, de outra forma não haveria habitações nemmoradas distintas; todavia, o lugar não e um lugar, mas é a aparência de umlugar segundo o estado do amor e da sabedoria, ou da caridade e da fé. Q uemse torna Anjo carrega interiormente em si o seu Céu, porque carregainteriormente em si o amor de seu Céu, pois o homem por criação é umapequenina efígie, a imagem e o tipo do grande Céu; a forma humana não éoutra cousa; é por isso que cada um vem à sociedade do Céu, de que é a formaem uma efígie singular; é por isso que, quando entra nesta sociedade, entra emuma forma correspondente a si mesmo. Assim entra nesta sociedade como de siem si, e ela entra nele como dela nela, e tira a vida desta sociedade como sendodele, e tira a sua como sendo desta sociedade; cada sociedade é como umComum, e os Anjos aí estão como partes singulares pelas quais coexiste oComum. R esulta, portanto dai que os que estão nos males e por conseguintenos falsos formaram em si uma efígie do Inferno, e esta efígie é atormentada noCéu pelo influxo e a violência da atividade do oposto contra o oposto, pois oamor infernal é oposto ao amor celeste, e por conseguinte os prazeres destesdois amores combatem um contra o outro como inimigos, e se matam quandose encontram".

11 - Estas diversas provas tendo terminado, ouviu-se do Céu uma voz, dizendoao Anjo da trombeta: "Escolhe dez dentre todos os que foram convocados, e osintroduz junto a nós; sabemos que o Senhor os preparará, a fim de que o calore a luz ou o amor e a sabedoria de nosso Céu, não os prejudique em nadadurante três dias". E foram escolhidos dez deles, e seguiram o Anjo; e por umcaminho inclinado, subiram a uma colina, e daí, a uma M ontanha, onde estavao Céu destes Anjos, o qual a princípio lhes tinha aparecido a uma certadistância como uma Extensão nas nuvens; e as portas se abriram para eles; e,depois que passaram a terceira, o Anjo introdutor correu para o Príncipe destaSociedade ou deste Céu, e anunciou a sua chegada; e o Príncipe respondeu:"T oma alguns da minha guarda, e anuncia aos que se apresentam que a suavinda me é agradável, e os introduz em meu Átrio, e dá a cada um seu quarto eseu gabinete; toma também alguns dos meus cortesãos e de meus servidorespara lhes prestar bons ofícios, e servi-los ao menor sinal". E foi feito assim.M as, quando foram introduzidos pelo Anjo, perguntaram se era permitido seaproximar e ver o Príncipe; e o Anjo respondeu: "É ainda de manhã, e isso nãoé permitido antes do meio-dia; todos, até esse momento, estão em suas funçõese em suas ocupações; mas fostes convidados para jantar; e então estareissentados à mesa com nosso Príncipe; enquanto esperais, vou introduzir-vos emseu Palácio, onde vereis coisas magníficas e resplandecentes".

12 - Q uando chegaram perto do Palácio, viram primeiro o seu exterior, eravasto, construído em pórfiro sobre fundações de jaspe, diante da porta (havia)

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seis altas colunas de pedra lazuli, o teto (era) de lâminas de ouro, (tinha) altasjanelas de um cristal extremamente transparente, as suas esquadrias (eram)também de ouro. Em seguida, foram introduzidos no interior do Palácio, econduzidos de apartamento em apartamento; e viram ornamentos de umabeleza inefável; nos tetos (havia) decorações de uma cinzeladura inimitável;perto das paredes, (havia) mesas de prata damasquinada de ouro, sobre as quaisestavam diversos utensílios de pedras preciosas e de pérolas finas em formascelestes; e muitas outras cousas que ninguém viu sobre a terra, e as quais, emconseqüência, ninguém podia acreditar que existissem no Céu. Como a vistadestes objetos magníficos lhes produzia admiração, o Anjo lhes disse: "N ão,fiqueis surpreendidos; os objetos que vistes não são feitos nem fabricados pelamão dos Anjos, mas são compostos pelo Artífice do U niverso, e dados depresente a nosso Príncipe; é por isso que aqui a Arte arquitetônica está em suaarte mesma, e dela são derivadas todas as regras desta arte no M undo". O Anjoacrescentou: "Poderíeis presumir que tais cousas encantam os nossos olhos e osdeslumbram a ponto de nos fazer crer que estão nelas as alegrias do nosso Céu;mas como não pomos os nossos corações unicamente nessas cousas, pois elassão acessórios para as alegrias de nossos corações, resulta que quanto mais ascontemplamos como acessórios, e como obras de Deus, tanto maiscontemplamos nelas a Divina O nipotência e a Divina Clemência".

13 - Em seguida o Anjo lhes disse: "Ainda não é M eio-dia, vinde comigo aoJardim de nosso Príncipe, ele é contíguo a este Palácio". E eles foram, e naentrada ele lhes disse: "Eis um Jardim mais magnífico do que os outros jardinsdesta Sociedade Celeste". E eles responderam: "Q ue dizes? N ão há aqui umjardim, nós só vemos uma única Arvore, e em seus galhos e em seu cimo frutosde ouro e como que folhas de prata, e seus bordos ornados de esmeraldas; e sobesta Arvore crianças com suas amas". Então o Anjo disse com uma vozinspirada: "Esta Arvore está no meio do Jardim, e é chamada por nós a Arvorede nosso Céu, e por alguns a Arvore da vida. M as avançai e aproximai-vos, evossos olhos serão abertos, e vereis o Jardim". E fizeram assim; e seus olhosforam abertos, e eles viam Amores carregadas de frutos saborosos, cercadas devinhas com seus cachos, cujas extremidades se inclinavam com seus frutos paraa Arvore da vida que estava no meio. Estas árvores estavam plantadas em umasérie contínua, que partia e se prolongava em curvas ou voltas contínuas comoos de uma hélice sem fim; era uma H élice perfeita de árvores, na qual asespécies seguiam as espécies sem interrupção segundo a excelência dos frutos; ocomeço da formação das voltas era separado da Arvore do meio por umintervalo considerável, e o intervalo brilhava com um clarão de luz, pelo qual asárvores da volta resplandeciam com um esplendor sucessivo e contínuo desde asprimeiras às últimas; as primeiras destas árvores eram as mais excelentes detodas, abundantemente carregadas dos melhores frutos; eram chamadas árvoresparadisíacas; e não se viu delas em parte alguma, porque não há e não podehaver delas nas terras do M undo natural; e em seguida a estas árvores, estavam

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oliveiras, depois destas cepas de vinhas, depois árvores odoríferas, e enfimmadeiras de construção. Aqui e ali, nesta H élice de árvores ou nesta série devoltas, havia Assentos, formados com ramos novos das árvores aproximadas eentrelaçadas por trás, e enriquecidos e ornados com seus frutos. N esta curvacontinua de árvores havia portas que se abriam para canteiros, de onde sepassava para lugares de verduras distribuídas em faixas e em leitos. O s queacompanhavam o Anjo exclamaram vendo isso: "Eis o Céu em forma! Paraqualquer lado que voltemos os olhos influi algum celeste paradisíaco que éinefável". O Anjo ouvindo estas palavras, sentiu alegria, e disse: "T odos osJardins de nosso Céu são Formas representativas ou T ipos das beatitudescelestes em suas origens; e como o influxo dessas beatitudes elevou as vossasmentes, exclamastes: Eis o Céu em forma! mas os que não recebem este influxonão encaram estes objetos paradisíacos senão como objetos campestres; erecebem o influxo todos aqueles que estão no amor do uso; mas não o recebemaqueles que estão no amor da glória, e não do uso". Ele lhes explicou emseguida e lhes ensinou o que cada objeto deste jardim representava esignificava.

14 - Enquanto recebiam estas instruções, veio um mensageiro da parte doPríncipe que os convidou para comer pão com ele; e ao mesmo tempo doisguardas da corte trouxeram vestimentas de linho fino, e disseram: "R evesti-voscom elas, porque ninguém é admitido à mesa do Príncipe a não ser que estejacom vestimenta do Céu". E eles se prepararam e acompanharam seu Anjo, eforam introduzidos no H ipetro, pátio de passeio do Palácio, e esperaram oPríncipe; e aí, o Anjo os pôs em relação com os G randes e os G overnadores queesperavam também o Príncipe; e eis que depois de algum tempo, as portas seabriram, e por uma porta mais larga do lado do O cidente eles viram a entradado Príncipe com a ordem e a pompa de um cortejo. Adiante dele marchavamos Conselheiros assistentes, depois destes os Conselheiros camaristas, e emseguida os Principais da corte; no meio destes estava o Príncipe, e depois deleos cortesãos de diversas categorias, e por fim, os guardas, todos formavam umconjunto de cento e vinte. O Anjo se mantinha de pé diante dos dez recémvindos, que por suas vestimentas pareciam então como comensais, aproximou-se com eles do Príncipe, e lhos apresentou respeitosamente; o Príncipe semdiminuir sua marcha, lhes disse: "V inde comigo ao pão". E eles o seguiram aSala de jantar, e viram uma mesa magnificamente servida, e no meio da mesauma alta Pirâmide de ouro com pratos fundos em tríplice ordem sobre seussuportes, contendo pães açucarados e geléias de vinho doce com outras cousasdelicadas preparadas com pão e vinho; e do meio da Pirâmide saía como queuma fonte que jorrava um vinho fino de néctar, e cuja veia se dividia no alto daPirâmide e enchia as taças. Aos lados desta alta Pirâmide estavam diferentesformas celestes em ouro, sobre as quais estavam travessas e pratos cobertos detoda sorte de iguarias; as formas celestes, sobre as quais estavam as travessas epratos, eram formas de arte segundo a sabedoria, que não podem, no M undo,

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ser traçadas por nenhuma arte, nem descritas por nenhuma expressão; astravessas e os pratos eram de prata, cinzelada em formas semelhantes nosbordos e nos fundos, com seus suportes; as taças eram pedras preciosastransparentes; tal era a coberta da mesa.

15 - O ra, eis qual era a vestimenta do Príncipe e de seus M inistros: o Príncipeestava vestido com um hábito comprido cor de púrpura, recamado de estrelasbordadas cor de prata; sob o hábito, trazia uma túnica de seda brilhante cor dejacinto; esta túnica era aberta no peito, onde se via a parte anterior de umaespécie de cinto com a Insígnia de sua Sociedade; a Insígnia era uma Águiacobrindo seus filhotes no cimo de uma árvore; era de ouro brilhante, cercadade diamantes. O s Conselheiros Assistentes não estavam vestidos de outromodo, mas sem esta Insígnia, em lugar dela tinham safiras gravadas quependiam de um colar de ouro no seu pescoço. O s cortesãos tinham hábitos decor castanho-claro, sobre os quais havia em relevo flores em torno de aguietas;as túnicas sob estes hábitos eram de seda cor de opala; da mesma eram tambémas vestes que cobriam as coxas e as pernas. T al era seu Costume.

16 - O s Conselheiros Assistentes, os Conselheiros Camaristas e osG overnadores ficaram em pé, em torno da mesa, e à ordem do Príncipejuntaram as mãos, e pronunciaram ao mesmo tempo em voz baixa um louvorvotivo ao Senhor; e em seguida, a um sinal do Príncipe, se puseram à mesa emleitos; e o Príncipe disse aos recém-vindos: "Ponde-vos à mesa também,comigo; eis, aí estão os vossos lugares". E eles se puseram à mesa; e oficiais dacorte, enviados de antemão pelo Príncipe para os servir, mantinham-se em péatrás deles; e então o Príncipe lhes disse: "T omai cada um o prato de cima deseu suporte, e em seguida cada um prato junto da Pirâmide". E eles ostomaram; e eis que em seguida novos pratos e novos pratos fundos foram vistossubstituindo-os, e suas taças estavam cheias com o vinho da fonte que jorravada grande Pirâmide; e comeram e beberam. Q uando estavam meio saciados, oPríncipe dirigiu a Palavra aos dez convidados, e disse: "Fui informado de quena terra, que está sob este Céu, fostes convocados para conhecer os vossospensamentos sobre as Alegrias do Céu, e sobre a Felicidade eterna que elasproduzem, e vós os havíeis manifestado de diferentes maneiras, cada umsegundo os prazeres dos sentidos do seu corpo. M as, e o que são os prazeres dossentidos do corpo sem os prazeres da alma? É a alma que faz que eles sejamprazeres; os prazeres da alma sã , o em si mesmos beatitudes não perceptíveis,mas se tornam cada vez mais perceptíveis conforme descem nos pensamentosda mente, e por estes pensamentos nas sensações do corpo; nos pensamentos damente, são percebidas como felicidade, nas sensações do corpo comodivertimento, e no corpo mesmo como volúpias; e outras tomadas em conjuntoconstituem a Felicidade eterna; mas esta Felicidade que não resulta senão dasúltimas, sós, não é eterna, é uma felicidade temporária que acaba e passa, e quepor vezes se torna infelicidade. V istes agora que todas as vossas alegrias são

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também alegrias do Céu, e muito acima do que jamais pudestes imaginar; masnão obstante estas alegrias não afetam interiormente as nossas mentes (animi)H á três coisas que influem como uma só do Senhor em nossas almas; estas trêscousas como uma só, ou este trino são o amor, a sabedoria e o uso; todavia, oamor, e a sabedoria não existem senão de uma maneira ideal, quando não estãosenão na afeição e no pensamento da mente; mas no uso eles existem emrealidade, porque estão ao mesmo tempo no ato e na obra do corpo; e ondeexistem em realidade, aí também subsistem; e pois que o amor e a sabedoriaexistem e subsistem no uso, é o uso que nos afeta, e o uso consiste em executarfielmente, e, sinceramente, e cuidadosamente os trabalhos de sua função; oamor do uso, e por conseguinte a aplicação do uso, impede a mente de seespalhar por aqui e por ali, de errar vagamente, e de se encher de todas ascobiças que influem do corpo e do mundo pelos sentidos com atrativossedutores, e pelas quais os veros da R eligião e os veros da M oral com seus benssão dissipados a todos os ventos; mas a aplicação da mente ao uso contêm e ligaem conjunto estes veros, e dispõe a mente em uma forma susceptível de recebera sabedoria por estes veros; e então expulsa para os lados os brinquedos e osdivertimentos das falsidades e das vaidades. M as aprendereis mais sobre esteassunto com os sábios de nossa Sociedade, que vos enviarei esta tarde". OPríncipe tendo assim falado se levantou, e com ele todos os convivas, e disse:"Paz!" e deu ordem ao Anjo, seu condutor, que os levasse aos seusapartamentos, e lhes prestasse todas as honras da civilidade, e chamasse tambémhomens polidos e afáveis para os entreter agradavelmente sobre diferentesalegrias desta sociedade.

17 - Q uando entraram esta ordem foi executada; e os que tinham sidochamados da cidade, para os entreter agradavelmente sobre as diferentes alegriasda Sociedade, chegaram, e após as saudações, tiveram com eles agradáveisconversações, em quanto passeavam; mas o Anjo, seu condutor, disse: "Estesdez homens foram convidados ao nosso Céu, para ver as suas Alegrias, e porconseguinte receber uma nova idéia da Felicidade eterna; falai-lhes portantosobre as alegrias deste Céu, alguma cousa que afete aos sentidos do corpo;depois virão Sábios que falarão do que faz com que estas alegrias produzamsatisfação e felicidade". A estas palavras, os que tinham sido chamados dacidade relataram as particularidades seguintes: "1. H á aqui dias de festaindicados pelo Príncipe, a fim de que as mentes (animi) se refaçam da fadigaque o ardor da emulação terá causado a alguns; nesses dias há nas praçaspúblicas Concertos de harmonia musical e de cantos, e fora da cidade jogos eespetáculos; então nas Praças públicas são instaladas O rquestras cercadas degrades formadas; com cepas entrelaçadas de que pendem cachos de uvas; nointerior dessas grades sobre três ordens de elevação estão sentados os músicoscom instrumentos de cordas, e com instrumentos de sopro, de sons diversos,altos e baixos, fortes e suaves, e dos lados estão os Cantores e as Cantoras, erecreiam os cidadãos com árias e cantos muito agradáveis, em coro e em solo,

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variados por intervalos quanto às espécies; isto dura nestes dias de festa desde amanhã até ao meio-dia, e continua depois do meio-dia até à tarde. 2. Alémdisso cada manhã, das casas que cercam as Praças, ouve-se Cantos muito suavesde virgens e de meninos; toda a cidade vibra com eles; é uma única afeição doamor espiritual que é cantado em cada manhã, isto é, que ressoa pelasmodificações do som da voz ou pelas modulações; e esta afeição no canto épercebida como se fosse a afeição mesma; ela influi nas almas dos que a ouveme excita estas almas à correspondência, tal é o canto celeste; as cantoras dizemque o som de seu canto parece se inspirar e se animar do interior, e se exaltaragradavelmente a medida que é recebido por aqueles que o ouvem. Acabadoeste canto, as janelas das casas da Praça, e ao mesmo tempo as das casas dasruas, são fechadas, e as portas também; e então toda a cidade fica em silêncio, eem parte alguma ouve-se barulho, e não se vê pessoa alguma indo de cá para lá;todos então estão ocupados no desempenho das funções do seu estado. 3. M asao meio-dia as portas são abertas, e depois do meio-dia, em alguns lugares, asjanelas o são também; e se olha os brinquedos das crianças dos dois sexos nasruas, sob a direção de suas amas e de seus professores sentados sob os pórticosdas casas. 4. Aos lados da cidade, nas suas extremidades, há diferentes jogos derapazes e de adolescentes, jogos de corridas, jogos de bola, jogos de raquetes,exercícios públicos entre rapazes, a saber, quem será mais veloz, e quem serámais lento, em falar em agir, e em perceber, e para os mais velozes algumasfolhas de louro como prêmio, além de vários outros jogos próprios paraexercitar as aptidões ocultas nas crianças. 5. Além disso, fora da cidade, emteatros há espetáculos de comediantes que representam diversos feitos dehonestidade e de virtude na vida moral; entre eles há também histriões porcausa das relações". E um dos dez perguntou o que significavam estas palavras:Por causa das relações; e eles responderam: "N enhuma virtude pode serapresentada de maneira frisante com o que tem de honesto e de belo, senão por(meio de) relativos desde seus máxima até seus mínima; os histriõesrepresentam seus mínima até que se tornem nulos; mas lhes é proibido poruma lei, apresentar a não ser de uma maneira figurada e como de longe; algumacousa do oposto, que é chamado desonesto e indecente; se isso foi proibido, éporque nada de honesto e de bom de uma virtude qualquer passa por graussucessivos ao desonesto e ao mau; mas vai unicamente a seus mínima até queisso pereça e quando isso perece o oposto começa; é por isso que o Céu, ondetudo é honesto e bom, nada tem de comum com o Inferno, onde tudo édesonesto e mau".

18 - Durante esta conversa acorreu um servidor e anunciou que oito Sábios seapresentavam por ordem do Príncipe e queriam entrar; a essa notícia o Anjosaiu, e os recebeu e os introduziu; e em seguida os Sábios, após as fórmulas decordialidade e polidez, falaram a princípio dos começos e dos acréscimos dasabedoria, aos quais entremearam diversas cousas sobre sua duração, dizendoque nos anjos a sabedoria não tem fim e não descontinua, mas cresce e

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aumenta durante a eternidade. Estas explicações tendo sido dadas, o Anjo daCoorte lhes disse: “O nosso Príncipe lhes falou, à mesa, da sede da sabedoria elhes disse que ela está no uso; peço-vos que lhes falem, também, sobre esteassunto". E eles disseram: “O homem, criado a princípio, foi imbuído com asabedoria e o amor da sabedoria, não para ele mesmo, mas para fazercomunicação dela aos outros por ele; por conseguinte, foi gravado na sabedoriados sábios que quem quer que seja não deve ser sábio nem viver para si, a nãoser que ao mesmo tempo viva para os outros; daí a Sociedade, que de outromodo não existiria; viver para os outros, é fazer usos; os usos são os laços dasociedade; há tantos desses laços quanto há de bons usos, e o número dos usos éinfinito; há usos espirituais que pertencem ao amor para com Deus e o amorem relação ao próximo; há os usos morais e civis que pertencem ao amor dasociedade e da cidade nas quais o homem está, e ao amor dos companheiros edos cidadãos com os quais ele mora; há os usos naturais que pertencem ao amordo mundo e de suas necessidades; há os usos corporais que pertencem ao amorde sua própria conservação por causa dos usos superiores. T odos estes usosforam gravados no homem, e seguem-se em ordem, um após outro, e quandoestão junto, um está no outro: aqueles que estão nos primeiros usos, isto é, nosusos espirituais, estão também nos usos seguintes, e esses são sábios; mas os quenão estão nos primeiros, e entretanto estão nos segundos, e daí nos seguintes,não são sábios do mesmo modo, mas unicamente segundo a moralidade e acivilidade externas, aparecem como se o fossem; os que não estão nos primeirosnem nos segundos, mas estão nos terceiros e nos quartos, não são sábios demodo algum, pois são satanases; com efeito, amam unicamente o mundo, epelo mundo amam-se a si mesmos; mas os que não estão senão nos quartos sãoos menos sábios de todos, pois são diabos, porque vivem para si sós, e se vivempara os outros, é unicamente por causa deles mesmos. Além disso, cada amortem seu prazer, e o prazer do amor dos usos é um prazer celeste, o qual entranos prazeres que seguem em ordem, e os exalta segundo a ordem de sucessão eos torna eternos". Em seguida fizeram a enumeração das Delícias celestes queprocedem do amor do uso, e disseram que há miríades de miríades e que osque entram no Céu entram nessas delícias; e, de mais, passaram com eles oresto do dia até à tarde a tratar do amor do uso por sábias conversações.

19 - M as ao entardecer veio um correio vestido de brim aos dez recém-vindosque acompanhavam o Anjo, e os convidou às N úpcias que deviam se celebrarno dia seguinte; e os recém-vindos se regozijaram muito porque iam vertambém núpcias no Céu. Em seguida foram conduzidos à casa de umConselheiro assistente, e cearam com ele, e depois da ceia, voltaram, eseparando-se, cada um se retirou para seu apartamento, e dormiram até demanhã; e então, tendo despertado, ouviram o Canto das virgens e das meninas,que partia das casas em torno da Praça pública de que já se falou; cantava-seentão a afeição do amor conjugal; profundamente afetados e comovidos pelasuavidade desse canto, percebiam, insinuado em suas alegrias um encanto

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delicioso que os elevava e renovava. Q uando chegou a ocasião, o Anjo lhesdisse: "Preparai-vos; tomai as vestimentas do Céu que nosso Príncipe vosenviou". E eles se vestiram; e eis que as vestimentas resplandeciam como deuma luz inflamada; e eles perguntaram ao Anjo donde provinha isso, e elerespondeu: "Isto provém de que ides assistir a núpcias; entre nós então, asvestimentas resplandecem e se tornam núpcias".

20 - Em seguida o Anjo os conduziu à Casa das núpcias, e o porteiro abriu aporta; e apenas tinham chegado à entrada quando foram recebidos e saudadospor um Anjo que o N oivo tinha enviado, e foram introduzidos e conduzidos apoltronas designadas para eles; e pouco depois foram convidados a entrar naSala que precedia o Q uarto nupcial; viram aí, no meio, uma M esa sobre a qualtinha sido posto um magnífico Candelabro composto de sete braços e de setelâmpadas de ouro, e nas paredes estavam suspensos lustres de prata, queestando acesos faziam parecer a atmosfera como de ouro; e viram aos lados doCandelabro duas M esas sobre as quais tinham sido colocados pães sobre trêsfileiras; e nos quatro ângulos da Sala, M esas sobre as quais estavam T aças decristal. Enquanto examinavam esta distribuição, eis que a porta de umapartamento junto ao Q uarto N upcial se abriu, e eles viram sair seis V irgens, eapós elas, N oivo e a N oiva de mãos dadas, e se dirigindo para um Assentoelevado, que tinha sido colocado defronte do Candelabro, e sobre o qual seassentaram, o N oivo à esquerda e a N oiva à sua direita, e as seis V irgens secolocaram ao lado do assento perto da N oiva. O N oivo estava vestido com umM anto de púrpura brilhante, e com uma T única de linho fino resplandecente,com um éfode sobre o qual havia uma placa de ouro cercada de diamantes; esobre esta placa estava gravada uma aguileta, insígnia nupcial desta sociedadedo Céu; e a cabeça do N oivo estava coberta com uma tiara. A N oiva estavacom uma Clâmide escarlata, sob a qual trazia um vestido bordado, indo dopescoço aos pés; tinha abaixo do peito um cinto de ouro, e na cabeça umacoroa de ouro guarnecida de rubis. Q uando se assentaram o N oivo se voltoupara a N oiva e lhe pôs no dedo um anel de ouro, e tirou braceletes e um colarde pérolas, e pôs os braceletes no pulso da N oiva, e o colar em torno de seupescoço, e lhe disse: "R ecebe estes penhores". E logo que ela os recebeu, ele lhedeu um beijo e disse: "Agora tu és minha". E chamou-a de sua Esposa.Imediatamente os convidados exclamaram: "Q ue haja Bênção!" Estas palavrasforam pronunciadas por cada um em particular, e em seguida por todos emconjunto; um Anjo enviado pelo Príncipe para o representar as pronuncioutambém; e nesse momento esta Sala, que precedia o Q uarto nupcial, encheu-secom uma fumaça aromática, o que era um sinal de bênção vinha do Céu; eentão oficiais de serviço tomaram os Pães sobre as duas mesas perto doCandelabro, e as T aças então cheias de vinho sobre as mesas dos ângulos, ederam a cada convidado seu pão e sua taça; e comeu-se e bebeu-se. Em seguidao M arido e sua Esposa se levantaram, as seis virgens tendo na mão lâmpadas deprata, então acesas, os seguiram até ao limiar da porta, e os Esposos entraram

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no Q uarto nupcial, e a porta foi fechada.

21 - O Anjo condutor falou em seguida de seus dez companheiros aosconvidados; e lhes disse que por ordem ele os havia introduzido, e os haviafeito ver a magnificência do Palácio do Príncipe, e as cousas admiráveis que eleencerrava, que eles tinham comido com o Príncipe em sua mesa; que emseguida tinham conversado com os Sábios da sociedade; e lhes pediu paraentreterem conversação com eles; e eles consentiram, e conversaram; e umsábio dentre os homens das núpcias lhes disse: "Compreendeis o que significamas coisas que vistes?'' R esponderam que as compreendiam pouco; e então lhefizeram esta pergunta: "Por que o N oivo, agora M arido, tinha uma talvestimenta?" Ele respondeu: "Porque o N oivo, agora M arido, representava oSenhor, e a N oiva, agora Esposa representava a Igreja, pela razão de que asN úpcias no Céu, representam o casamento do Senhor com a Igreja; daí vemque ele tinha sobre a Cabeça uma T iara, e estava revestido com um manto,uma T única e um Éfode, como Arão; e a N oiva, agora Esposa tinha sobre acabeça uma Coroa, e estava vestida com uma Clâmide como uma R ainha; masamanhã eles estarão vestidos diferentemente, porque esta R epresentação éapenas para hoje". Eles lhe fizeram ainda esta pergunta: "Pois que Elerepresentava o Senhor, e Ela a Igreja; por que Ela estava à direita d'Ele?" OSábio respondeu "Porque há duas cousas que fazem o Casamento do Senhor eda Igreja, o Amor e a Sabedoria; ora, o Senhor é o Amor, e a Igreja é aSabedoria; e a Sabedoria está à direita do Amor, pois o homem da Igreja é sábiocomo por ele mesmo, e conforme é sábio, recebe do Senhor, o amor; a direitatambém significa a força, e o amor tem a força, pela sabedoria; mas como acabade ser dito, após as núpcias, a representação é mudada, pois então o M aridorepresenta a Sabedoria, e a Esposa representa o Amor da sabedoria do marido;entretanto este Amor não é o amor anterior, mas é um amor secundário, quevem do Senhor à Esposa pela Sabedoria do marido; o amor do Senhor, que é oamor anterior, é o amor de ser sábio no marido, é por isso que depois dasnúpcias, os dois em conjunto, o marido e sua Esposa representam a Igreja".Eles fizeram ainda esta pergunta: "Por que vós, H omens, não estáveis ao ladodo N oivo, agora M arido, como as seis V irgens estavam ao lado da N oiva, agoraEsposa?” O sábio respondeu: "É porque nós, hoje, somos contados entre asvirgens, e o número seis significa tudo e o completo". M as eles disseram: "Q ueentendeis por isso?" Ele respondeu: "As V irgens significam a Igreja, e a Igreja éde um e outro sexo; é por isso que nós também, quanto à Igreja somos V irgens,que assim seja, vê-se pelas palavras do Apocalipse: "São aqueles que com asmulheres não se contaminaram, pois virgens são". (Apoc. IXV , 4). E como asV irgens significam a Igreja, eis porque o Senhor comparou a Igreja a dezV irgens convidadas às núpcias. (M ateus X XV , 4 e seguintes); e como a Igreja ésignificada por Israel, por Sião e por Jerusalém, eis porque se diz tãofreqüentemente na Palavra, V irgem e Filha de Israel, de Sião e de Jerusalém; oSenhor descreve também Seu Casamento com a Igreja por estas palavras em

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David: "A R ainha se mantém à tua Direita no ouro excelente de O fir; tecido deouro é seu vestido; em Bordados ela será levada ao R ei, as V irgens suas amigaspara perto dela virão no palácio do R ei". (Sal. X LV , 10 a 16). Em seguidadisseram: "N ão é conveniente que um Sacerdote esteja presente, e desempenheum ministério nestas cerimônias?". O sábio respondeu: "Isso é conveniente nasterras, mas não nos céus, por causa da representação do Senhor M esmo e daIgreja; nas terras não se sabe isso; mas não obstante entre nós, um Sacerdotecelebra os Esponsais, e ouve, recebe, confirma e consagra o Consentimento; oConsentimento é o essencial do casamento, e as outras cousas que seguem sãoas formais".

22 - Depois disso, o Anjo condutor se aproximou das seis V irgens, e lhes faloutambém dos que o acompanhavam, e lhes pediu que se dignassem admiti-losem sua companhia; e elas se aproximaram, mas quando chegaram perto deles,se retiraram bruscamente e voltaram para o apartamento das mulheres, ondeestavam também virgens suas amigas. O Anjo condutor, tendo visto estemovimento brusco, seguiu-as, e lhes perguntou porque se tinham retirado tãoprontamente sem falar com eles; e elas responderam: "N ão pudemos nosaproximar". E ele lhes disse: "Por que isso?" E elas responderam: "N ão osabemos, mas percebemos alguma cousa que nos repeliu e nos fez voltar; queeles nos perdoem". E o Anjo voltou a seus companheiros; e lhes referiu aresposta; e acrescentou: "Presumo que não há em vós o amor casto do sexo; noCéu nós amamos as virgens por sua beleza e pela elegância de suas maneiras, eas amamos muito, mas castamente". Isto fez os seus companheiros sorrirem, eeles disseram: "T u presumes bem; quem pode ver de perto tais belezas, e nãoter algum desejo?".

23 - Depois desta conversação amigável, todos os convidados às núpcias seretiraram e também estes dez homens com seu Anjo; a tarde estava adiantada, eeles foram se deitar. Ao clarear do dia, ouviram uma Proclamação: H oje oSabath; e se levantaram, e perguntaram ao Anjo o que era; e ele respondeu: "Épara o Culto de Deus; este Culto, revém em tempos marcados, e é publicadopelos Sacerdotes; é celebrado em nossos T emplos, e dura cerca de duas horas;por isso, se o desejardes, vinde comigo, e eu vos introduzirei". E eles seprepararam, e acompanharam o Anjo, e entraram; e eis que o T emplo eravasto, podendo conter cerca de três mil pessoas, semicircular, os bancos ouassentos contínuos arranjados segundo a forma do T emplo em semicírculo, e osúltimos mais elevados do que os primeiros; o púlpito diante dos assentos, umpouco retirado atrás do centro; a porta atrás do púlpito à esquerda. O s dezhomens recém-vindos entraram com o Anjo seu condutor, e o Anjo lhesindicou os lugares onde deviam sentar-se, dizendo-lhes: "Q uem quer que entrano T emplo conhece seu lugar; o conhece pelo ínsito, e não pode sentar-se emoutro lugar; se coloca em outro lugar, não ouve cousa alguma, e nada percebe,e ao mesmo tempo perturba a ordem e a ordem estando perturbada o Sacerdote

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não é inspirado.

24 - Q uando estavam reunidos, o Sacerdote subiu em um púlpito epronunciou um discurso cheio do espírito de sabedoria; esse discurso tratava daSantidade da Escritura Santa, e da conjunção do Senhor com um e outroM undo, o Espiritual e o N atural, por esta Escritura; na ilustração em queestava, ele convenceu plenamente que este Livro Santo foi ditado por Jehovah,o Senhor, e que por conseqüência Ele M esmo está nesse Livro, de tal modo queEle M esmo é aí a Sabedoria, mas que a Sabedoria que é o Senhor M esmo nesseLivro, fica escondida sob o sentido da letra, e não se manifesta senão aos queestão nos veros da doutrina e ao mesmo tempo nos bens da vida, e assim, queestão no Senhor e em quem o Senhor está; a esse discurso ele acrescentou umaprece votiva, e desceu. Enquanto os ouvintes saíam, o Anjo pediu ao Sacerdotepara dizer algumas palavras de paz a seus dez companheiros; e este seaproximou deles, e conversaram durante uma meia hora; e lhes falou daT rindade Divina, dizendo-lhes que ela está em Jesus Cristo, em quem habitacorporalmente toda a Plenitude da Divindade, conforme à declaração doApóstolo Paulo; e em seguida lhes falou da U nião da Caridade e da Fé; disse,porém, "a U nião da Caridade e da V erdade" porque a Fé é a V erdade.

25 - Depois de ter agradecido, eles voltaram para casa; e o Anjo lhes disse:"H oje é o terceiro dia depois que subistes a esta sociedade deste Céu, e fostespreparados pelo Senhor para ficar aqui três dias, é por conseguinte tempo denos separarmos; assim' tirai as vestimentas que vos foram enviadas peloPríncipe, e retomai as vossas". E quando as retomaram, foram inspirados com odesejo de se retirar, e se retiraram e desceram, acompanhados pelo Anjo, até aolugar da assembléia, e aí, deram graças ao Senhor por se ter dignado torná-losfelizes, fazendo-os conhecer, e por conseguinte compreender, o que são asAlegrias do Céu e o que é a Felicidade eterna.

26 - "De novo afirmo em verdade, que estas cousas aconteceram e foram ditas,como acaba de ser relatado; as primeiras, no M undo dos Espíritos, que fica nomeio entre o Céu e o Inferno, e as seguintes, na Sociedade do Céu, a quepertencia o Anjo da trombeta, que serviu de condutor. Q uem teria sabido noM undo Cristão alguma cousa sobre o Céu, e sobre as Alegrias e a Felicidadeque lá estão, cuja ciência é também a ciência da salvação, se não aprouvesse aoSenhor abrir à alguém a V ista de seu espírito, e lhe mostrar e ensinar? Q uecousas semelhantes existem no M undo espiritual, isso é bem evidente pelas queforam vistas e ouvidas pelo Apóstolo João, as quais foram descritas noApocalipse se; assim, ele viu o Filho do H omem no meio de sete Candelabros,um T abernáculo, um T emplo, uma Arca, um Altar no Céu; um Livro seladocom sete selos, este livro aberto e Cavalos que saíam dele; quatro animais emtorno de um T rono; doze mil eleitos de cada T ribo; gafanhotos que subiam doabismo; um Dragão e seu combate contra M iguel; uma M ulher que deu à luzum Filho homem, e que fugiu para o deserto por causa do Dragão; duas bestas

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subindo, uma do mar, a outra da terra; uma M ulher sentada sobre uma Bestaescarlate; o Dragão lançado em um tanque de fogo e enxofre; um Cavalobranco, e uma grande Ceia; um N ovo Céu e uma N ova T erra, e a SantaJerusalém descendo do Céu, descrita quanto a suas portas, à sua muralha e aosfundamentos de sua muralha; depois um R io de água da vida, e Arvores de vidaque davam fruto cada mês; além de várias cousas que foram todas vistas porJoão, e vistas enquanto ele estava, quanto a seu espírito, no M undo espiritual eno Céu; além das que foram vistas pelos Apóstolos depois da ressurreição doSenhor, e das que foram vistas em seguida por Pedro (Atos dos Apóst. X I);depois, as que foram vistas e ouvidas por Paulo. Além disso, as que foram vistaspelos Profetas; por exemplo: Ezequiel viu quatro Animais, que eramQ uerubins, (Cap. I e X ); um N ovo T emplo e uma nova T erra, e um Anjo queos media, (Cap. XL-XLV III); ele foi transportado a Jerusalém, e viu aíabominações; e foi também transportado à Caldéia, no cativeiro, (Cap. V III eXI). A mesma cousa aconteceu a Z acarias; ele viu um H omem a cavalo entremurtas, (Cap. 1, 8 e seg.); viu quatro cornos, (Cap. I, 18); e em seguida umH omem com um cordel de medir à mão, (Cap. II, 2); viu um Candelabro eduas oliveiras, (Cap. IV , 1 e seg.); viu um Rolo que voava e um Éfode, (V , 1 e6); viu quatro Carros saindo dentre duas montanhas, e Cavalos, (V I, 1 e seg.).Deu-se o mesmo com Daniel; viu quatro Bestas subindo do mar, (V II, 1 eseg.); depois, os combates, de um Carneiro e de um Bode, (V III, 11 e seg.); viuo Anjo G abriel, e teve com ele uma longa conversa, (IX) . O servo de Eliseuviu Carros e Cavalos de fogo em torno de Eliseu, e os viu quando seus olhosforam abertos, (II R eis V I, 17). Por estes exemplos e vários outros que estão naPalavra, é constante que as cousas que existem no M undo Espiritualapareceram a vários antes e depois do advento do Senhor; que há portanto deadmirar que elas apareçam ainda no presente quando a igreja começa, ou aN ova Jerusalém descendo do Senhor pelo céu.

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Dos casamentos no céu

27 - Q ue nos Céus haja Casamentos é o que não pode entrar na fé dos queimaginam que o homem depois da morte é uma Alma ou um Espírito, e nãoconcebem uma Alma ou um Espírito senão como um éter ou sopro leve; queimaginam também que o homem não viverá como homem senão depois doJulgamento Final; e que, em geral, nada sabem do M undo Espiritual, no qualestão os Anjos e os Espíritos, assim, onde estão os Céus e os infernos; e comoeste M undo é desconhecido, e se ignora completamente que os Anjos do Céusão H omens em uma forma perfeita, e semelhantemente os Espíritos Infernais,mas em uma forma imperfeita, é por isso que não pode ser revelada cousaalguma sobre os Casamentos no M undo Espiritual; com efeito, ter-se-ia dito:"Como uma alma pode ser conjunta com uma alma, ou um sopro com umsopro como um esposo com uma esposa sobre a terra?" Sem falar de váriasoutras objeções que, no momento em que fossem feitas, tirariam e dissipariama crença nos Casamentos na outra vida. M as agora que várias cousas foramreveladas sobre esse M undo, e que Ele, também, foi descrito tal qual é, o quefoi feito no T ratado "do Céu e do Inferno” e também no "ApocalipseR evelado”, a afirmação de que há, lá, Casamentos pode ser confirmada, mesmodiante da razão, pelas proposições seguintes: I. O H omem vive H omem depoisda morte. II. Então o M asculino é M asculino, e o Feminino é Feminino. III. OAmor de cada um permanece depois da M orte. IV . E principalmente o Amordo sexo; e, nos que vão para o Céu, isto é, nos que nas terras se tornaramespirituais, o Amor Conjugal. V . Estas cousas confirmadas por demonstraçãoocular. V I. Por conseqüência há casamentos nos Céus. V II. As N úpciasEspirituais são entendidas por estas palavras do Senhor, que após a ressurreiçãonão se é dado em casamento. Estas proposições vão ser agora explicadas em suaordem.

28 - 1. O H omem vive H omem depois da morte. Q ue o homem vive homemdepois da morte, ignorou-se isso no M undo até ao presente, pelas razões de quese acaba de falar; e o que é de admirar, ignorou-se mesmo no M undo Cristão,onde há a Palavra, e por conseqüência ilustração a respeito da vida eterna, eonde o Senhor M esmo ensina que "todos os mortos ressuscitarão, e que Deusnão é Deus de mortos, mas de vivos". (M ateus X XII, 31 e 32; Lucas X X, 37 e38). Além disso quanto às afeições e aos pensamentos de seu mental, o homemestá no meio de anjos e de espíritos e foi de tal modo consociado a eles, que nãopode ser separado deles sem morrer imediatamente. E ainda é mais de admirarque se ignore isso, quando entre tanto todo homem, que morreu desde a

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primeira criação foi e vai depois de sua morte para os seus, ou, como se diz naPalavra, foi recolhido para os seus; e além disso, o homem tem uma percepçãocomum, que é a mesma cousa que o influxo do Céu nos interiores de suamente pelo qual percebe interiormente em si mesmo os veros e por assim dizeros vê, principalmente este vero que o homem vive depois da morte, feliz sebem viveu, e infeliz se viveu mal. Com efeito, quem é que não pensa assim, porpouco que eleve a mente acima do corpo e do pensamento mais próximo dossentidos do corpo, o que acontece quando está interiormente no Culto Divino,e quando está estendido moribundo em seu leito e espera o último momento;semelhantemente quando ouve falar dos que estão mortos e de sua sorte?Contei sobre estes milhares de cousas; por exemplo, disse a certas pessoas qualera a sorte de seus irmãos, de seus cônjuges, de seus amigos; escrevi tambémsobre a sorte dos Ingleses, dos H olandeses, dos Católicos-romanos, dos judeus,dos gentios, e semelhantemente sobre a sorte de Lutero, de Calvino, e deM elanchton; e até ao presente jamais ouvi alguém me dizer: "Como podem elester uma tal sorte, visto como ainda não saíram de seus túmulos, por que ojulgamento final ainda não foi feito? Será que, durante esse tempo, não são elesalmas que são sopros, e estão em Q ualquer parte, ou em um O nde não se sabe(in quodam Pu seu U bi)?" N ão ouvi ainda pessoa alguma me falar nestalinguagem; daí pude concluir que cada um em si mesmo percebe que vivehomem depois da morte. Q ual é a pessoa que tendo amado seu cônjuge e seusfilhos, não diz em si mesmo, quando eles morrem ou estão mortos, se está emum pensamento elevado acima dos sensuais do corpo, que eles estão na mão deDeus, que os reverá após sua morte, e que será de novo unida a eles em umavida de amor e de alegria?

29 - Q uem é que, segundo a razão, não pode ver, se quer ver, que o homemdepois da morte não é um Sopro, do qual não se pode fazer idéia senão comode um vapor, ou de um ar e de um éter, que isto é ou contêm em si a alma dohomem, a qual deseja e espera a conjunção com seu corpo a fim de poder gozardos sentidos e dos prazeres dos sentidos, como precedentemente no M undo?Q uem é que não pode ver que, se acontecesse assim com o homem após amorte, seu estado seria mais vil que o dos peixes, dos pássaros e dos animais daterra, cujas almas não vivem, e por conseqüência não estão em uma semelhanteansiedade de desejo e de espera? Se o homem após a morte fosse um tal Sopro,e assim um vapor, então ou ele esvoaçaria no U niverso, ou segundo certastradições estaria reservado em uma Q ualquer porta (in Pu), ou com os Pais noslimbos até ao Julgamento final. Q uem é que não pode, pela razão, concluir queos que viveram desde a primeira criação, que se acredita ter tido lugar há seismil anos, estariam ainda em um semelhante estado inquieto, eprogressivamente mais inquieto, porque toda espera proveniente de um desejoproduz a inquietação, e aumenta de um tempo a outro tempo; que porconseqüência esses, ou esvoaçariam ainda no U niverso, ou estariam aindaencerrados na Q ualquer parte (in Pu), e assim, em uma extrema miséria;

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semelhantemente Adão e sua Esposa; semelhantemente Abrahão, Isaac e Jacob,e semelhantemente todos os outros desde esse tempo? Segue-se daí que nãohaveria coisa alguma mais deplorável do que nascer homem. M as dá-seinteiramente ao contrário; foi provido pelo Senhor, que é Jehovah de todaeternidade, e o Criador do U niverso, para que o estado do homem, que seconjunta com ele pela vida segundo Seus preceitos, seja depois da morte maisfeliz e mais próspero que antes da morte no M undo, e esse estado é mais feliz emais próspero, porque então o homem é espiritual, e o homem espiritual sentee percebe o prazer espiritual, que é bem superior ao prazer natural, pois oultrapassa milhares de vezes.

30 - Q ue os Anjos e os Espíritos sejam homens, isso se torna evidente poraqueles que foram vistos por Abrahão, G ideão, Daniel, e os Profetas,principalmente por João quando escreveu o Apocalipse, e também pelasM ulheres no Sepulcro do Senhor; mais ainda, o Senhor M esmo após aressurreição se fez ver pelos Discípulos. Se foram vistos, é porque então osolhos do espírito daqueles que os viram tinham sido abertos; e quando sãoabertos, os Anjos aparecem em sua forma, que é a forma humana; mas quandoos olhos do espírito estão fechados, isto é, velados pela vista dos olhos que tiramdo M undo M aterial tudo o que lhes pertence, os Anjos não aparecem.

31 - Entretanto é preciso que se saiba que o homem depois da morte não éhomem natural, mas é homem espiritual, e não obstante lhe parece que éabsolutamente semelhante, e de tal modo semelhante que não pode deixar decrer que está ainda no M undo natural; pois tem um corpo semelhante, umalinguagem semelhante e sentidos semelhantes, porque tem uma afeiçãosemelhante, ou uma vontade semelhante; é verdade que na realidade ele não ésemelhante, porque é espiritual, e por conseguinte homem interior; mas adiferença não se manifesta, a ele, porque não pode comparar seu estado comseu precedente estado natural, pois foi despojado deste, e está naquele; é porisso que muito freqüentemente ouvi Espíritos dizerem que não sabem outracousa senão que estão no M undo precedente, com esta única diferença que nãovêem mais aqueles que deixaram nesse M undo, mas vêem aqueles que saíramdesse M undo ou que estão mortos, ora, se então vêem estes e não aqueles, éporque não são homens naturais, mas homens espirituais ou substanciais, e ohomem espiritual ou substancial vê o homem espiritual ou substancial, como ohomem natural ou material vê o homem natural ou material, mas nãovice-versa, por causa da diferença entre o substancial e o material, que é como adiferença entre o anterior e o posterior; ora, o anterior, sendo em si mesmomais puro, não pode aparecer ao posterior que é em si mesmo mais grosseiro, eo posterior, sendo em si mesmo mais grosseiro, não pode tampouco aparecer aoanterior que é em si mesmo mais, puro; por conseqüência o Anjo não podeaparecer ao homem deste M undo, nem o homem deste mundo ao Anjo. Se ohomem após a morte é homem espiritual ou substancial, é porque este homem

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espiritual estava interiormente escondido no homem natural ou material; esteera para ele como uma vestimenta, ou como um invólucro, o qual sendodespido, o homem espiritual ou substancial sai, assim mais puro, interior emais perfeito. Q ue o homem espiritual seja não obstante um homem perfeito,ainda que não seja visível pelo homem natural, é o que foi claramentemanifestado pelo Senhor, quando foi visto pelos Apóstolos após a ressurreição,em que apareceu e pouco depois desapareceu, e entretanto era homemsemelhante a Si M esmo quando foi visto e quando não foi mais visto; osApóstolos disseram também que, quando O viram, seus olhos tinham sidoabertos.

32 - II. Então o M asculino é M asculino, e o Feminino é Feminino. Pois que ohomem vive homem após a morte e o homem (homo) é masculino e feminino,e que uma cousa é o masculino, e' outra cousa o feminino, e de tal como outracousa que um não pode ser mudado no outro; segue-se que depois da morte omasculino vive masculino, e o feminino vive feminino, um e outro homemespiritual. Foi dito que o masculino não pode ser mudado em feminino, nem ofeminino em masculino, e que é por isso que depois da morte o masculino émásculo, e o feminino é feminino; mas como se ignora em que consisteessencialmente o masculino, e em que consiste essencialmente o feminino, istovai por conseguinte ser dito aqui em poucas palavras. A diferença consisteessencialmente em que o íntimo no M asculino é o Amor, e que seu véu é aSabedoria, ou, o que é a mesma cousa, em que o íntimo é o Amor velado pelaSabedoria; e em que o íntimo no Feminino é esta Sabedoria do M asculino, eque seu véu é o Amor que daí provém; mas este Amor é o Amor feminino, e édado pelo Senhor à esposa por meio da sabedoria do marido; mas o Amorprecedente é o Amor masculino, e é o amor de se tornar sábio, e é dado peloSenhor ao marido segundo a recepção da sabedoria; daí vem que o M asculino éa Sabedoria do Amor e que o Feminino, é o Amor desta sabedoria; é por issoque por criação foi incutido em um e no outro um Amor de conjunção emum; mas será dito mais sobre este assunto no que segue. Q ue o feminino vemdo masculino, ou que a M ulher tenha sido tomada do H omem, vê-se por estaspalavras na G ênesis(II, 21-23): "Jehovah Deus tomou uma das Costelas doH omem, e fechou a carne em seu lugar, e edificou em M ulher a Costela quetomou o homem, e a levou para o homem; e o homem disse: Esta é O sso demeus ossos, e Carne da minha carne; por causa disso ela será chamada Ischah,porque do homem foi tomada". Será dito em outro lugar o que significa aCostela, e o que é significado pela Carne.

33 - Desta formação primitiva resulta que o M asculino nasce Intelectual, e queo Feminino nasce V oluntário; ou, o que é a mesma cousa, que o M asculinonasce para a afeição de saber, de compreender e de se tornar sábio, e que oFeminino nasce para o amor de se conjuntar com esta afeição no M asculino. Ecomo os Interiores formam a sua semelhança os Exteriores, e que a forma

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masculina é a forma, do Entendimento, e a forma feminina é a forma do Amordeste entendimento, daí vem que o M asculino tem uma face, um som de voz eum corpo, que são diferentes dos do Feminino, a saber, uma face mais dura,um som de voz rude e um corpo, que são diferentes dos do Feminino, a saber,uma face mais dura, um som de voz mais rude e um corpo mais forte, e alémdisso um mento barbado, em geral uma forma menos bela que a feminina;diferem também pelos gestos e pelos costumes; em uma palavra, nada há desemelhante, mas não obstante há o conjuntivo em cada cousa; ainda mais, omasculino no macho é masculino em cada parte e mesmo na menor parte deseu corpo, e também em cada parcela de sua afeição; semelhantemente ofeminino na fêmea; e como conseqüência um não pode ser mudado no outro,segue-se que após a morte, o masculino é masculino e o feminino é feminino.

34 - III. O Amor de cada um permanece depois da morte. O homem sabe queo Amor existe, mas ignora o que é o Amor; que o amor existe ele o sabe pelalinguagem comum, por exemplo, quando se diz: U m tal me ama; o R ei amaseus súditos, e os súditos amam o R ei; o marido ama a esposa, e a mãe ama osfilhos, e reciprocamente; e também: T al ou tal ama a pátria, os concidadãos, opróximo; do mesmo modo para as cousas; abstração feita da pessoa, porexemplo: Ele ama tal ou tal cousa. M as, ainda que na linguagem se trate tãouniversalmente do Amor, entretanto acontece sempre que apenas um ou outrosabe o que é o Amor; quando o homem medita sobre o amor, como não podeentão formar dele idéia alguma do pensamento, nem por conseqüênciaapresentá-lo na luz do entendimento, por esta razão, que o amor pertence, nãoà luz, mas ao calor, ele diz ou que nada é, ou que é somente alguma cousa queinflui da vista, do ouvido, do tato e da freqüentação, e assim emociona; ignoraabsolutamente que é sua vida mesma, não somente a vida comum de todo seucorpo, e a vida comum de todos os seus pensamentos, mas é mesmo a vida detodos os singulares do corpo e dos pensamentos; É o que pode perceber o sábio,quando se diz: "Se afastas a afeição que pertence ao amor, podes pensar algumacousa, ou podes fazer alguma cousa? O pensamento, a palavra e a ação nãoesfriam conforme esfria a afeição que pertence ao amor, e não se aquecemconforme se aquece esta afeição?" O Amor é portanto o Calor da vida dohomem, ou o seu calor vital; o calor do sangue, e também a sua cor vermelha,não provém de outra parte; o Fogo do Sol Angélico, que é puro Amor produzestes efeitos.

35 - Q ue cada um tenha seu amor, ou um amor distinto do amor de um outro,isto é, que não haja em um homem um amor semelhante ao que está em umoutro, pode-se ver pela variedade infinita das faces; as faces são os tipos dosamores; sabe-se, com efeito, que as faces mudam e variam segundo as afeiçõesdo amor; os desejos, que pertencem ao amor, pois suas alegrias e suas dores, semanifestam também nas faces; daí, é evidente que o homem é seu amor, emesmo a forma de seu amor. M as é preciso que se saiba que o homem interior,

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que é o mesmo que seu espírito que vive depois da morte, é a forma de seuamor, e não igualmente o homem exterior no M undo, porque este desde ainfância aprendeu a esconder os desejos de seu amor, e mesmo a fingir e amostrar outros desejos que não os seus.

36 - Se o Amor de cada um permanece nele depois da morte, é porque o Amoré a vida do homem, como acaba de ser dito, n. 34, e que por conseguinte é ohomem mesmo. O homem também é seu Pensamento, por conseqüência suaInteligência e sua Sabedoria, mas estas fazem um com seu Amor; pois é por seuAmor e segundo seu Amor que o homem pensa, e que fala e age mesmo, se estáno livre1 (*); daí pode ver que o Amor é o Ser ou a essência da vida do homem,e que o Pensamento é o Existir ou a existência de sua vida segundo o ser ou aessência; é por isso que a linguagem e a ação, que decorrem do Pensamento,decorrem não do pensamento, mas do Amor pelo pensamento; por numerosasexperiências me foi dado saber que o homem depois da morte não é seuPensamento, mas é sua Afeição e conseqüentemente seu pensamento, ou é seuAmor e conseqüentemente sua inteligência; além disso também, que o homemdepois da morte se desfaz de tudo que não concorda com seu Amor, e quemesmo, progressivamente se reveste com a face, o som de voz, a linguagem, osgestos e os costumes do amor de sua vida; daí vem que o Céu inteiro foi postoem ordem segundo todas as variedades das afeições do Amor do bem, e oInferno inteiro segundo todas as afeições do amor do mal.

37 - IV . E principalmente o Amor do sexo; e, nos que vão para o Céu, isto é,nos que nas terras se tornaram espirituais, o Amor conjugal. Q ue o Amor dosexo no homem permanece depois da morte, é porque então o macho é machoe a fêmea é fêmea, e que o masculino do macho é masculino no todo e em cadaparte, igualmente o feminino na fêmea, e que há o conjuntivo em cada cousa, emesmo nos muito singulares de cada coisa que lhes pertence; ora como esteconjuntivo aí foi posto por criação, e por conseguinte ai está perpetuamente,segue-se que um deseja a conjunção com o outro e a aspira; o Amor,considerado em si mesmo, não é outra cousa mais que um desejo e porconseguinte um esforço para a conjunção, e o amor conjugal, para a conjunçãoem um; pois o homem macho e o homem fêmea são criados de tal sorte que dedois eles podem se tornar um, então tomados em conjunto são o H omem emsua plenitude; mas sem esta conjunção, eles são dois, um e outro sendo comoum homem dividido ou uma metade de homem. Agora, como este conjuntivoestá escondido intimamente em cada cousa do macho e em cada cousa dafêmea, e como a faculdade e o desejo pela conjunção em um está em cadacousa, segue-se que o Amor mútuo e recíproco do sexo permanece nos homensdepois da morte.

38 - Foi dito o Amor do sexo e o Amor conjugal, porque o Amor do sexo édiferente do Amor conjugal; o Amor do sexo está no homem N atural, mas o 1 Em liberdade; sem constrangimento.

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Amor conjugal está no homem Espiritual; o homem natural ama e desejaunicamente as conjunções externas, e as volúpias do corpo que delas provêm;mas o homem espiritual ama e deseja a conjunção interna, e os prazeres doespírito que dela provêm, e percebe que elas são concebidas com uma únicaesposa, com a qual pode ser perpetuamente cada vez mais conjunto em um; e,quanto mais está assim conjunto, mais percebe seus prazeres se elevarem emum grau semelhante, e devem ser constantes para a eternidade; mas o homemnatural não pensa nisso. É portanto, por isso que se diz que o Amor conjugal,depois da morte, permanece naqueles que vão para o Céu, isto é, naqueles quenas terras se tornaram espirituais.

39 - V . Estas cousas plenamente confirmadas por demonstração ocular. Q ue oH omem vive homem depois da morte, e que então o M acho seja macho e afêmea, e que o amor de cada um permanece, e principalmente o Amor do sexoe o Amor conjugal, é o que até aqui me empenhei em confirmar por cousasque pertencem ao entendimento, e, que são chamadas racionais; mas como ohomem, desde a infância, recebeu de seus pais e de seus professores, e emseguida dos eruditos e dos sacerdotes, a crença que depois da morte ele nãoviverá homem senão depois do dia do julgamento final, que é esperado, jáagora, há seis mil anos, e como vários puseram esta crença no número dascousas que devem ser recebidos pela fé e não pelo entendimento, tornou-senecessário que estas mesmas proposições fossem confirmadas também porprovas oculares; sem o que o homem que crê unicamente nos sentidos, poderiadizer segundo a fé inculcada: "Se os homens vivessem homens depois da morteeu os veria e os ouviria; quem desceu do Céu e quem subiu do Inferno e nosinformou a respeito?" Entretanto, como não pode e não pode acontecer queum Anjo do Céu desça, ou que um espírito do Inferno suba, e fale a umhomem, exceto a aqueles cujos interiores da mente ou do espírito foram abertospelo Senhor, e isso não pode ser feito plenamente senão naqueles que forampreparados pelo Senhor, para receber as cousas que pertencem à sabedoriaespiritual, aprouve por conseqüência, ao Senhor preparar-me assim, a fim deque o estado do Céu e do Inferno, e o estado da vida dos homens depois damorte, não permanecesse desconhecido, nem entorpecido na ignorância, nemenfim sepultado na negação. T odavia, as provas oculares sobre estes assuntosnão podem, em razão de seu grande número, ser relatadas aqui; mas o foramno T ratado do Céu e do Inferno; e em seguida na Continuação sobre o M undoespiritual; e mais tarde no Apocalipse R evelado; e o serão especialmente aqui, arespeito dos Casamentos, nos M emoráveis, que estão em seguimento aosParágrafos ou Capítulos desta O bra.

40 - V I. Por conseqüência há Casamentos no Céu. Esta proposição, tendo sidoconfirmada pela R azão e ao mesmo tempo pela Experiência, não necessita deuma demonstração ulterior.

41 - V II. As núpcias Espirituais são entendidas por estas palavras do Senhor,

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que após a ressurreição não se é dado em casamento. N os evangelistas lê-se estaspalavras: "Alguns dos Saduceus, que sustentam que não há ressurreição,interrogaram Jesus, dizendo: M estre, M oisés escreveu, que se o irmão dealguém morre tendo uma esposa, e que sem filhos morre, seu irmão tomará aesposa, e suscitará semente a seu irmão. H avia sete irmãos, que tomaram umapós outro a esposa; mas morreram sem filhos, depois, a mulher também; naressurreição portanto, de qual entre eles, será a esposa; M as, respondendo, Jesuslhes disse: O s filhos deste século fazem núpcias e são dados em casamento; masos que serão julgados dignos de obter o outro século, e a ressurreição dentre osmortos, não farão núpcias nem serão dados em casamento; pois não podemmais morrer, porque semelhantes aos anjos serão, e filhos de Deus eles são,sendo filhos da ressurreição. O ra, que os mortos ressuscitam, M oisés mesmo omostrou perto da sarça, pois chamou o Senhor o Deus de Abrahão, e o Deusde Isaac e o Deus de Jacob; ora, Ele não é Deus de mortos, mas de vivos".(Lucas X X, 27 a 38; M ateus X XII, 22 a 31; M arcos X II, 18 a 27). H á duascoisas que o Senhor ensinou por estas palavras; a primeira, que o homemressuscita depois da morte; e a segunda que não se é dado em casamento noCéu. Q ue o homem ressuscita depois da morte, Ele o ensinou por estaspalavras, que Deus não é Deus de mortos mas de vivos; e que Abrahão, Isaac eJacob vivem; e além disso na Parábola sobre o R ico no inferno, e sobre Lázarono Céu, (Lucas X V I, 22 a 31). Segundamente, que não se é dado emcasamento no Céu, Ele o ensina por estas palavras, que os que são julgadosdignos de obter o outro século não fazem núpcias, e não são dados emcasamento. Q ue aqui não são entendidas outras núpcias que não sejam asN úpcias espirituais, isso é bem evidente pelas palavras que seguemimediatamente, a saber, que não podem mais morrer, porque são semelhantesaos anjos, e que são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição; pelas N úpciasespirituais é entendida a conjunção com o Senhor, e esta se faz nas terras, equando foi feita nas terras, foi feita também nos Céus, é por isso que nos Céusnão são feitas núpcias uma segunda vez e não se é dado em casamento; isto éentendido também por estas palavras: "O s filhos deste século fazem núpcias esão dados em casamento; mas os que serão julgados dignos de obter o outroséculo, não farão núpcias nem serão dados em casamento". Estes também sãochamados pelo Senhor "Filhos de N úpcias" (M ateus IX, 15; M arcos II, 19); ena presente circunstância, "Anjos, filhos de Deus, e filhos da ressurreição".Q ue fazer núpcias, seja ser conjunto ao Senhor, e que entrar nas núpcias, sejaser recebido no Céu pelo Senhor, isso é evidente por estas passagens:"Semelhante é o R eino dos Céus a um H omem R ei, que fez N úpcias". (M ateusXXII, 1 a 14). "Semelhante é o R eino dos Céus a dez V irgens, que saíram aoencontro do N oivo; as cinco que estavam prontas entraram às N úpcias",(M ateus X XV , 1 e seg.); que o Senhor tenha falado aqui d’Ele M esmo, isso éevidente pelos V ers. 13, onde se diz: "V elai, porque não sabeis o dia nem ahora, em que o Filho do homem virá". Além disso também no Apocalipse: "É

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vindo o tempo de N úpcias do Cordeiro, e sua Esposa se preparou. Bem-aventurados os que à Ceia de N úpcias do Cordeiro foram chamados!" (X IX, 7,9). Q ue haja um entendimento espiritual em todas e em cada uma das coisasque o Senhor pronunciou, isto está plenamente demonstrado na Doutrina daN ova Jerusalém sobre a Escritura Santa, publicada em Amsterdã em 1763.

42 - Ao que precede acrescentarei dois M emoráveis do M undo Espiritual.Primeiro M emorável: U ma manhã dirigi o olhar para, o Céu, e vi acima demim três Extensões, uma acima da outra; e eis que a Primeira Extensão, queera a mais próxima, se abriu; e pouco depois, a Segunda que estava mais alta; epor fim a T erceira, que era a mais alta; e pela ilustração que daí provinha,percebi que sobre a primeira Extensão estavam os Anjos de que se compõe oprimeiro ou último Céu, sobre a segunda Extensão os Anjos de que se compõeo segundo Céu ou Céu médio; e sobre a terceira Extensão, os Anjos de que secompõe o terceiro Céu ou Céu supremo. Eu me perguntei primeiramente comadmiração: “O que é isto, e por que isso? E em breve, foi ouvida do Céu umavoz como de uma trombeta, dizendo: "Percebemos, e agora vemos que meditassobre o Amor Conjugal; e, sabemos que nas terras não há ainda pessoa algumaque saiba o que é o Amor verdadeiramente Conjugal em sua origem, e em suaessência; o entretanto é importante que se saiba isso; por isso aprouve aoSenhor abrir para ti os Céus, a fim de que nos interiores da tua mente influama luz que ilustra e, por conseguinte, a percepção; entre nós, nos Céus, sobretudo no T erceiro, as nossas delícias celestes vêm principalmente do AmorConjugal; vamos portanto, pela permissão que nos foi dada, enviar a ti umCasal de esposos a fim de que vejas". E eis que no momento apareceu umCarro descendo do Céu supremo ou terceiro Céu; nesse carro via-se um únicoAnjo; mas quando se aproximava, viu-se dois; de longe, o carro brilhava diantede meus olhos como um diamante, e tinha atrelados dois cavalos novos ebrancos como a neve; e os que estavam sentados no carro tinham na mão duasrolas, e me bradaram: "Q ueres que nos aproximemos mais perto; mas entãotoma cuidado para que o brilho que provém de nosso Céu, de ondeprocedemos, e que é de chama, não penetre interiormente; por seu influxo sãoilustradas, é verdade, as idéias superiores do teu entendimento, que em simesmas são celestes, mas estas idéias são inefáveis para o M undo em que estás;recebe, portanto, racionalmente as cousas que vais ouvir, e expõe-nas destamaneira ao entendimento". E respondi: "T omarei cuidado; vinde mais paraperto". E eles vieram; e eis que eram um M arido e sua Esposa; e disseram:"N ós somos Esposos; desde a primeira Idade, que é chamada por vós o Séculode O uro, vivemos felizes no Céu, e sempre na mesma flor da idade, em quenos vês hoje". Eu os olhei atentamente, a um e outro, porque percebi querepresentavam o Amor Conjugal em sua vida e em seus adornos; em sua vida,por suas faces, e em seus adornos, por suas vestimentas; pois todos os Anjos sãoafeições do amor em uma forma humana; a afeição dominante brilha mesmoem suas faces, e as vestimentas lhes são distribuídas pela afeição e segundo a

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afeição; também se diz no Céu, que cada um é vestido por sua Afeição. OM arido parecia de uma idade média entre a adolescência e a juventude; e emseus olhos brilhava uma luz cintilante derivada da sabedoria do amor; por estaluz a sua face era intimamente como radiante, e pela radiação que delaprovinha a pele em sua superfície externa era como cintilante, de sorte que todasua face era uma beleza resplandecente; estava vestido com uma túnicacomprida, e por cima tinha uma vestimenta de cor jacinto, serrada por umcinto de ouro, sobre o qual havia três pedras preciosas, duas safiras dos lados eum carbúnculo no meio; as suas meias eram de linho resplandecente,entremeado com fios de prata, e seu calçado era de veludo; tal era a Formarepresentativa do Amor Conjugal no M arido. M as na Esposa, eis o que ela era:A sua face foi vista por mim, e não foi vista; foi vista como a beleza mesma, enão foi vista porque essa beleza era inexprimível; pois havia em sua face oesplendor de uma luz inflamada, tal como é a luz para os Anjos do terceiroCéu; e esta luz tornou a minha vista perturbada; por isso fiquei por assim dizerestupefato; ela tendo percebido isso, me falou dizendo: "Q ue vês? R espondi:"N ão vejo senão o Amor Conjugal e sua forma; mas vejo, e não vejo". A estaspalavras ela se desviou obliquamente de seu marido; e então pude olhá-la maisatentamente; seus olhos brilhavam com a luz de seu Céu, a qual, como acabade ser dito, é inflamada e provém do amor da sabedoria; pois nesse Céu asEsposas amam os M aridos por sua sabedoria e em sua sabedoria, e os M aridosamam as Esposas por este amor e neste amor para com eles, e assim eles sãounidos; daí vinha sua beleza, que é tal, que nenhum pintor a poderia imitarnem a apresentar em sua forma; pois não teria cousa alguma tão brilhante emseu colorido, e cousa alguma tão bela poderia ser expressa por sua arte; os seuscabelos estavam decentemente arranjados segundo a correspondência com suabeleza, e flores em diadema estavam colocadas neles; tinha um colar decarbúnculos, de onde pendia um conjunto de rosas em crisólitos; e seusbraceletes eram de pérolas; estava vestida com uma túnica escalarte, e sob essatúnica seu peito estava coberto com uma vestimenta púrpura presa na frentepor broches de rubis; mas o que me surpreendia, é que as cores variavamsegundo o aspecto em relação ao marido; e também segundo este aspecto elasbrilhavam, ora mais ora menos; mais, em um aspecto mútuo; e menos, em umaspecto oblíquo. Depois que vi estas coisas, eles me falaram de novo; e quandoo M arido falava, era ao mesmo tempo como pela esposa; e quando a Esposafalava, era ao mesmo tempo como pelo marido; pois tal era a união das mentes,de que decorrem as palavras; e então eu ouvi também o som do AmorConjugal, que era interiormente simultâneo, e procedia também das delícias doestado de paz e da inocência. Enfim eles disseram: "Fomos chamados e vamospartir". E no mesmo instante apareceram de novo; levados em um carro comoprecedentemente; e foram levados por um caminho pavimentado através detabuleiros matizados de flores, cujos canteiros continham oliveiras e árvorescarregadas de laranjas; e quando chegaram perto de seu Céu, ao encontro deles

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vieram virgens, e elas os receberam, e os introduziram.

43 - Depois disso, me apareceu um Anjo desse Céu, tendo na mão um rolo depergaminho que ele desenrolava, dizendo: "V i que meditas sobre o AmorConjugal; este pergaminho contém sobre esse amor arcanos da sabedoria nãoainda desvendados no M undo; eles vão ser desvendados agora, porque éimportante que o sejam; estes arcanos estão em nosso Céu mais do que nosoutros Céus, porque nós estamos, no casamento do Amor e da Sabedoria; maspredigo que não haverá outros que se apropriem deste Amor, senão aqueles quesão recebidos pelo Senhor na nova Igreja que é a N ova Jerusalém". Depois deter pronunciado estas palavras, o Anjo deixou cair o Pergaminho desenrolado,que um certo Espírito' Angélico recebeu e colocou sobre uma M esa em umaCâmara que ele fechou imediatamente, e me entregou a chave, e disse:"Escreve".

44 - Segundo M emorável: U m dia vi três Espíritos noviços de nosso M undo,que iam para aqui e para ali, examinavam e se informavam; estavam admiradosde viverem como homens absolutamente como antes, e de verem objetossemelhantes aos que tinham visto antes; pois sabiam que tinham saído doM undo precedente ou natural, e lá tinham acreditado que não viveriam comohomens senão depois do dia do Julgamento final, quando seriam revestidoscom a carne e os ossos encerrados nos túmulos; portanto a fim de que nãorestasse dúvida alguma de que eram verdadeiramente homens, às vezes seexaminavam e se tocavam uns aos outros, e apalpavam os objetos; e, pormilhares de provas se confirmaram de que eram agora homens, como noM undo precedente, além disso que se viam mutuamente em uma luz maisclara, e viam os objetos em um maior esplendor, e assim mais perfeitamente.Então dois Espíritos Angélicos os encontraram por acaso, e os detiveram,dizendo: "Donde sois?", Eles responderam: "N ós saímos de um M undo, e denovo vivemos em um M undo, assim passamos de um M undo para outroM undo; isso agora nos surpreende". E então os três N oviços interrogaram osEspíritos Angélicos sobre o Céu; e como dois dos três N oviços eram moços, ede seus olhos reluzia como um pequeno fogo de cobiça pelo sexo, os EspíritosAngélicos disseram: "T alvez tivésseis visto mulheres?" E eles responderam:"N ós as vimos". E como interrogassem estes Espíritos sobre o Céu, eles lhesdisseram: "N o Céu todos os objetos são magníficos e resplandecentes, e taiscomo jamais o olho viu; e lá há virgens e rapazes, as virgens de uma tal beleza,que podem ser chamadas as Belezas em sua forma, e os rapazes de uma talmoralidade, que podem ser chamados as M oralidades em sua forma; e asBelezas das virgens e as M oralidades dos rapazes se correspondem como formasmútuas e apropriadas uma para a outra". E os dois N oviços perguntaram se noCéu as formas humanas são em tudo semelhantes as que estão no M undonatural; e lhes foi respondido: "Elas são em tudo semelhantes; nada foi tiradodo homem, nem da mulher; em uma palavra, o homem é homem, e a mulher é

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mulher, em toda perfeição da forma na qual foram criados; afastai-vos, sequiserdes, examinai se vos falta a menor cousa para que sejais homens comoantes". O s N oviços disseram ainda: "O uvimos dizer no M undo, donde saímos,que no Céu não se é dado em casamento, porque se é Anjo, será que então, háAmor do sexo lá?" E os Espíritos Angélicos responderam: “O vosso amor dosexo não há lá; mas há o amor angélico do sexo, amor que é casto, e isento detoda atração libidinosa". O s N oviços replicaram: "Se há um amor do sexo sematração alguma, o que é então o amor do sexo?" E como pensassem nesse amor,gemeram e disseram: "Ó ! Como a alegria do Céu é insípida! Q ue rapaz pode,então, desejar o Céu? U m tal amor não é estéril e despido de vida?" O sEspíritos Angélicos, sorrindo desses propósitos, replicaram: "O Amor Angélicodo sexo, ou tal como é no Céu, é não obstante cheio de delícias íntimas; é amais agradável expansão de todas as cousas da mente, e por conseguinte a maisagradável expansão de todas as do peito, e dentro do peito, é como se o coraçãobrincasse com o pulmão, jogo de que resultam uma respiração, um tom de voze uma linguagem, que fazem com que as ligações entre os sexos, ou entrerapazes e virgens, sejam as suavidades celestes mesmas, as quais são puras.T odos os N oviços que sobem ao Céu, são examinados quanto à sua castidade;pois são introduzidos na Companhia de V irgens, as Belezas do Céu, quepercebem pelo tom de voz, pela linguagem, pela face, pelos olhos, pelo gesto epela esfera que deles emana, o que eles são quanto ao amor do sexo; se esseamor não é casto, elas fogem e anunciam a seus companheiros que viram sátirosou príapos; e mesmo esses noviços mudam de forma, e aos olhos dos Anjosaparecem cobertos de pelos, e quanto aos pés como bezerros ou leopardos, epouco depois são expulsos, a fim de que não maculem a atmosfera com seudesejo libidinoso". O s dois N oviços, tendo ouvido esta explicação, disseram denovo: "Assim no Céu, não há amor algum do sexo; o que é o amor casto dosexo, senão um amor privado da essência de sua vida? As ligações dos rapazes edas virgens não são alegrias insípidas? N ão somos nem pedras, nem troncos,mas somos percepções e afeições da vida". A estas palavras, os dois EspíritosAngélicos indignados responderam: "V ós não sabeis de modo algum o que é oamor casto do sexo, porque não sois ainda castos; este amor é a delícia mesmada mente, e por conseqüência do coração, e não ao mesmo tempo da carne sobo coração; a castidade angélica, que é comum a um e outro sexo, impede esteamor de passar além da câmara do coração, mas dentro e acima desta câmara amoralidade do rapaz se deleita com a beleza da virgem, delícias do amor castodo sexo, delícias que são interiores e demasiado cheias de encantos para quepossam ser descritas por palavras. T odavia, este amor do sexo está nos Anjos,porque neles há unicamente o Amor conjugal, e este amor não pode existir aomesmo tempo com o amor incasto do sexo; o amor verdadeiramente conjugal éum amor casto, e nada tem de comum com um amor incasto; existeunicamente com uma pessoa do sexo com exclusão de todas as outras, pois éum amor do espírito e por conseqüência um amor do corpo, e não um amor do

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corpo e em conseqüência um amor do espírito; isto é, não um amor que infestao espírito". O s dois jovens noviços, ouvindo estas cousas, se regozijaram edisseram: "Sempre há, então, lá um amor do sexo; que outra cousa seria o amorconjugal?" M as os Espíritos Angélicos responderam: "Pensai maisprofundamente, examinai bem a coisa, e percebereis que o vosso amor do sexoé um amor extraconjugal, e que o amor conjugal é absolutamente diferente,sendo este distinto daquele, como o trigo o é da palha, ou antes como ohumano o é do bestial! Se perguntardes às mulheres no Céu o que é o amorextraconjugal, eu vos asseguro que elas responderão: O que é isso? Q ue dizeis?Como de vossa boca pode sair uma tal palavra que fere nossos ouvidos? Comoum amor que não foi criado pode ser produzido no homem? Se então lhesperguntardes o que é o Amor verdadeiramente conjugal, sei que vosresponderão que não é o amor do sexo, mas que é o amor de uma única pessoado sexo, amor que não existe senão quando o rapaz vendo uma virgem que lhefoi destinada pelo Senhor, e a virgem vendo o rapaz, sentem, de uma parte e deoutra o conjugal se abrasar em seus corações, e percebem, ele que ela é suave,ela, que ele é seu; pois o amor vai ao encontro do amor, e se faz conhecer, econjunta imediatamente as almas, e em seguida a mentes, e daí entra no peito,e depois das núpcias vai mais longe, e assim se torna pleno amor que dia a diaaumenta em conjunção, ao ponto de que não são mais dois mas são como um.Sei também que elas jurarão que não conhecem outro amor do sexo; poisdizem: Como pode haver um amor do sexo, a não ser que tenda assim a ummútuo encontro, e seja recíproco, a fim de aspirar a uma união eterna queconsiste em que dois sejam uma única carne?" A estas explicações os EspíritosAngélicos acrescentaram: "N o Céu não se sabe absolutamente o que é aescortação, nem que ela exista; nem que ela possa existir; os Anjos sentem umfrio glacial em todo o corpo por um amor incasto ou extraconjugal, evice-versa, sentem calor em todo o corpo pelo amor casto ou conjugal; lá, noshomens, todos os nervos se afrouxam à vista de uma prostituta, e se tornamtensos à vista da Esposa". O s três N oviços, depois de terem ouvido estas novasexplicações, perguntaram se o Amor Conjugal entre esposos nos Céus erasemelhante ao Amor conjugal nas terras; e os dois Espíritos Angélicosresponderam: "É absolutamente semelhante"; e como perceberam que elesqueriam saber se as delícias finais aí eram semelhantes, eles disseram que eramabsolutamente semelhantes, mas muito mais deleitáveis, porque a percepção e asensação angélicas são muito mais apuradas que a percepção e a sensaçãohumanas; depois, acrescentaram: "O que é a vida deste amor, se não provém daveia da potência? Esta faltando, não acontece que este amor também falta e setorna frio? Este vigor não é a medida mesma e o grau mesmo, e a base mesmadeste amor? N ão é ele o começo, a afirmação e o complemento? É uma leiuniversal, que os primeiros existem, subsistem e persistem pelos últimos; domesmo modo também este Amor; se portanto não houvesse as delícias finais, oamor conjugal não teria delícia alguma". Então os N oviços perguntaram se das

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delícias finais deste amor, lá, nasciam filhos; e se não nasciam, que utilidadepodiam ter. O s Espíritos Angélicos responderam que delas nasciam filhosespirituais, mas não filhos naturais. E eles perguntaram o que eram filhosespirituais; e os outros responderam: "Dois esposos pelas delícias finais ficamcada vez mais unidos no casamento do bem e do vero, e o casamento do bem edo vero é o casamento do amor e da sabedoria; ora, o amor e a sabedoria são osfilhos que nascem deste Casamento; e como o marido aí é a sabedoria, e aesposa o amor dessa sabedoria, e como todos dois são espirituais, por isso lá nãopodem ser concebidos e engendrados senão filhos espirituais; daí vêem que osAnjos, após as delícias, não ficam tristes, como alguns homens nas terras, masficam alegres; e isso resulta de um contínuo influxo de novas forças pelasprecedentes, as quais servem a sua renovação e ao mesmo tempo à suailustração; pois todos os que vão para o Céu, voltam à primavera de suajuventude, e às forças dessa idade, e aí permanecem eternamente". Depois deter ouvido isso, os três N oviços disseram: "N ão se lê na Palavra que no Céu nãohá núpcias porque lá todos são Anjos?" A esta pergunta, os Espíritos Angélicosresponderam: "Elevai os vossos olhos para o Céu, e recebereis uma resposta". Eeles perguntaram porque deviam elevar os olhos para o Céu. Disseram: Porquede lá nos vêm todas as interpretações da Palavra; a Palavra é inteiramenteespiritual; e os Anjos sendo espirituais, ensinarão o entendimento espiritualdela". E pouco tempo depois, o Céu se abriu acima de sua cabeça, -e dois Anjosse apresentaram à sua vista, e disseram: "H á N úpcias nos Céus como nas terras,mas não para outros que não sejam os que estão no Casamento do bem e dovero, e outros que não sejam esses não são Anjos; é porque lá é entendido porN úpcias espirituais, as que concernem ao casamento do bem e do vero; estas (asaber, as núpcias espirituais) têm lugar nas terras, e não depois do trespasse,assim não nos Céus; como se diz das cinco virgens insensatas, convidadastambém para as núpcias, onde não puderam entrar porque não havia nelascasamento do bem e do vero, pois elas não tinham azeite, mas unicamente aslâmpadas; pelo azeite é entendido o bem, e pelas lâmpadas o vero; e ser dadoem casamento é entrar no Céu, onde há o casamento do bem e do vero". O strês N oviços tendo ouvido estas palavras, ficaram cheios de alegria; e cheios dodesejo do Céu e de esperança de núpcias celestes; disseram: "N ós nosaplicaremos à moralidade e à decência da vida, a fim de que nossos votos sejamcumpridos".

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Do estado dos esposos depois damorte

45 - Q ue haja casamentos nos Céus, é o que acaba de ser mostrado; aqui,agora, cumpre examinar se a aliança conjugal contraída no M undo deve, após amorte permanecer e ser estável, ou não; como isto é uma questão não dejulgamento, mas de experiência, e como eu adquiri esta experiência por umaconsociação com os Anjos e os Espíritos, vou tratar deste ponto, mas entretantode maneira que a razão também lhe dê seu assentimento; está mesmo entre osvotos e desejos dos esposos saber isso; pois os maridos que amaram suas esposas,querem saber, quando elas morrem, se sua sorte é feliz, igualmente as esposas,que amaram seus maridos; querem saber também, se ainda se encontrarão.V ários esposos desejam mesmo saber de antemão se depois da morte serãoseparados, ou se viverão juntos; aqueles cujos caracteres (animi) nãoconcordam, se serão separados, e aqueles cujos caracteres concordam, se viverãojuntos; como o conhecimento dessas cousas é vivamente desejado, ele vai serdado, o que terá lugar na ordem seguinte: 1. O Amor do sexo permanece emcada homem, depois da morte, tal como no M undo era interiormente, isto é,em sua vontade interior e em seu pensamento interior. 11. O Amor conjugaligualmente. III. O s dois Esposos ordinariamente depois da morte seencontram, se reconhecem, de novo se consorciam, e durante algum tempovivem juntos, o que tem lugar no Primeiro Estado; assim enquanto estão nosexternos como no M undo. IV . M as sucessivamente, a medida que se despojamdos externos, e que entram nos internos, eles percebem em que amor e em queinclinação estiveram mutuamente um em relação ao outro e por conseguinte sepodem viver juntos, ou não. V . Se podem viver juntos, permanecem esposos;mas se não o podem, eles se separam; às vezes o M arido da Esposa, às vezes aEsposa, do M arido, e às vezes, mutuamente um do outro. V I. E então é dadaao homem uma Esposa, conveniente, e à mulher um marido conveniente. V I.O s Esposos gozam entre si de comunicações semelhantes as que tinham noM undo, mas mais agradáveis e mais felizes, todavia sem prolificação; em lugardesta, eles, têm uma prolificação espiritual que é a do amor e da sabedoria.V III. É isso que acontece aos que vão para o Céu; mas acontece de outro modocom os que vão para o Inferno. Segue agora a Explicação, pela qual estesArtigos são ilustrados e confirmados.

46 - 1. O Amor do sexo permanece em cada homem depois da morte, tal comono M undo era interiormente, isto é, em sua vontade interior e em seupensamento interior. T odo Amor segue o homem depois da morte, porque é o

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Ser de sua vida; e o Amor reinante, que é o chefe de todos os outros,permanece no homem pela eternidade, e com este amor ao mesmo tempo osamores subordinados; se permanecem, é porque o Amor pertence propriamenteao espírito do homem, e pertence ao corpo pelo espírito, e o homem depois damorte se torna espírito, e assim leva consigo o seu amor. O que o Amor é o Serda vida do homem, é evidente que tal foi a vida do homem no M undo, tal setorna a sua sorte depois da morte. Q uanto ao que concerne ao Amor do sexo,ele é o amor universal de todos, pois é, por criação, implantado na Almamesma do homem, da qual é derivada a essência do homem inteiro, e isso paraa propagação do gênero humano; que seja este amor que permaneceprincipalmente, é porque, depois da morte, o homem é homem, e a mulher émulher; e porque não há cousa alguma na alma, na mente e no corpo, que nãoseja masculino no macho, e feminino na fêmea; e estes pois foram criados de talsorte, que estão em um contínuo esforço para a conjunção, e mesmo para aconjunção a fim de se tornarem um; este esforço é o Amor do sexo, queprecede o Amor Conjugal; ora, como a inclinação conjuntiva está gravada emtodas e em cada uma das cousas do macho e da fêmea, segue-se que estainclinação não pode ser suprimida nem morrer com o corpo.

47 - Se o Amor do sexo permanece tal como era anteriormente no M undo, éporque em todo homem há um Interno e um Externo, os quais são chamadostambém homem Interno e homem Externo, e por conseguinte há uma vontadeinterna e uma vontade externa, um pensamento interno e um pensamentoexterno; o homem deixa seu Externo e retém seu Interno, quando morre; poisos Externos pertencem propriamente ao corpo, e os Internos pertencempropriamente ao espírito; uma vez que, portanto, o homem é seu Amor; e queAmor reside em seu espírito, segue-se que o Amor do sexo permanece neledepois da morte, tal como interiormente estava nele; por exemplo, se este Amorinteriormente era conjugal e casto, permanece depois da morte conjugal ecasto; mas se interiormente, foi escortatório, permanece também como taldepois da morte. M as é preciso que se saiba que o Amor do sexo não é em um,tal como é em outro, as diferenças são infinitas; mas sempre acontece que talcomo é no espírito de cada um, assim permanece.

48 - II. O Amor conjugal permanece no homem tal como no M undo erainteriormente, isto é, na vontade interior e no pensamento interior.

Como um é o Amor do sexo e outro o Amor conjugal, é por isso que sãomencionados um e outro, e que se diz que este permanece também, depois damorte, tal como era no homem em seu homem interno, quando vivia noM undo; mas como poucas pessoas conhecem a distinção entre o Amor do sexoe o Amor conjugal, vou por isso mesmo dizer alguma cousa a respeito, nocomeço deste T ratado. O Amor do sexo é o Amor por várias e com várias doSexo, mas o Amor Conjugal é o amor por uma unicamente e com uma doSexo; ora, o amor por várias e com várias é um Amor natural, pois é comum

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com as bestas e, os pássaros, e estes animais são naturais; mas o Amor Conjugalé um Amor espiritual, e é particular e próprio dos homens, porque os homensforam criados e por conseqüência nascem para se tornarem espirituais; tantomais, portanto, o homem se torna espiritual, tanto mais se despoja do Amor dosexo, e se reveste do Amor conjugal. N o começo do casamento o Amor do sexose apresenta como conjunto ao Amor conjugal, mas na progressão docasamento eles são separados, e então naqueles que são espirituais o Amor dosexo é destruído e o Amor conjugal é insinuado, mas naqueles que são naturais,acontece o contrário. Pelo que acaba de ser dito, é evidente que o Amor doSexo, sendo um amor com várias, é em si natural e mesmo animal, é impuro eincasto, e sendo vago e ilimitado, é escortatório; mas dá-se interiormente aocontrário com o Amor conjugal. Q ue o Amor conjugal seja espiritual, epropriamente humano, ver-se-á claramente no que segue.

47 - (bis) III. O s dois esposos ordinariamente depois da morte se encontram, sereconhecem, de novo se consorciam, e durante algum tempo vivem juntos, oque acontece no Primeiro Estado, assim, enquanto estão nos externos como noM undo. H á dois Estados por que o homem passa depois da morte, o estadoExterno e o estado Interno; passa primeiro pelo estado externo, e mais tardepelo interno; e durante o estado externo, o marido e a esposa, se um e outroestão mortos, se encontram, se reconhecem, e, se viveram de acordo noM undo, eles se consorciam, e durante algum tempo vivem juntos; e enquantoestão neste estado, um não conhece a inclinação do outro a seu respeito, porqueesta inclinação se esconde nos internos; mas mais tarde, quando atingem oestado interno, a inclinação se manifesta; se é concordante e simpática, elescontinuam a vida conjugal; mas se é discordante e antipática, rompem ocasamento. Se um H omem teve várias esposas, ele se conjunta com elas pelaordem, enquanto está no estado externo; mas quando entra no estado interno,no qual percebe as inclinações do amor, tais quais são, então ou adota uma dasesposas, ou as abandona todas; pois no M undo espiritual, do mesmo modo queno M undo natural, não é permitido a cristão algum ter várias esposas, porqueisso macula e profana a religião; a mesma cousa acontece com uma mulher queteve vários maridos; mas entretanto as mulheres não se juntam a seus maridos,unicamente se apresentam, e os maridos se juntam a elas. Saiba-se que osM aridos conhecem raramente suas esposas, mas as esposas, conhecem muitobem os maridos; e isso porque as mulheres têm uma percepção interior doamor, e os homens tem unicamente uma percepção exterior.

48 - (bis) IV . M as sucessivamente, à medida que se despojam dos externos, eque entram nos internos percebem em que inclinação estiveram mutuamente,um em relação, ao outro, e por conseguinte se podem viver juntos, ou não.Isto não tem necessidade de ser mais explicado, pois é uma conseqüência doque foi mostrado no Artigo precedente; bastará ilustrar aqui como o homemdepois da morte se despoja dos externos e se reveste dos internos. Cada um

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depois da morte, é a princípio, introduzido em um M undo que é chamadoM undo dos espíritos, e que fica no meio entre o Céu e o Inferno; e lá épreparado, o bom para o Céu, e o mau para o Inferno, a preparação aí tem porfim que o Interno e o Externo concordem e façam um e que não sejamdiscordantes e não façam dois; no M undo natural eles fazem dois; e não fazemum senão nos que são sinceros de coração; que façam dois, isso é evidente nosvelhacos e nos astuciosos, principalmente nos hipócritas, nos bajuladores, nosdissimulados e nos mentirosos; mas no M undo espiritual, não é permitido terassim a mente dividida; o que foi mau nos internos será mau também nosexternos; acontece o mesmo com o bom nos internos, ele será bom tambémnos externos; pois todo homem depois da morte tornam se tal como foiinteriormente, e não tal como foi exteriormente; é para esse fim que o homemé então posto alternativamente em seu Externo e em seu Interno; e cadahomem, quando está em seu Externo, é sensato, isto é, quer parecer sensato,mesmo o mau; mas este em seu Interno é insensato; pode durante estasvicissitudes ver suas loucuras, e se arrepender delas; mas se não se arrependeuno M undo, não o pode fazer mais tarde, pois ama suas loucuras, e querpermanecer nelas; por isso força também o seu Externo a ser igualmente louco;assim seu Interno e seu Externo se tornam um; e quando isso foi feito, estápreparado para o Inferno. M as o contrário acontece ao bom. Como este noM undo dirigiu suas vistas para Deus e se arrependeu, era mais sensato noInterno que no Externo; por vezes, também, no externo foi arrastado à loucurapelos atrativos e pelas vaidades do mundo, por isso seu Externo é posto deacordo com seu Interno que, assim como foi dito, é sensato; e, quando isso foifeito, ele está preparado para o Céu. Por isto foi ilustrado como o homemdepois da morte se despoja do Externo e se reveste do interno.

49 - V . Se podem, viver, juntos, permanecem esposos; mas se não o podem,eles se separam; às vezes o M arido da Esposa, às vezes a Esposa, do M arido, àsvezes mutuamente um do outro. Se se faz separações depois da morte, éporque as conjunções, que se fazem nas terras, se fazem raramente por algumapercepção interna do amor, mas se fazem por uma percepção externa queesconde o interno; a percepção externa do amor tem sua causa e sua origem emcousas que pertencem ao Amor do M undo e do Corpo; as do Amor do mundosão principalmente as riquezas e as posses, e as do Amor do corpo são asdignidades e as honras;, e, além disso, são também diversos atrativos queseduzem, como a beleza e o fingimento de costumes decentes, algumas, vezesmesmo a falta de castidade; e, além disso, os Casamentos se contraem nosregião, da cidade ou da vila onde as partes nasceram, e onde habitam; e daíresulta uma escolha restrita e limitada às famílias que se conhecem, e que estãoem uma condição semelhante de existência; dai vem que os casamentoscontraídos no M undo são ordinariamente externos, e não ao mesmo tempointernos, quando entretanto a Conjunção interna, que é a das Almas, constituio Casamento mesmo; e esta conjunção não é perceptível antes que o homem

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tenha se despojado do Externo e se revestido do Interno, o que se faz depois damorte; é portanto por isso que então se fazem as separações, e em seguida novasconjunções entre os que são semelhantes e homogêneos, a não ser que tenhasido provido para estas nas terras, o que tem lugar para os que desde ajuventude amaram, desejaram e pediram ao Senhor uma aliança legítima eagradável com uma única pessoa do sexo, e que desprezam e desdenham osvagos caprichos do amor.

50 - V I. Então é dada ao homem uma Esposa, conveniente, e à mulher ummarido conveniente. A razão disso é que não podem ser recebidos no Céu paraaí permanecer, senão os Esposos que foram interiormente unidos, ou quepodem ser unidos em um; pois lá, dois Esposos são chamados não dois Anjos,mas um Anjo; o que é entendido por estas palavras do Senhor, "que eles nãosão mais dois, mas uma única carne". Se não são recebidos outros Esposos noCéu, é porque outros não podem ai coabitar, isto é, estar juntos em umamesma casa, em um mesmo quarto e em uma mesma cama; com efeito, todosos que estão nos Céus foram consociados segundo as afinidades e asproximidades do amor, e tem habitações segundo estas afinidades e estasproximidades; pois no M undo espiritual não há espaços, mas há aparências deespaço, e estas são segundo os estados de vida dos habitantes, e os estados davida são segundo os estados do amor; é por isso que ninguém aí pode morarsenão em sua casa, a qual foi provida para ele, e lhe foi designada, segundo aqualidade do seu amor; se morar em outro lugar, sentirá o peito opresso, erespirará com dificuldade; dois não podem morar juntos em uma casa, a nãoser que sejam semelhantes; e os Esposos não podem de modo algum a não serque tenham inclinações mútuas; se têm inclinações externas e não ao mesmotempo internas, a casa mesma ou o lugar mesmo os separa, os rejeita e osexpulsa; é por causa disso que, para os que, após a preparação, são introduzidosno Céu, é provido um Casamento com um cônjuge cuja alma se inclina àunião com a do outro, a ponto de não quererem ser duas vidas, mas uma sóvida; é por esta razão que, depois da separação é dada ao homem uma esposaconveniente, e à mulher um marido conveniente.

51 - V II. O s Esposos gozam entre si de comunicações semelhantes às quetinham no M undo, mas mais agradáveis e mais felizes, todavia sem prolificação;em lugar desta, tem uma prolificação espiritual, que é a do amor e dasabedoria. Se os Esposos gozam entre si de comunicações semelhantes às quetinham no M undo, é porque depois da morte o macho é macho, e a fêmea éfêmea, e porque a inclinação à conjunção foi implantada em um e outro porcriação; e esta inclinação no homem pertence a seu espírito e por conseguinte aseu corpo; é por isso que depois da morte, quando o homem se torna espírito, amesma inclinação mútua permanece e ela não pode existir sem semelhantescomunicações; pois o homem é homem como antes, e nada falta ao macho nemà fêmea; quanto à forma são semelhantes a eles mesmos, igualmente quanto às

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afeições e aos pensamentos; que pode então resultar, senão que há semelhantescomunicações; e que, como o Amor conjugal é casto, puro e santo, ascomunicações são mesmo completas? M as, sobre este assunto, pode se vermaiores detalhes no M emorável n. 44. Se as comunicações são então maisagradáveis e mais felizes, é porque este Amor, quando se torna o Amor doespírito, torna-se interior e mais puro, e por conseguinte mais perceptível, etodo prazer aumenta segundo a percepção, e aumenta até ao ponto em que suabeatitude é discernida em seu prazer.

52 - Se os Casamentos nos Céus não têm prolificação, mas em lugar desta háuma prolificação espiritual, que é a do Amor e da Sabedoria, é porque nos queestão no M undo espiritual, falta o terceiro (princípio) que é o natural, e esteterceiro é o continente dos espirituais; ora os espirituais sem seu continente nãotem a consistência, como a têm as cousas que são procriadas no M undonatural; e as espirituais consideradas em si mesmos, se referem ao Amor e àSabedoria; é por isso que o amor e a sabedoria são as cousas que nascem doscasamentos dos habitantes dos Céus. Diz-se que o amor e a sabedoria nascem,porque o amor conjugal aperfeiçoa o Anjo, pois o une a seu consorte, donderesulta que se torna cada vez mais homem, pois, como foi dito acima, doisEsposos no Céu não são dois mas um único Anjo; é por isso que pela uniãoconjugal eles se enchem do humano, que consiste em querer se tornar sábio, eem amar o que pertence à sabedoria.53 - V III. É isso o que acontece nos quevão para o Céu, mas é diferente para os que vão para o Inferno. Q ue depois damorte seja dada ao homem uma esposa conveniente, e que estes, gozem decomunicações agradáveis e felizes mas sem outra prolificação que não seja umaprolificação espiritual, isso deve ser entendido a respeito dos que são recebidosno Céu e se tornam Anjos; a razão é que estes são espirituais, e por conseguintesantos. M as os que vão para o Inferno são todos naturais, e os casamentospuramente naturais não são casamentos, mas são conjunções que provém deuma paixão incasta, N o que segue, quando se tratar do casto e do incasto, emais adiante quando se tratar do Amor escortatório, se dirá o que são essasconjunções.

54 - Ao que foi relatado até aqui sobre o Estado dos esposos depois da morte, épreciso acrescentar os detalhes seguintes: 1. T odos os Esposos, que sãopuramente naturais são separados depois da morte; e isso porque neles o amordo casamento é frio, e o amor do adultério é quente; entretanto, depois daseparação, às vezes eles se consorciam como esposos com outros, mas poucotempo depois se afastam mutuamente um do outro, o que muitas vezes érepetido várias vezes; e enfim o homem se liga a alguma prostituta, e a mulhera algum adúltero, o que se efetua em uma prisão infernal de que se falou noApocalipse R evelado n. 153, p. X , onde a promiscuidade é interdita a um e aoutro sob pena de castigo. 2. O s Esposos, dos quais um é espiritual e o outronatural, são separados também depois da morte, e é dado ao Espiritual um

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cônjuge conveniente, mas o N atural é relegado para um dos lugares dedepravação junto aos seus semelhantes. 3. Q uanto aos que no M undo viveramcelibatários, e afastaram inteiramente do casamento a sua mente, se sãoespirituais, permanecem celibatários, mas se são naturais, tornam-seescortatórios. É diferente com aqueles que em seu Celibato desejaram ocasamento, e, com mais forte razão, que o solicitaram sem sucesso; se sãoespirituais, é provido para eles um casamento feliz, mas não antes de estaremno Céu. 4. Aqueles que no M undo estiveram fechados em mosteiros, tantohomens como mulheres, esses depois de terem levado uma vida monacal, quecontinua algum tempo depois da morte, são desonerados e libertados e gozamda plena liberdade de seus desejos, seja que queiram viver como esposos ounão; se querem viver como esposos, eles o serão; se não o querem, sãotransportados para junto dos celibatários sobre o lado do Céu; mas os queardiam com o fogo de desejos proibidos são precipitados. 5. Se ao Celibatáriosestão sobre o lado do Céu, é porque a esfera de um celibato perpétuo infesta aesfera do amor conjugal, que é a esfera mesma do Céu; a esfera do amorconjugal é a esfera mesma do Céu porque ela descende do Casamento doSenhor e da Igreja.

55 - Ao que precede ajuntarei dois M emoráveis. Primeiro M emorável: U m diaouviu-se do Céu uma melodia muito suave; eram esposas com virgens quecantavam juntas um cântico; a suavidade do canto era como a afeição de algumamor que flui harmoniosamente; os cantos celestes não são mais que afeiçõessonoras, ou afeições expressas e modificadas pelos sons; pois assim com ospensamentos são expressos pelas palavras, do mesmo modo as afeições o sãopelos cantos; pela medida e o fluxo da modulação os Anjos percebem o assuntoda afeição. H avia então muitos espíritos em torno de mim e alguns delesdisseram que ouviam esta melodia muito suave e que era a melodia de algumaafeição agradável, cujo objeto não conheciam; por isso fizeram váriasconjecturas, mas em vão. U ns conjeturavam que este canto exprimia a afeiçãode um noivo e de uma noiva quando há promessa de casamento; outros queexprimia a afeição do noivo e da noiva na solenidade das núpcias; e outros, queexprimia o primitivo amor do marido e da esposa. M as então no meio delesapareceu um Anjo vindo do Céu, e lhes disse que se cantava o Amor casto dosexo; mas, os que o cercavam perguntaram o que era o Amor casto do sexo; e oAnjo disse: "É o Amor de um homem - por uma virgem ou por uma esposabela de forma e decente de costumes, sem nenhuma idéia de lascívia, ereciprocamente, o amor que uma virgem ou uma esposa sente por umhomem". Depois de ter falado, assim, o Anjo desapareceu. O canto continuoue então, como conheciam o objeto da afeição que exprimia, eles o ouviam commuita variedade, cada um segundo o estado de seu amor, os que encaravam asmulheres castamente ouviam este canto como sinfônico e suave; mas os queencaravam as mulheres incastamente o ouviam como sem harmonia, e triste; eos que encaravam as mulheres com desdém o ouviam como discordante e

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rouco. M as de repente a Planície sobre a qual eles estavam foi mudada em umT eatro, e uma voz foi ouvida: "Discuti este Amor". E imediatamente seapresentaram Espíritos de diversas sociedades, e no meio deles alguns Anjosvestidos de branco; e estes, tomando a palavra disseram: "N ós, neste M undoespiritual, fizemos pesquisas sobre todas as espécies de amor, não somente sobreo amor da mulher e sobre o amor recíproco do marido e da esposa mas tambémem relação aos homens ;e nos foi permitido percorrer as sobém sobre o amordo homem em relação às mulheres, e da mulher em relação aos homens; e nosfoi permitido percorrer as so e examinar, e não encontramos ainda o comumamor do sexo casto senão naqueles que, pelo amor verdadeiramente conjugalestão em uma potência contínua, e estes estão nos Céus supremos; e nos foipermitido perceber também o influxo deste amor nas afeições de nossoscorações, e sentimos que pela suavidade ultrapassavam todos os outros amores,exceto o amor de dois esposos cujos corações são um; mas nós pedimos quediscutais este amor, porque a vossos olhos, ele é novo e desconhecido; e comoeste amor é a amenidade mesma, por nós no Céu é chamado a suavidadeceleste". Q uando discutiam, pois, os que não tinham podido pensar nacastidade a respeito dos casamentos, foram os primeiros a falar, e disseram:"Q uem é que vendo uma virgem ou uma bela e amável esposa pode reprimir epurificar de cobiças as idéias de seu pensamento, a ponto de amar a beleza eentretanto não querer saboreá-la inteiramente, se isso for permitido? Q uempode mudar a cobiça inata em cada homem em uma tal castidade, assim emalguma cousa que não é ele, e entretanto amar? O amor do sexo, quando pelosolhos entra no pensamento, pode se deter no rosto de uma mulher? N ão desceimediatamente ao peito, e além? O s anjos falaram de cousas vãs, dizendo queeste amor é casto, e que entretanto é o mais suave de todos, e que existeunicamente nos maridos que estão no amor verdadeiramente conjugal e porconseguinte em uma potência muito grande com suas esposas. Estes, quandovêem belas mulheres, podem mais que os outros, manter no alto e como quesuspender as idéias de seu pensamento, a fim de impedi-las de descer e ir para oque constitui esse amor?". Depois deles, falaram os que estavam no frio e nocalor, no frio por suas esposas. e no calor pelo sexo, e disseram: “O que é oamor casto do sexo? N ão, há contradição em juntar a castidade ao amor dosexo? O que é um sujeito com um adjetivo contraditório, senão uma cousa aque se tirou seu atributo, uma cousa que nada é? Como o amor casto do sexopode ser o mais suave de todos os amores, quando a castidade o priva de suasuavidade? Sabeis todos onde reside a suavidade deste amor, quando portanto aidéia de conjunção com isso é banida, onde está e donde vem então asuavidade?" N esse momento alguns o interromperam e disseram: "N ós temosestado com as mais belas mulheres, e não as temos cobiçado; nós portanto,sabemos o que é o amor casto do sexo". M as seus consociados, que conheciama sua lascívia responderam: "V ós, então, estáveis em um estado de desgosto pelosexo por impotência, e este não é o amor casto do sexo, mas é o último estado

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do amor incasto". O uvindo estas proposições, os Anjos indignados pediram queos que se achavam a direita ou ao meio-dia, falassem, e estes disseram: "H á oamor entre homem e homem, e também entre mulher e mulher, e há o amordo homem pela mulher, e o amor da mulher pelo homem; estes três amorespor pares diferem absolutamente entre si; o amor entre homem e homem écomo o amor entre entendimento e entendimento, pois o homem foi criado epor conseguinte nasce para se tornar entendimento; o amor entre mulher emulher é CG M G o amor entre afeição e afeição do entendimento dos homens,pois a mulher foi criada e nasce para se tornar amor do entendimento dohomem; estes amores, a saber entre homem e homem, e também entre mulhere mulher não penetram profundamente no peito, mas ficam de fora, e apenasse tocam, assim não conjuntam os interiores; é por isso que dois homens pormeio de raciocínios e de raciocínios combatem entre si como dois atletas; eduas mulheres às vezes, por meio de cobiças e cobiças combatem entre si comseus punhos como dois lutadores. M as o amor entre o homem e a mulher é oamor entre o entendimento e a afeição do entendimento, e este amor penetraprofundamente e conjunta; e esta conjunção é este amor; mas a conjunção dasmentes e não ao mesmo tempo dos corpos, ou o esforço para esta conjunção só,é o amor espiritual, e por conseguinte o amor existe unicamente naqueles queestão no amor verdadeiramente conjugal, e por conseguinte em uma potênciaeminente, porque estes, por causa da castidade, não admitem o influxo de amordo corpo de uma outra mulher que não seja a sua esposa; e como estão emuma potência sobreeminente, não podem deixar de amar o sexo, e ao mesmotempo ter em aversão o que é incasto; dai lhes vem o amor casto do sexo, amorque, considerado em si mesmo, é uma amizade interior espiritual tirando suasuavidade de uma potência eminente, mas casta; tem uma potência eminentepela abdicação total da escortação, e esta potência é casta porque só a esposa éamada. O ra, como este amor neles não participa da carne, mas unicamente doespírito, é casto; e como a beleza da mulher, pela inclinação inata, entra aomesmo tempo na mente, este amor é suave". A estas palavras vários dosassistentes puseram as mãos sobre os ouvidos, dizendo: "Estas palavras feremnossos ouvidos, e as cousas que acabais de enunciar são para nós como nada".Eram os espíritos não castos; e então este canto do Céu foi ouvido de novo eneste momento era mais suave que precedentemente; mas era tão discordanteaos ouvidos dos Espíritos não castos, que em razão desta ruidosa discordânciaeles se precipitaram para fora do T eatro e fugiram; só ficou um pequenonúmero de Espíritos que pela sabedoria, amavam a castidade conjugal.

56 - Segundo M emorável: U m dia, no M undo espiritual, conversando com osAnjos, fui inspirado pela deliciosa volúpia de ver o T emplo da Sabedoria, quejá tinha visto uma vez, e eu os interroguei a respeito do caminho para ir lá; elesme disseram: "Segue a luz, e tu o acharás". E eu disse: “O que é isso? Segue aes disseram: "A nossa luz se torna cada vez mais brilhante luz!" Eles à medidaque a gente se aproxima desse T emplo, segue portanto a luz segundo o

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crescimento de seu brilho, pois a nossa Luz procede do Senhor como Sol, e porconseguinte, considerada em si mesma, ela é a Sabedoria". Então,acompanhado pelos dois Anjos, dirigi meus passos segundo o crescimento dobrilho da luz, e subi por senda escarpada até ao cimo de uma Colina, que estavana Plaga meridional; e lá, havia uma Porta magnífica; e o guarda, tendo visto osAnjos comigo, a abriu; e eis que vimos um pórtico de palmeiras e de loureiros,para o qual dirigimos os nossos passos; o Pórtico fazia uma volta e terminavaem um jardim no meio do qual estava o T emplo da Sabedoria. Aí, quandodirigi o olhar em torno de mim, vi pequenos Edifícios parecendo-se com oT emplo, nos quais estavam Sábios; aproximamo-nos de um desses edifícios, e àentrada falamos ao que o habitava, e lhe expusemos a causa de nossa vinda, e deque maneira tínhamos chegado, e ele nos disse: "Sede bem vindos, entraiassentai-vos e consociemo-nos por conversações de sabedoria". V i que oEdifício, por dentro, era dividido em dois, e entretanto era um; era dividido emdois por uma antepara transparente, mas parecia como um pela transparênciada antepara, que era como de cristal muito puro, perguntei porque isso eraassim; ele me disse: "N ão estou só, minha esposa está comigo; e nós somosdois, entretanto não somos dois mas uma só carne". M as repliquei: "Sei que ésum sábio; e o que é que o sábio ou a sabedoria tem de comum com a mulher?A estas palavras, o nosso hóspede, tomado por uma espécie de indignação,mudou de fisionomia, e estendeu a mão; e eis que se apresentaramimediatamente outros sábios dos edifícios vizinhos, aos quais ele disse,sorrindo: “O nosso estrangeiro me disse aqui, interrogando-me: O que é que osábio ou a sabedoria tem de comum com a mulher?" R iram-se todos destapergunta, e disseram: “O que é o sábio ou a sabedoria sem a mulher, ou sem oamor? A esposa é o amor da sabedoria do sábio". M as o nosso hóspede disse:"Consociemo-nos agora por alguma conversação sobre a sabedoria; falemos dascausas, e em primeiro lugar da causa da Beleza feminina". E então eles falaramem ordem, e o primeiro deu por causa que as mulheres foram criadas peloSenhor afeições da sabedoria dos homens, e a afeição da sabedoria é a Belezamesma. O segundo deu por causa, que a mulher foi criada pelo Senhor pormeio da sabedoria do homem, pois que ela o foi segundo o homem, e porconseguinte é a forma da sabedoria, forma inspirada pela afeição do amor; ecomo a afeição do amor é a vida mesma, a mulher é a vida da sabedoria,enquanto que o homem é a sabedoria; e a vida da sabedoria é a Beleza mesma.O terceiro deu por causa, que as mulheres receberam como dom a percepçãodas delícias do amor conjugal, e, como todo seu corpo é o órgão destapercepção, não pode deixar de ser que a habitação dessas delícias do amorconjugal com sua percepção, seja a Beleza. U m quarto deu por causa, que oSenhor tirou do homem a beleza e a elegância da vida e as fez passar para amulher, e por conseqüência, sem a reunião com sua beleza e sua elegância namulher, o homem é selvagem, áspero, seco, e não amável, não é sábio senãopara si mesmo, e isso é insensato; mas quando o homem, está unido com sua

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beleza e sua elegância da vida na esposa ele se torna agradável, gracioso, vivo eamável, e por conseqüência sábio. U m quinto deu por causa, que as mulheresforam criadas Belezas, não para elas mesmas, mas para os homens, a fim de queos homens, duros por si mesmo, se adocem; que suas mentes (animi) severaspor si mesmas, se abrandem; e que seus corações, frios por si mesmo, seaqueçam; e os homens tornam-se tais, quando se tornam unia só carne comsuas esposas. U m sexto deu por causa, que pelo Senhor o U niverso foi criadoobra muito perfeita, mas que nele não foi criado nada mais perfeito que amulher bela de face e decente de costumes, a fim de que o homem renda graçasao Senhor por esta munificência, e lhe prove seu reconhecimento pela recepçãoda sabedoria que procede d'Ele". Depois que estas razões e várias outrassemelhantes foram dadas, a Esposa apareceu, através da antepara de cristal, edisse ao M arido: "Fala, eu te peço". E enquanto ele falava, no discurso erapercebida a vida da sabedoria procedente da Esposa pois seu amor estava nosom da linguagem; assim esta verdade foi provada pela experiência. Depoisdisso, visitamos o T emplo da Sabedoria, e também os lugares paradisíacos queo cercavam; e cheios da alegria que ai sentimos, fomos embora, e passamosatravés do Pórtico até à porta, e descemos pelo caminho pelo qual tínhamossubido.

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Do amor verdadeiramenteconjugal

57 - O Amor conjugal é de uma variedade infinita; não é em um tal como é emoutro; parece, na verdade, semelhante em muitos, mas parece assim diante dojulgamento do corpo, e o homem discerne pouco de semelhantes cousas poresse julgamento, porque ele é grosseiro e embotado; pelo julgamento do corpoé entendido o julgamento da mente segundo os sentidos externos; mas diantedos que vêem segundo o julgamento do espírito, as diferenças se manifestam, emais distintamente diante dos que podem elevar mais alto a vista destejulgamento, o que se faz subtraindo-o aos sentidos, e elevando-o a uma luzsuperior; estes por fim podem se confirmar pelo entendimento e assim ver queo Amor conjugal não é em um tal como é em outro. M as, entretanto, sejaquem for, não pode ver as variedades infinitas deste Amor em alguma luz doentendimento mesmo elevado, a menos que saiba primeiro o que é esse Amorem sua essência mesma e em sua integridade, assim o que ele era quando foiposto por Deus no homem ao mesmo tempo que a vida; se este estado, que foio seu estado mais perfeito, não é conhecido, todas as pesquisas paradescobrir-lhe as diferenças são vãs; pois não há ponto algum sólido, de onde asdiferenças sejam deduzidas como de um princípio, nem ao qual elas se refiramcom a um fim, e possam por conseguinte se manifestar com verdade e não comfalsidade. É por esta razão que aqui vamos começar por descrever este Amor emsua essência real; e como era, quando foi infundido por Deus no homem aomesmo tempo que a vida; começaremos a descrevê-lo tal como foi em seuestado primitivo; e como nesse estado era verdadeiramente conjugal, esteParágrafo tem por título: Do Amor V erdadeiramente Conjugal; mas estadescrição será feita nesta ordem: 1 - H á um Amor verdadeiramente conjugalque hoje é tão raro, que não se sabe o que ele é, e que apenas se sabe que eleexiste. II - A origem deste Amor vem do Casamento do bem e do vero. III - H ácorrespondência deste Amor com o Casamento do Senhor e da Igreja. IV -EsteAmor, considerado segundo sua origem e sua correspondência, é celeste,espiritual, santo, puro e limpo, mais do que todos os outros amores que peloSenhor estão nos anjos do Céu, e nos homens da Igreja. V - Ele é mesmo oAmor fundamental de todos os amores celestes e espirituais, e por conseqüênciade todos os amores naturais. V I N este amor foram reunidas todas as alegrias etodas as delícias, desde as primeiras até às últimas. V II - M as a este amor nãovêm e não podem estar senão aqueles que se dirigem ao Senhor, e que amam osveros da Igreja e praticam seus bens. V III - Este Amor era o Amor dos amoresentre os Antigos, que viveram nos séculos do ouro, da prata e do bronze; masem seguida foi progressivamente se apagando. A explicação destes Artigos vaiseguir-se:

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58 - I. H á um Amor verdadeiramente conjugal, que hoje é tão raro, que não sesabe o, que ele é, e que apenas se sabe que existe. Q ue haja um Amorconjugal, tal como é descrito adiante, pode-se mesmo reconhecer pelo primeiroestado deste amor, quando ele se insinua e entra no coração de um rapaz e deuma moça, assim naqueles que começam a amar uma única pessoa do sexo, e adesejar obtê-la em casamento, e mais ainda no tempo dos esponsais, quando éprolongado e se aproxima das núpcias, e enfim durante as núpcias, e nosprimeiros dias que as seguem; quem é que então não reconhece, e nãoconcorda, que este, Amor é o amor fundamental de todos os amores; e tambémque nele foram reunidas todas as alegrias e todas as delícias desde as primeirasaté às últimas? E quem é que não sabe, que após esse tempo delicioso, estasalegrias passam e se apagam progressivamente, até ao ponto dos esposos mal assentirem? Se então, do mesmo modo que antes, se lhes diz que este Amor é oamor fundamental de todos os amores, e que nele foram reunidas todas asalegrias e todas as delícias, eles não concordam, e não o reconhecem; e dirãotalvez que são contos, ou sutilezas místicas acima do seu alcance. Dai, éevidente que o primitivo amor do casamento imita o Amor verdadeiramenteconjugal, e o apresenta à vista em uma espécie de sexo, que é incasto, e em seulugar foi implantado o amor de sexo, que é incasto, e em seu lugar foiimplantado ao amor de uma única pessoa do sexo, o qual é o verdadeiro amorconjugal e casto; quem é que então não olha para as outras mulheres com olharindiferente, e para a sua única bem amada, com olhar amoroso?

59 - Se, entretanto, o Amor verdadeiramente conjugal é tão raro, que não sesabe o que ele é, e que apenas se sabe que existe, é porque o estado de delíciasantes das núpcias é mudado depois delas em um estado de indiferençaproveniente da insensibilidade; as causas desta mudança de estado são emnúmero demasiado grande para que possam ser referidas aqui; mas o serãoadiante, quando as causas de frieza, de separações e de divórcios serãodesvendados em ordem; por estas causas se verá que na maioria, hoje, estaimagem do amor conjugal, e com ela o conhecimento deste amor, foram de talmodo destruídos, que não se sabe o que é este amor, e apenas se sabe queexiste. É sabido que todo homem, quando nasce, é puramente corporal e quede corporal se torna natural cada vez mais interiormente, e assim racional, eenfim espiritual. Se isso acontece progressivamente, é porque o corporal é comoum húmus, no qual os naturais, os racionais e os espirituais são semeados emordem; assim o homem se torna cada vez mais homem; acontece quase amesma cousa quando ele se casa; o homem então se torna mais plenamentehomem porque é conjunto com uma companheira com a qual constitui umúnico homem; mas isso se faz em uma espécie de imagem no primeiro estado,de que se acaba de falar; igualmente então ele começa pelo corporal, e avançapara o natural, mas quanto à vida conjugal, e por conseguinte quanto àconjunção em um; os que então amam os corporais-naturais, e só os racionaisque daí provêm, não podem ser unidos a sua consorte com em um, a não ser

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quanto aos externos; e quando os externos faltam, os internos são invadidos porum frio que expulsa os prazeres deste amor tanto da mente como do corpo, eem seguida tanto do corpo como da mente; e isso até que nada mais reste dareminiscência do primitivo estado de seu casamento, nem por conseqüênciadeste estado. O ra, como isto acontece hoje com a maioria, é evidente que nãose sabe o que é o amor verdadeiramente conjugal, e que apenas se sabe que eleexiste. É inteiramente diferente com os que são espirituais; para eles o primeiroestado é uma iniciação a felicidades perpétuas, que crescem gradativamente,conforme o espiritual-racional da mente, e por ele o natural-sensual do corpo,de um se conjunta e se une com o do outro; mas estes, são raros.

60 - II. A origem deste Amor vem do Casamento do Bem e do V ero. T odohomem inteligente reconhece que todas as cousas no U niverso se referem aobem e ao vero, porque isto é um vero universal; não se pode também deixar dereconhecer que em todas e em cada uma das cousas do universo o bem estáconjunto ao vero, e o vero ao bem, porque isso também é um vero universalque está ligado com o outro. Se todas as cousas no universo se referem ao beme ao vero, e si o bem está conjunto ao vero, e o vero ao bem, é porque um eoutro procedem do Senhor, e procedem d'Ele como um. As cousas queprocedem do Senhor são o Amor e a Sabedoria porque estes dois são o Senhor,assim segundo Ele; e todas as cousas que pertencem ao amor são chamadasbens, e todas as que pertencem à sabedoria são chamados veros; e pois que delecomo criador procedem o Amor e a Sabedoria, segue-se que estes dois estão nascousas criadas. Isto pode ser ilustrado pelo Calor e a Luz, que procedem do Sol,todas as cousas da terra procedem deles, pois elas germinam segundo suapresença e segundo sua conjunção; ora, o Calor natural corresponde ao Calorespiritual, que é o Amor, e a Luz natural corresponde à Luz espiritual que é aSabedoria.

61 - Q ue o Amar Conjugal procede do Casamento do bem e do vero, é o queserá demonstrado na Lição seguinte ou Parágrafo seguinte; se faz menção dissoaqui apenas para fazer ver que este Amor é celeste, espiritual e santo, porque éde uma origem celeste espiritual e santa. A fim de que se veja que a origem doAmor Conjugal vem do Casamento do bem e do vero, importa falar disso aquisucintamente; acaba de ser dito que em todas e em cada uma das cousas.criadas há uma conjunção do bem e do vero; ora, não há conjunção a não serque seja recíproca, pois a conjunção de uma parte e não reciprocamente deoutra, se dissolve por si mesma; quando portanto há conjunção do bem e dovero, e essa conjunção é recíproca, resulta daí que há o vero do bem ou o verosegundo o bem, e há o bem do vero ou o bem segundo o vero; que o vero dobem ou o vero segundo o bem esteja no M acho, e que seja o M asculinomesmo, e que o bem do vero ou o bem segundo o vero esteja na Fêmea e queseja o Feminino mesmo, além disso também, que haja uma união conjugalentre estes dois, ver-se-á na Lição que segue; isto é referido aqui, a fim de que

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se tenha alguma idéia preliminar.

62 - III. H á correspondência deste Amor com o Casamento do Senhor e daIgreja; quer dizer que, do mesmo modo que o Senhor ama a Igreja e quer que aIgreja O ame, assim também o M arido e a Esposa se amam mutuamente; queentre este amor e este casamento haja uma correspondência, sabe-se no M undoCristão, mas qual é esta correspondência, não se sabe ainda, é por isso que elaserá explicada mais adiante em um Parágrafo especial; aqui, se faz mençãodisso, a fim de que se veja que o Amor Conjugal é celeste, espiritual e santo,porque corresponde ao Casamento ao Casamento celeste, espiritual e santo doSenhor e da Igreja. Esta correspondência é também uma conseqüência de que oamor conjugal tira sua origem do Casamento do bem e do vero, origem de quese tratou no Artigo precedente, porque o Casamento do bem e do vero é aIgreja no homem; pois o casamento do bem e do vero é a mesma cousa que oCasamento da caridade e da fé, pois que o bem pertence à caridade e o vero àfé; que este Casamento faça a Igreja, não se pode deixar de reconhecer porque éum vero universal, e todo vero universal é reconhecido imediatamente quandoé ouvido, o que resulta do influxo do Senhor e ao mesmo tempo daconfirmação do Céu. O ra, pois que a Igreja pertence ao Senhor porque vem doSenhor, e pois que o Amor conjugal corresponde ao Casamento do Senhor e daIgreja, segue-se que este Amor vem do Senhor.

63 - M as como pelo Senhor é formada a Igreja nos dois esposos, e como pormeio da Igreja é formado o amor conjugal, isso será ilustrado no Parágrafo deque se acaba de falar; aqui é somente observado que a Igreja é formada peloSenhor no M arido, e por meio do M arido na Esposa, e que depois que ela foiformada em um e no outro a Igreja está completa, pois então se faz umacompleta conjunção do bem e do vero, e a conjunção do bem e do vero é aIgreja. Q ue a inclinação conjuntiva, que é o Amor conjugal, esteja em ummesmo grau que a conjunção do bem e do vero, que é a Igreja, isso vai serconfirmado em série, por argumentos demonstrativos, no que segue.

64 - IV . Este Amor, pela sua origem e sua correspondência, é celeste, espiritual,santo, puro e limpo mais do que todos os outros amores que pelo Senhor estãonos Anjos do Céu e nos homens da Igreja. Q ue o Amor Conjugal, por suaorigem, que é o Casamento do bem e do vero, seja tal, é o que acaba de serconfirmado acima em poucas palavras, mas aí somente por adiantamento, foi,da mesma maneira, confirmado que este Amor é tal pela sua correspondênciacom o Casamento do Senhor e da Igreja; estes dois Casamentos, de quedescende como um rebento o Amor conjugal, são as santidades mesmas; é porisso que, se segundo seu Autor, que é o Senhor, este amor é recebido, decorredo Senhor uma santidade, que continuamente o decanta e o purifica; se entãona vontade do homem há um desejo e um esforço para este amor, ele se tornaperpetuamente dia a dia mais limpo e mais puro. O Amor conjugal é chamadoceleste e espiritual, porque está nos Anjos dos Céus; é celeste, nos Anjos do Céu

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supremo, porque estes Anjos são chamados celestes; e espiritual, nos Anjosabaixo deste Céu, porque estes Anjos são chamados espirituais; estes anjos sãoassim chamados porque os Anjos celestes são Amores e em conseqüênciaSabedorias, e os Anjos espirituais são Sabedorias e em conseqüência Amores;semelhante é o seu conjugal. O ra, pois que o Amor conjugal está nos Anjos dosCéus, tanto superiores como inferiores, conforme foi mostrado no PrimeiroParágrafo sobre os Casamentos no Céu, vê-se que este Amor é santo e puro. Seeste Amor, considerado em sua essência segundo sua derivação, é santo e puromais do que todos os outros amores dos anjos e dos homens, é porque ele écomo a cabeça dos outros amores. Q uanto à supremacia deste amor, se diráalguma cousa no Artigo que vai seguir.

65 - V . Ele é mesmo o Amor fundamental de todos os amores celestes eespirituais, e por conseqüência de todos os amores naturais. Q ue o Amorconjugal, considerado em sua essência, seja o Amor fundamental de todos osamores do Céu e da Igreja, é porque sua origem vem do Casamento do bem edo vero, e deste Casamento procedem todos os amores que fazem o Céu e aIgreja no homem; o bem deste casamento constitui o amor, e seu vero constituia sabedoria; e quando o amor se aproxima da sabedoria ou se conjunta com ela,o amor então se torna amor; e quando reciprocamente a sabedoria se aproximado amor e se conjunta com ela, a sabedoria então se torna sabedoria. O Amorverdadeiramente conjugal não é outra cousa senão a conjunção do amor e dasabedoria; dois Esposos entre os quais ou nos quais há este amor são a sua efígiee a sua forma; nos Céus, onde as faces dos Anjos são os tipos reais das afeiçõesdo seu amor, todos são também semelhanças do Amor conjugal pois ele estáneles no comum e em toda parte, como já foi mostrado; ora, pois que doisEsposos são este Amor em efígie e em forma, segue-se que todo amor, queprocede da forma do amor mesmo, é sua semelhança; é por isso que se o Amorconjugal é celeste e espiritual, os amores, que dele procedem, são tambémcelestes e espirituais; o Amor conjugal é portanto como um pai, e todos osoutros amores são como uma descendência; daí vem que dos Casamentos dosAnjos nos Céus são engendradas descendências espirituais, que são as do amor eda sabedoria, ou do bem e do vero; a respeito desta geração, ver acima o n. 51.

66 - A mesma cousa é evidentemente manifestada pela criação dos homens poreste amor, e por sua formação em seguida por este amor: o M acho foi criadopara que se torne sabedoria pelo Amor de ser sábio, e a Fêmea foi criada paraque se torne o Amor do macho por sua sabedoria, assim segundo a sabedoriaque está nele; daí é evidente que dois Esposos são as formas mesmas e as efígiesmesmas do casamento do amor e da sabedoria, ou do bem e do vero. Éimportante que se saiba que não há bem nem vero, que não esteja em umasubstância como em seu objeto; os bens e os veros abstratos não existem, pois,não estão em parte alguma, uma vez que não tem sede; e mesmo não podemaparecer, muito menos, como voando; são portanto unicamente entidades

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(entia), a respeito dos quais a razão parece pensar abstratamente, mas não opode entretanto, a menos que os suponha em objetos; pois toda idéia dohomem, mesmo sublimada, é substância, isto é, ligada a substâncias: alémdisso, é preciso que se saiba que não há substância, a não ser que tenha umaforma; uma substância não formada não é cousa alguma, porque não se podedizer dela coisa alguma, e um sujeito sem predicados é também uma entidadeque não tem existência alguma na razão (ens nullius rationis). Estasconsiderações filosóficas foram acrescentadas, a fim de que desta maneira sepossa ver também que dois Esposos, que estão no Amor verdadeiramenteconjugal, são na realidade formas do Casamento do bem e do vero, ou do amore da sabedoria.

67 - Como os amores naturais decorrem dos amores espirituais, e os amoresespirituais decorrem dos amores celestes, é por isso que se diz que o Amorconjugal é o amor fundamental de todos os amores celestes e espirituais, e porconseqüência de todos os amores naturais. O s amores naturais se referem aosamores de si e do mundo; mas os amores espirituais se referem ao amor arespeito do próximo, e os amores celestes ao amor para com o Senhor; e comotais são as relações dos amores, vê-se claramente em que ordem eles se seguem,e em que ordem estão no homem; quando estão nesta ordem, então os amoresnaturais vivem pelos amores espirituais e os espirituais pelos celestes, e todosnesta ordem vivem pelo Senhor, de que procedem.

68 - V I. N este amor foram reunidas todas as alegrias e todas as delícias, desdeas primeiras até às últimas. T odos os prazeres, quaisquer que sejam, que sãosentidos pelo homem, pertencem a seu amor; por eles o amor se manifesta emesmo existe e vive; que os prazeres se exaltem no mesmo grau que se exalta oamor, e também conforme as afeições que sobrevêm tocam de perto o amorreinante, isso é notório. Agora, uma vez que o amor conjugal é o amorfundamental de todos os amores, e que foi inscrito nos singularíssimos dohomem, como foi mostrado acima, segue-se que os prazeres deste amorultrapassam os prazeres de todos os amores, e que ele dá também prazer aosoutros amores segundo sua presença e sua conjunção com eles; pois ele dáexpansão aos íntimos da mente e ao, mesmo tempo aos íntimos do corpo, àmedida em que a veia deliciosa de sua fonte neles corre e os abre. Q ue nesteamor tenham sido reunidos todos os prazeres desde os primeiros até aosúltimos, é devido à excelência de seu U so em comparação com o de todos osoutros; seu U so é a propagação do gênero humano, e por conseguinte a do CéuAngélico; e como este uso tem sido o fim dos fins da criação, segue-se quetodas as beatitudes, todas as doçuras, todos os prazeres, todos os encantos etodas as volúpias que podiam ser reunidas no homem pelo Senhor Criador,foram reunidas neste amor. Q ue os prazeres seguem o uso, isso é evidente pelosprazeres dos cinco Sentidos, a V ista, o O uvido, o O lfato, o Paladar e o T ato;cada um destes sentidos tem seus prazeres com variações segundo seus usos

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particulares; com muito mais forte razão o Sentido do amor conjugal, cujo U soé o complexo de todos os outros usos.

69 - Sei que há poucos que reconhecerão que no Amor conjugal foramreunidas todas as alegrias e todas as delícias desde as primeiras até às últimas; eisso, porque o amor verdadeiramente conjugal, em que elas foram reunidas, éhoje tão raro, que não se sabe o que ele é e apenas se sabe que existe, segundo oque foi explicado e confirmado acima, nos nº 58, 59, pois estas alegrias e estasdelícias não existem em um amor conjugal que não seja o amor conjugal real; ecomo este é tão raro nas terras, é impossível descrever suas felicidadessobreeminentes de outro modo que não seja pela boca dos Anjos, por que elesestão neste amor: Eles me disseram que suas delícias íntimas, que pertencem àalma, na qual influi primeiro o conjugal do amor e da sabedoria ou do bem edo vero, procedendo do Senhor, não são perceptíveis e por conseguinte sãoinefáveis porque são ao mesmo tempo as delícias da paz e da inocência; mas emsua descida estas mesmas delícias tornam-se cada vez mais perceptíveis, nossuperiores da mente como felicidades, no peito como prazeres que derivam daí,e do peito se espalham em todas e cada uma das partes do corpo, e enfim seunem nos últimos em delícia das delícias; além disso, os anjos contarammaravilhas, acrescentando que as variedades destas delícias nas almas dosEsposos, e pelas almas em suas mentes, e pelas mentes no peito, são infinitas, etambém eternas, e que elas são exaltadas nos maridos segundo a sabedoria; eisso, porque vivem eternamente na flor da idade, e porque não tem maiorfelicidade do que tornar-se cada vez mais sábios. M as quanto a vários outrosdetalhes saídos da boca dos Anjos a respeito destas delícias, ver-se-á nosM emoráveis, principalmente naqueles que vão seguir no fim de algunscapítulos.

70 - V II. M as a este amor não vêm e não podem estar sendo os que se dirigemao Senhor, e que amam os veros da Igreja e praticam os seus bens. Se a esteamor não vêm senão os que se dirigem ao Senhor, é porque os CasamentosM onogâmicas, que são os de um só marido com uma única esposa,correspondem ao Casamento do Senhor e da Igreja, e sua origem vem doCasamento do bem e do vero, ver acima os nº. 60 e 62. Q ue desta origem edesta correspondência, segue-se que o Amor verdadeiramente conjugal vem doSenhor, e está nos que se dirigem diretamente a Ele, isso não pode serplenamente confirmado, a não ser que se trate em particular destes dois arcanoso que será feito nos dois Capítulos que seguem imediatamente a este; um sobrea origem do Amor conjugal pelo Casamento do bem e do vero; e o outro sobreo Casamento do Senhor e da Igreja, e sobre sua correspondência; que daíresulta que o Amor conjugal é o homem segundo o Estado da Igreja nele, étambém o que se verá nesses Capítulos.

71 - Se no Amor verdadeiramente conjugal não podem estar senão os que orecebem do Senhor, isto é, que se dirigem a Ele diretamente, e vivem por Ele a

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vida da Igreja, é porque este Amor, considerado segundo sua origem e suacorrespondência, é mais celeste, espiritual, santo, puro e limpo, do que todooutro amor que existem nos anjos do Céu e nos homens da Igreja, como acima,n. à; e estes atributos do amor verdadeiramente conjugal não podem existirsenão nos que foram conjuntos ao Senhor, e consociados por Ele aos anjos doCéu; pois estes fogem dos amores extraconjugais, isto é, das conjunções comoutros que não sejam a própria esposa ou o próprio marido, como fugiriam daperda da alma e dos pântanos do inferno; e quanto mais os esposos fogemdessas conjunções, mesmo quanto aos desejos libidinosos da vontade e porconseguinte às intenções, tanto mais este amor é purificado neles, e se tornaprogressivamente espiritual, primeiro quando ainda vivem nas terras, e emseguida no Céu; nenhum amor pode jamais tornar-se puro nos homens, nemnos anjos, assim este amor também não o pode; mas como a intenção, quepertence à vontade, é principalmente considerada pelo Senhor, é por isso quequanto mais o homem está nesta intenção e nela persevera, tanto mais éiniciado na pureza e na santidade deste amor, e nisso faz progressossucessivamente. Se no Amor conjugal espiritual não podem estar senão os quesão tais pelo Senhor, é porque o Céu está neste amor, e o homem natural, emquem este amor não tira seu encanto senão da carne, não pode se aproximar doCéu, nem de anjo algum, nem mesmo de homem algum em que haja esteamor, pois é o Amor fundamental de todos os amores celestes e espirituais, veracima ns. 65, 66 e 67. Q ue seja assim, é o que me foi confirmado pelaexperiência. N o M undo espiritual, vi gênios, que estavam preparados para oInferno se aproximarem de um Anjo que estava em delícias com sua esposa amedida que se aproximavam, estando a uma certa distância, se tornaram comofúrias, e procuraram para asilo cavernas e fossos, nos quais se lançaram. Q ue osmaus espíritos amem o homogêneo de sua afeição, por mais imundo que seja etenham aversão pelos espíritos do Céu, como por seu heterogêneo porque esteheterogêneo é puro, pode-se concluir do que foi referido nos Preliminares n.10.

72 - Se a este amor não vêm e não podem estar senão os que amam os veros daIgreja, e praticam os seus bens, é porque os outros não são recebidos peloSenhor; pois aqueles estão em conjunção com o Senhor, e por conseqüênciapodem ser mantidos por Ele neste Amor. H á duas cousas que fazem a Igreja epor conseguinte o Céu no homem, o V ero da fé e o Bem da vida; o V ero da féfaz a presença do Senhor, e o Bem da V ida segundo os veros da fé faz aconjunção com Ele, e assim a Igreja e o Céu. Se o V ero da fé faz a presença, éporque ele pertence a luz, a Luz espiritual não é outra coisa; se o Bem da vidafaz a conjunção, é porque pertence ao calor, o Calor espiritual não é outracousa também, pois é o amor, e o bem da vida pertence ao amor; ora, sabe-seque toda luz, mesmo a do inverno, faz a presença, e que o calor unido à luz faza conjunção,̀ pois os jardins e os canteiros aparecem qualquer que seja a luz,mas não florescem e não frutificam senão quando o calor se conjunta a luz. Daí

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resulta claramente esta conclusão, que pelo Senhor são gratificados com oAmor verdadeiramente conjugal, não os que sabem unicamente os veros daIgreja, mas os que os sabem e praticam seus bens.

73 - V III. Este Amor foi o Amor dos amores entre os Antigos que viveram nosséculos de ouro, de prata e de bronze. Q ue o Amor conjugal entre osAntiqüíssimos e entre os Antigos, que viveram nos primeiros Séculos assimchamados tenha sido o Amor dos amores, não se pode saber pela H istória,porque não existem escritos deles, e os que existem são de Autores que viveramdepois desses Séculos; pois estes fazem menção deles, e descrevem também apureza e a integridade de sua vida, e igualmente o declínio progressivo destapureza e desta integridade, tal como é o do O uro até ao Ferro; mas o últimoSéculo ou Idade de Ferro, que começou no tempo desses Escritores, pode serconhecido em parte pelas H istórias da vida de alguns R eis, de alguns Juizes, ede alguns Sábios que, na G récia e em outros lugares, foram chamados Sophi:que este Século entretanto não duraria, como dura em si mesmo o ferro, masque se tornaria como o ferro misturado com a argila, os quais não têmcoerência, é o que foi predito por Daniel, cap. 11, 43. O ra, como esses Séculos,que tiram seus nomes do ouro, da prata, e do bronze, tinham passado, antes dotempo cujos escritos nos restam, e assim é impossível adquirir nas terras umconhecimento dos Casamentos dos homens daqueles séculos, aprouve aoSenhor dar-me esse conhecimento por um caminho espiritual, conduzindo-meaos Céus onde estão seus domicílios, a fim de que aprendesse de sua boca, oque tinham sido entre eles os Casamentos, quando viviam em seu Século; poistodos, quaisquer que sejam, que depois da Criação saíram do M undo natural,estão no M undo espiritual e todos aí são tais quais foram quanto a seus amores,e aí permanecem eternamente. Como estas particularidades são dignas de serconhecidas e relatadas, e como confirmam a santidade dos casamentos, voudá-las ao público tal como me foram mostradas em espírito, no estado devigília, e relembrados em seguida à minha memória por um Anjo, e assimdescritas: e como são relatos do M undo espiritual, tais como os que sãocolocados no fim dos Capítulos, desejei dividi-los em Seis M emoráveis segundoas Progressões das Idades.

74 - "Estes Seis M emoráveis do M undo espiritual sobre o Amor Conjugal,revelam o que foi este Amor nas Primeiras Idades, e o que foi depois dessasidades e o que é hoje. Por aí se vê que este Amor retirou-se progressivamentede sua santidade e de sua pureza, até ao ponto de tornar-se escortatório; masque entretanto há esperança de que seja reconduzido a sua primitiva e antigaSantidade".

75 - Primeiro M emorável: U m dia em que eu meditava sobre o AmorConjugal, minha mente foi tomada pelo desejo de saber o que tinha sido esteAmor nos que viveram no Século do O uro, e o que tinha sido nos que viveramnos Séculos seguintes, chamados Século da Prata, do Bronze e do Ferro: e como

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eu sabia que todos os que viveram bem naqueles Séculos estão no Céu, pedi aoSenhor para que me fosse permitido conversar e me instruir com eles: e eis queum anjo se apresentou a mim, e me disse: "Fui enviado pelo Senhor para teservir de guia e de companheiro de viagem; e primeiramente, te conduzirei e teacompanharei aos que viveram na Primeira Idade ou Primeiro Século, que échamado Século de O uro"; e disse: “O caminho que conduz a eles é escarpado;passa por uma floresta espessa que ninguém pode atravessar sem o socorro deum guia dado pelo Senhor". Eu estava em espírito e me preparei para a viageme voltamos a face para o O riente, e avançando vi uma M ontanha cuja altura iaalém da região das nuvens. Atravessamos um grande deserto, e chegamos a umaFloresta formada de diferentes espécies de árvores, cuja espessura produzia umagrande obscuridade; era a Floresta de que o Anjo tinha falado, mas era cortadapor várias picadas estreitas e o Anjo me disse que eram outros tantos labirintosde erros, e que se o viajante não tivesse os olhos abertos pelo Senhor, e nãovisse O liveiras cercadas de ramos de vinha, e não fosse de O liveira em O liveira,iria se lançar nos T ártaros que estão nos arredores sobre os lados; esta Floresta éassim disposta com o fim de defender a passagem; pois nenhuma outra N açãoque não seja a da Primeira Idade habita esta M ontanha. Q uando entramos naFloresta, os nossos olhos foram abertos, e vimos aqui e ali O liveiras cercadas decepas, donde pendiam cachos de uvas de uma cor azul celeste, e as O liveiraspor sua disposição formavam curvas contínuas, nós também fizemos voltas evoltas seguindo sua direção; e enfim vimos um Bosque formado de Cedroselevados, e em seus galhos algumas Águias. A esta vista, o Anjo disse: "Agoraestamos na M ontanha, não muito longe de seu Cume". E continuamos acaminhar; e eis que depois do Bosque uma Planície de uma extensão circular,onde pastavam Cordeiros e O velhas novas, que eram formas representativas doestado de inocência e de paz dos H abitantes da M ontanha. Atravessamos estaPlanície; e eis, T abernáculos e mais T abernáculos em número de váriosmilhares, se apresentavam a nossos olhos, adiante e dos lados, tanto quanto avista podia abranger; e o Anjo disse: "Agora, estamos no Acampamento; lá estáo Exército do Senhor Jehovah; é assim que eles se chamavam, a eles e a suashabitações; quando estavam no M undo, estes Antiqüíssimos habitavam emT abernáculos; é por isso também que habitam assim agora; mas prossigamos onosso caminho para o Sul, onde estão os mais sábios dentre eles, a fim deencontrar algum com quem conversemos". Caminhando vi ao longe trêsrapazinhos e três meninas, que estavam sentados à porta de U ma T enda; masuns e outros, quando nos aproximamos, foram vistos como homens e mulheresde uma estatura média; e o Anjo disse: "T odos os habitantes desta M ontanhaaparecem de longe como Crianças, porque estão em um estado de inocência, ea Infância é a aparência da inocência". Logo que estes homens nos viram,acorreram e disseram: "Donde sois? e como viestes aqui? As vossas faces não sãofaces da nossa M ontanha". M as o Anjo respondeu e contou como a entradapela Floresta nos tinha sido permitida, e porque tínhamos vindo. Depois de ter

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ouvido esta explicação, um dos três H omens nos convidou a entrar em seuT abernáculo e nos introduziu nele: O H omem estava vestido com um mantode cor de jacinto e com uma túnica de lã branca, e sua Esposa estava vestidacom um vestido de púrpura, e por baixo uma túnica de fino linho, bordada aagulha lhe cobria o peito; e como havia no meu pensamento o desejo deconhecer os Casamentos dos Antiqüíssimos, eu olhava alternativamente para oM arido e para a Esposa; e percebi, por assim dizer, a unidade de suas almassobre suas faces, e disse: "V ós dois, sois um". E o H omem respondeu: "N óssomos um; a sua vida está em mim, e a minha vida está nela; nós somos doisCorpos, mas uma única Alma; a união entre nós é como a que existe no Peitoentre as duas tendas que se chamam o Coração e o Pulmão, ela é meu Coração,e eu sou o seu Pulmão; mas como pelo Coração nós entendemos aqui o Amor epelo Pulmão a Sabedoria, ela é o Amor da minha sabedoria, e eu sou aSabedoria do seu amor; é por isso que por fora o seu amor vela a minhasabedoria, e por dentro a minha sabedoria está em seu amor; é daí que aunidade de nossas Almas se mostra sobre nossas faces, como o disseste". Eentão, lhe fiz esta pergunta: "Se tal é a união, será que podes contemplar umaoutra mulher além da tua?" E ele respondeu: "Eu o posso; mas como minhaEsposa está unida à minha Alma, nós a contemplamos os dois juntos, e entãonada de libidinoso pode penetrar; pois quando vejo as esposas dos outros, eu asvejo por minha Esposa a quem eu amo unicamente; e, como tem ela apercepção de todas as minhas inclinações, ela dirige, como intermediária, osmeus pensamentos; afasta tudo que é discordante, e introduz ao mesmo tempofrieza e horror por tudo que é incasto; é por isso que aqui nos é tão impossívelolhar para a Esposa de um outro com desejo libidinoso, como é impossível dastrevas do T ártaro, encarar a luz de nosso Céu; por isso também não existe entrenós nenhuma idéia do pensamento, nem com mais forte razão nenhumaexpressão da linguagem, para os atrativos de um amor libidinoso". Ele nãopôde pronunciar a palavra escortatório, porque a castidade de seu Céu a isso seopunha. Então o Anjo que me servia de guia me disse: "Compreendes agoraque a linguagem dos Anjos deste Céu é a linguagem da sabedoria, pois elesfalam segundo as causas". Depois disso dirigi o olhar em torno de mim, e vi seuT abernáculo como coberto de ouro, e perguntei donde provinha isso. Elerespondeu: "Isto provém de uma luz inflamada que brilha como ouro, e queilumina com seus raios e incide levemente sobre os pavilhões de nossoT abernáculo, quando falamos sobre o Amor Conjugal; pois o Calor de nossoSol que em sua essência é o Amor, se põe então a nu, e tinge com sua cor deouro a luz, que em sua essência é a Sabedoria; e isso acontece, porque o AmorConjugal, em sua origem, é o jogo da Sabedoria e do Amor; pois o H omemnasceu para ser sabedoria, e a M ulher para ser amor da sabedoria do homem;daí provêm as delícias deste jogo no Amor conjugal e por este Amor, entre nóse nossas esposas. N ós aqui vimos claramente, desde milhares de anos, que estasdelícias, quanto à sua abundância, a seu grau e a sua vontade, aumentam e se

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elevam em razão do culto que prestamos ao Senhor Jehovah, de quem influiesta união celeste ou este Casamento celeste, que é o do Amor e da Sabedoria".Depois que assim falaram, vi uma grande luz sobre a colina na parte do meio,entre os T abernáculos; e me informei de onde vinha essa luz. Ele disse: "É doSantuário do T abernáculo de nosso Culto". E perguntei se era permitidoaproximar-me; e ele, disse: "Isso é permitido". E aproximei-me, e vi umT abernáculo inteiramente semelhante, por fora e por dentro, à descrição doT abernáculo que foi construído no deserto pelos filhos de Israel, e cuja formatinha sido mostrada a M oisés no M onte Sinai. (Êxodo XXV , 40; X XV I, 30). Eperguntei o que havia no interior daquele santuário, que produzia uma tãogrande luz. E ele respondeu: "É uma M esa sobre a qual há esta inscrição:Aliança entre Jehovah e os Céus". E não disse mais a respeito. E como entãonós nos dispúnhamos a nos retirar, lhe fiz esta pergunta: "Alguns de vós,quando estáveis no M undo natural, viveram com mais de uma esposa?'' Elerespondeu: "N enhum, que eu saiba; pois nós não podíamos pensar em várias;os que tinham pensado nisso nos tinham dito que imediatamente as beatitudescelestes de suas almas se tinham retirado dos íntimos para os extremos de seuscorpos até às unhas, e com elas ao mesmo tempo tudo o que há de louvável navirilidade; esses, desde que se tinha a percepção disso, eram expulsos de nossasterras". Depois de ter pronunciado estas palavras, o marido correu a seuT abernáculo, e voltou com uma R omã que continha em abundância grãos deouro; e ele ma deu, e eu a levei; era para mim um sinal de que tínhamos estadocom os que viveram no Século de ouro. E então, depois da saudação de paz,nós nos retiramos, e voltamos para casa.

76 - Segundo M emorável: N o dia seguinte, o mesmo Anjo veio a mim, e disse:"Q ueres que te conduza e acompanhe aos Povos que viveram na Idade ou noSéculo de Prata, a fim de que ouçamos falar sobre o que concerne aosCasamentos de seu tempo"; e acrescentou que não se pode igualmente penetrarentre eles senão sob os auspícios do Senhor. Eu estava em espírito, como navéspera, e segui meu guia. E primeiramente chegamos a uma Colina sobre oslimites do O riente e do Sul; e, enquanto estávamos sobre sua encosta, ele memostrou uma grande extensão de terra; e vimos ao longe uma eminência comocheia de montanhas, entre a qual e a colina onde nos achávamos havia um vale,e depois uma campina, e a partir desta campina uma subida que se elevavalentamente. Descemos da Colina para atravessar o vale, vimos dos lados, aqui eali, esculturas em madeira e em pedra que representavam figuras de homens ede diversas espécies de animais, de pássaros, de peixes; e perguntei ao Anjo:"Q ue vemos lá? são ídolos?" E ele respondeu: "De modo algum; sãoconfigurações representativas de diversas virtudes morais e de diversas verdadesespirituais; a Ciência das Correspondências existiu entre os povos desta idade; ecomo todo homem, toda besta, toda ave, todo peixe, correspondem a algumaqualidade, resulta daí que cada uma destas esculturas representa algumaespecialidade de virtude ou de verdade, e que várias juntas representam a

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V irtude mesma ou a V erdade mesma em alguma forma comum extensa; sãoestas representações que, no Egito, foram chamados H ieróglifos". Atravessamoso vale e quando entramos na Campina, eis que vimos Cavalos e Carros;Cavalos diversamente ajaezados e enfreados, e Carros de diferentes formas,figurando uns Águias, outros Baleias e outros Cervos com seus chifres, eU nicórnios, e em seguida alguns Carros, e Estrebarias por toda parte sobre oslados. M as quando nos aproximamos, os Cavalos e os Carros desapareceram, eem seu lugar vimos H omens, aos casais, que passeavam, conversando eraciocinando; e o Anjo me disse: "Estas formas de Cavalos, de Carros e deEstrebarias que se vê de longe são as aparências da inteligência racional doshomens desta Idade; pois pela correspondência o Cavalo significa oentendimento do vero, o Carro a doutrina do vero, e as Estrebarias asinstruções; tu sabes que neste mundo tudo aparece segundo ascorrespondências". M as passamos além, e subimos por uma longa rampa, eenfim vimos uma Cidade em que entramos; e percorrendo as ruas e as praças,examinamos as casas, eram outros tantos palácios construídos em mármore; nafrente tinham degraus de alabastro; e de cada lado dos degraus, colunas dejaspe: vimos também T emplos construídos de pedras preciosas de cor de Safirae de Lazuli; e o Anjo me disse: "As suas casas são de Pedras, porque as Pedrassignificam as verdades naturais, e as Pedras preciosas as verdades espirituais; etodos os que viveram na Idade da Prata tinham a inteligência pelas verdadesespirituais e daí pelas verdades naturais; a Prata tem também uma semelhantesignificação". V isitando a cidade, vimos aqui e ali pessoas reunidas por casais; ecomo eram maridos e esposas, esperávamos ser convidados Para algum lugar; eenquanto passeávamos, tendo esse pensamento, dois dentre eles nos chamarampara uma casa; e subimos e entramos; e o Anjo, falando por mim, lhes expôs omotivo de nossa chegada neste Céu: "É, disse ele, o desejo de ser instruídosobre os casamentos dos Antigos, de que fazeis parte". E eles responderam:"N ós pertencemos aos Povos da Á sia; e o estudo de nossa Idade era o estudodas verdades, pelas quais adquirimos a inteligência; este estudo era o de nossaalma e de nossa mente; mas o estudo dos sentidos de nosso corpo consistia nasR epresentações das verdades sob formas, e a Ciência das Correspondênciasconjuntava os sensuais de nosso corpo com as percepções de nossa mente, e nosproporcionava a inteligência". Depois de ter ouvido estas cousas, o Anjo lhespediu para nos dar alguns detalhes sobre seus Casamentos; e o M arido disse:"H á correspondência entre o Casamento Espiritual, que é o do vero com obem, e o Casamento N atural, que é o de um homem com uma única esposa; ecomo nos aplicamos ao estudo das Correspondências, vimos que a Igreja, comseus veros e seus bens, não pode jamais existir senão naqueles que vivem noamor verdadeiramente conjugal com uma única esposa; pois o Casamento dobem e do vero é a Igreja no homem; também todos nós, que estamos aqui,dizemos que o M arido é o V ero e que a esposa; é o Bem desse vero, e que obem não pode amar outro vero que não seja o seu, nem o vero dar amor por

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amor a outro bem que não seja o seu; se fosse de outro modo, o Casamentointerno, que faz a Igreja, seria destruído, e se tornaria um Casamentounicamente externo, ao qual corresponde a idolatria e não à Igreja; é por issoque o Casamento com uma única esposa, nós o chamamos Sacrimônia, mas sese fizesse entre nós com várias, nós o chamaríamos Sacrilégio". Depois que elefalou, fomos introduzidos na peça que precede ao quarto de dormir; haviasobre as paredes vários desenhos feitos com arte, e pequenas imagens quepareciam fundidas em prata; e eu perguntei o que significavam essas cousas.Eles disseram: "São pinturas e formas representativas de várias qualidades,atributos e prazeres que pertencem ao amor conjugal; estas representam aunidade das almas, aquelas a conjunção das mentes; aquelas outras lá aconcórdia dos corações, aquelas outras as delícias que daí procedem".Continuando o nosso exame, vimos sobre a parede uma espécie de Íriscomposta de três cores, Púrpura, Jacinto e Branco, e notamos que a corpúrpura atravessava o jacinto e tingia o branco com uma cor azul-celeste, e queesta cor refluía pelo jacinto na púrpura, e a elevava, por assim dizer, ao brilhoda chama. E o M arido me disse: "Compreendes isso?" E eu respondi: "Instrui-me". E ele disse: "A cor púrpura, por sua correspondência, significa o AmorConjugal da esposa; a cor branca, a inteligência do marido; a cor jacinto, ocomeço do amor conjugal na percepção do marido pela esposa; e a cor azulceleste (azur) de que a cor branca se tingiu, o amor conjugal então no marido;esta cor que refluía pelo jacinto na púrpura, e a elevava por assim dizer aobrilho da chama, significa o amor conjugal do marido refluindo sobre a esposa;T ais cousas são representadas nas paredes quando, pela meditação sobre oAmor conjugal, sobre sua união mútua, sucessiva e simultânea, nósconsideramos com olhos atentos os íris que aí são pintados". Disse a esserespeito: "Estas cousas são hoje mais que místicas; pois são aparênciasrepresentativas de arcanos do amor conjugal de um único homem com umaúnica esposa". E ele respondeu: "Elas são assim, mas para nós, aqui, elas nãosão arcanos, nem por conseqüência cousas místicas". Q uando ele assim falouapareceu de longe um Carro puxado por dois cavalos brancos novos. A vistadisso, o Anjo disse: "Este carro é para nós um sinal de que devemos nosretirar". Então, quando descíamos os degraus, o nosso hóspede nos deu umCacho de uvas brancas aderente a folhas da cepa; e eis que as Folhas setornaram de prata; e nós as levamos como um sinal de que tínhamosconversado com os Povos do Século da Prata.

77 - T erceiro M emorável. N o dia seguinte o Anjo que me tinha conduzido eacompanhado veio ainda, e me disse,: "Prepara-te, e vamos aos H abitantesCelestes, no O cidente; eles fazem parte dos homens que viveram na terceiraIdade ou Século do Bronze; suas habitações estão desde o Sul sobre o O cidenteaté ao Setentrião, mas não no Setentrião". E, tendo me preparado, eu o segui, eentramos em seu Céu pelo lado meridional e lá, havia um magnífico Bosque depalmeiras e de loureiros; nós o atravessamos, e então nos confins mesmo do

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O cidente vimos G igantes de uma altura dupla do talhe ordinário do homem;estes nos fizeram esta pergunta: "Q uem vos introduziu por este Bosque?" OAnjo disse “O Deus do Céu". E eles responderam: "N ós somos os G uardiãespara o Céu antigo O cidental; quanto a vós, passai". E nós passamos, e de seuposto de observação vimos uma M ontanha elevada até às nuvens; e entre nósneste lugar, e esta montanha, numerosas aldeias cercadas de jardins, de bosquese de campos, e fomos, através destas aldeias até à montanha, e subimos; e eisque seu Cume era, não um cume ordinário, mas uma Planura, e sobre ela umaCidade extensa e espaçosa; e todas as casas da Cidade eram construídas demadeira de árvores resinosas, e os telhados eram de tábuas; e perguntei porqueas casas aí eram de madeira; o Anjo respondeu: "Porque a madeira significa oBem natural, é por isso que o Século em que eles viveram foi chamado Bem;como o Cobre, ou o Bronze, significa também o Bem natural, e por isso que oSéculo em que eles viveram foi chamado pelos antigos o Século de Bronze; hátambém aqui Edifícios sagrados construídos na M adeira de O liveira, e no meiohá o Santuário, onde está depositada em uma Arca a Palavra dada aoshabitantes da Á sia antes da Palavra Israelita; os Livros H istóricos desta Palavrasão chamados as G uerras de Jehovah, e os Livros Proféticos, os Enunciados;uns e outros são citados por M oisés, N úmeros X XI, 14, 15 e 27 a 30; estaPalavra hoje está perdida nos R einos da Á sia, e conservada unicamente naG rande T artária". E então o Anjo me conduziu a um destes Edifícios sagrados,e nós examinamos o seu interior, e no meio vimos esse Santuário, todo ele emuma luz muito brilhante; e o Anjo disse: "Esta luz é produzida por esta AntigaPalavra Asiática, pois nos Céus todo Divino vero brilha". Saindo do Edifíciosagrado, soubemos que tinha sido anunciado na Cidade que dois estrangeirostinham chegado, e que era necessário examinar donde eles vinham, e quenegócio os trazia; e da Corte de Justiça acorreu um guarda, e ele nos levouperante os Juizes; e à pergunta donde éramos e que negócio nos tinha trazido,nós respondemos: "N ós atravessamos o Bosque de palmeiras, e também osDomicílios dos G igantes que são os G uardiães de vosso Céu, e em seguida aR egião das aldeias; podeis concluir daí que não é por nós mesmos, mas que épelo Deus do Céu, que chegamos aqui; e o negócio, pelo qual viemos, é serinstruídos a respeito de vossos Casamentos, se são M onogâmicos ouPoligâmicos". E eles responderam: “O que! Poligâmicos! Esses casamentos nãosão escortatórios?" E então esta Assembléia Judiciária nomeou um homeminteligente para nos instruir em sua casa sobre este assunto; e em sua casa estese reuniu a sua Esposa, e nos falou nestes termos: "Conservamos entre nóssobre os Casamentos os Preceitos dos homens das primeiras Idades, ou dasAntiqüíssimas, que no M undo estiveram no Amor verdadeiramente conjugal, epor conseqüência mais do que todos os outros na V irtude e na potência desteamor, e que agora, em seu Céu que é no O riente, estão no estado mais feliz;nós somos, a sua Posteridade; e eles, como Pais, nos deram, a nós, como filhos,as R egras da vida, entre as quais há, sobre os Casamentos, estas: "Filhos, se

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quereis amar a Deus e ao próximo, e se quereis vos tornar sábios, e ser felizespela eternidade, nós vos aconselhamos a viver M onogâmicos; se abandonardeseste Preceito, todo Amor celeste se afastará de vós, e com ele a Sabedoriainterna, e sereis exterminados". N ós obedecemos como filhos, a este preceito denossos Pais, e percebemos a sua verdade, que é que, quanto mais alguém amauma Esposa, tanto mais se torna celeste e interno; e que, quanto mais alguémnão ama uma Esposa, só, tanto mais se torna material e externo; e este não amasenão a ele mesmo e às imagens de sua mente, e é um insensato e um louco.Daí resulta que todos, neste Céu, somos M onogâmicos; e porque somos assim,todos os limites de nosso Céu são guardados contra os Polígamos, os Adúlterose os Escortatórios; se os Polígamos penetram aqui, são lançados nas T revas dosetentrião; si os Adúlteros, são lançados nos Fogos do ocidente; e se osEscortatórios, são lançados nas Luzes quiméricas do sul". A estas palavras, euperguntei o que ele entendia pelas trevas do setentrião, os fogos do ocidente eas luzes quiméricas do sul; ele respondeu que as T revas do setentrião são asestupidezes da mente e as ignorâncias das verdades; que os Fogos do ocidentesão os amores do mal; e que as Luzes quiméricas do sul são as falsificações dovero, as quais são escortações espirituais". Depois disso ele me disse: "Segui-meao nosso G abinete de cousas antigas". E nós o seguimos; e ele nos mostrou queas Escrituras dos Antiqüíssimos eram sobre T abletes de madeiras polidas; e quea segunda Idade tinha consignado suas escrituras sobre Folhas de Pergaminho,e nos apresentou uma Folha sobre a qual estavam as R egras dos homens daprimeira Idade, transcritos de suas tábuas de pedra, e entre as quais haviatambém o preceito sobre os Casamentos. Depois que vimos estas cousasM emoráveis da Antigüidade mesma e várias outras, o Anjo disse: "Agora étempo de irmos embora". E então, o nosso hóspede foi ao Jardim, e tomou deuma Arvore alguns ramos, e os ligou em um feixe e nos deu, dizendo: "Estesramos são de uma Arvore nativa de nosso Céu, ou própria a nosso Céu, e seusuco tem um aroma balsâmico". Levamos este feixe, e descemos por umcaminho perto do O riente que não era guardado; e eis que os ramos semudaram em Bronze brilhante, e suas extremidades superiores em ouro; eraum sinal de que tínhamos estado em uma nação da T erceira Idade, que échamada o Século do Cobre ou do Bronze.

78 - Q uarto M emorável: Dois dias depois, o Anjo me falou de novo, dizendo:"Acabemos o Período das Idades; nos resta a última Idade, que tem o nome doFerro. O povo desta Idade, mora no Setentrião sobre o lado do O cidentedentro dele ou em largura; todos eles são antigos habitantes da Á sia, quepossuíam a Antiga Palavra, e tinham tirado dela seu culto; por conseqüênciaantes da vinda do Senhor ao M undo; isso é evidente pelos Escritos dos Antigos,nos quais estes tempos são, assim mencionados. Estas mesmas Idades sãoentendidas pela estátua, que N abuchadnezar viu em sonho, ”cuja Cabeça era deO uro, o Peito e os Braços, de Prata; o V entre e as Coxas, de Bronze; as Pernasde Ferro; e os Pés, de Ferro e também de Argila". (Daniel 11, 32 e 33). O Anjo

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me referiu estas particularidades no caminho, que era encurtado e antecipadopelas mudanças de estado introduzidos em nossos mentais segundo os gêniosdos habitantes para o meio dos quais nós passávamos; pois os espaços e porconseguinte as distâncias, no M undo espiritual, são aparências segundo osestados dos mentais. Q uando levantamos os olhos, eis que estávamos em umaFloresta de faias, de castanheiros e de carvalhos; e quando olhamos em torno denós, vimos U rsos à esquerda e Leopardos à direita; como me admirasse, o Anjodisse: "N ão são ursos nem leopardos, mas são homens que guardam estesH abitantes do Setentrião; eles apreendem pelo cheiro as esferas de vidadaqueles que passam, e se lançam contra todos que são Espirituais, porque osH abitantes são naturais; aqueles que lêem apenas a Palavra, e dela nada tiramda doutrina, aparecem de longe como U rsos, e os que depois confirmam osfalsos aparecem como Leopardos". M as estes, nos tendo visto, se afastaram, enós passamos. Depois da Floresta se apresentaram Charnecas, e em seguidaCampos de grama divididos por tábuas e bordados de luxo; depois destescampos, a terra se abaixava obliquamente em um vale, onde havia cidades ealdeias; passamos algumas e entramos em uma grande; as ruas eram irregulares;as casas igualmente; estas eram construídas, de tijolos entremeados de barrotes,e cobertos com uma argamassa; nas Praças públicas havia T emplos de pedracalcária talhada, cuja construção inferior estava sob a terra, e a construçãosuperior acima da terra; descemos em um destes templos por três degraus, evimos em torno nas paredes ídolos de diversas formas, e a multidão que osadorava de joelhos; no meio estava o Coro, donde se oferecia à vista a cabeçado Deus tutelar desta cidade. Ao sair o Anjo me disse, que entre os Antigos,que tinham vivido no século da Prata, de que se falou acima, estes ídolostinham sido as imagens representativas de V erdades espirituais e de V irtudesmorais; e que, quando a Ciência das Correspondências apagou-se da memória ese extinguiu, estas imagens se tornaram a princípio objetos de culto, e foramem seguida adoradas como Deidades; daí as Idolatrias. Q uando estávamos forado T emplo, examinamos os homens e suas roupas; tinham a face como de aço,de cor acinzentada; e estavam vestidos como comediantes, tendo em torno dosrins manteletes que pendiam de uma túnica fechada no peito, e na cabeçatraziam bonés anelados de marinheiros. M as o Anjo disse: "É bastante;instruamo-nos sobre os Casamentos dos povos desta Idade". E entramos na casade um M agnata, que tinha na cabeça um boné em forma de torre; recebeu-nospolidamente, e disse: "Entrai e conversaremos". Entramos no V estíbulo, e aínos sentamos; e lhe fiz perguntas sobre os Casamentos desta cidade e da região;e ele disse: "N ós vivemos não com uma única esposa, mas uns com duas outrês, e os outros com maior número; e isso, porque a variedade, a obediência ea honra, como marca de M ajestade, nos agradam; e nós as obtemos de nossasesposas, quando temos várias; com uma só não teríamos o prazer da variedade,mas o tédio da identidade; nem a satisfação de ser obedecidos, mas o desgostoda igualdade; nem o encanto da dominação e da honra que dela resulta, mas o

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tormento de querelas pela superioridade; e o que é a mulher? N ão, nasceu elapara ser submissa à vontade do homem; e também para servir e não paradominar? Aqui portanto, cada M arido em sua casa goza. como que de umamajestade real; isso, estando conforme com o nosso amor, faz também afelicidade de nossa vida". M as eu lhe fiz essa pergunta: "O nde está então oamor conjugal, que de duas almas faz uma, e que conjunta as mentes e torna ohomem feliz? Este Amor não pode ser dividido; se é dividido torna-se em ardorque faz efervescência e passa". A isto ele replicou: "N ão compreendo o quedizes; há outra coisa que torna o homem feliz que não seja a emulação dasesposas pela honra da proeminência junto de seu marido". Depois de terpronunciado estas palavras, o homem entrou no Apartamento das mulheres eabriu os dois batentes da porta; mas saiu de lá uma exalação libidinosa quetinha um cheiro de lodo; isso provinha do amor poligâmico, que é conubial eao mesmo tempo escortatório; por isso me levantei e fechei os batentes daporta. Em seguida disse: "Como podeis subsistir sobre esta terra, pois que nãotendes nenhum amor verdadeiramente conjugal, e também uma vez queadorais ídolos?" Ele respondeu: "Q uanto ao Amor conubial, nós temos pornossas esposas um ciúme tão violento, que não permitimos a quem quer queseja entrar em nossas casas além do vestíbulo, e uma vez que há ciúme hátambém amor; quanto aos ídolos, nós não os adoramos; mas não podemospensar no Deus do U niverso senão por imagens oferecidas aos nossos olhos,pois não podemos elevar os nossos pensamentos acima dos sensuais do corpo,nem a respeito de Deus acima das cousas visíveis". Então fiz ainda umapergunta: "O s vossos ídolos não são de diversas formas? como podem .elasapresentar à vista um único Deus?" Ele respondeu: "Isso é um mistério paranós; há escondido em cada forma alguma cousa do culto de Deus". E, eu disse:"V ós sois puramente sensuais - corporais; não tendes nem o amor de Deus,nem um amor da mulher, que tenha alguma cousa de espiritual; e estes amoresformam em conjunto o homem, e de sensual o fazem celeste". Q uando acabeide dizer isso apareceu através da porta como um relâmpago; e eu perguntei: “Oque é isso?" Ele disse: "U m tal relâmpago é para nós um sinal que vai chegar doO riente um Ancião, que nos ensina, a respeito de Deus, que Ele é U m, o únicoO nipotente, que é o Primeiro e o último; ele nos adverte também para nãoadorarmos os ídolos, mas encará-los somente como imagens representativas devirtudes procedentes de um único Deus, os quais formam juntos seu culto; esteAncião é nosso Anjo, que reverenciamos, e ao qual obedecemos; ele vem a nós,e nos reergue, quando caímos em um tenebroso culto de Deus segundo afantasia concernente às imagens! Depois de ter ouvido estas cousas, salmos dacasa e da cidade; e no caminho, segundo o que tínhamos visto nos Céus,tiramos conclusões sobre o Circulo e a Progressão do Amor Conjugal; sobre ocirculo, que ele tinha passado do O riente ao Sul, e do Sul ao O cidente, e daí aoSetentrião; sobre a Progressão que ele tinha declinado segundo a Circulação, asaber, que no O riente, tinha sido celeste, no Sul, espiritual, no O cidente,

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natural; e no Setentrião, sensual; e também, que ele tinha declinado no mesmograu que o amor e o culto de Deus. Daí foi além disso concluído, que esteAmor na Primeira Idade tinha sido como o O uro, na Segunda como a Prata, naT erceira como o Bronze, e na Q uarta como o Ferro, e que enfim tinha cessado:e então o Anjo, meu guia e meu companheiro, disse: "Entretanto concebo aesperança de que este Amor será ressuscitado pelo Deus do Céus, que é oSenhor, porque ele pode ser ressuscitado.

79 - Q uinto M emorável. O Anjo que tinha sido meu guia e meu companheironas moradas dos Antigos que tinham vivido nos quatro Séculos, do O uro, daPrata, do Bronze e do Ferro, veio de novo e me disse: "Q ueres ver qual foi, equal é ainda, o Século que sucedeu a estes quatro Séculos antigos? Segue-me etu verás. São aqueles sobre quem Daniel profetizou nestes termos: "Elevar-se-áum R eino, depois destes quatro, no qual o Ferro será misturado com a Argiladó oleiro; eles se misturarão por semente de homem, mas não terão coerênciaum com o outro, do mesmo modo que o ferro não se mistura com a argila.(Daniel 11, 41, 42, 43). E ele disse: "Pela semente de homem pela qual o ferroserá misturado com a argila, sem entretanto ter coerência, é entendido o veroda Palavra falsificado". Depois que disse essas palavras, eu o segui; e, nocaminho, ele me contou estas particularidades: "Estes habitam nos confinsentre o Sul e o O cidente, mas a uma grande distância por trás daqueles queviveram nas quatro Idades precedentes, e também a uma maior profundidade".E avançamos pelo Sul para a região que toca o O cidente, e atravessamos umaFloresta medonha; pois havia lá Pântanos de onde Crocodilos elevavam ascabeças, e dirigiam para nós suas vastas goelas armadas de dentes; e, entre ospântanos, havia Cães terríveis, dos quais alguns tinham três cabeças comoCérbero, outros duas cabeças, todos nos olhavam com uma horrível goela eolhos ameaçadores, em quanto passávamos. Entramos no país O cidental destaregião, e vimos Dragões e Leopardos, tais como são descritos no Apocalipse(Cap. XII, 3; X III, 2); e o Anjo me disse: "T odas estas bestas ferozes, quevistes, não são bestas ferozes; mas são correspondências e assim formasrepresentativas das cobiças, em que estão os H abitantes que vamos visitar; ascobiças mesmas são representadas por esses horríveis cães; as suas velhacarias esuas astúcias, pelos crocodilos; as suas falsidades e suas inclinações depravadaspelas cousas que pertencem a seu culto, pelos dragões e pelos leopardos; mas osH abitantes representados aqui moram não imediatamente perto da Floresta,mas além de um grande Deserto, que é intermediário, a fim de que sejamplenamente afastados e separados dos H abitantes das Idades precedentes; poiseles lhes são absolutamente estranhos, ou diferem deles totalmente: eles têm, éverdade, a cabeça acima do peito, o peito acima dos lombos, e os lombos acimados pés, como os homens das primeiras idades, entretanto em sua cabeça nãohá cousa alguma de ouro, em seu peito coisa alguma de prata, em seus lomboscoisa alguma de bronze, e mesmo nos pés cousa alguma do ferro puro; mas emsua cabeça há ferro misturado com argila, em seu peito ferro e argila misturados

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com bronze, em seus lombos ferro e argila misturados com prata, e em seus pésferro e argila misturados com ouro; por esta inversão, de homens forammudadas em esculturas de homens, nas quais não há interiormente cousaalguma coerente; pois o que era o, supremo tornou-se o ínfimo, assim o queera a cabeça tornou-se o calcanhar, e vice-versa; eles nos aparecem do Céusemelhantes a histriões que se põem sobre os cotovelos com o corpo invertido,e andam; ou como bestas que se deitam sobre o dorso e levantam os pés para oar, e com a cabeça, que eles escondem na terra, olham o Céu". Atravessamos afloresta, e entramos no, Deserto, que não era menos assustador; consistia emmontões de pedras, entrecortados de fossos, de onde se lançavam hidras evíboras, e de onde partiam serpentes voadoras; todo este deserto iacontinuamente se abaixando; e nós descemos por uma longa rampa, e enfimnos vimos em um V ale habitado pelo povo desta região e desta idade; haviaaqui e ali cabanas que por fim apareceram aproximadas e juntas formando umacidade; entramos aí e eis que as casas eram construídas de galhos de árvoresqueimados em volta, e ligados com barro; eram cobertos com ardósias negras;as ruas eram irregulares, muito estreitas no começo, mas alargando-se paradiante, e espaçosas no fim, onde havia praças públicas, daí, tantas as ruasquantas as praças públicas. Q uando entramos na cidade, se fez espessa treva,porque o Céu não aparecia; por isso olhamos para cima, e a luz nos foi dada, evimos; e então perguntei aos que encontrava: "Será que podeis ver, visto comoo céu acima de vós não aparece?" E eles responderam: "Q ue pergunta fazes tu?N ós vemos claramente, caminhamos em plena luz". O Anjo, tendo ouvido estaresposta, me disse: "As trevas são para eles a luz, e a luz é para eles a treva; écomo para os pássaros noturnos, pois eles olham para baixo e não para cima.Entramos aqui e ali nas cabanas, e vimos em cada uma um homem com suamulher, e perguntamos se, nesta cidade todos viviam em suas casas com umaúnica esposa; e eles responderam com um assobio: “O que! Com uma únicaesposa; Por que não perguntais se é com uma única cortesã? O que é umaesposa; senão uma cortesã? Segundo nossas leis não nos é permitido viver comvárias mulheres, mas unicamente com uma; entretanto, não é para nós umadesonra, nem uma indecência viver com várias, mas fora de casa; fazemos glóriadisso entre nós; assim gozamos, da licença, e da volúpia que ela produz, maisdo que os polígamos; por que a pluralidade das esposas nos foi recusada,quando entretanto foi concedida, e o é ainda hoje, em todas as regiões do globoem torno de nós? O que é a vida com uma única esposa senão um cativeiro euma prisão? M as nós, aqui, quebramos os ferrolhos desta prisão, e noslibertamos da servidão, e recuperamos nossa liberdade; quem pode se irritarcontra um prisioneiro que se escapa quando pode?". N ós lhe respondemos: "T ufalas amigo, como alguém que não tem religião; há alguém, dotado de algumarazão, que não saiba que os adultérios são profanos e infernais, e que oscasamentos são santos e celestes? N ão estão os adultérios entre os diabos noinferno, e os casamentos entre os Anjos no Céu? N ão leste o sexto preceito do

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Decálogo, e, em Paulo, que os que são adúlteros não podem de maneira algumair para o Céu?" A essas palavras, o nosso hóspede se pôs a rir desbragadamente,e me considerou como um homem simples e quase como um insensato. M asno mesmo instante acorreu um enviado do chefe da cidade e disse: "Leva osdois estrangeiros à praça pública, e se não quiserem ir, arrasta-os para lá nós osvimos na sombra da luz; eles entraram secretamente; são espiões". E o Anjodisse: "Se fomos vistos na sombra é porque a luz do Céu, em que estamos, épara eles a sombra, e a sombra do inferno é para eles a luz; e isso tem lugarporque eles não consideram cousa alguma como pecado, nem mesmo oadultério; e por conseguinte eles vêem o falso absolutamente como vero, e ofalso brilha no inferno diante dos satãs, em quanto que o vero obscurece seusolhos como a sombra da noite". E dissemos ao enviado: "N ão é necessário nosconstranger, e ainda menos nos arrastar à praça pública; mas iremos de bomgrado contigo". E fomos. E eis que havia uma multidão numerosa, dondesaíram alguns legistas, que nos disseram ao ouvido: "G uardai-vos bem de dizeralguma cousa contra a R eligião, a forma de G overno e os bons Costumes". Erespondemos: "N ada diremos contra eles, mas falaremos a favor deles esegundo eles". E fizemos esta pergunta: "Q ual é a vossa R eligião a respeito doCasamento?". A essas palavras a multidão murmurou e disse: "Q ue tendes quefazer aqui com os Casamentos? O s casamentos são casamentos". E fizemos estaoutra pergunta: "Q ual é a vossa R eligião a respeito das Escortações?" Amultidão murmurou ainda dizendo: "Q ue tendes que fazer aqui com asescortações? As escortações são escortações; quem estiver inocente delas queatire a primeira pedra". E fizemos uma terceira pergunta: "A vossa R eligião nãoensina, a respeito dos casamentos, que eles são santos e celestes, e a respeito dosadultérios que eles são profanos e infernais? A estas palavras, alguns da multidãodesataram a rir; zombaram e gracejaram, dizendo: ”Dirigi-vos, para as cousasda religião aos nossos Sacerdotes, e não a nós; nós concordamos plenamentecom tudo que eles nos dizem, porque cousa alguma da religião é da alçada doentendimento; não tendes ouvido dizer que a respeito dos mistérios, de que secompõe toda R eligião, o entendimento desarrazoa? E o que tem as Ações decomum com a R eligião? N ão é murmurando com um coração devoto palavrassobre a expiação, a satisfação e a imputação, que as almas são beatificadas, e nãopelas O bras?" M as então se aproximaram alguns dos pretensos sábios da cidade,e disseram: "R etirai-vos daqui, a multidão se esquenta, o tumulto estáeminente; conversemos a sós sobre este assunto; há um passeio por trás doPalácio, retiremo-nos para lá; vinde conosco". E nós os seguimos. E então nosperguntaram quem nós éramos, e que negócio nos tinha levado ao meio deles.E nós dissemos: "V iemos para ser instruídos a respeito dos Casamentos, seentre vós, como entre os Antigos que viveram nos Séculos de O uro, de Prata ede Bronze, são cousas santas, ou se não o são". E eles responderam: “O que!cousas santas! não são eles obras da carne e da noite?" E nós respondemos:"N ão são eles também obras do espírito? E o que a carne faz segundo o espírito,

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não é espiritual? E tudo que faz o espírito, ele o faz segundo o casamento dobem e do vero; não é esse Casamento espiritual que entra no Casamentonatural, isto é, de um M arido e de uma Esposa?" A isso os pretensos sábiosresponderam: "V ós tratais este assunto com sutileza e demasiada sublimidade,passais acima dos racionais para os espirituais; quem pode começar a uma talelevação, descer de lá e assim tomar alguma decisão? "Depois, zombando,acrescentaram: "T alvez tenhais azas de águia, e podeis voar na suprema regiãodo Céu, e aí fazer tais descobertas? quanto a nós, não o podemos". E então nóslhes pedimos para dizer do alto ou da região em que voavam as idéias aladas desuas mentes, se sabiam ou podiam saber, que existe um Amor Conjugal de umúnico marido com uma única esposa, no qual foram reunidas todas asbeatitudes, todos os prazeres, todos os encantos, e todas as volúpias do Céu; eque este amor vem do Senhor segundo a recepção do bem e do vero procedented'Ele, assim segundo o estado da Igreja". O uvindo estas palavras, eles sedesviaram e disseram: "Estes homens são loucos, entram no éter com seujulgamento, e fazendo vãs conjecturas espalham disputas". Em seguida sevoltaram para nós, e disseram: "R esponderemos diretamente às vossasconjecturas empoladas e aos vossos sonhos". E disseram: “O que é que o Amorconjugal tem de comum com a R eligião e com a inspiração vinda de Deus? Esteamor não está em cada um segundo o estado de sua potência? N ão está eleigualmente nos que estão fora da Igreja, como nos que estão na Igreja; entre osgentios como entre os Cristãos; e mesmos entre os ímpios como entre ospiedosos? A força deste amor não está em cada um segundo o hereditário, ousegundo a saúde, ou segundo a temperança da vida, ou segundo o calor doclima? N ão pode ela também ser aumentada e estimulada por drogas? N ão há amesma cousa nas bestas, sobretudo nos pássaros que se amam por par? N ão éeste amor carnal? O que é que o carnal tem de comum com o estado espiritualda Igreja? Será que este amor, quanto ao último efeito com a esposa, difere namenor cousa do amor quanto a esse efeito com uma cortesã? O prazer não ésemelhante, e a delícia semelhante? É portanto injurioso tirar das cousas santasda Igreja a origem do amor conjugal". Depois de ter ouvido estas palavras, nóslhes dissemos: "V ós raciocinais por um delírio de lascividade, e não pelo amorconjugal; vós não sabeis absolutamente o que é o Amor conjugal, porque esteamor em vós é frio; por vossas palavras, estamos convencidos de que sois doSéculo que é chamado e se compõe de ferro e de argila, os quais não temcoerência, segundo a predição de Daniel, (II, 43); pois fazeis um do Amorconjugal e do amor escortatório; será que os dois têm mais coerência do que oferro e a argila? Acreditam que sois sábios e vos chamam de sábios, entretantovós nada sois menos do que sábios". A estas palavras, arrebatados de cólera, elesgritaram e chamaram a multidão para nos expulsar, mas então, pelo poder quenos foi dado pelo Senhor, nós estendemos as mãos, e eis que serpentesvoadoras, víboras e hidras, e também dragões do deserto, se apresentaram, einvadiram e encheram a cidade, o que lançou o terror entre os habitantes que

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fugiram; e o Anjo me disse: "N esta R egião chegam cada dia recém-vindos daT erra, e de tempos em tempos os que os precederam são relegados eprecipitados nos abismos do O cidente, que de longe aparecem como Pântanosde fogo e de enxofre; todos lá, são adúlteros espirituais, e adúlteros naturais".

80 - Sexto M emorável. Depois que o Anjo pronunciou estas palavras, olheipara a extremidade do O cidente, e eis que apareceram como Pântanos de fogoe enxofre; e lhe perguntei porque os Infernos apareciam assim neste lugar; elerespondeu: "Aparecem como Pântanos pelas falsificações do vero, porque aágua no sentido espiritual é o vero; e aparece como um fogo em torno e dentropelo amor do mal, e como enxofre pelo amor do falso; estes três, o Pântano, oFogo e o Enxofre, são aparências, porque são correspondências dos amoresmaus em que estão os habitantes. T odos, lá, estão encerrados em eternascadeias, e trabalham pelo alimento, a roupa e a cama; quando agem mal, sãoseveramente e miseravelmente punidos". Fiz ainda esta pergunta ao Anjo: "Porque disseste que lá estão adúlteros espirituais e naturais? por que não dissestemalfeitores e ímpios?" Ele respondeu: "Porque todos os que consideram comonada os adultérios, isto é, que acreditam pela confirmação que não são pecados,e assim os cometem de propósito deliberado, são em seus corações malfeitores eímpios; pois o Conjugal humano e a R eligião marcham juntos com o mesmopasso; toda marcha e todo avanço pela R eligião e na R eligião, é também umamarcha e um avanço pelo Conjugal e no Conjugal que é particular e própriodo homem Cristão". T endo lhe perguntado o que é este Conjugal, ele disse: "éo desejo de viver com uma única Esposa, e este desejo está no homem Cristãosegundo a R eligião". Depois fiquei aflito em meu coração porque osCasamentos, que nas Idades Antigas tinham sido santíssimos, tivessem tãohorrivelmente se mudado em adultérios; e o Anjo disse: "Acontece hoje omesmo com a R eligião, pois o Senhor disse que na Consumação do séculohaverá a Abominação da desolação predita em Daniel; e que haverá umaAflição grande, tal como não houve desde o começo do mundo (M ateus X XIV ,15, 21). A Abominação da desolação significa a falsificação e a privação total detodo vero; a Aflição significa o estado da Igreja infestada pelos males e pelosfalsos; e a Consumação do século, a respeito da qual isso é dito, significa oúltimo tempo ou o fim da Igreja; é agora o fim porque não resta mais vero quenão tenha sido, falsificado; e a falsificação do vero é a escortação espiritual, quefaz um com a escortação natural, porque elas são coerentes".

81 - Q uando falávamos destas coisas e estávamos aflitos, apareceu de repenteum grande clarão de luz que me feriu fortemente os olhos; por isso olhei paracima, e eis que todo o Céu acima de nós apareceu luminoso; e lá do O riente aoO cidente em uma longa série se fazia ouvir uma G lorificação; e o Anjo medisse: "Esta G lorificação é a G lorificação do Senhor por causa do Seu Advento;é feita pelos Anjos do Céu O riental e do Céu O cidental". N ão se ouvia do CéuM eridional e do Céu Setentrional senão um doce murmúrio; e como o Anjo

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tinha compreendido tudo, ele me disse primeiro que estas G lorificações e estasCelebrações do Senhor se faziam pela Palavra, porque então elas se fazem peloSenhor, pois o Senhor é a Palavra, isto é, o Divino V ero na Palavra, e ele disse:"Agora eles glorificam e celebram o Senhor em particular por estas palavras queforam ditas pelo Profeta Daniel: "T u viste o ferro misturado com a argila dooleiro; eles se misturarão por semente de homem, mas não terão coerência: enestes dias o Deus dos Céus fará surgir um R eino, que pelos séculos nãoperecerá; este quebrará e consumirá todos estes R einos, ele porém subsistirápelos séculos” (Daniel 11, 43, 44). Depois disso, ouvi como um ruído decanto, e mais adiante, no O riente, vi um clarão de luz mais resplandecente queo primeiro; e perguntei ao Anjo quais eram as palavras desta G lorificação; eledisse que eram estas em Daniel: "V endo eu estava em visões de noite, e eis comas N uvens do Céu como um Filho do H omem que vinha; e a Ele foi dadoDominação e R eino, e todos os povos e nações O servirão; a sua Dominação(será) uma Dominação do século, a qual não passará; e seu R eino, (um R eino)que não, perecerá" (Daniel V II, 13, 14). Além disso, celebravam o Senhor porestas palavras do Apocalipse: "A Jesus Cristo seja a glória e a força; eis que elevem com as N uvens; Ele é o Alfa e o ômega, o Começo, e o Fim, o Primeiro eo último, Q ue É, e Q ue Era, e Q ue V em, o T odo Poderoso. Eu, João, ouviisto do Filho do H omem, do meio de sete candelabros" (Apoc. I, 5, 6, 7, 8, 10,11, 12, 13; X XII, 13) e também segundo M ateus X XIV , 30, 31. Dirigi denovo meus olhos para o Céu O riental, e o lado direito resplandecia de luz, e oesplendor luminoso entrou na Extensão M eridional, e ouvi um som doce; eperguntei ao Anjo qual era, lá o assunto da glorificação do Senhor. Ele disseque eram estas palavras do Apocalipse: "Eu vi um Céu novo e uma T erra nova,e via a Cidade Santa, Jerusalém N ova, descendo de Deus pelo Céu, enfeitadacomo uma N oiva ornada para seu M arido. E o Anjo me falou e disse: V em, eute mostrarei a N oiva, do Cordeiro, a Esposa; e me levou em espírito sobre umaM ontanha grande e elevada, e me mostrou a Cidade, a Santa Jerusalém" (Apoc.XXI, 1, 2, 9, 10). E também estas: "Eu, Jesus, sou a Estrela brilhante e damanhã e o Espírito e a N oiva dizem: V em. E Ele diz: Sim, eu venho breve;Amém !Sim, V em, Senhor Jesus!" (Apoc. X XII, 16, 17, 20). Depois destasglorificações e várias outras, ouviu-se uma comum G lorificação do O riente aoO cidente do Céu, e também do Sul ao Setentrião; e perguntei ao Anjo quaiseram então as palavras; e ele disse que eram estas, tomadas nos Profetas: "A fimde que saiba toda carne, que Eu (sou) Jehovah teu Salvador e teu R edentor"(Isaías X LIX, 26). "Assim disse Jehovah, o R ei de Israel, e seu R edentorJehovah Z ebaoth: Eu, o Primeiro e, Eu o último, e exceto Eu, não há Deus".(Isaías X LIV , 6). "Dir-se-á naquele dia: Eis nosso Deus, Este, que esperávamospara que nos libertasse; Este (é) Jehovah que esperávamos". (Isaías X XV , 9)."U ma vós há do que clama no deserto: Preparai o caminho a Jehovah; eis, oSenhor Jehovah em forte vem; como Pastor seu, rebanho apascentará". (IsaíasX L, 3, 5, 10, 11). "U m M enino nos nasceu, um Filho nos foi dado, e

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chamarão seu N ome: Admirável, Conselheiro, Deus, H erói, Pai da Eternidade,Príncipe da Paz". (Isaías IX, 5). "Eis que dias virão, e suscitarei a David umG erme justo, que reinará R ei, e eis seu N ome: Jehovah nossa Justiça".(Jeremias X XIII, 5, 6; X XXII, 15, 16). "Jehovah Z ebaoth (é) seu N ome, e teuR edentor, o Santo de Israel, Deus de toda a T erra será chamado". (Isaías LIV ,5) . "N aquele dia estará Jehovah como R ei sobre a terra; naquele, dia seráJehovah um, e seu N ome U m". (Isa. X IV , 9). T endo ouvido e compreendidoestas cousas, meu coração pulou, e foi com alegria para casa, e lá voltei doestado de espírito para o estado do corpo, no qual escrevi o que tinha visto eouvido. Agora, a estas cousas eu acrescento que o Amor Conjugal, tal como foientre os Antigos, é ressuscitado pelo Senhor depois de Seu Advento porque esteAmor vem do Senhor Só, e está naqueles que por Ele, por meio da Palavra setornam espirituais.

82 - Depois disso um homem da Plaga setentrional acorreu comimpetuosidade, e me encarou com ar ameaçador e, dirigindo-se a mim com umtom irritado, disse: "N ão és tu o que quer seduzir G M undo, instaurando umaN ova Igreja, que designas com o nome da N ova Jerusalém que deve descer deDeus pelo Céu, e ensinando que o Senhor aos que abraçam as doutrinas dessaIgreja o Amor verdadeiramente conjugal, de que exaltas até ao Céu as delícias ea felicidade? N ão é isso uma invenção; e não a apresentas como um engodo euma isca para atrair para as tuas N ovidades? M as diz-me, em suma, quais sãoesses Doutrinais da nova Igreja, e eu verei se são concordantes oudiscordantes". E eu respondi: "O s Doutrinais da Igreja, que é entendida pelaN ova Jerusalém, são estes: I. H á um único Deus, em Q uem está a DivinaT rindade, e este Deus é o Senhor Jesus Cristo. II. A Fé salvífica é crer n'Ele.III. É preciso fugir dos M ales, porque são do diabo e vem do diabo. IV . Épreciso fazer os Bens, porque são de Deus e vem de Deus. V . O homem devefazer os bens como por si mesmo, mas crer que são feitos pelo Senhor nele epor meio dele". Depois de ter ouvido estes doutrinais, o seu furor se acalmoudurante alguns momentos; mas depois que deliberou um pouco em si mesmo,ele me olhou de novo com ar zangado, dizendo: "Estes cinco Preceitos são osDoutrinais da fé e da caridade da N ova Igreja?" E eu respondi: "Eles o são".Então ele me perguntou com um tom duro: "Como podes demonstrar oPrimeiro, que há um único Deus, em Q uem está a Divina T rindade, e que esseDeus é o Senhor Jesus Cristo?" Eu disse: "Eu o demonstro assim: Deus não éU m e Indivisível? N ão há uma T rindade? Se Deus é U m e Indivisível, não háuma única Pessoa? Se H á uma única Pessoa, a T rindade não está n’Ele? Q ueeste Deus seja o Senhor Jesus Cristo, isso é evidente por estas considerações,que Ele foi concebido de Deus Pai, (Lucas I, 34 e 35), e que assim Ele é Deusquanto à Alma; e por conseguinte, como Ele mesmo o diz, o Pai e Ele são um;(João X, 39); que Ele está no Pai, e o Pai n’Ele, (João X IV , 10, 11); que aqueleque O vê e O conhece, vê e conhece o Pai, (João X IV , 7 e 9); que ninguém vêe não conhece o Pai, senão Ele que está no seio do Pai, (João I, 18); que todas

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as cousas do Pai são d'Ele, (João III, 35; X V I, 15); que Ele é o Caminho, aV erdade e a V ida e que ninguém vem ao Pai senão por Ele, (João X IV , 6),assim por Ele, porque o Pai está n'Ele, e que segundo Paulo, toda a plenitudeda Divindade habita corporal n'Ele, (Col. II, 9); e, além disso, que Ele tem oPoder sobre toda carne, (João X V II, 2); e que Ele tem todo Poder no Céu esobre a T erra, (M at. X XV III, 18); de todas estas passagens resulta que Ele é oDeus do Céu e da T erra". Ele me perguntou em seguida como eu demonstrariao Segundo que a Fé salvífica é de crer n'Ele, Eu disse: "Demonstro-o por estaspalavras do Senhor M esmo: É a vontade do Pai, que quem quer que crê noFilho tenha a vida eterna, (João V I, 40). Deus amou de tal modo o mundo,que seu Filho U nigênito Ele deu, a fim de que quem quer que crê n'Ele nãopereça, mas tenha a vida eterna, (João III, 15, 16). Q uem crê no Filho tem avida eterna, mas quem não crê no Filho não verá a vida, mas a cólera de Deuspermanece sobre ele, (João III, 36) ". Em seguida ele me disse: "Demonstratambém o T erceiro e os seguintes". E eu respondi: "Q ue necessidade há dedemonstrar que é necessário fugir dos males, porque são do diabo e vem doDiabo; e que é necessário fazer os bens, porque são de Deus e vêm de Deus; eque o homem deve fazer os bens como por si mesmo, mas crer que são feitospelo Senhor nele e por meio dele? Q ue essas três Doutrinas sejam veros, é oque confirma toda Escritura Santa desde o começo até ao fim. Q ue outra cousahá, em suma, senão que é preciso fugir dos males fazer os bens, e crer noSenhor Deus? e, além disso, sem estes três Doutrinais, não há R eligião alguma;a R eligião não concerne à vida? [E o que é a vida, se não é fugir aos males efazer os bens? Como o homem pode fazer estes e fugir daqueles, se não forcomo pôr ele mesmo? Se portanto tiras da Igreja estes Doutrinais, tu lhe tiras aEscritura Santa, e tiras também a R eligião; e quando estas coisas são tiradas, aIgreja não é a Igreja". Este homem, tendo ouvido estas explicações se retirou, emeditou; mas foi embora estando sempre indignado.

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Da origem do amor conjugalpelo casamento do bem e da

verdade83 - H á O rigens internas do Amor conjugal, e O rigens externas; as internas sãoem grande número, igualmente as externas; mas a origem íntima ou universalde todas é uma; que esta origem seja o Casamento do bem e do vero, isso serádemonstrado no que vai seguir. Se ninguém deduziu ainda daí a O rigem desteAmor, é porque se ignora que haja alguma união entre o bem e o vero; eignorou-se isso, porque o bem não se apresenta na luz do entendimento, comoo vero, e por conseguinte o seu conhecimento escondeu-se e se furtou àspesquisas; e pois que o bem está assim no número das cousas desconhecidas,ninguém suspeitou um casamento entre ele e o vero; mais ainda, diante da vistaracional-natural o bem se apresenta tão afastado do vero, que não se pode suporentre eles conjunção alguma; que isso seja assim, pode-se ver pela linguagemordinária, quando se faz menção dele; por exemplo, quando se diz: "Isto é umbem", não se pensa absolutamente no vero; e quando se diz: "Isso é um vero",não se pensa absolutamente no bem; é por isso que hoje, muitos acreditam queo vero é absolutamente uma outra cousa, igualmente o bem; e muitos tambémacreditam que o homem é inteligente e sábio e, por conseqüência, homem,segundo os veros que pensa, diz escreve e crê, e não ao mesmo tempo segundoos bens; que entretanto não haja bem sem vero, nem vero sem bem, que assimhaja entre eles um casamento eterno, e que este casamento seja a origem doamor conjugal, é o que vai ser agora exposto; será nesta ordem: I. O Bem e oV ero são os universais da criação, e estão por conseguinte em todas as coisascriadas; mas nos seres criados eles estão segundo a forma de cada um. II. N ãohá Bem solitário, nem V ero solitário, mas por toda parte eles estão conjuntos.III. H á o V ero do bem e, por ele, o Bem do vero, ou o V ero segundo o bem, eo Bem segundo este vero, e nestes dois, por criação, foi inserida uma inclinaçãopara se conjuntarem em um. IV . N os seres do R eino animal o V ero do bem ouo V ero segundo o bem é o M asculino, e por ele o Bem do vero ou o Bemsegundo este vero é o Feminino. V . Do influxo do Casamento do bem e dovero procedendo do Senhor vem o Amor do sexo, e vem o Amor Conjugal. V I.O Amor do sexo pertence ao homem Externo ou natural, e por conseguinte écomum a todo animal. V II. M as o Amor conjugal pertence ao homem internoou espiritual, e em conseqüência é peculiar ao homem. V III. N o homem oAmor conjugal está no amor do sexo, como uma pedra preciosa em sua matriz.IX. O Amor do sexo no homem não é a origem do Amor conjugal, mas é a suaprimeira coisa, assim, é como o Externo natural no qual está implantado o

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Interno espiritual. X . Q uando o Amor conjugal é implantado, o Amor do sexose volta, e torna-se o Amor casto do sexo. X I. O M acho e a Fêmea foramcriados para serem a Forma mesma do Casamento do bem e do vero. X II. Elessão esta Forma nos seus íntimos, e em conseqüência nas cousas que delesderivam, conforme os interiores de sua mente são abertos. Segue agora aexplicação destes Artigos.

84 - I. O Bem e o V ero são os universais da criação e estão por conseguinte, emtodas as coisas criadas; mas nos seres criados estão segundo a forma de cada um.

Q ue o Bem e o V ero sejam os universais da criação, é porque estes dois estãono Senhor Deus Criador; mais ainda, eles são Ele M esmo, pois Ele é o DivinoBem M esmo, e o Divino V ero M esmo; mas isso cai mais claramente napercepção do entendimento, e assim na idéia do pensamento se em lugar doBem se diz o Amor, e em lugar do V ero a Sabedoria; por conseqüência, se sediz que no Senhor Deus Criador há o Divino Amor e a Divina Sabedoria, eque estes dois são Ele M esmo, isto é, que Ele é o Amor M esmo e a SabedoriaM esma; pois estes dois são os mesmos que o Bem e o V ero; e isso, porque oBem pertence ao Amor e o V ero à Sabedoria, pois o Amor se compõe de bens ea Sabedoria de veros. O Amor sendo a mesma cousa que o Bem, e a Sabedoriaa mesma cousa que o V ero, daqui por diante, se dirá ora o Amor e a Sabedoria,e ora o Bem e o V ero, e se entenderá a mesma cousa. Isto é dito aqui em formade preliminar, a fim de que, daqui por diante, quando estas expressões foremempregadas, o entendimento não perceba cousas diferentes.

85 - U ma vez que o Senhor Deus Criador é o Amor M esmo e a SabedoriaM esma, e que por Ele foi criado o U niverso que, por conseqüência é comouma O bra procedente d'Ele, não pode deixar de haver em todas e em cada umadas cousas criadas o Bem e o V ero d'Ele; pois o que é feito por alguém e deleprocede, retêm dele uma semelhança. Q ue isso seja assim, a razão tambémpode vê-lo pela O rdem, em que estão todas e cada uma das coisas do U niversocriado, a saber, que uma cousa existe em vista de uma outra, e que porconseguinte uma cousa depende de uma outra, como os anéis de uma mesmacadeia; pois elas são todas para o G ênero H umano, a fim de que dele sejacomposto o Céu Angélico, pelo qual a Criação retorna ao Criador M esmo deque ela vem, e por esse meio que há conjunção do U niverso criado com seuCriador, e pela conjunção conservação perpétua. Daí vem que o Bem e o V erosejam chamados os U niversais da Criação; que assim seja, é evidente para todohomem que vê este assunto com racionalidade; este vê em cada cousa criado oque se refere ao bem, e o que se refere ao vero.

86 - Q ue o Bem e o V ero nos seres criados estejam segundo a forma de cadaum, é porque todo ser recebe o influxo segundo sua forma; a Conservação detudo não é outra cousa senão o influxo perpétuo do Divino Bem e do DivinoV ero nas formas criadas para eles, pois assim a subsistência ou a conservação éuma perpétua existência ou uma perpétua criação. Q ue todo ser recebe o

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influxo segundo sua forma, isso pode ser ilustrado por diversas cousas; porexemplo, pelo influxo do calor e da luz do Sol nos vegetais de todo gênero; cadavegetal recebe este influxo segundo sua forma; assim, toda árvore segundo asua; todo arbusto segundo a sua, toda planta segundo a sua, toda erva segundoa sua; o influxo é semelhante em todos, mas a recepção, porque é segundo aforma, faz que cada espécie fique espécie particular. A mesma cousa pode aindaser ilustrada pelo influxo nos Animais de todo gênero segundo a forma de cadaum. Q ue o influxo seja segundo a forma de cada cousa, é o que pode vermesmo um homem iletrado, se presta atenção aos diversos instrumentos desom, tais como os assobios, as flautas, as trompas, as trombetas e os órgãos, pelofato deles ressoarem por um mesmo sopro ou influxo do ar segundo suasformas.

87 - II. N ão há Bem solitário, nem V ero solitário, mas por toda parte elesforam conjuntos.

Aquele que quer por algum sentido formar uma idéia do Bem, não o podeconseguir sem acrescentar alguma cousa que o apresente e manifeste; sem isso oBem é um Ser (Ens) que não tem nome; aquilo pelo que ele é apresentado emanifestado se refere ao vero; diz simplesmente o Bem, e não ao mesmo tempotal ou tal cousa com que ele está, ou define-o de uma maneira abstrata ou semalgum adjunto coerente, e tu verás que não é cousa alguma, mas que com oque foi junto, é alguma cousa; e se empregas toda a tua razão, perceberás que oBem sem algum adjunto não é suscetível de denominação alguma, nem porconseqüência de relação alguma, de afeição alguma, nem de estado algum, *emuma palavra, de qualidade alguma. Dá-se o mesmo com o V ero, se é ouvidosem que tenha sido junto a ele alguma cousa; que o que foi junto a ele se refereao bem, a razão purificada pode vê-lo. M as como os Bem são inumeráveis, ecada bem sobe ao seu máximo e desce ao seu mínimo como pelos degraus deuma escada, e mesmo muda de nome segundo sua progressão e, segundo suaqualidade, é difícil a outros que não aos sábios ver a relação do bem e do vero,com os objetos, e sua conjunção nos objetos. Q ue entretanto não haja bem semvero, nem vero sem bem, é o que vê claramente a percepção comum, quandode começo se reconhece que todas e cada uma das cousas do U niverso sereferem ao Bem e ao V ero, como foi mostrado no Artigo precedente, n. 84,85.Q ue não haja bem solitário, nem V ero solitário, isso pode ser ilustrado e aomesmo tempo confirmado por diversas considerações; assim, não há Essênciasem forma, nem Forma sem essência; ora, o bem é a essência ou o ser e o vero éaquilo pelo qual a essência é formada e pelo qual o ser existe. Assim, no homemhá a V ontade e o Entendimento, o Bem pertence à vontade, e o V ero pertenceao entendimento; ora, a vontade só nada faz senão pelo entendimento; e oentendimento só não faz alguma cousa senão pela vontade. Assim, há duasfontes da vida do corpo no homem, o Coração e o Pulmão; o coração não podeproduzir alguma vida sensitiva e motriz sem a respiração, do pulmão, nem o

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pulmão sem o coração; o coração se refere ao bem, e a respiração do pulmão serefere ao vero; há também correspondência. Dá-se o mesmo com todas e cadauma das cousas da mente, e com todas e cada uma das cousas do corpo nohomem; mas produzir mais amplas confirmações, não é aqui o lugar; todavia,pode-se ver este assunto mais plenamente confirmado na Sabedoria Angélicasobre a Divina Providência, n. 3 a 26, onde foi exposto nesta ordem: I . OU niverso com todas e cada uma das cousas que ele contém, foi criado doDivino Amor pela Divina Sabedoria, ou, o que é a mesma cousa, do DivinoBem pelo Divino V ero. II. O Divino Bem e o Divino V ero procedem comoum do Senhor. III. Este um está em uma espécie de imagem em todas as cousascriadas. IV . O Bem não é o bem senão tanto quanto está unido do vero, e oV ero não é vero senão tanto quanto está unido ao bem. V . O Senhor nãosuporta que alguma cousa seja dividida, é por isso que o homem deve estar ouno bem e ao mesmo tempo no vero, ou no mal e ao mesmo tempo no falso;sem falar de várias outras proposições.

88 - III. H á o V ero do bem e, por ele, o Bem do vero, ou o V ero segundo obem e o Bem segundo este vero, e nestes dois, por criação, foi inserida umainclinação para se conjuntarem em um.

É necessário que se adquira sobre este assunto alguma idéia distinta, porquedisso depende o conhecimento concernente à origem essencial do Amorconjugal; pois, como se vê adiante, o V ero do bem ou o V ero segundo o bem éo M asculino, e o Bem do V ero ou o Bem segundo este vero é o Feminino; masisso pode ser compreendido mais distintamente, se em lugar do Bem se disser oAmor, e em lugar do V ero a Sabedoria, o que dá no mesmo, como se vê acima,n. 84. A Sabedoria não pode existir no homem senão pelo amor de se tornarsábio; se este amor é tirado, o homem não pode de modo algum tornar-sesábio; a Sabedoria segundo este amor é entendida pelo V ero do bem ou o V erosegundo o bem; mas quando o homem por este amor adquiriu a sabedoria, e aama em si ou se ama por causa dela, forma então um amor que é o Amor dasabedoria é entendido pelo Bem do vero ou o Bem segundo este vero; háportanto no H omem (V ir) dois Amores, dos quais um, que é anterior, é oAmor de se tornar sábio, e o outro, que é posterior, é o Amor da Sabedoria;mas este Amor, se fica no H omem, é um Amor mau e é chamado fasto ouamor da própria inteligência; que tenha sido provido, por criação, a que esteAmor fosse retirado do homem, de que causaria a perda, e que fosse transferidopara a M ulher, para tornar-se o Amor Conjugal que restabelece o homem naintegridade, é o que será confirmado mais adiante: sobre estes dois Amores, esobre a transferência do segundo para a mulher, veja-se acima algumasexplicações, n. 32, 33; e nos Preliminares, n. 20. Se, portanto, em lugar doAmor é entendido o Bem, e em lugar da Sabedoria o vero, então, segundo oque acaba de ser dito, vê-se que há o V ero do bem ou o vero segundo o bem, epor ele o Bem do vero ou o Bem segundo este vero.

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89 - Q ue nestes dois, por criação, tenha sido inserida uma inclinação para seconjuntar em um, é porque um foi formado do outro, a Sabedoria foi formadado amor de se tornar sábio, ou o vero foi formado do bem, e a Amor dasabedoria foi formado desta sabedoria, ou o bem do vero foi formado destevero; por esta formação pode-se ver que há uma inclinação mútua para seunirem e para se conjuntarem em um. M as isso tem lugar nos H omens queestão na Sabedoria real, e nas M ulheres que estão no Amor desta Sabedoria noM arido, assim naqueles que estão no Amor verdadeiramente conjugal. Q uantoa Sabedoria que deve estar no homem e que deve ser amada pela Esposa, sefalará dela também mais adiante.

90 - IV . N os seres do R eino Animal o V ero do bem, ou o V ero segundo o bemé o M asculino, e por ele o Bem do vero ou o Bem segundo este vero é oFeminino.

Q ue do Senhor Criador e Conservador do U niverso influi uma perpétua U niãodo Amor e da Sabedoria, ou o Casamento do bem e do vero e que os serescriados o recebam cada um segundo sua forma, é o que foi mostrado, ns. 84,85, 86; mas que segundo este Casamento ou esta U nião o M acho recebe oV ero da Sabedoria, e que o Bem do amor lhe seja conjunto pelo Senhorsegundo a recepção, e que esta recepção se faça no entendimento, e que porconseguinte o M acho nasce para se tornar intelectual, a R azão segundo sua luzpode vê-lo, por cousas nele, sobretudo por sua Afeição, sua Aplicação, seusCostumes e sua Forma. Por sua Afeição, pelo fato de ser a afeição de saber, decompreender e de se tornar sábio; a afeição de saber na infância, a afeição decompreender na adolescência e na primeira juventude, e a afeição de se tornarsábio depois desta juventude até à velhice; daí é evidente que sua natureza ouseu caráter se inclina a formar o entendimento, e que por conseqüência elenasce para se tornar intelectual; mas como isso só se pode fazer pelo amor, oSenhor acrescenta-lhe segundo a recepção, isto é, segundo a intenção que eletem de se tornar sábio. Por sua Aplicação, que se dirige para as cousaspertencentes ao entendimento, ou nas quais predomina o entendimento, e dasquais a maior parte se refere às ocupações externas e concernentes aos usos empúblico. Por seus Costumes, que participam todos do predomínio doentendimento; dai vem que os atos de sua vida, que são entendidos peloscostumes, são racionais, e que se não o são, ele quer que o pareçam; aracionalidade masculina é mesmo visível em cada uma de suas virtudes. Pelasua Forma pelo fato de ser diferente e absolutamente distinta da formafeminina; sobre esta forma, veja-se também o que foi dito acima, n. 33. Q ue seacrescente a isto que o prolífico está nele; o prolífico não vem de outra partesenão do entendimento, pois existe pelo vero segundo o bem; que o prolíficovem daí, é o que se verá adiante.

91 - Q ue a M ulher, ao contrário, nasce para ser voluntária, mas voluntária

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segundo o intelectual do homem, ou, o que é a mesma cousa, para ser o amorda sabedoria do homem, porque ela foi formada por esta sabedoria, como acabade ser mostrado, n. 88 e 89, é também o que se pode ver pela Afeição daM ulher, por sua Aplicação, por seus Costumes e por sua Forma. Por suaAfeição, por ser esta a afeição de amar a ciência, a inteligência e a sabedoria,entretanto, não nela mesma, mas no homem, e assim amar o homem; pois ohomem (vir) não pode ser amado por causa da forma só que faz com queapareça como homem (homo), mas é amado por causa da qualidade que estánele, a qual faz que ele seja homem. Por sua Aplicação, por que ela é levadapara as cousas que são obras das mãos, e são chamadas filé, bordados, e diversosoutros nomes, servindo para ornamentos, e a se enfeitar, e a realçar sua beleza;e, além disso, para diversos deveres, chamados domésticos, que se adjuntam aosdeveres dos homens, os quais, como foi dito, são chamados afazeres fora decasa; as mulheres são levadas a estas ocupações pela inclinação ao Casamento, afim de se tornarem esposas, e ser assim um com os maridos. Q ue a mesmacousa se manifesta também pelos Costumes e por sua Forma, vê-se semexplicação.

92 - V . Do influxo do Casamento do bem e do vero procedente do Senhorvem o Amor do sexo, e vem o Amor conjugal.

Q ue o Bem e o V ero sejam os universais da criação, e por conseguinte estejamem todos os seres criados, e que estejam nesses seres segundo a forma de cadaum; e que o Bem e o V ero procedem do Senhor não como dois mas como um,é o que foi mostrado acima, n. 84 e 87; segue-se dai que uma Esfera U niversalConjugal procede do Senhor, e se espalha no U niverso desde seus primeiros atéseus últimos, assim desde os anjos até aos vermes. Q ue uma tal esfera doCasamento do Bem e do V ero procede do Senhor, é porque esta esfera étambém a Esfera de propagação, isto é, de prolificação e de frutificação, e esta éa mesma que a Divina Providência para a conservação do U niverso porgerações sucessivas. O ra, como esta esfera universal, que é a do Casamento doBem e do V ero, influi nos seres segundo a forma de cada um, n. 86, segue-seque o M acho a recebe segundo a sua, assim no Entendimento, porque ele éuma forma intelectual; e que a Fêmea o recebe segundo a sua, assim naV ontade, porque ela é uma forma voluntária segundo o intelectual do homem;e como esta mesma esfera é também a esfera da prolificação, segue-se que daívem o Amor do sexo.

93 - Q ue daí vem também o Amor conjugal, é porque esta Esfera influi naforma da sabedoria nos homens, e também nos Anjos; pois o homem podecrescer em sabedoria, até ao fim de sua vida no M undo, e em seguida durante aeternidade no Céu; e quanto mais cresce em sabedoria, tanto mais éaperfeiçoada a sua forma; e esta forma recebe não o amor do sexo, mas o amorde uma única pessoa do sexo; pois com esta pode ser unido até aos íntimos, nosquais está o Céu com suas felicidades; e esta união pertence ao Amor conjugal.

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94 - V I. O Amor do sexo pertence ao homem externo ou natural, e porconseguinte é comum a todo animal.

T odo homem nasce corporal, e se torna cada vez mais interiormente natural, eà medida que ama a inteligência se torna racional, e em seguida se ama asabedoria se torna Espiritual; o que é a sabedoria pela qual o homem se tornaespiritual, isso será dito depois, n. 130. O ra, à medida que o homem avança daciência para a inteligência, e da inteligência para a sabedoria, sua M entetambém muda Sua forma, pois é cada vez mais aberta, e se conjunta de maisperto com o Céu, e pelo Céu com o Senhor; por conseguinte se torna maisamorosa do vero e mais ligada ao bem da vida. Se portanto, ele se detém noprimeiro passo em sua marcha para a sabedoria, a forma de sua M entepermanece natural, e não recebe o influxo da Esfera universal, que é o doCasamento do bem e do vero, senão como o recebem os seres inferiores doR eino animal, que são chamados bestas e pássaros; e como estes animais sãopuramente naturais, este homem torna-se semelhante a eles, e por conseqüênciaama o sexo da mesma maneira que eles. É assim que é entendido que o amordo sexo pertence ao homem externo ou natural, e que por conseguinte écomum a todo animal.

95 - V II. M as o Amor Conjugal pertence ao homem Interno ou espiritual, epor conseguinte, é peculiar ao homem.

Q ue o Amor conjugal pertence ao homem Interno ou espiritual, é porquequanto mais o homem se torna inteligente e sábio, mais se torna interno ouespiritual e mais é aperfeiçoada a forma de sua mente, e esta forma recebe oamor conjugal; pois ele percebe e sente neste amor o prazer espiritual, que éinteriormente beatificado, e por este prazer o prazer natural, que dele tira suaalma, sua vida e sua essência.

96 - Se o Amor conjugal é peculiar ao homem, é porque só o homem pode setornar espiritual, pois ele pode elevar seu entendimento acima de seus amoresnaturais, e desta elevação os ver abaixo dele, e os julgar tais como são, etambém emendá-los, corrigi-los e repeli-los; nem um animal pode fazer isso,pois os amores do animal foram absolutamente unidos com sua ciência inata(conata); é por isso que, esta ciência não pode ser elevada à inteligência, nemcom mais forte razão à sabedoria; o animal é portanto conduzido pelo amor desua ciência, inserida nele, como um cego é conduzido nas ruas por um cão.Está aí a causa porque o Amor conjugal é peculiar ao homem; pode também serchamado nativo e irmão gêmeo do homem (nativus e germanus), porque nohomem há a faculdade de se tornar sábio, com a qual este amor faz um.

97 - V III. N o homem o Amor conjugal está no Amor do uso como uma pedrapreciosa em sua matriz.

Isto sendo unicamente uma comparação será explicado no Artigo seguinte, poresta comparação também é ilustrado que o Amor do sexo pertence ao homem

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Externo ou natural, e o Amor conjugal ao homem Interno ou espiritual, e issoacaba de ser mostrado, n. 95.

98 - IX. O Amor do sexo no homem não é a origem do Amor conjugal, mas éa primeira coisa dele, assim é como o externo no qual está implantado o internoespiritual.

T rata-se aqui do Amor verdadeiramente conjugal, e não deste Amor vulgar,que é também chamado conjugal, e que em alguns nada mais é que o Amorlimitado do sexo; mas o Amor verdadeiramente conjugal está unicamentenaqueles que desejam a sabedoria, e que por conseguinte, progridem cada vezmais na sabedoria; o Senhor os vê de antemão, e provê para eles o Amorconjugal, este amor, é verdade, começa neles segundo o amor do sexo, ou antespor este amor, mas não obstante não é dele que nasce; pois nasce à medida quea sabedoria avança e entra na luz no homem, pois a sabedoria e este amor sãocompanheiros inseparáveis. Se o amor conjugal começa pelo amor do sexo, éporque antes que uma companheira seja encontrada, o sexo em geral é amado eolhado com olhar amoroso; e é tratado com civilidade e honestidade; pois ojovem tem sua escolha a fazer; e então, pela inclinação inserida nele para ocasamento com uma única do sexo, inclinação escondida no íntimo do seumental, o seu externo é agradavelmente aquecido; e como as determinações aocasamento são diferidas por várias causas até a uma idade mais madura, duranteesse tempo o começo deste amor é como um desejo libidinoso, que em algunscai de fato no amor do sexo, mas não obstante neles o seu freio não é afrouxadoalém do que é vantajoso para a saúde. T odavia, isto é dito do Sexo masculinoporque este sexo tem instigações que realmente abrasam, mas não o Sexofeminino. Por estas explicações é evidente que o Amor do sexo não é a origemdo Amor verdadeiramente conjugal, mas que é o primeiro pelo tempo e nãopelo fim; pois o que é o primeiro pelo fim, é o primeiro na mente e na intuiçãoda mente, porque é o principal; mas não se chega a este primeiro senãosucessivamente pelos médios; estes não são primeiros em si mesmos, masunicamente conduzem ao que é primeiro em si mesmo.

99 - X . Q uando o Amor conjugal foi implantado, o Amor do sexo, se volta, etorna-se o Amor casto do sexo.

Diz-se que o Amor do sexo se volta, porque, quando o Amor conjugal vem àsua origem, que está nos interiores do mental, ele vê o Amor do sexo, nãodiante dele, mas atrás dele; ou melhor, não acima dele, mas abaixo dele, e assimcomo alguma cousa que deixou de passagem. Semelhantemente como acontecequando alguém se eleva de um emprego para outros empregos até a umadignidade sobreeminente, e que em seguida olha para trás ou para baixo dele osempregos pelos quais passou; ou, quando alguém que se aproxima da corte deum rei, dirige, depois da chegada, seus olhos para os objetos que viu nocaminho. Q ue o Amor do sexo fique e então se torne casto, e entretanto maisdelicioso do que antes para os que estão no Amor verdadeiramente conjugal,

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pode-se vê-lo nos dois M emoráveis, ns. 44 e 45, pela sua descrição por aquelesque estão no M undo espiritual.

100 - X I. O M acho e a Fêmea foram criados para ser a Forma mesma doCasamento do bem e do vero.

É porque o M acho foi criado para ser o Entendimento do vero, assim o V eroem uma forma, e a Fêmea foi criada para ser a V ontade do bem, assim o Bemem uma forma, e em um e outro foi implantado, pelos íntimos, uma inclinaçãoa se conjuntarem em um, veja-se o n. 88; assim os dois fazem uma únicaforma, que imita a Forma conjugal do bem e do vero. Diz-se que imita, porquenão é a mesma, mas é semelhante a ela; pois o Bem que se conjunta com oV ero no homem vem imediatamente do Senhor, mas o Bem da esposa que seconjunta com o V ero no homem vem mediatamente do Senhor pela esposa épor isso que há dois Bens, um interno, o outro externo, que se conjuntam como V ero no marido; e fazem com que o marido esteja constantemente noentendimento do vero, e por conseguinte na sabedoria pelo Amorverdadeiramente conjugal; mas adiante se dirá mais sobre este assunto.

101 - X II. O s dois Esposos são: esta forma nos seus íntimos, e por conseguintenas causas que daí derivam, conforme os interiores da sua mente foram abertos.

H á três cousas nas quais consiste todo homem, e que se seguem em ordemnele, a Alma, a M ente e o Corpo; seu íntimo é a Alma, seu médio é a M ente, eseu último é o Corpo; tudo o que influi do Senhor no homem influi em seuíntimo que é a Alma, e desce daí em seu médio, que é a M ente, e por esta noseu último, que é o Corpo; o Casamento do Bem e do vero influi assim doSenhor no homem, imediatamente em sua alma, e daí passa para as coisas quedaí derivam, e por estas para os extremos; e assim conjuntas todas as cousasconstituem o Amor Conjugal; segundo a idéia deste influxo, é evidente que osdois Esposos são esta forma em seus íntimos, e por conseguinte nas coisas quedeles derivam.

102 - M as que os Esposos se tornem essa forma conforme os interiores de suamente foram abertos, é porque a M ente é sucessivamente aberta desde ainfância até a velhice mais avançada; pois o homem nasce corporal, e à medidaque a M ente é aberta de mais perto acima do Corporal ele se torna racional; edo mesmo modo porque este racional é purificado e como que decantado dasilusões que influem de seus corpos, e das cobiças das seduções da carne, domesmo modo é aberto o R acional, e isso se faz unicamente pela sabedoria, equando os interiores da mente racional foram abertos, então o homem se tornauma forma da sabedoria, e esta forma é o receptáculo do amor verdadeiramenteconjugal. A Sabedoria que constitui esta forma, e recebe este amor, é umasabedoria racional e ao mesmo tempo uma sabedoria moral; a sabedoriaracional considera os veros e os bens que aparecem interiormente no homem,não como seus, mas como influindo do Senhor; e a sabedoria moral foge dos

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males e dos falsos como da lepra, sobretudo as lascividades, que maculam seuamor conjugal.

103 - Ao que precede acrescentarei dois M emoráveis. Primeiro M emorável:U ma manhã, antes do nascer do sol, dirigi o olhar para o O riente no M undoespiritual, e vi quatro Cavaleiros sair, como se voassem, de uma nuvembrilhante pela chama da aurora; sobre as cabeças dos cavaleiros havia capacetescom penachos, nos braços como que asas, e em torno do corpo túnicas levescor de laranja; assim vestidos como para uma pronta corrida, eles se levantavame deixavam agitar as rédeas sobre as crinas dos cavalos, que assim corriam comose tivessem azas nos pés: segui com a vista a sua corrida ou seu vôo na intençãode saber onde iam; e eis que três Cavaleiros tomaram a direção de três plagas, asaber, o Sul, o O cidente e o Setentrião; e o quarto, depois de uma curtadistância ao O riente, se deteve. Admirado disso, olhei para o Céu, e pergunteionde iam esses Cavaleiros, e recebi esta resposta: "Para os sábios dos R einos daEuropa, que gozam de uma razão sã e de uma grande penetração no exame dascousas, e tiveram entre os seus uma reputação de gênio, a fim de que venham edesenvolvam o segredo concernente à O rigem do Amor Conjugal, e suaV irtude ou Força''. E me disseram do Céu: "Espera um pouco, e verás vinte esete Carros, dos quais três ocupados por Espanhóis, três por Franceses ouG auleses, três por italianos, três por G ermanos ou Alemães, três por Batavos ouH olandeses, três por Ingleses, três por Suecos, três por Dinamarqueses e trêspor Poloneses". E então, depois de uma meia hora, estes Carros foram vistospuxados por cavalos baios novos elegantemente ajaezados, e se dirigiam comuma grande velocidade para uma Casa espaçosa que se via nos limites doO riente e do Sul; chegados perto desta casa, todos os que estavam nos carrosdesceram, e entraram com ar resoluto. E então, me foi dito: "V ai e entratambém; e ouvirás". Fui e entrei; e examinando a casa por dentro, vi que eraquadrada; seus lados davam para as quatro Plagas; de cada lado, três altasjanelas com vidraças de cristal, seus Caixilhos em madeira de oliveira; de cadalado dos caixilhos, Prolongamentos de paredes formando como que câmarasabobadadas em cima, nas quais havia M esas; as suas Paredes eram de cedro, oT eto de uma bela madeira odorífera, o Soalho em tacos de choupo; a paredeoriental, onde não se via janelas, estava colocada uma M esa recoberta de ouro,sobre a qual havia uma T iara toda coberta de pedras preciosas, que devia serdada como prêmio ou recompensa àquele que descobrisse por sua investigaçãoo Segredo que ia ser proposto. Q uando dirigi o olhar para essesProlongamentos em forma de câmaras, que eram como G abinetes perto dejanelas, vi em cada um cinco H omens de cada R eino da Europa, que, todospreparados, esperavam o Assunto que ia ser submetido ao seu julgamento.Então se apresentou imediatamente um Anjo no meio do Palácio, e disse: “Oassunto submetido ao vosso julgamento será este: Da O rigem do AmorConjugal, e de sua V irtude ou Força; examinai-o, e decidi; escrevei a decisãosobre um papel, metei-o na U rna de prata que vedes colocada perto da M esa de

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ouro, e dai-lhe por assinatura a letra inicial do R eino de onde sois; assim um Fpara os Franceses ou G auleses, um B para os Batavos ou H olandeses, um I paraos Italianos, um A para os Ingleses (Anglais, em francês), um P para osPoloneses, um G para os G ermanos ou Alemães, um H para os Espanhóis(H ispani), um D para os Dinamarqueses, e um S para os Suecos". Depois deter pronunciado estas palavras o Anjo se retirou, dizendo: "Eu voltarei". Eentão os cinco H omens nativos do mesmo país, em cada G abinete perto dasjanelas, examinaram a proposição, agitaram-na sob todas as faces; e segundo aexcelência das qualidades de seu julgamento, tomaram uma decisão, aescreveram sobre um boletim tendo por assinatura a letra inicial, de seu R eino,e o puseram na U rna de prata. Isso tendo terminado no espaço de três horas, oAnjo voltou, e tirou da U rna os boletins um após outro, e os leu diante daAssembléia.

104 - Então sobre o Primeiro Papel que sua mão tomou ao acaso, leu isto:"N ós cinco, nativos do mesmo país, decidimos em nosso G abinete, que o AmorConjugal tira sua O rigem dos Antiqüíssimos do Século de O uro, e que entreeles provinha da criação de Adão e de sua Esposa; daí vem a O rigem doscasamentos, e com os casamentos a O rigem do Amor Conjugal. Q uanto ao queconcerne à V irtude ou Força do Amor conjugal, não a derivamos de outra parteque não seja do clima ou da região do sol, e do calor que ele espalha sobre asterras; encaramos este assunto não segundo vãs invenções da razão, massegundo índices evidentes da experiência; por exemplo, pelos Povos sob a linhaou círculo equinocial, onde o Calor do dia é como um braseiro; e pelos povosque estão perto deste Circulo, e os povos que estão mais afastados; e tambémpela cooperação do calor solar com o calor vital nos animais da terra e nospássaros do céu na estação da primavera durante a prolificação; além disso, oque é o Amor conjugal, senão um Calor que se torna V irtude ou Força, se ocalor subsidiário o Sol se junta a ele?" Esta decisão trazia em baixo a letra H ,inicial do R eino de onde eles eram.

105 - Depois disso, ele pôs uma Segunda vez a mão na urna, e tirou um Papel,onde se lia isto: "N ós, nativos do mesmo pais, concordamos, em nossa Câmara,que a O rigem do Amor conjugal é a mesma que a origem das Casamentos, queforam sancionados pelas leis a fim de refrear as cobiças inatas dos homens pelosadultérios, os quais perdem inteiramente as almas, maculam as razões da mente,corrompem os costumes, e infectam os corpos de moléstias; pois os adultériossão atos, não humanos mas de natureza bestial, não racionais mas brutais, eassim de modo algum cristãos mas bárbaros; é a condenação de tais atos, quefez a origem dos Casamentos e ao mesmo tempo do Amor Conjugal. Dá-se omesmo com a virtude ou Força deste Amor; ela depende da castidade, queconsiste em abster-se de escortações; e isso, porque a V irtude ou Força naqueleque ama só a sua Esposa; é reservada a uma só, e é assim reunida e como queconcentrada; e então se torna nobre como Q uintessência isenta de máculas; de

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outro modo, seria dispersada e lançada de um lado e de outro. U m dos nossoscinco, que é sacerdote, acrescentou também a Predestinação como uma causadesta virtude ou Força dizendo: O s Casamentos não são predestinados? E vistoque o são, as Prolificações que deles provêem, e as Eficácias para estasprolificações, não são também predestinadas? Ele insistiu para que seacrescentasse esta causa, porque afirmou com juramento a predestinação". Estadecisão trazia em baixo a letra B. Alguém, ouvindo isso, disse sorrindo: “APredestinação! Ó que bela apologia da fraqueza ou da impotência!”

106 - Depois, pela T erceira vez, ele tirou da urna um papel sobre o qual leu:"N ós, nativos do mesmo país, examinamos em nossa Célula as causas daorigem do Amor conjugal, e vimos que a causa principal é a mesma da origemdo Casamento, porque este Amor não teve existência antes; e o fundamento desua existência, é que, quando alguém ama apaixonadamente uma donzela, quercom a alma e o coração possuí-la como uma propriedade digna de ser amadaacima de todas as cousas; e que, desde que ela se torna sua noiva, ele aconsidera como uma outra ele mesmo: que esteja aí a origem do amor conjugal,isso é evidente pelo furor de cada homem contra seus rivais, e pelo ciúmecontra os escortadores. Examinamos em seguida a origem da virtude ou forçadeste amor, e três contra dois decidiram que a virtude ou força com a esposavem de alguma licença com o sexo; disseram saber por experiência, que a forçado amor do sexo ultrapassa a força do Amor conjugal". H avia em baixo a letraI. Desde que se ouviu isto, exclamaram das M esas: "R ejeitai esse papel, e tiraida urna um outro boletim".

107 - E no mesmo instante ele tirou um Q uarto, sobre o qual leu isto: "N ós,nativos do mesmo país, sob a nossa Janela decidimos que a origem do Amorconjugal e do amor do sexo é a mesma, porque aquele vem deste; que somenteo amor de sexo é ilimitado, indeterminado, dissoluto, indistinto e mutável,enquanto que o Amor conjugal é limitado, determinado, fixo, regular econstante; e que este amor foi, por isto, sancionado e estabelecido pelaprudência da sabedoria humana; pois de outro modo não haveria nem império,nem reino, nem república, nem mesmo uma sociedade, mas os homensandariam errantes por bandos nos campos e nas florestas com prostitutas emulheres raptadas, e fugiriam de refúgio em refúgio para evitar carnificinassangrentas, violências e rapinas pelas quais todo o gênero humano correria parasua destruição; é esse o nosso julgamento sobre a origem do Amor conjugal.Q uanto a virtude ou força conjugal, nós a deduzimos da saúde do corpocontinuamente persistente desde o nascimento até à velhice; pois o homemdotado de boa constituição e gozando de uma saúde vigorosa nada perde de suaforça; suas fibras, seus nervos, seus músculos não se entorpecem, maspermanecem no vigor de suas forças; passem bem". H avia em baixo a letra A.

108 - N a Q uinta vez ele tirou da urna um papel, sobre o qual leu isto: "N ós,nativos do mesmo país, junto de nossa M esa, examinamos segundo a

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racionalidade de nosso mental a origem do Amor conjugal e a origem de suavirtude ou força; e, depois de ter considerado as razões em todos os sentidos,vimos e confirmamos, que a origem do Amor conjugal não é outra senão esta:T odo homem, por excitamento e móveis escondidos no lugar mais secreto desua mente e de seu corpo, após diversas cobiças de seus olhos, dirige enfim suaatenção e sua inclinação para uma única mulher do sexo, a ponto de arderinteiramente por ela; desde esse momento seu calor se inflama cada vez mais,até tornar-se um incêndio; nesse estado o desejo libidinoso do sexo é expulso, eo amor conjugal toma seu lugar: o jovem noivo nesse incêndio não sabe outracousa, senão que a virtude ou força desse amor jamais cessará, pois falta-lheexperiência, e por conseqüência conhecimento, concernente ao estado deenfraquecimento das forças, e também do esfriamento do amor após as delícias;a origem do Amor conjugal vem portanto deste primeiro ardor anterior àsnúpcias; e deste ardor vem sua virtude ou força mas, depois das núpcias, estavirtude ou força muda suas chamas, depois também diminui e aumenta, mascontinua sempre com mudanças regulares, ou com diminuição e aumento, atéà velhice, por meio da moderação que dita a prudência, e da repressão dosdesejos libidinosos que se lançam dos esconderijos ainda não limpos da mente;pois o desejo libidinoso marcha antes da sabedoria; é o nosso julgamento sobrea origem e sobre a continuação da virtude ou força conjugal". Em baixo a letraP.

109 - N a Sexta vez ele tirou um papel sobre o qual leu isto: "N ós, nativos domesmo país, em nossa R eunião, examinamos em todos os sentidos as causas deorigem do Amor conjugal, e chegamos ao acordo sobre duas causas, das quaisuma é a boa educação das crianças, e outra é a posse distinta das heranças; nósnos decidimos por estas duas, porque elas tendem e visam ao mesmo fim, que éo Bem público; e este fim é atingido, porque as crianças, concebidas e nascidasde um amor conjugal, são propriamente e verdadeiramente filhos de doisesposos, e pelo amor da prole, exaltado pela consideração de sua origemlegítima, eles são criados como herdeiros de todas as posses tanto espirituaiscomo naturais de seus pais; que o Bem público seja fundado sobre a boaeducação dos filhos e sobre a posse distinta das heranças, é o que vê a razão. H áo Amor do sexo, e há o Amor conjugal, este parece ser um com aquele, mas édistintamente diferente; eles não estão também um perto do outro, mas umestá dentro do outro, e o que está dentro é mais nobre do que o que está porfora; e nós vemos que o Amor conjugal por criação está por dentro, e estáescondido no amor do sexo, absolutamente como uma amêndoa dentro de suacasca; é por isso que, quando o Amor conjugal é tirado de sua casca, que é oamor do sexo, ele brilha diante dos Anjos como uma pedra preciosa, um Beriloe um Astróite; isto acontece, porque no Amor conjugal foi inscrita a Salvaçãode todo G ênero H umano, salvação que entendemos, pelo Bem público; é esse onosso julgamento sobre a origem deste Amor. Q uanto à origem de sua V irtudeou Força, depois de ter examinado suas causas, concluímos que é o

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desenvolvimento e a separação do Amor conjugal do amor do sexo, o que éfeito pela sabedoria da parte do marido, e pelo amor da sabedoria do marido daparte da esposa; com efeito, o amor do sexo é comum ao homem e as bestas,mas o Amor conjugal é peculiar aos homens; é por isso que, quanto mais oAmor conjugal é desenvolvido e separado do amor do sexo, tanto mais ohomem é homem, e não uma besta; e o homem adquire a virtude ou Força,segundo seu amor, e a besta pelo seu". Em baixo estava a letra G .

110 - N a Sétima vez ele tirou um papel no qual leu isto: N ós, nativos domesmo país, na Câmara sob a luz de nossa janela, alegramos os nossospensamentos e por conseguinte os nossos julgamentos por uma meditação sobreo Amor conjugal; quem é que não se alegra com isso? Pois quando este amorestá na mente, está ao mesmo tempo em todo o corpo. N ós julgamos daO rigem deste amor pelos seus prazeres; quem é que conhece ou jamaisconheceu o traço de algum amor, se não for pelo prazer e a volúpia que ele dá?O s prazeres do Amor conjugal, em suas origens, são sentidos como beatitudessatisfações e felicidades; depois, em suas derivações, como encantos e volúpias;e, nos últimos, como delícia das delícias. H á portanto origem do amor do sexo,quando os interiores da mente, e por conseguinte os interiores do corpo, sãoabertos pelo influxo destes prazeres; mas havia origem do Amor conjugal,quando por causa dos esponsais a esfera primitiva deste amor apresentava porantecipação na idéia estes prazeres. Q uanto ao que concerne à V irtude ouForça, deste amor, ela vem de que este amor com sua veia passa da mente aocorpo; pois a mente, pela cabeça, está no corpo quando sente e age, sobretudoquando goza as delícias deste amor, nós, por isso, julgamos dos graus de suaForça, e das constâncias de suas alternativas. Além disso, deduzimos também daraça a V irtude da Força, se é nobre no pai, ela se torna nobre também portransmissão (per traducem) nos descendentes; que esta nobreza seja transmitidapor geração, hereditariedade e sucessão, é o que está de acordo com a razãoapoiada pela experiência". Em baixo a letra F.

111 - N a O itava vez, saiu um papel sobre o qual ele leu isto: "N ós, nativos domesmo país, em nossa R eunião, não achamos a origem mesma do Amorconjugal, porque está inteiramente escondida nos santuários da mente; a maisconsumada sabedoria não pode mesmo por algum raio do entendimento atingireste amor em sua origem; formamos muitas conjecturas, mas depois de ter emvão discutido sutilezas, não sabemos se fizemos as nossas conjecturas sobrequimeras ou sobre cousas judiciosas: aquele portanto que quer tirar dossantuários da mente a origem deste amor, e a pôr diante de si, que vá a Delfos.N ós contemplamos este amor abaixo de sua origem, e vimos que ele é espiritualnas mentes, e que aí é como a fonte de uma veia doce, e corre daí para o peito,onde se torna delicioso, e é chamado amor peitoral, o qual, considerado em simesmo, é cheio de amizade e cheio de confiança, por causa de sua plenainclinação à mutualidade; e que, quando passa além do peito, torna-se um

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amor de prazeres. Estas cousas e outras semelhantes, quando um mancebo asrola em seu pensamento, o que ele faz quando deseja ardentemente para si umapessoa do sexo, acendem em seu coração o fogo do amor conjugal; este fogo,porque é o fogo primitivo deste amor, é a sua origem. Q uanto à origem de suaV irtude ou força, não conhecemos outra que não seja este amor mesmo, poiseste amor e sua força, são companheiros inseparáveis, mas, entretanto de talmodo que ora é um que precede e ora é o outro; quando o amor precede e avirtude ou força, o segue, um e outro é nobre, porque a força, então é a virtudedo amor conjugal; mas se a força, precede e o amor segue, então um e outrosão ignóbeis, porque o amor então pertence à força, carnal; nós portanto,julgamos da qualidade de um e de outro, pela ordem na qual o amor desce ousobe, e assim avança de sua origem para seu objetivo". Em baixo estava a letraD.

112 - Em último lugar, ou na N ona vez, ele tomou o papel sobre o qual leuisto: "N ós, nativos do mesmo país, em nosso Comitê, exercemos nossojulgamento sobre os dois assuntos propostos, a saber, sobre a O rigem do Amorconjugal, e sobre a O rigem de sua virtude ou força. Q uando discutimos ascousas sutis que concernem à origem do amor conjugal, para evitar obscuridadenos raciocínios, distinguimos o amor do sexo em espiritual, natural e carnal;pelo amor espiritual do sexo entendemos o Amor verdadeiramente conjugal,porque este amor é espiritual; pelo amor natural do sexo entendemos o amorpoligâmico, porque este é natural; e pelo amor inteiramente carnal do sexoentendemos o amor escortatório, porque este é inteiramente carnal. Q uandoexaminamos com o nosso julgamento o amor verdadeiramente conjugal, vimosclaramente que este amor existe entre um único homem e uma única mulher, eque por criação ele é celeste, íntimo, além disso é também a alma e o pai detodos os bons amores, tendo sido inspirado a nossos Primeiros Pais, e podendoser inspirado aos Cristãos; ele é de tal modo conjuntivo, que por ele duas M en-tes podem tornar-se uma única M ente, e dois H omens (H omines), (a saber,um homem e uma mulher) podem tornar-se como um único H omem (H omo),o que é entendido por tornar-se uma única Carne. Q ue por criação este Amortenha sido inspirado, isso é evidente por estas palavras no Livro da Criação: E ohomem deixará seu pai e sua mãe e se ligará a sua esposa, e eles serão uma só

Carne. (G en. 11, 24). Q ue ele possa ser inspirado aos Cristãos, vê seclaramente por estas palavras: "Jesus disse: N ão lestes que Aquele que (os fez)no começo macho e fêmea os fez, e disse: Por causa disso o homem deixará seupai e sua mãe, e se ligará à sua esposa, e os dois estarão em uma só carne; porisso não são mais dois, mas uma só "Carne". (M ar. X IX, 4, 5, 6). Eis o queconcerne à origem do amor conjugal. Q uanto à origem da V irtude ou força doamor verdadeiramente conjugal, nós presumimos que ela vem da semelhançadas mentes, e da unanimidade; pois quando duas mentes são conjugalmenteconjuntos, seus pensamentos então se dão um ao outro espiritualmente beijos,

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e estes inspiram ao corpo a sua virtude e força''. Em baixo a letra S.

113 - Por trás de uma Separação oblonga no Palácio, elevada diante das portas,se mantinham de pé estrangeiros da África, que gritaram aos nativos da Europa:"Permiti que algum de nós

exponha também seu sentimento sobre a O rigem do Amor Conjugal, e sobresua V irtude ou força''. E todas as M esas fizeram sinal com as mãos que isso erapermitido; e então um deles entrou e se colocou perto da M esa sobre a qualtinha sido posta a T iara; e disse: "V ós, Cristãos, deduzis do Amor mesmo aorigem do Amor Conjugal; mas nós, Africanos, nós a deduzimos do Deus doCéu e da T erra; não é o Amor Conjugal um Amor casto, puro e santo? N ãoestão os Anjos do Céu nesse Amor? O G ênero H umano, inteiro, e porconseguinte o Céu Angélico, inteiro, não são a Semente deste Amor? U macousa tão sobreeminente pode tirar sua existência de outra parte que N ão sejade Deus M esmo, Criador e Conservador do U niverso? V ós, Cristãos deduzis aV irtude ou força conjugal de diversas causas racionais e naturais; mas nós,Africanos, a deduzimos do estado de conjunção do homem com o Deus doU niverso; este estado, nós o chamamos o estado da R eligião; mas vós o chamaiso estado da Igreja; portanto, desde que o Amor vem deste estado, e é estável eperpétuo, não pode deixar de operar sua virtude, que é semelhante a ele, e porconseqüência, do mesmo modo estável e perpétuo. O Amor verdadeiramenteconjugal só é conhecido de um pequeno número de pessoas, que estãopróximas de Deus, e por conseguinte a força deste amor não é conhecida dosoutros; esta força com este amor, é descrito pelos Anjos nos Céus como adelícia de uma primavera perpétua.

114 - Q uando eles pronunciaram estas palavras, todos se levantaram; e eis quepor trás da M esa de ouro, sobre a qual estava a T iara, apareceu uma Janela queantes não tinha sido vista, e através da janela foi ouvida uma voz: "A T iara serápara o Africano". E o Anjo lha pôs na mão, mas não sobre a cabeça; e ele se foicom a tiara para sua casa; e os habitantes dos R einos da Europa tendo saldo,subiram para seus Carros, e voltaram para suas sociedades respectivas.

115 - Segundo M emorável: T endo sido despertado de meu sono no meio danoite, vi a uma certa altura para o O riente um Anjo tendo na mão direita umPapel que, pela luz do Sol, aparecia de uma brancura resplandecente; havia nomeio uma Escritura em letras de ouro; e eu vi escrito: Casamento do Bem e doV ero; da Escritura sala um esplendor que formava um grande círculo em tornodo Papel; este círculo ou contorno apareceu em seguida como aparece a aurorana estação da primavera. Depois disso, vi o Anjo descer com o Papel na M ão, ea medida que descia, o Papel aparecia cada vez menos brilhante, e estaEscritura, a saber: Casamento do Bem e do V ero, aparecia mudada da cor deouro para cor de prata, em seguida para cor de bronze, depois para cor de ferro,enfim para cor de ferrugem de ferro e ferrugem de bronze; e enfim vi o Anjoentrar em uma N uvem obscura, e chegar através da N uvem sobre a T erra; e aí

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embora esse Papel ainda estivesse na mão do Anjo, eu não o vi; isso se passavano M undo dos espíritos, no qual chegam primeiro todos os homens depois damorte; e então o Anjo me falou dizendo: "Pergunta aos que vêm aqui, se mevêem, ou se vêem alguma cousa na minha mão": V eio uma multidão deespíritos, uns do oriente outros do sul, outros do ocidente, outros do setentrião,e perguntei aos que vinham do O riente e do Sul, eram os que no M undo setinham dedicado à erudição, se viam alguém perto de mim, e se viam algumacousa em sua mão; todos disseram que não viam cousa alguma absolutamente;em seguida fiz a mesma pergunta aos que vinham do O cidente e do Setentrião,eram os que no M undo tinham acreditado nas palavras dos eruditos, disseramque também nada viam; entretanto os últimos dentre eles, que no mundotinham estado na fé simples pela caridade, ou em algum vero pelo bem, depoisque os primeiros se retiraram, disseram que viam um H omem com um Papel,o H omem vestido elegantemente, e o Papel com letras traçadas em cima; equando aproximaram os olhos, disseram que liam Casamento do Bem e doV ero; e se dirigiram ao Anjo, pedindo-lhe para dizer o que isso significava; e eledisse: "T odas as cousas que existem no Céu inteiro, e todas as que existem noM undo inteiro, não são mais que o Casamento do bem e do vero, porque todase cada uma delas, tanto as que vivem e são animadas, como as que não vivem enão são animadas foram criadas do Casamento do bem e do vero e por esteCasamento; não existe cousa alguma criada pelo V ero só, nem pelo Bem só, obem só ou o vero só nada é, mas pelo Casamento eles existem e se tornamalguma cousa tal como é um casamento. N o Senhor Deus Criador o DivinoBem e o Divino V ero estão em sua Substância mesma, o Ser da Substância deDeus é o Divino Bem, e o Existir da Substância de Deus é o Divino V ero;n'Ele também eles estão em sua U nião mesma, pois n'Ele fazem um de umamaneira infinita; como estes dois são um, no Deus Criador M esmo, por issoeles são também um em todas e cada uma das cousas criadas por Ele; por issotambém o Criador está conjunto com todas as Suas criaturas por uma aliançaeterna como por uma aliança de Casamento". Além disso, o Anjo disse: "AEscritura Santa, que procede imediatamente do Senhor, é no comum e na parteo Casamento do bem e do vero; e como a Igreja que é formada pelo V ero daDoutrina, e a R eligião que é formada pelo Bem da vida segundo o V ero daDoutrina, são, nos Cristãos, tirados unicamente da Escritura Santa, pode-se verque a Igreja no comum e na parte é o Casamento do Bem e do V ero". Q ue issoseja assim, vê-se no Apocalipse R evelado, ns. 373, 483. - O que acima foi ditodo Bem e do V ero, foi dito também para o Casamento da Caridade e da Fé,porque o Bem pertence à Caridade, e o V ero pertence à Fé. Alguns dosprimeiros que não tinham visto o Anjo nem a Escritura, estando aindapresentes e ouvindo estas palavras, disseram a meia voz: "Sim, nóscompreendemos isso". M as então o Anjo lhes disse: "Afastai-vos um pouco demim, e dizei a mesma coisa''. E eles se afastaram, e disseram a plena voz: "N ão,isso não é assim". Em seguida o Anjo falou do Casamento do Bem e do V ero

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nos Esposos, dizendo: Se suas M entes estiveram nesse Casamento, o M aridosendo o V ero e a Esposa o Bem desse V ero, os dois estarão nas delícias dabeatitude da inocência, e por conseguinte na felicidade em que estão os Anjosdo Céu; neste estado o prolífico do M arido estará em uma primavera continuae por conseguinte no esforço e na virtude de propagar seu vero, e a esposaestará em uma recepção contínua deste vero pelo amor; a sabedoria, que nosmaridos vem do Senhor, nada sente de mais agradável do que propagar seusveros; e o amor da sabedoria, que nas esposas vem do Senhor, nada sente demais delicioso do que recebê-los como em um útero, e assim concebê-los,carregá-los e lhes dar nascimento; as prolificações espirituais entre os Anjos doCéu são desta espécie, e se o quiserdes crer, desta origem são também asProlificações naturais". O Anjo, depois de dar a saudação de paz, elevou-se daterra, e levado através das nuvens subiu ao Céu; e eis que então o Círculo, queantes tinha aparecido como a aurora, abaixou-se e dissipou a N uvem que tinhaespalhado trevas sobre a T erra, e o tempo se tornou claro e sereno.

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Do casamento do Senhor e daigreja e de sua correspondência

116 - Se aqui se trata também do Casamento do Senhor e da Igreja e de suaCorrespondência, é porque sem a ciência e sem a inteligência concernentes aeste assunto dificilmente haverá alguém que possa saber que o Amor Conjugalem sua origem é santo, espiritual e celeste, e que vem do Senhor. É verdadeque na Igreja alguns dizem que os Casamentos têm uma relação com oCasamento do Senhor e da Igreja, mas qual seja essa relação, se Ignora; a fim deque, portanto, ela se apresente à vista em alguma luz do entendimento, énecessário que se trate em particular deste Santo Casamento, que está entreaqueles e naqueles que são da Igreja do Senhor; é também entre eles e não entreoutros que há o Amor verdadeiramente conjugal. M as para elucidação desteArcano, o assunto será dividido nos artigos seguintes: I. O Senhor na Palavra échamado o N oivo e o M arido, e a Igreja a N oiva e a Esposa; além disso, aconjunção do Senhor com a Igreja, e a conjunção recíproca da Igreja com oSenhor, é chamada Casamento. II. Além disso o Senhor também é chamadoPai, e a Igreja M ãe. III. As descendências do Senhor como M arido e Pai e daIgreja como Esposa e M ãe, são todas espirituais, e no sentido espiritual daPalavra são entendidas por filhos e filhas, irmãos e irmãs, genros e noras, epelos nomes relativos a geração. IV . As descendências espirituais, que nascemdo Casamento do Senhor com a Igreja, são os V eros de que procedem oentendimento, a percepção e todo pensamento, e os Bens de que procedem oamor, a caridade e toda afeição. V . Do casamento do bem e do vero, queprocede do Senhor e influi, o homem recebe o vero, e o Senhor conjunta obem a esse vero, e é assim que a Igreja é formada pelo Senhor no homem. V I.O marido não representa o Senhor e a Esposa não representa a Igreja, porqueos dois em conjunto, o marido e a Esposa constituem a Igreja. V II. Por isso nãohá correspondência do marido com o Senhor, nem da Esposa com a Igreja, nosCasamentos dos Anjos nos Céus e dos homens nas terras. V III. M as háCorrespondência com o Amor conjugal, a seminação, a prolificação, o amordos filhos, e outras cousas semelhantes que estão nos Casamentos, e que delesprocedem. IX. A Palavra é o médium de conjunção, porque ela vem do Senhor,e é assim o Senhor. X . A Igreja vem do Senhor, e está naqueles que se dirigem aEle e vivem segundo Seus preceitos. X I. O Amor conjugal é segundo o estadoda Igreja, porque é segundo o estado da sabedoria no homem. XII. E como aIgreja vem do Senhor, o Amor conjugal vem também d'Ele. Segue agora aexplicação destes Artigos.

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117 - I. O Senhor na Palavra é chamado N oivo e M arido, e a Igreja N oiva eEsposa; além disso, a conjunção do Senhor com a Igreja, e a conjunçãorecíproca da Igreja com o Senhor é chamada Casamento.

Q ue o Senhor na Palavra seja chamado N oivo e M arido, e a Igreja N oiva eEsposa; pode-se ver por estas passagens: "Aquele que tem a N oiva, N oivo é;mas o amigo do N oivo, que permanece de pé e escuta, de alegria se regozija porcausa da voz do N oivo". (João 111, 29); estas palavras foram ditas do Senhorpor João Batista". Jesus disse: "Enquanto está com eles o N oivo, os Filhos dasN úpcias não podem jejuar; mas dias virão em que o N oivo lhes será tirado,então jejuarão". (M at. IX, 15; M arc. 11, 19, 20; Lucas V , 34 e 35). "Eu vi aCidade Santa, a N ova Jerusalém, enfeitada como uma Esposa; ornada para seuM arido". (Apoc. X XI, 2); que pela N ova Jerusalém seja entendida a N ovaIgreja do Senhor, vê-se no Apocalipse R evelado, ns. 880, 881. “O Anjo disse aJoão: V em, eu te mostrarei a N oiva, do Cordeiro a Esposa; e ele lhe mostrou aCidade, a Santa Jerusalém". (Apoc. X XI, 9, 10). "É vindo o tempo de N úpciasdo Cordeiro, e sua Esposa; se preparou; bem-aventurados aqueles que à ceia deN úpcias do Cordeiro foram convidados". (Apoc. X IX, 7, 9). Pelo N oivo, aoencontro do qual vieram as cinco V irgens preparadas, que entraram com Ele nasala de N úpcias. (M at. X XV , 1 a 10), é entendido, o Senhor, como é evidentepelo vers. 13, onde se diz: "V elai, portanto, porque não sabeis o dia, nem ahora em que o Filho do homem virá". E além disso, em muitas passagens dosProfetas.

118 - II. Além disso o Senhor também é chamado Pai, e a Igreja M ãe.

Q ue o Senhor é chamado Pai, vê-se por estas passagens: "U m menino nosnasceu, um Filho nos foi dado, e será chamado seu nome: Admirável,Conselheiro, Deus, Pai de Eternidade, Príncipe da Paz". (Isaías IX, 5). "T u,Jehovah, N osso Pai, N osso R edentor desde o século (é) teu N ome". (IsaíasLXIII, 16). "Jesus disse: Q uem me vê, vê o Pai que me enviou". (João X II, 45)."Se M e tivésseis conhecido, meu Pai também conheceríeis, e desde agora Otendes conhecido, e O tendes visto". (João X IV , 7). "Filipe disse: M ostra-nos oPai; Jesus lhe disse: Q uem M e vê, vê o Pai; como portanto, dizes tu;mostra-nos o Pai?" (João X IV , 8, 9). "Jesus disse: O Pai e eu, nós somos um".(João X, 30). "T odas as cousas que o Pai tem, são minhas". (João X V I, 15,XV II, 10). "O Pai está em M im, e Eu no Pai. (João X , 38, X IV , 10, 11, 20).Q ue o Senhor e Seu Pai são um, como a Alma e o Corpo são um; e que Deus,o Pai, tenha descido do Céu, e tenha tomado o H umano para resgatar e salvaros homens, e que Seu H umano seja o que é chamado o Filho enviado aoM undo, é o que foi plenamente mostrado no Apocalipse R evelado.

119 - Q ue a Igreja seja chamada M ãe, vê-se por estas passagens: "Jehovah disse:Pleiteai com vossa M ãe; ela não é minha Esposa, e Eu não sou seu M arido".(O se. 11, 2, 5). "T u és a filha de tua M ãe, que desdenha seu M arido".(Ezequiel X V I, 45). "O nde está a carta de divórcio de vossa M ãe, que eu

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repudiei?" (Isaías L, 1). "T ua M ãe, como a cepa plantada perto das águas,tornou-se carregada de frutos". (Ezequiel X IX, 10); estas passagens concernemà Igreja Judaica. "Jesus, estendendo a mão para os discípulos, disse: M inha M ãee meus irmãos são os que ouvem a Palavra de Deus, e a fazem". (Lucas V III,21, M at. X II, 48, 49; M arcos 111, 33, 34, 35); pelos discípulos do Senhor éentendida a Igreja. "Perto da cruz de Jesus, estava sua M ãe; e Jesus vendo suaM ãe, e perto dela o discípulo que Ele amava, disse à sua M ãe: M ulher, eis teufilho; e disse ao discípulo: Eis tua M ãe, por isso desde aquela hora, estediscípulo a tomou em sua casa". (João X IX, 25, 26, 27), por estas palavras éentendido que o Senhor não reconheceu M aria por M ãe, mas a Igreja, é porisso que Ele a chama M ulher e M ãe do discípulo; se Ele a chamou M ãe destediscípulo ou de João é porque João representava a Igreja quanto aos bens dacaridade; estes bens são a Igreja no efeito mesmo, é por isso que se diz que ele atomou em sua casa. Q ue Pedro tenha representado a verdade e a Fé, e T iago aCaridade, e João as O bras da Caridade, vê-se no Apocalipse R evelado, ns. 5, 6,790, 798, 819; e que os doze Discípulos tenham representado em conjunto aIgreja quanto a todas as cousas que a concernem, ns. 233, 790, 903, 915.

120 - III. As descendências do Senhor como M arido e Pai, e da Igreja comoEsposa e M ãe, são todas espirituais, e no sentido espiritual da Palavra, elas sãoentendidas por filhos e filhas, irmãos e irmãs, genros e noras, e por outrosnomes relativos à geração.

Q ue não nasça outras descendências do Senhor pela Igreja, isso não temnecessidade de demonstração, porque a razão o vê suficientemente, com efeito,é do Senhor que procede todo bem e todo V ero, e é a Igreja que os recebe e ospõe em efeito; e todos os espirituais do Céu e da Igreja se referem ao bem e aovero; daí resulta que pelos Filhos e Filhas na Palavra, em & eu sentidoespiritual, entende-se os veros e os bens, pelos filhos os veros concebidos nohomem Espiritual e nascidos no homem N atural, e pelas filhassemelhantemente os bens; é por isso que, os que foram regenerados peloSenhor são chamados, na Palavra, filhos de Deus, filhos do R eino, nascidosd'Ele; e o Senhor chamou de filhos aos Seus discípulos; pelo filho homem quea M ulher deu à luz, e que foi levado para Deus, (Apoc. X II, 5), não éentendida, outra cousa, ver o Apocalipse R evelado, n. 543. Como pelas filhassão significados os bens da Igreja, é por isso que na Palavra se diz tantas vezes aFilha de Sião, de Jerusalém, de Israel e de Jehudah, pela qual é significado, nãoalguma filha, mas a afeição do bem, afeição que pertence à Igreja, ver tambémo Apocalipse R evelado, n. 612. O Senhor também chama Irmãos e Irmãs aosque são de Sua Igreja, (M at. X II, 49; X XV , 40; X XV III, 10; M arc. 111, 35;Lucas V III, 21).

121 - IV . As descendências espirituais que nascem do Casamento do Senhorcom a Igreja, são os V eros de que procedem o entendimento, a percepção etodo pensamento, e os Bens de que procedem o amor, a caridade e toda

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afeição.

Q ue os V eros e os Bens sejam as descendências espirituais que nascem doSenhor pela Igreja, é porque o Senhor é o Bem mesmo e o V ero mesmo, en'Ele este bem e este vero são não dois mas um; além disso também, porque doSenhor não pode proceder outra cousa que não seja o que está n'Ele e o que éEle M esmo. Q ue o Casamento do bem e do vero procede do Senhor, e influinos homens, e seja recebido segundo o estado da mente e da vida daqueles queestão na Igreja, é o que foi mostrado na seção precedente concernente aoCasamento do Bem e do V ero. Se o homem tem pelos V eros o entendimento, apercepção e todo pensamento e pelos Bens o amor, a caridade e toda afeição, éporque todas as cousas do homem se referem ao V ero e ao Bem; ora há nohomem duas cousas que o constituem, a V ontade e o Entendimento, e aV ontade é o receptáculo do bem, e o Entendimento é o receptáculo do vero;que os próprios da V ontade sejam o amor, a caridade e a afeição, e os própriosdo Entendimento a percepção e o pensamento, isso não tem necessidade deuma demonstração, porque a luz está nesta proposição pelo próprioentendimento.

122 - V . Do Casamento do bem e do vero, que procede do Senhor e influi, ohomem recebe o vero, e o Senhor conjunta o bem a esse vero; e é assim que aIgreja é formada pelo Senhor no homem.

Q ue do bem e do vero que procedem como um do Senhor, o homem recebe overo, é porque ele o recebe como vindo dele, e do mesmo modo fala dele; e issoacontece porque o vero está na luz do entendimento, e por conseguinte ele ovê, e tudo que ele vê em si ou em sua mente, não sabe de onde vem, pois nãovê o influxo como vê as cousas que caem sob à vista do olho; dai ele imaginaque o vero está nele. Foi dado ao homem pelo Senhor, que isso apareça assim, afim de que ele seja homem, e a fim de que haja para ele um recíproco deconjunção; acrescentasse a isso que o homem nasce com a Faculdade de saber,de compreender e de se tornar sábio; e esta Faculdade recebe os veros pelosquais ele tem a ciência, a inteligência e a sabedoria; e como a fêmea foi criadapor meio do vero do macho, e é formada para ser cada vez mais amor destevero depois do casamento, segue-se que esta também recebe o vero do maridonela, e o conjunta com seu bem.

123 - Se o Senhor adjunta e conjunta o bem aos veros que o homem recebe, éporque o homem não pode tomar o bem como por si mesmo, pois o bem não évisível para ele, por esta razão que ele pertence não à luz, mas ao calor, e o caloré sentido mas não é visto; é por isso que, quando o homem vê o vero em seupensamento ele reflete raramente sobre o bem, que influi do amor da vontadeno vero, e lhe dá a vida. A Esposa também não reflete sobre o bem que estánela, mas reflete sobre a inclinação do M arido a seu respeito, a qual é segundoa elevação do entendimento do marido para a sabedoria; o bem que está nelapelo Senhor, ela o aplica sem que o marido saiba alguma cousa dessa aplicação.

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Daí se manifesta agora esta verdade, que o homem recebe do Senhor o vero, eque o Senhor adjunta o bem a esse vero, segundo a aplicação do vero ao uso,assim à medida que o homem quer pensar sabiamente, e, por conseguinte viversabiamente.

124 - Se a Igreja, é assim formada pelo Senhor no homem, é por que então ohomem está em conjunção com o Senhor, no Bem pelo Senhor, no V ero comopor si mesmo; assim o homem está no Senhor, e o Senhor está nele, segundo aspalavras do Senhor em João XV , 4, 5. É o mesmo se em lugar do Bem se dissera Caridade, e em lugar do V ero a Fé.

125 - V I. O M arido não representa o Senhor, e a Esposa não representa aIgreja, porque os dois em conjunto, o M arido e sua Esposa constituem a Igreja.

A linguagem ordinária dentro da Igreja, é que, como o Senhor é o chefe daIgreja, do mesmo modo o M arido é o Chefe da Esposa resultaria daí que oM arido representa o Senhor, e a Esposa a Igreja; mas o Senhor é o chefe daIgreja, e o homem (H omo), varão (vir) e a M ulher (femina), são a Igreja, emais ainda o M arido e a Esposa juntos; neles a Igreja é o princípio implantadono homem, e por meio do homem na esposa, porque o homem peloentendimento recebe o vero da Igreja, e a esposa o recebe do homem; mas seisso acontece vice-versa, não é conforme a ordem; às vezes, entretanto, issoacontece, mas em homens que não são amantes da sabedoria, e por conseguintenão são também da Igreja, e também naqueles que, como escravos, dependemdos caprichos de suas esposas. Sobre este assunto, ver algumas particularidadesnos Preliminares, n. 21.

126 - V II. Por isso não há correspondência do marido com o Senhor, nem daesposa com a Igreja, nos Casamentos dos Anjos nos Céus e dos homens nasterras.

Isto resulta como conseqüência do que acaba de ser dito; entretanto deve-seacrescentar, que parece que o vero seja o principal da Igreja, porque é oprimeiro pelo tempo; é por esta aparência que os Prelados da Igreja deram apalma à fé, que pertence ao vero, de preferência à Caridade que pertence aobem; do mesmo modo os Eruditos a deram ao pensamento, que pertence aoentendimento, de preferência à afeição que pertence à vontade; é por isso que oconhecimento do que é o bem da caridade, e do que é a afeição da vontade,está escondido, como que sepultado em um túmulo, e alguns mesmo lançaramterra em cima como sobre os mortos, a fim de que não se levante; queentretanto o bem da caridade seja o principal da Igreja, é o que podem ver comos olhos abertos, aqueles que não fecharam o caminho do Céu a seuentendimento confirmando-se a respeito da fé, que só ela constitui a Igreja, e arespeito do pensamento, que só ele constitui o homem. O ra, pois que o Bemda caridade vem do Senhor, e que o V ero da fé está no homem como vindodele, e que os dois fazem a conjunção do Senhor com o homem e do homem

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com o Senhor, tal como é entendida por estas palavras do Senhor, que Ele estáneles e eles n'Ele (João X V , 4, 5), é evidente que esta conjunção é a Igreja.

127 - V III. M as há correspondência com o Amor conjugal, a seminação, oamor dos filhos, e outras cousas semelhantes que estão nos Casamentos, e quedeles procedem. Estas cousas, todavia, são Arcanos demasiados profundos parapoderem entrar no entendimento com alguma luz, a não ser que sejamprecedidos de um conhecimento da Correspondência; se a Correspondêncianão é desvendada ao entendimento, é impossível que as cousas que estão nesteArtigo sejam compreendidas de qualquer maneira que sejam explicadas. M as oque é a Correspondência, e que haja correspondência entre as cousas naturais eas cousas espirituais, é o que foi amplamente mostrado no Apocalipse R evelado,e também nos Arcanos Celestes, e especialmente na Doutrina da N ovaJerusalém sobre a Escritura Santa, e particularmente em um M emorável que aconcerne, e que se encontra mais adiante. Antes que se tenha obtido algumconhecimento sobre este assunto, será somente apresentado diante doentendimento, como em uma sombra, este pequeno número departicularidades: Q ue o Amor conjugal, corresponde à Afeição do vero real, àsua castidade, à sua pureza e à sua santidade; que a Seminação corresponde àforça do vero; que a Prolificação corresponde à propagação do vero; e o Amordos filhos corresponde à defesa do vero e do bem. O ra, pois que o V ero nohomem se apresenta como estando nele, e que o Bem lhe é adjunto peloSenhor, é evidente que estas Correspondências são as do homem N atural ouExterno com o homem Espiritual ou Interno; mas alguma luz será lançadasobre este assunto nos M emoráveis que seguem.

128 - IX. A Palavra é o M édium de conjunção porque ela vem do Senhor, e éassim do Senhor.

Se a Palavra é o M édium de conjunção do Senhor com o homem, e do homemcom o Senhor, é porque em sua essência ela é o Divino V ero unido ao DivinoBem, e o Divino Bem unido ao Divino V ero; que esta união esteja em todas ecada uma das coisas da Palavra em seu sentido celeste e em seu sentidoespiritual, vê-se no Apocalipse R evelado, ris. 373, 483, 689, 811; dondesegue-se que a Palavra é o perfeito Casamento do bem e do vero; e como vemela do Senhor, e o que vem d'Ele é também Ele mesmo, segue-se que quando ohomem lê a Palavra, e tira dela os veros, o Senhor adjunta o bem; com efeito, ohomem não vê os bens que afetam, porque ele a lê pelo entendimento, e oentendimento não tira dela senão as cousas que lhe pertencem, as quais são osveros; que os bens ai sejam adjuntos pelo Senhor, o entendimento o sente peloprazer que influi quando ele é ilustrado, mas isso não acontece interiormentesenão naqueles que a lêem com o fim de se tornarem sábios, e o fim de setornar sábios está naqueles que querem aprender nela os veros reais, e por estesveros formar neles a Igreja; mas os que a lêem unicamente para obter renomede erudição, e aqueles que a lêem com a opinião de que lê-la somente ou

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ouvi-la ler, inspira a fé e conduz à salvação, não recebem bem algum doSenhor, porque estes têm por fim salvar-se só pelas expressões da Palavra, nasquais não há cousa alguma do vero; e que aqueles tem por fim distinguir-sepela erudição, mas com a qual não se conjunta bem algum espiritual, masunicamente o prazer natural que procede da glória do M undo. Como a Palavraé o M édium de conjunção, é por isso que ela é chamada Aliança, Antiga eN ova; e a Aliança significa conjunção.

129 - X . A Igreja vem do Senhor, e está naqueles que se dirigem a Ele, e vivemsegundo Seus preceitos.

H oje não se nega que a Igreja pertence ao Senhor, e que, visto que pertence aoSenhor, ela vem do Senhor; se ela está naqueles que se dirigem a Ele, é porqueSua Igreja, no M undo Cristão, existe pela Palavra, e a Palavra vem d'Ele, e detal modo vem d'Ele que é Ele M esmo; o Divino V ero aí está unido ao DivinoBem, e isso também é o Senhor; não é entendida outra cousa pela Palavra, "queestava com Deus, e que era Deus, da qual os homens têm a V ida e a Luz, e quese fez Carne". (João 1, 1 a 14). E, além disso, se a Igreja está naqueles que sedirigem a Ele, é porque ela está naqueles que crêem n'Ele; ora, crer que Ele é oDeus Salvador e R edentor, que Ele é Jehovah a Justiça; que Ele é a Porta pelaqual se deve entrar no Curral, isto é, na Igreja; que Ele é o Caminho, aV erdade e a V ida; que ninguém vem ao Pai senão por Ele; que o Pai e Ele sãoum; além de várias outras cousas que Ele mesmo ensina; crer, digo, estascousas, ninguém o pode senão por Ele; se não se pode, a menos que se dirija aEle, é porque Ele é o Deus do Céu e da T erra, como Ele o ensina também; háoutro a quem nos devemos dirigir? H á outro a quem nos possamos dirigir? Se aIgreja está naqueles que vivem segundo seus preceitos, é porque não háconjunção com os outros; pois, Ele disse: “Aquele que tem os meus preceitos eos faz, é esse que M e ama, e Eu o amarei, e morada nele farei mas aquele quenão M e ama, não guarda os meus preceitos". (João X IV , 21-24); o amor é aconjunção, e a conjunção com o Senhor é a Igreja.

130 - X I. O Amor Conjugal é segundo o estado da Igreja, porque é segundo oestado da Sabedoria no homem.

Q ue o Amor conjugal seja segundo o estado da Sabedoria no homem, isso já foidito muitas vezes e será dito muitas vezes em seguida; aqui portanto serámostrado com clareza o que é a Sabedoria, e que a Sabedoria faz um com aIgreja: "N o homem há a Ciência, a Inteligência e a Sabedoria; a Ciênciapertence aos conhecimentos, a Inteligência à razão, e a Sabedoria à vida; aSabedoria, considerada em seu plano, pertence ao mesmo tempo aosconhecimentos, à razão e à vida; os Conhecimentos precedem, a R azão éformada por eles, e a Sabedoria o é por aqueles e por esta; e então se viveracionalmente segundo as verdades que são os conhecimentos; a Sabedoriapertence portanto à razão e à vida ao mesmo tempo, e se torna Sabedoriaquando pertence à razão e em conseqüência à vida, mas é Sabedoria quando

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chega a pertencer à vida e em conseqüência à razão. O s Antiqüíssimos, nesteM undo, não reconheceram outra Sabedoria senão a sabedoria da vida; esta eraa sabedoria daqueles que outrora eram chamados Sophi (sábios); mas, depoisdestes Antiqüíssimos, os Antigos reconheceram como sabedoria a sabedoria darazão, e estes foram chamados Filósofos; hoje, entretanto, muitos chamammesmo sabedoria a ciência; pois os doutos, os eruditos, e os semi-sábios (scie)são chamados sábios; assim do cume de sua montanha, a Sabedoria caiu em seuvale. Q uanto ao que é a Sabedoria em seu nascimento, em seu progresso e, emconseqüência, em seu estado pleno, também se falará disso em algumaspalavras. As cousas que concernem à Igreja, e são chamadas Espirituais, residemnos íntimos do homem; as que concernem à R epública, e são chamadas Civis,têm seu lugar abaixo; e as que concernem à ciência, à experiência, e à arte, e sãochamadas N aturais, constituem a sede das precedentes; se as cousas quepertencem à Igreja, e são chamadas espirituais, residem nos íntimos do homem,é porque elas se conjuntam com o Céu, e pelo Céu com o Senhor, pois doSenhor pelo Céu não entram outras no homem; se as que concernem aR epública, e são chamadas civis, tem um lugar abaixo das espirituais, é porqueelas se conjuntam com o M undo; com efeito, elas pertencem ao M undo, poissão estatutos, leis e regulamentos, que ligam os homens, a fim de que por elas aSociedade e a Cidade estejam em um estado regular e conveniente; se as queconcernem à ciência, a experiência e à arte, e são chamadas N aturais,constituem a sede das precedentes, é porque elas se conjuntam estreitamentecom os cinco sentidos do corpo, e estes são os últimos, sobre os quais estão, porassim dizer, assentados os interiores que pertencem à mente, e os íntimos quepertencem à alma. O ra, visto como as cousas que concernem à Igreja, e sãochamados espirituais, residem nos íntimos, visto como as que residem nosíntimos fazem a cabeça, e as que as seguem, chamadas civis, fazem o corpo, e asúltimas, chamadas naturais, os pés, é evidente que quando estes três gêneros decousas se seguem em sua ordem, o homem é homem perfeito; pois então elasinfluem da mesma maneira que as cousas que pertencem à cabeça influem nocorpo, e pelo corpo nos pés; assim as Espirituais nas Civis e pelas civis nasN aturais. O ra, como as Espirituais estão na luz do Céu, é evidente que por sualuz elas ilustram as que seguem em ordem, e que por seu calor, que é o amor,elas as animam; e quando isso acontece, o homem possui a sabedoria. V isto quea Sabedoria pertence à V ida, e conseqüentemente à razão, como foi dito acima,pergunta-se o que é a sabedoria da vida: Esta sabedoria, em um apanhadosumário, consiste em fugir dos males, porque são prejudiciais à Alma,prejudiciais à R epública e prejudiciais ao Corpo, e em fazer os bens porque sãoproveitosos à Alma, à R epública e ao Corpo. Está aí a Sabedoria que éentendida pela sabedoria com a qual o Amor conjugal se liga; pois ele se liga,porque foge do mal do adultério como a peste da alma, da república e docorpo; e como esta Sabedoria tem sua origem nas cousas espirituais quepertencem à Igreja, segue-se que o Amor conjugal é segundo o estado da Igreja

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no homem, porque é nele segundo o estado da sabedoria; por isso é tambémentendido o que foi freqüentemente dito acima, que, quanto mais, o homem setorna espiritual, tanto mais está no Amor verdadeiramente conjugal; pois ohomem se torna espiritual pelas cousas espirituais da Igreja". V eremos adiante,ns. 163, 164 e 165, maiores desenvolvimentos sobre a Sabedoria com a qual seconjunta o amor conjugal.

131 - X II. E como a Igreja vem do Senhor, o Amor conjugal vem também doSenhor.

Isto sendo a conseqüência do que foi dito acima, é inútil confirmá-lo aindamais. Além disso, todos os Anjos do Céu atestam que o Amor verdadeiramenteconjugal vem do Senhor; e também, que este Amor é segundo o estado dasabedoria, e o estado da sabedoria, segundo o estado da Igreja neles. Q ue osAnjos do Céu atestam estas cousas, vê-se nos M emoráveis que estão depois dosCapítulos, e que contêm coisas vistas e ouvidas no M undo espiritual.

132 - Ao que precede acrescentarei estes dois M emoráveis:

Primeiro M emorável: U m dia eu conversava com dois Anjos, um era do Céuoriental, e outro do Céu meridional; quando perceberam que eu meditavasobre os Arcanos da sabedoria concernente ao Amor Conjugal, disseram-me:"T ens algum conhecimento dos jogos da Sabedoria em nosso M undo?"R espondi: "Ainda não"; e eles disseram: "H á vários, e aqueles que amam osveros pela afeição espiritual, ou porque são veros e a sabedoria existe pelosveros, se reúnem a um sinal dado, e discutem e decidem questões quepertencem a um entendimento muito profundo". Então tomaram-me pelamão, dizendo: "Segue-nos, e verás e ouvirás; o sinal da reunião foi dado hoje".Fui conduzido através de uma planície para uma Colina; e eis ao pé da Colinaum Pórtico de palmeiras, continuando até seu cimo; entramos aí e subimos; esobre a cabeça ou cimo da Colina vi um Bosque, cujas árvores sobre umaelevação do solo formavam uma espécie de T eatro, dentro do qual estava umplano pavimentado com pedrinhas de diversas cores; em torno deste plano deforma quadrada tinham sido colocados Assentos sobre os quais estavamsentados amadores da sabedoria; e no meio do T eatro estava uma M esa, sobre aqual tinha sido colocado um Papel lacrado. O s que estavam sentados nasCadeiras nos convidaram a ocupar Cadeiras ainda vazias, e eu respondi: "Fuiconduzido aqui por dois Anjos para ver e ouvir, e não para me sentar". E entãoestes dois Anjos foram ao meio do plano junto da M esa, e romperam o selo dopapel, e leram diante dos que estavam sentados os arcanos da sabedoria escritossobre o papel, os quais iam ser discutidos e desenvolvidos; tinham sido escritospelos Anjos do T erceiro Céu, e enviados de lá para cima da mesa; havia trêsArcanos, o Primeiro: O que é a Imagem de Deus, e o que é a Semelhança deDeus, segundo as quais o homem foi criado? O Segundo: Por que o homemnão nasce na ciência de amor algum, quando entretanto as Bestas e as Aves,tanto nobres como ignóbeis, nascem nas ciências de todos os seus amores? O

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T erceiro: O que significa a Arvores da vida; o que significa a Arvore da ciênciado bem e do mal; e o que significa a Ação de comer dessas árvores? Em baixoestava escrito: R euni as três decisões em uma única sentença, e escrevei-a sobreum novo papel e colocai-o sobre esta mesa, e nós veremos; se a sentença nabalança parecer de peso e justa, o prêmio da sabedoria será dada a cada um devós". Após a leitura os dois Anjos se retiraram, e foram elevados aos Céus. Eentão os que estavam, sentados nas Cadeiras começaram a discutir e adesenvolver os Arcanos que lhes eram propostos e falaram em ordem; primeiro,os que estavam sentados ao Setentrião, em seguida os que estavam ao O cidente,depois os que estavam ao Sul, e por fim os que estavam ao O riente; e tomaramo primeiro assunto de discussão que era: “O que é a Imagem de Deus; e o queé a Semelhança, de Deus, segundo as quais o homem foi criado? E então leu-seprimeiro, diante de todos os assistentes, estas passagens do Livro da Criação:"Deus disse: Façamos o homem à N ossa Imagem, segundo N ossa Semelhança;e Deus criou o homem à sua Imagem, à Imagem de Deus o criou". (G ênesis 1,26 e 27). "N o dia em que Deus criou o homem, à Semelhança de Deus o fez''.(G ênesis V , 1). O s que estavam sentados ao Setentrião falaram primeiro,dizendo que a Imagem de Deus e a semelhança de Deus são as duas V idasinsufladas no homem por Deus, isto é, a V ida da vontade, e a V ida doentendimento, pois lê-se: "Jehovah Deus soprou nas narinas de Adão uma almade V idas; e o homem foi feito Alma vivente". (G ênesis 11, 7); nas narinas, é napercepção, que a vontade do bem e o entendimento do vero, e assim uma Almade vidas, estavam nele; e como a vida lhe foi insuflada por Deus, a Imagem eSemelhança de Deus significam a Integridade nele pela Sabedoria e o Amor, epela Justiça e o Julgamento. O s que estavam sentados ao O cidente eramfavoráveis a esta opinião, acrescentando entretanto que esta integridade,insuflada neles por Deus, é continuamente insuflada em cada homem depoisdeles; mas que no homem está como que em um receptáculo e que o homemconforme é receptáculo, é imagem e semelhança de Deus. Em seguida osT erceiros em ordem, a saber, os que estavam sentados ao Sul, disseram: "Aimagem de Deus e a Semelhança de Deus são duas cousas distintas, mas unidasno homem por criação; e nós vemos como por uma luz interior que o homempode destruir a imagem de Deus, mas não a semelhança de Deus; isso seapresenta como através de um véu, no fato de Adão ter retido a semelhança deDeus, depois que perdeu a imagem de Deus, pois após a maldição, lê-se estaspalavras: "Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal".(G ênesis 111, 22). E em seguida é chamado Semelhança de Deus, e não maisImagem de Deus, (G ênesis V , 1). M as deixemos os nossos consociados queestão sentados ao O riente, e estão por conseqüência em uma luz superior, dizero que é propriamente a Imagem de Deus, e o que é propriamente aSemelhança de Deus". E então, depois que o silêncio foi restabelecido, os queestavam sentados no O riente se levantaram de seus assentos, e dirigiram o olharpara o Senhor, e em seguida se recolocaram em seus assentos, e disseram: "A

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Imagem de Deus é o R eceptáculo de Deus, e Deus sendo Amor mesmo eSabedoria mesma, a Imagem de Deus é o R eceptáculo do amor e da sabedoriaque procedem de Deus no homem; mas a Semelhança de Deus é a perfeitasemelhança e a plena aparência como se o amor e a sabedoria estivessem nohomem, e por conseguinte absolutamente como se lhe pertencessem; pois ohomem não pode deixar de sentir que ama por si mesmo e que é sábio por simesmo, ou que quer o bem e compreende a verdade por si mesmo, quandoentretanto não é na mínima cousa por si mesmo, mas é por Deus; Deus Só,ama por si mesmo e é sábio por si mesmo, porque Deus é o Amor mesmo e aSabedoria mesma, a semelhança ou aparência que o amor e a sabedoria, ou obem e o vero, estão no homem como lhe pertencendo, faz que o homem sejahomem, e que possa ser conjunto a Deus, e assim viver para a eternidade;segue-se dai que o homem é homem pelo fato de que pode querer o bem ecompreender o vero absolutamente como por si mesmo, e não obstante saber ecrer que é por Deus; pois à medida que sabe isso e o crê, Deus põe sua imagemno homem; seria outra cousa se cresse que é por si mesmo e não por Deus".Depois que assim falaram, o zelo que produz o amor da verdade se apoderoudeles, e pronunciaram estas palavras: "Como pode o homem receber algumacoisa do amor e da sabedoria, e retê-lo e reproduzi-lo se não o sente como lhepertencendo? E como pode existir uma conjunção com Deus pelo amor e pelasabedoria, se não for dado ao homem algum recíproco de conjunção? pois semum recíproco nenhuma conjunção pode existir; e o recíproco da conjunção éque o homem ame a Deus e goste dá cousas que são de Deus como por simesmo, e creia entretanto que é por Deus; além disso, como pode o homemviver pela eternidade, se não for conjunto ao Deus eterno? E por conseqüênciacomo pode o homem ser homem sem esta semelhança de Deus nele?'' T odosaplaudiram estas palavras, e disseram: "Q ue se tire uma conclusão do que acabade ser dito"; e tirou-se esta: “O homem é o receptáculo de Deus, e oR eceptáculo de Deus é a Imagem de Deus; e como Deus é o Amor mesmo e aSabedoria mesma, o homem é o receptáculo do amor e da sabedoria, e oR eceptáculo se torna a Imagem de Deus conforme O recebe; e o homem é aSemelhança de Deus, pelo fato de sentir em si que as cousas que vêm de Deusestão nele como se lhes pertencessem; mas entretanto por esta semelhança elenão é a Imagem de Deus, senão tanto quanto reconhece que o amor e asabedoria, ou o bem e o vero, nele, não são dele, e assim não vêm de modoalgum dele, estão unicamente em Deus, e vêm por conseqüência de Deus".

133 - Depois disso, tomaram o segundo objeto da discussão: "Porque o homemnão nasce na ciência de amar algum, quando entretanto as Bestas e as Aves,tanto nobres como ignóbeis, nascem nas ciências de todos os seus amores".Primeiro confirmaram a verdade da proposição por diversos meios; porexemplo, a respeito do homem, que ele não nasce em ciência alguma, nemmesmo na ciência do amor conjugal; e se informaram, e observadores lhesdisseram que a criança não pode mesmo por uma ciência inata se aproximar do

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peito da mãe; mas que é a mãe ou a ama que o aproxima; que apenas sabesugar, e que aprendeu isso por uma contínua sucção no útero; que mais tardenão sabe caminhar nem articular o som em alguma palavra humana, nemmesmo exprimir, pelo som, como as bestas, a afeição do seu amor; que alémdisso, não conhece alimento algum que lhe convém, como os conhecem todasas bestas, mas que tomam o que encontram, quer seja limpo ou sujo, e o põemna boca; estes observadores disseram que o homem, sem instrução, não sabemesmo discernir o sexo, nem absolutamente cousa alguma concernente àsmaneiras de amar; nem mesmo as donzelas e os rapazes sem ser instruídos poroutros, ainda que tenham sido instruídos em diversas ciências; em uma palavra,o homem nasce corporal como o verme; e permanece corporal, a não ser queaprenda por outros a saber, a compreender e a se tornar sábio. Depois disso,confirmaram que as Bestas, tanto nobres, como ignóbeis, como os animais daterra, as aves do céu, os répteis, os peixes, os vermes que se chamam insetos,nascem em todas as ciências dos amores de sua vida; por exemplo, em tudo queconcerne à alimentação, em tudo que concerne à habitação, em tudo queconcerne ao amor do sexo e à prolificação, e em tudo que concerne à educaçãode seus filhotes; confirmaram isso pelas maravilhas que relembraram em suamemória segundo o que haviam visto, ouvido e lido no M undo natural, (éassim que eles chamam o nosso M undo), onde tinham vividoprecedentemente, e no qual há bestas, não representativas, mas reais. Depoisque a verdade da proposição foi assim provada, eles, aplicaram suas mentes emprocurar e achar os fins e as causas, pelos quais desenvolveram e descobrirameste Arcano; e disseram todos: "Isso não pode existir assim senão pela DivinaSabedoria, a fim de que o homem seja homem, e que a besta seja besta, e queassim a imperfeição de nascença do homem se torne perfeição, e que aperfeição de nascença da besta seja a sua imperfeição".

134 - Então, os do Setentrião começaram primeiro a dar sua opinião, edisseram que o homem nasce sem as ciências a fim de que possa recebê-lastodas, em quanto que se nascesse nas ciências, não poderia receber outras alémdaquelas em que tivesse nascido, e então não poderia tampouco se apropriar denenhuma; ilustraram isso por esta comparação: O homem ao nascer é comoum húmus no qual semente alguma foi espalhada, mas que entretanto podereceber todas as sementes, e fazê-las crescer e frutificar; a besta, ao contrário, écomo um húmus já semeado, e cheio de grama e de ervas -, o qual não recebeoutras sementes senão as que aí estão semeadas; se outras lhe forem confiadas,serão abafadas; daí vem que o homem, para adquirir todo seu crescimento,emprega vários anos, durante os quais pode, como um húmus, ser cultivado eproduzir como que colheitas, flores e árvores de toda espécie, enquanto que abesta adquire seu crescimento em muitos poucos anos, durante os quais nãopode ser cultivada senão nas ciências que recebeu ao nascer. Em seguida os doO cidente falaram, e disseram: “O homem não nasce na Ciência, como a besta,mas nasce na Faculdade e Inclinação, faculdade para saber, e inclinação para

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amar; nasce na faculdade não somente para saber, mas também paracompreender e se tornar sábio, e nasce na inclinação muito perfeita nãosomente para amar as cousas que são dele e do mundo, mas também as que sãode Deus e do Céu; em conseqüência por seus pais o homem nasce órgão,vivendo unicamente pelos sentidos externos, e a princípio sem nenhum sentidointerno, a fim de que sucessivamente se torne homem, a principio natural, emseguida racional e por fim espiritual; o que não aconteceria se ele nascesse nasciências e nos amores como as bestas; com efeito, as ciências e as afeições inataslimitam esta progressão, mas a faculdade e a inclinação inatas não limitamcousa alguma; é por isso que o homem pode ser aperfeiçoado pela ciência, ainteligência e a sabedoria durante a eternidade". O s do Sul falaram em seguidae emitiram sua opinião, dizendo: "É impossível ao homem adquirir por simesmo ciência alguma, mas é pelos outros que ele deve adquirir a ciência, poisque ciência alguma é inata (connata) nele; e como não pode adquirir por simesmo ciência alguma, não pode tampouco adquirir amor algum, pois queonde não está a ciência, aí não está o amor; a ciência e o amor sãocompanheiros inseparáveis, e não podem ser separados mais do que a vontade eo entendimento, ou a afeição e o pensamento, enfim mais do que a essência e aforma; à medida portanto que o homem adquire das outras a ciência, o amor aela se junta, como companheiro da ciência; o amor universal que se adjunta é oamor de saber, de compreender e de se tornar sábio; este amor é próprio dohomem somente, e não de besta alguma, e influi de Deus. N ós concordamos,com os nossos companheiros do O cidente, que o homem não nasce em amoralgum, nem por conseqüência em ciência alguma, mas nasce unicamente nainclinação para amar, e por conseguinte na faculdade de receber as ciências, nãopor si mesmo, mas pelos outros, isto é, por intermédio dos outros; se diz porintermédio dos outros, pois eles também não receberam deles mesmos cousaalguma da ciência, mas receberam de Deus. Concordamos também com osnossos companheiros do Setentrião, que o homem ao nascer é como um húmusno qual semente alguma foi espalhada, mas onde podem ser semeadas todas ascousas tanto nobres como ignóbeis. A isso acrescentamos que as Bestas nascemnos amores naturais, e por conseguintes nas ciências que lhes correspondem, eentretanto não sabem, não pensam, não compreendem e não saboreiam cousaalguma proveniente dessas ciências, mas por meio destas ciências sãoconduzidas por seus amores, pouco mais ou menos como os cegos nas ruas porcães, pois são cegos quanto ao entendimento; ou antes são como sonâmbulosque fazem o que fazem por uma ciência cega, estando o entendimentoentorpecido". O s do O riente falaram em último lugar, e disseram:"Concordamos com as opiniões que nossos irmãos emitiram, de que o homemnada sabe por ele mesmo, mas sabe pelos outros e por intermédio dos outros, afim de que conheça e reconheça que tudo que sabe,. compreende e tem desabedoria vem de Deus; e que de outro modo o homem não pode serconcebido, nascer e engendrado do Senhor, nem se tornar sua imagem e sua

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semelhança; pois ele se torna imagem do Senhor, pelo fato de que reconhece ecrê que recebeu e recebe do Senhor, e não dele mesmo, todo, bem do amor eda caridade, e todo vero da sabedoria e da fé; e é a semelhança do Senhor, pelofato de que tem em si este bem e este vero como vindos dele mesmo; sente issoporque não nasce nas ciências, mas as recebe, e lhe parece que o que recebevem dele; o Senhor dá mesmo ao homem (a faculdade) de sentir assim, a fimde que seja homem e não besta, pois que pelo fato de que quer, pensa, ama,sabe, compreende e se torna sábio como por si mesmo, ele recebe as ciências eas exalta em inteligência, e por seu uso, em sabedoria; assim o Senhor conjuntoo homem com Ele, e o homem se conjunta ao Senhor; estas cousas nãopoderiam se fazer, se o Senhor não tivesse provido a que o homem nascesse emuma ignorância total". Depois destas palavras todos quiseram que se formasseuma Conclusão do que acabava de ser dito, e formou-se esta: “O homem nãonasce em ciência alguma, a fim de que possa alcançar todas as ciências, e fazerprogressos na inteligência, e pela inteligência na sabedoria; e não nasce emamor algum, a fim de que possa entrar em todo amor pelas aplicações dasciências pela inteligência, e no amor para com o Senhor pelo amor em relaçãoao próximo, e assim ser conjunto ao Senhor, e por isso tornar-se homem e viverpela eternidade.

135 - Em seguida tomaram o Papel e leram o terceiro O bjeto da discussão, asaber: Q ue significa a Arvore da vida; que significa a Arvore da ciência do beme do mal; e que significa a ação de comer destas Arvores? e todos eles pediramque os que eram do O riente desenvolvessem este Arcano, porque ele é de umentendimento mais profundo, e porque os que são do O riente estão em umaluz inflamada, isto é, na sabedoria do amor; e esta sabedoria é entendida peloJardim do Éden, no qual estas duas Á rvores tinham sido colocadas; e estesresponderam: "N ós vamos falar, mas como o homem nada pode tomar de simesmo, e tira tudo do Senhor, nós falaremos por Ele, mas contudo, por nóscomo se fosse por nós mesmos"; e então disseram: "A Á rvore significa ohomem, e seu fruto os bens da vida; daí pela Arvore da vida é significado ohomem vivendo por Deus, ou Deus vivendo no homem; e como o amor e asabedoria, e a caridade e a fé, ou o bem e o vero, fazem a vida de Deus nohomem, pela Arvore da vida, são significadas estas cousas, e por conseguinte avida eterna para o homem. A Arvore da vida de que será dado a comer, (Apoc.11, 7, X XII, 2, 14), tem a mesma significação. Pela Arvore da ciência do bem edo mal é significado o homem que acredita viver por si, e não por Deus, assimque crê que o amor e a sabedoria, a caridade e a fé, isto é, o bem e o vero, queestão no homem são dele, e não de Deus, crendo isso porque pensa e quer, falae age, em toda semelhança e em toda aparência como por si mesmo; e como ohomem segundo essa crença se persuade que Deus se colocou nele ou infundiuseu Divino nele, é por isso que a Serpente disse: "Deus sabe que no dia em quecomerdes do fruto desta árvore, os vossos olhos serão abertos, e vós sereis comoDeus, sabendo o bem e o mal". (G ênesis III, 5). A Ação de comer destas

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árvores significa a recepção e a apropriação: a ação de comer da árvore da vida,a recepção da vida eterna; e a ação de comer da árvore da ciência do bem e domal, a recepção da danação; é mesmo por isso que Adão e sua Esposa forammalditos, um e outro, ao mesmo tempo que a Serpente; pela Serpente éentendido o diabo quanto ao amor de si e ao fasto da própria inteligência; eeste amor é o possessor desta árvore, e os homens que estão no fasto por esteamor são estas árvores. Estão portanto em um grande erro aqueles que crêemque Adão foi sábio e fez o bem por ele mesmo, e que era esse o seu estado deintegridade, quando entretanto este Adão foi amaldiçoado por causa destacrença; pois isto é significado por comer da árvore da ciência do bem e do mal;é por isso que então ele caiu, do estado de integridade em que havia estadoquando acreditava ser sábio e fazer o bem por Deus e de modo algum por elemesmo, pois isto é entendido por comer da Arvore da vida. O Senhor só,estando no M undo, foi sábio por Si M esmo e fez o bem por si mesmo, porquepor nascimento o Divino M esmo estava n'Ele e lhe pertencia, também é porisso que pela própria força Ele se tornou o R edentor e Salvador". De tudo queacabaram de dizer tiraram esta Conclusão: "Pela Arvore da vida, e pela Arvoreda ciência 'do bem e do mal, e pela Ação de comer destas duas Á rvores, ésignificado que a V ida para o homem é Deus nele, e que então ele tem o Céu ea V ida eterna; e que a M orte para o homem é a persuasão e a crença de que avida para o homem é, não Deus, mas ele mesmo, donde ele tem o Inferno e aM orte eterna, que é a danação".

136 - Depois disso examinaram o Papel deixado pelos Anjos sobre a mesa, eviram escrito em baixo: "R euni as três Decisões em uma única Sentença"; eentão as reuniram e viram que as três se juntavam em uma única série, e queesta série ou sentença era esta: “O homem foi criado para receber de Deus oamor e a sabedoria, e entretanto com toda semelhança como de si mesmo, eisso por causa da recepção e da conjunção, e é por isso que o homem não nasceem amor algum, nem em ciência alguma, nem mesmo em poder algum deamar e de tornar-se sábio por si mesmo; é por isso que se atribui todo bem doamor e todo vero da sabedoria a Deus, se torna H omem vivo; mas se os atribuia si mesmo, se torna homem morto". Escreveram estas palavras sobre um novoPapel, e o colocaram sobre a M esa; e eis que imediatamente os Anjos seapresentaram em uma nuvem de uma brancura brilhante, e levaram o Papel aoCéu; e depois que foi lido lá, os que estavam sentados nas cadeiras ouviramvozes vindas de lá: "Bem, bem, bem". E logo depois apareceu um Anjo queparecia voar, tendo como que duas azas nos pés e duas nas têmporas; e tinha namão prêmios, que consistiam em T únicas, Bonés e Coroas de louro, e desceu, edeu aos que estavam sentados ao Setentrião, T únicas cor de opala; aos queestavam ao O cidente, T únicas de cor escarlate; aos que estavam ao Sul, Bonéstendo em volta bandas de ouro e pérolas, e cuja elevação do lado esquerdo eraenriquecido com diamantes talhados em forma de flores; mas aos que estavamao O riente, deu Coroas do louro nas quais havia rubis e safiras. T odos,

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decorados com estes prêmios, foram embora do Jogo da sabedoria para suascasas; e quando foram vistos por suas esposas, elas vieram ao seu encontro,decoradas também com ornamentos dados do Céu, o que muito admirou aosmaridos.

137 - Segundo M emorável: U m dia em que eu meditava sobre o Amorconjugal, eis que ao longe, apareceram duas crianças nuas, com açafates nasmãos, e em torno delas rolinhas voando; e quando foram vistas de mais perto,apareciam sempre nuas, mas decentemente ornadas com grinaldas; coroas deflores ornavam suas cabeças, e bandas de lírios e rosas cor de jacinto, quependiam obliquamente das espáduas aos lombos decoravam seus peitos, e emtorno delas havia uma espécie de ligação comum, composta de folhagensjuncadas de olivas. M as quando chegaram ainda mais perto, apareceram nãomais como crianças, nem nuas, mas como duas pessoas na primeira flor daidade, vestidas com hábitos e túnicas de seda brilhante, bordadas com flores damaior beleza; e quando chegaram junto a mim, veio do Céu, por eles, um calorprimaveril com um aroma suave tal como o que os jardins e os campos exalamna primavera. Eram dois Esposos do Céu; e então me dirigiram a palavra; ecomo as cousas que eu acabava de ver estavam no meu pensamento, eles mefizeram esta pergunta: "Q ue vistes?" E quando lhes contei que a princípio ostinha visto como crianças nuas, em seguida como crianças ornadas comgrinaldas, e enfim como jovens vestidos com roupas bordadas de flores, e queentão de repente senti um calor primaveril com suas delícias, eles sorriram comgraça e disseram: "N ós, no caminho, nos víamos não como crianças, nem nuas,nem com grinaldas, mas continuamente na mesma aparência de agora; e éassim que de longe foi representado o nosso amor conjugal; o seu estado deinocência no fato de termos sido vistos como crianças nuas; as suas delícias,pelas grinaldas; e as mesmas delícias agora pelas flores de que os nossos hábitose túnicas estão recamados, e como disseste que quando chegamos perto de ti,sentistes um calor primaveril com seu odor agradável como o que se exala deum jardim, nós diremos a sua causa". E disseram: "N ós somos ,Esposos háséculos, temos estado continuamente na flor da idade, em que nos vês; o nossoprimeiro estado foi como é o primeiro estado de uma donzela e de ummancebo quando se unem pelo casamento; e acreditamos então que este estadoera a beatitude mesma de nossa vida; mas aprendemos com outros de nossoCéu, e mais tarde nós mesmos o percebemos, que este estado era o do calor nãotemperado pela luz, e que ele é progressivamente temperado, à medida que omarido é aperfeiçoado em sabedoria, e que a esposa ama esta sabedoria nomarido, e que isso se dá pelos usos e segundo os usos que um e outrodesempenham por um mútuo auxílio na sociedade; além disso também que asdelícias se sucedem segundo a temperatura do calor e da luz, ou da sabedoria edo amor. Se, portanto, quando chegamos perto de ti, tu sentiste como um calorprimaveril, é porque em nosso Céu o Amor conjugal e este calor fazem um,pois entre nós o Calor é o Amor, e a Luz com que se une o calor é a Sabedoria,

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e o U so é como a atmosfera, que em seu selo contém um e outro; o que é oCalor e a Luz, sem seu continente? assim, o que é o Amor e a Sabedoria semseu uso? não há conjugal neles; porque não há objeto em que estejam. N o Céu,onde está o calor primaveril, há Amor verdadeiramente conjugal; se ele, aí está,é porque o primaveril só está onde o calor está unido com igualdade à luz, ouantes onde há tanto de calor como de luz; e nós pensamos que, como o calorencontra suas delícias com a luz, e a luz as suas com o calor, do mesmo modo oamor encontra suas delícias com a sabedoria, e a sabedoria as suas com oamor". Além disso ele disse: "Entre nós, no Céu, há uma luz perpétua, e jamaisa sombra da tarde, nem com mais forte razão as trevas, porque o nosso Sol nãose deita nem se levanta como o vosso sol, mas se mantém constantemente nomeio entre o zênite e o horizonte, isto é, segundo vossa maneira de falar, aos 45graus do céu, daí vem que o calor e a luz que procedem de nosso Sol fazemuma Primavera perpétua, e que um primaveril perpétuo inspira aqueles em,quem o amor está unido em proporção igual com a sabedoria; e nosso Senhorpela união eterna do calor e da luz não aspira a outra cousa que não sejam osusos; daí vem também às germinasses em vossa terra, e os acasalamentos devossos voláteis e de vossos animais, na estação da primavera; pois o calorprimaveril abre seus interiores até aos íntimos, que são chamados suas almas, eos afeta e aí introduz seu conjugal, e faz com que os prolíficos venham em suasdelícias para um contínuo esforço para fazer os frutos do uso, que são apropagação de sua espécie. M as nos homens há, pelo Senhor, um perpétuoinfluxo de calor primaveril; é por isso que eles podem em todo tempo, mesmono meio do inverno, gozar as delícias do casamento; pois os homens foramcriados recepções da luz, isto é, da sabedoria procedente do Senhor, e asmulheres foram criadas recepções do calor, isto é, do amor da sabedoria dohomem, procedente do Senhor; daí vem, portanto, que quando chegamosperto de ti, tu sentiste um calor primaveril com um perfume suave, tal como oque os jardins e os campos exalam na primavera “. Depois de ter dito estaspalavras, o marido me estendeu a mão, e me conduziu às casas onde estavamesposos na mesma flor da idade que eles, e disse: "Estas esposas que agoraparecem jovens foram, no mundo, mulheres velhas, e os maridos que agoraparecem como moços foram no mundo, velhos decrépitos; e todos estes foramreconduzidos pelo Senhor a esta flor de idade porque se amaram mutuamente,e fugiram, pela religião, dos adultérios como pecados enormes". E acrescentou:"N inguém conhece os prazeres felizes do Amor conjugal, a não ser aqueles querejeitam os prazeres horríveis do adultério, e ninguém pode rejeitá-los senãoaqueles que são sábios pelo Senhor, e ninguém é sábio pelo Senhor, senãoaquele que faz usos por amor aos usos". V i também, então, os utensílios de suascasas, eram todos em formas celestes, e de ouro brilhante inflamado pelos rubisde que eram guarnecidos.

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Do casto e do não-casto

138 - Como ainda não faço mais do que começar a tratar do Amor Conjugalem particular, e como o Amor Conjugal em particular não pode ser conhecidosenão de uma maneira indistinta e, por conseqüência obscura, a não ser que oseu oposto, que é o Incasto apareça também de alguma forma, e como esteIncasto aparece de alguma forma ou na sombra quando o Casto é descrito aomesmo tempo que o não-Casto; sendo a não-Castidade unicamente umafastamento do Incasto de junto do Casto, vou tratar agora do Casto e donão-Casto. Q uanto ao Incasto, que é inteiramente oposto ao Casto, tratar-sedele na segunda Parte desta O bra, onde sob o titulo V olúpias da Loucura sobreo Amor Escortatório, será descrito em toda sua extensão e com suas variedades.M as o que é o Casto e o que é o não-Casto, e em quem prevalece um ou outro,é o que vai ser ilustrado nesta ordem: I. O Casto e o não-Casto se dizemunicamente dos Casamentos, e das cousas que pertencem ao Casamento. II. OCasto se diz unicamente dos casamentos monogâmicos ou do casamento de umhomem com uma única esposa. III. Só o conjugal cristão é casto. IV . O Amorverdadeiramente conjugal é a Castidade mesma. V . T odas as delícias do Amorverdadeiramente conjugal, mesmo as últimas, são castas. V I. N aqueles que,pelo Senhor, se tornam espirituais, o Amor Conjugal é purificado cada vezmais, e se torna casto. V II. A Castidade do casamento existe por uma renúnciacompleta as escortações por causa da R eligião. V III. A Castidade não pode sedizer das criancinhas, nem dos meninos e das meninas, nem dos rapazes evirgens, antes que sintam em si o amor do sexo. IX. A Castidade não pode sedizer dos que nasceram Eunucos, nem dos que se fizeram Eunucos. X . ACastidade não pode se dizer dos que não acreditam que os adultérios são malescontra a religião, nem com mais forte razão daqueles que não acreditam que osadultérios sejam nocivos à sociedade. X I. A Castidade não pode se dizerdaqueles que não se abstêm dos adultérios senão por diversas razões externas.XII. A Castidade não pode se dizer daqueles que acreditam que os Casamentossão incastos. X III. A Castidade não pode se dizer daqueles que renunciaram aoscasamentos, votando-se a um celibato perpétuo, a não ser que tenham e quereste neles um amor da vida verdadeiramente conjugal. X IV . O estado docasamento deve ser preferido ao estado do celibato. Segue agora a explicaçãodestes artigos.

139 - I. O Casto e o não-Casto se diz unicamente dos Casamentos, e das cousasque pertencem ao Casamento.

É porque o Amor verdadeiramente conjugal é a Castidade mesma, como vai ser

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explicado, e o Amor oposto, que é chamado escortatório, é a Incastidademesma; quanto mais portanto aquele amor é purificado, tanto mais ele é Casto,pois tanto mais é retirado o seu oposto destrutivo; por isso é evidente que é aPureza do Amor conjugal que é chamada castidade. N ão obstante há um Amorconjugal não-casto que, entretanto, não é a incastidade; por exemplo, entre doisEsposos que, por diversas razões externas, se abstém dos efeitos da lascívia aoponto de não pensarem nisso; todavia se este amor não foi purificado em seusespíritos, ele não é casto entretanto; sua forma é Casta, mas não há nele umaessência casta.

140 - Q ue a Castidade e a não-Castidade se dizem das cousas que pertencem aoCasamento, é porque o Conjugal foi inscrito em um e outro Sexo desde osíntimos até aos últimos, e o homem quanto aos pensamentos e às afeições, epor conseguinte interiormente quanto aos fatos e aos gestos do corpo, ésegundo este conjugal; que isto seja assim, vê-se mais evidentemente pelaspessoas incastas; o incasto que reside em suas mentes é ouvido pelo som de sualinguagem, e pela aplicação de tudo que é dito, mesmo do casto, a cousaslibidinosas; o som de sua linguagem vem da afeição da vontade, e a linguagemvem do pensamento do entendimento; está ai um sinal de que à vontade comtudo que lhe pertence, e o entendimento com tudo que lhe pertence, assimtoda a mente, e por conseguinte todas as cousas do corpo, desde as íntimas atéàs últimas, regurgitam cousas incastas; fui informado pelos anjos que entreaqueles que são soberanamente hipócritas, o incasto é percebido pelo ouvido,por mais castamente que eles falem, e é sentido também pela esfera que emanadeles; é isso ainda um sinal de que a incastidade reside nos íntimos de sua,mente, e por conseguinte nos íntimos de seu corpo, e que estes íntimos sãovelados exteriormente como uma crosta pintada com figuras de diversas cores.Q ue uma esfera de lascívia emana dos incastos, isso é evidente em que entre osfilhos de Israel os estatutos declaravam imundas todas e cada uma das cousasque, os que estavam sujos por suas impurezas, tinham unicamente tocado coma mão. Daí pode-se concluir que se dá o mesmo com os castos, a saber, queneles, desde os íntimos até aos últimos, todas as cousas são castas, e que é acastidade do Amor conjugal que produz isso; é por isso que se diz no mundoque para os Puros tudo é puro, e para os impuros tudo é impuro.

141 - II. O Casto se diz unicamente dos Casamentos monogâmicos, ou doCasamento de um homem com uma única esposa.

Q ue o Casto se diz só desses, é porque neles o Amor conjugal não reside nohomem natural, mas entra no homem espiritual, e se abre progressivamente ocaminho para o Casamento espiritual mesmo, ou o Casamento do bem e dovero, que é a sua origem, e se conjunta com ele, pois este Amor entra segundoos acréscimos da sabedoria, e estes acréscimos são segundo a implantação daIgreja pelo Senhor, como foi mostrado freqüentemente acima. Isso não pode sefazer nos Polígamos, porque estes dividem o Amor conjugal, e este Amor

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dividido não difere do Amor do sexo, que em si mesmo é natural; mas sobreeste assunto ver-se-á cousas dignas de atenção na Seção da Poligamia.

142 - III. Só o Conjugal Cristão é casto.

É porque o Amor verdadeiramente conjugal anda no homem com passo igualao do estado da Igreja nele; e porque este estado vem do Senhor como foimostrado na Seção precedente, ns. 130, 131, e em outros lugares; além dissotambém, porque a Igreja em seus veros reais está na Palavra, e o Senhor aí estápresente nesses veros segue-se daí que não há Conjugal casto senão no M undoCristão e que, se aí não há, pode entretanto, haver; pelo Conjugal Cristão éentendido o Casamento de um homem com uma única esposa. Q ue esteConjugal possa ser instilado nos Cristãos e ser transmitido hereditariamente àposteridade pelos pais que estão no Amor verdadeiramente conjugal, e que porisso nascem a faculdade e a inclinação para gostar das cousas que são da Igreja edo Céu, ver-se-á em seu lugar. Q ue os Cristãos, se tomam várias esposas,cometem não somente um adultério natural mas também um adultérioespiritual, isso será demonstrado na Seção da Poligamia.

143 - IV . O Amor verdadeiramente conjugal é a Castidade mesma.

Eis as razões disso: 1. Este Amor vem do Senhor e corresponde ao Casamentodo Senhor e da Igreja. 2. Descende do Casamento do bem e do vero. 3. Éespiritual conforme a -existência da Igreja no homem. 4. É o Amorfundamental e a Cabeça de todos os amores celestes e espirituais. 5. É olegítimo Seminário do gênero humano, e por conseqüência do Céu Angélico.6. Por isso existe também nos Anjos do Céu, e dele nascem entre eles linhagensespirituais, que são amor e sabedoria. 7. E por conseqüência seu uso ultrapassaem excelência todos os outros usos da criação. Segue-se daí que o amorverdadeiramente conjugal por sua origem, é considerado em sua essência puro esanto, a ponto de poder ser chamado a pureza e a santidade, por conseqüência acastidade mesma; mas que entretanto ele não seja inteiramente puro entre oshomens, nem entre os Anjos, ver-se-á no Artigo V I, que segue, n. 146.

144 - V . T odas as delícias do Amor verdadeiramente conjugal, mesmo asúltimas, são castas.

Isto resulta do que acaba de ser mostrado, que o Amor verdadeiramenteconjugal é a Castidade mesma; e desta consideração, que as delícias constituemsua vida. Q ue as Delícias deste amor sobem e entram no Céu, e que nocaminho passam através dos prazeres dos amores celestes, em que estão osAnjos do Céu; além disso que elas se conjuntam também com as Delícias deseu amor conjugal, é o que foi referido acima. Além disso, ouvi declarar pelosAnjos que eles percebem que estas delícias neles são exaltadas e cumuladas,quando sobem de esposos castos que estão nas terras; e por causa dosassistentes, que eram incastos, à pergunta, se acontecia o mesmo com as últimasdelícias, eles fizeram um sinal de cabeça, e disseram tacitamente: "Por que seria

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de outro modo? N ão são estas as delícias do Amor conjugal em sua plenitude?"De onde vêm às delícias deste amor, e o que são elas, vê-se acima, n. 69, e nosM emoráveis, sobre tudo nos que seguem.

145 - V I. N aqueles que, pelo Senhor, se tornam espirituais, o Amor conjugal épurificado cada vez mais, e se torna casto.

1. O primeiro amor, pelo qual se entende o amor que precede as núpcias e asseguem imediatamente, tira alguma cousa do amor do sexo; assim, do ardorpróprio do corpo, não ainda mitigado pelo amor do espírito. 2. O homem denatural torna-se progressivamente espiritual; pois ele se torna espiritualconforme o R acional, que fica no meio entre o Céu e o M undo, começa a tirarsua vida do influxo do Céu, o que se faz conforme a sabedoria o afeto e oalegra, ver acima n. 130, e quanto mais isso se faz, tanto mais sua M ente éelevada a uma aura (atmosfera) superior, que é o continente da luz e do calorcelestes, ou, o que dá no mesmo, o continente da sabedoria e do amor, em queestão os Anjos; pois a luz celeste faz um com a sabedoria, e o calor celeste fazum com o amor; e conforme a sabedoria e seu amor crescem nos esposos, oAmor conjugal é purificado neles; ora, como isso se faz progressivamente,segue-se que este amor se torna cada vez mais casto. Esta purificação espiritualpode ser comparada à purificação dos espíritos naturais, efetuada pelosQ uímicos, e denominada Defecação, R etificação, Castigação, Coobação,Acução, Decantação, Sublimação; e a sabedoria purificada pode ser comparadaao Á lcool, que é o espírito retificado no mais alto grau. 3. O ra, como asabedoria espiritual é tal em si mesma, que se abrasa cada vez mais com o amorde se tornar sábio, e que por isso cresce eternamente, o que acontece conformeé aperfeiçoado como que por defecções, castigações, retificações, acuções,decantações e sublimações e estas por eliminações e abstrações doEntendimento de todas as ilusões dos sentidos, e da V ontade de todos osamores do corpo, é evidente que igualmente o Amor conjugal, de que aSabedoria é a mãe (parens) se torna progressivamente cada vez mais puro, e porconseqüência casto. Q ue o primeiro estado do amor, entre os esposos, seja oestado do calor ainda não temperado pela luz, mas que este calor sejaprogressivamente temperado, conforme o M arido é aperfeiçoado em sabedoria,e a Esposa ama esta sabedoria no marido, vê-se no M emorável, n. 137.

146 - M as é preciso que se saiba que não há Amor conjugal absolutamentecasto ou puro entre os homens, nem entre os anjos; há sempre alguma cousa denão-casto ou de não-puro, que se adjunta ou se liga a ele em baixo, mas isso éde uma outra natureza diferente da que pertence ao incasto; pois neles o castoestá em cima, e o não-casto em baixo, e entre um e outro foi colocado peloSenhor como que uma porta com gonzos, que é aberta por determinação, e foiprovido para que esta porta não fique aberta, com receio de que um não passeao outro, e se misturem; pois o N atural do homem é, de nascença maculado echeio de males, mas assim não acontece com seu espiritual porque seu

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nascimento vem do Senhor, pois é a regeneração, e a regeneração é umaseparação progressiva dos males aos quais o homem é inclinado pornascimento. Q ue amor algum nos homens e nos anjos não seja absolutamentepuro, e não possa vir a sê-lo mas que o fim, do designo e a intenção da vontadesejam, principalmente, encarados pelo Senhor, e que por conseqüência quantomais o homem está nisso e nisso persevera, tanto mais é iniciado na pureza, enela faz progressos, vê-se acima, n º 11.

147 - V II. A Castidade do casamento existe por uma renuncia completa asescortações por causa da R eligião.

A razão disso, é que a castidade é o afastamento da incastidade; é uma regrauniversal que, quanto mais alguém afasta o mal, tanto mais dá ao bem afaculdade de lhe tomar o lugar; e que, além disso, quanto mais o mal é odiado,tanto mais o bem é amado; e vice-versa, também; em conseqüência quantomais se renuncia a escortação, tanto mais a castidade do casamento entra. Q ueo Amor conjugal seja purificado e retificado conforme se renuncia àsescortações, cada um o vê pela percepção comum, desde que isso seja dito e sejaouvido, assim antes das confirmações; mas como nem todos têm a percepçãocomum, importa que isso seja ilustrado também por confirmações, asconfirmações são, que o Amor conjugal esfria, desde que é dividido; e que esteesfriamento faz com que ele pereça; pois o calor do amor incasto o extingue;com efeito, dois calores opostos não podem existir juntos, sem que um rejeite ooutro e o prive de sua força. Q uando portanto o calor do amor conjugal afastae rejeita o calor do amor escortatório, o amor conjugal começa a se aqueceragradavelmente, e, pela sensação de suas delícias, a germinar e a florir como umvergel e um bosque de roseiras na estação da primavera; estes, pela temperaturaprimaveril da luz e do calor do Sol do M undo natural; e aquele, pelatemperatura da luz e do calor do Sol do M undo espiritual.

148 - Em cada homem existe gravado desde a criação e por seguinte denascença um Conjugal Interno e um Conjugal Externo; o Interno é espiritual,e o Externo é natural; o homem entra primeiro neste, e à medida que se tornaespiritual, entra naquele; se portanto permanece no Conjugal externo ounatural, então o Conjugal interno ou espiritual é velado, a ponto de não seconhecer dele uma única cousa, e a ponto de ser chamado uma idéia vã; mas seo homem se torna espiritual, então começa a conhecer alguma, cousa dele,depois a perceber alguma cousa de sua qualidade, e progressivamente asentir-lhe os encantos, os prazeres e as delícias; e à medida que isso se opera, ovéu entre o Externo e o Interno, de que se falou, começa a enfraquecer; depois,por assim dizer, a se liqüefazer, e por fim a se anular e a se dissipar. Q uandoisso foi feito, o Conjugal Externo permanece, é verdade, mas é continuamentecorrigido e purificado de sua escória pelo Interno; e isso, ao ponto do Externose tornar como a face do Interno, e tirar da beatitude que está no Interno, o seuprazer, e ao mesmo tempo sua vida e as delícias de sua força. T al é a renúncia

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as escortações, pela qual existe a Castidade do casamento. Poder-se-ia crer queo Conjugal Externo permanecendo depois que o Interno se separou dele, ou oseparou de si, é semelhante ao Externo não separado; mas soube pelos Anjosque são absolutamente diferentes; que o Externo derivado do Interno, que eleschamam o Externo do Interno não pode ter lascívia, mas tem somente castasdelícias, e introduz cousa igual em seu Externo no qual sente suas própriasdelícias; é completamente diferente o caso do Externo separado do Interno,diziam que este é lascivo no comum e em cada parte. Eles comparavam oConjugal Externo derivado do Interno a um belo Fruto cujo sabor e odoragradável se insinuam em sua superfície e lhe dão uma forma emcorrespondência com eles. Comparavam também o Conjugal Externo derivadodo Interno a um Celeiro cuja provisão jamais diminui, mas é constantementerenovada à medida que é gasta; mas o Externo separado do Interno, eles, ocomparavam ao T rigo em uma joeira; se é lançado em torno, só resta a palhaque é dispersada ao vento; acontece assim com o Amor conjugal, se não serenuncia ao amor escortatório.

149 - Q ue a Castidade do casamento não existe pela renúncia as escortações, anão ser que ela se faça pela R eligião, é porque o homem sem religião não setorna espiritual, mas permanece natural; e que se o homem natural renúncia asescortações, seu espírito entretanto não renuncia a elas; e assim ainda que poresta renúncia lhe pareça que é casto, acontece entretanto que a Incastidade estáescondida por dentro como a sânie em uma chaga curada por fora. Q ue oAmor conjugal seja conforme o estado da Igreja no homem, vê-se acima, n.130. V er várias cousas sobre este assunto na Exposição do Artigo X I seguinte.

150 - V III. A Castidade não pode se dizer das criancinhas, nem dos meninos edas meninas, nem dos rapazes e das virgens, antes que sintam em si o amor dosexo.

A razão disto, é que o Casto e o Incasto se dizem unicamente dos Casamentos edas cousas que pertencem ao casamento, ver acima n. 139; e daqueles que nadaconhecem das coisas conjugais, nada da castidade se pode dizer, pois ela é comonada para eles; ora, um nada não pode ser objeto nem da afeição, nem dopensamento; mas depois deste nada surge alguma coisa, quando se sente aprimeira coisa do casamento que é o amor do sexo. Se as virgens e os rapazes,antes que sintam em si o amor do sexo, são vulgarmente chamados castos, éporque se ignora o que é a Castidade.

151 - IX. A Castidade não pode se dizer daqueles que nasceram Eunucos, nemdaqueles que foram feitos Eunucos. Pelos que nasceram Eunucos sãoentendidos principalmente aqueles em quem, de nascença, falta o último doamor, e como o primeiro e o médio não tem fundamento sobre o qualsubsistam, eles não existem também, e se existem, estes eunucos não se ocupamem fazer uma distinção entre o casto e o incasto, pois um e outro lhes éindiferente, mas entre estes há várias diferenças. Acontece com os que foram

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feitos Eunucos quase o mesmo que acontece com alguns dos que nasceramEunucos; mas os que foram feitos Eunucos, sendo homens e mulheres, nãopodem por isso mesmo considerar o amor conjugal senão como uma fantasia, esuas delícias senão como futilidades. Se há neles alguma cousa proveniente dainclinação, isso se torna cousa muda, que não é nem o casto nem o incasto, e oque não é um nem outro, não pertence a denominação alguma de um ou deoutro.

152 - X . A Castidade não pode se dizer daqueles que não acreditam que osadultérios sejam males contra a R eligião, nem com mais forte razão daquelesque não acreditam que os adultérios são nocivos à sociedade. Q ue a Castidadenão possa se dizer desses, é porque eles não sabem o que é a Castidade, nemque ela exista, pois a Castidade pertence ao Casamento, como foi mostradoaqui no Primeiro Artigo; ora, aqueles que não acreditam que os adultériossejam males contra a religião, fazem também os casamentos incastos, quandoentretanto a R eligião nos esposos faz a Castidade deles; assim para eles nada háde casto; é por isso que diante deles a castidade é mencionada em vão; estes sãoadúlteros por confirmação; quanto aos que não acreditam que os adultériossejam nocivos à sociedade, sabem ainda menos que os precedentes o que é acastidade, e se ela existe, pois são adúlteros de propósito deliberado; se dizemque os casamentos são menos incastos que os adultérios, eles o dizem de boca,mas não de coração, porque neles os Casamentos são frios, e aqueles quesegundo este frio falam do calor casto, não podem ter idéia do calor casto arespeito do Amor Conjugal; o que são essas pessoas, e quais são as idéias de seupensamento, e por conseqüência quais são os interiores de sua linguagem,ver-se-á na Segunda Parte que trata das Loucuras dos adúlteros.

153 - X I. A Castidade não se pode dizer daqueles que não se abstêm dosadultérios sendo por diversas razões externas. M uitos acreditam que abster-sedos adultérios somente no corpo é a castidade, e entretanto não está aí aCastidade, a não ser que também ao mesmo tempo se abstenha deles noespírito; o espírito, pelo qual aqui se entende a mente do homem quanto àsafeições e aos pensamentos, constitui o casto e o incasto, pois daí o casto e oincasto passam para o corpo; com efeito, o corpo é absolutamente tal qual é amente ou espírito; segue-se daí que os que se abstêm dos adultérios unicamentedo corpo e não do espírito, e aqueles que se abstêm deles do espírito em razãodo corpo, não são castos; há um grande número de causas que fazem com queo homem renuncie com o corpo aos adultérios, e também do espírito em razãodo corpo; mas acontece que aquele que não renuncia a eles com o corpo emrazão do espírito é incasto; pois o Senhor disse: "quem quer que olhar para amulher de um outro homem para a cobiçar, já cometeu adultério com ela emseu coração". (M at. V , 28). T odas as causas que fazem com que se abstenhamdos adultérios somente do corpo não podem ser enumeradas, pois variamsegundo o estado do casamento, e também segundo os estados do corpo; com

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efeito, há os que se abstêm por medo da lei civil e das penalidades; por medo daperda da reputação, e por conseqüência da honra; por medo das moléstias quedeles provêm; por medo de querelas em casa com a esposa e, por conseqüência,de perder a tranqüilidade da vida; por medo da vingança do marido ou de umparente, e por medo de ser batido pelos criados; além disso, os que se abstêmdeles por pobreza, ou por fraqueza proveniente seja de moléstia, seja de abuso,seja de idade, seja de impotência; entre estes há também os que, porque nãopodem ou não ousam com o corpo, condenam mesmo de espírito os adultérios,e por conseqüência falam com moralidade entre si e em favor dos casamentos;mas se não falam pelo espírito, e se o espírito não maldiz pela religião osadultérios, eles continuam adúlteros, pois ainda que não os cometam com ocorpo, entretanto os cometem com o espírito; é por isso que, depois da morte,quando se tornam espíritos, falam abertamente em favor dos adultérios. Porestas considerações é evidente que o ímpio pode fugir também dos adultérioscomo nocivos, mas só os Cristãos podem fugir deles como pecados. Por aí,vê-se agora, a verdade desta proposição, que a Castidade não se pode dizerdaqueles que se não abstêm dos adultérios senão por diversas razões externas.

154 - X II. A Castidade não pode se dizer daqueles que acreditam que osCasamentos são incastos. Estes não sabem também o que é a Castidade, nemque ela existe; são como aqueles de que se falou acima, n. 152; e como aquelesque colocam a castidade unicamente no Celibato, e de que se vai falar.

155 - X III. A Castidade não pode se dizer daqueles que renunciaram aosCasamentos votando-se a um perpétuo Celibato, a menos que haja epermaneça neles um amor da vida verdadeiramente conjugal. Q ue a Castidadenão possa se dizer desses, é porque o Amor conjugal, depois do voto de umCelibato perpétuo, foi rejeitado, quando entretanto a castidade se dizunicamente deste amor; e porque no homem há sempre por criação e assim denascença uma inclinação para o sexo, e que, quando esta inclinação éconstrangida e domada, é necessário que ela se escoe em um calor, e em algunsem uma efervescência que quando se lança do corpo no espírito, o infesta, e emalgumas pessoas o macula; e pode acontecer que o espírito, assim maculadomacule também as cousas religiosas, e que de sua sede interna, onde estão nasantidade, ele os precipite nos externos onde elas se tornam, unicamente cousasde boca e dos gestos; é por isso que foi provido pelo Senhor para que esteCelibato esteja unicamente nos que estão no culto externo, culto em que estãoporque não se dirigem ao Senhor e não lêem a Palavra; nestes, por estescelibatos, votados ao mesmo tempo com promessa de castidade, a vida eternanão corre perigo como nos que estão no culto interno. Acrescente-se a isso quemuitos dentre eles não abraçam este estado de vida pelo livre da vontade, masalguns o abraçam antes de estar no livre segundo a razão, e alguns outros porcausa de sedução da parte do mundo. Dentre os que adotam este estado paraafastar do mundo a sua mente, a fim de ligar-se ao culto Divino, não há castos

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senão aqueles em quem o amor da vida verdadeiramente conjugal existiu, ouantes deste estado, ou depois deste estado, e em quem ele permanece, porque édo amor desta vida conjugal que se diz à castidade. É por isso também quetodos aqueles que viveram em mosteiros são enfim, depois da morte, desligadosde seus votos, e são repostos em liberdade, a fim de que, segundo seus votosinteriores e os desejos do seu amor, sejam levados a escolher uma vida ouconjugal ou extraconjugal; se então abraçam a vida conjugal, aqueles queamaram também os espirituais do culto são dados em casamento no Céu; masaqueles que abraçam a vida extraconjugal são enviados para seus semelhantesque habitam sobre os lados do Céu. Perguntei aos Anjos se aquelas que seaplicaram à piedade, que se sujeitaram inteiramente ao Culto Divino, e assimse subtraíram às fascinações do mundo e às cobiças da carne, e que por issomesmo se votaram a uma V irgindade perpétua, são recebidas no Céu, e aí setornam, segundo sua crença, as principais entre os bem-aventurados; os Anjosresponderam que elas são, é verdade, recebidas; mas que, quando aí sentem aesfera do amor conjugal, elas se tornam tristes, e inquietas, e então umas porsua própria vontade, outras depois de ter pedido permissão, e outras depois deter recebido ordem, vão embora e são despedidas; e quando estão fora desseCéu, lhes é aberto um caminho para suas consociadas, que no M undo tinhamestado em um semelhante estado de vida, e então de tristes se tornam alegres, ese divertem juntas.

156 - X IV . O estado do Casamento deve ser preferido ao estado do Celibato.Isso é evidente pelo que foi dito até aqui sobre o Casamento e o Celibato. Se oestado do Casamento deve ser preferido, é porque este estado existe por criação;porque a sua origem é o Casamento do bem e do vero; porque a suacorrespondência é com o Casamento do Senhor e da Igreja; porque a Igreja e oAmor conjugal são Companheiros assíduos; porque seu uso é mais excelente,do que os usos de todas as coisas da criação, pois é dele que, segundo a ordem,vêm a propagação do G ênero H umano, e também do Céu Angélico, pois queeste Céu é formado do G ênero H umano; acrescente-se a isso que o Casamentoé a plenitude do homem pois, por ele, o homem se torna homem pleno, o queserá demonstrado no Capítulo seguinte; todas estas cousas não estão noCelibato. M as se põe por Proposição, que o estado do celibato é preferível aoestado do Casamento, e se esta proposição é submetida ao exame, para que selhe dê assentimento e que seja corroborada por confirmações, então seguem-seestas asserções, que os Casamentos não são santos; que não os há Castos; quemesmo a, Castidade no sexo feminino só existe nas que se abstêm docasamento, e se votam a uma perpétua virgindade; e que demais, aqueles que sevotaram a um Celibato perpétuo são entendidos pelos Eunucos que se fizeramEunucos para o R eino de Deus (M at. X IX, 12); além de várias outras asserções,que, provindas de uma Proposição não verdadeira, não são verdadeirastambém; pelos Eunucos, que se fazem Eunucos, para o R eino de Deus, sãoentendidos os Eunucos espirituais, isto é, aqueles que nos Casamentos se

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abstêm dos males das escortações; que não sejam entendidos os Eunucositalianos, isso é evidente.

151 (bis). Ao que acaba de ser dito ajuntarei dois M emoráveis:

Primeiro M emorável: Q uando, deste Jogo da Sabedoria, de que se falou acima,n. 132, eu voltava para casa, vi no caminho um Anjo em vestimenta cor dejacinto; ele se colocou ao meu lado, e disse: "V ejo que sais do Jogo daSabedoria, e que estás encantado com o que ouviste lá; e como percebo que nãoestás plenamente neste M undo, porque estás ao mesmo tempo no M undonatural, e que, por conseqüência, não conheces os nossos G inásios O límpicos,onde os antigos Sophi se reúnem, e se informam dos que chegam do teuM undo sobre as mudanças e sucessões de estados que a Sabedoria sofreu e sofreainda; se queres eu te conduzirei a um lugar onde moram vários destes antigosSophi e vários de seus filhos, isto é, de seus discípulos". E ele me conduziu paraos confins entre o Setentrião e o O riente, e quando eu olhava de um lugarelevado, eis que vi uma Cidade, e a um de seus lados duas Colinas; e, a maispróxima da cidade, menos elevada que a outra; e ele me disse: "Esta cidade échamada Atenas; a Colina menos elevada, Parnaso; e a mais alta, H elicon; sãochamadas assim, porque na Cidade e nos arredores habitam antigos Sábios daG récia, como Pitágoras, Sócrates, Arístipo, X enofonte com seus discípulos e osde sua escola". E perguntei por Platão e Aristóteles; e ele me disse que eles eseus sectários habitavam em uma outra região, porque tinham ensinado ascoisas racionais que pertencem ao entendimento, enquanto que os outrostinham ensinado as cousas morais que pertencem à vida. Disse-me que daCidade de Atenas freqüentemente são enviados Espíritos estudiosos aos letradosdentre os Cristãos, para que relatem o que se pensa hoje concernente a Deus, àCriação do U niverso, à Imortalidade da alma, ao Estado do homem comparadoao das bestas, e a outros assuntos que pertencem à sabedoria interior; e me disseque hoje o arauto havia anunciado uma assembléia, o que era um índice de queos enviados tinham encontrado recém vindos da terra, de quem tinhamaprendido cousas curiosas; e vimos um grande número de espíritos que saíamda cidade e dos arredores, alguns tendo coroas de louro na cabeça, outros tendopalmas nas mãos, outros com livros em baixo dos braços, -e outros com penassob os cabelos da têmpora esquerda. N ós nos misturamos com eles, e subimosjuntos; e eis que sobre a Colina havia um Palácio octogonal, que eleschamavam Paladium e entramos; e eis que havia lá oito redutos hexagonais, emcada um dos quais havia uma pequena Biblioteca, e também uma M esa, pertodas quais se sentaram os que tinham coroas de louro; e no Paladium mesmo viassentos talhados na pedra, sobre os quais os outros se colocaram, e então, àesquerda, se abriu uma porta, pela qual foram introduzidos dois recém-vindosda terra, e depois que foram saudados, um dos que estavam coroados de louro,lhes perguntou: "Q ue há de novo na terra?" E eles disseram: "H á de novo, que

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se encontrou nos matos homens que são como bestas, ou bestas que são comohomens; mas por sua face e seu corpo conheceu-se que tinham nascidohomens, e tinham sido perdidos ou abandonados no mato com a idade, de doisou três anos; dizem que eles não podem exprimir pelo som cousa alguma doque pensam, nem aprender a articular o som em palavra alguma-,' que nãosabem também discernir, como o fazem as bestas, o alimento que lhes convém,e que metem na boca tanto cousas sãs como mal-sãs que encontram no mato;contam ainda várias outras particularidades; daí alguns Eruditos entre nósconjecturarem e alguns outros concluíram várias cousas sobre o estado doshomens comparado com o das bestas". A essas palavras, alguns dos antigosSophi perguntaram o que haviam conjecturado e concluído; e os doisrecém-vindos responderam: "M uitas cousas que entretanto podem se reduzir aoque segue: 1. Q ue o homem por sua natureza, e também por seu nascimento, émais estúpido e por conseguinte mais vil que a besta, e que assim se torna senão é instruído; 2. Q ue ele pode ser instruído, porque aprendeu a produzirsons articulados, e por conseguinte a falar, e que por isso começou a manifestarpensamentos, e isso progressivamente, de mais em mais, ao ponto de poderexprimir as leis da sociedade, das quais entretanto várias foram gravadas nasbestas de nascença; 3. Q ue as bestas têm a racionalidade do mesmo modo queos homens; 4. Se, portanto as bestas pudessem falar elas raciocinariam sobrecada cousa tão sutilmente quanto, os homens; o que o indica, é que elaspensam segundo a razão e a prudência tão bem como os homens; 5. Q ue oEntendimento é somente uma modificação da luz do Sol, com a cooperação docalor, por meio do éter, de sorte que é somente uma atividade da naturezainterior, e que esta atividade pode ser exaltada a ponto de se mostrar comosabedoria; 6. Q ue é por conseqüência ridículo crer que o homem, depois damorte, vive mais do que a besta, a não ser talvez que, durante alguns diasdepois do falecimento, ele pode, pela exalação da vida do corpo aparecer comonimbo sob a forma de um fantasma, antes que seja dissipado na natureza,pouco mais ou menos como um ramo queimado, retirado das cinzas se faz versob a semelhança de sua forma; 7. Q ue em conseqüência a R eligião, que ensinauma vida depois da morte, é uma pura invenção, a fim de que os simples sejammantidos interiormente ligados pelas leis religiosas, como o são exteriormentepelas leis civis". Acrescentaram que são os homens puramente engenhosos queraciocinam assim, e não os homens Inteligentes; e perguntaram-lhes: "Comoraciocinam os inteligentes?" Eles disseram que não os tinham ouvido, mas quetêm deles esta opinião.

152 (bis) . Depois desta exposição, todos os que estavam perto das M esasexclamaram: "O h! que tempo hoje sobre a T erra! Ai! que vicissitudes aSabedoria tem sofrido! não foi ela torcida em um louco discurso engenhoso? oSol está deitado, e diametralmente oposto, sob a terra, em seu meio-dia. Pelosque foram abandonados e achados no mato, quem não sabe quesemelhantemente é o homem não instruído? O homem não é segundo a

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instrução que recebe? N ão nasce ele na ignorância mais que as bestas? N ão deveaprender a caminhar e a falar? Se não aprendesse a caminhar, levantar-se-ia elesobre os pés? E se não aprendesse a falar, exprimiria ele pelo som alguma cousado pensamento? T odo homem não é segundo o que lhe foi ensinado; insensato,se foi pelos falsos; e sábio, se foi pelos veros; e insensato pelos falsos, com afantasia de ser mais sábio do que é sábio pelos veros? N ão há homens loucos eextravagantes, que não são mais homens do que os que foram achados nomato? O s que são privados da memória não lhe são semelhante? Para nós,concluímos de tudo isso que o homem sem a Instrução, não é nem umhomem, nem uma besta, mas é uma forma que pode receber em si aquilo quefaz o homem, e que assim ele não nasce homem, mas se torna homem; e que ohomem nasce uma tal forma, para que seja um órgão recipiente da vida queprocede de Deus, a fim de que seja um ser no qual Deus possa introduzir todobem, e pela união com ele torná-lo feliz pela eternidade. Percebemos pela vossanarração que a sabedoria hoje está de tal modo extinta ou enlouquecida, quenão se sabe absolutamente cousa alguma do estado da vida dos homens em suarelação com o estado da vida das bestas; daí vem que não se conhece também oestado da vida das bestas; dai vem que não se conhece também o estado da vidado homem depois da morte; quanto aos que o podem conhecer, mas não oquerem, e por conseguinte o negam, como fazem muitos dos vossos Cristãos,podemos assimilá-los aos que foram encontrados no mato, não que se tenhamtornado assim estúpidos pela privação da instrução, mas porque eles mesmos setornaram assim estúpidos pelas ilusões dos sentidos, que são as trevas dasverdades".

153 - (bis) . M as então um dos assistentes, que estava de pé no meio doPaladium, tendo na mão uma palma, disse: "Peço-vos que desenvolvais estearcano: Como o homem criado forma de Deus, pôde ser mudado em forma dediabo? Eu sei que os Anjos do Céu são formas de Deus, e que os anjos doinferno são formas do diabo; e estas duas formas são. opostas entre si, estas sãoLoucuras, aquelas são Sabedorias; dizei, portanto, como o homem, criadoforma de Deus, pôde passar do dia para uma tal noite, que tenha chegado anegar Deus e a vida eterna?" A esta questão os M estres responderam nestaordem, primeiro os Pitagóricos, depois os Socráticos, e em seguida os outros;entres eles havia um Platoniano; este falou por último, e sua opiniãoprevaleceu; ela consistia nisto: "O s homens da idade de Saturno ou do Séculode O uro, sabiam e reconheciam que eram Formas recipientes da vida queprocede de Deus, e por conseqüência a sabedoria estava gravada em suas almase em seus corações; e por conseguinte pela luz do vero eles viam o vero, e pelosveros percebiam o bem pelo prazer do amor do bem; mas à medida que oshomens, nos Séculos seguintes, se afastaram do reconhecimento de que todovero da sabedoria, e por conseguinte de todo bem do amor neles, influíacontinuamente de Deus, eles cessaram de ser habitáculos de Deus, e entãocessou também sua conversação com Deus, e sua consorciação com os Anjos;

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pois os interiores de sua mente, de sua direção que tinha sido elevada ao altopara Deus por Deus, foram virados em uma direção oblíqua, cada vez maispara fora no M undo, e assim para Deus por Deus por meio do M undo, eenfim foram revirados na direção oposta que está em baixo, para si mesmo; ecomo Deus não pode ser encarado pelo homem interiormente revirado e assimvoltado em um sentido oposto, os homens se separaram de Deus, e se tornaramformas do Inferno ou do diabo. Segue-se dai que, nas primeiras Idades, oshomens reconheceram de coração e de alma que todo bem do amor, e porconseguinte todo vero da sabedoria, lhes vinha de Deus, e também pertenciama Deus neles, e que assim eram receptáculos da vida procedendo de Deus, oque fez com que fossem chamados Imagens de Deus, Filhos de Deus, N ascidosde Deus; mas que, nas Idades seguintes, eles reconheceram isso não de coraçãonem de alma, mas por uma certa fé persuasiva, e em seguida por uma féhistórica, e enfim somente de boca; e reconhecer isso somente de boca; é não oreconhecer; mais ainda, é negá-lo de coração. Por aí, pode-se ver qual é hoje asabedoria sobre a terra entre os Cristãos, pois que estes, ainda que possam pelaR evelação escrita ser inspirados por Deus, não conhecem a diferença que háentre o homem e a besta; e por conseguinte muitos acreditam que se o homemvive depois da morte, a besta também deve viver, ou se a besta não vive depoisda morte, o homem também não deve viver; a nossa luz espiritual, que iluminaa vida da mente, não se tomou obscuridade neles; e a luz natural, que iluminasomente a vista do corpo, não se tomou para eles uma luz brilhante?"

154 - (bis). Depois disso, eles se voltaram todos para os dois recém-vindos, elhes agradeceram por terem vindo ao meio deles e pela narração que tinhamfeito, e lhes pediram para referir a seus irmãos o que acabavam de ouvir; e osrecém-vindos responderam que confirmariam os seus nesta verdade, quequanto mais se atribui ao Senhor, e não a si todo bem da caridade e todo veroda fé, tanto mais se é homem e se torna Anjo do Céu.

155 - (bis). Segundo M emorável: U ma manhã, um Canto muito suave, que euouvia a uma certa altura acima de mim, me acordou; e em seguida, nestaprimeira vigília que é interna, mais tranqüila e mais doce que as outras vigíliasdo dia, eu pude durante algum tempo ser mantido em espírito como fora docorpo, e dar toda minha atenção à afeição que era cantada; o Canto do Céu nãoé outra cousa senão uma afeição da mente, que é emitida pela boca como umamodulação, pois é um som separado do discurso daquele que fala, provenienteda afeição do amor, afeição que dá a vida à linguagem; neste estado percebi queera a afeição das delícias do Amor conjugal, que era cantada com melodia poresposos no Céu; vi que era assim pelo som do canto, no qual estas delícias eramvariadas de uma maneira admirável. Depois disso, eu me levantei, e dirigi meuolhar para o M undo Espiritual; e eis que no O riente sob o Sol, lá, apareceucomo que uma Chuva de ouro; era o orvalho da manhã, caindo em grandeabundância, que batido pelos raios do Sol apresentava à minha vista a aparência

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de uma Chuva de ouro, tendo sido por isso ainda mais plenamente despertado,saí em espírito, e perguntei a um Anjo, que vinha então ao meu encontro, seele tinha visto a Chuva de ouro caindo do Sol; e ele respondeu que a via todasas vezes que estava em meditação sobre o Amor conjugal; e então voltou osolhos para o Sol, e disse: "Esta Chuva cal sobre um Palácio (Aula), onde estãotrês M aridos com suas Esposas, que habitam no meio do Paraíso O riental. Se sevê cair do Sol uma tal Chuva sobre esse palácio, é porque neles reside asabedoria sobre o Amor conjugal e sobre suas delícias, nos maridos sobre oamor conjugal, e nas Esposas, sobre suas delícias; mas percebo que estás nameditação sobre as delícias do amor conjugal; vou por conseguinte te conduzira esse Palácio, e te introduzirei nele". E me conduziu por Jardins Paradisíacospara Casas que eram construídas com M adeira de oliveira, e que tinham duascolunas de Cedro diante da porta; e me introduziu onde estavam os M aridos, elhes pediu que me fosse permitido conversar em sua presença com suasEsposas, e eles consentiram, e as chamaram. Estas olharam para meus olhoscom finura; elas disseram: "Podemos descobrir neles exatamente qual é tuainclinação e por conseguinte tua afeição, e por esta teu pensamento sobre oamor do sexo, e vemos que meditas profundamente sobre este amor, masentretanto com castidade". A acrescentaram: "Q ue queres que te digamos sobreeste assunto?" E respondi: "Dizei, eu vos peço, alguma coisa das delícias doAmor conjugal". E os M aridos consentiram dizendo: "Descobri a ele, se issovos agrada, alguma cousa dessas delícias; seus ouvidos são castos". E elas medirigiram esta pergunta: "Q uem te aconselhou a nos interrogar sobre as delíciasdeste amor? Por que não interrogas os nossos M aridos?" E eu respondi: "EsteAnjo que está comigo, me disse ao ouvido que as Esposas, são receptáculos e ossensórios destas delícias, porque elas nasceram Amores, e que todas as delíciaspertencem ao amor". A estas palavras elas responderam sorrindo: "Sê prudente,e não digas nada disso senão em um sentido ambíguo, porque isso é umasabedoria profundamente guardado nos corações de nosso sexo, e nãodescoberto a nenhum M arido, a não ser que ele esteja no amorverdadeiramente conjugal; há para isso várias razões que escondemosprofundamente em nós". E então os M aridos disseram: "As Esposas, conhecemtodos os estados de nossa mente, e nada há aí escondido para elas; elas vêem,percebem e sentem tudo o que procede de nossa vontade; e nós, ao contrário,nada conhecemos do que se passa nas Esposas; e isso foi dado às Esposas;porque elas são terníssimos Amores, e como Z elos ardentes para a conservaçãoda amizade e da confiança conjugal, e assim de uma e de outra felicidade davida, a qual elas velam cuidadosamente para seus maridos e para elas mesmas,com uma sabedoria implantada em seu amor, que é tão cheio de prudência,que elas não querem e por conseguinte não podem dizer que amam, mas dizemque são amadas". E perguntei porque elas não querem e por conseguinte nãopodem. Elas responderam: "Se a menor cousa semelhante se escapasse da bocadas Esposas; o frio se apoderaria dos maridos, e os separaria do leito, do quarto

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e do aspecto; mas isso acontece a aqueles que não consideram os casamentoscomo santos, e que por conseqüência não amam suas Esposas; com um amorespiritual; é completamente diferente com aqueles que amam; nas mentesdestes, este amor é espiritual, e em seguida no corpo é natural; nós, nestePalácio, estamos no amor natural pelo amor espiritual; por isso confiamos anossos maridos os arcanos sobre nossas delícias do amor conjugal". Então lhespedi honestamente que me descobrissem também alguma cousa desses arcanos;e imediatamente elas olharam para a janela da plaga meridional, e eis que umapomba branca, cujas mas brilhavam como de prata, e cuja cabeça era ornadacom uma coroa de ouro, foi vista pousada sobre um ramo de que pendia umaoliva; como estava ela se esforçando para estender as asas, as Esposas; disseram:"N ós te descobriremos alguma cousa; quando esta pomba aparece, é para nósum sinal de que nos é permitido". E disseram: "Cada homem tem cincoSentidos; a V ista, o O uvido, o O lfato, o G osto e o T ato; mas nós temos umSexto, que é o Sentido de todas as delícias do amor conjugal do M arido; e esteSentido está em nós nas palmas das mãos, quando tocamos o peito, os braços asmãos e as faces de nossos maridos, sobretudo o peito, e também quando somostocadas por eles; todos os júbilos e todos os encantos dos pensamentos de suamente (mens), todas as alegrias e todos os prazeres de sua mente (animus), etoda a satisfação e todo contentamento de seu coração passam deles para nós, ese formam e se tornam perceptíveis, sensíveis e palpáveis, e nós os discernimoscom tanta justiça e tão distintamente, como o ouvido discerne as modulaçõesdo canto, e a língua discerne os sabores dos manjares; em uma palavra, osprazeres espirituais dos maridos tomam em nós uma espécie de incorporaçãonatural, é por isso que nossos M aridos nos chamam os órgãos sensória do amorcasto conjugal, e por conseqüência de suas Delícias, mas este Sentido do nossosexo existe, subsiste, persiste e se exalta no grau em que os M aridos nos amamsegundo a sabedoria e o julgamento, e no qual nós, de nosso lado, os amamossegundo esta sabedoria e este julgamento neles; nos Céus este Sentido de nossosexo é chamado o Jogo da sabedoria com seu amor, e do amor com suasabedoria". Por estes detalhes, fui animado do desejo de fazer várias perguntas,por exemplo, sobre a V ariedade das delícias, e elas disseram: "Ela é infinita; masnós não queremos dizer mais; e não o podemos, por esta razão que a Pomba denossa janela voou com o ramo de oliveira sob os pés". Esperei sua volta, masem vão. Durante este tempo fiz aos M aridos esta pergunta: "T endes vós umsemelhante sentido do Amor Conjugal?" E eles responderam: "T emos estesentido em comum, e não em particular; pela beatitude particular, o prazerparticular e o encanto particular que experimentam as nossas Esposas, nóstemos uma beatitude comum, um prazer comum e um encanto comum, e esteComum, que nos vem delas, é como a Serenidade da paz". Depois quedisseram estas palavras, eis que através da janela apareceu um Cisne que semantinha sobre um ramo de figueira, e estendeu as asas e voou; a esta vista, osM aridos disseram: "É para nós um sinal de silêncio sobre o Amor conjugal;

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volta várias vezes, e talvez várias outras cousas te sejam desvendadas". E eles seretiraram e nós fomos embora.

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Da conjunção das almas e dasmentes pelo casamento, a qual éentendida por estas palavras doSenhor: eles não sao mais dois

mas uma só carne

156 - (bis). Q ue por Criação tenha sido implantada no H omem e na M ulheruma inclinação e também uma Faculdade de conjunção como em um, e queuma e outra estejam ainda no H omem e na M ulher, vê-se pelo Livro dacriação, e ao mesmo tempo pelas palavras do Senhor. N o Livro da criação, queé chamado G ênesis, lê-se: "Jehovah Deus edificou em mulher a costela quetirou do homem; e a levou ao homem. E o homem disse: Esta, desta vez, éO sso de meus ossos e carne da minha carne; desta o nome será chamadoIschah, porque de Isch, o homem (V ir) foi esta tirada; por isso o homemdeixará seu pai e sua mãe, e se ligará a sua esposa, e eles serão em uma. sócarne". (11, 22, 23, 24). O Senhor disse também semelhantemente emM ateus: "N ão lestes que Aquele que os faz no começo, M acho e Fêmea os fez,e disse: Por causa disso o homem deixará seu pai e sua mãe, e se ligará a suaesposa, e os dois serão em uma só Carne? Portanto, eles não são mais dois, masuma só Carne". (X X, 4, 5). Por estas palavras é evidente que a M ulher foicriada do H omem. (V ir) e que em um e outro há uma Inclinação e umaFaculdade de se reunir em um; que seja em um H omem (H omo), isso ainda éevidente pelo Livro da criação, onde um e outro em conjunto são chamados oH omem, pois lê-se: "N o dia em que Deus criou o H omem, macho e fêmea oscriou, e chamou seu nome H omem". (V , 1, 2); aí, se lê: Ele chamou seu nomeAdão; mas Adão e H omem são uma mesma palavra na Língua H ebraica; alémdisso, um e outro, juntos são aí chamados H omem, (1, 27; 111, 22, 23, 24);por uma só carne é significado também um só H omem, o que é evidente naPalavra pelas passagens onde se diz: "T oda Carne", pelo que é entendido T odoH omem, como G ênesis V I, 12, 13, 17, 19; Isaías X L, 5, 6; X LIX, 26; LXV I,16, 23, 24; Jeremias X XV , 31; X XXII, 27; X LV , 5; Ezequiel X X, 48; X XI, 4,5; e em outros lugares. Q uanto ao que é entendido pela Costela do homem quefoi edificada em mulher; por "serrou a Carne em seu lugar"; e assim por "O ssode meus ossos e Carne de minha Carne"; pelo Pai e a M ãe que o homemdeixará depois do casamento, e por Ligar-se a sua esposa, isso foi mostrado nosArcanos Celestes, onde os dois Livros, o G ênesis e o Êxodo foram explicados

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quanto ao sentido espiritual. Q ue pela Costela não tenha sido entendida umacostela, nem pela Carne a carne, nem por O sso um osso, nem por Ligar-se,ligar-se, mas foram entendidos Espirituais que correspondem a essas cousas, eque por conseguinte são significadas por elas, é o que foi demonstrado nessamesma O bra; que tinham sido entendidos Espirituais, que de dois fazem um sóH omem, isso é evidente pelo fato do Amor conjugal conjuntar os dois, e esteAmor é espiritual. Q ue o Amor da Sabedoria do Esposo tenha sido transferidopara a esposa, isso já foi dito algumas, vezes, e será mais plenamenteconfirmado nas Seções que seguem esta; agora, não, é permitido fazer umadigressão, nem por conseqüência afastar-se do assunto aqui proposto, queconcerne à conjunção de dois Esposos em uma só carne pela união das almas edas mentes. M as esta U nião vai ser explicada nesta ordem: I. Foi impressa emum e outro Sexo uma faculdade e uma inclinação, para que eles possam equeiram ser conjuntos como em um. II. O Amor conjugal conjunta as duasalmas e por conseguinte as duas mentes em um. III. A vontade da esposa, seconjunta com o entendimento do Esposo, e por conseguinte o entendimentodo Esposo se conjunta com a vontade da esposa. IV . A inclinação a unir a si oEsposo, é constante e perpétua na esposa, mas inconstante e alternativa noEsposo. V . A conjunção é inspirada ao Esposo, pela esposa, segundo o amor daesposa, e é recebida pelo Esposo, segundo a sabedoria do Esposo. V I. Estaconjunção se faz progressivamente desde os primeiros dias do casamento, e, nosque estão no Amor verdadeiramente conjugal, ela se faz cada vez maisprofundamente durante a eternidade. V II. A conjunção da Esposa com asabedoria racional do M arido se faz por dentro, mas com a Sabedoria moral elase faz por fora. V III. Por esta conjunção como fim, foi dada à Esposa apercepção das afeições do M arido, e também a maior prudência para asmoderar. IX. As Esposas encerram em si esta percepção, e a escondem aosM aridos por motivos que são necessidades, a fim de que o Amor conjugal, aamizade e a confiança, e assim a beatitude da coabitação e a felicidade da vida,sejam asseguradas. X . Esta percepção é a Sabedoria da esposa; e esta sabedorianão pode estar no esposo, nem a Sabedoria racional do esposo estar na esposa.XI. A Esposa, pelo amor, pensa continuamente na Inclinação do Esposo emrelação a ela, na intenção de se lhe conjuntar; não se dá o mesmo com oEsposo. X II. A Esposa se conjunta ao Esposo por aplicações aos desejos de suavontade. X III. A Esposa se conjunta a seu Esposo pela esfera de sua vida, quesai de seu amor. X IV . A Esposa se conjunta ao M arido pela apropriação dasforças da virtude do marido, mas isso se faz segundo seu mútuo amorespiritual. X V . Assim a Esposa recebe nela a imagem de seu M arido, e porconseguinte a percebe, vê e sente as afeições. X V I. H á Deveres próprios aoEsposo, e Deveres próprios à Esposa e a Esposa não pode entrar nos deverespróprios ao esposo, nem o esposo, nos deveres próprios à Esposa nem bem sedesobrigar deles um e outro. X V III. Estes Deveres segundo o socorro mútuoconjuntam também os dois em um; e ao mesmo tempo constituem uma única

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Casa. X V III. Aqueles que estão no Amor verdadeiramente conjugal tornam-secada vez mais um único H omem. XIX. Aqueles que estão no Amorverdadeiramente conjugal sentem que pela união eles são homens, e como umasó carne. X X. O Amor verdadeiramente conjugal, considerado em si mesmo, éa união das almas, a Conjunção das mentes, e o esforço para a conjunção nopeito e em seguida no corpo. X XI. O s estados deste amor são a Inocência, aPaz, a T ranqüilidade, a Amizade íntima, a plena Confiança, e o Desejo damente (animus) e do coração de se fazer um ao outro toda sorte de bem; e osestados provenientes destes são a Beatitude, a Satisfação, o Prazer, a V olúpia; edo gozo eterno de todas estas cousas resulta a Felicidade eterna. X XII. Estascousas não podem existir senão no casamento de um único esposo, com umaúnica Esposa Segue agora a explicação destes Artigos.

157 - I. Foi gravado por criação em um e outro Sexo uma faculdade e umainclinação, para que possam e queiram ser conjuntos como em um. Q ue amulher tenha sido tirada do homem, isso acaba de ser mostrado pelo Livro daCriação; que por conseqüência haja em um e outro sexo uma faculdade e umainclinação para se conjuntar em um, é o que resulta daí; pois o que foi tiradode uma cousa tem e retém do próprio dessa cousa o que faz seu; isso, sendohomogêneo com essa cousa, aspira à reunião, e quando foi reunido, está comoem si quando está nela e vice-versa. Q ue haja uma faculdade de conjunção deum sexo com o outro, ou que eles possam se unir, isso não pode levantardúvida alguma; dá-se o mesmo quanto à inclinação para se conjuntar; pois aexperiência nos ensina uma e outra.

158 - II. O Amor conjugal conjunta as duas almas e em conseqüência as duasmentes em um. Cada homem se compõe de uma alma, de uma mente e de umcorpo; a alma é seu íntimo, a mente seu meio, e o corpo seu último; a alma,porque é o íntimo do homem, é celeste de origem; a mente, porque é o meio, éespiritual de origem e o corpo, porque é o último, é natural de origem; ascousas que de origem são celestes, e as que de origem são espirituais, não estãono espaço, mas estão nas aparências do espaço; isso é mesmo sabido no M undo,por isso se diz que nem a extensão nem o lugar podem se aplicar às cousasespirituais: pois que os espaços são aparências, as distâncias e as presenças sãotambém aparências; que as aparências das distâncias e das presenças no M undoespiritual sejam segundo as proximidades, os parentescos e as afinidades doamor, é o que foi muitas vezes mostrado e confirmado em opúsculos sobre esseM undo. Estas explicações foram dadas, a fim de que se saiba que as almas e asmentes dos homens não estão no espaço, como aí estão seus corpos, porque pororigem, como acaba de ser dito, as almas são celestes, e as mentes sãoespirituais; e que, como as almas e as mentes não -estão no espaço, podem serconjuntas como em um, embora os corpos não o sejam ao mesmo tempo. Issoacontece principalmente entre Esposos que se amam intimamente com umamor mútuo; mas como a mulher vem do homem, e como esta conjunção é

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uma espécie de reunião, a razão pode ver que é não uma conjunção em um,mas uma adjunção, vizinha e próxima, segundo o amor, e chegando aocontacto naqueles que estão no amor verdadeiramente conjugal; esta adjunçãopode ser chamada coabitação espiritual, e se dá entre os esposos que se amamternamente por mais afastados que estejam de corpo; há mesmo no M undonatural várias provas que a experiência fornece para o confirmar. Por estasconsiderações é evidente que o Amor conjugal conjunta as duas almas e as duasmentes em um.

159 - III. A vontade da Esposa se conjunta com o entendimento do esposo, epor conseqüência o entendimento do Esposo se conjunta com a vontade daesposa. A razão disso, é que o macho nasce para se tornar entendimento, e afêmea para se tornar vontade amando o entendimento do macho, dondesegue-se que a Conjunção conjugal é a da V ontade da Esposa com oEntendimento do Esposo e que há conjunção recíproca do Entendimento doEsposo com a V ontade da Esposa cada um vê que há uma muito estreitaconjunção do Entendimento e da V ontade, e que ela é tal, que uma dasfaculdades pode entrar na outra, e se deleitar com esta conjunção e nestaconjunção.

160 - IV . A inclinação a unir a si o Esposo é constante e perpétua na Esposa ealternativa no Esposo.

Isto vem de que o amor não pode deixar de amar, e unir-se para ser por sua vezamado; a sua essência e a sua vida não são outra cousa; ora, as mulheres sãonascidas amores, e os homens com os quais elas se unem para serem, por suavez, amadas são recepções: Além disso, o amor é sem cessar atuante; é como ocalor, a chama e o fogo, que perecem se não impedidos de agir, dai vem que ainclinação para unir a si o Esposo é constante e perpétua na Esposa se noEsposo não há uma semelhante inclinação para com a Esposa é porque ohomem não é amor, mas é unicamente recipiente do amor; e como o estado derecepção está ausente e está presente segundo os cuidados que se interpõem,conforme as mudanças de calor e de não calor na mente por diversas causas, esegundo os aumentos e diminuições de forças do corpo, as quais não voltamconstantemente nem em momentos fixos, segue-se que a inclinação a estaconjunção nos homens é inconstante e alternativa.

161 - V . A conjunção é inspirada ao Esposo pela Esposa segundo o amor daesposa, e é recebida pelo Esposo segundo a sabedoria do Esposo.

Q ue o amor, e por conseguinte a conjunção seja inspirado ao Esposo pelaEsposa é o que está hoje escondido para os homens, e mesmo universalmentenegado por eles; e isso, porque as esposas persuadem que são unicamente oshomens que amam, e que são elas que recebem, ou que os homens são amores,e elas obediências; elas sentem mesmo alegria de coração, quando os homens ocrêem: se elas os persuadem disso, é por várias razões, as quais se ligam todas à

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prudência e à circunspeção das esposas, e das quais se dirá alguma cousa emseguida, e especialmente no Capítulo sobre as causas de frieza, de separações ede divórcios entre os esposos. Se os homens recebem das esposas, a inspiraçãoou a insinuação do amor, é porque não há cousa alguma do amor conjugal,nem mesmo do amor do sexo nos homens, mas unicamente nas esposas e nasmulheres; que assim seja, é o que me foi mostrado de uma maneira chocante(ad vivum) no M undo espiritual: U m dia houve lá uma conversa sobre esteassunto, e homens persuadidos por suas esposas, sustentavam que são eles queamam, e não as esposas, mas que as esposas, recebem deles o amor; paraterminar a controvérsia sobre este arcano, todas as mulheres foram retiradas doshomens, com as esposas, e ao mesmo tempo com elas foi afastada a esferamesma do amor do sexo; desde que esta esfera foi afastada, os homens caíramem um estado completamente estranho, e que jamais tinham percebido antes, ese queixaram muito disso; então, enquanto estavam nesse estado, as mulheresforam reconduzidas a eles e as esposas aos maridos, e umas e outras lhes falaramcom ternura; mas eles permaneceram frios a suas carícias, e se afastaram edisseram entre si: "o que é tudo isso? o que é uma mulher?" e como algunsdisseram que elas eram suas esposas, eles responderam: “O que é uma esposa?nós não vos conhecemos". M as como as esposas, começaram a se afligir comesta indiferença absolutamente fria dos maridos, e algumas a chorar, a esfera doamor do sexo feminino e a esfera conjugal, que até aquele momento tinhamsido retiradas dos homens, foram restituídas, e então os homens reingressaramno seu estado precedente, os amadores do casamento no seu, e os amadores dosexo no seu; assim os homens foram convencidos de que cousa alguma do amorconjugal, nem mesmo do amor do sexo, reside neles, mas unicamente nasesposas, e nas mulheres; não obstante, em seguida, as esposas, por suaprudência levaram os homens a crer que o amor reside nos homens, e quealguma centelha deste amor pode passar deles para elas. Esta experiência foireferida aqui, a, fim de que se saiba que as esposas, são amores, e os homensrecepções. Q ue os homens sejam recepções segundo a sabedoria deles, sobretudo segundo esta sabedoria aurida na religião, que a esposa? só deve ser amada,vê-se claramente no fato de que, quando a esposa? Só é amada, o amor éconcentrado; e como ele é mesmo enobrecido, permanece em sua força, semantém e persiste; e pelo fato de que, de outro modo, seria como quando oceleiro de trigo é lançado aos cães, o que acarreta a miséria na casa.

162 - V I. Esta conjunção se faz progressivamente desde os primeiros dias docasamento; e naqueles que estão no verdadeiro amor conjugal, ela se faz cadavez mais profundamente durante a eternidade.

O primeiro calor do casamento não conjunta, pois ele contém o amor do sexoque pertence ao corpo e em seguida ao espírito; e aquilo que pelo corpo está noespírito não permanece por muito tempo; mas o amor que pelo espírito está nocorpo, permanece; o amor do espírito, e do corpo pelo espírito, é insinuado nas

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almas e nas mentes dos esposos ao mesmo tempo que a amizade e a confiança;quando estas duas se conjuntam com o primeiro amor do casamento, então seforma o Amor conjugal, que abre os peitos, e lhes inspira as doçuras do amor; eisso, cada vez mais profundamente, conforme a amizade e a confiança seadjuntam ao amor primitivo, e conforme este amor entra nelas e elas nele.

163 - V II. A conjunção da Esposa com a Sabedoria racional do M arido, se fazpor dentro, mas com sua Sabedoria moral se faz por fora.

Q ue a Sabedoria nos homens seja dupla, R acional e M oral, e que a suaSabedoria racional pertence ao Entendimento só, e sua Sabedoria moral aoentendimento e ao mesmo tempo à vida, é o que se pode concluir e ver só pelaintuição e só pelo exame: mas a fim de que se saiba o que é entendido pelaSabedoria racional dos homens, e o que é entendido por sua Sabedoria moral,algumas de suas distinções especiais vão ser enumeradas. As cousas quepertencem à sua Sabedoria racional são designadas por diversos nomes; emgeral são chamadas Ciência, Inteligência e Sabedoria; e em particular,R acionalidade, Julgamento, Imaginação, Erudição, Sagacidade; mas como háciências especiais para cada um em seu ofício há por conseguinte um grandenúmero delas, com efeito, há (ciências) especiais para os Eclesiásticos, especiaispara os M agistrados, especiais para os diversos Funcionários sob suas ordens,especiais para os Juízes, especiais para os M édicos e os Q uímicos, especiais paraos M ilitares e os M arinheiros, especiais para os Artistas e os O perários, especiaispara os Agricultores, e assim por diante. A Sabedoria R acional pertencemtambém todas as Ciências, em que são iniciados os jovens nas escolas, e pelasquais são em seguida iniciados na inteligência; e que também são chamados dediversos nomes, por exemplo: Filosofia, Física, G eometria, M ecânica, M oral,H istória e várias outras, pelas quais, como por portas, se entra nos racionais,por meio das quais se forma a Sabedoria racional.

164 - M as à sabedoria moral nos homens pertencem todas as V irtudes moraisque concernem à vida e entram na vida, e também as V irtudes espirituais, queafluem do Amor para com Deus e do Amor em relação ao próximo e sereúnem nesses amores. As V irtudes que pertencem à sabedoria moral doshomens são também de diversos nomes, e chamadas T emperança, Sobriedade,Probidade, Benevolência, Amizade, M odéstia, Sinceridade, Cortesia,Civilidade, e também Assiduidade, Destreza, H abilidade, M unificência,Liberalidade, G enerosidade, V alor, Intrepidez, Prudência, além de muitasoutras. As V irtudes espirituais nos homens são o Amor da religião, a Caridade,a V erdade, a Fé, a Consciência, a Inocência, e várias outras. Estas virtudesespirituais e estas V irtudes morais, em geral, podem se referir ao amor e ao zelopela R eligião, pelo Bem público, pela Pátria, pelos Cidadãos, pelos Pais, peloCônjuge e pelos Filhos. Em todas estas V irtudes dominam a Justiça e oJulgamento; a Justiça pertence à Sabedoria moral, e o Julgamento à Sabedoriaracional.

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165 - Se a conjunção da esposa com a Sabedoria racional do marido se faz pordentro, é porque esta Sabedoria, é própria do Entendimento dos homens, esobe a uma luz na qual não estão as mulheres; é por isso que as mulheres nãofalam por esta sabedoria, mas nas reuniões onde os homens discutem coisas quesão da alçada desta sabedoria, elas se calam e escutam somente; que entretantoestas coisas vêm às esposas por dentro, isso é evidente pela maneira com que asescutam, pelo fato de que elas as reconhecem em seu interior, e dão seu favor aaquelas que elas ouvem dizer e têm ouvido dizer por seus maridos. M as se aconjunção da esposa com a sabedoria moral do marido se faz por fora, é porqueas V irtudes desta sabedoria, quanto à maior parte, tem afinidade com virtudessemelhantes das mulheres, e participa da V ontade intelectual do marido com aqual a V ontade da esposa se une e faz um casamento; e como a esposa conheceestas V irtudes no marido mais que o marido as conhece em si, se diz que aconjunção da esposa com ela se faz por fora.

166 - V III. Por esta conjunção como fim foi dada à Esposa a percepção dasafeições do M arido, e também a maior prudência para as moderar.

Q ue as esposas conheçam as afeições de seus maridos e as moderem comprudência, isso é também um dos arcanos do Amor Conjugal guardadossecretamente pelas esposas elas os conhecem por três sentidos, a vista, o ouvidoe o tato, e os moderam sem que seus maridos o saibam. O ra, pois que isso éum dos arcanos das esposas não me é conveniente descobri-lo quanto àscircunstâncias; mas como é conveniente para as próprias esposas há, por estarazão, em seguida aos Capítulos quatro M emoráveis, nos quais isso serádesvendado por elas mesmas; dois por três esposas que habitam no Palácio,sobre o qual vi cair uma Chuva de ouro; e dois, por Sete esposas sentadas noBosque de rosas; se se ler estes M emoráveis, este arcano se apresentarádescoberto.

167 - IX. As esposas encerram em si esta percepção e a escondem dos M aridospor motivos que são necessidades, a fim de que o amor conjugal, a amizade e aconfiança, e assim, a beatitude da coabitação, e a felicidade da vida, sejamasseguradas.

Encerrar em si e esconder dos M aridos a percepção das afeições do marido, sedisse que isto são N ecessidades para as esposas, por que se elas desvendassemestas afeições afastariam os maridos do leito, do quarto, e da casa; a razão é quena maior parte dos homens, há profundamente neles uma frieza conjugalproveniente de várias causas, que serão desvendadas no Capítulo sobre as causasde frieza, de separações, e de divórcios, entre esposos; esta frieza, se as esposas,desvendassem as afeições e as inclinações dos maridos, se lançaria de seurefúgio, e gelaria primeiro os interiores da mente, em seguida o peito, e daí osúltimos do amor que são destinados a geração; todas estas cousas sendoesfriadas, o amor conjugal seria banido ao ponto de não restar esperançaalguma de amizade, de confiança, e de beatitude de coabitação, e por

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conseqüência de felicidade da vida; as esposas, entretanto se jactamcontinuamente desta esperança. Descobrir que elas conhecem as afeições e asinclinações do amor nos maridos, isso traz consigo a declaração e a divulgaçãode seu próprio amor; e é notório que quanto mais, as esposas, abrem a bocasobre este amor, tanto mais os homens se tornam frios, e desejam a separação.Por isto se manifesta claramente a verdade deste Artigo, que as razões pelasquais as esposas, encerram em si sua percepção, e a escondem de seus maridos,são necessidades.

168 - X . Esta percepção é a sabedoria da esposa; e esta sabedoria não pode estarno esposo, nem a sabedoria racional do esposo estar na esposa.

Isso é uma conseqüência da diferença que há entre o M asculino e o Feminino;o M asculino é perceber pelo entendimento, e o Feminino perceber pelo amor;além disso também, o Entendimento percebe as coisas que estão acima docorpo, e fora do mundo, pois a vista racional e espiritual vai até lá; mas o Amornão vai além do que sente; quando vai além deriva isso da conjunção,estabelecida por criação, com o entendimento do homem; pois o entendimentopertence à luz, e o amor ao calor; ora, as coisas que pertencem à luz são vistasclaramente e as que pertencem ao calor são sentidas. Por estas considerações éevidente que em razão da diferença universal que há entre o masculino e ofeminino, a sabedoria da esposa não pode estar no esposo, nem a sabedoria doesposo, na esposa a sabedoria moral do homem não pode também estar nasmulheres, tanto quanto ela participa de sua sabedoria racional.

169 - X I. A esposa pelo amor, pensa continuamente na inclinação do esposo,para ela, na intenção de se lhe conjuntar; é diferente no Esposo.

Isto é coerente com o que foi explicado acima, a saber, que a inclinação paraunir a si o Esposo é constante e perpétua na esposa; mas inconstante ealternativa no esposo, ver n. 160; donde se segue que o pensamento da esposa;é contínuo, a respeito da inclinação do marido para ela, na intenção de se lheconjuntar: o pensamento da esposa; a respeito do marido é descontinuado, éverdade, pelos cuidados domésticos de que a esposa; é encarregada, maspermanece sempre na afeição do seu amor, e esta afeição não se separa dospensamentos nas mulheres como se separa nos homens; mas eu relato estascoisas como me tendo sido relatadas; ver os dois M emoráveis sobre as seteEsposas sentadas em um Bosque de rosas, ns. 293, 294.

170 - X II. A Esposa se conjunta ao Esposo por aplicações aos desejos de suavontade.

Isto está no número das coisas bem conhecidas; por isso é inútil explicá-lo.

171 - X III. A Esposa é conjunta a seu Esposo pela Esfera de sua vida, que sai deseu amor. De cada homem sai e se expande uma Esfera espiritual provenientedas afeições do seu amor; ela o envolve e se introduz na Esfera natural que saido corpo, e estas duas Esferas se conjuntam; que uma Esfera natural aflui

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continuamente do corpo, não somente do homem, mas também das bestas, emesmo das árvores, das frutas, das flores, e também dos metais, isso évulgarmente sabido; no M undo Espiritual acontece o mesmo; mas lá, as esferasque afluem das coisas são espirituais, e as que emanam dos Espíritos e dosAnjos são inteiramente espirituais, porque são as afeições do seu amor, e porconseguinte suas percepções e seus pensamentos interiores; daí tira sua origemtoda simpatia e toda antipatia, e também toda conjunção e toda disjunção, e deacordo com elas toda presença e toda ausência, pois o homogêneo ou oconcordante faz a conjunção e a presença, e o heterogêneo ou discordante faz adisjunção e a ausência; por isso essas esferas fazem lá as distâncias; os efeitosque estas esferas espirituais produzem no M undo natural são mesmoconhecidas de algumas pessoas: as Inclinações dos esposos entre si não temtambém outra origem; as Esferas unânimes e concordantes os unem, e asEsferas contrárias e discordantes os desunem; pois as esferas concordantes sãoagradáveis e agradam, e as esferas discordantes são desagradáveis e desagradam.Fui informado pelos Anjos, que estão em uma clara percepção destas esferas,que não há no homem parte alguma no interior nem parte alguma no exterior,que não se renove, o que se faz por soluções e reparações, e que daí vem aesfera que aflui continuamente; os Anjos me disseram que esta esfera envolve ohomem pelo dorso e pelo peito, com tenuidade pelo dorso, mas com densidadepelo peito; que a esfera que sai pelo peito se conjunta com a respiração; e que épor isso que dois esposos cujos mentais (animi) e afeições não concordam sedeitam dorso a dorso no leito, e que, vice-versa, aqueles cujos mentais (animi) eas afeições concordam, se voltam mutuamente um em face do outro. Eles medisseram também que as esferas, porque saem de todas as partes do homem econtinuam ao longe em torno dele, conjuntam e disjuntam os esposos nãosomente por fora, mas também por dentro; e que daí vêm todas as diferenças etodas as variedades do Amor conjugal. Em último lugar eles me disseram que aesfera do amor saindo de uma esposa, que é ternamente amada, é percebida nocéu como exalando um perfume doce, bem mais delicioso do que o que épercebido por um recém-casado nos primeiros dias depois das núpcias. Destasexplicações resulta evidentemente a verdade desta asserção, que a esposa, éconjunta a seu esposo pela Esfera de sua vida, que sai de seu amor.

172 - X IV . A Esposa é conjunta ao M arido pela apropriação das forças davirtude do marido; mas isso se faz segundo seu mútuo amor espiritual.

Q ue assim seja, é ainda o que recolhi da boca dos Anjos; eles me disseram queos prolíficos gastos pelos maridos são recebidos universalmente pelas esposas, ese ajuntam à sua vida; e que assim as esposas, têm com seus maridos uma vidaunânime; e que em conseqüência se faz na realidade uma união das almas euma conjunção das mentes: eles me deram como razão, que no prolífico domarido há sua alma, e também sua mente quanto aos interiores que foramconjuntos à alma: acrescentaram que por criação foi provido para isso, a fim de

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que a sabedoria, que constitui sua alma, seja apropriada à esposa, e que assim,segundo as palavras do Senhor, eles se tornem uma só carne: além dissotambém que foi provido a isso, a fim de que -o homem-esposo, depois daconcepção, não abandone a esposa, por alguma fantasia. T odavia, os anjosacrescentaram que as aplicações e as apropriações da vida dos maridos pelasesposas, se fazem segundo o amor conjugal, porque o amor, que é uma uniãoespiritual, conjunta; e também foi provido a isso por várias razões.

173 - X V . Assim a esposa, recebe em si a imagem de seu M arido e emconseqüência percebe, vê e sente as afeições dele.

Das razões referidas acima resulta como fato, incontestável, que as esposas,recebem em si as cousas que são próprias das almas e das mentes dos maridos, eque por conseqüência de virgens elas se fazem esposas, As razões de que issoresulta são: 1. Q ue a mulher foi criada do homem. 2. Q ue por conseguinte hánela uma inclinação para se unir e como que a se reunir ao homem. 3. Q uedesta união e por causa desta união com seu igual, a mulher nasce amor dohomem, e se torna cada vez mais amor do homem pelo casamento, porqueentão emprega continuamente seus pensamentos em se conjuntar ao homem.4. Q ue ela é conjunta, a seu único por aplicações aos desejos da vida desteúnico. 5. Q ue eles são, conjuntos pelas esferas que os cercam, e que se unemuniversalmente e singularmente segundo a qualidade do amor conjugal nasesposas, e ao mesmo tempo segundo, a qualidade da sabedoria que o recebe nosmaridos. 6. Q ue eles são ainda conjunto pelas apropriações das forças dosmaridos pelas esposas. 7. Daí é evidente que alguma coisa do marido écontinuamente transferida para a esposa, e é inscrito nela como lhepertencendo. De todas estas considerações resulta que se forma na esposa umaimagem do marido; imagem pela qual a esposa percebe, vê e sente em si ascousas que estão no marido, e por conseguinte se percebe, se vê e se sente porassim dizer ela mesma nela; ela percebe pela comunicação, vê pelo aspecto, esente pelo tato; que ela sente a recepção de seu amor pelo marido: pelo tatocom a palma da mão sobre as faces, sobre os braços e sobre o peito, é o que medescobriram as três esposas no Palácio, e as sete esposas no Bosque de rosas; veros M emoráveis ns. 208, 293, 294.

174 - X V I. H á Deveres próprios do Esposo, e Deveres próprios da Esposa; e aEsposa não pode entrar nos deveres próprios do esposo, nem o esposo nosdeveres próprios da esposa, nem bem desempenhá-los um e outro.

Q ue haja deveres próprios do esposo, e deveres próprios da, Esposa; é inútililustrar isso por uma enumeração desses deveres, pois são numerosos, evariados; e cada um pode classificá-los numericamente segundo os gêneros e asespécies, desde que se aplique a fazer-lhes a classificação. O s deveres pelos quaisas esposas se conjuntam principalmente com os M aridos, são os que concernema educação dos filhos de um e de outro sexo, e das meninas, até à idade em quese casam.

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175 - Q ue a Esposa; não possa entrar nos Deveres próprios do esposo, nem oesposo, nos Deveres próprios da Esposa; é porque eles diferem como asabedoria e o amor desta sabedoria ou como o pensamento e a afeição destepensamento, ou como o entendimento e a vontade deste entendimento; nosDeveres próprios dos homens o entendimento, o pensamento e a sabedoriaocupam o primeiro lugar, mas nos Deveres próprios das esposas, é a vontade, aafeição e o amor que ocupam o primeiro lugar; e a Esposa; desempenha seusdeveres pela vontade, a afeição e o amor, o esposo, desempenha os seus peloentendimento, o pensamento e a sabedoria; seus Deveres são portantodiferentes por sua natureza, mas não obstante são susceptíveis de ser conjuntosem série sucessiva. M uitos acreditam que as mulheres podem desempenhar osdeveres do homem, uma vez que desde a primeira idade elas sejam iniciadasneles como os rapazes; elas podem, é verdade, ser iniciadas no seu exercício,mas não no julgamento, de que depende interiormente a retidão dos deveres; epor isso que estas mulheres que foram iniciadas nos deveres dos homens, sãoobrigadas nas cousas de julgamento a consultar os homens, e então, segundoseus conselhos, se são livres para agir, elas escolhem o que é favorável a seuamor. Alguns também imaginam que as mulheres podem igualmente elevar apenetração de seu entendimento na esfera da luz em que estão os homens, econsiderar as cousas na mesma elevação, opinião que formaram pelos escritosde algumas M entes eruditas; mas estes escritos, examinados no M undoespiritual em presença destas M entes,, achou-se que provinham, não dojulgamento nem da sabedoria, mas da imaginação e da eloqüência, e os escritosque provêm destas duas fontes, têm pela elegância e a simetria do estilo, umaaparência de sublimidade e de erudição, mas unicamente diante daqueles quechamam sabedoria toda engenhosidade. Q ue os homens não possam entrar nosdeveres das mulheres, nem desempenhá-los convenientemente, é porque elesnão estão nas afeições das mulheres, que são inteiramente distintas das afeiçõesdos homens. Como as afeições e as percepções do sexo masculino foram assimdistinguidas por criação e por conseguinte por natureza, é por isso que nosestatutos dos filhos de Israel havia também isto: "N ão haverá roupa de homemsobre uma mulher, nem roupa de mulher sobre um homem, pois isso éabominação". (Deut. XXII, 5). Era, porque no M undo espiritual todos sãovestidos segundo suas afeições; e as duas afeições, da mulher e do homem, nãopodem ser unidas senão entre dois, e jamais em um só.

176 - X V II. Estes Deveres conforme o auxílio mútuo conjuntam também osdois em um; e ao mesmo tempo constituem uma única casa.

Q ue os deveres do M arido se conjuntam sob alguma relação com os deveres daEsposa, e que os deveres da Esposa se adjuntam aos deveres do marido, e queestas conjunções e estas adjunções sejam um auxílio mútuo, e existem segundoestes auxílios, são cousas conhecidas no mundo; mas os principais deveres quealiam, consorciam e reúnem em um as almas e as vidas dos dois esposos,

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concernem ao cuidado comum de educar os filhos; a respeito deste cuidado osDeveres do marido e os Deveres da Esposa, são distintos e ao mesmo tempo seconjugam; são distintos porque o cuidado de amamentar e de educar ascriancinhas ,de um e outro sexo, e também de instruir as meninas até a idadeem que são dadas e associadas a esposos, pertencem ao dever próprio da esposa,enquanto que o cuidado de instruir os rapazes após a infância até à idade dapuberdade, e depois desta idade até que sejam capazes de se dirigir a si mesmos,pertence ao dever próprio do marido; mas estes deveres se conjugam pelosconselhos, pelos apoios e por vários outros auxílios mútuos. Q ue estes Deveres,tanto conjuntos como distintos, ou tanto comuns como próprios, ligam em umas mentes (animi) dos esposos, e que isso seja efetuado pelo Amor chamadoestorge, é bem sabido; que os Deveres, considerados em sua distinção e em suaconjunção, constituem uma única Casa, é também sabido.

177 - X V III. O s dois Esposos segundo as conjunções acima mencionadas setornam cada vez mais um só homem.

Isto coincide com o conteúdo do Artigo V I, onde foi explicado que aconjunção se faz progressivamente desde os primeiros dias do casamento, e quenaqueles que estão no Amor verdadeiramente conjugal, ela se faz cada vez maisprofundamente durante a eternidade; ver o n. 162. Eles se tornam um únicohomem segundo o crescimento do Amor conjugal; e como este Amor nos Céusé o amor real procedente da vida celeste e espiritual dos Anjos, é por isso quedois Esposos lá são chamados dois quando são denominados M arido e esposa,mas um quando são denominados Anjos.

178 - X IX. O s que estão no Amor verdadeiramente conjugal sentem que porunião eles são o homem, e como uma só carne.

Q ue seja assim, não é pela boca de qualquer habitante de uma terra, mas é pelados habitantes dos céus que isso deve ser confirmado, pois que entre os homensdas terras não há hoje o Amor verdadeiramente conjugal; e, além disso, oshomens estão envolvidos por um corpo grosseiro que abafa e absorve estasensação de que por união dois esposos são o homem e como uma só carne; ealém disso, aqueles que no M undo amam seu consorte só exteriormente e nãointeriormente não querem ouvir falar nisso; eles pensam nisso mesmo segundoa carne e com lascívia. É diferente entre os Anjos do Céu porque eles estão noAmor conjugal espiritual e celeste e não envolvidos por um corpo grosseirocomo o dos homens na terra. Eu ouvi, dentre os que tinham vivido com suasesposas durante séculos no Céu, atestar que se sentem assim unidos, o maridocom a esposa, e a esposa, com o marido, e cada um deles no outro,mutuamente e reciprocamente, como também na carne, ainda que separados.Como razão da raridade deste fenômeno nas terras eles davam esta, que a uniãodas almas e das mentes de dois esposos é sentida em sua carne, porque a almafaz não somente os íntimos da cabeça, mas também os íntimos do corpo,acontece o mesmo com a mente que fica no meio entre a alma e o corpo,

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embora a mente apareça na cabeça, está entretanto, na realidade, também emtodo corpo; eles disseram que resulta daí que os atos, que a alma e a mente temintenção de fazer, decorrem no mesmo instante do corpo; além disso, resultadaí também que depois de ter rejeitado o corpo no M undo precedente, sãomesmo homens perfeitos. O ra, como a Alma e a M ente se adjuntamestreitamente à Carne do corpo para operar e produzir seus efeitos, segue-seque a união da alma e da mente com o consorte é sentida também no corpocomo uma só carne. Q uando os Anjos faziam estas declarações, ouvi espíritos,que estavam presentes, dizer que estavam aí coisas da sabedoria angélica, queestavam acima da compreensão; mas estes espíritos eram racionais-naturais, enão racionais-espirituais.

179 - X X. O Amor verdadeiramente conjugal considerado em si mesmo, é aunião das almas, a conjunção das mentes, e o esforço para conjunção no peito,e em conseqüência no corpo. Q ue este amor seja a união das almas e aconjunção das mentes, vê-se acima, n. 158; que seja o esforço para conjunçãono peito, é porque o Peito é como um Lugar onde se reúne a assembléia ecomo um Palácio de rei, e o Corpo como uma Cidade populosa em torno. Se oPeito é como um Lugar onde se reúne a assembléia, é porque todas as cousasque pela alma e pela mente tem uma determinação no corpo, influem aprincípio no peito; se é como um Palácio de rei, é porque aí há o Coração e oPulmão, e por toda parte o coração reina pelo sangue, e o pulmão pelarespiração; que o Corpo seja como uma Cidade Populosa em torno, isso éevidente. Q uando portanto as Almas e as M entes dos esposos foram unidos eque o amor verdadeiramente conjugal os une segue-se que esta amável uniãoinflui em seus peitos, e por estes em seus corpos, e produz o esforço para aconjunção; e isso tanto mais que o amor conjugal determina o esforço para seusúltimos completarem seus deliciosos prazeres; e como o peito é o lugar ondeterminam os dois caminhos (vindo da mente e do corpo) vê-se claramente deonde vem que o amor conjugal aí encontre a sede de seu delicado sentido.

180 - X XI. O s estados deste amor são à inocência, a Paz, a T ranqüilidade, aAmizade íntima, a Plena Confiança, e o Deseja da alma (animus) e do coraçãode fazer um ao outro toda sorte de bens; e os estados provenientes destes são aBeatitude, a Satisfação, o Prazer, a V olúpia; e do gozo eterno de todas estascoisas resulta a Felicidade celeste. Se todas estas coisas estão no Amor conjugal edele derivam, é porque este amor tem por origem o Casamento do bem e dovero e que este Casamento procede do Senhor, e porque este Amor é tal quequer comunicar alegrias a um e outro que ama de todo coração, e mesmo lh'astransferir, e por esse meio achar as suas- portanto infinitamente mais o DivinoAmor, que está no Senhor, a respeito do homem, que Ele criou R eceptáculo doAmor e da Sabedoria que procedem d'Ele; e pois Ele criou o H omem (H omo)para a recepção, a saber, o H omem (V ir) para a recepção da Sabedoria, aM ulher para a recepção do amor da sabedoria do homem, é por isso que pelos

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íntimos infundiu nos homens (homines), o Amor conjugal para o qual pôdetransferir todas as causas da beatitude, da satisfação, do prazer e da volúpia, queprocedem unicamente de Seu Divino Amor por Sua Divina Sabedoria aomesmo tempo que a vida, e que influem, por conseqüência, naqueles que estãono amor verdadeiramente conjugal porque só eles são recipientes. Fez-semenção da Inocência, da Paz, da T ranqüilidade, da Amizade íntima, da plenaConfiança, e do Desejo da mente (animus) e do coração, de fazer um ao outrotoda sorte de bem, porque a Inocência e a Paz pertencem à alma, alma, aT ranqüilidade à mente, a Amizade íntima ao peito, a plena confiança aocoração, e que o Desejo da mente (animus) e do coração de fazer um ao outrotoda sorte de bem pertence ao corpo segundo as causas precedentes.

181 - X XII. Estas cousas não podem existir sendo no Casamento de um únicoEsposo com uma única Esposa.

É o que se conclui de todas as causas que foram ditas até aqui, e é também oque se torna uma conclusão para todas as que serão ditas em seguida; não háportanto necessidade de uma explicação especial para as confirmar.

182 - Ao que precede serão acrescentados dois M emoráveis:

Primeiro M emorável: Algumas semanas depois, ouvi uma voz do Céu que medisse: "Eis novamente uma Assembléia no Parnaso; aproxima-te; nós temostraremos o caminho". Aproximei-me, e quando cheguei perto, vi sobre oH elicon alguém segurando uma trombeta com a qual anunciava e indicava aAssembléia. E vi, como precedentemente espíritos subir da Cidade de Atenas edos arredores, e no meio deles três N oviços do M undo; todos três eramCristãos, um Padre, o outro Político, e o terceiro Filósofo; eram entretidos nocaminho por uma conversa sobre diversos assuntos, principalmente sobre osSábios Antigos, que eram designados por seus nomes; perguntaram se osveriam; responderam-lhes que os veriam, e que se o quisessem, poderiamapresentar-lhes saudações, visto que eram amáveis. Indagaram sobreDemóstenes, Diógenes e Epícuro. Disseram-lhes: "Demóstenes não está aqui,está perto de Platão; Diógenes, com os de sua escola, moram sob o H elicon,porque ele considera as cousas mundanas como nada, e não se ocupa senão dascousas celestes; Epícuro habita no ocidente sobre os confins, e não entra emnosso meio, porque nós distinguimos entre as afeições boas e as afeições más, edizemos que as afeições boas estão com a sabedoria, e as afeições más contra asabedoria". Q uando subiram a colina do Parnaso, alguns guardas levaram-lheságua da fonte em vasos de cristal, e disseram: "É a água da fonte que, segundoas narrativas da antiguidade, o cavalo Pegaso tinha feito jorrar ferindo a terra,com o casco de sua pata, e que foi em seguida consagrada às nove V irgens; ora,pelo Cavalo alado, Pegaso, eles designavam o Entendimento do vero pelo qualexiste a Sabedoria; pelo casco de sua pata, as experiências pelas quais se adquirea inteligência natural; e pelas N ove V irgens, os conhecimentos e as ciências detodo gênero; estas cousas hoje são chamadas fábulas, mas eram

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correspondências; segundo as quais se exprimiam os homens da antiguidade".O s que acompanhavam os três recém-vindos lhes disseram: "Q ue isso não vosespante, os guardas foram instruídos para falar assim; e nós, por beber da águada fonte entendemos ser instruídos nos veros, e nos bens por meio dos veros, eassim ter a sabedoria". Em seguida eles entraram no Paladium, e com eles ostrês N oviços do M undo, O Padre, o Político e o Filósóofo; e então os queestavam coroa dos de louro, e sentados perto das mesas, perguntaram: "Q ue háde novo na T erra?" Eles responderam: "H á de novo, que um homem pretendeconversar com os Anjos, e ter a vista aberta para o M undo espiritual, como, atem aberta para o M undo natural; e conta várias cousas novas, entre outrasestas: Q ue o homem vive homem depois da morte, como viveuprecedentemente no M undo; que vê, ouve, fala como antes no M undo; que évestido e coberto de ornamentos como antes no M undo; que tem fome e sede,come e bebe como antes no M undo; que goza da delícia conjugal como antesno M undo; que dorme e se acorda como antes no M undo; que há lá terras elagos, montanhas e colinas, planícies e vales, fontes e rios, jardins e bosques;que lá há também palácios e casas, cidades e vilas, como no M undo natural;que lá há também escrituras e livros, empregos e comércio, pedras preciosas,ouro e prata; que, em uma palavra, há lá, em geral e em particular, todas ascoisas que estão na terra; e que, nos céus, elas são infinitamente mais perfeitas,com a única diferença de que todas as cousas que estão no M undo espiritualsão de origem espiritual e por conseguinte espirituais, porque procedem do Solespiritual que é puro Amor, em quanto que todas as cousas que estão noM undo natural são de origem natural e por conseguinte naturais e materiais,porque procedem do Sol natural que é puro fogo; que em uma palavra ohomem depois da morte é perfeitamente homem, e mesmo mais perfeitamentehomem que antes no M undo; pois antes no M undo ele estava em um corpomaterial, em quanto que no M undo espiritual ele está em um corpo espiritual".Depois que eles assim falaram, os Sábios antigos lhes perguntaram o que sepensa disso sobre a terra. O s três disseram: "Q uanto a nós, sabemos que isso éverdade, pois que estamos aqui, e que visitamos tudo e tudo examinamos;diremos portanto como se falou e como se raciocinou sobre isso na terra". Eentão o Padre disse: "Logo que os que são de nossa ordem ouviram essasnarrativas, eles as trataram de visões, e em seguida de ficções, depois disseramque ele tinha visto fantasmas e enfim hesitaram, e disseram: Acreditai sequiserdes; quanto a nós, até ao presente temos ensinado que o homem, depoisda morte, não estará em um corpo antes do dia do julgamento final". Eperguntou-se ao Padre se não havia entre eles alguns homens Inteligentes quepudessem -lhes demonstrar e lhes fazer reconhecer esta verdade, que o homemvive homem depois da morte". O Padre respondeu: "H á quem demonstre, masnão o crêem; os que o demonstram dizem que é contra a sã razão crer que ohomem não vive homem antes do dia do julgamento final, e que Almaesperando esse dia, está sem corpo; o que é então a Alma, e onde está ela

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durante esse tempo? Será um sopro, ou um vento que esvoaça no ar, ou um serencerrado no centro da terra? O nde é o seu Alguma parte (Pu)? Será que asAlmas de Adão e Eva, e de todos que viveram depois deles, há mais de seis milanos ou sessenta séculos, esvoaçam ainda no U niverso, ou são mantidasencerradas no centro da terra, e esperam o julgamento final? O que há de maispenoso e de mais miserável do que tal espera? A sua sorte não poderia sercomparada à sorte dos que estão na prisão com ferros, nas mãos e nos pés? Setal fosse a sorte que espera o homem depois da morte, não seria melhor nascerasno do que nascer homem? N ão é também contra a razão crer que a almapode ser de novo revestida com seu corpo? O corpo não foi roído pelos vermes,pelos ratos, pelos peixes? E ossos queimados ao sol ou reduzidos a pó poderiamreentrar nesse novo corpo? Como matérias cadaverosas e infectas se juntariam ese uniriam às, almas? A estes raciocínios, os que os ouvem, nada respondem derazoável, mas ficam presos à sua fé. Q uando à reunião de todos os mortossaindo dos túmulos no dia do julgamento final, dizem: Isso é obra daO nipotência; e quando falam na O nipotência e na Fé, a razão é banida; e possodizer que então a sã razão é como nada, e para alguns deles como um espectro epodem mesmo dizer à sã razão: "T u desarrazoas". A estas palavras, os Sábios daG récia disseram: "Estes paradoxos não se dissipam por si mesmos comocontraditórios? E entretanto hoje no M undo não podem ser dissipados pela sãrazão; que se pode crer de mais paradoxal do que o que é contado doJulgamento Final, que o U niverso perecerá, e que então as estrelas do céucairão sobre a terra, que é menor do que as estrelas; e que os corpos doshomens então, ou cadáveres, ou múmias trituradas pelos homens, ou reduzidosa nada, serão reunidas às suas almas? N ós, quando estávamos no M undo,,acreditávamos na imortalidade das almas dos homens pelas induções que arazão nos fornecida; e além disso designávamos para os bem-aventuradoslugares que chamávamos Campos Elísios; e acreditávamos que essas almas eramefígies ou formas humanas, mas tênues porque eram espirituais". Depois deterem assim falado, voltaram-se para o segundo recém-vindo, que no M undohavia sido político; este confessou que não tinha acreditado na vida depois damorte, e que a respeito das cousas de que ouviu falar tinha pensado que eramficções e invenções: "M editando sobre esta vida futura, eu dizia: T udo quepertence ao homem não está estendido morto no tumulto? Seus olhos não estãoaí, como pode ele ver? Seus ouvidos não estão aí, como pode ele ouvir? Deonde tiraria uma boca para falar? Se alguma co,usa do homem vivesse depois damorte, seria outra cousa senão um espectro? Como um espectro pode comer ebeber, e como pode gozar a delícia conjugal? O nde obteria roupas, uma casa,alimentos e o resto? E os espectros que são efígies aéreas, aparecem como seexistissem e entretanto não existem. Eu tinha no M undo estes pensamentos eoutros semelhantes sobre a vida dos homens depois da morte; mas agora que vitudo, e tudo toquei com as minhas mãos, estou convencido, pelos própriossentidos, de que sou homem como no M undo, a ponto de não saber outra

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cousa senão que vivo como vivia, com a diferença de que agora minha razão émais sã; muitas vezes tenho tido vergonha dos meus pensamentos anteriores".O Filósofo contou sobre ele as mesmas cousas, com esta diferença entretanto,que havia classificado estas novidades, que ouviu dizer sobre a vida depois damorte, no número das opiniões e das hipóteses que tinha recolhido dos Antigose dos M odernos. O s Sophi estavam estupefatos com o que acabavam de ouvir;e os que eram da Escola de Sócrates disseram que por estas N ovidades da terra,eles percebiam que os interiores das mentes humanas tinham sidoprogressivamente fechados, e que agora no M undo a fé do falso brilha como averdade, e a engenhosidade extravagante como a sabedoria, e que a luz dasabedoria, desde os tempos em que eles viviam no M undo tinha baixado dosinteriores do Cérebro para a boca abaixo do nariz, onde esta luz se mostradiante dos olhos como brilho do lábio, e por conseguinte a linguagem da bocacomo sabedoria. Depois de ter ouvido estas cousas, um dos discípulos destaescola disse: "Q uão estúpidas são hoje as mentes dos habitantes da terra!" O h!se tivéssemos aqui Discípulos de Demócrito e de H eráclito, dos quais uns riemde tudo, e os outros se lamentam por tudo, quantos risos e quantas lamentaçõesouviríamos!" Esta sessão da Assembléia tendo sido suspensa, deram aos trêsN oviços da terra sinais de sua autoridade; eram lâminas de cobre sobre as quaisH ieróglifos estavam gravados; e os N oviços se retiraram com estas lâminas.

183 - Segundo M emorável: Apareceu-me na plaga oriental um Bosque depalmeiras e de loureiros dispostos em curvas de hélices; aproximei-me e entrei,e percorri aléas que me fizeram fazer a volta de algumas destas curvas, e ao fimdas aléas vi um Jardim que ocupava o meio do Bosque; havia uma pequenaponte que fazia separação, e lá uma porta do lado do Bosque; e uma porta dolado do Jardim; aproximei-me e as portas foram abertas pelo guardião;perguntei-lhe qual era o nome do Jardim, e ele disse: "Adramandoni, isto é, adelícia do amor conjugal". Entrei, e eis, oliveiras e entre as oliveiras cepassubiam e pendiam, e em baixo delas e entre elas arbustos, floridos. N o meio doJardim havia um círculo de grama, sobre o qual estavam sentados maridos eesposas, e também rapazes e virgens, dois a dois; e no meio do círculo, umterreno elevado onde uma fonte lançava água para o alto só pela força de suanascente. Q uando cheguei perto do círculo, vi dois Anjos,, vestidos de púrpurae escarlata, que falavam com os que estavam sentados sobre a grama, e falavamda origem do Amor conjugal e de suas delícias; e como este amor era o assuntoda palestra, havia atenção ávida, e plena recepção, e em conseqüência exaltaçãocomo pelo fogo do amor no discurso dos anjos. Eis em suma, o que recolhi desua palestra: falaram a princípio da dificuldade de descobrir e da dificuldade deperceber a origem do amor conjugal, porque esta O rigem é Divino-Celeste,pois é o Divino, Amor, a Divina Sabedoria e o Divino U so, que procedem, ostrês, como um Senhor, e em conseqüência influem como um nas almas doshomens, e pelas almas nos suas mentes, e daí nas afeições e nos pensamentosinteriores, por eles nos desejos que provêm do corpo, e por estes desejos pelo

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peito na R egião genital, onde todos os derivados da primeira origem estãojuntos, e constituem com os sucessivos o amor conjugal. Em seguida os Anjosdisseram: "Procedamos agora por perguntas e respostas, pois a percepção de umassunto, recebido só pelo ouvido, influi, é verdade, mas não permanece, a nãoser que aquele que escuta pense assim por si mesmo, e não faça perguntas".Então alguns desta Assembléia Conjugal disseram aos Anjos: "O uvimos que aO rigem do Amor conjugal é Divino-Celeste, porque vem do Senhor peloinfluxo nas almas dos homens; e que, como vem do Senhor, é o Amor, aSabedoria e o U so, que são três essências fazendo juntas uma única EssênciaDivina, e que cousa alguma que não seja da Essência Divina não pode procederd'Ele, nem influir no íntimo do homem, que é chamado sua alma; e que estestrês descendo no corpo são mudados em cousas análogas e correspondentes;agora, pois, perguntaremos primeiro o que é entendido pelo terceiro Essencialprocedente Divino, que é chamado U so". O s Anjos responderam: “O Amor e aSabedoria sem o U so são unicamente idéias abstratas do pensamento, quetambém, depois de ter permanecido algum tempo na mente, passam comosopros; mas estes, dois são recolhidos no uso e aí se tornam este um, que échamado o real; o amor não pode ficar sem agir, pois o amor é o ativo mesmoda vida; a sabedoria também não pode existir nem subsistir, senão pelo amor ecom o amor quando ele age, e o ato é o uso; portanto nós definimos o usoassim: Fazer o bem do amor pela Sabedoria; o U so é o Bem mesmo. Pois queestes três, o Amor, a Sabedoria, e o U so, influem nas almas dos homens pode-sever porque se diz que todo bem vem de Deus; pois tudo que é feito do amorpela sabedoria é chamado bem, e o uso é também o que foi feito. -0 que é oamor sem a sabedoria, senão uma espécie de loucura? e o que é o amor com asabedoria sem o uso, senão um sopro da mente? M as o amor e a sabedoria como uso não somente fazem o homem, mas também são o homem; e mesmo, oque talvez vos, admirará, eles propagam o homem; pois, na semente dohomem, há sua alma em perfeita forma humana, velada de substâncias dentreas mais puras da natureza, pelas quais é formado o corpo no útero da mãe; esteU so é o U so supremo e final do Divino Amor pela Divina Sabedoria". Por fimos Anjos disseram: "A nossa conclusão será esta: T oda frutificação, vemoriginariamente de um influxo do amor, da sabedoria e do uso do Senhor nasalmas dos homens, de um influxo ainda mais mediato nos íntimos dos vegetais;e todas estas coisas se fazem nos últimos pelos primeiros. Q ue as frutificações,as propagações e as prolificações sejam continuações da criação, isso é evidente;pois uma criação não pode ser feita senão do Divino Amor pela DivinaSabedoria no Divino U so; é por isso que todas as cousas no U niverso sãoprocriadas e formadas pelo uso, no uso e para o uso. Em seguida os queestavam sentados sobre leitos de grama perguntaram aos Anjos donde vinhamas delícias do Amor conjugal, que são inúmeras e inefáveis. O s Anjosresponderam: "Elas vêm dos U sos do amor e da sabedoria, e pode-se vê-lo, pelofato de que quanto mais alguém ama tornar-se sábio para um uso, tanto mais

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está na veia e na força do amor conjugal; e que quanto mais está nesta veia enesta força, tanto mais está nas delícias; o uso faz isso, porque o amor e asabedoria se deleitam nele, e brincam, por assim dizer como crianças; e àmedida que crescem, se conjuntam. alegremente, o que acontece como pornoivados, núpcias, casamentos e propagações, e isso continuamente comvariedade durante a eternidade: estas coisas acontecem entre o amor e asabedoria interiormente no uso; todavia, estas delícias em seus princípios sãonão perceptíveis; mas tornam-se de mais em mais perceptíveis, à medida quedescem daí por graus, e entram no corpo; entram por graus da alma nosinteriores da mente do homem, e dos interiores em seus exteriores, e destes nopeito, e do peito na região genital; estes jogos núpcias celestes na Alma não sãoem coisa alguma percebidos pelo homem, mas se insinuam de lá nos interioresda mente sob uma espécie de paz e de inocência, e nos exteriores da mente sobuma espécie de beatitude, de satisfação e de prazer, mas no peito sob umaespécie de delícia de íntima amizade, e na região genital, pelo influxo contínuovindo da alma com o sentido mesmo do amor conjugal, como delícia dasdelícias. Estes jogos núpcias do amor e da sabedoria no uso na Alma, avançandopara o peito, permanecem e se fixam de uma maneira sensível sob umavariedade infinita de delícias; e, em razão da admirável comunicação do peitocom a região genital, as delícias aí se tornam as delícias do amor conjugal, asquais foram elevadas acima de todas as delícias, que existem no Céu e noM undo, porque o U so do amor conjugal é o mais eminente de todos os usos,pois por ele existe a procriação do G ênero H umano, e pelo G ênero H umano, oCéu Angélico". O s Anjos acrescentaram que aqueles que não estão pelo Senhorno amor da sabedoria para o U so, não sabem cousa alguma concernente àvariedade das delícias inumeráveis que pertencem ao amor verdadeiramenteconjugal; com efeito aqueles que não amam estar na sabedoria pelas verdadesreais, mas que amam estar na loucura pelos falsos, e que por esta loucura dealgum amor fazem maus usos, o caminho para a alma foi fechado, de onderesulta que estes jogos celestes do amor e da sabedoria na alma, cada vez maisinterceptados, cessam, e ao mesmo tempo que eles o amor conjugal em suaveia, seu poder e suas delícias". Então os que escutavam disseram quepercebiam que o amor conjugal é segundo o amor de se tornar sábio para fazerusos pelo Senhor. O s Anjos responderam que isso era assim. E então sobre ascabeças de alguns apareceram coroas de flores, e eles perguntaram: "Por queisso?" O s Anjos disseram "Porque eles compreenderam mais profundamente".E então saíram do Jardim, e estes no meio deles.

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Da mudança de estado da vidanos homens e nas mulheres pelo

casamento

184 - O que é entendido pelos estados da vida e pelas mudanças de estado ébem conhecido dos Eruditos e dos Sábios, mas não é conhecido pelosignorantes e pelos simples, é preciso portanto dizer primeiro alguma cousa arespeito. O Estado da vida do homem é sua Q ualidade; e como há em cadahomem duas faculdades que constituem a vida, e que são chamados oEntendimento e a V ontade, o estado da vida do homem é sua qualidade quantoao Entendimento e quanto à V ontade, daí é evidente que pelas M udanças deestado da vida, entende-se as mudanças de qualidade quanto às cousas quepertencem à vontade. Q ue todo homem, quanto ao que pertence a uma e outrafaculdade, seja continuamente mudado, mas com uma diferença de variedadesantes do casamento e depois do casamento, é isso que se trata de demonstrarnesta Seção, o que será feito nesta ordem: I. O Estado da vida do homem desdea infância até ao fim da vida, e em seguida na eternidade é continuamentemudado. II. Igualmente a forma interna, que é a de seu Espírito. III. Estasmudanças são umas nos H omens e outras nas M ulheres, pois que por criaçãoos H omens são formas da ciência, da inteligência e da sabedoria, e as M ulheressão Formas do amor destas cousas nos homens. IV . N os H omens há elevaçãoda mente em uma luz superior, e nas M ulheres elevação do mental em umcalor superior; e a M ulher sente as delícias de seu calor na luz do H omem. V .O s Estados da vida são uns para os homens e para as mulheres antes docasamento, e outros depois do casamento. V I. O s Estados da vida depois docasamento nos esposos são mudados e se sucedem segundo as conjunções deseus mentais pelo amor conjugal. V II. O s Casamentos também introduzemoutras formas nas almas e nas mentes dos Esposos. V III. A M ulher éefetivamente formada Esposa do homem segundo, a descrição do Livro daCriação. IX. Esta formação se faz da parte da Esposa por meios secretos, e isso éentendido pelo fato da mulher ter sido criada enquanto o homem dormia. X .Esta Formação da parte da Esposa se faz pela conjunção de sua vontade com avontade interna do Esposo. X I. O fim disso, é que à vontade de um e a dooutro se tornem uma única V ontade, e que assim sejam os dois um só H omem.XII. Esta formação da parte da Esposa se faz pela apropriação das afeições doM arido. X III. Esta Formação da parte da Esposa se faz pela recepção daspropagações da alma do M arido, com a delícia tirando sua fonte do fato dela

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querer ser o Amor da sabedoria de seu marido. X IV . Assim uma V irgem étransformada em Esposa, e um M ancebo em M arido. X V . N o Casamento deum homem com uma Esposa entre os quais existe o amor verdadeiramenteconjugal, a Esposa se torna cada vez mais Esposa e G M arido cada vez maisM arido. X V I. Do mesmo modo também progressivamente suas formas seaperfeiçoam e se enobrecem pelo interior. X V II. O s filhos nascidos de doisesposos que estão no amor verdadeiramente conjugal, herdam de seus Pais oConjugal do bem e do vero, donde lhes vêm a Inclinação e a Faculdade, se éum filho, para perceber as cousas que pertencem à sabedoria, e se é uma filha,para amar as cousas que a sabedoria ensina. X V III. Isso acontece, porque aalma da criança vem do Pai, e o invólucro dessa alma vem da M ãe. Segue agoraa explicação destes Artigos.

185 – I. O Estado da vida do, homem desde a infância até ao fim de sua vida, eem, seguida na eternidade, é continuamente mudado. O s Estados comuns davida do homem são chamados, Infância, Juventude, Adolescência, V irilidade eV elhice; que cada homem, cuja vida é demorada no M undo, passasucessivamente de uma idade para outra, assim do primeiro ao último, isso ésabido; as transições destas idades não são aparentes, a não ser por meio deespaços de tempo decorridos; que entretanto elas sejam progressivas demomento a momento, assim continuamente, a razão a vê; pois dá~se com ohomem como com a árvore, que a cada pequeno espaço de tempo, mesmo omenor, desde que a semente foi lançada na terra, cresce e aumenta; estasprogressões momentâneas são também M udanças de estado, pois a subseqüenteacrescenta à antecedente alguma cousa que aperfeiçoa o estado. As M udançasque se fazem nos Internos do homem são mais perfeitamente contínuas que asque se fazem nos Externos; e isso porque os Internos do homem, pelos quaissão entendidas as cousas que pertencem a sua M ente ou a seu Espírito, foramelevadas acima dos Externos em um grau superior, e que nos Internos, queestão com um grau superior, se fazem milhares no mesmo instante em que nãose faz mais que uma nos Externos. As M udanças, que se fazem nos Internos,são mudanças de estado da vontade quanto às afeições, e mudanças de estadodo entendimento quanto aos pensamentos; estas mudanças sucessivas de estadodas afeições e dos pensamentos são o que é especialmente entendido naProposição. Q ue estas mudanças de estado destas duas vidas ou faculdadessejam perpétuas, desde a infância no homem até ao fim de sua vida, e emseguida na eternidade, é porque não há fim para a ciência, e com mais forterazão para a inteligência, e com bem mais forte razão para a sabedoria; pois emsua extensão há infinidade e eternidade pelo Infinito e o Eterno de queprocedem. Daí vem este princípio filosófico dos antigos que tudo é divisível aoinfinito; é preciso acrescentar que igualmente tudo é multiplicável ao infinito.O s Anjos afirmam que pelo Senhor eles são aperfeiçoados em sabedoriaeternamente, o que é também ao infinito, porque o eterno é o infinito dotempo.

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186 - II. Igualmente a Forma interna do homem que é a do seu espírito.

Se esta forma é continuamente mudada do mesmo modo que é mudado oestado da vida do homem, é porque coisa alguma existe senão em uma forma, eo estado reveste esta forma; é portanto a mesma cousa, quer se diga que oestado da vida do homem é mudado, quer se diga que sua forma é mudada.T odas as afeições e todos os pensamentos do homem estão em formas, pois asformas são seus objetos- se as afeições e os pensamentos não estivessem emobjetos, que foram formados, haveria também crânios vazios de miolos; o queseria a mesma cousa que supor a vista sem o olho, a audição sem o ouvido, e opaladar sem a língua; sabe-se que o olho, o ouvido e a língua são os objetosdestes sentidos, e que estes objetos são formas. Q ue no homem o estado da vidaseja, continuamente mudado, e por conseguinte a forma, é porque é umaverdade que ensinaram e que ensinam ainda os sábios, que não existemidentidade absoluta entre duas cousas nem com mais forte razão entre muitas;como não há duas faces humanas que sejam iguais, nem com mais forte razãomuitas; dá-se o mesmo com os sucessivos, não há um estado da vida que seja omesmo que o precedente; donde resulta que há no homem uma perpétuamudança de estado da vida, e por conseqüência também uma perpétuamudança de forma, principalmente de seus internos. M as como estasconsiderações nada ensinam a respeito dos casamentos, mas unicamentepreparam o caminho para os conhecimentos que os concernem; além dissotambém, como não são mais que pesquisas filosóficas do entendimento, quesão de difícil percepção para algumas pessoas, será por conseqüência passadoadiante sem nada mais acrescentar.

187 - III. Estas mudanças são umas nos H omens e outras nas M ulheres, poisque por criação os H omens são Formas da ciência, da inteligência e dasabedoria, e as M ulheres formas do amor destas coisas nos homens.

Q ue os homens tenham sido criados Formas do entendimento, e que asM ulheres tenham sido criadas Formas do amor do entendimento dos homens,vê-se explicado no n. 90. Q ue as mudanças de estado, que se sucedem noshomens e nas mulheres desde a infância até à idade madura, sejam para renovaras formas, a forma intelectual nos homens, e a forma voluntária nas mulheres, éuma conseqüência disso; daí, é evidente que as mudanças de estado são umasnos homens, e outras nas mulheres; em uns e outros, entretanto, a, formaexterna que pertence ao corpo é renovada segundo o renovamento da formainterna, que pertence à mente, pois a mente age no corpo, e não vice-versa; eisporque as Crianças no Céu se tornam homens em estatura e em beleza segundoos acréscimos da inteligência neles, de modo completamente diferente dascrianças na terra, porque estas são envolvidas com um corpo material, como, osanimais; há entretanto conformidade nisto, que a princípio elas crescem. nainclinação para as cousas que agradam os sentidos do seu corpo, depois pouco apouco para as que afetam o sentido interno cogitativo, e de grau em grau, para

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as que enchem de afeição a vontade; e quando estão a meio caminho entre àidade madura e a que não o é, chega a inclinação conjugal, que é a da jovempelo jovem, e do jovem pela jovem; e como nos Céus, do mesmo modo quenas terras, as jovens escondem, por uma prudência inata, suas inclinações parao casamento, os jovens não sabem outra cousa senão que são eles que afetamcom amor as jovens, e isso também lhes aparece por conseguinte da incitaçãomasculina; mas esta incitação neles vem também do influxo do amorprocedente do belo Sexo, influxo de que se tratará especialmente em outraparte. Por estas explicações vê-se a verdade desta Proposição, que as mudançasde estado são umas nos homens e outras nas mulheres, pois que por criação oshomens são formas de ciência, de inteligência e de sabedoria, e as mulheresformas do amor destas cousas nos homens.

188 - IV . N os H omens há elevação da mente em uma luz superior, e nasM ulheres elevação da mente em um, calor superior; e a M ulher sente as delíciasde seu calor na luz do H omem.

Pela luz na qual se elevam os homens, é entendida a inteligência e a sabedoria,porque a Luz espiritual, que procede do Sol do M undo espiritual, Sol que emsua essência é Amor, faz uma mesma, cousa ou faz um com a inteligência e asabedoria; e pelo calor no qual se elevam as mulheres, é entendido o amorconjugal porque o calor espiritual, que procede do Sol do M undo espiritual, éem sua essência o amor, e nas mulheres é o amor conjuntando-se com ainteligência e a sabedoria nos homens. Amor que em seu complexo é chamadoamor conjugal, e por determinação se torna esse amor. Foi dito elevação emuma luz superior e em um calor superior, porque é a elevação na luz e no caloronde estão os anjos dos céus superiores; há também elevação atual como de umnevoeiro no ar, e da região inferior do ar à região superior, e desta ao éter; porisso a elevação, a uma luz superior nos homens é a elevação a uma inteligênciasuperior, e desta à sabedoria, na qual há também uma elevação de mais emmais superior; mas a elevação a um calor superior nas mulheres é a elevação aum amor conjugal mais casto e mais puro, e continuamente para o conjugal,que por criação é mantido escondido em seus íntimos. Estas elevações,consideradas em si mesmas, são aberturas da mente; pois a M ente humana édistinguida em R egiões, como o M undo o é em R egiões quanto às Atmosferas,das quais a mais baixa é aquosa; uma mais elevada, aérea; uma ainda maiselevada, etérea, acima da qual há também a suprema; em regiões semelhantes éelevada a M ente do homem, conforme é aberta, nos homens pela, sabedoria, enas mulheres pelo amor verdadeiramente conjugal.

189 - Foi dito que a M ulher sente as delícias de seu calor na luz do homem,isso é entendido neste sentido, que a mulher sente as delícias de seu, amor nasabedoria do homem, porque a sabedoria é o receptáculo, e por toda parte ondeo amor encontra um receptáculo que lhe corresponde, está em seus prazeres eem suas delícias; mas não é entendido que o calor com sua luz se deleita fora de

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formas, mas é dentro de formas; e o calor espiritual com a luz espiritual aí sedeleita tanto mais quanto mais estas formas pela sabedoria e o amor são vitais epor conseqüência aptas a receber. Isto pode ser ilustrado de alguma forma pelosjogos, assim chamados, do calor com a luz nos vegetais; fora dos vegetais háapenas uma simples conjunção do calor e da luz, mas dentro há como um jogoentre eles, porque aí estão em formas e receptáculos, pois os atravessam poradmiráveis meandros, e aí nos íntimos aspiram aos frutos do uso, e exalamtambém seus encantos ao longe no ar, que enchem com um odor suave; ora asdelícias do calor espiritual com a luz espiritual têm lugar de uma maneira aindamais marcante nas formas humanas, em que este calor é o amor conjugal e estaluz é a sabedoria.

190 - V . O s Estados da vida são uns para os homens e para as mulheres antesdo Casamento, e outros depois do Casamento.

Antes do Casamento em um e outro sexo há dois estados, um antes dainclinação ao casamento e outro depois; as mudanças de um e outro estado, epor conseguinte as formações da mente, procedem em ordem sucessiva segundoseus contínuos acréscimos; mas não é aqui o lugar para descrever estasmudanças pois elas são varia das e diversas nos objetos; as inclinações na mente,e se tornam cada vez mais sensitivas no corpo; mas seus estados após ocasamento são estados de conjunção e também de prolificação; que estes estadosdiferem dos precedentes como os efeitos diferem das intenções, isso é evidente.

191 - V I. O s Estados da vida após o casamento nos esposos são mudadossegundo as conjunções de suas mentes pelo amor conjugal.

Q ue as mudanças e as sucessões de estado após o casamento, em um e nooutro, o marido e a esposa, sejam segundo o amor conjugal neles, assim, ouconjuntivo ou disjuntivo das mentes, é porque o amor conjugal é não somentevariado, mas também diverso nos esposos; variado, naqueles que se amaminteriormente, pois neles há por vezes intermitências, não obstantepermanecerem por dentro constantemente em seu calor; mas é diverso nosesposos que não se amam, senão exteriormente, nestes não é por causassemelhantes que há às vezes intermitências, mas é por alternativos de frio e decalor: a razão destas diferenças é que nestes o corpo ocupa o primeiro lugar, eseu ardor se espalha em torno, e arrasta à comunhão com ele os inferiores domental; mas entre os que se amam interiormente a mente ocupa o primeirolugar e leva o corpo à comunhão com ela. Parece que o amor sobe do corpo àalma, pois logo que o corpo apreende os atrativos, ele entra pelos olhos,, comopor portas na mente, e assim pela vista, como vestíbulo, nos pensamentos eimediatamente na alma; mas entretanto acontece que ele desce da mente, e agenos inferiores segundo sua disposição; é por isso que uma mente lasciva agelascivamente, e uma mente casta castamente, e esta dispõe o corpo, mas aquelaé disposta pelo corpo.

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192 - V II. O s Casamentos também introduzem outras formas nas almas e nasmentes dos Esposos.

Q ue os casamentos introduzem outras formas nas almas e nas mentes, não sepode notar no M undo natural, porque as almas e as mentes aí estão envolvidaspor um corpo material, através do qual a mente raramente se faz ver; e, alémdisso, os homens deste século, muito mais que os antigos, aprendem desde ainfância a introduzir em suas faces uma fisionomia pela qual escondemprofundamente as afeições da mente; é isto que faz com que não se possadiscernir quais são as formas das mentes antes do casamento, e quais elas sãoapós o casamento: que entretanto as, formas das almas e das mentes sejam apósos casamentos outras que não eram antes, é o que se torna bem manifesto pelasmesmas no M undo espiritual; pois são então: Espíritos e Anjos, os quais nãosão outra cousa que M entes e Almas em forma humana, desprendidos dosdespojos que tinham sido compostos de elementos aquosos e terrestres, e devapores emanados desses elementos e espalhados de todos os lados no ar; estesdespojos sendo rejeitados, as formas das mentes são vistas tais quais tinham sidono interior de seus corpos; e então é bem evidente que são umas, nos quevivem no casamento, e outras nos que não vivem nele. Em geral os esposos têmuma beleza interior de fisionomia, pois o esposo tira da esposa o gracioso ruborde seu amor, e a esposa tira do esposo a brilhante brancura de sua sabedoria;pois lá os dois esposos são unidos quanto às almas; e, além disso, em um eoutro se manifesta a plenitude humana; isso acontece no Céu, porque não háCasamentos em outra parte; abaixo do Céu só há uniões conubiais, que seformam e se rompem.

193 - V III. A M ulher é na realidade formada Esposa segundo a descrição doLivro da Criação. N este Livro se diz que a mulher foi criada de uma costela domarido; e que, quando ela foi levada ao homem, ele disse: "Esta é osso dosmeus ossos e carne da minha carne; e será chamada Ischah (Esposa), porque deIsch (0 M arido, vir) foi tomada". (Cap. 11, 21, 22, 23); na Palavra, por umaCostela do peito, não é significada, no sentido espiritual, outra coisa senão aV erdade natural; este vero é significado pelas costelas que o urso carregavaentre os dentes (Daniel, V II, 5); pois pelos ursos são significados os que lêem aPalavra no sentido natural, e vêem os veros sem o entendimento; pelo Peito dohomem é entendido este essencial e o próprio que é distinguido do peito damulher; que seja a sabedoria, vê-se acima, n. 187; pois o vero sustenta asabedoria, como a costela sustenta o peito; é isto que é significado, porque é noPeito que todas as cousas do homem estão como em seu centro. Por isso, éevidente que a mulher foi criada do homem pela transferência da própriasabedoria deste, isto é, pelo vero, natural; que o amor deste vero tenha sidotransferido do homem para a mulher, para se tornar amor conjugal; e que issotenha sido feito para que no homem houvesse não o amor de si, mas o amor daesposa; esta, pelo seu caráter inato não pode fazer outra cousa senão

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transformar no homem o amor de si em amor do homem por ela mesma, e fuiinformado que isso se faz pelo amor mesmo da esposa, sem que o esposo osaiba, nem a esposa, também daí vem que alguém, que está no fasto da própriainteligência pelo amor de si, jamais pode amar sua esposa de uma maneiraverdadeiramente conjugal. Q uando este arcano da criação da mulher dohomem é compreendido, pode-se ver que a mulher é igualmente como quecriada ou formada do homem no casamento, e que isso é feito pela esposa, ouantes por meio da esposa pelo Senhor, que infundiu nas mulheres as incli-nações para agir assim; pois a esposa recebe em si a imagem do esposo; por issoela se apropria de suas afeições, ver acima n. 183; e por isso ela conjunta avontade interna do esposo com a sua, assim como será mostrado; e também porisso ela se apropria as produções (propagines) da alma do esposo, como serámostrado também. Por estas explicações é evidente que, conforme a descriçãointeriormente entendida do Livro da Criação, a mulher é formada esposa pelascousas que tira do marido e do peito do marido, e que ela inscreve em si.

194 - IX. Esta Formação se faz da parte da Esposa por meios secretos, e isso éentendido por ter sido a mulher criada enquanto o homem dormia.

Lê-se no Livro da Criação que Jehovah Deus fez cair um sono pesado sobreAdão, para que dormisse, e então tirou uma de suas costelas, e a erigiu emmulher, (Cap. II, 21, 22). Q ue pelo entorpecimento e o sono do homem, sejasignificada sua completa ignorância de que a esposa é formada e como quecriada dele, isso é evidente pelo que foi mostrado, no Capítulo precedente, etambém neste sobre a prudência e a circunspecção impressa nas esposas paranada divulgar de seu amor nem da apropriação das afeições da vida do marido,nem por conseqüência da transcrição da sabedoria nelas; que isso se faça daparte da esposa, com o desconhecimento e como que durante o sono domarido, assim por meios secretos, isso é evidente pelo que foi explicado acima,ns. 166, 167, 168, e seguintes; onde é mesmo ilustrado que a prudência de agirassim foi implantada nas mulheres por criação e conseqüentemente denascença, por motivos, que são necessidades, a fim de que o amor conjugal, aamizade e a confiança, e assim a beatitude da coabitação e a felicidade da vida,sejam asseguradas; é por isso que a fim de que isso se faça segundo as regras, foideterminado ao marido que deixasse pai e mãe e se unisse à sua esposa,(G ênesis 11, 24, M ateus X IX, 4, 5); pelo pai e a mãe que o marido deixará, éentendido no sentido espiritual o próprio da vontade e o próprio doentendimento, ora o próprio da vontade do homem é de se amar, e o própriode seu entendimento é de amar a sua sabedoria, e por unir-se é entendido sevotar ao amor da esposa; que estes dois Próprios sejam males mortais para omarido se permanecerem nele, e que o amor destes dois próprios seja mudadoem amor conjugal, conforme o marido se une à esposa, isto é, recebe o amor daesposa, vê-se acima, n. 193 e em outros lugares. Q ue por dormir, sejasignificado estar na ignorância e na inconsciência; pelo pai e a mãe, os dois

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próprios do homem, um da vontade e o outro do entendimento; e que porunir-se, votar-se ao amor de alguém, pode-se confirmá-lo suficientemente porpassagens em várias partes da Palavra, mas não é aqui o lugar (apropriado).

195 - X . Esta Formação da parte da Esposa se faz pela conjunção de suavontade com a vontade interna do esposo.

Q ue no esposo haja a sabedoria racional e a sabedoria moral, e que a esposa seconjunte com as coisas que pertencem à sabedoria moral no esposo, vê-se nosns. 163, 164, 165; as cousas que pertencem a sabedoria racional constituem oentendimento do esposo, e as que pertencem a sabedoria moral constituem suavontade; a esposa se conjunta com as que constituem a vontade do esposo:dizer que a esposa se conjunta, ou dizer que ela conjunta a sua vontade à doesposo, é a mesma cousa, porque a esposa nasce voluntária, e por conseguinte oque ela faz, o faz pela vontade. Se se diz "com a vontade interna do esposo", éporque a vontade do esposo tem sua sede em seu entendimento, e o intelectualdo homem é o íntimo da mulher, segundo o que foi exposto concernente àformação da mulher pelo homem, acima, n. 32, e várias vezes depois; oshomens têm também uma vontade externa, mas esta participa muitas vezes dofingimento e da dissimulação; a esposa a distingue claramente, mas não seconjunta com ela, a não ser por fingimento ou para fazer um jogo.

196 - X I. O fim disso é que à vontade de um e a do outro se tornem uma sóV ontade, e assim sejam os dois um só H omem.

Com efeito, aquele que se conjunta à vontade de um outro se conjuntatambém a seu entendimento; pois o entendimento considerado em si mesmo,nada mais é que o ministro e o servidor da vontade; que assim seja, vê-se bemclaramente pela afeição do amor, pelo fato dela levar o entendimento a pensarcomo lhe agrada; toda afeição do amor é uma propriedade da vontade; pois oque o homem ama, ele o quer também; segue-se daí que aquele que seconjunta com a vontade do homem se conjunta com todo o homem; daí vemque foi implantado no amor da esposa unir a vontade do marido à sua vontade,pois assim a esposa se torna o objeto do marido, e o marido o objeto da esposa;assim os dois são um só homem.

197 - X II. Esta formação da parte da Esposa se faz pela apropriação das afeiçõesdo marido. Este faz um com os dois Artigos que precedem, porque as afeiçõespertencem à vontade; pois as afeições, que não são mais que derivações doamor, formam a vontade, e a fazem e a compõem; mas nos homens elas estãono entendimento, e nas mulheres na vontade.

198 - X III. Esta formação da parte da Esposa se faz pela recepção daspropagações da alma do marido, com a delícia, tirando sua fonte do fato daesposa querer ser o amor da sabedoria do marido.

Isto coincide com o que foi explicado acima, ns. 172, 173; por isso uma maiorexplicação é inútil. As delícias conjugais nas esposas tiram sua origem do fato

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delas quererem ser um com os maridos, como o Bem é um com o V ero noCasamento espiritual; que o Amor Conjugal descende deste Casamento, é oque foi mostrado no Capítulo, que trata especialmente deste assunto; daí,pode-se ver, como em efígie, que a esposa se conjunta ao esposo do mesmomodo que o bem se conjunta ao vero, e que o esposo reciprocamente seconjunta à esposa segundo a recepção do amor da esposa nele, do mesmo modoque o vero se conjunta reciprocamente ao bem segundo a recepção do bemnele; e assim o amor da esposa se forma pela sabedoria do esposo, do mesmomodo que o bem se forma pelo vero; pois o vero é a forma do bem. De acordocom isso, é ainda evidente que as delícias conjugais na esposa vêmprincipalmente dela querer ser um com o marido, por conseqüência dela quererser o amor da sabedoria de seu marido; pois então ela sente as delícias de seucalor na luz do homem, conforme a explicação dada no Artigo IV , n. 188.

199 - X IV . Assim uma virgem é transformada em esposa, e um rapaz emmarido.

Isto decorre, como conseqüência do que foi dito acima neste Capítulo e noCapítulo precedente sobre a Conjunção dos Esposos em uma só carne. Se aV irgem se torna ou é tornada esposa, é porque na esposa há cousas tomadas domarido, e assim acessórios, que não estavam antes nela como virgem; se o rapazse torna ou é tornado marido, é porque no marido há coisas tomadas da esposa,que exaltam a receptividade do amor e da sabedoria nele, e que não estavamantes nele como rapaz; mas que isso acontece nos que estão no amorverdadeiramente conjugal; que seja entre aqueles que sentem que pela uniãosão homens, e como uma só carne, vê-se no Capítulo, precedente, n. 178. Poristo é evidente que o virginal é mudado naquilo que participa da esposa nasmulheres, e o juvenil em marital nos homens. Q ue assim seja, é o de que tiveconfirmação no M undo espiritual por esta experiência. Alguns maridos diziamque a conjunção com uma mulher antes do casamento é semelhante aconjunção com uma esposa depois do casamento. As esposas, tendo ouvidoestas palavras, ficaram muito indignadas, e disseram: "N ão há absolutamentesemelhança alguma, existe entre elas uma diferença como entre o quimérico e oreal". O s maridos replicaram: "N ão sois vós mulheres como antes". As esposasresponderam com uma voz mais elevada: "N ós somos, não mulheres, masesposas; vós estais em um amor quimérico, e não em um amor real; é por issoque falais como insensatos". Então os maridos disseram: "Se ,não sois mulheres(faminae), sois pelo menos mulheres casadas (mulieres) ". E elas responderam:"N os primeiros tempos do casamento nós éramos mulheres casadas, mas agoranós somos esposas (uxores) ".

200 - X V . N o Casamento de um homem com uma esposa, entre os quais existeo amor verdadeiramente conjugal, a Esposa se torna cada vez mais esposa, e oM arido cada vez mais marido.

Q ue o amor verdadeiramente conjugal conjunta cada vez mais os dois em um

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só homem, vê-se acima, ns. 178, 179; e como a esposa se torna esposa pelaconjunção com o marido e segundo esta conjunção, dá-se o mesmo com omarido em relação à esposa; e como o amor verdadeiramente conjugal duraeternamente, segue-se que a esposa se torna cada vez mais esposa e o maridocada vez mais marido; a razão mesma disso, é que no casamento de amorverdadeiramente conjugal um e outro se tornam cada vez mais homem interior,pois este amor abre os interiores de suas mentes, e conforme estes interiores sãoabertos o homem se torna cada vez mais homem, e tornar-se mais homem, é naesposa tornar-se mais esposa, e no marido tornar-se mais marido. O uvi dizerpelos Anjos que a esposa se torna cada vez mais esposa, conforme o marido setorna cada vez mais marido, mas não do mesmo modo vice-versa; porqueacontece raramente, para não dizer nunca, que uma esposa, casta não ame seumarido, mas acontece que o retorno do amor falta da parte do marido, e esteretorno falta porque não há uma elevação da sabedoria que, unicamente, recebeo amor da esposa, sobre esta sabedoria ver ns. 130, 163, 164, 165. M as elesdiziam isso dos casamentos nas terras.

201 - X V I. Do mesmo modo também sucessivamente suas formas seaperfeiçoam e se enobrecem pelo interior.

H á forma humana muito perfeita e muito nobre, quando duas formas setornam pelo casamento uma única forma, assim quando duas carnes se tornamuma só carne, segundo a criação; que então a M ente do esposo seja elevada auma luz superior, e a M ente da esposa, a um calor superior, e que então elescresçam, floresçam e frutifiquem como as árvores na estação da primavera,vê-se acima, ns. 188, 189. Q ue do enobrecimento desta forma nasçam frutosnobres, espirituais nos Céus, naturais nas terras, ver-se-á no Artigo seguinte.

202 - X V II. As Crianças nascidas de dois esposos que estão no amorverdadeiramente conjugal, recebem de seus Pais o Conjugal do bem e do vero,de onde lhes vêm a inclinação e a faculdade, se é um filho, para perceber ascousas que pertencem à sabedoria, e se é uma filha, para amar as cousas que asabedoria ensina.

Q ue as crianças recebem dos pais as Inclinações para as cousas que pertenceramao amor e à vida dos pais, isso é muito conhecido em geral pelas histórias e emparticular pelas experiências; mas que não recebam deles ou não herdem delesas afeições mesmas, nem por conseqüência suas vidas, mas unicamente asinclinações e também as faculdades que as concernem, é o que foi posto emevidência no M undo espiritual pelos sábios, de que se falou nos doisM emoráveis referidos acima. Q ue pelas inclinações inatas, se não foremquebradas, os descendentes sejam levados às afeições, aos pensamentos, àsexpressões de linguagem e a vidas semelhantes às de seus pais, vê-se bemclaramente pela nação Judaica, pois hoje os judeus são semelhantes a seus Paisno Egito, no deserto, na terra de Canaan, e no tempo do Senhor; e pelo fato deque não somente são a si mesmos pela mente, mas ainda pela face; quem é que

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à primeira vista não conhece um Judeu? Dá-se o mesmo com as outras raças.Dai pode-se infalivelmente concluir que as crianças nascem com as inclinaçõespara cousas semelhantes àquelas para as quais os seus pais se inclinavam. M as afim de que os pensamentos e os atos não se continuem, é da ProvidênciaDivina que as inclinações más possam ser retificadas; e para isso mesmo foiimplantado uma faculdade pela qual há eficácia na correção dos costumes pelospais e pelos professores, e mais tarde por si mesmo, quando se atingiu a idadeadulta.

203 - Foi dito, que as crianças recebem dos pais o Conjugal do bem e do vero,porque este conjugal foi posto por criação na alma de cada um, pois é isso queinflui do Senhor no homem, e faz sua vida humana: mas este Conjugal passapara as cousas que seguem desde a alma até aos últimos do corpo; mas em uns enos outros é mudado no caminho pelo homem mesmo de diversas maneiras, epor vezes no oposto, que é chamado Conjugal ou Conubial do mal e do falso;quando isso acontece, a M ente é fechada por baixo, e por vezes torcida comouma espiral em sentido inverso; mas em alguns não é fechada, permanece meioaberta por cima, e em alguns outros é aberta: é deste conjugal e daquele que ascrianças recebem dos pais as inclinações, de uma maneira os filhos e de umaoutra maneira as filhas: que isso venha do conjugal, é porque o amor conjugal éo amor fundamental de todos os amores, como foi demonstrado acima, n. 65.

204 - Se as crianças nascidas dos que estão no Amor verdadeiramente conjugalrecebem as inclinações e as faculdades, se é um filho, para perceber as cousasque pertencem à sabedoria, e se é uma filha, para amar as cousas que asabedoria ensina, é porque o Conjugal do bem e do vero foi implantado, porcriação na alma de cada um e também nas cousas que derivam da alma; pois jáfoi mostrado que este Conjugal enche o U niverso desde os primeiros até aosúltimos, e desde o homem até o verme; e foi também mostrado acima que afaculdade para abrir os inferiores do mental até à conjunção com seussuperiores que estão na luz e no calor do céu, foi posto por criação em cadahomem; daí é evidente que a habilidade e a facilidade para conjuntar o bem aovero, e o vero ao bem por conseqüência a tornar-se sábio, são recebidos denascença em herança por aqueles que nasceram de um tal casamento, mais deque por todos os, outros; que por conseqüência dá-se também o mesmo com ahabilidade e a facilidade de se compenetrar das coisas que pertencem à Igreja eao Céu; que o Amor conjugal tenha sido conjunto com estas cousas, é o que jáfoi mostrado várias vezes. Por estas explicações a razão vê claramente o fim peloqual o Senhor Criador proveu e provê ainda aos Casamentos de amorverdadeiramente conjugal.

205 - Fui informado pelos Anjos que aqueles que viveram nos temposantiqüíssimos vivem hoje nos Céus, distinguidos por casa, famílias e nações, domesmo modo que viviam nas terras, e que apenas falta algum em uma casa; eque a razão disso é que entre eles havia o Amor verdadeiramente conjugal, e

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que por conseguinte os filhos herdavam inclinações, para o Conjugal do bem edo vero, e que eram facilmente iniciados cada vez mais interiormente por seuspais por meio da educação, e introduzidos em seguida pelo Senhor como por simesmos, quando chegavam à idade do discernimento.

206 - X V III. Isso acontece assim, porque a alma da criança vem do pai, e oinvólucro dessa alma vem da mãe.

Q ue a alma vem do pai, nenhum homem sábio o põe em dúvida: é mesmo oque se vê claramente pelas mentes (animi) e também pelas faces que são tiposdestas mentes, nos descendentes que procedem de pais de família em uma sérieregular; pois o pai revém como efígie, senão nos filhos, ao menos em um dosnetos e bisnetos; e isso acontece, porque a alma constitui o íntimo do homem,e este íntimo pode ser velado na primeira geração, mas não obstante se mostrare se revelar nas gerações seguintes. Q ue a alma vem do pai, e seu invólucro, damãe, é o que pode ser ilustrado por analogias no R eino vegetal, no qual a T erraou o H úmus é a mãe comum; esta recebe as sementes como em um útero, elhes dá o invólucro; e mesmo as concebe de algum modo, as carrega, asengendra e as cria, como a mãe (faz com) suas progenituras provenientes dopai.

207 - Ao que precede ajuntarei dois M emoráveis:

Primeiro M emorável: Algum tempo depois, dirigi o olhar para a Cidade deAtenas, da qual se disse alguma cousa em um M emorável precedente, e ouvi,proveniente de lá, um clamor extraordinário; havia nesse barulho alguma cousado riso, no riso alguma cousa da indignação, e na indignação alguma cousa datristeza; entretanto, nem por isso esse clamor era dissonante, mas haviaconsonância, porque não era um som com um outro, mas era um som dentrodo outro; no M undo espiritual percebe-se distintamente no som a variedade e amistura das afeições. Perguntei de longe o que era; e me disseram: "chegouuma mensagem do lugar onde aparecem primeiro os recém-vindos no M undoCristão, dizendo que lá tinham sabido de três recém-vindos, que no M undo deonde chegaram acreditavam com todos os outros, que os que gozassem daventura e da felicidade depois da morte estariam em um repouso completo semtrabalho algum, e que como as administrações, os empregos e as ocupações sãotrabalhos, haveria repouso em relação a esses encargos; e como estes trêsacabam de ser trazidos pelo nosso Emissário, e estão à parte e esperam,elevou-se um clamor e depois de se ter deliberado a respeito, decidiu-se que elesseriam introduzidos, não no Paladium sobre o Parnaso, como os precedentes,mas no grande Auditório, para aí tornar conhecidas as suas N ovidades doM undo Cristão; e alguns de nós fomos designados para introduzi-los comsolenidade". Como eu estava em espírito, e como para os espíritos as distânciassão conforme os estados de suas afeições; e como então eu tinha a afeição devê-los e de ouvi-los, eu me vi lá presente, e os vi introduzir e os ouvi falar. O smais Antigos ou os mais Sábios se assentaram no Auditório dos lados, e todos

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os outros estavam no, meio; e diante destes havia um estrado; foi para aí que ostrês recém-vindos com a mensagem, acompanhados solenemente pelos maisjovens foram conduzidos passando pelo meio do Auditório; e quando se fezsilêncio, eles foram saudados por um dos mais Antigos, e este lhes perguntou:"Q ue há de novo na terra?" E eles disseram: "H á muitas N ovidades; mas diz,por favor sobre qual assunto". E o Antigo respondeu: "Q ue há de novo na terraa respeito de nosso mundo e do Céu?" E eles responderam: "Chegandorecentemente a este M undo, soubemos que aqui e no Céu há Administrações,Cargos, Funções, Comércios, Estudo de ciências e O cupações admiráveis; eentretanto tínhamos acreditado que após a nossa emigração ou translação doM undo natural para o M undo espiritual, entraríamos em um repouso eternosem trabalho algum; ora, que são as funções senão trabalhos?" O Antigo, lhesdisse: "Será que por um repouso eterno sem trabalho algum entendestes umaeterna ociosidade, na qual estaríeis continuamente assentados e deitados,aspirando as delícias pelo peito, e sorvendo as alegrias pela boca?" A estaspalavras, os três R ecém-vindos sorrindo levemente disseram que se tinhamfigurado alguma cousa semelhante; e então lhes foi dada esta resposta: “O quetêm as alegrias e as delícias, e por conseguinte a felicidade, de comum com aociosidade? Pela ociosidade a mente se abate e não se expande, ou antes ohomem cai em um estado de morte e não é vivificado; suponha-se alguémsentado em completa ociosidade, com os braços cruzados, os olhos abaixadosou levantados, e suponha-se que esteja ao mesmo tempo cercado de umaatmosfera de alegria, não se apoderaria de sua cabeça e de seu corpo, umamolecimento profundo, a expansão vital da face não se extinguiria, e por fim,as fibras se relaxando, não cambalharia ele cada vez mais, até cair por terra? Oque é que mantém em expansão e em tensão o sistema de todo o corpo, a nãoser a contenção da mente (animus)? E de onde vem a contenção desta mente, anão ser das cousas a administrar e das ocupações, quando a gente se entrega aelas com prazer? Por isso vos ensinarei uma N ovidade do Céu, é que lá háadministrações, ministérios, tribunais grandes e pequenos, e também profissõese ocupações". Q uando estes três recém-vindos souberam que no Céu haviaT ribunais, grandes e pequenos, disseram: "Por que estes tribunais? Será quetodos no Céu não são inspirados e conduzidos por Deus, e não sabem porconseguinte o que é justo e direito? Por que então há necessidade de juízes?" Eo Sábio antigo respondeu: "N este M undo nos ensinam e nós aprendemos o queé o bem e o vero, e também o que é o justo e o eqüitativo, como no M undonatural, e nós o aprendemos não imediatamente de Deus, mas mediatamentepelos outros; e todo Anjo do mesmo modo que todo homem, pensa o vero e fazo bem como por si mesmo; e isso é, conforme o estado do Anjo, misturado enão puro; e entre os Anjos há também simples e sábios; e os sábios devemjulgar, quando os simples por simplicidade e por ignorância estão na dúvidasobre o justo ou dele se afastam. M as vós, pois que sois recentemente chegadosa este M undo, segui-me à nossa cidade, se isso vos agrada, e nós vos

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mostraremos tudo". E saíram do Auditório, e alguns dos Antigos osacompanharam também; e a princípio entraram em uma vasta Biblioteca queera, segundo as ciências, dividida em Bibliotecas menores: os três recém-vindos,vendo tantos livros, ficaram muito admirados, e disseram: "H á também livrosneste M undo! onde se obtém o pergaminho e o papel? de onde tirais as penas ea tinta?" O s Anjos lhes responderam: "N ós percebemos que acreditáveis, noM undo de onde viestes, que este M undo é vazio, porque é espiritual; e seacreditáveis isso, é parque mantivestes a respeito do espiritual uma idéiaabstrata no material; e o que é abstrato do material vos parecia como nada,assim como vazio; e entretanto aqui está a plenitude de todas as cousas; aquitodas as cousas são Substanciais e não materiais, e as cousas materiais tiram suaorigem das substanciais; nós que estamos aqui somos homens espirituais,porque somos substanciais e não materiais; daí vem que aqui há em suaperfeição todas as coisas que estão no M undo natural, mesmo livros e escritas, emuitas outras coisas ainda". Q uando os três recém-vindos ouviram falar deco,usas Substanciais, pensaram que isso devia ser assim, tanto porque tinhamvisto os Livros escritos, como porque tinham ouvido esta sentença, que asmatérias vêm origirináriamente das substâncias. A fim de que fossem aindamais confirmadas nestas verdades, foram conduzidos às M oradas dosescreventes que copiavam exemplares de obras compostas pelos sábios dacidade, e eles examinaram as escritas, e ficaram admirados de as ver tão nítidase tão brilhantes. Em seguida foram conduzidos aos M useus, G inásios eColégios, e aos lugares onde se realizavam seus Jogos Literários, alguns dosquais eram chamados jogos dos H elicônides, outros jogos dos Parsassides;outros, jogos dos Ateneides; e outros, jogos das V irgens da fonte; disseram-lhesque estes são assim chamados, porque as V irgens significam as afeições dasciências, e que cada um tem inteligência segundo a afeição das ciências; osJogos assim chamados eram exercícios e lutas espirituais. Em seguida foramconduzidos na cidade às casas dos G overnadores, dos Administradores e de seusFuncionários, e por estes às obras maravilhosas que são executadas de umamaneira espiritual por artistas. Depois que viram tudo, o Sábio antigoconversou de novo com eles sobre o R epouso eterno do trabalho, em queentram aqueles que gozam da beatitude e da felicidade depois da morte, e lhesdisse: “O R epouso eterno não é a ociosidade, porque da ociosidade resultam,para a mente, e por conseguinte para o corpo, o langor, o entorpecimento, oestupor, e o amolecimento, e isso é a morte e não a vida, e ainda menos a vidaeterna, em que estão os Anjos do Céu; por isso o R epouso eterno é um repousoque expulsa estes inconvenientes e faz com que o homem viva; e não é outracoisa senão o que eleva a mente; é portanto um estudo e uma obra pelos quais amente é excitada, vivificada e alegrada; e isso se faz segundo o uso pelo qual, noqual e para o qual se opera; daí vem que todo o Céu é considerado pelo Senhorcomo o continente dos usos; e cada Anjo é Anjo segundo o uso que faz; oprazer do uso o leva como uma corrente favorável arrasta o navio, e faz que

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esteja em uma paz eterna, e no repouso da paz; é assim que é entendido, orepouso eterno do trabalho. Q ue o Anjo seja vivificado segundo o estudo damente pelo uso, isso é bem evidente em que cada Anjo tem o Amor conjugalcom sua força, sua potência e suas delícias, segundo o estudo do uso real emque está". Depois que estes três recém-vindos foram confirmados sobre esteponto, que o repouso eterno é, não a ociosidade, mas o prazer de fazer algumacousa que seja para o uso, algumas V irgens vieram com bordados e filé, obrasde suas mãos, e lhes fizeram presente disso; e quando estes espíritos noviços seretiraram, as V irgens cantaram uma ode, pela qual exprimiam com umamelodia angélica a afeição das obras do uso com seus encantos.

208 - Segundo M emorável: Como eu estava em meditação sobre os arcanos doAmor conjugal escondidos nas esposas, a Chuva de ouro, que foi descritoacima, apareceu de novo; e eu me lembrava que ela caía sobre um Palácio nooriente, onde viviam três Amores Conjugais, isto é, três casais de esposos, quese amavam ternamente; desde que a vi, achando-me como convidado peladoçura da meditação sobre este amor, eu me apressei em ir para esse lugar, eenquanto me aproximava, esta chuva de ouro tornou-se de púrpura, emseguida escarlata, e quando cheguei perto, estava brilhando como o orvalho;bati, e a porta foi aberta; e disse ao porteiro: "Anuncia aos M aridos que aqueleque já veio com um anjo se apresenta de novo, pedindo que lhe seja permitidoentrar para uma palestra". E o porteiro voltou com o consentimento dosmaridos, e eu entrei; e os três M aridos com suas Esposas estavam reunidos noH ypetro; e, tendo-os saudado, eles me retribuíram a saudação combenevolência; e perguntei às Esposas, se esta pomba branca tinha depoisreaparecido na janela; elas disseram: "H oje mesmo; e também estendeu as asas;por isso, auguramos a tua presença e que tu, nos solicitarias que tedescobríssemos ainda um arcano do amor conjugal. E repliquei: "Por que dizeisum? e entretanto vim aqui para saber muitos". E elas responderam: "Sãoarcanos, e alguns ultrapassam de tal modo a vossa sabedoria, que oentendimento de vosso pensamento não os pode apreender; vós vos gloriaisdiante de nós de vossa sabedoria; mas nós não nos gloriamos diante de vós danossa, e entretanto a nossa ultrapassa a vossa, porque entra em vossasinclinações e em vossas afeições, e as vê, as percebe e as sente; vós não sabeisabsolutamente cousa alguma das inclinações e das afeições de vosso amor, ,eentretanto é por elas e segundo elas que vosso entendimento pensa, porconseqüência é por elas e segundo elas que sois sábios; e entretanto as esposas asconhecem tão bem em seus maridos, que vêem em suas faces, e as ouvem pelosom de sua linguagem, e mesmo as palpam sobre seu peito, seus braços e suasfaces: mas nós, por um zelo de amor por vossa felicidade e ao mesmo tempopela nossa, fingimos não conhecê-las, e entretanto as moderamos com tantaprudência, que seguimos tudo que é do agrado, do bel-prazer e da vontade denossos maridos, permitindo-as e suportando-as, e mudando-lhes somente adireção se é possível, mas jamais forçando-as". Fiz esta pergunta: "Donde vos

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vem esta sabedoria?" Elas responderam: "Ela é impressa em nós por criação edaí por nascença; nossos maridos assemelham-na ao instinto; mas nós dizemosque ela vem da Divina Providência, a fim de que os homens sejam tornadosfelizes por suas esposas; aprendemos com os nossos maridos, que o Senhor querque o homem masculino aja pelo livre segundo a razão, e que para isso oSenhor M esmo modera pelo interior o livre do homem concernente àsinclinações e as afeições, e o modera pelo exterior por meio de sua esposa, eassim forma o H omem com sua Esposa um Anjo do Céu; e, além disso, oAmor muda sua essência, e não se torna este Amor se é constrangido. M asvamos falar mais abertamente; nós somos levadas a isso, isto é, à prudência demoderar as inclinações e as afeições de nossos maridos, de tal maneira, que lhespareça que agem pelo livre segundo a razão, e isso, porque encontramos asnossas delícias em seu amor, não amamos cousa alguma mais do que vê-losachar suas delícias nas nossas, que, se, forem pouco estimadas por eles, seembotam também em nós". Q uando assim falaram, uma das esposas entrou noquarto de dormir, e voltando disse: "A minha pomba bate ainda as asas; é umsinal de que podemos desvendar ainda mais arcanos". E disseram: "T emosobservado diversas mudanças das inclinações e das afeições dos homens; porexemplo, que os maridos se tornam frios para as esposas, quando pensamcousas vãs contra o Senhor e a Igreja; que se tornam frios quando estão no fastoda própria inteligência; que se tornam frios quando encaram as outras mulherescom cobiça; que se tornam frios quando seu amor é notado pelas esposas, semfalar de vários outros casos; e que o frio que se apodera deles é de diversosgêneros; notamos isso porque o sentimento se retira de seus olhos, de seusouvidos e de seu corpo na presença de nossos sentimentos. Por estas poucasobservações podes ver que sabemos mais que os homens, se isso vai bem paraeles, ou se vai mal; se estão frios para as esposas, isso vai mal para eles, mas seestão quentes para as esposas, isso vai bem para eles; é por isso que as esposasestão continuamente ocupadas em achar meios para que os maridos se tornemquentes e não frios para elas, e elas se ocupam disso com uma perspicáciaimpenetrável para os maridos". Depois que pronunciaram estas palavras,ouviu-se uma espécie de gemido da pomba; e então as esposas disseram: "Isto éum índice de que nós desejamos desvendar arcanos mais profundos, queentretanto não nos é permitido descobrir; revelarás, talvez, aos homens os queouvistes?" E respondi: "É minha intenção; que prejuízo pode resultar daí?"Depois de terem falado entre si as esposas disseram: "R evela, se o queres; nósnão ignoramos qual é lias esposas o, poder de persuasão; elas dirão a seusmaridos: Este homem graceja, são fábulas, ele brinca com as aparências e asfutilidades habituais dos maridos; não o acrediteis; sabemos que vós sois osAmores, e que nós somos as O bediências; revela portanto, se queres; os maridosdarão sempre atenção, não às palavras que saem da tua boca, mas às que saemda boca de suas esposas com beijos".

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U niversais concernentes aoscasamentos

209 - H á sobre o casamento um grande número de cousas que, se fossemtratados em particular fariam deste opúsculo um grosso volume; pois pode-setratar em particular da Semelhança e da Dessemelhanças entre esposos; daElevação do amor conjugal natural ao amor conjugal espiritual, e de suaConjunção; do Crescimento de um e do Decrescimento de outro; dasV ariedades e das Diversidades de um e de outro; da Inteligência dos esposos; daEsfera conjugal universal procedente do, Céu, e de sua Esfera opostaproveniente do Inferno; de seu Influxo, e de sua R ecepção; de muitas outrascousas, que se fossem expostas em detalhe, fariam desta O bra um volume deuma tal extensão, que fatigaria o leitor; por esta razão, e para evitar uma inútilprolixidade, estas particularidades serão resumidas em U niversais concernentesaos Casamentos. M as estes serão, como o que precede, divididos em Artigos, asaber: I. O Sentido próprio do amor conjugal é o sentido do T ato. II. N aquelesque estão no Amor verdadeiramente conjugal a faculdade de se tornar sábiocresce; mas naqueles que não estão no amor verdadeiramente conjugal decresce.III. N aqueles que estão no Amor verdadeiramente conjugal a felicidade dacoabitação cresce, mas nos que não estão no amor conjugal decresce. IV . N osque estão no Amor verdadeiramente conjugal a Conjunção das mentes cresce, ecom ela a Amizade; mas nos que não estão no amor conjugal uma e outradecresce. V . O s que estão no Amor verdadeiramente conjugal queremcontinuamente ser um só homem; mas aqueles que não estão no amor conjugalquerem ser dois. V I. Aqueles que estão no Amor verdadeiramente conjugalencaram o eterno no casamento; e o contrário nos que não estão no amorconjugal. V II. O Amor conjugal reside nas Esposas castas, contudo o seu amordepende dos M aridos. V III. As Esposas amam os laços do casamento, desde queos H omens amem estes laços. IX. A Inteligência das mulheres é em si mesmamodesta, elegante, pacífica, flexível, mole, terna; mas a Inteligência dos homensé em si mesma grave, áspera, ousada, amiga da licença. X . As Esposas não estãocomo os homens em uma excitação, mas há nelas um estado de preparação paraa recepção. XI. H á abundância nos homens segundo o amor de propagar osveros de sua sabedoria, e segundo o amor de fazer usos. X II. As determinaçõesestão no bel-prazer do marido. X III. H á uma Esfera conjugal que influi doSenhor pelo Céu em todas e em cada uma das cousas do U niverso até seusúltimos. X IV . Esta Esfera é recebida pelo Sexo feminino, e transmitida por eleao Sexo masculino, e não vice-versa. X V . Aí onde está o Amor verdadeiramente

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conjugal esta Esfera é recebida pela Esposa, e não é recebida pelo M arido senãopor meio da esposa. X V I. Aí onde não está o Amor conjugal, esta Esfera érecebida, é verdade, pela esposa, mas não pelo marido por meio da esposa.XV II. O Amor verdadeiramente conjugal pode existir em um dos esposos, enão ao mesmo tempo no outro. X V III. H á diversas semelhanças, e diversasdessemelhanças, tanto internas como externas, nos esposos. X IX. As diversassemelhanças podem ser conjuntas, mas não com as dessemelhanças. X X. OSenhor provê a semelhanças para aqueles que desejam o Amor verdadeiramenteconjugal, se não for nas terras, será nos Céus. X XI. O homem, conforme a faltade amor conjugal e a perda deste amor, se aproxima da natureza da besta. Segueagora a explicação destes Artigos.

210 - I. O sentido próprio do amor conjugal é o sentido do T ato.

Cada amor tem seu sentido; o amor de ver, procedente do amor decompreender, tem o sentido da vista, e os encantos deste sentido são assimetrias e as belezas; o amor de ouvir, procedente do amor de escutar e deobedecer, tem seu, sentido no ouvido, e os encantos deste sentido são asharmonias; o amor de conhecer as coisas que flutuam no ar em torno de si,procedente do amor de perceber, tem o sentido do olfato, e os encantos destesentido são as exalações odoríferas; o amor de se alimentar, procedente do amorde ser imbuído de bens e de veros, tem o sentido do paladar, e os prazeres destesentido são os manjares delicados; o amor de conhecer os objetos, procedentedo amor de ver em torno de si e de se garantir, tem o sentido do tato, e seusencantos são as impressões agradáveis. Se o amor de se conjuntar com seusemelhante, procedente do amor de unir o bem e o vero, tem o Sentido dotato, é porque este sentido é comum a todos os outros sentidos, e porconseguinte participa de alguma cousa deles; é bem sabido que este amor põeem comunicação com ele todos os sentidos acima mencionados, e se aplica osseus encantos. Q ue o Sentido do tato tenha sido consagrado ao amor conjugal,e que seja o seu sentido próprio, isso é evidente por todo seu jogo e pelaelevação de sua finura para o que há de mais delicado; mas deixa-se aos amantestirar mais amplas deduções deste assunto.

211 - II. N aqueles que estão no amor verdadeiramente conjugal à faculdade dese tornar sábio aumenta; mas nos que não estão no amor conjugal decresce. Sea faculdade de se tornar sábio aumenta nos que estão no Amor verdadeiramenteconjugal é porque este Amor está nos esposos pela sabedoria, e segundo asabedoria, como foi plenamente provado nos Capítulos que precedem; alémdisso também, porque o sentido deste Amor é o tato, e este sentido é comum atodos os sentidos, e cheio também de delícias; por conseguinte este amor abreos interiores da mente, como abre os interiores dos sentidos, e com eles aspartes orgânicas de todo corpo; segue-se que aqueles que estão neste amor nadaamam mais do que se tornarem sábios; pois o homem se torna sábio, tantoquanto os interiores da sua mente são abertos; com efeito, por esta abertura os

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pensamentos do entendimento são elevados a uma luz superior, e as afeições davontade a um calor superior; ora, a luz superior é a sabedoria, e G calorsuperior é o amor desta sabedoria; as delícias espirituais conjuntas às delíciasnaturais que experimentam os que estão no Amor verdadeiramente conjugal,constituem a amabilidade, e por conseguinte a faculdade de se tornar sábio.Segue-se daí que os Anjos tem o Amor conjugal segundo a sabedoria, e tambémos acréscimos deste amor e ao mesmo tempo de suas delícias segundosacréscimos de sua sabedoria; e que as progenituras espirituais, que nascem deseus casamentos, são coisas pertencentes à sabedoria pelo pai, e cousaspertencentes ao amor pela mãe, cousas que eles amam com um estorgeespiritual; este amor se ajunta a seu amor conjugal e o eleva continuamente, eos conjunta.

212 - O contrário acontece nos que não estão em amor conjugal algum emrazão de não estarem em amor algum da sabedoria; estes não se casam senãopor um fim de lascívia, e neste fim há mesmo o amor de se tornar insensato;com efeito, todo fim, considerado em si mesmo, é um amor, e a lascívia em suaorigem espiritual é uma loucura; por loucura entende-se o delírio da mentepelos falsos, e o delírio a um alto grau é o delírio da mente pelos verosfalsificados ao ponto de crer-se que são a sabedoria. Q ue estes sejam contra oamor conjugal, se dá disso uma confirmação ou uma prova manifesta noM undo espiritual; lá, ao primeiro odor do amor conjugal, eles fogem paracavernas, e fecham suas portas; e se as portas são abertas, eles extravagam comoos loucos no M undo.

213 - III. N os que estão no Amor verdadeiramente conjugal a felicidade dacoabitação aumenta; mas nos que não estão, no amor conjugal ela decresce. Sea felicidade da coabitação cresce nos que estão no amor verdadeiramenteconjugal, é porque eles se amam mutuamente por todos os sentidos; a esposanão vê cousa alguma mais amável do que o esposo, e o esposo não vê cousaalguma mais amável que a esposa; mais ainda, um e outro não ouvem, nãosentem e não tocam cousa alguma mais amável; daí resulta para eles a felicidadeda coabitação na casa, no quarto e na cama. Q ue assim, seja, vós maridos,podeis ter a confirmação pelas primeiras delícias do casamento, que estão emsua plenitude, por que então só a esposa em todo o sexo é amada. Q ue seja ocontrário nos que não estão em amor conjugal algum, isso é notório.

214 - IV . Aqueles que estão no Amor verdadeiramente conjugal à conjunçãodas mentes aumenta e com ela a Amizade, mas nos que não estão no amorconjugal uma e outra decrescem.

Q ue a conjunção das mentes nos que estão no amor verdadeiramente conjugalaumenta, é o que foi demonstrado no Capítulo onde se tratou da conjunçãodas almas e das mentes pelo casamento, conjunção que é entendida pelaspalavras do Senhor, que eles não são mais dois mas uma só carne, ver ns. 156 a181. M as esta conjunção aumenta conforme a amizade se conjunta ao amor,

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porque a amizade é como a face desse amor, e é também como a suavestimenta, pois não somente se adjunta ao amor como vestimenta, mastambém se conjunta a ele como face; o amor que precede a amizade ésemelhante ao amor do sexo, que se vai depois do desejo satisfeito, mas o amorconjunta à amizade permanece depois do desejo satisfeito, e também se afirma;entra mesmo interiormente no peito, a amizade o introduz, e o tornaverdadeiramente conjugal; e então este amor torna mesmo conjugal esta suaamizade, que difere muito da amizade de qualquer outro amor, pois é plena.Q ue o contrário aconteça nos que não estão no amor conjugal, isso é sabido;neles a primeira amizade, que foi insinuada na época dos esponsais, e emseguida nos primeiros dias depois das núpcias, se retira cada vez mais dosinteriores da mente, e daí sucessivamente enfim até à epiderme; e naqueles quepensam nas separações, ela se afasta inteiramente; mas nos que não pensam nasseparações o amor permanece nos externos mas nos internos, ele é frio.

215 - V . O s que estão no Amor verdadeiramente conjugal queremcontinuamente ser um só homem; mas os que não estão no amor conjugalquerem ser dois.

O Amor conjugal em sua essência não é outra cousa senão a vontade ou odesejo de que dois sejam um, isto é, de que duas vidas se tornem uma únicavida; esta vontade é o perpétuo, esforço deste amor, de onde decorrem todos osseus efeitos; que o esforço seja a essência mesma do movimento, e que avontade seja o esforço vivo no homem, isto é confirmado pelas pesquisas dosfilósofos, e é evidente também para aqueles que fazem uso de uma razãoesclarecida; segue-se daí que aqueles que estão no amor verdadeiramenteconjugal estão continuamente em esforço, isto é, querem ser um só homem.Q ue seja o contrário nos que não estão no amor conjugal, eles mesmos o,sabem muito bem; como eles se acreditam continuamente dois pela desuniãodas almas e das mentes, por isso não compreendem também o que é entendidopelas palavras do Senhor: "não são mais dois, mas uma só carne". (M ateus X IX,6).

216 - V I. O s que estão no Amor verdadeiramente conjugal consideram oeterno no casamento, dá-se o contrário nos que não estão no amor conjugal.

Se os que estão no amor verdadeiramente conjugal consideram o eterno, éporque neste amor há a eternidade, e sua eternidade vem de que este amor naesposa, e a sabedoria no marido, crescem eternamente, e neste crescimento ouprogressão os esposos entram cada vez mais profundamente nas beatitudes doCéu, que estão encerradas em sua sabedoria e ao mesmo tempo no amor destasabedoria; se portanto a idéia do eterno fosse arrancada, ou que por algumacontecimento fosse apagada de suas mentes seria como se eles mesmos fossemprecipitados do Céu. Q ual é no Céu o estado dos Esposos, quando a idéia doeterno escapa de suas mentes, e a idéia do temporal aí cai em seu lugar, eu o viclaramente por esta experiência: U m dia, por permissão dada, dois esposos

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descidos do Céu estavam comigo, e então a idéia do eterno concernente aocasamento lhes foi tirada por um certo impostor que falava com astúcia;imediatamente depois dela ter sido tirada, eles começaram a se lamentar,dizendo que não podiam mais viver, e que sentiam um desgosto como jamaistinham experimentado antes; isso tendo sido percebido no Céu pelos Anjosseus companheiros, o impostor foi afastado e precipitado; depois,imediatamente reveio a eles a idéia do eterno pela qual experimentaram aalegria do coração e se abraçaram mutuamente com a maior ternura. Alémdisso, ouvi dois esposos que a respeito de seu casamento sustentavam ora a idéiado eterno, ora a idéia do temporal; a razão disso, é que havia neles umadessemelhança interna; quando estavam na idéia do eterno, regozijavam-seentre si; mas quando estavam na idéia do temporário, diziam: "N ão há maiscasamento". E a esposa: "N ão sou mais uma esposa, sou uma concubina". E omarido: "N ão sou mais um marido, sou um debochado". Por isso quando a suadessemelhança interna lhes foi descoberta, o homem deixou a mulher, e amulher deixou o homem; e em seguida, como um e outro tinham tido a idéiado eterno concernente ao casamento, cada um deles se consociou com seu parsemelhante. Por estes dois exemplos pode-se ver claramente que os que estão noamor verdadeiramente conjugal consideram o eterno, e que se esta idéia seescapa dos íntimos do pensamento, eles são desunidos quanto ao amorconjugal, embora não o sejam ao mesma tempo quanto à amizade, pois estahabita nos externos, mas aquele nos internos. Dá-se o mesmo nos casamentossobre a terra; aí, os esposos, quando se amam ternamente, pensam naeternidade concernente à sua aliança, e não pensam de modo algum em seu fimpela morte; e se pensam nisso, sofrem até que sejam reanimados com aesperança pelo pensamento de sua continuação depois do falecimento.

216 - (bis) - V II. O Amor Conjugal reside nas Esposas castas, mas entretantoseu amor depende dos M aridos.

Isso provém das esposas nascerem amores, e por conseguinte ter sido impressonelas querer ser um com os maridos, e delas alimentarem continuamente seuamor com este pensamento de sua vontade; por isso renunciar ao esforço de seunir a seus maridos, seria renunciar a elas mesmas; não se dá o mesmo com osmaridos; como não nasceram amores, mas são recipientes deste amor que vemdas esposas, resulta que, quanto mais o recebem, tanto mais as esposas entramcom seu amor, mas quanto mais não o recebem, tanto mais as esposas semantêm de fora com seu amor, e esperam: mas isso acontece com as esposascastas; não se dá o mesmo com as que não são castas. V ê-se, por isso, que oamor conjugal reside nas esposas, mas seu amor depende dos maridos.

217 - V III. As Esposas amam os laços do casamento, desde que os homensamem esses laços.

Isto resulta do que foi dito no Artigo precedente: acrescente-se que as esposaspelo ínsito querem ser esposas, e ser chamadas esposas; e para elas um nome de

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respeito e de honra; por isso elas amam os laços do casamento: e como asesposas castas querem ser esposas não apenas de nome,

mas também de fato, e isso se dá por uma ligação cada vez mais estreita com osmaridos, por isso elas amam os laços do casamento pela afirmação de suaaliança, e isso tanto mais quanto mais há reciprocidade de amor da parte dosmaridos, ou o que é o mesmo, conforme os homens amam estes laços.

218 - IX. A Inteligência das mulheres é em si mesma modesta, elegante,pacífica, flexível, mole, tenra; e a inteligência dos homens é em si mesma grave,áspera, rigorosa, ousada, amiga da licença.

Q ue tais sejam as mulheres, e que tais sejam os homens, isso é bem evidentepelo corpo, a face, o tom de voz, a linguagem, os gestos, e os costumes de uns ede outros; pelos Corpos, porque há dureza na pele e na carne dos homens, e hámoleza nas das mulheres; pela Face, porque ela é mais dura, mais rígida, maisrude, mais amarela, além disso coberta de barba, assim menos bela nos homens,enquanto que nas mulheres, é mais doce, mais flexível, mais tenra, maisbrilhante e por conseguinte mais bela; pelo T om de V oz, porque nos homens érude, e delicada nas mulheres; pela Linguagem, porque nos homens é amiga dalicença e animada, enquanto que nas mulheres é modesta e pacífica; pelosG estos, porque nos homens são mais fortes e mais firmes e nas mulheres sãomais leves e mais fracos; pelos Costumes, porque nos homens são mais livres enas mulheres são mais elegantes. Q uanto, desde o nascimento, o gênio doshomens difere do gênio das mulheres, é o que se tornou evidente para mim,vendo meninos e meninas em suas reuniões; observei-os algumas vezes por umajanela em uma grande cidade, dando para uma praça, onde mais de umavintena se reuniam todos os dias; aí, os meninos, de acordo com o caráter quetinham de nascença, brincavam em tumulto, gritando, lutando, se batendo, sejogando, pedras, enquanto que as meninas ficavam pacificamente sentadas àsportas das casas, umas brincando com criancinhas, outras vestindo bonecas,outras cosendo retalhos de fazenda, outras se beijando; e, o que me admirava,elas olhavam sempre com olhar gracioso os meninos, cujos brinquedos eramtão barulhentos. Por isto, pude ver claramente que o homem nasceentendimento, e a mulher amor, e quais são o entendimento e o amor em seusprincípios; e assim qual seria o entendimento do homem em sua progressãosem a conjunção com o amor feminino, e mais tarde com o amor conjugal.

219 - X . As Esposas não estão como os homens em uma excitação, mas há nelasum estado de preparação para a recepção.

Q ue nos homens há seminação e por conseguinte excitação, e que nas mulheresnão há excitação porque não há seminação, isso é evidente; mas que nasmulheres há um estado de preparação para a recepção e assim para à concepção,eu o relato pelo que aprendi; mas não é permitido descrever qual é este estadonas mulheres, e mesmo ele só é conhecido por elas mesmas; mas se seu amor,

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quando elas estão neste estado, está no seu prazer, ou no desprazer, comoalgumas o dizem, é o que não foi divulgado por elas, o que só é conhecido emgeral, é que não é permitido ao marido dizer a esposa que ele pode e não quer,pois por isso é notavelmente ferido o estado de recepção, que é preparadosegundo o estado de potência do marido.

220 - X I. H á abundância nos homens segundo o amor de propagar os veros desua sabedoria, e segundo o amor de fazer usos.

Q ue assim seja, é um dos arcanos que eram conhecidos dos Antigos, e que hojeestão inteiramente perdidos; os Antigos sabiam que todas e cada uma dascousas que se fazem no corpo, se fazem segundo uma origem espiritual, porexemplo, que as ações decorrem da vontade que em si mesma é espiritual; queas palavras decorrem do pensamento que também é espiritual; que a vistanatural vem da vista espiritual que é a do entendimento; que o ouvido naturalvem do ouvido espiritual que é a atenção do entendimento e ao mesmo tempoda acomodação da vontade; que o olfato natural vem do olfato espiritual, que éa percepção, e assim por diante; que semelhantemente a seminação viril vem deuma origem espiritual, os Antigos o viram; de vários ensinamentos, nãosomente da razão mas também da experiência, tinham concluído que ela vemdos veros de que se compõe o entendimento; e diziam que do casamentoespiritual, que é o do bem e do vero, e que influi em todas e cada uma dascoisas do U niverso, não é recebido pelos machos nada mais que o vero e o quese refere ao vero; e que isso avançando no corpo é formado em semente; e queé daí que as sementes entendidas espiritualmente são os veros; que, quanto àformação, a alma masculina, sendo intelectual, é por conseqüência o vero, poiso intelectual não é outra cousa, é por isso que quando a alma desce, o verodesce também; que isso acontece porque a alma, que é o íntimo do homem ede todo animal, e que em sua essência é espiritual, por um esforço depropagação implantado nela, segue na descida e quer se procriar, e que quandoisso se faz, a alma inteira se forma, se envolve e se torna semente; e que issopode ser feito milhares e milhares de vezes, porque a alma é uma substânciaespiritual, para a qual há, não extensão, mas impleção (impletion), e da qualnão se tomam partes, mas há produção do todo, sem a menor perda deste todo;daí resulta que ela está plenamente nos menores receptáculos, que são assementes, do mesmo modo que está em seu receptáculo maior, que é o corpo.U ma vez pois que o V ero da alma é a origem da semente, segue-se que háabundância nos homens segundo o amor de propagar os veros de sua sabedoria:se há também abundância segundo o amor de fazer usos, é porque os usos sãobens que produzem veros. N o M undo também, alguns sabem que háabundância nos homens ativos, e não nos ociosos. Perguntei como pela almaviril é propagada a alma feminina, e recebi como resposta, que é pelo bemintelectual, porque este bem em sua essência é o vero; pois o entendimentopode pensar que tal cousa é o bem, que assim é verdade que esta cousa é o

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bem; é diferente com a vontade, ela não pensa nem o bem nem o vero, mas osama e os faz: é por isso que na Palavra pelos filhos são significados os veros, epelas filhas os bens, como se vê acima, n. 120; e que pela semente, na Palavra, ésignificado o vero, ver no Apocalipse R evelado n. 565.

221 - X II. As determinações estão no bel-prazer do marido.

Isto resulta de que a abundância, de que se acaba de falar, está nos homens, evaria neles tanto segundo os estados da sua mente como segundo os estados deseu corpo; pois o entendimento não é tão constante em seus pensamentos comoa vontade em suas afeições; com efeito, é levado ora ao alto, ora para baixo, estáora em um estado sereno e claro, ora em um estado turbulento e obscuro, oraem objetos agradáveis, ora em objetos desagradáveis; e como a mente, quandoage, está também no corpo, segue-se que o corpo tem estados semelhantes; daívem que o marido ora se afasta do amor conjugal e ora se aproxima dele, e quea abundância no primeiro estado é retirada; e no segundo é restabelecida. Sãoestas as razões pelas quais as determinações devem ser deixadas ao bel-prazer domarido; daí vem que as esposas, pela sabedoria impressa nelas, jamais dãoqualquer advertência sobre tais assuntos.

222 - X III. H á uma esfera conjugal que influi do Senhor pelo Céu em todas ecada uma das coisas do U niverso até seus últimos.

Q ue do Senhor procedem o Amor e a Sabedoria, ou o que é a mesma cousa, oBem e o V ero, isso foi mostrado acima em um Capítulo, sobre este assunto;estes dois no casamento procedem continuamente do Senhor, porque são EleM esmo, e porque todas as coisas são por Ele; e as coisas que procedem d'Eleenchem o U niverso, pois sem isso nada do que existe, subsistiria. H á váriasesferas que procedem d'Ele, por exemplo: A Esfera de conservação do U niversocriado, a Esfera de proteção do bem e do vero contra o mal e o falso, a Esferada reformação e da regeneração, a Esfera da inocência e da paz, a Esfera damisericórdia e da graça, além de várias outras; mas a Esfera universal de todas éa Esfera conjugal, porque esta é também, a Esfera de propagação, porconseqüência a Esfera sobreeminente de conservação do U niverso criado pelasgerações sucessivas. Q ue esta Esfera conjugal enche o U niverso, e o percorredesde os primeiros até os últimos, isso é evidente pelo que foi precedentementemostrado, pelo fato de que há Casamentos nos Céus, e os casamentos maisperfeitos no T erceiro Céu ou Céu Supremo, e que além dos que estão noshomens, há em todos os seres do R eino animal nas terras, até nos vermes; e quealém disso, há em todos os seres do R eino vegetal desde as oliveiras e aspalmeiras até às menores ervas. Q ue esta Esfera seja mais universal que a esferado calor e da luz que procedem do Sol de nosso M undo, a razão Pode seconvencer disso porque ela opera também na ausência do calor deste sol noinverno, e na ausência de sua luz, como na noite, principalmente nos homens;se ela opera assim, é porque -Procede do Sol do Céu Angélico, e que porconseguinte há igualdade constante de calor e de luz, isto. é, conjunção do bem

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e do vero, pois ela está em uma primavera contínua; as mudanças do bem e dovero, ou de seu calor e de sua luz, não são variações, como são nas terras asvariações produzidas pelas mudanças do calor e da luz provenientes do solnatural, mas estas mudanças têm lá sua origem nos seres que as recebem.

223 - X IV . Esta Esfera é recebida pelo Sexo feminino, e transmitida por ele aoSexo masculino.

Q ue no Sexo masculino não haja conjugal algum, mas que este amor estejaunicamente no Sexo feminino, e seja transmitido por ele ao Sexo masculino, euo provei por uma experiência, referida acima, n. 161, com a qual concorda estarazão, que a Forma masculina é a forma intelectual, e a Forma feminina aforma voluntária; e a forma intelectual não pode por si mesma se aquecer como calor conjugal; mas pode se aquecer com o calor conjuntivo de alguém emquem este calor foi implantado por criação; por conseqüência não pode recebereste amor senão pela forma voluntária da mulher, cuja forma lhe é adjunta,porque esta é também a forma do amor. Esta mesma proposição poderia serconfirmada ainda mais pelo Casamento do bem e do vero; e, perante o homemnatural, pelo Casamento do coração e do pulmão, porque o coraçãocorresponde ao amor, e o pulmão ao entendimento; mas como o conhecimentodestes assuntos falta à maior parte dos homens, a confirmação por estescasamentos lançaria mais sombra do que luz. Da translação desta Esfera doSexo feminino para o Sexo masculino resulta que a M ente é abrasada mesmo sópelo pensamento sobre o sexo; que por conseguinte haja também formaçãopropagativa, e assim excitação, é isso uma conseqüência; pois se nas terras ocalor não se aproxima da luz, nada aí tem vigor, e nada aí é excitado a produzirfruto.

224 - X V . O nde existe o amor verdadeiramente conjugal, esta Esfera é recebidapela Esposa, e não é recebida pelo M arido sendo por meio da esposa.

Q ue esta esfera, nos que estão no amor verdadeiramente conjugal, não sejarecebida pelo marido senão por meio da esposa, é hoje um arcano, e entretantoem si não é um arcano, porque o noivo e o recém-casado podem sabê-lo; tudoo que procede da noiva e da recém-casada não afeta de uma maneira conjugal,sem que então aconteça o mesmo com o que procede de outras pessoas do sexo?A mesma cousa acontece com os que vivem juntos no amor verdadeiramenteconjugal; e como a esfera da vida cerca a cada um, tanto o homem como amulher, com densidade no peito, e com pouca densidade no dorso, vê-seclaramente donde vem que os maridos que amam apaixonadamente suasesposas se voltam para elas, e durante o dia as olham com ar de satisfação, e quevice-versa, os que não amam suas esposas se desviam delas, e durante o dia asolham com ar de desdém. Pela recepção, por parte do marido, da esferaconjugal unicamente por meio da esposa, se conhece o amor verdadeiramenteconjugal, e é ele distinguido do amor conjugal bastardo, falso e frio.

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225 - X V I. O nde não existe o Amor conjugal, esta Esfera é recebida, é verdade,pela esposa, mas não pelo marido por meio da esposa.

Em sua origem esta esfera conjugal que influi no U niverso é Divina; em suaprogressão no céu entre os Anjos, ela é celeste e espiritual; nos homens natural;nas bestas e nos pássaros, animal; nos vermes, puramente corporal; nos vegetaisé privada de vida; e além disso em cada um dos seres, ela varia segundo suasformas. O ra, como esta Esfera é recebida imediatamente pelo Sexo feminino, emediatamente pelo Sexo masculino, e como é recebida segundo as formas,segue-se que esta Esfera, que conta em sua origem pode ser mudada em umaEsfera não santa nos seres, e mesmo mais ainda em uma Esfera oposta; a Esferaoposta é chamada Esfera de prostituição em tais mulheres, e Esfera escortatóriaem tais homens; e como tais homens e tais mulheres estão no Inferno, é doinferno, que vem esta esfera; mas também para esta esfera há muita variedade, epor conseguinte ela é de várias espécies; mas tal espécie é atraída e apreendidapor tal homem, porque lhe convém, e se conforma e corresponde ao seucaráter. Por estas explicações pode-se ver que o marido que não ama sua esposarecebe esta Esfera de outra, parte que não de sua esposa; e acontece entretantoque ela é inspirada também pela esposa, mas com desconhecimento do marido,e quando ele se aquece.

226 - X V II. O Amor conjugal pode existir em um dos esposos e não ao mesmotempo no outro.

Com efeito, um pode desejar de todo coração um casamento casto; enquantoque o outro não sabe o que é o casto; um pode amar as cousas que pertencem aIgreja, enquanto que o outro ama as que pertencem ao mundo só; um podequanto à mente estar no Céu, o outro quanto à sua estar no inferno; daí oamor conjugal pode estar em um, e não estar no outro; suas mentes, porqueestão voltadas em sentidos contrários, estão interiormente em colisão entre si, ese não o estão exteriormente, todavia acontece que o que não está no amorconjugal considera o que está ligada à sua sorte como uma velha fastidiosa; eassim de resto.

227 - X V III. H á diversas semelhanças e diversas dessemelhanças, tanto internascomo externas, entre os esposos.

É notório que entre os esposos há semelhanças e há dessemelhanças e que asexternas se manifestam, mas não as internas, a não ser aos esposos mesmosdepois de algum tempo de coabitação e aos outros por indícios; mas é inútilenumerá-las para as fazer conhecer, porque a enumeração e a descrição dasvariedades poderia encher muitas páginas. As semelhanças podem em parte serdeduzidas e concluídas das dessemelhanças pelas quais o amor conjugal émudado em frieza, e de que se tratará no, Capítulo seguinte. As semelhanças eas dessemelhanças tiram em geral sua origem das inclinações inatas (connatae),variadas pela educação, pelas sociedades e pelas persuasões de que se está

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imbuído .

228 - X IX. As diversas semelhanças podem ser conjuntas, mas não com asdessemelhanças.

As variedades das semelhanças, são em grande número, e diferem mais oumenos; mas entretanto as que diferem podem com o tempo ser conjuntas pordiversas coisas, especialmente por acomodações aos desejos, pelos deveresmútuos, as delicadezas, a abstenção de atos não-castos, o amor comum dosfilhos, e o cuidado de sua educação; mas principalmente pelas conformidadesnas coisas da Igreja; pois pelas coisas da Igreja se faz uma conjunção dassemelhanças que diferem interiormente; pelas outras coisas não há conjunçãosenão pelas semelhanças que diferem exteriormente. M as com asdessemelhanças não pode se fazer conjunção porque são antipáticas.

229 - X X. O Senhor provê semelhanças para os que desejam o Amorverdadeiramente conjugal, e se não for nas terras erá nos Céus.

A razão disso, é que é provido pelo Senhor a todos os casamentos de amorverdadeiramente conjugal; que estes casamentos vêm do Senhor, vê-se acima,ns. 130, 131; mas como é provido nos céus, é o que ouvi descrever destamaneira pelos Anjos: A Divina Providência do Senhor é singularíssima euniversalíssima a respeito dos casamentos e nos casamentos, porque todos osprazeres do Céu decorrem dos prazeres do amor conjugal, como águas docesjorrando do manancial de uma fonte; e é por isso que é provido a que nasçamPares conjugais; e estes são, sob os auspícios do Senhor, continuamenteeducados para seu casamento, sem que o rapaz e a moça nada saibam; e depoisdo tempo exigido, ela então V irgem núbil, e ele M ancebo apto ao casamento,se encontram em alguma parte como, por acaso, e se examinam mutuamente, eem seguida como por uma espécie de instinto conhecem que são adequados, epor uma sorte de ditame interior pensam em si mesmos, o mancebo: "Esta é aminha"; e a moça: "Este é o meu"; e depois que este pensamento residiu algumtempo nas mentes de um e de outro, eles se dirigem a palavra de propósitodeliberado, e se prometem um ao outro. Foi dito como por acaso, como poruma sorte de instinto, com por uma sorte de ditame, e entende-se pela DivinaProvidência, porque ela aparece assim quando não é conhecida; pois o Senhorabre as semelhanças internas, a fim de que se vejam.

230 - X XI. O homem segundo a falta de amor conjugal e a perda deste amor,se aproxima da natureza da besta.

A razão disso, é que, quanto mais o homem está no amor conjugal, tanto maisé espiritual, e quanto mais é espiritual, tanto mais é homem; pois o homemnasce para a vida depois da morte, e ele a atinge porque tem uma almaespiritual, e o homem pode ser elevado a esta vida pela faculdade de seuentendimento; se então sua vontade, pela faculdade que também lhe foi dada, éelevada ao mesmo tempo, depois da morte ele vive a vida do Céu. É o

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contrário, se está em um amor oposto ao amor conjugal; pois quanto mais aíestá, tanto mais é natural, e o homem puramente natural é semelhante à bestaquanto às cobiças, aos apetites e a seus prazeres, com a única diferença de quetem a faculdade de elevar o entendimento, à luz da sabedoria, e também deelevar a vontade ao calor do amor celeste; estas faculdades não são tiradas dehomem algum; é por isso que, o homem puramente natural, embora sejasemelhante à besta quanto às cobiças, aos apetites e a seus prazeres, viveentretanto depois da morte, mas em um estado que corresponde à sua vidapassada no mundo. Por estas explicações, pode-se ver que o homem, segundo afalta de amor conjugal, se aproxima da natureza da besta. Isto parece poder sercontraditado, pelo fato de haver falta de amor conjugal e perda deste amornaqueles que entretanto são homens; mas não se trata aqui senão daqueles que,pelo amor escortatório, não fazem caso algum do amor conjugal, e que estãoassim na falta de amor conjugal, e na perda deste amor.

231 - Ao que precede serão acrescentados T rês M emoráveis:

Primeiro M emorável: U m dia, ouvi grandes gritos que saíam dos infernoscomo através das águas; um à esquerda: "Ó como são justos!" outro à direita:"Ó como são Eruditos!" e um terceiro por trás: "Ó como são Sábios!", e comome viesse ao pensamento, se no Inferno havia também Justos, Eruditos eSábios, fui afetado pelo desejo de ver se os havia realmente; e me foi dito doCéu: "T u verás e ouvirás"; e saí da casa em espírito, e vi diante de mim umaAbertura; aproximei-me dela, e olhei; e eis, uma escada pela qual desci, e,quando cheguei em baixo, vi planícies cobertas de arbustos entremeados deespinheiros e de urtigas; e perguntei se era o Inferno; disseram-me "É a T errainferior, que fica imediatamente acima do Inferno"; e então avancei em direçãoaos G ritos seguindo a ordem; para o primeiro G rito: "Ó como são Justos!" e viuma Assembléia dos que no M undo tinham sido Juízes de amizades e depresentes; em seguida para o segundo G rito: "Ó como são Eruditos!" e vi umaAssembléia dos que no M undo tinham sido R aciocinadores; e enfim para oterceiro G rito: "Ó como são Sábios!" e vi uma Assembléia dos que no mundotinham sido Confirmadores; mas destes voltei para a primeira Assembléia ondeestavam os Juízes de amizade e de presentes que eram proclamados justos; e visobre o lado uma espécie de Anfiteatro constituído de tijolos, e coberto detelhas pretas; e me foi dito que era ali o seu T ribunal; chegava-se lá por trêsentradas do lado do setentrião, e três do lado ocidental, mas não havianenhuma do lado meridional nem do lado oriental, índice de que seusJulgamentos não eram julgamentos, de Justiça, mas eram arbitrários. N o meiodo Anfiteatro vi uma lareira, onde servidores encarregados deste cuidadojogavam tochas sulfurosas e betuminosas, cujos clarões projetando-se sobre osmuros rebocados de novo apresentavam imagens pintadas de pássaros da tarde eda noite; mas esta lareira, e por conseguinte as vibrações da luz nas formasdestas imagens, eram representações, de seus Julgamentos, porque eles podiam

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disfarçar o fundo de toda questão, e revestí-lo de formas segundo o favor. M eiahora depois vi entrar, em vestes compridas e mantos, Anciãos e M oços, quedepois de tirarem seus gorros, se colocaram em Assentos perto das M esas paraproferir Julgamentos; e escutei, e percebi com que esperteza e com quesagacidade, tendo em vista a amizade, eles faziam pender e virar os julgamentosem aparências de justiça, e isso a ponto deles mesmos verem o injusto comojusto, e vice-versa o justo como injusto; as persuasões sobre o justo e o injustose mostravam como tais pelas suas faces, e eram ouvidas como tais pelos sons desua linguagem; então me foi dada do Céu uma ilustração pela qual percebi secada uma das cousas era conforme ou não conforme com o direito; e vi comque esperteza eles velavam o injusto, e lhe davam a aparência do justo, e comque habilidade escolhiam entre as leis as que eram favoráveis e punham de ladopor meio de raciocínios astuciosos todas as outras. Depois dos julgamentos, asSentenças eram levadas aos clientes, amigos e adeptos, e estes -Para osrecompensar por seus favores, gritavam ao longo dos caminhos: "Ó , como sãojustos.' Ó como são justos!" Depois disso falei deles com os Anjos do Céu, elhes contei em parte o que tinha visto e ouvido; e os Anjos me disseram: "T aisjuizes parecem aos outros ter um entendimento de uma penetração muito sutil,,quando entretanto não vêem a menor cousa do justo e do eqüitativo; se retiras,a amizade por uma das partes, eles ficam mudos nos julgamentos comoestátuas, e dizem somente: Concordo, filio-me à opinião deste ou daquele; eisso porque todos os seus julgamentos são estabelecidos sobre prevenções, e aprevenção junta ao favor segue a cousa desde o começo até ao fim; assim elesnão vêem senão o que é favorável ao amigo; quanto a tudo que lhe é contrário,eles põem de lado; e se de novo se trata disso, eles o envolvem com raciocínioscomo a aranha envolve com fios a sua presa, e o aniquilam; daí vem que se nãoseguem a teia de sua prevenção, nada vêem do direito; foi examinado se elespodiam ver alguma cousa dele, e achou-se que não o podiam; os habitantes doteu M undo ficarão admirados, de que seja assim; mas diz-lhes que isso é umaverdade reconhecida incontestável pelos Anjos do Céu. Como aqueles nadavêem de justo, nós os consideramos, no Céu, não como homens, mas comomonstros, cujas cabeças constituem as coisas que são da amizade, os peitos, asque são da injustiça, os pés as que são da confirmação, e as plantas dos pés asque são de justiça, as quais eles derrubam e calcam com os pés, se não sãofavoráveis ao amigo. M as quais eles nos aparecem no Céu, tu o vais ver, pois oseu fim está próximo". E eis que imediatamente o solo se entreabriu, e as mesascaíram sobre as mesas, e eles foram afundados com todo o Anfiteatro; elançados em cavernas, e encarcerados; e então me foi dito: "Q ueres vê-los lá?" Eeis que eles foram vistos quanto à face como de aço polido, quanto ao corpodesde o pescoço até aos lombos como estátuas de pedra vestidas de peles deleopardo, e quanto aos pés como cobras: e vi os Livros de Lei, que tinhamcolocado sobre as M esas, mudados em Cartas de Jogar; e então, em lugar dejulgar, lhes foi dado por emprego preparar vermelhão de arrebique para ser

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posto no rasto das prostitutas e transformá-las assim em belezas.

Depois que vi essas cousas, quis ir para as duas outras Assembléias, onde, emuma estavam puros R aciocinadores, e na outra puros Confirmadores; e entãome foi dito: "R epousa um pouco; Anjos da Sociedade mais próxima acima deleste serão dados por companheiros; por eles o Senhor te dará a luz, e tu veráscousas surpreendentes".

232 - Segundo M emorável: Pouco tempo depois, ouvi de novo da T errainferior estas exclamações que já se tinham feito ouvir: "Ó como são Eruditos!Ó como são Eruditos!" e olhei de todos os lados para ver que Anjos estavampresentes; e eis que eram Anjos que, no Céu estavam imediatamente acimadaqueles a respeito dos quais se gritava: "Ó como são Eruditos!" Conversei comeles sobre este G rito, e eles me disseram: "Estes Eruditos são dos queraciocinando procuram somente se uma cousa é ou não é, e que pensamraramente que ela é de tal maneira; assim são como ventos que sopram epassam; e como cascas em torno de árvores que não têm medula; ou comocascas em torno de amêndoas sem núcleo; ou como a superfície de frutos sempolpa; pois suas M entes estão sem julgamento interior, e não estão unidas senãoaos Sentidos do corpo; é por isso que, se os sentidos mesmos não julgam, elesnada podem concluir; em uma palavra, eles são puramente sensuais, e nós oschamamos R aciocinadores; são chamados R aciocinadores, porque jamaisconcluem coisa alguma, mas se apoderam de tudo que ouvem, e discutem se acousa é, contradizendo-se continuamente; não amam nada mais do que atacaras próprias verdades, e assim as fazem em pedaços submetendo-as a debates, sãoeles que se acreditam no M undo mais eruditos que todos os outros". Depois deter recebido estas informações, pedi aos Anjos que me conduzissem a eles; econduzíram-me a uma Cavidade, de onde degraus conduziam à terra inferior, edescemos, e seguimos o G rito: "Ó como são Eruditos!" e eis que eram algumascentenas que se mantinham de pé em um mesmo lugar, batendo com os pés naterra, a princípio, admirado disso, perguntei porque eles ficavam assim de pé,batendo a terra com os pés, e acrescentei: "Podem assim fazer com os pés umaescavação no solo". A essas palavras os Anjos sorriam e disseram: "Elesaparecem mantendo-se assim de pé, porque, sobre não importa que assunto,eles não pensam absolutamente que a cousa é assim, mas perguntamunicamente se a cousa é, e discutem; e quando o pensamento não vai maislonge, eles perecem somente calcar e pilar com os pés um torrão de terra, semavançar". M as então aproximei-me da Assembléia; e eis que eles me pareceramcomo homens de bom aspecto e decentemente vestidos; e os Anjos disseram:"Eles aparecem assim em sua própria luz, mas quando a luz influi do Céu, asfaces mudam e as vestes também". É o que aconteceu; e então eles apareceramcom as faces lívidas, cobertos de sacos pretos; mas esta luz tendo sido retirada,foram vistos como antes. Pouco depois falei a alguns da assembléia, e disse:"O uvi a multidão que vos cerca gritar: "Ó como, são Eruditos! Q ue me seja

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pois permitido discorrer convosco sobre assuntos que são da mais profundaErudição"; e eles responderam: "Diz o que te agrada e nós te satisfaremos"; e eufiz esta pergunta: "Q ual deve ser a R eligião pela qual o homem é salvo?", e elesdisseram: "N ós dividiremos a questão em várias outras, e antes de ter concluídosobre estas não podemos dar resposta; é preciso primeiro por em discussão: 1.se uma R eligião é alguma cousa; 2. se há salvação ou não; 3. se há uma R eligiãoque seja mais eficaz do que uma outra; 4. se há um Céu e um Inferno; 5. se háuma vida eterna depois da morte; além de muitos outros pontos". E pedi quetratassem do primeiro ponto: Se uma R eligião é alguma cousa? E eles sepuseram a discutir este ponto por uma multidão de argumentos: H á umaR eligião, e o que se chama assim é alguma cousa? E lhes pedi para relatá-la àAssembléia, e eles o fizeram, e a resposta comum foi que esta Proposição exigiatão numerosas pesquisas, que não, poderia ser resolvida em uma sessão. "M as,perguntei, poderia sê-lo em um ano.?" E um deles me disse que não o poderiaser em cem anos; e eu disse: "Esperando isso estais sem religião"; ele respondeu:"N ão deve primeiro ser demonstrado se há uma R eligião, e se o que é chamadoR eligião é alguma coisa? Se há uma ela será também para os sábios; se não há, oque é chamado religião será unicamente para o vulgo; sabe-se que a R eligião échamada Ligação; mas pergunta-se para quem é esta ligação; se é unicamentepara o vulgo, não é em si mesma alguma cousa; se é também para os sábios, elaé alguma cousa". Depois de ter ouvido esta resposta, eu lhes disse "V ós nadatendes de Eruditos, pois não podeis senão pensar se uma cousa é, ou não é, eexaminá-la em um ou outro sentido; quem é que se pode tornar Erudito, a nãoser que saiba alguma cousa com certeza, e avance nessa cousa, como umhomem avança passo a passo e sucessivamente na sabedoria? De outro modo,não tocais nem mesmo com um dedo as verdades, mas as afastais cada vez maisda vista; raciocinar somente se uma cousa é ou não é, não é raciocinar sobre umboné sem jamais pô-lo na cabeça, ou sobre um sapato sem calçá-lo? Q uesegue-se daí, senão que não sabeis se, seja o que for, existe, nem mesmo se háuma salvação, se há uma vida eterna depois da morte, se uma R eligião, valemais do que uma outra, se há um Céu e um Inferno; vós nada podeis pensarsobre esses assuntos, enquanto vos detiverdes no primeiro passo, e aí bateis aareia, sem levar um pé adiante do outro e sem avançar. T omai cuidado paraque vossas M entes, enquanto se mantém assim fora do julgamento, não seendureçam interiormente, e não se tornem estátuas de sal, e vós, amigos daesposa de Loth". Depois de ter assim falado, fui embora; e eles, em suaindignação, jogaram pedras atrás de mim; e então me apareceram comoestátuas de pedra, nas quais não há cousa alguma de razão humana. E indagueidos Anjos sobre a sorte destes espíritos; e eles me disseram: "A sua sorte é seremprecipitados no profundo, e aí em um deserto e serem reduzidos a carregarfardos, e então, como nada podem dizer conforme a razão, balbuciam e falamde cousas frívolas; e aí, de longe, aparecem como asnos carregando suas cargas.

233 - T erceiro M emorável: Em seguida um Anjo me disse: "Segue-me para o

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lugar onde se grita: "Ó como são sábios!" e disse: "V erás prodígios de homens;verás faces e corpos, que são de homens, e entretanto não são de homens"; e eudisse: "São de bestas?" R espondeu: "N ão são de bestas, mas são de homens-bestas, pois eles são tais, que não podem de modo algum ver se o vero é vero ounão, e entretanto, podem fazer que tudo o que querem seja vero; estes, entrenós, são chamados Confirmadores". E seguimos o G rito, e chegamos ao lugar;e eis, uma Assembléia de homens, e em torno da Assembléia uma multidão, ena multidão algumas pessoas de distinção, que, tendo ouvido que elesconfirmavam tudo que diziam, e que, por uma aquiescência tão manifesta, lheseram favoráveis, se voltaram e disseram: ''Ó como são sábios!" M as o Anjo medisse: "N ão vamos para perto deles, mas chamemos um da Assembléia": echamamos um, e nos retiramos com ele à parte, e falamos de diversas cousas; eele confirmava todas essas cousas, a ponto de aparecerem absolutamente comoverdadeiras; e lhe perguntamos se ele podia também confirmar as cousascontrárias; e ele disse que o podia tão bem como para as precedentes; entãodisse abertamente e do fundo do coração: “O que é o vero? Será que nanatureza das cousas há outro vero que não seja o que o homem faz vero? Diztudo que te agrada, e eu farei que seja vero", e eu disse: "Faz vero isto, que a Féé o todo da Igreja"; e ele o fez com tanta destreza e habilidade, que os Eruditosque estavam em torno ficaram admirados e aplaudiram: depois, lhe pedi parafazer vero, que a Caridade é o todo da Igreja; e ele o fez; e em seguida, que aCaridade não pertence em cousa alguma à Igreja, e envolveu uma e outraproposição e as ornou com aparências, de sorte que os assistentes se olhavamentre si, e diziam: "N ão está aí um Sábio?" E eu disse: "N ão sabes que bemviver é a Caridade, e que bem crer é a Fé? N ão é que aquele que vive bem,também crê bem, e que assim a fé pertence à caridade, e a caridade à fé? N ãovês que isso é vero? Ele respondeu: "Farei isso vero, e verei"; e o fez, e disse:"agora eu vejo"; mas pouco depois ele fez que o contrário fosse vero, e entãodisse: "V ejo também que isso é vero"; a essas palavras, sorrimos e dissemos:"N ão estão aí cousas contrárias? Como dois contrários podem ser vistos veros?"A isso ele respondeu muito indignado: "V ós estais no erro, um e outro é vero,pois que não há vero senão o que o homem faz vero". Perto de lá estavaalguém, que no M undo tinha sido Embaixador de primeira classe; ficouadmirado do que acabava de ouvir, e disse: "R econheço que há alguma cousasemelhante no M undo, mas não obstante, tu desarrazoas; faz, se podes, que sejavero que a Luz é O bscuridade, e que a obscuridade é a Luz"; e ele respondeu:"Eu o farei facilmente; o que é a Luz e a O bscuridade, senão um Estado doO lhos? N ão é que a luz é mudada em sombra quando o olho acaba de serexposto aos raios do sol? Q uem não sabe que então o olho é modificado, e queem conseqüência a luz aparece como sombra; e que vice-versa, quando o estadodo olho volta, esta sombra aparece como luz? A Coruja não vê na obscuridadeda noite como uma luz do dia, e a luz do dia como uma obscuridade de noite; eentão o sol mesmo como um globo opaco e sombrio? Se o homem tivesse os

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olhos como a coruja, que chamaria ele luz, e que chamaria obscuridade? Então,o que é a luz, senão um estado do olho e se é somente um estado do, olho aLuz não é a O bscuridade, e a O bscuridade a Luz? Portanto um é vero e o outroé vero". Em seguida o Embaixador pediu ao Confirmador para fazer vero isto,que o corvo é branco, e não preto; e ele respondeu: "Eu o farei aindafacilmente; e disse: "T oma uma agulha ou uma faca, e abre as asas e as penas docorvo, não são elas brancas por dentro? Depois afasta as asas e as penas, eexamina o Corvo pela pele, não é ele branco? O que é o preto que o cerca,senão uma sombra pela qual, não se deve julgar a cor do Corvo. Q ue ,o pretonão seja senão a sombra, consulta aqueles que possuem a Ciência da ótica, eeles to dirão; ou antes, pulveriza uma pedra preta, ou o vidro preto e veras queseu pó é branco?" M as, respondeu o Embaixador: "N ão é que o Corvo aparecepreto diante da vista?" “O que! replicou o Confirmador, tu queres, tu que ésum homem, pensar alguma cousa pela aparência! podes dizer, é verdade, pelaaparência, que o Corvo é preto, mas não o podes pensar; assim, por exemplopodes dizer, pela aparência, que o Sol se levanta, sobe, desce e se deita, mascomo tu és um homem, não podes pensá-lo, pois o Sol permanece imóvel, e aT erra gira; dá-se o mesmo com o Corvo, uma aparência, é uma aparência; diztudo que quiseres, o, corvo é inteiramente branco; e branqueia tambémquando se torna velho, é o que eu vi". Em seguida lhe pedimos para dizer dofundo do coração se estava brincando, ou se acreditava que não há vero senão oque o homem faz vero; e ele respondeu: Juro que o creio". Depois disso oEmbaixador lhe fez esta pergunta: "Podes fazer vero isto, que és louco?" e eledisse: "Eu o poderia, mas não o quero; quem é que não é louco?" Depois destaconversa, este Confirmador universal foi enviado aos Anjos, a fim de queexaminassem o que ele era; e, depois de o terem examinado, disseram que elenão possuía nem mesmo um grão de entendimento, porque tudo que estáacima do racional estava fechado nele, e que nele não havia aberto senão o queestá abaixo do racional; acima do R acional está a Luz celeste, e abaixo doR acional está a Luz natural, e no, homem esta é tal que ele pode confirmartudo que lhe agrada; mas se a Luz celeste não influi na Luz natural, o homemnão vê se o que é vero é vero, nem por conseqüência também se o que é falsa éfalso; ora, ver um e outro depende da luz celeste na luz natural; e a luz celestevem do Deus do Céu, que é o Senhor; é por isto que este confirmadoruniversal não é nem homem nem besta; mas é besta-homem. Perguntei aoAnjo qual era a sorte destes confirmadores, e se podiam estar com os vivos, poisque a vida está no homem pela Luz celeste, e seu entendimento vem desta luz;e ele me disse que estes confirmadores, quando estão sós, não podem pensarcousa alguma, nem por conseqüência dizer coisa alguma, mas ficam de pémudos como máquinas, e como que mergulhados em um profundo sono, masdespertam desde que alguma coisa atinja seus ouvidos; e acrescentou que tais setornam aqueles que são intimamente maus; a luz celeste não, pode influir nelespela porta superior, mas influi unicamente pelo M undo algum espiritual, de

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onde lhes vem a faculdade de confirmar. Depois destas explicações ouvi umavoz vinda dos Anjos que o haviam examinado, dizendo: "Faz de tudo queouviste uma Conclusão geral": e fiz esta: "Poder confirmar tudo que agrada nãoé obra de um homem inteligente, mas poder ver que o que é vero é vero e oque é falso é falso, e confirmá-lo, é obra de um homem inteligente". Dirigi emseguida meu olhar para a Assembléia onde estavam os Confirmadores; e emtorno deles a multidão gritava: "Ó como são sábios!" e eis que uma nuvemsombria os envolveu, e na N uvem voavam corujas e morcegos; e me foi dito:"As corujas e os morcegos que voam na nuvem preta são correspondências epor conseguinte aparências dos pensamentos destes Confirmadores; pois asconfirmações das falsidades, ao ponto de aparecerem como verdades, sãorepresentadas neste M undo sob formas de pássaros noturnos, cujos olhos sãoiluminados por dentro por uma luz quimérica, pela qual vêem os objetos nastrevas como em uma luz; uma tal luz quimérica espiritual está naqueles queconfirmam os falsos a ponto, de vê-lo: como veros, e em seguida, de dizê-los ecrê-los como veros; todos estes estão na visão posterior, e não estão em vistaalguma anterior.

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Das causas das frieza, dasseparações e dos divórcios nos

casamentos

234 - T ratando aqui das Causas das Frieza nos Casamentos, tratarei também aomesmo tempo das Causas das Separações e dos Divórcios, por que elas sãoligadas umas às outras; com efeito, as Separações não vêm de outra parte senãodas Frieza nascidas sucessivamente depois do Casamento, ou de causasdescobertas depois do Casamento e das quais vem também a frieza; quanto aosdivórcios, vêm dos Adultérios, porque os adultérios são inteiramente opostosaos Casamentos e os opostos introduzem a frieza, senão nos dois esposos, aomenos em um deles. Eis a razão pela qual as Causas das frieza, das separações edos divórcios serão postas juntas em um único Capítulo. M as as ligações dascausas entre si serão mais claramente discernidas, se vistas em série; sua série éesta: I. H á um Calor espiritual, e há uma Frieza espiritual; o Calor espiritual éo amor, e a Frieza espiritual é a privação desse amor. II. A Frieza espiritual nosCasamentos é a desunião das almas e a disjunção das mentes, donde nascem aIndiferença, a Discórdia, o Desprezo, o Desgosto, a Aversão, em conseqüênciados quais, em muitos, há enfim Separação quanto ao leito, ao quarto e a casa.III. As Causas das frieza em suas sucessões são em grande número, algumas sãoInternas, outras Externas e outras Acidentais. IV . As Causas internas das friezavêm da R eligião. V . A Primeira das causas é a rejeição da R eligião por um oupelo outro. V I. A Segunda, é quando um tem R eligião, e o outro não tem. V II.A T erceira é quando um é de uma R eligião, e o outro é de uma outra. V III. AQ uarta, a falsidade imbuída da R eligião. IX. São estas as Causas da friezainterna, mas não ao mesmo tempo externa, entre muitos. X . H á também váriasCausas externas de frieza; e a Primeira é a dessemelhança das mentes (animi) edos costumes. X I. A Segunda, é que um crê que o Amor Conjugal é o mesmoque o Amor escortatório, com a única diferença de que este, pela lei, é ilícito,enquanto que aquele é lícito. X II. A T erceira, é a rivalidade de preeminênciaentre os esposos. X III. A Q uarta é a falta de determinação para qualquer estudoou para qualquer ocupação, de onde resulta uma cupidez vaga. X IV . A Q uintaé a desigualdade de estado e de condição nos Externos. X V . H á também certasCausas de separação. XV I. A primeira destas causas é um V ício do mental.XV II. A Segunda é um V ício do corpo. X V III. A T erceira é a Impotência antesdo casamento. XIX. O Adultério é a causa do Divórcio. X X. H á também váriasCausas acidentais, e a Primeira dessas causas é o comum que resulta de que hácontinuamente permissão. X XI. A Segunda é que a coabitação com o cônjuge,pela aliança e a lei, parece forçada e não livre. X XII. A T erceira é a afirmação

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da parte da esposa, e propósitos sobre o amor por ela. X XIII. A Q uarta é opensamento do marido, dia e noite, que sua esposa quer; e de outro lado, opensamento da esposa, que seu marido não quer. X XIV . Conforme a frieza estána mente, está também no corpo; e segundo os acréscimos desta frieza, osexternos do corpo também são fechados. Segue agora a Explicação destesArtigos.

235 - I. H á um Calor espiritual, e há uma Frieza espiritual; o Calor espiritual éo Amor, e a Frieza espiritual é a privação deste amor.

O Calor espiritual não vem de outra parte senão do Sol do mundo espiritual;pois lá há um Sol procedente do Senhor que está no seu meio; e como procededo Senhor, esse Sol é em sua existência o puro Amor; este Sol diante dos Anjosaparece ígneo, absolutamente como aparece o Sol de nosso M undo diante doshomens; e aparece ígneo porque o Amor é o fogo espiritual: deste Solprocedem um Calor e uma Luz; mas este Sol é o puro Amor, o calor que deleprocede é em sua essência o amor, e a luz que dele procede é em sua essência asabedoria; por aí se vê claramente de onde vem o calor espiritual, e que estecalor é o amor. Será também exposto em poucas palavras de onde vem a Friezaespiritual; ela vem do Sol do M undo natural, e de seu calor e de sua luz; o Soldo M undo natural foi criado, a fim de que seu calor e sua luz recebam em si ocalor e a luz espirituais, e que por meio de atmosferas os levem até aos últimosna terra, para que produzam os efeitos dos fins, os quais pertencem ao Senhorem Seu Sol, e também para que envolvam os espirituais com vestes adequadas,isto é, de materiais, para operar os fins últimos na natureza; estas cousasacontecem quando o calor espiritual foi ajuntado ao calor natural: mas ocontrário acontece, quando o calor natural está separado do calor espiritual; issoacontece naqueles que amam os naturais e rejeitam os espirituais; nestes o calorespiritual se torna frieza. Se estes dois amores, que por criação estão de acordo,se tornam assim opostos, é porque então o calor-amor se torna calor-servo, evice-versa; e para que isto não aconteça, o calor espiritual, que por sua origem éo amor se retira; e então nessas pessoas o calor espiritual esfria, porque se tornaoposto: por estas explicações vê-se claramente o que é a frieza espiritual, e queesta frieza é a privação do calor espiritual. N o que acaba de ser dito, pelo caloré entendido o amor, porque este calor, vivendo nas pessoas é sentido comoamor. Aprendi, no M undo espiritual, que os Espíritos inteiramente naturais sãotomados de um frio íntimo quando se põem ao lado de um Anjo que está emum estado de amor; e que se dá o mesmo com os espíritos do inferno, quando,o calor influi do Céu sobre eles e que entretanto, entre si, quando o calor docéu se retirou eles ardem com um grande calor.

236 - II. A Frieza espiritual nos Casamentos é a desunião das almas, e adisjunção das mentes, de onde nascem a indiferença, a discórdia, o desespero, odesgosto, a aversão em conseqüência cia dos quais, em muitos, há enfimseparação quando ao leito, ao quarto e à casa.

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Q ue seja isso o que acontece entre os esposos, quando seu primitivo amor seafasta e se torna frieza, isso é muito conhecido, para que precise de explicação.A razão, é que a frieza conjugal reside acima de todas as outras frieza nasmentes humanos; pois o conjugal mesmo está inscrito na alma, para este fimque uma alma seja propagada por uma alma, e a alma do pai nos filhos; daívem que esta frieza aí começa, e decorre sucessivamente nas cousas que seguem,e as infecta, e assim muda as alegrias e os prazeres do amor primitivo emtristezas e desprazeres.

237 - III. As Causas das frieza em suas sucessões são em grande número,algumas, são Internas, e outras Externas, e outras Acidentais.

Q ue as causas das frieza nos casamentos sejam em grande número, sabe-se nomundo; sabe-se também que têm sua origem em muitas causas externas; masnão se sabe que as origens das causas estão profundamente escondidas nosinternos, e que daí elas derivam para as causas que seguem até que apareçamnos externos. A fim de que se saiba portanto que as causas externas, não sãocausas em si mesmos, mas são derivadas de causas em si mesmas que comoacaba de ser dito, estão nos íntimos, as causas por conseqüência são a princípiodistinguidas geralmente em Internas e Externas, e são em seguida examinadasparticularmente.

238 - IV . As Causas internas de frieza vêm da R eligião.

Q ue a origem mesma do amor conjugal reside nos íntimos do homem, isto é,em sua Alma, todo homem está convencido disso por estas únicasconsiderações, a saber, que a Alma da criança vem do pai, e que isso éconhecido pela semelhança de inclinações e de afeições, e também pelasemelhança comum das faces que se perpetua do pai na posteridade mesmo amais afastada; além disso, pela faculdade propagativa gravada nas almas porcriação; e além disso pelo análogo nos seres do reino vegetal, em que nosíntimos das germinações está escondida à propagação da semente mesma, e porconseqüência do todo, quer seja uma árvore, ou um arbusto, ou uma planta.Esta força propagativa ou plástica nas sementes deste reino, e nas almas dooutro reino, não vem de outra parte senão da Esfera conjugal, que é a do bem edo vero, e que emana e influi continuamente do Senhor Criador e Conservadordo U niverso, ver acima, ns. 222 a 225; e do esforço destes dois, o bem e o vero,lá, para se conjuntar em um; é deste esforço conjugal, que tem sua sede nasalmas, que existe originariamente o amor conjugal: que este mesmo casamento,donde procede esta Esfera U niversal, faça a Igreja no homem, é o que foisuficientemente mostrado no Capítulo sobre o Casamento do Bem e do V er-o,e várias vezes em outros lugares; por aí, diante da razão, é de todo evidênciaque a origem da Igreja e a origem do amor conjugal estão em uma mesmamorada, e que estão continuamente abraçadas; mas sobre este assunto, vermaiores detalhes, acima n. 130, onde foi demonstrado que o amor conjugal ésegundo o estado da Igreja no homem, assim depende da religião, pois que a

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religião constitui este estado. O homem foi criado desse modo, a fim de quepossa se tornar cada vez mais interior, e ser assim cada vez mais introduzido ouelevado para esse casamento, e por conseqüência no amor verdadeiramenteconjugal, e isso a ponto de perceber G estado de beatitude: que o único meiode introdução ou de elevação seja a R eligião, vê-se claramente pelo que foi ditoacima, que a origem da Igreja e a origem do amor conjugal estão em umamorada, e aí estão em um mútuo abraço, e que por conseguinte não podemdeixar de estar conjuntos.

239 - Do que acaba de ser dito, segue-se que, onde não há R eligião, aí não hátambém amor conjugal; e que, onde não há este amor, aí há frieza; que a friezaconjugal seja a privação deste amor, vê-se acima, n. 235. Por conseqüência afrieza conjugal é também a privação do estado de Igreja, ou de R eligião. U maconfirmação assaz evidente de que a cousa é assim pode ser tirada da ignorânciageral hoje em dia sobre o amor verdadeiramente conjugal. Q uem é, hoje, quesabe, e quem é hoje, que quer reconhecer, e quem é hoje que não se admiraráque o amor conjugal tira daí sua origem? M as isso vem unicamente de que,ainda que haja religião, não há entretanto veros da religião; e o que é umareligião sem veros? Q ue não haja veros, é o que foi plenamente demonstradono Apocalipse R evelado; ver também neste T ratado o M emorável n. 566.

240 - V . A primeira das causas internas de frieza é a rejeição da R eligião porum ou por outro esposo.

N aqueles que repelem de face para o occiput, ou do peito para o dorso, ascousas santas da Igreja, não há amor algum bom; se algum se apresenta nocorpo, não há, entretanto, nenhum no espírito; em tais homens os bens secolocam por fora dos males, e os cobrem como uma roupa brilhante de ouro,cobre um corpo gangrenado; os males que residem no interior e estão cobertos,são em geral ódios, e por conseqüência guerras intestinas contra todo espiritual;pois todas as cousas da Igreja que eles rejeitam são em si mesmas espirituais; ecomo o amor verdadeiramente conjugal é o amor fundamental de todos osamores espirituais; como foi mostrado acima, é evidente que há contra ele umódio intrínseco, e que neles o amor intrínseco ou próprio é em favor do oposto,que é o amor do adultério; eles, portanto, mais que os outros escarnecerão destaverdade de que cada um tem o amor conjugal segundo o estado da Igreja; emesmo talvez riam à bandeiras despregadas só ao nome de amorverdadeiramente conjugal; mas seja; que se lhes perdoe entretanto, porque arespeito dos enlaçamentos nos casamentos, pensar outra cousa diferente do quepensam dos enlaçamentos nas escortações, isso lhes é tão impossível como o é aum camelo passar pelo buraco de uma agulha. Esses, que são assim,experimentam quanto ao amor conjugal mais frieza que todos os outros; se sãoligados a suas esposas, não é senão por algumas das causas externas,mencionadas acima n. 153, que retêm e ligam. N eles os interiores, quepertencem à alma e por conseguinte à mente, são cada vez mais fechados, e no

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corpo obstruídos, e então o amor do sexo torna-se vil também, ou cai em umaextravagante lascívia nos interiores de seu corpo, e por conseguinte nos ínfimosde seu pensamento; são eles que também, são entendidos no M emorável n. 79;que o leiam, se isso lhes agrada.

241 - V I. A Segunda das causas internas de frieza, é quando um tem R eligião, eo outro não a tem.

Isto vem de que suas almas não podem deixar de estar em desacordo; pois aalma de um está aberta para a recepção do amor conjugal, mas a outra estáfechada para a recepção desse amor; a alma está fechada naquele que não temreligião, e está aberta naquele que tem religião; por conseguinte coabitaçãoalguma não é possível; e quando o amor conjugal é banido, a frieza vem, maspara aquele dos esposos que não tem religião; esta frieza não é dissipada senãopela recepção de uma religião conforme a do outro, se esta é verdadeira; deoutro modo, no esposo que não tem religião alguma, segue-se uma frieza quedesce da alma ao corpo até a pele, donde resulta que enfim ele não suportaolhar diretamente em face o outro esposo, nem lhe falar respirando o mesmoar, ou de outro modo que não seja com um tom seco, nem tocá-lo com a mão,e apenas de costas sem fazer menção, das loucuras que, por esta frieza, seinsinuam nos pensamentos, e que eles não divulgam: o que é causa de que essescasamentos se rompam por si mesmos: além disso, sabe-se que o ímpio desprezaseu consorte; e todos os que não têm religião são ímpios.

242 - V II. A T erceira das coisas internas de frieza, é quando um é de umaR eligião, e o outro de uma outra.

A razão disso, é que neles o bem não pode ser conjunto com seu verocorrespondente, pois a esposa é o bem do vero do marido, e o marido é o verodo bem da esposa, como foi mostrado acima; de duas almas eles não podem serfeitos uma só alma; por conseguinte a fonte deste amor está fechada; uma vezfechada, chega-se a um conjugal que tem sua sede acima, e que é o conjugal dobem com um outro vero que não o seu ou do vero com um outro bem que nãoo seu, entre os quais não existe amor concordante; daí, naquele dos esposos queestá nos falsos da religião, começa uma frieza, que se torna tanto mais intensaquanto mais difere de princípios com o outro esposo. U m dia, em uma grandecidade, percorri as ruas para encontrar um alojamento, e entrei em uma casaonde moravam esposos de religiões diferentes; então, como eu nada sabia arespeito, os anjos, dirigindo-me a palavra, disseram: "N ão podemos morarcontigo nesta casa porque os esposos são de religiões discordantes". Elespercebiam isso pela desunião interna de suas almas.

243 - V III. A Q uarta das causas internas é a falsidade dá R eligião.

É porque a falsidade nas cousas espirituais ou arrebata a religião, ou a mácula;arrebata naqueles em quem as verdades reais foram falsificadas; a maculanaqueles em que há, é verdade, falsidades, mas não verdades reais, as quais por

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conseqüência não foram falsificadas; nestes pode haver bens com os quais estesfalsos podem ser conjuntos pelo Senhor por meio de aplicações, pois estes falsossão como diversos tons discordantes, que, por arranjos e combinações hábeis,são postos em harmonia, de onde vem mesmo o atrativo do canto; neles podehaver algum amor conjugal, mas naqueles que falsificaram em si os veros reaisda Igreja não o pode haver: destes vem à ignorância que reina a respeito doAmor verdadeiramente conjugal, ou a dúvida negativa de que este amor possaexistir; e deles vem também esta extravagância que se apodera das mentes demuitos, a saber, que os adultérios não são males da religião.

244 - IX. As Causas expostas acima são causas de frieza interna, mas não aomesmo tempo externa em muitos.

Se as causas até aqui indicadas e confirmadas, que são causas de frieza nosinternos, produzissem uma semelhante frieza nos externos; se fariam tantasseparações quantas frieza internas houvesse; e há tantas destas frieza quantoscasamentos há -entre pessoas que estão a os falsos de religião, ou em religiõesdiferentes, ou que não têm religião alguma, e de que se acaba de falar; eentretanto é notório que um grande número de pessoas coabitam como amorese como amizades mútuas, mas de onde isso provém nos que estão em friezainterna, é o que será dito no Capítulo seguinte, concernente as Causas de umaaparência de amor, de amizade e de bons ofícios entre esposos. H á várias causasque conjuntam as mentes (animi), mas que entretanto não conjuntam as almas;entre estas causas há algumas daqueles de que se falou no n. 183, mas aconteceque a frieza está sempre profundamente escondida no interior, e é aqui e ali,notada e sentida neles as afeições se afastam de uma parte e de outra, mas ospensamentos, quando se manifestam na linguagem e nas maneiras seaproximam pela aparência de amizade e de bons ofícios; por isso, esses nãosabem coisa alguma dos encantos e dos prazeres, nem, com mais forte razão,cousa alguma da felicidade e da beatitude do Amor verdadeiramente conjugal;tudo isso para eles é apenas nada mais que fábulas. São do número dos que dãoas origens do amor conjugal as mesmas causas, que lhe atribuíam os nove dasAssembléias de sábios reunidas de diversos reinos; ver acima os M emoráveis ns.193 a 114.

245 - Contra as cousas confirmadas acima, pode-se fazer esta objeção, queentretanto a alma é propagada pelo pai, ainda que não tenha sido conjunta àalma da mãe, e mesmo ainda que a frieza que aí reside faça separação. M as sealmas ou progenituras são contudo propagadas, é porque o entendimento, domarido não está fechado, e o que é mais, pode ser elevado à luz em que está aalma; mas o amor de sua vontade não é elevado ao calor correspondente à luz,aí, senão pela vida que de natural se faz espiritual; daí vem que a alma éentretanto propagada; mas na descida, quando se torna semente, é velada porcousas que pertencem a seu amor natural; daí brota o mal hereditário. A estasexplicações acrescentarei um arcano que vem do Céu, a saber, que entre as

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almas disjuntas de duas pessoas, sobretudo de dois esposos se faz umaconjunção em um amor médio, e que de outro modo às concepções não sedaria. Além disso, quanto à frieza conjugal e ao lugar onde tem a sua sede,ver-se-á no último M emorável deste Capítulo, n. 270, que é na região supremada mente.

246 - X . H á também várias causas externas de frieza, e a Primeira é adessemelhança das mentes (animi).

H á semelhanças e dessemelhanças internas, e as há externas; as internas nãotiram sua origem senão da R eligião; pois esta é implantada nas almas, e pelasalmas passa dos pais aos filhos como suprema inclinação, com efeito, a alma decada homem tira a vida do casamento do bem e do vero, e deste casamentovem a Igreja; e como a Igreja é diversa e diferente nas Partes do G lobo, étambém por isso que as almas de todos os homens são diversas e diferentes; daívêm, portanto, as semelhanças e as dessemelhanças internas, e de acordo comelas as conjunções conjugais de que se tratou. Q uanto às semelhanças e asdessemelhanças externas, vêm não das almas, mas das mentes (animi); pelasM entes (Animi) são entendidas as afeições e por conseguinte as inclinaçõesexternas, que são insinuadas principalmente após o nascimento pela Educação,pelas Sociedades, e conseqüentemente pelos H ábitos; com efeito, se diz,"minha intenção (animus) é fazer tal ou tal cousa"; por isso é percebido que é aafeição e a inclinação por esta cousa; as persuasões tomadas referentes a tal ouqual gênero de vida, costumam também formar estas mentes (animi) daí vêm àsinclinações para contrair casamentos mesmo com pessoas não apropriadas, etambém a se recusar aos casamentos com pessoas apropriadas; mas entretantoestes casamentos após um certo tempo de coabitação variam segundo assemelhanças e as dessemelhanças contraídas por herança e ao mesmo tempopela educação; e as dessemelhanças conduzem à frieza. Dá-se o mesmo com asdessemelhanças de costumes; por exemplo um homem grosseiro com umamulher polida, ou uma mulher grosseira com um homem polido; um homemasseado com uma mulher desasseada; ou uma mulher asseada com um homemdesasseado; um homem ou uma mulher que gosta de querelas com uma mulherou um homem que ama a paz; em uma palavra, um homem imoral com umamulher moral, ou uma mulher imoral com um homem moral. O s casamentosentre pessoas tão dessemelhantes parecem-se muito às conjunções de diversasespécies de animais entre si, por exemplo, ovelhas e bodes, cervos e mulas,galinhas e gansos, pássaros e aves de um gênero mais nobre, e mesmo cães egatos, que por causa das dessemelhanças não se consorciam; mas no gênerohumano as faces não indicam as dessemelhanças; mas os hábitos as manifestam,é portanto daí que vêm as frieza.

247 - X I. A Segunda das causas externas de frieza, é que se acredite que o Amorconjugal é o mesmo que o amor escortatório, com a única diferença que este deacordo com a lei é ilícito, enquanto que o outro é lícito.

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Q ue daí venha a frieza, a razão o vê claramente; quando considera que o amorescortatório é diametralmente oposto ao amor conjugal; quando, portanto, secrê que o amor conjugal é um com o amor escortatório, estes dois amorestornam-se, semelhantes na idéia e então a esposa é considerada como umaprostituta, e o casamento como uma impudicícia; o homem mesmo é por issoadúltero senão de corpo, ao menos de espírito: que daí decorra entre o homeme sua mulher o desprezo, o desdém e a repugnância, e assim uma friezaexcessiva, é uma conseqüência inevitável; pois nada encerra mais em si a friezaconjugal que o amor escortatório; e como o amor escortatório passa tambémnessa frieza, ele pode, não sem razão, ser chamado a frieza conjugal mesma.

248 - X II. A T erceira das causas externas é a rivalidade de preeminência entreos esposos.

A razão disso, é que o amor conjugaI põe no número de suas cousas principaisa união das vontades, e por conseguinte a liberdade do que agrada; a rivalidadede preeminência ou a respeito do comando expulsa do casamento esta união eesta liberdade; pois divide e partilha as vontades, e muda em servidão aliberdade do que agrada: enquanto dura esta rivalidade, o espírito de ummedita violências contra o outro; se então suas mentes se abrissem e fossemexaminados pela vista espiritual, eles apareceriam Como combatendo compunhais, e como se encarando ora com ódio, e ora com olhar favorável, comódio quando estão na violência da rivalidade, e com olhar favorável quandotem a esperança de dominar, e quando estão no desejo libidinoso. Depois davitória de um sobre o outro, este combate se afasta dos externos, e se retira paraos internos do mental, e aí fica escondido com inquietação; daí vem à friezanaquele que foi subjugado ou se tornou escravo, e também na esposa que ficouvitoriosa ou se tornou senhora; se há também frieza nesta, é porque não hámais amor conjugal, e a privação deste amor é a frieza, n. 234; em lugar doamor conjugal, esta tem o calor proveniente da preeminência, mas este calor éinteiramente discordante com o calor conjugal, não obstante, pode concordarexteriormente por meio do desejo libidinoso. Após uma convenção tácita entreeles, parece que o amor conjugal se tornou amizade; mas a diferença entre aamizade conjugal e a amizade servil nos casamentos, é como a diferença entre aluz e a sombra, entre um fogo vivo e um fogo fátuo, e mesmo como, entre umhomem carnudo e um homem que só tem os ossos e a pele

249 - X III. A Q uarta das causas externas da frieza é a falta de determinaçãopara qualquer estudo ou para qualquer ocupação, de onde resulta uma cupidezvaga.

O homem foi criado para os usos, porque o uso é o continente do bem e dovero, do casamento dos quais procede a criação, e também o amor conjugal,como foi mostrado no Capítulo concernente do casamento. Por estudo e porocupação, entende-se toda aplicação aos usos; quando portanto o homem estáem algum estudo ou em alguma ocupação, esta no uso, sua mente é então

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limitada e circunscrita como por um círculo, dentro do qual é sucessivamentecoordenada em uma forma verdadeiramente humana, de onde, como de umacasa, vê fora dela as diversas cobiças, e por uma razão sã interior as extermina;por conseqüência, extermina também as loucuras bestiais do desejo libidinosoda escortação; daí resulta que o calor conjugal fica melhor e por mais temponestes do que nos outros. O contrário acontece aos que se dão à preguiça e àociosidade; o mental destes está sem limites e sem termo, e por conseguinte ohomem admite nele plenamente tudo que é inútil e frívolo que influi domundo e do corpo, e o leva ao amor; que então o amor conjugal seja mesmolançado no exílio, isso é evidente; pois pela preguiça e a ociosidade a mente setorna estúpida e o corpo se entorpece, e o homem inteiro se torna insensível atodo amor vital, principalmente ao amor Conjugal, de onde emanam como deuma fonte, as atividades e as vivacidades da vida. M as neles a frieza conjugal édiferente desta frieza nos outros; ela é, é verdade, uma privação do amorconjugal, mas por falta.

250 - X IV . A Q uinta das causas externas é a desigualdade de estado e decondição nos externos.

H á várias desigualdades de estado e de condição, que durante a coabitação,destroem o amor conjugal começado antes das núpcias; mas podem serrelacionadas as desigualdades quanto às Idades, quanto às Dignidades, e quantoà O pulência. Q ue a desigualdade de Idades, como de um moço com umavelha, e de uma moça com um velho, conduzam à frieza, nos casamentos, isso,não precisa ser provado. Q ue a desigualdade de Dignidades produza um efeitosemelhante, como no casamento de um príncipe com uma criada, ou de umadama distinta com um criado, isso também é reconhecido sem que seja precisoprová-lo. Q ue se dê o mesmo com a opulência, a não ser que a semelhança dasmentes (animi) e das maneiras, e a aplicação de um dos esposos às inclinações eaos desejos naturais do outro, os consociem, isso é evidente. M as, em todosestes casos, as complacências de um por causa da preeminência do estado e dacondição do outro, não conjugam senão servilmente, e esta conjunção é fria;pois neles o conjugal pertence, não ao espírito nem ao coração, mas unicamenteà boca e ao nome, do que o inferior tira vaidade, e de que o, superior enrubescecom vergonha. M as nos Céus não há desigualdades de idades, de dignidades oude opulência; quanto aos Anjos, todos estão lá na flor da juventude, e nelapermanecem eternamente, quanto às Dignidades, todos lá consideram os outrossegundo os usos que desempenham; os que são mais iminentes pela condiçãoconsideram os outros como irmãs, e não põem a dignidade acima da excelênciado uso, mas colocam a excelência do uso acima da dignidade; e, além disso.,quando as virgens são dadas em casamento, não se sabe de que camada socialelas descendem, pois lá ninguém conhece o pai que teve na terra, mas o Senhoré o Pai de todos; quanto à O pulência dá-se o mesmo; lá, ela consiste nasfaculdades de tornar-se sábio, faculdades segundo as quais as riquezas lhes são

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dadas com suficiência. Como nos Céus são formados os casamentos vê-seacima, n. 229.

251 - X V . H á também certas Causas de Separação.

H á Separações de leito, e Separações de casa. H á várias causas de separação deleito, e também várias causas de separação de casa; mas aqui se trata de causaslegítimas. Como as Causas de separação coincidem com as causas deConcubinagem, de que se tratará na segunda Parte desta O bra, em umCapítulo especial, o Leitor é enviado para aí, para que veja estas causas em suaordem. As causas legítimas de separação são as seguintes.

252 - X V I. A Primeira causa de legítima Separação: é um vício da mente.

É porque o amor conjugal é a conjunção das mentes; se portanto a mente deum toma uma direção contrária à mente do outro, esta conjunção é rompida, epor esta ruptura o amor desfalece. Pode-se ver, por sua enumeração, os víciosque causam a separação; são, quanto à maior parte, estes: A mania, o frenesi, ofuror, a loucura efetiva e o idiotismo, a perda da memória, uma violenta,moléstia histérica, uma extrema simplicidade ao ponto de não ter percepçãoalguma do bem e do vero, uma excessiva obstinação a não obtemperar ao que éjusto e eqüitativo, um supremo prazer em não conversar e não falar senão decousas frívolas e insignificantes; um desejo desenfreado de divulgar os sacredosda casa; além disso, também, de querelar, de enganar e de blasfemar; a falta decuidado pelos filhos, a intemperança, a luxúria, a excessiva prodigalidade, aembriaguez, a falta de asseio, a impudicícia, a aplicação à magia, aos prestígios,a impiedade, e várias outros vícios. Por causas legítimas, aqui, não se entendemcausas judiciárias, mas causa legítima para o outro esposo; as separações de casarara-mente se dão por decisão de juiz.

253 - X V II. A Segunda causa legítima de Separação é um vício do corpo.

Por vícios do corpo não se entendem as moléstias acidentais que sobrevêm aum ou a outro dos esposos durante o casamento, e que se curam, masentendem-se as moléstias inerentes, que não passam; a patologia as fazconhecer; há diversas espécies delas, por exemplo: as moléstias que infectam ocorpo inteiro, ao ponto do contágio se tornar funesto, tais são as febresmalignas e pestilências, as lepras, os males venéreos, as gangrenas, os cânceres, eoutros semelhantes. Além disso, as moléstias pelas quais todo o corpo é de talmodo deprimido, que não admite mais consociabilidade, e pelas quais sãoexalados eflúvios perniciosos e vapores prejudiciais, seja da superfície do corpo,seja de seus interiores, especialmente do estômago e do pulmão: da superfíciedo corpo: as varíolas malignas, as verrugas, as pústulas, a tísica escorbútica, osdartros virulentos, sobretudo se a face foi danificada; do estômago: asfermentações (rapports) infectas, fétidas, vis, acerbas; do pulmão: hálitos fortese corrompidos, provenientes de úlceras, de abscessos, ou de sangue viciado, oude uma linfa corrompida. Além dessas moléstias, há ainda outras de diferentes

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nomes, como lipotimia, que é uma fraqueza total do corpo e uma falta deforças; a paralisia, que é uma redução e um relaxamento das membranas e dosligamentos que servem ao movimento; certas moléstias crônicas que tiram suaorigem da perda da sensibilidade e da elasticidade dos nervos, ou de demasiadaespessura, tenacidade e acrimônia dos humores; a epilepsia; uma enfermidadepermanente proveniente de apoplexia; certas tísicas pelas quais o corpo seconsome; o sofrimento ilíaco, a afecção celíaca, as hérnias, e outras moléstiasdeste gênero.

254 - X V III. A T erceira causa de legítima Separação é a impotência antes docasamento.

Q ue seja isso uma causa de separação, é porque o fim do casamento é aprocriação de filhos, e que esta não é possível da parte do impotente; e comoeles o sabem de antemão., privam de propósito deliberado, os esposos daesperança desta procriação, esperança que entretanto nutre e fortifica seu amorconjugal.

255 - X IX. O Adultério é a causa do Divórcio.

H á várias razões, que estão na luz racional, e entretanto escondidas hoje; pelaluz racional pode-se ver que os Casamentos são santos, e que os Adultérios sãoprofanos, e que assim os Casamentos e os Adultérios são diametralmenteopostos entre si; e que, quando um oposto age contra seu oposto, um destrói ooutro até à última centelha da vida; é o que acontece ao amor conjugal, quandoum dos esposos por princípio confirmado, e assim de propósito deliberado,comete Adultérios. N aqueles que tem algum conhecimento do Céu e doInferno, estas cousas vêm ainda mais a uma clara luz da razão; pois estes sabemque os Casamentos são do Céu e vêm do Céu, e que os Adultérios são doinferno, e vêm do inferno, e que o casamento e o adultério, não podem estarconjuntos, do mesmo modo, que o Céu não pode estar conjunto com oinferno, e que se forem conjuntos no homem imediatamente o Céu se retira, eo inferno entra. Daí resulta portanto que o Adultério é a causa do Divórcio; épor isso que o Senhor disse: "Q uem quer que repudie sua esposa, que não sejapor causa de Escortação, e se case com uma outra, comete adultério". (M ateusXIX, 9); Ele disse: Se ele repudia e se casa com uma outra, sem ser por causa deescortação, comete adultério, porque a repudiação por esta causa é a completaseparação das mentes, que é chamada Divórcio; mas as outras repudiaçãesprovenientes de suas causas particulares são Separações, de que se acaba de falaracima; depois destas separações, se o homem toma uma outra esposa cometeadultério; mas não depois do divórcio.

256 - X X. H á também várias causas acidentais de frieza, e a Primeira destascausas é o Comum que resulta de haver continuamente permissão.

Q ue o Comum que resulta de haver continuamente permissão seja uma causaacidental de frieza, é porque isso acontece aos que pensam lascivamente sobre o

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casamento e sobre a esposa, e não aos que pensam santamente sobre ocasamento, e em plena segurança sobre a esposa. Q ue pelo Comum que resultade haver continuamente permissão as alegrias se tornem mesmo indiferenças, etambém enfados, isso é evidente pelos jogos e os espetáculos, pelos concertos,bailes, festins e outras cousas semelhantes, que em si mesmos sãodivertimentos, porque são vivificações; dá-se o mesmo com as comunicações eas ligações entre esposos, sobretudo entre aqueles que não afastaram do amorque tem um pelo outro, o amor incasto do sexo; e quando pensam no comumque resulta de haver continuamente permissão, pensam vãmente na ausência dafaculdade: que para estes o comum seja uma causa de frieza, o fato é evidentepor si mesmo; se diz que isto é acidental porque isso se junta à frieza intrínsecacomo causa e se alinha do seu lado como razão. Para afastar a frieza que tira daía sua origem, as esposas por uma prudência inata nelas, fazem por diversasresistências, com que este direito não seja um direito. M as é completamentediferente naqueles que julgam castamente as esposas; e por isso que nos Anjos oComum que resulta de haver continuamente permissão é a delícia mesma daalma, e é o continente de seu amor conjugal; pois eles estão continuamente noprazer deste amor, e também nos últimos segundo a presença das mentes nãointerrompida por preocupações, assim segundo o bel-prazer do julgamento nosmaridos.

257 - X XI. A Segunda das causas acidentais de frieza, é que a coabitação com ocônjuge, pela aliança e a lei parece forçada e não livre.

Esta causa concerne unicamente àqueles em que o amor conjugal é frio nosíntimos, e como se junta ao frio interior, se torna uma causa acessória ouacidental; nestes é o amor extraconjugal que, pelo consentimento e o favordeste consentimento, está intrinsecamente no calor, pois a frieza de um dosdois amores é o calor do outro; se este calor não é sentido, aí está entretanto, emesmo no meio da frieza; se aí não estivesse mesmo então, não haveriaseparação; é este calor que faz o constrangimento, o qual aumenta, conforme deum lado a aliança pelo pacto, e a lei pelo justo são consideradas como laços quenão devem ser violados; a cousa se passa diferentemente, se de uma e de outraparte eles são quebrados. O contrário acontece naqueles que abominam o amorextraconjugal, e pensam que o amor conjugal é celeste e é o Céu, e mais aindase percebem isso, nestes, esta aliança com seus pactos, e esta lei com suassanções, foram inscritas em seus corações, e aí estão continuamente inscritascada vez mais; nestes o laço deste amor não é formado pela aliança contraída,nem pela lei decretada, mas a aliança e a lei estão inscritas por criação no amormesmo em que e eles estão, é por estas que aqueles estão no mundo, mas nãovice-versa: daí resulta que tudo que pertence a este amor é sentido, como olivre; não há livre alguma que não pertença ao amor; e ouvi dizer pelos Anjosque o livre do amor verdadeiramente conjugal é o Livre supremo, porque esteamor é o amor dos amores.

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253 - X XII. A T erceira das causas acidentais de frieza, é a afirmação da parte daesposa, e propósitos sobre o amor por ela.

Entre os anjos, no Céu, não há recusa nem repugnância alguma da parte dosesposos, como, há em algumas nas terras; entre os anjos, no Céu, há tambémpropósitos sobre o amor da parte das esposas, e não silêncio como em algumasnas terras; mas as causas dessas diferenças, não me é permitido referi-Ias,porque isso não é conveniente para mim; mas pode-se vê-Ias relatadas pelasesposas dos anjos, as quais as expõem livremente diante de seus maridos, emquatro M emoráveis no fim dos Capítulos, por três esposas no Palácio sobre oqual foi vista uma chuva de ouro, e por sete que estavam sentadas em umBosque de rosas; estes M emoráveis foram relatados a fim de que se veja adescoberto todas as coisas que pertencem ao amor conjugal, de que se trata aquitanto em geral como em particular.

259 - X XIII. A Q uarta das causas acidentais de frieza é o pensamento: domarido, dia e noite, de que sua esposa quer e, de outro lado, o pensamento daesposa, de que seu marido não quer.

Q ue isso seja uma causa da cessação do amor nas esposas, e que isso seja umacausa da frieza nos maridos, é o que pode passar sem comentários. Com efeito,que o marido esfrie até às extremidades, se, a respeito de sua esposa que ele temdiante dos olhos durante o dia e a seu lado durante a noite, ele pensa que eladeseja ou quer; e que, do seu lado, a esposa perde seu amor, se a respeito de seumarido ela pensa que ele pode e não quer, estão aí coisas conhecidas dosmaridos que se dedicam aos arcanos relativos ao amor conjugal. Estas causastambém foram relatadas, a fim de que esta O bra seja completa, e que asDelícias da sabedoria sobre o amor conjugal sejam plenamente expostas.

260 - X XIV . Conforme a frieza está na mente, está também no corpo; econforme o crescimento desta frieza, os externos do corpo são tambémfechados.

Acredita-se hoje que a M ente do homem está na cabeça, e que nada há dela nocorpo, quando entretanto a Alma e a M ente não estão somente na cabeça, mastambém no corpo; com efeito, a Alma e a M ente são o homem, pois uma eoutra constituem o Espírito que vive depois da morte, e que está em umaperfeita forma humana, como foi plenamente mostrado em nossos T ratados:daí resulta que o homem, desde que pensa alguma cousa, pode no mesmoinstante pronunciá-la pela boca do corpo, e ao mesmo tempo exprimi-Ia pelogesto; e que, desde que quer alguma cousa, pode num instante fazê-la eefetuá-la pelos membros do corpo; o que não aconteceria, se a Alma e a M entenão estivessem juntos no corpo, e não constituíssem seu homem espiritual. Poisque é assim, pode-se ver que, quando o Amor conjugal está na, M ente, ésemelhante a si mesmo no Corpo; e que pois que o Amor é calor, abre pelosinteriores os externos do corpo; mas que, vice-versa, a privação do amor, que é

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frieza, fecha, pelos interiores os externos do corpo; por aí vê-se claramente acausa da faculdade que dura pela eternidade rios anjos, e a causa da falta defaculdade, nos homens que estão na frieza.

261 - Ao que precede ajuntarei T rês M emoráveis:

Primeiro M emorável: N a Plaga setentrional superior perto do, O riente, noM undo Espiritual, há lugares de instrução para as crianças, para os rapazes,para os homens adultos, e também para os velhos; todos os que morrem nainfância são enviados para esses lugares, e sua educação se faz, no Céu; para lásão enviados igualmente todos os recém-chegados do M undo, e que desejamconhecimentos sobre o Céu e sobre o Inferno: esta R egião é perto do O riente,a fim de que todos sejam instruídos pelo influxo procedente do Senhor; pois oSenhor é o O riente, porque Ele está lá no Sol, que por Ele é puro Amor; daí, oCalor deste Sol é em sua essência o Amor e a Luz que deles procede é em suaessência a Sabedoria; estas cousas, o amor e a sabedoria procedentes deste Sol,lhes são inspirados pelo Senhor, e são inspirados segundo a recepção, e arecepção é segundo o amor de se tornar sábio. Depois do tempo de instrução,os que se tornaram inteligentes são despedidos e chamados discípulos doSenhor; são a princípio enviados daí para o O cidente, e os que não ficam nestaplaga são enviados para o Sul, e alguns pelo, Sul para o O riente, e sãointroduzidos nas Sociedades onde devem estar suas moradas. U m dia, quandoeu meditava sobre o Céu e sobre o Inferno, comecei a desejar umconhecimento universal sobre o estado de um e do outro, sabendo que aqueleque conhece os universais pode em seguida apreender os singulares, porqueestes estão naqueles como as partes estão no comum. N esse desejo, dirigi osolhos para esta R egião da plaga setentrional perto do O riente, onde estavam osLugares de Instrução; e, por um caminho que me foi aberto, fui para ali, eentrei em um Colégio onde estavam rapazes; e me dirigi aos M estres principaisque instruíam, e lhes perguntei se eles conheciam os universais sobre o Céu esobre o Inferno; e eles responderam: "Conhecemos poucos deles; mas seolharmos para o lado do O riente em direção ao Senhor, seremos ilustrados esaberemos". E olharam do lado do O riente para o Senhor, e disseram: "H á trêsU niversais do Inferno; mas os U niversais do Inferno são diametralmenteopostos aos U niversais do Céu; os U niversais do Inferno são estes três Amores:o Amor de dominar pelo amor de si; o Amor de possuir os bens dos outros peloamor do mundo; e o Amor escortatório. O s U niversais do Céu que lhes sãoopostos são estes três Amores: O Amor de dominar pelo amor do. uso; o Amorde possuir os bens do mundo pelo amor de fazer usos com esses bens; e o Amorverdadeiramente conjugal". Depois destas palavras e um voto de paz, fuiembora e voltei para casa. Q uando cheguei em casa, me foi dito do Céu:"Examina estes três U niversais em cima e em baixo, e em seguida nós osveremos em tua mão". Disseram-me: "Em tua mão", porque todas as cousasque o homem examina pelo entendimento aparecem aos Anjos como inscritas

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nas mãos.

262 - Imediatamente, examinei o Primeiro Amor universal do Inferno, que erao Amor de dominar pelo amor de si, e em seguida, o Amor universal do Céu,que lhe corresponde, isto é, o Amor de dominar pelo amor dos usos; comefeito, não me foi permitido examinar um desses amores sem examinar o outro,porque o Entendimento não percebe um sem o outro, pois eles são opostos;por isso, para que um e outro sejam percebidos devem ser postos em oposição,um contra o outro; pois uma face bela e regular brilha com esplendor quandose lhe opõe uma face feia e disforme. Q uando tinha examinado bem o Amor dedominar pelo amor de si, me foi dado perceber que este Amor era infernal nograu supremo, e por conseguinte está nos que estão no Inferno mais profundo;e que o Amor de dominar pelo amor dos usos era celeste no grau supremo, epor conseguinte estava naqueles que estão no Céu supremo. Se o Amor dedominar pelo amor de si é infernal no grau supremo, é porque dominar peloamor de si, é dominar pelo próprio; ora o próprio do homem é por nascimentoo mal mesmo, e o mal mesmo é diametralmente contra o Senhor; por issoquanto mais se progride no mal, mais se nega Deus e as cousas santas da Igrejae mais se adora a si mesmo e a natureza; que os que estão no mal examinemisso em si mesmos, eu lhes peço, e verão; este amor também é tal que, se lheafrouxam as rédeas, o que acontece quando o impossível não lhe faz obstáculo,tanto mais se lança de grau em grau, e até ao mais alto; e não se limita a isso,mas se não há um grau mais elevado, se queixa e geme. Este Amor, nosPolíticos, sobe ao ponto de quererem ser R eis e Imperadores; e se fosse possíveldominar sobre o mundo inteiro, e ser chamados reis dos reis e imperadores dosimperadores; e nos Eclesiásticos, este mesmo Amor sobe a um tal ponto, quequereriam ser deuses, e tanto quanto possível, dominar sobre o Céu inteiro, eser chamados deuses dos deuses. Q ue nem uns nem outros reconhecem decoração Deus algum, ver-se-á no que vai seguir. M as, ao contrário, os quequerem dominar pelo amor dos usos, querem dominar não por eles mesmos,mas pelo Senhor, porque o Amor dos usos vêm do Senhor, e é o SenhorM esmo; estes não consideram as dignidades senão como meios para fazer usos;colocam os usos bem acima das dignidades, enquanto que os primeiros colocamas dignidades bem acima dos usos.

263 - Enquanto meditava sobre este assunto, me foi dito por um Anjo da partedo Senhor: "Agora, tu vais ver e depois de ver te confirmarás qual é este Amorinfernal". E então a terra se abriu de repente à esquerda, e vi subir do Infernoum diabo com a, cabeça coberta por um boné enterrado na testa até aos olhos,com a face cheia de pústulas como as de uma febre ardente, com os olhosesbugalhados, o peito estufado em rombo; da boca lançava fumaça como umafornalha, seus lombos eram inteiramente ígneos; em vez de pés tinhacalcanhares ósseos sem carne, e de seu corpo se exalava um calor infecto eimundo. Ao vê-lo fiquei apavorado, e lhe gritei: "N ão te aproximes; diz-me

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donde és?" E ele respondeu com uma voz rouca: "Sou dos infernos e aí vivocom duzentos outros em uma Sociedade que é a mais eminente de todas associedades; lá somos todos imperadores de imperadores, reis de reis, duques deduques, e príncipes de príncipes; lá ninguém é simplesmente imperador,simplesmente rei, duque, príncipe; nós estamos lá sentados sobre tronos detronos, e daí enviamos nossas ordens sobre todo o globo, e, além". Então eu lhedisse: "N ão vês que a fantasia da proeminência te faz desarrazoar?" Ele merespondeu: "Como podes falar assim?" pois nós nos vemos a nós mesmos, comotais, e também somos reconhecidos como tais pelos companheiros. A estaresposta, não quis lhe dizer de novo: "T u desarrazoas"; porque a fantasia o faziadesarrazoar: e me foi dado saber que este diabo, quando vivia no mundo, tinhasido apenas intendente de uma casa; e que então se tinha ensoberbecido em seuespírito, a ponto de desprezar todo o gênero humano comparando-o consigo, ese comprazia na fantasia de que era mais capaz do que um rei, e mesmo maiscapaz do que um imperador; por este orgulho tinha ele negado Deus, econsiderado todas as coisas santas da Igreja como nada para ele, mas como dealguma utilidade para a populança estúpida. Enfim eu lhe disse: "V ós que soislá duzentos, quanto tempo vos glorificais assim entre vós?" E disse:"Eternamente; mas aqueles de nós que atormentam os outros, porque negam anossa proeminência, são engolidos, pois nos é permitido nos glorificarmos, masnão fazer mal a quem quer que seja". Fiz-lhe ainda esta pergunta: "Sabes qual éa sorte dos que são engolidos?" R espondeu-me. "Caem em uma espécie deprisão, onde são chamados mais vis do que os vis, ou os mais vis; e trabalham".Então disse a esse diabo: "T oma cuidado, portanto, para não seres engolido".

264 - Depois disso a terra se abriu de novo, mais à direita; e vi subir um outrodiabo, sobre cuja cabeça, havia uma espécie de T iara cercada de roscas de umaespécie de cobra cuja cabeça brilhava no vértice; a sua face era coberta de lepradesde a testa até ao queixo, e também uma e outra mão; seus lombos estavamnus e enegrecidos como a fuligem da qual passou o fogo sombrio de umafornalha, e os calcanhares de seus pés eram como duas víboras: o primeirodiabo tendo-o avistado se lançou de joelhos e o adorou: perguntei-lhe: "Por quefazes isso?" Ele disse: "Este é o Deus do céu e da terra, e é onipotente". Entãodisse ao outro diabo: "T u que dizes a isso?" R espondeu: "Q ue direi? todo podersobre o Céu e sobre o Inferno é meu: a sorte de todas as almas está na minhamão". Perguntei-lhe de novo: "Como, este, que é imperador de imperadores,pode se submeter assim? E tu, como podes receber sua adoração?" R espondeu:"É, não obstante, meu servidor; o que é um imperador diante de um Deus?T enho em minha destra o raio da excomunhão". E então eu lhe disse: "Comopodes desarrazoar assim? no M undo não eras mais que um cônego; e porquefoste atormentado pela fantasia de que tinhas as chaves, e por conseguinte opoder de atar e de desatar, levaste o teu espírito a um tal grau de loucura, queagora acreditas ser Deus mesmo". Indignado com estas palavras jurou que oera, e que o Senhor não tem poder algum no Céu; pois, "acrescentou ele"

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transferiu todo seu poder para nós; não temos senão que ordenar, e o Céu e oInferno obedecem respeitosamente; se enviamos alguém ao inferno, os diabosimediatamente o recebem; do mesmo modo os Anjos recebem aquele queenviamos ao Céu". Em seguida lhe perguntei: "Q uantos sois em vossasociedade?" Disse: "T rezentos, e todos lá somos deuses; mas eu sou deus dosdeuses". Depois disso a terra se abriu sob os pés de um e de outro, e eles caíramprofundamente em seus infernos; foi-me dado ver que sob seus infernos haviaprisões onde caíam aqueles que faziam mal aos outros; com efeito, no inferno afantasia de cada um lhe é deixada, e mesmo a mania de se glorificar, mas não épermitido fazer mal a outrem; se lá eles são tais, é porque então o homem estáem seu espírito, e o espírito depois de ter sido separado do corpo, entra naplena liberdade de agir segundo suas afeições e segundo os pensamentos quedelas provêm. Em seguida me foi permitido olhar seus infernos; e o infernoonde estavam os imperadores de imperadores e os reis de reis estavam cheios decoisas imundas, e os que o habitavam me pareceram como diversas bestasferozes, com olhos ameaçadores; do mesmo modo no outro inferno ondeestavam os deuses e o deus dos deuses, e neste vi voando em torno deles ferozesaves noturnas, que são chamadas ochim e ijins; é assim que as imagens de suasfantasias me foram apresentadas. Por aí vi claramente qual é o Amor de si nosPolíticos, e qual é o Amor de si nos eclesiásticos; que este consiste em quererser deuses, e aquele em querer ser imperadores; e que é assim que eles querem,e também a isso que aspiram, tanto quanto os freios são soltos a seus amores.

265 - Em seguida foi aberto um Inferno, onde vi dois espíritos, um sentado emum banco, e tendo os pés em uma cesta cheia de serpentes, que pareciam searrastar para cima pelo peito até ao pescoço; e outro sentado sobre um asno,ígneo, aos lados do qual se arrastavam serpentes vermelhas, que elevavam opescoço e a cabeça e seguiam o cavaleiro. Disseram-me que eram Papas, quedeclararam decaídos do, poder Imperadores, e os maltrataram com palavras eações em Roma, onde tinham vindo para lhes suplicar e adorá-los; mas que ocesto em que estavam as serpentes, e o asno ígneo com as serpentes aos ladoseram representações de seu amor de dominar pelo amor de si, e quesemelhantes cousas não aparecem senão aos que olham de longe para este lugar.H avia alguns cônegos presentes aos quais perguntei se eram realmente Papas.Disseram que os conheciam e sabiam que o eram.

266 - Depois de ter visto e estes tristes e hediondos espetáculos, dirigi o olharem torno de mim, e vi não longe de mim dois Anjos de pé, e conversando umcom o outro, um estava vestido com uma vestimenta de lã resplandecente deuma cor própria inflamada, e havia sobre esta vestimenta uma túnica de linhode uma brancura deslumbrante; o outro tinha vestimenta semelhante emescarlate, com uma tiara, cujo lado direito era enriquecido com algunscarbúnculos; aproximei-me deles, e lhes dei a saudação de paz; e lhes fiz comtom respeitoso esta pergunta: "Por que estais aqui em baixo?" R esponderam:

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"Descemos do Céu para aqui por ordem do Senhor, para Conversarmoscontigo sobre a sorte feliz daqueles que querem dominar pelo amor dos usos;nós somos adoradores do Senhor; eu, Príncipe de uma Sociedade; ele, SumoSacerdote da mesma Sociedade". E o Príncipe disse que era o servidor de suaSociedade, porque a servia fazendo usos; e o outro disse que era o ministro daIgreja, porque servia seus consociados fazendo-os conhecer as cousas santas paraos usos de suas almas; que estavam os dois nas alegrias perpétuas provenientesda felicidade eterna pelo Senhor; e que nesta Sociedade tudo é resplandecente emagnífico, resplandecente pelo ouro e pelas pedras preciosas, e magnífico pelospalácios e pelos paraísos; e acrescentaram: "Isto provém de ser o nosso amor dedominar procedente não do. amor de si, mas do amor dos usos; e como o amordos usos vem do Senhor, é por isso que todos os bons usos nos Céusresplandecem e brilham com esplendor; e como em nossa Sociedade, estamostodos nesse amor, é por isso que a atmosfera aí aparece da cor do ouro pela luzque lá participa do inflamado do Sol, e o inflamado do Sol corresponde a esteamor". Depois que pronunciaram estas palavras, vi também em torno delesuma semelhante esfera; e lhes disse mesmo, e lhes pedi para acrescentaremalguma cousa mais ao que haviam dito do amor do uso; e eles continuaram,dizendo: "As dignidades em que estamos, nós as ambicionamos, é verdade, masnão foi por nenhum outro fim senão o de poder fazer usos mais plenamente eestendê-los mais largamente; e somos mesmo cercados de honras, e asaceitamos, não por nós, mas para o bem da Sociedade; pois os nossos confradese consociados que são do povo não sabem outra cousa senão que as honras denossas dignidades estão em nós, e que em conseqüência os usos que fazemossão nossos; mas nós, sentimos diferentemente, sentimos que as honras dasdignidades estão fora de nós, e que são como vestimentas de que estamosrevestidos, mas os usos que desempenhamos procedem do amor dos usos emnós pelo Senhor; e este amor recebe sua beatitude da comunicação com outrospor meio dos usos; e sabemos pela experiência que quanto mais fazemos os usospelo amor dos usos, tanto mais este amor cresce, e com o amor a sabedoria pelaqual se faz a comunicação; mas quanto mais retemos em nós os usos e não oscomunicamos, tanto mais perece a beatitude; e então o uso se torna como umalimento encerrado no estômago, e que, não tendo sido dispersado aqui e ali,não alimenta o corpo nem as partes do corpo, mas fica sem ser digerido, donderesultam os vômitos; em uma palavra, todo o Céu não é senão o continente douso desde seus primeiros até seus últimos; o que é o uso senão o amor efetivodo próximo? E o que é que mantém os Céus senão este amor?" Depois de terouvido estas explicações, lhes fiz esta pergunta: "Como alguém pode saber sefaz os usos pelo amor de si ou pelo amor dos usos? T odo homem, quer sejabom, quer seja mau, faz usos, e faz usos por um amor; suponhamos que noM undo houvesse uma Sociedade inteiramente composta de diabos, e umaSociedade inteiramente composta de Anjos; creio que os diabos, em suasociedade, fariam pelo fogo do amor de si, e pelo esplendor de sua glória, tantos

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usos como os Anjos na sua; quem pode, portanto,, saber de que Amor e de queorigem provém os usos?" A isto os dois Anjos responderam: "O s diabos fazemos usos para eles mesmos e pela reputação, a fim de serem elevados as honras,ou para adquirir riquezas, mas os Anjos fazem os usos, não por tais motivos,mas pelos usos por amor dos usos; o homem não pode discernir estes usos, M aso Senhor os discerne; quem quer que crê no Senhor e foge dos males comopecados, faz os usos pelo Senhor; mas quem quer que não crê no Senhor e nãofoge dos males como pecados, faz os usos por si mesmo e para si mesmo; é estaa distinção entre os usos feitos pelos diabos e os usos feitos pelos Anjos". O sdois Anjos, tendo assim falado, foram embora; e de longe foram vistostransportados em um carro de fogo, como Elias, e elevados ao Céu.

267 - Segundo M emorável - Depois de um certo espaço de tempo, entrei emum bosque, e aí andei meditando sobre os que estão na cobiça e emconseqüência na fantasia de possuir as cousas que estão no mundo; e então, aalguma distância de mim, vi dois Anjos que conversavam um com o O utro e àsvezes me olhavam; por isso aproximei-me, e quando me aproximava eles medirigiram a palavra, dizendo: "Percebemos em nós que meditas sobre umassunto sobre o qual conversávamos, ou que conversávamos sobre um assuntosobre o qual tu meditas, o que provêm de uma comunicação recíproca dasafeições". Em conseqüência, perguntei-lhes de que fadavam; responderam: "DaFantasia, da Cobiça e da Inteligência, e no momento daqueles que se deleitamcom a visão e a imaginação de possuir todas as cousas do M undo". E então lhespedi para pôr em evidência sua mente sobre estes três assuntos: as Cobiças, aFantasia e a Inteligência; e, tendo começado a falar, disseram: "Cada um está naCobiça interiormente por nascimento, mas na Inteligência exteriormente poreducação, e ninguém está na Inteligência, nem com mais forte razão naSabedoria, interiormente, assim quanto ao espírito, a não ser que o esteja pelo,Senhor; pois todo homem é afastado da cobiça do mal, e mantido nainteligência, conforme olha para o Senhor, e ao mesmo tempo conforme aconjunção com o Senhor, sem isso o homem não é senão cobiça; mas contudo,nos externos, ou quanto ao corpo, está na inteligência por educação; comefeito, o homem cobiça as honras e as riquezas, ou a proeminência e aopulência; e não adquire nem uma nem outra, a não ser que se mostre moral eespiritual, por conseqüência inteligente e sábio; e aprende desde a infância a semostrar assim; é isso o que faz com que desde que vem entre os homens, ouque entra na sociedade, ele volta, seu espírito e o afasta da cobiça; fala e agesegundo as cousas decentes e honestas que aprendeu na infância, e que retémna memória do corpo; e toma cuidado sobretudo que não se manifeste coisaalguma da loucura da cobiça em que está seu espírito; daí todo homem que nãoé, inteiramente conduzido pelo Senhor, é dissimulado, trapaceiro, hipócrita,assim homem em aparência, e não homem, contudo; pode-se dizer dele que suacasca ou seu corpo é sábio, e sua amêndoa ou seu espírito é louco; que seuexterno é de um homem, e que seu interno é de uma besta; esses homens

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olham pelo occiput para cima, e pelo sinciput para baixo; assim andam com acabeça inclinada para diante, e a face inclinada para a terra, como os que estãoatacados por uma violenta dor de cabeça; quando se despojam do corpo e setornam espíritos, e que então são libertados, tornam-se as loucuras de suascobiças; pois aqueles que estão no amor de si desejam ardentemente dominarsobre o U niverso e mesmo estender-lhe os limites a fim de tornar maior adominação; jamais vêem barreiras; os que estão no amor do mundo desejamardentemente possuir tudo que ele encerra, e são presas da tristeza e da inveja,se há tesouros na posse de outros; com receio portanto, de que aqueles que sãoassim se tornem puramente cobiças, e assim deixem de ser homens, lhes foipermitido, no M undo Espiritual, pensar pelo temor da perda da reputação, epor conseguinte da perda da honra e do ganho, como também pelo temor dalei e da pena que ela infringe; e lhes é também permitido aplicar sua mente emalgum estudo ou em alguma obra, pelo que são mantidos nos externos e assimem um estado de inteligência, ainda que interiormente estejam no delírio e naloucura''. Em seguida lhes perguntei se todos os que estão na cobiça, estãotambém em sua fantasia, responderam que na fantasia de sua cobiça estão osque pensam interiormente em si mesmos, e que se entregam demasiado à suaimaginação falando, com eles mesmos; pois quase separam seu espírito daligação com o corpo, e inundam seu entendimento de visões, e se regozijamloucamente como se possuíssem o U niverso; neste delírio é mergulhado depoisda morte o homem que destacou do corpo o seu espírito, e não quis abandonara delícia do seu delírio; pensando, pela religião, alguma coisa sobre os males eos falsos, e não pensando de modo algum a respeito do amor desenfreado de si,que é destrutivo do amor para com o Senhor, nem a respeito do amordesenfreado do mundo, que é destrutivo do amor para com o próximo.

268 - Depois disto, sobreveio aos dois anjos e também a mim, o desejo de veraqueles que estão pelo amor do mundo na cobiça visionária ou fantasia depossuir todas as riquezas; e percebemos que esse desejo nos era inspirado a fimde que eles fossem conhecidos; Seus domicílios estavam sob a terra onde seencontravam nossos pés, mas acima do inferno; por isso nos olhamosreciprocamente e dissemos: "V amos". E vimos uma abertura, e nela unia escadapela qual descemos; e nos foi dito que era preciso abordá-los pelo oriente, paranão entrar na névoa de sua fantasia, e não ser mergulhado na sombra, quantoao entendimento e também ao mesmo tempo quanto à vista; e eis que vimosuma Casa construída de caniços, por isso cheia de fendas, no meio de umnevoeiro que, como uma fumaça, efluía continuamente pelas fendas sobre trêslados da construção; entramos e vimos, cinqüenta personagens de um lado, ecinqüenta de outro, sentados em bancos; e, voltando as costas para o oriente e osul, olhavam para o ocidente e para o setentrião; diante de cada um deles haviauma mesa, e sobre a mesa bolsas estendidas, e em torno das bolsas grandequantidade de peças de ouro.; e lhes dissemos: "Estão aí as riquezas de todos oshabitantes do M undo?" E responderam: "N ão de todos os habitantes do

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M undo, mas de todos os do R eino". O som de sua voz era sibilante; elesmesmos apareciam com uma face redonda, que reluzia como a concha de umcaracol; e a pupila do olho, em um plano verde, lançava como que relâmpagos,o que provinha da luz da fantasia; ficamos de pé no meio deles, e dissemos:"Acreditais possuir todas as riquezas do R eino?" E responderam: "N ós aspossuímos". Em seguida lhes perguntamos: "Q uem dentre vós?" Disseram:"Cada um". E lhes dissemos: "Como, cada um! não sois em grande número?"R esponderam: "Cada um de nós sabe que tudo o que tem é meu; e não épermitido a nenhum pensar e ainda menos dizer: O que é meu não é teu; masé permitido pensar e dizer: O que é teu é meu". As peças de moeda sobre asM esas apareciam como de ouro puro, mesmo diante de nós, mas quandofizemos cair sobre elas a luz vinda do oriente, eram pequenos grãos de ouro,que eles tornavam assim maiores pela reunião da fantasia comum; e diziam queera preciso que cada um dos que entram trouxesse consigo um pouco de ouro,que eles cortam em pedacinhos, e os pedacinhos em pequenos grãos, e pelaforça unânime da fantasia, eles os estendiam em peças de moeda do maiormódulo; e então dissemos: "N ão nascestes homens racionais? De onde vos vemessa loucura visionária?" Disseram: "Sabemos que é uma vaidade imaginária,mas como, faz o prazer dos interiores de nossa mente, entramos aqui e achamosnisto delícias como se possuíssemos tudo, entretanto não ficamos aqui senãoalgumas horas, depois das quais saímos, e de cada vez então o, bom senso nosvolta; mas não obstante o nosso divertimento visionário volta alternativamente,e faz com que sucessivamente reentremos e tornemos a sair; deste modo somosalternativamente sábios e loucos. Sabemos também que uma sorte cruel esperaaqueles que pela astúcia tiram dos outros seus bens". Perguntamos qual era essasorte; disseram: "São engolidos e lançados nus em uma prisão infernal onde sãoobrigados a trabalhar pela roupa e pelo alimento, e depois por algumaspequenas peças de moeda, nas quais põem a alegria de seu coração; mas sefazem mal a seus companheiros, são obrigados a dar uma parte dessa moedacomo multa.

269 - Depois disso, subimos desse inferno em direção, ao Sul, onde tínhamosestado antes, e aí os Anjos contaram várias particularidades notáveis sobrecobiça não visionária ou fantástica em que todo homem está de nascença."Q uando estes'', diziam eles, "estão nesta cobiça são como loucos, e entretantose vêem como soberanamente sábios; e de tempos em tempos são recolocados,desta loucura, na, R acionalidade, que neles está nos externos; neste estado elesvêem, reconhecem e confessam sua loucura, mas não obstante desejamardentemente passar de seu estado racional para seu estado de loucura, e nele selançam, por isso, como se passassem do constrangimento e do desprazer para olivre e o prazer; assim é a cobiça, e não a inteligência, que os alegrainteriormente. H á três Amores universais, de que todo homem, por criação, foicomposto: o Amor do Próximo, que é também o Amor de fazer usos; o Amordo M undo, que é também o Amor de possuir as riquezas; e o Amor de si, que é

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também o Amor de dominar sobre os outros; o Amor do próximo ou de fazerusos, é um Amor Espiritual; o Amor do M undo ou o Amor de possuir asriquezas, é um Amor material; e o Amor de si ou o Amor de dominar sobre osoutros, é um Amor corporal; o homem é homem, quando o Amor do próximoou o Amor de fazer usos faz a Cabeça, quando o Amor do M undo faz o Corpo,e o Amor de si faz os pés; mas se o Amor do M undo faz a Cabeça, o homemnão é homem senão como um corcunda; e se o Amor de si faz a Cabeça, ele écomo um homem que se mantém, não sobre os pés, mas sobre as palmas dasmãos, com a cabeça para baixo e as pernas para cima. Q uando o Amor dopróximo faz a Cabeça, e os dois outros fazem em ordem o Corpo e os Pés, estehomem, visto do Céu, aparece com uma face angélica, com um belo arco-írisem torno da cabeça; mas se o Amor do M undo faz a Cabeça, o homem, vistodo Céu, aparece com uma face pálida com a de um morto, com um círculoamarelo em torno da cabeça; e se o Amor de si faz a Cabeça, o homem, vistodo Céu, aparece com uma face negra com um círculo branco em torno dacabeça". Então perguntei o que representavam os Círculos em torno dascabeçasresponderam: "R epresentam a inteligência, o círculo branco em tornoda face negra representa que a inteligência do homem está nos externos ou emtorno dele, e que a loucura está nos internos ou nele; e mesmo o homem, que éassim, é sábio quando. está no corpo, e louco quando está no espírito; enenhum homem é sábio no espírito, senão pelo Senhor, o que acontece quandoé engendrado de novo e criado pelo Senhor. Depois que assim falaram, a terrase abriu à minha esquerda, e pela abertura vi subir um Diabo tendo um círculobranco em torno da cabeça, e lhe perguntei: "Q uem és?" Disse: "Sou Lúcifer,filho da aurora; e, como me fiz semelhante ao Altíssimo, fui precipitado".T odavia, não era Lúcifer, mas acreditava sê-lo; e lhe disse: "Pois que fosteprecipitado, como podes te elevar do Inferno?" E respondeu: "Lá sou Diabo,mas aqui sou um Anjo de luz; não vês a minha cabeça cercada de uma esferaluminosa; e mesmo se quiseres, verás que sou o mais moral entre os que sãoespirituais; posso também pregar, e mesmo tenho pregado". Disse-lhe: "Comopregaste?" R espondeu: "Contra os velhacos, contra os adúlteros e contra todosos amores infernais; e até mesmo, então, eu Lúcifer, chamei Lúcifer Diabo, eme maldisse, maldizendo-o; e, cumulado de louvores por isso, fui elevado atéao Céu; daí vem ser eu chamado filho da aurora; e, o que a mim mesmo meespanta, é que, quando estava no púlpito, pensava absolutamente que tudo oque dizia era justo e bom; mas a causa me foi descoberta, é que eu estava nosexternos e então os externos tinham sido separados dos meus internos; e, aindaque isso me tenha sido descoberto, eu não pude entretanto me mudar, porque,por causa do meu fasto, não dirigi meus olhos para Deus". Fiz-lhe em seguidaesta pergunta: "Como pudeste falar assim, quando, tu mesmo és um velhaco,um adúltero e um diabo?" R espondeu: "Sou outro quando me acho nosexternos ou no corpo, e outro quando estou nos internos ou no espírito; nocorpo, estou no entendimento; mas, no espírito, estou na vontade; ora, o

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entendimento me leva para cima, mas à vontade me leva para baixo; e quandoestou no entendimento, um círculo branco cerca minha cabeça, mas quando o.entendimento se submete inteiramente à vontade e que é todo dela, o que é anossa última sorte, o círculo enegrece e se dissipa; uma vez nesse estado, nãoposso mais subir a esta luz". Em seguida falou do seu duplo estado, o estadoexterno e o estado interno, com mais racionalidade que qualquer outro; mas derepente, tendo visto os Anjos que estavam comigo, sua face e sua voz seinflamaram, ele se tornou preto, mesmo quanto ao círculo que estava em tornode sua cabeça, e caiu no inferno pela abertura pela qual tinha subido. O s queestavam presentes tiraram do que acabavam de ver esta conclusão, que ohomem é tal qual é seu amor, e não tal qual é seu entendimento, pois que oamor arrasta facilmente para seu lado o entendimento, e o submete. Entãoperguntei aos Anjos de onde vinha para os diabos a racionalidade; e disseramque vinha da glória do amor de si, pois o amor de si é cercado de glória, e aglória eleva o entendimento até à luz do Céu, pois o entendimento em cadahomem é suscetível de ser elevado segundo os conhecimentos, mas a vontadenão pode ser elevada senão pela vida segundo os veros da Igreja e da R azão; daívem que os Ateus mesmos, que estão na glória do renome pelo amor de si, epor conseguinte no fasto, da própria inteligência, gozam de uma racionalidademais sublime que muitos outros; mas é quando estão no pensamento doentendimento, e não quando estão na afeição da vontade; e a afeição davontade possui o interno do homem; mas o pensamento do entendimentopossui o externo do homem. Por fim o Anjo nos deu o motivo pelo qual ohomem foi composto com estes três Amores, a saber, o amor do U so, o amordo M undo, e o amor de Si; e a fim de que o homem pense por Deus, aindaque absolutamente como por si mesmo; disse-nos que no homem os supremosforam voltados para cima, para Deus, os médios para, fora, para o M undo, e osínfimos para baixo, para Si; e, como os ínfimos foram voltados para baixo, ohomem pensa absolutamente como por si mesmo, ainda que, entretanto, o sejapor Deus.

270 - T erceiro M emorável: U ma manhã, depois do sono, meu pensamentomergulhou profundamente em alguns arcanos do amor conjugal, e por fimneste: Em que região da M ente humana reside o Amor verdadeiramenteconjugal e por conseguinte em que região reside a Freiza conjugal? Eu sabiaque há três regiões na M ente humana, uma acima da outra, e que na regiãomais baixa habita o amor natural, na superior o amor espiritual e na suprema oamor celeste, e que em cada região, há o Casamento do bem e do vero; que,como o bem pertence ao amor, e o vero à sabedoria, há, em cada região, oCasamento do amor e da sabedoria, e que este casamento é o mesmo que ocasamento da vontade e do entendimento, pois que a vontade é o receptáculodo amor, e o entendimento o da sabedoria. Enquanto estava na profundezadeste pensamento, eis que vi dois Cisnes voarem para o setentrião, eincontinente duas Aves do paraíso voarem para o sul, e também duas R olas

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voarem para o oriente; e quando seguia com o olhar seu vôo, vi que os doisCisnes viravam sua marcha do setentrião para o oriente, e do mesmo modo asduas Aves do paraíso, do sul para o oriente, e se juntavam às duas R olas nooriente, e voavam juntas para um Palácio muito elevado, lá, em torno do qualhavia oliveiras, palmeiras e faias; nesse Palácio havia três ordens de janelas, umaacima da outra; e quando as observava, vi os Cisnes voar no, palácio pelasjanelas abertas, na ordem mais baixa, as Aves do paraíso pelas janelas abertas naordem do meio, e as R olas pelas janelas abertas na ordem mais alta. Depois quevi isso, um Anjo se apresentou e disse: "Compreendes o que vistes?" e eurespondi: "U m pouco". Ele disse: "Este Palácio representa as habitações doAmor Conjugal, tais quais são nas M entes humanas; sua parte mais elevada,para a qual se retiraram as R olas, representa a região suprema da mente, ondehabita o amor conjugal no amor do bem com sua sabedoria; a parte média,para a qual se retiraram as Aves do paraíso, representa a região média ondehabita o amor conjugal no amor do vero com sua inteligência; e a parte maisbaixa, para onde se retiraram os Cisnes, representa a região ínfima da mente,onde habita o amor conjugal no amor do justo e do direito com sua ciência;estes três pares de aves significam também estas cousas, o par de rolas o amorconjugal na região suprema, o par de aves do paraíso o amor conjugal na regiãomédia, e o par de cisnes o amor conjugal na região ínfima; as três espécies deárvores em torno deste palácio, as oliveiras, palmeiras e faias, significam asmesmas cousas. N ós, no Céu, chamamos Celeste a região suprema da mente,Espiritual a região média, e N atural a região ínfima; e as percebemos comohabitações em uma casa, uma acima da outra, e como uma subida de uma aoutra por graus semelhantes aos degraus de uma escada; e em cada parte comodois quartos, um para o amor, o outro para a sabedoria, e sobre a frente comoum Q uarto de dormir, onde o amor com sua sabedoria, ou o bem com seuvero, ou, o que é a mesma cousa, onde à vontade com seu entendimento, seconsorciam no leito; neste Palácio são apresentados como em efígie todos osarcanos do amor conjugal". Q uando ouvi estas explicações, ardendo com odesejo de ver este Palácio, perguntei se, visto que era um palácio representativo,era permitido a alguém entrar nele e velo. R espondeu: "Isso não é permitidosenão àqueles que estão no T erceiro Céu, porque para eles todo, R epresentativodo amor e da sabedoria se torna real; aprendi com eles o que te relatei, etambém isto, que o Amor verdadeiramente conjugal habita na região supremano meio do amor mútuo, no quarto nupcial ou no apartamento da vontade, etambém no meio das percepções da sabedoria, no quarto nupcial ouapartamento do entendimento, e que eles se consorciam em um leito noQ uarto de dormir que está sobre a frente, e ao O riente". E perguntei: "Por quedois Q uartos nupciais?" Ele disse: “O M arido está no Q uarto nupcial doentendimento, e a Esposa no Q uarto nupcial da vontade". E perguntei:"Q uando o Amor conjugal habita aí, onde está então a frieza conjugal?"R espondeu: "Está também na região suprema, mas somente no Q uarto nupcial

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do entendimento, estando fechado o Q uarto nupcial da vontade; pois oentendimento com seus veros pode todas as vezes que lhe agradar, subir pelaescada em caracol à região suprema para seu Q uarto, nupcial, mas se a vontadecom o bem de seu amor não sobe ao mesmo tempo para o Q uarto nupcialconsociado, este quarto é fechado, e a frieza entra no outro, e está aí a FriezaConjugal. Q uando uma tal frieza existe em relação à esposa, o entendimentoolha da região suprema para baixo, para a região ínfima; e mesmo, se o temornão o retém, desce para a aí se aquecer com um fogo ilícito". Depois de ter ditoestas cousas, queria ainda expor várias outras sobre o Amor conjugal, segundoas efígies deste amor no Palácio; mas disse: "Chega por esta vez; examinaprimeiro se estas estão acima do entendimento comum, se estão acima, de queserviria dizer mais; mas se não estão acima, várias outras serão desvendadas".

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Das causas de amor aparente, deamizade aparente e de favor nos

casamentos

271 - U ma vez que se tratou das causas de Frieza e de Separações, a ordemexige que se trate também das Causas de amor aparente, de amizade aparente ede favor nos Casamentos; com efeito, sabe-se que, embora as frieza separemhoje as mentes (animi) dos esposos, não obstante, eles coabitam e procriam, oque não aconteceria, se não houvesse também amores aparentes e por vezessemelhantes ao calor do amor real, ou imitando este calor; que estas aparênciassejam necessárias e úteis, e que sem elas as casas não subsistiriam, nem porconseguinte as sociedades, ver-se-á em seguida. Além disso, algumas pessoasconscienciosas podem ser atormentadas pela, idéia de que as dissidências dasmentes entre eles e seu consorte, e em conseqüência os afastamentos internos,venham por sua culpa, e lhe sejam imputadas, e por isso sofrem mesmo em seucoração; mas como não está em seu poder prevenir as dissidências internas; ébastante para eles acalmar por amores aparentes e por favores estes tormentossuscitados por sua consciência; por aí também pode voltar a amizade em que,de seu lado, se esconde o amor conjugal, embora não exista do lado do outro.M as este Capítulo, em razão da grande variedade do assunto, será, como osprecedentes, dividido em artigos. Eis estes artigos: I. N o M undo natural, quasetodos, podem ser conjuntos quanto às afeições externas, mas não quanto àsafeições internas, se estas diferem e aparecem. II. N o M undo espiritual, todossão conjuntos segundo as afeições internas, mas não segundo as afeiçõesexternas, a não ser que estas façam um com as afeições internas. III. As afeições,segundo as quais os Casamentos (M atrimonia) são comumente contraídos noM undo são externas. IV . M as se nelas não há afeições internas que conjuntemas mentes, os laços do casamento são rompidos na casa. V . Entretanto os laçosdo casamento no M undo devem durar até ao fim da vida de um dos esposos.V I. N os Casamentos (M atrimonia) em que as afeições internas não conjungem,há afeições externas que imitam as internas, e consorciam. V II. Daí, amoraparente, ou amizade aparente, e favor entre os esposos. V III. Estas Aparênciassão artifícios conjugais, que são louváveis, porque são úteis e necessários. IX.Em um homem (homo) Espiritual conjunto a um N atural, estes artifíciosconjugais tiram sua sabedoria da justiça e do julgamento. X. Estes artifíciosconjugais nos homens naturais tiram sua sabedoria da prudência, por diversasrazões. X I. Servem para melhoramentos e para as conveniências. X II. Servempara conservar a ordem nos negócios domésticos e para os auxílios mútuos.XIII. Servem para a harmonia no cuidado das criancinhas e na educação das

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crianças. X IV . Servem para a paz na casa. X V . Servem à reputação fora de casa.XV I. Servem para diversos favores que se espera do consorte ou de seus pais, eassim por temor de perder esses favores. X V II. Servem para fazer desculpar osdefeitos e por conseguinte para evitar a desonra. X V III. Servem para asreconciliações. X IX. Se na esposa o favor não cessa, quando cessa a faculdadeno marido, pode se formar uma amizade que imita a amizade conjugal quandoos esposos envelhecem. XX. H á diversas espécies de amor aparente e deamizade aparente entre os esposos, dos quais um é subjugado, e porconseguinte submetido ao outro. X XI. H á no M undo casamentos infernaisentre esposos que são interiormente inimigos encarniçados, e exteriormentecomo amigos muito unidos. Segue agora a explicação destes artigos.

272 - I. N o M undo natural quase todos podem ser conjuntos quanto àsafeições externas, mas não quanto às afeições internas, se estas diferem eaparecem.

A razão disso é que o homem, no M undo, é revestido de um corpo material, eque este corpo é cheio de cobiças, as quais estão aí como a borra que seprecipita no fundo quando o mosto do vinho é clarificado; em tais cousasconsistem os materiais de que se compõem no M undo os corpos dos homens;daí vem que as afeições internas, que pertencem à mente, não aparecem, e queem muitos dentre eles transpira delas apenas um grão; pois, ou o corpo asabsorve e as envolve com sua borra ou, por uma dissimulação ensinada desde ainfância, as esconde profundamente fora da vista dos outros; e por isso secoloca no estado de cada afeição que observa em um outro, e atrai a si essaafeição, e assim se conjugam; se se conjugam é porque cada afeição traz consigoseu prazer, e os prazeres ligam as mentes (animi). Seria de outro modo, se asafeições internas, como as externas, aparecessem diante da vista na face e nogesto, e diante do ouvido no som da linguagem, ou se seus prazeres fossemsentidos pelas narinas ou cheirados, como acontece no M undo espiritual; seentão elas diferissem ao ponto, de ficarem em discórdia, separariam as mentes(animi) uma da outra, e conforme a percepção da antipatia se retirariam paralonge. Por estas considerações, é evidente que no M undo natural quase todospodem ser conjuntos quanto às afeições externas, mas não quanto às afeiçõesinternas se estas diferem e aparecem.

273 - II. N o M undo espiritual todos são conjuntos segundo as afeiçõesinternas, mas não segundo as afeições externas, a não ser que estas façam umcom as afeições internas.

A razão disso, é que então foi rejeitado o corpo material que podia receber emanifestar as formas de todas as afeições, como acaba de ser dito, e que ohomem, despojado desse corpo, está nestas afeições internas que estavamescondidas precedentemente; daí vem que, no M undo espiritual, ashomogeneidades e as heterogeneidades, ou as simpatias e as antipatias, sãosomente são sentidas, mas mesmo aparecem nas faces, na linguagem e nos

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gestos; lá, portanto, as semelhanças estão conjuntas, e as dessemelhanças estãoseparadas; é por esta razão que todo o Céu foi disposto em ordem pelo Senhorsegundo todas as variedades das afeições do amor do bem e do vero, e que,pelo. oposto, o Inferno foi disposto segundo todas as variedades das afeições doamor do mal e do falso. Como os Anjos e os Espíritos têm afeições internas eafeições externas, do mesmo modo que os homens no, M undo, e como asafeições internas não podem, aí, ser escondidas pelas externas, elas transpareceme se manifestam; daí, umas e outras neles, são levadas à semelhança e àcorrespondência, depois do que as suas afeições internas são manifestadas pelasexternas nas faces, são percebidas nos sons da linguagem, e aparecem tambémnos gestos e nas maneiras. Se os Anjos e os Espíritos têm afeições internas eafeições externas, é porque eles têm uma mente e um corpo; ora as afeições e ospensamentos que delas derivam pertencem à mente e as sensações com asvolúpias que delas derivam pertencem ao corpo. Acontece muitas vezes quedepois da morte os amigos se encontram, e se recordam de suas amizades noM undo precedente, e então acreditam que vão viver unidos na amizade comoantes; mas quando esta união, que não provém senão das afeições externas, épercebida no Céu, se faz uma separação segundo as afeições internas; e entãodesta reunião de amigos uns são relegados para o setentrião, e outros para oocidente, e cada um a tais distâncias, que jamais se tornam a ver, e não seconhecem mais; pois nos lugares de suas moradas, suas faces, que se tornamefígies de suas afeições internas, são mudadas. Por estas explicações, é evidenteque, no M undo espiritual, todos são conjuntos segundo as afeições internas, enão segundo as afeições externas.

274 - III. As afeições, segundo as quais os Casamentos (M atrimonia) sãocomumente contraídos no M undo, são externas.

É porque as afeições internas são raramente consultadas; e se são consultadas, asemelhança destas afeições não é vista na mulher, pois esta, por um talento quepossui de nascença, retira suas afeições internas para os mais profundos recessosde sua mente. H á várias afeições externas que levam os homens a contraircasamento; neste século a primeira afeição é a de aumentar seu patrimôniopelas riquezas, tanto para se tornar rico, como para ter abundantemente o que énecessário; a segunda é a aspiração às honras, seja para adquirir estima, seja paraaumentar o estado de sua fortuna; além destas afeições, há diversas seduções ediversas cobiças; estas também não dão lugar ao exame das conformidades dasafeições internas. Pelo pouco que acaba de ser dito, é evidente que osCasamentos são comumente contraídos no M undo, segundo as afeiçõesexternas.

275 - IV . M as se nelas não há afeições internas que conjuntem as mentes, oslaços do casamento são rompidos na casa.

Se diz na casa, porque é em particular entre os dois esposos; isso acontecequando os primeiros fogos, acesos no tempo dos esponsais, e inflamados pela

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aproximação das núpcias, se extinguem, em seguida, progressivamente, porcausa da discordância das afeições internas, e se tornam enfim frieza; sabe-seque então as afeições externas, que os tinham levado, um e outro ao casamento,desaparecem ao ponto de que mesmo elas não se conjuntam mais. Q ue as friezanascem de diversas causas internas, externas e acidentais, que têm todas suaorigem na dessemelhança das inclinações internas, é o que foi confirmado noCapítulo precedente. Por isso, vê-se claramente esta verdade, que se nasafeições externas não há internas que conjuguem as mentes, os laços docasamento são rompidos na casa.

276 - V . Entretanto os laços do Casamento no M undo devem durar até ao fimda vida de um dos esposos.

Esta proposição é apresentada a fim de manifestar mais claramente diante darazão a necessidade, a utilidade e a verdade de que o amor conjugal, quandonão é real, deve, não obstante, ser imitado ou se apresentar como se existisserealmente; seria diferente, se os casamentos contraídos não devessem durar atéao fim da vida, mas pudessem ser dissolvidos à vontade, como acontecia nanação Israelita, que tinha reclamado para ela a liberdade de repudiar as esposaspor qualquer motivo, como se vê claramente por estas passagens em M ateus:"O s Fariseus vieram a Jesus, e lhe disseram: É permitido a um homem repudiarsua esposa por qualquer motivo que seja? E como, Jesus respondesse que nãoera permitido repudiar uma esposa e tomar uma outra, senão por causa deescortação, eles replicaram que entretanto M oisés tinha mandado que lhe dessecarta de divórcio, e a repudiasse; e os discípulos disseram: Se tal é a condição dohomem com a mulher, não convém casar", (M ateus X IX, 3 a 10). V isto,portanto, que a aliança do casamento é uma aliança para a vida, segue-se que asaparências de amor e de amizade entre esposos são necessidades. Q ue osCasamentos contraídos devem durar no M undo até ao fim da vida, é pela LeiDivina, e como é por esta lei, é também pela lei racional, por conseguinte pelalei civil; pela Lei Divina, pois que não é permitido repudiar sua esposa e tomaroutra, a não ser por causa de escortação, como vimos acima; pela Lei racional,porque esta Lei é fundada sobre a Lei espiritual, pois a Lei Divina e a Leiracional são uma única Lei; por esta e aquela Lei juntas, ou por esta segundoaquela, pode-se ver quanto haveria de enormidades, de destruições desociedades, de dissoluções de casamentos, ou de repudiaçães de esposas peloscaprichos dos maridos, antes da morte. Estas enormidades e estas destruições desociedades podem ser vistas em muito grande quantidade nos M emoráveissobre a origem do Amor conjugal, discutida por uma reunião de Espíritos denove reinos, ns. 103 a 115; é inútil acrescentar-lhes outras razões. M as estasCausas não impedem que as separações de que se falou acima, ns. 252, 253 e254, sejam permitidas por causas especiais, e também as Concubinagens de quese falará na Segunda Parte.

277 - V I. N ós Casamentos (M atrimonia) em que as afeições internas não

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conjungem, há afeições externas que imitam as internas e consorciam.

Pelas afeições internas entendemos as inclinações mútuas que na mente de ume de outro vêm do Céu; mas pelas afeições externas entende-se as inclinaçõesque na mente de um e de outro vêm do M undo; estas afeições ou estasinclinações pertencem, é verdade, igualmente à mente, mas ocupam nela aregião inferior, enquanto que aquelas ocupam a região superior; todavia, comoumas e outras têm sua sede na mente, pudesse crer que são semelhantes, e queconcordam; mas ainda que não sejam semelhantes, podem entretanto aparecercomo semelhantes, mas em alguns elas existem como conveniências, e emoutros como, artifícios sedutores. Desde a primeira aliança do casamento existeimplantada nos dois esposos uma certa comunhão que, não obstante adissidência das mentes (animi), fica entretanto gravada, por exemplo, acomunhão. de posses, e em grande número, uma comunhão de usos e dediversas necessidades da casa e, por conseguinte também uma comunhão depensamentos e de certos segredos; há ainda a comunhão, do leito, e acomunhão do amor aos filhos; além de várias outras que, porque foraminscritas na aliança conjugal, o foram também nas mentes dos esposos. Daí vemprincipalmente as afeições externas que se assemelham às afeições internas;aquelas, ao contrário, que não fazem senão imitá-las, vem em parte da mesmaorigem, e em parte de uma outra; mas falar-se-á de umas e outras no que segue.

278 - V II. Daí o amor aparente, a amizade aparente e o favor entre os esposos.

O s amores aparentes, as amizades aparentes e os favores entre os esposos sãouma conseqüência da aliança conjugal contraída para durar até ao fim da vida,e uma conseqüência da comunhão conjugal inscrita, por conseguinte, noscontraentes, da qual nascem as afeições externas que se assemelham às afeiçõesinternas, como acaba de ser indicado; e além disso, estes amores, estas amizadese estes favores vêm de coisas que são utilidades e necessidades, de onde existemem parte as afeições externas conjuntivas, ou artifícios pelos quais o amorexterno aparece como amor interno, e a amizade externa como amizadeinterna.

279 - V III. Estas Aparências são artifícios conjugais, que são louváveis porquesão úteis e necessários.

São chamadas artifícios porque existem entre aqueles cujas mentes estão emdissidência, e por causa dessa dísssidência estão inteiramente na frieza; quandoportanto nos externos eles vivem em união, como devem e como convém,então as ligações de sua coabitação podem ser chamadas de artifícios, masartifícios conjugais, os quais sendo louváveis por causa dos usos, sãointeiramente distintos dos artifícios hipócritas; pois por eles é provido a todosestes bens que são enumerados abaixo, em ordem, desde o Artigo X I até aoArtigo X X ; que sejam louváveis por causa das necessidades, é porque de outromodo estes bens seriam banidos; e entretanto a coabitação foi determinada pela

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aliança e pela lei, e as coabitações são por conseqüência um dever para um eoutro.

280 - IX. Em um homem Espiritual (homo) conjunto a um N atural, estesartifícios tiram sua sabedoria da justiça e do julgamento.

Isto provém de que é com justiça e julgamento que o homem espiritual faz oque faz; é por isso que ele considera estes artifícios não como separados de suasafeições internas, mas como ligados com elas; com efeito, ele age seriamente, econsidera o aperfeiçoamento como fim, e se não o obtém, considera aacomodação, para a ordem na casa, para a ajuda mútua, para o cuidado dosfilhos, para a paz e a tranqüilidade; é levado a isto pela justiça, e o faz comjulgamento. Se o homem espiritual coabita assim com um conjuge natural, éporque o homem espiritual age espiritualmente mesmo com o homem natural.

281 - X . Estes artifícios conjugais nos homens naturais tiram sua sabedoria daprudência. Entre dois esposos dos quais um é espiritual e o outro natural, (peloespiritual é entendido aquele que ama as cousas espirituais e assim tira suasabedoria do Senhor, e pelo natural é ntendido aquele que ama somente ascousas naturais, e assim tira sua sabedoria dele mesmo), quando, os dois sãoconsociados pelo casamento, o amor conjugal no espiritual é calor, e no naturalé frieza; que o calor e a frieza não possam estar juntos, e que o calor não possaaquecer aquele que está na frieza a não ser que primeiro esta seja dissipada, eque a frieza não possa influir naquele que está no calor a não ser que primeiroeste seja afastado, isso é evidente; daí vem que não pode haver um amorinterior entre dois esposos dos quais um é espiritual e o outro natural, maspode haver da parte do esposo espiritual um amor que imite o amor interior,como foi dito no Artigo precedente. M as entre dois esposos naturais o amorinterior não é possível, porque eles estão um e outro na frieza; se estão no caloré pelo incasto; estes entretanto, podem, não obstante, com mentes (aními)separadas, coabitar na mesma casa, e também compor suas faces como sehouvesse entre eles amor e amizade, qualquer que seja a discordância que existaentre suas mentes. Entre eles, as afeições externas, que pela maior parteconcernem às riquezas e posses, ou à honra e às dignidades, podem, por assimdizer se abrasar; e como este ardor introduz o temor da perda destas cousas,resulta que os artifícios conjugais são para eles necessidades, as quais sãoprincipalmente as referidas mais abaixo nos Artigos X V , X V I e X V II; as outrascausas enumeradas com estas podem ter alguma cousa de comum com as queconcernem ao homem espiritual, e de que se falou acima, n. 280, masunicamente se a prudência no homem natural tira da inteligência a suasabedoria.

282 - X I. São para os melhoramentos e para as conveniências.

Q ue os Artifícios conjugais, que são aparências de amor e de amizade entre osesposos cujas mentes (animi) estão em dissidência, sejam para o melhoramento,

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é porque o homem (homo) Espiritual, ligado por aliança matrimonial com umcônjuge N atural, não tem outro objetivo senão o melhoramento da vida, o queele executa por conversas sábias e polidas, e por complacências que agradam ogosto do outro; mas se isso nada produz, recorre às acomodações para aconservação da ordem nos afazeres domésticos, para as ajudas mútuas, para ascriancinhas e as crianças, e para outras cousas semelhantes, pois as palavras e asações que procedem de um homem espiritual tiram sua sabedoria da justiça edo julgamento, como foi mostrado acima, nº 280. T odavia, entre os esposos,dos quais nem um nem outro é espiritual, ou que são os dois naturais, a mesmacousa pode acontecer, mas para outros fins; se é para o melhoramento e para aacomodação, o fim é ou para que o outro seja levado à semelhança de seuscostumes, e seja subordinado a seus desejos; ou para algum emprego a fim deque se tornem úteis aos seus; ou para a paz dentro de casa, ou o bom nome noexterior, ou pelos favores que se espera do consorte ou de seus país, além devários outros fins; mas estes fins, em alguns, procedem da prudência de suarazão; em outros, de uma civilidade natural; em outros dos prazeres das cobiçasfamiliares desde o nascimento, e de que temem a perda; além de outros fins,pelos quais os favores tomados pelo amor conjugal se tornam mais ou menosfingidos. H á também favores como de amor conjugal fora da casa sem que hajafavor algum na casa, mas têm por fim a reputação de um e de outro, e se não atêm por fim, são um jogo.

283 - X II. São para conservar a ordem nos negócios domésticos, e para a ajudamútua. Cada casa onde também há crianças, seus preceptores e criados, é umapequena sociedade a imitação da grande; ela também coexiste por todos eles,como o comum pelas partes; e do mesmo modo que a salvação da grandesociedade depende da ordem, da ordem também depende a salvação destapequena sociedade; do mesmo modo, portanto, que importa aos magistradosvelar e prover para que a ordem exista e seja conservada em uma sociedadecomposta, do mesmo modo importa aos esposos agir assim em sua sociedadeparticular; mas esta ordem não é possível, se o marido e a esposa estão emdissidência quanto às mentes, pois por esta dissidência os conselhos e as ajudasmútuas são dirigidos em sentidos diversos, e são divididos como as mentes, eassim a forma da pequena sociedade é destruída; é por isso que, a fim deconservar a ordem, e de prover pela ordem a si mesmo e ao mesmo tempo àcasa, ou à casa e ao mesmo tempo a si mesmo, para evitar uma decadência euma ruína completa, a necessidade exige que o patrão e a patroa estejam deacordo e façam um; se isso não pode acontecer por causa da diferença dementes, não obstante para que haja vantagem, é preciso e mesmo, convém queisso se faça por uma amizade conjugal representativa. Q ue daí se estabeleça nascasas uma concórdia para as necessidades e para as-utilídades, isso é notório.

284 - X III. São para a harmonia no cuidado das criancinhas e na educação dascrianças. Q ue haja entre os esposos, por causa das criancinhas e das crianças,

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artifícios conjugais, que são aparências de amor e de amizade, à imitação doamor e da amizade verdadeiramente conjugais, isso é bem conhecido; o amorcomum por elas faz com que cada um dos esposos olhe para o outro combondade e favor; o amor das criancinhas e das crianças na mãe e no pai seconjugam, como o coração e o pulmão no peito; este amor na mãe é como ocoração, e o amor para com elas no pai é como o pulmão; a razão destacomparação é que o coração corresponde ao amor, e o pulmão aoentendimento, e que o amor pela vontade está na mãe, e o amor peloentendimento no pai. N os homens espirituais há conjunção conjugal por esteamor pela justiça e o julgamento; pela justiça, porque a mãe as carregou em seuseio, os deu à luz com dor, e em seguida com um cuidado infatigável, osamamentou, os alimentou, os limpou, os vestiu e os educou, (e pelojulgamento, porque o pai provê a sua instrução nos conhecimentos, nainteligência e na sabedoria). (*)

285 - X IV . São para a paz na casa.

O s artifícios conjugais, ou as amizades externas para a paz e a tranqüilidade dacasa, estão principalmente nos maridos, por causa de sua característica natural,porque o que eles fazem, o fazem pelo entendimento; e como é o entendimentoque pensa, ele trata de diferentes cousas que tornam a mente (animus) inquieta,a confundem e a perturbam; se portanto na casa não houvesse tranqüilidade,aconteceria que os espíritos vitais esmoreceriam, e que sua vida interiorexpiraria, por assim dizer, e que assim a saúde de sua mente e de seu corpo sealteraria; os temores dêstes perigos e de vários outros assediariam as mentes dosmaridos, se, para acalmar as perturbações de seu entendimento, não houveserefúgio em casa junto das esposas; além disso, a paz e a tranqüilidade dãoserenidade às mentes, e as dispõem a receber com gratidão as benevolênciasoferecidas pelas esposas, que empregam todos os seus cuidados para dissipar asnuvens das mentes, que sua perspicácia as faz descobrir nos maridos; e, alémdisso, esta paz e esta tranqüilidade dão encantos à sua presença; é portantoevidente que a simulação de um amor como verdadeiramente conjugal para apaz e a tranqüilidade na casa, é uma necessidade; acrescente-se a isso, que nasesposas não há simulação como nos maridos; mas que se aparece alguma cousaque se lhe assemelha, isso pertence ao amor real, porque as mulheres nasceramamores do entendimento dos homens; é por isso que elas aceitam com bondadeos favores dos maridos, senão de boca ao menos de coração.

286 - X V . São para a reputação fora da casa.

As fortunas dos maridos dependem muito freqüentemente de sua reputação dejustiça, de sinceridade e de retidão; e esta reputação depende também da esposaque conhece a vida familiar de seu marido; se portanto as dissidências de suasmentes explodirem em inimizades abertas, em querelas, e em ameaças de ódio,

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e se estas cousas fossem divulgadas pela esposa, por seus amigos e pelos criados,seriam facilmente transformadas em histórias escandalosas, que imprimiriam adesonra e a infâmia no nome do marido; para evitar tais desgraças, o maridonão tem outro meio senão simular favor em relação à esposa, ou de separar-sequanto à casa.

(*) O que está colocado entre parêntesis foi acrescentado para suprir umaomissão evidente, quer da parte do Autor, quer, antes, da parte doT ipógrafo.

287 - X V I. São para diversos favores que se espera do consorte ou de seus pais;e assim pelo temor de perder estes favores.

Isso acontece principalmente nos casamentos em que há diferença de estado ede condição, ver acima o n. 250; por exemplo, se se esposa uma mulher muitorica e esta encerra seu ouro em bolsas, ou suas riquezas em cofres, e mais ainda,se ela pretende com audácia que é dever do marido sustentar a casa com seusfundos e com seu rendimento; que por conseguinte haja aparências forçadas deum amor como conjugal, isso é geralmente conhecido. A mesma cousaacontece, quando se esposa uma mulher, cujos pais, parentes e amigos estão emdignidades eminentes, em empregos lucrativos, em comércios vantajosos, epodem tornar o estado do marido mais próspero; que em razão destasvantagens haja também simulação de um amor como conjugal, isso égeralmente conhecido. Q ue estas diversas simulações se dêem por temor deperder estes favores, isso é evidente.

288 - X V II. São para fazer desculpar os defeitos, e por conseguinte para evitar adesonra.

O s defeitos pelos quais os esposos temem a desonra são em grande número, unscriminais, e outros não criminais; há defeitos da mente e defeitos do corpo maisleves do que os que foram enumerados no Capítulo precedente, ns. 252 e 253,os quais são causas de separação; aqui, portanto, são entendidos os defeitossobre os quais, por causa da desonra, o outro esposo guarda um profundosilêncio; além destes defeitos, pode haver, em alguns, crimes fortuitos, que, sefossem divulgados, seriam passíveis das penas da lei; sem falar do defeito dafaculdade de que os homens se vangloriam ordinariamente. Q ue as excusasdêstes defeitos, para evitar a desonra, sejam causas de simulação de amor eamizade com o cônjuge, vê-se claramente sem que haja necessidade de maisconfirmações.

289 - X V III. São para as reconciliações.

Q ue entre os esposos cujas mentes, por diversas causas, não estão de acordo, háalternativamente desconfiança e confiança, desuniões e conjunções, assimreconciliações que se realizam depois das separações, e que não são da mesmamaneira alternativas e transitórias.

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290 - X IX. Se na espôsa o favor não cessa, quando cessa a faculdade no marido,pode-se formar uma amizade que imita a amizade conjugal quando os espososenvelhecem.

A principal causa da separação das mentes (animi) entre esposos, é a falta defavor na esposa, quando cessa a faculdade no marido, e por conseguinte a faltado amor; pois do mesmo modo que os calores se comunicam entre si, domesmo modo também as frieza; que pela falta de amor em um e outro aamizade cessa, e que o favor cessa da mesma maneira, se não há temor de umaruína doméstica, isso é evidente pela razão e a experiência. Se, portanto, omarido se imputa tacitamente a causa, e a espôsa persevera sempre em um castofavor a seu respeito, pode resultar daí uma amizade, que, porque existe entreesposos, aparece como um amor imitando o amor conjugal. Q ue haja entrevelhos esposos uma amizade que imita esse amor, a experiência o atesta pelatranqüilidade, a segurança, a amabilidade e a afabilidade que existem em suacompanhia, suas ligações e sua sociedade.

291 - X X. H á diversas espécies de amor aparente entre esposos, dos quais um ésubjugado, e por conseguinte submetido ao outro.

Q ue depois que os primeiros tempos do casamento passaram, se elevam entreos esposos rivalidades a respeito do direito e do poder; a respeito do direitoporque, segundo os estatutos do pacto de aliança, há igualdade, e para cada umdignidade nos deveres de sua, função; e a respeito do poder, porque asuperioridade em todas as cousas da casa é reclamada pelos homens, por seremhomens, e porque a inferioridade é para as mulheres por serem mulheres, istoestá no número das cousas conhecidas no M undo de hoje. T ais rivalidades,hoje muito freqüentes, não decorrem de outra parte senão da falta deconsciência a respeito do amor verdadeiramente conjugal, e da falta depercepção do sentido das beatitudes deste amor; por esta ausência deconsciência e de percepção em lugar deste amor, há uma cupidez que lhe tomaa máscara; e, o amor real sendo rejeitado, decorre desta cupidez uma ambiçãopelo poder; em alguns ela vem do prazer do amor de dominar, em outros foiimplantada antes do casamento por mulheres hábeis, e em outros é ignorada.O s M aridos que estão nesta ambição, e que pelas alternativas de rivalidade,obtêm o império, reduzem suas esposas, ou à posse de seu direito, ou àsubmissão a seu capricho, ou à escravidão, cada um segundo o grau e o estadoqualificado desta ambição, gravada e escondida nele; mas se as Esposas estãonesta ambição, e se depois de alternativas de rivalidade elas obtêm o império,reduzem seus maridos ou a uma igualdade de direitos com elas, ou à submissãoa seu capricho, ou à escravidão; mas como nas esposas, depois que obtiveram afaixa do império, permanece a cupídez que toma a máscara do amor conjugal,cupidez refreada pela lei e pelo temor de uma separação legítima, seestendessem seu poder além do que é permitido, é por isso que elas vivem emconsociação com os maridos. M as qual é o amor e qual é a amizade entre uma

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esposa senhora e um marido escravo, depois também, entre um marido senhore uma esposa escrava, isso não pode ser descrito em poucas palavras; mais aindase suas diferenças fossem classificadas em espécies, e estas fossem enumeradas,páginas não seriam suficientes; com efeito, elas são variadas e diversas, variadassegundo a natureza da ambição nos maridos, variadas semelhantemente nasesposas; e diversas, porque nos homens elas diferem das que estão nasmulheres; com efeito, tais homens não estão em amizade alguma de amor, anão ser em uma amizade louca; e tais esposas estão em uma amizade de amorbastardo proveniente da cupidez. M as por que arte as esposas adquirem o podersobre os maridos, é o que será dito no artigo que vai em seguida.

292 - X XI. H á no M undo casamentos infernais entre esposos que sãointeriormente inimigos encarniçados, e externamente como amigos unidos.

É-me proibido, é verdade, pelas esposas desta espécie, que estão no M undoEspiritual, apresentar às claras estes casamentos; pois elas temem que ao mesmotempo seja divulgada a arte que empregam para obter o poder sobre osmaridos, arte que elas desejam excessivamente manter oculta; mas como souinstigado pelos maridos, naquele mundo, a desvendar as causas de seu ódiointestino e de uma espécie de furar excitado em seus corações contra as esposasem razão de seus artifícios clandestinos, vou unicamente relatar asparticularidades seguintes: O s maridos diziam que sem o saber tinhamcontraído em face das esposas um temor medonho, em virtude do qual nãopodiam deixar de obedecer com inteira submissão às decisões delas, e de securvar aos seus caprichos com mais servilismo do que os criados, de sorte quese tinham se tornado homens insignificantes; e que assim se tinham tornado emface das esposas não somente os que não estavam investidos em dignidadealguma, mas também os que tinham uma eminente, e mesmo bravos e ilustresgenerais, e diziam que depois de ter concebido este terror, não tinham podidoter a audácia de falar com as esposas de outro modo que não fosse comamizade, e de lhes fazer outra cousa que não fosse o que lhes agrada, ainda queem seu coração entretivessem contra elas um ódio mortal; e que além disso, asesposas falavam e agiam sempre polidamente com eles, e escutavam com arsubmisso os pedidos que lhes faziam. O ra, como os maridos mesmos,grandemente admirados, tinham desejado saber donde tinha podido nasceruma tal antipatia em seus internos, e uma tal simpatia em aparência em seusexternos, tinham pedido as causas à mulheres que conheciam esta arte secreta; eme disseram que souberam de sua boca que as mulheres escondemprofundamente em si a ciência pela qual elas se avantajam em submeter, se oquerem, os homens, ao jugo de seu império; e, que nas esposas sem educação,isso é posto em execução por meio de censuras e de deferências que se sucedemalternativamente; e em outras, por meio de olhares duros e continuamentedesagradáveis, e em outras do mesmo gênero, agindo de uma outra maneira;mas nas esposas bem educadas, é por meio de vivas insistências em seus pedidos

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sem jamais cessar de persistir, e de resistências teimosas contra os maridos sesofrem maus tratos, apoiando-se sobre seu direito de igualdade estabelecidopela lei, pela qual se obstinam audaciosamente; mais ainda, se são postas fora decasa, elas aí voltam quando lhes apraz e continuam suas instâncias; pois sabemque os maridos por sua natureza não podem de modo algum resistir àpersistência de suas esposas, e que depois de terem cedido, eles se submetem àssuas decisões; e que então as esposas, exercendo * império, se mostram polidas ecarinhosas para com os maridos; * causa real da dominação das esposas por estaastúcia, é que o homem age pelo entendimento, e a mulher pela vontade, e quea vontade, pode se obstinar, mas não o entendimento; me foi dito que as pioresdesta espécie, que se dedicaram inteiramente à ambição de dominar, podem seprender com tenacidade às suas instâncias até ao último esforço da vida. O uvitambém estas mulheres se desculparem de ter entrado no exercício desta arte;diziam que não teriam entrado, se não tivessem previsto o soberano desprêzo eo futuro abandono, e por conseguinte a sua perda, no caso em que viessem aser subjugadas pelos maridos, e que assim tinham tomado as armas pornecessidade; acrescentaram a isso um aviso para os maridos; era de deixarem àsesposas os seus direitos; e, quando lhes acontecem estarem nas frieza, não asconsiderar como mais vis do que as criadas; diziam também que várias de seusexo não estão em estado de exercer esta arte por causa de uma timidez inata(connata), mas acrescentei: "Por causa de uma modéstia inata". Pelo que acabade ser relatado, pode-se agora saber quais os casamentos que são entendidospelos casamentos infernais no M undo entre esposos que são interiormenteinimigos encarniçados, e exteriormente como amigos unidos.

293 - Ao que precede serão ajuntados dois M emoráveis.

Primeiro M emorável: U m dia, eu olhava por uma janela para o O riente, e visete M ulheres sentadas sobre um canteiro de rosas perto de uma fonte,bebendo água; eu tinha o olhar muito atento para ver o que faziam, e essatensão de minha vista as chocou, por isso uma delas me fez um convite poraceno; e eu saí de casa, e me aproximei às pressas; e quando cheguei perto,pergunteilhes com polidez donde elas eram; e disseram: "Somos Esposas, econversamos aqui sobre as Delícias do amor conjugal, e por numerosasconfirmações concluímos que estas delícias são também as delícias dasabedoria". Esta resposta agradou de tal modo a minha mente (animus), queme parecia estar em espírito, e por conseguinte em percepção, maisinteriormente e com mais ilustração do que jamais tinha estado antes. Por isso,lhes disse: "Permiti-me fazer algumas perguntas sobre esses encantos". E elasconsentiram; e fiz esta pergunta: "Como vós, esposas, sabeis que as delícias doamor conjugal são as mesmas que as delícias da sabedoria?" R esponderam: "N óso sabemos pela correspondência da sabedoria nos maridos com as delícias doamor conjugal em nós; pois as delícias deste amor em nós são exaltadas ediminuídas, e têm, absolutamente, sua qualidade segundo a sabedoria em

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nossos maridos". Depois de ter ouvido sua resposta, fiz uma outra pergunta,dizendo: "Sei que as palavras de doçura dos maridos e as palavras de alegria desua mente vos afetam e que vós sentis em todo o peito grandes delícias; masadmiro-me de que digais que a sua sabedoria produz este efeito; dizei-me aomenos o que é a sabedoria, e que sabedoria. A estas palavras as esposasindignadas responderam: "T u imaginas que nós não sabemos o que é asabedoria, nem que sabedoria; e entretanto sobre ela em nossos maridos nósrefletimos continuamente, e cada dia, de sua boca, nós aprendemos, pois nós,esposas, pensámos sobre o estado de nossos maridos desde a manhã até à noite;quando muito haverá uma hora durante o dia de interrupção, ou em que onosso pensamento intuitivo se retira inteiramente deles, ou na qual está ausentedeles; do seu lado, os maridos no decorrer do dia, pensam muito pouco sobre onosso estado; daí vem que nós sabemos que sabedoria neles produz delícias emnós; esta Sabedoria, os maridos chamam sabedoria espiritual-racional eespiritual-moral; a Sabedoria espiritual-racional eles dizem que pertence aoentendimento e aos conhecimentos, e a Sabedoria Espiritual-moral eles dizemque pertence à vontade e à vida; mas eles conjugam as duas, e fazem delas umasó e decidem que os encantos desta sabedoria são transferidos de suas mentescomo delícias para nosso peito, e do nosso para o seu peito, e assim voltam àsabedoria, sua origem". E então perguntei: "Sabeis alguma cousa mais sobre asabedoria dos maridos que se torne delícias em vós?" Disseram: "Sim; há umasabedoria espiritual, e em conseqüência uma sab,edoria racional e umasabedoria moral; a sabedoria espiritual é reconhecer o Senhor Salvador porDeus do Céu e da terra, e aquirir d'Ele os veros da Igreja, o que se faz pelaPalavra e pelas prédicas segundo a Palavra donde resulta a racionalidadeespiritual; e viver por Ele segundo estes veros, donde resulta a moralidadeespiritual; estas duas, a racionalidade espiritual e a moralidade espiritual, osmaridos chamam Sabedoria, que produz em geral o amor verdadeiramenteconjugal; aprendemos também com eles a causa, é que por esta sabedoria sãoabertos os interiores de sua mente, e em conseqüência os interiores de seucorpo, donde existe uma livre passagem desde os primeiros até aos últimos paraa veia do amor, e é do afluxo, da suficiência e da virtude desta veia quedepende e vive o amor conjugal. A sabedoria espiritual-racional e moral denossos maridos, especialmente quanto ao casamento tem por fim e por alvoamar uma única esposa, e se despojar de toda cobiça pelas outras; e quantomais isso se dá, tanto mais este amor é exaltado quanto ao grau, e aperfeiçoadoquanto à qualidade, e tanto mais também sentimos em nós, de uma maneiramais distinta e mais delicada, as delícias que correspondem aos prazeres dasafeições e aos encantos dos pensamentos de nossos maridos". Em seguidaperguntei se elas sabiam como se faz a comunicação. Disseram: "Em todaconjunção por amor, deve haver ação, recepção e reação; o estado delicioso denosso amor é o agente ou a ação, o estado da sabedoria dos maridos é orecipiente ou a recepção, e é também o reagente ou a reação segundo a

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percepção; e esta reação é percebida por nós com delícias no peito segundo oestado continuamente tenso e preparado para receber estas cousas, que, dealgum modo, são coerentes com a virtude nos maridos, por conseqüênciatambém com o estado extremo do amor em nós, e que dêle procede". Alémdisso, disseram: "G uarda-te de entender pelas delícias, de que acabamos defalar, as delícias finais deste amor; desta nós jamais dizemos alguma cousa, masfalamos de nossas delícias peitorais, de que existe uma perpétuacorrespondência com o estado da sabedoria de nos os maridos". Depois disso,apareceu de longe como uma Pomba que voava com uma folha de árvore nobico; mas quando se aproximou, em lugar de uma pomba, viu-se um meninocom um papel na mão; e avançou para nós, e apresentou m'o, e disse: "Lê-odiante destas V irgens da fonte". E li isto: "Diz aos habitantes da terra comquem estás, que há um amor verdadeiramente conjugal, cujas delícias são pormiríades; o mundo, até ao presente, conhece apenas algumas delas; mas asconhecerá porque a Igreja noiva com o Senhor e se casa". E então fiz estapergunta: "Por que este menino vos chamou V irgens da fonte?" R esponderam:"Somos chamadas V irgens quando estamos sentadas nesta fonte, porque somosas afeições das verdades da sabedoria de nossos maridos, e a afeição do vero échamada V irgem; a fonte também significa o vero da sabedoria, e o canteiro derosas sobre o qual estamos sentadas significa as suas delícias". Então uma dassete fez uma grinalda de rosas, e espargiu-a com a água da fonte, e a colocousobre o boné do menino em torno de sua cabecinha, e disse: "R ecebe as delíciasda inteligência; sabe que o boné significa a inteligência, e esta grinalda de rosasas delícias". E o menino assim decorado, foi embora; e de longe foi visto denovo como uma pomba que voava, mas com uma coroa sobre a cabeça.

294 - Segundo M emorável: Alguns dias depois, vi de novo estas sete Esposasem um bosque de rosas, mas não no mesmo que antes; era um bosque de rosasmagníficas, como jamais tinha visto; era redondo, e as rosas formavam comoque um arco-íris; as rosas ou flores cor de púrpura compunham o círculo maisexterior, outras amarelas cor de ouro o círculo mais próximo deste, outras decor azul celeste o círculo dentro deste, e o círculo mais interior era de umabrilhante cor verde; e dentro deste bosque em arco-íris havia um pequeno lagode água límpída. Estas sete Esposas, chamadas precedentemente V irgens dafonte, que estavam sentadas neste bosque, tendo me visto na janela, mechamaram de novo; e quando cheguei, disseram: "V iste jamais alguma cousamais bela na terra?" E eu disse: "Jamais". E elas disseram: "U ma tal maravilha écriada em um instante pelo Senhor, e representa alguma cousa de novo naterra, pois todo objeto criado pelo Senhor representa; mas este, o querepresenta? descobre, se podes; nós descobrimos as delícias do amor conjugal".T endo ouvido isto, disse: “O que! as delícias do amor conjugal, de que mefalastes tantas cousas com sabedoria, e também com eloqüência! Depois que vosdeixei, contei vossos discursos a esposas que moram em nossa região, e lhesdisse: Pelo que acabo de aprender, sei que há em vós, em vosso peito, delícias

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tendo por fonte o vosso amor conjugal, delícias que podeis comunicar a vossosmaridos segundo sua sabedoria; e que por isso mesmo, olhais continuamente,da manhã à noite, os vossos maridos com os olhos do vosso espírito, e estudaiscomo dobrar e dirigir suas mentes (animi) para a sabedoria, com a intenção decolhêr estas delícias. R eferi também a elas o que entendeis pela sabedora, que éa sabedoria espiritual racional e moral, e que quanto ao casamento, ela consisteem amar uma única espôsa e despojar-se de toda cobiça pelas outras; mas entãoas esposas de nossa região responderam rindo e dizendo: “O que é tudo isso?estas palavras são frívolas; nós não sabemos o que é o amor conjugal; se háalgum amor conjugal em nossos maridos, todavia em nós não há nenhum; deonde viriam então a nós essas delícias? M ais ainda quanto às delícias quechamamos finais, às vezes nós as negamos violentamente, pois nos sãodesagradáveis, pouco mais ou menos como as violações; e mesmo se prestaresatenção não verás sinal de um semelhante amor em nossas faces; assim vószombais ou gracejais, quando dizeis também, vós, com essas sete esposas, queda manhã à noite pensamos em nossos maridos, e continuamente prestamosatenção ao que lhes apraz e lhes é agradável, com o intuito de obter deles taisdelícias. Eis, de suas respostas as palavras que retive para vos relatar, porqueestão, em oposição e também em plena contradição, com as que, perto dafonte, ouvi de vós e tão avidamente apreendi, e nas quais acreditei". A isso, asesposas sentadas no bosque de rosas, responderam: "Amigo, tu não conheces asabedoria, nem a prudência das esposas, porque elas a escondem inteiramentedos maridos, e a escondem com o único intuito de ser amadas; pois todohomem, que é somente racional e moral naturalmente e não espiritualmente,tem frieza por sua espôsa; esta frieza nele está escondida nos íntimos; a esposasábia e prudente nota-a perfeitamente bem e finamente, e esconde tanto mais oseu amor conjugal, o recolhe em seu seio, e aí o encerra tão profundamente quenão se manifesta dêle a mínima parte na face, nem no som de sua voz, nem nogesto; a razão disso, é que quanto mais ele se manifesta, tanto mais a friezaconjugal do marido se espalha desde os íntimos de sua mente, onde reside, atéem seus últimos, e introduz no corpo um esfriamento total, e em conseqüênciavem um esforço para a separação de leito e de quarto". Então fiz esta pergunta:"Donde vem uma tal frieza, chamada por vós frieza conjugal?" Elasresponderam: V em de sua loucura nas cousas espirituais; e quem é insensatonas cousas espirituais tem intimamente frieza pela esposa, e internamente calorpelas prostitutas; e como o amor conjugal e o amor escortatório são opostosentre si, segue-se que o amor conjugal se torna frieza, quando o amorescortatório é calor; e o marido, quando a frieza reina nele, não suporta daparte da esposa, nenhum sentimento de amor, nem por conseqüência seuhálito; é por isso que a esposa esconde com tanta sabedoria e prudência o seuamor, e quanto mais o esconde, negando-o, e recusando-o, tanto mais o maridose aquece e se reaviva pela esfera de prostituição que influi; daí vem que para aesposa de um tal homem, não há delícias peitorais, como as há para nós, mas há

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somente volúpias que da parte do marido devem ser chamadas volúpias daloucura, porque são as volúpias do amor escortatório. T oda esposa casta amaseu marido, mesmo quando ele é incasto; mas só a sabedoria é o recipiente deseu amor, por isso a esposa emprega todos os seus esforços para transformar emsabedoria a loucura do marido, isto é, para que ele não cobice outras além dela;é o que ela faz por mil meios, tendo cuidado sobretudo que nenhum dessesmeios seja descoberto pelo marido, pois ela sabe muito bem que o amor nãopode ser forçado; mas que é insinuado no livre; é por isso que foi dado àsmulheres conhecer pela vista, pelo ouvido e pelo tato, todo o estado da mente(animua) de seu marido; mas, de outro lado, não foi dado aos maridosconhecer nenhum estado da mente (animus) de suas esposas. A esposa castapode olhar para o marido com ar austero, falar-lhe com tom rude, e mesmo seencolerisar e altercar com ele, e entretanto manter sempre em seu coração umamor doce e terno por ele; mas que estes arrebatamentos e estes artifíciostenham por fim a sabedoria e por conseguinte a recepção do amor no marido,vê-se bem claramente pelo fato de que ela pode num instante se reconciliar;além disso, estes meios de esconder o amor gravado em seu coração e em suamedula, as esposas os empregam a fim de que a frieza conjugal nos maridos nãose espalhe e não extinga também o foco de seu calor escortatório, e assim emlugar de madeira verde não faça dele um tronco seco". Depois que estas seteesposas disseram estas cousas e várias outras semelhantes, seus maridos vieram,tendo nas mãos cachos de uvas, das quais umas eram de um gosto delicado eoutras de um gosto muito desagradável; e as esposas disseram: "Por quetrouxestes também estas uvas más ou estes cachos de uvinha selvagem?" O smaridos responderam "Porque em nossas almas, com as quais as vossas estãounidas, nós percebemos que conversáveis com este homem sobre o amorverdadeiramente conjugal, nisto que as suas delícias eram delícias da sabedoria,e também sobre o amor escortatório, nisto que suas delícias eram as volúpias daloucura; estas delícias são as uvas de um gosto muito desagradável ou cachos deuvas selvagens; e aquelas são as uvas de um gosto delicado". E confirmaram odiscurso de suas esposas, ajuntando que nos externos as volúpias da loucuraparecem semelhantes às delícias dá sabedoria, mas não nos internos,absolutamente como as boas uvas e as más uvas que tinham trazido; pois há,tanto nos castos, como nos incastos, uma semelhante sabedoria nos externos,mas é inteiramente dessemelhante nos internos". Depois disso, o menino veiode novo com um papel na mão, e m'o apresentou, dizendo: "Lê". E li isto:"Sabei que as delícias do amor conjugal sobem para o Céu supremo, e que emcaminho e nesse Céu elas se conjugam com as delícias de todos os amorescelestes, e entram assim em sua felicidade que dura eternamente; e isso, porqueas delícias deste amor são também as delícias da sabedoria. E sabei também, queas volúpias do amor escortatório descem até ao inferno mais profundo, e queem caminho e nesse inferno se conjugam com as volúpias de todos os amôresinfernais, e entram assim em sua infelicidade, que consiste nas misérias de

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todos os prazeres do coração; e isso, porque as volúpias deste amor são tambémas volúpias da loucura". Depois disso, os maridos se retiraram com suas esposas,e acompanharam o menino até ao caminho de uma ascenção para o Céu econheceram que a Sociedade de onde foi enviado, era uma Sociedade do novoCéu, com a qual a N ova Igreja nas terras deve ser conjunta.

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Dos esponsais e das núpcias

295 - O assunto dos Esponsais e das N úpcias e também das Solenidades que asacompanham, é tratado aqui principalmente pela razão do entendimento; poisas cousas, que são escritas neste Livro, têm por fim que o leitor veja por seuR acional as verdades, e dê assim o seu assentimento, pois desta maneira seuespírito é convencido; e as cousas de que o espírito está convencido, obtêm umlugar acima daquelas que, sem que a razão tenha sido consultada, entram pelaautoridade e a fé na autoridade; pois estas não entram na cabeça maisprofundamente do que na memória, e aí se misturam com as ilusões e os falsos,assim estão abaixo dos racionais que pertencem ao entendimento; cada homempode, por estas, falar como que racionalmente, mas às avessas; pois pensa entãocomo anda o lagostim, com a vista seguindo a cauda; é diferente se é peloentendimento; quando é assim, a vista racional escolhe pela memória as cousasque convém, pelas quais confirma a verdade considerada em si. É por esta razãoque, neste Capítulo, serão relatadas várias cousas, que são costumes recebidos;por exemplo, que a escolha pertence ao homem; que os pais devem serconsultados; que devem ser dadas prendas; que a aliança conjugal deve sercontratada antes das núpcias; que ela deve ser consagrada pelo sacerdote, e quedevem ser celebradas núpcias; além de várias outras particularidades, que sãorelatadas com este fim, que o homem por seu racional veja que tais cousasforam inscritas no amor conjugal, como lhe sendo necessárias para estendê-lo ecompletá-lo. O s Artigos em que é dividido este Capítulo são em sua ordem osseguintes: I. A escolha pertence ao homem e não à mulher. II. É preciso que ohomem procure e peça a mulher em casamento, e não vice-versa. III. É precisoque a mulher consulte seus pais, ou aos que lhes fazem as vezes, e que emseguida delibere em si mesma antes de consentir. IV . Depois da declaração doconsentimento, prendas devem ser dadas. V . O consentimento deve serafirmado e estabelecido por esponsais solenes. V I. Pelos esponsais um e outrosão preparados para o amor conjugal. V II. Pelos esponsais a mente de um éconjunta à metade do outro, a fim de que o casamento do espírito se faça antesdo casamento do corpo. V III. Isto acontece naqueles que pensam castamente arespeito dos casamentos; é diferente naqueles que pensam incastamente. IX.Durante o tempo dos esponsais não é permitido conjuntar-se corporalmente.X. Q uando o tempo dos esponsais se completa, as núpcias devem ser feitas. X I.Antes da celebração das núpcias, a Aliança conjugal deve ser contratada empresença de testemunhas. X II. O Casamento deve ser consagrado por umsacerdote. X III. As N úpcias devem ser celebradas com regozijo. X IV . Depois

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das núpcias, o casamento do espírito se torna também o do corpo, e assim o ocasamento está completo. XV . T al é a ordem do Amor conjugal com seusmeios desde seu primeiro calor até sua primeira chama. XV I. O AmorConjugal precipitado sem ordem e sem meios de ordem queima as medulas e éconsumido. XV II. O s estados das mentes de um e de outro, procedendo emuma ordem sucessiva, influem no estado do casamento, entretanto, de ummodo nos espirituais, e de outro modo nos naturais. X V III. H á uma ordemsucessiva e uma ordem simultânea, e esta vem daquela e é segundo ela. Seguemagora as explicações destes Artigos.

296 - I. A escolha pertence ao homem, e não à mulher.

É porque o homem nasceu para ser entendimento, e a mulher para ser amor; etambém, porque nos homens há comumente o amor do sexo, mas nasmulheres o amor de um só do sexo; depois ainda, porque não é indecente paraos homens falar de amor, e de torná-lo público, mas isso é indecente para asmulheres; não obstante, às mulheres pertence o direito de escolher um daquelesque a procuram para casar. Q uanto ao que concerne à primeira razão, que aescolha pertence aos homens, porque nasceram para o entendimento, é fundadasobre o fato de que o entendimento pode ver claramente as cousas que convême as que não convêm, fazer a sua distinção, e escolher com julgamento o que évantajoso; não se dá o mesmo com as mulheres, porque nasceram para o amor;não há para elas a mesma claridade de luz, e por conseqüência suasdeterminações ao casamento não procederam senão das inclinações de seuamor; se há nelas a ciência de discernir entre homens e homens, o seu amorentretanto é levado para as aparências. Q uanto à segunda razão, que a escolhapertence aos homens e não às mulheres porque nos homens há comumente oamor do sexo, e nas mulheres o amor de um só do sexo, é fundada sobre o fatode que naqueles em quem há o amor do sexo têm uma livre circunspeção, etambém uma livre determinação; não se dá o mesmo com as mulheres em quefoi gravado o amor por um único do sexo; para ter a confirmação disso,interroga, se te apraz, sobre o casamento monogâmico e sobre o casamentopoligâmico, os homens que encontrares, e encontrarás raramente algum quenão te responda em favor do casamento poligâmico, e é isso também o amor dosexo; mas interroga as mulheres sobre esses casamentos, e quase todas, aexceção das prostitutas, rejeitarão os casamentos poligamicos; segue-se daí queas mulheres têm o amor de um único do sexo, assim o amor conjugal. Q uantoà terceira razão, que não é indecente para os homens falar do amor e torná-lopúblico, e que isso é indecente para as mulheres, é evidente por si mesmo;segue-se daí portanto que a declaração pertence aos homens, e se a declaraçãolhe pertence, pela mesma razão a escolha. Q ue às mulheres pertence o direitoda escolha entre seus pretendentes, isso é notório; mas esta espécie de escolha épouco extensa e limitada, enquanto que a escolha dos homens é extensa e

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ilimitada.

297 - II. É preciso que o homem procure e peça a mulher em casamento, e nãovice-versa.

Isso é uma conseqüência resultante da escolha; e além disso, procurar e pedir asmulheres em casamento é em si honesto e decente para os homens, mas nãopara as mulheres; se as mulheres procurassem e pedissem, não sómente seriamcensuradas, mas depois do pedido seriam mesmo consideradas como vis, oudepois do casamento como mulheres impudicas, com as quais não pode haversenão coabitações frias e fastidiosas; por isso os casamentos seriam assimmudados em cenas trágicas; de mais as mulheres se gloriam de que não cederamàs instâncias do pedido dos homens senão como vencidas. Q uem não prevêque, se as mulheres procurassem os homens, raramente seriam aceitas, ouseriam indignamente rejeitadas, ou seriam atraídas a ações lascivas, e mesmoprostituiriam seu pudor? Além disso, nenhum amor do sexo é inato noshomens, como foi provado acima, e sem este amor não há encanto interior davida; por isso para exaltar sua vida por este amor, pertence aos homensconquistar as mulheres procurando-as com polidez, amabilidade e deferência, epedindo a elas esse doce acréscimo de sua vida. A beleza da face, do corpo e doscostumes desse sexo, em comparação com o outro sexo, é um motivo a mais,para a obrigação de agir assim.

298 - III. É preciso que a mulher consulte seus pais, ou aqueles que ocupam oseu lugar, e que em seguida delibere em si mesma antes de consentir.

Se os pais devem ser consultados, é porque eles deliberam e dão conselhos comjulgamento, conhecimento e amor; com julgamento, porque estão em umaidade avançada, e nessa idade se goza de julgamento, e se vê claramente o queconvém e o que não convém. Com conhecimento, tanto do pretendente comoda filha; quanto ao pretendente, tomam informações; quanto à filha eles aconhecem; concluem portanto com discernimento sobre um e sobre o outro aomesmo tempo. Com amor, porque velam pelo bem da filha e provêm à suacasa, o que é também velar e prover à sua própria casa e a si mesmo.

299 - Seria completamente diferente, se a filha, sem consultar os pais, ou osque ocupam seu lugar, consentisse por si mesma no pedido do pretendente;com efeito, ela não pode pesar com julgamento, conhecimento e amor, esteassunto de que depende a sua sorte futura; não o pode com julgamento, porqueo seu a respeito da vida conjugal está ainda na ignorância, e não em estado decomparar as razões entre si, e de ver claramente os costumes dos homens porseus gostos; nem com conhecimento, porque conhece pouca cousa além dasque se passam na casa de seus pais, e no de algumas companheiras; e não temhabilidade para inquirir das cousas que são familiares e próprias ao seupretendente; nem com amor, porque o amor das donzelas em sua primeiraidade núbil, e também na segunda, obedece às cobiças que provêm dos

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sentidos, e não ainda aos desejos que procedem de uma mente apurada. Seentretanto a filha deve deliberar em si mesma sobre este assunto antes deconsentir, é a fim de que não seja levada contra sua vontade a se unir a ummarido que ela não amaria; pois desse modo não haveria consentimento do seulado, e entretanto o consentimento faz o casamento, e inicia o espírito no amorconjugal; e um consentimento constrangido ou extorquido não inicia oespírito, mas pode iniciar o corpo; e muda assim a castidade, que reside noespírito, em um desejo libidinoso, pelo qual o amor conjugal é iniciado no seuprimeiro calor.

300 - IV . Depois da declaração do consentimento, prendas devem ser dadas.

Por prendas são entendidos os presentes que, depois do consentimento, sãoconfirmações, testemunhos, primeiros favores e alegrias. Estes presentes sãoconfirmações, porque são sinais dos consentimentos; também se diz, quando deuma parte e de outra há consentimento para um negócio: Dá-me um penhor;e, de duas pessoas que se prometeram em casamento e consolidaram suaspromessas com presentes, se diz que se empenharam, por conseqüência queconfirmaram. São T estemunhos, porque estas prendas são como contínuastestemunhas oculares do amor mútuo, por conseguinte são também lembrançassobretudo se são anéis, caixas de perfume e de objetos de prender que se usaexpostos aos olhos; há neles uma certa imagem representativa das mentes(animi) do noivo e da noiva. Estas prendas são os Primeiros favores, porque oamor conjugal promete um favor perpétuo, dos quais esses presentes são osprimeiros. Q ue sejam Alegrias do amor, isso é notório; pois à sua vista a mentese regozija, e como o amor está neles, estes favores são mais queridos e maispreciosos do que qualquer outro presente, é como se o coração estivesse neles.Como estas prendas são afirmações do amor conjugal, é por isso que as dádivasdepois do consentimento também tinham sido admitidas entre os Antigos, equando eram aceitas, as partes eram declaradas noivos e noivas. M as é precisoque se saiba, que se tem a liberdade de dar estes presentes antes ou depois doato dos esponsais; se for antes, são confirmações e testemunhos doconsentimento para os esponsais; se for depois, o são.para as núpcias.

301 - V . O consentimento deve ser afirmado e estabelecido por solenesesponsais.

As razões dos esponsais são estas: 1. A fim de que depois dos esponsais as almasdos noivos tenham mutuamente inclinação uma para a outra. 2. A fim de que oamor universal pelo sexo seja determinado para um só ou para uma só do sexo.3. A fim de que as afeições interiores sejam mútuamente conhecidas e poraplicações sejam conjuntas na alegria íntima do amor. 4. A fim de que osespíritos de um e de outro entrem em casamento, e sejam cada vez maisconsociados. 5. A fim de que assim o amor conjugal avance regularmente desdeseu primeiro calor até à chama nupeial; e por conseqüência. 6. A fim de que oamor conjugal a partir de sua origem espiritual avance e cresça em uma ordem

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justa. O estado dos esponsais ou noivado pode ser comparado ao estado daprimavera antes do verão, e os encantos intensos deste estado à floração dasárvores antes da frutificação. Como as iniciações e as progressões do amorconjugal procedem em ordem por causa de seu influxo no amor efetivo, quecomeça nas núpcias, é por isso que nos Céus há esponsais.

302 - V I. Pelos esponsais um e outro são preparados para o amor conjugal.

Q ue pelos esponsais a mente ou o espírito de um seja preparado para a uniãocom a mente ou espírito do outro, ou, o que é a mesma cousa, que o amor deum seja preparado para a união com o amor do outro, vê-se pelos argumentosreferidos no Artigo precedente. Além desses argumentos, é de notar-se isto: N oamor verdadeiramente conjugal foi inscrita esta ordem, que ele sobe e desce;sobe do seu primeiro calor progressivamente para o alto do lado das almas comum esforço para aí efetuar as conjunções, e isso por contínuas aberturasinteriores das mentes. e não há amor que provoque com mais intensidade estasaberturas, e que abra os interiores das mentes com mais força e destreza, do queo amor conjugal, pois a alma de um e do outro têm isto por fim; mas nosmesmos momentos em que este amor sobe do lado das almas, ele desce tambémdo lado do corpo, e por isso se faz uma vestimenta. M as é preciso saber que oamor conjugal é na sua descida tal qual é na altura a que sobe; se está na altura,desce casto, mas se não está na altura, desce incasto; a razão disso é que osinferiores da mente são incastos enquanto que seus superiores são castos; poisos inferiores da mente são aderentes ao corpo, e os superiores se separam dele;mas sobre este assunto, se falará mais acima, no n. 305. Por estas poucasexplicações é evidente que pelos esponsais a mente de um e de outro sãopreparadas para o amor conjugal, ainda que de diversas maneiras segundo asafeições.

303 - V II. Pelos esponsais a mente de um é conjunta à mente do outro, a fimde que o casamento do espírito se faça antes do casamento do corpo.

Isto sendo a consequencia do que foi dito acima nos ns. 301 e 302, passar-se-áadiante sem pedir à razão novas confirmações.

304 - V III. Isso se dá naqueles que pensam castamente; é diferente nos quepensam incastamente.

N os castos, e são os que pensam sobre os casamentos segundo a religião, ocasamento do espírito precede, e o casamento dos corpos segue-se; e estes sãoaqueles em quem o amor sobe do lado da alma, e desta altura por conseguintedesce, ver acima n. 302; suas almas se separam do amor ilimitado do sexo, e seligam a um só ou a uma só, com o qual ou a qual visam uma união perpétua eeterna, e suas beatitudes crescentes, como sustentáculo de uma esperança querecreia continuamente suas mentes. M as é de outro modo nos incastos, e são osque não pensam segundo a religião sobre os casamentos e sobre sua santidade;nestes há um casamento do corpo, e não há casamento algum do espírito; se

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alguma cousa do casamento do espírito aparece durante o estado de noivado,acontece sempre que se isso sobe por uma elevação dos pensamentos sobre estecasamento, isso entretanto recai nas cobiças que pela carne estão na vontade; eassim pelas cousas incastas que aí estão, isso se precipita no corpo, e macula osúltimos de seu amor com um ardor sedutor; da forma porque este ardor nocomeço está cheio de fogo, da mesma forma cessa de repente de estar em fogo,e passa a um frio de gelo, o que acelera a falta de (potência). O estado dosesponsais nestes males serve a outra cousa que não seja encher suas cobiças eidéias lascivas, e macular o conjugal do amor.

305 - IX. Durante o tempo do noivado não é permitido conjuntar-secorporalmente; pois do contrário a ordem inscrita no amor conjugal perece.Com efeito, há nas mentes humanas três regiões, das quais a suprema échamada celeste, a média espiritual, e a ínfima natural; nesta região ínfimanasce o homem, mas à região acima, que é chamada espiritual, ele sobe pelavida segundo os veros da religião, e à suprema pelo casamento do amor e dasabedoria; na região ínfima, que é chamada natural, residem todas as cobiças domal, e todas as lascívias; mas na região acima, que é chamada espiritual, não hácobiça alguma do mal nem lascívia alguma, pois o homem, quando renasce, éintroduzido nesta região pelo Senhor; e na região suprema, que é chamadaceleste, há a castidade conjugal em seu amor; o homem é elevado a esta regiãopelo amor dos usos; e como os usos que procedem dos casamentos são os maiseminentes, ele aí é elevado pelo amor verdadeiramente conjugal; por estasexplicações abreviadas podese ver que o amor conjugal, desde os primeiroscomeços de seu calor, deve ser elevado da região ínfima a uma região superior,para que se torne casto, e para que assim casto desça ao corpo pela região médiae pela região ínfima; quando isso acontece, esta região ínfima é purificada desuas cousas incastas pelas castas que descem; por conseguinte o último desteamor se torna casto também. Agora, se a ordem sucessiva deste amor éapressada por conjunções do corpo antes do tempo, resulta daí que o homemage pela região ínfima, que de nascença é incasta; que daí começa e nasce afrieza pelo casamento, e a negligência com o desgosto pela esposa, isso énotório. Entretanto há perigos diversos de acontecimentos resultantes deconjunções precoces, depois, também, de uma espera demasiado longa, e deuma aceleração demasiadamente grande do tempo do noivado; mas estesacontecimentos por causa de seu grande número e de sua variedadedificilmente podem ser expostos.

306 - X . Q uando o tempo do noivado está completo, as núpcias devem serfeitas.

H á Solenidades que são unicamente formalidades, e há Solenidades que aomesmo tempo são também essenciais; entre estas estão as N úpcias. Q ue asnúpcias estejam no número das coisas essenciais que devem ser manifestadascom solenidades e ser celebradas com formalidades, isto é confirmado pelas

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razões seguintes: 1. As N úpcias constituem o fim do estado anterior inauguradopelos esponsais, estado que foi principalmente o do espírito, e constitui ocomeço do estado posterior a inaugurar-se pelo casamento, estado que é aomesmo tempo do espírito e do corpo; pois então o espírito entra no corpo e aíage; é por isso que, nesse dia, os futuros deixam o estado e também o nome denoivo e noiva, e tomam o estado e o nome de esposos, e partilham o mesmoleito. 2. As N úpcias são a introdução e a entrada no novo estado, que consisteem que a virgem se torna esposa, e o mancebo marido, e um e outro uma sóCarne, o que acontece quando o amor por meio dos últimos os une; que ocasamento muda, na realidade, a virgem em esposa, e o mancebo em marido,isso foi demonstrado no que precede; em seguida também, que o casamentoune os dois em uma única forma humana, de sorte que não são mais dois, masuma só carne. 3. As N úpcias são a entrada para a completa separação do amordo sexo de junto do amor conjugal, o que se dá quando por uma plenafaculdade de conjunção o amor de um se liga estreitamente ao amor do outro.4. Parece que as N úpcias constituem apenas um interstício entre estes doisestados, e que assim elas não são senão formalidades que podem ser omitidas;mas entretanto há nelas também este essencial, que este novo estado, de que seacaba de falar, deve então começar por um contrato de aliança, e que oconsentimento deve ser declarado em presença de testemunhas, e também serconsagrado pelo sacerdote, além de várias outras cousas que estabelecem esteconsentimento. Como nas núpcias há cousas essenciais e corno o casamentonão se torna legítimo senão depois das núpcias, por isso as núpcias sãocelebradas também nos Céus; ver acima n. 21, e em seguida nº 27 a 41.

307 - X I. Antes da celebração das núpcias, a aliança conjugal deve sercontratada na presença de testemunhas.

É preciso que a aliança conjugal seja contratada antes que as núpcias sejamcelebradas, a fim de que os estatutos e as leis do amor verdadeiramente conjugalsejam conhecidas, e que sejam lembradas depois das núpcias; além dissotambém, a fim de que haja um laço que una estreitamente as mentes para umcasamento justo; pois depois dos primeiros tempos do casamento, o estado queprecede os esponsais volta às vezes, e neste estado a lembrança se perde, e ésubstituída pelo esquecimento da aliança contraída; e mesmo pelas seduções decousas incastas em cousas incastas esta aliança é inteiramente esquecida, e seentão ela é relembrada à memória, torna-se objeto de reprovação; mas paraafastar estas transgressões, a sociedade mesma tomou esta aliança sob suaproteção, e pronunciou penas contra os que a quebrarem. Em uma palavra, aaliança antenupcial manifesta os estatutos sagrados do amor verdadeiramenteconjugal, os estabelece, e obriga os liber tinos a observá-la; acrescente-se a issoque por esta aliança o direito de dar nascimento a filhos, e para os filhos odireito de herdar os bens dos pais, se tornam legítimos.

308 - X II. O casamento deve ser consagrado pelo sacerdote.

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É porque, considerados em si mesmos, os casamentos são espiriluais, e porconseguinte santos; com eleitos, eles descendem do casamento celeste do bem edo vero, e as cousas conjugais correspondem ao Divino Casamento do Senhor eda Sua Igreja; e por conseqüência estas cousas procedem do Senhor M esmo, esão segundo o estado da Igreja nos contraentes; ora, como a ordem eclesiásticanas terras administra as coisas que no Senhor pertencem ao Sacerdócio, isto é, aSeu amor, por conseqüência também as que pertencem à Sua Bênção, é precisoque os casamentos sejam consagrados por seus ministros; e como então eles sãoos chefes das testemunhas, é preciso que o consentimento da aliança tambémseja ouvido, aceito, assegurado e assim consolidado por eles.

309 - X III. As N úpcias devem ser celebradas com regozijo.

A razão disso, é que o amor antenupcial, que era o amor do noivo e da noiva,desce então aos seus corações; e que por expansão daí a todas as partes docorpo, eles sentem as delícias do casamento pelas quais suas mentes pensamcousas agradáveis, e se entregam também a regozijos tanto quanto é permitido edecente; para que isso seja favorecido, importa que os regozijos de suas mentesse façam em comunhão, e que assim eles mesmos sejam introduzidos nasalegrias do amor conjugal.

310 - X IV . Depois das N úpcias, o casamento do espírito se orna também o docorpo, e assim o casamento está completo.

T odas as cousas que são feitas no corpo pelo homem, influem de seu espiríto;sabe-se, com efeito, que a boca não fala por si mesma, mas que é o pensamentoda mente que fala pela boca; assim também, as mãos não agem por si mesmas eos pés não andam por si mesmos; mas é a vontade da mente que faz isso poreles; que por conseqüência a mente fala por seu órgão, a que a mente age nocorpo por seus órgãos; daí é evidente que tal é a mente, tais são as palavras daboca, e tais são as ações do corpo; segue-se daí, como conclusão, que a mentepor seu contínuo influxo dispõe o corpo para as atividades conformes esicrônicas com ela; é por isso que, considerados interiormente os corpos doshomens não são mais do que formas das mentes organizadas exteriormente paraexecutar os desígnios da alma. Isso foi dito por antecipação, a fim de que seperceba porque as mentes ou os espíritos devem primeiro ser unidos entre sicomo por um casamento, antes que haja união dos corpos, quer dizer, que é afim de que os casamentos pertençam já ao espírito quando se tornaremcasamentos do corpo, por conseqüência a fim de que os esposos se amemprimeiro mentalmente no espírito, e em seguida no corpo. Agora, segundo estasexplicações, consideremos o casamento: Q uando o amor Conjugal conjunta asmentes dos dois, e os forma para o casamento, então também conjunta e formaseus corpos para este casamento; pois, como foi dito, a forma da mente étambém interiormente a forma do corpo, com a única diferença de que esta foiexteriormente organizada para executar aquilo a que a forma interior do corpoé determinada pela mente; mas a mente, formada pelo amor conjugal, está não

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só interiormente em todo, o corpo, de todo lado, em qualquer lugar que seja,mas além disso está interiormente nos órgãos destinados à geração; que em suaregião foram colocados abaixo de todas as outras regiões do corpo; nestes órgãossão terminadas as formas da mente naqueles que estão unidos pelo amorconjugal; por conseguinte as afeições e os pensamentos de suas mentes aí sãodeterminados; nisto diferem as atividades das mentes produzidas pelos outrosamores; os outros amores não vão até lá; a conclusão que se tira disso, é que talé o amor conjugal nas mentes ou nos espíritos de dois esposos, tal ele éinteriormente nestes órgãos que lhe pertencem. M as que o casamento doespírito depois das núpcias se tornem também o casamento do corpo, e sejaassim o casamento completo, a cousa é evidente por si mesma; porconseqüência, se um casamento no espírito é casto, e participa da santidade docasamento, é casto também quando está completo no corpo; esemelhantemente, se um casamento no espírito é incasto, é incasto também nocorpo.

311 - X V . T al é a ordem do amor conjugal com seus meios desde seu primeirocalor até sua primeira chama.

Diz-se desde seu primeiro calor até sua primeira chama, porque o calor vital é oamor, e porque o calor conjugal ou amor cresce progressivamente, e se tornaenfim como uma chama ou facho; diz-se até sua primeira chama, porqueentende-se o primeiro estado depois das núpcias, quando este amor está noardor. Em que se torna este amor, no casamento mesmo, depois desta chama,isso foi descrito nos Capítulos que precedem; mas, nesta parte do T ratado, aordem deste amor foi exposta desde a primeira barreira de seu curso até esteprimeiro termo. Q ue toda ordem avança dos primeiros para os últimos, e queos últimos se tornam os primeiros da ordem que segue; assim também, quetodas as cousas de uma ordem média sejam os últimos da ordem anterior e osprimeiros da ordem posterior, e que assim os fins avançam continuamente pelascausas para os efeitos, é o que pode ser suficientemente confirmado e ilustradodiante da razão pelas coisas conhecidas e visíveis no M undo; mas como aqui setrata unicamente da ordem em que o amor avança de sua primeira entrada paraseu tremo, estas confirmações e estas ilustrações são deixadas em silêncio, esobre este ponto se diz somente que tal é a ordem deste amor desde seuprimeiro calor até sua primeira chama, tal ele é mais freqüentemente, e seencontra em sua progressão em seguida; pois nesta progressão ele se desenvolvetal como foi nele o primeiro calor; se foi casto, seu casto é corroborado nasprogressões; mas se foi incasto, seu incasto aumenta avançando até que esteamor seja privado de todo o casto em que desde o tempo dos esponsais, estavapor fora, mas não por dentro.

312 - X V I. O amor conjugal precipitado sem ordem e sem os meios da ordemqueima a medula e é consumido.

É o que alguns dizem no Céu; e pela medula entendem os interiores da mente

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e do corpo; se estes interiores são queimados, isto é, consumidos por um amorconjugal precipitado, é porque este amor começa então pela chama, que corróee corrompe estes santuários nos quais, como em seus princípios, o amorconjugal deve residir, e pelos quais deve começar; é o que acontece se o homeme a mulher precipitam sem ordem o casamento, não voltando suas vistas para oSenhor, não consultando a razão, rejeitando os esponsais, e não obedecendosenão à carne; se este amor começa pelo ardor da carne, torna-se externo e nãointerno, assim não conjugal; e pode ser chamado casca sem amêndoa ou carnal,magro e seco, porque é privado de sua essência real. Sobre este assunto, vermaiores detalhes acima, n. 305.

313 - X V II. O s estados das mentes de um e de outro, procedendo na ordemsucessiva, influem no estado do casamento; entretanto, de um modo nosespirituais, e de outro modo nos naturais.

Q ue o último estado seja tal qual é a ordem sucessiva pela qual é formado eexiste, é uma regra que deve ser reconhecida como uma verdade no mundosábio; pois assim descobrese o que é o influxo, o que ele faz; pelo influxo éentendido tudo o que precede, e compõe o seguinte, e pelos seguintes, emordem, o último; por exemplo, tudo o que precede no homem, e compõe oseguinte, e pelos seguintes, em ordem, o último; por exemplo, tudo o queprecede no homem, e compõe sua sabedoria; ou tudo o que precede nopolítico, e compõe sua prudência; ou tudo o que precede no teólogo, e compõesua erudição; semelhantemente tudo o que procede da infância, e compõe umhomem; assim também, tudo o que procede em ordem da semente e dorebento, e faz a árvore; semelhantemente tudo o que precede e procede nonoivo e na noiva, e faz seu casamento; assim é entendido o influxo. Q ue todasas cousas que precedem nas mentes formam séries, e que as séries se ligam, umaà outra, e uma após a outra, e compõem juntas o último, é o que é ainda maisdesconhecido no M undo; mas como é uma verdade no Céu, é referido aqui;pois por ela descobre-se o que o influxo faz, e o que é o último, no qual asséries acima mencionadas, sucessivamente formadas, coexistem. Por estasexplicações, pode-se ver que os estados da mente de um e de outro procedendoem ordem sucessiva influem no estado do casamento; mas os esposos depois docasamento, estão absolutamente na ignorância sobre os sucessivos que,insinuados em suas mentes (animi) pelos antecedentes, aí residem; sempreacontece entretanto, que são eles que dão a forma ao amor, conjugam econstituem o estado de suas mentes, estado segundo o qual agem um emrelação ao outro. Q ue nos Espirituais seja segundo uma outra ordem, formadoum outro estado diferente dos N aturais, é porque os Espirituais procedem emuma ordem justa e os N aturais procedem em uma ordem não justa; pois osEspirituais dirigem suas vistas para o Senhor, e o Senhor provê à ordem e adirige; enquanto que os N aturais dirigem suas vistas para si mesmos, e porconseguinte procedem em uma ordem invertida; por isso o estado do

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casamento destes está internamente cheio de cousas incastas; e quanto mais hácousas incastas, tanto mais há frieza, tanto mais há abstenções da vida íntima,pelas quais a veia é fechada e a fonte esgotada.

314 - X V III. H á uma ordem sucessiva e uma ordem simultânea, e esta vemdaquela e é segundo ela.

Isto é referido como razão confirmativa do que precede. Q ue haja um sucessivoe que haja um simultâneo, isso é sabido, mas que a ordem simultânea venha dasucessiva e seja segundo a sucessiva, ignora-se; ora, é muito difícil apresentar àpercepção como os sucessivos se introduzem nos simultâneos, e que ordem elesaí formam, porque entre os eruditos não há até ao presente idéia alguma quesirva a lançar luz sobre este ponto; e como a primeira idéia concernente a estearcano não pode ser sugerida em poucas palavras, e como apresentá-la aqui comdesenvolvimento, seria desviar as mentes de uma vista mais clara concernenteao amor conjugal, bastará para ilustrar este ponto, apresentar sobre estas duasordens, e sucessiva e a simultânea, e sobre o influxo daquela nesta, o que foirelatado abreviadamente na Doutrina da N ova Jerusalém sobre a EscrituraSanta, onde se lê o seguinte: "Existe no Céu e no M undo uma O rdem sucessivae uma O rdem simultânea; na O rdem sucessiva uma cousa segue depois daoutra, desde os supremos até aos ínfimos; mas na O rdem simultânea uma cousaestá perto da outra, desde os íntimos até aos extimos (externos). A O rdemsucessiva é como uma Coluna com degraus desde os mais altos até aos maisbaixos; mas a ordem simultânea é como uma obra coerente desde o centro até àsuperfície. A O rdem sucessiva se torna simutânea no último, desta maneira: O ssupremos da O rdem sucessiva se tornam os íntimos da O rdem simultânea, e osínfimos da O rdem sucessiva se tornam os externos da O rdem simultânea; é porcomparação, como uma coluna de degraus que, achatando-se, se torna umcorpo coerente em um plano. Assim o simultâneo é formado do sucessivo; eisto, em todas e cada uma das cousas do M undo espiritual, e também em todase em cada uma das cousas no M undo natural", ver os ns. 38 e 65, destaDoutrina, e várias outras cousas sobre este assunto na Sabedoria Angélica sobreo Divino Amor e a Divina Sabedoria, nºs 205 a 229. Dá-se o mesmo com aordem sucessiva, conduzindo ao casamento, e com a ordem simultânea nocasamento, a saber, esta vem daquela, e é segundo ela. Aquele que conhece oinfluxo da ordem sucessiva na ordem simultânea, pode compreender porque osAnjos podem ver na mão do homem todos os pensamentos e as intenções desua mente, e porque as esposas sentem as afeições de seus maridos quando asmãos dêstes estão sobre seu peito, cousa de que se faz menção algumas vezesnos M emoráveis; a razão disto, é que as M ãos são os últimos do homem, nosquais as cousas de que se tratou e concluiu em sua mente terminam, e aíconstituem o simultâneo; é por isso também que na Palavra se diz: "Isto foiescrito nas mãos".

315 - Ao que precede ajuntarei três M emoráveis.

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Primeiro M emorável: U m dia, não longe de mim, vi um M eteoro, vi umaN uvem dividida em pequenas nuvens, algumas das quais eram azúis, e outrasopacas; e eu as vi como se chocando umas contra as outras; através destasnuvens brilhantes, dispostas em estrias, raios que pareciam, ora pontudos comoespadas, ora rombudos como espadas quebradas; estas estrias ora se lançavampara a frente, ora se dobravam sobre si mesmas, absolutamente como atletas,assim estas nuvenzinhas de diversas cores pareciam combater umas contra asoutras; mas era um jogo. E como este M eteoro se apresentava não longe demim, levantei os olhos, e olhei atentamente, e vi crianças, jovens e velhosentrarem em uma casa que era construída em mármore, e cujas fundações eramde pórfiro; este fenômeno era acima desta casa; e então me dirigi a um dos queentravam, e lhe perguntei o que havia lá; e ele me respondeu : "H á umG inásio onde os jovens são iniciados em diversas cousas que concernem àsabedoria". T endo ouvido esta resposta, entrei com eles; eu estava em espírito,isto é, em um estado semelhante ao estado em que estavam os homens doM undo espiritual, que são chamados Espíritos e Anjos; e eis que nesse G inásiovi sobre a frente um púlpito; no meio bancos; sobre os lados, em torno,cadeiras; e acima da entrada, uma O rquestra; o Púlpito era para os jovens quedeviam desta vez responder sobre um Problema que ia ser proposto; os bancoseram para os auditores; as cadeiras dos lados, para os que precedentementetinham respondido com sabedoria, e a O rquestra para os Anciãos que deviamser árbitros e juízes; no meio da O rquestra havia uma T ribuna, onde estavasentado um Sábio, que chamavam o G randeM estre, que propunha osproblemas sobre os quais, do Púlpito, deviam responder os jovens; e depois quetodos se tinham reunidos, o H omem da tribuna se levantou e disse:''R espondei agora, peço-vos, sobre este Problema, e resolvei-o se puderdes: Oque é a Alma, e qual é a sua qualidade?" A esta proposição todos ficaram muitoadmirados, e houve cochichos, e alguns da Assembléia, entre os que estavamnos bancos, exclamaram: "Q uem dentre os homens, desde o século de Saturnoaté ao nosso, pode por um pensamento da razão ver e conceber o que a Alma ée, o que é mais, qual é a sua qualidade? Isto não está acima da esfera doentendimento de todos?" M as a esta exclamação, responderam da O rquestra:"Isto está, não acima do Entendimento, mas no Entendimento e diante dêle,respondei, somente''. E os jovens escolhidos naquele dia, para subir ao Púlpitoe responder sobre o Problema, se levantaram; eram cinco, que tinham sidoexaminados pelos Anciãos e achados providos de sagacidade, e estavam entãosentados sobre leitos aos lados do Púlpito, em seguida subiram ao púlpito naordem em que estavam sentados; e cada um deles, quando subia se revestia comuma túnica de seda cor de opala, sobre a qual punha uma veste de fina lãbordada de flores, e sobre a cabeça um boné em cuja copa havia uma rosáceacercada de pequenas safiras. E vi subir assim vestido o Primeiro, que disse:"Desde o dia da Criação, a ninguém foi revelado o que é a alma, nem qual é asua qualidade, isto é um arcano (que está) só nos tesouros de Deus; todavia, o

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que foi descoberto, é que a Alma reside no homem como uma R ainha, masonde está a corte desta R ainha? Eruditos deram sobre este assunto suasinspirações; alguns conjeturaram que está em um pequeno tubérculo, entre oCérebro e o Cerebelo, que se chama G lândula pineal; figuraram a sede da Almanesta glândula, pela razão de que todo homem é governado por estes doisCérebros, e é este tubérculo que os dispõe; o que dispõe à sua vontade oscérebros, dispõe, portanto, de todo o homem, também da cabeça aos pés". Eacrescentou: "Isto por conseqüência pareceu verdadeiro ou verossímil a muitosno M undo, mas foi, um século depois, rejeitado como ficção". Depois queassim falou, tirou a veste, a túnica e o boné com que se revestiu o Segundo dosjovens escolhidos, e este entrou no Púlpito; seu sentimento sobre a Alma foique "em todo o Céu e em todo o M undo se ignora o que é a Alma, e qual é asua qualidade; sabe-se que a Alma existe, e que ela está no homem; mas onde?Procura-se adivinhar; o que há de certo, é que ela está na cabeça, pois que aí oEntendimento pensa, e a V ontade tem a intenção, e sobre a frente, na face daCabeça, há os órgãos dos cinco Sentidos do homem; nada dá a vida a uns e aosoutros, senão a Alma que reside interiormente na Cabeça; mas onde tem ela asua Corte? N ão ousarei dizê-lo; entretanto tenho me inclinado ora para os quelhe assinalam a sede nos três V entrículos do Cérebro, ora para os que a colocamnos Corpos estriados; ora para os que a colocam na Substância medular de ume de outro Cérebro; ora para os que a colocam na Substância cortical; ora paraos que a colocam na Dura-M ater; pois os sufrágios resultantes de confirmaçõespara cada uma destas sedes, não têm faltado. Para os três V entrículos doCérebro, os sufrágios provinham de que estes ventrículos são os receptáculosdos espíritos animais e de todas as linfas do, Cérebro; para os Corpos estriados,os sufrágios provinham de que estes corpos fazem a M edula pela qual saem osnervos, e a M edula pela qual um e outro Cérebro se prolonga na Espinha, e deuma e de outra emanam as fibras de que todo o Corpo foi tecido; para aSubstância medular de um e outro Cérebro, os sufrágios provinham de que elaé a reunião e o conjunto de todas as fibras, que são os começos de todohomem; para a Substância cortical, os sufrágios provinham de que lá estão osfins primeiros e últimos, e por conseguinte os princípios de todas as fibras e porconseqüência dos sentidos e dos movimentos; para a Dura-M ater, os sufrágiosprovinham de que ela é o tegumento comum de um e outro Cérebro, e quedai, por uma certa continuidade, ela se estende sobre o coração e sobre asvísceras do corpo. Q uanto a mim, não me decidido mais por uma do que poroutra destas sedes; peço-vos que examineis e escolhais a que é preferível".Depois que assim falou, desceu do Púlpito, e deu a túnica, a veste e o boné aoT erceiro, que, subindo ao Púlpito se exprimiu nestes térmos: "Q ue posso eu,um rapaz, em presença de um teorema tão sublime? Apelo para os eruditos queestão sentados aqui dos lados; apelo para vós, Sábios, que estais na O rquestra; eapelo mesmo para os Anjos do Céu supremo; há alguém que, pela sua luzracional, possa formar uma idéia da Alma? Q uanto à sede da Alma no homem,

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posso, como outros, fazer conjeturas; e conjeturo que é no Coração, e porconseguinte no Sangue; e a minha conjetura é baseada sobre o fato de que ocoração por seu sangue governa o Corpo e a Cabeça; pois envia a todo o Corpouma grande artéria chamada Aorta, e a toda a Cabeça artérias chamadasCarótidas; daí ser geralmente admitido que a Alma pelo Coração sustenta,nutre, vivifica pelo sangue todo o íntimo orgânico do Corpo e da Cabeça; emapoio a esta asserção acrescentaí que na Escritura Santa se diz muitas vezes daAlma e do Corpo, por exemplo, que é preciso amar a Deus de toda a Alma e detodo Coração; e que Deus criou no homem uma Alma nova e um coraçãonovo, (Deut. V I, 5; X , 12; X I, 13; X XV I, 16; Jeremias X XXII, 41; M ateusXXII, 37; M arcos X II, 30; Lucas X , 27) e algures; e se diz abertamente que oSangue é a Alma da carne, (Levítico X V II, 11, 14)". Alguns depois de teremouvido estas citações, elevaram a voz, dizendo: "Bem! Bem!" Eram ossacerdotes. Em seguida o Q uarto, tendo tomado as vestimentas deste, e tendoentrado no Púlpito, disse: "T ambém suspeito que não haja pessoa alguma deum gênio tão sutil e tão penetrante, que possa descobrir o que é a Alma, e qualé a sua qualidade; por isso penso que para aquele que o quer perscrutar, asutileza de nada vale; mas entretanto desde minha infância permaneci na fé daopinião em que estavam os Antigos, de que a Alma do homem está em todas eem cada uma das partes do homem, e assim tanto na Cabeça e em cada uma desuas partes, como no Corpo e em cada uma de suas partes, e que é umainvenção frívola da parte dos M odernos assinalar à Alma uma sede em algumlugar e não por toda parte; além disso, a Alma é uma substância espiritual a quese aplica não a extensão, nem o lugar, mas a habitação e a impleção (*); emesmo quem é que não compreende a vida, quando se menciona a Alma? Avida não está no todo e em cada parte?" Este sentimento foi aprovado por umgrande número no Auditório. Depois deste se levantou o Q uinto, e decoradocom as mesmas insígnias pronunciou do Púlpito estas palavras: "N ão medetenho em dizer onde está a Alma, se está em alguma parte ou se está de todolado no todo; mas pelo que encontro em mim descobrirei um sentimento sobreesta proposição: O que é a Alma, e qual é a sua qualidade? Q uando alguémpensa na Alma, não pensa senão como alguma coisa de puro, que pode serassemelhado ao éter, ou ao ar ou ao vento, na qual há o vital segundo aracionalidade que o homem possui a mais do que as bestas; fundei esta opiniãosobre o que se diz do homem, quando expira, que ele entrega o sopro ou queentrega a Alma ou o espírito; daí também crer-se que a Alma que vive depoisda morte é um tal sopro em que há uma vida cogitativa que se chama Alma;que outra cousa pode ser a Alma? M as como ouvi dizer da O rquestra que oproblema concernente à Alma, o que ela é, e qual é a sua qualidade, não estáacima do entendimento, mas que está no entendimento e diante dele, peço-vose suplico-vos que desvendem este eterno Arcano". E os Antigos na O rquestradirigiram os olhares para o G rande M estre que tinha proposto este problema, eque compreendeu por seus sinais que desejavam que ele descesse e instruísse a

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Assembléia; e imediatamente ele desceu da T ribuna, atravessou o Auditório esubiu ao Púlpito; e lá, estendendo a mão, disse: "Escutai, peço-vos; quem nãocrê que a Alma é a íntima e sutilíssima Essência do homem? M as uma Essênciasem Forma, que mais é senão um ser de razão? A Alma é portanto uma Forma;mas que forma? É o que vou dizer. É a forma de todas as cousas que pertencemao amor e de todas as que pertencem à sabedoria; todas as que pertencem aoamor são chamadas afeições, e todas as que pertencem à sabedoria sãochamadas percepções; as percepções provêm das afeições e assim fazem com elasuma forma na qual cousas inúmeras estão em uma tal ordem, uma tal série, euma tal coerência, que podem ser chamadas um; e podem ser chamadas um,porque para que assim sejam, nada pode ser tirado, e nada pode seracrescentado; o que é a Alma humana, senão uma tal forma? T odas as cousasque pertencem ao Amor e todas as que pertencem à Sabedoria não são osessenciais desta forma? E estes essenciais no homem estão na Alma, e pela Almana cabeça e no corpo; vás sois chamados Espíritos e Anjos, e crêstes no M undoque os Espíritos e os Anjos eram como ventos ou éteres, e assim mentes(mentes e animi), e agora vêdes claramente que sois verdadeiramente,realmente, e na realidade homens, que no M undo vivestes e pensastes em umcorpo material, e que soube que não era o Corpo material que vive e pensa,mas que é uma Substância espiritual nesse corpo, e chamou Alma estaSubstância de que não conhecíeis a forma, e entretanto vós a tendes visto agorae a vêdes; todos vós sois Almas, sobre cuja imortalidade ouvistes, pensastes,dissestes e escrevestes tantas coisas; e como sois formas do amor e da sabedoriaprocedente de Deus, não podeis morrer durante a eternidade; a Alma éportanto a forma humana da qual nada se pode tirar, e à qual nada pode seracrescentado, e ela é a forma íntima' de todas as formas do corpo inteiro; ecomo as formas que estão por fora recebem da forma íntima a essência e aforma, é por isso que vós, assim como apareceis diante de vós mesmos e diantede nós, vós sois Almas; em uma palavra, a Alma é o homem mesmo, por que éo homem íntimo; é por isso que a sua forma é plenamente e perfeitamente aforma humana; entretanto ela não é a vida, mas é o mais próximo receptáculoda vida procedente de Deus, e assim o habitáculo de Deus". Esta explicação foiaplaudida pela maioria; mas alguns diziam: "N ós examinaremos". Eu então fuipara a minha casa; e eis sobre este G inásio, em lugar do primeiro M eteoro,apareceu uma N uvem branca sem estrias ou sem raios combatendo entre si;esta N uvem, atravessando o teto entrou e iluminou as paredes; e soube que elesviam Escrituras, e entre outras também esta: l'Jehovah Deus soprou nas narinasdo homem uma Alma de V ida, e foi feito H omem e Alma vivente", (G ênesis11, 7).

(*) Impleção é um neologismo que significa o enchimento ou acomplementação. (N ota do T radutor.)

316 - Segundo M emorável. U m dia em que eu passeava gozando de um

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repouso da mente (animus) e de uma doce paz da mente (mens), vi de longeum Bosque no meio do qual havia um Pórtico que conduzia a um pequenoPalácio; e vi virgens e mancebos, maridos e esposas que entravam;aproximei-me também em espírito, e perguntei a uma espécie de guardião quepermanecia na entrada, se também me era permitido entrar. Ele me encarou; eeu lhe disse: "Por que me olhas?" Ele respondeu: "Eu te olho para ver se oprazer da paz, que está em tua face, tira alguma cousa do prazer do amorconjugal; depois deste Pórtico há um pequeno Jardim, e no meio dêle umaCasa, onde estão dois novos Esposos, que os seus amigos dos dois sexos vêmvisitar hoje, para lhes apresentar felicitações; os que eu deixo entrar, não osconheço, mas me foi dito que eu os conheceria por suas faces, e que, se vissenelas o prazer do Amor conjugal, eu os admitiria, e não os outros". T odos osAnjos podem, pelas faces, ver os prazeres do coração dos outros; e o prazerdeste amor, que ele viu em minha face, era que eu meditava sobre o Amorconjugal; esta meditação brilhava em meus olhos, e em conseqüência entrounos íntimos de minha face; por isso ele me disse que me era permitido entrar.O Pórtico pelo qual entrei era composto de árvores frutíferas ligadasmútuamente entre si pelos galhos que formavam de cada lado uma espaldeiracontínua; pelo Pórtico entrei no pequeno Jardim, cujos arbustos e floresespalhavam um aroma agradável; os arbustos e as flores eram aos pares; soubeque tais jardins aparecem em volta das casas onde há e onde houve núpcias, eque por isso são chamados Jardins nupciais. Em seguida entrei na casa, onde vios dois esposos que estavam de mãos dadas e que conversavam sobre o Amorverdadeiramente conjugal; e então por suas faces me foi dado ver a imagem doamor conjugal, e por sua conversa o vital desse amor. Depois que eu, comvárias outras pessoas, lhes apresentei meus votos e minhas felicitações, saí paraos Jardins nupciais, e vi à direita uma Companhia de mancebos, para a qualacorriam todos os que saíam da casa; se todos para aí acorriam, era por estarazão, que lá se conversava sobre o Amor conjugal, e uma tal conversa atrai asmentes (animi) de todos por uma certa força oculta. O uvi então o Sábio quefalava sobre este ponto, e o que ouvi era em suma o seguinte: Q ue a DivinaProvidência do Senhor é muito singular e em conseqüência muito universal arespeito dos casamentos e nos casamentos nos Céus, porque todas as felicidadesdo Céu decorrem dos prazeres do amor conjugal, como as águas docesdecorrem do veio doce de uma fonte; que em conseqüência é provido peloSenhor a que nasçam Pares Conjugais, e que eles sejam continuamenteeducados ara o casamento sem que a menina e o menino nada saibam; quedepois de um certo tempo, ela se tendo tornado virgem núbil, e ele tendo setornado apto para o casamento, eles se encontram em alguma parte como poracaso, e se vêem mútuamente; que então imediatamente, como por umaespécie de instinto, conhecem que foram feitos um para o outro, e por umasorte de ditame interior pensam em si mesmos, o mancebo "esta é minha" e amoça "este é meu"; que depois que este pensamento residiu durante algum

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tempo nas mentes de um e de outro, eles se dirigem a palavra de propósitodeliberado e se prometem um ao outro. Foi dito como por acaso, e como porinstinto, e é entendido pela Divina Providência, porque a Divina Providênciaaparece assim quando não é conhecida. Q ue nascem Pares conjugais, e que elessejam criados para o casamento, sem que um e outro o saiba, este Sábio oconfirmou pela semelhança conjugal visível nas faces de um e de outro; alémdisso também pela união intima e eterna das mentes (animi) e dos mentais(mentes), que não podem existir como acontece no Céu, sem que o Senhor otenha previsto e provido. Depois que o Sábio disse estas cousas, e que aCompanhia o aplaudiu, ele acrescentou, que nos muitosingulares no homem,tanto macho como fêmea, há o Conjugal, mas que entretanto um é o Conjugalno macho, e outro na fêmea; além disso, no Conjugal masculino há oconjuntivo com o Conjugal feminino, e vice-versa, mesmo nosmuito-singulares; confirmou isso pelo casamento da vontade e doentendimento em cada um, estas duas faculdades agindo juntas nos muitosingulares da mente e nos muito singulares do corpo, por onde se pode ver queem cada substância, mesmo na menor, há o Conjugal; e isso se manifesta pelassubstâncias compostas que foram formadas de substâncias simples; porexemplo, há dois olhos, duas orelhas, duas narinas, duas bochechas, dois lábios,dois braços e duas mãos, dois lombos, dois pés, e no interior do homem doishemisférios do cérebro, dois ventrículos do coração, dois lóbulos do pulmão,dois rins, dois testículos, e por toda parte onde não há dois, sempre há umadivisão em dois; se são dois é porque um pertence à vontade e o outro aoentendimento, que agem admiràvelmente neles para não apresentar senão umsó; por isso os dois olhos fazem uma única vista, as duas orelhas um só ouvido,as duas narinas um só olfato, os dois lábios uma só linguagem, as duas mãosum só trabalho, os dois pés uma só marcha, os dois hemisférios do cérebro umasó habitação da mente, as duas câmaras do coração uma única vida do corpopor meio do sangue, os dois lóbulos do pulmão uma só respiração, e assim pordiante; mas o masculino e o feminino, unidos por um amor verdadeiramenteconjugal, fazem uma só vida plenamente humana. Enquanto ele dizia essascousas, apareceu à direita um relâmpago que era vermelho, e à esquerda umrelâmpago que era de um branco brilhante; um e outro eram doces, e entravampelos olhos nas mentes, e as iluminavam também; e depois destes relâmpagoshouve também trovão, era um leve murmúrio que decorria do Céu angélico eia aumentando. Depois de ter visto e ouvido estes relâmpagos e este trovão, oSábio disse: "Isso é para mim um sinal e uma advertência para acrescentar aoque acabo de dizer, estas explicações: A direita destes pares significa seu bem, ea esquerda significa seu vero; isto vem do casamento do bem e do vero, que foiinscrito no homem em seu comum e em cada um de seus singulares, e o bem serefere à vontade e o vero ao entendimento, e os dois juntos a um; daí vem queno Céu o olho direito é o bem da vista e o olho esquerdo é o seu vero; que aorelha direita é o bem do ouvido, e a esquerda é o seu vero, que a mão direita é

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o bem da força do homem, e a mão esquerda é o seu vero; e semelhantementepara os outros pares; e como a Direita e a Esquerda têm estas significações, oSenhor disse: "Se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o"; e "se a tua mãodireita de escandalizar, corta-a", (M at. V , 29-30); por isto Ele entendia que se obem se torna mal, deve ser rejeitado; Ele disse também aos Discípulos paralançar a rede do lado direito do barco, e quando a lançaram apanharam umagrande quantidade de peixes, (João X XI, 6, 7); por isto Ele entendia que elesdeviam ensinar o bem da caridade, e que assim colheriam os homens". Q uandoele disse estas cousas, os dois relâmpagos apareceram de novo, mas mais suavesque a primeira vez, e parecia então que o relâmpago da esquerda tirava seubranco brilhante do fogo rutilante do relâmpago da direita; vendo isto ele disse:"Isto é um sinal do Céu para canfirmar meu discurso, pois o ígneo no Céu é obem, e o branco brilhante é o vero; e como paxeceu que o relâmpago daesquerda tirava seu branco brilhante do fogo rutilante do relâmpago da direita,é um sinal demonstrativo de que o branco brilhante da luz, ou a luz, não éoutra cousa senão o esplendor do fogo". Depois de ter ouvido estas palavras,todos voltaram para suas, casas, abrazados pelo bem e o vero de uma alegriaproduzida por estes relâmpagos e pela explicação que lhes tinha sido dada.

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Dos casamentos reiterados

317 - É possível que se pergunte, se o amor conjugal, que é o de um únicomarido com uma única esposa, pode, depois da morte de um dos esposos, serseparado, ou transferido,. ou revestido; mais ainda, se os casamentos reiteradostêm alguma cousa de comum com a Poligamia, e por conseqüência se podemser chamados de sucessivas poligamias, sem falar de várias outras cousas quecostumam ajuntar escrúpulos sobre escrúpulos nos homens de um espíritoraciocinador; portanto a fim de que, os mestres em pesquisas curiosas, queraciocinam na sombra sobre estes casamentos, vejam alguma luz, pensei queseria apropriado apresentar sobre este assunto, a seu julgamento, os Artigos queseguem: I. Depois da morte de um dos esposos, contrair um novo casamentodepende do precedente amor conjugal. II. Isso depende também do estado docasamento em que os esposos viveram. III. Para aqueles em que não houveramor verdadeiramente conjugal, não há nem obstáculo nem prejuízo emcontrair casamento de novo. IV . O s que viveram entre si no amorverdadeiramente conjugal não querem casamento reiterado, a não ser pormotivos separados do amor conjugal. V . U m é o estado do casamento de ummancebo com uma virgem, e outro o do casamento de um mancebo com umaviúva. V I. U m também é o estado do casamento de um viúvo com umavirgem, e outro o do casamento de um viúvo com uma viúva. V II. Asvariedades e as diversidades destes casamentos, quanto ao amor e a seusatributos, são inumeráveis. V III. O estado de viúva é mais lastimável que o deviúvo. Seguem agora as explicações dos Artigos.

318 - I. Depois da morte de um dos esposos, contrair novo casamento,depende do precedente amor conjugal.

O amor verdadeiramente conjugal é como uma balança na qual são pesadas asinclinações a casamentos reiterados; quanto mais o amor conjugal precedente seaproxima do amor verdadeiramente conjugal, tanto mais se afasta a inclinação acasamentos reiterados; mas quanto mais o amor precedente se afasta desteamor, tanto mais a inclinação a um outro casamento costuma aproximar-se; arazão é evidente, é que o amor conjugal está em semelhante grau à conjunçãodas mentes, a qual permanece na vida do corpo de um após o falecimento dooutro, e esta conjunção mantém a inclinação como uma balança em equilíbrio,e faz um contrapêso, conforme a apropriação do verdadeiro amor; mas comohoje raramente se aproximam deste amor, senão alguns passos, por isso a escalado contrapêso de inclinação se eleva ordinariamente ao estado de equilíbrio, eaí vacila e tende para o outro lado, isto é, para o casamento. O contrárioacontece naqueles cujo amor precedente no primeiro casamento afastou-se do

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amor verdadeiramente conjugal; e isto, porque o afastamento deste amor é emgrau semelhante à disjunção das mentes, a qual também permanece na vida docorpo de um após o falecimento do outro, e esta entra na vontade disjunta dado outro, e forma a inclinação para uma nova conjunção, para a qual opensamento impulsionado pela inclinação da vontade traz a esperança de umacoabitação mais unida, e por conseguinte mais agradável. Q ue as inclinaçõespara casamentos reiterados tiram sua origem do estado do amor precedente,isso é conhecido, e a razão também o vê; com efeito, no amor verdadeiramenteconjugal, há o medo de sua perda, e depois da perda há uma dor, e esta dor eeste medo estão nos íntimos mesmos da mente; daí vem que, quanto mais háeste amor, tanto mais a alma se inclina pela vontade e o pensamento, isto é,com a intenção de ficar no objeto com o qual e no qual tem estado; segue-sedaí que a mente é mantida em equilíbrio para um segundo casamentoconforme o grau de amor em que esteve no primeiro; vem daí que depois damorte os mesmos se reúnem, e se amam mútuamente da mesma maneira queno M undo; mas, como foi dito acima, este amor é raro hoje, e há poucos que oalcançam com o dedo; e os que não o alcançam, e mais ainda os que se afastammuito dele, esses, do mesmo modo que desejaram ardentemente a separação navida precedentemente passada juntos, vida que foi fria, desse mesmo mododepois da morte desejam ardentemente uma conjunção, o homem com outramulher, e a mulher, com um outro homem; mas no que segue se dirá maissobre estes diversos casamentos.

319 - II. Depois da morte de um dos esposos, contrair de novo casamentodepende também do estado do casamento em que os esposos tinham vivido.

Pelo estado do casamento não é entendido aqui o estado do amor, de que sefalou no Artigo precedente, porque este estado de amor faz a inclinação internapara o casamento ou pelo casamento, mas é entendido o estado do casamentoque faz a inclinação externa para ou pelo casamento, e este estado com estasinclinações é múltiplo; por exemplo: 1. Se há filhos na casa, e é precisoprovê-los de uma nova mãe. 2. Se se deseja ainda muitos filhos. 3. Se a casa éconsiderável, e há criados de um e outro sexo. 4. Se os negócios externosafastam a mente do cuidado dos afazeres domésticos, e por isso há o temor dedesgraça e de ruína sem uma nova dona de casa. 5. Se o auxílio mútuo e odever o exigem; por exemplo, nos diversos negócios e trabalhos. 6. Além disso,é o caráter do esposo, viúvo ou viúva, que decide se, depois do primeirocasamento, pode ou não pode viver só ou sem uma nova companhia. 7. Ocasamento precedente também, ou dá o mêdo pela vida conjugal, ou lhe éfavorável. 8. Fui informado de que o amor poligâmico, e o amor do sexo, alémdisso o desejo libidinoso da defloração, e o desejo libidinoso da variedade,induzem as mentes (animi) de alguns a desejar com ardor novos casamentos;como também as mentes (animi) de alguns outros eram induzidas pelo temorda lei e da perda da reputação se se entregassem à fornicação; além de vários

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outros motivos, que empurram as inclinações externas para o casamento.

320 - III. Para aquele em quem não houve amor verdadeiramente conjugal,não há nem obstáculo nem prejuízo em contrair de novo um casamento.

Para aquele em quem não houve amor conjugal não há laço algum espiritual ouinterno, mas há unicamente um laço natural ou externo; e se um laço internonão contém o laço externo em sua ordem e em seu conteúdo, este não persistesenão como faixa (echarpe) que, não sendo mantida por um nó, cai por terraconforme o arremeço ou o vento; isto provém de que o natural tem sua origemno espiritual, e de que em sua existência não é outra cousa senão uma reuniãomaciça de espirituais; se portanto o natural é separado de seu espiritual que oproduz e por assim dizer o engendra, ele não é mais contido interiormente, massó o é exteriormente pelo espiritual que o cerca e o liga no comum, sem uni-loou conservá-lo unido no singular; daí vem que o natural separado do espiritualem dois esposos não faz conjunção alguma das mentes, nem por conseqüênciadas vontades, mas faz unicamente uma conjunção de algumas afeições externas,que são coerentes com os sentidos do corpo. Se para os que são tais não há nemobstáculo nem prejuízo em contrair de novo um casamento, é porque osessenciais do casamento não estiveram neles, e por conseguinte não há (dessesessenciais) neles nenhum depois da separação pela morte; é por isso que eles,estão então em plena liberdade de ligar suas afeições sensuais, o viúvo com umamulher qualquer, e a viúva com quem quer que lhe agrade, desde que não hajaimpedimento; eles mesmos não pensam a respeito dos casamentos senão deuma maneira natural, e segundo as vantagens concernentes a diversasnecessidades e utilidades externas, que depois da morte de um deles podem serde novo restabelecidos por uma outra pessoa em lugar da precedente; e talvezmesmo, se seus pensamentos interiores fossem claramente vistos, como o são noM undo espiritual, não se encontraria neles distinção alguma entre asconjunções conjugais e as copulações extraconjugais. Se lhes é permitidocontrair casamento de novo e de novo, é, como foi dito acima, porque asconjunçoes unicamente naturais são dissolvidas por si mesmas e destruídasdepois da morte; pois pela morte as afeições externas seguem o corpo e sãosepultadas com ele, não permanecem senão as que são coerentes com asinternas. M as é preciso que se saiba que os casamentos interiormenteconjuntivos dificilmente podem ser introduzidos nas terras, porque o Senhornão pode prover aí, como nos Céus, à escolha de semelhanças internas, poiselas foram limitadas de muitas maneiras; por exemplo, pela igualdade de estadoe de condição, dentro do país, da cidade, e do burgo onde se mora, e aíordinariamente são os externos que ligam os futuros esposos, e não, porconseguinte os internos, os quais não se mostram senão depois de algum tempode casamento, e não são conhecidos senão quando se misturam com osexternos.

321 - IV . O s que viveram entre si no amor verdadeiramente conjugal, não

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querem casamentos reiterados, a não, ser por motivos separados do amorconjugal.

Se os que viveram no amor verdadeiramente conjugal não querem, depois damorte de seu cônjuge, contrair de novo casamento, eis as razões disso: 1. É queestiveram unidos quanto às almas, e por conseguinte quanto às mentes, e estaunião, sendo espiritual, é uma adjunção atual da alma e da mente de um à almae à mente do outro, adjunção que não pode de modo algum ser dissolvida; quetal seja a conjunção espiritual, isso já foi mostrado várias vezes. 2. É queestiveram unidos quanto ao corpo pela recepção das propagações da alma domarido por parte da esposa, e assim pela inserção de sua vida na dela, o que fazcom que a moça se torne esposa; e reciprocamente pela recepção do amorconjugal da esposa por parte do marido, recepção que dispõe os interiores desua mente, e ao mesmo tempo os interiores e os exteriores de seu corpo, noestado receptivo do amor e perceptivo da sabedoria, o que faz com que omancebo se torne marido, ver acima nº198. 3. É que a esfera do amorprocedente da esposa, e a esfera do entendimento procedente do marido,efluem sem cessar, e aperfeiçoam as conjunções, e que essas esferas com suasdoces exalações estão em torno deles e os unem, ver também acima nº. 223. 4.É que os esposos assim unidos no casamento pensam e aspiram a eternidade, eque sobre esta idéia é fundada a sua felicidade eterna, ver nº. 216. 5. R esultadestas diversas considerações que eles não são dois, mas são um só homem, istoé, uma só carne. 6. U m tal um não pode ser dividido pela morte de um deles;isto é bem manifesto diante da vista ocular do espírito. 7. A estas razões seráacrescentada esta nova informação; é que estes dois, depois da morte de um,não podem entretanto ser separados, pois que o espírito do defunto ou dadefunta coabita sem cessar com o espírito daquele que sobreviveu, e isso até àmorte do sobrevivente, quando de novo se juntam e se reúnem, e se amammais ternamente do que antes, porque estão no M undo espiritual. Daí decorreesta conseqüência irrefragável, que os que viveram no amor verdadeiramenteconjugal não querem casamento reiterado. O ra, se mais tarde contraem algumacousa de semelhante ao casamento, é por motivos separados do amor conjugal,e estas razões são todas externas; por exemplo, se há filhos na casa e é precisoprover a seu cuidado; se a casa é considerável, e há criados dos dois sexos; se asocupações do exterior afastam a mente das ocupações domésticas; se auxílios edeveres mútuos são necessários e outras coisas semelhantes.

322 - V . U m é o estado do casamento de um mancebo com uma virgem, eoutro o do casamento de um mancebo com uma viúva.

Pelos estados do casamento entende-se os estados da vida de um e de outro, domarido e da esposa, depois das núpcias, assim no casamento, tal qual é então acoabitação, quer haja coabitação interna das almas e das mentes, o que na idéiaprincipal é a coabitação, quer não haja senão a coabitação externa das mentes(animi), dos sentidos e dos corpos. O estado do casamento de um mancebo

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com uma virgem é o estado inicial mesmo para o casamento real, pois entre eleso amor conjugal pode proceder em sua ordem justa, desde o primeiro calor atéà primeira chama, e em seguida desde a primeira semente no mancebomarido,e à primeira flor na virgem-esposa, e assim germinar, crescer e frutificar e seintroduzir mútuamente neles; se fosse de outro modo, o mancebo não seriamancebo, e a virgem não seria virgem, senão na forma externa. M as entre ummancebo e uma viúva, não há uma semelhante iniciação no casamento a partirdas primícias, nem uma semelhante progressão no casamento, pois que a viúvadispõe mais de sua liberdade e de seu direito do que a virgem; é por isso que omancebo dirige suas carícias à esposa-viúva de um outro modo que àesposa-virgem. M as nisto há muita variedade e diversidade, por isso não éreferido senão, este ponto comum.

323 - V I. U m também é o estado do casamento de um viúvo com uma virgem,e outro o do casamento de um viúvo com uma viúva.

Com efeito, o viúvo já foi iniciado na vida conjugal, e a virgem deve seriniciada nela e entretanto o amor conjugal percebe e sente seu encanto e seuprazer em uma mútua iniciação; em tudo que sobrevém o mancebo-marido e avirgem-esposa percebem e sentem cousas sempre novas, pelas quais estão emuma espécie de iniciação contínua, e por conseguinte em uma agradávelprogressão; acontece diferentemente no estado do casamento de um viúvo comuma virgem; há na virgem-esposa uma inclinação interna, mas no marido elapassou; todavia há nisto muita variedade e diversidade; semelhantemente nocasamento entre um viúvo e uma viúva; é por isso que, além desta noçãocomum nada mais será acrescentado em particular.

324 - V II. As variedades e as diversidades destes casamentos, quanto ao amor ea seus atributos, são inumeráveis.

H á de todas as cousas uma variedade infinita, e há também uma diversidadeinfinita; por V ariedades, aqui, entende-se as variedades entre as coisas que sãode um mesmo gênero ou de uma mesma espécie; além disso também entre osgêneros, e entre as espécies; e por Diversidades, aqui, entende-se as diversidadesentre as coisas que estão no oposto; a nossa idéia sobre a distinção dasvariedades e das diversidades pode ser ilustrada por isto: O Céu angélico, que écoerente como um, está em uma variedade infinita, não há um só Anjoabsolutamente semelhante a um outro, nem quanto às almas e às mentes, nemquanto às afeições, às percepções e por conseguinte aos pensamentos, nemquanto às inclinações e por conseguinte às intenções, nem quanto ao som davoz, à face, ao corpo, aos gestos, ao andar e a várias outras cousas; e entretanto,ainda que haja miríades de miríades de Anjos, eles foram e são postos emordem pelo Senhor em uma única forma, em que há plenamente unanimidadee concórdia, o que não seria possível se todos estes Anjos tão diferentes,universal e singularmente, não fossem conduzidos por um Só. São estas ascousas que entendemos aqui por V ariedades. M as por diversidades entendemos

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os opostos destas variedades, os quais estão no inferno; pois lá todos e cada um,são diametralmente opostos aos que estão no Céu; e o Inferno, que deles secompõe, é contido como um pelas variedades entre eles absolutamentecontrárias às variedades do Céu, assim por diversidades perpétuas. Por estasexplicações, vê-se o que é percebido por variedade infinita, e o que é percebidopor diversidade infinita. Dá-se o mesmo com os Casamentos, a saber, que hávariedades infinitas naqueles que estão no Amor conjugal e variedades infinitasentre os que estão no Amor escortatório; e assim há variedades infinitasnaqueles que estão no Amor conjugal e variedades infinitas entre os que estãono Amor escortatório; e assim há diversidades infinitas entre estes e aqueles.Destas primícias decorre esta conclusão, que as variedades e as diversidades noscasamentos de todo gênero e de toda espécie quer de um mancebo e de umavirgem, quer de um mancebo com uma viúva, quer de um viúvo com umavirgem, quer de um viúvo com uma viúva, são inumeráveis; quem é que podedividir o infinito em números?

325 - V III. O estado de viúva é mais lastimável do que o de viúvo.

H á disso causas externas, e há causas internas; as causas externas estão à vista decada um, por exemplo: 1. A V iúva não pode prover para si e para sua casa àsnecessidades da vida, nem dispor das cousas adquiridas como o pode o marido,e como o podia ela antes pelo marido, e com o marido. 2. Ela não podetambém defender nem a si mesma nem à casa como é preciso; pois o marido,quando ela era esposa, era seu sustentáculo e como que seu braço; e quando elamesma era seu próprio sustentáculo, contava contudo com seu marido. 3. Porsi mesma ela é irresoluta nas cousas que pertencem à sabedoria interior, e porconseguinte à prudência. 4. A V iúva está sem recepção do amor em que estácomo mulher, assim está em um estado estranho ao estado inato e introduzidonela pelo casamento. Estas causas externas, que são naturais, também tiram suaorigem das causas internas que são espirituais, como todas as outras cousas domundo e do corpo, assim como foi mostrado acima, nº. 220; estas causasexternas naturais são percebidas pelas causas internas espirituais que procedemdo casamento do bem e do vero, e principalmente por estas: Q ue o bem nãopode prover a cousa alguma, nem dispor de cousa alguma, senão pelo vero; queo bem não pode também se defender senão pelo vero, que por conseqüência overo é o sustentáculo e como que o braço do bem; que o bem sem o vero éirresoluto, porque não tem a resolução, a sabedoria e a prudência senão pelovero. O ra, como o M arido por criação é o vero, e a Esposa por criação é o bemdesse vero, ou, o que é a mesma cousa, como o M arido por criação é oentendimento, e a Esposa por criação é o amor desse entendimento, é evidenteque as causas externas ou naturais, que tornam mais lastimável a viuvez damulher, tem sua origem nas causas internas ou espirituais. Estas causasespirituais são as que, juntas às causas naturais, são entendida na Palavra peloque é dito das viúvas em muitos lugares; ver o Apocalipse R evelado nº 764.

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326 - Ao que precede ajuntarei dois M emoráveis.

Primeiro M emorável: Depois que o Problema sobre a Alma foi discutido eresolvido no G inásio, vi sair em ordem os membros da Assembléia, e na frentedeles o G rão-M estre, depois dêle os Anciãos, no meio dos quais estavam oscinco jovens que tinham respondido, e depois deles os outros; e depois quesaíram, retiraram-se para os lados em torno da casa, onde havia passeioscercados de arbustos, e, tendo se reunido aí, se dividiram em pequenos grupos,formando outras tantas companhias de jovens que discorriam juntos sobreassuntos de sabedoria; em cada grupo havia um dos Sábios da O rquestra.T endo-os visto do meu alojamento, torneí-me em espírito, e saí em espírito emdireção a eles, e me aproximei do G rão-M estre que tinha proposto o problemasobre a Alma. Q uando este me viu, disse-me: "Estou muito admirado; desdeque te vi no caminho, te aproximando, ora caías sob a minha vista, e ora meescapavas, ou ora eu te via, e de repente não te via mais; certamente não estásno estado de vida dos nossos! A isto respondi sorrindo: "N ão sou nem umbufão, nem um vertunno, mas estou alternadamente, ora na vossa luz e ora navossa sombra, por conseguinte estranho aqui e também indígena". A estaresposta o G rão-M estre me encarou e me disse: "As tuas palavras são estranhase surpreendentes; diz o que és"; e eu disse: "Estou no M undo onde estivestes, ede onde saistes, que é o M undo N atural, e estou também no M undo para ondeviestes e onde estais, que é chamado M undo Espiritual; daí vem que estou noestado natural, e ao mesmo tempo no estado espiritual; no estado N atural comos homens da terra, e no estado espiritual convosco, e quando estou no estadonatural, não sou visível por vós; mas quando estou no estado espiritual, metorno visível; se sou assim, isso me foi dado pelo Senhor; quanto a ti, H omemilustrado, tu sabes que o homem do M undo natural não é o homem do M undoespiritual, e vice-versa; por isso quando eu mergulhava meu espírito no corpo,eu não era visível para ti, mas quando eu o retirava do corpo, me tornavavisível; tu ensinaste também no G inásio, que vós sois alma, e que as almasvêem as almas, porque são formas humanas; sabes que vós não vos vistes, ounão vistes as vossas almas em vossos corpos, quando estáveis no M undo natural;e isso existe por causa da diferença que há entre o Espiritual e o N atural". Logoque ouviu falar da diferença entre o Espiritual e o N atural, ele disse: "N ão écomo o que é mais puro e o que é menos puro? assim, o que é o Espiritualsenão um N atural mais puro?" E respondi: "T al não é a diferença; mas é comoa diferença entre o anterior e o posterior, entre os quais não há razão finita,pois o anterior está no posterior como a causa no efeito, e o posterior vem doanterior como o efeito vem da causa; é por isso que um não aparece ao outro".Então o G rão-M estre disse: "M editei e refleti sobre esta diferença, mas em vãoaté ao presente; oh! Como desejaria percebê-la!" Eu disse: "N ão somenteperceberás a diferença entre o Espiritual e o N atural, mas a verás mesmo". Eentão lhe falei assim: "T u estás no estado espiritual quando estás entre os teus,mas no estado natural quando estás comigo, pois com os teus falas a Língua

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espiritual que é comum a todo espírito e a todo Anjo, mas comigo falas aminha própria língua; pois todo Espírito e todo Anjo que fala com um homemfala a língua própria desse homem, assim a língua francesa com um Francês, e ainglêsa com um Inglês, a grega com um G rego, o árabe com um Arabe, e assimpor diante. Afim, portanto, de que conheças a diferença entre o Espiritual e oN atural quanto às Línguas, faz assim: V olta para os teus, e lá pronuncia algumacousa, e retém as suas palavras e volta com essas palavras na memória, epronuncia-as diante de mim", e ele assim fez, e voltou para mim com essaspalavras na boca, e as pronunciou, e não compreendeu nenhuma delas; erampalavras inteiramente estranhas desconhecidas, que não existem em Línguaalguma no M undo natural; por esta experiência várias vezes repetida, tornou-seevidente para ele que todos no M undo Espiritual têm uma língua espiritual,que nada tem de comum com Língua alguma do M undo natural, e que todohomem depois da morte entra por si mesmo nesta Língua espiritual; ele feztambém ao mesmo tempo a experiência de que o som mesmo da Línguaespiritual difere de tal modo do som da Língua natural, que um som espiritualmesmo elevado, não era de modo algum ouvido pelo homem natural, nem umsom natural pelo homem espiritual. Em seguida pedi ao G rão-M estre e aos queo cercavam, que fossem para o meio dos seus, e escrevessem alguma sentençasobre um papel e a lêssem; eles assim o fizeram, e voltaram com o Papel namão, mas quando quiseram lê-lo, não puderam compreender cousa alguma,porque a Escritura não se compunha senão de algumas letras alfabéticas comacentos em cima, das quais cada uma significava algum sentido da cousa; poisque cada letra do alfabeto significa lá algum sentido, vê-se claramente por que oSenhor é chamado o Alfa e o Ô mega; como estes repetidamente entravam,escreviam e voltavam, descobriram que esta Escritura envolvia e continha coisasinúmeras, que nenhuma Escritura natural jamais poderia exprimir; mas lhes foidito que isto é assim, porque o homem espiritual pensa coisas incompreensíveise inefáveis para o homem natural, e estas cousas não podem influir nem serpostas em uma outra Escritura, nem em uma outra Língua. Então como osassistentes não queriam compreender que o pensamento espiritual ultrapassa opensamento natural, a ponto de ser relativamente inefável, eu lhes disse: "Fazeiuma experiência; entra! em vossa Sociedade espiritual, e pensai uma coisaqualquer, e retendê-la, e voltai e a exprimi diante de mim", e eles entraram,pensaram, a retiveram, voltaram, mas quando quiseram exprimir a cousapensada, não puderam; com efeito, não encontraram idéia alguma dopensamento natural adequada a uma única idéia do pensamento puramenteespiritual, assim palavra alguma para exprimi-la, pois as idéias do pensamentotornamse as palavras da linguagem; e então reentravam e voltavam e seconfirmavam que as idéias espirituais eram absolutamente sobrenaturais,inexprimíveis, inefáveis e incompreensíveis para o homem natural; e por quesão tão sobreeminentes, diziam que as idéias ou os pensamentos espirituais,relativamente aos naturais, eram as idéias das idéias, e os pensamentos dos

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pensamentos, que por isso mesmo, por elas eram expressas as qualidades dasqualidades e as afeições das afeições; que por conseguinte, os pensamentosespirituais eram os começos e as origens dos pensamentos naturais; por issotornou-se ainda evidente que a sabedoria espiritual era a sabedoria da sabedoria,por conseqüência não perceptível para sábio algum do M undo N atural. Entãolhes foi dito do T erceiro Céu, que há ainda uma sabedoria interior ou superior,que é chamada celeste cuja relação com a sabedoria espiritual é semelhante àrelação desta com a sabedoria natural, e que estas sabedorias, em ordemsegundo os Céus, influem da Divina Sabedoria do Senhor, que é Infinita.

(*) Divindade romana que tinha a faculdade de mudar de forma. (N ota dotradutor).

327 - Depois disso, disse aos assistentes: Por estes três ensinamentos daexperiência vêdes qual é a diferença entre o Espiritual e o N atural, e também arazão pela qual o homem natural não é visível para o homem espiritual, nem ohomem Espiritual para o homem N atural, ainda que estejam consociadosquanto às afeições e aos pensamentos, e por conseguinte quanto às presenças;daí vem que tu, G rão-M estre, no caminho, ora me vias, e ora não me vias".Em seguida, uma voz vinda do Céu superior foi ouvida, dizendo aoG rão-M estre: "Sobe aqui". E ele subiu, e voltou, e disse que, do mesmo modoque ele, os Anjos não tinham conhecido antes, as diferenças entre o Espiritual eo N atural, pela razão de que antes não tinha havido nenhum meio deconfrontação em um homem que estivesse ao mesmo tempo em um e outroM undo, e que sem uma tal confrontação estas diferenças não podem serconhecidas.

328 - Em seguida nós nos retiramos e conversamos de novo sobre este assunto,e eu disse: "Estas diferenças não vêm senão de que vós, que estais no M undoespiritual, e por conseqüência sois espirituais, estais nos substanciais e não nosmateriais, e os substanciais são os começos dos materiais; vós estais nosprincípios, e assim nos singulares; mas nós estamos nos comuns; e assim comoos comuns não podem entrar nos particulares, assim também os naturais, quesão materiais, não podem entrar nos espirituais que são substanciais,absolutamente da mesma forma que um cabo de navio não pode entrar oupassar pelo buraco de uma agulha de coser, ou do mesmo modo que um nervonão pode entrar ou ser introduzido em uma das fibras de que é composto, nemuma fibra em uma das fibrilas de que é composta; isto é mesmo conhecido noM undo, por isso os Eruditos concordam que há influxo, não do natural noespiritual, mas do espiritual no natural. V em portanto daí a razão pela qual ohomem N atural não pode pensar as cousas que pensa o homem Espiritual, nempor conseqüência as pronunciar; por isso Paulo chama inefáveis as que eleouviu do T erceiro Céu. Ajuntai a isso que, pensar espiritualmente, é pensarsem o tempo e sem o espaço, e que pensar N aturalmente, é pensar com otempo e o espaço; pois a toda idéia do pensamento natural se liga alguma coisa

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do tempo e do espaço; mas não a alguma idéia espiritual; isto vem de que oM undo Espiritual não está, como o M undo N atural, no espaço e no tempo,mas está na aparência do espaço e do tempo; nisto diferem também ospensamentos e as percepções; é por isso que vós podeis pensar na Essência e naO nipresença de Deus de toda a eternidade, isto é, em Deus antes da Criação doM undo, porque pensais na Essência de Deus de toda eternidade sem o tempo,e em Sua O nipresença sem o espaço, e assim apreendeis cousas que estão acimadas idéias naturais do homem"; e então contei que uma vez eu tinha pensadona Essência e na O nipresença de Deus de toda a eternidade, isto é, em Deusantes da Criação do M undo, e que, como eu ainda não tinha podido afastar dasidéias do meu pensamento os espaços e os tempos, tornei-me inquieto, porquea idéia da N atureza entrou em lugar de Deus, mas me foi dito: "Afasta as idéiasdo espaço e do tempo, e verás"; e me foi dado afastá-las, e vi; e desde essemomento pude pensar em Deus de toda eternidade e de modo algum naN atureza de toda eternidade, porque Deus está em todo tempo sem tempo, eem todo espaço sem espaço, enquanto que a N atureza está em todo tempo notempo, e em todo espaço no espaço, e como a N atureza com seu tempo e seuespaço precisou necessàriamente começar e nascer, mas não Deus que é sem otempo e sem o espaço; por isso a N atureza vem de Deus, não de toda aeternidade, mas no tempo, isto é, ao mesmo tempo com seu tempo e seuespaço.

329 - Depois que o G rão-M estre e os outros me deixaram, alguns rapazes, quetambém tinham assistido aos exercícios do G inásio, me seguiram à casa, e aíficaram algum tempo perto de mim enquanto eu escrevia; e eis que viramentão uma traça que corria sobre meu papel, e muito admirados perguntaram oque era este animalzinho tão ágil; e eu disse que se chamava traça e que eu iacontar-lhes coisas admiráveis dele: e disse que em um ser vivo tão pequeno, hátantos membros e vísceras quanto em um camelo; que assim, há cérebros, umcoração, canais pulmonares, os órgãos dos sentidos, dos movimentos e dageração, um estômago, intestinos e muitas outras cousas; que cada parte étecida de fibras, de nervos, de vasos sangüíneos, de músculos, de tendões, demembranas, e que cada uma dessas cousas é composta de cousas ainda maispuras que escapam inteiramente à penetração de todo olhar. Eles entãodisseram que, não obstante, este pequeno ser vivente não lhes parecia senãocomo uma substância simples; e eu disse: "H á entretanto dentro dele coisasinumeráveis; digo-vos isso a fim de que saibais que acontece o mesmo comtodo objeto que diante de vós aparece como sendo um, simples, e muitopequeno, tanto em vossas ações como em vossas afeições e em vossospensamentos; posso vos assegurar que cada parcela de vosso pensamento e cadagota de vossa afeição é divisível ao infinito; e que conforme as vossas idéias sãodivisíveis, vós vos tornais sábios; sabei que tudo que é dividido, é cada vez maismúltiplo, e não cada vez mais simples, porque o que é continuamente divididose aproxima cada vez mais do infinito, no qual todas as cousas são ao infinito

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(infinitè); o que vos referi aqui é novo e não se ouviu dizer até ao presente".Depois que lhes falei assim, os rapazes me deixaram para irem ao G rão-M estre,e lhe pediram para propor como problema algum dia no G inásio, uma cousa deque ainda não se ouviu falar. E ele disse: “O quê?" Eles responderam: "Q uetudo o que é dividido se torna cada vez mais múltiplo, e não cada vez maissimples, porque isso o aproxima cada vez mais do infinito, no qual todas ascousas estão ao infinito (infinitè)", E ele prometeu proposto, e disse: "V ejo isso,porque percebi que uma única idéia natural é o continente de inúmeras idéiasespirituais; e também, que uma única idéia espiritual é o continente deinúmeras idéias celestes; dai vem a diferença entre a Sabedoria Celeste, em queestão os Anjos do T erceiro Céu, e a Sabedoria espiritual em que estão os Anjosdo Segundo Céu, e a diferença entre esta e a Sabedoria natural em que estão osAnjos do último Céu e também os homens.

330 - Segundo M emorável. U m dia, ouvi maridos discutir de uma maneiraagradável, a respeito do sexo feminino, se uma mulher que amaconstantemente sua beleza, isto é, que se ama por causa de sua forma, podeamar seu marido; decidiram a princípio entre si que há para as mulheres duasbelezas, uma natural, que é a da face e do corpo, e outra espiritual, que é a doamor e dos costumes; decidiram também que estas duas belezas são muitofreqüentemente divididas no M undo natural, e que estão sempre reunidas noM undo espiritual, pois a beleza no M undo espiritual 'é a forma do amor e doscostumes; por isso, depois da morte, acontece muito freqüentemente que asmulheres disformes se tornem belezas, e que mulheres belas se tornemdeformidades. Q uando os maridos discutiam a questão algumas esposas vierame disseram: "Admiti nossa presença; pois o que discutis, a ciência vô-lo ensina,mas a nós a experiência o ensina; e mesmo vós tendes tão pouco conhecimentodo amor das esposas, que apenas sabeis alguma cousa dêle; será que sabeis que aprudência da sabedoria das esposas consiste em esconder seu amor por seusmaridos no íntimo de seu peito, ou no meio do seu coração?" A discussãocomeçou e a Primeira Conclusão dos maridos foi que toda mulher quer parecerbela de face e bela de costumes, porque nasceu afeição do amor, e a forma destaafeição é a beleza; é por isso que a mulher, que não quer ser bela, não é umamulher que quer amar e ser amada, e por conseguinte não é verdadeiramentemulher. Então as esposas disseram: "A beleza da mulher reside em uma docedelicadeza, e por conseguinte em uma deliciosa sensação; daí vem o amor damulher pelo homem, e o amor do homem pela mulher; vós talvez nãocompreendais isso". A Segunda Conclusão dos maridos foi que a mulher antesdo casamento quer ser bela para os homens; mas depois do casamento, se écasta, quer ser bela para seu marido, e não para os homens". Depois disso asesposas disseram: “O marido, depois de ter gozado a beleza natural da esposa,não vê mais esta beleza, mas vê sua beleza espiritual, e por esta ele ama de novo,lembra-se da beleza natural, mas sob um outro aspecto". A T erceira Conclusãode sua discussão foi, que se a mulher, depois do casamento, quer igualmente

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parecer bela como antes do casamento, ela ama os homens e não o marido,porque a mulher que se ama por causa de sua beleza, quer cont1nuamente quea sua beleza seja apreciada; e como esta beleza não aparece mais diante de seumarido, assim como o dissestes, ela quer que seja apreciada pelos homensdiante dos quais aparece; que uma tal mulher tenha o amor do sexo e não oamor de um único do sexo, isso é evidente". Depois disso as esposas guardaramsilêncio; entretanto disseram muito baixo: "Q ual é a mulher tão isenta devaidade, que não queira parecer bela também aos homens ao mesmo tempoque parece ao marido?" Algumas esposas do Céu, que eram belas porque eramafeições celestes, ouviam esta discussão, e confirmaram as três conclusões dosmaridos; mas acrescentaram: "Q ue elas amem sua beleza e seus atavios paraseus maridos e por seus maridos".

331 - Estas três esposas indignadas porque as três conclusões dos maridostinham sido confirmadas pelas esposas do Céu, disseram aos maridos: "V ósindagastes se uma mulher que se ama por causa de sua beleza, ama seu marido;nós, pois, por nossa vez, vamos examinar se um marido que se ama por causade sua inteligência, pode amar sua esposa; ficai presentes e escutai". E tiraramesta Primeira Conclusão: U ma esposa ama seu marido não por causa de suaface, mas por causa de sua inteligência no seu emprêgo e nos seus costumes;sabei pois que a esposa se une com a inteligência do marido, e assim com omarido; por isso se o marido se ama por causa de sua inteligência; ele a retira desua esposa para si mesmo, daí resulta a desunião e não a união; além disso,amar a sua inteligência, é ser sábio por si mesmo, e isso é ser louco, é portantoamar sua loucura". Depois disso os maridos disseram: "Pode ser que a esposa seuna com a força do marido?" A estas palavras as esposas sorriram, dizendo: "Aforça não falta enquanto o marido ama a esposa segundo a inteligência; porémela falta, se for segundo a loucura; a inteligência consiste em amar a esposa só, ea força não falta a este amor; compreendeis isso?". A Segunda Conclusão foiesta: "N ós, mulheres, nascemos no amor da inteligência dos homens, por isso,se os maridos amam a sua própria inteligência, a inteligência não pode serunida com seu amor real, que está na esposa, e se a inteligência do marido nãoestá unida com seu amor real, que está na esposa, a inteligência se torna loucurapelo orgulho, e o amor conjugal se torna frieza; qual é portanto a mulher quepode unir seu amor à frieza? E qual é o homem que pode unir a loucura do seuorgulho ao amor da inteligência?" M as os maridos disseram: "Como o maridoserá honrado pela esposa, se ele não exalta sua inteligência?" As esposasresponderam: "Ele o será pelo amor, porque o amor honra, a honra não podeser separada do amor, mas o amor pode ser separado da honra". Em seguida,como T erceira Conclusão, deram esta: "Parece-vos que amais as vossas esposas,e não vêdes que sois amados por vossas esposas, e que assim vós as amais emretorno; e que vossa inteligência é o receptáculo; se portanto, amais a vossainteligência, em vós, ela se torna o receptáculo de vosso amor, e como o amordo próprio não suporta um seu igual, jamais se torna conjugal, mas enquanto

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tem força, permanece escortatório". Depois disso, os maridos guardaramsilêncio, entretanto diziam muito baixo: “O que é o Amor conjugal?" AlgunsM aridos, no Céu, ouviram esta discussão e confirmaram as três Conclusões dasesposas.

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Da poligamia

332 - Se se procura a razão pela qual os casamentos poligâmicos foramabsolutamente condenados pelo mundo cristão, homem algum, qualquer queseja o talento de que for dotado para ver engenhosamente as cousas, podedescobrir com evidência, a não ser que antes tenha sido instruido em que háum Amor verdadeiramente conjugal; que este Amor não pode existir sendoentre dois; que ele não existe entre dois sendo pelo Senhor só; e que o Céu comtodas as suas felicidades foi inscrito neste Amor. A não ser que estesconhecimentos precedam, e ponham por assim dizer a primeira pedra, a mentese esforça em vão para tirar do entendimento algumas razões a que ela aquiesça,e sobre as quais subsista, como uma casa sobre sua pedra ou sobre seufundamento, para deduzir dai a condenação da Poligamia pelo M undo Cristão.Sabe-se que a instituição do Casamento monógamo foi fundada sobre estaspalavras do Senhor: "que quem quer que repudia sua esposa, a não ser porcausa de escortação, e se casa com outra, comete adultério; e que foi docomeço, ou da primeira instauração dos casamentos, que os dois se tornassemuma só carne; e que o homem não deve separar o que Deus uniu", (M ateusXIX, 3 a 11). M as ainda que o Senhor tenha ditado estas palavras segundo aLei Divina inscrita nos casamentos, todavia, se o Entendimento não podesustentar esta Lei Divina por algumas razões suas, pode entretanto, por formasque lhe são habituais, e por interpretações de través, fazê-la dobrar, e levá-la auma obscura ambiguidade, e enfim à afirmativa negativa; na afirmativa, porqueisso é conforme uma vista racional destas palavras; é na negativa que cairá aM ente humana, a não ser que antes tenha sido instruída nos conhecimentosacima referidos, que devem servir ao entendimento para introdução em suasrazões; e estes conhecimentos são que há um Amor verdadeiramente conjugal;que este Amor não pode existir senão entre dois; que não existe entre doissenão pelo Senhor só; e que o Céu com todas as suas felicidades foi inscritoneste Amor. M as estas cousas e várias outras particularidades sobre acondenação da Poligamia pelo M undo Cristão, vão ser demonstradas emordem segundo os Artigos seguíntes: I. N ão é senão com uma única esposa quepode haver Amor verdadeiramente conjugal, e por conseqüência, amizadeverdadeiramente conjugal, confiança, força, e uma conjunção das mentes de talmodo que dois sejam uma só carne. II. Assim, não é senão com uma únicaesposa que podem existir as beatitudes celestes, as felicidades espirituais e osprazeres naturais aos quais foi provido desde o começo, para aqueles que estãono Amor verdadeiramente conjugal. III. T odas estas cousas não podem existirsenão pelo Senhor só; elas não existem senão para aqueles que se dirigem a Ele,

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vivem ao mesmo tempo segundo Seus preceitos. IV . Por conseqüência, o Amorverdadeiramente conjugal, com suas felicidades, não pode existir senão naquelesque estão na Igreja Cristã. V . Daí vem que não é permitido a um Cristãocasar-se senão com uma esposa. V I. Se um Cristão se casasse com váriasesposas, cometeria não somente um adultério natural, mas também umadultério espiritual. V II. Foi permitido à N ação Israelita ter várias esposas,porque nela não havia Igreja Cristã, e por conseguinte não podia haver Amorverdadeiramente conjugal. V III. H oje é permitido aos M aometanos ter váriasesposas, porque eles não reconhecem o Senhor Jesus Cristo como um comJehovah, O Pai, nem por conseguinte como o Deus do Céu e da T erra, e assimnão podem receber o amor verdadeiramente conjugal. IX. O Céu dosM aometanos é fora do Céu Cristão; é dividido em dois Céus, um inferior eoutro superior; e ao Céu superior não são elevados senão aqueles querenunciam às concubinas e vivem com uma única esposa, e que reconhecem onosso Senhor como igual a Deus Pai, e como tendo recebido a dominaçãosobre o Céu e a T erra. X . A Poligamia é uma lascívia. X I. N os polígamos nãopode haver nem castidade, nem pureza, nem santidade conjugal. X II. O spolígamos enquanto permanecem polígamos, não podem se tornar espirituais.XIII. A Poligamia não é um pecado naqueles que vivem nela segundo areligião. X IV . A Poligamia não é um pecado naqueles que vivem na ignorânciado Senhor. X V . Ainda que polígamos, aqueles que dentre eles reconhecem umDeus, e que vivem pela religião segundo as leis civis da justiça, são salvos. X V I.M as de uns e de outros nenhum pode ser consociado com os Anjos dos CéusCristãos. Segue agora a explicação dos Artigos.

333 - I. É só com uma única esposa que pode haver amor verdadeiramenteconjugal, confiança, força e uma conjunção das mentes de tal modo que doissejam uma só carne. Q ue o Amor verdadeiramente conjugal seja hoje tão raro,que é geralmente desconhecido, é o que foi mostrado várias vezes acima; queentretanto, ele existe na realidade, isso foi demonstrado em um Capítuloespecial, e por vezes, em seguida, nos Capítulos posteriores. Aliás quem é quenão sabe que existe um tal amor, que ultrapassa todos os outros amores emexcelência e em encanto, ao ponto que todos os outros amores são pouca coisaem relação a ele? que ele esteja acima do amor à vida, as experiências o atestam:N ão tem havido homens e não os há ainda que, para obter uma mulher quedesejam e pedem para noiva, se lançam de joelhos, a adoram como uma deusa,e se submetem como muito vis escravos a todos os seus caprichos? Prova de queeste amor sobrepuja o amor de si. N ão tem havido e não há ainda homens que,por uma mulher que desejam e pedem para noiva, consideram como nada asriquezas e mesmos os tesouros, se os possuíssem, e que por isso osprodigalizam? prova de que este amor sobrepuja o amor do mundo. N ão temhavido e não há ainda homens que, por uma mulher que desejam e pedem paranoiva, fazem pouco caso de sua própria vida, e desejam ardentemente morrer,se não obtêm o objeto de seus votos? Isso também é atestado por vários

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combates de morte entre rivais; prova de que este amor sobrepuja o amor davida. N ão tem havido e não há ainda homens que, por uma mulher quedesejam e pedem para noiva, se tornaram e tornam loucos com uma recusa?Q uem é que pelo começo deste amor em um grande número de homens, nãopode concluir racionalmente que este amor por sua essência, domina comosoberano sobre todo outro amor, e que a alma do homem está então nesteamor, e se promete beatitudes eternas com a mulher desejada e pedida? Q uemé que pode ver, de qualquer lado que procure, outra cousa senão que o homemconsagrou sua alma e seu coração a uma só? Com efeito, quando um amanteestá neste estado, se lhe oferecessem para escolher em todo o sexo a mais digna,a mais rica e a mais bela, não desdenharia ele a opção, e não se prenderia àquelaque já escolheu; pois o seu coração é para ela? Estas observações são feitas a fimde que se reconheça que existe um amor conjugal de uma tal sobreeminência, eque ele existe quando uma só do sexo é amada unicamente. Q ual é oentendimento que, quando considera com atenção o encadeamento das razões,não possa concluir que, se pela alma ou pelos íntimos o amante persisteconstantemente no amor por esta mulher, obterá estas beatitudes eternas que seprometeu antes do consentimento, e que se promete no consentimento? que asobtém mesmo, se se dirige ao Senhor e por Ele vive a vida da religião, isso foimostrado acima; há um outro que entra na vida do homem pela regiãosuperior, e aí implante as alegrias celestes internas, e as transporte às cousas queseguem, e tanto mais, quando ao mesmo tempo dá também uma forçaconstante? Pelo fato de não haver um tal amor em si, nem neste ou naquele,não se pode concluir que ele não existe e não pode existir.

334 - Pois que o amor verdadeiramente conjugal conjunta as almas e oscorações dos dois esposos, foi por conseqüência unido também com a amizade,e por esta com a confiança, e torna conjugal uma e outra; assim elassobrepujam as outras amizades e as outras confianças, ao ponto que, como esteamor é o amor dos amores, do mesmo modo esta amizade é a amizade dasamizades, semelhantemente a confiança; que seja assim também com a força,há para isso várias razoes, algumas das quais são desvendadas no SegundoM emorável em seguida a este Capítulo; e desta força resulta a perseverançadeste amor. Q ue pelo amor verdadeiramente conjugal os dois esposos setornem uma só carne, isso foi mostrado em um capítulo especial, n. 156 (bis) a183.

335 – II. Assim, não é sendo com uma única esposa que podem ter lugar asbeatitudes celestes, as felicidades espirituais, e os prazeres naturais, aos quais foiprovido desde o começo para aqueles que estão no verdadeiro amor conjugal.

Diz-se as beatitudes celestes, as felicidades espirituais, e os prazeres naturais,porque a M ente humana foi distinguida em três R egiões, das quais a Suprema échamada celeste, a segunda espiritual, e a terceira natural; e estas três regiõesnaqueles que estão no amor verdadeiramente conjugal se mantêm abertas, e o

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influxo segue em ordem segundo as aberturas; ora, como os encantos desteamor na região suprema são os mais eminentes, são percebidos comobeatitudes, e como na região média são menos eminentes, são percebidos comofelicidades, e enfim na região ínfima como prazeres; que estes encantos existem,sejam percebidos e sejam sentidos, vêse pelos M emoráveis em que são descritos.Q ue desde o começo tenha sido provido a todas as suas felicidades para aquelesque estão no amor verdadeiramente conjugal, é porque a Infinidade de todas asbeatitudes está no Senhor, e Ele M esmo é o Divino Amor, e a essência do amoré querer comunicar todos os seus bens a um outro que ele ama; eis porque oSenhor criou este amor ao mesmo tempo que o homem, e inscreveu nele afaculdade de receber e perceber estas cousas. Q ual é o homem assaz estúpido eassaz insensato para não poder ver que existe um certo amor no qual o Senhorpôs todas as beatitudes, todas as felicidades e todos os prazeres que é possívelpor nele.

336 - III. T odas estas coisas não podem existir senão pelo Senhor só; e nãopodem existir senão para aqueles que se dirigem a Ele, só, e vivem ao mesmotempo segundo Seus preceitos.

Isso foi demonstrado precedentemente em vários lugares; é preciso acrescentarque todas estas beatitudes, estas felicidades e estes prazeres não podem ser dadossenão pelo Senhor, e que por conseqüência é preciso não dirigir-se a outro; aque outro nos dirigiríamos, pois que tudo o que foi feito, foi feito por Ele,(João 1, 3); pois que Ele M esmo é o Deus do Céu e da T erra, (M ateusXXV III, 18); pois que jamais aspecto algum de Deus Pai foi visto, nem vozalguma d'Ele foi ouvida senão por meio do Senhor, (João 1, 18; V , 37; X IV , 6a 11)? Por estas passagens da Palavra e por muitas outras, vê-se que ocasamento do amor e da sabedoria, ou do bem e do vero, de onde oscasamentos tiram unicamente a sua origem, procede d'Ele só. Se este amor comsuas felicidades não é dado senão aos que se dirigem ao Senhor, é aconseqüência do que acaba de ser dito; e se é dado aos que vivem segundo Seuspreceitos, é porque o Senhor foi conjunto com eles pelo amor, (João X IV , 21 a24).

337 - IV . Por conseqüência o amor verdadeiramente conjugal com suasfelicidades, não pode existir senõo naqueles que são da Igreja Cristã.

Se o amor conjugal tal como foi descrito em seu Capítulo, nº. 57 a 73, e nosCapítulos seguintes, por conseqüência tal como é em sua essência, não existesenão nos que são da Igreja Cristã, é porque este amor vem do Senhor, só, e oSenhor não é conhecido noutra parte ao ponto de se poder dirigir a Ele comoDeus; além disso também, porque este amor é segundo o estado da Igreja emcada um, n. 130, e o estado real da Igreja não procede senão do Senhor só,assim não está senão nos que o recebem d'Ele. Q ue estes dois pontos sejam oscomeços, as introduções e as afirmações deste amor, isso foi estabelecido atéaqui por uma tal abundância de razões evidentes e concludentes, que é

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absolutamente inútil acrescentar alguma cousa. Se entretanto o amorverdadeiramente conjugal é tão raro no M undo Cristão, nºs. 58 e 59, é porquehá aí poucos que se dirigem ao Senhor, e porque entre este pequeno númeroalguns, é verdade, têm da Igreja a crença, mas não têm a vida; além de váriasoutras razões, que foram desvendadas no Apocalipse R evelado, onde o estadoda Igreja Cristã de hoje foi completamente descrito; mas não obstante subsistecom força esta verdade, que não pode haver amor verdadeiramente conjugal,senão naqueles que são da Igreja Cristã; é mesmo por isto que a Poligamia foinela absolutamente condenada; que isso venha também da Divina Providênciado Senhor, é o que vêem claramente os que pensam justo da Providência.

338 - V . Daí vem que não é permitido a um Cristão casar-se sendo com umaúnica esposa. Isto resulta das proposições confirmadas nos Artigos precedentes;é preciso acrescentar, que o Conjugal real foi inscrito nas mentes dos Cristãosmais profundamente que nas mentes dos G entios que adotaram a Poligamia; eque por conseguinte as mentes dos Cristãos são mais próprias a receber esteamor do que as mentes dos polígamos, pois este Conjugal foi inscrito nosinteriores da mente dos Cristãos, porque eles reconhecem o Senhor e SeuDivino, e nos exteriores de sua mente pelas Leis civis.

339 - V I. Se um Cristão se casa com várias esposas, comete, não somente umadultério natural, mas também um adultério espiritual.

Q ue um Cristão que se casa com várias esposas, comete um adultério natural,isto está conforme com as palavras do Senhor, a saber; que não é permitidorepudiar a esposa, porque no começo foram criados para ser uma só carne; eque aquele que repudia sua esposa sem justa cousa e toma uma outra cometeadultério, (M ateus X IX, 3-11); assim com mais forte razão, aquêle que nãorepudia sua esposa, mas a retém e junta-lhe outra. Esta lei, dada pelo Senhorsobre os casamentos, tira sua causa interna do casamento espiritual, pois tudoque o Senhor pronunciou era em si espiritual; é o que é entendido por estasexpressões: "As palavras que vos enuncio, são espírito e são vida", (João V I,63). O espiritual aí contido, é que pelo casamento poligâmico no M undoCristão, o Casamento do Senhor e da Igreja é profanado; semelhantemente ocasamento do bem e do vero; e além disso, a Palavra; e com a Palavra, a Igreja;e a profanação destas cousas é um adultério espiritual. Q ue a profanação dobem e do vero da Igreja fundada sobre a Palavra, corresponde ao adultério, eque por conseguinte seja um adultério espiritual, e que seja o mesmo afalsificação do bem e do vero, mas em grau menor, vê-se confirmado noApocalipse R evelado, nº 134. Q ue pelos casamentos poligâmicos entre Cristãoso Casamento do Senhor e da Igreja seria profanado, é porque há umacorrespondência entre este Divino Casamento e os casamentos dos Cristãos, veracima nº 83 a 102, correspondência que é inteiramente destruída, quando umaesposa é ajuntada a uma esposa, e quando a correspondência é destruída, ohomem esposo não é mais um Cristão. Q ue pelos casamentos poligâmicos

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entre Cristãos, o Casamento do bem e do vero seja profanado, é porque desteCasamento espiritual são derivados os casamentos nas terras; e os casamentosdos Cristãos diferem dos casamentos das outras nações, em que, do mesmomodo que o bem ama o vero, e o vero ama o bem, e são um, do mesmo modoa esposa e o marido devem se amar mútuamente e ser um; se, portanto, umCristão ajuntasse uma esposa a uma esposa, romperia nele este casamentoespiritual, por conseguinte profanaria a origem de seu casamento, e cometeriaassim um Adultério espiritual; que os casamentos nas terras sejam derivados doCasamento do bem e do vero, vê-se acima, nº 116 a 131. Q ue por umcasamento poligâmico o Cristão profanaria a Palavra e a Igreja, é porque aPalavra, considerada em si mesma, é o Casamento do bem e do vero, e a Igrejao é igualmente, tanto quanto é fundada sobre a Palavra; ver acima, nº. 128 a131. O ra, pois que o homem Cristão, porque conhece o Senhor, tem a Palavra,e a Igreja que procede do Senhor está nele pela Palavra, é evidente que ele tem,mais do que um homem que não é Cristão, a faculdade de poder se regenerar,e por conseguinte de se tornar espiritual, e também de adquirir o amorverdadeiramente conjugal, pois estas coisas são coerentes. Pois que dentre osCristãos, os que tomam em casamento várias esposas cometem não somente umadultério natural, mas também ao mesmo tempo um adultério espiritual,segue-se que a condenação dos polígamos cristãos depois da morte é maisrigorosa que a condenação dos que cometem somente um adultério natural;tendo me informado do estado daqueles depois da morte, recebi como respostaque o Céu é inteiramente fechado para eles, que eles aparecem no infernocomo estendidos em uma banheira de água quente; que é assim que aparecemde longe, embora estejam sobre os pés e andem; que isso vem de um frenesiintestino; e que alguns deles foram lançados em abismos que estão nos limitesdos M undos.

340 - V II. Foi permitido à N ação Israelita ter várias esposas, porque nela nãohavia a Igreja Cristã, e por conseguinte não podia haver amor verdadeiramenteconjugal.

H á hoje pessoas cujos pensamentos estão suspensos a respeito da Instituição doscasamentos monogâmicos ou de um único marido com uma única esposa, eque discutem em si mesmos com o auxílio da razão, estimando que, visto queos casamentos poligâmicos foram abertamente permitidos à N ação Israelita, e aseus reis, e a David e a Salomão, deveriam ser também, em si mesmos,permitidos aos Cristãos; mas esses não sabem distintamente nada da N açãoIsraelita e das N ações Cristãs, nem dos internos e dos exernos da Igreja, nem damudança da Igreja de Externa em Interna pelo Senhor, nem por conseqüênciacousa alguma segundo um julgamento interior sobre os casamentos. Em geral,é preciso ter como certo, que o homem nasceu natural para se tornar espiritual,e que enquanto permanece natural, está como na noite e como no sono arespeito dos espirituais, e que então não conhece nem mesmo a diferença entre

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o homem Externo natural e o homem interno espiritual. Q ue na N açãoIsraelita não houve Igreja Cristã, sabe-se pela Palavra, pois os Israelitasesperavam, como esperam ainda, um M essias que os eleve acima de todas asnações e de todos os povos do M undo; se, portanto, se lhes tivesse dito, e se selhes dissesse agora, que o R eino do M essias é sobre os Céus, e por conseguintesobre todas as nações, eles teriam posto isso e o poriam no número dasbrincadeiras; é por isso que não somente não reconheceram o Cristo, ou oM essias, nosso Senhor, quando veio ao M undo, mas também O tiraram doM undo de uma maneira atroz; por isso, é evidente que nesta N ação não houveIgreja Cristã, como não a há hoje; e aqueles em quem não há Igreja Cristã sãonaturais no interno e no externo; e para eles a poligamia não é prejudicial, poisestá inscrita no homem natural; com efeito, estes homens não percebem sobreo amor nos casamentos senão o que pertence ao desejo libidinoso; é o queentendia o Senhor por estas palavras: "que M oisés por causa de sua dureza decoração permitiu que repudiassem as esposas; mas que no começo não eraassim", (M ateus X IX, 8); Ele disse que M oisés permitiu, a fim de que se saibaque não é o Senhor. M as que o Senhor tenha ensinado o homem Internoespiritual, isso é notório por Seus preceitos, e pela ab-rogação dos R itos queserviam unicamente para uso do homem N atural; por Seus preceitos sobre aAblução, que é a purificação do homem Interno, (M ateus X V , 17 a 20; X XIII,25, 26; M arcos V II, 14 a 23); sobre o Adultério, que é a cobiça da vontade,(M ateus V , 28); sobre a repudiação das esposas, que é ilícita; sobre a Poligamia,que não está de acordo com a Lei Divina, (M ateus X IX, 3 a 9); estas cousas, evárias outras que concernem o homem interno espiritual, o Senhor as ensinou,porque só Éle abre os internos das mentes humanas e as torna espirituais, asintroduz nos naturais, a fim de que estes também tirem daí uma essênciaespiritual, o que acontece mesmo quando a gente se dirige a Ele, e vive segundoSeus preceitos, que, em suma, consistem em crer n'Ele, em fugir dos malesporque são do diabo e vêm do diabo; depois, em fazer os bens porque são doSenhor, e vêem d'Ele, e em fugir daqueles e fazer estes como por si mesmo, ecrer ao mesmo tempo que isso é feito pelo Senhor, por meio do homem. Arazão mesma pela qual o Senhor só abre o homem Interno espiritual, e ointroduz no homem Externo natural, é que todo homem pensa naturalmente, eage naturalmente; e, por conseguinte, não poderia perceber cousa algumaespiritual, nem receber nenhuma em seu natural, se Deus não tivesse tomado oH umano N atural; e não o tivesse feito Divino também. Estas explicaçõestornam agora evidente, esta verdade, que foi permitido à N ação Israelita tervárias esposas, porque nela não havia Igreja Cristã.

341 - V II. H oje é permitido aos M aometanos ter várias esposas, porque elesnão conhecem o Senhor Jesus Cristo um com Jehovah, o Pai, nem porconseguinte por Deus do Céu e da T erra, e assim não podem receber o amorverdadeiramente conjugal.

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O s M aometanos, segundo a religião que M aomé lhes deu, reconhecem queJesus Cristo é o Filho de Deus e muito grande Profeta, e que foi enviado aoM undo por Deus Pai, para instruir os homens, mas não que Deus Pai e Elesejam uma única Pessoa, unidos como a alma e o corpo, segundo a fé de todosos Cristãos conforme a confissão Atanasiana; por isso os sectários de M aoménão puderam reconhecer nosso Senhor como um Deus de toda a eternidade,mas o reconheceram como um homem natural perfeito, e como tal foi aopinião de M aomé, e como tal é por conseguinte a opinião de seus discípulos, ecomo reconheceram que Deus é um e que é este Deus que criou o U niverso,não puderam fazer outra cousa senão excluir de seu culto o Senhor, e tantomais que declaram também que M aomé é um muito grande profeta; nãoconhecem também o que o Senhor ensinou. É por esta razão que os interioresde sua mente, que em si mesmos são espirituais, não puderam ser abertos; queestes interiores não sejam abertos senão pelo Senhor só, acabamos de ver acima,n. 340. Se eles são abertos pelo Senhor, quando Ele é reconhecido como Deusdo Céu e da T erra, e quando se dirigem a Ele, e naqueles que vivem segundoSeus preceitos, a causa real é que de outro modo não há conjunção, e que semconjunção não há recepção; no homem há a presença do Senhor, e háconjunção com o Senhor; dirigir-se a Ele faz a presença, e viver segundo Seuspreceitos faz a conjunção; a Sua presença só é sem a recepção, mas a presença eao mesmo tempo a conjunção estão com a recepção. Sobre este assunto referireido M undo espiritual uma cousa nova: Lá, cada um se acha presente pelopensamento que se tem dêle, mas ninguém é conjunto a um outro senão pelaafeição do amor, e a afeição do amor é insinuada por fazer o que o outro diz eo que lhe agrada; isto, que é comum no M undo espiritual, tira sua origem doSenhor, que está presente assim, e conjunta assim. Estas observações foramfeitas a fim de que se saiba porque foi permitido aos M aometanos ter váriasesposas, e que é porque o amor verdadeiramente conjugal, que existe somenteentre um único marido e uma única esposa, não lhes pode ser dado, pois quepela religião eles não reconhecem o Senhor igual a Deus Pai, nem porconseguinte como Deus do Céu e da T erra; que o amor conjugal em cada umseja segundo o estado da Igreja, vê-se acima, n. 130, e um grande número devezes no que precede.

342 - IX. O Céu dos M aometanos está fora do Céu Cristão; é dividido em doisCéus, um inferior e outro superior, e ao Céu superior não são elevados sendoaqueles que renunciam às concubinas e vivem com uma única esposa, e quereconhecem nosso Senhor como igual a Deus Pai, e como tendo recebido adominação sobre o Céu e a T erra. Antes de dizer alguma cousa de particularsobre este Artigo, é importante falar antes da Divina Providência do Senhor arespeito da origem da R eligião M aometana. Q ue esta religião tenha sidorecebida por mais R einos do que a R eligião Cristã, isso pode ser um escândalopara aqueles que pensam na Divina Providência, e ao mesmo tempo crêem quenão se pode ser salvo senão quando se nasceu Cristão; mas a R eligião

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M aometana não é um escândalo para aqueles que crêem que todas as cousasvêm da Divina Providência; estes procuram em que a Divina Providência estánela, e o acham: Está no fato da R eligião M aometana reconhecer nosso Senhorcomo Filho de Deus, como o mais Sábio dos homens, e como o maior Profeta,o qual veio ao M undo para instruir os homens; mas como fizeram do Alcorão oúnico livro de sua religião, e como por conseguinte M aomé que o escreveu estápresente em seus pensamentos, e recebe deles um certo culto, por isso elespouco pensam em nosso Senhor. Para que se saiba plenamente que estaR eligião foi suscitada pela Divina Providência do Senhor, a fim de destruir asidolatrias de um grande número de nações, este assunto vai ser exposto em umacerta ordem; em conseqüência se falará primeiro da origem das idolatrias. Antesdesta R eligião, o culto dos !dolos era comum sobre toda a terra; isto provém deque as Igrejas antes do Advento do Senhor tinham sido todas Igrejasrepresentativas; tal tinha sido também a Igreja Israelita; nela, o tabernáculo, asroupas de Aarão, os sacrifícios, todas as cousas do T emplo de Jerusalém, etambém os estatutos, eram representativos; e, entre os Antigos, havia a Ciênciadas Correspondências, que é também a ciência das R epresentações, a ciênciamesma dos sábios, cultivada principalmente pelos Egípcios, daí os seusH ieroglifos. Por esta ciência eles sabiam o que significavam os animais de todogênero, o que significavam as árvores de todo gênero, o que significavam asmontanhas, as colinas, os rios, as fontes, o que significavam o sol, a lua, asestrêlas; por esta ciência tinham também conhecimento dos espirituais, queeram representados, os quais eram daqueles que pertencem à sabedoriaespiritual dos Anjos, eram as origens das (coisas que representavam); ora, comotodo seu culto era um culto representativo, consistindo em purascorrespondências, é por isso que o celebravam sobre montanhas e colinas, etambém nos bosques, e voltavam suas faces para o sol nascente que adoravam; eque além disso faziam imagens talhadas de cavalos, bois, novilhos, carneiros, emesmo de pássaros, peixes, serpentes, e as colocavam em suas casas e em outroslugares em uma certa ordem segundo os espirituais da Igreja aos quaiscorrespondiam, ou que represen. tavam. Colocavam também semelhantesobjetos em seus T emplos, para trazer à sua lembrança as cousas santas do cultoque elas significavam. Depois desse tempo, quando a Ciência dasCorrespondências foi obliterada, a sua posteridade começou a adorar estasimagens talhadas como santas em si mesmas, não sabendo que seusantepassados nada viam de santo nelas, mas que as consideravam unicamentecomo representando, e por conseguinte significando coisas santas segundo suacorrespondência. Daí nasceram as idolatrias que encheram toda a terra, tantona Á sia com as ilhas adjacentes, como na África e na Europa. A fim de quetodas essas idolatrias fossem extirpadas, aconteceu que, pela Divina Providênciado Senhor, elevou-se uma nova R eligião acomodada ao gênio dos O rientais, naqual havia alguma cousa de um e outro T estamento da Palavra, e que ensinaque o Senhor velo ao M undo, e que È1e era o maior Profeta, o mais sábio de

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todos, e o Filho de Deus; isso foi feito por M aomé, de quem esta R eligião temo nome de R eligião M aometana. Por isto, é evidente que esta R eligião foisuscitada pela Divina Providência do Senhor, e acomodada, como foi dito, aogênio dos O rientais, a fim de destruir as idolatrias de tantas nações, e de lhesdar algum conhecimento do Senhor, antes de irem para o M undo espiritual, oque acontece depois da morte de cada um; esta R eligião não teria sido recebidapor tantos R einos, e não teria podido extirpar neles as idolatrias, se não tivessesido feita de maneira a se conformar com as suas idéias; sobretudo se aPoligamia não tivesse sido permitida; é também por este motivo, que osO rientais, sem esta permissão, se teriam entregue ainda com mais ardor que osEuropeus a vergonhosos adultérios, e teriam perecido.

343 - Se os M aometanos têm também um Céu, é porque todos aqueles que,sobre o G lobo terrestre, reconhecem um Deus, e fogem, pela R eligião, dosmales como pecados contra Ele, são salvos. Q ue o Céu M aometano tenha sidodividido em dois, um inferior e outro superior, é o que soube por eles mesmos;além disso, que no Céu inferior eles vivem com várias mulheres, tanto esposascomo concubinas, como no M undo; mas que aqueles que renunciam àsconcubinas e vivem com uma única esposa são elevados ao Céu superior; soubetambém que lhes é impossível pensar em nosso Senhor como sendo um comDeus Pai, mas que lhes é possível pensar que lhe é igual e que lhe foi dadadominação sobre o Céu e sobre a T erra, porque é Seu Filho; é por isso que estafé está naqueles aos quais foi dado pelo Senhor subir a seu Céu superior.

344 - U m dia, me foi dado perceber qual é o calor do amor conjugal dospolígamos; eu conversava com um que tinha feito a personagem de M aomé;M aomé mesmo não se apresenta jamais, mas um substituto é posto em seulugar, a fim de que os recentemente chegados do M undo vejam por assim dizerM aomé; este substituto, depois de uma conversação que tive com ele de longe,me fez passar uma colher de ébano e outros objetos, que eram provas quevinham dêle, e ao mesmo tempo foi aberta uma comunicação para o calor doamor conjugal dos que estavam lá; e este calor foi percebido por mim como umvapor fétido de banho quente; desde que o senti, eu me afastei, e a abertura dascomunicações foi fechada.

345 - X . A Poligamia é uma lascívia.

É porque o seu amor é dividido entre vários, e é o amor do sexo; é também oamor do homem externo ou natural, e não por conseguinte o amor conjugal, oúnico que é casto. Q ue o amor poligâmico seja um amor dividido entre vários,isso é notório; ora, um amor dividido não é o amor conjugal, pois este é umamor não divisível Proveniente de uma única pessoa do sexo; por conseguinte oamor poligâmico é lascivo, e a Poligamia é uma lascívia. Q ue o amorpoligâmico seja o amor do sexo, é porque não difere daquele senão porque élimitado ao número que o polígamo pode admitir, e porque a poligamia éadstrita a observar certas leis estabelecidas para o bem público; além disso,

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porque lhe é permitido acrescentar concubinas às esposas; e assim como é oamor do sexo, é o amor da lascívia. Q ue o amor poligâmico seja o amor dohomem externo ou natural, é porque está gravado neste homem; ora, tudo oque o homem natural faz por si mesmo é um mal, de que não pode ser retiradosenão por uma elevação ao homem interno espiritual, o que não é feito senãopelo Senhor; e o mal que está no homem natural concernente ao sexo é aescortação; mas como a escortação é a destruição da sociedade, em lugar daescortação foi posta a sua semelhança, que é, a chamada poligamia; todo o malem que o homem nasce por seus pais é implantado em seu homem natural, masnão é implantado mal algum em seu homem espiritual, porque o homem nasceneste pelo Senhor. Por estas considerações e também por várias outras razões,pode-se ver com evidência que a Poligamia é uma lascívia.

346 - X I. N os Polígamos não pode haver nem castidade, nem pureza, nemsantidade conjugais.

Isto resulta do que acaba de ser confirmado, e evidentemente do que foidemonstrado no Capítulo do Casto e do não casto, principalmente onde foiestabelecido que o casto, o puro e o santo, não se pode dizer senão dosCasamentos monogâmicos, ou de um único marido com uma única esposa, nº141; além disso também que o amor verdadeiramente conjugal é a castidademesma, e que por conseguinte todas as delícias deste amor, mesmo as últimas,são castas, nºs. 143, 144. E, além disso, isto resulta do que foi referido noCapítulo sobre o Amor verdadeiramente conjugal, a saber, que o amorverdadeiramente conjugal, que é o amor de um único marido com uma únicaesposa, por sua origem e por sua correspondência, é celeste, espiritual, santo, epuro mais do que qualquer outro amor, n. 64, e seguintes. O ra, como acastidade, a pureza e a santidade não existem senão no amor verdadeiramenteconjugal, segue-se que no amor poligâmico não pode haver nem castidade, nempureza, nem santidade.

347 - X II. O polígamo, enquanto permanece polígamo, não pode se tornarespiritual.

T ornar-se espiritual, é ser elevado do natural, isto é, da luz e do calor doM undo à luz e ao calor do Céu; ninguém sabe coisa alguma desta elevação anão ser aquêle que é elevado; entretanto o homem natural não elevado nãopercebe jamais outra cousa senão que foi elevado; e isto, porque assim como ohomem espiritual, pode elevar seu entendimento na luz do Céu, e pensar efalar espiritualmente, da mesma forma o homem natural o pode; mas se aomesmo tempo a vontade não segue o entendimento na sua altura, não foientretanto elevado, pois não se mantém nessa elevação, mas depois de algunsmomentos se abaixa para sua vontade e aí estabelece seu posto; se diz a vontade,e é entendido ao mesmo tempo o amor, porque a vontade é o receptáculo doamor, pois o que o homem ama, ele o quer. Por estas poucas observaçõespode-se ver que o polígamo, enquanto permanece polígamo, ou, o que é a

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mesma cousa, o homem natural, enquanto permanece natural, não pode setornar espiritual.

348 - X III. A Poligamia não é um pecado, naqueles que vivem nela segundo areligião.

T udo o que é contra a R eligião é reputado como sendo um pecado, porque issoé contra Deus; e por outro lado tudo o que está com a R eligião é reputadocomo não sendo pecado, porque isso está com Deus; ora, como a Poligamiaentre os filhos de Israel vinha da R eligião, e que se dá o mesmo hoje com osM aometanos, ela não podia e não pode lhes ser imputada como pecado. Alémdisso, a fim de que ela não seja para eles um pecado, eles permanecem naturais,e não se tornam espirituais; e o homem natural não pode ver que haja algumpecado nas cousas que pertencem a uma religião admitida; o homem espiritualsomente, o vê; é por esta razão que, embora segundo o Alcorão os maometanosreconheçam nosso Senhor como Filho de Deus, não obstante, eles se dirigemnão a Ele, mas a M aomé; e assim permanecem naturais, e por conseguinte nãosabem que há algum mal, nem mesmo alguma lascívia na poligamia; por isso oSenhor disse: "Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas agora dizeis: N ós vemos;por isso o vosso pecado permanece", (João IX, 41). Pois que a Poligamia não éacusada de pecado, é por isso que depois da morte eles têm seus Céus, n. 242 etêm alegrias segundo a sua vida.

349 - X IV . A Poligamia não é um pecado naqueles que estão na ignorância arespeito do Senhor.

E porque o Amor verdadeiramente conjugal vem do Senhor só, e porque esteamor não pode ser dado pelo Senhor senão aos que O conhecem, Oreconhecem, crêem n'Ele, e vivem a vida que vem d'Ele; e aqueles a quem esteamor não pode ser dado não sabem outra cousa senão que o amor do sexo e oamor conjugal são um; por conseguinte também a poligamia; que se ajunte aisso que os Polígamos, que nada sabem do Senhor, permanecem naturais; poiso homem se torna espiritual unicamente pelo Senhor, e ao homem natural nãoé imputado como pecado o que está conforme às leis da R eligião e ao mesmotempo da Sociedade; aquêle também age conformemente à sua razão, e a razãodo homem natural está em uma plena obscuridade sobre o Amorverdadeiramente conjugal; e este amor é por excelência espiritual; não obstantea razão dos poligamos é instruída pela experiência que importa à paz pública eprivada que o desejo libidinoso da promiscuidade em geral seja restringido, eseja deixado a cada um no interior de sua casa; daí vem a Poligamia.

350 - Sabe-se que o homem ao nascer é mais vil que a besta; todas as bestasnascem nas ciências que correspondem ao amor de sua vida; pois desde que sãodadas à luz, ou desde que saem da casca, elas vêem, ouvem, andam, conhecemseus alimentos, sua mãe, seus amigos e seus inimigos; e pouco tempo depoisconhecem o sexo, e sabem amar, e também criar seus filhotes; o homem só,

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quando nasce, nada sabe de semelhante, pois cousa alguma da ciência nascecom ele; é somente faculdade e inclinação para receber as cousas que pertencemà ciência e ao amor, e se não as recebe pelos outros, fica mais vil que a besta.Q ue o homem nasce assim, para este fim de não se atribuir cousa alguma, masque atribua aos outros, e enfim a Deus só, a totalidade da sabedoria e do amorda sabedoria, e que em conseqüência possa se tornar a imagem de Deus, vê-seno M emorável nº 132 a 136. Segue-se daí, que o homem, que não sabe pelosoutros que o Senhor veio ao M undo e que Éle é Deus, e que auferiu somentealguns conhecimentos sobre a R eligião e sobre as leis de seu país, não está emfalta se sobre o amor conjugal não pensa mais do que sobre o amor do sexo, ese crê que o amor poligâmico é o único amor conjugal; o Senhor conduz estesem sua ignorância, e por Seu Auspício Divino retira providencialmente daimputação da falta aqueles que pela R eligião fogem dos males como pecados,com o objetivo de serem salvos; pois cada homem nasce para o Céu, e nem umnasce para o inferno; e cada um vai para o Céu pelo Senhor, ou para o infernopor si mesmo.

351 - X V . Embora Polígamos, aqueles que reconhecem um Deus, e vivem pelaR eligião segundo as leis civis da justiça, são salvos.

T odos aqueles que, sobre todo o G lobo terrestre, reconhecem um Deus, evivem pela R eligião segundo as leis civis da justiça são salvos; pelas leis civis dajustiça são entendidos os preceitos, tais como estão no Decálogo, a saber, que épreciso não matar, não cometer adultério, não roubar, não dar falsotestemunho; estes preceitos são as leis civis da justiça em todos os R einos daterra, pois sem eles um R eino não subsistiria. M as conformam a vida por eles,uns pelo temor das penas da lei, outros por obediência civil, outros tambémpela religião; e aqueles que conformam a sua vida por eles também pela religiãosão salvos; isto provém de que então Deus está neles, e o homem em quemDeus está, é salvo. Q uem é que não vê que nos filhos de Israel, depois quepartiram do Egito, havia no número de suas Leis, que é preciso não matar, nãocometer adultério, não roubar, não dar falso testemunho, pois que sem estasleis, a sua comunidade ou sociedade não teria podido subsistir? E entretantoestas mesmas Leis foram promulgadas por Jehovah Deus sobre a montanha doSinai com um M ilagre admirável; mas a causa de sua promulgação foi, queestas mesmas Leis fossem assim feitas também leis da R eligião, e que assim elesas observassem não somente para o bem da Sociedade, mas também por Deus.Por estas con. siderações pode-se ver que os Pagãos, que reconhecem um Deuse vivem segundo as Leis civis da justiça, são salvos; pois não é sua culpa se nadasabem do Senhor, nem por conseguinte nada da castidade do casamento comuma única esposa; com efeito, é contra a Justiça Divina, que aqueles quereconhecem um Deus e vivem pela religião segundo as leis da justiça, queconsistem em fugir dos males porque são contra Deus, e fazer os bens porqueestão com Deus, sejam condenados.

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352 - X V I. M as nem uns nem outros podem ser consociados com os Anjos nosCéus Cristãos. É porque nos Céus Cristãos há a Luz celeste que é a DivinaV erdade, e o Calor celeste que é o Divino Amor; e estes dois desvendam quaissão os veros e os bens, além disso também quais são os males e os falsos; daívem que entre os Céus Cristãos e os Céus M aometanos não existe comunicaçãoalguma; dá-se o mesmo com o Céu dos G entios, se houvesse comunicação nãopoderiam ser salvos senão aqueles que estivessem pelo Senhor na luz celeste e aomesmo tempo no calor celeste; e mesmos estes não poderiam ser salvos, sehouvesse conjunção dos Céus; pois por esta conjunção todos os Céus seriamabalados, a ponto dos Anjos não poderem subsistir; com efeito, o incasto e olascivo influiriam dos M aometanos nos Céus Cristãos, o que não poderia sersuportado aí; e o casto e o puro influiriam dos Cristãos no Céu M aometano, oque não poderia de modo algum ser suportado aí; e então, pela comunicação e,por conseguinte, pela conjunção, os Anjos Cristãos se tornariam naturais eassim adúlteros, ou se permanecessem espirituais, sentiriam continuamente emtorno deles, o lascivo, que interceptaria toda beatitude de sua vida; algumacousa semelhante aconteceria ao Céu M aometano; pois os espirituais do CéuCristão os cercariam continuamente e os atormentariam, e arrebatariam todoprazer de sua vida, e além disso insinuaria que a poligamia é um pecado, e destamaneira, eles seriam sem cessar repreendidos. É por esta razão que todos osCéus são absolutamente distintos, a fim de que entre eles não haja conjunçõessenão pelo influxo da luz e do calor procedentes do Senhor pelo Sol, no meiodo qual Ele está; e este influxo ilustra e vivifica cada um segundo a recepção, ea recepção é segundo a religião; esta comunicação existe, mas não é dos Céusentre si.

353 - Ao que precede ajuntarei dois M emoráveis.

Primeiro M emorável. U m dia, eu me achava no meio de Anjos, e ouvi suaconversação; a sua conversação era sobre a Inteligência e sobre a Sabedoria;diziam que o homem não sente e não percebe outra coisa senão que elas estãouma e outra nele, e que assim tudo o que pensa pelo entendimento e se propõepela vontade vem dêle, enquanto que, entretanto, do homem não vem a menorcousa disso, exceto a faculdade de receber de Deus as cousas que pertencem aoentendimento e à vontade; e, como todo homem por nascimento é inclinado ase amar, então a fim de que o homem não pereça pelo amor de si e pelo fastoda própria inteligência, foi provido por criação a que este amor do marido fossetransferido para a esposa, e que por nascimento fosse implantado nesta o amorda inteligência e da sabedoria de seu marido, e assim do marido; é por isso quea esposa atrai a si continuamente o fasto da própria inteligência de seu marido,e o extingue nele e o vivifica nela, e assim o muda em amor conjugal, e o enchede encantos além de toda medida; foi provido a isso pelo Senhor, a fim de queo fasto da própria inteligência não enfatue o marido, a ponto de crer serinteligente o sábio por si mesmo e não pelo Senhor, que assim queira comer da

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árvore da ciência do bem e do mal, e em conseqüência se crer semelhante aDeus, e também Deus, como a serpente, que era o amor da própriainteligência, o disse e o persuadiu; é por isso que o homem, depois de tercomido dela, foi expulsão do Paraíso, e o caminho para a Arvore da vida foiguardado por um Q uerubim. O Paraíso, espiritualmente entendido, é ainteligência; comer da árvore da vida, no sentido espiritual, é ser inteligente esábio pelo Senhor; e comer da árvore da ciência do bem e do mal, no sentidoespiritual, é ser inteligente e sábio por si mesmo.

354 - O s Anjos, tendo terminado esta conversação, se retiraram, e vieram doisSacerdotes com um H omem que no M undo tinha sido Embaixador de umReino, e eu lhes contei o que tinha ouvido dizer pelos Anjos. Desde que oouviram, se propuseram a discutir os três sobre a Inteligência e sobre aSabedoria, e em seguida sobre a Prudência, a fim de decidir se vinham deDeus, ou do homem; a discussão era viva; todos três acreditavam igualmente decoração que vinham do homem, porque estão no homem, e porque apercepção mesma e a sensação mesma que é assim, o confirma; mas os doisSacerdotes, que estavam então no zêlo teológico, diziam que nada daInteligência nem a Sabedoria, nem por conseqüência da Prudência, vinha dohomem; ora, como o Embaixador retorquisse que assim nada do pensamentotambém não vinha do homem, eles disseram que nada dêle vinha; mas comofoi percebido no Céu, que todos três tinham a mesma crença, foi dito aoEmbaixador: "T oma as vestes do sacerdote, e crê que és sacerdote, e então fala".E ele as tomou, e se acreditou sacerdote, e então disse em alta voz, que nada daInteligência nem da Sabedoria, nem por conseqüência da Prudência, podiaexistir senão por Deus; e o demonstrou com sua eloqüência habitual, cheia deargumentos racionais; é comum no M undo espiritual, que um espírito seimagine ser o personagem de que tem sobre si a vestimenta, pela razão de quelá o entendimento reveste a cada um. Em seguida foi dito também do Céu aosdois Sacerdotes: "T irai vossas vestimentas e, tomai vestimentas de M inistrosPolíticos, e crêde que sois esses M inistros". E fizeram assim; e então pensaramao mesmo tempo por seus internos, e falaram segundo os argumentos quetinham abraçado anteriormente pela própria inteligência. N esse momentoapareceu uma Arvore perto do caminho, e lhes foi dito: "É a Arvore da ciênciado bem e do mal; guardai-vos de comer dela". N ão obstante todos os três,enfatuados pela própria inteligência, ardiam com o desejo de comer; e diziamentre si: "Por que não? não é um bom fruto?" E se aproximaram e comeramdela. Imediatamente todos os três, porque estavam em uma crença semelhante,se tornaram amigos de coração, e tomaram juntos o caminho da própriainteligência, que conduz ao Inferno; mas não obstante, eu os vi voltar, porquenão estavam ainda preparados.

355 - Segundo M emorável. N um dia em que eu olhava no M undo dosespíritos, vi em um certo prado homens vestidos com roupas semelhantes às

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dos homens do nosso M undo, pelo que soube que eram recém-vindos;aproximei-me déles, e fiquei ao seu lado para ouvir o que diziam entre si;falavam do Céu; e um deles, que tinha algum conhecimento, disse: "H á cousasadmiráveis que ninguém pode acreditar, a não ser que as tenha visto; porexemplo, Jardins paradisíacos, Palácios magníficos construidos segundo asregras da arquitetura, porque são obras da arte mesma, resplandecentes comoouro, na frente dos quais há Colunas de prata, e sobre as colunas Formascelestes feitas de pedras preciosas; além disso também, Casas de jaspe e desafira, com magníficos pórticos Por onde entram os Anjos; e, no interior dascasas Decorações que nem a arte nem a palavra podem exprimir. Q uanto aosAnjos mesmos, são de um e outro sexo; há mancebos e maridos, e há virgens eesposas; virgens tão belas, que não há exemplo de uma tal beleza no M undo,mas esposas ainda mais belas que aparecem como efígies do amor celeste, e seusmaridos como efígies da sabedoria celeste; e todos são jovens adolescentes; e, oque é mais, lá não se sabe o que é um amor do sexo que não seja o amorconjugal; e, o que vos maravilhará, os maridos estão na perpétua faculdade desaboriar-lhe as delícias". Q uando estes Espíritos noviços souberam que lá, nãohavia amor do sexo, além do amor conjugal, e que se estava em uma perpétuafaculdade de saborear-lhe as delícias, eles riram entre si e disseram: "T u nosfalas de coisas incríveis; uma tal faculdade não é possível, sem dúvida tu noscontas fábulas". M as então um Anjo desceu inopinadamente do Céu, secolocou no meio deles, e disse: "Escutai, eu vos peço; eu sou um Anjo do Céu;e aí vivo com a minha Esposa há mil anos, e durante este tempo, na mesma florda idade em que me vêdes aqui; devo isso ao meu Amor conjugal para comminha esposa; e posso afirmar que tenho tido e tenho esta perpétua faculdade;e como percebo que acreditais que isso não é possível, vou vos falar dissosegundo razões conformes à luz de vosso entendimento: N ada sabeis do estadoprimordial do homem, que é chamado por vós estado de integridade; nesteestado todos os interiores da mente estavam abertos até ao Senhor, e estavampor conseguinte no casamento do amor e da sabedoria, ou do bem e do vero; ecomo o bem do amor e o vero da sabedoria se amam perpetuamente, elesquerem perpètuamente ser unidos; e quando os interiores da mente foramabertos, este amor espiritual conjugal, decorre livremente com seu perpétuoesforço, e apresenta esta faculdade. A alma do homem mesma, porque está nocasamento do bem e do vero, está não sómente no perpétuo esforço destaunião, mas também no perpétuo esforço da frutificação e da produção de suasemelhança; e quando os interiores do homem estão abertos, por estecasamento, a partir da alma e os interiores consideram continuamente o efeitonos últimos como o fim para o qual existem, resulta dai que este perpétuoesforço de frutificar e de produzir sua semelhança, esforço que pertence à alma,se torna o esforço do corpo; e como o último da operação da alma no corpoentre dois esposos está aí nos últimos do amor, e como estes últimos dependemdo estado da alma, vê-se claramente de onde lhes vem esta perpetuidade. Q ue

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haja também uma perpétua frutificação é porque a Esfera U niversal paraengendrar e propagar os celestes que pertencem ao amor, e os espirituais quepertencem à sabedoria, e por conseguinte os naturais que pertencem àsprogenituras, procede do Senhor e enche o Céu inteiro e o M undo inteiro, eesta Esfera celeste enche as almas de todos os homens e desce por suas mentesao corpo até aos últimos, e dá a força de engendrar; mas força não pode serdada senão àqueles em quem está aberta uma passagem da alma, pelossuperiores e os inferiores da mente, no corpo até a seus últimos, o que acontecenaqueles que se deixam reconduzir pelo Senhor ao estado primordial dacriação; posso afirmar que nestes mil anos jamais me faltou a faculdade, nem aforça, nem a virtude, e que absolutamente nada conheci da diminuição dasforças, pois que estas pelo contínuo influxo da Esfera U niversal acimamencionada, são continuamente renovadas, e então rejuvenescem mesmo amente (animus), e não a entristecem como acontecem com os que lhe sofrem aperda. Além disso, o Amor verdadeiramente conjugal é absolutamente como oCalor da primavera, por cujo influxo tudo aspira germinar e frutificar; não háalém desse outro Calor em nosso Céu; por isso há lá entre os Esposos umaprimavera em seu perpétuo esforço, e é deste perpétuo esforço que vem estavirtude. M as as frutificações entre nós, nos Céus, são diferentes das dos homensnas terras; entre nós, são frutificações espirituais, que pertencem ao amor e àsabedoria, ou ao bem e ao vero; a Esposa pela sabedoria do M arido recebe emsi o amor desta sabedoria, e o M arido pelo amor da sabedoria na Esposa, recebeem si a sabedoria; e mesmo a Esposa é na realidade formada pelo amor dasabedoria do M arido, o que se dá pelas recepções das propagações da alma doM arido com a delícia proveniente dela querer ser o amor da sabedoria, de seuM arido; assim de V irgem ela se torna Esposa, e semelhança; daí também oamor com sua amizade intima na Esposa, e a sabedoria com sua felicidade noM arido, crescem contInuamente, e isso pela eternidade; é este o estado dosAnjos no Céu". Q uando o Anjo acabou de falar assim, olhou para os quetinham chegado recentemente no M undo, e lhes disse: "V ós sabeis que quandoestivestes na virtude do amor, amastes as vossas esposas, e que depois da delíciavós vos afastastes; mas não sabeis que nós, no Céu, não é segundo esta virtudeque amamos as esposas, mas que esta virtude em nós vem do amor, e comoamamos continuamente as esposas, ela é perpétua em nós; se portanto poderdesinverter o estado, podereis compreender isso; aquêle que ama perpètuamentesua esposa, não a ama com toda sua mente e com todo seu corpo? Pois, o amorfaz voltar todas as cousas da mente e todas as do corpo para o que ele ama, Tcomo isso é feito reciprocamente, ele conjunta os esposos a um tal ponto queeles se tornam como um". Além disso, ele disse: "N ão vos falarei do Amorconjugal implantado por criação nos machos e nas fêmeas, e dê sua inclinaçãopara uma legítima conjunção, nem da faculdade de prolificar nos machos, aqual faz um com a faculdade de multiplicar a sabedoria pelo amor do vero;nem do que faz com que, quanto mais o homem ama a sabedoria pelo amor da

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sabedoria, ou o vero pelo bem, tanto mais está no amor verdadeiramenteconjugal e na virtude que o acompanha".

356 - Depois de ter dito estas cousas, o Anjo guardou silênciocio; e peloespírito do discurso do Anjo, os recém-vindos compreenderam que a perpétuafaculdade de saborear estas delícias é possível; e como esta idéia alegrou suasmentes (animi), eles disseram: "O h! como é feliz o estado dos Anjos!Percebemos que vós, nos Céus, permaneceis pela eternidade no estado deadolescência, e por conseguinte na virtude desta idade; mas diz-nos, comopoderemos, nós também, gozar desta virtude?" E o Anjo respondeu: "Fugi dosadultérios como infernais, e dirigi-vos ao Senhor, e vós a tereis''. E elesdisseram: "N ós os fugiremos assim, e nos dirigiremos ao Senhor". M as o Anjoreplicou: "N ão podeis fugir dos adultérios como males infernais, a não ser quefujais igualmente dos outros males; porque os adultérios são o complexo detodos os males; e, a menos que fujais deles, não podereis vos dirigir ao Senhor;o Senhor não recebe outros". Depois disso, o Anjo se retirou, e estes novosespíritos se foram tristes.

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Do ciúme

357 - T rata-se aqui no Ciúme, porque ele pertence também ao AmorConjugal; mas há um Ciúme justo e um Ciúme injusto; um Ciúme justo existenos esposos que se amam mútuamente; neles, é um zêlo justo e prudente paraque seu amor conjugal não seja violado, e por conseguinte uma dor justa, se eleé violado; mas Ciúme injusto existe naqueles que por natureza são suspeitosos,e cuja mente está doente em conseqüência de um sangue vicioso e bilioso.Além disso todo Ciúme é considerado por alguns como um vício, eprincipalmente pelos escortadores que derramam censuras mesmo nos ciúmesjustos; a palavra Ciúme (Z elotypia) e derivada de Z eli T yprus (tipo de zêlo), ehá um tipo ou uma imagem de zelo justo, e um tipo ou uma imagem de zeloinjusto; mas estas distinções serão desenvolvidas no que vai seguir-se; isto seránesta série: I. O Z elo, considerado em si mesmo, é como um fogo abrasador doamor. II. O abrasamento ou a chama deste amor, que é um zelo, é umabrasamento ou uma chama espiritual, tendo sua origem em uma infestação eem um ataque dirigidos contra o amor. III. O Z elo, do homem é tal qual é seuamor; assim, de uma espécie naquele cujo amor é bom, e de outra espécienaquele cujo amor é mau. IV . O Z elo do amor bom e o Z elo do amor mau sãosemelhantes nos externos, mas absolutamente diferentes nos internos. V . OZ elo do amor bom encerra em seus internos o amor e a amizade; mas o Z elo doamor mau encerra em seus internos o ódio e a vingança. V I. O Z elo do amorconjugal é chamado ciúme. V II. O Ciúme é como um fogo abrasador contraaqueles que infestam o amor com o conjuge, e é como um temor horrível daperda deste amor. V III. H á Ciúme espiritual nos monógamos, e Ciúme naturalnos polígamos. IX. O Ciúme, nestes esposos que amam ternamente, é umajusta dor, segundo uma razão sã, por medo que o amor conjugal seja dividido,e assim pereça. X . O Ciúme, nos esposos que não se amam, existe por váriascausas; em alguns, ele vem de diversas moléstias da mente. X I. Em outros, nãohá Ciúme algum, e também por diversas causas. X II. H á também Ciúme emrelação às amantes, mas não da mesma espécie que em relação às esposas. X III.T ambém há ciúme entre os animais e entre os pássaros. X IV . O Ciúme noshomens e nos maridos é diferente do Ciúme nas mulheres e nas esposas.Segue-se agora a explicação destes Artigos,

358 - I. O Z elo considerado em si mesmo, é como o fogo arrasador do amor.

O que é o Ciúme não se pode conhecer, a menos que se conheça o que é ozelo, pois o Ciúme é o zelo do amor conjugal. Q ue o Z elo seja como o fogoabrasador do amor, é porque o Z elo pertence ao amor, e o amor é o calorespiritual, e este calor na sua origem é como o fogo; quanto ao primeiro ponto,

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que o zelo pertence ao amor, isso é notário; por estar zeloso e agir por zelo nãose entende outra coisa senão agir pela força do amor; mas como, quando existe,ele se apresenta não como amor, mas como adversário e inimigo, afligindo ecombatendo o que fere o amor, resulta daí que pode também ser chamadodefensor e protetor do amor; pois todo amor é de tal natureza que explode emindignação e em cólera, e mesmo em furor, quando é perturbado em seusprazeres; se portanto o amor e sobretudo o amor dominante, é tocado, háemoção da mente, e se esse toque fere, há arrebatamento; por isto, pode-se verque o Z elo não é o mais alto grau do amor, mas é o amor abrasado. O amor deum e o amor correspondente do outro são como dois confederados; masquando o amor de um se eleva contra o amor do outro, se tornam como doisinimigos; a razão disso, é que o amor é o ser da vida do homem, por isso aqueleque ataca o amor ataca a vida mesma; e então contra aquele que ataca há umestado de arrebatamento, tal como é o estado de todo homem que um outroprocura matar. H á um arrebatamento semelhante em cada amor, mesmo noamor mais pacífico, como se vê pelas galinhas, as patas e os pássaros de todaespécie que se levantam sem medo e se lançam contra os que ferem seus filhotesou que tiram seu alimento; que haja cólera em algumas bestas e furor nas bestasferozes, se seus filhos são atacados, ou se sua presa é tomada, isso é conhecido.Se se diz que o amor se abrasa como o fogo é porque o amor não é outra cousasenão o calor espiritual, tirando sua origem do fogo do. Sol Angélico, que épuro Amor; que o amor seja um calor como o do fogo, vê-se claramente pelocalor dos corpos vivos, que não vem de outra parte senão do amor; além dissotambém, pelo fato de que os homens se aquecem e se inflamam segundo asexaltações do amor. Por estas considerações, é evidente que o zelo é como ofogo abrasado do amor.

359 - II. O abrasamento ou a chama deste amor, que é um zelo, é umabrasamento ou uma chama espiritual, tendo sua origem em uma infestação eum ataque dirigido contra o amor.

Q ue o Z elo seja um abrasamento ou uma chama espiritual, vé-se claramentepelo que foi dito acima; como o Amor no M undo espiritual, é um calor quetem sua origem no Sol deste M undo, é por isso também que o amor aí aparecede longe como uma chama; assim aparece o amor celeste nos Anjos do Céu;assim também aparece o amor infernal nos espíritos do inferno; todavia, épreciso que se saiba que esta chama não queima como a chama do M undonatural. Se o Z elo tem também sua origem no ataque, dirigido contra o amor, éporque o amor é o calor do vida em cada um; quando portanto o amor da vidaé atacado, o calorda vida se inflama, resiste, e se lança contra o agressor, e agecomo inimigo por sua força e sua potência, do mesmo modo que a chama quese lança do fogo contra aquele que o ataca; que este calor seja como um fogo,vê-se pelos olhos, que faíscam, pela face que se inflama, além disso tambémpelo som da voz e pelos gestos; o amor, porque é o calor da vida, age assim para

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impedir a extinção de toda atividade, de toda vivacidade e de todaperceptividade do prazer procedente de seu amor.

360 - V ai-se dizer como, quando é atacado, o amor se abrasa e explode em zélocomo o fogo se abrasa e explode em chama quando é atiçado; o amor reside navontade do homem; todavia, ele se inflama não na vontade mesma, mas noentendimento; pois está na vontade como um fogo, e no entendimento comounia chama; o amor na vontade nada sabe do que lhe concerne, porque aí nadasente do que lhe pertence, e nada faz por si mesmo, mas isso acontece noentendimento e no pensamento do entendimento, o que se dá por diversosraciocínios, estes raciocínios são como pedaços de madeira que o fogo abrasa, eque por isso se inflamam; são portanto como outros tantos alimentos, ou comooutros tantos materiais combustíveis de onde provém esta chama espiritual, queé de uma grande variedade.

361 - A razão mesma pela qual o homem se inflama quando seu amor éatacado, vai ser desvendada. A forma humana em seus íntimos é por criação aforma do amor e da sabedoria; no homem estão todas as afeições do amor, e emconseqüência todas as percepções da sabedoria, compostas em uma ordemmuito perfeita, de tal sorte que em conjunto façam uma unanimidade, e porconseguinte um; elas são substanciais, pois as substâncias são seus sujeitos.Portanto, uma vez que a forma humana é composta delas, é evidente que, se oamor é atacado, toda esta forma, com todas e cada uma das cousas que aconstituem, é também atacada em um instante ou ao mesmo tempo; e comopor criação foi dado a todos os seres vivos querer permanecer em sua formaajuntamento comum o quer por cada uma das partes, e cada uma das partes oquer pelo ajuntamento comum; por conseguinte quando o amor é atacado, elese defende por seu entendimento, e o entendimento se defende por cousasracionais e por cousas imagmativas, pelas quais ele se representa oacontecimento, sobretudo por aquelas que fazem um com o amor que éatacado, se isso não se fizesse, toda essa forma, pela privação deste amor, seriadestruido. Daí vem que o amor, para resistir aos ataques, endurece assubstâncias de sua forma, e as iriça como em cristas, cheias de aguilhões, isto é,ela se irrita; tal é a irritação do amor, que é chamada Z elo se portanto o amornão tiver a faculdade de resistir, resultará daí a ansiedade e a dor, porque prevêa extinção da vida interior com seus prazeres. M as, ao contrário, se o amor éfavorecido e linsonjeado, esta forma se relaxa, amolece, se dilata, e assubstâncias da forma se tornam doces, tenras, pacíficas e atraentes.

362 - III. O Z elo do homem é tal qual é seu amor; assim, de uma espécienaquele cujo amor é bom, e de outra espécie naquele cujo amor é mau.

Pois que o Z elo pertence ao Amor, segue-se que ele é tal qual é o Amor; ecomo há em geral dois amores, o amor do bem e do vero segundo o bem, e oamor do mal e do falso segundo o mal, daí haver, em geral, o Z elo pelo bem econseqüentemente pelo falso. M as é preciso que se saiba que um e outro amor

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são de uma variedade infinita; isso é bem evidenciado pelos Anjos do Céu e osEspíritos do Inferno; uns e outros no M undo espiritual são formas de seuamor, e entretanto não há um único Anjo do Céu absolutamente semelhante aum outro; quanto à face, à linguagem, ao andar, aos gostos e aos costumes;nem espírito algum do inferno semelhante a um outro, e mesmo não o podehaver em toda eternidade, por mais multiplicados que sejam por miríades demiríades; daí é evidente que os Amores são de uma variedade infinita, pois taissão as suas formas; dá-se o mesmo com o Z elo, pois que o Z elo pertence aoAmor, quer dizer, que o Z elo de um não pode ser absolutamente semelhante aoZ elo de um outro ou ser o mesmo; em geral, há o Z elo do Amor bom e o Z elodo Amor mau.

363 - IV . O Z elo do amor bom e o Z elo do amor mau são semelhantes nosexternos, mas absolutamente diferentes nos internos.

O Z elo nos externos se apresenta em cada um como cólera e arrebatamento;pois é um amor abrasado e inflamado para se defender contra o violador, e pararepeli-lo. Se o Z elo do amor bom e o Z êlo do amor mau parecem semelhantesnos externos, é porque o amor, quando está no Z elo, se abrasa em um e outro,mas somente nos externos no homem bom, e tanto nos externos como nosinternos no homem mau; e quando os internos não são vistos, os Z elosparecem semelhantes nos externos; mas que sejam absolutamente diferentes nosinternos, verses no Artigo que vai seguir-se. Q ue o Z elo se apresenta nosexternos como cólera e arrebatamento, pode-se vê-lo e compreendê-loexaminando aqueles que agem e falam pelo Z elo; por exemplo, um sacerdotequando prega com zelo, o tom de sua voz é elevado, veemente, agudo e áspero;a sua f ace se inflama e se cobre de suor; ele se arrebata, bate no púlpito, eevoca contra os pecadores o fogo do inferno; dá-se o mesmo com muitosoutros.

364 - Para que se tenha uma idéia distinta do Z elo, nos bons e do Z elo nosmaus, e da diferença dêstes Z elos, é necessário que se forme alguma idéia dosInternos e dos Externos nos homens; para que se forme uma, seja para essepropósito uma idéia popular, pois isto também é para o povo. Seja pois paraexemplo uma noz ou um fruto com caroço, e suas amêndoas; os internos nosbons são como as amêndoas no interior em sua integridade e sua bondade,cercadas de sua casca ordinária e nativa; mas é inteiramente diferente nos maus,seus Interiores são como as amêndoas que não se pode comer por causa de seuamargor, ou porque estão podres, ou porque estão bichadas, enquanto que seusExternos são como as cascas das boas, ou semelhantes às cascas nativas, oubrilhantes como conchas, ou coloridas como pedras de íris. Assim aparecemseus externos, dentro dos quais estão escondidas os internos de que se acaba defalar. Dá-se o mesmo com seus Z elos.

365 - V . O M odo amor bom encerra em seus internos o amor e a amizade; maso M o, do amor mau encerra em seus internos o ódio e a vingança.

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Foi dito que o Z êlo nos externos se apresenta como cólera e arrebatamento,tanto naqueles que estão em. um amor bom como nos que estão em um amormau; mas como os Internos são outros, outras também são estas cóleras e estesarrebatamentos; e as diferenças são estas: 1. O Z elo do amor bom é como umachama celeste que jamais se lança contra um outro, mas somente se defende, ese defende contra o mau, corno quando este se lança no fogo e se queima; maso Z elo do amor mau é como uma chama infernal, que se lança e se precipita, equer consumir o adversário. 2. O Z elo do amor bom se extingue e se adoça,quando o adversário cessa de atacar; mas o Z elo do amor mau continua e nãose extingue. 3. A razão disso, é que o Interno daquele que está no amor do bemé em si doce, terno, amigável e benevolente; por isso quando o Externo para sedefender se exaspera, se crispa e se irrita, e assim age com dureza, é sempretemperado pelo bem em que está seu interno; é diferente nos maus, neles oInterno é inimigo, sem piedade, duro, respirando ódio e vingança, e sealimentando com os prazeres que aí encontra; e, embora se reconcilie, estesmales estão sempre escondidos como fogos nos tições sob a cinza; e estes fogosexplodem se não neste M undo ao menos depois da morte.

366 - Como o Z elo nos externos, tanto no homem bom como no homem mau,parecem semelhantes, e como o último sentido da Palavra consiste emcorrespondências e aparências, se diz muito freqüentemente de Jehovah que Elese encoleriza, que se arrebata, que se vinga, que pune, que lança no inferno,além de várias outras expressões que são aparências do Z elo nos externos; daívem também ser Ele chamado Ciumento (Z elotes); e entretanto não há n'Elecousa alguma da cólera, nem do arrebatamento, nem da vingança, pois Ele é aM isericórdia M esma e a Clemência M esma, no qual não há cousa algumasemelhante. M as sobre este assunto, ver maiores detalhes no T ratado do Céu edo Inferno, ns. 545 a 550, e no Apocalipse R evelado nºs. 494, 398, 525, 754,806.

367 - V I. O Z elo do Amor conjugal é chamado Ciúme.

O Z elo pelo Amor verdadeiramente conjugal é o Z elo dos Z elos, porque esteamor é o Amor dos amores, e porque seus prazeres, pelos quais também o Z eloé excitado, são os prazeres dos prazeres; pois este Amor, como foi mostradoacima, é a Cabeça de todos os amores; isto vem de que este Amor introduz naesposa a forma do amor, e no marido a forma da sabedoria, e destas formasunidas em um, não pode proceder outra cousa que não seja o que tem o saborda sabedoria e ao mesmo tempo do amor. Como o Z elo do Amor conjugal é oZ elo dos Z elos por isso mesmo é chamado por um novo nome Ciúme(Z elotypia), isto é, o tipo mesmo do Z elo.

368 - V II. O Ciúme é como um fogo abrasador contra aqueles que infestam oAmor com a consorte, e é como um temor horrível da perda deste amor.

T rata-se aqui do Ciúme daqueles que estão em um amor Espiritual com o

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consorte; no Artigo seguinte se tratará do Ciúme daqueles que estão em umamor N atural; e depois disso do Ciúme daqueles que estão no Amorverdadeiramente conjugal. N aqueles que estão em um amor espiritual, oCiúme é diverso, porque seu amor é diverso, pois não há jamais um únicoamor, seja espiritual, seja natural, absolutamente semelhante em duas pessoas,nem com mais forte razão em muitas.

Q ue o Ciúme espiritual, ou nos espirituais, seja como um fogo, abrasando-secontra aqueles que infestam seu amor conjugal, é porque o princípio do amorneles está nos internos de um e de outro, e de seu princípio seu amor segue osderivados até aos últimos pelos quais, e também ao mesmo tempo pelosprimeiros, são mantidos em uma agradável cadeia os intermediários quepertencem à mente e ao corpo. Como estes são espirituais em seu casamentotêm por fim a união, e na união o repouso espiritual e os encantos desterepouso; ora, como rejeitaram de suas mentes (animi) a desunião, é por issoque este Ciúme é como um fogo atiçado e se lançando contra aqueles queinfestam. Q ue seja também como um temor horrível, é porque seu amorespiritual tende a que sejam um; se portanto existe um caso, ou sobrevenhauma aparência de separação, resulta daí um temor cheio de horror, como seduas partes unidas fossem despedaçadas. Esta descrição do Ciúme me foi dadado Céu por aqueles que estão no amor conjugal espiritual; pois há um amorconjugal natural, um amor conjugal espiritual, e um amor conjugal celeste;quanto ao amor conjugal natural e ao amor conjugal celeste, e quanto aoCiúme dêstes amores, falar-se-á deles nos dois Artigos seguintes.

369 - V III. H á Ciúme espiritual nos monógamos, e Ciúme natural nospolígamos.

Se há um Ciúme espiritual nos monógamos, é porque estes somente podemreceber o amor conjugal espiritual, como foi suficientemente mostrado acima;se diz que há neles este ciúme, mas entende-se que ele pode estar aí; que elenão esteja senão em um número muito pequeno no M undo Cristão, onde oscasamentos são monogâmicos, mas que entretanto possa aí estar, é o que foimesmo confirmado acima. Q ue o amor conjugal nos polígamos seja natural,vê-se no Capítulo da Poligamia, nº 345 a 347; dá-se o mesmo com o Ciúme,porque este segue o amor. O que é o ciúme nos polígamos, as narrações dealguns homens que viram seus efeitos nos O rientais nô-lo ensinam; é que asesposas e as concubinas são guardadas como cativas em prisões, e são privadas eafastadas de toda comunicação com os homens; que nos apartamentos dasmulheres ou nos quar. tos de sua prisão, não é permitido entrar homem algum,a não ser que seja acompanhado de um eunuco; que se observa com atenção sealguma delas olha com olhar ou com ar lascivo para um transeunte; e que se sepercebe isso, a mulher é punida com pancadas, e se ela se entrega a atos lascivoscom algum homem Introduzido por astúcia no apartamento, ou fora dele, ela épunida com a morte.

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370 - Por estas narrações, foi mostrado com evidência o que é o fogo do Ciúmede que se abrasa o amor conjugal polígamo, que explode em cólera e emvingança, em cólera nos homens doces, e em vigança nos homens duros; e issoacontece porque seu amor è natural, e não participa do espiritual; é umaconseqüência do que foi mostrado no Capítulo da Poligamia, a saber, que aPoligamia é uma lascívia, n. 345; e que o polígamo, enquanto permanecepolígamo, é natural e não pode se tornar espiritual, n. 347. M as outro é oCiúme nos monógamos naturais; o amor dêstes não se inflama assim contra asmulheres, mas contra os violadores; contra eles se torna cólera, e contra elasfrieza; é de outro modo nos polígamos, cujo fogo do ciúme se abrasa tambémcom um furor de vingança; esta é mesmo uma das razões pelas quais asconcubinas e as esposas dos polígamos são em grande paxte libertadas depois damorte, e são enviadas a serralhos não guardados para se dedicarem a diversascousas que são obras de mulheres.

371 - IX. O Ciúme, nestes esposos que se amam ternamente, é uma justa dorsegundo uma razão sã, pelo temor de que o amor conjugal seja dividido, eassim pereça.

Em todo amor há medo e dor, há medo de que ele pereça, e dor se ele perece;dá-se o mesmo com o amor conjugal; mas seu medo e sua dor são chamadosZêlo ou Ciúme. Q ue este Z elo nos esposos que se amam ternamente seja justo,e que venha de uma razão sã, é porque, ao mesmo tempo, é um temor da perdada felicidade eterna, não somente para si, mas ainda para seu consorte, eporque é também uma defesa contra o adultério; quanto ao primeiro ponto,que é um justo temor da perda da felicidade eterna para si e para o consorte,resulta de todas as cousas que foram relatadas até aqui sobre o amorverdadeiramente conjugal, e destas, que por este amor há beatitude para suasalmas, felicidade para suas mentes, prazer para seus corações, e volúpia paraseus corpos, e como tudo isso permanece pela eternidade, eles temem pelafelicidade eterna de um e da outra. Q ue este Z elo seja uma justa defesa contrao adultério, isso é evidente, em conseqüência é como um fogo que se abrasacontra a violação e se defende contra ela. Por estas explicações é evidente queaquele que ama ternamente o consorte, é ciumento também, mas justo esensato segundo a sabedoria do homem.

372 - Foi dito que no Amor conjugal foi implantado o temor de que sejadividido, e a dor no caso em que pereça, e que seu Z êlo é como um fogo contraa violação; um dia em que eu meditava sobre este assuunto, interroguei Anjoszelosos sobre a sede do Ciúme; eles responderam que é no entendimento domarido que recebe o amor da esposa, e lhe retribui amor por amor, e que aqualidade do Ciúme está de acordo com a sabedoria do marido; disseram alémdisso que o Ciúme tem alguma cousa de comum com a honra que existetambém no amor conjugal, pois aquêle que ama sua esposa também a honra.Q uanto à residência do Z êlo no marido em seu entendimento, deram como

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razão que o amor conjugal se defende pelo entendimento, como o bem pelovero; assim a esposa defende as cousas que são comuns com o homem, por seumarido; e que é por isso que o Z elo é implantado nos homens, e pelos homens,e por causa dos homens, nas mulheres. A minha pergunta em qual região damente nos homens reside o Ciúme, responderam: "Em sua Alma, porque étambém uma defesa contra os adultérios, e como os adultérios destróemprincipalmente o amor conjugal, o entendimento do marido se endurece nosperigos de violação, e se apresenta como se ferisse o adúltero com um chifre.

373 - X . O Ciúme nos esposos que não se amam, existe por várias coisas; emalguns provém de diversas doenças da mente.

As causas pelas quais os esposos que não se amam mútuamente são Ciumentostambém, são principalmente a honra da força, o temor da difamação de seunome e também da esposa, e o mêdo de que os negócios domésticos caiam emdecadência. Q ue nos homens há a honra da força, isto é, que os homensquerem ser considerados em razão desta honra, isso é notório; pois enquantotêm esta honra, têm a mente como elevada, e não andam com a cabeçaabaixada entre os homens e as mulheres; a esta honra se junta mesmo umareputação de coragem; ela também existe nos chefes militares mais do que nosoutros. Q uanto ao medo da difamação de seu nome e também da esposa, estacausa tem coerência com a precedente; é preciso acrescentar que a coabitaçãocom uma prostituta e as práticas de deboche em uma casa, são infâmias. Q ueem alguns haja ciúme por mêdo de que os negócios domésticos caiam emdecadência, é porque neste caso o marido é desdenhado, e os deveres e osauxílios mútuos são suspensos; mas este Ciúme em alguns cessa com o tempo ese torna nulo, e em outros é mudado em um puro fingimento de amor.

374 - Q ue em alguns o Ciúme venha de diversas doenças da mente, isso não éignorado no M undo; pois há ciumentos que pensam continuamente que suasesposas são infiéis, e que as acreditam prostitutas por pouco que as ouçam ou asvejam falar amigàvelmente a homens ou a respeito de homens; há vários víciosda mente que produzem esta doença; o principal destes vícios é uma fantasiasuspeitosa que, se é alimentada por muito tempo, leva a mente para associedades de espíritos semelhantes, de que dificilmente pode arrancar-se; ela seafirma também no corpo, por isso que o serum, e por conseguinte o sangue, setorna viscoso, tenaz, espesso, lento, acre; a falta de forças a aumenta mesmo,pois faz com que a mente não possa ser elevada acima de suas suspeitas; comefeito, a presença das forças eleva, e a ausência abate, pois esta ausência faz comque a mente se acabrunhe, caia em desfalecimento e mirre; e então elemergulha cada vez mais nesta fantasia até cair no delírio, e em conseqüênciatem prazer em exprobações e, tanto quanto lhe é permitido, em injúrias.

375 - H á também grupos de regiões que são trabalhadas mais do que as outraspela doença do Ciúme; nesses lugares, as esposas são encarceradas,tirânicamente afastadas de toda conversaçâo com os homens, privadas de vê-los

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através de janelas, que são guarnecidas com grades estreitas, e são amedrontadascom ameaças de morte se a suspeita alimentada contra elas fôr reconhecidacomo bem fundada; além de várias outras durezas que as esposas ai sofrem daparte de seus esposos ciumentos. M as há duas causas deste ciúme; uma é aescravidão dos pensamentos e sua sufocação nas cousas espirituais da Igreja; aoutra é um desejo interior de vingança; quanto à primeira causa, a escravidão ea sufocação dos pensamentos nas cousas espirituais da Igreja, o que ela faz podeser concluído do que foi demonstrado acima, que para cada um o Amorconjugal está de acordo com o estado da Igreja nele, e que, como a Igreja vemdo Senhor, este Amor vem unicamente do Senhor, nºs 130 e 131; quando,portanto, em lugar do Senhor, é a homens vivos e a homens mortos que nosdirigimos e prestamos culto, segue-se dai que não há estado de Igreja com oqual o Amor conjugal possa fazer um; e tanto menos quanto mais suas mentessão levadas com terror a este culto por ameaças de uma horrível prisão; daíacontece que os pensamentos, ao mesmo tempo que as palavras, são mantidosviolentamente escravizados e sufocados; uma vez sufocados, influem cousas quesão, ou contrárias à Igreja, ou quiméricas em favor da Igreja; daí não resultaoutra cousa senão o ardor pelas prostitutas, e o gelo pela esposa; é deste ardor edeste gelo reunidos em uma mesma pessoa que decorre este fogo indomável doCiúme. Q uanto à segunda causa, o desejo interior de vingança, detéminteriormente o influxo do amor conjugal, absorve-o, devora-o, e muda-lhe oprazer, que é celeste, em um prazer de vingança, que é infernal, e a maispróxima determinação deste prazer é contra a esposa. Segundo a aparência,resulta também que a malignidade da atmosfera, que aí é impregnada deexalações virulentas da região ao redor, é uma causa suplementar(succenturiata).

376 - X I. Em outros não há Ciúme algum, e também por diversas causas.

Se não há Ciúme algum, e se o Ciúme cessa, há para isso várias causas; não háCiúme principalmente naqueles que não estimam mais o amor conjugal do queo amor escortatório, e que ao mesmo tempo estão sem glória, não fazendo casoalgum de sua reputação; estes assemelham-se muito aos maridos que prostituemsuas esposas. N ão há também Ciúme naqueles que o rejeitaram, porque seconfirmaram que ele infecta a mente (animus); que é em vão que a mulher évigiada; que vigiá-la é excitá-la; que por conseguinte é melhor fechar os olhos, enão olhar mesmo pelo buraco da fechadura, com receio de descobrir algumacousa; alguns o rejeitaram por causa da ignorância ligada ao nome de Ciúme,pensando que o homem que é homem nada teme; outros foram forçados arejeitá-lo, com medo de que os negócios domésticos venham a sofrer; alémdisso também com medo de incorrer no descrédito público, se a esposa fosseacusada de libertinagem de que é culpada. Além disso, o Ciúme se torna nulonaqueles que, em razão de sua impotência, concedem toda liberdade às esposas,a fim de ter filhos que sejam seus herdeiros; além disso também, em alguns por

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motivos de interêsse; e assim por diante. H á também casamentos escortatórios,nos quais, por mútuo consentimento, dão-se, um ao outro, inteira liberdade deintrigas amorosas, e entretanto se tratam com polidez quando se encontram.

377 - X II. H á também Ciúme em relação às amantes; mas não do mesmomodo que em relação às esposas.

O Ciúme em relação às esposas tem sua fonte nos íntimos do homem; mas oCiúme em relação às amantes tem sua fonte nos externos; são portanto de umgênero diferente; se o Ciúme em relação às esposas tem sua fonte nos íntimos, éporque o Amor conjugal aí reside; e ele aí reside porque o casamento, por suaeternidade estabelecida por uma aliança e também pela igualdade do direitopelo qual um pertence ao outro, une as almas, e liga mais alto as mentes; estelaço e esta união, uma vez formados, permanecem indissolúveis, qualquer queseja o amor, quente ou frio, que em seguida intervenha. V em daí que o conviteao amor da parte da esposa esfria inteiramente o marido desde os íntimos atéaos últimos, enquanto que o convite ao amor da parte da amante não age assimsobre seu amante. Ao Ciúme em relação à esposa se junta a ambição dareputação em vista da honra; e este acessório do Ciúme não existe a respeito daamante. M as, entretanto, um e outro Ciúme varia segundo a sede do amorrecebido da esposa e recebido da amante, e ao mesmo tempo segundo o estadodo julgamento do homem que recebe este amor.

378 - X III. T ambém há Ciúme nas bestas e nas aves.

Q ue haja Ciúme nas bestas ferozes, como leões, tigres, ursos, e vários outros,quando têm filhotes, isso é conhecido; além disso, também nos touros, aindaque não tenham bezerros; e, no mais alto grau, nos galos que combatem com osrivais até à morte, pelas galinhas; se nestes há um tal Ciúme, é porque sãoamorosos gloriosos, e a glória deste amor não suporta um igual; que sejamamorosos gloriosos mais do que todo gênero e toda espécie de aves, vê-se porseus gestos, seus movimentos de cabeça, seu andar, e o tom de sua voz. Q ue aglória da honra nos maridos, tanto amorosos como não amorosos, introduz,exalta e aguça o Ciúme, isso foi confirmado acima.

379 - X IV . O Ciúme nos homens e nos maridos é diferente do ciúme nasmulheres e nas esposas.

M as estas diferenças não podem ser apresentadas distintamente, pois que um éo Ciúme nos esposos que se amam espiritualmente, outro nos esposos que nãose amam senão naturalmente, outro nos esposos cujas mentes estão emdesacordo, e outro nos esposos dos quais um pôs o outro sob o jugo de suaobediência. O s Ciúmes dos homens e os Ciúmes das mulheres, consideradosem si mesmos, são diversos, porque têm uma origem diferente; a origem dosCiúmes dos homens está no entendimento, mas a dos Ciúmes das mulheresestá na vontade aplicada ao entendimento de seu marido; é por isso que oCiúme do homem é como uma chama de arrebatamento e de cólera, mas o da

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mulher é como um fogo retido por um temor diverso, por um aspecto diverso,sobre o marido, por uma consideração diversa por seu próprio amor, e por umaprudência diversa para não descobrir pelo Ciúme este amor aos maridos;diferem, porque as esposas são os amores, e os maridos são os recipientes dessesamores; e é prejudicial às esposas prodigalizar seu amor aos maridos, mas não édo mesmo modo prejudicial aos recipientes prodigalizá-lo às esposas. T odavia, éde modo diferente nos espirituais; neles o Ciúme do marido é transferido paraa esposa, do mesmo modo que oamor da esposa é transferido para o marido; épor isso que de uma parte e de outra ele aparece semelhante contra os esforçosdo violador; mas o Ciúme da esposa é inspirado ao marido contra os esforçosda prostituta violadora; é como uma dor que chora e que comove aconsciência.

380 - Acrescentarei dois M emoráveis:

Primeiro M emorável: U m dia estava muito admirado da imensa multidão dehomem que atribuem à N atureza a Criação, e conseqüentemente tudo o queestá abaixo do Sol e tudo o que está acima do Sol, dizendo, ao reconhecê-lo dofundo do coração, quando vêem alguma cousa: "Isso não é da natureza?" Equando se lhas pergunta porque atribuem isso à natureza e não a Deus, quandoentretanto dizem, por vezes, com a comunhão da Igreja, que Deus criou aN atureza, e que por conseguinte poderiam tão bem dizer que as cousas quevêem são de Deus, como dizer que são da N atureza; então respondem com umtom de voz interno quase tácito: “O que é Deus, senão a N atureza?" T odosesses se mostram gloriosos da persuasão de que o U niverso foi criado pelaN atureza, e desta loucura como de uma sabedoria, a ponto de consideraremtodos os que reconhecem a Criação do U niverso por Deus, como formigas querastejam sobre a terra e seguem o caminho batido, e alguns, como borboletasque vôam no ar, chamando seus dogmas de sonhos, porque vêem o que elesnão vêem, dizendo: "Q uem viu Deus, e quem é que não vê a N atureza?"Enquanto eu estava admirado da multidão destes homens, um Anjo apareceudiante de mim sobre o lado e me disse: "Sobre o que meditas tu?" e respondi:''Sobre a multidão dos que acreditam que a N atureza criou o U niverso"; e oAnjo me disse: "T odo o Inferno é composto de tais homens, e eles sãochamados Satãs e Diabos; Satãs, os que se confirmaram pela N atureza, e porconseguinte negam Deus; Diabos os que viveram nos crimes, e assim rejeitaramde seus corações todo o reconhecimento de Deus; mas vou te conduzir aG inásios situados na Plaga meridional-ocidental, onde residem os que são tais, eque ainda não estão no Inferno"; e me tomou pela mão, e me conduziu; e vicasinhas nas quais havia G inásios, e no meio delas, uma que era como oPretório de todas as outras; este pretório era construido de pedras de breu queeram recobertas por lâminas como de vidro brilhantes como ouro e prata taiscomo são as que se chamam vidros de M aria; e aqui e ali eram, recamadas comconchas que brilhavam igualmente. Aproximamonos desta casa, e batemos à

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porta; e em breve alguém a abriu, e disse: "Sede bem-vindos"; e correu a umamesa, e trouxe quatro livros, e disse: "Estes livros são a sabedoria a que umamultidão, de R einos aplaude hoje; a este Livro ou a esta Sabedoria aplaudemnumerosos homens na França; a este numerosos homens na Alemanha, a estealguns na H olanda, e a este alguns na Inglaterra"; depois disse: "Se quizerdesver, farei com que estes quatro Livros brilhem a vossos olhos", e então exalou eespalhou em torno a glória de sua reputação, e os Livros imediatamenteresplandeceram como de luz; mas esta luz diante de nossos olhos se dissipouimediatamente; e então lhe perguntamos o que ele escrevia agora; e respondeu:"N este momento tiro dos meus tesouros e exponho as cousas que pertencem àsabedoria íntima, as quais em resumo são estas: I. A N atureza pertence à V ida,ou a V ida à N atureza. II. O Centro pertence à Extensão, ou a Extensãopertence ao Centro. III. Sobre o Centro da Extensão da N atureza e da V ida".Depois de ter assim falado, assentou-se em uma poltrona perto da mesa; nós,porém, percorremos seu G inásio que era espaçoso; havia sobre a mesa umaV ela, porque lá não havia uma Luz do Sol, mas uma Luz noturna de lua; e, oque me admirou, a vela parecia levada por toda parte e iluminar; mas como nãoera espivitada, clareava pouco; e enquanto ele escrevia, víamos esvoaçar da mesapara as paredes imagens de formas diferentes, que, nesta luz materna de lua,pareciam como belas aves das índias, mas quando abrimos a porta, eis que estasimagens, na Luz diurna do Sol, apareciam como pássaros noturnos cujas asassão em forma de rede; de fato, eram verossimilhanças, que por confirmaçõestinham se tornado ilusões, que haviam sido engenhosamente ligadas em série.Depois de ter visto isto, aproximamo-nos da mesa, e lhe perguntamos o queescrevia no momento; Ele disse: ''Sobre este Primeiro Ponto: A N aturezapertence à V ida, ou a V ida pertence à N atureza"; e sobre este ponto disse quepodia confirmar um ou outro, e fazer com que um e outro fossem verdade;mas como havia dentro dele alguma cousa escondida que ele temia, não ousavaconfirmar senão esta proposição, que a N atureza pertence à V ida, isto é, vemda V ida; e não a outra, que a V ida pertence à N atureza, isto é, vem daN atureza. N ós lhe perguntamos com honestidade o que havia dentro deleescondido que ele temia; respondeu que era de ser chamado N aturalista, e porconseguinte ateu pelos Padres, e H omem de uma razão pouco sã pelos Leigos,porque uns e outros ou crêem por uma fé cega, ou vêem pela vista daquelesque confirmam esta fé. Então levado por uma sorte de indignação de zêlo pelaverdade, nós o interpelamos, dizendo: "Amigo, tu muito te enganas; asabedoria, que consiste em escrever com talento, te seduziu, e a glória dareputação te induziu a confirmar o que tu não crês; não sabes que a M entehumana pode se elevar acima dos sensuais, os quais são o que, nospensamentos, provém dos sentidos do corpo; e que, quando é elevado, vê emcima as cousas que pertencem à V ida, e em baixo as que pertencem à N atureza?O que é a V ida, senão o Amor e a Sabedoria, e o que é a N atureza, senão oreceptáculo pelo qual o Amor e a Sabedoria operam seus efeitos ou os usos?

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Será que a V ida e a N atureza podem ser de outro modo senão como o principale o instrumental? Será que a luz pode ser um com o olho, ou o som um com oouvido? De onde vêm os sentidos da vista e do ouvido, senão da V ida; e suasformas, senão da natureza? O que é o corpo humano, senão um órgão da V ida?T udo o que o compõe, em geral e em particular, não foi orgânicamenteformado para produzir as cousas que o Amor quer e que o Entendimentopensa? O s órgãos do corpo não vêm da natureza; e o Amor e o Pensamento nãoprocedem da V ida? Estas cousas não são absolutamente distintas entre si? Elevaainda um pouco mais alto a perspicácia do teu gênio, e verás que é próprio daV ida ser afetada e pensar, e que ser afetado pertence ao amor, que pensarpertence à sabedoria, e que um e outro pertencem à vida; pois, como já foidito, o amor e a sabedoria são a vida; se elevares ainda um pouco mais alto afaculdade de compreender, verás que o Amor e a Sabedoria não podem existir amenos que sua origem esteja em alguma parte, e que sua origem é o AmorM esmo e a Sabedoria M esma, e por conseguinte a V ida M esma; e estas cousassão Deus de quem provém a N atureza". Em seguida lhe falamos do Segundoponto: O Centro pertence à Extensão, ou a Extensão pertence ao Centro e lheperguntamos porque tratou desta questão; respondeu: "Com o fim de concluirsobre o Centro e a Extensão da N atureza e da V ida, assim sobre a origem deuma e de outra" e quando lhe perguntamos qual era sua opinião sobre esteponto; respondeu, como sobre o primeiro ponto, que podia confirmar uma ououtra parte da proposição, mas que, com receio de perder sua reputação, Eleconfirmava que a Extensão pertence ao Centro, isto é, vem do Centro; aindaque saiba, acrescentou ele, que antes do Sol houve alguma cousa, e que estaalguma cousa estava por toda parte no U niverso, e confluiu por si mesma emordem, assim para o Centro. Então o interpelamos de novo com umaindignação excitada pelo zelo, e lhe dissemos: "Amigo, tu és louco"; e logo queouviu estas palavras, recuou sua poltrona da mesa, e nos olhou com timidez; eentão prestou atenção, mas rindo; entretanto continuamos nestes termos: “Oque há de mais insensato que dizer que o Centro vem da Extensão, por teuCentro entendemos o Sol, e por tua Extensão entendemos o U niverso, e queassim o U niverso teria existido sem o Sol! N ão faz o Sol a N atureza e todas assuas propriedades, que dependem unicamente do Calor e da Luz procedentesdo Sol pelas Atmosferas? O nde estaria a N atureza antes? De onde ela, vem,porém, é o que diremos quando o terceiro ponto for discutido; as Atmosferas etodas as cousas que estão sobre a terra não são como Superfícies, e o Sol não éseu Centro? O que eram todas essas cousas antes do Sol? Poderiam elas existir?A subsistência não é uma perpétua existência? Portanto, uma vez que asubsistência de todas as coisas da N atureza vem do Sol, segue-se que aexistência de todas as coisas vem dele também; cada um o vê e o reconhece porintuição; do mesmo modo que o posterior existe pelo anterior, não subsistetambém por ele? Se a superfície fosse o anterior, e o centro o posterior, oanterior não subsistiria pelo posterior, o que entretanto é contra as leis da

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O rdem? Como os psoteriores podem produzir os anteriores, ou os exteriores osinteriores, ou os mais grosseiros os mais puros? Em conseqüência como assuperfícies que constituem a Extensão podem produzir os centros? Q uem nãovê que isso é contra as leis da natureza? N ós te damos estes argumentos tiradosda análise da razão, para confirmar que a Extensão existe pelo Centro, e nãovice-versa, embora quem quer que pense justo o veja sem estes argumentos.Disseste que a Extensão tinha por si mesma confluído para o Centro, assimestaria fortuitamente em uma ordem de tal modo admirável e surpreendente,que cada coisa é para uma outra, e que tudo em geral e em particular é para ohomem e para sua vida eterna; será que a N atureza pode por algum amor pormeio de alguma sabedoria prover a tais cousas? E pode ela com os homens fazeros Anjos, e destes constituir o Céu, (e fazer com que os que aí estão vivameternamente?) Estabelece estas proposições e reflete, e então cairá a tua idéia daexistência da natureza pela natureza". Depois disso, nós lhes perguntamos oque ele havia pensado, e o que pensava presentemente o T erceiro ponto: Sobreo Centro e a Extensão da N atureza e da V ida; se acreditava que o Centro e aExtensão da V ida fossem a mesma cousa que o Centro e a Extensão daN atureza. R espondeu que estava em suspenso; que a princípio tinha pensadoque a atividade interior da N atureza era a V ida; e que o Amor e a Sabedoria,que fazem essencialmente a vida do homem, provinham dela; e que o fogo doSol pelo calor e a luz, as atmosferas servindo de meios, a produzia; mas que,agora, segundo o que acabava de ouvir sobre a vida eterna dos homens, estavana Incerteza, e que esta incerteza levava sua mente ora para cima, ora parabaixo, quando era para cima, ele reconhecia um Centro de que não tinha tidoantes noção alguma, e quando era para baixo, via o Centro que tinhaacreditado ser único; que a V ida vem do Centro de que ele não tinha tido antesnoção alguma; que a N atureza vem do Centro que ele tinha acreditado antesser único; e que um e outro Centro tem uma Extensão em torno dele. A estaspalavras dissemos: "Está bem, desde que também, do Centro e da Extensão daV ida, tu queiras considerar o Centro e a Extensão da N atureza, e nãovice-versa"; e lhe ensinamos que acima do Céu Angélico há um Sol que é puroAmor, e por conseguinte ígneo como o Sol do mundo; que é pelo Calor queprocede deste Sol que os Anjos e os homens têm a V ontade e o Amor, e que épela Luz que eles têm o Entendimento e a Sabedoria, que as cousas quepertencem à vida são chamadas Espirituais, e que as que procedem do Sol doM undo, são os continentes da vida, e são chamadas N aturais; que a Extensãodo Centro da V ida é chamada M undo Espiritual, o qual subsiste por seu Sol, eque a Extensão da N atureza é chamada M undo N atural, a qual subsiste por seuSol. O ra, como os Espaços e os T empos não podem se dizer do Amor e daSabedoria, e são substituídos pelos Estados, a Extensão em torno do Sol do CéuAngélico, não é uma Extensão, mas está entretanto na Extensão do Sol N aturale aí segundo as recepções nos indivíduos vivos, e as recepções são segundo asfor.mas". M as então ele perguntou de onde vinha o fogo do Sol do M undo ou

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da N atureza; nós lhe respondemos que vem do Sol do Céu Angélico, que é nãoum fogo, mas o Divino Amor procedendo Imediatamente de Deus, que é oAmor M esmo; como ficasse admirado, nós lh'o demonstramos assim: o Amorem sua essência é o fogo espiritual; é por isso que o fogo, no sentido espiritualda Palavra, significa o amor; daí os Sacerdotes, nos T emplos, orarem para queos corações sejam cheios do Fogo celeste, pelo qual entendem o amor; o fogodo Altar e o fogo do Candelabro no T abernáculo, entre os Israelitas nãorepresentava outra cousa senão o Divino Amor; o Calor do sangue, ou o Calorvital dos homens e em geral dos animais, não tem outra origem senão o amorque faz a sua vida; daí vem que o homem se aquece, se abrasa e se inflama,quando seu amor é exaltado em zêlo, em cólera, e em arrebatamento; é por issoque, pelo fato do Calor espiritual, que é o Amor, produzir nos homens umcalor natural, ao ponto de aquecer e de inflamar suas faces e seus membros, éevidente que o Fogo do Sol natural não existe senão pelo Fogo do Sol espiritualque é o Divino Amor. O ra, pois que a Extensão vem do Centro e nãovice-versa, como o dissemos acima, e como o Centro da vida, o qual é o Sol doCéu Angélico, é o Divino Amor procedendo imediatamente de Deus, que estáno meio deste Sol; e pois que é dai que vem a Extensão deste Centro, Extensãoque é chamada M undo Espiritual, e que é por este Sol que existe o Sol doM undo, e por este sua Extensão que é chamada M undo N atural, é evidenteque o U niverso foi criado por Deus só". Depois disso, fomos embora, e ele nosacompanhou além do pórtico do seu G inásio, e conversou conosco sobre o Céue o Inferno e sobre o Divino auspício, com uma nova sagacidade de gênio.

381 - Segundo M emorável: U m dia, olhando em torno de mim no M undo dosespíritos, vi de longe um Palácio cercado e como que assediado por umamultidão de espíritos, e via também um grande número que acorria; admiradodisso, saí precipitadamente de casa, e perguntei a um dos que acorriam o quehavia naquele lugar. R espondeu: "T rês recém-vindos do M undo foramelevados ao Céu, e viram lá cousam magníficas, e também V irgens e Esposas deuma beleza admirável; e descendo do Céu, entraram neste Palácio, e contaramo que tinham visto, e principalmente que essas belezas eram tais como jamaisviram seus olhos, e não podem ver, a não ser iluminados pela luz da auraCeleste; diziam, falando deles mesmos que no M undo tinham sido O radores;que eram do R eino da França, e eram dados à eloqüência, e que tinham agora odesejo de falar sobre a O rigem da beleza. Como esta notícia se espalhou navizinhança, a multidão acorreu para ouví-los". T endo recebido esta resposta,apressei-me também; e entrei, e vi esses três homens de pé no meio, vestidos devestes cor de safira, que, por causa de fios de ouro entremeados, brilhavamcomo se fossem de ouro, conforme as mudanças de posição; estavam por trazde uma espécie de tribuna, prontos para falar, e em breve um dos três subiusobre um patamar atrás da tribuna para falar sobre a O rigem da beleza do Sexofeminino, e exprimiu-se assim:

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382 - "A O rigem da beleza, que outra cousa é senão o Amor, que influindo nosolhos das jovens, e os inflamando, se torna beleza? O Amor e a Beleza sãoportanto a mesma cousa; pois pelo íntimo o Amor cora a face de uma virgemnúbil com uma espécie de chama, cuja transparência é a aurora e a púrpura desua vida; quem não sabe que esta chama envia raios em seus olhos, e delescomo centros se espalha no orbe da face, e também desce ao peito, e abrasa ocoração, e assim afeta aqueles que estão perto? Este calor é o amor, e esta luz é abeleza do amor. O mundo inteiro afirma de comum acordo, que cada um éamável e belo segundo seu amor; mas, entretanto, um é o amor do Sexomasculino, e outro o amor do Sexo feminino; o amor masculino é o amor deser sábio, e o amor feminino é o amor de ser sábio no masculino; quanto mais,portanto um jovem é o amor de ser sábio tanto mais é amável e belo aos olhosde uma jovem, e quanto mais uma jovem é o amor da sabedoria de um jovem,tanto mais é amável e bela aos olhos de um jovem; é por isso que, assim comoum amor vai ao encontro do amor de um outro e o beija, assim também fazemas belezas. Concluo portanto que o amor forma as belezas à sua semelhança".

383 - Depois deste, o segundo se levantou para desvendar por um discursoagradável a O rigem da beleza; e disse: "Acabo de ouvir dizer que o Amor é aO rigem da beleza; mas não posso me filiar a esta opinião. Q ual é o homem quesabe o que é o Amor? Q uem o contemplou por alguma idéia do pensamento?Q uem o viu com os olhos? Dizei-me onde ele está. M as eu afirmo que aSabedoria é a O rigem da beleza, nas mulheres a sabedoria que se mantémintimamente escondida e encerrada, nos H omens a sabe doria que se manifestae é aparente. De onde o homem é homem, senão pela sabedoria? Se não fosseassim, o homem seria uma estátua ou quadro. A que uma moça presta atençãoem um rapaz senão em que grau ele é Sábio? E a que um rapaz presta atençãoem uma moça senão no grau da afeição que ela tem pela sabedoria? Pelasabedoria entendo a moralidade real, porque esta é a sabedoria da vida; daí vemque, quando, a sabedoria que se mantém escondida se aproxima e abraça asabedoria que se manifesta, o que acontece interiormente no espírito de um ede outro, elas se ligam e se conjuntam mútuamente, e isso é chamado Amor, eentão elas se apresentam de uma parte e de outra como belezas. Em umapalavra, a Sabedoria é como a luz ou o esplendor do fogo que toca os olhos; e,conforme toca forma a beleza".

384 - Depois deste, levantou-se o terceiro, e exprimiu-se nestes termos: "N ão éo Amor só, nem a Sabedoria só, que é a O rigem da beleza, mas é a união doamor e da sabedoria; a união do amor com a sabedoria em um jovem, e a uniãoda sabedoria com o amor da sabedoria em uma jovem; pois a jovem ama asabedoria, não nela mesma, mas no jovem, e por conseguinte ela o vê comobeleza; e, quando o jovem vê isso na jovem, ele a vê como beleza; por isso oamor pela sabedoria forma a beleza, e a sabedoria pelo, amor a recebe; que sejaassim, é o que se torna bem evidente no Céu; vi aí virgens e esposas, prestei

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atenção à sua beleza, e a vi de um modo nas virgens e inteiramente de outromodo nas esposas; nas virgens somente em seu brilho, mas esposas em seuesplendor; vi a diferença como a do diamante que brilha na luz e do rubi queao mesmo tempo faísca como fogo. O que é a beleza senão a delícia da vista?De onde vem a O rigem desta delícia, senão do jogo do amor e da sabedoria?Este jogo dá brilho à vista, e este brilho é dardejado de olho a olho, e apresentaa beleza. O que é que faz a beleza da face senão o rubor e a brancura, e suaagradável mistura? O rubor não vem do amor, e a brancura não vem dasabedoria? Pois o amor é rubor por seu fogo, e a sabedoria é branca por sua luz;eu as vi claramente uma e outra nas faces de dois esposos no Céu, o rubor dabrancura na esposa, e a brancura do rubor no marido; e notei queresplandeciam com seu olhar mútuo". Q uando o terceiro assim se exprimiu, aAssembléia aplaudiu e exclamou: "Este é o vencedor". E então de repente umaluz inflamada, que é também a luz do amor conjugal, encheu de esplendor acasa e ao mesmo tempo de encanto os corações dos que estavam presentes.

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Da conjunção do amor conjugalcom o amor dos filhos

385 - H á índices que mostram claramente que o Amor conjugal e o Amor dosfilhos, que é chamado Estorge, foram conjuntos; há também índices quepodem levar a crer que não foram conjuntos; pois o amor dos filhos existe nosesposos que se amam de coração, e também nos esposos separados um dooutro, e às vezes é mais temo e mais forte nestes do que nos outros; mas que,não obstante, o amor dos filhos foi conjunto à perpetuidade com o amorconjugal, é o que se pode ver por sua origem, da qual influi; pois ainda que estaorigem varie nos que recebem, estes amores permanecem sempre inseparáveis,absolutamente como o fim primeiro no fim último, que é o efeito; o fimprimeiro do amor conjugal, é a procriação de filhos, e o fim último que é oefeito, são os filhos procriados; que o fim primeiro se transporte para o efeito, eaí esteja como em seu começo, (primordium), e não se retire daí, pode-se vê-lopela intenção racional da progressão dos fins e das causas em sua ordem para osefeitos; mas como os racionais de um grande número de homens não partemsenão dos efeitos, e vão dos efeitos a algumas conseqüências que daí resultam, enão começam pelas causas, indo analiticamente das causas aos efeitos, assim pordiante, resulta que as cousas racionais da luz não podem deixar de tornar-secousas obscuras da nuvem; dai as desviações do vero, as quais têm sua fonte nasaparências e nas ilusões. O ra, a fim de que se veja que o amor conjugal e oamor dos filhos estão inteiramente conjuntos, ainda que exteriormentedesunidos, isso será mostrado nesta ordem: I. Duas Esferas universais procedemdo Senhor, para conservar o U niverso no estado criado; uma é a Esfera daprocriação, e a outra é a Esfera de proteção das cousas procriadas. II. Estas duasEsferas universais fazem um com a Esfera do Amor conjugal e a Esfera doAmor dos filhos. III. Estas duas Esferas influem universalmente em todas ascoisas do Céu e em todas as cousas do M undo, desde as primeiras até àsúltimas. IV . A Esfera do amor dos filhos é Esfera da proteção e da sustentaçãodaqueles que não podem nem se proteger nem se sustentar a si mesmos. V . EstaEsfera afeta tanto os maus como os bons, e dispõe cada um a amar, a proteger ea sustentar sua progenitura segundo o próprio amor. V I. Esta Esfera afetaprincipalmente o sexo feminino, assim as mães, mas por elas o sexo masculinoou os pais. V II. Esta Esfera é também a esfera da inocência e da paz procedentedo Senhor. V III. A Esfera da inocência influi nos filhos, e por eles nos pais, eos afeta. IX. Ela influi também nas almas dos pais, e se conjunta com a mesmaesfera nos filhos; e é insinuada principalmente pelo tato. X. N o mesmo grau em

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que se retira a inocência nos filhos, a afeição e a conjunção diminuem também,e isso sucessivamente até à separação. XI. O estado racional de inocência e depaz nos pais em relação aos filhos, consiste em que por eles mesmos nada sabeme nada podem, mas sabem e podem pelos outros, sobretudo pelo pai e pelamãe; e este estado também se retira sucessivamente, à medida que eles sabem epodem por eles mesmos e não pelos outros. X II. Esta Esfera avança, emordem, do fim pelas causas, nos efeitos, e faz períodos, pelos quais a Criação éconservada no estado que foi previsto, e ao qual foi provido. X III. O Amor dosfilhos desce e não sobe. X IV . U m é o estado do amor nos esposos antes daconcepção, e outro após a concepção até ao nascimento. XV . O amor conjugalé conjunto nos pais com o amor dos filhos por causas espirituais, e daí porcausas naturais. X V I. O amor das criancinhas e das crianças é um nos espososespirituais, e outro nos esposos naturais. X V II. N os espirituais este amor vemdo interior ou do anterior, mas nos naturais vem do exterior ou do posterior.XV III. É daí que este amor está nos esposos que se amam mútuamente; etambém nos esposos que não se amam de modo algum. XIX. O amor dos filhospermanece depois da morte, principalmente nas mulheres. X X. As Crianças sãocriadas por elas sob os auspícios do Senhor, e crescem em estatura e eminteligência como no M undo. XXI. Lá, é provido pelo Senhor a que nelas ainocência da infância se torne a inocência da sabedoria e assim as crianças setornem anjos. Segue-se agora a explicação destes Artigos.

386 - I. Duas Esferas U niversais procedem do Senhor para conservar oU niverso no estado criado; uma é a Esfera da procriação e a outra é a Esfera deproteção das coisas procriadas.

O Divino procedente do Senhor é chamado Esfera, porque sai d'Ele, O cerca,enche um e outro M undo, o Espiritual e o N atural, e opera os efeitos dos finsque o Senhor predestinou na criação, e aos quais provê depois dela. T udo oque aflui de um agente, e que o cerca, enche um e outro M undo, o Espiritual eo N atural, e opera e do calor efluindo do solem torno dele, a esfera da vidaafluindo do homem em torno dêle, a esfera do perfume efluindo de uma plantaem torno dela, a esfera de atração afluindo do ímã em torno dele, e assim pordiante. M as as Esferas universais, de que se trata aqui, são do Senhor em tornod'Ele, e procedem do Sol do M undo espiritual no meio do qual Ele mesmoestá; do Senhor por este Sol procede uma Esfera de calor e de luz, ou, o que é amesma coisa, uma Esfera de amor e de sabedoria para operar os fins que são osusos; mas esta Esfera, segundo os usos, tem diferentes nomes; a Divina Esferaque, por gerações sucessivas, provê a conservação do U niverso no estado criado,é chamada Esfera de procriação; e a Divina Esfera que provê a conservaçao dasgerações em seus começos, e em seguida em suas progressões, é chamada Esferade proteção das cousas procriadas. Além destas duas Esferas, há várias outrasEsferas Divinas que são denominadas segundo os usos, assim. de outro modo,ver acima nº 222. As operações dos usos por estas Esferas são a Divina

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Providência.

387 - II. Estas duas Esferas universais fazem um com a Esfera do amor conjugale a Esfera do amor dos filhos.

Q ue a Esfera do amor conjugal faça um com a Esfera da procriação, isso éevidente; pois a procriação é o fim, e o amor conjugal a causa média per quam(pela qual o fim avança); ora, o fim e a causa nas cousas a efetuar e nos efeitosfazem um; porque agem juntas. Q ue a Esfera do amor dos filhos faça um coma Esfera da proteção das cousas procriadas, isso é ainda evidente, porque ela é ofim procedente do fim anterior, que é a procriação, e o amor dos filhos é a suacausa média per quam; com efeito, os fins avançam em série, um após outro, eavançando o fim último se torna primeiro, e assim ulteriormente, até ao térmono qual se detêm ou cessam; mas sobre este assunto ver-se-á maiores detalhesnas explicações do Artigo X II.

388 - III. Estas duas Esferas influem universalmente e singularmente em todasas coisas do Céu e em todas as comas do M undo, desde os primeiros até aosúltimos.

Foi dito universalmente e singularmente, porque, quando se faz menção deum universal, os singulares de que se compõem são entendidos ao mesmotempo; pois é por eles que ele existe e é neles que ele consiste, assim é por elesque ele é denominado, como o comum pelas partes; se portanto retiras ossingulares, o universal fica unicamente uma palavra, e é como uma superfíciedentro da qual nada há; é por isso que, atribuir a Deus o governo do universal,e tirar-lhe os singulares, é uma palavra vazia, e uma espécie de atribuição vã. Acomparação com o govêrno universal dos reis da terra não poderia ser admitida.Portanto é por isso que se diz que estas Esferas influem universalmente esingularmente.

389 - Se as Esferas de procriação e de proteção das cousas procriadas, ou asEsferas do amor conjugal e do amor dos filhos, influem em todas as cousas doCéu é em todas as do M undo, desde os primeiros até aos últimos, é porquetodas as cousas que procedem do Senhor, ou do Sol que existe por Ele, e noqual Ele está, atravessam o U niverso criado até aos últimas de todas as coisasque o compõem; a razão disso é que os Divinos, que, na progressão, sãochamados Celestes e Espirituais, são sem espaço e sem tempo; que a extensãonão se possa dizer dos espirituais, porque o espaço e o tempo não se lhes podeaplicar, isso é notório; daí vem que tudo que procede do Senhor existe em uminstante dos primeiros nos últimos; que a Esfera do amor conjugal seja assimuniversal, vê-se acima, nºs. 222 a 225. Q ue aconteça o mesmo com a Esfera doamor aos filhos, isso é evidente por esse amor no Céu onde estão as criançasvindas da terra, e por este amor no M undo entre os homens, entre as bestas,entre as aves, entre as serpentes, entre os insetos; há também semelhanças desteamor nos reinos vegetal e mineral; no vegetal, no fato das sementes serem

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guardadas por envólucros como cueiros, e além disso, no fruto como em umacasa, e serem alimentados com suco como se fosse leite; que haja alguma cousasemelhante nos minerais, isso é evidente pelas matrizes e as gangas em que aspedras preciosas e os metais preciosos são encerrados e guardados.

390 - Se a esfera de procriação e a esfera de proteção das coisas procriadas,fazem um em uma série contínua, é porque o amor de procriar é continuadono amor do procriado; qual é o amor de procriar, sabe-se por seu prazer, que ésobreeminente e transcendente; nele está o estado de procriação nos homens, ede uma maneira notável o estado de recepção nas mulheres; este supremoprazer segue com seu amor até ao nascimento, e aí se ,completa.

391 - IV . A Esfera do amor dos filhos é a esfera da proteção e da sustentaçãodos que não podem nem proteger-se nem sustentar-se a si mesmos.

Q ue as operações dos usos pelo Senhor por meio das esferas que procedemd'Ele sejam a Divina Providência, isso foi dito acima, nº 386; é portanto aDivina Providência, que é entendida pela esfera de proteção e de sustentaçãodos que não podem nem proteger-se nem sustentar-se a si mesmos; com efeito,é de criação que as coisas criadas devem ser conservadas, guardadas, protegidase sustentadas, de outro modo o U niverso cairia em ruína; mas como isso nãopode ser feito imediatamente pelo Senhor nos sêres vivos, aos quais foi deixadoo arbítrio, isso é feito mediatamente por seu amor implantado nos pais, nasmães, nas amas; que seu amor seja o amor procedente, do Senhor neles, elesnão o sabem, porque não percebem o influxo, nem com mais forte razão aompresença do Senhor; mas quem não pode ver que isso pertence não ànatureza, mas à Divina Providência operando na natureza por meio danatureza; e que um tal U niverso não pode existir senão por Deus por meio deum Sol espiritual, que está no Centro do U niverso, e cuja operação, porque ésem espaço e sem tempo, é instantânea e presente dos primeiros aos últimos?Q uanto à maneira pela qual esta Divina operação, que é a Divina Providênciado Senhor, é recebida pelos seres animados, falar-se-á dela na continuação. Q ueas mães e os pais protegem e sustentam os filhos, porque estes não podem nemproteger-se nem sustentar-se a si mesmos, não é esta a causa deste amor, mas háuma causa racionalmente derivada deste amor caindo no entendimento; pois ohomem, por esta causa só, sem um amor inspirado e inspirando esta causa, ousem uma lei e sem uma pena que o constranjam, não proveria aos filhos maisdo que uma estátua.

392 - V . Esta Esfera afeta tanto os maus como os bons, e dispõe cada um aamar e proteger e a sustentar sua progenitura pelo próprio amor.

A experiência prova que o Amor dos filhos ou o Estorge existe tão bem nosmaus como nos bons, igualmente nas bestas mansas e nas bestas ferozes, e que,mesmo, nos homens maus, como nas bestas ferozes, é por vezes, mais forte emais ardente; a razão disso, é que todo amor procedendo do Senhor e

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influindo, é mudado no indivíduo em amor de sua vida, pois cada indivíduoanimado não sente outra coisa senão que é por ele mesmo que ama; com efeito,ele não percebe o influxo; e quando também efetivamente se ama, faz o amordos filhos seu próprio amor, pois eles se vê como neles e os vê como em si, eassim se vê unido a eles. Daí vem também que este amor nas bestas ferozes,assim nos leões e nas leoas, nos ursos e nas ursas, nos leopardos machos efêmeas, nos lobos e na lobas, e em outros semelhantes, é mais violento que noscavalos, nos cervos, nos bodes, nos carneiros; e isso porque nessas bestas ferozeshá dominação sobre as bestas mansas, e por conseguinte amor de sipredominando; e este amor se ama na progenitura; é por isso que, como já foidito, o amor influindo, é mudado em um amor próprio. U ma tal mudança doamor influindo em um amor próprio, e em conseqüência a proteção e asustentação das progenituras e dos filhotes pelos pais maus, vem da DivinaProvidência do Senhor; pois de outro modo, não restaria do gênero humanosenão poucos indivíduos, e nem uma das bestas ferozes, que entretantodesempenham um uso. Segundo estas considerações é evidente que cada um édisposto a amar, a proteger e a sustentar sua progenitura, pelo próprio amor.

393 - V I. Esta Esfera afeta principalmente o sexo feminino, assim as mães, epor elas o sexo masculino ou os pais.

Isto vem desta mesma origem, de que se falou acima, a saber, que a Esfera doamor conjugal é recebida pelas mulheres, e é transferida por meio das mulheresaos homens, por esta razão que as mulheres nascem amores do entendimentodos homens, e o entendimento é recipiente; dá-se o mesmo com o amor dosfilhos, porque ele vem originàriamente do amor conjugal; que nas mães o amordos filhos seja muito terno, e que nos pais o seja menos, isso é notório. Q ue oamor dos filhos tenha sido inscrito no amor conjugal em que nascem asmulheres, vê-se claramente pela amável e social afeição das jovens pelascrianças, e por suas bonecas que elas carregam, vestem, cobrem de beijos eapertam contra o peito. N ão há uma tal afeição nos meninos. Parece que oamor dos filhos nas mães vem de que, no útero, elas as alimentaram com seupróprio sangue, e vem por conseguinte da apropriação de sua vida, e assim, deuma união simpática; mas entretanto, não é essa a origem desse amor, pois quese, à revelia da mãe, se substituísse depois do nascimento o seu filho por umoutro, ela o amaria com a mesma ternura como se fosse o seu; além disso, ascrianças, às vezes, são amadas por suas amas mais do que por suas mães.Segue-se dai que este amor não tem outra origem que não seja o amor conjugalgravado em cada mulher, ao qual foi adjunto o amor de conceber, amor cujoprazer prepara a esposa para a recepção, é isto o primeiro deste amor, que, comseu prazer depois do nascimento, passa plenamente para o filho.

394 - V II. Esta Esfera é também a esfera da inocência e da paz.

A Inocência e a Paz são os dois íntimos do Céu; são denominados íntimos,porque procedem imediatamente do Senhor; pois o Senhor é a Inocência

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mesma e a Paz mesma; pela Inocência o Senhor é chamado Cordeiro, e pelaPaz Ele diz: "A Paz eu vos deixo, a minha Paz eu vos dou", (João X IV , 27); etambém é entendida pela Paz com que os discípulos deviam saudar a cidade oua casa em que entrassem, e da qual se diz que a Paz viria sobre ela se fossedigna, e que se não fosse digna, retornaria para eles, (M ateus X , 11 a 15); porisso também o Senhor é chamado, Príncipe da Paz, (Isaías IX, 5 e 6). Se aInocência e a Paz são os íntimos do Céu, é também por esta razão, que aInocência é o ser de todo bem, e a Paz é a beatitude de todo prazer quepertence ao bem; ver o T ratado do Céu e do Inferno, sobre o estado deinocência dos Anjos no Céu, nº 276 a 283; e sobre o estado de Paz no Céu, nº284 a 290.

395 - V III. A Esfera de inocência influi nas crianças, e por elas nos pais, e osafeta.

Q ue as crianças sejam inocências, isso é sabido; mas que sua inocência influado Senhor, isso não é sabido; ela influi do Senhor porque Ee é a InocênciaM esma, como acaba de ser dito; e cousa alguma não pode influir senão de seuprincípio, porque não pode existir senão por este princípio que é o IstoM esmo. M as qual é a inocência da infância, que afeta os pais, isso será dito empoucas palavras: Ela se manifesta com brilho em sua face, por alguns de seusgestos, e por sua primeira linguagem, e afeta; a inocência está neles, porque nãopensam pelo interior, pois não sabem ainda o que é o bem e o mal, nem o queé o vero e falso, segundo os quais os homens pensam; por conseguinte eles nãotêm nem prudência proveniente do próprio, nem resolução tomada pordeliberação, por conseguinte. mal algum por fim; não têm o próprio adquiridopelo amor de si e do mundo; não se atribuem cousa alguma; todas as cousasque recebem eles atribuem a seus pais; contentam-se com as menores coisas quese lhes dá; não têm inquietação alguma sobre alimento e sobre roupas, nemsobre o futuro; não dirigem suas vistas para o mundo, e por conseguinte nãodesejam muitas cousas; amam ,seus pais, suas amas, e as crianças de sua idade,com as quais brincam com inocência; deixam-se conduzir, ouvem e obedecem;é isto a inocência da infância, que é a causa do amor chamado estorge.

396 - IX. Influi também nas almas, dos pais, e se conjunta com a mesma esferanas crianças; e é insinuada principalmente pelo tato.

A Inocência do Senhor influi nos Anjos do terceiro Céu, onde todos estão naInocência da sabedoria, e passa através dos Céus inferiores, mas, somenteatravés das inocências dos Anjos dêstes Céus, e assim imediatamente emediatamente nas crianças; elas são pouco mais que formas esculpidas, masentretanto capazes de receber a vida procedente do Senhor pelos Céus.T odavia, se os pais não recebessem também este influxo em suas almas e nosíntimos de suas mentes, seriam afetados em vão pela inocência dos filhos; épreciso que haja em um outro alguma cousa adequada e homogénea pela qualserá feita a comunicação, e que fará a recepção, a afeição e por conseguinte a

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conjunção; de outro modo seria como uma semente tenra caindo sobre umcalhau, ou como um cordeiro lançado contra um lobo; dai vem, portanto, quea inocência, que ínfluí nas almas dos pais, se conjunta com a Inocência dosfilhos. Q ue esta conjunção se faça por meio dos sentidos do corpo, masprincipalmente pelo tato, nos pais, a experiência pode ensiná-lo; por exemplo, avista é inteiramente deleitada por sua presença, o ouvido por sua línguagem, oolfato, por seu odor; que a comunicação e por conseguinte a conjunção dasinocências se faça principalmente pelo tato, vê-se claramente pelo encanto quesentem carregando-as em seus braços, abraçando-as e beijando-as, sobretudo asmães que sentem delícias pela aplicação de sua boca e de sua face sobre o seio, eentão ao mesmo tempo pelo contato de suas mãos; em geral pela sucção dasmamas e pelo aleitamento, e além disso pelo contacto de seu corpo nu, e porum cuidado infatigável de enfaixá-las e limpá-las sobre seus joelhos. Q ue ascomunicações do amor e de suas delícias entre os esposos se façam pelo sentidodo tato, é o que já foi demonstrado algumas vezes; se as comunicações damente se fazem também por este sentido, é porque as mãos são os últimos dohomem, e os primeiros estão juntos nos últimos; por isso também todas ascousas do corpo e todas as cousas da mente, que são intermediárias, estãocontidas em um encadeamento indissolúvel; daí vem que Jesus tocava ascrianças, (M ateus X IX, 13, 15; M arcos X , 13, 16); e que curava os doentespelo tato; e que os que O tocavam ficavam curados; é também por isso que asiniciações no sacerdócio se fazem hoje pela imposição das mãos. Por estasexplicacões é evidente que a inocência dos pais e a inocência dos filhos vão aoencontro uma da outra pelo tato, sobretudo pelo toque das mãos, e que assimse conjuntam como por beijos.

397 - Q ue a Inocência produza também, pelos contactos, nas bestas e nas avessemelhantes efeitos, como nos homens, isso é notário; se produz efeitossemelhantes, é porque tudo o que procede do Senhor se espalha em uminstante pelo U niverso, ver acima nº 388 a 390; e como isso vai por graus e porcontínuas mediações, passa por conseguinte não somente até aos animais, .masmesmo além, até aos vegetais e aos minerais, nº 389; isso passa também à terramesma, que é a mãe de todos os vegetais e de todos os minerais; pois na estaçãoda primavera, ela está, em um estado preparado para receber as sementes comoem um útero; e, quando as recebeu, as concebe, por assim dizer, as aquece, asprotege, as faz brotar, as amamenta, as alimenta, as reveste, as cria, as conserva,e por assim dizer, ama o que é produzido, e assim por diante. Pois que a Esferada procriação vai até aí, porque então não chegaria até aos animais de todaespécie, até aos vermes? Q ue, do mesmo modo que a terra é a mãe comum Idosvegetais, há também uma mãe comum das abelhas em cada ,colmeia, é o que aobservação demonstra.

398 - X . N o mesmo grau em que a inocência se retira nas crianças, a afeição e aconjunção diminuem também, e isso sucessivamente até à separação.

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Q ue o amor dos filhos ou o estorge, se retira dos pais, conforme a inocência seretira dos filhos, e que nos homens ele se retira até à separação dos filhos forada casa, e nas bestas e nas aves até ao afastamento dos filhotes para fora de suapresença, e até ao esquecimento de que são sua progenitura, isso é sabido; porisso, como por um índice confirmado, também se pode ver que a inocência,influindo de uma parte e de outra, produz o amor chamado estorge.

399 - X I. O estado racional de inocência e de paz nos pais a respeito dos filhosconsiste em que para eles estes nada sabem e nada podem, mas sabem e podempelos outros, sobretudo pelo pai e pela mãe, e este estado também se retirasucessivamente à medida que sabem e podem por eles mesmos e não pelosoutros.

Q ue a Esfera do amor dos filhos seja a Esfera da proteção e da sustentaçãodaqueles que não podem nem se proteger nem se sustentar a eles mesmos, issofoi mostrado acima em um Artigo especial, nº 391; que esta causa sejaunicamente uma causa racional no homem, mas não seja a causa mesma doamor dos pais, também se fez menção-disso no mesmo Artigo. A causaoriginária mesma deste amor é a inocência que procede do Senhor, a qual influisem o homem saber, e produz esta causa racional; é por isso que, à medida quea primeira causa faz com que a gente se afaste deste amor, esta segunda causa ofaz também ao mesmo tempo, ou, o que é a mesma cousa, à medida que acomunicação da inocência se retira, a razão persuasiva a acompanha também;mas isso acontece somente no homem, a fim de que o que ele faz, o faça pelolivre segundo a razão, e para que, pela razão, como por uma lei racional e aomesmo tempo moral, ele sustente sua progenitura adulta segundo asnecessidades e as utilidades. Esta segunda causa não existe para os animaisprivados de razão; neles há somente a primeira causa, que para eles é o instinto.

400 - X II. A Esfera do amor da procriação avança, em ordem, do fim para ascausas nos efeitos, e faz períodos pelos quais a criação é conservada no estadoque foi previsto, e ao qual foi provido.

T odas as operações no U niverso avançam dos fins para as causas nos efeitos;estes três são em si mesmos indivisíveis, ainda que nas idéias pareçam divididos;todavia, o fim não é alguma cousa, se ao mesmo tempo o efeito para o qual setende não é visto, e um e outro não se tornam alguma cousa, se a causa mãosustenta, não provê e não conjunta. U ma tal progressão foi inscrita em cadahomem no comum e em todo singular, absolutamente como a vontade, oentendimento e a ação; todo fim pertence à vontade, toda causa aoentendimento, e todo efeito à ação; semelhantemente, todo fim pertence aoamor, toda causa per quam à sabedoria, e todo efeito ao uso; a razão disso é queo receptáculo do amor é a vontade, o receptáculo da sabedoria é oentendimento, e o receptáculo do uso é a ação; quando, portanto, as operaçõesno comum e no singular, no homem, vão da vontade pelo entendimento aoato, elas vão também amor pela sabedoria ao uso; mas pela sabedoria aqui é

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entendido tudo o que pertence ao julgamento e ao pensamento; que estes trêssejam um no efeito, isso é evidente; que também façam um nas idéias antes doefeito, percebe-se pelo fato de que só falta a terminação; pois na mente o fimparte da vontade, e produz para ele uma causa no entendimento e se apresentaa si mesmo uma intenção, e a Intenção é como um ato antes da terminação; daívem que a intenção é recebida como o ato pelo sábio, e também pelo SenhorQ ual é o homem racional que não possa ver, ou, quando o ouve dizer, nãopossa reconhecer, que estes três decorrem de alguma primeira causa, e que estacausa consiste em que do Senhor Criador e Conservador do U niverso,procedem continuamente o Amor, a Sabedoria e o U so, e estes três, como um?Q ue se diga, se é possível, de que outra fonte isso pode vir.

401 - U ma semelhante progressão de fim pela causa ao efeito, pertence tambémà Esfera de procriação, e à Esfera de proteção das cousas procriadas. O fim é aía V ontade ou o Amor de procriar, a causa média pela qual e na qual o fim seconduz, é o Amor Conjugal, a série progressiva das causas eficientes é o amor, aconcepção e a gestação do embrião ou do feto a procriar, e o efeito é o fetomesmo procriado; entretanto, embora o fim, a causa e o efeito marchemsucessivamente como três, contudo no amor de procriar, e interiormente emcada uma das causas, e no efeito mesmo, eles fazem um; são somente as causaseficientes que marcham através do tempo, porque estão na natureza, o fim ou avontade, ou o amor, permanece continuamente o mesmo; pois os fins, nanatureza, marcham através do tempo sem o tempo, mas não podem se produzire se manifestar, antes que o efeito ou o uso exista e se torne agente; antes disso,este amor não pode amar senão a progressão, mas não pode nem se afirmarnem se fixar. Q ue exista períodos de tais progressões, e que por eles hajaconservação da criação no estado que foi provido, isso é notório. M as a série doamor dos filhos, desde seu mais alto grau até ao mais baixo, assim até ao termono qual se detém ou cessa, é retrograda, pois que este amor é segundo odecrescimento da inocência no indivíduo, e também em razão dos períodos.

402 - X III. O Amor dos filhos desce e não sobe.

Isto é, desce de geração em geração, ou dos filhos e das filhas aos netos e àsnetas, e não sobe destes aos pais e às mães de família; isso é bem sabido. A causade seu crescimento nas descida é o amor de frutificar ou de produzir usos; e,quanto ao gênero humano é o amor de se multiplicar; mas isso tira sua origemunicamente do Senhor, visto que Ele M esmo, na multiplicação do gênerohumano, considera a conservação da Criação, e como fim último da Criação, oCéu Angélico, que é composto unicamente do gênero humano; e como o CéuAngélico é o fim dos fins, e por conseguinte o amor .dos amores do Senhor, épor isso que nas almas dos homens foi implantado o amor não somente deprocriar, mas também de amar as cousas procriadas nas sucessões; daí vemtambém que este amor é dado somente aos homens, e não a besta alguma, nema ave alguma. Q ue ete amor no homem desce acrescendo-se, é também pela

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glória da honra, que igualmente se acresce nele segundo as alimentações; que oamor da honra e da glória recebe em si o amor dos filhos, que influi do Senhor,e o faça como seu, ver-se-á no Artigo X V I, adiante.

403 - X IV . U m é o estado do amor nos esposos antes da concepção, e outro éele depois da concepção, até ao nascimento.

Isto é apresentado aqui a fim de que se saiba que o amor de procriar, e emconseqüência o Amor do que foi procriado, foram impressos no amor conjugalnas mulheres, e que estes dois amores nelas são divididos, quando o fim, que éo amor de procriar, começa sua progressão; que então o Amor estorge sejatransferido da esposa para o marido, e que então também o Amor de procriar,que na mulher faz um com seu amor conjugal, isso é evidente por váriosindícios.

404 - X V . O Amor conjugal é conjunto nos pais com o amor dos filhos porcausas espirituais, e daí por causas naturais.

As causas espirituais são, que o G ênero H umano seja multiplicado, e que porele o Céu angélico seja aumentado, que assim nascem homens que se tomarãoAnjos, servindo ao Senhor fazendo usos no Céu, e também nas terras por suasconsociações com os homens; pois a cada homem foram, pelo Senhor,associados Anjos com os quais há uma tal conjunção, que se fossem retirados, ohomem sucumbiria imediatamente. As causas naturais da conjunção destes doisamores são, que nasçam homens que executem usos nas sociedades humanas, eque aí sejam incorporados como membros. Q ue estas causas naturais e estascausas espirituais pertençam ao amor dos filhos e ao amor conjugal, os espososmesmos o pensam também e por vezes o declaram, dizendo que enriqueceramo Céu com tantos Anjos quantos descendentes tiveram, e que forneceram paraornamento da Sociedade tantos servidores quantos filhos tiveram.

405 - X V I. O Amor das criancinhas e das crianças é um nos esposos espirituaise outro nos esposos naturais.

N os esposos espirituais o amor das criancinhas é, quanto à aparência,semelhante ao amor destas crianças nos esposos naturais; mas ele é interior epor conseguinte mais terno, porque este amor vem da inocência e de uma maispróxima percepção da inocência, e assim de uma mais presente percepção neles,pois os espirituais são espirituais da forma como participam da inocência. M asos pais espirituais, depois de terem provado a doçura da inocência em seusfilhinhos, amam seus filhos de modo inteiramente diferente dos pais e das mãesnaturais; os espirituais amam os filhos segundo a inteligência espiritual e a vidamoral destes, assim os amam pelo seu temor a Deus e sua piedade efetiva oupiedade da vida, e ao mesmo tempo por sua afeição e sua aplicação aos usosservindo à Sociedade, assim por suas virtudes e suas boas obras; éprincipalmente segundo o amor destas cousas que eles provêm e satisfazem asnecessidades de seus filhos; é por isso que se não vêem neles essas qualidades, se

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desprendem deles, e não fazem por eles senão o que é de seu dever. N os pais emães naturais, o amor dos filhinhos vem também da inocência, é verdade, masesta inocência recebida por eles é enrolada em torno de seu próprio amor, e porconseguinte é por este amor e ao mesmo tempo por esta inocência, que amamseus filhinhos, que os beijam, os abraçam, os carregam, os apertam de encontroao peito, e os acariciam excessivamente, e que os consideram como fazendo umsó coração e uma só alma com eles; em seguida após o estado de sua infânciaaté à puberdade e além, quando a inocência não opera mais, eles os amam, nãopelo temor a Deus e a piedade efetiva ou piedade na vida, nem por algumainteligência racional e moral neles, e pouco olham, ou mal olham para suasafeições internas, e por conseguinte para as suas virtudes e os seus bonscostumes, mas unicamente para as cousas externas, às quais são favoráveis; aisso adjuntam, ligam e juntam seu amor; por conseguinte, fecham mesmo osolhos a seus vícios, desculpando-os e favorecendo-os; a razão disso é que neles oamor dessa progenitura é também o amor deles mesmos, e este amor se liga aoindivíduo no exterior e não entra nele como ele mesmo não entra em si.

406 - A qualidade do amor das criancinhas e do amor das crianças nos espososespirituais, e a qualidade destes dois amores nos esposos naturais, sãoclaramente discernidas pelo estado deles depois da morte; com efeito, a maiorparte dos pais, quando chegam ao mundo dos espíritos, se recordam de seusfilhos que morreram antes deles, e por isso se encontram em presença uns doaoutros, e se reconhecem mutuamente. O s pais espirituais lançam somente suasvistas sobre eles e se informam em que estado estão; e se regozijam se a suasorte é feliz, e se afligem se é infeliz; e após uma conversação, uma instrução eum aviso sobre a vida moral-celeste, separam-se deles, e antes da separação lhesensinam que não devem mais se lembrar déles como Pais, porque o Senhor é oúnico Pai para todos no Céu, segundo Suas palavras M ateus X XIII, 9; e demodo algum se lembrarão deles como filhos. Q uanto aos pais naturais, desdeque, depois da morte, se vêem vivos, e trazem à memória seus filhos quemorreram antes deles, e que segundo seu desejo ficam em presença uns dosoutros, se conjuntam imediatamente, se conservam ligados como feixes ligadosem conjunto e então o pai cont1nuamente acha prazer em vê-los e conversarcom eles; se se disser ao pai que alguns de seus filhos aí presentes são satanases,e que prejudicaram aos bons, ele os retém, não obstante, grupados em torno desi, ou em grupo diante de si; se ele mesmo vê que eles causam danos e cometemmás ações, não prestam atenção a isso, e não separa nenhum deles de si;portanto para que um tal grupo perigoso não permaneça lá, são por necessidadeenviados juntos para o inferno, e lá o pai é encerrado diante dos filhos em umaprisão, e os filhos são separados, e enviados cada um ao lugar que convém à suavida.

407 - Ao que precede ajuntarei uma cousa surpreendente, é que no M undoespiritual, vi pais que encaravam com ódio, e como com furor, crianças

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oferecidas a seus olhos, e com tantas ferocidade que, se pudessem, teriamquerido massacrá-las; mas desde que se lhes dizia, por artifício, que eram seuspróprios filhos, imediatamente seu furor e sua ferocidade cessavam, e eles osamavam perdidamente. Este amor e este ódio estão juntos naqueles que, noM undo, foram interiormente trapaceiros, e tinham feito de sua mente uminimigo do Senhor.

408 - X V II. N os espirituais este amor vem do interior ou do anterior, mas nosnaturais vem do exterior ou do posterior.

Pensar e concluir pelo interno e o anterior, é pelos fins e as causas pensar econcluir os efeitos; mas pensar e concluir pelo exterior e o posterior, é pelosefeitos pensar e concluir as causas e os fins; esta progressão é contra a ordem,mas aquela é segundo a ordem; pois pensar e concluir pelos fins e as causas, épelos bens e os veros, claramente vistos na região superior da mente, pensar econcluir os efeitos na região inferior; a racionalidade humana mesma é tal porcriação; mas pensar e concluir pelos efeitos, é, pela região inferior da menteonde estão os sensuais do corpo com suas aparências e suas ilusões, conjeturaras causas e os fins o que em si não é outra cousa senão confirmar as falsidades eas cobiças, e após a confirmação ver e crer que elas são verdades da sabedoria ebondades do amor da sabedoria. Dá-se o mesmo com o amor das criancinhas edas crianças nos espirituais e nos naturais; os espirituais as amam pelo interior,assim segundo a ordem; mas os naturais as amam pelo posterior, assim contra aordem. Estas observações foram apresentadas somente para a confirmação doArtigo precedente.

409 - X V III. É daí que este amor está nos esposos que se amam mutuamente, etambém nos esposos que não se amam de modo algum.

Por conseqüência nos naturais do mesmo modo que nos espirituais; mas nesteshá amor conjugal, enquanto que naqueles, ele não é mais que aparência efingimento. Se entretanto, o amor das criancinhas e o amor conjugal fazemum, é porque em toda mulher foi implantado, por criação, o amor conjugal, eao mesmo tempo, com ele, o amor de procriar, que se fixa e acumula no filhoprocriado, e é comunicado das mulheres aos homens; como foi dito acima; daívem que nas casas onde não existe o amor conjugal entre marido e esposa,sempre há entretanto na esposa o amor de procriar, e por este amor algumaconjunção externa com o marido. É por esta mesma causa, que mulheresdebochadas amam também seus filhos; pois o que foi implantado por criaçãonas almas, e que concerne à propagação, é indelével e não pode ser extirpado.

410 - X IX. O amor dos filhos permanece depois da morte, principalmente nasmulheres.

Desde que as crianças são resuseitadas, o que acontece imediatamente após asua morte, são elevadas ao Céu e dadas a Anjos do sexo feminino que, na vidade seus corpos, no M undo, amaram as crianças, e ao mesmo tempo temeram a

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Deus; como amaram todas as crianças com uma ternura maternal, as recebemcomo suas, e as crianças então, como por sentimento inato, as amam do mesmomodo que a suas mães; há em casa delas tantas crianças quantas desejam,segundo o estorge espiritual. O Céu, onde estão as crianças, aparece sobre afrente vis-a-vis da fronte,

na linha ou raio segundo o qual os Anjos olham diretamente o Senhor; lá estásituado este Céu, porque todas as crianças estão sob o auspício imediato doSenhor; o Céu da inocência, que é o terceiro Céu, influi também sobre elas;depois de passada esta primeira idade, são transportadas para um outro Céu,onde são instruídas.

411 - X X. As crianças são criadas por elas sob, o auspício do Senhor, e crescemem estatura e em inteligência como no M undo.

As crianças no Céu são educadas desta maneira: Aquela que é encarregada de aseducar lhes ensina a falar; sua primeira linguagem é unicamente um som deafeição, no qual entretanto há alguma cousa do pensamento, pelo que ohumano no som é distinguido do som do animal; esta linguagem torna-segradativamente mais distinta, à medida que as idéias provenientes da afeíçãoentram no pensamento; todas as suas afeições, que crescem também, procedemda inocência; a princípio lhes são insinuadas cousas que aparecem diante dosolhos, e que são agradáveis; e como estas cousas são de origem espiritual, nelasinfluem ao mesmo tempo cousas que são do Céu, pelas quais os interiores desua mente são abertos. Em seguida, à medida em que são aperfeiçoadas eminteligência, as crianças crescem em estatura, e são por isso vistas mais adultasquanto à inteligência; a razão disso, é que a inteligência e a sabedoria são oalimento espiritual mesmo; é por isso que estas cousas que alimentam suasmentes, alimentam também seus corpos. M as as crianças no Céu não crescemalém da primeira juventude, aí param e aí permanecem eternamente; e quandoestão nessa idade, são dadas em casamento, ao que é provido pelo Senhor, e ocasamento é celebrado no Céu onde reside o mancebo, que imediatamentesegue a esposa ao seu Céu, ou à sua casa, se estão na mesma sociedade. Para queeu tivesse inteira certeza de que as crianças crescem e aumentam em estatura domesmo modo que em inteligência, me foi permitido falar com algumas quandoainda eram crianças, e mais tarde com as mesmas quando se tinham tornadograndes, e eu vi mancebos de uma estatura semelhante à dos mancebos noM undo.

412 - As crianças são instruídas principalmente por meio de R epresentativosadequados e conforme ao seu gênio; e mal se poderia crer no M undo quantoestes representativos são belos e ao mesmo tempo cheios de uma sabedoriainterior; é-me permitido referir aqui dois R epresentativos, pelos quais se poderájulgar os outros. U m dia, representavam o Senhor subindo do sepulcro, e aomesmo tempo a união de Seu H umano com o Divino; primeiro apresentavama idéia do sepulcro, mas não ao mesmo tempo a idéia do Senhor, a não ser de

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tal modo afastada, que mal se percebia que era o Senhor senão como de longe,e isso porque a idéia do sepulcro encerra alguma cousa de fúnebre que elesafastavam assim; em seguida introduziam com prudência no sepulcro umaespécie de atmosfera que parecia todavia como ligeiramente aquosa, pela qualsignificavam, também por meio de afastamento conveniente, a vida espiritualno Batismo. Eu os vi em seguida representar a descida do Senhor para os queestavam nas prisões, e Sua ascenção ao Céu com eles; e, o que era infantil, éque faziam descer fios quase imperceptíveis, muito finos e muito flexíveis, comos quais sustentavam o Senhor em Sua ascençâo, estando sempre em um santotemor de que alguma parte de seu representativo não tocasse em alguma cousaque não encerrasse o celeste. Além de outras representações, pelas quais são aomesmo tempo conduzidos aos conhecimentos do vero e às afeições do bem,como por brinquedos conformes aos caracteres das crianças. As crianças sãolevadas a estas cousas e a outras semelhantes pelo Senhor, por meio dainocência que atravessa o terceiro Céu; e assim os espirituais são insinuados emsuas afeições e daí em seus tenros pensamentos, de maneira que estas criançasnão sabem outra cousa senão que fazem e pensam tais cousas por si mesmas;por aí é iniciado o seu entendimento.

413 - X XI. Lá, é provido pelo Senhor a que a inocência da infância se torne ainocência da sabedoria.

M uitas pessoas podem crer que as crianças permanecem crianças, e se tornamAnjos imediatamente após a morte; mas é a inteligência e a sabedoria que fazemo Anjo; é por isso que enquanto as crianças não as possuem, estão, é verdade,entre os Anjos, mas não são Anjos; elas se tornam Anjos desde que se tornaminteligentes e sábias. As crianças são conduzidas da inocência da infância àinocência da sabedoria, isto é, da inocência externa à inocência interna; estainocência é o fim de toda sua instrução e de toda sua progressão; é por issoque,, quando atingem a inocência da sabedoria, a inocência da infância, quelhes tinha durante esse tempo, servido de plano, lhes é adjunta. V i representarqual é a inocência da infância por alguma cousa de lenhosa, quase privada devida, e que é vivificada à medida em que as crianças se embebem deconhecimentos do vero e da afeição do bem; e em seguida foi representada qualé a inocência da sabedoria por uma criança viva e nua; os Anjos do terceiroCéu, que estão pelo Senhor, mais que todos os outros, no estado de inocência,aparecem como crianças num aos olhos dos espíritos que estão abaixo dosCéus, e como são mais sábios que todos os outros, são também mais vivos; arazão disso é que a inocência corresponde à infância e também à nudez; é porisso que se diz de Adão e de sua esposa, quando estavam no estado deinocência, que estavam nus e não se envergonhavam, mas que depois queperderam seu estado de inocência, se envergonharam de sua nudez e seesconderam, (G ênesis II, 25; III, 7, 10, 11); em uma palavra, quanto mais osAnjos são sábios, tanto mais são inocentes. Q ual é a Inocência da sabedoria,

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pode-se vê-lo de alguma forma, pela inocência da infância descrita acima, nº395, desde que em lugar dos pais se ponha como Pai o Senhor, por Q uem sãoconduzidas e a Q uem referem todas as cousas que recebem.

414 - T ive, a respeito da Inocência, diversas conversações com os Anjos, e elesme disseram que a Inocência é o Ser de todo bem, e que o bem não é o bemsenão tanto quanto há nele inocência; e que a sabedoria, porque pertence à vidae por conseguinte ao bem, não é a sabedoria senão tanto quanto participa dainocência; semelhantemente o amor, a caridade e a fé; e que daí vem queninguém pode entrar no Céu, se não há nele a inocência; e que isto éentendido por estas palavras do Senhor: "Deixai as criancinhas vir a mim e nãoas impeçais, pois aos que são tais pertence o R eino dos Céus. Em verdade, vosdigo, que quem quer que não receber o R eino dos Céus como uma criancinha,aí não entrará", (M ateus X , 14 e 15; Lucas X V III, 16 e 17); aí, como tambémem outras paxtes da Palavra, pelas criancinhas são entendidos aqueles que estãona inocência. A razão pela qual o bem não é o bem senão tanto quanto háinocência nele, é que todo bem vem do Senhor e que a inocência é serconduzido por Ele.

415 - Ao que precede será acrescentado este M emorável: U ma manhã, aoacordar, meditando em uma luz matinal e serena, antes da plena vigília, viatravés da janela, como um brilhante relâmpago, e imediatamente após ouvium retumbante trovão; como me perguntasse donde vinha isso, ouvi do Céu,estas palavras: "São alguns espíritos que, não longe de ti, raciocinam comencarniçamento sobre Deus e sobre a N atureza; a vibração da luz semelhante aum relâmpago, e o abalo do ar semelhante a um trovão, são correspondências epor conseguinte as aparências do combate e da colisão dos argumentos, de umlado por Deus, e de outro lado pela N atureza". A causa deste combateespiritual era esta: H avia no inferno alguns Satanases que tinham dito entre si:"Q ue pena não nos ser permitido conversar com os Anjos do Céu! N ós lhesdemonstraríamos de uma maneira completa e absoluta que a N atureza é o queeles chamam Deus de quem tudo procede, e que assim Deus é unicamenteuma palavra, a não ser que por Deus se entenda a N atureza". E como estesSatanases tinham acreditado nisso de todo o seu coração e de toda a sua alma, etambém por isso tinham desejado conversar com os Anjos do Céu, lhes tinhasido permitido subir da lama e das trevas do Inferno, e conversar com doisAnjos que acabavam de descer do Céu; a cena se passava no M undo dosespíritos, que fica no meio entre o Céu e o Inferno. Aí, os Satanases tendo vistoestes Anjos, acorreram com velocidades e gritaram com uma voz furiosa: "Soisos Anjos do Céu com os quais nos é permitido encontrar para raciocinar sobreDeus e sobre a N atureza? Sois chamados sábios porque reconheceis Deus; mas,oh! Como sois simples! Q uem viu Deus? Q uem compreende o que é Deus?Q uem concebe que Deus governe e possa governar o U niverso, e todas e cadauma das coisas que ele encerra? Q uem reconhece, a exceção da populaça e do

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vulgo, aquilo que não vê e não compreende? O que há de mais evidente senãoque a N atureza é tudo em tudo? Q uem viu com os olhos outra cousa que nãofosse a N atureza? Q uem ouviu com os ouvidos outra cousa que não fosse aN atureza? Q uem cheirou com as narinas outra coisa que a N atureza? Q uemsaboreou com a língua outra cousa que não fosse a N atureza? Q uem sentiupelo tato outra cousa que não fosse a natureza? O s sentidos de nosso corpo nãosão as únicas testemunhas das verdades? Q uem não pode por elas jurar que talcousa é de tal maneira? As vossas cabeças não estão na N atureza? De onde vemo influxo dos pensamentos das cabeças, senão da N atureza? Se a N atureza fosseretirada, poderíeis pensar alguma cousa?" Além de muitos outros argumentosda mesma espécie. O s Anjos depois de os haverem escutado, responderam:"Falais assim, porque sois internamente sensuais; nos Infernos, têm as idéiasdos pensamentos mergulhadas nos sentidos do corpo, e não podem elevar asmentes acima destes sentidos, por isso nós vos perdoamos; a vida do mal e emconseqüência a fé do falso fecharam os interiores de vossa mente, ao ponto deem vós a elevação acima dos sensuais não ser possível, senão em um estadoafastado dos males da vida e dos falsos da fé; pois um Satanás pode, do mesmomodo que um Anjo, compreender o vero quando o ouve pronunciar, mas nãoo retém, porque o mal oblitera o vero e introduz o falso; mas percebemos quevós, no momento, estais neste estado afastado, e que assim podeis compreendero vero que nós percebemos; prestai pois atenção às palavras que vamos dizer".E disseram: "Estivestes no M undo natural, e lá morrestes, e agora estais noM undo espiritual; soubestes antes alguma cousa sobre a vida após a morte?N ão, a negastes e não vos fizestes semelhantes às bestas? Soubestes antes algumacousa sobre o Céu e o Inferno, alguma cousa sobre a luz e o calor deste mundo?Sobre o fato de que não estais mais dentro da N atureza, mas acima daN atureza? Pois este M undo, e tudo que ele encerra, é espiritual, e os espirituaisestão acima dos naturais, a um tal ponto que a menor cousa da N atureza nãopode mesmo influir neste M undo; mas vós, porque acreditais a N atureza Deusou Deusa, acreditais também que a luz e o calor deste M undo são a luz e ocalor do M undo natural, quando entretanto não o são em cousa alguma; pois aluz natural é aqui obscuridade, e o calor é aqui o frio; soubestes alguma cousado Sol deste M undo, de onde procedem a nossa Luz e o nosso Calor? Soubestesque este Sol é puro Amor, e que o Sol do M undo natural é puro fogo?Soubestes que o Sol do M undo, que é puro fogo, é aquilo pelo qual a N aturezaexiste e subsiste, e que o Sol do Céu, que é puro Amor, é aquilo pelo qualexiste e subsiste a V ida mesma que é o Amor unido à Sabedoria; e que assim aN atureza, que fazeis Deus ou Deusa, é inteiramente morta? Podeis, se vos fôrdado um guarda, subir conosco ao Céu, e nós podemos, se nos fôr dado umguarda, descer convosco ao Inferno, e vereis no Céu objetos magníficos eresplandecentes, e no Inferno objetos disformes e imundos; estas diferençasvêm de que nos Céus todos adoram a Deus, e que nos Infernos todos adoram aN atureza; estes objetos magníficos e resplandecentes nos Céus são as

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correspondências das afeições do bem e do vero, e estes objetos disformes eimundos nos Infernos, são as correspondências das cobiças do mal e do falso.Por todas estas considerações, conclui, agora, se é Deus ou a N atureza, que étudo em tudo". A isto estes Satanases responderam: "N o estado em que estamosagora, podemos pelo que acabamos de ouvir concluir que é Deus, mas quandoo prazer do mal se apodera de nossas mentes, não vemos senão a natureza".Estes dois Anjos e estes dois Satanases estavam não longe de mim, à direita, porisso eu os vi e ouvi; e eis que vi em torno deles um grande número de Espíritosque, no M undo natural, tinham sido célebres por sua erudição, e eu estavaadmirado destes Espíritos ficarem ora perto dos Anjos, ora perto dos Satanases,e se declaravam por aqueles perto dos quais estavam; e me foi dito: "As suasmudanças de posição são mudanças de estado de suas mentes, que favorecemora um partido ora outro, pois são V ertunmos; e nós te diremos o mistério:Lançamos nossas vistas sobre a terra em direção aos homens eruditos, que porseu julgamento pensaram sobre Deus e sobre a N atureza; e sobre mil achamosseiscentos pela N atureza e os outros por Deus, mas estes eram por Deus,porque tinham falado d'Ele freqüentemente não por algum entendimento, masunicamente pelo que tinham ouvido dizer que a N atureza vem de Deus, eporque uma linguagem habitual pela memória e a reminiscência, e não aomesmo tempo pelo pensamento e a inteligência, produz uma espécie de fé".Depois disso, uma guarda foi dada aos Satanases, e eles subiram ao Céu com osdois Anjos, e viram objetos magníficos e resplandecentes, e estando então nailustração pela luz do Céu, reconheceram que há um Deus, e que a N aturezafoi criada para servir de instrumento à vida que está em Deus e procede deDeus, e que a N atureza em si mesma é morta, e que assim, por ela mesma, nãotem atividade alguma, mas que é posta em ação pela vida. Depois de ter visto epercebido estas cousas, eles desceram; e quando desciam, o amor do malvoltou, e fechou seu entendimento em cima e o abriu em baixo, e então acimaapareceu como um véu lançando relâmpagos de um fogo infernal; e logo queseus pés tocaram a terra, o solo se entreabriu sob eles, e recaíram no meio dosseus.

416 - Depois disso, estes dois Anjos, vendo-me perto deles, disseram de mimaos que nos cercavam: "Sabemos que este homem escreveu sobre Deus e sobrea N atureza, ouçamo-lo". E se aproximaram e pediram que as cousas quetinham sido escritas sobre Deus e sobre a N atureza fossem lidas diante deles; eeu li em conseqüência o que segue: "O s que crêem na Divina operação em cadacousa da natureza, podem, por um grande número de fatos que vêem naN atureza, se confirmar pelo Divino, tanto e mesmo mais do que os que seconfirmaram pela N atureza; aqules, com efeito, que se confirmaram peloDivino prestam atenção às M aravilhas que se percebe tanto na Produção dosV egetais, como na dos Animais; nas Produções dos V egetais, no fato de que deuma sementinha lançada em terra, sai uma raiz, pela raiz uma haste, esucessivamente ramos, folhas, flores, frutos, até novas sementes, absolutamente

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como se a semente soubesse a ordem de sucessão, ou o processo pelo qual eladeve se renovar. U m homem racional pode pensar que o Sol, que é puro fogo,saiba isso, ou possa insinuar ao seu calor e à sua luz que façam tais cousas, eque possa aí fornecer estas maravilhas e ter em vista o uso? Q uando o homemcujo racional vê estas maravilhas e as examina atentamente, não pode fazeroutra cousa senão pensar que elas vêm d'Aquele cuja sabedoria é infinita, porconseguinte de Deus; aqueles que reconhecem o Divino vêem também isso e opensam; mas aqueles que não o reconhecem, não o vêem, e não o pensam,porque não o querem, e assim abaixam seu racional para o sensual que tiratodas as suas idéias das aparências em que estão os sentidos do corpo, econfirmam suas ilusões, dizendo: N ão se vê o Sol operar estas cousas por seucalor e por sua luz? O que não vemos, o que é? É alguma cousa? O s que seconfirmam pelo Divino prestam atenção às maravilhas que vêem nas Produçõesdos Animais; e para não falar aqui senão nas que estão nos O vos, eles aí vêem ofilhote oculto em seu germe, ou começo, com tudo o que é necessário àeclosão, e também com tudo concerne ao crescimento após à eclosão até que setorne ave ou volátil na forma daquele que o engendrou; e, se se presta atenção àforma, ela é tal que não se pode, se se pensa profundamente, deixar de sertomado de surprêsa, descobrindo que nos maiores como nos menores, nosinvisíveis como nos que são visíveis, isto é, nos menores insetos como nas aves enos maiores animais, há órgãos dos sentidos, que são a vista, o ouvido, o olfato,o paladar, o tato; e os órgãos dos movimentos, que são os músculos, pois elesvoam e andam; além disso as vísceras em torno do coração e do pulmão, quesão postos em atividade pelo cérebro. Q ue vis insetos tenham também uma talorganização, isso é sabido pela anatomia que foi descrita por alguns sábios,sobretudo por Sw anmerdam em sua Bíblia da N atureza. Aqueles que atribuemtudo à N atureza vêem, é verdade, tais cousas, mas pensam somente que elassão, dizem que a N atureza as produz, e dizem isso, porque afastaram sua mentede todo pensamento sobre o Divino; e aqueles que se afastaram de todopensamento sobre o Divino quando vêem maravilhas na natureza não podempensar nelas racionalmente, nem com mais forte razão, espiritualmente, maspensam nisso sensualmente e materialmente, e então pensam na N atureza pelanatureza, e não acima da natureza, da mesma maneira que os que estão noinferno, diferindo das bestas unicamente pelo fato de gozarem da racionalidade,isto é, porque podem compreender, e assim pensar de outro modo se quiserem.Q uando aqueles que se afastaram de todo pensamento sobre o Divino vêemmaravilhas na N atureza e por isso se tornam sensuais, não pensam que a vistado olho é tão grosseira que vê vários pequenos insetos como uma única cousaobscura, e que entretanto cada pequenino inseto foi organizado para sentir epara se mover, e que assim foi dotado de fibras e de vasos, e também depequenos corações, de canais pulmonares, de pequenas vísceras e cérebros, eque estes órgãos foram tecidos das mais puras substâncias que estão nanatureza, e que estes tecidos correspondem a alguma cousa da vida, pela qual

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suas partes mais sutis são distintamente postas em ação. Pois que a vista do olhoé tão grosseira, que um grande número destes insetos, como as partes inúmerasque cada um encerra, aparecem como um pequeno ponto obscuro, e queentretanto os que são sensuais pensam e julgam segundo esta vista, vê-seclaramente quanto sua mente se tornou espessa, e por conseguinte em queobscuridade eles estão sobre as coisas espirituais.

417 - "Cada um pelas cousas visíveis na natureza pode se confirmar peloDivino, se quiser; e também se confirma aquele que pensa em Deus segundo aV ida, por exemplo, quando vê os V oláteis do Céu; cada espécie conhece seusalimentos e sabe onde estão, conhece seus semelhantes pelo som e pela vista, eentre os outros, os que são amigos e os que são inimigos; formam casamentos,conhecem o lugar do acasalamento, constroem ninhos com arte, aí põem seusovos, os chocam, sabem o tempo de incubação, quando acaba, fazem sair dosovos os filhotes que amam com ternura, aquecem-nos sob as asas,preparam-lhes alimento, e lhes dão o biscate, e isto até que estejam em estadode agir por si mesmos, e possam fazer como eles e procriar uma família paraperpetuar a raça. Q uem quer pensar no influxo Divino vindo pelo M undoespiritual ao M undo natural, pode ver este influxo nestas ciências; podetambém, se quiser, dizer em seu coração: O Sol não pode dar tais ciências aestes voláteis pelos raios de sua luz, pois o Sol de onde a N atureza se origina etira sua essência, é puro fogo, e por conseguinte os raios de sua luz sãoabsolutamente mortos; e assim pode-se concluir que tais cousas vêm do influxoda Divina Sabedoria nos últimos na natureza.

418 - "Cada um pelas cousas visíveis na N atureza pode se confirmar peloDivino quando vê os V ermes que, pelo prazer de um certo amor, são levados easpiram a mudar seu estado terrestre em um estado que é análogo ao estadoceleste, e para isso se arrastam para lugares convenientes e se metem como emum útero a fim de renascer, e aí se tornam crisálidas, aurélios, ninfas, e enfimborboletas; e quando sofreram esta M etamorfose, e, segundo sua espécie, foramdecorados com asas magníficas, voam no ar como em seu céu, ai brincamalegremente, e formam casamentos, põem ovos, e provêm à sua posteridade; eentão se alimentam com alimento agradável e doce que tiram das flores. Entreos que se confirmam pelo Divino pelas coisas visíveis na natureza, há alguémque não veja nestes seres, como vermes, uma espécie de imagem do estadoterrestre do homem, e nestes mesmos seres, como borboletas, uma espécie deimagem do estado celeste? Aqueles, ao contrário, que se confirmam pelaN atureza, vêem, é verdade, estas maravilhas; mas, como rejeitaram para longede si, o estado celeste do homem, eles as chamam de puros instintos danatureza.

419 - "Cada um pelas coisas visíveis na N atureza pode se confirmar peloDivino, quando presta atenção a tudo que se conhece das Abelhas. Elas sabemdas plantas e das flores recolher a cera, sugar o mel, construir células como

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pequenas casas, e dispô-las em forma de cidade, com lugares pelos quais entrame pelos quais saem; sentem de longe o perfume das flores e das plantas, de querecolhem a cera para a casa e o mel para alimento; e, quando estão carregadasdisso, voam segundo a plaga para sua colmeia, assim elas provêm a suaalimentação e à sua habitação para o inverno seguinte, como se tivessemconhecimento disso e o previssem; também põem à sua testa como rainha umasoberana, pela qual a raça será propagada, e constroem para ela uma espécie depalácio acima de suas células, colocando guardas em torno; quando chega otempo da postura, a rainha, acompanhada da guarda vai de célula em célula epõe ovos, que a tropa que a segue cerca de um embôço para que não sejaalterado pelo ar; daí para elas uma nova raça; mais tarde, quando esta geraçãochegou à idade necessária para poder fazer os mesmos trabalhos, é expulsa dacolônia; o enxame expulso, primeiro se reúne, depois se forma em massa, a fimde que a consociação não seja rompida, e em seguida voa em busca de umdomicílio; no outono, os zangões inúteis são também expulsos e privados desuas asas, para que não voltem e consumam os alimentos, para cujoaprovisionamento não cooperaram em cousa alguma; sem falar de vários outrosfatos notáveis; por isto pode-se ver que é em razão do uso, prestado por elas aoG ênero H umano, que recebem do influxo pelo M undo espiritual uma formade govêrno, tal como existe entre os homens nas terras, e mesmo entre os Anjosnos Céus. Q ual é o homem provido de uma razão sã, que não vê que taiscousas nos insetos não vêm no M undo natural? O que é que o Sol, de ondeprovém a N atureza, tem de comum com um governo semelhante e análogo aogoverno celeste? Por estas observações e outras semelhantes entre as bestasbrutas, aquele que reconhece e adora a natureza se confirma pela natureza,enquanto que aquele que reconhece e adora a Deus se confirma pelo Divino,pois o homem espiritual aí vê cousas espirituais, e o homem natural ai vêcousas naturais, assim cada um segundo o que ele mesmo é. Q uanto ao que meconcerne, tais observações foram para mim testemunhos do influxo doespiritual no natural, ou do M undo espiritual no M undo natural, assimprocedendo da Divina Sabedoria do Senhor. Q ue se examine agora se, arespeito de alguma forma de govêrno, ou de alguma lei civil, ou de algumavirtude moral, ou de alguma verdade espiritual, é possível pensaranaliticamente, a não ser que o Divino, pela Sua Sabedoria, influa pelo M undoespiritual; quanto a mim, isso me foi e me é impossível; tenho notado, comefeito, este influxo de uma maneira perceptível e sensível desde vinte e cincoanos continuamente, falo portanto segundo um testemunho certo.

420 - "A N atureza pode ter por fim o uso, e dispor os usos em ordem e emformas? Só o Sábio o pode; e não há senão Deus, em Q uem a Sabedoria éinfinita, que possa assim ordenar e formar o U niverso, que outro pode preverpara os homens o que é necessário à alimentação e ao vestuário, e prover isso; aalimentação pelos frutos da terra, e pelos animais; ao vestuário porestas.mesmas cousas e estes mesmos animais? N ão está no número das

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maravilhas, que estes vis inseres, que se chamam bichos da seda, forneçamvestuário e decorem com magnificência às mulheres e aos homens, desde asrainhas e os réis até às camareiras e aos camareiras; e que estes vis insetos, quese chamam abelhas, forneçam a cera para a luz que enche de esplendor osT emplos e os Palácios? Estas cousas e muitas outras são provas existentes de queo Senhor opera por Si M esmo pelo M undo espiritual todas as cousas que estãona N atureza.

421 - "A isto devo acrescentar, que no M undo espiritual vi aqueles que, pelascoisas visíveis no M undo se tinham confirmado pela N atureza até se tornaramateus; e que seu entendimento na luz espiritual me apareceu aberto por baixo,mas fechado por cima; e isso, porque pelo pensamento eles olhavam para baixo,para a terra, e não para cima, para o Céu; acima do sensual, que é o ínfimo doentendimento, aparecia como um véu, em alguns brilhando por um fogoinfernal, em outros negro como a fuligem, e em outros lívido como umcadáver. Q ue cada um se guarde, portanto, das confirmações pela N atureza;mas que se confirme pelo Divino; os meios não faltam.

422 - "É verdade que alguns são desculpáveis de ter atribuido à N atureza certascousas visíveis; e isso porque nada souberam do Sol do M undo espiritual, ondeestá o Senhor, nem do influxo que dele procede, nem cousa alguma desseM undo e de seu estado, nem mesmo cousa alguma de sua presença no homem;e que por conseguinte não puderam pensar senão que o espiritual era umnatural mais puro; que assim os Anjos estavam ou no éter ou nas estrelas; que arespeito do Diabo, era ou. o mal do homem, ou, se existe efetivamente, estavaou no ar ou nos lugares profundos, que as almas dos homens, depois da morte,ficavam ou no íntimo da terra, ou em um não se sabe onde (ubi seu pu) até aodia do julgamento; e outras cousas semelhantes que a fantasia introduz porignorância do M undo espiritual e de seu Sol; é isto que torna desculpáveisaqueles que acreditaram que a N atureza produz as cousas visíveis segundo umínsito, de criação; mas sempre acontece que aqueles que, por confirmações pelaN atureza, se fizeram ateus, não são desculpáveis, porque podiam se confirmarpelo Divino; a ignorância desculpa, é verdade, mas não retira o falsoconfirmado; pois este falso é coerente com o mal, e o mal é coerente com oInferno.

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As volúpias da loucura sobre oamor escortatório

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Da oposição do amorescortatório e do amor conjugal

423 - "Ao iniciar este assunto, é preciso primeiro declarar o que, nesteCapítulo, é entendido pelo Amor Escortatório: Por Amor Escortatório não éentendido o Amor fornicatório que precede o casamento, nem o que o segueapós a morte de um dos esposos; nem a Concubinagem que se faz por causaslegitimas, justas e conscienciosas; não são entendidos também os gêneros levesde Adultério, nem os gêneros graves, de que o homem se arrepende realmente,pois estes não se tornam opostos ao Amor Conjugal, e aqueles não são opostos;que não sejam opostos verse-á em seguida, quando se tratar de cada um destesgêneros. M as, pelo Amor Escortatório oposto ao Amor Conjugal, é entendidoaquio Amor do Adultério, quando é tal que é considerado, não como pecado,nem como mal e ação desonesta contra a razão, mas como permitido comrazão. Este Amor Escortatório faz não somente o Amor Conjugal semelhante aele, mas o derruba, o destrói, e por fim o toma em aversão. N este Capítulo, setrata da oposição deste amor ao amor conjugal; que não se trata de um outroamor, pode-se vê-lo pelos Capítulos seguintes sobre a Fornicação, aConcubinagem e os diversos gêneros de Adultério". M as a fim de que estaoposição seja posta em evidência diante da vista racional, ela vai serdemonstrada nesta série: I. N ão se sabe qual é o Amor escortatório, a menosque se saiba qual é o Amor conjugal. II. O Amor escortatório é oposto ao Amorconjugal. III. O Amor escortatório é oposto ao Amor conjugal, como o homemnatural, considerado em si mesmo, é oposto, ao homem espiritual. IV . O Amorescortatório é oposto ao Amor conjugal, como a conexão (connumbium) domal e do falso, é oposto ao casamento do bem e do vero. V . Daí, o Amorescortatório é oposto ao Amor conjugal, como o Inferno é oposto ao Céu. V I.A impureza do Inferno vem do Amor escortatório, e a pureza do Céu vem doAmor conjugal. V II. Semelhantemente, na Igreja, a impureza e a pureza. V III.O Amor escortatório faz cada vez mais o homem (homo) não homem (homo) enão varão (vir); o Amor conjugal faz o homem cada vez mais homem (homo) evarão (vir). IX. H á uma Esfera de amor escortatório e uma Esfera de amorconjugal. X . A Esfera do amor escortatório sobe do Inferno, e a Esfera do amorconjugal desce do Céu. XI. Estas duas Esferas se encontram uma com a outraem um e outro M undo, mas não se conjuntam. XII. Entre estas duas Esferas háum equilíbrio. X III. O homem pode se voltar para aquela que lhe agrada, masquanto mais se volta para uma, tanto mais se afasta da outra. X IV . U ma e outraEsfera traz consigo prazeres. X V . O s prazeres do amor escortatório começampela carne, e pertencem à carne, mesmo no espírito; mas os prazeres do amor

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conjugal começam no espírito, e pertencem ao espírito, mesmo na carne. X V I.O s prazeres do amor escortatório são as volúpias da loucura, mas os prazeres doamor conjugal são as delícias da sabedoria. Segue agora a Explicação dosArtigos.

424 - I. N ão se sabe qual é o Amor escortatório, a menos que se saiba qual é oAmor conjugal.

Por Amor escortatório é entendido o Amor do adultério que destrói o Amorconjugal, como acima, nº 423. Q ue não se saiba qual é o Amor escortatório, amenos que se saiba qual é o Amor conjugal, isso não tem necessidade de serdemonstrado; é bastante ilustrá-lo por comparações; por exemplo: Q uem podeconhecer o que é o mal e o falso, se não sabe o que é o bem e o vero? Q uempode conhecer o que é o incasto, o desonesto, o indecente, o feio, se não sabe oque é o casto, o honesto, o decente e o belo? E quem pode discernir a loucura,senão o que é sábio, ou aquele que sabe o que é a sabedoria? Além disso, quempode perceber com justeza os sons desarmoniosos, senão aquele que está bemversado na ciência e no estudo dos números harmoniosos? Semelhantemente,quem pode discernir claramente o que é o adultério, se não discerne claramenteo que é o casamento? E quem pode apresentar ao julgamento a impureza dasvolúpias do amor escortatório, senão aquêle que primeiro apresentou a seujulgamento a pureza do amor conjugal Agora que já terminei o T ratado dasDelícias da sabedoria sobre o Amor conjugal, passo pela inteligência adquiridacom isso, descrever as V olúpias da loucura sobre o Amor escortatório.

425 - II. O Amor escortatório é oposto ao Amor Conjugal.

N ão há no U niverso uma única cousa que não tenha seu oposto, e os opostossão, um em relação ao outro, não relativos, mas contrários; os relativos existementre o máximo e o mínimo de uma mesma cousa, mas os contrários vêm dooposto contra eles, e estes, uns em relação aos outros, são relativos, do mesmomodo que aqueles; as relações, portanto, são também, elas mesmas, opostas.Q ue todas as cousas, em geral e em particular, tenham seus opostos, isso éevidente pela luz, pelo calor, pelos tempos do mundo, pelas afeições, aspercepções, as sensações, e muitas outras cousas; o oposto da luz é aobscuridade, o oposto do calor é o frio; os opostos dos tempos do mundo são odia e a noite, o verão e o inverno; os opostos das afeições são os júbilos e asaflições, as alegrias e as tristezas; os opostos das percepções são os bens e osmales, os veros e os falsos; e os opostos das sensações são os prazeres e osdesprazeres; daí se pode concluir com toda evidência, que o amor conjugal temseu oposto; que este oposto seja o adultério, cada um, se quiser, pode vê-losegundo todos os ensinamentos de uma razão sã; dizei, se puderdes, que outracousa é seu oposto; há mais, é que, como a sã razão pode por sua própria luzver claramente isso, ela estabeleceu leis, que são chamadas leis civis da justiça,em favor dos casamentos e contra os adultérios. Para que se torne ainda maismanifesto que o casamento e o adultério são opostos, é-me permitido relatar o

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que vi muitas vezes no M undo espiritual: Q uando aqueles que, no M undonatural, foram adúlteros segundo um princípio confirmado, percebem a esferado Amor conjugal decorrente do Céu, imediatamente fogem para cavernas e aíse escondem, ou, se se obstinam contra ela, são tomados de furor e se tornamcomo fúrias; se é assim, é porque no M undo espiritual tudo que é agradável oudesagradável às afeições é percebido, e por vezes tão claramente como o odor épercebido pelo olfato, pois não se tem aí um corpo natural que absorve estasespécies de cousas. M as se a oposição, do amor escortatório e do amor conjugalé ignorada por muitas pessoas no M undo natural, isso é devido aos prazeres dacarne que imitam, em aparência, os prazeres do Amor conjugal nos extremos, eos que estão nos prazeres somente nada sabem desta oposição; e posso assegurarque se dissesse que cada cousa tem seu oposto, e concluísse que o Amorconjugal também tem o seu, os adúlteros responderiam que este Amor não temoposto, porque o Amor escortatório não se distingue dêle em sentido algum;daí é ainda evidente que aquele que não sabe qual é o amor conjugal, não sabequal é o amor escortatório; e há mais, pelo amor escortatório não se sabe qual éo amor conjugal, mas pelo amor conjugal sabe-se qual é o amor escortatório;ninguém pelo mal conhece o bem, mas pelo bem conhece o mal; pois o malestá na obscuridade, mas o bem está na luz.

426 - III. O Amor escortatório é oposto ao Amor conjugal, como o homemnatural, considerado em si mesmo, é oposto ao homem espiritual.

Q ue o homem natural e o homem espiritual sejam opostos um ao outro, aoponto de um não querer o que o outro quer, e de combaterem mesmo umcontra o outro, isso é sabido na Igreja, mas entretanto não foi explicado;portanto vai ser dito o que separa o homem espiritual e o homem natural, eexcita este contra aquele. O homem natural, é aquele em que cada um, aocrescer, é introduzido primeiro, o que se faz pelas ciências e pelosconhecimentos, e pelos racionais do entendimento; o homem espiritual, porém,é aquele em que se é introduzido pelo amor de fazer usos, amor que também échamado caridade; é por isso que, quanto mais alguém está na caridade, tantomais è espiritual, mas quanto mais não se está na caridade, tanto mais se énatural, ainda mesmo que se tenha um gênio perspicaz e um julgamento sábio.Q ue este homem, que é chamado natural, separado do homem espiritual,qualquer que seja a sua elevação na luz da razão, põe-se, não obstante, sob adireção de seus desejos libidinosos e a eles se entrega, vê-se claramente só porsua tendência, pelo fato de lhe faltar caridade; e aquele que tem falta decaridade se abandona a todas as lascívias do amor escortatório; é por isso que selhe dizem que este amor libidinoso é oposto ao casto Amor conjugal, e lhepedem para consultar sua luminosidade racional, ele não consulta entretantoesta luminosidade senão em conjunção com o prazer do mal gravado denascença no homem N atural, o que faz concluir que sua razão nada vê decontrário aos doces atrativos sensitivos de seu corpo; e depois de se ter

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confirmado nisso, sua razão se admira de todas estas coisas doces que são ditasdo Amor conjugal; mais ainda, combate contra elas, como foi dito acima, etriunfa; e, do mesmo modo que um vencedor após a carnificina destrói desdeos extremos até aos íntimos o campo do Amor conjugal nele; eis o que faz ohomem natural segundo seu Amor escortatório. Isto é dito para que se saiba deonde vem a oposição de estes dois amores; pois como já foi mostrado emmuitos lugares, o Amor conjugal, considerado em si mesmo, é um Amorespiritual, e o Amor escortatório, considerado em si mesmo, é um Amornatural.

427 - IV . O Amor escortatório é oposto ao Amor conjugal, como a conexão(connubium) do mal e do falso é oposta ao casamento do bem e do vero.

Q ue a origem do amor conjugal vem do casamento do bem e do vero, isso foidemonstrado em seu próprio Capítulo, nº 83 a 102; segue-se daí, que a origemdo Amor escortatório vem da conexão (connubium) do mal e do falso, e quepor conseguinte estes dois amores são opostos como o mal é oposto ao bem, e ofalso do mal ao vero do bem; são os prazeres de de um e outro amor, que sãoassim opostos, pois um Amor sem seus prazeres nada é. Q ue estes prazeressejam assim opostos uns aos outros, não se vê absolutamente; se não se vê éporque o prazer do Amor do mal nos extremos assemelha-se ao prazer do amordo bem; mas nos internos o prazer do amor do mal consiste em puras cobiçasdo mal, o mal mesmo é a massa conglobada ou a aglomeração destas cobiças; aocontrário, o prazer do amor do bem consiste em inumeráveis afeições do bem,o bem mesmo é como o feixe unido destas afeições; este feixe e estaaglomeração não são sentidos pelo homem senão como um único prazer; e umavez que o prazer do mal nos externos assemelha-se ao prazer do bem, como jáfoi dito, é por isso também que o prazer do adultério assemelha-se ao prazer docasamento; mas depois da morte, quando todos depõem os externos, e osinternos são postos a nu, é sensivelmente manifesto que o mal do adultério é oaglomerado das cobiças do mal, e que o bem do casamento é o feixe dasafeições do bem, e assim eles são absolutamente opostos um ao outro.

428 - Q uanto ao que concerne à conexão (connubium) mesmo do mal e dofalso, é preciso que se saiba que o mal ama o falso, e quer que seja um com ele,e mesmo se conjugam; que semelhantemente o bem ama o vero e quer que sejaum com ele, e mesmo se conjugam; daí é evidente que, como a origemespiritual do casamento é o casamento do bem e do vero, do mesmo modo aorigem espiritual do adultério é a conexão (connubium) do mal e do falso; é daíque esta conexão é entendida, no sentido espiritual da Palavra, pelos adultérios,as escortações, e as prostituições, ver o Apocalipse R evalado, nº 134. É segundoeste princípio que aquele que está no mal e esposa o falso, ou que está no falsoe admite o mal na partilha de seu leito, confirma o adultério pela aliança quecontraiu, e o comete tanto quanto o ousa e o pode; ele o confirma segundo omal pelo falso, e o comete segundo o falso pelo mal; e assim vice-versa, aquele

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que está no bem e esposa o vero, ou que está no vero e admite o bem emcomunidade de leito com ele, se confirma contra o adultério, e abraça a felizvida conjugal.

429 - V . Daí o Amor escortatório é oposto ao Amor conjugal como o Inferno éoposto ao Céu.

T odos aqueles que estão no Inferno estão no connubium do mal e do falso, etodos os que estão no Céu estão no casamento do bem e do vero; e como oconnubium do mal e do falso é também o adultério, como acaba de sermostrado, nºs 427, 428, o inferno é também este connubium; daí vem quetodos aí estão no desejo libidinoso, na lascívia e na impudicas do amorescortatório, e que fogem e têm em horror as cousas castas e pudicas do amorconjugal, ver acima, nº 428. Por estas considerações, pode-se ver que estes doisamores, o escortatório e o conjugal, são opostos um ao outro, como o inferno éposto ao Céu, e o Céu ao inferno.

430 - V I. A impureza do Inferno vem do Amor escortatório, e a pureza do Céuvem do Amor conjugal.

T odo e inferno regurgita de impurezas, e sua origem universal é o impudico e oobsceno Amor escortatório; em tais impurezas são mudados seus prazeres;quem é que pode crer que no M undo espiritual, todo prazer do amor seapresenta à vista sob diversas aparências, ao olfato sob diversos odores, e aosolhos sob diversas formas de bestas e de aves? As Aparências sob as quais, noinferno, os prazeres lascivos do Amor escortatório se apresentam à vista, sãoestrumeiras e lamaçais; os odores, pelos quais se fazem sentir, são maus cheirose infecções; e as Formas de bestas e de aves, sob as quais se apresentam aosolhos, são porcos, serpentes, e aves chamadas O chim e T ziim. É o contrário arespeito dos castos prazeres do Amor conjugal no Céu; as Aparências, sob asquais aí se apresentam à vista, são jardins e planícies floridas; os odores, pelosquais se fazem sentir, são os doces perfumes das frutas e as suaves exalações dasflores; e as Formas de animais sob as quais se apresentam aos olhos, sãocordeiros, cabritos, rolinhas e aves do paraíso. Q ue os prazeres dos amoressejam mudados em tais e semelhantes formas, é porque todas as cousas queexistem no M undo espiritual são correspondências; os internos das mentes doshabitantes são mudados nestas correspondências, quando se transportam e setornam externos diante dos sentidos. M as é preciso que se saiba que hávariedades inúmeras de impurezas, em que são mudadas as lascívias dasescortações, quando passam para suas correspondências; e as variedades sãosegundo os gêneros e as espécies de lascívias, que se podem ver nos Artigosseguintes, onde se trata dos adultérios e de seus graus; todavia, tais impurezasnão saem dos prazeres daqueles que se arrependem, porque no M undo foramlavados.

431 - V II. Semelhantemente, na Igreja, a impureza e a pureza.

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A razão disso, é que a Igreja é o R eino do Senhor nas terras, correspondendo aSeu R eino nos Céus; e por isto o Senhor conjunta estes reinos, a fim de quefaçam um; distingue mesmo os que estão na Igreja, como distingue o Céu e oInferno; e os distingue segundo seus amores; os que estão nos amoresimpudicos e obscenos do amor escortatório atraem a si espíritos semelhantes doInferno; mas os que estão nos pudicos e castos prazeres do amor conjugal sãoassociados pelo Senhor a Anjos semelhantes do Céu; quando estes Anjos nohomem ficam perto de adúlteros por confirmação e de propósito deliberado,sentem estes maus cheiros de que se acaba de falar, nº 430, e se retiram umpouco. É por causa da correspondência dos amores impuros com as estrumeirase os lodaçais, que foi ordenado aos filhos de Israel "para ter com eles uma pápara cobrir seus excrementos, com receio de que Jehovah Deus, andando nomeio do teu acampamento, não veja a nudez da coisa, e se retire", (Deuter.XXIII, 13 e 14); isso foi ordenado porque o acampamento dos filhos de Israelrepresentava a Igreja e porque estas impurezas correspondiam às lascívias dasescortações; e por Jehovah Deus, andando no meio de seu acampamento erasignificada a Sua presença com os Anjos; se as cobriam, era porque no infernotodos os lugares onde habitam tropas de tais espíritos foram cobertos efechados, é por isso que foi dito também "com receio que Ele visse a nudez dacoisa''; que todos os lugares do Inferno são fechados, me foi permitido ver; equando eram abertos, o que acontecia quando um novo demônio aí entrava, seexalava de lá um tal mau cheiro que me causava no ventre um peso doloroso; e,o que é admirável, estes maus cheiros são para os habitantes tão agradáveiscomo o são as esterqueiras para os porcos. Por estas considerações, vê-se como épreciso entender que na Igreja a impureza vem do amor escortatório, e a purezavem do amor conjugal.

432 - V III. O Amor escortatório faz cada vez mais o homem (homo) nãohomem (homo) e o varão não varão (vir), e o Amor conjugal faz o homem(homo) cada vez mais homem (homo) e varão (vir).

Q ue o Amor conjugal faça o homem, é o que ilustram e confirmam todas ascousas que foram demonstradas com luz diante da razão na Primeira Partedeste T ratado sobre o Amor e as delícias de sua sabedoria; por exemplo: 1º.Q ue aquele que está no Amor verdadeiramente conjugal se torna cada vez maisespiritual, e quanto mais alguém é espiritual, tanto mais é homem (homo) . 2º.Q ue se torna cada vez mais sábio, e quanto mais alguém é sábio, mais é homem(homo). 3º. Q ue nele estão cada vez mais abertos os interiores da mente, de talmodo que ele vê ou reconhece intuitivamente o Senhor, quanto mais alguémestá nesta vista ou neste reconhecimento, tanto mais é homem. 4º. Q ue setorna cada vez mais moral e civil, porque há uma alma espiritual em suamoralidade e em sua civilidade, e quanto mais alguém é moralmente civil, tantomais é homem. 5º. Q ue se torna por isso um Anjo do Céu depois da morte; e oAnjo por essência e por forma é homem, e por isso o homem real brilha em sua

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face por sua linguagem e por seus costumes; por isto vê-se que o Amor conjugalfaz o homem (homo) cada vez mais homem (homo). Q ue seja o contrário paraos adúlteros, a oposição mesma do adultério e do casamento, de que se tratouneste Capítulo, e de que ainda se trata, o prova claramente; por exemplo: 1º.Pelo fato de que os adultérios não são espirituais, mas são extremamentenaturais; ora, o homem natural, separado do homem espiritual, é homemunicamente quanto ao entendimento, mas não quanto à vontade; ele amergulha no corpo e nas cobiças da carne, e no mesmo instante oentendimento o acompanha; que ele não seja senão um meio homem (homo),ele mesmo pela razão de seu entendimento, se o eleva, pode vê-lo. 2º. Q ue osadúlteros não são sábios em seus discursos e em seus gestos, senão quando estãoem sociedade com pessoas eminentes em dignidade, celebres pela erudição e decostumes exemplares; porém, sós, em casa, eles são insensatos, considerandocomo nada as cousas Divinas e as cousas Santas da Igreja, e maculando osprincípios morais da vida com cousas impudicas e incastas, é o que seráprovado no Capítulo sobre os Adultérios; quem é que não vê que taissaltimancos são homens somente quanto à figura externa, e não homens quantoà forma interna? Q ue os adúlteros se tornam cada vez mais não homens, é oque eu vi com os meus próprios olhos, no inferno, o que foi para mim umaconfirmação evidente; pois lá há demônios que, quando são vistos à luz doCéu, aparecem como tendo a face coberta de pústulas, o corpo encurvado, avoz rouca e os gestos de saltimbancos. "É preciso, porém, que se saiba que taissão os adúlteros de propósito determinado e por confirmação, mas não osadúlteros sem deliberação; pois há quatro gêneros de adúlteros, de que setratará no Capítulo concernente aos adultérios e seus graus; os adúlteros depropósito determinado são aqueles que o são pelo desejo libidinoso da vontade;os adúlteros por confirmação, aqueles que o são pela persuasão doentendimento; os adúlteros por deliberação, aqueles que o são pelos atrativosdos sentidos; e os adúlteros sem deliberação, aqueles que não têm a faculdade,ou não têm a liberdade de consultar o entendimento. O s dois primeirosgêneros de adúlteros são os que se tornam cada vez mais não homens; mas osdois últimos gêneros tornam-se homens à medida em que se retiram de seuserros; e em seguida se tornam sábios".

433 - Q ue o Amor conjugal faça o homem (homo) cada vez mais varão (vir),isso também é ilustrado pelas coisas que foram referidas na Parte precedentesobre o Amor conjugal e suas delícias, a saber, 1º Q ue a faculdade e a virtude,que é chamada viril, acompanha a sabedoria, conforme esta é animada pelosespirituais da Igreja, e por conseguinte reside no Amor conjugal; e que asabedoria deste Amor abre uma veia desde sua fonte na Alma, e assim dá vigorà vida intelectual, que é a vida masculina mesma, e a torna continuamente feliz.2º Q ue é por isso que os Anjos do Céu estão eternamente nesta faculdade,segundo suas próprias palavras no M emorável, nºs 355, 356; que osAntiquíssimos nos séculos do ouro e da prata, tinham estado também nesta

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perpétua eficácia, porque amavam as carícias de suas esposas e tinham horror àscarícias das prostitutas, eu o soube de sua própria boca, ver os M emoráveis nºs

75, 76. Q ue esta suficiência espiritual esteja também no natural, que nãofaltaria hoje aos que se dirigem ao Senhor, e que têm em abominação osadultérios como infernais, isso me foi dito do Céu. M as o contrário aconteceaos Adúlteros de propósito determinado, aos Adúlteros por confirmação de quese acaba de falar no fim do nº 432; que neles a faculdade e a virtude, que échamada viril, perde seu vigor até se tornar nula; e, que depois dela, comece afrieza mesma pelo sexo, e que esta frieza seja seguida por uma espécie dedesdém que se aproxima do desgosto, isso é sabido, ainda que poucodivulgacio. Q ue tais sejam estes Adúlteros no inferno, é o que ouvi dizer delonge por sereias, que são desejos libidinosos de um amor gasto, e também, lá,por debochados. Destas explicações resulta que o Amor escortatório faz ohomem (homo) cada vez mais não homem (homo) e não varão (vir), e que oAmor conjugal faz o homem (homo) cada vez mais homem (homo) e varão(vir).

434 - IX. H á uma Esfera de Amor escortatório e uma Esfera de Amor conjugal.

O que é entendido por Esfera, e que haja um grande número delas, e que asque pertencem ao Amor e à Sabedoria procedem do Senhor, descem pelos Céusangélicos ao M undo, e aí penetram até seus últimos, isso foi mostrado acima,nºs 222 a 225 e 386 a 397. Q ue no U niverso não haja cousa alguma que nãotenha seu oposto, vê-se acima, nº 425; segue-se daí que, como há uma Esferade Amor conjugal, há também uma Esfera oposta, que é chamada a Esfera doamor escortatório; com efeito, estas Esferas são opostas uma a outra, como oamor do adultério é oposto ao amor do casamento; tratou-se dessa oposição nospreliminares deste Capítulo.

435 - X . A Esfera do Amor escortatório sobe do Inferno, e a Esfera do Amorconjugal desce do Céu.

Q ue a esfera conjugal desce do Céu, é o que foi mostrado nos lugares queacabam de ser citados, nº 434. M as se a Esfera do amor escortatório sobe doInferno, é porque este amor vem do Inferno, nº 429. Esta Esfera se eleva dasimpurezas em que são mudados os prazeres do adultério dos de um e outrosexo que estão no inferno; sobre estas impurezas, ver acima, nºs 430 e 431.

436 - X I. Estas Esferas se encontram uma à outra em um e outro M undo, masnão se conjuntam.

Por um e outro M undo é entendido o M undo espiritual e o M undo natural;no M undo espiritual estas Esferas se encontram no M undo dos espíritos,porque este M undo fica no meio entre o Céu e o Inferno; mas no M undonatural elas se encontram no homem, no Plano racional que também fica nomeio entre o Céu e o Inferno; pois neste plano influi do alto o casamento dobem e do vero, e influi de baixo o casamento do mal e do falso, este influi pelo

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M undo, e aquele pelo Céu; segue-se daí que o R acional humano pode-se voltarpara um e outro lado, e receber o influxo; se o homem se volta para o bem,recebe o influxo de cima, e então seu R acional é formado cada vez mais para arecepção do Céu; mas se ele se volta para o mal, recebe este influxo de baixo, eentão seu R acional é formado cada vez mais para a recepção do Inferno. Seestas duas Esferas não se conjuntam, é porque são opostas, não agem entre sisenão como inimigos, dos quais um ardendo com um ódio mortal ataca o outrocom furor, enquanto que o outro não está em ódio algum, mas está unicamenteanimado pelo zêlo para se defender; por estas considerações é evidente que estasduas Esferas se encontram apenas, mas não se conjuntam. O interstíciomediano que elas fazem existe de uma parte pelo mal do não falso e o falso donão mal, e de outra parte pelo bem do não vero e o vero do não bem, quepodem, é verdade, se alcançar, mas não entretanto se conjuntar.

437 - X II. Entre estas duas Esferas há um equilíbrio, e o homem está nesseequilíbrio.

O equilíbrio entre elas é um equilíbrio espiritual, porque é entre o bem e omal; por este equilíbrio o homem tem o livre arbítrio; neste livre e por meiodeste livre, o homem pensa e quer, e por conseguinte fala e age, como por simesmo; seu R acional está na opção e na escolha, seja que queira receber o bem,seja que queira receber o mal, por conseqüência, seja que queira racionalmentepelo livre se dispor para o amor conjugal, seja que queira racionalmente pelolivre se dispor para o amor escortatório; se é para este, ele volta o occiput e odorso para o Senhor; se é para aquele, volta a fronte e o peito para o Senhor; sese volta para o Senhor, a sua racionalidade e a sua libredade, não dirigidas peloSenhor, mas se volta o dorso para o Senhor, a sua racionalidade e a sualiberdade são dirigidas pelo inferno.

438 - X III. O homem pode se voltar para a Esfera que lhe agrada, mas quantomais se volta para uma, tanto mais se afasta da outra.

O homem foi criado a fim de que, pelo livre segundo a razão, e absolutamentecomo por si mesmo, ele faça o que faz; sem o livre e sem a razão, ele não seriaum homem, mas seria uma besta; pois não receberia cousa alguma influindo doCéu sobre ele, e não se apropriaria de cousa alguma como sua e, porconseguinte cousa alguma da vida eterna poderia ser inscrita nele; pois para queuma cousa seja sua, deve ser inscrita nele como lhe pertencendo, e visto quenão existe livre algum para um lado, a não ser que exista um semelhante para ooutro lado, como não há balança a não ser que os pratos possam, de uma partee de outra, sair do equilíbrio, do mesmo modo se o homem não tem o livresegundo a razão de aceder também ao mal, de ir assim da direita para aesquerda e da esquerda para a direita, semelhantemente para a esfera infernal,que é a esfera do adultério, como pra a Esfera celeste que é a do casamento.

439 - X IV . U ma e outra Esfera traz consigo prazeres.

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Q uer dizer que uma e outra Esfera, a do amor escortatório que sobe doInferno, e a do amor conjugal que desce do Céu, afetam com prazeres ohomem (homo) que recebe. Isto resulta de que o último plano, no qual osprazeres de um e de outro amor se terminam, e onde se realizam e secompletam, e que os apresenta a seu próprio sentimento, é o mesmo; daíresulta que as carícias escortatórias e as carícias conjugais são percebidassemelhantemente nos extremos, ainda que sejam absolutamente diferentes nosinternos; que por conseguinte elas sejam diferentes também nos extremos, é umponto não decidido segundo um sentido de diferença; pois as dessemelhançasprovenientes das diferenças nos extremos não são sentidas senão por aquelesque estão no amor verdadeiramente conjugal; com efeito, o mal é conhecidopelo bem, mas o bem não é conhecido pelo mal, do mesmo modo que um odordoce não é discernido por uma narina a que se ligou um odor desagradável.O uvi dizer pelos Anjos que eles díscernem nos extremos o lascivo do nãolascivo, como se diferencia um fogo de esterco ou de chifre queimado, pelo seumau cheiro, de um fogo de substâncias aromáticas ou de cinamomo pelo seuodor agradável; e que isso provém da diferença dos prazeres internos queentram nos prazeres externos e os compõem.

440 - X V . O s prazeres do amor escortatório começam pela carne, e pertencemà carne mesmo no espírito; mas os prazeres do amor conjugal começam noespírito e pertencem ao espírito, mesmo na carne.

Se os prazeres do amor escortatório começam pela carne, é porque os ardoresda carne são o seu começo; se estes prazeres infectam o espírito, e pertencem àcarne, mesmo no espírito, é porque a carne não sente as cousas que acontecemna carne, mas é o espírito que as sente; dá-se com este sentido como com todosos outros, assim não é o olho que vê e que discerne as diversas cousas nosobjetos, mas é o espírito; também não é o ouvido que ouve e que discerne aharmonia das modulações no canto, e as concordâncias da articulação dos sonsna linguagem, mas ,é o espírito; e o espírito sente tudo segundo sua elevação nasabedoria; o espírito que não foi elevado acima dos sensuais do corpo, e quepor conseguinte aí fica preso, não sente outros prazeres senão os que influem dacarne e do mundo pelos sentidos do corpo; ele os apreende, se deleita com elese os faz seus. O ra,como os começos do amor escortatório não são senão osardores e os pruridos da carne, é evidente que, no espírito, são sujos atrativosque excitam e abrasam à medida que sobem e descem, e agem alternadamente.Em geral, a cupidez da carne, considerada em si mesma, não é mais do quecobiças aglomeradas do mal e do falso; daí vem este vero na Igreja, de que acarne cobiça contra o espírito, isto é, contra o homem espiritual; segue-seportanto que os prazeres da carne, quanto aos prazeres do amor escortatório,não são mais do que efervescências de desejos libidinosos que no espírito setornam ebulições de impudicícias.

441 - M as os prazeres do amor conjugal nada têm de comum com os prazeres

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imundos do amor escortatório; estes, é verdade, estão na carne de cada homem,mas são separados e afastados, à medida que o espírito do homem é elevadoacima dos sensuais do corpo, e que desta altura vê suas aparências e suas ilusõesem. baixo; semelhantemente então percebe os prazeres carnais a principio comoprazeres aparentes e enganadores, depois como prazeres libidinosos e lascíviasde que é preciso fugir, sucessivamente como perigosos e prejudiciais à alma, eenfim os sente como desagradáveis, ediondos e repugnantes; e neste grau emque percebe e sente assim estes prazeres, percebe também no mesmo grau osprazeres do amor conjugal como inocentes e castos, e enfim como deliciosos efelizes. Se os prazeres do amor conjugal se tornam também prazeres do espíritona carne, é porque depois que os prazeres do amor escortatório foram afastados,como acaba de se dizer, o espírito que ficou livre deles, entra casto no corpo, eenche com as delícias de sua beatitude o peito, e também, pelo peito, osúltimos deste amor no corpo; e por conseguinte o espírito com eles e eles com oespírito, agem mais tarde em plena comunhão.

442 - X V I. O s prazeres do amor escortatório são as volúpias da loucura, mas osprazeres do amor conjugal são as delícias da sabedoria.

Se os prazeres do amor escortatório são as volúpias da loucura, é porque não hásenão os homens naturais que estejam nesse amor, e o homem natural éinsensato nas cousas espirituais, pois é contra elas, e por isso mesmo abraçasomente os prazeres naturais, sensuais e corporais, porque o N atural édistinguido em três graus; no grau supremo estão os homens naturais que pelavista racional vêem as loucuras, e não obstante são arrastados pelos prazeresdestas loucuras, como um barco pela corrente de rio; no grau inferior estão oshomens naturais que so veem e julgam pelos sentidos do corpo, e quedesprezam e rejeitam como nada os racionais contrários às aparências e àsilusões; no grau ínfimo estão os homens naturais que sem julgamento sãoarrastados pelos ardores sedutores de seu corpo; são estes que são chamadosnaturais-corporais; os precedentes são chamados naturais sensuais, e osprimeiros são chamados naturais. O Amor escortatório, suas loucuras e suasvolúpias, pertencem neles, a graus semelhantes.

443 - Se os prazeres do amor conjugal são as delícias da sabedoria, é porque nãohá senão os homens espirituais que estejam neste amor, e o homem espiritualestá na sabedoria, e por conseguinte não abraça outros prazeres que não sejamos que concordam com a sabedoria espiritual. Q uais são os prazeres do amorescortatório, e quais são os prazeres do amor conjugal, podese vê-lo porcomparações com as casas; os prazeres do amor escortatório, com uma casacujas paredes brilham no exterior como conchas do mar, ou como pedrastransparentes chamadas selenitas, de uma falsa cor de ouro, enquanto que nosapartamentos no interior das paredes há lixo e impurezas de toda espécie; masos prazeres do amor conjugal podem ser comparados a uma casa cujas paredesbrilham como ouro fino, e cujos apartamentos por dentro resplandecem como

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escrínios cheios de diversas pedras preciosas.

444 - Ao que precede será acrescentado este M emorável.

Q uando terminei as meditações sobre o Amor conjugal e que comecei asmeditações sobre o Amor escortatório, súbitamente dois Anjos se apresentaram,e disseram: "Percebemos e compreendemos as cousas que tu primeiromeditavas, mas quanto a estas que meditas agora, nos escapam, e não aspercebemos; põe-nas de lado, portanto, pois não têm importância alguma".M as eu respondi: "Este amor, sobre o qual medito agora não é de importâncianula, pois existe". Eles disseram, porém: "Como pode existir um Amor quenão, seja de criação? O Amor conjugal não é de criação? Este Amor não existeentre dois que podem se tornar um? Como pode existir um amor que divide esepara? Q ue mancebo pode amar uma outra virgem além daquela que lheretribui amor por amor? O amor de um não deve conhecer e reconhecer oamor do outro? Desde que se encontram, estes dois amores não se conjuntampor si mesmos? O Amor conjugal não é o único amor mútuo e recíproco? Senão é recíproco, não ricocheta, e não se torna nulo?" Depois de ter ouvido estaspalavras perguntei aos dois Anjos de que sociedade do Céu eles eram, e elesdisseram: "Somos do Céu da Inocência; viemos ainda crianças para este M undoceleste, e fomos educados sob os auspícios do Senhor, e depois que me torneimancebo, e que minha esposa, que está aqui comigo, se tornou donzela núbil,nós nos tornamos noivos, e ficamos de acordo, e nos unimos sob as primeirasimpressões favoráveis; e como não tivemos conhecimentos de um outro amordiferente do amor verdadeiramente nupcial e conjugal, é por isso que quandoas idéias do teu pensamento sobre um amor estranho, completamente opostoao nosso amor, nos foram comunicadas, nós não compreendemos cousaalguma; por isso descemos, a fim de te perguntar porque meditas sobre estascousas não perceptíveis. Diz-nos pois, como um amor que não somente não éde criação, mas que é mesmo contrário à criação pode existir. N ósconsideramos as cousas opostas à criação como objetos de que não se deve terem conta alguma". Q uando eles assim falaram, eu senti alegria no coração porme ter sido dado conversar com Anjos de uma tal inocência, que ignoravaminteiramente o que era a escortação; por isso tomei a palavra e os instruí,dizendo: "N ão sabeis que há o bem e o mal, e que o bem é de criação, mas nãoo mal, e que entretanto o mal, considerado em si mesmo, nada é, visto quenada é do bem? Por criação existe o bem, e também o bem no grau máximo eno grau mínimo, e quando este mínimo se torna nada, do outro lado surge omal; não existe portanto nem relação nem progressão do bem ao mal; mas hárelação e progressão do bem com um bem maior e um bem menor, e do malcom um mal maior e um mal menor, pois eles são opostos em todas as cousasem geral e em particular; e porque o bem e o mal são opostos, há umintermediário e aí um equilíbrio, no qual o mal age contra o bem; mas comoele não prevalece, permanece em esforço; todo homem é educado neste

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equilíbrio, que, porque existe entre o bem e o mal, ou, o que é a mesma coisa,entre o Céu e o Inferno, é um equilíbrio espiritual, o qual, naqueles que aíestão, produz o Livre; por este equilíbrio o Senhor atrai todos os homens paraEle, e retira do mal para o bem, e assim para o Céu, o homem que O seguepelo livre; dá-se o mesmo, com o amor, principalmente o amor conjugal, e oamor escortatório, este amor é o mal, e aquele é o bem; todo homem queescuta a voz do Senhor, e pelo livre a segure, é introduzido pelo Senhor noamor conjugal, e em todos os seus prazeres e em todas as suas felicidades; masaquele que não escuta e não segue, se introduz a si mesmo no amorescortatório, e, a principio, em seus prazeres, em seguida em seus desprazeres, epor fim em suas infelicidades". Depois que eu assim falei, estes dois Anjos,fizeram esta pergunta: "Como o mal pôde existir, pois que por criação nãoexiste senão o bem? Para que uma cousa exista é preciso que tenha uma origem;o bem não pode ser a origem do mal, porque o mal nada tem do bem, pois eleé o privador e o destruidor do bem; todavia, entretanto, pois que existe e ésentido, não é um nada, mas é alguma cousa; diz-nos pois de onde esta algumacousa existiu após nada". A isso respondi: "Este Arcano não pode ser aberto, anão ser que se saiba que nada é bom senão Deus só, e que não há bem algumque em si mesmo seja o bem, a não ser por Deus; é por isso que, aquele queeleva seus olhos para Deus, e quer ser conduzido por Deus, está no bem; masaquele que se afasta de Deus, e quer ser conduzido por si mesmo, não esta nobem, pois o bem que ele faz é, ou para ele mesmo, ou para o mundo, porconseguinte, ou meritório, ou simulado ou hipócrita; daí é evidente que ohomem mesmo é a origem do mal, não porque esta origem tenha sidoimplantada no homem por criação, mas ele mesmo implantou-a em si,afastando-se de Deus para se voltar para si. Esta origem do mal não estava nemAdão nem ,em sua esposa; mas quando a serpente disse: "no dia em quecomerdes da árvore da ciência do bem e do mal, sereis como Deus” (G ênesisIII, 5) e então eles se afastaram de Deus e se voltaram para si mesmos comopara um Deus, fizeram neles a origem do mal; comer desta árvore significavacrer que se sabe o bem e o mal e que se é sábio por si mesmo, e não por Deus".M as então os dois Anjos disseram: "Como o homem pede se afastar de Deus, ese voltar para si mesmo, quando entretanto o homem nada pode querer, nadapensar, nem por conseguinte, nada fazer senão, por Deus? Por que Deuspermitiu isso?" Eu respondi, porém: “O homem foi criado de maneira quetudo o que ele quer, pensa e faz, lhe aparece como nele, e assim como vindodele; o homem, sem esta aparência, não seria homem, pois não poderia receber,reter, nem por assim dizer, se apropriar, cousa alguma do bem e do vero, ou doamor e da sabedoria, donde segue-se que, sem esta aparência como viva, nãohaveria para o homem conjunção com Deus, nem por conseguinte a vidaeterna; mas se por esta aparência ele introduz em si a crença de que quer, pensae por con. seguinte, faz o bem por si mesmo, e não pelo Senhor, ainda que sejaem toda aparência como por si mesmo, ele muda nele o bem em mal, e assim

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faz nele a origem do mal; foi esse o pecado de Adão. M as vou expor esteassunto um pouco mais claramente: O Senhor olha para cada homem nafronte, e este olhar passa ao occiput; sob a fronte está o Cérebro, e sob oocciput o Cerebelo, este foi destinado ao amor e aos bens do amor; e aquele foidestinado à sabedoria e aos veros da sabedoria; é por isso que aquele que defronte olha o Senhor recebe d'Ele a sabedoria, e por ela o amor; mas aquele queolha por trás do Senhor recebe o amor e não a sabedoria, e o amor sem asabedoria é um amor que vem do homem e não do Senhor; e este amor,porque se conjunta com os falsos, não reconhece Deus, mas se reconhece pordeus, e confirma isso tacitamente pela faculdade de compreender e de se tornarsábio como por si mesmo implantada nele por criação; é por isso que este amoré a origem do mal. Q ue assim seja, é o que pode ser demonstrado à vista: V ouchamar aqui algum mau Espírito, que se tenha afastado de Deus, e lhe falareipor trás ou ao occiput, e tu verás que as cousas que são ditas se mudam emcoisas contrárias". E chamei um mau Espírito; ele se apresentou, e eu lhe faleipor trás; dizendo: "Sabes alguma cousa concernente ao Inferno, à danação e aostormentos infernais?" E imediatamente, quando ele se voltou para mim,perguntei-lhe o que tinha ouvido; respondeu: "O uvi estas palavras: Sabesalguma cousa concernente ao Céu, à Salvação e à Felicidade celeste". E emseguida, quando esta frase lhe foi dita por trás, ele disse que havia ouvido afrase precedente. Depois estas palavras lhe foram ditas por trás: "N ão sabes queos que estão no Inferno são loucos segundo os falsos?" E interrogado por mimsobre o que havia ouvido, disse: "O uvi: N ão sabes que os que vivem no Céusão sábios pelos veros?" E quando estas palavras lhe foram ditas, disse que haviaouvido: "N ão sabes que os que estão no Inferno são loucos segundo os falsos?"E assim por diante. Por estas experiências é bem evidente que quando a mentese afasta do Senhor, volta-se para si mesma e então percebe os con. trários. "Éesta a razão, como o sabeis, pela qual no M undo espiritual não é permitido aquem quer que seja ficar atrás de um outro, e lhe falar; pois desta maneira lhe éinspirado um Amor ao qual, por causa do seu prazer, a própria inteligência éfavorável e obedece; mas como este amor vem do homem e não de Deus, é oamor do mal ou o amor do falso. Além disso eu vos referirei alguma cousasemelhante, a saber, que por vezes ouvi bens e veros cair do Céu no Inferno, ena descida tinham sido progressivamente mudados em opostos, o bem em male o vero em falso; a razão desta mudança é a mesma, é porque todos os queestão no Inferno se afastam do Senhor". Depois de ter ouvido estas cousas, estesdois Anjos me agradeceram e disseram: "Pois que agora meditas e escrevessobre um amor oposto ao nosso Amor conjugal, e o que é oposto a este amorentristece as nossas mentes, nós vamos embora". E quando me disseram: "Paz ati" eu lhes pedi para não falarem deste amor a seus irmãos e a suas irmãs noCéu, porque isso feriria sua inocência. Q ue os que morrem crianças crescem noCéu, e que, quando atingem a estatura em que estão os mancebos de dezoitoanos e as donzelas de quinze anos em nosso M undo, permanecem nessa

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estatura, e que então seja provido pelo Senhor a casamentos para eles, alémdisso, que tanto antes como depois do casamento eles ignoram completamenteo que é a escortação, e que ela pode existir, é o que posso afirmarpositivamente.

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Da fornicação

444 (bis) - Por fornicação é entendido o ato libidinoso de um adolescente oude um mancebo com uma mulher prostituta, antes do casamento; mas o atolibidinoso com uma mulher não prostituta, isto é, com uma virgem ou com aesposa de outrem, não é uma. fornicação; com uma virgem é um ato decorrupção (stuprum); com a esposa de outrem, é um adultério. Como estesdois atos diferem da fornicação, nenhum homem racional o pode ver, a não serque examine com perspicácia o amor do Sexo em seus graus e em suasdiversidades, e de uma parte as cousas castas deste, amor, e de outras suascousas incastas, e que divida uma e outra parte em gêneros e em espécies, eassim as distinga; de outro modo, na idéia de cada um não pode haverdiferença entre o mais e o menos casto, nem entre o mais e o menos incasto, esem estas distinções tôda relação perece, e com ela a perspicácia nas cousas dejulgamento, e o entendimento é envolvido com uma tal sombra, que não sabedistinguir a Fornicação do Adultério, nem com mais forte razão as espéciesleves de fornicação das que são graves; semelhantemente para o Adultério;assim mistura os males,, e de diversos males faz um único condimento, e dediversos bens uma única massa. A fim de que, portanto, o Amor do sexo sejadistintamente conhecido quanto a esta parte pela qual se inclina e avança para oamor escortatório inteiramente oposto ao amor conjugal, convém examinar-lheo começo, que é a fornicação, o que será feito nesta série: I. A Fornicaçãopertence ao amor do sexo. II. Este amor nasce quando um rapaz começa apensar e a agir segundo seu próprio entendimento, e o som de sua voz, começaa se tornar másculo. III. A Fornicação pertence ao homem natural. IV . AFornicação é um desejo libidinoso (líbido), mas não o desejo libidinoso doadultério. V . Em alguns o amor do sexo não pode ser, sem dano, totalmenteimpedido de se manifestar em fornicação. V I. É por isso que nas cidadespopulosas, lugares de prostituição são tolerados. V II. O desejo libidinoso defornicar é leve, enquanto tem uma tendência para o amor conjugal, e prefereesse amor. V III. O desejo libidinoso de fornicar é grave, quando tem umatendência ao adultério. IX. O desejo libidinoso de fornicar é mais grave,conforme se volta para o desejo ardente das variedades, e para o desejo ardenteda defloração. X. A esfera do desejo libidinoso de fornicar, tal como é nocomeço, fica no meio entre a esfera do amor escortatório e a esfera do amorconjugal, e faz equilíbrio. X I. É preciso velar com cuidado para que o amorconjugal não se perca por fornicações desordenadas e imoderadas. X II. Pois queo conjugal de um marido com uma esposa é o T esouro da vida humana, e oR eservatório da religião cristã. X III. N aqueles que, por diversas causas, nãopodem contrair casamento, e que por causa de lubricidade de temperamento

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não podem moderar os desejos libidinosos, este conjugal pode ser conservado,se o amor vago do sexo é restringido a uma única amante. X IV . O Pelicato(comércio com uma amante) é preferível a um vago desejo libidinoso, desdeque não seja formado com várias, nem com uma virgem ou uma moça intacta,nem com uma mulher casada, e que seja mantido separado do amor conjugal.Segue-se agora a explicação destes Artigos.

445 - I. A Fornicação pertence ao amor do sexo.

Diz-se que a fornicação pertence ao amor do sexo, porque a fornicação não é oamor do sexo, mas vem deste amor; o amor do sexo é como uma fonte de ondepode ser derivado o amor conjugal e o amor escortatório, e estes amores podemser derivados pela fornicação, e o podem ser sem ela; pois o amor do sexo estáem cada homem e, ou se manifesta, ou não se manifesta; se se manifesta comuma prostituta antes do casamento, é chamado fornicação; se não se manifestaantes que o seja com a espesa, é chamado casamento; se é com uma outramulher após o casamento é chamado adultério; é por isso que, como foi dito, oamor do sexo é como uma fonte de onde pode decorrer tanto o amor castocomo o amor Incasto; mas com alguma precaução e alguma prudência, o amorcasto conjugal pode proceder pela fornicação, e por alguma imprudência,procede pela fornicação o amor incasto ou escortatório, isso será exposto noque segue. Q uem é que pode concluir que aquele que fornicou não é capaz deser casto no casamento?

446 - II. O Amor do sexo donde vem a fornicação, nasce quando um rapazcomeça a pensar e a agir por seu próprio entendimento, e o som de sua vozcomeça a se tornar másculo.

Isto é acrescentado, a fim de que se conheça a origem do amor do sexo, e porconseguinte a origem da fornicação, a saber, que esta origem tem lugar quandoo entendimento começa a se tornar por si mesmo racional, ou a discernir e aprever pela própria razão as cousas que são vantajosas e úteis; a isto então servede plano o que na memória vem dos pais e dos professores; se faz nessa épocauma inversão na mente; ele não pensava antes senão pelas cousas introduzidasna memória, meditando-as e obedecendo-as; depois, pensa sobre elas pelarazão; e então, sob a direção do amor, dispõe em uma nova ordem as cousascolocadas na memória, e começa uma vida própria de uma maneiraconveniente a esta ordem, e sucessivamente, cada vez mais pensa segundo suarazão e quer pelo livre. Q ue o amor do sexo siga a iniciação do próprioentendimento, e progrida segundo seu vigor, isso é notório; é uma prova deque este amor sobe conforme o entendimento sobe, e desce conforme oentendimento desce; por subir é entendido subir na sabedoria, e por descer éentendido descer na loucura; e a sabedoria consiste em restringir o amor dosexo, e a loucura em deixá-lo estender-se; se ele se manifesta na fornicação, queé o começo de sua atividade, deve ser moderado pelos princípios dahonestidade e da moralidade que foram implantados na memória e desta na

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razão, e que devem ser implantados mais tarde na razão e desta na memória. Seao mesmo tempo que começa o entendimento próprio, a voz também começa ase tornar máscula, é por que o entendimento pensa, e porque ele fala pelopensamento, o que prova que o entendimento faz o varão (vir), e faz também oprincípio másculo; que, por conseguinte, do modo por que seu entendimento éelevado, desse mesmo modo ele se torna homem-varão (homo vir), e tambémhomem másculo (masculus vir), ver acima nºs 432, 433.

447 - III. A fornicação pertence ao homem natural, da mesma maneira que oamor do sexo que se se torna ativo antes do casamento, é chamado fornicação.

T odo homem nasce corporal, torna-se sensual, em seguida natural, e se entãonão se detém, torna-se espiritual; se avança assim, é a fim de que sejamformados Planos, sobre os quais se apóiam os superiores, como um paláciosobre suas fundações; o último plano, com os planos erguidos acima, pode sercomparado também a um humus, no qual, quando está preparado, são lançadassementes nobres. Q uanto ao que concerne especialmente ao Amor do sexo, eleé também, a princípio corporal, pois começa pela carne, em seguida se tornasensual, pois os cinco sentidos acham suas delícias em seu princípio comum,depois se torna natural, semelhante ao mesmo amor nos animais, porque é oamor vago do sexo; mas como o homem nasceu para se tornar espiritual, esteamor em seguida se torna natural-racional, e de natural-racional se tornaespiritual, e por fim espiritual-natural, e então este amor tornado espiritualinflui e age no amor racional, e por ele no amor sensual, e por este enfim nesteamor que está no corpo e na carne; e como esta é seu último plano, ele aí ageespiritualmente, e ao mesmo tempo racionalmente e sensualmente; e influi eage assim sucessivamente quando o homem está em meditação a seu respeito,mas simultâneamente quando está em seu último. Se a fornicação pertence aohomem natural, é porque procede muito proximamente do amor natural dosexo; e ela pode ser natural-racional, mas não espiritual; porque o amor do sexonão pode se tornar espiritual antes de se tornar conjugal; e o amor do sexo denatural que era torna-se espiritual, quando o homem se retira de um vagodesejo libidinoso, e se liga a uma única esposa, a cuja alma liga sua alma.

448 - IV . A fornicação é um desejo libidinoso (libido), mas não é o desejolibidinoso do adultério.

Q ue a fornicação seja um desejo libidinoso, eis as razões: 1º Porque vem dohomem natural, e em tudo que vem dele há cobiça e desejo libidinoso, pois ohomem natural não é absolutamente senão o domicílio e o receptáculo dascobiças e dos desejos libidinosos, pois todas as tendências viciosas herdadas dospais aí residem. 2º Porque o fornicador lança vagamente e indistintamente seusolhares para o sexo, e não ainda para uma única pessoa do sexo, e enquanto estáneste estado, o desejo libidinoso o excita a fazer o que faz; mas à medida queleva seus olhos para uma única e que ama conjuntar sua vida com a vida desta,a cobiça se torna uma afeição casta, e o desejo libidinoso se torna um amor

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humano.

449 - Q ue o desejo libidinoso da fornicação não seja o desejo libidinoso doadultério, cada um o vê claramente pela percepção comum; qual é a lei, e qualé o juiz, que imputa ao fornicador um crime semelhante ao adultério? Se isto évisto pela percepção comum, é porque a fornicação não é oposta ao amorconjugal, como o é o adultério; o amor conjugal pode estar interiormenteencerrado na fornicação, do mesmo modo que o espiritual pode estar nonatural; mais ainda, o espiritual é também, na realidade, desprendido donatural, e quando foi desprendido, então o natural, o cerca como o labor cercaa madeira, e como a bainha encerra a espada, e serve também ao espiritual dedefesa contra as violências. Por estas considerações, é evidente que o amornatural, que é o amor pelo sexo, precede o amor espiritual, que é o amor poruma única do sexo; ora, se a fornicação se produz pelo amor natural do sexo,ela pode ser mesmo apagada, desde que o amor conjugal seja encarado,desejado e procurado como bem principal. É inteiramente diferente o amorlibidinoso e obsceno do adultério, que é oposto ao amor conjugal e que é o seudestruidor, como foi mostrado no Capítulo precedente sobre a oposição doamor escortatório e do amor conjugal; é por isso que, se um adúltero depropósito determinado ou por confirmação entra por diversas causas no leitoconjugal, o inverso acontece, o natural, com suas lascívias e suas obscenidades,está escondido interiormente, e a aparência espiritual o vela exteriormente; poristo, a razão pode ver que o desejo libidinoso de uma fornicação limitada é, emrelação ao desejo libidinoso do adultério, como é o primeiro calor relativamenteao frio do meio do inverno nas regiões do norte.

450 - V . Em alguns o amor do sexo não pode ser, sem dano, totalmenteimpedido de se manifestar em fornicações.

É inútil enumerar os danos que uma retenção demasiado grande do amor dosexo pode causar e operar naqueles que por superabundância são atormentadosde efervescência; daí neles a origem de certas moléstias do corpo, e de certasdesordens da mente, sem falar de males desconhecidos que não devem sermencionados; é diferente naqueles para quem o amor do sexo é tão fraco, quepodem resistir aos esforços de seu desejo libidinoso; semelhantemente naquelesa quem na juventude, sem prejuízo para sua fortuna mundana, assim sob osprimeiros auspícios favoráveis, é permitido contrair um casamento legítimo.Como é isso o que acontece no Céu às crianças, quando chegam à idadeconjugal, é por isso que lá s-e ignora o que é a fornicação; mas não acontece omesmo na terra, onde os casamentos não podem ser contraídos senão quando otempo da juventude já passou, o que acontece a muitos nos governos em que épreciso tempo para merecer um emprego, e adquirir as faculdades necessáriaspara sustentar uma casa e uma família, e então somente, procurar para casar-seuma esposa que possa convir.

451 - V I. É por isso que nas cidades populosas são tolerados lugares de

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prostituição.

Isto é referido como confirmação do Artigo precedente; que são tolerados pelosR eis, os M agistrados, e por conseguinte, pelos juízes, os inquisitores e pelopovo, em Londres, em Amsterdão, em Paris, em V iena, em N ápoles, e tambémem Roma, e além disso em muitos lugares, isso é notário; entre as causas pelasquais são tolerados estão também as mencionadas acima.

452 - V II. O desejo libidinoso de fornicar é leve enquanto tem uma tendênciaao amor conjugal e prefere este amor.

H á graus de qualidades do mal, do mesmo modo que há graus de qualidadesdo bem; é por isso que cada mal é mais leve e mais grave, do mesmo modo quecada bem é melhor e mais excelente; dá-se o mesmo com a fornicação que,porque é um desejo libidinoso, e pertence ao homem natural ainda nãopurificado, é um mal; mas como todo homem pode ser purificado, é por issoque este mal se torna mais leve quando se aproxima do estado purificado, poisse apaga em proporção; assim, tanto quanto a tornearão se aproxima do amorconjugal, que é o estado purificado do amor do sexo; que o mal da fornicaçãoseja tanto mais grave quanto mais se aproxima do amor do adultério, ver-se-áno Artigo seguinte. Se a fornicação é leve enquanto tem uma tendência para oamor conjugal, é porque então o homem, do estado incasto em que está, levasua vista para o estado casto; e que quanto mais prefere este, tanto mais aí estátambém quanto ao entendimento; e quanto mais não somente o prefere, masainda o ama com predileção, tanto mais aí está também quanto à vontade,assim quanto ao homem interno; e então, a fornicação, se contudo persiste, épara ele uma necessidade, de que examina bem em si as causas. H á duas razõesque fazem com que a fornicação, naqueles que preferem e amam compredileção o estado conjugal, seja leve; a primeira, é que para eles a vidaconjugal é o desígnio, a intenção ou o fim; a segunda, é que neles separam omal do bem. Q uanto ao Primeiro Ponto, que para eles a vida conjugal é odesígnio, a intenção ou o fim: É porque o homem é homem tal qual é em seudesígnio, em sua intenção ou em seu fim, e tal ele é também diante do Senhore diante dos anjos, e mesmo tal é consíderado pelos Sábios no mundo; pois aintenção é a alma de todas as ações e faz no mundo as inculpações e as escusas,e após a morte as imputações. Q uanto ao Segundo Ponto, que aqueles quepreferem o amor conjugal ao desejo libidinoso da fornicação, separam o mal dobem: É porque assim eles separam o incasto do casto; e aqueles que os separampela percepção e pela intenção, antes de estarem no bem ou no casto, sãotambém separados e purificados do mal deste desejo libidinoso, quando chegamao estado conjugal. Q ue não seja o mesmo para aqueles que, na fornicação, têmuma tendência ao adultério, vai-se ver no Artigo seguinte.

453 - V III. O desejo libidinoso de fornicar é grave, enquanto tem umatendência ao adultério.

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T odos aqueles que não crêem que os adultérios são pecados, e que pensam arespeito dos casamentos as mesmas cousas que a respeito dos adultérios, com aúnica diferença do lícito e do ilícito, têm uma tendência ao adultério no desejolibidinoso da fornicação; estes também fazem de todos os males um só mal, emisturam todos como imundícies com a comida no mesmo prato, e como aborra com o vinho no mesmo copo, e comem e bebem assim; agem do mesmomodo com o amor do sexo, com a fornicação, com o pelicato, com o adultériomenos grave, grave e mais grave, e mesmo com a ação de desonrar uma donzelaou a defloração; que se acrescente a isto que, não somente misturam todas estascausas, mas os misturam também com os casamentos, e maculam a estes comuma semelhante noção; mas àqueles, que não fazem mesmo diferença entreestas coisas e os casamentos, após relações vagas com o sexo, sobrevêm frieza,repugnâncias e desgostos, a princípio pela consorte, em seguida pelas outras, eenfim pelo sexo. É bem evidente que neles não há desígnio, nem intenção oufim do bem ou do casto, para que sejam desculpados, nem de separação do malde junto do bem, ou do incasto de junto do casto, para que sejam purificados,como há naqueles que têm, pela fornicação, uma tendência ao amor conjugal eo preferem, e de que se falou no Artigo precedente, nº 452. É-me permitidoconfirmar o que precede por esta nova informação do Céu: Encontrei váriosespíritos que, no M undo, tinham vivido nos externos do mesmo modo queoutros, vestindose com luxo, alimentando-se com requinte, negociando comoos outros com proveito, freqüentando espetáculos, gracejando sobre assuntosamorosos como se fosse por um desejo libidinoso, e fazendo várias outras açõessemelhantes, e entretanto os Anjos consideravam em uns estas ações comomales de pecado, e em outros não as consideravam como males e declaravamestes inocentes, e aqueles culpados; interrogados porque decidiam assim, poisque as ações eram semelhantes, responderam que examinavam a todos segundoo desígnio, a intenção e o fim, e por isso os distinguiam; e que é por isso quedesculpam ou condenam àqueles que o fim desculpa ou condena, porque o fimdo bem está em todos no Céu, e o fim do mal em todos no Inferno; e que éisso, e não outra cousa, que é entendido pelas palavras do Senhor: "N ãojulgueis, a fim de que não sejais condenados", (M ateus V II, 1).

454 - IX. O desejo libidinoso de fornicar é mais grave, conforme se volta para odesejo ardente das variedades e para o desejo ardente da defloração.

A razão disto, é que estes dois desejos ardentes são acessórios do adultério;assim eles o tornam mais grave; com efeito, há adultérios pouco graves,adultérios graves, e adultérios mais graves, e cada um destes adultérios éconsiderado segundo a oposição ao amor conjugal; e, por conseguinte, segundoa destruição deste amor; que o desejo ardente das variedades e o desejo ardenteda defloração, reforçados por atos, devastem o amor conjugal, e o mergulhemcomo no fundo do mar, ver-se-á quando se tratar desses dois assuntos.

455 - X . A Esfera do desejo libidinoso de fornicar tal como é no começo fica no

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meio entre a esfera do amor escortatório e a esfera do amor conjugal e fazequilíbrio.

N o Capítulo precedente, tratou-se destas duas esferas, a do Amor escortatório ea do Amor conjugal, e foi mostrado que a esfera do Amor escortatório sobe doInferno, e que a esfera do Amor conjugal desce do Céu, nº 435; que estas duasesferas se encontram uma com a outra em um e outro M undo, mas não seconjuntam, nº 436; que entre estas duas esferas há um equilíbrio, nº 437; queo homem pode se voltar para a esfera que lhe agrada, mas quanto mais se voltapara uma, tanto mais se afasta da outra, n. 438; depois, o que é entendida, poresferas, nº 434; e pelas passagens que aí são citadas. Se a esfera do desejolibidinoso de fornicar fica no meio entre estas duas esferas, e faz equilíbrio, éporque quando se está nesta esfera, pode-se voltar para a esfera do amorconjugal, isto é, para este amor, e também para a esfera do amor do adultério,isto é, para o amor do adultério; mas se é para o amor conjugal, voIta-se para oCéu, e se é para o amor do adultério, volta-se para o Inferno; um e outro estáno arbítrio, no bel-prazer e na vontade do homem, a fim de que ele possa agirlivremente segundo a razão, e não por instinto; por conseguinte, a fim de queseja um homem e se aproprie do influxo, e não uma besta que não se apropriade cous a alguma. Diz-se o desejo libidinoso da fornicação tal qual é nocomeço, porque então está em um estado que fica no meio; quem é que nãosabe que tudo o que o homem faz no começo vem de uma cobiça, porque issovem do homem natural? E quem é que não sabe que esta cobiça não éimputada, quando de natural ela se torna espiritual? Dá-se o mesmo com odesejo libidinoso da fornicação, quando o amor do homem se torna conjugal.

456 - X I. É preciso velar com cuidado para que o amor conjugal não se percapor fornicações imoderadas e desordenadas.

Pelas fornicações imoderadas e desordenadas, pelas quais se perde o amorconjugal, entende-se fornicações nas quais não somente são debilitadas asforças, mas também são suprimidas todas as delicadezas do amor conjugal; poisde sua licença desenfreada nascem não somente as debilidades e porconseguinte a falta de potência, mas também as impurezas e as impudicícias,pelas quais o amor conjugal não pode ser nem percebido nem sentido em suapureza e em sua castidade, nem por conseguinte em sua doçura e nas delícias desua flor; sem falar dos prejuízos para o corpo e para a mente, e dos engodosilícitos que não somente despojam o amor conjugal de seus prazeres deliciosos,mas também o suprimem e o mudam em frieza, e assim em desgosto; taisfornicações são violentos excessos pelos quais os brincos conjugais sãotransformados em cenas trágicas; com efeito, as fornicações imoderadas edesordenadas são como incêndios que se elevam dos extremos, e queimam ocorpo, torrificam as fibras, corrompem o sangue, e viciam os racionais damente; pois elas se lançam como um fogo que sai das fundações de uma casa e aconsome inteiramente. O s pais devem prover a que isso não aconteça, porque

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um rapaz, levado pelo desejo libidinoso, não pode ainda por sua razão impor asi mesmo um freio.

457 - X II. Pois que o conjugal de um marido com uma espôsa é o T esouro davida humana, e o R eservatório da religião, cristã.

Estão aqui duas cousas que foram demonstradas universalmente esingularmente, em toda a Parte precedente sobre o Amor conjugal e sobre asdelícias de sua sabedoria. Q ue seja o T esouro da vida humana, é porque a vidado homem é tal qual é nele este amor, pois ele faz o íntimo de sua vida; comefeito, ele é a vida de sua sabedoria coabitando com seu amor, e do amorcoabitando com sua sabedoria, e por conseguinte é a vida das delícias de um ede outro; em uma palavra, é uma alma vivente por este amor; daí vem que oconjugal de um marido com uma esposa seja chamado o T esouro da vidahumana. Isto é confirmado pelas proposições acima, que com uma única esposahá uma amizade verdadeiramente conjugal, confiança, força, porque há uniãodas mentes, nºs 333 e 334; que neste conjugal e por este conjugal há asbeatitudes celestes, as felicidades espirituais, e por conseguinte os prazeresnaturais aos quais foi provido desde o começo para os que estão no amorverdadeiramente conjugal, nº 335; que este amor é o amor fundamental detodos os amores celestes e espirituais, e por conseguinte de todos os amoresnaturais, e que nele foram reunidos todos os contentamentos e todas as alegrias,desde as primeiras até às últimas, nº 65 a 69; e que considerado em sua origem,ele seja o jogo da sabedoria e do amor, é o que foi plenamente demonstrado nasDelícias da Sabedoria sobre o Amor conjugal, que formam a Primeira Partedesta O bra.

458 - Q ue este Amor seja o R eservatório da R eligião Cristã, é porque estareligião faz um e coabita com este amor; com efeito, foi demonstrado que nesteamor não entram e não podem entrar senão aqueles que se dirigem ao Senhor,e que amam os veros de sua Igreja e praticam seus bens, ns. 70 e 71; que esteamor vem do Senhor só, e por conseguinte existe naqueles que são da R eligiãoCristã, nºs 131, 335, 336; que este amor é segundo o estado da Igreja, porque ésegundo os estados da sabedoria no homem, nº 130. Q ue estas coisas sejamassim, isto foi confirmado em todo o Capítulo sobre a Correspondência desteamor com o Casamento do Senhor e da Igreja, nº 116 a 131; e no Capítulosobre a O rigem deste amor pelo Casamento do bem e do vero, nº 83 a 102.

459 - X III. N aqueles que, por diversas causas, não podem ainda contraircasamento, e que por causa da lubricidade (de temperamento) não podemmoderar os desejos libidinosos, este conjugal pode ser conservado, se o amorvago do sexo for restringido a uma única amante.

Q ue o desejo libidinoso imoderado e desordenado não possa ser retido poraqueles que não lúbricos, a razão o vê, e a experiência o ensina; portanto, a fimde que este desejo imoderado e desordenado seja refreado naqueles que são

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atormentados de efervescência, e que por várias causas não podem precipitar eavançar seu casamento, e a fim de que seja levado a uma certa moderação e auma certa ordem, não se apresenta outro refúgio, e por assim dizer outro asilo,senão a ligação com uma mulher, que em francês é chamada maitresse. Q uenos reinos onde as formas de governo são multiplicadas, muitos jovens nãopodem contrair casamento senão quando sua juventude já passou, porque épreciso primeiro merecer empregos e adquirir meios para sustentar uma casa euma família, somente então procurar uma esposa que seja conveniente, é umacousa conhecida; e entretanto, na idade que precede, a fonte da virtude virilnão pode, senão em um número muito pequeno, ser mantida fechada ereservada para a esposa; importa, é verdade, que ela seja reservada, mas se, porcausa da violência desenfreada do desejo libidinoso, não o pode ser, pede-se ummeio termo, a fim de poder durante esse tempo, impedir que o amor conjugalpereça. Q ue seja o Pelicato (relação com uma única amante), as consideraçõesseguintes o persuadem: I. Pelo Pelicato as fornicações indistintamentedesordenadas são refreadas e limitadas, e assim se introduz um estado maisrestrito, que é menos afastado da vida conjugal. II. O ardor venéreo, nocomeço efervescente e como que escaldante, é aplacado e adoçado, e assim olascivo da lubricidade de temperamento, que é medonho, é moderado poralguma cousa que é como que o análogo do casamento. III. Pelo Pelicato asforças não são prodigalizadas, e não é contraído enfraquecimento, como pelassatiríases vagas e ilimitadas. IV . Por ele também, as moléstias contagiosas docorpo e os frenesis da mente são evitados. V . Por ele igualmente, o homem seguarda dos adultérios que são o comércio carnal com as esposas, e dascorrupções que são as violações das donzelas; sem falar dos atos criminosos quenão se devem mencionar; com efeito, um rapaz, quando está na idade dapuberdade, não pensa que os adultérios e os atos de corrupção sejam outracousa diferente das fornicações, por conseqüência pensa que um é a mesmacousa que o outro; não sabe também resistir por sua razão às instigações decertas pessoas do sexo, que estudaram com cuidado os artifícios das cortesãs;mas no pelicato que é uma fornicação menos desordenada e menos prejudicialà saúde, ele pode aprender e ver as diferenças. V I. Pelo Pelicato não há tambémmais acesso aos quatro gêneros de desejo libidinoso que são no supremo graudestrutivos do amor conjugal, os quais são o desejo libidinoso da defloração, odesejo libidinoso das variedades, o desejo libidinoso da violação, o desejolibidinoso de seduzir os inocentes; desejos de que se falará no que segue. M as oque acaba de ser dito não é para aqueles que podem moderar o ardor do desejolibidinoso; nem para aqueles que logo que atingem a juventude, podemcontrair casamento, e oferecer à sua esposa e empregar com ela as primícias desua força.

460 - X IV . O Pelicato é preferível a um vago desejo libidinoso, desde que nãoseja formado com várias amantes, nem com uma virgem ou donzela intacta,nem com uma mulher casada, e que seja mantido separado do amor conjugal.

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Q uando e com quem o Pelicato é preferível a um vago desejo libidinoso, é oque acaba de ser apontado a dedo. I. Q ue o Pelicato não deve se fazer senãocom uma única pessoa, é porque com várias há uma poligamia que põe ohomem no estado inteiramente natural, e o precipita no estado sensual, a pontode não poder ser elevado ao estado espiritual, onde deve estar o amor conjugal;ver nºs 338 e 339. II. Q ue não deve se fazer com uma virgem ou donzelaintacta, é porque o amor conjugal nas mulheres faz um com sua virgindade; daívem a castidade, a pureza e a santidade deste amor; é por isso que prometer eentregar a um homem esta virgindade, é dar um certificado de que se amaráeternamente; uma donzela não pode portanto concedê-la por nenhumconsentimento racional, a não ser que seja com promessa de aliança conjugal;esta virgindade é também a coroa de sua honra; é por isso que arrebatar estavirgindade sem a aliança do casamento, e em seguida abandonar esta donzela, é,de uma donzela que pode se tornar uma noiva e uma casta esposa, fazer umaprostituta, ou privar um outro homem de seus direitos; e um e outro épernicioso; é por isso que aquele que toma uma donzela por amante, pode, éverdade, coabitar com ela, e assim iniciá-la na amizade do amor, mas entretantocom a intenção constante de que ela seja ou se torne sua esposa, se ela não seentregar a outros. III. Q ue o Pelicato não deve se fazer com uma mulhercasada, é porque é um adultério, isso é evidente. IV . Q ue o amor do Pelicatodeve ser mantido separado do amor conjugal, é porque estes amores sãodistintos, e não devem por conseguinte ser misturados; com efeito, o amor dopelicato é um amor incasto, natural e externo; mas o amor do casamento écasto, espiritual e interno; o amor do pelicato distingue as almas dos dois, econjunta unicamente os sensuais do corpo; mas o amor do casamento une asalmas, e também pela união das almas os sensuais do corpo, a ponto de que dedois eles se tornam como um, isto é, uma só carne. V . O amor do pelicatoentra unicamente no entendimento, e nas cousas que dependem doentendimento; mas o amor do casamento entra também na vontade e nas coisasque dependem da vontade, por conseguinte em todas e em cada uma das cousasdo homem; é por isso que, se o amor do pelicato se torna amor do casamento,o homem não pode, por direito algum, se retirar sem violação da uniãoconjugal; se se retira, e toma uma outra mulher, o amor conjugal perece em suarutura. É preciso que se saiba que o amor do pelicato é mantido separado doamor conjugal, por isso que o homem não promete casamento à sua amante, enão a induz a esperança alguma de casamento. É melhor entretanto acender deprincípio a chama do amor do sexo com uma espesa.

461 - Ao que precede ajuntarei este M emorável:

U m dia eu conversava com um Espírito noviço que, quando estava no M undotinha meditado muito sobre o Céu e sobre o Inferno; por Espíritos noviços sãoentendidos os homens recentemente falecidos, que, porque são então homensespirituais, são chamados Espíritos. Este desde que entrou no M undo

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espiritual, começou a meditar, como antes, sobre o Céu e sobre o Inferno; e sesentia alegre quando era sobre o Céu, e triste quando era sobre o Inferno.Q uando verificou que estava no M undo espiritual, perguntou imediatamenteonde estava o Céu e onde estava o Inferno, e também o que era o Céu e oInferno, e qual era um e outro; e responderam-lhe: “O Céu está acima da tuacabeça, e o Inferno está sob teus pés; pois agora estás no M undo dos espíritos,que fica no meio entre o Céu e o Inferno; mas o que é o Céu e qual é ele, e oque é o Inferno e qual é ele, não podemos te dizer em poucas palavras". Eentão como ardia com o desejo de conhecer, lançou-se de joelhos, e pediu aDeus com fervor, a fim de ser instruído; e eis que um Anjo apareceu à suadireita, o levantou e lhe disse: "Suplicaste a fim de ser instruído sobre o Céu esobre o Inferno, Procura e aprende o que é o Prazer, e saberás". E depois de terassim falado o Anjo foi arrebatado. Então o Espírito noviço disse consigomesmo: "Q ue significam estas palavras: Procura e aprende o que é o prazer, esaberás o que é o Céu e o que é o Inferno, e quais são eles?" Pouco depois,deixando este lugar, foi para todo lado; e dirigindo-se aos que encontrava lhesdizia: "Peço-te que me digas, por favor, o que é o Prazer". E uns diziam: "Q uepergunta nos fazes tu? Q uem ignora o que é o prazer? N ão é o contentamento ea alegria? U m prazer é portanto um prazer, um tanto quanto o outro, nãoconhecemos diferença". O utros diziam: “O Prazer é o riso da mente, poisquando a mente ri, a face está prazenteira, a linguagem alegre, o gestoagradável, e o homem todo está no prazer". O utros porém, diziam: “O prazernão é outra coisa senão estar em festa, e comer manjares deliciosos, beber eembriagar-se com um vinho generoso, e então conversar sobre cousas diversas,e sobretudo a respeito dos brinquedos de V ênus e Cupido". Depois de terouvido estas palavras, o Espírito noviço indignado, disse consigo mesmo: "Estasrespostas são grosseiras e incivis; estes prazeres não são o Céu nem o Inferno;que pena não poder encontrar sábios!" E deixou estes Espíritos, e foi a procurade espíritos sábios; e então foi visto por um Espírito angélico, que lhe disse:"Percebo que estás inflamado pelo desejo de saber o que é o U niversal do Céu eo U niversal do Inferno e como isso é o Prazer, eu te conduzirei sobre umaColina, onde se reúnem cada dia aqueles que escrutam os Efeitos, aqueles queprocuram as Causas, e aqueles que examinam os Fins; há três Assembléias, e osque escrutam os Efeitos são chamados os Espíritos das ciências, e abstratamenteas Ciências, os que procuram as causas são chamados os Espíritos dainteligência, e abstratamente as Inteligências, e os que examinam os Fins sãochamados os Espíritos da sabedoria, e abstratamente as Sabedorias; diretamenteacima deles, no Céu, há Anjos que pelos fins vêem as causas, e pelas causas osefeitos; e por meio dêstes Anjos que estas três Assembléias têm a ilustração".Então, tomando o Espírito noviço pela mão, ele o conduziu à Colina, e para aAssembléia composta daqueles que examinam os Fins, e são chamados asSabedorias. O Espírito noviço lhes disse: "Perdoa-me por ter subido até vós; eisa razão disso: Desde minha juventude, tenho meditado sobre o Céu e sobre o

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Inferno, e cheguei há pouco a este M undo; e alguns, que então me foramassociados, me disseram que aqui o Céu está acima da minha cabeça, e oInferno sob meus pés; mas não me disseram o que é o Céu e o Inferno, nemquais são eles; por isso tendo me tornado inquieto em conseqüência de umpensamento constante sobre este assunto, orei a Deus; e então um Anjo seapresentou e me disse: "Procura e aprende o que é o Prazer, e saberás; tenhoprocurado mas em vão até ao presente; peço portanto que me ensineis, se issovos agrada, o que é o Prazer". A esse pedido os da Sabedoria responderam: "OPrazer é o tudo da vida para todos no Céu, e o tudo da vida para todos noInferno; para aqueles que estão no Céu, é o Prazer do bem e do vero; mas paraaqueles que estão no Inferno, é o Prazer do mal e do falso; pois todo prazerpertence ao Amor, e o Amor é o Ser da vida do homem; é por isso que, como ohomem é homem segundo a qualidade de seu Amor, do mesmo modo ele éhomem segundo a qualidade de seu Prazer; a atividade do Amor faz a sensaçãodo prazer; sua atividade no Céu é com a sabedoria; e sua atividade no Inferno écom a loucura; uma e outra fixa o Prazer em seus objetos; ora, os Céus e osInfernos estão em Prazeres opostos, porque estão em Amores opostos, os Céusno Amor e por conseguinte no Prazer de bem fazer, e os Infernos no Amor epor conseguinte no Prazer de mal fazer; se portanto conheces o que é o Prazer,conhecerás o que é o Céu e o Inferno, e qual é um e outro. M as procura eaprende ainda o que é o Prazer com aqueles que procuram as causas e que sãochamados Inteligências; eles estão aqui à direita". E ele se retirou, e foi, e dissea causa de sua vinda, e lhes pediu para lhe ensinar o que é o Prazer, e eles,encantados com sua questão, lhe disseram: "É uma verdade que aquele queconhece o Prazer conhece-o que é o Céu e o Inferno, e qual é um e outro; avontade pela qual o homem é homem, não é excitada um só instante, se não oé pelo Prazer; pois a V ontade, considerada em si mesma, não é outra coisasenão a afeição de algum amor, assim de um prazer, pois que o que faz querer éalguma coisa que agrada, que é agradável e encanta; e como a V erdade leva oEntendimento a pensar, não existe a menor cousa da idéia de um pensamento,a não ser pelo influxo do prazer da vontade; se é assim, é porque o Senhor põeem ação por Ele M esmo, por meio de Seu influxo todas as cousas da alma, etodas as da mente nos Anjos, nos Espíritos, e nos homens; e as põe em açãopelo influxo do amor e da sabedoria, e este influxo é a atividade mesma, deonde procede todo prazer, que em sua origem é chamado beatitude, ventura efelicidade, e em sua derivação, prazer, encanto e agrado, e em um sentidouniversal, Bem. M as os Espíritos do Inferno mudam em si todas as coisas, porconseguinte também o Bem em M al, e o V ero em Falso, persistindo o Prazercontinuamente; pois sem a permanência do Prazer eles não teriam V ontade, enem Sensação, assim vida alguma; por aí vê-se claramente o que é o prazer doinferno, qual ele é e donde vem". Depois de ter ouvido estas explicações ele foiconduzido para a terceira Assembléia, onde estavam aqueles que escrutam osEfeitos, e que são chamados Ciências; estes lhe disseram: "Desce à T erra

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inferior, e sobe à T erra superior, tu perceberás e sentirás nesta os prazeres dosAnjos do Céu, e naquela os prazeres dos espíritos do Inferno". M as eis queentão, a uma certa distância deles, se abriu o Solo, e pela abertura subiram trêsdiabos que pareciam em fogo pelo prazer de seu amor; e como os que estavamconsociados com o Espírito noviço percebiam que estes três diabos tinhamsubido do Inferno segundo uma Previsão, exclamaram: "N ão vos aproximeis demais perto; mas do lugar onde estais, contai-nos alguma cousa de vossosprazeres". E eles responderam: "Sabei que cada um, quer seja bom ou mau, estáem seu Prazer; o Bom, no prazer de seu bem; e o M au, no prazer de seu mal".E lhes perguntaram: “O que é o vosso Prazer?" Disseram que eram os Prazeresde cometer escortação, de se vingar, de roubar, de blasfemar; e perguntaram denovo: "Q uais são esses Prazeres?" Disseram: "Eles são sentidos pelos outroscomo fedores de escrementos, e como infecções de cadáveres, e como odores deurina infecta". E lhes perguntaram: "Estas coisas são portanto agradáveis paravós?" R esponderam: "M uito agradáveis". E lhes disseram: "Então, sois comobestas imundas que vivem em semelhantes porcarias". R esponderam: "Se osomos, nós o somos; mas estes odores são as delícias de nossas narinas". E lhesperguntaram: "Q ue tendes ainda a contar?" Disseram: "É permitido a cada umde nós estar em seu Prazer, mesmo no mais imundo, como o chamam, desdeque não infeste os bons Espíritos nem os Anjos; mas como pelo nosso prazernão podemos fazer outra coisa senão infestá-los, temos sido lançados emcalabouços, onde sofremos cruelmente; ser privados e retirados de nossosprazeres nesses calabouços, é o que se e chama o tormento do Inferno; étambém uma dor interior". Então lhes perguntaram: "Por que infestastes osbons?" Disseram: "N ão podemos deixar de fazê-lo; é como um furor que seapodera de nós, quando vemos um Anjo, e sentimos a Esfera Divina em tornodele". A esta resposta lhes foi dito: "Assim, sois também como as bestasferozes". E pouco depois, quando estes diabos viram o Espírito noviço com osAnjos, foram tomados de um furor que apareceu como um fogo de ódio; porisso, com receio de que causassem danos, eles foram remergulhados no Inferno.Em seguida apareceram Anjos que pelos fins viam as causas, e pelas causas osefeitos, e que estavam no Céu acima destas três Assembléias, e foram vistos emuma luz brilhante que, desenvolvendo-se por sinuosidades em espiral, traziacom ela uma grinalda de flores em forma redonda, e a colocaram sobre a cabeçado Espírito noviço; e então desta luz saiu uma voz que lhe disse: "Esta coroa deLouro te é dada porque, desde a juventude tens meditado sobre o Céu e oInferno".

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Da concubinagem

462 - N o Capítulo precedente, em que se tratou da Fornicação, tratou-setambém do Pelicato, e por este termo entendeu-se a conjunção contraída entreum homem celibatário e uma mulher; mas aqui por Concubinagem éentendida a conjunção semelhantemente contraída entre um homem casado euma mulher; aqueles que não distinguem os gêneros servem-se indistintamentedestes dois termos, como tendo o mesmo alcance, e por conseguinte a mesmasignificação; mas como são dois gêneros, e como o termo de Pelicato convémao primeiro, porque uma amante (pellex) é uma cortesã, e o termoConcubinagem ao segundo, porque uma concubina é uma companheira deleito por substituição, é por isso que, por causa da distinção, o acordoantenupcial com uma mulher é significado por Pelicato, e o acordo pós-nupcialpor Concubinagem. T rata-se aqui da Concubinagem por causa da ordem; poispela ordem se descobre qual é de uma parte o Casamento, e qual é de outraparte o Adultério. Q ue o Casamento e qual é de outra parte o Adultério. Q ue oCasamento e o Adultério sejam opostos, é o de que se tratou a princípio naCapítulo sobre sua oposição; e quanto são opostos e de que maneira o são, é oque não pode ser mostrado senão pelos intermediários que intervêm, nonúmero dos quais está também a Concubinagem; mas como há dois gêneros deConcubinagem, e como eles devem ser absolutamente distinguidos, por istoesta Seção, como as precedentes, será dividida em Artigos, o que terá lugarnesta ordem: I. H á dois gêneros de Concubinagem, que diferem muito entre si;um conjuntamente com a esposa, o outro separadamente de esposa. II. AConcubinagem conjuntamente com a esposa não é de modo algum permitidaaos Cristãos, e é detestável. III. É uma Poligamia que foi condenada, e deve sercondenada pelo M undo Cristão. IV . É uma escortação pela qual o Conjugal,que é a mais preciosa Jóia da vida Cristã, é destruída. V . A Concubinagemseparadamente da esposa, quando se faz por causas legitimas, justas everdadeiramente conscienciosas, não é ilícita. V I. As causas legítimas destaconcubinagem são as causas legítimas do divórcio, quando entretanto a esposa éretida em casa. V II. As causas justas desta Concubinagem são as causas justas deseparação de leito. V III. As causas conscienciosas desta Concubinagem são reaisou não reais. IX. As causas conscienciosas reais são as que não são fundadassobre o justo. X I. O s que estão nesta Concubinagem por causas legítimas,justas e conscienciosas reais, podem estar ao mesmo tempo no amor conjugal.XII. Enquanto esta Concubinagem persiste, a conjunção atual com a esposanão é permitida. Segue-se agora a explicação destes Artigos.

463 - I. H á dois gêneros de Concubinagem, que diferem muito entre si; umaconjuntamente com a esposa, a outra separadamente da esposa.

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Q ue haja dois gêneros de Concubinagem que diferem muito entre si; que umdestes gêneros consiste em ajuntar por substituição uma companheira de leito,e viver conjuntamente e ao mesmo tempo com ela e com a esposa; que o outrogênero consiste, após uma legítima e justa separação da esposa, em tomar emseu lugar uma mulher para companheira de leito; e que estes dois gêneros deConcubinagem diferem tanto um do outro, quanto uma roupa suja difere deuma roupa lavada, é o que podem ver os que examinam as coisas claramente edistintamente, mas não os que as vêem confusamente e indistintamente; emesmo os que estão no amor conjugal podem vê-lo, mas não os que estão noamor do adultério; estes estão na noite em relação à todas derivações do amordo sexo, mas aqueles estão no dia em relação a essas derivações; não obstante,os que estão no adultério podem ver estas derivações e suas diferenças, não, éverdade, nelas por eles, mas pelos outros quando ouvem falar disso, pois afaculdade de elevar seu entendimento existe nos adúlteros semelhante à que háno esposo casto, mas o adúltero, depois de ter reconhecidos as diferenças deque ouviu falar pelos outros, as apaga sempre de sua lembrança, quandomergulha seu entendimento em sua impura vontade; com efeito, o casto e oincasto, o que é sensato e o que é insensato não podem estar juntos; maspodem ser distinguidos pelo entendimento separado. U m dia, no M undoEspiritual, perguntei aos que não tinham considerado os adultérios comopecados, se conheciam uma diferença entre a fornicação, o pelicato, os doisgêneros de concubinagem, e os graus de adultério; responderam que um eracomo o outro; perguntei-lhes também se o casamento também era o mesmo;olharam em torno se não havia algum membro do Clero, e não tendo vistonenhum, disseram, que o casamento, considerado em si mesmo, erasemelhante. Foi diferente com os que, nas idéias de seu pensamento, tinhamconsiderado os adultérios como pecados; estes disseram que nas idéiasinteriores, que pertencem à percepção, tinham visto as diferenças, mas queainda não se tinham aplicado a discerni-las, e a fazer-lhes a distinção; possoafirmar que estas diferenças, até às mais minuciosas, são percebidas pelos Anjosdo Céu. Portanto, a fim de que seja bem manifesto que há dois gêneros deConcubinagem opostos entre si, um pelo qual é destruido o amor conjugal, ooutro pelo qual ele não é destruido, o gênero condenável vai ser descritoprimeiro e, em seguida, o outro, que não é prejudicial.

464 - II. A Concubinagem conjuntamente com a esposa, não é absolutamentepermitida aos Cristãos, e é detestável.

Se não é permitida, é porque é contra a aliança conjugal; e, se é detestável, éporque é contra a religião; e, o que é contra a religião, é ao mesmo tempocontra a aliança conjugal, é contra o Senhor; é por isso que, desde que alguém,sem causa conscienciosa real, junta uma concubina à esposa, o Céu lhe éfechado, e não é mais contado pelos Anjos no número dos cristãos; desde esseinstante também, ele despreza as cousas que pertencem à Igreja e à R eligião, e

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em seguida não levanta mais a face acima da natureza, mas se volta para elacomo para uma deidade, que é favorável a seu desejo libidinoso, e de seuinfluxo em seguida seu espírito recebe a animação; a causa interior destaapostasia é desvendada no que segue. Q ue esta concubinagem seja detestável,este homem mesmo não o vê, porque depois que o Céu lhe foi fechado, ele setornou loucura espiritual; mas uma esposa casta o vê claramente, porque ela éamor conjugal, e este amor tem desgosto por uma tal concubinagem; é por issoque, muitas dentre estas se recusam em seguida à conjunção atual com seusmaridos, como uma cousa que macularia sua castidade pelo contágio do desejolibidinoso aderente aos maridos proveniente das cortesãs.

465 - III. É uma poligamia que foi condenada e deve ser condenada peloM undo Cristão.

Q ue a Concubinagem simultânea ou conjunta com a esposa seja umaPoligamia, ainda que não reconhecida, porque não é nem declarada nem porconseguinte mencionada assim por lei alguma, cada um o vê, mesmo aqueleque não tem perspicácia; pois uma mulher de empréstimo e participando doleito conjugal é como uma esposa; que a poligamia tenha sido condenada edeve ser condenada no M undo Cristão, é o que foi demonstrado no Capítulosobre a Poligamia, especialmente nestes Artigos: não é permitido a um cristãocasar-se com uma segunda esposa, nº 338; se um Cristão se casa com váriasesposas, comete não somente um adultério natural, mas também um adultérioespiritual, nº 339; isso foi permitido à nação Israelita, porque nela não haviaIgreja Cristã, nº 340. Por estas explicações, é evidente que juntar umaconcubina à esposa, e partilhar seu leito com uma e com outra, é uma infamepoligamia.

466 - IV . É uma escortação pela qual o conjugal, que é a mais preciosa Jóia davida cristã, é destruido.

Q ue seja uma escortação mais oposta ao amor conjugal, que a escoriaçãocomum, que é chamada simples adultério, que prive absolutamente de todafaculdade e de toda inclinação para a vida conjugal, que está no Cristão denascença, é o que pode ser provado por sólidos argumentos diante da razão dohomem sábio. Q uanto ao primeiro Ponto, que a concubinagem simultânea ouconjunta com a esposa, é uma escortação mais oposta ao amor conjugal que aescortação comum, que é chamada simples adultério, pode-se ver por estasconsiderações; que na escoriação comum, ou adultério simples, não há umamor análogo ao amor conjugal, pois é somente um ardor da carne, que esfriaimediatamente, e por vezes não deixa após si vestígios de amor pela mulher; épor isso que, se esta lascívia efervescente não se dá por propósito determinado,ou por confirmação, e se o adúltero se arrepende, ela não diminui senão muitopouco o amor conjugal; é muito diferente com a escortação poligâmica, há nelaum amor análogo ao amor conjugal, pois não esfria, não se dissipa, e não sereduz a nada após a efervescência como o precedente; mas permanece, se

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renova e se afirma, e arrebata outro tanto do amor devido à esposa, e em lugardeste amor introduz a frieza por ela; com efeito, o homem considera entãocomo agradável a concubina por causa do livre da vontade, porque, se lheapraz, se retira, o que é inato no homem natural, e isso sendo por conseguinteagradável, sustenta este amor; e além disso, pelos atrativos, há com a concubinauma união mais próxima do que com a esposa; e, vice-versa, não considera aesposa como agradável por causa da obrigação em que está de coabitar com elapor causa da aliança contraída para a vida, o que ele percebe então como maisconstrangedor em razão do livre em que está em relação à outra; que o amorpela esposa esfrie, e que ela mesma se tome um objeto vil, no mesmo grau emque o amor por uma cortesã se aquece e que esta é estimada, isto é evidente.Q uanto ao segundo Ponto, que a concubinagem simultânea ou conjunta com aesposa priva o marido de toda faculdade e de toda inclinação à vida conjugal,que está nos cristãos de nascença, pode-se ver por estas considerações; que,quanto mais o amor pela esposa é transformado em amor pela concubina, tantomais é retirado, esgotado e reduzido a nada pela esposa, como acaba de sermostrado acima; que isso se faça pelo fechamento dos interiores da mente domarido, e pela abertura dos inferiores dessa mente, pode-se vê-lo pela sede dainclinação nos Cristãos para amar uma única pessoa do sexo, pelo fato de queesta inclinação está nos íntimos da mente, e que esta sede pode ser fechada, masnão pode ser extirpada; se a inclinação para amar uma única pessoa do sexo, etambém a faculdade de receber este amor, foram implantadas nos Cristãos denascença, é porque este amor vem do Senhor só, e se tornou cousa da religião;ora, no Cristianismo, o Divino do Senhor é reconhecido e adorado, e a religiãoé fundada sobre a Palavra do Senhor; daí vem que este amor é enxertado etambém transplantado de geração em geração; foi dito que este ConjugalCristão perece pela escortação poligâmica, mas é entendido que no polígamocristão ele é fechado e interceptado, mas não obstante suscetível de ressuscitarem seus descendentes, como acontece pela semelhança do avô e do bisavô sereproduzindo nos netos e nos bisnetos; daí resulta que este Conjugal é chamadoa mais preciosa Jóia da vida Cristã, e acima, nºs 457 e 458, o T esouro da vidahumana e o R eservatório da R eligião Cristã. Q ue este Conjugal seja destruídopela escortação poligâmica no cristão que a ela se entrega, vê-se manifestamenteem que o Cristão não pode do mesmo modo que o polígamo maometano, amara concubina e a esposa; mas quanto mais ama a concubina, ou se aquece porela, tanto mais não ama a esposa, ou esfria por ela; e, o que é mais detestável,tanto mais reconhece de coração o Senhor apenas como um homem natural eFilho de M aria, e não ao mesmo tempo como filho de Deus, e tanto mais aindaconsidera a religião como nada. M as é preciso que se saiba que isso aconteceàqueles que ajuntam uma concubina à esposa, e se conjuntam efetivamentecom uma e com a outra, e de modo algum aqueles que, por causas legítimas,justas e conscienciosas, se separam, e quanto ao amor efetivo se disjuntam daesposa, e tomam uma mulher de empréstimo; é deste gênero de conuebinagem

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que vai se tratar agora.

467 - V . A Concubinagem separadamente da esposa, quando se dá por causaslegítimas, justas e verdadeiramente conscienciosas, não é ilícita.

Q uais as causas entendidas por legítimas, quais as justas e quais asverdadeiramente conscienciosas, é o que vai ser dito em ordem; é feita aqui, deantemão, uma simples menção das causas, a fim de que esta concubinagem, deque se trata a seguir, seja distinguida da Concubinagem precedente.

468 - V I. As causas legítimas desta Concubinagem são as causas legítimas dedivórcio, quando entretanto a esposa é retida em casa.

Por divórcio é entendida a anulação da aliança conjugal, e por conseguinte aseparação completa e após esta separação a inteira liberdade de tomar umaoutra esposa; a única causa desta total separação ou do divórcio é a escortação,segundo o preceito do Senhor (M ateus X IX, 9). A esta mesma causa se referemtambém as obscenidades manifestas que tiram todo pudor, e que enchem einfestam a casa com intrigas criminosas, pelas quais se estabelece umaimpudícia escortatória que torna toda a mente dissoluta. A estas cousas pode-sejuntar uma maliciosa deserção que envolve uma escortação, e faz que a esposacometa adultério, e em conseqüência é repudiada (M ateus V , 22). Estas trêscausas, porque são causas legitimas de divórcio, a primeira e a terceira perante ojuiz público, e a segunda perante o marido juiz, são também causas legítimas deconcubinagem, mas quando a esposa adúltera é retida na casa. Se a escortação éa única causa de divórcio, é porque ela é diametralmente oposta à vida do amorconjugal, e a destrói até à extinção, ver acima nº 255.

469 - Q ue não obstante numerosos maridos retêm em casa sua esposa adúltera,as causas são estas: 1. O marido teme empenhar-se em um processo com aesposa, acusá-la de adultério, e assim manifestar em público seu crime; pois seas testemunhas oculares ou provas equivalentes a estas testemunhas nãoestabelecerem a convicção, ele será coberto de sarcasmos, indiretamente nasreuniões de homens, e abertamente nas reuniões de mulheres. 2. T emetambém as astuciosas justificações deste adultério, e mesmo seu patrocínio porparte dos juizes, e por conseguinte a difamação de seu nome. 3. Além disso, osusos domésticos oferecem vantagens que dissuadem de fazer separação da casa;por exemplo, se há filhos em relação aos quais o amor, mesmo de uma mãeadúltera, é um amor maternal; se deveres, mútuos, que não podem serdivididos, intervêm e conjuntam; se, do lado paterno e do lado materno, aesposa tem parentes e protetores dos quais se possa esperar a fortuna; se, nocomeço, entreteve com ela agradáveis intimidades; e se ela, depois de se tertornado adúltera, sabe habilmente, por uma acariciante jovialidade e porfingida urbanidade, aplacar o marido, a fim de não ser inculpada; além deoutros motivos que, sendo em si mesmos causas legítimas de divórcio, sãotambém causas legítimas de concubinagem; pois as causas que fazem reter a

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esposa na casa não anulam a causa do divórcio, quando esta cometeuescortação; qual é o homem, a não ser que seja vil, que possa conservar osdireitos do leito conjugal e partilhar sua cama com uma esposa adúltera? Se issoacontece aqui e ali, nenhuma conclusão pode ser tirada daí.

470 - V II. As causas justas desta Concubinagem são as causas justas daseparação de leito.

H á causas legítimas de separação, e há causas justas; as causas legítimas sãoestabelecidas por decisões dos juizes, e as causas justas por decisões que omarido só pronuncia; as causas de separação de leito, e também de separação decasa, tanto legitimas como justas, foram enumeradas abreviadamente, acima,nºs 252 e 253; entre elas, os V ícios do corpo; são as moléstias pelas quais todo ocorpo está de tal modo infectado que o contágio pode ser fatal; tais são asFebres malignas e pestilenciais, as Lepras, os M ales venéreos, os Cânceres;depois as M oléstias pelas quais todo o corpo é de tal modo abatido que nãopode mais existir consociabilidade, e pelas quais são exa.lados eflúviosprejudiciais, e vapores nocivos, seja da superfície do corpo, seja de suas partesinteriores, especialmente do Estômago e do Pulmão; da superfície do corpo, asV aríolas malignas, as V errugas, as Pústulas; a T ísica escorbútica, os Dartros,sobretudo se a face foi maculada; do Estômago, os Arrotos constantementeinfectos, fedorentos e desagradáveis; do Pulmão, os H álitos fétidos e pútridosprovenientes de apostemas, de úlceras ou de abscessos, ou de um vício dosangue ou do serum. Além destas M oléstias, há outras de diferentes nomes,como Lipotimia, que é um completo langor do corpo, e uma falta de forças; aParalisia, que é uma redução e um relachamento dos membros e dos ligamentosque servem ao movimento; a Epilepsia, a enfermidade permanente provenienteda Apoplexia; certas M oléstias crônicas; a Paixão ilíaca, a H érnia, além deoutras moléstias que a Patologia faz conhecer. O s V ícios da M ente, que sãocausas justas de separação de leito e de casa, são, por exemplo, a M ania, oFrenesi, o T ransporte furioso, a Loucura efetiva e a Imbecilidade, a perda damemória, e outras semelhantes. Q ue estas causas sejam causas justas deconcubinagem, porque são causas justas de separação, a razão o vê sem ajuda deum juiz.

471 - V III. As causas conscienciosas desta Concubinagem são reais ou nãoreais.

Pois que, além das causas justas, que são justas causas de separação, e que porconseguinte se tornam justas causas de concubinagem, há também causasconscienciosas que dependem do julgamento e da justiça do marido; deve-setambém, por conseguinte, fazer menção delas; mas como os julgamentos dejustiça podem ser pervertidos, e ser mudados por confirmações em aparênciasdo justo, é por isso que estas causas são distinguidas em causas conscienciosasreais e em causas conscienciosas não reais, e que são descritas separadamente.

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472 - IX. As causas conscienciosas reais são as que estão fundadas no justo. Paraconhecer as causas que são causas conscienciosas reais, é bastante enumeraralgumas; por exemplo, a falta de estorge, e por conseguinte a apatia em relaçãoaos filhos; a intemperança, a embriaguez, a falta de asseio, a impudicícia; odesejo imoderado de divulgar os segredos da casa, de disputar, de bater, de sevingar, de fazer mal, de roubar, de enganar; uma dessemelhança interna deonde resulta a antipatia; uma impudente exigência do dever conjugal, pela qualo marido se torna frio como a pedra; a aplicação a atos de magia e a sortilégios,uma excessiva impiedade; e outros vícios semelhantes.

473 - H á também causas menos graves, que são causas conscienciosas reais, eque separam do leito, mas não entretanto, da casa; a cessação da prolificação naesposa em razão de uma idade avançada, e por conseguinte a repugnância e atergiversação para o amor atual, persistindo sempre o ardor no marido; além decasos semelhantes, nos quais o julgamento racional vê o justo, e que não ferema consciência.

474 - X . As causas conscienciosas não reais são as que não estão fundadas sobreo justo, ainda que o estejam sobre a aparência do justo.

Estas causas são conhecidas pelas causas conscienciosas reais acima enumeradas,e, se não são bem examinadas, podem aparecer como justas, e contudo sãoinjustas; por exemplo, os tempos de abstinência exigidos após os partos, asindisposições transitórias das esposas, o prejuízo que daí resulta para o prolífico,as poligamias permitidas aos Israelitas, e outras causas semelhantes que, pelajustiça, não têm valor algum; estas são imaginadas pelos maridos após friezacontraídas, quando desejos libidinosos incastos os privaram do amor conjugal, eos infatuaram com a idéia da semelhança deste amor com o amor escortatório;estes, para se porem ao abrigo da difamação quando entram em concubinagem,dão como legítimas e reais estas causas bastardas e capciosas, e mesmoordinariamente espalham mentiras a respeito da esposa, que segundo o favorobtêm mesmo o assentimento e a aprovação dos concidadãos amigos.

475 - X I. O s que estão na Concubinagem por causas legítimas, justas econscienciosas reais, podem estar ao mesmo tempo no amor conjugal.

Diz-se que eles podem estar ao mesmo tempo no amor conjugal, e é entendidoque podem manter este amor encerrado neles; pois na pessoa em que está, esteamor não perece, mas repousa. Se o amor conjugal nos que preferem ocasamento à concubinagem, e que entram na Concubinagem pelas causasacima mencionadas, é conservado, eis a razão: É que esta concubinagem nãorepugna ao amor conjugal; que ela não é uma separação deste amor; que ésomente um véu que o cobre; que este véu é tirado após a morte. I. EstaConcubinagem não repugna o amor conjugal. É a conseqüência do que foiacima demonstrado, que esta concubinagem, quando se faz por causaslegítimas, justas e conscienciosas reais, não é ilícita, nº 467 a 473 - II. Esta

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concubinagem não é uma separação do amor conjugal. Com efeito, quandocausas legítimas, ou justas, ou conscienciosas reais, sobrevêm, persuadem,constrangem, o amor conjugal não é separado com o casamento, mas é somenteinterrompido, e o amor interrompido e não separado, permanece na pessoa;dá-se com isso como com um homem que exerce um emprêgo que ama, e deque é afastado pelas sociedades, ou pelos espetáculos, ou pelas viagens; o amorde seu emprego entretanto não é perdido; ou como se dá com um homem quegosta de um vinho generoso; quando bebe um menos bom, não perde por issoseu gosto pelo vinho generoso. III. Esta concubinagem é somente um véu quecobre o amor conjugal. É porque o amor da concubinagem é natural, e o amordo casamento, espiritual; e o amor natural vela o amor espiritual quando este éinterceptado; que assim seja, aquêle que ama não o sabe, porque o amorespiritual é sentido não por ele mesmo, mas pelo amor natural, e é sentidocomo um prazer no qual está uma beatitude que vem do Céu; mas o amornatural é sentido por ele mesmo unicamente como um prazer. IV . Este véu étirado depois da morte. É porque então o natural do homem se torna espiritual,e que em lugar de um corpo material ele goza de um corpo substancial, no qualo prazer natural pelo espiritual é sentido em sua proeminência; que assim seja,é o que aprendi pela comunicação com alguns no M undo espiritual, e lámesmo pelos R eis que no M undo tinham estado na Concubinagem por causasconscienciosas reais.

476 - X II. Enquanto dura esta Concubinagem, a conjunção atual com a esposanão é permitida.

É porque então o Amor conjugal, que em si mesmo é espiritual, casto, puro esanto, se torna natural, é maculado, não tem mais vigor, e assim perece; é porisso que, a fim de que este amor seja conservado, é útil que a concubinagempor causas conscienciosas reais, nºs 472 e 473, se faça com uma só e não comduas ao mesmo tempo.

477 - Ao que precede ajuntarei este M emorável:

O uvi um certo espírito, um rapaz, recentemente vindo do mundo, jactandosede suas escortações, e procurando conquistar louvores, porque ultrapassava osoutros em potência viril; no meio dessas gabolices insolentes, ele sustentavaestes propósitos: “O que há de mais triste do que aprisionar seu amor, e viversó com uma única mulher? E o que há de mais delicioso do que dar todaliberdade ao amor? Q uem é que não se cansa de uma só, e não é reposto emvigor por várias? O que há de mais agradável do que a liberdade sem reserva, avariedade, as deplorações, as peças pregadas aos maridos, e as hipocrisiasescortatórias? N ão é exato que as cousas obtidas por astúcias, por fraudes e porfurtos deleitam os íntimos da mente?" O uvindo estes propósitos os que estavampresentes, disseram: "N ão fala assim; tu não sabes onde estás; mal acabas dechegar; há sob os teus pés o Inferno, e acima da tua cabeça o Céu; estás agoraem um M undo que fica no meio entre o Céu e o Inferno, e que é chamado

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M undo dos Espíritos; aqui chegam, e aqui são recebidos todos os que saem domundo; são examinados quanto à sua qualidade, e são preparados, os maus parao Inferno, e os bons para o Céu; talvez te lembres ainda de ter ouvido dizer, noM undo, pelos sacerdotes, que os escortadores e as prostitutas são precipitadosno Inferno, e que os esposos castos são elevados ao Céu". A estas palavras, esteespírito noviço se pôs a rir, dizendo: “O que é o Céu, e o que é o Inferno? OCéu, não é onde cada um é livre, e não é livre aquele a quem é permitido amartantas mulheres quantos lhe apraz? E o Inferno não é onde cada um é escravo, enão é escravo aquele que é obrigado a ficar ligado a uma só?" M as um certoAnjo, olhando do Céu para baixo, ouviu o que ele dizia, e o interrompeu comreceio que fosse mais adiante para profanar os casamentos; e lhe disse "Sobeaqui, e eu te mostrarei ao vivo o que é o Céu, e o que é o Inferno, e qual é oinferno para os escortadores confirmados". E lhe mostrou o caminho, e estesubiu; e depois que foi admitido, foi a princípio conduzido a um jardimparadisíaco, onde estavam árvores de frutas e flores, cuja beleza, encanto eperfume enchiam as mentes (animi) com as delícias da vida; desde que as viufoi tomado de uma grande admiração; mas ele estava então na vista externa, talcomo a tinha no M undo, quando via cousas semelhantes, e nesta vista ele eraracional; mas na vista interna, na qual a escortação era o principal e ocupavacada ponto do pensamento, ele não era racional; por isso a vista externa foifechada, e a vista interna foi aberta; desde que foi aberta ele disse: “O que vejoagora? N ão é palha e madeira seca? E o que é que é que sinto agora? N ão é maucheiro? O nde estão pois estes objetos paradisíacos?" E o Anjo disse: "Estãomuito perto e presentes, mas não aparecem diante de tua vista interna, que éescortatória; pois esta vista muda as cousas celestes em infernais, e não vê senãoos opostos; há em cada homem uma mente interna e uma mente externa, porconseqüência, uma vista interna e uma vista externa; nos maus a mente internaé insensata, e a mente externa é sábia, mas nos bons a mente interna é sábia, etambém, por ela, a mente externa; e como é a mente, assim o homem noM undo Espiritual vê os objetos". Depois disso o Anjo pelo poder que lhe foidado, lhe fechou a vista interna e abriu a externa, e o conduziu pelas portaspara o ponto central das habitações; e este espírito viu magníficos palácios dealabastro e de diversas pedras preciosas, e perto destes palácios pórticos ecolunas em torno, superpostas e carregadas de ornamentos e de decoraçõesadmiráveis; quando os viu, ficou grandemente admirado, e disse: “O que é quevejo? V ejo objetos magníficos em sua magnificência mesma, e obras dearquitetura em sua arte mesma". M as então o Anjo lhe fechou de novo a vistaexterna, e lhe abriu a interna, que era má, porque era imundamenteescortatória; imediatamente este espírito exclamou, dizendo: “O que seja agora?O nde estão pois estes palácios e estes objetos magníficos? V ejo ruínasescombros e lugares cheios de cavernas". M as pouco depois foi reposto noexterno, e introduzido em um destes palácios; e viu as decorações das portas,das janelas, das paredes e dos tetos, principalmente dos móveis sobre os quais e

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em torno dos quais estavam formas celestes em ouro e em pedras preciosas, quenão podem ser descritas por linguagem alguma, nem desenhadas por artealguma, pois estavam acima das idéias da linguagem, e acima das noções dearte. V endo estas cousas, ele exclamou de novo, dizendo: "Estão aí objetosmaravilhosos que o olho jamais viu". M as então sua vista interna foi aberta,tendo sido fechada a vista externa, como antes; e lhe foi perguntado o que vianaquele momento; e ele respondeu que não via senão pardieiros, aqui de junco,ali de palha, e lá em tições. Depois foi ainda reposto no estado externo damente, e diante dele foram trazidas V irgens que eram belezas, porque eramimagens da afeição celeste; e estas, com a doce voz de sua afeição, lhe dirigirama palavra, e então, pelo que viu e ouviu, sua face foi mudada, e ele voltou por simesmo para seus internos, que eram escortatórios; e como estes internos nãosuportam coisa alguma do amor celeste, e que vice-versa, não são suportadospelo amor celeste, resultou que de uma parte e de outro, desapareceram; asvirgens da presença do homem, e o homem da presença das virgens. Depoisdisso, o Anjo lhe ensinou de onde provinham as mudanças de estado de suasvistas, dizendo-lhe: "Percebo que no M undo, de onde vens, foste duplo, umnos internos e outro nos externos; que nos externos foste um homem civil,moral e racional, mas que nos internos não foste nem civil, nem moral, nemracional, porque eras escortador e adúltero; ora, tais pessoas, quando lhes épermitido subir ao Céu, e que aí são mantidos em seus externos, podem ver aías cousas celestes, mas quando seus internos são abertos, em lugar das cousascelestes, eles vêem as coisas infernais. Entretanto, fica sabendo que aqui, emcada um, sucessivamente são fechados os externos e abertos os internos, e quese é assim preparado para o Céu ou para o Inferno; e como o mal da escortaçãomacula mais do que todo outro mal os internos da mente, é impossível que nãoseja levado para as cousas, impuras de seu amor, e estas cousas estão no inferno,onde as cavernas espalham odores de escrementos. Q uem é que não pode, pelarazão, saber que no M undo espiritual o incasto e o lascivo são impuros eimundos, e que assim nada corrompe e suja mais o homem, e nada introduzmais nele o infernal. G uarda-te pois de te gloriares daqui por diante de tuaescortação, porque és nela mais másculo do que os outros; eu te predigo que tetornarás fraco, ao ponto de saber apenas onde está a tua força máscula; uma talsorte espera aqueles que se gloriam de sua potência escortatória". Depois deouvir estas palavras, ele desceu e voltou ao M undo dos Espíritos e para seusprimeiros companheiros, e conversou com eles com modéstia e castidade, masnão foi por muito tempo.

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Dos adultérios, de seus gêneros ede seus graus

478 - Q uem quer que não julgue o Adultério senão pelos externos, não podesaber que há algum mal neste ato, pois nos externos ele é semelhante aoCasamento; estes juízes externos quando se lhes fala dos internos, e se lhes dizque os Externos tiram dos Internos, seu bem e seu mal, dizem em si mesmos:“O que são os Internos? Q uem os vê? N ão é isso elevar-se acima da esfera dainteligência de quem quer que seja?" Estes assemelham-se aos que aceitam todopretenso bem por um bem real voluntário, e que decidem da sabedoria de umhomem pela elegância de sua conversação, ou que julgam o mesmo pela riquezade seus hábitos e a magnificência de suas equipagens, e não pela sua disposiçãointerna que pertence ao julgamento proveniente da afeição do bem; estamaneira de julgar assemelha-se ainda ao julgamento que se proferisse sobre ofruto de uma árvore, e sobre alguns alimentos, unicamente pela vista e o tato, enão sobre sua bondade pelo sabor e o conhecimento; assim fazem aqueles quenão querem perceber cousa alguma dos internos do homem; daí esta loucura demuitos homens hoje, que nada vêem de mal nos adultérios, e que mesmoconjuntam no mesmo leito os casamentos e os adultérios, isto é, os fazemabsolutamente semelhantes; e isso, unicamente por causa da aparência desimilitude nos externos. Q ue assim seja, eu adquiri a convicção por esta provada experiência: U m dia, Anjos convocaram algumas centenas de espíritosdentre os que tinham sido afamados na Europa por seu gênio, sua erudição esua sabedoria; foram interrogados sobre a diferença entre o Casamento e oAdultério, e e foram convidados a examinar as razões que seu entendimentoapresentasse; e, depois do exame, todos, a exceção de dez, responderam que sóa lei civil estabelece uma diferença em vista de um certo interêsse, diferençaque se pode, é verdade, conhecer, mas não obstante acomodar por meio daprudência civil; em seguida lhes foi perguntado se viam algum bem nocasamento, e algum mal no adultério; responderam que não viam nem malracional nem bem racional. Fizeram-lhes esta pergunta: "V êdes aí algumpecado?" Disseram: "O nde estaria este pecado? O fato não é o mesmo?" O sAnjos ficaram admirados destas respostas, e exclamaram: “O h! qual é aestupidez do século, e quão grande é ela!" O uvindo esta exclamação, estascentenas de sábios se voltaram e disseram entre si, rindo: "É isto estupidez? H áalguma sabedoria que possa convencer que amar a esposa de um outro mereça adanação eterna?" M as que o Adultério seja um mal espiritual, econseqüentemente um mal moral e um mal civil, e diametralmente contrário àsabedoria da razão; mais ainda, que o amor do adultério venha do inferno e

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para aí retorne, e que o amor do casamento venha do Céu e para aí retorne, é oque foi demonstrado no Primeiro Capítulo desta Parte, concernente àO posição do amor escortatório e do amor conjugal. M as como todos os males,do mesmo modo que todos os bens, têm latitude e altitude, e que seus gênerossão segundo a latitude e seus graus segundo a altitude, por isso, a fim de que osadultérios sejam conhecidos quanto a uma e outra dimensão, eles serãodivididos primeiro em seus gêneros, e em seguida em seus graus, o que se faránesta série: I. H á três gêneros de adultérios, o Simples, o Duplo e o T riplo. II.O Adultério simples é o de um homem celibatário com a esposa de um outro,ou o de uma mulher não casada com o marido de uma outra. III. O Adultérioduplo é o de um marido com a esposa de um outro, ou de uma esposa com omarido de uma outra. IV . O Adultério triplo é com os consangüíneos. V . H ápara os adultérios quatro graus, segundo os quais se fazem suas denominações,suas inculpações, e depois da morte suas imputações. V I. O s Adultérios doprimeiro grau são os adultérios de ignorância, os quais são cometidos poraqueles que não podem ainda ou que não podem de modo algum consultar oentendimento, nem por conseguinte os reprimir. V II. O s Adultérios cometidospor eles são leves. V III. O s Adultérios do segundo grau são adultérios do desejolibidinoso, os quais são cometidos por aqueles que, é verdade, podem consultaro entendimento, mas que por causas contingentes não o podem nessesmomentos. IX. O s Adultérios cometidos por eles são imputáveis, conforme nacontinuação o entendimento os favoreça ou não os favoreça. X . O s Adultériosdo terceiro grau são os adultérios da razão, os quais são cometidos por aquelesque confirmam pelo entendimento que não são males de pecado. XI. O sAdultérios cometidos por eles são graves, e são imputados segundo asconfirmações. X II. O s Adultérios do quarto grau são os adultérios da vontade,os quais são cometidos por aqueles que os consideram como lícitos e agradáveis,e que não acreditam que sejam de tal importância que se deva consultar oentendimento a seu respeito. X III. O s adultérios cometidos por eles são muitograves, e lhes são imputados como males de propósito determinado, epermanecem neles como delitos. X IV . O s Adultérios do terceiro e do quartograu são males de pecado, segundo a quantidade e a qualidade doentendimento e da vontade neles, quer sejam cometidos em ato, quer nãosejam cometidos em ato. XV . O s Adultérios por propósito determinado davontade e os adultérios por confirmação do entendimento, tornam os homensnaturais, sensuais e corporais. X V I. Ao ponto de enfim rejeitarem para longedeles todas as cousas da Igreja e da R eligião. X V II. Entretanto, eles gozamsempre da racionalidade humana como os outros. X V III. M as servem-se destaracionalidade quando estão nos externos, e abusam dela quando estão nosInternos. Segue-se agora a explicação destes Artigos.

479 - I. H á três gêneros de adultério, o Simples, o Duplo e o T riplo.

T odas e cada uma das cousas que o Criador do U niverso criou, Ele as

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distinguiu em gêneros, e cada gênero em espécies, e dividiu cada espécie, eigualmente cada divisão, e assim por diante; e isso, a fim de que na variedadeperpétua das qualidades exista uma imagem do Infinito; assim o Criador doU niverso distinguiu os bens e seus veros, e igualmente os males e seus falsos,depois que nasceram. Q ue tenha distinguido em gêneros, espécies e diferençastodas e cada uma das cousas no M undo espiritual, e que tenha reunido no Céutodos os bens e todos os veros, e no Inferno todos os males e todos os falsos, eque tenha disposto estes diametralmente contra aqueles, pode-se vê-lo pelo quefoi mostrado no T ratado do Céu e do Inferno publicado em Londres em 1758.Q ue do mesmo modo também, no M undo natural, tenha distinguido edistinga os bens e os veros, os males e os falsos nos homens, assim os homensmesmos, isso pode ser conhecido por sua sorte depois da morte, pelo fato doCéu ser para os bons, e o Inferno para os maus. O ra, pois que todas as cousasque pertencem ao bem, e todas as cousas que pertencem ao mal, foramdistinguidas em gêneros, espécies, e assim por diante, por isso os Casamentosforam distinguidos da mesma maneira, e semelhantemente seus opostos, quesão os Adultérios.

480 - II. O Adultério simples é o de um homem celibatário com a esposa deum outro, ou de uma mulher não casada com o marido de uma outra.

Aqui, e no que segue, por Adultério entende-se uma escortação oposta aocasamento; é oposta porque viola a aliança de vida contraída entre os esposos, efaz em pedaços o seu amor, macula-o, e pára a união começada no tempo dosesponsais e afirmada no começo do casamento; pois o Amor conjugal domarido com uma única esposa une as almas após o compromisso e a aliança; oadultério não rompe esta união, porque ela não pode ser rompida, mas adetém, como aquele que fecha uma fonte em sua nascente, e assim a corrente, eenche de águas sujas e pútridas a cisterna; do mesmo modo o amor conjugal,cuja origem é a união das almas, é coberto de lama e fechado pelo adultério; e,quando foi coberto de lama, de baixo se eleva o amor do adultério, que, àmedida que cresce, se torna carnal, e este amor se insurge contra o amorconjugal e o destrói; daí a oposição do adultério e do casamento.

481 - A fim de que, de novo se conheça qual é a estupidez deste século, pelofato dos seus sábios não verem pecado algum no Adultério, como foidescoberto pelos Anjos, acima, nº 478, acrescentarei aqui este M emorável:

"H avia certos Espíritos que, por um hábito contraído na vida do corpo, meinfestavam com uma habilidade particular, e isso por um influxo muito doce,quase ondulante, tal como costuma ser o influxo dos espíritos probos; maspercebi que havia neles astúcia e outras cousas semelhantes, no intuito deseduzir e enganar; por fim dirigi a palavra a um deles, que, como me foi dito,tinha sido general do exército quando vivia no M undo; e como percebi quehavia lascívia nas idéias do seu pensamento, conversei com ele na linguagemespiritual com representativos, linguagem que exprime plenamente o que se

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sente; e muitas coisas em um momento; ele me disse que na vida do corpo, noM undo precedente, tinha considerado como nada os Adultérios; mas me foipermitido dizer-lhe que os Adultérios são abomináveis, ainda que aos olhosdaqueles que os cometem, pareça, por causa do prazer que encontram neles edo persuasivo que daí provém, que não são tais, e que são mesmo lícitos; queele podia também sabê-lo pelo fato dos Casamentos serem os V iveiros doG ênero humano, e por isso mesmo os V iveiros do R eino Celeste, e que porconseguinte não devem ser violados, mas ser considerados como santos; depois,como ele deve saber, pois que está no M undo espiritual e no estado depercepção, que o Amor conjugal desce do Senhor pelo Céu, e que deste amor,como de um pai, deriva o amor mútuo que é o fundamento do Céu; e pelo fatode que os Adúlteros, por pouco que se aproximem das Sociedades celestes,sentem o odor infecto que está neles, e se precipitam daí para o Inferno; quepelo menos teria podido saber que violar os casamentos, é agir contra as leisDivinas, contra as leis civis de todos os reinos, e também contra a luz real darazão, e assim contra o direito das gentes, porque é agir não sómente contra aordem Divina, mas ainda contra a ordem humana; disse-lhe além disso muitasoutras coisas. M as ele me respondeu que não tinha pensado nessas, cousas navida precedente; queria por meio de raciocínios examinar se era assim; mas lhefoi dito que a verdade não admite os raciocínios, pois eles tomam a defesa dosprazeres da carne contra os prazeres do espírito, e a carne ignora quais são osprazeres do espírito; e que ele devia primeiro levar seu pensamento sobre ascousas que acabavam de ser ditas, porque elas são veros; ou sobre esteprincípio, muito conhecido no M undo, que ninguém deve fazer a outro o quenão quer que outro lhe faça; e assim, se alguém tivesse seduzido desta maneirasua esposa, que ele amasse como acontece no começo de todo casamento,então, quando estivesse, por causa disso, em estado de arrebatamento, não teriaele, se falasse segundo esse estado, tido também os adúlteros em abominação, eentão, pois que goza de uma grande capacidade, não seria ele, mais quequalquer outro, confirmado contra estas ações até ao ponto de as condenarcomo infernais, e como G eneral de exército, e vivendo com bravos, não teriaele, a fim de que isso não fosse para ele um opróbrio, ou matado o adúltero, ouexpulsado de casa a esposa prostituída?"

482 - III. O Adultério duplo é o de um marido com a esposa de um outro, oude uma esposa com o marido de uma outra.

Este Adultério é chamado duplo, porque é cometido por dois, e porque dosdois lados a aliança do casamento foi violada: por isso ele é duas vezes maisgrave que o precedente. Foi dito acima, nº 480, que o Amor conjugal de ummarido com uma única esposa une as almas após o compromisso e a aliança, eque esta união é este Amor mesmo em sua origem, e que ela é fechada esuspensa pelo adultério, como a nascente e a corrente de uma fonte; que asalmas dos dois se unem, quando o amor do sexo é restringido a uma única do

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sexo, o que acontece quando uma donzela se dá inteiramente a um mancebopor uma aliança, e que reciprocamente por esta aliança o mancebo se dáinteiramente à donzela, é o que é bem evidente nisto que as vidas de um e deoutro se unem, por conseguinte as almas, pois que estas são os princípios davida; esta união das almas é possível somente nos Casamentos monogâmicos,ou de um único marido com uma única esposa, mas não nos Casamentospoligâmicos, ou de um marido com várias esposas, porque nestes o Amor édividido, e naqueles é unido; se em sua sede suprema o Amor conjugal éespiritual, santo, puro, é que por sua origem a alma de cada homem é celeste;por isso recebe ela do Senhor imediatamente o influxo, pois recebe d'Ele ocasamento do amor e da sabedoria, ou do bem e do vero, e este influxo o fazhomem e o distingue das bestas. Desta união das almas, o Amor conjugal, queestá em sua santidade e em sua pureza espirituais, decorre na vida de todo ocorpo, e o enche de prazeres deliciosos, durante todo o tempo em que a suaveia permanece aberta, o que acontece naqueles que pelo Senhor se tornamespirituais. Q ue não haja nenhuma outra cousa senão o adultério, que fecha esuspende esta sede do amor conjugal, esta origem ou fonte, e sua veia, isso éevidente pelas palavras do Senhor, que é somente por causa do adultério que épermitido repudiar a esposa, e tomar uma outra, (M ateus X IX, 4 a 9); depoispor estas, que aquele que se casa com uma repudiada comete adultério, (vers.9). Q uando esta pura e santa fonte é fechada, ela fica, como foi dito acima,cercada de imundícies, como uma pedra preciosa cercada de lixo, ou como pãocercado de vômitos, imundícies que são inteiramente opostas à pureza e àsantidade desta fonte ou do Amor conjugal; desta oposição resulta a friezaconjugal, e segundo esta frieza existe a atração lasciva do amor escortatório, quese consuma por si mesmo; que seja isso um mal de pecado, é porque o santo écoberto e assim a sua veia no corpo é obstruída, e em seu lugar sucede oprofano, e sua vela no corpo é aberta; por conseguinte, de celeste, o homem setorna infernal.

483 - Ao que precede ajuntarei algumas particularidades do M undo espiritual,que são dignas de ser relatadas: "O uvi dizer aí que alguns homens casados sãoabrasados pelo desejo libidinoso de cometer escortação com mulheres intactasou virgens; outros com mulheres defloradas ou prostituídas; outros, commulheres casadas ou esposas; outros, com mulheres de raça nobre; ou. tros,com mulheres de baixa extração; que assim seja, tive a confirmação nesseM undo por vários espíritos de diversos reinos. Q uando meditava sobre avariedade destes desejos libidinosos, perguntei se há quem encontre todo prazercom as esposas dos outros sem sentir prazer algum com as mulheres que nãosão casadas; a fim, portanto, de que eu conhecesse que os há, me foramtrazidos, de um certo reino, vários que foram constrangidos a falar segundo seudesejo libidinoso. Estes disseram que sua única volúpia e seu único prazer era, eé ainda, cometer adultério com as esposas dos outros; que lançavam os olhossobre belas mulheres, e as compravam por alto preço segundo sua opulência, e

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que ordinariamente tratavam do preço com elas. Perguntei porque nãocompravam mulheres não casadas; responderam que consideravam isso comouma cousa comum, vil em si mesma, não produzindo prazer algum. Pergunteise essas esposas voltavam em seguida para seus maridos e viviam com eles;responderam que não voltavam, ou que viviam friamente com eles, porque setinham tornado prostitutas. Em seguida lhes perguntei sèriamente, se jamaistinham pensado, ou se pensavam presentemente que isso é um duplo adultério,porque o cometem estando eles mesmos casados, e que um tal adultério despojao homem de todo bem espiritual; mas a estas palavras a maior parte daquelesque estavam presentes, se puseram a rir, dizendo: "O que é o bem espiritual?"Entretanto, eu insisti, dizendo: "O que há de mais detestável do que misturarsua alma com a alma do marido em sua esposa! N ão sabeis que na semente há aalma do homem? Então eles se afastaram e disseram baixo entre si: "Q ueprejuízo causa isso?" Enfim, disse "Ainda que não temais as leis Divinas, nãotemeis as leis civis?" R esponderam: "N ão; tememos somente certos membros daordem eclesiástica, mas diante deles, escondemos isso, e se não o podemosesconder, agimos polidamente com eles". Em seguida eu os vi divididos emgrupos, e entre estes, alguns lançados no inferno.

484 - IV . O Adultério triplo é com os consangüíneos.

Este adultério é chamado triplo, porque é três vezes mais grave do que os doisprecedentes. Q uais são os Consangüíneos, ou os R estos da carne, dos quais épreciso não se aproximar, vê-se enumerados Levitico X V III, 6 a 17. As razõespelas quais estes Adultérios são três vezes mais graves do que os dois acimamencionados, são internas e externas; as razões internas procedem dacorrespondência destes adultérios com a violação do casamento espiritual, que éo do Senhor e da Igreja, e por conseguinte do bem e do vero; as razões externassão que é preciso velar para que o homem não se torne como besta; mas não éaqui o momento de desvendar mais estas razões.

485 - V . H á para os adultérios quatro graus, segundo os quais se fazem suasdenominações, suas inculpações, e depois da morte, suas imputações.

Estes graus não são gêneros, mas entram em cada gênero, e constituem asdiferenças entre um maior e um menor mal, ou um maior e um menor bem;aqui, por exemplo, se o Adultério de cada gênero, em razão de circunstâncias ede contingências, deve ser reputado mais leve ou mais grave; que ascircunstâncias e as contingências variam cada coisa, isso é notório. M asentretanto de uma forma são consideradas as cousas pelo homem segundo sualuz racional; de outra forma pelo juiz segundo a lei, e de outra forma peloSenhor segundo o estado da mente do homem; é por isso que se diz,denominações, inculpações, e após a morte, imputações; pois pelo homemsegundo sua luz racional se fazem as denominações, pelo juiz segundo a lei asinculpações, pelo Senhor segundo o estado da mente do homem se fazem asimputações; que estas três cousas diferem muito entre si, pode-se ver sem uma

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exposição; com efeito, o homem pela convicção racional segundo ascircunstâncias e as contingências, pode absolver alguém que o juiz, assentadoem sua cátedra, não pode absolver segundo a lei; e o juiz, também podeabsolver alguém, que depois da morte é condenado; e isso, porque o juizestabelece a sua sentença segundo os fatos, mas cada um depois da morte éjulgado segundo as intenções da vontade e do entendimento que resulta davontade, e segundo as confirmações do entendimento e da vontade que resultado entendimento; estas intenções e estas confirmações, o juiz não as vê; masnão obstante, um e outro julgamento é justo, um em razão do bem dasociedade civil, o outro em razão do bem da sociedade celeste.

486 - V I. O s Adultérios do primeiro grau são os adultérios de ignorância, osquais são cometidos por aqueles que não podem de todo consultar oentendimento, nem por conseguinte os reprimir.

T odos os males, por conseguinte também os Adultérios, considerados em simesmos, pertencem ao mesmo tempo ao homem Interno e ao homem Externo;o homem Interno os tem em intenção, e o homem Externo os faz; tal éportanto o homem interno nos atos que são feitos pelo homem externo, tais sãoos atos considerados em si mesmos; mas como o homem interno não semanifesta com sua intenção diante do homem, cada um deve ser julgado notribunal dos homens pelos fatos e as palavras conforme a lei estabelece econforme as previsões desta lei; o sentido interior da lei deve também serpesado maduramente pelo juiz. Exemplos vão, porém, ilustrar este assunto: Seporventura o adultério é cometido por um adolescente que não sabe ainda queo adultério é um mal maior que a fornicação; se, semelhantemente, é cometidopor um homem de uma extrema simplicidade; se o é por um homem que umamoléstia privou da penetração do julgamento; ou por um homem que, comoacontece a alguns, está por vezes no delírio, e está então no estado em que seencontram aqueles que estão em um delírio real; além disso também, se está emuma embriaguez que participa da loucura, e assim por diante; que então ohomem interno, ou a mente, não esteja presente no homem externo a não ser,apenas, como o está em um homem irracional, isso é evidente; os adultériosdestes são denominados pelo homem racional segundo as circunstâncias;entretanto, por este mesmo homem racional como juiz, aquele que cometeadultério é inculpado e punido de acordo com a lei; mas depois da morte estesadultérios são imputados segundo a presença, a qualidade e a faculdade doentendimento na vontade daquele que os cometeram.

487 - V II. O s Adultérios cometidos por eles são leves.

Pelo que acaba de ser dito acima, nº 486, vê-se isso sem confirmação ulterior;com efeito, sabe-se que a qualidade de toda ação, em geral, a qualidade de todacousa, depende das circunstâncias, e que estas atenuam ou agravam: mas osadultérios deste grau são leves nos primeiros tempos em que não cometidos; etambém permanecem leves enquanto no curso seguinte de sua vida, este ou esta

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que os cometeu se abstém deles por estes motivos, que são males contra Deus,ou que são males contra o próximo, ou que são males contra o bem da cidade,e, por um outro deste motivos, porque são males contra a razão; ao contrário,são postos também no número dos adultérios graves se não se abstém deles porum destes motivos mencionados; assim, isto está conforme com a Lei Divina,Ezequiel X V III, 21, 22, 24 e algures. M as estes adultérios não podem serperdoados e desculpados, ou ser denominados e julgados pelo homem, comoleves ou graves, segundo estas circunstâncias, porque elas não se manifestamdiante dele, e mesmo não são da competência de seu julgamento; é por isso quese entende que é depois da morte que são assim reputados e imputados.

488 - V III. O s Adultérios do segundo grau são os adultérios do desejolibidinoso, os quais são cometidos por aqueles que, é verdade, podem consultaro entendimento, mas que por causas contingentes não o podem nessesmomentos. N o homem que de natural se torna espiritual, há no começo duascousas que combatem uma, contra a outra, as quais são comumente chamadaso espírito, e a carne; e como o amor do casamento pertence ao espírito, e oamor do adultério pertence à carne, se trava por isso, então, um combate entreestes dois amores; se o amor do casamento é vencedor, ele doma e subjuga oamor do adultério, o que se dá por um afastamento; mas se acontece que odesejo libidinoso da carne seja excitado a um ardor além daquilo que o espíritopode reprimir pela razão, resulta daí que o estado é ínvertido, e que o ardor dodesejo libidinoso espalha seduções no espírito, a ponto dele não ser mais senhorde sua razão, nem de si mesmo; isto é entendido pelos adultérios do segundograu, os quais são cometidos por aqueles que, é verdade, podem consultar oentendimento, mas que por causas contingentes, não o podem nessesmomentos. V ejamos exemplos para ilustração: Se uma esposa prostituída cativapor astúcia a mente (animus) de um homem, atraindo-o ao leito, e oinflamando ao ponto déle não ser mais senhor de seu julgamento; e mais ainda,se então mesmo ela lhe expõe a vergonha que daí resultaria se ele nãoconsentisse; semelhantemente, se uma esposa prostituída emprega prestígios, oupor estimulantes inflama, um homem ao ponto do ardor da carne tirar doentendimento o livre da razão; do mesmo modo se um por sedutorassolicitações leva a esposa de um outro ao ponto de sua vontade abrasada não sermais senhora de si mesma, além de outros casos semelhantes. Q ue estascontingências e outras do mesmo gênero atenuam a gravidade do adultério, evoltam para um lado mais suave as denominações de condenação contra ohomem seduzido ou da mulher seduzida, a razão é favorável a esse sentimento ea ele aquiesce. A imputação deste grau de Adultério é tratada no que segue.

489 - IX. O s Adultérios cometidos por eles são imputáveis conforme, nacontinuação, o entendimento os favoreça ou não os favoreça.

Q uanto mais o entendimento favorece os males, tanto mais o homem seapropria deles e os faz seus; o favor é o consentimento, e o consentimento

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introduz na mente o estado de amor por eles; dá-se o mesmo com os adultériosque no começo são feitos sem o consentimento do entendimento, e que sãofavorecidos; o contrário acontece, se na continuação eles não são favorecidos; arazão disso, é que os males ou os adultérios, que são feitos na favorecidos. Porimputação é entendida aqui a acusação (incusa-cegueira do entendimento, sãofeitos segundo a cobiça do corpo; assemelham-se pouco mais ou menos aosinstintos, tal como são estes nas bestas; no homem, é verdade, o entendimentoestá presente quando eles são feitos, mas está em uma força passiva ou morta, enão em uma força ativa ou viva; destas explicações resulta evidentemente, quetais adultérios não são imputados senão tanto quanto, na continuação, eles sãofavorecidos ou não são favorecidos. Por imputação é entendida aqui a acusaçãoincusatio) depois da morte, e por conseguinte o julgamento (judicatio), que sefaz segundo o estado de espírito do homem; mas não é entendida a inculpaçãopelo homem diante do juiz, isto se faz não segundo o estado de espírito dohomem, mas segundo o estado do corpo na ação; se não houvesse umadiferença, após a morte seriam absolvidos aqueles que são absolvidos noM undo, e seriam condenados aqueles que aqui são condenados, e assim nãohaveria para estes esperança alguma, de salvação.

490 - X . O s Adultérios do terceiro grau são os adultérios da razão, os quais sãocometidos por aqueles que confirmam pelo entendimento que não são males depecado.

T odo homem sabe que existe uma vontade e um entendimento; pois, quandofala, diz: "Eu quero isto"; e "Eu compreendo isto"; todavia, não faz, entretanto,distincão, mas faz um a mesma coisa que o outro; e isso, porque refleteunicamente sobre as cousas que pertencem ao pensamento pelo entendimento,e não nas que pertencem ao amor pela vontade, pois estas não se apresentam àluz como aquelas. Entretanto, aquele que não faz distinção entre a V ontade e oEntendimento, não pode fazer distinção entre os males e os bens, e porconseguinte não pode absolutamente saber cousa alguma sobre a culpa dopecado. M as quem é que não sabe que o bem e o vero são duas cousas distintas,como o amor e a sabedoria? E quem é que, quando está na luz racional, nãopode concluir daí que há no homem duas cousas que os recebem distintamentee se aplicam a eles, e que uma é a V ontade e a outra o Entendimento, pelarazão de que o que a V ontade recebe e reproduz é chamado Bem, e o que oEntendimento recebe é chamado V erdade, pois o que a V ontade ama e faz échamado Bem, e o que o Entendimento percebe e pensa é chamado V erdade?Agora, como tratou-se do Casamento do bem e do vero na Primeira Parte destaO bra, e como aí foi relatado sobre a V ontade e o Entendimento e sobrediversos atributos e predicados de um e de outro, um grande número de cousasque, como presumo, são percebidas mesmo por aqueles que não tinhampensado distintamente cousa alguma sobre o entendimento e a vontade, pois arazão humana é tal, que compreende os veros por sua luz, ainda que antes não

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os tenha distinguido; por isso, para que as diferenças do entendimento e davontade sejam mais claramente percebidas, apresentarei aqui algumasparticularidades, a fim de que se saiba quais são os Adultérios da razão ou doentendimento, e em seguida quais são os Adultérios da vontade; que asproposições seguintes sirvam de conhecimento sobre este assunto: I. A vontadesó nada faz por si mesma, mas tudo o que ela faz, o faz pelo entendimento. II.Por outro lado também, o Entendimento só nada faz por si mesmo, mas tudo oque faz, o faz segundo a vontade. III. A V ontade influi no entendimento, e oEntendimento não influi na vontade; mas o entendimento ensina o que é obem e o mal, e consulta a vontade a fim de escolher entre os dois e fazer o quelhe agrada. IV . Depois disso se faz uma dupla conjunção, uma na qual avontade age por dentro e o entendimento por fora; a outra na qual oentendimento age por dentro e a vontade por fora; assim os Adultérios darazão, de que se trata aqui, são distinguidos dos Adultérios da vontade, de quese tratará mais adiante; são distinguidos, porque um é mais grave do que ooutro; pois o Adultério da razão é menos grave do que o Adultério da vontade;e isto, porque no Adultério da razão o entendimento age por dentro e avontade por fora, enquanto que no Adultério da vontade, a vontade age pordentro e o entendimento por fora; ora, a vontade é o homem mesmo, e oentendimento é o homem segundo a vontade, e o que age por dentro dominasobre o que age por fora.

491 - X I. O s Adultérios cometidos por eles são graves, e são imputadossegundo as confirmações.

O entendimento só confirma, e quando ele confirma, atrai a vontade para o seupartido, e a coloca em torno de si, e assim a constrange à condescendência; asconfirmações se fazem pelos raciocínios que a M ente se esforça por tirar seja daregião superior, seja da região inferior; se é da região superior que comunicacom o Céu, ele confirma os casamentos e condena os adultérios; mas se é daregião inferior, que comunica com o M undo, confirma os adultérios e desprezaos casamentos. Cada um pode confirmar o mal do mesmo modo que o bem,semelhantemente o falso e o vero, e a confirmação do mal é percebida commais delícias do que a confirmação do bem, e a confirmação do falso aparececom mais lucidez do que a confirmação do vero; a razão disso, é que aconfirmação do mal e do falso tira seus raciocínios dos prazeres das volúpias,das aparências e das ilusões dos sentidos do corpo, enquanto que a confirmaçãodo bem e do vero tira suas razões da região acima dos sensuais do corpo. O ra,pois que os males e os falsos podem ser confirmados do mesmo modo que osbens e os veros, e pois que o entendimento que confirma arrasta a vontade paraseu partido, e que a vontade com o entendimento formam a mente, segueseque a forma da mente humana é, segundo as confirmações, voltada para o Céuse suas confirmações são pelos casamentos, mas voltadas para o inferno se sãopara os adultérios; e tal é a forma da mente do homem, tal é o espírito do

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homem, por conseguinte tal é o homem. Por estas explicações, vê-se portantoque os Adultérios deste grau são imputados depois da morte segundo asconfirmações.

492 - X II. O s Adultérios do quarto grau são os adultérios da vontade, os quaissão cometidos por aqueles que os consideram como lícitos e agradáveis e quenão acreditam, que sejam de uma tal importância que se deva consultar oentendimento a, seu respeito.

Estes Adultérios são distinguidos dos precedentes por suas origens; a origemdestes adultérios vem da vontade depravada nascida com o homem, ou do malhereditário ao qual o homem, após ter entrado na posse do seu julgamento,obedeceu cegamente, não julgando de modo algum a seu respeito, se eram ounão eram males, por isso se diz que não acreditam que sejam de uma talimportância que se deva consultar o entendimento a seu respeito. Q uanto àorigem dos adultérios que são chamados adultérios da razão, eles vêm de umentendimento pervertido, e são cometidos por aqueles que confirmam que estesadultérios não são males de pecado; nestes é o Entendimento que ocupa oprimeiro lugar; naqueles é a V ontade. Estas duas diferenças não se manifestama homem algum no M undo natural, mas são claramente vistas pelos Anjos noM undo espiritual; neste M undo espiritual todos são em geral distinguidossegundo os males que jorram originariamente da vontade ou do entendimento,e que são aceitos e apropriados; são também separados segundo estes males noinferno; lá, os que são mais pelo entendimento, habitam a parte anterior, e sãochamados Satanases; mas os que são mais pela vontade, habitam a parteposterior, e são chamados Diabos; é em razão desta diferença universal, que naPalavra se faz menção de Satanás e do Diabo. N estes maus, e também nosadúlteros que são chamados satanases, o entendimento ocupa o primeiro lugar;naqueles que são chamados diabos, a vontade ocupa o primeiro lugar. M asexpor estas diferenças a ponto do entendimento as ver, isso não é possível, amenos que se conheça antes as diferenças da vontade e do entendimento, etambém a menos que se faça uma descrição da formação da mente segundo avontade pelo entendimento, e de sua formação segundo o entendimento pelavontade; o conhecimento destes assuntos dará luz para que as diferenças acimamencionadas sejam vistas pela razão; mas isso é um trabalho que formaria umvolume.

493 - X III. O s Adultérios cometidos por eles são muito graves, e lhes sãoimputados como males de propósito determinado.

Se são muito graves, e mais graves que os precedentes, é porque neles, avontade ocupa o primeiro lugar, enquanto que o entendimento o ocupa nosprecedentes, e porque a vida do homem pertence essencialmente à vontade, eformalmente a seu entendimento; a razão disso é que a vontade faz um com oamor, e o amor é a essência da vida do homem, e se forma no entendimentopor cousas que concordam; também o entendimento, considerado em si

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mesmo, não é outra cousa senão a forma da vontade; e como o amor pertence àvontade, e a sabedoria pertence ao entendimento, é por isso que a sabedorianão é outra cousa senão a forma do amor, e que o vero não é outra cousa senãoa forma do bem. O que decorre da essência mesma da vida do homem, assim oque decorre de sua vontade, ou de seu amor, é principalmente chamadopropósito determinado (propositum); mas o que decorre da forma de sua vida,assim o que decorre do entendimento e do pensamento do entendimento, échamado intenção; o delito (reatus) por isso se diz principalmente da vontade;dai dizer-se que o reatus do mal em cada um vem da herança, mas que o malvem do homem. É por isso que estes adultérios do quarto grau são imputadoscomo males de propósito determinado, e permanecem como delitos.

494 - X IV . O s Adultérios do terceiro e do quarto grau são males de pecado,segundo a quantidade e a qualidade do entendimento e da vontade neles, quersejam cometidos em, ato, quer não sejam cometidos em ato.

Q ue os adultérios da razão ou do entendimento, que são do terceiro grau, e osadultérios da vontade, que são do quarto grau, sejam graves, e em conseqüênciamales do pecado, segundo a qualidade do entendimento e da vontade neles, é oque se pode ver pelo comentário que é feito acima, nºs 490 a 493; isto vem deque o homem é homem pela V ontade e o Entendimento; pois por estes doisexistem não somente todas as cousas que se fazem na M ente, mas ainda todas asque se fazem no Corpo; quem é que não sabe que o corpo não age por simesmo, mas que a vontade age pelo corpo; além disso também, que a boca nãofala por si mesma, mas que o pensamento fala pela boca? Por isso, se a vontadefosse retirada, no mesmo instante a ação se deteria; e se o pensamento fosseretirado, no mesmo instante se deteria a linguagem da boca; daí é evidente queos adultérios que são cometidos em atos, são graves segundo a quantidade e aqualidade do entendimento e da vontade neles; que sejam igualmente graves senão são cometidos em atos, vê-se por estas palavras do Senhor: "Foi dito pelosantigos: não, cometerás adultério. M as eu vos digo que se alguém olhar para amulher de outro para a cobiçar, já cometeu adultério com ela em seu coração",(M ateus V , 27 e 28); cometer adultério pelo coração, é pela vontade. H á váriascausas que fazem com que um adultério não seja adultério, em ato, e que nãoobstante o é pela vontade e pelo entendimento; com efeito, há os que se abstêmdos adultérios quanto ao ato, por medo da lei civil e das penas que ela infringe;por medo da perda da reputação, e por conseguinte da honra; por medo dasmoléstias que dele resultam; por medo de querelas em casa por parte da esposa,e por conseguinte da perda da tranqüilidade da vida; por medo da vingança domarido ou de algum parente, por conseguinte também por medo de ser batidopelos criados; por indigência ou por avareza; por fraqueza proveniente ou demoléstia, ou de abuso, ou da idade, ou de impotência, e por conseguinte porvergonha; se alguém por estes motivos e por outros semelhantes, se abstém dosadultérios em ato, e entretanto pela vontade e pelo entendimento seja por eles,

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não é menos adúltero por isso; pois não crê menos que não sejam pecados, e ostorna diante de Deus não ilícitos em seu espírito, e assim em espírito ele oscomete, embora não no corpo no M undo; por isso depois da morte, quando setorna espírito, fala abertamente em seu favor.

495 - X V . O s Adultérios por propósito determinado da vontade, e os adultériospor confirmação do entendimento, tornam os homens naturais, sensuais ecorporais.

O homem é homem, e é distinguido da besta, por isto que a sua mente foidistinguida em três regiões, tantos quantos Céus há, e porque pode ser elevadoda região ínfima à região superior, e também desta à suprema, e assim tornar-seAnjo de um Céu, e mesmo do T erceiro; é para este fim que foi dada ao homema faculdade de elevar o entendimento até lá; mas se o amor de sua vontade nãoé elevado ao mesmo tempo, ele não se torna espiritual, mas permanece natural;não obstante ele retém a faculdade de elevar o entendimento; a razão pela qualretém esta faculdade, é a fim de que possa ser reformado, pois é reformado pormeio do entendimento, o que se dá pelos conhecimentos do bem e do vero, epor uma intuição racional segundo esses conhecimentos; se os examinaracionalmente, e a eles conforma sua vida, então o amor da vontade é aomesmo tempo elevado, e neste grau o homem é aperfeiçoado, e o homem setorna cada vez mais um homem. É diferente, se não vive segundo osconhecimentos do bem e do vero, então o amor de sua vontade permanecenatural, e seu entendimento, por alternativas, se torna espiritual; pois ele detempos em tempos se eleva como uma águia, e vê em baixo o que está abaixode seu amor; quando o vê, voa para aí descendo e se conjunta com isso; seportanto as cobiças da carne pertencem a seu amor, ele se lança de sua alturapara elas, e na conjunção com elas encontra seu prazer no dela; e de novo, nabusca de renome, a, fim de ser acreditado sábio, se eleva ao alto, e assim porsaltos de tempos em tempos, como acaba de ser dito. Se os adúlteros do terceiroe do quarto grau, isto é, aqueles que se fizeram adúlteros por propósitodeterminado da vontade e por confirmação do entendimento, sãocompletamente naturais, e se tornam progressivamente sensuais e corporais, éporque mergulharam o amor de sua vontade e ao mesmo seu entendimento nasimpurezas do amor escortatório, e se deleitaram com isso, do mesmo modo queas aves e as bestas imundas se deleitam na podridão e nos excrementos comocoisas deliciosas e apetitosas, pois os eflúvios que se elevam de sua carneenchem com sua escória o habitáculo da mente, e fazem com que a vontadenada sinta de mais delicioso nem de mais desejável; são estes que depois damorte, se tornam espíritos corporais, e é deles que jorram as impurezas doInferno e da Igreja, de que se falou acima, nºs 430 e 431.

496 - H á três graus do homem natural; no Primeiro estão aqueles que amam oM undo, pondo seu coração nas riquezas; estes são propriamente entendidospelos naturais; no Segundo grau estão aqueles que só amam os prazeres dos

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sentidos, pondo seu coração nas luxúrias e nas volúpias de todo gênero; estessão própriamente entendidos pelos sensuais; no T erceiro grau estão aqueles quesó amam a si mesmos, pondo seus corações na procura da honra; estes sãopropriamente entendidos pelos Corporais; a razão disso, é que eles mergulhamno corpo todas as cousas da vontade e por conseguinte do entendimento, e quepor trás dos outros, eles olham para si mesmos e amam unicamente seuspróprios; mas os Sensuais mergulham todas as cousas da vontade, e porconseguinte do entendimento, nos atrativos e nas ilusões dos sentidos,abandonando-se a eles só; e os N aturais espalham pelo M undo todas as cousasda vontade e do entendimento, adquirindo riquezas com avareza e fraude, enão vendo neles e para elas outro uso senão o da posse. O s Adultérios acimamencionados fazem os homens cair nestes graus degenerados, um neste, outronaquele, cada um segundo o prazer que lhe agrada, de que se forma seu gênioparticular.

497 - X V I. Chega a um ponto que por fim, rejeitam para longe deles todas ascousas da Igreja e da R eligião.

Se os Adúlteros por propósito determinado e por confirmação rejeitam paralonge deles todas as cousas da Igreja e da R eligião, é porque o amor docasamento e o amor do adultério são opostos, nº 425, e porque o amor docasamento faz um com a Igreja e com a R eligião, ver nº 130, e em outroslugares, aqui e ali, na Primeira Parte; daí o amor do adultério, como sendooposto, faz um com as coisas que são contra a Igreja. Se estes adultériosrejeitam para longe deles todas as coisas da Igreja e da R eligião, é porque oamor do casamento é oposto ao amor adultério, como o casamento do bem edo vero é oposto à conexão (connubium) do mal e do falso, nºs 427 e 428; e ocasamento do bem e do vero é a Igreja, enquanto que o (connubium) do mal edo falso é a AntiIgreja. Se estes adultérios rejeitam para longe deles todas ascousas da Igreja e da R eligião, é porque o amor do casamento e o amor doadultério são opostos como o Céu e o Inferno, nº 429; e no Céu está o amor detodas as cousas da Igreja, enquanto que no Inferno está o ódio contra todas ascousas da Igreja. Se estes adultérios rejeitam para longe deles todas as cousas daIgreja e da R eligião, é também porque seus prazeres começam pela carne epertencem à carne mesmo no espírito, nºs 440 e 441; e a carne é contra oespírito, isto é, contra os espirituais na Igreja; aí também os prazeres do amorescortatório serem chamados V olúpias da loucura. Se desejais demonstrações,dirigi-vos, eu vos peço, àqueles que sabeis estar em tais adultérios, eperguntai-lhes em segredo o que pensam de Deus, da Igreja e da vida eterna, eouvireis. A verdadeira causa é que assim como o amor conjugal abre osinteriores da mente, e desse modo os eleva acima dos sentidos do corpo até àluz e ao calor do Céu, assim também, por outro lado, o amor do adultériofecha os interiores da mente, e mergulha a mente mesma, quanto à vontade, nocorpo até em todas as cobiças da carne; e quanto mais profundamente aí

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mergulha mais se afasta do Céu.

498 - X V II. Entretanto gozam sempre da racionalidade como os outros.

Q ue o homem natural, o sensual e o corporal sejam racionais quanto aoentendimento do mesmo modo que o homem espiritual é aquilo de que tive aprova pelos satanases e os diabos, que tinham subido do Inferno por permissão,e conversado com espíritos angélicos no M undo dos espíritos; mas como oamor da vontade faz o homem, e este amor força o entendimento a consentir,por isso aqueles que são tais não são racionais senão em um estado afastado doamor da vontade; mas quando voltam de novo a este amor, se tornam maisinsensatos do que bestas ferozes. Aliás, sem a faculdade de elevar oentendimento acima do amor da vontade, o homem não seria homem, seriauma besta, pois, a besta não goza dessa faculdade; conseqüentemente nadapoderia escolher, nem fazer por escolha o que é bem e o que é vantajoso, eassim não poderia ser reformado, nem ser conduzido ao Céu, nem vivereternamente. Daí vem que os Adúlteros por propósito determinado e porconfirmação, ainda que sejam inteiramente naturais, sensuais e corporais gozamentretanto, como os outros, da faculdade de compreender, ou da racionalidade;mas quando estão no desejo libidinoso do adultério, e segundo este desejopensam e falam, não gozam desta racionalidade, porque então a carne agecontra o espírito, e não o espírito contra a carne. M as é preciso que se saiba queestes, por fim, depois da morte, tornam-se estúpidos, não que a faculdade deser sábio lhes seja tirada, mas eles não querem ser sábios, porque a sabedorialhes causa desprazer.

499 - X V III. M as eles se servem desta racionalidade quando estão nos externose abusam dela quando estão nos internos.

Estão nos externos quando falam fora de sua casa e em uma reunião, mas estãonos internos quando estão em casa ou consigo mesmos; se queres fazer aexperiência, apodera-te de algum desses, por exemplo de algum da ordem dosjesuítas, e faz com que ele fale em uma R eunião, ou que ele pregue em umT emplo sobre Deus, sobre as cousas santas da Igreja, e sobre o Céu e o Inferno;e ouvindo-o tu o acharás cheio de zelo racional, mais do que qualquer outro;talvez te leve a soltar gemidos e a derramar lágrimas por causa da salvação; masleva-o à tua casa, eleva-o acima das outras O rdens, chama-o Pai da sabedoria, efaz dele um amigo, a ponto dele te abrir o coração, e ouvirás então o que te dirásobre Deus, sobre as cousas santas da Igreja e sobre o Céu e o Inferno, a saber,que são fantasias e quimeras, e por conseguinte laços inventados para as almas,pelos quais grandes e pequenos, ricos e pobres são presos e garroteados, e sãomantidos sob o jugo de sua dominação. Q ue isto baste para ilustração daquiloque é entendido quando se diz que os homens naturais, até os homenscorporais, gozam de racionalidade humana como os outros, mas que se servemdela quando estão nos externos, e abusam dela quando estão nos internos. Aconclusão a tirar daí, é que é preciso não julgar uma pessoa pela sabedoria de

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sua boca, mas julgá-la ao mesmo tempo pela sabedoria de sua vida.

500 - Ao que precede ajuntarei este M emorável:

U m dia, no M undo dos Espíritos, ouvi um grande tumulto; eram milhares deespíritos reunidos que gritavam: "Q ue sejam punidos! Q ue sejam punidos!"Aproximei-me de mais perto, e indaguei do que era. U m espírito separadodesta grande Assembléia, me disse: "Estão arrebatados de cólera contra trêssacerdotes, que andam por aqui e por ali, e pregam por toda parte contra osadultérios, dizendo que os adúlteros não reconhecem Deus; que o Céu lhes foifechado, e o, Inferno aberto; e que no Inferno, são diabos imundos, porque aíaparecem de longe como porcos rolando na lama, e que os Anjos do Céu ostêm em abominação!" Perguntei onde estavam estes três sacerdotes, e porquedavam a seu respeito tão grandes gritos. R espondeu: "Estes três sacerdotes estãono meio deles sob a guarda de satélites, e os que estão reunidos são daquelesque acreditam que os adultérios não são pecados, e que dizem que os adúlterosreconhecem Deus, do mesmo modo que aqueles que se ligam a suas esposas;todos estes vieram do M undo Cristão; e Anjos foram ver quantos havia entreeles que acreditavam que os adultérios são pecados, e sobre mil nãoencontraram cem". Então ele me disse que estes novecentos falam assim dosadultérios: "Q uem não sabe que o prazer do adultério está muito acima doprazer do casamento; que os adúlteros estão em um calor perpétuo, e porconseguinte em uma alegria, uma aptidão e uma vida ativa, muito mais do queaqueles que vivem com uma única mulher; que ao contrário, o amor com umaesposa esfria, e por vezes ao ponto de que por fim mal dá com ela uma palavrade conversa e de sociabilidade que tenha vida, enquanto que é diferente com acortesã; que o estado definhante da vida com uma esposa, estado que resulta dafalta de potência, é reparado e reanimado pelas escortações? E aquilo que reparae reanima não vale mais do que aquilo que torna definhante? O que é ocasamento senão uma escortação permitida? Q uem vê aí uma diferença? Pode oamor ser constrangido? E entretanto o amor com uma esposa é constrangidopor uma aliança e pelas leis. O amor com a consorte não é o amor do sexo? Eeste amor é tão universal, que existe mesmo nas aves e nas bestas? O que é oamor conjugal senão o amor do sexo? E o amor do sexo é livre com todamulher. Se as leis civis são contra os adultérios, é porque os legisladoresacreditaram que o bem público o exigia; e entretanto os legisladores e os juizescometem algumas vezes o adultério, e dizem entre si: Q ue aquele que está sempecado atire a primeira pedra. Só os simples e os homens religiosos é queacreditam que os adultérios são pecados; não se dá o mesmo com os homensinteligentes que consideram, como nós, os adultérios segundo a luz da natureza.N ão nascem filhos dos adultérios do mesmo modo que dos casamentos? E osbastardos não são hábeis e capazes para desempenhar cargos do mesmo modoque os legítimos? E além disso, ele provê a famílias que de outro modo seriamestéries; não está ai uma vantagem e não um prejuízo? Em que é prejudicial a

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uma esposa admitir vários rivais? E em que isto prejudica ao marido? Se hádesonra para o marido, é uma opinião privada fundada sobre uma purafantasia. Se o adultério é contra as leis e os estatutos da Igreja, é pela O rdemEclesiástica por causa do poder, mas o que é que a teologia e o espiritual têm decomum com uma delícia puramente corporal e carnal? N ão há padres e mongesque são adúlteros? Será que por isso não podem reconhecer nem adorar a Deus?Por que, portanto, estes três Sacerdotes pregam que os adúlteros nãoreconhecem Deus? N ão podemos tolerar tais blasfêmias; que sejam poisjulgados e punidos". Depois disso vi que chamavam Juizes, aos quais pediramque fossem pronunciadas penas contra eles; mas os Juizes disseram: "Isto não éde nossa competência; pois se trata do reconhecimento de Deus, e do pecado, epor conseguinte da salvação e da danação; a sentença sobre tais assuntos virá doCéu; mas vos daremos um conselho sobre a maneira de saber se estes trêsSacerdotes pregaram verdades: H á três Lugares que nós, Juízes, conhecemos,onde tais assuntos são examinados e revelados de uma maneira singular: OPrimeiro é onde é aberto a todos um caminho para o Céu; mas quando sechega ao Céu, percebe-se o que se é quanto ao R econhecimento de Deus; oSegundo lugar, é onde também é aberto um caminho para o Céu; masninguém pode entrar nesse caminho, senão aquele que tem em si o Céu; e oT erceiro lugar, é onde há um caminho para o Inferno, e os que amam as cousasinfernais entram neste caminho espontaneamente, porque é por seu prazer;nós, Juízes, enviamos para esses lugares todos aqueles que reclamam de nós umjulgamento a respeito do Céu e do Inferno". Depois de ter ouvido estaspalavras, aqueles que estavam reunidos, disseram: "V amos a esses lugares". Equando chegaram ao Primeiro, onde está aberto a todos um caminho para oCéu, imediatamente houve obscuridade; por isso alguns deles acenderamtochas, e as levaram na frente; os juizes que estavam com eles lhes disseram:"Isto acontece a todos que vêm a este Primeiro lugar, mas à medida que seaproximam o fogo das tochas se torna mais fraco, e no lugar mesmo é extintopela luz do Céu que influi, o que é um sinal de que se chegou; isto provém deque a princípio o Céu para eles está fechado, e que em seguida é aberto". Echegaram nesse lugar, e as tochas tendo se apagado por si mesmas, eles viramum caminho dirigindo-se obliquamente para cima, para o Céu; os que estavamno arrebatamento da cólera contra os três Sacerdotes ai entraram; entre osprimeiros estavam os adúlteros por propósito determinado, depois deles osadúlteros por confirmação; e ao subir os primeiros exclamaram: "Segui-nos". Eos que seguiam, gritavam: "Apressai-vos". E os apressavam. Depois de poucotempo, quando estavam todos dentro de uma Sociedade celeste, apareceu umabismo entre eles e os Anjos; e a Luz do Céu, influindo, acima deste abismo,em seus olhos, abriu os interiores de suas mentes, o que os forçou a falar comopensavam interiormente; e então lhes foi perguntado pelos Anjos, sereconheciam que há um Deus. O s primeiros, que eram Adúlteros porpropósito determinado da vontade, responderam: "O que é Deus?" E se

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olharam uns aos outros, e disseram: "Q uem de vós o viu?" O s segundos, queeram Adúlteros por confirmação do entendimento, disseram: "N ão pertencetudo à natureza? O que há acima dela, a não ser o Sol?" E então os Anjos lhesdisseram: "R etirai-vos de perto de nós; agora, percebeis, vós mesmos, que nãohá em vós reconhecimento de Deus; quando descerdes os interiores de vossasmentes se fecharão, e os exteriores se abrirão, e então podereis falar contra osinteriores, e dizer que há um Deus; ficai certos de que, desde que um homemse torna efetivamente adúltero, o Céu lhe é fechado, e o Céu estando fechado,Deus não é reconhecido; aprendei a causa: T udo que é imundo no inferno vemdos adultérios, e isso cheira mal no Céu como a lama podre das ruas". Depoisque ouviram estas coisas, voltaram, e desceram por três caminhos; e quandochegaram em baixo, os primeiros e os seguindos apoiando-se mútuamente,diziam: "Lá os Sacerdotes venceram; mas sabemos que nós, do mesmo modoque eles, podemos falar de Deus; e quando dizemos que Ele existe, não é queO reconhecemos? O s Interiores e os Exteriores da mente, de que os Anjosfalaram, são invenções. M as vamos ao segundo Lugar designado pelos Juizes,onde o caminho para o Céu é aberto aos que têm o Céu em si; assim aos quedevem ir para o Céu". E quando se aproximaram, saiu do Céu uma voz:"Fechai as portas, Adúlteros estão perto daqui". E imediatamente as portasforam fechadas; e guardas, tendo bastões na mão os expulsaram; e libertaramdentre as mãos daqueles que os guardavam os três Sacerdotes, contra os quais otumulto tinha sido excitado, e os introduziram no Céu; e no momento em quea Porta foi aberta para os Sacerdotes, o prazer do casamento se exalou do Céusobre os rebeldes; e esse prazer, sendo casto e puro, quase os privou darespiração; temendo pois cair em desfalecimento por sufocação, eles seapressaram em ir para o terceiro Lugar, e respeito do qual os Juizes haviam ditoque daí partia um caminho para o Inferno; e então de lá se exalou o prazer doadultério, o que fez com que aqueles que eram adúlteros por propósitodeterminado, e aqueles que o eram por confirmação, fossem de tal modovivificados, que desceram quase saltando, e mergulharam na lama como porcos.

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Do prazer libidinoso dadefloraçao

501 - O s Desejos libidinosos de que se trata nos quatro Capítulos seguintes sãonão somente desejos libidinosos de adultério, mas são mais graves do que eles,pois que não existem senão pelos adultérios, pois a pessoa é apanhada por elesquando já se desgostou dos adultérios; assim o Desejo libidinoso da defloração,de que se trata em primeiro lugar, o qual não pode começar antes em ninguém;semelhantemente o Desejo libidinoso de variedades, o Desejo libidinoso doestupro, e o Desejo libidinoso de seduzir os inocentes, de que se trata emseguida. São chamados desejos libidinosos, porque tanto e tal é o Desejolibidinoso por estes atos, tanto é tal é a apropriação que se faz deles. Q uanto aoque concerne especialmente ao Desejo libidinoso da defloração, a fim de quehaja convicção evidente de que é uma infâmia, isso vai ser manifestado emordem nos Artigos seguintes: I. Do estado da virgem ou da mulher intactaantes do casamento e depois do casamento. II. A V irgindade é a coroa dacastidade, e o penhor do amor conjugal. III. A defloração sem intento decasamento é uma infâmia de bandido. IV . A sorte daqueles que confirmaramem si que o desejo libidinoso da defloração não é um mal de pecado é duradepois da morte. Segue a explicação dos Artigos.

502 - I. Do estado da V irgem ou da mulher intacta antes do casamento edepois do casamento.

Q ual é o estado de uma virgem antes que tenha sido instruída nas diversasparticularidades do facho conjugal, é o que me foi manifestado no M undoespiritual por esposas, que tinham saído do M undo natural em sua infância, etinham recebido sua educação no Céu. Elas me disseram que, desde quechegaram ao estado núbil, tinham, vendo casais de esposos, começado a amar avida conjugal, mas com o único objetivo de serem chamadas esposas, e deviverem em sociedade de amizade e de confiança com um único homem, etambém de se tornarem senhoras de si mesmas, deixando a casa da obediência;elas me disseram também, que a respeito do casamento tinham prensadomaiormente na beatitude da amizade e da confiança mútuas com um homemque partilharia sua sorte, e de modo algum nas delícias de nenhuma chama;mas que seu estado virginal tinha sido mudado depois das núpcias, em umnovo estado, de que nada tinham sabido antes; e declararam que este estado erao estado de expansão de todas as coisas da vida de seus corpos, das primeiras àsúltimas, para receber os dons de seu marido, e para uni-los à sua vida, a fim dese tornarem assim o amor do marido e esposa; que este estado tinha começadono momento da defloração, e que depois desta defloração a chama do amor

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tinha se acendido só para o, marido, e que tinham sentido as delícias celestesdesta expansão; e que, como cada esposa foi introduzida neste estado pelomarido, e este estado vem dele, e por conseguinte é para ele nela, ela não podeamar senão a ele só. Por estas declarações foi manifestado qual é o estado dasvirgens no Céu antes do casamento e após o casamento; que na terra haja umsemelhante estado para as virgens e as esposas que são unidas pelos primeiroslaços felizes, isso não é desconhecido; que virgem pode conhecer este novoestado antes de estar nele? Perguntai e ouvireis; é diferente para aquelas que emconseqüência de instrução procuraram os atrativos do prazer.

503 - II. A V irgindade é a coroa da castidade e o penhor do amor conjugal.

A V irgindade é chamada coroa da castidade, porque ela coroa a castidade docasamento, e porque é também a marca da castidade; por isso a noiva leva nasnúpcias uma coroa na cabeça; ela é também a marca da santidade docasamento; pois a noiva pela flor da virgindade se dá e se consagra inteiramenteao noivo então marido, e o marido, por sua vez, se dá e se consagrainteiramente à noiva então esposa. A V irgindade também é chamada penhor doamor conjugal, porque pertence à aliança, e porque há aliança para que o amoros una em um só homem, ou em uma só carne. O s maridos mesmos, antes dasnúpcias, consideram também a virgindade da noiva como a coroa de suacastidade, e como o penhor do amor conjugal, e enfim como o objeto desejávelmesmo, pelo qual devem começar e se perpetuar as delícias deste amor. Porestas considerações e as cousas que precedem, vê-se que depois que o cinto foitirado, e a virgindade sacrificada, a virgem se torna espôsa, e que se não setorna esposa torna-se prostituta; pois o novo estado, em que é entãointroduzida, é o estado do amor por seu marido, e se não é por seu marido, éum estado de desejo libidinoso.

504 - III. A defloração sem intuito de casamento é uma infâmia de bandido.Certos adúlteros têm um ardente desejo de deflorar virgens, e por conseguintemeninas na idade da inocência; eles as atraem a tais atos, ou pelas persuasões dealcoviteiras, ou por presentes que lhes dão, ou por promessas de casamento; eestes homens após a defloração as abandonam, e procuram outras e aindaoutras; acrescente-se a isso, que eles encontram prazer, não com as antigas, mascom novas continuamente, e que este desejo libidinoso aumenta até tornar-se oprincipal prazer de sua carne. Acrescentam ainda a isso esta perfídia, é que, pordiversos artifícios, solicitam de donzelas a ponto de casar-se, ou imediatamenteapós as núpcias, que lhes ofereçam as primícias do casamento que, destamaneira enxovalham porcamente. O uvi dizer também que, quando este ardorcom sua potência lhes falta, eles se gloriam do número de virgindades como deoutros tantos velos de ouro de Jasão. Esta infâmia que é o crime da corrupção,(stuprum), tendo começado na idade da força, e sendo em seguida corroboradapor gabolices, fica enraizada, e por conseqüência impressa após a morte. O queé esta infâmia, vê-se pelo que foi dito acima, que a virgindade é a coroa da

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castidade, o penhor do futuro amor conjugal, e que a virgem consagra a suaalma e a sua vida àquele a quem consagra sua virgindade; é também sobre elaque são fundadas a amizade conjugal e a segurança desta amizade; e além disso,a mulher deflorada por tais homens, depois que esta porta do amor conjugal foiquebrada, despe-se de todo pudor, e torna-se uma prostituta, e é este bandidoque é também a causa disso. Se após se ter entregue a estas satiríases e a estasprofanações de castidades, estes mesmos bandidos voltam suas idéias para ocasamento, não cogitam em sua mente outra cousa senão na virgindade de suafutura esposa; e, quando a tomaram, desdenham o leito e o quarto de dormir;mais ainda, com exceção das donzelas, eles desprezam todo o sexo feminino; ecomo tais homens são violadores do casamento, e desprezadores do sexofeminino, e por conseqüência ladrões espirituais, é evidente que a N emesisDivina os persegue.

505 - IV . A sorte dos que confirmaram em si que o desejo libidinoso dadefloração não é um mal de pecado, é dura depois da morte.

A sua sorte é esta: Depois que passaram no M undo dos espíritos o primeirotempo, que é um tempo de modéstia e de moralidade, porque estão emcompanhia de espíritos angélicos, são imediatamente, de seus externos,introduzidos em seus internos, e então nas cobiças que os tinham seduzido noM undo; e são introduzidos em suas cobiças, a fim de que apareça em que grauestiveram; e, se é em um grau fraco, a fim de que saiam deles depois de aíterem sido introduzidos, e se envergonhem disso. M as aqueles que tinhamestado neste pernicioso desejo libidinoso, ao ponto de aí achar uma supremadelícia, e que se gloriam destes roubos como de despojos opimos; não sedeixam afastar dele; por isso são abandonados a seu livre, e imediatamenteandam por todo lado e procuram lugares de prostituição, e desde que estes lhessão indicados, eles aí entram; estes lugares estão dos lados do inferno; mascomo aí não encontram senão prostitutas, vão embora, e indagam onde hávirgens, e então são conduzidos para cortesãs que, por uma fantasia, podem sedar uma beleza sobreminente e o brilho florido da juventude, e pretendem servirgens, junto das quais ardem de desejo, da mesma maneira que no M undo;em conseqüência fazem um ajuste com elas; mas quando estão ao ponto deexecutar esse ajuste, a fantasia introduzida pelo Céu é retirada, e então estasvirgens aparecem em sua deformidade monstruosas e crestadas; entretanto sãoforçados a se ligar a elas durante algum tempo; estas cortesãs são chamadasSereias. M as se por tais fascinações não se deixam afastar deste extravagantedesejo libidinoso, são lançados em um Inferno que está nos limites do sul e doocidente sob o Inferno das prostitutas mais astuciosas, e aí são associados aosseus semelhantes. Foi-me permitido ver este Inferno, e me foi dito que havia lámuita gente de nobre extração e dos mais opulentos; mas como haviam sidotais no M undo, toda lembrança de sua extração e das dignidades que possuíampor sua opulência lhes é tirada, e introduzem em si uma persuasão de ter sido

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vis escravos, e indignos por conseguinte de toda honra. Entre si, é verdade,aparecem como homens, mas aos olhos daqueles a quem é permitido olhar esteinferno, aparecem como M acacos com uma face medonha em lugar de umaagradável, e um ar hediondo em lugar de um ar alegre; caminham com os rinscontraídos, e por conseguinte são curvados, com a parte superior inclinada paraa frente como se fossem cair, e cheiram mal; desdenham o sexo e se afastamdaquelas que vêem, pois não têm desejo algum por elas. T ais apareciam eles deperto, mas de longe aparecem como Cães de estimação ou Cães pequenos deprazer, e ouve-se também como uma espécie de latido no som de sua voz.

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Do desejo libidinoso devariedades

506 - Pelo desejo libidinoso de variedades, de que se trata aqui, não éentendido o desejo libidinoso de fornicação, de que se tratou em um Capítuloparticular; este embora costume ser confuso e vago, não conduz entretanto aodesejo libidinoso de variedades, a não ser que ultrapasse os limites, e que ofornicador considere o número e se vanglorie dele pela cupidez; esta idéia faz ocomeço deste desejo libidinoso, mas em que ele se torna em sua progressão nãose pode percebê-lo distintamente senão em uma certa série, como esta que vaiseguir: I. Pelo desejo libidinoso de variedades é entendido o desejo libidinosode uma escortação inteiramente dissoluta. II. Este Desejo libidinoso é um amore ao mesmo tempo um desdém pelo sexo. III. Este Desejo libidinoso aniquilainteiramente o amor conjugal em si. IV . A sorte daqueles que se abandonam aeste desejo libidinoso é miserável depois da morte, porque neles não há oíntimo da vida. A explicação destes Artigos vai seguir-se.

507 - I. Pelo Desejo libidinoso de variedades é entendido o desejo libidinoso deuma escortação inteiramente dissoluta.

Este desejo libidinoso se insinua naqueles que na juventude relaxaram os laçosda pudicícia, e que tiveram à sua disposição uma chusma de mulheresdebochadas, sobretudo se a opulência para satisfazer os pedidos de dinheiro nãofaltava; eles semeiam e enraízam em si este desejo libidinoso por escortaçõesdesordenadas e ilimitadas por pensamentos de nenhum pudor sobre o Amor dosexo feminino, e por confirmações de que os Adultérios não são males, e nãosão de modo algum pecados. Este Desejo libidinoso neles, em sua progressão,aumenta ao ponto de cobiçarem as mulheres do mundo inteiro, e as querempor grupos, e cada dia uma nova. Como este desejo libidinoso se lança parafora do amor comum do sexo, implantado em cada homem, e inteiramentefora do amor de uma única pessoa do sexo, que é o amor conjugal, e se lançanos exteriores do coração como uma delícia de amor separado destes doisamores, e entretanto derivado deles, por isso ele se enraíza nas cutículas tãoprofundamente, que fica no tato, depois que as forças enfraqueceram. Estesconsideram como nada os adultérios; por isso em seus pensamentos,consideram todo o sexo feminino como uma prostituta comum, e assimmisturam a impudicícia e a pudicícia, e por esta mistura se tornam insensatos.Por estas explicações vê-se claramente o que é entendido pelo Desejo libidinosode variedades, a saber, que é o Desejo libidinoso de uma escortação

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inteiramente dissoluta.

508 - II. Este Desejo libidinoso é um amor e ao mesmo tempo um desdémpelo sexo.

H á neles um amor pelo sexo, porque é do sexo que vem a variedade; e há umdesdém pelo sexo, porque depois da posse, eles rejeitam a mulher e dirigem seudesejo a outras. Este obsceno desejo libidinoso se abrasa por uma mulher nova,e depois do ardor esfria para ela; e o frio é um desdém. Q ue este desejolibidinoso seja um amor e ao mesmo tempo um desdém pelo sexo, é o quepode ser ilustrado desta maneira: Suponha-se à esquerda grande número demulheres de que tiveram a posse, e à direita grande número de mulheres quenão possuíram; não olhariam eles para estas com amor e para aquelas comdesdém? E entretanto umas e outras são do sexo.

509 - III. Este desejo libidinoso aniquila inteiramente o amor conjugal em si.

É porque este desejo libidinoso é inteiramente oposto ao amor conjugal, e detal modo oposto, que não somente o faz em pedaços, mas mesmo, por assimdizer, o reduz a pó; pois o amor conjugal é por uma única do sexo, enquantoque este desejo libidinoso não se detém em uma só, mas após uma hora ou umdia, tem por ela tanta frieza quanto ardor tinha antes; e como a frieza é umdesdém, este desdém por uma coabitação e uma morada constrangidas aumentaaté excitar o desgosto, e assim o amor conjugal é consumido a ponto de nãorestar dele e menor cousa. Por isto pode-se ver que este desejo libidinoso émortal para o amor conjugal; e que, como o amor conjugal faz o íntimo da vidado homem, ele é mortal para a vida do homem; e que este desejo libidinosopelas intercepções e fechamentos sucessivos dos interiores da mente, se tornaenfim cutâneo, e assim inteiramente sedutor, permanecendo sempre afaculdade de compreender ou a racionalidade.

510 - IV . A sorte (daqueles que se abandonam a este desejo libidinoso) émiserável após a morte, porque neles não há o íntimo da vida.

Cada um possui a excelência da vida segundo seu amor conjugal, pois estaexcelência se conjuga com a vida da esposa, e se exalta pela conjunção; mascomo naqueles de que se trata não resta cousa alguma do amor conjugal, nempor conseguinte cousa alguma do íntimo da vida, é por isso que a sua sortedepois da morte é miserável. Depois do período de tempo passado em seusexternos, no qual falam racionalmente e agem civilmente, estes são postos emseus internos, e então em um semelhante desejo libidinoso e em seus prazeres,no mesmo grau em que tinham estado no M undo; pois cada um depois damorte é introduzido no mesmo estado de vida de que se tinha apropriado, afim de que seja afastado dele; com efeito, ninguém pode ser afastado de seumal, a não ser que antes tenha, sido introduzido nele; de outro modo o mal sefecharia, macularia os interiores da mente e se espalharia como uma peste, e em

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seguida romperia as barreiras, e devastaria os externos que pertencem ao corpo.É por esta razão que lhes é aberto, sobre o lado do inferno, lugares de deboche,onde estão prostitutas com as quais têm a faculdade de variar seu desejolibidinoso, mas isso lhes é permitido com uma só por dia, e lhes é interdito, sobuma certa pena, com várias no mesmo dia. Em seguida, depois de exame, éreconhecido que este desejo libidinoso, está de tal forma enraizado, que nãopodem ser afastados dele, são conduzidos para um certo lugar, situadoimediatamente acima do inferno que lhes foi destinado, e então aparecem a elesmesmos como se caíssem em desfalecimento, e aos outros como se afundassemcom o rosto voltado para cima; e o solo se abre realmente também sob seudorso, e eles são engulidos e caem no Inferno onde estão seus semelhantes;assim são recolhidos junto aos seus; aparecem entre si como homens o que lhesé concedido, a fim de que não sejam para seus companheiros objetos de terror,mas a uma certa distância são vistos com a face constantemente branca, comose não houvesse senão a pele; e isso, porque neles não há vida espiritual, quecada um possui segundo o conjugal impresso nele. Sua linguagem é seca, agudae triste; quando têm fome, se lamentam, e suas lamentações são ouvidas como ofrémito de um som particular; têm as vestes rasgadas, seus calções sungadosacima do ventre em torno do peito, porque não têm lombos, mas na região dobaixo ventre começam os calcanhares de seus pés; isto provém de que oslombos nos homens correspondem ao amor conjugal, e este amor não existe emtais homens. Diziam que desdenhavam o sexo porque não têm potênciaalguma. Entretanto, entre si, podem raciocinar sobre diversos assuntos comosegundo a racionalidade; mas como são cutâneos, raciocinam segundo as ilusõesdos sentidos. Este inferno está na plaga ocidental do lado do setentrião. O ra,estes mesmos homens, vistos de longe, aparecem não como homens, nem comomonstros, mas como gelatina. T odavia, é preciso que se saiba que tais setornam aqueles que se imbuíram deste desejo libidinosos, a um tal grau quefizeram em pedaços e aniquilaram neles o Conjugal humano .

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Do desejo libidinoso da violaçao

511 - Pelo Desejo libidinoso da violação não é entendido o Desejo libidinosoda defloração; este desejo é uma violação de virgindades, e não de virgens,quando a defloração se faz com consentimento; mas o desejo libidinoso daviolação, de que se trata aqui, se amortece diante do consentimento, e seinflama pela recusa; é um ardor de violar as mulheres, quaisquer que sejam,que se neguem absolutamente e que resistam impetuosamente, quer sejamvirgens, ou viúvas, ou esposas; tais homens são como bandidos e piratas, queacham prazer nas cousas arrebatadas e pilhadas, e não nas que são dadas oujustamente adquiridas; são também como malfeitores que desejam àvidamenteo que é ilícito e proibido, e desprezam o que é lícito e permitido; estesvioladores têm em absoluta aversão o consentimento, e são inflamados pelaresistência, e se percebem que ela não é interna, imediatamente o ardor de seudesejo libidinoso se extingue, como o fogo quando se lança água em cima. Ébem sabido que as esposas não se submetem espontaneamente à disposição deseus maridos quanto aos últimos efeitos do amor, e que por prudência resistemcomo resistiriam a violações, com o fim de tirar aos maridos o frio que vem docomum quando a coisa é sempre permitida, e que vem também da idéia, delascívia de sua parte; e estas resistências, ainda que inflamem, não são contudoas causas deste desejo libidinoso, mas o são de seu começo; a causa deste desejo,é que depois que o amor conjugal e também o amor escortatório, se gastarampelos exercícios, eles querem, para que sejam restabelecidos, ser inflamados pormeio de resistências absolutas; este desejo libidinoso, assim começado, aumentaem seguida; e, à medida que aumenta, despreza e rompe todos os limites doamor do sexo, e se extingue a si mesmo; e de lascivo, corporal e carnal, o amorse torna cartilaginoso e ósseo, e então pelos priósteos, que gozam de umasensibilidade aguda, tornam-se agudos. Entretanto, este desejo libidinoso éraro, porque não existe senão naqueles que entraram no casamento, e então seentregaram a escortações até ao ponto delas se tornarem insípidas; além destacausa natural deste desejo libidinoso, há também uma causa espiritual, de quese dirá alguma cousa em seguida.

512 - A sua sorte depois da morte é esta: Então estes violadores se separamespontâneamente daqueles que estão no amor limitado do sexo, ecompletamente daqueles que estão no amor conjugal; por conseguinteseparam-se do Céu; em seguida são enviados para prostitutas muito astuciosas,que não somente por persuasão, mas mesmo por uma perfeita imitação, talcomo é nas atrizes, podem fingir e representar como se fossem castidades

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mesmas; estas prostitutas distinguem muito bem os que estão neste desejolibidinoso; diante deles falam da castidade e de seu grande valor; e quando osvioladores se aproximam e as tocam, elas se indignam e fogem, comoaterrorizadas, para um gabinete onde há um beliche e um leito, e fechamligeiramente a porta atrás delas, e se deitam; e em seguida por sua arte inspiramao violador um desejo desenfreado de sacudir a porta, de se lançar no gabinetee de as assaltar; quando isso acontece, a prostituta, levantando-se sobre os pés,começa a combater contra o violador com as mãos e as unhas, arranhando-lhe aface, rasgando-lhe as roupas, gritando com uma voz furibunda pelas prostitutassuas companheiras, como se fossem suas criadas, para ser socorrida, e abrindo ajanela e gritando: Ladrão! Bandido! Assassino! E quando o violador está emdisposição, ela se lamenta e derrama lágrimas; e após a violação, se lança porterra, solta uivos e clama contra a infâmia; e então com tom grave o ameaça detrabalhar pela sua perda, se ele não expia a violação por uma granderecompensa. Q uando estão nestas cenas de V ênus, aparecem ao longe comogatos que, antes do acasalamento, combatem quase da mesma maneira,correndo para lá e para cá e soltando gritos penetrantes. Após alguns combatesdo mesmo gênero em lugares maus, são retirados de lá, e transferidos para umacaverna, onde são constrangidos a algum trabalho; mas como cheiram mal,porque fizeram em pedaços o Conjugal que é a mais preciosa Jóia da vidahumana, são relagados para os confins da Plaga ocidental, onde, a uma certadistância, aparecem magros como se não tivessem senão a pele sobre os ossos,mas de longe conio panteras. Q uando me foi permitido vê-los de mais perto,fiquei admirado de que, alguns deles tinham livros nas mãos e liam; e me foidito que era porque, no M undo, tinham falado de diversas coisas concernentesaos espirituais da Igreja, e entretanto as haviam maculado por adultérioslevados até a estes extremos, e que tal era a correspondência deste desejolibidinoso com a violação do Casamento espiritual. M as é de notar-se que hápoucos que estejam neste desejo libidinoso. É certo que as mulheres, porquenão convém que elas prostituam o amor, resistem de tempos em tempos, e quea resistência dá vigor; contudo isto não vem de nenhum desejo libidinoso deviolação.

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Do desejo libidinoso de seduzirinocentes

513 - O Desejo libidinoso de seduzir Inocentes não é o Desejo libidinoso dedefloração, nem o Desejo libidinoso de violação, mas é particular e singular porsi mesmo; existe principalmente nos velhacos. As mulheres que lhes parecemcomo inocentes são as que consideram o mal da escortação como um pecadoenorme, e que por conseguinte se dedicam à castidade e ao mesmo tempo àpiedade; eles se inflamam por elas; nas regiões onde reina a R eligiãoCatólica-Romana, há virgens votadas à vida monástica; como as acreditam,mais que as outras, inocências piedosas, as encaram como os objetos apetitosose delicados de seu desejo libidinoso. Para estas ou aquelas, como são velhacos,inventam primeiramente artifícios; e em seguida, depois que se imbuíram deseu gênio, eles os exercem sem se afastar do pudor, como se este lhes fossenatural; estes artifícios são principalmente simulações de inocência, de amor, decastidade e de piedade; por estas simulações e por outras astúcias, entram emsua amizade interior e em seguida em seu amor, e por diversas persuasões, e aomesmo tempo por diversas insinuações, de espiritual eles o tornam amornatural, e em seguida amor carnal por irritações no corporal, e então aspossuem à vontade; quando atingiram seu fim, regozijam-se de todo coração, ezombam daquelas que violaram.

514 - A sorte destes sedutores depois da morte é triste, pois que esta sedução énão somente uma impiedade, mas também uma malignidade; depois quepassaram o primeiro período, que é nos externos, nos quais, mais que muitosoutros, têm hábitos elegantes e uma conversação agradável, são levados aosegundo período de sua vida, que é nos internos, nos quais seu desejolibidinoso é posto em liberdade e começa seu jogo; e então são primeiramenteenviados para mulheres que fizeram voto de castidade; e perto delas éexaminado até que ponto sua cobiça é maligna, a fim de que não sejamjulgados sem estar convencidos; quando sentem a castidade destas mulheres, asua velhacaria começa a agir, e a maquinar suas manhas; mas como isso é emvão, afastam-se delas. Em seguida são introduzidos junto de mulheres de umainocência real; quando se esforçam igualmente para enganá-las, são fortementepunidos por uma força dada a essas mulheres, pois elas lhes produzem nas mãose nos pés um peso de entorpecimento, do mesmo modo que no pescoço, eenfim fazem que sintam como um desfalecimento; quando sofrem essestormentos, fogem para longe delas. Depois disso, lhes é aberto um caminhopara um certo grupo de prostitutas, que tinham aprendido a fingir hàbilmente

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a inocência; e primeiramente elas zombam deles entre si, por fim depois dediversas promessas elas se deixam violar. Depois de algumas cenas semelhantessobrevém o terceiro período, que é o do julgamento; e então convencidos, elessão tragados, e reunidos aos seus semelhantes no Inferno, que é na Plagasetentrional, e aí aparecem de longe como doninhas, mas se estão cheios develhacaria, são transportados daí para o Inferno dos velhacos, que é na Plagaocidental, profundamente para trás; aí aparecem de longe como serpentes dediversas espécies, e os mais velhacos como víboras; mas neste Inferno mesmo,para o qual me foi permitido olhar, eles me pareceram lívidos com uma face decal; e como puras cobiças, não gostam de falar; e, se falam, cochicham emurmuram diversas cousas que não são ouvidas senão por seus companheirosao lado deles; mas em breve, quer sentados, quer de pé, eles se tornaminvisíveis, e esvoaçam na caverna como fantasmas; pois estão então na fantasia,e a fantasia parece voar; depois do vôo repousam, e então, o que é de admirar,não se conhecem mais uns aos outros; isto provém deles estarem na velhacaria,e a velhacaria não se fia em outro, e assim se subtraem. Q uando estes sentemalguma cousa do Amor conjugal, fogem para subterrâneos e se escondem; sãotambém sem amor ao sexo, e são as impotências mesmas; são chamados G êniosinfernais.

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Da correspondência dasescortações com a violaçao do

casamento espiritual

515 - Eu deveria antes de tudo, falar aqui da Correspondência, dizer o que é;mas este assunto não pertence propriamente a esta O bra. O ra, quanto ao que éa Correpondência, vê-se sumàriamente acima, nºs 76 e 342, e plenamente noApocalipse R evelado, desde o começo até ao fim, a saber, que hácorrespondência entre o sentido natural e o sentido espiritual da Palavra. Q uena Palavra há um sentido natural e um sentido espiritual, e entre elescorrespondência, isso foi demonstrado na Doutrina da N ova Jerusalém sobre aEscritura Santa, nº 5 a 26.

516 - Pelo Casamento espiritual é entendido o Casamento do Senhor e daIgreja, de que se falou acima, ns. 116 a 131; e por conseguinte o Casamento dobem e do vero, ver também, ns. 83 a 102; e pois que o Casamento espiritual éo Casamento do Senhor e da Igreja, e por conseguinte o Casamento do bem edo vero está em todos e cada uma das coisas da Palavra, é a violação da Palavraque é entendida aqui pela violação do Casamento espiritual; pois a Igreja existepela Palavra, e a Palavra é o Senhor, porque Ele é o Divino Bem e o DivinoV ero nela; que a Palavra seja este Casamento, vê-se plenamente confirmado naDoutrina da N ova Jerusalém sobre a Escritura Santa, nº 80 a 90.

517 - Pois que, portanto, a violação do casamento espiritual, é a violação daPalavra, é evidente que esta violação é a adulteração do bem e a falsificação dovero; pois o casamento espiritual é o casamento do bem e do vero, como já foifoi dito; segue-se dai que, quando o bem da Palavra é adulterado, e o seu vero éfalsificado, este Casamento é violado. Pelo que vai seguirse pode-se entrevercomo e por quem se faz esta violação.

518 - M ais acima, quando se tratou do Casamento do Senhor e da Igreja, nº116 e seguintes, e do Casamento do Bem e do V ero, nº 83 e seguintes, foidemonstrado que este Casamento corresponde aos Casamentos nas terras,donde segue-se que a violação deste Casamento corresponde às escortações eaos adultérios; que assim seja, isso é bem manifesto pela Palavra mesma, vistoque pelas escortações e pelos adultérios aí são significadas as falsificações dovero e as adulterações do bem, como se pode ver com evidência por numerosaspassagens da Palavra referidas no Apocalipse R evelado, nº 134.

519 - A violação da Palavra se faz por aqueles que adulteram os bens e os veros

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na Igreja Cristã, e aqueles que agem assim são os que separam o vero do bem eo bem do vero, além disso aqueles que tomam e confirmam as aparências dovero e as ilusões por veros reais, como também aqueles que sabem os veros dadoutrina pela Palavra, e vivem mal, além de outros da mesma espécie. EstasV iolações da Palavra e da Igreja correspondem aos G raus proibidos,enumerados no Levítico, Capítulo X V III.

520 - Como o N atural e o Espiritual em cada homem estão em coerência comoa alma e o corpo, pois o homem sem o espiritual que influi em seu natural e ovivifica, não é homem, segue-se que aquêle que está no Casamento espiritualestá também em um Casamento natural feliz; e que, por outro lado, aquêle queestá no adultério espiritual está também no Adultério natural, vice-versa. O ra,como todos os que estão no Inferno estão na Conexão (Connubium) do mal edo falso, e que está aí o Adultério espiritual mesmo, e como todos aqueles queestão no Céu estão no Casamento do bem e do vero, e está aí o Casamentomesmo, é por isso que o Inferno inteiro é chamado Adultério, e que o Céuinteiro é chamado Casamento.

521 - Ao que precede ajuntarei este M emorável:

A vista me foi aberta, e vi uma Floresta espessa, e nela uma tropa de Sátiros; osSátiros quanto ao peito eram peludos, e quanto aos pés uns como Bezerros,outros como Panteras e outros como Lobos; e em lugar de dedos nas plantasdos pés, tinham garras de bestas selvagens; corriam de todos os lados comobestas ferozes, gritando: "O nde estão as mulheres?" E então apareceramprostitutas que os esperavam; estas também tinham diversas conformaçõesmonstruosas e os Sátiros correram e se apoderaram delas, levando-as para umaCaverna que estava profundamente sob a terra no meio da floresta; e em tornoda caverna sobre a terra estava estendida uma grande serpente enrolada emespiral, que soprava um veneno na caverna; sobre os galhos da floresta, acimada serpente, grasnavam e crucitavam sinistras aves noturnas. M as os Sátiros e asProstitutas não viam estas cousas, porque eram correspondências de sua lascíviae assim aparências que ordinariamente são vistas de longe. Em seguida saíramda caverna e entraram em uma cabana baixa, que era um lugar de prostituição;e então, separados das prostitutas, tiveram entre si conversações que ouviatentamente; pois, no M undo espiritual, a linguagem pode ser ouvida adistância como se se estivesse presente, pois que a extensão do espaço aí éunicamente uma aparência; eles falavam dos Casamentos, da N atureza e daR eligião. Aqueles que apareciam quanto, aos pés como bezerros falaram dosCasamentos, dizendo: "O que são os Casamentos, senão Adultérios permitidos?E o que há de mais doce do que do que as hipocrisias escortatórias?". A estaspalavras os outros deram gargalhadas aplaudindo com as mãos. O s Sátiros queapareciam quanto aos pés como panteras, falaram da N atureza, e disseram: "H áoutra cousa além da natureza? Q ue diferença existe entre o homem e a besta,exceto que o homem pode falar de uma maneira articulada, e a besta de uma

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maneira sonora? N ão é do calor que vem a vida, e da luz que vem oentendimento, em um e outro operando a N atureza?" A estas palavras os outrosexclamaram: "Bem! Falastes com julgamento". Aqueles que apareciam quantoaos pés como lobos, falaram da R eligião, dizendo: "O que é Deus ou o Divino,senão o íntimo da natureza operando? O que é a R eligião, senão uma invençãopara enganar e prender o vulgo?" A isto os outros exclamaram: "Bravos!"Alguns minutos depois, eles saíram precipitadamente; e lançando-se para fora,viram que de longe eu os observava com olhar atento; irritados com isso,saíram da floresta correndo, e aceleraram sua corrida em direção a mim com arameaçador; e me disseram: "Por que estás ai e escutas o que dizemos em vozbaixa?" E respondi: "Por que não? Q uem me impede? Era uma tagarelice entrevós". E contei o que tinha ouvido; imediatamente suas mentes (animi) seacalmaram; era por medo de que o que acabavam de dizer fosse divulgado; eentão começaram a falar com modéstia, e a agir com pudor; conheci por issoque não tinham pertencido à classe baixa do povo, mas que tinham sido deuma linhagem mais distinta; e então lhes contei que os havia visto na Florestacomo Sátiros; vinte como Sátiros-bezerros; seis como Sátiros-pantera, e quatrocomo Sátiros-lobos; eram em número de trinta; isto os admirou, pois elesmesmos não se tinham visto senão como homens, do mesmo modo que se viamentão perto de mim; e lhes fiz saber que tinham aparecido assim de longesegundo o desejo libidinoso da escortação, e que esta forma de Sátiro era aforma do adultério dissoluto, e não a forma da pessoa; dei-lhes esta razão, quecada cobiça má apresenta uma semelhança dela mesma em uma certa forma,que é percebida, não por aqueles que estão nessa cobiça, mas por aqueles que semantêm à distância; e disse: "Para que fiqueis convencidos, enviai alguns de vósa essa Floresta, e vós, ficai aqui, e observai". E o fizeram, e enviaram dois dosseus; e perto da Cabana, que era um lugar de prostituição, eles os viramabsolutamente como Sátiros; e quando voltaram, os saudaram com o nome deSátiros, e disseram: "O h! que cousa divertida!" Como os visse rir, entretive-mecom eles sobre diversos assuntos, e lhes contei que tinha visto tambémAdúlteros como porcos; e então me lembrei da Fábula de U lisses e de Circe; emque esta espalhou sobre os companheiros e os servidores de U lisses suco deervas venenosas e os tocou com uma vara mágica, e os transformou em porcos,sem dúvida em adúlteros; pois ela não podia por artifício algum, mudar alguémem porco. Q uando tinham rido muito destas coisas e outras do mesmo gênero,eu lhes perguntei se sabiam de que R einos tinham sido no M undo; disseramque tinham pertencido a diversos R einos, e mencionaram a Itália, a Polônia, aAlemanha, a Inglaterra, a Suécia; e perguntei se entre eles viam alguém daH olanda, e disseram: "N inguém". Depois disso, voltei a conversação paracousas sérias e lhes perguntei se tinham jamais pensado que o Adultério fosseum pecado; responderam: "O que é um pecado? N ão sabemos o que é".Perguntei-lhes se tinham jamais se lembrado de que o Adultério fosse contrárioao sexto preceito do Decálogo; responderam: "O que é o Decálogo? N ão é o

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Catecismo? Q ue temos nós, homens, a ver com esse livrinho para crianças?"Perguntei-lhes se jamais tinham pensado alguma cousa a respeito do Inferno;responderam: "Q uem subiu de lá e deu notícias dele?" Perguntei-lhes se noM undo tinham pensado alguma cousa a respeito da vida depois da morte;disseram: "A mesma cousa que se pensa das bestas, e às vezes a mesma coisa quese pensa. dos fantasmas, que, se exalam dos cadáveres e se dissipam''; enfim lhesperguntei se não tinham ouvido sacerdotes dizer alguma cousa sobre estesdiversos assuntos; responderam: "Prestamos atenção somente ao som de sualinguagem e não ao assunto; e, o que é isso?". Admirado destas respostas, lhesdisse: "V oltai a face e dirigi vossos olhos para o meio da Floresta, onde está acaverna, na qual entrastes". E eles se voltaram e viram esta grande Serpenteenrolada em espiral em torno da caverna e soprando seu veneno, e também asaves sinistras acima dela nos galhos; e lhes disse: "Q ue vêdes?" M as, tomados deterror nada responderam; e lhes disse: "N ão vistes alguma cousa terrível? Sabeique é o representativo do adultério na infâmia de seu desejo libidinoso". Então,de repente, se apresentou um Anjo; era um sacerdote; e abriu na Plagaocidental um Inferno, no qual são por fim reunidos aqueles que são tais, e disse“O lhai para aquele lugar". E eles viram um pântano como que de fogo; e aíreconheceram alguns dos seus amigos do M undo, que os convidavam para ircom eles. T endo visto e ouvido estas cousas, eles se desviaram, e se retiraram daminha presença e se afastaram da Floresta; mas observava a sua marcha, e vique fingiam se retirar, mas que por voltas retornavam à Floresta.

522 - Depois disso, voltei para casa, e no dia seguinte, tendo me lembradodestas tristes cenas, dirigi os olhos para esta mesma Floresta, e vi que tinhadesaparecido, e que em seu lugar havia uma Planície arenosa, no meio da qualestava um Pântano, onde se achavam algumas serpentes vermelhas. M asalgumas semanas depois, quando dirigi de novo os olhos para lá, vi ao ladodireito uma terra em alqueive, e sobre ela alguns Cultivadores; e de novo, apósalgumas semanas vi que este Alqueive tinha se tornado uma T erra cultivadacercada de arbustos; e ouvi então uma voz do Céu: "Entra no teu quarto dedormir, e fecha a porta, e aplica-te à obra começada sobre o Apocalipse; e leva-aao fim em dois anos".

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Da imputaçao de um e outroamor, o escortatório e o conjugal

523 - O Senhor disse: "N ão julgueis, a fim de que não sejais condenados",(M ateus V II, 1); por estas palavras não é de modo algum entendido ojulgamento sobre a vida moral e civil de alguém no M undo, mas o julgamentosobre a vida espiritual e celeste; quem não vê que se não fosse permitido julgarda vida moral daqueles com que habitamos no M undo, a sociedade pereceria?O que seria da sociedade, se não houvesse julgamentos públicos, e se não fossepermitido a cada um julgar o outro? M as julgar qual é a sua mente interior ousua alma, assim qual é seu estado espiritual, e por conseguinte a sua sortedepois da morte, isso não é permitido, porque isso só é conhecido pelo Senhor,e o Senhor não o revela senão após a morte do homem, a fim de que cada umfaça segundo o livre aquilo que faz, e a fim e que por este livre o, bem ou o malseja dele e assim esteja nele, e que por conseguinte viva estando em si e sendoseu pela eternidade; se os interiores da mente, escondidos no M undo, sãorevelados depois da morte, é porque isso é importante e vantajoso para associedades nas quais então o homem entra, pois todos nessas sociedades sãoespirituais; que sejam então revelados, vê-se claramente por estas palavras do,Senhor: "N ada há de encoberto que não deva ser revelado, nem escondido quenão deva ser conhecido; todas as cousas que tiverdes dito nas trevas serãoouvidas na luz; e aquilo que tiverdes falado ao ouvido nos gabinetes serápublicado sobre os telhados", (Lucas X II, 2 e 3). U m julgamento comum, talcomo este: "Se és nos internos tal como te mostras nos externos, serás salvo; ouainda, serás condenado"; é permitido; mas um julgamento singular tal comoeste: "És tal nos internos, portanto serás salvo, ou ainda, serás condenado",não é permitido. O julgamento sobre a vida espiritual do homem, ou sobre avida interna da alma, é entendido pela imputação de que se trata aqui. Q uehomem conhece aquele que é Escortador de coração, e aquele que é Esposo decoração? E entretanto, as coisas que se pensa no coração, que são as que sepropõe a vontade, julgam a cada um. M as este assunto vai ser desenvolvidonesta ordem: I. A cada um, depois da morte, é imputado o mal em que está;semelhantemente o bem. II. A transferência do bem de uma pessoa para outra éimpossível. III. A Imputação, se por ela se entende uma tal transferência, é umapalavra vã. IV . O mal é imputado a cada um segundo a qualidade de suavontade, e segundo a qualidade de seu entendimento; semelhantemente o bem.V . Assim a cada um é imputado o Amor escortatório. V I. Igualmente o Amor

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conjugal. Segue-se agora a explicação destes Artigos.

524 - I. A cada um, depois da morte, é imputado o mal em que está,semelhantemente o bem.

Para que este artigo seja apresentado com alguma evidência, será examinadopor subdivisões desta ordem: 1º Cada um tem uma vida que lhe é própria. 2ºDepois da morte, a vida de cada um permanece. 3º Então ao M au é imputadoo mal de sua vida, e ao Bom é imputado o bem de sua vida. Primeiramente:Cada um tem, uma vida que lhe é própria, por conseguinte distinta da vida deum outro; isso é sabido; existe, com efeito, uma variedade perpétua, e não hácousa alguma que seja a mesma que uma outra; daí, cada um tem o seupróprio; é o que se vê claramente pelas faces dos homens, não existe face queseja absolutamente semelhante a uma outra face, e não o pode haver em tôda aeternidade; e isso porque não há duas mentes (animi) semelhantes, e porque asfaces dependem das mentes (animi); com efeito, a face é, como se disse, o tipoda mente, e a mente (animus) tira da vida sua origem e sua forma. Se o homemnão tivesse uma vida que lhe é própria, como tem uma mente (animus) e umaface que lhe são próprias, não teria depois da morte uma vida distinta da vidade um outro; e mesmo, não teria também o Céu, pois o Céu consiste emperpétuas variedades (ex aliis perpetuis); sua forma é unicamente composta devariedades de almas e de mentes dispostas em uma tal ordem que fazem um, efazem um segundo o U m, cuja V ida está em todas e cada uma das variedades,como a alma está no homem; se isso não fosse assim, o Céu seria dissipado,porque a forma seria dissolvida. O U m pelo Q ual a vida está em todas e cadauma das variedades, e pelo Q ual a forma tem coerência, é o Senhor. Em geral,toda forma é composta de cousas variadas, e é tal qual é a coordenaçãoharmônica destas cousas, e sua disposição para ser um; tal é a forma humana,que é composta de tantos membros, vísceras e órgãos, não sente alguma cousanele e dele senão como sendo um. Segundamente: Depois da morte, a vida decada um permanece. Isso é sabido na Igreja pela Palavra, e por estas passagensda Palavra: “O Filho do H omem deve vir, e então dará a cada um segundo suasobras", (M ateus X V I, 27). "V i os livros abertos, e todos foram julgadossegundo suas obras", (Apoc. X X, 12 e 13). "N o dia do julgamento, Deus dará acada um segundo suas obras" (R omanos 11, 6; 11 Coríntios V , 10). As obras,segundo as quais será dado a cada um, são a vida, porque é a vida que as faz, eporque elas são segundo a vida. Como me foi permitido, durante vários anos,estar na companhia dos Anjos, e falar (no M undo espiritual) com aqueles quechegavam do M undo, posso atestar com certeza que cada um aí é examinadosobre a qualidade de sua vida, e que a vida que contraiu no M undo lhe ficapela eternidade; falei com aqueles que tinham vivido há Séculos, e cuja vida meera conhecida pela H istória, e reconheci que tinham uma vida semelhante àdiscrição histórica; soube também pelos Anjos que a vida de quem quer queseja não pode ser mudada depois da morte, porque foi organizada segundo seu

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amor, e por conseguinte segundo as obras; e que se fosse mudada, aorganização seria dissolvida, o que jamais pode acontecer; além disso também,que a mudança de organização se dá unicamente no corpo material, e não é, demodo algum, possível no corpo espiritual depois que o corpo material foirejeitado. T erceiramente: Então ao M au é imputado o, mal de sua vida, e aoBom é imputado o bem de sua vida. A imputação do mal não é uma acusação,nem uma censura, nem uma inculpação, nem um julgamento, como noM undo; mas o mal mesmo faz isso; com efeito, os maus por seus livresseparam-se dos bons, porque não podem estar juntos; os prazeres do amor domal têm em aversão os prazeres do amor do bem, e os prazeres se exalam decada um como os odores se exalam de todo vegetal sobre a terra; pois não sãonem absorvidos nem escondidos pelo corpo material como antes; mas efluemlivremente de seus amores na atmosfera espiritual (aura); e como o mal aí ésentido como em seu odor, é este mal que acusa, censura, inculpa e julga, nãodiante de um juiz, mas diante de quem quer que esteja no bem; e é isto que éentendido por Imputação; além disso, o M au escolhe companheiros com quempossa viver em seu prazer, e como tem em aversão o prazer do bem, ele sedirige por si mesmo para os seus no inferno. A Imputação do bem se faz damesma maneira; isto acontece com aqueles que no M undo reconheceram quetodo bem neles vem do Senhor, e que nada do bem vem deles; depois que estesforam preparados, são enviados aos prazeres interiores de seu bem, e então lhesé aberto um caminho para o Céu em direção à Sociedade onde os prazeres são.homogéneos com os seus; isto é feito pelo Senhor.

525 - II. A transferência do bem de uma pessoa para outra é impossível.

A evidência deste Artigo pode também ser vista por subdivisões nesta ordem: 1ºT odo homem nasce no mal. 2º É introduzido no bem pelo Senhor por meio daregeneração. 3º Isto é feito por meio da vida segundo os preceitos do Senhor.4º É por isso que o bem, quando foi assim implantado, não pode sertransferido. Primeiramente: T odo homem nasce no mal. Isto é conhecido naIgreja. Diz-se que esse mal vem de Adão por herança; mas vem dos pais; é deseus pais que cada um tira um caráter que é a inclinação; que seja assim, a razãoe a experiência nos dão a convicção; pois existe quanto às faces, aos gênios e aoscostumes, semelhanças entre os pais e seus filhos imediatos e os descendentesdestes; por aí muitas pessoas reconhecem as famílias e julgam também de suasmentes (animi); por isso, os males que os pais mesmos contraíram, e queintroduziram por transmissão em seus descendentes, são aqueles nos quais oshomens nascem; se se acredita que o débito de Adão foi inscrito em todogênero humano, é porque há poucos que reflitam em si sobre algum mal, e quepor conseguinte o conhecem; é por isso que presumem que está tãoprofundamente escondido que só aparece diante de Deus. Segundamente: Ohomem é introduzido no bem pelo Senhor por meio da regeneração. Q ue hajauma regeneração, e que ninguém possa entrar no Céu a menos que seja

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regeneração, vê-se claramente pelas palavras do Senhor em João, cap. III, 3, 5;que a R egeneração seja a purificação dos males, e assim a renovação da vida, é oque não pode ser desconhecido no M undo Cristão; pois a razão o vê tambémquando reconhece que todos nascem no mal, e que o mal não pode ser nemlavado, nem apagado, como uma mancha pelo sabão e pela água, mas o é pelaresipescência. T erceiramente: O homem é introduzido no bem pelo Senhor parmeio da vida segundo os preceitos do Senhor. H á cinco preceitos daregeneração, vêmo-los explicados acima, nº 82; no número destes preceitosestão estes: É preciso fugir dos males, porque são do diabo e vêm do diabo; épreciso fazer os bens, porque são de Deus e vêm de Deus; é preciso se dirigir aoSenhor, para que Ele nos leve a fazê-los; que cada um se consulte e examine seo bem pode vir ao homem de outra parte; e se o bem não lhe vem, não há paraele salvação. Em quarto lugar: O bem, quando foi assim implantado, não podeser transferido; por transferência é entendida a transferência do bem de umpara outro. Do que acaba de ser dito, segue-se que o homem pela regeneração éinteiramente renovado quanto ao espírito, e que isso se faz pela vida segundo ospreceitos do Senhor. Q uem não vê que esta renovação não pode se fazer senãopela sucessão do tempo? Isso quase não difere do caso de uma árvore que pelasemente se enraíza, cresce e chega à perfeição sucessivamente; aqueles quepercebem a regeneração de outro modo nada sabem sobre o estado do homem,nem sabem cousa alguma sobre o mal e o bem; ignoram que o bem e o mal sãoabsolutamente opostos, e que o bem não pode ser implantado senão à medidaque o mal é afastado; não sabem tampouco que enquanto alguém está no mal,tem em aversão o bem que em si é o bem; se portanto de um fosse transferidopara alguém que está no mal, seria como se um cordeiro fosse lançado diante deum lobo, ou como se uma pérola fosse presa às narinas de um porco; por estasconsiderações, é evidente que a transferência é impossível.

526 - III. A imputação, se por ela é entendida uma tal transferência é umapalavra vã.

Q ue o mal em que cada um está, lhe seja imputado depois da morte, esemelhantemente o bem, é o que foi demonstrado acima, nº 524; por aí vê-se oque é entendido por imputação; se por imputação, entende-se a transferênciado bem para alguém que está no mal, é uma palavra vã, porque esta imputaçãoé impossível, como foi também demonstrado acima, nº 525. N o M undo, osméritos podem ser como que transferidos pelos homens, isto é, pode-se fazerbem aos filhos por causa dos pais, ou aos amigos de alguém em consideração aeste; mas o bem do mérito em suas almas, pode somente ser adjuntoexteriormente. Coisa semelhante não pode se dar nos homens quanto à sua vidaespiritual; esta, como foi mostrado mais acima, deve ser implantada, e se não éimplantada por uma vida segundo os preceitos do Senhor, acima referidos, ohomem permanece no mal em que nasceu; antes que isso tenha sido feito, nemum bem pode atingir esse homem; se o atinge, imediatamente é repercutido e

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ricocheta como uma bola elástica que cai sobre uma pedra, ou é engulido comoum diamante lançado em um pântano. O homem não reformado quanto aoespírito é como uma pantera, ou como um mocho, e pode ser comparado àsarça espinhosa e à urtiga; mas o homem regenerado é como uma ovelha oucomo uma pomba, e pode ser comparado à oliveira e à cepa de vinha; peço-vospor favor, que penseis como é possível que um homem-pantera seja convertidoem homem-ovelha, ou um mocho em pomba, ou uma sarça espinhosa emoliveira, ou a urtiga em cepa de vinha, por qualquer imputação, se porimputação entende-se uma transferência; para que a conversão se faça, não épreciso que antes a ferocidade da pantera e do mocho, ou a nocibilidade dasarça espinhosa e da urtiga, sejam retiradas e que assim o verdadeiramentehumano e o não nocivo sejam implantados? Q uanto à maneira pela qual isso sefaz, o Senhor o ensina também em João XV , 1 a 7.

527 - IV . O mal e o bem é imputado a cada um segundo a qualidade de suavontade, e segundo a qualidade de seu entendimento.

Sabe-se que há duas coisas que fazem a vida do homem, a V ontade e oEntendimento, e que todas as cousas que são feitas pelo homem são feitas porsua vontade e por seu entendimento, e que sem estes dois agentes o homemnão teria ação, nem linguagem diferentemente de uma máquina; daí é evidenteque tais são a vontade e o entendimento do homem, tal é o homem; além dissotambém, a ação do homem é em si mesma tal qual é a afeição de sua vontadeque produz esta ação, e a linguagem do homem é em si mesma tal qual é opensamento de seu entendimento que produz esta linguagem; é por isso quemuitos homens podem agir e falar da mesma maneira, e entretanto agem efalam de uma maneira diferente, um por uma vontade e um entendimentomaus, o outro por uma vontade e um entendimento bons. V ê-se por aí o que éentendido pelas Ações ou as obras, segundo as quais cada um será julgado, asaber, que é a vontade e o entendimento, que por conseguinte pelas obras mássão entendidas as obras de uma vontade má, de qualquer maneira que elassejam apresentadas nos externos, e que pelas obras boas são entendidas as obrasde uma vontade boa, ainda que nos externos se apresentem semelhantes àsobras do homem mau. T odas as coisas que são feitas pela vontade interior dohomem, são feitas de propósito determinado, pois que esta vontade se propõe oque faz por sua intenção; e todas as coisas que são feitas pelo entendimento, sãofeitas por confirmação, pois que o entendimento confirma; por isto, pode-sever que o mal ou o bem é imputado a cada um segundo a qualidade de seuentendimento a seu respeito. Posso confirmar isso pela narração seguinte: N oM undo espiritual encontrei vários Espíritos que no M undo natural tinhamvivido do mesmo modo que outros, vestindo-se com luxo, alimentando-se comrequinte, negociando como os outros com proveito, freqüentando espetáculos,gracejando sobre assuntos amorosos como que por um desejo libidinoso, efazendo várias outras ações semelhantes; e entretanto os Anjos consideravam

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em uns estas ações como males de pecado, e em outros eles não as imputavamcomo males, e declaravam estes inocentes, e aqueles culpados; interrogadosporque decidiam assim, pois que as ações eram semelhantes, responderam queos examinavam, a todos, segundo o propósito determinado, a intenção ou ofim, e por isso os distinguiam; e que é por isso que eles mesmos desculpam oucondenam aqueles que o fim desculpa ou condena, porque o fim do bem estáem todos no Céu, e o fim do mal em todos no Inferno.

528 - As explicações precedentes será acrescentada esta observação: Diz-se naIgreja que ninguém pode cumprir a lei, e que isto é tanto mais impossívelporque aqueles que prevarica contra um só dos preceitos do Decálogo prevaricacontra todos; mas esta fórmula de linguagem não significa o que parecesignificar, pois eis como deve ser entendida: Aquele que por propósitodeterminado ou por confirmação age contra um só preceito, age contra todosos outros, porque agir por propósito determinado ou por confirmação, é negarabsolutamente que seja um pecado agir assim, e aquele que nega que seja umpecado, considera como de pouca importância agir contra todos os outrospreceitos; quem não sabe que aquele que é adúltero, não é por isso homicida,ladrão, falso testemunha, nem o quer ser? M as aquele que é adúltero porpropósito determinado e por confirmação considera como de poucaimportância tudo o que é proibido pela religião, assim os homicídios, os roubose os falsos testemunhos; e se se abstém deles não é porque sejam pecados, mas éporque teme a lei e a desonra; que os adúlteros por propósito determinado epor confirmação consideram como nada as cousas santas da Igreja e daR eligião, vê-se acima, nº 490 a 493, e nos dois M emoráveis, nºs 500, 521 e523; é o mesmo se alguém por propósito determinado ou por confirmação agecontra outro preceito do Decálogo, ele age também contra todos os outrosporque não considera cousa alguma como pecado.

529 - Dá-se o mesmo com aqueles que estão no bem pelo Senhor; se estes pelavontade e o entendimento ou por propósito determinado e por confirmação seabstêm de um único mal, porque é um pecado, eles se abstêm de todos, e commais forte razão se se abstêm de vários males; com efeito, desde que umhomem, por propósito determinado ou por confirmação, se abstém de algummal, porque é um pecado, é mantido pelo Senhor no propósito determinado deser abster de todos os outros; é por isso que, se por ignorância, ou porquealguma cobiça do corpo predomina ele faz o mal, este mal não obstante, nãolhe é imputado, porque não se propôs fazê-lo, e não o confirma em si. Ohomem entra neste propósito determinado, se se examina uma ou duas vezespor ano, e se se arrepende do mal que descobre em si; é inteiramente diferentenaquele que jamais se examina. Por estas explicações, vê-se claramente qual éaquele a quem o pecado não é imputado, e qual é aquele a quem é imputado.

530 - V . Assim a cada um é imputado o amor escortatório.

A saber, não segundo os fatos tal como se apresentam nos externos diante dos

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homens, nem tal como se apresentam diante de um Juiz, mas tal como seapresentam nos internos diante do Senhor, e pelo Senhor, diante dos Anjos,isto é, segundo a qualidade da vontade e a qualidade do entendimento dohomem nestes fatos. H á no M undo diversas circunstâncias que mitigam eexcusam os crimes, e há as que os agravam e os põem a cargo daqueles que oscometem; mas todavia as imputações depois da morte se fazem, não segundo ascircunstâncias que são circunstâncias externas do fato, mas segundo ascircunstâncias internas da mente; e estas são consideradas segundo o estado daIgreja em cada um; seja, por exemplo, um homem ímpio por vontade e porentendimento, isto é, que não tem nem temor a Deus, nem amor ao próximo,nem por conseguinte respeito por santidade alguma da Igreja; este homemdepois da morte torna-se culpado de todos os crimes que cometeu no corpo, enão tem lembrança alguma de suas boas ações, pois que seu coração, de ondeestas cousas decorreram, como de uma fonte, tinha em aversão o Céu e tinha sevoltado para o Inferno, e que os atos decorrem do lugar de habitação docoração de cada um; para que isto seja compreendido, referirei um arcano: OCéu é distinguido em inumeráveis Sociedades; semelhantemente o Infernosegundo o oposto; e a M ente de cada homem, segundo sua vontade, e porconseguinte segundo seu entendimento, habita na realidade em uma destasSociedades, e se propõe e pensa as mesmas cousas que aqueles que compõemesta sociedade; se a M ente está em alguma sociedade do Céu, ela se propõe epensa então as mesmas cousas que aqueles que são dessa sociedade; se está emalguma sociedade do Inferno, ela se propõe e pensa também as mesmas cousasque aqueles que compõem essa sociedade; mas em todo o tempo que o homemvive no M undo, ele passa de uma Sociedade para uma outra segundo asmudanças das afeições de sua vontade e por conseguinte dos pensamentos desua mente; mas depois da morte suas peregrinações são reunidas, e após suareunião em um, lhe é designado um lugar, se ele é mau, no Inferno; se é bomno Céu. O ra, como em todos no Inferno há a vontade do mal, é por ela quetodos aí são considerados; e como em todos no Céu há a vontade do bem, é porela que todos lá são considerados; é por isso que depois da morte as imputaçõesse fazem segundo a qualidade da vontade e do entendimento de cada um.Dá-se o mesmo com as Escortações, quer sejam Fornicações ou Pelicatos, ouConcubinagens ou Adultérios, pois que são imputados a cada um, não segundoos fatos, mas segundo o estado da mente nos fatos; pois os fatos seguem o corpona sepultura, mas a mente ressuscita.

531 - V I. Assim a cada um é imputado o amor conjugal.

H á Casamentos em que o amor conjugal não se mostra, e entretanto ai está; háCasamentos em que o amor conjugal se mostra, e entretanto aí não está. H ápara um e outro caso várias causas, que se pode conhecer em parte pelo que foirelatado sobre o Amor verdadeiramente conjugal, nº 57 a 73; depois, sobre ascausas de Frieza e de Separação, nº 234 a 260; e sobre as causas de amor

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aparente e de amizade aparente nos casamentos, nº 281 a 292; mas aparênciasnos externos não concluem cousa alguma a respeito da Imputação; a únicacousa que conclui, é o Conjugal, porque se estabelece na vontade de alguém eaí é conservado, qualquer que seja o estado do casamento em que está ohomem; este Conjugal é como uma balança com a qual este amor é pesado;pois o Conjugal de um marido com uma esposa é o T esouro da vida humana, eo R eservatório da R eligião Cristã, como foi mostrado acima, nºs 457 e 458; epois que é assim, este Amor pode estar em um dos dois esposos e não aomesmo tempo no outro; e este Amor pode estar escondido profundamente demais para que o homem mesmo descubra alguma cousa dele; pode tambémestar inscrito em um progresso sucessivo da vida; e isto, porque este Amor emsua marcha acompanha a R eligião; e a R eligião, porque é o Casamento doSenhor e da Igreja, é a iniciação e a inoculação deste Amor; é por isto que oAmor conjugal é imputado a cada um, depois da morte, segundo sua vidaespiritual-racional, e que para aquele a quem este Amor é imputado, é provido,após seu falecimento, um Casamento no Céu, qualquer que tenha sido para eleo Casamento no M undo. Destas considerações resulta portanto esta observaçãofinal, que não se deve, segundo as aparências dos casamentos, nem segundo asaparências das escortações, concluir a respeito de quem quer que seja, que oAmor conjugal está nele, ou que não está nele; é por isso que: "N ão julgueis, afim de que não sejais condenado", (M ateus V II, 1).

532 - Ao que precede ajuntarei este M emorável:

U m dia fui elevado, quanto ao espírito, ao Céu Angélico e lá introduzido emuma Sociedade; e então alguns dos sábios desta Sociedade se aproximaram demim, e me disseram: "Q ue há de novo na terra?" Disse-lhes: "H á isto de N ovo,que o Senhor revelou Arcanos que, em excelência, ultrapassam os Arcanosrevelados desde o começo da Igreja até ao presente". Perguntaram quais eramestes Arcanos; eu disse: "Ei-los: I. N a Palavra há em todas e cada uma de suascousas um Sentido espiritual correspondente ao Sentido natural, e por esteSentido há conjunção dos homens da Igreja com o Senhor, e tambémconsociação com os Anjos; e a Santidade da Palavra reside neste Sentido. II. Ascorrespondências de que se compõe o Sentido espiritual da Palavra, foramdescobertas". O s Anjos perguntaram se os habitantes do G lobo sabiam antesalguma cousa das Correspondências. Disse que não sabiam absolutamentenada, e que elas tinham permanecido escondidas desde milhares de anos, asaber, desde o tempo de Job; e que entre os que viveram nesse tempo, e antes, aCiência das Correspondências era a Ciência das ciências, de onde lhes vinha asabedoria, porque era, o conhecimento das cousas Espirituais que pertencem aoCéu e por conseguinte à Igreja; mas que esta Ciência, tendo sido mudada emIdolatria, foi obliterada e perdida, segundo a Divina Providência do Senhor, aoponto de ninguém ver mais traço algum dela; mas que entretanto ela acaba deser desvendada pelo Senhor, a fim de que faça uma conjunção dos homens da

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Igreja com Ele mesmo, e uma consociação com os Anjos; e elas se fazem pelaPalavra, na qual todas e cada uma das cousas são Correspondências. O s Anjosficaram cheios de alegria porque aprouve ao Senhor revelar este grande Arcano,tão profundamente escondido durante milhares de anos; e disseram que istotinha sido feito, a fim de que a Igreja Cristã, que é fundada sobre a Palavra, eque está agora no seu fim, reviva de novo, e tire seu espírito do Senhor peloCéu. Eles se informaram se por esta Ciência foi desvendado hoje o quesignifica o Batismo, e o que significa a Santa Ceia, sobre os quais até aopresente pensouse cousas tão diversas; e respondi que issso tinha sidodesvendado. III. Em seguida disse que hoje foram feitas revelações pelo Senhorsobre a V ida dos homens depois da morte. O s Anjos disseram: "Q ue revelaçõessobre a vida depois da morte? Q uem não sabe que o homem vive depois damorte?" R espondi: "Sabe-se e não se sabe; se diz que é, não o homem, mas aalma do homem, e que esta vive como espírito; e do espírito formam uma idéiacomo do vento ou do éter, e se acredita, que ela não vive como homem senãodepois do dia do Julgamento Final, e que então as cousas corporais, que sedeixou no M undo, embora comidas pelos vermes, os ratos e os peixes, serãoreunidas e de novo, restabelecidas em forma de corpo, e que os homensressuscitam assim". O s Anjos disseram: "Como? Q uem é que não sabe que ohomem vive como homem depois da morte, com esta única diferença, queentão vive como homem espiritual, e que o homem espiritual vê o homemespiritual como o homem natural vê o homem natural, e que não se conhecenisso uma única diferença, exceto que se está em um estado mais perfeito". IV .O s Anjos fizeram esta pergunta: "Q ue se sabe sobre o nosso M undo, e sobre oCéu e o Inferno?". R espondi que não se sabe cousa alguma; mas que hoje foidesvendado pelo Senhor qual é o M undo em que os Anjos e os Espíritos vivem,assim qual é o Céu e qual é o Inferno; mais ainda, que os Anjos e os Espíritosestão em conjunção com os homens, além de várias M aravilhas sobre estesassuntos. O s Anjos se regozijaram porque aprouve ao Senhor fazer estasrevelações, a fim de que o homem não esteja mais pela ignorância na incertezasobre sua Imortalidade. V . Além disso, eu lhes disse: "Foi revelado hoje peloSenhor, que em vosso M undo há um outro Sol que não o nosso; que o Sol devosso M undo é puro Amor, e o Sol do nosso M undo puro fogo; que é por issoque tudo o que procede de vosso Sol, pois que é puro Amor, participa da V ida,e que tudo o que procede do nosso, pois que ele é puro fogo, nada tem da vida;e que daí vem a diferença que, ignorada até então, foi agora revelada. Estasrevelações fizeram saber de onde vem a Luz que ilumina de sabedoria oentendimento humano, e de onde vem o Calor que abrasa de amor a vontadehumana. V I . Além disso, foi desvendado que há T rês graus da vida, e que porconseguinte há três Céus; que a mente humana foi distinguida nestes trêsG raus e que por conseguinte o homem corresponde aos três Céus". O s Anjosdisseram: "Será que não se sabia isso antes?" R espondi que se tinhaconhecimento dos G raus entre o mais e o menos, mas que nada se sabia dos

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G raus entre o anterior e o posterior. V II. O s Anjos perguntaram se tinham sidoreveladas outras coisas além dessas. R espondi que tinham sido reveladas várias,a saber: Sobre o Julgamento Final; sobre o Senhor, que é o Deus do Céu e daT erra, que só há um Deus, em Pessoa e em Essência, em quem está a DivinaT rindade, e que este Deus é o Senhor; depois, sobre a N ova Igreja que deve serinstaurada por Ele, e sobre a Doutrina desta Igreja; sobre a Santidade daEscritura Santa; que o Apocalipse também foi revelado, o qual não o podia ser,mesmo quanto a um único pequeno versículo, senão pelo Senhor; e além dissosobre os H abitantes dos Planetas e sobre as T erras no U niverso; além de muitasnarrações M emoráveis e M aravilhosas do M undo espiritual, pelas quais váriascousas que pertencem à sabedoria foram desvendadas do Céu.

533 - O s Anjos ficaram muito satisfeitos com tudo que acabavam de ouvir, maspercebiam tristeza em mim; e me perguntaram de onde me vinha essa tristeza;disse-lhe "De que estes Arcanos hoje revelados pelo Senhor, ainda que emexcelência ultrapassem os Conhecimentos divulgados até este dia, sãoentretanto considerados na T erra como não tendo importância alguma". O sAnjos ficaram admirados, e pediram ao Senhor que lhes fosse permitido dirigirseus olhos sobre o M undo; e os dirigiram e eis que não havia senão trevas; elhes foi dito que escrevessem estes Arcanos sobre um papel, e que o Papel serialançado sobre a T erra, e que eles veriam um prodígio; e foi feito assim, e eisque o Papel sobre o qual estes Arcanos tinham sido escritos, foi lançado doCéu, e em seu trajemos enquanto estava ainda no M undo espiritual, elebrilhava como uma estrela; mas logo que penetrou no M undo natural a luzdesapareceu; e à medida que cala, se obscurecia; e, quando foi enviado pelosAnjos às Assembléias onde estavam sábios e eruditos dentre os Eclesiásticos e osLeigos, foi ouvido da parte de vários um murmúrio no meio do qual sedistinguiam estas palavras: “O que é isto? É alguma coisa? Q ue nos importaque saibamos estas cousas, ou que não as saibamos? N ão são produções docérebro?" E parecia que alguns tomavam o Papel, e o dobravam, o enrolavam eo desenrolavam entre os dedos para apagar a Escritura; e também parecia queoutros o rasgavam, e que outros queriam pisá-lo aos pés; mas eram impedidospelo Senhor de cometer esta ação culpável; e foi ordenado aos Anjos para retirareste Papel e para guardá-o; e como os Anjos se tinham tornado tristes, epensavam "Até quando isto durará?" lhes foi dito: "Até um tempo, e tempos, ea metade de um tempo". (Apoc. X II, 14).

534 - Em seguida eu disse aos Anjos que tinha ainda sido revelada alguma coisano M undo pelo Senhor; eles perguntaram o que era; respondi que era sobre oAmor verdadeiramente conjugal, e sobre suas delícias celestes; os Anjosdisseram: "Q uem não sabe que as delícias do Amor conjugal ultrapassam asdelícias de todos os outros amores? E quem não pode ver que em um certoamor foram reunidas todas as beatitudes, todas as felicidades e todos os prazeresque possam jamais dar dados pelo Senhor, e que o receptáculo dessas cousas é o

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Amor verdadeiramente Conjugal, que pode em um sentido pleno, recebê-las epercebê-las?" R espondi: "O s homens não sabem isso, porque não se dirigem aoSenhor, e não vivem segundo Seus preceitos, fugindo dos males como pecados,e fazendo os bens; ora, o Amor verdadeiramente Conjugal com suas delíciasvem unicamente do Senhor, e é dado aos que vivem segundo Seus preceitos;assim é dado aos que são recebidos na N ova Igreja do Senhor, entendida noApocalipse pela N ova Jerusalém". A isto, acrescentei: "Duvido que no M undode hoje se queira crer que este Amor em si mesmo seja um Amor espiritual eque por conseguinte venha da R eligião; e isso porque não se conserva dle senãouma idéia corporal". Então eles me disseram: "Escreve sobre este amor, e seguea revelação; e em seguida o Livro escrito sobre este amor será enviado do Céupor nós, e nós veremos se as coisas que ele conterá serão recebidas, e ao mesmotempo se sequer reconhecer que este Amor é segundo a R eligião no homem,espiritual nos espirituais, natural nos naturais e inteiramente carnal nosadúlteros".

535 - Depois disso, ouvi sair dos lugares inferiores um murmúrio hostil, e aomesmo tempo estas palavras: "Faz milagres e nós creremos". E perguntei se nãoestavam aí M ilagres; e foi respondido: "N ão; não há aí M ilagres". E eu lhesdisse: "Q ue M ilagres quereis, pois?" E eles disseram: "M anifesta e revela ascousas futuras e nós aí teremos fé". R espondi, porém: "T ais revelações não sãodadas do Céu, porque quanto mais o homem conhece o futuro, tanto mais suarazão e seu entendimento, com a prudência e a sabedoria, caem na inação, seentorpecem e se destróem". E fiz esta outra pergunta: "Q ue outros milagresfarei?" E então exclamaram: "Faz semelhantes aos de M oisés no Egito". Erespondi: "T alvez que vendo-os, endurecereis vossos corações como Faraó e osEgípcios". E foi respondido: "N ão". M as de novo, eu disse: "Assegurai-me quenão dançareis em torno do Bezerro de ouro, e não o adorareis, como osdescendentes de Jacob o fizeram, um mês após terem visto toda a M ontanha doSinai em fogo, e ter ouvido Jehovah M esmo falar do meio do fogo; assim, apóso M ilagre que era o maior de todos". O Bezerro de ouro no sentido espiritual éa V olúpia da carne. E foi respondido dos lugares inferiores: "N ós não seremoscomo os descendentes de Jacob". M as então ouvi que lhes era dito do Céu: "Senão crêdes em M oisés e nos Profetas, isto é, na Palavra do Senhor, não crereisdepois dos milagres mais do que os filhos de Jacob no deserto, nem mais doque creram, quando viram com seus próprios olhos os M ilagres feitos peloSenhor M esmo quando estava no M undo.

FIM